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Iº - EMERGÊNCIA DO FILOSOFAR
Numa sociedade em que as explicações estão todas prontas, onde as normas são
aceites sem discussão, a tendência é estagnar. As alterações, inevitáveis em qualquer
comunidade humana, ficam por conta de factores externos, tais como: mudanças
climáticas, cataclismos, guerras, invasões… Mas, onde há questionamento de tudo,
existe um princípio interno de transformação, e existe a permanente possibilidade de
mudança.
A filosofia estuda a natureza profunda das coisas supremas, seus fins derradeiros,
visando o conhecimento que ultrapassa a experiência sensível dos fenómenos e do que
só é acessível à razão.
A filosofia tem por objecto os princípios constitutivos de tudo que existe no
universo. Realçar que, seu objectivo é tripartido “Obtenção do conhecimento só pelo
conhecimento, permitindo deste modo a elaboração de uma cosmovisão; estimular a
pesquisa, quer seja científica quer seja especulativa; Promover a cultura da
humanidade” (Lau, 2006, p.12).
Para estudar a natureza íntima de tudo que constitui a realidade ela, serve-se de
dois métodos: “racional ou especulativo1 abarcando dois movimentos: um ascendente
“indução” e outro descendente “dedução” e o crítico-analítico2” (Geque & Biriate,
2019, p. 19).
A filosofia enquanto conhecimento sistemático é um conjunto de teorias
estruturadas e sistematizadas. Constitui-se como um conjunto de conhecimento
organizado, historicamente situado, dividido por áreas de saber filosófico e temáticas,
correntes, autores e, escolas de pensamento. Esta pluralidade de áreas e saberes advém
da multiplicidade de respostas e questionamentos acerca da totalidade do mundo e da
realidade humana, que, como vimos, constituem o cerne e objecto da própria filosofia e
do filosofar.
Com efeito, a filosofia, além de ser um saber sobre o mundo; é uma forma de
estar no mundo. Ela torna a existência humana mais consciente de si. A atitude
existencial é a forma consciente de o homem viver a sua vida no mundo e na sociedade.
Portanto, a filosofia leva o homem a uma nova forma de agir, reagir e comportar-se na
vida, face ao mundo que se lhe apresenta.
A nossa experiência como seres humanos mostra-nos que experimentamos
várias atitudes existenciais, podemos estar acordados ou adormecidos, conscientes ou
inconscientes, absorvidos por trabalho, lúcidos ou iludidos. Portanto, a filosofia leva-
nos a uma vida consciente da razão da nossa existência, ao mesmo tempo que orienta o
nosso agir, como Descartes afirmou:
1
Usado para estudar realidades meta-empíricas, tendo como substrato basilar, a razão.
2
Usado para estudar a realidade social baseando-se em factos, procedendo sua análise e consequente
crítica.
De acordo com o exposto acima, depreende-se que a filosofia tem duas funções:
teórica e prática. A primeira função consiste em “ajudar o homem a analisar o mundo,
a reflectir sobre todas as coisas”. A segunda, “impele o homem a ter uma atitude
existencial, um novo tipo de comportamento, fruto da reflexão filosófica” (Geque e
Biriate, 2019, p.17)
O espanto
Aristóteles afirmava que a filosofia tinha a sua origem no espanto, na estranheza
e perplexidade que os homens sentem diante dos enigmas do universo e da vida. É o
espanto que os leva a formular perguntas e os conduz à procura das respectivas
soluções. O espanto no indivíduo rompe com a tendência natural de achar que a ordem
das coisas no mundo à nossa volta é simplesmente óbvia, que “as coisas são como são
porque tinham de ser assim mesmo” (idem, p. 13)
A dúvida
Entendida como um “estado de equilíbrio entre a afirmação e negação”
(Ribeiro e Silva, 1996, p. 449). O espírito não adere, ou porque os motivos para afirmar
e negar se equilibram ou não se equilibram, mas não são suficientes para excluir o medo
de errar; ou não tem razão alguma nem para afirmar, nem para negar. O que era natural
torna-se problemático. O que então emerge é uma dimensão inquietante de insatisfação
e problematização. A reflexão começa exactamente a partir do exame daquilo que se
pensa ser verdadeiro.
O rigor
Questionamento radical que anima o verdadeiro filosófico não é mais do que um
acto preparatório para fundar um novo saber sobre bases mais sólidas. O conhecimento
em si funda-se na crítica e no rigor. A crítica filosófica é, por isso, feita com vigor, não
admite compromisso com as ambiguidades, as ideias contraditórias, os termos
imprecisos.
A insatisfação
A filosofia revela-se uma desilusão para quem quiser encontrar nela, respostas
para as suas inquietações. A única “receita” que os filósofos lhe dão é que faça da
procura do saber um modo de vida, que não se satisfaça com nenhuma conclusão, queira
saber sempre mais e mais.
basta a admiração, a dúvida; estas estão presentes no início filosófico, mas, para existir
filosofia, é importante a persistência na busca de respostas.
As questões filosóficas não são simples proposições terminadas com um ponto
de interrogação; são afirmações ou negações ligadas a certas questões prévias e
representam muitas vezes a formulação avaliadora de um princípio que exige
justificação. De acordo com certos filósofos, as questões filosóficas dizem “respeito ao
Ser, que não pode ser objecto das ciências” (Jaspers, 1996, p.6), pois não está
estruturado da mesma maneira que as coisas são. Para Gabriel Marcel, as questões
filosóficas são “mistérios” (Marcel, 2005, p.7).
Portanto, o que faz com que uma pergunta seja considerada filosófica não é
apenas o modo, mas também o conteúdo que compreende quatro aspectos, a saber:
universalidade, radicalidade, autonomia e historicidade.
Universalidade
O alcance das questões filosóficas não se circunscreve a realidades particulares;
os problemas filosóficos dizem respeito a todos os homens. A filosofia coloca questões
e problemas que são filosóficos na medida em que são universais, interessam a toda a
humanidade, dizem respeito a todos os homens em todas a épocas, em todas as culturas
e em todas as localizações geográficas.
Radicalidade
Procura a raiz e a origem dos problemas; o que caracteriza as questões
filosóficas é o aprofundamento do problema e não a busca de soluções imediatas.
Autonomia
É a capacidade do filósofo de ter a liberdade de raciocinar na busca da verdade e
de fundamentos, distanciando-se muitas vezes do que a História terá definido.
Historicidade
Diz respeito ao enquadramento histórico das questões filosóficas.
As questões filosóficas divergem; com efeito, cada uma aponta para um campo
de estudo específico. Kant, por exemplo, fez algumas perguntas correspondentes a
diferentes áreas do saber:
Que posso saber?
