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CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU - UNINASSAU


CURSO DE DIREITO

TÁCITO ALVES PEREIRA

DIREITOS AUTORAIS NAS MÍDIAS DIGITAIS

FORTALEZA-CEARÁ
2021
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TÁCITO ALVES PEREIRA

DIREITOS AUTORAIS NAS MÍDIAS DIGITAIS

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à Coordenação do Curso de
Direito do Centro Universitário Maurício
de Nassau – UNINASSAU Fortaleza,
como parte dos requisitos para obtenção
do título de graduado em Direito

Orientadora: Carolina Vasques Sampaio

FORTALEZA-CEARÁ
2021
3

TÁCITO ALVES PEREIRA

DIREITOS AUTORAIS NAS MÍDIAS DIGITAIS

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à Coordenação do Curso de
Direito do Centro Universitário Maurício
de Nassau – UNINASSAU Fortaleza,
como parte dos requisitos para obtenção
do título de graduado em Direito.

Aprovada em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA:

Prof.ª Ms. Carolina Vasques (Orientadora)

Prof.ª Ms. Flavia Saraiva

Prof. Esp. Luiz Eduardo Ponte


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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha avó Maria


do Carmo (in memorian), que é o amor
da minha vida e ajudou a formar minha
essência, aos meus pais, Juarez (in
memorian), o melhor pai que qualquer
pessoa poderia ter e me fez o homem
que sou hoje, e minha mãe, Verônica que
é e sempre foi o meu suporte, meu amor
e mais precioso bem, e que sempre
caminhou comigo em todas as lutas.
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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por todas as vezes que me mostrou a luz e me deu a
força para continuar.
Aos meus pais, Verônica e Juarez, por todo o esforço, carinho, dedicação, por
acreditarem em mim e feito mais que o possível para que eu realizasse meu sonho de me
formar.
À minha avó, Maria do Carmo, por ter lutado esta batalha junto comigo, sempre me
ouvir e me dar os melhores direcionamentos. E ao meu avô Ananias por me ensinar
meus primeiros passos de vida.
À toda minha família, minhas irmãs, Tâmara, Leticia e Vitória, minha tia Veroníce, meu
primo Fábio, minha avó Luiza. Obrigado por estarem sempre comigo.
À Vanusa, minha companheira, pilar fundamental na minha vida, por estar sempre do
meu lado em todos os momentos.
À minha orientadora, professora Carol Vasques, que me acompanhou desde o começo
do curso e foi fundamental na realização deste trabalho.
Aos meus professores Luiz Eduardo, Flavia Saraiva, Júlio Alceu, Fabiana e Marcos
Parahíba.
À minha chefe e amiga Telma Fernandes, que me deu grandes oportunidades e foi peça
fundamental para a realização deste sonho.
À minha gerente Ailomar, que me deu a oportunidade de continuar meu sonho.
As minhas amigas Ana Carla e Annalise por toda paciência e por sempre me ouvirem,
as melhores amigas que alguém poderia ter.
Aos meus amigos Anderson, Marcos Paulo e Emanuel, que acompanharam minha luta.
Aos meus amigos Oliver, Léo, Junior, Davi, Éverton, Adrielson, Roberio, Paulo
Henrique e meus primos Alan e Rafael.
Aos meus amigos Paulo e Olivar.
Aos meus amigos Rafael e Itamara que me auxiliaram muito no começo e durante essa
luta.
Aos meus amigos do trabalho Bruno, Nael, Benjamim, Tamires e Rejane.
À minha tia e professora Angelina, por ter me alfabetizado.
Aos meus professores de escola Netinho, Vanderlei, Valdete, Daniele, Izalena, Emídia,
Cleia, Siane, Diana, Delmiro Júnior, Eudásio, Eliomar, Dairlon, Samia, Solange e
Bebel.
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As minhas madrinhas Darcy e Josecilia e meu padrinho Waldston.


Aos meus colegas de sala Yury, Faber, Erika, André e Rafaela, que compartilharam
comigo o sonho de se formar em Direito.
E por fim, a todos que acreditaram em mim e de forma direta ou indireta contribuíram
com este sonho.
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“Quando escrevi Billie Jean, eu estava


escrevendo em meu carro na Boulevard.
E a única coisa que eu disse pra mim
mesmo antes de escrever é que eu queria
uma música com uma ótima faixa de
baixo, sabe... E então eu deixei fluir, e
alguns dias depois, bom, vocês já sabem.
isso veio do céu, é divino!”
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(Michael Jackson)

RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo analisar a relação paralela entre os direitos
autorais no meio tradicional e o meio digital. Para tanto, foi realizada uma extensa
pesquisa bibliográfica com diversos autores em livros, artigos científicos, sites
especializados, vídeos, legislação brasileira e internacional. Neste contexto, o presente
trabalho apresenta uma boa reflexão a respeito de como a proteção absoluta do direito
autoral pode, em muitas vezes, afetar o acesso à informação e a educação. Inicialmente,
foi dividido em três capítulos, procurando-se discutir os direitos autorais no
ordenamento jurídico brasileiro, as legislações que tratam de proteção da pessoa no
ambiente virtual, bem como, os direitos autorais nas mídias digitais. Conclui-se pela
importância de se compreender os direitos autorais no campo digital para construção de
uma identidade no Brasil.
Palavras-chave: Direitos Autorais; Ambiente Virtual; Mídias Digitais.
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ABSTRACT

This research aimed to analyze the parallel relationship between copyright in the
traditional medium and the digital medium. Therefore, an extensive bibliographical
research was carried out with several authors in books, scientific articles, specialized
websites, videos, Brazilian and international legislation. In this context, this work
presents a good reflection on how the absolute protection of copyright can often affect
access to information and education. Initially, it was divided into three chapters, seeking
to discuss copyright in the Brazilian legal system, legislation that deals with the
protection of the person in the virtual environment, as well as copyright in digital
media. It is concluded by the importance of understanding copyright in the digital field
for the construction of an identity in Brazil.

Keywords: Copyright; Virtual Environment; Digital Media.


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................11
2. OS DIREITOS AUTORAIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO................................................................................................................13
2.1 Conceito de Direitos Autorais.................................................................................13
2.2 Os Direitos Autorais na Cf/88.................................................................................16
2.3 Direitos Autorais no Código Civil Brasileiro........................................................19
2.4 Lei de Direitos Autorais..........................................................................................20
3. A PROTEÇÃO DA PESSOA NO AMBIENTE VIRTUAL..................................24
3.1 Marco Civil da Internet..........................................................................................24
3.2 Lei Geral de Proteção de Dados.............................................................................30
4. OS DIREITOS AUTORAIS NAS MIDIAS DIGITAIS.........................................35
4.1 Conceito de Mídias Digitais....................................................................................35
4.2 Propriedade Intelectual e o Direito Autoral nas Mídias Digitais........................36
4.3. A Proteção Do Direito Autoral Digital.................................................................43
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................48
6. REFERÊNCIAS.........................................................................................................50
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1 INTRODUÇÃO

As mídias digitais e suas extensões ganham, a cada dia, mais espaço na


sociedade como um todo, pois atualmente é cada vez mais raro vermos pessoas
resolvendo suas questões diárias sem lançar mão destes meios, seja conversar com um
familiar que está morando em outro país, marcar uma reunião de negócios, ou até
mesmo vender seu “peixe” nas famosas “lojinhas virtuais”. As mídias digitais,
simplesmente, quebraram burocracias e entraves que antes impediam o crescimento de
muitos novos empreendedores. E isso pode ser visto como um tipo de revolução.
De fato, como mencionado anteriormente, houve várias facilitações com o
advento e desenvolvimento das mídias digitais. Porém, como muitas pessoas se utilizam
delas para produção de conteúdo digital, acabam, por diversas vezes, recorrendo
parcialmente ou integralmente a material de terceiros para a produção de tais conteúdos.
Muitas vezes de forma inocente, outras nem tanto. E acabam sendo punidas, as vezes
por um trecho de 3 segundos de uma música em um vídeo ou uma imagem ao fundo,
que por ventura pertença a um terceiro.
Em abstrato, pode-se dizer que a criação seria algo que até então não teria sido
inventado, que não existia. Mas não podemos tratar isto desta forma, pois em específico,
como podemos explicar, por exemplo, o passo de dança moonwalk que é mundialmente
conhecido como sendo de Michael Jackson? Muitas pessoas não sabem, mas não foi ele
quem inventou o passo. Aliás, não se sabe ao certo quem foi a primeira pessoa a
executar o movimento. Sabe-se que surgiu nas periferias dos Estados Unidos em
meados do século XX, dentro do estilo de dança de rua. Porém, quem o aperfeiçoou,
deu estilo, mostrou ao mundo e o tornou conhecido nos 5 continentes, foi o rei do pop.
Como dizer que Michael violou algo? Como falar em cópia ou plágio neste caso em
específico? Talvez não haja plágio.
O trabalho em cima do movimento, como a temática envolvida, o conceito da
música, simplesmente deram autenticidade ao passo, transformaram o backslide, como
era conhecido anteriormente, em Moonwalk. Este é apenas um exemplo abstrato, mas
com o advento e evolução da internet, se estende ao ambiente digital e por conta da
ausência de “fronteiras” nesse campo dificulta-se a compreensão da relação entre autor
e obra.
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Ao decorrer do tempo a internet foi tomando mais espaço entre a sociedade e


hoje é indispensável para praticamente qualquer atividade, seja para realizar
pagamentos online, estudar, ou para puro entretenimento nas principais mídias digitais.
O ambiente digital se tornou um sinônimo de agilidade e desburocratização. Muitas
dessas facilidades se devem a forma de regulamentação no mundo virtual, que é bem
menos rígida que no ambiente “tradicional”.
Entretanto, esse excesso de liberdade rapidamente gerou alguns conflitos em
alguns aspectos jurídicos importantes, um deles foi relacionado à regulamentação dos
direitos autorais no ambiente digital. O uso de material de terceiros para a produção de
conteúdo em plataformas como Youtube, Facebook e Instagram, suscitou a questão de
até onde vai o direito autoral no âmbito digital e como isso se relaciona com o uso e
disseminação dessas obras. Qual a relação entre os direitos autorais nas mídias digitais e
a utilização do material por terceiros?
Neste sentido, a referida monografia tem como objetivo geral analisar a relação
paralela entre os direitos autorais no meio tradicional e o meio digital. E como objetivos
específicos discutir, historicamente, o contexto e fatos que suscitaram as primeiras
legislações sobre direitos autorais no Brasil, refletir acerca da proteção da pessoa na
atividade do ambiente virtual e compreender a relação entre a propriedade intelectual e
o direito autoral com o acesso à cultura e informação nas mídias digitais.
O trabalho terá três capítulos fundamentais. Sendo o primeiro capitulo a
abordagem dos direitos autorais no ordenamento jurídico brasileiro, buscando explicar
de forma cronológica deste o primeiro decreto até as leis mais atuais a respeito do tema.
No segundo capitulo, entenderemos como funciona a proteção da pessoa no ambiente
digital, focando em legislações muito importantes como o Marco Civil da internet e a
Lei Geral de Proteção de Dados. E no terceiro, os direitos autorais nas mídias digitais,
onde buscaremos compreender de forma contextualizada, a aplicação da legislação da
legislação brasileira no âmbito virtual.
Os critérios de inclusão compreendem publicações que destacam a relação
entre os direitos autorais e as mídias digitais, destacando como descritores o contexto
histórico quanto as primeiras legislações sobre direitos autorais de conteúdo digital.
Nesse sentido, os procedimentos metodológicos adotados para a pesquisa constituem
etapas necessárias para o desenvolvimento de uma análise contextualizada com o tema
proposto.
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Na busca de uma melhor compreensão em relação as origens do direito autoral,


iniciaremos com contexto histórico a respeito do surgimento e evolução de toda a
legislação que hoje norteia o tema em questão.

2 OS DIREITOS AUTORAIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

O ordenamento jurídico brasileiro conta com alguns dispositivos no que tange


a questão da proteção da propriedade intelectual e dos direitos autorais. Pode-se citar
como exemplo, o Decreto n° 9574/2018, o qual versa sobre a gestão coletiva de direitos
autorais e fonogramas, bem como, a própria norma de direitos autorais, a Lei N°
9610/1998, que elenca todas as obras que são protegidas, além de definir quem é o autor
da obra e o funcionamento de seus direitos e deveres. Mas para que se possa aprofundar
nos dispositivos em si, é preciso compreender, por meio de alguns conceitos, o que são
direitos autorais.

