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Espaço Biológico: Conceito Chave para Estética e Saúde Gengival em Procedimentos Restauradores
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Em casos complexos o tratamento interdisciplinar visa restabelecer saúde, função Os tecidos periodontais formam
e estética. O conhecimento do complexo dentogengival é fundamental para a um complexo dentogengival cuja
longevidade das reabilitações. Entretanto, frequentemente nos deparamos com principal função é manter a integri-
tecidos periodontais inflamados ao redor de restaurações ou próteses. Métodos de
dade, o conforto e o “vedamento”
diagnóstico precisos são utilizados na identificação da invasão do espaço biológico
(EB) e na tomada de decisão do tratamento mais indicado para o restabelecimento biológico do dente. Algumas es-
dessas estruturas. O conhecimento do comportamento cicatricial dos tecidos truturas periodontais importantes
guiará a complementação protética final. Adicionalmente, a localização dos estão localizadas na porção interna
términos cervicais deve respeitar os limites anatômicos do EB. O gerenciamento do tecido gengival que circunda os
correto desses princípios garante o sucesso das reabilitações. Int J Periodontics dentes cujas dimensões verticais
Restorative Dent - edição em português 2016;1:825–832. doi: 10.11607/prd.1570.
são conhecidas como Espaço Bioló-
gico (EB).1 Essas estruturas apresen-
tam dimensões verticais médias já
conhecidas, com pequena variabili-
dade entre os dentes e indivíduos:
extensão média do sulco (0,69 mm),
Mestre e Doutor em Periodontia pela FOUSP - Faculdade de Odontologia, Universidade
1 extensão média do epitélio juncio-
de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. nal (0,97 mm) e extensão média da
2Mestre em Periodontia pela FOUSP e Doutorando do Programa de Pós-Graduação em
inserção conjuntiva supra-alveolar
Ciências Odontológicas – Área de concentração Periodontia - Faculdade de Odontologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. (1,07mm), sendo esta última a medi-
3Especialista em Periodontia pela Fundação Faculdade de Odontologia (FUNDECTO) , São da que apresenta menor variabilida-
Paulo, SP, Brasil. de.2 Nos procedimentos protéticos
4Professor Associado, Unidad de Investigación Básica Oral (UIBO), Universidad El Bosque,
e restauradores, um periodonto
Bogotá, Colômbia e Professor Titular, Mestrado em Odontologia, Universidade Ibirapuera
(UNIB), São Paulo, SP, Brasil. saudável é um pré-requisito para um
5Professor Doutor da Disciplina de Periodontia da Faculdade de Odontologia, Universidade
resultado funcional previsível e esté-
de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. tico a longo prazo. Nevins e Skurow
6Professor Associado da Disciplina de Periodontia da Faculdade de Odontologia,
The International Journal of Periodontics & Restorative Dentistry – Edição em Português Volume 1, Número 1, 2016
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rações, reabsorções radiculares e gengival, englobando o sulco his- Estudos que descreveram as dimensões do EB em humanos quando avaliados os
preparos protéticos. O resultado tológico, o epitélio juncional e a in- Tabela 1 grupos de dentes, localização e biótipo gengival
desta violação pode provocar um serção conjuntiva.3 Durante muitas Espaço biológico (EB)
processo inflamatório e, conse- décadas padronizou-se considerar Autor (ano) Metodologia Resultados Conclusões (Considerado pelos autores)
Gargiulo et al.2 Estudo em humanos (cadáver); 0,69 mm – ES Altura do topo da crista 2,04 mm
quentemente, reabsorção do teci- clinicamente a dimensão do EB em 365 blocos de dentes; 0,97 mm – EJ óssea EJ + IC
do ósseo periodontal na tentativa 3 mm. Tal distância foi baseada nos Análise histométrica; 1,07 mm – IC até a margem gengival
Não avaliaram o biótipo gengival de 2,73 mm.
