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Colégio Estadual João Batista Nascimento.

Aluno(a):_________________________________________________________________________
Prof. André M. Gonçalves Disciplina: Filosofia Série/Turma: 1º ano__ Data:
____/_____/______

Período socrático ou antropológico.


(Texto de Marilena Chauí)

Quando a democracia se instala na Grécia Antiga e o poder vai sendo retirado dos aristocratas, o ideal educativo
ou pedagógico também vai sendo substituído por outro. O ideal da educação do Século de Péricles é a formação do
cidadão.
Ora, qual é o momento em que o cidadão mais aparece e mais exerce sua cidadania? Quando opina, discute,
delibera e vota nas assembleias. Assim, a nova educação estabelece como padrão ideal a formação do bom orador, isto é,
aquele que saiba falar em público e persuadir os outros na política.
Para dar aos jovens essa educação, substituindo a educação antiga dos poetas, surgiram, na Grécia, os sofistas,
que são os primeiros filósofos do período socrático. Os sofistas mais importantes foram: Protágoras de Abdera, Górgias
de Leontini e Isócrates de Atenas.
Que diziam e faziam os sofistas? Diziam que os ensinamentos dos filósofos pré-socráticos estavam repletos de
erros e contradições e que não tinham utilidade para a vida da polis (cidade). Apresentavam-se como mestres de oratória
ou de retórica, afirmando ser possível ensinar aos jovens tal arte para que fossem bons cidadãos.
Que arte era esta? A arte da persuasão. Os sofistas ensinavam técnicas de persuasão para os jovens, que
aprendiam a defender a posição ou opinião A, depois a posição ou opinião contrária, não-A, de modo que, numa
assembleia, soubessem ter fortes argumentos a favor ou contra uma opinião e ganhassem a discussão.
O filósofo Sócrates, considerado o patrono da Filosofia, rebelou-se contra os sofistas, dizendo que não eram
filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria nem respeito pela verdade, defendendo qualquer ideia, se isso fosse
vantajoso. Corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valer tanto quanto a verdade.
Como homem de seu tempo, Sócrates concordava com os sofistas em um ponto: por um lado, a educação antiga
do guerreiro belo e bom já não atendia às exigências da sociedade grega, e, por outro lado, os filósofos pré-socráticos
defendiam ideias tão contrárias entre si que também não eram uma fonte segura para o conhecimento verdadeiro. (Nota:
Historicamente, há dificuldade para conhecer o pensamento dos grandes sofistas porque não possuímos seus textos.
Restaram fragmentos apenas. Por isso, nós os conhecemos pelo que deles disseram seus adversários - Platão, Xenofonte,
Aristóteles - e não temos como saber se estes foram justos com aqueles). Discordando dos antigos poetas, dos antigos
filósofos e dos sofistas, o que propunha Sócrates?
Propunha que, antes de querer conhecer a Natureza e antes de querer persuadir os outros, cada um deveria,
primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo. A expressão “conhece-te a ti mesmo” que estava gravada no pórtico do
templo de Apolo, patrono grego da sabedoria, tornou-se a divisa de Sócrates. Por fazer do autoconhecimento ou do
conhecimento que os homens têm de si mesmos a condição de todos os outros conhecimentos verdadeiros, é que se diz
que o período socrático é antropológico, isto é, voltado para o conhecimento do homem, particularmente de seu espírito e
de sua capacidade para conhecer a verdade.
O retrato que a história da Filosofia possui de Sócrates foi traçado por seu mais importante aluno e discípulo, o
filósofo ateniense Platão. Que retrato Platão nos deixa de seu mestre, Sócrates?
O de um homem que andava pelas ruas e praças de Atenas, pelo mercado e pela assembleia indagando a cada um:
“Você sabe o que é isso que você está dizendo?”, “Você sabe o que é isso em que você acredita?”, “Você acha que está
conhecendo realmente aquilo em que acredita, aquilo em que está pensando, aquilo que está dizendo?”, “Você diz”,
falava Sócrates, “que a coragem é importante, mas: o que é a coragem? Você acredita que a justiça é importante, mas: o
que é a justiça? Você diz que ama as coisas e as pessoas belas, mas o que é a beleza? Você crê que seus amigos são a
melhor coisa que você tem, mas: o que é a amizade?”
Sócrates fazia perguntas sobre as ideias, sobre os valores nos quais os gregos acreditavam e que julgavam
