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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR RELATOR DA COLENDA


16ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SÃO PAULO – EMINENTE GUILHERME DE SOUZA NUCCI

“SAI DO CAMINHO DA JUSTIÇA, ELA É CEGA”


(Stanislaw Jerzy Lec)

Habeas Corpus nº 2220582-81.2015.8.26.0000 – Comarca de Cordeirópolis

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 2220582-81.2015.8.26.0000 e código 1FEA1DC.
Reconsideração de Liminar

foi protocolado em 17/11/2015 às 16:03, é cópia do original assinado digitalmente por EDEVALDO DE OLIVEIRA.
OSVALDO BORGES DOS SANTOS NETO,
devidamente qualificado no recurso de Habeas Corpus em epígrafe,
através de seu Advogado, in fine assinado, vem, respeitosamente, perante
Vossa Excelência, requerer a reapreciação do pedido de liminar formulado
no Recurso em Habeas Corpus em epígrafe e a RECONSIDERAÇÃO da
r. decisão proferida, diante da urgência e gravidade da situação em que
se encontra o paciente, consubstanciado nas razões fáticas jurídicas a
seguir escandidas.

De inicio, impõe-se consignar, que se impetrou


perante este E. Tribunal de Justiça, ordem de habeas corpus contra ato
emanado do R. Juízo da Comarca de Cordeirópolis, que indeferiu pleito de
revogação de prisão preventiva com supedâneo na gravidade da infração,
a conveniência da instrução processual, e a garantia da aplicação da lei
penal.

A primeira observação importante a ser feita é que


se buscou junto a este E. Tribunal de Justiça à imediata solução
concernente ao constrangimento ilegal vivenciado pelo paciente, em
razão de tratar-se de uma pessoa sem mácula criminal, primário, bons
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antecedentes, trabalhador, residência fixa, e exemplar pai de família.


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Como se pode notar, de uma singela leitura no


remédio heroico, em nenhum momento houve o mínimo de pisadas na
trilha de qualquer discussão que direcionasse a revolvimento de matéria
fática, com a necessidade de dilação probatória, por entender a
inviabilidade nesta via estreita.

Todavia, com o máximo de respeito a este Emérito


Julgador, depara-se com o indeferimento da liminar pleiteada com
fundamento adentrando, em partes, exatamente no mérito da acusação
constante na porfia acusativa – exame da prova.

Em razão dessas considerações, data venia,


evidentemente que na balança da justiça não se pode haver tratamento
diferenciado, principalmente quando regidos e alicerçados pelo Diploma
Adjetivo Penal, bem como obedientes aos princípios doutrinários

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 2220582-81.2015.8.26.0000 e código 1FEA1DC.
consagrados dos procedimentos cautelares.

foi protocolado em 17/11/2015 às 16:03, é cópia do original assinado digitalmente por EDEVALDO DE OLIVEIRA.
E o que a defesa guerreia, aqui, com o respeito
profundo à convicção de Vossa Excelência, é exatamente que a decisão
entendendo presentes os requisitos do art. 312, que indeferiu a medida
liminar, merece revisão e, talvez, reparação.

E, para tal objetivo, a defesa necessita, como o


Respeitável Desembargador fez, percorrer a mesma linha de raciocínio e
proceder ao mesmo exame, o que será efetuado de forma perfunctória,
sem aprofundar, mas, por sua vez, demonstrando que o inquérito policial
que deu sustentação para a atrial acusativa, alicerça-se em extremo
açodamento e jogando todos no mesmo “balaio”, olvidando-se que a
regra estabelecida no ordenamento jurídico vigente aduz que onus
probandi incumbit ei qui dicit - a prova da alegação incumbe a quem a
fizer.1

Logo, a demonstração da imputabilidade penal é


um ônus que se atribui substancialmente ao Estado, que por sua vez
empenha-se em confirmá-la nas duas etapas da persecução penal,
cabendo a primeira à Polícia Judiciária e a segunda ao Ministério Público.

