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Psicopatologia

“A produção da loucura”

Michel Foucault (1926 – 1964) - Livro “História da Loucura” (1961)

➝ Questão da loucura vista sob um novo prisma, uma nova forma de entendimento que abala as estruturas
tradicionais do racionalismo moderno.

➝ Investiga as diferentes formas de percepção da loucura entre o Renascimento e a Modernidade, até a chegada da
classificação da loucura como doença mental, de fato.

➝ Razão como fio condutor na constituição da subjetividade ocidental

● Até o século XV não havia prática de internamento de indivíduos desviantes.


“Talvez a primeira forma de exclusão social de indivíduos considerados problemáticos ou marginais, na aurora
renascentista, é a prática de isolamento da lepra.”
Século XVll lepra desaparece e estabelece-se um vazio por toda a parte.
↳ Espaço físico
↳ Espaço imaginário

● Antes do século XVll a loucura possui outra percepção social


Registro em massa da internação dos loucos
Noção de racionalidade/razão só tem direito a verdade quem está com a razão.

● Século XlX está desenvolvido que o louco é o doente que precisa ser tratado
↳ Ocupa um espaço que antes eram dos leprosos.

➞ Loucura na modernidade diz quem é útil e quem não é.


“Relação razão-desrazão como sinônimo de acerto-erro, ou normal-anormal, ou ainda, sanidade-patologia.”

“O poder psiquiátrico, por sua vez, funcionou como controle dos comportamentos da sociedade fixando uma norma de
comportamento “normal” e a noção de anormalidade para enquadrar os desviantes do modelo e adequá-los ao padrão
ou exclui-los nas instituições de controle e correção.”

Luciana Supino – 4º Semestre – Psicopatologia Geral P1


➞ A norma (costumes/moral) define quem é louco e quem é são, define também quais comportamento são
aceitáveis. Poder psiquiátrico representa a norma.
Mundo foi sendo forjado para colocar essas pessoas como DOENTES.

Pano de fundo da argumentação de Foucault:


➝A loucura não é natural, mas cultural
➝Constroem-se um conjunto de argumentos para apontar que isso é construído naturalmente.

Contribuições de Foucault:
Ele desnaturaliza a loucura, diz que ele é construída socialmente
Contribui também para:
● Luta Antimanicomial ⇒ desinstitucionalização da loucura
● Reforma Psiquiátrica ⇒ cuidado em saúde além do modelo médico tradicional, não se trata somente e tirar as
pessoas do convívio social, mas sim oferecer um outro cuidado.

Loucura = experiência humana

Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial


“Uma aventura no manicômio: A trajetória de Franco Basaglia”
Paulo Amarante

➞ 1970 (final da ditadura militar)


Movimento da Luta Antimanicomial e Reforma Psiquiátrica

➞ 1987 – Carta de Bauru


Documento que aponta o que precisa melhorar
Denúncias

➞Lei Federal 10216/2001


Essa lei dá diretrizes. O que seria cuidado em saúde mental?

RAPS
Propõe um novo modelo de atenção em saúde mental
Não somente ter direito a liberdade, mas ter uma boa articulação com a família, sociedade.

Residência Terapêutica (moradia)


Ligada ao programa “De volta para casa”.

Luciana Supino – 4º Semestre – Psicopatologia Geral P1


Franco Basaglia (1924-1980)
↳ Psiquiatra revolucionário, que colaborou grandemente para a Reforma Psiquiátrica

➝ Desinstitucionalizar não é só sair da institucionalização, é ir além, promover outra relação da sociedade com a
loucura.

➝ Institucionalização homogeniza, serializa, deslegitima o sofrimento como forma de expressão humana.


↳ Esse processo produz a doença, nega a história da pessoa
↳ Isola o sujeito ou processo de total tutela

Três termos comuns utilizados na literatura:

-Doença Mental ➝ pressupõe cura / perspectiva biológica.

-Sofrimento Mental ➝ perspectiva social.

-Transtorno Mental ➝ mais utilizado / causa transtorno para a pessoa em seu convívio com a sociedade.

“Conceitos Básicos em Psicopatologia”


Capitulo 1 e 2 Dalgalarrondo
Psicopatologia diz respeito ao conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do seu humano. É um
campo da ciência que visa estudar estados mentais, padrões comportamentais e vivências.
Jasper é um dos principais autores da psicopatologia.

Semiologia estudo dos signos

↳ Sinais/Sintomas

➞ Semiologia Médica = Estudo dos sinais e sintomas relacionados as doenças físicas e mentais

➞ Semiologia Psicopatológica = Estudo dos sinais e sintomas dos transtornos mentais.

Luciana Supino – 4º Semestre – Psicopatologia Geral P1


Sintomas
/ \
Subjetivos Objetivos
Relação direta da pessoa com o que está Observação do profissional.
acontecendo com ela,. Relato da pessoa. (ligado a forma)
(vê-se o conteúdo)

O conjunto de sintomas subjetivos e objetivos fornecem elementos para o psicodiagnóstico.

