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A educação no Brasil está antiquada, sendo ainda uma educação

de segunda onda que forma trabalhadores manuais


Cosete Ramos - Doutora em educação pela Florida State University (EUA)

Cosete Ramos palestrou na abertura do II Seminário Internacional de


Educação Brasil Competitivo, realizado no dia 25 de novembro, em
Brasília, abordando o tema Ciência da Aprendizagem. Doutora em
Educação pela Florida State University (EUA) e mestre em
Supervisão e Administração pela Califórnia State University (EUA),
ela também soma os títulos de especialista em Gestão da Qualidade
e em Tecnologia Educacional. Na entrevista a seguir, Cosete fala
sobre as novas abordagens no campo da educação e como a ciência
da aprendizagem pode colaborar com a competitividade de um país.
Equipe Editorial: Quais os modelos de aprendizagem que são
utilizados atualmente? Qual tem sido o mais efetivo para contribuir
para a melhoria da capacidade de criação e desenvolvimento do ser
humano?

Cosete Ramos: Alvin Toffler, um dos maiores futuristas na área de administração, no modelo
das três ondas, diz que a sociedade humana é uma sucessão de ondas de mudanças, cada
uma trazendo um padrão. Eu vou comparar a segunda onda com a terceira. A segunda é a
sociedade industrial, em que o modelo de organização é a fabrica, o símbolo é uma linha de
montagem com trabalhadores manuais e mão de obra barata de baixa qualificação. É uma
sociedade altamente autoritária em que o patrão manda e o operário obedece. O erro não é
aceito e as tarefas são rotineiras e repetitivas. Essa sociedade demanda uma escola da
segunda onda para preparar o trabalhador manual. A partir de 1950, começa a terceira onda, a
sociedade do conhecimento ligada à informação, tendo como símbolo o computador. A
atividade que paga a pessoa nessa sociedade é a atividade cerebral, relacionada com o talento
e o alto conhecimento. Essa sociedade valoriza a cooperação, a qualidade e a inovação e
demanda uma outra escola, desenvolvendo projetos inteligentes, relacionados à cidadania,
entre outros temas.

Equipe Editorial: Como se educa esse trabalhador cerebral?

Cosete Ramos: Existem cinco princípios de aprendizagem que são coerentes com o
cérebro. O primeiro princípio tem a ver com o cérebro individual – cada cérebro é único e
as pessoas apreendem diferentemente. Para isso, deve existir um ensino diversificado e
diferenciado, que valorize as diferenças de aprendizagem dos alunos. O segundo princípio
tem a ver com o cérebro motor. A aprendizagem é fisiológica, realizada pelo corpo ou pela
mente. É um único organismo. O terceiro princípio de aprendizagem é o do cérebro
emocional, em que a aprendizagem é impulsionada por sentimentos: a emoção impulsiona a
atenção, que impulsiona a aprendizagem, que impulsiona a memória, devendo existir na nova
sala de aula mais espaço para as emoções positivas. O quarto princípio está relacionado ao
cérebro social, com uma comunidade cooperativa de neurônios. A velha sala de aula
dispunha os alunos um atrás dos outros, não valorizando o social. Hoje, na maior parte do
tempo, trabalha-se em grupos. O quinto princípio é que o cérebro só se mantém saudável
através de estimulação constante, com a aprendizagem movida por novidades e
desafios, constituindo o cérebro genial. A escola nova da terceira onda tem que desafiar
permanentemente esse cérebro a resolver problemas, participar de projetos, criar produtos e
usar experiências que devam acontecer em uma sala de aula mágica que desafia a imaginação
e o talento dos seus alunos.

Equipe Editorial: No Brasil, já se aplica esse novo método na educação?

Cosete Ramos: A educação no Brasil está antiquada, sendo ainda uma educação de segunda
onda, que forma trabalhadores manuais. O problema é o paradigma velho, pois, hoje, a
educação no primeiro mundo segue o melhor caminho da educação cerebral. Precisamos
buscar embasamentos na ciência da aprendizagem.
Equipe Editorial: De que forma os educadores têm trabalhado para contribuir na construção de
uma consciência mais crítica nas novas gerações?

Cosete Ramos: Esse é um grande problema, pois raríssimas universidades tomam como tarefa
educar seus professores para ensinar valores aos seus alunos. Se o professor não sabe
ensinar, como vai passar a informação para os alunos?

Equipe Editorial: Como o modelo educacional vem trabalhando a questão do analfabetismo


funcional, quando o indivíduo sabe ler, mas não entende o que lê?

Cosete Ramos: O problema reside em como é vista a tarefa do professor. Se for centrado no
mecanismo da leitura, teremos analfabetos funcionais. Temos que ensinar a interpretação,
entrar em níveis de pensamento. O nível mais alto do pensamento humano é a avaliação,
quando se consegue avaliar e criar algo novo.

Equipe Editorial: Como a Neurociência pode ajudar na educação?

Cosete Ramos: A ciência do cérebro está colaborando para construir o que nós chamamos de
uma ciência da aprendizagem. Uma ciência que diga como as pessoas aprendem bem e mal,
em função da maneira como usam o cérebro. Estive em julho nos Estados Unidos em um
grande congresso internacional, onde foram apontados resultados para a nova educação. É a
neurociência que vai embasar uma nova ciência da aprendizagem, dizendo como o ser
humano aprende bem.

Entrevista realizada com exclusividade pela equipe editorial da Enfato Comunicação


Empresarial para o portal do Movimento Brasil Competitivo (MBC).
Coordenação Editorial: Raquel Boechat
Redação: Giuliana Giavarina
Apoio de redação: Leonardo do Prado Lima

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