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FORTALEZA-CEARÁ
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FORTALEZA-CEARÁ
2021
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BANCA EXAMINADORA:
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por todas as vezes que me mostrou a luz e me deu a
força para continuar.
Aos meus pais, Verônica e Juarez, por todo o esforço, carinho, dedicação, por
acreditarem em mim e feito mais que o possível para que eu realizasse meu sonho de me
formar.
À minha avó, Maria do Carmo, por ter lutado esta batalha junto comigo, sempre me
ouvir e me dar os melhores direcionamentos. E ao meu avô Ananias por me ensinar
meus primeiros passos de vida.
À toda minha família, minhas irmãs, Tâmara, Leticia e Vitória, minha tia Veroníce, meu
primo Fábio, minha avó Luiza. Obrigado por estarem sempre comigo.
À Vanusa, minha companheira, pilar fundamental na minha vida, por estar sempre do
meu lado em todos os momentos.
À minha orientadora, professora Carol Vasques, que me acompanhou desde o começo
do curso e foi fundamental na realização deste trabalho.
Aos meus professores Luiz Eduardo, Flavia Saraiva, Júlio Alceu, Fabiana e Marcos
Parahíba.
À minha chefe e amiga Telma Fernandes, que me deu grandes oportunidades e foi peça
fundamental para a realização deste sonho.
À minha gerente Ailomar, que me deu a oportunidade de continuar meu sonho.
As minhas amigas Ana Carla e Annalise por toda paciência e por sempre me ouvirem,
as melhores amigas que alguém poderia ter.
Aos meus amigos Anderson, Marcos Paulo e Emanuel, que acompanharam minha luta.
Aos meus amigos Oliver, Léo, Junior, Davi, Éverton, Adrielson, Roberio, Paulo
Henrique e meus primos Alan e Rafael.
Aos meus amigos Paulo e Olivar.
Aos meus amigos Rafael e Itamara que me auxiliaram muito no começo e durante essa
luta.
Aos meus amigos do trabalho Bruno, Nael, Benjamim, Tamires e Rejane.
À minha tia e professora Angelina, por ter me alfabetizado.
Aos meus professores de escola Netinho, Vanderlei, Valdete, Daniele, Izalena, Emídia,
Cleia, Siane, Diana, Delmiro Júnior, Eudásio, Eliomar, Dairlon, Samia, Solange e
Bebel.
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(Michael Jackson)
RESUMO
A presente pesquisa teve como objetivo analisar a relação paralela entre os direitos
autorais no meio tradicional e o meio digital. Para tanto, foi realizada uma extensa
pesquisa bibliográfica com diversos autores em livros, artigos científicos, sites
especializados, vídeos, legislação brasileira e internacional. Neste contexto, o presente
trabalho apresenta uma boa reflexão a respeito de como a proteção absoluta do direito
autoral pode, em muitas vezes, afetar o acesso à informação e a educação. Inicialmente,
foi dividido em três capítulos, procurando-se discutir os direitos autorais no
ordenamento jurídico brasileiro, as legislações que tratam de proteção da pessoa no
ambiente virtual, bem como, os direitos autorais nas mídias digitais. Conclui-se pela
importância de se compreender os direitos autorais no campo digital para construção de
uma identidade no Brasil.
Palavras-chave: Direitos Autorais; Ambiente Virtual; Mídias Digitais.
