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Dis Ppgletras 2018 Muders Barbara
Dis Ppgletras 2018 Muders Barbara
Bárbara Muders
Santa Maria, RS
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Bárbara Muders
Santa Maria, RS
2018
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DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida, por iluminar os meus caminhos e dar força para seguir
em busca dos meus sonhos.
Aos meus queridos pais, Davi e Marinita, pelo apoio incondicional, pelas palavras de
incentivo, de ajuda e por sempre acreditarem que conseguiria alcançar este objetivo.
Obrigada pela amizade, pelo companheirismo, pelos ensinamentos e pelos
exemplos de vida. Minha eterna gratidão.
Ao meu querido noivo Éverton, por sempre estar ao meu lado, me apoiando em
todos os momentos. O seu companheirismo, a sua ajuda, o seu amor e a sua
paciência foram determinantes para a realização deste sonho. Obrigada por estar ao
meu lado e fazer parte desse momento.
À querida amiga Natiele, pelo carinho e pela ajuda prestada ao longo do mestrado.
(Paulo Freire)
26
27
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo identificar se o professor de Língua Portuguesa revela que se
apropria do Livro Didático como um instrumento de ensino. Adotamos, neste trabalho, a perspectiva
teórica do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), com referência a Bronckart (2012), Machado (2007,
2009) e Machado e Bronckart (2009). Essa concepção volta-se para um estudo sobre a linguagem
em sua relação com as ações humanas. Os procedimentos metodológicos que orientam esta
pesquisa estão voltados para a análise de textos, com o intuito de compreender as diversas formas
de agir dos seres humanos, em específico o trabalho docente, conforme a perspectiva do ISD
explicitada em Machado e Bronckart (2009). Para atingir nosso objetivo, partimos da situação de
trabalho de duas professoras de escolas públicas de um município do interior do estado do Rio
Grande do Sul. O município possui duas escolas – uma municipal, com Ensino Fundamental
completo, e outra estadual, com Ensino Fundamental e Médio. A partir desse contexto de pesquisa,
realizamos entrevistas com duas professoras de Língua Portuguesa que ministram aulas no 9º ano do
Ensino Fundamental das respectivas escolas. Essas entrevistas foram analisadas a partir dos
pressupostos teóricos de Bronckart (2012) e Machado e Bronckart (2009), no que diz respeito aos
aspectos de produção do texto e dos três níveis de análise, a saber: o organizacional, o enunciativo e
o semântico. Apoiados nesses pressupostos, essa pesquisa possibilitou concluir que as professoras
não revelam com clareza como é feita a utilização do Livro Didático, se há de fato a apropriação
desse material enquanto um instrumento de ensino. Contudo, esse estudo trouxe contribuições para
o trabalho do professor de Língua Portuguesa. A principal contribuição é o fato de termos dado voz
ao professor, pois é ele o principal interlocutor do Livro Didático, o responsável pelo desenvolvimento
de práticas de ensino com o uso desse material. Ademais, essa pesquisa possibilitou uma
compreensão sobre o processo de escolha e distribuição dos Livros Didáticos, apontando para as
dificuldades enfrentadas pelos docentes no âmbito dessa ação. Por fim, revelou as complexidades
que envolvem o trabalho docente, demonstrando que as ações desempenhadas por eles são
resultado da interação com outros fatores - sistema educacional e sistema de ensino - e de outras
atividades sociais – políticas, culturais e econômicas – que acabam influenciando as instituições de
ensino e provocando transformações tanto no ambiente educacional, como em toda a sociedade.
RESUMEN
El presente trabajo tiene como objetivo identificar se el profesor de Lengua Portuguesa revela que se
apropia del Libro Didáctico como un instrumento de enseñanza. Adoptamos, en este trabajo, la
perspectiva teórica del Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), con referencia a Bronckart (2012),
Machado (2007, 2009) y Machado y Bronckart (2009). Esa concepción se vuelve para un estudio
sobre el lenguaje en su relación con las acciones humanas. Los procedimientos metodológicos que
guían esta investigación están orientados para el análisis de textos, con el objetivo de comprender las
diversas formas de actuar de los seres humanos, en específico el trabajo docente, conforme la
perspectiva del ISD explicitada en Machado y Bronckart (2009). Para alcanzar nuestro objetivo,
partimos de la situación de trabajo de dos profesores de escuelas públicas de un municipio del interior
del estado del Rio Grande do Sul. El municipio posee dos escuelas – una municipal, con Enseñanza
Fundamental completa, y otra estadual, con Enseñanza Fundamental y Media. A partir de ese
contexto de pesquisa, realizamos entrevistas con dos profesoras de Lengua Portuguesa que
ministran clases en el 9º año de la Enseñanza Fundamental de las respectivas escuelas. Esas
entrevistas fueron analizadas a partir de los presupuestos teóricos de Bronckart (2012) y Machado y
Bronckart (2009), en lo que dice respecto a los aspectos de producción del texto y de los tres niveles
de análisis, a saber: el organizacional, el enunciativo y el semántico. Apoyados en esos
presupuestos, esta investigación nos posibilitó concluir que las profesoras no revelan con clareza
como es hecha la utilización del Libro Didáctico, si ocurre de hecho la apropiación de ese material
como un instrumento de enseñanza. Sin embargo, el presente estudio ha traído contribuciones para
el trabajo del profesor de Lengua Portuguesa. La principal contribución es el hecho de que hemos
dado voz al profesor, pues es el principal interlocutor del Libro Didáctico, el responsable por el
desarrollo de prácticas de enseñanza con el uso de ese material. Además, esta investigación
posibilitó una comprensión sobre el proceso de elección y distribución de los Libros Didácticos,
apuntando para las dificultades enfrentadas por los docentes en el ámbito de esa acción. Por fin,
reveló las complexidades que envuelven el trabajo docente, demostrando que la acciones
desempeñadas por ellos son resultado de la interacción con otros factores – sistema educacional y
sistema de enseñanza - y de otras actividades sociales - políticas, culturales y económicas – que
acaban influenciando las instituciones de enseñanza y provocando transformaciones tanto en el
ambiente educacional, como en toda la sociedad.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 15
2 O INTERACIONISMO SOCIODISCURSIVO: AS ORIGENS DE SEU
DESENVOLVIMENTO .............................................................................................. 23
2.1 INTERACIONISMO SOCIAL – CONTRIBUIÇÕES DE VYGOTSKY ............ 23
2.2. O INTERACIONISMO SOCIODISCURSIVO ................................................ 30
3 TRABALHO DOCENTE: O ISD NO BRASIL .............................................. 38
3.1 A CONSTITUIÇÃO DO TERMO TRABALHO ............................................... 38
3.2 TRABALHO DOCENTE ................................................................................ 41
4 O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL ................................. 51
4.1 O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: FATORES HISTÓRICOS E
DESENVOLVIMENTO DO LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL ...................................... 51
4.2 OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCNS) ....................... 56
4.3 O PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO (PNLD) ......................... 60
5 METODOLOGIA........................................................................................... 67
5.1 CONTEXTO DE PESQUISA ........................................................................ 67
5.2 PROCEDIMENTO DE COLETA DOS DADOS: ENTREVISTAS .................. 70
5.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE: ORGANIZACIONAL, ENUNCIATIVO E
SEMÂNTICO ............................................................................................................. 72
5.3.1 Contexto de produção ................................................................................ 72
5.3.2 Nível organizacional ................................................................................... 74
5.3.3 Nível enunciativo ........................................................................................ 78
5.3.4 Nível semântico .......................................................................................... 79
6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ............................................ 82
6.1 ANÁLISE DO CONTEXTO DE PRODUÇÃO ................................................ 83
6.1.1 Mundo físico ............................................................................................... 83
6.1.2 Mundo sociossubjetivo .............................................................................. 84
6.2 ANÁLISE DO NÍVEL ORGANIZACIONAL.....................................................85
6.2.1 Plano global do texto ................................................................................. 85
6.2.1.1 Tópicos das entrevistas com as professoras................................................. 85
6.2.1.2 Actantes presentes na entrevista com a professora Ana .............................. 87
6.2.1.3 Actantes presentes na entrevista com a professora Patrícia......................... 88
6.2.2 Os tipos de discurso .................................................................................. 89
40
1 INTRODUÇÃO
[...] o manual didático é um dos poucos gêneros de impresso com base nos
quais parcelas expressivas da população brasileira realizam uma primeira –
e muitas vezes a principal – inserção na cultura escrita. É também um dos
poucos materiais didáticos presentes cotidianamente na sala de aula,
constituindo o conjunto de possibilidades a partir do qual a escola seleciona
seus saberes, organiza-os, aborda-os.
ISD, no que concerne ao contexto de produção e aos três níveis de análise, a saber:
o organizacional, enunciativo e o semântico.
Diante do que foi mencionado, ao realizar esta pesquisa, buscamos refletir
sobre a representação do trabalho docente a partir do uso do Livro Didático. Isso
possibilitará um olhar diferenciado sobre o ensino de língua materna, olhar esse que
considera o trabalho docente, as experiências, as práticas e as opiniões reveladas
pelos professores sobre o ensino de Língua Portuguesa e sobre seus trabalhos
tendo como referência o Livro Didático.
23
vai construindo novas formas de interação social. Se na fase inicial, “pensar significa
lembrar”, para um estágio mais avançado, durante a adolescência, “lembrar significa
pensar”. Isso é uma evolução que ocorre ao longo do desenvolvimento dos seres
humanos, uma vez que as funções cognitivas passam de um processo de lembrança
de um elemento isolado para um processo complexo, em que são desenvolvidos
conceitos abstratos e novas formas de representar e compreender o mundo
(VYGOTSKY, 1998, p. 67).
Para exemplificar esse processo de memorização, muitas vezes utilizamos
determinados objetos que servirão para outros fins, como para recordar alguma
informação que não poderá ser esquecida em determinado momento. Essa prática é
característica das formas superiores de comportamento, uma vez que “os seres
humanos lembram alguma coisa” (VYGOTSKY, 1998, p. 68) com o auxílio de
instrumentos. Nesse processo, o objeto é ressignificado, recebendo outro sentido e
outra função interna. Apesar disso, o elemento não deixa de ter a sua concretude,
apenas é modificada sua forma de ação.
