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potente! Reunindo um time ímpar de artistas e pensado- mensão reestruturante da internet predomina, as novas
res, o AVXLab organiza o debate sobre as fronteiras e gerações crescem acostumadas a digerir imagens em
singularidades dessa produção, numa publicação que é movimento. Desde o formato tradicional de um filme aos
peça-chave para articulação do setor.” streamings de vídeo e algoritmos que geram simulações
O cinema e seus outros traz uma
Solange Farkas – criadora e diretora da visíveis em computadores, dispositivos móveis ou de
Associação Cultural Videobrasil (SP). perspectiva sobre o audiovisual proporções urbanas, a imagem em movimento influencia
que se expande para além dos o cinema nosso imaginário e afeta nosso modo de comunicação.
Os autores deste livro reuniram uma série de ensaios
“Uma contribuição sensível a uma literatura nacional, por paradigmas industriais do cinema e seus excepcionais que nos ajudam a navegar por esses fluxos
outros
vezes escassa, sobre as ações das tecnologias no campo transbordantes de imagens que nos cercam e acom-
e da televisão, constituindo novos
das artes, com impactos diretos em nossa sociedade no panham diariamente; um guia para o cinema em suas
âmbito pós-digital. As materialidades e imaterialidades meios, formatos, processos, fluxos múltiplas facetas.”
continuam no centro da nossa relação com o mundo. Esta Emilio Álvarez – codiretor fundador do LOOP
e circuitos criativos. lucas bambozzi e
ocorrem no cinema expandido representam um importante se torna um livro. […] Desconstruir, legitimar práticas, dar
indício das mudanças tecnológicas e sociais na percepção voz e palavra. Criar ‘outras’ histórias do sul.”
9
da arte contemporânea. Compartilho aqui minha grati- Gabriela Golder – artista e codiretora da BIM –
dão aos criadores por acossar os limites do audiovisual Bienal da Imagem em Movimento (Argentina).
nas suas experiências cinemáticas e também aos autores
deste livro por sua manifestação e mediação em torno das
conquistas de nosso segmento na última década.”
Daniela Arriado – diretora da Screen City Biennial
(Noruega).
manifestações
expandidas
do audiovisual
Lucas Bambozzi
e Demétrio Portugal
(orgs.)
manifestações
expandidas
do audiovisual
Lucas Bambozzi
e Demétrio Portugal
(orgs.)
Cocuradores Organizadores
Demétrio Portugal Lucas Bambozzi
Lucas Bambozzi Demétrio Portugal
Agradecimentos
A toda a equipe da Spcine e do Centro Cul-
tural São Paulo, a Marina Pinheiro e Roberta
Mahfuz (pelos primeiros passos) e a Leo
Wojdyslawski. Aos assistentes e técnicos de
produção que colaboraram com os projetos
de residência: “CONTEXST” (de Mirella Brandi
× Muep Etmo): Camille Laurent, Clara Caramel,
Marcela Katzin, Sibila Gomes dos Santos,
Fernando Miranda Azambuia, Ari Nagô. “ARA-
PUCA” (de Letícia Ramos): Guilherme Rossi e
Flavia Vieira. Ao Padô pela intervenção em
tape art no saguão do CCSP.
Lucas Bambozzi
e Demétrio Portugal
(orgs.)
1a- edição
São Paulo, 2019
7 introdução
CAMADAS
INFORMACIONAIS
1. de volta ao essencial
25 a linguagem autônoma da luz como arte performativa
Mirella Brandi
41 estático cinemático
Mario Ramiro
47 o invisível como campo cinemático
Claudio Bueno
64 ensaio visual
Lucia Koch
3. a experiência física
109 filmes e vídeos de artistas: preservando e difundindo
o que ainda não se perdeu
Roberto Cruz
119 extremidades: leituras entre arte, práticas midiáticas
e experiência contemporânea
Christine Mello
A CENA EXPANDIDA
DE UM AUDIOVISUAL
QUE NÃO COUBE
NO CINEMA
PROCESSOS
AVXLab
— 217 glossário
227 biografia dos participantes
8 introdução
c
que começa no final dos anos 1990 e consolida-se no início do
século XXI. Enquanto parte dela se torna atrativa ao mercado, outra
ganha espaço e legitimidade em festivais e galerias. Abordando
essa diversidade em diferentes partes do Brasil, as conversas tocam
especialmente sobre os conceitos de live cinema, videomapping e
performances audiovisuais ao vivo.
Finalmente, a quarta parte do livro se dedica a recuperar critica-
mente e imageticamente os acontecimentos que geraram muitas das
pesquisas, indagações e processos que resultaram nesta publicação.
A partir de documentação fotográfica, desenhos, fotogramas de
vídeo e making of, espera-se rememorar as questões que permearam
os encontros, um possível eco em seus impactos e desdobramentos.
Outras abordagens, autores, criações e experiências fatalmente
ficaram de fora do escopo pretendido. Talvez, haveria de ter mais
partes, pois, em um exercício de possibilidades, sempre haverá
novos outros, outros “outros”. Mas, no conjunto de partes que se
somam neste “O cinema e seus outros”, vale constatar que a ideia
de cinema como unidade coerente, simplificada e unificada cede
lugar a uma arte permeada por instabilidades e enigmas que se
reprocessam, tornando a complexidade inevitável e, por isso mes-
mo, desafiadora, inquietante, em incessante movimento. Outros
cinemas sempre surgirão diante dessa perspectiva.
Lucas Bambozzi
10 introdução
camadas
informacio-
nais
camadas
informa-
cionais
11
infor-
mação
visões
conec-
tividade
introdução
lugares e espaços
da informação
O espaço informacional
A definição de espaço informacional migra entre campos. É a
princípio um conceito geográfico, mas que vem sendo aplicado
nas crescentes formas de fricção entre arquitetura, arte e infor-
mação. É uma trama que une campos visíveis e invisíveis em
relações que conectam espaços urbanos, as especificidades do
lugar e do contexto, as redes telemáticas, a internet e as ondas de
rádio, televisão, telefonia e outras formas indutoras de sinais. São
sinais que podem ser minuciosamente mensurados ou apenas
presumidos, percebidos efetivamente através de seu impacto físi-
co ou por suposição, por formas mais científicas ou imaginadas,
fantasiosas que sejam.
Os estudos geográficos, desde o Ensino Médio, observavam
a gradativa transformação do meio em sua influência pelas ati-
vidades humanas, classificando os meios como: natural, técnico
e técnico-científico-informacional. Essa caracterização, tal como
descrita por Milton Santos (1994, p. 24), está associada a um pro-
cesso de reconstituição da própria definição do meio, que deixa
de ser natural e técnico, mas adquire essa camada informacional,
já que no processo de globalização a ciência, a tecnologia e a
informação passam a definir o funcionamento do espaço. “A in-
formação tanto está presente nas coisas como é necessária à ação
realizada sobre essas coisas” (Santos, 1994, p. 24) em um processo
de requalificação dos espaços, uma geografia recriada, assistida
por métodos informacionais.
