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MINISTÉRIO DAS OBRAS PÚBLICAS, HABITAÇÃO E

RECURSOS HÍDRICOS

CFPAS
Gestão Operacional de Recursos Hídricos
Qualidade d’água

Tema:
Características físicas e química de água

GORH

Autores:
Agostinho Cumaio

Maputo, Dezembro de 2021


1.

Índice
1. Introdução..............................................................................................................................................1
2. Conceito e Histórico...............................................................................................................................2
2.1. Quantidade e Composição da Água...................................................................................................2
3. Propriedade e Características das águas naturais...............................................................................3
3.1. Propriedades das águas naturais.......................................................................................................3
3.1.1. Calor específico................................................................................................................................4
3.1.2. Massa especifica, densidade e peso específico................................................................................4
3.1.3. Viscosidade dinâmica.......................................................................................................................6
3.1.4. Tensão Superficial............................................................................................................................6
3.1.5. Condutividade térmica....................................................................................................................7
3.1.6. Capacidade de dissolução................................................................................................................7
3.2. Características das Águas Naturais...................................................................................................8
3.2.1. Características físicas......................................................................................................................8
3.2.1.1. Temperatura.................................................................................................................................8
3.2.1.2. Cor.................................................................................................................................................8
3.2.1.3. Condutividade eléctrica..............................................................................................................11
3.2.2. Características químicas................................................................................................................11
3.2.2.1. pH.................................................................................................................................................11
3.2.2.2. Alcalinidade.................................................................................................................................12
3.2.2.3. Acidez...........................................................................................................................................12
3.2.2.4. Dureza..........................................................................................................................................13
3.2.2.5. Oxigénio dissolvido.....................................................................................................................14
3.2.2.6. Demanda química de oxigénio e bioquímica de oxigénio.........................................................15
3.2.2.7. Carbono orgânico total...............................................................................................................16
3.2.2.8. Contaminantes orgânicos...........................................................................................................17
3.2.2.9. Ferro e Manganés.......................................................................................................................18
3.2.2.10. Nitrogénio..................................................................................................................................19
3.2.2.11. Fósforo.......................................................................................................................................20
3.2.2.12. Fluoretos....................................................................................................................................20
3.2.2.13. Metais pesados...........................................................................................................................20
3.2.2.14. Pesticidas...................................................................................................................................21
2.

1. Introdução

A água quimicamente pura não existe à superfície da terra. A expressão água pura é usada como
sinónimo de água potável, para exprimir que uma água tem qualidade satisfatória para o
consumo humano.

Água potável é aquela que é própria para o consumo humano pelas suas qualidades físicas ou
organoléticas, químicas, microbiológicas ou seja é aquela que atende os padrões de potabilidade
de água fixados pelo ministério da saúde através do Diploma Ministerial 180º/2004 de 15 de
Setembro. Segundo o mesmo Diploma Ministerial Define-se Qualidade de Água como sendo o
conjunto das características Físicas e Organoléticas, Microbiológicas e Químicas.

Deste modo pode-se notar que para a avaliação da qualidade de água é necessário a determinação
das características da qualidade de água (Físicas e Organoléticas, Microbiológicas e Químicas) e
estas características só podem ser determinadas no laboratório de química através de diversas
técnicas de análise de água.

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2.

2. Conceito e Histórico
A água ocupa aproximadamente 75% da superfície da Terra e é o constituinte orgânico mais
abundante na matéria viva, integrando aproximadamente dois terços do corpo humano atingindo
até 98% em certos animais aquáticos, legumes, frutas e verduras. Constitui-se também no
solvente universal da maioria das substâncias, modificando-as e modificando-se em função
destas. Diversas características da águas naturais advém dessa capacidade de dissolução,
diferenciando-as pelas características do solo da bacia hidrográfica. Como consequência, o corpo
de água, rio ou lago, sempre inclui a bacia hidrográfica que, por sua vez, imprimirá muitas das
características. Aliada a capacidade de dissolução, a água actua como meio um meio de
transporte – em escoamento superficial e subterrâneo – permitindo que as características do
mesmo curso de água alterem-se temporal e espacialmente. Por fim, as características das águas
naturais influenciam no metabolismo dos organismos aquáticos e são também influenciadas por
ele, conferindo estreita interacção entre esses seres vivos e o meio ambiente, base da ciência
denominada ecologia.

A relação do ser humano com os corpos de água data de tempos imemoriais. Estima-se que a
10000 anos, com a revolução da agricultura, o ser humano começou a abandonar a caça como
principal fonte de sustento e iniciou-se o cultivo das primeiras culturas e a criação dos rebanhos.
Como consequência, renunciou-se progressivamente o nomadismo que caracterizava as
primeiras comunidades, e a busca de fontes de abastecimento culminou com o estabelecimento
dos primeiros povoados a margem dos cursos de água, provavelmente na região da Mesopotânea
(Iraque). A partir daí delineou-se clara identificação dos primeiros povoados e, posteriormente,
das primeiras cidades, com o curso de água que as margeia, muitas vezes emprestando-lhes o
próprio nome.

2.1. Quantidade e Composição da Água


A água é composta por dois elementos químicos: Hidrogénio e Oxigénio, representados pela
fórmula H2O. Como substância, a água pura é incolor, não tem sabor nem cheiro.

Quimicamente, nada se compara à água. É um composto de grande estabilidade, um solvente


universal e uma fonte poderosa de energia química. A água é capaz de absorver e libertar mais
calor que todas as demais substâncias comuns.

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2.

A maior parte, 97%, é salgada. Apenas 3% do total é água doce e, desses, 0,5% vai para os rios,
ficando disponível para uso. O restante está em geleiras, icebergs e em subsolos muito
profundos. Ou seja, o que pode ser potencialmente consumido é uma pequena fracção.

Há muita coisa a saber a respeito da água. Ela está presente nos menores movimentos do nosso
corpo, como no piscar de olhos. Afinal, somos compostos basicamente de água.

Esse líquido precioso está nas células, nos vasos sanguíneos e nos tecidos de sustentação. Nossas
funções orgânicas necessitam da água para o seu bom funcionamento. Em média, um Homem
tem aproximadamente 47 litros de água. Diariamente, ele deve repor cerca de dois litros e meio.
Todo o nosso corpo depende da água, por isso, é preciso haver equilíbrio entre a água que
perdemos e a água que repomos.