Considerando esses fatos, o processo de memorização ocorre com o auxílio
dos instrumentos psicológicos, que servem de ligação entre um estímulo e uma
resposta, contribuindo para as atividades psíquicas dos sujeitos. De fato, os
instrumentos psicológicos servem de orientação para os indivíduos. Parece-nos, em
um primeiro momento, que apenas os signos podem ser considerados como
instrumentos psicológicos. No entanto, Vygotsky considera que todos os elementos
da realidade podem se tornar um instrumento. Isto é, os objetos materiais, ao serem
transformados pelo sujeito, podem representar um instrumento psicológico. Friedrich
(2012) pressupõe que o instrumento psicológico é um elemento artificial, apresenta
uma natureza social e está direcionado para o controle do comportamento psíquico
do sujeito.
Com base nisso, Vygotsky (1998) parte de um princípio que considera uma
transição do social para o psíquico. Tendo em vista esse fundamento, o autor
considera as funções psicológicas superiores, que são constituídas com o auxílio
dos instrumentos, como o elemento capaz de propiciar uma interação do sujeito com
o meio social e do mesmo modo contribuir para a transformação do meio e do
próprio sujeito. Com isso, Vygotsky (1998) aponta o papel fundamental do signo,
enquanto instrumento capaz de propiciar essa interação do homem com o meio
26
social. Da mesma forma, quando passa a ser internalizado, o signo contribui para o
pensamento consciente do sujeito, ou seja, para a capacidade do sujeito de
organizar e elaborar suas próprias ações e agir sobre o meio social, modificando o
ambiente externo e a si mesmo.
É nesse processo de mediação, de coordenação das ações humanas, que
ocorre a internalização da linguagem. Essa internalização é fruto da uma mediação
dos signos linguageiros, passando ao sujeito o equilíbrio do seu próprio
comportamento. Luria (2006) ressalta que conforme a criança cresce, vai dispondo
de capacidades que a tornam apta a internalizar as informações. As referências
externas passam a ser internalizadas, contribuindo, assim, para o desenvolvimento
do pensamento consciente do sujeito.
A fim de descrever as origens desses estudos de Vygotsky (2000), partimos
do pressuposto de que a linguagem e o pensamento apresentam inicialmente raízes
genéticas distintas. O que se tem é uma linguagem pré-intelectual e um pensamento
pré-verbal. Esse período envolve as primeiras reações da criança, como choros e
balbucios. Nesse processo, ainda não há uma relação com os signos, por isso o
pensamento e a linguagem são considerados como fatores distintos. Quando os
signos são representados, a linguagem e o pensamento passam a estar
relacionados e isso resulta em uma nova fase de desenvolvimento, em que o
significado da palavra será considerado como a unidade do pensamento e da
linguagem.
Para Vygotsky (2001), o significado da palavra se desenvolve, não
permanece estático e imutável. Em outras palavras, “o significado da palavra é
inconstante. Modifica-se no processo do desenvolvimento da criança. Modifica-se
também sob diferentes modos de funcionamento do pensamento. É antes uma
formação dinâmica que estática” (VYGOTSKY, 2001, p. 408). Como resultado desse
processo, o autor considera que se o significado da palavra se modifica em seu
interior, também ocorre uma modificação entre o pensamento e a palavra. Por sua
vez, o pensamento e a palavra são vistos enquanto processos em desenvolvimento,
pois compreendem diversos estágios e impulsionam diversas transformações nos
seres humanos.
A partir dessas considerações, Vygotsky (2000) atribui uma designação para
a estrutura interna da linguagem. Para compreender essa estrutura, o autor parte do
27
O ISD é uma corrente teórica que está fundamentada nas noções gerais do
Interacionismo Social, construído por Vygotsky. Como já foi anteriormente
mencionado, o Interacionismo Social contraria os princípios teóricos de Piaget,
conforme o qual o comportamento humano é fruto de elementos biológicos, que
auxiliam no seu desenvolvimento. Ainda, opõe-se a Piaget no que concerne à
evolução dos seres humanos, pois o mesmo autor considera que esse processo é
oriundo de um individualismo, ou seja, que só à medida que os sujeitos crescem
desenvolvem princípios de ordem social e cultural (BRONCKART, 2006, p. 100).
Contrariando os princípios teóricos de Piaget, o Interacionismo Social
inscreve-se em uma corrente teórica que valoriza as relações existentes entre os
seres humanos e os aspectos de ordem social. Isto é, passa a se constituir enquanto
uma perspectiva voltada para os aspectos que compõem a ontogênese do
pensamento consciente (BRONCKART, 2006, p. 100), compreendida como a
história dos sujeitos, o processo de desenvolvimento humano e de domínio de seu
comportamento.
Aderindo a esses princípios fundadores do Interacionismo Social, o ISD é
uma corrente teórica que teve seu início na década de 1980, a partir de um grupo de
pesquisadores da Unidade de Didáticas de Línguas da Faculdade de Psicologia e
Ciências da Educação da Universidade de Genebra. Esse grupo de pesquisadores,
31
constituído por Bernard Schneuwly, Daniel Bain, Joaquim Dolz, Itziar Plazaol, sob a
coordenação de Jean-Paul Bronckart, desenvolveram um amplo programa de
pesquisa em que consideraram como referência maior o quadro de desenvolvimento
humano de Vygotsky e Bakhtin, no que concerne ao campo da linguagem. De
acordo com Guimarães e Machado (2007, p. 10), “esses pesquisadores
posicionaram-se a favor da reunificação da Psicologia, atribuindo-lhe uma dimensão
social, com a finalidade de esclarecer as condições da emergência e do
funcionamento do pensamento consciente humano”.
Em um primeiro momento, o ISD esteve voltado para a produção e para o
experimento de sequências didáticas, bem como para a organização de uma
perspectiva teórica que estivesse preocupada em explicar essas práticas de ensino.
Em um segundo momento, o ISD preocupou-se em aprimorar essa perspectiva
inicial e, acima de tudo, voltou-se para as atividades de linguagem, no que concerne
ao quadro de desenvolvimento humano (BRONCKART, 2006, p. 13 -14).
É nesse segundo momento que Jean-Paul Bronckart concebe um movimento
maior, em direção a uma Ciência do Humano, através de princípios teóricos que
estão atrelados à linguagem e sua relação com as atividades humanas. Com isso, é
importante destacar que o ISD parte dos pressupostos teóricos da corrente histórica
do Interacionismo Social e contraria uma possível fragmentação das Ciências
Humanas/Sociais, ou seja, não é uma perspectiva linguística ou psicológica,
tenciona ser reconhecida enquanto uma “Ciência do Humano” (BRONCKART, 2006,
p. 10).
Essa corrente busca compreender as atividades humanas e contribuir com
reflexões e mudanças no cenário social em que os sujeitos vivem e se desenvolvem.
Para compreender esse processo de desenvolvimento humano, o ISD concebe a
linguagem como aspecto determinante, no sentido de que esse elemento exerce
influência na constituição e na identidade dos seres humanos, na construção de
novos conhecimentos e no controle do comportamento humano.
De acordo com Bronckart (2008), o quadro teórico do ISD inspira-se nos
princípios do materialismo, do monismo e do evolucionismo. O materialismo envolve
os aspectos materiais que compõem as atividades humanas, inclusive o
pensamento humano, concebido como uma realidade material. O monismo concebe
todos os objetos, em sua essência, como matéria. Por mais que possa haver alguns
32
1
Grifos do autor.
35
2
Grifos do autor.
36
Bronckart (2012) assegura que toda a língua é heterogênea e, por esse fato,
não deve ser concebida enquanto um produto isolado, homogêneo. Sob esse ponto
de vista, os mundos representados, que contribuem para o desenvolvimento das
atividades humanas, são orientados por pressupostos particulares que advêm dos
gêneros de texto em uso, por características específicas que definem os diversos
tipos de texto, fazendo com que os sujeitos construam representações distintas
sobre objetos que se encontram no espaço social.
Para Bronckart (2012), uma língua natural só se realiza através de produções
verbais, constituídas em situações distintas e em múltiplos contextos sociais. Essas
diversas formas de produção verbal são denominadas de textos, compreendidos
como “toda unidade de produção linguageira situada, acabada e auto-suficiente”
(BRONCKART, 2012, p. 75). Essas unidades, por sua vez, organizam-se através de
diversos conjuntos, denominados de gêneros de texto. Os gêneros desempenham
uma relação de dependência com as atividades humanas e, por isso, Bronckart
(2012) assegura que
3
Grifos do autor.
37
Esse trabalho envolve uma interação com o outro que pode ser direta ou
Interpessoal indireta, dependendo da situação e dos sujeitos envolvidos nesse
processo.
de origem humana”. Para ilustrar, os artefatos materiais são os objetos que circulam
no meio social. Já os simbólicos são os signos, as regras, as metodologias de
ensino e os planos de aula que orientam as práticas de aprendizagem.
O professor, para fazer uso desses artefatos, os transforma em instrumentos
de ensino, o que garantirá não só a mudança do objeto, mas também dos sujeitos
envolvidos nesse processo de ensino. Para Machado e Lousada (2010, p. 629), “o
instrumento auxilia a organizar o meio, age sobre o outro e sobre o sujeito professor
e vice-versa, o que pode levar à própria transformação dos artefatos sociais”.
De acordo com esses fatos, para que o professor desenvolva o seu trabalho,
é necessário que ele disponha de artefatos. Entretanto, esses artefatos por si só não
serão o suficiente para garantir a mediação e a transformação do sujeito. É
necessário que o professor se aproprie desse artefato e o transforme em um
instrumento, para que novas representações sejam construídas e, com elas, uma
finalidade, um objetivo para o desenvolvimento de determinada ação. Como
resultado, “a sua atividade pode ser altamente criativa, dado que o professor recria
esses artefatos de acordo com as diferentes situações, necessidades e
capacidades” (MACHADO; LOUSADA, 2010, p. 627).
Esse conceito de instrumento é oriundo de Vygotsky e por esse fato, deve ser
compreendido enquanto algo que é construído ou adaptado pelo próprio sujeito. Em
outras palavras, não como algo pronto, apresentado para o professor utilizar sem
realizar as modificações necessárias. Ao contrário, essa concepção de instrumento
envolve o desenvolvimento de práticas de ensino que, além de provocar
transformações no meio social, provocam transformações nos sujeitos e contribuem
para a aquisição de novos conhecimentos.
