Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SÃO PAULO
2012
8
Faculdade Campos Elíseos - FCE
ASSOCIAÇÃO LUSO-BRASILEIRA DE TRANSPESSOAL
ALUBRAT
SÃO PAULO
2012
9
Dedico esta monografia aos meus alunos de yoga,
pela confiança e amizade, pela oportunidade que
me proporcionaram de realizar este trabalho.
10
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais que sempre me incentivaram a estudar, aos meus amigos pelo
companheirismo e compreensão, a todos os mestres que de alguma forma contribuíram para
minha evolução em todos os níveis, em especial ao meu saudoso mestre Shotaro Shimada
(1929/2009) por todos os ensinamentos que até hoje reflito e aprendo, e também à doce Vera
Saldanha, por todo seu amor e dedicação nessa arte de ensinar psicologia transpessoal.
Sem esses presentes que a vida me colocou no caminho não teria sido possível essa
caminhada infinita de descobertas transpessoais.
11
RESUMO
O presente trabalho traz conceitos fundamentais da Yoga, como filosofia de vida, um breve
resumo do que é a quarta força na Psicologia, denominada Psicologia Transpessoal, e dentro
desse contexto a proposta da Abordagem Integrativa Transpessoal, desenvolvida pela Dra.
Vera Saldanha, aplicada na educação, finalizando com uma sugestão pessoal para aplicação
dessa abordagem na condução dos cursos de formação de professores de yoga.
12
ABSTRACT
This study brings fundamental concepts of Yoga as a philosophy of life, a brief summary of
what is the fourth force in psychology, named Transpersonal Psychology, and within this
context the proposal of a Transpersonal Integrative Approach developed by Vera Saldanha,
applied in education, ending with a personal suggestion for application of this approach in the
conduct of training courses for teachers of yoga.
13
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................8
1. YOGA...................................................................................................................................10
1.1. O que é Yoga.....................................................................................................................10
1.2. Patanjali e os Yoga-Sutra................................................................................................11
1.3. Astanga Yoga: Oito Passos..............................................................................................12
1.3.1. YAMAS (disciplina).......................................................................................................12
1.3.2. NIYAMAS (autodisciplina)............................................................................................15
1.3.3. ASANAS: postura psico-fisica.......................................................................................17
1.3.4. PRANAYAMA: controle dos impulsos respiratórios.....................................................18
1.3.5. PRATYAHARA: abstração dos sentidos.......................................................................18
1.3.6. DHARANA: Concentração.............................................................................................19
1.3.7. DHYANA: Meditação....................................................................................................19
1.3.8. SAMADHI: Hiperconsciência – o objetivo final do Yoga.............................................19
2. PSICOLOGIA TRANSPESSOAL....................................................................................20
2.1. O que é Psicologia Transpessoal.....................................................................................20
4. NEUROCIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE.....................................................................22
4.1. Introdução.........................................................................................................................22
4.1.1. Inteligências Múltiplas....................................................................................................23
4.1.2. Inteligência Espiritual.....................................................................................................25
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................49
14
INTRODUÇÃO
15
aprendendo o valor do desapego, da não violência, enfim tudo o que está por trás de um
asana, de uma postura, seja ela física ou emocional.
Encontro-me nesse momento nessa busca, e a escolha desse tema “A Didática da
Hatha Yoga na Abordagem Integrativa da Psicologia Transpessoal”, pode materializar essa
percepção e talvez possa inspirar outros professores ou praticantes dessa filosofia a buscar a
felicidade no dia a dia, em pequenos detalhes que fazem a diferença no nosso modo de olhar o
mundo, quando encontramos a espiritualidade, e vivenciamos o sagrado nas nossas vidas.
A humanidade precisa voltar a sonhar, a acreditar mais nas potencialidades do que
nas fraquezas, a confiar no sagrado que habita em nós. A yoga e a psicologia transpessoal,
almejam o mesmo objetivo.
16
1. YOGA
Segundo Antonio Blay (2004) a palavra Yoga possui dois sentidos principais:
união e meios ou técnicas para atingir essa união.
Na primeira acepção, Yoga significa qualquer categoria de uniões. Nos sistemas
filosóficos e religiosos da Índia esse termo é usado no sentido de realizar a união do principio
espiritual do homem (Atma) com a Divindade (Brahman), mas significa igualmente a união
consciente do aspecto material do homem com seu aspecto espiritual, e da personalidade
superficial com a personalidade profunda. Noutras palavras, é o estado de integração, de
unificação consciente dos aspectos superficiais, profundos e superiores do homem.
Na segunda acepção, Yoga é o conjunto de técnicas precisas e sistemáticas que
levam ao desenvolvimento de determinados níveis de consciência, não atualizados na maior
parte dos homens, e a integração de tais níveis em uma única unidade de consciência total e
permanente. O Yoga como outras doutrinas de diversas tradições, ensina-nos que o homem
vive de maneira muito limitada em vários aspectos de sua natureza.
Segundo Danucalov e Simões (2009) para responder de fato o que é Yoga e seu
principal objetivo necessitamos de um aprofundamento da literatura especializada. Estima-se
que 40 milhões de pessoas pratiquem Yoga ao redor do mundo, contudo a grande maioria
encara o Yoga como um método de treinamento físico. Principalmente no ocidente o Yoga
está reduzido a um grupo de exercícios musculares, no entanto historicamente o Yoga é uma
tradição espiritual e seus objetivos nem de longe são a aquisição de uma boa forma física,
antes de qualquer coisa, o sistema yoguico foi desenvolvido com o intuito de conceder ao ser
humano sua liberdade interior (kaivalya) com a conseqüente aquisição da paz, da felicidade e
da bem aventurança (ananda). O Yoga enquanto sistema filosófico-religioso, transcende em
muito as simples posturas (asanas). O Yoga é muito mais que treinamento físico, é
treinamento mental destinado à autotransformação.