Quando o corpo perde líquido, aumenta a concentração de sódio que se encontra dissolvido na
água. Ao perceber esse aumento, o cérebro coordena a produção de hormonas que provocam a
sede. Se não beber água, o ser humano entra em processo de desidratação e pode morrer de sede
em cerca de dois dias.

Quando congelada, ao invés de se retrair, como acontece com a maioria das substâncias, a água
se expande e, assim, flutua sobre a parte líquida, por ter se tornado "mais leve". De acordo com
leis da física, isso não deveria acontecer. Por causa dessa propriedade não comum da água é que
os rios, lagos e oceanos, ao congelarem, formam uma camada de gelo na superfície enquanto o
fundo permanece líquido. No que diz respeito a uma série de propriedades físicas e químicas, a
água é uma verdadeira excepção à regra.

A Terra está a uma distância do sol que permite a existência dos três estados da água: sólido,
líquido, gasoso.

3. Propriedade e Características das águas naturais

3.1. Propriedades das águas naturais


Importante distinção deve ser feita entre propriedades e as características (físicas, químicas e
biológicas) das águas naturais. As propriedades da água – ou por definição, característica do que
é próprio – constituem-se no que lhe é inerente e a distingue dos demais fluidos. Já as
características diferenciam as águas naturais entre si, podendo se manifestar em uma ou outra

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condição. Por exemplo, para o abastecimento público, a estrutura de captação haverá de


influenciar nas características de água bruta, mas não interfere nas propriedades. Nesse aspecto,
há controvérsias se a temperatura seria uma propriedade ou característica física. Optou-se pela
última devido a importância no tratamento e à mencionada influência em algumas das
propriedades das águas naturais.

3.1.1. Calor específico


O calor específico é a quantidade de energia requerida, por unidade de massa, para elevar a
temperatura de um fluido ou substância e, nesse contexto, uma caloria (Cal) é a energia requerida
para elevar em 1ºC a temperatura de um grama de água. O elevado calor especifico da água (1,0
cal/g ºC), superado apenas pelo hidrogénio líquido e amoníaco, permite absorver grande
quantidade de calor sem apresentar variação significativa de temperatura. Essa propriedade
adquire crucial importância para a bio - diversidade do meio aquático e também para o
abastecimento público, pois significativa amplitude térmica do ar atmosférico em muito menor
magnitude em termos da alteração da temperatura da água.

3.1.2. Massa especifica, densidade e peso específico


Define-se massa específica (Kg/m3) o quociente entre a massa e o volume de um fluido de
determinada substância, diferindo do conceito de densidade. Esse dimensional à razão entre a
massa específica do líquido ou sólido e a da água a 4ºC, e para os gases considera-se como
referência a massa específica do ar atmosférico a 0ºC. Associa-se também ao conceito de massa
específica, o peso específico (N/m3) como o produto desta e a aceleração de gravidade.

A água apresenta interessante particularidade em relação a massa específica, quando comparada


aos demais líquidos por apresentar o valor máximo a 4ºC (1000Kg/m 3), enquanto para os demais
tal ocorre na temperatura de congelamento. À temperatura de 20ºC, usual na maioria dos
sistemas do país a massa específica da água é 998 Kg/m3 e o peso específico 9789 N/m3.

A variação da massa específica da água com a temperatura assegura a manutenção da vida


aquática e a constância do próprio abastecimento de água em diversos países do hemisfério norte
nos quais os invernos são muito rigorosos. Por ser mais densa a 4ºC do que a 0ºC, para
temperaturas negativas, a água termina por ocupar camadas profundas de rios e lagos, permitindo

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que a superfície do corpo hídrico se congele. Dessa forma, garante-se a preservação da
continuidade no abastecimento.

As maiores variações na densidade da água verificam-se para temperaturas superiores a 20ºC.


Por exemplo, a diferença de densidade da água entre as temperaturas de 24 e 25ºC é 26 vezes
maior em relação ao intervalo de 4 a 5ºC. Essa propriedade assegura a estratificação de corpos de
água, principalmente lagos e represas. Dependendo da magnitude da diferença de temperatura e
de densidade, forma-se três camadas distintas, denominadas epilímnio, metalímnio e hipolímnio.
A primeira camada superficial tem maior temperatura e menor densidade, na camada
intermediária ocorre queda acentuada da temperatura e a terceira ao fundo tem maior
temperatura e menor densidade.

É evidente que quanto menor for a temperatura externa menor também será a diferença de
densidade ao longo da profundidade e, portanto, menos significativa a estratificação térmica do
corpo da água. Dessa forma nos períodos mais frios do ano, a densidade tenderá a apresentar
menor variação ao longo da profundidade e, nessas circunstância pode ocorrer o fenómeno do
turn over ou virada do lago ou reservatório, caso a acção dos ventos favoreça a circulação da
água no seu interior. Quando da virada do reservatório, pode ocorrer o revolvimento do fundo e
significativa alteração das características da água bruta com efeitos no processo de tratamento.
Captações realizadas a partir de reservatórios de acumulação comummente apresentam torres de
tomada que permitem a captação da água bruta a distintas profundidades da coluna de água,
minimizando tais efeitos. A estratificação voltará a se estabelecer com o aumento da temperatura
da superfície.

Essa propriedade da água, denominada anomalia térmica, decorre das variações na estrutura
molecular da água com a temperatura. Na forma de gelo, a água apresenta estrutura tetraédrica
ou cristalina, caracterizada pela existência de espaços vazios. Á como compacta, na qual as
moléculas estão acondicionadas sem espaços vazios. Isso significa que, com o incremento da
temperatura a partir do congelamento, a água vai-se tornando cada vez mais densa. Em contra
partida, esse aumento da temperatura provoca a expansão molecular nos corpos. Dessa forma,
dois fenómenos contrapõe-se quando ocorre um aumento da temperatura. Por um lado a
densidade aumenta, em razão de alterações na estrutura molecular, e, ao mesmo tempo,
diminuem em decorrência da expansão molecular. A super - posição desses dois fenómenos

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conduz à obtenção do ponto de densidade máxima a 4ºC, reduzindo-se, posteriormente, com o
aumento da temperatura.