Portanto, o professor “mobiliza seu ser integral, em suas diferentes
dimensões (físicas, cognitivas, linguageiras, afetivas etc.)” (MACHADO;
BRONCKART, 2009, p. 39), a fim de contribuir para a aprendizagem dos conteúdos
e para o desenvolvimento de habilidades nos alunos. Essas dimensões são
mobilizadas sob o viés da interação, uma vez que o professor estabelece vínculos
com os alunos, devendo pensar sempre na realidade desses educandos e em seus
conhecimentos prévios. Além disso, o professor estabelece uma relação com a
direção da escola e com os pais dos alunos, que interagem nesse meio social e
contribuem para as práticas de ensino desenvolvidas no ambiente escolar. Ademais,
46
(2001), essas antologias eram livros didáticos portugueses, que foram utilizados no
Brasil nos séculos XIX e XX. O ensino do português, presente nesses manuais,
estava centrado na gramática.
De acordo com Bezerra (2010), o ensino de Língua Portuguesa manteve-se
subordinado aos manuais de gramática até por volta de 1950. Até então isso era
possível devido ao público que frequentava a escola, uma vez que todos dominavam
a língua padrão e exerciam a prática da leitura e escrita. Esse público apenas
frequentava a escola para aprender as regras gramaticais. A partir de 1950, são
apresentadas mudanças no cenário educacional brasileiro. Em virtude do êxodo
rural, “começaram a se multiplicar explosivamente as matrículas na escola básica”
(FARACO, 2008, p. 188). Com esse crescimento, modifica-se o perfil econômico e
cultural das pessoas que frequentavam a escola.
Não é mais uma escola pública destinada apenas aos filhos das elites, mas
as camadas populares passam a ter acento nas salas de aula. O novo perfil
cultural do alunado, por exemplo, acarreta heterogeneidade nos letramentos
e nas variedades dialetais (BUNZEN; ROJO; 2005, p. 77).
Esse fato ocasionou uma demanda maior por professores, o que acabou
fragilizando a formação docente e culminando na desvalorização do trabalho do
professor. Em decorrência desse processo,
4
Grifos do autor.
55
De acordo com Bunzen (2011), tanto os PCNS como o PNLD dialogam com
as proposições apresentadas nas Leis de Diretrizes de Bases de Educação Nacional
56
(LDB – 96). Do mesmo modo, são políticas públicas e documentos oficiais que
buscaram organizar o ensino de Língua Portuguesa entre 1970 e 1990, abrangendo
tanto a esfera acadêmica quanto as propostas curriculares estaduais (BUNZEN,
2011, p. 905).
Nas seções seguintes, apresentamos, de forma detalhada, os pressupostos
que envolvem os PCNS e o PNLD. De início, apresentamos a proposta didática dos
PCNs, elencando os principais fundamentos que orientam o ensino de Língua
Portuguesa na escola. Na sequência, apresentamos o PNLD com o intuito de
descrever a função que esse programa exerce, bem como o seu processo de
criação e as propostas de ensino envolvidas no PNLD 2017.
USO REFLEXÃO
de Sobre
LÍNGUA ORAL LÍNGUA
e e
ESCRITA LINGUAGEM
USO
REFLEXÃO
PRÁTICA de PRÁTICA de
PRÁTICA
ESCUTA PRODUÇÃO
de
e de de
ANÁLISE
LEITURA TEXTOS
LINGUÍSTICA
de ORAIS e
TEXTOS ESCRITOS
partir desses fatores, o texto passa a ser considerado como unidade de ensino e os
gêneros textuais como objetos de ensino (BRASIL, 1998, p. 35). Ao assumir essa
perspectiva, do uso da língua a partir de diferentes gêneros e textos que fazem parte
do contexto social e das relações estabelecidas entre os sujeitos, as orientações
apresentadas no documento afastam-se “de uma visão reducionista de língua(gem)
e da perspectiva técnica ou comunicativa dos anos 70 e 80” (BUNZEN, 2011, p.
906). Além disso, os conteúdos apresentados no eixo reflexão compreendem os
fatores relativos ao funcionamento da linguagem, como as variações linguísticas, as
estruturas responsáveis pela construção e organização dos enunciados, bem como
os processos de construção e produção de sentidos (BRASIL, 1998, p. 36).
De acordo com Faraco (2008), as concepções pedagógicas apontadas no
documento têm como propósito inovar em termos de organização curricular. No
entanto, essas propostas não foram “assimiladas pelas escolas e, por consequência,
pouco ou nada tem significado para o seu cotidiano” (p. 195). Faraco (2008)
reconhece que os Parâmetros apresentam uma sólida fundamentação teórica,
entretanto, as teorizações que fundamentam esse documento fazem sentido para o
universo acadêmico, já para a maioria dos professores da educação básica, essas
orientações são desconhecidas, o que acaba dificultando a sua interpretação e a
abordagem de práticas pedagógicas que priorizem esses princípios teóricos.
Para Machado (2009), essa falta de compreensão é decorrente da
organização das propostas didáticas que fazem parte do documento, uma vez que
nos conhecimentos linguísticos que são transpostos, transformados em
metodologias didáticas para o ensino de Língua Portuguesa, há uma omissão dos
autores e das teorias que fundamentam e orientam a construção do documento.
Com isso, apenas quem domina as perspectivas teóricas identifica os pressupostos
que se encontram por detrás das propostas de aprendizagem.
Para ilustrar esse processo, destacamos que a noção de gênero apresentada
nos PCNs é baseada nas investigações de Schneuwly (1994) e de Dolz &
Schneuwly (1996 e 1998). Esses autores valem-se, por sua vez, das noções de
gênero oriundas de Bakhtin, bem como da psicologia do desenvolvimento humano
sustentada por Vygotsky. Contudo, esses pressupostos teóricos são apenas
compreendidos e identificados pelos docentes que possuem acesso a esses
conhecimentos teóricos. Com isso,
59
[...] o que se evidencia é que o ocultamento das vozes dos autores e das
teorias subjacentes produz modificações de sentido e dificulta o trabalho de
quem quer compreender de forma mais satisfatória os conteúdos que são
prescritos. De certa forma, isso acaba por favorecer a manutenção de
“classes” distintas de trabalhadores do ensino: a dos especialistas ou dos
que têm acesso mais fácil às fontes de informação teórica e a daqueles que
não o têm (MACHADO, 2009, p. 68-69).
Para que haja essa efetiva compreensão, Rojo (2000) considera necessária
uma reformulação dos processos de formação inicial e contínua dos professores. É
necessário discutir a formação dos professores, “garantindo-lhes um bom domínio
das práticas de língua oral e escrita e um saber amplo, consistente e crítico sobre a
língua” (FARACO, 2008, p. 196). De acordo com Faraco (2008), muitos profissionais
de ensino não tiveram em sua formação práticas pedagógicas fundamentadas no
uso da linguagem. Dessa forma, é necessário que os docentes tenham acesso a
essas informações e saibam organizar as metodologias didáticas a partir dos
fundamentos teóricos e das orientações sustentadas pelos PCNs.
Tendo como referência duas experiências de transposição didática dos PCNs
para as práticas de sala de aula, Rojo (2000) aponta os principais problemas que
envolvem a formação de professores em decorrência desse processo de
transposição didática. De acordo com o objeto de ensino, é importante que o
professor compreenda a teoria de enunciação e a teoria dos gêneros discursivos,
uma vez que é por intermédio desses conhecimentos linguísticos que as práticas de
ensino se fundamentam. Do mesmo modo, é importante desenvolver práticas
pedagógicas centradas no eixo da reflexão, isto é, na análise linguística, em
atividades que desenvolvam a compreensão dos fatores estruturantes que compõe e
organizam um enunciado, além de questões relativas à variação linguística e à
produção de sentidos. Atrelados a esses princípios, estão fatores relacionados à
organização de um enunciado, ao contexto de produção e de construção de
sentidos.
Somado a isso, as práticas de sala de aula continuam sendo orientadas e
organizadas a partir do Livro Didático,
[...] por variadas razões que vão desde o número de alunos por sala, até a
falta de tempo remunerado e de formação do professor para a elaboração
de seus próprios materiais didáticos, a elaboração de materiais didáticos
60
unidade de ensino e os gêneros como objeto de ensino, tal como sugerem os PCNs
(BUNZEN, 2011, p. 905).
De acordo com Batista (2001), um dos momentos mais significativos no
processo de criação do PNLD foi a instauração do
5
Destacamos que algumas coleções apresentam uma proposta de revisão, em que o próprio aluno
exerce a função de leitor e revisor de seu texto, contribuindo para a compreensão desse processo de
produção escrita.
66
5 METODOLOGIA
6
Utilização de um nome fictício.
7
Utilização de um nome fictício.
69
8
Pode caracterizar-se como informal , quando se distingue da simples
conversação apenas por ter como objetivo básico a coleta de dados. Pode
ser focalizada quando, embora livre, enfoca tema bem específico, cabendo
ao entrevistador esforçar-se para que o entrevistado retorne ao assunto
após alguma digressão. Pode ser parcialmente estruturada, quando é
guiada por relação de pontos de interesse que o entrevistador vai
explorando ao longo de seu curso. Pode ser, enfim, totalmente estruturada
quando se desenvolve a partir de relação fixa de perguntas. Nesse caso, a
entrevista confunde-se com o formulário (GIL, 2002, p. 117).
8
Grifos do autor.
72
9
Grifos do autor.
10
Grifos do autor.
11
Grifos do autor.
74
12
Grifos do autor.
13
Grifos do autor.
76
14
Grifo do autor.
79
Materiais ou simbólicos.
Agir com instrumento Exemplos: Distribuiu mapas; Utiliza o conceito de gênero.
Atividade mental.
Exemplos: a professora se surpreendeu.
Agir mental Capacidade do professor.
Exemplos: Tem mais técnica para ensinar.
81
Agir emocional.
Agir afetivo Exemplos: gostar, expressar.
Agir físico.
Agir corporal Exemplos: correr, andar.
4. Descrição das partes que compõem o Livro Didático. Linhas 60-84 Linhas 52-70
Tratando-se dos tópicos que fazem parte das entrevistas, identificamos uma
divisão conforme as temáticas abordadas ao longo dos textos. Realizamos a
fragmentação de seis tópicos, de acordo com os aspectos que dizem respeito a
informações pessoais das entrevistadas e ao processo de escolha, descrição e
utilização do Livro Didático. No quadro a seguir, apresentamos o conteúdo temático
do texto, ou seja, as informações principais que fazem parte de cada tópico das
entrevistas.
Idade.
1. Pergunta sobre aspectos pessoais: Formação acadêmica.
Tempo de atuação na escola.
Participação do professor.
2. Escolha do Livro Didático: Critérios para escolha do material.
Tempo destinado para a escolha do material.