Que devo fazer?
Filosofia moderna
Vai do final da idade média até fins do século XIX. Muitos vêm propondo a
divisão dessa etapa em duas partes: filosofia renascentista e moderna. A primeira é
fortemente marcada pela descoberta do acervo cultural aristotélico e platónico até então
desconhecido, teve como expoentes máximo Maquiavel, Montaigne, Giordano Bruno,
Tomás de Campanella e outros.
3
RIBEIRO, J. Bonifácio e Da SILVA, José. Compêndio de Filosofia. Lisboa, Cogito Ergo Sum,
10ªedição, 1962, pág. 23.
4
GUERRA, Maria Luisa e PINTO, Elvira Costa. Filosofia 12º Ano. Lisboa, editora livraria popular
Francisco Franco. 2010, p. 7.
5
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2000, p. 32.
Partiremos precisando quer, sua definição etimológica bem como seu conceito
formal, no entanto, apresentaremos desde já sua etimologia. Do verbo latino colӗre, que
significa “cultivo” cuidado com as plantas, animais e tudo o que se relaciona com a
terra. A cultura no sentido etimológico, é o cultivo em seu processo de humanização:
atribuição de significados do mundo e a nós mesmos, significados esses que são
passados adiante e modificados de acordo com as necessidades de cada grupo ou
indivíduo.
Realçar que existem inúmeras definições sobre cultura, mas nos ateremos a uma
que é a primeira a surgir com EDWARD Tylor, mais duas adicionais; Tylor a define
como sendo um conjunto complexo inter-dependente e inter-actuante de
conhecimentos, crenças, leis, tradições, artes, hábitos e costumes de um determinado
conjunto de seres humanos constituídos em sociedade. Ela é definida também como
sendo, o conjunto de técnicas, costumes e valores que determinam a vida de
qualquer sociedade; tudo aquilo que o homem constrói para a sua existência e
subsistência, ou ainda, o modus vivendi de uma comunidade.
Sobre à cultura foram dadas e se podem dar várias acepções e, geralmente
consideram-se três como sendo as principais, a saber: elitista, subjectiva e objectiva.
Elitista: sob este ponto de vista ela, corresponde a erudição ou seja, a um
conjunto de conhecimento que se tem sobre determinada área do saber científico,
religioso, filosófico ou ordinário.
Subjectivo sob este ponto de vista corresponde a educação entendida como o
processo que visa o desenvolvimento integral, harmonioso e progressivo da pessoa
humana até a sua plena maturidade. Podendo esta ser: formal e informal, teórica ou
prática, subdivida em educação intelectual, moral, física e social, tendo o Estado como
seu principal mentor.
Objectivo: está relacionado aos frutos adquiridos pelo homem, mediante o
exercício de suas faculdades intelectivas “status social…”.
A dimensão cultural do homem reside no facto de cultura não ser obra de Deus,
nem da natureza nem tão pouco do acaso, mas sim e nitidamente obra do homem, pois
é, fruto do seu género da sua fantasia, da sua criatividade da sua inteligência e vontade.
Deste modo, a cultura é tudo aquilo que o homem cria graças as faculdades
privilegiadas que possui. Assim, entre o homem e a cultura há uma relação tão profunda
que não só a cultura se digne como obra do homem mas também vale o contrário. O
homem define-se através da cultura, o homem é um animal cultural, porque é o único
animal capaz de fazer cultura.
7
RIBEIRO, Bonifácio. Compêndio de Filosofia. Lisboa, Livraria Popular de Francisco Franco, 10ªedição,
1962, pp457-58.
Definiremos, pois, a ética como sendo a ciência que estabelece as leis ideais a
actividade livre do homem, às quais deve conformar as suas acções, para poder
viver conforme a sua natureza e atingir o seu fim último8.
A fundamentação da dimensão ética passa por dois princípios; o superior que
impera de maneira incondicional, este que leva o homem a fazer o bem porque deve ser
feito e; por referência a um bem superior que define o comportamento moral deste
homem, neste homem; faz o bem porque o bem é um meio com o qual ele realiza suas
pretensões.
Esta dimensão é expressa a maneira de ser de costumes, de comportamentos com
que manifestam as dimensões de identidade do homem que vive em função de si
próprio e na afirmação de si.
Por conseguinte, a dimensão ética, passa também facto de o homem deve ser
feliz realizando e aperfeiçoando o que esta de acordo com a sua natureza racional.
Começaremos por definir cada termo contido em nosso tema, tomaremos como
ponto de partida, o conceito de homem. Realçar que apesar da simplicidade do termo,
ele é de difícil compreensão, com efeito, apresentaremos o conceito de homem segundo
John Locke, para Ele, homem é um organismo biológico, um corpo, pois, para Ele
nascemos homens e podemos nos tornar pessoas. Da bem sucedida combinação entre
o homem e a pessoa, surge o homem moral, aquele que reflecte sobre si (…) que é
capaz de perceber-se como responsável por suas acções passadas e de reflectir sobre
suas acções futuras.
Depois de esclarecer o conceito de homem, propor-nos-emos falar da sua
natureza e posteriormente da sua essência.
Ora, natureza será neste caso: o conjunto de manifestações com uma constância
na vida do homem. Desde já realçar que há uma unanimidade entre filósofos em situar a
natureza do homem na razão. No entanto, dizer que está razão da qual fizemos menção
não é aquela relacionada com certeza, causa, motivo ou lucidez, como temos vindo a
constatar.
Na chamada sociedade ocidental da qual fizemos parte, o termo razão possui
duas fontes: uma latina e ou grega. Estes dois substantivos provêm de dois verbos de
8
Idem, p458.
significados praticamente idênticos. Do latim, razão: ratio provém do verbo Rēor que
significa: unir, contar, medir, separar, untar, reunir, juntar; e do grego logos: razão,
provém do verbo legein: reunir, untar, juntar, contar. Com efeito, quando reunimos,
contamos, juntamos, contamos, unimos, usamos palavras, mas usamo-las de forma
ordenada, isto é, aplicamos o raciocínio, consistindo em pensar com proporção e
medida.
Portanto, a razão da qual fizemos menção, é aquela faculdade intelectual que
permite o homem pensar e exprimir-se correctamente e dizer as coisas tais quais elas
são. É essa que constitui a natureza do homem.
A essência: é aquilo que lhe particulariza como ente no seu género próprio ou na
sua espécie, isto é, qualidade ou propriedade que faz parte de sua origem. E este
elemento é a alma. É imprescindível apresentar sua origem etimológica bem como o
tipo de alma que constitui a essência do homem, visto não ser o único a possuí-la.
