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Ou
estaremos demasiado apegados ao
consumismo?
Neste primeiro capítulo, o autor pergunta-se de onde viemos e para onde vamos. No
entanto, tudo o que nos vai na mente no dia a dia é o que vamos comer ao jantar,
mostrando a ideia de que o ser humano é imediatista e plano. Latouche descreve o
decrescimento como sendo algo cuja principal meta é enfatizar o abandono do
crescimento ilimitado, mas que, no entanto, alerta para a possível catástrofe na taxa de
crescimento negativo. Não nos podemos esquecer que, se numa sociedade trabalhista
não houver trabalho, então numa sociedade de crescimento não vai haver crescimento
(p.5).
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No subcapítulo “A batalha das palavras e das ideias”, Latouche faz notar que para
muitas pessoas o decrescimento é sinónimo de desenvolvimento sustentável, isto porque
o desenvolvimento sustentável está a par da ideia de “conservar lucros e evitar a
mudança de hábitos quase sem alterar o rumo” (p.10). Nesta perspetiva, o autor
reconhece que as diferenças entre desenvolvimento e crescimento devem ser
colonizadas, a fim de descolonizar a ideologia atual.
Não se trata de voltar à Idade da Pedra, tampouco se trata de uma inversão mecânica do
crescimento. Procura-se no decrescimento uma sociedade autónoma, certamente mais
sóbria e sobretudo mais equilibrada, porque a situação do planeta é uma situação
delicada, como todos sabemos. O autor afirma igualmente que o crescimento económico
excessivo fez com que nós passássemos a viver do crédito, sendo até necessário outros
planetas pagarem a dívida da insustentabilidade. A sociedade de consumo segue este
caminho (da insustentabilidade). Dito isto, a solução encontrada por Latouche seria a
redução da população do planeta. A pergunta que faço é: Seria esta uma forma viável de
restaurar a equação da sustentabilidade? A resposta é certamente que não. É um facto
que um planeta finito, como a Terra, é incompatível com uma população infinita (p.32).
Assim, a proposta de redução da população do planeta é falsa, sendo o mais correto a
administração dos recursos disponíveis com equidade. Latouche diz ser este o desafio
do decrescimento.
Avançando pelo livro, no capítulo II, o autor explica que o processo de decrescimento
possui etapas que passam por ser um círculo de transformação, ou seja, passam por oito
erros, oito mudanças interdependentes que se reforçam mutuamente. Ele demonstra
estes oito erros como sendo uma receita de sucesso para alcançar o equilíbrio
económico e ambiental, utilizando premissas sendo essas: fazer de outra forma o que
tem vindo a ser feito, aprender a realidade, mudar valores, gerir os limites da natureza,
pensar e agir localmente, recuperar a ancoragem territorial, diminuir e limitar o
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consumo, repetir o uso para aumentar a vida útil, entre outras. Depois de reconhecer
esses oito erros necessários para o decrescimento, o autor evidencia três erros
primordiais, a reavaliação, a relocalização e a redução, garantindo as condições
necessárias para a utopia concreta do decrescimento.
O decrescimento tem a sua origem nos países do hemisfério sul, mais precisamente na
África, onde o decrescimento da pegada económica e o PIB não são desejáveis.
Latouche, perante estes factos, tentar aplicar o decrescimento no hemisfério descrito
acima é provocar um movimento em espiral para se colocar na órbita do círculo virtuoso
dos oito erros, sejam esses: reavaliar, redistribuir, reestruturar, relocalizar, reduzir,
reutilizar e reciclar.
É importante salientar que o decrescimento não deve ser entendido como um possível
retrocesso da humanidade, mas sim como uma mudança no estilo de vida da sociedade,
de modo a transcender um simples reparo do sistema que vigora. Posto isto, o
decrescimento implica compreender uma forma de produção e consumo excessivos
presentes no quotidiano da sociedade atual. Assim, Latouche afirma que o projeto do
decrescimento tem uma visão revolucionária, visto que se trata de uma mudança de
ordem cultural, bem como das estruturas jurídicas e das relações de produção, tendo em
vista uma melhor qualidade de vida para a sociedade e para a sobrevivência do planeta.
Tratando-se de um projeto político, obedece mais à ética do que à convicção (p.92).
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Chegando ao final do livro, percebemos que o decrescimento se situa numa conceção de
uma ecologia profunda, que evoca a inclusão do componente ecológico nos projetos
políticos nas suas mais variadas dimensões, seja económica, social ou cultural, uma vez
que o decrescimento é compreendido por Latouche como “filosofia fundadora de um
projeto de sociedade autónoma.” Numa sociedade na qual a tendência industrial possui
uma certa força, o decrescimento apresenta-se como um fator adverso ao crescimento
vigente e ao sistema capitalista que impera de forma global. No entanto, apesar de toda
a força que o capitalismo possui e diante dos desequilíbrios enfrentados pela sociedade
contemporânea, o decrescimento é uma resposta positiva no que toca à mudança de
postura da sociedade e das relações com o planeta. “Pequeno tratado do decrescimento
sereno” é um livro que nos leva a refletir a dualidade crescimento e decrescimento, e
estimula a uma discussão profunda.
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- E por fim as sociedades ocidentais, que são dependentes do consumo excessivo, em
geral não percebem a progressiva perda de riquezas, como a qualidade de vida.
Para Latouche, o PIB é uma medida somente parcial da riqueza, como já referi, e se se
pretende restabelecer toda uma variedade de riquezas possíveis, é preciso deixar de
utilizar o PIB como orientação. Para isso, estes teóricos defendem a utilização de outros
indicadores, tais como IDH, a “pegada ecológica” e o Índice de Saíde Social. Esta é
uma visão do futuro onde as sociedades possam viver dentro das suas possibilidades
ecológicas, com economias abertas, mas localizadas, em que os recursos sejam
distribuídos de uma forma mais equilibrada, através de novas formas de instituições
democráticas. Desta forma, as sociedades já não serão obrigadas a “crescer ou morrer”,
e a acumulação de bens materiais deixará de ser predominante no imaginário cultural.
No seu livro, Latouche refere algumas fezes o conceito de ecologia política. Ecologia
política é o estudo da relação (harmoniosa ou não) entre os grupos sociais e o
ecossistema em que estão inseridos. Alguns desses grupos encontram-se com bastantes
recursos, enquanto outros sofrem com a poluição. Alguns cientistas acreditam que a
noção de ecologia política se insere no ramo da biologia, enquanto outros consideram
que ecologia política é uma interdisciplina com a geopolítica. No entanto, esta disciplina
refere-se à influência da sociedade, do estado, e das empresas (nomeadamente as
transacionais) na criação de problemas ambientais e também na conceção e
implementação de políticas ambientais. Brevemente, a ecologia política propõe-se a
contribuir para:
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- Entender as decisões das comunidades sobre o ambiente natural, considerando o seu
contexto político, a pressão económica e as regras da sociedade;
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Referências
Latouche, Serge, 2011, Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno, Ed.70, Lisboa