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Diretor-Presidente
Fabio Mazzonetto
Diretora-Executiva
Vânia M. V. Mazzonetto
Editor-Executivo
Tulio Loyelo
Manual de handebol
Da iniciação ao alto nível
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eletrônico, mecânico, fotocopiado, gravado ou outro, sem autorização prévia por escrito da Phorte Editora Ltda.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Manoel Luiz de Oliveira
Apresentação
IV) Tática coletiva (tática de grupo de ata- Siomara A. Silva (UFOP). O capítulo é comple-
que e defesa) tado com o aporte que destaca a importância de
V) Sistemas de jogo no handebol (ataque, considerar “o handebol em uma visão sistêmica”,
defesa e contra-ataque) de autoria do Prof. Ms. Rudney Uezu (sub-item
VI) O sistema de formação e treinamento 4.2). A caracterização da modalidade leva a com-
esportivo: por uma pedagogia da ini- preender melhor as necessidades do esporte e de-
ciação ao alto rendimento esportivo terminar princípios para os processos de ensino-
(da iniciação ao campeão) aprendizado e treinamento que se relacionem com
VII) Parâmetros de análise do rendimento elas (parte VI), bem como tratar de compreender
(detecção de talentos e observação de “O jogo no ataque” e “O jogo na defesa”, de auto-
jogo) ria do Prof. Juan J. Fernández Romero e Pablo J.
VIII) As diferentes formas de manifestação Greco. Destacam-se os aspectos que corroboram
do handebol o processo de caracterização do jogo de handebol.
Nesses dois aportes, apresentam-se as caracterís-
Na parte I, o capítulo 1 oferece uma in- ticas gerais do jogo em suas fases ou momentos,
trodução sobre o esporte e sua interação com o bem como, sucintamente, quais os fundamentos
técnicos (de ataque e defesa, respectivamente) e os colaboradores, com aportes do professor Pablo J.
meios táticos coletivos da defesa e ataque necessá- Greco e do acadêmico Fernando L. Greco (ambos
rios a prática do handebol com sucesso. UFMG). Já no capítulo 11 são explanados os as-
Na parte II, trata-se sobre o perfil motor do pectos das ações técnico-táticas do goleiro, da sua
atleta de handebol. Inicia-se com o capítulo sínte- técnica defensiva às técnicas ofensivas, de autoria
se, desenvolvido pelo professor Rudney Uezu, so- do professor Pablo J. Greco (UFMG), Siomara A.
bre o perfil motor do atleta de handebol. A seguir, Silva (UFOP) e do acadêmico Fernando L. Greco
no capítulo 6, apresenta-se uma inovadora forma (UFMG).
de concepção da preparação física no handebol, de Na parte IV, que se inicia com o capítulo
autoria dos professores Francisco Seirul-lo (Univ. 12, são relacionados os meios técnico-táticos de
Barcelona) e Juan J. Fernández Romero (Univ. A grupo de ataque, das tabelas à ponte aérea, e, no
Corunha). Relacionam a metodologia do treina- capítulo 13, são relatados e explicados os meios
mento com as teorias cognitivas, o que se consti- técnico-táticos de grupo de defesa, desde a bas-
tui em uma rica forma de considerar o processo culação ao contrabloqueio. Os textos foram redi-
de formação e desenvolvimento das capacidades gidos pelo professor Juan J. Fernández Romero
biomotoras do atleta de handebol. Continua-se (Univ. A Corunha) e colaboradores, com aportes
com o capítulo 7, direcionado ao treinamento de de Pablo J. Greco (UFMG), Siomara A. Silva
coordenação, redigido pelos professores Pablo J. (UFOP) e Fernando L. Greco (UFMG).
visão das estruturas temporal-metodológica-subs- ter, o jogo para os ex-atletas de todos os níveis
tantiva. O capítulo 18 apresenta uma síntese dos de rendimento, comentando sobre o regulamen-
métodos de ensino do handebol para diferentes to do jogo. No capítulo 25, os professores Décio
alternativas e ambientes pedagógicos. No capítulo Callegari, José Irineu Gorla e Paulo Araújo rela-
19, a prof.ª Siomara A. Silva (UFOP) trata dos jo- tam sobre a criação e a divulgação do handebol
gos de iniciação e do aprendizado das regras e, no em cadeira de rodas, tema inclusive apresentado
capítulo 20, os professores Claudia Nascimento, nas paraolimpíadas de Pequim e incluído no pro-
Philipe Matos e Antônio Lara Junior explanam grama dos jogos, sendo um aporte do handebol
sobre a estrutura do ensino de handebol de praia. brasileiro para o contexto internacional. No capí-
A parte VII se inicia com o capítulo 21, no tulo 26 se apresentam os projetos mini-handebol
qual se descrevem os diferentes caminhos do pro- e caça-talentos, oferecidos em todo Brasil pela
cesso de seleção de talentos. Esse importante tema CBHb com apoio de diferentes patrocinadores.
foi pesquisado e escrito pelos professores Juan J. Assim, o leitor poderá compreender e aplicar em
Fernández (Univ. A Corunha) e Randeantoni do seu cotidiano essas ações da CBHb. No capitulo
Nascimento (UFS). No capítulo 22 é tratado um 27, o professor Marcos Valentim traz sua criação,
tema direcionado à análise de jogos e dos núme- registrando os objetivos e regras do handebol na
terceira idade. Fechando o bloco, o capítulo 28
trata sobre o handebol de areia, escrito pelos pro-
fessores Claudia M. Nascimento, Alexandre
Almeida e Clodoaldo Dechechi (ex-treinadores
da seleção de Handebol Beach da CBHb).
Muitos outros capítulos serão escritos, desta
vez pelos leitores, aos quais fica o desafio de conti-
nuar desenvolvendo cada vez mais esta modalidade.
Desta forma, os autores desejam que a leitura
seja agradável, que este livro seja fonte renovada
de consulta e que muitas sugestões sejam enviadas
à CBHb para incentivar a criação de uma nova
coleção de textos direcionados à modalidade. Boa
leitura, muito sucesso e bom trabalho!
Sumário
Parte I
Handebol: Sua história
e evolução
Pablo Juan Greco; Juan J. Fernandez
1 Introdução
que trabalham na teia do esporte. Enfim, pessoas dagógica. Sua prática oportuniza seu mais preza-
que se “vestem” de festa i mbuídas do espírito do do dom: as opções pedagógicas. Aproveitando as
esporte. opções pedagógicas que se apresentam na prática
O esporte é indicado para todos os indi- ou em situações criadas pelo professor, o esporte
víduos, independentemente de classe, condição desenvolve o conhecimento da pessoa em relação
física, crença ou religião. O esporte se constitui aos outros e permite que a pessoa se conheça. No
em fator de educação, ou, de acordo com as esporte, a pessoa desenvolve suas capacidades,
palavras de Bento, 1 habilidades, competências. A práxis solicita com-
portamento, atitudes, valores, ética, moral, ou
qualificação da cidadania e da vida seja, aspectos de personalidade que contribuem
(...) O esporte é pedagógico e edu- para formar o conceito de cidadania. Através da
cativo quando proporciona oportu- prática do esporte, a pessoa aprende a ser, a co-
nidades, coloca obstáculos, desafios nhecer, a fazer, a conviver; em síntese, aprende-se
e exigências para se experimentar, a aprender para ser um cidadão ativo e compreen-
observando regras e lidando com der o seu destino.
os outros, quando fomenta a pro-
16 MANUAL DE HANDEBOL
A gênese do handebol:
2 primeiras aproximações
com a fundação da IHF em 1946 sob presidência sua prática. Esse tipo de instituição é, em geral,
do sueco Gösta Björk,1 que se aprovaram as regras denominado Federação Internacional (em âmbi-
do handebol. As informações a esse respeito, no to mundial) e de Federação ou Confederação (em
entanto, contradizem as encontradas em Ferreira. 7 âmbito nacional).
Segundo Ferreira (p. 16),7 os primeiros As principais características, segundo Dun-
campeonatos suecos de handebol ocorreram en- ning, dos denominados esportes modernos são:
8
tórico, foram institucionalizados e, portanto, país criador do handebol não seja de interesse po-
receberam o nome de esportes. Isso significa que lítico da entidade internacional, porém é dever
passaram a ter instituições responsáveis pela sua dos estudiosos do esporte e, particularmente, de
regularização, normatização, divulgação e su- historiadores e sociólogos esportivos pesquisarem
pervisão de prática. Essas instituições são geral- e apontarem caminhos para a compreensão da gê-
mente denominadas federações internacionais no nese dos esportes modernos.
âmbito mundial e federações ou confederações no
âmbito nacional.
3
Fundada em 12 de abril em 1946 em Copenhague (Dinamar- 6
O último campeonato de handebol de campo masculino foi
ca) para reger os dois esportes (handebol de salão e de campo), em 1966.
onde permaneceu até 1956, quando sua sede foi transferida 7 Este foi organizado pela IHFA, já que a IHF foi fundada ape-
para Basileia (Suíça). Ambos eram, anteriormente, de respon- nas em 1946. Por isso, são necessários mais estudos para cotejar
sabilidade
(FIHA). 6,8 da Federación International de Balonmano Amateur a informação
handebol de Coronado
apenas pela IHF em e González
1946. sobre a normatização do
4
Denominação que prevaleceu após o término (a partir de 1976) 8 O último campeonato de handebol de campo feminino foi
das competições internacionais de handebol de campo. realizado em 1960.
5
A Sociologia do Esporte atribui a srcem do futebol como um 9
Estamos nos referindo ao handebol jogado em ginásio por
esporte moderno a partir da fundação, na Inglaterra, da Football sete jogadores titulares, pois o jogo praticado em campo (por
Association em 1863, entidade pioneira na publicação das regras onze jogadores) foi introduzido nos Jogos Olímpicos de Ber-
do futebol. lim, em 1936.
Heloisa Helena Baldy dos Reis
O handebol é um jogo relativamente jovem debol na Romênia. Esse grupo foi apontado pelos
se comparado a outros esportes coletivos tradicio- especialistas entrevistados como o impulsionador
nais, e sua prática no Brasil é recente. Essa pesqui- da qualidade técnica do handebol brasileiro.IV A
sa comprovou que foi trazido ao Brasil por Au- seleção brasileira juvenil excursionou com os pro-
guste Listello em 1952, ano em que o professor fessores como equipe de aplicação.V
francês lecionou para a APEF-SP (Associação dos Os campeonatos brasileiros adultos de han-
Professores de Educação Física) na cidade de San- debol iniciaram-se com a categoria de handebol
tos, em São Paulo.I masculino em 1974. Em 1978, ocorreu o primei-
O esporte se disseminou pelo país predo- ro campeonato de handebol feminino, enquan-
minantemente por meio de seu ensino nas es- to os campeonatos nacionais de outros esportes
colas. Esse esporte despertou nos adolescentes coletivos tradicionais iniciaram-se em 1905, com
uma grande atração e interesse, fazendo que fos- o futebol masculino. Em 2007, inicia-se o campe-
se incluído como uma modalidade esportiva no onato de futebol feminino (Copa do Brasil); em
III Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs), realiza- 1925, basquetebol masculino; em 1940, o cam-
do, em 1971, em Belo Horizonte. A partir desse peonato de basquetebol feminino; e, em 1944,
ano, os JEBs tornaram-se o principal propagador iniciam-se os campeonatos de voleibol masculino
do handebol. II e feminino. O I Torneio Aberto de Handebol foi
Em 1975, um grupo de 19 professores brasi- realizado pela Federação Paulista de Handebol,
leiros foi enviado para um curso técnico de han-
III em 1954.
I
O curso de aperfeiçoamento técnico-pedagógico foi sobre o Lima Rosa (SP); Santo Baldacin (SP); Mauro Rodinski (PR);
ensino dos esportes coletivo, e o professor Listello utilizou o Nivaldo (o padre); Luiz Celso Giacomini (RS); José Maria Tei-
handebol como modelo. xeira (AL – 2º Pres. da CBHb e 1º Pres. da Federação de Han-
II
Sob a coordenação do professor José Maria Teixeira (do remo), debol do Estado do Rio de Janeiro, fundada em 1978); Manoel
que, posteriormente, se tornou o segundo presidente da CBHb. Luiz – SE (atual presidente da CBHb); Homero José Alcântara
Um dos responsáveis pela inclusão do handebol nos referidos Ribeiro (SE).
IV
jogos foi
foram os Ari Façanha técnicos.
responsáveis de Sá, juntamente
9 com três mineiros que Aryelaboração
pela Façanha de
daSá foidos
lista o idealizador
integrantesdadaviagem e o responsável
comitiva.
III Os integrantes do grupo eram: Otávio Catanete Fanali (AM); V Minas Gerais: Ricardo Avelino Trade – Baka, Carlos Eustaquio
Sérgio Guimarães da Costa Flórido (PE); Oliveiro Gomes da Brum da Silveira – Jamanta, Guilherme Angelo Raso – Toco,
Silva (RN); Antônio Luiz Cabral (PB); Wilson de Matos (RJ); Gilberto – Boi; São Paulo: Luiz – Luizinho, Manoel – Mane-
William Felippe (RJ); Athaíde Lacerda (MG); Wilson Bonfim zinho, Paulo – Paulinho, Roni; Rio de Janeiro: Sergio – Sergi-
(MG); Arcílio Tavares (SP); Waldir de Castro Gomes Ribeiro nho; Paraiba: Denilson Bonates Galvão; Paraná: Kusmam, Julio,
– SP (Indicado por Darcymires do Rêgo Barros no momento Eniel Carazzai – Peninha; Rio Grande do Sul: Luis Osório – Li-
da digitação da lista por Ary Façanha de Sá, no RJ); Roberto de gadão, Otto; Maranhão: Gilson – Gilsinho; Amazonas: Bosco.
20 MANUAL DE HANDEBOL
estaduais (totalizando 27), e, em algumas cidades O Estado também foi pioneiro no ofereci-
ou regiões, existem Ligas de handebol. mento da disciplina para alunos do curso de for-
As memórias do handebol nos Estados e no mação de professores de Educação Física.
Brasil começou a ser elaborada por mim como um No Estado de São Paulo, considera-
projeto de pesquisa na Unicamp em 2005. Em se que um dos principais impulsionadores
2007, a CBHb manifestou o interesse em recons- do handebol foi o Trófeu Bandeirantes de
truir o caminho percorrido pelo esporte no país Handebol,X criado em 1973.7
durante o V Encontro Nacional de Professores Segundo Silva,9 em 1954, os professores Eu-
de Handebol das Instituições de Ensino Superior rípedes Mattos Carmo (que iniciou o ensino em
Brasileiras,VII em Florianópolis. Nessa ocasião, tive VIII
Esporte praticado em campo por 11 jogadores em cada equipe.
IX
Informação prestada pelo ex-aluno e ex-professor da EEFE/
a incumbência de sistematizar os dados coletados USP, professor Antônio Boaventura da Silva, em entrevista a Sil-
pelos outros colegas em seus Estados, o que possi- va, 1995. Antes da criação da cadeira de handebol, a modalidade
9
era ensinada naa disciplina
disciplina foi
de Educação Física Geral desde 1951.
bilitou o resgate de alguns fatos importantes para a Inicialmente, oferecida apenas para homens; para
mulheres, a inclusão ocorreu apenas alguns anos depois. (Infor-
compreensão da expansão do handebol no Brasil. mação prestada pelo ex-aluno e professor aposentado da EEFE/
USP Emedio Bonjardim).
VI Professor da Escola de Educação Física e Esporte da Universi- X O I Trófeu Bandeirantes de Handebol foi disputado em São
dade de São Paulo – EEFE/USP. José do Rio Preto. Segundo Ferreira,7 a competição foi criada
VII
Evento promovido anualmente pela CBHb a partir de 2002. para incentivar a prática da modalidade no interior do estado.
MEMÓRIAS DO HANDEBOL NO BRASIL 21
Campo Grande, RJ), Cássio Rothier do Amaral professor Dimas, a introdução do handebol
e Enéas da Silva (Niterói – Centro Educacional) no Maranhão após este assistir à modalida-
participaram de um curso em Santos. Estes foram de no JEBs de 1971, em BH, e ter levado
os divulgadores do handebol nas escolas em que bolas doadas por Ary Façanha de Sá para o
lecionavam no Estado do Rio de Janeiro. Maranhão. O desenvolvimento no Maranhão
Em 1966, o handebol foi incluído como também é atribuído ao professor Dimas e ao
modalidade no I Campeonato Intercolegial do professor Laércio Elias Pereira, paulista de
Estado da Guanabara (denominação do atual Es- São Caetano do Sul que se radicou naquele
tado do Rio de Janeiro até 1976), o que estimulou Estado no ano de 1973.XII
os professores a procurarem cursos de handebol. Tem-se notícia de que, em 1967, em Pal-
Porém, o primeiro curso oficial de handebol no meira dos Índios (AL), o professor Luiz Freire e
Estado foi em 1967, ministrado por Darcymi- a pedagoga e diretora de escola (Colégio Cristo
res do Rêgo Barros (especialista em ginástica) e Redentor), irmã Marcelina Dantas, promoveram
Eurípedes Mattos Carmo, que já lecionavam o handebol. Em Maceió, o handebol foi praticado
handebol como conteúdo de outros cursos no em 1968 nas escolas em que lecionavam os pro-
Departamento de Educação Física do Ministério fessores Belmiro Alves (Colégio Sagrada Família)
da Educação e Cultura DEF/MEC.9 No ano de e Josefa Alves (Colégio Bom Conselho).
1972, o handebol foi incluído como disciplina na Foi pela coordenação do professor alagoano
grade curricular da Escola de Educação Física e José Maria Teixeira que o handebol foi incluído
Desportos da Universidade Federal do Rio de Ja- no JEBs realizado na cidade de Belo Horizonte
neiro EEFD/UFRJ. em 1971. No ano seguinte, a cidade de Maceió
A Federação de Handebol do Estado do foi sede do 4º JEBs. Porém, apenas em 25 de mar-
Rio de Janeiro foi fundada apenas em 1978. Em ço de 1980 foi criada a Federação Alagoana de
1981, o Rio de Janeiro recebeu o professor alemão Handebol.
Horst Käsler para ministrar um curso.XI No Estado do Piauí, os registros apontam
Em 23 de setembro de 1960, no Maranhão, que, entre os dias 15 de fevereiro e 5 de março
os professores Luiz Gonzaga Braga e José Rosa da de 1970, realizou-se em Teresina o primeiro cur-
Escola Técnica Federal do Maranhão (ETFM, so de avaliação básica em handebol. O primeiro
hoje denominada de CEFET) promoveram um jogo realizou-se em 15 de maio de 1970 entre
jogo para demonstração de handebol no aniver- duas equipes do Colégio Helvídio Nunes, que
sário da escola. tinham como treinadores os professores Antônio
Porém, credita-se a Antonio Maria Za- Sarmento de Araújo Costa e o professor Péricles
charias Bezerra de Araújo, conhecido como Freitas Avelino.
XII
Formado pela EEFE/USP em 1970 e preparador físico da
XI
Autor do livroHandebol, publicado pela editora Ao Livro Técnico. seleção brasileira comandada por seu ex- professor, Jamil André.
22 MANUAL DE HANDEBOL
Em julho de 1971, o professor Péricles Frei- Barcelona, conseguindo a 11ª colocação; a estreia da
tas Avelino ministrou o primeiro Curso Básico de seleção brasileira de handebol feminina em Olimpí-
Educação Física em Handebol para professores adas se deu apenas no ano de 2000, nos Jogos Olím-
da capital e do interior do Piauí. Esse curso foi picos de Sidney, classificando-se emo 8lugar.
promovido pela Inspetoria Seccional de Educação Os principais resultados obtidos pela seleção
Física do Piauí, em convênio com a Secretaria de adulta masculina brasileira em certames interna-
Educação e Cultura. cionais foram: vice-campeão masculino, em 1981,
A primeira participação do Piauí em JEBs da Taça Latina e do Campeonato Sul-Americano;
foi em 1972 em Maceió, e teve como técnicos os terceiro colocado nos jogos Pan-Americanos, em
professores Péricles Freitas Avelino (masculino) e 1987; segundo colocado em 2002; campeão sul-
Jovita Maria Ayres Lima Cavalcante (feminina). americano em 2000, 2001 e 2003; e primeiro co-
Em 21 de novembro 1980, foi criada a Federação locado nos Jogos pan-americanos de 2000, 2001,
de Handebol do Estado do Piauí. 2003, 2006 e 2008.
O handebol em Santa Catarina foi implan- Os principais resultados obtidos pelo Brasil
tado na década de 1970 na área de Florianópolis, em certames internacionais na categoria adulta fe-
e, no 1º semestre de 1971, realizou-se o 1º cam- minina foram: campeão pan-americano em 1997,
peonato regional escolar. A Federação Catarinen- 1999, 2000, 2003, 2005 e 2007; e campeão sul-
se de handebol foi criada em 27 de setembro de americano em 1998.
Quadro 3.2 – O handebol de areia nos “ World como uma possibilidade de lazer, recreação e saú-
Games” (COI) de, que pode ser praticado na praia, na areia, na
Medalha de Ouro escola, na praça, no gramado de casa etc.
Ano Cidade – País
Masculino Feminino
2001 Akita – Japão Bielorrússia Ucrânia
Duisburg –
2005 Rússia Brasil
Alemanha
2009 Kaohsiung–China Brasil Itália
Identificação, caracterização e
4 classificação do jogo de handebol
Uma compreensão ampla do fenômeno es- finidas pela posse ou não da bola, estão relaciona-
porte inicia-se com a consideração das caracterís- das e inseparavelmente ligadas, assim como a atu-
ticas da modalidade. Assim, observam-se espor- ação dos jogadores/equipes. Dessa forma, quando
tes individuais, de conjunto, de rede, de parede, a posse de bola muda de um time para outro, os
de invasão, em espaço específico, de rebatida, de jogadores trocam imediatamente de função, pas-
campo, de sala etc. Segundo Guia, Ferreira e Pei- sando de atacantes a defensores e vice-versa.
xoto11, um jogo esportivo coletivo “apresenta um Em uma partida de handebol, o comporta-
conjunto de indivíduos em interação mútua, com mento dos atletas se fundamenta nos princípios
relações e interrelações coerentes e consequentes, do jogo, que podem ser conforme a fase ofensi-
com objetivos convencionados e funções especí- va: conservar a posse de bola, progredir até o alvo
ficas definidas”. O handebol se encaixa nessas ca- e, por último, buscar a finalização; e defensiva:
é de suma importância que, nos processos de ensi- Quadro 4.1 – Relação de categorias e formas de
no-aprendizagem-treinamento (EAT), as ações dos classificação da modalidade (Graça e Oliveira) 18
jogadores sejam orientadas para resoluções velozes e Categorias Classificação Handebol
CAM
Nessas categorias, ainda se inter-relacionam Companheiro - Adversário - Meio Ambiente
quanto mais espaço dispõe o jogador, mais Quadro 4.4 – Características do ataque e defesa
violenta é a carga; nos jogos esportivos coletivos de invasão (adapta-
quanto mais próxima a carga, mais violenta é; do de Bayer, p. 53).12
quanto mais próxima a carga e, portanto, Ataque Defesa
mais violenta, mais fácil é controlar tecni- Conservação da bola Recuperação da bola
camente a bola (Parlebas).19 Progressão dos jogadores e daImpedir a progressão dos joga-
bola para a meta adversária. dores e da bola até meugol.
Atacar à meta contrária, ou
Sendo assim, apresentamos, a seguir, as ca- seja, marcar um ponto. Proteger a meta ou o campo.
racterísticas das principais modalidades esportivas
de acordo com as considerações realizadas por A participação para a obtenção da posse de
Parlebas (Quadro 4.3). 19
bola é simultânea, ou seja, as duas equipes podem
atuar simultaneamente pela posse sem esperar a
Quadro 4.3 – Características dos jogos esporti- ação final do adversário. A partir do momento
vos coletivos de acordo com a carga permitida e em que uma das equipes tem o controle da bola,
o transporte da bola (adaptado de Bayer, p. 52). 12 tem-se em vista atingir o objetivo final do jogo
Possibilidade de pro- (marcar ponto). Caso não tenha a posse da bola,
Modalidade Tipo de c arga
gressão
objetiva-se recuperar seu controle, tirando-a da
Não existe progressão
Voleibol Não há carga
com a bola.
outra equipe e, dessa forma, marcar o ponto. A
Individual
Meios Fazer
Ataque Grupal Objetivo
técnico-táticos
Coletivo
Individual
Defesa Meios Grupal
Objetivo
técnico-táticos Coletivo Evitar
Equipe
Organização
Distribuição de
Responsabilidades
Sistema de Jogo
Ofensivo Defensivo
FIGURA 4.3 – Integração de ações como elemento de formação da equipe e sua relação com os sistemas de jogo (Greco).
21
Por sua vez, deve-se observar que o jogo de terreno de jogo, que estão descritos na Figura 4.4
handebol se desenvolve conforme princípios tá- (segundo Bayer, p. 144):12
ticos gerais que as equipes apresentam dentro do
32 MANUAL DE HANDEBOL
ou
Sistemas de jogo
Meios
táticos
Intenções
Princípios
Objetivos
Ataque Defesa
Ataque X defesa
FIGURA 4.5 – As relações entre os componentes que constituem a lógica do jogo de handebol (García).22
Lançamento
Intervenção da melhor posição
do goleiro RE-organizar a RE-organizar o
defesa ataque Organizar o
Lançar nas ataque
piores condições
Progredir para
Evitar a portaria contrária
progressão da
outra equipe
Conservar a
bola
Retorno da
bola Retorno Contra-ataque
defensivo
FIGURA 4.6 – Fases do jogo de handebol e seus objetivos, com base em Coronado.23
Por sua vez, Coronado23 apresenta uma ex- Tais classificações servem como auxilio para
plicação mais detalhada dos objetivos do jogo de identificarmos o handebol como um jogo espor-
handebol nas duas diferentes fases. tivo coletivo que solicita uma visão sistêmica dos
34 MANUAL DE HANDEBOL
seus componentes, o que gera consequências para A leitura deste texto representa um convite
os processos de EAT. para que se evite, sem prévia análise, a aceitação
de verdades absolutas ou certezas (paradigmas)
“confirmadas”, considerando que a verdade pode
4.2 O handebol em uma visão sistêmica ser relativa à representação individual das pessoas
e que seus alicerces relacionam-se com as justifi-
Rudney Uezu cativas que fundamentam o estímulo que induz a
estarmos sempre com nossa mente aberta a novas
O handebol é caracterizado pela aplicação ideias e mudanças de paradigmas.
de técnicas de movimentos específicas da moda- Os paradigmas podem ser entendidos como
lidade, que precisam ser adequadas às diferentes conjunto de regras, modelos, padrões, visões de
situações encontradas no jogo. Nesse sentido, mundo. O tempo todo percebemos o mundo
faz-se necessário o entendimento da modalidade conforme nossos paradigmas, que acabam sele-
segundo uma perspectiva integrada relacionando cionando o que percebemos e reconhecemos. As-
os aspectos físicos, psicológicos, técnicos e táticos sim, eles nos levam a recusar ou distorcer os dados
independentemente do nível de desempenho es- que não combinam com as expectativas criadas
portivo, ou seja, faz-se necessária uma mudança previamente em nossa mente. Os paradigmas de
no paradigma de entendimento da modalidade. uma sociedade, por exemplo, influenciam nossa
A palavra paradigma apresenta-se como um vida de forma direta, levam-nos a fazer acreditar
termo bastante difundido em nosso cotidiano, que a forma como entendemos os fatos são “cor-
podendo ser utilizada em diversas áreas do conhe- retos” ou o “único jeito de fazer”, impedindo, as-
cimento. Ao longo de nossa história, os paradig- sim, que outras ideias possam ser aceitas de forma
mas do conhecimento foram sendo substituídos a nos tornar resistentes a mudanças e com pouca
conforme as inquietações de algumas pessoas in- flexibilidade comportamental.
conformadas com as regras e normas de conduta Hoje, em pesquisa cientifica, o paradigma
vigentes na época. denominado “sistêmico” vem sendo a referência
Porém, como será que esse paradigma atu- para substituir a chamada “modernidade” pela
al e o que está emergindo podem influenciar o “pós-modernidade”. Esse paradigma sistêmico
entendimento do esporte e, mais especificamente, parte do princípio de que não é possível fragmen-
do handebol? Quais são as possíveis implicações tar a totalidade em partes isoladas para entendê-la,
práticas? Será que a mudança de paradigmas em já que, desse modo, as interações entre as partes
relação à conceituação do handebol pode aportar são desconsideradas, impossibilitando, assim, sua
uma visão diferenciada dos processos de ensino- compreensão. O termo sistêmico vem de sistema,
aprendizagem e treinamento do handebol? que foi conceituado como “complexo de elemen-
IDENTIFICAÇÃO , CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DO JOGO DE HANDEBOL 35
tos em interação” ou “conjunto de componentes partes que o constituem interagem com o meio
em estado de interação”. A existência das intera- ambiente; e complexo porque existem muitas
ções ou relações entre os componentes represen- característica s que nele influem, além do gran-
tam o aspecto central que identifica a existência de número de interações (aspectos físicos in-
do sistema como entidade, diferenciando-o de um fluenciam a realização de uma técnica no final
aglomerado de partes independentes. Portanto, os do jogo, ou táticos, quando o defensor chega
fenômenos são analisados de maneira globalizada, a fechar o espaço) que podem ocorrer entre as
sem a fragmentação das partes que o compõem, partes que o compõem.
considerando, assim, as interações existentes entre Os sistemas abertos trocam matéria/energia
as partes na composição da totalidade. e informação com o meio ambiente. Já os com-
Segundo Tani e Correa, 26
as modalida- plexos apresentam grande número de fatores que
des esportivas coletivas podem ser classificadas nele influem, assim como o grande volume de
como sistemas abertos e complexos, incluindo, interações que podem ocorrer. A Figura 4.7 apre-
assim, o handebol. Portanto, para se compre- senta uma análise que considera duas equipes, o
ender e analisar o jogo de handebol, pode-se número de jogadores envolvidos e as possibilida-
recorrer à visão sistêmica, pois o handebol é des de ações ofensivas que cada atacante pode re-
sistema aberto e complexo: aberto porque as alizar individualmente.
Jogos Coletivos
EquipAe EquipBe
FIGURA 4.7 – Análise de duas equipes, do número de jogadores envolvidos e das possibilidades de ações ofensivas que
cada atacante pode realizar individualmente.
36 MANUAL DE HANDEBOL
tico. Ao aluno seriam ensinadas, inicialmente, defensores, no campo de jogo, se organizam ta-
a corrida e as três passadas. Após o domínio da ticamente para obter o gol, ou evitá-lo. Assim,
forma “correta” da corrida e das passadas, vem, a equipe em posse de bola, ou que apresenta
a seguir, o ensino do salto, a questão da busca condições de obter sua posse, está no ataque e
de altura, o não impulsionamento para frente a outra, em defesa. Ocorre, consequentemente,
etc. Somente quando esses aspectos estiverem uma série de ações de oposição entre atacantes
“mecanizados”, serão estimuladas e oportuni- e defensores e de colaboração entre colegas da
zadas as situações de passe com exercícios que mesma equipe. Essa característica do handebol
combinem esse fundamento, ou meio técnico- oferece um importante papel educacional, pois
tático individual, com outras ações (fintas sem os jogadores aprendem a cooperar uns com os
bola etc.). Por fim, após trabalhar cada compo- outros e, também, a se superar de forma cons-
nente isoladamente, serão realizadas as combi- tante, superando os obstáculos que os adversá-
nações necessárias até que os três movimentos rios, momentaneamente, lhes colocam, na bus-
constitutivos – a corrida, o salto e, finalmente, ca também da vitória.
o passe – sejam possíveis de se concretizar com Durante o processo de ensino-aprendiza-
fluência pelo aprendiz. gem e treinamento do handebol, a estimulação
IDENTIFICAÇÃO , CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DO JOGO DE HANDEBOL 37
de aspectos táticos (quando e por que fazer) e dinâmica de movimentação de um gol a ou-
técnicos (como fazer) deve ocorrer concomi- tro, conforme discutido nas diferentes fases do
tantemente, já que, ao mesmo tempo que o jogo. O nível organizacional equipe é constitu-
praticante entende a lógica do jogo e se com- ído pelos jogadores que compõem as equipes e
porta com autonomia e independência, preci- sua respectiva distribuição espacial pela quadra
sa aprender os diferentes procedimentos que de jogo, segundo os conceitos de largura e pro-
podem ser realizados durante o jogo. A partir fundidade, na criação e ocupação de espaços e
do momento em que o aprendiz entende o que suporte ao jogador com bola. Já o nível parcial
fazer, são impostas as decisões de quando e por considera os jogadores diretamente envolvidos
que aplicar os procedime ntos técnico-tát icos. nas ações, conforme conceitos de tática grupal
Esse aspecto leva a afirmar que os fundamentos e tática coletiva, nos quais são consideradas as
ou técnicas do handebol devem ser denomina- opções de interações que podem ocorrem entre
dos ações técnico-táticas individuais, já que a dois a três jogadores, seja no ataque ou na de-
execução de um passe, por exemplo, depende fesa. Para finalizar, o nível primário considera
da decisão de o que fazer (se passar ou lançar), a unidade mínima de oposição entre dois jo-
isto é, o aprendiz considera primeiro o que fa- gadores, ou seja, um atacante com bola e seu
zer e, assim, conclui o como executar, quando, correspondente na defesa.
para quem e em qual momento ele será realiza- O jogo pode ser entendido como o nível
do. Ações em esporte se orientam pelos objeti- de organização mais complexo, e seu resultado
vos táticos e requerem a técnica para sua con- depende das interações ocorridas nos demais
cretude, ou seja, no handebol a ação é tática e níveis de organização. Seu entendimento pode
técnica simultaneamente. Pode ser considerado explicar o resultado de uma partida. A Figura
que, mentalmente, primeir o se decide o que fa- 4.8 ilustra as possibilidades de interação entre
zer (tática) e, depois, como fazer (técnica), mas um jogador com bola e seus companheiros de
ambas as decisões ocorrem simultaneamente na equipe, assim como com seu adversário direto.
execução.
Gréghaine e Goudbout 26 sugeriram que,
na lógica de um jogo coletivo onde ocorra opo-
sição entre duas equipes, faz-se necessário con-
siderar diferentes níveis de organização: jogo,
equipes, parcial e primário.
O nível jogo representa o confronto dire-
to entre as duas equipes que se opõem durante
a partida. Tal oposição pode ser expressa pela
38 MANUAL DE HANDEBOL
Deslocamentos Passes
Criação e Companheiro
ocupação de desmarcado
espaços
Após Manter a
Recepção Atacante Dribles
desmarque posse de bola
Superar um Superar um
adversário adversário
Arremessos Fintas
FIGURA 4.8 – Interação do jogador com bola no handebol dentro do sistema de jogo.
Para que as possibilidades de interações pos- (aspecto técnico), caso ele não saiba o momento e
sam ocorrer de forma organizada, existe a necessi- o local mais adequado para tal ação.
dade de considerar, de maneira integrada, as ações Ao se considerar o nível parcial, podemos
técnicas e táticas do handebol. Por exemplo, em entender as interações que podem ocorrem entre
situações de jogo, não basta que um atleta domine dois ou três jogadores, e a Figura 4.9 ilustra as
somente a forma de execução de um arremesso possibilidades entre dois atacantes.
Tabelas
Cruzamentos Bloqueios
2
Atacantes
Pantalhas Permutas
Ponte Aérea
Central
A ocupação dos espaços deve se realizar uti- Com a posse de bola: deve-se manter a pos-
lizando as zonas que se correspondem com postos se desta, progredir até o objetivo, dar con-
específicos. Para isso, no ataque, conformam-se tinuidade ao ataque habilitando, mediante
duas linhas de jogo. A primeira linha ofensiva é um passe, outro companheiro ou finalizar
contada a partir do meio do campo de ataque. a ação por meio do lançamento;
Nela se posicionam os jogadores responsáveis Sem a posse de bola: a missão principal é
pela armação do jogo. Na segunda linha ofensiva, apoiar o companheiro com a bola, saindo
situada entre as linhas de 6 e 9 metros, posicio- da marcação, e, também, atuar procurando
nam-se os pontas e o pivô. No sistema padrão de espaços livres úteis;
ataque, definido como 3:3, representa-se, na sua
primeira linha, por um central e dois laterais e, na Com respeito ao jogo em conjunto, distin-
segunda, por um pivô e dois pontas (extremos), guem-se várias fases:
estabelecendo-se zonas de lançamento próximas
(6 a 9 m), que incluem lançamentos no ar dentro Contra-ataque: fase rápida de ataque, aprovei-
da área de 6 m, e zonas de lançamento afastadas tando-se a surpresa e desorganização defensiva
(7,5 – 14 m). com o objetivo de aproveitar a superioridade
numérica que supõe um grande espaço que se
deve ocupar. Distinguem-se em duas subfases:
4.3.2 Fases e formas de jogo contra-ataque propriamente ditoa (1
e 2a on-
das) e contra-ataque sustentadoa (3
onda);
No jogo de ataque distinguem-se, basica- Ataque posicional: fase na qual os jogadores
mente, dois tipos de situações para um jogador: atuam em seus postos específicos, aprovei-
IDENTIFICAÇÃO , CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DO JOGO DE HANDEBOL 41
linhas defensivas
Primeira linha
Segunda linha
Lateral Lateral
Central Terceira linha
D F
Largura: distinguindo-se uma zona central,
duas laterais e duas externas.
Profundidade: refere-se ao distanciamento
da área de meta, distinguindo-se em uma
zona de tiro próxima (até 8 m) e uma FIGURA 13: Distribuição dos jogadores em sistema de-
zona de tiro afastada (até 14 m). Em ge- fensivo 6:0 contra o ataque 3:3.
ral, considera-se que as defesas podem ter
três linhas ou barreiras para confrontar o
ataque. As linhas se contam a partir da li- 4.4.2 Fases e formas de jogo
nha de gol. A primeira linha próxima aos
6 metros, a segunda, entre 7 e 9 metros e a Em defesa, podemos distinguir diferentes
terceira, entre 8 e 10 metros. comportamentos quando o adversário direto do
44 MANUAL DE HANDEBOL
defensor possui ou não a bola. No primeiro caso, Defesa em zona: o defensor responsabiliza-
o defensor deverá evitar o lançamento, tentando o se por uma zona e do atacante que nela se
bloqueio da bola ou tomá-la, evitando a progres- encontra.
são do atacante. No segundo caso, deve-se vigiá- Defesa individual: o defensor responsabili-
lo, dissuadi-lo para que não receba a bola, colocá- za-se do jogador que se emparelha de for-
lo em situação de pressão para que, caso a receba, ma constante no jogo defensivo.
não tenha opções de passe ou finta.
As fases da ação defensiva podem-se consi-
derar como:
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CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL FÍSICO -MOTOR DO ATLETA DE HANDEBOL 47
Parte II
Perfil motor do atleta
de handebol
Rudney Uezu
Os aspectos de constituição corporal (biotipo- nas categorias júnior e adulto. Por meio da análise
logia, somatotipologia, entre outros) e de aptidão das informações deste quadro, observa-se que a
física influenciam diretamente o desempenho espor- maioria dos estudos buscou descrever o padrão an-
tivo nas diferentes modalidades esportivas. As carac- tropométrico dos atletas participantes de diversas
terísticas específicas em relação ao tipo de solicita- competições nacionais, e o somatotipo foi a estraté-
ções de cada modalidade, suas regras e especificidade gia mais utilizada para a descrição do perfil corporal
dos contextos ambientais parecem determinar um do atleta de handebol, sendo que o predomínio da
padrão corporal mais adequado para que os atletas mesomsorfia foi evidente em todas as investigações.
obtenham cada vez mais melhores rendimentos. Entretanto, ao se considerar as características
Assim, a observação de padrões de referên- antropométricas e de aptidão física para tentar
cia específicos em função da modalidade espor- encontrar diferenças significativas entre atletas de
tiva representa um aspecto que pode auxiliar na níveis competitivos distintos, não foi encontrada
formação das futuras gerações esportivas. Ao se uma tendência de determinadas variáveis, ou seja,
identificar um perfil específico de características as características relevantes na diferenciação entre
de constituição corporal e aptidão física de atletas os grupo variavam conforme a amostra adotada.
de diferentes modalidades esportivas, os técnicos Com relação a aspectos fisiológicos relacio-
esportivos teriam um banco de dados para auxi- nados à prática do handebol, os estudos de Eleno,
liar em sua prática profissional. Barela e Kokubun1 e Barbosa e Oliveira 2 sugeri-
Nesse sentido, a comparação dos jovens atle- ram que componentes aeróbicos e anaeróbicos
tas com padrões específicos podem representar são relevantes para o desempenho no handebol,
um aspecto relevante na identificação e promoção fato evidenciado empiricamente no trabalho de
de talentos esportivos no handebol, na planifica- Paes Neto,3 que encontrou frequência cardíaca
ção do processo de treinamento, na adaptação das média entre 158 e 167 durante jogos oficiais.
cargas de treinamento, entre outros fatores. Um aspecto que chama a atenção se refere à
O Quadro 5.1 apresenta os trabalhos de inves- predominância de investigações que analisaram atle-
tigação que buscaram descrever aspectos antropo- tas do sexo masculino, fato que sugere a necessidade
métricos e de aptidão física em atletas de handebol e relevância de estudos com atletas odsexo feminino.