Opinião sobre a escolha do Livro Didático.
todos os alunos tem sei que tem escolas que não tem
livros suficiente 54-55
tem algumas partes... é:: digamos mais ligada a textos
que a gente consegue aproveitar bem mas no que diz respeito a
Alunos gramática ele é insuficiente para que os alunos possam assimilar
o conteúdo novo que lhes é apresentado... (Texto 1, linha 76-78)
olha quanto a escolha é:: eu acho assim que::... ela é muito superficial...
pelo fato de que a gente não consegue visualizar todo todo o livro você vai
fazendo assim uma leitura é:: superficial de alguns tópicos que você de
repente acha interessante mas que para outro professor não é tão
interessante... é:: então eu acho que não deveria ter essa escolha em tão
pouco tempo ela devia ter uma análise digamos assim eu vou analisar um
livro/ no outro momento analiso outro livro e assim sucessivamente mas
com um tempo bem mais amplo do que esse que nos é proporcionado que
é geralmente meio dia (Professora Ana, texto 1, linhas 32 - 39).
vou citar um exemplo para você... é:: quando se tratar de praia... tem aluno
que nem conhece praia mas aí o texto trás elementos/ histórias que falam
sobre sobre personagens lá de um lugar de praia... mas o aluno nem sabe o
que é praia... então eles estão tão longe do/ da realidade do aluno... mas
também não posso descartar todos os textos tem textos que são nacionais
por exemplo que abordam temas como BULLIYNG... como DISCIPLINA...
como RESPEITO... são são temas universais... (Professora Ana, texto 1,
linhas 125-131).
91
nós temos livros suficientes para cada aluno... todos os alunos tem sei que
tem escolas que não têm livros suficiente... mas a nossa escola está muito
bem contemplada com os livros didáticos eles vêm vieram em tempo hábil
ou seja no primeiro dia de aula eu já tinha o livro didático...é inédito porque
em outros anos a gente levava às vezes dias e meses para começar um
novo livro e esse ano o livro estava disponível para os alunos desde o
primeiro dia de aula (Professora Ana, texto 1, linhas 54 - 59).
é como já falei antes né acho que esse é um livro que mais está adequado
né com o que é cobrado e exigido depois dos alunos em outros vestibulares
né em outras provas... (Professora Patrícia, texto 2, linhas 40 - 42).
isso tudo depende como a:: editora manda né... que nem por exemplo esse
ano / nós tínhamos até seis de setembro mas início de setembro daí
alguns ainda enviaram né / mas a maioria é mais ou menos um mês... né...
mas tem uns então que mandam um pouquinho mais tarde que chega
então a dar dez dias se a gente não tem tanto... tanto tempo pra escolher
né. (Professora Patrícia, texto 2, linhas 21 - 25).
até assim as próprias editoras mandaram cds... né pra nós também com /
atividades extras né... (Professora Patrícia, texto 2, linhas 141-142).
93
pode ser identificado tanto de forma explícita, como implícita. Vejamos alguns
exemplos a seguir.
mas entre os conteúdos que devem ser trabalhados lembro de alguns que
não tenho aqui no momento mas assim ó... é:: a gente tem que fazer uma
revisão das classes gramaticais... temos que fazer estudar o período
composto por coordenação e subordinação... temos que fazer uma
abordagem sobre a regência verbal a regência nominal a crase a ortografia
com destaque a ortografia nova que ainda os alunos não pegaram ela na
íntegra é:: eu trabalho BASTANTE com eles a produção textual trabalho
também bastante com gêneros é:: textuais é:: a hora da leitura eu não
descarto também é uma hora por semana... é:: e você tem que trabalhar as
classes gramaticais em todas as séries de uma forma menos e mais
aprofundada... (Professora Ana, texto 1, linhas 65-74).
para mim ele é apenas um:: um:: / instrumento de suporte eu não utilizo ele
todos os dias... eu me val/ fico/ buscando outras alternativas de xeROX de
livros VElhos mais antigos tem alguns textos que eu não trabalho que eu
considero textos melhores daí eu trabalho outros textos... (Professora Ana,
texto 1, linhas 114-117).
o ideal seria que o aluno tivesse um livro e que tivesse um espaço para as
suas respostas porque nós teríamos ganhaRÍAMOS TEMPO pra que a
gente não precisasse copiar questão responder a questão envolve muito
tempo perde-se muito tempo nesse copiar... não estou descartando aqui a
necessidade de escrever porque o aluno tem que escrever mas tem
algumas atividades que a gente não precisava tar copiando... poderiam ter
respondido dentro do livro... (Professora Ana , texto 1, linhas 106-112).
1. Eu 47
2. A gente/nós (professores) 24
20
18
16 Eu
14
12
A gente/nós
10 (professores)
8
A gente (professora
6
Ana e alunos)
4
2
0
Aspectos Escolha do Aspectos do Descrição Livro Uso efetivo
pessoais Livro Livro das partes Didático e do Livo
Didático Didático de conteúdos Didático
compõem o do 9º Ano
Livro
Didático
olha:: assim até / nós:: pegamos assim escolhemos então o livro que tem /
mais textos atuais né que está mais de acordo com que é cobrado depois...
né / dos alunos em outras tipo no Enem nos vestibulares né... esses
critérios a gente tenta mais mas mesmo assim tá é difícil né... essa
escolha... (Professora Patrícia, texto 2, linhas 16-19).
distribuição... olha ali até eu acho que assim não é... às vezes /... no início
do ano então os livros não estão disponíveis ainda na escola ou a gente faz
uma tipo... pede... vamos supor 30 livros pro primeiro ano daí só vem 20 daí
gente tem que ir atrás ver se / não tem em outras escolas né mas... poderia
ser mais organizado... pra que no início do ano todo mundo tivesse o seu
livro... (Professora Patrícia, texto 2, linhas 47-51).
1. Eu 18
2. A gente/nós (Professores) 41
18
16
14
12 Eu
10
8 A gente/nós
(professores)
6
4 A gente/nós
2 (professora Patrícia e
alunos do 9º Ano)
0
Aspectos Escolha Aspectos Descrição Livro Uso
pessoais do Livro do Livro das partes Didático e efetivo do
Didático Didático que conteúdos Livro
compõem do 9º Ano Didático
o Livro
Didático
então se formos analisar o tempo... uma vez que nós trabalhamos ao longo
de três anos o livro didático é insuficiente para a gente fazer uma uma
escolha adequada... todo mundo está com pressa para fazer a escolha e::
acabamos não fazendo uma escolha minuciosa... (Professora Ana, texto 1,
linhas 27 - 30).
olha quanto a escolha é:: eu acho assim que::... ela é muito superficial...
pelo fato de que a gente não consegue visualizar todo todo o livro você vai
fazendo assim uma leitura é:: superficial de alguns tópicos que você de
repente acha interessante mas que para outro professor não é tão
interessante [...] (Professora Ana, texto 1, linhas 32 - 35).
auxílio necessário. O verbo buscar conduz a essa interpretação. Com isso, estamos
diante de uma modalização pragmática, explicitada no relato a seguir:
... a gente se busca suporte em outros livros é:: busca suporte em:: na
internet é:: nos cadernos antigos que a gente também tem nos diários... pra
que possa assim ter um/ aprendizado melhor em relação ao conteúdo
apresentado... (Professora Ana, texto 1, linhas 81 - 84)
como eu disse para você essa seleção não aconteceu comigo ela já estava
selecionada mas eu acredito que para para fazer isso os professores
deviam de ter o livro pra poder seguir e fazer o seu plano de trabalho...
(Professora Ana, texto 1, linhas 94 - 96).
para mim ele é apenas um:: um:: / instrumento de suporte eu não utilizo ele
todos os dias... eu me val/ fico/ buscando outras alternativas de xeROX de
livros VElhos mais antigos tem alguns textos que eu não trabalho que eu
considero textos melhores daí eu trabalho outros textos... (Professora Ana,
texto 1, linhas 114 - 117).
na sua totalidade não a gente tem que buscar outras ferramentas para
poder dar esse suporte pra atender o programa proposto... (Professora
Ana, texto 1, linhas 134 - 135).
...se fosse um livro como te disse anteriormente que tivesse atividades que
pudessem ser respondidas como é o livro das séries iniciais eu acredito sim
que ele ia ter mais/ atração ele ia sentir mais interesse de de trabalhar
porque É no livro não no caderno... (Professora Ana, texto 1, linhas 14 0 -
143).
Modalizadores na entrevista da
professora Ana
20%
33% Lógica
Deôntica
Pragmática
20%
Apreciativa
27%
isso tudo depende como a:: editora manda né... que nem por exemplo esse
ano / nós tínhamos até seis de setembro mas início de setembro daí alguns
ainda enviaram né / mas a maioria é mais ou menos um mês... né... mas
tem uns então que mandam um pouquinho mais tarde que chega então a
dar dez dias se a gente não tem tanto... tanto tempo pra escolher né...
(Professora Patrícia, texto 2, linhas 21 - 25).
107
distribuição... olha ali até eu acho que assim não é... às vezes /... no início
do ano então os livros não estão disponíveis ainda na escola ou a gente faz
uma tipo... pede... vamos supor 30 livros pro primeiro ano daí só vem 20 daí
gente tem que ir atrás ver se / não tem em outras escolas né mas... poderia
ser mais organizado... pra que no início do ano todo mundo tivesse o seu
livro... (Professora Patrícia, texto 2, linhas 47 - 51).
sim... auxilia aham...mas assim como é que vou te dizer / como já diz
AUXILIA né a gente tem que ir atrás de outros né... mas / pelo pelo plano
de trabalho que a gente tem ele... auxilia bastante... (Professora Patrícia,
texto 2, linhas 79 - 81).
não trás / é gramática aplicado ao texto assim mas é insuficiente ainda pra
eles compreender como é que realmente né as vezes tem uma ou outra
questão só acho que deveria ser mais aprofundado deveria ter mais
questões... assim pra / esclarecer... primeiro de repente umas atividades
mais acessíveis depois vão aprofundando né mas ele trás logo direto muito
né aprofundado então poderia ter um pouquinho mais poderia ser um
pouquinho mais acessível primeiro então uma explicação melhor né...
alguns exemplos... que eles tem muitas vezes dúvidas... a gente tem que
recorrer a outros exemplos... (Professora Patrícia, texto 2, linhas 94 – 101).
foco principal é:: tentar acho que assim /... na medida do possível então
passar o conteúdo que né os alunos precisam ter essa noção básica então
da:: língua portuguesa né então pra isso a gente /... coloca também e como
material de apoio mais né pra... (Professora Patrícia, texto 2, linhas 103 -
106).
