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ESTÉTICA FACIAL I

Ana Carla Happel


Higienização de pele
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Analisar recursos indicados para a higienização da pele mista.


 Examinar recursos para a higienização da pele seca e sensível.
 Avaliar recursos para a higienização da pele oleosa e acneica.

Introdução
Muitas vezes, a higienização de pele é deixada de lado devido às rotinas
diárias cada vez mais atribuladas. No entanto, é a etapa principal de
cuidados com a pele. Para que qualquer outro cosmético possa permear
na pele e, principalmente, para que os tratamentos estéticos sejam efi-
cazes, é necessário que ela esteja totalmente limpa e desobstruída, sem
resíduos de poluição, maquiagem, filtro solar ou qualquer outra sujidade
que dificulte a absorção dos cosméticos de tratamento. Apesar dos cos-
méticos higienizantes necessitarem de uma certa detergência, esta deve
ser moderada, não removendo em excesso o manto hidrolipídico e não
ressecando ou irritando a pele.
Neste capítulo, você estudará as características dos tipos de pele e os
recursos disponíveis para uma higienização correta e eficaz.

Tipos de higienizantes para a pele


A quantidade de opções de cosméticos higienizantes disponíveis no mercado
são muitas, com diversas funções e apresentações variadas, onde cada uma
é indicada de acordo com as necessidades específicas de cada pele. Veremos
a seguir as características de cada apresentação e suas indicações (MATOS,
2014). Antes de tudo, porém, é necessário entendermos o conceito de potencial
hidrogeniônico (pH).
O pH é o valor que representa a acidez ou a alcalinidade de uma solução
aquosa, sendo muito importante para a cosmetologia. O pH da pele está entre
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4,5 e 5,5, e pode variar conforme a região do corpo e a composição do suor.


Um pH irregular pode causas irritações e até queimaduras na pele.

Sabonete líquido ou gel: higienizante indicado para todos os tipos de pele,


com detergência suave e pH neutro ou ácido.
Os sabonetes líquidos ou gel são muito práticos, e por isso bastante uti-
lizados para a higiene diária do rosto. Além disso, são de baixa detergência,
ou seja, são suaves, o que permite a adição de ativos específicos para aquele
tipo ou condição de pele. Eles devem ser aplicados diretamente no rosto, em
movimentos circulares e sempre retirados com água em abundância.

Sabonete em barra: higienizante que pode ser tradicional, alta detergência


e pH alcalino (não indicado para a limpeza facial), ou Syndet (sabonetes
fabricados a partir de componentes sintéticos), com detergência suave, pH
alcalino ou neutro, indicado para todos os tipos de pele.
Os sabonetes em barra do tipo Syndet têm detergência suave, o que os
torna menos agressivos, com pH entre 5,5 e 7,5, podendo ser indicados para
peles acneicas, com rosácea ou dermatite atópica. Já os sabonetes em barra
tradicionais são irritantes, pois têm o pH muito alcalino entre 9 e 12, não
indicado para a pele do rosto principalmente peles secas e sensíveis (KEDE;
SABATOVICH, 2009).
Na higienização com os sabonetes em barra, devemos fazer a espuma nas
mãos, e depois aplicá-la no rosto em movimentos circulares, retirando em
seguida com água em abundância.

Espuma higienizante: higienizante indicado para todos os tipos de pele,


principalmente secas e sensíveis, devido à sua detergência suave e pH neutro
ou ácido.
As espumas higienizantes são soluções de limpeza com textura mousse,
que são acondicionadas em embalagens com válvula espumadora. Elas subs-
tituem muito bem os demais sabonetes; além de não ressecar a pele são muito
eficientes na remoção das sujidades, e sem deixar a pele com aspecto oleoso.
As espumas higienizantes devem ser aplicadas diretamente no rosto em movi-
mentos circulares, removendo em seguida com água ou algodões umedecidos.

Emulsão de limpeza: higienizante com baixa ação detergente e sem remoção


de gordura, indicado para peles secas a mistas.
As emulsões de limpeza têm ação detergente suave, causam pouca irrita-
bilidade e mantêm a umidade da pele devido à presença de uma fase aquosa,
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uma fase oleosa e agentes emulsificantes, o que torna a fórmula muito eficiente
inclusive para a remoção de maquiagem. Este tipo de emulsão de limpeza deve
ser emulsionado no rosto em movimentos circulares até a total remoção das
sujidades, e após retirado com o auxílio de algodões umedecidos em água.