No prefácio do livro As Sete Leis Espirituais da Ioga, Deepack Chopra (2004)
define Yoga como: “a união do corpo, da mente e do espírito, ou seja, a união da
individualidade com a inteligência divina que coordena o universo”. Segundo ele Yoga “é um
estado de ser no qual os elementos e as forças que compõem o nosso organismo biológico
encontram-se em uma interação harmoniosa com o cosmo”. Ao se estabilizar nesse estado,
17
experimentamos um maior bem estar emocional, psicológico e espiritual, além de observar a
realização espontânea dos nossos desejos, sendo que em união com o espírito nossos desejos e
os desejos da natureza são um só. A medida que participamos do processo criativo junto com
o ser infinito, nossos anseios desaparecem e nos sentimos despreocupados e alegres. A
intuição, o discernimento, a imaginação, a criatividade, o significado e o propósito
desabrocham espontaneamente. Fazemos escolhas corretas que beneficiam não apenas nós,
mas também todas as pessoas afetadas por nossas escolhas.
Manohar Laxman Gharote (2002:24) define Yoga como “essencialmente a
integração da personalidade em todos os níveis possíveis: físico, mental, social, intelectual,
emocional e espiritual”.
18
interiorização para atingir a meta final, que é a aprimorar-se nas práticas meditativas, capaz de
cessar as atividades involuntárias da mente e chegar à dissolução no absoluto. (DE PAULA;
BINDO, 2002)
Como se vê, Patanjali não inventou o Yoga, mas o codificou e o elaborou em oito
passos distintos, conhecidos como Astanga-Yoga ou ainda Yoga Clássico. É como se ele
tivesse definido as regras de um jogo, pois as raízes do Yoga muito provavelmente são muito
mais profundas do que supõe-se. (DANUCALOV; SIMÕES, 2009:200)
“Se tiveres que subtrair vida da vida, subtraia apenas o necessário. O que tenho
feito?” (DANUCALOV; SIMÕES, 2009:210)
O propósito é não ferir, tanto verbal quanto fisicamente qualquer ser vivo.
Também abrange o nível mental, pois deve-se evitar, até em pensamentos, desejar o mal à
outras pessoas. Neste preceito estimula-se a compaixão por todas as criaturas. Quanto mais
um indivíduo se esforça para aplicar esse tipo de mentalidade no cotidiano, mais força e
discernimento terá para agir nesse caminho, livrando-se do desejo de vingança que destrói sua
paz mental. Ao agir a partir desse nível da alma, você será incapaz de ser violento porque todo
seu ser se fundamenta na paz. Essa é a essência desse primeiro Yama. Os seus pensamentos
não são violentos, suas palavras não são violentas e as suas ações não são violentas. A
19
violência não pode surgir porque o seu coração e a sua mente estão repletos de amor e
compaixão pela condição humana. Nesse aspecto, é interessante notar o yoga como um
conceito transformador. Ou seja, podemos simplesmente agir como espelhos, respondendo ao
ódio com ódio, ou podemos transformar as emoções que nos chegam. O conceito Ahimsa é
frequentemente lembrado também nos exercícios físicos de yoga, quando os alunos são
orientados a evitar danos ao próprio corpo, praticando de forma consciente, com atenção às
próprias limitações.
20
yoga, apegar-se a bens materiais, e pior, apropriar-se do que não lhe pertence, além de
moralmente reprovável é uma maneira de criar situações mentais que causam distrações e que
desviam o praticante de sua meta. Asteya significa também abandonar a idéia de que coisas
materiais lhe proporcionarão segurança e felicidade, é fixar-se em um estado de desapego. A
falta de honestidade quase sempre deriva do medo da perda, seja de dinheiro, de amor, de uma
posição ou poder. A capacidade de viver uma vida honesta baseia-se em uma profunda
ligação com o espírito. Quando a plenitude interior predomina, você deixa de sentir
necessidade de manipular, encobrir ou enganar. A honestidade é o estado intrínseco da pessoa
que vive uma vida íntegra. Segundo a Yoga, os comportamentos evolucionários, que
favorecem a vida, são a conseqüência natural da consciência expandida.
“Tenho vivido somente para satisfazer os meus sentidos? Tenho vivido de forma
excessivamente sensual?” (DANUCALOV; SIMÕES, 2009:211)
Em algumas tradições esse preceito tem o sentido restrito de celibato. Linhas
menos radicais sugerem um controle dos impulsos e sentidos, ou seja, a moderação em todos
os hábitos. Algumas escrituras referem-se ao período da juventude em que o estudante deveria
manter-se casto para estudar os Vedas, e com o tempo, bramacharya assumiu a conotação de
voto de castidade para toda a vida. Há muitas linhas de yoga que consideram esse conceito
como a não perversão do sexo, ou seja, acreditam que bramacharya é sexo consciente, feito
com amor. O objetivo maior é evitar dispersões mentais do que criar uma pureza aparente, ou
negar a sexualidade. Segundo Deepack Chopra (2004) o poder criativo essencial do universo
é sexual e nós somos a manifestação amorosa dessa energia. Ao perceber toda a criação como
uma expressão do impulso gerador divino, celebramos as forças criativas. Bramacharya
segundo essa concepção significa alinhar-se com a energia criativa do cosmo. Quando a alma
faz amor com o cosmo, a necessidade de expressar a sexualidade pode ser suplantada por uma
expressão mais expandida do amor.