14 Lucas Bambozzi
Campo político-social
O entendimento do espaço informacional como território
político, é, segundo Manuel Castells (1999), uma chave para se
entender as feições do capitalismo pós-industrial e financeiro. O
espaço dito informacional seria assim o “ambiente” que se forma a
partir das novas feições do trabalho, mais notadamente ao longo da
segunda metade do século XX, em uma sociedade que se caracteriza
não mais por modelos de confinamento e disciplina, nem mesmo
controle e imposição, mas que opera com base em números, pela
produtividade e pelo desempenho. Os comandos são semióticos,
os valores se baseiam no acesso à informação e conectividade.
Não é difícil perceber os sintomas dessa caracterização, descrita
nas várias literaturas que nos elucidam o quanto mudanças nas
relações de trabalho transformaram também a materialidade do
capital, seus produtos e suas feições culturais: “A empresa substituiu
a fábrica, e a empresa é uma alma, um gás” (Deleuze, 1993, p. 220).
E nas táticas corporativas, imagens, signos e discursos e slogans
não apenas representam algo, mas se pretendem como mundos
possíveis (Bauman, 2003; Lazzarato, 2003). Assim, o trabalho em
rede foi aos poucos sendo implementado como solução para o
compartilhamento de atividades e encontros em substituição aos
15
16 Lucas Bambozzi
Camadas informacionais
As informações se somam, assim como também se soma o
conhecimento relativo a campos permeados de sinais. Os sinais
existem na natureza, gerados por corpos celestes, pelo sol, pela
Terra, pela ressonância de um corpo sobre o outro, por vários
elementos radioativos, pelos seres vivos. Mas multiplicam-se tam-
bém os dispositivos técnicos que geram campos que somam aos
sinais existentes.
17
18 Lucas Bambozzi
19
20 Lucas Bambozzi
21
22 Lucas Bambozzi
referências bibliográficas
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VIRILIO, Paul. O resto do tempo. Tradução de Juremir Machado da Silva.
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23
abs-
tração
poeira
imate-
rialidade
Avxlab_MIOLO_FINAL.indd 24 23/08/19 13:23
Mirella
Brandi
a linguagem
autônoma da luz como
arte performativa
A alteração perceptiva através da luz e seu conteúdo narrativo
26 Mirella Brandi
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28 Mirella Brandi
29
30 Mirella Brandi
31
A visual music
A luz parece ser um mediador ideal entre a música como uma arte
temporal e a pintura como uma arte espacial, porque, como elas, a
luz imaterial existe no tempo; seus movimentos permitem que
a estrutura do fluxo temporal se torne visível; ao mesmo tempo,
ela penetra e preenche espaço e, portanto, tem semelhanças com a
pintura (Hoormann, 2003, p. 297).
32 Mirella Brandi
A luz e o audiovisual
A inter-relação entre luz, imagem projetada e música é ex-
tremamente rica no que diz respeito à expansão das fronteiras
entre áreas artísticas. Ela é repleta de experimentos que agregam
múltiplas linguagens e “explodem” a relação com o suporte, com
o espaço-tempo, com as narrativas lineares e as imagens figurati-
vas. O século XX, mais especificamente os anos 1970, e a entrada
da tecnologia digital marcam o início de um período abundante
para a relação da luz e da imagem na arte – mesmo ciente de que
estabelecer marcos históricos é sempre perigoso e arbitrário, par-
ticularmente, no campo das artes. Durante esse período, podemos
encontrar inúmeras referências e experimentos de fundamental
importância, não apenas para um novo caminho de comunicação
autônoma através da luz, mas especialmente no que diz respeito
à fusão de linguagens artísticas distintas. Segundo o autor de “Ex-
panded Cinema”, Gene Youngblood (1970),
33
O cinema
Antes de ser visto como arte autônoma, o cinema se apropriava
de múltiplas linguagens e invenções mecânicas para exibir trechos
simples de um filme que despertava emoções vivas no público; era
o chamado cinema das atrações. Algo diretamente relacionado
ao que vemos hoje nos experimentos de live cinema.
A intenção de recuperar a emoção viva do espectador no que
diz respeito aos novos experimentos audiovisuais ao vivo está forte-
mente relacionada com a pesquisa sobre narrativas subjetivas, além,
é claro, de estímulos vindos do cinema e ligados especialmente
à relação luz-tempo, explorados de forma fascinante pelo cinema
expressionista alemão e por diretores como Andrei Tarkovsky,
Ingmar Bergman e Theo Angelopolus.
O cinema expandido é um termo bastante flexível, que indi-
ca a expansão da linguagem cinematográfica para além dos seus
próprios códigos. Explora outros territórios de ação, a utilização
dos diferentes meios para finalidades distintas e amplia a percep-
ção e a relação entre tempo e espaço. O espaço físico da sala de
projeção cinematográfica “explodiu” e as artes visuais ganharam
uma qualidade performativa. O movimento tem sua origem a
partir do manifesto performático de Carlolee Schneemann e da
publicação do livro “Expanded Cinema”, de Gene Youngblood. Este
livro, considerado referência primordial em torno do conceito
de cinema expandido, é dividido em três aspectos. O primeiro
funde todas as formas de arte, incluindo o filme, dentro de um
evento multimídia e de uma ação ao vivo (live action). O segundo
explora tecnologias eletrônicas e a chegada do cyber espaço, como
enunciado por Marshall McLuhan. O terceiro coloca por terra a
barreira existente entre artista e público através de novas formas
de participação.
A distorção e o deslocamento das convenções cinematográ-
ficas do espaço e do tempo tinham como objetivo a expansão da
consciência, mas também a experimentação com a composição e
a forma em termos imagéticos e sonoros.
A linguagem autônoma da luz se apropria do cinema expandido
em muitos aspectos e mais especificamente através do seu enfoque
na live art, em que é possível interligar princípios das artes visuais
e o teatro performativo.
34 Mirella Brandi
35
36 Mirella Brandi
37
38 Mirella Brandi
imagem
1 “Cinza ”, performance em parceria com Muep Etmo que integra a “Trilogia das
Cores ”. Foto: Fabricio Remigio.
39
sites
James Turrel: <http://rodencrater.com/james>. Acesso em: 29 maio 2015.
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catálogos
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Catálogo Instituto Tomie Ohtake. Soto: a construção da imaterialidade.
São Paulo, 2005.
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L’oeil moteur, art optique et cinetique 1950-1975. Musées de la Ville de Stasbourg, 2005.
