Convento
Das Bernardas
O A
Arquiteto
Nascido em Porto, Portugal,
formou-se em arquitetura pela
Escola de Belas Artes da cidade e
iniciou sua carreira profissional
trabalhando com Álvaro Siza. Sua obra é
associada com frequência a uma provável
corrente de influência miesiana, referente ao
Mies van der Rohe, porém, seus projetos
revelam uma singularidade na escolha dos
materiais: madeira, tijlo, granito, madeira,
aço, concreto, mármore e vidros são
algumas das texturas que compõe conjunto
de Souto Moura.
Em 2011, recebeu o Prêmio Pritzker,
tornando-se o segundo arquiteto português
a conquistar essa horaria (o primeiro foi
Álvari Siza, em 1992). Antes do Pritzker,
Souto recebeu a Medalha de Ouro Heinrich
Tessenow em 2001 e em 2014 recebeu o
Prêmio Wolf de Artes. Algumas obras:
Estádio Municipal de Braga
Reconversão do Convento de Santa Maria do Bouro
História
O convento de Nossa Senhora da
Piedade, conhecido como Convento das
Bernardas, foi fundado em 1509, na cidade
de Tavira, por iniciativa de D. Manuel I, em
agradecimento pelo levantamento de um
cerco mouro a Arzila, região portuguesa que
a cidade do convento se encontra. O
convento foi cedido para as monjas da
ordem de Cister, ordem religiosa monástica
católica beneditina reformada, que se
manteve no local até o século XIX.
Por abrigar a ordem de Cister, o
convento seguia conforme a arquitetura
cisterciense: planta apresentava a forma de
um duplo quadrado interrompido, com dois
pisos, em que um dos lados, a Norte,
correspondia à igreja. Outro elemento
característico da ordem é a ausência de um
pórtico axial na igreja. A porta pública das
igrejas femininas é na fachada lateral com o
objetivo de os fiéis não terem contato visual
com as monjas acomodadas no coro na
retaguarda do templo.
O Convento das Bernardas foi extinto
em 1862, quando foi vendido e se tornou a
Fábrica de Moagem e Massas a Vapor onde
se manteve em laboração até finais da
década de 60.
Convento Antes da Reabilitação
Convento Antes da Reabilitação
Localização: Tavira, Portugal
Ano de Construção: 1509
Ano de Reabilitação: 2012
Arquiteto da Reabilitação: Eduardo Souto de Moura
Bruno Gama | Henrique Ferreira | Tainara Rabello
A
Linha do Tempo
Fundação por iniciativa de D.
1509
Manuel I
Com a construção concluída foi
1530
entrega ás Monjas de Cister
Terremoto em Lisboa e na
região de Arzila, graças a sua
estrutura de paredes de
1755
alvenaria o convento foi capaz
de absorver os esforços O edifício passou para o controle
sísmicos privado de acordo com a
1834 legislação liberal que extinguia as
ordens religiosas portuguesas
Vendido e torna-se a Fábrica de
1890
Moagem e Massas a Vapor
1968 Fim da laboração na fábrica
A Câmara municipal aprova
projeto de recuperação e 2001
valorização da edificação
O Covento das Bernardas Desenvolvimento do projeto de
obteve o prêmio internacional 2006
reabilitação
de Off-Plan Top20,
reconhecido como um dos
m e l h o r e s 2 0 2008
empreendimentos a nível
mundial, em fase de projeto
Inicio à reconversão do antigo
Promovido pelo Entreposto 2009 convento em um condomínio
Imobiliário e com a assinatura habitacional.
do galardoado Pritzker 2011
Souto Moura, como um dos
mais promissores e inovadores 2011
projetos de reabilitação do
patrimônio nacional para fins Conclusão da obra de
residenciais 2012 reabilitação, tornando-se um
condomínio
 Convento
Das Bernardas
A O projeto de intervenção consistiu na
Reabilitação
Dada a sua importância histórica, o Convento das
Bernardas, com mais de 500 anos e que abrigou uma
arquitetura significativa na região de Arzila, recebeu
obras de adaptação em 2009 para transformação em
condomínio privado.
O edifício não é protegido oficialmente, pois não
obteve reconhecimento e classificação como
patrimônio cultural nos termos do artigo 78, do
Decreto-Lei 309/2009. Por esse motivo, o projeto de
reabilitação não é obrigado, necessariamente, a seguir