2.1 Conceito de direitos autorais

Ao tratar de conceito de direitos autorais, é preciso a princípio dividir o


elemento em dois: Direito e Autor. Após isso, conceituar o primeiro e o segundo.
Primeiramente alguns conceitos de Direito. Aurora Tomazini de Carvalho, em sua tese
de doutorado em Direito, cita a escola Jusnaturalista e afirma que “o direito é uma
ordem de princípios eternos absolutos e imutáveis cuja a existência é imanente à própria
natureza humana. Há um ‘direito natural’ anterior ao conjunto de lei postas e aprovadas
pelo Estado”. (Carvalho, 2009, p. 67)
Conforme citado anteriormente, a autora aborda a questão sob a luz do
Jusnaturalismo e mostra que o Direito conta com princípios absolutos. Além de apontar
o elemento do direito natural no início de tudo. Segundo Reale (2001, p.18)

[...] aos olhos do homem comum o Direito é lei e ordem, isto é, um conjunto
de regras obrigatórias que garante a convivência social graças ao
estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros. Assim
sendo, quem age de conformidade com essas regras comporta-se direito;
quem não o faz, age torto. (Reale, 2001)

O Direito se trata de uma demanda essencial de ordem na convivência da


sociedade. Dessa forma, também ressalta Reale:
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[...] podemos, pois, dizer, sem maiores indagações, que o Direito corresponde
à exigência essencial e indeclinável de uma convivência ordenada, pois
nenhuma sociedade poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de direção e
solidariedade. É a razão pela qual um grande jurista contemporâneo, Santi
Romano, cansado de ver o Direito concebido apenas como regra ou
comando, concebeu-o antes como “realização de convivência ordenada”.
(Reale, 2001)

Após a compreensão da definição de Direito, temos que buscar o entendimento


do que seja um Autor. Para que seja denominado autor, um indivíduo haveria de
apresentar unidade de estilo, originalidade e coerência conceitual em suas obras. Assim,
afirma Irati:

[...] O autor, assim, representa a realização do projeto da modernidade por


meio da unicidade do sujeito e da sua obra, da sua unidade estilística, da sua
coerência conceitual e até mesmo por sua originalidade. Esses aspectos
servem para comprovar a autenticidade do discurso, e foram tão solidamente
estabelecidos na cultura que ainda hoje são aplicados em grande medida tanto
pela crítica literária como, sobretudo, pelas instâncias de avaliação científica.
É possível identificar nesses aspectos os ideais da modernidade, como
universalidade, harmonia, a ideia da existência de ideias únicas, a verdade e a
razão. (IRATI, 1998. Online)

Irati, em seu artigo, ainda enfatiza a questão da individualidade e formação da


identidade de um autor, com as seguintes palavras:

Os conceitos de autoria e dos instrumentos que regem os seus direitos


fundamentam-se na ideia da individualidade e na identidade formalizada do
autor e na sua (suposta) objetividade, assim como na concepção de que a obra
ou a produção intelectual e artística é única, original, íntegra e permanente;
na separação entre autor e obra (sujeito versus objeto); na institucionalização
das relações com o Estado e com o mercado; na aceitação e na obediência aos
contratos éticos, sociais e jurídicos pertinentes. (Irati, 1998)

De fato, todo autor precisa ter sua originalidade, a sua essência empregada em
determinada obra. Sabemos que toda e qualquer criação racional deriva de uma ideia, e
toda ideia deriva de um pensamento subjetivo. Logo, a subjetividade é algo intrínseco
ao autor.
Já no modelo filosófico de Barthes (1988, apud NETO, 2014) percebemos uma
noção de autor no âmbito da escrita. No qual é apresentado não como alguém original,
mas como alguém que sempre estaria mesclando escritas, ideias. Um autor ou escritor
estaria despido de qualquer sentimento, impressões. Ao ponto de que seria apenas um
15

enorme dicionário da qual a própria vida se utilizaria para seguir com a história numa
mera imitação.
Ao criar sua obra, o autor emprega sua compreensão da realidade, suas próprias
características. Mas para isso, é necessário que haja uma base, uma inspiração, ou seja,
este autor sempre estará se balizando por uma obra anterior, e o criador desta, pela
anterior ad eternum. Essa construção de ideias pode ser observada como uma
contribuição para a obra.
Ainda na concepção de Barthes (1988, apud NETO, 2014), o autor, assim
como um escritor tem o dever de exercitar a arte de estabelecer uma relação de prazer
entre o consumidor e a obra, e afastar o tédio, pois este seria fruto de um mero vinculo
de consumo entre leitor e obra, ou seja, apesar de não ser inteiramente original, um
autor tem uma tarefa árdua de imergir o leitor ao lúdico.
Nas ideias de Paranaguá (2009, p.39), a definição de autor tem uma abordagem
técnica, sobretudo, em algumas diferenciações. Primeiramente ele traça um paralelo
entre autor e titular. Então explica que a abordagem pode ser feita através de dois
tópicos: pessoa física e pessoa jurídica.
A primeira característica de um autor seria o fato de que somente uma pessoa
física poderia sê-lo. Visto que se trata de um ser humano e apenas este teria a
capacidade e habilidade de uma criação racional. Ou seja, se trata de uma característica
personificada e intransferível.
Entretanto, a titularidade teria características parecidas, porém, não em relação
a personalidade. Este grupo pode ter como agente tanto a pessoa física, quanto a pessoa
jurídica, sendo possível a transferência da titularidade. Não são raros os casos em que
uma obra tem como titular, uma pessoa diferente do autor. Porém, o autor será
eternamente o criador de tal obra.
Agora que já falamos sobre os conceitos de “direito” e “autor” de forma
separada, abordaremos algumas definições do termo composto “direitos autorais” ou
“propriedade intelectual”. E nesta questão, para Filho (1998, on-line)“Os direitos
autorais lidam basicamente com a imaterialidade, principal característica da propriedade
intelectual”. O que se justifica, pois, os ditos direitos autorais tratam-se de ideias, e estas
são intangíveis.
Na mesma abordagem, Filho ressalta que o direito autoral se apoia em dois
aspectos fundamentais. O moral, o qual é direcionado as questões que asseguram a
integridade da obra, bem como, de seu autor, e garante seu vínculo de paternidade com
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sua própria criação, permitindo-lhe até mesmo optar por parar a circulação desta. O
outro aspecto é o patrimonial, que embasa todas as questões financeiras e de
titularidade, enxergando a obra em sua materialidade e tornando-a, uma mercadoria.
Segundo o documento da OMIP (2002), entende-se por Propriedade Intelectual
todo direito que é inerente a atividade intelectual, como obras literárias, cientificas e
artísticas; invenções em todos os ramos da atividade humana; marcas industriais,
comerciais e de serviço; descobertas cientificas etc. Afirmação que é bastante plausível
pois se pensarmos bem, a atividade intelectual do ser humano é indissolúvel dele
mesmo, ou seja, toda criação produzida pelo intelecto de alguém é, por definição, sua
propriedade intelectual.
Em uma abordagem jurídica, a CF (Brasil, 1988) diz expressamente:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional


Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.[...]
[...] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes[...]
[...] XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,
publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo
tempo que a lei fixar [...]

Visto que a os ditos direitos autorais estão expressamente garantidos pela carta
magna do Brasil, faremos uma breve explanação histórica de como sobreveio tal
garantia à época.

2.2 Os direitos autorais na CF/88

Para o início deste breve contexto histórico de como o direito autoral virou um
elemento constitucional iremos observar as ideias de Chaves (Paranaguá, 2009) que
analisa a questão e pelo âmbito temporal e divide a construção constitucional do direito
do autor em três períodos: o primeiro entre os anos de 1827 a 1916, o segundo de 1916
a 1973, e o terceiro desta última data até o presente.
17

O ano inicial deste primeiro período comporta o primeiro dispositivo


fundamental para o desenvolvimento matéria: A lei de 11 de agosto de 1827. Esta criou
dois cursos de ciências jurídicas, em São Paulo e Olinda. (CHAVES, 1987 apud
Paranaguá, 2009)
Apesar de algum avanço neste período e que no início da década de 1930, o
código criminal já versasse sobre a violação de direitos autorais, foi somente no final do
século XIX, com a lei n° 496 de 1898, que o Brasil começou, de fato, a tratar sobre a
proteção dos direitos do autor de forma especifica. A lei foi de autoria de Medeiros e
Albuquerque, importante político da época, o qual foi dado seu nome à referida lei.
(CHAVES, 1987 apud Paranaguá, 2009). Tal lei foi fundamental para a proteção dos
direitos autorais, porém, acabou sendo revogada, ressalta Branco:

A Lei no 496/1898 foi, porém, logo revogada pelo Código Civil de 1916, que
classificou o direito de autor como bem móvel, fixou o prazo prescricional da
ação civil por ofensa a direitos autorais em cinco anos e regulou alguns
aspectos da matéria nos capítulos “Da propriedade literária, artística e
científica”, “Da edição” e “Da representação dramática”. (PARANAGUÁ,
2009, p. 18)

Como lembra Chaves (1987 apud Paranaguá, 2009, p. 19) os dispositivos do


Código Civil, pelo fato de terem sido promulgados no início do Século XX, não se
mostravam mais eficazes para tratar do tema de proteção aos direitos autorais. Além
disso, havia várias leis e decretos esparsos tratando do tema, o que era um ponto
positivo, pois colocara a legislação brasileira como uma das mais modernas e evoluídas
a respeito do tema, mas isso trouxe a necessidade da criação de um único texto, para
melhor abordar o tema.
Por conta de tal necessidade, foi criado o estatuto único que regulava o direito do
autor, a lei N° 5.988, de dezembro de 1973. O texto durou 25 anos, quando o congresso
aprovou a Lei N 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, o dispositivo mais atual a respeito
do tema, conhecido como LDA, e que será abordado melhor logo mais.
A respeito de como as primeiras Constituições brasileiras trataram do tema de
direitos autorais, Paranaguá diz:

A primeira Constituição brasileira, a do Império, de 1824, não tratou de


direitos autorais. A primeira Constituição a garanti-los foi a de 1891,
promulgada dois anos após o nascimento da República. A partir de então, e à
exceção da Carta de 1937 — editada sob o regime autoritário do Estado
Novo —, todas as constituições brasileiras garantiram os direitos autorais,
18

inclusive a de 1967 e sua Emenda Constitucional no 1, de 1969, que


assegurava aos autores de obras literárias, artísticas e científicas o direito
exclusivo de utilizá-las, sendo esse direito transmissível por herança, pelo
tempo que a lei fixasse. Sob a égide desse dispositivo constitucional surgiu a
Lei no 5.988/73, que regulou a matéria pela primeira vez de maneira
completa em nosso país. (PARANGUA, 2009, p.19)

Paranaguá ainda ressalta que somente com a Carta Magna brasileira de 1988, a
matéria a respeito da proteção dos direitos do autor obteve uma atenção solida. E para
abordar com mais profundidade a questão, ele analisa o tema sob a perspectiva civil-
constitucionalista. Pois diante dos inúmeros casos e questões de direito que são tratadas
diariamente para atender as demandas da sociedade, o Código Civil se tornara genérico
e até mesmo a LDA, por muitas vezes se mostra insuficiente. Os conflitos a respeito de
direitos autorais passaram a analises de forma constitucional.

É, pois, fundamental analisarmos o direito autoral como um direito


constitucionalmente previsto. Dado que a LDA muitas vezes será
absolutamente in suficiente para resolver os problemas práticos propostos,
como veremos adiante, somente a partir da interpretação constitucional da lei
é que poderemos chegar, com certa razoabilidade, a decisões consonantes
com o tempo em que vivemos. (PARANAGUÁ, 2009, p.19-20)

A respeito do que diz o conteúdo do inciso XXVII, do art. 5° da Carta Magna de


1988, Alves e Coelin (2019) entendem que o intuito da norma é positivar os direitos que
são de exclusividade do autor de determinada obra. Tais como decidir a forma como o
material ou a ideia de sua autoria será utilizado, publicado ou reproduzido. O inciso
deixa claro que o criador tem total direito sobre o uso de sua obra, seja ela literária,
artística, intelectual etc. As autoras ainda enfatizam a importância do Art. 5° da
Constituição Federal, bem como da LDA de 1998, ao afirmarem:

O direito autoral é uma garantia concedida ao cidadão pela Constituição


Federal de 1988 no inciso XXVII do Artigo 5°, e também pela Lei de
Direitos Autorais n° 9.610/98. De forma geral, estabelece-se que é
exclusivamente de quem criou a obra o direito de fazer usufruto da mesma,
seja de maneira comercial ou apenas moral.
Para entender como esta garantia é assegurada na prática e o porquê da sua
relevância como um direito fundamental na Constituição Federal, é válido
lembrar que o artigo 5º é uma das partes mais importantes da nossa
Constituição. É nele que estão previstos direitos que possuem o objetivo de
assegurar uma vida digna, livre e igualitária a todos os cidadãos do país.
(ALVES, COELIN, 2019)
19

Observamos que atualmente, as leis brasileiras, em especial a CF/88 tratam a


questão da proteção direitos autorais dos direitos autorais com a mesma importância que
outras garantias fundamentais, visto que está positivada no Artigo 5°.