Solomon R. Guggenheim Foundation. James Turrel. New York, 2013
40 Mirella Brandi
estático cinemático
42 Mario Ramiro
43
44 Mario Ramiro
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Siegel, 1994.
MOHOLY-NAGY, László. La nueva visión y reseña de un artista. Buenos Aires:
Ediciones Infinito, 1972.
45
o invisível como
campo cinemático*
Introdução
Ao pensarmos a palavra campo, rapidamente nossa cabeça converte-a
em uma imagem, inventa uma paisagem, muitas vezes relacionada
ao limite do que os nossos olhos conseguiriam enxergar. Como se
fosse uma grande área diante de nós, aberta à nossa visão, mais ou
menos definida por alguns limites e contornos do que poderia se
formar em nosso campo visual.
Essa imaginação imediata nos sugere que campo seja uma
região, uma zona, uma área que, a todo momento, tenta ser deli-
mitada pelo nosso olhar ou por nosso pensamento. Afinal, iden-
tificar limites permite-nos localizar o corpo no espaço e, ainda,
tranquilizar o espírito, que não suporta estar diante de um campo
sem margens, de contornos provisórios, atravessado por forças que
apontam em diferentes direções.
A tentativa de definir qualquer forma precisamente nos escapa
ao tratarmos do invisível como um campo, pois a perspectiva que
nos interessa, desde o campo da arte, é dinâmica, móvel. A mani-
festação desses campos se dá a partir da posição de corpos, coisas e/
ou não coisas, próximos ou distantes, parados ou em deslocamento,
diante de determinados espaços e tempos, em arranjos provisórios,
* “O invisível como campo cinemático”: este texto parte da pesquisa desenvolvida para
a tese de doutorado intitulada “Campos de Invisibilidade”, defendida pelo autor em
2015, com orientação do artista e professor Gilbertto Prado, no departamento de Artes
Visuais da ECA-USP. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27159/
tde-26052015-112544/pt-br.php>. Acesso em: 7 ago. 2017.
48 Claudio Bueno
1 “Sobre outros mundos que estão neste”: essa expressão é homônima ao título do
trabalho do arquiteto e escritor Tony Chakar, exibido na 31a Bienal de São Paulo: Como
[...] coisas que não existem (2014). O nome é inspirado na frase do poeta Paul Éluard
que diz “Há um outro mundo, e ele está neste mundo”.
49
2 Intermedia: termo cunhado em torno de 1966 por Dick Higgins – um dos protago-
nistas do grupo Fluxus. Sob essa concepção, a arte é valorizada como comunicação e
enfrenta a dialética dos meios, em vez da simples fusão entre eles.
3 A escritora e crítica de arte norte-americana Lucy R. Lippard organizou cronologica-
mente por meio de uma série de documentos – composta por depoimentos, entrevistas,
fotografias, registro de obras e de exposições – grande parcela de uma produção identificada
como arte conceitual. Esse mapeamento deu origem ao seu livro intitulado “Six years:
the dematerialization of the art object from 1966 to 1972” (“Seis anos: a desmaterialização
do objeto artístico de 1966 a 1972”), publicado em 1973.
50 Claudio Bueno
51
4 “Art about the unseen 1957-2012”: integraram essa mostra as obras dos artistas Yves
Klein, Yoko Ono, Claes Oldenburg, Art & Language, Robert Barry, James Lee Byars,
Chris Burden, Andy Warhol, Teaching Hsieh, Horst Hoheisel, Gianni Motti, Maurizio
Cattelan, Tom Friedman, Jochen Gerz, Bruno Jakob, Song Dong, Carsten Holler, Teresa
Margolles, Jay Chung, Ceal Floyer, Mario Garcia Torres, Jeppe Hein, Bethan Huws, Glenn
Ligon, Roman Ondák e Lai Chin-Sheng.
52 Claudio Bueno
5 George Maciunas (1977), entrevista: nesse áudio, o artista afirma a relação com John
Cage e sua influência na criação do grupo Fluxus. Disponível em <http://www.fluxus.
org/audiofile.html>. Acesso em: 2 nov. 2014.
6 Grupo Fluxus, site: <http://www.fluxus.org/>. Acesso em: 8 ago. 2017.
7 Integrantes Fluxus: integraram o grupo, em diferentes momentos, Ben Vautier, George
Brecht, Joseph Beuys, Nam June Paik, Wolf Vostell, Yoko Ono e muitos outros, como
é o caso do artista brasileiro Paulo Bruscky, que manteve comunicação com o grupo.
53
redes
Em 1974, a artista Lygia Clark realizava sua obra intitulada
“Rede de elástico”. Nesse trabalho, convidava um grupo de pessoas a
tecerem juntas uma rede de elásticos, para em seguida colocarem-se
debaixo dela e então tensioná-la com o corpo para todos os lados.
Para Lygia, a ação e a duração do tecer eram tão importantes como
a ação de envolver-se nessa trama, embaraçando organicamente os
corpos e as identidades, desenhando linhas e vetores no espaço.
Ao tomar contato com a proposição da artista, para além de
uma perspectiva nostálgica e historicista do corpo, das identidades,
da arte e das relações, ocorreu-me perguntar sobre um novo regime de
relações, entrelaçamentos, proximidades e distâncias, do ponto
de vista de alguém que residia em uma metrópole como São Paulo,
em 2010, ano da criação da obra “Redes Vestíveis”, estudada a seguir.
Qual era esse novo tecido, essa trama, esse campo, essa rede que
passava a atravessar, envolver e modular os corpos e as relações nas
dinâmicas da vida cotidiana?
Imaginei, então, a possibilidade de vestirmos uma rede, como se
fez em “Rede de elástico”, mas agora estruturada em uma trama imate-
rial, como um campo sem margens, baseado em linhas e vetores que
se lançam no espaço. Os corpos, de natureza orgânica, somar-se-iam
ao espaço lógico e funcional das redes de informação e de tecnologias.
E, ao contrário de um elogio a essa maneira de se relacionar dominada
por empresas de telecomunicações e megainfraestruturas globais,
importava-me enfrentar e imaginar as qualidades e diversidade de
vínculos, cumplicidades e relações que se impunham fortemente
no contexto das metrópoles contemporâneas conectadas.
A partir dessas reflexões, Redes vestíveis (2010)8 configurou-se
como uma performance coletiva baseada numa rede virtual elástica,
geolocalizada e graficamente representada nas telas de aparelhos
celulares [ fig. 1]. Duas ou mais pessoas conectavam-se a ela por meio
de um aplicativo para celular, tornando-se novos nós da trama,
que se tensiona por meio de movimentos e deslocamentos físicos,
em espaços próximos ou distantes. O corpo que se desloca incita
virtualmente o movimento físico dos outros corpos, que, caso não
se movimentem também, fazem esgarçar e estourar os nós da rede,
desconectando o participador do trabalho.
