Duarte Canau
I.Regra Jurídica
1.Noção
A regra Jurídica comporta como elementos: A previsão ( elemento da
regra jurídica, que define as condições em que ela é aplicada, tem um
caráter representativo e constitutivo porque constitui um determinado
facto com relevância jurídica e ainda tem um caráter referencial, porque
se refere a um facto) e a estatuição ( elemento da regra jurídica na qual
se define a consequência jurídica que decorre da sua aplicação. Tem 2
elementos, o operador deôntico que mostra o que a regra pretende
transmitir ao destinatário e o objeto, que estabelece a relação da regra
com um “estado de coisas” a “constituir ou evitar”, tem ainda um caráter
auto-referencial, porque a própria constrói a sua referência).
a. Aspetos Gerais
Toda a regra é necessariamente um critério que permite apreciar e
ordenar os fenómenos, para o Direito a regra é meramente um critério de
decisão, ela surge como medianeira da solução jurídica de casos
concretos. No entanto nem todo o critério jurídico de decisão é uma
regra jurídica, os critérios podem ser: materiais (critérios normativos) e
formais (a equidade por exemplo, dá uma orientação que permite através
de uma valoração alcançar em concreto a solução do caso). A regra
jurídica é um critério material , ela própria contém uma apreciação sobre
uma categoria de situações, esta apreciação pode ser expressa pela
palavra qualificação. A regra jurídica permite portanto qualificar os
casos concretos e torna por esse meio possível a decisão.
b. Princípios e jurídicos e regras jurídicas
Dworkin define “princípio “ como: um padrão que deve ser observado
não para assegurar uma situação económica, politica ou social vista
como desejável, mas como um requisito da justiça ( exemplo: O
princípio de que o homem não deve lucrar do próprio erro ou fraude).A
distinção entre princípios e regras pode ser feita por vários critérios
(defendidos por Alexy), nomeadamente:
● Generalidade: Princípios ( normas com grau de generalidade alto,
por exemplo: Liberdade de Crença) e as Regras ( normas com grau
de generalidade relativamente baixo, por exemplo: todo o preso
tem o direito de converter outros presos à crença)
● Existem algumas distinções tipícas (determinabilidade dos casos
de aplicação; forma do seu surgimento; caráter do conteúdo
axiológico; importância para a ordem jurídica; referência à ordem
jurídica), que não permitem a distinção concreta como as
distinções da tese que se segue;
● Princípios como mandamentos de otimização: os princípios são
normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida
possível dentro das possibilidades jurídicas e fácticas existentes (
ou seja mandamentos de otimização. São caracterizados por
poderem ser satisfeitos em graus variados, a sua satisfação
depende de possibilidades fácticas, mas também jurídicas; as
regras, são sempre satisfeitas ou não satisfeitas ( se a regra é válido
deve fazer-se aquilo que ela exige);
● Colisões de Princípios e de Regras (também apresentado por
Dworkin): quando as regras colidem, só pode ser solucionado se
uma das regras tiver uma cláusula de exceção ( Por exemplo, os
alunos só podem sair quando soa a campainha, mas em caso de
exceção como se soar o alarme de incêndio podem também sair),
ou por invalidez de 1. Se os princípios colidirem, um terá de ceder
(não significando a invalidade), e serão resolvidos numa dimensão
de peso:
-Lei da Colisão: o princípio da integridade física entra em conflito com o
princípio da operabilidade penal, porque um indivíduo não consegue
parecer perante uma audiência, devido à tensão que lhe causa um
derrame cerebral. A solução seria o estabelecimento de uma relação de
precedências condicionadas ( 1 princípio tem precedência face a outro)
- Caso de Lebach: Emissora televisiva alemã passa documentário sobre um
crime apesar do apelo á proteção dos seus direitos fundamentais por um
dos condenados pelos mesmo crime que estaria quase a sair da cadeia
,por decisão do Tribunal;
● Caráter “prima facie”. O princípio não contém mandamento
definitivo, apenas “prima facie” e exigem que algo seja
realizado na maior medida juridicamente possível). As regras
se não tiverem qualquer exceção são definitivas;
● Distinção de Dworkin: Princípios têm peso e importância pelo
que podem ser aplicados pelos juízes em diferentes medidas , já
as regras jurídicas têm um caráter do ( “all or nothing”).
c)Generalidade e Abstração
Procurando características jurídicas das regras em si surge a
generalidade, num preceito se a regra não se referir a pessoas ou a casos
singulares, consiste-se a generalidade. A generalidade contrapõe-se à
individualidade. É geral o preceito respeitante aos cidadãos, individual o
respeitante ao cidadão X; geral o preceito sobre os chefes de repartição
individual o preceito sobre o chefe de repartição 1º de uma Direção
Geral. Sempre que há um sujeito na situação prevista o preceito é
individual? Não, o que interessa para a generalidade é que a lei fixe uma
categoria. Se o preceito refere o Presidente da República é geral, se
refere a pessoa a exercer o cargo em determinado momento é individual
( de notar que o CC no seu artigo 1º considera leis todas as disposições
genéricas).