Síndrome ≠ Transtorno
Grupo de sintomas/sinais Relação multicausal
Agrupamento/categorização Fenômeno que tem origem, causa.
Não está pensando da causa, vai Se aprofunda, vai além
somente medicalizar. dos sintomas.
Não se aprofunda.

Forma e Conteúdo dos Sintomas


● Forma:
Relacionado com questões mais objetivas, descrição prévia, estrutura básica. Relativamente semelhante nos diversos
pacientes.
Exemplo: delírio.
● Conteúdo:
Relacionado com a parte subjetiva, dimensão singular, mais pessoal e específico.
Exemplo: conteúdo do delírio.

Normal e Patológico
Ideias constituídas socialmente, dependem das regras/normas da sociedade em que estamos falando.

O que não se encaixa nessas regras ➞ Patológico.


Foucault desnaturaliza as normas patológicas, diz que elas são construídas e não naturais.

Luciana Supino – 4º Semestre – Psicopatologia Geral P1


Critérios de normalidade
O uso de um ou outro critério depende, dentre outras coisas, de opções filosófica, ideológicas e pragmáticas do
profissional ou da instituição em que ocorre a atenção à saúde.

1. Normalidade como ausência de doença


Ausência de sintomas, sinais ou doenças.
Normal, do ponto de vista psicopatológico, seria, então, aquele indivíduo que simplesmente não é portador de
algum transtorno mental definido. Tal critério é bastante falho e precário, pois, além de redundante, baseia-se
em uma “definição negativa”, ou seja, define-se a normalidade não por aquilo que ela supostamente é, mas sim
por aquilo que ela não é, pelo que lhe falta.

2. Normalidade ideal
Ligada a uma ideologia.
A normalidade aqui é tomada como uma certa “utopia”. Estabelece-se arbitrariamente uma normal ideal, o que é
supostamente “sadio”, mais “evoluído”. Depende portanto, de critérios socioculturais e ideológicos arbitrários.

3. Normalidade estatística
Identifica norma e frequência. Trata-se de um conceito de normalidade que aplica especialmente a fenômenos
quantitativos, com determinada distribuição estatística na população geral. O normal passa a ser aquilo que se
observa com mais frequência. A média.

4. Normalidade como bem-estar


Saúde como o completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença. Essa
combinação de bem-estar é utópica, praticamente impossível. Criticado por ser um conceito muito amplo e
impreciso, pois bem-estar é algo difícil de se definir objetivamente.

5. Normalidade funcional
O fenômeno é considerado patológico a partir do momento em que é disfuncional, produz sofrimento para o
próprio indivíduo ou para o seu grupo social.

6. Normalidade como processo


Mais do que uma visão estatística, considera-se os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das
desestruturações e das reestruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a certos períodos
etários. Conceito particularmente útil na chamada psicopatologia do desenvolvimento relacionada a psiquiatria e
psicologia clínica de crianças, adolescentes e idosos.

Luciana Supino – 4º Semestre – Psicopatologia Geral P1


(características específicas próprias de adolescentes, adultos, etc.)

7. Normalidade subjetiva
Indivíduo diz que está normal, porém os sinais e sintomas mostram algo diferente.
Dada a maior ênfase a percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação a seu estado de saúde, as suas
vivencias subjetivas. O ponto falho desse critério é que muitas pessoas que se sentem bem, “muito saudáveis e
felizes”, como no caso de sujeitos em fase maníaca no transtorno bipolar, apresentam, de fato, um transtorno
mental grave.

8. Normalidade como liberdade


Alguns autores de orientação fenomenológica e existencial propõe conceituar a doença mental como perda da
liberdade existencial. Dessa forma a saúde mental se vincularia as possibilidades de transitar com graus distintos
de liberdade sobre o mundo e sobre o próprio destino. A doença mental é constrangimento do ser, é
fechamento, fossilização das possibilidades existenciais.
(Ligada a perspectiva fenomenológica. Quando a liberdade do sujeito “vir-a-ser” está comprometida, pode se
falar que a liberdade está prejudicada.)

9. Normalidade operacional
Critério assumidamente arbitrário, com finalidades pragmáticas explicitas. Define-se a priori o que é normal e o
que é patológico e busca-se trabalhar operacionalmente com esses conceitos, aceitando as consequências de
tal definição prévia.
(Tem um sintoma ou um dia ruim, já está fora do critério de normalidade. Bem pragmático)

Alguns desses critérios se preocupam em dar um diagnóstico, outros são voltados mais pelo manejo da patologia em si.
Pode-se utilizar a associação de vários critérios de normalidade ou doença/transtorno, de acordo com o objetivo que se
tem em mente.

Luciana Supino – 4º Semestre – Psicopatologia Geral P1

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