3.1.3. Viscosidade dinâmica


A viscosidade dinâmica ou absoluta (Pa.s) de um líquido traduz a sua resistência ao escoamento,
e o quociente entre esta e a massa específica denomina-se viscosidade cinemática (m 2/s). Entre
os líquidos, a água apresenta viscosidade baixa, superior apenas a benzeno e a da gasolina. A
viscosidade dos líquidos é inversamente proporcional à temperatura, pois, com o aumento desta,
se reduz a coesão entre as moléculas e consequentemente a resistência ao escoamento. É
interessante constatar que para os gases, como as forças de coesão são muito menores, a
viscosidade é directamente proporcional à temperatura. Da mesma forma, para a temperatura de
20ºC, a água apresenta viscosidade dinâmica de 10-3 Pa.s e viscosidade cinemática de 10-6 m2/s.

Para o ambiente aquático essa propriedade interfere na sobrevivência de diversos organismos,


como algumas espécies de algas, que não apresentam movimentação própria. Durante os
períodos mais quentes do ano com a redução da viscosidade, esses organismos tendem a se
aprofundar na coluna de água, onde há menor disponibilidade de luz e oxigénio. No processo de
tratamento de água bruta, em contrapartida a redução da viscosidade favorece a sedimentação de
partículas, embora o aporte tenda a se elevar devido à concomitância das precipitações com
períodos mais quentes do ano.

3.1.4. Tensão Superficial


Na interface entre um líquido e um gás, ou dois líquidos imiscíveis, desenvolve-se uma fina
película devido as forças de atracão entre as moléculas do líquido abaixo da superfície. Como
consequência, da mesma forma que a viscosidade, a tensão superficial da água é inversamente
proporcional a temperatura. Exemplo clássico refere-se à colocação de um pequeno alfinete
sobre a superfície da água, constando-se que essa fina película suporta seu peso.

Essa propriedade permite que diversos pequenos organismos possam sobreviver na interface
água-ar atmosférico e desempenhem importante papel na cadeia trófica do ambiente aquático.

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Além do efeito da temperatura, a tensão superficial da água, pode ser afectada pelo lançamento
de despejos contendo sabões e detergentes que causará o desequilíbrio desse ecossistema.

3.1.5. Condutividade térmica


A condutividade térmica de fluido constitui-se no coeficiente de transferência de calor em função
do gradiente de velocidade ou, em outras palavras, é a capacidade de um fluido ou substância
transmitir a energia térmica por meio das colisões moleculares. Diferentemente do calor
específico, a água apresenta baixa condutividade térmica e a difusão de calor na massa líquida
somente ocorre por convenção devido à variação da densidade (massa específica) com a
temperatura na coluna de água.

3.1.6. Capacidade de dissolução


Conforme mencionado, as águas naturais apresentam capacidade de dissolução de grande
diversidade de substâncias química e gases. A solubilidade das primeiras é significativamente
influenciada pelo aumento da temperatura e redução do pH do ambiente aquático. A solubilidade
dos gases na água e a concentração por consequência depende da denominada pressão parcial do
gás, e esta, da temperatura.

A relevância das substâncias dissolvidas presentes nas águas naturais relacionar-se-á com o tipo
de uso e com as actividades desenvolvidas na bacia hidrográfica. Para fins de consumo humano,
os compostos orgânicos têm adquirido progressivamente maior relevância pela dificuldade na
remoção nas estações de tratamento, pela perspectiva de conferir odor e sabor à a água tratada –
favorecendo a rejeição da comunidade abastecida – e pela formação de subprodutos da
desinfecção com compostos de cloro.

Corpos de água em regiões de garimpo ou sujeitos ao lançamento de efluentes industriais tendem


a apresentar concentrações mais significativa de metais pesados – principalmente mercúrio,
chumbo e crómio. Finalmente, vale mencionar os compostos de fósforo e nitrogénio (amónia,
nitrito, nitrato) – originários de araste de fertilizantes no solos utilizados para a prática de
agricultura ou de lançamento de despejos – responsáveis pela eutrofização de lagos e
reservatórios, bem como alguns aniões (carbonatos, bicarbonatos, cloretos e sulfatos),
responsáveis pela alcalinidade e dureza das águas naturais.

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Em relação aos gases dissolvidos nas águas naturais, evidente importância recai para oxigénio
dissolvido (OD) pelo fundamental papel na manutenção da diversidade do ecossistema aquático.
Embora existam organismos anaeróbicos, capazes de utilizar o oxigénio contido em compostos
como sulfatos (SO4-2) e nitratos ( NO3-), a bio - diversidade de um ecossistema é assegurada pela
concentração de OD. Reforça essa assertiva o facto de a respiração anaeróbica favorecer a
emanação de gases mal cheirosos como sulfeto de hidrogénio (H2S) e metano (CH4).

3.2. Características das Águas Naturais


As características físicas, químicas e biológicas das águas naturais decorrem de uma série de
processos que ocorrem no corpo hídrico e na bacia hidrográfica, como consequência das
mencionadas capacidades de dissolução de uma ampla gama de substâncias e de transporte pelo
escoamento superficial e subterrâneo.

3.2.1. Características físicas

3.2.1.1. Temperatura
A temperatura da água e dos fluidos em geral indica a magnitude da energia cinética do
movimento aleatório das moléculas e sintetiza o fenómeno de transferência de calor à massa
líquida. As forças de coesão inter-molecular. O novo aumento da temperatura fará com que
ocorra a expansão e mudança de estado para gás ou vapor.

A temperatura é directamente proporcional à velocidade das reacções químicas, à solubilidade


das substâncias e ao metabolismo dos organismos presentes no ambiente aquático. A alteração da
temperatura das águas naturais decorre principalmente da insolação e, quando de origem
antropogênica, de despejos industriais e águas de refrigeração de máquinas e caldeiras.

Para fins de tratamento, essa característica representa uma vantagem ainda maior para os países
tropicais, nos quais as variações das temperatura da água são menos significativas. A etapa de
coagulação –presente na quase totalidade das tecnologias de tratamento realiza-se de comomenos
êxito a baixas temperaturas.

3.2.1.2. Cor
A cor da água é produzida pela reflexão da luz pelas partículas, denominadas colóides, finamente
dispersas, de origem predominante orgânica e dimensão inferior a 1µm. Pode também ser

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resultado da presença de compostos de ferro e manganês ou de diversos tipos de resíduos
industriais. Quando a cor se manifesta em águas subterrâneas, via de regra é resultado da
presença desses compostos de ferro e manganês.