54 Claudio Bueno
55
9 AI-5: Ato Institucional número 5. Foi o quinto de uma série de decretos emitidos
pelo regime militar brasileiro nos anos seguintes ao Golpe Civil-Militar de 1964 no
Brasil. Dava poderes extraordinários ao Presidente da República e suspendia muitas
das garantias constitucionais.
56 Claudio Bueno
monumentos
Desde os anos 1960, no cruzamento entre arte e arquitetura,
verificamos inúmeras experimentações em torno da ocupação
tecnológica dos territórios globais, mais recentemente conhecidos
como “territórios informacionais”, o que nos coloca em diálogo com
os grupos, Archigram (1961, Inglaterra) e Superstudio (1966, Itália).
Archigram (archi: architecture; gram: telegram) organizou-se em
torno de uma publicação impressa homônima, baseada em desenhos
e colagens, que propunha projetos especulativos e visionários em
torno de uma arquitetura de eventos: móvel, temporária e com forte
apelo à infraestrutura tecnológica e em rede. Diagramava futuras
cidades, como em “Computer City” (1964), baseadas em redes e
fluxos: de tráfego, de pessoas e, sobretudo, de informação. O caos
em potencial em uma grande cidade estaria muito mais vinculado
ao desligamento das estruturas de comunicação em rede do que ao
comprometimento das demais arquiteturas físicas da cidade.
Integrantes do grupo, como David Greene, através do projeto “The
Bottery / Locally Available World unseen Network – L.A.W.u.N.” (“Mundo
Localmente Acessível por Redes Invisíveis”), lançado em 1969 – mesmo
ano da transmissão televisiva em escala global, do homem pisando na
Lua –, vislumbrava uma paisagem liberada de toda arquitetura edifi-
57
10 Do original em inglês: “The absolute stasis of the grid, its lack of hierarchy, of centre,
of inflection, emphasizes not only its anti-referential character, but – more importantly – its
hostility to narrative”.
58 Claudio Bueno
59
60 Claudio Bueno
máquinas
Como parte dessa sequência de experimentações artísticas que
exploram as dimensões invisíveis nos espaços e nas relações, apre-
sento, a seguir, o último trabalho dessa série, desenvolvido até o mo-
mento de escrita deste texto. Trata-se de “Estudo para Duelo”13 (2013),
realizado em coautoria com a artista Paula Garcia [ fig. 4].
13 “Estudo para Duelo” (2013): essa instalação foi desenvolvida como parte da residência
artística Videobrasil em Contexto, realizada pela parceria entre Casa Tomada, Videobrasil
(São Paulo) e Delfina Foundation (Londres). O desenvolvimento dessa peça contou com
a colaboração imprescindível do artista Paulo Galvão.
61
62 Claudio Bueno
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cat. exposição, 2012.
63
65
“Cromoteísmo”, 2012,
impressão jato de tinta sobre
lona vinílica, painel retroilu-
minado instalado no altar
da Capela do Morumbi
66-67
“New Development”, 2011,
impressão jato de tinta
sobre tela de vinil,
desenvolvido para a
11a- Bienal de Lyon
68-69
“Conversation”, 2013,
instalação desenvolvida
para a 11a- Bienal do Shar-
jah, “Re: emerge”
70-71
“Night Fever”, 2010,
frame de vídeo
64 ensaio visual
análise com-
putacional
estética de
banco
de dados
Avxlab_MIOLO_FINAL.indd 72 23/08/19 13:23
Giselle
Beiguelman
cultura visual
-
que a totalidade das fotos feitas nos últimos 150 anos (Eveleth, 2015).
Essa é uma estimativa relativamente modesta, considerando-se
que há 1 bilhão de dispositivos com câmera (entre os 5 bilhões de
celulares ativos) e que cada um deles captura cerca de três fotos
por dia (ou mil por ano).1
A relevância desse fenômeno não é sua pujança quantitativa,
são as transformações culturais e, portanto, qualitativas para a qual
aponta. À popularização das câmeras corresponde uma inequívoca
multiplicação de sujeitos que passam a enquadrar e ser enqua-
drados nas telas. O que se coloca em jogo aqui é um processo de
apropriação da imagem por novos perfis sociais sem precedentes.
Não é possível isolar essas manifestações dos impactos da
de
digitalização da cultura e da ubiquidade das redes. Alteraram-se
os processos de distribuição de imagem, as formas de ver, cada vez
mais mediadas por diferentes dispositivos simultâneos, e conso-
lidaram-se novos modos de criar, de olhar e também de ser visto.
Ambivalente, essa nova cultura visual (Beiguelman, 2016) oscila
entre possibilidades de democratização do acesso ao audiovisual,
novos regimes estéticos, superexposição, vigilância e rastreamento.
1 Pela mesma lógica da divisão do número de câmeras pela população, calcula-se que
do século XIX até hoje tenham sido capturadas 2,5 trilhões de fotos analógicas em filme.
74 Giselle Beiguelman
5 O termo é de Axel Bruns, que define o criativo da web 2.0 como um sujeito produtor
e usuário (producer e user, produser).
75
76 Giselle Beiguelman
11 https://vimeo.com/5403546
77
“Shareveillance”
Nesses circuitos de redes sociais, as imagens aparecem atreladas
ao lugar e à hora em que são produzidas, permitem a contextua-
lização de cada um de seus autores em relação a seu grupo e são
rastreadas a partir de alguns padrões. É nesse ponto que a cultura
do compartilhamento se cruza com a cultura da vigilância.
Essa ambivalência, que levou Clare Birchall a cunhar o neolo-
gismo “Shareveillance” (Birchall, 2017), é um dos traços marcantes da
cultura das redes e aponta para diferentes concepções e tendências
políticas da ecologia midiática atual. Elas abrem possibilidades
inéditas de uso crítico e criativo das mídias existentes, mas são, tam-
bém, novas plataformas de fomento ao consumo e ao controle de
12 Outro videoclipe notável nessa seara, e que também se alimenta de dados pessoais
disponíveis na internet para a construção de novas estruturas narrativas, é o de “We Use
to Wait”, de Chris Milk e Aaron Koblin para “The Wilderness Downtown” (2010). O clipe
responde a um modelo metautoral bastante particular da cultura web 2.0, o mashup de
software e conteúdo. Feito para o lançamento do disco “The Wilderness Downtown” do
Arcade Fire, explorava as possibilidades de jogar com a cidade em que o “espectador”
(na falta de melhor palavra) cresceu, misturando imagens e dados desse local à música.
Para tanto, demandava que cada visitante inserisse o seu endereço naquela época, na
entrada do site. A partir daí, cruzava imagens geolocalizadas disponíveis no Google,
com referências do videoclipe.
