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Nome do Advogado

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DE


UMA DAS VARAS CÍVEIS DA COMARCA DE FEIRA DE SANTANA/BA

LUIZ ALBERTO NUNES, brasileiro, capaz, casado, economista, naturalidade,


portador do C.I.RG n. XX.XXX.XXX-XX – SSP/BA, inscrito no CPF/MF n.
XXX.XXX.XXX-XX, residente e domiciliado à rua Fonte da Saudade, n. 157/401, bairro
Santa Mônica, Feira de Santana/BA, CEP XXXXX-XXX, endereço eletrônico: XXXXXX;
por sua advogada XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, OAB/BA n. XXXXX, CPF/MF
XXX.XXX.XXX-XX, e-mail: XXXXXX, procuração anexa, com endereço profissional
situado na rua XXXXXX, n. XX, bairro Centro, Feira de Santana/BA, CEP: XXXXX-XXX,
onde receberá as intimações, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro nos
artigos 156 e 171, inciso II, do Código Civil, propor a presente

AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO

Em face de THOMAS HARDY, brasileiro, capaz, estado civil, farmacêutico,


naturalidade, portador do C.I.RG n. XX.XXX.XXX-XX – SSP/BA, inscrito no CPF/MF
XXX.XXX.XXX-XX, residente e domiciliado à Estrada das Araras, n. 263, bairro
Capuchinhos, Feira de Santana/BA; pelas razões de fatos e fundamentos de direito a seguir
aduzidos.

Telefone: (xx) xxxxxxxx

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1. DA EXPOSIÇÃO FÁTICA
O Autor, Luiz Alberto, celebrou um negócio jurídico com o Réu, que se caracterizava
na compra de um medicamento que tinha como finalidade inibir a rejeição do transplante de
rim da sua filha, Liliane Nunes, de 08 (oito) anos de idade. A filha do Autor, é portadora de
diabetes do tipo I e já realizou três cirurgias de transplante de rim, entretanto, não obteve
sucesso nenhum, uma vez que há rejeição do órgão. O quadro clínico da menina era grave,
correndo risco de morte.
Os esforços realizados pela família somente amenizaram o problema, uma vez que
realmente fazia-se necessário a intervenção cirúrgica para um transplante com sucesso, sem
rejeição. Em 05 de Julho de 2016, a médica da família, dra. Maria Roboredo, os comunicou
que havia um remédio em fase de experimentação que inibia a rejeição do transplante de rim.
Porém, ainda não estava disponível no mercado. Liliane, filha do Autor, certamente não
aguentaria esperar o medicamento entrar no mercado. Em 15 de Julho de 2016, foi baixada
uma portaria pelo Ministério da Saúde que permitia a comercialização do referido remédio,
estipulando seu valor de mercado em R$1.500,00 (um mil e quinhentos reais).
Contudo, em 17 de julho de 2016, Liliane foi internada no CTI do Hospital EMEC,
ficando o Autor e toda a família da menina desesperada com seu estado de saúde. O Réu, que
ajudava no tratamento da mesma, ciente do risco de morte que ela corria e dos remédios que
necessitava, procura o Autor, Luiz Alberto e o informa que o medicamento ainda irá demorar
para ser efetivamente comercializado, no entanto, ele tinha conseguido através de um
laboratório um frasco, instruindo que esse era o único existe no Brasil.
O Autor, que não vislumbrava outra saída para sua filha naquele momento, manifesta
interesse em adquirir o remédio, sendo o único meio de salvar a pequena Liliane. Thomas,
aproveitando-se da situação, estipula a quantia do medicamento em R$16.000,00 (dezesseis
mil reais), a qual foi paga por Luiz Alberto, na presença das enfermeiras Janice Costa e
Gabrielle Martins, mediante a entrega do recibo do qual consta o valor efetivamente pago,
acostado aos autos.
Levando-se em consideração que o Autor, diante da situação narrada, assumiu uma
obrigação excessivamente onerosa, premido da necessidade de salvar sua filha, roga pela
anulação do negócio jurídico pactuado. Cumpre salientar que o Autor tentou resolver a
situação supramencionada de forma administrativa, a qual não logrou êxito. Neste diapasão,

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sem outra alternativa, o Requerente busca proteção de seus direitos ensejando a presente ação
de anulação de negócio jurídico, conforme fundamentos a seguir explanados.

