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Neste trabalho vamos abordar um capítulo do livro “Introdução à filosofia

política”, de Jonathan Wolff. O autor, neste capítulo, trata temas relacionados com os
direitos para as mulheres.
No seu discurso, Jonathan Wolff começa por referir a importância do feminismo,
sendo que o feminismo é o movimento social e político criado por mulheres para
mulheres que defende a qualidade de direitos e estatutos privilegiados entre homens e
mulheres. Segundo o autor, este movimento é importante devido á forma desigual
como as mulheres foram tratadas no decorrer do tempo. Wolff reconhece que o
feminismo foi responsável por diversas mudanças significativas na vida da mulher em
alguns países. No texto do filósofo encontrámos alguns exemplos de privações sofridas
pelas mulheres ao longo da história. Até há pouco tempo atrás, na maior parte dos
países as mulheres não tinham direito ao voto, não tinham direito à propriedade após
se casarem, bem como tinham salários inferiores aos dos homens. Ainda que haja
muitas mudanças a fazer, as mulheres deram certamente largos passos em direção à
igualdade de direitos entre o homem e a mulher. Graças à luta das mulheres, hoje em
dia muitas mulheres têm direito ao voto, direito a desempenhar um papel ativo na vida
social e política e direito á igualdade salarial. Ainda que seja possível encontrar estas
desigualdades na sociedade atual- Situação das mulheres afegãs-, estas existem em
menor número, em comparação com as que existiam há uma década atrás. Para o autor
“há razões para crer que a situação continuará a melhorar”. Logo de seguida este aponta
um problema: “Então, se as mulheres têm ou terão em breve, direitos iguais, que mais
poderá querer uma feminista?”.
O autor considera que uma política de direitos iguais não basta para satisfazer a
igualdade, devido à existência de formas mais subtis de discriminação, que apesar de
indiretas estão presentes e, muitas vezes, passam despercebidas aos olhos do mundo.
Essas formas de discriminação podem ser: violência nas relações, discriminação salarial,
falta de oportunidades no trabalho, julgamento social.
O estudo da obra “Introdução á filosofia política” levou-nos ao levantamento de
várias questões, entre elas: Como organizar uma sociedade justa?
Na teoria da justiça de Rawls, um contratualista, é defendida a noção de justiça
como equidade, isto é, as coisas devem ser distribuídas de acordo com as necessidades
dos indivíduos, dando mais a quem te menos, de forma a atingir a igualdade. Este diz-
nos que devemos definir princípios da justiça a partir da posição original. A posição
original (posição primeira, anterior à sociedade civil) corresponde ao estado natural da
teoria do contrato social e deve ser concebida como uma situação imaginária. Os
indivíduos nesta posição original estão “cobertos” com o véu de ignorância. O véu de
ignorância é uma barreira contra os interesses parciais dos indivíduos e dos grupos.
Subentende a exclusão de toda a informação sobre as nossas características e condição
social e económica, assim como a etnia, o sexo (impede que um dos sexos seja visto
como inferior- garante assim a igualdade de géneros), a religião, a orientação sexual, a
profissão, os talentos e inclusivamente, os nossos valores e conceções de bem. A
vantagem do véu de ignorância é obrigar os indivíduos à imparcialidade, requisito básico
de qualquer sistema justo. Ninguém, nesta situação de desconhecimento original,
consentirá, por exemplo, num sistema onde existe um sexo superior ao outro, dado que
pode vir a encontrar-se na posição do sexo inferior. Os princípios da justiça nascerão
assim de um acordo ou negociação em situação de absoluta equidade- Contrato original.
Para Rawls os dois princípios da justiça são: princípio da igual liberdade (igualdade na
atribuição dos direitos e deveres básicos, bem como a máxima liberdade para cada
indivíduo que não ponha em causa uma liberdade igual para todos), o princípio da
diferença (as desigualdades económicas são aceitáveis apenas se resultarem de
vantagens compensadoras para todos e, em particular, para os membros mais
desfavorecidos da sociedade) e o princípio da igualdade de oportunidades (as
desigualdades não serão aceitáveis se decorrem de oportunidades que são dadas a uns,
mas não a outros, isto é, o Estado deve intervir para garantir que todos tenham as
mesmas oportunidades). Contudo, há quem considere que a opção pelo véu de
ignorância não é fiável. Como é que podemos formar os princípios de justiça de uma
sociedade se supostamente não sabemos o que é viver numa? O comunitarista Sandel
fala acerca desta questão. Para o filósofo a posição original e o véu de ignorância fazem
com que as decisões tomadas por um indivíduo sejam amorais, isto é, não podemos criar
os princípios de uma sociedade justa num “estado natureza”, sem conhecer a vida em
comunidade, pois segundo Sandel esta vida torna possível ao indivíduo construir a sua
própria identidade e fazer as suas escolhas, agindo em prol do bem comum. O conceito
de bom é anterior ao conceito de justo e não pode ser dado pelas preferências
individuais dos seres desarreigados do seio de uma comunidade concreta. Assim sendo,
agir pelo véu de ignorância levar-nos-ia a fazer escolhas amorais, transformando-nos em
seres irreais, sem laços morais.