Os compostos orgânicos que conferem cor às águas naturais são provenientes basicamente de
duas fontes:

a) Em maior magnitude, da decomposição de matéria orgânica de origem predominantemente


vegetal e do metabolismo de microorganismos presentes no solo;

b ) Actividades antropogênicas, tais como, descargas de efluentes domésticos ou industriais,


lixiviação de vias urbanas e solos usados para a prática agrícola.

Confere-se a denominação de substâncias húmicas ao conjunto de compostos orgânicos de


elevado peso molecular, de origem predominantemente vegetal e de dimensões coloidais, cuja a
constituição, em média, apresenta 87% de ácidos fúlvicos, 11% de ácidos himatomelânicos e
apenas 2% de ácidos húmicos, propriamente ditos.

Para efeitos de caracterização de água usada para o abastecimento, distingue-se cor aparente, na
qual considera-se as partículas suspensas, da cor verdadeira. A determinação da segunda realiza-
se após a centrifugação ou filtração da amostra em filtro de papel para a remoção de partículas
suspensas. A determinação da intensidade da cor da água é realizada comparando-se a amostra
de cobalto-platina, sendo os resultados apresentados em T.C.U. O regulamento de qualidade de
água para o consumo humano, do MISAU, define o limite máximo em 15T.C.U.

A cor verdadeira constitui-se em importante indicador da concentração da matéria orgânica


presente nas águas naturais, embora não haja menção a esse parâmetro para água tratada no
actual padrão de potabilidade. A inferência da matéria orgânica pode ser efectuada por meio da
determinação carbono orgânico total (COT), do oxigénio consumido, da demanda bio (química)
de oxigénio – inusuais em estações de tratamento de água – e da absorvância por raios
ultravioletas a comprimento de onda de 254nm.

As águas naturais apresentam, em geral cor verdadeira variando de 0 a 200 TCU, sendo os
valores inferiores a 10TCU dificilmente perscéptiveis. Corpos de água de cor naturalmente
escura ocorrem em regiões ricas em vegetação e, consequentemente, de solos menos erodíveis.

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A importância da cor como parâmetro de qualidade como parâmetro de qualidade de água
adquiriu maior evidência após a confirmação, no inicio da década de 1970, da perspectiva de
formação de produtos potencialmente cancerígenos (Tihalometanos - THM) como consequência
da cloração de águas coloridas com a finalidade de abastecimento. Vale ressaltar que os THM
não são os únicos produtos da desinfecção, mas principalmente, verifica-se maior prevalência na
formação de espécies halogenadas do que de outros subprodutos, e seus efeitos na saúde têm sido
avaliados há mais de duas décadas, a despeito da amplitude de variação desse parâmetro nos
diversos países.

Conforme mencionado, a matéria orgânica presente na águas naturais é composta de substâncias


húmicas e não-húmicas. As primeiras referem-se a um conjunto de compostos orgânicos de
dimensões coloidais e de origem predominantemente vegetal cuja a sua constituição média
congrega ácidos fúlvicos, em grandes quantidades, ácidos húmicos propriamente ditos. Já
proteínas, carbohidratos, algas e seus produtos metabólicos, aminoácidos, ácidos carboxílicos e
hidrocarbonetos, principalmente, constituem as substâncias não húmicas. Há controvérsia acerca
da parcela predominante na matéria orgânica, embora as substâncias húmicas tendem a
prevalecer em mananciais com menos impactos por actividades atropogênicas ou nos quais não
se verificam florações de algas.

A distinção da parcela concernente a parcela aos ácidos fúlvicos na matéria orgânica natural
ganhou projecção no meio científico pela menor susceptibilidade destes à coagulação. Por outro
lado, os ácidos húmicos, de maior peso molecular, apresentam capacidade de, ao complexarem
traços de metais, como ferro, por exemplo, contribuir ainda mais significativamente para cor das
águas naturais e, embora mais facilmente removidos na coagulação, formam maiores
concentrações de THM e Ácidos Haloáceticos (AHA). Nessa prespectiva, o emprego de diversos
processos oxidativos – ozono, ultravioleta, peróxido de hidrogénio tende a reduzir o peso
molecular dessas substâncias tornando-as menos reactivas com o cloro e reduzindo a cloração da
água tratada.

A presença da matéria orgânica, além de fomentar a formação de subprodutos, pode conferir


odor e sabor às águas, interferir na remoção de ferro e manganês e propiciar condições para o
recrudescimentos na rede distribuição. Já a alguns anos, pesquisadores têm investigado os
factores intervenientes no crescimento de bio - filmes nas redes de distribuição, concluindo que

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este ocorre quando a matéria orgânica e a temperatura da água eleva-se. Atribui-se a parcela não
húmica da matéria orgânica papel mais relevante no desenvolvimento desses bio - filmes.
Factores hidráulicos e ambientais tais como pH, temperatura e pluviosidade além da presença de
resíduos desinfectantes, a corrosão e acumulação de sedimentos, tem sido relacionados ao
crescimento de bactérias nas águas de abastecimento.

3.2.1.3. Condutividade eléctrica


A condutividade eléctrica indica a capacidade da água natural de transmitir a corrente eléctrica
em função da presença de substancias dissolvidas que se dissociam em aniões e catiões, sendo,
por consequência, directamente proporcional à concentração iónica. Relaciona-se ao teor de
salinidade, característica relevante para muitos mananciais subterrâneos e águas superficiais
próximas ao litoral passíveis de intrusão de água salgada.

3.2.2. Características químicas

3.2.2.1. pH
O potencial hidrogeniónico (pH) consiste na concentração dos iões H+ nas águas e representa a
intensidade das condições ácidas ou alcalinas do ambiente aquático. Talvez se constitua no
parâmetro com maior frequência no monitoramento na rotina operacional das estações de
tratamento, pela interferência em diversas processos e operações unitários inerentes a tratamento
de . É determinado em escala antilogarítmica –pH = -log (H+)
compreendendo o intervalo de 0 a
14. Valores de pH inferiores a 7 indicam condições ácidas e superiores condições alcalinas da
água natural.

O pH influi no grau de no grau de solubilidade de diversas substâncias, na distribuição das


formas livre e ionizada de diversos compostos químicos, definindo inclusive o potêncial de
toxidade de vários elementos.