50 MANUAL DE HANDEBOL
Quadro 5.1 – Resumo dos estudos com atletas das categorias júnior e adulto
Autor Objetivo Conclusões
Verificar a influência do handebol na aptidão Aumentos na força de preensão manual e nos períme-
André4
física. tros de braço e antebraço.
Analisar o somatotipo de atletas da Taça Brasil Perfil mesomorfo balanceado, não sendo encontradas
Profeta5
de clubes e seleção brasileira júnior masculina. diferenças significativas entre os postos específicos.
Pires Neto,6 Descrição de características antropométricas Elaboração de padrões de referência e sugestão de no-
Pires Neto e Profeta7 da seleção brasileira júnior masculino. vas investigações.
Silva8 Analisar o somatotipo de universitários das re- Perfil endomesomórfico, não sendo encontradas diferenças
giões Norte, Nordeste e Centro-sul do Brasil. significativas entre as posições de jogo e região geográfica.
Analisar o somatotipo de atletas da primeira
Maia9 Predominância mesomórfica.
divisão portuguesa.
Descrever o somatotipo e a composição cor- Predominância endo-mesomórfica em todos os postos
Gonçalves e
poral de participantes dos jogos abertos pa- específicos e não foram encontradas diferenças signifi-
Dourado10
ranaenses. cativas na composição corporal.
Gonçalves, Osiec, Determinar o perfil cineantropométrico da Perfil endomesomórfico, não sendo encontradas dife-
Tsuneta e Zamberlan11 seleção brasileira feminina de 1989. renças significativas entre os postos específicos.
Valores superiores dos atletas em todas as característi-
Araújo, Comparação de aspectos cineantropométricos cas e sugestão de importância das variáveis na seguinte
Andrade e Matsudo12 de universitários com a média populacional. ordem: força de membros superiores, inferiores e ab-
dominal, potência aeróbica e agilidade.
Os melhores atletas do campeonato apresentaram
Glaner13 Comparação do
participantes do xperfil
jogosmorfológico de atletas
Pan-Americanos por maiores
cialmentevalores em relação
na estatura, aos demais
envergadura, atletas, espe-
comprimento de
posto específico. membros inferiores e menores valores de percentual
de gordura e massa corporal magra.
Determinação da intensidade de esforço a partirCaracterização do esforço como misto aeróbico-anae-
Paes Neto3 da frequência cardíaca em atletas do sexo mas- róbico com a média da frequência cardíaca entre 157
culino participantes do Jogos Regionais de SP. a 168 durante três jogos oficiais.
Gorostiaga, Verificar as diferenças na antropometria e ap- Identificação de valores superiores dos atletas profissio-
Granados, Ibañes e tidão física entre atletas profissionais e ama- nais na massa corporal, massa magra, potência muscu-
Izquierdo14 dores da segunda divisão da Liga Espanhola. lar, potência de arremesso parado e apos a progressão.
Vasques, Os atletas das equipes melhores classificadas apresen-
Comparação morfológica de atletas partici-
Antunes, taram valores superiores na na estatura, envergadura,
pantes dos Jogos Abertos de SC.
Duarte e Lopes15 altura troncocefálica e diâmetro palmar.
Caracterização dermatoglífica, somatotípica, Somatotipo mesomorfo balanceado, limiar ventilató-
Cunha Junior, Cunha,
fisiológica e psicológicas de atletas da seleção rio a 90% do consumo máximo de oxigênio e tempe-
Schneider e Dantas 16
continuação
Autor Objetivo Conclusões
Os extremas apresentaram valores inferiores nas carac-
Caracterização antropométrica de atletas da
Vasques, Mafra, terísticas (massa corporal, comprimentos, diâmetros e
Liga Petrobrás 2006 e comparar as equipes
Gomes, Fróes e Lopes
18 perímetros), e os goleiros apresentaram maior percen-
conforme sua classificação
tual de gordura corporal.
Caracterização antropométrica e do somatoti- Somatotipo meso-ectomorfo e baixo percentual de
Pelegrini e Silva19
po da seleção júnior masculina. gordura (9,98%).
O Quadro 5.2 apresenta os trabalhos de in- pométricos e de aptidão física em atletas de han-
vestigação que buscaram descrever aspectos antro- debol nas categorias de base.
Quadro 5.2 – Resumo dos estudos com atletas das categorias de base
Autor Objetivo Conclusões
Analisar características antropométricas e de Identificação da estatura, altura troncocefálica, peso e
Gaya, Cardoso,
aptidão física de atletas participantes dos Jo- resistência abdominal como características relevantes
Torres e Siqueira20
gos da Juventude. para o handebol.
Szmurchrowski; Avaliar a aptidão física de participantes dos Estabeleceram padrões de referência nas medidas con-
Menzel21 Jogos da Juventude de ambos os sexos. sideradas.
Avaliar características antropométricas de partici- Estabeleceram padrões de referência nas medidas con-
Menzel22
pantes dos Jogosda Juventude de ambos os sexos. sideradas.
Identificação do peso, estatura, agilidade, velocidade
Raso, França e Acompanhar a estabilidade de características e potencia aeróbica como variáveis que apresentaram
antropométricas e de aptidão física de jovens estabilidade, e, por esse fato, os autores sugeriram que
Matsudo23
atletas do sexo feminino. o talento no handebol feminino pode ser predito a
partir de idades precoces.
Determinação de valores da potência aeróbica, limiar de
Avaliar aspectos metabólicos de atletas france-
Rannou24 lactato e potência anaeróbica, com destaque para a rele-
ses do sexo masculino.
vância do componente anaeróbico para o handebol.
O drible não representou sobrecarga fisiológica adi-
Avaliar a frequência cardíaca e o lactato san-
Eleno e Kokubun25 cional ao deslocamento, independentemente do nível
guíneo durante a execução do drible.
competitivo.
Os extremas apresentaram menor estatura, perímetro
Comparação do perfil morfológico em fun- de antebraço, massa corporal e massa corporal magra.
Vasques, Antunes,
ção dos postos específicos ofensivos e defensi- Já nos postos defensivos, foram observados aumentos
Silva e Lopes26
vos de atletas juvenis de SC. nas variáveis quando os atletas atuam nas regiões cen-
trais da quadra (posição 3).
Críticas à utilização das características consideradas
Lidor, Falk, Verificar a importância das características mo-na comparação de níveis competitivos diferentes, e
Arnon, Cohen toras, físicas e técnicas na formação de jovensos autores ressaltaram a necessidade de procedimento
e Segal27 talentos de 13 e 14 anos do sexo masculino. com maior validade ecológica e considerar o nível de
maturação biológica dos jovens atletas.
continua
52 MANUAL DE HANDEBOL
continuação
Autor Objetivo Conclusões
Valorização de um perfil antropométrico em função
Farto, Perez e Analisar características antropométricas de
do posto específico, com a necessidade de pivôs e late-
Alvarez28 atletas cadetes masculino portugueses.
rais altos, sendo os extremas os jogadores mais baixos.
Verificar quais características antropométri-
Identificação da estatura como fator mais relevante,
Uezu, Paes, cas, de aptidão física e nível de conhecimento
porém em combinação com a força de membros infe-
Böhme e Massa29 tático poderiam discriminar atletas federados
riores, inferiores e agilidade.
de escolares na categoria infantil masculino.
Os estudos realizados com atletas das cate- indicaram que os jogadores da seleção do campe-
gorias de base buscaram identificar característi- onato (189,51 ± 6,38) eram mais altos do que a
cas antropométricas e de aptidão física relevantes média das equipes (184,42 ± 6,78).
para o handebol, assim como uma caracterização Foram verificados valores de estatura acima
geral e em função dos postos específicos. da média tanto na escola (valor máximo de 182
Lidor et al.27 criticaram a maneira como as cm) quanto no clube (valor máximo de 187,50
medidas antropométricas vêm sendo utilizadas e cm). Em relação aos valores mínimos, o escore
reforçaram a necessidade de procedimentos com apresentado pelo clube (154,40 cm) foi inferior
maior validade ecológica, destacando a importân- ao da escola (155,60 cm), ou seja, o menor atle-
cia dos aspectos de maturação biológica e sua in- ta da escola era maior do que o menor atleta do
fluência nos resultados encontrados. clube. Esse fato questiona a afirmação de que a es-
Já Uezu et al.29 destacaram a importância de tatura representa um fator relevante na seleção de
procedimentos multidisciplinares para o entendi- jovens para o esporte de rendimento, uma vez que
mento dos fatores que podem discriminar jovens a média do clube foi significativamente diferente.
atletas de níveis competitivos diferentes, ao com- Ao analisar sua amostra, foram encontrados
parar atletas federados com escolares que disputa- atletas na escola com estatura mais elevada quan-
vam competições escolares oficiais. do comparados aos atletas federados. Porém, pa-
Os federados eram mais altos do que os esco- rece que a estatura considerada de maneira isolada
lares, o que pode sugerir que, quanto maior o ní- pode levar a tomadas de decisão equivocadas ao
vel competitivo, maior a estatura dos atletas. Esses padronizar um perfil dessa variável na seleção de
resultados corroboram Glaner, que realizou um
13 seus praticantes.
estudo com 96 atletas adultos que disputaram um Já a análise do somatotipo classificou os
campeonato pan-americano de seleções e compa- federados como ectomesomorfos (3,25 – 4,42 –
rou a média das equipes com os valores dos atletas 3,79) e os escolares como endomesomorfos (3,37
considerados os melhores da competição, ou seja, – 5,07 – 3,14), ou seja, com características corpo-
a seleção do campeonato. Os resultados obtidos rais diferenciadas quando observado o conjunto.
CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL FÍSICO -MOTOR DO ATLETA DE HANDEBOL 53
Nesse sentido, quando as características dos in- podem ser compensados por outras variáveis de
divíduos foram analisadas de forma isolada, não maneira individual ou integrada.
foram encontradas diferenças significativas; en- Por se tratar de um esporte coletivo, existe
tretanto, quando ao se analisar maneira integra- ainda um agravante referente ao ajuste dos dife-
da, como no somatotipo, a constituição corporal rentes padrões de composição e comportamento
passou a ser diferente. para a montagem de uma equipe, que apresenta
Hoje, um dos grandes desafios dos pesquisa- a necessidade de uma interação entre as caracte-
dores da área do talento e desempenho esportivo rísticas pessoais para um desempenho individual,
e dos técnicos consiste a compreensão da natureza além da necessidade de integração com os outros
heterogênea do padrão apresentado por atletas de indivíduos que compõem o grupo.
alto desempenho esportivo, ao se considerar que
não existe necessariamente um padrão ideal, mas,
talvez, vários padrões ou até mesmo a inexistência
de um perfil, já que os atletas não apresentam ne-
cessariamente as mesmas características.
Nesse sentido, cabe ressaltar que grandes
atletas de handebol, como Vranjes, ou Swensson
(Suécia), Balic (Croácia), Duschebaiev (Rússia,
Apresenta-se, agora, uma filosofia inovadora da e com pouco grau de incerteza entre os parti-
sobre o treinamento nos esportes de equipe e nos cipantes.
esportes coletivos, incluindo o handebol. Trata- A seguir, apresenta-se uma revisão geral do
mos dos esportes de equipe, pois, até o presente que a corrente conductista tem aportado ou pode
momento, estes não tinham uma filosofia própria aportar ao esporte, para, assim, a partir dessa
para o treinamento das capacidades físicas. Em base, criticá-las, oportunizando a construção de
geral, procedia-se a uma adaptação dos conceitos um modelo alternativo sobre outra base teórica
utilizados nos esportes individuais. A seguir, será (cognitivismo).
demonstrada a diferença existente entre os mode-
los de treinamentos que devem e têm de existir,
basicamente, em virtude de dois conceitos fun- 6.1 O treinamentoesportivo com base
damentais que diferenciam ambas as formas de no conductismo
modalidades esportivas:
Até os anos 1980, o sujeito tem sido con-
Interação grupal; siderado como uma globalidade composta por
Incerteza espacial. partes. Assim, cada disciplina atuava por conta
própria e não existia quase comunicação entre
Até hoje, a filosofia de treinamento utiliza- elas, ou seja, na prática não existia globalidade.
da era aquela que tinha como referencial as te- Aportavam-se conhecimentos do ponto de vista
orias conductistas, behavioristas, provavelmente das “pluridisciplinas”; seguidamente, encontra-se
porque as primeiras disciplinas que estudaram o a “interdisciplinariedade”, que é a fonte de ori-
fenômeno esportivo (Psicologia, Pedagogia, Teo- gem do problema de que não somos capazes de
logia etc.) se fundamentavam no conductismo. As ver mais longe, além de nossos horizontes, pen-
características específicas dessa teoria psicológica sando na possibilidade de aparição de novas áreas.
que servem para avaliar os fenômenos esporti- O conductismo remete a um tipo de esporte
vos são adequadas para modalidades nas quais se que está altamente organizado e que solicita o es-
apresenta uma situação estável, claramente defini- tabelecimento de um modelo ideal de jogo. Nes-
56 MANUAL DE HANDEBOL
O maior problema desse modelo é que ele so- autoestruturar para fazer que aquilo que antes
mente é perfeito caso, nessa modalidade esportiva, possuía determinado significado tenha, agora, um
o ambiente não mude, não varie e seja constante, significado diferente.
e se os elementos não interagem entre si. Portan- Por isso, a aprendizagem cognitiva é mais
to, quanto mais aportes das ciências ocorram, mais adequada do que a conductista no que se refere
difíceis apresentam-se as alternativas de determina- à aprendizagem dos diferentes movimentos que
ção do modelo. Ou seja, nos esportes de equipe, os compõem a técnica dos esportes de equipe, apre-
modelos conductistas não são válidos sentando-se com maior validade.
base em uma
tiva: novas concepção cogni-
alternativas Interessa-se pelo que sucede no interior do
esportista depois de analisar as condições
Contrapondo-se ao conductismo com base do ambiente em que ele deve realizar sua
nos princípios estímulo-resposta, que visam so- atividade competitiva: como processa a in-
58 MANUAL DE HANDEBOL
ções variáveis, não adquirindo modelos física integrada, globalizada, pois não se melhora
estereotipados de conduta. Assim, cria- apenas uma única capacidade condicional, coor-
se uma motricidade mais coerente com a denativa ou cognitiva. Quando a treinamos, deve-
situação interpretada . se relacioná-la com as outras capacidades, ao invés
A evolução da aprendizagem está centrada de treiná-la isoladamente.
na capacidade que o esportista tem para
analisar sinais do ambiente, saber inter-
pretá-las e tomar decisões motrizes varia- 6.2.2 Construção do modelo de treina-
das, sendo estas cada vez mais ajustadas à mento cognitivista
suas necessidades e interesses particulares.
Deve-se ter em conta muito mais as neces- Apresenta-se a necessidade de otimizar
sidades do esportista, pois a pessoa é prio- as capacidades de rendimento que o esportista
ritária à atividade desportiva. possui, porém considerando a estrutura hu-
É mais válido para os esportes em que as mana de forma homogênea. Por isso, temos de
situações de competição não são estáveis e diferenciar, no modelo cognitivo, os seguintes
apresenta-se grande interação. fatores:
PREPARAÇÃO FÍSICA APLICADA AOS ESPORTES COLETIVOS 59
Co n d i c i o n a l C o o r d e n a t i vo
Condicional
Cognitivo
Coordenativo/Cognitivo
FIGURA 6.2 – Interação das estruturas que compõem o FIGURA 6.3 – Estrutura do treinamento no modelo
Portanto, sempre que se tenha intenção de Isso significa que metade ou mais da metade
enfatizar um aspecto qualquer – seja condicional, da necessidade de treinamento tem de estar cen-
coordenativo ou cognitivo –, não se pode se es- trada no aspecto condicional, porém sem se es-
quecer de trabalhar de forma homogênea com os quecer da parte coordenativa e da cognitiva.
outros dois aspectos. Nas fases iniciais de uma atividade de aper-
Fundamental, e mais importante no pro- feiçoamento da condição física, teria de ser algo
cesso dessa concepção, para estruturar o treina- como na Figura 6.4:
mento, consiste na necessidade de coerência entre
Coordenativo
os três elementos anteriormente citados. Nesse
aspecto é que reside, na realidade, o grande pro-
blema da transferência que existia nos modelos
Condicional/Cognitivo
conductistas, pois não se consideravam as inte-
rações dos três elementos fundamentais do jogo: FIGURA 6.4 – Sequência inicial de treinamento para o
condicional, coordenativo, cognitivo. aperfeiçoamento da condição física.
60 MANUAL DE HANDEBOL
continuação
Ao longo do processo de treinamento, mo-
Quantidade de quilos deslocados
dificar-se-ão em distintas proporcionalidades de Aspectos de
Situação em relação à carga geral
acordo com cada caso, mas sempre combinando sobrecarga
os três componentes, já que são o fundamento Forma de contato
Contrações parecidas
Quadro 6.4 – Detalhes do terceiro nível de treina-
Caracte-
Grupos musculares prota- mento de força (força especial)
rísticas da
gonistas da ação Recursos do Instrumentos desenhados
contração
0% de trabalho parecido ambiente Lugaresespecíficosde prática
Tarefa: muscular
Velocidades similares
trabalho Caracte- Contrações idênticas
da carga Peso (kg) de acordo com as rísticas da Grupos específicos
Aspectos
necessidades do gesto contração Objetos idênticosreforçados
de sobre-
Colocação ajustada da C.G. muscular Velocidade específica
carga
Formasde contato adequadas Tarefa:
trabalho Peso (kg) de acordo com a
Condições Tentativas ajustadas às Aspectos de qualidade específica
com carga
quantita- necessidades do esporte sobrecarga Colocação da C.G. idêntica
tivas do Pausas ajustadas ao sistema Contatos específicos
tempo de adaptação ao esporte
Condições
Diferenciação Recuperação conjugando
Variações quantita-
Amplitude sistema e participação
na execução tivas do
Simetrização(bilateralidade) específica
tempo
Sucessivos específicos Variações Complexidade aumentada
Combina-
Simultâneos específicos na execução do nível 2 (força dirigida)
ção de mo-
Alternativos específicos e
Gesto: vimentos Combina-
não específicos Complexidade aumentada
movimento ção de mo-
Equipamentossemelhantes do nível 2 (força dirigida)
e coordena- Gesto: vimentos
ção Orientação preferencial (em
movimento e Variações
função da posição específica) Variações rítmicascriativas
Variações coordenação espaciais e
Variações no ritmo de Antecipação
espaciais e temporais
execução (nos permite di-
temporais
ferenciação e bilateralidade Tarefas em Por acumulação detarefas
de uma vez) estado de específicas ou não específicas
Adaptação aum ritmo fatiga Cansaço fisiológico
PREPARAÇÃO FÍSICA APLICADA AOS ESPORTES COLETIVOS 63
É aquele que tem de desenvolver, por sua 6.3.1.2 Aplicação prática do trabalhode força
vez, o preparador físico e o treinador, já que se
necessitam de componentes táticos. O quadro seguinte é um resumo dos distin-
tos trabalhos que devem ser realizados para chegar
Quadro 6.5 – Detalhes do quarto nível de treina- aos níveis de aproximação das diferentes manifes-
mento de força (força de competição) tações da força.
Tarefa, carga, Como os exercícios especiais, mas dificul-
trabalho tando as condições do ambiente.
Iguais às do terceiro nível, incluindo-se:
Gesto: fadiga por excesso de informação, que se
Movimento necessita para o jogo; dificuldade crescen-
coordenação te mesclando dois ou três fatores por vez
(combinação + tempo + espaço).
Salto 1\2 squat + salto Multissaltos Encadeados + tarefas específicas Saltos, bloqueios sucessivos
Dois tempos Leves (-10 kg) sobrecarga (mais ou menos Diferencia do princípio
Luta
Giros em desloca- Pesadas (-25 kg) 8-10 kg de acordo com o peso defesa-ataque
mento Estático-dinâmico dos jogadores 10%-15% p.c) Defender sucessivamente
64 MANUAL DE HANDEBOL
da velocidade máxima. Acumula-se uma quan- o volume da atividade muscular que gera a prática
tidade de ácido lático no sangue. O trabalho de de handebol é muito mais do que somente correr,
capacidade anaeróbica lática se levará com séries já que ativamos os braços, realizamos trabalhos 1
repetidas de 25 a 30 s ou realizar trabalhos com x 1, deve-se saltar etc. Logo, o que foi investiga-
uma duração de 45 s a 2 min. Nesse tipo de traba- do sobre as atividades de corrida não valem para
lho, obteremos os picos de lactato mais elevados. esse esporte, mas apenas para determinar algumas
bases. Porém, os tempos de participação em cada
c) Ciclo aeróbico uma delas, para nós, sempre serão modificados
em função da atividade, já que há maior número
O período entre 2 a 3 min é o limiar final, de solicitação muscular.
quando aparece o limiar anaeróbico, chamado po- Assim, centrando-se no handebol, podemos
tência aeróbica. Quando realizamos séries de 2 a 3 dizer que o primeiro e o último dos grupos defi-
min, ou passamos de 4 a 5 min e até 15 min ou nidos anteriormente não existem, já que não reali-
mais, chamamos esse ciclo de capacidade aeróbica. zamos uma ação de 8 s ao máximo e não voltamos
Essa classificação dos distintos estados ener- a intervir até que se tenham passados 3 min, e,
géticos que suportam a participação do jogador, também, não podemos pensar que um jogador
66 MANUAL DE HANDEBOL
atuará a uma velocidade média durante mais de 6.4.2 Tipos de trabalho de resistência
15 min ou repetições de 3 min.
O jogador de handebol na competição está a) Capacidade anaeróbica alática
exposto a tempos de trabalho nos quais sua con-
centração de ácido lático aumenta muito, o que Quadro 6.8 – Trabalho de resistência para capaci-
dificulta a atividade motora. Nessa ação, entramos dade anaeróbica alática
com uma dívida. Entretanto, a capacidade anae- Estrutura Componente Estrutura
sua vez, não tiver participado da ação anterior, ne- de execução - de trabalho recuperação
90% ou +) ou ao de recu- Tarefa com-
cessariamente deve-se responder a níveis suficientes
1 a 1min30s peração (mais plementar de
de oposição, luta etc. e suportar o trabalho lático, de recuperação aconselhável recuperação
ainda que não deseje. Necessitamos bastante da po- ativa para se centrar
Nº de vezes em no elemento
tência como uma capacidade, mais a potência do função da posi- coordenativo
que a capacidade. ção específica durante o
e do momento trabalho)
Também devemos potencializarem um joga-
da temporada
dor, de preferência, a capacidade anaeróbica aláti-
ca, ou seja, podem-se repetir muitas vezes partici-
mente, já que cada posição específica solicitará mais o6.4.2.4 Estrutura condicional
trabalho de alguns grupos musculares concretos para
essa posição específica; no entanto, o momento da tem- A potência anaeróbica lática melhora a
porada em que nosencontramos também édecisivo. condição das enzimas glicolíticas dos grupos
musculares que participam, sobretudo das per-
nas. Essas enzimas favorecem a destruição do
6.4.2.2 Estrutura coordenativa ácido lático.
As ações que faremos serão mais específicas e
Consiste em realizar sempre o gesto específico deverão fazer-se na mais alta velocidade possível.
durante o trabalho. Durante o tempo de recupera- Desse modo, estaremos, continuamente, media-
ção ativa, existem duas opções: realizar corrida de dos pela estrutura coordenativa.
recuperação ou uma tarefa complementar, poden- Entre 20 e 35 s, à máxima velocidade, deve-
do ser o quique da bola, passes em duplas etc. -se realizar não mais que 4 a 8 repetições, com re-
cuperações entre 4 a 5 min. Esse tipo de trabalho
suporta altas concentrações de ácido lático: de 6,5
6.4.2.3 Componente cognitivo a 8 mmol/mL.
continuação
6.4.2.8 Estrutura coordenativa Estrutura Componente Estrutura
condicional cognitivo coordenativa
Repetições: nº de
Componentes específicos de menos a mais.
vezes de acordo
com o tempo real
do jogo.
Recuperação:30 s a
6.4.2.9 Componente cognitivo 1 min.
Ativa.
futebol etc. para, posteriormente, como última Portanto, devem-se utilizar diferentes meios
aproximação coordenativa, utilizar o espaço espe- ao longo dos períodos, dois deles, fundamental-
cífico dentro da quadra com as trajetórias mais mente, ao longo do período preparatório:
utilizadas nas posições específicas de cada jogador
(no caso de correr por toda a quadra, os pontas o Aquele que permite ressintetizar os altos
farão pelas laterais, o central e o pivô pelo centro níveis de ácido lático, no nível de trabalho
etc.), realizando tarefas de acordo com estas posi- aeróbico. A potência aeróbica será a resis-
ções específicas. tência preferencialmente utilizada durante
o período de preparação;
A fase lática: a capacidade “a” dentro da ca-
6.4.2.12 Componente cognitivo pacidade anaeróbica lática.
Está associado às tarefas específicas. Uma vez que temos, basicamente, desenvol-
vidas essas duas vias (potência aeróbica e capaci-
dade anaeróbica lática “a”) de resistência, devem
6.5 Periodização da resistência aparecer e continuar ao longo de toda temporada
de competições as outras vias que faltavam, a po-
Graças a essas três categorias, podemos ela- tência anaeróbica lática e as capacidades anaeróbi-
O nível de conhecimento das capacidades co- assim, poder explicar melhor as diferenças inte-
ordenativas não é tão diferenciado e teoricamente rindividuais de rendimento.31 As capacidades são
comprovado como o das capacidades condicionais entendidas como a característica que torna possí-
força e resistência. As dúvidas são determinadas vel o desempenho de alta qualidade, nas diversas
fundamentalmente na dificuldade de se obter pro- atividades humanas, propiciando o alcance do
gressos sobre aspectos neurofisiológicos e seus res- sucesso. As capacidades coordenativas traduzem a
pectivos correlatos em níveis corticais (por meio de organização e o controle de movimentos por meio
um procedimento dedutivo de pesquisa). Observa- das propriedades dinâmicas do sistema efetor. A
-se também que as pesquisas no plano de observa- análise de ações coordenadas como soluções nas
ção do comportamento coordenativo (por meio de tarefas motoras práticas contribui com possíveis
um procedimento indutivo de pesquisa) têm apon- respostas às “controvérsias entre a teoria motora e
30 32
tado resultados contraditórios. Assim, os conheci- a da ação”, com uma visão dos velhos problemas
mentos adquiridos até hoje na área das capacidades em um novo contexto.
coordenativas apresentam várias dúvidas e muitas No marco das capacidades inerentes ao ren-
hipóteses, sendo alguns deles somente gerais. A dimento esportivo, as capacidades coordenativas
execução de uma ação, em especial a esportiva, é possuem caráter geral, ou seja, elas são pré-requi-
compreendida como um processo sistêmico e inte- sitos de ordenamento e estruturação para deter-
grado, organizado e relacionado ao contexto situa- minada classe de tarefas motoras, que, em certos
cional (pessoa – ambiente – tarefa). Nesse sentido, momentos ou situações no esporte, colaboram na
existe um conjunto de capacidades que interage execução de uma técnica específica da modalida-
mutua e complexamente, na busca de um objetivo. de. Ou seja, as capacidades coordenativas servem
O termo capacidade deriva das bases teóri- de base para as habilidades técnicas e estas, por
cas da psicologia diferencial, que observa fatores sua vez, para a aprendizagem da técnica, isto é, do
como a inteligência e a personalidade do sujeito. gesto específico da modalidade (por exemplo, o
São traços (traits) latentes, disposições ou, ainda, lançamento em suspensão ou a realização de uma
construtos que são herdados, definidos por meio “rosca” no lançamento do ponta, na parada de
de um processo de constante construção para, uma bola com uma técnica de side-quick do golei-
74 MANUAL DE HANDEBOL
Elaboração de Informação
Eferente Aferente
Motricidade grossa e fina Ótico, acústico, tátil,
cinéstesico, vestibular
Pressão do Tempo
Pressão da Precisão
Pressão da complexidade
Pressão da organização
Pressão da variabilidade
Pressão da carga
Baixa Alta
O Quadro 7.1 esclarece quais são os parâ- e Roth,32 o que representa o ponto de vista da exi-
metros de pressão conforme colocados por Kröger gência motora e um exemplo prático.
Habilidade básica
com bola
Variabilidade
(exigências aferentes e eferentes) Treinamento da coordenação
com bola
Situação de pressão
(do tempo, da precisão,
da complexidade, da organização,
da variabilidade, da carga)
7.3 Atividades sugeridas para o de- desenvolvimento da capacidade tática como ele-
senvolvimento da coordenação mento de motivação e de aquecimento no início
com bola para a iniciação (não da aula e, posteriormente, realizar um trabalho de
Conduzir a bola,
rolando-a com a mão
(utilizar as duas mãos)
Tátil Precisão
no chão, em diversas
direções e em determi-
nados percursos.
Material: bambolê
Quadro 7.3 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 6-8 anos utilizando o bambolê
Analisador Condicionantes Exercício
Andar quicando
uma bola e, simul-
taneamente, puxar o
Cinestésico Precisão companheiro que está
dentro de um bam-
bolê o com os olhos
fechados.
Material: pneu
Quadro 7.4 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 6-8 anos utilizando o material pneu
Analisador Condicionantes Exercício
Os companheiros,
segurando-se mutua-
mente por um bambo-
lê, devem andar pisan-
do acima de uma fileira
Vestibular Carga de pneus, quicando
Quadro 7.5 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 6-8 anos utilizando os materiais banco sueco,
bola, arcos ou bambolês
Analisador Condicionantes Exercício
Andar acima de um
banco sueco invertido
Vestibular Precisão e quicar uma bola
dentro de bambolês
colocados no chão.
Amarrar o pé direito
de um companheiro
ao pé esquerdo do ou-
Vestibular Complexidade
tro e fazer que, juntos,
corram e driblem cada
um uma bola.
Amarrar o pé direito
de um companheiro
ao pé esquerdo do ou-
Vestibular Complexidade
tro e fazer que, juntos,
corram e driblem cada
um uma bola.
O TREINAMENTO DA COORDENAÇÃO NO HANDEBOL 81
Quadro 7.6 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 8-10 anos utilizando bolas
Analisador Condicionantes Exercício
Rolar duas bolas iguais
Visual Tempo no chão, correr, ultra-
passá-las e segurá-las.
Quadro 7.7 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 8-10 anos utilizando bola e arco
Analisador Condicionantes Exercício
Enquanto o compa-
Quadro 7.8 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 10-12 anos utilizando bola, bastão e arco
Analisador Condicionantes Exercício
Quadro 7.9 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 10-12 anos utilizando bola, bastão e pneu
Analisador Condicionantes Exercício
Quadro 7.10 – exemplo de atividades para a faixa etária de 10-12 anos utilizando bola, corda e arco
Analisador Condicionantes Exercício
Pendurar um arco,
com uma corda no gol.
Balançar o arco e lan-
çar bolas para acertar
Visual Organização
no alvo móvel. Depois
colocar dois arcos que
balancem em sentidos
contrários
7.4 Conclusões
Referências
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berg, 1997. Alegre: UFRGS, 2008. p. 81-111. v. 1
Parte III
Técnica
Juan J. Fernández, José M. Miragaya, Randeantony do Nascimento
Cabeça: erguida, permitindo uma boa vi- Pode-se definir o deslocamento como “todo
são periférica; o percurso corporal de um lugar ao outro do cam-
Tronco: ligeiramente flexionado; po utilizando como meio o movimento” (Antón)5
Pernas: colocadas simétricas ou assimétri- ou “a ação de se deslocar (mover-se) de um lugar
cas, segundo a necessidade do momento a outro pelo espaço de jogo sem estar em posse de
do jogo; bola” (Lasierra, Ponz e Andrés).6,7
Braços: com os cotovelos flexionados a Os deslocamentos são o suporte do resto das
120 e com a parte radial girada acima e
o ações, tanto de ataque quanto de defesa, já que
ligeiramente separados do corpo; uma alta porcentagem dessas ações é realizada em
Mãos: com a face palmar dando frente ao opo- movimento. Devem ser efetuados de forma equi-
nente e com os dedos abertos e estendidos. librada para obter êxito nas ações posteriores.
Os deslocamentos são formas de movimen-
O objetivo da posição de base consiste em to que o jogador, sem estar em posse da bola, uti-
oportunizar, a partir da antecipação corporal, a liza para se deslocar de um lugar a outro do cam-
ação a ser concretizada e, portanto, beneficiar a po, tanto ofensiva quanto defensivamente. Seu
rapidez de execução do movimento posterior. objetivo principal é tratar de ocupar e abandonar
Encontramo-nos com dois inconvenientes espaços, assim como alcançar uma antecipação
para a realização desse gesto técnico: postural: chegar antes que o adversário. Iniciam-
se depois de ter adotada uma posição de base. O
Paradas súbitas depois dos deslocamentos; tipo e a forma de deslocamento determinam o
FUNDAMENTOS TÉCNICO -TÁTICOS INDIVIDUAIS COMUNS DE ATAQUE E DEFESA 93
8.2.1.3 Classificação
Também podemos considerar dentro dos Trata-se de obter a maioreficácia levando à prática o
deslocamentos: conceito fundamental da antecipação postural.
Quando a posição das pernas é simétrica,
a mudança de direção: utilização de traje- cumpre, para começar o ciclo de iniciação do des-
tórias distintas sem paradas (interrupções); locamento, suspender e projetar à frente a perna
a troca (mudança) de sentido: utilização da contrária à de impulso.
mesma trajetória na direção adotada para Para interromper o deslocamento e ado-
voltar à posição inicial; tar uma posição de base, o jogador apoiará uma
as paradas: com elas, é necessário baixar o perna no chão com a força suficiente como se
centro de gravidade, flexionando os mem- tentasse realizar um deslocamento para trás, di-
bros inferiores e, se o deslocamento é em minuindo, ao mesmo tempo, a inclinação do
grande velocidade, levar o tronco ligeira- tronco para frente.
mente atrás. Os pés podem tomar contato A perna que tentar deter o impulso da pro-
no chão simultânea ou alternadamente. gressão deve ser:
Se o jogador está em suspensão, tomará a separação entre ambas as pernas ficar exagerada,
contato com o chão de forma alternada, modifica-se imediatamente a situação da perna de
sendo a perna mais adiantada (à frente), cor- trás, para obter uma posição equilibrada.
respondente ao último passo, a que inter-
vém, necessitando tentar parar o percurso; (5) Deslocamento frontal para trás e parada
abandono da vertical.
O deslocamento em questão se realiza em
forma de deslizamento; convém pontualizar que
FIGURA 8.8 – Recepção da bola alta na corrida. o grau de inclinação do tronco para frente é o
mesmo preconizado para a posição de base.
Nos casos em que o deslocamento seja des- Na posição simétrica das pernas, é neces-
lizando e, portanto, não exista nenhuma sário, para iniciar o ciclo de deslocamento, sus-
perna em suspensão, a ação da parada será pender e projetar para trás a perna contrária à
efetuada, logicamente, com a perna mais de impulso. Com referência aos braços, devem
próxima à direção de transição. manter-se as mesmas recomendações indicadas
no deslocamento frontal para frente.
Nas posições indicadas, se a força de impulso Para interromper o deslocamento e adotar a
não permite obter a parada imediata com o apoio posição de base, o jogador freará o seu impulso,
recomendado, deve-se conseguir definitivamente apoiando no chão com suficiente força a perna
após mais um passo de um novo contato com o correspondente, como se na tentativa de se rela-
chão da perna que não interveio no princípio. Se cionar a uma progressão para frente.
FUNDAMENTOS TÉCNICO -TÁTICOS INDIVIDUAIS COMUNS DE ATAQUE E DEFESA 97
De modo sincronizado se efetuará uma re- encontra apoiada no chão; é igual na forma de
ação regulada no sentido contrário à trajetória marcha, de corrida ou de deslizamento.
adotada anteriormente. O apoio indicado será Novos impulsos sucessivos sobre a perna de
realizado com o tornozelo levantado. trás supõem o começo de outros ciclos para conti-
Com respeito à perna que intervém na de- nuar o deslocamento.
tenção da progressão, é necessário observar as se- Seja qual seja a direção escolhida, a perna
guintes normas: de trás situa-se à altura daquela que está à frente
(adiantada), mas sempre sem se cruzarem.
Deve-se utilizar a perna que, no momento Com respeito à perna que intervém na de-
da ação, se encontra em suspensão (deslo- tenção do deslocamento, é recomendado que:
cando-se em forma de marcha ou corrida);
a perna indicada deve colocar-se para trás se a perna adiantada estiver em contato
da situada em contato com o chão; com o chão, apoia-se a outra perna à al-
Estando o jogador em suspensão (corrida), tura da primeira, ampliando, seguidamen-
tomará contato com o chão de forma al- te, a abertura mediante uma retificação da
ternada, sendo a perna adiantada à frente, perna à frente. Se a perna situada em sus-
correspondente ao último passo, a que in- pensão é a que estiver à frente, esta deverá
tervém em primeiro lugar para tentar deter tomar contato com o chão energicamente;
a progressão. Se o jogador se encontrar em fase desuspen-
Quando o deslocamento é deslizante, a para- são no deslocamento, a tomada de contato
da tentará ser igualmente com a perna mais com o chão efetuar-se-á alternadamente;
adiantada (à frente) na direção do deslocamen- No deslocamento deslizante, a tentativa
to. Deverão ser levadas em conta as recomen- de parada efetua-se com a perna adiantada
dações específicas no deslocamento frontal com respeito à direção empreendida.
para a frente, fazendo as correções oportunas
na colocação das pernas, para tentar a deten- (7) Troca de sentido sem mudar a orientação
ção (parada) definitiva, supondo não conse-
guir no primeiro momento (tentativa). Em qualquer deslocamento, deve-se impul-
sionar-se com a perna mais adiantada (à frente),
(6) Deslocamento lateral e parada respeitando a direção seguida antes de produzir
a mudança de direção, em forma de marcha, de
Tanto na posição simétrica como na assimé- corrida como deslizante.
trica, eleva-se ligeiramente o tornozelo da perna No deslocamento para frente e para trás, a
de trás, impulsionando com a parte do pé que se perna de impulso será a direita ou a esquerda, in-
98 MANUAL DE HANDEBOL
distintivamente. Nos deslocamentos laterais, será um lugar a outro do campo de jogo, de forma regu-
a perna esquerda para o lado direito e a direita lamentada, estando em posse de bola, tanto dentro
para a esquerda. quanto fora do local específico e sem utilizar o qui-
que como recurso” (Falkowski e Enríquez).2
(8) Troca de direção sem mudar a orientação O objetivo principal será a penetração, o en-
gajamento, ou, na sua impossibilidade, manter a
Realiza-se igualmente impulsionando com posse da bola, mas tendo sempre que considerar a
a perna mais à frente (adiantada) com respeito à característica do jogo em profundidade.
direção escolhida antes de se produzir a troca de A técnica de deslocamento em posse de bola
direção, tanto nos deslocamentos frontais quanto está limitada pelo que marca o regulamento do
nos laterais. É necessário levar em conta a força do jogo, em parte, pelo número máximo de passos e,
impulso para facilitar a aceleração. finalmente, pelo uso do dribling e a sua repercus-
são no ciclo de passadas. Portanto, pode-se dizer
(9) Troca de direção e mudança de sentido varian- que, depois do terceiro passo, não é permitido
do a orientação realizar um novo contato com o chão se, previa-
mente, o jogador não se desprender da bola ou
No deslocamento, seja frontal ou lateral, impul- não utilizou a ação de bote.
siona-se com a perna que está adiantada mais à frente Ainda que o princípio da técnica deter-
respeitando a direção adotada, antes de se produzirmine que o final do deslocamento com bola a
mudança de direção, tanto em deslocamentos em for- perna à frente deve ser a contrária ao braço que
ma de marcha quanto nos de corrida ou deslizamen- controla a bola (deslocamentos fundamentais),
to. Coincidindo com o impulso, tem de se realizar umas possibilidades do jogador devem ser mais nu-
giro com o pé correspondente para trocar (mudar) a merosas para poder atender a qualquer exigência
orientação de que se trata, coordenando tudo com odo jogo de ataque (deslocamentos especiais). Por
resto do corpo. A nova orientação srcina, logicamen- consequência, os movimentos escolhidos podem
te, um deslocamento frontal ou lateral. terminar com a perna do lado do braço que con-
trola a bola adiantada, mesmo com as pernas em
posição simétrica.
8.2.2 Deslocamentos com bola Definição do ciclo de passos:
Ciclo = 3 passos para o jogador com bola.
8.2.2.1Definição Utiliza-se o dribling em qualquer momento,
possibilitando um novo ciclo de passadas.