O termo alma é originário de três fontes, a saber: grega, latina e hebraica. Do
latim alma: anima, significa vida; do grego alma: ânemos significando sopro, vento e
anaigma significando sem sangue e do hebraico alma: nefesh significando sopro da
vida.
Tendo em conta a complexidade do problema urgiu a necessidade de se
estabelecer a tipologia de almas tendo em conta a especificidade de cada ser,
encontramos em Aristóteles tal intento, tipificando-a em três, a saber: alma sensitiva,
alma vegetativa e alma intelectiva, segundo este e seus séquitos, é a partir desta última
(alma intelectiva) que nos tornamos completamente diferentes das espécies inferiores à
nossa, nela está contida a dimensão espiritual, transcendental, e tantas outras valências
exclusivas da espécie humana; pois sabemos que o homem é o único ser que consegue
antecipar os fenómenos, exemplo claro disso é a morte, falamos dela sem, no entanto a
experimentarmos.
latina, grega, e etrusca, todas designando, máscara, face, rosto, aí, o que se oferece ao
olhar do outro, posterior conheceu uma evolução semântica, significando não mais uma
máscara e, sim o personagem que interpreta determinada peça teatral e que se encontra
por detrás da máscara. Afinal, nunca enxergamos a pessoa no seu verdadeiro ser, pois
não conseguimos ler os pensamentos e as pretensões de cada um, sabemo-lo, quando os
mesmos são expressos.
A raiz da palavra “dignidade” vem de dignus, que ressalta aquilo que possui
honra ou importância. Com São Tomás de Aquino, há o reconhecimento da dignidade
humana, qualidade inerente a todos os seres humanos, que nos separa dos demais seres
e objectos. São Tomás de Aquino defende o conceito de que a pessoa é uma substância
individual de natureza racional, centro da criação pelo fato ser imagem e semelhança de
Deus. Logo, o intelecto e a semelhança com Deus geram a dignidade que é inerente ao
homem, como espécie.
Para Kant, tudo tem um preço ou uma dignidade: aquilo que tem um preço é
substituível e tem equivalente; já aquilo que não admite equivalente, possui uma
dignidade. Assim, as coisas possuem preço; os indivíduos possuem dignidade. Nessa
linha, a dignidade da pessoa humana consiste que cada indivíduo é um fim em si
mesmo, com autonomia para se comportar de acordo com seu arbítrio, nunca um meio
ou instrumento para a consecução de resultados, não possuindo preço.
Consequentemente, o ser humano tem o direito de ser respeitado pelos demais e
também deve reciprocamente respeitá-los.
Assim, a dignidade humana consiste na qualidade intrínseca e distintiva de cada
ser humano, que o protege contra todo tratamento degradante e discriminação odiosa,
bem como assegura condições materiais mínimas de sobrevivência. Consiste em
atributo que todo indivíduo possui, inerente à sua condição humana, não importando
qualquer outra condição referente à nacionalidade, opção política, orientação sexual,
credo etc.
Tanto nos diplomas internacionais quanto nacionais, a dignidade humana é
inscrita como princípio geral ou fundamental, mas não como um direito autónomo. De
fato, a dignidade humana é uma categoria jurídica que, por estar na origem de todos os
direitos humanos, confere-lhes conteúdo ético. Ainda, a dignidade humana dá unidade
axiológica a um sistema jurídico, fornecendo um substrato material para que os direitos
possam florescer.
dignidade um limite para a acção dos poderes públicos. Há também o dever de garantia,
que consiste no conjunto de acções de promoção da dignidade humana por meio do
fornecimento de condições materiais ideais para seu florescimento.
Singularidade;
Interioridade;
Unidade;
Abertura;
Projecção;
Autonomia vs liberdade;
Dignidade vs valor.
Ódio
Indiferença
Sofrimento
O homem “culto” seria aquele que tem instrução, teve acesso à produção
intelectual da civilização a que pertence. O conceito cultura compreende tudo aquilo
que o homem produz para construir sua existência.
Ela exprime as mais variadas formas pelas quais os homens estabelecem
relações entre si e com a natureza: como constroem abrigos para se proteger das
intempéries, como organizam suas leis, costumes e punições, como se alimentam,
casam e têm filhos, como concebem o sagrado e como se comportam diante da morte.
O contacto do homem com a natureza, com outros homens e consigo mesmo
intermediado pelos símbolos, isto é, - arbitrários e convencionais – por meio dos quais o
homem representa a si próprio e o mundo.
Nesse sentido pode se dizer que a cultura é o conjunto de símbolos elaborados
por um povo em determinado tempo e lugar, entretanto, estes símbolos resultam da
infinidade de representar o mundo. O animal vive em harmonia coma natureza. Isso
significa que sua actividade é determinada por condições biológicas que lhe permitem
adaptar-se ao meio em que vive, não sendo livre para agir em discrepância com a sua
própria natureza, razão pela qual o comportamento de cada espécie animal é sempre
idêntico.
Conceito de morte
9
Arqueólogo norte-americano.
10
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo, Saraiva, 2006, p. 18.
Caracterização da morte
A experiência ordinária e a fenomenologia existencial estão concordes em
reconhecer no fenómeno da morte as características seguintes: individualidade,
universalidade, inelutabilidade, inexorabilidade, iminência e temibilidade.
Individualidade: a morte é acontecimento que cada um deve enfrentar por conta
própria. Ninguém pode assumir a morte de outro. Cada homem deve sempre
assumir por si a própria morte11.
Universalidade: todos caem sob a foice da morte: jovens, e velhos, sábios e
ignorantes, ateus e crentes, ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres,
sãos e doentes.
Inelutabilidade: contra a morte não há o que fazer. Nem o ouro, nem a espada,
nem a astúcia a podem derrotar. Contra a morte, antes ou depois, mesmo o
melhor jogador deve dar-se por vencido, portanto diante dela, devemos somente
aceitá-la se quisermos ter uma morte tranquila.
11
M. Heidegger, Essere e tempo, Fratelli Boca, Milão, 1953, p.253.
Em toda acção humana, o ser humano exprime o modo como se relaciona com o
mundo, podendo preferir ou preterir algo. A acção humana está estritamente ligada aos
valores, explícita ou implicitamente. Os valores dão ao sujeito, o motivo para agir. É
mediante os valores que hierarquizamos os nossos actos, considerando uns preferíveis a
outros.
Os valores: “são critérios segundo os quais damos ou não importância às
coisas; os valores, são razões que justificam ou motivam as nossas acções, tornando-as
preferíveis às outras” (Geque & Biriate, 2019, p. 50).
