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Revista de Direito REFLEXÕES ACERCA DAS DIFICULDADES

Vol. 13, Nº. 17, Ano 2010 GRAMATICAIS DOS OPERADORES DO DIREITO

Janaína Faverzani da Luz


Faculdade Anhanguera de Passo Fundo RESUMO
jana_fl@hotmail.com
O objetivo deste estudo é mostrar a importância da leitura no cotidiano das
pessoas, principalmente os operadores do Direito. Nesse sentido, este artigo
Juliano André Pavan se volta à discussão e à apresentação de alguns desses fatores. Busca-se aqui,
Faculdade Anhanguera de Passo Fundo inicialmente, apontar algumas das razões por que os alunos têm mais
juliano.pavan@unianhanguera.edu.br facilidade para falar do que para escrever. Também são citados os principais
níveis de linguagem (culto, coloquial, técnico) e a importância de adequar a
linguagem ao contexto situacional e ao receptor, principalmente, a variante
jurídica. Ler, enfim, é pressuposto básico para expressar-se com clareza e
precisão em qualquer situação comunicativa e, principalmente, para se
atingir um nível satisfatório de abstração de idéias, requisito este básico para
os profissionais do Direito e de qualquer área cujo instrumento de trabalho
seja a palavra.

Palavras-Chave: textos; níveis de linguagem; argumentação.

ABSTRACT

The objective of this study is to show the importance of the reading in the
daily one of the people, mainly the operators of the Law. In this direction,
this article comes back to the discussion and to the presentation of some of
these factors. One searches here, initially, to point some of the reasons why
the pupils have more easiness to speak than to write. Also are cited the main
levels of language (cultured, daily, technician) and the importance to adjust
the language to the usual context and the receiver, mainly, the legal variant.
Reading, at last, is estimated basic to express with clarity and precision in
any situation of communication and, mainly, to reach a satisfactory level of
abstraction of ideas, requirement this basic one for the professionals of Law
and any area whose instruments of work is the word.

Keywords: texts; levels of language; argumentation.

Anhanguera Educacional S.A.


Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 2000
Valinhos, São Paulo
CEP 13.278-181
rc.ipade@unianhanguera.edu.br
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Artigo Original
Recebido em: 17/9/2009
Avaliado em: 21/7/2010
Publicação: 11 de agosto de 2010
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48 Reflexões acerca das dificuldades gramaticais dos operadores do Direito

1. INTRODUÇÃO

O ato de ler é muito importante para desenvolver um vocabulário sólido. A leitura deve
ser influenciada desde cedo, ou seja, antes mesmo da criança iniciar a vida escolar. O
hábito da leitura ajuda na formação de profissionais capacitados a atuar nas mais diversas
áreas, pois estarão aptos a desenvolver um diálogo mais determinado e persuasivo.

O educando ao ingressar na faculdade, na maioria das vezes, demonstra


dificuldades no momento de desenvolver um texto, isso porque possui uma deficiência
relacionada ao fato de ter recebido um ensino escolar deficitário ou não ter sido
incentivado à leitura.

Estas dificuldades deixam os acadêmicos com muitas dúvidas no momento que


precisam redigir uma escrita. É bom lembrar que no curso de Direito a leitura é uma das
“ferramentas” mais importantes para a formação de um profissional competente. Nesse
sentido, este trabalho apresenta algumas reflexões acerca das dificuldades apresentadas
pelos alunos ingressantes no que diz respeito ao trabalho com a linguagem, seja ela na sua
manifestação escrita ou falada.

Idéias como diferenças entre falar e escrever, níveis de linguagem e sua


adaptação ao contexto situacional, tipologias textuais que o acadêmico deve dominar,
bem como algumas formas de argumentação serão exploradas neste ensaio. Afinal, para
ser um bom profissional do Direito, além de conhecer normas jurídicas, é preciso saber se
expressar com clareza, precisão e persuasão, e para tanto, o domínio da linguagem é
fundamental.

2. DIFERENÇA ENTRE FALA E ESCRITA

2.1. Dificuldade de Escrever X Facilidade em Falar

A dificuldade que a maioria das pessoas possui no momento em que vão escrever é muito
elevada, pois a forma como falamos no dia-a-dia é diferente da que escrevemos.