2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS


É sabido que o negócio jurídico consiste no encontro de vontades que visa criar,
modificar, conservar ou extinguir relações jurídicas. A doutrina, aponta para a existência de
três planos: plano de existência - devendo estar presentes os elementos mínimos de um
negócio jurídico (elementos estruturais), ou seja, agente, objeto, forma e vontade
exteriorizada; plano de validade - diz respeito aos elementos, elencados no artigo 104 do
Código Civil: agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável, forma
prescrita ou não defesa em lei; e, por último, plano da eficácia - no qual as partes podem
controlar os efeitos do negócio de acordo com suas vontades.

Neste condão, entende-se que a vontade é a mola propulsora dos negócios


jurídicos, esta que deve ser manifesta ou declarada de forma idônea para que o ato
tenha validade na atividade jurídica. Caso a mesma não corresponda ao desejo do agente, o
negócio jurídico torna-se susceptível de anulabilidade. Equivale dizer que quando a vontade
do agente é declarada, com vício ou defeito que a torna mal externada, estamos no campo do
negócio jurídico anulável, como vemos no caso em epígrafe.

O Código Civil, no seu Capítulo IV, do livro III, dá a essas falhas de vontade a
denominação de “defeitos dos negócios jurídicos”, os quais se subdividem em defeitos ou
vícios de consentimento e defeitos ou vícios sociais. In Casu, vislumbramos o defeito do
negócio jurídico em razão do estado de perigo, vejamos o que determina o artigo 156 do
Código Civil:

“Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da


necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido
pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa”. (Grifo Nosso).

Diante dos fatos narrados, restou provado que o Réu, beneficiando-se da premente
necessidade do Autor em socorrer sua filha, que corria risco de vida, induziu-o a comprar o

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medicamento por um preço excessivo ao que deveria ser comercializado no mercado, obtendo
vantagem econômica e ilícita, o que caracteriza o vício alhures descrito.

Na mesma linha de pensamento, o renomado Doutrinador Flávio Tartuce (2019, p.


626/627) preceitua:

“No estado de perigo, o negociante temeroso de grave dano ou prejuízo acaba


celebrando o negócio, mediante uma prestação exorbitante, presente a
onerosidade excessiva (elemento objetivo). Para que tal vício esteja presente, é
necessário que a outra parte tenha conhecimento da situação de risco que atinge
o primeiro, elemento subjetivo que diferencia o estado de perigo da coação
propriamente dita e da lesão”.

Assim, a sanção a ser aplicada ao ato eivado de estado de perigo é a sua anulação,
tendo em vista que é evidente a obrigação excessivamente onerosa, bem como, que o
Réu, tinha conhecimento da situação que o Autor estava vivenciando, aproveitando-se
disso para tirar proveito da situação, como também, enriquecer sem causa.

Nesta senda, o vício de consentimento, manifestamente observado no caso sub judice,


autoriza o Autor a formular seu pedido, com fulcro no artigo 171, inciso II, do Código Civil,
in verbis:

“Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico:

(...)

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude
contra credores”. (Grifo Nosso).