Juízo de facto: é aquele em que se descreve a realidade objectiva, neutra e
impessoal. Estes juízos podem ser verificáveis e podem verdadeiros ou falsos.
Juízos de valor: é uma manifestação de preferência e apreciação sobre a
realidade e, é fruto de uma interpretação parcial e subjectiva feita com base valores. Os
juízos de valor são relativos, pois variam de pessoa para pessoa e, por isso, estão
sujeitos a discussão.
É no contexto dos juízos de valor que enquadramos a acção humana, pois o juízo
de valor é já o resultado do que se designa por valores.
Formação de valores.
Para a formação de valores deve se ter em conta três pressupostos basilares, a
saber: “A vivência com o objecto ou com o ser; a ideia que se tem do objecto o do ser;
a qualidade em si a ser atribuída ao objecto ou ser” (Rodrigues e Sameiro, 1993,
p.108)
Os valores não são coisas, nem simples ideias que adquirimos, mas conceitos
que traduzem as nossas preferências. O valor te sempre como referencia a avaliação do
sujeito que o enuncia, não se trata de características e qualidades próprias de algo,
a1guém ou acontecimentos (cor, tamanho, duração, forma, altura, etc.), mas qualidades
e atributos que são atribuídos pelo sujeito a algo, alguém ou a um acontecimento, São
importantes para o agir humano na medida em que constituem os critérios e padrões que
orientam a acção e lhe dão sentido.
Existe uma enorme diversidade de valores, que podemos agrupar em espirituais
e materiais:
1. Valores espirituais:
Valores religiosos: aqueles que dizem respeito a relação do Homem com a
transcendência: o sagrado ou divino, pureza, santidade, perfeição, castidade, etc.
Valores estéticos: os valores de expressão: beleza, harmonia, graciosidade,
elegância, feio, sublime, trágico, etc.
Valores éticos: aqueles que se referem As normas ou critérios de conduta que
afectam todas as áreas da nossa actividade: lealdade, verdade, solidariedade,
honestidade, bem, bondade, altruísmo, amizade, liberdade, etc.
Valores políticos: aqueles que, dizem respeito ao Homem na qualidade de
cidadão: justiça, igualdade, imparcialidade, cidadania, liberdade de expressão ou
de associação ou de culto, etc.
2. Valores materiais ou sensíveis
Valores do agradável e do prazer: aqueles que exprimem as sensações de prazer
e de satisfação, assim como as suas fontes: comida, bebida, vestuário, etc.
Valores vitais: aqueles que se referem ao estado físico: a saúde, força, resistência
física, vigor e robustez, êxito, felicidade, amor, etc.
Valores de utilidade ou económicos: aqueles que se referem a habitação,
dinheiro, meios de comunicação, electrodomésticos, vestuário, alimentos,
automóveis, máquinas, etc.
2.5.2.1. Hierarquia de valores
O valor, embora seja, um ente imaterial possui dois pólos, que o completam na
sua relação com o homem e o meio em que ele actua; no entanto, o primeiro pólo em
que o valor se apresenta ao género humano é o da objectividade; ou seja, o valor apesar
de ser algo que dependa do homem para sua expressão, é algo que não depende do
homem para existir, ele existe por si e para si.
Objectividade – corresponde a tudo que é externo à consciência do homem e,
que resulta de uma observação imparcial. Para esta concepção, os valores são objectivos
e, por isso, não dependem das preferências individuais, são absolutos e autónomos. Têm
validade universal.
Esta concepção vem sendo defendida desde a antiguidade clássica até aos nossos
dias, seus expoentes são: Platão, Descartes, Kant e Marx Scheller.
A subjectividade é uma concepção que contrapõe a doutrina da objectividade;
sustentando que os valores são meras criações individuais e, que podem variar em
virtude dos interesses de seu criador.
A subjectividade – corresponde ao mundo interno do ser humano composto por
emoções, sentimentos e pensamento. Encontrou inúmeros defensores desde a
antiguidade clássica até aos nossos dias, entre eles destacam-se: Sofistas, empiristas,
Nietzsche e Sartre.
A subjectividade de um valor é compreendida em duas dimensões:
Características positivas: defende que a qualidade atribuída ao objecto ou
acontecimento deva ser positiva. Esta característica agrupa consigo todas as
qualidades racionais do sentido positivo que devem ser atribuídas aos objectos,
O relativismo vivido hoje faz com que não se tenham critérios seguros e claros
que facilite a distinção entre o bem e o mal, a beldade da fealdade, o certo e o errado,
tudo depende da concepção que cada um tem das coisas, do outro e da realidade. Esses
pressupostos levou a sociedade hodierna a uma grande crise de valores. Tudo agora é
líquido, desde o amor até as leis, muda a cada instante conforme o desejo do homem.
Chama-se crise a um momento de ruptura no funcionamento de um sistema, a
uma mudança qualitativa em sentido positivo ou negativo, a uma virada de improviso,
algumas vezes até violenta e não prevista no módulo normal segundo o qual se
desenvolveu as interacções dentro do sistema em exame (BOBBIO, Norberto, 1998, p.
313).
Quando nos referimos a crise, queremos entendê-la no sentido de um momento
de confusão e de dificuldade que caracteriza os períodos de transição nos quais o
“velho” ainda não morreu e o “novo” não se apresenta com clareza. Mesmo porque o
novo resultará do que os homens poderão construir a partir dos desafios a serem
enfrentados.
As crises são habitualmente caracterizadas por três elementos. Antes de tudo,
pelo “carácter de subitaneidade e por vezes de imprevisibilidade; em segundo lugar,
pela duração normalmente limitada, finalmente pela incidência no funcionamento do
sistema” (Idem, p. 313).
A compreensão de uma crise se funda sobre a análise de três fases do estado de
sistema:
Fase precedente ao momento em que se inicia a crise.
Fase da crise propriamente dita.
Fase depois que a crise passou e o sistema tomou um certo “módulo” de
funcionamento que não se identifica mais com o que precedeu a crise.
12
Nesta perspectiva, o valor do objecto será positivo quando agrada aos sentidos e ao espírito e, será
negativo quando não causa em nosso espírito e em nossos órgãos de sentidos uma harmonia.
A crítica sistemática dos valores tradicionais, por parte dos seguintes filósofos:
Karl Marx13, Nietzsche14 e Freud15.
Crise nos modelos16 e relações familiares17.
Profundas alterações económicas18, científicas e tecnológicas19 que a nossa
sociedade moderna tem conhecido.
13
Os valores dominantes de uma sociedade são aqueles que velam pelos interesses da classe dominante.
14
Não existem valores absolutos.
15
Os valores morais constituem um mecanismo repressivo imposto pelos pais aos filhos.