Por exemplo, a fala é incompleta, pouco elaborada, sem muito planejamento,


expressa de maneira curta (“engolindo” algumas letras como “S” e “R” finais). Na fala
também dispomos de recursos que não ocorrem na escrita, como a entonação de voz, que
é fundamental para entendermos a mensagem que a outra pessoa quer passar ao receptor,
pois o tom de voz revela a carga expressiva da mensagem (ordem, conselho, pedido,
afirmação etc.). Também os gestos e as expressões corporais auxiliam no momento de

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falar e constituem bons recursos de linguagem, recursos que, aliás, podem ser lidos, como
um texto, auxiliando na transmissão/compreensão da mensagem.
Já a escrita é, geralmente, mais elaborada, planejada, requer palavras mais
rebuscadas e conhecimentos gramaticais, além de não possibilitar a utilização de recursos
como gestos, expressões fisionômicas, entonação de voz. Talvez aí comecem os problemas
gramaticais.
Ao falar nos comunicamos sem necessariamente, utilizar todas as regras
gramaticais. A pontuação e a acentuação, por exemplo, não são “marcadas” na fala da
mesma forma como devemos marcá-las na escrita. Para marcar pontuação e acentuação
quando falamos, ao invés de sinais gráficos utilizamos a entonação de voz. Mas, no
momento da escrita, como saber se determinada pausa deve gerar uma vírgula ou ponto-
final? Ou quem sabe um ponto-e-vírgula? E quanto à acentuação, como saber em qual
“para” deve-se usar acento se os dois são pronunciados da mesma maneira? E em qual
“de”, em qual “por”? Só mesmo conhecendo as regras gramaticais!
Além disso, também a grafia das palavras pode gerar certas complicações na
hora de escrever. Palavras como “pesquisa”, “exame” e “batizar” têm, todas o som de “z”
e são escritas cada qual com uma letra diferente. Assim ocorre com os “porquês” (ou seria
por que, ou porque, quem sabe por quê?), com “sessão”, “seção”, “cessão”... e muitas
outras poderiam ser listadas, mas o que importa é que essas diferenças entre fala e escrita
acabam gerando dificuldades ao redigir. No entanto, é inegável a importância da grafia
correta das palavras em qualquer documento ou texto, assim como a pontuação é
essencial para pausar a escrita e a entonação ao falar e a acentuação, para melhor
compreensão do que está sendo escrito.
Outro fator importante é saber que existem diferentes níveis de linguagem e que
cada situação/contexto específico pede a utilização de um, ou mais de um, desses níveis.
Podemos utilizar, por exemplo, tanto o nível coloquial, quanto o nível padrão culto, ou até
mesmo dar preferência à linguagem técnica quando falamos, o importante é saber em que
situação cada uma dessas possibilidades será bem-vinda em termos de adequação
vocabular ao contexto e de compreensão da mensagem pelo interlocutor.
Vale lembrar que a variante culta da língua, também chamada padrão culta ou
formal obedece às normas gramaticais e não admite a utilização de gírias ou expressões
regionalistas. É uma linguagem mais “cuidada”, tanto na elaboração de orações quanto
nas escolhas vocabulares, e geralmente é utilizada quando escrevemos. A língua coloquial
é mais usada em conversas cotidianas, no dia-a-dia. Essa forma de expressão foge um

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pouco à língua culta, uma vez que permite certos deslizes gramaticais1 e admitindo a
utilização de gírias, variantes informais de linguagem. Já a utilização da linguagem
técnica decorre do universo profissional do falante, ou seja, cada profissão possui termos
técnicos de sua área que nem sempre são bem compreendidos fora desse universo.

Por exemplo, a gíria é apresentada pela língua popular, encontrada no cotidiano


das pessoas, nas conversas diárias, com características diferentes de grupo para grupo, de
várias gerações, modificando-se com o passar dos anos. Ela é elaborada por um grupo
social, como os surfistas, skatistas, os grafiteiros etc., e muitas vezes fora desses grupos
sociais não se compreendem algumas expressões por eles utilizadas. Quando a gíria fica
restrita a uma profissão é identificada como jargão2, por isso se escuta falar em jargão
médico, jargão dos advogados, dos jornalistas etc.

Dessas variações também decorrem as dificuldades que os estudantes de Direito


encontram no momento de elaborarem texto. No Direito se exige um vocabulário extenso
de acordo com o padrão culto da língua, não somente durante o curso, mas também no
exercer da carreira profissional. Além disso, o Direito tem sua linguagem técnica – tanto
que há o vocabulário jurídico – com uma variedade de palavras em latim (e alguns termos
já bastante antiquados), o que confunde o aluno ao estudar.