de restabelecer a dimensão fisio- achados de um estudo realizado Vacek et al.4 Estudo em humanos (cadáver); 1,14 mm – EJ Quando comparadas as Anterior: 1,75 mm (EJ + IC)
1,07 mm
lógica destas estruturas. em cadáveres que demonstrou a 171 superfícies de dentes; 0,77 mm – IC dimensões do EB entre Premolar: 1,97 mm (EJ + IC)
Análise histométrica; 1,32 mm – PS + EJ as superfícies de dentes Molar: 2,08 mm (EJ + IC)
0,97 mm Na literatura são descritas várias média de 2,73 mm entre a margem Não avaliaram o biótipo (média para todas não houve diferença
opções de tratamento para o resta- gengival e a COA.2 Estudos mais gengival as superfícies estatística
0,69 mm estudadas) significativa
belecimento do EB, dentre elas tra- recentes sugerem que estas medi- Jardini e Pustiglioni12 Estudo em humanos (in vivo); Não foi avaliada Os sítios proximaisAnterior Superior (MG-COA)
tamentos não cirúrgicos e cirúrgicos das podem estar limitadas quando 120 dentes com periodonto a média geral do Sítio mesial: 2,94 ± 0,53
(mesiais e distais), tanto
clinicamente saudável; espaço biológico. para o arco superiorSítio vestibular: 2,64 ± 0,55
periodontais com diferentes aborda- consideramos diferentes situações Análise clínica (sondagem Foi analisada a Sítio distal: 2,81 ± 0,59
como para o inferior,
gens. O gerenciamento clínico desta clínicas e anatômicas, pois a distân- transulcular); Sítio palatino: 2,58 ± 0,58
média por sítios e apresentaram-se maiores
Não avaliaram o biótipo Médio Superior (MG-COA)
grupos de dentes do que os das faces livres
condição inclui exodontia estratégi- cia pode variar entre os diferentes gengival Sítio mesial: 3,21 ± 0,32
(vestibular e palatina/
ca, cirurgia ressectiva óssea para au- grupos de dentes, sítios e biótipos lingual) Sítio vestibular: 2,65 ± 0,49
Sítio distal: 3,15 ± 0,34
mento de coroa clínica e, em alguns gengivais (Tabela 1). Sítio palatino: 2,78 ± 0,38
Posterior Superior (MG-COA)
casos específicos, extrusão ortodôn- Vacek et al.4 compararam as Sítio mesial: 3,26 ± 0,21
Fig 1 Esquema representativo das estru- tica.5 Quando corretamente indica- medidas do epitélio juncional e da Sítio vestibular: 2,87 ± 0,31
turas e dimensões que compõem o espaço Sítio distal: 3,70 ± 0,36
biológico (sulco histológico: 0,69 mm; epité- dos, esses diferentes procedimentos inserção conjuntiva em dentes an- Sítio palatino: 3,06 ± 0,37
lio juncional: 0,97 mm; inserção conjuntiva: fornecem resultados satisfatórios e teriores, pré-molares e molares. Os Anterior Inferior (MG-COA)
1,07 mm). Gargiulo et al.2: mensurações Sítio mesial: 2,84 ± 0,38
histológicas supra-crestais. Do ponto de
previsíveis. No entanto, a literatura dentes anteriores apresentaram Sítio vestibular: 2,28 ± 0,25
vista clínico, uma distância de 3 mm pode apresenta medidas variáveis para o medidas menores, enquanto que Sítio distal: 2,79 ± 0,33
Sítio lingual: 2,50 ± 0,56
ser considerada. restabelecimento do EB, que pode nos molares as medidas referentes Médio Inferior (MG-COA)
variar de 3 mm3,5 a 5,25 mm.6 ao EB encontrado foram maiores. Sítio mesial: 3,22 ± 0,30
Sítio vestibular: 2,44 ± 0,36
situações clínicas como localização O objetivo deste artigo foi revi- Tristão et al.1 encontraram distâncias Sítio distal: 3,16 ± 0,28
Sítio lingual: 3,02 ± 0,35
dos términos dos preparos, perfil de sar a literatura a respeito dos concei- diferentes quando avaliado o grupo Posterior Inferior (MG-COA)
emergência das coroas, forma do tos atuais, diagnóstico e tratamento de dentes e sua localização (maxila Sítio mesial: 3,27 ± 0,36
Sítio vestibular: 2,69 ± 0,34
tecido interdental e resposta fisio- da invasão do EB e demonstrar a ou mandíbula). Os diferentes sítios Sítio distal: 3,35 ± 0,36
lógica dos tecidos gengivais frente sua importância em relação aos pro- dos dentes também podem apre- Sítio lingual: 2,83 ± 0,33
Cook et al.11 Estudo em humanos (in vivo); Biótipo delgado Comparado com Biótipo Delgado (JCE-COA)
aos preparos restauradores e proté- cedimentos restauradores visando a sentar profundidades diferentes do 60 pacientes (26 biótipo delgado 3,35 a 3,39 mm: o biótipo gengival Incisivo central superior: 3,35 ± 0,74
ticos. Clinicamente, em média 3 mm saúde e estética. EB. Faces livres tendem a possuir e 34 biótipo espesso); JCE - COA espesso, o biótipo Incisivo lateral superior: 3,39 ± 0,68
360 dentes anteriores Biótipo espesso delgado apresenta uma Canino superior: 3,37 ± 0,59
devem ser considerados entre o um EB menor (aproximadamente superiores com periodonto 3,06 a 3,15 mm: maior distância da JCE- Biótipo Espesso (JCE-COA)
topo da crista óssea alveolar (COA) 3 mm). Sítios proximais podem ter clinicamente saudável JCE – COA COA estatisticamente Incisivo central superior: 3,10 ± 0,46
Análise tomográfica siginificativa (p=0,02) Incisivo lateral superior: 3,06 ± 0,53
e a margem gengival3 (Fig 1). Em um Embasamento científico um EB de 3 a 4,5 mm.7 Além disso, (tomografia Cone Beam) Canino superior: 3,15 ± 0,44