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ABSTRACT
This research aimed to analyze the parallel relationship between copyright in the
traditional medium and the digital medium. Therefore, an extensive bibliographical
research was carried out with several authors in books, scientific articles, specialized
websites, videos, Brazilian and international legislation. In this context, this work
presents a good reflection on how the absolute protection of copyright can often affect
access to information and education. Initially, it was divided into three chapters, seeking
to discuss copyright in the Brazilian legal system, legislation that deals with the
protection of the person in the virtual environment, as well as copyright in digital
media. It is concluded by the importance of understanding copyright in the digital field
for the construction of an identity in Brazil.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................11
2. OS DIREITOS AUTORAIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO................................................................................................................13
2.1 Conceito de Direitos Autorais.................................................................................13
2.2 Os Direitos Autorais na Cf/88.................................................................................16
2.3 Direitos Autorais no Código Civil Brasileiro........................................................19
2.4 Lei de Direitos Autorais..........................................................................................20
3. A PROTEÇÃO DA PESSOA NO AMBIENTE VIRTUAL..................................24
3.1 Marco Civil da Internet..........................................................................................24
3.2 Lei Geral de Proteção de Dados.............................................................................30
4. OS DIREITOS AUTORAIS NAS MIDIAS DIGITAIS.........................................35
4.1 Conceito de Mídias Digitais....................................................................................35
4.2 Propriedade Intelectual e o Direito Autoral nas Mídias Digitais........................36
4.3. A Proteção Do Direito Autoral Digital.................................................................43
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................48
6. REFERÊNCIAS.........................................................................................................50
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1 INTRODUÇÃO
[...] aos olhos do homem comum o Direito é lei e ordem, isto é, um conjunto
de regras obrigatórias que garante a convivência social graças ao
estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros. Assim
sendo, quem age de conformidade com essas regras comporta-se direito;
quem não o faz, age torto. (Reale, 2001)
[...] podemos, pois, dizer, sem maiores indagações, que o Direito corresponde
à exigência essencial e indeclinável de uma convivência ordenada, pois
nenhuma sociedade poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de direção e
solidariedade. É a razão pela qual um grande jurista contemporâneo, Santi
Romano, cansado de ver o Direito concebido apenas como regra ou
comando, concebeu-o antes como “realização de convivência ordenada”.
(Reale, 2001)
De fato, todo autor precisa ter sua originalidade, a sua essência empregada em
determinada obra. Sabemos que toda e qualquer criação racional deriva de uma ideia, e
toda ideia deriva de um pensamento subjetivo. Logo, a subjetividade é algo intrínseco
ao autor.
Já no modelo filosófico de Barthes (1988, apud NETO, 2014) percebemos uma
noção de autor no âmbito da escrita. No qual é apresentado não como alguém original,
mas como alguém que sempre estaria mesclando escritas, ideias. Um autor ou escritor
estaria despido de qualquer sentimento, impressões. Ao ponto de que seria apenas um
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enorme dicionário da qual a própria vida se utilizaria para seguir com a história numa
mera imitação.
Ao criar sua obra, o autor emprega sua compreensão da realidade, suas próprias
características. Mas para isso, é necessário que haja uma base, uma inspiração, ou seja,
este autor sempre estará se balizando por uma obra anterior, e o criador desta, pela
anterior ad eternum. Essa construção de ideias pode ser observada como uma
contribuição para a obra.
Ainda na concepção de Barthes (1988, apud NETO, 2014), o autor, assim
como um escritor tem o dever de exercitar a arte de estabelecer uma relação de prazer
entre o consumidor e a obra, e afastar o tédio, pois este seria fruto de um mero vinculo
de consumo entre leitor e obra, ou seja, apesar de não ser inteiramente original, um
autor tem uma tarefa árdua de imergir o leitor ao lúdico.
Nas ideias de Paranaguá (2009, p.39), a definição de autor tem uma abordagem
técnica, sobretudo, em algumas diferenciações. Primeiramente ele traça um paralelo
entre autor e titular. Então explica que a abordagem pode ser feita através de dois
tópicos: pessoa física e pessoa jurídica.
A primeira característica de um autor seria o fato de que somente uma pessoa
física poderia sê-lo. Visto que se trata de um ser humano e apenas este teria a
capacidade e habilidade de uma criação racional. Ou seja, se trata de uma característica
personificada e intransferível.
Entretanto, a titularidade teria características parecidas, porém, não em relação
a personalidade. Este grupo pode ter como agente tanto a pessoa física, quanto a pessoa
jurídica, sendo possível a transferência da titularidade. Não são raros os casos em que
uma obra tem como titular, uma pessoa diferente do autor. Porém, o autor será
eternamente o criador de tal obra.
Agora que já falamos sobre os conceitos de “direito” e “autor” de forma
separada, abordaremos algumas definições do termo composto “direitos autorais” ou
“propriedade intelectual”. E nesta questão, para Filho (1998, on-line)“Os direitos
autorais lidam basicamente com a imaterialidade, principal característica da propriedade
intelectual”. O que se justifica, pois, os ditos direitos autorais tratam-se de ideias, e estas
são intangíveis.