Nesse sentido, também essas variantes de linguagem podem gerar dificuldades


no mundo textual. Até porque conta muito o fato de usar a língua coloquial para falar, o
que faz com que os estudantes no momento de escrever não saibam corretamente como se
expressar gramaticalmente utilizando a língua culta.

A utilização do Messenger pelos alunos é bastante elevada, alguns destes passam


horas em frente ao computador teclando com outras pessoas, trocando conversas escritas,
que normalmente são escritas erradas, por exemplo, trocam o ch pelo x, o qu pelo k
(‘xeke’, ‘aki’...) o que começa deixar seu vocabulário incorreto, colocam em suas mentes o
jeito errado de escrever, deixando para trás toda a escrita correta, causando assim uma
dificuldade extensa quando tem de escrever.

Outro fator que implica na problematização da escrita é a leitura, pois quem não
possui o hábito de ler não tem vocabulário, causando muitas vezes repetição de palavras
em um mesmo texto, que poderiam ser substituídas por outras de mesmo sentido. Torna-
se uma leitura embaraçosa, difícil de ser compreendida pelo leitor.

1 Pode-se dizer, coloquialmente, “Tu foi na reunião ontem?”, mas não se pode escrever/falar assim num contexto em que se
exige a utilização da língua culta. Nessa frase, ocorrem deslizes gramaticais que não são aceitos pela norma padrão: “tu” +
“foi” e o uso do “na reunião” quando o gramaticalmente correto é “à reunião”. Se essa oração obedecesse à norma padrão,
precisaria então ser assim escrita/falada “Tu foste à reunião ontem?”.
2 Linguagem própria de certos grupos ou profissões, gíria profissional [...]. (LUFT, 1991)

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A impressão que dá é de uma leitura sem nexo, é de estar lendo em “círculos”,


porque se repete a mesma escrita ao longo do texto, sem estabelecer um percurso de
introdução, desenvolvimento e conclusão.

2.2. A Importância de Adequar a Linguagem Escrita e Falada

A linguagem escrita e falada é mencionada de formas diferentes, pois falamos sem utilizar
a gramática adequadamente e devemos escrever gramaticalmente correto, como já foi
citado neste artigo anteriormente.

“Escrever nunca foi e nunca vai ser a mesma coisa que falar”. (GNERRE, 1985,
p.8). Esta afirmação feita por Gnerre3 é muito relevante, porque a forma que falamos nos
diferencia da forma de escrever, falamos muitas vezes sem pensar se é a maneira certa ou
não e ao escrever nos dedicamos mais com atenção para não correr o risco de registrar
coisas absurdas.

Mas essa alteração nas formas de escrever/falar é também devida ao contexto


situacional, ou seja, devemos eleger, dentre as possibilidades que a linguagem nos dá, a
mais conveniente e adequada à situação em que nos encontramos, levando em conta,
também, os conhecimentos de nosso interlocutor. O vocabulário jurídico possui uma
imensidão de palavras desconhecidas para quem não é da área, mas para saber esta
linguagem antes de tudo é necessário entender o palavreado diário, que é a língua
portuguesa, falada e escrita pela sociedade.

A linguagem jurídica deve ser utilizada entre operadores do Direito, não se deve
dialogar com uma pessoa leiga através do vocabulário jurídico, pois o outrem não
entenderá os respectivos dizeres. Por exemplo, os operadores do Direito se utilizarem a
linguagem técnica própria dessa profissão com pessoas leigas na área, além de deixarem o
interlocutor constrangido, correm o risco de não serem entendidos. Assim, qual seria o
sentido de comunicar? Ou seja, haveria mesmo comunicação, num caso desses?

Por outro lado, num tribunal de justiça, ao se dirigirem aos seus iguais, os
procuradores podem falar de acordo com a linguagem técnica. Porém, mesmo nessa
situação, não devem esquecer que estão presentes jurados e até mesmo seus clientes, os
quais não possuem conhecimento técnico jurídico para interpretarem o que se diz. Isto
pode fazer com que o advogado perca sua qualidade de procurador perante os jurados
por não demonstrar aptidão em lidar com o público.