Higienizantes esfoliantes: higienizantes com ação esfoliante que podem ser


em forma de sabonete líquido/gel (indicado para peles mistas a oleosas) ou
emulsão (indicado para peles secas ou sensíveis).
Os higienizantes esfoliantes podem ter em sua composição esfoliantes
físicos ou químicos. Os esfoliantes físicos podem ser vegetais, minerais ou
sintéticos, e possuir abrasão alta, média ou baixa. O ideal para a pele do rosto
seriam os de baixa ou média abrasão, pois agem por ação mecânica e podem
ser de origem sintética ou natural (MATOS, 2014). Já os esfoliantes químicos
têm ação química que acelera a descamação da pele, resultando na renovação
celular. Estes esfoliantes químicos não devem ser usados em peles sensíveis.
Os higienizantes esfoliantes líquidos devem ser aplicados diretamente na pele
do rosto em movimentos circulares ou de fricção, e removidos com água em
abundância.

Água micelar: higienizante formado por micelas (tensoativos polares e apo-


lares) que higienizam sem agredir a pele.
A água micelar é um tipo de solução que contém micelas que higienizam
a pele sem agredi-la, retirando impurezas e maquiagem. Sua composição é
simples, porém aliada à tecnologia proporciona uma limpeza mais rápida, mas
efetiva e sem a necessidade de enxague. Não possui componentes agressivos
como os sabonetes tradicionais, como por exemplo sulfatos e cocoamidos,
o que faz com que seja menos irritante. Os tensoativos polares e apolares
(micelas), quando em contato com a pele, aderem às sujidades, arrastando-as
assim com o algodão. É indicada inclusive para peles sensíveis, com rosácea,
pois higieniza sem irritar a pele e não contém álcool.
A água micelar deve ser aplicada no rosto com o auxílio de algodões,
deslizando do centro do rosto para fora, e não é necessário o enxague.
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Você sabe do que é composto o pH da pele?


O pH da pele confere proteção contra os agentes agressores ambientais, sendo
uma “proteção ácida cutânea”. Ele é o resultado da soma do sebo, da água e do suor.
Portanto, quando se faz a higienização da pele com um cosmético que possui pH
maior que o da pele (alcalino), retira-se demasiadamente a proteção natural. Por esse
motivo, utiliza-se o tônico, pois ele regula o pH da pele, o que naturalmente levaria
muito tempo para acontecer.
A escala de pH vai do 0 ao 14, sendo 7 considerado pH neutro. Sendo assim, tudo que
estiver abaixo de 7 na escala é ácido, e tudo que estiver acima de 7 é alcalino ou básico.

Higienização da pele mista


A pele mista apresenta características de pele oleosa na chamada zona T (testa,
nariz e queixo), e nas outras partes do rosto pode ter características de pele
seca ou normal (MATOS, 2014). Normalmente, os cosméticos para pele mista
são muito semelhantes aos de pele oleosa, mas com mais ativos de hidratação
do que os produtos de pele oleosa.
A higienização da pele mista deve ser feita com cosméticos que agem
seletivamente, ou seja, específicos para este tipo de pele que é caracterizada
pela associação de áreas seborreicas, onde a pele é mais espessa e costuma
brilhar devido ao excesso de sebo, com áreas de pele seca que podem apresentar
uma leve descamação.
Entre os recursos para a higienização da pele mista deve-se dar preferência
a produtos com textura gel ou espuma, com detergência suave e pH neutro
ou ácido. A higienização deve ser diária, não excedendo duas vezes ao dia.
Ainda assim, existem alguns profissionais que recomendam que se utilize
produtos específicos em cada área do rosto, o que não se aplica à higienização.
A pele mista apresenta características de mais de um tipo de pele. A zona T
apresenta características de pele oleosa: oleosidade excessiva, cravos e poros
dilatados; já o restante do rosto pode ser normal ou até desidratada apresentando
descamação. A Figura 1, a seguir, mostra a zona T em um rosto de pele mista.
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Figura 1. Zona T no rosto de pele mista.

Ativos para peles mistas


Analisando os recursos para higienização de peles mistas observamos os
ativos listados a seguir como os mais utilizados para esse tipo de pele, ou
com condições de desidratadas e desvitalizadas (GOMES; DAMAZIO, 2006).
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 Aloe vera — emoliente, hidratante, umectante, anti-inflamatório e


antisséptico.
 Alantoína — calmante, revitalizante, hidratante e umectante.
 Algas marinhas — emoliente, umectante, anti-inflamatório e redutor
da secreção sebácea.
 Ácido glicólico — hidratante e reduz a espessura da pele.
 Ácido hialurônico — umectante, hidratante, alto poder de absorção
de água.
 PCa-Na — hidratante intracelular, melhora a textura da pele (suavidade,
maciez e elasticidade).