21
1.3.1.5. Aparigraha: Não Cobiçar
O segundo passo delineado por Patanjali é Niyama, que são práticas que visam
alimentar os yamas. Pode ser como qualidades naturalmente expressadas em uma
personalidade evolucionária. Como você vive quando ninguém está olhando? Também se
dividem em cinco orientações:
Deve ser entendida no plano físico, emocional e mental. Percepção das escolhas
em função da nutrição versus toxidade. Corpo e mente são formados a partir de impressões
que assimilamos do ambiente. Os sons, sensações, imagens, sabores e odores carregam a
22
energia e as informações que são metabolizadas por nós. Mais importante ainda do que a
limpeza do corpo é a limpeza da mente e de emoções perturbadoras.
23
1.3.2.5. Ishvara: Consagração à Deus – entregar-se de corpo e alma na busca da reintegração
com o divino
Patanjali define asana dessa forma: “A postura dever ser estável, firme e
confortável”. Aqui ele se refere às posturas adequadas à meditação, nas quais o yogue pode
dar firmeza e estabilidade ao corpo, reduzindo o esforço físico ao mínimo necessário.
Segundo Marcos Rojo em Gulmini (2003:60), as posturas caracterizam-se pela
permanência numa condição de controle e conforto, sugerindo relaxamento e prazer ao
praticante. Portanto, não basta ficar numa posição para que ela seja considerada asana; é
preciso que se adquira uma condição especial de observação e relaxamento do esforço,
relaxando-se as estruturas que não participam do exercício. Num asana, devemos observar os
músculos que podemos relaxar, e não os que temos que contrair, assim asana é o que se sente
não o que se faz. O importante é como se faz, e não o quanto ou o que se faz.
Nunca devemos nos esquecer do principal objetivo do Yoga, que é a “aquietação
da mente”, caso contrário, não estaremos praticando Yoga.
Depack Chopra (2004) nos lembra que em um nível mais profundo, asana
significa a plena expressão da integração entre a mente e o corpo, na qual nos tornamos
conscientes do fluxo de energia vital no corpo. Executar asanas com plena consciência é um
exercício para praticar na vida ações conscientes.
24
1.3.4. PRANAYAMA: controle dos impulsos respiratórios
Cada preceito do yoga tem como base o anterior e prepara o praticante para o
seguinte, por esta razão a ordem dos sutras é muito importante. Patanjali define pranayama
como controle dos impulsos respiratórios ou, como pausa nos movimentos respiratórios e
deverão ser precedidos pelas práticas de yamas, niyamas e asanas. (GULMINI, 2003:62-3)
A capacidade de manter a respiração em suspenso, de forma controlada e
equilibrada, é a base técnica dos pranayamas. Os textos de Hatha Yoga, que são mais recentes
que o de Patanjali, referem-se à atividade da mente e da respiração como se estivessem
andando de mãos dadas, ou seja, já que não podemos aquietar a mente por uma interferência
direta, interferimos na respiração, diminuindo seu ritmo, e com isto, indiretamente, a mente se
tranquiliza.
Os pranayamas melhoram as funções respiratórias em geral. Formam também um
dos mais importantes canais de acesso para as emoções, e servem para ampliar a percepção da
consciência e o autoconhecimento.
Segundo Deepack Chopra (2004) o prana é a força vital que percorre a natureza e
o universo. Quando estamos em sintonia com a energia prânica do corpo, nos tornamos
espontaneamente mais sintonizados com o relacionamento entre a nossa individualidade e a
nossa universalidade. Deste modo, o pranayama pode levar de um estado de consciência
contraído para um estado de consciência expandido.
25
1.3.6. DHARANA: concentração
26
2. PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
27
Maslow trouxe um diferencial fundamental para se conhecer a Psicologia
Transpessoal. Em suas pesquisas denominou experiências culminantes sentimentos elevados
de êxtase e comunhão com a natureza, deslumbramento, gratidão e unicidade. Nesses
momentos em que nos tornamos profundamente envolvidos e absorvidos no mundo, em
perfeita integração, numa relação harmoniosa com tudo que nos cerca. Pode ser um momento
de experiência profissional, um instante de contemplação da natureza, uma vivência pessoal.
Esses momentos são únicos e especiais. Maslow ao legitimar essas experiências criou um
novo referencial conceitual na Psicologia.
Abrahm Harold Maslow acrescentou e reconheceu na Psicologia, além da pulsão
de vida e de morte, a natureza transcendental, quando explicava que esse impulso à
transcendência é inerente ao ser humano, o qual quando reprimido, adoece. Denominava-o
como um aspecto “instintóide”, que é desejável, curativo, e que, sem o transcendente,
ficaríamos doentes, violentos e niilista, vazios de esperança e apáticos. (MASLOW, 1968:12)
Segundo Vera Saldanha, a transpessoal surge em um momento de transição e
integração do saber, em uma nova etapa da ciência e do conhecimento humano. Parece que,
longe de ser uma teoria concluída, hermética, é ainda uma disciplina jovem e que, sem
dúvida, faz parte das pesquisas de ponta sobre o desenvolvimento da mente humana, com
perspectivas extremamente promissoras.
3.1. Introdução
28
A partir de agora mencionarei resumidamente os principais enfoques dessa
abordagem, e explorarei com mais detalhes os aspectos que poderão ser mais observados
numa educação yoguica, que é o tema desse trabalho, conforme livro de Vera Saldanha –
Abordagem Integrativa: Um conhecimento Emergente em Psicologia da Consciência, (2008).
3.2. Sistematização
29
“O conhecimento é uma função do ser. Quando há uma mudança no ser do
conhecedor, há uma mudança correspondente na natureza e na totalidade do conhecido”
(HUXLEY, 1973:2)
30
um estado de despertar, no qual há conexão com o nosso Ser essencial e gradativamente o
indivíduo torna-se mais saudável, vivendo mais plenamente a totalidade de seu ser.