as determinações internacionais de proteção ao
patrimônio cultural. Mesmo não possuindo
reconhecimento como obra de arte, o Convento possui
valor histórico para a cidade e a população e, por esse
reconhecimento de sua importância para a região, se
tornou o ponto de partida do projeto de reabilitação do
edifício.
O Antigas Alas do Convento
Projeto de Reabilitação
De um exterior sóbrio, com exceção de um portal
em estilo gótico manuelino, o edifício estava em ruínas,
foi então que o Entreposto Imobiliário convidou o
arquiteto português Eduardo Souto de Moura para
realizar a reabilitação do mesmo. “O patrimônio tem
que ser tratado de modo a ser usado, porque o uso é
aquilo que o mantém” disse Souto Moura em entrevista
ao programa Espaços & Casas, ao enfatizar a
importância de se fazer um empreendimento
imobiliário em um patrimônio histórico ao invés de
apenas nas periferias. O projeto de luxo contém 78
apartamentos dispostos em torno de um grande pátio
central no local do antigo claustro com duas piscinas de
uso comum de água salgada em referências as salinas
de Tavira, e estacionamento.
Localização do edifício próximo às salinas de Tavira
Localização: Tavira, Portugal
Ano de Construção: 1509
Ano de Reabilitação: 2012
Arquiteto da Reabilitação: Eduardo Souto de Moura
Bruno Gama | Henrique Ferreira | Tainara Rabello
reabilitação e adequação do edifício pré-existente em
moradias e na concepção de uma nova ala em que foi
aproveitado o desnível do terreno para criar 21
habitações de um ou dois pavimentos. Os restantes dos
57 apartamentos são de tipologia tríplex e se
distribuem ao longo das alas, inclusive no altar e coro da
antiga igreja, enquanto a nave central se converteu em
recepção.
Interior de um dos triplex
As fachadas tiveram que ser bem trabalhadas
para o novo uso do edifício, pois além de manter as
aberturas da época do convento e da fábrica foi preciso
abrir mais 230 buracos para as janelas, o que foi um
desafio, visto que todo o edifício é feito de terra e
pedra. Os buracos foram abertos nas paredes usando
um modo de contenção e as janelas foram recortadas
em concreto e parafusadas na parede. Ainda no
Ala construída Claustro exterior, os pergolados metálicos com trepadeiras
nativas geram sombras nos terraços, estacionamento e
Antiga Igreja
áreas de serviço. O edifício sempre foi vermelho, e
Implantação destacando os locais Souto Moura no primeiro momento tinha a intenção de
manter essa cor, pois achava bonito em contraste com
as salinas brancas, mas mudou de ideia ao ver que ficou
agressivo todo aquele vermelhão e resolveu mudar a
cor para uma mais clara, criando sombras e texturas
diferentes, onde é possível fazer uma leitura de como o
edifício era e como ficou, evidenciando os materiais
utilizados na época e na reabilitação.
1 Pavimento
Duplex
Planta nível -1, aproveitando o desnível para fazer a nova ala
Projeto inicial com o edifício todo vermelho, o que o deixou mudo
segundo o próprio Souto Moura
Recepção Duplex
Triplex
Planta nível 0, onde já nota-se os apartamentos triplex e a recepção
A cor mais clara da reabilitação concluída, onde pode-se fazer
uma clara leitura da arquitetura antiga e das intervenções feitas
 Convento
Das Bernardas
Cartas
Patrimoniais
A reabilitação do Convento das Bernardas
respeitou os termos das Cartas Patrimoniais, que são
instrumentos teóricos referentes à atuação de
profissionais/instituições da área de conservação e
preservação do patrimônio que definem diretrizes
para a prática dessas ações sobre um edifico histórico.
Carta de
Atenas (1931)
· Materiais de restauração: aprova-se o uso de
recursos técnicos e materiais modernos,
especialmente o concreto armado, para os casos de
consolidação estrutural.
· Valorização dos monumentos: respeito ao
caráter e fisionomia das cidades, sobretudo na
vizinhança dos monumentos antigos no que se refere
