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O Calc>r do Interior da Terra ...... ' .................................................................................................................. 90
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INTEMPERISMO E FORMAÇAO DO SOLO ............................................................................. 139
8.1 Tipos de Intemperismo ................................................................................................................................. 141
8.2 Intemperismo, Erosão e· Sedimentação .................................................................................................... . 144
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~ A' R.
8.3 ns eaçoes do Intemper1smo
- . ..................................................................................................................... . 144
8.4 Distribuição dos Processos de Alteração na Superfície da Terra ......................................................... 148
8.5 Fatores que Controlam a Alteração Intempérica ..................................................................................... 150
8.6 Produtos do Intemperismo ......................................................................................................................... 15 7
•
14 DEPOSITOS E ROCHAS SEDIMENTARES .............................................................................. 285
14.1 Transformando Sedimentos em Rochas Sedimentares .......................................................................... 288
14.2 Componentes de Rochas Sedimentares .................................................................................................... 292
14.3 Dando Nomes às Rochas Sedimentares ................................................................................................... 293
14.4 Para que Servem as Rochas e Depc)sitos Sedimentares ......................................................................... 3()1
'
16 ROCHAS IGNEAS ............................................................................................................................ 327
16.1 Magma: Características e Prc)cessos de Consolidação ............................................................................ 329
16.2 Variedacle e Características das Rochas Ígneas .......................................................................................... 335
16.3 Rochas Intrusivas: Modos de ()corrência e Estruturas ........................................................................... 342
16.4 Magmatismo e Tectônica de Placas ............................................................................................................. 345
pla11eta en1 ql1e vivemos é formallo pelo mes- Para as quatro primeiras perguntas já existem evi-
m(J n1aterial que con1põe os clemais corpos dências suficientes para estabelecer uma razcJável
de) Sisten1a S(>lar e t11d<> <J mais ql1e faz lJarte de n<JSS<J confiança nos pesquisac.lores em relação às suas teori-
UniverscJ. Assin1, a <Jrigen1 da Terra está ligalla intrin- as, baseadas no conhecimento científicci, tantci teé)rico
seca1nente à formação llo Sol, llos llemais planetas ccJm<J prátic<J, <Jbservacic>nal <Ju experimental. A quinta
d(J Sistema S(ilar e ele toclas as estrelas a partir de nu- e a sexta talvez também possam vir a ser responclidas
vens lle gás e poeira interestelar. PcJr isscJ, na investigaçãcJ a contento com o progresso c.la Ciência.
ela origem e evcJluçã<) c.le n(JSSCJ planeta, é necessári<J Contuc.-!o, o que existia antes do Universo? Para esta
reccirrer a l1ma análise llo espaço exterior 1nais longín- pergunta ainda não temos esperança de resposta no
ql10 e, ao 1nesmo temp<), às evic.lências c1ue temos llo camp<> d(> C(Jnhecimento científico convencicinal, e tal
passadcJ 1nais re111oto. (~om !Jase nas informações c.1uestão permanecerá C<Jm<J <Jbjetc> de considerações ·
dec(irre11tes ele eliversos camp(JS ela c:iê11cia (Física, filosóficas e metafísicas - tema de âmbito c.las c.liferen-
Quí1nica, Astr<J11(>111ia, Astr(>t1sica, C(>Slll(Jc.1uímica), tes religiões, cujos dogmas implicam a presença de
ben1 como estulh1t1llo a natureza li<) 111aterial terrestre um Criadcir, exercendo sua vontade superior.
(crJnlp<Jsiçã(J c.1uí1nica, fases minerais, etc.), já f(>ra1n
cilJticlas respostas para algu111as i1np<Jrtantes c.1uestr"ies
ql1e clizen1 respeite> à r1ossa existência: 1.1 Estrutura do Universo
• C<llll(J se t"i:ir1naran1 eis clc:111entos químiccis? A Astronomia nos ':nsina que existem incontáveis
estrelas nc) céu. AcJ mesmcJ tempci, c)bservamos que
• (~orno se fr:>r111ara1n as estrelas?
elas se clispõem ele uma maneira ordenada, segundo
• C:r.>m(> se f<>rmaram (JS lJlanetas d(> Sistema Sc>lar? hieratql1ias. As estrelas agrupam-se primeiramente em
• '(~ual é a idade ela Terra e do Sistema Solar? galáxias, c11jas dimens<->es sãci da ordem de 100.000
anos-luz (c.listância percorrida à vel<icidade da luz, 300
• (Jual é a illac.le c.lc> lJ11ivers<>? mil km/s, clurante um ano). As figuras 1.1 e 1.2 apre-
• (~uai é o futur<> li(> Siste111a Sc>lar, e elo própri<) sentam d<iis exemplos comuns ele galáxias: tipo elíptico
LJ nivcrsr:>? e tipo espiral. A estrutura interna das galáxias pode
Fig. 1.1 A galáxia gigante de Andrômeda (tipo elíptico) - a mais próxima do nosso Sistema Solar (2,4 milhões de anos-luz) - com sai
núcleo denso e brilhante contendo bilhões de estrelas. Fonte: NASA.
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• t1111a visãci ccim1)arat1va, que possibilita a rc- ticlade muito stiperior à da matéria visível, e nesse caso
c<>nstrt1çã<J d<> ciclcJ ele cvcilt1çãci estelar, vist<J que a densidade média potleria superar o valor crítico,
existe u111a grar1ele eliversielaele ele tipologia nas es- apontanc.lo assim para um Universo "fechado".
trelas, er11 relação à sua massa, tamanho, cor,
tc1111)cratt1ra, idaclc, etc. f,'.n1i)<Jra se sai!)a que a vida
1.2 Como Nasceu o Universo
de t1111a estrela é 111t1it<> l<>nga, da <>rden1 de diver-
S<)S lJill1c>es ele ar1<)S, o granele nt'.n11ero ele estrelas Se nosso Universo for fechac.lo, isto é, se sua densida-
clis1)cJnívcis para observação faz com que seja pos- de média for superior a 6,5 x 10-30 g/ cm3 , sua velocidade
sível verificar a existência ele mt1itas clclas cm de expansãc> deverá diminuir até anular-se, e em seguida
difere11tcs fases da cvcilt1çãci estelar, desde a sua ele c.leverá imple>dir se>l1rc si mcsmcJ, num cr>le>ssal
f<>r111açã<J até <> sct1 dcsaparcciment<> <Jll a sua trans- costnocrttnch, no futuro longínquo, daqui a muitas c.lezenas
f<>rt11açãcJ en1 <>utr<J <>bjet<J eliferente elo Universo. de bilhões ele anos. Toela a matéria estará ret1nida numa
() Llnivcrsci cnccintra-sc cm expansão. Nãei é a clis- singularidade, um espaçei muito pcqueneJ de densidade
túncia e11tre as estrelas de t1ma galáxia que está extremamente alta, virtualmente infinita, e se>b uma tem-
at1111cntandci, e ncrn a Llistância entre as galáxias ele tim peratura também extremamente alta, virtualmente infinita.
agl<>tncradc>, vistci qt1c tanto as primeiras como as úl- Nesta singularidade qt1e foge a qualquer visualização,
tin1as estão lig;adas entre si pela atraçãc> da gravidade. matéria e energia seriam indistinguíveis, não haveria espa-
A expansãc> el<) lJniverscJ si,gnifica tiue aumenta conti~ ço cm seu entorno e o tempo nã() teria sentido.
nt1a111cntc <J cs1)açci c11trc os aglorncradcis galácticc>s Esta poc.le ter sido a situaçãc> existente cerca de 15
<.Jue 11ã<> estã<> suficiente1nente ligadc>s pela atraçãc> !)ilhõcs l1C anos atrás, o ponto c.le partit-la ele tudo o
gravitacicinal. A vclociLlatle Llesta expansão é clada pela tiue nc>S diz respeite>, utn p<lnto rcunindci tcida a maté-
constante de Hubble, ainda nãc> determinada c<>m ria e energia de> Universc>, c.1t1e explr>diu ne> evente> únicr>
granLlc f)rccisà<), e que presenten1ente parece se situar e cirigir1al qt1e os físicos c.lenominaram Grande Explo-
11rc'Jxi1na de 18 k111/ s.1 {_)e; ar1os-luz. Se o nosso llniver- sãc>, <Ju Big Bang.
s<> f<>r "al1ert<>", este valcir pcr111a11cccrá c<>nstantc, <>ll
[)c>r mcic> deJ conhccin1ento existente sobre matéria
pc>elerá au111er1tar nc> futurcJ. Se entretantc> e) Universc)
e energia, raeliações, partículas elementares, e fazendo
f<)r "fecl1aelo", a velocielaele ele expansão tliminLdrá
tiso tios rectirsos ela Písica teé>rica, incluindo moc.lela-
cc>tn <> te111p<i, tenderá a anular-se e em seguida t<>ma-
gens e simulações, C>S cientistas recc>nstituíram com
rá val<)res negativc>s característicos ele contração.
grande precisãc> as etapas st1cessivas à Grande Explo-
A Astr<>11<Hnia ainda nãe> está segura quante> à na- são. Scgunclo c.lizem, tenc.lc) cc)me> situaçãc> de partida o
t11rcza a!Jcrta ou fechaela elc) Universo, pois isto elepen<.le _yletn imaginac.lo recentemente p<>r Game>w, e iniciadcJ ci
de st1a elcnsiclaclc 111éclia, ct1jo valor não se encontra B{g Bat{g, <> reste> é perfeitamente previsível. A Tabela
cstal1clccidcJ ac-lcqt1adamcntc. () valor limite entre 1.1 reúne <>s eventos ocorriclos por ocasião da origem
lJnivers<J al1ert<> e fechadc>, chamad<J de densidade t-lo llniverso, orc-lenaclos cronologicamente. A Ciência
crítica, é c.laelo pcJr p = 3 H 1/ / SrcG, onc.le H é a
0 0
não tem elementos para caracterizar o período que os
ceinstantc ele l lt1!Jlllc e G a constante gravitacional. físicc>s denc>minam Planckiano, dccorrideJ lc>g<J após
Para <> valc>r mencicJ11adcJ acima de H0 a densidade o instante inicial. Trata-se e.lo tempo necessário para
crítica é ele 6,5 x 10-10 g/ cmi. Observações recentes a luz atravessar o comprimente> de Planck, a unida-
(ver c>s ccJn1cntários finais Lleste capítulo) st1gerem que de fundamental de comprimento, pois não é possível
a de11sidade média tem valc>r infericir a<> crítice>, indi- sa\)er se as constantes fundamentais que governam nos-
candt> t11n lJ 11ivcrscJ a!)crtei, peirtante> tendend<> a so mundo já atuavam naquelas condições. Durante os
expandir-se 11ara se111pre. b'.ntreta11tc>, é difícil medir 3 x 10-10 segundos iniciais a temperatura era alta de-
essa de11sidade e111 virtude da existência da chamada mais para a matéria ser estável, tudo era radiaçao. Ainda
n1atéria csct1ra, ele cor11plicacla caracterização e de pre- hoje, o espectro da radiaçãe> de micre>c>ndas de funde>
sença ubíc.1t1a em t(Jdc> <J cspaçcJ interestelar. 1'~ste (nu'crowave background radiation) que pervaga o Univer-
111aterial, virtt1alt11cntc invisível, consiste ele net1trinos e s<> cm todas as direções do espaço, come)
pc>ssivelmente de c>t1tras partículas c]csconhccidas qt1c remanescente da radiaçãc> emitida, é uma das maiores
ir1terage111 aper1as p<>r fc>rças de gravidade cc>m a ma- evic.lências para a tecJria do R~ Bang e implica que a
téria conl1ecic.la. Muitos cientistas acrec.litam que esta radiaçãc> e>riginal partiu para todos os lados com a
matéria invisível estaria presente no llnivcrsci cm quan- mesma temperatura.
CAPínJLO 1 • O PLANETA TERRA I SUAS ORIGENS 5 .
•
Tabela 1.1 Cronologia do Big Bang, mostrando que Tempo e Espaço são grandezas físicas
que nasceram junto com a Grande Explosão.
•lO·i, .~ 300 l 3 X lo 13
Estabili1a1n-se os quorks do tipo e (1nosso --~ 1,8 u).
'
3,3 l0 11
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•', X • Estabilizam-se os quorks do tipos, d eu (mossas 0,5 ü,4 u).
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' .: : 1 -- l 01? Estobilizo1n-se p1·ótons e nêutrons.
300,000 14xl0
, 10
Estabilizorn-se os núcleos 1 11 (oncr~iia de ligoçõo - 1,7 MeV).
astn ,ri,ic, ,,; c:-.r:ilicarr1 as feic;t°)CS ant)lllalas c,hscrv:1d:·lS Clll t1t1cle<1gê11csc: 1:ir('1t< Jns, nêut n >ns, clétr< n1s e en1 Sl',l;llid: 1
!Hl"", L 11i\crs1J. lt1111lica tan1!Jé111 que j7(Jc!c ter-se (Jrigi <JS :it(Jlll(JS dll', clcrne11t(JS 111:1is lcvl's. ])rirne1ra111t·ntl' 11 c
n:id,, d.-1 111L·s111:1 f(Jrn1:1 un1:1 e1ua11tidadc en<>rr11c de 1 11· <JS d< >Ís clen1ent(JS f>rinci11:1is d:1 n1:1tr'Ti:1 d1) 1 1IÍ\ LT,1,
1,u1r, ,, _1n:1 lTS<1s c1ue jan1:1is scrcnHJS cai)a/cs de c<H1he- - 1· fl<JstcrilJrn1er1tc l.i e l~c. (:1)111 )7!JlJC(J lllL'tl(>s ri, 111:.
6 DECIFRANDO A TERRA
111ill1ã<> de an<>s de vida, a tcn11)ctatura d<> Univets<J en- 1.3 Evolução Estelar e
c<>rltrava-se en1 cerca de 3.0(JO I<, e a energia estava
Formação dos Elementos
suficientc111cntc !Jaixa para permitir aos átcJmcJs permane-
ccrc111 estáveis. Ccim a capt11ra dcJs elétrc>ns pelc>s át<>m<JS N<J Universo cm expansão havia variações de den-
cm tc>tt11açã<>, <> lJrúvers<> embricJnário tornou-se trans- sic.lade como em gigantescas nuvens em movimento,
l)atente à luz, ser1elcJ CCJt1stituíelc> por H (7 4'1/.J), l-Ie (26'1/.J), com regiões de grande turbulência. Embora sua den-
alé111 ,le quanti,la,lcs muito ,limin1.1t,'ls ele T,i e Bc. silialie fosse muito baixa, eram tão vastas que sua
IJ<Jt CJlltt<> lad<>, ql1a11dc> a tcmperatl1ra decresceu para própria atração gravitacional era suficiente para pro-
valcJtes abaixcJ ele algu11s n1ilhões ele graus, nenhum ou- d l1zir ccJntração, ao mesmo tempo em que o seu
trcJ elen1er1tcJ teve cc>r1elicã<) ,, ele ser criaelo. As estrelas e as mcJment<J angular impedia a sua rápida implosão. Na
galáxias for111ara111-se 111ais tarclc, quanclo o rcsfriamcntcJ mellilla em que elas foram se c<Jntraindo e a densida-
ger1eraliza,lo f)er1nitil1 qL1e a matéria viesse a se cc>nfinar de aumentando, algumas regiões menores com
cm in1c11sas nuvc11s ele gCts. Estas, pcJsteric>rmente, entra- densidade maior passaram a se autocontraírem, e a
ria111 e111 ccJlapsc> gravitacic>nal pela ação c.la força c.le grande nuvem dividiu-se cm nuvens menores separa-
,las, mas orbitando entre si. () pr<JgtesscJ da contraçãcJ
,,graviclacle, e scl1s 11í1clc<is se aqueceriam ' lcvandc> à tc>r-
111açã<J c.las pri111eiras estrelas. As primeiras galáxias gravitacional resultou na hierarquia hoje reconhecida,
Sl1rgira111 f)Or volta de 13 !Jill1ôcs de anos atrás. A Via c<Jm as galáxias pertencendo a aglomerados, que por
l ,áctca tc111 a11rc>xi111adamc11tc 8 !)iih<3cs de ancJs de ida- Slla vez formam superaglcJmerados.
de e dentr<J elela <J n<JSS<J Siste111a Solar originoL1-se há
cerca ,le 4,6 !Jill1ôcs ,le anos.
Fig. 1.4 Nebuloso do Caranguejo. Troto-se de uma grande nuvem de gós, localizado no constelação de Touro, originado pelo
explosão de uma supernova, ocorrido no ano de l 054 e registrado por vórios povos na época. Fonte: NASA.
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As estrelas nascem pela raclicalização de) processe) e 1nais para a esc1uerda 11c> elia,gran1a. A c1uei111a ele
de cc)ntração, a partir elas mencionadas nuvens de gás Hidrogênio - a rcaçà<) ter1n(Jt1l1clear característica das
(nebulosas), constituídas quimicamente p()t grande estrelas (111e se situan1 na Scc1üência l.lri11cipal, e1n que
quantidacle de Hidrogêni(> e Hélio, além de alguns pela fusão (!e lJl1attc> 11úclecJs de 11 ielr<)gêni<> f(Jrma-se
outros gases e partículas sc>lidas que integram a poei- um de 4 l-le - inicia-se c1uanclc> as tctnt)craturas centrais
ra interestelar (Fig. 1.4). Observações astronômicas ela estrela cm for111açã(> atinge1n 1()7 l(. b'.sta reaçã(> li])c-
revelam regiões (>nde está ()C(>rrendo o fenômene) da ra uma imensa c1uantidadc ele ener6>ia, mtlitos 11lilh(:>cs ele
formaçã(> de estrelas, em nebulc)sas de enc)rme massa vezes supcric>r àc1uela l)UC seria causada !)ela l}ueil11a quí-
e baixa densidade. N(> interior destas, um volume 1nica ele) H. l)esta fcJrlna, a estrela l)<Jc!e ccJnti11l1ar
men(Jr com densidade ligeiramente mais alta entra em l}ueimanelo H durante lJilhões de anos, cc>11l<> é <> case> deJ
aut()C(Jntração, e () material tende ao cc)lapso produ- Sol, vist<J qt1e tal pt(>duçã<J ele energia ccJ111pensa e ccJtlÍ-
zindc) uma esfera, na região central, tornand(J-se uma libra a tendência à contraçà(> 1)cla açàcJ ela gravillaele.
prc)t(>-estrela. Daí em diante cc)ntinuará a cc>ntrair para
compensar a perda de calor pela sua superfície, dc-
senvolvendc) temperaturas
progressivamente mais eleva- -s......--.--.....----.----.--...--....,...--,----,---,---..---....,...-----,----.
o o
das cm seu centro. o SUPERGIGANTES
\ Deneb VERME.LHAS
,910M 0 o
A evolução das estrelas, tal
como será relatada a seguir, 5
ºº
o ()
GIGANTES
AZUIS
8
,,.., Polaris
o
Betelgeus/
o o
encontra-se sintetizada na Fig. o
4Mo
o
i
Antares
Splca-__. ()
ma de Hertzsprung-Russel ()
o
GIGANTES
(H-R). Neste gráfico, a maio- -1
o Mlza/º VERMELHAS Alci':baran
... o
ria das estrelas situa-se perto ela
curva representada, desde o
o
v'ega-· ►O
J /
1'5 M o eapeôli a
o ij
00
º""·
ip,8
-
o
o ', Arclurus
-1 castoro"° ,I 8.- Pollux
cant(> inferior direito (baixa /
Sinus/ t
temperatura e baixa luminosi- ,,1'
Altair,
dade) até o canto superior Procyan 11
o
esquerdo (alta temperatura e "'
alta luminosidade). Esta regiãc>-
•
no diagrama é a denominada
0. Centaur! •
Seqüência Principal, co1n a
estrela de massa unitária (Sol ::::
1 MJ ocupand() a posição cen-
tral. Uma certa C()ncentração de
+1
estrelas aparece acima e para a ANAS BRANCAS 1 0.1 M
direita da Seqüência Principal, •• 0
/).
enquant(> apenas algumas apa- Sirius B _,
recem abaixe) dela. • •
Quando uma estrela nasce, • •
seu material está ainda muito +1,.-
ANÃS NEGRAS
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Fonte: Anders & Ebihara, 1982.
1.4 O Sistema Solar
Nosso Sol é uma estrela de méclia grandeza, ocu-
pando a pcisição central na Seqüência Principal no
diagrama H-R (Fig. 1.5). Come> tal, encontra-se fc>r-
mandc) He pela queima ele H, há cerca ele 4,6 bill1cJes
de anos. Pc>ssivelmentc, permanecerá nesta fase por
outros tantos bilhcJes de anos, antes de evoluir para
a fase de gigante vermelha, anã branca, e finaltnen-
te tornar-se uma anã negra.
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,\s cliferenças fundamentais entre planetas interneis sàci nl1clear, a temperatura de toda a rcgiàcJ mais inter-
e externos pcic.lem ser atribuídas à sua evciluçà<i quí- na, pcJuccJ ac.1uém da c'Jrbita de Júpiter, permanecia
mica primitiva. Basicamente, eis últim<JS sàc) gigantes clc, acla. (~cJm cJ resfriamento grac.lativcJ, pela perda de
0
gascisos, com ccinstituiçà<J química similar à c.1a nc\Jll- energia pcir racliaçãci, !Jartc e.lo gás incandescente
k)sa S<Jlar, enquanto que eis internos sãci ccJnstituídcis c(inclensc>u-se en1 partículas sólidas, iniciandcJ o prci-
de material mais denso. C<)mo será clescritcJ adiante, cesso de acrcsção planetária, mccliante ccJlisões entre
tais diferenças, a partir de uma química inicial si111ilar, tais partÍclilas, guiaelas pela atraçàc) gravitacicJnal.
se devem a um event<) de alta temperatura c.1uc ciccir-
JJrova, elmcntc fcirmaram-sc nci estágicJ inicial al-
0
As amc)stras de meteoritc)S conhecidas e estudadas Dc)is aspecte)s da meteorítica são importantes para
pela meteorítica - o ramo da Ciência que estucla es- o entendimento <la evoluçãc) primitiva de) Sistema
ses cc)rpos - são da c)rdem de 1. 700. Pc)rém, alguns Sc)lar: a significação dos meteorite)s condríticos para o
milhares ele amostras adicie)nais estão sendo cc)ntinua- processo de acresção planetária e a significaçãc) dos
mente coletadc)S por expedições na Antártica. A busca metec)ritc)s diferenciade)s em relação à estrutura inter-
de meteorite)s é granclemente facilitada na calota gela- na dos planetas terrestres.
da, onde eles se ce)ncentram na superfície (juntamente ()s meteoritos de) tipo condrítico correspondem a
com C)utros resíduos sólidos), com o passar de) tem- cerca de 86% do total, em relação às quedas de fatc)
pe), pc)r ce)nta <la reduçãe) do volume das geleiras, e)l)servaclas, sendo que 81 °/ti correspe)ndem aos de) tipo
causada pela ação de) vento combinada cc)m a trajetó- orclinário, enquanto que os e)utros 5°/o sãe) e)s chama-
ria ascendente do fluxc) do gele) quando este ence)ntra dos cc)ndritos carbe)náceos (Tabela 1.4).
elevaçe;es tope)gráficas.
Cc)m exceção de alguns tipe)s de condritos
()s meteoritos subdiviclem-se em classes e carbonáceos, todeJs os demais tipe)s de condrite)s pos-
subclasses, de acorde) ce)m suas estruturas internas, suem côndrulos, pequenos glóbulos esféricc)s ou
compc)sições químicas e mineraló 6ricas (Tabela 1.4).
Acondritos (9%)
...
CAPÍTULO 1 • O PLANETA TERRA E SUAS ORIGENS 15 """'
'·~,,
~
Acresção j 1 Fragmentação j
Crosta
Manto
UNIVERSIDADE POTIGUAR - G
'°:iSrerna Integrado de Bibholecas - ·
sistemas planetáricis, tenha sidc> e> rcspcinsávcl pela 11cr- a <Jccirrência c.lc fusãei interna. De certa fc>rtna, trata-se
ela c1cis elcmentcis 111ais \-c>látcis, e principalmente H e ele sistemas qt1ímiccis celmplementares cm relaçãci aci
Hc, pcir parte elci n1aterial Cjtte viria mais tarcle a C<Jns- "m<idcle> ccinc.lríticci".
tituir eis planetas interneis, seus satélites e os astercíides.
N ci âml1ito e-la cvciluçã<) clcis celrpcis parcntais e.los
()s cc>ndritc)S carlJc>náccc>s e-lei tipc> Cl ccintém mi- mcteciritos, até a sua fragmentaçãei final (Fig. 1.1 O), ei
nerais hielratadcJs e ccimpc>stos cirgânicc>s, fcirmaelcis cm prcicesso acrecionário inicial seria similar, e no casei e.lo
temperaturas rclativan1ente \Jaixas, e nãc> pcisstiem ccirpci parental nãc) atingir graneles dimensões, a stia
cêinelrulc>s. 1\lém clissci, apresentam tima ccirnp<lsiçãci fragmentaçãei prcic.luziria apenas ccindriteis. l)ara eis
e1uímica mt1itci prr'Jxima da al1t1ndância scilar elcis clc- c<irpcis maicJres, a energia dcJs impacteis, aliada acJ ca-
mentcis, à exceçãci el<is elcn1entcis gasciscis e elcis lcir prcieluzic-Jci pelas elcsintegraçc:ies de determinados
ccin1pc>stc>s mais \'<ilátcis. Assi111, este tipci é c<insielera- isc'itclp<)S radiciativos existentes no material, elevariam
elci ci mais primitivc> e mcncis diferenciae-lci elcis a temperatura e prcieluziriam a fusãci e.lei material, C<)m
prcieltttcis ccinclensaclcis ela matéria planetária inicial. St1as a cc>nscqüentc separaçãci das fases silicáticas em rela-
fciçc:ies partictilarcs sugerem e1uc set1s ccirpcis parcntais çãcJ às fases tnctálicas. ()s cc>rpcis parentais, tantci
fc>ra111 menos aqtieciclcis elci e1ue eis e1uc eleram cirigc111 elifcrenciaclcis comcJ nãc) c.liferenciados, colidiram en-
acis elc111ais C<Jnelritcis e pcirtantci estarian1 situacl<>s a tre si, fragmentandc>-se e prcicluzindci cibjetcis n1cncJres,
rnai<ircs c-listâ11cias elci Sei], na rcgiãci cJr\Jital entre i\Iar- ccitno cJs atuais asterc'>ielcs. :tviuitc,s elcis fragmentos re-
te e Júpiter. sultantes das inúmeras cc)lisc:ies acabariam cruzandci
( )s acondritos, siderólitos e sideritos (TalJela 1.4) C\-e11tualmentc ccim a órbita da Terra e seriam captu-
perfazen1 cerca ele 14'1/c, elas Cjlteelas rccupcraclas. 1\ rac.lcJs pclr ela, comei metecJritc)s, devido à atraçãcJ
gravi tacic>nal.
r•ig. 1.11 mc>stra a estrutura interna típica de tim sidcritcJ,
fcJrn1aela pele> intercrcscimentcJ de stias fases minerais () cstt1dci clc)S n1cteciritos permite cJ estabelecimen-
na épcica ela sua fcJrn1açãci, ai nela nci intericir ele J r1t'.1- tc>, ccim certa precisão, d.a croncilcJgia deis cventcis
clcci elci ccirpci parc11tal. ciccirridcis c.lurantc a evoluçãc> primitiva do Sistema
Scilar. l)eterminaçc:ies de idacle, cJbtic-las diretamente
n<JS e-li, crscis tipc)s ele meteoritcis, têm revelado uma
0
Fig. 1.12 Astronauta do missão Apollo 17, examinando uma grande rocha lunar nos proximidades do sítio de pouso do nove
espacial, em dezembro de 1972. Fonte: NASA.
télites externos, tendo sido pre)duzidas fotografias e ima- .-\o mesmo tempo, a superfície terrestre recebe
gens de enorme valor científico. Outra iniciativa estratégica energia d() Sol, através da radiaçãc) S()lar incidente,
é a missão Gaiiieo, um pr()grama científic() d()S mais am- que produz os movimentos na atmosfera e nos occ-
bici()Se)s, em que a nave espacial, lançada em 1989, chegou anc)s d() planeta. Estas últimas atividades sãc) as que
até J úpitcr cm 1995, e desde então está realizando um provocam profundas transf()rmações na superfície
tour fantástico daquele planeta e de seus satélites princi- da Terra, modificando-a continuamente. Justificam
pais, destacandc) uma missão suicida de uma de suas assim o fato de que quaisquer feições primitivas de
sc)ndas, que mergulhou na atmosfera de Júpiter, colhen- sua superfície, como pc)r exemplo crateras de im-
do dados precic)S()S S()bre sua C()nstituiçãc) e sua dinâmica. pacto meteorítico, tenham sido fortemente
()bscurecidas ou totalmente apagadas ao longo da
Resumiremc)S a seguir algumas características dos pla-
sua hist(Íria.
netas e dc)S principais satélites do Sistema Solar, com
ênfase nc)s que têm especial importância para a elucidação A laua, () satélite ela Terra, apresenta 1,25(¾1 da
de eleterminados ambientes físico-químice)s e pr(iceSS(JS massa do planeta a que se relaciona, sendo neste
evolutiv()S relevantes para a hist()ria de) n()SS() planeta. particular um dos maic)res satélites do Sistema Sc)-
lar. Tem um diâmetrcJ de 3.480 km e densidade de
1.6.1 Planetas internos 3,3 g/ cm', portante) mui te) men()r d() que a da Ter-
ra. N ã() detém atmosfera.
Terra - C) terceiro planeta do Sistema Solar apresenta
massa aproximada de 6x10 2'Jg e densidade de 5,52 As feições geol.'igicas maiores ela Lua sãc) visí-
g/ cm3. C) raie) equatorial terrestre é de 6.378,2 km e o seu veis a olho nu (Fig. 1.13). Trata-se de áreas claras
vc)lume 1,083 x 1()12km3. r-,:mbcJra tenha perdidc) seus ele- que circundam áreas mais escuras de cc)ntc)rnc) mais
mentos voláteis na fase de acresção de) Sistema Scilar, a ou menos circular, conhecidas come) mares
Terra apresenta uma atmosfera secundária, formada por ("maria"). As informações obtidas nas missões es-
emanações gasosas durante toda a história do planeta, e paciais à Lua indicaram que as primeiras sãci regiões
cc)nstituída principalmente por nitrogênio, oxigênio e de terras altas (h~ghlands), de relevo irregular, e apre-
argê)nic). A temperatura de sua superfície é suficientemente sentando grande quanticlaelc de crateras de impacto,
baixa para pertnitir a existência de água líquida, bem cc)mc) enquanto que as segundas são vastas planícies, cc)m
de vapc)r ele água na atmosfera, responsável pelo efeito muitcJ menor quantidade ele crateras.
estufa regulador ela temperatura, que permite a existência
da biosfera. IJor causa dos envoltórios fluidos que a reco-
brem, atmosfera e hidrosfera, a Terra quando vista do
espaço assume ce)k)raçãc) azulada, cc)nf()rme simbc)lizadc)
pela fotomontagem introdutória deste capítulo. ,E-,:sta vi-
sã() ma!-,>n.Ífica fc)i relatada por Yuri Gagarin, () primeir()
astrc)nauta a participar de uma missão aeroespacial.
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sões Apollo permitiram esclarecer que nas terras altas ,, { . .~1
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os materiais lunares foram também f<JrmadcJs ncJs • ,- ,
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Por sua vez, as amostras coletadas das regi<'"ies l1ai- j . .t t-.,,- _.,.,, < • ,~·
datações mais jovens obtielas nas rcJchas basálticas lu- jovens também presentes. Fonte: NASA.
CORPO
pacto visíveis na superfície da I,ua IMPACTAIITE . •1;';
demonstra que o satélite foi sub-
metido a um violento bcJmbardeio
p()r planetésim()S e astercJides de
TERRA
todos os tamanhos, desde sua fase
embrionária. As crateras maiores 1-lúcleo r~ucleo impactor
..
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.. ..
impactar
Mercúrio - é () planeta mais interno dei Sistema S(J- ral-lar de sua superfície (I<'ig. 1.17). Algumas dessas mis-
lar. Sua massa é apenas 5,5% da Terra, mas sua densidade sões chegaram a pousar neJ planeta, e as análises o!Jtidas
é apenas poucc) inferior à do neisso planeta. Seu nt.\- revelaram reichas com compeisiçãcJ basáltica similar à
cleo metálic(J é, portanto, prciporcionalmente muttcJ ele rochas terrestres.
male)r que o terrestre.
l_}<)r causa elas sin1ilariclaeles ele tarnanl1ci e C<Jt1111<i- \farte ccinté111 u111a atmeisfera tênue (pressãei at-
siçã<), Vênus e-le,-eria ter regi111c térmice> similar acJ ela n1c>s férica na st111erfícic ele apenas 0,007 bar),
Terra, sugcrind<>, p<>rtantci, a existência ele un1a ccinsistinelcJ principalme11te ele C:( ),, além de quanti-
estruturação interna. EntretantcJ, evidências diretas ele elades eliminL1tas de 11itrcJgêniei e argêinie>. ( )s preJcesseis
uma tectêinica gleil1al elei tipcl terrestre nãci estãei ccH11- gee>le'igicc>s su11erficiais elei planeta sãc> eleJminaeleis pela
provadas. 1\0 mcsmcJ te111pei, a ele\·aela temperatura acàc> cl<i vente>, tcnelci sielei eJIJser\·aelcis eneJrmes cam-
superficial do planeta sugere que a sua liteisfcra seria pcis ele elunas, cci11stantemente tTI<>dificadc>s por
meneis espessa e 111ais ílutLtante, i111pcdind<> <Ju dificul- tc111pestadcs ele areia. ;1larte ta111lJén1 apresenta caleJ-
tandci prcJcesscJs de subclucçãei para ci n1anto intcrÍ<>r tas p<ilares e1ue inclue111 gelei, alén1 ele gelei secei.
dei planeta ceimei eis e1ue eiccirrc111 na Terra (C:ap. 6).
1 Lí t1n1a grane-lc clifcrcnça entre cJs dc>is l1cn1isféri-
Além disse>, a grande e1uantidaele ele vulcões apcintaria
eis 111arcia11eis, senelci ei merielieJnal ele relevei mais
à existência de regic)es ccim elevaela prcJduçãei ele ca-
ele, aclci e mais acicle11tadcJ, enquantci que ci setentricJ-
lcir (hot spots) (C~aps. 6 e 17) nei manteJ ele \Tênus, as
nal é feirmaelcJ peir u111a extensa planície pcJ11tilhada por
quais peieleriam refletir ei prcidutci final de Ltma elinâ-
cncirn1cs ,·ulcc'ics, entre eis e1uais e> 1\IcJntc ()limpus, ccJrrl
mica ele dissipaçãei SL1pcrficial clci caleir internei ele>
26 kn1 ele alttira sc>IJrc a planície circundante (Fig. 1.19).
planeta.
Este é eJ 111aicir ,-ulcã<J C<>nhecicl<> deJ Sistema Seilar. ()
Marte - () quartel planeta dei Sistema SeJlar é pc- hc111isféricJ sul é repleto de crateras de impact<J, e <J
quene>, ceim massa teital de cerca de 11 cy., elaqucla ela panora111a asscmell1a-sc às terras altas lunares, de mcido
Terra. t\s numercisas seinelas cs11aciais, n1as em especi- e1uc a superfície el<> hemisférici sul eleve ser
al as missões recentes elas seinelas Pathfine-ler e c;leJl>al analcigamcntc 111uitcJ velha. J)cJr <)utrcJ lad(), a st1perfí-
Surveyor, trouxeran1 eneirme quantidade de dadeis tnLÚtei cie elei hemisfériei neirte peJssui nú111erei mcncir de
valiosos acerca do "planeta vermelhc/' (Fig. 1.18). crateras, e sua superfície dc\-c ser relati\'amente mais
j<JYem, e111bcJra ainda antiga se ceimparada ceim à ele
\' ê11t1s <Ju ela "ferra. ()s eclifícicis ,-ulcâniccJs e seus eler-
ra111es de la,·a praticamente nãci pclssucm crateras,
devendo ser gccJlogicamcnte mais j<ivens. Quant<> à
ccJ111peisiçãci c1uímica elas lavas marcianas, elevem pre-
cleJminar \'ariedadcs IJasálticas ciu \-aricdadcs derivadas
de magmas l1asálticcJs, ccJn1e> fcii re,,eladcJ pelas análi-
ses efetuaelas elurante a n1issã<J Pathfincler e também
aeJtielas realizadas ncis meteciritcis SN e:, já mencicina-
clci s, cujas ccJ111posiçe)es químicas mostram-se
sc111clhantes às dos basaltos terrestres.
Fig. 1.23 Mosaico mostrando Saturno e seus satélites Dione, e uma cauda apc)ntando para o lado opc)sto do
Rhea e Tethys. Os sete anéis deste planeta são formados essen- Sol.
cialmente de gelo e poeira, em partículas e fragmentos pequenos.
Fonte: NASN.
1.6.4 Cometas
..
,rt:P·.
1. () estudo da Lua, Vênus, Marte, e de muitos acondritc>s, .mostrou que o magmatismo de tipo basáltico é
orupresente.
2. Embora alguns objetos primitivos, tais como os condritos carbonáceos, sobreviveram para indicar a idade do
Sistema Solar, não há evidências da existência de material primordial não transformado, nos planetas e em seus
satélites.
3. Os planetas formaram-se quentes, ou tornaram-se quentes logo após a sua origem. A sua estruturação quimica
em manto e núcleo ocorreu numa fase precoce, provavelmente ainda durante a chamada acresção planetária.
4. As diferenças na composição das atmosferas dos planetas internos indicam que as composições originais de seus
gases, a perda inicial dos compostos voláteis e os subseqüentes processos de degasificação para a formação das
atuais atmosferas foram específicos e distintos, para cada planeta.
5. Aparentemente, e> regime de tectônica global do planeta Terra é único.
6. A evidência de grandes impactos pelo bc>mbardeio de cc>rpos de todos os tamanhos durante o acrescimento planetário,
que continuou pelo menos durante 800 milhões de anos, é observável nas superficies da Lua, Mercúrio e Marte.
Leituras recomendadas
ANDERSON, D. L. Theory of the Earth. Boston:
Blackwell, 1989.
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ara estudarmos o planeta Terra é necessáric), ini- Embc)ra coesa e, muitas vezes, dura, a rocha não é
cialmente, conhecer as características dos homogênea. Ela nãci tem a ccintinuidade física de um
materiais que C) cc)nstituem, especialmente os mais su- mineral e, portanto, pode ser subdividida em todos
. . . .
perficiais e cc)m C)S quais temos maior contato. Na os seus m1nera1s const1tu1ntes.
superfície terrestre, podem ser observados materiais
Já o termo minério é utilizado apenas quando o
inconsolidados (por exemplo, os solos dc)s ncisscis jar-
mineral ou a rocha apresentar uma importància eco-
clins, as areias dos rios e das praias) e rochas
nê)mica (Cap. 21 ).
consolidadas, ambos constituídc)s pc)r associaçêíes mais
ou mcnc)s características de minerais. Para conhecer mais sobre os minerais, vamos de-
talhar os principais conceitos usados na definição
lJs principais usc)s atuais dos minerais e rc)chas mais
apresentada. Como será visto, a tradição estabelecida
comuns são apresentados no Cap. 21. A impc)rtància
pelo uso e, às vezes, ci abuso dos termos, conduz a
dos minerais e rc)chas no desenvol,-imentc) tecncilcSgico
algumas inconsistências. Conseqüentemente, a utiliza-
e.la humanidade cresceu cc)ntinuamente desc.lc a épcica
ção do termo mineral nem sempre é completamente
da pec.-lra lascada. f~ntrc ciutras coisas, a sciciec.lac.-le
ccJns1stente.
tecncilcSgica não teria conseguic.-lo chegar à Lua nãc) fcisse
o seu conhecimento sobre as características e proprie- a) Quanto à definição" .. .elemento ou composto químico
dades dos minerais. A dureza excepcional do c.-liamante, co111 composição definida dentro de certos limites. .."
por exemple), fc)i responsável pela fabricaçãc) de pe- Alguns pouc0s minerais têm uma composição quí-
ças mecànicas ele altíssima precisãci que auxiliaram a mica muito simples, dada por átcJmos de um mesmo
ic.la de) hcimem à J,ua. Além dessas aplicações mllÍtc) elementci químico. São exemplos o diamante (átcJmos
especializadas, muita coisa que usamos no nc)ssci dia- de carbono), <) enxc)fre (átomos de enxofre) e o ouro
a-dia vem do reino mineral. (átomos de ouro). A grande maioria dos minerais,
entretanto, é formada por compostc)s químicos que
2.1 Minerais: Unidades Constituintes resultam da combinação de diferentes elementos quí-
micos; sua composição química pode ser fixa ou variar
das Rochas
dentro ele limites bem definidc)S. Na composição quí-
mica e.lo quartzo (SiOJ, um átomo de silício combina
2.1.1 O que são minerais e rochas? com dois de oxigênio, qualquer que seja o tipo de
ambiente gecilógicc) em que o quartzo se forme.
Minerais sãc) elementos .ou compcJstcJs químicos
com ccimpcJsiçãcJ definida c.lentrc) de certos limites, Já na composição dcJ mineral olivina (Mg, Fe)2 SiO 4
cristalizados e formados naturalmente por meio de -mineral inccimum nas rochas da superfície terrestre,
processos geológicos incirgànicos, na Terra ou cm Cl1jo mcml,ro magnesiancJ, no entanto, deve formar
corpos extraterrestres. A compc)sição química e as parte impcirtante das rochas do interior da Terra (Cap.
propriedades cristalográficas bem definidas do mine- 5) - as relações que se mantêm fixas são a soma das
ral fazem ccJm que ele seja únicc) dentro ele) reino quantidades de ferro e magnésio, cc)m dois átomos, a
mineral e, assim, receba um ncime caractcrísticc). quantidade de silício, com um átomo, e a de oxigênio,
cc)m quatro átc)m<JS. A cc)mposição química das
Cada tipc) de mineral, tal como o quartzc) (Si() 2),
olivinas pode variar entre dois átomos de ferro e zero
constitui uma espécie mineral. Sempre c1ue a sua cris-
ele magnésio e dois de magnésio e zero de ferro, sem-
talizaçãc) se der em condições geológicas ideais, a sua
pre com um átomo de silício e quatro de cixigênio,
cirganização atômica interna se manifestará em l1ma
fcirmando uma série de minerais que fazem o grupo
forma geométrica externa, ccim o aparecimento de
das cJlivinas.
faces, arestas e vértices naturais. Nesta situaçãcJ, a amos-
tra do mineral será chamada também de cristal. b) Quanto à definição " .. .cristalizado. .."
() termo rocha é usado para descre,-er uma asso- O fato de a c.lefinição de mineral destacar o termo
ciaçãci de n1inerais que, por diferentes motivos cristalizado, para esses materiais, significa que eles têm
geológicos, acabam t1cando intimamente unidc.)s. um arranjo atômico interno tridimensional. Os áto-
1 Veio pegmatítico no qual se destacam cristais centimétricos de Amazonita (cor esverdeada), intrusivo em rocha gnáissica, cuja
estrutura orientada típica é visível no canto inferior esquerdo. Foto: Museu de Geociências/lG-USP.
CAPÍTULO 2 • MINERAIS E ROCHAS: CONSTITUINTES DA TERRA SótlDA 29 ~-
,.
mc)S constituintes de um mineral encontram-se distri- Substâncias sólidas amorfas, tais cc)me) géis, vidros
buídc) S ordenadamente, fe)rmando uma rede e car\·Ões naturais, não são cristalinas e, pc)rtanto, não
tridimensional (o retículo cristalino), gerada pela re- satisfazem às exigências da definição de mineral. Estas
petição de uma unidade atômica ou iêinica fundamental substâncias formam parte da classe dos mineralóides.
que já tem as prciprieclades físicci-químicas elo mineral
/\ repetiçàcJ sistemática dos mc)tivos estruturais
completo. Esta unidade que se repete é a cela unitá-
formados de átomos, ícins ou moléculas sustenta o
ria, o "tijcilo" que vai servir de base para a construçãci
conceitc) de simetria cristalográfica. A
do retículo cristalinc) cinde cada átc)mo ocupa uma
Cristalografia estuda a origem, desenvolvimento e
posição definida dentro da cela unitária (Pig. 2.1).
classificação dos cristais naturais - cJs minerais que exi-
bem formas externas geométricas - e artificiais.
e
() estudo ela simetria externa dos cristais é feitc)
com auxílic) dcJs elementos abstratos de simetria
(planeis, eixc)s e centro) e as suas respectivas opera-
ções de simetria (reflexão, rotação e inversão). Assim,
°CI reccJnhecer a existência de um plano de simetria no
• Na cristal é visualizar uma superfície que o corta em duas
o 1netades iguais, simétricas (Fig. 2.2).
• Na B' B
0 CI
A B
Duas pre)priedades físicas ':lue pcir si só atestam
esta organizaçãe) interna são o hábito cristalino e a Fig. 2.2 Plano de simetria, que corta o objeto em duas partes
clivagem. C) há\Jito cristalino é a fcirma geométrica iguais, simétricas, como um objeto e sua imagem refletida num
externa natural dcJ mineral, desenvolvida sempre que espelho.
a cristalização se cler sob ccindições calmas e ideais.
Já a clivagem é a quebra sistemática da massa mineral () eixo de simetria é uma reta imaginária que passa
em planos preestabelecieleis que reúnem as ligaçc"íes pelcJ centreJ gecimétrico do cristal e ao redor ela qual,
químicas mais fracas oferecidas pela estrutura elo num giro total de 36()º, uma feição geométrica elo
mineral. cristal se repete certci número de vezes (Fig. 2.3).
Na natureza, eis cristais perfeitos deJs minerais sãeJ () centro de simetria é um pontci de simetria ce)in-
raros e conseqüentemente ceinstituem as jc)ias do rei- ciclcnte cc)m cJ centreJ geométrico elo cristal, em relação
no mineral. Mais comumente os minerais se apresentam aci qual as feiçc"Ses gecimétricas elcJ cristal se invertem
como massas irregulares. Nei entanto, a cristalinidade (Fig. 2.4).
destas amostras de minerais também peide ser reco-
() ccinjuntc) dos possíveis elementcJs de simetria
nhecida de ciutras fe)rmas, por meio de suas
enccJntrados em um cristal é chamaelo de grau ciu classe
propriedades c'ipticas, por exemplo.
de simetria ciu grupo pontual. Existem, na natureza,
() mercúrio (elemento nativci), é o único líquideJ apenas 32 graus de simetria, agrupaclos ele aceJrdc) com
consideradc) espécie mineral. O gelei fcirmado natu- a similaridade de seus elementos ele simetria em sete
ralmente (nas calotas pcilares, pcir exemplei) é sistemas cristalinos, elo "mais simétrico" ao "me-
ce)nsiderado mineral, mas a á6rua líquida, não. nc)s simétriccJ": cú\Jico, tetragcinal, trigeJnal, hexagcJnal,
3Q DECIFRANDO A "l'ERRA
---
() uscl clci termci incirgâniccJ na c-lefiniçàci de mine-
.,,. .,,.
1
1
1
1
- - .,,. .,,.
ral impede c1ue as substâncias puramente biogênicas
sejam minerais. A pérola, ci âml1ar, os recifes de ccirais
• 1 e ei carvãcJ são algumas substâncias bicJgênicas que nàci
• • 1
• • 1 poclem ser ceJnsideradas minerais, pcir um mcitivo ou
' . . /e ,
. e( 1
• 1 eiutrel. São tcJdas minerale'iides. Nci casei dei coral,
• •
• • • 1
f. embcira possamcis reccJnhecer ceimpostcis químicos
• 1
•
•• '
1 • iclênticeJs às fcirmas naturais de carl1einateJ de cálcio
• 1
1 . Y'"
. . . l ,,.
<Ili sc'ilidci, ci cirg:anismcJ \'ÍVCJ tem intervençàei essencial na
~,.,,~·' 1
1 1
1 11 prodL1çãci del ccimposto - que é uma secreçàcJ gerada
1
1 pelr seu merabc1lisn10.
de simetria (C).
Tabela 2.1 Sistemas cristalinos, constantes cristalográficas e simetria principal de alguns minerais.
(a, b e c: dimensões da cela unitária; a, 13, y e 8: ângulos entre seus eixos. Nos sistemas hexagonal e trigonal, há quatro eixos,
três no mesmo plano.)
Nas ligações iônicas, cátions (íons com carga positiva) e ânions (íons com carga negativa) se unem. Por exem-
plo, no mineral halita, de fórmula NaCl, o cátion Na, de valência 1 +, une-se ao ânion Cl, de valência 1-. Ao
invés de um ânion simples, como o Ct, pode se constituir um grupo aniônico ("radical aniônico"), como o
4
SiQ 4 -, que é a unidade fundamental de todos os silicatos. Nas ligações covalentes, ocorre o compartilhamento
de elétrons, a exemplo da ligação entre os átomos de carbono no diamante. As ligações metálicas são aquelas
em que se formam "nuvens de elétrons", como nos elementos nativos (ouro, prata, cobre etc.). A mais fraca
das ligações químicas é a de Van der Waals, que une moléculas e unidades estruturais praticamente neutras, ou
•
seja, com pequenas cargas residuais. E rara nos minerais e um exemplo é a grafita, onde as camadas de átomos
de carbono ligadas de modo covalente são unidas entre si por ligações de Van der Waals. Em decorrência da
força de ligação entre os átomos de um mineral, formam-se "empacotamentos" de átomos, às vezes mais
outras vezes menos compactos. Obviamente, isto vai influenciar sobremaneira as propriedades dos minerais. A
substituiçao de íons em um determinado sítio catiônico é favorecida por sen1elhanças de raio e valência. Os
átomos constituintes de um mineral podem ser imaginados como "esferas" com carga positiva ou negativa.
Assim, Mg2+ e Fe2+ apresentam carga 2+ e volumes relativamente semelhantes (caracterizados pelo raio iônico,
respectivamente 0,74 A e 0,80 A; lA= 0,1 nm = 10-10m ), enquanto Na+ (raio 0,98 A) e K+ (1,33 A), ambos
com carga 1+, são íons maiores. Assim, as substituições entre Na e I<, e entre Mg e Fe são mais freqüentes que
entre Na e Mg, Na e Fe, I<. e Mg, e I<. e Fe, por exemplo.
Nos silicatos, a unidade estrutural é o tetraedro Si044 com quatro 0 2- (raio 1,36 A) unidos a um Si4+ central
(raio 0,39 A), que pode ser parcialmente substituído por Al3+ (raio 0,57 A). Essa unidade fundamental, que
constitui um "poliedro de coordenação", ou seja, uma figura geométrica definida pela união dos átomos de
oxigênio, pode aparecer isolada (evidentemente rodeada por cátions, para neutralizar sua carga negativa), cons-
tituindo os silicatos chamados de nesossilicatos, ou, muito freqüentemente, associada, formando substâRcias
tais como os sorossilicatos etc. A polimerização é a união entre estes poliedros (no caso tetraedros), que origina
associações entre 2, 3, ... infinitos poliedros (Quadro 2.3). Quanto maior o grau de polimerização, menor fica
a razão entre o número de átomos do Si e o do O no ânion polimerizado.
na estrutura, dando origem a substâncias de composição intermediária entre dois (ou mais) termos finais,
•· ·result::indo ..em um fenômeno conhêcido como solução sólida, por exemplo, olivinas: forsterita (M&SiOJ .e •••·•
\ faialita (Fe2Si0J, nas quais Mg e Fe2+se substituem mutuamente; e plagioclásios: albita (NaAISi,Og) e anortita>
·.·. . (CaA12Si20g), nas quais a solução sólida se realiza através da substituição acoplada (assim chamada porque
.. envolve dois pares de elementos) dê (Na,Si) por (Ca,Al).
CAPÍTULO 2 • MINERAIS E ROCHAS: CONSTITUINTES DA TERRA SóLIDA 33 "
2.1.3 Classificação sistemática de minerais Tabela 2.2 Alguns dos critérios usados para
classificar os minerais.
O estudo sistemático dos minerais fica facilitado quan-
do se usam critérios que permitam agrupá-los em
conjuntos com características similares. Alguns dos crité-
rios mais usados são resumidos na Tabela 2.2. ... Min~rais mih~clínicos,
cúbicos> •
Nos livros de mineralogia descritiva, exposições
mineralógicas em museus e em coleções em geral usa-se Usos Minérios, gemas, minerais
o critério químico baseado na natureza do radical aniônico formadores de rochas
do mineral. Por exemplo, no mineral barita (BaSOJ, o •·. •. > Element<,á ~<1li~~s, ~~id~Íij . •·
radical aniônico é o S042- e, portanto, a barita será classi- · sulfetos. ·. • ••.:.1 · •
ficada como sulfato.
Esta última classificação dos minerais se assemelha à exemplo, a siderita (FeCOJ tem mais afinidades com a
de compostos químicos utilizada pela Química Inorgánica calcita (CaCOJ, ou com a magnesita (MgCOJ do que
e apresenta as seguintes vantagens: com a pirita (FeSJ ou com a hematita (Fe20J;
a) minerais com o mesmo radical aniônico possuem b) minerais com o mesmo radical aniônico tendem a
propriedades físicas e morfológicas muito mais seme- se formar por processos físico-químicos semelhantes e a
lhantes entre si que minerais com o mesmo cátion. Por ocorrer associados uns aos outros na natureza.
Das várias classes minerais existentes, apenas uma, F,xemplos: tetraedrita (de,-ido ao seu hábito
a dos silicatos, é responsável pela constituição ele apro- tetraédrico), cianita (devidci a sua cor mais comum,
ximadamente 97% em volume da crosta continental. azul).
Esta, como veremos no Cap. 5, configura a parte ex-
• que o ncJme indique a presença ele um elemento
terna da Terra em regiões continentais, com espessura
químico predominante.
de algumas dezenas de quilc)metros (Tabela 2.3). l\1i-
nerais das demais classes, embora menos abundantes, Exemplos: mcJlibdenita, cupr1ta, arsenop1r1ta,
também são impcirtantes pelo seu interesse econômi- lantanita.
co e científico. • que o ncJme homenageie uma pessoa proemi-
nente. ExemplcJs: andradita (em homenagem
Tabela 2.3 Constituição mineralógica
a José Bonifácio de Andrada e Silva, 1763-
da crosta continental.
1838, geólogci e patriarca da independência
Classe mineral Espécie ou grupo mineral % brasileira); arrojadita (em homenagem a l\figuel
emvol. Arrojado Ribeiro LisbcJa, 1872-1932, geólogo
feldspatos 58 brasileirci).
Transparência
Tu1ffi
'
'
'
Cor
Rochas Rochas
monominerálicas pluriminerálicas Fig. 2.11 Detalhe de uma chapa de granito polida. As massas
róseas (por exemplo, FA) são o feldspato alcalino, as brancas
Calcário Gnaisse
(por exemplo, PL), o plagioclásio. Junto ao quartzo (as massas
Mármore Gabro levemente esbranquiçadas, por exemplo, QZ), os feldspatos
Quartzito Granito formam os minerais essenciais que somam em torno de 80%
do volume da rocha. A mica preta (biotita) e o anfibólio
(hornblenda) compõem a maior parte das áreas escuras.
2.2.2 Classificação genética das rochas () resfriamenteJ dc)s magmas extrusivos é muito
mais rápidc). Mui tas vezes, nãc> há tempo suficiente
Classificar as rochas significa usar critérieJs que
para os cristais crescerem muitc>. A rocha extrusiva
permitam agrupá-las segundeJ características seme-
tende a ter, pcJrtantcJ, uma textura de granulação
lhantes. Uma das principais classificaçeJcs é a fina.
genética, em que as rochas sãeJ agrupal-las ele accJr-
do ceJm o seu mc>dcJ de feJrmaçãeJ na natureza. ScJ\J C)utrcJ fato que chama a atcnçãeJ no estudcJ das
este aspecte>, as rcichas se dividem cm três grandes rcJchas ígneas é lJUe a sua ccJr é bastante variável. As
grupeJs: rochas ígneas escuras sãe) mais ricas em minerais
ccJntendeJ magnésio e ferre) (daí cJ neJme "máfico").
' () gabro, de ceimpc)siçãcJ equivalente acJ basalto, é
Igneas ou magmáticas
uma rocha ígnea, intrusiva, pluttinica e máfica. As
Estas rcJchas resultam do resfriamenteJ de mate- re>chas ígneas claras sãeJ mais ricas cm minerais ceJn-
rial rcJchoso fundidc), chamadci magma (Fig. 2.12a). tcnc!eJ silícieJ e alumínici (siálicas), que incluem os
Quando o resfriamento ciccJrrcr no intericJr do glcJ- feldspatcis e <J quartzei, eJu sílica (daí, o nome
beJ terrestre, a re>cha resultante será dcJ tipc) ígnea félsico). () granitcJ é uma rocha ígnea, intrusiva,
intrusiva. Se e> magma conseguir chegar à superfí- plutc")nica, siálica e félsica. 1":sta diferença na cc>nsti-
cie, a reJcha resultante será deJ tipe) ígnea extrusiva, tuiçãcJ química deJs magmas indica que existem
também chamada de vulcânica (Fig. 2.12IJ). 1\ rcJ- diferentes tipos de magmas (Cap. 16).
cha vulcânica mais abundante é o basalto, cuja
·~ ~- ~· . "'
ccimpos1çao qu1m1ca e rica cm p1roxcntcJs e Sedimentares
plagioclásio cálciccJ. () C:ap. 16 trata especificamente
deJs magmas e rochas ígneas. IJarte das rcJchas sedimentares é formaela a partir
da cc)mpactaçãcJ e/ ou cimentação de fragmentos pro-
Para recc>nhcccr se a rocha é intrusiva cJu
duzidos pela açãcJ deis agentes de intemperismo e
cxtrusiva é neccssáricJ avaliar sua textura. ()
peelogênesc (Cap. 8) scJbre uma reJcha preexistente
resfriamento dc>s magmas intrusivcJs é lente>, dan-
(prote'ilite)) (Fig. 2.126), e apc'is serem transportados
dcJ tcmpc) para que os minerais em formaçãeJ
pela açãc) deJs \"entcJs, das águas que escoam pela su-
cresçam o suficiente para serem facilmente , isívcis.0
m(J ()utra sedimentar, fcirnecenclci, pelcl inten1peris111<J, ( l n1etan1cJrt1s111c1 rcgicJnal cJccirre c111 ,graneles ex-
sedimentos (partículas e/ CJLI con1p( JS tos qL1Ín1iccJs ciis- ten sc'íes ela sulJsupcrfícic clci glcJIJcJ terrestre, cm
scilviclcis) qL1e serãcJ as 111atérias-primas L1sadas na cclnsce1(.iência cic c\·cnt<Js gecJl<'igiccJs ele granele pcirte
t<irmação da futL1ra rcicha scelin1entar. ()s ccHnpcJstcis ccJn1c J, pc Jr exen1plcJ, na celificaçãci ele cadeias ele mcJn-
químicos dissol,-ic!cJs representam a 111atéria-prima para tanh as. l)epe11dcndcJ elcis ,-alclres alcançaelcis pela
eis sedimentos químiccis. ()s seclimentcJs (Fig. 2.1 ?e) ,·ariacàcJ de rircssãcl e tc111pcratura têm-se cJs
sempre se elcpcisitan1 em camae1as scJlJrc a superfície n1ctan1c Jrt1s111cJs rcgicJnais de l,aixcJ, médicJ e altcJ grau.
' '
terrestre. ,\s principais rcicl1as mcta111('Jrficas fcirmam-sc no
111cra111c1rfismci regicJnal. ,\Iuitas rcichas n1ctaméJrficas
C,2uandcJ a rcJcha seelitnentar é ccinstituíela prir partí-
sà(l rccc>nl1ccielas graças a SL1a cstrut11ra ele foliação, ciu
culas (clastos) preexistentes, ela é classificacla ccin1cJ
seja, a cJrientaçã(J prcfcre11cial qtie eis minerais placéiielcs
elástica. () prcJccsscJ gecilc'igicci qL1e 1111e as partículas
assu111c111, lic111 ccJn1ci a sua estrutura ele camaclas c1()-
sedimentares é ccinhccidcJ ccimcJ litificaçàcJ ciu diagêncsc,
liradas (l~ig. 1 . 12e1), ele\ iclcJ às def<irn1açéies qtic
e ccJmpreende Lima ccJml1inaçàci entre cJs prcJcesscJs ele
accJn1pa11han1 ci 111ctamcirfis111ci rchri(Jnal (C~ap. 19) . ()
compactação e ci111entaçàci. ,\ litificaçàci ciccirre en1
111eta111cJrt1s111<1 lcical restringe-se a c1cJ111ínicJs ele terrc-
condiçc)cs gcc)lc'Jgicas de baixa pressãci (lJescl c1cJs secii-
11c1 ciuc \·arian1 entre ccntítnctrc>s e elezenas de mctrcis
mentcJs pcJstericJres) e lJaixa temperatura (- 25(1º(=) e.
c1c cxtcnsàci. (2uanclcJ, nc) 111cta111cJrfis111c1 lcical, cJ a11-
pcir issci, as rcichas clástjcas nàci têm, sal,·cl raras exce-
111cn t(J ele te111peratura prcdc1111ina, fala-se em
ções, a mesma ccJnsistência dura das rochas ígneas.
111ct,1111cJrt1smcJ ter111al CJLl de ccintat<l. JJcir cxcmp!cJ, as
:\s rochas seclimentares elásticas sàcJ classificadas rcichas regicJnais
, sulJmctielas acJ ccJntatcJ ccim uma câ-
de accJrdo ccim ci tamanho de suas fJartículas ccJnstitu- 111ara n1agn1ática peidem scifrcr este tipci e1e
inres, ccJmci veremcis ncJ Cap. 14. I~las sàcJ faci!t11cntc 111etan1cirt1sn1cJ. ,\s rcichas resultantes sãcJ chamaelas
reccJnhecidas, pela seqüência ele camaclas hcirizcintais hcJr11fcls. '.\;cJ n1etamcJrfisn1cJ elinâmicci preclcimina ci
com espessuras ,,ariá,-cis qL1e normalmente exilJctn. aun1entcJ cic prcssãc> nci fen(i111encJ ela transf(1rmaçãcJ
, .\s rcichas seelimcntares c1uín1icas clu nàcJ-clásticas elas rc Jcl1as, ccin1ci em zcinas de fall1as.
[sªo {cirmadas pela precipitaçãci deis radicais salincls, (2uandcJ a tcn1pcratura elci 111eta111cJrfism<J L1ltrapassa
.· que feiram prciduzidcJs pelo intc111pcrismc1 qLlÍn1icc1, e 11m certcJ li111itc, eleterminac1ci pela natureza química ela
agora encontram-se dissc1l, ielcJs nas ág11as elcJs ricJs,
0
rcJcl1a e pela pressão Yigcnte, freqüentemente na faixa de
os e mares. ~:ntre CJS principais ânicJns salincJs estãci 700-8()()
0
(-:, as rcichas ccimeçam a se fundir, proeluzindci
carl1cJnatc1s, clciretcis e sulfatcJs, ene1uantcJ eis princi- nci,·amente L1n1 mahrma (Fig. 2.12e).
· s cátions são os mais scilúve1s, eis alcalincis J\:a e 1--::,
os alcalino tcrrosc)s l\lg e Ca.
2.2.3 Distribuição e relações das rochas na
()s dcpé1sitc1s sedimentares de cirigem cirgânica sãcJ crosta terrestre
· mulos de matéria cirgânica tais ccJmci restcJs de ,-e-
. s, conchas de animais, excrementcis de a,,es etc. 1\ crcista terrestre representa a camada sólida externa
e, por ccimpactação, acabam gerando, rcspccti,,a- elcJ planeta. Ela está eli,,ielida em crcista continental, que
ntc, turfa, coquina e guano. São pscL1dc)-rc1chas ccirrespclnde às áreas continentrus emersas, e crosta oce-
, rque as suas partículas agregadas nãci sãci minerais. ânica, que ccJnstinú eis asscJalhos cJccânicos (Cap. 5). Tanto
Lima ccJmcJ cJutra são fcirmaclas pcir rcJchas. F,stuclos ela
distribuição litcilc\L,rica c1a crosta continental inilicam que
etamórficas
95'1/i, elci seu ,,cilume tcital corrcsponc.lcm a rcichas crista-
.-\s rochas metamórficas (C:ap. 18) resultam ela linas, ciu seja, r(1chas íh,neas e metamc'irficas e apenas 5cv;1
sfcJrmaçãci de uma rocha preexistente (protc'ilitci) a rcichas seelimentarcs. b:ntretantci, ccinsiderandcJ a ilistri-
estado sólido. () prc)cesscJ gecJléigicci de transfcJr- buiçào destas rcichas cm área de cxpclsiçàcJ rcJchcisa
cão se dá pcir aumentei de pressãcJ e/ ciu superficial, os números se modificam para 75º/t, de ro-
peratura sobre a rcicha preexistente, sem que cJ chas seilimcntares e apenas 25cy;, de rochas cristalinas. lstci
ntcJ de fusão dos seus minerais seja atingielcJ. Os inelica que as rochas sedimentares representam uma fma
ólogos não ccinsidcram transformações lâmina rcichcisa e1ue se dispõe sobre as ígneas e
tamórficas aquelas que C)CC)rrem elurante eis prci- metamórficas, consideradas principais na ccinstituiçàcJ
sos de intempcrismcJ e ele litificaçãci. litc1lé1gica da crcista continental.
Os agentes de erosão podem movimentar
o material que forma o manto de
intemperismo, incluindo o solo. A falta de
vegetação contribui para a erosão. A de-
posição dos sedimentos (foto c) ocorre nas
zonas mais baixas, em bacias de sedimen-
tação. Com o tempo, este material pode
ser soterrado, compactado e transforma-
do em rocha sedimentar (Litificação).
SEDIMENTO
ROCHA
SEDIMENTAR
ROCHA
METAMÓRFICA
MANTO DE
INTEMPERISMO
ROCHA
ÍGNEA
No vulcanismo, o magma quente
chega à superfície, onde se derrama
como lava (foto a). Sua solidificação
forma rocha ígnea vulcânica. Se o
magma ficar preso no interior da
crosta terrestre, forma rocha ígnea
plutônica após sua solidificação.
11acla rcgià<J. f( peissível, para <J ge(ilcig<i, clescrc,:er e, especialn1entc, a temperatura, em cleterminadci
a l1istc'Jria geeJ!c'Jgica e-la crcista, através elci estuelci pcJntci ciccJrrerá a fusàcJ parcial (t;ig. 2. l 3e) e nciva-
elas r<>chas e deJs tip<>S e-le C<Jntat<1s que existcrn en- tnente a pc>ssibilielaele de feirmaçãei ele uma n<Jva
tre elas. 1\s f<intes de inf<irmaç<->es para este estude> rcicha ígnea, danclci-se inícici a um neJV(J ciclcJ.
sà<J c>s mapas gecilc'igicc>s, ceirtes r<>ch<>sc>s cn1 es-
l~sta seciüência ele cventcis geci]{JgiccJs é apenas
tradas e ferrc>vias, perfuraçc'íes ele pclÇ<>s para
un1a elas ,•árias alternatiYas que a natureza tem para
<>l1tençà<J de água e petr<'ileeJ etc.
esta!Jelecer um relacieinamcntci gcnéticci entre as
rcichas ele neissa crcista.
2.2.4 O ciclo das rochas
1\s r<Jchas terrestres nà<J ceinstituen1 111assas es- 2.2.5 Utilidade dos minerais e rochas
táticas. !·:las fazem parte ele utn planeta chei<J de
()s minerais e rcichas representam bens minerais
energia, que preJm<ive, C<Jm sua alta ten111eratura e
ele granele impcirtáncia aci ceinfc)rtc1 e IJcm-estar ela
11ressã<i interna, tcieleis <is pr<icessc>s de al1alcis sís-
humanidade. Enccintram utilizaçc"ies elas mais diver-
n1iccJs, mci,•imentc>s tect<Ínicc>s ele placas e ati\ iclaeles
0
60'- •
• l
•
• •
•
40'-
•
20· - •
•
o· -
•
-20· •
•
-40· _;
• •
• •
-60' - prof, (km)
••
O~ 35 •
36 • 350 ••
351 · 675
-
Fig. 3.1 Sismicidade Mundial. Mapa de epicentros do período 1964 a 1995 de sismos com magnitude> 5,0. Fonte: U.S. Geological
Survey.
• Efeitos de um terremoto ocorrido em Taiwan, em 1999. Foto: Reuters.
lc·Jgic( J de acúm ulc1 lente, e liberaçãc1 rápida de tensões .
.\ eliferença principal entre eis grandes terremc>tos e os
pcqucncis tremcires é e, tamanhci da área de ruptura, ci
• que c1etermina a intcnsidac1e elas \ ibraç<">es emitidas .
E 0.05
duas placas litosféricas (caso mais freqüente) ou nci Ili E
e., O 00
interior de uma delas, ccimo indicadci no cxcn1plci
da Fig. 3.2, sem que a ruptura atinja a superfície. ()
-
Q
o
l i)
Q) -0.05
w
-0. 1
na busca de água subterrânea. Em uma escala glci- "'o
-.," 0.1
s
Love
bal, os registrcls elcJs terremeitcis em uma rede de "' O.O E
□ w
estações sismográficas permitem também conhecer -O 1
as velcJcie-lades sísmicas no interior ela Terra e estt1- 400 600 800 1000
Tempo desde origem ( s)
dar a estrutura, a ccJmpclsiçàcJ e a e,reJluçàeJ atual del
neJsScJ planeta.
Fig. 3.6 Sismo das Ilhas Sandwich (Atlântico Sul) em 27-09-
As vibraçe3es P e S sàcJ chamaelas ondas internas 1993, registrado numa estação perto de Poços de Caldas, MG
por se propagarem em tcldas as dircçe3cs a partir (Brasil), a 3.570 km de distância. No trem de ondas superfici-
de uma pcrturbaçàeJ dentreJ de um meio. 1\lém elas ais Rayleigh (componentes Z e NS) e no trem das ondas Lave
eJndas internas P e S, há uma maneira especial ele (componente EW), as oscilações com períodos maiores che-
gam antes por terem velocidades de propagação maiores.
prclpagaçào de vibrações junto à superfície da Ter-
ra: são as cindas superficiais, que peidem ser de dois
tipos, Love e Rayleigh. As cJnelas superficiais Lc>vc
ccJrrespclndem a supcrpclsiçc3es de cJndas S ceJm vi- 3.2 Estrutura Interna da Terra
braçc3es hcJrizcJntais concentradas nas camadas mais
NàeJ é pcJssível ter acesso diretci às partes mais prci-
externas da Terra. 1\ onda superficial Rayleigh é uma
ti1nclas da Terra devidcJ às limitaçc'íes tecncJlc'igicas de
ccimbinaçàcl de vibraçc"íes P e S ccintidas nci plancJ
cnfre11tar as altas pressões e temperaturas. () furo de
vertical (Figs. 3.4c e 3.4el). No sismograma da Fig.
scJnelagem mais profundei fcitcJ até hcljc (cm I<.cila,
3.6, pcJdemos observar que as c>ndas superficiais
Rússia) atingiu apenas 12 km, Lllna fraçãcJ insignifican-
aparecem como um trem ele cJnelas de maior dura-
te cei111parada acJ raicJ da Terra de 6.370 km. J\ssim, a
çàei e cclm perÍeJelcJs diferentes. Uma característica
estrutura interna elcl planeta scJ pciele ser estuelac-la e-lc
elas onelas superficiais é que a veleJcielaele ele prei-
maneira indireta. A análise elas eJndas sísmicas,
pagaçàcJ elepene-le também do perícJdcJ da CJscilaçàcJ
registraelas na superfície, permite deduzir várias carac-
(ncJ exemple), vê-se que as ciscilações de maicJr pe-
terísticas das partes internas da Terra atravessadas pelas
rÍcle-lo estão chegando primcircl). 1\s ondas I~cJve,
cJndas. r\lguns aspccteis lJásiceJs ele prelpagaçàeJ de
cm geral, têm vcleJcidade de prcJpagaçãci maicir de>
c>nclas sísmicas serãcJ abcire-lae-lcJs agcJra, mcJstrandcJ
que as anelas Rayleigh.
comei as principais camadas da Terra sãc) estudadas.
Arg/1.a • ···••
' ' '' sísmicas muela (refrata) ao passar de um meio com
Agu.<1• .. •···•·•·· vcleJcieladc \ 11 para eJutrc) cc)m velc)cidade diferente
Ar&/a• •, •
saturi\ili. .. V 1\s c1ndas sísmicas scJfrem refraçàcl e reflexàcJ e
0
•
Folh;t~iJ.
' ", ;,s,•'''·'"' ' ·• tamlJém eJbedecem à lei de Snell (Fig. 3.7). Numa
interface separandc) dc)is meios diferentes, há também
ccJnvcrsãcJ de oncla P para S e ele onela S para P. Por
exemplei, a Fig. 3. 7 e mc>stra uma cJnda P incidente,
;,•' ; ' " cuja energia é repartida entre P e S refletidas e P e S
B aai\//q• ••·. ," '
·"'• ·i. refratadas. A lei d.e Snell, neste cascJ, se aplica a cada
o 1000 2000 3000 4000 5000 6000
tipci ele raio.
Velocidade da onda P (m/s)
(~uandcJ o meio é constituído ele ,árias camadas
Fig. 3.5 Exemplos de intervalos de velocidades da onda P horizc)ntais, a lei de Snell define a ,-ariaçàei da
para alguns materiais e rochas mais comuns. direçàcl dcJ raiei sísmicc>, comcJ mcJstradcJ na Fig. 3.8.
jetória da onda se apre)xima ela normal à interface
0 (ceimo viste) na Fig. 3.7b). Isto faz e) raio sísmice) C se
afastar muite) de) raie) sísmice) B, crianclo uma inter-
rupção na curva tempo-distância (Fig. 3.10b), também
0,
chamada "zona de sombra" na superfície. As ondas
que penetram na camada mais profunda formam um
ramo mais atrasado com relaçãei ao ramci mais rasei
(Fig. 3.1 Ob). () núclee) da Terra fcii desce)berto pela
s sua Z<)na de sc)mbra, ccimo se verá adiante.
p
i1
''
Fig. 3.7 Lei de Snell que rege a reflexão e refração das on- '
'''
das. Quando a onda passa de um meio de menor velocidade ''
@T e
B ., - - -
'''
!
''
'
l'
l
Fig. 3.8 Lei de Snell numa sucessão de camadas horizontais. 'l
:
'
PcP 10
Foco
o
-- --,J
' .........
o 30 60 90 120 150 180
''' -180° Distância (graus)
. Núi:leo
Fig. 3.12 Tempo de percurso das principais trajetórias pelo
interior da Terra. A distância é medida pelo ângulo subtendido
no centro da Terra. SKS, por exemplo, é a onda S pelo manto
,
PKKP que se transforma em P durante a passagem pelo núcleo exter-
no (percurso "K") e se transforma em S novamente ao voltar ao
Fig. 3.11 Trajetórias de alguns tipos de onda no interior da
manto.
Terra. O trecho do percurso da onda P no núcleo externo é de-
nominado "K". Assim, a onda PKP é a aquela que atravessa o
núcleo externo. No núcleo externo, não há prc)paga-
manto como onda P, depois o núcleo externo e volta pelo manto
como onda P novamente. O percurso no núcleo interno é cha- ção ele e)ndas S, o que mostra que ele deve estar em
mado "I" para onda P. Letras minúsculas designam reflexões: "c" é estado liquide), razão pela qual a velc)cidade da onda P é
reflexão do núcleo externo e "i" do núcleo interno. bem menor do que as do manto sólido. Por outro lado,
a densidade do núcleo é muito maior do que a do man-
to (conforme deduzida de outras considerações
A primeira camada superficial é a crosta, com es-
geofísicas, como a massa total da Terra e seu momento
pessura variando de 25 a 50 km nus cc)ntinentes e de 5
de inércia). Estas características de velocidades sísmicas
a 10km nos oceanos. Na Fig. 3.11, a crosta não apare-
baixas e densidades altas indicam que o núcleo é com-
ce por ter uma espessura comparável à espessura da
posto predominantemente de Ferro.
linha que representa a superfície da Terra. As veloci-
dades das ondas P variam entre 5,5 km/ s na crosta
superior e 7 km/ s na crosta inferior. 3.2.3 Litosfera e crosta
A curvatura da primeira onda P (Fig. 3.12) indica que A grande diferença entre as ,·elocidades sísmicas
as velocidades de propagação abaixo da crosta aumen- da crosta e do manto 'Fig. 3.136) indica uma mudan-
tam até a profundidade de 2.950km. Nesta região, ça ele composição química das rochas. A
chamada de manto, as velocidades da onda P vão de descontinuidade crosta, manto é chamada de Moho
8,0 km/s, lc)go abaixo da crosta, a 13,5 km/s (Fig. 3.13a). (em homenagem a ~Iohoro,·icic, que a descobriu em
Nas curvas tempo-distância (Fig. 3.12), a interrupção da 1910). Abaixo da crosta, estudos mais detalhados em
onda P à distância de 105º e o atraso do ramo PI<P entre muitas regiões mostram que há uma ligeira diminui-
120º e 180º, com relação à tendência do ramo das ondas ção nas ,·elocidades sísmicas do manto ao redor de
P, caracterizam uma "zc)na de sombra" e indicam que as 100km de profundidade, especialmente sob os ocea-
ondas PI<P atravessaram uma região de velocidade me- nos . .,\ composição química das rochas do mante) varia
nor abaixo do manto. Esta região, a profundidades relati,·amenre pouco comparada com a da crosta. Esta
maiores de 2.950km, é o núcleo da Terra (Fig. 3.13a). "zona de baixa ,-elocidade" abaixo dos 100km é cau-
Dentro do núcleo, existe um "caroço" central (núcleo sada pelo fato de uma pequena fração das rochas
interno), com velocidades um pouco maiores do que o estarem fundidas 'fusão parcial), diminuindo bastante
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Profundidade(km) Vp(km/s)
Fig. 3.13 a) Perfil de velocidades sísmicas (Vp e Vs) e densidade p) no interior da Terra. b) Exemplo de perfil de velocidade da onda
P na crosta e manto superior, numa região continental.
a rigielez do material nesta profunelielacle. Desta ma- com valores aproximac-l<JS elas acelerações dcJ mc1vi-
neira, a crosta, jL1nto C<)m uma parte do mante) acima 111ent<) dcl scilo. Cada grau da escala J\1M ccirrespclnde
da zona de baixa velocidade, fcirma uma camacla mais aprcJximadamente ac) cl<)bro ela aceleraçà<J c-l<l grau
dura e rígida, chamada litosfera. Nesta zcJna ele baixa anterÍ<Jr. Naturalmente, quantci maicir a distância d<J
velocidade, chamada astenosfera, as r<ichas sà<i n1ais epicentr<J, a intensidade tende a ser men<Jr. 1\ Fig. 3.14
maleáveis (plásticas). linquant<J a l\IohcJ é uma mcistra um exemplei ele mapa ele intensiclac-les (c-lito
clesc<)ntinuiclacle abrupta inclicanc-lc> mudança c-lc ccim- mapa " macr<Jssísmicc>") cl<i sism<J de 1\t<>gi-Ciuaçu,
p<)siçàcJ, <) limite litcJsfera/ astenosfera é mais graclL1al STJ, de 1922, scntic-l<i até mais de 30Clkm de distância.
e indica mudança de propriedades físicas: aument<J de Na regiãcJ epicentral, a intensidade atingiu CJ grau VI
temperatura, fusãcJ parcial e granelc diminuiçãci ela \"iS- l\L~I, prcl\'Clcancl<i rachacluras em várias casas e c-!es-
cosielade. 1\ verdadeira "casca" ela '!'erra, p<)rtantcJ, é a pertanclc> muitas pesscias cm pânic<i. As is<Jlinhas c-!e
litc)sfera. 1\s placas tect<)nicas (ou litosféricas) sãci pe- intensidacle (linhas c1ue cercam intensiclacles igL1ais) s:'ío
daçc) s de litcJsfera e1ue se movimentam s<ibre a chamaclas isossistas.
astenc)sfera.
52° 44°
3.3.1 Intensidade
Classificando os efeitos do terremoto II-Ili
11 Sentido por poucas pessoas paradas, em andares superiores ou locais favoráveis. <0,003
111 Sentido dentro de casa. Alguns objetos pendurados oscilam. Vibração parecida à da 0,004 - 0,008
passagem de um caminhão leve. Duração estimada. Pode não ser reconhecido
como um abalo sísmico.
V Sentido fora de casa; direção estimada. Pessoas acordam. Líquido em recipiente é 0,015-0,04
perturbado. Objetos pequenos e instáveis são deslocados. Portas oscilam, fecham,
abrem.
VI Sentido por todos. Muitos se assustam e saem às ruas. Pessoas andam sem firmeza 0,04 - 0,08
Janelas, louças quebradas. Objetos e livros caem de prateleiras. Reboco fraco e
construção de má qualidade racham.
. .
VII Difícil manter-se em pé. Objetos suspensos vibram. Móveis quebram. Danos em 0,08-0,15
construção de má qualidade, algumas trincas em construção normal. Queda
de reboco, ladrilhos ou tijolos mal assentados, telhas. Ondas em piscinas.
Pequenos escorregamentos de barrancos arenosos.
VIII Danos em construções normais com colapso parcial. Algum dano em construções o·15-0 ao
' J ' ,! ,,
reforçadas. Queda de estuque e alguns muros de alvenaria. Queda de chaminés,
monumentos, torres e caixas d' água. Galhos quebram-se das árvores. Trincas
no chão.
IX Pânico geral. Construções comuns bastante danificadas, às vezes colapso total. 0,30- 0,60
Danos em construções reforçadas. Tubulação subterrânea quebrada. Rachaduras
visíveis no solo.
X Maioria das construções destruídas até nas fundações. Danos sérios o barragens 0,60-1,0
,
e diques. Grandes escorregamentos de terra. Agua jogada nos margens de rios e
canais. Trilhos levemente entortados.
XII Destruição quase total. Grandes blocos de rocha deslocados. Linhos de visado
e níveis alterados. Objetos atirados ao ar.
3.3.2 Magnitude Ms = log(1\/T) + 1,66 log(~) + 3,3
Medindo a ''força'' do terremoto onde:
Em 1935, para comparar os tamanhos relativos A = amplitude da one-Ja superficial Rayleigh (µm)
dc)s sism(is, Charles l~ Richter, sismólog(> american(>, registrada entre 20º e 1()0º ele distância;
formulou uma escala de magnitude baseacfa na am-
T = perícideJ da onda superficial (deve estar entre
plitude dcJs registros das estações sismcigráficas. ()
18e22s).
princípio básico da escala é que as magnitue-les sejam
expressas na escala logarítmica, de maneira que cada ~= distância epicentral, cm graus; é () ângulo no
pcinto na escala corresponda a um fator ele 1O vezes centro da Terra entre e> epicentro e a estação
nas amplitueles das vibrações. Existem várias fcirmu- (1º = 111km).
las diferentes para se calcular a magnituelc Richter, A escala M 5 S() é aplicada para sismc>s com pro-
dependend(i elo tipo da onda sísmica medida n(i fundidades men(>res de - 50km. Sismos mais
sism(igrama. Uma das fcirmulas mais utilizadas para prcifundos geram relativamente poucas cindas super-
terremotos registrados a grandes distâncias é da mag- ficiais e sua magnitude ficaria subestimada. Nestes casos,
nitude Ms: são usadas outras fc'>rmulas para a (>nda P.
Para sismos pequenos e moderados no Brasil não se pode utilizar a escala M;, (pois dificilmente são registrados
a mais de 20º de distância (2.220km), e as ondas superficias têm períodos menores de 20 s). Nestes casos, usa-
se uma escala de magnitude regional, mR, elaborada para as condições de atenuação das ondas sísmicas na
litosfera brasileira, e válida entre 200 e 1.500 km de distância:
onde V= velocidade de partícula da onda P, em µm/s (V=2rc A/1), e Ré a distância epicentral (km).
Da maneira cc)mo fcii defmiela, a magnitude Richtcr A Tabela 3.2 mostra a relação entre magnitude (MJ,
não tem um limite inferior nem superi(ir. TremcJres mui- amplitude máxima do movimente) do chão (A) a 50 km
to pequenc>s (mict(>tremores) p(>dem ter magnitude de elistância, tamanho ela fratura (L), deslocamento mé-
negativa. () limite superior e-!epende apenas da própria dio na fratura (D) e energia.
natureza. Tremores pequenos, sentidos num raie> de p(>U- ,
ccis quilômetrc)s e sem causar clanos, têm ma1--,:initude da E impcirtante ressaltar que cada p(>nto na escala de
ordem de 3. SismcJs moderadcis, que podem causar al- magnitude corresponde a uma eliferença da ordem
gum dan(J (dcpenelendci da prcifundidadc dei f<JC(J e do de 30 vezes na energia liberada. Para se ter uma idéia
tipo de terreno na região epicentral) têm ma6:initudes na e-lo que seja um terremotci de magnitude 9, imagine
faixa de 5 a 6. Os terremotos C(Jm granele pcider de uma rachadura cortandcJ toda a crosta entre RicJ e SãcJ
destruição têm magnitudes acima de 7. As maic)res mag- Paulo e cada bloco se movimentando 1O metros, late-
nitudes já re6ristraelas neste século chegaram a J\1s =8,5 ralmente, um em relaçãci ao cJutro.
(terremotos ncJs Himalaias cm 1920 e 1950, e no Chile
em 1960).
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1755 1 1 01 Portugal, Lisboa 8,7 . ······70.000 Tsunami devastador; maior terremoto em crosta
' .
ocean,ca.
1886 09 01 USA, Carolina do Sul 7,7 7,3 60 Intra placa, margem Atlântica.
1906 04 18 Califórnia, S. Francisco 7,8 7, 9 700 Grande incêndio; falha de San Andreas.
1960 05 22 Sul do Chile 8,5 9,7 5.700 Maior terremoto do século XX.
1976. 07 27 China, Tangsham 7,8 7,4 250.000 Não foi possível prever.
1992. 06 •28 Califórnia, Landers •7,5 .·. 7,3 Ruptura na superfície, mais de 70km .
,
lndia central, Killari .•.· 6,4. · 6, 1 •10.000. Região intraplaca; falha nova gerada pelo sismo.
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relo e triângulo branco indicam epicentros de sismos ,.•
-eo·- • · rasos (<60km), intermediários e profundos
(>350km). Nos perfis Me BB', mostram-se a topografia (linha grossa) e a projeção dos hipocentros (pontos) dos sismos até 300
km de cada lado do perfil. Na região do Peru (perfil M), os hipocentros se alinham horizontalmente, antes de mergulhar sob oAcre.
Fonte: U.S. Geological Survey / Engdahl.
•· 1929
.. •··· 44,7 N .• 56,0 W 7, l Costa leste do Canadá MP/R?
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1932 28,5 S 32,8 N 6,8 Africa do Sul MP
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.·•· 1933
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2400
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370 km sul, pessoas foram acordadas,
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. 2 ,.· 1955 19,84 36,75 6, l Epicentro no mar, a 300km de Vitória, ES, ·•. ·. ,·
'. 3 1939 · 29,00 48,00 5,5 > VI Tubarão, SC, plataforma continental..··.
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22 t 17
' " 47,04 5, 1 VI Mogi-Guaçu, SP, sentido em SP, MG eRJ. , > r'
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A zona sísmica de Nc)va Jvladrid (Tabela 3.4), no cen- devido a tensões compressivas c)rientadas aproximada-
trc)-leste da América elo Nc)rte, respunsável pelos grandes mente na clireção f•'.-W e tensões tracionais N-S. Estas
terremotc)S intraplaca de 1811 e 1812, caracteriza-se pela tensões podem ter várias <>rigens, cc>m<> a mcYvimenta-
reativaçãc) de um sistema de falhas geológicas antigas. çãc) da placa sul-americana e fc)rças locais causadas pela
Estas falhas foram criadas no Mesozóico, por forças estrutL1ra crustal <la re6rião.
tracionais num processo de extensão crustal que formou
A faixa sísmica SW-NE nos Estados de Gc)iás e
um graben (Cap. 6). A sismicidade que se re6ristra hoje
Tc)cantins (Fig. 3.16) tem um paralelistno marcante com
C)CC)rre nas mesmas estruturas antigas, mas em respc)sta
C) Lineamentc) Transbrasilianc) (Fig . 3.18), em\Jora não
,
às forças compressivas que atuam hc>je na placa nc)rte-
. cc>incida exatamente com ele. E possível que os sismos
americana.
cicorram de\·idc) a dois fatores: concentraçãc) de ten-
A ativiclade sísmica, ocorrida de 1986 a 1990 em sc3es e existência de uma zc>na de fraqueza, aml1c>s
JoãcJ Câmara, RN, fc)i estudada em detalhe cc>m uma tal\·ez relacic)nadc)s às estruturas que deram C)rigen1 ac>
rede de estaçc3es sismográficas, permitindcJ identificar antig<> lineamentc>.
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Koyna, lndia 103 1967 6,3 · baixa
As primeiras citações sobre sismeis induzidos nei Brasil de 19lJ4, ocorreu e> maieJr sismei, cci111 magnitude 3,0
(Tabela 3.7) referem-se à Usina Hidrelétrica de Capi, ari- 0
(fig. 3.20). Os e,,entos sísmicos que eicc>rreram entre
Cachoeira, a NE lle Curitiba, PR. 1\ ati,·idade sísmica os anc>s de 1987 e 1989 apresentaram forte correla-
principal ocorreu em 1971 e 1972, na fase fina] da forma- çàci ccHn as variaçc3es nci ní,·el do reser,,atéirici, ce>mci
çãci do lago, e se prolongeiu até 1979, decrescendcJ pc>de ser cibser,,ac.lci na fig. 3.20, enquanto nos outrcis
lentamente com aJ6runs pulsos de reati,,ação ~'ig. 3.19). anos essa assciciacàci
, nàci é tão clara. 1\ ativiclade sísmi-
ca occ>rreu pcir reati,·açãci de antigas rupturas orientadas
() reservatório de Açu, RN, apresenteJll ati,,idade
N b~ - S\'(', dc•,ido a tense3es compressivas J:,~-W e
sísmica induzida pelcJ mencis desde 1987, quando feii
tracic>nais N-S, semelhantes às tensões que agem na
iniciaclcl cJ mcJnitoramento sismciléigiceJ. Em agostcJ
regiãci de João Câmara, RN, mais a leste.
Ili Barragem
Usina
20 -
C/l
o
E nível do
C/l reservatório
15 _,
C/l
845,00 845,50 (m)
CJ)
"C
834,00 , ! 835,00
! 833 80 - 850
0
z 1 O -· l '' ' ,..., ! - 840
823,00 , ' '
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- 830
5 -
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1
Fig. 3.19 Distribuição mensal da atividade sísmica induzida e nível do reservatório de Capivari-Cochoeira, PR.
barragem 1989 A
35 100 -5°40'
altura d'água 2.6 3.0 ~ 1990/ 91 ♦
i 0 80
1995 e
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111
30 E
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sismos 40 orn
....:,111 25
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E
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-5°44'
20
87 88 89 90 91 92 93 94 95 96
o •
Fig. 3.20 Sismicidade induzida no açude de Açu, RN. (a) Nível d' água -5°48'
e sismicidade. De 1987 a 1989, o aumento do nível d'água foi segui-
do, aproximadamente 3 meses depois, por um aumento na atividade
sísmica. De 1990 a 1993, o regime pluviométrico variou e a correla-
ção não é clara. Depois de 1994, há nova correlação entre nível d' água
e sismicidade. (b) Epicentros em três épocas diferentes. A área mais
ativa varia com o tempo. Os sismos de Açu provavelmente ocorrem -5°52' •·
por reativação de pequenas falhas antigas, orientadas SW-NE, sob o
regime atual de tensões: compressão E-W (setas vermelhas) e tração
N-S (setas amarelas). 5km
-36°56' -36°52' -36°48'
'
3.4.5 E possível prever terremotos? dades, tais come) diminuição nas velocidades de pro-
pagaçãei das anelas P e S, queda na resistividade elétrica,
Quando vai CJCeJrrer o préiximo granelc terremo-
mudanças no número de microtremores, entre outras.
to? Esta pergunta free1üente ainda nàei ten1 respeista. ,-\
Na décacla de 1970, fc)ram estudadcis vários casos de
prc,·isàei ele terremotos tem sidei um dos maicires de-
sismeis anteceelielos peir tais mudanças, levando mt1i-
safieis para <)S gecicicntistas. Apesar ele intensas pcse1uisas
tc1s sismólcJgeis a acreelitar que a previsão de terremotos
peir ,•árias elécad.as, ainda não fe)i peissí,-cl elesen,-c)l,·er
seria finalmente possível. 1\lguns sismos pequenos,
t1m méte>dei práticc) e segttro para se fazer prc,-ise:>es
ele terreme)teis. durante estue-leis detalhados ele microtremores, pude-
ram ser antccipac1os, e tim granele terremoto na China,
1\s ,-árias etapas elurante a gcraçàei ele utn sisme> cm 197 5, f(ii prc,·isto C(Jm sucesso, salvand() milhares
(acúmulc) lentcJ de tensões na creista, d.efcirmaçàei das e-le ,,il-las (\·er Tabela 3.3). N e) entanto, a Terra me)s-
reichas e ruptura aei atingir ei limite de resistência) sàci trc>u-se muitc) mais ce>mplexa dei que se imaginava, e
relati,-an1ente bem ccinhccie-las. Assin1, l1avcria dt1as nem sempre os terremeitos são antecedid(JS pc)t fenô-
maneiras L-le se prc,•er terrcn1e1teis: mcdie-las Llirctas elas tnenos fáceis de detectar. C)utrei fator ccimplicante é
tense:>es crustais e eil1ser,·açe'>es ele algtins fcnàmencis que eJ compc)rtamento das rochas varia muito depen-
c1tte indicam a iminência ele uma ruptura na crc)sta. clendci elo regime de tensões, profundidade,
En1l1c>ra seja possí,,el tnee-lir as tensões crustais, há cncir- temperatt1ra e ccimpeisiçào mineralógica. Assim, mes-
mes prcil)!emas práticeis a stiperar: seria necessário mei que a pre,·isào f(isse pcissível na prática, os
tncdir as tense'>es em prc>fundidades ele elezenas de qtti- métoclos t1sac1(JS na Califéirnia, por exemplo, pclderi-
lômetreis, en1 áreas mui te> extensas e ccim ttma precisàei am não ser úteis ne) }Jeru.
ainda nãe) dispciní,-el na prática. ,\lém disse>, seria ne-
Quande) as tense:ies atingem () ponto crítico de re-
cessário ccJnhecer detalhaclamentc as características ele
sistencia elas reichas na cre)sta, uma fratura se inicia.
resistência aeJ fraturamente) deis ,·árie)s tipos de reicha
•
llma quantidae-le enc)rme de eletalhes geeilógicos de-
Cjtte compõem a crosta numa certa rcgiãci. Na prática,
termina a localização exata deJ ponto crítico (início do
ei custo e a quantidade de medidas necessárias tc1rnan1
inviável essa abeirdagem. sismo) e o tamanho final da fratura (e, portanto, a
magnitude do sismo). J\.fuitos sismólogos acreditam,
(2uandci uma reicha está prestes a se rcimper, há por razões físicas, que a previsãc) de terremotos é in-
uma pequena n1uelança em algumas e-lc suas pre>pric- trinsecamente in1possí,·el.
CAPÍTULO 3 • SISMICIDADE E ESTRUTURA INTERNA DA TERRA 61 ~'"••r~~".
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Tsunamis são muito freqüentes no Pacífico devido à predominância de falhas inversas nas zonas de subducção. Terre-
motos no Alasca, por exemplo, podem gerar tsunamis que causam destruição no Havaí, várias horas mais tarde, a
milhares de quilômetros de distância.
Está em implantação um sistema de alarme para tsunamis nc) Pacífico baseadc) na determinação rápida de epicentros,
magnitudes e orientação das falhas Gá disponível pela rede mundial de sismógrafos), modelamento matemático das
ondas do tsunami (em aperfeiçoamento) e medidas em tempo real registradas por sensores colocados no fundo oceâ-
nico (em instalação).
Fontes: González, 1999. Tsunami! Scientific American, maio de 1999 pp. 44-55.
campo gecimagnético da épcica, e a recupcraçãci dessas entre as duas esferas e ela massa m 1, qt1e cria um campo
infeirmações permite desvenelar a histéiria do magnetis- ele aceleração gravitacicinal ao seu rcdcir, o qual é igual
mo terrestre no passado gecJlógico. 1\lém elissci, através em todas as direções, ou seja, é isotrópico. Estas caracte-
das propriedades ma6méticas das rochas, é pc)sSÍ\-el lcica- rísticas fazem ccim que um ccirpci, mesmei possuindo
lizar jazidas minerais e traçar os mei,,imentcis pretéritos massa muito ele\ ada, produza um campci menos inten-
0
dos bleicos litosféricos durante a evcilucão da Terra. seJ de> qt1e um outro, ccim massa muitci menor, mas
'
sitt1acleJ mais próximcJ. Ccimei exemplei, podemcis citar
O cibjetivo eleste capítulo é fc>rneccr os ccinceitos fun- a queda ele metecJritos scJbre a superfície terrestre. Em-
damentais sobre a gravielaele e ci campo magnéticci bc>ra sendci atraíclcis pelei Sol, muitcJs deles acabam caindo
terrestres e ilustrar de que forma estas características físi- na Terra, de massa muito menor, aci passarem em órbita
.
cas trazem informações scibre a própria estrutura interna ,
prcix1ma.
do planeta.
,-\lém clisso, ccimci o campo gra,'ÍtacicJnal é iscJtrélpico,
as fcJrças de atração tendem a aglutinar massa em corpos
4.1 O que é a Gravidade? esfériccis. r~sta característica explica a forma aproximada-
mente esférica do ScJl e dcJs planetas que ccimpc3em o
:b~mbora os estudeis cmpíriceis sobre ci meivimentcJ
Sistema Solar, eis qt1ais foram formados a partir de uma
de queda livre tenham sidc> iniciadcJs e publicados por
nu, em de gás e pcleira intt:rcstelares, há 4,6 bilhões de
0
pendicularmente ao eixo de rotação, os únicos locais ccimpcJnente a 0 , diminuindo gradualmente etn dire-
onde não há aceleração centrífuga (ac = O) são aqueles ção aci Equador, onde atinge ci ,,alc)r mínimci. c:cimcJ
situados sobre e) eixci de rotação, ou seja nos pólos. pode ser obser,-adci na Fig. 4.1, a clireção de g sei
Todos os outros pontos da Terra sofrem uma acele- cciincide com aquela do componente gra, itacional 0
ª~
ração centrífuga cuja intensidade é diretamente nos pólos e no Equador, sendci que nas clemais latitu-
proporcional à distância do eixo de rotação, atingindci des ela não é radial.
valc)res máximos na linha do Equador, ccimo pode
ser observado na Fig. 4.1.
4.2 Medindo a Gravidade
__ -, (O
.\tra,·és da medida do campo da gra,·idade da Terra
fciran1 cibtidas in1portantes infor111açc'ies scibre o sell in-
tericir, determinandci-se também cli\'ersas de suas
características, ccJmci sua forma e interaçc'ies ccim outrcis
corpcis dcJ Sistema Solar.
g- = ag +ae (4.4)
4.4 Interpretando Anomalias que corresponde à média da crosta continental. "-\ corre-
ção Bouguer é aplicada conjuntamente com a de altitude
Gravimétricas
(ar-li,,re), restando apenas o efeito dC\ido à atração dos
Na superfície terrestre, o valor médio da gravidade é materiais situados abai's:o do nÍ',el do mar.
de aproximadamente 9,80 m/s2 ou 980 Gal. De,ride) ae) F,m regiões muito acidentadas, é efetuada uma ter-
movimento de rotação e ac) achatamento na região po- ceira correção, denominada correção de terreno, que
lar, o vale)r da gra,ridade diminui cerca de 5,3 Gal dc)s leva em conta as feições topográficas de uma área. Em
pólos ao Equador, o que representa uma variação em geral, como seus valores não ultrapassam algumas deze-
torno de 0,5r1/o. Além disse), a atraçãe) exercida pela Lua e nas ele mGal, são aplicadas somente nos le,·antamentos
pelo Sol, bem come) as diferenças de altitude entre os de detalhe. Em áreas oceânicas, onde as medidas são
pontos de medida causam alteração no valor da gravi- realizadas nc> nível do mar, costuma-se efetuar apenas
dade. Como todas essas variações se superpõem, te)rna-se correcões ar-livre ' enquanto em áreas ce)ntinentais utiliza-
,
necessário quantificá-las e eliminá-las ao máxime) para, se também a correção Be)uguer.
então, estudar aquelas variações causadas por diferenças
Se o interior da Terra fosse uniforme, os valores pre-
na composição e estrutura da crosta ou do manto supe-
ric>r da Terra. viste) e medido da gravidade seriam iguais, após tc)das
essas correções. Entretanto, como existem importantes
A maior variaçãe) ne) valor de g é a latitudinal, causa- variaçe'Ses laterais e verticais nas rochas que compõem o
da pela rotação e achatamento terrestres. () valor teórico interior da Terra, esses valores são geralmente distintos.
da gravidade y ac) nível de) mar é descrito pela Fé)rmula A diferença entre o valor medido e o previsto é chama-
Internacional da Gravidade, estabelecida em 1980 como: da de anomalia de gravidade. Dependendo da ce)rreção
y(~)=978,0318(1 +0,0053024sen2~-0,00000587sen22~)Gal (4.6) aplicada, a anomalia recebe o nome de anomalia ar- livre
c>u de anomalia Bouguer.
na qual ~ é a latiu1de sobre um pc)ntc) de) elipsé)icle de
As anomalias gravimétricas resultam de variações na
referência, cuja superfície é a que melhor se ajusta à for-
densidade dos diferentes materiais que constituem o inte-
ma da Terra.
rie)r ela Terra. Os ce)ntrastes de densidade entre diferentes
As variações da gravidade devido à ação da Lua e do tipos de rochas modificam a massa e causam, conseqüen-
Sol (efeitos de maré) são descritas pe)r meio de tabelas temente, mudanças nos valores da gravidade (Fig. 4.3).
publicadas periodicamente. As variações causaclas por di-
ferenças de altitude, devido à topografia do terreno, também '
1
2,22 :
Como existem massas rochosas entre o ponto de Crosta Continental
:*
medida e e) nível de) mar, em áreas continentais, aplica-se
: :*
' 1 '
1 1 '
' i,
sedimento
6°S
- granito
. .
; gna1sse
BRASIL
10 km
1 1 - r
---+ Vulcanismo da
B A--..._ . ·· Bacia do Paraná
·-........_ ~A'
i
' --· ----
'
1.., -_
N s
5km
5km
g Anomalia positiva
de gravidade
Fig. 4.4 Anomalia de gravidade causada pelo granito Tourõo
(situado no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil). O perfil A-B,
indicado no mapa, mostro uma acentuado quedo no valor de gra-
A'
vidade que coincide com o setor de maior profundidade do
km vulcânicas básicas
granito, menos denso que as rochas encaixantes. Note que a roêhas< ·•·•·
extensão horizontal do corpo intrusivo (- 50 km) é cerco de dez 20 sedimentares
vezes maior que a sua profundidade máxima (- 5 km). Cortesia crosta . · •· ·
de R.I.F. Trindade. 40
-75'
mGal
60
40
20
o
-20
-40
o -60
-1 O" -80
éÍ1i 1--1---100
S--1- -120
-1 s· o o -15º 1--1-- -140
• Q
--160
-20· -180
-20· --200
o -220
-25· -240
.
,,- __
'','
;'' '
-260
-280
-300
-3o· o -3o· -320
-340
-360
-35' -380
-10· -s5· -35. -30"
Fig. 4.6 Mapa de anomalias Bouguer do Brasil e áreas adjacentes. O intervalo das linhas de contorno é de 20 mGal. Fonte: Só et ai. 1993.
() concelt() de isostasia baseia-se nci princípio
de equilíbrio hidrostático de Arquimedes, no qual
nível do lâmina
um corpo ao t1utuar desloca uma massa de água mar d'água
equivalente à sua própria. Nesse caso, uma cadeia
montanhosa poderia c(impcirtar-se ccimo uma ro- \ + /
lha flutuandci na água. De acordo com este + +
X X
·!· V V
princípio, a camada superficial da Terra relativamen- X V
,J v
X V
te rígida flutua sobre um substrato mais dens(J. X • +
Sabemos hc>je que essa camada corresponde à cros-
ta e parte do manto superior, que integram a
litosfera. () substrato denso é den()n1inad()
astenosfera (Cap. 5), comportando-se ccimo um
fluidcJ viscoso, nci qual ocorrem deformações plás-
ticas na escala do temp(l ge(iléigico. () equilíbrio
isostático é atingid(J quando um acúmulo ele carga
ou perda de massa existente na parte emersa é
contrabalançada, respectivamente, por uma perda Fig. 4.8 Ilustração do modelo de compensação isostática
de massa ou acúmulo de carga na parte submersa. de Pratt. A camada superior rígida é composta por blocos
de igual profundidade, mas com densidades diferentes e
Nas duas hipóteses de compensação isostática, menores do que aquela do substrato plástico. A condição
a superfície terrestre é considerada suficientemente de equilíbrio isostático é atingida pela variação da densi-
rígida para preservar as feições tcipográficas e me- dade, de modo que as rochas sob as cadeias montanhosas
neis densa do que o substrato plástic(J. N ci modelo são menos densas, enquanto as das bacias oceânicas são
de Airy, as montanhas sã(J mais altas por p(lSSLtÍ- mais densas.
nível do
mar lâmina d'água Sabemos hcijc que os dois moclos de compen-
/ sação isostática ()ccirrem na natureza. As montanhas
sãcJ mais altas, pois se preJjctam para as partes mais
profundas c10 mantei, ccJnforme infeirmações obti-
clas através da SismcJlogia. PeJr (JutrcJ lado, os
ccJntinentes situam-se acima do nível do mar devi-
dc> às diferenças de composiçãcJ e densidade
(fig. 4.3) entre crosta ceJntincntal e a crosta oceâni-
ca (fig. 4.9). J\fesmo após ter sofrido intemperismo
e ere>são intense>s ncJ decorrer deJ tempo geológi-
co, a creJsta continental situa-se acima deJ nível do
mar dcvide> à isostasia, peJis à medida que a er(Jsão
rcmcJve as camadas mais superficiais, (Jceirre lento
Fig. 4.7 Ilustração do modelo de compensação isostática
de Airy. A camada superior rígida possui densidade cons- scJerguimento. Portanto, rochas originadas em pro-
tante mas inferior àquela do substrato plástico. A condição funclidade s maicires acabam atingindci níveis
de equilíbrio isostático é atingida pela variação da espes- superficiais. Uma confirmação desse fato é a ocor-
sura da camada superior, de modo que as montanhas têm rência de rcichas metaméJrficas, formadas em condições
raízes profundas. de alta pressão e temperatura, compatíveis com as exis-
I>or outrcJ lacio, no modelo de Pratt, as m(Jnta- tcn tes na base da crosta ccintinental e que hoje
nhas são elevadas por serem compostas pcir rochas enccintram-se expostas em ,'árias regiões do planeta.
de menor densidade do que as existentes nas regic'ies J\ícJ Brasil, estas rcJchas (granulitos) são vistas, por exem-
vizinhas (Fig. 4.8), havendci neste caso clifercnças late- plei, cm ,,árias pclntos dei EstadcJ da Bahia (CrátcJn c10
rais na densidade. São Francisco).
Capítulo 4 • Investigando o Interior da Terra 71 ,
,. - - - - - - ... gravidade
- - - - - - ,:- •
,. .,
••••••••••••••••••
' '
■ - - - - - - - - - - - - - - - --------
•••••• 1 • • • • • • • • .,.. - - - - - - - -
(b)
(a)
carga
' .,
adição (a) e remoção (c) de uma carga (calota de gelo, sedi- (e) ---------
mentos, derrames de basaltos, etc.) na sua superfície. A linha
pontilhada refere-se ao valor da gravidade antes da adição ou
remoção da carga (situação de equilíbrio isostático). A linha
tracejada indica como a gravidade varia com a adição ou re-
moção da carga quando ainda não ocorreu a compensação
isostática, como ilustrado em (a) e (c).
i\'las as pri111ciras in\-estiL,acc'ics scibre ci fc11(in1e11ci dei dessa esfera é se111elhante à ele un1 ín1à LlC !Jarra que cha-
ma1--,rnctis111<l sc'i tiYeran1 iníci< > cm 1269 ccJm as experiên- 111an1cis de elipcilc>. l1 cJc-!en1os entàc> in1a1-,rinar a Terra C<>mci
cias ele Petrus l)cregrinus de J\laricc)urt. file csclilr:iiLt uma esfera, nc> centre> da c1ual existe u111 clipcJlcJ <>Ll ímã ele
magnetita 1n1ineral n1a;_rnéticci de c'>xielcJ ele ferrei) nu111a ]Jarra (Pig. 4.11 ). () eixci do dipolo gec>cêntric<J está prci-
t< >rtna esféricr1, Lla LJltal aprciximava pec1uencls Ítnàs. l)c- xi111ci cl<J cixc> ele rc>taçà<J da Terra e faz ccJm ele um ângtilc>
senh<iu s<ibre ;1 superfície esterica as dircç<1es indicaelas ele cerca ele l l,5°. Pc>r esta ra7.àcJ, a agLJha de uma l1t'.1ssc1la,
pc lr eles, <>i)tcnclc l linhas que circunclavam a estcra e inter- cm geral, nàc> a11cinta para ci ncirte 111as SLta e\ireçàcJ faz
cepta,-an1-se en1 dciis pcJnt<JS, da 111csma fcirn1a L]lle as
linhas da lc >n,,ón1ele sc>IJre a "lerra interceptam-se ncJs pci-
lc>s. TJcir analcJi--,rÍa, ele denc>mincJu esses pclntcis ele p<'ilcJs
clci ímã. Na Inglaterra, \'\'illiam C~ill1ert rcpctiLt e an1plicJll
tais experiências, reunindcJ tcJelcJ <J ccJnhecimcntcJ ele até
entà<J sc>l1re ma1-ornetisn1cJ 11ci tratadci / )e i\lc/1!,l!e!c, pul)lica-
elci cm 16()0. 1\ partir Lias semelhanças ncJ ccim1)<irtamentc>
n1agnéticci C<ll11 a 111agnetita esférica, ele rccc>nhcceLJ Ljue a
prc'ipria Terra era urn itnenscJ ín1à.