As águas naturais de superfície apresentam pH variando de 6,0 a 8,5 – intervalo adequado a


manutenção da vida aquática, embora a prevalência de matéria orgânica manifestada na
intensidade da cor verdadeira, concorra para valores abaixo de 5. Alterações podem ser
decorrentes das seguintes actividades

 formação de algas,

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 fotossíntese e respiração,

 dissolução de rochas e do lançamento de despejos domésticos e industriais.

Mais raramente, em regiões industrializadas, podem ocorrer abaixamento de pH motivado por


chuva ácida devido à complexidade de poluentes gasosos ao vapor de água presente na
atmosfera.

O regulamento de Qualidade de Água para o consumo humano, estabelece o intervalo admissível


(6,5 a 8,5), com objectivo de minimizar as corrosões (para valores muito baixos) ou incrustações
( para valores elevados) nas redes de distribuição.

3.2.2.2. Alcalinidade
A alcalinidade das águas naturais traduz a capacidade de neutralizar ácidos ( ou iões H +) ou a
capacidade de minimizar variações significativas de pH constituindo-se principalmente de
bicarbonatos (HCO3-), carbonatos (CO3-2) e hidróxidos (OH-). No processo de tratamento de água
para o consumo humano, a alcalinidade adquire função primordial no êxito do processo de
coagulação minimizando a redução muito significativa do pH após a dispersão do coagulante.

As três formas de alcalinidade manifestam-se em função do pH. Águas com pH entre 4,4 e 8,3 a
alcalinidade será devido apenas bicarbonatos, pH entre 8,3 e 9,4 a carbonatos e bicarbonatos, e
para pH maior que 9,4 a hidróxidos e carbonatos. Dessa forma, para maioria das águas naturais
de superfície a alcalinidade decorre apenas de bicarbonatos, principalmente, de cálcio e
magnésio.

A alcalinidade não têm significado sanitário. Valores mais elevados de alcalinidade nos corpos
de água estão associados aos processos de decomposição da matéria orgânica, á actividade
respiratória dos microorganismos, com libertação e dissolução do gás carbónico (CO 2) na água, e
ao lançamento de efluentes industriais.

3.2.2.3. Acidez
Em contraposição a alcalinidade, a acidez é a característica química de neutralizar bases e
também evitar alterações bruscas no pH, devido, principalmente, à concentração de CO 2 nas
águas. Pode ter origem natural, pela absorção da atmosfera e decomposição da matéria orgânica,

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ou antrópica, pelo lançamento de despejos industriais e lixiviação do solo de áreas de mineração.
Similarmente, em relação a alcalinidade, a distribuição das formas de acidez efetua-se em função
de pH. Para águas com pH inferior a 4,5, a acidez decorre de ácidos minerais fortes, geralmente
resultante de despejos industriais, pH entre 4,5 e 8,2, acidez devido ao CO 2 e para pH maior que
8,2, CO2 livre ausente.

A acidez é expressa da mesma forma que a alcalinidade (mg/l de CaCO 3) e também não tem
significado sanitário, podendo fomentar a rejeição da população abastecida quando a acidez
mineral for mais pronunciada. Sua insignicancia prende-se à capacidade de corrosão das redes de
distribuição.

3.2.2.4. Dureza
A dureza indica a concentração de catiões multivalentes em solução na água, principalmente de
cálcio (Ca+2) e magnésio (Mg+2), e, em menor monta, alumínio (Al+3), ferro (Fe+2) manganês
(Mg+2) e estrôncio ( Sr+2). A dureza pode ser classificada como dureza carbonato e dureza não –
carbonato, dependendo do anião com o qual está associada. A primeira é sensível ao calor,
precipitando o carbonato ao aumento significativo da temperatura – usual de ocorrer quando a
água atravessa, por exemplo, a resistência dos chuveiros domiciliares - e, por essa razão, recebe a
denominação de dureza não – permanente. A dureza carbonato corresponde a alcalinidade,
estando, portanto, em condições de indicar a capacidade tampão de água natural.

A dureza é expressa em mg/l de equivalente em carbonato de cálcio (CaCO 3) e, ainda que com
alguma imprecisão devido à percetibilidade variável da população abastecida, em função desse
parâmetro, a água pode ser classificada em:

 Mole ou branda: <50mg/L de CaCO3;

 Dureza moderada: 50 a 150mg/L de CaCO3;

 Dura: entre 150 e 300 mg/L de CaCO3;

 Muito dura: >300 mg/L.

A aceitação e a percepção do consumidor para com água de dureza mais elevada apresentam
significativo grau de subjectividade. Os consumidores geralmente preferem consumir água com

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menor dureza, ou seja uma água com a dureza abaixo de 50mg/L de CaCO 3, pois abaixo deste
valor a dureza da água não é perceptível.

A dureza não apresenta significado sanitário e seu inconveniente é de natureza económica por
reduzir a formação de espuma, elevando o consumo de sabões e xampus, e, conforme
mencionado, podendo provocar incrustações nas tubagens de águas quentes, caldeiras e
aquecedores, devido a precipitação a altas temperaturas. Não há ainda confrontação científica
que relacione o consumo de água com maior teor de dureza ao aparecimento de pedras nos rins
na população abastecida.

Frequentemente, a dureza tem origem natural pela dissolução de rochas calcárias, ricas em cálcio
e magnésio e, em menor monta, decorrente do lançamento de efluentes industriais.

Nos corpos de água com uma dureza baixa, a biodiversidade do meio aquático é mais sensível à
presença de substâncias tóxicas, já que a toxidade é inversamente proporcional ao grau da dureza
na água.

3.2.2.5. Oxigénio dissolvido


Ainda que uma afirmativa peremptória possa não se aplicar em alguma situação particular, a
concentração de oxigénio dissolvido (OD) é reconhecidamente mais importante para expressar a
qualidade de um ambiente aquático. Na rotina operacional das estações de tratamento de água, o
OD não se constitui parâmetro de controle, pois a própria escolha do manancial para
abastecimento já subliminarmente o considerou como parâmetro relevante.