Algumas pessoas tendem a higienizar a pele do rosto várias vezes ao dia,


pois acreditam assim estar resolvendo o problema da oleosidade excessiva,
mas na verdade estão estimulando a pele a produzir mais sebo e provavelmente
apresentar um efeito rebote.

Você sabe o que é “efeito rebote”?


Ao remover as sujidades da pele, removemos também o manto hidrolipídico do
estrato córneo, que, quando retirado em excesso, acaba estimulando as glândulas
sebáceas a produzir mais sebo e deixando o pH da pele alcalino. O pH alcalino é
propício para a proliferação de microrganismos, o que pode causar acne (MATOS, 2014).

Higienização da pele seca e sensível


A pele seca possui hipoatividade das glândulas sebáceas, o que faz com que os
óstios fiquem imperceptíveis e a aparência da pele pareça opaca. Geralmente
a pele seca é também desidratada e apresenta descamação. Essa desidratação
se deve à falta de óleo suficiente para funcionar como barreira. Assim, a pele
perde água com mais facilidade (MATOS, 2014).
Apesar do tipo cutâneo ser hereditário, ele também pode se originar em
função do envelhecimento, já que todas as atividades corporais diminuem
com o passar dos anos, logo, a atividade das glândulas sebáceas também
diminui. Este tipo de pele tem por característica ser muito fina e delicada, ter
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poros quase invisíveis e propensão ao envelhecimento precoce, assim como a


desenvolver sensibilidade. A sensibilidade cutânea pode ser identificada pela
presença de vermelhidão, inflamação, manchas, queimação, prurido, placas
escamosas ou inchaço (MICHALUN; MICHALUN, 2010).
A higienização da pele seca requer muito cuidado, utilizando produtos de
detergência suave como leite e loções de limpeza que limpam e possuem ativos
hidratantes. Outras opções são sabonetes sem sabão, sabonetes emolientes
de glicerina e leites ou loções de limpeza formulados especificamente para
este tipo de pele.
Se a pele, além de ser do tipo seca, for do subtipo sensível, os sabonetes
líquidos ou em barra não são indicados, pois devem ser livres de álcool e
fragrância, e a formulação deve ter ativos calmantes, anti-inflamatorios,
refrescantes e cicatrizantes (KEDE; SABATOVICH, 2009).
A pele normal apresenta textura uniforme devido ao equilíbrio entre água
e óleo. Já a pele seca é áspera e de textura irregular, com tendência à sensi-
bilidade e à descamação.

Ativos para peles secas ou sensíveis


Examinando os recursos utilizados em higienizantes para peles secas, obser-
vamos majoritariamente cosméticos com potentes umectantes e hidratantes.
Caso a pele também seja sensível, buscamos ativos não irritantes (GOMES;
DAMAZIO, 2006).

 Aquaporine AQP-3®: esse componente é uma associação do ácido


glutâmico com silanetriol trealose que é um dissacarídeo extraído
de plantas do deserto. Possui propriedade hidratante por promover o
transporte de moléculas de água pela membrana plasmática das células.
 Betavera®: é a combinação de Aloe vera com a betaglucan que auxilia
na redução do eritema e aumenta a hidratação.
 Extrato de caviar derivado do caviar que é extraído do peixe Beluga.
Indicado para peles secas por recuperar o manto hidrolipídico. Possui
duas formas: hidrossolúvel e lipossolúvel.
 D-Pantenol: pró-vitamina B5 com efeito anti-inflamatório, hidratante
e auxilia na cicatrização da pele.
 Densiskin®: composto de colágeno marinho com alta concentração de
silanetriol. Auxilia no controle da irritação da pele, aumentando a sua
densidade com ação mimética que estimula as células.
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 Fucogel®: ativo composto por fucose, galactose e ácido galacturônico,


com alto poder de hidratação fornecendo um filme protetor da pele que
diminui sua irritação.

Os recursos cosméticos mais indicados para higienizar este tipo de pele são
as loções ou espumas, de preferência com os princípios ativos apresentados
a seguir.

 Alantoína — calmante, revitalizante, hidratante e umectante.


 Betaglucan — hidratante hidrofílico e calmante.
 PCa-Na — hidratante intracelular, melhora a textura da pele (suavidade,
maciez e elasticidade).
 Pantenol — umectante, hidratante, anti-inflamatório.
 Camomila — calmante, anti-inf lamatório, antialérgico e
descongestionante.
 Calêndula — anti-inflamatório, emoliente, calmante, cicatrizante e
restaurador.

