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Problema:

No dia 10 de março de 2017, após ingerir um litro de vinho na sede de sua


fazenda, José Alves pegou seu automóvel e passou a conduzi-lo ao longo da
estrada que tangencia sua propriedade rural. Após percorrer cerca de dois
quilômetros na estrada absolutamente deserta, José Alves foi surpreendido por
uma equipe da Polícia Militar que lá estava a fim de procurar um indivíduo
foragido do presídio da localidade. Abordado pelos policiais, José Alves saiu de
seu veículo trôpego e exalando forte odor de álcool, oportunidade em que, de
maneira incisiva, os policiais lhe forçaram a realizar um teste de alcoolemia em
aparelho de ar alveolar. Realizado o teste, foi constatado que José Alves tinha
concentração de álcool de um miligrama por litro de ar expelido pelos pulmões,
razão pela qual os policiais o conduziram à Unidade de Polícia Judiciária, onde
foi lavrado Auto de Prisão em Flagrante pela prática do crime previsto no artigo
306 da Lei 9.503/1997, c/c artigo 2º, inciso II, do Decreto 6.488/2008, sendo-lhe
negado no referido Auto de Prisão em Flagrante o direito de entrevistar-se com
seus advogados ou com seus familiares.

Dois dias após a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, em razão de José


Alves ter permanecido encarcerado na Delegacia de Polícia, você é procurado
pela família do preso, sob protestos de que não conseguiam vê-lo e de que o
delegado não comunicara o fato ao juízo competente, tampouco à Defensoria
Pública.

Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser
inferidas pelo caso concreto acima, na qualidade de advogado de José Alves,
redija a peça cabível, exclusiva de advogado, no que tange à liberdade de seu
cliente, questionando, em juízo, eventuais ilegalidades praticadas pela
Autoridade Policial, alegando para tanto toda a matéria de direito pertinente ao
caso.

Peça processual:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA


CRIMINAL DA COMARCA DE ...

José Alves, nacionalidade, estado civil, profissão, nascido em ..., RG..., CPF...,
residente e domiciliado no endereço ..., através de seu advogado infra-
assinado, com procuração em anexo, vem, à presença de Vossa Excelência,
requerer o RELAXAMENTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE, com base no art.
5º, LXV, da Constituição Federal de 1988 e art. 310, inciso I, do Código de
Processo Penal, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: 

I- DOS FATOS

No dia 10.03.2017, José Alves estava dirigindo o seu carro após beber 01 litro
de vinho. Na ocasião, policiais militares que estavam a procura de um indivíduo
foragido, abordaram o requerente, sendo que este saiu de seu carro com forte
odor de álcool e trôpego, oportunidade que os policiais lhe compeliram a
realizar o exame de alcoolemia, onde constatou-se a concentração de álcool de
um miligrama por litro de ar expelido pelos pulmões, razão pela qual os
policiais o conduziram à Unidade de Polícia Judiciária, onde foi lavrado Auto de
Prisão em Flagrante pela prática do crime previsto no artigo 306 da Lei
9.503/1997, c/c artigo 2º, inciso II, do Decreto 6.488/2008. 

No entanto, no Auto de Prisão em Flagrante, foi negado ao requerente o direito


de entrevistar-se com seus advogados ou com seus familiares. A sua prisão
não fora comunicada ao juízo competente, tampouco à Defensoria Pública,
além de que os seus familiares não conseguiam lhe ver, mesmo após ter
passado dois dias da lavratura do Auto. 

II- DO DIREITO

a) Do princípio da não autoincriminação

Os policiais compeliram o requerente a realizar o teste de


alcoolemia. No entanto, ninguém é obrigado a produzir prova
contra si mesmo. O ato policial de compelir o requerente a realizar
o teste de alcoolemia viola o princípio da não autoincriminação
compulsória, previsto no art. 5º, inciso LXIII, da Constituição
Federal de 1988. 

Além de previsão constitucional, o princípio da não


autoincriminação está previsto no Pacto de São José da Costa
Rica. Forçar o indivíduo a produzir prova contra si, viola o decreto
678/92, em seu art. 8, 2, 'g'. 

Logo, o auto de prisão em flagrante é nulo e a prisão deve ser


relaxada.

b) Da prova ilícita 

O exame de alcoolemia produzido foi obtido através de uma


colheita forçada, o que torna prova ilícita, significando violação
ao preceito constitucional contido no art. 5º, inciso LVI, que aduz
que são inadmissíveis provas obtidas por meios ilícitos, além de
violação ao art. 157, do Código de Processo Penal. 

Logo, tratando-se de prova que foi obtida por meio ilícito, o teste
de alcoolemia não pode servir de fundamento para a prisão do
requerente, o que torna a prisão ilegal. 
c) Da comunicação da prisão

A autoridade policial não comunicou imediatamente a prisão do


requerente ao juízo competente e nem a sua família, o que viola
os termos do art. 5º, LXII, da Constituição Federal/88 e os termos
do art. 306, caput, do Código de Processo Penal. 

Além disso, o delegado não encaminhou os autos à Defensoria


Pública, violando a determinação do art. 306, §1º, do Código de
Processo Penal, que exige o encaminhamento dos autos em até
24 horas após a realização da prisão, caso o autuado não informe
o nome de seu advogado. 

Logo, o auto de prisão em flagrante é nulo, devendo a prisão ser


relaxada. 

d) Do direito do preso de entrevistar-se com seu advogado e


da assistência da família

O delegado negou ao requerente o direito de entrevistar-se com


seu advogado, além de negar também o contato com seus
familiares, sendo que é assegurado pela Constituição Federal/88,
em seu art. 5º, LXIII, o direito do preso de ter assistência familiar e
de entrevistar-se com seu advogado.

Negar ao preso comunicação com seu defensor, além de violar


preceitos constitucionais, viola também aquilo previsto no art. 8, 2,
'd', do Decreto 678/92, que garante o direito do indivíduo de
comunicar-se livremente com seu defensor. 

Logo, o auto de prisão em flagrante é nulo, impondo-se o


relaxamento
b) da prisão em flagrante.

III- DOS PEDIDOS

Diante do exposto, tendo em vista que a prisão é ilegal por violar normas
constitucionais e infraconstitucionais, requer o RELAXAMENTO DA PRISÃO
EM FLAGRANTE, com a consequente expedição do alvará de soltura, por
medida de Justiça. 

Nestes termos, 
Pede deferimento
Local..., data...
Advogado. OAB n....

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