São “os movimentos que o jogador que está Exemplo da possibilidade máxima:
em posse de bola realiza” ou a “ação de se mover de 3 passos - bote - 3 passos
FUNDAMENTOS TÉCNICO -TÁTICOS INDIVIDUAIS COMUNS DE ATAQUE E DEFESA 99
com ela; 0
3 3
2 2
2 2 2
1 1
0 0 0
0 0 0 0
Fundamentos técnico-táticos
9 individuais no ataque I
dedos orientados para baixo e na posição reco- pelo jogador para não modificar o gesto normal
mendada para receber a bola. O contato com do deslocamento e a velocidade da corrida fron-
a bola realiza-se no centro aproximado da tra- tal, com o fim de não perder a força dos objeti-
jetória compreendida entre os movimentos de vos sucessivos e alcançá-los o quanto antes, deve
extensão-flexão dos braços. considerar-se transcendental, se queremos aplicar o
As posições indicadas nas recepções frontais, princípio fundamental básico da técnica: o jogador
seja qual for a sua altura, são aplicadas também deve estar disposto, em cada momento, para inter-
para as recepções: vir de forma imediata na ação posterior mais eficaz.
diagonais.
laterais. Recepções com a bola no chão:
por trás.
Bola e jogador estáticos: devem ser
Mais que isso, incorpora-se um novo gesto: aplicadas as normas indicadas no capí-
rotação do tronco para o lado de onde vem a bola, tulo de adaptação da bola, assegurando
movimento do qual se acentuará progressivamen- a sua posse com uma ou duas mãos.
te até alcançar o nível máximo das recepções por
trás. Dessa forma, não se modifica a força do des-
locamento e melhora-se a disposição para intervir
na ação posterior.
Sobre as recepções por trás, e concretamente
sobre a tomada de contato com a bola, convém
ter presente as seguintes considerações:
braço executor. A outra mão, situada Bolas não controladas: a mão do bra-
frontalmente à primeira, deve assegu- ço executor acompanha a bola na sua
rar a posse da bola tomando o contato trajetória descendente, logicamente
com ela imediatamente depois da pri- coma a face palmar orientada para
meira ação. baixo. Depois do quique, a bola não
Bola e jogador em movimento, na retrocederá ligeiramente, tomando
mesma direção e sentido: deve uti- contato com a bola imediatamente
lizar-se o procedimento igual ao da depois, reduzindo, consequentemen-
“colher”. No entanto, neste caso, para te, a força da reação do impacto. A ou-
assegurar a posse da bola, a ação do tra mão, com a palma orientada para
impulso deve ser realizada para trás, cima, assegurará a posse da bola.
adaptando-a com a mão contrária ao
braço executor. A outra mão assegu-
rará a posse da bola imediatamente
depois da primeira ação.
A utilização do procedimento de “co-
lher” leva implícita, ainda mais, a pos-
sibilidade de manter a velocidade má-
bre o chão para acompanhá-la na sua A orientação do jogador não está con-
trajetória. A outra mão, com a face dicionada à trajetória do passe.
palmar para baixo, assegurará a posse
da bola. Quando os passes não são corretos em rela-
Nas recepções de quique pronto (rápi- ção à situação do receptor, o que obriga a realizar
do), convém flexionar o tronco, como uma postura forçada, o jogado deve retificar a sua
nas recepções com a bola no chão, situação, mesmo perdendo eficácia, em benefício
para poder intervir com prontidão na da segurança.
ação posterior.
Até agora, tratamos das recepções com o jo- 9.2 Adaptação à bola
gador em apoio. Só faltam, para finalizar as recep-
ções, aquelas nas quais o jogador se encontra em
suspensão, dada a altura do passe, que denomina- 9.2.1 Definição
remos de salto.
A adaptação da bola é um conceito de or-
Finalmente, como normas comuns para re- dem técnica dentro da relação jogador-bola: “É a
alizar a recepção, concordamos com Bárcenas e forma específica de colher e receber a bola com o
1
Román Seco: objetivo de abranger a maior parte dela” (Falko-
wski e Enríquez).2
Em recepções estáticas, a perna con- Trata-se do domínio que possibilita a rapi-
trária ao braço executor deve estar dez dos gestos técnicos posteriores, e seu objetivo
adiantada, posição que favorece a con- é dar segurança à ação posterior.
tinuidade imediata para intervir na
ação posterior.
Nas recepções estáticas e em relação à 9.2.2 Princípios fundamentais
posição das pernas e do tronco, é con-
veniente cumprir as indicações expos- Não olhar a bola;
tas na posição de base ofensiva. A face palmar da mão não deve tocar
Nas recepções em deslocamento, a a bola;
posição de pernas e do tronco está re- Utilizar, preferencialmente, as duas
lacionada com gestos técnicos de qui- mãos para realizar a adaptação da bola.
que, passe e lançamento.
106 MANUAL DE HANDEBOL
dedos estão estendidos e abertos para abranger a a bola). Deve-se pressionar a bola com os dedos
maior superfície da bola. O polegar e o mínimo e mantê-los com firmeza para assegurar a posse,
estão em oposição; o polegar forma, por sua vez, mas sem rigidez para facilitar o manejo posterior.
Não se deve confundir adaptação com re- Obter facilidade para trocar o tipo de
cepção (tomada de contato com a bola), já que, gesto;
mais propriamente, a adaptação é a fase final da Fazer possíveis mudanças de ritmo no
recepção. Tudo isso deve facilitar os movimentos jogo (rápido-lento/lento-rápido);
naturais e coordenados do pulso para dar sequência Variedade das ações técnicas;
ao gesto técnico seguinte, que é o manejo (quando Permitir um movimento natural e
estariam implicados o antebraço e o braço). continuado.
FIGURA 9.9 – Posicionamento clássico para o manejo FIGURA 9.10 – Posicionamento intermediário para o
da bola. manejo da bola.
110 MANUAL DE HANDEBOL
Altura do quadril : é mais baixo que o inter- jogador o máximo de possibilidades de progressão
mediário. Adaptação com os dedos virados para espacial com a bola, que amplia as oportunidades
baixo. Dar o passe caracteriza este tipo pelo fato de realizar deslocamentos rápidos e de culminar
de ter que ser realizado na altura do quadril. este tipo de ação. Marca a estreita relação sujeito-
-bola, tanto em habilidades e destrezas como em
recursos fundamentais, em função das faltas re-
gulamentares e dos encadeamentos com outros
conteúdos técnicos.
9.5.4 Classificação
atacante sem bola empregue para ocupar as possí- tias de posse. Recomenda-se ao jogador com posse
veis zonas de recepção e ajustar-se aos princípios de bola que comprove previamente e com rapidez
dos deslocamentos. a situação dos oponentes mais próximos ao recep-
tor e suas possibilidades de cortar a trajetória do
passe. Antes de se realizar um passe deficiente ou
9.6 O passe inútil, em que a bola não chegará ao seu destino,
é preferível trocar sua direção, ainda que esta nova
ação não tenha maior transcendência.
9.6.1 Definição Durante a sua execução, não se fixa o olhar
para o possível receptor, ainda que previamente
O passe é “a ação de transladar ou enviar tenha de se estabelecer contato visual com ele.
a bola de um jogador a outro” (Trosse),8 assim Deve realizar-se com tensão adequada. A
como “o gesto/forma apropriado que se pode força deve regular-se em função da distância exis-
empregar” para transportar a bola de um local a tente entre o passador e o receptor. Não devemos
outro da quadra. nos esquecer de que a bola no ar não prejudica o
defensor e é totalmente necessário que, além do
FUNDAMENTOS TÉCNICO -TÁTICOS INDIVIDUAIS NO ATAQUE I 117
seu translado, chegue ao seu destino no tempo por cima do ombro do braço executor.
mais breve possível. deixada.
Deve fazer-se com precisão. Um passe mal- retificado.
dirigido obriga a modificar posições adotadas, entre as pernas.
atrasando a intervenção do jogador e, como con-
sequência, a da equipe. Geralmente, se o receptor Em contato com o chão (com as duas mãos):
é marcado próximo, a direção é ao ombro do bra- de peito;
ço executor. Se for marcado à distância, o passe por cima da cabeça.
será feito ao espaço livre de marcação. Se o recep-
tor está em deslocamento, a direção será sempre Em suspensão (com uma mão):
ligeiramente por diante do receptor. frontal;
Com oponente próximo, deve-se proteger a lateral.
bola colocando-se entre ela e o adversário.
A utilização de um tipo de passe ou outro
está determinado pelo(a): 9.6.4 Descrição do gesto técnico
FIGURA 9.16 – Passe clássico frontal. (FOTO PÁGINA uma nova rotação do tronco para o lado do lan-
75, Livro Balonmán) çamento, projetando o braço executor na direção
do passe.
Clássico lateral para o lado direito (altura do Altura baixa (frontal): a posição correspon-
ombro do braço executor): igual disposição da uti- de ao passe clássico frontal, altura intermediária,
lizada para o passe clássico frontal, mas acentuando com lógica variação na altura de iniciação do
a rotação do tronco. Não se realiza desrotação. gesto que obriga uma maior inclinação do tron-
Clássico lateral para o lado esquerdo (altura co. Este movimento converte-se em semiflexão
do ombro do braço executor): posição igual à do à medida que a posição de início se aproximada
passe clássico frontal. A partir deste momento, ro- do chão, uma vez que o braço executor perde
tação, desrotação e nova rotação do tronco para o horizontalidade.
lado do lançamento, projetando o braço executor Altura baixa (lateral para a direita): acentu-
na direção do passe. ando a inclinação do tronco para o lado do braço
Altura intermediária, ombro-quadril (fron- executor, a posição corresponde à do passe clássi-
tal): o antebraço coloca-se ligeiramente flexionado co lateral para o lado direito, altura intermediária.
sobre o braço, com a extremidade radial orientada Diferencia-se pela altura da posição inicial, que,
para cima. A face palmar deve estar em direção ao neste caso, por ser mais baixa em relação ao braço
passe, com os dedos orientados lateralmente. O executor, descende perdendo a horizontalidade.
tronco deve estar ligeiramente inclinado e roda- Altura baixa (lateral para a esquerda): par-
do para o lado do braço executor. A continuação tindo da posição do passe clássico frontal, altura
desfaz a rotação do tronco e projeta-se o braço na baixa, produz-se rotação, desrotação e nova rota-
direção do passe. ção do tronco para o lado de lançamento, proje-
Altura intermediária, ombro-quadril (lateral tando o braço executor na direção do passe.
para o lado direito): com exceção da inclinação De pronação frontal (altura intermediária):
do tronco, a posição corresponde ao passe clássico a bola adapta-se às duas mãos (altura do abdô-
frontal, altura intermediária, mas aumentando a men, aproximadamente). Os antebraços colo-
rotação do tronco para o lado do braço executor. cam-se ligeiramente flexionados sobre os braços,
Não se desfaz a rotação do tronco. Projeção do com a extremidade radial virada para cima. O
braço executor na direção do passe. tronco se mantém ligeiramente inclinado para
Altura intermediária, ombro-quadril (lateral frente. No momento em que a mão contrária ao
para o lado esquerdo): posição igual à do passe braço executor perde contato com a bola, aquele
clássico frontal, altura intermediária. A partir des- se estende na direção do passe, efetuando-o, ao
te momento, efetua-se uma rotação, desrotação e mesmo tempo que se produz um movimento de
pronação para facilitar a impulsão do lançamento.
FUNDAMENTOS TÉCNICO -TÁTICOS INDIVIDUAIS NO ATAQUE I 119
Na altura baixa, realiza-se da mesma forma. Neste do tronco é mais articulada e o movimento de su-
caso, a bola parte de uma posição mais próxima pinação, mais acentuado.
do chão e, em conseqüência, a inclinação do cor- Por cima do ombro do braço executor: o bra-
po é maior (pronunciada). ço executor, em semiflexão, coloca-se à altura da
De pronação lateral para a direita (altura in- cabeça, aproximadamente. A palma da mão que
termediária): a posição de início é similar à indi- controla a bola fica orientada para cima. Ligeira ro-
cada no passe de pronação frontal, por exceção do tação do tronco, para o lado do braço executor, com
braço executor na direção do passe. Realiza-se da uma suave inclinação. Efetua-se o passe mediante
mesma forma na altura baixa e, consequentemen- impulso dado pelo braço executor, acentuando-se,
te, a inclinação do tronco é maior. neste momento, a rotação do tronco e orientando
De pronação lateral para trás (altura interme- a face palmar da mão na direção do passe. Neste
diária): a posição de início é similar à indicada no lançamento, pode fazer-se lateral ou frontal. Disso
passe de pronação frontal. Devemos realizar um dependerá o grau de rotação do tronco.
movimento de rotação do tronco para o lado do Deixada (vaselina): efetua-se uma rotação
braço executor no momento em que se efetua a ex- do tronco para o lado do braço executor, que se
tensão e a pronação do braço na direção do passe. estende para trás com a palma da mão que con-
trola a bola orientada para cima. Seguidamente,
FIGURA 9.17 – Passe pronado lateral para trás. (FOTO abre-se a mão, com a qual a bola fica sem susten-
PÁGINA 77, Livro Balonmán) tação sobre a face palmar modelada como ban-
deja, efetuando-se ligeiro impulso para cima ao
Por trás, lateral para a esquerda: orientado tempo em que se retira, de forma súbita, a mão.
para baixo, o antebraço coloca-se ligeiramente fle- Retificado: efetua-se uma flexão de tronco
xionado sobre o braço e à altura do quadril. A pal- para o lado contrário ao braço executor, e este rea-
ma da mão controla a bola de frente para o corpo. liza um movimento de flexão por trás da cabeça e
O tronco mantém-se ligeiramente inclinado para a posterior extensão para se desfazer da bola.
frente. Coincidindo com uma rotação e ligeira in-
clinação do tronco para o lado contrário do braço FIGURA 9.18 – Passe retificado. (FOTO PÁGINA 78,
executor, projeta-se este por trás, como se tentás- Livro Balonmán)
semos abraçar o próprio corpo. Neste momento,
o jogador, com a linha dos ombros orientada na Entre as pernas: realiza-se com o último pas-
direção do passe, culminará a ação do lançamento so mais longo do que o habitual; quando se apoia
com movimento de supinação. Este passe realiza- o pé no chão, o braço oscila para o centro, entre
-se, também, frontalmente. Neste caso, a rotação as pernas, efetuado o passe.
120 MANUAL DE HANDEBOL
Passe em contato com o chão (com as duas mãos) alcançar a máxima altura. O gesto total deverá ser
acompanhado de uma desrotação do tronco para
De peito frontal: os braços semiflexionados o lado do braço executor. O lançamento efetua-se
e recolhidos próximos ao corpo adotam a técnica projetando o braço na direção do passe, coincidin-
de adaptação da bola com as duas mãos. O tron- do com uma desrotação do tronco. Pode estabele-
co mantém-se ligeiramente inclinado para frente. cer-se igualmente a suspensão impulsionando-se
Estendem-se os braços para frente na direção do simultaneamente com as duas pernas, ainda que,
passe, efetuando, ao mesmo tempo, o impulso neste caso, a disposição do braço executor deva
da bola mediante um movimento de pronação conseguir-se mediante uma trajetória vertical.
simultânea com ambos os braços. Se o passe for Lateral para a direita: mantêm-se as mesmas
lateral, será necessário acrescentar uma rotação do indicações especificadas no passe clássico frontal,
tronco para o lado do passe. mas, na execução, devemos acrescentar um mo-
Por cima da cabeça: os braços ficam ligeira- vimento de pronação do braço. Não se desfaz a
mente flexionados e dirigidos para cima. As mãos rotação do tronco.
colocam-se na posição recomendada na técnica de Lateral para a direita: mantêm-se as mesmas
adaptação da bola com as duas mãos. O tronco indicações especificadas no passe clássico frontal,
mantém-se erguido. Impulsiona-se a bola na di- mas, na execução, devemos acrescentar um mo-
reção do passe, projetando os braços para frente e vimento de pronação do braço. No momento do
inclinando, às vezes, o tronco, na mesma direção. passe, produz-se uma ligeira rotação para o lado
No caso de passe lateral, deverá haver uma rota- oposto do braço executor.
ção do tronco para o lado do passe.
técnicas dos jogadores no ataque que dirigem os Que a bola percorra a trajetória esco-
seus esforços para conseguir o gol, considerado lhida no mínimo espaço de tempo.
objetivo fundamental. Encontrar a situação ide-
al para o lançamento ao gol é a tarefa básica do O lançamento deve responder ao denomi-
jogo ofensivo, que finaliza com essa ação e que, nador comum da precisão, não isento de rapidez,
de certa forma, supõe o fracasso ou êxito do jogo escolhendo a trajetória adequada dentro do ângu-
anteriormente elaborado. lo de tiro que se apresenta.
O lançamento deve ser rápido nas suas duas FIGURA 9.19 – Divisões do gol.
vertentes fundamentais:
A altura do lançamento pode ser determi-
Mínimo de espaço de tempo na sua nada por:
execução.
122 MANUAL DE HANDEBOL
Nos lançamentos desde a linha da área de Quadro 9.1 – Tipos de lançamentos no handebol
gol, é recomendável escolher a trajetória corres- Tipo de
Primeira linha Segunda linha
lançamento /
pondente ao lado em que se encontra apoiada (Armadores) (pontas e pivô)
linha ofensiva
uma perna do goleiro se a outra estiver em sus- Altura do ombro
pensão. Clássico Altura do quadril Altura do quadril
Altura baixa Altura baixa
Deve proceder-se da mesma forma se o lan- Lado contrário do Lado contrário do
çamento se realiza desde um posto específico da braço sem queda braço sem queda
ponta. Neste caso, não importa se a perna que Lado contrário do Lado contrário do
Retificado
braço com queda braço com queda
está apoiada pelo goleiro é a correspondente ao Mesmo lado do Mesmo lado do
ângulo menos amplo sempre e quando exista en- braço com queda braço com queda
Adquirindo a Adquirindo a
tre ela e o poste mais próximo a distância mínima
Suspensão maior altura maior altura
para que passe a bola. possível possível
Se o goleiro, além de intervir em suspensão, Sem queda, ad- Sem queda, ad-
quirindo a máxi- quirindo a máxi-
realiza uma progressão de fechamento ao executor ma profundidade ma profundidade
Clássico (altura do ombro do braço executor): colocando o corpo quase na horizontal. Depois
realiza-se da mesma forma que o passe clássico fron-do lançamento, a mão contrária à do braço execu-
tal, mas com uma armação mais ampla, a rotação do tor coloca-se no chão.
tronco mais acentuada e uma desrotação instantânea.
FOTO 9.24 – Lançamento retificado pelo lado contrá-
FOTO 9.20 – Lançamento clássico. (FOTO PÁGINA rio ao braço executor. (FOTO PÁGINA 85, Livro Ba-
84, Livro Balonmán) lonmán)
Altura intermediária: dão-se as mesmas con- Retificado pelo mesmo lado do braço execu-
siderações que para o passe, com as observações tor (com queda): partindo de uma posição de lan-
expostas anteriormente. çamento com armação para o lançamento interme-
diário, produz-se uma flexão e rotação do tronco
FOTO 9.21 – Lançamento da altura quadril. (FOTO para o lado do braço executor, que, no momento
PÁGINA 84, Livro Balonmán) da armação, se projeta para trás. O lançamento
produz-se por meio de uma desrotação do tronco,
Altura baixa: idem. e o corpo fica sobre o chão em contato dorsal.
to e, desde o lado mal, produzir uma inclinação controlada na altura do abdômen, dando frente
do tronco e uma armação por trás da cabeça. ao gol. Seguidamente, o jogador deixa-se cair ao
mesmo tempo que eleva ligeiramente o braço exe-
Segunda linha (pontas) cutor para lançar.
Em queda (com salto): efetua-se de forma
Em salto (com queda): é um lançamento ca- idêntica, ainda que com maior impulso de pernas
racterístico dos pontas. A sequência de execução para obter maior penetração.
é a seguinte: De acordo com as exigências do jogo, em
muitas ocasiões o jogador não pode nem deve
Recepção: o mais próximo da linha de atender aos princípios básicos de colocação das
6 metros, com uma aproximação rápida pernas. Em consequência, o lançamento deve ser
a ela. realizado com posições especiais de pernas; ou
Batida: o mais próximo da linha, de seja, efetuando o lançamento ao gol com a per-
forma explosiva e enérgica, com tra- na do braço executor adiantada (lançamento em
jetória para a linha de 7 metros e ga- apoio) ou depois impulsionar com a perna corres-
nhando profundidade e altura no salto. ponde à do braço executor (lançamento em sus-
Voo: o mais longo possível para au- pensão ou salto).
mentar o ângulo de lançamento. A Os lançamentos que partem de uma posi-
armação do braço produz-se o mais ção baixa realizam-se mediante uma inclinação
tarde possível para que a bola não seja do tronco, sem aumentar a flexão das pernas ou
interceptada pelos defensores e o go- abrindo o compasso normal destas para chegar-se
leiro a veja durante pouco tempo. ao chão. Trata-se de evitar que as possibilidades de
Armação: não há estereótipos. Depen- intervenção posterior do lançador sejam negati-
de da posição do goleiro. vas, já que uma maior flexão de pernas dificultaria
Trajetória: normal, parabólica ou em a intervenção imediata do jogador em outra ação
rosca (com efeito). consecutiva.
Queda: rodando (rolamento) ou des- Para cumprir o princípio fundamental de
lizando. intervenção oportuna à velocidade conveniente,
é necessário que o jogador, depois de realizar o
Segunda linha (pivôs) lançamento, adquira uma postura equilibrada o
quanto antes, para poder responder, no momento
Em queda (sem salto): é um lançamento preciso, a posteriores exigências do jogo.
característico dos pivôs, com apoio em um pé O jogador deve dedicar uma atenção espe-
ou nos dois, flexionando as pernas e com a bola cial a não pisar na linha da área de gol quando
FUNDAMENTOS TÉCNICO -TÁTICOS INDIVIDUAIS NO ATAQUE I 125
executar o lançamento nas suas proximidades. O único obstáculo para que o jogador em posse de
esforço realizado individual e coletivamente pode bola possa tratar de alcançar o gol.
se reduzir a uma perda da bola. Desde as proximi-
dades da área de gol, antes de realizar o lançamen- Lançamento de 7 metros
to, o jogador deve olhar a situação da linha.
Quanto à forma de estabelecer as quedas no Partindo das limitações regulamentadas, a
lançamento, a experiência demonstrou que cada execução deste lançamento vai acompanhada de
jogador adapta seu corpo para amortecer o cho- movimentações e fintas para enganar o goleiro.
que. Não obstante, o deslizamento peitoral pela
área ou queda com rolamento dorsal com contato
no chão representam as formas mais usuais para 9.8 A finta
reduzir os impactos que nos ocupam.
Em geral, o lançamento ao gol deve estar
dominado pela potência. O jogador deve desen- 9.8.1 Definição
volver a sua força à máxima velocidade, mediante
realização explosiva do gesto total de cada lança- A finta define-se como “uma ação realizada
mento. pelo jogador com bola que, por meio de um en-
Em comparação com o passe, a projeção do gano, tenta iludir uma marcação em proximidade
5
braço executor para trás tem de ser mais aguda do oponente direto”. É “um gesto mediante o
para obter um movimento uniformemente acele- qual o atacante com bola tenta superar um defen-
rado, mais amplo na execução do lançamento, e, sor, realizando uma ação prévia de engano e uma
assim, incrementar a velocidade da bola na sua posterior para aproveitar o dito engano”.3d O seu
trajetória. objetivo mecânico é provocar um desequilíbrio
Como em definitivo se trata de que a exe- corporal do rival (contrapé).9
cução do lançamento e a trajetória da bola sejam É um elemento técnico muito utilizado no
rápidas, tem de se buscar o equilíbrio na projeção jogo um contra um, observando que sempre é o
do braço executor ao se realizar a armação para o que se encontra atrás do adversário fintado. No
lançamento. jogo um contra dois, utiliza-se para alcançar um
O executor de um lançamento ao gol deve deslocamento de engano entre dois defensores.
concentrar a sua atenção nos movimentos e nos É importante diferenciar de outros elemen-
deslocamentos na intervenção do goleiro. Temos tos técnicos como a desmarcação (que se realiza
de pensar que, uma vez obtidas as possibilidades sem bola), ou a troca de direção (não possui fase
de lançamento, é lógico concentrar todos os es- de freada, se realiza sem a bola). Como elemento
forços em surpreender o goleiro, que constitui o diferenciador, uma finta exige:
126 MANUAL DE HANDEBOL
9.8.3 Classificação
Fundamentos técnico-táticos
10 individuais na defesa
FIGURA 10.1 – Posicionamento do defensor, posicionado entre o atacante e o gol, quando aquele está posicionado
na linha de 6 m de costas para o adversário.
O bloqueio depende da posição específica Para sua realização, devemos partir da posi-
do lançador ou do procedimento de lançamento, ção de base, a partir da qual se levantam os bra-
podendo ser em apoio ou em suspensão, ou retifi- ços juntos e estendidos, sempre sem cruzá-los no
cado, devendo-se adotar uma posição dinâmica e momento do lançamento, ou antes, dirigindo-se
de rápida intervenção. frontalmente para a bola. A perna do defensor
Em qualquer caso, sempre colocaremos o que corresponde ao lado forte do atacante deve
nosso tronco entre o gol e o ombro do braço estar ligeiramente adiantada, levantando o calca-
de lançamento do executor. O domínio do blo- nhar da perna contrária, ao mesmo tempo, para se
queio exigirá, por um lado, rapidez para modifi- obter uma maior aproximação com o braço exe-
car a posição e situação adquirida diante de uma cutor do atacante.
mudança súbita do gesto do lançamento ao gol, Para os lançamentos em suspensão, o de-
tanto em apoio quanto em suspensão, e, p or ou- fensor deve impulsionar-se imediatamente depois
tro lado, controle visual reduzido à bola, com que o atacante o fizer, e não antes.
atenção especial ao movimento da articulação do Em todos os casos, o bloqueio da bola reali-
pulso que a controla. Não se deve esquecer de za-se com as duas mãos, com exceção dos lança-
que é o último movimento que precede o tiro. mentos baixos, que serão feitos com apenas uma
mão no momento de lançar.
É conveniente que o defensor domine uma
10.2.4 Classificação mudança rápida de posição das mãos, em respos-
ta às mudanças de trajetória que adote o atacante
Em função da posição do lançador: com seu braço executor.
Deve-se esperar na posição básica até que se
Bloqueio em apoio, quando o lança- esteja seguro de que o atacante lançará.
dor realizar um lançamento com os
134 MANUAL DE HANDEBOL
atua mais próximo do passador que do receptor, terceptação não obtiver êxito e o receptor alcan-
bem próximo à linha de recepção, quando a atu- çar a bola, o defensor deve ocupar rapidamente
ação se desenvolve mais próxima do receptor que a sua posição defensiva e encadear outros gestos
do passador, sempre ocupando a linha de passe técnicos defensivos como a marcação, a tomada
(mais comum). da bola etc.
Recuperar a bola (ação prioritária); Sua realização técnica é mais singela que a
Dificultar a progressão ou a circulação dos outros gestos defensivos.
da bola; Podemos entender duas ações ao mesmo
Proteger o gol. gesto defensivo: correr para a bola, buscando-a
com as pernas e não com o tronco, o que implica
risco de uma projeção do corpo para frente e um
mau controle da ação dos braços, com o tronco
FUNDAMENTOS TÉCNICO -TÁTICOS INDIVIDUAIS NA DEFESA 135
fixo, por intermédio da pelve sobre as extremida- Temos, quando o atacante abusa do quique,
des inferiores na recepção da bola. uma situação vantajosa ou quando, esgotado o ci-
Utilizam-se duas formas de se apoderar da clo de passos regulamentados, utiliza o bote como
bola quando está em trajetória aérea: desviá-la recurso imprescindível para obter uma situação
para continuar quicando ou fazer o controle da benéfica, ou, simplesmente, diante de uma per-
bola com as mãos e, depois, continuar qualquer seguição do adversário que se escapa driblando.
gesto de ataque. Essa interpretação dá-se comu- Assim, vemo-nos obrigados a ampliar as
mente no espaço próximo ao receptor e, para sua fronteiras de interpretação deste recurso técnico
realização, é necessário um bom conhecimento e podemos determinar que a tomada da posse da
das capacidades motrizes próprias, já que um dos bola não se relaciona somente com a possibilidade
princípios que se deve seguir é “não chegar tarde”. de evitar um lançamento ao gol, mas, também,
Se isso ocorrer, devemos adotar uma conduta de com a pretensão de evitar uma progressão, o meio
dissuasão, controlando a bola e o receptor. de desenvolvimento do qual se utiliza o quique.
alegria ao goleiro e cada gol sofrido deverá passar mesmo, desencorajar o lançamento por medo de
de forma natural para a equipe. O trabalho do falhas. Um goleiro de handebol se vê submetido
goleiro é difícil e de enorme responsabilidade. Por a seguidos esforços durante o jogo (violência do
meio de seu desempenho, comportamento e in- lançamento, bola pequena e dura, proximidade
tervenções seguras, principalmente nos momen- das ações em relação ao adversário, chão duro
tos difíceis, fortalece sua equipe, favorecendo a etc.); entretanto, possui vantagens e privilégios
segurança e o rendimento de seus companheiros, aos quais deve ter conhecimento e dos quais deve
estimulando e consolidando a combatividade da saber tirar proveito: utilização de todo o corpo
equipe e influenciando, decididamente, no resul- para a realização de seu trabalho e área de restrita
tado do jogo. Suas falhas são irreparáveis, pois ele de atuação. A disposição para ser goleiro, aliada ao
não tem ajuda ou alguém que possa cobrir sua treinamento dos gestos específicos da técnica, leva
falha ou erro. A diferença em relação aos outros ao sucesso. A condição para a aquisição da técnica
jogadores é que não pode se permitir ao erro, pois é a prática, e esta, aliada à qualidade do treino,
será castigado com o gol. Deverá atuar sem titu- leva à otimização das capacidades e habilidades
beios, devendo estar sempre vigilante e atento, específicas de um bom goleiro. A sorte não é obra
tendo domínio do seu corpo e das suas emoções do acaso, pois quem deseja ser goleiro deve desen-
* Texto modificado com base so livro Caderno de rendimento do goleiro de handebol . Greco, P. J. Org., 2002.
138 MANUAL DE HANDEBOL
volver todas as capacidades necessárias à função e namento de base, dentro do trabalho de aprendi-
assim terá sorte. zagem motora, os pontos fundamentais a serem
trabalhados são o equilíbrio dinâmico, a destre-
za e a manipulação com bola, a dissociação de
11.2 Características membros, a coordenação dinâmica geral, a noção
espaço-temporal e a coordenação com pressão de
Conforme as regras do jogo, o goleiro de tempo e com pressão de organização (duas ações
handebol executa, em sua área específica, tarefas simultâneas).
diferentes em relação aos seus companheiros.
Entre todas as características necessárias para
realizar com êxito suas funções, o goleiro deve ter 11.3 Aspectos gerais da técnica
o domínio dos gestos técnicos, e a inteligência
tática merece uma especial atenção. No processo A técnica específica em relação à posição de
de treinamento da antecipação e percepção, assim base deverá ser equilibrada, cômoda e deve facili-
como da velocidade de pensamento para decidir tar a chegada a todas as zonas do gol com eficiência e
e executar prontamente, sem hesitação, a resposta velocidade. Deverá, também, ser ajustada às suas
para a situação de jogo, a visão global de jogo, características biotipológicas, psicológicas e físi-
a atenção múltipla, por meio da observação da cas, respeitando seu estilo e individualidade. Em
bola, a movimentação dos atacantes e dos pró- geral, o apoio é sobre a planta dos pés, com os
prios companheiros, facilitando as possibilidades calcanhares ligeiramente levantados e os pés ali-
de uma intervenção segura e precisa, fazem que o nhados com a largura dos ombros.
goleiro seja quem lidera tanto a defesa quanto a É necessário adotar uma técnica definida e
saída para o contra-ataque. Isso ocorre pelo fato específica para poder ter o efeito adequado às exi-
de ele ter todo o campo de jogo sobre seu coman- gências do jogo. A técnica do goleiro se divide em
do, colaborando de forma primordial com sua defensiva e ofensiva. Nas ações defensivas, o golei-
equipe. A capacidade de concentração para acom- ro deve interceptar ou cortar a trajetória da bola,
panhar o jogo e ordenar rapidamente suas respos- depois controlá-la e realizar o passe aos seus com-
tas está presente nos sessenta minutos de jogo. panheiros. Nas técnicas ofensivas, deve ser um
O desenvolvimento das capacidades de fle- grande passador de longa distância. Conhecer e
xibilidade e alongamento, velocidade de desloca- treinar as técnicas individuais de cada jogador de
mentos, reação e ação, força explosiva e resistência campo, com passes rápidos, curtos e executados
são fundamentais e imprescindíveis para o sucesso com qualidade e precisão, pode iniciar ataques de
do goleiro, influenciando diretamente na técnica muito êxito, garantindo um contra-ataque rápido
específica a ser trabalhada. No processo de trei- e efetivo para sua equipe.
FUNDAMENTOS TÉCNICO -TÁTICOS DO GOLEIRO 139
11.3.1 Técnica defensiva forme sua estatura, variando de 0,5 a 1,5 metro.
Deve-se manter a cabeça erguida com naturalida-
Considerado o primeiro e o último defensor, ode, orientação frontal ao portador da bola, com
goleiro atua coordenando e colaborando com os joga-total controle do campo visual da bola, olhos
dores de quadra, organizando e orientando a defesa emem sua trajetória, tronco ligeiramente inclinado
relação ao seu posicionamento, trabalhando em con-à frente, pernas simétricas, afastadas à largura
junto com o bloqueio e com o marcador dos pontas. dos ombros, ligeiramente flexionadas e peso do
corpo dividido uniformemente; pés totalmente
Posições e situações em função da cir- apoiados no solo (base firme de sustentação), des-
culação de bola, ante o deslocamento locamentos curtos, rápidos e deslizantes, com lar-
dos atacantes. gura cômoda propiciando possibilidades de ação
Momento da intervenção: ante os lança- posterior rápida; braços de acordo com a postura
mentos entre 6 m e 9 m (pontas, pivô, adotada, devendo se sentir à vontade. As mãos se
infiltração dos armadores), fora dos 9 m, mantêm naturalmente abertas e voltadas para o
nos 7 m e na iniciação do contra-ataque. objetivo. Toda a atitude deve ser relaxada e des-
Atuação fora da área de 6 m, inter- contraída. Nunca deve segurar a bola, mas, sem-
ceptação do contra-ataque (dissuadir, pre que possível, utilizar as duas mãos nos movi-
retardar ou interceptar) partindo ve- mentos, assegurando o sucesso e a continuidade
Zona central (1,5 m).
Zona lateral (1,0 m).
Zona extrema (0,5 m).
Tiro de 7 m (até 4 metros, até a linha FIGURA 11.2 – Situação do goleiro em relação à linha
demarcatória). de gol.
FUNDAMENTOS TÉCNICO -TÁTICOS DO GOLEIRO 141
FIGURA 11.5 – Posicionamento do goleiro para defesa pelo adversário, desvio da bola pelos defensores
com as mãos no ângulo superior. ou ainda pelo mal-posicionamento no momen-
to de defesa do lançamento por parte do goleiro.
Defesa com o pé Além de uma boa condição muscular abdominal,
são recomendáveis espumas de proteção e outros
Para lançamentos baixos nos ângulos inferio- componentes que completam a vestimenta do go-
res, o goleiro defende com o pé, acompanhado com leiro, principalmente no handebol feminino.
a mão. Para este ato, deve realizar um passo lateral
com a perna do lado do lançamento (espacato), gi-
rando o pé de maneira que sua parte interna esteja 11.3.5.2 Em relação à trajetória da bola
na direção da bola, para opor a ela a maior superfície
possível de contato. Durante a extensão da perna, o Defesa de bola alta
pé não deve ser elevado do solo excessivamente. O
regulamento permite a possibilidade de defender o Arremesso de cima para baixo, em suspen-
lançamento com pernas, joelhos e coxas. são. A bola vem de uma altura superior à trave.
FUNDAMENTOS TÉCNICO -TÁTICOS DO GOLEIRO 143
Impulsão no pé contrário (o pé mais afastado de propiciar o ataque à bola. Para defesas a meia
da trajetória da bola, sem deslocamento). A altura altas e longas, utilizam-se os dois braços,
outra perna, em suspensão, se deslocará lateral- não havendo elevação da perna, mas um ataque
mente para atingir o ponto de contato com a em diagonal à fundo com inclinação do tronco e
bola, juntamente com a elevação do braço cor- para defesas curtas, com um braço só. É necessá-
respondente à altura adequada, projetando-o rio muito trabalho de mobilidade na articulação
ligeiramente para frente. Cobertura maior do coxo-femoral.
ângulo. Não girar o tronco. Posicionar de fren-
te para a bola. Pés direcionados para frente. Na
elevação de um braço na bola, o ganho de altu-
ra é maior, porque o deslocamento da cintura
escapular, elevando-se do lado que elevamos o
braço, permite isso. Se levantarmos a perna do
lado, deslocamos, também, a cintura pélvica, e
esse ganho em alcance aumentará, favorecendo,
também, a intervenção para defesas em qual-
quer altura. Em qualquer sentido do movimen-
to a situação é a mesma, sobretudo em sentido
FIGURA 11.8 – Posicionamento do goleiro para defesa FIGURA 11.9 – Posicionamento do goleiro para defesa
de bola de média altura com uma mão. de bola baixa.
Defesa dos lançamentos de curta distância leiro estará direcionado permanentemente para o
lançador, e os movimentos são executados para o
Posições centrais outro lado lateral, ou seja, para o centro da quadra
e não para trás ou para a largura da linha de gol.
São os mais difíceis de deter, pois oferecem Uma corrida para frente produz êxito, no caso
o maior ângulo de lançamento. Neste caso, é van- de lançamentos potentes, pois reduz mais ainda
tajoso reduzir o ângulo mediante uma corrida o escasso ângulo de lançamento. Movimentos de
para frente, encurtar a distância, ficando de 1 a 3 pés são caracterizados por passos curtos, acom-
metros de distância do lançador, e, no momento panhando o salto do arremessador dos extremos.
do lançamento, o movimento para frente deve ser O movimento de defesa é curto e rápido, pois o
parado e estar na posição fundamental de defesa. goleiro não sai muito. Situado no momento do
Sair com o corpo, deixar os braços abertos e voltar lançamento, tranquilo, calmo, sem movimento.
a atacar; saída pelo lado contrário, ataca com o Deve mover-se antes e se posicionar, pois o ata-
tronco a bola, naturalmente voltar e atacar. Obri- cante quer que o goleiro tome a iniciativa. No tra-
ga o pivô a retificar o lançamento, não permitin- balho em conjunto com o defensor, não permitir
do o lançamento reto (mais forte). o lançamento; realizar o lançamento com menor
146 MANUAL DE HANDEBOL
ângulo; não tocar no arremessador (muda a traje- de salto. A movimentação dos braços é de bai-
tória do salto e conseqüentemente o lançamento). xo para cima e acompanha a perna flexionada.
Quanto o adversário estiver mais próximo do
gol, os movimentos deverão ser mais amplos e,
quanto mais à frente, mais curtos e próximos do
corpo. Deve o goleiro ter a capacidade de reagir
no ar para qualquer movimento variado em re-
lação à trajetória da bola realizado pelo ataque.
Neste tipo de defesa, o goleiro perde a condição
futura de uma nova reação rápida e sequencial.
Não deve ser utilizada como técnica básica, re-
petindo-a em cada ação. A tática defensiva do
goleiro na defesa do contra-ataque é a mesma
dos lançamentos de 6 metros, o movimento se
inicia com uma saída para a frente e defesa late-
ral, fechando o ângulo.
O recurso utilizado, o qual denominamos FIGURA 11.14 – Posicionamento do goleiro para defesa
defesa em “Y”, é realizado com ou sem execução de lançamento de contra-ataque.
FUNDAMENTOS TÉCNICO -TÁTICOS DO GOLEIRO 147
Defesa dos lançamentos de sete metros O goleiro pode ou não realizar uma pré-
-defesa, em função do nível de dificuldade de sua
Para defender, o goleiro deve estar preparado intervenção. Sua posição fundamental poderá di-
para o jogo sabendo para quem e onde lançar. minuir ou não a distância com o atacante, deslo-
cando-se ou posicionando-se à sua frente.
O posicionamento inicial mais utilizado,
antes da autorização do árbitro, é de 4 a 5 metros
Até 4 metros do executante. No primeiro caso, o executante se
dá conta da posição imediatamente e, no segundo
caso, é perturbado em sua concentração, distrain-
do-se naquilo que previa realizar. O importante é
que, no momento do lançamento, o goleiro obte-
nha a sua posição fundamental básica para poder
reagir rápido o suficiente em todas as direções e
movimentos.