Comummente, refere-se à concentração de OD como a percentagem da concentração de


saturação, pois os valores absolutos podem não necessariamente traduzir as condições do corpo
de água. A concentração de OD à saturação é directamente proporcional à pressão atmosférica –
ou inversamente proporcional à altitude – e indirectamente proporcional a temperatura. Dessa
forma, regiões ao nível do mar tenderiam a apresentar maiores concentrações de OD quando
comparadas às verificadas nas regiões montanhosas. Ao nível do mar e à temperatura de 20ºC, a
concentração de OD, à saturação é igual a 9,2mg/L. Também a salinidade exerce factor imitante
à concentração de OD, ou seja, a água do mar, nas mesmas condições de pressão atmosférica e
temperatura, apresentará menor concentração de OD quando comparada à água doce. Além das

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acções antropogênicas no lançamento de efluentes, as concentrações de OD podem variar
naturalmente. Curso de água com velocidade mais elevada favorece o aporte de oxigénio da
atmosfera, enquanto em lagos e reservatórios, a concentração de OD pode superar à de saturação
em dias de intensa actividade fotos sintética da comunidade de algas e de plantas aquáticas. Esse
fenômino denominado de supersaturação de OD somente pode ocorrer pela actividade fotos
sintética.

A redução do OD pode ocorrer por razões naturais principalmente pela respiração dos
organismos presentes no ambiente aquático, mas também por perdas para atmosfera,
mineralização da matéria orgânica e oxidação de iões. Nessa última premissa, lagos e
reservatórios, por, vezes, apresentam variações significativas nas concentrações de OD no
período nocturno, devido ao processo inverso da fotossíntese realizado pelas algas e plantas
aquáticas que, na respiração, consomem o oxigénio e libertam o gás carbónico (CO 2). O aumento
da concentração de CO2 pode acarretar inclusive a redução mais significativa do pH e favorecer a
ressolubilização de diversos compostos depositados no fundo do corpo de água.

As variações nos teores de OD estão associadas aos processos físicos, químicos e biológicos que
ocorrem nos corpos de água. Para a manutenção da vida aquática aeróbia, são necessários teores
mínimos de oxigénio dissolvido de 2 a 5 mg/l, de acordo com a exigência de cada organismo. A
concentração de oxigénio disponível mínima necessária para a sobrevivência das espécies
aquáticas é de 4mg/L para a maioria dos peixes é de 5mg/L para trutas e salmões, o que explica a
prevalência dessas espécies em águas de baixa temperatura.

Em condições anaeróbicas (ausência de oxigénio dissolvido), os compostos químicas são


encontrados na sua forma reduzida ( não oxidada), geralmente solúvel no meio líquido,
disponibilizando, portanto, as substâncias para assimilação pelos organismos que sobrevivem
nessas condições no ambiente aquático. À medida que se eleva a concentração de oxigénio
dissolvido, os compostos vão se precipitando, ficando armazenados no fundo dos corpos de água.

3.2.2.6. Demanda química de oxigénio e bioquímica de oxigénio


O parâmetro Demanda Bioquímica de Oxigénio (DBO) e Demanda Química de Oxigénio
( DQO) expressa a presença de matéria orgânica, constituindo-se em importante indicador de
qualidade das águas naturais. Na realidade, ambos parâmetros indicam a magnitude do consumo

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de oxigénio (em mg/L) pelas bactérias na estabilização da matéria orgânica. A determinação da
DBO realiza-se a partir da diferença da concentração de OD em amostra de água em período de
5 dias e temperatura de 20ºC. Já a DQO é determinada titulação química e o resultado é obtido é
menos de 3 horas, sendo utilizada no monitoramento de estações de tratamento de esgotos. Dessa
forma, se uma amostra de água natural apresentar DBO de 10mg/l indica que serão necessários
10mg de oxigénio dissolvido para estabilizar, em período de 5 dias, a 20ºC, a quantidade da
matéria orgânica biodegradável contida em 1 L da amostra.

A DBO refere-se à matéria orgânica passível de ser estabilizada biologicamente, enquanto a


DQO engloba a parcela estabilizada quimicamente, tendo, portanto, valor sempre superior.
Ambos parâmetros não são monitorados nas estações de tratamento, pois as águas naturais
utilizadas para o abastecimento apresentam comummente DBO inferior a 5mg/L. Valores mais
elevados sucedem-se em corpos de água receptores de efluentes domésticos (DBO da ordem de
200 a 300 mg/L) e industriais ou águas lixiviadas de criatórios ( Curais ou pocilgas.

3.2.2.7. Carbono orgânico total


Como um dos indicadores da concentração de matéria orgânica nas águas naturais, o carbono
orgânica total divide-se em fracções referentes às parcelas dissolvida ou em partícula.
Determina-se sua fracção dissolvida (carbono orgânico dissolvido –COD) ao filtrar a amostra de
água em membrana 0,45 µm, com a parcela retida constituindo o carbono orgânico em
partículas. A maior ou menor prevalência da parcela referente ao COD é resultante da origem da
água natural. Por motivos óbvios, águas subterrâneas usualmente apresentam parcela ínfima de
carbono orgânico em partículas, enquanto mananciais susceptíveis a receber a receber despejos
ou águas originárias do escoamento superficial sobre áreas urbanas tenderão a apresentar
percentagens mais significativos de matéria orgânica em partícula corroborados também pela
maior turbidez. Também, nesse caso, a perspectiva de florações de algas haverá de contribuir
para incremento dessa parcela na matéria orgânica presente nas águas.

Em águas superficiais, o teor de COT varia 1 a 20 mg/L, elevando-se para até 1000 mg/L, nas
águas residuais. Dessa forma, uma alteração significativa desse parâmetro constitui-se em
indicativo de novas fontes poluidoras e balizador das análises a serem realizadas, tais como cor
verdadeira, clorofila a, fósforo total etc.

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O COT, principalmente na forma dissolvida, assume papel preponderante no desenvolvimento da
comunidade de algas no ecossistema aquático. Além de se inserir na cadeia trófica de bactérias e
algas - como agente precipitante de nutrientes na camada bentônica para a produção primária -, o
COT actua também no processo da fotossíntese, por intermédio da interferência na penetração
das radiações solares no corpo de água.

A relevância do monitoramento do COT consolidou-se na perspectiva de minimizar formação


dos THM e outros subprodutos da desinfecção.