Através da seguinte afirmação “Não é muito difícil perceber que uma política de
direitos iguais embora muitíssimo desejável em si, não basta para satisfazer as
exigências de igualdade”, conseguimos perceber a posição de Wolff em relação ao
problema “Como organizar uma sociedade justa?”. O filósofo considera que uma política
de direitos iguais não é a forma de chegarmos a uma sociedade justa, visto que quando
pessoas têm necessidades significativamente distintas não devem ser tratadas da
mesma maneira. Por outras palavras, o autor concorda com o princípio da diferença de
Rawls.
Mas será que existe uma diferença relevante entre homens e mulheres? Será
que as mulheres têm necessidades especiais?
Para o filósofo Stuart Mill, pioneiro na defesa dos direitos da mulher, não existem
nenhumas diferenças relevantes entre o sexo feminino e masculino. Este filósofo
defendia a tese – numa época onde o machismo imperava – de que a submissão da
mulher se dava por uma questão cultural e afirmava que não há argumentos plausíveis
que justifiquem a submissão do sexo feminino. No seu livro “A subjugação da mulher”,
o autor elabora uma discussão em torno do papel da mulher na sociedade, defendendo
a tese que existe uma relação de igualdade entre o homem e a mulher. A discussão que
o autor traz no seu livro é importante e atual, apesar de seu livro ser de 1869.
Já o filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau fazia duras críticas às mulheres.
Segundo ele, as mulheres não estavam presentes no contrato social, assim, os homens
teriam o domínio sobre as mulheres e as crianças, ou seja, Rousseau defendeu a tese da
família patriarcal como a família natural. Na verdade, as mulheres, na teoria de
Rousseau, seriam totalmente excluídas da possibilidade de participação política.
Rousseau realiza uma clara distinção entre o espaço público e o privado (doméstico).
Aquele destinado aos homens e este, às mulheres. Trata-se da divisão sexual do trabalho
que se iniciou, de acordo com esse filósofo, no momento em que surgiu a família.
Rousseau não deixa dúvidas de que, no seu pensamento, a desigualdade entre os sexos,
o confinamento da mulher ao espaço doméstico e a inferioridade do sexo feminino
possuem como fundamento a natureza e a razão.
Immanuel Kant, um dos maiores filósofos iluministas, defendeu uma tese
próxima à de Rousseau, pois acreditava que a diferença entre sexo masculino e feminino
era simplesmente natural. Para ele, as mulheres lidavam com trivialidades, pois não
foram feitas para raciocinar, mas para sentir. Kant pensava: "O facto das mulheres se
destacarem na história pela sua capacidade intelectual, não era um fator suficiente para
serem reconhecidas. Para isto teriam que ser “homens”.