à construção de novos edifícios;
· Respeito ás transformações ocorridas no
decorrer do tempo e à autenticidade do material. Em
respeito às transformações, Eduardo Souto não retira
a torre da fábrica de moagem no projeto do Conveto.
Torre de moagem antes e depois da reabilitação
Carta de
Lisboa (1955)
· O termo reabilitação é o que mais pressupõe a
preservação do ambiente construído e ocupado.
· Reabilitação de um edifício: Obras que têm por
fim a recuperação e beneficiação de uma construção,
resolvendo as anomalias construtivas, funcionais,
higiênicas e de segurança acumuladas ao longo dos
anos, procedendo a uma modernização que melhore o
seu desempenho até próximo dos atuais níveis de
exigência.
· Reabilitação pode ser pensada ainda como ação
que inclui a preservação da arquitetura comum e não
apenas a de interesse histórico e concebe o patrimônio
edificado em si como valor de recurso.
· As novas soluções arquitetônicas, para que
sejam compatíveis com as Áreas Históricas, deverão
rejeitar tanto o pastiche como o objeto dissonante,
sendo atuais e mantendo uma linguagem contextual.
· Reconversão: operação de recuperação de valor
econômico e patrimonial (também é adequado ao
caso).
Fachada Leste antes e depois da reabilitação
Localização: Tavira, Portugal
Ano de Construção: 1509
Ano de Reabilitação: 2012
Arquiteto da Reabilitação: Eduardo Souto de Moura
Bruno Gama | Henrique Ferreira | Tainara Rabello
Carta de
Veneza (1964)
· Art. 1º - A noção de monumento histórico
compreende a criação arquitetônica isolada bem
como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de
uma civilização particular, de uma evolução
significativa ou de um acontecimento histórico.
Estende-se não só às grandes criações, mas também às
obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo,
uma significação cultural.
· Art. 5º - A conservação dos monumentos é
sempre favorecida por sua destinação a uma função
útil à sociedade (tornou um edifício sem uso em um
conjunto de apartamentos residenciais).
· Art. 6º - A conservação de um monumento
implica a preservação de uma ambiência em sua
escala.
· Art. 7º - O monumento é inseparável da história
de que é testemunho e do meio em que se situa.
· Art. 10 – Quando as técnicas tradicionais se
revelarem inadequadas, a consolidação do
monumento pode ser assegurada com o emprego de
todas as técnicas modernas de conservação.
· Art. 12 – Os elementos destinados a substituir as
partes faltantes devem integrar-se harmonicamente
ao conjunto, distinguindo-se, todavia, das partes
originais, a fim de que a restauração não falsifique o
documento de arte ou de história.
· Art. 13 – Os acréscimos só poderão ser tolerados
na medida em que respeitarem todas as partes
interessantes do edifício.
· Art. 16 – Os trabalhos de conservação, de
restauração e de escavação serão sempre
acompanhados pela elaboração de uma
documentação precisa, sob a forma de relatórios
analíticos e críticos, ilustrados com desenhos e
fotografias.
Acréscimo com materiais contemporâneos
Convento Localização: Tavira, Portugal

Das Bernardas Ano de Construção: 1509

Ano de Reabilitação: 2012
Arquiteto da Reabilitação: Eduardo Souto de Moura

Bruno Gama | Henrique Ferreira | Tainara Rabello

Carta do
Restauro (1972)
· Adoção de medidas preventivas para evitar intervenções de maior
amplitude
· Novas utilizações para os edifícios monumentais antigos, com o
objetivo de assegurar a sobrevivência dos monumentos, desde que as
novas funções não sejam incompatíveis com os interesses históricos e
artísticos.
· As obras de adaptação deverão ser limitadas ao mínimo,
conservando as formas externas e evitando alterações sensíveis das
características tipológicas, da organização estrutural e da sequência dos
espaços internos.

Portal Manuelino antes e depois da reabilitação

Fachada Oeste antes e depois da reabilitação