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Resumo
O papel da escola como formadora de cidadãos tem se apresentado falho, principalmente nos
últimos anos. Formar o aluno para o convívio em sociedade tem se tornado uma tarefa muito
difícil. Embora a escola esteja presente em muitos anos das vidas das pessoas, exercendo,
juntamente com a família, o papel de educar o ser humano em formação, as dificuldades
encontradas no meio desse caminho são muitas. Dentre os vários atravessamentos na relação
entre escola e cidadão em formação, está a mídia, que também passou a ocupar um papel de
formadora de opinião, e que, muitas vezes, consegue se sobrepor ao papel da escola, tornando-
se o principal meio de aprendizagem dos alunos. A mídia passou a ter mais força do que a
escola. O acesso cada vez mais facilitado aos meios de comunicação proporcionou aos alunos
o acesso a um número ilimitado de informação, porém, grande parte desses alunos não
desenvolve a capacidade de filtrar tais informações, nem de determinar como utilizá-las em
sociedade. Na realidade do mundo atual, as pessoas passaram a formar opiniões de acordo com
o que é replicado nos meios de comunicação. As opiniões individuais deram lugar às opiniões
em massa, e tornou-se mais fácil aceitar o pronto em vez de criar o novo, aceitar a opinião dos
outros e não formar sua própria. Por isso, a escola precisa mudar para ganhar maoir espaço na
formação do aluno, precisa ensinar cidadania, conceito primordial para o convívio em sociedade
e que é deixado de lado na formação do aluno. A escola precisa aprender a formar cidadãos
críticos e capazes de exercer criticamente seu papel na sociedade. Com uma pesquisa
bibliográfica de autores como Larrosa Bondía, Edgar Morin e Maria da Graça Setton, que
trabalham com o currículo e suas interações com a atualidade, foi possível iniciar esse estudo.
1
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG. Especialista em Direito Público pela
Escola da Magistratura Federal - ESMAFE. Aluna do Curso de Especialização em Educação: Espaços e
Possibilidades para a Formação Continuada a Distância – CPEaD do IFSul Campus Pelotas. Aluna especial do
Mestrado em Educação do IFSul Campus Pelotas. Servidora Pública do IFSul Campus Pelotas. E-mail:
camiladelarocha@gmail.com.
ISSN 2176-1396
20009
Introdução
Diante dessa realidade, uma análise mais aprofundada da formação desses alunos,
enquanto pessoas e enquanto eleitores, se faz necessária, a fim de que o cidadão que formamos
tenha um maior conhecimento do seu papel como parte da sociedade enquanto sujeito de
direitos e deveres.
Faz-se importante, portanto, buscar a todo tempo rever as análises sobre o currículo de
forma a tentar identificar, na contemporaneidade, quais teóricos podem auxiliar na modificação
curricular de forma a alterar o cenário de abandono do papel de cidadão na sociedade atual.
Metodologia
Historicamente as relações entre alunos e professores tem sido regidas por relações
hierárquicas nas quais o aluno figura como aquele que deve obedecer às regras impostas pela
instituição, e essa situação se mantém até hoje. A escola é imposta ao aluno com um modelo
pré-determinado por parâmetros políticos que privilegiam a manutenção de uma situação de
exclusão, com a manutenção de um currículo que reproduz relações de classes, e isso faz com
que o aluno não encontre seu lugar na escola nem na sociedade.
Esse cenário é típico de um modelo tradicional de currículo, que, embora tenha dado
vez a diversas teorias críticas e pós-críticas ainda mantém fortes características nas escolas
brasileiras. Ainda podemos ver, atualmente, uma escola que traz a idéia de organização e
desenvolvimento e que tem como finalidade única a preparação para o mercado de trabalho,
com base nos modelos de Bobbit e Tyler, (SILVA, 2013), mas que deixa de lado a formação
para a vida.
20011
Para contrariar esse modelo de reprodução em massa, a escola deve ser compreendida
como integrante do processo de formação do cidadão e da sociedade, e não apenas como uma
mera reprodutora de conhecimentos, mas como uma produtora de conhecimentos
comprometida socialmente. Esse tipo de mudança, embora seja discutida há algumas décadas
entre os teóricos críticos e pós-críticos, leva muito tempo para acontecer, mesmo porque
contraria os interesses de alguns. O que observamos em nossa realidade é uma escola que ainda
espera que digam qual o caminho seguir, o que ensinar e qual projeto cultural e social a ser
desenvolvido, enquanto os meios de comunicação tomam frente na formação de opinião.
A escola, em regra, permeia grande parta das nossas vidas, aprimorando o ensino e a
aprendizagem, que nos acompanham desde o momento de nosso nascimento. Inicialmente
recebemos o ensino daqueles que nos rodeiam e aprendemos com tudo e todos que estão em
nossa volta. Chegando a idade escolar, iniciamos uma longa trajetória da vida acadêmica. Tanto
nosso aprendizado na escola quanto o nosso aprendizado na vida cotidiana tem o objetivo de
nos tornar capazes de conviver em sociedade, de nos tornar cidadãos. Mas porque o convívio
em sociedade parece cada vez mais difícil? Por que nos parece tão difícil assumirmos o papel
de cidadãos? Por que nos parece tão difícil buscar nossos direitos?
Essas questões não encontram resposta no outro. Essas questões encontram resposta em
nós mesmos. A dificuldade de conviver em sociedade, a dificuldade de ser cidadão, a
dificuldade de buscarmos nossos direitos partem de uma apatia com a qual nos acostumamos,
que tem origem no mundo no qual vivemos hoje, onde tudo depende apenas de um clic, onde a
zona de conforto parece muito mais confortável do que antes.