\
\ ,:,'0 /'
40 ' ' '
/'
~
60°
,' ' - -- ~-~Ç)
/
/
30°
\
\
' "·-----·
&
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\ _______________
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o \
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-30°
\ \
----~"
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\
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'\
-60° 40 ~ '
\
\\ 1
! /- 1
50~ \ 1
I
! '
/
1
' \ / '
/ /
-180° -120° -60° Oº 60° 120° 180°
Fig. 4.12 Mapa de declinação magnética indicando a posição dos pólos e a linha de declinação zero. Fonte Langel et ai., 1980.
Capítulo 4 • Investigando o Interior da Terra 73 1
utn ângul<i C<lln a direçà<J n<>rte-sLt!, fat<> este j;í ccJnhccielcJ a uniclaele ga111111,1 - y e1ue ee1uiyale 1 nT; (,·er talJela ele
elcis e:ra11clcs na,·ee:antes elesele <> séculcJ X\!í. l~ssc ,'tne:ulc>
( J (_ l (
u11ielaeles n(l final clci li\·rci). lst<l ccJrresp<lnele a utn
lle desvie> ela aµ;ull1a é a declinação magnética. ca1111,( i ce11te11as lle ,·ezes n1ais frac<J elci l]Lte <J ca111p<l
entre <>S pc'ilcJs ele um Í111à ele l1rinc1ueelci. ;\ intensielacle
;\ agulha ela bússcila cles,1 ia el(l ncJrte ge(\µ:r,ific(J
\aria C<H1fcirn1c a rcgiàci C(Jnsicleraela s<JlJre a su11erfí-
para ],este c>u para ()este scgunel<J u111 à11gul(J ciue
cie ,la 'ferra, sencl<J 1ne11(Jr pr<íxi111cJ acJ 1~e1L1aclcir e
depe11clerá cl<l lcical ci11ele se enc<Jt1tra <> cJl)ser\ acl<Jr
111aú1r cn1 clireçàcJ acJs 1,cílcJs ((>0.0()() 11T 11cJ pc'Jl<i mag-
cm relaçà<J acis 11c'ilcJs µ;e(Jgráfic<J e 111ag11éticcJ. l)esta
11é·ricc J nc Jrte e~( 1.( )( )(111T t1<J p<ílci 111agnéticcJ sul), C<>m<>
fcJrma, se <J p<lt1t(J ele cJl)ser,·açà(J e esses p<'ilcJs csti\ e-
1,(Jdc ser (JlJser,·acl(i na fig. 4.13.
rem alinhael<is s<Jl)re CJ 111es111<> n1erieliancJ, e11tà(J a
eleclinaçàci será 1er<J. Se (l eixc> elcJ eliJJ<ilcJ C(>i11ciclisse l. 111a agull1a it11a11taela li\·re para girar e1n t<irnci c-le
c<im ci eixcJ gc<igráficcJ, nà<J l1a\·cria c-lcclinaçà() (1 iµ:. u111 cÍX(l h<lrizcintal nàci per111a11ece na l1cJrÍ1<Jt1tal. J•:la
4.12). S<Jtne11tc ncJs p<Jl1t<>S cc>rresp<J11e-lentes à linha ele aC(J111J,a11l1a as li11has de fcirça el<i camp<l magnéticcJ
eleclinaçàci 1erc1 (ciu li11ha agc'inica) ela J,'iµ:. 4.1' é c1ue a (1 ig. 4.1 1), ele tal fcirn1a c1ue a extren1iclacle 11cirte da
agulha ir1elicará <J 11<irte µ;ecJgráfic<J \·erclaeleirci. agull1a i11clina-se para lJaixc> 11<J l1e1nisféri<1 NcJrte e,
1,ara cin1a 11(J l1e111isféricJ Sul. () à11gLil<i Cjlle a a,t.;ull1a
l~11tretant<J, <J ca111p<i 111aµ:11étic<J ela 'ferra nà<i é·
faz C( >111 (l J,lan<J l1cJriz<J11tal é cha1nae-l<J de inclinação
un1 elÍJJcilcJ perfeitci e cerca ele 51;~, elesse ca11111c1 é irre-
gular, <llt seja, nàci-elip<ilar. 1\ c<i11jugaçàci clesses e!tJis
magnética. S<l!Jre <JS pc'>lc>s 1nagnétic<is a agulha cci-
luca-se 11a pcisiçà<J ,·crtical e p<irta11tci a incli11açà<J é ele
ca111p<>S prci,·cica cles,·icJs nas linhas ele cleclinacà<>
911°. 1:111 pc1ntc1s inter111ediáricJs, <J àngulcJ ele inclina-
magnética, l1em c<in1ci en1 t<ielas as li11!1as ele fcirça d(>
çàcJ Yaria até che,µ:ar a zer<J 11c> ee1L1aclcJr 1nag11étic<i, <Jnele
can1pcJ n1ag11éticcJ terrestre, 11ciis ci ca111pc1 nà<i-cli11<>lar
as linhas ele fcirça sàcJ paralelas ;1 SL1perfície. ()s p<ílcis
é cliferente JJara caela regiàci ela superfície da Terra,
111ag11é·tic<JS estàcJ l<icali1ae!cJS a aprc>xi111aclamente 78°N
resulta11clci nL1111a elistril1uiçà<J e-le i11te11sielaeles (r'ig. 4.13)
1(14 °\\ e óS ºS 139ºr:, p<Jrtant<J nàci sà<J dia1netralmente
diferente elae1uela es11eraela 11ara un1 ca111pcl diJJ<Jlar.
si111étriccis, afasta11el<i-se cerca e-le 2.300 kn1 clci
;\ intensielade el<J ca1npc1 ge<Jn1ag11éticci é n1L1Ít(l a11típclda. Desta f<irma, a melh<Jr representaçà<J el<i
fraca, cerca ele 50.0()(1 x 10" 'l" ciu SO.()()(l 11·1· (T repre- catTI\1(> n1agnéticc> terrestre é a ele un1 clipcll<J cuj<J cixci
senta Tesla e1ue é a Ltnielaele ele indL1çàc1 1nagnética 11c> está eleslcJcacl<J e111 relacàci aci centre> ela Terra c-le 49()
·'
Sistema lnternacicJnal; c<irrenten1cnte usa-se ta111l)én1 kn1. l •:ste elipc>lci é chan1aclc> dipolo excêntrico.
61
60° 61
60 ·'
30° 50
40
30
Oº
23
-30°
67
-60°
.__ _ _.;.,_;:,,;.__---li-~----+ y
180°E 1 y
•270°E 90°E
25 z (vertical)
Fig. 4.15 Represen7ação vetorial do campo geomognético.
15 Os eixos x e y coincidem co'Tl as direções geográficos e o eixo
z tem sentido positivo ern direção ao centro da Terra. Os ân-
gu!os D e I são, respectivamente, a declinação e inclinação
magnéticas.
Uma vez gue o campo magnéticr) terrestre não é extremamente ccimpricla. Essa forrna particular é C(ln-
constante nc) espaço, --variandci tanto em direçàc) c()t11<l sec1üencia principalmente de) chamado vento solar, c1t1e
en1 i11ter1sidacle, torna-se necessário representá-lc> será explicado a seguir.
Capítulo 4 • Investigando o Interior da Terra 75
7,--.f', -r------,----,------,;-----------==------7"',.-,
()bser,,açé":ies ccJm equipan1entcJs a Satélites h,-.i,...
be)rdei de na,,es espaciais le,-aram à cc)n-
, v"
metereológicos _;y;.ft
__,,
-"' -E 10'
o
-
n M
E
~
.o - cn 10 -•o_ E
u
Camada F
magnético, comprimindo-o. No lado da
Terra c1ue nãci está sendo illiminado pele)
-"'
.li:
"C
-E,,,o 10
s -"' .li:
"C
ui
-"'u:,
-- 200 10 .g
o Camada E
<t "'
~
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10 ·S - :::; 10 10_
ça do campo nãc) seifrem essa pressão e o"'
--
11
10' 10
10 '- 10 12_ ~/
10
10 ·
2
-
10
17
/
ESTRATOSFERA
z
o
N
o
30
Quando ocorrem erupções solares, há 1
!
-~
10
20
emissão de grande quantidade de partí- 100 10 ·1-
Monte Everest
culas de alta velocidade, que alcançam a 10 10 19_ 8.882 m
ROPOSFERA
1000 1-
Terra cm algumas dezenas de minutos. o .100 .ao -õO -40 -20 o 20 40
Parte dessa radiação é bloqueada pelo Temperatura (·e)
, . ~ .
campo geoma6>nettcc) e nao atinge a at- Fig. 4.17 Desenho esquemático das camadas que compõem a atmosfera,
mosfera. Entretanto, nas regiões polares, ilustrando a propagação e reflexão de ondas eletromagnéticas utilizadas na
e)nde as linhas ele força de) campo radiocomunicação. A linha vermelha representa a variação de temperatura
geeima1-,méticc) ccilcicam-se perpendícular- na Ozonosfera e na Ionosfera. Fonte: A. Miller, 1972.
4. 9 Por que o Campo Magnético é l~ n1a ten1ptstacle n1c1_gnétic:1 cJC<Jrre en1 gc:ral t1m
clia apc'is <l apartcin1l'.nt<> da~ cha111as s<ilares, eJLIC
Variável?
sãci emissc3es lumi11cJsas ele gr.1ndts prcipcirçc'ies ela
() efeitci ela ati\ idadc scilar é senticlci pela mag-
0 regiãcJ mais txtcrna clcJ Sei! •a cromosfera). JJcir
netosfera C<JntinL1a1ne11te, senc-lci que ci lac-lci da Terra <Jcasiãci clcsses fcnc"Jmencis, <J ScJ] en1ite nãci sc'i racli-
iluminaclo pelei S<Jl (laelci clia) é CJ laclcJ e1t1e sc>fre as açãci ele ei11da visí\ el, mas tarnlJén1 um flL1xc1
0
pertt1r\Jaç<'ies. () laclc> ncJite, cm geral, 11àcJ é afcta- cc)rpusctt!ar c1ue \"Íaja ccim vclciciclaelc de 1000 km/ s e
dcJ. Dcpendcnclci da i11tensiclade ela ativiclacle sc>lar, ati11ge tcicla a Terra caL1sanclc> clistúrlJi<is n1agnéti-
fa%-se a clistinçãci entre clias magnctica111ente cal- C<Js. 1\s tempestaeles sãci free1i.icntes e pclcltm
n1cis e clias ati\"CJS <JLI pertt1r\Jaclcis (fig. 4.18). r\ eJC<Jrrtr até várias \ºe?.es clurantc um mesm<J mês.
magnitude elas ,-ariaçc'ies gecJn1agnéticas re,gL1lares "rê1n iníci<J rcpentin<i e sct1s efcitcJs sãci se11ticlcis
(clias calmeis) é scJmentc cerca ele 1/1.00() da inttn- clurantt un1 clia <Jll \ áric1s dias. LJma vc;;, c1ue as tem-
0
siclaele deJ eamp<i gccimagnéticc> tc>tal. f,:m ricstaclcs causatn interferência na ccimL111icacàc>
•
c-le
cletcrminadcis dias, ceintudcJ, <Jccirrem grandes j,tr- ráclici, é i11tercssantc pcider 11rc\·er sua <JC<lrrência.
tur1Jaçc3ts cc1ui\·alc:11tes a \'áricJs ,grat1s na cleclinaçàcJ 1,:,1rretantcJ, cJs seus "si11tcJmas" s(J sãci percc!Jiclcis
e a até 1.000 nT (1.000 e;) <JLI mais em intt11siclaclt. 11as c1l1scryaçc'its n1ag11éticas p<lUC<J antes de accJn-
f,:sscs elistúrl1ic1s sãcJ cl1a111aelcis de tempestades teccrern.
' .
magnet1cas. L.l 111a te1111Jestade pcJc!t ser ac<1111panhacla pc]cJ
aparecin1tntc1 ele um e1cJs fcnc'i111encis lumi11<1scis
Toolangi 1/mar/79 tnais intc11s<1s t fascinantts nci céu, l]Lle sãci as aurcJ-
ras l1cJrtais ciu aL1strais 11as regi<'ics pcilares nc>rtc ciu
sul, respectiYa111ente. 1\ aurcira é causada pela c:mis-
sàci dt lL1z ela atm<Jsfcra SL1pericir nu1na fcirma
o parecicla CCJtn urna descarga elétrica (fig. 4.19).
z ,\ parece ccin1cJ Lin1a ccJrtina I u mi n<J s a d e cor
Z♦
ts\·erclcacla <JLI rcísea, ccin1 a l1c1rcla infcricir a cerca
00 03 06 09 12 15 18 21 24
Toolangi 8/mar/79
ele 1O() k111 de altt1ra e a suptricir tal,·cz a 1.000 ktn.
() tlL1xcJ dt energia trniticlci pclr uma aurcJra inttnsa
H
H ♦ ·.....
, '----- ,,
Toolangi 11/mar/79
H ""'""'""=,: ,', "
Ht
o+-----------
0--------------
z
Z♦
00 03 06 09 12 15 18 21 24
energia por áto1ncis de oxigênio e a ccir ,-er1nell1a c.1ue pcJde aparecer nas borelas, às emissões de nitrogênio molecular.
Partícttlas energéticas que nãcJ são conduzie-las pelas linl1as de força dcJ campo gecimagnético às regiões polares são
também aprisionadas por este ca1npci e quanelcJ c1esacelerac.las ccincentram-se em regiões anelares ao redor da Terra,
com mais de 36.000 km de raicJ, chan1adas ele C:inturões de \Tao s\llen. C,2uandcJ esses cinturões foram detectados, há
cerca de 40 anos, acredita,·a-se que cran1 n1uitcJ está,-eis, sendci seus elétrons dissipac.los em perí(Jdcis de meses. Pela
rede de satélites, ,-erific(JLt-se, entretanto, que cJs elétr(ins p(ic.-len1 ser aceleradc1s pelas ,-ariações do ca1npo geomagnético,
até atin1,,rirem velcJcidaeles próxin1as às da luz. l\'essas cc,ndiçõcs, CJS elétrons pcJdem atra,-essar uma lâmina de
alumínio com mais de um centí1netrcJ de espessura.
Estações e ônibus espaciais orbitam a cerca ele 450 km ela Sl1perfície e-la Terra estando, portanto, mergulhados nos
campos elétricos mais intensos dos cinturcíes; seus equipamentcis eletr(:JlliC()S podem estar sujeitos a interferências,
devido à ação dos elétrons aceleraelc1s. Da mesma fcirma, eis satélites de telecc1municação estãcJ sujeitos a essa
interferência, que pode causar mau funcionamento de "pagers" e telefones celulares. fcJi o que realmente aconteceu
em maio de 1998, c.1uando dez satélites científic<JS elc>s E L ,\ receberan1 sinais de que os elétrons esta,-am acelerando
e, finalmente, em 19 de maio, o satélite Galaxy 4 scitreu pane e 45 milhões de ustiários perderam o serviçci de
"pagcrs". ()s cientistas esperam que os Cinturões de \'ao ,\llen torncn1-sc particltlarmente dinâmiccJs nci fmal dcJ anel
2()()0, durante CJ pcríodc1 de máxin1a ati,-ielaele scJlar, c1ue irá prcieluzir ,-icilentas te1npcstades solares, causando
intensas emissc'íes de partículas elétricas e fcirtes tempestades gecin1ahrt1éticas.
4.10 Mapas Magnéticos e Anomalias () n1a11a da i11tensielaele t<Jtal elci campci (1 ;ig. 4.13)
, . ; .
111c>str,1 e1ue e> can1pci magnettc<J terrestre e mais ccJtn-
Magnéticas
plicadcJ e1uc e> ca11111ci que seria assciciaclci a t11n sin1ples
;\ elistril)t1içàci clci ca111pci gecJ111ag11éticci sciLire a di]1<Jlc l ,c;ecicéntric<J. Se ci carnp(J fcissc exata111ente:: um
superfície ela 1'erra é n1ell1(Jf ci!)ser,·aela e1n cartas ca11111c > dipc>lar, as linl1as ele n1esmci ,-alcir ela intensi-
is(imagnéticas, istc> é, mapas ncis e1uais linl1as u11e111 claele tcital (I:ig. 4.13) seria1n li11has 11aralclas aci cquadcir
pcintc,s eJlle ccirrespcH1den1 a utn 1nes111ci ya]cir de t1n1 111ag11éticc> clcJ clipcJlcJ (linha scibre a e1ual a inclinaçãcJ
eleter1ninaelci parâ1netrc1 n1agnéticci. n1ag11ética é igt1al a zer(i), ist(J é, excet(J pert(J el(JS pc'i-
lc>s, e::las seriam 11ratica1nente re::tas nesse mapa. 1-;:sta
(~cintcirncis e-le igtial intensie-lacle para qt1alqt1er cc>111-
diferença é chan1acla de campo não-dipolar ciu ano-
pcinentc el(J campci sãci chan1aelcis ele:: linhas
' malia geomagnética. (2uanc.lci as cartas is(Jtnagnéticas
isodinâmicas (l "igs. 4.12 e 4.13). b: impcirtante:: cil,se::r-
sàci cc>nstrt1íclas a partir ele pcse1uisas 1nais pcirmenciri-
var eiue um fenc1111enci ccimci ci camp(l ge(Jmagnéticc>
zadas, cJs ccJ11t(Jr11cis aparecen1 SL111erp(istcis pcir campcis
mcJstre tãci pciuca relaçãcJ ccitn as feiçc>es principais ela
lcicalizadcis cle,,ielcJ a fci11tes 1nagnéticas na cr(JSta ela
gecJlc>gia e ge<igrafia. 1\s li11has iscimagnéticas cruza111
Terra. l ~stas ancH11alias ccin1 secc>es tra11sversais c1e 1 a
<
ccintinentes e (Jcea11cJs sem clisttirbicJs e nã(J 111<istra111
1()() k111 eiu 111ais nãci pcJe!c111 ser representaelas num 111apa
relaç(>es c'Jl)vias ccJtn as granc.les cadeias de 1ncJnt;111l1as
ele escala glcll1al (f,'ig. 4.20).
Clll ccim as caeleias sulJmarinas. 1-:<:ssc fatcJ eleixa clarci
c.1ue a cirigem et(J camp(> gecHnagnéticcJ necessaria1nen- (>H1centraçãc> ele 111inerais magnétic(JS cm rcJcl1as e
te te1n ele ser pr(Jft1nc.la. algu111as C(Jrrcntes elétricas tracas na cr<ista (Ju O(JS <icea-
ºS • questões são difíceis de rcspelneler pcirque o núcleei não
24.35 ,t-
nT pode ser in,,estigado diretamente e as altas pressões e
1400
•... , 1200
temperaturas lá existentes são difíceis de reproduzir em
24,39 ;....
11000
800
laboratório. _i\'fas a combinação de resultadcJs teóricos e
'
. : 600
experimentais já permitiu estabelecer alguns fatos.
, 400
: 200
() núcleci ccinsiste de uma esfera gigante, essencial-
' 'o mente metálica, do tamanho aprcJximado dei planeta
24.43 1i-:_-I"""'.... -200
J\'Iarte. Sob ceindições normais, ei núcleo fluido conduz
--º -400
calor e eletricidade até melhor que eJ cobre, e tem prcJva-
Fig. 4.20 Anomalia magnética de intensidade total gerada da á6rua nas suas bordas até 12 vezes a densidade da ágt1a
por concentração de minerais magnéticos em corpo ígneo no seu centro. C)s cálcL1leJs de densidade combinados
intrusivo na região de Juquiá, Estado de São Paulo. Cortesia ceJm as hipciteses acerca da eJrigem do sistema solar su-
de W. Shukowsky. gerem que o ni.'.1cleo é ceimposto principalmente de ferro
neis sã<) as principais fontes responsá, eis pelos cam-
0
e níquel ceim traços de elementos mais leves como en-
pcis localizadeis. Essas irregularidades de superfície ciu xofre e oxigênicl. No seu interieJr, localiza-se um núcleo
aneJmalias magnéticas podem ter intensidades corres- interno ccim propriedades diferentes. Tem um raiei de
pondentes a uma pequena porcentagem d<i campo 1.220 km, o que corresponde a 2/3 do tamanho da I"ua
normal mas, acima de jazidas de ferro ou depósitos e, aci contráriei do núcleo externe), é sólidei.
magnéticeis próximeis à superfície, estas aneimalias po- i\ partir dessas infeJrmações, a única tecJria viável de
,
dem exceder o campo da Terra. F, na busca e geraçãei do campo magnético terrestre é aquela que trata
interpretação dessas aneimalias que se baseia ci n1étei- ei núcleei comei uma espécie de dínamo auto-susten-
dci magnéticei cm prospccçãci gecifísica. tável. Este modeleJ foi desenvol,·ideJ por volta de 1950
por Bullard e F:lsasser. Um dínamo é qualquer mccanis-
4.11 O Mecanismo de Dínamo na mcl qL1e ccin,·erte energia mecânica em energia elétrica,
comei aquele utilizadci cm centrais hidrelétricas. () dína-
Geração do Campo Magnético mei eia Terra é autc)-SL1stcntá,·cl pcirque, depciis de haver
Como ,·isto até aqui, o campo magnéticci ela Terra é sido disparado pcir um campo magnético que poderia
razeia, clmente bem representado pelr um dipcilci mag-
0
ter sielo muitei fraco (ccJmo peir exemplo o próprio cam-
nético localizado em seu centrei. b:ntrctantei, cabe a pci do sistema scJlar), continuou produzindo seu próprio
pergunta - o que poderia causar esse magnetismo? 1\ campo sem suprimento de campo externo. O líquido
presença c1c minerais permanentemente ma6>nctizados nas m~tálicci do núcleo terrestre, mo, endo-se de maneira
0
camadas superficiais da Terra não é suficiente para expli- apropriada (Fig. 4.21 ), a6:riria como um dínamo, neccssi-
tandeJ apenas de um SL1primentei ceJntÍnuo de energia para
car a intensic1ade deJ campo geoma1-,>nético. 1\lén1 eiei mais,
manter o material cm mo,·imentci.
esses minerais não são suficientemente mó,·eis para ex-
plicar as mudanças periódicas na dircçãc) e intcnsie-lade C ma das feintes de energia mais prováveis nesse caso
deJ campci. Desta forma, algum OL1tro mecanismcJ ca- seria a mo,·imentação do fluido causada pelo seu
paz de gerar um campo ma6mético com as características resfriamentcJ, com a cristalização e fracic)namcnto de fa-
obser, adas deve ser proposto. A análise de ondas sísmi-
0
ses minerais densas, liberando energia potencial. Pode-se
cas indica que pelo menos parte dei núcleo da Terra é estabelecer assim um mei,,imentc) de convecção provo-
fluido. Já é universalmente aceito que o movimentei eles- cado por diferenças de temperatura e composição do
se fluido metálico gera ceirrentcs elétricas que, por sua tluidei, que cle,·em ser mantidas para que eJ mo\'imento
,,ez, ine1L1zem campo magnético. Entretanto, discute-se não cesse. () mo,·imenteJ de rotaçãeJ da Terra exerce
ainda de que feirma Cl fluido metálic<i flui no ni.'.1clecJ, qL1e L1ma força no tluido do núcleo, chamada força de
fcinte de energia coloca ei tluido em mo,'imentcJ e ccimci Coriolis, que atua em qualquer massa que descreva um
esse r11ovin1ento dá cirigem a um campo magnéncci. l~ssas mo,~imento de rcitação. Esta é a mesma força resplJnsá-
Capítulo 4 • Investigando o Interior da Terra 79
regic>es ela "ferr,1 nun1a seqüência cr(Jll<ll(igica, c<Jnfir <Jceanc>gráfic<JS levanclci a l,circl<i n1a,l!;netêin1ett(JS, re-
111ancl<J C<lnclusi\·,1111cnrc a realiclacle elas rc\l:'rsiícs. () ' el(lU-se utn fat<J sur11rcendente. i\ n(lreleste cl<J ()ccan<J
ca11111<l h<rec)l11a<rnétic<>
,--. 1,l'rrr1a11cce l't11 Ltt11a deter· JJacífic<l, fc>i 111a11cach> u111 paclrâ(l ele an<lmalias 1nag-
n1ir1acla p<ilaridade dura11te inter,·al<>S \·ari:í, eis de néticas lineares, cliferente lle c1ualljuer 1,adrã<J
apr<JxÍ111aela111e11te ](( a 1()- an(lS, e 1,ara C<>111J,lc- cc Jtl hccid (l n<JS C(Jn tinentes. fs'.sse pad rã<i é fcJrn1ael<)
tar-se L1n1a transiçit<J ele p(llaridade sà<> t1l'cessári<>, 1,cJr faixas lle p(llaridae-les alternae-las e e-lispcJstas sime-
10' a 10 an<Js.
1
trican1ente cn1 relaçâ(J à cadeia meso-oceânica, C<Jm<J
ilustrael<> na I,'ig. 4.23.
POLARIDADE
PERIODO
Ma Ma EVENTO ÉPOCA \
1
ir1l:' e :\lat he\vs ]Jf<l(1uscram c1n 1963 l]UC esse
GEOLÓGICO
-o- o
PLEISTOCENO
Laschamp (/)
w padrão "zebrado" era ccJnselji.iência ela expansãci cl(l
:e
z
::, :iss<ialhcJ Clceâ11ic(l e das rc,·ers('ícs el<J campci ge(Jtnag-
PLIOCENO -4.5- o::
0.5 1D nét1 cr J, atra,·és ele um pr(Jccssci represcntacl()
L'sc1ucr11atican1cnte na Pig. 4.23. () r11aterial fune1icl<1
10
MIOCENO 1.5 _
20 - Gilsa
, .
Afr1ca
2.5
30
OLIGOCENO (/)
(/)
::,
3.0 <(
- Mammoth (!)
40
3.5 - - América do
--. 1-
Sul
Cochltl
o::
EOCENO w
4.0 1D
50
Nunivak -
.J
( !) .f::!
!11
'~
4.5
fJ
'?
o
!
PALEOCENO 60
70
cadeia
CRETÁCEO -.
meso-ocean1ca
/
48º, pcirtantcJ mLlÍtei mais ele, ada dei ciue a atual (1 SºS), 0
continentes, com a jus-
inclicanclcJ que aqL1ela rcgiàcJ era ele clima frieJ. 30'8
taposição de parte
dessas curvas. "lotar
Neste capítulci estt1elamcis eis ca111pcis de gravida-
que entre 200 e 130
60°S
cl c e magnéticc> ela Terra. \'in1cJs ccJ111<i estas milhões de anos atrás as
in1pclrtantcs prciprieclaelcs físicas pcJdc111 ser utilizaclas curvas começam a diver-
80
o
o
11ara se e11 tender prcicesscJs clinâ111iccis e1 uc cJc, Jrrc111 gir porque os dois 30 0 80
Leituras Recomendadas
BUTI,F,R, R. F. ])afeo111C(~netLr111: ,\l{z~11etic J)o111ai11s to
c;eoloJ!,ÍC ·rerranes. ()xf()rd: Black\vell Scie11tific
Publicaticins, 1991.
. ,. '
_::~ '. ·:, 1 í-:h '-:"1" :·;,:, <: ::,7~:o; :;,. ,__;-: .- ;". .•_,. _--::- "'~ ..:·
• - - • • ....- . , , , , , , . . , . • • • - , ........ , ~ , ••_,. '.,,.,._•••• :,· , . , , , . ...... , .••• ~.-· • 4 ' .
mairJr parte dcJ intericJr da Terra é inacessÍ\'el ela "ferra. Peidem ser cletecta(-las pela rede ele eil1ser,,a-
às cll1,er\ ac<"ie, diretas, ele tncJdcl que, para cci- t<'>ricJs sismográficc>s elistribuíelc>s peleis ccJnti11entes,
nhecer sua c< >r1stituicà<i interna, é necessárici recc1rrer a apc'is sofrerem reflexc'"ies, refraçe"ies e elifraçc1es, c1uan-
n1ét<>elcis inclirct<i,. '\cJ C:ap. 3 fcii apresentada ttma clc1 enccintram superfícies ele scparaçãci entre camadas
aplicaçàci da ,i,n1<ilc>gia na cil1tençãci ele estin1ati\-as e1t1e ccintrastem pc>r sua densiclaele, parâmetros elás-
para as elensiclaclt:s e <Jutras prc1prieelaeles físicas elas ticos (tais comei C<JtnpressilJilielacle e rigielez) cJu
•
rc>cl1as el<> ir1teric>r elc> planeta. A primeira Clrclen1, a composição mineralógica e química (C:ap. 3) .
sismcil<Jgia revela e1ue a estrtitura interna ela Terra ccin-
siste ele u111a série ele ca1nadas qt1e cc1mpc"iem a crcista, 5.1.1 As descontinuidades mais notáveis do
<J mantci e <> núclecJ. ,\ partir das pr<>priec-laeles físicas,
interior da Terra
e ccJm cJ apclici ele experiências que simulam as ccineli-
çc"ies ele tem11eratt1ra e pressão nci intericir ela Terra, é ;\ primeira descontinuidade detectada na "l'erra
p<issível inferir as ccin1pcisiçc"ies mir1era!c'Jgicas elas ca- fcii e, limite crcista-mant<J, encontraela pele> sism(ilogcJ
n1aclas presentes. () calcJr internei ela Terra e eis it1gcislavci i\ne-lrija i\1eihcJt<J\'icic, em 1909. C:cimparan-
prcJcesscis ele sua reelistril1uiçãe1 sãc> fatcJres Í111pcirtan- elc> c>s tempe1s ele chegacla a váricJs eJl1ser\'at(iricis elas
tes para enteneler eis mcivimentos cle11trci ele e entre as <H1elas sísmicas ele um granc-le terremc)t<J eiccirridc) na
camadas ela 1'erra. 1°'.sses mc1vimentc1s sãc1 respcinsá- C:rcJácia, J\1oheirovicic verificou que a velocielaele era
veis pela estrutura interna de segt1nda cirelen1, que é sensivelmente maior para distâncias ao epicentro su-
dinâmica. periores a 20() km. _b~xplicciu a diferença supondei qt1e,
à prcJfundiclaele ele cerca ele 50 km, haveria uma l1rt1s-
ca \'ariaçãc> das prc)priedaeles elásticas dei material
5.1 Introdução
terrestre. i-,:sta é a clescontinuidae-le que separa a crcista
Nci séculci 19, eis cientistas especula\'am sc1bre a clc1 mante> c1ue, em homenagem a seu clesco!Jricleir,
ccinstituiçãcJ interna ela Terra. c=harles Dan\-in, pc>r passcJLt a ser chamacla de Moho. Sabemc>s heije c1ue
exemplei, depciis de testemunhar ert1pçc"ies \'ulcânicas ei {\fcJhei nãci está a prcJfundidade constante pcir
e terremoteis ncJs Andes, sugeriu, já na primeira n1eta- tcicla a Terra mas a cerca de 5-1 O km nas áreas C)ce-
ele daquele século, que a Terra era cc,mpeista pc>r u1na ânicas e a 30-80 km nc1s cc>ntinentes, variandeJ com
fina casca, que clenominame1s crosta, ao recleir de uma o relevei.
massa funcliela. Na segunela metade dei séct1lei, partin- (~uante> mais penetram na Terra, as ondas sísmicas
elc1 de estimati\'as para ci raio e massa ela Terra, a \'ãc> senelcJ detetadas em cihservatc'irios cada vez mais
densiclade méclia terrestre fc1i calculada em 5,5 g/ cm' clistantes e-lo epicentrcJ (Cap. 3). l~ntretante>, há uma
aproximadamente. Uma vez qt1e essa densielaele é zcina ele sc)mlJra entre 103" e 144" cio fc1cci sísmice1
maior que a da grande maicJria elas rochas exp<>stas na (C=ap. 3), qt1e fc1i interpretada ce>me> senelei clevida ao
superfície terrestre (2,5 - 3,0 g/ cm'), ccincluit1-se que núcleo, por conta de propriedades muito diferentes
pelei mencis parte elo interior terrestre de,,eria ser cc>m- elac1uelas do mantc1. A interface manto-núclec), ou
p<Jsta por material muito denso. Usando eis sicleritcis e descontinuidade de Gutenberg, situa-se a 2.900 km
os meteciritos pétreos (Cap. 1) comcJ analogia, suge- ele prcifunclidacle, implicanclo que <J manto forma 83°/41
riu-se, ainda nc1 final do séculci 19, que a Terra teria dei vcJlume da Terra. Estuelando as ondas S, que são
um núcleci composto peir uma liga metálica ele ferrcJ trans,·ersais, \'erificciu-se que elas não se pre)pagavam
e níquel, envoltci por um manto de silicatos ele ferro e ncJ núcleci, ci que le,·cJu à ccinclt1sãci de que a rigidez do
magnésio. Antes da utilização da sisme>lcigia para eles- material é nula, c1u seja, <J meio é líquidc1 (Fig. 5.1 ).
vendar a estrutura terrestre, essas idéias representa\·am
meras especulaçe"ies. Examinando eis sismeigramas c<Jm mais detalhe, ve-
rificciu-se que apareciam algumas ondas, de amplitt1de
Cc1mo vistci nci Cap. 3 anterior, emlJcira els foccJs muitc1 reduzida na zcina de sombra que não era, então,
da maioria dos terremotos estejam a mencis de 100 uma ze)na de con1pleta sombra. 1~:m 1936, a sismóloga
km de profunclidacle, eles emitem e1ndas elásticas en1 dinamarquesa lnga I~ehman concluiu que a parte inter-
toelas as direçc"ies, propagandc)-se por te)clci cJ intericir na do núcleo era elistinta da parte externa, com
vel<iciclaelcs de 11rcl11agaçà<l das <Jnelas JJ 111u1to 111,11<J- c,1s !2L"<>i<.>,!2ÍC:1s L",ter11as, cc,n1cl ,1 ercisà<i, ciue c,,nrril1ui
rcs, clanchi <irigi:n1 ás cJnclas que arJari:cian1 11,1 ;;cJn,1 de 1,,1r.1 1> des,gastL das nl<Jntanhas, ccJn1 a exp<Jsic.1<> de
S<Jtnl,ra. Sal1c111<JS h<Jjc c1uc <l núcleo interno cc >n1cca r<Jch,1s cada \C/ n1ais r1r<Jfu11das (C:a1,. 2).
a ar)t(lXÍlnada111ente 5.1 ()() k111 de jlf( lfu11elidadc e e1uc
l ., s1, n1csn1a, fcJrcas gcc>l<.>_gicas sà<J res11c)l1s,ívcis
0
C:<in1 <J elcsc11\ cJI\ in1entcJ da rede sis111cJgr,1fica n1u11- . \ crc)sta C<>ntinental ,11,resenta espessura 111u1t<l
,
clial e cl<lS n10t<lelcis ele c>bser1açi1<> e a11álise, f<>ran1 \ ,1ri:t\ cl, desde cerca de _)( 1-4(1 kn1 nas regi<,leS sisn1ica-
cnc<intraelas n<i\·as interfaces e zcJI1as ele tra n sicàc l nc l n1entc LSLÍ\eis 111,tis antigas (els
\ .
crátrins1' até· 60-8(1 k111
interi<ir terrestre, tn<istranel<i c1ue a cr<Jsta, <l 111a11t<J e<> nas c.tdcias de 111cJntanhas, tais C<J111<> c>s l lin1alaias na
núclccJ sàcl dcH11íni<JS l1eter<Jgê11c<JS. Partit1elc> elas \el<>- \si:1 L' <,s . \rides ,la. \111é·rica cl<l Sul. .\ e1 ielé11cia sís111i-
cielaeles sísmicas, calcl1lan1-sc as elensielaclcs elas ca 111, JStra lJUC, c111 al,gu111as regic'Jes crat<Í11icas, a cr<JSta
ca1naelas principais e ele suas sulJeli,iséics, 1,ara e111 sc- C<Jnrinental cst:í elividida c111 cluas partes n1ai<ires 1,cla
gtiiela l1uscar a ielentificaçàcl elas r<Jchas presentes nessas descontint1idade de Conrad eiuc assit1ala un1 ligeir<l
camaelas. aun1c11t<J das \ clcJcielaeles sís111icas c<ltíl a pr<Jfunclicla-
Q.
::,
---- gna1sses
10
--a:<
<
descontinuidade de Conrad em cros-
ta superior, com rochas de V p
"' 5 ' 5-6 migmatitos anfibolitos ·<(Z
-o
..J
menores, e crosta inferior, com ro-
~ ON
<(
chas de V p maiores.
1-
"'oa: migmatitos
WO
:E VJ
a: w (f)
o W;:E
1-
::::,
intrusões máficas z
- a::
o
(b) Estrutura da crosta continental
rochas máficas/
sugerida pelas observações de seções
- ultramáficas
descontinuidade ..J
20 crustais expostas. Nota-se a divisão
a: de Conrad gna1sse w em três partes petrologicamente di-
o
-aw: -7 > ,
ferentes. E importante notar a
IL z presença das rochas ígneas máficas
-z e ultramáficas na mesozona e na
~ 6-7 catazona, demonstrando a contribui-
"'oa: ção da intrusão de rochas ígneas à
o descontinuidade formação da crosta continental. A
30
Moho sismologia dificilmente distingue as
8 Manto Superior rochas máficas ígneas das máficas
metamórficas (anfibolitos).
CAPÍTULO 5 • A COMPOSIÇÃO E O CALOR DA TERRA 87
3,2 g/ cm 1 no t()pc) até cn1 tcirnci ele 3,6 - 3,7 g/ c111; a t1ca-sc que a temperatura elci soiidus é superic)r à ela
400 km. Dentre as rcJchas terrestres ccinhecielas, sàc) as geciter111a scilJ press(1es lJaixas e altas. Nessa situação o
ultramáficas ricas em cili,·ina magnesiana (\lgêSi()) e mante> permanece scílidei. IJcir cJutrei laelei, se a tempera-
'''.; piroxênios (l\IgSi() 1 e (~a_i\lgSi, () 1) eiue apresenta111 tura da geciter111a exceele a elei so!idus, c1 mante) deve
densidaeles adequadas a estes \Jarâ111ctrc>s (Tal1ela :i.1). t'icar incipienten1ente funelielci, num intervalei de prei-
r~ntre ei ~ÍeJhei e ~400 km de preiti1nelielaele, a \·cleici- fttnelielaele que ccJrrespc)nele, aproximad.amente, à zona
dade de preipagaçàc1 das einelas sísn1icas nas regic1es de baixa velocidade elefinida pelas proprieelades sís-
C)ceânicas e cm partes das regic1es ceintinentais sc>frc 111icas. f~sti111a-se que a c1uantidade de líe1uidei presente
uma ligeira eliminuiçãeJ ceim at1mcntc1 da prcifuncliela- nesta zcJna seja pequena, em tc)rncJ de 2 (1/o no máximeJ.
de. lissa zcina eiu camaela recebe a deneiminacàei
,, ele t~ssa quar,tidadc de líqtiidcJ, no entanto, é suficiente
zona de baixa velocidade. para tcirnar o 111anto mais plásticcJ e mole do que o
111antcJ scJl1rejacente qt1anelci se considera a escala do
Um ccintr(Jle aelicional seJbre a prcJ\·á,·el celmpc)si-
tcn1pci geeil(JgiccJ.
çào deJ mantei superieJr é dadeJ pelas rc)chas mát1cas
c)bscrvadas na superfície terrestre, cuja cJrigem se e-Já
prcdeiminantemente ali. A petroleigia
experimental clemcJnstra que, para ei
mantci superior pc>elcr prciduzir estas ® DIVISÕES
SÍSMICAS
MATERIAIS
V p - 5 Okm/s
,
DIAMANTE SUPERIOR
...
.·:.--·.
. ..
.
.. .::.
""' '""'·"'"" ---........ ----- - - .. .
. ...
.
1
amostra 0
VEDAÇÃO ICIS
E AMOSTRA.SS-._--... ► Ili
Ili
._
CU P2 ------
a.
---------------- 1,00mm
fundido ausente
no (à direito), é aquecido por raio laser e alcanço temperaturas cios destinados o determinar o curvo do solidus de uma ·
da ordem dos 2.000ºC. Pressões mais modestos são determinado rocha. A presença de vidro no amostro quando·.
• ak:ançodas em equipamentos diferentes, que podem utilizar frio implico que líquido esteve presente no cargo no momento .
. cargas experimentais maiores. Fonte: Siol & McReoth, 1984. do experiência o oito temperatura.
convecção possível
, , A
(~c)ncluímc)s entãci c1ue ci calcir pre)duzic-lci en1 tim () fluxo geotérmico tcital corresponde a uma
ceJrpo del Sistema Scilar é preJpcircicinal a seu vc1lun1e, energia ele 1,4xl021 joules por anei, que é muitcJ maicir
enquantci que o calclr que perdeu por irracliação é preJ- deJ 9ue ciutras perclas de energia ela Terra, comei aque-
pcircional a sua superfície. lim cc1rpc1 esféricci de raiei la ela elesaceleração ela reJtaçãci pela açãcJ elas marés
R ceJnse,!c;uiria pclrtanteJ reter quantielacle de calcir preJ- (10 211 jeJules pcir anci) eJu ceJmc1 a energia liberada pelcJs
pclrci eJnal acJ qt1c1ciente entre R:; e R 2 , pclrtantci terremcJtcis (10 1') jeJules peir ano). A energia para pro-
preJpcJrcicinal a R. ( )u seja, eis ce)rpcls maieires retive- cesseis ccJmci a mcivimentacãei ,, essencialmente
ram grande quanticlade de calcJr, tenclci siclo capazes de l1eirizc intal ela litcisfera pclr se1bre a asteneJsfera (Cap.
elesenvolver prcJcesse1s mais ccJmplexcJs, en9uantcJ Ljlle 6) e a geraçãei dcJ campo geeimagnéticci e-leve preivir,
eJs ce1rpc1s mencires percleram praticamente tcicleJ CJ seL1 pcirta11tci, e-lei calc1r ela Terra,
calor pcJr irradiaçãel. ()utros fatcires, ccJmci ci graL1 de
() fluxo geeJtérmicci através de uma camada da
cixiclaçãci dei material acretadcJ, que ,•aric1u ccim a dis-
Terra é elefinidci ceimcJ o prciclutci da variação da
tância aeJ Sol, também devem ter siclc1 impcJrtantes para
temperatura com a profundidade (gradiente
a eliferenciaçãcJ dos planetas.
geotérmico), pela condutividade térmica das reJ-
A ~·ig. 5.6 ilustra diferentes fenêJtnencis qL1e occirre- cl1as claquela camaela. IJara medi-lcJ, é necessáriei,
ram para aster(iides, a J ,ua e cJs planetas terrestres, e1n pe1rta11tcJ, cc1nhecer as variações ele temperatura.
funçãci dei seu tamanho, ciu seja, ela energia térmica
() ccJnhecimentcl das variaçc"ies ela temperatura
dispeJnÍvel.
ceJm a prcifundic-lade é, entretante), precáric1 quanclcl
ceimparaclci, pcir exemplei, com variaçe"'ies ele elensi-
5.3.2 O fluxo de calor do interior da Terra elacl e e de parâmetros elásticcis, cibticlos da
;\ radiação seilar é a maieir respclnsável pelos feneí- sismcJlcigia. A razão é que as temperaturas somente
mencJs c1ue ciccJrrem na superfície da Terra e na atmcisfera. sãcJ ccJnhecidas pr(iximas à superfície ela Terra, me-
J-,'.ntretanto, a pc)Ltcas dezenas c-le centímetrcis de prcifun- didas em fureis de sondagem ciu nci intericir de
e-liclade da superfície, seus efeitcJs diretcis scibre a minas. 1\ condutivie.lade térmica também é medida
temperatura terrestre sãcJ praticamente c-lesprezíveis e ei experimentalmente ccim rochas prc'iximas à super-
aumentei e-le temperatura que sentimos ao elescermos nci fície e eis valcJres para maicires prcifunclidades
interior ele uma mina, pelr exe1nplo, é somente devidcJ acJ acal1am senc-lei inferidcJs a partir ele eiutras prclprie-
fluxo de calor elcl intericir da Terra. ciades físicas ol1tidas principalmente da sismoleJgia,
Dependendo da composição, idade e natureza do 5.3.3 O transporte de calor e as
material da litosfera e dos processos que ocorrem abai- temperaturas no interior da Terra
xo dela, o fluxo de calor varia com a região da Terra. J\
Fig. 5.7 ilustra valores de fluxo geotérmico obtidos para O transporte de calor no interior da Terra ocorre
áreas com diferentes características gec)lógicas. A Fig. por dois prc)cessos: condução e convecção. A con-
5.8 ilustra um modelo de distribuição global do fluxo dução é um processo mais lente>, com transferência de
geotérmico, proposto em 1993. De acordo com este energia de uma molécula para as vizinhas. Acontece
modelo, as regiões de fluxo térmico mais elevado es- nos sólidos e, por isso, é importante na crosta e litosfera.
tão associadas ao sistema de dorsais mesc)-oceânicas.
A convecção é um processo mais rápidc) e eficien-
Aproximadamente a metade do fluxo total de calor da te, com movimento de massa, que ocorre nos fluidos,
Terra é perdida no resfriamento de litosfera oceânica
quando o gradiente térmico excede um certo valor,
de idade cenozóica (menor do que 65 l\ía).
chamado de gradiente adiabático. A convecção
acontece nc> núcleo externo e também no manto por-
que, embora ele se comporte cc)mo sólido na escala
FI..UXO DE CALOR
2
·-(mWlm J de tempo da propagação de ondas sísmicas, numa
20 40 60 80 100 escala de tempc) geológico, comporta-se como um
líquido. A con\-ecção no manto é essencial para expli-
~9 dados / car o movimento de placas tectônicas. No núcleo
província
externo, e. a convecçao - que pr<)VC)ca movimentos
.
ra-
diais do fluido condutor, permitindc) a ação das forças
de Cc>riolis, essenciais para a geração do campo mag-
• •
poucos
net1co terrestre.
dados /
província Nosso conhecimento direto sobre a temperatu-
ra limita-se aos dados obtidc)S em furos de
sc)ndagem na crosta, onde a variação da tempera-
tura com a profundidade (gradiente térmico) alcança
r-•--j fluxo médio . 20..
;l de 30 a 40ºC por quilômetro. É claro que, se estes
·-:·._.,_,
- fluxo reduzido
gradientes continuassem com e) mesmo valor para
- espessura da camada
o interior da Terra, as temperaturas próximas ao
centro seriam tão altas que todo o material estaria
Fig. 5.7 Fluxo de calor médio, fluxo reduzido e espessura da
fundido. ,-\ sismolc)gia informa contudo que o nú-
camada que produz calor através de radioatividade em várias
cleo interno é sólido.
províncias de fluxo de calor, segundo Vitorello & Pollack (l 980).
O fluxo de calor médio é a média de medições em cada área. Reunindo dados sobre densidade, parâmetros elás-
O fluxo de calor reduzido é o fluxo constante que vem do manto ticos e limites entre diferentes fases, através da
e crosta inferior, passando através da crosta superior. A espes- sismologia, \"ariações do campo magnético da Terra e
sura da camada é a espessura efetiva da crosta superior. Os
informações sc)bre seu mecanismo de geração, do
exemplos incluem: (i) regiões com forte fluxo de calor, medido
gec)magnetismo, a distribt1ição de densidades, a varia-
e reduzido. O exemplo da província Basin e Range é do Oeste
ção da pressão e a massa total da Terra e a possível
dos EUA, numa região em que a crosta está bastante recorta-
da por falhas e onde há vulcanismo recente; (ii) regiões com
distribuição de materiais radioati\-os, com os valores
forte fluxo de calor medido e baixo fluxo de calor reduzido, de fluxo térmicc), elaboraram-se modelos de variação
com crosta superior bastante espessa; os exemplos são da da temperatura no interior do planeta.
Austrália central e do Escudo Indiano antigo, com rochas re-
,\ Fig. 5.9 mc>stra a cur,-a proposta por um desses
lativamente antigas; (iii) regiões de fluxos de calor reduzidos,
modelc)S, indicando a ,-ariação da temperatura com a
com crosta superior de espessura variável; os exemplos são •
do Canadá, do Escudo Indiano muito antigo e do Oeste da
profundidade (geoterma). E mostrada também a curva
Austrália. De um modo geral, o fluxo de calor, medido ou efe- ele ,·ariação da temperatura de fusão do material com
tivo, tende a diminuir com aumento da idade geológica da a profundidade. ,A temperatura de fusão muda com
área. O escudo litorâneo brasileiro apresenta características o tipo de material, como na interface manto-núcleo,
térmicas condizentes com sua situação geológica e idade, não mas muda também com a pressão, como ilustrado na
muito antiga. interface núclec) externo-11t'icleo interno.
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Fig. 5.8 Distribuição global do fluxo de calor na superfície da Terra, segundo Pollack et ai. (1993). As linhas contínuas representam
os limites de segmentos da parte superior terrestre (Cap. 6) que incluem as dorsais meso-oceânicas, compostas por vulcões subma-
rinos ativos ou recentemente at'1vos. Os fluxos de calor mais intensos (em marrom) associam-se a essas dorsais, enquanto as pares
mais frias (em branco, em regiões oceânicas nas proximidades dos continentes) concentram-se nos continentes.
1000 Temperatura do
geoterma inferior
à do solidus
2000
(])
"O 3000
C\l
"O Temperatura do
·-
"O geoterma superior
4000
e à do so/idus
::::, r
'+- ;:
o
L...
L
"
5000 .
Cl.
Núcleo de
Núcleo interno Temperatura do
ferro sólido
geoterma novamente
6000 sólido - inferior à do solidus
f: imp(irtante ncitar c1ue aincla há muitas clúvidas a Atualmente, cc>n1 a rede mundial ccimposta de cen-
respeitei c1(JS valcJres a!JscJlut(JS das temperaturas vi- tenas de estaç(>es sismoléJgicas c-listribuídas peleis
gentes nas partes mais pr(ifundas ela 'l"erra. J\ssim, ccJntinentes e ilhas, é pcissí\·el estudar como cada estação
estuclos recentes sugerem que a diferença de tempera- rece!Je as (Jnelas en1iticlas por milhares de terremotcis,
tura entre a lJase c!(J mant(J infericJr e (l top() d(J n1.'.tcle(J c1ue cJccirrem pred(iminantemenre cn1 determinaelas fai-
externei (0L1 seja, na interface mant(J-núcleo) pcicle fi- xas mL1itcJ ativas. Aplicandci-se cJs princípi(JS da
car na casa de centenas ele ºC até talvez 1.500°C. I"'.sse t(Jm(Jgrafia, utilizacla na :.Iedicina, para a análise, olJ-
aumentei de temperatura é rápid(J e deve ser ac(imci- têm-se clistribuiçc"íes triclimensicJnais e-las \'elocidades,
claclcJ pela zona D". 1\ temperatura clentr(J d(J núcle(J mcJstranc-lcJ que, além das variações ccJm a profundida-
externo pcJcle ser da circ-lem ele 6.0()()º(~, ou seja, ele ele, existem C(Jnsideráveis variaçi'>es laterais n(J material
1.()00 a 1.500ºC mais c1uente que inelicad(J na Pig. 5. 9. do interior da Terra. Para ilustrar estas diferenças, a fig.
1\creelita-se que () núcle(J esteja se resfriand(J, com 5.1 O, de um trabalhcJ picineiro publicadcJ em 1984 por
conseqüente aumentcJ d(J volume do núcle(J intern(J. W(l(Jelhouse & Dziewonski, m(Jstra ancimalias no man-
Calculciu-se que um aument(J ela ordem de 25m1 pclr t(J superior, até 67() km de profundiclaele, e n(J manto
segundo, embora imperceptível para detecçà(J pela inferior, entre 670 e 2.890 km. A figura mostra, por
Sism(ilogia, poderia liberar 2xl 0 11 watts, na f(irma de exemplo, velocidades sísmicas anomalamente altas em
calor latente de solidificaçãcJ, c1ue seriam suficientes para regiões d(J manto abaix(J de continentes como América
•
manter o dínamo que gera o campo gecimagnético. elcJ Sul e Africa.
2
....
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-
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ctl a.
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ANOMALIA
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ANOMALIA
de
2890 ONDAS-P
A interpretação elos resultaelc)s ela tomografia sís- transicicJnal c)u mesmc) até a desccJntinuidade de
mica relaciona as ze)nas ccim vclcicidacles sísmicas maicJres Gt1ten\1erg. Além disse), deve ha,,er ressurgências de
que a ncJrmal com zonas mais c-lensas e mais frias, en- material qt1ente e menos denscJ, ascendendo desde a
quanto as zonas com velc)cidades sísmicas mcncJres sãci clescontinuidade de Guten\1erg, cm direção à superfície.
zcinas cc)m rcichas mencis densas e 111ais quentes. b~ssas Pc)rtantci, assim ccimo a litosfera está cm mcivimcntcJ
situações são instáveis: CJ material mais dcnscJ tencle a essencialmente lateral (Cap. 7), e) interior da Terra con-
afundar, enquantc) C) menc)s denseJ tende a bc)iar. ;\tra- tém celas ele convecçãc) cm que e) material está em
vés de) modelamento numérico· dessas situaç<':>es, é mci,,imento essencialmente vertical.
possível demonstrar que ci material mais frio peide ccins-
tituir verdadeiras avalanches muito lentas dentre) dei * Técnico em que se utilizam equações que relacionam variáveis
mantci, que afundam desde o ní,,el crustal até cJ mantcJ conhecidos poro determinar os valores de variáveis desconhecidos.
Fig. 5.11 Resultados de simulações por computador da circulação de materiais frio (a) e quente (b) dentro do manto. Fonte:
Paul Tackley, California lnst. Technol.
---:O, , , -:-: : ,
·• Leituras
,_ ,,- ," : , , ,
·recõ111endadas
,, ,_:", , i-: ,, , ,
•· ·,
. ASSUMPÇAO, M. 'S. Terremotos no Brasil . Ciência
·.· Hoje. Rio de Janeiro: SBPC, 1983. · ·
,
JEi\.NLOZ, R. & LAY, T; The CareaMantle Boundary.
, ,, , , , , , , ,
~-- •, ...............
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•
Terra é um planeta dinâmico. Se fosse f<Jt<J- 6.1 O Surgimento da Teoria da
grafada cio espaç<J a cada sécul<J, desde a sua Deriva Continental: o embrião
formaçã<J até h<Jjc, e estas fcJtos compusessem um ." .
de uma revolução nas c1enc1as
filme, <J que ,·eríamcis seria um planeta azul se contcir-
ccndcJ ceJm eJs ccJntincntes ora colielindei, ora se geológicas
afastando entre si. 1\tualmcr1te, acreditamcJs que a
A teciria da 1"ect<'inica ele Placas - que revcilucici-
litcJsfera terrestre é fragmentada em cerca de uma clú-
ncJu as Geociências assim come) a te<iria da ()rigem
zia c-le placas, que se movem pcJr raze3cs nãcJ muito
das Espécies m<JdificoL1 as BicJciências e as teorias da
bem ccJmprccnclidas, mas cuj<) meJtor situa-se ncJ
Relativiclade e e-la Gravitação Universal mudaram os
mant<). J:JJacas sãcJ <)riginadas nas clorsais mescJ-oceâ-
cc)nceitos cla Física - nasccL1 quandei surgiram eis pri-
nicas e acJ se chcicarem prcJvcJcam cJ mergLt!h<J cla placa
meit<JS mapas elas linhas c-las cristas atlânticas ela
mais densa S<)b a <Jutra e o seu ccJnscqüente retorncJ '
1\mérica c-l<i Sul e da 1\frica. .b~m 162(), Prancis Baccin,
a<J manto. A ccJnstataçã<J da existência clas placas
filéisofcJ inglês, apontciu ci perfeitcJ encaixe entre estas
tectêJnicas deu uma nova rc)upagctn às antigas icléias
duas ceistas e levant<)Ll a hipc'itese, pela primeira vez
ele Deriva (~<)ntincntal, explicancl<) satisfatcJriamentc
histciricamente registracla, cle que estes ceJntinentes es-
muitas das grandes feições geeJléJgicas da Terra, com<J
tiveram L1nidc)s ncJ passado. Ncis sécL1lcJs que se
as grandes corclilheiras de montanhas, cc,m<J eJs An-
seguiram, esta icléia feii cliversas ve✓,es retcJmada, po-
des, e responclcndei a qucstc"Jes, pcJr exemplei, seJbre as
rém raramente co~ argumentações científicas ciuc lhe
cc,nccntracões
., cios sismeJs e vulcões atuais ou seJ!Jre as
dessem suporte teéiricei.
rcJchas c1ue já estiveram no funclo cios <)ceancJs e estãeJ
hcJjc ncJ tcJpei de grandes cadeias montanheisas, com<J A <Jrigem da teoria e-la 'fectcínica cle Placas occirreu
ncis flimalaias. A Tectônica GlcJ!Jal cJu Tect(Jnica cle ncJ início clcJ séculci XX ccJm as idéias visionárias e pciu-
Placas é a chave para a ceJmpreensà<J cla histéiria geo- cei ccJnvencicJnais para a épcJca dcJ cientista alemão
léJgica da Terra e clc ccJmo será <J futurci clcJ planeta Alfrecl Wcgencr, que se clcdicava a estuclos
.
cm que v1vcmcis. metcorol<'igicos, astrcJn(imic<Js, geeifísiceis e
paleeJnt<iléJgiceis, entre ciutreis assuntcJs. Wegcner pas-
Neste capítulo será mcJstraclcJ um !Jreve histéJrico
sciu grandes perícidcJs de sua vicia nas regic3es gelaclas
e1cJ descnvcilvimcntci da 'leoria da Deriva c:onti11ental
ela Grcienlândia fazendci obscrvaçc3es metecJreilógicas
até chegar à mciclerna Tectônica de Placas. Também
e misturanclo freqüentemente ativiclades clc pesc1uisa
serãci enfatizadeis aspectcis scil,rc a constituiçãcJ das
com aventuras. Entrctantci, sua vercladeira paixã<J era
placas tectc'.>nicas, as causas de seus mciviment<JS, !Jcm
a C<)mprcJvaçãei cle uma icléia, l1aseacla na eil,servação
ccJmei as feições t1sieigráficas e cJs pr<idutos geradeis a
cle um mapa-múndi neJ c1ual as linhas de ccJsta atlântica
partir da clinâmica destas placas. Além clisscJ serão clis- ,
atuais da América clci Sul e ;\frica se encaixariam ccimcJ
cutic-leis os mccanismeis de crescimento d<JS C<)ntincntes
um quebra-ca\Jeças gigante, de c1ue teJclos <JS C<Jnti-
e a movimcntaçà<J clas massas ccJntinentais através cl<J
nentes pcideriam se aglutinar fcJtmanclo um únice)
tempo gcoléigiccJ.
megaccintinente. 11 ara explicar estas ccJincidências,
Wegener imaginciu que CJS ccJntincntes peJcleriam, um
clia, terem cstaclo juntcJs e peistcri<Jrmente teriam sidei
separaclcJs. Poucas icléias nc> mL1nd<) científicci fcJram
i:i't·;
,t"'u/ ,
tã<J fantásticas e revcilucieJnárias cc1m<J esta.
feiram:
b'.m 1915, Wegener reuniu as c,·ielências que cn- 6.2 Anos 50: O Ressurgimento da
ccintrciu para justificar a te<>ria ela Dcri,a Ceintincntal, Teoria da Deriva Continental
o que para ele já seriam prci\'a~ c< >11,incentcs, cm u111
livrei elcnc>minadc> A ori,ze111 dos (~011ti11t11tes e Oceanos. J\ chave para explicar a c-linâmica ela Terra, aci cc>n-
I~ntrctanto, ele nãci conseguiu resp<>nder a questé'íes trárici e-lei e1uc muitos cientistas pensavam, nãci estava
fundamentais, ccimo por exemplei: Qtie f<>rças seriam nas r<>chas continentais, mas nci fundei elcis (JCean(JS.
capazes de mover eis imcnscis bleiceJ~ C<>ntinentais? Na elécaela ele 1940, eltirante a Se,runda Guerra J\1un-
""
elial, devielci às necessidades militares ele leicaliY.acãci ele
Come> uma cre>sta rígiela ceimci a ccintinental eleslizaria .,
solJre ltma ciutra crcista rígiela C<Jlll(J ,1 e>ceânica, sem sul>marinc>s ne> fundei cleis mares, fcJram elcsenvcil\,i-
que fcisscm quebradas pele> atrite>~ lnfclizn1cntc na- eleis cquipamenteis, cc)mei eis scinarcs, que permitirarn
traçar mapas detalhados do relevo do fundo oceânic<), J)or outro lado, no final dos aneis 50 e inícici da
muito distintos da planície monótona com alguns pi- década ele 19611. o surgimento e aperfeiçoamento da
cos e planaltos isolados que se imaginava na ép<ica geocroncilogia permiáu a obtenção de importantes
para o fundo dei mar. Surgiram cadeias de monta- infcirmaçc°íes scJbre a idade das rochas do fundo oce-
nhas, fendas e fossas ou trincheiras muito profundas, ânicci, cinde no,·amente. ao contrário do que se
. . ~ ....
mostrando um ambiente ge<)l<)gicamente muit<1 mais 1mag1nava na epcica, a crosta ocearuca nao era ccim-
ativo do que se pensava. po s ta pelas rcichas mais antigas do planeta mas
apresentava idades bastante jo,·ens. não ultrapassando
No final dos anos 40 e na década seguinte, expedi-
200 milhões de anos. Datacões de rochas ,·ulcânicas
ções constituid_as principalmente por pesquisad<ires das
dei Atlântico Sul efetuadas no c=enrro de Pesquisas
universidades de Columbia e Princeton (EUA)
Geocroncil(igicas da Universidade de Sãci PaulcJ ccJn-
mapearam o fundo do C)ceanci Atlântico, utilizando
tribuíram para o cstabelecimentci e-lei padrão de idades
ncivos equipamentos e coletando amostras de rochas.
e-la crosta oceânica, no qual faixas de rochas de mesma
Estes trabalh<)S permitiram cartografar uma en<irme
idade situam-se simetricamente elcis elois lados da
cadeia de m<intanhas submarinas, denominadas Dorsal
dcirsal meso-oceânica, com as mais jcivens pr(iximas
ou Cadeia Meso-Oceânica, que constituíam um sis-
ela dorsal e as mais velhas ficanelci mais próximas dos
tema contínu<) a<i lcingo de toda a Terra, estendenelci-se
continentes, conf<)rme ilustrado na I'ig. 6.3.
por 84.000 km e apresentand<) uma largura da cirdem
de 1.000 km; nci eixo destas mc)ntanhas constatou-se () estudo do magnetismo das rochas (Cap. 4) tam-
a presença de vales ele 1 a 3k:m, associado a um siste- bém ccintribuiu para uma melhor compreensãci elos
ma de riftes (Cap. 19), indicando a presença ele um m<ivimcntos ela crosta ccintincntal. F,studos de
regime tensional. PostericJrmente fcii ccinstatad<) que paleomagnetismc) revelaram que as posiçc°íes primiti-
a<) longo da cad_eia meso-oceânica <) fluxo térmico vas e-lc)s pólos magnéticos da Terra tinham muelado
era mais elevae-lo que nas áreas contíguas de crcista aci longo dei tempt) geol(igicci em relação às posições
ciceânica, e que esta era uma zona de forte atividade atuais dos continentes. Com<) era sabid<) que ci eixci
sísmica e vulcânica. Esta cadeia de mc)ntanhas emerge magnétic<1 da Terra coincie-lia ccim e) seu eixo rcitacional,
na Islândia, anele seus habitantes levam uma vida pa- os dadc)s paleomagnéticcis pcidcriam indicar, ao invés
cata, mas freqüentemente afetada por sismos e de mudanças do eixcJ magnético, um mcivimentci rc-
vulcanismc). () mais importante, porém, era que esta lativc) entre os ccintincntes. As ncivas informaç<°íes
elorsal mesci-<iceânica dividia a crcista submarina em prc)venientes elo estuclci da crosta oceânica e ele
duas partes, podendci representar, portanto, a ruptura palecimagnctism<) fizeram com que parte dos geofísicos
ou a cicatriz pr<iduzida durante a separação elcis ccin- passassem a ccinsidcrar uma deriva dos continentes
. .
tinentes. Se assim fcJsse, a teciria da Deriva Cc)ntinental mais seriamente.
poeleria ser aceita.
Placa
Africana
/
----
liO
Porto Rico
Fig. 6.3 Disrribuiçõo dos idades geocronológicas do fundo oceânico do Atlântico Norte, onde se observam as idades (em Ma) mais
jovens próximos à dorsal meso-oceânico.
CAPÍTULO 6 • TECTÔNICA GLOBAL 101 ~
Placa
-\-FIRplna
Placa PacWlco
• ·10,5 16,
Placa·
iana ,, 7, 1 18,3 ~
Nazca
., '
,•,J ~ ' \
'' ·••, '
Dorsal do k'Jecj . .
Leste-Pacíflc 10,3 ·s~•-·-·_.
• •
. ..
• . •Pla~Aôt6Jtleo
•
~
Fig. 6.5 Distribuição geográfica das placas tectônicas da Terra. Os números representam as velocidades em cm/ano entre as
placas, e as setas, os sentidos do movimento. Por exemplo, a velocidade de l O, l para a placa Sul-Americana indica que um ponto
situado nesta placa está se aproximando de algum ponto da placa de Nazca a uma razão de l O, l cm por ano.
() limite infcri()r da Litosfera é marcacl(J pela pcquencis fragmentos de crosta ccintinental, ci que
Astcnosfera que ccJnsiste de uma zona ncJ mantcJ pciele ser exemplificado pela imensa Placa d() Pací-
supericJr, conhecida tamlJém comei "Zc)na ele Bai- fico, de natureza oceânica, que contém uma pequena
xa Velcicidade", por causa da diminLiiçàc) de parte da Califórnia, c)ndc se situa a cidade ele T,os
\•clocidade das cindas sísmicas P e S deviel(J aci es- 1\ngclcs. De uma forma geral, as placas desta natu-
tado algo plástico desta zcina, pois entre 1()() e 350 reza incluem somente crcista oceânica, a exemplo
km de prcifundielaele (t()p() e base da astenosfcra) da Placa de Nazca.
as temperaturas alcançam valcires próximcis ela tem-
i\.s características elas crcistas ciccânicas e conti-
peratura ele fLisàc) elas rochas mantélicas. () prcicesso
nentais são muitci distintas, principalmente nci que
de fusàci parcial inicia-se prcieluzindcJ uma fina pe-
diz respeitei à ccJmposiçào litológica e qt1ímica,
lícula líquiela cm tcirnc> d(JS gràcis minerais, suficiente
mcJrfcilogia, estruturas, idades, espessuras e dinâ-
para diminLLÍr a velc>cidae-!e elas ondas sísmicas. Desta
mica ((=aps. 3, 4 e 5). A crcJsta ccintinental tem uma
forma ci estaelci mais plástico elesta zc>na permite
ccimpcJsiçàcJ litcilógica muito variaela, pciis ccimpre-
que a litcJsfera rígiela deslize scJ!Jre a Astcnosfera,
enele rcichas de caráter ácido até llltramáficc), (J que
tornandci possível o dcslcicamento lateral elas pia-
- .
cas tectcin1cas.
lhe ccinferc uma composiçàcJ média análoga às elas
rcichas granodioríticas a diciríticas (C=ap. 16). A crcista
ccintincntal pcldc ser subdividida cm superior e in-
6.4.1 A natureza das placas tectônicas fericir, sendo a supericJr compclsta p(Jr rcichas
seelimentarcs, ígneas e metamórficas de baixo a
As placas lit()sféricas poc-!em ser de natureza cJce-
médicJ grau, e a infcric)r constituíela predcJminante-
ânica cJu mais ccimumente ccimpostas ele pcJrçc>es
mentc por rochas metamórficas de alto grau de
ele crosta ccJntincntal e cr(Jsta (Jceânica. C~cJmci exem-
natureza básica a intermee-!iária.
plei deste tipo ele placa pcidemcis citar as Placas
Slil-Americana, i\.fricana e Ncirte-Amcricana. As A crcJsta ccintinental está sendo formada há pelei
placas de natureza ciccânica p(Jelem ciu nàc> incluir me11cis 3, 96 l1ilhões ele aneis, ccJmo mostram as ida-
des de gnaisses na região centro-ne>rte do Canadá. 6.4.3 Que forças movem as placas
Por isso apresenta estruturas complexas, preJduzi- tectônicas?
das pelos diverse)s eventels geológicos que afetaram
as rochas após a sua formação. Em geral, a espes- Uma das principais cJl1jeçc>es à Teoria da Deriva
sura média da crosta continental é ela ordem de 30 Continental era que Wegener não conseguia explicar
a 40 km, adelgaçandeJ-se à medida que se aproxi- as fcJrças que mo\•eriam os continentes. Hoje sabe-
ma da zona de transição com a crosta e>ceânica. mos qual o motor que faz as placas tectônicas se
mclverem, mas não sabemos explicar exatamente
A crosta oceânica tem uma compe)sição litológica
como os processos naturais fazem este motor funci-
muito mais homogênea, consistindo de rochas ígneas
onar. 1-<~ntretanto, nós podemos me>delar as causas
básicas (basaltos), cobertas em várias partes peJr uma
' elcls mcivimentos e testar estes modeleis com base
fina camada de material sedimentar. E bem menos
nas leis naturais. () que sabemos é que a astenosfera e
espessa do que a crosta continental, cm geral da or-
a litosfera estãe> intrinsecamente relacionadas. Se a
dem de 6 a 7 km, adelgaçanelo-se à medida que se
astenosfera se mover, a litosfera será moviela tam-
aproxima das deJrsais mesel-Clceânicas.
bém. Sabemeis ainda que a lite>sfera pcissui uma energia
cinética cuja fonte é o fluxo térmico interne> da Ter-
6.4.2 Tipos de limites entre placas ra, e e1ue este calclr chega à superfície através e-las
litosféricas correntes de convecçãeJ do mante> superior. (1 que
nãci sabemos com certeza é como as cclnvecções do
C)s limites das placas tectê)nicas podem ser de manto iniciam o movimente) das placas.
três tipos distintos:
() princípio básico de uma célula de ceJnvecção pode
a- Limites Divergentes: marcados pelas dorsais ser obs<::rvadeJ esquentandei uma grande panela com
meso-oceânicas, onde as placas tectêlnicas afastam- mel, nci qual bóiam eluas rolhas ele cortiça. Ao aquecer
se uma da outra, com a formaçãeJ de nova crosta o centrei da base da panela ci mel esquenta mais rapida-
A •
ocean1ca. mente ne1 centro do que nas bordas ela panela, climinuindcl
b- Limites Convergentes: onde as placas ali a densidade do mel. C~onseqüentemente, o mel aque-
tectônicas colidem, com a mais densa mergulhan- cidei sul,irá enquanto o mel mais frio da borda descerá
deJ seJb a outra, gerando uma zona de intenso para ocupar o lugar do mel que sul1iu, instalando-se
magmatismo a partir de preJcessos de fusãcJ parcial uma circulação de fluidos, que afastará as eluas rolhas
da crosta que mergulhou. Nesses limites <Jcorrem para a beirela da panela, segundo o sentidel das ceJrrentes
fossas e províncias vulcânicas, a exemplo da Placa de convecção geradas.
Pacífica (Cap. 17). De forma análoga este movimento de convecçãe>
c- Limites Conservativos: onele as placas ciceJrre nci manto. r:ntretanto, a convecção no mante)
tectônicas deslizam lateralmente uma em relação à refere-se a um meivimentcl muito lente> de rclcha, que
outra, sem destruiçãcl <JU geraçãcJ de crostas, ao sob ceJnclições apropriadas de temperatura elevacla,
longo de fraturas deneJminadas Falhas se compelrta como um material plástico-viscoso mi-
Transformantes (Cap. 19). Como exemplo de li- grandei lentamente para cima. Este fenômeno ocorre
mite conservativo temos a Falha de San Andreas, quanclel um foco ele calor localizade> ceJmeça a atuar
na América do Norte, oncle a Placa dcl Pacífico, produzindo e-liferenças ele elensidade entre ei material
contendo a cidade ele Isos Angeles e a Z<lna da Bai- aquecielci e mais leve e o material circundante mais
xa Califórnia se desloca para o norte em relação à frio e denso. A massa aquecida se expande e sobe len-
Placa Norte-Americana, que contém a cidade de tamente. Para compensar a ascensãei destas massas de
São Francisco. material do manto, as rochas mais frias e densas des-
, cem e preenchem eJ espaçcJ deixado pelo material que
E em tornel destes limites de placas que se ccJn-
subiu, completando o ciclo de convecçãei deJ manto,
centra a mais intensa atividade geológica do planeta,
cc)nforme ilustrado na Fig. 6.6. O movimente) de
como sismos (Cap. 3), vulcanismo (Cap. 17) e
ccinvecçãci das massas do manto, cuja viscosidade é
orogênese. Atividades geológicas semelhantes tam-
10 18 vezes maior do que a água, ocorre a uma veleici-
bém ocorrem no interior das placas, mas em menor
dade da e>rdem de alguns centímetros por ano.
intensidade.
104 DECIFRANDO A TERRA
Dorsal
- -
meso - ocean1ca
a- Pressão sc)bre a placa provocacla pela criaçãe) de
Fosso
Astenosfero nova litosfera nas ze)nas de dorsais mesa-oceânicas, o
litosfera
Dorsal que praticamente empurraria a placa tecte)nica para os
mesa - oceânica
lados.
b- Mergulhe) da litosfera para e) interior do manto em
c_lireção à astenosfera, puxada pela crosta descendente
mais densa e mais fria do que a astene)sfera mais quente a
sua veJlta. PeJrtanteJ, pe)r causa de sua maior densidade, a
a parte da placa mais fria e mais antiga mergulharia puxan-
do parte da placa lite)sférica para baixo.
Dorsal c- A placa lite)sférica te)rna-se mais fria e mais es-
meso - oceânico
pessa à medida que se afasta da de)rsal mesa-oceânica
c)nc_le foi criada. c:ome) conseqüência, o limite entre a
litosfera e a astene)sfera é uma superfície inclinada.
i\1esmc, com uma inclinação muite) baixa, o próprio
pese) c_la placa tectê)nica poderia causar uma movimen-
tação de alguns centímetros por anei.
placas, a partir da distância entre as ilhas e as idades geJ de seus limites ceJnvergentes colisões que, em
das erupções vulcânicas, comcJ mostrado na Fig. 6.9. função da natureza e composição das placas envolvi-
das, irão gerar rochas e feições fisiográficas distintas.
As plumas do manto explicam muitas das ativida- Nesse sentido, o choque entre placas litosféricas pode
des vulcânicas que ocorrem no interior das placas, para envolver crosta oceânica com crosta oceânica crosta
o caso de crosta oceânica gerando ilhas oceânicas, e no '
continental com crosta oceânica ou crosta continental
caso de crosta continental, gerando um espessamento da com crosta continental, como ilustrado na Fig. 6.10.
crosta com uma cadeia de vulcões, como por exemplo
a costa cJeste da América do Norte. Quando o Hot Jpot Quando placas oceânicas colidem, a placa mais den-
se situa sob ou próximo da dorsal meso-oceánica, ele sa, mais antiga, mais fria e mais espessa mergulha sob a
produz um aumenteJ do fluxo de material fundido outra placa, em direção ao manto, carregando consigo
' parte dos sedimentos acumulados sobre ela, que irão
causando um espessamento maior do que no resto da
dorsal, muitas vezes sob a forma de um platô sobre o se fundir em conjunto com a crosta oceânica em
subducçãe). O processe) pre)duz intensa atividade vul- O choque entre placas continentais (Fig. 6.1 Oc) pe)de
cânica de composição andesítica, comumente ocorrer após o processo colisional do tipo Andino,
manifestada sob a forma de arquipélagos, conhecidos onde a ce)ntinuidade do processo de subducção da
como ''Arcos de Ilhas'' (Fig. 6.10a), de 1()0 a 400 km crc)sta oceânica sob a crosta continental leva uma massa
atrás da zona de subducçãe). Na zona de subducção continental ao choque com e) arcc) magmáticc) forma-
fc)rma-se uma fossa que será mais próxima elo arco do inicialmente. Quande) os de)is continentes colidem,
de ilhas, quanto mais inclinadc) for o ângulo de mer- a crc)sta continental levadapela crosta oceânica mais
gulho. As ilhas do Japão constituem um exemple) atual densa mergulha sc)b a e)utra. Este processo nãe) gera
de arce) de ilhas. vulcanismo expressivo como nos C)utros dois ptc)ces-
sos anteriores, mas produz intenso metamorfismo de
A colisão entre uma placa continental e uma oceâ-
rc)chas cc)ntinentais pré-existentes e leva à fusão parci-
nica (Fig. 6.106) provocará a subducção desta última
al de porções da crosta continental gerando
sob a placa continental, que, a exemplo dc)s arcos de
magmatismo granítico. Os exemplc)s clássicos de fei-
ilhas, ptc)duzirá um arco magmático na borda ele) ce)n-
ções geradas pc)r este processe) são as grandes
tinente, caracterizade) por re)chas vulcânicas ele
cordilheiras de montanhas do tipo dos Alpes e dos
composição andesítica e dacítica e rochas plutt>nicas
Himalaias, esta última gerada a partir da cc)lisão entre
de cc)mposição principalmente diorítica e granodic)rítica, ,
as placas da India e a Asiática, pre)cesso este iniciade)
acompanhado de defe)rmação e metamorfismo tantc)
cerca de 70 milhões de anos atrás que continua até os
das rochas continentais pré-existentes como de parte
clias atuais.
das te)chas formadas ne) processo. i\s feiçe"íes
fisiográficas geradas neste processo colisional são as
grandes ce)rdilheiras de montanhas continentais como
os Andes na América do Sul.
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Câmara Câmar
magmática magmática
a
Ilha vulcânica
Câmara.
· magmática
e
Fig. 6.9 Esquema de formação de ilhas vulcânicas a partir deHol spots: a) O Hot Spot produz a primeira Ilha Vulcânica; b) com o
movimento da placa e o Ho/ Spot fixo a Ilha Vulcânica 2 irá se formar em outro lugar; c) com a continuidade de movimento da placa,
as ilhas l e 2 se deslocam e a ilha vulcânica 3 se forma; d) mapa mostrando as ilhas que compõem o Arquipélago do Havaí formada;
por ação de Hot Spot desde 5,6 milhões de anos atrás. Os números correspondem às idades das rochas vulcânicas em milhões de
anos. Notar que as idades aumentam conforme o movimento da placa, indicado pela seta, a partir da ilha mais jovem, que contém o
vulcanismo recente, para a ilha mais antiga de 5,6 Ma.
CAPÍTULO 6 • TECTÔNICA GLOBAL i 27 '1
./\ssr)ciadr>s a(>S prr>cessos cc)!isic)nais entre placas
tecttlnicas occ>rrern urna série de feiç<':íes geológicas e
associações litológicas características ilt1stradas na Fig.
-.. . . .
Fig. 6.11 Perfil de um limite de placa convergente mostrando as principais feições geológicas formadas e os associações de
rochas relacionadas.
108 D EC I F R A N D O A T ERRA
k~. • '>
c1ef<)rmada e e1uel1rada pel<) tectonismcJ e1ue <)CC)rre .. . ....
~
_\·.: ' .
nas margens con\'ergentes. A esta mistura cac')tica ele
rochas ciuebradas e elesordenadas, que OC()rrcm nas Fig. 6.13 Ofiolitos com pillow-lovas (Complexo de Troados,
f<)ssas por uma extensão que varia ele metros a algu- Chipre). Foto: B. B. de Brito Neves.
Dorsal
. Mesa - oceânica
,
Oceano Indico
Graben no Falha
continente transformante
· . f .1 Cadeia
Rifte preenchido , , ,·· · Mesa - oceânica
por sedimento, e graben central
coberto pelo mar
Fig. 6.16 Ilustração mostrando a junção tríplice no Oriente Médio: a) riftes do Golfo de Aden, do Mar Vermelho e do interior da
, ,
Africa; b) junção tríplice entre a América do Norte, Africa e América do Sul, no início da fragmentação do Pangea.
A abertura e o fechamento de bacias oceânicas 6.5 A Dança dos Continentes
ou oceanos é conhecida como "Ciclo de Wilson",
nome dado por Burke e colaboradores, em 1976, em Um processo geológico da importância e magni-
homenagem a J. T. Wilson, que foi um dos tude da fragmentação do supercontinente Pangea não
idealizadores da Teoria de Expansão do Assoalho ocorreu somente nos últimos 200 milhões de anos da
Oceânico. Este ciclo inicia-se com a ruptura de uma história da Terra. As informações geológicas disponí-
massa continental, através do desenvolvimento de veis, principalmente as geocronológicas,
fraturas e de sistemas de riftes, como os que ocor- paleomagnéticas e geotectônicas, demc)nstram que a
,
rem atualmente no "Rift Valley da Africa", seguido aglutinação e a fragmentação de massas continentais
pela abertura de uma pequena bacia oceânica/ f)cea- ocorreram diversas vezes no passado geológico e que
no, como o Mar Vermelho hoje; este deverá o Pangea foi apenas a última importante aglutinação
expandir-se até uma extensão indeterminada, que de continentes. Antes do Pangea as massas continen-
poderia ser similar à do atual Oceano Atlântico Sul. tais se juntavam em blocos de dimensões e formatos
Posteriormente, o ciclo se inverte, iniciando-se uma diferentes dos continentes atuais, pc)is os primeiros blo-
CC)S de crc)sta continental fc>rmaram-se há 3,96 bilhões
subducção de crosta oceânica em uma ou ambas as
de anc)s e foram crescendo com o desenvolvimento
margens continentais, que passam de passivas para ati-
vas. Pode c)correr, então, o fechamento total ou parcial de nova crosta continental, através de orogêneses, até
das bacias oceânicas, gerando uma orogênese. O re- atingir as dimensões atuais. Há 550 milhões de anos
gistro gec)lógico existente indica que C) Ciclo de Wilson cerca de 95% das áreas continentais atuais já estavam
formadas.
ocorreu várias vezes na história da Terra, o que prc)-
duziu uma movimentação contínua dos cc)ntinentes A Fig. 6.17 mostra a reconstituição da aglutinação
em diversas direções, ora se aglutinando ora se frag- de blocos continentais elaborada para os últimos 2
mentando. bilhões de anos (2,0 Ga) da histé)ria geológica da Ter-
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continentais.
ra. Nessa figura p<)de ser observadc) que, n<i iníci<>, as fragmentc>s de crrJsta continental teriam tornado a co-
massas continentais
,
estavam reu11idas em três micro- lidir entre si formando um nf)\'() superc()!ltinente
continentes, 1\rtica, Atlà11tica e Ur, con1 partes do que denominado Gond\\'ana, que incluiu a América do Sul
seria a futura ;\mérica do Sul faze11do parte ela 1\tlânti- e ()utros dois menores, Laurentia-l3áltica e Sibéria. Há
ca. Entre 2,() e 1,0 bilhão de anos atrás, estes 55() ]\fa, estes três continentes esti,·eram junt()S, fc)r-
n1ictcJcontincntes se fragmentaram, através de pr()Ccs- mando, por 11m curto período de temp<) geológico, C)
sos de rifteameotos, cc)m os fragmentc)s ccJlidiodc) entre s11percontinente denominado Panótia, o que em gre-
' .... ~ . . .
s1, para gerar novas conttgL1raçoes continentais mat<J- go significa "t11do no Sul", já c1ue este supercc>ntinente
res. E11tre 1,3 e l ,(l bilhão de ancJs atrás, os principais situ<)u-se no hemisfério Sul. Há cerca de 500 l\fa,
blocos de crosta continental se juntaran1 originando e) Pané>tia teria iniciadc) a sua fragmentação, permane-
primeiro supercontínente, qt1c foi denc)minac!c) Rodínia, ccndcJ Cl Gon<.-lwana i11teiro nc) hemisféric) Sul, inclui11do
'
rc)deadc) pelo <>ccano ::VliréJvia. i\mbas as dencnnina- a t\mérica do Sul e 1\frica, e uma <)utra n1assa conti-
ções são de origcrn russa significando rcspcctiva1nente nental constituída pela Laurentia-Báltica e Sibéria, que
n1ãc-pátria e paz. ,;\ 1\mérica do S11l faria parte d<JS incluía partes do que seria l1oje a 1\mérica do Norte,
blocos }\maz<'>nia, Rio da Prata e Sãci E•rancisccJ. Entre E~uropa e 1\sia. l-Iá aproximadarncnte 340 t\1la todas
1.(l(l() e 80() milhões de anos atrás, o cc>ntinentc Rodínia
. . .
as massas cc)nt1nenta1s cclmeçararn n<>vamente a se Jun-
teria sido fragmentado e entre 80(1 ívfa e 50() ::Via cJs tar, culminando há cerca de 23(1 l\1a com a formação
elo supercontinente Pangca, circunclado por um único
oceano denominad• J Pantalassa (em grego significa
"todos os mares"). l-Iá 2()() mill1õcs ele anos o Pangea
vem se fragmentando,
,
e a América do Sul iniciou sua
separaçãc) da ,;\frica l1á 180 l\Ia. Nesta mesma época,
a ,i\t1strália , e a J\ntártica também se separaram do
Pangea, e a India, c1ue estava na parte sul do Gondwana,
iniciou sua viagem ,
até o hemisfério Norte, onde foi
colidir co1n a J\sia, sendo a c:ordilheira dos Himalaias
(l prcidL1to dessa colisão.
750Ma 422 Ma
(Neoproterozóico J (Siluriano médio) i\ f'íg. 6.18 mcJstra as posições da ,;\mérica dcl Sul
e da 1\frica, ao longo do tempo gecllcSgico, ciesde 75()
milhões de anc>s atrás.
Leituras recomendadas
BURCHFIEL, B. C. The Conti1zental Crust. Scientífic .
550 Ma 374Ma American, v. 249, 1983.
(Neoproterozóico tardio) (Devoniano)
SKINNER, B.J.; PORTER S.C. The Dynamic Earth.
N. York: J. Wiley, 1995.
-
'' TAKEUCHI,H.; UYEDA, S.; KAN&.\10Rl, H.
A terra, um planeta em debate: introdução à geeflsica
pela análise da deriva continental. São Paulo:.
EDART/EDUSP, 1974.
VINK, G.E.; MORGAN, J.W.; VOGT, P.R. ''The .
Earth's Hot Spots'', ín: ScientijicAmerican, v.252,. ·
530 'vlo 260 Ma 1985,
(Cambriano méd:oJ (Permiano}
W'YSESSION M. The Inner Workings of the
Fig. 6.18 Posições aas massas continentais da América do
' .
Sul e Africa de 7 50 milhões de anos atrás. Fonte: Dalziel, 1995.
Earth. American Scientist, v. 83, 1995.
água é a substância mais abundante na superfí- servatórios cc)mprcende o ciclo da água ou ciclo
cie do planeta, participando dos seus processos hidrológico, movimentado pela energia solar, e repre-
modelade)rcs pela dissolução de materiais terrestres e do senta o pre)cesso mais importante da dinámica externa
'
transporte de partículas. E o melhor e mais comum da Terra.
solvente disponível na natureza e seu papel no
intemperismo químico é evidenciado pela hidre>lisc (Cap.
7.1.1 Origem da água
8). Nos rios, a água é responsável pelo transporte de
partículas, desde a forma iônica (em solução) até casca- No ciclo hidrológico vamos acompanhar o percur-
lho e blocos, representando o meio mais eficiente de so de uma gota de água pelos reservate)rios naturais
erosão da superfície terrestre (Caps. 9 e 10). Sob forma (Tabela 7.1). Mas de onde veio a primeira gota? Ares-
de gelo, acumula-se em grandes volumes, inclusive gelei- pe)sta está nos passos iniciais da diferenciação do planeta.
ras, escarificande) e) terreno, arrastando blocos re)che)Se)s A e)rigcm da primeira água na história da Terra está rela-
e esculpinde) a paisagem (Cap. 11). cic)nada com a formação da atme)sfera, ou seja, a
Sua importância na superfície terrestre é atestada ain- degaseificação do planeta. F~ste termo refere-se ao fent>-
da quandc) se comparam as áreas cc)bertas pe)r água e meno de liberação de gases por um sólido ou líquido
gelo com aquelas de "terra firme": de) total de 510x10' quando este é aquecido ou resfriado. Este processo, atu-
km2 da superfície da Terra, 310xlü6 km 2 sãe) cobertos ante até hoje, teve inícic) na fase de resfriamento geral da
por oceanos, em contraposição a 184,94x1CY'km2 de ter- Terra, após a fase inicial de fusão parcial. Neste gradativo
ra firme, resultando numa proporção entre superfície resfriamento e formação de rochas ígneas, foram libera-
marítima e terra firme de 2,42: 1. Ce)nsidcrando-se que elos gases, principalmente vapor de água (H 20) e gás
cerca de 2,Sx106 km 2 das terras firmes são cobertas pe)r carbônico (COJ, entre vários outrc)s, como subpre)dutos
rios e lagos e até 1Sx106 km2 por geleiras, esta relação voláteis da cristalização do magma (Cap. 16). A geração
fica ainda mais desfavorável para as terras emersas. Pe)r de água sob forma de vapor é observada atualmente
isse) a Terra é chamada de planeta azul quando vista de) em erupções vulcânicas, sende> chamada de água juve-
espaço: é a ce)r da água. Em subsupcrfície, a água tam-
nil, suportando o modelo acima, se)bre a origem da
bém é importante, alimentando poços, hoje respe)nsávcis água. Logo surge outra dúvida: o volume de água que
por significante abastecimento de água em grandes cen- atualmente compõe a hidrosfera foi gerado
tros urbanos e áreas áridas (Cap. 20). gradativamente ae) le)ngo do tempo geológico ou surgiu
, repentinamente num certo mc)mento desta história? Os
E a água que mantém a vida sobre a Terra, pela geólogos defendem a segunda possibilidade. Existem
fotossíntese, que prc)duz biomassa pela reação entre evidências geoquímicas que suportam a formaçãe) de
CC) 2 e H 2(). Neste contextc) biológico, deveme)s lem- quase toda a atmosfera e a água hoje disponível nesta
brar que praticamente 80% do corpo humano é primeira fase de resfriamento da Terra; desde então, este
,
composto pc)r agua. volume teria sofrido pequenas variações, apenas por
A origem da á6rua, sua distribuiçãe) em superfície e reciclagem, através do ciclo das rochas (Cap. 2).
subsuperfície, assim como o movimento entre seus re-
servate'>rios naturais são temas de) presente capítule>, todos 7.1.2 Ciclo hidrológico
fundamentais para orientar o aproveitamento, maneje) e
proteção dos mananciais hídricos do planeta Terra. Partindo de um volume total de água relativamente
constante no Sistema Terra, podemos acompanhar o ci-
, clo hidrológico (Fig. 7.1), iniciando com o fenômeno da
7 .1 O Movimento de Agua no Sistema precipitação meteórica, que representa a condensação
Terra - Ciclo Hidrológico de gotículas a partir do vapor de água presente na at-
me)sfera, dande) C)rigcm à chuva. Quando e) vapor de
A água distribui-se na atmosfera e na parte superficial
água transforma-se diretamente em cristais de gelo e es-
da cre)sta até uma profundidade de aproximadamente
tes, por aglutinação, atingem tamanho e peso suficientes,
1O km abaixo da interface atmosfera/ crosta, cc)nstituin-
a precipitação ocorre sob fe)rma de neve ou granizo,
do a hidrosfera, que consiste cm uma série de responsável pela geração e manutenção de) importante
reservatórios como os oceanos, geleiras, rios, lagos, va-
reservatório representado pelas geleiras nas calotas pola-
por de água atme>sférica, água subterrânea e áf:,>ua retida res e ne)s cumes de montanhas.
nos seres vive)S. O constante intercâmbio entre estes re-
-"'11111'111 Lago subterrâneo da caverna Poço Encantado (calcários do Grupo Una), ltaetê, BA. Foto: Adriano Gambarini.
Tabela 7.1 Distribuição de água nos principais reservatórios naturais. A água doce
líquida disponível na Terra corresponde praticamente à água subterrânea.
Parte ela precipitação retorna para a atmosfera p()r mos, principalmente as plantas, através ela respiraçãc).
evaporaçã() direta elurante seu percurso em direção à Esta soma de processc)s é den(iminaela evapotrans-
superfície terrestre. Esta fração evaporada na atm()S- piração, na qual a evaporaçà() direta é causada pela
fera S(ima-se ao vapor de água formad(i sobre o S(ilo radiaçãc) sc)lar e ventei, enquanto a transpiraçãci de-
e aquele liberado pela atividade biológica de organis- pencle e-la vegetaçãci. A evapotranspiraçãcJ ~m áreas
Vapor de água
""\.···
Neve
.
. . "'
Precipitação
meteórica
Chuva
I
Nível d'água
' '''
: ' . . .
•·.
--,,.,,
· •· i.::t:,. ~--~-~ l ····•···
g()tas de chuva sobre o S()lo, reeluzind(J sua ação ca externa da 'ferra (1nc1\·idci pela energia scilar e
erosiva. gravitacional, Cap. 9); <J segt1nclc\ ele lcingci prazc>, é
Uma vez atingido o solo, dois caminhos podem mcl\'imentaclci pela elinán1ica interna (tectêinica ele pla-
ser seguidos pela gotícula de ágt1a. () primeiro é a cas, C:ap. 6), <Jnelc a água fJarticipa elc1 ciclci elas rc>chas
infiltração que depende principalmente das carac- (Fig. 7.1).
terísticas do material de cobertura da superfície. A Nci ciclo "rápidcJ", a água é cc1nst1micla nas rea-
água de infiltração, guiada pela força gravitacicinal, ções fcJtcic1uímicas (fcit<issíntcse) cJne1c é retida
tende a preencher os vazios no subsolo, seguindc) principalmente na prcidt1çàci ele !Ji<imassa vegetal (ce-
em profundidade, onde abastece o corpo ele água lulc)se e açúcar). CcJm a reaçãcJ ccintrária à f<Jt(Jssíntcse,
subterrânea. A segunda possibilidade ocorre quan- a respiração, esta ágt1a rctcirna ac> ciclo.
do a capacidade de absorção de água pela superfície
N o etc. 1o "lento " <J ccJnst1m<> e1e agua
, cicorre no
é superada e o excess() de água inicia ci escoamen-
intemperismo químico através das reaçc3cs e1e hiclrólise ((~ap.
to superficial, impulsionado pela gravidade para
8) e na f(irmaçãcJ de rcichas sccli1nc11tarcs e tnctamc'Jrficas,
zonas mais baixas. Este escoamento inicia-se atra-
com a formação de minerais hidrataclos (Cap. 2). A pro-
vés de pequenos filetes de água, efêmercis e
dução de água juvenil pela atividade vulcânica representa
disseminados pela superfície do solo, que conver-
o retorno desta água ao ciclo rápido.
gem para os córregos e rios, constituindo a rede de
drenagem. O escoamento superficial, com raras ex-
,
ceções, tem como destino final os oceanos. E bom 7.1.4 Balanço hídrico e bacias hidrográficas
lembrar ainda que parte da água de infiltração retorna
O ciclo hidrológico tem uma aplicação prática
à superfície através de nascentes, alimentando o
no estudo de recursos hídricos (Cap. 20) que visa
escoamento superficial ou, através de rotas de flu-
avaliar e monitorar a quantidade de água disponí-
xo mais profundas e lentas, reaparece diretamente
nos oceanos. vel na superfície da Terra. A unidade geográfica
para esses estudcJs é a bacia hidrográfica, defini-
Durante o trajeto geral do escoamento superficial da como uma área de captaçã(J da água de
nas áreas emersas e, principalmente na superfície dos precipitação, demarcada por divisores topográfi-
oceanos, ocorre a evaporação, realimentando o vapor cos, onde toda água captada converge para um
de água atmosférico, completando assim o ciclo único ponto de saída, o exutório (Fig. 7.2).
hidrológico. Estima-se que os oceanos contribuem com
A bacia hidrográfica é um sistema físico onde
85% do total anual evaporado e os continentes com
podemos quantificar o ciclo da água. Esta análise
15% por evapotranspiração.
quantitativa é feita pela equação geral dcJ balanço
hídrico, expressão básica da Hidrologia:
7.1.3 Formação e consumo de água no ciclo
P -E - Q (+ ~S) = O
hidrológico
Nesta equação, JJ corresponde ao vc)lume de água
O ciclo hidrológico pode ser comparado a uma gran- precipitado sobre a área da bacia, E o volume que
de máquina de reciclagem da água, na qual operam voltou à atmosfera por evaporação e transpiração, e
processos tanto de transferência entre os reservatóri- Q ao volume total de água escoado pela bacia, duran-
Bacia hidrográfica
exutório
Linígrafo
Curva chave
z
al
Ql Q2 Q3
Vazão
Escoamento direto
E
Fluxo basal
J F M A M J J A S O N D
Tempo +. = escoamento total ( Q }
Tempo
Fig. 7.2 Elementos de uma bacia hidrográfica e obtenção do hidrograma. O fluxo basal no hidrograma representa a água do rio
proveniente da água subterrânea, enquanto o escoamento direto corresponde à água superficial em resposta a eventos de chuva.
118 DECIFRANDO A 1'ERRA
te um intervalo de tempe). Este escoamento te)tal (Q) água ou seu aproveitamento hidroelétrico. Permite ana-
representa a "produção" de água pela bacia, medida lisar o comportamento das bacias, identificando
pela vazão ne) exutório durante o período de períodos de vazão baixa e alta, auxiliando na previsão
monitoramento. O termo ~S refere-se a variações de enchentes e estiagens, assim como períodos e volu-
positivas e negativas devido ao armazenamento no mes de recarga da água subterrânea. Através da
interior da bacia. F:ste armazenamento ocorre na for- identificaçãc), no hidrograma, dos ce)mponentcs de es-
ma ele água retie1a nas formações geológicas de) coamento direte) e fluxo basal, é possível avaliar a
subse)lo, cujo fluxc) é muito mais lento que e) do esce)- contribuiçãe) da água subterrânea na produção te)tal
amento superficial direto. Considerando-se perÍe)dos de água da bacia (Fig. 7 .2).
de monitoramento mais longos (ciclos anuais), as di-
,
ferenças positivas e negativas de armazenamento
7 .2 Agua
,
no Subsolo:
tendem a se anular. C)s valores positivos ocorrem quan-
do o esce)amento te)tal da bacia é alimentado pela água Agua Subterrânea
subterrânea (períodos de estiagem), enquante) os ne-
Trataremc)S agora da fraçãc) de água que sofre in-
gative)s refletem períodos de recarga (época de chuvas),
filtração, acompanhando seu caminho pelo subse)lo,
quando parte da precipitaçãe) sofre infiltraçãe),
onde a força gravitacional e as características dos ma-
realimentando a água subterrânea, em vez de escoar
teriais presentes irão controlar e) armazenamentc) e o
diretamente da bacia. Portanto, para um ciclo
movimento das águas. De maneira simplificada, toda
hidrológico complete) da bacia, é possível resumir a
água que ocupa vazios em formações roche)sas ou no
equação geral de) balanço híclrico para:
regolito (Cap. 8) é classificada como água subterrânea.
J)=E+Q,
onde Q (vazãc) total da bacia) representa a soma 7.2.1. Inftltração
do escoamento superficial direte) com o escoamento
Infiltração é e) processo mais importante de recarga
da bacia suprido pela água subterrânea e li, a água
da água no subsole). () ve)lume e a velocidade de infil-
perdida por evapotranspiração.
tração dependem de vários fatores.
Na maioria das bacias hidrográficas a saída elo es-
coamento tc)tal (Q) é através de um rio principal que
Tipo e condição dos materiais terrestres
coleta te)da água pre)duzida pela bacia. A medição de
Q constitui um dos objetive)s principais da hidre)logia A infiltração é favorecida pela presença de materiais
de bacias. Baseia-se na construçãe) de umhidrograma, pe)rosos e permeáveis, como solos e sedimentos areno-
que expressa a variação da vazão em função de) tem- sos. Rochas expostas muito fraturadas ou porosas também
po (Fig. 7.2), enve)lvendo as seguintes etapas: permitem a infiltração de águas superficiais. Por e)utro
1. Medição ele diferentes vazões do rio ao leingo lado, materiais argilosos e rochas cristalinas pouco fratu-
de) ano para e)bter a curva chave que relaciona a radas, pc)r exemple) corpos ígneos plutônice)S e rochas
altura com a vazãe) do rio. metamórficas como granitos e gnaisses, são desfave)rá-
veis à infiltraçãe). 1"~spessas cc)berturas de se)lo (ou material
2. ()btençãe) do traçade) da variação de) nível elo inconsolidado) exercem um importante papel no con-
rio ae) longo do períoe-lo ele mc)nitoramento pe)r trole da infiltraçãc), retendo temporariamente parte ela
meie) de um linígrafo. água e-le infiltração que posteriormente é liberada lenta-
3. Transformação do registre) da variação do nível mente para a rocha subjacente. A quantidade de á6'Ua
do rio em curva de vazão (hidrograma), pela transmitida pelo solo depende de uma característica im-
substituição de cada ponto de altura do rio pele) pe)rtante, chamaela de capacidade de campo, que
seu correspondente valor de vazão. corresponde ao vc)lume de á1-,rua abse)rvido peleJ sole),
antes de atingir a saturação, e que não sofre mc)vimentc)
4. Cálculo da vazão total da bacia através da área
para níveis inferiores. Este parâmetro influencia direta-
sob a curva de) hidrograma (m1 /s x tempe), cm
mente a infiltração, pois representa um vc)lume de água
segunde)s = vc)lume total).
que participa do solo mas que não cc)ntribui com a
() hidrograma é a base para estudos hidrcilógicos recarga da água subterrânea, sendo aproveitada somente
de bacias visande), por exemple), o abastecimento de pela vegetação.
Cobertura vegetal 7 .2.2 Distribuição e movimento da
água no subsolo
Em áreas vegetadas a infiltraçãc) é favorecida pelas
raízes que alJrcm caminhe) para a água descendente nc)
solo. 1\ cobertura flc)restal taml)ém exerce impc)rtante O conceito de superfície freática ou nível dágua
funçãc) nc) retardamcntc) de parte da água que atinge
o sc)lo, através da interceptação, sendc) o excesso len- Além da força gravitacicJnal e das características
tamente liberadc) para a superfície do sc>lo pc)r dos solc)s, sedimentos e rochas, e) mc)vimcntc) da
gotejamento. Pc)r outro !ade), nc)s ambientes densa- água no subsolo é controlado também pela fcJrça
mente florestados, cerca de 1 /3 ela precipitaçãcJ de atraçãcJ mcJlecular e tcnsãc) superficial. A atraçãcJ
interceptada sofre evapc)ração antes de atingir o sc)lo. molecl1lar age quando mc)léculas de água sãc) pre-
sas na superfície ele argilomincrais por atraçãc) de
cargas cJpostas, pc)is a mc)lécula de água é pc)lar.
Topografia
Este fenc:imeno cJcorre principalmente nc)s primei-
De modo geral declives accntuadc)s favorecem C) ros mctrc)s de prcJfundidadc, no solo ou rcgcJlitc),
esccJamentc) superficial diretc), diminuindc) a infiltra- ricc) cm argilcJminerais (Cap. 8). A tensão superfici-
ção. Superfícies sua,,emente C)nduladas permitem C) al tem efeitc) nos intcrstícic)s muitc) pequenos, cJndc
escoamento superficial menos veloz, aumentando a a água fica presa nas paredes dos porc)s, podenc.lcJ
possibilicladc de infiltração. ter movimento ascendente, contra a gravidade, pc)r
capilarielade. A adsc>rçãcJ de água cm argilcJminerais
e nos capilares dificulta seu movimente) nas proxi-
Precipitação
midades da superfície, reduzindc) sua evapc)raçãc) e
C) modc) como o tcJtal da precipitação é distribu- infiltraçãc). J\ssim, cc)nforme o tamanho do pcJrc), a
ído ao lc)ngo do anc) é um fatc)r decisi\TCJ no volume água pcJele ser higrcJscópica (aclsorvida) e pratica-
de recarga da água subterrânea, em qualquer tipc) de mente imóvel, capilar quando sc)frc ação da tcnsãcJ
terreno. Chuvas regularmente distribuíelas ac) longo de) superficial movendo-se lentamente c)u gravitacic)nal
tcmpc) prc)movem uma infiltração maior pois, elcsta (livre) cm porcJS maicJres, c.1ue permitem mo,,imcn-
maneira, a velocidade ele infiltração acc)mpanha o vc)- tc) mais rápiclo.
lume ele precipitação. Ac) contráric>, chuvas tc)rrenciais () limite inferior da percolação de água é dado
favorecem o escc>amento superficial diretc), pclis a taxa quandc) as rochas não ac.lmitem mais espaços aber-
de infiltraçãcJ é inferior ao grande vo 1umc de água pre- tos (porcJs) devido à pressão da pilha de rochas
cipitada em curto intervalo de tempo. sobrejacentcs. Esta prcJfundic.lade atinge um máxi-
mc) de 10.(lOOm, dependendc) da situaçãc) tc)pográfica
Ocupação do solo e do tipc) de rocha. Pode-se imaginar entãc) que tcJda
água de infiltração tende a atingir este limite inferi-
() avançc) da urbanização e a devastaçãc) da vegeta-
or, cJndc scJfrc um represamento, preenchendo tcJdcJs
ção influenciam significativamente a quantidade de água os espaçcJs abertos em direção à superfície. Estabe-
inftltrada em adensamentos populacionais e zonas de in-
lece-se assim uma zona oncle todos os pc>ros estãc)
tenso uso agropecuário. Nas áreas urbanas, as construções cheios ele água, dcncJminada zona saturada ou
e a pavimentação impedem a inftltraçãc), causandc> efei- freática (Fig. 7 .3). Acima desse nível, os espaçcJs
tos catastré)ficos devido ao aumento do escoamentc) vazios estãcJ parcialmente preenchidos por água,
superficial e reduçãc) na recarga da água subterrânea. Nas ccJntendc) também ar, definindo a zona não
áreas rurais, a infiltração sc)fre reduçãc) pelo desmatamentc) saturada, também chamada de vadosa c>u zona de
em geral, pela expclsição de vertentes através de planta- aeração. () limite entre estas duas zonas é uma im-
ções sem terraceamentc), e pela cc)mpactação dos sc)los pc)rtante superfície dencJminada superfície freática
causada pelo pisoteamento de animais, como em exten- (SF) C)U nível da água subterrânea (nível d'água, NA),
sivas áreas de criação de gado. facilmente identificado na prática, ao se perfurarem
Um fato curioso é a situação em grandes centros poços, nos quais a altura da água marca a posiçãcJ
urbanos, comcJ São Paulo, onde se detectou uma do nível da água. A superfície geracla por váricJs
recarga significativa da água subterrânea pc)r vazamen- pontos do NA constitui a superfície freática.
tos da rede de abastecimento (Cap. 20).
120 DECIFRANDO A TERRA
, Poros
Zono vadesa Agua
ou não saturada
Zona freática
ou saturada
() nível freático acompanha aproximadamente as Em áreas áridas, cinde a evaporaçãc) é intensa e su-
irregularidacles da superfície do terreno, e) que pocle planta a precipitaçãc>, pode <)Cc>rrer a inversão sazonal
ser visualizado pele) traçado de sua superfície através da infiltração, quando uma parte da água subterrânea
de uma rede de pe)ços (Fig. 7.4). Sua profundidade é tem meivimento ascendente pcir capilaridade, atraves-
função da quantidade de recarga e dos materiais ter- sando a zcina vadosa para alimentar a evaporação na
restres do subsol<). Em áreas úmidas, C<)m alta superfície elo solo. Este prcicessci é responsável pela
pluviosidade, tencle a ser mais raso, enquant<i em am- mineralização dos horizontes superficiais do solo, pois
bientes árid<)S tende a ser profund<). De moclo geral, sais disseilvidos na água subterrânea acabam precipitan-
é mais profunde) nas cristas de c-livise)res topográficc>s dci e cimentando os grãos dei regolito (salinização do
(ne)s interflúvios) e mais ras<i ncis fundos de vales. scile)). O caliche é um exemplo de solo endurecidci pela
Quandci o nível d'áb>ua intercepta a superfície dei ter-
reno, aflora, gerando nascentes, córregc>s ciu rios. 1\ Infiltração e
Nível freático
recarga
maioria dos leitcis fluviais com água são afloramentcis
de) NA.
'";i«"':
·- N.A.