78 Giselle Beiguelman
13 STEYERL, Hito. “Proxy Politics: Signal and Noise”. e-Flux #60, dez. 2014. Disponível
em: <http://worker01.e-flux.com/pdf/article_8992780.pdf> (acesso em: 16 maio. 2019).
14 https://oglobo.globo.com/sociedade/midia/ministerio-da-cultura-vai-entrar-na-jus-
tica-contra-facebook-por-foto-de-india-bloqueada-1-15910229
79
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80 Giselle Beiguelman
81
a peste da imagem
Vemos com os olhos, mas também vemos com o
cérebro, e ver com o cérebro é o que comumente
chamamos de imaginação. Estamos familiari-
zados com as paisagens da nossa imaginação,
nossos inscapes, vivemos com eles por toda a vida.
(Oliver Sacks1).
84 Fernando Velázquez
85
86 Fernando Velázquez
11 Nos anos 1990, Kosslyn e outros concluíram que a visualização de imagens “ativa a mesma
área do córtex visual ativada pela percepção, e isso mostra que as imagens mentais são uma
realidade fisiológica, além de psicológica, e que elas usam no mínimo alguns dos mesmos
trajetos neurais que a percepção visual”. Também conseguiu demonstrar que “as imagens
mentais são essencialmente espaciais e organizadas no espaço como figuras” (Sacks, 2010, p. 200).
87
88 Fernando Velázquez
13 Neste sentido, consultar o livro de Eric Kandel “The Age on Insight”, mencionado
nesta bibliografia. Na virada do século XX, Viena esteve no centro de uma revolução
científica (física, psicologia, neurociência) que influenciaria profundamente todos os
domínios do conhecimento. É de particular interesse o quanto a produção de Kokoscha,
Schiele e Klimt, por exemplo, se vê profundamente modificada pelo contexto histórico.
89
90 Fernando Velázquez
91
92 Fernando Velázquez
93
arte generativa –
contracenando com
a máquina
Arte generativa pode ser definida como “qualquer
prática artística na qual o artista cria um processo,
como um conjunto de regras ou linguagem, um
programa de computador, uma máquina ou outro
mecanismo que então é colocado em movimento
com algum grau de autonomia, contribuindo ou
resultando em um trabalho de arte completo”1
(Galanter, 2003, p. 4).
1 Definição usada por Galanter em suas aulas, citada na publicação, conforme biblio-
grafia. Tradução livre do autor.
96 Henrique Roscoe
97
98 Henrique Roscoe
Minha prática
Na sequência deste artigo, pretendo analisar meios de com-
posição em sistemas generativos a partir da minha experiência
prática, fazendo uma análise de trabalhos autorais que utilizam esse
formato. Tais práticas variam da inserção de variáveis oscilatórias
para controlar parâmetros dos objetos em cena até a chamada de
pessoas da plateia para executar metade da composição comigo,
ao vivo. Vou analisar alguns trabalhos que produzi utilizando
técnicas generativas a fim de apontar onde foram inseridas, qual
o seu impacto no processo e no resultado final.
Criar vida. Extrapolar o cotidiano. Sair da repetição. Uma
diferença marcante em meus trabalhos como VJ e no projeto
audiovisual “Hol” tem relação direta com a repetição. Se os loops
em si já têm essa característica intrínseca da reincidência, a sobre-
posição de camadas e a dinâmica dos efeitos aplicados permitem
um resultado semelhante ao generativo, porém produzido a partir
de material constante, pré-gravado na forma de loops de vídeo. As
diferenças se dão pelo tamanho dos loops, que fazem com que a
sobreposição destes somente se repita ocasionalmente, de forma
imperceptível pelo público. Quando várias camadas são aplicadas,
essa sensação de não repetição se amplia, já que a combinação de
vários fatores aumenta a variedade de resultados. A manipulação
de efeitos ao vivo acrescenta uma nova variável e faz com que
esse material que já tinha uma grande diversidade seja outra vez
estendido em suas possibilidades.
Já no “Hol”, pelo fato de as composições serem muito mais
elaboradas, seguindo um roteiro criado do zero, a possibilidade
de determinação das variáveis se expande muito e permite o
uso de técnicas generativas mais complexas, controlando cada
parâmetro dos atores da cena e elevando as variações possíveis
praticamente ao infinito. Esses corpos são majoritariamente
99
II
Na instalação “Afeto” [ fig. 2], através do uso de três instrumen-
tos audiovisuais, o caráter generativo aparece sob diversas formas.
No primeiro objeto, composto de dois spots de luz RGB, um jogo
acontece quando um instrumento autônomo – conectado aos dois
equipamentos de luz – inicial-
mente gera uma frequência
e uma cor, por meio de uma
variável randômica, que é emi-
tida por um dos spots. Em se-
guida, o spot que está do lado
oposto começa a trilhar um
caminho entre a cor e a fre-
quência que atualmente emite
até chegar às propostas pela
2 primeira variável. Esse caminho é um continuum de som e luz, até
que ambos estejam emitindo a mesma frequência. Logo após, uma
nova variável é sorteada e o processo se repete, desta vez com o
segundo spot tomando a frente no processo. Em um outro objeto,
constituído também por um instrumento autônomo, este conec-
tado a um projetor e ao sistema de som, a frase “Você me ouve?” é
repetida em código morse com variadas durações, resultando em
uma forma de monólogo com diferentes entonações, de acordo
101
III
Já a obra “Territórios” [ fig. 3] é uma soma complexa de intera-
ções humano-máquina, em que a própria imprecisão de leitura
do microfone rudimentar acrescenta uma pitada de aleatoriedade
ao processo. Nela, o som gerado por cada interator é analisado e
modifica a posição da tela central no sentido de quem aplicou o
menor volume ao instrumento. Os frames que aparecem na tela
não são randômicos, porém aparentam ser devido à forma com
que foram programados. É a intensidade da batida no instrumento
que faz a projeção deslizar por uma sequência de frames estáticos
em uma timeline que é acessada em função do volume captado
pelo respectivo microfone. Porém, a amplitude faz com que se
tenha uma sensação de que as imagens acontecem de uma forma
completamente fragmentada, apesar de estarem sempre na ordem
fixada pelo vídeo pré-gravado. Variáveis físicas, como atrito e inércia,
também interferem na obra.