E no caso sub examine, repise-se, depara-se com


um verdadeiro açodamento onde ao final da instrução criminal
demonstrar-se-á que o desespero da polícia de jogar todos no mesmo
lodo não prevalecerá, ao contrário, comprovar-se-á que é muito cômodo
livrar-se de inquéritos policiais paralisados dentro da gaveta e quando do
surgimento da primeira oportunidade “encontra-se” o delinquente – a
qualquer custo.
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Art. 156, caput, 1ª parte. CPP
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Convém notar, outrossim, que a fundamentação


utilizada para o indeferimento do pedido de revogação de prisão
preventiva do paciente – prolixa e com contornos de édito condenatório -
é similar a dos demais corréus que buscaram neste E. Tribunal de Justiça
idêntico remédio heroico; em total violação ao art. 93, IX, da Constituição
Federal, pois “a decisão que decretar a prisão preventiva deve vir
suficientemente fundamentada, não se prestando a tanto simples
referências aos dizeres da lei ou o endosso e repetição dos argumentos
constantes do requerimento ministerial, sem indicar nos autos, de onde
foram extraídos os fundamentos de sua convicção, autorizadores da
medida extrema2.”

Imperioso assinalar, desde logo, que, com exceção


de uma carreta aparentemente ilícita encontrada na frente da residência
do paciente, que no decorrer da persecução penal comprovar-se-á ter sido

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adquirida de boa-fé, conforme depoimento prestado na fase inquisitiva,

foi protocolado em 17/11/2015 às 16:03, é cópia do original assinado digitalmente por EDEVALDO DE OLIVEIRA.
absolutamente nenhum outro fato tem o condão de ligar Osvaldo a
qualquer outro corréu.

Ademais, verifica-se a existência de investigações e


interceptações telefônicas que, segundo a vestibular acusativa, comprova
a ligação do grupo criminoso, entretanto, não existe no arcabouço
probatório nenhuma ligação telefônica do paciente para qualquer um dos
corréus ou vice-versa, e não se pode olvidar que um dos fundamentos
para o indeferimento do pedido de liminar baseou-se justamente nas
interceptações telefônicas.

Ainda nesse contexto, evidente que ao visualizar o


indeferimento do pedido de revogação de prisão preventiva por parte da
autoridade coatora, repise-se, extremamente longo, concomitantemente
com a exordial acusatória, com inúmeras nuances, com jogos de palavras
e com clara estratégia processual com o intuito de alcançar, ao final da
instrução criminal, uma sanção penal ao paciente, acaba-se cunhando a
roupagem de “criminoso” para o paciente que é primário, sem mácula
criminal, trabalhador, residência fixa e exemplar pai de família.

O que ser quer? Um exame aligeirado pela rama?


Não. Se quer um exame cuidadoso, porque nós estaremos lidando com a
liberdade do paciente.

Percorra-se o inquérito inteiro, e não se achará


nenhuma conversa telefônica entre o paciente e quaisquer um dos outros
corréus.
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MARCÃO, Renato. Prisões Cautelares, Liberdade Provisória e Medidas Cautelares Restritivas, Ed.
Este documento

Saraiva, 2011, p. 98.


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Portanto, a execução de uma possível pena deve


ocorrer após o trânsito em julgado da sentença condenatória, sob pena de
ofender-se o princípio da presunção de inocência.

Quanto aos outros crimes imputados


açodadamente ao paciente, é mister descobrir a verdade para que a lei
possa ser aplicada corretamente, pois, no momento oportuno comprovar-
se-á que não restará supedâneo legal para um édito condenatório.

Alfim, “Reputamos a fundamentação inidônea, pois,


apesar de ser incontestável que crimes de grande repercussão causam
perturbação da ordem, entendemos que o Magistrado não deve ceder aos
brados dos leigos por uma justiça que consideram encontrar-se no
encarceramento imediato do suspeito. Ao fazê-lo, termina o julgador a
afastar o caráter da prisão preventiva, desnaturando-a, transformando-a

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em punição antecipada, em vingança.”3

foi protocolado em 17/11/2015 às 16:03, é cópia do original assinado digitalmente por EDEVALDO DE OLIVEIRA.
Dessarte, em consonância com os argumentos
apresentados no writ em epígrafe, requer, data venia, que seja recebido e
deferido o presente pleito de RECONSIDERAÇÃO da decisão que indeferiu
a medida liminar, concedendo ao paciente a liberdade provisória.

Termos em que,
Pede deferimento.

Atibaia/SP, 16 de novembro de 2015.

IUSTITIA ET MISERICORDIA COAMBULANT!4

EDEVALDO DE OLIVEIRA
OAB/SP 328.910 – S
OAB/DF 355.330
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OTÁVIO AUGUSTO DE ALMEIDA TOLEDO e BRUNO GABRIEL CAPECCE, Privação de
Liberdade – Legislação, Doutrina e Jurisprudência. Ed. Quartier Latin. ed. 2015, p. 180
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A justiça e a misericórdia caminham juntas.

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