16
Marcado pelo desaparecimento do modelo patriarcal de família e, o consequente aparecimento do
modelo infantocrato de família e a família hotel.
17
Prostituição, gravidez precoces, filhos nos contentores de lixo, promiscuidade entre professores e
alunas na escola, corrupção, incumprimento do normativo, alcoolismo.
18
Flutuação do câmbio gerando empobrecimento das famílias, endividamento dos Estados, má gestão do
erário público.
19
Uso inadequado das mass-média.
20
Funda-se na educação dos filhos, protecção, limpeza e adestramento (ENKVIST, Inger. Repensar a
educação (2006). Trad. Daniela Trindade, São Caetano do Sul, Bunker Editora, p. 15).
21
Consiste em integrar os filhos nos distintos grupos sociais de forma positiva (Idem, p.16)
Para voltar a ter um paradigma normativo que facilite o convívio sadio dos
homens na sociedade contemporânea a todos os níveis, é imprescindível que tenhamos
em conta, três acções fundamentais, a saber:
Acções de curto prazo: as boas maneiras dizer obrigado, por favor, licença,
desculpa, etc.
Acções de médio prazo: intervenção das associações cívicas e culturais,
congregações religiosas, etc.
Acções de longo: intervenção dos órgãos estatais, Ministério da educação, etc.
As normas morais são muito gerais e a moral é uma ciência prática e não teórica.
É, por conseguinte, necessária constantemente a aplicação dessas normas aos casos
concretos.
Esta aplicação é feita pela consciência moral, que a faz por meio de um
silogismo, cuja premissa maior é a norma moral, e a menor enuncia o caso concreto,
indicando que esta ou aquela acção ou omissão está compreendida ou não na norma
estabelecida, e, finalmente, a conclusão pronuncia um juízo prático moral a respeito do
caso em questão, juízo esse que constitui o ditame ou sentença da razão: isto deve fazer-
se ou evitar-se.
O termo “consciência” é de origem latina «cum-scire», significando o saber de
si; indica aquele tipo de saber pelo qual, duma certa maneira, o homem, “se acompanha
a si próprio”22.
A consciência pode tomar-se em três sentidos: biológico, psicológico e moral.
Em sentido biológico, a consciência significa a possibilidade que todo o ser vivo
tem de se adaptar ao meio em que vive.
Em sentido psicológico, a consciência é o conhecimento intuitivo e imediato dos
fenómenos psíquicos ou a intuição que o espírito tem dos seus actos e das suas afecções
A consciência moral é a propriedade que o espírito tem de julgar o bem e o mal
das nossas acções, o seu valor moral, pela comparação que estabelece entre elas e as
normas que devemos seguir. Ou, o juiz do valor moral das nossas actividades; avalia os
nossos actos, atribuindo-lhes mérito ou demérito; julga-os sob o ponto de vista de bem
ou de mal; indica o dever a seguir. É uma forma de conhecimento que o homem não
pode não experimentar quando deve decidir fazer algo, revestidas de um tríplice
carácter: carácter imperativo, indicativo e judicativo.
Carácter imperativo: faz o bem, evita o mal; não faças ao outro o que não queres
que te façam a ti; faz ao outro o que desejas que te façam a ti; faz isto e não
faças aquilo...
Carácter indicativo: aponta caminhos e fins seguir e a perseguir, dizendo-nos os
bons e honestos, os maus e desonestos.
Carácter judicativo: fizeste bem, fizeste mal...
Ela é um fenómeno tipicamente humano, é uma realidade muito complexa. Para
os filósofos antigos, a consciência moral era algo inato, que pertencia ao próprio
homem. Os filósofos modernos e contemporâneos, porém defendem a tese de que a
consciência moral é algo que o homem adquire estando em sociedade, através do
22
COSTA, Paulo Dalla, ofmcap. Teologia Moral Fundamental. Luanda, Arquidiocese de Luanda, 1998.
p. 157.
processo de socialização. Para estes, trata-se de uma aprendizagem que poderá ser feita
com a família, grupo social, escola, igreja, etc.
Relativamente a sua formação e desenvolvimento, notabilizam dois autores: Jean
Piaget e Lawrence Kohlberg, cada um apresenta uma explicativa sobre o processo
evolutivo da consciência moral. Para Piaget, a moralidade se desenvolve à medida que a
inteligência humana se vai desenvolvendo, seguindo um processo delineado por três
etapas fundamentais:
Liberdade
Responsabilidade
23
O mérito é o merecimento ou valor moral do acto que é conforme à lei moral ou acréscimo do valor
moral da pessoa que a prática, dando direito a uma recompensa (RIBEIRO, J. Bonifácio e da Silva, José.
Compêndio de Filosofia. Lisboa, Cogito Ergo Sum, 10ª edição, p.474)
24
O demérito é a diminuição do valor moral de uma pessoa por uma acção mal feita, conduzindo ao
castigo (Idem…, p.474).
25
Só é responsável por determinado acto, aquele a quem esse mesmo acto é imputado, isto é, aquele a
quem é atribuída a sua autoria.
26
O sujeito age conscientemente, com o conhecimento de causa, isto é, não ignora as circunstâncias em
que a sua acção se desenrola e, de certa forma, pode controlar as consequências imediatas do seu
comportamento.
27
Quando deriva de uma decisão consciente, voluntária e livre do sujeito.
28
MONDIN, Battista. Introdução à Filosofia: Problemas, sistemas, autores e obras. São Paulo,
Ed.Paulus, 2006. p.134-135.
Tipos de sociedade
Sociedades primitivas ou tribais: aquelas que não desenvolveram a escrita…
Sociedades científicas: aquelas que fundam seus padrões vivenciais na
tecnologia.
Historicamente, a palavra ética foi aplicada à moral sob todas as suas formas,
quer como ciência do comportamento efectivo dos homens, quer como arte de guiar o
comportamento. Propriamente a ética deveria ocupar-se do bem como valor primário
assumido pela liberdade como guia das próprias escolhas.
A ética debate-se com dois aspectos principais: um relativo ao fundamento e ao
valor dos códigos, dos princípios, das normas, das convicções morais já existentes;
trata-se do problema crítico. O outro diz respeito às condições que possibilitam a acção
moral em absoluto; o critério daquilo que é moral e imoral para o homem; o fim último
da vida humana e os meios mais aptos para atingi-lo. Este é o problema teórico.
Os dois problemas, entretanto, não estão separados um do outro, mas sim
intimamente ligados, na medida em que o primeiro introduz o segundo: antes de
implantar sistematicamente a moral, coloca-se em questão, problematiza-se a moral
comum.