Um ego rígido, torna o indivíduo robotizado, uma pessoa que se identifica com a
idéia de si mesmo e não com a realidade dos seus sentimentos, experiências e ações. A vida
fica dividida entre o que se pensa que se é e o que se é de fato. Se a mente está sem intenções
rígidas, preconceitos ou ordens, o indivíduo pode estar em contato direto com a experiência
real do mundo, centrado no momento presente do sentir, pensar e agir, numa congruência
saudável entre esses diferentes níveis.
31
3.2.1.4.1. Estado de consciência de vigília
Pode ser alcançado por meio do relaxamento. Esse estado traz imagens e idéias
desconexas, ou mesmo criativas, literárias, artísticas, científicas, administrativas. A atenção é
difusa e há total receptividade, disponibilidade para o momento presente. Propicia a
associação livre. Tais idéias precisam ser anotadas imediatamente, pois tendem a desaparecer,
por completo, no estado de consciência de vigília.
Sigmund Freud foi o pioneiro nos estudos sobre sonhos. Recentes pesquisas em
neurologia sugerem que o sonho contribui para a síntese de proteína, responsável pela
transferência da memória à longo prazo, favorecendo a aprendizagem e o comportamento
adaptativo. Permite também a elaboração do conhecimento, sendo períodos de programas
internos que estão sendo sintetizados e poderão ser realizados no ambiente. Além disso,
contribui para a restauração energética e protéica dos neurônios
32
de superconsciência durante esse estado, o ego desaparece totalmente, a consciência retorna a
si mesma, a sua fonte, e o indivíduo é revitalizado.
33
Com terminologia distinta, os autores apontam, de forma geral, três níveis ou
dimensões da mente:
Primeiro Nível – conteúdos autobiográficos – desde o nascimento até o momento
atual.
Segundo Nível – conteúdos que abrangem vivências intra-uterinas – inclusive o
nascimento
Terceiro Nível – que antecede o nível intra-uterino e vai além da existência biológica
Deve-se levar em conta que as linhas não são fronteiras demarcatórias, mas
representações meramente didáticas, pois os distintos conteúdos se interpenetram
mutuamente.
34
3.2.1.5.1. Consciência de vigília
3.2.1.5.2. Pré-consciente
35
3.2.1.5.6. Inconsciente filogenético
3.2.1.5.9. Vácuo
36
O aspecto dinâmico, constituído pelos eixos evolutivo e experiencial, expressam
os elementos do corpo teórico numa compreensão dinâmica. Há uma inter relação entre eles,
em distintos níveis e graus, que traz suporte teórico às técnicas, à Didática Transpessoal e a
postura do psicoterapeuta, do educador ou facilitador de orientação transpessoal.
37
3.2.2.2. (E) Emoção
38
com a emoção, o que impedirá a manifestação e integração de outras funções psíquicas e
elementos do desenvolvimento humano.
Segundo Maslow, no enfoque da Psicologia Transpessoal, além das emoções
negativas serem reconhecidas e trabalhadas, são importantes as emoções positivas para a auto-
atualização.
A definição usual desse conceito provém se sua etimologia: in-tueri, ou seja, ver
dentro, tratando-se da percepção imediata de um objeto presente, tomado em sua realidade
individual.
Carl Gustav Jung afirma que a intuição é um tipo de percepção que não passa
pelos sentidos, registra-se ao nível do inconsciente (JUNG, 1972:32). Segundo ele, na
intuição não há julgamento ou reflexão, pois ela capta a realidade mediante a percepção
global imediata, de síntese, um insight, sem que haja estímulo direto, concreto. O conteúdo
apresenta-se como um todo completo sem que se possa explicá-lo ou descobrir como veio à
luz.
Roberto Assagioli (1993), pontua que a intuição se apresenta na consciência de
duas formas:
como abertura de um “olho” interno, o qual permite ver ou perceber o que a visão normal
não vislumbra;
comparada a um resplendor, um relâmpago, um raio de luz que incide no campo da
consciência e que é percebido pelo eu (p. 78)
39
Roberto Assagioli (1993) conclui que a intuição mais do que a qualidade do
objeto, capta a essência do que é. Por isso é um dos campos de investigação da nova
psicologia do Ser.
A intuição, sob o olhar transpessoal, tem sua origem no supraconsciente e
caracteriza um dos diferenciais dessa abordagem quando aplicada à educação e à clinica.
40
dimensão superior, ou seja, do supraconsciente, do qual emerge a dimensão do transpessoal
do ser em seus aspectos mais saudáveis, seus valores positivos e construtivos.
Vera Saldanha, ao formular o modelo do eixo experiencial e evolutivo em cruz,
numa representação didática que serve ao propósito de visualizar esses conceitos teóricos,
pois essas fases são extremamente dinâmicas, optou por representá-lo com linhas pontilhadas,
evitando a idéia rígida da separação entre as distintas etapas, configurando quatro quadrantes,
representando quatro estágios:
41
Na educação, diversos autores, apresentam exercícios interessantes que resultam
na estimulação das “inteligências múltiplas”, que podem favorecer o eixo experiencial, se
integradas a um trabalho de orientação transpessoal, pois estimulam as áreas da cognição, do
cinestésico, do artístico, do interpessoal, do intuitivo e outras, denominadas neste referencial
teórico, como razão, emoção, intuição e sensação.
Howard Gardner, autor da teoria das “inteligências múltiplas”, afirma que a
estimulação dessas inteligências não garante a ética ou a direção que a aprendizagem irá
favorecer: se construtiva ou destrutiva. Nesse sentido a Psicologia Transpessoal, além da
estimulação experiencial ressalta a necessidade do eixo evolutivo, que propicia a
manifestação do supraconsciente, a dimensão superior do ser humano, no qual os valores e
ações são éticos e construtivos.