Ainda que anos se tenham passado este tema continua a ser bastante
controverso sendo que, nos dias de hoje é um grande causador de dilemas entre
feministas, visto que alguns homens vêm o admitir de necessidades especiais por parte
das mulheres um “reconhecimento de fraqueza” (admissão de inferioridade), sendo que
eles também as têm. Por exemplo, os homens necessitam de ingerir mais calorias por
dia do que as mulheres, no entanto isto nunca foi visto como um sinal de fraqueza aos
olhos da sociedade. Para o filósofo esta indecisão pela parte de algumas reticentes
feministas não faz sentido, dado que a recusa em admitir que existem diferenças
biológicas entre homens e mulheres, sendo que estas têm respetivamente necessidades
especiais, maioritariamente aquelas relacionadas com a sua natureza biológica (só as
mulheres podem dar á luz), poderá assegurar-lhes uma posição inferior. Todavia,
o reconhecimento das diferenças biológicas entre os sexos, não simboliza que tenhamos
que nos conformar com todas as diferenças tradicionais nos papéis dos géneros. É feita
pelas feministas, a distinção entre sexo e género, sendo que sexo se refere ás categorias
inatas a nível biológico, isto é, algo relacionado com o feminino e o masculino, e género
diz respeito a uma categoria social, relacionando os papéis do homem e da mulher na
sociedade. Assim, podemos constatar que, quer o papel da mulher, quer o do homem
diferem de cultura para cultura. No seu discurso, Jonathan Wolff menciona que a criação
de licença de maternidade, algo visto por muitos como sendo bom, é, no entanto,
insuficiente, pois as carreiras das mulheres serão afetadas pelo nascimento do filho de
uma forma que as dos homens normalmente não são. Por outras palavras, a licença de
maternidade não garante igualdade no local de trabalho. As mulheres deveriam ter as
mesmas oportunidades que os homens têm no local de trabalho (princípio da igualdade
de oportunidades defendido por Rawls). Por isso, muitas feministas defendem a criação
de uma licença familiar, sendo esta política um meio para permitir a igualdade da mulher
no emprego.
O último tópico abordado pelo autor neste capítulo é a discriminação positiva,
sendo esta a criação intencional de condições desiguais para favorecer as vítimas das
desigualdades. Trata-se de conceder um tratamento preferencial, em diversas
circunstâncias, a indivíduos de grupos minoritários e reconhecidamente desfavorecidos.
Aos olhos de muitos a discriminação positiva é vista como um meio para atingir uma
sociedade igualitária.
Pode a discriminação positiva ser aceitável? Mas será que devemos dar
tratamento preferencial aos membros dos grupos desfavorecidos?
Nos dias de hoje existem vários argumentos a favor e contra a discriminação positiva.
Entre estes temos:
• O argumento deontológico da Compensação pelas Desigualdades Criadas no
Passado (argumento a favor) que é orientado sobretudo para o passado e
contém algumas premissas fatuais. Este argumento diz-nos que muitas pessoas
foram, no passado, vítimas de condições desiguais, das quais resultou o seu
desfavorecimento em relação a outros cidadãos. Ora, tais desigualdades são
injustas. Uma sociedade justa deve compensar as vítimas de desigualdade. A
discriminação positiva é a melhor forma de o fazer. Logo, uma sociedade justa
deve discriminar positivamente as vítimas de desigualdade.
• O Argumento da Prevenção das Desigualdades Futuras (argumento a favor), um
argumento utilitarista, que é orientado sobretudo para o futuro. Muitas pessoas
são discriminadas devido ao seu sexo, raça, religião, nacionalidade,
comportamento sexual ou outros fatores, mesmo em sociedades cujas leis
impedem formalmente essa discriminação. Tal discriminação produz
desigualdades profundas na distribuição de bens sociais como o dinheiro, o
emprego, a participação política, a educação, etc., o que é injusto. Numa
sociedade justa é útil combater afirmativamente estas injustiças, pois isso
promove a igualdade de oportunidades no futuro. A discriminação positiva é a
melhor forma de combater ativamente essas injustiças. Logo, é um dever
praticar a discriminação positiva. Este tipo de argumento está na base de
medidas como o Rendimento Mínimo Garantido ou o Rendimento Social de
Inserção.
• O Argumento dos Ressentimentos (argumento contra) defende que a
discriminação positiva gera ressentimentos e o preconceito de que as pessoas
que pertencem a grupos desfavorecidos não conseguem ter sucesso por mérito
próprio. Este preconceito tanto se espalha entre aqueles que não são
discriminados positivamente, gerando-lhes maiores sentimentos racistas,
xenófobos, sexistas, etc., como se espalha entre aqueles que beneficiam da
discriminação positiva, gerando-lhes inércia.
• O Argumento da Violação dos Direitos (argumento contra) diz que a
discriminação positiva exemplifica um caso em que os fins que se pretendem
atingir (uma sociedade mais igualitária), sendo louváveis, não podem servir para
justificar os meios (as discriminações positivas), que não são moralmente
aceitáveis. É inegável que afinal alguém acaba por ser prejudicado em função do
seu sexo, raça, situação económica, etc., por causa de medidas discriminatórias.
Ora, isso constitui uma violação dos direitos das pessoas. Logo, ninguém deveria
ser discriminado positivamente.

