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EXEMPLO DE RECURSO CONTRA AUTO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO -

PEDIDO DE ARQUIVAMENTO (Incluso: 257; 280 e 281).

Exmo Sr.

Presidente da JARI - DAER do ____________

Av. ____________, ______

CEP ____________

____________ - ___

Recurso Contra Auto de Infração De Trânsito

____________, brasileiro, solteiro, advogado inscrito na OAB/RS sob o nº


______, residente e domiciliado a Rua
____________, nº ____, apto ____, Bairro ____________, em ____________,
___, inscrito no CPF sob o n. ____________ e portador da Carteira de
Identidade - RG sob o n. ___________, vem respeitosamente a presença de V.
Sa. apresentar RECURSO contra AUTO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO série
____________, lavrado contra o veículo placas ____________, nos termos dos
Arts. 285 e 286 do Código de Trânsito Brasileiro e pelos fatos e fundamentos
que a seguir passa a expor:
I - DOS FATOS

1. O Recorrente recebeu um auto de infração cominando penalidade de multa,


pelo qual ele estaria infringindo a Lei 9.503 de 23 de setembro de 1997
denominada Código de Trânsito Brasileiro.

2. No entanto, a autoridade de trânsito, no seu dever de fiscalizar, não cumpriu


as formalidades necessárias e indispensáveis para revestir de legalidade o seu
poder de polícia, viciando assim, o seu ato administrativo de nulidade absoluta
conforme descrição a seguir.

3. Isto porque os motoristas não podem ficar a mercê de serem acusados de


cometer infrações, sem que seja seguido e praticado o rito procedimental
instituído para a fiscalização e autuação, sob pena de que sejam cometidas,
diariamente, injustiças legais.

II- DA INSUBSISTÊNCIA E ARQUIVAMENTO DO AUTO DE INFRAÇÃO

4. O art. 281, § Único, II, do CTB, dispõe claramente, que :

"Art. 281. A autoridade de trânsito...

Parágrafo Único. O auto de infração será arquivado e seu registro julgado


insubsistente:

I - ...

II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a notificação da


autuação".

5. Verificamos através da notificação por infração de trânsito que a infração


teria sido cometida dia __/__/__ e a notificação foi expedida apenas dia
__/__/__, ou seja, passaram-se 37 (trinta e sete) dias do suposto cometimento
da infração.

6. O ilustre doutrinador Arnaldo Rizzardo (Comentários ao Código de Trânsito


Brasileiro, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1998, pág. 716), dispõe
que a não emissão da notificação no prazo descrito em lei, decai o direito do
Estado de exigir o cumprimento desta obrigação. Recorremos as suas
disposições:

"...A segunda embora configurada a infração, está na decadência por falta de


expedição do ato notificatório da autuação. Uma vez recebido o auto de
infração, e homologado ou considerado subsistente, terá a autoridade o prazo
de trinta dias para remeter a notificação . Decorrido este lapso, não mais
poderá ser exigido o cumprimento das penalidades. É que desaparece o
interesse do Estado em punir. O decurso do tempo faz não mais persistir o
efeito da sanção.

... Incumbe a autoridade o cumprimento de sua obrigação."

7. Claro está, portanto, que o órgão competente emitiu a notificação fora do


prazo previsto pela legislação, portanto, a infração deve ser julgada
insubsistente e ser arquivada, pois do contrário r. órgão julgador estará
transpondo autoritariamente as barreiras do direito e do bom senso.

III - DA FORMA ESTABELECIDA PARA OS ATOS ADMINISTRATIVOS

8. O ato administrativo de uma forma geral necessita de alguns requisitos para


a sua formação e validade, quais sejam: competência, finalidade, forma, motivo
e objeto.

9. Os autos de infração de trânsito - AIT e as notificações por infração de


trânsito - NIT, são, dentre outros, os instrumentos exteriorizadores dos atos
administrativos das autoridades de trânsito, responsáveis pela fiscalização do
cumprimento da legislação do trânsito brasileiro e pela penalização dos
infratores destas normas.