[...] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes[...]
[...] XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,
publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo
tempo que a lei fixar [...] (Brasil, 1988)

Apesar da abordagem constitucional em meados do século XX, a legislação


brasileira dispunha do Código Civil de 1916, que já versava sobre o tema de maneira
abrangente.

2.3. Direitos autorais no Código Civil Brasileiro

Após grandes períodos de lutas pela discussão da proteção ao direito do autor, o


Brasil trouxe no Código Civil de 1916, um capítulo inteiro e vasto tratando “da
propriedade literária, científica e artística”. Observando o que dispõe do Art. 649 ao
659, por exemplo, já podemos ter uma ideia da importância que o dispositivo dava ao
tema.

Art. 649. Ao autor de obra literária, científica, ou artística pertence o direito


exclusivo de reproduzi-la. § 1º Os herdeiros e sucessores do autor gozarão
desse direito pelo tempo de sessenta anos, a contar do dia do seu falecimento.
§ 2º Morrendo o autor sem herdeiros ou sucessores, a obra cai no domínio
comum.
Art. 649. Ao autor de obra literária, científica ou artística pertence o direito
exclusivo de reproduzi-la. § 1º Os herdeiros e sucessores do autor gozarão
dêsse direito pelo tempo de 60 (sessenta) anos, a contar do dia de seu
falecimento. § 2º Se morrer o autor, sem herdeiros ou sucessores até o 2º
grau, a obra cairá no domínio comum . § 3º No caso de caber a sucessão aos
filhos, aos pais ou ao cônjuge do autor, não prevalecerá o prazo do § 1º e o
direito só se extinguirá com a morte do sucessor
Art. 650. Goza dos direitos de autor, para os efeitos econômicos por este
código assegurados, o editor de publicação composta de artigos ou trechos de
autores diversos, reunidos num todo, ou distribuídos em séries, tais como
jornais, revistas, dicionários, enciclopédias e seletas
Parágrafo único. Cada autor conserva, neste caso, o seu direito sobre a sua
produção, e poderá reproduzi-la em separado
Art. 651. O editor exerce também os direitos a que se refere o artigo
antecedente, quando a obra for anônima ou pseudônima
20

Parágrafo único. Mas, neste caso, quando o autor se der a conhecer, assumirá
o exercício de seus direitos, sem prejuízo dos adquiridos pelo editor.
Art. 652. Tem o mesmo direito de autor o tradutor de obra já entregue ao
domínio comum e o escritor de versões permitidas pelo autor da obra
original, ou, em sua falta, pelos seus herdeiros e sucessores. Mas o tradutor
não se pode opor à nova tradução, salvo se for simples reprodução da sua, ou
se tal direito lhe deu o autor.
Art. 653. Quando uma obra, feita em colaboração, não for divisível, nem
couber na disposição do, os colaboradores, não havendo convenção em
contrário, terão entre si direitos iguais; não podendo, sob pena de responder
por perdas e danos, nenhum deles, sem consentimento dos outros, reproduzi-
la, nem lhe autorizar a reprodução, exceto quando feita na Coleção de suas
obras completas.
Parágrafo único. Falecendo um dos colaborares sem herdeiros ou sucessores,
o seu direito acresce aos sobreviventes
Art. 654. No caso do artigo anterior, divergindo os colaboradores, decidirá a
maioria numérica, e, em falta desta, o juiz, a requerimento de qualquer deles.
§ 1º Ao colaborador dissidente, porém, fica o direito de não contribuir para as
despesas de reprodução, renunciando a sua parte nos lucros, bem como o de
vedar que o seu nome se inscreva na obra.
§ 2º Cada colaborador pode, entretanto, individualmente, sem aquiescência
dos outros, defender os próprios direitos contra terceiros, que daqueles não
sejam legítimos representantes.  
Art. 655. O autor de composição musical, feita sobre texto poético, pode
executá-la, publicá-la ou transmitir o seu direito, independente de autorização
do escritor, indenizando, porém, a este que conservará direito a reprodução
do texto sem a música.
Art. 656. Aquele, que, legalmente autorizado, reproduzir obra de arte
mediante processo artístico diferente, ou pelo mesmo processo, havendo na
composição novidade, será quanto a cópia, considerado autor.
Parágrafo único. Goza, igualmente, dos direitos de autor, sem dependência de
autorização, o que assim reproduzir obra já entregue ao domínio comum.
Art. 657. Publicada e exposta à venda uma obra teatral ou musical, entende-
se anuir o autor a que se represente, ou execute, onde quer que a sua audição
não for retribuída.
Art. 658. Aquele que, com autorização do compositor de uma obra musical,
sobre os seus motivos escrever combinações, ou variações, tem, a respeito
destas, os mesmos direitos, e com as mesmas garantias, que sobre aquela o
seu autor.
Art. 659. A cessão, ou a herança, quer dos direitos de autor, quer da obra de
arte, literatura ou ciência, não transmite o direito de modificá-la. Mas este
poderá ser exercido pelo autor, em cada edição sucessiva, respeitados os do
editor.
Parágrafo único. A cessão de artigos jornalísticos não produz efeito, salvo
convenção em contrário, além do prazo de vinte dias, a contar da sua
publicação. Findo ele, recobra o autor em toda a plenitude o seu direito [...]
(BRASIL, 1916)

Com a reforma do Código Civil brasileiro em 2002, foram revogados


praticamente todos os artigos referentes ao tema, visto que em 1998 o Brasil promulgara
lei especifica sobre a proteção dos direitos autorais, a chamada LDA. A referida lei
aborda a questão de uma forma mais completa e atual, a qual falaremos adiante.
21

2.4 Lei de Direitos Autorais

Segundo conta Paranaguá (2009, p.20) devido carência de um dispositivo único


que unisse até então, todos os elementos de conflito e resolução a respeito da proteção
ao direito autoral, o Congresso brasileiro, no dia 19 de fevereiro de 1998, aprovou a Lei
de Direitos Autorais, conhecida como LDA. Que vigora até os dias atuais e tem por
objetivo garantir e proteger o direito à propriedade intelectual.
A Lei de Direitos Autorais de 1998 é taxativa em seus objetivos. Logo nas
disposições preliminares, em seu Art. 1° diz que “...Esta Lei regula os direitos autorais,
entendendo-se sob esta denominação os direitos de autor e os que lhes são conexos”.
(BRASIL, 1998)
O Artigo 7° da LDA (BRASIL, 1998) é talvez, a parte mais importante do
dispositivo, pois elenca quais obras são protegidas por direitos autorais. A norma aborda
o tema da seguinte forma:

I – os textos de obras literárias, artísticas ou científicas; II – as conferências,


alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza; III – as obras
dramáticas e dramático-musicais; IV – as obras coreográficas e
pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por outra qualquer
forma; V – as composições musicais tenham ou não letra; VI – as obras
audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas; VII – as
obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da
fotografia; VIII – as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e
arte cinética; IX – as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma
natureza; X – os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia,
engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;

A Respeito do Art 7°, da Lei de Direitos Autorais, Bovino ressalta:

Explicar obras intelectuais protegidas ou que alcancem proteção enquanto


criações do espírito encerra um enorme debate conceitual. A norma protege a
criação do espírito que ultrapasse o campo das ideias e que seja expressa por
qualquer meio ou fixada em qualquer suporte tangível ou intangível,
conhecido ou que se invente no futuro. A criação intelectual desconhecida
não recebe proteção até que o autor a expresse ou fixe em qualquer suporte.
Importante dizer que não são quaisquer criações intelectuais que recebem
proteção autoral. (BOVINO, 2018, online)

Apesar do rol estabelecido pela LDA, é importante frisar que há dispositivos,


também na lei, que permitem em determinadas ocasiões, a utilização de determinado
material, sem que haja eventual punição, como ressalta Lemos (2011 apud SILVA, DE
LA RUE, 2016). Eis suas palavras:
22

[...] existem as limitações aos direitos de autor, situações taxativamente


previstas na LDA, nos artigos 46 a 48, em que a obra pode ser livremente
utilizada, mesmo sem autorização do detentor dos direitos, de modo a
garantir um equilíbrio entre os interesses do autor e a proteção a outros
direitos, como a liberdade de expressão artística, intelectual, científica e de
comunicação, o acesso à informação e às fontes de cultura nacional, dentro
de outros valores, todos garantidos constitucionalmente [...]

Segundo as ideias de Silva e De La Rue (2016), ainda que a LDA unifique


várias garantias em um único documento, este, apresenta limitações, devido o avanço da
internet. Por se tratar de uma nova realidade, pode-se observar que o âmbito virtual
ajuda na chamada função social do direito autoral, por conta da fácil circulação do
material. Porém, este mesmo campo auxilia muitas vezes em violações dos dispositivos
da LDA, pelo mesmo motivo: A fácil circulação de material.

Desse modo, tem-se verificado que a atual legislação brasileira se afigura


insuficiente frente às transformações propiciadas pela sociedade
informacional. Afinal, é evidente que o direito de autor acaba se tornando um
óbice à difusão dos bens culturais, motivo pelo qual a legislação não se
encontra mais em sintonia com a realidade atual. (SILVA, DE LA RUE.
2016)

Observando que este dispositivo conta com lados positivos e negativos, é de


extrema importância darmos atenção para um ponto fundamental da LDA, os artigos 28
e 29. O primeiro diz que “Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da
obra literária, artística ou científica” (BRASIL, 1998). O caput do artigo em si é bem
claro. Já o segundo estabelece um rol dos tipos de obras que necessitam de previa
autorização para utilização de terceiros, vejamos:

Art. 29: Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da


obra, por quaisquer modalidades, tais como:
I – a reprodução parcial ou integral; II – a edição; III – a adaptação, o arranjo
musical e quaisquer outras transformações; IV – a tradução para qualquer
idioma; V – a inclusão em fonograma ou produção audiovisual; VI – a
distribuição, quando não intrínseca ao contrato firmado pelo autor com
terceiros para uso ou exploração da obra; VII – a distribuição para oferta de
obras ou produções mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer
outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção
para percebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem
formula a demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou produções se
faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário; VIII – a
utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científica,
mediante: a) representação, recitação ou declamação; b) execução musical; c)
emprego de alto-falante ou de sistemas análogos; d) radiodifusão sonora ou
23

televisiva; e) captação de transmissão de radiodifusão em locais de


frequência coletiva; f) sonorização ambiental; g) a exibição audiovisual,
cinematográfica ou por processo assemelhado; i) emprego de sistemas óticos,
fios telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de comunicação
similares que venham a ser adotados; j) exposição de obras de artes plásticas
e figurativas; IX – a inclusão em base de dados, o armazenamento em
computador, a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do
gênero; X – quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que
venham a ser inventadas. (BRASIL, 1998)

Entretanto, segundo as ideias de Bovino (2018, online) apesar da letra da lei, a


Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5°, ao mesmo tempo em que assegura o
direito do autor em determinar quem poderia ou de que forma poderia ser utilizada, ela
também estabelece um certo limite a este, em prol do direito coletivo. Isso implica dizer
que o autor tem seu direito relativo, e não absoluto. Ou seja, este autor poderia até, em
certas ocasiões, ceder os direitos de utilização de sua obra de forma coercitiva.
Apesar deste rol ser bem abrangente, em 1998 o Brasil não dispunha de uma
legislação que abordasse de forma especifica, o tema de proteção dos direitos do autor,
no âmbito virtual. Pois como muitos afirmavam “internet é terra de ninguém”. Porém,
atualmente esta questão já é tratada com mais atenção e os criadores de conteúdos no
âmbito virtual já contam com alguns importantes dispositivos jurídicos, como veremos
adiante.
24

3 A PROTEÇÃO DA PESSOA NO AMBIENTE VIRTUAL

Ao longo do século XX o mundo passou por mudanças sem precedentes. Foram


duas guerras mundiais, além da chamada “guerra fria” entre Estados Unidos e União
Soviética. Apesar dos irreversíveis e dolorosos pontos negativos, estes períodos também
acarretaram em avanços imprescindíveis, não só na questão humanitária, com os
grandes tratados e acordos, mas principalmente no âmbito tecnológico.

