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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv7n1-597
RESUMO
A terra crua é um dos recursos mais antigos e utilizados pelo homem, sendo suas
propriedades consideradas favoráveis em relação ao conforto térmico, durabilidade e
versatilidade. Neste contexto, este trabalho tem como principal finalidade analisar o
desempenho térmico de edificações construídas em terra e compará-lo ao de construções
com alvenaria de blocos cerâmicos. Para tanto, foi realizado um estudo de caso na cidade
de Iracema/CE mediante visitas in loco compostas por: entrevistas, fotografias, medições
de temperatura e umidade. Com base no estudo, foi possível verificar que as construções
em terra exibem propriedades térmicas superiores às demais. Os moradores que residem
em casas de terra relataram em entrevista que suas casas são confortáveis termicamente,
e demonstraram grande satisfação quanto ao material. Já os entrevistados que residem em
alvenarias de blocos cerâmicos, demonstraram insatisfação ao desempenho térmico de
suas residências, e alguns afirmaram que preferiam morar em edificações construídas com
tijolos de terra. Portanto, por ser uma técnica considerada formidável quanto ao
desempenho térmico, à terra crua é julgada como um material adequado a climas quentes
e secos, como é o caso da área estudada.
ABSTRACT
Among the most used constructional techniques in the Northeast region are masonry with
ceramic blocks or earth-based bricks. However, raw land is one of the earliest resources
used by man; and its properties are considered favorable in terms of thermal comfort,
durability and versatility. However, this work has the main purpose of analyzing the
thermal performance of buildings built on land and comparing it to the construction of
buildings with masonry of ceramic blocks. A case study was conducted in the city of
Iracema/CE through on - site visits composed of: interviews, photographs, temperature
and humidity measurements. Thus, it was possible to verify that the buildings on earth
exhibit thermal properties superior to the others. Residents of land dwellers reported in an
interview that their homes are thermally comfortable, and have shown great satisfaction
with the material. Already interviewees who live in masonry of ceramic blocks,
demonstrated dissatisfaction with the thermal performance of their residences, and some
affirmed that they preferred to live in buildings built with earth bricks. Therefore, because
it is considered a formidable technique for thermal performance, raw soil is considered as
a suitable material for hot and dry climates, as is the case of the studied area.
1 INTRODUÇÃO
As condições habitacionais de uma população são um dos aspectos mais
importantes no que se refere à sua qualidade de vida. Entretanto, o cenário atual mostra
que existe, seja a nível nacional ou mundial uma significativa quantidade de cidadãos que
não possuem moradia adequada.
Estudos recentes apontam que o Brasil enfrenta um déficit habitacional de mais de
5,5 milhões de unidades e quase 11 milhões de residências existentes apresentam
condições de vida inadequadas (TRIANA, LAMBERTS, SASSI, 2015; TURBELO et al.,
2018). As regiões Sudeste e Nordeste respondem por cerca de 70% das necessidades
habitacionais (BENEVIDES, 2014).
Como solução para essa crise, em 2009, o governo brasileiro lançou um programa
de habitação social chamado Minha Casa Minha Vida. Nos anos iniciais, não há dúvidas
de que esse programa social reduziu o déficit habitacional. Entretanto, o número de
unidades construídas atualmente ainda está longe de alcançar a meta de 24 milhões
estabelecida para 2022 pelo programa habitacional, sobretudo porque o número de novas
unidades residenciais construídas dentro do programa foi desacelerado entre 2015 e 2016
devido à crise econômica e à mudança de governo (TURBELO et al., 2018).
O crescimento das cidades no Brasil ocorre em um cenário de segregação
socioespacial, isto é, as áreas urbanas centrais são, em sua maioria, equipadas com
infraestrutura suficiente de ambiente construído, fator que tende a elevar o valor da terra
e resulta no deslocamento da população de baixa renda. Esse deslocamento geralmente
leva à ocupação de bairros distantes e deteriorados (como periferias, áreas de risco e
preservação permanente ou locais privados de infraestrutura e serviços urbanos)
(MESQUITA, KÓS, 2017), cujo resultado é o comprometimento do conforto e da
qualidade de vida dessas populações.