10. O órgão máximo normativo e consultivo do Sistema Nacional de Trânsito, o


CONTRAN, a fim de estabelecer, para todo o território nacional, o mínimo de
informações requeridas para a lavratura do auto de infração, detalhando e
complementando o disposto no Art. 280 do CTB, editou a Resolução nº 01/98,
na qual "instituiu a obrigatoriedade de adoção do padrão de blocos de
informações descrito no Anexo 1 desta Resolução, como referência mínima na
definição e confecção dos autos de infração a serem elaborados. (Art. 1º)"

11. Ao mesmo tempo, no artigo 2º desta resolução, o CONTRAN incumbiu ao


DENATRAN "...a definição e divulgação dos critérios de codificação que
deverão ser utilizados para o preenchimento dos blocos de informações
constantes dos autos de infração."

12. O DENATRAN, por sua vez, no exercício de suas funções editou a Portaria
nº 01/98, na qual baixou as instruções a serem adotadas quando da
elaboração e do preenchimento do auto de infração conforme a Resolução nº
01/98 do CONTRAN.

13. Ou seja, os órgãos componentes do Sistema Nacional de Trânsito, nos


termos de sua competência, estabeleceram a forma que deve ser observada
nos atos administrativos de autuação e de notificação de infrações de trânsito -
AIT e NIT, conferindo a eles, portanto, um formato específico imprescindível
para sua validade e legalidade.

14. Ocorre que no auto de infração ora analisado, o elemento "forma" do ato
administrativo foi ignorado pelo órgão autuador que não seguiu o disposto na
Resolução 01/98 do CONTRAN e na portaria 01/98 do DENATRAN,
condenando por isso, o referido auto, que não poderia prescindir da forma
legal, à nulidade de pleno jure.

15. A análise detalhada do referido auto de infração comprovará as alegações


até agora levantadas, confirmando a sua nulidade por falta de forma legal.

IV- DAS IRREGULARIDADES E DA FALTA DOS REQUISITOS


OBRIGATÓRIOS NA NOTIFICAÇÃO POR INFRAÇÃO DE TRÂNSITO

16. O BLOCO 1 da notificação, que deve possuir dois campos, está


corretamente preenchido apenas no campo 1, pois a informação que deveria
constar no campo 2, ao invés de ali constar, aparece descrita no campo 3
deste bloco.

17. Também no BLOCO 2 constam as informações previstas na Portaria 01/98,


no entanto, todas elas estão em campos diferentes dos determinados na
portaria, ou seja, em discordância com o legalmente previsto.

18. Já no BLOCO 3, onde deveria constar a identificação do condutor em


quatro campos determinados, aparece escrito identificação do proprietário, o
que não poderia acontecer, visto que há uma enorme diferença entre condutor
e proprietário, no que se refere a legislação de trânsito (Art. 257 e seus
parágrafos do CTB), não sendo possível a confusão entre ambos, como a
autuação sugere.
19. O fato do condutor não ser conhecido ao momento da lavratura do auto de
infração, não dá ao órgão autuador a faculdade de inverter as informações não
dispondo-as nos blocos e campos legalmente determinados.

20. Foi estabelecida uma ordem e uma forma específica para a disposição das
informações nos autos e nas notificações de infrações, não podendo os órgãos
da administração pública, pelo princípio da legalidade, prescindir delas.

21. O BLOCO 4 do auto de infração serve para a identificação do infrator em


dois campos de informações, e é de preenchimento obrigatório somente
quando a infração não se referir ao condutor do veículo.

22. O BLOCO 5 e o BLOCO 6, os quais são destinados, respectivamente: à


identificação do local de cometimento de infrações e a identificação da infração,
encontram-se preenchidos com algumas das informações obrigatórias, porém
em campos diversos dos previstos.

23. Ao final encontra-se a maior falha, pois verifica-se, ainda no BLOCO 5,


campo 4, a ausência imprescindível, do "CÓDIGO DO MUNICÍPIO" onde o
veículo foi autuado - no caso, em "Nova Petrópolis", cujo código que deveria
constar é "8767", conforme tabela de órgãos e municípios (TOM) administrada
pela Receita Federal.