V
Os procedimentos generativos foram sendo amadurecidos ao
longo do tempo e, no projeto mais recente, “Synap.sys” [ fig. 5], tenho
conseguido definir melhor o que quero que cada objeto faça na cena,
além de estar mais livre para improvisar durante a performance, em
função da automatização de alguns parâmetros que anteriormente
tentava controlar “na mão”. A automatização se utiliza de práticas
criativas para tornar movimentos mais repetitivos – ou transições –,
mais fluidos, sem exigir a minha ação, que pode ser direcionada para
outros processos. O uso de uma interface construída especialmente
para a performance – que, inclusive, tem seu design pensado em
função do tema escolhido – ajuda na ampliação das possibilidades
generativas, através de seu próprio modo de funcionamento. Esse
é um instrumento de cordas que contém uma parte digital e tem
103
VI
No trabalho “PONTO, um Videogame sem Vencedor” [ fig. 6 e 7],
as estratégias generativas chegam ao ponto máximo: além de todas
as variáveis que controlam som e imagem, outra é inserida pelo
visitante, que tem controle sobre 50% de tudo que é gerado durante
a performance. Ao convidar cinco pessoas do público para execu-
tá-la no palco comigo, perco o controle sobre boa parte das ações,
já que é impossível prever o que cada um irá fazer. A apresentação
é toda gerada pelo sintetizador audiovisual que criei, controlada
a partir de joysticks, que geram som e controlam imagens em
tempo real, criando ao vivo tanto a trilha sonora quanto os visuais
de uma forma radical: sem a atuação dos performers, quase nada
acontece na cena, pois grande parte da ação depende destes. Cada
participante recebe as instruções quando sobe ao palco, onde estão
descritas as ações possíveis e a função de cada botão do joystick.
Mas, mesmo recebendo instruções idênticas, cada participante tem
uma atuação completamente distinta. Alguns tentam produzir algo
musical, mas boa parte aperta os botões de forma frenética, tentando
VII
Outro procedimento importante que aparece com frequên-
cia nessa performance são os loops randômicos. O uso desses
dois termos aparentemente contraditórios, já que o termo “loop”
sugere repetição, enquanto o randômico busca a variação, existe
em função da mescla de características dos dois lados, a fim de
inserir alguma repetição a comportamentos aleatórios. Assim,
alguns loops são criados de modo que, sempre que são repetidos,
geram uma nova sequência de números, que é usada para criar
melodias dentro de uma escala inventada ou gerar variações no
105
Considerações finais
Neste artigo, descrevi procedimentos generativos em trabalhos
artísticos audiovisuais, buscando uma conceituação em função de
conteúdo adquirido em leituras prévias de autores da área, mas
principalmente pela minha prática, que se utiliza constantemente
desse modo de operação. Acredito que essas bases possam auxiliar
artistas e estudantes da área a conhecer um pouco sobre o tema
e inspirá-los a ir além do que foi dito aqui, explicitando melhor
procedimentos e técnicas usadas, sugerindo novas possibilidades
artísticas em trabalhos que se utilizem desse modo de pensar.
4 “Aufhebung ”, 2009, Mostra Live Cinema. Mais informações sobre o trabalho em:
<http://hol.1mpar.com/?page_id=879>.
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107
inte-
ração
internet
das
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coisas 23/08/19 13:24
Roberto
Cruz
filmes e vídeos de
artistas: preservando e
difundindo o que ainda
não se perdeu
1 Aqui não me refiro à Cinemateca Brasileira, que, apesar de ter esse protocolo muito
bem definido, não abriga em seu acervo obras dessa natureza.
2 O período se refere aos anos de 2013 a 2016.
111
Desafios da difusão
Como criar meios de exposição que permitam que obras
produzidas em novas mídias possam ser exibidas numa concepção
museológica contemporânea, com longos períodos de exposição,
em turnos diários contínuos de 8 a 10 horas durante 60, 70 dias?
“Ão”, de Tunga, é um exemplo que merece ser analisado, consi-
derando aspectos expositivos e as particularidades técnicas da obra.
O cinema foi uma linguagem não muito frequente no repertório
de Tunga, mas, mesmo assim, essa obra se insere integralmente
no vocabulário estético do artista. Da mesma forma que a maté-
ria plástica do aço, do vidro, da madeira, do cobre, da argila, tão
frequente em suas esculturas e instalações, era moldada em for-
mas simbólicas e orgânicas, representando questões filosóficas e
antropológicas da cultura brasileira, a filmeinstalação “Ão”, criada
pelo artista em 1982, propõe uma transmutação entre a imagem,
o som e o próprio dispositivo da projeção.
No espaço da instalação, o espectador assiste ao interminável
plano-sequência, que exibe o percurso circular por dentro de um
túnel sem saída. Esse trajeto contínuo tem como trilha sonora
um fragmento da canção “Night and Day” de Cole Porter, interpre-
tada por Frank Sinatra, que repete também infindavelmente a frase
que dá título à canção. A experiência visual e sonora se estende
para uma percepção física, para o próprio espaço da exibição, no
qual a película de 16 mm circula além do carretel do projetor,
transformando a sala em cenário da representação.
A obra de Tunga transporta a percepção do espectador para
uma dimensão sobrenatural, onírica. Cria outros significados
para a imagem, o som e o próprio devaneio do corpo, presente em
uma mediação dos sentidos que se estabelece entre a experiência
de ver, ouvir e estar. Atualmente existem duas edições dessa obra.
Uma delas faz parte do acervo da Coleção Inhotim, em que pode
ser apreciada permanentemente na Galeria Psicoativa, pavilhão
concebido por Tunga para integrar a arquitetura ao meio ambien-
te, criando uma intersecção entre duas dimensões espaciais com
113
115
117
extremidades: leituras
entre arte, práticas
midiáticas e experiência
contemporânea*
Leituras descentralizadas
Desde a passagem dos anos 2000, com o acesso cotidiano à pro-
dução audiovisual, às linguagens digitais e redes móveis, sabemos
que tais práticas colocam em xeque a especificidade dos meios e das
linguagens, assim como promovem um campo aberto de possibi-
lidades e interações entre diferentes ambientes culturais, circuitos
midiáticos e ações artísticas.
A leitura das extremidades foi traçada na direção de uma cartogra-
fia disforme, observando práticas e contextos da arte contemporânea
em suas intersecções com o vídeo, regidos pelo pluralismo, de forma
a não se apresentarem como um campo específico de manifestações
artísticas e midiáticas.
Integraram a pesquisa artistas como Andrea Tonacci, Anna
Bella Geiger, Antonio Dias, Arnaldo Antunes, Arthur Omar, Cao
Guimarães, Carlos Nader, Dora Longo Bahia, Eder Santos, Eduardo
Kac, Fernando Meirelles, Flávio de Carvalho, Geraldo Anhaia Mello,
Gilbertto Prado, Gisela Motta, Leandro Lima, Giselle Beiguelman,
Hélio Oiticica, José Roberto Aguilar, Julio Plaza, Kiko Goifman,
Leticia Parente, Lia Chaia, Lucas Bambozzi, Lucila Meirelles,
luiz duVa, Marcelo Tas, Mauricio Dias, Walter Riedweg, Moysés
Baumstein, Otávio Donasci, Paula Garcia, Paulo Bruscky, Phila-
delpho Menezes, Rafael França, Raquel Kogan, Regina Silveira,
Regina Vater, Rejane Cantoni, Rita Moreira, Rosangela Rennó,
Sandra Kogut, Sonia Andrade, Tadeu Jungle, Vincent Carelli, VJ
Spetto, Walter Silveira e Wesley Duke Lee. Participaram também
grupos como BijaRi, Corpos Informáticos, Olhar Eletrônico,
SCIArts e TVDO.