Torna-se evidente, portanto, a necessidade de buscar soluções e alternativas que
atendam à necessidade das populações menos favorecidas e concomitantemente propicie
um ambiente com conforto, qualidade e, sobretudo, sustentável. Uma das alternativas é a
utilização de materiais que apresentem baixo custo de montagem e manutenção, sendo
possível seu consumo pela população local. Segundo Minke (2005), nos países em
desenvolvimento, não foi possível resolver os problemas relacionados ao déficit
habitações por meio dos materiais industrializados, pois não se existia capacidade
produtiva e financeira para satisfazer tal demanda. Além disso, o uso de materiais mais
sustentáveis representa uma contribuição importante para ecoeficiência da indústria da
construção
De acordo com Niroumand et al. (2013), cerca de 30% da população mundial vive
em construções de terra, principalmente em países menos desenvolvidos. Entretanto, nos
últimos anos tem se observado um aumento substancial do uso de terra em construções
nos EUA, Brasil e Austrália, em grande parte devido à busca pelo desenvolvimento
sustentável, na qual esse tipo de técnica construtiva assume um papel fundamental
(PACHECO-TORGAL, JALALI, 2012).
Entre os materiais de construção mais utilizados atualmente no Brasil estão: os
blocos cerâmicos, blocos estruturais, tijolos à base de terra, paredes de concreto moldadas
in loco. Especificamente na região Nordeste, as técnicas construtivas mais utilizadas são
as de alvenaria de blocos cerâmicos ou tijolos à base de terra.
A respeito da construção em terra, desde os tempos mais antigos se utilizava esse
tipo de técnica construtiva devido a abundância de matéria-prima e a pouca energia
utilizada para fabricação dos componentes (IMANZADEH et al., 2018). Tais vantagens
fazem desse tipo de material de construção natural o mais experimentado e testado,
2 METODOLOGIA
O presente trabalho é um estudo qualitativo, que busca informações mais
aprofundadas a respeito da temática abordada, procurando descrever, compreender e
explicar, o comportamento térmico das edificações da cidade de Iracema/CE quanto às
técnicas construtivas da região.
Em relação à natureza, esta é uma pesquisa aplicada, que requer o maior
conhecimento à cerca das propriedades térmicas dos tijolos em terra e dos blocos
cerâmicos, a fim de propor a utilização do material de melhor desempenho. Para tanto,
foram realizadas pesquisas na literatura, análise da área de estudo, e uma pesquisa de
campo (composta de entrevistas, registros fotográficos e medições de temperatura e
umidade), caracterizando o trabalho como uma pesquisa exploratória. A temperatura do
ar interior e exterior das edificações foi utilizada para o índice de conforto térmico, pois é
um fator que determina o conforto térmico das edificações (LIU et al., 2010).
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 EDIFICAÇÕES VISITADAS
As residências visitadas estão situadas em pontos bem distribuídos por toda a
cidade de Iracema/CE, como ilustra a Figura 2, com a finalidade de averiguar a
temperatura e a umidade ao longo de todo o município.
Vale ressaltar que foram analisadas duas edificações em cada rua visitada, sendo
uma construída com tijolos de terra e outra com blocos cerâmicos. A seguir, encontram-
se na Tabela 1 informações sobre a tipologia construtiva de cada residência, assim como
a temperatura e umidade. As dez primeiras residências são as construídas com terra crua
e as demais com bloco cerâmico.
C13 Tijolo cerâmico 32,2 33,1 32,3 33,2 66,0 58,0 66,0 58,0
C14 Tijolo cerâmico 32,8 32,8 32,9 32,8 66,0 58,0 66,0 58,0
C15 Tijolo cerâmico 33,5 32,6 33,7 32,7 63,0 58,0 63,0 58,0
C16 Tijolo cerâmico 32,4 32,2 32,2 32,3 65,0 60,0 65,0 60,0
C17 Tijolo cerâmico 33,3 32,2 33,1 32,3 61,0 60,0 61,0 60,0
C18 Tijolo cerâmico 33,0 31,7 33,2 31,8 61,0 61,0 61,0 61,0
C19 Tijolo cerâmico 33,0 31,9 33,1 32,0 59,0 61,0 59,0 61,0
C20 Tijolo cerâmico 33,1 31,8 33,3 32,0 59,0 62,0 59,0 63,0
Figura 3: Temperatura média interna e externa das edificações estudadas de acordo com sua tipologia
construtiva e para o período de 9 às 11h
35
Interna
Externa
34
33
Temperatura (0C)
32
31
30
29
28
Terra cura Tijolo cerâmico
Tipologia construtiva
Fonte: Autoria Própria.
Figura 4: Temperatura média interna e externa das edificações estudadas de acordo com sua tipologia
construtiva e para o período de 17 às 19h
35
Interna
Externa
34
33
Temperatura (0C)
32
31
30
29
28
Terra cura Tijolo cerâmico
Tipologia construtiva
Fonte: Autoria Própria.