\UíJ;;~ '
,
.....__ _ _".'."':", Agua
· subterrânea
alimenta os rios
Porosidade intergranular
,.,,.,----
X
I -- 1
--- Rio~::(
\ \ _/
I
1
I
1 , 1 1
1
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1 I
1
I
I 1
1
1 \
' ..... __ ..,,,. .. ✓ -...,e__,;
\ 1 \ I
\ I 1 1 I
I \
\ 1 1 \ I
• •
Zona impermeável
gradiente hidráulico:
H 1 - H2
L
-- ,\H
L '
Epoca de
Poço A
chuva
H1 '
-------------- Epoca de
estiagem
Poço B
----
---- ---~
Descarga no vale
Ensaio no laboratório:
Volume injetado
► -1, ---------• 1
1
1
2
A= Área da seção do cilindro ( m )
1
1 Q = Vazão obtida para ~H e :\H
1 1 2
c1H 2 1 ''
1 ''
1 '' Volume recuperado em
1 '' tempo t
1 ''
1 '' Q
A vazão específica q ( m/s) é obtida de Q = q x A q =
A
1
1
•
o L
'ªN
i'.H
!i2 92 q = K ou
L
equação de Darcy
Q - K il.H
A L
Gradiente hidráulico
7 .2.3 Aqüíferos: reservatórios da água sub- aqüífer<is deste tip<l. 1\ produtiviclade cm água d<JS
A
terranea arenit<JS diminui com o seu grau de cimentação, comcJ é
<J caso de arenitos silicificaclc>s, quase sem permeabilidacle
Unidades rochosas ou de sedimentos, porosas e intcrgranular.
permeáveis, que armazenam e transmitem v<ilumes
J\ mai<Jria dos aqüíferos de fraturas fcJrma-sc em
significativos c-le água subterrânea passível de ser ex-
ccinscqüência de deformação tect{Jnica (Cap. 19), na
plorada pela sociedade são chamadas de aqüíferos
qual prcicessos de dobramento e falhamento geram
(do latim "carregar água"). O estudo dos aqüíferos
sistemas de fraturas, normalmente seladas, devido à
visando a exploração e proteção da água subterrânea
pr<ifundidade. Posteriormente sofrem aberturas
(Cap. 20) ccJnstitui um dos objetivos mais imp<irtantes
submilimétricas a milimétricas, permitindo a entrada e
da Hidroge<Jlogia.
flux<J de água, pela expansão das rochas devido acJ
Em <iposição ao termo aqüífer<i, utiliza-se o ter- alí\·io ele carga litostática causado pel<i soerguimcnto
,
m<) aqüiclude para definir unidaeles geolcigicas que, regional e erc)sãcJ das rcJchas sobrejacentes. E óbvio
apesar de saturadas, e ccim grandes quantidades de que o fluxo de água somente se instala quando as
água absorvida lentamente, são incapazes de transmi- fraturas que compõem o sistema estão
tir um volume significativcl de água com velocidade interconectadas. Praturas nã<J tecttJnicas, dei tipo
suficiente para abastecer poç<is ou nascentes, por se- disjunçã<J C<>lunar (Cap. 17) em r<Jchas vulcânicas,
rem rochas relativamente impermeáveis. Pcir outro ladci, com<J n<JS derrames ele basaltos, poelem ser gera-
unidades geológicas que não apresentam poros das durante as etapas de resfriamento e contração,
interconectados e não absorvem e nem transmitem possibilitand<J que estas rcJchas tornem-se posteri-
água sã<i denominadas de aqüifugos. ormente importantes aqüífcros.
Recentemente os hidrogeólogos têm utilizac-lo os 1\qüíferos de condutos caracterizam-se pela
termos aqüífero e aqüitarde para exprimir compara- pclrcisidade cárstica, constituída pcir uma rede de ccin-
tivamente a capacic-lade de prcidução de água por dut<Js, c<im diâmetros milimétricos a métriccJs, gerados
unidades rochosas, oncle a uniclade com produçã<i de pela diss<iluçào de rochas carbonáticas. (:<instituem
água corresp<inde ao aqüífer<) e a menos pr<idutiva aqüífer<JS c<Jm graneles v<ilumes de água, mas extrema-
a<J aqüitarde (Cap. 20). PcJr exemplo, numa seqüência mente \"Ltlneráveis à c<Jntaminação (Cap. 20), devido à
de estratos intercalados de arenitos e siltitos, os siltit<Js, baixa capacidade de filtração deste tip<i de porcisidade.
menos permeáveis que os arenitos, ccJrrespondcm a<)
Na natureza, esses aqüíferos ocorrem associadcis,
aqüitarde. Numa outra seqüência, f•)rmada de siltitos
refletindo a variedade litológica e estrutural de seqüên-
e argilitos, a unidade siltosa pode representar o aqüíferci.
cias estratigráficas. Situações transitórias entre os tipos
Pcirtanto, CJ aqüitarde correspelnde à camada ou uni-
ele aqüíferos ocorrem, como por exemplo, em regi-
dade geológica relativamente menos permeável numa
ões calcárias, onde aqüíferos de fraturas passam a
determinada seqüência estratigráfica.
aqüífer<is c-le ccJndutos, <Ju de porcisidade granular nos
Bons aqüíferos são os materiais com média a alta depósitcJs de cobertura.
conclutividade hidráulica, c<imo sedimentos
inconsolidados (por exemplo, cascalhos e areias), rochas
Aqüíferos livres, suspensos e confinados
sedimentares (por exemplo, arenitos, cc)nglomerados e
alguns calcários), além de rochas vulcânicas, plutônicas e Aqüíferos livres são aqueles cujo topcl é demarca-
metamórficas com alto grau de fraturamentcJ. do pelo nível freático, estando em contato com a
atmosfera (l~ig. 7.9). Normalmente cJCCJrrem a pr<J-
Aqüíferos e tipos de porosidade func-lidades de alguns metros a p<iucas dezenas de
metr<is ela superfície, associados ao reg<ilit<J, sedimen-
Conforme os três tipos fundamentais de porosidade, tos de ccibcrtura ciu rochas.
identificam-se aqüíferos de p<Jrosidade intergranular (ou
Aqüífcros suspensos são acumulações de água so-
granular), de fraturas e de condutos (cárstico). Os
bre aqüitardes na zona insaturada, formando níveis
aqüíferos de porosidade granular ocorrem no regolito
lentiformes de aqüíferos livres acima do nível freátic<i
e em rochas sedimentares elásticas com porosidade
principal (Fig. 7. 9).
primária. ()s arenitos, de modo geral, são excelentes
Poço no 1\qüíferos confinados occ)rrem quando um estra-
aqüífero livre
to permeável (aqüífero) está confinado entre duas
Poço no nível unidades poucc) permeá,·eis (aqüitardes) ou imperme-
d'água suspenso
áveis. Representam situações mais prcifundas, a dezenas,
,,árias centenas ou até milhares ele metros ele prc)fun-
didacle, c)nde a água está sob ação da pressãc) nãc)
somente atmosférica, mas também de toda a ccJluna
Aqüífero suspenso
sobre material 1 de água lc)calizada no estrato permeável (Fig. 7.10).
/ impermeável
Artesianismo
rec.or9°
cl
f,..reo e nlinoclo
.. í\ero e.o
cio oo.u
''
li
\
1
1
1
\
1
''1 \
1
1
Superfície
1
\ \ potenciométrica
\
1
1
1 Altura do nível da água
\ 1
1
1
1
1
na área de recarga
1 1
\ 1
\ \
\
\
\ Poço
\
\
\ comum
■ .............. - •
••• ••
. .......... . -.... -...... .
.. .... . . ..
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Aqüífero
confinado Poço não
artesiano
Aqüiclude
Poço
artesiano
Fig. 7.1 O Aqüífero confinado, superfície potenciométrica e artesianismo. A água no poço artesiano jorra até a altura da linha AC
e não AB devido à perda de potencial hidráulico durante a percolação no aqüífero.
CAPÍTULO 7 • CICLO DA AGUA
,
127 ..
-
naturalmente. A formação deste tipe) de aqüífero re- 1\ ze)na de C)Ce)rrência da água subterrânea é un1a
quer as seguintes condições: uma seqüência de estratos região c>ndc é iniciada a maioria das formas de rclc,·c>,
inclinados, onde pelo menos um estratc) permeá,-el pcJis a água subterrânea é e> principal meie) das reações
. - . .
encontre-se entre estratos 1mpermeave1s e uma situa- de) intemperisme) químice). () me)vimcnto da água sub-
ção gee)métrica em que e) estrato permeável intercepte terrânea, sc)made) ae) da água superficial, sãe) e)s
a superfície, permitindo a recarga de água nesta cama- principais agentes gee)me'irficos da superfície da Terra.
da. () poço, ao perfurar o aqüífero, permite a ascensão A ação geomórfica da água subterrânea se traduz pc)r
da água pelo princípio dc)s vasos comunicantes, e a vários processos de modificação da superfície terres-
água je)rra na tentativa de atingir a altura da zona ele tre e seus respectivos produtos (Tabela 7.3).
recarga. A altura do nível ela água no pc)ÇC) ce)rres-
ponde ao nível potcnciométrico da água; em três
7 .3.1 Escorregamentos de encostas
dimensões, o conjunto de vários níveis pe)tencic)-
métrice)S define a superfície potenciométrica da A mc)vimentação de coberturas come) se)le)s c)u sc-
água (Fig. 7.10). Devido à perda de carga hiclráuli- dimente)s inconsolidadc)s em encostas de morros tem
ca ao longo do fluxo há um rebaixamento no nível velocidacles muito variáveis (Cap. 9). C)s me)vimente)s
dágua ne) pe)çe) em relaçãc) ao nível dágua da zona rápide)s, com deslizamentos catastróficos acontecem
de recarga. Este desnível cresce conforme aumenta com freqüência cm épocas de fortes chuvas, em regi-
a distância da área de recarga. ões ele relevo acidentado. Os movimentos muito lentos
sãe) chamados de rastejamento (creep) do solo, com
Quando ocorre a conexãc) entre um aqüífere) ce)n-
velociclades normalmente menores que 0,3 m/ ane). C)s
finado em condições artesianas e a superfície, através
mc)vimcntos de encostas com velc)cidades superiores
de descontinuidacles, como fraturamentc)s, falhas ou
a 0,3 m/ ano são cnglo bados na categoria de
fissuras, formam-se nascentes artesianas.
escc>rregamentos ou deslizamentos de encostas, com
, vele)cidades que podem ultrapassar 100 km/he)ra.
7 .3 Ação Geológica da Agua Enquante) C) rastejamento lento é movido unicamente
Subterrânea pela força gravitacional, não havendo influência de água
nc) material, os escorregamentos são movidc)s pele)
Ação gee)lógica é a capacidade de um conjunto de prc)ccsso de solitluxão, no qual a força gravitacional
processos causar modificaçe:íes nos materiais terres- age devido à presença de água subterrânea nc) subsolo.
tres, transformando minerais, rc)chas e feições terrestres.
C)s materiais inconsolidados em ence)stas pc)ssucm
() esculpimento de formas de relevo da superfície ter-
uma estabilidade controlada pelo atrite) entre as partí-
restre é um tipo de ação geológica, dominada pela
culas. No momento em que o atrite) interno é vencido
dinâmica externa de) planeta Terra, conhecida como
pela fc)rça gravitacional, a massa de se)lc) entra cm
ação geomórfica.
movimente), encosta abaixo. A climinuição do atrite)
Processo Produto
j ,
(~/
liteJral e_le SàeJ JJaulei. Esses movimenteJs peie_len1 ser
induzideJs eJu aceleradcJS pela retirada artifical da co-
l1ertt1ra v·cgetal, acarretandeJ eJ aumentei da infiltraçàeJ
de chuvas, lt1l1rit1caçãci elas partículas e seu meiv·in1cn- Fig. 7.11 A saturação em água do material inconsolidado
teJ vertente abaixeJ (t-,"ig. 7.11). devido à subida do lençol freático em períodos de chuvas in-
tensas promove escorregamentos de encostas.
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7 .3.2 Boçorocas: a erosao que ameaça
cidades
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Boçoroca
Nível d'água
Carste é a tradução e1() term() alemãc) karst, cJrigi- chas mais fa\·c)ráveis à carstificaçãcJ encc)ntram-se as
nadc) da palavra krasz, denominaçãci daela pelc)s carbc)náticas (calcáric)S, mármores e dc)lcJmitc)s, pclr exem-
camponeses a uma paisagem ela atual c:reJácia e pleJ), cujci principal mineral calcita (e/ou dcJlomita),
B~slovênia (antiga Iugoslávia), marcada por ric)s SLtb- dissocia-se ncJS ÍcJns Ca2 - e/c)u l\1g2+ e C() 12 pela açãci
terrâneos ccJm cavernas e superfície acidentada ela água. ()s calcáric)s sàc) mais scJlúvcis que os dc)lcJmitc)s,
dc)minada por elepressões ccJm paredões rochosc)s e pc)is a solubilidade ela calcita é maicJr que a da elolomita.
tcJrres de pedra.
Rochas evapc)ríticas, ccJnstituídas pclr halita e/ ou
De) ponto de vista hidrológico e geomorfcilé)gicci, gipsita, apesar de sua altíssima solubilidade, originam
. , . . -
sistemas carstlcos sc)mcnte cm sitL1açc)es cspec1a1s, comei
sistemas cársticc)s são cc)nstituídos por três cc)mpo-
nentes principais (Pig. 7.14), que se desenvc)lvcm ele cm áreas árielas a semi-áridas, pois seu intemperismo
maneira conjunta e interdependente: sc)b clima i'.1midc) é tào rápidcJ que não permite e) ple-
nc) desenvc)lvimentc) elo carste.
1. sistemas ele cavernas - formas subterrâneas aces-
síveis à exploração; (~c)mcJ exemple) de rocha cc)nsiderada insoh'.1vel,
pc)de-se citar <JS granitcJs, ncJs quais feldspatos e micas
2. aqüífere)s de condutos - fc)rmas condutoras da
submetidos ao intcmperismo originam argilominerais,
água subterrânea;
estáveis cm superfície, prc)duzindo muito resíduc) in-
3. relevo cársticc) - formas superficiais. seJli'.1vel em ccJmparação ao vc)lL1me inicial de rocha, C)
qL1e impede o aumef1to da pcJrosidade secundária.
Rochas carstificáveis lJ m case) especial, pc)ucc) cc)mum, são qL1artzitc)s. C)S
Dolina de colapso
Entrada de caverna
Dolina
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Nível d' água atual
Dissolução de rochas carbonáticas cársticas, cuias ágL1as são chamadas de "cluras", dcvi-
cl<i a<J altci teor ele Ca e J\lg (até 250 mg/J ,). F,~ste fatc)
() mineral calcita é c1uase insc)lúvcl em ágL1a pura,
eleve-se à cliss<)luçâ<) ácida elo carb<Jnat<J ele cálcici peki
prc)dL1zind<i concentraç<>es máximas em Ca2 + de cer-
ácielci carbônicci (C:ap. 8), geradcJ pela reaçãcJ entre água
ca de 8 mg/J ,, a<) passcJ que em águas naturais é
e gás carbtinicci (l -'ig. 7 .15).
bastante s<ilúvel, ccim<J é eviclenciaclc) em nascentes
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Tipos de espeleotemas
1 - Estalagmite 3 - Estalactite tipo canudo 5 - Cortina com estalactite 7 - Excêntricos ( hei ictites )
i\s águas de chuva, acidificadas inicialmente ccim cJ subterrâneeis, acelerando ei processo de carstificação.
,
C() 2 atmosféricci, scJfrem um grande enriquecimenteJ Aguas com fluxo lentei exercem pouca ação, pois
em acielo carl)tinico quanelo passam pelo sole), peiis a logci saturam-se em carbonatci, perdenelo sua ação
respiraçãei das raízes elas plantas e a decomposição c1e ceirrcisiva e a capacidade c-le transportar partículas.
matéria orgânica resultam em elevado teeJr de C()2 no
solo. () ácido carbtinico é quase tcitalmente ceJnSLtmi-
c) Clima - disponibilidade de água
do neis primeireis metreJs de perccllaçãeJ da água de
infiltraçãeJ nci pacote rochosc>, sendei que, nas partes Sendo a dissoluçãei a causa principal da formaçãci
mais profundas do aqüífero, resta seimente uma pe- de sistemas cársticos, cJ desenvolvimento do carste é
quena parcela deste ácido para disscJlver a rocha. mais intenso em climas úmidos. Além de alta
pluviosidade, a carstificação também é favorecida em
()utro agente ccirrcJsivo às vezes presente na água
ambientes de clima quente ceim densa vegetação, onde
subterrânea é ei ácido sulfúricci, geradeJ principalmen-
a produção biogênica de C() 2 no solo é maieir, au-
te pela cJxidação de SLtlfetos, ceJmei pirita e galena,
mentandei o teor ele ácideJ carbc"inico nas águas ele
minerais acessórios muitcJ freqüentes em rcichas
infiltraçãei. Desse modo as paisagens cársticas são mais
carbeináticas.
desenvcilvidas em regiões de clima quente e úmido
quandci comparadas às regiões de clima frio.
Requisitos para o desenvolvimento de sistemas
' .
carst1cos
Cavernas e condutos
() desenvolvimento plenei de sistemas cársticos
Cavernas são cavidades naturais com dimensões
requer três ccindições:
que permitem acesso ao ser humano. Cavernas cársticas
a) Rocha solúvel com permeabilidade de fraturas. são parte do sistema de condutos e vazios característi-
Rcichas solúveis do substrato geológiceJ, principal- cos das rcichas carbonáticas.
mente calcários, mármcires e c-lolomitos, devem peissuir A ampliação dos conduteis que ccimpõem as ro-
uma rede ele clesccintinuidades, formadas por superfí- tas preferenciais de fluxo ela água subterrânea aumenta
cies ele estratificação, planeis ele fraturas e falhas, grac1ativamente a permeabilidade secundária da ro-
caracterizanelci um ae1üífero de fraturas. C~om a disseJ- cha, transformando parte elo aqüífereJ fraturado em
luçãc) da rocha ao longo ele intercesse>es entre planos, aqüíferei de condutos, característica hidrológica fun-
instalam-se rotas preferenciais de circulação da água damental de sistemas cársticos.
subterrânea. Em rochas sem descontinuiclaeles plana-
Devido ao rebaixamento do nível freáticei em
res e pc>rc>sidade intergranular dominante, a dissoluçãci
função da crescente permeabilidade, muitas vezes
ocorre de maneira disseminada e heimeJgênea, sem eJ
sc)mada ao soerguimentci tectônico da região, se-
desenvcilvimento de rotas de fluxci preferencial da água
tcires da rede de condutos, iniciados e desenvolvidos
subterrânea.
em ambiente freáticci, são expostos acima do nível
ela água, seifrendo modificações e ampliação em
b) Relevo - gradientes hidráulicos moderados a ambiente vadoso . .b~stes segmentos de condutos,
altos quandeJ atingem dimensões acessíveis aei ser huma-
no, ceinstituem as cavernas.() processo de formação
() desenvolvimento do carste é favcirecido quan-
elo aqüífero de conelutos e cavernas é chamado de
do a região carbonática pcissui topografia, no
mínimo, mcideradamente acidentada. Vales encai- espeleogênese, termo originado do grego spelaion,
que significa caverna.
xac-leis e desníveis grandes geram gradientes
hidráulicos maieJres, com fluxeis mais rápidcis elas No vasto sistema de pcirosidade de condutos de
águas de perceilação ao leingo dos conduteis nci um aqüífero cárstico, cerca de 1°/ri é acessível ao ho-
aqüífero, à semelhança do que se observa no esco- mem, formando sistemas de cavernas, compostos por
amento superficial. Essas velocidades maiores da um conjunto de galerias, condutos e salões, todos fa-
água sulJterrânea resultam em maieir eficiência na zendei parte de uma mesma bacia de drenagem
remoçãcJ de resíduos insolúveis, bem comei na dis- subterrânea, caracterizada por entradas e saídas da água.
solução da re)cha ao longo das rotas ele fluxo e rieis (-)s padrões morfeilógicos dos sistemas de cavernas
-
refletem principalmente a estrt1tura da rcicha detriteis preivenientes das áreas ele captaçãeJ superficial
(acamamento dobrado eiu hcirizontal e geometria e desses rieJs. Parte elcis eletritos pcJde ser acumtilaela ao
densidade dei sistema de fraturas) e a maneira ce)mc> é leingei elas drenagens subterrâneas, feJrmanL-lei clepc'isi-
realizada a recarga de água no sistema, e>u seja, através tcJs seelimcntares flu,,iais nas cavernas. C:eitn ci graelativcJ
ele sumidciureis de rios com cirigem externa aei carste rebaixamentc> de> leitei fluvial, acc>mpanl1anelcJ ci
ou a partir de várieJs pontos de infiltração distribuídcis sc1ergtiin1entci regional, testcmunheJs eleJs sedimenteis
sobre a superfície carbonática. fluviais sãci preservadcJs cm níveis supericircs elas gale-
rias st1lJterrâ11eas. b:stas feições sãci impcirtantes nei
Depósitos sedimentares em cavernas e estudeJ eia histe'iria ele entalhamentei e registreJs
espeleotemas paleoambientais elei rieJ subterrânecJ.
(Fig. 7.15). J\s primeiras sãc) geraelas a partir ele gc)tas trechos do pisel e paredes de cavernas até uma espes-
que surgem em fraturas nos tetos de cavernas e cres- sura de vários metreis.
cem em direção ao piso. Inicialmente formam-se
C)s espeleotemas peidem formar acumulações
estalactites do tipc) canuelc) (Fig. 7.16), pela
de várias camadas, cclmpclstas pcir mais de um mi-
superpc)siçãe) de anéis de carbonatc) de cálcici com
neral (por exemplei calcita e aragonita), e englobar
espessura micrciscópica. i-,:stes canudc)s podem dar
cc)ntribuições detríticas, ceimc) areia e argila, trazi-
c)rigem posteriormente a fe)rmas cônicas, quanelo C)
dos por enchentes de ricis sulJterrâneos, ou mesmc)
interior dei canuelo é cibstruído e a deposiçãc) dcJ mi-
pela água de gotejamento. Desta maneira, cc)nstitu-
neral passa a ocorrer através elo escorrimentc) da . . .
em rcJchas sedimentares e-le origem qu1m1ca
soluçãci pela superfície externa ele) canudci. i\s
precipitac-las a partir ela água subterrânea.
estalagmites crescem e-lo pisei cm elireçãcJ à c)rigem
do geJtejamento, ce)m o acúmulo de carbonatc) de
cálcio precipitadei pela gota após atingir cJ pise). Quan- Formas do relevo cárstico
do a depeisiçãeJ ele) mineral é associaela a filmes de
A característica principal de superfícies cársticas
seJlução que escorrem sobre superfícies inclinadas, são é a sulJstituiçãci da rede de drenagem fluvial, ccJm
geradc)s espelcc)temas em fc)rma de crostas
seus vales e canais cJrganizados pclr bacias de elre-
carbonáticas, que crescem com a superposiçãcJ de
nagem centrípeta, que à primeira vista feJrmam um
finas lâminas ele carlJonato de cálcio, podendo ccJbrir
quadrei de drenagem ca(Jtico. Essas bacias condu-
zem a água superficial para sumidouros, que
ceinectam a superfície cc)m
a drenagem subterrânea
' Divisor topográfico (Fig. 7.17).
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condutos
Fraturas freáticos
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é ampliada com
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Rebaixamento do N.A. e
abatimento de blocos no
teto da caverna
O abatimento de blocos
atinge a superfície
antigo
nível d'água
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superfície da rocha (zona de cruzamentc) de fraturas). dolina a subsidência do terrenc) é lenta, enquanto no
Crescem em profundidade e diâmetro, conforme a segundo, é rápida, freqüentemente dando acesso a ca-
rocha e o material residual são levados pela água sub- vernas. Um dos processos que desengatilha o
terrânea (Pig. 7 .18). Do li nas de colapso (Fig. 7 .18) são abatimentc) de cavidades em profundidade é a perda
aquelas geradas a partir do colapso da superfície de- da sustentação que a água subterrânea exerce scJbre as
vidc) ao abatimento do teto de cavernas ou C)utras paredes e.lesses vazios, pelo rebaixamento do nível
cavidades cm prc)fundidade. No primeirc) tipo de freático e exposiçãc) das cavidades na zona vadosa.
()utra feição diagnós-
tica do carstc são eis
vales cegos com rios
que repentinamente desa-
parecem em sumidourcis
junto a anfiteatros rcicho- -·~-
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citam-se ainda os cones cársticos. Constituem
morros de vertentes fortemente inclinadas e pare-
des rochc)sas, representando morros testemunhos
que resistiram à dissciluçãci. São típicos de áreas
carbonáticas com relevo acidentadei. Distribuem-
se na forma de divisores de água ccintornando
bacias de drenagem centrípeta. Freqüe11lemente abri-
gam trechos de antigos sistemas de cavernas em
diferentes níveis (Pig. 7 .21).
Fig. 7.20 Afloramento calcário entalhado por caneluras de
dissolução (lapiás) na região da caverna do Padre, Tocantins.
Foto: Adriano Gambarini.
Fig. 7.21 (a) Cones cársticos, região do vale do rio Beta ri, lporanga, SP; (b) região de Pinar
dei Rio, Cuba. Fotos: Ivo Karmann.
Carste no Brasil
Cerca de 5 a 7°/ci do territóric) brasileiro é ocu- com dolinas de abatimento e vales cársticos. Mui-
pado por carste carbonático, constituindo um tas cavernas são conhecidas nessas áreas, incluindo
.
1mpc)rtante componente nas paisagens do Brasil. a mais extensa do País, como a Toca da Boa Vista
(municípic) de Campo Formc)SC), BA), uma caverna
A maior área de rc)chas carbonáticas
cc)m padrão labiríntico e cerca de 80 km de galeri-
corresponde aos Grupos Bambuí e Una, do
as mapeadas. Além de cavernas e vistosas paisagens,
Neoproterozóico. O primeirc) cc)bre porções do
abrigam também importantes aqüíferos, ainda pc)u-
noroeste de Minas Gerais, leste de Goiás, sudeste
Ct) explorados para abastecimento de água. Grande
de Tocantins e oeste da Bahia. O segundo ocorre
parte da região metropolitana de Belo Horizonte,
na região central da Bahia. Predominam calcários e
por exemplo, é abastecida com água subterrânea
dolomitos pouco deformados e drenagens de bai-
prc)veniente do carste.
xo gradiente, com relevos suaves e vastas depressões
N<>s l•'.stad<is de Sà<> \Jaul<i e \Jaraná, <>s terret1<JS grandes la,l!;<>S suh1crr,i11L·1 ,, .. \ti\ idades de e:,q1l<1ra-
cárstic<>s c<>ncentran1-se s<ilire calc:'trÍ<>s ç:1<> sul1al1u:1tica té·n1 rc\cL1dt> p:1ssagc11s cc>tTl 5() 111
rnetatn<>rfizad<JS e dc>l1racl<Js li<> ( ;ru11<> 1\çun,[!;UI, c<>tll de largura e pr<>fund1dadcs de ! .'ili tn, cvidcncian-
relev<l acillentall<> e Z<>nas ele carste p<>lig<>nal, dc>n1i- dc> cavernas en1 11r<>cess<> de sul1n1crsà<J LlcviLl<> ;1
nad<i 11<>r lJacias lle drcnagcn1 centrípeta e \'ÍSt<>S<>S sul1sidência tcct<'>nic:t lia rcL1;i:1<>.
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cc>ncs cárstic<>S. ( )s sistemas clc cavernas, atinginll< >até·
8km llc descnvc>lvin1c11t<>, caracteriza111-se fl<>r aliri,l!;ar
<>s rnaic>res llesníveis su\Jtcrráne<>S cl<> 11aís, C<>lll<l as Leituras recomendadas
cavernas c:asa de \Jcdra, c<H11 .)5() 111, e <l 1\lJisn1<> d<>
l;f~I'f()SJ\, 1;: t\. (:. e 1\1;\N()l~I, I;<>., J. (cc>c>rcl.)
Ju,•cnal, C<>tn 250 111, lcJcalizadas nci alt<> vale cl<> riti
f-fidro,_2,eoloJ',ia - conceitos e aplicafÕes. f;c>rtaleza:
Ri!Jeira, sul de Sàc> Paul<>.
CIJRi\1 e l.1\Bflll)-Uf 'l)li, 1997.
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1 40 D ECI FRA N D O A TERRA
abitamos a superfície da Terra e dependemos, Terra. Os produtos dei intemperismo, rocha alterada
para viver, dos materiais disponíveis. F<:stes, em e solo, estão sujeitos ae)s outros processos do ciclo
sua maior parte, são produto das transformaçe)es que supérgeno - ercJsão, transporte, sedimentação - os
a crosta terrestre sofre na interação com a atmcisfera, c1uais acabam levando à denudação continental, com
a hidrosfera e a biosfera, ou seja, são produtcis do o ce)nseqüente aplainamente) do rele,·o.
intemperismo. Constituem a base de importantes ati-
Os fateires que controlam a ação dei intemperismo
vidades humanas, relacionadas, por exemplei, ao cultivo
sãe) ci clima, que se expressa na variação sazonal da
do solo e ao aproveitamento dos depósitos minerais
temperatura e na distribuição das chuvas, o relevo, que
na construçãe) civil e na indústria. A exploraçãe) sus-
influi ne) regime ele infiltração e drenagem das águas
tentável desses recursos depende dei conhecimento de
pluviais, a fauna e flora, que fornecem matéria orgâni-
sua natureza e da compreensão de sua gênese, o que
ca para reações químicas e remobilizam materiais, a
constitui o objetivo principal deste capítulo.
rocha parental, que, segundo sua natureza, apresenta
O intemperismo é o conjunto de modificações de resistência diferenciada acis processos de alteração
ordem física (desagregação) e química (deceimposi- intempérica e, finalmente, o tempo de exposiçãcJ da
çãc)) que as rochas sofrem ao aflorar na superfície da rocha aos agentes intempéricos.
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Fig. 8.1 Perfil de alteração ou perfil de solo típico, constituído, da base para o topo, pela rocha inalterada, saprolito e solum. O
solum compreende os horizontes afetados pela pedogênese (O, A, E e B). O solo compreende o saprolito (C) e oso/um.
C - Horizonte de rocha alterada (saprolito). Pode ser subdividido em saprolito grosseiro (parte inferior, onde as estruturas e 'exturas
da rocha estão conservadas) e saprolito fino (parte superior, onde a herança morfológica da rocha não é mais reconhecida).
B- Horizonte de acumulação de argila, matéria orgânica e oxi-hidróxidos de ferro e de alumínio.
E- Horizonte mais claro, marcado pela remoção de partículas argilosas, matéria orgânica e oxi-hidróxidos de ferro e de alumínio
A- Horizonte escuro, com matéria mineral e orgânica e alta atividade biológica .
O - Horizonte rico em restos orgânicos em vias de decomposição.
A pedogênese (fclrmação do S()lc)) ocorre q1.1an- predcJn1inantes de atuação, são normaln1ente classifi-
clo as mcidificações causae_las nas rochas pelrJ cadcis e1n intemperismo físico e intemperismo
it1temperismo, além de serem e_1uímicas e mineralógicas, químico. Quando a açã(> (física c)u bioqt1ímica) de
tornan1-se sc)bretudo estruturais, co1n importante re- organismcJs vivos cJu da 1natéria orgânica proveniente
<)rgaoizaçãc) e transferência dos minerais formadcircs de sua decomposição participa do processo, o
de) Scllci - principalmente argílominerais e oxi- intemperismcl é chan1ado de físico-l1iolc'>gico ou guí-
hidróxidc)s de ferro e de alumínicJ - entre os níveis n1i cc>-bicilé>gico.
superiores do manto de alteração. Aí dcsen1penham
papel fundan1ental a tàuna e a tlcJra do scilo que, ao
8.1.1 Intemperismo físico
realizarem suas funções vitais, modificam e movin1en-
tam enclttnes quanticlac!es de material, rr1antendcl o 'fc>d<is <>S prc>cessos que causam desagregação das
solo aerado e renovado em sua parte mais superficial. rcJchas, com separação dos grãos minerais antes ccle-
sos e cc>m sua fragme11tação, transformandc> a rc>cha
O intemperisn1cl e a pedogênesc levatn à forma-
inalterada em n1aterial desctJntinuci e friável, constitu-
ção de um perftl de alteração ci1.1 perfil de solo. ()
e111 o inten1peris111c> físico.
perfil é estruturad<J verticalmente, a partir (1a rocl1a
fresca, na base, sobre a qual formam-se o saprolito e 1\s variações de ten1peratura ao lcJngcl dos dias e
o t,olt1m, que constituem, juntos, cl manto de altera- nc)Ítes e ao !cinge> das Lliferentes estações do ano cau-
ção ou regolito (Fig. 8.1 ). C)s materiais do perfil vãcJ sam expar1são e contração térmica n()S tnateriais
se tcirnando tanto mais diferenciados com relação à rochosos, leva11do à fragmentaçã(l dos grãos mine-
rocha parental em ter1ncls de ccimposiçãcl, estruturas rais. 1\lém disse>, os minerais, com diferentes coeficientes
e texturas, quanto mais afastaclcls se encclntram dela. <le dilataçãc> tér111ica, cc)mpc>rtam-se de forma dife-
Sendo clependentcs do clima e do relevo, o renciada às variações de temperatura, o que provoca
intemperís1no e a pedogênese (JCcJrrem de maneira deslocamentcJ relativo entre os cristais, rompendo a
c1istinta 110s cliferentes cc>111partimentos 111c)rftJ-climá- coesà<J inicial entre els grãcJs. f\ mudança cíclica ele
ticc)s do glc>btJ, levand(> à fc>rmação de perfis de umidade também pode causar expansã<J e ccJ11tração
. ~ . ~ ~ .
alteração con1pcistos de hc>rizontes de diferente es- e, ern assoc1açaci com a var1açac> tern11ca, prc)voca um
pessura e c<)mpos1çao. efetiv<l enfraciuecimentci e fragmentaçãc) das rochas.
f~ste mecanismci é especialmente eficiente nos deser-
t<)s, oncie a diferença de temperatura entre e> clia e a
8.1 Tipos de Intemperismo
noite é muitc> marcada.
()s prc)cesscJs inten1péricos atuam através de me- () c<>ngelarnentcl ela água nas fissuras das r<lchas,
canis1ncis mcJditicadores das propriedades físicas dos acompanhaci<> por um au1nento de vc>lume de cerca
tnmerais e rochas (morfo!cJgia, resistência, textura, etc.), de 9ºÁ,, exerce pressão nas paredes, causa11dcJ esforçc>s
e de suas características quí1nicas (c<>mpcJsiçã<J quími- que terminam pcir aumentar a rede de fraturas e frag-
ca e estrutura cristalina). E1n função dos n1ecanismos mentar a rocha (Fígs. 8.2 e 8.3).
J J J J
J
J chuva J
J J
J J J J
J J J
J J J
a b
Fig. 8.2 Fragmentação por ação do gelo. A água líquida ocupa as fissuras da rocha (a), sendo posteriormen-
te congelada, expandindo e exercendo pressão nas paredes (b).
142 D EC I F RA N DO A TERRA
F,ste tipo de intemperismo físico é um dos princi- pelas soluções percolantes provenientes das chuvas.
pais pr<iblemas que afetam os m<)nl1mentos. C)s sais Há, atualmente, uma grancle precicupação em preser-
mais comuns que se precipitam nas fissuras das rochas var e restaurar m<inument<JS históricos e, por essa razã<),
são cloretos, sulfateis e carbonatc)s originados da prc)- esses pr<Jcessos intempéricos vêm sendo intensamen-
pria alteração intempérica ela rocha, que são disscilvidos te investigad<is.
Juntas
•
de alívio
Soerguimento da região
2
- Superfície especifica 6 m
"' 50
o
~
7 rr,
fü -10
E
8'
~
30
u..
10
20
6 9 12 15 18 21 24
R.uptura ao
longo de Superfície específica total ( m")
fraturas
- 8 fragmentos, cada um
com aproximadamente
0,5 m de lado
3 3
- Volume = ( 0,5 ) x 8 = l m
3
· Superfície específica 12 m
.-"•-·
•
·1,,·;i. ...
Fig. 8.6 A fragmentação de um bloco de rocha é acompanhada por um aumento significativo da superfície exposta à
ação dos agentes intempéricos. Neste exemplo, um bloco de rocha aproximadamente cúbico, de 1 m de lado, apresenta
uma área exposta de 6m 2 ; quando dividido em oito volumes cúbicos de 0,5m de lado, passa a apresentar superfície
exposta de 12m 2 • O gráfico mostra que a superfície específica aumenta geometricamente com o aumento do número de
fragmentos em que é dividido o bloco.
144 D EeI FRA N oo A TERRA
As equações abaixe) representam eis equihbric)s de as micas mais c)u menos transformadas, eis argilominerais
H 2() com C() 2 : e-lo grupo da caulinita e da esmectita e os c)xi-hidróxidos
ele ferro e alumínio. Cc)mplementarmente à geração
C~C)2 + HzC) ➔ H2CC)1
de) manto de alteraçãc), é produzida uma fase líquida
HZCC), ➔ H~ + HC:CJ, cclmposta de sc)luções aquosas ricas nc)s elementos mais
solúveis nas condições reinantes na superfície da Ter-
HCC) -➔ H+
1 + CC)12- ra, tais como o sóelio, o cálcio, o potássio e o magnésio
C~uancio a degraciaçãci da matéria c)rgânica não é e, em menor grau, cJ silício.
ccimpleta, vários tipos ele áciclc)s orgânicos são fcJr- 1":m perícidos de estabilidade tectônica, quando os
mados e incorpcJrados às águas percolantes, tornane-lo-as continentes estão recobertos pc)r vegetação, essas so-
muitcJ ácielas e, consec1üentemente, aumentanelo seu luções sãci lentamente drenadas do perfil de alteração,
pc)der de atae1ue cm relação aos minerais, intensifican- indcJ depositar-se nos compartimentos rebaixados das
clcJ assim o intemperismci químico. paisagens, entre os quais os mais importantes são as
()s ccJnstituintes mais sc)lúveis elas rcichas bacias de sedimentação marinhas. Assim, enquanto e)
intemperi%aelas sãcJ transportadcJs pelas águas que dre- ccintinente sofre principalmente erc)são química, que
nam e) perfil de alteração (fase solúvel). Em leva aci rebaixamento de sua superfíce, nas bacias
conseqüência, o material que resta nci perfil de altera- sedimentares precipitam-se essencialmente sedimentos
ção (fase residual) torna-se progressivamente químicos, que darão origem às rochas sedimentares
enrie1uecido nos ccinstituintes menos solúveis. f~sses químicas, tais comoº" calcários, cherts e evaporitcJs (ver
constituintes estãc) nos minerais primários residu- Cap. 14).
. . ~. ,. . .
ais, que resistiram a açacJ 1ntemper1ca, e nos m1nera1s Mudanças climáticas e fentimenos tectôniccis po-
secundários que se fc)rmaram no perfil. Dentre c)s dem colcicar em desequilíbrio ci mantcJ de alteraçãc)
principais minerais residuais, o mais comum é o quartzc). dcJs ccJntinentes, removendc) a vegetacão e tornando-
()s minerais secundários sãci chamadcJs de º mais vulnerável à erosãc) mecânica. Dessa forma, os
neoformados quandci resultam da precipitaçãci de minerais primáricis e secundários formados no perfil
substâncias elissolvielas nas águas e1ue percc)lam CJ per- serãc) carregados pelas águas e depositados nas bacias
fil, ccimo é C) casei, peJr exemplo, deis oxi-hielrc'ixielos ele sedimentação. Essa etapa do aplainamento deis con-
de ferre) e de alumínio. QL1anelo se feirmam pela tinentes dciminaela pela remoçãci mecânica dc)S materiais
interação entre as soluções de percc)lação e eis mine- de) mantci de alteração está relacionada à geração das
rais primáric)s, mc)elificando sua compcJsição química, rcJchas sedimentares elásticas, tais como os arenitos,
porém preservandci pelcJ menc)s parcialmente sua es- fc>lhelhos e argilitc)s (ver Cap. 14).
trutura, sãc) chamaelos de minerais secundários
1\mbientes de intemperismcJ e ambientes de sedi-
transformados. A transfcirmaçãc) ocorre essencial-
men taçãc) podem ser vistcJs, portantcJ, como
mente entre os filcJssilicatc)s, ccJmo no cascJ elas micas
complementares, sendo dominantes nos primeiros os
(fileissilicatcJ primário) alteraclas em illitas c)u
processos de subtraçãci de matéria e, nos últimcJs, os
vermiculitas (filc)ssilicatcis secundários).
prcicessos ele adição ele matéria.
co2
Hidratação co,
Molécula de água
- +
-
+
( H20) -
Fig. 8.7 As cargas elétricas insaturadas na superfície dos
grãos minerais atraem as moléculas de água, que funcio-
nam como dipolos devido à sua morfologia.
que se recombinam em
caulinita neoformada; os
Dissolução íons hidrogênio são retidos
na água do argilomineral.
1\lguns minerais estão su1e1tos à dissolução, l)Ue
,
consiste na S<)lubilizaçãci completa. E o casei, por exem-
Sílica, íons potássio (K')
plo, da calcita e da halita, que entram em scilução
e bicarbonato (HC0 3) são
conforme as equaç<)es abaixo:
lixiviados em direção aos rios.
o 2 4 6 8 10 l2
pH
Fig. 8.1 O Solubilidade da sílica e do alumínio em função do
pH, a 25"(. Até valores de pH de cerca de 8, a sílica é pouco
solúvel; sua solubilidade aumenta em meios mais alcalinos. O
alumínio é praticamente insolúvel no intervalo de pH dosam-
bientes normais na superfície (4,5 a 9,5); en1 meios muito
ácidos ou muito alcalinos, é solubilizado como AI'' e AI02·,
respectivamente.
Nc> caS() de hielrc>lisc t(ltal, alc'tll e!() alumínicl, tam- ;\l,guns elemcnt<JS p<leiem estar presentes n<JS mt-
llét11 <> fcrr<> rler111anecc 11<> \'1erfil, já e1uc esses elc>is ncrais e111 n1ais c.lc u111 estadc> ele c>xiclaçãci, ccimc>, p<lr
clc111ente>s tê111 C<>t11pc>rtan1cnt<> gecJquímicci tnuit<J excn1plcl, ci ferrei, que se cnc<>ntra ncls minerais ferr<J-
se111clhante n<i d<imínici hielre>líticc>. ;\e> prclccsse> de n1agncsiancis primáricis c<imc> a bic>tita, anfib<'llicis,
elin1inaçà<> t<ital ela sílica e fiirtnaçàel de <lxi-hiclrc>xidcis pircJxênicis e <Jli,,inas sc>IJ fc>rma de fc 21 . Jj\,craei<i cm
de alumínici e ele ferrc> elá-sc <> ncin1e de alitização <>u scJluçà<>, <>xiela-se a J-,'c 1 +, e precipita C<JtTicJ um n<>V<J
ferralitização. n1i11eral, a g<>cthita, c.1uc é t1111 <'>xid<J de ferro hiclratadcJ
(1-'ig.8.11):
Nci cas<> ele hidrc'ilisc parcial, há a fclrmaçà<J ele
silicatc>s de alumíni<>, e <> prc>cessc> é gcnerican1ente
elcnci111inad<i sialitização. (Juanelc> sà<J clriginael<is
argilclmincrais ele> tipci ela caulinita, e111 e1ue a rela- ;\ gc>ethita p<lele transf<Jrmar-sc c111 hematita p<ir
c.lcsic-1 ra taçàc>:
çà<J de át<>m<>s Si:1\l é 1:1 (uni át<imc> e-le silíci<i para
uni ele alumíni<i na mc>lécula), fala-se ele
monossialitização. Nc> cas<> ele sere111 f<JrmadcJs
argil<Jtninerais ele> tip<l csmcctita, cn1 que a relaçà<>
Si:;\] é 2:1 (el<lis átclm<>s ele silícicJ 11ara uni ele alu-
míni<> na mc>lécula), <> prcJcess<> é a bissialitização.
Acidólise
() Fe 3+ não entra na estrutura da maic)r parte dos 8.4 Distribuição dos Processos de
argilominerais. Apenas em certas esmectitas
(nontronitas) pc>de ser encontrado substituindo ei Ali+_
Alteração na Superfície da Terra
Mais raramente, em quantidade muito pequena, pode A distribuição potencial dos processos de altera-
sulJstituir o Ali+ nas caulinitas. De meide) geral, ne> çãc) na superfície da Terra na escala do planeta, em
domínie) da hidrc>lise teital e)u da hidrólise que leva à função de)s parâmetros climáticos atuais, está repre-
mone)ssialitizaçãe), o ferro é individualizade) cm óxi- sentada na Fig. 8.14. Esse esquema distingue
dos e oxi-hielróxide)s (hematita e geiethita, basicamente dois domínie)s:
principalmente). F,sses minerais ce)nfercm às ceJbertu-
ras intempéricas tons de castanho, vermelho, laranja e • Regiões sem alteraçãe> química, correspondendo
amarele>, tão comL1ns nos sc>leJs das Ze)nas tropicais. a 14°/ti da superfície de>s continentes;
Genericamente, dá-se o nome ele lateritas às for- • Regiões com alteração química, correspc)ndcndo
mações superficiais constituídas pe)r e)xi-hidróxielos de a 86% da superfície dos ce>ntincntes.
alumínio e ele ferre) e por caulinita. Ao conjunte> de As regiões sem alteração química são aquelas ca-
, . . ~ . .
processos respe)nsavets por essas asse>c1açc)es m1nera1s, racterizadas por uma carência total de água ne) estado
respectivamente, alitização e monossialitizaçãe), dá-se líquidc), e> que pode resultar de duas situações:
o ne)me de laterização.
a) as temperaturas reinantes são inferiores a O'C,
Todas as reações do intemperismo químico acon- d.e tal sorte que a ág.1a se encontra sempre no estadc)
tecem nas descc)ntinuidades das rc)chas, pe>clenclo sólidc): são as Zc)nas polares;
resultar no fenômeno denominado esfoliação
b) o meio é caracterizado por uma secura extrema
esferoidal. As arestas e os vértices dc)s blocos rc)cho-
devido à ausência de chuva, eiu por forte evapciração:
sos são mais exposte)s ao ataque elo intemperismo
são c)s deserte)s verdadeiros, ce)me) e> Saara, o Atacama
químico que as faces, o que resulta na formaçãc) ele
e e> Gobi.
blocos ele formas arrcdondaelas a partir de formas
angulcJsas (Figs. 8.12 e 8.13).
., r•
' ' i '"' '
Ataque ern
• Ataque ern
dois lodos . uni lodo
Progressivo redução
do cubo er11 esfera
As regiões com alteração química correspondem plex<Js cirgâniccis capazes de fazer <J alu1nínicJ migrar
ao restei dei globo e são caracteri'.i'.adas, ao mesmci pcJr acic.l(ilise tcital. ()s scilcis resultantes sãcJ scil<)S
tempo, pcir uma certa umidade e pela existência de pcidzc'iliccis, riccis em c.1uartzcJ e em 111atéria cirgânica.
cobertura vegetal mais <)U menos desenvolvida. Trata- 1\ Z<Jna e.la acid<'>lise total c<Jrrespcinde à Z<Jna
se de um domínio heterogêneo, que é subdivididci em circump<Jlar cio hemisféric) ncirte.
quatro zonas de distribuição grosseiramente latitudinal,
• ZcJna da alitizaçào (13,5°/o da superfície continental)
em função de suas características climáticas:
CcJrrespcinde às regic)es de> domínicJ tropical, ca-
• Zona da acidólise total (16°/o e.la superfície continental)
racterizadas por precipitaçà<J abunc-lante, st1peric1r a
São as zonas frias do globo, oncle a vegetaçãci é 1.50() mm, e vegetaçã<J exuberante. 1\ associaçã<J mi-
composta principalmente pcir líquens e cciníferas, cujos neral característica é de cixi-hidróxic.icJs ele ferre> e de
resíducis se degradam lentamente, fornecenc1o ccim- alumínici, gcJethita e gibbsita, respectivamente.
o
o o
ó
= ó
2 o
Oº 7
2
3
2 o
5
o
D
7
750° 120º 90º 60º 30º 30º 60º 90º 720° 150º 780º
l Zona da alitização
Sem alteração química
2 Zona da monossialitização (aridez e gelo)
3 Zona da bissialitização
4 Zonas muito áridas, sem alte-
- , .
raçao qu1m1ca
Acid6lise total Monossialitização
5 Zona da acidólise total
6 Zonas cobertas por gelo
7 Extensão aproximada das áre-
39%
as tectonicamente ativas (TA),
nas quais os tipos de
intemperismo encontram-se Bissialitização
modificados
·~"l· ,.
se formam as esmectitas alumineJsas.
8.5 Fatores que Controlam a Fig. 8.15 Rochas diferentes expostas na mesma época
Alteração Intempérica (década de 1960), apresentando diferentes graus de alte-
ração. A escultura, em mármore, encontra-se bastante
Várias características deJ ambiente cm que se prcJ- alterada, enquanto o túmulo, em granito, está bem melhor
cessa o intemperismo influem diretamente nas reaçe:íes preservado. Foto: M. C. M. de Toledo.
Hidróxidos de alumínio
(gibbsita) ,
Ultimo a cristalizar
Quartzo
Quartzo
Argilominerais
Muscovita
Muscovita
Ortoclósio
Albita
Ortoclósio
Biotita
Biotita
AI bita
Anfibólios
Piroxênios Anfibólio
Anortita Piroxênio
Olivina Anortita
Calcita Olivina
Halita
Primeiro a cristalizar
Como conseqüência dessa diferenciação de com- água, ocorre hidratação pela atração entre os dipolos
portamento dos minerais frente ao intemperismo, da água e as cargas superficiais (Fig. 8.7), podendo
os perfis de alteração serão naturalmente enrique- esta atração ser forte o suficiente para ionizar a água.
cidos nos minerais mais resistentes, como o quartzo, Os íons H+ assim gerados substituem os cátions
e empobrecidos ou mesmo desprovidos dos mi- · nas superfícies dos grãos minerais, o que resulta no
nerais mais alteráveis, como a olivina. aumento do pH da fase líquida. Assim, a presença
de minerais portadores de elementos alcalinos e al-
A composição mineralé)gica da rocha em vias
calino-terrosos possibilita a instalação de um pH
de alteração modifica o pH das soluções percolantes
mais alcalino nas águas que os percolam, enquanto
em função das reações químicas que ocorrem.
minerais sem estes elementos geram condições de
Embora a carga elétrica global das estruturas mi-
pH mais ácidas.
nerais deva ser nula, a superfície dos grãos pode
conter valências insaturadas. Em contato com a
152 D EeI FRA N oo A TERRA
Uma idéia liesta cliferença é dada pela escala de A textura da rocha original influencia o intemperismo,
pH de abrasão (Tabela 8.2). O pH de abrasào é de- na medida cm que permite maior ou menor inftltraçào
terminado experimentalmente através da medida d<i da água. Entre cis materiais sedimentares, os arenosos
pH d.a suspcnsàc) formada plir água destilada e áciclli tendem a ser mais permeá,·eis que os argilosos. C:c)nsi-
carbtinic<i cm ccintato, durante um certo tempci, ccim derando <JLttros tip<lS de r<ichas, aquelas cc)m arranjei mais
a fase mineral pura moída. Na natureza, onde rara- compactei e texturas mais greJssas (menor superfície es-
mente as rochas sàci monominerálicas, eis valcJres lie pecífi.ca dos gràcJs) alteran1-se menos rapidamente que
pH resultantes do cc)ntato e1elas com as águas sào a as menos compactas e de texturas mais finas. Outras
média peinderada d<is valores relativ<JS às fases mine- clescontinuidadcs, ceJmo juntas e diáclases, também faci-
rais presentes. (_) pH e1epende também do tcmp<l ele litam a percolaçà<i elas águas e, portanto, a alteração. E
,
contato das S<)luçõcs com os gràcJs minerais e pelcle nesse sentid<) que <J intemperismc) físicci, com seu efeito
variar dentro do perfil, de acordo com cJs minerais l1esagregadcir do material original, contribui para acele-
presentes. 1\ b<ia circulaçào das S<)luç<>CS no perfi.l le\·a . . ~
diopsídio CaMg(SiOa)2 10 - 11
olivina (MgFe) 2Si0 4 1O - 11
hornblenda (CaN a) 2(M gF eA 1}s(AISi) 8 0:i 2(0H )2 10
leucita KAISi 20s 10
CI) ai bita NaAISi30a 9 - 10
-o
CIS
u
biotita K(Mg Fe)3(Al)Si3Ü1o(OH)2 8 - 9
·-
-c.n
·-
microclínio KAISi 30a 8 - 9
anortita CaAl2Si20a 8
hiperstênio (MgFe)2Si20s 8
muscovita KAl2(Al)Si 301o(OH) 2 7 - 8
ortoclásio KAISi30a 8
montmorillonita AbSi401o(OH) 2.nH 20 6 - 7
caulinita AbSi20s(OH)4 5 - 7
li)
o gibbsita Al(OH) 3 6 - 7
·-
"C
,o
)(
quartzo
Hematita
Si02 6 - 7
Fe.zOa 6
i'.:;\:<
'' ':,: .'· "'""'
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. ·-::, \· ·.
. .. .· ;v
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G, . •
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.· ·.• :. ê,~~tei ifü;#,ginJJa :::r .;::•t '·
·····.•. <J :.· ,;. ,•···.
intemperizadas e, assim, mais preservadas da erosãci, que J\ velocidade da alteração de um mesmcJ tipo de
as rochas sedimentares sobre e subjacentes. O resultadc> n1aterial pode mcJdificar-se com o tempo. Por exem-
é eJ relevo em forma de ruestas. plei, um derrame vulcânico recém-formado apresentará,
nci início de sua exposição aos agentes intempéricos,
uma alteração mais lenta, de,·ido à limitacla infiltraçãeJ
das águas. Com o desen,TcJl,·imentc> de material
intemperizado na st1perfície do derrame, ha,,erá pre)-
gressi,,amente condiçe1es para que as águas se infiltrem
cada ,,ez mais e permaneçam mais tempo em contate)
ccim eis materiais ainda inalterados, promcJvendcJ as re-
ações químicas de forma mais eficiente que no início.
Clima
() clima é ci fateJr qt1e, iscJladamente, mais influen-
Fig. 8.16 O intemperismo, desagregando e decompondo os
cia ncJ intcmperismo (Fig. 8.17). i\fais deJ que qualquer
rochas, preparo o material poro o erosão. Assim, rochas me- outreJ fator, determina o tipcl e a ,Telcicidade do
nos intemperizodos serão menos afetados pelo erosão. No intemperismo numa dada região. C)s dciis mais im-
fotografia, observo-se que o erosão incidiu mais fortemente no portantes parâmetros climáticeis, precipitaçãcJ e
rocha inferior, mais afetada pelo intemperismo. Fonte: Plummer, temperatura, regulam a natureza e a velocidade das
C. & D. McGeary, com permissão da .McGrow Hill Companies. reações químicas. 1\ssim, a quantidade de água dispo-
Físico moderado
-
u . ]o '
-
o
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200 150 100 50 f 20º ,., ·· \ · · \ ···· , < ' ··'''''''' f \11
;.._ - - - - - - - - .._- - - - - - - - - - - - - - -··t8'- - - - - - - - - -
' , \
_).. __ ;,.. - - - - - - - -
\
-+- --- -t"'~:!
/ t
\
Pluviosidade anual (cm)
\
1
\
Fig. 8.17 O papel do clima é preponderante no determinação '
ail7encano.
1 54 D EC I FRA N D O A T ERRA
químicas aumenta de duas a três vezes. elevada (bissialitização), caulinita para pluviosidade média
(monossialitização) e oxi-hidróxidos para pluviosidade mais alta
A Fig. 8.19 mostra o efeitci combinado da precipita- (alitização e ferralitização).
çãci, temperatura e vegetação sobre o desenvolvimento
-o e:
Tundra Zona de Estepe Deserto e
semi-deserto
Savana Floresta tropical Savana
e padzolização <l\ec.ipitoçõ0
'-.
-o
E 2700
E
. •.
')
\h
-
'ºg' 1500 íemperaturq
'JI, ..,
••-,,_
-e
....
o
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25 :,
15
-e
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e o..
>
w 300 s E
'-. ~
o
'ºU'>
E
o..
u
~
a..
Zona do Alitizocão
.. Zona do Bissiolitização Rocha inalterado
Fig. 8.19 O tipo e a intensidade do intemperismo podem ser relacionados com a temperatura, pluviosidade e vegetação. O
intemperismo químico é mais pronunciado nos trópicos, onde temperatura e pluviosidade são maiores. Ao contrário, nas regiões
polares e nos desertos, o intemperismo é mínimo.
do perfil de alteração. O intemperismo é mais pronun-
ciado nos trópicos, onde a alteração é intensa, afetando
todos c)s minerais alteráveis ac) mesmo tempo, que de-
saparecem rapidamente, dando lugar a produtos
secundários neoformados. Em geral, os minerais pri-
mários estão ausentes, com exceção daqueles mais
resistentes como, pc)r exemplo, o quartzo e a muscovita.
Os perfis apresentam grande espessura de saprolito e
de solum.
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,,dffl~r~,:c!J[~,,~
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1ltfflfiPll~ld)
smlPiifW~r ·- . . rffl91!~,lfR~
,~rrfflltl!Jrm~f!Rffl'lffll~,ifl~~ .
~
~~.rfR~~~
dm~rffl.lN#rÍilr9~ ·
~ld)
~ ·-
~--
A classificação é imp<)rtante e essencial para a car- ção deis solos tropicais. que pode levá-los à destruição, é
t<igrafia do sc)lo, pois permite estabelecer correlações um d<)s mais importantes problemas ambientais que a
entre solos encontrados em diferentes regiões dei glo- humanidade terá de enfrentar neste século.
bo. No mapa de solos do continente american<i (Fig.
8.23), traçado ccJm base na classificação norte-ameri- Solos brasileiros
cana, fica evidente que a distribuição dos s<ilos é zonal,
em função da latitude e da altitude, estando relaciona- O Brasil situa-se quase que inteiramente no domí-
da, portanto, ao clima e à vegetação. nio tropical úmidc) (excetci a região Sul e o Nordeste
semi-árido). Esta situaçãc), aliada à estabilidade estru-
Solos Tropicais tural de seu embasamento, qt1e desde o final de)
Cretáceo nãcJ sofreu movimentaçc'ies de grande por-
Nas regiões tropicais, como é o caso do Brasil, te, leva à predominância de uma ccibertura pedológica
cada tipo de solo pcJssui propriedacles físicas, quí- que reflete, de maneira acentuacla, cJ fator climático
micas e morfológicas específicas, mas seu conjunto como preponderante na sua f<Jrmação. Nessa escala
apresenta um certo número de atributos ccimuns de análise, rocha <Jriginal e condições topcigráficas lo-
como, pcir exemplo, comp<)sição mineralógica sim- cais têm importância secundária.
ples (quartzcJ, caulinita, oxi-hidróxidos de ferr<> e de
C)s sol<Js brasileiros sãc) bem estudados, existindo
alumínio), grande espessura e hcirizontes ccim cores
um serviço cartográficcJ da f~MBRAPA (1-<'.mpresa
dominantementc amarelas <)U vermelhas (Fig. 8.24).
• Brasileira de Pesquisa Agropecuária) qt1e vem reali-
Em função deis processos genéticos e elo lcingo zando, desde a década de 1960, levantamentos
tempo env<ilvido na sua formação, eis sol<)S tr<ipicais cartográfice)s sistemáticos deJ território brasileiro. Es-
são geralmente empobrecidos quimicamente, come> ses trabalhos permitiram o desenvolvimentei de t1ma
reflexo de uma composição dominada por minerais classificação própria, publicada em 1999, subdividin-
desprovidos deis elementos mais solúveis. São sc)los dcJ os solos em classes, com seis diferentes níveis
de mais baixa fertilidade, quando comparad<Js cc)m hierárquiccis. () primeiro nível comporta 14 classes,
<JS S<Jlos de clima temperado, ricos em argilominerais identificadas por características expostas na Tabela 8.3.
capazes de reter os elementos químicc)s nccessári<is aci
N <J Brasil, eis latosseilos sãc), de longe, os solos
metabolismo vegetal.
mais importantes do pe)nto de vista da representa-
C)s solos tropicais representam ecossistemas frágeis, ção geográfica. Eles ocorrem cm praticamente todas
extremamente vulneráveis às ações antrópicas, e que so- as regiões bic)climáticas do País, sobre diferentes
frem de forma acentuada os efeitos de uma utilizaçã<) que tipos de rochas. Comei pode ser visto na Fig. 8.23,
se dá por técnicas de manejo não adequadas. A degrada- outros tipos de solos occ)rrem em função de pecu-
liaridades das condições de formação
e evoluçãcJ pedológica, comei o cli-
ma semi-árid<J do Nordeste brasileiro,
que c<indicicina a formação de
vertissolos e entissolos, segundo a
"Soil Taxc)nomy", já mencionada.
Argissolo
• nessa zona climática, encontra-se a quase totali- ras, uso de agroquímicos e exploração mineral sãc1 ativi-
dade dos países em desen,,olvimentc), cuja econc)mia c1ades que, se não forem bem conduzidas, através de
depende da explc)raçà<) de seus recursos naturais, es- técnicas desenvcJl,,idas cc)m criteriosa base científica, po-
pecialmente agrícc)las; dem levar à erosão e à C<lntaminação dc)S solos.
• os prc)cessos que le,-am à formação dos solos Pcir ser um recurso finito e não renová,,el, pc)den-
podem, na zona intertr<)pical, le,,ar também à f<Jrma- dcl le,·ar milhares de anos para tc)rnar-se terra prc)clutiva,
çã<) de importantes recursos minerais. o scJl<l, uma vez destruídc), na escala de tempo de al-
gumas gerações, desaparece para sempre. De acordo
Entretanto, os solos dessas regiões são, em geral, de-
com estimativas recentes, as várias formas de degracla-
senvolvidos em áreas tectc)nicamente estáveis e sobre
ção c1cJs solos têm levadc) a perdas de 5 a 7 milhões de
superfícies de aplainamento esculpidas a partir do final
hectares de terras culti,,á,,eis pc)r ano. Para compensar
do l'viesozóico. São, portanto, solos velhos, frágeis, em-
essas perdas, seria necessária a dispc)nibilização dessa
pobrecidos quimicamente e que se encontram em
mesma superfície a cada ano para fins de culti,·o, e)
contínua evc)luçãc). Existem em situaçàc) de equilíbrio
que é cada vez mais difícil.
precário, de tal forma que os impactos provocadc)s por
causas naturais ou por ati,,idades antrópicas podem A perda dc)s solos e o crescimento demogrático,
desestabilizar o sistema. Desmatamento, culti,,o de ter- lJue gera grandes pressc''>es para a produção de maior
162 0 EC I F RA N D O A T ERRA
quantidade de aliment<)S, têm resultado nc) Em algumas situações, ocorre um processo mis-
c-lesmatamento de áreas florestadas para expansão das to, pelo qual o mineral primário portador do
áreas agriculturáveis. Essa é uma solução ilusória, pois elemento de interesse permanece inalterado no que
<)S solos das florestas representam sistemas muito frá- diz respeito a seu arcabouço essencial, mas sofre
geis, que acabam send<) destruídos com <) transformações que podem melhorar ou piorar sua
desmatamento. Na Amazônia, por exemplc), a taxa qualidade como mineral de minério. Um bom
anual de desmatamento para fins agrícolas está em exemplo dessa situação são os depósitos lateríticos
torno de 1,3 milhões de hectares, e não tem resolvidc) de nióbio, onde o pirocloro do manto laterítico
satisfatoriamente o problema. O uso adequado dos não é mais o Ca-pirocloro da rocha parental, mas
solos já existentes, prevenindo-se sua destruição, é a sim o Ba-pirocloro transformado pelo
melhor soluçãc). Além disso, solos de outros ambien- . .
1ntemper1smo.
tes, come) o cerrado, com a aplicação de formas
adequadas de irrigação, poderiam contribuir de for- No caso de alguns depósitos lateríticos, como
ma mais concreta e permanente para o aument<) da os de ouro, o minério é formadeJ pela atuação
prc)dução ele alimente)s. conjunta dos dois processos: o mineral de miné-
ri<) é uma mistura de partículas de ouro primário
Para prc)teger os recursos de) solo, está disponível
mais ou menos preservadas da alteração e de par-
hc)je um C<)njunto de técnicas de manejo que incluem a
tículas de ouro secundário precipitado a partir de
identificação e mapeament<) dc)s solos vulneráveis, a sc)luções.
implementaçã<) de soluç<">es alternativas à forte depen-
dência de agroquímic<)S e, finalmente, o reflorestamento. Como conseqüência de seu modo de forma-
ção, por processeJs de acumulação relativa e/ ou
absoluta de elementos no perfil de alteração, em
8.6.2 Depósitos lateríticos
ambiente de abundância de água e de oxigênieJ, as
()s processos genéticos que atuam na formação jazidas lateríticas apresentam algumas característi-
de um depósito laterític<) classificam-se em 2 grup<)S: cas comuns. Ocorrem sempre na superfície da terra
ou prc1ximo dela, sob forma de bolsões ou man-
• Preservação do mineral primário de interesse e
tos, o que permite a lavra a céu aberto. No caseJ de
sua concentração por acumulaçãe) relativa devida à
elementos que admitem mais de um número de
perc-la de matéria do perfil durante a alteração. Nesse eJxidação, estes se encontram com seus números de
caso, o mineral portador do elemento de interesse
oxidaçãe) mais altos. De modo geral, os depósitc)s
econômicc) é relativamente resistente ao intemperismc)
lateríticos possuem teores relativamente baixos, o
e permanece no perfil, enquanto os outros minerais
que é compensado por tonelagens expressivas. Fi-
sãc1 alterados, e pelo menos parte da matéria é lixiviada
nalmente, dada a dificuldade de preservação de
d<) perfil. É o caso, pc)r exemple), llC)S depósit<)S de
formações superficiais por um período de tempo
fosfato, por concentração de apatita, de crc)mio, por
muito extensc), os depósitos lateríticos estão limita-
concentração de cromita, estanho, por cc)ncentração
dos a<)S tempos gec)lógicos mais recentes,
de cassiterita, ferro, por concentração de hematita, etc.
principalmente cenozóicos.
• l)estruição do mineral primário e formaçãc) de
Para que um depósito lateríticc) se forme, é ne-
minerais secundáric)s mais ricos que o mineral primá-
cessário que ocorra uma convergência de fatores
rio no elemento de interesse. Isso occ1rre com elementos
de ordem litológica, climática e morfotectônica. Por
de baixa solubilidade como C) Al e o Ti, que formam
fator litológico, entende-se a natureza da rocha so-
minerais secunelários (!,,ribbsita e anatásio, respectiva- bre a qual o intemperismo vai atuar. De modc) geral,
mente) imediatamente após sua liberaçã<) d<)S minerais nas jazidas lateríticas, há um enriquecimento prévio
primários portade)res. Mas também pode eJce)rrer com do elemento em questão na rocha parental que, nesse
elementos mais solúveis, que migram no perfil de alte- contexto, é denominada protominério. As '
vezes,
ração e vãe) precipitar como fases secundárias neJs o próprio protominério pode ser explorado, ·e,
horizontes que apresentem condições propícias para nesse caso, o minério laterítico é apenas uma co-
tal. É o caso, pe)r exemplo, do minéri<) de níquel bertura enriquecida do minério primário. Como
(garnierita e goethita niquelífera) e ele manganês exemplo, peJdem-se mencionar algumas jazidas de
(psil<)melano e pirc)lusita). apatita e de manganês. Em outros casos, o
CAPÍTULO 8 • INTEMPERISMO E FORMAÇÃO DO SOLO 163
estavam sujeitos a condições climáticas mais favo- hematita (mineral de minério) n() perfil, por uma es-
, . pessura que p()de ultrapassar 300 m. N () topei do
rave1s.
perfil clesenvolveu-se um hc)rizc)nte endurecido de
Por fatores morfotectônic(JS favoráveis à gênese
couraça ferruginosa formada principalmente por
de jazidas lateríticas, entendem-se as características goethita (canga), qtie impediu a er()São e permitiu ()
do relev(J que permitem uma boa drenagem, possi- aprofundament() d() perfil. Í''.m Carajás e no Qua-
bilitand() o escoamento elas soluções de ataque das elrilátcro Ferrífero, esse h()riZ(Jnte de canga
rochas para que o intemperismci seja intenso. Além corresp()nde à Superfície Sul-Americana, indicando
disso, é necessário que o perfil seja preservado da um período de tempo mui te) l()ng() (desde o P,()ceno)
erosão para poder aprofundar-se. São, dessa fcirma, para a formação dos depósitos.
as áreas bem drenadas e tectonicamente estáveis as
N() cas() d()S depósitos de ferr() lateríticos, os con-
mais fav(iráveis para a formação de depósitos es-
pessos e ev()luídos. tr()les preponderantes na gênese do minéric) são de
cirdem litológica e morfotectônica.
A-Amazonas
Bacias B - Parnaíba
C - Paraná
G) -Guianas
Escudos 0- Brasil - Central
@ -Atlântico
Fig. 8.25 Localização dos mais importantes depósitos lateríticos do Brasil de AI, Mn, Fe, Ni, P e Nb.
CAPÍTULO 8 • 1NTEMPERISMO E fORMACÃO
, DO SOLO 165
i\ alteração intempérica pro,,eJca a disscilução deJs NãeJ há, portanto, ceJntrcile litológiccJ na geração das
minerais que acompanham os minerais de minériel e jazidas de bauxita, sendc> os fatcires mais influentes as
promove a oxidaçãeJ dcls minerais de manganês, ceim a ccJndiçe>es morfotectt>nicas, que de,,em propiciar uma
formaçãei de óxidos de J\fn1+ (hausmanita e manganita, alteração em ambiente de drenagem livre para que a
por exemplo) e J\fn 4 + (pirolusita, criptomelaneJ e lixiviaçãeJ eiels ciutros elementels pcJssa ocorrer, e cli-
liticlforita, por exemplo), mais riccJs em manganês que máticas, caracterizadas por precipitaçãei intensa e
os minerais originais. Aqui também eJ celntreile princi- temperaturas altas.
pal na gênese dei minériel é litológico. Porém, ao
contrário dcl casel do ferro, parece nãcl existir uma as-
Depósitos lateriticos de nióbio e fosfatos
sociaçãeJ clara entre els depéisitos e as superfícies de
aplainamento. (J Brasil pcissui grandes reservas de nióbio e
fc>sfateJs, cuja origem está relacionada à alteração de
maciçcls carbcinatíticos. Essas rochas têm originalmen-
Depósitos lateriticos de níquel
te teores elevados de Nb e P, e sãc1 facilmente alteráveis,
C)s maciços ultrabásicos elo Brasil, que sãei as rcJ- pois seLtS constitutintes principais sãcJ carbeJnatos. A
chas originais dos depc'>sitos de níquel laterítico, são gênese das jazidas é, portanto, estritamente contrcJlaela
numerclsos, de tipc>s variados e dispersos pelr todas as pele1 fateJr litológico.
zonas climáticas. Os depc'isitos mais importantes estão () Nb é enriquecido a partir da concentração resi-
situados no Centro-C)este (Niquelândia e Barrel Alto), dual elo piroclclrci, sua principal fase portadeira. Apesar
região de clima trelpical de estações contrastadas e, em desse mineral poder sofrer uma certa alteração duran-
menelr grau, na t\mazc">nia (Vermelho), sob clima tropi- te o intemperismo, seu conteúdo em nióbio fica mantidel.
cal úmido. J\s maiores jazidas de nióbio del Brasil estão situadas
em 1\raxá e Catalão. A primeira, Araxá, ccinstitui amai-
() Ni está presente na relcha original ultrabásica, e>r reserva de nióbio de> mundcJ.
incelrpclrado ao retículo cristalinel das olivinas, serpen-
tinas e, em menor grau, dos piroxênios. 1''.sses minerais Da mesma forma, o fe'isforei é enriquecido pela cein-
são facilmente alterados, danclo origem a novos mine- centraçãei residual da apatita. Em alguns maciços, como
Jacupiranga (SP), o teor de apatita no carbonatito já é
rais como a serpentina, Cl talco, a clarita e a geJethita,
suficientemente alto para que a rocha parental pclssa
enriquecidos em Ni. () controle litolc'Jgico é muito im-
ser exploraela como minériel. Porém, na maielr parte
portante nesse caso, pois as rochas ultrabásicas sãcJ as
das jazielas de fc>sfatel, como, pelr exemplo, CatalàeJ e
únicas rochas que possuem teor<"s de níquel suficien-
Araxá, é c1 mante> de alteração, anele a apatita está cein-
te para gerar depc'isiteJs por intemperismo. Nesse casei, centrada, que ccinstitui el minério.
entretanto, o fator climáticeJ também conta muito, sendo
as regiões de clima mais contrastado as mais faveiráveis
para a gênese de depc'isitos de níquel laterítico.
,,
case), ei vente)), o e1ue será visto no Cap. 12. Para este fJI '· ,
tipo ele relevo, ce)stuma-se utilizar a denciminação for- lt::t 1
ma de leito sedimentar. As formas de leite) eiccirrem Fig. 9.2 Fotografia aérea da região da laguna lbiraqüera,
em escalas que variam de alguns milímetros (elenomi- município de Garopaba (SC). Calhas de dunas similares às da
nadas microondulações ou marcas onduladas) a figura anterior aparecem agora como traços escuros sinuosos
sobre uma forma de leito de hierarquia ainda maior (de cor
quilcímetreis (megaondulações, incluindei e-lu11as
branca na fotografia), com geometria parabólica. A extensão
eólicas), e envolvem processos feirmadores cuja dL1ra-
da megaforma eólica é de cerca de 7 km. Norte geográfico
ção varia respectivamente ele segundos a centenas de voltado para cima. Aerofoto Cruzeiro do Sul, vôo 1977-1979.
milhares de anos (Figs. 9.1 e 9.2).
Areia é um conceito relativo ao tamanho do grão. O estudo ou medida do tamanho do grão recebe o nome de
granulometria. De acordo com a escala de granulometriamais utilizada hoje para classificar sedimentos (fabela 9.1),
· um grão de areia possui entre 2 e 0,062mm. Os qualificativos para referir-se aos materiais sedimentares formados
predominantemente por cada uma das três faixas granulométricas principais são: rudáceo (de rude, grosso), para
granulação cascalho; arenáceo (de arena), para areia; e lutáceo (de luto, massa fina e plástica), para lama. Estes termos,
de etimologia latina, têm equivalência com outros termos, de origem grega: psefítico, psamítico e pelítico. Para
referir-se a depósitos endurecidos (rochas sedimentares), acrescenta-se o sufixo ito aos mesmos radicais: rudito,
arenito e lutito ou psefito, psamito e pelito.
se)bre re)chas sedimentares; a serra ele) Mar é exemple) ae)s rieJs Tietê, l)inhciros e 1ºamaneluateí, na cielaele de
de fe)rma esculpida sobre rochas ígneas e metamc')rficas. Sãe) Paulc) e dos morros supcr-habitadeJs do Rio de
,
Janeiro e de Santos.
F, importante lembrar que a ação modelade)ra de)s
processos sedimentares, erosivos ou dcposicionais, nãe) Neste capítulo, estudareme>s as relaçc"ies entre e)s
se restringe às paisagens que fazem jus ao adjetive) na- processos sedimentares e a me)delagem da superfície
turais, isto é, às paisagens menos modificadas pele) ser terrestre. Procuraremos eleme)nstrar a premissa fun-
humanc). Aliás, a idéia ilusória de que a urbanizaçãc) damcn tal de ne)sse) estudeJ: a de e1ue a interação
seria capaz de estancar estes processos conduziu, cm processo-forma se elá nas mais diferentes escalas, da
muitas cidades, a uma e)cupação urbana sem critérie)s, planície sedimentar à marca e)nelulada. (-) recurso de
que ignorou e desrespeite)u e)s sític)s naturais de erosão reduzir e ampliar nossa escala ele observação é válido
e deposição. Assim, à lista de feJrmas de relevo aqui para exercitarmos nossa capacielacle ele enteneler a na-
citadas ce)mC) exemplos de açãe) de processos tureza elessas interaçe"íes (que, afinal, é sempre a mesma,
sedimentares, é precise) acrescentar regiões onde pre)- independente ela escala), desde que se compatibilizem
cessos naturais e ocupação humana interagem de modo entre si as escalas relativas à forma e acJ processo. Cha-
agressivo, em um autêntice) exemple) de equilíl)ric) ins- 1nareme)S a este recurso de zoom, cm alusão ao
tável: são os casos das avenidas e bairros marginais mecanismeJ das câmeras fotográficas e filmadoras.
Intervalo
granulométrico Classificação nominal
(mm)
1
• · i Prôp~siiõó r;>riginal (inglês)
'
.. .tradução usua 1. [p.~ir+uguês} ·• . · ·
' ' ' ' ' " " ' '
· AREIA
• Coorse sand ··
' ' ' ',. ': ': ' .· ' ·.· . ' ', ,' ,' '
Seelimento implica elepc1siçàc1. DcpcJsiçàci pressu- i\s fcJrças de superfície dependem da ra7ào área
põe açàci da gravidade. l•'.m funçàci distei, a feirça da superficial / volume (fcirma) ncis gràcJs, e e1a visccisi-
gravielaele é a variável física básica cm tc,elcis eis fenc'i- claelc ele> íluid<J. ,,\ ,,isccisidade ccJrrespc>nde à tcnsàcJ
mencJs de sedime11taçàcJ. 1rata-se ele utna fc>rça ele ccirpc>, necessária para prcJduzir determinada deformaçàci ncJ
isto é, uma força que age sol1rc o vcilumc ciu a 111assa íluidci e mede a resistência de> íluidc> ac> cisalhamcnto.
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Fig. 9.3 Principais forças atuantes sobre grãos livres em movimento: a - força-peso (P) e sua reação, o empuxo (E), b - força de
coesão (C) entre partículas, c - força ascendente (A), introduzida devido à turbulência gerada no fluido pela presença de um ob;táculo
e d - esforço tangencial (T) exercido pelo fluido sobre o grão (e vice-versa),
Como a intensificaçãc) (la viscosidade e elas f()tças de cas (mineral(>gicas) t>u físicas (texturaís), em respc>sta à
superfície dificulta () ffil)VÍmentc> autt:in<in1ci clc:i grão, ação d(JS agentes de intcmperismcJ c transpc)rte. 1\ mag-
oferecend<i, por exempl<J, resistência a sua decantação, r1ítude destas muclanças é un1a n1anifestaçãc> desse
estas f<Jrças sãci conl1ecidas tan1bém con1cJ forças de processei de maturação, mas depencle também de1 grau
resistência. l)cJr (Jutr<:i ladc:,, as f<Jrças de superfície ot1 ele sensibilidacle de> mineral que (J constitt1i. j\ssin1,
resistência, qt1andcJ intensas (istc> é, em fluidcis muitc) p<lr exemplei, o quartzo é muitcJ mencJs prclpensc> ciue
viscosc:,s), pc>dem constituir tuna for1na l1C trans1)<>rtc <> feldspato a tais n1c>dificações. Dentre as mudanças
de grãos contra a açà<J (le seu peso índividt1al. Pc:,r c1uí1nicas, p<>cie-se citar de sele altcraçc>es ténues nas
exemplo, um bl<Jco (dimensão maior que 6,4 cm) in1 superfícies de fratura e cli\'agcm até a con1pleta trans-
passível à passagem ela água cJu do vento, !J<>de ser f(:,rmaçãc) ciu n1esn1c> a disscJlução dcJ 111ineral (C:ap. 8).
faciln1entc transpc:,ttado p<>t uma cc>rrente de lama ele l~stas mudanças nãc> sãc1 raras en1 feldspatos e em n1i-
mesma velc:,cidacle (porém mais viscc>sa). ncrais ferrc>n1agnesianos ccJt110 piroxênic>s e anfibólios,
n1as pc>c1en1 ser ccinsicleraclas clespre:,:íveis em grãc>s de
As cc>nsiclcrações acima sugerem que, fisican1cnte,
quartzo. 1\s mudanças físicas incluen1 a rec1uçãc1 de
!1á diferenças substanciais entre o transporte seditnentar
ta111anh(J e <J autnentc> de grat1 ele arredondarr1entcJ
pelas águas de um ric) e tJela massa visc<JSa c.1ue cles-
cl<J gràcJ, devi de> à abrasão (desgaste) e ccJmin11içãc)
mc:,rona numa enccJsta. ,;\ difere11ca ., reside nc:, mc:,dcJ
(c1uebra) .
c<>m<) <JS c1<JÍs ti{)<JS de ft)rças, Lle C<)rpo e lle Sttperfí-
cíe, atua111 nc>s sedin1er1tclS. Reconhecem-se assim t1<)ÍS /\. comr,aração entre o trans1)c,rte se(1in1entar e a
tipr:,s de transporte sedin1entar mccâniccJ. Qua11clo fc>r- maturaçãcJ de grão,, ele c>rigem física cncc)ntra expres-
ças de C<>rpo c ele SL1perfícic atL1an1 sc>brc cada gràcJ são ncJ ccinceit() ele maturil1acle seclimentar. 1\ mau1ridade
incliviciualmente é pcJrque els grãcJs aprescr1tan1 sufici- representa a cxr)eriér1cia ele um secliincntcl, no sentícl(l
ente liberdade de mc>viment<J e111 L1n1 flLticlcl p<>LJC<J c.le c1uã<) ínte11sa e prc)l<Jt1gada foi a l1istc'>ria ele tra11s-
\-iscc>S<>: é o transporte de grãos livres. ()Ltar1d<> a pclrte a que ele se submeteu. F,ntre CJS parâmctrc>s
fc>rça-peso age mais scJbre a massa de grãc:,s d<> 9L1e CJL1Ín1icos ele avaliaçãcJ da n1aturidade, clestaca-se a re-
scJl)re grãos i11clivicJuais, é pclrqL1e <JS grãos estã<> m11Ít(J lação entre minerais estáveis e instáveis, con1() a razão
pr<>xi111cJs uns cl<is tJutros, en1 alta ccincentraçãc> e1n tJuart/CJ / felclspato, f~ntre eis físic<JS, tlestacam-se a eli-
relaçãcJ ao íluicio: é <J transporte gravitacional <>Ll 1ni11açàc> de rr1atriz {)elítica, a seleção grant1lcimétríca
fluxo denso. Neste {1\timc> tipc> de tra11spcirtc n1ecánic(), (grat1 ele hcimc)geneidacie dcJs gràcJs quant<l a<i tama-
a 1-,rrande prc>ximídade entre 1-,rrãos vizinheis fa,·<,rcce a nl1ci) e ci arredcJnclan1er1t(>.
forte interaçãc> entre eles. CcJm<J c<i11se9üéncia, ace.ntu-
am-se as forças de superfície cler1trc) tia n1assa, cc>n1ci 9.2.4 Principais cenários da existência do
cc>esâc), fricçãci <Jll tensão cisall1ante (esta ligacla à capaci- grão: conceitos de área-fonte, bacia
dacle de transpc)rtar massa). ()utro efeit<> pc>ssível é a sedimentar e nível de base
mistura entre flL1itlc1 e sedimentcJs fincJs criar titna n1assa
pseuclotl11idal -vísc(JSa e densa, capa:,: de exercer fclrte l'.tn resun10 das infc>rmaç(".>es acumtilaclas até aqui
empuxo e resistê:11cia visctJSa scJbre (JS ~rrãc>s n1ai< >res e \Jermite abai1clc>nar <> zoo1n c.le cletalhe e retc)rnar à visâ<>
antilar e:, efeit(J eia f(1rça-pesc1. mais abrangente e sintética p(Jssível (1a história d<) grãc>.
Nessa ,risâ(), pc>dcrn-se rec()nhecer três grandes estágic)s,
fases maic)res de sua [JÍ<Jgrat1a, C<)rrcspc1ndentes a três
9.2.3 Transporte sedimentar: a maturação
cet1áric)s ger>gráfic<is principais: a serra, sua escarpa frcin-
do grão
tal e <J oceancJ. }Jc,clem••SC tambén1 destacar quatt<J
1\p(>s o transporte inicial p(>r tc>rrentes pluviais e/ CJt1 prcicess(JS gec)!c'Jgiccis n,aic>res: o inten1perísn1ci, a erc>sã<1,
mcJvin1e11tos )-,rta\·itacionais nas encc>stas da serra, (l J.,>Tà(l <J transp()rte e a clefl<Jsição (E7íg. 9.4).
é incorpcJradci à carga elos rios e C(Jrredeiras da escaqJa, (~om ciue intensiclade atuam estes prcicesscJs n1aic1-
através das qttais atir1girá eis ric:,s ele mais baixe> 1-,rracliente res cm cada urr1 dac1ueles cenáricis? J\ att1açâcJ dei
(na m:ÚcJria das vezes, ccJm m<>rfc>lc)gia meandrante; (:ap.1 (J) it1ten1perismc> é cliretan1ente proporcicJnal ac) tempc> de
que caracterizam a plar1ície litc)rânea.
rcsiclência em superfície dei grãci e ela n1atétia-1Jrin1a
() transprlrte d(J h"ão da serra ao n1ar ccJrrespcJnclc gecJl(>gica ern geral. i\ssim, C> intemperismc> é mencJs
a u1n períoclo ele intenscJ amaclurecimento cJu matt1racãc:, atuante nas partes mais íngremes da escarpa, (>ncic c>s
em sua bí(>grafia. () grã(J pocle s<)frer n1udanças tJt1ít11i- prcicesscJs de retncibilização dc1s prcidL1tos de alteração
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Fig. 9.4 Cenários da existência de um grão sedimentar, com quantificação relativa das taxas de erosão (E), intemperismo (1) e
deposição (D), tomando como exemplo o caso atual do leste do Paraná. Fonte: João José Bigarella,A Serro do Mor e o Porção
Oriental do Estado do Paraná, 1978.
atl1ante nei teipei ela serra e na planície liteirânea, c>nde e> cem CL1rtas distâ11cias de transpcJrte, a base ele fluxc>s e
baixei declive favc1rece a longa manl1tenção, e111 super- tc>rrentes episóe-liceJs e ele alta visccJsic.lade, bem ccJmeJ
fície, de solcJs, depósitos seclimentares e sedimenteJs e> scJterramenteJ rápicleJ, que reeluz CJ cc>ntate1 c-leJs seeli-
em trânsitcJ (Fig. 9.4). 1nentc>s con1 os agentes intempériccJs. Relevos suaves
propiciam transpcJrte ceJntínucJ e prolongadeJ, atuante
() transpeirte deJmina onde cria urn sal(lo negati, cJ 0
scibre grãc>s livres, ceJtn leJngc1 tempel ele ação dos agen-
de matéria. Trata-se aí da remeJbilizaçãcJ sistemática de
tes ele intemperistno (Fig. 9.4).
grãeis e partículas, que se pocle chamar ele erosão. Tem,
portante), uma distribuiçãeJ geeJgráfica recíprcJca à elcJ ;\ clepcisiçãcJ eiceJrre preferencialmente em algumas
intemperismo. Na serra ccimcJ na planície, ci transpcJrte pc>rçc'ies da planície litcirânea e etn grande parte eleJ
dcJ grãeJ peJde ter caráter intermitente e, assim, alternar oceanc>, embora pcJssam existir pequenos depc'isitcJs tem-
fases de alta energia e transpeJrte rápidcJ ccJm perÍeJeleJs pe>ráric>s tam\Jém nas drenagens que clescem a escarpa
proleJngaclos de arrasto lento, Oll mesmo retençàc1 em (~'ig. 9.4).
meici a eJutros grãcJs da margem tempcirariamente ex- Têtn-se, assim, quanto à relaçãcJ intemperismo / ero-
posta. A duração, intensiclacle e in1pcJrtância relati,·a sàci / depcisição, três tipe1s de clomínios geográficcJs: no
elestas fases ou regimes hidrc>dinâmiceJs ele transpc>rtc primei rei tipei, eJ intetnperismo predcJmina francamente
sedimentar dependem do graeliente de rele,-ci e elas scibre a ereisãeJ e a eleposição. CorrespeJnde, em neisso
ceJneliçc'ies climáticas. A iníll1ência dcJ clima, ccJnforme exetnplo, ao interior da serra. Nl1m lapso de tempei
visto no Capítulc1 8, reside em especial na intensiclacle 1nenc>r, inclui também a planície litcirânea. Deve-selem-
de açãeJ deJs agentes intempériceJs. Climas ql1entes e brar, porém, que peJr vcilta ele 120.000 aneJS atrás, a
úmideJs prcJmeJvem desintegraçãci e decomposição mais maicJr parte das atuais planícies litcJrâneas brasileiras
rápid.a que climas fricJs ou áridos. A principal influên- enccJntrava-se submersa, e, pelrtanto, com preeleJmínio
cia dei releveJ está ncJ tempo de açãeJ deJs agentes de prcicessos depcisicieJnais marinhos (Cap.13). Nci se-
intempériccis e ele elesgaste mecânico durante cJ trans- gunelcJ tipci ele elomínic>, a erosãcJ prevalece francamente
sc)brc <l i11te1nperisn1c> e a clep(isiçà(J. I~ste llc>t11í11i(J en- temp<> att1al, <J nível de base é uma linha melhcJr defi-
,
cc)ntra-sc hc>je na escarpa da serra. l~, t)(Jf excelé11cia, nida. :\essa escala lle análise, a planície lit<>riínea
<l <l<JmÍnÍ(l cl<> transporte se<-1Ímentar. (} ccJ11jL1nt<l fclr- t(Jrna-se úrea-fcJntc. f'. ClS scclimentc)S l1e praia att1al
n1atl<J pclr estes clc>is primeirc>s dc>mínicJs é resp<>nsável p<lSStiíríarn cl<JÍs clomínic>s ele áreas-fc>ntes: utn \Jrirná-
pelcJ fclrnecimc11tcJ de sedimenteis para <J rnar. Pcir esta ricJ, situaclcJ na serra e na escarpa, e <Jutr<> sect1ne1árici,
razão, ccJstun1a-sc dencH11iná-lc> área-fonte e as rcichas lclcalizac1<l na planície litrirânea.
nele existentes, rcJchas-fcJntes (l;ig. 9.4). Nesse senti--
<1<>, rcJcha-fc>nte pcJde ser ccinsicleraclcJ um tern1<i
sínónin1r> \Jara rc>cha-111ãe. Nc) terceircJ tipc> ele cl<lt11í-
9.3 Sedimentos que Não São Grãos: o
11icJ,
,
a dep<Jsiçàc> precl<Jn1ina solJre c1s l1emaís pr<>ccsscls. Transporte Químico (iônico)
1~ <J que ciccJrre hcJje na bacia cJccànica st1l>n1ersa e na
praia, e C.)ttc, há 120.()0() ancJs, estcnc.lia-sc taml)ém à NcJ inicie>, aiJ<lrdam<JS a hist<'iria ele tun gràcJ
atLtal pla11ície litc>rânea. r'.stc (l<ltnínÍ<l rccclle <l ncit11c seclirnentar c1e c1uartzci, clesdc a árca-fc>nte até a bacia.
,
ele bacia sedimentar (Fig. 9.4). l~ imJJ<Jrta11te ressal- N(l entanto, ern sua trajetória ele grãc> seclirnentar, <>
tar c.1t1c <J cl(imíni<J e-ia dcpcJsiçàcJ scibre eis pr<>cesscis tJuartz<l pc><ic ser ac<ln111anl1acl<i nà<l apenas p\lr gràcJS
i11tcn1péricc>s e crcJsivcJS pc>cle ciccirrer tarnlJén1 cr11 rÍc)S, ele várícJs <Jutrcls minerais e rc>cl1as, ccirncl tatnbém prlr
lagc>s, lagunas e campcis ele clunas existe11tes nc> C(>11- Í<>ns transpcirtaclc)s cm sciluçà<J. l~ste sc)lt1tc) tc111 t1n1a
ti11ente. I)csse m(lclcl, bacia sec1i1nentar nà(> in1plica (Jrigern e l1ist('iria l)astantc parccicla C<ltn a cl(>S sedi-
<>IJrigatciríamentc l1acia marinha. mentcJS, C(lrr1 a clifcrença de c.1ue SCll transpcJrte é
"'
<jlÚtnic<i, pclrtantcJ nãcJ e11V(Jl\'C carrea111cntcl ele mate-
() nível hc,rizcJt1tal imaginúric, al)aÍxcJ ele, c.1t1al a cie-
rial s<'>lí<.l<J. () (\estinc> final do sciltit<> é ígualrncntc a
pcisiçà<J pte<.lc1n1ina sobre ercisà<i e intemperis1n<> e l)acia sedin1entar, <Jntle parte c!cJs ÍcJ11s pcJtle agrupar-
acima dei c1ual ercisàci e inten1peris1ncJ prcclci111inam scJ-
se, aclquirir a f<Jrn1a ele CC)tr1pcistci s(Jlicl<J e
IJre clepcisiçàci rece!Je <> nci1nc <.te 11ível c1c l1ase ele
tra11sflirmar-se assim crn sec1in1entci. 1\ transfclrn1a-
er(JSà(J, ()U sirr1r)lcsrncr1te, nível ele !Jase cr:ig. 9.4). 1•'.sta
çà<l c!cJ scilL1tci ern sellimc11tci, dentrlJ ela lJacia
clencJminaçà(> expressa ci fat<J ele CJllC a erclsàc> r1àcJ 11<icle
sedimentar, p(lcle <>cc>rrcr pcir peh> n1c11c>s três nl<l-
atLtar significativan1entc além (al1aixcl) clestc 11ívcl. 1-,:
cl<Js clitcrentes: pela precipitaçãci c1uín1ica, pc1r exet11plcJ
tan1bé1n que a cr<isà(J contínuacla <la área-f<)ntc ten,le-
cm un1 cvajJ<>ritci (saís fcJr1nadc>s 11t1m mar restritcJ ciu
ría a arrasá-la, nci rnáxirr1cl, até este nível. N(JS cas<>S ele
11<J s<Jl<J devicl<> à taxa <le e,rap<>raçâ<l 111aicir l]Lte a ele
l1acías n1arínl1as e nac1L1elas c<Hn ec)nexàc> ·,l(l n1ar (1>
11rccipitaçàci; C:ap. 1?)); !)ela açàcl clireta c1e <>rganistn<JS
<JLte ír1clui pla11ícics litc)râneas, [Jlatafc>rn1a st1l1n1crsa,
\'i\'CJS, pc>r cxen11)l<J cn1 u111a carapaça ele m<ilL1sccJ tlu
plarúcícs alJíssais, gcilfcis, lagL1nas, eleitas e cstuári<Js), (J
cm Ltt11 recife ele ccJrais; ciu pela prccipítaçàcJ c1uímíca
nível ele base cc>nfLtnclc-se cc>n1 CJ nível clcl rnar. i\1as,
incluzida l1elc) rnctabcJlisrncJ de seres vÍ\ <>S, f)Clr exem-
0
Alóctone Autóctone
• A precipitação teve
Sim •. Não Sim • Não influência da vida.
• Em águas
Sim •. · Não vadesas.
. Não
Sim • Não • Metabolismo "'.egetal
•
Sim· · 1nduz1
- u, a .prec1 pila-
Aguas vade- • çao qu1m1ca.
lntraclasto Evaporito
Extraclasto sas formaram
ou cavernas? Bioconstruíclo
terrígeno Bioinduzido
Sim Não
Houve influência de
. .
processos qu1m1cos
Espeleotema Caliche
e/ou biológicos na
formação do clasto?
Sim·. Não
Alobioquímico
Evaporito Silcrete
pedogênico Ferricrete
(calcrete)
Fig. 9.5 Roteiro - fluxograma de perguntas e terminologia para classificação geral dos materiais sedimentares a partir da carac-
terização do transporte.
·'!':-t'3 espa rito fósseis
~'1
,t::::;.Y
-----(cimento)
oóide
oncóide
•. I ,"-
----~:.--,,--
~
' '
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...
·•~..r ..,::._,_:·_
'' .
:.,. ··:-:
'
·.
'
/:.
.
. ,
' ") .. . .
'
'
' intraclasto micrito
esparito
Fig. 9.6 Representação de uma seção delgada de rocha calcária, conforme vista ao microscópio óptico, com os principais tipos de
grãos alobioquímicos e de matriz/cimento. O desenho é idealizado porque raramente os quatro componentes alobioquímicos
ocorrem juntos na presença de lama carbonática (micrito).
Origem externa: materiais extraclásticos ou embcira ccinsagrado pelo uso, é parcial, pois não ex-
,
terr1genos pressa a evidente contribuiçãc) biolcigica dos pellets e
biciclastcJs. Desse mcitlcJ, essa clenci1ninaçãci é aqui subs-
() termc) terrígenc) é utilizado ccimo sintinim<) tle tituída pelo tcrmci alobiciquÍtnicci.
extraclásticc) pclr alguns autores, e de cpiclásticcJ em
geral, por outros. Considerando e;ue o nome faz alu- ( )s setlimentcis intraclásticos sem influência de prci-
são acis sedimentos gue provêm da terra e1t1ersa, nci cesscis ljtúmico-bicilc>gicos ccirrespcindcm a fragmentc>s
sentido de área-fonte cm sua acepçãcJ clássica (área c>u tc>rrc:íes de depc>sitcJs tcrrígencis preexistentes, retira-
alta), o uso ccimci sinônimo de extraclástico é mais deis mecanicamente tlcJ ft1nclc> da mes1na bacia e
ad.eguado. redepcisitatlcis, sem que haja hiatci tle tempcl gecilc>gicci
significati,•o entre a tlepcisiçãci ciriginal tlo sedimentcJ e
sua retiepcisição. A tlistância tle transpcirtc, alé1n tlc limi-
Origem interna: materiais intraclásticos
tar-se às fronteiras da bacia seclimentar, é restrita aci
Para detalhar a classificação dc)s sedimentos máximci transpcirte que o intraclastc>, p<lr seu incipiente
alóctcines intraclásticos, deve-se c>bservar se houve c>u cstágici ele consolidaçàci, ccinsegue supcirtar. No exemplo
nãc> influência de processos guímicos e/ ciu biolc'igiccis mais tipice> e cc>n1un1, os fra)..,>n1entcJs sãci ruclácccis (maic>-
na formação do material. Os intraclastos com influ- res qt1e 2mn1), exibem gecimetria relitJuiar ele estruturas
ência desses processos incluem os compcinentcs sedimentares primárias, ccimo pc>lígc>ncis ele greta tle
aloquímicc)s da classificaçãc) tle rcichas calcárias prci- dcssecaçàci de lama e estratcJs tabulares, e recobrem tlire-
posta pclr Robert Fc)lk em 1962 (Fig. 9.6): bioclastos tamcnte a própria camada qt1e os forneceu (1 :ig. 9.7). NãcJ
(fósseis), pellets (pelotilhas), resteis mineralizadcis de há termcJ usual para tlesignar de mcitlci específic<J c>s
excrementos fecais, oóidcs (grãos esferoidais com es- intraclastcis de origem predciminantemente física. C)s cle-
trutura interna concêntrica fc>rmada pela precipitaçãcJ pósitos descritc>s recebem Cl nome de ccinglcimeratlcis cit1
química tle sucessivas camadas, em condição de água brechas intraformacionais (Cap.14), mas esta dencimina-
cm movimento) e fragmentos líticos calcáric>s çãc> aplica-se também a depósitc>s tle intraclastc>s
(intralitoclastos ou intraclastos). () termo aloquímico, alo bioquímicos.
Edifícios sedimentares bioconstruídos
0.01
scJbre ei fluido, fazendo-o se meJvimentar declive abai- 0.1 l 10 1000
0.001 0.01 100
xo; ci fluielo repassa esta ação a cac-!a grão, sob a fcirma Diâmetro (mm)
de esforço tangencial, e transporta-o ou nãei, de accJr-
dei com seu peso e ccJm sua fc)rma. Assim, a Fig. 9.9 Diagrama energia x granulometria, apresentando as
característica essencial do transpcirte de grãos em meio curvas de velocidade crítica de transporte e erosão. A curvo de
pcit1co viscoscJ é e1ue as fcJrças agem de maneira pre- transporte (inferior) represento os velocidades necessários poro
dciminan temente individual. O comportamento colocar em movimento grãos isolados de diferentes tamanhos.
dinâmico do grão, isto é, sua velocidade, trajetcJria e A curvo intermediário cepresenta os velocidades necessários
meJelcJ ele deslocamento, é uma respeista direta às feJr- poro erodir leitos friccionais formados por grãos (esferas de
vidro, por exemplo) de diferentes tamanhos. A curvo superior
ças nele atuantes e reflete suas características individuais
represento os velocidades necessários poro erodir leitos
comeJ feirma, densiclade, tamanho e rugeisidade su-
coesivos formados por grãos (placas de filossilicotos, por exem-
perficial. Enfim, ncis fluidos pouco viscosos, os grãeis
plo) de diferentes tamanhos. Fonte: Sundborg, 1956.
têm identie-!ade própria. Como efeito, a corrente pode
prcivocar uma seleção dos grãos no espaço, separan- transporte. Partículas e-!e diferentes tamanhos po-
de) eJs grãos mais leves (menores e/ ou menos denscis e/ dem apresentar veleJcidades e mecanismcJs de
ou ele formate) mais Jlutuáve~ dos mais pesados. F,sta se- transpclrte individual diferentes. C)s principais me-
leçãei peide, portanteJ, ter ao mesmo tempel caráter canismos são a suspensão, a saltação, o arrasteJ e o
granulométricei, elensimétriceJ e mcirfométrico. rolamento. NeJ fluxo não viscoso típico, estes me-
Em um fluxe) de baixa viscosidae-!e, os grãos mais canismos ocorrem de maneira predeiminantemente
pesad.eis tendem a ser transpcJrtados mais devagar que livre. A interação entre grãos vizinhe)s é subcire-!ina-
eJs leves. Fixada a densidade e demais variáveis, quantei <la e nãci compromete a trajetória de modo
mais grossa a granulação de um leito sedimentar essencial.
inccinsolidade), maicir a velocidade mínima necessária A suspensão é o carreamento ou sustentaçãci deJ
para dar início aei meJvimento dos grãos, ou seja, a grão acima da interface sedimento/fluido (superfície
veleJcida<le crítica (Fig. 9.9). Esta regra tem exceções deposicional). Ela pode ocorrer por uma ou mais
impelrtantes nas granulações muito finas, cinde o au- dentre três condições físicas: existência de turbulência,
mento <la superfície específica eleva a magnituele relativa baixa densidade e comportamente) coloidal. As duas
das fcJrças de superfície intergranulares (coesão/ fric- últimas condições não requerem meJvimento, poden-
çãcJ). () efeito pelo qual leitos de silte e argila são mais do ser observadas mesmo em fluidos estacionários.
difíceis de serem erodidos que os de areia recebe o As fcirças que mantêm o grão em suspensão, em cada
nome de efeito ou aneimalia Hjülstrom-Sundborg. A uma destas situações, são, respectivamente, a força de
granulação máxima para existência deste efeite) anô- ascensão hidráulica (Fig. 9.3), o empuxo e a resultante
malc) é de cerca de 0,1mm, em leitos coesivos, e 0,7mm, do movimento browniano.
em leitos friccie)nais (o que define se um leite) é coesivo
A saltação é a manutenção temporária do grão
cJu fricciona! é, em grande parte, a prc'ipria granulação).
em suspensão (Fig. 9.10), em trajetória aproximada-
Uma vez que a ceirrente colocou a partícula em mente elíptica, entre seu desprendimento inicial e o
movimento, diminuem drasticamente os efeitos de impacto na interface fluido/ sedimento eiu entre dois
coesão e fricção sobre ela. Nessas condições, e1uantci impactos sucessivos. Durante o choque, o grão peJde
mencir a granulação elo n1aterial, mais fácil é o seu afetar algumas partículas da interface e provocar rico-
chete, uma fc)rma c.lc saltação inc.luzida peleJ impacto.
A saída de 6rrãos pc)r ricc)chete cria um pcquenei déficit
leJcal, marcac.lo pc)r irregularic.-lac.lc nc) leite), e tc)rna esta
área mais exposta aei esforçci tangencial e mais sujeita
a neivos lançamentos. Desse mciclei, o fenê)menei da
saltaçãei possui a capacidacle de se autc)multiplicar.
em Laguna, SC. Foto: P. C. F. Giannini. çao pcir suspensao ocorre, em sua essenc1a, na
vertical, e pron1<)VC <J acÚmL1l<) gradual chJs grã<JS e sc>crgt1ídas de estc)quc <lesenvcJlvem rapi(lamente cerra
o crescitncnto do leit<1 sc<1imcr1tar de l,aÍx(J para assin1etría, a<ll1uirir1clo incli11açà<i suave a mor1tante
cima. (~cJ111cJ a deposiçàcJ c1ccirre de tn<l<lci h(JlTill- <la C()rre11te e al,rupta a jusa11te, <l que configura a
gênccJ acJ largo do leito, este tende a ser plano. 1\ m(JrfcilclgÍa
c.
de marca <ir1dulada assimétrica. () cci111-
clepc>siçàc> pcJr traçàc> clep<)SÍta els sedimenteis nc> fJrimentci de <)n<ia da <Jn<lulaçà<J relaci<)na-se assim
sentidcJ (la te11são tange11cial, ccim um f<irte cc>111- ccin1 a extcr1sa<> preferencial <i<JS salt(JS. S<il1 rnais ener-
!)(Jnente paralelc, ao leite> secJimentar. CcJ111ci a gia, salt<JS prcJ!c1ngadcJs f(Jr1na1n ondulaçêies até
c1uantidade ele sedi111ento que chega cm clad<J tre- 111étricas (mcgaclndulaçl>es). () dcJmínio ela saltaçàc> /
chc> dei leitcJ é igual à c1uantielade que sai, cJ leit<J suspensãcJ cc>n1<1 mccanisn1ci de transp<>rtc ele areias
resL1lta11te tan1bém tcncJe a ser plano..A cc>nclusãcJ é e{Jlicas explica pc)r<1ue o lcit<) pla11cJ nãci é t1n1a forma
C]lie, apesar ele ccJntrastantes, <)s n1ecanismcJs dcpcisicicJnal estável em cam1J<Js ele dunas (l~ig. 9. l(l).
cleposicic>nais p<ir traçàc1 e suspensãcJ fJt1ras ccJnc1u-
zen1 a un1 111es111ci tipo ele fcirma ele leitc> seciimentar: 9.5.2 Fluxos densos ou gravitacionais
ci leito plano.
()s ílux(JS gravitacionais cc)t1stitL1en1 <) tipo de flt1X<)
i\ saltaçàcJ ccin1porta-se cr)m<J n1ecan1smo inter-
• -viscoscl em que a viscosidade elevada se deve à gran-
n1ecliári(l entre a traçà(J e a suspcr1sà<i. t\ se111cll1ar1ça
tle c<incentraçà<l de sedimentcls no fluidc1. Do pclnto
ela st1spcnsàcl, <JC<irrc c1uccla cl<J grãcJ, p<1ré111 existe
<ie vista estritamente físicc>, C)S f1t1xos gravitacionais
u111 cc)111pcinc11te tangencial i1npc1rtantc, ligaci<J à in- L
I
/
I✓
I
/
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_ -
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- - -
-- - _
' ...
Gráos maiores em saltaçoo
.......
..... .......... .. ...
,,,,.. ._...., ~
<:stá presente também aqui, só que aplícac!c) a t1m
co11juntci <le gra<)S, unido pela ação de fcJrças ele
1 1 / ....... f .............
resistência (principalmente cclesào e atritei). () equi-
lv\ovimento Movimento secundário lí!JrÍcJ elo ccJnjt1ntc) é dadci pela sc1ma das fc)rças eie
lniciol por impacto de graos
resistência c1ue se opclem à cclmpone11te tangencial
tia fcJrça-pescl, ccim efeito cisalhante. Este cotnpcl-
Vento lllo
nentc é tant(J n1aic>r qt1antcl mais acentL1adcJ o c'lcclive
PahO 1 elo terrcncl, t) c1uc explica a mencÍclnada assclcíaçào
11refercncial dcJs prcicessos gravitaciclnais c<1m en-
. ! li!, li! l 1,. ,t, ... ri
....... " ... " ' '' ' .' . ... ' ' ..... ... .......... ' ... ' ..........
.. !.,,. L, 1 .. , 1,1;., !. i .. 1.l; l.,
. ' . ' .. ' ... ' ' ' '
1 ... L., !. , , :. .. !i, 1,
'
Mas o que provoca o fluxo gra,·itacional? De acc>r- causa e efeiteJ. () enfcJque geeJlc'igico nã(J explica pcJrque
d(J com a equação de equilibric), o ccimponente cisalhante ei fenômencJ ciceJrre e sim comei ele ocorre. DeJ mesmo
da fc>rça-peso deve ter superadei as forças ele resistência. 1nodci, não ceJnsegue prever a oceirrência, mas sim ape>ntar
Explicada assim, a causa do flt1xei parece muito simples. a localizaçãei de zcJnas de iminência ele fluxei e ei _l,>rau de
1"~ o cálculei vetc>rial das feirças parece o suficiente para 1iscci de habitaçe:íes e (Jbras ,rizinhas.
prever o destinei de qualquer enceJsta. No entante), à
Cm exemplo das múltiplas possibilidades de descnca-
medida e1ue se tenta um enfoque meneJs determinísticei e
deamenteJ ele um fllLxei 1c,ira,ritacional p(icle ser enceintrado
mais geológice), delis fatos se cibservam. r:m primeiro
na Fig. 9.13, que reproduz uma ncitícia do jornal Folha de ,S.
lugar, a encosta tem uma clinâmica incessante, e ,,ariáveis
Pa1,h seil1re as causas preJváveis do movimento de terra ele
imponderáveis (pe)r exemple), um recorde histórico de
Barraginha, em Ccinta1c,rem, na Grande Belo Horizonte (MG).
pluviosielaele ou um sismei acima ela méclia leical) po-
Cc)m base em interpretaçe"'íes de geé>logos entrevistados pelei
dem surgir de uma hcira para eiutra. F"m se1c,rundo lugar, ,
jeirnal, cinccJ fateires possíveis sãcJ evcicados. E interessante
várias hipc'iteses podem ser formuladas, pois muitas va-
ne)tar ceimo todcis os fateJres enumeradeis resumem-se, de
riáveis ccJntreJlam a força-pese) e as fe>rças de resistência
uma forma eiu de outra, em um clesbalançeJ na equação de
atuantes na massa que se meivimentc)u. Come) em qual-
equih11rio. () fateir 1, fortes chuvas, pode representar tanteJ
quer outro fenêimeno geeJlc'Jgico, as palavras causa e
um decréscimo nas forças de resistência, devido à perda de
previsão são apenas fcirças de expressãei. Diferentes con-
cocsãeJ c1ei seilc), como um aumento da feirça-peso, preivo-
junções ele variáveis pc>dem conduzir ao mesmei efeito.
cadei pela saturaçãeJ intersticial. () fator 2, obras no altci da
Ceimo conseqüência, as relaçe:íes prc>cesso-produtei não
encosta, também pode representar qualquer um dos ladcJs
sãeJ únicas, como numa equação eJu numa asseJciação de
da ee1uaçãc) de equilíbriei: ci peso aclicieinal exercidei pelo
maquináriei eJu a perda de resistência por
trepidaçãei. e·) fator 3, peso da estrutura
Favela corre risco de novo deslizamento recém-estabelecida no teipo da enceJs-
Da agência Folha em Contagem
ta, refere-se explicitamente aei aumenteJ
Hipóteses do soterramento cio componente cisalhante da fe)rça-
Cousas p1·ováveis cio ocidente e1n Minas
pescJ. () fator 4, acúmulci de lixeJ e ei
fator 5, existência de turfeiras, evocam
2. Obras que c1 ernpresa tv\. a falta de resistência acJ lc)ngo de peinteis
t/\artins estava realizando ern
área próxima à favela. 1. .As fortes chuvas de
ou superfícies de fraqueza previamente
janeiro e fevereiro terlan1 definidos. Qualquer um dos fatores ou
sido uma dos causas do
cleslizarnento de tetTa. combinação entre eles pode ter desen-
cadeadei ci escorregamento.