Na mesma abordagem, Filho ressalta que o direito autoral se apoia em dois
aspectos fundamentais. O moral, o qual é direcionado as questões que asseguram a
integridade da obra, bem como, de seu autor, e garante seu vínculo de paternidade com
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sua própria criação, permitindo-lhe até mesmo optar por parar a circulação desta. O
outro aspecto é o patrimonial, que embasa todas as questões financeiras e de
titularidade, enxergando a obra em sua materialidade e tornando-a, uma mercadoria.
Segundo o documento da OMIP (2002), entende-se por Propriedade Intelectual
todo direito que é inerente a atividade intelectual, como obras literárias, cientificas e
artísticas; invenções em todos os ramos da atividade humana; marcas industriais,
comerciais e de serviço; descobertas cientificas etc. Afirmação que é bastante plausível
pois se pensarmos bem, a atividade intelectual do ser humano é indissolúvel dele
mesmo, ou seja, toda criação produzida pelo intelecto de alguém é, por definição, sua
propriedade intelectual.
Em uma abordagem jurídica, a CF (Brasil, 1988) diz expressamente:
Visto que a os ditos direitos autorais estão expressamente garantidos pela carta
magna do Brasil, faremos uma breve explanação histórica de como sobreveio tal
garantia à época.
Para o início deste breve contexto histórico de como o direito autoral virou um
elemento constitucional iremos observar as ideias de Chaves (Paranaguá, 2009) que
analisa a questão e pelo âmbito temporal e divide a construção constitucional do direito
do autor em três períodos: o primeiro entre os anos de 1827 a 1916, o segundo de 1916
a 1973, e o terceiro desta última data até o presente.
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A Lei no 496/1898 foi, porém, logo revogada pelo Código Civil de 1916, que
classificou o direito de autor como bem móvel, fixou o prazo prescricional da
ação civil por ofensa a direitos autorais em cinco anos e regulou alguns
aspectos da matéria nos capítulos “Da propriedade literária, artística e
científica”, “Da edição” e “Da representação dramática”. (PARANAGUÁ,
2009, p. 18)
Paranaguá ainda ressalta que somente com a Carta Magna brasileira de 1988, a
matéria a respeito da proteção dos direitos do autor obteve uma atenção solida. E para
abordar com mais profundidade a questão, ele analisa o tema sob a perspectiva civil-
constitucionalista. Pois diante dos inúmeros casos e questões de direito que são tratadas
diariamente para atender as demandas da sociedade, o Código Civil se tornara genérico
e até mesmo a LDA, por muitas vezes se mostra insuficiente. Os conflitos a respeito de
direitos autorais passaram a analises de forma constitucional.
[...] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes[...]
[...] XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,
publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo
tempo que a lei fixar [...] (Brasil, 1988)
Parágrafo único. Mas, neste caso, quando o autor se der a conhecer, assumirá
o exercício de seus direitos, sem prejuízo dos adquiridos pelo editor.
Art. 652. Tem o mesmo direito de autor o tradutor de obra já entregue ao
domínio comum e o escritor de versões permitidas pelo autor da obra
original, ou, em sua falta, pelos seus herdeiros e sucessores. Mas o tradutor
não se pode opor à nova tradução, salvo se for simples reprodução da sua, ou
se tal direito lhe deu o autor.
Art. 653. Quando uma obra, feita em colaboração, não for divisível, nem
couber na disposição do, os colaboradores, não havendo convenção em
contrário, terão entre si direitos iguais; não podendo, sob pena de responder
por perdas e danos, nenhum deles, sem consentimento dos outros, reproduzi-
la, nem lhe autorizar a reprodução, exceto quando feita na Coleção de suas
obras completas.
Parágrafo único. Falecendo um dos colaborares sem herdeiros ou sucessores,
o seu direito acresce aos sobreviventes
Art. 654. No caso do artigo anterior, divergindo os colaboradores, decidirá a
maioria numérica, e, em falta desta, o juiz, a requerimento de qualquer deles.
§ 1º Ao colaborador dissidente, porém, fica o direito de não contribuir para as
despesas de reprodução, renunciando a sua parte nos lucros, bem como o de
vedar que o seu nome se inscreva na obra.
