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Segundo a lenda, a fundação de Roma teria tido lugar em 753 a. C.

Como um pequeno centro rural no


século VIII a.C. Dez séculos mais tarde, nos séculos II e III da nossa era, Roma já era um centro dum
vasto império que se estendia da Inglaterra, da Gália e da Ibéria à África e ao Próximo Oriente até aos
confins do império persa.

A história do direito romano é uma história de 22 séculos 1, do século VII a. C. Até ao século VI d.C., no
tempo de Justiniano, depois prolongada até ao século XV no império bizantino.

Esta longa história é igualmente dividida em três períodos, correspondendo a três regimes politicamenpte
diferentes:
 A Realeza (até 509 a. C. );
 A República (509 –27); e
 o Império;

O período imperial é também dividido em Alto Império (até à época de Diocleciano, em 284) e Baixo
Império (até à época de Justiniano, morto em 566), ao qual sucedeu o Império Bizantino.

Falar do Direito Romano, stricto sens, é falar do conjunto de normas jurídicas que vigoraram em Roma e
nos seus territórios desde o início (753 a. C.) até à morte de Justiniano, em 565.

Podemos notar que na origem, nos séculos VIII e VII a. C. Roma é dominada pela organização clânica das
grandes famílias, as gentes, bastante semelhantes às (clãs) gregas.

A autoridade do chefe de família é quase ilimitada, uma solidariedade activa e passiva liga entre si todos
os membros da gens; a terra, embora objecto de apropriação é inalienável.

Desde o começo da República,(século V antes da nossa era), a evolução precipitou-se pelo papel crescente
dos ple eus, provavelmente estrangeiros, comerciantes e agricultores, vivendo à margem da organização
das gentes. Os plebeus obtiveram pouco a pouco a faculdade de utilizar o mesmo direito privado que os
patrícios, ao mesmo tempo, esse direito privado tendia a romper com a solidariedade clânica.

Fontes do Direito Romano

As fontes do Direito Romano são o Costume, as Leis das assembleias e dos magistrados, os senatus-
consutuos, as constituições imperiais, as respostas dos jurisconsultos e os edictos dos magistrados

A) O costume. O antigo direito romano, como todo o direito arcaico, é essencialmente


consuetudinário: mos maiorum, consuetudo. Trata-se antes de mais dos costumes de cada clã,
mesmo de cada família; os mores gentis dizem respeito sobretudo ao casamento e ao nome. Mais
tarde, durante a República houve também os costumes de cidade, aos quais os costumes das
gentes estavam subordinados. Trata-se de um direito não escrito, mas que podia se encontrar
alguns traços nas leges regiae (leis reais), na lei das XVII Tábuas, nos éditos dos magistrados,
nos escritos dos jurisconsultos.

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GILISSEN, John, Introdução Histórica do Direito, Fundação Calouste Gulbenkian - Lisboa

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O costume permaneceu uma fonte do direito do ius civile, mesmo na época clássica do direito
romano2. Porém, convém sublinhar que na época clássica, as fontes do direito romano continuam
a ser a lei e o costume.

O costume foi sendo tendencialmente suplantado não só pela legislação – apesar de pouco
abundante – e sobretudo pelas duas fontes tipicamente romanas: o édito do pretor e os escritos
dos jurisconsultos.

B) A legislação

Ao que tudo indica, durante a época da realiza, não se desenvolveu actividade legislativa, nem no
começo da República, pois, a escrita era pouco conhecida. As leis reais (leges regiae) que a
tradição atribui a reis tais como Rómulo e Numa, o “rei legislador”, são mais decisões de
carácter religioso tomadas pelo rei na qualidade de chefe religioso.

A legislação desempenha um papel crescente como fonte do direito. Ela é constituída


sucessivamente pelas leges, pelos senatus-consultos e, sobretudo, pelas constituições imperiais.

As legis que emanam dos magistrados e das assempleias populares permanecem a única forma de
legislação no fim da República e no início do império. Do tempo de Augusto, por exemplo, datam
ainda várias leges Julia e (de adulteriis et de fundo dotale, de judiciis, de maritundis, ordinibus,
de tutoribus, etc.) - muito importantes.