Olístólitos deforn,ados
Acomodação de
Descenso (compactação) Areias con1 aspecto
sedimentos
de grãos e deslocamento macice ou estruturas
liquefeitos
ascendente de fluidos o '
deformocíonois coóticas
Acomodação (/iquefied flovv)
intersticiais (convoluções)
de sedimentos
l1qu idificados
Acomodação de
(quick sands) Areias corn estrutura em
sedimentos Escape ascendente
Fluida! pires (dish), tubos de
fluídificados concentrado de fluidos o escape de fluidos (pdlar)
(fluidized flow)
e microvulcões
Corrente de
.
Turbulência fluido!, sob Turbiditos: sucessões
~
• .AI"
turbidez energia e concentração o granodecrescentes de
(turbidily current) declinantes · areia cascalhoso a argila ~J
* Este ângulo aumenta com a fricção ou coesão entre os grãos. Depende portanto da granulação, do teor de água e de lama 1 do grau de arredonda111ento, da presençci de superfícies prévios de fraqueza, da ene1gícJ de
atívaçôo do processo (fortes correntes, tempestades, sisrnos) etc. Os valores fornecidos são apeneis para comparação de ordens de grondeza.
Fig. 9.14 Principais tipos de fluxos gravitacionais e suas característicos quanto a regime reológico, mecanismo de interação grãos/fluido, declive mínimo e depósito.
CAPÍTULO 9 • SEDIMENTOS E PROCESSOS SEDIMENTARES 185 1
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)~-_: _.,._t-i{.'.)>~> .;, ·. , :~ -;~-:; ;· ,. .
a) Fluxo granular clássico. A extensão 1/FI
da língua de areia é de aproximadamen-
te 20 cm.
de espessura. Sua ocorrência restringe-se em essência a ze>na de máxima fricçãci ccJm o substratc), deslocan1-
avalanchas na frente ele megae)ndulaçc')es, subaquosas e,u se mais rapiclamente e levam consigo os grãe)s mais
subaéreas. Come) e) impacto entre grãc)s de areia é mais grcJssos, cuja superfície expc)sta à tensão cisalhantc e
vie)lento nos meie)S de menc)r visce)sidae-le, e)s exemplos a<) empuxc) é maior. Este efeito pclde gerar uma li-
mais didáticos de fluxe) granular encontram-se nas a\"a- geira graclação in\'ersa no depc')sito de fluxcJ de lama,
lanchas de areia seca de frente de duna eólica. ajudada pela anulação que o empuxo viscosc) exerce
na força-pese> dc>s grãos ine-lividuais. () fluxc) ocorre
Quando submetidas a vente)s mais fc)rtes que e)s res-
p<)r distância limitada, devielo ac> cc)ngelamento
ponsáveis por sua deposição inicial por saltação, as
concentrações ele grãe)s nos arredores da crista tc)rnam- coesi-ve) dcJ mo,,1mente).
se instáveis e passam a alimentar um fluxo gravitacional () le>l1e) de fluxo de lama costuma apresentar
ao longo de) flanco prote6>ide) da duna (Fig. 9.17a e 9.17c), un1 zcJneamento interne) (Fig. 9 .18). Denominam-
em busca de empacotamente) mais abertc) e ângulo ele se eligt1es marginais as zonas de cc>ncentração ele
declive menor. Na elependência da energia de fluxc) e da clastos grc)SSe)s, ce)m l,aixa velocidade ele desloca-
hetere)geneidade granulométrica, a pressão dispersi\-a men tc> e prcdomínic> de pressão dispersiva. ()
pode criar um empace)tamento aberto e permitir a pro- núclee) ele) lobo, viste) tantc) em planta como em
dução de gradação inversa. seção transversal, é a ze)na de menor resistência ae)
() depósito de fluxei granular concentra-se na parte mc)vimentcJ e de maie)r ,,elocidadc.
média do flanco protcgidc) da duna, se)b a fe)rma de ()s fluxos ele lama são, muitas vezes, o resultaclo
le)lJe)s linguóides, ind_ividuais ou ce)alescide)s (Fig. 9 .17). da eve)lução para jusante de depósitos de
Ne) entanto, a morfeilogia exata de)s depc')sitcJs de fluxc) escorregamento ince)erente subaéree)S e)u subaquosc)s.
granular na frente ela e)ndulação depende da ce)esãe) apa- Nel case) sul,aéreo, desempenham papel fundamen-
rente da areia, controlada pelo teor de umidade. Ce)m tal na sedimentação ele leques aluviais. f'.m bacias
base no critério de um_idade da areia, é pcJssível reconhe- oceânicas, fe)rnecem seclimentos para a formação
cer uma série contínua de processos gravitacionais cm de correntes de turbiclez, e, por extensão, de leques
sedimentos eólicos, desde C) membre)-extreme) mais sece) sul,marinos.
(!<ig. 9.17a) até e) mais úmido (Fig. 9.176). A
avalancha de areia úmida é muite) similar a A
1
um escorregamente). B_ Fluxo de detritos
1
--- B'
entre e)s graos mais grossos. : : ': .·· ' ' ' ' ' ,' ''
..2e ..2e
O mais típicc) dentre os mecanismos (1)
·, • . • Êmbolomóv~L'
(1)
E E
comandac-los pela matriz é o empuxo o
~-g 1 ..r:.
u o
O) o
(bu~yance), impe)rtante nos fluxe)S cuja o oE U u·-"'
·- i.... V)
·-
constituição é dominada em volume por
lama de alta viscosidacle. Nesta situação,
a viscosidade acentuada inibe a turbu- Vista em planta
lência e e) fluxo tende a ser laminar. As Fig. 9.18 Desenho esquemático de um fluxo de lama ou de detritos, em cortes
lâminas superie)res, mais afastadas da transversal e longitudinal e em planta. Fonte: Fritz & Moore, 1988.
Areias movediças: o fenômeno da liquidificação I~nquantcl e-lura a vibraçào capaz de manter C)S
gràos levemente afastados uns elcls c)utrcls, a mistura
;\ lie1ucfaçàcJ (fluielificaçào cJu liquielificaçàci) é
sedimentei/água permanece cm empacotamcntr) ci
um cstaelcl ela n1atéria, no limiar entre a reolc>gia
mais al)erto possível (Fig. 9 .19 .1). Em nos seis exem-
plástica e a tluielal, cm que os gràcis estàcJ suspensos
plos, esta vil)raçâcl pcJde ser representada pelo
em sct1s prê>pricls pc)ros. F~sse estado é atingielci em
impacto repetid_cJ dcls pés cm movimento sobre a
areias fcJfas, encharcadas durante cJu lc>g<l apc'is a
areia (l:ig. 9.20a). Uma vez suspensa a vibraçãcJ me-
depc>siçàcl, cc>tn a água nos pclros sclll máxitna prcs-
cânica, Cl cstac.lcl liquefeito torna-se insustentável, e
sàcl pclssívcl. ;\ última ccJndiçâci corrcspc>ndc à
<>s gràcis ccJmeçam a afundar, ene1uant<l a água é cs-
villraçà<> mecânica scil,rc a massa, suficier1te pJra
premiela e forçada a ascender, seja através dos poros
que caela grà<l fiqt1e separaelo de seu \·izi nl1ci pr>r
intergrant1larcs seja c<infinada em tubcis ele escape
um clelgaelc) filme de água (f•ig. 9.19).
(Fig. 9.19.2). Tcrminad<> o mcivimentcl dos grã<1s (fig.
() fenêJmenc) ela liqt1ielificaçàc> é conhecidr> e até 9.19.3), a água excedente terá se acL1mulado nas po-
familiar para a maiclria ele nc'is. A areia mcJ\·celica (q11ick ças fabricadas pelas marcas de noss<Js pés <lu ncls
sancD é t1m excmpl<l ele sedin1entcJ n<> estaelc> arredores de pcqucn<is vulcões de areia (liig. 9.20.b)
lie1uidificadc1. Saltitar scgLiid.amcntc scibre uma areia fc>rmaelc)s naturalmente pelcl cxtravasament<l de tu-
ele praia encharcada, na parte emersa ela Z<Jna ele cs- b<JS ele escape.
praiamentci, p<>eie liquidificar a areia (Fig. 9.20a). ()
Na natureza, ci fat<)r de vil1ração mecânica neces-
estadcl lic1ucfeitci é mantielc> apenas enqt1antcl dt1rar a
sária para tluielificar a areia pcieie ser a tL1rbulência
vil,raçào mecânica que <l intr<JdL1ziu ou em cas<>s de
exercida pela própria corrente que acaba de depclsitar
íluxcJs d'ágt1a asccnelentcs. () caráter efémcrci da
a areia ou o pis<ltci<l eia areia pc)r algum animal. No
liquieiificaçàci está ligadci a<J tàtcJ ele que esse estael<l da
entantci, a passagem de geleiras e eis sismos poelem
matéria representa um cstadci de cqwlíl,rio instável: cc>m<i
prcldt1zir efcitcJ de intensa liquidificação, afetand<l es-
n1antcr água sc)b um ,gràcl cstátic<>, mais pesaelcJ que ela?
pessuras ccinsideráveis ele sediment<JS, por dezenas de
Seria Cl mesmcl eiue desafiar a lei da gravidaele.
e1uilômetros ele elistância (Fig. 9.21).
Areia liqüefeito
••. . .rz:! . -
Areia liqüefeito
• • • • •• .·...... ·...............
.. . . .
......... ... . ..........
............. . .
V O p<1 ele água circL1ndante. () movimento
e a manutençã<J da corrente junte) a<)
' . • •
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• . , l:.:J.
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........
. . . v
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.. . . . . . . . . . .
-······-· fund<J é atribuída à sua maic)t elcnsida-
'
. .' . . Areid º~~-;;;.Jdiiii iintada
. . • em empacotamento de cm C<>mparaçã<l ccim as águas
.:-çs,m
. . . .. pacto;.
. . .. .
.. ·m ..
. . . . .
. . .. b . . .
. . . .
arreelc)res, deviei<l à presença de partí-
culas em suspensà<). l:<~ntre estas
partículas e <l fluielo, <J mecanism<l ele
a b,c d,e interaçào determinante elas característi-
► Fluxo de fluido
intersticial
cas e1<) transporte é a turbulência.
l' Movimento
de grdos
4 ~Aovi mento A turbulência e sua instável C<lmp<l-
· da interface
basal da ctreia sição de fclrças com resultante para cima
liquefeita
sà<) respclnsávcis pela capacidaeie de
Fig. 9.19 Representação esquemática dos três principais estágios de evolução hidrodinâmica auto-sustcntaçàc) das correntes de
de um depósito sed-1mentar liquefeito: l. Equilíbrio instável: estado de fluidificação; 2. Que- turbidez. Graças a essa capacidade, este
bra do equilíbrio instável e início da ressedimentação: busca de urr1 novo estado de equilíbrio; tipo de fluxo densci consegue percor-
3. Final da ressedimentação: aquisição do equilíbrio estável. Fontes: Allen & Banks, 1972 e rer c.listc'Í.ncias de milhares de qLrilt>metros
Allen, 1984.
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onde a sismicidade e o eleclive acentua- Fig. 9.22 Representação esquemática do sistema plataforma - talude - planície
do estão presentes, defronte a zonas ele abissal, com a localização dos leques submarinos, formados em maior parte por
intenso aporte sedimentar terrígeno, depósitos de correntes de turbidez.
como grandes deltas ou desembocaduras de rios ali- proximais, preenchendo cânions no talude e na parte su-
mentados p<ir imenscis sistemas de leques aluviais. perior dos leques submarinos, as correntes de turbidez
transportam sedimentos grasseis por carpetes de tração
O conhecimento que hcJje se dispõe sobre ccJrrentes
(subleito friccionai de alta energia). Na parte mais distal
de turbidez é relati,·amente recente e sua evoluçãci histó-
do leque, depositam-se desde areias com estratificaçãci
rica é um assunto interessante para quem aprecia estudar
planar trati,·a e marcas <Jnduladas até lamas em leito pla-
o processo das descobertas científicas. C<)mo se trata de
no de suspensão livre (Fig. 9.23). Pode-se dizer, p<irtanto,
um fencJmeno escondido no fund<) do mar, a milhares
que as correntes c{e turbidez são miscelâneas de pr<Jces-
de metrcis de pr<ifundidade, as primeiras referências ci-
sos de tração e suspensão ocorrend<J dentro de um flux<J
entíficas, datac1as do início da década de 19 50, foram
gravitacional. A razão para que ela seja classificada como
feitas com base em indícios indiretos e suspeitas, sem
fluxo gravitacional é que sua préipria existência e movi-
nenhuma <ibservaçãci de processo. O indício mais im-
mento são consec1üências de uma ação da gravidade sobre
p<irtante f<iram as várias ocorrências de rompimentos
uma mistura grãcis/ fluido.
sucessiv<is de cabos tele6rráficos sulJmarinos, registrad<is
no clec<irrer das duas c1écadas antericires. F~m cada uma
c_{essas <Jcorrências, os cabos de determinada l<Jcalidade
Leituras recomendadas
rompiam-se sucessivamente das profunc{idades meno-
res para as maiores, em questão de p<iucas horas e p<ir . COLLINSON, J. D. & THOMPSON, D. B.
uma distância, transversal à margem continental, de cen- Sedimentary Structures. London: Allen & Unwin,
tenas de quiléimetros. A idéia de que correntes de fund<i 1982.
densas e viscosas seriam responsáveis por esses rompi-
FRITZ, W. ]. & MOORE, ]. N. Bµsics ef P01sical
mentos e pela clep<isiçã<) de areia e cascalho no fundo
Stratigrap01 and Sedimentology. New York: John
d<J mar chegou a ser ccinsiderada na época uma fantasia
Wiley & Sons, 1988.
de geól<)gos de imaginaçãci excessiva. Mas em questão
de menos de dez anos, converteL1-se em importante LEEDER M. R. Sedimentology; Process and Products.
paradigma da geologia sedimentar. London: George Allen & Unwin, 1982.
Do ponto de vista do transporte sedimentar, a cor- SUGUIO, I<.. Rochas Sedimentares. São Paulo:
rente de turbiclez é o tipo de fluxo gravitacional que Edgard Blücher/Edusp, 1980.
possui mais pcintos em comum ccim os fluxos c{e tra- WALKER, R. G. Ed. Facies Models. Ontario: Geol ..
ção e suspensão livre. Isto se deve a sua reologia t1uidal e Assoe. of Canada, 1986.
à elevada relação fluido/ grãos. Em suas porções
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Fig. 9.23 Turbiditos entre Rio do Sul e ltajaí (SC), na altura do km l 06,5 da Rodovia SC-470, com espessa sucessão rítmica de areritos
e lutitos marinhos. a) Aspecto geral. b) Detalhe do afloramento. Até o iníc·10 do século XX, imaginava-se que areias marinhas sópoderiam
ser depositadas em águas rasas (sob ação de ondas e marés) e sucessões como estas eram atribuídas a repetidas oscilações de prdun-
didade. A interpretação mais aceita é a de que cada par de estratos foi formado pela passagem de uma corrente de turbidez. Notcr contato
brusco na base e transicional no topo das lâminas de arenito (litologia de coloração bege). Fotos: P. C. F. Giannini.
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ios, no sentido geral, são cursos naturais de água racterização dos processos hidrodinâmicos e a com-
doce, ccJm canais detiniclos e fluxo permanente preensão da evolução sedimentar dos depósitos
ou saZc)nal para um oceano, lago ou tJutro rio. Dada a antigos, fundamentais na distribuição dos recursos e
sua capacidade de erosão, transporte e deposição, os na reconstituição da evolução tectono-sedimentar de
rios são os principais agentes ele transformaçãcJ da pai- uma bacia.
sagem, agindo continuamente no modelado elo relevo.
Neste capítultJ trataremos os aspectos essenci-
São importantes para a atividade hwnana, seja como vias
ais dcJs rios e dos processos aluviais. Inicialmente
de transporte e tcJntes de energia hidroelétrica e de água
serão abordadas as bacias de drenagem. Em seguida
potável, seja comcJ supridores de recurscJs alimentares
apresentaremos algumas formas de classificação dcJs
através da pesca e de água para irrigação. Além disso, a
rios, dos leques aluviais e dos leques deltaicos, com
existência de terras férteis nas planicies de inundação
base no estudo de processos e produtos em análo-
situadas às suas margens permite o cultivo em larga
gos atuais. Passaremos então ao estudo dos depósitos
escala. Por outro lado, as inundaçc'ies asscJciadas aos
aluviais ncJ registre) geológico. Analisaremos tam-
rios constituem um dos principais acidentes geoló,l,ri-
bém as inundações, que constituem <J principal
cos, acarretandcJ perdas de vidas humanas e grandes
. , acidente geoléJgiccJ relacionado aos rios, ccJm sérias
preJ uJZ<)S.
implicações para a atividade humana.
Os processos asscJciadcJs aos rios, dencJminados
processos fluviais, enquadram-se, num senticlo mais
10.1 Bacias d~ Drenagem
amplo, ncJ conjunte) de processos aluviais, que com-
preendem a erosão, transporte e sedimentação cm Os rios são tJS principais compcJncntes das ba-
leques aluviais, rios e leques deltaicos. C)s leques cias de drenagem. A bacia de drenagem de um
aluviais são sistemas fluviais distributários espraia- determinado rio é separada das bacias de drenagem
dos por dispersão radial no assoalho de uma !Jacia a vizinhas pclr um divisor de águas. As bacias de dre-
partir dos locais de saída de drenagens confinadas nagem podem atingir grandes extensões territcJriais,
em regiões montanhcJsas. Por sua vez, <JS leques comcJ é <J caso dcJs rios AmazcJnas, com cerca de
deltaicos são leques aluviais que avançam direta- 5.780.000 km 2 (Fig. 10.1), Congc), com pouco mais
mente para o interior de um corp<l de água (lago cJu de 4.000.000 km 2 e Mississipi, com cerca de 3.220.000
mar). Os depósitos correspondentes, ou depósitos km 2 •
aluviais, apresentam grande impcJrtância econêJmica
como hospedeiros de recurscJs minerais (comcJ urânio
e depósitc)s de placer com diamantes, cassiterita e <Juro
- ver Cap. 21), cnergéticcJs (carvãcJ, petrólecJ e gás -
Cap. 22) e hídriccJs (água subterrânea - Cap. 20).
() transporte sedimentar em sistemas aluviais prci-
cessa-se principalmente ccJmo fluxo de detritcJs,
típico dcJs leques aluviais, ou como carga suspensa
ou de fundcJ em canais fluviais. C_)s sedimentos
aluviais apresentam natureza essencialmente elástica
(Cap. 9), com granulaçãcJ muitc) variável. Seclimen-
tos químicos podem <)correr localmente, c<)mo
crostas e concreções de calei ta (calcretes - Cap. 9)
desenvolvidas cm paleossolos e evaporitcJs cm
sabkhas continentais.
Os depósitos aluviais ctJnstituem um dos mais im-
portantes componentes do registro gecJlógico. Seu
estudei, baseadcJ cm mcJdelos estabelecidos a partir Fig. l 0.1 Bacias de drenagem dos rios Amazonas e Orinoco.
da cJbservação de dcpósitcJs recentes, permite a ca-
1 .\rquipélago de Anavilhanas, rio Negro, Brasil, na época das cheias. Foto: Roberto Linsker.
CAPÍTULO 10 • Rtos E PROCESSOS ALUVIAIS 193 ,
Todos os rios numa bacia ele elrenagem pc)ssuem transpcirtadcJs pelei riei, resultando na constru·ção de
um nível de base (Cap. 9), que pode ser definidcJ deltas, ciu a mcJntante, através do processo denomina-
ccJme) CJ le)cal de mene)r ele,Taçãc) em relação ao c1ual do erosão remontante. Este últimci prc)cessc) ciccirre
um rio pode erodir o seu prcSpricJ canal. b:sse nível pelcJ fato de que nas cabeceiras das drenagens têm-se
de base pode ser regional, o que na maioria dc)s as pc)rções de maior declividade, e portanto de maior
casc)s é o nível dei mar, ciu lcical, nesse caso repre- energia e maior capacidade de erc)sàci aci le)ngei ele um
sentado por lagos, rochas mais resistentes (Pig. 1 ().2), curse) fluvial. A erosão remontante, em certos caseis,
ciu ainela drenagens ele maicJr porte que atuam ccJme) pode re)mper a barreira do diviscJr de águas promoven-
limites para seus tributáricis. Praticamente todos cJs e-lo a ligação entre cursos fluviais de duas diferentes
grandes ríeis pcissuem ccimci nível de base regional bacias de drenagem. F,ste fenômeno é denominadci cap-
<) ciceanci, ccim ci e1ual se enccintram (Fig. 10.3) e pc)r
i 'Cotovelo' de
Guararema
Fig. 10.4 O desvio das cabeceiras do rio Tietê para a bacia
de drenagem do rio Paraíba do Sul é um dos mais notáveis
Alto estrutural
. .
exemplos conhecidos de captura de drenagem. Previamente
;«(1JJ ao soerguimento do alto estrutural de Aruiá, ocorrido no
Terciário, as cabeceiras de drenagem do rio Tietê estendiam-
se a mais de cem quilômetros a leste das atuais. O alto é
delimitado por falha (traço em azul; A - bloco alto; B - bloco
baixo). As setas indicam o sentido de fluxo dos rios. O local
assinalado com o círculo indica o provável local de ligação
pretérita entre as drenagens. Com a captura desenvolveu-se
o "cotovelo" de G,iararema, onde o rio Paraíba do Sul sofre
inflexão de 180º em seu curso.
10.1 Lagos
Lagos são massas d'água estagnada, de origem natural (não antrópica), maiores de 0,1 knt, situadas em depres-
sões do terreno e sem conexão com o mar. As dimensões dos lagos são variáveis, existindo pouco mais de 250
com área superior a 500 km2• Em relação às suas drenagens, os lagos podem ser classificados em exorreicos,
quando deles saem rios conectados aos oceanos, ou endorreicos, que não apresentam ligação com o oceano.
Cerca da metade dos lagos conhecidos é de origem glacial e outro terço formado por processos tectônicos (Cap 19),
particularmente em rifas (Fig. 10.5). Ocorrem ainda sob a forma de lagunas costeiras, em crateras de vulcões e
estruturas de impacto de corpos celestes (astroblemas), em ambientes fluviais (por barramentos e em planícies
de inundação) e em zonas deltaicas. Podem ainda ocupar depressões resultantes de escorregamentos, deflação
ou rebaixamento geoquímica. Eles estão distribuídos em diferentes partes do planeta, compreendendo as
regiões polares (Fig. 10.6), temperadas, desérticas e tropicais úmidas.
A flutuação da lâmina d'água de um lago é função do balanço hidrológico, que compreende a interação com a
atmosfera (precipitação e evaporação), com as águas superficiais e com as águas subterrâneas, incluindo as
hidrotermais. Estes fatores controlam a composição das águas, que podem ser doces ou salinas.
A deposição nos lagos processa-se por decantação, com taxas de sedimentação muito baixas, atingindo valores
da ordem de 10-2 cm/ ano. Predominam sedimentos pelíticos (Fig. 1O. 7), podendo ocorrer também a precipitação
de sais (Fig. 10.8) ou a floculação de argilas em função das características químicas das águas. A matéria
orgânica, incluindo restos vegetais, pólens e esporos, além de animais, é um constituinte freqüente nos depósi-
tos.
Tendo em vista as baixas taxas de sedimentação e a composição dos sedimentos lacustres, pequenas espessuras
de sedimentos podem guardar longos registros de mudanças climáticas do passado. Nos últimos quinze anos,
concentram-se esforços no estudo de lagos na busca de informações sobre a evolução paleoclimática do
planeta. Sondagens rasas foram efetuadas nos depósitos lacustres pleistocênicos do astroblema de Colônia,
estrutura circular com 3,64 km de diâmetro, situada a cerca de 50 km ao sul do centro da Cidade de São Paulo.
. Os dados obtidos indicaram que ao redor de 28.000 A.P. (antes do presente), passou a vigorar um clima frio e ·
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condições de semi-aridez na região, que perduraram pelo menos até 18.000 anos A.P..
CARÍTULO 10 • RIOS E PROCESSOS ALUVIAIS 195 .
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Anastomosado
PcJdc-se dizer que os rios entrelaçados sãci mais co-
muns cm regiões elesérticas secas (Fig. 10.11) periglaciais,
enquanto os rios meandrantes estão ligados a climas
mais úmidos (Fig. 10.12). Os rios anastomosados são
também mais freqüentes em condições climáticas úmi-
das, pciis, do mesmo modo, dependem fortemente da
Meandrante açãei da vegetação na fixação das margens (Fig. 10.13).
Entrelaçado
()s rios retilíneos estão praticamente restritos a peque-
Fig. 10.1 O Os quatro tipos fundamentais de canais fluviais. nc)s segmentos de drenagens e distributários deltaicos
Adaptado de Miall, A.D., 1977. (Fig. 10.14).
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Entrelaçado dois ou mais canais com barras e pequenas ilhas normalmente >40; comumente >300
Anastomosodo dois ou mais canais com ilhas largas e estáveis normalmente < 10 .
CAPÍTULO 10 • Rios E P1oc:essos ALuv, t99 ·
Carga de fundo
il
\
\
i
i
j /
1 2 3 4
Carga mista
\
''
\i \
! +i
l :
1
!t~()
'
1 '
'i ' 1
\ i
;1 i
l O km
i'
i
!
1
i
t '
\
'l
i
i
I 0l\ l
\ \ \
:1
''
1
·, ''
Fig. l 0.14 O Delta do Mississipi é composto por distributários
retilíneos que configuram um arranio em "pé-de-pássaro". i
6 7 8 9 10
Carga em suspensão
mais constante e próximo à superfície, ocorre a reten-
l i
ção dos clastcJs mais grossos, predominanc.lcJ o ; 1
i' ''
1 !
transporte de partículas de granulação fina. Entretan-
to, mesmo em condições úmidas, onde pode ocorrer /1/
\ i
a remoçãc) da cobertura vegetal - particularmente por )\
ação antréJpica - o fornecimento ele carga ele granulação
(, f1
grossa será favorecido. 1
!1
Í I
Em ccJnc-lições climáticas áridas, o nível freáticcJ é mais !/
' 1
profundo, mas pode ser alçado rumo à superfície pc)r '
\
ocasião de chuvas tcJrrenciais. A alta permeabilidade dos 11 12 13 14
sedimentcJs arenosos e ccJnglcJmeráticos, predominantes
em desertos áridcJs, propicia a infiltração e percolação Fig. l 0.15 Variações nos padrões de canais fluviais em fun-
eficaz das águas superficiais, com inibição do escoamen- ção do tipo de carga. Segundo Schumm, S. A., 1991.
tcJ superficial. C:om isto os rios tendem a perder
rapidamente a energia de transporte. Conseqüentemen-
te, haverá um predomínio da deposição de sedimentos (1) 1.3-
""0
nas porções proximais (próximas às cabeceiras) e for- ..g 1.2-
maçãcJ de crostas duras, especialmente calcretes, em • vi o
o <lJ
porções clistais ou marginais.
::, 1.1- ,e
e -
-
v=; - Q} - - - Meandrante Entrelaçado
1,O o.:'.
Experimentos laboratoriais indicaram que a mu-
dança de padrão do canal pode ocorrer de forma ' '
o '
0,4 '
0,8 1,2 '
1,6 2,0
abrupta, ccJm limites niticlamente elemarcados e ccJn- Declividade (%)
trolados por fatores como a sinuosidade e a declividac.le
(Fig. 10.16), cJu ainda pela carga de sedimentos trans- Fig. 10.16 Variação na morfologia de canais fluviais em
portada pelcJs ricJs. função dos parâmetros sinuosidade e declividade. Segundo
Schumm, S. A. & Khan, H.R., 1972.
~~mbc)ra se1a ób,-ia a
distinção entre um canal
retilínec) e um tipicamente
meanclrante, nem sempre
C)S termos extrcmc)S estãc) ,; ' ;
representados na natureza.
C)s paclrõcs descritos são
. :::;_>,!~f .~;~
· ~ ....... ,
. .
comuns, mas existem mui-
tas gradações entre eles. Ac)
lc)ngo de um mesmo ric) i,i.,',,
•
pode-se observar a passa- <'.l;í<::t,
gem grac1ativa ele
características próprias de Fig. l 0.17 O rio Japurá (Bacia do Amazonas) exibe padrão transicional entre anastomosado,
tim determinadc) padrãc) com grandes ilhas cobertas por vegetação, meandrante de alta sinuosidade com canais aban-
donados, e trechos retilíneos provavelmente controlados por estruturas do embasamento (imagem
para c)utrc) (Pigs. 10.12 e
do radar orbital SIR-A, obtido em 1981, NASA).
10.17). r~, a<) lc)ngo elo
tempo, pc)de <)correr va-
riação em funçãcJ da clescarga de) ric) nas épc)cas de
10.3 Leques Aluviais e Deltaicos
cheia e cie estiagem. Aciicionalmente, existem ri<)S
com vales estrcitc)s, cm fc)rma de "V", qtie enta- A ccJnstruçãc) dos leques aluviais se prclcessa atra-
lham C) seti substrato rochc)so e freqüentemente sã<) vés de tim canal principal e numcros<JS clistributários.
encachoeiradcJs. ~:stes rios nãc) se enquadram ncs- Nclrmalmente, pc)uCc)S canais sãc) ativos ao mes-
sas classificações. mcJ tempc). Em geral eles apresentam confinamento
efêmero acJs seus respectivos canais e freqiientc
avulsã<) associacla às
descargas fluviais mais
elevadas. Em regicJes
áridas, a descarga flu-
vial c)corre sob a
forma de inundações
em lençol e fluxos
gravitacic)nais (Cap. 9),
permitinclo a dispersão
de sedimcntc)s sobre a
superfície de) leque a
partir de seu ponte) de
saí ela (ápice).
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Fig. l 0.19 O leque do rio Kosi (a) tem seu ponto de origem (ápice) nos Himalaias, na região fronteiriça entre a ln dia e o
Nepal. Os sedimentos gradam de conglomerados com blocos e matacões, nas porções proximais, a pelitos nas porções
distais. Este rio apresentou acentuda migração dos canais distributários para oeste nas últimas centenas de anos (b). a)
Imagem Landsat obtida em fevereiro de 1977, NASA; b) Modificado de Holmes, A., 1965.
\
Sistemas deposicionais '
Interligação entre sistemas deposicionais coetâneos
e estruturas físicas e bi<iléigicas que permitam N<i estudo dos depéisit<JS aluviais, emprega-se <J
discriminá-lo dos corpos rcichcisos adjacentes. As vá- métcid<J da aproximação sucessiva, ou "zoom", partin-
rias fácies analisadas podem ser reunidas em dci-sc da observação mais geral, cm escala de
ass<Jciações ou sucessões de fácics, com C) intuito de afl<iramentci, onde são identificaclas superfícies
generalizar, categorizar e simplificar as obser\Taçõcs da limitantes, descritas diferentes fácies, suas geometrias
variabilidade lit<iléigica de um m<)clel<i ou de uma lJa- internas e externas, suas relações C<Jm as fácies adja-
.
Cla. centes, até a cibser,Tação de mai<Jr eletalhe, quand<J
porções elo depósito sãci estudadas individualmente,
Para a análise de fácies pode ser empregada uma
correspondente à análise de fácies (fig. 10.22).
classificaçãcJ fcirmulada por 1\nclrew D. J\Iiall,
sedimentólogo inglês, baseada em códigos de litofácies, Esses procedin1entos e classificações podem ser
comp<istos por uma letra inicial maiúscula, ql1e repre- relativamente bem aplicad<is para sistemas fluviais atu-
senta a granulação cl<) material, seguida p<ir Lima c1u ais, <Jncle é possível a observação direta da morfologia
ciuas letras minúsculas, e1ue indicam as estruturas el<is canais, dos pr<Jcessos erosivc)s e sedimentares atu-
sedimentares presentes. A esta classificaçã<i peide ser antes, l1em como da distribuiçãci tridimensional elos
asscJciada a caractcrizaçã<J lit<il(Jgica dcJs depósit<JS. ciepéisit<Js. f:ntrctanto, a definiçãci e distinção de tip<is
Dessa forma pode-se interpretar cada litcifácic cm ter- ele paelrõcs para sistemas flu,Tiais antigos, a partir ele
mos de sua origem hidroc1inâmica e pcisição nas aflciramc11tos geralmente alteradcis e descontínu<)S,
diferentes fácies do sistema fluvial (Tabela 10.3). J\tu- pode ser cc)nfusa e de difícil execuçãci. Adicionalmen-
almente, este métoclci está amplamente difundido entre te, <J métoelo de análise de fácies C<Jm seções verticais
os sediment<)l<ig<is, send<i cmpregacici também para pcJdc não ser suficiente para representar adequadamente
outros tipos de sistemas deposici<Jnais, tanto para re- as variações laterais e tridimensionais ela composiçãci e
gistros m<Jdernos como antig<JS.
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\ . ,S
,.,, t,,
3m
Fig. 10.22 Método de descrição de um depósito fluvial, com a identificação de superfícies limitantes (tracejado), caracterização
das litofácies (códigos representados pelas letras, conforme a Tabela 10.3) e determinação de atributos vetoriais, como paleoccrrentes
(setas, indicando o rumo do mergulho de camadas frontais de estratos cruzados em relação ao norte geográfico). Formação
ltaquaquecetuba, Cenozóico, Bacia de São Paulo (painéis elaborados por P. Aronchi Neto).
UNIVERSIDADE POT1r.:11 õR .
Tabela 10.3 Litofácies associadas a depósitos aluviais
St A, arenitos, a AC, arenitos médios a estratificações cruzadas dunas (regime de fluxo inferior)
muito grossos, conglomeráticos, acanaladas isoladas (q) ou
podendo conter grânulos e seixos agrupadas (o)
Sr A, arenitos muito finos a grossos marcas onduladas de todas ondulações (regime de fluxo
os tipos inferior)
Sh A, arenitos muito finos a muito grossos, laminação horizontal, lineação fluxo acamado planar (regimes
podendo conter grânulos de partição ou de fluxo de fluxo superior e inferior)
Ss A, arenitos finos a grossos, podendo sulcos amplos e rasos incluindo preenchimento de sulcos
incluir grânulos estratificações cruzadas tipo h
Fig. l 0.28 Depósitos de barras longitudinais de cascalhos intercalados com areias (porção intermediária de um antigo rio entre-
laçado) da Formação Ponta Porá (Cenozóico), na região entre Bela Vista e Jardim, Estado de Mato Grosso do Sul. Visão geral (a) da
estratificação horizontal dos cascalhos e um detalhe (b) mostrando a imbricação dos clastos, indicando sentido de transporte para o
lado direito da foto. Fotos: C. Riccomini.
arenitos ccJngl<Jmerátic<1s com estratificação cruzada ao ser introcluzida em um ccirpo d'água), constru-
planar. Segment(JS parcialmente inativos podem rece- indci sucess(Jes c-le litofácies de arenitos com
ber seclimentacã(J de areias e cascalh(JS durante as cheias.
o
estratificação cruzada. Areias com laminações on-
duladas e siltes peidem ocorrer nc1 tcipo das barras.
Depósitos de rios entrelaçados distais Novamente vale lembrar a existência ele transições
entre (JS tipos de depc'isitos, a alternância vertical de
As porções distais de sistemas fluviais entrela-
dep(isitcis de cliferentes pcJrções no sistema fluvial en-
çac1os correspcindem a ri(JS ncJrmalmente largo, e
trelaçaclo (F•ig. 10.29), bem C(Jmo a intercalação de
rasos, sem diferenciaçãcJ topcigráfica clara entre a,
p(irçc)es ativas e inativas. Os depósit(JS raramente
sãcJ cíclicos e corresp(Jndem predominantemente a
barras arenosas ot1 ondas-de-areia (depéJsitcis gera-
c1c>s pela rápicla clesaceleraçãcJ da carga seclimentar
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mostrando a predominância de depósitos fluviais entrelaça-
1' dos distais, na porção inferior, e proximais na porção superior
4m
Fig. 10.30 Seção colunar mostrando intercalação entre depósitos de arenitos fluviais
de rios entrelaçados e de lamitos da porção distal de leque aluvial: l - arenito
conglomerático a conglornerado com estratificações cruzadas; 2 - lamito argilo-areno-
so; 3 - lamito argiloso. Formação Resende, Oligoceno da Bacia de Resende, Estado do
Rio de Janeiro.
IAPituL.o 10 • Rios E P1oe1:ssos AL.uv1A1s 209
'
Fig. 10.32 O rio Paraíba do Sul, ao atravessar os terrenos sedimentares do Bacio de Taubaté, apresento marcante caráter
meandrante. No trecho ilustrado, o oeste de Coçapovo, Estado de São Paulo, são observados inúmeros meandros abandonados
por atalhos em corredeira. As manchas brancos indicam áreas de extração de areia nos barros de pontal. Foto: Secretaria da
Agricultura do Estado de São Paulo, SP-31, obtido em julho de 1973.
Depósitos de atalho e meandros abandonados
A planície de inundação (jlood plain) é a área rela- Fig. 10.37 Bloco-diagrama com as principais feições cons-
tivamente plana adjacente a um rio, ccJberta pc)r água tituintes de um rio anastomosado. l turfeira; 2 pântano; 3
nas épocas de enchente. O termo bacia de inundaçãc> lagoa de inudação; 4 dique marginal; 5 depósito de rompi-
(jlood basin) é reservado às partes mais baixas elesta pla- mento de dique marginal; 6 canal fluvial; 7 cascalho; 8 areia;
nície, constantemente inundadas. A planície possui 9 turfa; l O silte arenoso; l l lama. Modificado de Smith, D.G.
& Smith, N. D., 1980.
forma alongada, onde predominam os prcicessos de
10.3 Inundações
Historicamente as populações concentram-se às margens dos rios e invariavelmente estão sujeitas às inuncla-
ções. Os prejuízos anuais acumulados pelas inundações atingem cifras astr()nômicas.
As inundações constituem um dos principais e mais destrutivos acidentes geológicos e ocorrem quando a
descarga do rio torna-se elevada e excede a capacidade de) canal, extravasando suas margens e alagando as
planícies adjacentes. Elas podem ser controladas por fatores naturais ou antrópic<)S. Entre os fatores naturais
encontram-se normalmente as chuvas excepcionais e o degelo (Fig. 10.38). Períodos anc">malos de chuva sobre
as bacias de drenagem podem ocasionar a súbita elevaçãc) do nível d'agua dc)s cursos fluviais, os quais, além de
inundar áreas cultivadas e reduzir a disponibilidade de água potável, acarretam a destruição ele construç<"'>es e
podem redundar na perda de vidas humanas e de animais domésticos (Fig. 10.39). Por outro lado, a ação
antrópica pode ser responsável por grandes enchentes, como nos casos de rupturas de barragens e diques
artificiais.
Importantes obras de engenharia, como diques margiRais artificiais, barragens de contenção e canalização de ric)s
são construídas no sentido de minimizar os efeitos elas enchentes, com resultados positivos, mas que também
apresentam seus inconvenientes. Diques marginais artificiais pr()Vocam o assoreamento do canal devido ao
incremento da acumulaçã<) de sedimentos que normalmente seriam depositados nas planícies de inundação.
Barragens de contenção, que de um lad<) podem ser aproveitadas para geração de energia hidroelétrica e irriga-
çã(), de outr<) também retêm sedimentos e por vezes, na sua construção, acabam por alagar áreas cultiváveis,
núcleos urbanos, reservas florestais, monumentos históricos, sítios arqueológicos e geológicos. A canalização
cc)mpreende a alteração do padrão do canal de um rio, em casc)s extremos através da sua retificação, de modo a
aumentar a velocidade de fluxo das águas e evitar que estas atinjam o nível de inundação; pode envc)lver a
simples desobstrução do canal ou até seu alargamento e aprc)fundamento. Reduzindc)-se e) comprimento do
canal, aumenta-se o seu gradiente e portanto a velocidade de fluxo. Assim, a grande descarga associada às
enchentes pode ser rapidamente dissipada. Entretanto, a canalização não impede a tendência de um rio meandrar
e retc)rnar ao seu curso prévio. Um exemplo. que quase tc)dos os anos causa grande comoção à população
paulistana, é o das enchentes ao longo das antigas várzeas elo rio Tietê e seus tributários. As inundações ocorrem
em função da redução da área de inftltração das águas pluviais pelas construções e pavimentações de vias
públicas, levando a um rápido escoamento superficial rume) a um rio originalmente meandrante e atualmente
retificado, com sua planície de inundação densamen-
te ocupada. Apesar d()S altos custos das obras de
contenção de enchentes na cidade de São Paulo -
reservatórios de contenção (popularmente conheci-
dos como "piscinões"), canalizaçãc) de rios e córregos,
construção de diques marginais - uma solução para
<) problema está muito distante.
A alternativa mais racional para minimizar o efeito
das enchentes é, sem dúvida, o adequado planeja-
mento da ocupação territorial, particularmente das
áreas inundáveis, através da identificação de áreas de
risco e do estabelecimento de regras específicas para
seu uso.
:; .·_
cou a evacuação de mais de 50.000 pessoas, além de alagar grande :-,,, -
.
•• .
extensão de terras cultivadas. A figura é uma combinação de duas 'ti.
imagens. A área azulada indica a extensão da inundação e foi
delineada a partir de imagem de radar ERS-1, sobreposta a uma
imagem SPOT que exibe os canais dos rios sob condições normais
(imagens produzidas pelo lnstitute of Technology Development/Space
Remote Sensing Center, divulgadas pela NASA).
infcri()r a 1O, e alta sintte)sidade, supcrieir a 2. NeJrmal- elo à ccintenção pela vegetação. c=einscc1üentemcnte, a
mentc, os eletritcis são transpc)rtacl<)S C()meJ carga em característica cliagnéistica deste sistema tluvial é eJ C(Jn-
suspensão e)u mista, embora esses ríeis pc>ssam trans- tatc> subvertical entre as diferentes fácies, o que teirna
portar sedimentos grc)ssos em abunclância. clifícil a sua caracterizaçãcJ em afloramentos e a ceJrrc-
A baixa declividade elos canais e a sua sint1cisidac-!e laçãei lateral entre (JS peiços. () rec()nhecimcnt(J
provocam freqüentemente <J seu extravasamentci ceim sulJst1perficial desses depósitos exige uma malha mui-
clcposiçãei de siltes e argilas. As turfeiras, áreas panta- tci clensa de scindagens. A persistência do cenário, aliada
neisas e lagoas ele inundaçãei cicupam normalmente mais à agradaçãci vertical pcir inflt1ência ela elevaçãci e-lei ní-
de de)is tcrçcJs ela área de t1m sistema flt1vial vel ele base regional em relaçãe) aei do ri(>, é a
anaston1osadei cm tcrrcne)s úmideis. resp(H1sável pela precleiminância ele dcpósitcis ele trans-
!Jeirclamentei em rios anasteJmosadeJs.
Os rios anastomosadeis caracterizam-se pela pre-
sença de c-!ois ciu mais canais está,1 eis e C)ceirrcm en1
Depósitos relacionados ao canal fluvial
regiões de su!Jsidência em relaçãcJ ao nível de base
regional. C)bscrvaç('íes de campo e cstudcJs cxperin1en- C)s dcpósit(JS ele canal ceimprcenelem cascalheis e
tais demonstraram que a estabilidade c!(JS canais é areias grossas, eis quais p(ldem ser eliferenciadeis dos
feJrtemcnte C(Jnelicionada pela presença c-!e vcgctaçãei; clepc'isitos de relmpimento de diques marginais peir apre-
a resistência à erosão de margens ccim vegctaçãc), es- sentarem !Jascs ctJnca,•as erosivas. 1'\ ccJnstituicã(J deis
'
pecialmente raízes, peide ser 20.00() vezes maicir dei diques marginais é geralmente silt<)sa, ceintcndo ele
que para margens sem vcgetaçãcJ. Climas úmiclc>s, prei- 1() a 2(Y1/ti ele raízes vegetais em vcJlume. C~radam, late-
pícieis ao desenvolvimentci de vegctaçãcJ, são mais ralmente, para turfeiras, pântan(JS ciu lageias de
favoráveis para a implantação desse tipo ele sistema. inunelação.
Tais conelições, tcidavia, podem conduzir também à fcJr-
mação de ri(JS meanclrantes. F,ntretanto, eis ricis
Depósitos de transbordamento do canal fluvial
anastomosados apresentam pouca migração cleJs canais
e ausência ele barras de pelntal, eJ que (JS diferencia, ()s clepósitos de rompimento de diques margi-
peirtanto, dos ricis meandrantes. nais ccJnstituem camadas pciuco espessas, centimétricas
a dccimétricas, c-le areia, grânulos e pequeneis seixos.
_b:studos realizadeis ccim sondagens permitiram ave-
Tendem a formar corpcls de geometria sigmciidal, com
rificaçãe> de taxas altas de acrescentamente> vertical cio
bases planares não erosivas. c:)s depéisit(JS de turfeiras
canal. A migraçãe> lateral, no entantci, seria baixa, devi-
214 DECIFRANDO A TERRA
Leituras recomendadas
ETHRIDGE, F. G.; FLORES, R. M.; HARVEY,
M. D. (ed.). Recent developments in fluvial
sedimentology. Tulsa: Society of Economic
Paleontologists and Mineralogists, Special
Publication 39, 1987.
Manto de gelo
Língua
e-~- '
,,.,.. j , ~ _, ,, ,
Plataforma
Fig.11.1 Principais tipos de geleiras: a) de margem marinha aterrada assentado sobre o substrato; b) manto de gelo de margem
lobada aterrada terminando em lago; c) manto de gelo de margem marinha flutuante (plataforma de gelo); d) manto de gelo de
margem terrestre; notar morenas terminais e feições lineares à frente da geleira. Fonte: Eyles, 1983.
() manto de gele) da Antártica, com cerca de 14 As chamadas geleiras de escape (outlet glaciers), pc)r
milhões de km 2 de área, ncitabiliza-se por conter exemplo, sãci semelhantes distalmente às geleiras de vale,
91 <½1 do gelei de água doce e 75r1/o da água de)ce de) porém são alimentadas, nas suas regiões superiores, por
mundo. F,m várie)s locais, sua espessura supera os manto, casquete ou campo de gelo. Incluem-se as gelei-
4.()()0 m. A morfc)lc)gia do manto caracteriza-se pela ras que drenam o casquete da ilha rei George e os mantos
presença de damos, regiões de topografia arredon- de gelo da Antártica e Groenlândia. Quando geleiras de
dada, mais salientes, a partir das quais o gelo flui vale atingem vales mais amplos, ou planícies, no sopé de
radialmente pela gravidade. () manto de gelo da montanhas, elas podem espraiar-se, formando grandes
Groenlândia, por sua vez, ce)bre uma área de 1,7 massas lobadas ou em leque, chamadas geleiras de
milhão de km 2 , mais ou menos do tamanho do piemonte. Tal é o caso e.la famosa geleira de Malaspina,
México, e retém cerca 8% da água doce do plane- no Alasca, com 70 km de largura.
ta. Seu perfil é também convexo, parabólico,
Em muitos casos, as geleiras têm as suas extremida-
atingindo espessuras de mais de 3.0()0 m.
des sobre o continente, em ambiente terrestre. Em outros,
Casquetes de gelo (ice caps) nãe) se diferenciam contudo, atingem C) litoral, pe)dende) ou não adentrar o
morfe)logicamente dos mante)s, a não ser pelo seu mar. Neste casei, formam as chamadas geleiras de maré
tamanho mene)r. São encontrados principalmente e)u intermaré, línguas de gelo e plataformas de gelo.
se)l)re planaltos elevados, situados em regiões Platafc)rmas de gelo C)correm atualmente somente na
subpcilares, onde fcirmam massas de gelo de perfil Antártica e constituem enormes massas tabulares, que
convexei, cobrindo substratos muitas vezes irregu- invadem o mar, movendo-se a partir de regiões mais
lares. Exemplos típicos são as massas de gelo que elevadas, nc) interior do continente. As plataformas
recobrem a ilha de Svalbard, na região ártica, e a adentram o mar assentadas (aterradas) sobre o substratc),
ilha rei George, ne) arquipélago das Shetland do Sul. tornandei-se, em seguida, flutuantes. Sua espessura varia
() casquete ele gele) da ilha rei George tem mais de de 1.()00 m, na sua parte interna, até centenas de metros,
300 m de espessura e cobre cerca de 93% da su- na sua margem marinha. As plataformas de Ross, Weddel
perfície da ilha. e Pilchner cobrem os mares de Ross e Weddel, respecti-
vamente. A primeira tem cerca de 850 x 800 km, uma
Menores c.1ue os casquetes, os campos de gelo (ice
área maie)r que a da França.
fields), encontrados comumente em regiões alpinas e
temperadas, têm perfil plano, em grande parte margi- I~ínguas de gelo são semelhantes às plataformas,
nalmente cercadeis por topeigrafia montanhcisa mais pc)rém c.le menor tamanho. Finalmente, geleiras de
elevada. C) espetacular campo de gelo de Colúmbia, maré (atingidas pela maré alta) e de intermaré (atingi-
nas Montanhas Rochosas do Canadá, desenveilve-se das pelas marés alta e lJaixa) fe)rmam-se quando geleiras
extensivamente sobre o divise)r de águas continental c.le vale ou de escape alcançam o mar, permanecende)
da América dei Ne)rte. aterradas ou formando pequena extensão flutuante.
Muitas dessas geleiras são encontradas no interior de
Geleiras de vale (c)u alpina) constituem massas
fiordes, como oceirre na Nc)ruega, Patagônia, Penín-
de gelo alongadas, circunscritas a vales montanhcisos e
sula Antártica, Alasca etc.
alimentadas por massas de gelo maie)res acumuladas
nos chamados circe)s glaciais. Um fenômeno comum que atinge geleiras que che-
gam ae) mar é a desagregaçãei (calviniJ de sua extremidade
Circo é uma espécie de bacia C)U concavidade limi-
marinha, desprendendo massas flutuantes de gelo, os
tada ne) seu lado proximal cc)ntra paredes re)chosas
chamados icebergs. A fragmentação do gelo decorre
abruptas. _b'.m alguns casos, os circos contêm massas de
elo seu fraturamento interno intenso, em contato com o
gelo circunscritas a eles, de extensão limitada, desligadas
mar, causado pela ação das marés. Nos casos acima, os
das geleiras de vale, as chamadas geleiras de circo.
icebergs produzidos são relativamente pequenos e irre-
Como tivemos ocasião de ccimentar, além desses gulares na forma. Icebergs gerados por fragmentação
tipos básicos de geleiras, outras variedades são reco- das plataformas de gelo, típicos da Antártica, são, ao
nhecidas e denominadas ce)m base em diferentes contrário, tabulares e muitas vezes imensos (até cente-
critérios, ocorrendo muitas vezes associadas às cate- nas de quilômetrcis de comprimento). Eles podem
gorias acima definidas. igualmente formar-se quando as extremidades de geleiras
entram em cc)ntato com lagos de água doce. Icebergs libe-
rade)s, nos últimos anos, pela fragmentação das plataformas
CAPÍTULO 11 • AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 219 •'!,, ::
de gelo de Filchner e Ross, na Antártica, atingiram até mais do gelo é maicir que o seu acúmulci. Dencimina-se
de wna centena de quilômetros de comprimentei. linha de equilíbrio ou linha de neve o limite entre as
duas zonas (Fig. 11.3).
11.1.2 Balanço de massa
11.1.3 Fluxo do gelo e seus mecanismos
Geleiras fcirmam-se quando a acumulação de neve
excede a sua perda. () scJterramentcJ da neve acumulada A zcina de acumulação das geleiras situa-se nas suas
leva à sua transfeirmaçãci em gelei, através de uma série partes topograficamente mais elevadas e a ablaçãcJ
de muelanças físicas, incluindo compactaçãei, expulsãci preelomina nas regiões mais baixas, em direção a sua
do ar intersticial e crescimento de um sistema engrenadci margem frontal. A adição de) gele) na zona de acumula-
de cristais de gelo. As primeiras transformações occJr- çãci é ccimpensada pela sua diminuiçãei na zcina de
rem na neve remanescente do derretimentci eJccJrriclcJ ablaçãci. Ccim o aumento da acumulação, a declividade
no verão elo anel anteric>r, formando o .firn ou nevée, das geleiras acentua-se, gerando esforçcis que levam a
que caracteriza os chamados campos de neve. En- massa de gelo a mover-se sob a ação da gravidade.
quanto a neve recém-depclsitada tem 97°/o de ar por Há, portanto, uma transferência lc>ngitudinal de massa
vcilume e a densielae-le ele (),1 g/cm-', cJ gelo é pratica- aci lcingci da geleira, contrcJ!ada pe!cJ gradiente entre a
mente destituído ele ar e tem a densidade de 0,9 g/ acumulação e a ablaçãci.
cm 3 •
1\ gravidade é a força responsável pelo movimen-
Após a sua fcirmação, a manutenção das geleiras tei ciu fluxcJ das geleiras. () esforço de cisalhamcntci
depenele elcJ equilíbrio ou balançeJ entre a acumulaçãci criaclo pela gravidade provoca a defcirmaçãci dei gelo
de neve e sua perda por ablação, o chamado balan-
ço de massa (Fig. 11.3). O processo afeta a vida das
Linha de equilíbrio Linha de equilíbrio
geleiras independentemente de seu tamanho, sejam man-
tos ele gelo ou geleiras de vale. () balançci peide ser
pclsitivo, negativo ou neutro. No primeiro caso, a acu- i " ·,
•
J
', ~ ',,
e
mulação supera a perda levandcJ ao crescimentc> e
ampliação das geleiras. No segundo, a perda é maieir,
e as geleiras diminuem de tamanho, podendo até de-
Lado continental Lado marinho
saparecer. As geleiras mantêm uma massa constante
quando o balanço é zero. a - Manto de gelo
Fig.11.3 Elementos do balanço de massa de manto de gelo (a) e geleira de vale (b); setas verticais mostram a intensidade de acumu-
lação (brancas) e ablação (vermelhas); velocidade basal relativa das geleiras é mostrada pelas setas horizontais pretas. Zonade acumulação
chega até a costa do lado marinho (a) onde a ablação ocorre pela formação de icebergs. Fonte: Sugden e John, 1976.
Fig.11.4 Mecanismos de fluxo de gelo: a) ajus-
tamento intergranular do gelo; b) deslocamento
de cristais engrenados, através de fusão local e
regelamento (mudança de fase); c) deslizamento
ao longo de planos internos da massa de gelo; d)
deslizamento ao longo de planos internos de cris-
tais de gelo. Fonte: Sharp, 1988.
b - Mudança de fase
sobre substrato duro +-'" "'(1/ estudos demonstraram que a presença de uma cama-
o
da não congelada, cleformável no substrato diminui a
Assoalho do geleira \ ◄
fricção basal entre geleiras e seu assoalho facilitando o
deslizamento (Fig. 11.5). A variação no declive do
Embasamento
embasamento sobre o qual as geleiras deslizam peide
produzir deformações compressivas (declividade
menor) ou distensivas (declividade maior), resultando
b - Geleira de base na formação de fraturas verticais no gelo, as chama-
fria repousando
sobre substrato duro
das crevasses, de disposição, respectivamente, radial ou
transversal, cm relação ao corpo de gelo (Figs. 11.6, 7).
◄ Direção do fluxo
1 1 1 1 1
1 1 1 1 1
1
• Crevasses I Devasses 1 Crevasses marginais 1 Crevasses 1
:
1
radiais llongitudinaisl
1 1
l1 1ransversais 1
1
•
Fig.11.6 Tipos de crevasses em geleiras de vale. As setas normais às crevasses indi-
cam as direções de distensão (estiramento) da geleira. Fonte: Hambrey e Alean, 1992.
pe)de-se dizer que o clima é o principal fate)r. Deste O ce)njunto dessas condições é respc)nsável pela
modo, as geleiras são denominadas temperadas, ocorrência de gelo frio e gelo quente. No primeiro
subpolares e polares. Em geral, pode-se dizer que a caso, a temperatura do gelo está abaixe) dcl ponto de
distribuição da temperatura no gelo é função da troca fusão pe)r pressão e, no segundo, encclntra-se próxi-
de calor gerade) na superfície, internamente e na base ma ou acima deste (Fig. 11.8).
da geleira. A transferência do calc)r faz-se segunde) e)
De particular impe)rtância em Glaciologia e Gec)-
chamado gradiente térmico, dado pela diferença en-
logia Glacial é o regime térmiceJ basal das geleiras, ou
tre a temperatura superficial e basal do gele), e através
seja, a temperatura na interface gelo/ substrato, c1ue é
de transferência horize)ntal ou vertical de calor pelo
funçãcJ c-la quantidade de calor gerado e sua taxa de
movimento de gelo ou neve.
transferência ao longo de) gradiente térmico. Três celn-
A temperatura da superfície das geleiras é influencia- dições térmicas basais do gelo podem ser reconhecidas.
da pela incorporação de firn, condução do cale)r e F:m geleiras de base fria, também chamadas de base
transferência de cale)r latente pelo recongelamento da água. seca, predomina o congelamento. Não há, portanto,
Na regiãe) basal, a espessura do gelo e sua taxa de acu- água de degeleJ e as geleiras estão ceJngeladas e aderidas
mulação, o calor geotérmice), a frir:ção interna causada ao seu substrato. No caso de geleiras de base úmida
pela deformação do gelo e a fricçãeJ basal produzida
pelo seu deslizamente) se)bre o substrato sãe) as variáveis
principais que afetam a geração de calor.
mais frio mais frio
Perfil de
temperatura
1
Perfil de Ponto de fusão :
temperatura-~• sob pressão
1
''
''
a - Gelo quente b - Gelo frio
O regime térmico pode variar espacial e tem- 11.2 Ação Glacial Terrestre
peiralmen te dentro da mesma geleira (Fig. 11. 9). Um
aspecto rele,·ante ligado ae) regime térmico basal
das geleiras refere-se à sua ce)nseqüência no com- 11.2.1 Processos de erosão glacial
pc) rtam e n to dinâmico, particularmente ne)s
Os processos de erosão glacial ocorrem seJIJ as
mecanisme)s ele tluxo de gele), e e)S efeiteJs destes
massas de gelo, sendo, portanto, de difícil observação
sc)IJre els diferentes substratos sobre os quais as
e estudo, e e) seu conhecimento é ainda incompletc).
geleiras se mc),·imentam. F,sses efeite)s ccJntrolam
ainda a ocorrência e a intensidade dos prcJcessos A erosãeJ glacial pclde ser definida cc)mo envol-
erc)sive)s e deposicionais subglaciais (I,'ig. 11.1 O). vendo a incc)rporação e remcJçãcJ, pelas geleiras, de
partículas ou detritos de) assoalhe) sobre o qual elas se
Geleiras submetidas, ae) longe) de sua extensão,
mcJvem. De modo geral três processc)s principais de
a diferentes condições climáticas, como, por exem-
plo, de ce)ntinental polar a temperada (latitude
média) peJdem exibir um pae-Jrãe) ainda mais ceJm-
erc>são glacial C)Ce)rrem: a) abrasão; b) remoção; e c) <leira e preJduzindo risca1nento e reme)çàe> ele partícu-
ação da água de degelo. las. A maic)r e>u menc,r eficiência ela al,rasãc> depende
ela pressão exercida pela partícula rc,chc>sa sc>bre o
Abrasãc> correspc>nde ae> elesgaste de> asse>alhcJ S<>-
assoalho, da ,-elc>cidaele do 1ne>vimento das geleiras e
bre o qual as geleiras se deslc>cam, pela ação ele partículas
' da dispc>nibilidade ele partículas prc)tuberantes na sua
rc>chosas transpe>rtadas na base ele> gelo. F, importante
l,ase.
frisar que a maior parte ela abrasãc) é proclt17.iela nãc>
pela açãc> direta eleJ gele>, mas pelcJs fragmentcJs re>- () prc)CeSS() ele remoção (pluckiizl!. ou quarrJ 1i1ziJ ce)n-
chcJsos que ele transporta, pelo fatc, de o gelo ter dureza siste na remoçàcJ de fragmentc>s rc>chc>scis maic>res pelas
relativamente l1aixa. Váric>s autc,res cc,mparam a geleiras. () fenê>menc> está assc>ciaele) à presença ele fra-
abrasão ao efeitcJ de uma lixa passando sobre a ma- turas CJll descontinuielac-les nas rcJchas dei sul1stratcJ (Fig.
do Brasil.
Além das estrias, as chama-
das marcas de percussão e d
(chatter marks) e fraturas de Fig.11.12 Tipos de estrias: a) sulco em crescente; b) fratura lunada; c) fratura em crescente;
fricção (jriction cracks) são tam- d) estria grampo de cabelo. Seta indica sentido de movimento do gelo. Dimensão das feições
bém feições comuns de abrasão varia de cm a dm.
glacial, e incluem as fraturas em
crescente (crescentic Jractures), os sulcos em crescente considerados, por alguns autores, come) originados pela
(crescentic gouges) e as (Fig.11.12). As primeiras, semicir- açãc) de corrente de água de degelo de grande energia.
culares, fc)rmam séries coaxiais com a ccJnvcxidade
voltada em direçãc) à proveniência da geleira. As se- feições de terreno de abrasão glacial de mesoescala
gundas, também semicirculares, resultam da remoção cc)mumente observadas são as fc)rmas alongadas
de fragmentos de rocha entre duas fraturas, uma abrup- moldadas (streamlined moldedfarms), as formas montante-
ta e outra menos inclinada. O lado c(Jncavo da jusante (stoss and lee), as bacias rochcJsas (rock basins) e
estrutura aponta em direção à origem da geleira. Fi- os vales glaciais. As primeiras incluem estruturas
nalmente, as marcas de percussão resultam da remoção chamadas dorso de baleia (whale back) (Fig.11.13),
de pequenos fragmentos da rocha, formando séries alongadas, alisadas e arredondadas em toda a volta pelas
alinhadas de fraturas irregulare~ O uso das fraturas de geleiras. Embora tenham a sua forma final controlada
fricção na interpretação do sentido do movimento das pela estrutura da rocha, tendem a apresentar altura re-
geleiras não é, entretanto, desprovido de controvérsia. lativamente grande cm relação ao comprimento e
Dados experimentais mostram que a orientação da alinham-se paralelamente ao fluxo dcJ gelo. Estrias so-
convexidade das fraturas pode diferir, em função da bre essas estruturas tendem a ser contínuas em todc) <J
intensidade da pressão efetiva exercida sobre o objeto seu comprimento, sugerindo manutenção da ação
produtor da fratura. A orientação dos sulcos em cres- abrasiva glacial. As chamadas rochas moutonnées
cente pode também variar, dependendo da estrutura (roches moutonnées) diferem na morfologia e origem (Figs.
da rocha submetida à abrasão. Fraturas de fricção de 11.11, 11.15). Segundo a literatura, o nome deriva de
diversos tipos ocorrem sobre pavimentos e clastos gla- um tipo de peruca usada na França, no século 18, e
ciais do Permo-Carbonífero brasileiro. não da semelhança com um carneiro (mouton, em fran-
cês) deitado, como popularmente aceito. Trata-se de
Sulcos, cristas e canais retos ou sinuosos, maiores elevações rochosas de perfil arredondado assimétrico
que estrias, de forma e dimensões variadas (de milí- ' '
com o lado menos inclinado e estriado (a montante) e
metros até metros) podem também ocorrer sobre outro mais abrupto, irregular e em escada (a jusante),
superfícies rochosas erodidas glacialmente, isoladamen- em relação à proveniência do gelo. A teoria da origem
te ou associadas às estrias normais. Sua origem é das moutonnées implica a existência de uma elevação ini-
controvertida, sendo atribuída à abrasão glacial, ero- cial do embasamento e a presença de cavidade a jusante,
são por fluxo denso de til! ou fluxos catastróficos de entre a geleira e o embasamento. O aumento da pres-
água de degelo. Sulcos do tipo grampo de cabelo são normal efetiva do gelo scJbre a superfície a
(hairpin), formados por dois sulcos paralelos, laterais a montante é responsável pela estriação. Diminuição da
um obstáculo que dividiu o fluxo do agente erosivo, são pressão a jusante, associada à maior velocidade do gelo,
prclduz a cavidac1e. () processei de remoção de frag- C)s vales e os circeis glaciais sãel as estruturas mais
mentos da rclcha é facilitadcl pela existência de juntas impressionantes esculpidas pelo gele). Vales glaciais
ou descontinuidades na relcha. A penetração del gelo formam-se onde quer que geleiras sejam canalizadas
em fraturas, cleslcJcamento de fragmentcls e açãeJ de acl longo de depressões topclgráficas, modificandei-
água de degelei, sob pressão, nas descontinuidades, sãel as. 1'~mbora mais visíveis quando associadas com
os fateires respclnsáveis pela remclção. Embe)ra bas- geleiras de vale e de escape, os vales glaciais ocorrem
tante destruída pela açãel humana, a famosa rocha também sob mantos e casquetes de gelo. Ao início da
moutonnée de Salto, SP, recoberta por rochas cio glaciaçãci, as geleiras eJcupam vales pré-existentes, que
Subgrupo Itararé, mantém ainc1a a sua forma caracte- passam a ser modificadcls pela combinaçãel de abrasão
rística e feições de abrasãei glacial (Figs. 11.11). glacial e remoção. A ação abrasiva do gelo resulta em
mcldificação de) perfil dos vales fluviais de "V" para
Bacias reJchosas são um tipcl de depressàci ampla,
"U" em vales glaciais (Fig. 11.13).
formada subglacialmente sobre Cl assoalhe) das gelei-
ras, ele dimensões variandcl ele metreis a centenas de Regie)es montanhosas glaciadas exibem comumente,
metros. Freqüentemente acumulam água e-!e degelo. nas partes altas dcls vales, circos glaciais ligae!os elu nãcl
Sua formaçãcl é cc)ntrcJlada pela existência de zonas a geleiras, os quais têm a forma de uma bacia rochosa
de fraqueza na rocha, o que facilita a erosãeJ. () pro- côncava, encravada na parede das montanhas. São ge-
cesse) envolve a mudança no fluxel do gelo ael passar rados peir uma combinação de abrasão glacial del seu
se)bre uma elepressãei pré-existente mene)r. () íluxel é assclalhcl através de remoção e ccJngelamentei, e degelo
distensivo na margem descendente, e celmpressivel na na cabeceira mais abrupta da bacia, em contato celm a
ascendente. A distensão aumenta a pressão basal do parede relchosa da montanha.
gelel sobre el substratel levando à abrasão, enquanto a
Além elas fclrmadas pela açãeJ abrasiva do gelo, as
compressãci prcJmove o arrancamentcl e remelção ele
paisagens glaciais caracterizam-se pela ocorrência de
fra1:,rt11ente)s de reicha. Bacias ocorrem cclmumente as-
feJrmas de erosão produzidas pela água de degelo. As
sociadas a substratos portadclres ele rochas tnoutonnées.
Fig.11.13 Feições erosionais e geomórficas de contato com o gelo. a) dorso de baleia; a geleira moveu-se da esquerda para a
direita, Prince William Sound, Alasca, E. U. A.; b) vale glacial em "U" do rio Saskatchewan, Montanhas Rochosas, Canadá; c)esker
pleistocênico, Minnesota, E. U. A.; d) lago dekettle, geleira Saskatchewan, Montanhas Rochosas, Canadá. Fotos a e d: Paulo R. dos
Santos; b e c: A. C. Rocha-Campos.
feições incluem os chamadcis canais de água de dege- tastréJficeJ ele água de elegeleJ eJu _jiikulhlaups peJdem
lo (Fig. 11.11 ). Um impeirtante aspecto desse sistema elcscirganizar a drenagem flúvio-glacial e erodir prei-
do esceiamento refere-se ao padrãeJ de drenagem que ft1ndamente eJs leques. BleJcos de geleJ meJrto incluíeleJS
se instala subglacialmente. Em geleiras que se situam ncJs sedimentos f1úvio-glaciais, particularmente nas
solJre substratos duros, sistemas de canais e cavidades proximidaeles das geleiras, aeJ se fundir por abatimento
subglaciais interligadcis pcJdem se fcJrmar e escoar a elos sedimentos da planície ele lavagem, produzem dc-
água ele degelo. Canais subglaciais se'i sãeJ visíveis junto presse:ies circulares chamadas kettles (chaleiras) (Fig.
às margens de geleiras, onde desembocam e descarre- 11.13). Kames e terraços de kame, resultantes dei acúmuleJ
gam um grande veilumc de água. }\rgumenta-se que o de sedimentos entre a cnceista de vales glaciais e a
sistema de canais séi pode existir quandci a geleira esti- tnargem lateral de) geleJ são também típicos desse
ver cm ccintato ccim ei substrato elurcJ. Nei cascJ de ambiente. Pcic-lem asseiciar-sc a kettles se contiverem
substratcis deformáveis, a drenagem pode ser realiza- blcJccis de gelei mcJrto.
da pelo escoamento da água através dei pre'iprio
A paisagem de uma re6riãeJ glaciada é freqüentemente
sedimentei. Scimentc quanelo a drenagem nãeJ fcJr efici-
perccJrrida por cristas contínuas cJu interrelmpidas, si-
ente, pode-se pensar na formação de sistemas de canais
nucisas, ele sedimentos flúviei-glaciais (areia, cascalho e
subglaciais rasos. () gradiente hidráulico das geleiras
até til!) deneJminados eskers (Figs. 11.13, 16). Suas di-
controla a formaçãeJ do sistema de canais subglaciais
mensões sãeJ variáveis, de centenas ele metrcis até
de degelo, que peJdem entãci ter distribuição inde-
centenas de quiltimetros de comprimento, eleze11as a
penelente da tcJpeJgrafia atual e ceirrer encosta acima, centenas de metrcJs de lar6rura (4() a 700) e dezenas de
resultando em perfil de drenagem muitci irregular.
metrcJs de altura (1 O a 50). PcJdem ser feições continu-
Canais de degelo preiglaciais subaéreos são mais as eJu formar sistemas cntrelaçac-lcis. A cJricntaçãcJ dos
visíveis junto às zcinas de ablaçãeJ de geleiras, corren- eskers é contreJlada peleJ graeliente hielráulicci e-las ge-
do paralelamente às suas margens, peJrém, ceJm leiras, peidendo ter eirientação indejJendentc da
mudanças bruscas de orientação. () sistema de canais tcipeigrafia do asscialhci. O bloqueio ela água em ca-
de degelo proglaciais passa, por transiçãei, para eJ sis- nais scibre, dentro e scib geleiras proveJca a depcJsição
tema flúvio-glacial, abaixcJ descritcJ. de sedimento, gerando eis eskers.
A ação da á6rua de degelo é responsável pela gera- F"mbcJra os eskers feirmadcJs subglacialmente se-
çãeJ de uma diversidade de feições geeJméJrficas jam mais comuns, eles podem também resultar do
flúvio-glaciais, que se formam junto à margem elas preenchimento de canais supra e englaciais e serem
geleiras, embaixo (subglacialmentc) ou se)bre elas depois rebaixados até o substratei pela fusãeJ dcJ gelo.
(supraglacialmentc). O primeirei grupel de feições en- A cJrigem dos eskers entrelaçados é atribuícla a fluxcJs
globa planícies (outwash plains e sandur) e leques de de áí'-,rua subglacial catastróficeis, c1uandei então um único
lavagem glacial (outwash fans), kettles, kames e terraços canal não pode acomeidar todo o volume de água e
de kame. Os eskers são, sem dúvida, o principal tipel de sedimento transportaelo.
forma de terreno produzida pela açãcJ flúvio-glacial
(Fig. 11.16). 11.2.3 Transporte de detritos pelas geleiras
Ao emergir de uma geleira, a corrente de água de
Partículas e fragmentos rochosos são transpor-
degelo perde pressão e velocidade e começa a depe)-
tados pelas geleiras sobre sua superfície
si tar sedimentos. Os depósitos proglaciais assim
(transporte supraglacial), nei seu interior (trans-
formados na chamada planície de lavagem glacial va-
porte englacial) e sua região basal (transporte
riam pela sua posição em relação à margem do gelo, a
subglacial). (l~igs. 11.14, 15).
quantidade de sedimento transportado e a presença
de gelo soterrado. Leques de lavagem são gerados na O material supraglacial inclui detritos caídos das
frente de geleiras estacionárias, pela deposição de se- paredes dos vales de geleiras de vale ou de nunataks
dimentos carreados pela água de degelo. Sedimentos (elevações cercadas pelo gelo), materiais transporta-
mais grossos acumulam-se perto do local de emer- dos por avalanches ou depositados pele) venteJ, tais
gência do fluxo de água, enquanto os mais finos como cinza vulcânica, poeira, sal marinho etc. A maior
depositam-se mais adiante, confundindo-se com os parte dos detritos basais representa material inceirpei-
depósitos de rios entrelaçados. Eventos de fluxo ca- radci peleJ gelo através da erosãci dei substrateJ ou
derivado do material supraglacial. Após serem depo- 15), pc)dem ser capturados em falhas reversas ou de
sitados, os detritos supraglaciais são recobertos pela empurrão que se formam, elevando-se ao lc)ngo de-
neve que cai anualmente, incorporando-se nas super- las e atingindo a superfície das geleiras. Como se vê,
fícies de fluxo da geleira, podenclo descender até a há uma constante troca de pc)sição dos detritos das
base desta, passando a integrar a zona de transporte diferentes zonas das geleiras.
basal. Podem ainda ascender, emergindo na zona de
ablação da geleira, incorporando-se ac)s depósitos
11.2.4Ambientes e depósitos
supraglaciais. Partículas acumulaclas na zona de ablação
poc.iem aí permanecer, a não ser que, transportadas Associados às geleiras
por água de degelo superficial, penetrem em fendas
A sedimentação glacial terrestre ocorre quandc.) a
no gelo, atingindo a parte interna e a base das geleiras.
geleira termina em cc)ndições subaéreas ou terrestres.
Detritos subglaciais, de modo geral, permanecem na
f-<:ssa sedimentação pode envolver diretamente as ge-
zona de transporte basal das geleiras, a partir c.ie onde
leiras e ocorrer em contato com/ c)u nas proximidades
são depositadcJs. Somente junto às margens destas, na
delas, cc.)mo também, em rebriões mais afastadas, pela
chamada zona de compressão de) gelo (Figs. 11.14,
ação da água de degelo (sedimentação glácio-fluvial)
ou em corpos de água doce (sedimentaçãc) glácio-
lacustrina) (Fig. 11.16).
, ,
Areo de oblação Areo de acumulação
1 ..,
1 1 1 1
1 1
1 1
: Detritos de origem 1
1 1 1 suproglociol :
: Detritos de origem suproglociol (Ã) 1 Detritos de origem suproglociol 1descem até o zona 1
~--------__;______.,
1 1 1
1 permanecem no superfície 1 são transportados englociolmente ide transporte basal 1
1
1
1
1
1
1 ,,
1 I
1 ,I
1
1
1
'/ ,:,'
,
,, ,
I
1
: .. ------- I
I
• ,, ,
I
:
1
1 ...,.___ ,
,, ,
,, ,
:1 ===------
.....~ :r-=:----.. . . . . . . . .
,
1 ~- ~
1 ......~-----~ ---.- --------"------
Fig.11.14 Transporte de detritos glaciais. Setas maiores mostram possíveis trajetórias de transporte de detritos
em geleiras. Detritos de origem supraglacial podem ser transportados englacialmente (sem contato com o
assoalho) e na zona basal (em contato com o assoalho). Fonte: Boulton, 1993.
CAPÍTULO 11 • AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 229 ',""?~;.:'
tilitc>s de outras rochas de aspecto similar, po- '$id!ll'!~::::'' '-~ .·-~- :::;::;,,"':;
rém de origem diversa, como é e> caso de
brechas tectônicas e conglomerados ele matriz Fíg.11.15 Zona de detritos basal da geleira de maré Winspianski, ilha Rei
não selecionada gerados pelo flux(> densc> George, Antártica Ocidental, mostrando faixas de detritos deformadas; o
gravitacic)nal de mistura de detritos e lama (cor- atual recuo da geleira expõe rochas moulonnées erodidas sobre basalto
mesozóico. Foto: A. C. Rocha Campos.
ridas de detritcls e lama), é preferível utilizar os
termos não-genéticos diamicto e diamictito
para nomear, respectivamente, os seus equivalentes Quatro tipos distintos de depc'>sitos subglaciais sãc)
inconsolidados (sedimento) e litificadc>s (Fig. 11.18). rec(>nhecidc>s na literatura: a) til! de alojamento; b) til/
Muitos dos diamictitos permo-carboníferos da Bacia
de ablaçãcl subglacial; c) til! ele defclrmação; d) til/ de
do Paraná, Brasil, foram depositad(>S diretamente pelo
c-1eposiçãc> em cavernas subglaciais.
gelo e cc>rrespondem, portanto, a tilit()S.
]zll de al(ljamento cclrresponde a um diamicto fclrma-
Deposição glacial terrestre diretamente em conta- do pela agregaçãcl subglacial, através do retardamento
to com o gelo pc)de ocorrer sob as geleiras (deposição friccic>nal de detritos englaciais liberados a partir da base
subglacial) (>U junto às suas margens, a partir de mate- de geleiras em movimento. A liberação de clastos ou
rial transportadc> sobre a superfície do gelo (cleposição agregaclcls de detritcls dá-se por derretimentcl sob pres-
supraglacial). Os processos sedimentares envc>lvidc)s
são, durante Cl deslizamento da geleira sclbre o seu
são diversc)s e serão abaixe> delineados.
assc)alho. A ocorrência de alojamento exige, geralmente,
a presença de um substrato rígido, seja ele cc)nscllidado
(rochc>so) ou nãcl
deformável.
Segundo o modelo
mais aceito, o processo de
alcljamento ou
"encaixamento" no
substrat(l envolve a inter-
rupção do movimente) de
clastos que se deslocam e
erodem, na base da gelei-
ra, quando sua fricção
sobre o assoalho supera e>
arrasto exercido sobre ele
pelo fluxo do gelo.
Fíg.11.16 Depósitos e feições glaciais terrestres. l) formas alongadas moldadas no embasamento;
Taxas de depc)siçãcl de
2) detritos basais da geleira depositam-se como til/ de aloiamento em depressões do assoalho (3) ou
em cavidades (4); 5) til/ de ablação; 6) liberação de detritos por fusão da margem do gelo; 7)esker;
tills de alojamento atingem
8) leques de lavagem glacial; fusão de blocos de gelo morto forma superfície mamelonada (iunto à menos de 1O cm por anc).
margem da geleira); 9) canal d e água de degelo. Fonte: Boulton, 1993.
O prclcesscJ resl1lta ncl acúmulo ele massa seelimentar
supercompactaela, não inteiramente maciça, mas exi-
bindo uma superposiçãcJ de unidades em cunhas
truncantes, separadas pclr superfícies ele nãcl depclsi-
ção <lu erclsivas. Iintrc as unielades é cclml1m
intercalarem-se dcpc'lsitos acanalaelcis, raseis, ele água
ele degelo (areias, cascalhcls), ncirmalmente ccim seus
tcipcis clefclrmaelcis pela retomae-la ela depclsiçãci da
unidaele de til! sl1perie1r. De mcielo geral, paccJtes ele til!
de alojamentcJ, c1ue raramente atingem alguns metrcJs
ele espessura, assentam-se scJbre superfícies elisccirdan-
tes. f,'.spessuras 1naic1res requereriam espaçci SlÜlglacial
maicJr e cJs elepc'isitos seriam, dcstarte, sujcitcJs a
rctrabalhamcnto e crcisão. EmlJora clastos facetaelcis
e estriados sejam mencicJnadcJs comcl típiccis de ti/Ir
ele alcijamentci, sãci eis clastos em forma de bala (hul!et
shaped) ciu de "ferro de engomar" cJs mais represen-
tativcJs elesses elcpc'lsitos (I "ig. 11.17). c:lastcJs facetadcls,
estriadcJs e cm fcJrma de lJala são ccimuns em
diamictitcJs de dep(isitcJs glaciais ele várias ielaeles
(PermcJ-Carbonífercl, Pré-C~ambriano etc.), nci Brasil.
é, um depósito sedimentar impregnadc) de água (Fig. l~nquanto C)S ti/Is de alojamento e de eleformação
11.17). () conceito surgiu na década de 1980 e embo- originam-se durante o avanço glacial, o chamado til!
ra tenha ganho grande popularidade não é destituíelcJ de degele), ablação ou derretimento acumula-se sob
de C()ntrovérsias. gele) esta6,nadeJ, que se derrete in situ (fig. 11.16). Isto
O tipo de depósito resultante da deformaçãc> eJccJrre quando as geleiras cessam de se me)ver. Nessas
subglacial C()rresponde a uma massa sedimentar me- cone{ições, o degele) pre)duz a liberação e acumulaçãeJ
canicamente remexida e def(Jrmaela, constituíela ele subglacial e supraglacial de partículas de rochas. f-Iá
partículas de sedimento pré-glacial "sobrepassadc/' e na literatura amplo debate a respeito elo pe)tencial de
deformado pela geleira, ou seclimento glacial, incluin- preservação d()S chamadc)S ti/Is de ablação por causa
do til/ de alojamento, sedimento flúvic)-glacial da ação eficiente das cc>rrentes de degelo.
previamente depositado ou conc()mitante ao avançc) Pela descriçãc) acima é fácil perceber que os três
das geleiras. Ti/Is de deformação p()dem atin6rir espes- tipos de deposição subglacial do til! são grandemente
suras maiores (até várias elezenas de metros) que os transicie)nais. As tentativas ele distingui-los baeiam-se
ti/Is de alojamente). A clef(JrmaçãcJ pode envolver uma nas características dos dep(Jsitos, pe)r exemple), a '_'fàbric'
fase proglacial (compressiva), seguida de uma fase (arranje) interno dos clastc)s nos ti/Is). Clastos de til!, de
subglacial, eminentemente distensiva. O aument() da a!cJjamento são geralmente descritos como tendo seus
intensidade do esforço pr()duz uma seqüência de es- eixc)s maiores paralele)s à direção deJ fluxo do gelo
truturas cada vez mais intensamente defc>rmadas, cJriginal e apresentando clastos imbricados, com incli-
levandc) à heJm(>geneizaçã() da massa deformada, que naçãcJ para montante. Uma_fabric menos desenvolvida
pode assemelhar-se a um til/ maciçc). Estruturas típicas caracterizaria C)S ti/Is de ablação.
de cada fase peJdem, entretanteJ, persistir e permitir
Dep(Jsitos de ti/Is pcJdem ainda fcJrmar-se em ambi-
identificar a seqüência de eventos oce)rriclos. Defe)r-
ente terrestre, sem a intervenção direta do gelo. Incluem-se
maçoes glacieJtectônicas afetande) rochas
aqui eis depc'Jsitos de til/ supraglacial de degelo e e)s ti/Is
neopaleozc)icas d(> Brasil feJram identificadas em
de fluxc). O derretimento do gele> da superfície das gelei-
Cerquilho, SP.
ras pode pr(Jduzir grandes acumulaçe:íes de detritos
UNIVERSIDADE POTfGUAR · i
··,w,ma lntearado de P.iblioteç ,r ·
i\ intre)duçào de partículas sedimentares dentro de de partículas (rain out). Vários tipcis de processeJs e
lagos glaciais faz-se principalmente pelas ccJrrentes de depósiteJs seelimcntarcs estàcJ relacieJnacle)s a esses me-
água de degele\ ljlle podem provir de distâncias variá- carusmcJs.
veis, guande) a margem das geleiras nàe) está em contato
Ireher:gs desprcndielos ele margens ele gelo cm con-
com a água, cJu pcir c1escarga direta a partir de ceindu-
tat<J ccJm lageis lil,eram detritcJS glacicJgênice>s acJ se
tos na lJase das geleiras cJu cm pc)siçàe) englacial.
funclircm, geranelcJ uma vcreladeira "chuva" de partí-
Correntes de água de clegelcJ que entram em lagos car-
culas. () casei mais ce)nheciclc> resulta na elepeJsição de
regande) sedimentos pcJdem c-leslcJcar-sc juntei à
clastos caídos (tlropstones,· ra/ied clasts), ele tamanhei va-
superfície, neJ meio eJu rente acJ fundeJ deJ lageJ, elepen-
riadc\ sobre as camaelas de sedimente) deJ funele> elo
dendeJ de sua densidade em relaçàeJ à ela água. FeJrmam
lago, defcJrmanelcJ eJu rcJmpeneleJ-as (Pig. 11.24). ()
as chamadas plumas de sedimento. Uma feJrma parti-
tcrmc> "clasteJ pingadei", pclpularmentc aplicaelcJ a es-
cular de descarga sedimentar pode ainda oce)rrer pelo
ses clastcis é, pcJrtantei, inccirrete>. c:cJnccntraçe1es
despejeJ direteJ de partículas variadas, liberadas da mar-
maieJrcs ele detritcJs pciclem ser "despejadas" (dutnpetG
gem deJ gelei, cm cc)ntato ceJm a água dos lagos. C)s
por ti_1sàeJ !Jasal eiu embcJrcamenteJ de massas ele gekJ
detritos glaciais prcJvêm de concentrações feJrmadas
eJu ainda por clerrctimentcJ local ele icel,ergs anccJra-
supraglacialmentc CJU incluídas na zeJna basal dcJ gelo,
elc>s ncJ flindcJ clcJ lagei.
neJrmalmente transportadas pcJr algum tipel de fluxo
aqucJseJ denso. C)utra maneira cnveJlve a queda ele par- () acúmu]eJ ele partícLt!as sedimentares em lageJs
tículas a partir elo derretimento de massas flutuantes leva à fcirmaçàeJ de váricJs tipcJs ele dep(JsitcJs e de
de geleJ, os icebergs, mecanismo denominado chuva feJrmas de terreneJs subae1uáticc1s. 1\ clispersàei elas par-
;,;J;;,.i, i0, ·
Fig.11.24 Varves e varvitos. a) varves pleistocênicas contendo clastos caídos; b) iceberg ancorado na margem do lago Edith
Cavell, Montanhas Rochosas, Canadá, com detritos supraglaciais; q ritmito regular (varvito), Permo-Carbonífero, contendo clasto
caído; Trombudo Central, SC; d) ritmito regular (varvito) mostrando marcas onduladas e variação na espessura das camadas,
Permo-Carbonífero, ltu, SP. Fotos a: Paulo R. dos Santos; b, c e d: A. C. Rocha-Campos.
CAPÍTULO 11 • AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 237 "~~~
-~
tículas, sob a forma de S()brefluxos e interfluxos, 1\lém dos deltas, c)utras formas de terreno ou fei-
freqüentemente resulta na constituição de deltas mar- çc3es gec)mórficas subaquáticas podem cJriginar-se, sob
ginais. Deltas glaciolacustrinos são tipicamente a forma de morenas subaquáticas, geradas pelo avanço
constituídc)S de três conjuntos de camadas: c)s estratos sazonal de geleiras, que empurram c)s detritos glaciais.
ou camadas de tope) (topsets), de frente (jóresets) e de Podem tambén1 formar-se terraçcJs marginais, associa-
funde) (bottomsets) (Fig. 11.23). dcJs a ,-ariações da linha de costa dos lagos.
ccJngelam e correntes densas de fundo cessam. O fa- América do Norte, Europa e Asia. As condiç(3es de
moso varvito (varves litificadas: da pedreira de ltu, SP temperatura, entretanto, são aí, provavelmente, mais
(Permo-Carbonífero), exibe muitas das características rigorosas do que as que existiam em latitudes médias
acima discutidas. associadas aos mantos de gel() pleistocênicos do He-
misfério Norte.
65° 57°
N Tundra Floresta s
Camada ativo
..,,E
Fig.11.25 Perfil norte-sul mostrando a estrutura de solo perenemente congelado, ao norte do Cana-
dá; a extremidade norte da linha de árvores coincide com o limite entre o solo congelado contínuo e
descontínuo. Fonte: Eyles, 1985.
Uma característica comum do sc)lo de regiões sub- dcJs pingos, massas elevadas de sello geraelas pelcl cres-
metidas a condições periglaciais é a presença ele zc)na cimento do gelo, scJlos estruturadcJs, fraturados em
de congelamento permanente da água intersticial, de- padrão pclligonal (patterned groundr) e cricldeformações
nc)minado scJlo perenemente congelado (perma/rost). ou in,,oluções pcriglaciais, incluem-se nessa categoria (Fig.
(Fig. 11.25). Atualmente, o pertt1afrost pode occJrrer até 11.26). () congelamento e derretimento repetidcl da água
a uma prcJfundidade de 1 km ou mais nas áreas dcl scJlo são respclnsáveis por prcJccssos ele evcJlução de
circumpolares. f~m direçãc) a latitueles mais baixas, a encostas ncls ambientes pcriglaciais, através de sellifluxãcJ
profundidade atingida pelo permafrost contínuo dimi- ou fluxos de solcl e rocha encharcados de água, gera-
nui, passando a formar uma camada menos espessa, dcls pela fusãcJ del gelel. Estruturas de preenchimento
fragmentada (permafrost descclntínt10). Zonas de de fendas formadas cm sole) perenemente congelaclo
permafrost sãc) recobertas pc)r camada ele scJlcl pou- de idade neopalecJZélica fclram identificadcJs em rcJchas
co espessa, afetada por congelamento e degelo sazonal, permcJ-carboníferas do Brasil.
a chamada camada ativa. C) limite inferior entre a ca-
C)s am!Jientes periglaciais pcldem também ser afe-
mada ativa e Cl pcrmafrost é chamado de nível elo
tados pela açãc) dcJ ventei sobre superfícies inativas,
pcrmafrcJst (permafrost tah!e). Em alguns locais, cl scJ!cJ
sem ccibertura vegetal, fcirmandcl depósitos de silte e
perenemente ccJngelado estende-se à plataforma con-
areia, de razoável espessura, às vezes scJb a forma de
tinental, formando Cl permafrost submarincl.
dunas. O tipo mais conhecidci de dcpéisito ec'iliccJ gla-
Solos e rochas das regiões scJb condições periglaciais cial é, sem dúvida, o loess, constituíelo de silte calcário
são afetados pclr uma variedaele de alterações físicas, bem selecionaclc), depcisitadc) em ambientes periglaciais
resultando em estruturas e feições geoméJrficas varia- de baixa umidad.e. Dep{lsitos de loess pleistocênicos
das. CcJngclipartiçãcJ (conge!ifraction = fraturamentcl e são bem ccinhecidcis nci interior dos continentes, na
separaçãcJ por congelamentcl) e congeliperturbação Rússia, China e Meio ()este dos E.U. A., onde podem
(conJ!,eliturhation = agitação e mistura pcJr congelamento) cobrir áreas extensas, de mais de SÇ)0.000 km2, e atin-
são os processos principais que afetam camadas de sclicl gir espessuras superiores a 200 m.
e rocha decomposta em ambiente periglacial. Peições
resultantes desses processos inclt1em fraturamento e ele-
formação de camadas de) solcl ou de rocha
11.3 Ação Glacial Marinha
intemperizada, resultante dcJ congelamento ela água Geleiras que chegam até e) litoral pclelem atingir o
intersticial e penetração de massas de gelo. C)s chama-
mar, internando-se nele aterradas, istci é, arrastando-se
sobre o sulJstrato, ou flutuantes, e passar a influenciar
prcJcesscis e depósitc)s sedimentares que aí ocorrem.
Geleira
3elo do mor
.Â
Fig.11.27 Esquema de estuário glacial mostrando processos de entrada e transporte de sedimentos; a geleira está em
contato com a água. Sedimentos introduzidos pela água de degelo distribuem-se através de solo, inter e sobrefluxos. Outros
mecanismos incluem: vento, rios, avalanches e icebergs. Fonte: Drewry, 1987.
gravitacional de sedimentos (diamicto e areia), scibre antericirmente tratadcis. Do mesmo modei, são tam-
enccistas submarinas geradas pela acL1mulaçãci bém semelhantes às deis lagos, as feirmas de terreno
sedimentar, redistribuem-nos junto às geleiras l)U na geradas no ambiente glácic1-estuarino. Além de deltas
parte mais interna dcJs estuários. ()utros prcicessos e leques de sedimentos prciglaciais, ocorrem ainda acu-
sedimentares incluem a ação de icebe,;gs na liberação de mulações de sedimentos "despejadc1s" das frentes de
clasteis e parúculas mais finas, que se intercalam com geleiras em contato ceim o mar e vários tipos de cris-
os clepósitos de fluxo gravitacional. tas ou l1ancos proglaciais de till ou detritos (morenas
Nos casos em que a frente cla geleira recuou para e) de empurrãcJ ). Estas feições são formadas por em-
interior, desligando-se do corpci de água, deltas ou le- purrão ele geleiras ou pcir concentração de sedimentos
ques de sedimentos, formadcis pelo acúmulo marginal gerados pela fusãc1 do gelo.
de detritos, avançam em direçãc1 à cabeceira dos t1cJrdes, Depé1sitcJs glaciais neopaleozc'Jicos do Brasil ocor-
alteranele1 o seu padrão depeisicional. Nestas ccindições, rem cm vales pré-glaciais identificados como
planícies de lavagem ncJrmalmente intercalam-se entre as palec)estuárie1s.
geleiras e eis deltas. A maior parte dos sedimenteis grc)s-
sos é, entãcJ, aí retida, predominando, ncis fic1reles, c1s
11.3.2 Ambiente glácio-marinho
sedimentcJs fmos. Processos comuns de redistribuição de
sedimentos, nesses tipos de estuárici, incluem fluxc1s Quanelo o vcilume ele gelei de uma região e sua taxa
gravitacicJnais de sedimentos, particularmente, correntes de descarga no mar são altos, occ1rre uma depressão
de turbidez. Clastcis e outros detritcis caídos ele icebet;l!,S glácic1-iscistática causada pelo peso da massa de gelo so-
são, evidentemente, raros ou inexistentes. Outras ccJntri- bre a crcista da Terra, e submergência do substrato
buições sedimentares sãei dadas pela acumulação ele marginal sobre o qual o gele) se assenta. Nessas condi-
eirganismos e de material biogênico nci fundo deis fieirdes. ções, pcirções dos mantos ele gelei pc1dem avançar mar
As duas situações acima descritas pcielem ccirresponder adentro aterrados e, a partir de certa altura, a chamada
a diferentes fases da evcJlução de um fiorele. De uma linha ciu zona de aterramento (Fig. 11.28), tornarem-se
maneira aprc1ximada, as associações de fácies resultantes flutuantes, projetandci-se seib a forma de plataformas
incluem três tipcJs: fácies de ccintato de gelo, fácies ele ou lín1:,ruas de gelo (Figs. 11.1, 11.2), em resposta ao adel-
delta e praia e fácies de fundei ele fiorde. As fácies po- gaçamentei da geleira causaelo pelc1 rastejamento do gelo.
dem, entretantci, suceder-se de me1do complexei, durante 1\ maior parte deis sedimenteis transpeirtados na base da
a história deposicic1nal do estuáriei. geleira é liberaela na zona ele aterramento. Deste mcidci, é
(~c1mo se percebe, o ccintexto deposicicinal deis es- limitado o apc1rte ele detritos até a platafcirma continen-
tuários glaciais é similar ao de lagos proglaciais, tal, liberac-lcis pela fusão basal dei gelc1 ou, mais distalmcnte,
l .000 km 150 km
..
Elevação do gelo
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Zona deotern::imento
_. da gelo
• • • Diamidito . Till de ■ Leque
glácio-marinho alojamento .·
Fíg.11.28 Processos e depósitos associados à plataforma de gelo marinho. A existência de um ponto de ancoragem permite o
crescimento do plataforma. o) zona de acumulação de gelo e neve; b) zona de adição de gelo por regelomento basal; c)ti/1 e
depósitos de leque formados durante avanço prévio de geleira aterrado; d) deposição por chuva de detritos o partir deicebergs; e)
ressedimentação de diomicto; f) retrobolhomento por correntes marinhos; setas horizontais indicam velocidade relativa de fluxo de
gelo. Fonte: Eyles e Menzies, 1985.
e sr 1 s
--
CAPÍTULO 11 • AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 241 ·~~,~
a partir de icehe,;~s. Sà<l prcd<)mÍna11temente clcr)c'isít<i::- fi- subglaciais de ágiia ele elege lei carregancl( l scdimentt JS são
n<)s, lam<iscJs. J)latafcirtnas e lín1--,ruas de gel<J sà<), cntreta11t<J, iritrcicluziclas ncJ rnar, sci\1 a fc1rma ele tlux<>S ele superfí-
instáveis e, cm ép<lcas ele !)alanç<> (1c 1nassa negati,1<i, cie c1u ele fu11clr> (plu111as de seditncntcis). ()s secüment<>s
pc>de1n c1csinte1--,>ra.r-se e recuar até a n1argen1 C<lntine11tal suspensc1s nas pl11n1as assentam-se <>u <iecantam-se, r)rc>·
e1u air1cla a terra emersa <>nele fc>rmam geleiras ele maré c>u cess<l <jlle peide ser acelerac!(J JJcla fl(Jculaçàc> ele partículas
geleiras aterradas, respectiva111c11tc. i\s extensas plataf(Jr• ;irgilr>sas e1n ccintat<> C(Jm a água ele> mar. Desagregaçà<>
mas de Rc>ss e \X'ecldcl-f)ilchncr na ,\11tárrica, tê111 cacla aceleraela da margcn1 ele geleiras n1arinhas é fcn{>tnenc>
utna mais ele 5()(),()()() km' ele área, pcirtantci, supcricJr à ccHnurn. [~sse pr<>cess<J le\·a à pr<1duçàc> intensa ele icebe1:~s.
ela 1;rança. T~inalmente, a fusàcJ ele icehe,;~s e/ CJLl (J seu em!Jclrcan1cnt(l
leva à lil'ieraçâ(i cie eietrít<)S C<>ntídcls nci gel<l, a clistâ11cias
Yáric>s fatcJres que intlL1encian1 a clepcJsíçà<i ele
variá,,eis <las geleiras. Par!ÍcL1las ela chuva eie eietritcJs, l)f(J-
seclin1entcis en1 cstuáricJs afctad<is pela açi'1<J ele ge-
venicnte de icehe,;e,s, inclL1em clast<)S isc>laclcJS e <jtla11ticlacles
leiras (circLilaçàc> marinha, fcirça de c:(JrÍ<Jlis, cntraela
variá,,eis ele fragt11cnrcis mais fir1cJs. l '.111 alp;tJr1s caseis, es-
de seditnent<is, fl(JculaçàcJ etc.) s,trJ tan1!1ém rele-
tes fclrman1 clep('isítí>S sc1ncl11ar1tcs a til!, dencJminaclcJs
,,antcs 11<> casei ele an1l)ientes 'gláci(J-marintl<lS
'
err<>neamenre ti/Lr ele elcpc>siçãii sL1l)ae1uática (n 1r;t111ain ti/Lr)
abert<lS. ( )titr<is, c<JITl<J p<lr exempl(1 a cstratificaçàcJ
(T~igs. 11.17, 18). 11,,he,;e,s p<>dem aincla reITl(>i)ílizar secli-
ela massa de água, sà(> <le p<>uca i1np<>rtâr1cia. ()
mcntcJs aci se arrastarem scJbre fu11cl<is 1narinhc1s rase )S.
paclrà(> <le circulaçàcl ela n1assa ele ágtia eli fere, f)( 1is,
sul)stancialincntc e1a gue caracteriza (JS amhicnrcs Depr'isít<>s glácíri marinl1c>s estâcl tan1l)ém sujeitcJs
gláci(i-marint,cis ccinfinael<is. a retral)all1an1entci pc>r Cllrrcntcs marinhas tle fLtntl<> e
à resseclímcntaçàcJ pcir fluxc> gravitacic>r1al ele seclin1en-
1\lém elos já rcfericlris, diverS(JS (lUtr,Js fatores in-
t<is (cleslizamentc>, tluxcis de cletritcis e/ ciu lama),
terferem na sedimentaçà(i gláci(J 111arinha, tais C<>m<>,
acun1ulacl<>s sc>lJrc clcclives. J~sta n1(Jvimentaçàci pcicle
(l reg;ime térmicci !,asai ela geleira, as características ela
ainda gerar C<Jrrentes c]c turl,iclez.
massa ele ágL1a, a e11ergia elas <indas, a lJatimetría e ci
relev<J clci fund<i 1narinl1c>. l)c particular í111prirtância N<J c<Jntcxtri elas variacões
, resultantes ela intera-
sàc> <J regime térrnicci !)asal e a clinâ111ica elci tluxci ele cà<J
•
clcls fatcJres acima mencÍ<>nacl<is, C<JStt1ma-se
gele>, esta já <liscuticla n<l inícÍ<> clestc t(lpicc>. Resta-n\)S distingt1ir clc>is sul1aml)ientes glácic>-marinl1c>s clis-
ci prín1eirci. Diferenças ncJ regime térn1ic<> l1asal cle- tintc)s, d<i p<>ntc> ele \'Ísta ela depclsiçà<J seclin1e11rar.
terminan1 <> vc1lt1tne ele áh'l.la ele elcgehi 1,rc>cluziclci fJelas () glácio-marit1ho pr<Jxirnal (incluincl(J a 1/.(>na ele
geleiras, <J c1ue, p<>r SL1a vez, inflL1encia a eJLtar1ti<lacle ele C(Jntat<> c<in1 a n1argen1 ela geleira) e ci glácic)-mari-
secliment(JS gue atinge (l an1l)ientc 111ari11h(J. l •:n1 gelei nl,<l cJist,il. f·'.111l,(Jra a clistància a !Jarrir ela frente
ras ele lJasc q11entc, a água ele <lep;cl<J sulJJ!;lacial rcn1(lVe
(is pr<>cl u t<>S ela er< >sàt i glacial
tra11sp<>rtar1clci-<JS 11ara <> 111ar.
Ncl cascJ elas geleiras ele !,ase J
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. . . :545..i...._
têm pouca pre)babilidade de serem conservados pc)r
terem ficado expe)stos à erc)são pe)stcrior. Por causa
do caráter, pc)r assim dizer, "aute)fágice)", da glaciação,
que a cada avançe) da geleira elestreSi e)s seus próprie)s
depé)sitc)s prévios, retrabalhando-os, somente e) regis-
1
tro da última fase glacial tem mais chance de ser melhor
representado geologicamente. Na 1\mérica de) Norte, 1
por exemplo, são os sedimentos da última glaciação, , ,' ,
,'
,'
,
.
'
..', '
,
, ,
" , , "''"
ocorrida no Wisconsiniano (parte final do Pleistocene)),
os que estãe) melhor expostc)s hoje. >)il~:. .·-
.
Sítios ce)ntinentais aptos a preservar e) registro gla-
cial antigo são rarc)s. De mc)elo geral, a probabilidade
de sc)brevivência dos sedimcntc)S é maie)r cm lc)cais
sujeitos à subsidência, tais como bacias intracratônicas
tecte)nicamente ativas, fossas tectônicas, bacias de pré
e pc)s-arco etc. A constatação da predominância ele
depósitc)S glácio-marinhos no registro gec)lógicc) de
glaciações pré-pleitocênicas é perfeitamente consistente
. .
com o conce1tc) acima.
superior; Permo-Carbonífero e Terciárie) superior- (l 00 Ma); ARQ: Arqueano; PAL PROT: Paleoproterozóico; MES
PROT: Mesoproterozóico; NEO PROT: Neoproterozóico; PAL:
Pleistoceno). Fases de refrigeração terrestre menos
Paleozóico; MES: Mesozóico; Cz: Cenozóico; E: Cambriano;
adequadamente ce)nhecidas podem ter ocorride) em
O: Ordoviciano; S: Siluriano; D: Devoniano; C: Carbonífero;
épocas mais remotas, no Paleoprotcrozóico e mesmo P: Permiano.
11.5 Causas das Glaciações Excentricidade da órbita
( Período: 91 Ka )
Um dos aspect(>S ainda prc>l,lemáticos lia hist<'iria cli-
mática da Terra cnvc>lve () csclareciment(J da causa (JU
causas ela alternáncia entre períc>c.lc>s ele resfrian1cntcJ e
aqL1ecimentc> gl(>l1al.
L.
A c<)rrelaçãc) entre a concentração de massas conti- s<)lar, c<)lalJorando para a diminuição da temperatura glo-
nentais no pólo e mudanças eustáticas de longa duração, bal. Mudanças na circulaçã<) oceânica e atmosférica
e a ocorrência de fases de refrigeração glc)bal são uma produzidas p<)r diferentes c<Jnfigurações paleogeográficas
indicação da relevância da distribuiçã<) dc)s continentes e e altitucles c!c)S cc)ntinentes da Terra seriam, pois, um fa-
cJceanc)S na variação climática da Terra. O padrã<) de tor 1mp<Jrtante.
distribuição e cronologia das glaciações que afetaram o Finalmente, causas extra-terrenas têm sid<) também
continente de (;cJndwana, durante a Era PaleozcJica invocadas para explicar a alternância de fases de
(Fig.11.32), podem ter seguido o modelo de migraçãc) resfriamento e aquecimento da Terra. () lançamento de
dos centros glaciais, resultante da passagem d<) grande quantidade de poeira na atmosfera, resultante do
supercontinente pel<J pc)lc) sul. Uma situação paradcJxal, impacte) de bólido_ ou corpo celeste sc)bre a superfície
no que diz respeito ao conceit<) acima, envc)lve a ocor- c-!c) planeta, tem sido aventad<J cc)mc) causa de
rência, em muitas partes do mundc), c-!e depósitos glaciais resfriamento, pelo bloqueio da radiação solar. F:feitcJ
na região equatorial, durante o Neopr<Jter<)ZC)ico. Segun- cc)ntráric) cJcorreria se <) impacto se desse sobre o ocea-
do a recente hipótese da Terra bola de neve (snowball no. Neste caso, a vaporização da água levaria à formação
Earth), a diminuição global, da temperatura em resposta, de nuvens, resultando em fase de aquecimento.
por exemplo, à retirada de C0 2 da atmosfera, pele)
intemperismo de rochas (chamado de efeito anti-estufa), Da leitura dessa síntese, percebe-se ser difícil apontar
poderia ter levado à expansão dos mantos de gelo até às claramente os fatores de primeira c)rdem controladores
baixas latitudes da Terra. das variações de temperatura occJrridas na Terra, sen-
dc) pr<)vável que as idades glaciais do planeta tenham
Grandes massas continentais situadas em altas latitu- resultadc) de combinação de fatores incluindo mudan-
des podem permitir a acumulação de neve, o que, por ças paleogeográficas e variação na composiçã<) da
sua vez, conforme vimos, aumenta a refletividade da luz atmosfera.
246 D ECI FRA N D O A T ER RA
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•1r·• Mystery.iC1'Unbridgê: Harvard University Press,
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uem nunca sentiu C) impacto de minúscu- _-\tra\·és desses fenê)menos atmc)sféricos, partí-
las partículas de areia carregadas pelo vento culas de areia e poeira podem ser transpc)rtadas por
forte ao caminhar cm uma praia? Esse é e) mais milhares de quilê)metros. Com a diminuição da ener-
simples exemplo de deslocamento ele partículas em gia de mo\·imentc) das massas c-le ar, as partículas
funçãc) da ação do vento e cc)nhecida como ação carregadas depositam-se em diversos ambientes
eólica. Esta atividade está assc)ciada à dinâmica ex- terrestres, desde continentais até c)ceânicos, passan-
terna terrestre e modela a superfície da Terra, do a participar de c)utros processc>s da dinâmica
particularmente, nas regiões dc)s desertos. externa. :\as áreas cc)ntinentais, estas partículas de-
pc)sitam-se sobre todas as superfícies desde as
() movimento das massas de ar representa mais
mc>ntanhas até as planícies. A atividade eólica re-
um dos fenômenos dinâmicc)s importantes obser-
vadc)s no planeta e pode ter intensidade muitc) presenta assim um conjunto de fenômenos de
variável. Freqüentemente, são nc)ticiados na impren- erosãci, transporte e sedimentação promovidos pelo
sa deslocamentos de ar catastróficos, associadc)s a \'ento. C)s materiais movimentados e depositados
furacões e tc)rnados com seus efeitc>s dc\ astac!c)res 0
nesse prcJcesso sãci dcnominadc)s sedimentos
eólicos.
sc>bre a superfície da Terra.
J
Célula equatorial
boreal de Hadley
Célula equatorial
a ustra I de H ad ley
Ventos
de leste
60°
Célula borea I das
latitudes médias
Célula polar austral
Fig. 12.1 Modelo simplificado da circulação atmosférica resultante das diferenças de aquecimento entre as
regiões de latitudes baixas e altas e da rotação terrestre.
·"""/11111 Campo de dunas, ilha Caju, Delta do Parnaíba, MA. Foto: R. Linsher.
30°
60°
Fig. 12.2 Distribuição das principais áreas desérticas (em amarelo) na Terra.