Não se trata de nenhum absurdo afirmar que dois dos maiores marcos da
tecnologia foram, em primeiro lugar, a chegada do homem à lua, em 1969 com a
marcante frase de Neil Armstrong: “um pequeno passo para o homem um grande salto
para a humanidade”. E não menos importante, a invenção da internet, também no fim da
década de 1960. Sendo este último, um dos principais fatores para a globalização do
século XXI. Nas últimas décadas, por conta da internet, o mundo entrou num ritmo
evolutivo jamais visto. A comunicação passou a ser fácil e acessível. Hoje rapidamente
pode se estabelecer uma chamada de vídeo entre pessoas que estejam em hemisférios
opostos do planeta, por exemplo. Porém, nem tudo são flores e o os efeitos negativos
dessa grande ferramenta não tardaram aparecer: a vulnerabilidade de dados.

3.1 Marco Civil da Internet

Todo usuário de rede de internet, para se conectar a algum servidor ou acessar


uma rede social, têm de fornecer dados para cadastro, bem como, assinar contratos
digitais destas plataformas. Entretanto, este acesso aos dados e todo o registro de
atividades dos usuários eram completamente desprovidos de legislação especifica do
tema. As legislações penais de vários países foram afetadas, visto que estas se
25

balizavam por princípios de soberania nacional, e a internet “desconhecia” tais


elementos, como relata Filho (2016, on-line):

Imaginou-se que a internet deveria ser "terra sem lei", onde tudo seria
permitido pela aparente impossibilidade de descoberta da verdadeira
identidade da pessoa. Percebeu-se a deficiência do direito penal tradicional
no combate à criminalidade virtual. Os Códigos Penais e legislações penais
especiais foram afetados por essa nova realidade, porque o direito penal é
fortemente ligado à questão da soberania nacional, enquanto a internet, por
sua vez, não conhece Estados por ser manifestação de uma verdadeira "aldeia
global". Tradicionais regras de aplicação da lei penal no espaço, com
exemplos quase hipotéticos, tais como o de cometimento de um crime de um
lado da fronteira e concluí-lo após ter passado pela imigração, ganham
importância na tentativa de combate aos criminosos, ao mesmo tempo em
que estas são inócuas, porque crimes podem ser praticados de qualquer parte
do mundo. Ao largo dessas reflexões sobre o direito penal, também se
procurou enfrentar a contrafação na internet mediante ações contra quem
distribuísse materiais protegidos pelo direito de autor, o que não deu certo
pela impossibilidade de apreensão física das obras em formato digital.

Filho ainda lembra como os governos do Brasil e da Alemanha se anteciparam


em buscar legislações especificas sobre a proteção de dados, após ambos os países
serem vítimas de espionagem. Eis suas palavras:

Os governos brasileiro e alemão, ambos, vítimas de espionagem,


encaminharam à Organização das Nações Unidas um projeto de resolução
intitulado "O direito à privacidade na era digital". Reapresentado com
pequenas alterações por 22 países, esse documento, aprovado na Sessão de
26 de novembro de 2013, expressa a preocupação com o uso das novas
tecnologias de informação e de comunicações por pessoas, empresas e
governos na vigilância, interceptação e recopilação de dados, inclusive
realizados extraterritorialmente, já que essas práticas poderiam constituir
violação de direitos humanos, em especial, quanto ao direito à privacidade,
fundamental em uma sociedade democrática para materializar a liberdade de
expressão, assim como se expressou preocupação com a liberdade de buscar,
receber e difundir informações. Dessa forma, reafirmou-se o direito à
privacidade já protegido pelo art.12 da Declaração Universal dos Direitos
Humanos e pelo art.17 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos;
reconheceu-se a natureza global e aberta da internet, razão pela qual o direito
à privacidade também deve ser assegurado na rede. Recomendou-se aos
Estados que assegurassem o respeito e proteção do direito à privacidade no
contexto das comunicações digitais, a abstenção da violação desses direitos
pelos próprios Estados, a revisão dos procedimentos, práticas e legislações
sobre vigilância e interceptação de comunicações e a recopilação de dados
em grande escala, assim como se mantenham mecanismos nacionais de
supervisão independentes e capazes de assegurar a transparência dessas
atividades, prestando contas delas. (2016, online)

Por conta desse grave problema de invasão de privacidade de dados entre


países, o governo do Brasil começou a fazer pressão sobre o congresso nacional para
26

que a instituição pautasse e aprovasse lei que versava exclusivamente sobre os atos dos
usuários no ambiente virtual. Segundo contam Bragatto, Sampaio e Nicolás (2015,
ONLINE), até o final da primeira década do novo milênio, não eram poucos os projetos
de lei a respeito do assunto.

Até dezembro de 2009, existiam 26 propostas para a regulamentação da


internet no Congresso Nacional. No entanto, a reação da sociedade civil a um
deles, o Projeto de Lei nº 84/1999, conhecido como AI-5 Digital, motivou o
Ministério da Justiça a iniciar um processo de consulta pública por meio da
internet para a construção de uma lei, o chamado Marco Civil da Internet. O
debate deu-se online, em duas fases, e resultou em um projeto assinado pela
Presidente Dilma Roussef, encaminhado ao Legislativo em agosto de 2011,
aprovado e sancionado apenas em 2014. A Lei nº 12.965 é hoje a responsável
por estabelecer “princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da
internet
no Brasil”. No momento, discute-se a regulamentação da legislação.

A discussão das propostas de regulamentação de atos no ambiente virtual foi


muito importante nesse período porque como nos lembra Manzaro e Siqueira (2017
ONLINE) em meados de 2010 foi divulgado uma importante estatística, a qual
mostrava um grande avanço a respeito do acesso das pessoas a internet no Brasil. Os
dados mostravam que, naquele ano, passavam de 20 milhões o número de pessoas no
país que residiam em domicílios com pelo menos um computador com acesso à internet,
e cerca de 32,9 milhões tinham esse acesso em outros lugares do seu ciclo social como
escola e trabalho.
O fenômeno do crescimento do acesso à internet no Brasil foi tão rápido, que o
país já ocupa os primeiros lugares quando o assunto é inovação tecnológica, visto que
deixou de usar muitos utensílios físicos, anteriormente indispensáveis, para substitui-los
por formas digitais, como bem ressaltam Manzaro e Siqueira:

A internet, por conta da versatilidade, tem o Brasil como um dos líderes do


ranking mundial no segmento de acesso e o mercado da inovação tecnológica
é amplamente potencial, sobretudo, recentemente foi descoberto um
acontecimento que também está crescendo em grande escala chamado de
fenômeno da desmaterialização, isso quer dizer que determinados utensílios
que eram corpóreos, seguiram por uma das seguintes vias: ou já se tornaram
incorpóreos, ou ainda estão se transformando, logo, são exemplos dessa
desmaterialização: a sistematização da nota fiscal eletrônica, o surgimento de
moedas transacionáveis (bitcoin), a digitalização de documentos, os bancos
de dados, os contratos eletrônicos, a identidade/identificação digital, entre
outros.(2017 online)
27

Por conta de todo esse crescimento, e ampla participação das pessoas em


ambiente virtual, se fez necessária a discussão a respeito de tal regulamentação. De
todas as propostas enviadas ao congresso nacional, a que ganhou mais notoriedade foi
projeto de lei, como lembra Filho (2016 ONLINE) “registrado sob o n.2.126/2011,
convertido na Lei n.12.965, de 23 de abril de 2014. Sua apresentação em 2011 evidencia
ser iniciativa bem anterior aos escândalos de privacidade divulgados em 2013”. E dessa
forma nasce a Lei do Marco civil da internet, sancionada pela Presidente Dilma
Rousseff.
A lei n.12.965, intitulada oficialmente como Marco civil da internet, começou a
vigorar a partir de junho de 2016. E possui alguns pontos importantes a serem
abordados com mais ênfase. A começar por alguns princípios, apresentados logo nos
Artigo 2° e 3° do texto.

Art. 2º A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o


respeito à liberdade de expressão, bem como:
I - O reconhecimento da escala mundial da rede;
II - Os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício
da cidadania em meios digitais;
III - a pluralidade e a diversidade;
IV - a abertura e a colaboração;
V - A livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
VI - A finalidade social da rede.
Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios:
I - Garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de
pensamento, nos termos da Constituição Federal;
II - Proteção da privacidade;
III - proteção dos dados pessoais, na forma da lei;
IV - Preservação e garantia da neutralidade de rede;
V - Preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por
meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo
estímulo ao uso de boas práticas;
VI - Responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos
termos da lei;
VII - preservação da natureza participativa da rede;
VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que
não conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta Lei [...]
(BRASIL, 2016)

Segundo as explicações de Martins (2020, ONLINE) o Artigo 1º da lei do Marco


civil da internet traz de forma direta princípios e garantias, mas com ênfase na figura do
princípio da liberdade de expressão. Pois este tem posição de destaque dentro do
ordenamento jurídico brasileiro, o que é evidenciado em várias decisões de tribunais
superiores, principalmente do Supremo Tribunal Federal.
28

Porém esta posição preferencial causava diversos conflitos com outros direitos
de personalidade como direito de imagem, honra etc. E para resolver tal situação foi
editado o enunciado de número 613, do CJF (BRASIL, 2018) que dispõe que “A
liberdade de expressão não goza de posição preferencial em relação aos direitos da
personalidade no ordenamento jurídico brasileiro”, e desta forma põe em pé de
igualdade estes princípios. A respeito do disposto no Artigo 2º, Martins comenta:

O art. 2° da lei 12.965, contudo, seguindo o passo da ultra proteção da


liberdade de expressão, esclarece que o uso da internet no Brasil tem como
fundamento da liberdade de expressão.
É curioso observar que, ao que parece, o legislador “esqueceu” que a
liberdade de expressão, em verdade, é desdobramento da liberdade de
pensamento.
A liberdade de expressão é a externalização do pensamento e envolve
liberdade de religião, expressão intelectual, comunicação, etc.
Portanto, a liberdade de expressão é a dimensão extrínseca da liberdade de
pensamento.
É evidente, contudo, que eu posso não querer externalizar o pensamento.
Neste ponto, surge a dimensão intrínseca da liberdade de pensamento.
Trata-se de um direito mais próximo do direito à privacidade.
A liberdade de pensamento, na internet, vem registrada sob a forma de
dados (e.g. dados no facebook, whatsapp, google, etc).
Isso inclui a dimensão extrínseca e intrínseca da liberdade de pensamento.
Pergunto a você, leitor, onde, na lei 12.965, foi parar a dimensão intrínseca
da liberdade de pensamento???
Em lugar nenhum…
Curiosamente, o legislador enfatiza, apenas, em liberdade de expressão
(dimensão extrínseca). (2020, online)

Dentre todos os artigos da lei 12.965/14, alguns pontos importantes se destacam,


como o Artigo 9º, que versa sobre a responsabilidade de transmissão e roteamento e a
isonomia na distribuição destes dados. A respeito deste trecho da lei do Marco civil da
internet, Machado comenta:

Ao se tratar da igualdade na rede, a lei buscou coibir que os provedores de


conexão induzam os internautas a acessarem apenas algumas determinadas
aplicações. Para tanto faz uma imposição legal de que todos os
provedores/operadoras não estabeleçam pacotes de preços diferenciados para
o acesso exclusivo a determinados sites, por exemplo, planos que só acessam
redes sociais.
Portanto, substancialmente com a neutralidade de rede o consumidor ao
contratar um plano de internet pagará apenas pela velocidade contratada, não
podendo haver limitação ao acesso a determinados sites.
 Em contrapartida, a dúvida que fica é se tal determinação não irá afastar
ainda mais a inclusão das classes menos favorecidas à internet, uma vez que
os pacotes deste serviço consequentemente restarão mais caros, pois o custo
de manutenção da neutralidade de rede será repassado aos consumidores, fato
29

que poderá causar um efeito oposto ao pretendido, dificultando ainda mais o


acesso igualitário à rede.(2014, online)

Ainda sobre o assunto, Radamés Comassetto Machado ressalta:

Outro ponto relevante desta nova legislação se refere à proibição aos


provedores de utilizarem comercialmente dados pessoais de seus usuários,
exceto se estes consentirem expressamente. Assim, diferentemente do que
ocorre hoje em dia, onde os dados dos internautas são livremente negociados
pelos provedores, será vedada a utilização dos registros de acessos do
histórico de navegação para fins comerciais, especialmente quanto às
corriqueiras enxurradas de anúncios publicitários personalizados e com
temáticas de assuntos pesquisados anteriormente em sites de busca. (2014,
online)

Ou seja, o Marco civil da internet põe um freio na livre utilização comercial por
parte dos provedores de dados de usuários das redes. Um ponto positivo, visto que
aumenta o nível de segurança em relação aos internautas.
Porém, não só de liberdade de expressão e segurança de dados dos usuários se
trata esta lei. O dispositivo também aborda em igual importância, a questão da
responsabilidade dos internautas, nos artigos 18, 19 e 20, principalmente. E sobre isso,
comenta Filho:

O legislador tratou da responsabilidade civil dos provedores de internet por


ofensa aos direitos da personalidade das pessoas, como honra, imagem, vida
privada e intimidade das pessoas. O art.18 reconheceu a irresponsabilidade
civil do provedor de acesso por danos causados pelos usuários. Por outro
lado, o art.19 regulamentou especificamente a responsabilidade civil dos
provedores de conteúdo, por exemplo os armazenadores de arquivos
fotográficos e musicais, ESTUDOS AVANÇADOS 30 (86), 2016 275 bem
como de páginas da internet, entre eles, os blogs. Estabeleceu-se, nesse caso,
a responsabilidade subsidiária entre o usuário da internet que praticou o ato
ilícito civil e o provedor de conteúdo. Dessa maneira, a responsabilidade
primária é do usuário da internet e o provedor de conteúdo somente responde
conjuntamente com o causador do dano quando descumprir ordem judicial
para que tornasse indisponível o conteúdo ofensivo. Novamente, para evitar a
prática de censura pelo Poder Judiciário, os §§1° a 4° do art.19 estabeleceram
procedimentos acerca da retirada do conteúdo ofensivo da rede, entre outras
coisas, quanto ao conteúdo da ordem judicial, a qual deverá trazer
identificação clara e específica do conteúdo infringente, a necessidade de
regulamentação por lei específica, quando a ofensa se relacionar com os
direitos de autor e direitos conexos, o alargamento da competência judiciária
para apreciação da matéria perante os Juizados Especiais e a necessidade de o
juiz avaliar o cabimento da medida em face do interesse da coletividade em
ter acesso ao conteúdo disponibilizado na rede. O art.20, por sua vez,
estabelece que, quando for possível a identificação do usuário que publicou
conteúdo tornado indisponível por ordem judicial, o provedor de conteúdo
deverá comunicar-lhe os motivos e informações relativos à medida, para que
possa exercer, se desejar, o contraditório e a ampla defesa em juízo. No
entanto, admite-se disposição em contrário pelo juiz, no sentido de não
fornecer tais dados ao usuário. Já o parágrafo único do art.20 garante o
30

direito do usuário de solicitar a colocação da motivação ou da ordem judicial


que deu fundamento à indisponibilização. (2016, p. 274 a 275)

Ainda na mesma abordagem a respeito da responsabilidade, agora não somente o


usuário, como também do provedor, quando se trata de conteúdos com cenas de nudez
quaisquer atos sexuais de cunho privado, Eduardo Tomasevicius Filho explica:

Em se tratando de imagens, vídeos ou outros materiais que contenham cenas


de nudez ou de atos sexuais de caráter privado, o provedor de aplicações de
internet responderá subsidiariamente com o divulgador, quando, após
notificação, deixar de tornar indisponível o acesso a esse conteúdo. Aqui a
diferença é que não se requer ordem judicial para a solicitação da
indisponibilidade do conteúdo, podendo ser feita pelo próprio interessado
mediante notificação. Ainda nesse ponto, inseriu-se de última hora na parte
das disposições finais da lei o art.29 e seu parágrafo único, segundo o qual se
reconhece o direito do usuário de internet de instalar em seu computador
pessoal programas destinados ao controle parental do conteúdo entendido
como impróprio aos filhos menores, desde que respeitados os princípios desta
lei e do Estatuto da Criança e do Adolescente, cabendo ao Poder Público,
juntamente com os provedores de conexão e de aplicação de internet, a
promoção da educação e fornecimento de informações sobre o uso desses
programas e definição de boas práticas para inclusão digital de crianças e
adolescentes. (2016, p. 275)

Sem dúvida o Marco civil da internet é um dispositivo importantíssimo para a


construção de um ambiente virtual mais ajustado e regrado. Porém, diversos países do
mundo carecem de legislações especificas a essa temática. Neste ponto, de fato, o Brasil
saiu na frente, visto que em 2018 foi sancionada a lei 13.709, que versa a respeito da
titularidade dos dados, conhecida como Lei geral de proteção de dados.

3.2 Lei geral de proteção de dados

No dia 14 de agosto de 2018, o Presidente Michel Temer sancionou a lei nº


13.709, conhecida como a Lei geral de proteção de dados, ou LGPR, e como afirma
Vieira (2018, ONLINE) “foi amplamente inspirada na GDPR e se assemelha ao
regulamento europeu em diversos pontos”. Esta lei funciona como um escudo para o
indivíduo diante da má utilização de seus dados pessoais.
Segundo as ideias de Cruz (2020, ONLINE) existem basicamente quatro
elementos essenciais na LGPD. O dado, que nada mais é do que a informação bruta que
diz respeito a alguém; o titular do dado, que é o indivíduo o qual esta informação se
refere (por exemplo, o CPF é um dado e a pessoa física, o titular desse dado); o
31

controlador dos dados, que é quem decide o que será feito com tais dados, se estes serão
coletados, processados, reutilizados ou destruídos; e por fim, o operador, que é quem irá
realizar na pratica o que for decidido pelo controlador. Para ilustrar melhor o a
utilização inadequada de dados pessoais, Monteiro (2018) nos traz um bom exemplo.
Eis suas palavras:

Um indivíduo chega a um banco. Ele pretende dar entrada em um pedido de


financiamento do seu primeiro apartamento. Se dirige ao gerente, que o
recebe, pede o seu CPF, e o insere em um sistema da instituição. Ao assim
fazer, os demais campos do formulário eletrônico são imediatamente
preenchidos. O gerente solicita, ainda, informações sobre o valor do imóvel,
quanto o indivíduo pretende dar de entrada, quanto pretende financiar, e em
quanto tempo. Imediatamente o sistema calcula uma taxa de juros muito
superior àquela anunciada pela instituição nos inúmeros outdoors e
propagandas espalhadas pela cidade. O valor é tão alto que torna impossível
contratar tal financiamento, impedindo, desta forma, que o indivíduo possa
adquirir o imóvel. Ele pergunta ao gerente por que a taxa de juros do seu
financiamento seria tão alta, já que não tem dívidas, sempre pagou suas
contas em dia, e recebe um salário que claramente o permite pagar uma
parcela normal de um financiamento. O gerente apenas informa que o sistema
faz o cálculo e exibe na sua tela e que não tem qualquer ingerência sobre os
valores das taxas de juros e das parcelas mensais. Quem faz e controla tudo é
um programa de computador. Em outras palavras, um programa de
computador, alimentado, a princípio, por dados sobre o indivíduo e sobre o
imóvel que desejava adquirir, definiu suas chances de adquirir ou não um
bem, e de usufruir de forma efetiva do seu direito à moradia. Um algoritmo
tomou uma decisão que teve um impacto direto na vida deste indivíduo.

O autor explica que, cada vez mais, as vidas das pessoas estão sendo controladas
por meros algoritmos computacionais. Ou seja, programas de computador com
sequencias pré-definidas para a automatização de decisões importantes, como a análise
de um financiamento de imóveis ou qualquer outra que venha a ter um peso substancial
na vida de um indivíduo. Sobre o objetivo da Lei de proteção de dados, prossegue
Monteiro:

Regular o uso e o tratamento de dados pessoais é o principal objetivo das leis


de proteção de dados. Estas visam não somente proteger a privacidade, mas
também outros direitos fundamentais e liberdades individuais, que somente
podem ser exercidos na sua completude caso seja garantido o uso adequado
dos dados pessoais que, muitas vezes, funcionam como representação do
indivíduo. Desta forma, as leis de proteção de dados são como “guarda-
chuvas” regulatórios que protegem outros direitos. Elenca-se, abaixo,
diferentes contextos nos quais as decisões automatizadas têm impacto no
exercício e acesso a uma série de direitos fundamentais e aponta-se como a
opacidade no tratamento dos dados pessoais impede que seus titulares tenham
total compreensão de como seus direitos são impactados [...] (Monteiro,
2018)
32

Segundo Rapôso et al (2019) devido a globalização e também aos avanços


tecnológicos no campo da informação, se desenvolveu uma batalha acirrada entre
empresas, e por conta disso, gerou-se uma especulação a respeito de quão protegidos os
dados das empresas corporativas e de seus clientes estavam. Ora, se até o Estado
brasileiro estivera vulnerável com invasões e roubos, por parte de hackers, de
informações e conversas pessoas de autoridades da república.
A lei geral de proteção de dados inicialmente, em seus artigos 1º e 2º, apresenta
o que se pode chamar de base de sustentação do dispositivo que visa a proteção de
direitos fundamentais como o direito de liberdade e de privacidade. Dispõe o texto da
seguinte forma:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos
meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou
privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e
de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.
Parágrafo único. As normas gerais contidas nesta Lei são de interesse
nacional e devem ser observadas pela União, Estados, Distrito Federal e
Municípios.
Art. 2º A disciplina da proteção de dados pessoais tem como fundamentos:
I - O respeito à privacidade;
II - A autodeterminação informativa;
III - A liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião;
IV - A inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem;
V - O desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação;
VI - A livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
VII - os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a
dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais. (BRASIL, 2018)

Conforme as análises de Frazão, Oliva e Tepedino (2019) foram as inúmeras


discussões e debate durante os anos que tornou relevante a tutela e proteção de dados
como equivalente a um direito fundamental autônomo. Pois a evolução e consolidação
de espaços virtuais tornou a gestão da informação algo inerente ao próprio indivíduo.
Para que essa gerencia sobre próprios dados fosse preservada, era necessária a garantia
de defesa e proteção destas informações. Por isso a menção, no artigo 1º, à elementos
como liberdade, privacidade e desenvolvimento da pessoa natural.
A respeito de alguns direitos fundamentais e princípios presentes nos primeiros
artigos dessa lei e fazendo um paralelo com a GDPR, Frazão, Oliva e Tepedino
ressaltam:
33

Na esteira da regulamentação europeia, e aprofundando perspectivas já


contempladas em normas anteriores, a nova lei enuncia diversos fundamentos
(art. 2º) e princípios (art. 6º), atribuindo ao titular instrumentos para garantir
o controle de seus dados a despeito de serem utilizados por terceiros. Muito
mais que apenas impedir o acesso indesejado às informações pessoais, a
LGPD preocupa-se também – como revela a alusão, no art. 2º, inciso II, à
autodeterminação informativa como fundamento – com o aspecto dinâmico
da proteção dos dados,6 a garantir tutela, por exemplo, em face da utilização
dos dados pessoais para a construção de perfis (arts. 12, § 2º, e 20). (2019, p.
678-679)

É de suma importância a abordagem do artigo 18 da LGPD, pois este


elenca um rol de direitos e garantias essenciais para a proteção dos dados e estabelece,
no §5º o atendimento de forma gratuita a estas demandas, por parte do controlador. Eis
a letra da lei:

Art. 18. O titular dos dados pessoais tem direito a obter do


controlador, em relação aos dados do titular por ele tratados, a qualquer
momento e mediante requisição:
I - Confirmação da existência de tratamento;
II - Acesso aos dados;
III - correção de dados incompletos, inexatos ou desatualizados;
IV - Anonimização, bloqueio ou eliminação de dados desnecessários,
excessivos ou tratados em desconformidade com o disposto nesta Lei;
V - Portabilidade dos dados a outro fornecedor de serviço ou produto,
mediante requisição expressa, de acordo com a regulamentação da autoridade
nacional, observados os segredos comercial e industrial;
VI - Eliminação dos dados pessoais tratados com o consentimento do titular,
exceto nas hipóteses previstas no art. 16 desta Lei;
VII - informação das entidades públicas e privadas com as quais o
controlador realizou uso compartilhado de dados;
VIII - informação sobre a possibilidade de não fornecer consentimento e
sobre as consequências da negativa;
IX - Revogação do consentimento, nos termos do § 5º do art. 8º desta Lei.
§ 1º O titular dos dados pessoais tem o direito de peticionar em relação aos
seus dados contra o controlador perante a autoridade nacional.
§ 2º O titular pode opor-se a tratamento realizado com fundamento em uma
das hipóteses de dispensa de consentimento, em caso de descumprimento ao
disposto nesta Lei.
§ 3º Os direitos previstos neste artigo serão exercidos mediante requerimento
expresso do titular ou de representante legalmente constituído, a agente de
tratamento.
§ 4º Em caso de impossibilidade de adoção imediata da providência de que
trata o § 3º deste artigo, o controlador enviará ao titular resposta em que
poderá:
I - Comunicar que não é agente de tratamento dos dados e indicar, sempre
que possível, o agente; ou
II - Indicar as razões de fato ou de direito que impedem a adoção imediata da
providência.
§ 5º O requerimento referido no § 3º deste artigo será atendido sem custos
para o titular, nos prazos e nos termos previstos em regulamento.
§ 6º O responsável deverá informar, de maneira imediata, aos agentes de
tratamento com os quais tenha realizado uso compartilhado de dados a
correção, a eliminação, a anonimização ou o bloqueio dos dados, para que
34

repitam idêntico procedimento, exceto nos casos em que esta comunicação


seja comprovadamente impossível ou implique esforço desproporcional.
(BRASIL, 2018)

Segundo o entendimento de Frazão, Oliva e Tepedino (2019), o exercício desses


direitos supracitados deveria ser regulamentado por legislação especifica, pois se faz
necessária a especificação quanto a procedimentos e seus respectivos prazos para o
devido atendimento das demandas. Sobre o caráter preventivo da LGPD, Frazão, Oliva
e Tepedino explicam:

Outra fundamental característica da nova legislação consiste no significativo


fomento ao aspecto preventivo, estabelecendo procedimentos mandatórios
para os controladores e operadores de dados pessoais, tais como os deveres
atinentes à implementação de severas políticas de segurança para proteção
dos dados de acessos não autorizados.9 Cuida-se de perspectiva alvissareira,
na medida em que as características inerentes ao “meio digital” – entre elas a
velocidade das transformações tecnológicas, a capacidade de propagação de
informações e a dificuldade na contenção do fluxo de dados –, associadas à
expansão da coleta e do tratamento implicam desafios à lógica repressiva,
ainda mais quando esta decorre do modelo comando-controle.10 O
engajamento espontâneo dos titulares dos deveres e a prevenção na tutela do
direito fundamental aos dados pessoais afiguram-se essenciais e, não à toa,
no que diz respeito a este último aspecto, cuida-se de princípio plasmado no
art. 7º, VIII, da LGPD. (2019. P.681)

É evidente que o caráter preventivo dessa norma impacta de forma direta nas
ações das empresas para com seus clientes, bem como dos indivíduos em ambientes
virtuais. Estes, no passado, expunham seus dados pessoais sem qualquer proteção.
Entretanto, não havia qualquer fiscalização para responsabilização de atos infracionais,
seja por parte das empresas que utilizavam os dados de maneira errada, seja por parte
das pessoas que utilizavam materiais de autoria de terceiros como se seus fossem.
Com a criação de toda esta legislação, que vai desde a proteção dos direitos
autorais até a proteção de dados pessoais, podemos dizer que o Brasil conta, hoje, com
uma vasta quantidade de normas regulamentadoras quando se trata de tecnologia da
informação. A seguir veremos como esta legislação atua no ambiente virtual e todas as
suas implicações nos atos dos criadores de conteúdo para as mídias digitais.
35

4. OS DIREITOS AUTORAIS NAS MIDIAS DIGITAIS

Com o advento da internet, houve diversos benefícios para a sociedade como um


todo. Uma dessas benesses foi a interação entre pessoas de diferentes lugares do mundo,
por mais distantes que estivessem umas das outras. E, nos últimos anos, essa mediação
foi feita por plataformas online denominadas redes sociais. Nessas plataformas, os
usuários também foram possibilitados a criarem e publicarem seu próprio conteúdo
online, através de seus computadores e celulares, gerando ainda mais interação por parte
das pessoas. Nascia, assim, o que hoje chamamos de Mídias digitais.

4.1 Conceito de Mídias digitais

Mas de fato, o que se pode definir como Mídias digitais? Neil Patel, autor best-
seller do New York Times, tem um conceito claro sobre o que seriam as tais mídias
digitais. Eis suas palavras:

Mídia digital é todo conteúdo ou veículo de comunicação que se baseia na


internet e a utiliza como meio de distribuição. Portanto, ao contrário da mídia
36

analógica (também conhecida como mídia tradicional ou mídia offline), a


mídia digital oferece a possibilidade de feedback por parte do receptor.
(PATEL, 2021)
Segundo as ideias do autor, existem dois tipos de mídias: a tradicional e a
digital. Enquanto a primeira apresenta um processo de comunicação unilateral, a
segunda se mostra de forma bilateral, ou seja, com a resposta do público. Apesar de
parecer um termo fechado, alguns autores ressaltam que o conceito de Mídia digital
pode variar de acordo com o âmbito a qual é empregado.

Em rigor, o termo “mídia digital” está atrelado ao seu sentido técnico, que
engloba todos os recursos, veículos e equipamentos que trabalham a partir da
tecnologia digital. Nesse contexto, a mídia digital pode ser um computador,
celular (smartphone ou não), discos compactos, televisão digital, e-books,
conteúdos online e outros. Dentro da comunicação empresarial, porém, temos
as mídias digitais como os canais de criação, distribuição e promoção de
conteúdo de Marketing Digital— posts nas redes sociais, banners
patrocinados em blogs, anúncios do Google e qualquer outro tipo de material
divulgado na internet (ABREU, 2019)

O termo “Mídia digital” ainda causa estranheza em muitas pessoas, que por
vezes acreditam que se trata apenas do meio de transmissão, ou seja, as plataformas
virtuais. Mas é importante lembrar que vários tipos de produções podem ser
considerados mídias digitais, como uma gravação que é armazenada em um cartão de
memória, por exemplo. “Mídia digital é todo e qualquer conteúdo que tem como base
principal o meio digital, mas não necessariamente só a internet como muitos se
confundem, um conteúdo gravado em um pen drive também é uma mídia digital.”
(SILVA, 2021)

O autor ainda lista alguns dos mais famosos e populares tipos de Mídias sociais
no mercado atualmente., quais sejam: Websites; Redes sociais; Mini Websites; Hotsites;
Lojas Virtuais; Catálogos Digitais; Vídeos; Podcasts; Landing Pages; Cd`s ;Dvs; E-
books .

É importante ressaltar que segundo as análises de Silva (2021) as mídias digitais


são subdivididas em nichos, de acordo com a personalidade do conteúdo produzido. Por
exemplo, existem as mídias digitais voltadas para as redes sociais: Instagram,
Facebook, Twitter etc. Existem mídias digitais focadas apenas para a publicação de
vídeos, como é o caso do Youtube. E apesar de a maioria destas mídias digitais ser
37

gratuita, muitas trabalham com a criação de diversas campanhas de publicidade paga,


como Google Ads, e os próprios facebook Ads e Instagram Ads.

Por conta da amplitude do mercado digital e da quantidade vasta de


possibilidades de negócios e visibilidade nas mídias digitais, os usuários começaram a
apostar, cada vez mais em seu próprio conteúdo, suas próprias criações. E, foi
justamente por conta de todo este fluxo de pessoas produzindo e publicando conteúdo
na internet que veio à tona, a discussão sobre Propriedade intelectual e Direito autoral
no meio digital.

4.2 Propriedade intelectual e o Direito autoral nas Mídias digitais

A respeito da Propriedade intelectual, Barbosa (2010) faz um breve apanhado


histórico de como surgiu este instituto. O autor conta que em 1967, a Organização das
Nações Unidas constituiu dentro de seu sistema, um órgão autônomo, denominado
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Este órgão englobava a
administração de diversos tratados e principalmente a Uniões de Paris e Berna.
Conforme nos conta Denis Borges Barbosa:

A Convenção da OMPI define como Propriedade intelectual, a soma dos


direitos relativos às obras literárias, artísticas e científicas, às interpretações
dos artistas intérpretes e às execuções dos artistas executantes, aos
fonogramas e às emissões de radiodifusão, às invenções em todos os
domínios da atividade humana, às descobertas científicas, aos desenhos e
modelos industriais, às marcas industriais, comerciais e de serviço, bem
como às firmas comerciais e denominações comerciais, à proteção contra a
concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à atividade
intelectual nos domínios industrial, científico, literário e artístico.
Antes da definição convencional, a expressão “Propriedade intelectual”
aplicava-se, mais restritamente, aos direitos autorais; nesta acepção,
encontramos extenso emprego na doutrina anterior. Em sua origem, porém,
como concebido por Josef Kohler e Edmond Picard nos fins do Sec. XIX, o
conceito correspondia ao expresso na Convenção da OMPI (2010 p. 10)

Para um melhor entendimento do funcionamento da propriedade intelectual e o


direito autoral no ambiente virtual, é extremamente importante conhecer a figura do
Copyright e no que este se difere do direito autoral em si.
38

O Direito autoral, como mencionado nos capítulos anteriores, é garantido pela


CF/88 e nasce basicamente a partir da criação de determinada obra. Já o Copyright,
como induz o próprio nome, em tradução livre do inglês, significa, literalmente direito
de cópia. E a respeito disso, Pontes (2017) diz que “autores de obras originais tem pleno
direito de domínio do seu conteúdo. Portanto, fica proibida a reprodução por qualquer
meio sem que tenha uma autorização prévia.”

Segundo as ideias de Filho (1998), a questão dos Direitos Autorais no ambiente


digital tem que ser analisada sobre dois fatores. O primeiro diz respeito ao tipo de mídia
a qual a internet se encaixa. Pois se fosse uma mídia do tipo não impressa, estaria todo o
seu conteúdo, submetido legislações correspondentes. Do caso contrário, se fosse do
tipo impressa como mídias tradicionais, estaria fora de qualquer censura. O outro fator e
não menos importante, é o de que, a internet não tem proprietário definido, dessa forma,
qualquer pessoa com os meios necessários, pode acessar determinado conteúdo. O que
dificultaria a proteção da propriedade intelectual.

A Internet está criando um verdadeiro caos à medida que rompe qualquer


barreira, pois torna a proteção aos direitos autorais – que atualmente é
territorial – obsoleta. É preciso, portanto, que se crie um código universal
plenamente funcional. Do contrário, vamos continuar nos perguntando "de
quem é a responsabilidade sobre os direitos autorais na Internet?", e não
dando nenhuma solução satisfatória. (FILHO, 1998)

A respeito da popularização da internet e a introdução do direito autoral no


debate nesse meio, Mariana Giorgetti Valente conta:

O direito autoral tornou-se, a partir do fim da década de 1990, o pivô de


novos conflitos. Antes da popularização da Internet, o campo era disputado
por criadores, indústria cultural, produtores de tecnologia e por países que
dividiam desigualmente o acesso à proteção autoral e a bens culturais. O
conflito tornou-se visível para o cidadão comum, e o direito autoral passou a
atingir condutas cotidianas do usuário da Internet. Como tal, passou a ser um
dos principais tecidos jurídicos da comunicação contemporânea, e a ser
disputado por atores com interesses opostos, e politizado de forma a envolver
os contornos dos valores que pautam a Internet desde sua fundação e dos que
têm se tornado seus novos valores. (2013)

A mesma autora faz um paralelo entre o direito autoral e o direito natural. Eis suas
palavras:
39

[...]A informação não está distribuída de forma homogênea ao redor do


globo, e as formas de sociabilidade, bem como os processos de inclusão e
exclusão, estão cada vez mais ligados ao acesso à tecnologia e à informação.
Uma doutrina de direito de autor que absolutize conceitos e lhes negue
contingência, tal como cristalizada na ideia de direito autoral como direito
natural da tradição francesa do droit d’auteur, é um obstáculo à compreensão
da dimensão política envolvida na proteção dos direitos autorais na Internet.
(VALENTE, 2013)

A respeito da propriedade intelectual na internet, Capozzielli (2019) afirma que


a expressão “se refere ao que é publicado na rede e, da mesma forma, segue o preceito
de que a propriedade da obra é do seu autor, pessoa física criadora da peça literária,
artística ou científica”. E de fato segue as mesmas bases da classificação de propriedade
intelectual fora do ambiente virtual. O autor ainda aborda a questão relacionando a
propriedade intelectual com o Marco civil da internet. Eis suas palavras:

A Lei nº 12.965/2014, conhecida como “Marco Civil da Internet”, tem como


objetivo “estabelecer princípios, garantias, direitos e deveres para uso da rede
mundial de computadores no país.” Ela regulamenta a atuação dos
prestadores de serviço, do poder público e disciplina os direitos e garantias
do usuário.
No que se refere à proteção da propriedade intelectual na Internet, destaca-se,
que de início os direitos autorais não foram, propositalmente, incluídos na
Lei a pedido do Ministério da Cultura. O órgão argumentou, na ocasião, que
a reforma da Lei de Direitos Autorais (nº 9.610/98) estava em discussão, e
sua tutela deveria, assim, ser incluída na nova lei. Atualmente, um dos
principais pontos é que os conteúdos que, supostamente, violem direitos
autorais devam ser retirados apenas com ordem judicial (Art. 19).