O Imperador tornou-se progressivamente o único órgão legislativo.

As constituições imperiais distinguia-se em quatro categorias:

 Os éditos (edicta) – disposições de ordem geral, aplicáveis a todo o império (salvo


algumas excepções).
 Os decretos (decreta), julgamentos feitos pelo Imperador ou pelo seu conselho nos
assuntos judiciários, constituíam precedentes aos quais os juizes inferiores deviam
obediência em razão da autoridade de que emanavam.
 Os rescritos (rescripta), respostas dadas pelo Imperador ou pelo seu conselho a um
funcionário, um magistrado ou mesmo um particular que tinha pedido uma consulta sobre
um ponto de direito; em razão da autoridade do Imperador, eles terão valor de regras de
direito aplicáveis a casos análogos; suplantaram progressevamente os rescritos dos
jurisconsultos.
 As instruções (mandata) dirigidas pelo Imperador aos governadores de província,
sobretudo em materias administrativas e fiscais.

Além do ritual dos sacrifícios conteriam regras de direito privado e de direito penal, mas de
incidência religiosa. Não são leis, mas sobretudo costumes, talvez redigidos somente numa época
tardia (século I a.C.) mas atribuídas aos reis lendários.

Sob a República, a lei começa a entrar em concorrência com o costume como fonte de direito. O
termo lex é empregado num sentido bastante próximo da noção actual da lei.

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GILISSEN, John, Introdução Histórica do Direito, Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa. Considera-se como
época clássica do direito romano a que se estende do século II a. C..é um período durante o qual todo o mundo
mediterráneo é progressivamente submetido a Roma. Ao mesmo tempo, Roma abre-se às influências externas,
sobretudo às dos direitos grego e egípcio. A literatura procura mostra-nos que os Romanos parece, foram os
primeiros a consagrar obras importantes ao estudo do direito, os primeiros a sentir a necessidade de reduzir a escrito
as regras jurídicas.

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A lex – pelo menos as legis publicae – é um acto emanado das autoridades públicas e formulando
regras obrigatórias; definem-na como uma ordem geral do povo ou da plebe, feita a pedido do
magistrado: lex est generale iussum poppuli aut plebis, rugante magistratu.

Apenas os magistrados superiores – cônsules, pretores, tribunos, ditadores – tinham a iniciativa


das leis; propunham um texto (rogatio) que era afixado(promulgatio) durante um certo tempo. O
voto tinha lugar nos comícios

O magistrado que tivesse proposto a lei, defendia o seu projecto por vezes emendado, perante a
assembleia; esta podia rejeitá-la ou aceitá-la. Ao ser aceite, o magistrado que presidiu a
assembleia promulgava-a (renuntiatio); mas também podia suspender o voto, sobretudo por
motivos religiosos, e assim impedir a aprovação(abnutiatio).

Os prebescitos são actos legislativos obrigando os plebeus e aprovados pela sua assembleia. O
concilium plebis;

Temos a conhecida Lei das XII Tábuas. Foi um dos fundamentos do ius civile, embora
ultrapassada por outras fontes do direito, considerada em vigor até a época de Justiniano. Trata-
se de uma redacção confiada a dez comissários, os decemuiri em 451 –449 a. C., o texto original
gravado em doze tábuas, tendo sido afixado no fórum, mas destruido quando do saque de Roma
pelos Gauleses em 390.

C) Os éditos dos Magistrados

Os magistrados encarregados da jurisdição – pretores, edis curuis, governadores de províncias –


tinham – se habituado, quando da sua entrada em funções, a proclamar a forma pela qual contavam
exercer essas funções, nomeadamente em que casos eles organizariam um processo, atribuindo uma
acção ao queixoso. Há uma importância muito particular dos pretores.

O pretor actuava para a resolução de casos concretos. Contudo, surgindo casos semelhantes aos que já
tivesse resolvido, lógico era resolvê-los como haviam sido resolvidos anteriormente.

À medida que o pretor prometia uma acção, criava um direito de que os cidadãos se podiam
prevalecer. O pretor é quem reconhecia o direito, atribuindo uma acção – o meio processual.