() deslocamento das massas de ar, formandci eis médias e os ventcJs de leste elas regiões pcllares.
ventos, é frutci de diferenças de temperatura e, por- Esse esquema relativamente simples ccimplica-se na
tantei, de densidade, nessas massas ele ar. Essas prática devido às interações desses venteJs ccJm eJs
diferenças são geradas pela maior ou menor incidên- oceanos, elevações terrestres e turbulências atmos-
cia de energia solar sobre a superfície do planeta em féricas temporárias.
função da latitude e da estação dei ano e pela diferen-
As regiões do planeta mais sujeitas à atividade ec'ílica
ça do albedo. Este termo diz respeito à proporção
sãcJ eis denominados desertos absolutos - regiões na
entre a energia solar refletida e a energia solar inciden-
Terra anele inexiste água em estaelo líquido. l:<:xemplos
te, revelando, assim, a capacic1 ade de alJsorçãci ela
clesse tipo de deserto situam-se no Continente Antár-
energia solar deis materiais terrestres (flcircstas, ricis,
ticci e na Groenlândia, onde a água se enccJntra no
lagcis, deserteis, ciccanos e geleiras ccJntinentais).
estaelo sólidcJ scib a forma de espessas massas de gelo
O aquecimento mais intenso das zonas equatoriais e neve. Assim, nesses desertos quase nãci existem grãos
cm relação às zcinas polares cirigina lenta circulação de areia e de poeira. Porém, os clesertos mais conheci-
geral das massas de ar. (~ada hemisfério apresenta três dos ccJmpreendem imensas áreas de precipitação anual
células de circulação (Fig. 12.1). O ar ascendente nci muito baixa (ou mesmo inexistente), com clevadcJ grau
}~quador e nas latitudes 60º N e S fcJrma zcJnas de de evaporação e intensa atuação de ventos. As áreas
baixa pressão, enquanto o ar descendente nas latitudes desérticas mais expressivas no planeta sãcJ ci Saara na
,
de cerca de 30º N e S e nos pólcJs gera as zonas ele alta Africa, Atacama no Chile, Gobi na Mongólia e China,
pressão. Deste modo, as massas de ar fluem das zo- Arábia, sudoeste dos Estados Unideis e a parte central
nas de alta pressão (de tendência descendente) para as da Austrália (Figura 12.2). Essas regiões desérticas muito
de baixa pressão (de tendência ascendente). DevidcJ à quentes costumam localizar-se nas baixas latitudes (en-
força de CoricJlis resultante da rcitação terrestre, esses tre 30º, de latitude norte e 30º, de latituele sul). Nesses
mcivimentos produzem rotações voltadas em geral locais, de modo geral, os processcJs de erosão, trans-
para a direita (de eieste para leste) no hemisfériei Ncir- porte e sedimentaçãc> de materiais sãcJ ccimandados pela
te, e para a esquerda (de leste para oeste) nci hemisfério ação dcJs ventos, a nãcJ ser nas áreas ou nos períodos,
Sul. A essas células correspondem três sistemas de ven- pouccJ freqüentes, em que as partículas encc>ntram-se
tos dominantes para cada hemisfério: os alíscos das umedecidas e, pcJrtanto, mais cciesas.
latitudes intertropicais, os ventc>s de oeste das latitudes
Nessas áreas clesérticas c)bservam-se regiões cci- ~este capítulo sãci elescritcis os mecanismeJs de trans-
bcrtas de areia cuja magnitude permite defini-las ceJmei porte realizados pela ativielade ec'ilica e suas feições erosivas
mares de areia. Bela parte dessas regiões enccintra-sc e deposicieJnais. SãeJ descritcis também eis principais re-
submetida à açãcJ de)s ventos, que desloca e redepeisita ..._ristrcJs sedimentares produzielos pelr essa atividade e sua
grandes quanticlades ele areia ao salJe)r das elireçc'íes importáncia no contextei histc'irico terrestre.
preferenciais deis venteJs mais fcJrtes. PeJr exemplei, em
19()1 fortes ventcJs do Saara transpclrtaram mais e-le 4
milhões de tcineladas ele areia e pcJeira, elepeisitanc-lei
12.1 Os Mecanismos de Transporte e
este material sobre 1,5 milhàeJ de quiltimctre>s quadra- Sedimentação
de)s da f~uropa. ()utrei exemplo é observadcJ nos navicis
cujeJ trajetcJ passa prc'iximo à região de Cabe) Verele neJ
,
12.1.1 O movimento das massas de ar
cJcste ela J\frica, recebendo cm seus conveses freqüen-
tes "chuvas" de areia e peieira pre>venientes do Saara, a () movimento das massas de ar que funciona ceimo
mais c-le 1.500 km de distância. mecanisme) de redistribuiçãeJ da energia solar na at-
I-<'.sse fenômeneJ de transpcirte e sedimentaçãei cicorrc meisfera representa a fcinte ela maior eiu meneir
ccJtic-lianamente nas áreas ceistciras clci planeta e nãeJ capacidade para deslocar partículas. Quanto maior feir
,
scJmente ncJs cleserteis abse)luteJs. f~ sempre comanela- a veleJcidade da massa de ar, maior capacidade de trans-
c-lei pc)r venteJs feirtes deccJrrcntes, em última análise, peirtc ela pc>ssuirá (Tabela 12.1). I->or outro lado,
das diferenças ele albedo e de troca c-le calor entre eJ anteparos naturais e artificiais ceimei florestas, eleva-
mar, CJ ce)ntincnte e a atmosfera. (~elmo nas áreas çc}es e edificaçe°íes podem recluzir a veleicidade dessas
c-lesérticas, esse fenômencJ gera dunas, ceim inúmercis massas, diminuinc-leJ, portanto, sua capacidade de trans-
excmplcJs nei litcJral brasileirei, dcsc-le CJ Sul (Laguna, peirtar partículas. Pcir exemplei, a (=adcia Andina, ccim
f,ageia dcJs Patcis, FlcJrian{ipeilis, Gareipaba, etc.) até ei altitude média ele 4.000 m e quase 8.000 km de exten-
Neirdeste (Natal, FcJrtaleza, Salvaclcir, Recife, etc.). sãeJ, é um anteparo natural importante, interferindo
com as massas ele ar frio prcJvenientes da Antártica.
DcJs agentes meidclaclcires da superfície terrestre,
l)ependendei da direção dei movimento da massa de
ei ventei é eJ mencis efetivo. l\fuitas das feirmas ercisivas
ar e de sua interaçãcJ com a Cadeia Anelina, essas mas-
eibscrvadas em áreas elesérticas são creelitadas erreJne-
sas sãei conduzidas para o OceaneJ Pacífico ou OceancJ
amcnte ao ventei, quanelo na realidade, sua origem está AtlânticeJ ou para ci interior da América do Sul.
ligada à ativielaele da água ceirrente ((:ap. 1()). Ncl en-
tantei, dentrcJ do Sistema ScJlar, verifica-se que em Marte Tabela 12.2 Classificação Beaufort dos tipos
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ei vente> e ci agente mais 1mpe>rtante na ceJnstruçaei e de vento baseada em sua velocidade
muc1ança ela paisagem em sua superfície, face à exis- de deslocamento.
tência ele uma atmeJsfera muiteJ rarefeita e à abseiluta
Vento Velocidade km/h
ausência de água.
1. Calmaria 1,5
40
30
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Distância do solo (m) Fig. 12.4 Deslocamento das massas de ar por fluxo turbu-
lento (acima) e por fluxo laminar (abaixo).
Fig. 12.3 Variação da velocidade do vento em função da
distância do solo.
As massas de ar deslocam-se segundei dciis tipos xei turbulentei e ela velcicidacle da massa de ar pcir lcJn-
principais ele fluxo: fluxo turbulento e fluxo geJs períeidcis ele tempo e assim serem transportadas
laminar (Fig. 12.4). Distante da superfície terrestre pclr grancles distâncias. Nessa situaçãeJ e1iz-se qt1e as
ou de l1arreiras, mais laminar é o mcivimentei da partículas estão em suspensão eólica (Iiig. 12.5). Par-
massa ele ar. () fluxo dei ar será predominantemen- tículas e obstáculos maiores apresentam resistência aei
te turbulento quantci mais próximo da superfície ventcJ, gerandei intensa turbt1lência em seu entcirno e
ou de barreiras. No entanto, a atividade gecilógica prcimovendei a eleposiçãci das partículas em suspensãci
mais comum deis ventcJs resulta quase sempre des- pclucei após cJ cJbstáculcJ.
se fluxei turbulentcJ.
Transporte de poeira
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Fig. 12.6 Impacto de grãos causando deslocamento de par- Fig. 12.7 Deslocamento de partículas por saltação e por
tículas de areia por saltação. arrasto.
quand<.> transp<1rta areia e poeira é que
exerce papel erc)sivc1. A abrasàci proc1u-
zic1a pelo \'ento assemelha-se ao
processo de "jatean1ent(l e p<Jliment(J
C(Jn1 areia'', utilizad(J na indústria para
limpar, polir <Jtl decc)rar diverscJs ol1je-
tc1s. Pc)r iss,1, as st1pcrfícics d(JS grãos
tcnde1n a adc1uirir l)rilhcJ fcJsco, uma
feiçàci er<Jsiva especít1ca etc) ,,ento, ben1
distinto do aspecto brill1ante c1uc resul-
ta cio polin1cntci de materiais em
amlJiente aquáticc>. I)c tnCJl1C> análc>g<>
são fcJrmaclc1s por abrasâ(l r>s
ventifactos, eis yardangs e as super-
Fig. 12.8 Pavimento desértico no Deserto de Atacamo, Cordilheira dos
fícies polidas.
Andes. Foto: C. C. G. Tassinari.
()s vcnt:ifactcJs sao sctx<)S que apre-
se11ta111 duas c>u n1ais faces pla11as
desenvcilvidas pela açàci ela abrasà(J e(>lica.
() vent(> carregaclc> de partícLilas ercJc!e
t1rna face dc> seix(J (}~ig. 12.1 í)a), t(Jrtnan-
dci u111a superfície 11lana e pcilicla ,.:cJltalla
para cJ ventcJ (}!ig. 12.1 (ll,). i\ tur!)t1lên-
cia gerada e!<) lad(J opclsto da face pc>licla
ren1clve parte ela areia, tc>rnanclcl o sei-
Xtl i11stávcl (I;ig. 12.l(HJ). c:()111 ÍSS{), ()
scix<i se ir1clina, cxpcJncltl n<iva face à 1
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i\ açãc> er<isi\·a e-l<i vente) prciduz <Jutras f<irmas de 12.2.2 Registros deposicionais
registrei ccim(l <JS ,·arelangs eJLte se assemelham a cas-
C<Js de barc<JS ,·irael<is, formael<is pela açà<J al1rasiva ( l transpclrte e a pcisterielr dcp<isiçàei c.le partículas
e(>lica sc>brc materiais relativamente frágeis cclm<l sc- pelei \e11tci f(irman1 registrc>s gecil(igic(JS pecLtliarcs elLle
eliment<JS e r<ichas sedimentares pc>ucc> c<insc>liclael<is. sàc> testcn1unhcis e-lesse tipe> ele ativielacle O(J passaelci.
Representam f<>rmas c.le abrasãcJ impc>rtantes cm di- ( )s principais registreis e(Jlic<JS cleste tipel sã(J as dunas,
ferentes áreas c.lcsérticas tais C<>m<i a Bacia c.lcJ l ,L1t n<i <>S n1arcs ele areia e (JS c.lep(lsitc>s de k>ess.
suclcJeste c-JcJ Irã, Taklimakan na C:hina e 1\tacama ncJ
Chile. Tais fc>rmas de abrasà<J cólica enccintram-se res- Dunas
tritas geralmente à pc>rçà<l mais árie-Ja c.l<is c.lescrt<Js <Jnc.lc
há pcluca vegctaçãe> e e1 sc>lc> é praticamente inexistente. Dentre as eli,·ersas fc>rmas c-le c-lep<Jsiçã(l de sec-limen-
tcls cc.Jlicc JS atuais eles tacam-se as clunas. 1\ss(Jciam-se a
NcJ Brasil, embclra cJs ventifactc)s sejam rarels, <>u-
elas feic(Jcs
_, seelimcntares tais c<Jm<> cstratificacãcJ
_, cru-
tras formas ercisi,,as sãeJ encc)ntraclas, mL1itas e.leias
zacla (I;ig. 12.14) e marcas cJnduladas 9L1e, O<J entant<J,
ccJnjugadas à ativic-Jadc pluvial. (luancl<i assim cicc>r- nà<> sã(J exclusivas ele ccJ11strucc'ics sedimentares e(>licas .
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Na cc>nstruçã(> da duna, (JS grãc>s ele a reta (geral- supera esse ângulcl, justamente pc>r causa dei seu cclnstan-
mente quartze)) ,•ão se agrupandcl de ac(>rel(J cc>m (J te retral,alhamcnto pelo ventcJ, esse fenômeno é
sentido preferencial ele> vent(l, fclrmande> acumulaç<"'>es, praticamente restritcl ac> flanco sotavento, daí a razão de
geralmente assimétricas, que p(>eiem atingir várias cen- sua inclinaçãci maicir, prc'ixima aci ângL1lo de repc>US(l.
tenas de metr(JS ele altura e muit(JS eJuilc\metr(JS ele
Nas elunas estacionárias a areia depcisita-sc em ca-
ccimprin1ent(l. A parte da c"luna que recclJe (l ventei
madas e1ue ac(impanham o perfil da d.una. Deste
(barlavento) p(lssui inclinaçãcl baixa, ele 5 a 15º n(ir- mclcl(l, sucessivas camadas vãcJ se dep(isitando sc>bre
malmente, enquantcJ a (lutra face (sotavento), a superfície d(J tcrrencJ com o soprar el(J vento carre-
pr(ltegida de) venteJ, é bem mais íngreme, cclm inclina-
gael(> ele partículas, partindci de l1arlavcnto cm direção
çãcJ ele 20 a 35" (l<'ig. 12.15). l~ssa assimetria resulta da
a scltaventc\ criandc> uma estrutura interna estratificada.
atuaçãc> da graviclade sc)bre a pilha crescente de areia I~mlJcira a scitaventc> da eluna ocorra fc>rte turbulência
sc>lta. (~uandci c>s flanc(JS ela pilha exceelcn1 um deter-
gcracla pela passagem e1(> ventcJ, os grãos de areia per-
minaeici ângul(J (entre 20 e 35º, dependendcJ de> grau
manecem agregadcJs aos estratos em formação, o que
de cciesão entre as partículas) a força da gravielaelc tende a impeelir o movimento da duna. Estas clunas
supera o ângulc> eie atritei entre eis grã(JS e, cm vez ele
ficam im(iveis pc>r diversos fatores, tais como aumen-
se acumularem ncJ flanco da duna, els grãc>s rcilam ele-
te> ele un1idaele, que aglutina (JS grãos pela tensãcJ
clive abaixe> e o flanco tende a desmcJronar, até atingir
supert"i.cial da água, obstáculos interncJs (blocos de rcJ-
um perfil estável. O ângulcJ máximci dei flanco ele uma cha, trclnC(JS, etc.) (JU desenvolvimentcJ de vegetação
pilha ele material sciltc> estável se chama ângLile> de rc- asse>ciada à duna.
pciusc>. Uma vez que clificilmcnte e> flancci lJarla,,cntc>
--·. . . __.. . _
VENTO
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BARLAVENTO SOTAVENTO
Fig. 12.15 Formo- 5-15 ° 20-30°
ço
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o e estruturo
interno de uma duna
estacionário (os ân-
gulos do barlavento e
sotavento foram exa- .... .. ............
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gerados). .. ' . . . ........ . .·... ·,.
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Dunas migratórias
VENTO
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;\ semell1anca das dunas es-
tacicinárias, c> transporte deis
gràc>s nas elunas migratórias se- SOTAVENTO
BARLAVErJTO
gL1e inicialn1ente o ànguleJ do 5-15 °
,----, \
20-35°
perfil ela eluna até ci se1taventeJ. Fig. 12.16 Formação e es•ru 1 ura inrer'lo de uma duna migratória (os ângulos do borla-
IstcJ gera uma estrutura interna vento e sotavento foram exagerados).
e-le leitcJs ceim mer,l;Lilhci pr<'>xi-
n1igratcírias. 1\ mais eficiente até ci meime11tc1 tem siclei
mei ela inclinaçàcJ elcJ seitaventci. l~sse eleslcican1ent<>
cJ plantie> de vegetaçàeJ psameifítica (e1ue se elesenvol-
cci11tínuei causa a migraçàci de teiclri cJ ce>rpel ela c-lur1a.
ve \Jem ne> seilei arencisei) eiu de certas gran1íneas na
1\ n1igraçàei de dunas cicasieina pr<Jblemas de \1ase ela e-luna, a l1arlaventei. (~<Jm issei <) elesleicamen-
sciterratnentci e de assc1reamentcJ nas Z<Jnas liteiràneas tci deis gràcJs é im11edidci e a duna teirna-se
elcJ I3rasil, exiginel<i elragagem ccJntínua para n1it1in1i;,:ar estacicinária (Fig. 12.19).
ei riscei aci tráfegei de navicis, ceimc1 ciceirre nci 11c>rtci
;\ classificaçãci ele clunas [Jaseaela em sua mcJrfeilc>gia
de Natal, Riei C_~ranele dei Neirte, e na l,ageia dc>s Pa-
inclui grancle varieelade ele termeis descritiv(lS reíletin-
teis, Ri<i C~ranele elei Sul. F'.m laaguna, Santa C:atarina,
clei a cli\ ersidade ele fc>rn1as icle11tificaclas ncis e-leserteis
0
-,JJ, "
lcmbranelo a m(irfcilcigia revcilta d(J ciccan(J elurante J\Iuitcis campeis e-lc dunas desse tipeJ também exi-
uma tempestade (Fig. 12.20). lJcn1 marcas <Jne-luladas abundantes (Fig. 12.21),
Nas áreas C()Steiras os campcis ele dunas pcie-lem pr(iduzidas pelei deslcicamcnto elos grãeis de areia prin-
apresentar pcquen(JS lagc>s ele áf,>ua elcJcc, bastante cci- cipaln1cntc pc>r arrastei e saltaçãci. Pcir causa ele sua
nhecidos aci ncirtc do Espíritci Santci, n(J sul dei J--,'.stacl(J assin1ctria, essa feiçãei permite determinar ci sentidcJ
da Bahia e ao lcingcJ ele tc1ela a C<Jsta dc1 Ncirdeste. elo vcntcl prcdciminantc que a fc,rmeiu (dei l1arlavento
para cJ seitavcrl1cl).
Dl1nas transversais sãcJ taml,ém cnccintradas cm am-
bientes fluviais c<imci na Ilha elo (:aju, n<) delta dei ri<i
Parnaíl1a, Tvlaranhãei (Pig. 12.21). Dunas barcaPas
Fig. 12.20 Campo de dunas transversais (direção Fig. 12.21 Pequeno lago represado por duna transversal exibindo mar-
preferencial do vento da direita para a esquerda). Ilha cas onduladas (direção preferencial do vento da direita para a esquerda).
do Caju, delta do rio Parnaíba (MA). Foto: R. Linsker. Campo de dunas dos Lençóis Maranhenses (MA). Foto: 1. D. Wahnfried.
-
Fig. 12.22 Duna barcana no lado direito do campo de dunas associada a cadeias barcanóides (direção preferencial do vento da
direita para a esquerda). Ilha do Caju, delta do Parnaíba (MA). Foto:R. Linsker.
Dunas estrela
Dunas longitudinais
12.1 Desertificação
Embora o nome seja sugestivo, o termo desertificação não retrata de forma específica os eventos dinâmicos dos
desertos da superfície da Terra. Sabe-se que a formação dos desertos atuais envolveu múltiplos fatores geológicos e
climáticc)s atuando durante longos períodos de tempo. Neste processo, continentes migraram para regiões de clima
seco, comuns em zonas de baixa latitude e de alta pressãeJ atmosférica. Este desleJcamento continental expôs rochas
e outros materiais superficiais a condições especiais de clima, dominadas pelos processos eólicos. Durante sua
evolução, uma área desértica expande-se ou retrai-se quase exclusivamente em função de flutuações climáticas
cíclicas. De modo geral, as áreas desérticas naturais (sem influência direta da atividade humana) fazem divisa com
regioes de maior umidade e, ccJnseqüentemente, de maior desenvolvimento da vegetação que inibe a expansão de)
deserto. Atualmente, quase sempre às margens das áreas desérticas desenvolve-se atividade humana, a qual pode
acelerar a expansão da área desértica, ou seja a desertificação. Em regiões não desérticas, especialmente nos ecossistemas
mais delicados e frágeis, a atividade humana pode aumentar a aridez local e levar, eventualmente, à desertificação
regional. Isto aconteceu nos EUA na década de 1930 como resultado de práticas agrícolas ecologicamente agressivas
que deixaram o solo exposto à dissecação. Milhões de toneladas de solos férteis foram erodidas pelo vento e
redistribuídas pelo centro-oeste norte-americano em terríveis tempestades de poeira e areia. No Brasil, o desmatamento
desordenado, a queima constante da madeira e mesmo as inadequadas práticas agropecuárias nas zonas de fronteiras
agrícolas, como na Amazonia meridional, expõem o solo e seus constituintes, como a matéria orgânica, à rápida
degradação física e química, reduzindo as condições de plantio e criando situações de estresse no ecossistema
existente. Este fenômeno também tem recebido o nome de desertificação porque desequilibra o delicado balanço
entre nutrientes, umidade e solos existentes nessas regiões, provocando modificações ecológicas irreparáveis que
culminam em mudanças climáticas, passandc) de semi-úmido para árido com incrível velocidade.
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Elevação ou - Talude
sopé continental continental Falhas
Arco de transformantes Continente
Plataforma Guyot
ilhas Planície abissal Ilhas
continental Cordilheiras vulcânicas
Vulcão • •
Planície abissal Montes ocean1cas Planíci
Submant submarinos
••
ocean1co Ilhas. . abissal
vulcan1cas
ilha
Fig. 13.3 a)Formaçõo de um atol segundo a teoria de Darwin; b) f-\tol das Rocas . Foto: Carlos Sechin.
Na l,ase elcJs taludes c<intinentais, preelciminante- l:,re grancle C<Jtnpartimentci fisi<igráficci, f<ir111a-
mente em margens d<i tipo J\tlântic<J, p<Jde ser clcl pelas trés unielac-les c-lescritas acin1a, ccim estrt1tura
inelivieluali7ada Lima unidade de relev<J irregular, crusta] sin1ilar à d<is ccJntinentes acljacentes, é den<J-
c<instrL1ída pcJr seqüências seclimentar~s, cliretamente minacl<> .\largem c=cJntinental (Fig 13.4).
rclacicJnadas acis prcicesscJs ele tra11spcirte e elep<isiçàcJ
'.\ as n1argcns c<i11tinentais de> ti1,<> 1\tlânticci, apc'>s
ele sedirnentc,s que mcilcla111 as plataf<irmas e talueles
a :\largen1 Cc>ntinental, c1esenvcil,1 e-sc a Planície
ccJntinentais, ccJnheciela ccJmci Elevação ou Sopé
Abissal (l .-ig. l .1. 7 ). r\s Planícies ;\l)issais sã<i áreas ex-
Continental (Fig.13.2). 1\ J-,]evaçãci C<intir1ental csten-
tensas e prcifL111das, de relevei relativan1ente 1,lanci,
c-le-se em prcifunelidades entre 3.000 e 5.()00 metrcis e
que se estende111 e-la base das elevações ccintinentais
apresenta declivielaeles intermediárias entre as cilJser-
até <JS rele,,cis íngremes e abrupt<>s cJas ccJrdilheiras
vac-las nas plataformas e ncJs taludes ecintinentais. P,sta
feiçãci é ccinstituída pred<imi11antemente por depéJsi- ciceânicas, e111 pr<ifunc-liclades supericires a 5.000
t<is de sedimentcJs ele <Jrige111 ccintinental, muitas vezes 111etrcis. Iisses compartimenteis, c1ue constitL1em as
associados a feições de clesl<icament<J e/ eJu maicires extensões territcJriais d<is relevos deJ fund<i
esc<irregamentci, ou entãci a feiç<Jes ele escarpamento de tc>cl<is CJS <iceanos atuais, sã<J lcical111ente interr<>m-
erosivc) n<i Taluele C<intinental. pidcJs pela presença de séries de Nl<intes SubmarincJs
(ele,,aç<Jes oceânicas ligadas às C<Jrdilheiras oceânicas
e às elevações continentais, com alturas entre 200 e
1.000 metr()s), cJu ainda por l\ícintanhas Submari-
nas, que sã<J elevaç<Jes isciladas, p<)dendci apresentar
plataforma
continental talude mais de 1.000 metros ele altura. _1\ parte emersa elas
(m) conti nenta 1
o I nível do mar irregularidades do relev<) das planícies abissais cons-
elevação ou titui as ilhas <)ceânicas.
2000 sopé continental
4000
6000
'
Dados Geométricos Oceano Pacífico Oceano Atlântico Oceano Indico
% em área
dos oceanos 53% 23% 24%
'
Area da plataforma
continental (x l 0 6 km 2) 2.712 (1,6%) 6.080 (7,9%) 2.622 (3,6%)
'
Area do talude
continental (x l 0 6 km 2 ) 8.587 (5,2°/o) 6.5 78 (7,6%) 3.475 (4,7%)
'
Area de elevação
continental (x l 06 km 2) 2.090 (l ,6%) 5.38 l (6,25%) 4.212 (5,7%)
Nota: as porcentagens entre parênteses ·indicam a freqüência relativa do compartimento de relevo em cada oceano.
() relev() ciceânico apresenta, ainda, uma impcir- :'\eJ eiceancJ Atlântico, a Ccirdilheira ()ceânica, aí
tante feição presente nas 7,()nas ele suhducçãci ele placas denciminada Mesei-Atlântica, cicupa a região central,
litcJsféricas (veja C~ap. 6), clenominaelas fossa subma- partindci-o em eluas porções de ccinfiguraçào ele rele-
,
rina. 1\s fcJssas constituem clepressc3es alcJngadas e \·o similar. Nos ciccancJs .Pacífico e Indicci, há
estreitas, ccim laterais de altas cleclividades. cordilheiras que c)cupam posições marginais, bem
A Cordilheira Oceânica (l;ig.13.2) é <) ccimparti- como rifts que resultam do arranjo das várias placas
-
que celmpoem a crosta ocean1ca.
. .
ment(J fisiográfic(J construído preelominantemente
pel()S pr()cessos vulcâniccis e tectêiniccis de fcJrmaçàcJ
de crosta oceânica, relacionadcis a(JS movimentos das 13.2A Origem e a Distribuição
placas e superpcistos por prcicessos eleposicicinais ele
dos Sedimentos nos Fundos
ciceano prcJfunclo (Cap. 6).
Oceânicos Atuais
r\s C()rdilheiras (-)ceânicas sãeJ feições lcingas e ccin-
tínt1as, fraturadas, com escarpamentos ladeadcis pelas 1\ maioria das partículas geradas pelo intemperismo
planícies abissais. F,ste compartimento, presente em (Cap. 8) e erodidas (Cap. 9 a 12) nos continentes é
rodeis os eJceancis, é a expressãci espacial das zcinas de depositaela nas áreas oceânicas. NeJ entantei, os secli-
acresçã(J das placas litcisféricas. As rq,riões centrais das mentcis aí depositaclos, ccJnstituídeis por uma grande
ccirdilheiras oceânicas apresentam as porções de maior varieclaele de tipos de partículas, pcielcm também pro-
atividade tectêinica dos fundeis oceâniccJs atuais, cc)m vir de <Jutrcis procl".ssos (Fig. 13.5).
fraturamentcis e intrusões ele diques e soleiras de l1asalto,
além de ativiclades hidrotermais.
11
1. Transporte eólico
2. Transporte fluvial
3. Erosão costeira
4. Queda de cinzas vulcânicas
5. Detritos biogênicos
6. Autigênese 6 7
7. Transporte por gelo
8. Fluxo gravrtacional de massa
(deslizamentos e correntes de turbidez)
9. Atividade hidrotermal
1O. Vulcanismo submarino
11. Queda de material particulado a partir
de correntes de ar de altas altitudes
60"
Vasas de radiolários 5% 1%
I)epé>sÍtcis ele minerais autigênic<Js pc)clcn1 ser en- 1\<J l<)ng<> ll<J tet11JJ(J gecJléJgÍc(J, crn situaç<>es t1Ís-
cc>ntraclcJs 11as n1argcr1s cc>ntÍ11entais (ltl n<>s assc)alh<is ti11tas c'lc clistri!Jt1içào lie massas c(Jt1tincntais e, \J<irtant(>,
elas LJacias (Jceánicas, pcirém apenas cJnde tenr1am si<J<J tlc (>ceancJs, a circulação <Jccànica f<JÍ clifcre11tc ela atLt-
criadas c<i11cliçc1es físicci-c1uín1icas (te1n1Jeratura, rª:h, a 1, levand<J a<> clcscnvt>lvímentcl l1C prcJcesstis
p 1--:1) aclec.JL1aclas à cristalizaçàtl dcis 1ninerais a partir da e>ceat1l>gráfic,is e ele clepcisiçàti ele scdimcr1ros IJastan-
água clci 111ar. te cli, ersc1s e-leis att1ais (l;igs. 13. 7 - a,l,,c,cl,e).
0
( )s cle1)é1sittJs tle setli1ne11tc>s vt1lca11cigênicc>s pre- 1\lé111 cliss(l, <JS pr<iccss<Js de fc>rmaçàc> e su!JclLtcçàc>
cl<H11inan1 a11e11,1s j11r1t<> às :treas ele ariviclacle mag111ática, ele placas levaram all clcsen\"(J!vin1ent<) das grancles
tais Ct>tnci as cac.leias cJceú11icas e <>S "hot-spo!s'~ <JLt c.le ur1ídacles clcl relcv<J (lceànicl1, tais cc>n1<> as cl<>tsais <lee-
ativiclae!e !1ic-lrc>tern1al ( Ca\J. 17). l·'.stas áreas re11rcse11- á11icas, asslJCÍaclas a Z<Jnas ele fraturas, e as 1nargcns
. . .
tan1 regi<'>es restritas d(>S funlll);; tJcct1nic<>S, eiint1nenta1s atJ\•as.
c<>m11aratívamente às cli111ens<1es clcJs dc1nais C<)mpar-
;\ <>rientaçâ<> e ft>rn1a clessas gra11des ltníc.lacles c1c
tit11ent<lS fisÍ<Jg1·áfie<Js marir1l1<>s. '
rele,'<) C<Jntrr>hu11 a circulação <Jccánica, c1ue é u111,1 d;1s
pri11cipais rcsrJ<lt1sávci, peleis pr<>eess<>s clep<lsici1Jnais
13.3 Processos Responsáveis pela e111 <Jccanc, a!Jert<,. l)esta n1aoeíra, sà<> <JS pr<>ccsscls
Distribuição de Sedimentos tcct<'inie<>S c1t1c iràc) co11trcJlar a c!istribuiçà<J <1a 1naÍ(Jr
parte tl(JS \Jtincipais tip<is de sccliment<is
Marinhos (,·1dcancJgê11ic<JS, terrígcn(>S, bic>gê11ic<)S, autip;ênic<>s).
r\ (_lisrril11tiçàcl <_Je seditnent<>s ncJS f1.1nci(JS llccàni- 1\lé111 disse>, a C<Jnt1guraçà<1 attial elas l)acias occá11icas
C<>S 11,'ttl é alcatr'JrÍa, [)CJÍs <llJe(!ccc a 11111 paclrà(> cletern1ina a c-listril)uiçào ll<)S principais sisternas ele cir-
cletermi11atl<> p<lr 11n1a série c1c prticcsscJs ge<Jl<'igic<>S culaçâcJ <Jccá11ica.
e c>ceat1(igrát1ccJs, de escalas tcmp(lral e espacial l)as-
tante clistintas. Vcrcrr1<1s a seguir c1uais sàc, <JS principais 13.3.2 A circulação oceânica
pr<Jcesstis e ccirr1<J eles atuan1 11a <_1Ístril>uiçàcJ <le scc1i-
111cnt<>s ncJs <Jceancis. 1\ circt1laçâ<i superficial c-l<JS <iceancJs é ttm i111p<>r-
tantissimcJ rncca11ismci de cci11trcJlc e c!istril1uicàci ~'
clcis
fltixcJs de partíctdas sedi1nentares que recc1bren1 <JS
13.3.1 A tectônica global fLtnclcis ciceánicc>s atuais. f.".sta eircL1laçàcJ é cleterrnina-
;\ 1cctôrtica (~l(Jl)al, c11jc>s ccJnceit<>s achan1-se a1)re- cla pela Ír1teraçà(l entre (JS pr<icesscJs atn1cJsférícc>s, a
se11taclcJs ncl (~ap. (,, é <J granclc n1ecar1isn1ci resp<>nsávcl c!ispc>siçàc> elas n1assas cc>ntincntaís e <> n1c>vi111entc> de
pela rn<Jvimc11taçacJ e clístrihuiçâci das massas cci11t1- r<>taçâ<J c1a 'ferra. 1\ssi111, no l1cn1isféric> 11c)rte, a circu-
ncntais e, pcirta11tc1, <.las l>acias c1ceánícas. laçàc> cJccánica ele superfície se JJr<Jcessa O(l sentidcJ
80'
6D"
h<)ráric> e nc) he1nisférici sul, n<l se11tidci
anti-hcirárici. Pcir cxcn1plci, nci J\tlântic<i
Sul, dcsenvc>lve-se un1 fluxci principal a
partir clci cleslcicamentci ela C:c>rrente clc
l)enguela, ele águas frias, aci !cinge> cla
'
C<>sta africana, até a altura de ;\ngcila. i\
n1edida c1ue vai atinginel<> latitudes me-
nc >res, este fll1xci vai ganhandc> calcir e,
40º Domínio de depósitos
lar:Jals (PvrmlanoJ nas prc>ximidac-les elci b:quaelcir, deslc)-
80'
ca-se para ciestc, gcra11dci a (~cirrente Sul
60'
l ·'.c1uatc)rial, c1ue se eleslcica até ci litc)ral
,, ,,
11c)relestinc) brasileirc>. ;\ partir elaí, ele-
fi~~rJJ ;1ii!1:.x~ .•\tt\;•1· senvcilvc-sc, ac> sul, a C:c>rrente elci Brasil,
ele águas CJLtentes, LjllC se estencle pcir
Oº quase t<>cla a margcm ccintinental \Jrasi-
leira. b:sta distrilJuiçãc> cle águas LJuentes
e frias ccJ11elicic>na fc)rtemente a prc1cll1-
·<.·-- tivielaele tJic>lc'>gica na ccista africana, cc)n1
~ . ,.,1;~1J•.: /_...;,I,..•
,;,•1,._,_,/;$,'I..*;;.'-~
'
,
a\Jundante prc)e-luçãc> ele materta cirga-
' .
80' 80"
60' nica e cleric>siçãc> ela mes1na nc>s
seclimentc>s. I><ir c1utrc> laclc>, as águas
que11tes ela C~c>rre11te cl<> Brasil, se nà<)
favcirecen1 a Produção Primária, sãc>
resp<H1sáveis pela tnanutençãc> clc>s ex-
Oº
tcnsc>s cler>c'isitcis carl1<1náticc>s ela cc>sta
leste e nc>re-leste l>rasileira.
São duas as principais hipcíteses sobre as fontes de enriquecimentc) de sais para a água do mar, sem que a ocorrência
de uma delas pc>ssa significar a ausência da outra.
A primeira delas, a mais C<)nhecida, e que durante longe) tempo se acreditou ser a única, é da origem desses sais a
partir da dissolução das rochas da superfície terrestre e de seu transporte pelos rios até os ocean<)S. P<)rém, a análise
comparativa entre os sais dissolvidos trans-
portados pelc>s rios e a composição dos
sais presentes na água do mar demonstra
que nem todo sal existente poderia ter se
originado só através deste processo.
Além disso, devido ao calor do mat,lffia, Fig. 13. l O Depósitos de evaporitos no Mar Morto.
a água fria dos fundos dos oceanos, ao
percolar as rochas do assoalho, se aquece, ac> mesmo tempo que trc>ca elementos químicos com <> meic) rochoso.
Ao ascender, integra-se ao ambiente <>ceânico (ver Cap. 17).
As interações entre <>S constituintes quimicos dissc>lvidos através c-le um C<>njunto de complexos prc>cessc>s, envolven-
do trocas entre oceanos, atmosfera, fundc)s marinh<)S, ric>s, rc>chas ela superfície, ma6m1a, etc., originam um balanço
geoquimico estável do meio marinh<>, fazendo C<>m que a quantidade de sais dissc)lvidcJs mantenha-se constante pc)r
décadas, séculos, milênios.
Muito embora a concentração salina e a dinâmica dos oceanos não favoreça a dep<)sição de sais, cm condições
particulares, quando C)C<>rrc a livre circulação das águas, cc)m<> nc>s mares internos, ou onde os eventos c-le evap<)ra-
ção superam os de recarga de água, poderá <)C<)rrer a deposição dos sais dissc>lvidos na água de) mar nc>s fundos
marinhos. Estes depósitos salinos formad<Js preferencialmente em lagunas e mares reliquiares são denominados
genericamente evap<>ritos (I<igs. 13.10 a e b), sendo o Mar
Nlorto uma elas áreas mais evidentes da formação atual
destes depósitos. (I<ig. 13.11). Ali, a salinidade das águas é
dez (1 ()) ,,ezes superior a qualc1uer outrc) <Jceano com altas
concentrações de magnésio, sódio, potássio e brometos.
Por causa desses sais, as águas elo Mar M<>rto sã<J ricas em
propriedades terapêuticas n<) cas<> de várias dc)enças de
pele e problemas respiratórios.
so
V
o o na e1ual a onda incide. A arrebentaçãc) ascenelente occJrre
em funelcis de alta e-Jeclividade. A arre!Jentaçãci
mergulhante cJcorre em fL1ndos de declividade média,.
quando as cristas das c)ndas se rompem apc'is formarem
um enrolamentc) em espiral. Pinalmente, a arre]Jentaçãci
comprimento da onda
deslizante <Jcc)rre nas regiões de tcJpografia de fundo mais
Fig. 13.12 Esquema de movimentação de onda em a) águas SL1ave, e1L1andci as cJnclas e1uebram perccirrendo uma gra11-
profundas e b) águas rasas. ele elistância (~'ig. 13.14).
f:m Z(>nas preferenciais ele depc>siçàc) llC sedi111cn-
tc>s, ccimo resultado d(>S process(JS ele arrel1entaçà(1 ele
deslizante
cJne-las, clesenv(Jlve-se (l aml1iente praia!. Praias pc>-
espuma clem ser C(Jnceituadas cc)mcl aml1ientes sedimentares
C(Jsteir(JS, f(Jrmad(JS mais C(>mumente pc)r areias, de
C(lmp(>siçà(J variada (Fip;. 13.15). O limite extern(> da
praia é marcaelcl pela ciccJrrência ele uma feiçà(> ele
funel(l, fc)rmaela pelo inícic) dcJ 11rcJcesS(l ele arrel1en-
- nível da pra ia
taçà(>. Seu limite interne) cc)nsiste na Z(Jna ele máxima
incielência de c>ndas ele tempestacle (berma).
ascendente
muito abaixo
do nível da praia
\.~"'
fig, 13.13 Tipos de arrebentação.
Fig. 13.14 Arrebe11tação tipo desliza11te. Foto: S. C.
Goya.
profundidade
Costa esproto•
menlo orreben/oção costa aforo
_________________________ __Nível de
lempesfude
------------- ---------- ------- ---------------------- Preanau
Ni>el médio
1
- Buixon,01
'
Nível de
dos trens de
onda
Fig. 13.15 Perfil esquemático da topografia praial
bém, o grande mecanismo de circulação rcsponsá-
,·cl pela manutenção da estabilidade e equilíbrio dos
ambientes praiais (f'ig. 13.16).
As características trc)picais e subtropicais das regiões da margem continental brasileira são limitantes à abundân-
cia de grandes estoques pesqueiros, mas permitem a existência de espécies bem variadas.
Na região Sul, predominam a merluza, a corvina, a pescada, havendo também um grande estoque de camarão.
No Centro-Sul, são mais comuns a sardinha e o camarão. Nas regiões Nordeste e Norte, predominam as
lagostas e o pargo, além do atum e do peixe-voador.
........ •..,
ordenamento eficientes à indústria pesqueira têm oca-
"'\" i'. . "•>"
sionado, na última década, uma diminuição dos ~-
··,~·,' ·...
""
.
. .
estoques de recursos vivos do meio marinho, o que . . .
A llescarga sólida tc)tal l1e sedimente)s dc)S sistemas cânica mais antiga. Na plataforma de Abrolhos, forma-
fluviais para c)s c)ceanc)s, na superfície do planeta, está çc'íes calcárias constituem um relevo irregular com parcéis
entre 15.00()x1 (JC' a 20.()00x 106 t/ ano. Desta fc)rma, e) e cabeços pc)ntiagudc)s que atingem a superfície do mar.
rie> 1\maze>nas cc>ntribui cc)m uma carga de sedimen-
Do Cabo Frio até o Cabo de Santa Marta (Santa
teis entre 7'½, e 9'½, para c>s c)ceanos e ce>m cerca de
Catarina), desenvolve-se o litoral Sudeste, também de-
10'1/o do total de água doce. ,
nominado Litoral das Escarpas Cristalinas. E marcado
C) litc)ral Nc>rdeste c>u I jtoral das Barreiras carac- pelas encc)stas da Serra do Mar próximas à costa, favo-
---
teriza-sé-'Rela presença, junte> à cc)sta, l1e tabuleirc)s recenl1C) o llesenvolvimento de pequenas planícies
terciárÍ<)S dÀ formação Barreiras estenllendo-se até a costeiras ou de praias de bolso entre costões rochosos.
baía l1e Tol-lc>s C)S Sante)s, Bahia (Pig.13.22). É um se-
() litc)ral Sul prc)lc)nga-se até e) limite meridic)nal do
tc>r l1a cc>sta dc>minadc) pele> clima secc), principalmente
território brasileiro (Chuí, RS) em uma linha l1e costa
ao ne)rte do Rio Grande de> Nc>rte, e por uma ten-
retilínea, desenvolvida a partir de uma sucessão de cor-
llência marcalla l1e prc)cessos erc)sivc>s da cc>sta.
dc'íes arene)sos, depositados em períc)dc>s de nível de mar
() cc)mpartimento J,este c>u ()riental tem o Cabe) mais altc)s que C) atual. Essas seqüências de cordões leva-
,
Fric) (Ric) de Janeire)) come) seu limite sul. F'. um trecho ram ac> desenvc)lvimento de vários ambientes lagunares,
de> litc>ral brasileirc> marcade> pela desembc>cadura l1e destacandc>-se as lagunas dos Patos e Mangueira.
alguns grandes ric)s (Dc>ce, Jequitinhc)nha) e pela for-
Gec)morfologicamente, o Atlântico Sul tem sidc) di-
maçãc> de extensas planícies de idade quaternária.
vididc> em três grandes domínios fisiográficc)s: Margem
J\1erece destaque, neste trecho, a c)cc)rrência dc)s ban-
Continental, Assoalho das Bacias ()ceânicas e Dorsal
cc)s l1e 1\lJrc)lhc)s, cc>nstruíllos por e)rganismos com
J\1esc>-Atlântica.
estrutura carbc)nática sc)bre elevações de natureza vul-
Fig.13.22 Afloramento da Formação Barreiras.
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Continental
Platô• Montes
... ·de ... Jean Charco!
São Paulo
30°
Terraço do
Rio Grande
Elevação
Rio Grande
Elevação (leste)
Cone do Rio Grande
Rio Grande • Sopé (central)
•Continental
250km
1
setor norte, e a elevação ele> Rio Grande, nci setcir sul, costeiros.
constituem as duas mais destacadas c)ceirrências anfi- T)atarn do período colonial as primeiras interven-
rnalas de efusivas l1asálticas, de expressão regional nos ções humanas sobre a linha da ce>sta, tais corno portos
fundos abissais do Atlântico Sul ()ricntal. e cais e-le atracação em cidades corno o Rio ele Janeire1,
A Cadeia Ncirte Brasileira é descrita corno um ccin- talvez a cidade brasileira que tenha sofrido as rnaicires
junto de colinas e montes submarinos, com urna crista rneJdificações ele sua configuraçãe) ceisteira.
quase contínua com cerca de 1.300 km de cornpri-
13.3 Reconstituindo o passado dos oceanos
() estudo de seqüências sedimentares dc)s fundos marinhos, iniciado após o término da Segunda Guerra
Mundial, teve um grande impulso após o Ano Gec)físico Internacional (1956-1957) e, mais espetacularmente,
durante a década de 60, com C) desenvolvimento do "Deep Sea Drilling Project" (DSDP). As perfurações nos
assoalhc)s das bacias oceânicas, realizadas com o navio Glomar Challenger, permitiram consolidar as bases
científicas da Teoria da Tectônica de Placas (Cap. 6), através da determinação da idade dos fundos oceânicos
e da configuração pretérita dos continentes e a partir de dados paleomagnéticos (Fig 13.24) .
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Relevo '.obular sustentado pelos arenitos da Formação Tombador, Grupo Chapada Dian1ontina, Mesoproterozóico. Vista do
Morro Pai Inácio, Lençóis, BA. Fotografia: 1. Korn1ann.
mente secc). Nas águas mais profundas, a distribuição para a formaçãc) de depósitos carbc)náticc)s, através
dos carbonatos é essencialmente controlada pela tem- da precipitação química ou da ação biogênica (Cap.
peratura, daí a escassez de vasas de fc)raminíferos nos 9). F~m qualquer um desses casos, a formação de cal-
C)ceanc)s pc)lares. cáricJs depende de uma relação íons/ terrígenos elevada.
() apclrtc tcrrígcno configura obstáculo para a forma-
() scgune-!o passo é analisar os pc)ntc)s em cc)mum
ção de calcários: primeiro, por diluir a impcirtância da
das fases pretéritas e-le intensa e--!epc)sição carbonática
sedimentaçãcJ química e biogênica; segundo, pc1r tur-
(Pig. 14.2). Notaremos que C)S perÍc)dc)s de máxima se-
var a água, tornando-a menos prc1pícia para a passagem
dimcntacão ., calcária coincidem cc)m mc)mcntos L-le
ela luz, e, portanto, para a realização da fotossíntese
separação das placas litosféricas (C:ap. 6) e expansão
por parte de algas e bactérias. Assim, ao limitar a exis-
dc)s c)ceanos. Desse mc)do, um dos auges de depcisição
tência e-!e vida fc)tc1ssintetizante e animais bentêJnicc)S
mundial de calcários é o i\1esozóico, e em particular, o
asscJciados, a turvação da água inibe a atividade bio-
Cretáceo, época em que a temperatura elc)s C)ceanos
cc)nstrutora e bioindutora. A conclusão é que a
teria sic-!c) mais elevada. Uma cc)nclusãc) parcial é que a
fc)rmaçãc) de calcáric)s é favc)recida pela escassez de
fc)rmaçãc) de calcáric)s é favc)reciela pela existência de •
aporte terr1geno.
ágL1as marinhas quentes, sol1 clima secc).
PE Fig. 14.2 Distribuição dos depósitos carbonáticos de recifes de corais e algas ao longo
do Fanerozóico. PE: pré-Cambriano; C: Cambriano; O: Ordoviciano; S: Siluriano; D:
Devoniano; C: Carbonífero; P: Permiano; TR: Trióssico; J: Jurássico; K: Cretáceo; Pai:
Recifes isolados, em montículo Paleoceno; Eoc: Eoceno; Oli: Oligoceno; Mio: Mioceno; Pli-Ple: Plioceno e Pleistoceno.
Complexos recifais Fonte: James, 1979.
desfavorecem a precipitaçãc) de calcários. Nc)s clcser- superfície .. \lguns dos minerais sc)lúveis que pc)dcm
tC)S c1ucntcs, cm cc)ntrastc, a raridaclc elas chtivas tc)rna estar presentes cm abundância na área-fonte sãc) cJs
as águas plttviais altamente concentraclas cm Íc)ns. ;\pcís próprios carbonatc)s de rochas ígneas, metamé)rficas
a chuva, tipicamente tc)rtencial e efêmera, c>s Íc)ns em c)u sedimentares preexistentes. J\ssim, áreas-fc)nte dc)-
soluçãc) podem precipitar-se nc) sc)lo, em lagcls ciu en1 minada s p<)r carbonatitc>s, mármc)res e calcáricJs
mares fcchaelc)s, clevidc) à alta taxa e-le evaporação. t\lém liberam uma razão solt1tc)/ detritci elevada, dada a di-
disse), a solubilielade de) bicarlJc)nato na ágt1a é rccluzi- ficuldade c-le <) car!Jc)natcJ manter-se inscJ!úvel,
da pclr sua te1npcratura geralmente clevaela. r\ssim principaln1cntc nas granulações mais finas. N C) I3rasil,
scnelc>, cJs climas c1ucntes e secos sãc) mais fa\"C)ráveis á as bacias ele elrenagcm da regiãc> de Bc)nitci (Estaelc>
fc)rmaçãc) de dep(>sitc)s carbcJnáticcls. eicl \late) (;rc>sscJ elcl St1l) atravessam essencialmente
rrlchas metacalcárias, o e1ue explica as águas límpidas,
A açãc) da tectônica ((~ap. 6), recente ot1 C<>nten1pr1-
a abundância exuberante ele algas fcJtossintctizantes de
rânca à sedimcntaçãc), favc)recc a fc)rn1ac:Í<J <JU
água elcJce (Fig. 14.3) e a f<.Jrmaçã<.) local ele sedimen-
manutençãcJ ele relcvc)s acidcntadc)s, cc>m árcas-f<1ntc
tc)s carbc)náticc)s continentais (I;ig. 14.4).
muitc> pr()ximas da bacia elcpc>sicic)nal. ;\ taxa de erc1-
sãc) nas vertentes tcnelc a ser muitc) n1air1r e1uc a ele
intemperismcJ. C~c)mc> resultadcl, <) V<)lumc ele matéria
scíliela elcslc>cadc> em dircçãc) á bacia é tipican1ente ele-
\'aelc). NcJ case) op<>Sto, em c1t1e a tectt)nica enC<)ntra-se
inativa, <> lc>ngci tempo eic açã<) cl<>S agentes superfici-
ais prc>picia a forn1ação de relcv<) suave, sc)llre CJ e1t1al
<) transporte see-limentar resulta lente> e prcJl<Jngaelc). J\
razãc) intempcrismcJ / erc)sãc) e C) tcmpc) ele ccJntatcl dc)s
seelin1cntcJs acJs age11tes clepc>sicic)nais sãc) clevaelos. S<Jl1
essas C<Jndiçc'ies, c>s minerais mais instáveis s<1frcn1 dis-
Sc)luçãc) parcial C)U tcJtal, ali1ncntanelcJ a carga de
transporte químiccJ e favc)rccendc) a fclrtnaçãc> ele
calcários e de c>utrc)s materiais sedimentares autcíctc)-
Fig. 14.4 Tufas calcárias precipitadas por escape de C02
ncs C)U alobic)químiccls. '
induzido por turbulência, em corredeiras do rio Formoso, Bo-
A prc)veniência também pc,de influir 11a geraçãcJ de nito. Exemplo de queda de água em que a sedimentação
sc)lutc>s, uma vc% que algumas litolc)gias sãcJ mais ricas predomina sobre a erosão. Foto: Divulgação da Prefeitura Mu-
elo qtie c)utras cm minerais solúveis nas coneliçEíes ela nicipal de Bonito, Mato Grosso do Sul.
a
b e
➔
Empacotamento
Empacotamento cúbico
romboédrico
(porosidade: 4 7 .6%)
(porosidade: 26.0%)
Fig. 14.5 Representação esquemática de algumas mudanças introduzidas, em escala de grãos, por efeito de
compactação mecânica: a) fechamento do empacotamento; b) deformação de grãos; c) quebra de oóides.
Em escala meso a macre)scópica (isto é, na escala
50µm
de amostra de mão à de afle)ramento), um exemplo
da diferença de compactabilidacle entre rochas
arenáceas e lutáceas é a produção de dobras ptigmáticas
em diques elásticos de areia (Fig. 14.6). Os diques de
areia são corpos tabulares, com dimensões geralmen-
te centimétricas a submétricas, disce)rdantes em relação
a um estrato lutáceo hospedeiro. Eles são formados
por sobrecarga ou por injeção de areias fluidificadas
nos sedimentos lamíticos ainda moles (durante o está-
gio inicial da diagênese, conhecido comei diagênese
precoce). Após a fase de injeção, a lama hospedeira,
submetida ao se)terramento, passa a compactar-se mais
rápida e intensamente que o ce)rpo disce)rdante de areia
Fig. 14.7 Denteamento (crista-de-galo) paralelo a linhas de
injetada, o qual é forçado a deformar-se, para assimi- clivagem em grão de estaurolita, observado ao microscópio.
lar a redução de espessura se)frida pele) estrato de lama. Trata-se de feição de dissolução que pode ser originada tanto
A quebra mecânica é uma feição micre)scópica de acima do lençol de água subterrânea (zona vadosa) como em
meio a ele (zona freática). Grão proveniente de arenito da Ba-
ce)mpactação comum em grãc)s de minerais duros,
cia do Paraná (Formac,,ão Botucatu, Jurássico). Fotomicrografia:
pouce) maleáveis. O quartzo é mais propense) que o
E.K.Mori.
feldspate) a fc)rmar rachaduras de compactação. A
razãe) é que eJ feldspato, menos rígido, aceimoda-se
melhor que o quartzo à pressão mecânica. () caso ex- mentos intraclásticos de pelitcis (pedaços de lama ar-
tremo de assimilação de ccJmpactação mecânica, sem rancados do fundo sedimentar da própria bacia)
quebra, é exemplificado pelas micas (comei outros podem ser amassadcJs e intrcJduzidos pcir grãos rígi-
ftlossilicatos em geral). Pe)r sua própria estrutura foliada, dos. Se a compactaçãei mecânica for intensa, o clasto
elas são extremamente flexíveis e amoldam-se aos chega a ser espremiclo por entre eis grãos.
grãos rígidos vizinhos (Fig. 14.5). AnaleJgamente, frag- N eJ caso deis grãos carbonáticos, clisseJluçãeJ e
cimentaçãei são fenômene)s muito mais importantes
que a compactação mecânica, dada a facilidade com
que o carbonato se dissolve e se reprecipita, em com-
paração com ei qLiartzei e o feldspato. Ainda assim,
efeitos de compactação mecânica podem ser <)bser-
vados em grãos ccinstituintes de rochas calcárias. C_1
exemplo clássic<) é o dos oóides (esferóides
carbonáticos concêntricos; ver Cap. 9) amassadeJs e
com lamelas desmanteladas (Fig. 14.5).
Dissolução
interpenetração gradual d<)S grãos submetidos a lenta quim, Estado de Santa Catarina), local onde foi definida a
primeira proposta de coluna estratigráfica para a Bacia do
dissolução sob pressão. Em escala mes<) a
,,. ~ ,,. Paraná (Coluna White). Foto: P. C. F. Giannini.
macroscop1ca, a compactaçao qu1m1ca gera estruturas
sedimentares de interpenetraçã<) parecidas com os Recristalização diagenética
contatos suturados. Entre essas estruturas, destacam-
se superfícies cuja geometria em corte transversal O termo recristalização diagenética designa a mo-
lembra o registro de um eletroencefalograma, feição di ficaçào da mineralogia e textura cristalina de
esta denominada estilólito. componentes sedimentares pela ação de soluções
intersticiais em condições de soterrament<). O efeito
Cimentação da recristalizaçà<) diagenética é particularmente evidente
em clastos carbonáticos (oóides, bic)clastos e pelotilhas;
A cimentaçãc) é a precipitação química de minerais ver Cap. 9). Dois tipos de moclificaçc'Ses sà<) mais co-
a partir dos Íc)ns em S<)luçãc) na água intersticial. Sob muns (Fig. 14.1 O): o primeiro é a transformaçà<) de
esse aspecto, <)corre em conjunto com o prc)cesso da arag<)nita em calcita, dois polimorfos cie carbc)nato
dissolução, através do qual a concentração iônica da de cálcio. Come) não ocorre nenhuma mudança es-
sencial de ce)mposição química, mas apenas de estru- 14.2.1 Componentes deposicionais:
tura cristalina e, conseqüentemente, de fc>rma dos arcabouço, matriz e poros originais
microcristais, este tipo de recristalização diagenética é
denominado nec)morfismo (em alusãe) à nova forma). ()s componentes deposicionais de um agrega-
O segundo tipo de modificação é a transformaçãe) do sedimentar (rocha ou depéísito sedimentar
do carbonate) (aragonita e/ e)u calcita) em sílica, em ince)nsolidado) são três: o arcabc)uço, a matriz e a
que a composição química é drasticamente modifica- porosidade primária. O arcabouço cc)rresponcle à
da e o fenômene) recebe o nome de substituição. 1\ fração elástica principal (que dá nome à rocha C)u de-
substituição de carbc)nato por sílica é amplamente pósito) e às fraçe3es mais grossas que esta (Fig. 14.11).
dc)cumentada no registro sedimentar, não somente em Num arenito, por exemplo, o arcabouço são os grãos
grãos alobioquímicos como em calcários autóctc>nes de tamanho areia (0,062 a 2 mm) e eventuais clastos
e em nódulos e cimentos carbonáticos em geral. Isto na granulação cascalho (> 2 mm).
se deve ae) fato de que sílica e carbonato possuem
() material elástico mais fine) compõe a matriz (Fig.
comportamentos geoquímicos diametralmente opos- 14.11). No exemple) do arenito, a matriz seria consti-
tos. A dissolução de um implica condições favoráveis
tuída pelos grãos menores de 0,062 mm, ou seja, grãos
para a precipitação do outro.
de silte e de argila. O compc)rtamcnto das granulações
que compõem a matriz c1epende da viscosidade do
transporte. Fluxos de lama e escc)rregamentos (Cap.
9) transportam e depositam conjuntamente frações
síltico-argilosas e arcno-rudáceas. () transporte trativo,
em contraste, ce)loca a argila e o silte fino em suspcn-
sãe), cvitanclo que eles se clepositem junto às frações
ou ,; 'i ,' ' "
• ,>"''Ç',
Tabela 14.1 Critérios e termos mais usuais na classificação de rochas sedimentares terrígenas e
carbonáticas. Os termos grafados em azul, verde e vermelho são específicos para rochas de
granulação, cascalho, areia e lama, respectivamente.
Lutito (pelito)
Proporção de matriz , ortoconglomerado
, paraconglomerado
La mito
Arredondamento Conglomerado
Brecha
Mineralógico Proporção QFL Quartzo
(quartzo, feldspato, líticos)
Rudito feldspático,
Rudito lítico,
Diversidade ou pureza Conglomerado oligomítico, conglo-
composicional merado polimítico
Folhelho, folhelho carbonático,
folhelho silicoso, marga, porcelanito
Geométrico Fissilidade Folhelho
(estruturas sedimentares) Ritm icidade Ritmito
Carbonático Textural Granulação Calcirrudito (dolorrudito)
Calcilutito (dololutito)
Tipo de grão/ tipo de Ooesparito, oomicito
material intersticial lntraesparito, intramicrito
Bioesparito, biomicrito
Pelmicrito, pelsparito
Mineralógico Relação calcita/dolomita Calcário, dolomito
14.3.3 Classificação das rochas terrígenas b) N ornes baseados na quantidade relativa de
matriz: arenitos, wackes, ortoconglomerados e
No estudo de rochas sedimentares, o conceito de paraconglomerados
textura refere-se às propriedades físicas de partícula.
Sua descrição ou medição pode ser aplicada a cada O processo mais elementar de seleção
grão individual. As três propriedades texturais clássi- granulométrica consiste na deposição trativa (Cap. 9)
cas são o tamanho do grão (granulação), a forma e de areia ou cascalho, com manutenção das partículas
suas feições superficiais de escala menor (isto é, inde- finas em suspensão. Pode-se dizer que toda corrente
pendente da forma). (fluxo trativo) ou onda (fluxo oscilatório), acima de
um certo nível de energia, é capaz de realizar este tipo
As propriedades físicas (e geométricas) cuja avalia- de seleção. O resultado é a deposição de areia e/ ou
ção depende do exame do conjunto das partículas cascalho limpos, isto é, sem matriz. Assim, a separa-
não são texturas, mas propriedades de agregados ou ção das rochas sedimentares em dois grandes grupos,
de massa. Podem ser incluídas aí a petrotrama (arran- quanto à presença ou ausência de matriz, é uma classi-
jo espacial dos grãos uns em relação aos outros), a ficação que tem implicações genéticas quanto à energia
porosidade (quantidade relativa de poros), a e ao mecanismo de transporte. Além disso, a identifi-
permeabilidade (quantidade relativa de poros cação de matriz em uma rocha sedimentar possui
intercomunicáveis, que permitam a passagem de flui- sempre uma dose de interpretação, porque· nem todo
dos) e as estruturas sedimentares (arranjo de grãos material lutáceo é matriz: a massa fina pode ter-se
quanto a qualquer uma das demais propriedades, ca- infiltrado a partir de camadas sobrejacentes durante a
paz de produzir um padrão geométrico visível no diagênese, por exemplo. Um outro fator complicante
depósito ou rocha sedimentar). Existem também pro- é que nem toda matriz continua fina após a deposição,
priedades de agregado, que ,
são diretamente derivadas pc)rque os filossilicatos podem transformar-se em cris-
de parâmetros texturais. E o caso da homogeneidade tais maiores durante a diagênese (matriz transformada).
de forma ou de tamanho dos grãos, conhecidas res- Uma vez que a distinção entre matriz, c)riginal ou trans-
pectivamente como seleção. morfométrica e seleção formada, e finos de origem diagenética (matriz falsa)
granulométrica. A eliminação de matriz é o processo pode ser muito difícil em alguns casos, as classifica-
mais simples de seleção granulométrica, o qual será ções de rochas terrígenas baseadas na observação da
incluído entre os critérios texturais de nomenclatura. matriz não utilizam como critério a simples ausência
Nomes texturais C)U presença de matriz, mas a sua quantidade relativa.
a) Nomes granulométricos: rochas rudáceas, Nos psamitos terrígenos, a frc)nteira entre rochas
arenáceas e lutáceas limpas e impuras equivale aos 10% de matriz verda-
deira, original ou transformada (Fig. 14.13). Os
O tamanho do grão é a propriedade textura! mais
psamitos são classificados como arenitos, abaixo des-
utilizada na nomenclatura de rochas terrígenas e a sua
se limite, e como wackes, acima dele. Um wacke pode
medida recebe o nome de granulometria. Os nomes
ser um arenito lutáceo ou um lutito arenáceo em que
granulométricos das rochas baseiam-se nas escalas de
o material fino tem caráter de matriz. Analogamente,
tamanho de grão mais utilizadas pelos sedimentólogos,
o termo lamito inclui lutitos em que o material fino
discutidas no Cap. 9. Utilizam-se assim os termos de
tem caráter de matriz.
origem latina rudito, arenito e lutito, ou seus equiva-
lentes de origem grega: psefito, psamito e pelito. Para Dentre as rochas rudáceas, os equivalentes a arenito
rochas que possuam mais de uma granulação, podem- e wacke são, respectivamente, os termos ortoconglome-
se utilizar termos compostos. Por exemplo, uma rocha rado e paraconglomerado (Fig. 14.14). Embora alguns
com 70% de areia e 30% de silte/argila é um arenito autores sugiram quantidades limítrofes de matriz fina
lutáceo. Se as p r o p o ~ m inversas, trata-se de como fronteira entre estes dc)is tipos de rochas (em
um pelito arenáceo. A proporção limítrofe entre um torno de 15%), o critério mais operacional em traba-
arenito e um arenito lutáceo (ou vice-versa) mais ado- lho de campo consiste em observar se os clastos
tada é de ¾ (75%). De acordo com essa convenção, grc)SSC)S (isto é, maiores de 2 mm) se tocam ou se são
um arenito com 80% de areia e 20% de silte-argila separados por matriz. Daí falar-se em rochas susten-
não é um arenito lutáceo, mas um arenito (acrescente a tadas pelo arcabouço (ou pelos clastos grossos) e
expressão com silte-argila, se quiser ser mais preciso). rochas sustentadas pela matriz.
A experiência demonstra que, de iní-
cio, há certa dificuldade para distinguir,
dentre os termos paraconglomerado e
ortoconglomerado, qual deles se refe-
re ao rudito sustentado pelo arcabouço
. ,,,_, .'
'"
:,,,,
,
,,,.
, , ,
, ,
.
__
,
, ,
,
' e qual se refere ao sustentado pela ma-
f>.,tefÍI\ Oi . . .. triz. Mais uma vez, a análise
Quartzo• etimológica das palavras é muito útil.
wackes
Quartzoorenitos O prefixo para é o mesmo de parado-
xo, e lembra, portanto, contradição.
Ortodoxo é usado em português no
sentido de dentro das tradições. O pre-
fixo orto aparece também em ortogonal.
Significa, portanto, reto ou correto. Um
conglomerado correto, clássico, tradici-
c)nal, é aquele que tem muito cascalho
,
e é sustentado pelo arcabouço. E
ortoconglomerado. Já o conglomera-
do em que a lama, e não o cascalho,
,
sustenta a rocha é paradoxal. E
paraconglc)merado.
Fig. 14.13 Classificação de arenitos. Segundo Dott, 1964.
c) Nomes alusivos ao arredondamento dos grãos:
brechas e conglomerados
N ornes mineralógicos
D vazio D areia D lama D cascalho Nomes mineralógicos de rochas arenáceas
.
1
• 1, t . :i:;~:J/$!1 Exceções encontram-se entre as rochas lutáceas
,
terr1genas.
('.,:,.i, ·,·i.'.~
••
A relação entre aporte de ftlossilicatos e estrutu-
ra de rochas lutáceas é sugerida no triângulo de Alling
(Fig. 14.16). Com a redução no teor de
· ·, líli/;w1 .·.· .i• ., .,
·. ·,. : ....·::tt ·f#fMtv~t/:'.t':Y-
1
..
argilominerais, a estrutura do pelito passa de físsil,
nos folhelhos, a laminada, nas margas e folhelhos
silicosos, e daí a estrutura em camada, nos calcários
finos, porcelanitos e silexitc)s. Para entender plena-
mente esta relação entre tipo de rocha lutácea e
Fig. 14.17 Carapaças silicosas de algas diatomáceas ao microscó- estrutura sedimentar, é preciso conhecer o signifi-
pio eletrônico de varredura. Imagem obtida com detector de elétrons cado dos termos fissilidade, laminação e
secundários. Fotomicrografia: 1. J. Sayeg. acamamento. São todas formas de estratificação.
.:•:'l '
,, "' ,·,.
Os ritmitos são rochas em que a estratificação pla- forma calciarenito seria mais adequada, porém é me-
no-paralela se deve a uma alternância repetitiva entre nos usual) e calcilutitos, para calcários de composição
estratos de duas litologias diferentes. O caso mais co- calcítica. A porcentagem mínima de arcabouço
mum é a intercalação entre lutito escuro, rico em matéria rudáceo ou arenáceo necessária para denominar uma
orgânica, e arenito ou siltito claro. O par claro-escuro r<)cha de calcirrudito e calcarenito é de 10%. Desse
compõe a unidade rítmica da repetição. A produção modo, rochas calcárias com mais de 90% de matriz
de ritmitos deve-se a dois tipos básicos de processos: micrítica são automaticamente classificadas como
oscilações no aporte de material cm suspensão, difuso calcilutitos. Para calcários de composição primária
na coluna de água (sobrefluxo ou oveiflow), ou corren- dolomítica, substitui-se o prefixe) calei por dolo.
tes densas, de fundo de bacia, de caráter episódico e N ornes granulo métricos para rochas não-
intermitente (subfluxo ou undeiflow). Neste último caso, carbonáticas, formadas de material de dentro da
o par claro-escuro tende a ser gradado. Os dois proces- bacia (fosforitos e silexitos)
sos podem alternar-se num mesmo sítio deposicional, e
seu registro aparecer intercalado. A classificação granulométrica de rochas
carbonáticas segundo Folk pode ser adaptada para
rochas elásticas intrabacinais com outras composições
14.3.4 Classificação das rochas carbonáticas
químicas, tais como dolomita, fosfato (colofana) e sílica
Nomes texturais micro a criptocristalinos. Os fosforitos, definidos como
rochas sedimentares com mais de 18% de P20 5, fica-
Nomes granulométricos: calcarenitos, calcirruditos riam assim subdivididos em fosfarruditos, fosfarenitos
e calcilutitos e fosfalutitos. Os fosfalutitos incluiriam os fosforitos
As rochas calcárias elásticas podem ser classifica- microcristalinos homogêneos, também denominados
das segundo a granulação, de modo análogo às colofanitos ou microfosforitos. As rochas silicosas, com
terrígenas. Para distinguir a terminologia de calcários mais de 50% de sílica livre, poderiam, de acordo com
elásticos em relação a rochas terrígenas, os termos o mesmo critério, ser classificadas em silruditos,
rudito, arenito e lutito devem ser antecedidos de um silarenitos e silutitos. Os silutitos incluiriam os silexitos
prefixo que indique a compo~ção mineralógica da e porcelanitos da classificação triangular de Alling.
rocha. Têm-se assim calcirrudi~s, calcarenitos (a
N ornes baseados no tipo de grão
1
lntraclastos !
l
1
!'
lntroesporito 1ntram icrito
1 1 ·
Oóides
l 1 ..·
,
Fig. 14.20 Biomicrito silicificado da lndia, observado à lupa.
...._··-·..·.~..... . . .-.J Os bioclastos de moluscos possuem cerca de 0,5 cm de com-
Ooesparito Oomicrito primento em média. Fotomicrografia: A. S. Assoto, 1. J. Sayeg
e P. C. f Giannini.
1
Bioclastos j
• . 1
Nomes químico~mineralógicos: dolomitos e
BioesÓÕ~
calcários
'
'
,, ,
, '"' -~,-,, "
da natureza humana refletir sobre si e sobre o bilhões de anos, pelo exame do registro geológi-
mundo ao seu redor. A consciência deu ao ser co das rochas, fósseis e estruturas geológicas. Esse
humano o domínio do tempo presente -penso, logo exercício trabalhoso é complicado ainda mais pela
existo - mas também o desejo de saber do seu passa- natureza incompleta e, comumente, muito comple-
do e da origem do seu mundo para poder entender xa do registro (Fig. 15.1) e também em função da
seu lugar na Natureza e enfrentar o futuro. Todo povo, superposição e repetição de fenômenos ao longo
desde os tempos pré-históricos, guarda seus mitos e da história geológica.
histórias sobre sua origem e a criação da Terra. Com
Para ordenar e comparar eventos passados, os
o notável desenvolvimento das ciências nos últimos
geólogos desenvolveram uma escala de tempo padro-
três séculos, a humanidade finalmente começou a des-
. , . nizada e aplicada no mundo inteiro. Neste capítulo,
vendar, objetivamente, essas questões e os misterios
veremos como se divide o Tempo Geológico e como
do mundo em que vive.
a mudança paulatina na sua concepção e magnitude
E é a Geologia, centrada no estudo das rochas, revolucionou nossa percepção da própria história da
que nos auxilia nessa tarefa fascinante e difícil por- Terra. Veremos também como é possível estabelecer
que, ao contrário das ciências exatas, trata-se, em a idade das rochas, seja por meio do estudo dos fós-
essência, de uma ciência histórica, fundamentalmente seis, seja pela medição de isótopos radioativos e
dependente do elemento tempo. O físico ou o quí- radiogênicos, avanço que culminou com a definição
mico, por exemplo, observa e analisa fenômenos da idade da Terra em 4,56 bilhões de anos. Diante
' - experiencias
atuais "" . e reaçoes ~ rigorosamente
. con- dessa dimensão temporal, refletiremos quão pequeno
troladas. O geólogo, contudo, busca entender é o ser humano no espaço-tempo e quão insignifican-
fenômenos findados, já há milhares, milhões ou até te é sua civilização milenar.
o Origem da Terra
u o "--•--•--•a-•----,-•-••••--"•-•- - '
•O u o 1
8 ·O u '
e 8 •O Materiais terrestres
u<lJ "'
<lJ 8<lJ mais antigos
~
J'. Primeiros Rochas
-- ------ .,. ··----- - - -- -- ---,
. .
an1ma1s mais antigas !
Fósseis ''
mais antigos
Milhões de anos
Pré - Cambriano
Fig. 15.1 Distribuição de rochas sedimentares no registro geológico. A curva da média de rochas sedimentares preservadas ao
longo do tempo geológico sugere que o registro diminui quase que geometricamente com a idade. Será que realmente houve menos
sedimentação no passado? Claro que não! Nossa dificuldade de compreender a imensidão do tempo envolvido é que nos dá esta
impressão errônea. Além disso, quanto mais antigo o registro sedimentar, menores serão suas chances de ter escapado da destrui-
ção erosiva ou transformação metamórfica.
• Stereosternum tumidum, um membro do grupo dos mesossauridos, conhecidos apenas na bacia do Paraná e na bacia
'
contemporânea de Karroo, na Africa do Sul, extintos há 245 milhões de anos. Embora aquáticos, os mesossauridos não eram
'
nadadores suficientemente fortes para terem migrado da Africa para América do Sul. Simbolizam, portanto, uma das evidências da
união pretérita destes continentes antes da abertura do oceano Atlântico. Comprimento máximo: 45 cm. Foto: Sérgio F. Beck.
15 .1 Como Surgiu a Geologia e uma "-\ntes disso, nem se cogitava que o mundo pudesse
ser "imperfeito" ou muito antigo por causa da forte in-
Nova Concepção do Tempo
fluência religiosa no pensamento intelectual da época. O
judaísmo pré-cristão, por exemplo, concebia a Terra como
15.1.1 Concepções iniciais da idade da Terra tendo apenas poucos milhares de anos. Idéia semelhante
e o princípio da Geologia continuou a ser difundida ao longo da Idade Média e
Renascença por sábios na Europa, que geralmente afir-
A idéia de que a Terra poderia ser extremamen- mavam que a criação do mundo, em coerência com a
te antiga só emergiu nesses últimos dois séculos, Bíblia, se deu há cerca de 6.000 anos (Fig. 15.2). Tal con-
como conseqüência dos dois grandes movimentos cepção transformou-se defmitivamente em dogma em
da cultura ocidental que consolidariam a Geologia tomo de 1650 quando o religioso Arcebispo U ssher (1581-
• A •
como uma c1enc1a: 1656) (Fig. 15.3a), primaz da Irlanda, publicou volumoso
tratado sobre a cronologia bíblica, cuidadosamente
• Durante o Iluminismo o ser humano substituiu
pesquisada nas escrituras sagradas e em outros docu-
as explicações sobrenaturais para fenômenos da
mentos históricos. Levando em conta todas as mudanças
Natureza por leis naturais, fruto de descobertas
cronológicas impostas pela troca do calendário juliano
da observação, pesquisa científica e emprego do
pelo calendário gregoriano em 1582, U ssher declarou que
senso comum.
a Criação deu-se na noite anterior ao dia 23 de outubro,
• Com a Revolução Industrial, incrementou-se a um domingo, do ano 4004 antes de Cristo. Tal foi a influ-
demanda por matérias-primas e recursos ência de Ussher que essa data permaneceu até o início
energéticos oriundos da Terra. do século XX como nota de rodapé nas Bíblias publicadas
pelas editoras das prestigio~<=1.s universidades inglesas de
Oxford e Cambridge.
d
Fig. 15.3 Ilustres personagens no surgimento da Geologia.
a) Arcebispo Ussher, respeitado Primaz da Irlanda, em ima-
gem da época. Fonte: Bettmann/ Corbis/ Stock Photos. b)
Nicolau Steno, o primeiro a enunciar princípios da Geologia.
Fig. 15.2 O conceito medieval da idade da Terra. Esse cálculo Desenho: T. M. Fairchild. c) Caricatura de James Hutton, o
da idade da Terra, baseado nas escrituras bíblicas, foi publicado escocês que estabeleceu a Geologia como uma ciência mo-
na Crônica de Cooper, em Londres, em 1560. Um século de- derna, surpreso ao descobrir as imagens de seus rivais no
pois, o Arcebispo Ussher apresentaria o último (e mais detalhado) afloramento. Fonte: Corbis/ Stock Photos. d) Sir Charles Lyell,
o mais influente geólogo do século XIX, popularizou o concei-
estudo deste tipo.
to de uniformitarismo. Fonte: Ann Peck Dunbar Trust.
O descrédito ao qual o Arcebispo Ussher é ge-
ralmente submetido em livros, em função da falta a, Deposição original em ca-
madas horizontais sucessi-
de lógica de suas idéias à luz da Ciência moderna, é vas e lateralmente continuas
a partir das óguas da
certamente exagerada, pois a história nos mostra Criação.
que ele foi um estudioso muito respeitado e influ-
ente em sua época. Que isso nos sirva de exemplo
para refletir sobre a imagem que gerações futuras
poderão ter da Ciência de hoje. A
No clima intelectual dos séculos XVII e XVIII, que b, As águas retiram-se pa-
ra dentro de cavidades, onde
mantinha a idéia do ser humano como centro do Uni- dissolvem e solapam o su-
porte da camada A-A'.
verso e a Terra como de seu uso exclusivo, começou a
surgir, timidamente, a Geologia. O dinamarquês Nils
Stensen, mais conhecido pelo nome latinizado de Nicolau
Stcno (1638-1686) (Fig. 15.3b), foi quem primeiro enun- A Ar
ciou os princípios dessa nova ciência. Médico, religioso C, Colapso da camada A-A'
permite que a água recubra
(católico convertido do luteranismo) e perspicaz obser- novamente a superf[cie . É o
Dilúvio.
vador, Steno explicou a origem dc)s gêiscres (Cap. 17),
reconheceu como dentes fósseis de tubarões as pedras
popularmente chamadas de "línguas petrificadas"
(glossopetrae), constatou a constância dos ângulos entre fa- A A'
B B'
ces cristalinas (Cap. 2) e contribuiu para o estudo da
d. Novo fase de deposição
anatomia humana. Nc) seu livro J)rodromus, publicado cm de camadas entre B e B' du-
rante o Dilúvio.
1669, ele estabeleceu os três princípios que regem a or-
ganização de seqüências sedimentares e que até hoje são
chamados, muitas vezes, de princípios de Stenc) (Fig. 15.4):
• Superposição: sedimentos se depositam cm A A{
B B'
camadas, as mais velhas na base e as mais nc)vas e. As óguos do Dilúvio
. . drenam para cavernas,
sucessivamente acima. -===::tí;Z'.:__~i.l..J solapando, agora, o suporte
L...::;Ji.._ _,.:::.L"' da camada 8 - B',
• Horizontalidade original depósitc)s sedimentares
se acumulam em camadas sucessivas dispostas de
modo horizontal. A'
B B' f. Novo colapso resulta na
• Continuidade lateral: camadas sedimentares são paisagem do mundo moderno.
Pontos A, 1( 1 B e B' sobrevivem
contínuas, estendendo-se até as margens ela ba- como testemunhos isolados
de camadas originalmente
cia de acumulação, ou se afinam lateralmente. continuas.
Dependendo da energia do meio e da topografia Hoje esses três princípios de Stenc) parecem mais
do substrato, o princípio de hc)rizc)ntalidade nãc) se do que óbvios, mas o clima intelectual da Europa no
aplica estritamente, como no ca~o da formação de século XVII era de transição entre os mundos medie-
estratificação cruzada em ambientes sedimentares de val e moderno, com Inquisições e interpretações
alta energia (Caps. 9, 12 e 14), ou durante a deposição eruditas da história da Terra baseadas nas escrituras
sobre as superfícies inclinadas de leques aluviais e fren- bíblicas, e nas grandes descobertas científicas, como
,
o
tes deltáicas (Cap. 10). Nem toda camada termina telescópio, o microscópio, a física e o cálculo. E sinto-
lateralmente por afinamento ou nos limites de bacias, mático que tenha sido um padre católico e naturalista,
pois comumente um sedimento cede lugar, lateralmen- Steno, quem tenha enunciado esses princípios.
te, para outro de maneira gradativa. Um arenito, por A simplicidade do conceito bíblico da formação
exemplo, pode passar para siltito, devido a mudanças da Terra refletiu-se também nas primeiras tentativas
na distância da tonte, energia do meio, profundidade, científicas de ordenar a história geológica do planeta,
etc. Transições aterais desse tipo, chamadas de mu- pc)r vc)lta do século XVIII. Entre 1750 e 1760,
danças de fá ·es litológicas (nesse caso particular, de Giovanni Arduino (1713-179 5) nos Alpes italianos e J.
fácies sedimentares), refletem normalmente a distri- G. Lehmann (1719-1767) na Alemanha denominaram
buição de ambientes de sedimentação distintos no as rochas cristalinas com minérios metálicos, observa-
interior de uma mesma bacia (Cap. 9). A migração das nos núcleos das montanhas, de primárias ou
desses ambientes ao longo do tempo produz diferen- primitivas e as rochas estratificadas bem consolidadas
tes padrões de interdigitação e sucessão de fácies que (calcáric)s, folhelhos) com fósseis de secundárias; as
denotam avançc)s (transgressões) e recuos (regressões) rochas estratificadas pouco consolidadas, com fósseis
do corpo da água relativos às margens da bacia. marinhos e intercalações vulcânicas, receberam a de-
A Fig. 15.6 ilustra algumas situações de registro signação de terciárias. Posteriormente, surgiu o termo
sedimentar de diferentes ambientes costeiros. Vê-se, transicional para acc)modar rochas intermediárias en-
Ambienta continental Ambiente tronsicional Ambiente marinho
Silte, malária
Areia, lama organ1ca
. . Areia Lama
abundante
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A
Transgressão. Regressão
E
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•---- ---------------- - ---30 km - --- ------------- ------·--► 30 km ◄-- ------- --30km-
Com o tempo as fácies se acumulam no mesmo lugar_ Os ambientes e as facíes avançam sobre o continente. As fàcíes continentais avan~am sobre as marinhas.
400 ~w_ _____________ - ---- -------- - -------------- ----------- - - ------------- ------- --- - ------------ E
j Calcório Muav ]
300~
'\
1
200--\
Arenito Tapeats
100
Rochas fgneas e metamórficas
pré-com brianas
o-
. .- - - - - - - - - - 1 8 0 k m - - - - - - - - - - _ .
e
Fig. 15.6 O conceito de fácies sedimentares exemplificado na distribuição de alguns ambientes costeiros e seus
produtos litológicos (fácies).
tre as primárias e secundárias, e em 1829 o francês J.
Desnoyers cunharia o vocábulo quaternário para sedi-
mentos marinhos recobrindo rochas terciárias na bacia TABELA 15.1 A escala do tempo geológico
de Paris (França). Os termos "primário e "secundá- (idades segundo Gradstein & Ogg, 1996).
rio" já foram abandonados, mas os termos Terciário Para facilitar a compreensão da magnitude
e Quaternário ainda constam da escala moderna do dos 4.560.000.000 anos de tempo geológi-
tempo geológico, embora com conceitos diferentes co, veja o quadro na contracapa que conta a
história da Terra como se ela tivesse ocorrido
dos originais (Tabela 15.1).
no intervalo de um ano, o "Ano-Terra".
Na segunda metade do século XVIII, essa sub-
divisão simples foi interpretada à luz do relato
:· •:, :
bíblico da separação das terras e das águas durante Eon· Era .ifêí'Íodo.
a Criação. De acordo com essa idéia, quase todas
Holoceno (ou
as rochas, incluindo rochas ígneas como granitos e Recente)
Quatenário 0,01
basaltos, teriam se precipitado das águas do mar
primordial, daí a razão do nome, netunismo, em Pleistoceno
1,8
homenagem a Netuno, o deus do mar da mitolo-
.
g1a grecc)-romana.
Neógeno 5,3
Conforme mostra a Fig. 15.7, os netunistas acredi-
tavam que as rochas se formavam em quatro séries 24
seqüenciais a partir das águas do mar primevo, como
relatado na Bíblia. Para eles, as duas séries mais antigas, 33
.. .. .
. ..
"
Segunda Série
Rochas de
TransiçãQ
Terceira Série
Quarta Série
15.1.2 James Hutton e a consolidação da Hutton também percebeu que a história da Ter-
Geologia como ciência ra era inimaginavelmente mais longa dcl que se
pensava em sua época. Em seu trabalho mais im-
Enquantcl Werner lecionava na Alemanha, o natura-
portante, Theory of the Earth, de 1788, e reformulado,
lista escocês James Hutton (1726-1797) (Fig. 15.3c) fazia
após sua morte, por John Playfair, em 1804, Hutton
as observações que serviriam de base para transformar
articulou suas idéias m(Jdernas sobre a Ge(Jlogia e a
a Geologia numa ciência, nas primeiras décadas do sé-
história lcJnga e complexa da Terra. Para Hutton,
culo XIX. Hutt(Jn descreveu evidências de metamorfism(l
toclo o registro geológico podia ser explicado pe-
de contato entre basalto e rochas sedimentares próxi-
los mesmos processc)s que atuam hoje, como er()SãcJ,
mas à sua casa em F'.dinburgo, interpretou como intrusivo
sedimentação, vulcanismo, etc., sem necessidade de
(e não "precipitad()'') um granito que cortava calcário,
apelar para origens especiais ou intervenção divina.
supostamente mais novo segundo os netunistas (Fig.
Esse conceit() leva o nome de princípio de causas
15.9). Juntand() essas observações com seus conheci- •
naturais.
mentos de experiências de fusão e resfriamento de
materiais rochosos realizadas por colegas, Hutton de- Hutton chegou a essa conclusão, em parte, ao
monstrou a natureza fluida, quente e intrusiva das rochas reconhecer em Siccar Point, Escócia (Fig. 15.8d), o
ígneas, fundamentando, assim, o conceito de plutonismo caráter cíclico d(J registro ge()lc'Jgiccl, pois cada vez
(de Plutã(J, deus greg() das profundezas), em que pr()curava a base de uma seqüência de rcJchas
contraposição ao netunismo de Werner. em busca dcl suposto "início" da atividade geológi-
ca na Terra, sempre se deparava com outras rochas H uttc)n a escrever sua frase mais célebre: "() resul-
ainda mais antigas, representando ciclos mais anti- tado, pcirtantci, de nc)ssa presente investigação é que
gos, muitas vezes clobradas ou metamorfizadas e nãci encc)ntramos nenhum vestígio de um cc)meç<),
separadas das rochas do primeiro ciclo pc)r uma su- nenhuma perspectiva do fim", ao referir-se à ação
perfície discorclante erosiva. Tal superfície fc)i dos pr<)cessos geológicos. Esta frase rompeu, de
denc)minada discordância (Fig. 15.8), o que levou vez, cc)m <) conceito de uma Terra recém-criada, e
acenou não somente cc)m um passado geológico
incalcula,-elmente longo como também com um fu-
turo geológico sem fim, ou seja, idealizc)u-se <) tempo
infinito.
Como resultado de) trabalho de Hutton, reconhe-
cemos hoje três tipos distintos de discordâncias
a originadas pela erosã<) c)u pela ausência de sedimenta-
çãc) num dado lugar:
• não-conformidade, quando e) pacote
sedimentar se assenta em contato erosivo direta-
mente sobre rochas ígneas c)u metamórficas
(Fig. 15.Sa);
b
• discordância angular, quando o paccite sobre-
põe-se a outrci, ccim contato brusccJ em relação
ao pacote mais antigo, ccJnstituídcl por camadas
inclinadas cclm ângulo diferente do pacote supe-
rior, mais jovem (Figs. 15.Sb e d);
• desconformidade, quando a descontinuidade
entre <)S pacotes sedimentares, bem come) o
e acamamento dessas rochas são quase paralelcis;
este último tipo de discordância é difícil de ser
identificado, só pcidendo ser detectado por di-
ferenças paleontológicas ou contrastes
faciológicos entre as camadas em contato
(Fig. 15.Sc).
Ao reconhecer as relações de contato e de ida-
de relativa entre corpos geológicos justapostos
(intrusões/ rochas encaixantes, discordâncias/ rochas
sotopostas, etc.), Hutton efetivamente estabeleceu
outro princípio fundamental da Geologia, ou seja:
as relações entrecortantes de corpos rochosos
(Fig. 15.9). Este princípici pode ser desdobrado em
// duas partes, uma regida pela lei das relações de corte
Fig. 15.8 Diagrama esquemático mostrando os três tipos de e a outra pela lei das inclusões. Segundo essas duas
discordâncias. a) não-conformidade; b) discordância angular; leis, qualquer feição geológica (rocha, fóssil ou es-
c) desconformidade; d) Exposição de dois ciclos de deposição, trutura) cortada <lu afetada por outra (dique, sill,
soterramento, deformação, soerguimento e erosão. O ciclo mois disccirdância, falha, dobra, atividades de organis-
antigo é ilustrado por rochas silurianos com acamamento
mos, etc.) ou contida em outra (um seixo num
subvertical e o mois recente por arenitos devonianos
conglomeradci, uma bolha de gás num cristal ou
subhorizontais, em Siccar Point, Escócia. Uma discordância an-
um xenólito numa rocha ígnea, etc.) é mais antiga
gular visível separa os dois ciclos geológicos (Fig. 15.86). Foto:
W. Teixeira.
do que a rocha que a corta ou que a contém ClU que
a estrutura que a afeta.
o Sul até o Nordeste do Brasil. Se pudéssemos regressar
no tempo, observaríamos fauna, flora, continentes e até
atmosfera cada vez menos familiares, até que, finalmen-
te, nos primórdios do tempo geológico, possivelmente
Rio Glen não mais reconheceríamos nosso próprio planeta, tama-
nha sua diferença dos dias de hoje.
O uniformitarismo proposto por Lyell revelou-se
dogmáticc) demais, de modo que se ensina o princípio
de causas naturais através do conceito de atualismo,
muito parecido com o uniformitarismo, mas sem a
conotação da estrita igualdade de condições entre o pre-
sente e o passado da Terra. Na sua essência, portanto, o
atualismo é a afirmação da constância das leis naturais
que regem a Terra, mesmo que no passado os produtos
e intensidade dos processos geológicos tenham sido algo
diferentes daquilc) que se c)bserva atualmente (Cap. 23).
granito Sendc) assim, não há nada particularmente "geológico",
nem novo no conceito de atualismo, pois a crença na
Fig. 15.9 Seção esquemático do região do rio Tilt, no Escó- imutabilidade das leis básicas da natureza é o substrato
cio, onde pode ser observado o conceito dos "relações
de toda a Ciência.
geológicos entrecortantes" (baseado em figuro de Charles Lyell).
Notar que o granito (rosado) penetro e circundo blocos de
calcários e folhelhos. Esta provo cabal contrariou o idéia 152 Datação Relativa e o Estabelecimen-
netunisto do formação dos granitos por precipitação antes dos
calcários e folhelhos.
to da Escala de Tempo Geológico
·•·,;~gLJ'$;lÔ,.;Tipp~ 4El{Ç>S$eís, •.• ô):ln$et6rn\.lmifitQdo .em âmbar de ídad~ ½$~/~ticii >D.imensõQ.6'~~Í~êl/ lófu.•Fonte:··.Alfred Posieka,.sPl] ;
··•StoçkPho(ôs. ·• b)F~lhêi índd.rbónixqdci de plqntqtercióriq supostamente ané~fol do pou-brqsilt:Mi!'IQs Géfoís.. DimeniíõQ ·móxima';6 cm.· ·• ·•
.·.· f#bf<S:)$! !\}~~~- c)'d6n$~r\iôgã9 ~t<;lal (ôss&i; dentes) de peixe ·postil~i~lppgatus), CrettSiQ)dQ Ceqró .. DirnensõQ mp,xín'\9,.p crn. •·
·. ·' ~l?to~[S>f;.~i;ic~.' d) Môldti1dê".êd~pti~ dé&l.1n,trtl~b~/~v«;>níano do P<:lr!l;~~'..Dimensõo mli~oi 7;5 cm. fQto: ·S. E'Beck.{ 1:1/Ptgados . •.
{(~$$~\s;~~. <:IU ic116fôSsfiíis) de~adbs ~<;>r!';i,l.~~~\i!r<:iêçlf/riívpro,. Cretóct'Jó di:>:Piau(. Foto: e,·~ríotdi; 1•984, •ij. Microfôs$i,ílêimentoso·. •. ·
.· . {~iç'~9t)(;lçf~rib. ()U bô~l'i9) C\?lyl 3;q bilhõ-,t;çfia í,qôst~/rr\Qiií. ontigo f6S$íl !i:lo mundo, Arq~~nc!"dá ~vstrôlío. Fofo:· J;W. .Schopf. g)F ••.
.·. :Es;ti'!:jtfidt6!!ti:>s•(esfrµt1.Jl'tjs!)dolc~rig$ êonstruídqs .por· çqm~ni~odes de ·micr;çbíe>s;} ·do Proterozptcq (r(>OO .rnilhõ6$. de.çiqos} do 8ohiq,•·•
FF6~Ej.. R, foifçhl!d/. b)Mólpé #~íMyeriél>rodo despro~íi:fgde91:in;ipciço da Fav~ de Ediocaro; /~fhiu.~a fó$$ll rtioís oritígq do murdê>.1)(5~9.·.·•
. . .•1t;iílij~ d~ 9nq.s}•, Neoprqfeç<:>t~i<QO .9P .A.ustr6lío.; fotof B::;N; R'l:/nnegar. i) Tubós.)cPlc6rios secl'!llteidôs pefo~ p.ri@eir~ animai~• él;póttilS. ••
·. :de;pef$çli.1,zlr êdgurn t/PQ de çofuppgo: ttilnêrrili:zodo (C/oudintr /l)c/<1noi), ·,,.. 545 mílh~ de anos de•íddde (limite Protêrç;z.6ico/Ftin~z6ico), ·.
·t •..,.-.;.• •••'• .. :.i' s•.·u.;t• .F·oto:
•• "M',(:t.O,QrQSSouo ' .c,ld .. ..·..
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· •. ,.••• .•·. ·..·.· ' ·•.· : .·.·.
,',,' ,'," '•,,:-:-..i,:' ' '
Para explicar a curiosa sucessão de fósseis no re- o País de Gales), geológico (como Carbonífero, com
gistro geológico, surgiram de)is conceitc)s radicalmente referência ao rico conteúdo em carvão, Triássicci, por
opostos: o catastrofismo de Cuvier, que interpretava causa da sua subdivisão em três sucessões litologicamente
o registro fóssil como resultado de sucessivas extinções bem distintas e Cretáceo, da palavra francesa cré- giz -,
cataclísmicas globais, cada qual seguida pela recriação, com referência à grande quantidade de calcário fmo), ou
logo depois, de uma nova fauna e flora, e a evolução até histórico (ce)mo Terciário e Quaternário, herdados,
biológica de (~harles Darwin, que explicava a diversi- mas conceitualmente mc)dificados, de)s primeiros esque-
dade e.lo registro fc)ssilífero como resultado da mas de subdivisão geológica).
interação entre seres e o meio ambiente com a sobre-
Mas por que a sucessãc) biótica permitiu essa sub-
vivência e sucesso das formas mais bem ac.laptac.las
divisão tão notável do registro sedimentar e do tempo
(seleçãc) natural). Para Darwin, pe)rtanto, as extinçe'ies
geológico? Por cc>nta dos mecanismos da evolução
representavam eventos naturais, ao contrário de Cuvier,
biolc'>gica e pele) grau de preservação dos organismos
c.1ue advogava o sobrenatural para explicá-las.
qt1e já habitaram nosso planeta. A eve)lução dos e)rga-
Com o princípio de sucessão bicStica à sua c.lisposi- nismos mais complexos (e)s eucariote)s), como os
çãe), geólogc)s da Grã-Bretanha e Eurc)pa puc.leram, ne) invertebrados, vertebrados e plantas, por exemplo,
curte) intervalo de 1822 a 1841, orclenar as principais me)stra-se extremamente ope)rtunística em função da
sucessões geolé)gicas dessas regiões em uma escala de diversidac.le genética produzida pela reprodução
tempo geológico pela datação relativa (Fig. 15.11, sexuada. Qualquer inovação evolutiva vantajosa tende
Tabela 15.1) das faunas e floras fósseis contic.las nas ro- a ser explc)rada rápida e intensamente, produzindo um
chas estudadas. Inicialmente, descreveram sistemas surto de formas ne)vas e a invasão de novos nichos
espesse)s de rochas, cada qual ce)m seu conteúdo fc)ssilifero ece)lógicos. Por outre) lado, quando os descendentes
distinto. Cada sistema de re)chas teria sidc) depositade) se te)rnam tão especializados que perdem a capacida-
durante um período específice), identificade) pelo cc)n- de de se adaptar a mudanças ambientais, o grupo
junto de fc')sseis peculiar ao sistema e designado pe)r um esvanece e se extingue. Na verdade, mesmo sem en-
nc>me alusivo a alf.,ruma feiçãe> da região onde o sistema tenc.ler e)s processe)s evolutive)s envolvidos, C)S geólogos
fe)i definido, por exemple), um terme) geográfice) (cc)mo da primeira metade do sécule) XIX acabaram delimi-
Cambriane), de Cambria, antigo nc)me rc)mane) para In- tando, intuitivamente, seus sistemas pelo registro fóssil
glaterra; Devoniano, de Devonshire, Inglaterra; J urássice), dos principais eventos de expansão e de extinção bio-
dos Montes Jura na Í''.uropa e Permiano, da cidacle de lógica ocorridc)s nos últimos 550 milhões de anos.
Perm, na Rússia), cultural (como ()rdoviciano e Silurianc1,
Evidentemente, a definiçãe) de novos sistemas e
dos nomes das tribos ()rdovices e Silures que hal)itavam
període)s só podia ser feita em rochas contendo fc')sseis
B
facilmente rece)nhecíveis. Anteriormente ao perÍe)do
Cambriane) praticamente tcldos e)s organisme)s eram mui-
A
-- -- --6 e
to pequenos e desprovidos de partes suficientemente
-- ---.................-.....5 resistentes para serem preservados no ret,ristto sedimentar.
--4
Por isso, C) registro fóssil relativamente escasso e pouco
diversificade) anterior ac) Cambriano passou despercebi-
do pele)s geóloge)s britâniceJs e europeus, que nãe)
...... , .........
... --
.................
. ......
definiram nenhum sistema pré-cambriano no século XIX.
Por outrcl lado, e) registro fóssil do intervalo desde o
1
Cambriane) até hoje tem outre) caráter, farte), variado e
facilmente visível, resultado do aparecimento repentino
•
e diversificação explosiva, pouce) antes de 540 milhões
Fig. 15.11 Correlação fossilífero ou bioestratigráfica. A var·1-
de anos atrás, e.los primeiros animais e algas capazes de
edade e as mudanças no conteúdo fossilífero, representado
secretar partes duras de calcita, fosfato, sílica, quitina,
pelos diversos símbolos de conchas, quadrados etc. nas ca-
etc. Poucos milhões de anos mais tarde, apareceram re-
madas l a 6 da seção B permitem uma correlação temporal
com as camadas nas seções A e C, com base no princípio de presentantes de praticamente todos e)s grandes grupos
sucessão biótica. Na seção A, a camada 4 está ausente, re- (ftle)s) de invertebrados ce)m ce)nchas, carapaças e outras
presentada por uma desconformidade, já que as camadas 3 e partes e.luras, distinguindo para sempre o registre) geoló-
5 são paralelas entre si. gico subseqüente.
CAPÍTULO 15 • EM BusCA DO PASSADO DO PLANETA 317 ~;li,
A cc>rrelação fossilífera ou bioestratigráfica, cada via!, como hoje se receinhece. E Darwin pressupôs
vez mais refinada, levou, mesmc> antes de 1850, à sub- uma \·elcicidade de denudação uniforme e ce)nstante
,
divisão dos períodos, e destes em Epocas e unidades ao le>ngo do tempo, ignorante, pc)rtantc), da conside-
menores. Ao mesmo tempo, semelhanças e distinções rá\·el \·ariabilidade dessa taxa em função da história
entre os fósseis de diverse)S períodos permitiram a do se)erguimento dessa região.
agregação dos períodos nas Eras Paleozóica,
Pouco depois da divulgação da estimativa ousada
Mesozóica e Cenozóica, delimitadas pelas maiores de Dan,·in, outros cientistas desenve)lveram idéias en-
extinções na história da vida nc) fim do Permiano e
genhcisas para estimar a duração do passado terrestre.
Cretáceo, respectivamente. Modernamente, as eras têm Vários geólogos tentaram calcular o tempo necessá-
sido agrupadas em intervalos de tempo maiores cei-
rio para acumular sucessões de rochas sedimentares,
nhecidos como C)S Eons: Arqueano, Proterozóico e dividindo a soma das espessuras máximas conhecidas
Panerozóico. () ncime "Fanerozóico", derivado de
para os diversos sistemas por uma taxa de sedimenta-
phaneros, visível, e zoos, vida, é particularmente adequa- ção julgada "razoável". Desta forma, chegaram a
dei, pois refere-se ao intervalo de tempo (do
valores muite) diferentes para a idade da Terra, desde
Cambriano até he)je) caracterizado por abundante, di- 3 milhões até 1,5 bilhãc) de ane)s (Tabela 15.2). Esta
versificado e facilmente reconhecível registre> fóssil. Os
enorme variação deveu-se, evidentemente, ae) ceinhe-
eons Arqueano e Protereizé)ice> são conhecidos, coleti- cimentc> inadequado da complexidade dos processe)s
vamente, pele) termo informal Pré-Cambriano.
de sedimentação, cc)mpactação e erosão ao longo do
tempo (Fig. 15.1). Estimativas deste tipo são fadadas
15.2.2 Darwin, Kelvin e as primeiras ao insucesso, tamanha a variação de espessura dos
tentativas de calcular a idade da Terra depé)sitc)s e das taxas de sedimentação. Considere, por
exemplo, o registre) sedimentar da épe)ca Mie)ceno, de
Se pe)r um lado os naturalistas da primeira metade 18 milhões de ane)s de duração, representado por ape-
do século XIX resc)lveram e) problema da datação nas 30 cm de espessura na Inglaterra e por 6 a 7 km na
relativa do registro, utilizando os princípios de Califórnia.
superposição e de sucessão biótica, por outro lado,
não tinham idéia de quanto mais velha ou mais nova ()utro estudie)so do tema da idade da Terra, o
uma rocha seria em relação às outras. Aparentemente, geóle)go e geofísice) irlandês John Joly, retomou uma
muitos deles compartilhavam da proposta de Hutton sugestão feita em 1715 por Edmund Halley (1656-
e Lyell de uma Terra sem início e sem fim. Contudo, a 17 42, e) descobridor do cometa que leva seu nome), e
publicação da ()rigem das Espécies de Charles Darwin, tentou estimar a idade dos oceane)S com base no tem-
em 1859, despertou grande interesse em descobrir a pe) necessário para a salinizaçãe) de suas águas, a partir
idade absoluta do registro geológico, ou seja, de ca- ela água originalmente doce. Concluiu que seriam ne-
librar as r · chas em terme)s de sua idade em anc)S. cessários 90 milhões de anos para o acúmu!e) dei séidici
presente nos oceanos, oriundc) deis cc)ntinentes (Tabe-
Na a sência de conceitos modernos da genética, o 1a 15.2). Antes desta data, J oly assumiu que a
me)delo Darwin necessitava de um período de tem- temperatura superficial da Terra, superior a 1OOºC, teria
po suficientemente longo para perm1t1r a impedido a condensaçãe) de água líquida na superfície
transformaçãc> evolutiva das espécies. Dessa forma, do planeta. Em 1924, Joly recalcule)u este valor cm
submetido à forte influência do uniformitarismc> rígi- 17 4 milhe>es de anos, extrapolando, assim, uma idade
de) de seu ídolo e amige) Lyell, Darwin usou as taxas de 200 a 300 milhões de ane)s para a Terra.
aceitas na época para erosão marinha do litoral da In-
glaterra, para estimar em 300 milhões de anos o tempo Ce)mo em todas as tentativas de datar a Terra, o
necessário para expor rochas fossilíferas do Cretáceo método foi prejudicado pc)r premissas inadequadas
ne) sul da Inglaterra. Deste me)dc>, Darwin concluiu diante da complexidade do pre>cesse) que se tentava
que a idade de) planeta seria ela e)rdem de bilhões de quantificar. Para Je)ly, faltaram-lhe dados precisc)s quan-
ane)s. Hoje sabemos, contudo, que Darwin se enga- te> à quantidade de sal já removiela elos oceanos por
nou em seu cálculo, pois as rochas mencionadas meio de precipitação, evaporação e transpeirte pele)
fc)rmaram-se há apenas 85 milhões de anos. Esse en- vento, bem como noções corretas da variação das ta-
gano deveu-se primeiramente à interpretação errônea xas de erosão e sedimentação continental ac) longo do
do processo erosivo atuante como marinho e não flu- tempo geológico.
Tabela 15.2 Tentativas de estimar a antiguidade da Terra baseadas na acumulação de sedimentos e de
sal nos oceanos, antes do advento de métodos radiométricos.
1860 . . PhiÍJips
. ,, ' '
21.960 96
.• •· . · · .·. :1/~69·•··•·· Huxley ··· · · ·i. •.· .· ·.·.•3. ••. ·.o. . . ·.•.• ·•.·o•o·.· .·. • •· ·:,·.··.·•. :-":"·_'
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Entre 1862 e o início do século XX, a idade mais tão desconhecidos, tais como a idade do Sol, a estru-
aceita para a Terra resultava dos cálculos feitos por tura térmica e temperatura (estimada inicialmente em
William Thomson, conhecido como Lorde I<:.elvin 3.888ºC, e mais tarde em 1.200ºC) do interior do pla-
(1824-1907), o mais conceituado físico da época. Pen- neta primitivo e mudanças de condutividade térmica
sava-se então que o calor armazenado no planeta Terra em função da profundidade. Entre 1862 e 1897, de
teria sido produzido quase que exclusivamente pela acordo com sucessivos refinamentos do seu modelo,
contração gravitacional, com uma pequena quantida- I<:.elvin calculou diferentes idades para a Terra, mas os
de advinda da radiação solar. Naquela época, já se valores obtidos situaram-se sistematicamente entre 25
conhecia, por meio de medições em minas subterrâ- e 400 milhões de anos.
neas, que a temperatura da Terra aumentava
Por outro lado, se a Terra estava se resfriando, ima-
uniformemente em cerca de 35ºC por km de pro-
ginou I<:.elvin, então certamente o mesmo acontecia
fundidade - uma clara evidência da existência de um
com o Sol, devido à enorme dissipação de sua ener-
fluxo de calor do interior para a superfície terrestre.
gia tão evidente num dia ensolarado. A despeito da
Verificado que este calor se irradiava para a atmosfera
falta do conhecimento preciso sobre como o Sol gera
fria, deduziu I<:.elvin que a Terra estaria se tornando
e transmite sua energia, I<..elvin concluiu que a Terra
gradativamente mais fria ao longo do tempo.
estaria recebendo cada vez menos energia solar ao lon-
Kelvin pressupôs que o mecanismo de resfriamento go do tempo. Portanto, o Sol deveria ter sido muito
gradual da Terra seria por condução térmica, a partir mais quente no passado, inclusive a tal ponto de ter
de um estágio inicial incandescente, até atingir a tem- retardado o surgimento de vida na Terra. Ou seja, a
peratura atual da superfície. Para fundamentar seu própria habitabilidade da Terra teria sido, necessaria-
modelo, postulou valores para vários parâmetros en- mente, condicionada pela história térmica do Sol.
CAPÍTULO 15 • EM BUSCA DO PASSADO DO PLANETA 319 ,/!I.
1
Em seu último cálculo, feito em 1897 - logo após milh('"ies de anos para a idade da Terra - muito aquém
a descoberta dos raios-X - Lorde I<.elvin afirmou que do ,·alor real de 4,56 bilhões de anos, o que, de manei-
o Sol teria iluminado a Terra por apenas algumas de- ra nenhuma, diminui a importância da descoberta da
zenas de milhões de anos e que a superfície terrestre radioati,·idade, pois somente a partir do entendimen-
só teria se tornado habitável nos últimos 50 milhões to desse procesS() é que se tornou possível quantificar
de anos. a história geológica de nosso planeta e investigar os
Originalmente, graças à reputação científica de mistérios da formação do Universo.
I<.elvin, suas estimativas para a idade da Terra, funda- A percepção do significado geocronológico da ra-
mentadas em medições físicas precisas e forte base dioati,cidade no limiar do século XX permitiu, finalmente,
matemática, pareciam irrefutáveis e, como tal, encon- a subdivisão do imenso registro geológico pouco
traram grande receptividade por parte da comunidade fossilífero do Pré-Cambriano bem como a ordenação e
científica. Por isso, não é de estranhar que a grande calibração mais precisa de toda a história geológica da
maioria das estimativas da idade da Terra, calculadas Terra. Por volta de 1917, após a primeira década de es-
por geólogos (Tabela 15.2), assemelhava-se ao inter- tudos geocronológic()S, uma caracterização mais concreta
valo de valores sugerido por Kelvin. Até o próprio de) tempo geológico começou a emergir (Fig. 15.12). Já
Darwin parece ter-se inibido diante da influência de se sabia, por exemplo, que o Eon Fanerozóico iniciou-se
I<.elvin, já que após a primeira edição da Origem das entre 550 e 700 milhões de anos atrás, intervalo bem
Espécies, não mais incluiu sua estimativa da idade das próximo aos 545 milhões de anos atualmente adotados
rochas cretáceas do sul da Inglaterra. para este limite. Do mesmo modo, já se tinha conheci-
mentci de que a duração do Pré-Cambriano excedia em
Os argumentos de Lord I<.elvin acerca da idade da
várias vezes a do Fanerozóico.
Terra e do Sol somente foram desacreditados defini-
tivamente após a descoberta da radioatividade em 1896 Nas últimas décadas, muitas das lacunas e impreci-
por H. Becquerel (1852-1908). Poucos anos depois, sões que existiam na história desse período de tempo
com a percepção da importância da radioatividade na e do Fanerozóico têm sido solucionadas pelos avan-
produção de calor na Terra, desfez-se todo o susten- ços tecnológicos e pelas descobertas mais curiosas na
to teórico do modelo de I<.elvin. O cientista morreu Geologia, subsidiadas pelas datações radiométricas das
em 1907, sem reconhecer, pelo menos publicamente, rochas. Para compreender melhor a imensidão do tem-
a relevância da radioatividade no seu modelo. po geológico, recomenda-se ao leitor o quadro na
Curiosamente, a Geofísica moderna mostra que cc)ntracapa que apresenta os principais eventos da his-
não. foi apenas o desconhecimento da geração radio- tória geológica de nosso planeta como se tivessem
atiJ;a de calor que levou I<.elvin a errar a idade da ocorrido no período de um ano, uma analogia que
podemos apelidar de ''Ano-Terra" .