3.2.2.8. Contaminantes orgânicos


Relacionada ao COT, pois todos compostos ou contaminantes orgânicos têm o carbono
associado a um ou mais elementos, a concentração de diversos contaminantes orgânicos, na
quase totalidade, reflecte as consequências das actividades antropogénicas para a qualidade dos
corpos de água. Grupo de compostos orgânicos denominados hidrocarbonetos contém apenas
átomos de hidrogénio, enquanto tantos outros incorporam também o oxigênio.

Além dos subprodutos de desinfecção e os pesticidas, destaca-se uma variedade de compostos


orgânicos sintéticos, resultado do lançamento de efluentes industriais, lixiviação de solos na
agricultura e de vias urbanas, percolação de solos contaminados. Esses compostos, além de
carbono e hidrogénio, podem conter halogéneos, tais como flúor e cloro, e metais inorgânicos, e
quase totalidade causa efeitos adversos à saúde humana.

A USEPA ( Unite States Envioronmental Protection Agency) estabelece interessante distinção


para os contaminantes orgânicos, dividindo-os em três categorias.

A primeira (Categoria I) congrega os compostos sobre os quais há forte evidência acerca das
suas propriedades cancerígenas e a recomendação e a recomendação é de se atingir como
objectivo concentração nula nas águas de consumo. Toda via a limitações em termos de detenção
desses compostos por meio de técnicas laboratoriais confiáveis e da própria remoção na estação
de tratamento.

Para os integrantes da categoria II as evidências acerca das propriedades cancerígenas não são
definitivas, mas outros efeitos nocivos à saúde já foram confirmados. Para os demais, categoria
III, não evidências de efeitos cancerígenos mas outros efeitos à saúde já se confirmaram, tais,

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como, danos ao fígado e aos sistemas cardiovasculares e nervoso central. Nessas categorias,
estabelece-se um valor numérico para cada contaminante.

3.2.2.9. Ferro e Manganés


Ambos metais originam-se da dissolução de compostos de rochas e solos . por ser um dos
elementos mais abundantes, o ferro é comummente encontrado nas águas naturais, superficiais e
subterrâneas, apresentando-se nas formas insolúvel (Fe+3) e dissolvida (Fe+2). A segunda forma é
frequentemente em águas subterrâneas de poços artesianos e no fundo de lagos e reservatórios de
acumulação onde se verificam baixas concentrações de oxigénio dissolvido. Eventual oxidação
na rede de distribuição para a forma insolúvel pode conferir a cor marrom ou avermelhada à água
de consumo e fomentar a rejeição pela população abastecida. Em águas subterrâneas, o ferro
constitui nutriente para algumas espécies de bactérias – principalmente de género crenotrix e
Gallionella, não sem razão, denominadas ferrobactérias – que podem crescer no interior das
redes de distribuição também conferindo cor, odor e sabor à água, além de possibilidade de
incrustação.

O ferro não apresenta inconveniente sanitário, mas de carácter económico, mas por produzir
manchas em roupas e aparelhos sanitários em concentrações superiores a 0,3mg/L e em maiores
concentrações, conferir sabor à água de consumo. O regulamento de qualidade de água para o
consumo humano, estabelece a concentração máxima de ferro total de 0,3mg/L. A remoção de
ferro pode ser por aeração - para favorecer a oxidação à forma insolúvel -, coagulação ou pré –
desinfecção com compostos de cloro.

Embora bem menos abundante e, quando presente, frequentemente associado ao ferro, o


manganês também apresenta-se na forma dissolvida (Mn+2) e insolúvel (Mn+4) em menores
concentrações quando comparado ao ferro. Por se apresentar mais estável na forma reduzida do
que o ferro, sua oxidação torna-se mais difícil e a simples aeração não é exitosa na remoção de
manganês. Em contrapartida, como usualmente apresenta-se na forma na forma de óxidos,
carbonatos ou hidróxidos pouco solúveis, as concentrações de manganês em águas superficiais
raramente excedem 1,0 mg/L, à excepção das mesmas circunstâncias verificadas para o ferro em
relação a águas subterrâneas de poços profundos com baixas concentrações de oxigénio
dissolvido.

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Como o ferro, o manganês não apresenta significado sanitário e os inconvenientes são de
natureza estética. Concentrações superiores a 0.05mg/L podem favorecer o aparecimento de
manchas em vestes e aparelhos sanitários.

3.2.2.10. Nitrogénio
O nitrogénio, gás mais abundante na atmosfera terrestre (78%), pode ser encontrado nos corpos
de água em função do seu estado de oxidação sob as formas:

1. Nitrogénio orgânico na forma dissolvida – compostos orgânicos nitrogenados – e partícula,


integrando a biomassa dos organismos do meio aquático;

2. Nitrogénio molecular (N2), sujeito a constantes perdas na atmosfera;

3. Amónia ( NH4+), forma reduzida presente em condições anaeróbias;

4. Nirito ( NO2-), forma intermediária e instável da oxidação do amónio;

5. Nitrato ( NO3-), forma oxidada presente em condições anaeróbicas e indicador de poluição


remota por esgotos domésticos.

O ciclo de nitrogénio realiza-se por meio de bactérias nos processos de nitrificação O primeiro
consiste na sucessiva oxidação da amónia (NH3) a nitrito e posteriormente o nitrito (realizado
pelas bactérias nitrificantes do género Nitrosomonas), enquanto o segundo, refere-se à redução
do nitrato a nitrogénio gasoso (realizado pelas bactérias do género Nitrobacter). O nitrogénio
constitui, junto com o fósforo, nutriente essencial ao crescimento de algas e plantas aquáticas,
facilmente assimilável nas formas de amónio e nitrato. Em relação à forma molecular, factor
relevante à floração de alguns espécies de algas e cianobactérias em lagos e reservatórios de
acumulação refere-se à capacidade de fixação do nitrogénio atmosférico, permitindo o seu
crescimento mesmo quanto as outras formas de nitrogénio não estão disponíveis na massa
líquida.

A forma de nitrato está associada à associada à doença metamoglobinemia, responsável por


acometer bebés ao dificultar o transporte de oxigénio na corrente sanguínea, pois o metabolismo
dos adultos impede a oxidação de nitrito a nitrato. O nitrogénio na forma de amónia,
predominante em águas de alcalinidade elevada, é tóxico para a maioria das espécies de peixes.