§ 2º Cada colaborador pode, entretanto, individualmente, sem aquiescência
dos outros, defender os próprios direitos contra terceiros, que daqueles não
sejam legítimos representantes.
Art. 655. O autor de composição musical, feita sobre texto poético, pode
executá-la, publicá-la ou transmitir o seu direito, independente de autorização
do escritor, indenizando, porém, a este que conservará direito a reprodução
do texto sem a música.
Art. 656. Aquele, que, legalmente autorizado, reproduzir obra de arte
mediante processo artístico diferente, ou pelo mesmo processo, havendo na
composição novidade, será quanto a cópia, considerado autor.
Parágrafo único. Goza, igualmente, dos direitos de autor, sem dependência de
autorização, o que assim reproduzir obra já entregue ao domínio comum.
Art. 657. Publicada e exposta à venda uma obra teatral ou musical, entende-
se anuir o autor a que se represente, ou execute, onde quer que a sua audição
não for retribuída.
Art. 658. Aquele que, com autorização do compositor de uma obra musical,
sobre os seus motivos escrever combinações, ou variações, tem, a respeito
destas, os mesmos direitos, e com as mesmas garantias, que sobre aquela o
seu autor.
Art. 659. A cessão, ou a herança, quer dos direitos de autor, quer da obra de
arte, literatura ou ciência, não transmite o direito de modificá-la. Mas este
poderá ser exercido pelo autor, em cada edição sucessiva, respeitados os do
editor.
Parágrafo único. A cessão de artigos jornalísticos não produz efeito, salvo
convenção em contrário, além do prazo de vinte dias, a contar da sua
publicação. Findo ele, recobra o autor em toda a plenitude o seu direito [...]
(BRASIL, 1916)
Não se trata de nenhum absurdo afirmar que dois dos maiores marcos da
tecnologia foram, em primeiro lugar, a chegada do homem à lua, em 1969 com a
marcante frase de Neil Armstrong: “um pequeno passo para o homem um grande salto
para a humanidade”. E não menos importante, a invenção da internet, também no fim da
década de 1960. Sendo este último, um dos principais fatores para a globalização do
século XXI. Nas últimas décadas, por conta da internet, o mundo entrou num ritmo
evolutivo jamais visto. A comunicação passou a ser fácil e acessível. Hoje rapidamente
pode se estabelecer uma chamada de vídeo entre pessoas que estejam em hemisférios
opostos do planeta, por exemplo. Porém, nem tudo são flores e o os efeitos negativos
dessa grande ferramenta não tardaram aparecer: a vulnerabilidade de dados.
Imaginou-se que a internet deveria ser "terra sem lei", onde tudo seria
permitido pela aparente impossibilidade de descoberta da verdadeira
identidade da pessoa. Percebeu-se a deficiência do direito penal tradicional
no combate à criminalidade virtual. Os Códigos Penais e legislações penais
especiais foram afetados por essa nova realidade, porque o direito penal é
fortemente ligado à questão da soberania nacional, enquanto a internet, por
sua vez, não conhece Estados por ser manifestação de uma verdadeira "aldeia
global". Tradicionais regras de aplicação da lei penal no espaço, com
exemplos quase hipotéticos, tais como o de cometimento de um crime de um
lado da fronteira e concluí-lo após ter passado pela imigração, ganham
importância na tentativa de combate aos criminosos, ao mesmo tempo em
que estas são inócuas, porque crimes podem ser praticados de qualquer parte
do mundo. Ao largo dessas reflexões sobre o direito penal, também se
procurou enfrentar a contrafação na internet mediante ações contra quem
distribuísse materiais protegidos pelo direito de autor, o que não deu certo
pela impossibilidade de apreensão física das obras em formato digital.
que a instituição pautasse e aprovasse lei que versava exclusivamente sobre os atos dos
usuários no ambiente virtual. Segundo contam Bragatto, Sampaio e Nicolás (2015,
ONLINE), até o final da primeira década do novo milênio, não eram poucos os projetos
de lei a respeito do assunto.