FIGURA 11.15 – Posicionamento do goleiro para defesa O conhecimento do jogador adversário em
de lançamento de 7 metros. relação às suas características e possibilidades pode
favorecer e determinar ao goleiro a escolha da me-
O jogador tem, no máximo, 3 ou 4 tipos de lhor forma defensiva de sua atuação, relacionadas
lançamentos e locais em que gosta de lançar (1 ou com diferentes distâncias e posições iniciais. Na
2 é o normal). cobrança realizada por jogadores armadores, o
O goleiro tem opções de: goleiro poderá sair mais e, no caso de lançadores
pontas ou pivô, poderá esperar mais. Por exem-
deixar o atacante lançar onde ele pre- plo, para lançamentos precisos e não potentes,
fere; permanecer na linha de gol e esperar o lançamen-
enganar o atacante, levantando uma to; permanecer na posição básica e no momento
perna e retornando; levantando uma do lançamento saltar contra o lançador; perma-
perna e um braço junto com o pé de necer 1 a 2 metros à frente do lançador de forma
apoio; e levantando uma perna e tro- passiva e com uma posição básica; lançar-se sobre
car saltando, saindo à frente. o lançamento; estar a 3 metros da linha de gol e
saltar contra o lançador; estar a 4 metros da linha
FIGURA 11.16 – Opções do goleiro para defesa de lan- de gol e deixar lançar ou provocar um lançamento
çamento de 7 metros. de cobertura; preparar armadilhas, obrigando ou
induzindo o atacante ao lançamento. Estar tranqui-
148 MANUAL DE HANDEBOL
Nem sempre o goleiro deve esperar tranqui- Logo após uma defesa com êxito, o goleiro
lo ou passivo pelas possíveis ações dos adversários. deve colocar a bola em jogo em diferentes veloci-
Poderá provocar determinada direção do lança- dades, conforme o placar do jogo. Se a equipe está
mento do jogador adversário, escolher o ângulo e perdendo, realiza-se o mais rapidamente possível,
a altura com a utilização de fintas. É muito prová- ou lentamente, quando a equipe está “curtindo”
vel a obtenção do êxito se utilizar estas fintas. Es- o momento se se encontrar à frente do marcador.
tas não devem ser realizadas com demasiada ante- Deve realizar, de preferência, passes longos, ao
cipação, pois simulam ações e atitudes, induzindo meio campo, possibilitando um ataque rápido.
ao lançamento para provocar erros do atacante. A Somente realizará um passe curto quando o lon-
finta será tática e tecnicamente perfeita quando go for taticamente inadequado ou arriscado pela
for obtida depois do movimento de engano, con- posição de defensores que possam interceptá-los.
dição de voltar à posição inicial correta, e a partir É considerado o iniciador do ataque e, também, o
daí, reagir. Prioritariamente, deverá ser utilizada último atacante, pois é responsável pela reposição
nos lançamentos de 7 m e 6 m das zonas centrais de bola e início do contra-ataque, podendo tam-
(de curta distância). A mesma finta não deve ser bém atuar como sétimo jogador.
repetida, ou, pelo menos, não imediatamente. No
duelo goleiro X atacante, triunfará o jogador psi- Recuperação da Bola
cologicamente mais forte.
a) recepcionar – controle total da bola;
b) amortecer – médio controle;
11.3.6.1 Tipos de fintas c) deslocar/rebater – difícil controle.
mérica, ou defesas individuais. Também deve ser para o próximo jogo. Busca-se, cada vez mais,
treinada a saída de bola rápida com passes curtos, enriquecer a gama de movimentos, aumentan-
geralmente para a lateral perto da área de 9 m, do suas possibilidades de intervenção e trabalhar
para organizar o contra-ataque sustentado. paralelamente com as tendências e inovações
dentro do handebol, principalmente em rela-
ção aos sistemas ofensivos e aos atacantes. Tais
11.4 Considerações finais afirmações são preocupações inerentes a relação
goleiro-treinador.
Deverá o goleiro ter consciência clara de que Independentemente do conhecimento
a função de defesa de lançamentos apenas inicia o das técnicas apresentadas, parte-se do princí-
trabalho a ser realizado por ele e que a mudança pio de que “o que não se quer melhorar deixa
de defensor para atacante deverá ser rápida: de- de ser bom”. Devemos estar atentos, de olhos
fesa – posse de bola – equilíbrio – passe potente, bem abertos, abrindo novos horizontes, ob-
preciso para saída da bola da área conforme a si- servando novos goleiros, novas tendências e
tuação com passes curtos ou longos. influências.
150 MANUAL DE HANDEBOL
Referências
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damentos y ejercicios individuales. Barcelo-
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técnicos. Madri: Esteban Sanz, 1982. v. 1. 8 TROSSE, H. D. Balonmano: entrenamiento,
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3 VVAA. Balonmano. Colección de los depor- 1993.
tes olímpicos. Madri: Comité Olímpico Es-
pañol, 1991. 9 GRECO, P. J.; MALUF, E. Handbol: de la escue-
la al club. Buenos Aires: Ediciones Lidium,
4 BÁRCENAS, D.; ROMÁN S ECO, J. D. R. Balon- 1989.
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nos, 1991. 10 GRECO, P. J.Caderno de rendimento do atleta
de handebol. Belo Horizonte: Health, 2000.
5 ANTÓN, J . L. Balonmano: metodología y alto
rendimiento. Barcelona: Paidotribo, 1994. 11 ______. Caderno de Rendimento do Goleiro de
handebol. Belo Horizonte: Health, 2002.
6 LASIERRA, G.; PONZ, J. M.; ANDRÉS, F. 1013
Ejercicios y juegos aplicados al balonmano: fun-
damentos y ejercicios individuales. Barcelo-
Parte IV
Tática
Juan J. Fernández, Pablo Juan Greco, Simonara Silva, Fernando Greco
O handebol é um esporte que se caracteri- uma intenção tática; portanto, os níveis das capacida-
za pela presença simultânea de ações de ataque e des técnicas de um jogador e, também, de uma equi-
defesa, em espaços comuns que determinam a sua pe se manifestam por meio das ações dos jogadores,
luta. Assim, durante o jogo, as ações individuais se conforme as intenções táticas no momento do jogo.
concatenam com as ações de grupo e de conjunto, Os meios táticos de grupo se caracterizam pela
tanto de ataque quanto de defesa. As ações técnico- solicitação do apoio do colega na realização da ação;
-táticas a serem realizadas para resolver as situações somente serão finalizadas com sucesso caso essas con-
de jogo são denominadas meios técnico-táticos, dutas estejam concatenadas entre os jogadores. Os
que, conforme a situação, são considerados de ata- atacantes sem a bola devem favorecer, em todo mo-
que ou defesa, nas diferentes fases do jogo. mento, o jogo daquele que possui a bola, oferecendo-
lhe ocasiões e condições para um passe eficaz após um
12.1 Tabela (give and go – passe e vai) Buscar, de forma secundária, a penetra-
ção e aproximação da meta adversária;
12.1.1 Definição
12.1.3 Terminologia específica e classifi-
A tabela é uma ação que se realiza visando cação
oportunizar ao atacante em posse de bola a supe-
ração de seu defensor direto. Participam de uma ação de tabela dois joga-
Este meio tático grupal inclui várias formas dores, sendo:
de realização e procedimento:
um jogador com bola: aquele que ini-
Passe e vai: é a estrutura básica de inte- cia a ação da tabela com um passe para
ração entre dois atacantes. É utilizado um segundo jogador;
quando o possuidor da bola não con- um jogador sem bola: também deno-
segue superar o seu oponente no jogo minado jogador resposta, este é o res-
1 x 1 e passa a um companheiro. Este, ponsável por se deslocar sem bola se
em seguida, se desmarca para, poste- desmarcar e receber o passe do joga-
riormente, voltar a receber a bola em dor com bola, para devolver o
melhores condições.
Passe e volta: é uma sequência do
jogo com um duplo passe de ida e 12.1.4 Considerações
volta entre dois jogadores, com o ob-
jetivo de assegurar a posse da bola e Para se realizar a tabela, deve-se levar emcon-
dar continuidade ao jogo de ataque. sideração que ambos os jogadores envolvidos em
Passe e segue: estabelece-se para dar tal ação ofensiva devem realizar deslocamentos sem
continuidade ao jogo por meio da cir- bola, oferecendo-se para receber e orientando-se no
culação da bola. Encadeiam-se, assim, espaço e com os colegas livres da ação do defensor,
vários passes entre atacantes, dando para que se inicie e se termine a ação. Além disso,
início ao jogo posicional. eles devem garantir a continuidade das ações. Po-
rém, os demais atletas da equipe devem estar aten-
tos e devem, também, se oferecer para receber um
12.1.2 Objetivos possível passe e dar continuidade ao ataque quando
o jogador iniciador da tabela não puder concluir
Conseguir superar o defensor direto; ou receber a devolução do jogador resposta.
FUNDAMENTOS DA TÁTICA COLETIVA NO ATAQUE I 155
O jogador com bola deve realizar determi- 12.2 engajamento, as progressões, pe-
nadas ações para o sucesso da tabela, tais como: netrações ou apoios sucessivos,
em ataque no intervalo
fixar o defensor e ver a proximidade
com ele; Juan J. Fernández, Helena Vila,
passar a bola ao colaborador; Randeantoni do Nascimento
sair da marcação após passar a bola;
fintar sempre na direção de corrida;
usar a troca de velocidade na ação de 12.2.1Definição
sair da marcação;
apresentar qualidade e variação no Por meio de uma estrutura de jogo com
tipo de passe. base nas progressões ou penetrações sucessivas,
podem-se estabelecer conceitos como os de am-
O jogador com bola deve realizar determi- plitude e profundidade em ataque, conseguindo
nadas ações para o sucesso da tabela, tais como: a máxima utilização do espaço possível regula-
mentado.
oferecer-se para receber; Podemos conceitualizá-los como sendo a
perceber a ação do colega; soma dos pontos de apoios dinâmicos. Penetra r
receber em espaço que permita a sequ- é “entrar por” e realiza-se pelos espaços livres.
ência de ações; Quando um atacante penetra entre dois defen-
fixar o adversário; sores e atrai a atenção dos deles, um compa-
apresentar qualidade e variação no nheiro atacante fica sozinho. Esta é a base das
tipo de passe na devolução. progressões sucessivas, já que, a partir daqui, a
sequência se repete até esgotar as possíveis ajudas
É importante, todavia, que os demais atle- da defesa e obter a superioridade numérica que
tas da equipe estejam atentos à situação criada dê lugar a um possível 1 x 0.
pela tabela entre esses dois jogadores e fixem a
atenção de seus defensores diretos, realizando
ações sem a bola. Além disso, devem observar a 12.2.2 Objetivos
proximidade com o jogador que realiza a tabela
para evitar que se feche o espaço deste, realizar Conseguir a penetração na defesa
fintas e mudanças de direção e sentido em suas quando se está em igualdade de nú-
linhas de corrida. mero de jogadores no campo;
Melhorar a distância do lançamento;
156 MANUAL DE HANDEBOL
12.3.1 Definição
12.3.2 Objetivos
a penetração;
FIGURA 12.3 – Ataque com base no conceito ímpar com a progressão, por falta de êxito do pri-
finalização da zona exterior esquerda ao se conseguir su- meiro objetivo.
perioridade. No conceito ímpar, a resposta do jogador
beneficiado pela ação do jogador iniciador é atacar em
paralelo, ou em engajamento ou apoio sucessivo. 12.3.3 Considerações
O conceito par significa que um atacante Esta noção ofensiva demonstra as condu-
conseguiu uma situação frontal com seu oponente tas fundamentais que têm de se desenvolver em
158 MANUAL DE HANDEBOL
12.4.2 Objetivos
Conseguir a penetração;
Melhorar a distância e a condição do
FIGURA 12.5 – Ataque utilizando o conceito ímpar. lançamento;
FUNDAMENTOS DA TÁTICA COLETIVA NO ATAQUE I 159
12.4.3 Classificação
Inicia-se com uma trajetória retilínea e, a partir res. Existe uma invasão de espaço no posto
da observação que o oponente direto mantém específico do colega, que ocupará o espaço li-
em sua posição, muda-se de direção e cruza-se vre. Tais ações oportunizam uma mobilidade
por detrás do iniciador, uma vez que este invada maior do ataque.
seu setor. O espaço entre ambos será mínimo e
o passe pode ser em largada, pronação para trás
ou, até mesmo, com as duas mãos girando como 12.5.2 Objetivos
na pantalha.
Um princípio básico é que o jogador atacan- Participam de uma ação de permuta:
te com a bola deve iniciar a ação de cruzamento
(com exceção do cruzamento sem bola): jogador iniciador: é o responsável por
iniciar a ação com um passe para um
Os jogadores em ação premeditada ou colega;
em ações improvisadas buscam a fixa- jogador resposta: é quem realiza a ação
ção de seu oponente direto, mas ata- de cruzamento sem bola com o joga-
cando o espaço entre dois defensores. dor iniciador;
FUNDAMENTOS DA TÁTICA COLETIVA NO ATAQUE I 161
12.6 O bloqueio
12.5.3 Terminologia específicae classificação Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco
colega;
jogador resposta: é quem realiza a ação 12.6.2 Objetivos
de cruzamento sem bola com o joga-
dor iniciador; Conseguir a penetração;
jogador colaborador: realiza a recep- Melhorar a distância de lançamento;
ção do passe do jogador iniciador e dá Quebrar a coordenação do sistema de-
sequência ao jogo. fensivo;
Buscar o erro ou o atraso na ação de-
fensiva, objetivando-se a superiorida-
12.5.4 Considerações de numérica em um setor específico.
Segundo a trajetória
Lateral (pela esquerda e pela direita).
da bola/defensor
Primeira linha.
Segunda linha.
FUNDAMENTOS DA TÁTICA COLETIVA NO ATAQUE I 163
Tipo Modo
ação
de Imagem
Bloqueio simples
(um atacante atua sobre um defensor).
Bloqueio duplo
(dois atacantes atuam sobre um defensor).
164 MANUAL DE HANDEBOL
Tipo Modo
ação
de Imagem
Duplo bloqueio
Segundo o número de jogadores
(dois atacantes atuam sobre dois defensores).
Segundo a saída
O bloqueio constitui uma série de fases: FIGURA 12.11 – Desenvolvimento de bloqueio dinâ-
1. Iniciação: quando o principal proble- mico.
ma está na sincronização da ação do
atacante com o restante da jogada de
ataque, que estará em função da dis- 12.7 A pantalha
tância e da situação dos jogadores en- Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco
tre si.
2. Realização: o bloqueador é o jogador
12.7.4 Considerações
Quadro 12.2 – Responsabilidades dos atletas durante uma ação de ponte aérea
13.1 Basculação, flutuação e forma- “triângulo defensivo”. Esse nome se deve a sua
ção do triângulo defensivo similaridade geométrica com essa figura. Sua mis-
são fundamental é reforçar as zonas defensivas
correspondentes à posição da bola, isto é, formar
13.1.1 Definição superioridade numérica defensiva em torno da
bola (densidade).
Por basculação entende-se uma série de
deslocamentos laterais defensivos determinados
pela posição da bola e do jogador (amplitude
defensiva), com o objetivo de se obter superio-
ridade numérica defensiva no setor em que se
encontra a bola.
Unido ao conceito de basculação defensiva,
encontramos, também, o de flutuação, que se
define como a ação de aproximação-afastamento
de um defensor frente ao seu oponente. A dis-
tância que os separa pode ser maior ou menor
dependendo da ação ou não contra o oponen- FIGURA 13.1 – Triângulo defensivo.
te (profundidade defensiva). A missão funda-
mental da flutuação é jogar com espaços que se
deixam disponíveis para o atacante. Por meio 13.1.2 Objetivos
da redução, aproximamo-nos do oponente, em
uma zona eficaz de deslocamento, ou pelo seu Impedir penetrações e progressões.
aumento, retrocedendo para bloquear a bola na Buscar a ocupação antecipada de es-
direção que ela fosse. paços livres.
O exercício que combina flutuação e bas- Reduzir a zona de ação eficaz do ata-
culação possibilita a formação do denominado cante no lançamento à distância.
170 MANUAL DE HANDEBOL
FIGURA 13.3 – Ação de dobra por parte de um central a) em defesas por zona:
defensivo. Superação de um companheiro em
um contra um: o companheiro que
está ao lado pelo qual foi vencido seu
13.2.2 Objetivos colega realiza a cobertura.
Em defesa de duas ou três linhas pe-
Ajudar a resolver as dificuldades de um rante erro na interceptação ou supe-
companheiro superado por um adver- ração pela zona externa (a dobra é um
sário com bola e ocupar o seu lugar. deslizamento).
Neutralizar uma situação de superio-
ridade numérica ofensiva com perigo b) em defesas mistas:
iminente. As mesmas considerações do caso ante-
Permitir a reorganização de ações de- rior para aqueles que defendem em zona.
fensivas com posterioridade. As mesmas situações e cadências, ou
seja, superação do homem que foi à
172 MANUAL DE HANDEBOL
com a finalidade de abortá-los ou diminuir sua A troca de oponentes pode classificar-se sob
efetividade ou consequência. vários parâmetros:
A troca do oponente é uma permuta de fun- a) Pela ocupação de espaços livres:
ções de marcação como consequência de ações dos Troca do oponente por abandono do
atacantes com a finalidade de não romper a estru- posto específico, o qual leva a um au-
tura espacial de uma organização defensiva. Esse mento do espaço do posto específico
meio tático requer que os defensores encontrem- defensivo.
se na mesma linha defensiva para poder realizar Troca do oponente como resposta a
a troca de oponentes. Se isso não for possível, a cruzamentos ou invasão do posto de-
resposta defensiva seria mediante o deslizamento, fensivo de outro defensor.
elemento que podemos conceituar como uma res-
posta defensiva às trocas de posicionamento dos b) Em função da distância a qual se realiza a ação
atacantes, e cada defensor acompanha o seu ad- ofensiva:
versário marcando-o de perto. Em casos em que Troca de oponente perante ações em
não é possível a troca do oponente, mas a amplia- proximidade, na qual podemos distin-
ção do posto defensivo específico, o deslizamento guir três fases:
FUNDAMENTOS DE TÁTICA COLETIVA NA DEFESA 173
13.4.1 Definição
13.4.3 Considerações
Referências
1 ANTÓN, J. Balonmano: tática grupal ofensiva. 6 ROMÁN, J. El juego del pivote. V Jornadas
Madri: Gymnos, 1998. Unisport para entrenadores de balonmano.
Málaga: Unisport, 1993.
2 ______. Balonmano: tática grupal defensiva:
concepto, estructura y metodología. Madrid: 7 PETKOVIC, V. La passe dans la surface de but .
Grupo Editorial Universitario, 2002. Eurohand. France: Euro-Hand, 1990.
Parte V
Sistemas de jogo no
handebol
Juan J. Fernández, Pablo Juan Greco, Helena Vila, Rondeantony do Nascimento
14.1.2.2 Classificação
14.2.1 Definição e estrutura Sistema de ataque 3:3 (um pivô) - 3:3 (dois pivôs)
Podemos entender os sistemas de transforma- Acontece quando, partindo do sistema 3:3 (um
ção como sendo as mudanças de um sistema de um pivô), um ponta abandona a sua posição e se converte
jogo a outro, por modificação das linhas de jogo ou em segundo pivô, geralmente do lado contrário que
das posições específicas. Esta evolução dos sistemas decorreu. Assim, a equipe passaria a atuar com dois pivôs
ataque faz com que a defesa se reorganize buscando: e ficaria sem um ponta, inicialmente. Os armadores la-
terais ficam em suas posições, ou seja, apresenta-se um
aumento da iniciativa defensiva (maior 3:3 com uma ponta livre, sem ocupação por jogador.
antecipação);
ocupação espacial em várias linhas
(maior profundidade);
aumento da movimentação defensiva
(espaços mais amplos).
O ataque contra a marcação individual deve 3. Dois jogadores com mais habilidade,
apresentar alguns princípios para facilitar o transporte tecnicamente, se colocam um atrás
da bola até o objetivo final do jogo, ou seja, o gol. do outro no meio do campo.
Ataque contra marcação individual define- 4. Conforme a situação e de acordo com
-se como sendo um sistema de ataque livre sem o trabalho da defesa, os jogadores 1
obrigações de ocupação de posições no qual os e 2 podem realizar o “corte” para o
jogadores movimentam-se pela quadra a fim meio, ou cruzar com o colega.
de proporcionar situações de passe ou infiltração
para o portador da bola. Sua estrutura modifica-se
em função do posicionamento da bola e do joga- 14.3.2 Classificação
dor que a possui, relacionando-se com o tempo e
espaço da quadra de jogo. O ataque contra marcação individual
Os jogadores devem iniciar o ataque con- tem como característica a presença de duas
tra a marcação individual conforme os seguintes funções, sendo:
princípios, visualizados na figura abaixo no mo-
mento de saída da bola: Jogador com bola: é aquele que possui
a bola e a preferência para penetrações
e lançamentos ao gol.
Jogador sem bola: são os apoios e tem a
responsabilidade de auxiliar o jogador
com bola para sua movimentação e con-
seqüente infiltração, lançamento ou passe.
FIGURA 14.6 – Estrutura do ataque contra marcação Os jogadores em ataque podem realizar
individual.2 diversas ações técnico-táticas a fim de facilitar o
transporte da bola ao objetivo e, consequente-
1. Dois jogadores ocupam a posição de mente, o gol.
ponta em espera. Podem ser subdivididas em dois momentos,
2. Dois jogadores ocupam a posição no podendo ser realizadas movimentações sem bola
meio do campo junto à linha lateral e com mudança de direção e/ou sentido ou movi-
aguardam. mentações de apoio e de ajuda.
186 MANUAL DE HANDEBOL
FIGURA 14.10 – Mudança de direção e sentido (sair ber, após troca de direção e de ve-
para receber).2 locidade sem bola.
FIGURA 14.13 – Movimentações sem bola de apoio e de FIGURA 14.14 – Movimentações do jogador sem bola
ajuda (cruzamento e ataque em paralelo). 2
de apoio e de ajuda (cruzamento).2
Para evitar isso, a defesa possui alguns A amplitude define-se como a distribuição
princípios gerais de atuação universalm ente re- espacial dos jogadores da equipe defensora com
conhecidos: 3 a finalidade de evitar lançamentos de 6 m. Em
função disso, podemos classificar os sistemas em:
Recuperação da bola.
Impedir a progressão dos jogadores Defesa em bloco defensivo: seu objetivo
adversários em profundidade e o lan- é conseguir superioridade numérica
çamento ao gol. defensiva no lugar da bola; para isso,
Proteger o gol (evitá-lo). os jogadores se deslocam seguindo o
movimento da bola (basculação de-
Os sistemas de jogo defensivos caracterizam fensiva).
configurações espaço-temporais que uma equipe Defesa em linha de tiro: quando os
adota para impedir a progressão da equipe atacan- jogadores são responsáveis por deter-
te e, consequentemente, o gol. 4 minada zona e pelo jogador que ali se
Os sistemas defensivos acontecem para con- encontra, sem realizar deslocamentos
trapor o ataque, buscando:3 laterais importantes e definidos.
192 MANUAL DE HANDEBOL
2 4
pacidade para acumular jogadores em uma zona essa defesa mais profunda, pouco ampla e densa.
de espaço com a finalidade de recuperar a bola ou
evitar a progressão do ataque.
Atendendo aos três critérios anteriores, po-
B
D F
Sistema 3:2:1 3 E
2 4
É uma defesa em três linhas estruturada,
fundamentalmente em função da bola. É uma
defesa mais profunda e densa, mas pouco ampla.
Em virtude do posicionamento de defensores FIGURA 15.2 – Sistema 3:3.
avançados, favorece o desenvolvimento do con-
tra-ataque. Sistema 4:2
São estabelecidas duas linhas defensivas, a
primeira com quatro jogadores perto da linha dos
SISTEMAS DE JOGO NA DEFESA 193
Sistema 5:1
D 4 E
São estabelecidas duas linhas defensivas, sendo 3 5
6
F
2
a segunda formada por apenas um jogador, denomi- 7
D 4 E
3 5
F
Para uma melhor realização de um sistema
2 6 defensivo no alto nível de rendimento no hande-
bol, é importante seguir uma lógica de ensino-
-aprendizagem-treinamento visando favorecer o
FIGURA 15.4 – Sistema 5:1. aprendizado completo dos componentes técnico-
194 MANUAL DE HANDEBOL
menores 1-5
júnior e adulto
Mini
individual 08-10 12-14
cadete 3-3
Mini
individual
14-16
juvenil 3-2-1
Mini
individual 12-14
16-18
Tática individual
Ações defensivas
•• Posições de base
Uso do corpo •• Dissuasão
Pressão
• Organização defensiva • Flutuação
• Jogo no Sistema defensivo • Recuperar/lutar a posse de bola
o drible, no lançamento
• Bloqueios de lançamentos
concreta, como ocorre nos demais sistemas tra- Na própria linha de nove metros
tados. A sua finalidade pode-se resumir nos se-
1 (por exemplo, em situações padrões
guintes pontos: como nos tiros laterais e tiros livre
ao realizar o chamado pressing ou,
Dificultar a criação e o ritmo do ataque. por exemplo, ao aplicar um sistema
Levar o ataque para zonas não pe- 1-5 que é, por suas características,
rigosas. um sistema de marcação individual
Recuperar a posse da bola mediante o em zona).
roubo da bola ou a finalização rápida
do ataque em zonas desvantajosas.
15.3.1.2 Classificação
Por isso, é imprescindível o trabalho de
marcação individual nas divisões inferiores, nos Podemos apresentar diferentes tipos de
mini e nos infantis. Atualmente, todo jogador defesa individual em função do espaço no qual
de handebol sabe que as formações defensivas se utiliza:
zonais são a base do sistema defensivo. Mas de
que serve “um perfeito sistema defensivo se a Defesa individual na quadra inteira
técnica individual não é realizada com perfei-
ção”? Com essa definição, estão praticamente Os defensores têm de encontrar o seu
claros e com absoluta prec isão o valor, o sentido oponente rapidamente e realizar uma marca-
e a tática da marcação individual. Restaria dei- ção muito estrita por todo o terreno, indep en-
xar claro, com caráter didático-metodológico, dentemente da zona que ocupa o adversário
os seguintes aspectos: e mantendo, além disso, certa atenção sobre
a bola.
Formas de marcação individual. O objetivo estrito é abalar a colaboração do
Princípios da marcação individual. ataque e provocar erros, seja por andadas, três se-
Aspectos táticos a levar em conta. gundos, passes ruins etc., ou seja, que o adversá-
Capacidades táticas básicas do defensor. rio cometa um erro técnico-tático no controle da
Formas de marcação individual. bola, logo, um erro regulamentado.
Todo o campo.
A partir da metade da quadra.
SISTEMAS DE JOGO NA DEFESA 197
Defesa individual por aglomeração Nominal: cada jogador deve saber qual
adversário defenderá de forma concre-
A defesa parte da zona e não se arrisca além ta e direta.
dos 10-11 m para, deste modo, não se separar uns Zonal: a responsabilidade estabelece-
dos outros e poder garantir ajuda, assim como -se em função do posto que o jogador
evitar as penetrações. ocupa no ataque, organizando-se um
Uma vez estabelecido o emparelhamento, as sistema de contagem que se inicia si-
marcações são mais estritas sobre o jogador com a bola multaneamente pelos pontas e que se
e igualmente sobre os jogadores perigosos (geralmente finaliza no centro.
aqueles mais habilidosos ou com melhor eficiência de
lançamento), e a marcação é em linha de passe e vigi-
lância quando a bola está mais afastada. Geralmente15.3.1.3 Funcionamento do sistema
se utiliza quando a bola se encontra nos pontas e a e
equipe contrária está em inferioridade numérica. O funcionamento deste sistema carac-
teriza-se por marcar os seus defensores cor-
respondentes a todos ou vários jogadores da
equipe adversária de forma individual. O tipo
B
de marcação realizada pelos defensores estará
C 7 A
5 relaciona do com o sistema de defesa individual
6
utilizado.
D 2 3 E
F
FIGURA 15.10 – Defesa individual por aglomeração ou As funções que têm de desempenhar os jo-
defesa individual fechada. gadores da defesa estarão relacionadas com a va-
riante do sistema defensivo individual eleito; em
O objetivo fundamental encontra-se em anular geral, as prioridades de atuação defensiva são:
os homens mais perigosos, ilhar as coordenações de
ataque, garantir as ajudas e impedir as penetrações. Oponente direto (evitar ser superado
A forma de marcação que será utilizada e por ele).
seu desenvolvimento se baseiam em duas formas Bola (evitar o passe, a recepção e bus-
de emparelhamento, previamente definidas e que car a interceptação ou tomada da pos-
serão aplicadas: se da bola.
SISTEMAS DE JOGO NA DEFESA 199
tados para a conquista do êxito. Esses princípios sistema defensivo misto, pois existe um jogador
devem ser transmitidos ao jogador em forma sis- que marca individual ao pivô, seus colegas maram
temática, pois fazem a didática e a metodologia em zona avançadas nos 9 metros.
da educação. Devem ser exercitados sistemática e
metodologicamente por meio de trabalhos espe-
ciais em treinamento. Eles são: 15.3.2.2 Funcionamento do sistema
defesa 1:5.
FIGURA 15.12 – Defesa ativa dos jogadores no sistema 1:5. FIGURA 15.14 – Ações de deslizamento no sistema 1:5.
peias. As equipes masculinas africanas, principal- 15.3.4 Síntese da estrutura do sistema 4:2
mente (Egito e Argélia), têm aplicado variações
interessantes para evitar o armado de jogo e a ve- No sistema 4:2, estabelecem-se duas linhas
locidade de bola das equipes europeias. defensivas, assim como no sistema 3:3. A primei-
ra com quatro jogadores perto da linha dos 6 m
e a segunda com dois defensores perto da linha
dos 8-9 m. Os princípios de utilização, objetivos e
função dos jogadores assemelham-se aos presentes
no sistema 3:3. A grande diferença desta variante
defensiva encontra-se em sua escolha dentro de
um jogo. A sua utilização é recomendada contra
equipes que tenham dois bons lançadores de nove
metros, geralmente os armadores laterais, e um
FIGURA 15.16 – Estrutura do sistema defensivo 3:3. armador passador, ou quando a equipe desdobra-
-se de uma formação ofensiva 3:3 para 2:4, princi-
palmente quando se marca no sistema 3:3.
SISTEMAS DE JOGO NA DEFESA 203
Sua utilização é mais reduzida e limitada que sempre adaptada às possibilidades técnico-táticas
a do sistema 3:3. Podemos considerá-la profunda, da própria equipe ou equipe adversária.
densa e de média amplitude. É um sistema que está constituído por três
linhas, das quais a primeira se encontra formada
por três jogadores, a segunda linha compõe-se de
dois jogadores entre as linhas e a terceira é cons-
B
tituída por um só jogador que se situa diante da
C A linha de lançamento franco.
7 6
Basicamente é uma defesa muito profunda e
D 3 4 E F densa, mas pouco ampla.
5
2
B
FIGURA 15.17 – Sistema 4:2.
C 7 A
5 6
3
15.3.5 Síntese da estrutura do sistema 3:2:1 E
2 4
F
Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, D
dir os lançamentos desde a linha dos 8-10 m dos 15.3.5.2 Funcionamento do sistema
laterais atacantes, criar obstáculos com os deslo-
camentos dos atacantes da primeira e da segunda Esta defesa implica grande atividade e exige
linha ofensiva e evitar passes sobre os jogadores uma perfeita coesão dos jogadores com o fim de
situados na segunda linha ofensiva (pivôs). adotar uma posição adequada em relação com a
posição e situação da bola.
3ª linha Esta estrutura defensiva srcina-se da im-
Trata-se do avanço na defesa. A sua tarefa portância de, no handebol atual, se possuir capa-
principal é impedir passes, lançamentos, desloca- cidade de lançamento da primeira linha de ata-
mentos e penetrações do jogador central e, assim que; portanto, dá-se menor importância a todos
mesmo, colaborar para fechar as linhas de passe aqueles espaços que se produzam em uma zona
dos jogadores em 6 m. mais afastada do lugar onde se está desenvolven-
O objetivo principal desta defesa é im- do o jogo com a bola. Normalmente, estes espa-
pedir o adversário de organizar e conduzir um ços serão criados nas zonas mais externas da área
ataque coletivo, deslocando-se o conjunto sem- (pontas).
pre em relação com a posição na qual está a
bola e em virtude do seu possuidor. Baseia-se
em uma grande atividade e exige uma perfei- 15.3.5.3 Função dos jogadores
tos a distância e tenta impedir os passes para o equipes que circulam a bola com precisão e ve-
pivô. Os deslocamentos vão desde uma profun- locidade, ou seja, contra equipes com qualidade
didade máxima de 11 m até uma mínima de 8 tecnica de passe não oferece garantias.
m, quando a bola está situada em um dos pontas. Em sua largura defensiva se observam falhas
que, para equipes com pontas habilidosas, colo-
cam este sistema em sérias dificuldades.
15.3.5.4 Vantagens da defesa 3:2:1 clássica Para equipes que dominam a criação de su-
perioridade numérica por meio da fixação de de-
O sistema 3:2:1 é recomendado contra equi- fensores, ou o uso da finta, este sistema diminui
pes que não mudam a formação de ataque é o sua efetividade.
sistema que mais se adapta a de jogadores mudan-
ças, mantendo um equilíbrio entre a largura e a
profundidade defensiva. 15.3.5.6 Utilização
O possuidor da bola, em exceção dos pontas,
é tomado sempre entre os defensores, no raio de É recomendada para equipes que possuem
ação destes. lançadores de qualidade mediana, contra equipes
206 MANUAL DE HANDEBOL
que possuem bons lançadores de primeira linha possibilidade de descobrir como se trabalha neste
e com pivôs e pontas de baixa qualidade, contra nível e poder adaptar, assim, o que é visto ao nos-
equipes que baseiam seu ataque em um ou dois so meio.
lançadores de distância e contra equipes que não Vamos descrever aqui duas possibilidades
possuem bom domínio de técnicas básicas (finta,
passe e recepção etc.). Também é válida contra 3:2:1 com pontas ofensivas.
equipes que se reiteram em suas ações ofensivas 3:2:1 com líbero.
com jogadas pré-estabelecidas, quer seja com fi-
nalizações fixa ou variável. Primeiramente, faremos algumas análises,
como ajuda para a memória, por meio de dois
gráficos, nos quais se veem as desvantagens da de-
15.3.5.7 Variantes táticas na aplicação deste fesa 3:2:1.
sistema A figura abaixo nos mostra os buracos que
produzem na defesa para a posição ofensiva dos
Temos falado de um sistema defensivo 3:2:1 defensores laterais.
clássico. Ocorre que todo sistema possui seus de-
feitos e é com base nestes que o rival estrutura FIGURA 15.20 – Espaços srcinados no avanço dos
suas ações ofensivas. O estudo das variantes, de laterais defensivos no sistema 3:2:1. (FIGURA STA-
Sistema 3:2:1 com pontas ofensivos do ponta em defesa de forma antecipada – aproxi-
Feita uma ligeira análise das desvantagens madamente quando o armador central no ataque
do sistema 3:2:1, vemos que as pontas compõem passa a bola ao armador lateral – na frente de ata-
um dos “tendões de Aquiles” desta defesa. O que que do rival. A análise qualitativa desta variante
proporemos supõe uma forma de contrariar estas nos mostra em que medida a ação defensiva pro-
desvantagens. voca a reação do ataque que encontra diminuída
As vantagens que oferece são: sua profundidade e, por sua vez, cortada sua flui-
dez . A exigência na área cognitiva do jogador em
Abafar as pontas rivais de forma tal termos de percepção, análise do jogo, elaboração
que não recebam a bola ou, se recebe- mental e análise da situação do jogo são de valores
rem, não prosseguirem com ela. muito altos, o que obriga a um trabalho de treina-
Submeter o rival a uma “pressão” que mento constante sobre pressão.
o desgasta física e psiquicamente.
Obrigar o rival a buscar variantes que FIGURA 15.22 – Ação de “pressing” dos pontas no siste-
não estão em seu repertório, forçando-o, ma 3:2:1. (FIGURA STADIUM NUMERO 11)
deste modo, a situações desconhecidas.
Efetuar sobre o armador possuidor da O princípio do “pressing” se baseia no mes-
bola uma “pressão”, uma marcação mo princípio técnico-tático defensivo utilizado
portantes. O leitor deverá buscar as formas me- Quadro 15.1 – Características do libero na de-
todológicas para a realização dos objetivos que se fesa 3:2:1
pretendem com este sistema defensivo. Capacidades Capacidades Capacidades
físicas técnico-táticas psíquicas
A função mais importante nesta variante de-
Resistência Experiência
fensiva é cumprida pelo defensor central, o líbero, Visão de jogo
aeróbica de jogo
que, por sua função, caracteriza o sistema defen- Resistência Sentido de Transmissão
sivo. É o defensor central (ao qual chamaremos, anaeróbica marcação de confiança
daqui por diante, de líbero) que cobre os buracos Velocidade de Capacidade de Ser respeitado
reação antecipação pelo rival
defensivos. Ele deve, igual a um líbero no futebol,
Segurança na
barrar a amplitude defensiva dando segurança a Velocidade de Ascendente sobre
tomada de bola
deslocamento seus companheiros
seus companheiros e cobertura, ou seja, cobrindo do rival
bordado por ele em 1 x 1; a observação da figura Nos casos em que o pivô se deslocar com a
brindará o resto dos detalhes importantes desta bola, a ação da defesa será favorecida, pois con-
forma de defesa. centra maior quantidade de jogadores em um
É fundamental o trabalho de braços do opo- setor, reduz espaços de movimento ao atacante e
nente direto ao possuidor da bola, como também favorece o pressing, em consequência.
do defensor adiantado e do líbero.
O objetivo é levar o armador lateral a posi-
ções desfavoráveis; caso se desloque para o centro 15.5.3.9 Desvantagens desta variante
para lançar, deslocar-se-ia para uma zona onde
três defensores, sendo o oponente direto, o defen- É arriscado para pivôs que continuam o des-
sor adiantado e o líbero os que podem bloquear. locamento do líbero, se os defensores laterais, por
No movimento do passe do armador esquerdo desatenção ou por tentar roubar a bola, são desar-
para o armador central, é aquele em que o avan- mados por seus oponentes diretos, para defenso-
çado se adiantará para interceptar. res que não estão convencidos do êxito deste siste-
Temos dito que o líbero deve cobrir os bu- ma (disciplina tática – convencimento psíquico);
racos, ou seja, as costas de seus colegas. Isso supõe para equipes em que os defensores e o técnico
que, em algum momento, o pivô não será toma- têm medo de ver o pivô livre (a propósito destes,
do por este. Muitos pensaram que é uma situação não nos esquecemos de que o atacante deve ler a
muito difícil quando o pivô se encontra do lado resposta correta); para defensores que, em vez de
contrário à posição da bola, mas não é assim. Não pressing, especulam em “pescar” a bola.
podemos nos esquecer de que o êxito defensivo se
baseia no correto funcionamento dos executores,
isto é: 15.3.6 Síntese da estrutura do sistema5:1
C A
C
7 B A
7
E
3 4 5
2 6 D E
3 4 5 F
D F
2 6
2 6
C B
A
FIGURA 15.26 – Sistema defensivo 5:1 (zonal).
4 E 5
3
6
D F
bola, com a intenção de gerar superioridade de- pelo atacante com bola (superioridade numérica
fensiva na zona com bola e, consequentemente, defensiva).
inferioridade numérica nas zonas sem bola.
Concluímos, assim, que é um sistema de- Sistema defensivo 6:0 (linha de lançamento- tiro)
fensivo amplo e denso (respeitando o número de Além das considerações já citadas para o sis-
defensores na zona com bola), e o companheiro tema defensivo 6:0 em bloco, devemos entender
fica com pouca profundidade defensiva. que, para o bom funcionamento deste sistema,
deve-se evitar erros nas trocas de marcadores em
Sistema defensivo 6:0 (em linha de lançamento) relação ao pivô, sobretudo entre os defensores
A defesa 6:0 em linha de lançamento (tiro) centrais 3 e 4 e entre o 5 e 6. As responsabilida-
é uma concepção mais moderna desse sistema de- des devem estar bem definidas, permitindo que
fensivo. É um sistema amplo, que possui o concei- o defensor possa realizar os deslocamentos sufi-
to de deslocamento em função da bola (tentando cientemente rápidos para cumprir o seu papel de
criar superioridade numérica na posição da bola), antecipação (eliminar a dúvida, a incerteza).
ainda que menos que na 6:0 em bloco. Ao contrá- O jogador que atua na marcação próxima
rio, aumenta a profundidade defensiva. Partindo ao atacante deve impedir o jogo em profundidade
da situação inicial que este sistema propõe, os jo- deste, quanto ao passe e à penetração.
gadores, em suas intervenções defensivas, podem Os jogadores que se deslocam na segunda
Impedir a penetração das pontas. Se es- Possuem jogadores que lançam de dis-
tes conseguirem se deslocar para a zona tância (9 m).
central, devem ser marcados e, se não Possuem grande qualidade técnico-tá-
conseguirem, devem trocar a marcação. tica na segunda linha do ataque, tanto
Impedir a circulação das pontas. por parte do pivô, quanto dos pontas.
Colaborar com os defensores laterais Como recurso quando não se têm
deslocando-se para a zona central bons defensores.
quando a bola está do lado contrário.
