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ESMEG
ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO ESTADO DE GOIÁS
“Prof. e Des. Romeu Pires de Campos Barros”
2011
Prof. Wilson Dias
Direito Process
Sumário
Considerações gerais
Diante da imperiosa necessidade de se impingir um rito mais célere e
informal aos crimes considerados de pouca monta – ou de menor potencial
ofensivo –, como há muito reclamavam os operadores e doutrinadores do
direito, o legislador constituinte originário determinou a criação dos juizados
especiais, cíveis e criminais, no art. 98, inc. I, da CF1, possibilitando também o
instituto da transação penal como nova forma alternativa de resolução da lide
penal de natureza pública.
Em atenção ao mandamento constitucional, o legislador criou os juizados
especiais criminais através da Lei nº 9.099/95, onde conceituou o que seria
infração de menor potencial ofensivo, e previu o procedimento sumaríssimo
para sua persecução penal.
Inegavelmente essa lei trouxe enormes e significativos avanços e
mudanças na forma de se operar a justiça penal.
Criou institutos novos e despenalizadores, como a transação penal, a
possibilidade de composição civil dos danos e a suspensão condicional do
processo (este, aplicável a todos os crimes cuja pena mínima abstratamente
cominada for até igual a 1 ano), além de ter informado o procedimento com os
princípios da informalidade, celeridade e simplicidade, dentre outros.
Registre-se que, por último, a Lei nº 11.719/08, em seu art. 394, § 1º, inc.
III, classificou o rito sumaríssimo como integrante do procedimento comum.
É importante ressaltar que o rito sumaríssimo do Juizado Especial
Criminal – JECrim deve ser dividido em duas fases: a primeira fase, chamada
de preliminar, onde será possibilitada a composição civil entre autor e vítima e
a transação penal como forma de solucionar o litígio penal, e a segunda que
somente ocorre se a lide não for solucionada na primeira fase, e que se
constitui em verdadeiro procedimento judicial, com a observância de todos os
princípios que informam o Devido Processo Legal, e cuja sentença penal
possui efeitos secundários.
Adiante estudaremos cada uma dessas fases, separadamente.
1
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:
I – juizados especiais, providos por juizes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a
execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e
sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juizes de primeiro grau.
Competência
O JECrim é competente para processar e julgar os delitos considerados de
menor potencial ofensivo, assim considerados, a teor do que dispõe o art. 61,
todas as contravenções e todos os crimes em que a pena máxima cominada não
ultrapasse a 2 anos.
É entendimento pacífico de que as causa de aumento ou de diminuição de
pena, inclusive a tentativa, devem ser consideradas para fins de definição da
competência do JEC.
Diferentemente do critério esposado pelo CPP para a fixação da
competência ratione loci, a Lei nº 9.099/95 adota a teoria da atividade como
meio de fixação de sua competência territorial, dispondo em seu art. 63 que a
competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a
infração penal.
O STJ firmou entendimento de que, se o crime cominar pena privativa de
liberdade superior a 2 anos ou alternativa de multa, a competência será do juízo
comum uma vez que a aplicabilidade da pena de multa, ao invés da privativa,
só se dará em sede de sentença2.
Outra questão importante é o que dispõe o art. 94 do Estatuto do Idoso –
Lei nº 10.741/03, que determina a aplicabilidade do procedimento previsto na
Lei nº 9.099/95 aos crimes previstos naquela lei, cuja pena máxima privativa
de liberdade não ultrapasse a 4 anos.
Com o advento deste estatuto dois entendimentos se formaram com
relação a este dispositivo. Um, entendia que os crimes previsto na referida
legislação e que cominasse pena máxima até igual a 4 anos mereceria total
2
cf. STJ – Resp. nº 747.003/SC – Rel. Min. Gilson Dipp – 5a. Turma – DJ de 01.02.06, p. 600
a)se o denunciado não for encontrado para ser citado – art. 66, parágrafo único.
Não há possibilidade de haver citação ficta no Juizado Especial Criminal,
devendo esta ser sempre pessoal;
d)os crimes definidos na Lei nº 11.340/06, que cria mecanismo para coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher – art. 41.
e)se houver conexão ou continência com crimes que não são considerados de
3
CC 102.571/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Terceira Seção, julgado em 13/05/2009, DJe 03/08/2009
1.1.2.Composição civil
Prevê a lei a possibilidade de acordo (composição civil) entre o autor do fato e
a vítima nas ações penais pública condicionada e privada.
Por outro lado, este acordo ganha status de título executivo judicial podendo o
mesmo ser executado no próprio Juizado Especial Cível, até o valor de sua
alçada.
Assim, uns aceitando compor-se com a vítima, e outros não, haverá uma
exceção ao princípio da indivisibilidade da ação penal privada, eis que a vítima
poderá oferecer queixa em face de quem não quis o acordo civil.
Por fim, é entendimento do STF4 que a vítima, nas ações penais privadas, não
está obrigada ao comparecimento, uma vez que poderá dispor da ação.