O objecto da ética se subdivide em duas partes:
Objecto material, aquele que se prende com os actos. Objecto formal, referente
às leis ou normas que regulam esses actos, quando são identificados. Existem duas
categorias avaliativas dos actos ético-morais: 1º actos do homem e 2ºactos humanos.
Actos do homem: São acções que não implicaram qualquer intenção da parte do
sujeito. São acontecimentos em que nos limitamos a ser meros receptores de efeitos que
não provocamos.
Actos humanos: são aqueles que o sujeito executa voluntariamente, com o pleno
uso das suas faculdades psico-morais. Pode ainda, se acrescer nessa escala, o acto misto,
que resulta da combinação de regras voluntárias e não voluntárias para a sua execução;
neste caso executa-se o acto com pendor voluntário, em pleno uso da consciência.
Por isso, toda a acção humana implica, necessariamente, os seguintes elementos:
Agente: o sujeito da acção que é capaz de se reconhecer como autor da acção e
que age com consciência.
Motivo: a razão que justifica a acção; o que nos leva a agir ou fazer algo. Diz
respeito ao que o sujeito pretende fazer ou ser com a sua acção.
Intenção: respeito ao que o sujeito pretende fazer ou ser com a sua acção.
Fim: o fim da acção é a possessão daquilo para que se quer a acção voluntária.
Formalmente, os actos são avaliados sob dois pontos de vista: a licitude e a
ilicitude.
Um acto é considerado lícito, quando corresponde as acções humanas
autorizadas ou permitidas pelo comportamento moral ou ainda pela lei que rege a
conduta da comunidade; tais acções podem ser negativas, mas autorizadas por lei.
Os actos ilícitos, são aqueles que se encontram proibidos e são rejeitados na
conduta social das pessoas, mesmo quando são bons e, por isso, a sociedade repugna-os
e luta para acabar com eles.
29
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe (1996) Rio de Janeiro, Tradução de Maria Lúcia Cumo, 16ª
edição, p. 11.
mesmo tempo que o estudo do meio ambiente se desenvolvia como ciência, também se
desenvolveram reflexões éticas de como o homem se devia comportar perante o meio
ambiente.
O direito romano, por seu lado, coloca os animais na mesma condição legal
que as coisa mortas e inanimadas. No novo testamento e, na tradição do cristianismo, há
poucas referências que apelam à atenção e consideração aos animais, exemplo claro
disso encontramos no evangelho de Mateus “e os demónios rogavam-lhe, dizendo: se
nos expulsas manda-nos entrar naquela manada de porcos” (Mt, 8. 31ss). Outro
A água
serão por causa do petróleo, serão por causa da água. Uma guerra pela água será ainda
mais letal que pelo petróleo, pelo simples deste líquido ser mais importante para o
homem que o petróleo e daí os ânimos serem mais difíceis de controlar. Já na
antiguidade clássica, o filósofo grego Tales de Mileto destacava a importância da água
ao apontá-la como a “origem de todas as coisas” (Marcondes, 2013, p. 31)
Cada pessoa de cerca de um litro por dia para sobreviver. Fazendo cálculos
arredondados, a humanidade precisa, por dia, de cerca de 7200 milhões de litros para o
consumo. Teoricamente, existem reservas d´água suficientes para todos. No entanto na
prática, há sérios problemas de distribuição para a sua utilização. Segundo o relatório da
ONU sobre a utilização da água em 1995, cada cidadão japonês ou americano consome
em média e, por dia, entre 110 e 260 litros de água.
A energia
Embora sua finitude não esteja em causa, o grande problema parece ser, a
distribuição no consumo mundial de energia. Nas nações africanas do sul do Sahara, a
lenha e outros combustíveis de biomassa constituem 60 e 90 % da provisão total
nacional de energia. São combustíveis que, em que primeiro lugar, servem o sector
doméstico. Também são utilizados para que pequenas indústrias.
O clima
Estes gases estão a provocar o chamado “efeito estufa”, que faz com que a
temperatura média anual se eleve de 1,5 a 4,5 graus célsius nos próximos anos. Por
outro lado, o consumo de combustíveis fósseis provoca a destruição progressiva da
camada de ozono pelos clorofluorcarbonetos utilizados nos aerossóis o que pode
acarretar graves riscos para a vida humana.
Desertificação
encontra na frase: “Ubi societas, ibi ius” (onde há sociedade, há direito). Pois, os seres
humanos, são por natureza animais sociais como se referira Aristóteles de Estagira.
Somando todas essas ideias, temos que os Direitos Humanos são “um conjunto
de direitos, positivados ou não, cuja finalidade é assegurar o respeito à dignidade da
pessoa humana, por meio da limitação do arbítrio estatal e do estabelecimento da
igualdade nos pontos de partida dos indivíduos, em um dado momento histórico”
(Bianchini & Gomes, 2012, p. 21).
Ela provém das revelações do mistério, do culto, por algo que é interpretado
como mensagem ou manifestação divina. Tais revelações são transmitidas por alguém,
por tradição acumuladas ao longo da história ou através de escritos sagrados.
De modo geral, a experiência religiosa apresenta respostas para questões que o
homem religioso não consegue resolver segundo o seu juízo, com o conhecimento
científico ou filosófico. Assim, as revelações feitas pelos deuses ou em seu nome são
consideradas por este homem como satisfatórias e aceitas como expressões de verdade.
Tal aceitação, porém, racional ou não, tem necessariamente de resultar da fé que
o aceitante deposita na existência de uma divindade.
3.TEORIA DO CONHECIMENTO
30
LEOPOLDO E SILVA, Franklin. Teoria do conhecimento. In: MORA DE Oliveira, Armando etalli.
Primeira filosofia. Tópicos de filosofia geral, p. 175.
31
Ibidem, p. 175.
3.1.3.1. O racionalismo.
32
RIBEIRO, J. Bonifácio e da SILVA, José. Compêndio de Filosofia. Lisboa, Cogito Ergo Sum, 10ª
edição, pág. 167.
Esta corrente teve sempre ilustres defensores desde a antiguidade clássica até
precisamente a época moderna, como é o caso de Platão, Santo Agostinho, Descartes e
Leibniz, porém, cada um destes apresentou sua contribuição baseando-se em elementos
peculiares de suas filosofias, voltados todos para o idealismo.
Platão sustentava a origem do conhecimento baseando-se na sua teoria da
reminiscência “as realidades do mundo em que vivemos, são imitações ou sombras das
ideias e estas são os modelos ou arquétipos daquelas”. A semelhança de Platão, S.
Agostinho, admitiu a teoria das ideias, mas considerando estas realidades perfeitas e
absolutas, existentes na mente divina e de que Deus se serviu, como modelos, ao criar as
realidades do mundo em que vivemos.