Corroborando com este pensamento, não é outro entendimento do Tribunal de Justiça


do Estado de Minas Gerais, a não ser pela anulação do negócio jurídico eivado por vício de
consentimento, vejamos:

“AÇÃO DE COBRANÇA. DESPESAS HOSPITALARES. ATENDIMENTO DE


URGÊNCIA. ENCAMINHAMENTO DO SUS. REDE PÚLICA. FALTA DE
VAGA DE UTI. ATENDIMENTO PELA REDE PRIVADA. OBRIGAÇÃO DE
PAGAMENTO DO ESTADO. CONTRATO PARTICULAR. ANULABILIDADE.
ESTADO DE PERIGO. REQUISITOS. OBRIGAÇÃO EXCESSIVAMENTE
ONEROSA CARACTERIZAÇÃO. – O negócio jurídico é anulável por vício de
consentimento resultante do estado de perigo (art. 171, II, CCB), cujos pressupostos
são: necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família; a iminência do dano e o
seu conhecimento pela outra parte; e a caracterização da obrigação assumida como

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excessivamente onerosa (art. 156, CCB). – A onerosidade excessiva necessária para


a caracterização do estado de perigo ocorre tanto pela dissociação aquilo a que o
contratante se obrigou com os valores correntes de mercado, como pela
desproporção entre a obrigação assumida e a capacidade daquele que se obriga, ou
ainda, pela assunção de despesa que ele não estava obrigado contratar, conforme
precedente do Colendo Superior Tribunal de Justiça (RESP nº 918.392-RN, Rel.
Ministra Nancy Andrighi). – Quando por deficiência de rede pública de saúde o
atendimento de urgência ou emergência for prestado pela rede provada, a cobrança
das despesas hospitalares deve ser feita ao Estado, que tem o dever de garantir tal
atendimento aos brasileiros e estrangeiros residentes do País que não disponham de
recursos próprios para contratá-lo (artigos 1º, III, 5º, caput, 6º, caput, 196, caput e
198, II, CF). – O juiz pode deferir a cobrança a título de ressarcimento por ilicitude
de conduta, caso provado que o contratante agiu de má-fé ao buscar atendimento na
rede privada. (TJ-MG 107020307993660021 MG 1.0702.03.079936-6/002(1),
Relatora: CLÁUDIA MAIA. Data de Julgamento: 23/04/2009. Data de publicação:
16/06/2020.” (grifos nossos).

Desta forma, restou indubitavelmente provada a presença dos requisitos para a


caracterização do estado de perigo, os quais incluem a necessidade de salvar a pessoa de sua
família, o dano iminente e o conhecimento pela parte do Réu, além da obrigação
excessivamente onerosa assumida. Portanto, em atenção aos argumentos acima elencados,
roga o Autor para que seja anulado o referido Negócio Jurídico, vez que o mesmo fora
realizado contendo vício passível de anulação, como forma de ter seu direito
resguardado e se fazer a Sublime Justiça.

3. DOS PEDIDOS

Ex positis, requer à Vossa Excelência, o seguinte:

a) Seja o Réu devidamente citado para, querendo, responder os termos da presente,


no prazo legal, sob pena de serem reputados como verdadeiros os fatos ora alegados, nos
termos do art. 344 do Código de Processo Civil;

b) Seja desfeito o negócio jurídico ora celebrado, tendo em vista que o mesmo foi
realizado com vício de consentimento;

c) Seja condenado o Réu em custas processuais e honorários advocatícios no


percentual de 20% (vinte por cento), sobre o valor da causa;

d) Ao final, seja julgada TOTALMENTE PROCEDENTE a presente ação, para


que seja anulado o negócio jurídico efetuado e devidamente estornados os valores adimplidos
pelo Autor, referentes ao medicamento excessivamente oneroso por este pago.

Telefone: (xx) xxxxxxxx

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Protesta por todos os meios de direito admitidos para comprovar os fatos alegados,
especialmente prova testemunhal, depoimento pessoal da parte e inspeção judicial.

Por fim, manifesta o interesse na audiência conciliatória, nos termos do artigo 319,
inciso VII, do Código de Processo Civil.

Dá-se à causa, o valor de R$16.000,00 (dezesseis mil reais) à título de alçada.

Nestes termos
Pede Deferimento.

Feira de Santana/BA, 10 de setembro de 2020.

Assinatura do advogado (a)


OAB/BA n. XXXXX

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