1 Introdução
A origem da espectroscopia data de 1666, ano em que Isaac Newton utilizou pela primeira
vez o termo espectro para se referir a imagem produzida por um feixe de luz solar após atra-
vessar um prisma de vidro. Tal imagem colorida, também chamada de espectro contínuo, é
o resultado da decomposição de um feixe de luz policromatico em diferentes comprimentos de
onda (ou frequências) conforme representado na figura 1-a. Depois das observações de Newton,
até meados do século XIX, uma série de experimentos utilizando prismas foram propostos por
diferentes pesquisadores. O mais importante deles foi realizado por Joseph Fraunhofer, que ao
montar um prisma em frente a lente objetiva de um telescópio, constatou que a luz proveniente
do sol e de outras estrelas brilhantes (Sirius, por exemplo) apresentava linhas escuras sobrepos-
tas ao espectro contínuo de radiação da luz. Algumas décadas mais tarde, Bunsen e Kirchhoff
descobriram que, diferentemente da imagem da luz do sol decomposta num prisma, que parece
um arco-íris artificial, a luz emitida por elementos puros e isolados contém apenas algumas
cores bem definidas, denominadas linhas espectrais (veja figura 1-b). Portanto, o espectro dis-
creto de um determinado elemento funciona como uma espécie de impressão digital, e pode ser
utilizado para caracterizar os elementos químicos que compõem a natureza. Ao deduzirem que
as linhas escuras (também chamadas de linhas de Fraunhofer) encontradas no espectro solar
eram causadas pela presença de determinados elementos existentes nas camadas mais externas
do Sol, que absorviam parte da luz incidente, Bunsen e Kirchhoff foram capazes de explicar
os resultados anteriormente obtidos por Fraunhofer. Hoje em dia, sabemos que algumas das
faixas escuras observadas são causadas pela absorção da luz pelo oxigênio presente na atmosfera
terrestre. Na atualidade, a técnica de Espectroscopia Óptica tem um papel fundamental em
diversas áreas de pesquisa, tais como Astronomia e Astrofísica. Além disso, a utilização de
técnicas modernas, envolvendo diversos tipos de lasers com diferentes faixas espectrais, per-
mite estudar detalhadamente a estrutura dos átomos, e são importantes para verificar modelos
teóricos sofisticados que descrevem as propriedades eletrônicas de átomos e moléculas.
2 Conceitos Teóricos
Ao atravessar um prisma (ou uma rede de difração), a luz incidente sofre desvios, e devido à
diferença de percurso, pode atingir um ponto do anteparo com fases distintas, dando origem a
padrões de interferência. Além disso, ao atravessar uma rede com múltiplas fendas, interferên-
cias entre os feixes de luz provenientes de cada uma das fendas geram franjas de interferência
no anteparo. Portanto, quando uma onda é difratada por duas ou mais fendas, o padrão em um
anteparo é o resultado de uma mistura de ondas difratadas, sujeitas a interferências constru-
tivas e destrutivas. Os máximos (linhas espectrais) observados no anteparo seguem a relação
[1]
E = hν = E2 − E1 , (3)
onde h é a constante de Planck (h = 6.62607004 x 10−34 m2 kg/s), e ν a frequência da luz
emitida. Cada átomo só emite determinadas frequências de luz, uma vez que possuem níveis
de energia característicos com separações bem definidas. Sendo assim, o espectro de emissão
de luz de um átomo nos permite identificar um determinado elemento.
Apesar das limitações do modelo de Bohr, seus resultados para os níveis de energia do
átomo de hidrogênio são praticamente idênticos aos obtidos pela mecânica quântica. Ao propor
que os elétrons descrevem órbitas circulares quantizadas ao redor de um núcleo carregado
positivamente, Bohr determinou que a energia de um elétron ocupando o n-ésimo nível do
átomo de hidrogênio é dada por (em unidades de elétron-volt)
me4 13.6
E(n) = − 2 2 2
=− 2 , (4)
80 h n n
onde m = 9,11 x 10−31 kg e e = 1,6 x 10−19 C são, respectivamente, a massa e a carga do
elétron, e 0 = 8,85 x 10−12 C2 N−1 m−2 é a permissividade elétrica do vácuo. Note que a menor
energia possível de um átomo de hidrogênio (estado fundamental) é E(1) = -13.6 eV. A figura
2 representa esquematicamente o átomo de hidrogênio, e os decaímentos entre diferentes níveis
de excitação para o nível n = 2. O espectro tipíco de emissão correspondente a série de Balmer
se encontra na parte inferior direita da figura.
3 Objetivos
O principal objetivo desse experimento consiste na determinação dos comprimentos de onda
da radiação emitida por átomos de um elemento desconhecido.
4 Procedimento Experimental
O experimento será realizado utilizando duas lâmpadas distintas. O procedimento experi-
mental se encontra abaixo, separado em itens que devem ser seguidos na ordem proposta.
1. Meça a posição angular e as respectivas incertezas de cada uma das raias de primeira
ordem emitidas pela lâmpada de mercúrio. Note que o goniômetro é composto por duas
escalas. A escala fixa a base superior é fornecida em minutos (1◦ = 60 minutos), enquanto
a escala fixa a base inferior é fornecida em graus. Vamos assumir que as flutuações
estatísticas das medidas dos ângulos são muito menores que a incerteza do instrumento e,
portanto, podem ser desprezadas. Sendo assim, vamos considerar que σθ está associada
apenas a incerteza de leitura da escala do instrumento.
2. Considerando σθ = 3 minutos, calcule a incerteza relacionada ao seno do ângulo medido
para cada raia. Para tanto, utilize a relação:
σsen(θ) = cos(θ) σθ ; sendo σθ dado em radianos.
4. Usando o Excel ou algum outro software de sua preferência, faça um gráfico de “sen(θ) vs λ”
e ajuste uma reta aos dados experimentais. Certifique-se que os parâmetros encontrados
para a reta são compatíveis com os obtidos na planilha.
5. Meça as linhas espectrais fornecidas pela lâmpada que contém o elemento desconhecido.
Determine os valores de λ e suas respectivas incertezas σλ para as linhas espectrais ob-
servadas, utilizando para isso a reta de calibração obtida no item 3. Para calcular σλ é
necessário usar fórmulas de propagação de incerteza.
Tabela 1: Valores de λ (nm) na região do visível para diferentes elementos. Para mais infor-
mações, acesse https://www.nist.gov/pml/handbook-basic-atomic-spectroscopic-data.
H He Ar Na Ne
410.2 402.6 404.3 411.4 422.0
434.0 447.1 427.8 445.5 488.5
486.1 501.6 496.5 589.0 540.0
656.3 667.8 617.2 654.6 659.9
Referências
[1] Berkeley Physics Laboratory, (parts C and D), Mc Graw Hill, 1966.
[2] Eisberg e Resnick, Física Quântica: átomos, moléculas, sólidos, núcleos e partículas, Edi-
tora Campus, 1988.