Descartes, afirma a presença de três tipos de ideias: inatas, adventícias e
factícias. As inatas são as que nascem connosco e que servem de normas ou de
princípios directores do nosso conhecimento. As adventícias, aquelas formadas a partir
dos dados dos sentidos, como as ideias de calor e amargo e ideias factícias, resultantes
da combinação das ideias adventícias e que permitem representar coisas nunca vistas,
como a ideia de sereia.
Leibniz sustenta o inatismo virtual, admitindo a presença em nosso espírito de
certos conhecimentos inatos ou disposições, mas esses conhecimentos são apenas
virtuais e só se tornam actuais por meio da experiência. Existem na inteligência em
estado virtual como a imagem na película já impressionada, antes de ser revelada.
Para o racionalismo, os princípios lógicos fundamentais seriam inatos, isto é,
eles já estão na mente do homem desde o seu nascimento. Daí por que a razão deve ser
considerada como a fonte básica do conhecimento.
Com efeito, não basta ser racional para possuir a razão dos fatos, para tal, é
imprescindível que se utiliza determinado método, para os racionalistas o método viável
para se chegar a verdade é a dúvida metódica ou hiperbólica33, o mesmo contempla
quatro regras a serem seguidas:
O primeiro passo consiste em jamais aceitar como exacta coisa alguma que eu
não conheça evidentemente como tal, quer dizer, em evitar cuidadosamente a
precipitação e a precaução, incluindo apenas nos meus juízos aquilo que se mostre de
modo tão claro e distinto à minha mente que não subsista à razão alguma de dúvida.
33
Nsumbo, Mvindo. Apontamentos de Filosofia da Educação. Luanda, Instituto Superior de Ciências da
Educação – ISCED, 2014.
3.1.3.2. O empirismo.
34
MARCONDES, Danilo, Iniciação a história da filosofia, Rio de Janeiro, Zahar editora, 2007, p. 181.
35
Idem, p. 181ss.
36
A forma a posterior é aquela em que o conhecimento se dá como posterior à experiência e decorrente
dela (PATRÍCIO, Manuel e SEBASTIÃO, Luís Miguel. Conhecimento do Mundo Social e da Vida.
Lisboa, Universidade Aberta, 2004, p. 24.
37
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: História e Grandes temas. São Paulo, Saraiva, 2006, p.
60.
38
Por conhecimentos a priori entenderemos não os que ocorrem independente desta ou daquela
experiência, mas absolutamente independente de toda a experiência. Opõem-se os conhecimentos
empíricos ou aqueles que são possíveis apenas a posteriori, isto é, por experiência (KANT, Immanuel.
Crítica da Razão Pura, Lisboa, Calouste Gulbenkiam, 3ª edição, 2003, p. 13.)
39
Ibidem, p.56.
3.2.2. O idealismo.
Discípulo de Platão por 20 anos, não obstante a este aspecto, Aristóteles diverge
substancialmente de seu mestre em vários aspectos de âmbito e, um deles prende-se
com a teoria do conhecimento. Para Aristóteles, o dualismo cosmológico platónico era
um artifício dispensável para responder à pergunta sobre o conhecimento verdadeiro, tal
como ele afirma “Nada está no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos”
(Aristóteles, apud, Marcondes, 2012, p.197).
40
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia: História e grandes temas. São Paulo, Saraiva, 2006,
pp.153-154.
42
BELO, Malungo. Apontamentos de Teoria do Conhecimento. Luanda, Instituto Superior de Educação-
ISCED, 2013.
43
Designamos por «operações» as acções interiorizadas, isto é, executadas, já não materialmente, mas
interiormente e simbolicamente, acções que podem combinar-se de todas as maneiras e, em especial, que
podem ser invertidas, sendo, pois, reversíveis. Ora estas acções que constituem o pensamento, estas
acções interiorizadas, é preciso aprender primeiro a executá-las materialmente.
Período das operações formais (11 anos a idade adulta), é este último período
no decorrer do qual, o indivíduo fica habilitado a raciocinar sobre proposições
abstractas, não tendo já necessidade da presença dos objectos concretos.
44
Ibidem. p. 57.
3.3.2. O dogmatismo.
Valor do conhecimento
Este debate é travado por duas correntes. Uma delas é o absolutismo, que afirma
não só a objectividade do conhecimento, como também lhe confere um valor absoluto.
Portanto, não restam dúvidas sobre o valor do conhecimento e não apresenta nenhum
limite. Do outro lado, temos o relativismo. Este atribui valor simplesmente relativo ao
conhecimento, quer em função ao sujeito cognoscente, quer em função do objecto
conhecido.
3.3.3. O relativismo.
Entende que não existem verdades absolutas, mas apenas verdades relativas, que
têm uma validade limitada a um certo tempo, a um determinado espaço social, enfim, a
um contexto histórico.
3.3.4. O pragmatismo.
Propõe uma concepção dos homens como seres práticos, activos, e não apenas
como seres pensantes. Por isso, abandonam a pretensão de alcançar a verdade,
entendida como a correspondência entre o pensamento e a realidade. Para o
pragmatismo, o conceito de verdade deve ser outro: verdadeiro é aquilo que é útil,
que dá certo, que serve aos interesses das pessoas na sua vida prática.
Nesse sentido, a verdade não seria correspondência do pensamento com o
objecto, mas a correspondência do pensamento com o objectivo a ser atingido.
45
COTRIM, Gilberto. São Paulo, Saraiva, 2006, p. 229.
Muito embora o objecto da inteligência seja a verdade, esta nem sempre lhe
aparece clara e, por vezes, só passando por diversos estados é que chega a adquiri-la e
mesmo assim com grande esforço.
São quatro os principais estados do espírito em relação à verdade de um
enunciado: a verdade pode apresentar-se-lhe como se não existisse – é o estado de
ignorância; pode aparecer-lhe como possível – é o estudo de dúvida; pode surgir-lhe
como provável – é o estado de opinião; e, finalmente, pode deparar-se-lhe como
evidente - é o estado de certeza.
Ignorância: é a ausência de todo o conhecimento relativamente a um enunciado.
Ela pode ser vencível ou invencível, consoante está ou não em nosso poder fazê-la
desaparecer; culpável ou inculpável, conforme termos ou não o dever de a dominar.
Dúvida: é um estado de equilíbrio entre a afirmação e a negação. O espírito não
adere, ou porque os motivos para afirmar e negar-se equilibram “dúvida positiva” ou
não se equilibram, mas ao são suficientes para excluir o medo de errar “ainda dúvida
positiva”; ou não tem razão alguma nem para negar, nem para afirmar “dúvida negativa
que equivale à ignorância”.
