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LICENCIATURA DE ANTROPOLOGIA
2020/2021
2º ano, 1º semestre
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Catarina Lemos
Carolina Lopes
Livaldo Dalva
Victor Barreiras
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Turma: LAB1
Docente: Francisco Vaz da Silva
Data: 17 Novembro 2020
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ATELIER 6
Etnografia
e ficção
LEITURAS ETNOGRÁFICAS | A6: ETNOGRAFIA E FICÇÃO
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INTRODUÇÃO
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CARLOS CASTANEDA
De meados de 1960s até o início da década seguinte, os EUA são palco de uma
das maiores transformações sociais do século XX. A luta pelos direitos cívicos, os
assassinatos de Martin Luther King e Malcom X. A crescente oposição e manifesta-
ções contra a guerra do Vietname. A revolta da juventude contra a sociedade con-
servadora americana. A emergência do movimento hippie e o flower power. A "des-
coberta" das filosofias orientais, a adesão ao misticismo, a procura da essência da
verdade e da existência. A espiritualidade do New Age. Sex, drugs & Rock n'Roll.
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Os ensinamentos de Don Juan parecem ser a resposta espiritual que muitos pro-
curavam. Os livros respondem sobre a capacidade de alcançar outra realidade de
conhecimento. O sucesso dos livros, o interesse etnográfico do shamanismo e a
crença no esotérico e no misticismo fez muita gente procurar Don Juan. Alguns an-
tropólogos intensificaram os seus estudos do shamanismo. Vários seguidores do
misticismo ou meros hippies foram à procura da droga perfeita.
A dissertação que lhe concedeu o doutoramento em Antropologia pela UCLA,
em 1973, é fruto desse longo trabalho de quase uma década, cujo apuramento aca-
démico e antropológico surge num terceiro livro. “Journey to Ixtlan” reúne tudo
de novo, mas Castaneda rescreve a história à luz de uma nova interpretação que faz
da sua experiência. Apesar de algumas dúvidas levantadas e manobras evasivas de
Castaneda, passa a ser material científico reconhecido.
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DENÚNCIA
Richard de Mille, leitor curioso como tantos de "Os Ensinamentos de don Juan",
começa a encontrar inconsistências nas narrativas. Entretanto, em 1974, Castaneda
lança um quarto volume da saga de don Juan, "Tales of Power". Perplexo, a sua cu-
riosidade debruça-se sobre erros e plágios que vai sucessivamente identificando, e
denuncia a obra de Castaneda como um logro antropológico. Primeiro com o livro
"Castaneda's Journey: The Power and the Allegory" (1976) e, depois em "The Don
Juan Papers: Further Castaneda Controversies" (1980), acompanhado de forma
muito inteligente por defensores da fraude e apoiantes de Castaneda.
O escrutínio a Castaneda levanta imensas controvérsias entre a comunidade ci-
entífica e leigos apaixonados pela obra. A veracidade dos livros é questionada, põe-
se em causa o método etnográfico de Castaneda. Segundo Richard de Mille, muitos
antropólogos publicamente questionaram ou negaram a factualidade das obras.
Foram comparadas às "Viagens de Gulliver", possuíam "elevada percentagem de
imaginação", duvidou-se da existência de don Juan, considerou-se "mais obra artís-
tica que académica", que a história de Don Juan é uma "pseudo-etnografia". O etno-
botânico Gordon Wasson cheirou-lhe a embuste logo à primeira leitura.
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AUTENTICIDADE E VALIDADE
Perguntas
- O que é autêntico e o que é válido? Como distingui-los?
- Uma obra pode ser inautêntica e ser válida?
- Como entender um trabalho autêntico mas inválido?
- Como determinar o valor científico mediante estas duas componentes?
- Afinal, como se faz ciência se factos e fontes não são credíveis?
- Pode a mensagem por si só proporcionar a validade
do que se quer reconhecer?
- Como se escreve uma monografia etnográfica, sem colocar em causa
a sua validade e autenticidade?
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Respostas
Uma obra é válida quando a mensagem é verdadeira.
É válida quando os factos relatados têm lógica narrativa.
Validade só se obtém com observação autêntica e correcta descrição.
Uma etnografia só é considerada autêntica se não possuir contradições,
erros, falsidades.
A autenticidade advém do respeito à proveniência do relatório,
do procedimento, e da correcta descrição dos factos recolhidos.
Não há autenticidade quando o leitor é enganado com os factos expostos.
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FACTO OU FICÇÃO?
Uma obra etnográfica não pode ser ficção? Se os factos descritos forem correc-
tos, será razão para a assumirmos menos autêntica, ou suficientemente inválida?
Pode dizer-se que todo o facto descrito é uma ficção, se as palavras que lemos
são a interpretação do autor. Mas se aproximarmos todos os livros a uma ficção, os-
tentar o mérito de uma validação científica será abusivo?
Não é o estilo literário de ficção que incomoda Richard de Mille, longe disso. No
seu segundo livro, ele dá exemplos específicos em como narrativas foram anteri-
ormente escritas de forma criativa (leia-se, ficcionada) cujos dados descritos são
etnograficamente correctos. O problema é quando se vende gato por lebre, e alega-
se etnografia quando tudo se revela pura invenção.
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BIBLIOGRAFIA
CASTANEDA, Carlos
A Erva do Diabo, Os Ensinamentos de Don Juan
1968. Rio de Janeiro: Editora Record, 15ª edição, 2000. Edição ePub
The Teachings of Don Juan, a Yaqui Way of Knowledge
1968. Edição ePub *
Journey to Ixtlan, The Lessons of Don Juan
1972. Edição ePub *