A liberdade que temos hoje parece nos manter mais cerceados do que em tempos mais
antigos. Em anos de ditadura, o exercício do papel de cidadão se mostrava muito mais forte do
que nos dias de hoje. A vontade de participar da construção do nosso país, de fazer parte da
sociedade, de buscar direitos era tão grande que nem a prisão, nem a tortura eram capazes de
apagá-las. O importar-se com o outro existia, e tinha grande valor. Hoje em dia, essas vontades
se reduziram a sentar na frente da TV ou de um computador para absorvermos verdades prontas,
e nos manifestarmos de acordo com a massa virtual, sem a necessidade de pensar, sem a
necessidade de nos movermos, sem a vontade de olhar para trás e sem a vontade de olhar para
o outro.
20012
[...] o periodismo não é outra coisa que a aliança perversa entre informação e opinião.
O periodismo é a fabricação da opinião. E quando a informação e a opinião se
sacralizam, quando ocupam todo o espaço do acontecer, então o sujeito individual não
é outra coisa que o suporte informado da opinião individual, e o sujeito coletivo, esse
que teria de fazer história segundo os velhos marxistas, não é outra coisa que o suporte
informado da opinião pública. (BONDÍA, 2002, p.19)
Morin (2000), ao discorrer sobre “Os sete saberes necessários à educação do futuro”,
fala sobre o que é subestimado, ignorado ou fragmentado na educação. Em parte de seu texto,
cita ele, ao falar da incompreensão, que “Estamos adormecidos, apesar de despertos, pois diante
da realidade tão complexa, mal percebemos o que se passa ao nosso redor” (MORIN, 2000, p.
8). Morin não poderia estar mais correto. Essa é a nossa realidade que, em um ciclo vicioso,
vem da educação e se reflete na educação.
Ao dissertar sobre a incerteza, Morin (2000) fala, ainda, sobre a necessidade de estarmos
preparados para o inesperado. Mas como podemos estar preparados para o inesperado se
aprendemos a aceitar o pronto, se aprendemos a não raciocinar? Com a filosofia do mundo
pronto, estamos perdendo a capacidade de pensar, de formar opinião, de resolvermos
imprevistos, portanto não estamos preparados para o inesperado.
Nesse mundo pronto, a escola perde espaço, perde seu objetivo. Seu papel, então,
precisa ser repensado. Formar para o mundo do trabalho certamente é importante, mas antes de
trabalhadores precisamos de cidadãos.
Conclusões
A escola precisa assumir o papel de educar para a vida, de educar para a vivência e
convivência no mundo contemporâneo, e nesse contexto está a educação para a cidadania. Não
se trata de retornar ao modelo grego, no berço da democracia, onde a educação acontecia
totalmente contextualizada para o exercício democrático. Mas se trata de educar os alunos para
que, no mundo contemporâneo, ele possa identificar seu lugar, sua posição como cidadão, seus
direitos e deveres, e para que, principalmente possa respeitar os outros e a opinião dos outros.
A falta desse tipo de educação é facilmente observada no momento político atual, no
qual ofensas e acusações trocadas em nome de ideais e o uso da maquina pública para benefícios
pessoais, desvirtuam completamente o papel do cidadão e o significado da democracia. Mas
como formamos nossa opinião sobre esse assunto? Vemos, nesse momento, que a mídia se
sobrepõe aos ensinamentos da escola, e o resultado para a sociedade está se mostrando, no
mínimo, preocupante.
Esse cenário é resultado de um modelo tradicional de currículo, que se mantém forte
nas escolas brasileiras. E ainda podemos ver, atualmente, uma escola que traz a idéia de
organização e desenvolvimento e que tem como finalidade única a preparação para o mercado
de trabalho, com base nos modelos de Bobbit e Tyler (SILVA, 2013), mas que deixa de lado a
formação para a vida.
20014
Por isso, mais do que nunca, devemos pensar que se a escola prepara o aluno para o
mundo acadêmico, para o mundo do trabalho, então também precisa prepará-lo para conviver
em sociedade.
Não cabe à escola, ou a qualquer pessoa, combater a influência da mídia na vida dos
alunos. Isso já está posto e cada um tem a liberdade de ler, ouvir e assistir ao que quiser. Mas
cabe á escola formar um aluno ciente e crítico, capaz de contestar o que lê, o que ouve e o que
vê, para que ele seja capaz de fazer suas escolhas, de externar suas opiniões e de construir sua
vida da melhor forma possível. Do contrário, estaremos formando pessoas prontas para serem
manipuladas, incapazes de construir uma vida própria.
Cabe à escola ajudar o ser humano a desenvolver a ética, a autonomia pessoal e a
participação social, o que Morin denomina antropo-ética. Isso não significa reformular
completamente o currículo, ou deixar de lado as ciências exatas para privilegiar as humanas.
Mas significa entender que a escola tem o dever de preparar para o mundo social, e isso requer
o ensino, no mínimo, dos direitos mais básicos do ser humano e do cidadão. É necessária a
educação em direitos humanos, em direitos individuais e coletivos, em direitos do cidadão, para
o melhor convívio em sociedade e para a contrução de uma nova realidade social.
REFERÊNCIAS
SETTON, Maria da Graça Jacinto. Família, escola e mídia: um campo com novas
configurações. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.28, n.1, jan./jun. 2002. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
97022002000100008&lng=pt&nrm=iso>. Acessado em: 17 de fevereiro de 2017.