No entender do autor do texto a discriminação positiva pressupõe contratações


“preferenciais” ou políticas de admissão, sendo que pode tomar diferentes vertentes.
Para facilitar a compreensão desta matéria, Wolff pede aos leitores que imaginem o
caso de uma universidade que pretende admitir mais estudantes do sexo feminino.
Nesta universidade poderá haver uma quota restrita de vagas que tem de ser
preenchida por mulheres, ou poderá não ter qualquer tipo de quota e apreciar
convenientemente as candidaturas femininas, ou poderá ainda ser usado o sexo numa
situação onde alunos igualmente aptos concorrem para a mesma vaga. Mas não será
isto discriminar por razões diferentes? Wolff chega á conclusão que não importa a
política, dado que qualquer que seja a política utilizada haverá sempre discriminação
por qualquer razão (admissões ás universidades discriminam, necessariamente entre os
mais inteligentes e menos inteligentes), ou seja, nem toda a discriminação é injusta e
inaceitável. A verdadeira questão é identificar se a discriminação positiva é ou não
aceitável. No ponto de vista de Wolff, a discriminação positiva, é indesejável e a longo
prazo, em certos aspetos pode até ser injusta. Ele defende ainda que as pessoas devem
ser tratadas de acordo com os seus méritos individuais. Porém, o mesmo reconhece que
sem uma política temporária de discriminação positiva será de um grau de dificuldade
acrescido alcançar um mundo onde a mesma não seja necessária. Basicamente, para o
autor, a discriminação positiva é um meio para atingir uma sociedade igualitária e justa.

-Posicionamento crítico
Tal como o autor, reconhecemos a importância do movimento feminista. A luta
feminista foi responsável por várias mudanças no papel da mulher na sociedade e
conquistou imensos direitos que muitas mulheres desfrutam hoje em dia. Não obstante
a todo o progresso já realizado a luta feminista deve continuar, pois tal como o autor,
acreditamos que o preconceito e a discriminação ainda existem mesmo que de forma
discreta. Para nós, uma sociedade justa deveria ser uma sociedade onde prevaleça os
princípios da justiça de Rawls. Estes princípios são imparciais, o que impede as
desigualdades, como por exemplo, a inferioridade de um sexo em relação ao outro.
Assim como o autor, reconhecemos que existem diferenças significativas entre os
indivíduos, como por exemplo as diferenças biológicas entre homens e mulheres. Estas
diferenças são apenas a nível de sexo, e por isso, não faz qualquer sentido as diferenças
existentes na sociedade quanto ao género. Em nada concordámos com a posição de
Rousseau, pois este faz uma clara distinção entre o lugar da mulher e o lugar do homem,
sendo que para ele a mulher deve se limitar ao espaço privado (casa) e o homem deve
participar ativamente no espaço público (trabalho). Na nossa perspetiva Rousseau é
extremamente machista e não reconhece a clara dignidade das mulheres e o quanto
elas têm a capacidade de prosperar em qualquer das coisas que escolham fazer na vida.
É devido a pensamentos machistas como o de Rousseau e Kant que, para nós, deve ser
feita a diferenciação entre sexo e género.
O último tópico abordado por Jonathan Wolff foi a discriminação positiva. O
autor revela-se contra a aplicação da mesma a longo prazo. Mas não será isto
contraditório pela parte do autor, sendo que este defende aplicação de direitos segundo
as necessidades dos indivíduos? A nosso ver, a opinião do autor pode parecer
contraditória, mas não o é. Ao longo da sua obra ele vai construindo as suas
ideias usando argumentos válidos e contra-argumentos, daí parecer confuso. Ele ao
afirmar que concorda com a aplicação de direitos segundo as necessidades dos
indivíduos, em nada refere, ao início, que esta aplicação é a longo ou curto prazo. Ao
finalizar a sua posição é que transparece uma ideia clara de que esta política de
discriminação positiva é apenas um meio para atingir um fim (aplicação a curto prazo),
sendo este fim uma sociedade justa onde a discriminação positiva não é mais
necessária.
Para nós, a discriminação positiva não é algo desejável, nem a longo, nem a curto
prazo. Discriminar é favorecer ou prejudicar um indivíduo ou um grupo de indivíduos
em relação a outros, com diferentes características. Discriminar positivamente (ação
afirmativa) é favorecer um indivíduo ou um grupo de indivíduos, que à partida estariam
em desvantagem, com o objetivo de chegar a um ponto de equilíbrio. É a esse ponto de
equilíbrio, em que não há indivíduos ou grupos favorecidos, que chamamos sociedade
igualitária.