Estarem preparados para o contra ata- Devemos considerar que se reduzem as pos-
que em primeira onda. sibilidades de contra-ataque em primeira onda, já
que a disposição tática dos jogadores, com esse
Os defensores centrais: 3, 4, 5 e 6: tipo de defesa, obriga os jogadores a se posiciona-
Ações de frente para o adversário a rem perto da linha dos 6 m.
distância; se este não estiver em posse Além disso, este sistema pode ser adaptado
da bola, o defensor deve estar se movi- contra qualquer sistema ofensivo.
mentando na linha dos 6 m na direção
da bola. Quando o adversário direto Sistema defensivo 6:0 (linha de lançamento-tiro)
tem a posse da bola, primeiro deve-se
a posição da bola, não devendo nunca romper A equipe atacante basear seu jogo fun-
o bloco defensivo e atuar em profundidade me- damentalmente na primeira linha e,
diante uma marcação em proximidade contra um sobretudo, em um dos seus jogadores,
ataque perigoso. seja por eficácia no lançamento ou
A sua atenção à bola é máxima, bloqueando pela direção do jogo de ataque.
os lançamentos ao gol, evitando passes e circula-
ção pela linha de seis metros, assim como as pene- Devemos levar em conta as diferentes for-
trações dos atacantes. mas de atuação do sistema em relação à primeira
linha defensiva:
16 Fases de transição
O handebol é umjogo esportivo coletivo dividi- fase ofensiva importante para se conseguir
do em dois momentos que ocorrem simultaneamente o triunfo em uma partida. Existem diversos
no campo. Conforme a posse de bola, uma equipe modos de se definir o contra-ataque; assim,
entra em ataque e a outra, em defesa. Porém, no ca- existem autores que se concentram no objeti-
minho de troca entre esses dois momentos, ocorrem vo final: “O contra-ataque é o caminho mais
duas fases de transição, o contra-ataque e o retornocurto de conseguir o gol”, 6
ainda que outros
(ou balanço) defensivo, expostas na Figura 16.1: definem esse conce ito tendo em conta como se
leva o desenvolvimento da sua ação: “É o pas-
Retorno
defensivo so da defesa ao ataque da forma mais rápida”. 1
Ataque Defesa
Consideramos o contra-ataque como a soma
de ambos os processos e, assim, definimos
Contra
ataque como “a ação ofensiva que se inicia quando a
equipe adversária perde a posse da bola e que
FIGURA 16.1 – Fases de transição no handebol. finaliza quando se produz um lançamento ou
a defesa se organiza”.
Em seguida, descreveremos os dois momen- A realização do contra-ataque não é produto
tos de transição para maior entendimento deles e da causalidade; pelo contrário, surge de uma boa
sua relevância dentro do jogo de handebol. ação defensiva e uma predisposição dos jogadores
para efetuá-lo.
16.1 O contra-ataque
16.1.2 Objetivos
As funções dos jogadores caracterizam-se por: encontram-se, em sua maioria, na estrutura e, es-
pecialmente, na continuidade do que se denomi-
Quando os pontas e o jogador mais nou terceira onda do contra-ataque.
adiantado já saíram, devem modificar a A realidade é que o ritmo e velocidade de jogo
sua posição de costas à posição de lateral ofensivo caminha em uma linha ascendente, enten-
para poder observar a localização da bola. dendo que cada vez mais equipes unem os contra-
Uma vez assegurada a posse da bola, -ataques como tal com o jogo posicional, deixando
iniciam a corrida de forma lateral, as- de realizar a tradicional fase de organização da escola
segurando contato visual com o golei- romena, cada vez mais em desuso. 8
ro, quem pode dar o passe para a pri- A onda de contra-ataque busca continuar
meira ou a segunda onda. A segunda o alto ritmo e intensidade dos blocos anteriores
onda é fundamentalmente finalizado- para aproveitar a descoordenação defensiva. As
ra quando existe igualdade numérica. razões não são outras a não ser a de não ter se es-
Também se encarrega da construção tabelecido o sistema defensivo e não haver tempo
do contra-ataque, observando onde de realizar as mudanças de ataque-defesa para a
pode estar a superioridade numérica, participação dos jogadores especialistas em defesa.
quando existir. Nesta onda, participam todos os jogadores,
e os seus movimentos respondem basicamente a
duas possibilidades:
16.3 O retorno (ou balanço) defensivo Afirma-se que a defesa está para o ataque como
o balanço defensivo está para o contra-ataque.
Não podemos falar de uma fase ou subfase
16.3.1 Definição e características quanto ao seu desenvolvimento da forma como
ocorre no contra-ataque. Tentaremos, simplesmen-
Pelo fato de, no resultado final das partidas de te, conseguir os objetivos marcados ao longo dessa
handebol, os contra-ataques terem mais importân- fase de transição. Tudo o que se supõe para evitar
cia pelo grande número de gols que conseguem, o o contra-ataque direto ou que não tenha êxito na
balanço defensivo (ou retorno defensivo) converte- fase presente deste, podemos considerá-la como
-se no meio para impedir seu desenvolvimento. um êxito. Um balanço defensivo de qualidade deve
O balanço defensivo pode ser considerado, impedir não só a culminação rápida do contra-ata-
de uma maneira elementar, como o passo do ata- que, mas, também, evitar que o adversário possa
que para a defesa de forma rápida e está conforma- aproveitar o desequilíbrio que supõe a organização
da pelos movimentos imediatamente anteriores à do bloco defensivo.9
organização do bloco defensivo.9
16.3.4 Estrutura
16.3.2 Objetivos
O balanço defensivo tem lugar uma vez que
Anular as possibilidades de êxito do a equipe atacante perde a bola, e a equipe defen-
contra-ataque da equipe adversária. sora, até este momento, inicia o contra-ataque. O
Recuperar a posse da bola, se possível. desenvolvimento do balanço ofensivo pode levar-
Buscar a realização de uma falta tática -se por meio de três modos:
para cortar as possibilidades espaço-
-temporais de realização do contra- Estruturado: a equipe que realiza o
-ataque. retorno defensivo tem alguns pontos
222 MANUAL DE HANDEBOL
básicos específicos para que seus joga- o caminho mais curto – a linha reta –
dores impeçam o contra-ataque. para o posto específico na defesa.
Semiestruturados: algum membro da
equipe defensora tem função específi-
ca uma vez que inicia o contra-ataque 16.3.5 Utilização
por parte da equipe adversária. Esta
situação estará condicionada pelos jo- Assim como no contra-ataque a premissa de
gadores que realizam o contra-ataque realizá-lo é uma decisão própria, no balanço de-
adversário. fensivo não existe tal iniciativa, já que dependerá
Não estruturado: os jogadores que rea- das características do jogo ofensivo adversário.
lizam o balanço defensivo não seguem Como norma geral, os sistemas ofensivos que
nenhuma norma e cada um tenta evi- aglutinam (concentram) jogadores próximos à li-
tar o contra-ataque. Sempre que as cir- nha de 6 m terão mais dificuldades em razão do
cunstâncias permitirem, utilizaremos espaço que terão de percorrer até a meta adversária.
Referências
1 VVAA. Balonmano: colección de los deportes 7 CZERWINSKI, J. El ataque posicional: comuni-
olímpicos. Madrid: Comité Olímpico Es- cación técnica. n. 36. Madrid: Real Federaci-
pañol, 1991. ón Española de Balonmano, 1976.
Parte VI
O sistema de formação e
treinamento esportivo:
por uma pedagogia da iniciação
ao alto rendimento esportivo
Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco
senvolvimento e da personalidade do praticante. “jogar handebol” deve ser considerado sempre nas
Neste capítulo, consideram-se como formas de interações de cada parte (ensino-aprendizagem e
manifestação dos níveis de rendimento: hande- treinamento) com o todo.
bol escolar ( de, para e na escola), na reabilitação, A regulação do processo de ensino-apren-
saúde, lazer-recreação, rendimento, alto nível de dizagem-treinamento (EAT) tem como objetivo
rendimento e esporte profissional. aperfeiçoar os processos existentes por meio da
Nesta visão, os polos de rendimento ensi- aplicação efetiva de diferentes meios de avaliação
no-aprendizagem e treinamento influenciam-se (análise da modalidade, planejamento, execução,
reciprocamente, apresentam-se integrados, não controle, avaliação).
sendo possível se considerar uma formação dire- A concepção pedagógica do ensino do han-
cionada específica e unilateralmente ao handebol debol não pode reduzir-se ao ensino de várias téc-
de alto rendimento, bem como não é acessível nicas, alcançar uma competência técnica ou social
um adequado processo de formação (particular- de organizar grupos, interagir e competir, e sim
mente quanto às pesquisas relacionadas com os promover a relação pedagógica, a comunicação
métodos de ensino-aprendizagem) sem um cons- e entender este processo, sobretudo, como “uma
tante feedback oriundo do esporte de alto rendi- competência cultural, alicerçada no conhecimento,
226 MANUAL DE HANDEBOL
e defesa, bem como as linhas gerais do contexto soa, a tarefa e determinado contexto ou ambiente,
pedagógico para os diferentes estágios e etapas da criando a relação pessoa-tarefa-ambiente. Nessa
formação conforme as categorias (faixas etárias) relação, o indivíduo quando joga handebol apre-
do handebol. senta uma intencionalidade (tática) na sua ação.
O SFTE-HB representa-se como um ciclo As ações dos jogadores no handebol são intencio-
evolutivo, no qual uma tríade de parâmetros é in- nais, por isso são ações táticas a partir da execução
dissociável. O EAT é “um processo complexo e de uma técnica. As ações não são delimitadas a
planejado com o objetivo de obter uma melhora priori, mas a partir da vivência que a pessoa detém
no rendimento (em alguma das formas de expres- da modalidade. No handebol, encontra-se alta
são do esporte) de mantê-lo ou reduzi-lo. Desde variabilidade da técnica,5 imprevisibilidade do
um ponto de vista médico-biológico, serão apli- contexto ambiental, riqueza, aleatoriedade e mul-
cados, de forma sistemática e dirigida, estímulos tiplicidade de situações,6 condições estas que, se-
específicos com o objetivo de conduzir e produzir gundo Garganta,7 caracterizam o constante “apelo
adaptações morfológicas a funcionais. Do pon- à inteligência, enquanto capacidade de adaptação
to de vista pedagógico e psicológico (Teoria a contextos em permanente mudança” na procura
da Ação), exerce-se, por meio do treinamento, dos objetivos desejados no jogo. A complexidade
O SISTEMA DE FORMAÇÃO E TREINAMENTO ESPORTIVO NO HANDEBOL BRASILEIRO (SFTE-HB) 227
das tarefas e os problemas situacionais decorrentes FIGURA 17.1 – Capacidades inerentes ao rendimento
do jogo de handebol fazem que os participantes esportivo no handebol.
estejam permanentemente adotando compor-
tamentos táticos. Assim, a ação no handebol é Queremos, assim, destacar que essas seis
sempre uma ação tática, portanto esta capacidade capacidades apresentam-se em permanente inte-
assume um papel relevante no processo de EAT. ração entre si, portanto, não podem ser compre-
Para jogar handebol, é necessário muito mais endidas como componentes isolados e divididos
que simplesmente aprender um conjunto de técni- entre si, principalmente quando se elaboram os
cas de forma perfeita, de jogadas ensaiadas e realiza- processos de EAT. A organização pedagógica deve
das de forma ideal nos treinamentos. Jogar é relacio- considerar as partes na função específica do todo,
nar a complexidade, as facetas dessa complexidade na sua composição global, total.9 Afirma-se que
no jogo de forma inteligente.
8
o processo de EAT deve ser considerado como
Os elementos constitutivos da estrutura uma unidade sistêmica, composto por unidades e
substantiva – que caracterizam “o que” – se des- subunidades, sistemas e subsistemas que se com-
crevem a partir do conjunto das capacidades que põem de diferentes etapas, que estão em coopera-
caracterizam o rendimento esportivo. Referimo- ção e em interação sistêmica, preservando a con-
-nos às capacidades técnicas, táticas, físicas, psi- figuração da estrutura e dos comportamentos que
cológicas, biotipológicas, socioambientais. A se desejam formar.
Figura 17.1 visa descrever as interações entre as A intencionalidade pedagógica deve mudar
capacidades inerentes ao rendimento esportivo no a orientação, considerando os momentos do en-
handebol. Ou seja, no lançamento em suspensão, sino-aprendizagem-treinamento conforme as for-
pode aparentar que a força de impulsão é decisi- mas de manifestação do rendimento almejadas. O
va, porém se sabe que esta sempre estará determi- processo de desenvolvimento da forma esportiva
nada, situacionalmente, pelo momento do jogo, se concretizapor meio de uma estrutura denomi-
pela biotipologia do jogador, pela sua capacida- nada temporal, ou seja, significa que o desenvolvi-
de psicológica de concentração no momento do mento decorre ao longo do tempo.
jogo, taticamente, pela escolha da melhor opção O desenvolvimento, bem como a maturi-
(passar ou realmente lançar? como lançar? – em dade da criança, apresenta-se gradativamente, em
suspensão ou com apoio – etc.), bem como por diferentes estágios da vida, e estas não são iguais
fatores socioambientais que também conjugam para todos. Aqui, são apresentadas como marco
nessa decisão, por exemplo: “estou bem colocado de referência conforme a sua dificuldade, somente
ou há colega em melhor condição de lançamento com o intuito de auxiliar a elaboração e planeja-
nesse momento do jogo?”, entre outros fatores. mento da práxis.
228 MANUAL DE HANDEBOL
SFTE
Subsistema de Formação
Subsistema de Transição
Subsistema de Decisão
Subsistema de Subsistema de
Saúde-lazer-recreação Alto Nível de
Subsistema de Rendimento
Readaptação
FIGURA 17.3 – O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol e as opções que se desprendem no
estagio de decisão em relação a forma da pratica e seus correspondentes níveis de rendimento..
Na Figura 17.3, apresenta-se a estrutura FIGURA 17.4 – Estágios do processo de formação e suas
temporal com seus estágios e fases inerentes à for- respectivas etapas relacionadas com as idades e catego-
cia são elementos constitutivos fundamentais do isto é oportunizar de forma sistematizada proces-
processo de treinamento e da preparação para sos de avaliação e re-organização do E-A-T, para
elevar os níveis de rendimento. Mas não se pode concretizar adequadamente o desenvolvimento
esquecer que todo processo de treinamento e de da forma esportiva. Frequentement e, concretiza-
competição solicita adequados momentos de re- -se um processo direcionado e com exigências de
generação (nos quais diferentes aspectos devem ser resultados que levam à especialização precoce; o
contemplados, não se devendo pensar, somente, resultado da competição, “ser campeão”, passa a
em férias para o atleta...). ser uma necessidade, mais dos adultos (pais, trei-
Todo processo de EAT objetiva a melhora nador) do que das crianças praticantes. A relação
do nível de desempenho na atividade esportiva carga-volume-intensidade dos treinamentos não
escolhida. Lamentavelmente, ocorre que estágios respeita a individualidade biológica nem leva em
e fases do desenvolvimento não são respeitados, conta necessidades psicossociais da criança, es-
pois não são consideradas na prática. O resultado tágios, etapas e aumento da participação do jo-
é o “fim”, a finalidade do processo, e não consi- vem. Concretamente, a formação se caracteriza
deram o processo de treinamento em uma visão como um processo que não pode ser c opiado dos
pedagógica, o processo de treinamento como um moldes do adulto, do esporte formal e de alto
meio pedagógico de formação de personalidade, rendimento.
Rendimento Treinamento
Competição
Perfil de exigência
Estratégia
Tática
Condução/Regulação
Competição Treinamento
Iniciais
Preparatórias Planificação
Avaliação
Seletivas Regeneração
Principais Métodos Execução
Biomédicos
Psicofisiológicos
FIGURA 17.6 – O subsistema de alto nível de rendimento no handebol a partir do estágio de decisão.
Planejamento Realização
Princípios Didática
Avaliação
Biomecânica Nutricional
Motora
Psicológica Médica
Outras...
FIGURA 17.7 – Tríade dos componentes do treinamento no esporte de alto nível de rendimento.
resumo dos objetivos a serem propostos em um os alunos e praticantes em geral a se apoiar mu-
planejamento em longo prazo. Os eixos norteado- tuamente, criando um ambiente de participação
res desses quadros sinópticos são as linhas gerais e motivação para e pelo jogo, da alegria de par-
do planejamento (para adequar à proposta pe- ticipar e jogar para aprender, aprender e compre-
dagógica), os conteúdos de defesa e ataque (para ender. Compreender é desenvolver o senso críti-
contextualizar os possíveis níveis de dificuldades co. Todos os participantes, sem discriminação de
e progressão de ensino-aprendizado), bem como sexo, níveis de rendimento, aptidão e destreza ou
uma quarta coluna com as atividades-chave (ti- habilidade, deverão ser incluídos e motivados à
pos de jogos e atividades relevantes conforme o prática. O importante será descobrir, juntos, o
nível de dificuldade técnico-tática da categoria). prazer de jogar handebol.
Os quadros seguem uma progressão de dificulda-
de com base nas características do jogo nas cate-
gorias mirim, infantil, cadetes, juvenil, júnior e
adulto da Confederação Brasileira de Handebol e
suas correspondentes faixas etárias. Vale ressaltar
que os quadros não estão caracterizados pelas ida-
234 MANUAL DE HANDEBOL
Quadro 17.1 – Estágio de formação no mini-handebol na faixa etária de 8 a 10 anos de idade. Etapa de
priorizar o jogar e a combinação de habilidades técnicas em situações táticas de jogos com bola de dife-
rentes tipos
EAT linhas gerais Conteúdos de defesa Conteúdos de ataque Atividades sugeridas
Objetiva-se desenvolver as Marcação individual nas for- Desenvolver formas gestuais bá- Jogos de estafetas ou de per-
capacidades táticas básicas mas mais variadas possíveis, sicas dos fundamentos técnico- seguição com tarefas duplas:
relacionadas com a ideia dos de preferência modificando os táticos individuais de ataque. percepção e ação simultâneas.
jogos de invasão, priorizando- espaços de jogo. Técnica individual com bola:dri- Quem realiza a ação tem tarefa
se, assim, a aquisição de co- Trabalhos em grupos de 2 x 2 e bling, passe, lançamento, fintas. dupla.
nhecimento tático processual 3 x 3 com as variações do uso Técnica individual sem bola: Jogos de estafetas com distri-
de forma incidental. do curinga de defesa. principalmente trabalhos visan- buição da atenção. Quem está
O princípio do estágio será Combinar a marcação indivi- do à troca de direção, de veloci- na fila faz tarefa dupla.
jogar para aprender. dual com formas de defesa a dade, giro etc. Jogos para desenvolver a inteli-
Jogos relacionados com as ca- pressão em situações de 1 x 1. Técnica individual sem bola: gência tática.
pacidades táticas básicas: Desenvolver a capacidade de noções de sair da marcação, ofe- Exemplo: “jogo da velha.”
Acertar o alvo. deslocamento e de posiciona- recer-se, orientar-se, cortes em “Some 3.”
Transportar a bola mento defensivo. “V”, “vai e volta”, “sair-entrar.” Jogos de perseguição em duplas,
Jogo em conjunto. Tática individual defensiva: Priorizar jogos nas estruturas em trios, em pequenos grupos
Criar sup. numérica. Sentido da defesa, recuperação funcionais simplificadas com e (tipo pegador na corrente) com
Reconhecer espaços. da bola, tomada da marcação, sem curinga: e sem bola que oportunizem a
Oferecer-se e orientar-se. interceptação de passes, ante- 1 x 0; 2 x 2 + 1; 3 x 2; 3 x 3 + 1. melhora das habilidades de des-
Superar o adversário.29 cipação. A movimentação do jogador sem locamentos.
Defesa ativa, ou seja, o espaço bola no espaço livre é uma das Todas as atividades possíveis de-
Priorizar e enfatizar o desen- livre só pode ser visto pelo ata- atitudes a serem consideradas. vem ser realizadas com mão, pé
volvimento das capacidades que na frente deles. A movimentação do jogador e raquete-bastão para ampliar a
coordenativas e das habilida- Regras básicas do comporta- com bola em direção ao gol e vivência de movimentos.
des técnicas como base para a mento no jogo 1 x 1 contra sempre no espaço entre defen- Objetos em movimento, de for-
aprendizagem motora. jogador com bola e contra jo- sores é uma das atitudes a serem ma simultânea com o jogo de
Apresentar atividades que gador sem bola. consideradas. estafeta.
solicitem a distribuição da Destacar a importância do Tática individual ofensiva; re- Atividades que solicitem o
atenção e a dissociação de “jogo limpo” na defesa. Marcar gras básicas do comportamento equilíbrio, como andar sobre
segmentos musculares sem fazer falta. Luta pela bola no jogo 1 x 1. pneus, bastões etc. constituem
Uso do curinga nas “Estrutu- ou pelo espaço e não “contra” interessantes desafios.
ras Funcionais”, incentivando o adversário. As atividades de coordenação
jogos de 2 x 2 + 1... não se reduzem a exercícios
Objetivo de jogo: 3x3. (Com com bola. Corda, bambolê,
ou sem goleiro fixo). bastão, são muito importantes.
O SISTEMA DE FORMAÇÃO E TREINAMENTO ESPORTIVO NO HANDEBOL BRASILEIRO (SFTE-HB) 235
Quadro 17.2 – Estágio de transição, categoria mirim, faixa etária de 10 a 12 anos. Etapa da universalidade esportiva
EAT linhas gerais Conteúdos de defesa Conteúdos de ataque Atividades sugeridas
Aprendizagem tática: jogar Marcação individual nas for- Desenvolver formas gestuais bá- Jogos gerais para desenvolver
nas diferentes constelações mas mais variadas possíveis: sicas das técnicas de ataque. a inteligência tática. Exemplo:
das “estruturas funcionais” quadra inteira, meia quadra, Técnica individual com bola: jogo dos 10 passes com tarefas
com e sem curingas. em 12 metros etc. Passe, lançamento, finta, re- duplas, com duas bolas, com
Aprendizagem motora: de- Combinar no momento do cepção, dribling etc. em jogos e superioridade numérica da de-
senvolver a coordenação e as jogo formal, no treinamento, exercícios combinando elemen- fesa etc.
habilidades técnicas29 neces- momentos de marcação indivi- tos perceptivos e tomada de de- Jogar com as estruturas funcio-
sárias ao posterior treinamen- dual e momentos de uma equi- cisão. nais com e sem curinga, orga-
to da técnica específica do pe jogar com defesas zonais Técnica individual sem bola: nizando a atividade para que
handebol. ofensivas: 1:5; 3:3; 4:2. sair da marcação, oferecer-se, todos os jogadores passem por
Jogos de estafetas ou de per- Tática individual defensiva: orientar-se, cortes em “V”, “vai todas as posições.
seguição com tarefas duplas: Sentido da defesa, tomada da e volta”. Combinar, por exemplo, jogo
percepção e ação simultâneas. marcação, luta pela posse da Jogo em conjunto em estruturas 3 x 3 na largura e na profundi-
Priorizar o jogo de handebol bola. funcionais com e sem curinga: dade.
na formação 4x4 (Com ou Tática defensiva de grupo: tro- 1 x 0; 2 x 2 + 1; 3 x 2; 3 x 3 + Desenvolver as capacidades per-
sem goleiro fixo). ca de marcação, seguimento. 1 etc. ceptivas nas diferentes posições,
Jogo sem esquemas previa- Basculação, Tática individual ofensiva; re- descoberta de sinais relevantes.
mente estabelecidos sem joga- coberturas, triângulo defensivo gras básicas do comportamento Trabalhar atividades em for-
das, sem pressão de resultado. e o conceito de ajuda. no jogo 1 x 1 perante defensor ma de jogos 3 x 3 com ou sem
Regras básicas do comporta- conforme a distância que se en- curinga com tarefas táticas espe-
mento no jogo 1 x 1 perante contra o atacante do gol. cificas para cada posição.
jogador com bola e perante Jogos em que o atacante é for-
jogador sem bola. Considerar çado a ir a confrontos de 1 x 1 e
as distâncias do gol para adotar solicitar solução com a colabo-
posicionamento defensivo. ração do colega.
236 MANUAL DE HANDEBOL
Quadro 17.3 – Estágio de transição, categoria menores, faixa etária de 12 a 14 anos. Etapa de iniciação tática defen-
siva e ofensiva especifica no handebol
Conteúdos de
Linhas gerais Conteúdos de defesa ataque Atividades sugeridas
Desenvolver as capacidades cog- Marcação com sistemas zonais Iniciação no jogo posicional na Jogos para desenvolver a inteli-
nitivas (percepção, antecipação, ofensivos: formação de ataque 3:3. gência tática.
tomada de decisão) conforme os 1:5; 3:3; 3:2:1. Desenvolver o sentido das mu- Exemplo: jogos com duas bo-
espaços no campo de jogo. Desenvolver a capacidade tática danças de posição na largura e las. Jogo do “Go”.
Nenhuma especialização em po- individual defensiva: o conceito na profundidade da quadra. Jogo de handebol nas posições
sições de jogo. de antecipar a ação do ataque e Tática de grupo: lateral-ponta; ponta lateral
Dar ênfase ao desenvolvimento de atacar o atacante. Tabelas. pivô, em trios e duplas, lado
das capacidades táticas indivi- Tomar a marcação. Cruzamentos. direito e esquerdo da quadra.
duais, e procurar a compreensão Posição do corpo e dos braços. Permutas. Estruturas Funcionais com sem
das ações táticas de grupo. Tirar a bola do adversário. Cortinas. curinga, com tarefas específicas
Iniciação no jogo posicional. Como tática de grupo de defesa Conceito par e ímpar ne- por posição para o desenvolvi-
Compreensão dos conceitos: a iniciação na marcação zonal cessário ao jogo posicional. mento da capacidade tática e
par-ímpar, quando se usa cada solicita: Regras de comportamento táti- técnica de forma situacional.
um. Troca de marcação co em situações 1x1 e 2x1. Atividades para desenvolver
Continuar
ordenação; oampliar
treinamento da co-
as ofertas de Seguimento
Deslizamento as capacidades
e exercícios paracoordenativas
iniciação do
exercícios para distribuir a atençãoRegras de comportamento táti- treinamento técnico (muitas
e dissociação de segmentos mus-co em situações 1 x 1 e 1 x 2. atividades com tarefas duplas,
culares (pressão de organização). com diferentes elementos-bas-
tão, bola, bambolê, corda etc.).
O SISTEMA DE FORMAÇÃO E TREINAMENTO ESPORTIVO NO HANDEBOL BRASILEIRO (SFTE-HB) 237
Quadro 17.4 – Estágio de transição, categoria cadete, faixa etária de 14 a 16 anos. Etapa de orientação esportiva
Linhasgerais Conteúdodedefesa Conteúdodeataque Atividadessugeridas
Iniciação na compreensão dos Sistema defensivo 3:2:1 ofensivo e Tática individual específica em Jogos para desenvolver a inte-
princípios do no jogo posicio- 3:2:1 com líbero. cada posição do ataque visando ligência tática. Exemplo: passe
nal, porém em todas as posi- Modificação e também manuten- à melhora da percepção tempo- livre com duas bolas.
ções (All Rounder). ção do sistema defensivo 3:2:1 espaço. Estruturas funcionais 3 x 3 com
Desenvolver as capacidades téc- frente a desdobramentos e trocas Integrar tática individual a tática e sem curinga nas diferentes po-
nicas e táticas necessárias às exi- de formação do ataque (trabalhar de grupo. sições da quadra e com diferen-
gências nas diferentes posições com as estruturas funcionais de 3 Jogo posicional: tática de grupo, tes constelações de defesas.
e funções na equipe. x 3 ou 4 x 4. nas estruturas funcionais. Jogo Se desmarcar para ser opção
Continuar a desenvolver as No jogo posicional, ações anteci- de 3 x 3 com sem curingas e 4 x de passe, sair da marcação.
capacidades cognitivas: percep- pativas sobre os armadores adver- 4 com desdobramentos. Para ser possível receptor, tra-
ção, antecipação e tomada de sários (duplar, pressão, flutuação) Formas básicas de desdobra- balhar este princípio ao longo
decisão nas diferentes posições. Tática defensiva de grupo: bascu- mentos nas estruturas funcionais de jogos
Usar a troca de velocidade na lação, coberturas de espaço, trocar com 3 ou 4 jogadores. O treinamento do goleiro
ação de sair da marcação. a marcação, deslizamentos, blo- Fixar a atenção dos seus defenso- deve ser integrado com o trei-
Utilizar princípios defensivos queios de lançamentos. Conceito res diretos, realizando ações sem namento de lançamento e de
de “jogar com o atacante”. de ajuda. bola. defesa.
238 MANUAL DE HANDEBOL
Quadro 17.5 – Estágio de decisão, categoria juvenil, faixa etária entre 16 a 18 anos de idade. Etapa de ênfase na
especialização esportiva
Linhasgerais Conteúdodedefesa Conteúdodeataque Atividadessugeridas
Trabalhar nas posições de ata- Sistema defensivo 3:2:1, de forma O tema principal passa a ser a Jogos para desenvolver a inteli-
que e de defesa, porém sem es- mais frequente e funcionamento preocupação com obter sequên- gência tática.
pecialização nas posições. deste sistema frente a mudanças cia do ataque. Exemplo: fute-hande-rúgbi-bun-
da formação de ataque. da-gol; cangurú-gol.
Ampliar o conceito de jogado- Princípio da continuidade do
res All Rounder. Jogadores que Sistema defensivo 5:1 nas dife- jogo, particularmente após des-
jogam em varias posições, prin- rentes formas de aplicação: de- dobramentos (3:3 à 2:4).
cipalmente em ataque e defesa. fensivo – ofensivo - antecipativo.
Diminuir o tempo de duração do
Desenvolver a capacidade de Aplicação de diferentes forma- ataque no jogo posicional. Variar
jogo individual e grupal contra ções defensivas de forma ade- o tipo de combinações de ataque.
diferentes sistemas defensivos. quada à situação de jogo.
Qualidade e variação no o tipo
Domínio das fintas antes de se Troca de formação defensiva ede passe e de lançamentos.
realizar uma ação tática. Troca ensaios de marcação individual
de direção e velocidade na cor- combinada com defesas ofensivas. Continuar o jogo posicional em
rida. forma dinâmica após o contra-
ataque, sem “frear” o jogo.
O SISTEMA DE FORMAÇÃO E TREINAMENTO ESPORTIVO NO HANDEBOL BRASILEIRO (SFTE-HB) 239
Quadro 17.6 – Estágio de decisão, faixa etária entre 18 a 21 anos de idade. Etapa de aproximação da forma
esportiva solicitada no alto nível de rendimento
Linhasgerais Conteúdodedefesa Conteúdodeataque Atividadessugeridas
Trabalhar nas posições de ata- Jogar, de preferência, com sistema O tema principal continua Jogos para desenvolver a in-
que e de defesa. Iniciar a espe- 5:1. Sistemas ofensivos (3:3 e 4:2) sendo a preocupação com ob- teligência tática.
cialização nas posições. devem ser aplicados no treinamento ter Sequência do ataque. Exemplo: “salada” de gols.
Continuar com o conceito de para tê-los sempre presentes e poder Princípio da continuidade do Trabalhar nas diferentes li-
jogadores All Rounder. aplicá-los no jogo competitivo jogo, particularmente após nhas do ataque, aumentar a
Jogadores que jogam em varias Funcionamento frente a mudanças da desdobramentos (3:3 a 2:4). especialização nas posições.
posições, em ataque e defesa. formação de ataque. Diminuir o tempo de duração Iniciar o EAT de tomada de
Desenvolver a capacidade de Sistema defensivo 5:1 nas diferentes do ataque no jogo posicional. decisão.
jogo individual e grupal contra formas de aplicação: defensivo - ofen- (variar o tipo de combinações “Learning by doing”.
diferentes sistemas defensivos. sivo- antecipativo. de ataque).
Domínio das fintas antes de se Trabalhar o funcionamento do siste- Troca de formação dinâmica
realizar uma ação tática. Tro- ma defensivo 5:1 frente a mudanças após o contra-ataque. Conti-
ca de direção e velocidade na da formação de ataque (troca para nuar com o jogo posicional em
corrida 6:0/manter o 5:1?). forma dinâmica após o contra-
Treinamento de diferentes formações ataque, sem “frear” o jogo.
defensivas perante situações especiais: Trabalho ofensivo em situa-
superioridade e inferioridade. ções especiais de superioridade
Aplicação de diferentes formações de- e inferioridade numérica.
fensivas de forma adequada à situação Qualidade e Variação no o tipo
de jogo. de passe e de lançamentos.
Troca de formação defensiva e ensaios
de marcação individual ou de siste-
mas mistos de forma ofensiva.
Neste capítulo, a partir dos quadros sinóp- sentes nos torneios organizados pela Confedera-
ticos apresentados, foram caracterizados os possí- ção Brasileira de Handebol.
veis formas de organizar e distribuir os conteúdos Sua leitura oportuniza a tomada de consci-
inerentes ao jogo de handebol. Portanto foram ência das possibilidades pedagógicas na elabora-
adaptados objetivos e conteúdos para formação ção de processos de ensino-aprendizagem-treina-
de jogadores conforme as categorias de jogo pre- mento na modalidade.
Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco
Um olhar para algumas décadas passadas tereotipadas, pouco criativas em geral. Assim,
permite observar que a iniciação esportiva ocor- inverteu-se o processo, aprende-se para jogar, e,
ria de forma espontânea nos locais onde crianças em muitos casos, esse processo resulta em espe-
brincavam; faziam do tempo e do espaço disponí- cialização precoce nas diversas modalidades es-
veis o “seu espaço” e o “seu tempo” para se diver- portivas com a busca de rendimento conforme
tir. Jogavam para aprender, não aprendiam para o conceito “quanto mais jovem treinar, melhor”.
jogar, não treinavam com um professor para ga- Assim, crianças passaram a serem consideradas
nhar como única meta. A prática era lúdica, sem o como “adultos em miniaturas”10 e “treinadas an-
objetivo formal de se aprender, os jogos e as brin- tes de aprenderem a jogar”. 11 Os motivos dessas
cadeiras eram transformados conforme a realida- mudanças foram diversos e as consequências ne-
de situacional, isto é, eram três crianças, jogava-se gativas foram analisadas e debatidas por diversos
12-20
1 x 1 e um no gol, sempre com a troca de funções estudos no Brasil.
combinada. As regras eram criadas e a dinâmica, O objetivo deste capítulo é submeter a co-
as tarefas e as funções do jogo eram adaptadas munidade do handebol a uma proposta para o
para se poder jogar e brincar. Ao se reunir, surgia ensino-aprendizagem da modalidade, afastada
um jogo, e assim, consequentemente, uma rica e conceitualmente dos modelos tradicionais de en-
variada quantidade de experiências motoras era sino-aprendizagem dos esportes vigentes na práxis
apreendida, sendo base para posterior aprendiza- hoje, e relacioná-la com o modelo de formação e
gem nos esportes. Dessa forma se alinhavavam as treinamento esportivo para o handebol brasileiro
experiências que possibilitavam o desenvolvimen- proposto no capítulo anterior.
to da capacidade de jogo. O método de ensino-aprendizagem-treina-
Esta prática foi sendo substituída, grada- mento se constitui, portanto, em uma das gran-
tivamente em alguns locais, rapidamente por des ferramentas às quais o professor pode recorrer
outras, formais e intencionais, visando formar para organizar sua planificação e construir seu
atletas e selecionar talentos. As práticas foram processo de ensino-aprendizado-treinamento na
direcionadas para o desenvolvimento da capa- escola, no clube e na instituição que desenvolve
cidade técnica, o que leva a realizar ações es- sua ação pedagógica no ensino do handebol.
242 MANUAL DE HANDEBOL
ensino dos esportes e partem da apren- técnico e finalizando no jogo formal, para que o
dizagem tática do jogo. Nesta con- aluno coloque em prática o movimento treinado
cepção, apresentam-se duas vertentes, separadamente. A ideia central dessa sequência de
conforme a ênfase proposta na apren- atividades parte do princípio do simples (partes)
dizagem, ou seja, métodos formais-in- para o complexo (todo), sendo o gesto técnico
tencionais e métodos incidentais. uma parte extraída do jogo, privilegiando, assim,
a dimensão da eficiência (forma de realizar) em
Os métodos de ensino-aprendizagem ba- detrimento da eficácia (finalidade).24 A concep-
seiam-se em teorias psicológicas que refletem o ção dominante é que, para se aprender a jogar,
estado do conhecimento à época. Assim, o mé- é necessário, primeiro, dominar certo número
todo analítico-sintético se contrapõe ao método de movimentos e gestos técnicos específicos, que
global. Já no método misto, procura-se reunir as serão divididos para, depois, ao serem unidos,
vantagens de cada um desses conceitos. Cada mé- promoverem melhor desenvolvimento de ações e
todo de ensino reúne um conjunto de princípios; dos padrões do movimento. Bunker e Thorpe25
assim, a corrente associacionista e sua relação com sinalizaram alguns dos problemas dos métodos
a escola behaviorista se relacionam com o método tradicionais:
MÉTODOS DE ENSINO NO HANDEBOL 243
FIGURA 18.1 – À esquerda, o método analítico, progressão de exercícios. À direita, o método global funcional, pro-
gressão de jogos (com base em Dietrich, Durrwachter e Schaller). 26
244 MANUAL DE HANDEBOL
Uma proposta metodológica integrada na são” (TGFU), conforme formulado por Bunker e
concepção de um Sistema de Formação e Trei- Thorpe,25 Thorpe, Bunker e Almond.34
namento Esportivo no Handebol (SFTE-HB) Pesquisas mostram que, das formas de
sugere um processo metodológico que enfatiza o aprendizagem a serem oportunizadas na infân-
jogar, ou seja, inicialmente, o professor orienta a cia, se destacam os progressos que os alunos
sua metodologia de ensino conforme o conceito demonstram quando se recorre à aplicação de
de “jogar para aprender” (estágio de formação) e, métodos incidentais de aprendizagem, ou seja,
posteriormente, em um segundo momento (já no os iniciantes aprendem sem saber que estão
estágio de transição), “jogar para aprender”. aprendendo, sem essa intencionalidade (mais
Na Figura 18.2, observam-se as sugestões própria do adolescente e do adulto). O jogo
metodológicas conforme a díade dos processos de e o jogar se constituem em uma das melhores
aprendizagem intencional-incidental, com os au- formas de aprendizado incidental. Portanto, o
tores e data de publicação das obras. professor deve observar, de forma sistemática,
Nos métodos formais, também se destacam que os jogos e as atividades propostas tenham
as propostas de Siedentop, 31,32 com o denominado uma sequência adequada para produzir os efei-
“Modelo de Educação Desportiva”, e o “Modelo tos de aprendizado desejados. Assim, a propos-
Desenvolvimentista”, proposto por Rink.33 Nes- ta indica que se priorize o jogar para aprender,
te aporte, desenvolve-se o conceito proposto no de forma a concretizar a aprendizagem tática,
“Modelo de ensino dos jogos para a Compreen- primeiro objetivo do processo de ensino. Para-
FIGURA 18.2 – Novas correntes metodológicas no ensino dos esportes (com base em Mesquita e Graça).1
MÉTODOS DE ENSINO NO HANDEBOL 245
lelamente, os jogos devem ser complementados e motor como pré-requisitos para o treinamento
com atividades que oportunizem o processo de tático-técnico.
aprendizagem motora, isto é, jogos e atividades O processo de aprendizagem tática com-
que permitam o desenvolvimento das capacida- põe-se de três pilares: as capacidades táticas
des coordenativas e de um conjunto de habili- (básicas), adaptado de Kröger e Roth, 29 os jo-
dades técnicas. Portanto, a proposta se organiza gos para desenvolver a inteligência tática e as
da seguinte forma: estruturas funcionais conforme sugeridas por
Greco. 21,35 Pretende-se, basicamente, a partir
a) Da aprendizagem tática ao treinamento tático: dos elementos comuns dos Jogos Esportivos
Coletivos, 36 construir um processo de aprendi-
Ensino-aprendizagem-treinamento zagem que decorre do ensino implícito ao ex-
das capacidades táticas básicas (até 10 plícito (formal). Regras de comportamento tá-
anos). tico podem ser apreendidas de forma implícita,
Estruturas funcionais (8-10 anos em seguindo o princípio de experimentar jogando,
diante). quando o que importa é oportunizar ideias e a
Jogos para desenvolver a inteligência criatividade.
tática (8 anos em diante). As faixas etárias devem ser somente toma-
das como referência, cabendo ao professor aplicar
Ensino-aprendizagem-treinamento
das habilidades (até 10-12 anos).
Quadro 18.1 – Capacidades táticas básicas e exemplos de jogos e atividades para seu desenvolvimento
Parâmetro Atividades/tarefastáticas Jogossugeridos
Deve-se lançar uma bola a um alvo (de preferência, Jogos de lançamento a alvos fixos e
Acertar o alvo
o gol), para que atinja um local escolhido. em movimento.
Transportar a bola para o Objetiva-se transportar, jogar, fazer a bola chegar a
Jogo dos bambolês no chão.
objetivo um objetivo determinado.