periodonto saudável essas medidas o biótipo gengival pode influenciar Tristão et al.1 Estudo em humanos (in vivo). 1,58 ± 0,41 mm: Altura do topo da crista Incisivos centrais superiores: 2,95 ± 0,61
24 dentes com periodonto GM – JE óssea (MG-COA)
podem variar em relação à posição Dentro de um plano de tratamento a dimensão do EB. Alguns autores clinicamente saudável; 1,18 ± 0,42 mm: até a margem gengival Incisivos laterais superiores: 3,65 ± 0,099
do dente no alvéolo, entre diferen- integrado envolvendo reabilitação sugeriram uma correlação entre es- Extraídos por indicação EJ – COA de 2,75 ± 0,59 mm (MG-COA)
protética juntamente com suas 2,75 ± 0,59 mm: MG Caninos superiores: 2.04 ± 0.49 (MG-COA)
tes dentes, assim como entre super- protética, um dos aspectos fun- pessura gengival e profundidade estruturas periodontais; – COA Segundos pré-molares superiores: 2,40 ±
Análise histométrica. 0,7 (MG-COA)
fícies distintas em um mesmo dente. damentais é a relação harmoniosa do sulco gengival, na qual o biótipo Não avaliaram o biótipo gengival Incisivos centrais inferiores: 2,85 ± 0,47
Entretanto estas estruturas estão entre a localização cervical dos tér- espesso apresentava um sulco mais (MG-COA)
Incisivos laterais inferiors: 2,85 ± 0,47
presentes em todas as dentições.1,4 minos restauradores e a margem profundo.8-10 O biótipo periodontal (MG-COA)
As causas mais comuns que gengival. O EB foi definido por também está relacionado com a al- Primeiros pré-molares inferiores: 2,85 ±
0,43 (MG-COA)
podem levar a uma invasão do EB Nevins e Sckurow como a distância tura da COA. Uma maior distância Dimensão dentogengival (mm) para epitélio do sulco (ES), epitélio juncional (EJ), inserção conjuntiva (IC), profundidade de sondagem (PS) e EB (epitélio
são: doença cárie, fraturas, perfu- entre o topo da COA e a margem entre a união cemento-esmalte à juncional + inserção conjuntiva), MG (margem gengival), COA (crista óssea alveolar).
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Relação entre os limites Nos biótipos espessos a margem • Subsulcular: término cervical do
cervicais dos preparos gengival raramente se altera, o preparo restaurador invadindo
dentários e o espaço epitélio juncional migra para api- a área da união dentogengival.
biológico cal, ocorre reabsorção da COA e, • Intrassulcular: término cervi-
consequentemente, formação de cal do preparo restaurador
Evidências científicas demonstra- bolsa periodontal.32 localizado dentro das dimen-
ram o efeito deletério que os pre- Inúmeras situações clínicas sões do sulco histológico
paros protéticos e restauradores exigem que preparos cervicais se (aproximadamente 0,5 mm)
subgengivais podem causar aos localizem no nível subgengival. sem invasão do complexo
tecidos periodontais.7,29 Términos Devido à importância do EB e do dentogengival.
subgengivais localizados 1 mm sulco histológico neste contexto, • Suprassulcular: término cer-
subgengivalmente podem gerar a classificação proposta por Car- vical do preparo restaurador
resposta inflamatória exacerbada, valho et al. apresenta 3 condições localizado em um nível su-
aumento do sangramento à son- de términos cervicais:5 pragengival (Figs 10 a 14).
dagem, da profundidade clínica
de sondagem e perda nos níveis
clínicos de inserção.7 Estudos em
modelo animal concluíram que
as restaurações posicionadas na
altura da crista óssea podem le-
var à migração apical do epitélio
juncional e, consequentemente,
à perda da COA de até 5 mm. A Fig 12 Aspecto clínico do preparo suprassulcular minimamente Fig 13 Design digital do dente 12 realizado em CAD/CAM.
invasivo do dente 12. Este término é o ideal do ponto de vista da
gravidade de destruição estava manutenção da saúde periodontal.
diretamente associada à espes-
sura da crista óssea subjacente à
restauração.30
O biótipo periodontal exer-
Fig 10 Aspecto inicial de uma paciente com queixa principal de comprometimento
ce um papel de grande impor- estético do sorriso. Avaliação clínica revelou a necessidade de aumento de coroa clínica
tância para a localização cervical para o posicionamento correto do EB dos dentes 15 a 25 e complementação restauradora
minimamente invasiva para restabelecer a anatomia ideal dos dentes 12 e 22 (lâminas
dos preparos restauradores.31 A
cerâmicas) e 23 (fragmento cerâmico).
resposta biológica do biótipo
delgado nos casos de preparos
subgengivais pode estar relacio-
nada com maior inflamação gen-
gival, retração gengival, migração
apical do epitélio juncional e re-
absorção da crista óssea alveolar.
Após o período de dez anos, os
términos subgengivais tendem a
se tornar supragengivais e cáries
radiculares foram frequentemente
encontradas. Em áreas estéticas
este conceito pode ser de grande
Fig 14 Aspecto final do sorriso após o tratamento interdisciplinar. Notar a saúde do tecido gengival dos dentes anteriores e a relação
importância na conduta clínica. Fig 11 Aspecto clínico após o procedimento de aumento de coroa clínica. harmoniosa com os elementos dentais hígidos e restaurados.
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