PORTARIA DENATRAN Nº 01 de 05 de fevereiro de 1998.

ANEXO I

......

BLOCO 5 - Identificação do local de cometimento de infrações:

......

Campo 4 - CÓDIGO DO MUNICÍPIO: campo numérico com 4 posições, para


registrar o código de identificação do município onde o veículo foi autuado.
Utilizar a tabela de órgãos e municípios (TOM), administrada pela Receita
Federal - MF.

24. No campo destinado ao Código do Município consta o nº 00212 que não


representa nenhum município. Na hipótese do código ser o 0212, o município
indicado seria "Porto Rico do Maranhão", em total desacordo com a realidade
dos fatos.
25. No direito administrativo é regra para os atos da administração pública,
sempre observar os procedimentos especiais e as formas legais para que se
expressem validamente.

26. Até porque, se a administração pública no exercício do seu ofício


considerou necessário estipular as informações mínimas para os autos de
infração, tem que ter feito esta consideração com base na interesse geral e
público, o qual deve prevalecer ao particular.

27. Dentre estes interesses, encontra-se a destinação dos recursos


arrecadados com as multas de trânsito, a qual não pode ser ignorada, sob
pena de abrir-se espaço para desvios destes valores. O código do município é
fundamental, pois muitas vezes é através dele que o dinheiro chegará ao seu
destino legalmente previsto.

28. Neste raciocínio, a administração pública, representada por cidadãos


brasileiros, não pode deixar de lado as normas que são protetivas da
coletividade para se utilizar de procedimentos com caráter particular pois que
manipulados por um pequeno grupo de pessoas que age por conta própria e
contra a coletividade.

29. Por isso que o revestimento exteriorizador do ato administrativo constitui


requisito vinculado e imprescindível à sua perfeição, importando, no caso de
sua não observação em nulidade do ato.

30. Destarte, como pode o administrado ser compelido a pagar uma multa se a
própria administração que tem obrigação de revestir seus atos pelos princípios
que orientam o ato administrativo não o faz ?

31. Fundamentando e sustentando as argumentações feitas, estão as lições do


mestre do direito administrativo brasileiro, Hely Lopes Meireles, em seu
clássico Direito Administrativo Brasileiro ( Malheiros Editores - 22ª edição -
págs.129,178,179):

" A inexistência de forma induz a inexistência do ato administrativo."

E segue:

"A Administração Pública, como instituição destinada a realizar o direito e a


propiciar o bem-comum, não pode agir fora das normas jurídicas e da moral
administrativa, nem relegar os fins sociais a que sua ação se dirige. Se, por
erro, culpa, dolo ou interesses escusos de seus agentes, a atividade do Poder
Público se desgarra da lei, se divorcia da moral, ou se desvia do bem comum,
é dever da Administração invalidar, espontaneamente ou mediante provocação,
o próprio ato, contrário à sua finalidade, por inoportuno, inconveniente, imoral
ou ilegal. Se não o fizer a tempo poderá o interessado recorrer às vias
judiciárias."

32. Por fim, o egrégio Supremo Tribunal Federal, já pacificou matéria quanto a
possibilidade da Administração Pública anular os seus atos eivados de
nulidades, conforme Súmula nº 473 que ora se transcreve:

"A administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios que
os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos, ou revogá-los, por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e
ressalvada em todos os casos a apreciação judicial".

ISTO POSTO, requer:

a) seja acolhido o presente Recurso, dentro do prazo legal e com base na Lei
nº 9503/97, para, depois de apreciado e julgado, seja considerado totalmente
procedente a fim de declarar a nulidade do Auto de Infração de Trânsito série
_______, cancelando as penalidades dele decorrentes;

b) seja a infração julgada insubsistente por afrontar o art. 281, § Único, II do


CTB, pela notificação ter sido expedida fora do prazo legal;

c) caso não julgado o presente recurso no prazo legal, seja-lhe concedido o


efeito suspensivo, forte no art. 285, § 3º do CTB.

N. Termos.
P. e E. Deferimento.

____________, ___ de ____________ de 20__.

____________________________________
Assinatura

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