O importante é receber a bola do colega ou passar a
Jogo coletivo Jogo dos 10 passes.
bola para este.
O importante é, por meio do jogo conjunto com o Jogos de 2 x 1, tipo “bobinho”.
Criar superioridade numérica colega, conseguir um ponto, gol ou preparar o pon- Jogos de setores com apoios de
to, gol para o outro (assistência). curingas.
O importante é que quem estiver sem a bola seja
Sair da marcação (oferecer- Jogos com marcação individual,
“visto” pelo colega, deslocando-se e oferecendo-se
-se, orientar-se) jogos em zonas delimitadas.
para receber.
No confronto com o adversário, consegue-se assegu- Jogos com fintas com e sem bola
Superar o adversário
rar a posse da bola. para chegar a lançamento
Modificado de Kröger e Roth. 29
somente apoios (como era usado o meio-fio/guia a Inteligência Tática(JDIT). Nesses jogos, procura-
nas brincadeiras de futebol na rua). Os curingas -se a maior variedade de situações(táticas), oportu-
podem estar em locais fixos, dentro ou fora do nizando o aumento da capacidade de atenção (sua
campo (nas laterais, em espaços demarcados), ou amplitude e sua mudança rápida). São jogos que
seja, existem diferentes alternativas didáticas e exigem do participante seu pensamento divergente
metodológicas, sendo importante destacar que a e convergente, base da criatividade tática. É im-
função destes é auxiliar no transporte da bola da portante que existam situações de oposição, com o
equipe em ataque e na organização de ações táti- aumento gradativo de participantes, a variabilida-
cas. Essa intervenção é uma das características que de técnica e a diversidade de decisões (mais de um
diferencia a IEU-EB de outras propostas seme- alvo, diferentes formas de marcar ponto, com o pé,
lhantes.36,27,25
A ideia, o caráter e os objetivos do com a cabeça). Dessa forma, enfatiza-se a exigência
jogo não são alterados, mas o método de “deixar nos processos cognitivos. Um exemplo desses jo-
jogar” e de “aprender fazendo” são priorizados. gos pode ser as adaptações do jogo da velha na for-
Nos jogos orientados nas estruturas funcio- ma de estafetas, o jogo de “rouba bandeira” ou de
nais, as atividades permitem modificar: o espaço “Bente Altas”, como se conhece em Minas Gerais,
do jogo (largura + profundidade); o tamanho do ou “Taco” no Rio Grande do Sul etc.
248 MANUAL DE HANDEBOL
O segundo pilar que apoia o processo de técnicas”.29 Basicamente, devem ser oferecidos até
aprendizagem motora se caracteriza por apre- 10-12 anos de idade, ou seja, na categoria mini.
sentar, no ensino-aprendizagem-treinamento, um No quadro a seguir, são descritas as habili-
conjunto de parâmetros que, oferecidos em au- dades técnicas conforme comprovadas por Hoss-
las e treinos de forma sistematizada, permite o ner46 e reagrupadas por Kröger e Roth:29
desenvolvimento das denominadas “habilidades
Quadro 18.6 – Exemplo de atividades para a melhoria dos parâmetros organização dos ângulos e con-
trole da força (com base em Kröger e Roth)29
Parâmetros Atividade
Acertar a bola:
Dois alunos, um de cada lado de uma quadra de vôlei- peteca (rede mais baixa), um com
Controle da força
uma bola de tênis ou semelhante e uma raquete passará a bola por cima da rede.
Organização dos ângulos
O objetivo do colega que receberá e está com um bambolê é observar a bola enviada pelo
Antecipar a direção e distân-
colega do outro lado da rede, em que momento ela atinge seu ponto mais alto, calcular
cia do passe
onde cairá no próprio campo e lançar o bambolê no chão, no local onde a bola enviada
pelo colega quicará.
Variação: Os dois com raquete; quem recebe lança o bambolê e, sem perder a sequência, rebate a bola para o outro lado.
Nesse caso, teremos, também, o condicionante coordenativo pressão de tempo.
252 MANUAL DE HANDEBOL
sendo estas flexíveis. É importante ressaltar que a sinais relevantes, o aluno decide qual a melhor
consciência tática deve conduzir o aluno ao reco- solução para o problema durante o momento no
nhecimento antecipado, isto é, fazê-lo prever os jogo. Assim, relacionando a situação-problema
pontos fracos do adversário. Em outros termos,
34 com o “como fazer”, ainda na forma declarativa,
por meio do diálogo com os alunos, as possibi- sendo crítica a decisão a respeito de qual é o me-
lidades táticas são descobertas, desenvolvendo o lhor modo de fazer a resposta apropriada.34 Por
pensamento convergente, ou seja, quais as melho- exemplo, quando há grande espaço, mas o tempo
res alternativas, bem como o pensamento diver- é limitado, uma resposta rapidamente executada
gente, ou seja, dando visibilidade às várias opor- pode ser apropriada. Entretanto, quando o tempo
tunidades de atacar o adversário ou se defender é disponível, a exatidão se torna vital, podendo
dele, conforme a situação necessitar. Com essa ser necessário algum elemento de controle antes
consciência tática, o aluno consegue transferir o da execução.
conhecimento adquirido para outra modalidade, Na quinta fase, de habilidade de execução, a
facilitando o aprendizado. execução da habilidade é usada para descrever a
Na quarta fase, denominada tomada de de- execução do movimento requerido pelo professor,
cisão, deve-se considerar que, no jogo real, os jo- tendo como contexto a aprendizagem, embora re-
gadores têm frações de segundos para tomar de- conheça as limitações dos aprendizes.
cisões e não conseguem distinguir entre “o quê?” Na sexta fase do modelo, analisa-se o desem-
e “como fazer?”. Nessa abordagem, há uma dife- penho, isto é, o resultado observado dos processos
rença entre as decisões com base em “o que fa- prévios medidos sob critérios que são indepen-
zer?” e “como fazer?”, permitindo, assim, tanto ao dentes do aprender. Durante o jogo, adaptado ou
aluno quanto ao professor, reconhecer e atribuir não, exige-se da criança a solução dos problemas
deficiências na tomada de decisão.34 Nessa fase, encontrados nos jogos por meio da utilização e da
os alunos são confrontados com a resolução das realização de uma técnica apropriados à solução
questões citadas anteriormente, no sentido de de- da tarefa.
terminar significado ao uso da técnica em função No Teaching Games for Understanding, o alu-
dos problemas táticos que aparecem no jogo. Em no é considerado centro do processo; entretanto,
cada situação, tem de ser avaliado, durante a de- as experiências anteriores dos alunos não são con-
cisão, “o que fazer” e, assim, se complementa a sideradas importantes. Significa que, os pro-
habilidade de reconhecer as sugestões que o am- fessores devem considerar a relação entre os
biente fornece (envolvendo processos de atenção fatores cognitivo, comportamental e afetivo, e
seletiva, sugestão redundante, da percepção etc.) o ambiente selecionado para a aula e a influência
e predizer quais os resultados possíveis (envolven- de um fator no outro43 para que se possa obter um
do antecipação de vários tipos). Com base nos aprendizado satisfatório. A qualidade das questões
254 MANUAL DE HANDEBOL
a serem colocadas aos alunos no momento das de- nificação das atividades e sequência de jogos para
cisões táticas, isto é, no terceiro passo, são cruciais oportunizar que o iniciante aprenda sem saber que
para resolver os problemas táticos, do jogo. O pla- está aprendendo, que jogue, jogue e jogue...
nejamento que o professor realiza a partir dessa O estágio de formação inicia o processo de
situação deve ser parte constitutiva deste processo aproximação ao handebol, de forma geral e am-
de ensino aprendizado. Porém, o grande risco que pla, oportunizando jogos e o jogar handebol com
se apresenta hoje é que sem possuir conhecimento número reduzido de participantes como conteú-
apropriado sobre a estrutura tática do jogo, sem dos principais. No estágio de transição, particu-
base de conhecimento pedagógico e, também, dos larmente a partir da etapa de orientação, na cate-
princípios dos jogos, o professor será incapaz de goria cadete (14-16 anos de idade), apresenta-se
implantar esta abordagem. 46 uma tendência ao equilíbrio entre os processos
incidentais de aprendizado e os processos formais-
-intencionais. Já são requisitados os métodos de
18.1 Em resumo ensino apoiados na compreensão tática. Neste
momento, a proposta do Teaching Games For Un-
O processo de aprendizagem tática apresen- derstanding (TGFU), ou seja, do aprender pela
ta-se concatenado com o treinamento tático e o compreensão, passa a ser enfatizada para otimizar
processo de aprendizagem motora, concatenado o processo de treinamento tático e técnico.
Nas diversas situações dos jogos esporti- dos obstáculos e dificuldades que se apresentam,
vos, quando um árbitro toma uma decisão (api- por um lado, para o árbitro na condução de uma
tando ou deixando a jogada seguir), sua ação partida e, por outro lado, para os jogadores na
apoia-se na interação de um processo de com- compreensão das decisões dos árbitros. A veloci-
paração entre doi s polos: “pode ser” e “não pode dade de jogo, a utilização dos mesmos espaços, a
ser”. O gabarito de avaliação para estabelecer a busca de gols em situações de pressão de tempo,
comparação está contido nas regras do jogo. 48 em espaços reduzidos, a luta pela posse da bola,
O trabalho do árbitro consiste, em toda situ- os contatos corporais na amplitude permitida
ação de jogo, em tomar decisões comparando pelas regras do jogo, entre outros, são parâme-
o que acontece neste (situação objetiva – real) tros que compõem e caracterizam as ações em
com o que ele carrega consigo de experiência, que os árbitros decidem no handebol. 49 As situa-
fazendo de sua avaliação subjetiva o momento ções em que o árbitro deve analisar e decid ir são
mais próximo possível do “real”. compostas de ações traçadas pelos atletas, que se
Segundo Bayer,36 os Jogos Esportivos Cole- ordenam no tempo ( timing ) e no espaço, pela
tivos (JEC) apresentam um conjunto de elemen- própria movimentação, considerando a ação do
tos comuns entre si, por exemplo: a bola, o espaço adversário direto, do colega, do adversário mais
(terreno de jogo com as zonas fixas e variáveis), os próximo, os outros componentes da equipe, do
objetivos (gols, cestas), as regras, os companheiros goleiro adversário e, se for o caso, o resultado
e os adversários. Os árbitros dos JEC representam da partida, entre outros parâmetros inerentes à
o agente que influencia e é influenciado pelo con- situação de jogo. 5
texto situacional de grande complexidade.48 Este Na apresentação da ação humana, o espor-
agente é parte inerente do contexto esportivo e tista exprime suas emoções, pensamentos, senti-
suas decisões podem, muitas vezes, não ser com- mentos e atitudes intencionais por meio da ação.
preendidas pelos jogadores, público, treinadores, Nesse sentido, a ação passa a ser o meio de expres-
entre outros participantes do espetáculo. são de uma autoapresentação reflexa dos valores
A complexidade situacional presente nos internos, das normas e regras sociais que cada pes-
JEC, especialmente no handebol, constitui um soa traz consigo.1
252 MANUAL DE HANDEBOL
Uma pessoa só consegue perceber algo do Nome: fute-hande-rúgbi-bunda gol (jogo de criati-
qual ela tem conhecimento. Um jogador somente vidade e inteligência tática)
consegue aceitar que o árbitro apitou ou não pê- Objetivo: ensinar as regras (básicas) do handebol
nalti, por exemplo, se ele já traz consigo o concei- e desenvolver:
to, o conhecimento, a compreensão dos padrões
estabelecidos pelas regras do que é ou pode ser Capacidades coordenativas: pressão de
considerado pênalti. Por isso, o conhecimento faz tempo, pressão de organização.
parte (deve fazer), desde os primeiros momentos, Habilidades técnicas: controle dos
da formação de um jogador (e também do árbi- ângulos, controle da força, observar
tro) que se considera como o alicerce fundamen- deslocamentos, antecipar posição dos
tal para sustentar toda sua carreira. defensores.
Para os professores e treinadores, além de Capacidades táticas do handebol: orien-
constantes atualizações (que, no handebol, têm tação, leitura do jogo, tomada de de-
acontecido de 4 em 4 anos, sempre no ano se- cisão.
guinte aos jogos olímpicos), o ensino das regras, Capacidades táticas básicas: acertar o
especialmente para os iniciantes, é uma tarefa alvo, transportar a bola, jogo coletivo,
muito importante e que contribui para compre- criar superioridade numérica, reco-
ensão da lógica do jogo, não somente regulamen- nhecer espaços, oferecer se orientar,
6-8
tar, bem como técnica e taticamente falando. sair da marcação.
Portanto, o professor recorre à criação de jogos
em que os alunos possam experimentar situações Material: uma bola.
comuns e nos quais as ações não se desenvolvem e Descrição: joga-se em um campo onde os gols são
nem proporcionam prazer, se não tiverem regras. convertidos em qualquer setor da linha de fundo.
Regras são necessárias para o andamento do jogo, Duas equipes procuram fazer o ponto/gol jogan-
devendo traduzi-lo. Regras ensinam e conduzem do, com a bunda, a bola atrás da linha de fun-
a comportamentos para além dos esportes. Esse do, seja por meio de autopasse (1 ponto) ou do
é um dos desafios dos professores e treinadores passe de um colega (2 pontos), o passe-bunda. A
que se propõem a ensinar crianças e jovens a jogar bola pode ser conduzida com o pé (fute), driblada
bola e, por meio do jogo de bola, compreender o com a mão (hande), passada ou carregada (rúgbi).
jogo da vida. Quando a bola estiver sendo conduzida com os
Buscando contribuir para esse desafio dos pro- pés, somente quem a conduz pode pegá-la com
fissionais de Educação Física, este aporte propõe o as mãos, para evitar que um colega chute o outro.
ensino das regras do handebol através do
fute-hande- O número de jogadores e o tempo de jogo podem
-rúgbi-bunda gol.6 O jogo é assim descrito: variar conforme a motivação do grupo.
O ENSINO DAS REGRAS DO HANDEBOL 253
Essas devem ser as instruções básicas a serem ções para criarem/aprenderem a se esquivar, sair
dadas para o início do jogo. O professor executa a da marcação e princípios das fintas. O professor
saída da bola com o extinto “tiro de árbitro” (saída deve estimular essas ações caso os alunos não as
do basquetebol) no centro da quadra. Desse mo- executem naturalmente.
mento em diante, as situações que acontecerem
devem ser conduzidas pelo professor à construção Reposição da bola – quando acontece um dos
das regras, pela necessidade de continuar e evo- atos mencionados, o jogo deve reiniciar com a
luir o jogo. Seguirei com exemplos de situações cobrança de uma falta (Regra XII - Tiro Livre)
que normalmente acontecem nesse processo e de
como podemos ensinar as regras do handebol 9 Nessa reposição, bem como na saída da bola
por meio dessas situações, e, com elas, as regras de pela lateral da quadra ou na saída no meio da qua-
comportamentos sociais e técnico-táticos. dra após um ponto (gol) sofrido, todos os jogado-
res da equipe adversária devem deixar o jogador
Defensores sem ação – os jogadores da defesa que executara a reposição da bola em jogo fazê-la
na busca da posse da bola começam a agar- com liberdade. Para isso, os adversários devem
rar, empurrar, segurar, enfim, cometer faltas manter-se a, no mínimo, três metros de distância
e condutas antidesportivas (Regra VIII – Fal- de quem estiver com a bola (Regra XV – Instru-
tas e Conduta Antidesportiva). ções Gerais para a Execução dos Tiros). No exem-
direção das regras do handebol, quando, mais de te aporte, as linhas de fundo e as laterais devem
uma vez, os jogadores marcarem o ponto depois ser reconhecidas como limitadoras do espaço de
de terem transportado a bola como no rúgbi, im- jogo, e seus prolongamentos se estendem até o
possibilitando a defesa de lutar pela posse da bola teto do ginásio. Portanto, se a bola ultrapassar es-
sem cometer faltas, o professor deverá mostrar a sas linhas, em contato com o solo ou no ar, deve
necessidade das regras dos três passos e do drible ser considerada fora de jogo (Regra I – A quadra
para o transporte da bola (Regra VII – O Manejo de jogo). Diferentemente das linhas limítrofes das
da Bola, Jogo Passivo). Isso faz que o jogo tenha, áreas de gol, das áreas de tiro livre (vulgarmente
no ataque e na defesa, possibilidades de conquis- chamada de pontilhada), as linhas de tiro de sete
tar a posse da bola. O drible da bola, somente de- metros, de limitação do goleiro e do centro da
pois de executar os três passos, é indicado para quadra somente limitam o espaço do solo onde
evitar que os alunos driblem antes dessa regra, ato estão marcadas. Assim, na construção das nossas
que dificulta o aprendizado e a utilização das fin- regras de jogo, o espaço onde se consigna o pon-
tas em progressão e, principalmente, a percepção to deve ser modificado para uma área menor, que
das alterações das situações de jogo. Assim, o pas- pode ser a própria área de gol e/ou vários círculos
se da bola poderá ser executado para o colega que desenhados (ou bambolês) próximos à linha de
estiver na frente em direção ao ataque. fundo. A maneira (técnica) de fazer o gol tam-
Ainda propondo variações das regras do bém deve ser modificada, por exemplo, fazer gol
nosso jogo para construir as regras do handebol, com a cabeça, com o pé, com diferentes partes do
o passe também pode ser limitado a ser executado corpo, com pontuação diferente ou não. Estabe-
após um colega passar (cruzar) por trás do pas- lecida essa modificação, o professor deve observar
sador. A equipe que conseguir essa variação ga- o jogo e coibir as invasões de área, mas sempre
nha 1 ponto a cada “cruzamento” (ação tática de estimulando com pontos extras (como no hande-
grupo) realizada. Essa regra pode ser acrescida de bol de praia – beach handball) os gols realizados
outras exigências que estimulem o comportamen- no espaço aéreo da área determinada. Essa regra
to tático-técnico, como os descrito no capítulo de estimula o lançamento em suspensão e a ponte aé-
metodologia do ensino do handebol. rea, principalmente. Na continuidade dessa nova
regra, as invasões devem ser com um tiro cobrado
Os pontos (gol) de dentro do espaço de realização do gol/ponto
(Regra XII – O Tiro de Meta).
O ponto, basicamente, é obtido com o en- Ainda na continuidade da construção dessas
vio da bola para depois da linha de fundo com a últimas regras, no espaço reservado para obter o
bunda – 1 ponto autopasse e 2 pontos para pas- gol, ainda não temos quem possa evitar que esse
se de um colega. Para o processo proposto nes- gol seja consignado. Para estimular a formação do
O ENSINO DAS REGRAS DO HANDEBOL 255
goleiro (Regra V – O Goleiro), de forma inciden- o professor/árbitro apitar, um dos atacantes com
tal, deve ser colocada a regra que após, somente a bola em mãos dá o passe para o colega fazer o
após a bola ter sido enviada para a área de gol, um bunda-gol (ou outra maneira diferente que tenha
jogador da defesa pode entrar na área, evitando um sentido lúdico para os alunos ou, até mesmo,
que a bola quique duas vezes no solo da área de mais tático-técnico, como a ponte aérea, em ida-
gol, defendendo, assim, a meta. Assim, o gol só des adequadas a essa difícil ação). Somente depois
será valido se a bola quicar duas vezes ou mais ve- do passe, o goleiro pode sair de trás da linha dos 9
zes no solo da área de meta. Na reposição de bola metros (tracejada) para a defesa.
desse ponto/gol, deve ser introduzida saída rápida No handebol, constitui-se um mito que
no centro da quadra (Regra X – O Tiro de Saída). toda falta de 7 metros deve ser acompanhada de
punições. As regras não sustentam isso. O que há
Fazer fracassar uma clara chance de gol nas regras são punições (Regra XVI – Punições)
direcionadas a coibir atitudes que não visem à
Na introdução da área de gol e da função de bola e que, principalmente, não preservem a in-
um goleiro, pode haver situações para que a defe- tegridade física do jogador. Essas atitudes devem
sa ou mesmo quem vai atuar como goleiro evite ser punidas progressivamente. A progressividade
uma clara chance de ponto/gol no momento do das regras das punições do handebol estabelece
envio da bola para a meta ou mesmo, no nosso um caráter pedagógico muito positivo, que deve
jogo, antes do segundo quique da bola na meta. ser aproveitado pelo professor nos momentos de
Por exemplo, dois jogadores da defesa entram na estabelecer limites de tolerância de comporta-
área, impedem ou, até mesmo, dificultam de ma- mentos inadequados dos jogadores/alunos em sua
neira inadequada o envio da bola para o gol Nes- aula. Assim, o professor pode, juntamente com
sas situações, o professor, que já é percebido pelos a turma, definir que punição deve ser aplicada a
jogadores como árbitro (Regra XVII – Os Árbi- cada atitude que não conduz ao bom andamento
tros), deve construir o sentido do chamado, no do jogo.
futebol, pênalti. Em nosso processo de construção
por meio da necessidade das regras para o jogo Tempo de jogo e jogadores
de handebol, será a cobrança do tiro de sete me-
tros (Regra XIV – O Tiro de Sete Metros). Este Em uma aula/treino, a duração do jogo é
conceito pode ser desenvolvido juntamente com sempre controlada pelo professor que mede esse
o sentido da existência da linha de tiro livre (linha tempo com os objetivos e motivação da própria
tracejada ou linha de 9 metros): o goleiro deve aula/treino, da mesma forma que o número de
ficar a três metros de distância de dois atacantes, jogadores em cada espaço de jogo. No fute-
que devem estar junto à linha da área. Quando -hande-rúgbi-bunda gol, o número de jogadores
256 MANUAL DE HANDEBOL
inicialmente pode ser o total de alunos da tur- como também pode ser conduzido para o ensino
ma dividida em duas equipes. Progressivamente, das regras do futsal, do rúgbi e das regras sócias
o professor deve determinar as áreas e regras do que o esporte proporciona.
handebol, como também adequar o número de Regras são limitadoras, mas traçam com-
jogadores (Regra IV – A Equipe) e a duração das portamentos adequados a uma realidade. Como
partidas (Regra II – A Duração das Partidas). A bem diz um famoso comentarista, um ex-árbi-
duração da partida pode ser, no decorrer do pro- tro, como a autora deste aporte, “a regra é clara”.
cesso de construção das regras e do jogo de han- Mas essa clareza só existe para quem tem conhe-
debol, controlada por uma dupla de alunos que, cimento dela.
por exemplo, naquele dia não podem participar Para se ensinar esporte, é necessário conhecê-lo!
ou estão aguardando sua vez. Um controla o tem-
po de jogo e o outro anota quem fez os pontos/
gols e as punições (Regra XVII – Secretário e Cro-
nometrista). Se precisar de grupos de sete jogadores,
teremos dois árbitros, três membros da mesa e mais
dois participantes controlando os bancos de suplentes
e o tempo de exclusões. Desta forma, estar-se-ia jo-
gando com três equipes, realizando-se um sistema
de rodízio.
Do jogo fute-hande-rúgbi-bunda gol ao han-
debol, existe um longo caminho. As regras do jogo
aqui tratado podem ser modificadas e alteradas a
qualquer momento para satisfazer o processo de
ensino-aprendizagem. Mas as regras do handebol,
não! Essas são mundiais e únicas para todas as ida-
des e sexos (com a adequação do tamanho da bola
somente) e todos os níveis de competições em
qualquer parte do mundo. Handebol é handebol
pelas características das regras que o compõem.
Existe o jogo de handebol adaptado a pessoas
com deficiências e aos menores, o mini-handebol.
Existem vários jogos direcionados ao ensino do
handebol. O fute-hande-rugby-bunda gol foi o
escolhido para o ensino das regras do handebol,
Cláudia Monteiro do Nascimento, Philipe Guedes Matos, Antônio Alberto de Lara Júnior
porém não rigorosa. O professor pode aplicar e dalidade “se privilegia o raciocínio rápido, bem
combinar atividades de diferentes etapas, desde como a facilidade de tomada de decisão”.
que seu objetivo seja reforçar ou consolidar o
aprendizado da etapa atual. Todas as etapas res-
peitam uma ordenação do mais simples ao mais 20.2 O processo pedagógico de apren-
complexo, iniciando com o método de aprendiza- dizagem do handebol de areia
gem global para o método analítico sintético que,
segundo Reis, apud Damasceno,50 é “aquele em O processo inicia na etapa de adaptação,
que o professor parte dos fundamentos do jogo, quando o aluno procura se adaptar à modalidade,
como partes isoladas, e, somente após o domínio principalmente ao solo, que é a areia. Nesta etapa,
de cada um dos fundamentos, o jogo propria- atividades com jogos de desenvolvimento da inte-
mente dito é desenvolvido”. No método global, ligência tática21 e jogos pré-desportivos tornam-se
pelo contrário, são aplicados “cursos de jogos, que essenciais para a motivação, despertando o inte-
partem da simplificação de jogos esportivos de resse pela modalidade. O conceito é jogar para
acordo com a idade, por meio de um aumento de aprender e aprender jogando. No handebol de
dificuldades na formação de jogos até o jogo fi- praia o aluno necessita realizar inúmeras habilida-
258 MANUAL DE HANDEBOL
des motoras, tais como correr em várias direções, dizagem tática incidental (por meio de jogos) e
realizar saltos verticais e horizontais e arremessos, de exercícios específicos para a melhora da técnica
passar receber, orientar-se no espaço. Devem-se individual.
proporcionar jogos que incorporem a lógica do Na etapa de estruturação organizacional,pas-
jogo de handebol de praia: acertar o alvo (com sam a ser importantes os aspectos táticos específicos
jogos de pontaria com e sem goleiro), transportar do handebol de areia. O aluno já se adaptou ao solo,
a bola do jogo em conjunto (com jogos de pas- já domina as habilidades motoras da modalidade
se), criar superioridade numérica (jogos de perse- e já tem jogado, de forma variada, diferentes jogos
guição e de organização no espaço), oferecer-se a que permitiram a compreensão da lógica do jogo
orientar e de sair da marcação (jogos com marca- de handebol de areia. Torna-se, assim, importante
ção individual, de perseguição de troca de direção estruturar taticamente o jogo para que o aprendiz
e de velocidade), superar o adversário (jogos com tome decisões táticas durante uma partida.
fintas com bola). Atividades como essas estimu- Iniciar o processo de ensino-aprendizado
lam o aprendiz e fazem que ele se adapte à areia e pelas táticas ofensivas é mais prazeroso ao aluno,
ao espaço delimitado do jogo. O professor deve, pois ele chegará ao objetivo principal do jogo,
constantemente, realizar avaliações em relação à que é fazer pontos. No momento em que for en-
fase de desenvolvimento motor e técnico-tático sinada a tática ofensiva, as habilidades motoras
do aprendiz, verificando o estágio em que se en- (passe, recepção, arremesso etc.) já apresentam
contra, podendo, assim, avançar para o ensino das um nível de domínio especializado, que, nesta
técnicas que são exigências do jogo de handebol etapa de estruturação organizacional, será ne-
de praia. cessário, pois se pode dizer que é uma etapa de
A próxima etapa denomina-se de coordena- objetividade das habilidades aprendidas até en-
ção essencial; aqui, o aluno, por meio dos jogos, já tão, que se manifestam nas decisões táticas que o
se adaptou à areia e consegue realizar as habilida- aprendiz toma no jogo.
des motoras do handebol (passar, receber, lançar) Dentro da tática ofensiva, o aluno deve
sem restrições em relação ao solo. As habilida- posicionar-se na quadra e movimentar-se de
des motoras específicas do handebol de areia se forma objetiva. Existem algumas movimenta-
assemelham às do handebol de quadra. Assim o ções ofensivas que devem ser aprendidas, entre
aluno, agora para se sentir motivado à prática do estas o engajamento, o cruzamento e a permuta .
esporte, tem de consolidar sua aprendizagem dos De preferência, essas movimentações se desen-
gestos técnicos também trabalhados no handebol volvem utilizando o sistema ofensivo 3:1 para,
de quadra, sendo necessária a transferência delas posteriormente, usar os sistemas 4:0, 2:2 e 3:0,
ao tipo de solo. Essa é uma fase mais analítica, o que facilitará as ações ofensivas durante uma
na qual se apresenta um equilíbrio entre a apren- partida, conforme a Figura 20.1.
PROPOSTA DE UM PROCESSO PEDAGÓGICO DE APRENDIZAGEM DO HANDEBOL DE AREIA 259
FIGURA 20.1 – Ilustração dos sistemas ofensivos 3:1, 4:0, 2;2 e 3:0 no handebol de areia.
no a marcar a movimentação do atacante, suas sistemas defensivos mais simples, como o 3:0
possíveis trajetórias, de forma a não ter contato e, assim, partir para o 2:1 e o 1:2, conforme
físico direto com ele. Figura 20.2.
FIGURA 20.2 – Ilustração dos sistemas defensivos 3:0, 2:1 e 1:2 no handebol de areia.
260 MANUAL DE HANDEBOL
tinua-se o processo com a etapa decoordenação espe- acontecer com uma rotação medial do quadril,
cializada, que objetiva desenvolver habilidades mo- para que o aluno realize o giro com maior faci-
toras específicas necessárias ao melhor desempenho lidade. Em todos os três padrões, deve-se priori-
técnico. Dessas habilidades, fazem parte arremesso
o zar que o aluno inicie o movimento sem bola em
sem apoio com giro de 360ºe o arremesso aéreo – ponte deslocamento, após contadas as passadas, e, por
aérea, que são denominados gols espetaculares, con- fim, utilizando a bola. É claro que, se observado
cedendo dois pontos à equipe. Em consequência um aprendiz que apresente maiores dificuldades,
dessas características do jogo, o professor deverá dar o professor oportunizará sequências diferentes,
uma maior ênfase a esses aspectos nessa etapa. Com respeitando a individualidade e as limitações que
relação à defesa, obloqueio defensivotambém solicita cada um pode apresentar no decorrer do aprendi-
um trabalho específico. zado. Para o 2º padrão, considerando a mesma se-
O arremesso sem apoio com giro de360º tem quência de aprendizagem, deve-se orientar o alu-
três padrões de realização segundo Lara e Matos: 61 no para se impulsionar com uma rotação lateral
do quadril, que também facilitará o momento de
Padrão nº 1: Arremesso sem apoio realização do giro. No 3º padrão, o professor deve
com giro de 360º e impulsão do mem- ainda transmitir a mesma sequência apresentada
PROPOSTA DE UM PROCESSO PEDAGÓGICO DE APRENDIZAGEM DO HANDEBOL DE AREIA 261
nos outros padrões e observar que a impulsão seja dificuldade de aprendizado do arremesso com aérea
feita com os dos membros inferiores ao mesmo é o tempo de bola. O aluno deve ter boa organi
zação
tempo, exigindo maior potência para a impulsão. espacial e temporal, saber o momento de realizar o
Como facilitação, uma informação importante salto, o momento de pegar a bola e, ainda, terempo
t
consiste em que, no momento da segunda passa- de realizar o arremesso antes da queda. O arremes-
da, o aluno realize um pequeno salto para unir os so com aérea depende de outra habilidade motora
membros inferiores seguido do salto vertical com do colega, o passe, pois é por meio dele que o arre-
giro de 360º. messo com aérea pode ser com passe direto ou com
passe parabólico.
Metodologicamente, o professor pode iniciar
União dos MMII, e Salto Vertical
com Giro de 360º
o arremesso com aérea e com passe direto, por se
tornar mais fácil a recepção de quem vai realizar o
arremesso. Assim, o aluno terá mais tempo para ana-
lisar, com mais precisão, o espaço e o tempo em que
a bola se desloca. O aluno toma conhecimento de
2ª passada e pequeno salto
quando deve saltar; se a bola virá em uma velocidade
mais rápida, ele poderá deslocar-se quase ao mesmo
tempo que o companheiro realiza o passe.
dizagem. Nessa habilidade, a bola é determinante; devem-se conhecer as possíveis dificuldades que se
então, não é possível realizar trabalhos sem bola. apresentarão para que o aprendiz atinja o objetivo.
Outra habilidade a ser ensinada nesta etapa é o As etapas sugeridas descrevem uma sistematização e
, em que o aluno pode usar o espaço uma sequência metodológica, que o professor deve-
bloqueio defensivo
aéreo da área para bloquear o arremesso do adversário,rá adaptar à sua realidade, ao nível de experiência e à
e essa ação não é permitida no handebol de quadra. motivação dos seus alunos. Aprender e evoluir neste
Enfim, o aluno estará pronto para a etapa do e em qualquer esporte é uma necessidade para quem
jogo estruturado. Aqui, o professor continuará uti- deseja chegar ao profissionalismo.
lizando jogos pré-desportivos e, principalmente, O respeito às características do desenvolvi-
pequenos jogos, ataque contra defesa, chegando mento (motor, social, psicológico etc.) da criança
ao jogo de handebol de areia. são fundamentais em todo processo de aprendi-
No jogo estruturado, o aluno já conhece as zado. O professor transfere seu conhecimento da
movimentações táticas dentro das dimensões da modalidade, sempre atento às sugestões e vivên-
quadra, já domina as coordenações técnicas essen- cias dos seus alunos. Essa relação entre o espor-
ciais, conhece a lógica do jogo, seus mecanismos, te e o desenvolvimento da criança deve estar em
como atacar e defender, desenvolveu as técnicas evidência em todas as aulas de Educação Física,
específicas e agora, finalmente, jogará de forma visando à formação da personalidade do aprendiz.
estruturada taticamente o handebol de areia. Enfim, o processo de ensino de aprendizagem
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PROPOSTA DE UM PROCESSO PEDAGÓGICO DE APRENDIZAGEM DO HANDEBOL DE AREIA 265
Parte VII
Parâmetros de análise
de rendimento
Juan J. Fernández Romero, Helena Vila, Randeantoni do Nascimento
detecção e seleção de possíveis talentos esportivos elite (alto rendimento ou esporte profissional),
e o treinamento desde a infância (ou fase infantil) o que implica o “desenvolvimento do talento”
até a juventude (ou fase juvenil). que esses jogadores possuem em um ambiente
São múltiplas as tentativas de definir o adequado de aprendizagem e recursos econômi-
“talento esportivo”.1-11 Uma definição básica de cos, sociais, psicológicos, entre outros, para que
identificação de talento se encontra no reconhe- tenham a oportunidade de concretizar esse po-
cimento de um dote natural ou na capacidade de tencial.15 Por último, a “seleção de talento” im-
uma qualidade superior. No entanto, a identifi- plica o decorrer do processo de identificação dos
cação de um talento no esporte é multifacetado e jogadores em diversas etapas que demonstram um
complexo. O talento no esporte se identifica por requisito prévio em alguns níveis de rendimento
características que são, ao menos, uma parte de para inclusão em equipes de seleção.12
carga genética, outra da influência do meio am- Associações esportivas nacionais, frequen-
biente e outra, ainda, de condições difíceis de de- temente, tentam identificar jovens atletas que
terminar com precisão. tenham maior probabilidade de êxito na moda-
Em uma revisão investigativa sobre o talen- lidade em altos níveis de rendimento. A identi-
to, Williams e Reilly12 declaram que, desde uma ficação de talentos oferece aos jovens esportistas
270 MANUAL DE HANDEBOL
naturais que se tenham”. Existem autores que saem dos estereótipos potenciais de rendimento,
apontam para a existência de uma “regra dos 10 mas, dificilmente, encontraremos atletas, ginastas
anos” de prática deliberada, considerados necessá- ou nadadores que não apresentem características
rios para alcançar o grau de expertise. 17,18 morfofuncionais e psicocinéticas, a priori, ótimas.
Centrando-se na seleção científica, o primei-
ro passo para levá-la adiante é determinar os crité-
21.2 Metódos de detecção de talentos rios para a detecção de talento.
Existem numerosos estudos a respeito, ape-
Na atualidade, podemos dizer que existem, sar de ser difícil falar de critérios de seleção de
fundamentalmente, dois grandes métodos para a rendimento nos esportes, pois o principal pro-
seleção do talento esportivo: 4,5,7-9 blema é, precisamente, que as provas sejam “su-
ficientemente válidas”, porque, segundo Gutiér-
Seleção natural ou passiva: baseia-se na rez,8 “faltam estudos experimentais longitudinais
obtenção de talentos de forma natu- sérios que nos demonstrem com clareza que de-
ral, por azar, em base a uma grande terminados aspectos de fácil estudo são critérios
massa de população de esportistas. confiáveis (dignos) na identificação de talentos”.
A DETECÇÃO DO TALENTO ESPORTIVO NO HANDEBOL 271
tendo em conta os atletas de elite que se destaca- rendimento. Toma-se como ponto de partida
ram em seu rendimento, analisar o processo de que o esportista tenha algumas qualidades cine-
formação (que é o que tem sido feito) para poder antropométricas, condicionais, técnico-táticas e
encontrar variáveis críticas que estabelecem as di- psicológicas aptas para o rendimento esportivo,
ferenças entre os distintos esportistas. Essa nova mas prevalece sobre estas o próprio processo de
análise se pode fazer, por sua vez, diante de duas treinamento e formação na modalidade concreta
perspectivas: analisando a formação de jogadores ao longo da vida de esportista do sujeito.4
que tenham alcançado o êxito esportivo, ou, tam-
bém, comparando jogadores de distintos níveis de
rendimento, mas de mesma idade. 21.3 A identificação e detecção de ta-
Dado que nenhuma das posições, tanto o lentos no handebol
extremo genético como o extremo ambiental,
pode ser considerada concludente e suficiente, na Em se tratando de esportes de equipe, mais
atualidade, orienta-se adotar uma posição inter- concretamente de handebol, sua complexidade é
mediária entre ambas as tendências, de tal forma maior do que a de um esporte individual, já que
que a verdadeira questão não é tanto se a natureza a identificação de talentos também o é. Por isso,
272 MANUAL DE HANDEBOL
Quadro 21.1 – Propostas das características para avaliar a detecção de talentos no handebol
Autor Avaliações e testes propostos
Cercel30 Antropométricos: tamanho, peso, envergadura e tamanho da mão.
Antropometria.
Condições físicas.
Antón31 Capacidades técnico-táticas.
Capacidade psíquica.
Condições pessoais.
Czerwinski32
Morfológicos: tamanho, peso, envergadura, perímetros e comprimento dos membros.
continuação
Autor Avaliações e testes propostos
Características do grupo: integração, subordinação aos interesses coletivos e confiança.
Álvaro35
Ambiente: sentimento de pertencer a um projeto, respeito e apoio.
Valorização dos antecedentes esportivos: questionário.
Fernández22 e Valorização cineantropométricas: antropometria, composição corporal e somatotipo.
Vila24 Valorização da Condição Física: Eurofit, SJ, CMJ e Abalakof.
Valorização Multidimensional: correlações.
tiplicidade de critérios assumidos na definição e ros. Todavia, cabe ao estudioso do jogo desenvol-
identificação dos elementos foco da observação. ver seu próprio olhar, de forma a não se deixar
As escolhas dos analistas têm recaído habitu- iludir pelo alto grau de subjetividade que toda ob-
almente sobre as regularidades ou nas invariantes servação carrega. Logo, todo processo observacio-
dos comportamentos dos jogadores, no mesmo nal deva ser sistematizado, realizado sob um cará-
ou em vários jogos. A justificativa para tal é a ter intencional e referenciado por um conjunto de
forte pressão exercida pelo aspecto regulamentar pressupostos que definam o problema a observar
do jogo, ou seja, por um conjunto de aconteci- e os objetivos dessa mesma observação. Observar
mentos próprios de cada modalidade esportiva, exige uma preparação anterior, como um conhe-
que acabam por gerar padrões sobre os quais os cimento prévio e radical sobre o objeto de obser-
jogadores condicionam seus comportamentos e vação e sobre o plano e os métodos de observação.
exprimem variações próprias. Apresentando-se como um processo dinâmi-
Porém, nos jogos desportivos coletivos co, a observação e análise do jogo têm seu desenvol-
(JDCs), em geral, e no handebol em particular, vimento caracterizado por alterações substanciais,
o que se espera é que a organização, o modelo de principalmente no que se reporta à instrumentação
jogo da equipe, sirvam como pano de fundo e que tecnológica. Paralelamente, como parte integran-
o comportamento dos jogadores se exprima entre te do contexto da competição, a análise do jogo
o preestabelecido – as regras e a improvisação –, a tem procurado responder, cada vez mais satisfato-
vação deve seguir quatro aspectos que a caracteri- análise, principalmente pelo fato de os jogos de-
zam como técnica científica: pendentes da pontuação serem, em grande parte,
caracterizados por uma sucessão estruturada de
Servir a um objeto já formulado de eventos discretos em que a relação desses eventos
investigação. está relacionada ao oponente. Já os jogos depen-
Ser planejada sistematicamente. dentes do tempo são de caráter evasivos e inte-
Ser controlada e relacionada com rativos e podem ser considerados extremamente
proposições mais gerais em vez de ser condicionados pela complexidade e contingên-
apresentada como uma série de curio- cia do momento, além de envolver sempre mais
sidades interessantes. adversários e companheiros, o que faz aumentar
Estar sujeita a comprovações de vali- a quantidade de dados.
dez e fiabilidade.
diferentes daqueles utilizados nos desportos indi- ca do conteúdo do jogo. Aquilo que o treinador
viduais. A maior justificativa para tal é a diferen- objetiva é, segundo seus valores, adaptar e ajustar
te influência exercida pelos diversos fatores que o treino à realidade competitiva. Tudo isso a par-
compõem o rendimento em cada um dos casos. tir da sua própria análise do jogo.