A abstração contrapõe-se ao que é concreto (o que é ambíguo). Quando
se fala de abstração como característica da regra jurídica quer-se
normalmente dizer que os factos e as situações previstas pela regra não
hão de estar já verificados; são factos ou situações do futuro que se prevê
que sobrevenham. Se se ordena que todos entreguem as armas que
possuírem nos postos, temos generalidade mas não abstração. Se se
mandar que as armas que sejam adquiridas futuramente sejam
apresentadas nos postos há abstração. Para ser caracterizada pela
abstração, a regra jurídica deveria ser posta sempre para vigorar só de
futuro.
d. Previsão e Estatuição:
A divisão das regras jurídicas em previsão e estatuição, corresponde à
formulação habitual, pois que nelas a estatuição está normalmente
condicionada por uma previsão (p.e. artigo 483º CC). A estatuição
determina a consequência jurídica que decorre da verificação da
situação. Entre a previsão e a estatuição das regras jurídicas há uma
relação de implicação normativa: se ocorrer o facto representado na
previsão, então aplica-se o dever estabelecido na estatuição.
i.Caráter Hipotético:
As regras jurídicas são hipotéticas quando só são aplicáveis se se
verificar a sua situação ou o facto que estão previstos na sua factispécie:
toda a regra que contém uma previsão. O caráter hipotético refere à
circunstância de a aplicação da regra depender da verificação do facto ou
da situação que constitui a sua previsão, o que é hipotético é a
verificação. A justificação deste caráter hipotético exprime-se na
dificuldade em definir regras que devem ser aplicadas em todas e
quaisquer circunstâncias.
ii. Caráter Geral
A regra jurídica pressupõe um tipo um tipo ou um facispécie , nos
termos anteriormente referidos , não se referindo a individualidades ou
pessoas singulares, constituindo assim a generalidade.
iii. Caráter abstrato:
A abstração não é característica de todas as normas jurídicas, pois
existem normas que se referem ao passado ou mesmo ao presente, para
ser caracterizado pela abstração, a regra jurídica deveria ser posta sempre
para vigorar só de futuro;
2. Classificação
a) Critério Estrutural
A factispécie pode incluir situações e factos, cumulativa e
disjuntivamente. Quer uns quer outros podem pertencer à previsão
normativa. Preenche a previsão normativa pode ter por pressuposto
realidades meramente fácticas, como o nascimento ou a morte. Pode
também referir-se a situações já valoradas por outras regras, que daquela
são pressuposto.
i.Regras Principais e Derivadas:
Quando de uma regra jurídica preexistente se retira uma regra ulterior,
pode denominar-se a primeira principal e a segunda derivada;
b. Critério de Sentido
i.Regras Autónomas
A regra autónoma é a que tem por si um sentido completo; a não
autónoma é a que só obtém em combinação com outras regras
ii. Regras de Conflitos:
Destinam-se a resolver conflitos no espaço e no tempo, quer em relação
a qual regra de determinado ordenamento jurídico se deve usar como
qual regra entre uma nova e uma antiga é aplicável aquando de uma
transição de regras;
e) Critério da Disponibilidade:
Segundo este critério as regras tanto podem ser injuntivas como supletivas:
Regras Injuntivas- são as regras que são aplicadas ainda que haja uma
manifestação contrária dos seus destinatários.
2. Interpretação
a) Justificação:
b) Finalidade:
Interpretação autêntica:
- Deve ser feita por uma nova norma que se dirige a fixar o sentido da
norma anterior e que tem valor igual ou superior ou igual;
c) Elementos de interpretação:
Elemento literal:
Historicismo vs Atualismo
Concretização:
Elemento lógico:
- Elemento Histórico:
Aspetos Objetivos:
● Precedentes Normativos: normas nacionais e estrangeiras por volta
da altura da formação da lei;
Aspetos Subjetivos:
Aspeto evolutivo:
Trata-se de saber qual a interpretação que tem sido dada após o inicío da
sua vigência, trata-se de averiguar que novas necessidades, diferentes
daquelas que justificaram a usa produção, têm sido entendidas como
satisfeitas pela lei;
-Elemento sistemático:
-Elemento teleológico:
Respeita à finalidade da lei: através deste elemento procura-se determinar
quais são os objetivos qua lei pode prosseguir, visando responder à
pergunta “ para que é que serve a lei?” o intérprete procure descobrir a
ratio legis. Só percebendo o que a lei estatui ( o que ela permite, proíbe ou
obriga) é possível determinar a sua finalidade.
Resultado da Interpretação:
Interpretativa declarativa:
Interpretação reconstitutiva:
● Interpretação extensiva:
● Interpretação restritiva:
Consequências:
- Quando esta modalidade deixa espaço para a aplicação de uma outra lei
também vigente no ordenamento;
- Quando esta modalidade não conduz à aplicação de uma outra lei vigente
no ordenamento, porque este não comporta nenhuma lei aplicável;
Exemplo:
“Estado mental”( 282º.1) é uma situação psicológica em que certa pessoa se encontra, que pode abranger
vários estados ( como depressão, nervosismo). Aplicando o elemento lógico parece que não abrange todos
estes estados, no entanto aplicando o elemento sistemático, podemos determinar que o estado aqui
previsto é um negativo ou frágil, tal como elemento teleológico até porque seria estranho anular o negócio
desta natureza que se encontrasse lúcido.