conhecer. Suas perguntas deixavam os interlocutores embaraçados, irritados, curiosos, pois, quando tentavam responder
ao célebre “o que é?”, descobriam, surpresos, que não sabiam responder e que nunca tinham pensado em suas crenças,
seus valores e suas ideias.
Mas o pior não era isso. O pior é que as pessoas esperavam que Sócrates respondesse por elas ou para elas, que
soubesse as respostas às perguntas, como os sofistas pareciam saber, mas Sócrates, para desconcerto geral, dizia: “Eu
também não sei, por isso estou perguntando”. Donde a famosa expressão atribuída a ele: “Sei que nada sei”.
A consciência da própria ignorância é o começo da Filosofia. O que procurava Sócrates? Procurava a definição
daquilo que uma coisa, uma ideia, um valor é verdadeiramente. Procurava a essência verdadeira da coisa, da ideia, do
valor. Procurava o conceito e não a mera opinião que temos de nós mesmos, das coisas, das ideias e dos valores.
Qual a diferença entre uma opinião e um conceito? A opinião varia de pessoa para pessoa, de lugar para lugar, de
época para época. É instável, mutável, depende de cada um, de seus gostos e preferências. O conceito, ao contrário, é uma
verdade intemporal, universal e necessária que o pensamento descobre, mostrando que é a essência universal, intemporal
e necessária de alguma coisa. Por isso, Sócrates não perguntava se tal ou qual coisa era bela - pois nossa opinião sobre ela
pode variar - e sim: O que é a beleza? Qual é a essência ou o conceito do belo? Do justo? Do amor? Da amizade?
Sócrates perguntava: Que razões rigorosas você possui para dizer o que diz e para pensar o que pensa? Qual é o
fundamento racional daquilo que você fala e pensa?
Ora, as perguntas de Sócrates se referiam a ideias, valores, práticas e comportamentos que os atenienses julgavam
certos e verdadeiros em si mesmos e por si mesmos. Ao fazer suas perguntas e suscitar dúvidas, Sócrates os fazia pensar
não só sobre si mesmos, mas também sobre a polis. Aquilo que parecia evidente acabava sendo percebido como duvidoso
e incerto.
Sabemos que os poderosos têm medo do pensamento, pois o poder é mais forte se ninguém pensar, se todo
mundo aceitar as coisas como elas são, ou melhor, como nos dizem e nos fazem acreditar que elas são. Para os poderosos
de Atenas, Sócrates tornara-se um perigo, pois fazia a juventude pensar. Por isso, eles o acusaram de desrespeitar os
deuses, corromper os jovens e violar as leis. Levado perante a assembleia, Sócrates não se defendeu e foi condenado a
tomar um veneno - a cicuta - e obrigado a suicidar-se.
Por que Sócrates não se defendeu? “Porque”, dizia ele, “se eu me defender, estarei aceitando as acusações, e eu
não as aceito. Se eu me defender, o que os juízes vão exigir de mim? Que eu pare de filosofar. Mas eu prefiro a morte a
ter que renunciar à Filosofia”. O julgamento e a morte de Sócrates são narrados por Platão numa obra intitulada Apologia
de Sócrates, isto é, a defesa de Sócrates, feita por seus discípulos, contra Atenas.
Sócrates nunca escreveu. O que sabemos de seus pensamentos encontra-se nas obras de seus vários discípulos, e
Platão foi o mais importante deles.
Vamos filosofar!

Responda no caderno

1. Explique o que você entendeu por ideal de educação voltado para a formação do cidadão?
2. Estabelecendo uma comparação com o ideal educativo de formação do Século de Péricles. Você acredita que a
formação dada atualmente aos estudantes está voltada para o exercício da cidadania? Justifique sua resposta.
3. Quem eram os sofistas e o que eles ensinavam? E explique como seus ensinamentos podiam ser utilizados na prática.
4. De acordo com o texto, porque Sócrates rebelou-se contra os sofistas?
5. De acordo com o texto, sintetize a proposta de Sócrates?
6. Porque as perguntas que Sócrates fazia deixava as pessoas irritadas ou embaraçadas?
7. Interprete o significado do pensamento socrático: “sei que nada sei”.
8. Estabeleça uma distinção entre opinião e conceito (pode pesquisar em dicionário se preferir).
9. Porque Sócrates foi condenado a morte pelos poderosos da cidade de Atenas? Você concorda com a condenação de
Sócrates? Explique.
10. Depois de estudarmos um pouco sobre os sofistas e sobre Sócrates, podemos dizer que nossa sociedade está
construída num modelo de conhecimento sofista ou socrático? Justifique sua resposta.

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