Assim apareceu um ius praetorium, um direito pretoriano distinto do ius civile, constituído pelos
costumes e pelas legis.

Os éditos dos pretores foram uma das fontes mais originais do direito durante o último século da
época republicana.

D) Jurisprudência, os escritos dos jurisconsultos

No sentido romano, a jurisprudência era o conhecimento das regras jurídicas e a sua actuação pelo uso
prático. É antes aquilo que nas línguas novilatinas se designa por doutrina, porque a jurisprudência
designa nestas línguas o conjunto das decisões judiciais. Aqui, jurisprudência tem o sentido mais
próximo do sentido romano.

O Corpus Iuris Civilis

A legislação, obra dos Imperadores romanos, ficou a ser conhecida como a principal fonte de direito.
Nessa época, do direito romano clássico, assistia-se aos primeiros esforços de codificação.

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As mais importantes recolhas de leis são obras privadas, provavelmente redigidas em Beirute; o codex
Gregorianus, composto de cerca de 291, contém as constituições de 196 a 291; o codex Hermogentanus
foi elaborado pouco depois, em 295.

Dado carácter disperso e desactualizado das fontes romanas que determinaram a elaboração de algumas
colecções, em Bizâncio, o Imperador Justiniano fez empreender por uma comissão de dez membros
(nomeadamente, Triboniano e Teófilo), uma vasta compilação de todas as fontes antigas de direito
romano, harmonizando-as com o direito do seu tempo.

O Imperador Justiniano aproveitou inteligentemente bem as escolas jurídicas do Oriente, designadamente


as de Beirute, de Alexandria e de Constantinopla e os grandes mestres do Direito Antigo como
Triboniano, Teófilo e Doroteu para restaurar em toda a sua plenitude a tradição jurídica dos romanos, ao
mesmo tempo que procurou reconstituir a grandeza do império e instaurar em todo ele a unidade religiosa.

Ora, o referido conjunto de normas que se alude, encontra-se hoje, fundamentalmente reunido no chamado
Corpus Iuris Civilis – famosa e estraordinária compilação do Ius Romanum ordenada pelo imperador
Justiniano no século VI e considerada por muitos como a obra jurídica mais grandiosa de todos os tempos
e que é fonte principal para se conhecer o Direito Romano.
A compilação recebeu a referida denominação, Corpus Iuris Civilis porque em 1583 Dionísio Godofredo
assim o quis para o distinguir do Corpus Iuris Canonici (14336).

Apenas no aspecto jurídico Justiniano conseguiu os resultados pretendidos. Foi graças ao génio
empreendedor que o Direito Romano pôde ser trnsmitido à Idade Média e depois chegar até a nós.
Ora, conjunto das recolhas publicadas por Justiniano, ao qual mais tarde se deu o título de Corpus Iuris
civilis, compreende quatro partes3:

a) O Código (Codex Justiniani), recolha de leis ou constituições imperiais, que visava susbstituir o
Código Teodosiano; ao primeiro código de Justiniano, prublicado em 529 (texto perdido), sucedeu
um segundo código, em 534. O Codex está dividido em 12 livros; os livros estão divididos em
títulos e os títulos em constituições leis e estas em parágrafos.

b) O Digesto (Digesta ou Pandectas), de Dezembro de 533, uma extensa colecção de fragmentos de


obras de jurisconsultos notáveis, com a indicação do autor e livro de que procedem; uma vasta
compilação de extractos de mais de 1500 livros escritos por jurisconsultos da época clássica. Ao
todo, forma um texto de mais de 150 000 linhas. É a mais importante obra deixada, tendo
continuado a ser a principal fonte para o estudo aprofundado do direito romano. Um terço do
Digesto, é tirado das obras de Ulpiano.

c) As Instituições (institutiones Justiniani) de Novembro de 533, um manual elementar destinado ao


ensino do direito, que serve de introdução didáctica elementar às outras partes do Corpus Iuris
Civilis; Mas também são por si o direito vigente e obra muito mais clara e sistemática que o
Digesto, redigida por dois professores, Doroteu e Teófilo, sob direcção de Triboniano, tendo
Justiniano aprovado o texto e deu-lhe força de lei, em 533.