Tefra em mais de uma ordem de magnitude. Talvez
~ais importante do que isto fosse sua
desconsideração da importância da convecção Ussher 1 10000
1650 X • I 0,006
térmica no manto, que serve de motriz para o
movimento das placas litosféricas (Cap. 6) e Hutton
1788
incrementa, significativamente, o fluxo térmi-
co medido tanto na superfície como em minas Walcott 1
- 55
1893
subterrâneas. Ao interpretar esse fluxo como , Í] Cenozóico
produzido exclusivamente por condução tér- Barrei 1500 Mesozóico
1917 Paleoz61co
mica (transferência da energia térmica de
Holmu Pré-Cambriano
molécula em molécula e não pelo deslocamen- 1947 3000
,,
V
o
6p 6p
6n
tJ
gLu,_ Próton •
Nêutron Elétron
de um estag,~
peratura atual da supté'i1~9º os três isótopos de Carbono. Todos têm o mesmo número atômico (Z = 6), que é igual ao número de
- rle massa diferentes (A= 12, 13 ou 14), de acordo com o número de nêutrons (6, 7 ou 8) no núcleo.
mo de1o, pos tul ou v al ores para , ~-
•. ,~
CAPÍTULO 15 • EM BusCA DO PASSADO DO PLANETA 321 ■
X
(númerc) atômicc) 82) ap<)s a emissão de sete partícu- po decorrido para que a metade da quantidade ori-
las alfa e seis partículas beta, enquanto o 238 U decai ginal de átomos instáveis se transforme em átomos
'
para zuc,pb através da emissãci de (Jit<) partículas beta e está,·eis. Pcir exemplo, após decorrido o tempo de
seis partículas beta (Fig. 15.15). uma meia-,-ida, um elemento com 1.000 átomos ins-
tá,·eis terá 500 átomos instáveis (radioativos) e 500
Durante <) decaiment<J radioativo, cada elemen-
át<im<)S esrá,·eis (radiogênicos). Após duas meia-vi-
to-pai leva um determinado tempo para se
das ha,·erá apenas 25() átomos instáveis e 750
transf<irmar em elemento-filho. F,studcis de labo-
átomos está,·eis (Fig. 15.16). O decaimento radioa-
ratório têm mostrado que as taxas de decaimento
tiv<J nã<) depende da massa do material presente,
(denominadas constantes de desintegração) nã<i
mas da probabiliclade estatística de decaimentci.
são afetadas por mudanças físicas ou químicas do
Assim, não importa a quantidade inicial do elemento
ambiente. Isto é importante pois assegura c1l1e a taxa
radioati,·o presente, seja ela um grama ou uma to-
de decaimento de um e-lado isótopo seja indepen-
nelada, pois as chances do decaimento radioativo
dente dos prcieessos ge<)lógicos. Portanto, esta taxa
são rigorosamente iguais para cada átomo. Após o
é a mesma n<J manto, n<J magma, num dado mine-
tempo correspondente a uma meia-vida, a metade
ral ou numa rcicha.
da massa original do element<J-pai terá se converti-
Usa-se o cc)nceito de meia-vida para expressar do em element<i-filh<J.
as taxas de decaimento rac-lioativo, ou seja, C) tem- ,
E o conhecimento da meia-vida dos vários
isótcipos e da atual, razão entre <) número de áto-
Núcleo do Núcleo do Alterações
mos dos elementos pai e filh(J da amostra que
elemento-pai elemento-filho atômicas permite a determinaçãci de idades de minerais e
·. Partlcula
Alfa
Número
atõm ico
Número
de massa
rochas. A Tabela 15.3 apresenta os principais
isótopos utilizados em dataçã<J radiométrica e suas
-2 -4 respectivas meia-vidas.
Decaimento
Alfa
a
Partícula Beta
•
+1 O
Decaimento
234Pa
Beta
\ b
•
(2í4~) ,1ía~22Ri)
. . ____ ;--·:s:: '-. · · - -· . (226R'
_____ !) (23or~<(:i34U')
) / Elétron
.------. (21or1
, ______ __ .,,."i
,
214Bi
.Y - - - - __ / - - - - · .•
• ~ Decaimento alfa
Captura
-l o
\ Decaimento beta
de Elétron
• •· .
Próton Nêutron Elétron
:li
L
• Átomos do elemento-pai
·• 1/2
·-e • Átomos do elemento-filho
'?-e
E
Ili
~ 2Ili 1/2
..........
, ••• ~~;-~~-~~,
/
Após uma meia-vida
E·;;;
'ºa, eo
"'O
o 1/4 -- ; ' ..........
_, -;~-;-;;-;-~; •• \_ Após duas meia-vidas
'º~ 1/8
,, ~--~~.-~ ••• ~\.Após três
· .•••••••••• / meia-vidas
o
Q. 1/16
o
L
a..
o 1 2 3 4 5
Fig. 15.16 Decaimento radioativo e o conceito de meia-vida. a) A meia-vida de uma vela corresponde, rigorosamente, ao tempo
necessário para queimar a metade dela porque a queima depende, diretamente, do número de átomos presentes na vela. b) No
decaimento radioativo o processo é diferente, envolvendo a estabilidade dos núcleos dos átomos, independentemente da massa
presente. Na curva de decaimento radioativo, cada unidade de tempo equivale a uma meia-vida, que representa o tempo necessário
para que metade dos átomos do elemento-pai (radioativo) se transforme em átomos do elemento-filho (radiogênico).
Tabela 15.3 Isótopos mais utilizados em datação radiométrica e suas respectivas meia-vidas.
t = tempo decorrido desde o fechamento do sistema O método I<-Ar é muito utilizado para determinar
· isotópico Qdade do sistema) o tempo envolvido no resfriamento de corpos ígneos,
ou o término de um processo metamórfico, entre ou-
·Â, = constante de desintegração do elemento-pai. tras aplicações. A presença de I< em muitos minerais da
crosta terrestre torna este método aplicável em grande
A datação pode ser feita em minerais ou numa amc)S- número de rochas, enquanto seu tempo de meia-vida
tra representativa de rocha, visando a definição da idade permite a datação de minerais desde muito jovens (50.000
da cristalização da rocha ígnea ou da idade de) anos) até muito antigos, da ordem da idade da Terra.
metamorfismo ou da deformação sofrida. Avanços tecnológicos introduziram uma variante , do
método I<-Ar que fornece idades muito precisas. E o
Os métodos radiométricos envolvendo isótopos com
método 4ºAr- 39Ar, que através de sistemas de fusão pon-
meia-vida longa (Tabela 15.3) são os mais utilizados para
tual a laser possibilita a análise de cristais individuais. Em
datação de rochas mais antigas, como as pré-cambrianas. 1997, Paul R. Renne do Laboratório de Geocronologia
Isótopos de meia-vida curta são utilizados para a datação de Berkeley, Califórnia, E. U. A., analisou amostras de
de materiais geológicos e eventos r11uito mais jovens; o rochas vulcânicas da famosa erupção do Vesúvio que
14
C, or exemplo, C()m meia-vida de 5.730 anos, é utiliza- causou a destruição de Pompéia no ano 79 depois de
do p a datação de materiais de até 70.000 anos. Porém, Cristo. Análises isotópicas de argônio num cristal de
recurs s tecnológicos modernos têm permitido empre- sanidina (feldspato com alto teor de potássio) fornece-
gar alguns isótopos de meia-vida longa no estudo ram uma idade 40 Ar- 39 Ar de 1.925 + 94 anos, que é
geocronológico de materiais muito jovens. comparável à idade da erupção. A eficácia desse método
em materiais geológicos muito jovens expande sua apli-
Os isótopos radioativos de meia-vida longa emprega- cação para investigações arqueológicas e estudos de outros
dos na geocronologia são urânic), tório, rubídio, potássio registros históricos da Terra.
e samário. A maioria destes elementc)s não forma seus Um outro método radiométrico muito utilizado para
próprios minerais, mas ocorrem como "impurezas" nos datação de minerais é o método U-Pb, que se baseia no
minerais formadores de rocha. Quando um mineral se decaimento de dois isótopos radioativos de urânio, o 235 U
forma, os elementos radioativos presentes continuam a e o 238 U, gerando os isótopos radiogênicos, o 2º7Pb e o
decair, mas agora os elementos radiogênicos podem se 206
Pb, respectivamente. Cada um destes pares ~35 U-2º7Pb
acumular no mesmo retículo cristalino onde está locali- e 238 U-2116 Pb) fornece uma idade independente e quando
zado o elemento-pai. Vamos exemplificar este processo coincidem costuma-se chamá-las idades concordantes.
usandc) o isótopo 40Ar, o elemento-filho produzido pelo Lançados em gráfico 238U- 2116 Pb vs. 235 U- 2c17 Pb, os pontos
de todas as idades concordantes definem a curva con-
decaimento do 4ºI<. Por ser um gás nobre, o argônio não
córdia (Fig. 15.17). Por outro lado, idades discordantes
participa das ligações químicas, estando como tal aprisio-
entre os dois sistemas são devidas, em geral, a perdas de
nado mecanicamente no retículo cristalino do mineral. Pb do mineral, e neste caso os pontos analíticos se ali-
Durante o resfriamento de um cristal de hornblenda, à nham numa reta denominada discórdia. A intersecção
retenção de argônio se dá a temperaturas em torno de dessa reta com a curva concórdia defme a idade de cris-
talizaçãc) do mineral.
0,4
2.000
1.790±9 Ma
0,3 .. \
Concórdia l. \
Idade de cristali-
,, zação da rocha
1.2 1! (milhões de anos)
Discórdia
O, 1
2 6
No método U-Pb não são utilizadas hc)mblendas ou como as fe)ntes de material detrítico cm rochas
micas, mas minerais que contêm Urânio no seu reticulc) secümentares. Por estes motive)s, este método tem sido
cristalino, tais como zircão, titanita, monazita, etc. F,stes muit<) utilizade) para calibrar a escala do tempo gee)lógico,
minerais, principalmente o zircão (Fig. 15.18), apresentam ,
E possível também utilizar amostras de rocha-total,
um retículo cristalino muito resistente, que retém com maic)r
em vez ele minerais individuais, para obter a idade de
eficiência tanto os elementos-pai (Urânio) como os ele-
cristalização ele uma rocha ígnea ou a idade de
mentos-filho (Chumbo). Além disso, apresentam
metamorfismo, Ne) caso do método Rb-Sr, muitc) empre-
temperaturas de bloqueio muito altas para o sistema
gado principalmente com granitos, várias amostras de um
isotc)pice) U-Pb: cerca de 800ºC no caso do zircão; entre
mesmo corpc) rochoscl são coletadas, seus teores e suas
650 e 700ºC para titanita; e cerca de 65ü°C para monazita,
compe)sições isotópicas de Rb e Sr determinadas e os
Devido a esta alta temperatura de bloqueio, os zircões resultados lançados num diagrama 87 Sr/86 Sr vs, 87 Rb/ 81'Sr.
sã<) capazes de preservar a idade da cristalização da rocha Se as amostras analisadas forem da mesma idade, com a
ígnea original, mesmo em rochas metamorfisadas cm fácies mesma razão isotópica inicial de Sr da época da cristaliza-
anfibolito (Cap. 18). Adicionalmente, tendo em vista a tem- ção da rc)cha e sem distúrbios posterie)res no seu sistema
peratura de bloqueio relativamente mais baixa da titanita, isotópico, os dados obtidcls deverãc) se alinhar numa reta,
esta pode ser empregada na determinação da idade de chamada isócrona. Conhecendo-se a constante de
eventos superimpostos (metamorfismo, por exemplo) as- decaimento do 87 Rb, podemos calcular com o emprego
sociados à formação deste mineral, Os avanços recentes da equação da reta, ilustrado pele) ângulo de inclinação
neste método possibilitaram determinações precisas cm da isócrc)na, a idade elo conjunte) de amostras da rocha,
cristais minúsculos de zircão, ou até em partes diferentes Este é o diagrama isocrônico (Fig. 15.19).
de um único cristal com evidências de sobrecrescimento
Das três classes ele re)chas, as ígneas sãc) as mais fáceis
durante um ou mais eventos, Neste último caso, é utiliza-
de serem datadas, Pc)r quê? Na câmara magmática, els ele-
do um espectrómetro de massa de alta rese)lução
mentos radioative)s sofrem decaimento, liberando os
analítica, o SHRIMP (sensitive high resolution mass spectromete~,
elementos-filho para o magma. Mas quando os elementos-
que permite determinar a idade ela cristalizaçãc) ígnea
pai são aprisionade)s no retículo cristalino de um mineral
do núcleo do mineral e dos eventcls metamórficos
durante o resfriamento do magma, a fuga dos elementos-
registrados no sobrecrescimento e porções
filho torna-se cada vez mais difícil, se não impossível.
recristalizadas do cristal (Fig. 15 .18),
Com o passar do tempo, de acordo com a meia-vida de)
Esta técnica foi utilizada na análise d.e grãc)s detríticels elemento (Tabela 15.3), a quantidade do elemento-pai di-
de zircão do conglomerado Jack Hills da Austrália, o que minui no mineral enquant<l a do clementc)-filhe) aumenta.
permitiu demonstrar serem estes os materiais mais antigos Se o sistema isotópico permanecer fechado desde a crista-
já encontrados no noss<) planeta (4,2 bilhões de anos). Atu- lização da rocha, será p<)ssível determinar a quantidade de
almente, o método U-Pb é considerado um dos mais elementos e obter a idade da rocha ígnea, utilizando a
precisos para datar eventos ígneos e metamórficos, assim equação fundamental ela gee)ctonolc)gia,
No caso de rochas metamórficas, a idade olJtida re- mais tempo passar após a morte da planta ou do animal,
fletirá a intensidade do metam()rfismc) que afetou, sempre menor será a quantidade de 14C preservada. Desta forma,
de maneira diferenciada, os diversos sistemas isotópicos comparandc) a razão de 14C/ 12C medida na amostra C()m a
dos minerais presentes, causando, <Ju não, o ganho ou a razão moderna universal, é possível calcular o tempo de-
perda dos elementos-pai e filho. Este ponto é de grande corrido desde a morte do organismo.
importância, pois geralmente as idades medidas nessas
l-ma fonte de erro neste método advém das varia-
rochas corresp()ne-lem às idades do último event() que -
ções já C()nstatadas na prc)dução de 14C ao longo dos
abriu C) sistema is()tc)pico. Dependendo do mineral e do
últimos -0.Cl(l(l an()S, de m(Jdo que se t()rnou necessário
sistema is(Jtópicc), (J moment() "congelado" na datação
aplicar fórmulas de correção acJs resultados obtidos para
poderá se referir ao início, meio ou fim do evento
C()rrigir os erros sistemáticos verificados. Uma maneira
metamórfico. Quando este processo for brando, não
de confi.rmar as idades obtidas em certas regiões pelo
atingindo temperaturas suficientemente altas para abrir o
método 14 C é atra,-és da dendrocronologia, a datação de
sistema isotópico, a idade obtida poderá ser a da crista-
tr<JnC(JS de án-ores pela contagem e medição da espessu-
lização da rocha ígnea original antes do metamorfismo,
ra dos anéis de crescimentQ:. A variação na espessura
dependendo do método radiométric() empregado.
e-lesses anéis reflete não apenas o ciclo anual das esta-
A datação de r()chas sedimentares, por outro lado, é ções, como também mudanças climáticas ele mais longa
mais complicada, pois elas formam-se a partir de mate-
rial (Jriundc) da desagregaçãc) de rochas ígneas,
metamórficas ou mesmo sedimentares pré-existentes. Por
0,76 ..
isso, a datação de rochas sedimentares, se não seguir cri- ''
térios rigorosos, pode fornecer não a idade da deposição ,_ ''
''
dos sedimentos ou e-la formação ela rocha sedimentar, .,"'
to
'' \
1:: 0,73 - ''
mas a idade das rochas da área-fonte d()S detritos, como .,,!!> '\ \
\
no caso dos zircões eletríticos de Jack Hills, C()m idade ''
U-Pb de 4,2 bilhões de anos. Contudo, em outros cas()S, ' \e
a idade pode não ter significado geológico nenhum, se a 1 3 5
rocha sedimentar originar-se de detritos de áreas-f()nte 87
Rb/ 86 Sr
com idades distintas.
Fig. 15.19 Diagrama isocrônico Rb-Sr. Os pontos a, b e c
representam valores isotópicos de três amostras no momento
15.3.3 O método radiométrico 14 C do fechamento de seus sistemas isotópicos no passado. Com o
87
decaimento do Rb, estas amostras apresentam valores atuais
Com() já vimos anteriormente, ?. carbono possui três
de a', b' e c'. A reta definida por estes pontos, a isócrona, terá
isótopos: 12C, 13 C e 14C; send(J (JS dois primeiros estáveis
um ângulo, a, diretamente proporcional à idade da amostra,
e o t ceiro, 14C, radioativo, cc)m meia-vida de 5.730 an(JS.
calculada na equação: tga = (eM - 1) = À.t, portanto, t = tga/À..
A da ção usando o 14C, ou radiocarbono, é aplicada, 87
O intercepto da isócrona com o eixo Sr/ 86 Sr define a razão
porta to, em materiais geológicos e biológicos relativa-
inicial de Sr no sistema, (87 Sr/86 Sr), um importante indicador da
mente jovens (troncos e folhas fósseis, ossc)s, dentes, '
origem (se do manto ou da crosta) do material analisado.
conchas etc.), sendo de extrema utilidade na Arqueologia
Raios
e nos estudos de mudanças recentes no nível d(J mar e 14 c:ósmíc:os
"N + nêutron C
no clima. /í
··/
nêutrons
O 14C é formado na atmosfera superi(Jr através da ação . Decaimento
de raios cósmicos, que são partículas de alta energia, sobre
átomos de 14N, conforme ilustrado na Fig. 15.20.
,,
'"i"',''
.
radioativo
1 •c
-N
,.
.e
a.
e!
15.3.4 Como foi determinada a idade
da Terra? -...
"'.e
a.
20
Mas para que serve o estudeJ das rcichas ígneas? Fig. 16.1 Blocos de granito destinados à preparação de pla-
Por que nos empenhamos em compreender a stia ori- cas para revestimento de edifícios, prontos para exportação.
Foto: N. R. Rüegg.
gem e clescrever suas características físicas e químicas?
A respcJsta é múltipla. Em primeiro lugar, clesde eJs Neste capítulo, serãci apresentaclos os conceitos
,
seus primórclios, a civilizaçãci dependeu dessas rochas fundamentais da IJctrolcJgia Ignea, o ramrJ da GeeJlo-
para sua scJbrevivência e seu desenveJlvimento. As pri- gia c1ue estuda a origem e as características das rochas
meiras ferramentas, de peclra lascada e>u polida, eram ígneas. Serão tratados t{Jpicos como a pre>ccdência e
manufaturadas predominantemente a partir de rochas consoliclaçãeJ dcJs magmas a partir dos quais se feJr-
ígneas finas ou vítreas, comcJ a obsidiana. As rochas mam as rochas ígneas, os cliversos ambientes em que
ígneas eram as preferidas para ccinstruções e cJutros estes magmas podem se consolidar, e as característi-
fins (pedras de moinho, por exemplel), pela sua alta cas mineralógicas e texturais/ estruturais que a
resistência mecânica e estrutura maciça. lmpelrtantcs di,Tersidade compclsicional dos magmas, combinada
jazidas minerais de ouro, prata, chumbo, cobre, creJ- com ci ambiente de cristalizaçãcJ, imprimem às rochas
meJ, diamantes, entre outras, tiveram sua eJrigem em ígneas. SerãeJ apresentadas com maior destaque as ca-
processos magmáticeJs, e são expleJraclas há milênios. racterísticas das rochas ígneas intrusivas, uma vez que
A importância das rochas ígneas para a socieeladc cres- os fenê)mcncJs gcradcJrcs elas rochas vulcânicas ou
ceu ccJncomitantemente aeJ seu dcsenvolvimentcJ: heJje, extrusivas, bem como muitas das suas características
volumes enormes ele rochas ígneas sãeJ extraídos para serão discutidas nei Cap. 17.
• Sienitos do Maciço de Itatiaia, Parque Nacional do Itatiaia (RJ/MG/SP). Foto: E.R.T óth.
,
CAPÍTULO 16 • ROCHAS IGNEAS 329 ..
'
16.1 Magma: Características e C(Jnta dei magma e gases que vão se acumulandci abai-
X<J d<J edifíci<) vulcânico. (~uando a pressão interna
Processos de Consolidação
supera o peso do material sobrejacente, oc<)rrem CJS
fen<)men<is de vulcanismci explosivo (C:ap. 17). A re-
16.1.1 O que é magma? laçàci entre viscosidac.le e c<impclsiçãcJ elos magmas
será discutida mais adiante.
A palavra magma pr<ivém do grego e refere-se
originalmente a uma massa ou pasta, como a utilizada
16.1.2 Sobre a origem dos magmas
no preparcJ dcJ pãci. Na gecilcigia, magma é qualquer
material rochoso fundidci, de consistência past()Sa, que Evidências sobre o ambiente e ccineüções de gera-
apresenta uma mobilidade pcltencial, e que, acJ conso- çã<J de magmas são fornecidas por dados geofísiccis,
lieiar, constitui as rochas ígneas (ou magmáticas). () principalmente os sísmicos e geotérmicas, pelos frag-
magma que extravasa à superfície, fcJrmandci os eier- mentos de rocha - xenólitos ou nódulcis (Fig. 16.2) -
ramcs vt1lcânicos, recebe a denominação mais específica transp<)rtados pelos magmas desde as suas regiões de
ele lava, uma vez que, durante o processo vulcânic<), cirigem, ou ainda por estudos de petrologia experi-
scifre alb'llmas impcJrtantes mcJdiftcaçc)es físico-quími- mental que procuram reprcJduzir em laboratóri<J as
cas (devolatilizaçãcJ, reações de oxi-redução), e1ue a condições formadcJras de magmas e definir eis
diferenciam do magma retido e cristalizado em pr<J- parâmetros termodinâmiccis ccJrrespclnelentes. C)s
fundidade. magmas se originam ela fusão parcial de rochas ele)
Magmas apresentam altas temperaturas, da ordem mantci na astenosfera, ou elo manto superior ou crcis-
de 700 a 1.200º e=, e sã<i ccinstituídcis por: ta inferi<Jr na litosfera (Cap. 4). A fusão pode ser
prcivcicaela pelcJ aumento e-Ia temperatura, por alívicJ
a) uny,( partelíquida, representada pelo material
da pressãci ccJnfinante a c.1ue estão submetidas estas
r ·choso fundido;
rcichas, p<Jr variações no teor de fluidos ou, como
b) u a parte sc'ilida, que ccirrespcincle a minerais já <JCCJrre mais comumente, p(ir uma ccimbinaçãci eles-
cristalizadcJs e a eventuais fragment<JS de rcicha ses fatcires. A Fig. 16.3 ilustra genericamente a fusão
transportados em meio à pcJrção líquida; e ele rcichas em condições extremas: em sistemas
saturaelcis em água e em sistemas anidrcJs. As curvas
c) uma parte gasosa, constituída p<lr voláteis dis-
so!idus representam o início da fusão, quando então
solvidos na parte líquieia, predominantemente
C<Jcxistc CJ líquidci geradcJ pela fusãci ccim eis minerais
H 2 0 e C0 2 • '
ainela nãci funelic-l<JS. 1\ mec-Iida que (J prcicessci ele fu-
}:sscs componentes ciccirrcm cn1 pr<)pclrÇc)es \'a- sà<J avança, a pr<ipcirçã<J líc.Juid<J/ s(ilie-Ici aumenta, até
riáveis em função da origem e evolução dos magmas. c1ue, em uma sitt1ação ideal, todos os minerais da rc)-
A consistência física de um magma, que se reflete na
sua mobilidade, é função de diversos parâmetros: ccJm-
posiçào química, grau de cristalinidaele (em que 6mm
...
O)
o..
controlam o processo de fusão das rochas. Assim, nas
dorsais mesa-oceânicas, o manto quente é conduzido
para regiões mais rasas através das células de convecção,
sofrendo descompressão e produzindo, por fusão
parcial, o grande volume de magma basáltico que ali-
Temperatura (Tº) menta o vulcanismo das dorsais mesa-oceânicas e que
dá origem à crosta oceânica (Cap. 6). Já nos arcos de
ilha e nas cadeias de montanhas das margens conti-
Fig. 16.3 Diagrama P x T (Pressão x Temperatura) com as
nentais convergentes, os magmas andesíticos são
curvas so/idus e /iquidus para sistema saturado em água e
para sistema anidro. produzidos pela fusão da crosta oceânica conduzida
Cadeia de Montanhas
(limite de placas convergentes Vulcanismo
Vulcanismo continente-oceano) de Ilhas Oceânicas Dorsal Meso-Oceãnica
Inira-Placa Continental ex: CordJlheira Andina ex: Havoí (limite de placas divergentes)
I \
Batólito
Vulcanismo granítico Vulcanismo andesitico
antigo a riolítico
Vulcanismo basáltico
exumado
---···
rio lítico \ Sedimentos Vulcanismo basáltico
~, do fundo oceânico
1
Crosta I.!a,
continental -Moho
Manto j
litosférico _,
----------
j
E
li
li
'V
D
·-1
'V
i
- Manto astenosférico Rochas/magmas - Rochas/magmas - Rochas sedimentares
graníticos básicos
Manto litosfárico - Rochas/magmas lffl}Jjf0fulf~1@/ Rochas metamórficas lal Diques básicos
andesíticos e ígneos antigas
Fig. 16.4 Seção esquemática da crosta/ manto (astenosfera / litosfera), indicando a localização dos sítios formadores de magmas
no modelo de Tectônica de Placas.
,
CAPÍTULO 16 • ROCHAS IGNEAS 331 .. '
para o manto, onde as temperaturas são maiores, por tios, o magma é conduzido à superfície através dos con-
meio dos mecanismos de subducção. Nas grandes dutos magmáticos ou vulcânicos, que podem apresentar
cadeias de montanhas, a parte inferior da crosta conti- geometria e complexidade variáveis, gerando uma gran-
nental chega a atingir profundidades da ordem de 40 de gama de formas de ocorrência de rochas magmáticas,
a 50 quilômetros, com o conseqüente aumento de tem- conforme será discutido mais adiante.
peratura, que pode ultrapassar a temperatura de início
de fusão das rochas constituintes da base da crosta, de 16.1.4 Quais são os constituintes dos
modo a gerar os magmas de composição granítica.
magmas?
Adicionalmente, sítios anomalamente aquecidos, de
origem muito profunda, podem desenvolver-se no A composição de um magma depende de vários
manto, denominados plumas mantélicas, que trazem fatores:
calor das partes mais profundas do manto e produ-
a) da constituição da rocha geradora;
zem fusão parcial localizada, gerando tipos
característicos de magmas basálticos, a exemplo das b) das condições em que ocorreu a fusão desta ro-
ilhas vulcânicas do Havaí, no Oceano Pacífico. Os Caps. cha e da taxa de fusão correspondente; e
6 e 17 trazem informações adicionais desse tipo de c) da história evolutiva deste magma do seu local de
atividade ígnea. origem até o seu sítio de consolidação.
Magmas têm, majoritariamente, composição
16.1.3 A viagem e chegada dos magmas aos
silicática, em consonância com a composição predo-
seus sítios de consolidação minante da crosta e do manto terrestre; porém,
9 magma, uma vez gerado, tende a deslocar-se na magmas carbonáticos e sulfetados também são co-
crcrta em direção à superfície, por apre~entar densi- nhecidos. Em outros planetas e seus satélites também
dape menor do que as rochas sobreiacentes. O podem existir magmas de composiçoes muito diver-
de~ocamento de um magma no interior da crosta é sas, como demonstrado pelos vulcões sulfurosos de
complexo e variado, em função da sua constituição e Vênus e de lo (uma das luas de Júpiter).
da estruturação das rochas ao seu redor. Sempre que Os principais componentes dos magmas silicáticos
possível, magmas ascendem através de grandes falhas na Terra são, além de O e Si, o Al, Ca, Fe, Mg, Na, K,
e fraturas. Quando estas descontinuidades não se en- Mn, Ti e P. A composição química de rochas e magmas
contram disponíveis, formam-se bolsões de magma é indicada, por convenção, com os elementos consti-
em forma de gigantescas "gotas invertidas" ou "ba- tuintes apresentados na forma de óxidos. A variação
lões" (diápiros), da ordem de vários quilômetros composicional dos magmas, assim como das rochas
cúbicos, que se deslocam por fluxo plástico em meio ígneas, é descrita principalmente por seu teor de sílica,
às rochas sobrejacentes. Freqüentemente, o bolsão de que indica a porcentagem em peso de Si02 . O espec-
magma força as rochas encaixantes, às vezes quebran- tro composicional dos magmas silicáticos é muito
do-as e englobando seus fragmentos. Quando há fusão amplo, e praticamente contínuo em termos do teor
e assimilação dos blocos capturados, podem ocorrer de sílica; porém, dois tipos de magma se destacam
modificações na composição química do magma ori- amplamente pela sua abundância na crosta terrestre:
ginal, outras vezes, à medida que o bolsão de magma são o magma granítico, com teores de sílica superio-
se move para cima, vai fundindo a rocha encaixante, e res a 66%, e o magma basáltico, com teores de sílica
que também pode implicar significativa transforma- entre 45 e 52%. Alguns pesquisadores acrescentam um
ção na composição química original do magma, terceiro tipo de magma, o magma andesítico (teor de
dependendo do tipo de rocha atravessado. sílica entre 52 e 66%), por sua freqüência e ambiente
Em muitos casos, grandes volumes de magma "es- de colocação específico na crosta (Fig. 16.4). Em ter-
tacionam" a determinadas profundidades e fornecem mos de volume estimado, porém, os magmas
material para manifestações vulcânicas na superfície por graníticos e basálticos são nitidamente preponderan-
períodos da ordem de dezenas de milhares de anos tes. Composições médias de rochas representativas dos
(Cap. 17). Nestes casos, são denominados câmaras três tipos de magmas - respectivamente granitos,
magmáticas, cuja presença e dimensões podem ser andesitos e basaltos - são apresentadas na Tabela
aferidas indiretamente por estudos geofísicos. Desses sí- 16.1 e ilustradas, a título de comparação, na Fig. 16.5.
332 D Ee I FRA N o o A TERRA
Al 2 0 3
13,86 l 7, l 7 14 ' 07'
" , ,
Fe 20 3
0,86 3,48 2 ' 88 .
MnO 0,06 O, 15 O 18 .
-- __ , I
..
CaO 1,33 7,92 10,42
Na 20 3·03.
' 3,67 2 23
.
'
K20 5,46 l ,l l 0,82
Fig. 16.5 Diagramas em "pizza", comparando as composições médias de magmas graníticos, andesíticos e basálticos.
16.1.5 A influência da composição sobre o d(i-sc ctn estruturas prcigrcssivatncnte mais ceJmple-
comportamento dos magmas x;1s à n1cdida que a cristalização de um magma avança.
~:m ma!c-,rmas riceis em sílica, esta peilimerização se dá
As características físicas dos magmas, como a tem-
nas primeiras etapas da ccinsoliclaçãci, e em escala mais
peratura e a visccisidade, antes mencionadas, estãei ampla, prc>cluz extensas cacleias e1ue e-lificultam e> íluxei
intrinsecamente relacionac1as à composiçãcJ deis n1cs-
dei n1aL_>1na, aumcntande> sua visceisielade. 1~m magmas
' '
mcis e estas relaçe)CS enccintram-sc ilustradas na I•ig. l1ásiceis, ccim tceires de sílica meneircs, essa
16.6. Magmas !)asálticeis sãe> mais "quentes", com tem- peilin1crizacão se'i acontece, cm escala significativa, nas
peraturas da eJrdcm ele 1.000 a 1.200º C, e têm etapas 111ais a,·ançadas ela cc>nseilidação, eiu seja, nàeJ se
visceJsidade mcneir. Já os magmas graníticos são signi-
fc>rmam granelcs estrl1turas pe1limcrizaelas e1l1e peis-
ficativamente mais visccJseis e apresentam temperaturas sam clificultar <J tluxcJ elci magma ncis está1-,rieis iniciais.
da orde111 de 700 a 8()0" C. A viscosidade de um
NeJs n1ag1nas graníticc>s, pclrém, o aumento de tem-
magma silicáticci alimenta ceim:
peratura tende a clestruir as estruturas polimerizadas,
a) CJ,rnnJ_entp, dei tcc)r de sílica; c-liminuinelci assitn a visceJsidade dei magma. (-) aumen-
teJ elei teeir de água disscilvida neJ magma tem cfeitc>
b) a redl1ção ela temperatura;
similar, tendendo a diminuir a sua viscosielade. t\ssim,
c) a e-liminuiçãei dei conteúdci de veiláteis. magmas granítice>s, ainda que mais viscosos, podem
ter sua mobilidade ampliada quando a altas tempera-
F~stas relações peidem ser explicadas através do
turas, ciu quando apresentarem tecires elevadcis de água
ccimportamento deis radicais aniônicos tetraédricos
4 dissolviela. Magmas liasáltice>s, apesar de apresenta-
fSiC)J que existem ncJs mabrmas, e que representam
rem baixos tecires de água disseJlvida, têm nei seu baixei
as unidades estruturais fundamentais para a ceinstitui-
conteúdo em sílica a principal razãci para as suas vis-
çãei do retículo cristalinci dos minerais silicáticos
ccisidae-les mais baixas.
formadcis quando ela cristalização destes magmas (ver
Cap. 2). Essas unidades tenelcm a se peilimerizar, unin-
16.1.6 As razões da diversidade de magmas
a
SÉRIES DE REAÇÃO DE BOWEN
'' > : ·:. ,,·: "' :· : : : '' ;· !":"!• " <':i:::::: : Cristalização
de alta Tº
. ·.
(> 1.000ºC)
...... (fetMSJ:••···••······...
•. • jjjiiil,~i .. 'l,ê;····••·~ .J•·,··· .... ::;m' (C~ >Nt..};, . ·.
,~ .•. . E, ,,,_ e ....'.«1g .·
. ·.· ·. •i~nfiti,, . ···. •.
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. Pl<igioclásio ~ic9 •·
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· .·
.. ·.
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·.··
a) Granito: rocha intrusiva ácida maciça, fanerítica c) Basalto: rocha vulcãnica básica mac·1ça, afanítica. Bacia do
b) Granito: rocha intrusiva ácida maciça, porfirítica, com ma- d) Gabro: rocha intrusiva básica maciça, fanerítica, com alto
triz fanerítica. Piedade, SP. teor de minerais máficos (piroxênio). Ilha de São Sebastião, SP.
Outras relações compe)Slcle)na1s importantes sãe) 9U) e ultramelaneJcráticas (ou ultramáficas - M > 90).
aquelas que dizem respeito às proporções entre sílica De maneira simplificada, pode-se referir apenas a ro-
(Si() 2) e alumina (Al2 () 3), e ao conteúde) em álcalis chas leuceicráticas, se houver amplo prcdomínicJ de
(Na2 C) e l-C2()). Rochas muito ricas em álcalis apresen- minerai5 félsicos, ou rochas máficas, quando os mine-
tam composições mineralógicas peculiares, com rais n1áficos forem os mais abunclantes. Há uma
minerais máficos de Na e 1-C, e são clenominadas re)- ceJrrelacào 'genérica entre tec)r de sílica e índice de ce)r
.
chas alcalinas. Quande) o teor de Al2 () 3 é elevado, das rochas ígneas, come) ilustrade) na [<'ig. 16.9: rochas
cristalizando minerais ricos em Al, falamos ele rochas ácidas a intermediárias sãc>, em geral, leucocráticas (ou
peraluminosas. Em alguns casos, o tee)r de sílica ne> félsicas), enquanteJ re)chas básicas são mclanocráticas
magma em cristalização é insuficiente para garantir a (c)u máficas), e rc)chas ultrabásicas, na sua maioria, sãe)
incorporação de todos os álcalis e alumina clispc)nÍveis ultramelanocráticas (ou ultramáficas).
ae)s feldspatos e cristalizam, adicionalmente, minerais
dite)s "insaturacle)s em sílica", como c>s felclspatéiides.
16.2.3 Como interpretar o ambiente de
l~stes minerais sãei ince)mpatíveis cc)m teores mais clc-
consolidação de uma rocha ígnea
vacle)S ele sílica, CjLtancle) cntãc) cristalizam ne)rmalmcntc
e>s feldspate>s em seu lugar. Rc)chas que ce)ntêm A ccnnpc>siçãc> mineralé)gica das re)chas ígneas é o
fclclspaté>ides sãc) alcalinas, denc)1ninadas re)chas c1uesitci funclamental para a sua nc)menclatura e classi-
insaturadas cm sílica ou, abreviadamente, rochas ficaçãe> petreJgráfica, e relacic)na diretamente cada rocha
insatL1radas. ígnea ce>m a cc)mpc>siçãc> do magma a partir do qual
se ce>nsc>lidc>u. Para uma ne)menclatura e classificação
16.2.2 Como inferir a composição química a petre)gráfica ce)mpletas, pe>rém, é necessário acrescen-
partir da composição mineralógica tar in fe)rmações se)bre o ambiente e a histé)ria da
ce>nse>lidaçãei de cada re>cha. 1'~stas informaçe'íes po-
Um parâmetro muito útil na caractcrizaçãc> dem ser c)btidas a partir das texturas e estruturas
ccJmposicional expedita de rochas ígneas é o índice apresentadas pelas diversas rochas ígneas, que se dc-
de cor (M), que diz respeito à proporçãc) entre n1ine- scnvc>lvem cm rcspc)sta clireta ao ambiente nc) c1ual
rais máficos e félsicos, e é definido pele) númercJ puro um cletcrminaclc) magma finalmente se alc>ja e se cc)n-
correspondente ao perccntt1al ele minerais 1náficos na solida. Textura diz respeite) às características e relações
ce)nstituiçãe) ve)lumétrica de uma rc)cha ígnea qualquer. entre as fases minerais constituintes de uma determi-
Segunde) este parâmetre), as rochas ígneas pe)clem ser nada rc>cha: suas dimensões absc)lutas e relativas, seus
subdivididas em hole)leuceicráticas (lv[ < 1()), hábitc>s e formas, seus padrões de arranje>, e é defini-
leuce)cráticas (M entre 1O e 30), mcsc>cráticas (M entre da, tl(Jrtnalmcntc, cm escala de amostra ele mão e/ <Ju
30 e 6()), melanc>cráticas (eiu máficas - M entre 60 e em escala n1icreJsce'>pica. Estrutura cliz respeite> ac> ar-
····· bâcito
,
--------
Quartzo
__ -- ...-
_. --;:, ?
/
_,,..,,,,., Plagioclásio
/
//
/
/ "(Ca >N
Minerais
félsicos
- -- --
Muscovita
-,,L----
Biotita
------------l 5------30---50-----90------
Rochas félsicas > < Máficas > < Ultramáficas >
,,
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Rochas ácidas >:<Intermediárias >j< Básicas
'
Fig. 16.9 As relações entre lndice de cor, teor de sílica, composição mineralógica e ambiente de cristalização para as
rochas ígneas mais comuns (excluindo as alcalinas).
~--~
i'.1 mm
ranjo de porções distintas de uma rocha (por exem- consolidação é acelerada. Em muitos casos, esta con-
plo, se a rocha é bandada ou maciça) bem como suas solidação é tão rápida, que não há tempo suficiente
feições macroscópicas a mesoscópicas (observada em para o surgimento dos germes cristalinos, ou para o
escala de amostra de mão a escala de afloramento), desenvolv-imento adequad() de minerais a partir deles,
sem entrar no mérito das relações entre os constituin- e o produto final do processo de consolidação é um
tes fundamentais, os minerais. vidro \'Ulcânico, como a obsidiana (Fig. 16.1 O a). Em
outras situações, a consolidação pode se dar por cris-
Os contrastes texturais mais evidentes são os que
talização total ou parcial. Quando o resfriamento é
ocorrem entre rochas consolidadas em ambiente ,ru.1-
rápido, um grande número de germes de cristalização
cânico (à superfície da crosta, na forma de derrames,
é formado em um curto intervalo de tempo, sem que
ou muito próximo à superfície, em condutos vulcâni-
haja uma difusão adequada dos componentes em di-
cos) e rochas consolidadas no interior da crosta (a
reção aos sítios de cristalização. Formam-se assim
profundidades consideráveis, na forma de corpos
cristais diminutos e em grande quantidade. Já em ro-
intrusivos). No caso das rochas consolidadas em am-
chas consc)lidadas a grandes profundidades, há um
biente vulcânico, ou sub-vulcânico raso, a
contraste de temperatura menor entre o magm.a e as
profundidades não superiores a algumas dezenas ou
rochas encaixantes que, adicionalmente, constituem iso-
poucas centenas de metros, o magm.a - ou, no caso
lantes térmicos muito eficientes. Isto diminui a perda
de derrames, a lava - perde calor rapidamente, e sua
de calor do magma, fazendo com que sua consolida- Para as rochas faneríticas, fala-se ainda em rochas de
ção tenha duração longa. Derrames de lava espessos granulação fina, quando os constituintes, apesar de
consolidam-se em questão de alguns anos, decênios, perceptí,-eis, são diminutos, de dimensões sub-
ou séculos, quando muito; a consolidação de corpos milimétricas, e rochas de granulação média (Figs. 16.8
magmáticos intrusivos pode prolongar-se por alguns a e d), quando os constituintes têm dimensões da or-
milhares, ou até dezenas de milhares de anos. Por con- dem de até alguns milímetros. O termo granulação grossa
ta da cristalização lenta, a difusão dos componentes é empregado quando os constituintes possuem dimen-
em magmas alojados em profundidade é muito mais são entre 0,5 e 3,0 cm. A granulação muito grossa é
eficiente e, portanto, desenvolvem-se minerais de di- típica dos pegmatitos (Fig. 16.10 b), cc)m os minerais
- maiores.
mensoes .
individuais tendo tamanhos da ordem de vários centí-
metros, decímetros, ou até metros, em alguns casos.
O desenvolvimento das fases minerais pode ser afe-
rido através do grau de cristalinidade e do grau de O grau de cristalinidade e grau de visibilidade po-
visibilidade de uma rocha ígnea. O grau de cristalinidade dem ser correlacionados ao ambiente de consolidação
diz respeito à participação da fase vítrea como consti- de uma rocha ígnea (Fig. 16.11). Rochas portadoras
tuinte representativo de uma rocha vulcânica. Rochas de vidro vulcânico em qualquer proporção formam-
isentas de vidro, constituídas essencialmente de fases se à superfície, em ambiente vulcânico. Rochas
cristalinas, os minerais, são holocristalinas. Rochas cons- holocristalinas afaníticas indicam cristalização rápida
tituídas predominantemente de vidro vulcânico são à superfície, em derrames, ou próximo à superfície,
denominadas vítreas (Fig. 16.10 a).Já o grau de visibi- em dutos alimentadores dos mesmos, ou ainda em
lidade diz respeito ao tamanho absoluto dos corpos intrusivos rasos associados. Rochas faneríticas
constituintes minerais. Em rochas de granulação mui- finas sãc) geralmente também associadas a ambientes
to fina, os cristais são praticamente imperceptíveis a vulcânicos / sub-vulcânicos, como constituintes das
olho nu, ou mesmo à lupa manual; neste caso, diz-se partes centrais de derrames espessos ou de corpos
que a rocha apresenta textura afanítica (Fig. 16.8 c). ígneos intrusivos de dimensões reduzidas. Já rochas
Quando os constituintes minerais têm dimensões que faneríticas médias e grossas desenvolvem-se tipica-
permitem individualizá-los a olho nu, ou mesmo mente em corpos intrusivos profundos, de dimensões
identificá-los, a rocha passa a ter textura fanerítica. expressivas. No caso dos pegmatitos (Fig. 16.10 b),
Diques
Neck radiais
vulcânico Derrame
Derrame
Fig. 16.11 Diagrama esquemático mostrando as formas de ocorrência de rochas magmáticas (derrame,si//, dique, batólito, stock,
neck vulcânico, diques radiais e lacólito).
o crescimento exagcrac!c) clc)s minerais é dcvic!c) a escc>riáccas. Já os púmices representam um tipci parti-
fatcires adicionais, comei uma grande riqueza em flui- cular de rocha vulcânica ccJm altc> índice de vazios
dos e elementos de alta mcJbilidade, e não ao tempo produzidos pclr escape e-le gases, ccJm uma estrutura es-
e prc)fundidade de cristalização prc)priamcnte e-litos. ponjosa / celular, onde os septc>s entre os vazios são de
Podemos também reconstituir a histc'>ria da crista- material vítreo muitci delgaelo (Fig. 16.1 O d).
lização de uma rocha ígnea a partir das dimensões
relativas entre as suas fases minerais. Magmas que cris- 16.2.4 Dando nomes às rochas ígneas
talizam cm um t'.1nico episódio, diretamente nci seu síticJ
final de alojamento, tenelcm a prciduzir constituintes A nomenclatura de rcichas ígneas é definida, ccJmo
ccim dimensões da mesma cirdem de grandeza, sejam já mencionado, com base nas suas composições
eles muitcJ finos, finos, de granulação média ciu gros- mineralc'>gicas e nas suas texturas. ()s critérios de nci-
sa. Já magmas que iniciam sua cristalização cm um menclatura são paelronizados internacionalmente pela
determinadci ambiente, sc)frem novo transpc)rte, e ter- sistemática adotada pela IUGS (lnternational Union oj'
minam sua consolidação em um ambiente distintci dei c;eolog,ical ºS'ciences ~ União Internacional das c:iências
inicial. Em geral registram isto através da existência de GecilcJgicas). Esta sistemática é também ccinhccida
uma geração de cristais de elimensc)es supcricires às como Ncimcnclatura de Rochas Ígneas de
dimensões dos demais constituintes. Quanel<) todc)s Strcckeisen, cm hcJmcnagem ao geólcJgcJ suíço A.
eis constituintes têm dimensões de mesma orclem ele f .. Streckcisen, que prcipôs a adoção de critérios
grandeza, a textura é dita equigranular (f•igs. 16.8 a e mundialmente uniiicadcis de nomenclatura para as
d). Já quando há uma geração de cristais que sobressai rc>chas ígneas. Segundo esta sistemática, as rochas
na textura por apresentar dimensões supericircs às e-leis sãcJ subdividiclas em vulcânicas, quandcJ apresen-
demais constituintes pcir pelo menc)s uma c>rdcm de tam textura afanítica ou vítrea, e intrusivas, quando
grandeza, a textura é designada porfirítica (Fig. 16.8 a textura for fancrítica de quale1uer granulação. O
6) e os cristais de tamanhc) avantajado são elencimina- ncime da rcJcha é então definielo pela prclpcirção
dos fenocristais, enquantcJ os demais, de elimcnsc)es cibservada entre seus constituintes minerais majcJri-
infcricJres, constituem a matriz. Depenelendc) d<i am- tários, ou pela proporção entre constituintes
biente em e1ue a consc)lielaçãc) é cc>mpletacla, a matri✓, minerais inferida através de critéricis variados, quan-
de uma rocha ccJm textura porfirítica pode ser vítrea, c!cJ os minerais inelividuais não feirem visíveis.
afanítica, <>U fanerítica fina, média ou até grc)ssa. Rochas ultramáficas, ccJm mais ele 90% de mine-
As estruturas das rochas íhrneas tatnbém sãci impc)r- rais máficos (J\1>90), sãci ccinsideradas à parte, e
tante fcinte de infc>rmações scibre o seu ambie11tc e histc)ria constituem clciis grandes grupcls principais: cJs
de c<>nsolidaçãc>. Geralmente, a cstrl1tura ele rcJchas í1orneas pcridc)titcis, ricc)S cm c)livina acompanhac.la de prci-
, . pcirçõcs variáveis de piroxênicJs, e os pircixenitcis, nos
e maciça, uma vez que magmas tendem a se alojar e
ccinsolidar em regimes isentos ele tensões; exemplcJs desta e1uais prevalecem eis piroxênios, podendo conter um
estrutura são as amostras das J-<'igs. 16.8 a e d. Há, pcirém, pouccJ de olivina. JJeric!c)titos sãc) as rochas constituin-
estruturas inclicativas ele fluxci, tanto cm rochas vulcâni- tes dei mantei da Terra, e servem de fonte para a
cas como intrusivas: as lavas ccJrdadas (pahoehoe) sã<) um extraçãe> dos magmas basálticos; piroxenitos eJceJrrem
exemplo do primeiro caso (Cap. 17), enquanto a cirien- em cclrpcis máfico-ultramáficos estratiformes, fcJrma-
tação ele cristais tabulares de feldspatc) em sicnitc>s de)s pelo acúmulo de) piroxênio cristalizado na câmara
exemplifica o segundei. J-<:m rochas ,rulcânicas, há uma magmática. Rochas vulcânicas ultramáficas tiveram
série de estruturas assciciadas aos prcJcessos de extrusão, granelc impcirtância no passado, no Arqueano (Cap.
fluxo e scJliclificação das lavas. F'.struturas inelicativas de 23), quando a temperatura mais elevada do manto per-
escape de gases sãc> as vesículas (quandcJ vazias) e as mitia maiores taxas de fusão, gerando magmas ricos
amígdalas (quando preenchidas por minerais tardios, em ~lg que, alcançando a superfície da crosta primiti-
come> variedades cristalinas e criptcJ-cristalinas de sílica, \'a, consolidavam-se na fcJrma de derrames de
carbonatos, zcólitas, etc. - Fig. 16.1 O e). Derrames komatiitos, rcJchas peculiares de grande interesse para
basálticc)s, como eis da Bacia do Paraná, apresentam o estudei da e\rolL1ção dcJ manto e da crosta are1ueana,
freqüentemente t<ipcis vesiculares/ amigdalcJidais. RcJchas pcirtacloras eie texturas curicisas (I;ig. 16.12), dencimi-
ccim alto vcilumc de vesículas sãcJ elenc)minaeias
,
CAPÍTULO 16 • ROCHAS IGNEAS 341 ,,
•
nadas spiniféx pela semelhança que apresentam cc)m Rochas não ultramáficas (M <90) podem ser classifi-
. uma gramínea australiana hcimêinima. caclas pelas propc)rções que apresentam entre seus
constituintes félsicos: feldspatos alcalincis, plagioclásio,
quartzo e feldspatóides Oembrando que quartzo - sílica
cristalina livre - é incompatível com a presença ele
fcldspatcíic.-les). ;\ prcipcirçãcJ entre estes ccJnstituintes é
recalculada para 100°1<1, e o resultado lançado cm um dos
clciis diai-,rramas triangulares de referência (Diagrama QFAP
- Fig. 1(J.13). C) nome-raiz ela rocha é obtido a partir dos
ca1npcJs c-let111idcis nestes diagramas, e acrescido de infor-
n1açõcs adicionais julgadas relevantes. Por exemplo, uma
rcJc!1a ccJm textura fancrítica de granulação média, cc)nsti-
tuída predcJminantemente pelos minerais félsicos quartzo,
plai-,ric)c!ásio (ccJm teor do componente anortita cm torno
ele 2(Jl1/ci = ciligcJclásio) e feldspato alcalinc) (ortoclásio ou
microclínio) em proporções equivalentes será dcnomi-
nacla "granito". Se este granito tiver quantidades
representativas de biotita, e alguns e-los seus cristais de
Fig. 16.12 Komatiito com textura spinifex. Pium-hi, MG. fcle-lspatcJ ccJnstituírem fenocristais, co1n tamanho relati-
Foto: G. A. J. Szabó. V<J avantajadci quando ccJmparados aos clemais, que
12 Feldspatóide monzossienito ·
13 Feldspatóide monzodiorito
14 Feldspatóide diorito ou gabro
F 15 Foidolito
. :, -' . . ·. . : . . .
Fig. 16.13 Diagrama QFAP da Sistemática da IUGS (simplificado) para classificação de rochas ígneas com Índice de Cor (M)
·. · · < 90 com os principais nomes-raiz para rochas ígneas intrusivas. Q quartzo; F feldspatóide; A feldspato alcalino; P plogioclásb.
Obs: Quartzo* - usar o prefixo quando este mineral for superior a 5%; gabro difere de diorito por apresentar, em geral, M::50.
constituirão portanto a matriz (Fig. 16.8 b), a sua deno- não de feldspatóides (quando insaturados em sílica)
minação mais completa será biotita granito porfirítico, ou quartzo (quando supersaturados em sílica), além
acrescentando importantes informações mineralógicas e de eventuais minerais máficos portadores de Na e/ ou
. .
texturais ao nome-ra12. K. Devemos ter em mente, ainda, que este diagrama
Para rochas vulcânicas, a composição mineralógica representa uma abstração, e as relações entre os
é inferida a partir dos fenocristais, quando presentes parâmetros utilizados podem não ser tão diretas assim
(fenocristais de quartzo indicam elevado teor em sílica, em muitos casos (há exemplos de granitos mesocráticos
logo, a rocha seria o equivalente vulcânico do granito, e até melanocráticos, e de gabros leucocráticos, ainda
denominada riolito), ou pela cor da rocha (rochas es- que sejam rochas menos freqüentes). No entanto, ser-
curas são, em geral, máficas; rochas de coloração ve como boa aproximação para uma classificação
avermelhada / arroxeada a acinzentada ou mais clara preliminar, desde que utilizado com critério, dentro
serão mais félsicas). A classificação mais acurada de das suas limitações.
rochas vulcânicas é difícil quando em amostras de mão,
necessitando de estudos de microscopia ou análises 16.3 Rochas Intrusivas: Modos de
químicas. Macroscopicamente, rochas ígneas afaníticas
Ocorrência e Estruturas
podem ser chamadas de felsitos, quando apresenta-
rem cores claras, e de mafitos, ou rochas basálticas (no A seguir serão descritas as formas de ocorrência
sentido genérico), quando forem escuras. das rochas ígneas intrusivas com maior detalhe. As
Para rochas com textura fanerítica fina, rec()men- formas de ocorrência das rochas vulcânicas e suas es-
da-se usar o prefixo micro(microgranito, microgabro, truturas específicas serão consideradas no Cap. 17.
etc.). Tradicionalmente, previa-se uma nomenclatura Se o magma, gerado em profundidade, se conso-
distinta para rochas com essa textura, consolidadas ge- lidar no interior da crosta, teremos a formação de
ralmente em corpos menores, de colocação pouco rochas plutônicas ou intrusivas. Dependendo da pro-
profunda. Neste sentido, haveria um tipo de rocha fundidade na qual o magma se cristaliza, os corpos
intermediário entre o gabro, resultante da consolida- rochosos gerados podem ser classificados em: abissais,
ção de um magma básico em profundidade, e logo se a cristalização ocorrer em grandes profundidades
com textura fanerítica média a grossa, e o basalto, seu (mais de 2 km) e hipabissais, se cristalizarem em níveis
equivalente vulcânico, de textura afanítica. A rocha de crustais rasos.
textura fanerítica fina resultante da consolidação de um
magma básico em corpos intrusivos rasos denomina- Os corpos de rochas ígneas intrusivas podem tam-
se diabásio, que julgamos necessário mencionar por bém ser classificados em relação às suas formas (Fig.
tratar-se de um termo firmemente arraigado no linguajar 16.11 ), que podem ser alongadas, circulares, tabulares
dos geólogos. ou mesmo totalmente irregulares. De um modo ge-
ral, todos os corpos intrusivos são denominados
Uma classificação simplificada que pode ser utili- "plutons" e podem ser distinguidos de acordo com
zada de maneira expedita é aquela apresentada na Fig. seu tamanho e relação com as rochas encaixantes da
16.9, relacionando composição química, índice de cor crosta.
(M), textura e ambiente de cristalização de algumas
das rochas ígneas mais freqüentes na crosta. Neste di-
16.3.1 Corpos intrusivos menores
agrama, a proporção entre os principais constituintes
minerais permite optar entre os nomes granito, Os corpos intrusivos menores são representados
granodiorito, diorito, gabro e peridotito para rochas pelos diques e sills (ou soleiras), que têm formas ta-
intrusivas, e os respectivos equivalentes vulcânicos bulares, pelos !acólitos, em forma de cogumelo e
riolito, dacito, andesito, basalto e, caso particular, pelos necks vulcânicos. Diques e sills possuem a
komatiito. Não são apresentadas, neste diagrama, as mesma geometria e a diferença entre eles está no modo
rochas alcalinas, como sienitos e seus equivalentes vul- em que se dá a sua intrusão nas rochas encaixantes.
cânicos, os fonolitos. Estas rochas podem ser
identificadas pela sua riqueza em minerais de Na e I<: Os diques são formados quando o magma invade
sienitos e fonolitos, que são constituídos predominan- as rochas encaixantes através de fraturas ou falhas, e
temente por feldspatos alcalinos, acompanhados ou apresentam uma atitude vertical ou cortam as estrutu-
ras c)riginais dessas rochas, sendo portanto
'
Fig. 16.15 Si// de microgabro (diabásio - rocha escura) intrusivo em calcários paleozóicos (rochas claras). Represa Roosevelt,
Fênix, Arizona, E. U. A. Foto: W. R. Van Schmus.
geralmente G) bem formadas. Isto se dá devido à
perda rápida d.e calor da lava (originalmente a cer-
ca de 1.000º C) em níveis crustais rasos, fazendo
com que haja uma contração e formaçãcJ das colu-
nas poligonais .
•
As vezes, os si/Is podem se assemelhar muito a
corridas de lava soterradas, já que ambos são tabu-
lares e podem apresentar disjunção colunar.
Adicionalmente, pelo fato dos si/Is se colocarem em
níveis crustais rasos, próximo à superfície, sua
granulação é fina e pc)de ser facilmente confundida
. : . . .
ccJm a de derrames basálticos. J\ distinção entre eles
•
é muito importante quando da reconstituição da
Fig. 16.16 Disjunção colunar em basaltos da Bacia do Paraná. história geológica de uma regiãcJ. Uma feição pode
Torres, RS. Foto: R. Machado. auxiliar na identificação clestas estruturas: a parte
supericJr de uma corrida de lava, como já mencio-
necessária para levar o magma até a superfície. Con-
nado freqüentemente contém vesículas e/ ou amígdalas
seqüentemente, cJs si/Is se fcJrmam preferencialmente
formadas pelcJ escape de gases enquanto a parte infe-
em níveis rasos da crosta, próximos à superfície,
rior do derrame mostra sinais de metamorfismcJ de
onde a _pressão exercida pelo pescJ das rochas so-
ccJntato. Já no case) de um si/1, ambos os limites do
brepostas é relativamente pequena.
corpcJ, tanto CJ inferior quanto cJ superior, mostram
Um exemplo clássico de um corpo em fcJrma de si!! eviclências de metamorfismo e cJ hcJrizonte vesicular-
é o de Palisades nos Estados UnidcJs. FJe possui cerca amigc-laloidal não occJrre.
de 300 m de espessura e hoje, por causa dos prcJces-
Os !acólitos são corpos ígneos intrusivos, ccJm a
sos erosivos, ocorre como um "paredão" na margem
forma de um cogumelo, que podem representar uma
do rio Hudson. Devido à sua grande espessura e ao
variação dcJs si/Is, já que invadem conccJrdantemente
lento resfriamento do magma ele é um ótimo exemplo
camadas de rochas sedimentares em níveis rasos da
de cristalização fracionada. Este si!/ formou-se a partir
crosta. PcJrém, diferentemente dos si/Is, o lacólitcJ ar-
de um magma rico em componentes dos minerais
queia as camadas de rocha supra jacentes (Fig. 16.11)
olivina, piroxênio e plagioclásio. Como olivina forma-
para obter espaço para seu alojamento. Outra dife-
se primeiro durante o processo de cristalizaçãcJ (série
rença é na compcJsição, uma vez que os lacólitcJs sãcJ
de Bowen, Fig. 16.7) e é o mais denso des-
tes minerais, sofreu precipitação perfazendo
cerca de 25% dos minerais presentes na parte
basal do si!!. Próximo ao topo do corpo, a
olivina perfaz apenas 1% da rocha, enquan-
to o mineral mais leve, o plagioclásio,
constitui cerca de 60- 70% da mesma. O
exemplo deste si!! diferenciado é importan-
te para os geólogos porque confirma os
experimentos de laboratório sobre a crista-
lização fracionada à qual alguns magmas são
submetidos.
O resfriamento de corpos ígneos tabu-
lares, como si/Is e diques, e mesmo derrames
de lavas, pode causar um padrão distinto
de fraturamento nas rochas que os constitu-
em, conhecido como disjunção colunar Fig. 16.17 Neck vulcânico no Wyoming conhecido como Torre do Diabo.
(Fig. 16.16). Este padrão de fraturamento Foto: Dave G. Hauser/Stock Photos.
gera prismas colunares com faces (4 a 8,
geralmente formados por magmas mais viscosos. rante a sua colocação na região em que irá se consoli-
Constituem, em geral, corpos pequenos se compara- dar.
dos aos batólitos e sua largura é inferior a poucos
Estes plutons, em sua grande maioria, são constitu-
quilômetros.
ídos por rochas graníticas de textura média a grossa,
i'\íecks vulcânicos são corpos intrusivos discordan- já que resfriam lentamente, dando tempo para os mi-
tes formados pela consolidação do magma dentro de nerais crescerem. Os batólitos podem atingir até 20
chaminés ,rulcânicas, C)S condL1tc)S por onde o magma ou 30 km de diâmetro e são corpos com história
sobe e chega à superfície através dos -vulcões. i\pós a geológica con1plexa, formados em raízes de cadeias
erosão do cone vulcânico, principalmente daquele cons- de montanhas. Eles podem consistir de vários corpos
tituído por material piroclástico mais facilmente menores que podem ter idades e composições quími-
erodível, sobressai na topograf1a a antiga chaminé, o cas diferentes, representando pulsos magmáticos
neck VLtlcânico (Fig. 16.17), que serviu de alimentador sucessivos a partir de uma mesma fonte. A colocação
de magma para o ,ru!cão. A partir da parte central da destes pulsos de magma na crosta ocorre através de
chaminé o magma pode percolar lateralmente preen- mecanismos complexos, tal como já discutido, de ma-
chendo fraturas e gerando diques radiais (Fig. 16 .11). neira breve.
Outra feição comum relacionada aos grandes cor-
16.3.2 Corpos intrusivos maiores ,.. - . ,,.
pos gran1t1cos sao os vetos pegmat1t1cos que,
geralmente, ocorrem nas bordas dos batólitos. For-
Os batólitos são os corpos ígneos plutônicos de
mam, igualmente aos batólitos, estruturas discordantes,
maior dimensão e possuem uma forma irregular (Fig.
já que cortam as rochas encaixantes. A fcirmação dos
16.11). Como eles se cristalizam em profundidade,
pegmatitos se dá na fase final de resfriamento do
somente graças à erosão é que hoje podem ser obser-
magma, através da percolação de soluções ricas em
vados à superfície. Seu tamanho pode variar bastante.
sílica, água e, ocasionalmente, em alguns íons que não
Convencionalmente, costuma-se chamar de baté)litos
entraram na estrutura cristalina dos minerais até então
os corpos que apresentam, em superfície, uma área
formados. Estas S()luções são chamadas hidrotermais,
superior a 100 km2; quando a área for menor, os cor-
e a partir delas são geradas os pegmatitos, constituí-
pos são denominados stocks. Os stocks podem ser
dos, principalmente, por quartzo e feldspato potássico
parte de batólitos parcialmente erodidos, que com um
(I1ig. 16.10 b). No entanto, em alguns casos, estas solu-
processo mais intenso de erosão podem passar a ser
ções hidrotermais podem estar enriquecidas por
totalmente expostos. Ambos, batólitoli e stocks, são cor-
elementos químicos de interesse econô1nico fazendo
pos intrusivos discordantes, que cortam as estruturas
com que os pegmatitos sejam mineralizados a
das rochas encaixantes. Uma feição bastante comum
tungstênio, uraninita, estanho, turmalina, topázio, etc.,
nas regiões marginais destes corpos é a presença de
como é comum encontrar em l\1inas Gerais.
xenólitos (Fig. 16.18), que são fragmentos da rocha
encaixante arrancados e englobados pelo magma du-
16.4 Magmatismo e
Tectônica de Placas
i\ grande variedade de rochas ígneas está intima-
mente associada ao seu ambiente de formação e este
depende dos processos tectônicos envolvidos na his-
tória do Planeta. Como foi visto no Cap. 6 (Tectônica
Global), nos diferentes limites de placas atuam pro-
cessos tectônicos distintos, cada qual gerando um
magmatismo característico. Existem dois tipos funda-
mentais de limites de placas que estão intimamente
associados com a formação de magma: os limites di-
vergentes e convergentes (Fig. 16.4).
Fig. 16.18 Xenólitos de anfibolito bandado / dobrado em
rocha granítica (tonalito). Eou Claire, Wisconsin, E. U. A. Foto: Os limites divergentes, como já vimos, são marca-
W. R. Van Schmus. dos por movimentos de extensão da crosta, com
ruptura da placa litosférica em função do m<iviment<J crostas continentais. Neste caso, predominam os prcJ-
em sentido opost<) das placas e ascensã<) ele plumas cessos de metamorfismo e a intensa deformação das
mantélicas superaquecidas. Esta ruptura é tão pr<ifun- massas cc>ntincntais envolvidas na colisão.
da que o magma basáltico gerado pela fusã<J parcial
()utro tipo de magmatismo basáltico, similar ao
de materiais rochcis<Js da astencisfera (os peridotit<)S
pre>duzido nas cadeias meso-occânicas, é encontrado
do mant<J) ascenele através ele sucessivos derrames. ()
cm alguns continentes ou mcsm<J cm ilhas isoladas
process<J de abertura da crosta e subida ele magma
(HavaD, no interior das placas litosféricas, distantes de
dura milhões de aneis, originando um assoalho oceânicei
seus limites. Nestes lc>cais ocorrem ve>lumosos derra-
como aquele que existe entre os ceintinentes sul-america-
mes de lavas que ascendem de grandes profundezas.
nc> e africano e que ainela hcije continua a ser formaelci
Alguns pesquisadores sugerem que estas lavas pos-
com uma taxa de crescimento de 2 a 3 cm/ an<>.
sam ser oriundas do mant<J inferior, talvez do limite
C)s limites C<Jnvergentes (Cap. 6) são resultantes da manto-núcleo terrestre. As lavas basálticas chegam à
ccilisão entre placas litcJsféricas e p<)dem ser ele três superfície através de conelut<)S vulcânicos cc>m a for-
. . . .
tipos: continente-oceano, ceintlnente-c<)ntlnente e oce- ma de lápis, também conhccidc>s como plumas
an<>-oceano. Quandci ocorre <J ch<)que entre placa mantélicas. A <>rigcm elcste magma está vinculada a
continental e oceânica, a exemple> do que occirre na pontc>s quentes (hot spots) no intcricJr do manto. Estes
Cacleia Andina, a placa <iceânica (mais densa) mergu- pont<>s sãcJ fixos, enquanto as placas litosféricas se
lha sob a placa continental (menos densa) nt1m me>vcm; com<> conseqüência, ocorre a formação de
processo conhecido c<imo subducçã<J. Neste limite, ilhas alinhadas, c<>m idaeles sucessivamente mais jo-
os magmas sã<) gerados pela mistura ele material <Jri- vens, e que gradativamente ganham estabilidade à
ginadei da fusã<> da crosta <>ceânica (basáltica) medida que se distanciam do hot spot estacionário, a
C<)nsumida juntamente com sedimenteJs marinhcJs acu- exemple> do que está acontecendo no interior da Pla-
mulados na zona de trincheira e da interação c<Jm as ca Pacífica, no Arquipélago elo Havaí.
raízes ela cr<ista continental (félsica). Esta mistura ele
componentes origina magmas de comp<lsições varia-
das. As r<Jchas ígneas pr<)duzidas nas Z<)nas de
subducção são mais félsicas (ácidas) qt1e aquelas gera- Leituras recomendadas
das nas cadeias meso-<>ceânicas (predc>minantemente
basálticas), sendo comum o vulcanismo andesíticci (in- BEST, M. G. Igneous and Metamorphic Petrology. Ncw
termediário) e, em menor prciporção, o félsicci. ()s York: W. H. Frccman, 1982.
corpeis de rochas intrusivas cc>m compclsições inter- BROWN, G. C.; HAWKESWORTH, C. J.; WIL-
meeliárias a ácielas (graníticas) são c<insolidaelcis ncJ SON, R. C. L. Understanding the Earth - a New
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"
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LeMAITRE, R. W. A C/assification oj Igneous Rocks
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PRESS, F.; SIEVER, R. Understanding Earth (2 nd
raçãci de vulcanismo andesíticei, formand<)-Se arcos
Ed.). New York: W.H.Freeman, 1998.
de ilhas, como <icorre hoje n<J Japã<). No processo de
'
colisão entre duas placas continentais, ei qual pc>de ser SIAL, A. N.; McREATH, I. Petrologia Ignea - Vol.
,
exemplificad<i pel<J choque entre a India e <J Tibet 1. Salvador: SBG / CNPq/Bureau Gráfica e
originando a magnífica cadeia de mcintanhas dos Editora, 1984.
Himalaias, <> vulcanismo é pouco significativci, enquan- SI<INNER, B. J.; PORTER, S. C. Prysica/ Geology.
to <> plut<>nism<i é mais expressivo, representadc> por New York: John Wiley, 1987.
leucogranitos f<>rmaelos a partir da fusão da lJase das
ndes Equatorianos, outubro de 1999: após 70 câmara
magmática
anos de repouso, o vulcão Tungurahua entra
em erupção, forçando 25.000 pessoas a deixarem suas
casas. Repete-se, uma vez mais, a saga da humanidade
perante as forças do interior terrestre ao mesmo tem-
po que desfruta da beleza das paisagens dos vulcões
quando dormentes, sofre seus terríveis efeitos
destrutivos quando estão em atividade. A vulcanologia,
uma especialidade criada na década de 1980, dedica-se
ao estudo do vulcanismo - termo cujas raízes remon-
a ,
tam à mitologia greco-romana, quando Vulcano era o scendente '' '
deus do fogo. Desde então, a vulcanologia teve enor- Fig. 17. l O sistema de bombeamento de um vulcão.
me progresso, passando a ser uma ciência
interdisciplinar e quantitativa, de grande importância
para a redução de riscos para populações situadas em
regiões vulcânicas. ativo do nosso Sistema Solar. Suas abundantes erup-
ções expelem lavas com altíssimas temperaturas, muito
Quando nos deparamos com uma erupção vulcâ-
superiores às das lavas terrestres atuais.Além disso, ja-
nica, testemunhamos, na verdade, a liberação
tos violentos de en:vofre e outros gases alcançam mais
espetacular do calor interno terrestre acumulado atra-
de 300 km de altura em lo, fenômeno tão gigantesco
vés dos tempos, principalmente pelo decaimento de
que pode ser visto a partir da órbita da Terra, a mais
elementos radioativos. Este fluxo de calor, por sua
de 600 milhões de quilômetros de distância.
vez, é o componente essencial na dinâmica de criação
e destruição da crosta, na qual os vulcões, juntamente Os vulcões (Fig.1 7.1), são considerados fontes de
com os terremotos, têm papel essencial, desde os observação científica das entranhas da Terra, uma vez
primórdios da evolução geológica. Atividades vulcâ- que as lavas, os gases e as cinzas fornecem novos
nicas foram também importantes na Lua, Marte e conhecimentos de como os minerais são formados e
Vênus, onde modelaram paulatinamente suas superfí- onde recursos geotermais de interesse para a humani-
cies em diferentes épocas geológicas. O monte Olimpo, dade podem se localizar. A importância do vulcanismo
em Marte, é a maior estrutura vulcânica conhecida do transcende a notória influência que exerce no nosso
Sistema Solar, com seu cone de 26 km de altura em ecossistema, em que 25% do O 2' H 2' C ' Cl e N 2 ho1·e
cujo cume existe uma depressão com 65 km de diâ- presentes na biosfera têm esta origem. Sabemos, por
metro. Todavia, os exemplos mais impressionantes exemplo, que milhares de vulcões ativos há mais de 4
ocorrem no satélite mais interno de Júpiter lo, o mais bilhões de anos, liberaram enormes volumes de água,
pequena
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.•,oa m3
, , , ,
enorme 1/ 1O anos
, , , O',
Derrame
de lava
Rocha
vulcânico
•r.ii!t~;:ª~lu;;~do •conf~ndo.t~i~faiisi~ii':i
Fluxo .··•····•:;;:~s~l~+e~i:~1~ize(:~o,.•.····
piroclóstico Escórias Fragmentos vesiculares restritos às
proximidades dos condutos vulcânicos
Brecha de . . ·. be~~~ltoslde grarde~;•~l~~~~,d~.;
blocos e cinzas suste!'ltodos,por crcnzqs,. ptó>i.1 •
>C::,,Y:·<-',,i \/; !:-':'!;';];'.'':" -_-,
,, , , ',,,, -: _,,,",,ii;::;:'.:OC-'<""", , · condutos d; \f;ufçõesf . ·• •· ·· ··•·· .
Lahor Fluxo viscoso de lama com fragmentos
inconsolidodos de variados dimensões,
. originados do retrobolhomento de depósitos
de encostos vulcânicas por chuvas, degelo
e/ou tremores de terra .
. Semêlhantês aos flux.ôs de lôrn1;1.,.p •••
11
/
Fig.17.4 Derrames de lava, vendo-se ao fundo o Monte Fig.17.7 Resto de brecha vulcânica. Ilha Fernando de
Etna; Sicília, Itália. Foto: R. Trouw. Noronha, NE do Brasil. Foto: C. M. Noce.
Fig.17.5 Depósito por lahar. Notar o abundância e tamanho Fig.17.8 Camadas de tufos e brechas piroclásticas intercala-
dos fragmentos sólidos carregados pela torrente de lama. An- das. No canto inferior esquerdo da foto observa-se deformação
tártica. Foto: J. B. Sígolo por acomodamento, causada por bloco lançado bolistican1ente.
Maciço alcalino de ltaúno, Rio de Janeiro. Foto: A. Ferrari.
Fig. 17.6 Depósito piroclástico com deformação por bomba. Ilho Shetlond do Sul, Fig.17.9 Tufo vulcânico. Foto: C. M.
Antártica. Foto: R. Andreis. Noce
Fig. 17. l O Fuma rolas. Campo de gêiseres EI Tatio, Chile. Foto: C. M. Noce.
· Lavas pahoehoe e aa
Fig. 17.13 Lava pahoehoe. Baía Sullivor·, :lho dt, Sur:',c•,c -, , , :_ ;:.I" :,r'-11' __ ~-
()s depósitos de t1uxo pir<)clástico são mistt1ras de Já nuvens ardentes (tzttée ardente) representam tor-
fragmentos, partículas de rocha e gases quentes c1ue, rentes de baixa densidade que se expandem encosta
independentemente da granulação, movem-se pelo set1 abaixo com velocidades extremamente altas de até 200
próprio peso, condicionadas à declividade do terreno. km/h, e altíssimas temperaturas, geraln1ente acima de
1\ emulsão de gases super,1quecidc>s é tal que a resis- 70()º(=, acc)mpanhadas p<)r um som ensurdecedor.
tência ao atrít<) entre as partículas é reduzida ao
mínimo. Com isso, forma-se um fluido densc), cuja 12• 10• 69"
zc)na superior torr1a-se mencJs densa à medida que
as partículas caem S(Jbre a superfície dc) terreno. i\s
temperaturas envc,lvidas são muitcJ variáveis, de
900ºC até inferiores a 100°(~.
1;_111 lC)<)J, Llill;J tlllVCi:l :1t·dc111c J>!(>cluzid;1 r,ei(l Vlll- S, (:J, e l\ f)<Jr sua vez, reage111 com a água, originando
câ() l:lzc11 ():lj.l~(l) i<'V<>Ll :1 ;nc,rtc cl, ns vul,-a11,·,1(1g(>S :ícid<Js 11cicivc1s para <JS olhc)s, pele e sistema respirató-
fatlH)S()S li()r ~('u:-:; cn~;ai,,s r(lh,liTT:íf1c,)S e t11111c\ :;()l.1rc 1
ri( i. :\lcsr11cJ quar1LlcJ err1 baixas co11centrações, podem
''
vulciícs -· ci casal l(ratft. 1,:,1,-~ cícr1hstas 1n(111i\tlr,1\a111 ciestruir a vegetaça<1 e cc,rrcier n1cta1s.
o descll\'<>lví111et1t(J de unia 11u1 c111 :11dc11tc-, a ,.111:tl rc-
pentina111cntc alrcr,>u ,, seu 111111,, ,1,·,,cidci a,_.,,, c11t\ 1 s,
a) f'11n1arolas e fo11tes térn1icas
ati11t.ót1d(J·<lS scn1 cl1,111cc de fuua.
( ) ' ( Js rcst(i;; 11H1rtais
(_
él<> casal I<raff~ <Jt1:H1,lc1 fr>ra111 rcc11r1cr:1ck1s, :q,rc,:c11ta f,:stas exalaçc'ies Lle gases e vap<)res se dão através
va111-sc cn1 cst:1d,, de incincr:l(;,ir,, , 111 ,.lcc(;rri·r1c·i,1 cl:1
0
a1n!Jic11te. liste cxcn111l(J LJtutal ir1dica <-JUC :1 tj11ic:1 al- ciuc pela pri111eira ,·ez sâ(J libcral1CJS em superfície) ou
ternativa para 111inin1i1ar <'S r1scc ,s de u111:1 cr1q,ç:10 sccu11clárias, l]Ua11clci CJccJrre a ir1terferência ccim água
11irc,clástica é- a rctirada \'fC\ cn1i\ a tia j1(lJ,1il:1c:í, > d:1s su l)tcrr:111ca.
r1r(lXÍt11idadcs d() 111lc:l(J.
",as ru111arc,las, <JS ele111c11tcis rr1ais comuns que en-
tr,1111 na c,J1111,c>siçiici ll<lS gases sã11 hiclrogênio, clóro,
17.1.4 Gases e vap<lres v11lcát1ic<)S c11x(,fre, nitr,,1c,;êni(i, carl)cinci e oxigêni<J. l::'~stes elemen-
l)ura11tc utna crui,,;,t,) trJs podc111 <1cc1rrer na sua forma elementar ou
ttr de s1s1c111as
, H: ,1 l':11
, ,
hillt(Jtcrn1::iis asscJci:1d( ,'.; ,l (illll;]l:lS llta~i;111at1cas
. r
c•1r11l1inacl()S ((li)}() 12(), HzS, fl(:l, c:c), CC)z, (NIJJ+,
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• etc.
sttlJsttfJerficiais, tis 1';ases e ',:q1,Jrc"; cÍ!ss,,l, idt>s tl<J
n1ai~n1a siiri lilJcr:1d<>, 11ar,1 ,i :1t11111,fcr,1. (í 111ais :1l1Lt11 . \ cc11np(isiçãc> ele is gases \'ulcâniccJs pode variar em
_.., ;i í):'i" .·, () tr:1n,r,,>rtc funcií(l Llas ten1pcraturas etl\"<Jl\·iélas (SOOºC a 100°C) e
•
desses ~ases na :1t11Hisfcr:1 :,e ,l:'i c1n ·.1,·r1,:;,;,.,, urn:1 , lcJ e, ,ntcúdci c111 rrii11erais lliss<)l\'id<>s. Eventualmente,
'
sc1lu\1ii<J crJl1,idal cr11 l)UC a f,1sc cli,1,ir,,Jr:1 e': .l:.1'< ·,.1 e a clcn1cntc >S cc1n1cJ tl,ícJr, e11xc1fre, zinco, ccJbre, chumbo,
fase dispersa e:- ,('ilid:1 (>U l1,.111i,L1 .. i•·.i:1 :1ds,,rc:í,, cL,s ;1rs,:•r1i1 i, estanhe>, 111c1lil)dê11Í<J, l1râni<1, tungstênio, prata,
c<n11p(>St<is ctn c:1111:1d:1s, (>li :1ind,1 ;;,1 (1,r111:1 1i1 1i:1r 11 n1crcúric> e ,,urc1 se ass(iciam acJs gases, podend<) se
..r ; ·,;
~ 1 ,. ( , ~
cc ,nccntrar 111ir1ci1,ali11c11tc e111 vcic>s na r<Jcha encaixante,
Fig. 17.23 Campo de gêiseres EI Tatio, Chile. Foto: C. M. Noce.
.1n1S
·.· .· •.· .•·.•.:;,.•~ ·•. · •.~· . :'~.·•'.··. ·. li,:::;
,. e:êi. :, ; ·.· .·:..•...,.., -.ç~
j:J:.
magma
uQ .borbulhante.
Gêiser Pohur~~ :Fig. 17.27 Mecanismo de funcionamento
...
í:!;Nova
. ...
Zelândia. Foto: P. A. Soude~/' fumorolas e fontes térmicos. · · · ·· ·········· ··"'•••·
ock Pho ,;;.l:E.
e) Plumas hidrotermais submarinas Equatorial Leste puderam confirmar essa hipótese. Ali,
a 2.SO(l metros de profundidade, foram identificadas,
Trata-se de fontes térmicas surgentes na crosta
pela primeira ,·ez, chaminés expelindo continuamente
basáltica pelas quais fluidos minerais sã() expelidos. A
partículas 11egras de sulfetos de Fe, Zn e Cu (Figs.
ação contínua do processo hidrotermal edifica "cha- 17.29, 1-.30).
minés". As maiores p()dem atingir mais de 10 metros
de altura e 40 cm de diâmetro, sendo denc)minadas "-\ decantação dessas partículas finas, dissolvidas na
black smqkers (Fig. 17.28) por expelirem fluidos de cor água surgente a altas temperaturas, se dá pelo choque
negra com alta temperatura. As chaminés menores rece- térmico com a água fria das profundezas oceânicas.
bem () n()me de white smokers, sendo caracterizadas por 1Iuitas dessas concentrações polimetálicas contêm
. . . . ,
fluidos de cor esbranquiçada e menor temperatura. metais preciosos e sem1-prec1osos, porem os custos
de recuperação são ainda demasiadamente altos para
Depósitos de sulfet<)S metálicos submarinos, asso- ,-iabilizar C) apro,·eitamento comercial.
ciados às fontes termais em sistemas vulcânicos de
rifts meso-oceânicos, ocorrem no arquipélago de Os estranhos oásis de vida, cm meio aos sulfetos
Galápagos e no Mar Vermelho. l)erfurações revelaram metálicos decantados, ocorrem numa estreita zona de
teores elevados cm Fc, Cu e Zn na lama recuperada, interação com a água oceânica oxigenada, ao longo dos
sugerindo sua associação às atividades de plumas
hidrotermais. Em 1977, cientistas operando um sub-
mergível explorador do assoalho do rift no Pacífico
Avalanches - São movimentações superficiais de fendas podem ter p(Jucos metros ele largura e alguns
grandes massas de neve, gelo, sol() ()U rochas, ou uma quilómetros de comprimento, como as que existem na
mistura destes materiais, que se tornaram eventualmente ilha ,ctlcânica da Islândia.
instáveis por diferentes causas. Esses fluxos de detri-
_-\s formas topográficas vulcânicas dependem da
tos podem ser gerados por abalos sísmicos que
composição química, deJ conteúdo de gases, da visco-
normalmente precedem uma erupção, (JU até mesmo
sidade e temperatura das lavas. I~avas pouco viscosas
chuvas muito intensas, aliados a uma f(Jrte inclinação
constituem edifícios vulcâniceJs com flancos suaves,
do relevo vulcânico. Levantamentos geológicos ao re-
ou ainda derrames extensos e espessos.Já as lavas muito
dor da base de vulcões d(J Havaí identificaram
,-iscosas não fluem com facilidade, eJ que resulta em
gigantescos deslizamentos submarinos de material frag-
edifícios com flancos íngremes constituídos, em geral,
mentado. Isto revela que a conexão entre grandes
pelo material fragmentado por explosões. O ambiente
avalanches e erupções vulcânicas pode ser mais co-
superficial é também um dos fatores que controla o
mum do que imaginamos.
modo de acumulação do material vulcânic(J. O
vulcanismo submarino em grande profundidade, por
17.2 Morfologia de um Vulcão exemplo, não é explosivo porque a alta pressão da
, água impede a formação e expansão de vapor. Como a
E comum pensarmos que a lava chega à superfície
água resfria a lava mais rapidamente que o ar, a pilha
sempre através de edifícios cônicos perfeitos, a exem-
de lava é geralmente mais íngreme que o perfil das
plo do monte Fuji no Japão ou o mc)nte Osorno no
acumulações de lava acima do nível deJ mar.
Chile, o que não é verdade. Muitas vezes, a erupçãci
se dá através de fissuras profundas na crosta que al- A seguir, descreveremos os elementos geométri-
cançam a ref,>Íão ()nde o magma está acumulado. Estas cos principais de um vulcão cônico (Fig. 17 .31).
vento
predominante
...._",.'
~llf.-,,. ' .
coluna
eru.ptiva
/ _,'
.-· /
i J
·;
• Cratera - Este termo é uma tradução literal do causar torrentes de lama, emanação de gases, (Qua-
grego krater, que significa um vaso de boca larga. A dre) 17 .2) ou mesmo a liberação de enorme volume
cratera representa o local de extravasamento do magma de água que eventualmente se acumulou na caldeira
e demais produtos associadc)s (Fig. 17.31). A chaminé, com o passar dos anos.
ou conduto magmático, liga a câmara magmática em
O famoso Parque de Yellowstone, nos EUA, está
prc)fundidade com a cratera. Com o passar do tempo,
localizado numa caldeira vulcânica com cerca de 2.800
as paredes da cratera podem desmoronar, causando o
km2• A ressurgência desta caldeira há 630.000 anos ocor-
seu preenchimento parcial. A cratera do monte Etna
reu devido à presença de um enorme reservatório
(Sicília), por exemplo, está atualmente a 800 metros de
magmático debaixo dela, liberando, durante a explo-
profundidade em relação ao topo e possui 300 metrcJs
são, mais de 1000 km3 de material. Esta estimativa
de diâmetro. Eventuais cones satélites podem apare-
volumétrica baseou-se nos levantamentos geológicos
cer nos flancos do vulcão, por um desvio do conduto
que identificaram a distribuição dos produtos
ou à medida que a chaminé e/ ou a cratera são bloque-
piroclásticos numa extensa região. O assoalho da cal-
adas pelo resfriamento da lava ou soterramento.
deira está sofrendo arqueamento e dilatação, processo
• Caldeira - O termo, derivado do latim tardio este iniciado há cerca de 150.000 anos, expondo ro-
caldaria, é aplicado às enormes depressões circulares, chas e estruturas profundas. O fenc:imeno está sendo
originadas pelo colapso total ou parcial da cratera e do estudado e monitorado, como forma de prever uma
topo do vulcão, por conta da perda de apoio interno, futura reativação.
seja pelo escape de gases, seja pela ejeção de grandes
No Brasil, a região de Poços de Caldas, Minas Ç-e-
volumes de lava (Fig. 17.33). O diâmetro desta feição
rais, uma estância hidromineral famosa pelas águas
pode ser superior a 50 km e a ela geralmente se asso-
sulfurosas medicinais e importantes jazidas de U, Th e
cia um sistema de fissuras radiais e em forma de anel
Al, é um outro exemplo de caldeira vulcânica. Sua
na rocha encaixante, preenchidas por diques ou que
origem se deu pelo abatimento de um cone vulcânico
servem de conduto para manifestações explosivas.
há cerca de 90 milhões de anos. Associado à estrutura
Tanto as crateras como as caldeiras de vulcões "dor- circular, com um diâmetro de 30 km, hoje parcialmen-
mentes" podem ser preenchidas por água (Fig. 17.34) te erodida, mas ainda visível em imagens de satélite
- uma feição de risco potencial na eventualidade de (Fig. 17.35), ocorre um sistema de diques em forma de
uma reativaçãc) vulcânica. Esse processo inicia-se pelo anel.
domeamento do assoalho interno da caldeira, c)u
ressurgência da caldeira. Uma reativação vulcânica pode
Fig. 17.34 Caldeira do vulcão Fernandina com lago ácido;
Arquipélago Colón (Galápagos), Equador. Notar o pequeno
cone satélite preenchendo parte da caldeira, cujas paredes são
muito íngremes, e mais ao fundo uma fuma rola. Foto: R. Trouw.
21°30'
22•00·
A distinção entre crateras e caldeiras é pc)r vezes pósitos piroclásticos ao redor dc)s edifícios vulcâ-
difícil. As crateras podem se formar tanto por cc)lapso nicos, sugerindo que feii o refluxc) do magma a causa
como por explosão do vulcão, ao passo que as caldei- dei colapso e conseqüente formação das duas de-
~
ras são produzidas em poucas horas ou dias, pelo pressoes.
vic)lento escape de gases e conseqüente reduçãc) do
volume do reservatório magmático. Além disso, cal-
17 .3 Estilos Eruptivos
deiras geralmente possuem diâmetros superic)res a 1km.
A morfologia do tope) dos vulcões I<.ilauea e Mauna Por que parte dc)S vulcões ocorre em cadeias
Lc)a no Havaí configuram, na verdade, caldeiras. Esta montanhc)sas, como ncis Andes, aci passo que em eiu-
interpretação é reforçada pela inexistência de de- tras regiões o vulcanismo se dá através de fissuras,
como foi e) caso dc)S derrames da Bacia do Paraná?
Neste item, veremcJs alguns parâmetros que determi-
nam os estilos eruptivos tão diferentes de atividades
vulcânicas.
··"f(;,'
;fl, ~
' ,, '
Placa
Eurasiana
Placa Placa
Eurasiana Norte
Americana Placa
Rainer Anatoliana
Placa Vesúvio
Sta.Helena •
Juan
Unzen de Fuca Placa
Bacia
Ok1naw
1 ··Fujíyama
'
Mauna Loa
.
'
Bacia
Guayamas
Ilhas ...-J(i/auea
. E/ Chichon Caribeana
:i,. ..~
Poás (!)
Etna - •
Santorini' Placa-J
Aráb·ca
Bacia "'o • Cabo Placa
Taal Havaianas Placa Cocos
• • Mariana Verde . Africana
·· Pinatubo Placa t/' Ruiz •
' -~---------/----~-~11:J!tt~-----------".>!'_____ b::il,:l.
-.,.,. Bacia .,§ Rift
•
r_ ig ")-'S~ t'
"
ilj Placa
Sul
• Americana
•
•
•
• vulcões ativos
• Placa
Antártica
• pluma h1drotermal -
Fig. 17.37 Distribuição global do vulcanismo. Notar o condicionamento geográfico em que a maioria dos vulcões ativos (em
vermelho) está situada ao longo dos limites convergentes de placas (azul). Apenas 15% do vulcanismo atual local·1zam-se nos
limites divergentes (traços em vermelho) e o restante em regiões internas das placas.
,.
CAPÍTULO 17 • VULCANISMO 365 •
lava
almofadada
crosta
oceinica
~
1\s atividades vulcânicas p<>dem ser classificadas p<>siçãcJ lJásica, <>riginad<J na astencJsfera (I1ig. 17.39).
como fissurais e cc11trais, em ft1nçà(J de stia lcicaliza- l"ais erupções t:1m!Jém sã<> clen<Jminadas de \·ulcanisn1(J
çã<J cm rclaçà<) às placas lit<isféricas e a<> tipc> ele seus de rifi por guarclarem associaçãc> c<Jm sistetnas ele
pr(Jdutos. As características desses prcJclut(JS, pc>r sua falhamentc>s sul1verticais (rifi-va//~ys). Trata-se de cc>n-
vez, vinculam-se às prclpriedadcs da lava e condiç(~>es juntc>s de vales submarincJs prcJfunclos a<J l<>ng<> das
de> ambiente da erupção. cacleias mcJntanh(Jsas mes<J-(Jceânicas, que se asseme-
lham às feiç<>es C(Jntit1entais cJriginalmente definiclas
•
na 1\frica ()riental (l~ig. 17.40). A 1nagnitude clessas C(Jr-
17.3.1 Erupções fissurais
Jill1eiras é ilustracla pela st1a clistril1uição pc>r mais ele
Neste tipo ele vulcanism<>, não há for1nação ele um 76.0()0 km nas pr(Jfu11clezas dcJs (1cean<JS.
cone vulcâniccJ. A presença de fissuras prcJfundas na
crosta permite a ascensão do magma, em geral de com-
derrames
antigos
As erupções fissurais representam, em termcis de ca exposto acima do nível do mar - representado p(ir
volume, o principal tipo de atividade ígnea terrestre, p(iis derrames e fontes de lava (denominadas cortina de fogo,
80% da atividade vulcânica d() planeta acham-se concen- Fig. 17.41) comuns também no Havaí.
trados no oceano (veja Fig. 17.37). Portanto, o assc1alho
Nos continentes, o vulcanismo de rift pr(Jduz (JS
oceânico originadci nos rift-vallrys submarinos representa
derrames de platô. Alguns desses são enormes, a
a extrusão contínua de magmas basálticos p(lr milhões
exemplo deis encontrados na América do Sul (F(Jr-
de anos, a partir de cordilheiras meS(J-oceânicas.
maçãci Serra Geral da Bacia do Paraná), América do
,
O vulcanism(J fissural p(Jde ser observado atualmente Norte (Columbia River) e India (Deccan), (Fig. 17.42).
na Islândia - um segmento da Cordilheira l'víes(1-Atlânti- No topo desses clerrames, podem ocorrer vesículas,
pequenas bolhas decorrentes do escape d(JS gases
dissolvidos na lava. r:stas cavidades podem vir a ser,
eventualmente, preenchidas por zeólitas, ametista ou
ágata, as amígdalas (Fig. 17.43). N(JS casos em que a
expansão gasosa tenha sid(J exp!(isiva, podem cicor-
rer as brechas (Fig. 17.44). Ncls derrames continentais,
o resfriamentcJ da lava prcJduz a clisjunção colunar.
Trata-se de uma feição peculiar de ruptura geométri-
ca do material rochoso que se associa à contração
muito rápida do magma a(J se scilidificar (Fig. 17.45).
3 4
,
Fig. 17.42 Area do vulcanismo da Formação Ser-
ra Geral, Bacia do Paraná, comparada a outros
derrames de platô.
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1
1
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tmn~o> pt()cesso que emiué. •
.,lf.,:~t:í\tllar~éhoje (Fig. 17.36; Cap. 6). As ilhas
1
· • .r,~ando de Noronha (12,3 milhões de
ahos) e.Trindade (3.5- ZS milhões de
,anos) são alguqs dos,mate()S vulcâni-.
,,:fu's, hoje «iro da Çaq.~•
., Meso-A ..taw· .~. ,~.t:.'fü
-basalto
17.3.2 Erupções centrais
Fig. 17.51 Estrato-vulcão Osorno, Ch.ile. Foto: W. Teixeira. Fig. 17.52 Vulcão Lascar (l 993), região de Antofagasta (Chi-
le). Foto: C. M. Noce.
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370 D E CIFRANDO A TERRA
• Vulcões de escudo - o cone é em geral de grande • Domos vulcânicos - são formas resultantes da erup-
dimensão, com várias dezenas de quilômetros de base ção de lavas félsicas extremamente viscosas. A lava, em
e poucos quilômetros de altura. Seus flancos apresen- vez de fluir como nos derrames basálticos, acumula-se
tam declividade muito suave, em decorrência da baixa numa feição dôrnica com encostas íngremes e topo arre-
viscosidade do magma (Figs. 17.54, 17.55). O vulcão é dondado (Figs. 17.56, 17.57). Devido à alta viscosidade,
edificado pela sucessão de derrames de lava de compo- os gases geralmente permanecem aprisionados na lava,
sição basáltica com baixo conteúdo de gases. As e, quando a pressão aumenta muito, ocorrem explosões
erupções ocorrem freqüentemente pela cratera ou pelo que fragmentam os materiais formados e, ao mesmo tem-
flanco do vulcão. Comumente, o magma não emerge po, contribuem para o crescimento do domo. No caso da
imediatamente, mas se acumula em câmaras magmáticas erupção do vulcão Santa Helena (EUA), em 1980, ocor-
subjacentes. O extravasamento é relativamente calmo reu uma intumescência no flanco da montanha, uma vez
(quiescente), eventualmente formando lagos de lava que a cratera era muito pequena. Atualmente, está se
borbulhante na cratera ou caldeira, devido às condi- formando um novo domo no interior do flanco aberto
ções físicas da lava. pela explosão. Fenômeno semelhante está também ocor-
Vulcões de escudo são encontrados no Havaí rendo na caldeira do Parque Yellowstone.
(IZilauea, Mauna Loa; Fig. 17.37). O monte Mauna Loa,
apesar de ter sido construído em alguns milhões de
anos apenas, é o mais alto vulcão de nosso planeta,
superior ao Everest (8.848 m). Seu topo situa-se 4 km
acima do nível do mar, sendo que a maior parte do edifí-
cio encontra-se submersa. A sua base, com um diâmetro
de 120km, está a 10km de profundidade.
domo
wlcânico
lago de
. · 1ava -
.... -~::::. i
fragmentos
de rocha Fig. 17.59 Cone piroclástico em formação na ilha do Fogo.
Arquipélago de Cabo Verde. Fonte: Instituto de Investigação
material Científica Tropical, Lisboa.
piroclástico
·-E
CII l1ue h< >jc sal1em< is ljLIC existem entre 500 e (iOO vul-
~ 80
c<·>cs ati,·c>s na 1'erra e lJuais sà<J <>S ele n1aic>r risc<J.
Ili ,\ssin1, p<>eletn<>s ccJn1preeneler as causas 1,ri11ci11ais ll<i
t. '>r ·.
1970 1980 1990 ANOS terrÍ\'el registr<J l1ist<'>ricc> legadci pela evciluçàci ge<>lc'i-
Fig. 17.64 Relação entre a transmissão da energia solar que gica ll<> 1,la11eta, represcntael<J, a1,er1as nc>s últin1cis .SOO
passa na atmosfera e as erupções dos vulcões EI Chichón e an<>s, 1,ela perda <le 2()0.0()() villas!
Pinatubo.
Pc>r <iutrcJ lall<>, c<>l11<l p<ieletn<>S avaliar se utn vul-
cãc1 está esta\)ilizael,> <>u a11cnas "elc1r1nente", <Ju att1da
fciran1 transpcirtael<is pcir vcnt<JS cstratc>sfériccis, e1uc, C<>l11<> J,<>de111<JS 11reYer eiuanel<> se llará <> m<>t11e11tc1
TI() caS() el() l•J c=hichc'in, circunclaram a Terra cm arie- exat<J ela c1nissãc1 ele gases tc'Jxicc>s <>u 111esm<> ele
nas 1 n1ês. Passaelc>s 12 meses elesta erupçãcJ, a 11uven1 utna eru11çãcJ? l•:ssas resJ,<JStas têm itnJ,<irtância 11àci
estratc>sférica atingiu seu efcit<J máxi1ncJ na l~urci11a, e se'> para a c<>mprecnsãc1 cl<> clima gl<il)al, C<Jl11C> já
scJn1c11te em 1985 as 1nediçi>es ele transmissãc> da ener- viste>, n1as taml)étn 1,ara as 11<>J1ulaçc:íes que \'Íven1
gia sc>lar rctcirnaram a<Js níveis pré-erL1pçãcJ. nas 11r<>xin1ielaeles <le vulcc->es e até· para fins ele> a11r<J·
vcitan1entci raci<inal ela cncirn1e e11ergia tcrn1al
RcgistrcJs adici<Jnais da influê11cia clci vulcanismc>
ass<>ciaela acis vulcc:íes.
ctn granelcs n1udanças cli1náticas feiram <Jl)tielc>s a partir
ele S<>nelagens clci asscialhci elcis c>cea11c>s. 1\1nc>stras re- l)c>r excn1pl<>, e> exame d<>S prc>clut<>s de eru11çc:íes
Cl1peraclas revelaran1 e1ue a e1uanticlaclc ele cinza passaelas seryc ele guia para ci cstal)clccin1cntc> ele u111
vulcânica ncis seclimentcis depcisitaelc>s TI<> asscialhc> 1/.<>nea111er1tcJ seg;ur<> el<J use> el<> sc>lc> e111 rcgi<:ícs vul-
<>ceânic<J aumc11tc>u há cerca de 2 n1ill1<:íes ele a11<>S e cânicas, a tnceliela tnais efetiva para re<luzir fatalilla<les.
tetn-se n1anticlc1 alta desde cntãci. Este pcrÍ<>d<i tctnp<>· 1\lén1 dissci, instrun1ent<is sc11sÍ\'eis p<idem detectar
ral C<>ir1ciele exatamente ccJtn a glaciaçãcJ gl<Jl)a! de> sinais lla ativielalle vulcâ11ica 1,rec<Jce, tais C<>n1<> sisn1<>s
Pleistc>cenc>, dcm<>nstranelc> e1ue ci increment<J ela ativi- intertnitentes ass<>ciael<>s i1 111<>vin1entaçãc> d<> n1ag;1na
dacle VLilcânica pcissi,,elmentc se asscJcic>u à e1uccla da en1 pr<>funclie-!aele, dilataçã<> e it1clinacà<> li<> terrencJ
temperatura ela épcica. Alguns cientistas, tc>clavia, nãc> vulcânic<i, e as e111issc->es ,u;ascisas que -~eralt11ente ;1re-
ccJnsideram esta evielência cc>mc> ccinclusiva, uma vez cedc111 as eru11ç<:íes. T<ielavia, apesar ele t<>ll<i <> a,·anc<>
e1ue a coleta ele a1ncJstras ele scelin1cnt<>s c>ceânicc>s mais científicci alcançaelc>, pern1anece111 <>S risc<Js latl'ntes
a11tig<1s não é SLtficienten1ente ampla 11ara cml)asar u1na de vulct'íes ccim<> e> Vcsú,·i<J ((~u.tllr<> 1-.,1,. que apc'>s
cc>mparaçàcJ científica. séculc>s ele i11ati,,ielaelc c11rrc1u en1 erupcào repcnti11a-
r11ente.
De tc>elc> mciel<>, sabe111<>s que a interaçãc> ela atm<>S·
fera, ciceancis e superfície dc>s cc>ntincntes é Setn elúviela, <>s ete1t<>S carastr<'>t!C<>s elas eru11-
cxtre1na1ncnte ccimplcxa e que <> Yulcanism<i é apc11as çc:ícs p<>elem ser n1inin1iz:1d<)S com a C<>111\1inaçà<1 ela
um elos fat<ires, entre ra11rcis <>Lltr<>s, que inf1ucncian1 e> ciência e p<llítica pública. r:m al~L1ns casc>s, é p<>s-
clima da Terra. [>c>rén1, inelepcndentc1nentc elesta sível, inclusive. rre,-er onde a erupçà<i terá lugar a
C<Jnstatação, permanece un1a ÍI11p<>rta11te pergunta para partir ela l<icaliz,1càcJ do foc<1 ele tcrremc1tc>s e ele
a ncissa rcflexãc>: até que pc>ntc> a frce1üência e a mag11i- alteraçc'ícs n< > padrào das anelas sís1nicas, c1u ainda
tL1dc elas erupçc:íes vulcânicas afctan1 <> nc>ssc> clima? c<intrc>lar, n1esm<l que em pe9L1cna escala, a erup-
() enteneliment<J ele> vulcanisn1cJ e a quantificaçãci ele çà<J, de 111< >d<> a reduzir eis SCL!S elan<Js. \.>or c1casià<J
seus cfeitcis são, sem clú,·iela, un1 elesafi.c> para gcc'ilc>gc>s, ela erupcàc> de 19- 3 ncis arredcJres dcJ pc>rtci ele
mctec>rc>lc>gistas e climatokigistas, ainda mais p<>r caL1sa Hein1ae, Islândia,. a p<lpulaçã<J !)cJ111bccJlt a água
elas implicações fundamentais para a viela. gelacla li<> ocean(J para jcigá-la elia e n<Jite scJl,rc a
Fig. 17.65 Estrato-vulcão Santa Helena: cenário anterior e posterior à erupção de maio de
1980. O impacto explosivo com ventos arrasadores ocorreu em segundos na região, sucedido
por um /ahar que destruiu um floresta de l O milhões de árvores. Foto: US Geological Survey.
lava e1uc avançava. C:e)m isse), cc)nscguiL1-sc resfriar tla11cei de> VL1lcãc1. Rcsultaclei impressicinante ela tra-
a SL1perfície ela lava, diminuinl-le) lentamente ei seu géclia: 57 meJrtes, t1ma área de 4()0 km 2 totalmente
flux<J, <J c1ue evitciu e1uc <) únice) acessei e-las em\-Jat- arrasada e cciberta pe)r cinza vulcânica, cc)m danc)s
caçe-Jes ae> pc>rtc) fcisse ble>qLteaelo. materiais supericires a 1 bilhãcJ de d<'>lares america-
ncis. C:cintudo, Lima efetiva açãcJ da defesa civil e
A explosãcJ de> mc>nte Santa I Iclcna - ei n1ais ati-
elas instituiçc)es gc>vernamentais pc)ssibilitciu a reti-
ve) estratci-vulcãeJ da cadeia ele mcintanhas jeJvcns
racla prcivillencial de milhares ele pesseias da zona
expc>sta desde a (~alif(Jrnia Setentricinal (I~l11\) até a
ele risccJ dias antes da crt1pçãc).
CcJlúmbia Britânica (C~ar1aelá) - cJccJrrcu cm 18 ele
maiei ele 1980. Seguiram-se diversas eJLttras cxplci- ;\ ,,ic)lência elci cataclismc) deveu-se à intrusãe) de
s e>es e dcrramamente) ele lava ne>s seis anc)s magma de caráter viscoso ceim alte) tec)r ele gases elis-
seguintes, até CJ vL1lcãei entrar cm rcpoLlSl). 1\ pesar scilvielos (principalmente 1-1 2 () e (~()), em torno ele
de) Santa Helena estar sene{ci dctalhaclamente 6l1/ri (cm pese>). Trata-se de um valc1r muito alto se cc)m-
mciniteiraelcJ, a prin1eira pesseJa a mcirrcr fcii L1111 paraelci com CJ ceinteúelci de gases no mah:rrna ele) vulcão
vulcanc'ilcigo que trabalhava na estaçãe> sismc>gráfica, J<._ilatiewa (HavaQ, c1ue é de apenas 1(1/o. Como resulta-
sitL1ada justamer1te na base elo flancci norte da mcin- clci, eice>rrct1 o conftnamentci e rctarelamento dc1 escape
tanha que cxplcJl-liu. ele)s gases interncJs dei magma no Santa Helena até qtic
as presse)es atingiram níveis tão altos que ccJnduziram
A primeira erupçãci, segundcJs apc'is tim feirtc trc-
à elesesta!Jilizaçãc) elci ,,ulcão e à grande exple1são. Tam-
meir que causciu <) ccilapso elestc flanco dei ,,ulcãe>,
l1é1n impc)rtante é o fateJ que erupçe>es ainda maiores
fe>i ceinsielcrada a n1aicir elcis últin1os 60 ar1eis ne>s
clci vtilcãci Santa Helena c>corrcram ncJ passado (Fig.
RlJA. 1,ançc)u cerca ele 1 ktn' de pc>eira e gases na
17.66). PcJrtantcJ, cJutras podem ocorrer nc) ft1tt1rci.
atmcisfcra, proeluzinllo um cc1gu1nclcJ ccJn1 2().()00 m
I\inda mais preeicL1pantc pc)rém, é a existência ele ou-
e-le altura (Figs 17.62, 17.65) - material este sufici-
treis vulcc:ies "c-!cJrtnentes" come> cJ mcJnte Rainier, nas
ente para ce)nstruir 400 ,~randes pirân1illes! ()
prcJximidaelcs de Seattle (EUA). É eviclente o enorme
impactei explcisivc) gcrot1 vcntc)s ,,ieilentíssimcis, c1ue
riscci ela pc>pulaçãeJ da região fronteira F,UA-Canadá,
clevastaram uma flciresta ele 1 O milhoes de árvores
parte dela resielinelo inclusive scibre depéisitos dos !ahars
(Fig. 17 .65). Destruição aelicional feii causaela pcir
prcJduzieleis pele) Rainier a cada 500-1000 anos.
um gigantesceJ lahar inl-luzic!e) pelei ccilapso l1CJ
CAPÍTULO 17 • VULCANISMO 377 •
(~atástr<>fcs cc>n1r> essa revclan1 a imp<>rttu1cia d<> () mcJnitclramcnt<J ele c1nissiics t(ixicas ele gás e
mc>nit<>ramcntci ll<Js vulciics 1nais perig<lscis (1\1!Jela seus cfeitcis tan1!Jén1 faz parte dcJS pr<Jgramas ele re-
17.3). l)<>t cxcn1pl<J, lag<JS ácid<JS !Jcielc1n se instalar n<J el uçà<> ele risccJs vulcâniccis, sendci de grande
t<JJ1<) ele vLilceJes e ci ITI<lnit<Jramc11t<J de variaç<Jcs 11as i111pclrtância para <J ser human<J e seu habitat. Pcir exem-
ccJncentraçeJes ele elcn1cnt<JS ccJmcJ Na, 1\Jg e S auxilia ple), a cn1issà<J ele S( )2 e <>utrcis prilucntes pelei vulcàci
na 11revisãci da ascc11sà<J eleJ 111agrna. l)<Jr ciutr<> laelei, I(ilauea interagem L]LIÍmicamentc C<Jm <J () 2 , eJs vapci-
satélites pcrn1itcn1 ielcntificar cxplciseJcs vulcfu1icas, eJ res attneisfériccis, a p<icira e a lu7. S<Jlar, rcsultandci cn1
CjLte C:· 11articularmentc im11cJrtantc n<J mcinitcJran1ent< > ncl1lina e chL1va áciela. () primcit<J preJclutcJ vulcânicci
de regi<Jcs rc111<Jtas ceHn tráfeg<i aére<l, Ltn1a vez c1uc traz riscci para a saúelc, p<lis agrava enfcrmielacles rcs-
radares llcis avicJes nãci dctectan1 as nuvens ele cin1.as. piratc'irias, aci passei que a chuva ácie-la pcle-le contaminar
J\cide11tes <JC<1rre111 c1uar1elcJ as cinzas vulcânicas ci S< >l<J, a vegctaçà<J e as reservas l1e água pc)tável.
superac1uccielas e clcnsas sà<l aspiraclas pelas tL1rl1inas N eJs I ,; LJ ;\, elesdc 198(), têm sielcl cstuc1aelas as imc-
de aereJt1aves, causanelci sua qucela. cliaçcJes <la m<intanha Mammcith (na c:alif(irnia) - um
Nà<i 111c11eJs in1pclrtante é <J prcJlJlcrna s<Jcial cnvcil- vulcàcJ jcivcm cujas últin1as crupç<Jcs <lCclrteram há
vill<i ccim a 11rcvisã<J desses desastres naturais, eJ cjuc apenas 200 an<lS - cinde tcrrcmcit<lS sãci frcc1üentcs.
passa 11eccssarian1cnte pelei ccinvenciment<J lias aut<Jri- r,:m 1989, intermitentes trc1ncJres ele magnituele baixa
elac-lcs gcJvernatncntais. Sem elúvida, a n1aic1r ra?.:'i<J ele fcJram mcJnitcirallcls peleis cientistas, aci n1esmo tempci
ter <JC<JtrielcJ um n1cnclr númcr<J de vítimas fatais nas eJLtC cilJservaram a mcirtc elas árvcJres ncJs flanccis ela
n1cintanl1a. () fcnc'.imc11ci se cleL1 cm funçàci da emissàci
cxpleiscJCS llci Santa I Iclcna e ]linatulici f<)i a 11<Jstura
ele etl<Jttnes vcilumcs ele (:( )2 ciriginael<JS elcJ magma
preventiva allcitacla 11clas autcirielaeles.