3 GNERRE, Maurizzio, autor do livro Linguagem, escrita e poder, que aborda a questão da linguagem vinculada ao poder.

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Além disso, é válido lembrar que existem algumas palavras que já não estão mais
em nosso vocabulário diário, pois foram substituídas por outras mais atualizadas, seja em
nível técnico-jurídico, seja na linguagem cotidiana.

Como exemplos de palavras de uso comum que foram substituídas por outras
mais atuais, tem-se:

• Ceroula = cueca
• Nosocômio = hospital
• Hum = um
• Cincoenta = cinqüenta

Também expressões jurídicas caem em desuso, por exemplo

• Conforme aventado no exordial = conforme dito na petição inicial


• O inquilino devia o montante relativo a dez alugueres = O inquilino devia
o montante relativo a dez aluguéis.

Utilizar a linguagem jurídica de maneira negativa pode causar danos ao bom


entendimento e à boa comunicação. Por isso argumentar através de termos de raro
conhecimento só traz complicações, a melhor forma é usar um vocabulário que todos
compreendam o significado do que se quer dizer.

3. TIPOS DE TEXTOS

3.1. Os Textos e sua Utilização na Atuação Jurídica

Há três tipologias textuais amplamente utilizadas na construção de processos e sobre as


quais o acadêmico de Direito deve ter domínio desde o princípio de sua formação, a saber:
textos descritivos, narrativos e dissertativos.

A descrição é um texto que descreve tipos, personagens, objetos, lugares, etc. Na


descrição pode haver ação e movimento, estando tudo em um determinado momento, ou
seja, tudo acontece em um mesmo tempo.

O texto narrativo narra fatos, conta uma história, com acontecimentos


seqüenciais surgindo diversas situações. A narração é feita em primeira pessoa (eu, nós)
em que o narrador faz parte da história como personagem, ou em terceira pessoa (ele ou
ela, eles ou elas) o narrador participa, conta fatos acontecidos de forma que estivesse
presenciando ou presenciado.

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Na narração devem-se considerar os personagens em um tempo e espaço. Já no


texto dissertativo organizam-se discussões acerca de um tema, expondo idéias, analisando
fatos expressando seu ponto de vista com relação ao que ocorre.

É importante destacar que os tipos de textos são influências importantes para a


criação de documentos jurídicos, ou seja, em petições iniciais, ações trabalhistas, dentre
outros, e que os jurídicos devem ter conhecimento destes

Por conta disso, no Direito é preciso conhecer e trabalhar com os três tipos de
textos.

Tomemos como exemplo hipotético a elaboração de uma ação trabalhista. As


características da ação são feitas através da descrição. Descreve o ramo que atua a
empresa, qual era a atividade exercida pelo funcionário que ajuizou a ação, o número de
horas que este trabalhava, se o empregado utilizava de máquinas para trabalhar, e qual o
tipo da máquina, a estrutura que a empresa proporcionava aos seus funcionários, dentre
outras características que são descritas no processo.

Para explicar qual foi o motivo para o funcionário ajuizar uma ação contra a
empresa, utiliza-se da narração. É contar o motivo que levou o trabalhador processar a
empresa, como por exemplo: falta de remuneração, horas excessivas de trabalho, não
recebimento de seus direitos como décimo terceiro salário, férias, etc.

A defesa feita pelo advogado do autor (o funcionário) é através da dissertação,


elaborando uma petição inicial para dar início ao processo, narrando os fatos e, a seguir,
defendendo seu cliente ao longo da movimentação processual através de argumentos,
fundamentações legais etc.

Pode-se notar que os tipos de texto são utilizados no Direito freqüentemente, e


que é importante para quem exerce essa atividade ter o conhecimento do que é cada tipo
de texto, pois isso ajuda na elaboração processual e na desenvoltura profissional.

3.2. A Importância de Argumentos na Defesa

Um texto deve ser elaborado de forma que o leitor entenda a mensagem transmitida. É
preciso construir um texto claro, coerente e coeso.

O texto sendo claro ajuda na abertura de novos conhecimentos para o leitor,


possibilitando este compreender melhor determinado assunto abordado.
A coerência dá harmonia, encaixando todas as partes de um texto, ou seja, dá significado
ao texto. “A coerência, por sua vez, é resultado da estrutura lógica do texto.
Independentemente dos elementos ligativos presentes no texto, a continuidade de
sentidos percebida pela organização de estruturas subjacentes, assegura a unidade e
adequação de idéias”. (DAMIÃO; HENRIQUES, 2000, p.115).

