Algumas identidades nacionais se veem como mistura, outras como unidade. A cada um
desses modelos corresponde, respectivamente, um princípio de participação e outro
de exclusão. E a cada um desses princípios, corresponde um regime cultural: no caso
da mistura, o cotejo entre o igual e o desigual, onde o igual são grandezas
intercambiáveis e o desigual grandezas superiores e inferiores. No caso da
exclusão, a triagem entre o exclusivo e o excluído, que confrontam o puro e o
impuro. No regime de exclusão, a circulação cultural é restrita, interditada. No
regime de mistura, a circulação cultural é contínua, permitida. A triagem é tônica,
opera sobre princípios de unidade, nulidade e universalidade. A mistura é átona,
opera sobre princípios de totalidade e diversidade. A triagem opera pelos valores
do absoluto, da intensidade, são culturas mais fechadas, onde se concentram os
valores dos desejáveis e se excluem os dos indesejáveis. A mistura opera sobre
valores do universal, de extensividade, são mais abertas, buscam expansão e
participação.
Além disso, o que caracterizaria nossa cultura como um processo de mistura tem um
aspecto pendular, ora se manifesta como um processo excludente, ora como inclusivo,
ora de mistura, ora de triagem. Mas, via de regra, o princípio da exclusão
prevalece. E isso se deu mesmo contra alguns imigrantes europeus, como aconteceu
com os italianos, como retratado no romance de Alcântara Machado. O mesmo se deu
com os poloneses. Lima Barreto narra em seus romances o preconceito racial e social
contra os pobres mestiços em Clara dos Anjos, Recordações do Escrivão Isaías
Caminha e em Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá. Há também a exclusão das mulheres
como narrado em Inocência, de Taunay. A homofobia também se deixa perceber em obras
como O Bom Crioulo de Adolfo Caminha, que medicaliza e condena a homossexualidade.