109
em parte sim se É esse do::... que nós escolhe do William Cereja eu acho
que sim mas como tipo esse ano já não teve a opção de escolher esse livro
os outros acho que não... não contemplam todo o conteúdo tem que ir atrás
de[ (Professora Patrícia, texto 2, linhas 117 - 119).
sim com certeza no sentido de melhorar sim né... se / trás textos / tipo:: que
sejam do interesse deles para despertar o interesse deles / né / se tem
então o conteúdo vamos supor que eles precisam para a sua formação... eu
acredito que sim... TODOS com certeza sempre contribuem pra alguma
coisa né mas tem uns que realmente são muito bons outros já não né...
(Professora Patrícia, texto 2, linhas 132 - 136).
Modalizadores na entrevista da
professora Patrícia
9%
Apreciativas
15%
46% Deônticas
Lógicas
30% Pragmáticas
Trabalho
Tarefas
Intencionalidade do agir
nós temos livros suficientes para cada aluno... todos os alunos tem sei
que tem escolas que não tem livros suficiente... mas a nossa escola está
muito bem contemplada com os livros didáticos eles vem vieram em tempo
hábil ou seja no primeiro dia de aula eu já tinha o livro didático...é inédito
porque em outros anos a gente levava às vezes dias e meses para
começar um novo livro e esse ano o livro estava disponível para os
alunos desde o primeiro dia de aula... (Professora Ana, texto 1, linhas 54
- 59).
O agir docente também está representado por tarefas, que dizem respeito às
condutas verbais e não verbais que são prescritas aos professores. Identificamos a
representação de diversos conteúdos que são organizados no plano de trabalho e
seguidos pela professora.
eu vou acaba o ano sem trabalhar alguns textos no livro por considerar
ele não tão real a nossa realidade não tão adequado e os textos são
bastante direcionados para outras regiões eles não são direcionados para
nós aqui do sul... então nem/ não tem nenhum texto que pudesse falar
sobre a nossa região... (Professora Ana, texto 1, linhas 117 - 121).
livros mais antigos dos quais a gente usou durante todo o nosso período
de magistério... é:: internet é outro recurso também... eu uso bastante
vídeos aula mas as vídeos aulas de professores que que eu pesquisei
que sei que posso posso aproveitar do conhecimento deles... sempre
primeiro assisto a aula pra ver se de fato é porque nós como professores é::
não somos perfeitos e pra não haver é:: divergências de interpretação então
eu prefiro ouvir à aula para levar para os alunos o mesmo pensamento que
o professor da videoaula apresentou... (Professora Ana, texto 1, linhas 153 -
159).
olha:: assim até / nós:: pegamos assim escolhemos então o livro que tem
/ mais textos atuais né que está mais de acordo com que é cobrado
depois... né / dos alunos em outras tipo no Enem nos vestibulares né...
esses critérios a gente tenta mais mas mesmo assim tá é difícil né... essa
escolha... (Professora Patrícia, texto 2, linhas 16 - 19).
isso tudo depende como a:: editora manda né... que nem por exemplo esse
ano / nós tínhamos até seis de setembro mas início de setembro daí
alguns ainda enviaram né / mas a maioria é mais ou menos um mês...
né... mas tem uns então que mandam um pouquinho mais tarde que chega
então a dar dez dias se a gente não tem tanto... tanto tempo pra escolher
né... (Professora Patrícia, texto 2, linhas 21 - 25).
olha ali até eu acho que assim não é... às vezes /... no início do ano então
os livros não estão disponíveis ainda na escola ou a gente faz uma
tipo... pede... vamos supor 30 livros pro primeiro ano daí só vem 20 daí
gente tem que ir atrás ver se / não tem em outras escolas né mas...
poderia ser mais organizado... pra que no início do ano todo mundo tivesse
o seu livro... (Professora Patrícia, texto 2, linhas 47 - 51).
até assim as próprias editoras mandaram cds... né pra nós também com /
atividades extras né... então essas a gente pega a gente imprime né/ na
internet/ sites então que quando a gente faz cursos eles recomendam “ó
tal site tem atividades assim” então/ daí eu pego o/ computador é meu
aliado praticamente né então nós temos retroprojetor eu projeto as
atividades no quadro daí tem muitas vezes vídeos também que explicam
o conteúdo as vezes de uma se eles veem de uma outra forma eles
entendem melhor né... mas/ mais a internet então esses meios que a gente
usa mas também a gente pesquisa e faz curso onde eles indicam
bastante material né que usamos na sala de aula... (Professora Patrícia,
texto 2, linhas 141 - 149).
leitura, uma vez que esse exemplar valoriza, no eixo leitura, a identificação de
informações e a elaboração de hipóteses a partir das informações apresentadas no
texto. Do mesmo modo, esse livro oferece uma diversificada coletânea de textos - da
esfera literária e jornalística – sendo possível que os alunos produzam diversos
sentidos e um posicionamento crítico a partir das informações apresentadas no
texto.
Já ao mencionar a gramática, o ator explicita que busca suporte em outros
materiais de ensino, por acreditar que os conteúdos apresentados no Livro Didático
são insuficientes para que os alunos compreendam os aspectos linguísticos. De
acordo com o PNLD, o Livro Didático “Português Linguagens” centra-se na
gramática, em questões objetivas e estruturais. O guia prevê que há uma
abordagem de textos curtos para trabalhar com os elementos linguísticos,
entretanto, o foco continua sendo na gramática. A professora não explicita como os
aspectos linguísticos são trabalhados, se sob o viés da gramática ou com relação
aos sentidos que os elementos linguísticos produzem nos textos, mas acreditamos
que essa abordagem do Livro Didático possa ter influenciado a busca por outros
materiais, a fim de auxiliar e dar um suporte as práticas de ensino da professora.
Com relação ao processo de escolha e de distribuição do Livro Didático,
percebemos que o trabalho do professor é influenciado por instâncias institucionais.
Nesse contexto, há a influência do sistema educacional e demais atividades sociais
(MACHADO, 2009), que acabam interagindo e organizando o processo de escolha e
distribuição dos Livros Didáticos nas escolas.
Dadas essas informações, analisamos, na sequência, as figuras do agir que
se apresentam nos discursos das professoras.
Agir mental
Agir linguageiro
Agir afetivo
Agir corporal
Agir pluridimensional
Agir prescritivo
Para dar início à análise, centramo-nos nas figuras do agir que fazem parte do
trabalho da professora Ana.
livros mais antigos dos quais a gente usou durante todo o nosso período de
magistério... é:: internet é outro recurso também... eu uso bastante vídeos
aula mas as vídeos aulas de professores que que eu pesquisei que sei que
posso posso aproveitar do conhecimento deles... sempre primeiro assisto à
aula pra ver se de fato é porque nós como professores é:: não somos
perfeitos e pra não haver é:: divergências de interpretação então eu prefiro
ouvir a aula para levar para os alunos o mesmo pensamento que o
professor da videoaula apresentou... (Professora Ana, texto 1, linhas 153-
159).
Nesse excerto, a professora revela que faz uso de instrumentos, que possam
auxiliar e contribuir para o processo de aprendizagem. Utiliza videoaulas de outros
professores, com o intuito de que sejam compartilhados novos conhecimentos. Os
verbos usar, pesquisar e assistir explicitam essa ideia.
O agir pluridimensional também é identificado no discurso da professora. O
verbo trabalhar se aproxima dessa classificação, pois envolve mais de uma forma de
agir. Esse verbo compreende um conjunto de atividades possíveis de serem
realizadas pelo professor.
com destaque a ortografia nova que ainda os alunos não pegaram ela na
íntegra é:: eu trabalho BASTANTE com eles a produção textual trabalho
também bastante com gêneros é:: textuais é:: a hora da leitura eu não
descarto também é uma hora por semana... (Professora Ana, texto 1, linhas
71 – 73).
para mim ele é apenas um:: um:: / instrumento de suporte eu não utilizo ele
todos os dias... eu me val/ fico/ buscando outras alternativas de xeROX de
livros VElhos mais antigos tem alguns textos que eu não trabalho que eu
considero textos melhores daí eu trabalho outros textos... eu vou acaba o
ano sem trabalhar alguns textos no livro por considerar ele não tão real a
nossa realidade não tão adequado e os textos são bastante direcionados
para outras regiões eles não são direcionados para nós aqui do sul... então
nem/ não tem nenhum texto que pudesse falar sobre a nossa região...
(Professora Ana, texto 1, linhas 114 – 121).
Ter 06
Agir prescritivo Dever 02
Usar 01
Agir com instrumento Pesquisar 01
Assistir 01
Trabalhar 05
Agir pluridimensional Estudar 01
Fonte: Elaborado pela autora.
Os dados apresentados no quadro acima demonstram a presença de
algumas figuras do agir. Podemos dizer, então, que as informações apresentadas
124
isso tudo depende como a:: editora manda né... que nem por exemplo esse
ano / nós tínhamos até seis de setembro mas início de setembro daí
125
tem uma ou outra questão só acho que deveria ser mais aprofundado
deveria ter mais questões... (Professora Patrícia, texto 2, linhas 93-97).
eles não gostam muito eles querem até coisas diferentes né assim...
atividades a gente então faz usa outras metodologias também muitas vezes
pra ensinar o conteúdo né / eles o:: livro assim pra eles então é um guia
mas eles não realmente não gostam muito do livro didático né... (Professora
Patrícia, texto 2, linhas 124 - 127).
eles não gostam muito eles querem até coisas diferentes né assim...
atividades a gente então faz usa outras metodologias também muitas vezes
pra ensinar o conteúdo né / eles o:: livro assim pra eles então é um guia
mas eles não realmente não gostam muito do livro didático né... (Professora
Patrícia, texto 2, linhas 124 - 127).
até assim as próprias editoras mandaram cds... né pra nós também com /
atividades extras né... então essas a gente pega a gente imprime né/ na
internet/ sites então que quando a gente faz cursos eles recomendam “ó tal
site tem atividades assim” então/ daí eu pego o/ computador é meu aliado
praticamente né então nós temos retroprojetor eu projeto as atividades no
quadro daí tem muitas vezes vídeos também que explicam o conteúdo as
vezes de uma se eles vem de uma outra forma eles entendem melhor né...
mas/ mais a internet então esses meios que a gente usa mas também a
gente pesquisa e faz curso onde eles indicam bastante material né que
usamos na sala de aula... (Professora Patrícia, texto 2, linhas 141 – 149).
uso do Livro Didático. De início, essa análise nos permitiu identificar que o trabalho
do professor é complexo, pois envolve diversas instâncias, sejam elas de ordem
social ou institucional. É um agir que envolve desde o sistema educacional, que são
as prescrições que orientam o ensino na escola, perpassando o sistema de ensino,
que compõe as escolas, os planos de trabalho, os materiais didáticos, até culminar
no trabalho do professor, em sintonia com os alunos e com o conhecimento. É uma
rede de relações que o professor estabelece em seu agir, com a finalidade de
garantir a aprendizagem dos alunos.