Interpretação ab-rogante:
Oliveira Ascensão- situações em que o artigo não tem sentido após tiradas
conclusões e usados os mecanismos de interpretação; quando remete para
um regime jurídico que não existe; quando as leis apresentam disposições
contraditórias
Admissibilidade da interpretação ab-rogante valorativa:
Interpretação corretiva:
3.Integração
a) Determinação de Lacunas:
b) Classificação de Lacunas:
c) Integração de Lacunas
i) Justificação:
Proibição da Analogia:
Modalidades da Analogia:
- Regra Hipotética:
Na falta de um caso análogo omisso, a lacuna é preenchida através da regra
que o intérprete criaria se tivesse de legislar dentro do espiríto do sistema (
artigo 10º.3 CC). A regra hipotética só é utilizada como modo de
integração de uma lacuna quando esta não possa ser preenchida através da
analogia.
Redução Teleológica:
Enunciado do problema:
Princípios orientadores:
Graus de retroatividade:
Soluções do conflito:
A lei só dispõe para o futuro, significa então que a LN regula quer os factos
jurídicos que ocorram após a sua vigência, quer os factos duradouros que se
iniciaram na vigência da LA.
Exemplo: A Lei que altera a lista das doenças prolongadas que permitem
que o funcionário requeira a sua aposentação é de aplicação imediata
àqueles que se encontrem afetados por alguma dessas enfermidades.
Posto de forma simples, para o primeiro tipo de leis/ normas (artigo 12.º,
n.º 2, 1ª parte) vale o princípio da não retroactividade da lei em toda a sua
extensão, ou seja, a LN só se vai aplicar a factos novos e aos seus efeitos.
Para o segundo tipo de leis/ normas (artigo 12.º, n.º 2, 2ª parte) vale o
princípio da não-retroactividade mitigado pelo princípio da aplicação
imediata da lei nova, ou seja, permite-se que a Lei Nova seja aplicada aos
efeitos futuros de factos jurídicos anteriores ao seu início de vigência. Dito
de outra forma, permite-se a retroactividade ordinária da Lei Nova.
O artigo 12.º do Código Civil não foi a única norma geral de direito
transitório consagrada pelo legislador civil. Desde logo, importa referir o
artigo 13.º CC, uma norma geral que regula a aplicação no tempo das leis
interpretativas.
De acordo com o artigo 13.º, n.º 1 CC, “a lei interpretativa integra-se na lei
interpretada”. Daí se retira a conclusão de que, dentro dos limites fixados
imediatamente a seguir, a lei interpretativa tem eficácia retroactiva, ou seja,
a interpretação por esta estabelecida vai ser considerada como a única
correcta, desde a entrada em vigor da lei interpretada.
I. Uma lei interpretativa stricto sensu é uma lei que procede a uma
interpretação autêntica, i.e., uma lei que vem resolver um problema
referente à interpretação de outro acto normativo de hierarquia igual ou
inferior. Assim se chega à distinção entre lei interpretada (a primeira a
surgir) e lei interpretativa (a segunda, que vem esclarecer o sentido
normativo correcto da lei interpretada). Assim, para que possamos
qualificar uma lei como interpretativa, têm de estar verificados alguns
requisitos, mormente, (i) a existência de uma lei anterior que coloque
dúvidas quanto à sua interpretação, e, (ii), a determinação, por parte da lei
interpretativa, de um dos sentidos normativos possíveis como o único
correcto. No fundo, a lei interpretativa não tem carácter inovador porque se
limita a apontar para um sentido normativo que sempre esteve contido na
lei interpretada. No entanto, o legislador nem sempre se preocupa com a
(correcta) qualificação das leis interpretativas. Por vezes, o legislador não
se pronuncia sobre a natureza interpretativa da lei e cabe ao intérprete,
mediante a sua interpretação, identificá-la.
Uma vez que estas leis, em vez de criar um regime novo, se limitam a
precisar um regime já existente, considera-se que a sua retroactividade não
vai violar as expectativas dos seus destinatários. Na verdade, estes
poderiam sempre ter contado com este conteúdo normativo. Contudo, é por
esta mesma razão que a retroactividade tem limites. Se a situação jurídica
controversa já foi resolvida com carácter de (maior ou menor)
definitividade - por caso julgado, transação, cumprimento definitivo da
obrigação, etc. – a retroactividade da lei interpretativa viria destruir essa
composição, forçar a reconfiguração de situações já resolvidas e, portanto,
atentar contra a segurança jurídica, frustrando as expectativas das partes.
O artigo 297º estabelece uma regra especial para a sucessão de leis sobre os
prazos. Se a LN estabelecer o prazo mais curto do que a LA, a LN é
imediatamente aplicável aos prazos que já estiverem em curso.