Com a integração do REIS, configura o espaço psíquico do segundo estágio ou
fase, agora num estado de consciência mais desperto, representado pelo eixo evolutivo.
Na Didática Transpessoal, esse espaço é facilitado ou desbloqueado, integrando
distintas áreas da psique e dos níveis de consciência onde há resolução, prontidão e
criatividade. Denomina-se esse eixo evolutivo de “ordem mental superior”, que traz a
possibilidade do terceiro estágio.
Esse estágio é o ponto central nesta abordagem, é a própria manifestação da
ordem mental superior ou supraconsciente.
Nessa instância psíquica o indivíduo apreende a realidade de forma lúcida, sabe
aquilo que é necessário e melhor para o ser humano em sua jornada no processo de
aprendizagem, na cura mental e física. Esse acesso, contudo, não é tão simples ou fácil e, em
geral, precisa ser favorecido.
Nesse sentido, a Didática Transpessoal , pode espelhar a dimensão superior do
indivíduo na medida em que utiliza recursos, que são pontes de ligação com o supraconsciente
e exercícios que favorecem seu desabrochar.
Dessa forma, evidencia-se o caráter naturalmente ético desse enfoque, ao
favorecer a expressão e integração mais elevada dos valores humanos consigo próprio e com
o outro. Promove e integra nas relações sociais uma natureza benevolente, solidária e
cooperativa, completando o quarto estágio ou fase dessa dinâmica psíquica.
“O mundo contemporâneo está mergulhado e imbuído por uma Cultura de Guerra,
ele precisa substituí-lo por uma Cultura de Paz”. (WEIL, 2001)
42
O eixo evolutivo favorece uma outra ordem superior de realidade: a esfera da
supraconsciência, a percepção de um nível mais sutil através e além do pessoal. O eixo
evolutivo traz consigo a apreensão do sentido da experiência no plano pessoal e coletivo.
Promove uma outra qualidade de energia psíquica, do conhecimento que agrega valores. É
possível que a inserção legítima dessa função na área clínica, na educação, nas instituições,
assim como a abertura ao amor e a espiritualidade, possam contribuir para essa cultura de paz,
que vem sendo tão conclamada atualmente.
O resultado da síntese entre o eixo evolutivo e experiencial é integrado na
dimensão existencial do Ser, trazendo-lhe o refinamento da experiência a ser vivenciada,
proporcionando sentido à vivência e à própria vida. Quanto mais o indivíduo estiver
integrado, presente no aqui e agora, mais experienciará por completo a situação em que está e
desfrutará de todas as possibilidades que ela lhe oferece. Ao se conhecer melhor, desenvolve
o potencial que lhe é inerente, dando sentido à existência pessoal e cósmica.
4. NEUROCIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE
4.1. Introdução
Para Danucalov e Simões (2009) até pouco tempo atrás, falar de consciência era
quase proibido nos meios científicos mais ortodoxos, pois sendo tão impalpável, fugia do
escopo acadêmico, e quando muito, era um vago objeto de divagação filosófica.
De uns anos para cá, começou um diálogo sobre aspectos relacionados à mente,
devido à crescente tecnologia direcionada ao estudo do encéfalo. Mesmo assim, a tecnologia
atual não é suficiente para homogeneizar as teorias sobre encéfalo, a mente, a consciência, o
pensamento e a vontade.
44
De acordo com essa explicação, os autores concluem que é lícito supor que
durante a meditação uma menor quantidade de neurônios esteja sendo ativada. Essa menor
ativação pode ser fruto de uma menor aferência sensorial, ou seja, uma reduzida entrada de
informações advindas do meio ambiente, assim como uma provável hiperpolarização de
determinadas regiões encefálicas. De fato, a quinta etapa do astanga-yoga de Patanjali é o
pratyahara, abstração dos sentidos. Muitos praticantes de meditação afirmam conseguir
“desligar” dos estímulos externos durante suas práticas. As neurociências estão cada vez mais
comprovando essas afirmações, na medida em que desvendam os mecanismos encefálicos
envolvidos nessas práticas. (DANUCALOV; SIMÕES, 2009:57)
Atualmente nossa compreensão dos aspectos cognitivos é fruto do árduo trabalho
de uma grande quantidade de psicólogos, biólogos, pesquisadores afins, que gradativamente
foram construindo a atual trama de conhecimentos que envolvem a psicologia do saber.
45
que uma inteligência seja aceita, é necessário que a mesma se assente em seis rigorosos
critérios:
a) – Ter uma base biogenética e neurológica;
b) – Adequar-se a algum suporte psicométrico, ou seja, deve poder ser mensurada;
c) – Apresentar uma história desenvolvimental caracteristicamente definível;
d) – Adequar-se a um sistema de codificação simbólica;
e) – Apresentar indivíduos excepcionalmente aptos dentro de seu escopo;
f) – Ser usada como instrumento de adaptação ao meio.
46
N.Wolman, psicólogo clínico e membro do corpo docente da Faculdade de Medicina de
Harvard.
c) – O terceiro critério exigido por Gardner também pode ser apreciado na suposta
inteligência espiritual, uma vez que existem indícios da compreensão e da evolução temporal
do simbolismo religioso. Esta evolução é algo totalmente relacionado à própria afirmação e
autocompreensão do ser humano enquanto espécie. Através dos tempos, inúmeros pensadores
hipotetizaram que a consciência humana vem evoluindo gradativamente. Alguns deles
chegaram até mesmo a afirmar que o futuro do homem é a aquisição de uma consciência
cósmica.
d) – Como as demais inteligências propostas por Gardner, a inteligência espiritual também
pode ser retratada através de um sistema ritualístico e simbólico.
e) – A inteligência espiritual também pode ser encontrada expressando seus valores de forma
excepcional, aparecendo em indivíduos que poderiam ser classificados como superdotados na
referida inteligência. Emmons destaca como exemplos Santa Tereza de Ávila e São João da
Cruz, ambos místicos do século XVI. Poderíamos ainda citar exemplos contemporâneos como
Irmã Dulce, Chico Xavier, Madre Tereza de Calcutá, Mahatma Gandhi, entre outros.
f) – Por último, para Emmons, a inteligência espiritual ainda concede ao indivíduo uma
grande capacidade de adaptação ao meio, tornando a pessoa mais flexível na busca de um
equilíbrio harmonioso entre auto-conceito, auto-integração e auto-regulação. Supostamente,
os detentores deste tipo de inteligência atingem tais estados por meio de rotineiras práticas
meditativas, contemplativas, além de devotarem-se ardentemente às orações.