Essa análise também nos permitiu verificar a presença da posição de ator,
que diz respeito aos recursos de ordem interna, as intenções, os motivos e as
capacidades do sujeito ao desenvolver as suas práticas de ensino. Os discursos
também revelam a posição de agente, que se refere a questões de ordem externa,
determinantes externos e instrumentos/ferramentas que estão à disposição do
sujeito para a realização de seu agir. Nesses recursos de ordem externa, há a
presença do Livro Didático, enquanto uma ferramenta que está à disposição do
professor para o desenvolvimento de suas práticas de ensino. A presença desses
elementos de ordem interna e externa nos permite dizer que o agir das professoras
é interacional, é resultado da união de diversos elementos que estão disponíveis
para elas agirem ou não. Cabe às docentes optarem pelos elementos que possam
auxiliar e contribuir para as suas práticas de ensino e, por conseguinte, para a
aprendizagem dos alunos.
Concluída essa etapa de análise, apresentamos, na sequência, as conclusões
desse trabalho, buscando relacionar os objetivos da pesquisa aos resultados obtidos
na análise.
129
7 CONCLUSÃO
uma escolha adequada. Nesse caso, há a presença do agir prescritivo, uma vez que
os professores agem de acordo com que é prescrito por instâncias superiores. De
certa forma, essa ação confirma a presença dos mundos formais, que segundo
Bronckart (2006), são as estruturas que organizam e orientam o agir do professor.
No que diz respeito ao processo de distribuição dos Livros Didáticos, em
alguns momentos ocorre atraso ou falta de exemplares, não havendo livros
suficientes para todos os alunos. Isso acaba dificultando o trabalho do professor,
uma vez que o Livro Didático é o material ofertado às escolas e, muitas vezes, pela
falta de recursos, é o único suporte disponível para que o professor desenvolva as
suas práticas de ensino.
O segundo objetivo consistia em identificar as intenções dos professores com
relação ao uso do Livro Didático. O que observamos com isso é que cada professora
revela intenções distintas ao utilizar o Livro Didático. Essa diferenciação entre o agir
das professoras se aproxima do que Machado e Bronckart (2009) caracterizam
como o trabalho docente, uma vez que, para os autores, o professor mobiliza
dimensões físicas, emocionais, linguageiras e afetivas, todas características próprias
do sujeito, que contribuem para o seu agir e para o desenvolvimento de
conhecimentos e habilidades nos alunos. Daí essa diferenciação entre as intenções
das professoras, pois cada uma mobilizará diferentes características, que farão com
que suas práticas de ensino sejam elaboradas conforme os seus conhecimentos e
suas experiências com relação ao ensino de Língua Portuguesa.
Ademais, esse segundo objetivo demonstrou que não há uma relação muito
próxima entre o agir docente e o Livro Didático, pois as professoras revelam a
preferência pelo uso de outros materiais, outras atividades de ensino buscadas na
internet, em cadernos e livros antigos. A professora Ana opta por atividades que
estejam presentes em cadernos, livros mais antigos e em vídeo aulas de outros
professores. Já a professora Patrícia opta por materiais que se encontram na
internet, em atividades propostas pelas próprias editoras dos livros e em vídeos que
explicam determinado conteúdo.
Dadas essas circunstâncias, acreditamos que há certo distanciamento entre o
que as professoras acreditam e o que é proposto e defendido nos Livros Didáticos.
Ana, professora da rede municipal, diverge de alguns textos que são apresentados
no referido exemplar, uma vez que considera que eles não se direcionam para a
131
realidade dos alunos. Nesse viés, a intenção da professora é trabalhar apenas com
os textos do Livro Didático que remetem ao contexto dos alunos ou a temáticas que
merecem uma discussão, como Bullying e respeito. Já Patrícia, professora da rede
estadual, revela que a sua intenção é trabalhar com os textos que se apresentam no
livro, por acreditar que estão diretamente ligados ao contexto em que os alunos
vivem e se relacionam. Contudo, diverge dos conteúdos gramaticais que se
encontram disponíveis no Livro Didático, pois acredita que seja necessário um
aprofundamento maior, a fim de que os alunos compreendam os aspectos
linguísticos.
Essas intenções das professoras acerca do uso ou não dos textos que se
encontram disponíveis no Livro Didático nos permitiram identificar a presença de
diferentes realidades sociais. Como Ana é professora da escola municipal, que se
localiza no interior do município, é possível que muitos alunos desconheçam
algumas temáticas sociais que são contextualizadas no Livro Didático, como a
temática praia, que é exposta pela professora. Já Patrícia é professora da escola
estadual, que se localiza na sede do município. Por se localizar na cidade e
abranger alunos que vivem nesse espaço, as temáticas que se apresentam no Livro
Didático podem estar mais direcionadas à realidade desses alunos.
A terceira questão partiu do interesse de avaliar as dificuldades apresentadas
pelas professoras quanto à utilização do Livro Didático. Inicialmente, os relatos das
docentes apontam para as dificuldades oriundas do processo de escolha e
distribuição dos Livros Didáticos. Essa questão envolve o tempo destinado para a
escolha dos materiais, o atraso em sua distribuição ou a falta de exemplares para
todos os alunos. Nesse contexto, há uma influência prescritiva, que acaba
dificultando o planejamento e a organização das atividades desenvolvidas pelo
docente. Isto é, na organização das práticas pedagógicas, o professor, além dos
conhecimentos e das experiências vivenciadas com o ensino de Língua Portuguesa,
leva em consideração as atividades propostas em outros materiais, como é o caso
do Livro Didático. O atraso na distribuição desses materiais ou a falta de exemplaras
acaba dificultando o trabalho do professor.
Em um segundo momento, é importante destacar as dificuldades reveladas
pelas professoras em trabalhar com alguns textos que se apresentam no Livro
Didático, por não estarem direcionados à realidade dos alunos, bem como as
132
dificuldades oriundas das questões de ordem gramatical, uma vez que as atividades
apresentadas no referido material são insuficientes para a aprendizagem dos alunos.
Nesse caso, é necessário que o professor amplie essas propostas de ensino com
outros exercícios, com outros materiais que possam complementar e fundamentar as
atividades propostas no Livro Didático.
Essas informações nos permitiram identificar que as professoras apresentam
um envolvimento e uma preocupação com práticas de ensino que estejam
direcionadas para a realidade do aluno. Nesse caso, a voz do aluno é levada em
consideração, apontando para as dificuldades dos alunos oriundas do trabalho com
o Livro Didático e do uso de outros materiais, de outras atividades que possam
auxiliar e contribuir para a aprendizagem deles. Para Machado (2009), o trabalho do
professor é interpessoal, pois envolve sempre uma interação com o outro, seja o
indivíduo envolvido de maneira direta ou indireta. É essa interação que permite ao
docente “escolher, manter ou reorientar o seu agir de acordo com as necessidades
de cada momento” (MACHADO, 2007, p. 93).
Esses princípios articulam-se ao que se denomina de Zona de
Desenvolvimento Proximal (FRIEDRICH, 2012, p. 110). Para Vygotsky, o professor,
ao valer-se da realidade do aluno e das informações que esse sujeito já possui,
compartilha novos conhecimentos e saberes necessários para o desenvolvimento de
novas habilidades e para construção pessoal e social do indivíduo. Valoriza-se o
poder fazer do aluno, isto é, cabe a eles, através da mediação do professor,
construir e desenvolver novos conhecimentos.
O que observamos com essa investigação é a presença de relatos que
demonstram a utilização do Livro Didático como um recurso auxiliar, como um
material destinado para as tarefas de casa e para a leitura de textos que estão
direcionados para as necessidades e a realidade dos alunos. A partir disso, não foi
possível identificarmos com clareza se há a apropriação desse material enquanto
um instrumento de ensino. Se recuperarmos o conceito de instrumento, oriundo de
Vygotsky e retomado pelo ISD, veremos que todos os elementos da realidade
podem se tornar um instrumento. Logo, qualquer objeto material, como é o caso do
Livro Didático, ao ser transformado pelo sujeito, poderia se tornar um instrumento de
ensino. Nesse caso, o instrumento seria o resultado de atividades recriadas pelo
professor, de acordo com as diversas situações e as necessidades dos alunos.
133
processo não está sujeito apenas às escolhas dos professores, pois depende de
diversos fatores, sejam eles de ordem social, cultural, histórica ou política, que direta
ou indiretamente estão envolvidos no andamento dessa ação. Portanto, é
necessário propor atividades que envolvam todos os professores, a fim de discutir
novas alternativas que possam facilitar o processo de escolha e distribuição dos
Livros Didáticos e como resultado contribuir para o agir do professor e para o ensino
como um todo.
Com a realização desse trabalho, esperamos ter contribuído com algumas
reflexões a respeito do trabalho do professor a partir do uso do Livro Didático.
Embora tenhamos permanecido apenas em dados coletados a partir de entrevistas,
esse estudo nos permitiu identificar algumas questões, como a forma com que as
prescrições integram o agir docente, as intenções dos professores ao utilizar o Livro
Didático, bem como as dificuldades enfrentadas pelos docentes ao fazer uso desse
material. Acreditamos que futuras investigações poderiam considerar a observação
em sala de aula, a fim de construirmos mais respostas sobre o agir docente a partir
do uso do Livro Didático.
Para finalizar, essa pesquisa nos permitiu ter um conhecimento sobre as
diversas situações que permeiam a atividade do trabalhador com o uso do Livro
Didático – o processo de escolha, distribuição e utilização desse material de ensino.
Para além disso, apontou as complexidades que envolvem o trabalho docente,
demonstrando que as ações desempenhadas pelos professores são resultado da
interação com outros fatores - sistema educacional e sistema de ensino - e de outras
atividades sociais – políticas, culturais e econômicas – que acabam influenciando as
instituições de ensino e provocando transformações tanto no ambiente educacional,
como em toda a sociedade. A importância desse tema nos faz perceber que ainda
há muitas pesquisas a serem realizadas, a fim de refletir sobre esse campo de
investigação e contribuir de maneira significativa para o trabalho do professor.