. ,tulcâ#ii:;as. Este lago localiza-se nunra cratera que integra uma zona cc>m vulcões na Africa Oi:;idental,
~â:i,ip~ del~s iltivos qos ülcimos.1 O milhões de anos. No dia 21 de agosto de 1986, repentinamehte, tonela~ ·
4ils q:~•[g~s ÇQ2 e 802 emanaram da superfície do lago. Mais pesados que o ar, estes gases ê6.i{icos
espallilarahl~se silenciosa e rapidamente vale abaixo, encapsulando três vilas nas proximidades do 'Vulcão. ·
:E~ ~eno!i de 10 min1;1to~, 1.700 habitantes e 3.000 animais morreram sufocados pela falta de oxígêrtiq. •
i 't.J~~\':~~q~~iâ s~l'n_~]r1ante, porém/de menor• magnitude,• ac;onteceu .em 1984 no· lago Monoun~i distante .·
!·•~!2Q•~iil d~>]agq,Nyos,
>,,'",,<,'',,:S, \,
causando a morte de 37 pessoas, mas pouca·inrportância foi dada então ao.fâto. ·.·
\o,:ii,,\;;,L,O:<]:(':(,;'.':'i'<'''.';°i,, :;:;-,/'',,, \:'.>:',<: ,-, :'-'',',, , ', , , ", ,, , , , ,, ,;/--'-',, , ,,':-'-,,, '
• ~Iíttbs,•da.~pôca nrene'iooaranr que este primeiro desastre foi precedido por um ruído semelhante ao de .
~~lit.a~ão ao .ãterriss~., acompan.hado por um sismo. Possivelmente, este sismo causou uma mudítnça ·
·. . . . . . ·. 'iija:.no suJ:>Strâiõi do lago., pertnitindo a emissão gasosa letal, descrita pelos sobreviventes eq.lllO .·
ijfa,m~rg~r;e acidêz. Os·corpos~rtca.ntrados apresentavam queimaduras· e estavam espãlhaelot.nas·.·
1'0 •••••.n••· .. ..·. a.s•i!O r~dordoJago, cotl,fi~~ •. •. () que a nuvem muito densa propagou;;sê próximo ílocil:lâlo..;.
.·. . ~e.~~ê<ás. queit;niaduras tenhafil,; •• . . .fllsadas pelo ácido sulfúrico, uma vez que. o ódor.4arâ~te~ .· .·
. . 'OO°~i:.ij~m~lat•a.o do lago Nyos. PossiJC!!. l~it;e, a emanação de co2 foi acompanhada ainda de outtóS .
t:t{98~9 Q ácido sulfídtico (H2S), detÍuij~i~i9 pelo odor característico de ovo cozido descrito pelos·.·
.' btê~i~entês.
', '"' '""''' ,,",, "' , , ' , ,
. :: i •. ·
:c:r::,<,"
Montanha
·Mamute
abaixo
da superfície .,. ' '
·árvores
•. secas
1
banco de
r
"
neve
_epressão
Fig. 17.67 Ilustração da emissão de gás C07 na montanha Mammoth (Califórnia). O magma em ascensão causa rupturas na
rocha, propiciando a liberação de grandes volumes de gás. Estes, ao alcançarem o solo, matam as raízes das árvores. Existe risco
potencial de acúmulo do CO: em depressões e áreas pouco ventiladas, pela sua maior densidade em relação ao ar.
380 D EeI FRA N oo A T ERRA
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na Terra
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1 1 mm 1
Fig. 18.1 O can1po do metamorfismo em diagrama P x T. O
asterisco indica as condições de pressão mais elevada Fig. 18.2 Arenito corn textura sedimentar elástica bem sele-
cionado, poroso e com grãos de quartzo arredondados (a) e o
registradas em rochas atualmente expostas à superfície da cros-
seu equivalente metamórfico, um quartzito (b), com textura
ta terrestre. A - curva de fusõo para granitos sob condições
granoblóstica em niosoico (poligonizado), onde os grõos de
hidratadas (P, 01 ~ P1- o); B - curva de fusõo poro granitos sob quartzo preenchem todo o espaço, tocando-se através de con-
72
condições anidras (PH)o=O). tatos retos que fazern junções de 120° entre si.
t\s icléias m<)elernas S<JlJre ci metam<>rfismc> C<)- Otz) = CcS O · .-.,::; 1aston·1ta - Wo) + C02 (fase fluida), sob
condicces oe ;cse fluida hidratada (P 11 =PH o), mista
meçaram cc>m <)S cstuel<)S ele \'iktor c;c>lelschmielt, 2
(P 11 =PH o-:::cO . , l) e carbônica (P11 =Pco)·
elesenv<)lviel<)S na prin1cira elécaela el(> sécul<> XX
() grande avanço no entendimento c1cJs processos
•
metamórficcis occirreu na segunda metade dei século
XX, a partir de experimentos laboratoriais com mate-
riais crustais sob condições de temperatura e pressão
elevadas. As características termodinâmicas da cristali- • ..
zação de minerais e de suas associações em cquilibrio
tornaram-se conhecidas e técnicas analíticas scifistica-
das desenvcilvic1as para determinações do quimismci e
idade de minerais e rochas permitiram a modelagem
da evolução de terrenos metamórficos.
<> pr< >cess<J 111etan1<·irficcJ, c<in1 tr< >cas ele elemcnt< >S en-
tre <> íluielcJ e <JS n1inerais recêrr1-fcJr111acl<>s. 1i,11'1 r<>chas 5
p< ilires cn1 t1uid<>s (IJt1 < < P10 ) as reaç<'ies n1etan1<·irficas
sà<> lentas p<irqtre t<icla tnigraçà<J clc>s eletnent<is se fa:,:
p<>r difusà<J i(>nica en1 n1ei<> s<'>licl<>, através d<>S retíctrl<>S
300
cristalin<is cl<is n1inerais, clificLrltanel<i <> Jlr<>cess<> ele trar1s-
p<>rtc ele c<Jn111<H1entes e1uír11ic<>s. Temperatura (°C)
Fig. 18.7 Exemplos de possíveis caminhos P-T-t para
rnetamorfismo regionu'. de alta, média e baixa pressão. Notar
18.2.4 Tempo
que os caminhos de alta e média pressão exemplificam desen-
() temp<> é uni fat<>r in1p<>rtante n<J 1netarr1<>rfism<i, volvimento no sentido horário, enquanto o caminho de baixa
pressão, neste exemplo, segue sentido anti-horário.
n1as ele ditTcil aferie;à<i r1a 11rútica. 1im n1uit<>s cas<>S, rea-
ç<'ies n1etan1<'>rficas se 11r<>cessa1n de n1a11eira relativ:u11ente
le11ta err1 resp<>sta às n1trclanças elas c<H1cliç<'ies físicas, f<>r-
mancl<J-se asscJciaç<'ies minerais e texturas "n1istas", e1uc
registram t<>ela a série ele rnuelanças qtte a r<>cha s<Jfreu
18.3 Processos Físico-químicos do
aclafJtanel<>-se C< >nÓnttatnentc às n<>Yas ccJneliç<>cs. C:c>n- Metamorfismo
tt1cl<i, a velc>cielaele C<)n1 e1ue essas n1uclanças c>c<irrcn1 é
n1uit<1 variável e, er11 <Jutras sittraciies,, as cc>ndicc'ies
'
18.3.1 Metamorfismo
metaméirficas variam ele fcirma st1ficiente111ente lenta para . , .
1soqu1m1co x
.
metassomat1smo
que as reaç<'ies rnetam<'irficas se c<Jn111lett:n1, 11r<Jelu:,:in-
elci r<>chas c1ue registran1 apenas urr1 cleterminad<> i11stantc l'n1 deis pr<JlJlemas f11nelamentais da JJetrcil<>gia
- aquele c1uc as 111c>clitic<Jlt p<>r últitn<> - cl<> regime 1\letan1círfica é elefinir se ttn1a cleterminacla r<>cha scJ-
metam(irfic<>. b:n1 geral, as r<ichas re1--,ristrarn, de 111aneira freu <Ju nà<i 111<Jelificaç<'ies na s11a C<Jn1pc>siçà<J c1uímica
mais efica?., as C<Jnclic<'ies
'
rnetam<.>rficas n1ais i11tcnsas a durante <> metatn<>rf1sn1<J. Há duas situac<'ies extremas:
.,
c1ue fiJran1 sulimeticlas, p<>rérr1 às \'ezcs este rcgistr<> é 11a primeira, a r<icha p<>de se cc>t11p<>rtar c<imcJ ttm
cJl1literacl<J pcJr reec1uilí11rÍ<>s S<>lJ c<>ncliçc'ícs r11ais lJrar1- sistcrna fecbaelc>, sen1 ganhei nem perc-la ele C<Jnstituiri-
clas, en1 C<>nsecJüência cl<> rcsfriar11ent<> c1ue <JC<irre a<> tes quírnic<Js <Ju, na seguncla, ser sul1111eticla a variaç<'íes
final ele um episcíclici metamc'irfi.cc>. C<>111p<>sicÍ<Jnais it1tensas. t\<J prin1eir<> cascJ, ccJns\cle-
J~stuclcis gecJcr<)n<il<'>gic<>s e rn<Jdelagens tcc·>ricas ra-se que<> n1ctan1<>rfism<1 fc>i is<>quín1icc>; nc) segunclc>,
baseaelas err1 regimes termais atua11tes na cr<>sta 111cJS- ci r~rcicess<> é elcn<>rr1inacl<> mctassomatismo. Para
tram, para terren<Js 111etam(>rftc<is, eYent<>s ele l () a 50 efeit< >S prátic<Js, pc>cle-se assumir que a mai<>ria dcJs
J\1a ele cluraçàci. 1\ evcJluçàcJ metan1c írfica ele u111 ele- ar11!Jientes metamc'irficc)s ccimpcJrta-se cc>m<> sisterna
terminaclc> terretl<J a<J kingc> cl<> terr1p<> cc>stun1a ser parcialn1ente alJertcJ, <icc>rrencl<> trcJcas li\'res de ílui-
rctratacla pcir diagramas, cJtl caminh<JS 1)-1'-t (pressàc> cl<>s c<Jn1 ei n1ei<i, pc>rém cc)m variaçc'ies desprezíveis
- temperatt1ra - ten1pcl - Fig. 18.7), <inde a \'ariaçã<i 11ara <>S ele111ais c<H1stitui11tes c1uín1ic<is. F:sta premissa
elas ccJndiç<'íes rnetam(irficas é expressa ccJnl lJase na te111 se tncJstraclc> satisfat<'iria para a n1aieJria d<JS cas<is,
pressà<> litcistática (geralmente, C< >111 JJ11t = [) 11 ) e tc111pc- p<>ré1n é precis<J estar sempre atente>, p<>Ís pc>clem
rattrra ('f) a<> l<>r1gci ele um cami n l1<J c1ue indica a <>C<>rrer variaçc'ies c<Jt11pc>sicic>nais significativas entre
t:v<>luçàci ten1pc>ral (t) clesses par:unetr<JS. <> pr<Jt<ilitci e a rcicha metamc'irtica resultante.
18.3.2 Paragêneses minerais l]Uc ;1cc )!ltece lcig<> r1c1 iníci<l d<l mcta111<irfismc1 ele r<i-
chc1~ pcliticas:
J\ asscml)léia mineral cm ec1ui!í1)ric) ele uma r<Jcha
cha111a-se sua paragêncse mineral. Nas r<)chas \]Si_ C); (() 11) 4 (l(ln-ca< ilinita) + 2 Si()2 (Qtz-e1uartzci)
mctamcJrficas, a ielcntificaçã<i elcsta "asscml)!éia mine- \LSi ,C ) 11 ,(C )1-1) 2 (llrl-pircifilita) + 11 2() (fase fltiiela).
ral cm cquilí!JrÍcl" nem sc1npre é imccliata: nas C:c llll <J incren1cntci Llci grau metam<írficci, a pit<lfilita
assembléias minerais naturais, CJ clcsceJl1i!í1)ri<J é a re- arinl!e
, ~cu li111ite 111áxit11<J ele estal)ilidaelc, <JC<Jrrc11ehl en-
gra. Nci cnta11t<J, as rclaç<>cs tcxtt1rais f)crmitc111
rccc)nhcccr as "tenelências ele ce1uilíbrici" mcstnci se este
.\l .Si 1C) 111 (C)I 1) 2 (]lrJ-pir<Jfilita) ;\] 2 Si();
cquilí!Jri<) nà<J tiver siel<l ati11gidcJ plenamente. ()s tra-
(alun1i11c>ssilicatcJ: ;\nel-anelaluzita c>u l(y-cianita) + Si()2
lJalhcis experimentais C<Jn1plcn1cnta111 as cJbscrvaç<>cs
((Jtz-quartz<i) + lt,C) (fase fluicla).
feitas ctn assembléias naturais, per111itincl<J assim ielc11-
tificar paragênescs ideais. () alu1nin<>ssilicat<l fc>rmael<> 11csta rcaçà<> elc11cn-
derá elas C<>t1cliçc>es de prcssàcJ: sc>IJ pressc->cs
Rc>chas de ccimp<Jsiç<>es e1uímicas ce1uivalentes p<)-
rclativan1c11tc !)aixas (< 2,S kl)ar), serft a a11daluzita, e
elen1 apresentar assc1nl1léias n1incrais elistintas cn1
S<>li pressc>cs 111ais altas, a cianita (l;ig. 18.<)). Ju11tan1c11-
funçãci ela variaçà<J dc>s fat<ircs atl1a11tes durante <>
tc C<Jlll a silli111anita, estável a te111pcraturas 111ais
mctamc>rfismcJ. C:cJn1<J cxcmpl<J, uma rcJcha
clcvaelas, estes n1i11erais C<>nstitucm um tric> de
mctam(Jrfica A exil1ind<J uma asscml)léia mineral ccin1
p<llit11c>rf<is (minerais c<i111 mesma cc>rr1pcisiçãc>, n1as
clcJrita + epíelcltci + actincilita (a11filJcilicJ cálcic<J ferrci-
ccJt11 cstrutLtras cristali11as elistintas - ( :ap. 2) muitci im-
magnesian<l) + al!Jita tem a 111es111a cc1n111<>siçãcJ
J1< >rtantc na interprctaçãc >elas c< >neliç<>cs rcinar1tcs c111
e1uímica c1ue <Jt1tra r<icha B, cc1nstitt1íela ele plagi<>clúsi<>
tcrrc11c>s 111eta111<írt1ccis (1 ;ig. 18.8).
+ granaela + h<irnl1lenela (anfilJc'ili<J cálcic<J fcrrcJ-
magnesianci alumin<Js<i), clifcrindci entreta11t<> 11cl<> /
e/ <Ju carl1<inatadas; e) assembléias pre,-iamente hielrataelas - Al 2 Si 4 Ü (0H'_ ::,, -:J 'O: :•a - H O 'fase fluido), (2)
10
gerandcl asseml1léias anidras e t1n1a fase fluiela rica cn1 Al 7 Si 10 10
(0H) :P,i-::i 'º: ·o = ALS:O. oiun1inossilicoto: And-
H 2 C); e assim pcir diante .•\ reaçàc> ele fcirmaçà<J da ondoluzito ou K.,-c c,.,i•c - S,O: Otz-quortzo) + H7 0 (fase
wcillast<inita a partir ele quanz<J e caleira, previamente fluido), e (3: K,.'.,,,S;,O :iOH: i,V,s-rnuscovito) + Si0 7 (Qtz-
aprescntaela (I•ig. 18.3) é u111 exempkl e-le reaçãci ccJn1 quortzo) = K.'.,,Si:Ü, 'K:s-ie dspoto potássico) + Al 7 Si0"
parametros; in,,erso para zonas mais rasas. Há, nci entanto, algu-
mas situaçc"íes ele metamcirfismo regional em que
c. a localização e extensão na crosta terrestre; as relações entre pressão litostática e temperatura
d. os tipos de rochas metamórficas que se formam. são anômalas, como nos terrenos de alta pressão,
CAPÍTULO 18• ROCHAS METAMÓRFICAS 389
a b
·Hornfels 11
Ardósias,
filitos
7
Granito
100 m
,,
,.,
Protomilonitos,-,
r' ,., ,., i ,.,
:
r' '!f r'
~
-::.,,,,r..,;r,-,
,., ,.,
,-!. ,., r' ,.,
r' r'
r'
r'
1
r r' r' r' ::.-;:, • ,
r' ,., ,.,r' r' ~ '? ._,., ,., r' r'
,., r' ,-!. ? ,., 2
r' ,-, r' r' , ( rc1. ;,; r' r' ,-, r' Ultramilonilos
: ,.,,_, ,-,,(r-!. l11 1
/ 1 l 1 1 Falha Transcorrenle
1 1 l l/ 1 1
1 1
1 1 1i 100 m
e f
Granito
Magma
basáltico
18.4.6 Metamorfismo de fundo oceânico Felizmente, alguns tipos de r(Jchas sã(J mais fre-
qüentes na crosta e o metamorfismo se desenv(Jlve
Ocorre nas vizinhanças d()S rifar elas cadeias meso-
segund(J padrões repetitivcJs. Assim, é possível
oceânicas, onde a crcJsta recém-formada e quente interage
correlacionar entre si rochas de comp<)sição similar
com a água fria do mar através de processos de terrenos metamórfic(JS distintos. As variações sis-
metassomáticos e metamórficos termais (Fig. 18.10f). A
temáticas na composiçã() mineralógica, textura e
água aquecida carregandcJ íons dissolvidos percola as rcJ-
estrutura das rochas metamórficas p()dem ser segui-
chas básicas e ultrabásicas da litosfera oceânica segundo
das de maneira mais ou mencJs contínua em muitos
um movimento convectivo, removendo ou precipitan- terren(JS. Adici(Jnalmente, estud(JS experimentais per-
do elementos e provocando sensíveis mudanças químicas.
mi tem reconstituir as cc)ndições sob as quais se
Pode ser consideradcJ um tipo particular de
desenvolvem as reações metamórficas e analisar as
metamorfismo hidrotermal, em escala muito ampla.
variações das assembléias minerais, além de fornecer
dados termodinâmicos para a mcJdelagem teórica
18.4. 7 Metamorfismo de impacto dessas transf(Jrmações.
De extensão reduzida na crosta terrestre, desenv(Jl- Tanto em auréolas de contato, quanto em áreas de
ve-se em locais submetidos ao impact(J de grandes metam(Jrfismo regi(Jnal, as variações nas paragêneses
meteoritos (Fig. 18.1 Og). A energia do impact(J é dissipa- minerais acontecem de mcJdo transicional. Essas vari-
da na fcJrma de ondas de chcJque, que fraturam e ações servem de base para a sistematizaçãcJ do
deslocam as rochas formando a cratera de impacto, e de mapeament() destes terrenos: procuram-se definir fai-
calor (com temperaturas que alcançam até 5.000'C), que xas, ()U zcJnas, c)nde o metamorfismo atucJu sob as
vaporiza o mete(Jrito e funde as rochas. As ondas de mesmas condições, C()rrelacionane-lo-as entre si, de
ch(Jque são transmitidas através das r(Jchas em frações mod<J a definir () padrãc) ele variação elo
de segundo, produzindo pressões elevadas (ela cJrdem metam(Jrfismo.
e-le até 1.000 kbar) que reequilibram os minerais quase
instantaneamente, transfc)rmandc) o quartzo ncJs seus 18.5.1 Grau metamórfico
polimorfcJs de alta pressã(J, stish(JVita e coesita. (_)
metamorfismo de impacto é possivelmente um proces- A intensidade elo metamorfismo é referida tradici-
so difundido em muitos corpos planetários marcadcJs <Jnalmente como grau metamórfico: alto grau implica
pc)r grandes crateras, C(Jmo a Lua. Na Terra, um exem- conc.liç(>es enérbricas, de altas temperaturas, enquanto
plo eles te processo é o MetecJr Cratet" no Arizona, Estados baixcJ grau define condições brandas, de temperatu-
Unidos, onde o impact(J de um meteorito nos arenitos ras mais baixas. Entre os e-lois extremcJs, encontra-se e)
cretáce(JS gerou uma cratera, ou astroblema, com 1,2 metamorfismo ele médio grau. Fala-se ainda em grau
incipiente quando as condiç(>es metamt'Jrficas fcJram
km de diâmetro e 200 m de pr()fundidade. f~struturas
muito branc.las, no limiar entre diagênese e
semelhantes sã(J conhecidas também no Brasil, C(Jm(J o
metamorfismo.
Domo de Araguainha em Goiás, (JU a estrutura de Co-
lônia, na parte sul do município de São Paulo (Cap. 23).
18.5.2 Minerais-índice, isógradas e zonas
metamórficas
18.5 Sistemática do Estudo Geológi-
co de Terrenos Metamórficos Deve-se a Barrow o reconhecimento e-le que deter-
minae!o s minerais desenvolvem-se de forma
Rochas metamórficas são pr(Jduto de uma com- seqüenciada em rochas pelíticas submetidas a
binação de fatc)res. Qualquer rocl1a sedimentar, ígnea metamorfismo prcJgressivamente mais intenso (Fig.
ou -metamórfica, representa um potencial prcJtolito 18.11). Estes minerais, denominados minerais-índi-
para a geraçã(J de no,·a rocha metamórfica. A atuaçãcJ ce, sãci, na ordem de aparecimentcJ: clcJrita, bicJtita,
dcJs fatcJres respcJnsá,·eis pelo metamorfismc) sobre a granada (almandínica), estaurolita, cianita, sillimanita.
grande variedade de protolitos em combinações e i11- A linha definida pelos lcJcais dcJ primeir() aparecimen-
tensidades diversas resulta em um univers() cc)mplexcJ to de caela um deles no terreno denc)mina-se a sua
e de difícil sistematização. isógrada, que separa faixas ele disp<)sição mais ou
mcne)s paralela, as zonas metamórficas, elcncimina-
das sempre pele) mineral da iséJgrada anterieJr. ;\ssin1,
a zc)na ela ch)rita inicia-se na isógrada da clcJrita, e ter- Glen Esk
mina na isógrada da biotita, c)nde cJ mineral-índice
aparece pela primeira vez. Nesta is(Jgrada i11icia-sc a
.,,.-,
..,,-·
zc>na da bicitita, que segue até e> primeircJ aparecimen- ,,..,.·" "' Ed ze li
•
to ela granada almandínica, na isc'igrada da granaela. ,,./
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, .,,,.
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11
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-
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vez que sãeJ constituintes freqüentes clcis terrcncis o
•e --
-e
metamc'irficos. As principais fácics metamc'1rt1cas cnce)n- 8 e
"'Ili :)
e:' 30 .....
tram-sc situadas neJ campcl P x T na Fig. 18.12. ;\I/c-,111mas a.. 10 e
a..
das características mais impclrtantes de caela fácies sàei
12 40
descritas sucintamente a segwr:
\
a) Fácies de Grau Incipiente, ciu Sub-XistcJ Vereie
- - - Linha inferior do campo metamôrfico
(Fácies da Zeé)lita e Fácies da Prchnita - 11umpcllyita). - •- Curva de fusão mínima para granitos (P1o1=PH o)
2
Sàci representadas pelas primeiras assembléias clescn- Z-zeólita, PP-prehnita-pumpellyita, XV-xisto verde,
A-anfibolito, GR- granulito, HH-hornblenda hornfels,
vcJlvielas ne) mctamcJrfismo e-le sotcrramcntcJ ele rcJcl1as PH-piroxênio homfels, E-eclogito e XA-xisto azul
vulcânicas e seelimentarcs (l1asaltcJs, vielros \"Lilcá11ice1s,
grau\ acas). 1~m pre>fune-lielaelcs de pc>uccJs quile'ime-
0
Fig. 18.12 A distribuição das principais fácies metamórficas
trcJs, desenvc)lvcm-se zec')litas (fácics zcc'ilita), no espaço P x T.
particularmente a laumontita, juntamente ccJn1 <>utrcJs
minerais de baixa temperatura: clcirita, quartzcJ, al!)ita,
carbonatos. Aumcntandci ei graLt metamc'irfic<>,
laume>ntita desaparece e formatn-se prchnita e
característice)s sãei allJita, epÍt1C)tci, clcJrita, fengita e
pumpellyita (fácies prehnita - pL1mpellyita).
actincilita (anfilJéiliei). Na transiçãcJ para as fácies de
IJ) Fácies XistcJ Verde - é uma fácies de l1aixc1 grau grau incipiente, a fácies xisteJ vereie é marcada pela
de mctamorfismcJ que se clcsenveJl\"C cm caclcias ele 1-1rcsença ele cpíelcitcJ em lugar da pumpellyita; e na
montanha fanereJzc'iicas, áreas ele escueleis pré- transiçàcJ para a fácics xistcJ azul (ver abaixo), pela pre-
cambrianos e ncJ asscialhcJ c>ccânicci. ()s n1inerais
1
CAPÍTULO 1 8 • ROCHAS METAMÓRFICAS 393 il'~
,
sença de actinolita (anfibólio cálcico ferro-magnesianc)) da fácies xisto verde (clc)rita e albita). E encontrac.la
em lugar de glaucofânic) (anfib<'>lio sé>dico). em regic::ies de sulJducção jovens cc)mcJ no Japãc) e
:\: ova Caledt)nia.
e) Fácies Anfibolitc) - é caracterizada por paragêneses
cristalizadas em gradiente geotérmico moderado, sc)b cc)n- h Fácies f:clogito - é caracterizac.la pc)r assembléias
dições de grau metamórfico intcrmcdiáric) a altc). Em n1inerais desenvolviclas solJ cc)ndiçc>es de pressc>es
rochas básicas, a paragênese diagnóstica é cc)nstituída de muitci ele,~adas (> 12 kbar) e altas temperaturas, pos-
hornblenda (anfibé)licl cálcicc) ferro-magncsiancl si,~eln1ente em placas c)ceânicas transpc)rtadas para e)
aluminoso) e plat,ric)clásio, este com teor de anortita tipi- manto en1 zc)nas de subducçãc).
camente superior a zor1/o, caracterizando els anfibolitos
(item 18.7.2). Rochas pelíticas apresentam abundante
18.6 Mineralogia, Texturas e
muscovita, bic)tita e granada (almandina). Cianita e
estaurolita são minerais diagnósticcJs, estáveis nas condi- Estruturas de Rochas
ções de metamorfismcl intermediárias da fácies. Nos Metamórficas
limites superiores da fácies anfibolito, a muscovita, em
presença de quartzo, torna-se instável, produzindo
feldspato pc)tássico e sillimanita.
18.6.1 Mineralogia de rochas metamórficas
mandc) wollastonita (Fig. 18.3). pela andaluzita, cianita (Pig. 18.9) e sillimanita, e
cc)rclierita. Sob conc.liçc"'_íes de altc) grau metamórficc)
e) Fácies Hornblenda Hornfels - desenvolve-se cm
muscovita é cc)nsumida na presença de quartZ<), fcJr-
condições de pressãc> baixa, principalmente em auré-
mandc)-SC feldspato pc)tássicc) em seu lugar, segunde>
c)las de metamorfismc) de contato ao redc)r de corpos
a reação (Pig. 18.8):
intrusivos como gabros e granitos. Em rcJchas pelíticas,
distingue-se pela cristalização abundante de cordicrita fu\l,Si,C) 10(0H) 2 (?vfs-muscovita) + Si() 2 (Qtz-
e rara de granada e pelo aparecimento de andaluzita quartzo) = Kr\1Si 1 () 8 (I(fs-feldspatcJ potássicc)) +
em lugar da cianita. Al 2SiC), (aluminossilicato: l(y-cianita ou Sil-sillimanita)
+ H 2C) (fase tluida)
f) Fácics Pirc)xênio Hc>rnfels - é representada pelas
paragêneses cc)rc.lierita + ortopircJxênic> + feldspatc) Em rochas metabásicas, a riqueza em anfibólios ca-
p<ltássico + plagioclásio + quartzo (em metapclitos) racteriza as paragêneses sc)b ccindições de baixe) a
c)u ortopiroxênicl + clinc)pirc)xênio + plagioclásic) + médic) grau metamc)rfico, sendo substituídos pelos
quartzc) (em rochas metabásicas). Oce>rre nas zonas piroxênios no alto grau. Rc)chas carbonáticas
internas, de temperaturas mais elevadas, de auréc)las magnesianas, com argilc)minerais e quartzo na sua ccJns-
de contato. tituição, produzem assembléias minerais variadas, com
diopsídio, tremolita (respectivamente piroxênic) e
g) Fácies Xistc) Azul - é marcada por assembléi- anfibólio de Ca e Mg), talcc), c)livina, wollastc)nita, gra-
as contende) minerais de alta densidade (lawsonita e nada e plagioclásio cálcico, entre <)utrcJs, em função
aragonita) e de baixa temperatura (clarita), inc.lican- das propcJrçc>es entre os cc)nstituintes químicc)s (fun-
dc) ambientes de pressão ele,,ada e temperatura damentalmente CaC), Si() 2 , MgO e Al2C)J e do grau
baixa. As rochas são constituídas de combinações metamórt1cc). Em rochas ultramáficas, ricas em MgO,
variadas de lawsonita, aragonita, pirc)xênic) ricc) em as assembléias minerais mais hidratadas, de baixcJ grau,
Na e glaucofânio (anfibó!ic) sóc-lico) com minerais são e.laminadas por minerais de> grupo das serpenti-
nas, talccl e clcJrita, enquanto os anfibé)!ic)s tremc)!ita e
antc)filita, os pirc)xênios diopsídio e enstatita, e olivina dade menor de minerais micáceos cJrientados em meio
dcJminam as paragêneses de médicJ e alto grau a minerais granulares. Em rochas que sofreram inten-
metamórfico. so cisalhamento ocorre uma forte cominuição, ou
redução granulométrica, gerando texturas
18.6.2 Texturas em rochas metamórficas granoblásticas ou lepido-granc)blásticas muito finas.
.-\lguns minerais são mais resistentes a esse processo,
As texturas das rochas metamórficas desenvc)l- e tendem a preservar dimensões mais avantajadas em
vem-s e pcJr blastese, que implica nucleação e
crescimento mineral no estadc) sólido. Por esta razãcJ,
o radical "blasto" é utilizado para designar texturas
metamórficas. Texturas granulares isótropas, sem pre-
domínicJ de uma ou outra dimensão nos minerais, sãcJ
denominadas granoblásticas. Esta textura pclele de-
senvolver-se na forma de mcJsaicos, caracterizandc) a
textura granoblástica poligonizada, onde os grãc>s ad-
quirem dimensões similares entre si, ccJm interfaces retas
e junçc)es tríplices (Figs. 18.2 e 18.13).
metamcirfismo c-linâmicci. i\s rc>chas cataclásticas rr<>t<lt11ilclni tcis, a }1rclpc>rçãc> ele 111atriz é infcric>r
podem ser elivielielas em e-lc>is grupc>s: um cc>m es- a 50'1/,,, ncis n1ilc>nitcis, entre 50 e 90'1/,,, enquantc>
trutura não e>rientada e eiutr<i cc>n1 estrutura nc>s ultramilcJnitcJs é superic>r a 90'½,.
c>rientada (Ta!Jela 18.1).
1,1,
· Imagem de satélite mostrando dobras na Faixa Paraguaia, na região de Cáceres, oeste de Cuiabá, MT.
uniforme. Esta definição refere-se à primeira lei de Uma força, \·ertical F, atuandc) sobre um plano in-
Newton. Em relaçã() à sua segunda lei, Newton obser- clinado 0 graus em relação a um plano horizontal, pode
vou que a aceleração de um objeto é diretamente ser decomposta em um Cl)mponente vertical, denomi-
proporcional à força resultante que atua sobre o corpo nado força normal Fn e outro componente paralelo
e inversamente proporcional a sua massa - expresso, ao plano, denominado força cisalhante Fs, sendl) que
matematicamente, pela equação: Fn = F cos0 e Fs = F sen0 (Fig. 19.2a).
F=ma (19 .1) Consideram-se dois tipos fundamentais de forças que
() newton (N), a unidade básica de fc)rça no Sistema afetam os corpos geolt'>gicos: forças de corpc> (ou de vo-
Internacional (MI<S), é a força necessária para imprimir lume) e forças de contato (ou de superfície). As forças de
aceleração de 1m/.s2 em um corpo de 1kg de massa. volume atuam sobre a massa de um corpo como um
No sistema CGS, a unidade básica de força chama-se dina, todo, a exemplo das forças gravitacional e eletromagnéti-
que é a força necessária para imprimir aceleração de 1 ca. 1.\.s forças de contato atuam empurrando ou puxando
cm/ s2 a um Cl)rpl) com massa de 1 b>rama. determinado corpc) ao longo de uma superfície imabriná-
ria, como uma fratura.
Descrever a magnitude de uma força, seja em
newton ou em dina, não é suficiente para definir força. Quando uma força F atua sobre uma superfície,
Forças sã() entidades vetoriais, sendo necessária a tem-se uma outra entidade físico-matemática denomi-
especificação de sua direção e sentido. A caracteriza- nada esforço. Isto significa que a magnitude do esforço
ção das propriedades vetoriais da força utiliza-se, por não é simplesmente função da força F, mas se relacio-
•
sua vez, dos princípios de Algebra Vetorial. na também com a área sobre a qual essa fc)rça atua, ou
seja, esforço é a relação entre
...... força e área:
_E
a b a= A (19.2)
',·.,,
'/, . _., '.. f./ ' ,'\
Plano P Plano P
) A
p
) A
p
2
F cos 8 = cr cos 8
- F sin 0 =_Q. sin
2
28
Fig. 19.2 Ilustração mostrando a decomposição de uma força F e esforçocr sobre um plano inclinado (P) de
0 graus em relação ao plano A.
congelado (Fig. 19.3). Em razão do ''peso" do bt1a a1Jresentar uma maic>r superfície, fazendo com
patinador (77 kg), houve a ruptura da delgada cama- que o esforçc> exercidc, sobre a camada de gelo fc)sse
da de gelo de) !age). Este "peso" estava distri!)uídci distribuído numa área maior, senão vejamcls: o "peso"
uniformemente sobre as lâminas dos patins e a área da prancha somado ao "peso" do nosso ''hercSi'' é
de contato con1 o gelo era de apenas 5,fJ8 cm2 , o que igual a 81,64kg, com a área da tábua de 5.486,4 cm2 •
significa que cl esforço atuando sobre a (lelga(la ca- Deste modo, o peso do homem passou a ser distri-
mada de gelo era buído ele tal maneira que a concentração do esfcirço,
ern qualqt1er ponte> sob a tábua, é bem menc>r, e, por-
2
9 tante), bem abaixo da resistência à ruptura ele> gelo.
a= F = ??kgx ,Sm.s- =1.485.433Pa=l485bar
A 5,08xl0-4 m2 '
6 9 2
a F Sl, kgx ,Sm.s- = 1.458Pa = OOlbar
2
A Figura 19.3 mostra que o nc>sso ''l1eré>i'' para se
A 0,54864m '
aproximar da vítin1a, utilizou u1na tábua suficientemen- Neste cas<), <Jbserva-se que a pressà() exercida so-
te larga, evitando assim que a catnada de gelo se bre (J gelo é cerca de 1.50() vezes menor do qt,e a dei
rompesse. 1\ explicação para isso está no fatcJ da tá- patinador.
gelo
fino
-- ',-·
,. ',, -~'""'~'"';~.e:\,
a..
.... ída apenas parcialmente (trajetória XX'), permanecendo
li ainda uma deformação, denominada deformação plás-
b tica (é:J.
,
Se a carga é reaplicada neste mesmo corpo,
li \·erifica-~, no gráficc) CJ versus E, a trajetória X'; onde
a..
o no,·o limite de elasticidade é agc)ra a,, o qual é maior
que a,. ~otar a no\·a deformação elástica (é:) em rela-
ção ao no,-o limite de elasticidade a, Quando isso
ocorre, diz-se que houve um "endurecimento" do
material, ou seja a deformação plástica mudou o esta-
d() do material, que ,
pode ser quantificado no eixo das
Fig. 19.4 Domínios de deformação natural em função do abcissas por (e). E justamente o aumento da deforma-
pressão hidrostático/litostático e temperatura. As linhos BP-AT ção que le,·a à ruptura do carpe). Quand() as rochas
e AP-BT representam o comportamento esperado em regimes
são deformadas sob condições ele pressão e tempera-
de oito e baixo gradientes térmicos, respectivamente. AP=Alto
tura ambientes, ocorre a ruptura sem haver uma
pressão; BP=Boixo pressão; AT =Alto temperatura; BT =Baixo
temperatura.
deformação plástica significativa.
Examinando os fatores que determinam uma pcir longc1s períodcis de tempo, não apresentam gran-
rocha se romper ou sofrer apenas flexão des resistências aos esforços, ao contrário, fluem como
se fossem um líquidci extremamente viscoso. Este é o
lJ exame da influência da pressão hie.lrc1stática/
caso do comportamento dei manto terrestre que se mo-
litcistática, da temperatura e da velocidade de defor-
vimenta, lentamente, por estar submetido a pressc)es
mação no comportamento dúctil ou rúptil das rochas,
litostáticas elevadas, entre outras ccindições. A pressão
durante o processo deformacional, permite uma me-
litostática no interieir da Terra aumenta com a profun-
lhor compreensão de1 processo.
didade de accirdo com a equação:
• Pressão Hidre)stática/Litostática ➔ é a pressão
P = pgz (19.3)
vertical em um determinado ponto ela crosta terres-
tre, que é igual à pressão exercida pelas rochas onde p é a densidade da rocha, g é a aceleração da
sobrejacentes. Rochas submetidas a pressões elevadas, gravidade e z a profundidacle.
(CT l - CT 3)
(A) MPa
CT = F/A
CT 3 = 100 MPa
CT X
l CT 3 = 35 MPa
F
O" e
O" 3 = 10 MPa
T= 2sºc
tg a= E O"
R
3 = 0,1 MPa
f R = Ruptura
a
o 0,5 1 2 3
Ee
a
(CT 1 - O" 3)
MPa
cr
o
400 300 e R3
aumento da velocidade
R de deformação
CT E3 ---
300 sooºc
R
200 . - - - - - - - - - - 600º e
O" E2 Rl
0"3 = 40MPa
100 f R = Ruptura O" El
R = Ruptura
2 4 6 8 10 E% E%
e d
Fig. 19.5 Gráficos da deformação em função do esforço: (a) Para um cilindro sob compressão uniaxial; (b) Deformação sob
temperatura constante e pressões de confinamento variáveis; (c) Deformação sob pressão confinante constante e temperatura
variável; (d) Deformação sob condições de velocidade e deformação variáveis.
.
···•
..
'i ' '
e
b e
. .'
///
,, :::sr:;:>
' .
~
~-
' .
.,._
'
usualmente com ângulos diferentes (Fig. 19.12). As
dobras recumbentes de grandes dimensões são referi-
das comei nappes, e são comuns cm cadeias de
montanhas como os Alpes e Himalaias. Uma caracte-
rística das dobras inversas e recumbentes é a inversão
estratigráfica em um de seus flancc)s.
Fig. 19.14 Classificação de dobras com base no mergulho 1°:sta classificaçãci le\•a en1 c<insicleraçàci <> ângulcJ
da superfície axial versus caimento do eixo. Adaptado de inter-fla11c<Js ele un,,1 d(J!1ra (l;ig.19.15a). lst<i é deter-
Fleuty, 1964. 111i11aclc> a partir de cluas tangentes que passam ncis
p<Jt1tc>s ele inflexã(i ela superfície dcJl1rada (I~ig. l 9.15lJ).
a 1\s el(>l1ras sà(J assim classificaclas etn suaves (180
180"
l 20''
70"
180"
Fig. 19.16 Dobra fechada afetando gnaisses da base do
Grupo Andrelândia (região de São Vicente de Minas, MG).
Foto: R. Machado.
b
. . . ..
~ ,>.,., ~'"". '. --~-· t~;.~...
Fig. 19 .15 Classificação de dobras com base Fig. 19.17 Dobra isoclinal em xistos do Grupo Andrelândia.
no ângulo inter-flancos. Serra da Pedra Branca, estrada Luminárias. Foto: R. Machado.
a b .\ classiticacàe> elas e-\eJbras em sinclinal e anticlinal é
o
anticlinal
\parcccn1 C(>l11< >superfícies iseiladas e discretas ele pe-
. .
c1uenc1 cxprcssac>, c>Lt, ne> casei mats eeimum, ccJmci Ltma
regià< J clcfcJrt11acla ele grancle magnitucle, que é a zcina
de fall1a. <>ndc <>eleslcican1entci te>tal é a sei ma eleis cles-
b anticlinal l<>c,1111 c11 t< >5 i11cliYicluais. A ce>neliçàci básica para a
existéncia de u111a falha é qL1e tenha ciccirriclci deslc>ca-
n1c11n> ac> !(inge> ela superfície. C:cJ11tL1cle>, se cicc>rrcr e>
1
me>Yin1entc> perpenclicularmcnte à supert1cie, a estru-
2~
sincl inal tura receberá eJ ne_in1c ele fratura. () rclcY<> e>riunelc>
3
ele fall1as é. cm geral, estruturaelci, bem rctletielc> en1
fcJtcis aéreas e imagens d.e satélites (1-;ig. 19.2()). r:m
alguns c,1,c>s, seil1retudc> 9L1aneki se tem uma referên-
Fig. 19.19 Classificação de dobras com base na estratigrafia cia estratigráfica (uma ca1nacla ele car,·àei, peir exemplei),
das camadas: sinclinal e anticlinal. Seqüência estratigráfica
a sua ielentit1caçàc> é imeeliata, em e>utrc>s, é mais elifí-
das camadas: l mais antiga, 2 intermediária, 3 mais nova.
cil, n1csmcJ para ae1uelcs já familiarizaeleis cc>m e> assuntc>.
Em a, seqüência normal, em b, seqüência invertida.
l•'.ssa eli ficLtlelaele é crescente em regií:'ies ceim densa
..
., ..·
••.
rnuro
(lapa)
•.
•
,-. (
.: ~'1:.
plano de falha ., ._~
.
'
-.::.:-:,--
- -$\ .
" _, --~- .::,_ 41'' ·.
Fig. 19.21 Elemento geométricos de uma falha: blocos de fa- Fig. 19.24 Traço de falha no terreno resultante da falha de
lha: muro ou lapa e teto ou capa; escarpa e plano de falha. San Andreas. Foto: C. Riccomini.
. . .
'.',: ;· .,.. '
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.···. ,,,, ) a
. ' , ,,
' ,,
.1r.c _______--_~,...:,l!,,i
s<ibe ou desce.
d) Tipcis de rejeite) - esta classificação leva em conta 19.3.4 Tipos principais de falhas e estrutu-
<JS c<imponcntcs ge<imétric<JS cl<) deslcicamentci entre ras associadas
dc>is pontos previamente contíguos, cm lados opos-
te)s da falha, e que são medidos nci planei de falha (Fig. ()s três tipcJs principais ele falhas descritos abaixo
19.26). Estes elementcis, já definid<)S anteriormente, sãci enccJntrados freqüentemente em sistemas de fa-
apresentam número máximo c1e componentes em fa- lhas. Além clisscJ, cada uma delas é caracterizada p<)r
lhas oblíquas, sendo menor nos demais tip<is. ,-\ssim, orientação, mcJviment<> a<) longo da superfície de fa-
cm falhas neirmais e reversas (ou inversas), o rejeit<J lha e campo de tensã<J distintos.
tc)tal correspond.c ao rejeito de mergulhei, nas fa-
lhas transcorrentes, ao rejeito direcional, enquant<J Falhas normais ou de gravidade
nas falhas oblíquas, ao rejeito total (Figs. 19.26, 19.31
e 19.32c) São falhas asscJciadas principalmente com a tectônica
extensional. :\:a escala global, elas ocorrem associadas às
cadeias meso-cJceânicas e às margens continentais tipo
Classificação mecânica
:\tlânticcJ. São imp<)rtantes na formação e evolução de
A classificaçã<i mecânica leva em c<JnsideraçãcJ o bacias sedimentares, sendo comuns em regiões com
quadro de tensões que produziu a falha e distin6'1.le três deslizamentos de encostas e taludes. Ass<iciam-se,
tipcls: normal, inversa ou de empurrã<) e transcorrente. freqüentemente, a arqueamentcJs regionais, a estruturas
Na falha normal, o esforço principal é vertical, enquantci dc'.>micas ou antiformais, sendo aqui o reflexo da fase de
nas falhas inversa e transcorrcnte, é horizontal. A dife- rela..-..;:amento que acompanha o soerguimento destas es-
rença entre as duas últimas está na <)rientação deste truturas. São falhas em geral de alto ângulo, cm que a
csforç<J; na transc<)rrente ele é cJblíquo à direçãcJ da capa desceu em relação à lapa (Fig. 19.32a). O desloca-
falha, c<)m valor angular inferior a 45º, enquantci na ment<J principal é ,·crtical e o componente de m<iviment<J
inversa, ele é ortog<Jnal a ela. é scgundcJ o n1ergulh<) do plane) de falha.
' '
,,
,,
.... :
::: .... ··
São comuns faixas de rochas cataclásticas ccimo falhas normais ou de gravidade, com abatimen-
(mile)nite)s) ce)m largura superior a 1 ou 2 km e exten- to de blocos assc)ciade)s. Na região Sucleste do Brasil
são da ordem de dezenas a centenas de km ..\ falha sãei comuns falhas transcorrentes pré-cambrianas que
de San Andreas, por exemplo, estende-se pela costa foram reativadas como falhas nc>rmais durante o
oeste dos EUA por mais de 1.000 km. O desloca- Terciário. A elas associam-se bacias sedimentares como
mento destral acumulado é de cerca de .560 km. A a de Santos, Itaboraí, Taubaté, São Paulo, Curitiba, den-
falha Alpina, na Nova Zelândia, acomodou nos últi- tre outras. Estas bacias fazem parte do Sistema de Rifts
me)s 40 Ma um deslocamente) destral de cerca de 460 da Serra do Mar ou do Sudeste brasileiro.
k:m. Extensas zonas de falhas transcorrentes pré-
cambrianas têm side) descritas nas regiões Sudeste e Influências no relevo
Nordeste do Brasil. Nesta última, destacam-se as fa-
lhas de Pernambuco (PE), Patos (PB) e Sobral-Pedro As falhas normais e transcorrentes possuem, em
II (CE e PI). As duas primeiras possuem direção W-E geral, expressão topográfica, sendo marcadas por rele-
e a última, NE-SW Possuem extensão superior a 300 vo estruturado e alinhado, com vales alongados de
k:m. Na região Sudeste, eles tacam-se as falhas de fundei planei (Fig. 19.20). Em ceindiçe3es de clima tro-
Jundiuvira e Taxaquara, situadas a norte da cidade de pical, essas feições são acentuadas, pois as rochas da
São Paulo, e a falha de Cubatão, situada a leste da ca- zeina de falha sãe), em geral, mais facilmente
pital paulista, próxima ac> lite)ral. Esta última integra o intemperizadas de) que as rochas adjacentes. Estas es-
sistema Lancinha-Cubatão-Além-Paraíba, estendende)- truturas prc)me)vem ci ajuste regieinal da drenagem,
se do Paraná ao Rio de Janeiro, com extensão de quase resultando em mapas, fotos aéreas e imagens de saté-
1.000 km. lite, padrões de drenagens retangulares e em treliça. E
ceimum, na paisagem, a existência de escarpas de fa-
Outra característica das falhas transcorrentes é a
lha, que, quando jovens, são recortadas por ,·ales
possibilidade de servirem ele descontinuidades para
triangulares e trapezoidais, ocorrendo, junto à sua base,
novos movimentos, causados pc)r e)utre)s esforços se-
depósite)s cciluvic)nares e aluvieinares (Cap. 10), como
melhantes ou diferentes dos originais, propiciando a
ce)nseqüência do relevo gerado pela falha (Fig. 19.25 .
sua reativaçãe>. Esta reativaçãe) pode ocorrer com mu-
1"~stes depósitos estão relacionados com a evolução do
danças ou não no tipo de movimentei da falha. No
próprio falhamento e da escapa. f<:m falhas antigas, eles
primeiro caso reflete também mudanças nc) quadrei
sãei geralmente ereididcis, apagando assim seu ,-estígio
regional das tensões. Assim, falhas originalmente
sedimentar. Com a progressãe) dei prc)cessci ere>si,·o
transcorrentes podem ser reativadas tectonicamente
km
2
3
~ tlll1ITt~;
o-
o 8 16 24 32
19.34 Secção geológica esquemática da bacia (graben) Terciária de Tauba,é, Vaie do rio Paraíba do Sul, São Paulo. Fonte: C.
Riccomini.
km
Q....,..----,-,,-------------------------------------------
··.· ;Arenito . Gr. Ilha
(Indiviso)
·· ,?/;' l'n!lt:íço .·•. ·
l Fm. Candeias
Fm. ltaparica
\ I
2 I I I
\
I
fl
\ I I
lt
\
I
I
lf
3
4
o 2 4 6 8
NW SE
Fig. 19.35 Secção geológica da bacia (graben) do Recôncavo, Bahia. Gr. Grapu; Fm. Formação; Mb. Membro.
11(Jlle e>ceirrcr (J rccu(J ela escarpa llc falha, cleixand(J i11teraçà<J ele placas lit<>sféricas, senelci fcirmaclas elLt-
para trás a linha ele fall1a. b'.sta situaçà(J é cibservacla na rantc a sul1elttccà(J
., ciu ccilisàci.
falha lle Ct1l1atà<i, e111 Sàci Paulci, 11ci trech<J ela r<Jll(ivia
() estilcJ ele ut1l'a dci!Jra é um clernent<J muitci im-
deis Imigrantes.
rJ<>rtar1te ncJ estl1elcJ ela geometria ele uma cacleia ele
1\s falhas ncJrn1ais estacJ ccin1t1mentc assciciaclas a r11<>ntanhas. 1\pesar ele variar lateral e \'erticaln1entc r1a
fcirmaçào ele grabens (l1lcic<JS rebaixa<-1<Js) e horsts calleia, ele p<>ssilJilita a C(Jrrelaçàci entre estrutt1ras ele
(blciceJs elcvallcis). l~stas estrutt1ras clestacatn-se pela lt1gares llifcrcntes. ;\ st1a caracterizaçà<> é muitci t'.ttil para
sua cncJrme ex11ressàci tcip(igráfi.ca. 1\lgttns exe111pl(JS clifercnciar clcil1ras ele geraçc"'"ies (ciu grltpcis) difercr1tes,
brasileircJs sàci els gralJens de> Paraí!Ja llci Sul Il(l I istaclci is t< i é, LI( iIJras s uperpcis tas, as e1t1ai s p< iden1 refletir tan-
ele Sàci Paulci (l~ig. 19.34), Rec(inca\"(J na Bahia (l,'i,g. t< J cliferenças tcmpcirais imp<irtantes entre elas, eJLlanto
19.35) e o lle 'fakutu cm RcJraima. ccH1eliçc"'"ics físicas distintas Lle geração na crcJsta.
. ,;.•"-;;( -, .e
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grande "planeta ágt1a" está passando sede. senta\-am 40'½i ela populaçàc) munclial, padeciam de
Ii incrível in1agir1ar que atual1nente dezenas gra\·e carência ele água e que em 1nuitc)s casos esta
de milhões ele pess<)as vivam con1 n1enos de ci11co falta era um fator lin1itante para o desenvolvirnentci
litrcis de água por clia em um planeta que possui 70 1½1 econômico e S<)cial. A escassez de ágL1a atinge hc)je
,
de sua superfície coberta por água. 1::.: cert(J que a mais de 46() milhões ele pessc)as. Se nâ() fc>r alteradc> e)
''hidrosfera aproveitável" é suficiente para o abasteci- escilo de vida da s<>ciedade, um qt1arto ela p<>pulaçàc>
n1ento de água de toda a população da Terra, mas ela n1undial sofrerá este problema nas pré>ximas décac1as.
é irregularmente distril)l1ída. A á6>ua C<>mc> substância
.-\ ccintamínaçào da água vem crescend<> assusta-
está presente en1 toda parte, mas o recLtrs<i hídrico,
d<1ramente, scJ!Jretudc1 nas zc,nas costeiras e em grandes
entendido com<) um bem econômico e que pode ser
cidades em todo o n1undo. FcJrnecer ágt1a p<)tável para
aproveitado pelo ser hu111ano dentro de custos finan-
. ; . , . todc>s é o grande desafie) da humanidacle para os pró-
cetrcJS razc>ave1s, e mais escassc).
ximos anos. /\ ágt1a de bc)a qualidade 1)ode reduzir a
Cerca de 97,5°/o ele tcida a á1-,>ua na Terra sàc) salga- taxa de mortalidade e aun1entar a expectativa de vida
clas. Me11cJs de 2,5c½i sãcJ tloces e està<) tlistrilJuítlas da pc1pt1laçàc!. Segunde) a (-)rganizaçàcJ l\1unelial ela
entre as calotas polares (68,9°/o), cJs aqüíferos (29,9º1Í,), Sa<1de, cerca ele 4,6 tnilhc'íes de crianças de até 5 anc>s
tÍ(JS e lagos (0,3%) e c1utros reservatórios ((),9t1/o). Des- ele iclade mc>rrem por ano de ciiarréia, doença relacio-
ta forma, apenas 1 ~/,i da água doce é Ltm recurs(J nada à ingestão de ágL1a na(> potável, agravada pela
aprc>veitável pela humanidade, o que representa 0,(J()7l;\1 fcime e resultado da má c1istribuicão ecc>ncímica de
o
_J Hiperáridas
_J Áridas
_J Semiáridas
_J Sub-úmidas
~ Úmidas
Frias
Fig. 20.1 Distribuição das regiões secas e úmiaas no planeta. Fonte: Noções Unidos, 1997.
• Vista aérea da região de mangues no Parque Nacional do Cabo Orange (AP). Em muitos situações, a água subterrânea é origern
e parte dos corpos de água superficial. Por que distingui-los, se são componentes do mesmo recurso? Foto: Zíg Koch/Kino Arquiva
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HÍDRICOS 423 ~ .
Neste capítulc) veretnc)s a situaçãc) elos recursos amentc) superficial e subterrâneci representam Cl ex-
hídricos no Brasil e no mundo, sua dispcinibilidadc, cedente hídrico, que é a diferença entre o veJlume
seu usei atual e as perspectivas futuras. Especial aten- precipitadcJ e ci evapotranspirado, e peide ser decom-
ção será dada à água subterrânea, à sua distribuição e postc, neJ escc)amento de água superficial e subterrânea.
aos impactos causados pela atividade humana, inclu-
.\ abundância de água cm uma região é o resulta-
indo a contaminação e a extração excessiva.
do da interação entre o clima e a fisiografia. O Atlas
da desertificação do Programa das Nações Unidas
20.1 , Abundância e Distribuição da para ei :\IeieJ Ambiente mostra seis diferentes clivisõcs
Agua Doce no Planeta segundo a dispelnibilidade de umidade, desde hiper-
áridas até úmidas (Pig. 20.1 ). As regiões como América
Aproximadamente 72.000 km 3 / ano de água de) Sul e .-\sia são aquelas onde há maiores porções de
retc)rnam à atmosfera por evapotranspiração, deis terras úmidas, enquanteJ os maiores desertos encon-
, ,
119 .000 km3 / ano da precipitação que caem sobre e)s tram-sc no norte da Africa e centrcJ da Asia. Somente
continentes (Cap. 7). Os 47.000 km3 /ano restantes de na bacia do Amazonas fluem 16º/c) da água dcJcc do
água doce que circulam pele) planeta, através de) esco- planeta e apenas a bacia do Conge)-Zaire representa
Tabela 20.1 Descarga dos rios dos países mais ricos e mais pobres em água do planeta.
l=l,"'"~ 'li' o=
~
. v
~~
Proporção do
uso da água em
relação à sua
disponibilidade
> 40% o
..J 20-40%
•
_J <
10-20%
10% [7
Fig. 20.3 Proporção entre uso e disponibilidade hídrica no mundo. Fonte: Nações Unidas, 1997.
,
Baixo Argélia Cabo Verde África do Sul, China, Etiópia Austria, Bangladesh, Guiana (Fr)
{100-500) Líbano, Polônia, Bolívia, BRASIL,
Somália Colômbia, Venezuela
,
Moderado E. Arabes, Bélgica, Islândia
(500-1.000) Gaza, Israel, Ucrânia
Jordânia, Tunísia França,
México,
Síria, Reino .. ·
1.229.306
. . ., -
1\ maior bacia hidrográt1ca brasileira é a do t\ma· outros apresentam abt1ndáncia do recurso. EntretantcJ
Z()nas, cc)m 72% da vazâc) dos rios nacionais, seguida uma análise mais detalhada vai expor a carêõcia do
l1as bacias dcJ Paraná (6,3(1/o), 1:0cantins (6°/o), Parnru1)a- recurs(J em bacias hidrográficas especít1cas, como a
Atlántico Norte (3~/4i), lJruguai (2,5'~10), e i\tlántico Sul dei i\lto (lcJ 1'ietê (SP), de> ()riental Pernambuco, do
e Sãc) Prancisco (ambas com 1,7~!,,). Leste PcJtiguar (R..~) e de PcJrtaleza (CE), p<Jr exem-
() valor de disponibilidade hídrica social, ou seja, plei. ()s f~stados brasileiros de maior utilização per rapitct
o total de água da <.lescarga continental, di,•idid() pela ele ágl1a são Rio Grande de> Sul, São PaulcJ, Santa
população nf> Brasil é de 35.732 m 3
/hal)/an() (1'al1ela Catarina, Pernambuco e wfinas Gerais, e aqueles que,
,
20.4). E possível notar que son1ente alguns F:staLl<)S pcJrcentualn1ente, mais utiliza1n o recurse> hídrico total
dei Nordeste apresentam uma disp(Jnibiliclacle hídrica sãcl Pernan1l1ucci, Sã<l Paulo, Paraíl1a, Rio Grande d<J
considerada regular (1.000-2.()()()m1/hab/ano), p,>is <JS Norte e Ceará.
as substâncias analisadas quanto ao risco à saúde e indú,rria e ' · tem freqüentemente gerado pro-
ao meio ambiente. dutos de IDlim valor agregado.
Em áreas de elevac10 risco ge<ilógico e climatoló- seca. O fluxo de base pode chegar à totalidade da
gico, c<)m<) aquelas sujeitas a terremotos e vulcanismo, vazão de um rio durante certas épocas do ano, per-
a água subterrânea é uma reserva estratégica, Lima vez mitindo a utilização desse recurso superficial para
que é menos vulnerável aos eventcis catastróficos que os mais diversos fins, incluindo a captação para <J
atingem as p<)pulações. abastecimento ou para a diluição do esgoto não
trataclo lançadci pelas cic1ades. O mesmo mecanis-
()utro importante papel desempenhad<) pela
mo garante a manutençã<i de áreas alagadiças, c<imo
água subterrânea é sua descarga em cursos de água
brejos, pântanos, mangues e restingas, importantes
superficial (fluxo de base), com<) rios e lagos, <)
para o equilíbrio ec<ilógic<J.
que permite a sua manutenção dL1rante a época ele
COMPOSTOS Padrão de
Benzeno 10 10 10 10
Clorobenzeno O, 1 - -
Tetracloreto de carbono 3 3 3 3
Clorofórmio 30
Pentaclorofenol 1O 10 10 10
* Portaria 36 do Ministério da Saúde; **A Comunidade Econômica Européia (1982) recomenda l Cµg/L de hidrocarbonetos
dissolvidos totais e de 0,5µg/L de fenóis sintéticos.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 429
Na América Latina, embc)ra não existam cifras muitcis países. A Fig. 20.4 mostra a dependência dos
oficiais seguras do uso da água subterrânea para c1 países dc1 recL1rsci hídrico subterrânec1, indicando tam-
abastecimento públicc1 e privado, seu papel é vital para bén1 alguns núclec)s urbanos de grande demancla.
.., ,BAHAMAS
'.,a: REP.DOMINICANA
HONDURAS - n l " I I ~ dO~TO RICO
-BELIZE JAMAICA 00
ANTILHAS MENORES
"&
GUATEMALA- NICARÁGU •
ELSALVADOR GUIANA
URINAME
COSTA RIC
GUIANA FRANCESA
San José
(428)
Proporção "
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25 - 50°/4
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Produção diária de
algumas cidades com ....
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Fig. 20.4 Importância das águas subterrâneas para o abastecimento público no Américo Latina e Caribe.
Em pelo menos duas das maiores ce>ncentra- Qualquer bombeamento de um poçeJ causa al-
ções urbanas do ce>ntinente americane>, Cidade do guma descida nc>s níveis de um aqüíferc>. Caso a
Méxicc> e Iaima (Peru), e>s rect1rsos hídricos subter- extração seja limitada, o nível de água se equilibrará
râneos suprem a maior proporção das necessidades em função do balanço entre a extração e a recarga.
municipais e domésticas de água pe)tável. No case) Entretanto, se a extração for maie>r que a capacida-
da Cidade do Méxicc>, a gigantesca cifra de 3.200 de de reposição de água no aqüífero, o nível
milhões de litros por dia (ML/ dia) (94% do total hidráulico continuará caindo ao lcJngo de>s anos e
suprido em 1982) é fornecida por um ce>njunto ele pclderá chegar a comprometer seriamente o recur-
1.330 poços tubulares. A água distribuída na Gran- so subterrânee).
de Lima, incluindo e> Porto ele Callao, é obtida pelo
Quando a extração de água do aqüífero supera
bombeamento de 320 poços, produzindo mais de
a recarga em períodos muito prolongados, ou quan-
650 ML/ dia. Em outras grandes áreas urbanas, in-
do e) bombeamento está cc)ncentrado em uma
cluindo Buenos Aires e Santiago (Chile), a água
pequena ze>na, ocorre a superexploração, ou seja,
subterrânea proporciona uma significativa parcela
a rctiraela de água do aqüífcro se elá em quantida-
do suprimento municipal de água potável.
des maiores que a sua repc>sição, acarretando
A excelente qualidaele natural aliacla ao baixe> clesequilílJrios no balanço entre as entradas de água
custe) tem justificado eJ crescente uso deste recurso nc> aqüíferc> (recarga) e as saíclas (extração). Devi-
mesmcJ em áreas úmiclas com excee-Ientes híelricos, dcJ ao grande arr,1azenamcnto do aqüífcro, este
como na América Central ou no Brasil, onele 35(1/ci pe)dc ser, durante períodos específicos, explorado
da populaçãcJ fazem use) deste recurse) para o su- cm volumes maiores que a sua recarga sem proble-
primento de suas necessidades de água pcltável. No mas, desde que isso ocorra de forma estudada e
Estado de São Paulo, pe>r exemplo, 70°/ci dos nú- planejada.
cleos urbanos são abastecide>s total ou parcialmente
por águas oriundas de aqüífere>s, totalizandc) 34'1/o
da populaçãc>. As ce)nseqüências da exploração irracional nor-
malmente estãe) associadas aos seguintes problemas,
20.5 A Influência das Atividades algt1ns já interpretadc)s no Cap. 7:
Antrópicas nos Recursos
Hídricos Subterrâneos
• redução na capacidaele pre>dutiva inelividual do
pcJço ou de poços próximos, com aumento nos
20.5.1 A extração intensiva das aguas
' custc>s de bombeamente);
subterrâneas
• indução de fluxos laterais de água salina da
, .
~íuite> embora e)s aqüíferos fe>rmcm CJ male>r costa mar1t1ma;
reservatórie) de água pe)távcl líquida deJ mune-lo, sua • infiltração de água subterrânea de baixa quali-
distribuiçãe> não é igual no planeta. Algumas áreas dade advincla de outras unidades aqüíferas mais
possuem uma abundância deste recurse> enquanto superficiais;
em outras é quase inexistente. O principal contrc>le
é a interaçãe) entre as características gec>le'igicas e • drenagem ele rie)s e outros corpos de água su-
climatológicas da área. ComeJ ·viste) ncJ Cap. 7, a perficial, pelo rebaixamento de> nível hidráulico do
aqüífero;
permeabilidade e a porosidade eia rocha definem a
capacidade do aqüífero em transmitir, armazenar e • subsidência elo terreno, resultando em pre>ble-
fc>rnecer água. O clima, na zc>na de recarga, vai con- mas de estabilidade e danos de edificações e rede
trcJlar els volt1mes ingressadeJs de ágt1a ao aqüífero, de esgcito.
através do balançcJ hídrico.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 431 .
'
SISTEMA VAZÃO/
PROVÍNCIA DOMÍNIO VOLUME DE
AQÜÍFERO POÇO
HIDROGEOLÓGICA AQÜÍFERO ÁGUA (km')
PRINCIPAL (m'/h)
ESCUDO SETENTRIONAL
.2 ESCUDO CENTRAL
Zonas fraturadas 80 < 1-5
3 SÃO FRANCISCO
~ ESCUDO MERIDIONAL
Fig. 20.5 As águas subterrâneas no Brasil. Fontes: DNPM/CP~ 1983 e Rebouças, 1999.
432 D ECI FRA N DO A TERRA
Problemas de extração não C()t1trcJ!acla en1 aqüíferc)s ciu pela pc.lssibilidade cie cclntar com runa fonte adicional
sãcJ bastante ccimt1ns em várias partes do mL1nd(l, con1cJ se,1.,'Ura, em áreas onde o fc>r11ecimento nac.J é regular.
C<Jnsec1üência do crescin1ento des<Jrdenadcl llas cidacles De,·idci à falt.a de c.lisciplina nas autorizações de perfura-
e da falta de planejamento no uso dcls recursc1s hídricos. çãcl e de exploraçâc1 de pc)ços na maioria dos países, a
•
F.m várias ciclades cla i\sia têm siclo observadas lJUecias grande densidade ele poços cm ni'.1cleos urbancJs acaba
e11tre 20 e 50 metros ncls rúveis dos aqüíferos. 1\ situação prci\-ocanclo pro\)len1as de supcrexploraçãcl e redução
mais dramática é observada en1 1,e(Jn-Guanajuato, .\:lé- dramática dc>s túvcis dos aqüíferc)s.
xico, cJnde c)s rúveis descerarn 9() n1etr<lS e11trc l 96() e
,,\ urbanizaçãc> causa a impermeabilização dtl sofrl e
1990 e ncls ancls subseqüentes a um rit1ncJ ele 1 a 5 metrcis
a expt1lsãcJ das áreas verdes agrícolas em tcirncJ das cida-
por ano.
des, o que acaba por reduzir a infiltração e a recarga do
No Brasil, muitcJS cascJs de perfuraçã<J descontr<1la- aqüífero. Por outrcJ lado, as perdas de água pot:1.vel por
c:la ele poços cJcorreram pela inexistência de dispositivos vazatnentc.i da rede de elistril1uição, que facilmente che-
•
legais que regi.ilamentetn a atívic1ade. () CódigcJ ele i\guas gam a 45'1/o dcl volume total, ccJntribuen1 de forn1a
de 1934 dispunha c1ue o d<Jno de qualquer terrent1 pcl- bastante eficie11te cc.Jm a recarga do aqüífer<J. Jv[uitas ve-
deria se apropriar, por mei<i de pciçcis ou galerias, da zes, a urbanização tàz com que a contabilidade hiclráulica
água que existia em subsuperfície na stta pr<1priedade, seja n1ais favorável ao ac1üítet<).
cclntantci que não {)tejudicassc ()S apr<Jvcit_an1entcJs exis-
tentes, nem de1ivasse a água ele seu curso natural. Somente 20.5.2 Intrusão salina
com a Constituicã<J, Federal de 1988 e ccJm as leis elecor-
rentes, a água subterrânea passou a ser considerada berr1 Nas áreas cc>steiras, os aqüíferos normalmente des-
cie domíni(J elos Estadcls, pclssibilitando <) cfetiv<l carregam Sl1as águas no mar. Existe um equilí\)rio
gerenciamento da reserva hídrica subterrânea. dinâmico entre as águas subterrâr1eas, de baixo C<lnteúdo
salin<), e as águas salgalias qL1e satt1ran1 as rochas ou sedi-
Nlesmo en1 áreas <1nde as prc>prieclades ccintarn cc,m
mcnt<)S se)!) e> mar. Quandc) este equili1Jrio se rclmpe,
rede ele ágt1a tratada, a perfuração de poçcls para uso
através d<) bombea1nento de pc>Ç<lS, pc>r exempki, há a
privadci é bastante ccJ1num, SfJbretudo para indústrias,
in, asâcJ ela água marinha salina nc> ir1terior de> a,Jiliferc>,
0
J
'0
ia .e
aflorantes e, em menos de 20 anos, desceram 40 metros,
exaurindo os horizontes aqüíferos mais permeáveis. A
·-e
'0
'O
40 .
o:
., '
.2
produção média, de 43-60L/s (154-216m3/h) por poço E
Q.
em 1964, caiu para menos de 25 L/s (90m3/h) em 1984. ·
·. Em 1975 gastava-se 0,7 kW para produzir 1 m1 de água·
60.
·. e dez anos após, 0,88kW / m3 (Fig. 20.6).
O Poço tubular
típíc:o
íl Horizonte mais
IJI penneável do
aqüífero
.· Fig. 20.6 Redução dram6tica na produção de poços públicos
de abastecimento de água na cidade de Lima, Peru.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HÍDRICOS 433
'
Cone de
Na virada do século XIX, os pesquisadores Ghyben
e Herzberg, trabalhandl) independentemente, estabe-
leceram uma relação entre um aqüífero livre, de Len~I
freót,co ---
porosidade primária, homc>gêneo e isotrópico e as
águas d() mar, com um modelo hidrl)Stático, que le-
vava em consideraçã() apenas as densidades dl)S lntarfcao /
esses autores, o rebaixamento de apenas um metro Fig. 20.7 Relação entre água subterrânea e água do mar em
do nivel do aqüífero, através da extração de um poço área de descarga de um aqüífero livre. Aextração de água sub-
prl1ximl) à cunha salina, causaria uma ascensão ou terrânea da linha de costa acaba por criar o avanço da água
intrusão de até 40 metros da água salgada. salgada em subsuperfície, processo chamado de intrusão salina.
Tabela 20.6 Áreas de subsidência causada pelo bombeamento excessivo de água subterrânea.
Localidade Subsidência Área de Principais períodos
máxima (m) subsidência (km2 ) de ocorrência
Japão
.
.. .
·· Lancoste . ·• l 400
Nevada
Hou~on-Galveston .. · · ·l .- 1,5
Louisiana
.~ ""
,_{
,,.,,,'
•
~
~
Fig. 20.8 Subsidêncià na
Cidade do México causado
pela extração de água sub-
terrâneo. Pode-se notar o
rebaixamento do nível da
avenida em relação à base do
estátua. Fotos: Instituto No-
cional de Bellas Artes y
Literatura, México, e R.
Hirata.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 435 %" ,
,
,
20.6 A Contaminação da Agua ele fertilizantes nitrc)genadcJs na aí-,,>ricultt1ra. A grande pre-
ocupacão ambiental associac1a ao nitrato está no fatcl dele
Subterrânea
pcJssuir grande mol1ilidade e persistência em condições
A água subterrânea apresenta geralmente excelen- aerc'lbicas. ()s n1etais pesados (incluindcl cádmicl, cromo,
tes qualidades químicas e físicas, sendo apta para C) chumbe) e mercúric)) apresentam baixa mobilidade em
consumo humano, muitas vezes sem tratamento pré- muitc)s ambientes naturais. r'.ste comportamentc) pode
vic). A cc)ntaminaçãcl c)corre quandc) alguma alteração ser alteradc) sob forte mudança nas cc1ncliçc'íes físicc)-quí-
na água colc1ca em riscc1 a saúde ou o bem estar de micas pH e 1-~h). C)s compostos orgânicos sintéticc1s são,
uma pc)pulação. pela tcix.icid~de, aqueles de maior preocupação ambiental.
Os padrões de potabilidade existentes nãci cobrem a
r'.ntre os compostos inclrgânicos, o nitrate) é cl
totaliclade das substâncias utilizadas pela scJciedade in-
cc1ntaminante de ClC<lrrência mais atnpla em aqüíferos.
dustrial. Isso decorre da insuficiente evidência méclica que
As fclntes mais ccJmuns deste contaminante sãc1 os siste-
permita <l estabelecimentcl de recclmendaçc'ies seguras.
mas de saneamento in situ (fossas e latrinas) e a aplicaçãcl
Tricloroetileno
Indústria 5,700,000.000 15.000
1, 1, 1-Tricloroetano
Química
Tetracloroetileno
Ocean City, New Jersey
Indústria Tricloroetileno
Eletrônica 1, 1, 1-Tricloroetano 6.000.000.000 9.800
Drenas de
Tricloroetileno 40.000.000.000 1.500
infiltração de
Tetracloroetileno
esgoto
Cape Cod, Massachusetts
.. Aterro sanitário
1,4-Dioxano
Freon 113 102.000.000 190
Gloucester, Ontario
1, 1, 1-Tricloroetano
Indústria
Freon 113 5.000.000.000 130
Eletrônica
1, 1-Dicloroetileno
San Jose, California
1, 1, 1-Tricloroetano
Aeroporto Tricloroetileno 4.500.000.000 80
Dibromocloropropano
Denver, Colorado
Alguns cc)mpostos orgânicos halogenados, utiliza- !idade da água tanto superficial como subterrânea, é
dos amplamente como solventes e desengraxantes, e usado o padrão de contagem de coliformes. Embora
alguns hidrocarbonetos pc)dem causar problemas ir- estas bactérias sejam inofensivas ao homem, elas são
remediáveis aos aqüíferos. Estes compc)stos são usadas devido a sua grande abundância nas fezes de
altamente tóxicc)s e bastante persistentes em animais. Portanto a detecção de coliformes nas águas
subsuperfície. Devido a suas características físicas, os é um indicadc)r de cc)ntaminação recente.
primeiros são geralmente mais densc)s que as águas
Embora esse padrão seja mundialmente aceito e
(DNAPL: dense non-aqueous phase liquidj e os outros, me-
disseminado, para as águas subterrâneas ele é bastante
nos densos (I"NAPL: light non-aqueous phase liquidj. Cc)mo
limitado. Essas bactérias sobrevivem em aqüíferos, em
apresentam baixa solubilidade geralmente acabam por
média uma semana, cc)ntra mais de 200 dias de alguns
criar uma fase imiscível que afunda ou flutua no
,·írus patogênicos, fazendo Cl)m que muitas vezes a
aqüífero, de acordo com o composto. A rcmoçãc)
sua ausência não exclua problemas de qualidade da
tc)tal desses cc)mpostos em meios porosc)s, principal- , • • A • •
DILUIÇÃO RETARDAÇÃO
-
ELIMINAÇAO
Solo
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N a.. Reações em
arnbientes redutores
Fig. 20.9 Perfil de degradação do solo e zona saturada e não-saturada. A espessura da linha corresponde a maior ou menor
atuação do processo indicado.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 437 l •
,
Uma das mais graves contaminações de origem 1-ais pre)cessos cc)ntinuam, em menor grau, na zc)na
natural, cnvolvende) arsênio, C)correu em Banglal-lesh. saturada. :'\esta zona a redução das ce)ncentrações
Um programa ce)e)rdenadc) pelas Nações Unidas per- e)ce>rrc principalmente pela diluiçãe), resultado ela llis-
furou milhares de poços nos vales deltáicos daquele persão que acc>mpanha o fluxei lia água subterrânea.
país, come) alternativa para o abastecimento de água
i\ atenuaçãei de contaminantes não é a mesma para
de populaçãe) ali residente, que anterie)rmente extraía
tcideJs eis aqüíferc)s. Algumas unidalles oferecem me-
água diretamente de rie)s contaminados. A exploração
lhc>r preiteçãe) que outras, llevidc) às características
clc)s aqüíferc)S rebaixc)u os níveis freátice)s, que induziu
litolÓ\!;Ícas
•
e hidráulicas da ze)na não-saturada C)U do
a oxidaçãc) do sedimente). F,~sta alteração de) ambiente
aqüitarde. Desta forma, a vulnerabilidade à polui-
físicc)-químico acabou por solubilizar o arsênic), que
ção de um aqüíferc) é uma característica intrínseca que
contaminou milhares de pesse)as causande> problemas
determina a sensibilidade dei aqüífero em ser conta-
graves de saúlle.
,
minado.
Agua subterrânea ce)ntendo elevada cc)ncentraçãc>
de flúor tem sido detectada na bacia sedimentar de>
20.6.1 Causas Antrópicas da Poluição de
Paraná. Vários poços, inclusive de grande profundi-
Aqüíferos
dade explorando o Sistema Aqüífere) Guarani
(fe)rmaçõcs Botucatu-Pirambóia), estão inoperantes ou Uma lista das principais fe)ntes potencialmente
sendc) sub-utilizados pe)r esta razão. Embe)ra vários cc)ntaminantes é apresentada na Tabela 20.8. As ativi-
estudc)s tenham silio realizade)s, ainda existem muitas dades mais impc)rtantes no contextei latino americano
dúvidas sobre a origem desse íon na água. sãei e)s sistemas de saneamento in situ, ou aquelas que
O sc)le) participa ativamente da atcnuaçãc) de mui- infiltram os efluentes diretamente no sc)lci, como de-
te)s, mas não te)de)s, ce)ntaminantes da á6rua subterrânea. pcisiçãe) incorreta de resíduos sólidos, vazamento de
C) processo de atenuaçãc) cc)ntinua em menor grau na poste)s de gase)lina, entre outras.
zona não-saturada, especialmente onde sedimente)s não
consolidadc)s, cm oposiçãc) a rochas fraturadas (pou-
co reativas), estão presentes (Fig. 20.9). Tanto C) se)lo
como a zona nãc)-saturada são a primeira linha de
defesa natural contra a pc)luição da água subterrânea.
Isto occ)rre não somente pela sua posição estratégica,
mas também pele) ambiente n1ais favorável à atenua-
ção e eliminaçãc) de poluentes e pela presença de grande
quantidade de micre)organismos.
,
Areas urbanas sem rede de esgoto ()s efluentes dcJmésticcis municipais possuem ele-
vadas ccincentrações em carbono orgânicci, cloreto,
Sistemas in situ de esgotamente) sanitáric), cc)mo
nitrogênic), sódio, magnésicJ, sulfatei e alguns metais,
fossas sépticas, latrinas, fossas ventiladas e secas, entre
incluindo ferro, zinco e cobre, além de concentrações
ciutras, são adequadas para a dispc)siçào de eflt1entes
variadas de microorganismos patogênicos. Destes com-
dc)mésticos em zonas rurais, vilas e pequenas cidades . . ' ,
pcistos, os que apresentam os ma1cJtes riscos a agua
a um custo bastante reduzido, comparativamente a
subterrânea sàci o nitrcigênio e eis micrc)cirganismc)s
redes de esgc)to e estações de tratamentc) de efluentes.
patogênicos (Fig. 20.10).
URBANA (o)
INDÚSTRIA
Lagoas de efluentes up oh s m
AGRÍCOLA (c)
,
i - Areos de cultivo
, .
- com ogroqu,m,cos rD no
Compostos nitrogenados nos dejeteis humanos depcisitadcis (cstcicadcJs) inccirrctamcnte (Fig. 2().11 ). ()
podem causar uma persistente e extensa contamina- armazenamento de matérias primas também poderá
çãc) em a9üíferos freáticos em zonas urbanas e contaminar o solo e as águas subterráneas.
peri-urbanas. Por exemplo, uma área de densidade
::\ão são necessariamente as indústrias causadoras
populacional de 20 pessoas por hectare pc)de gerar
dos maiores problemas das águas superficiais 9ue re-
uma carga de 1()0 kg/ha/ ano de nitrogênio 9ue, se
presentam o maior perigo para as águas subterrâneas.
oxidado por 100 mm/ a de infiltração de água de chu-
O lancamento de efluentes com altos valores de DBO
va, poderia resultar em uma recarga local ao a9üífero
(demanda bio9uímica de oxigênio), 9ue causa a mor-
de 100 mg/L de nitrato, ou seja, 9uase 10 vezes maicJr
talidade de peixes na água superficial, representa uma
9ue o padrão de potabilidade aceito para água. Na
menor preocupação aos a9üíferos, devido à alta ca-
prática, a proporçãc) de nitrogênio depositado 9ue será
pacidade depurativa do solo em relação a este
lixiviado é desconhecida, bem como a sua diluição e
contaminante. Da mesma forma, pe9uenas indústrias
redução 9uímica, devido a vários processos 9ue ocor-
e oficinas mecânicas 9ue manuseiam compostos tóxi-
rem em subsuperfície. Entretanto, o exemplo
cos sem muito cuidado podem causar sérias
demonstra 9ue áreas sem rede de esgoto, mesmcJ em
contaminações ao subsolo, sem atingir contudcJ os
climas bastante úmidcJs, podem ser alvos de contami-
corpos de água superficial. As dificuldades na identifi-
nações significativas. Em áreas mais secas, onde o fluxo
cação e fiscalização desses pe9uenos empreendimentos
regional é mencJr, a concentração do contaminante na
complicam a implementação de programas eficazes
água infiltrada pode ser ainda maic)r.
de prcJteção das águas subterrâneas.
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::.,..,..
no natural, que, em certci grau, é impermeabilizado culta a avaliação precisa dos riscos para o aqüífero e
pela compactação ou pela sedimentação dc)s sólidos da qualidade dos líquidos que percolam através do
trazidcis pelos efluentes. Tal condição, entretantci, nãci lixo (chorume).
é capaz de evitar uma infiltração, que em alguns caseis
A construção de aterros de resíduos sc'ilidos tem
é maior que 20 mm/ dia, e a freqüente ccJntaminaçãcJ
de obedecer a normas mínimas, regidas por legisla-
de aqüífercJS.
çãcJ. A obra deve ser bem localizada em relação aos
aqüíferos existentes e aos corpos de água superficial.
Resíduos sólidos Atualmente, estudos hidrogeológicos prévios são ne-
cessários e, quando da construção, é exigida uma
A deposição de resíduos sólidos de origem dcJ-
camada inferior impermeável de argila de 0,6 a 1,Sm
méstica ciu industrial tem causado muitos incic.lentes
de espessura e um recobrimento diário de 0,1 a 0,3m
de contaminação na água subterrânea em nosso País,
de sc)lcJ compactado. Algumas vezes é necessária a ccJ-
especialmente quandcJ feita sem controle e quando a
locação de camadas de material sintético, de grande
deposiçãcJ, que muitas vezes envolve líqüidcJs perigo- •A• A• ;• "
Fig. 20.12 Contaminação da água subterrânea pela deposição incorreta de resíduos sólidos e pelas perdas da rede de esgoto.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 441 .
Fig. 20.13 Contaminação da água subterrânea em área agrícola, provocada pela aplicação de fertilizantes e agrotóxicos.
442 D ECI FRA N D O A T ER RA
baixo pe)tencial gerador de cargas cc)ntaminantes, uma vistcJ neste capítulo, uma forte contaminação por subs-
vez que compreendem substâncias não-perigosas e tâncias altamente tóxicas e persistentes pode tornar um
muitas vezes inertes. O risco maior está relacic>nado à aqüífero irrecuperável em sua qualidade natural. Estu-
remoção do sole> e da camada nãe>-saturada, expon- dos para caracterizar a contaminação de um aqüífero
de> muitas vezes o ní,rel freático, o que não só reduz a podem facilmente alcançar centenas de milhares de
capacidade de degradação dos cc>ntaminantes ne> per- dólares enquanto sua recuperação, que muitas vezes é
fil geolc)gico como aumenta a vulnerabilidade de> pouco eficiente, freqüentemente demanda dezenas de
aqüífero à poluição. milhões de dólares. Da mesma forma, a intensa ocu-
pação territorial, assc>ciada ac> uso da água subterrânea
Acidentes ambientais e tanques enterrados torna o gerenciamento do recurso complexo. Definir
programas de proteção é portanto permitir o uso ra-
Um dos mais freqüentes casos de contaminação cional e sustentável da maior reserva de água doce da
de aqüíferos em centros urbanos refere-se a tanques Terra, em termos quantitativos e qualitativos.
enterrados contendo líquidos perigosos, incluindo os
combustíveis. Estatísticas na Holanda, por exemple>, ,
20.7.1 Assegurando a quantidade das aguas
mostraram que até o ano de 1985, os postos de servi-
subterrâneas
ço foram responsáveis por mais de 30% dos case>s de
contaminação, seguidos de perto pelos resíduos sóli- () grande problema no gerenciamento da quantida-
dos, muito embora não fossem os casos mais graves de dos recursos hídricos subterrâneos é estabelecer o
de degradação de aqüífere)s naquele país. volume total explotável de um aqüífero ou parte dele,
() grande número de contaminações por poste>s sem que isso esgote o recurso. A estratégia mais comum
de serviço decorre da quantidade de empreendimen- é controlar a perfuração de novos poços e o regime de
tos, da estocagem de produtos perigosos e altamente extração em áreas mais críticas, sempre baseada na recarga
tóxice>s, que mesmo em pequenas perdas causam po- do aqüífero, no rebaixamento causado pela nova obra
tencialmente grandes plumas contaminantes, da de captação, nos outros poços existentes, no uso previs-
dificuldade da detecção de vazamentos em tanques to para a água e em outros impactos secundários. Em
subterrâneos e da falta de fiscalização adequada. Atu- áreas de baixo uso, as restrições poderão ser menores. O
almente, em áreas de maior risco ambiental, vários procedimente) de aprovação de licenças de perfuração e
tanques tradicionais estão sendo substituídos pe>r tan- outorga do recurso poderá favorecer o planejamento
ques de paredes duplas, com detectores de fugas e racional de ocupação territorial.
poços de monite>ração. Para se determinar a disponibilidade de água de
O vazamento de tanques e tubulações, choques de um aqüífero para um uso qualquer é importante defi-
caminhões transportando compostos perigosos, falta nir as suas reservas, ou seja, a quantidade de água
de cuidado na carga e descarga de produtos são al- armazenada no substrato rochoso ou no sedimento
guns dos possíveis vetores de contaminação. passível de ser utilizada pelo bombeamento de um
poço ou grupo de poços. A reserva permanente é o
r volume total de água que pode ser extraído de um
20. 7 Proteção das Aguas Subterrâneas aqüífere> utilizando técnicas convencionais de
be>mbeamento. A reserva reguladora ou dinâmica
O uso cada vez mais intenso e extensivo das águas
corresponde à parcela da água infiltrada no solo, a .•
subterrâneas em todo o mundo, decorrente da sua
partir das chuvas, acrescida da água infiltrada artificial- ·
grande disponibilidade, menores custos de produção,
mente, a partir das perdas das redes de distribuição de ·
distribuição e qualidade natural normalmente excelen-
águas e esgoto, ou seja, o próprio volume de recarga
te, está levando a se>ciedade a se preocupar mais e
do aqüífero. E finalmente, a reserva explotável
mais com este recurso. A implementação de progra-
correspe>nde a uma fração da reserva reguladora (usu-
mas de proteção da quantidade e qualidade da água é
almente de 25% a 75%), entendendo-se que extrações
bastante recente no mundo, mas apenas incipiente em
maiores que esta fração comprometeriam o recurso. .
países de economias periféricas, como o Brasil.
, Em algumas áreas, mesmo que respeitando as
O ditado popular - "E melhor prevenir que remediar" -
servas explotáveis, a extração efetuada por um conjun
é diretamente aplicável às águas subterrâneas. Ce>mo
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HÍDRICOS 443 ., .
de poços pode, através do rebaixamento conjunto, C)s PPPs são mais eficientes em aqüíferos simples,
comprometer o aqüífero. Isto C)Cc)rre pcJis e) cc)nceito homogêneos e isotrópicos e em pequenas áreas. A gran-
de reserva explotável é definido para o aqüífero todo de densidade de poços explorados de forma irregular
e não para problemas de interferência entre poços, difi.culta a definição das zonas a serem protegidas. A
onde a distância entre as obras de captação deve ser estratégia de mapas de vulnerabilidade é melhor em
considerada. Neste caso, a autorização para a perfura- áreas maiores, com a análise de um número relativa-
ção, concedida pelo órgão de gestão do recurso hídrico mente grande de atividades potencialmente
deverá vetar a construção de novos poços, apoiado contaminantes e ccJm a existência de uma quantidade
em critérios de importância do usuário e estudos pré- reduzida de informação C)U grande complexidade
vios da hidráulica do aqüífero. hidrogeológica. Esta técnica é mais adequada para pla-
nejar o uso e ocupação do solo e estabelecer
prioridades de ação para a proteção do recurso, base-
20. 7 .2 Assegurando a qualidade das águas
ado no reconhecimento de áreas ou atividades de maior
subterrâneas
perigo de degradação de aqüíferc)s.
A análise das estratégias de proteção de qualidade C) planejamento de uso do solo pode se dar de
de aqüíferos em vários países revela duas linhas bási- três fcJrmas, de acordo com a existência de fontes de
cas de ação, muitas vezes independentes e baseadas no contaminação antrópica: em áreas onde já se com-
controle do uso da terra. A primeira linha restringe a provou a contaminação de aqüíferos por uma atividade
ocupação do terreno a partir de cartas de específica (fontes herdadas), em áreas onde novas ati-
vulnerabilidade à poluição do aqüífero, proibindo ou vidades potencialmente contaminantes serãcJ instaladas
autorizando a instalação de novas atividades potenci- e em áreas onde a c)cupação já ocorreu, porém não
almente contaminantes segundo áreas de alta ou baixa foram detectados problemas de ccJntaminação.
vulnerabilidade. A segunda linha se baseia no estabeleci-
mento de zonas ao redor de poços ou fontes de Em zonas altamente urbanizadas e industrializadas cJu
abastecimento com diferentes graus de restriçãc) de ocu- com intensiva atividade agrícola, a prioridade será na iden-
pação, a partir da identificação de contribuições de áf,>ua tificaçãc) de áreas ou atividades que apresentem os maiores
para o poço ou fonte (parte da área de recarga do risccJs à poluição dos aqüíferos. Para isto precisam ser
aqüífero), conjuntamente com o tempo de trânsito e o identificadas e cadastradas as atividades antrópicas e es-
comportamento hidráulico do aqüífero. Esta estratégia tes dados confrontados com uma carta de vulnerabilidade
se apóia na idéia de que quanto mais próxima a atividade à poluição de aqüífercJs ou com a localização das zonas
do poço, maior o perigo de contaminação. (Fig. 20.14). de captura de poços e seus perímetrcJS de proteção. O
perigc) maicJr será definido pela atividade que apresente
Quando o poder público estabelece o zoneamento maicJr potencial contaminante e que esteja locada em área
e o oficializa por meio de um instrumento legal, este de elevada \'llillerabilidade do aqüífero ou mais próxima
zoneamento é chamado perímetro de proteção de de poços importantes. Em áreas degradadas de aqüíferos,
poço (PPP). caracteriza-se o risco real para a população e para
o meio ambiente. Este critério de,·erá nortear a
decisão da remediação do aqüífero e o grau de
Poço 1 Zona de captura limpeza que se quer atingir. No terceiro caso, em
áreas no,·as onde se planeja ocupar o solo, a
implementação de atividades de reconhecido po-
Divisor de tencial poluente deverá ser precedida por estudos
drenagem
de impactos ao meio ambiente específicos, para
subterrânea
definir as restrições que deverão ser impostas à
ati,idade.
Leituras recomendadas
CUSTODIO, E.; LLAMAS, R. Hidrologia
Subterrânea. Barcelona: Omega, 1981.
FEITOSA, F.; MANOEL FILHO,]. Hidrogeologia:
Conceitos eAplicações. Fortaleza: CPRM, 1997.
POSTER, S.; VENTURA, M.; HIRATA, R.
Contaminación de las aguas subterrâneas: un
enfoque ejecutivo de la situación en América
Latina y el Caribe en relación con el suministro
de agua potable. Lima: CEPIS Technical Paper,
1987.
FREEZY, R. A.; CHERRY, J. A. Groundwater.
Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1979.
··-
·,.•···••t. ·, ........
446 DECIFRANDO A TERRA
....,..
.. Atividade garimpeiro no Brasil nos tempos coloniais, executado pelos escravos, até o século XIX. A gravura ilustro o lavagem c:e
minério de ouro no serro do ltocolomi, em Minas Gerais. Fonte: Martins & Brito, 1989.
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CAPÍl'ULO 21 • Recu~os MINERAIS 447 ,,!~r
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RECURSOS MINERAIS TOTAIS
Identificado Não descoberto
Demonstrado
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Grau crescente de conhecimento geológico
Fig. 21 . l Classificação de recursos minerais. Fonte: US Geologicall Survey Buli. 1450A, 1976
Os recurse)s minerais pe)dem ser distinguidos cm zam <JS termos jazida mineral e minério para desig-
diferentes classes, correspondentes a volumes re)chc)- nar <> ce)rpo mineral de onde suas substâncias úteis
se)s discriminados de acordo cc>m e> grau ele pcissam ser eccineimicamente extraídas.
conhccimentl) gel>lógicc> e técnice>-eceinêimice> de suas
1\ identificação de um depósito mineral freqüentemente
diferentes peirçe)es (Fig. 21.1 ). J\ssim, a reserva mi-
se inicia ceim o exame dcJ indício mineral ou da ocorrên-
neral, comei parte do recurso mineral, representa
cia mineral. :b~ssas expresse3es são praticamente equivalentes
volumes re)che)se>s ce)m determinadas características
e, em essência, referem-se a cc)ncentraçe)es usualmente su-
indicativas de seu aproveitamentci eceinêimico. Plir sua
perficiais ele um ou mais minerais úteis para indicar a
vez, a reserva mineral peide ser distinguida em três
localização de um depósito mineral.
classes de reserva: inferida, indicada e medida, c1ue
refletem nesta ordem o nível crescente de pesquisa e
cnhecimento do depósito. 21.1.2 Como nasce um depósito mineral
O estudo cletalhado de um recurse> e)u reserva mi- .\s substâncias minerais, salve) raras exceções, estãeJ
nerais pode levar à viabilidade técnica-ec<Jnômica de presentes em seus c1epósitos em concentrações supe-
um depósito mineral. Este, cc)mei um eibjetei gee>lc)- riores àquelas com que participam na compc>siçãe)
gico, é uma massa ou volume rochoso no qual química média da crc)sta terrestre (Cap. 5), ou seja,
substâncias minerais ou químicas estãcJ clincentradas acima de seu clarke (Tabela 21.1 ).
de modo anômalc>, quandci ccimparadas com sua c-lis-
,\ razãc> entre o cc)nteúdo (tecir) de uma substância
tribuição média na crc)sta terrestre, e em quantidade
num n11nérici e seu clarke é o chamacleJ fator de con-
suficiente para indicar um potencial mineral ecc)nê>mi-
cenrracão (f.c.).
cei. Quanto maic>r feir o teor, que é o grau de
concentração dessas substâncias no depósito mineral,
mais valilJSl) será, pois somente a partir de um vale>r f.c. conteúde) nei minériei / clarke
mínimo de teor é que suas substâncias úteis pciderãei
ser extraídas com lucro. :\ssim, comumente se utili-
Tabela 21.1 Conteúdos médios de alguns metais na crosta
continental (c/arke) e em seus depósitos minerais
(teores aproximados). l ppm = 0,0001%
alumínio 82.300 17 22
ferro 56.300 20 40
titânio 5.650 3 7
'
manganes l .000 7 20
• ' .
z1rcon10 165 0,5
vanódio 120 o, 12 0,2
cromo 102 7 30
níquel 84 0,25 1, 1
zinco 70 1,5 4,5
cobre 60 0,35 1,0
cobalto 25 O, l 0,3
nióbio 20 0,34 0,6
chumbo 14 1,5 3,5
tório 9 0,01 0,05
'
uran10
. 3 0,005 o, 13
estanho 2,3 o, 1 0,4
' .
arsen10 1,8
tungstênio 1,2 o, 1 0,4
antimónio 0,2 0,5 l ,2
Assim, nos casos do Al e do Pb, de acordo com para a formação de uma jazida de flúor ou de es-
os valores da Tabela 21.1, teríamos: tanho, estes elementos deverão ser concentrados,
f.c.A 1 22% / 8,2% ~ 2 a 3 respectivamente, em 200 e 2.000 vezes em relação
às suas concentrações médias na crosta terrestre
f.c.P 6 3,5% / 14ppm ~ 2.500 (clarke) ou a uma particular fonte com conteúdos
Uma vez que a abundância dos elementos é va- de flúor e estanho iguais aos da crosta (Tabela 21.2).
riável na crosta terrestre, assim como há minérios Como diferentes tipos de rochas contêm dife-
que exigem maior ou menor conteúdo da substân- rentes quantidades de um mesmo elemento químico
cia útil, o valor do fator de concentração pode (ver Cap. 5), podemos dizer que as rochas onde o
variar amplamente (Fig. 21.2). elemento está originalmente mais concentrado se-
O fator de concentração pode ser aplicado para riam as mais adequadas como fontes de depósitos
estimar o grau de facilidade com que os depósitos minerais. Para a geração de um depósito de chum-
minerais podem ser formados. Pelos valores dos bo, por exemplo, cujo clarke é 14ppm, os fatores
fatores de concentração, podemos entender que, de concentração devem ser de cerca de 40.000 para
CAPÍTULO 21 • RECURSOS MINERAIS 449 ir'."'
,,
1
2 3 4 56789
AI 1 11111111 1
1 1
Fe 1 1
1 1
Ti 1 1
V 1 1
1 1
REE 1 1
1 1
Zr 1 1
Th 1 1
1
Ni 1
1
Co
Mn '
1
1
Cu 1
1
Nb 1
u 1
1
Ta 1
1
Zn 1
Pt 1
1
Mo 1
1
Au 1
' Sn 1
1
Pb 1
Cr 1
1
w 1
1
Ag 1
Hg 1
1
Sb '1
Bi
1 10 100 1000 10.000 100.000
Fig. 21.2 Fatores de conce-ntração necessários para a geraçao de minérios de alguns metais, baseados no
clarke crustal. Escala logarítmica. Fonte: Laznicka, 1985.
uma rocha ultramáfica (teor médio de 1 ppm de Aparentemente, alguns depósitos minerais são
Pb), 2.000 para uma rocha granítica (que contém gerados somente a partir de rochas fontes especi-
em média 19ppm de Pb) e 500 para argilas (com ais, como é o caso dos depósitos de metais raros
80ppm de Pb em média). ()s processc)s naturais (elementos presentes na crosta em teores menores
responsáveis pela geraçãc) de minérios terão maior que 0,1 % cm peso), entre eles C) estanho. Rochas
rendimento e eficiência partindo de fc)ntes previa- fc)ntes especiais sãc) as que tiveram um modo parti-
mente enriquecidas. cular de fcJrmação em relação às suas congêneres,
tornando-se previamente enriquecidas em metais ou
Tabela 21.2 Comparação entre . . , .
fatores de concentração
m1nera1s ute1s.
Assim, os depósitc)s primários de estanho estão
Elemento Clarke Teor f.c.
asscJciados a determinados granitóides que se distin-
(ppm) médio(%)
guem dos demais por feições tectônicas, texturais,
mineralógicas e químicas específicas. Os granitos
AI 82.300 22 3
estaníferos deri,-am de um magmatismo essencialmen-
te silícico, típico dos estágios finais de um evento
Fe 56.300 40 8
tectono-magmático (Cap. 6), ocorrendo junto às por-
F
ções mais superiores de complexos rochosos intrusivos.
625 12 200
Isto lhes confere feições químicas peculiares em rela-
Sn 2,3 0,4 2000
ção a granitos normais, com aumento no conteúdo
de elementos raros específiccJs como F, Rb, Ll, Sn, Be,
Obs.: Os processos geradores dos depósitos de flúor ou esta- W, l\fc) e também em Si02 , Na20, e IZ20; por outro
nho deverão ser mais eficientes que os de alumínio ou ferro lado, são mais pobres cm MgO, CaO, Fe 20 3 e Ti0 2
para concentrar, num dado local da crosta terrestre, quanti- . .
que os grarutos normais.
dades economicamente viáveis desses elementos.
Podemos agora nos perguntar: como nasce um
depósito mineral? Ou de uma forma mais explíci- depósito
mineral de M
ta: como ocorre o enriquecimento de uma
armadilha
substância mineral num dado local da crosta ter-
restre constituindo um depósito? Este é um assunto
extenso e relativamente complexo que usualmente
é abordado na geologia econômica, o ramo da
geologia que estuda as rochas e minerais de interes-
A •
se econom1co.
O depósito mineral, embora sendo um corpo ro- Fig. 21.3 Elementos essenciais de um modelo de geração de
choso diferenciado devido a sua inusitada composição um depósito mineral, segundo Routhier, 1980. Usualmente mais
química e mineral, tem sua origem relacionada aos de uma fonte pode contribuir com substâncias úteis para o de-
processos geológicos comuns, tais como sedimenta- pósito. M = substância útil (elementos químicos, minerais,
fragmentos de rocha, etc.).
ção, intemperismo, metamorfismo, vulcanismo,
plutonismo, etc. Durante o desenvolvimento desses
processos geológicos podem ocorrer, coeva ou su- profunda), pode ser acionado por energia térmica
cessivamente, mecanismos ou condições especiais que (um corpo intrusivo, por exemplo) ou pela força
conduzem à.concentração de substâncias úteis, poden- gravitacional (carreamento de detritos por um flu-
do, então, a partir desse instante ser denominados xo d'água). A substância útil ou seus constituintes
processos de mineralização. Tanto é que podem ser transportados, conforme o caso, meca-
freqüentemente nos referimos, como que fazendo uma nicamente ou como soluto numa solução natural.
classificação de depósitos minerais, a depósitos O ambiente de deposição, por outro lado, varia
sedimentares, intempéricos, metamórficos, muito quanto à sua escala e natureza, podendo ser
hidrotermais etc., conforme a dominância de um des- representado pelo manto de intemperismo, siste-
ses processos na geração do depósito. mas de fraturas, plataforma continental, etc.
No entanto, não é no decorrer de todo proces- A fixação da substância mineral útil comumente
so geológico que depósitos minerais são formados. se faz em uma porção mais restrita do ambiente de
Ou seja, nem todo granito é portador de pegmatito deposição em conseqüência da ação de fatores que,
estanífero, assim como nem todo folhelho contém agindo como armadilhas, favorecem, naquele lo-
depósitos sedimentares de cobre. Para ocorrer uma cal, sua maior acumulação em relação ao resto do
mineralização, deve estar presente uma fonte que ambiente de deposição. Tais fatores são designa-
forneça a substância útil e um local/ ambiente para dos de controles da mineralização ou metalotectos
sua deposição de forma concentrada. A substância e são de naturezas diversas, tais como geoquímica,
útil geralmente sofre um menor ou maior trans- mineralógica, estrutural, paleogeográfica, etc. As-
porte, envolvendo energia (força-motriz), em um sim, certos jazimentos do ambiente sedimentar
meio que permite sua migração (Fig. 21.3). Esses ocupam volumes rochosos limitados dentro da se-
,
fatores deverão atuar de forma eficiente, conver- qüência sedimentar hospedeira. E o caso de alguns
gindo cumulativamente para a elevação do jazimentos de Pb, Zn ou Cu na forma de sulfetos,
conteúdo de um dado elemento químico, em de- que ocorrem como estratos rochosos relativamen-
terminado lugar da crosta terrestre, gerando um te delgados, dentro de uma seqüência sedimentar
depósito mineral. mais ampla e espessa que constitui o ambiente de
A fonte pode ser simplesmente uma rocha pré- deposição. Também é o caso das concentrações
'
existente particular, um sistema geológico mais aluvionares auríferas que preferencialmente se as-
complexo, como um magma, porções mais pro- sociam aos níveis conglomeráticos de um sistema
sedimentar aluvionar.
fundas da crosta terrestre, como o manto superior,
ou águas retidas dentro de uma seqüência Há muitas razões para se considerar um depósito
sedimentar ou vulcano-sedimentar. O transporte, mineral como um objeto rochoso especial quanto à
usualmente promovido pela água (superficial ou sua natureza mineralógica e/ ou geoquímica. Uma
CAPÍTULO 21 • RECURS.OS MINERAIS 451 ,'.-
.. ..
ortognaisse,charnoquito, etc.
• 1.750 a l.570Ma Mineralizações de cassiterita
Fig. 21.4 Visão esquemática sobre a sucessão no tempo e no espaço de eventos geológicos, magmáticos e de intemperismo,
convergindo para a geração de depósitos de cassiterita hospedados em elúvios ou colúvios. O esquema ilustra exemplos de
mineralizações que ocorrem na Província Estanífera de Rondônia.
delas decorre da observação da composição química Nesse sentido, a gênese de um depósito mineral
média da crosta continental (Cap. 5), na qual oito ele- guarda um paralelismo com a maioria dos proces-
mentos, com abundância crustal acima de 1% (O, Si, sos de preparação de minérios e de obtenção de
Al, Fe, Ca, Mg, Na, I<:.), correspondem a aproximada- metais, a qual não se realiza num único estágio, mas
mente 98% em peso da sua composição total. Um segundo uma seqüência progressiva de estágios,
depósito mineral para os demais elementos menos cada um deles contribuindo para o produto tinal,
abundantes, que perfazem cerca de 2% da composi- como por exemplo a obtenção do metal estanho a
ção da crosta continental, incluindo a maioria dos que partir de um minério estanífero. Assim, a fonte ini-
são úteis ao ser humano, certamente é uma anomalia cial de um depósito mineral pode estar bastante
, .
geoqu1m1ca. afastada no tempo e no espaço e o depósito mine-
ral é uma conseqüência da evolução geológica da
Apesar de suas feições peculiares, os depósitos
área na qual ele ocorre.
minerais resultam de processos naturais que se ex-
pressam paralela e/ ou sucessivamente; são
processos, em sua grande maioria, geológicos, mas 21.1.3 Minerais e minérios
também incluem processos climáticos (tal como nos ,-\ssociado ao conceito de depósito mineral, vimos
depósitos gerados por intemperismo) e/ ou bioló- que se utiliza o termo minério para designar a rocha
gicos (freqüentes nos depósitos sedimentares). Por da qual podem ser economicamente obtidas uma ou
exemplo, a gênese de depósitos estaníferos aloja- mais substâncias úteis. Como uma rocha, um minério
dos no manto de intemperismo (Fig. 21.4) ou, tem uma composição mineral especial, pois nele estão
mesmo, em sedimentos detríticos (Caps. 8 e 14) presentes de forma concentrada minerais que usual-
pode remontar à formação de magmas pré-enri- mente ocorrem dispersos na maioria das outras rochas
quecidos em Sn (estágio 1), os quais tardiamente, (Cap. 2). Assim, hematita (Fe2 0 3) pode ser mineral
em sua consolidação, geraram mineralizações de acessório em muitos tipos de rochas, como nos
cassiterita hospedadas em rochas graníticas (estágio granitóides e gnaisses, mas num minério de ferro este
2), que por sua \·ez foram alteradas e mobilizadas mineral está altamente concentrado, podendo ser pra-
por intemperismo e erosão (estágio 3). ticamente a única fase mineral presente (Fig. 21.5).
MINERAIS MINERAIS transformado, na forma de metais ou ligas metáli-
DE GANGA DE MINÉRIO
cas. Diferentemente, o minério não-metálico pode
::-'.:":<>_:>'; <F '<Y:-::':':,
Granito
• ser utilizado sem maiores alteraçe)es de suas carac-
terísticas originais, a exemplcJ de) amianto utilizado
na fabricação de artefatos de fibrocimento ou do
Pegmatito . . minério de
l ltio talco como constituinte de massa cerâmica. Outros
minérios nãei-metálicos precisam também ser trans-
minério de formados química ou fisicamente para a utilização
Serpentinito •·
amianto
comercial. FlucJrita e enxofre exemplificam clara-
Aluvião
mente este caso, pois é respectivamente na forma
de ácido fluorídrico e ácido sulfúrico que estes dois
minerais têm suas maiores aplicações industriais.