As principais espécies de dúvida são a metódica46 ou cartesiana e a sistemática47
ou céptica.
Opinião: é a adesão receosa do espírito à afirmação ou à negação de um
enunciado.
Certeza: é a adesão firme e inabalável do espírito a uma verdade conhecida,
sem receio de errar. Ela supõe, pois, a manifestação completa da verdade, isto é da
conformidade do enunciado com a realidade, emitindo um juízo seguro. Esta
manifestação faz-se mediante a evidência, que é o motivo e o fundamento da certeza
como a probabilidade é o motivo da opinião.
46
Esta modalidade de dúvida consiste na suspensão voluntária, fictícia ou real, mas sempre provisória, do
assentimento a uma verdade tida por certa, com o fim de verificar o seu valor (RIBEIRO, J. Bonifácio e
da Silva, José. Compêndio de Filosofia. Lisboa, Cogito Ergo Sum, 10ª edição, p. 449).
47
A dúvida céptica é o estado definitivo do espírito relativamente a toda a verdade (Idem…, p. 449).
Dá-se o nome de critério, em geral, ao sinal pelo qual distinguimos uma coisa de
outra. Por isso, quanto ao conhecimento, é a norma pela qual distinguimos o
conhecimento verdadeiro do falso; é o sinal que nos permite reconhecer a verdade da
falsidade – critério da verdade. E, visto que, quando sabemos que estamos de posse da
verdade, aderimos sem medo de errar, o mesmo sinal que nos permite reconhecer a
verdade é também critério da certeza.
Entretanto, cada ordem de verdades tem o seu critério próprio. Assim, as
verdades históricas possuem um critério histórico, as matemáticas, um critério moral.
Mas, além destes, existe um critério supremo para toda a espécie de verdades. Este e a
evidência que é o motivo último de toda a certeza.
No entanto, perante tal realidade, pergunta-se se a evidência deve ser
considerada um critério da verdade ou se é a própria verdade. Parece-nos que a
evidência não se distingue da própria verdade: é a verdade enquanto se manifesta ao
espírito. A verdade não tem portanto, outro critério senão ela mesma: a luz que incide
sobre os objectos permite ver estes e vê-la a ela própria.
A evidência é a clareza com que a verdade se impõe ao nosso espírito; é uma
espécie de luz que ilumina a realidade e nos permite ver que aquilo que temos no
espírito está conforme a essa mesma realidade patenteada.
A evidência é, pois, motivo supremo da certeza. Tudo o que é evidente é
necessariamente verdadeiramente; e tudo que é verdadeiro é evidente, ou pelo menos
devemos, através da demonstração, procurar atingir essa evidência.
Não devemos confundir «evidência» com «certeza», porque a evidência é
objectiva e a certeza é subjectiva; é um estado do espírito provocado pela evidência.
Não pode haver certeza sem evidência, nem evidência sem certeza; por
conseguinte, estes termos são correlativos, como a possibilidade é correlativa da dúvida
e a probabilidade da opinião.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MONDIN, Battista (2006), Introdução à filosofia, 13ª edição, Paulus, São Paulo.
MONDIN, Battista (2011), O homem, quem é ele?14ª edição, Paulus, São Paulo.
BERTEN, A. (2004), Filosofia social, 2ª edição, Paulus, São Paulo.
MARCONDES, Danilo (2012), Iniciação à história da filosofia: Dos pré-
socráticos a Wittgenstein, 13ª edição, Zahar editora, Rio de Janeiro.
TEIXEIRA, Evilázio F. Borges (2006), A educação do homem segundo platão,
4ª edição, Paulus, São Paulo.
COTRIM, Gilberto (2006), Fundamentos da Filosofia: História e grandes temas.
São Paulo, Saraiva.
COSTA, PaoloDalla (1998), Teologia moral fundamental, Arquidiocese de
Luanda, Luanda.
VEIGA, Américo Martins (2005), A educação hoje: A realização integral e feliz
da pessoa humana, 7ª edição, Vila nova de Gaia.
GIORDANI, Mário Curtis (1969), Hístória da antiguidade oriental, 10ª edição,
Vozes editora, Rio de Janeiro.
CHAUÍ, Marilena (2000), Convite à Filosofia, Editora Ática, São Paulo.
SUMÁRIOdo
Iº - EMERGÊNCIA DO FILOSOFAR ............................................................................ 1
1.1. O que é Filosofia? Diversas maneiras de defini-la. ............................................... 1
1.2. Objecto, método e função da Filosofia. ................................................................. 3
1.3. Atitude filosófica vs atitude natural. ...................................................................... 4
1.4. Natureza das questões filosóficas. ......................................................................... 5
1.5. Divisão da Filosofia ............................................................................................... 6
1.5.1. Os diferentes períodos da filosofia. ................................................................. 8
1.6. Relação da filosofia com outros saberes ................................................................ 9
1.7. Mito e Filosofia .................................................................................................... 10
1.8. Dimensão discursiva do trabalho filosófico: a filosofia e a argumentação ......... 13
2.1 – DIMENSÃO ANTROPOLÓGICA, CULTURAL E ÉTICA DO HOMEM ........ 15
2.1.1 – NATUREZA E ESSÊNCIA DO HOMEM .................................................... 17
2.2 – A Pessoa Humana .............................................................................................. 18
2.2.1 – Vínculos éticos da pessoa: Amor, Ódio, Indiferença e Sofrimento. ........... 18
2.3. O homem como produto e produtor da cultura .................................................... 22
2.3.1. A Cultura e o Homem ................................................................................... 23
2.4. O homem perante a situação de limite: morte ..................................................... 25
1.5. Problemática dos valores: .................................................................................... 27
1.5.1. Definição de valor. ........................................................................................ 27
3.5.2 Classificação dos valores. .............................................................................. 28
2.5.2.1. Hierarquia de valores ................................................................................. 28
2.5.2.2. Polaridade dos valores ................................................................................ 29
2.5.2.2.1. Historicidade dos valores ........................................................................ 30
Objectividade e subjectividade dos valores ................................................................ 30
2.5.4. Crise de valores no mundo contemporâneo. ..................................................... 31
2.5.5.Resgate dos valores cívicos e morais no mundo contemporâneo ...................... 32
2.5.6. DIMENSÃO ÉTICO – POLÍTICA DOS VALORES: ..................................... 33
2.5.7 Normas e valores morais.................................................................................... 33
2.6. Origem e natureza da consciência moral: liberdade e responsabilidade. ............ 33
2.6.1 Sociedade, liberdade e pessoa. ........................................................................... 40