Como força que atravessa, a noção de extremidades foi im-
portante para tirar o foco do “específico” e do centro tanto de
121
Sobre as extremidades
A ideia de extremidades é embasada enquanto “caminho de
leitura”, em direção à articulação entre campos não oponentes, não
dicotômicos, não polarizados, mas complementares. É utilizada
como atitude de olhar para as bordas, observar as zonas-limite, as
pontas extremas, interconectadas em variadas práticas.
Diz respeito a um termo metafórico derivado da medicina
oriental e de seus métodos terapêuticos, como a acupuntura, a
reflexologia e o do-in. Esses campos da medicina alternativa tra-
balham com a capacidade que os pontos cutâneos extremos do
corpo (como orelha, mão e pé) possuem de, ao serem ativados,
123
125
127
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“Éramos Esperados (16 mm) ”, 2013,
instalação fílmica com dois
projetores 16 mm, estruturas
metálicas com telas translúcidas
e dois andaimes. (vista parcial)
144
“Éramos Esperados
(Chumbo e Pau) ”, 2013,
instalação fílmica com projetor
16 mm, estrutura metálica,
sistema motorizado e andaime
(vista parcial)
148-149
145 acima “Mecanismo do
“Éramos Esperados Esquecimento”, 2017,
(Chumbo e Pau) ”, 2013, instalação fílmica com projetor
instalação fílmica com projetor 16 mm “intervencionado”
16 mm, estrutura metálica, (à esquerda)
sistema motorizado e andaime
(vista parcial) “Memória em Chamas”, 2017,
instalação fílmica com dois
projetores 16 mm com película
145 abaixo em loop (à direita)
“Éramos Esperados
(Ferro e Terra) ”, 2013,
dispositivo fílmico com três 150-151
projetores Super 8, duas mesas de “Aula Magna”, 2013,
madeira, sistema de suporte para filme experimental em Super 8
tela translúcida e sistema para de 420 seg.
passagem de película
152
146-147 “Aeropuertos”, 2016,
“Clamor ”, 2015, filme experimental em Super 8
instalação fílmica com dois de 160 seg.
projetores 35 mm, dois projetores
16 mm, dois projetores Super 8,
mesa de madeira, quatro 153
andaimes, estrutura metálica com “Corumbé”, 2016,
telas translúcidas e sistema para filme experimental em Super 8
passagem de película de 160 seg.
155, 160
“Meteorito”, 2014,
fotografia a partir
de microfilme,
100 × 85 cm (cada)
156-159
“Paisagem”, 2014,
Fine art print a partir
de microfilme,
100 × 211 cm (cada)
cinema
de um audio-
visual que
não coube
no cinema
a cena ex
pandida
de um
161
outros fluxos
cinematográficos e sua
produção de imagens
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da temporalidade
radical em arte-mídia
(urbana)
Contingência contemporânea2
Em minha pesquisa e em meu trabalho curatorial, tento acom-
panhar os artistas em suas curiosidades, inovações e maneiras de
usar (enquanto questionam) os materiais de nossos contextos
tecnológicos contemporâneos hoje3. Atentando às tendências e
dinâmicas artísticas que emergem fora das categorias estabelecidas
da história da arte (ancorada no Ocidente), e em resposta direta
à cultura visual contemporânea e à estética popular cotidiana,
concentrei-me mais detidamente na “arte-mídia urbana” como
forma de arte contemporânea condicionada por sua contingência
em nossa contemporaneidade. Essa abordagem alinha-se com o
4 Ver também Tanya Toft Ag, “Contemporary Urban Media Art – Images of Urgency. A
Curatorial Inquiry”, tese de doutorado, Copenhagen, University of Copenhagen, 2017.
5 Desenvolvo uma concepção de arte-mídia urbana em termos do que ela faz em vez
de o que ela é em: Tanya Toft Ag, What Urban Media Art Can Do, introdução a Susa
Pop, Tanya Toft Ag, Nerea Calvillo e Mark Wright (eds.), “What Urban Media Art Can
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6 Para a caracterização da arte-mídia ou arte digital em termos de seus comportamentos,
ver: Steve Dietz, “Why Have There Been No Great Net Artists?”, no site oficial do Neme,
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2 3
4,5
187
10
Conclusão
O cinema em circuito fechado atualiza a origem da palavra
vídeo, que está ligada ao ato de olhar, uma visão que acontece no
presente. Segundo Philippe Dubois, a palavra video, sem acento,
é no latim a conjugação do verbo “ver” na primeira pessoa do
presente. Videre significa “ver”, e video, “eu vejo”.
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imagens
1 “Sky TV”, Yoko Ono, 1966.
2 “TV Buddha”, Nam June Paik, 1974.
3 “Video Surveillence Piece”, Bruce Nauman, 1970.
4 e 5 “El Agitador Vórtex”, Cristina Blanco, 2014.
6 e 7 “House in Asia”, Señor Serrano, 2014.
8 e 9 “Eile”, Yroyto, 2009.
10 “Tabuleiro: 2 ou + pretextos poéticos”, Aline Santini, Dudu Tsuda, Edith Derdyk,
Lua Tatit e Rodrigo Gontijo, 2014.
referências bibliográficas
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Editora UFMG, 2010.
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DUBOIS, Phillippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
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FISCHER-LICHTE, Erika. Estética de lo performativo. Madrid: Abada, 2011.
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191
192 entrevistas
193
194 entrevistas
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196 entrevistas
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—
Entrevistas realizadas por Rodrigo
Gontijo em agosto de 2017.
198 entrevistas
processos
AVXLab
processo
AVXLab
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À esquerda,
montagem da obra
“Bony Ayax ”, com
Lucas Bambozzi,
Andrés Denegri e
Ihon Yadoya.