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3.2.2.11. Fósforo
Por ser menos abundante que o nitrogénio, o fósforo acaba por se constituir no principal factor
limitante no desenvolvimento de algas e plantas no meio aquático. O fósforo apresenta-se nas
formas de ortofosfatos, polifosfato e fósforo orgânico, originando-se da dissolução de compostos
do solo e decomposição da matéria orgânica. Por actividade antropogénica, o aporte de fósforo
aos corpos de água pode ocorrer, semelhantemente ao nitrogénio por lançamento de despejos
domésticos e industriais, fertilizantes e lixiviação de criatórios de animais.

As formas de ortofosfatos, sendo HPO 4-2 a mais comum para as faixas de pH das águas naturais,
são as mais facilmente assimiláveis por algas e plantas aquáticas, e em águas naturais não
poluídas as concentrações de fósforo são comummente inferiores a 0,02mg/L. O fósforo não
apresenta inconveniente de ordem económica ou significado sanitário para águas de consumo
humano.

3.2.2.12. Fluoretos
Menos frequentemente em águas superficiais que os cloretos, concentrações de fluoretos (F-) são
relativamente comuns em águas subterrâneas decorrentes da decomposição de solos e rochas.
Em concentrações superiores a 2,0 mg/L, pode favorecer o desenvolvimento da fluorose –
progressivo escurecimento e deterioração dos dentes. As concentrações de fluoretos nas águas de
consumo objectivam minimizar o desenvolvimento da cárie dentária em crianças até aos 12 anos
e são condicionadas à temperatura média do ar, em função do volume diário ingerido.

3.2.2.13. Metais pesados


Diversos metais pesados são encontrados na forma dissolvida nas águas naturais, resultado do
lançamento de efluentes industriais e da lixiviação de áreas de garimpo e mineração, com
agravante de, conforme já mencionado, não conferir sabor ou odor à água de consumo.
Destacam-se arsénio, crómio, cobre, mercúrio, chumbo e prata. Aliados a concentração eleva-se
à medida que se ascende na cadeia alimentar.

Constitui exemplo emblemático a contaminação por mercúrio ocorrida na Baia de Minamata no


Japão na década de 1950 que ceifou a vida de muitas pessoas, além de causar danos no sistema
nervoso central em outras tantas. Naquela ocasião, despejos de uma industria eram lançados no

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mar e verificou-se o progresso aumento da concentração de mercúrio – na forma orgânica
(metilmercúrio) – na biomassa dos peixes e dos habitantes da baia.

Ainda que menos frequente o chumbo ocorre em águas também por meio da corrosão de
tubulações mais antigas soldadas com ele. Uma série de danos pode causada pela contaminação
com chumbo ; inclusive, têm sido verificadas propriedades carcinogênicas em experiência com
cobaias. Denomina-se saturnismo a intoxicação aguda por ingestão de chumbo e há uma
suposição de alta incidência dessa enfermidade na população da Roma antiga, cujas canalizações
eram constituídas por esse metal.

3.2.2.14. Pesticidas
À denominação de pesticidas inclui um rol de compostos orgânicos sintéticos utilizados como
herbicidas, insecticidas e fungicidas extensivamente empregados, principalmente na agricultura,
no controle de pragas. Dividem-se em organoclorados, organofosforados, organonitogenados e
carbamatos. Os primeiros apresentam toxidade variada inferida em função de bioensaios nos
quais determina-se doses letais para 50% das cobais.

A grande presença de pesticidas organoclorados em amostras de água, principalmente


superficiais, tem surgido não só da aplicação agrícola e emissão industrial, como também da
aplicação directa em lagos e superfícies de rios para combater mosquitos e outros organismos. A
persistência deve-se a estabilidade química e à biodegradabilidade, junto com biossolubilidade
em tecidos límpidos. Os resíduos dessas combinações torna-se parte intrínseca dos ciclos
biológicos, geológicos e químicos da terra e já foram detectados no ar, água, solo e até mesmo na
neve da Antártida, onde, ao que se sabe, não foram empregados. Diversas pesquisas
comprovaram que a presença de pesticidas organoclorados em águas de abastecimento eleva os
riscos de câncer e causa danos ao fígado e aos sistemas nervoso, cardíaco, endócrino e
reprodutor.

Os pesticidas organoclorados são relativamente inertes e sua alta estabilidade está relacionada às
ligações carbono - cloro alguns desses compostos podem persistir por 15 a 20 anos no solo e
parte destes arrastadas pelas chuvas ( lixiviação) para o interior dos cursos de água, que também
recebem esses compostos por meio de efluentes industriais, de esgotos, de sedimentos da
atmosfera e por contaminação directa durante a aplicação. Assim tanto as águas de mananciais

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de rios e represas que abastecem as populações, quanto os peixes que se alimentam de materiais
retirados do fundo desses locais apresentam concentração desses agrotóxicos, mesmo anos após
a cessão da aplicação destes em regiões vizinhas.

A biodisponibilidade de um determinado pesticida, ou seja, a quantidade desse composto que


existe disponível no meio ambiente para os peixes e a vida silvestre varia consoante as
características do próprio composto e do ambiente. A solubilidade na água e a adsorção de
partículas do solo são essenciais para determinar a tendência de determinada substância para se
movimentar, ou não, por meio do solo junto com água de infiltração. A maioria dos pesticidas
que apresentam baixa solubilidade em água tem tendência fortemente de se ligar ao solo. A sua
persistência e volatilidade afectam também os padrões de distribuição das substâncias.

A estrutura e composição de um terreno são também muito importante, uma vez que definem a
taxa de infiltração; por exemplo solos ricos em argila e matéria orgânica hão de adsorver muito
mais facilmente um composto pesticida do que solos arenosos e pobres em matéria orgânica.
Além disso, a chuva, as práticas de irrigação e a evapotranspiração podem afectar a mobilidade
dos compostos. Características da água como pH, temperatura, concentração de partículas
suspensas e de outras substâncias químicas dissolvidas implicam necessariamente diferentes
destinos dos pesticidas.

A tecnologia convencional de tratamento usualmente não é efectiva na remoção de pesticidas


organoclorados, havendo registos de concentrações praticamente equánimes nas águas brutas e
tratadas. No intuito de optimizar a remoção desses pesticidas, descortina-se, predominantemente,
o emprego de carvão activado, granular ou em pó, como adsorvente. Adicionalmente, tais
pesticidas podem também ser adsorvidos por alguns tipos de argilas, removidas, por sua vez, por
sedimentação/flotação e filtração.

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