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GENÉTICA

Filogénese

A filogénese traduz o conjunto de transformações biológicas que, na


interacção com o meio, conduzem ao aparecimento das espécies, à sua
diferenciação e extinção.
O processo de hominização, isto é, a passagem do hominídeo ao homem, é
um entre outros exemplos de filogénese. A evolução ocorre por mudanças e
mutações que se produzem ao longo de milhares de anos, proporcionando
melhores capacidades de adaptação e gestão dos recursos do meio

A antropogénese assenta num conjunto de características: o bipedismo;


locomoção bípede; a libertação da mão; o desenvolvimento cerebral, a
especialização e expansão do cérebro e a criação da cultura

Há quem considere que o bipedismo assinala o nascimento da humanidade. A


marcha vertical ou erecta foi determinante ao proporcionar um novo p.v. da
realidade e ao implicar uma diversidade de mudanças anatómicas: uma
nova curvatura da coluna o aumento da espessura da medula espinal,
alterações a nível respiratório e da laringe que levou ao surgimento da fala.

A não utilização dos membros superiores para a locomoção liberta-os para


outras actividades e a mão vai transformar-se num instrumento polivalente,
a oponibilidade do polegar proporciona condições de manipulação e
produção de objectos. Ora a produção de objectos exige competências
técnicas de produção, mas também a capacidade de inventar um objecto
com uma função para resolver problemas. O que levou ao desenvolvimento
cerebral, à sua complexificação e flexibilidade. A dialéctica pé-mão-cérebro
é a expressão desta evolução.

A nova posição do crânio proporciona novas dimensões ao seu locatário – o


cérebro. O cérebro evoluiu em volume e em complexidade neurológica
proporcionando capacidades de adaptação crescentes. O desenvolvimento do
córtex constitui a bases de funções específicas como a linguagem, a
criatividade, a dimensão simbólica, a curiosidade, o planeamento e a
capacidade técnica de transformação do meio.

Se a constituição biológica e genética com que chegamos ao mundo é a nossa


dimensão natural, a nossa dimensão cultural é constituída por todas as
informações adquiridas por aprendizagem cultural e transmitida pela
linguagem: conhecimentos, técnicas, hábitos, ideias, normas, valores e formas
de vida. Modos de ser, de estar, de se comportar característicos das diferentes
comunidades.
A evolução biológica conduziu à vida social organizada e à cultura. É por
esta que o ser humano se vai diferenciando das outras espécies animais e
integrando-se em grupos sociais cada vez mais amplos. A cultura é o
principal factor humanizador. Não há homem fora da sociedade. A

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linguagem constitui o elemento diferenciador na transmissão da cultura.
Embora também aprendam por imitação, os seres humanos aprendem,
fundamentalmente, pela linguagem. Pela linguagem é possível transmitir
informação sem que seja necessário o contacto directo entre os membros do
grupo. Os conteúdos culturais são transmitidos e herdados de geração em
geração, acumulando-se e assumindo grande variedade e diversidade,
riqueza e dinamismo.

O que é característica da espécie humana é que as adaptações são mais


culturais do que biológicas. A adaptação resulta da selecção natural, as
espécies que melhor se ajustam ao meio, melhor respondem aos problemas
sobrevivem e transmitem o seu património genético aos descendentes. As
mudanças genéticas perduram na medida em que forem eficazes para
assegurar a sobrevivência. A adaptação cultural prevalece sobre a
adaptação biológica. Pela cultura, o Homem, modifica o meio para torná-lo
mais favorável à satisfação das suas necessidades. Trata-se de uma
adaptação criativa e inventiva. O conhecimento e a técnica permitiram uma
adaptação mais cómoda ao meio, a descoberta do fogo e a sua utilização
para cozinhar produziu mudanças físico-químicas determinantes para a
evolução humana.

Por outro lado, somos a espécie em que se verificam menos traços de


condutas inatas e por isso tem maiores capacidades de aprendizagem e
exploração do meio. Temos grandes capacidades de aprendizagem,
exactamente porque temos que aprender tudo. Dependemos muito mais do
que adquirimos por aprendizagem e transmissão social e cultural do que o que
nos é dado. A evolução natural tem muito menos peso do que a evolução
cultural.