47
CONSIDERAÇÕES FINAIS
48
enquanto ser espiritual, embora poucas se preocupando com problemas físicos e psicológicos
desse ser, menos ainda tem se falado e pesquisado que esses processos fisiológicos e mentais
estão ocorrendo sob a testemunha de uma alma.” (GULMINI,2003)
Na cultura indiana antiga, o homem é considerado um complexo que a grosso
modo, pode ser subdividido em corpo físico + corpo psicológico + corpo espiritual. Esses
diferentes elementos que compõem o ser humano interagem entre si e se auto-influenciam
num processo contínuo, numa lenta evolução.
O percurso dessa evolução começa sempre no aqui e agora. Se perseverarmos, o
terceiro Nyama (Tapas) que é o esforço consciente para alcançar a auto-realização,
colheremos os frutos positivos de nossa disciplina, que é mantermos nossa saúde positiva ou
saúde plena.
Saúde positiva não significa apenas estar ausente de doenças, mas, com uma
sensação energética e exultante de bem estar, com uma reserva de resistência e capacidade
geral de facilmente cultivar a imunidade a determinados agentes agressivos. São sinal de má
saúde um desequilíbrio, seja no nível físico, ou no psicológico. Maslow também acreditava
que o homem adoece não só por aspectos patológicos, mas também por bloquear aspectos
saudáveis, segundo ele a neurose seria a conseqüência da não manifestação da nossa
criatividade e de não atualizarmos nosso potencial humano.
A medicina moderna parece inclinada, a concordar com esse antigo conceito do
Yoga, e as tendências recentes tendem ao reconhecimento de uma patodinâmica da doença
que abrange o corpo todo, em lugar de ver a doença em termos da patologia de órgãos tecidos
ou células individuais.
“O terapeuta não se ocupa da doença, mas trabalha com a saúde que há no coração
da doença”. (Jean Yves Leloup, 2003)
A Yoga visa a tranquilização da mente, pois o indivíduo não conseguirá alcançar
o verdadeiro “eu” enquanto sua mente estiver desnorteada, com pensamentos erráticos, sejam
eles afetivos ou não. Segundo a Yoga mente e matéria são manifestações de uma mesma
energia, dois aspectos de uma mesma substância eterna.
A maioria da humanidade não tem conhecimento dessa unidade, e está submetida
à ilusão da separatividade, há um consenso onde nos percebemos como sujeitos sólidos em
contato com objetos exteriores, igualmente sólidos e permanentes. Pierre Weil indaga até que
ponto essa fantasia da separatividade, não constitui a raiz da desumanização da ciência, da
tecnologia, da educação e do declínio ético. A Psicologia Transpessoal, estuda e vivencia a
49
existência de um estado de consciência no qual todo tipo de dualidade desaparece. Essa
experiência transpessoal é encontrada em todas as culturas, de todas as épocas, e é o objetivo
da yoga, o oitavo sutra de Patanjali, o Samadhi, a Supraconsciência.
Estamos num momento crucial de nossa história, se algo não for feito
comprometeremos as gerações futuras. Vivemos uma crise da pequenez da alma, perdemos de
vista a vastidão do projeto humano. A Yoga, a psicologia transpessoal, são conhecimentos
que se aplicados na vida cotidiana, levam-nos a ter uma percepção mais aguçada sobre as
coisas que nos trazem transtornos mentais e meditar sobre nossa natureza. Esse é o quarto
Niyma, o caminho do estudo, da devoção ao autoconhecimento. Quando ativarmos essa
consciência, nossa alegria não dependerá mais de realizações e aquisições externas. Todo
conhecimento torna-se vivo, sem conteúdos estáticos, muitas vezes inúteis na vida.
Vera Saldanha, conclui em seu livro que quando o conhecimento está
fragmentado, seja pela razão, palavra, emoção, intuição ou sensação, ou ainda por uma
situação-problema ou crenças pessoais, o sujeito acaba vivenciando a patologia, a
fragmentação em sua vida e na aprendizagem. Isso ocorre tanto com o educando quanto com
o educador.
É o que ocorre muitas vezes com educadores de Yoga. Marcos Rojo, (GULMINI,
2003) um especialista em Yoga na atualidade, nos fala que por ignorância ou por apelo
comercial, a Yoga chegou ao ocidente trazendo alguns conceitos que não necessariamente
pertencem ao seu universo. Por parte de quem fala ou por quem escuta, já foi confundido com
faquirismo, auto-flagelação, religião, ginástica e prática misteriosa para fanáticos e iniciados
no esoterismo.
Nos dias de hoje, a grande maioria encara o Yoga como um método de
treinamento físico, e principalmente no ocidente está praticamente reduzido a um grupo de
exercícios físicos. O yoga é mais que treinamento físico, é treinamento mental destinado à
autotransformação.