Figura 5: Umidade relativa média interna e externa das edificações estudadas de acordo com sua tipologia
construtiva e para o período de 9 às 11h
74
Interna
72
Externa
70
68
Figura 6: Umidade relativa média interna e externa das edificações estudadas de acordo com sua tipologia
construtiva e para o período de 17 às 19h
74
Interna
72
Externa
70
68
Umidade relativa (%)
66
64
62
60
58
56
54
52
50
Terra cura Tijolo cerâmico
Tipologia construtiva
Fonte: Autoria Própria.
Mike (2005) mostraram que as paredes construídas de terra crua absorvem maior
quantidade de água quando comparada com aquelas construídas de tijolos cerâmicos. Tais
resultados são importantes uma vez que as estruturas de terra equalizam a umidade relativa
do ambiente externo com a dos poros dentro das paredes (ALLINSON; HALL, 2010) e,
por conseguinte, mantêm o ambiente saudável, beneficiando à saúde humana, pois evita o
surgimento de doenças respiratórias, como faringite ou bronquite.
As umidades internas e externas obtidas durante o período de 17 às 19h são
inferiores as obtidas no período de 9 às 11h devido às mudanças climáticas e/ou
movimentações de massas de ar na região.
Por se tratar de uma cidade que ocupa uma pequena área construída, as edificações
são consideradas próximas e, consequentemente, a umidade e a temperatura externa são
semelhantes. Deste modo, foi possível averiguar o desempenho térmico de cada técnica
construtiva, uma vez que os fatores analisados estão condicionados ao comportamento
térmico de cada material.
Portanto, as construções com terra crua exibem propriedades térmicas superiores
às edificações de blocos cerâmicos, sendo considerada uma técnica adequada a climas
quentes e secos – como o da área estudada.
Figura 7: Conforto térmico segundo os usuários das residências construídas em terra cura e tijolo cerâmico
100
Terra crua
Tijolo cerâmico
80
Percentual (%)
60
40
20
0
SIM NÃO
A residência é confortável termicamente?
Fonte: Autoria Própria.
Nas edificações construídas com terra crua todos os moradores consideram sua
casa confortável termicamente. Já as edificações construídas de alvenarias de tijolos
cerâmicos, 60% dos entrevistados demonstram insatisfação quanto à sensação térmica em
sua residência.
Complementarmente, buscou-se identificar a variação térmica de cada material ao
longo do dia, ou seja, sua capacidade de adaptação a variações de temperaturas. A
abordagem foi direcionada a saber se a temperatura no interior da residência permanecia
constante ao longo do dia. Nas habitações construídas de tijolo cerâmico, 50 % dos
entrevistados consideraram que a temperatura sofre variações ao longo do dia. Por outro
lado, nas edificações constituídas de tijolos de terra crua, todos os moradores afirmaram
que a temperatura se mantém constante, tal como mostrado na Figura 8.
80
Percentual (%)
60
40
20
0
SIM NÃO
A temperatura é constante ao longo do dia?
Fonte: Autoria Própria.
80
Percentual (%)
60
40
20
0
SIM NÃO
Gostaria de residir em uma casa construída com outro tipo de material?
Fonte: Autoria Própria.
4 CONCLUSÕES
A terra crua foi um dos materiais mais utilizados em todo o mundo pelas antigas
civilizações. Porém, com o surgimento de novas tecnologias construtivas, criou-se um
discernimento inadequado entre as técnicas existentes, e a terra passou a ser considerada
como uma técnica menos vantajosa.
Neste contexto, o presente trabalho busca o resgate das construções em terra crua
ressaltando as potencialidades deste tipo de construção. Entre os materiais sustentáveis e
as tecnologias construtivas analisadas, a terra crua tem lugar de destaque devido às suas
propriedades, possibilidade de renovação, pequeno gasto energético em sua fabricação,
facilidade de obtenção e manuseio, maior durabilidade, e desempenho superior ao de
muitos outros tipos de materiais no que se refere ao conforto térmico.
Desta forma, foi realizada a análise do desempenho térmico em edificações
construídas com terra crua, bem como o comparativo desta técnica com o tipo de alvenaria
mais comum à região em estudo, que são os blocos cerâmicos. As médias entre as
diferenças de temperaturas e umidades (externas e internas) nos tijolos de terra crua foram
de, respectivamente: 0,290C e 1% pela manhã, e 0,240C e 0,9% ao anoitecer. Já nos blocos
cerâmicos, as médias correspondem a: 0,080C C pela manhã e 0,120C ao anoitecer, e
nenhuma diferença de umidade em ambos os horários. Logo, pode-se comprovar a maior
eficiência térmica dos tijolos de terra.
Os moradores que residem em casas de terra crua relataram em entrevista que suas
casas são confortáveis em relação à temperatura e umidade, e demonstraram grande
satisfação quanto ao material. Já os entrevistados que residem em alvenarias de blocos
REFERÊNCIAS
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