ARAPUCA
Letícia Ramos
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NATURA/CULTURA
Fernando Velázquez
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Demétrio Portugal Pesquisador e gestor cultu- Gabriel Menotti Crítico e curador indepen-
ral. Seu trabalho busca a criação de platafor- dente. Professor no Departamento de Comu-
mas e projetos que potencializem o desen- nicação da UFES. É doutor por Goldsmiths,
volvimento de expressões e cenas artísticas University of London, e pela PUC-SP. Escreveu
contemporâneas, como a cena do audiovisual “Através da Sala Escura: Espaços de Exibição
expandido no Brasil. É um dos iniciadores da Cinematográfica e Vjing” (Intermeios, 2012) e
MatilhaCultural (2008-2013) e da rede ALTav, “Movie Circuits: Curatorial Approaches to Ci-
e cocurador do AVXLab. nema Technology” (AUP, no prelo). Em 2017-18,
[p. 09, 163-170, 200, 216] foi fulbright visiting scholar na Universidade de
Wisconsin-Milwaukee. [p. 09, 135-141]
Didiana Prata Designer gráfica, mestre pela
FAU-USP. Pesquisa o design e a poética das Giselle Beiguelman Pesquisa a preservação
narrativas visuais das redes a partir de estra- de arte digital, arte e ativismo na cidade em
tégias de apropriação de banco de dados. É rede e as estéticas da memória no século XXI.
membro do grupo Estéticas da Memória no Desenvolve projetos de intervenções artísticas
séc. XXI (FAU-USP) e sócia da Prata Design. no espaço público e com mídias digitais. Pro-
[p. 215] fessora da FAUUSP desde 2011 (onde coordenou
Javier Cruz San Martín Desenvolvedor de Mirella Brandi × Muep Etmo (Duo) Juntos, explo-
visualizações de dados e diretor de projetos ram através da imagem e do som sua capacidade
na Reddrummer em São Paulo, formado como narrativa e de transformação perceptiva em ins-
designer industrial da Universidad de Chile, talações e performances imersivas, desde 2006.
mestre em Educação e Comunicação de Mu- Mirella Brandi é artista multimídia e designer de
seus pela Universidade de Zaragoza, Espanha, luz e Muepetmo é músico, compositor e engenhei-
músico e programador autodidata. [p. 215] ro de som. [p. 23, 35, 38, 201, 204, 209, 215]
Letícia Ramos Artista visual com o foco de Muepetmo É artista multimídia, músico e en-
investigação em criação de aparatos fotográ- genheiro de som formado pela SAE (Institute
ficos para a captação e reconstrução de movi- Audio Engineer) e músico residente do CVA
mento. Suas obras já foram expostas em espa- (Conservatorium Van Amsterdam). Há treze
ços artísticos como Tate Modern, Parque Lage, anos desenvolve um trabalho continuado com
Museu Coleção Berardo, Instituto Tomie Ohtake a artista Mirella Brandi, sobre narrativas de
e CAPC – d’Art Contemporain (Bordeaux), entre imersão a partir da luz e do som. [p. 23, 25-27,
outros. [p. 09, 154-160, 203, 207, 216] 31, 35, 38, 201, 204, 209, 215]
Lucas Bambozzi Artista e curador indepen- Patricia Moran Historiadora, mestre e dou-
dente, professor no curso de Artes Visuais na tora em Comunicação e Semiótica. É professo-
FAAP e doutorando na FAU-USP, com pesquisa ra do programa de pós-graduação em Meios
envolvendo campos informacionais em espaço e Processos Audiovisuais da USP. Pesquisadora
públicos. Seus trabalhos já foram mostrados de performances audiovisuais em tempo real,
em mais de 40 países. É um dos iniciadores do tema sobre o qual tem diversas publicações
Festival arte.mov (2006-2012), do Labmovel e experiência artística, com destaque para
(2012-2016), do ALTav, e cocurador do AVXLab. temas como vídeo, documentário, cinema,
[p. 07-10, 13-23, 121, 172, 178, 197, 202, 215, 216] tecnologia digital e produção. [p. 10, 191-198]
Lucia Koch É artista multimídia, com obras Raimo Benedetti Videoartista, atua como
que exploram as relações entre arte e arquite- professor, produtor e montador de filmes cine-
tura, produzindo alterações na luz ambiente matográficos. Seu curso de vídeo experimental
de espaços institucionais ou domésticos. É tem passagem por várias instituições renoma-
mestre em artes visuais pela UFRGS e doutora das do Brasil, como MAM-SP e MIS, e também
em Poéticas Visuais pela ECA-USP. na Espanha, como Fundació La Caixa, entre
[p. 08, 64-71, 215] outras. Como artista, participou de festivais
como RedBull Live Image, ON-OFF e FILE, entre
Mario Ramiro Artista multimídia e professor outros. [p. 10, 191-198]
do departamento de Artes Visuais da ECA-
-USP, ex-integrante do grupo de intervenções Roberta Carvalho Artista visual nascida em
urbanas 3NÓS3. Sua produção reúne interven- Belém do Pará. Formada artista pela UFPA.
ções urbanas, redes telecomunicativas, escul- Desenvolve trabalhos na área de imagem,
turas, instalações, fotografia e arte sonora. intervenção urbana e videoarte. Já participou
[p. 08, 41–45, 215] de várias exposições, coletivas e individuais,
no Brasil, França, Espanha e Martinica.
[p. 10, 191-198]
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Vários autores.
ISBN: 978-85-68212-06-6
18-17249 CDD-302.234
Todos os direitos desta edição reservados à Giro Edições e Projetos Culturais Eireli
São Paulo, SP – Brasil
www.editoraequador.com.br
1a- edição
1a- impressão
Este livro foi publicado pela Editora Equador em coedição com o AVXLab por ocasião do seminário,
mostra e residência artística, apresentados no Centro Cultural São Paulo de 9 a 11 de junho de 2017
graças ao investimento e correalização da Spcine / Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
O AVXLab é um projeto organizado por participantes do ALTav - Rede Audiovisual Expandido.
participante: correalização:
que se expande para além dos o cinema nosso imaginário e afeta nosso modo de comunicação.
Os autores deste livro reuniram uma série de ensaios
“Uma contribuição sensível a uma literatura nacional, por paradigmas industriais do cinema e seus excepcionais que nos ajudam a navegar por esses fluxos
outros
vezes escassa, sobre as ações das tecnologias no campo transbordantes de imagens que nos cercam e acom-
e da televisão, constituindo novos
das artes, com impactos diretos em nossa sociedade no panham diariamente; um guia para o cinema em suas
âmbito pós-digital. As materialidades e imaterialidades meios, formatos, processos, fluxos múltiplas facetas.”
continuam no centro da nossa relação com o mundo. Esta Emilio Álvarez – codiretor fundador do LOOP
e circuitos criativos. lucas bambozzi e
ocorrem no cinema expandido representam um importante se torna um livro. […] Desconstruir, legitimar práticas, dar
indício das mudanças tecnológicas e sociais na percepção voz e palavra. Criar ‘outras’ histórias do sul.”
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da arte contemporânea. Compartilho aqui minha grati- Gabriela Golder – artista e codiretora da BIM –
dão aos criadores por acossar os limites do audiovisual Bienal da Imagem em Movimento (Argentina).
nas suas experiências cinemáticas e também aos autores
deste livro por sua manifestação e mediação em torno das
conquistas de nosso segmento na última década.”
Daniela Arriado – diretora da Screen City Biennial
(Noruega).