“Na medida em que penetramos profundamente nos ensinamentos filosóficos do
Yoga, percebemos que o ocidente, na grande maioria das vezes, contentou-se com a casca ao
invés do néctar do fruto do Yoga”. (DANUCALOV; SIMÕES, 2009)
Na didática da psicologia transpessoal o educador deverá ter feito a incursão em
seus mundos interiores, descortinando em si próprio a possibilidade de ampliar seus
paradigmas, vivências e percepções, sabendo que esse caminho sempre se alonga e jamais
50
termina. É um autodesenvolvimento contínuo e um cuidar-se sempre, colocando qualidade em
si. (SALDANHA, 2008)
Quando o educador de yoga traz não apenas o conhecimento, mas a aplicação dos
métodos que ensina em si mesmo, gera nele próprio um grau de satisfação, de missão, numa
nova proposta de iniciar os alunos na tarefa essencial de se tornar plenamente humano,
facilitando o potencial individual, facilitando a cada um dar a luz a si mesmo, como nos fala
Roberto Crema, quando cita a pedagogia da benção. “Eu o abençôo, você é um ser humano!
Você foi aceito pela vida! Quem sou eu para recusá-lo? Quem sou eu para avaliá-lo? Quem
sou eu para julgá-lo? Eu o abençôo, você é um ser humano único, dotado de um semblante!
Você é um mistério indecifrável. Você é portador de uma chama e pode fazê-la brilhar”
(2003:44)
“Um bom educador é como um bom jardineiro, ele nunca comparará um jasmim a
uma flor de maracujá, e não precisa ser um especialista em botânica, mas um amante das
plantas”. (CREMA)
Segundo Jean Yves Leloup existem duas formas de observar uma flor de lótus:
olhar para ela e dizer que é só lama, ou então ficar maravilhado com o fato de que da lama
pode nascer tão maravilhosa flor. Também há duas maneiras de se olhar para um ser humano:
vê-lo como um ser que se dirige para a morte, ou ver que esse ser humano, mesmo
traumatizado, fragilizado e ferido, é o espaço de onde emerge a consciência. Desse ser que
sofreu e passou por tanta dificuldade, pode surgir um ser de sabedoria e de serenidade.
Depois de compreender a didática transpessoal aplicada ao ensino, fiquei mais
presente, mais receptiva, sinalizando sem confrontos, sem medos, caminhando lado a lado
com os alunos, aprendendo e ensinando, como já ensinava meu saudoso mestre Shotaro
Shimada.
“A primeira idéia que me acompanha ao levantar-me: o que o dia irá acrescentar
ao meu aprendizado?” (SHIMADA)
O trabalho em questão é sempre do próprio professor em si, devendo acrescentar
qualidade em sua vida, a fim de ajudar o outro a fazer o mesmo. Ninguém chega à perfeição,
mas o esforço em direção a esse estado faz toda a diferença, é um caminho que se faz, tendo
sempre o cuidado de não favorecer uma auto-imagem egóica, idealizada, como infelizmente
vemos acontecer com muitos educadores de yoga.
Se o educador persiste no julgamento, mesmo não explicitando verbalmente, seus
sentimentos e postura não passarão despercebidos pelos alunos, interferindo no processo
51
evolutivo da prática. Meu querido mestre Shotaro Shimada, nos legou esses ensinamentos em
seu livro, O Mestre e o Aprendiz: “ Toda e qualquer situação é de ensino e aprendizado. Não
é necessário que o ensino seja passado verbalmente, ou por algum meio de comunicação
apropriado: a mera presença do mestre e do aprendiz, que se confundem, já ensina.” (pag.
224).
Vera Saldanha aborda outros fatores significativos, que fazem toda a diferença em
qualquer aprendizado onde o ser humano está acima da técnica a ser ensinada: o educador não
deve ter expectativas em relação ao educando; corresponde ao samtosha, abandono do apego
à necessidade do controle e da aprovação: não deve emitir opiniões depreciativas ou fazer
comparações; corresponde a Ahimsa, não violência em todos os sentidos, respeito ao outro:
evitar rigidez ou polêmica sobre qualquer assunto, evitando medir forças, seja o aluno adulto,
jovem ou criança, corresponde a Aparigraha, respeito e abandono ao sentimento de posse de
idéias, desapego, isso implica em cultivar Saucha – pureza de pensamentos, evitando acúmulo
de emoções perturbadoras.
É o entendimento dos Yamas e Nyamas na prática, não por acaso colocado por
Patanjali antes de ásanas e pranayamas. Todo educador de yoga deveria não apenas
mencioná-los nas práticas como também esforçar-se para praticá-los.
Cada aprendiz é potencialmente a semente, mas também a árvore. Precisa-se
aprender a enxergar a árvore. (MASLOW)
Recentemente a Revista Época, n.717, de 13.02.2012, fez uma reportagem
abordando o lado perigoso da Yoga, mencionando casos de sérias lesões físicas em
praticantes de Yoga. Isso vai de encontro ao que já foi mencionado, que no ocidente, muitas
vezes, pratica-se somente com o intuito físico, almejando a perfeição apenas do corpo, como
uma ginástica, não levando em consideração cada ensinamento, transformando a yoga num
conjunto de posturas meramente físicas, mecânicas, onde o indivíduo não está presente na
observação de seu próprio corpo, ou pior ainda, nessa cegueira estimula-se a competitividade,
o modismo, como sendo um valor importante.
Nenhum exercício físico poderá contribuir para a harmonia num estado de
agitação emocional. Quando Patanjali estabelece que asana deve ser estável e confortável,
possivelmente se refere a condição de controle e conforto, sugerindo relaxamento e prazer ao
praticante. Portanto não basta ficar numa posição para que ela seja considerada asana, é
preciso que haja uma condição especial de observação e relaxamento do esforço.
52
O principal objetivo do Yoga é a aquietação da mente, por isso Yoga é para os
que almejam um estado especial que a mente humana pode atingir.