Porém esta posição preferencial causava diversos conflitos com outros direitos
de personalidade como direito de imagem, honra etc. E para resolver tal situação foi
editado o enunciado de número 613, do CJF (BRASIL, 2018) que dispõe que “A
liberdade de expressão não goza de posição preferencial em relação aos direitos da
personalidade no ordenamento jurídico brasileiro”, e desta forma põe em pé de
igualdade estes princípios. A respeito do disposto no Artigo 2º, Martins comenta:
Ou seja, o Marco civil da internet põe um freio na livre utilização comercial por
parte dos provedores de dados de usuários das redes. Um ponto positivo, visto que
aumenta o nível de segurança em relação aos internautas.
Porém, não só de liberdade de expressão e segurança de dados dos usuários se
trata esta lei. O dispositivo também aborda em igual importância, a questão da
responsabilidade dos internautas, nos artigos 18, 19 e 20, principalmente. E sobre isso,
comenta Filho:
controlador dos dados, que é quem decide o que será feito com tais dados, se estes serão
coletados, processados, reutilizados ou destruídos; e por fim, o operador, que é quem irá
realizar na pratica o que for decidido pelo controlador. Para ilustrar melhor o a
utilização inadequada de dados pessoais, Monteiro (2018) nos traz um bom exemplo.
Eis suas palavras:
O autor explica que, cada vez mais, as vidas das pessoas estão sendo controladas
por meros algoritmos computacionais. Ou seja, programas de computador com
sequencias pré-definidas para a automatização de decisões importantes, como a análise
de um financiamento de imóveis ou qualquer outra que venha a ter um peso substancial
na vida de um indivíduo. Sobre o objetivo da Lei de proteção de dados, prossegue
Monteiro:
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos
meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou
privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e
de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.
Parágrafo único. As normas gerais contidas nesta Lei são de interesse
nacional e devem ser observadas pela União, Estados, Distrito Federal e
Municípios.
Art. 2º A disciplina da proteção de dados pessoais tem como fundamentos:
I - O respeito à privacidade;
II - A autodeterminação informativa;
III - A liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião;
IV - A inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem;
V - O desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação;
VI - A livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
VII - os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a
dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais. (BRASIL, 2018)
É evidente que o caráter preventivo dessa norma impacta de forma direta nas
ações das empresas para com seus clientes, bem como dos indivíduos em ambientes
virtuais. Estes, no passado, expunham seus dados pessoais sem qualquer proteção.
Entretanto, não havia qualquer fiscalização para responsabilização de atos infracionais,
seja por parte das empresas que utilizavam os dados de maneira errada, seja por parte
das pessoas que utilizavam materiais de autoria de terceiros como se seus fossem.
Com a criação de toda esta legislação, que vai desde a proteção dos direitos
autorais até a proteção de dados pessoais, podemos dizer que o Brasil conta, hoje, com
uma vasta quantidade de normas regulamentadoras quando se trata de tecnologia da
informação. A seguir veremos como esta legislação atua no ambiente virtual e todas as
suas implicações nos atos dos criadores de conteúdo para as mídias digitais.
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Mas de fato, o que se pode definir como Mídias digitais? Neil Patel, autor best-
seller do New York Times, tem um conceito claro sobre o que seriam as tais mídias
digitais. Eis suas palavras:
Em rigor, o termo “mídia digital” está atrelado ao seu sentido técnico, que
engloba todos os recursos, veículos e equipamentos que trabalham a partir da
tecnologia digital. Nesse contexto, a mídia digital pode ser um computador,
celular (smartphone ou não), discos compactos, televisão digital, e-books,
conteúdos online e outros. Dentro da comunicação empresarial, porém, temos
as mídias digitais como os canais de criação, distribuição e promoção de
conteúdo de Marketing Digital— posts nas redes sociais, banners
patrocinados em blogs, anúncios do Google e qualquer outro tipo de material
divulgado na internet (ABREU, 2019)
O termo “Mídia digital” ainda causa estranheza em muitas pessoas, que por
vezes acreditam que se trata apenas do meio de transmissão, ou seja, as plataformas
virtuais. Mas é importante lembrar que vários tipos de produções podem ser
considerados mídias digitais, como uma gravação que é armazenada em um cartão de
memória, por exemplo. “Mídia digital é todo e qualquer conteúdo que tem como base
principal o meio digital, mas não necessariamente só a internet como muitos se
confundem, um conteúdo gravado em um pen drive também é uma mídia digital.”