135
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUNZEN, Clecio; ROJO, Roxane. Livro Didático de Língua Portuguesa como gênero
do discurso: autoria e estilo. In: VAL, Maria da Graça Costa; MARCUSCHI, Beth
(Org.) Livros Didáticos de Língua Portuguesa: letramento e cidadania. Belo
Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005, p. 73-117.
GERALDI, João Wanderley (org.) O texto na sala de aula: Leitura & produção. 2.
ed. Cascavel: Assoeste, 1984.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2002.
ANEXOS
140
1 E: inicialmente gostaria que você falasse sobre sua idade formação acadêmica e
2 tempo de atuação na escola...
3 Profa. Ana: é:: eu tenho 53 anos... é estou aposentada a um ano no ((nome de um
4 município)) com 32 anos de de experiência não só em sala de aula mas na área
5 administrativa também fui secretária da educação fui da é:: secretária da
6 administração é:: sou formada em é:: literatura aliás letras e:: literatura brasileira...
7 é:: eu tenho pós-graduação na/ especialização de aprendizagens PSICOLÓGICAS
8 na universidade... era um curso novo que se instalou no ((nome da universidade)) e
9 foi única turma que fez esse curso...
10 E: e com relação ao livro didático de língua portuguesa com é realizada a escolha
11 desse material?
12 Profa. Ana: eu não participei da escolha DESTA edição do livro didático.. porque
13 quando eu vim para cá o livro já tinha sido escolhido é o primeiro ano que estou aqui
14 então não poderia lhe dizer como foi feita ESTA escolha NESTE livro que eu estou
15 trabalhando neste ano...
16 E: / a senhora tem conhecimento sobre alguns critérios que são utilizadas para a
17 escolha?
18 Profa. Ana: pela experiência que eu tenho na escolha do livro didático...
19 normalmente a gente se reúne com os professores é faz uma uma análise de cada
20 livro que nos é apresentado e temos que chegar a um denominador comum que
21 nem sempre contenta a todos e na verdade a gente não encontra um livro sem por
22 cento que satisfaça o trabalho do professor...o livro didático ele é meramente um
23 recurso didático um auxiliador pra que a gente possa ter um um embasamento
24 naqui/ nos conteúdos que serão trabalhados...
25 E: quanto tempo é destinado para a escolha desse livro didático?
26 Profa. Ana: normalmente em um período ou seja... manhã ou tarde a gente tem
27 para fazer a escolha deste livro... então se formos analisar o tempo... uma vez que
28 nós trabalhamos ao longo de três anos o livro didático é insuficiente para a gente
141
29 fazer uma uma escolha adequada... todo mundo está com pressa para fazer a
30 escolha e:: acabamos não fazendo uma escolha minuciosa...
31 E: qual é sua opinião sobre o modo com que esse material é escolhido?
32 Profa. Ana: olha quanto a escolha é:: eu acho assim que::... ela é muito superficial...
33 pelo fato de que a gente não consegue visualizar todo todo o livro você vai fazendo
34 assim uma leitura é:: superficial de alguns tópicos que você de repente acha
35 interessante mas que para outro professor não é tão interessante... é:: então eu
36 acho que não deveria ter essa escolha em tão pouco tempo ela devia ter uma
37 análise digamos assim eu vou analisar um livro/ no outro momento analiso outro livro
38 e assim sucessivamente mas com um tempo bem mais amplo do que esse que nos
39 é proporcionado que é geralmente meio dia...
40 E: qual é o livro didático de língua portuguesa que está sendo utilizado atualmente
41 pela escola?
42 Profa. Ana: nós estamos utilizando o livro português linguagens de do william cereja
43 e da thereza cochar... mas não é um livro que completa minhas atividades... ele é
44 apenas serve como um guia...
45 E: esse livro didático foi a primeira opção de escolha?
46 Profa. Ana: eu não saberia te informar sobre ele porque eu não participei DESTA
47 escolha...
48 E: por quanto tempo o mesmo livro didático é utilizado?
49 Profa. Ana: três anos...
50 E: qual é a sua opinião sobre o processo de distribuição dos livros didáticos nas
51 escolas?
52 Profa. Ana: é como processo de distribuição?
53 E: como eles são distribuídos nas escolas disponibilizados...
54 Profa. Ana: nós temos livros suficientes para cada aluno... todos os alunos tem sei
55 que tem escolas que não tem livros suficiente... mas a nossa escola está muito bem
56 contemplada com os livros didáticos eles vem vieram em tempo hábil ou seja no
57 primeiro dia de aula eu já tinha o livro didático...é inédito porque em outros anos a
58 gente levava às vezes dias e meses para começar um novo livro e esse ano o livro
59 estava disponível para os alunos desde o primeiro dia de aula...
60 E: como é apresentado o ensino de língua portuguesa no programa da disciplina do
61 9º ano? quais são os conteúdos que devem ser trabalhados com os alunos?
142
62 Profa. Ana: é a gente tem um PLANO um plano de trabalho... que é elaborado com
63 / a direção da escola e demais professores... eu não participei desta elaboração o
64 meu plano já estava previamente é pronto eu só peguei ele para é ter um
65 embasamento e para saber o que eu devo trabalhar... mas entre os conteúdos que
66 devem ser trabalhados lembro de alguns que não tenho aqui no momento mas
67 assim ó... é:: a gente tem que fazer uma revisão das classes gramaticais... temos
68 que fazer estudar o período composto por coordenação e subordinação... temos que
69 fazer uma abordagem sobre a regência verbal a regência nominal a crase a
70 ortografia com destaque a ortografia nova que ainda os alunos não pegaram ela na
71 íntegra é:: eu trabalho BASTANTE com eles a produção textual trabalho também
72 bastante com gêneros é:: textuais é:: a hora da leitura eu não descarto também é
73 uma hora por semana... é:: e você tem que trabalhar as classes gramaticais em
74 todas as séries de uma forma menos e mais aprofundada...
75 E: como você descreve o livro didático do 9º ano?
76 Profa. Ana: tem algumas partes... é:: digamos mais ligada a textos que a gente
77 consegue aproveitar bem mas no que diz respeito a gramática ele é insuficiente para
78 que os alunos possam assimilar o conteúdo novo que lhes é apresentado... ele só
79 tem uma mera explicação do que que é esse conteúdo a gramática e:: uma questão
80 e termina o assunto aí já parte para outro assunto o aluno não consegue captar
81 essas informações se fosse levar em conta só o livro didático... a gente se busca
82 suporte em outros livros é:: busca suporte em:: na internet é:: nos cadernos antigos
83 que a gente também tem nos diários... pra que possa assim ter um/ aprendizado
84 melhor em relação ao conteúdo apresentado...
85 E: o livro didático de língua portuguesa sustenta as práticas contempladas no
86 programa da disciplina do 9º ano?
87 Profa. Ana: não necessariamente ele é insuficiente para poder/ digamos assim
88 atender a todas as necessidades... uma pela... pela pelo curto pela curta
89 apresentação do conteúdo e outra que ele não está dentro do padrão...
90 E: o livro didático auxilia na seleção dos conteúdos que são propostos para o ensino
91 de língua portuguesa no 9º ano?
92 Profa. Ana: ... eu não sei como tu queres dizer na seleção da escolha?
93 E: dos conteúdos que são propostos para o ensino do 9º ano...
143
94 Profa. Ana: como eu disse para você essa seleção não aconteceu comigo ela já
95 estava selecionada mas eu acredito que para para fazer isso os professores deviam
96 de ter o livro pra poder seguir e fazer o seu plano de trabalho...
97 E: o livro didático auxilia no processo de plane/ organização e planejamento das
98 aulas?
99 Profa. Ana: auxilia... ele é um recurso auxiliador...
100 E: como você descreve a utilização do livro didático para o ensino de língua
101 portuguesa no 9º ano?
102 Profa. Ana: ... ele é apenas um instrumento... que o aluno tem digamos assim
103 quando a gente quer trabalhar é::... com MENOS ESCRITA no quadro ele facilita
104 para que ele possa usufruir dele e fazer as suas respostas... porém como é um livro
105 para três anos eu não acho ele ele próprio pra o uso diário em função de que eu não
106 posso fazer as respostas dentro do livro... o ideal seria que o aluno tivesse um livro e
107 que tivesse um espaço para as suas respostas porque nós teríamos ganhaRÍAMOS
108 TEMPO pra que a gente não precisasse copiar questão responder a questão
109 envolve muito tempo perde-se muito tempo nesse copiar... não estou descartando
110 aqui a necessidade de escrever porque o aluno tem que escrever mas tem algumas
111 atividades que a gente não precisava tar copiando... poderiam ter respondido dentro
112 do livro...
113 E: qual é o foco principal ao trabalhar com o livro didático?
114 Profa. Ana: para mim ele é apenas um:: um:: / instrumento de suporte eu não utilizo
115 ele todos os dias... eu me val/ fico/ buscando outras alternativas de xeROX de livros
116 VElhos mais antigos tem alguns textos que eu não trabalho que eu considero textos
117 melhores daí eu trabalho outros textos... eu vou acaba o ano sem trabalhar alguns
118 textos no livro por considerar ele não tão real a nossa realidade não tão adequado e
119 os textos são bastante direcionados para outras regiões eles não são direcionados
120 para nós aqui do sul... então nem/ não tem nenhum texto que pudesse falar sobre a
121 nossa região...
122 E: o livro didático pode ser trabalhado levando em consideração a realidade do
123 aluno?
124 Profa. Ana: o nosso não... porque os textos como dizia já anteriormente eles tão
125 fogem muito do... da realidade do aluno... vou citar um exemplo para você... é::
126 quando se tratar de praia... tem aluno que nem conhece praia mas aí o texto trás
144
127 elementos/ histórias que falam sobre sobre personagens lá de um lugar de praia...
128 mas o aluno nem sabe o que é praia... então eles estão tão longe do/ da realidade
129 do aluno... mas também não posso descartar todos os textos tem textos que são
130 nacionais por exemplo que abordam temas como BULLIYNG... como DISCIPLINA...
131 como RESPEITO... são são temas universais...
132 E: você acredita que o livro didático contempla os conteúdos que o aluno deva
133 aprender durante o ano?
134 Profa. Ana: na sua totalidade não a gente tem que buscar outras ferramentas para
135 poder dar esse suporte pra atender o programa proposto...
136 E: como os alunos correspondem as práticas de ensino efetuadas a partir do uso do
137 livro didático?