A estrutura da disciplina desportiva em Leon Teodorescu, um dos primeiros estu-
questão é de fundamental importância para a diosos dos JDCs, já referia ser essa a tarefa mais
definição do modelo de observação e análise. importante e difícil que se coloca ao treinador
Existe a possibilidade de tornar os sistemas de quando do planejamento do treino e, vale acrescen-
observação preditivos e não apenas descritivos, a tar, do jogo,como a de correlacionar a lógica didática
partir da subdivisão dos JDC em: (I) jogos de- com a lógica interior do jogo. Tal tarefa deverá ser
terminados pela pontuação (voleibol, tênis etc.), executada, já que o sucesso desportivo dependerá,
por exemplo, quando o resultado final é vitória sobremaneira, da qualidade dessa correlação. Para
e derrota; e (II) jogos determinados pelo tempo tal, há três perspectivas diferentes de se realizar a
(futebol, handebol etc.), quando o resultado final análise da estrutura funcional nos JDCs: (I) análise
é a vitória, a derrota ou o empate. Essa divisão da técnica/tática; (II) análise do ataque/defesa; e (III)
é importante para a construção dos modelos de análise da cooperação/oposição.
278 MANUAL DE HANDEBOL
tado de competências do atleta em particular e da não preparadas, implicando, para sua consecução,
equipe. O propósito é ajustar, o melhor possível, o cumprimento de uma serie ordenada de etapas.
tais competências às exigências da sua modalida-
de, bem como aos constrangimentos competiti-
vos. É na competição que se encontra esse con- 22.3 As tendências das abordagens
junto de competências. analíticas do jogo
A valoração mediante coeficientes ofensivos e
defensivos é um novo método de estudo e análise A análise do jogo tem se apresentado, en-
do JDCs de cooperação e oposição. Essa aborda- quanto tendências investigativas, em quatro gran-
gem proporciona a recolha de informações concre- des âmbitos no universo científico. São estes:
tas sobre ações específicas do jogo e que podem ser
de interesse dos treinadores e pesquisadores. Análise da atividade física dos joga-
A atividade pedagógica faz-se, principal- dores (caracterizar as atividades de-
mente, pelo confronto constante entre a necessi- senvolvidas pelos jogadores e pelas
dade de observar e avaliar execuções e de prescre- equipes durante as partidas para es-
ver a correção para os erros detectados, tendo em
ANÁLISE E OBSERVAÇÃO DE JOGOS NO HANDEBOL 279
tabelecer perfis da sua atividade física jogo, por meio da construção de um instrumento
durante o jogo). de observação e análise do jogo que contenha os
Análise do tempo-movimento – das indicadores que melhor traduzam os comporta-
tarefas motoras realizadas pelos jo- mentos dos jogadores e das equipes.
gadores (caracterizar as atividades É de acordo com cada situação específica e
desenvolvidas pelos jogadores e pelas a partir de cada objetivo projetado para o estudo
equipes durante as partidas para esta- em questão que devem ser constituídos sistemas
belecer perfis da sua actividade física de observação e análise que correspondam par-
durante o jogo). ticularmente a esses pressupostos. Tal fato faz
Análise das habilidades técnicas dos que cada investigador selecione as categorias de
jogadores (análise do repertório técni- observação que se lhe afigurem mais precisas e
co desenvolvido no jogo). idôneas para seus objetivos, o que implica ser co-
Análise técnico-tática pelos indicado- mum encontrar-se em distintos estudos sistemas
res do próprio jogo (identificar as re- de categorias equivalentes, porém diferentes, em
gularidades expressas pelos jogadores e maior ou menor medida, do tipo de categorias
pelas equipes para se tipificar as ações que inclui.
que mais se coadunam com a eficácia Todavia, nunca se pode perder de vista o
dos jogadores e das equipes ). caráter integrativo das categorias, e estas devem
vável pertence; e (III) do tipo de situação na qual o dessas unidades, há a possibilidade de explicar as
fenômeno ocorre. Portanto, cada investigador sele- linhas de evolução realizáveis na relação de opo-
ciona as categorias que lhe parecem mais idôneas. sição particular que a caracteriza. Corroborando
Análises bem estruturadas são aquelas que esse pensamento, podemos afirmar que, se não
privilegiam as regularidades e variações das ações houvesse algo que ligasse o jogo a um território
do jogo, bem como a eficácia ofensiva e defensi- de possíveis previsíveis, no qual pontificam os de-
va, absoluta e relativa, como forma de salientar o signados modelos ou representações, a preparação
comportamento de jogadores e equipes. Somente dos jogadores e das equipes tornar-se-ia obso-
dessa forma pode-se alcançar o caráter integrativo leta. Disso, podemos deduzir que a análise e as
e contextualizado que caracteriza um coerente e interpretações dos JDCs e da funcionalidade da
consistente sistema de observação e análise do jogo. equipe por meio do prisma da modelação asse-
guram a possibilidade de utilizar uma metodo-
logia científica na programação do treino. Isso
22.5 Análise do jogo de handebol se faz possível, também, na seleção de jogadores,
no conhecimento dos adversários, na escolha da
tática do jogo e, em geral, para toda a atividade
22.5.1 A lógica do jogo dos treinadores e das equipes.
É o estudo da organização do jogo, realizado
O problema que a dinâmica dos jogos des- por meio da observação do comportamento das
portivos coloca é o fato de não haver duas situ- equipes (sistemas), que oferecerá a possibilidade
ações de jogo absolutamente idênticas, além de de identificar e assinalar ações/sequências de jogo
que as possibilidades de combinações são inúme- que, pela sua frequência de ocorrência, ou por
ras, o que torna impossível recriá-las no âmbito induzirem desequilíbrios (ofensivos e defensivos)
do treino. A solução a essa questão reside na utili- importantes, se constituem como aspectos a reter
zação da estratégia de ordenar coisas sensivelmen- para o ensino e treino da modalidade.
te semelhantes e/ou diferentes. Logo, a possibi- Cabe, perfeitamente, a análise dos proce-
lidade de categorizar os acontecimentos do jogo dimentos, dos métodos e, em um universo mais
de forma a que se modelem representações do restrito, das ações levadas a cabo pelas equipes
seu desenvolvimento faz o traço de união entre na procura do sucesso. Os dados obtidos possibi-
a concepção do jogo, o treino e sua planificação, litarão a percepção da forma como está constitu-
com o desempenho desportivo na competição. ída a eficácia das equipes, por exemplo, a forma
Por essa tese, torna-se fundamental fazer da com- de associação de certas características táticas que
petição um campo de análise e das equipes mais traduzem regras de funcionamento do sistema
evoluídas, referências constantes. Para cada uma ataque-defesa.
ANÁLISE E OBSERVAÇÃO DE JOGOS NO HANDEBOL 281
apresentam com o mesmo grau de importância na segundos; e (II) pela relação tempo-espaço que
configuração do máximo desempenho nos JDCs, influencia sobremaneira a eficácia da ação de jogo
já que o aspecto da estratégia/organização ocupa o pela estreita relação entre o tempo e as constantes
centro de prioridade no desenrolar do jogo. modificações no ritmo do jogo. Esse indicador
Tal afirmação pode ser demonstrada, por refere-se à duração do ataque, ao tempo de assi-
exemplo, pelo fato de as decisões tomadas pelos jo- metria numérica e ao tempo útil de jogo efetivo.
gadores apresentarem forte caráter tático-cognitivo.
Contudo, por essas decisões estarem sempre sub-
metidas aos constrangimentos espacial, temporal, 22.5.2.3 O fator regulamentar
regulamentares e das tarefas técnico-táticas do jogo,
estabelece-se um vínculo interativo da dimensão or- Traduz, sobremaneira, toda a conduta dos
ganização/estratégia com as outras dimensões orga- jogadores, estabelecendo graus de liberdade de
nizativas. Logo, podemos referir cada um dos fatores ação e os requisitos/prescrições necessários para
que compõem a lógica interna dos JDCs em geral que possam intervir nas situações do jogo. Logo,
e do handebol, especificamente, e seus indicadores considera-se que há no jogo situações especiais e
mais frequentemente encontrados na literatura. condicionadas pelo regulamento de jogo, nomea-
282 MANUAL DE HANDEBOL
damente, os tiros de 7 metros; os tiros de 9 metros; der de influência sobre os outros fatores, este fator
e as assimetrias numéricas, que, frequentemente, assume-se como a variável nuclear nesse âmbito
influenciam o resultado final de um encontro. de análise, pois é a partir das configurações pla-
nejadas neste aspecto que as outras categorias se
manifestam no jogo. Entre as exemplificações de
22.3.2.4 O fator tarefa técnico-tática variáveis observáveis deste fator estão as relativas
aos aspectos relacionados, basicamente, à caracte-
Circunscreve todas as ações realizadas racio- rização das formações ofensiva e defensiva.
nalmente durante as situações de jogo que con-
figuram e determinam a solução dos problemas
apresentados pelo jogo e asseguram sua continui- 2.6 Considerações finais
dade. São exemplos desse fator ações relacionadas
à eficácia de tarefas como, por exemplo, o arre- A competição pode ser descrita como uma
messo; média de falhas técnicas ou pela forma que interessante fonte de aprendizagem acerca do
se dá a perda da bola; influência do contra-ataque comportamento humano. Logo, essa é oportuni-
no sucesso desportivo; tipificação de ações defen- dade ímpar à observação e à análise dos diversos
sivas: eficácia do goleiro, eficácia de arremesso, efi- conteúdos – individuais e coletivos, do jogo, em
cácia ofensiva, zonas de finalização e meio tático. seu expectro real. Logo, a compreensão do desen-
Esse fator proporciona a ampliação significativa volvimento do jogo configura-se na procura dos
da capacidade de respostas adaptativas do jogador comportamentos que melhor traduzem a eficiên-
às situações-problema do jogo, permitindo que se cia e a eficácia de jogadores e equipes.
reconheça, oriente e regule sua ação motora. Apresentando-se como um processo dinâ-
mico, a observação e a análise do jogo têm seu
desenvolvimento caracterizado por alterações
22.3.2.5 O fator organização estratégico-tática substanciais, principalmente quanto à instru-
mentação tecnológica. Paralelamente, como parte
Conjuntamente com a tática, é a organiza- integrante do contexto da competição, a análise
ção estratégica que dá aos JDCs seu caráter pró- do jogo tem procurado responder cada vez mais
prio, pois exprime o modo como a equipe organi- satisfatoriamente aos quesitos referentes a reco-
za-se racionalmente para resolver o problema da lha, tratamento, armazenamento e interpretação
superação do adversário, expressando-se tanto no da informação produzida durante as competições.
âmbito individual quanto no coletivo, desde o as- A consequência mais visível dessa evolução pode
pecto da cooperação com os companheiros até o ser constatada por (I) um aumento qualitativo no
aspecto da oposição com os adversários. Pelo po- conhecimento da organização do jogo e dos fato-
ANÁLISE E OBSERVAÇÃO DE JOGOS NO HANDEBOL 283
res que concorrem ao sucesso desportivo, o que sibilidade de reconhecer e identificar os erros de
proporcionou (II) maior eficácia na construção execução é um dos mais importantes e fundamen-
de métodos de treino mais eficientes e estratégias tais pré-requisitos exigido a quem queira exercer
de trabalho mais profícuas, além de também pro- a função de treinador ou professor de Educação
porcionar (III) uma análise mais fiel às tendências Física. (há um parágrafo igual a esse mais acima –
evolutivas. verificar se se deve tirá-lo.)
Parece claro que a atividade pedagógica faz-se Como já foi colocado anteriormente, no
principalmente pelo confronto constante entre a âmbito do desporto, aquilo que todo treinador
necessidade de observar e avaliar execuções e de busca é aproximar o seu treino, o máximo pos-
prescrever a correção para os erros detectados, sível, às exigências da competição. Para tal, há
tendo em conta os objetivos, a técnica-padrão, os que buscar o que de mais importante acontece no
contextos e as características do executante. jogo e tentar reproduzi-lo em situação de treino.
Logo, saber diagnosticar os erros, determi- Logo, é essa abordagem sistémica da análise do
nar sua importância relativa e suas causas, além de jogo para uma estruturação do treino e recriação
saber corrigi-los, são algumas das principais res- da performance no próximo evento, como o jogo,
ponsabilidades do professor ou treinador. Claro é que deve regular a prestação competitiva, e é por
que sem uma efetiva competência de observação e meio de observação, notação e análise dos dados
de correção dos atletas, as performances não pode- observados que serão obtidos os feedbacks necessá-
riam ser melhoradas. Dito de outra forma, a pos- rios para se alcançar os objetivos esperados.
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ANÁLISE E OBSERVAÇÃO DE JOGOS NO HANDEBOL 285
Parte VIII
As diferentes formas de
manifestação do handebol
Dourivaldo Teixeira
O objetivo deste capítulo é realizar uma experiência esportiva no handebol é a lógica dialé-
reflexão sobre o esporte. Mais especificamente, tica, que contempla uma relação ação-problema-
refletiremos sobre a modalidade de handebol em tização/reflexão-ação.
uma perspectiva que, mesmo não se restringindo
às questões técnico-táticas, não se afaste do cam-
po das vivências desta prática, campo esse que, 23.1 Fundamentos pedagógicos e dire-
sem dúvida, é repleto de amenidades/intensida- trizes para a prática dohandebol
des, equilíbrios/desequilíbrios, adequações/inade-
quações, habilidades/inabilidades, acertos/erros, É fundamental que a pedagogia do hande-
vitórias/derrotas, ritmias/arritmias, risos/choros bol, assim como a de outras práticas esportivas,
etc., pois é um ambiente cheio de vida. Alme- seja arrojada e apresente consonância com polí-
jamos contribuir com as bases de uma proposta ticas esportivas nas esferas municipal, estadual
pedagógica reflexiva e crítica para a formação de e nacional. É necessário que esta pedagogia se
sujeitos pelo/para o handebol, invocando, em sua apoie em metodologias inovadoras e possíveis
estrutura e funcionalidade (campo de vivência), a que permitam orientar suas ações no sentido de
potencialidade educativa possível a partir da prá- promover a inclusão social pelo/para o esporte e
tica sistematizada. contribuir com a superação dos problemas que
Pretendemos, com o desenvolvimento do afligem as camadas menos favorecidas da popu-
tema que dá nome a este capítulo, apontar para lação. Dessa forma, em uma ação retroagente,
a necessidade de uma política específica de esti- também, poderá contribuir com a estruturação
mulação e fomento à modalidade, a importância da modalidade em nossa sociedade, da qual não
de uma abordagem pedagógica reflexiva e crítica é uma prática esportiva srcinária. Seu início,
e, além disso, a estruturação de metodologias que pelo menos como uma modalidade esportiva
deem conta de uma prática do handebol orienta- estruturada e regulamentada, ocorreu no cen-
da em um campo de ação que privilegie a refle- tro e norte europeus, mais especificamente na
xão sobre esta ação. Neste sentido, a lógica que Alemanha, na Dinamarca, na Suécia e na antiga
queremos ver permeando o processo de vivência e Tchecoslováquia.
290 MANUAL DE HANDEBOL
municipal.
Sustentar seu caráter educativo na efe- Esta política deve favorecer a concretização
tiva participação voluntária e respon- de programas visando à democratização do acesso
sável dos sujeitos, concretizando a au- ao handebol nos mais diferentes nichos de prá-
to-organização e a autodeterminação tica (tradicionalmente conhecidos como dentro
como práticas que não comprometem do ambiente escolar: contraturno letivo ou como
o caráter genuinamente nacional e po- conteúdo da Educação Física escolar; fora do
pular. ambiente escolar: clubes, associações, empresas
Promover o desenvolvimento da cul- etc.), intento que deverá ser efetivado com par-
tura corporal nacional, considerando cerias para a utilização de espaços públicos e/ou
a condição de miscigenação, que é privados para o desenvolvimento da modalidade,
marcante na sociedade brasileira. prioritariamente, com perspectivas de enriqueci-
Cultivar e incrementar atividades que mento na formação integral dos praticantes.
satisfaçam às necessidades lúdicas, es- A opção por um programa que contemple
téticas, artísticas, combativas e com- as características educativas do handebol se fun-
petitivas do sujeito praticante. damenta nos seguintes aspectos:
VALORES , VALORAÇÃO E EDUCAÇÃO 291
FIGURA 23.2 – Atleta da Seleção Brasileira de Juniores, Henrique Selicani Teixeira, formado desde as categorias de
formação pelo Centro de Excelência Regional de Handebol da Universidade Estadual de Maringá (CERHAND),
que passou por todas as Seleções Brasileiras: infantil (13/14 anos; cadete (15/16 anos); e juvenil (17/18 anos), em
lance de jogo da Final do Campeonato Pan-Americano de 2007, no Chile.
VALORES , VALORAÇÃO E EDUCAÇÃO 293
cipação sem qualquer distinção ou discrimina- deveria construir programas de fomento e de-
ção; garantia da integridade dos participantes; senvolvimento contemplando os centros de
fomento à participação em nível nacional e formação da modalidade em todo o país. Esses
internacional; autonomia organizacional para programas, que transcenderiam o modelo sim-
as instituições conveniadas; e descentralização plista de organizar/participar de competições,
operacional em nível de planejament o, implan- deveriam projetar os impactos diretos e indi-
tação e execução dos convênios) por meio de retos de uma prática desportiva sistematizada e
alianças e parcerias institucionais, mediante a de amplitude nacional, mas que contemplasse,
descentralizaçã o da execução orçamentá ria e fi- prioritariamente, os melhores centros de for-
nanceira para entes públicos e privados, com e mação da atualidade.
sem fins lucrativos. Os projetos Mini-handebol Petrobrás
As instituições responsáveis pela gestão do e Caça-Talentos , propostos pela CBHb, são
handebol (clubes, federações e confederações) exemplos, mas insuficientes tanto na sua con-
deverão lançar projetos e programas visan- cepção quanto na sua estruturação e população
do tanto à prática participativa (massificação) atendida, além de que, aparentemente, refletem
quanto educacional e de alto rendimento, além apenas o atendimento formal de uma necessi-
de procurar sistematizar esses programas focan- dade, pois há imensas dificuldades para serem
do as pontes de inter-relação e interação entre implantados e mantidos em atividade, ou seja,
eles, projetando e prevendo possíveis impactos não é uma meta prioritária da CBHb, das fe-
diretos e indiretos na visibilidade da modalida- derações e, infelizmente, de muitos clubes que
de no país. O que se configura na atualidade se limitam a buscar atletas formados em outras
é certo descaso institucional com a estrutura escolas em detrimento de investirem em sua
do handebol na esfera nacional. É claro que formação.
existem as competições regionais promovidas Esses aspectos passam, praticamente, in-
e organizadas pelas federações com apoio dos sensíveis pelas instituições que administram a
clubes e as nacionais promovidas pela confede- modalidade, mas acabam srcinando um ciclo
ração com apoio das federações e dos clubes, vicioso nada importante para o crescimento do
mas, além da realização das competições, não handebol em nosso país. O processo de migra-
se faz nada muito além disso. As equipes e os ção dos atletas-talento para os grandes centros
centros de formação e prática da modalidade financeiros, desguarnecendo, neste caso, os clu-
em todo o país necessitam de apoio efetivo com bes de menor poder aquisitivo, quase sempre
políticas de desenvolvimento e de fomento. do interior, geram a centralização dos investi-
A Confederação Brasileira de Handebol mentos que, invariavelmente, contribuem para
(CBHb), lastreada pelas federações estaduais, o empobrecimento dos núcleos de formação,
294 MANUAL DE HANDEBOL
participantes e destes com a sua realidade lo- que devem ser estruturados, organizados e im-
cal; melhora da autoestima dos participantes; plementados tais programas de fomento e de-
melhora das capacidades esportivas educacio- senvolvimento, investindo, simultaneamente,
nais; melhora das capacidades e habilidades na qualificação do atendimento de instituições
motoras dos praticantes; aumento do número e órgãos que administram o handebol e no qua-
de praticantes de handebol em níveis educa- dro de recursos humanos no campo técnico e
cional, participação e de alto rendimento; me- tático, ou seja, técnicos, treinadores, prepara-
lhora da qualificação de professores, técnicos dores físicos etc. Pelo menos em nível adminis-
e estagiários de Educação Física (pedagogia do trativo, a CBHb já evidencia tal preocupação
esporte). Os impactos indiretos podem ser as- em razão da utilização de índices qualificado-
sim apontados: amenizar os riscos sociais pelos res, como os do sistema ISO como modelo de
praticantes; otimizar o rendimento escolar aos qualidade em produção, instalação e serviços,
alunos envolvidos; diminuir a evasão escolar mas tal preocupação não alcança a realidade das
nas escolas contempladas com o programa; federações e, principalmente, dos clubes nacio-
ampliar uma oferta de trabalho no setor de nais. Caberia mudar a realidade quando toma-
Educação Física e esportes considerando a am- mos por base o funcionamento e a estruturação
VALORES , VALORAÇÃO E EDUCAÇÃO 295
das federações estaduais, setor no qual, das 27 23.2 Valores e objetivos no hande-
federações existentes, temos poucas em efetiva bol: a necessária reflexão/pro-
atividade de forma organizada e sistematizada. blematização
A maioria atende somente de forma parcial suas
funções organizativas e de fomento para o de- Aqui, é importante compreender que o pon-
senvolvimen to da modalidade em nosso país. to de partida para esta reflexão é compreendermos
Nesse sentido, torna-se importante, como que a problemática envolvendo uma proposta de
início do processo de capacitação, refletir so- esporte educacional (esporte/educação), neste
bre tal proposta dentro de suas especificidades caso, handebol e educação, deve passar pela di-
estruturan tes, organizativas e funcionais, justa- mensão dos valores, pelo processo de valoração e
mente com os responsáveis nas mais diferentes pelos objetivos já ou a serem estabelecidos. Assim,
esferas de atuação. Tal importância se confirma considerando os programas e projetos específicos
na necessidade de que estes assumam a con- da modalidade de handebol já em desenvolvimen-
dição de timoneiros neste processo, tanto no to (por municípios, clubes, Estados, pela CBHb),
que se refere às questões de gestão quanto às assim como aqueles em potenciais, esses esportes
questões pedagógico-metodológicas na aplica- deverão passar por processos de valoração e proje-
ção das atividades para crianças e adolescentes, ção de metas e objetivos contemplando as neces-
público que é a base para um programa de fo- sidades específicas de todos os locus de vivências.
subsolo) quanto do meio cultural (língua, tra- passa a ter significado e a valer. Assim, sem dúvi-
dição, costumes e crenças, instituições, vida da, é com o esporte e em sua prática educacional
econômica, forma de governo, esporte, música que a complexidade do fenômeno esportivo pode
etc.), e é nesta condição de dependência que passar a ser encarada como um conhecimento a
o homem vem ao mundo, para se enquadrar e ser socializado na busca dos sentidos e significa-
se situar. A situacionalidade do homem é uma dos possíveis para os sujeitos tidos como frutos
condição necessária de possibilidade da sua da cultura de massa, mas que podem ser protago-
existência, o que leva a humanidade a valori- nistas de cultura, contemplando, dessa forma, a
zar o meio ambiente: água, terra, fauna, flora subjetividade dos sujeitos.
etc. (no domínio da natureza) e as instituições, Portanto, o valor é
as ciências, as técnicas, a educação, o esporte
(o handebol, especificamente) no domínio da uma relação de não indiferença entre o
cultura. Vejamos a situacionalidade do homem homem e os elementos com que se de-
como campo de valores e objetivos: fronta. A situação abre, pois, ao homem
um campo imenso de valores: é o domí-
nio do prático-utilitário. O homem tem
VALORES , VALORAÇÃO E EDUCAÇÃO 299
necessidades que precisam ser satisfeitas e lorização da criança enquanto ser que
este fato leva à valorização e aos valores.
1
age, enquanto produtor de seu jogo e
construtor do seu futuro.
Com fins ilustrativos, dirigimo-nos a Bayer, 2
que propõe, em sua obraO ensino dos desportos co- O homem reage às coisas, não fica passivo.
letivos, “uma pedagogia das intenções” em contra- Ele atua intervindo diretamente, aceitando, rejei-
partida aos métodos tradicionais ou didáticos. O tando ou transformando a situação em que se en-
autor considera que estes, com seus princípios de contra. A cultura (o esporte, a educação) é, por um
simplicidade, análise e progressão (fragmentação lado, a transformação que o homem propõe/opera
do conteúdo) fundamentados nos processos de sobre seu meio, e, por outro lado, os resultados dessa
memorização e repetição, visam moldar a criança transformação, que deve ser almejada também na
ao modelo do adulto, ou seja, a criança se diverte proposição e prática, na pedagogia de iniciação e na
na prática do handebol passe a ser considerada nas metodologia do treino, na vivência como espetáculo
mesmas condições do atleta adulto que trabalha no e na estruturação, organização e gestão do handebol
alto rendimento. Em sua proposição, o autor se ba- como uma modalidade esportiva potencializada des-
seia no conceito de intencionalidade, inspirado na ta transformação do homem e da sociedade.
fenomenologia com aproximação ao universo des-
portivo realizada por Rioux e Chappuis,citado por
Bayer (1994) para marcar que o jogador imersono 23.4 A liberdade do homem como
acontecimento que vive, ou seja, situado no tempo campo de valores e objetivos
e espaço de um jogo repleto de “elementos flutuan-
tes, verdadeiro bombardeamento de estímulos”, re- Embora sob os condicionamentos da situa-
agirá intencionalmente tentando a modificação do ção, o homem consegue a superação, não se en-
desfecho da situação em seu favor ou de sua coleti- contra totalmente determinado, preserva sua au-
vidade. Os comportamentos realizados a partir da tonomia e a sua liberdade. O homem livre é ávido
sensibilidade são pessoais e subjetivos. São reações pela valorização e pelos valores.
visíveis do exterior, ou seja, são os vetores da inten- A liberdade é pessoal e intransferível, portanto,
cionalidade do jogador e oriundos das significações impõe-se aqui o respeito à pessoa humana; e, como
e importância dadas, por este jogador, aos diferen- sujeito, é capaz de tomar posições, avaliar, fazer op-
tes elementos do jogo. Acentua Bayer2 que ções e engajar-se por elas, considerando aquele que
vive ao seu lado, perto ou longe, pois é igualmente
este tipo de pedagogia solicita ao má- um sujeito e não um objeto. Sendo a liberdade sem-
ximo os poderes decisórios dos joga- pre situada, este segundo campo conjuga-se com o
dores (a sua reflexão táctica). É a reva- primeiro. A liberdade é pessoal e intransferível:
300 MANUAL DE HANDEBOL
sua condição de ser situado o faz exercer um nicar e agir em comum, privilegiando uma leitu-
domínio sobre as coisas, subordinando-as aos ra objetiva da realidade. Uma leitura em comum
seus desígnios e criando uma relação vertical significa aceitar o valor da verdade, que aparece a
de dominação que jamais poderá, contudo, ser partir do olhar objetivo, que transcende as pessoas
entendida como possível no sentido horizon- como tais, tornando-se fonte de comunicação e
tal, nas relações de homem para homem. Esta entendimento entre os homens.
relação vertical e hierárquica com a natureza e Podemos afirmar, a partir de Bento,4 que o
com o ecossistema já tem mostrado que está jogo desportivo é uma rara oportunidade de o ho-
nos levando para o caos, para o fim. Se ultra- mem reencontrar e assumir a variedade e natura-
passarmos os limites de sustentação da nature- lidade de acepções do ser humano, especialmente
za, que estão sendo anunciados a cada dia pela a da humildade resultante do confronto com as
mídia, os prejuízos para a vida humana serão dificuldades de sua inabilidade e incapacidade,
irrecuperáveis e, então, veremos mais uma vez como fermento da aceitação de si e dos outros.
a grande camada, a população mais pobre da É uma ação renovadora e enriquecedora, porque
humanidade sofrer as mais terríveis agruras, até permite experimentar ações sem as consequências
serem levadas à morte. que teriam em um ato sério; permite acumular
VALORES , VALORAÇÃO E EDUCAÇÃO 301
respostas de tipo novo dificilmente atingíveis de mesmo tempo que desenvolvemos a consciência
outro modo e abordar problemas que normal- de que a intenção tática individual não se esgota
mente ficariam por tratar. Reproduz tensões e em si, mas deflagra uma dinâmica na qual as dife-
contradições da vida, tornando-as suportáveis rentes intenções táticas se articulam umas com as
e resolúveis, como, por exemplo, a tensão entre outras de forma sistêmica, articulando a estrutura
ordem e desordem, que encontramos em mui- coletiva do jogo a partir da intersubjetividade.
tos jogos infantis, ou a tensão entre sucesso e O processo de valorização é constitutivo, ou
insucesso, que perpassa quase todo o desporto. seja, o homem é visto como um ser que não é in-
O jogo altera e inverte papéis e situações: quem diferente, pois se comunica entre si diretamente e
até agora perdeu pode ser, em breve, o vencedor; por meio de objetos, de tecnologias e de suas pró-
quem ganha pode estar seguro de que isso não prias criações culturais, captando e aferindo sen-
acontecerá sempre. tidos e significados para sua vida pessoal e social a
Considerando a especificidade do handebol partir de sua condição de situacionalidade e liber-
como desporto coletivo, devemos, desde a fase dade. No handebol, portanto, ao manifestar uma
de estimulação e aprendizagem, privilegiar uma intenção tática, os praticantes, nas diferentes fases
metodologia que suscite amplamente a percepção de prática, devem contemplar as intenções táticas
e a tomada de decisão (a sua decisão tática) do de seus companheiros, inclusive dos adversários,
praticante, tendo-o sempre como um ser que age, no sentido da complementaridade e da eficiência.
produzindo seu jogo e construindo seu futuro, ao O jogo desportivo coletivo, como o handebol, se
E ------ H
S ------ A
P ------ N
O ------ D
Homem Homem
2
R ------ E
T ------ B
E ------ O
S ------ L
consolida como um espaço propício para as rela- ser humano – bom ou mau –, é preciso sempre
ções pessoais e sociais, pois nele se reproduzem, a intervenção da arte. Para ser homem, não basta
de uma forma peculiar e própria, as condições nascer, é necessário aprender, por meio da comu-
encontradas na realidade da vida contemporânea. nicação com os nossos semelhantes e memórias.
Do ponto de vista do esporte educacional,
o que significa, então, promover o homem? Sig-
23.6 O handebol e a dimensão esté- nifica contribuir, conjuntamente com a educação,
tica como campo de valores e para que ele seja cada vez mais conhecedor da sua
objetivos realidade concreta (situada) para transformá-la,
ampliando a liberdade, a comunicação e a colabo-
Com uma relação vertical/dominação do ração. Para isso, antes mesmo da escolha de meto-
homem para com as coisas/natureza e uma pre- dologia, é necessário que se combata o individua-
tensa relação horizontal de solidariedade (de cola- lismo e a hipercompetitividade, que estão presentes
boração para com o outro em determinada situ- em nossa sociedade, depondo contra as manifesta-
ação, comunicando-se entre si, com determinada ções e atitudes que colocam a competição a favor e
liberdade situacional) para com o outro, o homem não contra o humano. É preciso colocar uma base
percebe que é para além do prático-utilitário, ou pedagógica que se fundamente em uma visão críti-
seja, o “o homem é aquele animal para o qual o ca de sociedade, de esporte e de esporte na socieda-
1
supérfluo é necessário”.A partir daí, abre-se ao ho- de contemporânea. Assim, não nos parece fora de
mem outro campo para a valoração e os valores, questão relembrar Bracht,5 quando diz que:
que podemos sintetizar na “apreciação das coisas
e das pessoas pelo que elas são em si mesmas, sem sendo o movimento humano e sen-
outro objetivo senão o de se relacionar com elas”. do o homem um ser eminentemente
Em outras palavras: são as formas estéticas, as sen- social, a motricidade transcende os
sibilidades, as subjetividades. preceitos da biologia, alcançando sua
Como diz Bento, ao chegarmos ao mundo,
4
condição histórica e social. O movi-
o fazemos “demasiado pequeno e com uma invali- mento é interdependente com todas
dez srcinária”, solicitando toda uma gama de arti- as dimensões humanas. A consequ-
fícios protéticos para preencher nossas limitações. ência disso para a ação pedagógica é
Nascemos para ser humanos. Nascemos de que (...) devemos objetivar muito
para a humanidade. Ou seja, a nossa natureza mais do que a aptidão física, a apren-
biologicamente humana carece de ser confirmada dizagem motora, a destreza desportiva
por um segundo nascimento, pelo contágio social etc.; (...) o movimento que a criança
e cultural; requer-se a deliberação artificial. Para realiza em um jogo tem repercussões
VALORES , VALORAÇÃO E EDUCAÇÃO 303
sobre todas as dimensões do seu com- as necessidades que devem ser levados
portamento e, além disso, esta ativi- em consideração não são os dos ‘indi-
dade veicula e faz a criança introjetar víduos’, mas os de classe.
determinados valores e normas de
comportamento. O esporte é burguês, não porque
essa é sua essência, mas porque suas
fala-se da criança em si, e não de uma múltiplas determinações lhe fornecem
criança situada social e historicamen- as características para tal, de maneira
te. Fala-se da natureza da criança, e que, para termos um esporte não bur-
isso é ideológico na medida em que guês, precisamos atuar sobre suas deter-
encobre as diferenças produzidas pela minações (...). Ao procurar desenvolver
condição social destas crianças. um esporte em que o princípio do ren-
dimento e da competição discrimina-
Sem considerar que diferenças entre classes tória (melhores dos piores), do esforço
sociais antagônicas definem condições específi- pessoal e individual (às vezes associado)
cas de infância. para vencer o adversário não seja seu
norteador principal, desenvolvendo um
os valores e as normas de compor- esporte em que se busca o jogar com e
loração: valores e objetivos para é e o que deve ser constitui o próprio espaço vital
o handebol da existência humana; com efeito, a coincidência
total constitui o próprio espaço vital da existência
Temos consciência de que vivemos, nas últi- humana e entre o ser e o dever ser, bem como
mas décadas, em nível mundial (apesar de, no Bra- a impossibilidade total dessa coincidência seria
sil, esse ser um mal crônico e histórico), uma crise igualmente fatal para o homem.
da ideologia e da axiologia. Se não podemos ser tão Valores e valoração estão intimamente rela-
contundentes assim sobre este tema, podemos, sem cionados; sem os valores, a valoração seria desti-
receio, dizer que há um forte menosprezo com rela- tuída de sentido; em contrapartida, sem a valo-
ção a ideias, valores e princípios humanistas. ração, os valores não existiriam. Desvincular os
Segundo Bento: 4 valores da valoração equivalerá a transformá-los
em arquétipos de caráter estático e abstrato, dis-
É como se os tivéssemos expulso do postos em uma hierarquia estabelecida a priori.
elenco das razões que comandam a O caráter concreto da experiência axiológica nos
vida e nos tivéssemos deitado nos bra- permite substituir o conceito de hierarquia, tra-
ços do determinismo, da indiferença, dicionalmente ligado a uma concepção rígida e
VALORES , VALORAÇÃO E EDUCAÇÃO 305
estática, pois “a sociedade sempre teve interesse Coloca-se aqui a necessidade de estabelecer
em priorizar certas hierarquias que correspondem a relação cabível e própria entre os fenômenos:
mais aos interesses dos seus grupos privilegiados”, handebol (esporte) e educação, quanto aos valores
pelo conceito de prioridade, mais dinâmico e e objetivos. Sem dúvida, handebol (esporte) não é
flexível. Com efeito, a prioridade é ditada pelas educação, mas, sob a preocupação de torná-lo um
condições da situação existencial concreta em que meio, um instrumento que possa ser proativo edu-
vive o homem. Exemplifiquemos. cacionalmente, é necessário ter o foco centrado nas
questões de valores e objetivos educacionais, bus-
Conceito de Hierarquia cando contribuir em nível educacional e visando à
Corresponde aos interesses
formação integral da criança e do adolescente.
de grupos privilegiados. Assim, se vou educar, seja em um bairro de
elite, seja em uma favela, sempre darei mais ênfase
aos valores intelectuais em relação aos econômi-
cos. No entanto, a nossa experiência da valoração
Conceito de Prioridade nos mostra que, na favela, os valores econômicos
Corresponde às condições da tornam-se prioritários, dadas às necessidades de
situação concreta em que o
homem vive.
sobrevivência, ao passo que, em um bairro de eli-
te, assumem prioridade os valores morais, dada a
Os objetivos indicam os alvos da ação. Eles É preciso, então, encarar o problema do pon-
constituem, como lembra o nome, a objetivação to de vista da realidade existencial concreta do
da valoração e dos valores. Poderíamos, pois, di- homem brasileiro. Qual é a situação do homem
zer que se a valoração é o próprio esforço do ho- brasileiro? Como ele valoriza os seus elementos?
mem em transformar o que é naquilo que deve ser, Como ele se utiliza deles? Uma análise mais deti-
os objetivos sintetizam o esforço do homem em da revelará que o homem brasileiro, no geral, não
transformar o que deve ser naquilo que é. A Figura sabe tirar proveito das possibilidades da situação
23.8 facilita a compreensão dessas ideias: e, por não sabê-lo frequentemente, acaba por des-
Nela, realidade 1 representa a situação srci- truí-las. Isso nos revela a necessidade de uma edu-
nal e realidade 2 representa essa mesma situação, cação para a subsistência: é preciso que o homem
porém transformada. Temos, pois, que realidade brasileiro aprenda a tirar da situação adversa os
2 = realidade 1 transformada. meios de sobreviver. Nesse caso, o handebol pode
Como a definição de objetivos educacionais ser um instrumento de preparação quando pensa-
depende das prioridades ditadas pela situação em mos na possibilidade de preparar as vivências que
que se desenvolve o processo educativo, com- envolvem o vencer e o perder como momentos
preende-se que tal definição pressupõe uma análi- balizadores para buscar as melhoras necessárias
se da situação em questão. nos diversos campos que envolvem esta prática.