1.1.3.Transação penal
Não tendo sido possível a composição civil, ou tratando-se de crime de ação
penal pública incondicionada, poderá haver entre o autor do fato e o Ministério
Público a transação penal, que consiste na propositura antecipada de pena não
privativa de liberdade.
Qualquer que seja a pena imediatamente aplicada, esta não acarretará efeitos
civis (art. 76, § 6°) e nem reincidência, uma vez que não se trata de pena
advinda de uma sentença penal condenatória.
4
STF – HC nº 86.942/MG – Rel. Min. Gilmar Mendes – 2a. Turma – DJ de 03.03.06
5
STJ - HC nº 31.527/SP – Min. Paulo Gallotti – 6a. Turma – DJ de 28.03.05, p. 315. No mesmo sentido: HC nº 32924/SP, HC nº
34.085/SP.
Esta foi, sem dúvida, uma das muitas razões para o legislador excluir
veementemente a aplicabilidade de qualquer instituto da Lei nº 9.099/95
àqueles crimes definidos na Lei nº 11.340/06, chamada Lei Maria da Penha.
Aceita a transação penal, a mesma será homologada e, por não tratar-se nem de
decisão absolutória e nem condenatória, essa homologação tem natureza
jurídica de ser homologatória de transação penal.
Por outro lado, o STJ não admite a instauração da ação penal em caso de
descumprimento da transação penal, entendendo que, por tratar-se de título
executivo, deverá, seja de multa seja restritiva de direito, essa pena
imediatamente aplicada ser executada. Mas, entretanto, admite condicionar a
sentença homologatória ao cumprimento da transação penal.
6
STF – HC nº 88.785/SP – Rel. Min. Eros Grau – 2ª Turma – DJ de 04.08.06, p. 78; HC nº 84976/SP – Rel. Min. Carlos Britto,
1ª Turma, DJ 23-03-2007, p. 105
Procedimento judicial
7
cf. STF – HC nº 84.638/RJ.
8
NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Processo Penal e Execução Penal, 5ª ed., São Paulo, RT, 2008, p. 684.
9
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli, Curso de Processo Penal, 11ª ed., Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2009, p. 634.
10
Súmula 690 do STF: Compete originariamente so Supremo Tribunal Federal o julgamento de „habeas corpus‟ contra decisão
de turma recursal de Juizados Especiais Criminais.
11
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o
Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja
sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional
da pena (art. 77 do Código Penal).
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar,
sem motivo justificado, a reparação do dano
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir
qualquer outra condição imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
12
Súmula 243.
Caso o juiz não concorde com a não propositura do sursis processual por parte
do Ministério Público, deverá fazer uso por analogia do art. 28 do CPP, e
remeter a questão ao Procurador-Geral de Justiça.
Por outro lado, o STF não admite o sursis processual nos processos de crimes
de ação penal privada16. Já o STJ o admite17.
13
STF – HC n° 85.751/SP – Rel. Min. Marco Aurélio – DJ de 03.06.05, p. 45. No mesmo sentido STF – HC n° 85.106/SP – Rel.
Min. Sepúlveda Pertence – DJ de 04.03.05, p. 23.
14
RHC 79.460, Nelson Jobim, DJ 18.5.01.
15
Súmula 696 do STF: Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o
promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código
de Processo Penal.
16
STF - HC nº 83.412/GO – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – DJ de 01.10.04, p. 28.
17
STJ – HC nº 40.156/SP – Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima – DJ de 03.04.06, p. 373. No mesmo sentido: Apn 296/PB; HC
42902 / RS ; CC 43886 / MG etc.
18
STJ – HC n° 38.031/SP – Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca – 5ª Turma – DJ de 03.10.05, p. 292.
O § 3o, por sua vez, trata da revogação obrigatória do benefício quando, no seu
curso, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem
motivo justificado, a reparação do dano.
Assim, o disposto no § 5o, do art. 89, que estatui expirado o prazo sem
revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade, que parecia, com clareza
meridiana, tratar-se de sentença declaratória, passou a ter contornos
constitutivos, exigindo a comprovação de que não tenha o beneficiário dado
causa de revogação obrigatória durante seu curso e possibilitando a revogação
do benefício mesmo após a expiração do prazo.
19
Suspensão condicional do processo: revogação. ... 2. Não satisfeito o "pressuposto negativo" imposto pela própria lei, pode ser
revogado o benefício por decisão proferida após o período de prova, embora haja de fundar-se em fatos ocorridos até o termo final dele:
precedente (HC 80.747, Pertence, DJ 19.10.2001). (STF – HC n° 85.106/SP – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – DJ de 04.03.05, p. 23). No
mesmo sentido: STF – HC n° 84.458/SP – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – DJ de 10.12.04, p. 41.
- Fundamento Constitucional:
- (Art. 5º, LV) – “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes”.
- organização do Poder Judiciário em diferentes graus de jurisdição.
- Art. 8º. 2, “h”, da Convenção Americana dos Direitos Humanos (Pacto de São
José da Costa Rica).