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A coesão é a ligação que conecta as idéias de um texto, fazendo com que uma
complemente a outra. “A coesão é sempre explícita, ligando o texto por meio de
elementos superficiais que expressamente costuram as idéias, dando-lhe uma
organização seqüencial”. (Id. Ibid.).

O texto deve ser compreensível para o leitor e gerar o interesse deste, por isso
vale a pena evitar a utilização de palavras desconhecidas que acabam deixando as pessoas
desinteressadas pela leitura.

Como qualquer texto, a petição inicial de um processo deve ser clara e


principalmente objetiva, o que demonstra que o bom advogado não precisa escrever
diversas páginas para defender seu cliente e explicar o caso repetindo muitas vezes o que
já foi dito através de outros termos de mesmo sentido. Além do mais, O texto tanto
jurídico, quanto qualquer outro, não precisa ser extenso a ponto de torná-lo cansativo.
Colocar em um texto tudo o que se quer dizer de forma objetiva é como apresentar um
convite ao leitor para que este desfrute de uma boa leitura. Ainda, na petição é essencial a
fundamentação jurídica e a argumentação, assim, como o advogado diante de um júri ou
audiência, também precisa muito de argumentos consistentes e que convençam todos os
presentes. Ele deve ser claro e objetivo, demonstrar conhecimento do assunto, da mesma
maneira que em um texto.

Alguns exemplos de argumentação que são fortes:

Dados Estatísticos

Os dados estatísticos são muito importantes para o desenvolvimento de uma


sociedade. Colocar em um trabalho dados estatísticos de determinado assunto torna o
mesmo mais valorizado. Dados estatísticos são argumentos fortes, que tendem direcionar
conhecimento para a sociedade, desenvolve-se uma idéia de verdade ao apresentar estes
dados, demonstra-se também que o autor sabe do que está falando.

Entretanto, ao se utilizarem dados estatísticos como argumentos, há que se ter o


cuidado de mencionar a fonte destes, pois se não fomos nós quem criamos não podemos
utilizar de idéias de outros sem citá-los, lembrando também que sem a fonte não há
provas de que seja verdadeiro o que ali consta. Também é importante saber que os dados
estatísticos devem ser retirados de fontes seguras, de empresas especializadas neste ramo.
Existem fontes que não são verdadeiras e seus dados são considerados inválidos para
qualquer pesquisa.

Além de dados estatísticos, outros argumentos de peso no Direito são os por


prova concreta, como as fotografias e os exemplos de situações análogas. Como exemplo
de dados, a realização da prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil)

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desempenhada por bacharéis em Ciências Sociais e Jurídicas do curso de Direito, abaixo


segue um exemplo de dado estatístico deste teor.

Os dados estatísticos estão relacionados no Quadro 1.

Quadro 1 – Estatísticas da prova da OAB de 2001 a 2007.


01/2007 02/2007 03/2007
Presentes 4.412 4.459 -
Aprovados 1.529 1.639 -
Índice de Aprovação 34,7% 36,8% -
01/2006 02/2006 03/2006
Presentes 5.456 3.674 3.661
Aprovados 2.427 1.062 1.215
Índice de Aprovação 44,5% 28,9% 33,2%
01/2005 02/2005 -
Presentes 5.441 4.753 -
Aprovados 2.621 1.186 -
Índice de Aprovação 48,2% 25,0% -
01/2004 02/2004 -
Presentes 4.413 3.893 -
Aprovados 2.146 1.453 -
Índice de Aprovação 48,6% 37,3% -
01/2003 02/2003 -
Presentes 3.150 3.216 -
Aprovados 963 1.043 -
Índice de Aprovação 30,6% 32,4% -
01/2002 02/2002 -
Presentes 1.751 1.797 -
Aprovados 724 809 -
Índice de Aprovação 41,3% 45,0% -
01/2001 02/2002 03/2001
Presentes 1.888 1.688 1.469
Aprovados 845 822 742
Índice de Aprovação 44,8% 48,7% 50,5%
Fonte: OAB4 (2008)

Argumento de Autoridade

O fundamento que um advogado deve utilizar após enunciar determinada defesa


ou redigir uma petição inicial, não precisa necessariamente ser através da base legal, pode
utilizar-se de mecanismos que comprovem determinada circunstância através de dados
estatísticos e argumentos de autoridade, este último por sua vez é o mais empregado
durante a defesa do procurador, pois se baseando nos dizeres de autoridades renomadas,
torna seus argumentos mais consistentes e de maior valor.