Higienização da pele oleosa e acneica


A pele oleosa possui hiperatividade das glândulas sebáceas, e tem aspecto
untuoso, brilhoso, granuloso, espesso e com os óstios dilatados. E devido à
hiperqueratinização (trata-se de pele com excesso de queratina), os óstios
acabam obstruídos, formando os comedões (MATOS, 2014). O clima úmido
e quente também pode estimular as glândulas sebáceas a produzir mais óleo,
o que favorece a proliferação de bactérias, causando a acne (MICHALUN;
MICHALUN, 2010).
A pele oleosa apresenta um brilho excessivo, e por isso é necessário o
uso de ativos detergentes eficazes para remover este excesso de óleo. Para
este tipo de pele, higienizantes contendo antimicrobianos e abrasivos são
indicados, e, nos cases de acne, os produtos com ação secativa e bactericida
são os mais indicados.
A higienização deve ser feita com cosméticos de ação controladora de
oleosidade, ação queratolítica, ação antisséptica, bactericida e protetora, sendo
as apresentações em gel ou líquidas as mais indicadas (MATOS, 2014). Um
bom higienizante para pele oleosa precisa auxiliar no controle da produção do
sebo e ser bactericida. Alguns ativos podem agregar efeito esfoliante à formu-
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lação, chamados de ácidos queratolíticos. Na Figura 2, a seguir, observamos


diferentes tipos de lesões de acne.

Cravos brancos Cravos pretos Pápulas

Pústulas Nódulos

Figura 2. Tipos de lesões de acne. O excesso de oleosidade da pele causa, inicialmente,


cravos brancos e pretos. Quando não há controle com cosméticos adequados, evoluem
para os casos de acne com pápulas, pústulas e nódulos nos casos mais graves.
Fonte: Adaptada de gritsalak karalak/Shutterstock.com.

Ativos para peles oleosas ou acneicas


Avaliando os cosméticos higienizantes para peles oleosas ou acneicas, perce-
bemos que os ativos mais utilizados normalmente têm características bacteri-
cidas, secativas, anti-inflamatórias e antissépticas (GOMES; DAMAZIO,
2006). Os recursos mais indicados para peles oleosas e acneicas são os higie-
nizantes líquidos ou em gel e os sabonetes em barra do tipo Syndet.
Um dos componentes mais utilizados para peles oleosas é o ácido salicílico,
que confere um efeito queratolítico bem acentuado. Além disso, ele é sebo
regulador, controla a proliferação da bactéria da acne e é anti-inflamatório.
Porém deve-se ter muito cuidado com o uso contínuo, pois, dependendo da sua
concentração e suas associações, pode ocorrer efeito rebote e sensibilização
da pele.
Outro ativo muito utilizado é o ácido glicólico, que é extraído da cana-
-de-açúcar. É um alfahidroxiacido com ação renovadora e hidratante da pele,
dependendo do pH da formulação. O ácido glicólico tem um peso molecular
menor, aumentando o poder de penetração em relação a outros componentes.
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 Enxofre — desengordurante, secativo, bactericida e adstringente.


 Ácido salicílico — anti-inflamatório, antisséptico, bactericida e
ceratolítico.
 Ácido lactobiônico — cicatrizante, revitalizante, combate os radicais
livre e normalizador do turnover celular.
 Ácido azeláico — bactericida, comedolítico e inibidor da tirosinase.
 Melaleuca — antisséptico, bactericida, analgésico e cicatrizante.
 Zinco — adstringente, anti-inflamatório e controlador de oleosidade.

O mais importante é que antes de cada higienização se verifique o tipo de


pele e se faça a escolha do higienizante conforme suas necessidades. Também
é preciso não exceder duas higienizações por dia e dar preferência para a água
fria, evitando ressecamento e desidratação.

Digamos que, em uma pele já sensibilizada, a pessoa utilize um produto qualquer para
higienização, o qual, sem que ela saiba, contém higienizantes de alta detergência e
álcool. O que vai acontecer? Certamente, sua pele ficará cada vez mais sensibilizada
devido à escolha incorreta de cosméticos para o seu tipo específico. O mais indicado
para esse tipo de pele são higienizantes com ativos hidratantes e umectantes, sem
ativos irritantes.

GOMES, R. K.; DAMAZIO,M. G. Cosmetologia: descomplicando os princípios ativos. 2.


ed. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2006.
KEDE, M. P. V.; SABATOVICH, O. Dermatologia estética. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2009.
MATOS, S. P. Cosmetologia aplicada. São Paulo: Érica, 2014.
MICHALUN, N.; MICHALUN, M. V. Dicionário de ingredientes para cosmética e cuidados
da pele. São Paulo: Cengage Learnign; Senac, 2010.

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