Somos jovens ao longo de toda a vida, porque a nossa capacidade de


aprendizagem e desenvolvimento ocorre até ao fim da vida. Somos seres
biológica e fisiologicamente inacabados ao nascer, esta falta de
acabamento permite um desenvolvimento em interacção com o meio e, por
isso, mais adequado, mais adaptado. A neotenia traduz este inacabamento
inicial e a juvenilização prolongada da nossa espécie, mas também a
plasticidade, flexibilidade do nosso património genético, por ser aberto às
influências ambientais e culturais, proporciona condições óptimas de
adaptação. Ao alongar o processo de maturação do nosso organismo dá-se
uma progressiva cerebralização e aquisição de competências para resolver
problemas. A lentificação no desenvolvimento proporciona o desenvolvimento
organizacional do cérebro.
Assim, a lentificação, juvenilização e neotenia da nossa espécie, o nosso
“inacabamento” em vez de ser um problema, acaba por ser a nossa maior
vantagem, já que é a condição de uma maior e melhor capacidade de
adaptação, maior diversidade e complexidade comportamental. Não temos
adaptações especializadas, mas antes diversificadas. Somos “adaptados ao
acaso”. A capacidade de aprendizagem é maior. Somos “programados” para
aprender. A nossa maior vantagem é a capacidade para modificar
aprendizagens efectuadas. A curiosidade é uma característica humana de

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exploração do meio, que se prolonga pela vida fora e que proporciona formas
progressivamente inovadoras de responder às mudanças do meio.

Somos uma espécie cujo programa genético é mais aberto. A determinação


genética, confere-nos essencialmente possibilidades e potencialidades, que
a interacção com o meio concretiza progressivamente.
Dependemos do que fazemos do que do que nos é dado. Todos nascemos
prematuros, no sentido em que não conseguimos sobreviver sozinhos. A
aprendizagem prevalece sobre os mecanismos inatos, fazendo de nós
seres em construção de si próprio na interacção com o meio. Dentro dos
limites inscritos na nossa dimensão genética e biológica, o nosso
desenvolvimento não tem limites.

No ser humano, muito mais do que em qualquer outra espécie a execução do


programa genético permite uma significativa influência do meio, da
aprendizagem, da educação e da experiência. A passagem do genótipo ao
fenótipo é realizada de forma maleável e flexível.

A relativa indeterminação biológica, o facto dos nossos comportamentos não


serem rigidamente controlados pela nossa herança genética, abre ao ser
humano a possibilidade da autodeterminação e torna-nos seres sociais e
culturais. Inacabados e desprotegidos pela natureza, cabe-nos a tarefa de
nos completarmos, de realizarmos o nosso projecto de existência, usando
a razão e a reflexão.

Ontogénese

Compreender o comportamento e os processos mentais implica ter


conhecimentos dos fenómenos biológicos relacionados com a nossa vida
psíquica. A biologia tem um papel determinante no modo como pensamos,
agimos e sentimos. A ontogénese dá conta dos processos biológicos
associados ao desenvolvimento de um indivíduo tendo em conta o seu
património genético, traduz o conjunto das transformações de um organismo
desde o ovo até à forma adulta (processo de evolução do indivíduo).

Cada ser herda dos seus progenitores um conjunto de informações e


instruções que condicionam as suas características. A essa transmissão
chama-se hereditariedade. É ela que define a natureza de cada ser. Torna
possíveis determinadas características e comportamentos e impossíveis outros
(ter asas e voar; ter escamas e nadar; ter cérebro e pensar)

A Genética é o estudo do modo como se dá a transmissão de traços


característicos de uma geração à seguinte, podem ser físicos ou
comportamentais. A hereditariedade é a transmissão destas características. A
genética do comportamento é o campo de investigação que pretende
compreender o efeito da hereditariedade no comportamento. Trata-se de

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dar conta da transmissão de características e estruturas biológicas que
influenciam e definem determinados padrões de comportamento.

O processo da transmissão genética dá-se pelo material da hereditariedade:


os cromossomas estão no núcleo das células e contém filamentos
entrelaçados de ADN; os genes são segmentos de ADN que dão instruções
para o desenvolvimento e funcionamento do organismo (está inscrito nos
genes que vamos ter um cérebro, pulmões, coração, etc.). Contudo, várias
características físicas que apresentamos resultam da interacção dos genes
com o ambiente interior do organismo e com o que acontece no ambiente
exterior em que o organismo vive (fenótipo).

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