A idéia do Yoga é seguir do mais grosseiro para o mais sutil, do físico para o
mental. Os ásanas portanto, deverão ser mantidos em condições de conforto e estabilidade de
acordo com o envolvimento do praticante, respeitando seus limites. O praticante deverá livrar-
se das tensões ou inquietações para que mecanismos sutis de percepção (sensação) possam ser
acionados, colocando-o em contato com ele mesmo, restabelecendo um contato entre corpo e
mente, superando dificuldades não só no plano físico, mas também no mental.
Sempre na permanência do asana o praticante deverá lembrar-se dos yamas e
nyamas, portanto consciente de ahimsa, não violência, evitando ser violento consigo mesmo,
satya, verdade, sendo verdadeiro com seus limites, aceitando-os e respeitando-os, desenvolver
o auto conhecimento, para adquirir paulatinamente um sentimento de confiança e entrega.
Desenvolver um estado de contentamento, sentir a prática, seus efeitos, sem julgamento, fazer
o melhor que puder para se sentir feliz, independente das circunstâncias (Samtosha). Tudo
isso só se consegue com disciplina e perseverança (Tapas). Todo conhecimento está associado
à vivência.
O que vemos hoje nas escolas de yoga, que formam profissionais para ministrar
essa prática milenar, até nas mais tradicionais, é a ênfase nos ásanas e pranayamas, passando
pelos Yamas e Nyamas teoricamente, que é a base do yoga, portanto formamos profissionais
sem essa importante base, sem o entendimento vivencial desses ensinamentos.
Na minha vivência como aluna e educadora percebi que só conseguiremos
resgatar o verdadeiro yoga, muito distante às vezes do seu propósito, dando mais prioridade às
vivências de Yamas e Nyamas.
É necessário um trabalho de despertar da consciência antes e durante o ensino
prático e científico dos benefícios dos ásanas e pranayamas. Um trabalho mais aprofundado
de conscientização do que são Yamas e Nyamas, assim ásanas seriam realizados com o
critério e o objetivo proposto por Patanjali.
Penso que uma didática transpessoal nos cursos de formação de professores de
yoga, trabalhando o eixo experiencial e evolutivo, trabalhando razão, emoção, intuição e
sensação, preparará indivíduos mais íntegros e conscientes da missão que terão a partir da sua
formação. Despertar nesses indivíduos o amor, a compaixão, a solidariedade, respeito pelo
outro, culminando com um entendimento não teórico, mas vivenciado e praticado tanto no
53
tapetinho das práticas, na condução das aulas, no relacionamento com os alunos e na vida
como um todo.
Nós ocidentais estamos pulando o início desse grande sistema filosófico que é o
Yoga. Como se fosse representado por uma pirâmide, tendo como base os Yamas e Nyamas,
pulamos essa base e damos prioridade para ásanas e pranayamas, e aí acontece o que está
acontecendo, professores despreparados, induzindo alunos a se machucarem nas práticas.
É muito triste constatar que o Yoga um dos mais belos sistemas que temos acesso
para nos melhorarmos como seres humanos, tornando-nos mais íntegros, saudáveis no sentido
geral, adotando posturas éticas e conscientes, para um mundo melhor, esteja reduzido a um
conjunto de técnicas físicas e respiratórias, que se não fazem mal, também muitas vezes não
atingem o seu objetivo mais sublime, o propósito final, um estado de consciência profundo,
onde nos sintamos mais inteiros, integrados e conscientes de nós mesmos, num estado de
unicidade com o cosmo.
Estamos num momento em que se faz necessário esse despertar, sairmos da
“normose” que esse mundo insano nos leva, e começarmos a prestar mais atenção nesses dois
princípios básicos: yamas e nyamas, o auto conhecimento, a cultura da paz, pela paz interior e
exterior. A mudança de hábitos não saudáveis, por hábitos mais nobres físicos e mentais.
Redescobrir a yoga que muitas vezes permanece adormecida nos livros, levando
esses ensinamentos aos novos educadores e praticantes dessa filosofia, e nessa proposta
vivenciá-los com didáticas da Psicologia Transpessoal.
Os antigos yogues não precisavam desse treinamento, pois já vivenciavam essas
experiências, mas talvez tenhamos nos esquecido de aplicar esses preceitos e precisamos
resgatá-los urgentemente, pois não haverá yoga, não haverá paz interior, não haverá samadhi,
se não entendermos e vivenciarmos os Yamas e Nyamas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
54
AZEVEDO, Claudio Roberto Freire de. A Caminho no Ser: uma visão tranpessoal da
psicologia no Yoga Sutra de Patanjali. Fortaleza: Órion, 2007. 240 p.
BLAY, Antonio. Fundamento e Técnica do Hatha Yoga. São Paulo: Loyola, 2004. 309 p.
CHOPPRA, Deepak. As Sete Leis Espirituais da ioga: um guia prático para curar o corpo, a
mente e o espírito. Rio de Janeiro: Rocco, 2004. 189 p.
DE PAULA, Caco; BINDO, Marcia. Yoga. Super Interessante.São Paulo: Abril, 2002. col.
Para Saber Mais, 107 p.
GARDNER, H. Estruturas da Mente: a teoria das inteligências múltiplas. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed, 1994. 340 p.
GHAROTE, Manohar Laxman. Yoga Aplicada. São Paulo: Phorte, 2002. 175 p.
GULMINI, Lilian Cristina et alii. Estudos sobre o Yoga. São Paulo: Cepeusp, 2003. 158 p.
HUXLEY, Aldous. A Filosofia Perene. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973. 361
p.
SHIMADA, Shotaro. A Yoga do Mestre e do Aprendiz. São Paulo: Phorte, 2008, 288 p.
55
WEIL, Pierre. A Arte de Viver a Vida. Brasília: Letra Viva, 2001. 218 p.
56