Argumento de autoridade é tudo aquilo que já foi dito por renomados autores.
Utilizamos muitas citações de autores, principalmente quando ingressamos no ensino
superior. Os acadêmicos usufruem muito das idéias dos autores, citando-os em

4 OAB – Ordem dos Advogados do Brasil é a associação dos advogados do Brasil, que tem por finalidade regulamentar o

serviço prestado pelos advogados a população.

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apresentações de trabalhos, em provas orais ou dissertativas, em fóruns acadêmicos,


dentre outros.

Os advogados utilizam muito de citações de autoridades durante o


desenvolvimento de petições iniciais, mencionam autores após dar explicação de
determinado assunto. Estes procuradores citam perante o tribunal de justiça os escritores
jurídicos para justificar estarem correto seus argumentos, estas citações também são
chamadas de base legal no Direito. Assim, nota-se que argumento de autoridade é uma
justificativa a algo que dizemos, com isso demonstramos ter conhecimento do que
falamos diante dos outros.

“O uso desse recurso leva o receptor a pensar que o locutor tem real domínio
sobre o que está falando, pois além de ter lido e pesquisado sobre o tema, não fala só, tem
o apoio dos ‘fiadores’ citados no texto”. (CRESTANI, 2007, p.79).

O argumento de autoridade presente em nosso cotidiano deve ser por uma boa
razão, talvez porque pensar e possuir um raciocínio lógico é tarefa para especialistas, e se
é para tentarmos blefar sobre certo tema, é melhor seguir os dizeres das autoridades, pois
tentar persuadir sobre determinado assunto de maneira ilícita, é o mesmo que nos
enganarmos e tentarmos enganar os outros.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os aspectos comentados neste artigo demonstraram a importância da leitura em nossas


vidas, pode-se notar que ter um vocabulário amplo facilita nossa expressão no momento
de discorrermos sobre algum assunto.

Em nosso dia-a-dia saber falar corretamente faz parte de nosso crescimento como
indivíduos e profissionais. Como comentado anteriormente, no Direito é de muita
importância apresentar conhecimento vocábulo, pois demonstra a capacidade de
entendimento do profissional sobre determinado tema e mostra sua habilidade de atuar
como operador do Direito. É importante também saber os tipos de textos existentes,
porque eles estarão diariamente na vida de um advogado no momento de ajuizar uma
ação, na hora da defesa de seu cliente, ao fazer uma petição inicial, pois o desenrolar dos
fatos exige domínio da Forma descritiva, narrativa e dissertativa.

A clareza ao falar e escrever também é importante, não são palavras


desconhecidas que demonstrarão a capacidade do jurista, falar de forma breve e objetiva
atrai a atenção de todos, inclusive de quem não faz parte da área jurídica. A linguagem
jurídica é importante, sim. Não se quer dizer que não se deve mais falar tecnicamente, o

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que se deve é poupar citações de palavras de intenso desconhecimento, e também não


falar de forma técnica com pessoas que não são da área do Direito, como por exemplo, o
procurador falando com seu cliente.

A utilização de argumentos de autoridade e de dados estatísticos é bastante


interessante para fundamentar um texto, essas estratégias argumentativas colaboram
dando ênfase ao que foi dito, como por exemplo, quando um advogado comenta tal caso e
para dar razão ao que disse utiliza deste tipo de fundamentação. O que se precisa
entender é que ler não é um problema e sim uma solução para as dificuldades. A leitura
só faz com que cresçamos cada vez mais, nos tornando capacitados para enfrentarmos
diversas situações, pois assim estaremos aptos a fazer uma crítica sobre certo assunto, seja
ela favorável ou não.

REFERÊNCIAS
CRESTANI, Luciana. O texto argumentativo e os caminhos do sentido. Contemporânea: Revista
de ciências sociais aplicadas da Faplan. Passo Fundo, 2008, p. 67-82.
DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de português jurídico. 8. ed. São Paulo:
Atlas, 2000.
GNERRE, Maurizzio. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
LUFT, Celso Pedro. Mini dicionário Luft. 3. ed. São Paulo: Scipione, 1991.
OAB, Ordem dos Advogados do Brasil. Estatísticas. Disponível em:
<http://www.oabrs.org.br/exame_ordem_estatisticas.php>. Acesso em: 20 jan. 2008.

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