Ainda a respeito deste assunto, Machado (2008) traz uma análise


desconstrutivista, abordando o tema, após o advento da internet, a luz de um fenômeno,
o qual chamou de “colapso artificial da propriedade intelectual”. O autor entende que o
dispositivo jurídico denominado como “propriedade intelectual” pressupunha que as
ideias fossem expressadas de forma material. Seria este o motivo do sucesso da
aplicação de tal artifício quando havia uma certa tangibilidade nas obras. Ocorre que,
toda esta perspectiva mudou, após a chegada da internet, como bem ressalta o autor:

Com a Internet, surge o problema de que todo conteúdo acessado na rede é


uma cópia da informação do banco de dados que está sendo acessado: textos,
40

imagens, sons, códigos de programação e assim por diante. Para a rede poder
funcionar há que fazer cópias da informação a ser acessada. E fazer cópias
perfeitas é tão banal, que o original passa a ser irrelevante. Tecnicamente
falando, a simples navegação na Internet viola muitos copyrights. Isso ocorre
de tal forma que as leis de “propriedade intelectual” praticamente se tornam
inaplicáveis à Internet. (MACHADO, 2008)

Abordando o tema de direitos autorais, no ambiente digital, porém, com ênfase


na pirataria no ramo musical, Castro (2006) entende que com o desenvolvimento da
digitalização no meio musical e com o crescimento da internet, dificultou-se a relação
entre o autor de determinada obra e seu receptor, no que tange a implementação dos
direitos autorais e aumentou o leque de possibilidades e formas de pirataria.

A digitalização das tecnologias do som possibilita ainda que sejam


executados, com rigorosa precisão e rapidez, os mais diversos tipos de
manipulação, algum dos quais antes tecnicamente inviáveis ou restritos aos
profissionais extremamente qualificados dos mais sofisticados estúdios.
Como exemplo de manipulação que se tornou disseminada, citamos o
sampleamento. Trata-se de um procedimento no qual um fragmento de uma
dada obra musical é utilizado como amostra (sample) a partir da qual se
estruturam os sons do arranjo ou composição de uma nova música. Outros
processos de adaptação musical incluem a utilização de trechos selecionados
e recortados em novas composições, mixes ou arranjos. (CASTRO, 2006)

Gisela G. S. Castro prossegue:

Entretanto, a complexa questão da pirataria digital – aqui apenas analisada no


que diz respeito à música – não pode ficar restrita a uma visão policial,
apenas. É importante frisar que não há consenso entre consumidores,
produtores e distribuidores em relação à participação do download gratuito na
pirataria de música. Há discordância de pontos de vista mesmo dentre
membros de cada uma dessas três categorias [...] [...] além de protegidos pelo
anonimato da rede, usuários de serviços de compartilhamento gratuito se
sentem psicologicamente legitimados pela adesão de milhares de outros pares
na prática do troca-troca de arquivos de música via Internet. A maioria desses
internautas não considera “propriamente um crime” baixar música de graça
para consumo próprio. (2006)

É de suma importância a abordagem do tema mencionando uma das plataformas


digitais mais relevantes do mundo, no que se refere a produção de conteúdo, o Youtube.
E para o melhor entendimento, é necessária uma breve explicação a respeito da
plataforma. Sobre isso Jean Burgess e Joshua Green nos contam:
41

Fundado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, ex- -funcionários do
site de comércio on-line PayPal, o site YouTube foi lançado oficialmente sem
muito alarde em junho de 2005. A inovação original era de ordem
tecnológica (mas não exclusiva): o YouTube era um entre os vários serviços
concorrentes que tentavam eliminar as barreiras técnicas para maior
compartilhamento de vídeos na internet. Esse site disponibilizava uma
interface bastante simples e integrada, dentro da qual o usuário podia fazer o
upload, publicar e assistir vídeos em streaming sem necessidade de altos
níveis de conhecimento técnico e dentro das restrições tecnológicas dos
programas de navegação padrão e da relativamente modesta largura de
banda. O YouTube não estabeleceu limites para o número de vídeos que cada
usuário poderia colocar on-line via upload, ofereceu funções básicas de
comunidade, tais como a possibilidade de se conectar a outros usuários como
amigos, e gerava URLS e códigos HTML que permitiam que os vídeos
pudessem ser facilmente incorporados em outros sites, um diferencial que se
aproveitava da recente introdução de tecnologias de blogging acessíveis ao
grande público. Exceto pelo limite de duração dos vídeos que podiam ser
transferidos para o servidor, o que o YouTube oferecia era similar a outras
iniciativas de vídeos on-line da época. (2009, p. 17-18)

A partir desta breve explanação dos autores sobre a plataforma, é importante


saber como o próprio Youtube trata a questão dos direitos autorais. Segundo o suporte
oficial do site “quando uma pessoa cria uma obra original que é exibida em um meio
físico, ela possui automaticamente os direitos autorais da obra. Como detentora dos
direitos autorais, a pessoa tem o direito exclusivo de usar a obra” (YOUTUBE, online)

Em outras palavras, significa que se for dado credito ao detentor dos direitos
autorais no conteúdo publicado a utilização deste material será livre de punições? O
Youtube entende que não. O suporte da plataforma deixa explicito que isso se trata de
um mito.

Dar crédito ao proprietário não concede a você automaticamente os direitos


de uso da obra protegida. Verifique os direitos de todos os elementos não
licenciados em seu vídeo antes de enviá-lo ao YouTube. Se você conta com o
uso aceitável, mesmo que adicione material original a uma obra de alguém
protegida por direitos autorais, talvez seu vídeo não se qualifique. Pense
cuidadosamente em todos os quatro fatores e procure aconselhamento
jurídico, se necessário. (YOUTUBE, online)

Apesar das restrições, o Youtube determina que existem diretrizes e fatores para
o chamado “uso aceitável” de determinado conteúdo. Segundo o que dispõe a
plataforma, são quatro situações importantes a serem analisadas: a finalidade e o caráter
do uso, incluindo se ele é de natureza comercial ou tem objetivos educativos que não
visam lucros, a natureza da obra protegida por direitos autorais, a quantidade e a
42

importância da parcela usada em relação à obra protegida por direitos autorais como um
todo e o efeito do uso sobre um possível mercado ou sobre o valor da obra protegida por
direitos autorais

Outro mito que muitas pessoas acreditam quando se trata de direitos autorais no
Youtube é de que quando o usuário utiliza material de terceiros alegando que é para
“entretenimento” ou “sem finalidade de lucros” este será automaticamente eximido de
eventuais punições. Porém, esta ideia é equivocada, uma vez que o próprio site da
plataforma (YOUTUBE, online) explica que os tribunais analisam de forma minuciosa
diversos outros fatores na busca de um julgamento correto. Logo, o simples argumento
de uso para estes dois fins não vale por si só como defesa automática. Vejamos o que o
site oficial fala a respeito da Proteção do uso aceitável da plataforma:

O YouTube recebe várias solicitações de remoção em conformidade com as


leis de direitos autorais para retirarmos vídeos que os proprietários afirmam
violar os direitos autorais deles. Às vezes, essas solicitações têm como objeto
vídeos que parecem ser exemplos claros de uso aceitável. Os tribunais
defendem que os titulares dos direitos devem considerar o uso aceitável antes
de enviar um aviso de remoção de direitos autorais. Por isso, em vários casos
(apesar de ser uma pequena parcela das remoções de direitos autorais em
geral), solicitamos que os titulares dos direitos confirmem se fizeram essa
análise. Em alguns casos muito especiais, solicitamos que o criador de
conteúdo do vídeo participasse de uma nova iniciativa que protege alguns dos
melhores exemplos de "uso aceitável" no YouTube contra as solicitações de
remoção de direitos autorais. Por meio dessa iniciativa, o YouTube indeniza
os criadores de conteúdo cujos vídeos de uso aceitável foram objeto de avisos
de remoção em até $1 milhão para cobrir os custos legais, caso a remoção
resulte em uma ação de violação de direitos autorais. Isso garante que esses
criadores de conteúdo tenham a oportunidade de proteger o trabalho deles e
torna o mundo da criação melhor ao ensinar as pessoas sobre a importância e
os limites do princípio do uso aceitável. (YOUTUBE, online)

Em paralelo ao que dispõe o site do Youtube, temos a legislação brasileira


especifica que trata sobre direitos autorais, e é de suma importância neste capitulo
voltarmos a ela para um contraponto. Vejamos o que diz o Art 46 da lei 9.610/98:

Não constitui ofensa aos direitos autorais, conforme o artigo 46 da Lei


nº. 9.610/1998:
“I- a reprodução:
a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo,
publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se
assinados, e da publicação de onde foram transcritos;
43

b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em reuniões públicas


de qualquer natureza;
c) de retratos, ou de outra forma de representação da imagem, feitos sob
encomenda, quando realizada pelo proprietário do objeto encomendado, não
havendo a oposição da pessoa nele representada ou de seus herdeiros;
d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de
deficientes visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita
mediante o sistema Braile ou outro procedimento em qualquer suporte para
esses destinatários;
e) a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado
do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;
f) a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de
comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou
polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do
autor e a origem da obra;
g) o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aquelas a quem
elas se dirigem, vedada sua publicação, integral ou parcial, sem autorização
prévia e expressa de quem as ministrou;
h) a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas, fonogramas e
transmissão de rádio e televisão em estabelecimentos comerciais,
exclusivamente para demonstração à clientela, desde que esses
estabelecimentos comercializem os suportes ou equipamento que permitam a
sua utilização;
I - a representação teatral e a execução musical, quando realizadas no recesso
familiar ou, para fins exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de
ensino, não havendo em qualquer caso intuito de lucro;
II - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas para reproduzir
prova judiciária ou administrativa;
III - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras
preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes
plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo principal da obra
nova e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida nem
cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores.”
(BRASIL, 1998).

O referido trecho, em especial o inciso III, é importante para que seja feita uma
analogia ao ambiente virtual que, ao tempo da publicação da lei, não contava com tanta
acessibilidade da população como atualmente. Por tanto, pode-se fazer uma reflexão
sobre a aplicabilidade deste artigo, pelo menos no Brasil, em ambiente digital. E, até
onde a publicação de conteúdo em mídias digitais com utilização, em parte, de material
de terceiros fere o direito autoral ou agrega valor à obra.

Assim, para entender até onde vai a abrangência da legislação em relação ao


conteúdo produzido e publicado nas mídias digitais iremos abordar brevemente a
proteção do direito autoral na internet.
44

4.3 A proteção do direito autoral digital

Um dos grandes empecilhos encontrados com a chegada e popularização da


internet foi pelo fato de a priori, não existirem fronteiras entre países no ambiente
digital. E isso dificultaria a regulamentação dos atos praticados nesse meio. Então, que
forma os autores encontraram para proteger suas criações no meio digital?

O grande compositor de trilhas sonoras Henrique Gandelman (1997) acredita que


as regras aplicadas as obras no mundo físico, também são passiveis de serem aplicadas
no ambiente digital, pois não será apenas uma conversão em bits que deslegitimara a
força de tais normas quanto a direitos autorais, até porque o núcleo da questão será
sempre a propriedade intelectual e não o ambiente que estas obras são reproduzidas.