As Novelas (novellae ou leis novas: de 535 a 565, uma série de constituições novas ou Novelas (legis
novas), que foram promulgadas depois do Codex e que não chegaram a ser recolhidas numa colecção
oficial. Portanto, Justiniano continuou a promulgar numerosas constituições – mais de 150 -, depois da
publicação do seu Codex.

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GILISSEN, John, Introdução Histórica do Direito, Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa, citando
Th.MOMMSEN (Institutiones et Digesta), P.KRUGER (codex), r. SHOLLe N. CROLL(Novellae,19,ª
edição,Berolini,1954.

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As Novellae principiam geralmente por um preâmbulo, denominado praefatio onde se indicam as razões
das medidas tomadas; prosseguem com a parte dispositiva que é propriamente a nova lei (Novela) e
terminam por um epílogus onde se contém a fórmula de promulgação. As Novelas são citadas pelo seu
número e as mais extensas têm a parte dispositiva, dividido em capítulos ( e alguns capítulos estão ainda
subdivididos em parágrafos).

O Direito Romano, no sentido restrito é a tradição romanista; abrange o período de 15 séculos (séculos VI
A XXI), mas sobretudo o período que vai desde o fenómeno da “recepção do Direito Romano” até aos
nossos dias. Trata-se do mesmo Direito Romano enquanto vigente noutros povos e territórios, embora
com algumas alterações ou adaptações. Pode dizer-se hoje que o Direito Romano existe há 27 séculos (13
de vida e 15 de supervivência.

O Direito Romano lato sensu, compreende tanto o Direito Romano stricto Sensu como a tradição
romanista, Direito Romano lato sensu.

O ius civile é o direito dos cives, um direito fechado, privativo dos cives. Este direito só prevé a
regulamentação das relações entre os cives.

Os non-cives, os estrangeiros, os hostes, os pregrini, residentes em território romano moviam-ae fora da


órbita do Direito Romano.

Em 242 a. C. É criado o praetor preregrinus e inicia-ae a criação do ius gentium.

Em Roma nem todas as pessoas tinham capacidade. Os escravos eram meros objectos de seus donos ou
senhores. Esta situação terminou com a Constituição de Caracala, de 212 d. C. Que concedeu a cidadania
romana a todos os seus súbditos.

A Ordem Normativa

Quando abordávamos sobre o papel do Direito na Sociedade, tivemos o cuidado de nos referirmos à
necessidade de regras jurídicas como condição de subsistência da vida social, e portanto, porque viver é
conviver no sentido de Ubi societas, ibi jus.

Falámos da Ordem Social como implicando um complexo de normas propostas à observância dos
membros da sociedade.

É assim que a Ordem Social é uma ordem complexa, entrando na sua composição várias ordens
normativas que pautam aspectos diferentes da vida do Homem em sociedade, das quais se distinguem:

 Ordem jurídica;
 Ordem moral;
 Ordem religiosa;
 Ordem de trato social ou de cortesia.

Todas estas ordens se exprimem por regras que procuram moldar o comportamento das pessoas vivendo
em sociedade, podendo mesmo se afirmar que estes constituem fundamentos da vida social.

Ordem Jurídica

Podemos entender que o direito é uma ordem necessária à convivência dos homens em sociedade. Neste
sentido, encontramos a ordem jurídica a ordenar os aspectos mais relevantes dessa convivência social.

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Para além disso, as normas jurídicas são a criação do homem vivendo com outros homens, em sociedade
sendo de obediência obrigatória. Consistem na vinculação a uma dada conduta, positiva ou negativa,
actual ou virtualmente exigível a alguém.

A ordem moral é uma ordem de conduta que visa o aperfeiçoamento do indivíduo, dirigindo-o para o
bem, e que só reflexamente influencia a organização social.

A ordem moral caracteriza-se por um conjunto de imperativos ao Homem pela sua própria consciência
ética, de tal modo que o seu incumprimento é, primeiro que tudo, sancionado

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