(SILVA, 2021)
O autor ainda lista alguns dos mais famosos e populares tipos de Mídias sociais
no mercado atualmente., quais sejam: Websites; Redes sociais; Mini Websites; Hotsites;
Lojas Virtuais; Catálogos Digitais; Vídeos; Podcasts; Landing Pages; Cd`s ;Dvs; E-
books .
A mesma autora faz um paralelo entre o direito autoral e o direito natural. Eis suas
palavras:
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imagens, sons, códigos de programação e assim por diante. Para a rede poder
funcionar há que fazer cópias da informação a ser acessada. E fazer cópias
perfeitas é tão banal, que o original passa a ser irrelevante. Tecnicamente
falando, a simples navegação na Internet viola muitos copyrights. Isso ocorre
de tal forma que as leis de “propriedade intelectual” praticamente se tornam
inaplicáveis à Internet. (MACHADO, 2008)
Fundado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, ex- -funcionários do
site de comércio on-line PayPal, o site YouTube foi lançado oficialmente sem
muito alarde em junho de 2005. A inovação original era de ordem
tecnológica (mas não exclusiva): o YouTube era um entre os vários serviços
concorrentes que tentavam eliminar as barreiras técnicas para maior
compartilhamento de vídeos na internet. Esse site disponibilizava uma
interface bastante simples e integrada, dentro da qual o usuário podia fazer o
upload, publicar e assistir vídeos em streaming sem necessidade de altos
níveis de conhecimento técnico e dentro das restrições tecnológicas dos
programas de navegação padrão e da relativamente modesta largura de
banda. O YouTube não estabeleceu limites para o número de vídeos que cada
usuário poderia colocar on-line via upload, ofereceu funções básicas de
comunidade, tais como a possibilidade de se conectar a outros usuários como
amigos, e gerava URLS e códigos HTML que permitiam que os vídeos
pudessem ser facilmente incorporados em outros sites, um diferencial que se
aproveitava da recente introdução de tecnologias de blogging acessíveis ao
grande público. Exceto pelo limite de duração dos vídeos que podiam ser
transferidos para o servidor, o que o YouTube oferecia era similar a outras
iniciativas de vídeos on-line da época. (2009, p. 17-18)
Em outras palavras, significa que se for dado credito ao detentor dos direitos
autorais no conteúdo publicado a utilização deste material será livre de punições? O
Youtube entende que não. O suporte da plataforma deixa explicito que isso se trata de
um mito.
Apesar das restrições, o Youtube determina que existem diretrizes e fatores para
o chamado “uso aceitável” de determinado conteúdo. Segundo o que dispõe a
plataforma, são quatro situações importantes a serem analisadas: a finalidade e o caráter
do uso, incluindo se ele é de natureza comercial ou tem objetivos educativos que não
visam lucros, a natureza da obra protegida por direitos autorais, a quantidade e a
42
importância da parcela usada em relação à obra protegida por direitos autorais como um
todo e o efeito do uso sobre um possível mercado ou sobre o valor da obra protegida por
direitos autorais
Outro mito que muitas pessoas acreditam quando se trata de direitos autorais no
Youtube é de que quando o usuário utiliza material de terceiros alegando que é para
“entretenimento” ou “sem finalidade de lucros” este será automaticamente eximido de
eventuais punições. Porém, esta ideia é equivocada, uma vez que o próprio site da
plataforma (YOUTUBE, online) explica que os tribunais analisam de forma minuciosa
diversos outros fatores na busca de um julgamento correto. Logo, o simples argumento
de uso para estes dois fins não vale por si só como defesa automática. Vejamos o que o
site oficial fala a respeito da Proteção do uso aceitável da plataforma:
O referido trecho, em especial o inciso III, é importante para que seja feita uma
analogia ao ambiente virtual que, ao tempo da publicação da lei, não contava com tanta
acessibilidade da população como atualmente. Por tanto, pode-se fazer uma reflexão
sobre a aplicabilidade deste artigo, pelo menos no Brasil, em ambiente digital. E, até
onde a publicação de conteúdo em mídias digitais com utilização, em parte, de material
de terceiros fere o direito autoral ou agrega valor à obra.