Segundo o autor os direitos autorais “continuam a ter sua vigência no


mundo online, da mesma maneira que no mundo físico. A transformação de obras
intelectuais para bits em nada altera os direitos das obras originalmente fixadas em
suportes físicos" (GANDELMAN, 1997, P.154)

A respeito da aplicação de legislações antigas como o tratado de Berna, entre


outros, Samuel Barichello Conceição nos conta:

[...]ao final de 1996, chegou-se finalmente ao texto de dois tratados


internacionais sobre direitos autorais: o WIPO Copyright Treaty – WCT
(Tratado de Direito de Autor da OMPI) e o Wipo Performers and
Phonograms Treaty – WPPT (Tratado sobre Artistas Intérpretes e
Fonogramas). Enquanto o WCT tratou sobre direito de autor stricto sensu,
posicionando-se como um “Acordo Particular” à convenção de Berna, o
WPPT dispõe sobre a proteção dos fonogramas (gravações sonoras) e dos
artistas intérpretes em obras sonoras, excluída a parte audiovisual, servindo,
assim, na prática, como uma atualização das disposições da Convenção de
Roma de 1962 para os países que dela fazem parte. O processo de confecção
dos tratados deixou em aberto dois temas para o futuro: artistas intérpretes
em obras audiovisuais (que seria concluído, em 2012, em Pequim) e
radiodifusão (tema até hoje em discussão na OMPI). (2018)

O autor continua e ressalta:

Em linhas gerais, pode-se dizer que a estratégia adotada nos dois tratados
para evitar a reprodução e a utilização indiscriminada de obras, interpretações
e fonogramas protegidos por direitos autorais buscou replicar o modelo de
escassez vigente no mundo analógico para o mundo digital. Para tanto, além
dos tradicionais direitos aplicáveis àquele mundo, devidamente adaptados a
45

este último, como o direito à reprodução, à distribuição e comunicação ao


público, criou-se uma nova modalidade de uso de obras intelectuais no
âmbito dos direitos patrimoniais: a “colocação à disposição do público”, a
qual dispõe que o autor terá o direito de colocar as suas obras à disposição do
público de forma a torná-las acessíveis a membros do público a partir do
local e no momento por eles escolhidos individualmente. Com essa redação
buscou-se atingir a questão da interatividade do acesso, sendo que tal
modalidade de uso de obras, autônoma no caso do WPPT nasce, no caso do
WCT, vinculada ao direito de comunicação ao público, mas flexível ao ponto
de permitir aos países adaptarem as suas legislações como bem entendessem.
O importante é que esse uso fosse caracterizado como um direito exclusivo.
(CONCEIÇÃO, 2018)

Faz-se importante citar novamente a Lei 9.610/98, a LDA, mais especificamente


o capitulo I “Das Obras Protegidas”. Logo no caput do Art 7º é mencionado de forma
clara que “São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por
qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que
se invente no futuro” (BRASIL, 1998). Ou seja, quando se fala em “expressas por
qualquer meio” dar-se margem a interpretação de que a legislação alcança as
plataformas digitais. Logo, serão estas as obras protegidas pela LDA:

I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;


II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza;
III - as obras dramáticas e dramático-musicais;
IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por
escrito ou por outra qualquer forma;
V - as composições musicais, tenham ou não letra;
VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas;
VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao
da fotografia;
VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte
cinética;
IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza;
X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia,
engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;
XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais,
apresentadas como criação intelectual nova;
XII - os programas de computador;
XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários,
bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou
disposição de seu conteúdo, constituam uma criação intelectual. (BRASIL,
1998)
46

Segundo Costa (2021) a própria internet foi criada com o objetivo de buscar um
lugar ou espaço que fornecesse mais liberdade para criação. Porém, logo a web foi
demonstrando um poder de disseminação de informações e conteúdo, sem autorização
de titulares e autores, jamais visto. O resultado disso foi a máxima liberdade, sem
nenhum tipo de regulação, que por sua vez contribuiu com o aumento do medo de
pirataria etc. A partir daí começaram a surgir mecanismos para a proteção do direito
autoral no ambiente virtual para diminuir o impacto deixado pelo crescimento acelerado
da internet.

Um desses, no Brasil, segundo a autora, foi o próprio Marco Civil da Internet.


Mas que esse mesmo dispositivo ainda causa estranhamento por conter algumas
incoerências.

O próprio Marco Civil da Internet, datado de 2014, com o intuito de


preservação da neutralidade da rede e da liberdade de expressão, determina
em seu artigo 19 que os provedores de aplicações de internet somente serão
responsabilizados civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por
terceiros se, após ordem judicial específica, não tomarem providências para
torná-lo indisponível.    
E esse mesmo artigo 19, em seu parágrafo segundo, determina que sua
aplicação para casos de infrações a direitos de autor ou a direitos conexos
(direitos de intérpretes, produtores de fonograma e empresas de radiodifusão)
dependem de previsão legal específica — o que não existe até o presente
momento — e que tal legislação deverá respeitar a liberdade de expressão e
demais garantias fundamentais. (COSTA, 2021)

Ainda segundo as ideias de Costa (2021) a LDA tem como prioridade três
elementos essenciais, são eles, o criador de determinada obra intelectual, a empresa ou
associação que irá comercializar tal obra e o usuário desta obra, com foco nos dois
primeiros. Ocorre que com o passar do tempo, verificou-se a necessidade de dar uma
maior atenção ao usuário, visando a democratização do acesso à educação e cultura,
mas sem causar prejuízo aos direitos autorais do primeiro.

“Como se sabe, o repertório cultural é berço e estímulo à criação intelectual.”


(COSTA, 2021) 

A autora acredita na imediata necessidade de uma reforma na Lei de Direitos


Autorais, pois a considera importante a preservação de tais direitos, mas de mesmo
valor é a busca pelo acesso à cultura e informação. Eis suas palavras:
47

Desse modo, em meio a tantas questões que devem ser consideradas para
uma reforma justa e suficiente da atual Lei de Direitos Autorais, há de se
buscar o equilíbrio entre a proteção do direito autoral e o acesso à educação e
à cultura, há de se buscar um fino ajuste entre o combate à pirataria e a
proteção dos direitos fundamentais dos usuários da internet, e, antes de tudo,
há de se buscar o perfeito juízo entre a liberdade de expressão e livre
manifestação de pensamento e os também fundamentais direitos à
privacidade e à intimidade. (COSTA, 2021)

Na mesma linha de pensamento, Kauark e Cruz (2016) entendem que o Marco


Civil da Internet, ou MCI, como gostam de chamar , foi de fato um avanço muito
importante para a questão da regulamentação do comportamento de usuários no
ambiente digital, ao estabelecer princípios, garantias, direitos e deveres em seu texto.
No entanto, as autoras entendem que o dispositivo surgiu em contraposição à proteção
absoluta dos direitos do autor na internet.

Em outras palavras, como um equilibro entre o direito autoral e a liberdade de


expressão, visto que esta é um dos princípios elencados logo no inciso I do art 3º, da
referida lei, que por sua vez não menciona o direito autoral no rol destes princípios. O
MCI, segundo as autoras age como um dispositivo de proteção a liberdade de expressão
e de promoção a diversidade cultural e acesso à informação.

[...]Conforme pontuado ao longo das duas seções anteriores, são evidentes os


avanços trazidos pelo MCI na busca por um maior equilíbrio para a
coexistência desses direitos. Não obstante algumas lacunas, o MCI se
contrapõe em diversos aspectos às leis antipirataria e demonstra afastar-se da
tendência de maximização da proteção autoral.
No que toca à promoção da diversidade cultural mais amplamente, a inclusão
dos direitos culturais dentre os objetivos fundamentais do MCI possibilita
maior atuação estatal e demanda social por sua efetivação. Entretanto, seus
dispositivos deveras limitativos às questões do acesso e da inclusão digital,
somados à omissão de outros problemas incidentes sobre o acesso e
produtiva da cultura ainda encontram-se distante da crucial atualização das
políticas culturais na era digital[...] (KAUARK, CRUZ, 2016)

Corroborando com esta contraposição à proteção máxima ao direito autoral, é


importante ressaltar as palavras de Freitas e Santos:

A função social do direito de autor está esquecida no cenário jurídico


brasileiro. Caso a visão humanitária seja resgatada, não haverá dúvidas de
que o direito cultural e de acesso à informação serão aliados ao direito de
48

autor, e vice-versa. É mais que necessário deixar de lado visões


individualistas quanto a estes institutos e começar a considerar os interesses
da coletividade, o maior objeto de proteção estatal. (2013)

Por fim, com toda esta explanação foi possível alcançar uma boa reflexão acerca
da questão norteadora. Pois o direito autoral, seja no ambiente digital ou não, tem
respaldo jurídico para sua garantia, porém, diversas vezes entra em conflito com outros
direitos importantíssimos, como a liberdade de expressão e principalmente o acesso à
cultura e informação.

Nas mídias digitais, alguns usuários muitas vezes utilizam parte de material de
terceiros para produzir conteúdo e tornar a obra mais rica e contribuir com sua
disseminação e não necessariamente está agindo de má-fé ou visando somente lucrar em
cima de um trabalho alheio. Por isso, é necessário buscar um equilíbrio entre estes
direitos para alcançar o reconhecimento do autor e a função social da obra.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

“A primeira vez que interpretei Chapolin


Colorado tinha 41 anos e depois com
Chaves tinha 42. Nunca é tarde para
49

começar. E quero dizer isso especialmente


para as pessoas que dizem que não têm
oportunidades. Oportunidades sempre
existem.”
Roberto Gómez Bolaños

O presente estudo procurou fazer uma discussão a respeito da relação do direito


autoral no meio digital e a produção de conteúdo por terceiros. Após o crescente acesso
da sociedade à rede de internet, muitas pessoas passaram a produzir conteúdo neste
meio, porém, como parte desse conteúdo comportavam material autoral, gerou-se um
conflito a respeito dos limites entre direitos do autor e liberdade de expressão.
No decorrer desta pesquisa observou-se que o direito autoral tem raízes bem
antigas e foi conquistado por diversas frentes ao longo do tempo. No Brasil, os
primeiros registros dessa abordagem datam de agosto de 1827, com o decreto lei de
Dom Pedro I, que criou os primeiros cursos de ciências jurídicas no país, depois
passando pela lei Medeiros e Albuquerque, a qual foi a primeira lei a tratar de fato de
direitos autorais, até o código civil de 1916 que revogou a lei anterior, e em meados do
século XX, o tema finalmente esteve presente nos textos constitucionais, bem como na
lei de 1973, até a criação da lei 9.610 ou LDA, em 1998 ,que abordou o tema com ainda
mais precisão e clareza.
Como foi apurado nesta pesquisa, os direitos autorais não somente têm respaldo
ordinário pela LDA, como também constitucional, pelo art. 5 º da Carta Magna de 1988,
além de todas as convenções e tratados internacionais aos quais o Brasil é signatário.
Quando se fala em direito autoral, é possível aborda-lo no aspecto moral, ou
seja, aquele que compreende toda a abra em sua integridade, assim como a do próprio
autor, vinculando a criação ao criador; e o aspecto patrimonial que trata da
materialidade da obra, embasando as questões financeiras e de titularidade.
Ocorre que com o desenvolvimento do campo virtual, essas duas características
ficaram evidentes, visto a grande quantidade de pessoas passaram a gerar e publicar seu
próprio conteúdo na internet como vídeos, livros, áudio-books, podcasts, músicas etc.
Dessa forma se fez necessária uma forma de relacionar a legislação sobre direitos
autorais e o ambiente virtual.
No tocante ao Marco Civil da Internet, podemos afirmar que foi uma evolução
importantíssima para fazer um contraponto à forma como até então se tratava o direito
50

autoral no Brasil. Um importante equilíbrio no conflito entre a liberdade de expressão e


acesso à cultura e o direito que o autor tem sobre sua obra.
Diante de todas estas discussões a respeito destas questões relevantes ao debate
público, conclui-se que o direito autoral é fundamental para a expressão artística e
criativa do indivíduo, assim como a internet, apesar de sua carência de regulamentação
específica, é um ambiente fértil para novas ideias, novas obras, e estas serão,
futuramente, indispensáveis para a educação e a cultura brasileira. Irão compor a
identidade do Brasil.
Por isso, é necessário, pelo bem estar social, buscar uma harmonia entre o direito
autoral e a liberdade de expressão e o acesso à informação, cultura e principalmente
educação. Pois sabemos que uma sociedade é educada através de gerações e a geração
atual tem uma importante ferramenta para alcançar esse objetivo: a internet. O próprio
Immanuel Kant (1996) já dizia que "a educação é uma arte, cuja prática necessita ser
aperfeiçoada por várias gerações. Cada geração, de posse dos conhecimentos das
gerações precedentes, está melhor aparelhada". Portanto, quanto mais cedo começarmos
a aperfeiçoar esta ferramenta, mais cedo veremos uma sociedade esclarecida e educada.

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