138 Profa. Ana: ele é um facilitador na verdade que não precisa copiar textos do
139 quadro... isso para ele é bom mas não que seja assim algo atrativo pro aluno... o
140 aluno não sente atração no livro no livro como ele é apresentado... se fosse um livro
141 como te disse anteriormente que tivesse atividades que pudessem ser respondidas
142 como é o livro das séries iniciais eu acredito sim que ele ia ter mais/ atração ele ia
143 sentir mais interesse de de trabalhar porque É no livro não no caderno...
144 E: para você o uso do livro didático pode provocar transformações nos sujeitos,
145 tanto no professor como nos alunos?
146 Profa. Ana: depende de cada professor e de cada turma... se você consegue
147 desenvolver um trabalho de de discussão de temas que são apresentados e levar o
148 aluno a/ também interagir é:: com o texto eu acredito sim que ele possa transformar
149 muitas práticas que são são colocadas através de textos...
150 E: você havia comentado anteriormente que busca outros materiais/ que possam
151 contemplar e dar suporte as ideias apresentadas no livro didático QUE TIPOS de
152 materiais você costuma pesquisar e trabalhar com os alunos?
153 Profa. Ana: livros mais antigos dos quais a gente usou durante todo o nosso
154 período de magistério... é:: internet é outro recurso também... eu uso bastante
155 vídeos aula mas as vídeos aulas de professores que que eu pesquisei que sei que
156 posso posso aproveitar do conhecimento deles... sempre primeiro assisto a aula pra
157 ver se de fato é porque nós como professores é:: não somos perfeitos e pra não
158 haver é:: divergências de interpretação então eu prefiro ouvir a aula para levar para
159 os alunos o mesmo pensamento que o professor da videoaula apresentou...
145
1 E: bom... então inicialmente gostaria que você falasse sobre: sua idade, formação
2 acadêmica e tempo de atuação na escola...
3 Profa. Patrícia: bem eu tenho 41 anos... sou formada em letras literatura ...é e::
4 inglês... e atuo nessa escola a sete anos...
5 E: com relação ao livro didático de língua portuguesa com é realizada a escolha
6 desse material?
7 Profa. Patrícia: olha as editoras mandam pra escola... né e daí nós analisamos
8 ele... primeiro cada um / analisa ele individualmente depois nós fizemos uma reunião
9 por área... daí/ discutimos analisamos o livro em conjunto... e daí depois a gente
10 então escolhe o que / a gente então acha que é a melhor opção que nos enviaram
11 né...
12 E: então todos os professores participam da escolha desse material?
13 Profa. Patrícia: sim:: nós né sempre tentamos reunir todos os professores... marcar
14 um dia onde todos possam estar...
15 E: que critérios são utilizados para essa escolha?
16 Profa. Patrícia: olha:: assim até / nós:: pegamos assim escolhemos então o livro
17 que tem / mais textos atuais né que está mais de acordo com que é cobrado
18 depois... né / dos alunos em outras tipo no Enem nos vestibulares né... esses
19 critérios a gente tenta mais mas mesmo assim tá é difícil né... essa escolha...
20 E: quanto tempo é destinado para a escolha do livro didático?
21 Profa. Patrícia: isso tudo depende como a:: editora manda né... que nem por
22 exemplo esse ano / nós tínhamos até seis de setembro mas início de setembro daí
23 alguns ainda enviaram né / mas a maioria é mais ou menos um mês... né... mas tem
24 uns então que mandam um pouquinho mais tarde que chega então a dar dez dias
25 se a gente não tem tanto... tanto tempo pra escolher né...
26 E: qual é a sua opinião sobre o modo com que esse material é escolhido?
147
27 Profa. Patrícia: ...olha:: / né nós não temos muita opção... né não tem muita
28 opção... a gente até não tem muito o que escolher a gente vai pelo que a gente
29 achar que é melhor... livro (algum)... o melhor livro pra nós não tem...
30 E: qual é o livro didático de língua portuguesa que está sendo utilizado atualmente
31 pela escola?
32 Profa. Patrícia: novas palavras né... do william cereja
33 E: .../ português linguagens?
34 Profa. Patrícia: é... isso
35 E: português linguagens
36 Profa. Patrícia: (...) linguagens...isto...
37 E: esse livro didático foi a primeira opção de escolha?
38 Profa. Patrícia: foi.
39 E: por que essa escolha?
40 Profa. Patrícia: é como já falei antes né acho que esse é um livro que mais está
41 adequado né com o que é cobrado e exigido depois dos alunos em outros
42 vestibulares né em outras provas...
43 E: por quanto tempo o mesmo livro didático é utilizado?
44 Profa. Patrícia: três anos...
45 E: qual é a sua opinião sobre o processo de distribuição dos Livros Didáticos nas
46 escolas?
47 Profa. Patrícia: distribuição... olha ali até eu acho que assim não é... às vezes /... no
48 início do ano então os livros não estão disponíveis ainda na escola ou a gente faz
49 uma tipo... pede... vamos supor 30 livros pro primeiro ano daí só vem 20 daí gente
50 tem que ir atrás ver se / não tem em outras escolas né mas... poderia ser mais
51 organizado... pra que no início do ano todo mundo tivesse o seu livro...
52 E: como é apresentado o ensino de Língua Portuguesa no programa da disciplina do
53 9º Ano? Quais são os conteúdos que devem ser trabalhados com os alunos?
54 Profa. Patrícia: olha nós temos então assim / um plano de trabalho né mais ou
55 menos unificado a gente vai /... os professores na verdade se reúnem né e vão
56 distribuindo a gente vai tipo seguindo mais ou menos o livro né / mas a gente inicia /
57 com orações subordinadas daí vão as orações coordenadas estrutura e processo de
58 formação de palavras nós já entramos na questão de / produção textual / textos
59 dissertativo argumentativo... né / daí tem o debate regrado... trabalhamos vários
148
60 tipos de textos né inclusive até graMÁtica gramática em si não tem tanta no 9ª Ano...
61 é mais interpretação produção textual né e / algumas figuras de linguagem a gente
62 já / porque é fundamental né a gente vai introduzindo porque depois no ensino
63 médio a gente vai aprofundando...
64 E: como você descreve o livro didático do 9º ano?
65 Profa. Patrícia: olha..dizia assim um livro razoável até:: / eu gosto particularmente
66 assim dos textos ele trás ele textos assim bem na realidade deles..eles até ai só
67 podia ser sobre adolescente e sobre / a tecnologia... né trata bem assim sempre
68 digo assim é descreve os TEXTOS descrevem realmente como eles são e as vidas
69 que eles levam né... eles as vezes resmungam de novo né mas é a vida deles... e
70 textos bem bons de trabalhar...
71 E: o livro didático de língua portuguesa sustenta as práticas contempladas no
72 programa da disciplina do 9º ano?
73 Profa. Patrícia: SOMENTE o livro / o livro em si como é que vou te dizer de
74 repente... pras MÍNINAS coisas SIM né mas não assim porque a gente tem que ir
75 atrás tem que pesquisar em outras... na internet tem que ir atrás de outros livros né
76 mas assim o MÍnimo sim... o mínimo ele...
77 E: o livro didático auxilia na seleção dos conteúdos que são propostos para o ensino
78 de língua portuguesa no 9º ano?
79 Profa. Patrícia: sim... auxilia aham...mas assim como é que vou te dizer / como já
80 diz AUXILIA né a gente tem que ir atrás de outros né... mas / pelo pelo plano de
81 trabalho que a gente tem ele... auxilia bastante...
82 E: o livro didático auxilia no processo de organização e planejamento das aulas?
83 Profa. Patrícia: sim até porque assim ó / por exemplo o tema né... como a gente
84 não tem muito acesso a xerox... né e se você projeta no quadro escreve no quadro
85 isso deMOra então a gente costuma mais o tema né deixar para o livro didático... e
86 dando a aula então as outras atividades então a gente passa projeta no quadro
87 escreve mas o livro didático então é mais para esse fim né...
88 E: como você descreve a utilização do livro didático para o ensino de língua
89 portuguesa no 9º ano?
90 Profa. Patrícia: poderia repetir...como?
91 E: como você descreve a utilização do livro didático para o ensino de língua
92 portuguesa no 9º ano? como é utilizado? como o livro didático é utilizado?
149
126 ensinar o conteúdo né / eles o:: livro assim pra eles então é um guia mas eles não
127 realmente não gostam muito do livro didático né...
128 E: para você o uso do Livro Didático pode provocar transformações nos sujeitos,
129 tanto no professor como nos alunos?
130 Profa. Patrícia: em que sentido você acha no sentido de melhoRAR?
131 E: isso
132 Profa. Patrícia: sim com certeza no sentido de melhorar sim né... se / trás textos /
133 tipo:: que sejam do interesse deles para despertar o interesse deles / né / se tem
134 então o conteúdo vamos supor que eles precisam para a sua formação... eu acredito
135 que sim... TODOS com certeza sempre contribuem pra alguma coisa né mas tem
136 uns que realmente são muito bons outros já não né...
137 E: como já havia então comentado você busca então utilizar outros materiais né
138 Profa. Patrícia: (...) sim
139 E: (...) que possam complementar e dar suporte as ideias apresentadas no livro
140 didático que tipos de materiais você costuma pesquisar e trabalhar com os alunos?
141 Profa. Patrícia: até assim as próprias editoras mandaram cds... né pra nós também
142 com / atividades extras né... então essas a gente pega a gente imprime né/ na
143 internet/ sites então que quando a gente faz cursos eles recomendam “ó tal site tem
144 atividades assim” então/ daí eu pego o/ computador é meu aliado praticamente né
145 então nós temos retroprojetor eu projeto as atividades no quadro daí tem muitas
146 vezes vídeos também que explicam o conteúdo as vezes de uma se eles vem de
147 uma outra forma eles entendem melhor né... mas/ mais a internet então esses meios
148 que a gente usa mas também a gente pesquisa e faz curso onde eles indicam
149 bastante material né que usamos na sala de aula...
150 E: seriam essas as perguntas... muito obrigada...
151 Profa. Patrícia: de nada...
151
Data: _________
Observações:
1. Iniciais maiúsculas : só para nomes próprios ou para siglas (USP etc)
2. Fáticos: ah, éh, ahn, ehn, uhn, tá (não por está: tá? Você está brava?)
3. Nomes de obras ou nomes comuns estrangeiros são grifados.
4. Números por extenso.
5. Não se indica o ponto de exclamação (frase exclamativa)
6. Não se anota o cadenciamento da frase.
7. Podem-se combinar sinais. Por exemplo: oh:::... (alongamento e pausa)
8. Não se utilizam sinais de pausa, típicas da língua escrita, como ponto e vírgula, ponto
final, dois pontos, vírgula. As reticências marcam qualquer tipo de pausa.