Em linhas gerais, pode-se dizer que a estratégia adotada nos dois tratados
para evitar a reprodução e a utilização indiscriminada de obras, interpretações
e fonogramas protegidos por direitos autorais buscou replicar o modelo de
escassez vigente no mundo analógico para o mundo digital. Para tanto, além
dos tradicionais direitos aplicáveis àquele mundo, devidamente adaptados a
45
Segundo Costa (2021) a própria internet foi criada com o objetivo de buscar um
lugar ou espaço que fornecesse mais liberdade para criação. Porém, logo a web foi
demonstrando um poder de disseminação de informações e conteúdo, sem autorização
de titulares e autores, jamais visto. O resultado disso foi a máxima liberdade, sem
nenhum tipo de regulação, que por sua vez contribuiu com o aumento do medo de
pirataria etc. A partir daí começaram a surgir mecanismos para a proteção do direito
autoral no ambiente virtual para diminuir o impacto deixado pelo crescimento acelerado
da internet.
Ainda segundo as ideias de Costa (2021) a LDA tem como prioridade três
elementos essenciais, são eles, o criador de determinada obra intelectual, a empresa ou
associação que irá comercializar tal obra e o usuário desta obra, com foco nos dois
primeiros. Ocorre que com o passar do tempo, verificou-se a necessidade de dar uma
maior atenção ao usuário, visando a democratização do acesso à educação e cultura,
mas sem causar prejuízo aos direitos autorais do primeiro.
Desse modo, em meio a tantas questões que devem ser consideradas para
uma reforma justa e suficiente da atual Lei de Direitos Autorais, há de se
buscar o equilíbrio entre a proteção do direito autoral e o acesso à educação e
à cultura, há de se buscar um fino ajuste entre o combate à pirataria e a
proteção dos direitos fundamentais dos usuários da internet, e, antes de tudo,
há de se buscar o perfeito juízo entre a liberdade de expressão e livre
manifestação de pensamento e os também fundamentais direitos à
privacidade e à intimidade. (COSTA, 2021)
Por fim, com toda esta explanação foi possível alcançar uma boa reflexão acerca
da questão norteadora. Pois o direito autoral, seja no ambiente digital ou não, tem
respaldo jurídico para sua garantia, porém, diversas vezes entra em conflito com outros
direitos importantíssimos, como a liberdade de expressão e principalmente o acesso à
cultura e informação.
Nas mídias digitais, alguns usuários muitas vezes utilizam parte de material de
terceiros para produzir conteúdo e tornar a obra mais rica e contribuir com sua
disseminação e não necessariamente está agindo de má-fé ou visando somente lucrar em
cima de um trabalho alheio. Por isso, é necessário buscar um equilíbrio entre estes
direitos para alcançar o reconhecimento do autor e a função social da obra.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS
51
ABREU, L. (2019). O que são mídias digitais, quais os tipos, benefícios e como fazer
seu planejamento Rockcontent. Brasil. Disponível em:
<https://rockcontent.com/br/blog/midia-digital/> Acesso: 10 de maio de 2021.
CRUZ, R. (2020). 1 video (5 min). Tudo que você precisa saber sobre a LGPD!
Fonte: publicado pelo canal Chc advocacia. Disponivel em:
<https://www.youtube.com/watch?v=hu6XIc7QVnE> Acesso: 21 de abril de 2021.
FILHO, Plinio, Martins (1998). Direitos autorais na internet. Scielo. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0100-19651998000200011>. Acesso: 17 de maio de 2021.
REALE, Miguel (2001) Lições preliminares de direito. São Paulo: [s.n], 2021.
Disponível em: <https://bit.ly/31roZT1> Acesso: 16 de março de 2021.
SILVA, G. (2021). Mídias digitais: O que são, tipos, vantagens, como usá-las no seu
negócio, e porque usá-las ainda hoje. 23 Estúdios. Disponível em:
< https://gdss23.com/midias-digitais/ > acesso em: 13 de maio de 2021.
TOMASEVICIUS, Filho, E. (2016). Marco Civil da Internet: uma lei sem conteúdo
normativo. Estudos Avançados, 30(86), 269-285. Scielo. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0103-40142016.00100017> Acesso: 01 de abril de 2021.
VIEIRA, Debora, (2018). O que você precisa saber sobre a lei geral de proteção de
dados. Migalhas. Disponível em: <https://bit.ly/32xNeQ7> Acesso: 21 de abril de 2021.