Podemos verificar que existem grandes desequilíbrios na sociedade porque, no
passado, certas pessoas foram, ou no presente continuam a ser, discriminadas, muitas
vezes em relação ao seu sexo, mas também muitas vezes em relação à sua raça ou
religião. É para combater essas injustiças que é utilizada a ação afirmativa,
compensando quem foi prejudicado. É esse o objetivo mais "puro" da ação afirmativa,
o que à partida nos leva a pensar que é um bom caminho para combater certas
desigualdades. Por exemplo, no país A, existiam, numa determinada altura, mais
deputados na Assembleia do sexo masculino, do que do sexo feminino. O governo desse
país achou que devia tomar uma atitude para que as coisas se equilibrassem. Então
decidiu dar prioridade às candidaturas femininas, para que houvesse igualdade. Passado
um tempo já havia igualdade e a discriminação positiva deixou de ser praticada. Deste
modo, a ação afirmativa parece ser o meio mais prático e correto para atingir uma
sociedade igualitária. Mas existem muitas pessoas que não concordam com isto. E
nós também não concordámos, pois não é necessário nem correto recorrer à
discriminação positiva para alcançar uma sociedade igualitária.
Como já foi acima referido, a ação afirmativa é utilizada para tornar a sociedade
mais igualitária. Todavia, não é racional nem justo, promover a igualdade, utilizando um
meio discriminatório. Segundo os defensores da discriminação positiva, é correto
favorecer um grupo à partida em desvantagem. Só que isso implica muitas vezes
prejudicar outros grupos, violando alguns dos seus direitos. Além disso levanta-se a
seguinte questão: não foram os atuais membros desse grupo que contribuíram para a
primeira discriminação. Estes vão pagar por uma ação dos seus antepassados, o que
também seria uma injustiça. E certo que quem foi prejudicado tem o direito de ser
compensado, mas não faz sentido se não for por quem o prejudicou. Deve-se, pois,
utilizar a discriminação para acabar com a discriminação? Isto parece ser inconsistente.
Acreditamos que a ação afirmativa, ao privilegiar elementos de grupos
desfavorecidos, em vez de contribuir para extinguir certos preconceitos, como parece
ser o seu objetivo, pode mesmo alimentá-los. Um aluno cigano que tenha entrado para
uma universidade, com média de 18,5, em detrimento de um aluno caucasiano com a
mesma média, devido simplesmente à discriminação positiva, pode ser confrontado
com reações do género: "Só entrou porque é cigano, e têm pena dele!" Ou "Se eu
fosse cigano provavelmente também teria entrado". Isto podia fazer aumentar certos
preconceitos. É possível para um defensor da discriminação positiva responder ao
primeiro argumento dizendo que é muito mais injusta a maneira como as coisas estão-
o desequilíbrio naquele momento seria comparativamente mais injusto do que o
recurso à da ação afirmativa. Se utilizarmos a ação afirmativa, estamos a contribuir para
um futuro em que, a nível social, haverá menos desigualdades, alega quem defende a
sua implementação. Mas mesmo assim será plausível que utilizemos uma ação
desigualitária para obter uma igualdade? Eu penso que tal, além de não ser plausível,
não é necessário. Não é preciso favorecer os grupos em desvantagem, basta deixar de
os prejudicar. Assim, será mais justo, porque ninguém sairá prejudicado, havendo
apenas o senão de este processo poder ser mais demorado do que o processo da
discriminação positiva.
Quanto ao argumento dos preconceitos, pode ser respondido pelos defensores
da ação afirmativa apresentando garantias do seguinte género: por exemplo, numa
candidatura a um emprego, a ação afirmativa só deve funcionar a favor das mulheres se
o nível mínimo de capacidades para que elas sejam admitidas for alto, apesar de poder
haver homens com habilitações ligeiramente superiores. Mas é discutível que isto seja
de facto discriminação positiva, pois pode ser apenas um ajustamento dos critérios de
seleção de candidatos.
Assim, do nosso ponto de vista a discriminação positiva não é, de facto, o melhor
meio para uma sociedade igualitária. Ela pode até estimular certos preconceitos,
levando a fraturas na sociedade. Também não é plausível utilizar um meio que favorece
uns, discriminando outros, para atingir um fim equilibrado e igualitário.

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