Valores
(o que deve ser)
Valoração Objetivos
Realidade - 1 Realidade - 2
O que é
Mas como pode o homem utilizar os ele- no handebol tanto em nível educacional, quando
mentos da situação se ele não é capaz de intervir de participação (lazer) de alto rendimento. Daí
nela, decidir, engajar-se e assumir pessoalmente a vem o quarto objetivo: educação para a transfor-
responsabilidade de suas escolhas? Sabemos quão mação. Nesse sentido, temos de perceber as po-
precárias são as condições de liberdade do homem tencialidades pedagógicas do esporte em relação
brasileiro, marcado por uma tradição de inexpe- à formação dos sujeitos, mas, para isso, devemos
riência democrática, marginalização econômica, considerar a possibilidades de transformação do
política, cultural, daí a necessidade de uma edu- próprio handebol. O handebol é único, mas se
cação pra a libertação: é preciso saber escolher e desenvolve em várias dimensões. Na dimensão
ampliar as possibilidades de opção. Os educado- educacional, temos o handebol da escola, ou seja,
res esportivos devem estar atentos a essas questões aquele esporte que, sob o tratamento pedagógico,
para poderem, dentro do trabalho específico com pode ser modificado e transformado quanto a sua
o handebol, propor sua prática com base em um estrutura, funcionalidade e regulamentação, jus-
cunho educacional considerando a situação con- tamente porque os valores e objetivos demandam
creta de vida dos sujeitos envolvidos e consideran- um processo de valoração afinado com a educação
do os valores e os objetivos para contribuir com a para a transformação.
libertação do homem brasileiro. Considerando a problemática dos valores e
Como, porém, intervir na situação sem uma objetivos a partir da situacionalidade, da liberda-
consciência das suas possibilidades e dos seus li- de, da comunicabilidade e da dimensão estética
mites? Essa consciência só se adquire por meio da do homem brasileiro, entendemos que o esporte
comunicação. Daí vem o terceiro objetivo: educa- educacional poderá, mesmo dentro de uma es-
ção para a comunicação. É preciso que se adqui- pecificidade como o handebol, auxiliar a trans-
ram os instrumentos aptos para a comunicação formação existencial concreta de crianças e ado-
intersubjetiva. Nesse campo, o handebol como lescentes, desde que procure tratar, além de seus
modalidade de funcionalidade simples possui temas específicos (técnicas e táticas, preparação
uma grande potencialidade considerando-se que física e psicológica), temas considerados educa-
é uma linguagem universalizada e sem divisas ou cionalmente transversais, como a subsistência, a
fronteiras, ou seja, é um fenômeno mundialmente libertação, a transformação e a comunicação.
hegemônico, mas que pode ter suas regras, estru- Como, porém, realizar esses objetivos? Com
tura e funcionalidade relativizada considerando as quais instrumentos podemos contar? É preciso
diferentes etapas e dimensões de prática. buscar, na realidade vivida das vivências que pra-
Tais objetivos, contudo, só serão atingidos ticam o handebol, uma organização com planeja-
com uma mudança sensível do panorama nacio- mento e sistematização adequados que permitam
nal atual, quer geral, quer educacional, com base estruturar metodologias e estratégias adequadas
308 MANUAL DE HANDEBOL
a prática era proporcional ao amor pelo desporto. Começamos a elaborar regulamento nos
Comecei a pensar no que deveria fazer para conti- quais, prioritariamente, tínhamos de estabelecer
nuar a praticar o handebol e nenhuma ideia vinha a idade mínima para os dois naipes, feminino e
à cabeça. masculino, e, em seguida, começamos a convidar
Durante a participação no III Encontro Na- ex-atletas para participar do evento.
cional de Professores de Handebol das Institui- O festival, que foi realizado no dia 18 de
ções de Ensino Superior Brasileiras na cidade de dezembro de 2004, reuniu 84 ex-atletas partici-
Belo Horizonte, porém, quando da realização pantes diretos, além de centenas de espectadores.
de uma apresentação com temática relativa sobre Durante o festival, foi feita uma enquete solici-
a prática do Handebol na Terceira Idade, que ti- tando sugestões para modificações de regras para
nha como base a prática do handebol para pesso- melhor desenvolvimento do jogo.
as a partir de 60 anos, encontramos o caminho No ano seguinte, durante a realização do
que nos permitisse encontrar respostas às nossas IV Encontro Nacional de Professores de Han-
inquietações quanto à continuação da prática do debol das Instituições de Ensino Superior Brasi-
handebol após a vida adulta. leiras, em Maceió, ministrei uma palestra sobre
De volta a Maceió, trouxe esta ideia e resol- o Master Handebolc, quando, oportunamente,
vi compartilhar com os meus alunos da Disciplina foi possível colher críticas e sugestões que, desta
Metodologia do Ensino do Handebol do Curso de vez, partiram de profissionais que já atuam nessa
Educação Física da Universidade Federal de Alagoas. área do desporto. Tudo isso contribuiu para o
Após uma explanação sobre todos os aconte- melhor desenvolvimento da modalidade propos-
cimentos do referido encontro, expus minhas ideias ta e muitas delas levaram à ampliação e a modi-
por meio do regulamento do handebol para terceira ficações no seu desenvolvimento .
idade e solicitei que eles fizessem uma análise crítica Além da realização do II Festival Máster,
no sentido de colocarmos em prática a proposta de em 2006, desta feita com algumas regras modifi-
implantação desta modalidade esportiva. cadas fruto das sugestões colhidas anteriormen-
Depois das discussões em sala de aula, chega- te, procuramos realizar outras atividades com-
mos à conclusão de que, em princípio, deveríamos petitivas. Como exemplo, foram realizados dois
lançar o máster handebol através da realização de torneios, sendo um no naipe masculino e outro
um evento competitivo denominado I Festival Más- no naipe feminino.
ter de Handebol.b Os festivais e torneios do máster de handebol
em Alagoas tencionam assegurar a implantação de
uma atividade direcionada a um grupo especial
b
Vale destacar a publicação da ata de fundação da modalidade,
no Diário Oficial do Estado de Alagoas de 1º de fevereiro de
2005, e o registro em cartório datado de 26 de junho de 2006,
cNo naipe feminino, a participante deverá ter, no mínimo, 30
como direito autoral do professor Francisco de Assis Farias. anos, enquanto no naipe masculino, a idade mínima é 35 anos.
HANDEBOL MASTER PARA EX -ATLETAS 311
de ex-atletas. A sua primeira edição idealizou-se No passado, valia a ideia de que envelhecer le-
sob duas perspectivas: a primeira parte do direito varia o indivíduo, após anos e anos de trabalho, a
à prática da atividade de handebol aos praticantes viver no imobilismo e ostracismo de seu lar, tudo
com faixa etária de 30 anos para o naipe feminino em virtude da ignorância quanto ao que é a velhice.
e de 35 anos para o naipe masculino; a segunda, Se antes o sujeito gozou de umstatus como membro
que visa garantir a sustentabilidade dos objetivos ativo da sociedade, agora ele poderá ser considerado
relacionados à incrementação do máster handebol um membro desnecessário ao convívio social.
nos cursos superiores de formação de professores Como consequência, era notável a diminui-
de Educação Física nos diversos Estados e regiões ção do número de expectativa de vida do idoso, já
brasileiras, a exemplo do Curso de Licenciatura que a sociedade o restringia de vários aspectos e
em Educação Física da Universidade Federal de condutas sociais.
Alagoas, em que consta um dos conteúdos da dis- Diante das mudanças ocorridas sobre o con-
ciplina Metodologia do Handebol. ceito de velhice nesses últimos anos, a população
idosa, mesmo com perdas na capacidade de seu or-
ganismo, permanece ativa dentro de suas limitações.
24.3 O que é envelhecimento? Em nosso ponto de vista, a maneira pela
qual as pessoas passam a encarar as características
O envelhecer é uma consequência natural do envelhecimento é que as classificam como “ve-
da vida, que não se pode evitar. Desenvolvendo- lhas”. Existem critérios que classificam o sujeito
se em torno da sexta década da vida dos seres hu- dentro de uma escala de valores sociais que mais
manos, envolve muitas variáveis (genética, estilo o cerceia de uma possibilidade de vida saudável e
de vida, doenças crônicas) que interagem influen- ativa do que o considera um sujeito experiente,
ciando a maneira pela qual envelhecemos. vivido e consciente de seu próprio corpo.
O que se deve fazer, no entanto, é procurar Envelhecer é mais uma etapa da vida, e de-
estabelecer as bases para que, nesse período, o ido- vemos nos preparar para vivê-la da melhor manei-
so possa viver nas melhores condições possíveis. ra possível. O indivíduo está em constante evolu-
Segundo Motta apud Corazza,6 o envelhecimento ção e, diariamente, seu corpo se desenvolve até se
torna-se acelerado quando o indivíduo vive em tornar adulto. Paralelamente, há um desenvolvi-
ambiente indesejado e vice-versa. mento em nível psíquico, social, afetivo e intelec-
De acordo com Mazzo,8 velhice é um termo tual. À medida que a pessoa se torna adulta, essa
impreciso e sua realidade é muito difícil de perce- evolução é mais lenta ou, ao menos, mais latente.
ber. Nada flutua mais do que os limites da velhice Em torno dos 21 anos, o crescimento cor-
em termos de complexidade fisiológica, psicoló- poral tende a diminuir e o jovem passa a estagnar
gica e social. fisicamente, embora seu organismo continue evo-
312 MANUAL DE HANDEBOL
luindo. Mais adiante, chega o momento em que o sobre o corpo, a saúde e até a personalidade dos
organismo começa uma fase de evolução, iniciando indivíduos na terceira idade. As suposições são as
o envelhecimento. Exteriormente, manifestam-se seguintes: para as pessoas mais idosas, a ativida-
alguns traços específicos do avanço da idade: cabe- de física ou o esporte pode ser um meio eficiente
los brancos, rugas nas mãos e no rosto, flacidez, en- contra o isolamento social e a solidão, podendo
tre outros. Os órgãos internos também começama compensar a diminuição das relações sociais em
dar sinais de cansaço ou falta de atenção. Embora razão da aposentadoria. Muitas vezes, pode ofere-
numerosos avanços científicos tenham ocorrido cer certa substituição do status e orgulho determi-
neste contexto, alguns resultados demonstram que nado pela atividade e posição profissional.
o programa de vida inscrito em nossos genes é de- Para se obter bons resultados na atividade
senvolvido de maneira distinta e de acordo com física, é preciso que os exercícios sejam de fácil
cada individuo, além de ser consideravelmente in- entendimento, proporcionando resultados po-
fluenciado pelo meio em que vivemos. sitivos à saúde. Enfim, a atividade, ao mesmo
O envelhecimento populacional já não é tempo, deve ser prazerosa, inspirando confian-
mais uma prerrogativa dos países em desenvolvi- ça no posicionamento fundamental do corpo
mento. Desde 1960, mais da metade dos idosos diante da vida.
do mundo vive em países em desenvolvimento, São pouco abordados pela literatura os as-
sendo que as projeções indicam que esse percen- pectos referentes ao sexismo. A maior parte deles
tual, em relação a essa população, subirá para demonstra que esse fato não tem importância na
70% no ano de 2020.8 formação de programas esportivos. Todavia, a so-
De acordo com Puga Barbosa,
9 o Brasil já é brecarga física e a treinabilidade diferem quanto
considerado um país envelhecido, e esse crescimento ao sexo. Acredita-se que a força e a resistência são
populacional é o mais acelerado do mundo. As pro- mais treináveis no homem e a mobilidade, nas
jeções mostram que, no ano de 2025, a proporção mulheres, que, por sua vez, estariam mais aptas a
dos idosos será de 15%, semelhante às que ocorrem, alguns processos coordenativos (que ocorrem es-
atualmente, em países europeus. Seremos, então, o pecialmente nas atividades de ginástica e dança).
sexto país em número de idosos no mundo. Outro fator importante está ligado à área de
motivação. Segundo Bauer e Egler,12 alguns dados
mostram que as mulheres são menos levadas ao
24.4 A prática da atividade física e esporte pela motivação de rendimentos em rela-
do esporte ção aos homens.
Não há dúvidas de que a atividade que con-
Autores como Otto e Leite supõem que
10 11 tém uma carga de resistência aeróbica merece
o esporte ou atividade física podem surtir efeito maior atenção quanto à saúde na velhice. Sob o
HANDEBOL MASTER PARA EX -ATLETAS 313
nima de 30 anos, enquanto no naipe masculino O jogo deve ser desenvolvido em áreas dis-
os participantes deverão ter, no mínimo, 35 anos. tintas, ou seja, em cada metade da quadra poderá
Em relação ao número de participantes, cada ter no máximo quatro e, no mínimo, dois jogado-
equipe é formada por 14 jogadores, sendo que, res de linha para cada equipe, que serão chamados
na quadra de jogo, só poderá haver, no máximo, de defensores e atacantes, além do goleiro.
oito jogadores de linha e um goleiro, para cada Se o jogador invadir a linha do meio do
equipe. Uma partida não poderá ter continuidade campo com a posse de bola, deve ser cobrado tiro
se uma das equipes ficarem reduzida a menos que livre contra sua equipe.
seis jogadores de linha. O máster handebol poderá também ser
O tempo de duração de uma partida ocorre praticado por equipes mistas, mas, para tanto, a
em dois tempos de 20 minutos, com 10 minutos equipe feminina deve sair com a bola e, em cada
de intervalo entre eles. Se, em uma partida, hou- equipe na quadra, deve permanecer o mesmo nai-
ver necessidade de se conhecer um vencedor, será pe em cada metade da quadra.
jogado um tempo extra de 5 minutos de prorro-
gação para a finalização do jogo. Se persistir o em-
pate, haverá uma série de cobrança de cinco a sete 24.5.2 Condições específicas do jogo
metros, cobrado por jogadores diferentes de for-
ma intercalada; persistindo ainda o empate, ha- Como condições específicas de jogo, a mo-
verá uma nova série de cobranças de sete metros; dalidade máster handebol ainda apresenta algu-
contudo, o vencedor agora é decidido logo que mas características que lhes são peculiares e ne-
houver um gol de diferença, após cada equipe ter cessárias ao desenvolvimento do jogo. Abaixo,
tido o mesmo número de arremessos. As cobran- destacamos algumas outras considerações que
ças de sete metros deverão ser cobradas por atletas vêm se adequar à modalidade proposta:
diferentes que estejam em condições de jogo e de
forma intercalada. Se o jogador de linha invadir a linha
O tiro de meta também é executado pelo do meio de campo sem a bola e disso
goleiro, mas ele é obrigado a passar a bola para tirar proveito, será cobrado tiro livre
os jogadores da defesa; o tiro de saída é também contra sua equipe.
executado pelo goleiro, no início do jogo e após É permitido, a ambas as equipes, apa-
cada gol sofrido, mas se deve pisar na linha de nhar a bola que esteja no ar sobre o
tolerância da execução da cobrança do tiro de sete meio de campo no qual ele não estiver
metros; o goleiro também é obrigado a passar a jogando.
bola para um dos seus companheiros que se en- A bola não poderá ser passada direta-
contra na defesa. mente do goleiro, através de um tiro de
HANDEBOL MASTER PARA EX -ATLETAS 315
saída ou tiro de meta, para os jogadores muito embora seja necessária a adaptação à nova
que se encontram no ataque (tiro livre). modalidade em relação à técnica de arbitragem.
Os jogadores substitutos (reservas) só Como exemplo, deve a arbitragem estar
poderão entrar para participar do jogo atenta às características de esporte participativo
pelas zonas de substituições (comuns que esta modalidade oferece, em que os partici-
às duas equipes), executando a forma- pantes do máster handebol devem ter sempre em
lidade das regras oficiais do handebol mente que esta modalidade foi criada na perspec-
(exclusão de dois minutos na primeira tivas dos seus participantes jogarem “com” e não
e, nas demais, cinco minutos para o “contra”. Essa é que é a base principal do jogo.
mesmo atleta).
A primeira exclusão terá a duração de
dois minutos, mas o atleta poderá ser 24.6 Considerações finais
substituído por outro durante a exclusão.
A segunda e a terceira exclusão do Após realização de dois festivais máster de
mesmo atleta terão duração de cinco handebol e a participação em Eventos Científicos
minutos, mas também o atleta poderá e Encontros Profissionaise,f, além de garantir a in-
ser substituído durante a exclusão. As serção desta modalidade nos planos de ensino da
exclusões no máster têm o objetivo de disciplina Metodologia do Handebol do Curso
ternacional, tendo, inclusive, conquistado resul- O que chama a atenção no handebol dispu-
tados expressivos. Porém, como a informação é tado por DA é a utilização das mesmas regras da
verbal, não foi possível registrar dados sobre essa IHF, facilitando a integração e desenvolvimento
participação, que encontra-se registrada interna- motor do DA.
cionalmente na sequência quando se registram as
Olimpíadas Especiais.
25.2.2 Special Olympics (Olimpíadas Es-
peciais)
25.2 Iniciativas internacionais
Já nas Olimpíadas Especiais, algumas adap-
Em âmbito internacional, a pesquisa per- tações são necessárias.
mitiu identificar que existem adaptações do Inicialmente, todos devem passar por uma
handebol para surdos e deficientes mentais, e a bateria de testes classificatórios que incluem qua-
modalidade faz parte dos Deaflympics (olimpíadas tro provas: tiro ao alvo; velocidade de passe; drible
dos deficientes auditivos) e das Special Olympics e força de arremesso. Todos os jogadores fazem o
(olimpíadas especiais), em que o handebol é dis- teste e o escore da equipe é determinado pela soma
putado em três formatos diferenciados. dos 7 melhores resultados divididos por sete.
As competições são disputadas em quatro
situações diferenciadas:
25.2.1 Deaflympics – deficientes auditivos
Equipes de handebol utilizando os
Na Olimpíada para DA – deficientes au- mesmos 7 jogadores do handebol nor-
ditivos – realizada em Melbourne, Austrália, em mal, com a possibilidade de 5 reservas.
janeiro de 2005, cinco seleções masculinas dispu- Equipes com 5 jogadores e 4 reservas.
taram a medalha de ouro. Na primeira fase, as Equipes mistas com 4 DM e 3 nor-
cinco seleções jogaram entre si em turno único, mais.
e a classificação final determinou os jogos das se- Provas individuais para atletas que
mifinais (mais detalhes em: <www.deaflympics. não têm condição de participar das
com>, 2005). competições de equipes, compostas
Na disputa da medalha de bronze, a Alema- por três provas: passe com alvo, drible
nha venceu a Dinamarca por 26 x 20, e a Croácia em dez metros e arremesso. (mais de-
conquistou a medalha de ouro ao ganhar dos EUA talhes em: <www.specialolympics.
(prata) por 43 x 26 (mais detalhes em: <www.dea- org>, 2005).
flympics.com>, 2005).
HANDEBOL EM CADEIRA DE RODAS 319
levando em consideração que poderiam ser dados cadeira de rodas, o que fez que a altura do traves-
três impulsos, proporcionaria um grande desloca- são fosse reduzida para 1,20 m (borda interna) ou
mento para o jogador. 1,28 cm (borda externa). Desde 2005, é disputa-
Essas informações foram destacadas porque do anualmente em Madri um torneio que envolve
foram fundamentais no desenvolvimento da pro- equipes de basquetebol em cadeira de rodas.
posta implantada no Projeto AMA – Atividade As outras iniciativas (Federação Europeia
Motora Adaptada, desenvolvido pela Universida- e Austrália) apresentam similaridades, sendo, na
de Paranaense em Toledo (PR). primeira, o fato de as equipes disputarem os jogos
Foram identificadas iniciativas isoladas das com seis jogadores em quadra. A iniciativa austra-
Prefeituras de Santos, São Sebastião e Jundiaí, no liana é capitaneada pelo professor George Costas
Estado de São Paulo, no Estado do Rio de Janei- que, em 2006, publicou sua proposta de regras.
ro, por parte da Prefeitura da Capital e do Centro Na Federação Europeia, quem estão à frente
Educacional Santa Mônica, na Bahia, por meio do desenvolvimento do Handebol em Cadeira de
do Núcleo de Educação Física e Esporte Adapta- Rodas são os professores Frantisek Taborski, da
do de Feira de Santana e na Sociedade Hípica de República Tcheca, e Nicole Huang, da Federação
Campinas (SP). Europeia de Handebol.
320 MANUAL DE HANDEBOL
para 1,60 m, por meio da implantação de uma timento motor decorrente e seu volume de jogo.
placa de ferro, que, além de dar maior continui- O valor estabelecido como máximo permitido em
dade ao jogo, tem se mostrado uma eficaz ferra- regra determinará o perfil dos jogadores que par-
menta de marketing e divulgação de eventuais pa- ticipam do jogo.
trocinadores (Figura 25.1).
A outra modalidade desenvolvida é o HCR4, Quadro 25.1 – Soma total da classificação funcio-
que exigiu uma quantidade maior de adaptações, nal dos atletas
mas que, além de possibilitar às equipes iniciantes Modalidade SomaC/F
HCR7 16
a participação em competições, tem apresentado
HCR4a 14
uma boa receptividade por parte do público que HCR4b 7
assiste às apresentações de HCR.
Cabe, ainda, salientar que ambas as propos- O quadro demonstra a soma total da clas-
tas – HCR7 e HCR4 – atendem a públicos dis- sificação funcional dos atletas que podem estar
tintos daqueles que jogam basquetebol em cadeira em quadra e refletem os princípios que determi-
de rodas e rúgbi adaptado, e isso vem se mostran- nam cada categoria, de forma que as competições
do um fator que confere credibilidade à proposta, aconteçam com maior equilíbrio.
HANDEBOL EM CADEIRA DE RODAS 321
são muito semelhantes às do jogo de tradicional. de Santa Catarina, o Clube Roda Solta, de Ita-
São feitas apenas algumas modificações, que le- jaí. O evento marcou, também, a realização da
vam em consideração a cadeira de rodas, a mecâ- primeira partida de HCR entre mulheres, com a
nica da sua locomoção e a necessidade de se jogar realização de dois jogos de HCR4.
sentado. A formação de equipes de HCR na UNICAMP,
Pode ser destacada a redução da trave, por que já realizou um curso de arbitragem em HCR
meio da implantação de uma placa que amplia o e a realização de jogos entre a UNICAMP e Indaia-
travessão superior de 0,08 cm para 0,48 cm, fazen- tuba, equipe de basquete em cadeira de rodas que
do que a altura da trave seja de 1,60 m, o que per- veio a Campinas para conhecer o HCR, serviu de
mite que o goleiro possa jogar na cadeira de rodas. estímulo para que a Universidade Metodista, de
As demais regras são similares às do hande- São Bernardo do Campo, também formasse uma
bol de salão, inclusive a possibilidade de realizar equipe dedicada exclusivamente ao HCR que, no
somente três propulsões na cadeira, caso o atleta dia dois de dezembro de 2008, disputou o primei-
esteja em posse de bola, que seria correspondente ro jogo oficial de HCR nos estado de São Paulo.
aos três passos. Também cabe ressaltar que a bola A realização de um Seminário Internacional
não pode ser conduzida sobre as pernas. sobre o handebol em cadeira de rodas, realizado
322 MANUAL DE HANDEBOL
dos do Laboratório de Atividade Física e Saúde lizada pela atleta cadeirante Catalina Jimeno, que
de São Caetano do Sul (SP) (2006, 2007, 2008), esteve em Toledo acompanhada do jogador de
no ISAPA – Simpósio Internacional de Atividade handebol Francisco Cortez para conhecer o traba-
Física Adaptada –, realizado em Rio Claro (SP) e lho desenvolvido pela equipe da ATACAR/UNIPAR/
promovido pela IFAPA – Federação Internacional Toledo, em fevereiro de 2008, e, ao retornarem
de Atividade Física Adaptada (2007) e do ICSEMIS ao Chile, formaram a primeira equipe de HCR
2008 – Convenção Internacional em Ciência, naquele país, com apoio da Universidad Católica
Educação e Medicina no Esporte, realizado em de Santiago.
Guangzouh, na China, uma semana antes do iní- A repercussão do trabalho apresentado no
cio das Olimpíadas de Pequim (2008). Os profes- Congresso Pré-Olímpico (ICSEMIS, 2008) levou
sores responsáveis pela formatação da proposta já os organizadores a agendarem a realização do pri-
inscreveram um trabalho para o ISAPA 2009, que meiro evento Internacional do HCR para julho
será realizado na Suécia, em junho de 2009. de 2010 em Foz do Iguaçu (PR).
A capacitação de professores para atuar com
o HCR, no Brasil, acontece desde 2006, quando
a modalidade foi tema de um minicurso durante
Confederação Brasileira de Handebol
Possibilitar o surgimento de novos ta- Petrobras Mini-Hand tem sido um dos fatores
lentos que possam integrar as equipes que contribuem, de forma decisiva, para que a
brasileiras em futuras competições in- Petrobras renove contrato de patrocínio com a
ternacionais. CBHb, pois o programa integra o elenco de pro-
jetos sociais da maior empresa brasileira.
Os fundamentos e elementos são os mesmos
26.3 Introdução do handebol, mas o número de jogadores, o ta-
manho da quadra e outros detalhes são diferencia-
Iniciar e integrar as crianças e jovens das dos. As atividades são mistas: meninos e meninas
unidades escolares brasileiras à prática do hande- podem e devem jogar juntos, desenvolvendo, as-
bol, difundir o esporte por meio da rede escolar sim, noções básicas de convivência social, disci-
de ensino estadual, municipal e particular e trans- plina e respeito. O mini-handebol constitui-se no
formar seus praticantes com grande potencial em primeiro contato com a modalidade e segue uma
atletas de ponta são os objetivos deste projeto da pedagogia desportiva moderna, que integra os ele-
Confederação Brasileira de Handebol – CBHb. mentos básicos do esporte com a criança por meio
Sabemos que não existem muitas possibili- de uma atividade lúdica e divertida.
dades de progresso no esporte se nos esquecer- Após o pontapé inicial em Sergipe, várias ci-
mos do trabalho de base que gera esperança para dades, Estados e núcleos individuais, atualmen-
o futuro. Por esse motivo, a CBHb possui alguns te, fazem parte do projeto. Até 2004, o progra-
programas para incentivar e difundir a prática ma era desenvolvido em Minas Gerais, Paraná,
do esporte, e o mini-handebol é, entre eles, um Rio de Janeiro e Sergipe. Em 2005, Amazonas
programa vitorioso. É uma atividade esportiva e Rio Grande do Sul aderiram inteiramente ao
iniciadora da modalidade, que possui um perfil projeto, e a cidade de Aracaju também ampliou
mais recreativo do que competitivo. Assim, realiza sua atuação.
também um trabalho social, ocupando o tempo Os resultados obtidos até agora vêm desper-
das crianças, tirando-as da ociosidade e melho- tando o interesse em outras regiões do país, e o
rando sua qualidade de vida. Isso faz, também, Projeto Petrobras Mini-Hand Iniciação Esporti-
que elas diminuam o contato com a marginalida- va, agora com um total de 45 núcleos, vem cres-
de e o uso de drogas. cendo muito ultimamente. Alguns Estados, como
O Projeto Mini-Handebol foi criado em Minas Gerais, ampliaram sua participação, e no-
2000 e ganhou força em 2004, passando a ser vos núcleos já foram solicitados para os Estados
conhecido como Projeto Petrobras Mini-Hand de do Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São
Iniciação Esportiva. Com apoio total da empresa Paulo, Sergipe e Tocantins. Todos foram implan-
patrocinadora do handebol brasileiro, o Projeto tados em 2006.
PROJETO MINI -HANDEBOL E CAÇA -TALENTOS NO BRASIL 325
associadas a algum processo patológico, não são, de movimentos articulares e respiratórios, refor-
em si, incapacitantes. çando o sentimento de progresso e estimulando
Existe, porém, formas de reagir a essa ação a conquista de pequenos desafios, capazes de pro-
do tempo e amenizar seus efeitos. Uma delas é mover a integração interpessoal e contribuir, con-
a prática de atividades físicas e desportivas que, sideravelmente, no combate à depressão.
além de proporcionar força muscular, flexibilida- Definida como um jogo de bola praticado
de, coordenação e equilíbrio, contribuem muito com as mãos, esta modalidade tem como objetivo
para a elevação da autoestima e intensificação dos principal, para as equipes, marcar o maior núme-
relacionamentos diários. ro de gols na equipe oponente, e, para se atingir o
Consideramos a modalidade de handebol êxito esperado, os jogadores deverão criar sucessi-
adaptado para terceira idade a ser apresentada vas oportunidades de arremesso ao gol, por meio
neste capítulo um claro exemplo desse mecanis- da correta interpretação das regras e execução dos
mo de integração. fundamentos.
Suas características seguem, basicamente, os
mesmos princípios e objetivos do jogo tradicio-
nal, porém com uma série de adaptações capazes
328 MANUAL DE HANDEBOL
de proporcionar aos praticantes maior segurança poderá levá-los a conseguir desenvolver todo seu
na execução dos fundamentos e no desenvol- potencial enquanto iniciante de uma modalidade
vimento das estratégias de jogo, sem, é claro, esportiva como esta.
perder a plasticidade e o glamour que a moda-
lidade oferece.
27.3.1 Metodologia
suas regras terem transformado o handebol adap- descontração e divertimento, o que proporcio-
tado em um jogo de rápida compreensão pelos nará a eles um grande prazer por intermédio
idosos. de sua prática.
Desse modo, o gol, objetivo principal em Para isso, é necessário e importante res-
uma partida, se tornou uma tarefa de fácil con- peitarmos o grau de domínio das habilidades
secução, em virtude da simplicidade com que motoras e das limitações de cada indivíduo, fa-
as adaptações às regras o transformaram. Assim, zendo que o processo de ensino-aprendizagem,
a meta e, consequentemente, o sucesso em uma nesta etapa, seja todo voltado para o conhe-
partida de handebol adaptado são alcançados di- cimento dos aspectos básicos e mais gerais da
versas vezes. modalidade.
Apesar de toda essa “facilidade” em aprender Incentivar inicialmente a execução de forma
a nova modalidade, não devemos deixar que suas global das atividades propostas, sem a obrigato-
atividades iniciais sejam desconsideradas, muito riedade de um maior detalhamento sobre regras
pelo contrário, a elaboração de um planejamento e táticas da modalidade, fará que eles sintam-se
adequado aos anseios e necessidades inerentes ao à vontade, proporcionando-lhes um desenvolvi-
corpo do idoso será um fator preponderante que mento completo e prazeroso.
HANDEBOL NA TERCEIRA IDADE 329
Esta metodologia será fundamental para que A partida só iniciará com o mínimo de 10
o idoso, aos poucos e cada vez mais, vá gostando jogadores em cada equipe. No entanto, depois de
do jogo e de todas as suas facetas. iniciado, o jogo continuará mesmo com número
menor de jogadores.
As sanções pessoais aplicadas aos jogadores Utilizar os braços e as mãos para blo-
somente resultarão em redução da equipe infra- quear ou ganhar a posse de bola.
tora. A continuidade da partida não será afetada, Tirar a bola do adversário com a mão
entretanto, os jogadores excluídos, desqualifica- aberta não importando o lado.
dos ou expulsos, serão substituídos após um mi-
nuto após o jogo ter sido reiniciado.
Se um atacante invadir a área de gol (seis me- 27.4.7.2 É proibido aos atletas
tros) durante a realização de uma ação ofensiva,sua
equipe perderá a posse de bola. Porém, se a mesma Obstruir o adversário com as mãos,
infração for cometida por um defensor, será anota- braços ou pernas.
do um tiro livre para a equipe adversária. Empurrar o adversário para dentro da
O jogador que, propositalmente, arremes- área de gol.
sar a bola contra o corpo de seu oponente será Entrar em contato físico com adversário;
advertido com um cartão amarelo, e sua equipe Lançar a bola de modo perigoso para
perderá, automaticamente, a posse de bola. Se o adversário ou dirigir a bola contra
reincidido o ato, o jogador infrator será excluído ele em uma finta perigosa.
em um minuto da partida, e assim sucessivamente Colocar em perigo o goleiro.
até sua desqualificação do jogo. Segurar, abraçar ou empurrar o adversário;
No caso de desqualificação, o jogador ou Lançar-se sobre o adversário correndo
oficial infrator não participará mais do restante da ou saltando, passar-lhe a perna, atirar-
partida. Entretanto, no caso do jogador, ele po- -se diante dele ou agir de qualquer ou-
derá ser substituído por outro, depois de passado tra maneira perigosa.
um minuto depois de o jogo ser reiniciado.
Os jogadores de linha em situação normal
de jogo não poderão passar a bola para seu golei- 27.4.7.3 Tiro de saída e reposição de bola
ro, quando este estiver dentro de sua respectiva
área. Caso isso ocorra, será marcado um tiro de Minutos antes do jogo, o árbitro realizará
sete metros para a equipe adversária. o sorteio entre os capitães de ambas as equipes,
Quando houver conduta indisciplinar ou não decidindo o lado da quadra em que iniciarão a
condizente com o esporte por parte de um jogador, partida e qual equipe começará de posse de bola.
técnico ou dirigente, o infrator será expulso da parti- A partida se iniciará com a bola em posse dos ata-
da e sua equipe, punida com um tiro de sete metros. cantes da equipe que venceu o sorteio. O goleiro, de
332 MANUAL DE HANDEBOL
No entanto, ele terá até três segundos de Um tiro de sete metros será marcado toda
posse de bola enquanto estiver parado e cinco se- vez que:
gundos em deslocamento.
O defensor estiver marcando seu opo-
nente dentro da área de gol (seismetros).
27.4.7.4 O gol O defensor entrar em contato físico inten-
cional para com o seu adversário, quando
Um gol é marcado logo que a bola tenha ul- da realização de uma ação defensiva.
trapassado completamente a linha de gol. Um defensor empurrar seu oponente
para dentro da área de gol, estando ele
de posse de bola.
27.4.7.5 O goleiro Um defensor obstruir seu oponente
com mãos, braços ou pernas no mo-
O goleiro, depois de repor a bola em jogo, mento de sua finalização ao gol.
poderá atuar como jogador de linha, respeitando Um jogador, técnico ou dirigente tiver
os limites de seu campo defensivo. sido expulso da partida, por conduta
HANDEBOL NA TERCEIRA IDADE 333
indisciplinar ou não condizente com com a mão espalmada. Uma vez realizada a sina-
o esporte. lização, os atletas terão, no máximo, cinco segun-
Um jogador de linha realizar um passe dos para finalizar a jogada. Caso isso não ocorra, a
para seu goleiro, estando ele dentro de equipe perderá a posse de bola, sendo anotado um
sua respectiva área de gol (seis metros). tiro livre para a equipe adversária.
bola, de tal modo que ela permaneça presa entre De início, a primeira impressão causada
eles por um tempo superior a três segundos. foi extremamente positiva, e a segunda aula
Uma vez assinalada pelo árbitro, a partida aconteceu dois dias após, ficando estabelecido,
será imediatamente interrompida por time out, e a partir de então, que o grupo se reuniria duas
a bola será reposta em jogo por meio de um tiro vezes por semana para as sessões de aprendiza-
livre para a equipe que estiver realizando o ataque. gem da modalidade. E assim aconteceu durante
dois meses.
Nesse período, o professor pôde est udar os
27.5 Histórico da modalidade atletas em atividade, partindo para uma esfera
maior de observações e análises, e, em seguida,
A modalidade de handebol adaptado para elaborou uma série de adaptações às regras do
terceira idade surgiu em meados de 1999, na ci- jogo, o que veio a oferecer maior segurança aos
dade de Descalvado, interior do Estado de São adeptos durante sua prática, tomando, é claro,
Paulo, onde o então professor de Educação Física todo o cuidado necessário para que tais altera-
Marcos Roberto Valentim Biazoli convidou um ções não descaracterizassem o esporte em si.
grupo de idosos participantes da Academia de Gi- O resultado foi um sucesso e o jogo, que
nástica da Terceira Idade do Município a conhe- já era bem aceito antes, transformou-se em
cer uma modalidade esportiva ainda não presente uma prática desportiva ainda mais prazerosa
Masters: para indivíduos dos 50 aos 59 2005, quando a Prefeitura, junto à Secretaria de
anos. Esportes, Lazer e Turismo do Município, resolveu
Sêniores: para indivíduos dos 60 aos englobar a modalidade dentro de seu rol de ati-
69 anos. vidades, passando sua coordenação e desenvolvi-
Bisas: para indivíduos acima dos 70 anos. mento a seu cargo, até os dias atuais.
28 O handebol de areia
O handebol de areia é um jogo muito dinâ- O handebol de areia foi criado tendo como
mico, atrativo ao espectador e pautado nofair play. princípio da estrutura de jogo que apresentasse
As jogadas espetaculares são muito frequentes, e o e gerasse maior quantidade de ações espetacula-
contato físico é menos acentuado do que no hande- res em relação ao handebol de quadra. Para isso,
bol de salão.14 De acordo com Duarte,15 o hande- foram desenvolvidas regras específicas em busca
bol de areia é um jogo de muitas movimentações, dessa finalidade, como alternativas de se obter
que desperta muitas emoções nos seus praticantes dois pontos em uma ação. Também houve refor-
e espectadores. Da mesma forma que o futebol e o mulação quanto às penalizações. Em contraposi-
voleibol, o handebol é mais uma modalidade que ção ao contato vigoroso presente no handebol de
sai das quadras e ganha as praias de todo o mundo. salão, diminuiu-se o número de penalizações para
De fato, a modalidade cresceu rapidamente, pois, gerar a exclusão do jogador da partida (duas, ao
na última edição do Campeonato Mundial, realiza- invés de três, como na quadra). Em 1996 foram
do em julho de 2008 na Espanha, participaram 12 publicadas, pela IHF, as primeiras regras oficiais
equipes masculinas e 12 femininas, contando com do jogo.16 Porém, essas regras sofreram algumas
seleções nacionais de todos os continentes. Isso de- modificações e, nos dias de hoje, o jogo é dispu-
monstra que o handebol de areia é uma modalida- tado em uma quadra de formato retangular (27
de com ampla aceitação no contexto dos esportes x 12 metros), que apresenta uma área de jogo e
contemporâneos. duas áreas de gol. Estas são demarcadas parale-
Neste capítulo, serão abordadas as regras do lamente à linha de fundo, a uma distância de 6
jogo, e, também, descreveremos os fundamentos metros. Nas laterais da quadra, estão localizadas
desta modalidade, suas táticas defensivas e ofen- as zonas de substituição de cada equipe, sendo
sivas mais utilizadas em alto nível de rendimen- que os goleiros podem entrar somente pela sua
to, bem como a diferenciação dos processos de área de gol na realização de uma troca. Como
preparação física, comparado com o handebol pode ser observado, as áreas de gol são retangu-
de quadra. lares, diferentemente do handebol de salão, mas
338 MANUAL DE HANDEBOL
mantiveram a mesma distância da linha de fundo pe que vencer a disputa de shoot out (u m contra
(6 metros). o goleiro). Oshoot out consiste em cinco cobranças
Uma equipe é composta por oito jogadores, alternadas, em que um jogador passa a bola para seu
sendo que, em cada equipe, podem permanecer goleiro, corre em direção ao gol adversário, recebe a
em quadra, simultaneamente, quatro jogadores, e bola e arremessa contra o goleiro da outra equipe.
um destes, necessariamente, será um goleiro (três Os gols marcados podem receber pontua-
jogadores de linha e um goleiro). Uma partida ções diferentes em todos os momentos da parti-
consiste em dois períodos de dez minutos, com da. Um gol terá pontuação adicional (gol de dois
intervalo de cinco minutos entre eles. A pontu- pontos) quando for marcado pelo goleiro, em tiro
ação de cada período é computada separada- de seis metros (o equivalente ao tiro de sete me-
mente, havendo um vencedor para cada perí- tros do handebol de quadra) ou em uma jogada
odo. Caso um período termine empatado em espetacular (“ponte aérea” e giro de 360º).
pontuação, o vencedor será determinado por Uma partida de handebol de areia é mediada
meio do denominado gol de ouro , ou seja, vence por dois árbitros, assim como no handebol de qua-
quem marcar primeiro. Se cada equipe vencer dra. Porém, alguns gestos são mais específicos para
um período, o vencedor da partida será a equi- sinalizar gol de um ponto de doispontos e exclusões.
Área de Jogo
m 15 m
2
1
Área de gol
Área de gol
6m
ma de drible mais comum é rolar a bola na areia e Nos dois tipos de arremesso, para prolongar
pegá-la novamente dentro de três segundos, na o tempo de voo, os jogadores flexionam os joelhos
forma de um autopasse. e inclinam o corpo para frente, aumentando as
chances de uma boa finalização.
FIGURA 28.2 – Possibilidades de substituição dos goleiros para criar condição de superioridade numérica no ataque.
rioridade numérica (4 atacantes x 3 defensores), tribuição inicial dos jogadores nas linhas e zonas
proporcionada pela participação do goleiro no da quadra lhes confere funções e nomenclaturas
ataque. É permitido ao goleiro sair da sua área e específicas, determinando os postos específicos de
participar como jogador de campo. Esse fato táti- ataque e defesa (Figura 28.3).
co torna a marcação de gols relativamente fácil e o É importante salientar que essa representação
contato físico, menos acentuado. Assim, a distri- dos postos específicos de ataque (Figura 28.3, à es-
buição dos jogadores em quadra tem importantes querda) leva em consideração a utilização do goleiro
implicações para a dinâmica do jogo de handebol no ataque, sendo que esse jogador poderia ocupar
areia, criando possibilidades táticas específicas de qualquer um dos postos. Porém, esse jogador recebe
ataque e defesa (Figura 28.2). a denominação de goleiro-atacante ou especialista.
O HANDEBOL DE AREIA 341
E C D
PV
PE PD
AM
FIGURA 28.3 – Postos específicos de ataque (quadra à esquerda) e defesa (quadra à direita). Ponta esquerda (PE),
armador (AM), ponta direita (PD) e pivô (PV), no ataque. defensores esquerdo (E), central (C) e direito (D).
4:0 e 2:2) ou em igualdade numérica (3:0, 2:1), ataque em superioridade numérica, demonstrando
considerando o número de jogadores distribuídos a grande importância do goleiro-atacante para a di-
na primeira e na segunda linha ofensiva.17 nâmica de jogo. O sistema mais utilizado entre essas
equipes foi o 3:1, seguido pelo 4:0.
FIGURA 28.4 – Sistemas de ataque em superioridade numérica. Sistema 3:1 (quadra à esquerda) com o goleiro-atacante
(círculo aberto) jogando como armador. Sistema 4:0 (quadra à direita) com o goleiro-atacante de ponta esquerda.
342 MANUAL DE HANDEBOL
to, suas regras e a superfície de jogo acabam deter- na potencialização de energia elástica e reduz a
minando comportamentos técnicos e táticos que eficiência do complexo músculo-tendão.19 Zam-
conferem à modalidade esportiva características paro20 relatou uma redução na reutilização de
a) b)
FIGURA 28.5 – Sistemas de defesa por zona. Sistema 3:0. Sistema 2:1 com o defensor central avançado na segunda
linha defensiva
O HANDEBOL DE AREIA 343
energia elástica como, também, perda de energia. minhada em areia apresenta um gasto energético
Essas condições biomecânicas e fisiológicas têm de 1,8 a 2,7 vezes maior em relação a superfícies
sido consideradas as causas pelo maior gasto de firmes,20,22 enquanto as corridas em areia apresen-
energia na areia em relação a superfícies firmes tam um gasto energético de 1,2 a 1,6 vez superior
na corrida.21 Alguns estudos relataram que a ca- em relação a superfícies firmes.20,22,23
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sica. 1. ed. São Paulo: Phorte, 2001. Makron Books do Brasil, 2000.
EQUIPE DE REALIZAÇÃO
Edição de Texto
Nathalia Ferrarezi (Assistente-editorial)
........................ (Preparação e copidesque)
........................ (Revisão)
Editoração Eletrônica
Renata Tavares (Projeto gráfico, capa e diagramação)
Ricardo Howards (Ilustrações)
Impressão
................................