I.1 Princípios
b) Unirrecorribilidade
- para cada decisão será cabível um só recurso
- art. 593, §4º, CPP: “Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o
recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra”.
- exceção: manejo simultâneo do recurso especial e do recurso
extraordinário
c) Voluntariedade:
- como regra, o recurso depende de iniciativa das partes - Art. 574 CPP:
“os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos...”
- recurso de ofício ou reexame necessário- Súmula 423 STF: “não transita
em julgado a sentença por haver omitido o recurso 'ex officio', que se considera
interposto 'ex lege'”.
- hipóteses de recurso de ofício: decisão concessiva de habeas corpus (art.
574, I, CPP); decisão que concede reabilitação (art. 746 CPP); decisão
absolutória e de arquivamento nos crimes contra a economia popular (Lei n.
1.251/1951);
d) Fungibilidade
- possibilidade de conhecer o recurso errado como se o certo
- fundamento legal: Art. 579, CPP: “Salvo a hipótese de má-fé, a parte
não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro”.
- presunção de má-fé: inobservância do prazo para a interposição
a) Efeito devolutivo
- devolve ao órgão competente o poder de revisar a decisão
- recurso da acusação: limitado
- Súmula 160 STF: “é nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu,
nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso
de ofício”.
- recurso da defesa: amplo
b) Efeito suspensivo
- suspensão da execução da decisão impugnada (ReSE contra decisão de
pronúncia, apelação de decisão condenatória, por exemplo)
-recursos extraordinário e especial: “ofende o princípio da não-
culpabilidade a execução da pena privativa de liberdade antes do trânsito
em julgado da sentença condenatória (STF, HC 84078/MG, rel. Min. Eros
Grau, 5.2.2009).
d) Efeito extensivo
- permite beneficiar terceiro não recorrente (art. 580, CPP: “no caso de
concurso de agentes, a decisão do recurso interposto por um dos réus, se
fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal,
aproveitará aos outros)
II.2 Apelação
- Prazo: 5 dias (no JECrim: 10 dias) para interposição e 8 dias para as razões
(1º/2º graus).
- Não se aplica aos crimes praticados antes da revogação por se tratar de norma
processual.
- Súmula 390 STJ: Nas decisões por maioria, em reexame necessário, não se
admitem embargos infringentes.
- Prazo: 15 dias
II. 11 Reclamação
Prazo. a) para o STF: 5; b) para o STJ: 5 dias (habeas corpus) dias (art. 30, Lei
n. 8.038/1990) ou 15 dias (mandado de segurança) (art. 33, Lei n. 8.038/1990)
1. Histórico
- introduzido no Brasil, expressamente, pelo CPC de 29/11/1832, art. 340.
- passou a constar em todas as Constituições, a partir da de 1891.
- atualmente: art. 5º, LXVIII da CF, e regulado pelos artigos 647 a 667 CPP.
2. Conceitos
2.1- Conceito geral: é uma garantia individual, um remédio jurídico, que visa
tutelar a liberdade física do indivíduo, a liberdade de locomoção (ir, vir e ficar)
2.2- Conceito jurídico: é o remédio jurídico que visa evitar ou fazer cessar atos
de violência ou coação contra o direito de locomoção, decorrentes esses atos de
ilegalidades ou abuso do poder.
5. Legitimidade:
5.1- Ativa: qualquer pessoa, inclusive o MP. Não precisa ser habilitado por lei e
nem ser representado por advogado. Pode ser impetrado por pessoa jurídica,
porém, só a favor de pessoa física.
- Lei nº 7.210 de 11/07/84 (Lei de Execução Penal), Art. 1º: “A execução penal
tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e
proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e
do internado.”
- O entendimento dominante na doutrina e jurisprudência é que a Execução
Penal é de natureza eminentemente jurisdicional embora existam questões de
natureza administrativa a cargo das autoridades penitenciárias.
- Súmula nº 39 da Mesa de Processo Penal da Faculdade de Direito da USP: “A
execução penal é atividade complexa que se desenvolve, entrosadamente, nos
planos jurisdicional e administrativo.”
5- ESTABELECIMENTOS PENAIS.
8- PROCESSO DE EXECUÇÃO
9- REGIMES:
9.1. O Código Penal adotou o chamado Sistema Progressivo com a sua dupla
finalidade: punição e ressocialização do condenado.
- O reeducando inicia o cumprimento da pena no regime mais rigoroso,
progredindo até o regime mais brando (Art. 112 da LEP).
- O juiz da condenação é que compete fixar o primeiro regime a que se
submeterá o condenado, de acordo com os requisitos previstos na Lei e, uma
vez fixado o regime cabe ao Juiz da Execução apreciar as progressões e
regressões ao longo do cumprimento da pena segundo o critério objetivo
(tempo de cumprimento da pena) e segundo o mérito ou demérito do
reeducando.
- Saída Temporária: Artigo 122 e seguintes da LEP com a nova redação dada
pela Lei 12.258/2010 que agora obriga o juiz a fixar condições ao conceder a
saída temporária e inclusive definir a fiscalização do condenado por meio de
monitoração eletrônica.