Fig. 21.5 Os minérios distinguem-se das rochas comuns por
estarem enriquecidos em substâncias minerais úteis, ou seja
Um grupo amplo de materiais minerais vem mere-
em minerais de minério, como a cassiterita em granito. cendo atenção pela diversidade de suas aplicações, da
demanda e dependência crescentes de nossa civilização
em relação a eles, assim como das perspectivas de novos
No minério associam-se dois tipos de minerais: o usos solicitados por inovações tecnológicas atuais (cerâ-
mineral de minério, que é C) mineral que lhe confere mica fina, fibras ópticas, supercondutores). Trata-se dos
valor econômice), e ei mineral de ganga ou, simples- minerais industriais e rochas industriais, definideis
mente, ganga, que não apresenta valor econômico. simplificadamente como materiais minerais que, dadas
Assim, num minériei de estanhei em granitci, a cassiterita suas qualidades físicas e químicas particulares, são ceJnsu-
(SnOJ é o mineral de minério, enquanto os demais mideis praticamente sem alteração de suas propriedades
minerais presentes, ceimo feldspatcis, quartzo e mica, originais, por terem aplicaçãeJ direta pela indústria.
constituem a ganga (Fig. 21.5). Os ccinceitos de mine- Os minerais e rochas industriais participam ativa-
ral de minério e de ganga não são absolutos, uma vez mente de nossa civilização, estando presentes em
que um mesmo mineral pode passar de uma a eiutra diversos segmenteJs industriais modernos: fabricação
categoria conforme o depósito mineral consicleradeJ de fertilizantes feJsfatados (fcisfcirita, apatita) e
ou até pertencer a ambas categeJrias em um mesmeJ potássicos (silvita, carnalita), indústria da construção
minério. Assim, tanto o feldspato qL1anto o quartzo e civil (brita, calcárici, quartzitci, areia, cascalhei), materi-
a mica podem ccinstituir minerais de minérici impcJr- ais cerâmicos e refratários (argilas, magnesita), papel
. .
tantes em muitos pegmatltos. (caulim), iseilantes (amianto, mica), rochas ornamen-
Distinguem-se os minérios em duas classes bastante tais (granitci, mármcire), perfuração de poços para
amplas designadas minérios metálicos e minérios não- petróleo e gás natural (argila, barita), cimento (calcário,
metálicos, conforme possam ser ou não feintes de argila, gipsita), além da indústria de vidros, tintas, bor-
substâncias metálicas cJu, também, tenham eJu nãei em rachas, abrasivos, eletro-eletrônicos, etc.
sua composição minerais úteis de brilho metálico. Em- Em sua grande maioria, os minerais industriais são
bora essas qualificações sejam freqüentemente utilizadas, representados peir minerais ou minérios não-metálicos,
elas refletem um certo artificialismo e, amiúde, esbarram tais ccimo o amianto e o talco nas aplicações citadas.
cm dificuldades para uma aplicação rigorcisa. Podemos Entre outre)s minéricJs metálicos, a cromita pode tam-
dizer que são expressões que surgiram espontaneamente bém ser considerada como mineral industrial quando é
na prática profissional para caracterizar de forma rápida, utilizada na fabricação de peças cerâmicas refratárias.
porém, superficialmente, as matérias-primas minerais. '
Neis países industrializados, a preJdução e o ceJnsu-
Minérios, por exemplo, constituídos por calamina,
mo de)S minerais e rochas industriais superam, na
scheelita e malaquita nãcJ seriam ccJnsideradeis metálicos,
maioria das vezes, os deJs metais. A taxa de seu consu-
uma vez que estes minerais ele minério não peJssuem bri-
mo constitui inclusive um de)s indicadores do nível de
lho metálico, embora sejam, respectivamente, minerais
desenvolvimento inclustrial de um país. No Brasil, a
de zinco, wolfrâmio e cobre.
demanda e o consumo de minerais e rochas industri-
Para SL1a utilização, o minério metálico normal- ais é grande, principalmente no setor ela construção
mente necessita ser trabalhado, profundamente civil, com forte tendência de alimento. As caL1sas estão
CAPÍTULO 21 •
-
RÊDJRSOS
-
MINERAIS 153 ·- ~:".,, 1
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45
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fluorita chumbo +cascalho {.)
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Bem mineral
Fig. 21.6 Estimativa do consumo anual médio por habitante de alguns bens minerais metálicos e não-metálicos no Brasil. Dados
do Sumário Mineral, Departamento Nacional da Produção Mineral, 1998.
UNIVERSIDADE POTIGUAR · ,
Sistema Integrado de Bibliotecx. • ·
O garimpo também constitui uma jazida mineral No início dcJs ancJs 1980, no depósito de cJuro de
em lavra e para a extração de suas substâncias úteis Serra Pelada, locali?.adcJ na Província Mineral de Carajás,
não foram realizac1os estudos prévicJs da jazida. ncJ Estado do Pará, instalcJu-se uma das mais intensas
Costumeiramente, os métodc)s extrativos utilizadcJs são ati,·idades garimpeiras do país, nãcJ só por uma ex-
rudimentares (Figs. 21.9 e 21.10). Apesar disscJ, cJs ga- pressi,·a produção de ourcJ, como também pcJr uma
rimpos podem respc)nder por uma parcela significativa asscJm\JrcJsa concentraçãcJ c.le pesscJas nas suas escava-
da produção de certcJs bens minerais, tais ccJmo es- çc"'ies, resultanc.lo em imagens semelhantes a um
meralda, topázio, minerais litiníferos, diamante, cJurc) '"fcJrmigueiro" humancJ (Figs. 21.11 e 21.12).
. .
e cass1ter1ta.
Senc.lo cJ depósitc) mineral um produto natural, o
ser humancJ não decic.le scJbre suas características (tais
ccJmcJ composiçãcJ mineral e química, teor, quantida-
de da substância útil, lcJcalização gecJgráfica,
profunc.lidade etc.), pc.Jde apenas aceitá-las. F,m decor-
rência dessa situação, a obtenção de substâncias a partir
ele um depósito mineral depende de vários fatores,
devem ser favoráveis às aplicações antevistas para a () tratamento divide o minério bruto em duas fra-
se)ciedadc. Assim, os minérios de ferro devem ter bai- ções: concentradc) e rejeito. O concentrado é C) produto
xos conteúdos cm fósforo e a bauxita deve ser pobre em que a substância útil está com teor mais elevado
em sílica; pirita, apesar de ser e) mais comum dc)s ou as qualidades tecnológicas do minéric) estão apri-
sulfetc)s, não é mineral de minério de ferro, que é ob- moradas. O rejeito é a fração constituída quase que
tide) em larga escala a partir de seus e)xidos cc)mo cxclusi,·amente pelos minerais de ganga e usualmente
hematita e magnetita, bem come) quartzitos friáveis é descartado. Assim, por meio de métodos adequa-
por intemperismo podem constituir excelentes fontes dos de tratamento, um minério de berílio a 10% de
de areias quartzosas, em c)posição ao quartzito com- beri!c) poderá produzir um concentrado composto
pacto, não intemperizado. dominantemente (80 a 90%) pele) mineral bcrilo; de)
mestnc) modc), um minério ele ferr<) ele altc) tcc>r, na- dc>s 11ãei-n1etáliceis sãci dcfiniclas ncitaelan1ente em fun-
turalmente friá,-cl, pciclerá ser trataclcJ por simples çà<> ele> us<J ela substância mineral. J\lguns minerais sãci
lavagem, segLiida por classificaçãci grant1le)métrica, prci- ccilc)cac!c)s em mais de uma classe cm virtude ele te-
duzinclei, cc)mo ccJncentraclos, seus diferentes tipeis rcm eluas eJu mais utilizações distintas, ce>mei creimita
ceimerc1a1s. n1eralúrgica e crc)mita refratária CJLt chamante inclustrial
•
"para fa\Jricaçà<) de ferramentas de ce>rte) e cliamante
(~erte)s minéric>s de eiure>, metais básicc)s, urânici,
c<in1ci pcclra precic,sa. As qualificaç<'ícs para as clife-
platina, feisfatei, grafita e tantalita, em virtude de parti-
rcntcs aplicaçeJes ele uma substância mineral pc1clem
ctilar ce)tnposiçãci mineral e>u !)aixcis tecires, cxigcn1
ser in1peistas pelas características naturais ele) minéricJ
méteiclcis ele tratamente) mais seifisticadc>s, às vezes de
< >u clalJ<Jraclas pcir métcielos 11re'ipric1s ele tratament<J.
altc) CL1stei, tais come) c1uímicc>s e elétriceJs, para prepa-
rar a substância útil cc1m vista a Stta Lttilizacão inclustrial.
'
• •
ae> mesme) tempo, ccJnstttL1en1 um cr1ter1e> para essenc1a1s
classificá-las. i\ classificação utilitária é uma pr<ipcista
clássica de sistemati?:açãc) das substâncias minerais úteis, Tipci genético de depe'isitei mineral ceirrespeinde a
ft1nclamentacla nas suas aplicaçcJes (fal)ela 21.3). grupos ele depcisitos que tiveram um modo ele for-
maçãci scmelh:inte. (~orno os clepósitos minerais
()s metais fcrros<1s distinguem-se cleis n1etais nã<J-
resultam ela ação de prcicesseis geeilcigiceis comuns, tal
ferrciscis por st1a utilização essencial na inclústria ele>
comei cc>mentado anterieirmente, cJ processo gcoló-
açei e na fabricaçãei elas demais fcrrc)ligas. t\s classes
gicci dcJminante na geração dei depcisiteJ ceinfere-lhe
sua classificaçãc) genética.
Tabela 21.3 Classificação utilitária simplificada das substâncias minerais: alguns exemplos
Metálicos
Não-metálicos
guns constituintes da rcicha-mãe sã(i imobilizadc)s no m1ca1nente graças aci enr1quec1mcntci supergeno atuante
manto de intemperismo enquanto outros sãc) elimina- sc>l1re SL1as mineralizações disseminadas a l1aixcJ tec>r,
dcis. Concentra-se ao final do procesS() um resíduci tal C<Jn1cJ nos depc'isitcis de cobre pcirfirítico, ccJm 1nui-
químico constituíe-lo essencialmente por substâncias tcJs excn1plc)s na caeleia andina.
pouc<) S<Jlúveis nas condiçc°íes de intemperismo, dc>n-
cle serem também designados depc)sitos residuais Sedimentar
(Fig. 21.13). Quimicamente, as substâncias mineralizaelas
Delis grandes grL1pos c-le elepósitos minerais
se apresentam principalmente na f()rma de <)xiânions,
seclimentares sã<> diferenciaelos: os cletríticcJs, taml1ém
tais como silicatcis, fosfatos e carbonatos e, também,
conhecielos com<J plácer, e os químiccJs. Esses e-lepó-
C<Jmo óxidos e hidróxidos.
sitcis decorrem, tal come> uma rcicha sedimentar (Cap.
Clima, vegetação, relevo e drenagem igualmente in- 14), dei transporte de substâncias úteis pelos agentes
fluem na formação do depósito supérgeno, governanelo geolc)gicos superficiais e da sul1scqüente elepc>sição
a alteração química dc)s minerais ela rocha-mãe, retendo mecânica (depcisitcJs sedimentares eletríticos) ciu da pre-
a fase química insolúvel ou promovendcJ a eliminaçãci cipitaçãc) química (dep(>sit<JS sedimentares l]Ltímicos)
da fase solúvel. Sendo geradcJs no manto de das substâncias transportadas em lagcis, deltas, linhas
intemperismo, portanto próximos da superfície, podem de praia, planícies aluvicJnares, platafcirma cc)ntinental,
ser facilmente erodidos. Por isso a maior parte dos de- etc. (Fig. 21.13). Daí podermos também qL1alificar CJS
pó si tc) s conhecidos e lavradcis desta classe é elepc'isitc>s minerais sedimentares ele accJrdcJ cc)m <) am-
relativamente jovem (pós-Mesozóic<J) e com maior fre- l1ientc de depc)siçãci, por exemplei, lagunares, e-leltaicos,
qüência cJcorrcm na regiãcJ intertrc)pical, onde cJs marinhc)s, alu,•ic)narcs, etc.
intemperismo
transporte de material sedimentação
depósitos detrítico ou em solução
manto de residuais e eluviais
intemperismo depósitos d l)Ó ~ sedimentares
sedimentares detríticos · bioquímicos
Fíg. 21.13 Alguns tipos de depósitos minerais exógenos (formados junto à SL>perfície rerresrre), dependentes do intemperismo e da
sedimentação. Os depósitos supérgenos freqüentemente se limitam ao manto do intemoerismo sobre o rocha-mãe. Os depósitos
sedimentares envolvem também um transporte da substância útil, seguido de deposição mecânico do fração sólida (depósitos
detríticos) ou precipitação química do fração solúvel (depósitos químicos/bioquímicos _
458 DECIFRANDO A IERRA
Representam um 6rrupci eccinomicamente impcirtan- pc)ucc1 scilúveis na fusão e se6rregam-se ccJmo minerais
te e diversificadci e{e substâncias qt1e incluem ferrcJ, (pcJr exemplo, cromita) ou mesmc) cc)mo fases ainda
manganês, metais básicc)s, rcichas carl)cináticas, evapc)ritos, fundidas imiscíveis (pcir cxempkl, sulfetcJs ele ferrei e ní-
ouro, fcisfatci, gipsita, cassiterita, etc. Podem também ser qt1el). Essas fases, no deccirrer da ccJnsolidação, pod_em
incluídos os chamaelos combustíveis fc'isseis (petrólcc), car- se ccJncentrar gerando pclrçc>es ele rocha magmática
vão, gás natural), gerados em ambientes seelimentares. enriquecidas que pelden1 ser sul1stâncias t'.1teis (l'ig. 21.14).
Esse prcicesscJ de geração ele elepélsitcJs minerais é cha-
()s mecanismcJs envolvidcis na acumulação das subs-
n1adcJ de segregação magmática. Dessa forma, t1m
tâncias úteis na seqüência sedimentar sãc) bast.'lnte distintos.
n1inérieJ cirtomagrnáticci é a prc'ipria rcicha í6rnea, asse-
Nos pláceres, cinde se concentram minerais usualmente
melhandcJ-sc a ela etn sua textura e estrutura, porém com
ele dureza e densielaele elevadas, variaçc>es na capacidade
uma compcisiçãei mineral especial e1ue lhe confere t1m
de transpcirte do meio aqucisci pcielem condicicinar a de-
valcJr eccinêimiccJ. São importantes c)s depc'isitcis asscicia-
posiçãcJ elo material que está sendo transpcirtaelci em
clc1s a rcichas básicas e ultralJásicas (crcJmita, metais elc1
suspensão ou pcJr arrastei. Nos pláceres aluvicinares, pc1r
grupcl da platina, níquel, ccJbaltei), rcichas alcalinas (ele-
exemplei, a deposiçãci pode ser ccJnseqüência ela dimi-
mentcis de terras raras, zirctinici, urânici), carlJonatito
nuição da velcicidade da ágt1a do rio. Assim, partículas
(fc1sfato, nic'ibio, elementcis de terras raras, \Jarita), e rci-
fmas de minerais bastante elensos, como cassiterita, pei-
chas granitóieles (estanhe), wcilfrâmici).
dem estar disseminaelas na fração sedimentar de
6rranulação maior e menos densa, come) em areias 6rrcis- As mineralizações tardi- a pc'is-magrnáticas ocorrem
sas ciu em cascalhos. l\1ecanismos de natureza qt1ímica elt1rante as fases terminais ele cristalização de rochas
mais complexa, freqüentemente interagindo com a ativi-
1;1;,, - --- ol1v1na
dade biolc'igica, governam a eleposição de substâncias
--- cromita
previamente elissolvidas na fase aqucisa de um am\Jiente · - -•- -_-. • ,_,___ magma
sedimentar. Condições reelutoras ou oxidantes e ácidas
ou básicas reinantes num sítio deposicional podem, ccJn-
forme cJ caso, acarretar a inscilubilidade de espécies químicas base da câmara
disscJlvidas e cone1icionar a depc)sição de metais na forma magmática
de sulfetos, carbonatcis, hidróxidos, sulfatos, ckiretcJs, etc.
Fig. 21.14 Separação e deposição de cromito dentro de uma
Os depc'isitcJs sedimentares, tantcJ eletríticos comcJ quí- câmara magmático. A baixo viscosidade do magma básico ou
miccis, costumeiramente se alojam em hcJrizcintes ultra básico, submetido o temperaturas elevados (-1 .200º C),
permite o atuação de um movimento convectivo. Variações su-
rocheJsos particulares da seqüência sedimentar hclspedei-
cessivos no intensidade do fluxo convectivo conduz à deposição
ra, os quais poelem corresponder a algum tipo de contrc)le
alternado de camadas ricos em cromito e camadas ricos em
sedimentar, litolc'igico ou estratigráfico. f'eições elcJ ambi-
olivino formando assim depósitos estratiformes de cromito. Me-
ente depcisicional associadas à paleogeo6rrafia e palecJclima canismos semelhantes podem também conduzir à segregação
podem igualmente influir na geração desses elepélsitos. e concentração de fases magmáticos imiscíveis ricos em sulfetos
(Fe, Ni, Cu) ou óxidos (Fe, Ti).
Magmático
ma6rmáticas, em especial aquelas de natt1reza granítica.
()s depósitos malc,,>máticos são geradcis pela cristaliza- Uma fração fundiela residual deceirrente da consolida-
ção de magmas (Cap. 16). Aqueles formados çãei do magma é enriquecida em veiláteis, principalmente
concomitanteme11te à fase principal da cristalização sãei água, o que lhe cc)nfere bastante fluiclez. Dadas as condi-
denc)minados depósitos ortomagmáticos ou sinmagrná- ções de pressãci e temperatura a que está submetida, peide
ticcJs. Ceimumente hospedam-se em rochas ricas em migrar para regic:íes apicais das cúpulas graníticas ou para
olivina e pircixênio (tais como dunito, peridotito, gabro). suas encaixantes próximas, gerando produtos rochciscis
Os depc'isitos gerados na fase fmal da cristalização são e minérios bastante clistintc)s do granitóiele-fonte (Fig.
ccinhccidos como depósitos tardi- e pc'>s-magrnáticos. 21.15). À medida que se movimenta, este fluidcJ tam-
()correm freqüentemente em rcichas enriquecidas em bém promci,,e transformaçc>es químico-mineralc'i6ricas nas
quartzo e feldspatos (tais comei granito e granodicirito). rochas percc)laelas. i\ deposição dos metais comumente
Durante a cristalização do magma, devido à queda mcistra um zc)neamento, ou seja, elas regiões all1itizadas
da temperatura, alguns dos seus constituintes teirnam-se
CAPÍTULO 21 • RECURSOS MINERAIS 459 •, .1
' f ;
-·
e
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m1ner10
.
disseminado minério maciço
(Fe,Cu) (Fe ,Pb,Zn,Ag)
•
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I /J' água 1narinha
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..... ~'.k f,
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'//~-•'
U) ~ /
o.>! rocha permeável
Brochas encaixantes ~ fluxo do fluido aquoso
~j.-------------------------------------------
2.l.:l ·· • . · · rocha menos
rocha granítica ~ permeável
Mineralizações
gre,sens
albititos a
- esca rn itos
peg matitos
- depósitos em veios
•"'fntF "
Fig. 21.15 Diagrama esquemático resumindo os principais '1 ' "U!J< ';,'
Hidrotermal
seus solut<)S terem fc)ntes eli\'ersas, tais cc)mC) magmática, a égJc rerr uma circulação descendente, difusa, envolvendo
grandes vo•umes de rocha. Ocorre a lixiviação de metais trans-
metamc'irfica, meteórica de circulação crusta! profun-
por·ccos corT'o solutos. A circulação ascendente ocorre
da, sedimentar, entre <>utras (Fig. 21.16). Nestes diferentes
usL,clrren•e ae forma canalizada ao longo de fraturas, falhas,
ambientes gec)l(igicc)s, a água pc)de ser pr<)h>ressivamente
planos ae o:::or,,amento ou de foliação, onde também pode ocor-
aquecida e reagir quimicamente ccim c>s minerais e ro- rer o precioi·ação das substâncias transportadas. A situação (a)
chas percc)lados, transformando-se então numa pode es•ar associada ao vulcanismo intermediário e félsico em
soluçãc)/ íluidci mineralizadc)r. ,\ cieposição das su!Js- zonas ce s~:)Q'J:::ção; a situação (b) pode ser encontrada em
tâncias transportadas e a geraçãci de) minéric) decc)rrerãc), zonas ce r;,s continentais, e os exemplos da situação (c) em
conforme <) casei, da inter\·ençã<) combinacla de fat<)- seqüências seaimentares de margens continentais passivas e em
res, tais cc>mo resfriamento e quecla de pressãc) ela cinturões metamórficos ao longo de zonas de colisão de placas.
------"··
se)luçãc), reaçe"ies com as rochas percoladas, variação de mineralizando-se e retornando ao assoalho oceânico
pH, Eh, cc)ncentraçãci de oxigênie), etc. como uma salmoura hidrotermal. A percolação descen-
'falvez seja e) prc)cesso d.e mineralização mais comwn c.lente e ascendente da água configura um sistema
atuante na creista terrestre, ilustradc) por depc\sitos mine- hidrotermal no qual a água perccilante, inicialmente de
rais p<)rtadores ele quase todcis os elementos qLúmiccis natureza marinha, sofre modificações físicas e químicas,
de cicorrência natural. Morfcilei1:,ricamentc, os depósiteis t()rnando-se cm diferentes graus mais ácida, mais reduzi-
hidrcitcrmais poe-lem se apresentar comei veios c)u ftlões, da, enriquecida em solutos e, evidentemente, quente. A
onde os minerais úteis preenchem, pcir exemplo, fratu- insrabilização química dessas soluções, em níveis mais
ras ciu falhas na forma de corpe)s de minério tabulares, raseis do assoalhei <)ceânico e)u sobre o próprio assoalho
ciu ainda come) depósitos disseminados. Nestes últimc>s, ()ccânico, ce)nduz à precipitação dos metais carreados em
a mineralizaçãc> envolve um maior volume de rocha, prc- solução, junto à atividade vulcânica e ao processo
enchcnclci fraturas delgaelas eiu substituindo minerais ela sedimentar (Fig. 21.16a). A descarga do fluido sobre o
reJcha hospee-leira, ccimo carbeJnatos. l)m deis exemplos asscialho oceânico poc.lc levar à construção de estruturas
ccimL1ns sãeJ os elepósiteis de ciureJ hcispedados cm zci- ctn fcirma de chaminé (tais comei eJs hlack s111okers e 2vhite
nas de cisalhamentei, onelc íluidei e solutei peidem ter stnokers), C<Jnstituídas de substâncias químicas (sulfatcJS e
cJrigetn no metamcirfismo ela seqüência rochosa heispc- sulfetcis) precipitadas em contato com a água do mar
cleira das mincralizaçc"ics. (Cap. 17).
()s clepéJsiteis hie-lrcitcrmais ccinstituc1n uma elas mais b:ssas mineralizações nãci são somente visualizadas nas
impeirtantes fc>ntes ceJmerciais de 1netais, que se expres- atuais !Jorc.-las de placas c.livergentcs. F,xemplos dessas
sam ccJmLtmcntc na forma de sulfetc)s, tais cc>mo c>s ele mineralizaçe)cs sãci conhecid<JS desde cJ Arqueano. Os
ferrei (pirita), zinc<1 (esfalerita), co!Jre (calcopirita), chum- principais depósitos são de metais básicos (tais comei
bei (v;alena), prata (argentita), mercúrio (cinábrio) e arsênici cobre, zinco, chumbe)), níquel e eiuro, correspc)ndendo a
(realgar, arscn<ipirita). C)ccJrrem com freqüência cm imp<Jrtante parcela e.los recurseJs mundiais desses bens
. .
m1nera1s.
cintur<3es cJrcigênicc)s c)nde o aqL1ecimcntci dc)s flLticlc)s,
aliad.e) à geração de fciçe"ies cstrLtturais (falhas, !Jrechas,
faixas cisalhadas, foliaçã<>, etc.), e1uc ser,,irãeJ ele c<inclutc>s Metamórfico
para a circulação elas sc1luç<"ies, facilitam a interaçãc> tlui-
elo-rcicha. J\ci leingci elcssas estruturas peidcrá cic<1rrer ()s depc'isitos mctamc'irfic<JS mais evidentes decor-
tambén1 a prccipitaçãei dos seJlL1tos. Daí muitcJs elcpósi- rem da recristalizaçãc) ele rochas ou minéricJs
tcis hie-lrcitern1ais apresentarem um ccJntrolc estrutural pré-existentes por ação da pressão e temperatura. Entre
e,,ielcnte na e-lepcisiçãei e localização de seus minéricJs. as transfeirmaçe"ies impostas, o aumento da granulação
e cristalinidade das fases minerais iniciais comumentc
C()nfcre ae) minério melhor qualidade para sua utiliza-
Vulcano-Sedimentar
ção, a exemplo dcis mármores e grafita, também
A ati,cidadc vulcânica que se instala conccimitantemcntc designadcis dcpc'Jsitos mctameirfizadcJs. C) mármore é
ao preiccss<) seelimentar, p<)r meÍ<) de seus fluie-lcis e exa- <J ee1uivalente metamórfico de reJchas sedimentares
laçc'ics que atingem <) assc>alhei elo sítici elcposicieinal calcárias e a grafita, c.lc sedimenteis carboncisos.
LlSL1almcnte marinhei, p<Jde gerar os elepósitcis vulcanci- (_)s íluidcis metamórt1ce)s, gerados em condições de
seelin1entarcs. temperatura e prcssãc) elevadas (Cap. 18), pcldcm conter
:b~sse processei de mineralizaçãcJ poclc ser atualmente substâncias passí,-eis de serem precipitadas em respc1sta
cibscrvac-lci junto acis sistemas ele riftr das dorsais mesei- a muc-lanças qtúmicas, físicas, gee)mecânicas ou devidas a
cJceânicas. Equipamentos e ,-eíct1lc)s submergíveis, reações com as rochas percc)ladas. A deposição occ)rre
, .
prciprtos para atuar etn granc-les profundidades, pude- clurante a perc<1laçãci desses fluidcis através de rochas
ram re1:,ristrar e filmar a ati,,iclacle vulcânica cxalativa nessas mais permeáveis eJu de estruturas tectônicas favciráveis
clc)rsais, betn ccitnci amcistrar materiais já mineralizad<JS ceimo feiliações, planeis de falha ou zonas de cisalhamento
'
de uma jazida em formaçã<) a partir e-la precipitação clessas concluzindei à fcirmaçãcJ de c.lepc'isiteJs hidrotermais de
scilt1ções (Caps. 13 e 17), C<)nstituídas pela prc'>pria á1-,,ua filiaçãci metamórfica.
dei mar qttc, infiltrane-lci-sc prc>fundamentc na crc)sta c;cc- 1\ maic>ria dos clepéisitos dessa classe origina-se da
. . .
an1ca, aquece-se e interage quimicamente com suas rcJchas, açãci ele e,,entos regicinais usualmente progressivcis.
Durante esses eve11tc>s, pele> 111cnc>s parte das sLtl1stán- 1111ner:us Tºig. 21.17). 1\s margens de placas tectônicas de
cias mi n eralizaclas é transpc>rtaela pc1r tl LliLlrJ, n1ai, ,r ir1teresse metalogenéticci sàcJ as ccinvergentes, eli-
de,,cilatilizadc1s ccinccimitantes ac> meta111eirfisme> e ,·erge11tes e as n1argens passivas, cc>nfcirme exemplificaelc>
interatuantes ccim as rc>chas percciladas. \lineralizaceJes na 1·al1ch1 1 1.4.
de ouro, freqüentemente na fe1rn1a de filcJes, sàci al-
() impacte> e-la tect{inica global na geologia eccinômi-
guns elos exempleJs elesse processe> genéticci
ca pe Jssibilita entenelcrmos melhe>r ci aml1iente tectônico,
cc1nstituinelc> c1s ,,alic1scis Iodes auríferos (fºig. 21.1 Cíc).
as asscJciacr"ies litcJl(Jgicas e a metalcip;ênese ccirrelata ncJ
Além do metamcirfismc> rehricinal, o de ceintatc1 pclde an1l)iente ela e, eiluçãcJ ccintincntal, Cl c1ue, pcir sL1a vez,
feirmar dep(JsitcJs específiccJs, elitcJs clep(isitcJs facilita a clabciraçàcJ de rnclelelcls e prcigramas
metassc>máticcis ele ccJntatcJ CJLl escarniteis, c1ue se asscJci- expkirat(Jricis clirigiclcis à proct1ra e desccJberta de 11ovc1s
. .
a111 à zcina c-le ce111tatci entre intrL1se'íes 111ag111àticas, recurscJs nunera1s.
usualmente de natureza granítica, e see1üências rcJcl1eJsas
;\ maicir parte elos exempleis de dep(isitcis 111inerais
carbcinatadas. l\linerais nee1fcirmadcis tais ccimci de
fanerciz(iiccis (C~ap. 15) mc>stra uma clara relação espacial
wcilfrâmici, ferre\ ciuro, ccibre, wcillastcinita, gra11ada, etc.
e genética ccirn a tectê>nica glcJl1al, a qt1al, pcir mcici ele
pcldem se tcJrnar enriqL1ecielc>s elentrci ela aL1récila ele ccJn-
seus 111ecanismcis e prcJcesscJs, atucJu ele têirma mais e,·i-
tatci ccim a rcicl1a encaixante.
dente até hcije ccJnhecicla e registracla. l~la é ccinsieleraela
a causa maicJr, evidentemente nàcJ exclt1siva, da prcJ!ifera-
21.3 Tectônica Global e Depósitos çãcJ abunelante e variacla ele elep{>sitcis minerais elurante
Minerais cJ l~a11erc11,{iiccJ.
Fig. 21.17 Exemplos de depósitos minerais freqüentemente associooos o ombien·es do tectônica global.
462 DECIFRANDO A 'l'ERRA
'
area ' .
ocean1ca mineralizações de sulfetos nas cadeias meso-oceânicas atuais: exalações na dorsal
do oceano Pacífico, lama metalífero do mor Vermelho
mineralizações em ofiolitos: sulfetos vulcanogênicos de Cu - Zn (Canadá)
e cromita (Turquia)
tcro Fcrrífero cm Minas Gerais), mineralizações de Sn mento dei corpci de minério, até a determinação de seu
mesc)prcltcrc)zc'Jicas (Província Estanífcra ele Rclnclê)nia), aprcJveitamentcJ eccJnômico. Ela é, em si, um negócicl de
,
minérios (Cr, Ni, Cu, platin{Jieles) em cc)mplexc>s altci riscci mas de retorno atraente. f: um excrcícicl de
máficcls / ultramáficcls arqueanc)s cJu palec>proterc>zc'iicos criatividade intelectual e científica, cnvc)lvendo geração
'
(Africa de> Sul, C:anadá), sulfetcls ele Zn, Cu, Ni cm se- ele idéias e teste cc)ntínuo elas mesmas. A pesquisa mine-
qüências vulcancl-sedimentares arqueanas (C:anadá, ral é a primeira fase de) processo ele suprimente) de
Austrália). matérias-primas minerais. F;:ste prc)cessci é dinâmico, pciis
a demanda estimula a pesquisa mineral e, aci mcsmci tem-
pc), a busca ele alternativas de suprimento.
21.4 Descobrindo Novos Depósitos
Minerais 1\té a década de 1950, a pesquisa mineral resumia-se
basicamente ao exame ele indícios minerais, em que o
Devido à grande produção de minérios, as reservas prospectcir era a fi 6rura central. Atualmente, os esforçc>s
minerais mundiais conhecidas estàcl sendc> exauridas, sãcJ diri6rielos e baseaclos em uma análise re6ric>nal mais
podendo ncl futuro tcirnar-se escasscis eis dcpc'lsitos cc)m ampla, na qual os programas ele pesquisa mineral consti-
ccincentraçc1es eccinômicas de elcmentcis ou substâncias tuem operações sincronizadas ciu neg{icios de
minerais úteis. Dessa forma, dcsccibrir novcis depc'lsitcJs cJrganizações, e nãcJ ações individuais, envolvendci a aná-
minerais si6rnifica acima de tuelo asse6rurar o suprimente) lise de áreas e alvc)s tàvc1rávcis à existência de minéric)s.
ele metais e insumc1s minerais nãc1-mctálicos para benefí-
NcJ Brasil, nas últimas décadas, muitci pcJuco se fez
cio geral da humaniclade e também prciporcicinar meios
em relação à pesquisa mineral, embora, recentemente,
para estabelecer nclvas minas, vilas mineiras, cidacles e '
ncJvas áreas estejam sendo pesquisadas para ouro, dia-
ativielades comerciais inerentes.
mante, platinc'iidcs, rcichas e minerais industriais. Ncivas
() e1ue é a pesquisa mineral? Significa a cxecuçãci técnicas de pesquisa sãc) aplicaelas para avaliar cJ pcitencial
de uma seqüência contínua de atividades, quandcJ ncivos mineral principalmente cm áreas mais favciráveis à occ)r-
clepósitcis e rccL1rsos minerais são descclbertc)S. F,ssas ati- rência de ncivos depósitos minerais.
vidaclcs vãc) desde a prclcura de indícicis ele mineralização,
passanelo pelei estuelo lcicalizado elos mesmos, elclinea-
21.4.1 Os objetivos e as atividades na pesqui- Hc>ie faz-se uso intensivo deJ chamadcJ modeleJ de
sa mineral depe>sito mineral, que consiste em um arranje) sistemá-
tico de informações que descrevem cJs atributrJs
A desceJberta, caracterização e a\·aliaçãcJ de subs- essenciais de uma dada classe de depósito mineral. Am-
A • • • , • • • •
tanc1as m1nera1s ute1s existentes no interior cJu na biente geológico de fcJrmação, ambiente deposicional,
superfície da Terra constituem os objeti\-e)s essenci- idade do e\·entcJ geraclor e feições deJ clepósiteJ (tais
ais da pesquisa mineral. F~la procura descobrir ccJrpos ceJmci as referentes a mineralogia, ccJntroles da
minerais que peJssam ser colocadeJs em produçãeJ mineralizaçãeJ, assinaturas geoquímica e geeJfísica, tama-
lucrativa no meneJr intervalo de tempo possível, ao nho e teor de elementos ou substâncias úteis) são alguns
menor custo e, freqüentemente, em situação econé'Jmi- exemplos de atributos essenciais.
ca e tecnológica diferente da época em que a pesquisa
A utilização critericJsa do mcJdelo de depósito mine-
foi executada (geralmente alguns anos depois). () mo-
ral pcJde ccJnduzir ao reconhecimento, em uma nova área
delo econômico utilizadcJ na programação da
de pesquisa, de atributos semelhantes <Ju idênticos àque-
pesquisa vale naquela épcJca, naquela região e naque- les já descritos cm áreas onde sãcJ conhecidrJs eJu lavradcJs
le caso, podendeJ exigir refeJrmulaçãcJ e aclaptaçe"íes dep(Jsitos minerais. Assim, as neJvas desceJ]Jertas, mes-
à medida que o tempo passa. mo de ccJrpos nãeJ imediatamente receJnhecíveis juntei à
Qualquer preJgrama de pesquisa mineral segue uma superfície, deceJrrem da seleção de áreas eJnde a eJceJr-
seqüência lógica de atividades e é parte essencial de rência mineral eJu depósitcJ mineral resultaram de
um empreendimento mineiro (Tabela 21.5). () suces- levantamentos científicos e técnicos planejadcJs.
so caracteriza-se pclr um aumento crescente de
favorabilidade da área a pesquisar. O caráter prcJgres- 21.5 Panorama dos Recursos
siveJ e a reduçãcJ do tamanhcJ da área são características Minerais do Brasil
intrínsecas de um programa bem sucedideJ.
lJma visão geral seJbre a situaçãci reinante cm bens
Para direcionar a escolha de áreas de pesquisa e minerais de um país peJde ser avaliacla cJbservanc!eJ-se as
desccJberta de neJveJS depe'isitos minerais, eJ prcJspec- suas reservas minerais dispcJníveis e a produção realizada,
. , . . , .
tor usa métodeJs e técnicas que pcJssibilitam uma análise assim ccJmo o comercio extenor que mantem ccim 1m-
previsicJnal do sucesso cJu não deJ empreendimento. portadeJres e exportadores de !Jcns minerais.
Etapas Objetivos
2. Levantamento regional Procurar alvos dentro dos áreas selecionados favoráveis à ocorrência de depósitos minerais.
4. Avaliação de depósito Caracterizar o depósito mineral (formo, extensão, profundidade, quantidade dos substâncias
úteis, teores, etc.) para decisão se ele é ou não viável economicamente.
5. Lavra Estabelecer métodos de lavro e de beneficiamento, definir equipamentos poro essas atividades
e estudar o viabilidade econômico do empreendimento mineiro.
6. Controle e recuperação Coletor dados que permitam conciliar os trabalhos de mineração versus o proteção do meio
do meio ambiente ambiente, recuperando áreas já degradados por essas atividades.
Algumas das principais reservas minerais brasileiras As principais produções físicas (pre>dução expressa
estão relacionadas na Tabela 21.6, ordenadas confc)rme em termc>s de quantidacle) correspc>ndem, em boa parte,
suas participações percentuais (acima de 4c1/r1) na elisponi- a minérie)s com reservas igualmente impe>rtantes interna-
bilic1ade mundial ela matéria-prima mineral. cie)nalmente. Alguns depe'isitos minerais l1rasileiros ceJm
() nióbio ce)nfere ac) Brasil a posiçãe) ele maicJr eleten- reserva e/ ou preJduçãcJ expressivas, com exceçãeJ elas
tc)r de reservas desse bem rnineral e mantém essa pcJsiçãeJ substâncias combustíveis, estãe> ineucadcJs na l;ig. 21.19.
há alguns aneJs no quaelrcJ mundial das reservas minerais. i\. quantielaele de l>ens minerais preJduzida pe)r utna
O depé>sito lcJcalizade) no carbeJnatito do Barreire> (Araxá, naçãeJ é funelamental para o atenelimentc> ele suas ne-
MG) é o principal responsável pelas nossas reservas e cessidades internas e para a geraçãcl de divisas através
também pela maior proeluçãcJ. C)utrc)S bens minerais de exportação. J\. razão produçãc) / consume>, que peJde
listados na Tabela 21.6 representam frações impe>rtantes ser expressa em pclrcentagem, permite qualificar cJs
da disponibilidade mundial. ()s bens minerais ceJm parti- bens minerais de um país ccJmeJ excec-!ente, suficien-
cipaçãe) percentt1al pequena, mas ocupandeJ posiçãeJ ele
destaque, ceJmumente correspe>ndem àqueles ce)m dis-
Sudão
tribuição geeJgráfica heterogênea, onde pe>ucos países
Argentina
detêm a maie)r parte das reservas muneuais cc>nhecidas.
Arábia Saudito
N 106 _, • Zaire
1:,:studos recentes têm mostrade) que parece l1aver >< t •
• Irá
uma relação entre a área ele um país e a quantielade de N
E • Líbio • Africo
•
do Sul
substâncias minerais prc>duzielas (Fig. 21.18). IJara os
chamados países mais desenvolvidos, esta correlação
-
..::,(. _, • Ango
Tabela 21.6 Principais reservas minerais brasileiros. Tabela 21.7 Principais produções minerais brasileiros.
Bem mineral Reserva medida Reserva Posição Bem mineral Produ~ão produção Posição
+reserva mundial (10 3t) mundial
indicada (106 t) (%) (%)
Nióbio (Nb 20 5
) 3,7 86,0 l Niábio (Nb 20 ) 26,0 92, 9 l
5
Grafita 95,0 20, l 2 Ferro 186.700,0 l 8, l 2
Talco 178,0 19 ,o 3 Manganês1 11 956,0 12,5 4
Caulim (reserva total) l .524 ,O 14 ,7 2 Magnesita calcinada 295,0 l 0,4 3
Vermiculita l 6 ,4 8,3 3 Alumínio (bauxita) ll.671,0 9,9 4
Estanhol 11 0,6 8,0 5 Amianto (fibra) 208,0 9, l 5
Ferro 20.000,0 7,3 7 Estanho 111 l 8,0 9,0 4
Alumínio l.809,0 6,6 5 Caulim l .280,0 6,7 3
Magnesita (MgO) 180,0 5,2 4 Talco 452,0 5,5 6
Níquel{II 6,0 4,4 9 Vermiculita 23,0 5,3 4
Ouro(em t) 1.900,0 4, 1 6 Cal 6.469,0 5,2 6
Zircônio (Zr0 2) 2,5 4,0 6 Grafita 27,0 4,8 4
Fonte: Sumário Mineral, Departamento Nacional da Produção Mineral, l 998. (l) metal contido
•
1 1 1
68° , 52° 36°
i
\ ..,._
't
-··-··,
-(!:
16° -
Cobertura fanerozóica
Domínios pré-brasilíanos:
A- Amazónico
B - Sao Luís
C - Sâo Francisco 750km
D- Luís Alves
E - Rio de La Plata
Alumínio AI- l Trombetas Ferro Fe- 1 Ouadrdátero Ferrifero Ouro Au- 1 Dist. de Nova Uma
Al-2 Parogorninos Fe-2 Distr. ~Ain. de Coraias Au-2 Serra da Jacobína
Al-3 Almeirim Fe-3 Urucum At.J-3 ~/\aria Preta
Al-4 Poços de Caldas Au-4 Província Tapajós
Fluorlta f. 1 Distr de Sio Catorino Au-5 Província Xingu-Araguaio
F-2 Cerro Az.ul Au-6 Província Rio ~Aadeira
Amianto A,n-1- Minaçu Au-7 Alta Floresta
Gf-1 Pedra ~ui Au-8 Serra Pelada
Barita Ba- l - Araxá Grafita Gf-2 ltapecerico
Ba-2 - Camamu Fosfato Fo- 1 Araxa
Magnesita Mg-1 - Brumado Fo-2 Patos de ~Ainos
Caulim C1n- l - Rio Capim Fo-3 Jacupiranga
Cm-2- Rio Jari Manganês Mn-1 . Serro do i Ja·,io
fv~n-2 - Azul Talco To- 1 Brumado
Chumbo
/An-3 - Buritirama To-2 Nova Uma
Pb-1 - Morro ,¾) udo Mn-4 - Urucum
Pb-2 - Baquira Mn-5 - Cons. lofaiete Varmiculita Vm- l - Catalao
Pb-3 - Panelas Vm-2. Ouvidor
Pb-4 - Canoas Nlóbio Nb- l - Araxá Vm-3 - Paulistana
Pb-5 - Perau 1'16-2 - Tapira
~!b-3 - Ouvidor Zinco Zn-1 Morro Agudo
Cobre
~lb-4 - Catalão Zn-2 . Vazante
Cu-1 - Solobo 1'16-5 - Sete Lagos
Cu-2 - Caraíba Zircónio Zr- 1 Pi tinga
Cu-3 - Camaquã Niquei Ni-1 Americano de Brosii Zr-2 - lv1ataraca
Cu-4 • Mora Rosa Ni-2 Fortaleza de !.';n;:is
l·I-3 Niquelândia
Estanho Sn- l - Pitinga Ni-4 Santa Fé
Sn-2 - Rio Xingu Ni-5 Barro Alto
Sn-3 • Rio Tapajós-Jamanxim
Sn-4 - Província Estanífera de
Rondônia
Sn-5 - Província Estanífera de
Goiás
te <Ju insL1ficiente, cmb<ira a p<>siçãc> de um elael<i A produção física de bens minerais tem, elo ponte>
bem mineral pcissa variar n<J tempci entre essas três ele vista cconc"imicc>, L1m significadcJ mL1ito relativc> se
classes. N<> Brasil, atualmente, nióbi<i, fcrr<J, lJauxita, nãcJ ass<>ciarmcJs a ela <J valor da sul1stância procluzi-
manganês, grafita, vermicL1lita, níe1uel, caulim, entre da, pois há bens minerais extremamente valicisos e
<Jutr<is, exemplificam <J cas<> de bens minerais cx- <>utr<>s ccJm preçc> unitário muitcJ baix<J. Por exemplo,
ceelcntes, a<J pass<J que f<isfat<J, p<itássici, enx<>fre, <J valc>r da produçãc> de centenas c.1e milhões eie tcinc-
c<imbustívcis fé>sscis e chL1mb<i p<leiem, entre ciu- ladas ele minéricJ eie ferrcJ p<idc ser c<imparável àquele
tr<Js, exemplificar a situação ele lJens minerais ele apenas centenas e{e tcineladas e{e prcieluçã<1 de ourcJ.
insuficientes, necessitando ser impcirtaeicJs para o Assim, o elevado valor da produçã<i mineral de um
c<implctc> atcndiment<J da dcman<la interna. país dependerá basicamente das quantidades de miné-
A razãci entre reserva e pr<>duçã<J anual, e1ue pc>dc ser ri<Js valioscJs produziclas e qL1e C<Jmumentc podem
expressa em an<>s, fornece uma estimativa de elL1raçã<> c<irrcsp<lneler quantitativamente a produç<)CS físicas
.
das reservas ccinhecidas (f~ig. 21.20) e S<>ll esse critério menc>s expressivas.
qualificam-se as reservas em a!Jundante (duraçã<> acima A imp<irtância da inelústria extrativa mineral peide
de 2(} anc>s), suficiente (eiuraçãc> aprcJximaeia ele 20 anc>s) ser melhcir percebicla, nci contextcJ eccinêJmico, ccinsi-
ou carente (eluraçãc> men<ir ele 20 anc>s). A referência clerand<i-sc a inelústria ele transf<Jrmaçãci mineral que
temp<>ral convencicinaela (2 1) anc>s) representa <J perícid<> a SL1ceclc na cadeia prcJdutiva e que S<Jma valor à maté-
eie tempc> nc> qual n<JV<>s dcpé>sitc>s pc>deriam ser elesc<J- ria-prima mineral primária. 1-<:ntre cJutrc>s, pcir exemplo,
lJertc>s ciu minas já C<Jnhecidas pc>dcriam ser an1pliae1as estã<> eis segmcntc>s mctalúrgic<J, pctr<1qL1ímico, de ci-
ciu, ainda, a implen1cntaçãcJ de nc>vas técnicas de mcielc> n1 cn tci e de fertilizante que transformam,
a permitir a utilizaçãc> ele minéricJs até cntã<J elescartaelcJs, respectivamente, a cassiterita cm fcilha de ílanclrcs, ci
levand.<i a altcraçc)es nc> qL1ae1r<J ele prcvisc~>es de dL1ração pctróle<J cm c<imbustívcis, <J calcárici em cimento e a
ele reservas minerais. apatita cm ácid<i fc>sfóric<J.
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Bem mineral
Fig. 21.20 Duração estimada de reservas brasileiras de alguns bens minerais, com base na razão reserva/produção anual. Dados
de Anuário Mineral Brasileiro, 1997 e Sumário Mineral, 1998, Departamento Nacional da Produção Mineral.
CAPÍTULO 21 • RECURSOS MINERAIS 467 .YJ.i
' . "
• "'" h
() Brasil vcnc1c e cc)mpra e-Ji,·erscls prcldutcls ele Tabela 21.8 Classificação e exemplos de produ-
clrigcn1 111it1cral que sàc) agrupaelc>s crr1 e1uatrc> classes tos de origem mineral comercializados pelo Brasil.
(Tal1ela 21.8), ccinstituindci o denc>minaelci sctcir 1ni11c-
Classes Produtos - Exemplos
ral, ccinfcirmc sistematizaçàc> ele> Departa111c11tc>
Nacic)nal da PrcJducàc>,, i\Iineral.
Bens minerais minério bruto ou beneficiado,
' , '
() País pcissui uma pauta eli,·ersificada ele cxpc)rta- pnmanos mas ainda substância mineral:
minério ele ferro (hematita),
çc)es c-Je bens minerais primários, na qual clestacam-se
concentrado de minério de
ci minérici de ferrcl, além ele l1auxita, rcJchas ornamen-
cobre (calcopirita)
tais, manganês, caulim, amiantci, cliamantc e magncsita,
Pcir cJutrci laelcJ, ci ccinsumo dc)mésticc> clepcnclc cm
cliferentes graus ela impcirtação de váric)s prciclL1tcis de Semi-manufaturados produtos da indústria de
cJrigcm mineral, dos quais ci petréileeJ tem sidci e> item transformação mineral: ferroligas,
mais oncrosc>, apesar dos avançcJS na prcJeluçãc> inter- cátodos de cobre.
na ccJm base em ncivas desccJl)ertas realizadas pela
Pctrc)brás, Prc)duçãci insuficiente c>u ausência de recur-
Manufaturados produtos comerciais finais:
scJs minerais eccJncimicamentc viáveis implicam pesacla
tubos de aço, chapas de cobre,
depcnc1ência externa ele outrcJs bens minerais, tais como
carvãcJ metalúrgico, cobre, fertilizante potássicc>, en-
xcJfrc, gás natural, fosfato, titânici e chumbeJ. Compostos químicos produtos específicos da
indústria de transformação
mineral da área química: óxido
21.6 Recursos Minerais e Civilização férrico, cloreto de cobre,
• • •
petróleo carvao gás natural uran10
3650 kg 3840 kg 1500 kg O,OS kg
Fig. 21.21 Consumo anual médio de alguns recursos minerais por pessoa nos E.U.A. Fonte: Craig, Vaughan, &
Skinner, 1996.
de minerais, necessária a seu desenvolviment(J, le- Fisicamente, os recursos minerais são praticamente
vando o consumo mineral per capita a crescer mais inesgotáveis, pois a crosta terrestre dispõe de gigantescas
rápido e implicando a intensificação da produçãci quantidades de substáncias minerais úteis, pcirém, ocor-
mineral. () crescimento populacional é também um rem em concentrações menores do que aquelas atualmente
fator de aceleração da produçã() mineral. Embora exigic1as para que sejam lavradas. No entanto, a utilização
a taxa de expansão demográfica venha diminuindo de recursos minerais a teores progressivamente decres-
globalmente, é evidente que o consumo de vários centes, implicando maiores custc)s energéticos, será viável
bens minerais tem crescido mais rápido que a po- somente se dispusermos de fontes abundantes e baratas
pulação, tal como é cJbservado com o petróleo (Fig. de energia, pois esta é um insum(J essencial na extração e
21.23). tratamento de bens minerais, assim ccimo na fabricação
Essa situação delega, em particular aos geólcigos, uma de seus produtos derivados.
grande responsabilidade, pois eles têm a missão de prci- Além disso, estamos n(Js tornando cada vez mais
curar e identificar depósitos minerais, assim como avaliar conscientes de que sua produção e uso devem ser con-
suas características com vistas à obtenção do bem mine- duzidos preservando o meio ambiente. A produçã() e
ral. Nesse contexto pode-se perguntar: será possível uso inadequados do bem mineral podem direta ou indi-
descobrir novos depósitos minerais parecidos com os retamente levar a diferentes formas da degradação
de hoje, quanto a porte, teor e viabilidade técnica e eco- ambiental, outrora de efeitos locais ou regionais, agora
nômica? Boa parte dos bens minerais, notadamente amplos (aquecimento global, chuva ácida, deterioração
aqueles de elementos menos abundantes, é historica- da camada de ozônic), poluição de reservatórios de·água
mente lavrada com teores decrescentes e com isso os etc.). Assim, não séi a provável futura escassez do bem
custos energéticos são cada vez mais elevados para trans- mineral nos aflige, mas também as conseqüências noci-
formar esses minérios em produtos manufaturados. vas e, às vezes, desastrosas de sua lavra e utilização.
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CAPÍTULO 21 • RECUR MINERAIS 469 '
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Bem mineral
Fig. 21.22 Estimativa de duração das reservas mundiais para alguns bens minerais com base na razão reserva/produção anual.
Dados do Sumário Mineral, Departamento Nacional da Produção Mineral, 1998.
.!
vai faltar''): evitar o excesscl e atender às necessidades de • consumo mundial I I
I 50 .•
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de petróleo I
melhclria das ccJndições de vida da ncJssa geraçãci e e.la 6 1 I 40 •
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/\.pesar dessa complexic.lac.lc, a pcrspecti,·a é c)titnista.
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Cremos que a engcnhosidade del ser humano lc,•ará ao
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I
70
--E
~
Leituras recomendadas
CRAIG, J. R.; VAUGHAN, D. J.; SI<.INNER, B.
J. Resources of the Earth - Origin, Use and
Environmental Impact. New Jersey: Prentice-Hall,
1996.
EVANS, A. M. Ore Geology and Industrial Minerais:
an Introduction. 3ª ed. Oxford: Blackwell, 1994.
KESLER, S. E. Mineral Resources, Economics and the
Environment. Cambridge: MacMillan College
Publishing, 1994.
PRESS, F.; SIEVER, R. Understanding Earth. 2ª ed.
New York: W H. Freeman and Cc)mpany,
1998.
SIZINNER, B. J.; PORTER, S. C. The Dynamic
Earth. New Yc)rk: John Wiley & Sons, 1995.
TARBUCK, C. J.; LUTGENS, F. K. Earth - An
Introduction to Pf?ysical Geology. New Jersey:
Prentice-Hall, 1996.
'
472 DECIFRANDO A fERRA ••
.• •
A biomassa pode também ser utilizada para a () carvão é uma rocha sedimentar combustível,
produção de combustíveis (por exemplo etanol e formada a partir do soterramento e compactação de
metanol), que podem substituir com certas vanta- uma massa vegetal em ambiente anaeróbico, em bacias
gens outras fontes de energia (ver o quadre) sobre originalmente pouco profundas (da ordem de deze-
,
o Proálcool) . nas a centenas de metros). A medida que a matéria
...,.. Usina hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta (l ,8GW), Primavera, SP Foto: CESP
orgânica vegetal é soterrada, inicia-se o processo de (_) car,·ão é denominado húmico quando forma-
: sua transformação em carvão, devido principalmente do a partir de ,·egetais superiores de origem continental
ao aumento de pressão e temperatura, aliados à ou paludal e sapropélico ou saprotético, quando ge-
tectônica. Graças ao ambiente anaeróbico, e com a rado a partir de algas marinhas. ()s carvões húmicos
crescente compactação, os elementos ,·oláteis e a água só se formaram na Terra a partir do Devoniano, perí-
presentes na matéria orgânica original são expelidos, odo em que os ,·egetais superiores surgiram e passaram
gerando, concomitantemente, uma concentração rela- a ocupar grandes áreas. Hoje os carvões húmicos per-
ti ,,a de carbono cada vez maior. A principal fazem cerca de 95% das reservas conhecidas de carvão
matéria-prima do carvão é a celulose (C 6 H 10 0,), e, no mundo.
dependendo das condições de P e T, e do tempo de
()s ambientes propícios à formação de depósitos
sua atuação, sua transformação pode gerar, progressi-
de carvão são bacias rasas, deltas, estuários ou ambi-
,·amente, turfa, linhito, carvão (também chamado
entes pantanosos, relativamente mal oxigenados.
de carvão betuminoso) ou antracito, de acordo com
Muitos depósitos ocorrem em sucessões de repetidas
o grau de maturação ou carbonificação, exemplificado
transgressões e regressões marinhas que, com a varia-
pelas seguintes equações:
ção do nível de base, possibilitaram o avanço de
S(C6H100s) ➔ C 20 H 22 0 4 + 3CH 4 +8H 2 0 + florestas durante o recuo d<) mar, seguida de
6C0 2 + CO linhito soterramento quando o mar invadiu a região costeira
novamente. Isto explica a ocorrência, numa mesma
região, de diversas camadas de carvão intercaladas por
6(C 6H 10 0J ➔ c22H 2003 + SCH4 + 10H2c) + sedimentos.
8C0 2 + CO antrac1to
A distribuição de carvão mineral no mundo é irre-
gular. A Rússia detém cerca de 50% das reservas
A Tabela 22.1 mostra a classificação adotada no conhecidas, enquanto os Estados Unidos contam com
Brasil para os diversos tipos de carvão mineral. cerca de 30%. O Brasil conta com apenas O, 1% d<)
carvão conhecido no mundo.
Tabela 22.1 Variação das características do carvão de acordo com o grau de carbonificação.
Umidade(%) 65 a 90 15 a 45 1a 3
Carbono* (%) ± 55 65 a 75 75 a 90 90 a 96
Oxigênio* (%) + 33 25 3a 11 4 a 11
. ...
. ..
•
Componentes Voláteis* (%) + 60 + 40 10 a 45 · 3a 10
...
()s carvões minerais exploraclos no Brasil sã(J de) .-\ explciraçã(J do carvãci mineral env(ilve a remo-
tip(i húmic(J, c)riginad(>S a partir d_e teciclos lenh(>S()S, çãci, cJ transpc>rte e cJ beneficiamento de grandes
celu!()Se, esp()ros, ceras, resinas, géis, betumes e ,-c>lumes ele massa mineral, ativiclaeles que modificam
hidrocarb()netos derivados de uma paleoflora, típica <> n1eic> ambiente (f1ig. 22.3). CcJntuelo, a cc>nscientização
cl(> C:arbcJnífer(> e IJermian() elo antigci pale(Jcontinente da necessidacle ela preservaçã(> el(J meici ambiente e a
G(indwana e pc)r diversas espécies ele l:,rimnospermas, adcição de pc>líticas que permitam um desenvcilvimentcJ
pteridc'>fitas (samambaias), licófitas e esfenófitas extintas. sustentá,·el sãcJ pc>sturas relativamente recentes. (~L1an-
dc> a mineraçãcJ ele> carvãc> ncJ Brasil intensificc>u-se,
() carvãc> é prcJduzidcJ no Brasil a partir de depcí-
nci inícic> elcJ séculc> 20, pclucc>s cuidados de preserva-
sitc>s na Bacia dei Paraná, principalmente n(JS r:sradc>s
çãci ambiental foram tc>madc>s. Com isso, muitas áreas
de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em rc>chas c-le
pr(ielutoras de carvão mineral têm sc>frie-lo as C(Jnse-
ielaele permiana inferi(Jr (cerca de 260 J\Ia) (Fig. 22.1).
1\ [ 1ig. 22.2 m(Jstra a elistribuiçã(> d(J carvão mineral e1üências inelesejadas de tal atitucle.
n(> Brasil. C) carvã(> mineral, p()r se f(Jrmar sob cc>ndiçc>es
anc'ixicas, é comumente assc>ciado a sulfetos, principal-
mente à pirita. Exposta à ação do oxigênio elo ar e da
água, a pirita sofre oxidaçãc), gerandci uma soluçãc> de
ácid(J sulfúrico e sulf'J.tc> ferr(JSO, que é a principal fonte
pciluidora. Quando estes produt(>S, pr(>venientes e-los
depósitos de rejeitas e das minas, alcançam c>s cursos
d'á1::,rua, acidificam as águas, aumentand(> () teor de sul-
fat(>, e desencadeiam uma série de reaç(>es químicas,
C(Jmo, pc>r exemple>, a solubilização ele metais pesadc>s,
ferrei, manganês, cálcio, sódio etc. i\dici(Jnalmcnte, a
reação exc>térmica da oxic.laçãc> d(JS sulfetos pode ge-
rar calor suficiente para iniciar a aut(>C(Jmbustão d(>
carvão, com a liberaçã(J de I-I 2S; além de> odor desa-
Fig. 22.1 Mineração subterrânea de carvão na região de gradável, a liberação deste gás na atm(isfcra pode
Criciúma, Santa Catarina. Foto: S. L. F. de Matos. promover a posterior ocorrência de chuvas ácidas.
_Ocorrência de
carvão mineral
9001cm
Fig. 22.3 Mineração a céu-aberto de carvão na região de
Charqueadas (RS), onde pode-se observar a grande mobilização
Fig. 22.2 Distribuição de ocorrências e jazidas de carvão de material para exploração do carvão mineral. Foto: S. L. F. de
mineral na borda leste da Bacia do Paraná. Matos.
CAPÍTULO 22 • RECURSOS ENERGÉTICOS 475 ,....
\
dos diretamente nas drenagens. Se) a partir do início ligaelas ao ramo da 111ineraçãei, que estavam acc)stu-
da década de 1980 é que as primeiras prc>,·idência, n1adas ae1 ciclo da indústria mineral (elo ouro e do
oficiais f()ram tc)madas para diminuir os impactc>s carYãc>). Nesses setores e> minérici é retirac.lo ela mina e
ambientais e1as atividades mineiras de car,·ãci. cc>n1ercializaelo ou armazenadci em pilhas até a chega-
da de um ceimprador. Para eles havia também a
Embora a acidificação dos rios e a geração de chu,·a
possibilidade de interre>mper a mineraçãeJ em épocas
ácida sejam os mais graves problemas ambientais de-
de l1aixa demanc.la, sem c.1ue e> minério fe)sse pcrdic.le>.
correntes da mineraçãei (lo carvão, e)utre)s impacte)S,
;\ explciração ele> petróleo me)strou-se ceimpletamen-
também graves, pc>dem ocorrer, ce)mo degradação
te diferente. De,·ido a seu cstac.le> líquidci, apc>s a
da paisagem, subsidência local, rebaixamento do nível
perfuração normalmente cJcorre surgência natural, o
freático, assoreamento das drenagens, poluição dos
que tcirna difícil e extremamente e1ncros(> tantel seu
S()los e doenças relacionaelas a(i trabalho.
armazenamente> para regular o flux(> de mercado,
comei seu transpeirte por grandes distâncias. Issei, alia-
22.2.2 Petróleo e gás natural dc> à descciberta de inúmer<)S outros campe>s
petre>líferos, fez cc>m que c-livcrseis e.lesses cxplciraclci-
() petróleo é conhecidei desde tempeis remoteis.
res, aceJstumac-los c(im eiutra realicladc, falissem e ci
A Bíblia já traz referências sobre a existência de lagcis
preç(i ele> pctrc'ilee> caísse tremendamente. Para se ter
de asfalto. Nabucc1deineiseir pavimentava estradas C()m
uma idéia, o preço elo barril de petrc'>leei (unidade ele
esse proe1uto na Bal1ilônia, enquanto os egípcios o uti-
meeliela de V(>lume e1ue equivale a apr(>ximadamente
lizavam como impermeabilizante. P(ir vários séculos
159 litros) caiu de cerca ele US$2() cm 1860 para US$
ci petróleo foi utilizade> para iluminaçãe>.
(), 1O cm apenas dois aneis.
Apesar da técnica ele perfuração de peiçe>s profun-
Nc> entantei, a grande reve>luçãei da indústria do
dc)s ser dominada desde 200 anos a.e:., o objetive>
petréile<1 e)ccirreu ceim a invençãci de>s meiteircs ele
exploratcirie) era sempre água pe)tável. Entretantc>,
cc>mbustãei interna e a preiduçãe1 de auteimó,·cis em
durante o século XVIII já eram cavados pe)ços a pre>-
granele escala que elcram à gascilina (obtiela a partir de>
fundielades de até 50 metr(is que buscavam e> petrólec>.
refine> de) petrcileci) uma utilidade mais ne)bre ele> c.1uc
A vantagem desse procedimentcl era que e> petróleo
a simples queima (iu descarte neis rieis (prática cc>mum
assim pr(>duzido era mais "leve" do que e> aflc>rante
ne> século XIX).
naturalmente, e1u seja, com os seus ceinstituintes mais
voláteis ainda presentes. Ne> entanto, a construçãc> des-
ses pe)ços era uma tarefa extremamente arriscaela Petróleo e Gás
devido à presença de gases altamente inflamáveis. No
() petróleo é um líquido c>leeisei, normalmente com
início de> século XIX, as primeiras destilarias foram
densidade mencir que a da água. Sua cc>r varia desde o
ce)nstruídas, visando a separação dos ccinstituintes d(>
incolor até e> preto, passando por verde e marre1m.
petróleo. Paralelamente era e1esenvc>lvido o lampiãc> a
querosene, que prc>duzia uma chama muito mais bri- r:xistem di,·ersas teorias para explicar a e>rigem de1
lhante e com muitc> menos fumaça do que (is que pctre:ileci.. \ mais aceita atualmente é de sua e)rigem
utilizavam petróleo l1rute) ou mesmo óleo de baleia. c>rgânica, e>u seja, tante> o petrc'ileei ccimo o gás natu-
Na primeira metade do século XlX, fc>ram construíelas ral são ceimbustíveis fc'>sseis, a exemplo do carvão.
também as primeiras refinarias, que processavam e> Sua eirigem se e-lá a partir de matéria orgânica (princi-
petróleo extraído dc>s poços cavadeis manualmente. palmente algas) sc>terrada juntamente com sedimentc>s
lacustres ou marinhos.
A moderna era do petrólee> te,•e inícici c.1uando um
n(Jrte-americano conhecido c(ime> Ccire>nel Dral<e en- C)s ambientes que impedem a oxidação da maté-
controu petré>leo a cerca de 20 metre>s de ria eirgânica são aqueles de rápida sedimentaçàc) (e.g.
profundidade no oeste da Pensil,·ânia, utilizando uma plataformas rasas) ou de teor de oxigênio restrito (e.g.
máquina perfuratriz para a construção elei poço. Sua fundo oceánice>). Em ambos os caseis e1 ambiente
descoberta causou tanta sensaçãei na época que em anaeróbico permite e> aprisionamento de matéria or-
,
apenas um ano 15 refinarias de petróleo foram insta- gânica nãci eixidada. A sen1elhança deis processe)s que
ladas na regià(>. Na ,·erdade, nessa época, (>S primeiros transfe1rmam restos vegetais em carvão mineral, vis-
. ~· "' .
exploradores de petróleo foram pessoas ou empresas tos anteriormente, a matcrta organ1ca vat se
476 D E C I fl R A N D O A 'f E I RA
transformando, com a perda dos componentes volá- se acumular logo abaixo. Diversos tipos de rocha po-
teis e concentração de carbono até sua completa dem ter esse papel, por exemplo folhelhos, argilitos,
modificação para hidrocarbonetos. A grande dife- sal, etc. Essas rochas são chamadas rochas capeadoras.
rença entre a formação do carvão mineral e dos A rocha permeável em que o hidrocarboneto se acu-
hidrocarbonetos é a matéria-prima, ou seja, principal- mula é chamada rocha reservatório.
mente material lenhoso para o carvãei e algas para os
Caso esse sistema (rocha reservatório mais rocha
hidrocarbonetos, CJ que é definido justamente pelo am-
capeadora) forme uma estrutura que bloqueie o mo-
biente de sedimentação. Normalmente, o petróleo e
vimento ascendente do hidrocarboneto, este se
o gás coexistem, porém, dependendo das condições
acumulará, formando, assim, uma estrutura
de pressão e temperatura, haverá maior quantidade
armazenadora de hidrocarboneto. Esse sistema, com-
de um ou de outro. A Fig. 22.4 mostra as modifica-
posto pela rocha reservatório e rocha capeadora,
ções da matéria orgânica em hidrocarboneto com o
associadas à estrutura, é chamado armadilha ou trapa.
incremento da profundidade e, conseqüentemente, das
Um aspecto curioso é que as concentrações de
ceindições de pressão e temperatura.
hidrocarbonetos apresentam, devido às diferenças de
A mais importante rocha-fonte de óleo e gás é densidades, três níveis de fluidcis, sendo que no superior
formada por sedimentos fineis, ricos em matéria eir- fica o gás, neJ intermediário o petróleo e no inferior, água.
gânica, soterrados a uma profundidade mínima de
As armadilhas têm basicamente duas origens dis-
500m eJnde a rocha se ccimprime, diminuindo sua
tintas: estratigráfica Ju estrutural, mas podem ter
porosidade e, com a alta temperatura, induz os
diversas formas, sendci que alguns exempleis são apre-
hidrocarbonetos a migrarem para cima, para um am-
sentados na Fig. 22.5.
biente de menor pressão e maior porosidade. Esse
mo\ imento é chamadei de migração primária.
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sedimentar dei Recôncavci.
Seguiram-se elesccJbertas na
\Jacia ele Sergipe-J\lagoas.
Fig. 22.7 Distribuição de petróleo e gás no mundo. f,:m 19Ci8 fc>i llesccJbertcJ ci
primeircJ campo petrc>lífercJ
na platafcJrma continental
Foz do Amazonas
Pará-Maranhào
/ Barreirinhas
Ceará
Potiguar
Solimões
Acre Parnaíba
Paraíba
. Sergipe/Alagoas
São Bahia-Norte.
,..__ Camamu-Almada
.--- Jequitinhonha
Cumuruxatiba ·
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Campos
Pelotas 500km
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Santos
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utilizado como combustível, o minério deve ser de contenção que envolve a cápsula do reator, um
concentrado até atingir um conteúdo de urânio de certo número de arranjos de combustível nuclear,
cerca de 3%, na forma de U0 2 gerando o produ- um circuito de tubos que leva água do reator para
to chamado de urânio enriquecido. Por outrc) lado, um gerador de vapor e de volta ao reator por meio
o 218 U, após bombardeado por nêutrons, transfor- de uma bomba, outro circuito de tubos que trans-
ma-se em 219 Pu (plutônio), que é fissionável. O porta o vapor de água à turbina geradora e outra
urânio enriquecido é colocado dentro de tubos fei- bomba que faz o seu retorno para o gerador de
tos de uma liga metálica de zircônio e estanhe) vapor para ser reaquecido (Fig. 22.12). A chave do
(zircaloy) ou, eventualmente, de aço inoxidável. Es- processo é o controle da reação em cadeia gerada
tes tubos são enfeixados formando um arranjo pela fissão do 215 U, que produz calor. Esse controle
reticulado que varia de tamanho, geometria e quan- é obtido por meio da inserção de varetas metálicas
tidade de tubos, dependendo do tipo de reator. que absorvem nêutrons (feitas de cádmio ou boro),
entre os arranjos de combustível, limitando a rea-
Existem basicamente dois tipos de reatores, co- ção. Adicionalmente, como os arranjos de
nhecidos como B\'vR (boiling water reactor - reator combustível são mantidos em água circulante, são
de água fervente) e PWR (pressurized water reactor - resfriados, evitando a fusão do núcleo do reator.
reator de água pressurizada). Em média, os reato- Se as varetas de controle forem todas inseridas en-
res do tipo BWR utilizam arranjo de tre os arranjos de combustível, a reação cessa,
aproximadamente 60 tubos pesando cerca de 320 enquanto sua progressiva retirada gera cada vez mais
kg, dos quais 180 kg são de urânio enriquecido. Já calor.
os arranjos para os reatores do tipo PWR pesam
cerca de 650 kg, dos quais 460 são de urânio enri- Uma reação em cadeia de fissão estável no
quecido, dispostos em 260 tubos. Os reatores BWR núcleo é mantida contrc)lando-se cl número de
têm, em média, 750 arranjos, enquanto os do tipo nêutrons que causam fissão, bem como a con-
PWR têm cerca de 150. A vida útil desses arranjos centração de combustível. Uma concentração
de combustível nuclear varia de 4 a 6 anos, quando mínima de combustível é necessária para asse-
- , .
gurar a reaçao cr1t1ca.
então devem ser substituídos.
Estrutura
de ContenCjãO Linha de Vapor
Barras de
Controle
Câmera -r,• Torre
do •::• Gerador
Reator. de
; i i
Resfriamento
i : l
~ator
Condensador
de Resfriamento
da água
O núcleo elo reate)r é mantido em uma caixa ele raçãei aliad.eis a mau funcicJnamcnteJ e1eJs sistemas de
aço inoxidável, sendo que, para uma segurança extra, segurança prcivocaram o superae1uec1mcnto e poste-
ci reateir inteirei é guardado cm uma ccJnstruçãci de rior combustão do núcleci clei reateir, causandcJ uma
concreto. explosão liberanc1cJ gases e partículas racliciativas para
a atmcisfera. A repetiçãei ele um acidente desse tipo,
Nci Brasil é gerada energia elétrica a partir de usi-
contuelc1, é mLtÍto elifícil ele c1cc1rrcr uma vez c1ue aquela
nas nucleares no municípici de Angra dos Reis (RJ),
L1sina utilizava tecneilcigia ultrapassaela e feira de usc1
com reatcires do tipo PWR, ccim água como elemen-
há muite)s anos. Para se ter uma idéia, eiceirreram ape-
to moderador.
nas dciis acidentes ce>m vazamcntci ele radieiatividade
em cerca de 50 aneis ele cJpcração das usinas nuclea-
22.3.2 Distribuição do urânio res, evidenciandei e>s granelcs cuidaeleis ccim a
segurança das t1sinas. C~eJntuclci, eleve ser lcml1radei
A concentração média de urânio na crcista terres-
qLte um úniccJ acielcnte ccim qualqLter elas usinas peicle
tre é de cerca de 2 partes pcir milhão (2 ppm). JJara ser
atingir grandes prclpcirçõcs, com cfciteis aml1ientais
ccinsiderada jazida, a ccinccntraçãei de L1rânicl d.evc ser
clL1raclciure)s. NcJ entantci, eJ maÍCJr preil1lema ambiental
ele 400 a 2.500 vezes SLta concentraçãci média.
cliz respeitei à elispcisição cios rejeiteis raclieJativos ge-
Nci Brasil já feiram estudaelas e catalcigadas cieze- raelcis pela tisina. F,stcs rejeiteis sãci ccimpostcJs de
nas de milhares de ocorrências de urânici. No entanto, elementeis raelieJativos de meia-vic1a longa. A grande
uma ocorrência não leva necessariamente à clescciber- qL1cstãcJ é como dispclr e iseilar de maneira segura
ta de um dcp(isitcJ cccJnomicamcnte cxplcirávcl. A tais rejeiteis, para nãc) ccJntaminar os rccurscJs híclriceis
primeira unidade mineira e ele beneficiamento dei Brasil eJLl mesmei a atmeisfera. Nenhum país usuário de
iniciou suas ativielaeles em 1982 nei mL1nicípio de Cal- energia nuclear enccJntrcJu Ltma soluçãci definitiva para
das (sul de J\fG), tendo fornecido cciml1ustível para as este prcJlJlcma c1uc se agrava a caela anci à medida
usinas nucleares de Angra deis Reis. C:eJm a exaustão que ncivas unidades entram em eJperaçãcJ e os rejeitos
dessa mina, o urânio passará a ser prc1eluzielci na re- sãcJ acumuladcis em dep(isiteis prcivisc>ricis, sem ccin-
gião sudcJcstc da Bahia, nos municípios de I"agcJa Real cliçc'ies aclequaclas ele segurança a longo prazo,
e Catité, que apresentam reservas estimadas em 100.()()0 incltisivc no Brasil.
toneladas de urânici, sem outrcJs minerais assciciaelcis.
Recentemente, atendendo à pressão dos (irgãos
No c=eará, município de Itataia, há OL1tra jazida ccJm
ambientalistas, a 1\lemanha rescJlveu desativar prcJgrcs-
reserva estimada tam!Jém cm 10().000 teineladas. Re-
si,,amente suas usinas nucleares.
centemente foi ncJticiada a descoberta, no Pará, ela mais
extensa área dei munelcJ em mineralização de urânio,
com 600 km 2 , porém os estudos para avaliaçãcJ da 22.4 Energia Geotérmica
reserva ainda estão sendo realizados.
A variação da temperatura tantcl espacial ccJmcJ
temporalmente é uma elas mais importantes proprie-
22.3.3 Energia nuclear (fissão) dades físicas da Terra. Tal variaçãcJ se reflete na
e meio ambiente superfície do planeta devido às peculiaridades sazci-
nais e internamente em ft1nçãc) da evolução térmica
Energia nuclear e eis possíveis efeitos adversos associ-
do planeta ao longci c10s bilhc)es ele ancJs de sua histó-
ados a ela têm sido motivo de muitc)s debates, peiis o
ria (Caps. 5 e 15).
número de reatores em operaçãcJ tenele a aumentar e
juntei com eles os riscos e as reais possibilidades de de- i\s diferentes temperaturas são o resultado de
sastres de terríveis conseqüências. hetercigeneidades laterais e verticais em pequena escala
cJu na escala da Terra. J\ tendência de equilíbrio destas
A utilizaçãci ele combustível nuclear peide ser ccJn-
diferenças é regida pelo transpclrte de calor, quc,,sob
siderada uma forma bastante "limpa" de geraçãcJ de
CJ ponto de vista da Gecilcigia, e mais especificamente
energia elétrica, uma vez que nãeJ gera H 2S ciu NO,
ela tectônica das placas (Cap. 6) inílui na distribuição
(óxidos de nitrogêniel). Nci entantc1, há vários prci-
de calor na 1erra, modificando-cJ continuamente tan-
blemas que devem ser consideraelos, por exemplo se
to no interior cc)mcJ nas camadas mais superficiais elo
uma usina sofrer um acidente e se rc>mper, cc>mo e>
ocorridcJ em Chernobyl cm 1986, onele erros de cJpc- planeta.
•
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. CAP.ÍTU LO 22 • RECURSOS INERGÍTICOS 483 ,.
22.4.3 Convecção
-E 20
G1 40
um processo extremamente mais eficiente elo que a ,,,a,
ce)nduçãc), predeJminandc) na astenosfera, e também
nc) núcleo externo.
-e
::::,
60 ·
e
a. 80 ·
22.4.4 Radiação
23 25 27 29 31 32 33
onda entre 1()' e 10' metrc)s (regiãe) cio infra-vermelhe))
Temperatura (ºC)
é um pc)derelSCl mecanismo de transferência de calor.
Este processo pode ocorrer mesmo quando a trans- Fig. 22.13 Variação da temperatura do solo a diferentes
ferência por cc)ndução e cc)nvecçãci é impossível, pois profundidades, em diferentes horários do dia. Medidas
independe de ceJntato meJlecular, e teJrna-se particu- efetuadas no Nordeste do Brasil.
484 DECIFRANDO A TERRA
22.4.6 Fontes de calor da Terra (Cap.6), <)nde a surgência de novo material rocho-
so e a ação hidrotermal nos oceanos com crosta
As teorias hoje aceitas para a origem do calor da
oceânica jovem gera calor convectivo. Portanto, à
Terra consideram duas fontes principais, o calor origi-
medida que se afasta das cadeias mesa-oceânicas
nal, gerado por ocasião de sua formação, e o cal<)r
ocorre uma granc.le diminuição no fluxo térmico.
gerado pelo decaimento natural de elementos radioa-
tl\'OS presentes na composição química da Terra O fluxo térmico é mais elevado (100 a 200 m W /
(Capítulos 3, 4 e 5). m 2) em regiões de crosta <)ceânica mais jovem, de-
caindo até um valor cc)nstante de 50 mW /m2 para
A principal fonte de calor da Terra, a partir do
as rochas oceânicas mais antigas (200 milhões de
~-\rqueano, tem sido o decaimento isotópico de ele-
anos), valor este que representa uma estabilidade
mentos radioativos de longa vida média
da crosta <)ceânica. Por outro lado, o fluxo térmico
(comparável à idade da Terra). Estes elementos são
em regi<3es continentais que experimentaram algum
apresentados na Tabela 22.2, com dados de suas
tipo de magmatismo ou metamorfismo é elevado,
abundâncias relativas calculadas a partir do conhe-
decrescendo para um valor constante de 40 a 50
cimento de suas meia-vidas. Evidentemente, durante
m W / m 2 após 1.000 milhões de anos de tal ativida-
os primeiros estágios do desenvolvimento da Ter-
de, e só então atingindo a estabilidade. Uma vez
ra, o calor gerado pelo decaimento isotc)pico de
que a concentração de materiais radioativos na
elementos radioativos de meia-vida média e curta
litosfera oceânica é tão pequena que chega a ser
contribuiu significativamente no balanço energético.
desprezível, e) fluxo térmico aí é função apenas do
cal<)r conduzido e do último evento magmático. Já
•
22.4. 7 Comparação entre litosfera cont1nen- para a litosfera continental, devido à sua maior
tal e oceânica heterogeneidade, o fluxo térmico advém da crosta
inferior, manto superior, elementos radioativos, e
O fluxo térmico nos continentes é menor d<) também do último evento metamórfico ou
, .
que nos assoalhos oceânicos. Valores médios p<)- magma tice).
dem ser considerados 55 + 5 m W / m 2 para os
continentes e 95 + 10 mW /m2 para os oceanos. Apesar das dificuldades para a determinação do
~-\lém da diferença de condutividade térmica entre valor de fluxo térmico, tanto em escala global C<)mo
a crosta continental e oceânica (devidc) à própria em escala local, áreas geotermicamente anômalas apre-
diferença litológica), a diferença em fluxo térmic<) sentam-se também sísmicamente ativas, conforme já
foi discutido nos Caps. 5, 6 e 17.
é também atribuída ao fenômeno de formação de
nova crosta ao longo das cadeias mesa-oceânicas
fluxo'
polélnilco Sistema Convectivo Hidrotermal
-<
{n.W/1112)
-
40
40-60
F,ste sistema é caracterizado por um leito permeá-
11000km, ->
060-80
80
vel no qual circula uma quantidade variável de água
quente. Os sistemas de convecçãci hidrotermal com-
preendem reservatórios naturais de água e vapor em
Fig. 22.14 Mapa do fluxo térmico do Brasil (cedido por V M.
Hamza). profundidade. Próximo à superfície, onde a pressão é
mencJr, a água flui na forma de vapor superaquecido,
No Brasil há uma relativa estabilidade tectônica, que pode ser captado e canalizado diretamente para
pc)rém, a distribuição geotérmica não é regular, como turbinas para produzir eletricidade (analogamente a
pode ser observadc) no mapa geotérmico apresenta- uma termoelétrica) (Fig. 22.15). Nesse sistema a recarga
dc) na Fig. 22.14. de água subterrânea lenta permite que as rochas quen-
'
tes cc)nvertam a agua em vapor.
22.4.8 Sistemas de aproveitamento
'
da energia geotérmica Sistema Igneo Quente
A conversão do calor natural do interior da Terra Este sistema peide envolver a presença de magma
(energia geotérmica) para aquecimento de edifí- a temperaturas de 650 a 1.200ºC, dependendo do tipo
cios e geração de eletricidade resulta da aplicação de magma. 11esmo se a massa ígnea não estiver fun-
dos conhecimentos geológicos à engenharia. A idéia dida, ela pode envolver uma grande quantidade de
de se trabalhar com o calor interno da Terra nãc) é rochas quentes. Estes sistemas contêm mais calor ar-
nova. Já em 1904, a energia geotérmica foi apro- mazenado por unidade de volume que qualquer outro
veitada na Itália usando o vapor seco. No entanto, sistema gec)termal; entretanto, neles falta a água quente
o interesse pela energia geotérmica aumentou na de circulação que existe no sistema de convecção.
crise energética da década de 1970, devido à eleva-
:\lguns desses reservatóricis gecitérmicos com ro-
ção mundial do preço elo petróleo. Cc)nstitui-se
chas quentes e secas, por serem subsuperficiais, são
numa fonte energética cc)nsiderada limpa quando
acessí,·eis para perfuração, podendci mesmo ser
comparada às energias termoelétrica e nuclear, já
fraturadas com explosivos ciu técnicas de
que o vapor e água geotermal não produzem resí-
hidrofraturamento. Assim, a água pode ser injeta-
duos e geralmente contêm baixa quantidade de CC)2 ,
da, a partir da superfície, dentro da rocha em um
um dos gases que p<Jde causar o aquecimento glo-
local e bombeada com temperaturas elevadas em
bal pelo efeito estufa.
outro local, recuperando-se o calor. C) vapcir d'água
O desenvol,·imento cc)mercial de energia assim produzido é utilizado na geraçãc) de energia
geotérmica é possí,·el em regiões com fluxo relati- elétrica, analogamente ao sistema ccJn,·ecti,·o
vamente alto de calc)r, c)u seja, em áreas onde a fonte hidrotermal (Fig. 22.16). Apesar ele ser um sistema
de calor, tal como o magma, é relativamente pró- tecnicamente aplicável para prcifundidades até 1O
xima à superfície (3 a 1O km) e está em contato km, a tecnologia de perfuração e aproveitamento
com as águas subterrâneas circulantes. Um exem- do calor ainda nãci está desenvolvida.
486 DECIFRANDO A TERRA
Turbina Gerador
o
N
::::, ttt Ar e vapor
de água
..o Condensador
b___c:::::-:;:::::i__
-5l
Q)
lsobutano
...o
'"O
Cl.
~ Trocador de calor ,
Agua '
Agua
Fig. 22.15 Diagrama esquemático do aproveitamento de energia pelo sistema convectivo hidrotermol.
Sistema Geopressurizado
Este sistema ocorre naturalmente quando e) fluxc) Nc)va Zelândia, Japão, Islândia, América Central,
normal de calor da Terra é impedidc) pclr rochas im- i\mérica dcl Norte e 1\mérica dcJ Sul. Na ilha elo
permeáveis que atuam como um eficiente iscJlantc Havaí, pc)r exemplo, na primeira perfuração (1.970m)
térmicc). Tal situaçãc) pc)dc ocorrer cm sedimentos realizada nas ptclximidades do vulcãcJ l(.ilauea foi
depositadcJs rapidamente em lJacias que estão passan- c)btido vapor geotermal com temperatura de 350ºC.
dcJ por subsidência regional. A água assim aprisionacla /\. realização de outros poçcls na área permitiu a
ganha cc)nsiderável pressãcl e conseqüente temperatu- instalação de uma usina de energia de 25 1'1W res-
ra. Adicionalmente, a água aprisic)nada pode conter ponsável pela produção de um parte significativa
grande quantidade ele gás metano, que também pode da cletricielade da ilha.
ser exploradc). (_') maior campo de explcJração de energia
gec)térmica lclcaliL'.a-se na ccista da Califórnia (EUA).
22.4.9 Utilizações de energia geotérmica Sãc) cerca de 600 perfurações que produzem vapclr
a 240ºC extraídcJ de um reservat()rio de arcnitc) ar-
A utilizaçãcJ da energia geotérmica para fins elé- gilcJso muitc) fraturado. A produçãc) atual alcança
triccls foi efetuada pela primeira vez no inícic) do 1.200 N[W ele energia, suficiente para abastecer uma
século XX na Itália, na regiãc) da Toscana. () aprcl- cielade cclm cerca ele 1.000.00() de pessoas. A ener-
veitamento de campos gcotermais de regiões gia geotérmica é considerada uma fclnte inesgcJtável
vulcânicas recentes encontra-se em franca expan- de energia na escala humana de tempo, uma vez
são. Vapores gecJtcrmais são empregados cm Lisinas que a recarga de água meteórica que penetra além
de prcJdução ele eletricidade cm regiões da l~Liropa, dcJs limites cxternc)s da cobertura rc)chosa imper-
CAPÍTULO 22 • RECURSOS ENERGÉTICOS il8'7 ,.
. 1
Usina
Geradora
Gerador Fluxo em sistema
/ fechado
,
Vapor vai Agua é
•
para a usina injetada
Profundidade
> 3 km
Volume de magma
> 4 km3 com tem-
peratura de cerca
de 1.200ºC
meável é contínua. Entretanto, na usina da Califórnia "-\plicações não elétricas dos fluidos geotérmicas a
a extração rápida de enormes quantidades de vapor baixa entalpia já existem em muitos países do mundo.
tem causado uma diminuição na pressão com con- Por exemplo, na região de Paris, vários milhares de habi-
seqüente redução na produção de energia no campo tações são aquecidas por águas com temperaturas entre
geotérmico. Novas técnicas de injeção de água e 60 e 73ºC, provenientes de profundidades em torno de
taxas menores de produção de vapor deverão ainda 1.800 m. ).;a Islândia os gêisers e fontes quentes que nas-
prolongar a vida útil deste campo por várias déca- cem em meio aos derrames de lava ccJnstituem parte da
das. Os aqüíferos com baixo conteúdo de calor vida diária. Em Reykjavik, a capital, a maioria das habita-
(baixa entalpia) podem também ser úteis para subs- ções é aquecida e servida por águas com temperaturas
tituir fontes de energia mais caras em determinadas até 1OOºC, cujas fontes termais são basaltos muito poro-
situações, uma ,,ez que as tecnologias modernas de sos. Essas águas quentes são utilizadas por lavanderias
isolamento térmico permitem o transporte desses e também para irrigar a terra, possibilitando o culti,-o de
fluidos a distâncias
,
superiores a 1O km sem grandes plantações próximas ao círculo ártico. As águas termais
, perdas de calor. 1\guas com temperaturas inferiores das ilhas vulcânicas do Japão são de longa data uma
a 100ºC podem ser empregadas, por exemplo, em fonte de lazer, a exemplo dos tradicionais banhos co-
habitações e estufas, nas indústrias de lã e de refri- munitários até hoje praticados, bem como em hospitais
geração, nos processos de dessalinização de água nos programas de reabilitação de pacientes com artrose
do mar e na criação de animais. e reumatismo.
N<l I-3rasil a utilizaçà<i dessas águas já <Jc<irrc cm i\. energia elétrica assim geral-la é c<Jnsielerada comeJ
algun1as rcgiiícs. l~xpcriment<lS esti1nara1n tcn1pe- energia renc>vável, senelc) muit<i utilizaela ncJ Brasil, prin-
raturas tnédias lia <Jrdcn1 lle 60º(~ para eJ alJÜÍfer<l cipalmente nas regicJes SL1l e Sueleste, graças à extensa
HcJtucatu, l,acia elci JJaraná (C:ap. 7) para pr<Jfuneli- malha tlL1vial, respclnsável pcir cerca ele 30º/ti de t(Jela
clallcs infericJrcs a 2.500 m, e e1n Presillcnte energia utilizada n<i país (Fig. 22.17).
Prudc11te (S JJ) ágLtas termais l1eJmlJeaclas lia rcJcha
( )s lag<JS feirmadcis pelas barragens llos rios p<l-
liasáltica cm JJr<Jfu11clillalle abastecetn l1al11eári<1s.
llem prc1piciar (l elescnve)lviment<i da navegaçàcJ flL1vial,
1:a111<JSClS sàcJ, ta111!Jé111, ClS balncáricJs de Termas d<J
servir para a piscicultura, recreaçãci e ccJmo fonte lle
l{i<i (,2ucnte ((~( )) e ele (~ravataí (SC:).
água tantc> para eJ cclnsum<i humanc) cc1mo para irri-
gaçà< J, tcirnanl1CJ-se impcirtante fatcir l1e elesenvcil viment(l
22.4.10 Impacto ambiental e via c-le escciament(l ela prcieluçàci agríccila, a(i leJngo
eleJ rici, além ele serem utilizad(is taml1ém para <J lazer.
()s im1JacteJs arn !Jientais pr<ive11ientes cl<i apr<1-
veitamcntc1 intensivci ele energia geeJtérmica sàei Apesar da geração de energia por hidrelé-
talvez 111cn<Jrcs cm extensàci lJUe as <Jutras f<intes tricas peiller ser C(Jnsideraela limpa, têm sillci
de energia, un1a \"eZ que nãei é necessáricJ cJ trans- c<ilcJca(las restriçcJes e1t1antc1 à área inunllalla pela
11<1rt c lle tnatéria-prima <iu beneficiame11tc1 ele> lJarragem. i\. relaçãci entre a energia gerada e a
c<Jtnl1ustívcl. ÜC\'emeis lembrar que a c11crgia área inu11dada é llepenelente da altL1ra ele crista
gec1tér111ica é apr<Jveitalla cm locais bastante parti- ela barragem e lia" ecindiçc3es tcipcigráficas lc1-
culares e <JS prcJl1lc1nas tan1l1ém seràeJ lcJcalizacl<is, cais, senll(J considerada illeal a relaçàci lie 1 ()W
C<>t1sisti11do cn1 ruíll<J ambiental e geraçàci llc gases. por metrci lj uad rallei de área in t1ndad a. ;\ re-
Sua 11rcilluçà<>, a<l ccintrári<i lle ciutras fcJ11tcs giã<i Ncirte clci Brasil, apesar ela en(irme malha
enct)!;éticas, nà<i necessita ele c1uein1a nem lia llisp<l- hillrcigráfica, sc>frc restriçc"íes à implantaçàc) de
siçà<i ele rejeit<is ralliciativcJs. PcJr c1utrc1 laci<l, a mais Ltsinas hidrelétricas, justamente deviel(l às
cxplclraçàcl ccintínua p<Jde caL1sar prciblcmas ele SL1as características topcJgráficas, muitc) planas,
SL1lisielência elcvidci tantci acJ alívi<l ele 11rcssà<J el<l c1ue exigem (J alagamento ele áreas muitc> maio-
sistcrna (C:a11. 7), c<1n1ci ll<l rcsfriament<l e ccinsc- res daeJLiela ccinsiderada ieleal, cc1mc1 peide ser
qüc11te C<lntraç,t<J lia rcicha. ()s dcn1ais prc1l1lemas cibservad<i na Ta!Je!a 22.3.
a111\1icntais sà<i aclvinel<lS das <il,ras ele eng;cn\1aria
Tabela 22.3 Comprometimento ambiental
civil necessárias para a implantaçà<i ela usina.
de algumas usinas hidrelétricas brasileiras
neJmtccJ. Ideal 1O
Fig. 22.17 Usina de aproveitamento múltiplo Três Irmãos (Pereira Barreto, SP). Foto: CESP
Diversos fatc)res C()ntribuem para aumentar as res- 22.6 Outras Fontes de Energia
triçt':íes à implantaçã() de barragens. Entre eles p()dc-se
destacar a necessidade de desmatar a área do lag(), a .\lém das f<)ntes ele energia já aprcsentae-!as, outras
p(issibilidade de ocorrer salinização da á_l,iua do reser- f()ntes sãcJ utilizadas cm pequena escala. I-<'.ntre elas cstã()
vatóri(J devido ao aumento da evaporaçã(J, a eventual a cneri--,ria e(Ílica, pr(Jduzida pclcJs vent()S e a energia scilar.
necessidade de deslocar cidacles, povoad()S ()U popula- r:stas fcJntes ele energia apresentam granele vantagem
ções indígenas e a também eventual inundação de sobre eis cc>mbL1stíveis f(isseis, uma vez que sãc> ren(Jvávcis.
atrações turísticas (a exemplo ele) que occirreu cc)m Sete i\o entant(J, ci seu US() depende de aspect(JS ecc>nômi-
Quedas (n() ri(J Paraná). Pode também (JC(Jrrcr cc>s, tc11do se m(istraelo viáveis para a gcraçã(J ele energia
assoreamento nos reser\'atórios das barragens, () que elétrica en1 regiões que nãc) sãcJ assistidas pela reele ele
levaria a uma diminuiçã(J significativa de sua capacida- distribLiicàcJ ele cJutras fcintes ele ener1-,ria.
de de geração de energia e mesmo ele sua vida útil.
Este fator se torna mais rele\·ante pois, nc)rmalmcnte, a 22.6.1 Energia eólica
implantação de uma barragen1 gera clesenvolviment(J
populacional nas margens d() lagci e cJ conseqüente in- "\ energia eólica é produzicla pela m(JYin1enta-
cremento na taxa de urbanização e1ue, se não seguir un1 çà(J ele hélices pela açà(J do ventei. A energia gerada
planejamentc) adequad(), pc>de contribuir ainda mais para p(ielc ser utilizaela diretamente para !Jcin1bcar água cJu
o assoreamento deis lagos. Outr(J questionamento diz mo\·er m(iinhcis, ou ainela para gerar energia elétrica.
respeitei à destinaçã() que será clada às barragens quan- (_) use) para bcimbear ágL1a é bastante antigo e C(>nhc-
do dei términ(J de sua \·ida útil. cid(J, pcirém, a geraçãcJ de energia elétrica s(i se tornc)u
n n • ~ ,
22.1 Proálcool
Com a primeira crise do petróleo ocorrida nci final de 1973, diversos países incentivaram pesquisas para o
desenvolvimento de energias alternativas. Dentro de tal cenário, o Brasil criou o que, sem dúvida, tem sido a
maior experiência mundial na produção e utilização de energia provinda de ccimbustíveis derivados da biomassa
no mundo.
Trata-se de um programa, criado em 1975, cujo objetivo central era substituir parte das importações de
petróleo, que comprometiam pesadamente a balança comercial do Brasil, devido ao seu repentino aumento
de preços.
Esse programa visava a utilização de álcool (etanol) produzido a partir da cana-de-açúcar em substituição acis
combustíveis derivados do petróleo, principalmente a gasolina. Para isso, deveu-se criar uma infra-estrutura de
plantio, destilação e distribuição que atendesse a tal objetive). Paralelamente, o programa exigia, por parte dos
fabricantes de veículos automotores, um esforço de desenvolvimento tecnológico na adaptação dos motores
movidos a gasolina.
O Proálcool foi sendo implantadci com sucesso, apesar da sua inerente complexidade, devido à extensão
territorial e a conjunturas políticas internas, sendo que em 1985 cerca de 96% dos automóveis novos eram
movidos exclusivamente a álcool.
Apesar do êxito alcançado, a partir de 1986, com o decréscimo dos preços internacionais do petróleo, e
paralelo aumento dos preços do açúcar, o álcool combustível perdeu sua competitividade, provocando uma
crise no abastecimento interno. Tais fatores levaram a um relativo descrédito popular ao programa, decrescen-
do sensivelmente a produção de novos veículos movidos a álcool. No entanto, o programa possibilitou
expressivo desenvolvimento tecnológico tanto na área de refino como na biotecnologia e cultura da cana-de-
,
açucar.
Fica evidente que o futuro do Proálcool depende das oscilaçc}es do preço do petróleo. No entanto, o fator
positivo é a disponibilidade de um programa bem-sucedido, com tecnologia própria, que, além de utilizar
uma fonte de energia renovável e menos poluente, quando comparada à energia produzida a partir de com-
bustíveis fósseis, é um fator importante na geração de empregos e desenvolvimento nas áreas rurais.
no final de 1998, sendo a Et1ropa respo11sável por mais brasileiras. A energia solar peide também ser aprcivei-
de 60% dessa produção. Na Eurcipa, estima-se c1ue a tada pcir meio ele células fotovoltaicas, que geram
partir de 2020 cerca de 10°/ci ele tt)da energia elétrica Lima corrente elétrica capaz de carregar baterias. ()
gerada será de origem ec'.>lica. custti relativamente elevado dessas células tem caído
sensivelmente nos últimcis anos, pcissibilitando sua uti-
22.6.2.Energia solar lizaçãci em áreas c.1ue nãci clispõem ele outras ft>rmas
ele energia, a preços c.1ue, a lcingci prazo, tcirnam-se
A energia solar é aquela aprciveitada da incidên- compensat(iricis, visto não necessitarem de extensas
cia de raios solares na superfície terrestre. Pc)de ser redes de distrilJuição. J ,cvandcJ em conta ci retcirno
utilizada de forma passiva simplesmente para o aque- social que o acessti à energia elétrica propicia, o usei de
cimento de água ou mesmo ele aml)ientes, sendo que, células fotovtiltaicas pode passar a ser um importante
nos últimos aneis, cada vez mais unidades coletoras de meici ele promoçãci scicial, principalmente para as re-
calor podem ser vistas sobre os telhadcis nas cic.lades giões mais e.listantes deis centros urbancis.
Em um hipotético reator de fusão, dois isótopos de hidrogênio (átomos com diferentes massas devidcJ a
diferentes números de nêutrons presentes no núcleo), deutério (D) e trítio (T), são injetados na câmara do
reator onde são mantidas as condições necessárias para a fusãcJ (temperatura, tempcl, densidade).
Como produto da fusão D-T, 20% da energia liberada é utilizada na fcJrmação de hélio, enquanto os outros
80% de energia são liberados em nêutrons.
Para a ocorrência desta fusão, no entanto, é necessária a criação de um ambiente com condições favoráveis: 1)
temperatura extremamente elevada (aproximadamente 100 milhões de graus Celsius), 2) elevada pressão de
confinamento, criando um plasma, e 3) confinamento dei plasma durante um certo tempo de modo a assegu-
rar que a energia liberada pela fusão exceda a energia necessária para manter o material em estado de plasma.
A partir desse sistema, um grama de ccimbustível D-T (de um suprimento combustível de água e lítio) tem a
energia equivalente a 45 barris de óleo, sendo que o Deutério pode ser extraído economicamente da água dos
oceanos, enquanto o Trítio pode ser produzido em uma reação com lítio em um reator de fusão.
Leituras recomendadas
BUNTERBAR1"f-f, G. Geothernzics- an lntroduction.
Springer-Verlag, 1984.
'
494 D ECI FRA N D O A J ER RA
os capítulos precedentes, foram abordados presente está mais para o "buraco da fechadura do
. . . . ,
os pr1nc1pa1s processos que const1tu1ram e passado" do que para a "chave", ou seja, o presente
modificaram a Terra - plutonism<), vulcanism<), não abre a porta do passado, deixando-a escancarada
tectonismo, metamorfismo, intemperismo, erosão, para nossa inspeção fácil e completa da história geo-
transporte, dep<isição e litificação, entre outros. Des- lógica de nosso planeta. Muito pelo contrário, a visão
de que a Terra se diferenciou em litosfera, hidrosfera do passado que o presente nos propicia, embora ra-
e atmosfera há mais de 4 bilhões de anos, esses pro- zoável, é algo limitada. A lição que Bengston nos ensina
cessos ditaram a evolução geológica e biológica. Por é que devemos atentar para a possibilidade de nos
causa disso, costumamos dizer que o "presente é a defrontarmos, em nossa análise do passado, com si-
chave do passado" e com isto podemos vislumbrar o tuações e fenômenos estranhos à nossa experiência e
vasto registro geológico de eventos passados. No en- ao mundo atual.
tanto, como vimos no Cap. 15, diversas observações
Se o presente nos permite desvendar pelo menos
indicam que o presente é muito diferente do passado,
parte do passado, então é igualmente verdadeiro que
ainda que os processos geológicos atuais e do passa-
a análise deste passado pode nos ajudar a entender o
do obedeçam às mesmas leis físicas e químicas. Por presente e vislumbrar o futuro geológico. Trata-se de
exemplo, estudos de planet<)l<igia comparada (Cap. uma percepção nada trivial, especialmente no que diz
1) não deixam dúvidas de que nossa atmosfera era respeito à ocorrência de desastres naturais (terremo-
originalmente muito parecida com as atm<)sferas de tcis, enchentes, vulcanismo etc.) ou catástrofes induzidas
Vênus e l'vfarte (Tabela 23.1), apesar de hoje ser com- pela humanidade (di111inuição da biodiversidade, mu-
pletamente diferente. danças no nível do mar, alterações climáticas etc.).
Evidências geológicas de todo tipo comprovam Assim, devido à visão abrangente de nosso planeta, o
que a geografia atual dos continentes representa ape- geólogci desempenha um papel fundamental não ape-
nas ci mais recente arranjo entre crosta continental, nas na identificaçã<i e prevenção de riscos geológicos,
crosta oceânica e nível do mar num planeta dinâmiccJ. como deverá ter uma atuação cada vez mais impor-
Da mesma maneira, sabemos que o clima global já tante na resolução de grandes problemas que a
variou muito ao longo d<) tempo. Isto é exemplificad<), humanidade enfrentará nas próximas décadas: supri-
pelas numerosas cJscilações entre perí<idos glaciais e ment<) de água potável, uso racional e degradação de
interglaciais ncis últimos três milhões de anos. Similar- solos, fornecimento de energia, exploração de recur-
mente, a biosfera, em constante mudança e interaçã<i S<JS minerais tradicionais e alternativos e planejamento
com a atmosfera, hidrosfera e litcisfera desde que sur- (e reorganização) urbano. Neste capítulo, identificare-
giu, transformou nossci planeta, diferenciando-o de mos algumas das linhas-mestre da história geológica
tod<is os outros do Sistema S<ilar. da Terra para que o leitor possa se situar, historica-
mente, no presente e avaliar, criticamente, o que poderá
O paleontólogcJ sueco Stefan Bengtson apresenta ocorrer no futuro próximo. Afinal, como saber para
uma visão interessante sobre esse tema. Para ele, o onde vamos sem conhecer de onde viemos?
98% .
Nitrogênio 3,5% 2,7% 1,9% 79%
•· Ôxigêni◊
. .
"" - '
· .i ff:,!;~~; :::;·;:··•····. o, 13%
Argônio
.,· .... · . .:
70 ppm 1,6% o, 1% 1%
· Metono >·•. ó,óf ·• 0,0 .·.·
1,;r ti'fihl •· •
Temperatura da superfície (ºC) 459 240 a 340 13
. . .. '
Pressão .atmosférica total, em bares 90 60 . l •· .·•
• Formação ferrífera bondada (Quadrilátero Ferrífero, MG), testemunho da oxidação dos materiais geológicos na superfície,
quando da liberação de grande quantidade de oxigênio pela biosfera. Foto: T. R. Fairchild.
23.1 O Ritmo e Pulso da Terra
Antes de discutir processos e fenômenc)s específi-
cos, faremos algumas considerações sobre a
superposição dos ciclos, tendências seculares e e,·en-
tos singulares na história de nosso planeta - resultado
do ritmo e pulso da Terra. ~;fesmo reconhecendo a
utilidade do conceito do atualismo (Cap. 15), sabe-
mos pelos registros geológico e fossílifero que o
passado nunca foi igual ao presente. Mesmo com mais
de seis mil anos de história da civilização documenta-
da por escrito, é fato que C) ser humano, desde que se Fig. 23.1 Deslocamentos tectônicos normais, ocorridos nos
socializou, ainda não experimentou toda a variedade e últimos l 0.000 anos nas proximidades de Taubaté (SP), isola-
magnitude dos fenômenos geológicos mais comuns ram este bloco trapezoidal (horsl) de sedimentos terciários no
da Terra. Por exemplo, nem em tempos históricos nem meio do regolito homogêneo. Foto: C. Riccomini.
nas lendas indígenas, há registros de ocorrência de gran-
des terremotos no Sudeste do Brasil. Contudo, nos por exemplo, por atividades sísmicas e vulcânicas na
últimos 10.000 anos, no vale de Taubaté, prc)ximo a :-:ona de falha do Mar Morto (limite entre as placas
São José dos Campos (SP) o regolito sofreu africana e asiática), onde essas duas cidades se locali-
falhamento com deslocamento vertical de 6 m certa- zam. Estórias deste tipo, interpretadas cientificamente,
mente acompanhado de fortes tremores, deslizamentos juntamente com inferências obtidas da própria análise
e destruição em toda a região (Fig. 23.1 ). do registro geológico, permitem-nos compreender
melhor a dinâmica da Terra em termos da freqüência
Pc)de-se pensar ainda nas muitas vezes em que o e duração de suas manifestações, ccimo mostram as
mundc) foi palco ele inundações, secas ou furacões ti- Tabelas 23.2, 23.3 e 23.4.
dos como únicc)s na memória de) povo local c)u nos
registros histc)ricos das regiões afetadas. Embora es-
. ondas criadas
ses eventos nos pareçam muito raros no contexto de . por lmp~cto
. de asteroide
nossas vidas, são muito comuns, até corriqueiros, na
história geológica. j\1uito mais do que tempestades,
estiagens e vendavais, que comumente modelam a
--
Ili
~ 1 o15
· grande ·
·. terremoto ·
vento de
furacão
fluxo de
detritos
subaéreo
Segundo especialistas, cada segmento da cc)sta norte e:
do Gc)lfo do México é atingidc) por uin furacãc) pelo
....
QI
grande rio .
em período
de cheia
menos uma vez por século. Embora pouco freqüen- correntes
de maré
tes em termos humanos, em um milhão de anos (um e: · zona de
CI arrebentação
período de tempo curto da história da Terra) seriam l'll correntes
::!E oceânicas
10.000 vezes!
Podemos ter uma idéia da magnitude de eventcis falha, em média, a cad~. 140 aneis. Com base nesta
geológicos pelos resultadcis impressionantes de um frcqi_iência, ci tempci mínimo para obter eis 240 km de
terremoto (Tabela 23.5). A falha mais estudada e.la afastamento seria de apenas 700.000 anos, mercis três
Terra, a falha transccirrente de San Andrcas, estende- ou quatro pcir ccntci e.la idade da falha. Peidemos con-
se por mais de 1.200 l'"m na c=alifórnia (EUA) e cluir, portanto, que os terremcitos maiores fcJram
apresenta 560 km de deslcicamento cumulativo desde menos freqüentes do que se imaginava e que foram as
que surgiu, há 15-20 milhões de anos (Fig. 23.3). Na centenas ele milhares ele abalos mencJres que possibili-
porçãci sul da falha, rcichas antes ccintíguas estãc) sepa- taram a maior parte da separação lateral aci longci da
radas hcije por 240 km. Com base nas informações falha de San 1\ndreas.
da Tabela 23.5, podemos extrapcilar que seriam ne-
Pcir outrci Jade>, occirrem mcivimentcis que, embo-
cessáricis quase 5.000 terremotos ccim os efeitcis
ra gcolc)gicamente bruscos, passam c.lesaperce]Jidos
daquele que destruiu a cidade de San Pranciscci cm
pcirque sua açãcJ é ccintínua e relativamente pouco
1906 para obter essa separação. Um terremoto c.le ele-
ncitada durante a vida c.le uma pessoa. Sãc) eis movi-
,·ada magnitude é registrado em ccrtc)s trechc)s clessa
I\:lll,
'.''.'.,'"/'" ', '.
fot~~~µé:lde
.,.
-,.; .. ,. .
. ossoolho oceânico
. ' ,,' ', ', ,,, '
1O. Colisão entre continentes
11. Geração do campo magnético terrestre 11. Inversões dos pólos magnéticos
-vw,-.,,u ..... ·. ,.,,,,.,· .., -.
••mt'lt lflI1~1i'~ roios cósmicos
!P11fJt:/'.:;jA;n:} ;};;;<;:;,il:i!i~;ixtL i-·:,: ' ': : : "i;: , ,·: ' _'; ' ·. ' :>' '
.·.] 2. Impacto de meteorito
CAPÍTULO 23 • A TERRA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO 497
.·· :e:::.';:i;:j::<i:;:;"::,
e tmiliíQ!í."'.,
,,J<tli~~!:~i~:i.fi!1f[:t·!irn!,,''.,,.,
1
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de correntes de água
camada piroclóstica
de crescimento em árvores
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8. Alterações em processos no núcleo da Terra l 03-10 5 anos Geração de anomalias magnéticas lineares
no assoalho oceânico
l O. Mudanças no regime climático global 105- 106 anos Extinções, inovações evolutivas, mudan
1960 Chile
. :. :·. " ..
,' /:-:"\_..
- . _-_ 23.1 -Quão altas as montanhas?
:•:à~$~~mliliniteS na altiti:,,d~~ que uma cadeia de montanhas pode atingir? Parece que sim, pois quimdo
"'. ,,,:•·.-.,.: •;, .. ::· . __ ._ ,"-'_ ' :. . " . •', .--:•- ', ' ', ,'. ' . ' . ' ' '
•· '11S>f>~es; mais elevada$, d~ u~~+regi.ão sobressaem de 2 a 4 km acima dos terrenos circundantes, o próprio
i •~o ~ tadêi~ começa a~p~,~~qt}tinuidade de sua elevação através de abatimentos tectônicos (falhamentos
.. ·" ;-······•:·•.·,: .-,• . .. .;: . ·:.:--_-,- ·:.:--·>::, .. ·... ,p,.:U·:-... -'-'. . ,·• ,,
•.•~O~P'.íi~'s (!)'ti. gravitacionais)1 q~~ ~1;1rlb!íi!n,~pe çom as. onipresentes forças erosivas se opõem ao soerguíP'.í!ento, E
.• ~~sni.~qé:.~c-◊ntec~ atuahnebte~~parte~tt!ail da cadeia Andina, pot exemplo, onde se encontram grandes vales
/:••.:,ª~ ~~e~!~ect:ônica (grabe!'l.r);'é~p;iiq <1 :it1tlp1airtb Andino na Bolívia e Peru,· onde se localizam o Lago Titicaca e
'/;!~ii~~ii~~ta~se. qµe a (;aµti~ 1~~iláia, có~i•altitude máxima de 8.840 m acima do nível do mar, JlQ cume ·.
1!::Jji1\ljji~;l#~est, ~enl êomo '~s;~~ do Havli,[~qm o vulcão Mauna Loa se elevando a quase 9km ~êhtlá d~
'::;1~,~~~~~:Jciê~~cô,:já~stejam.nôlirnite~áximo d<i,:~tu.ta para cadeias montanhosas em nosso planeta. Oinesm '
fi1 i#~~!~~t-.e aplicar::se ao planeta Marte;q~de o~~~? Monte Olimpo (Cap: 1) atinge uma altura de 26 km li4\ima -
}lt~~~~l~ij9s adjaceitte&, o• que o torna Çi).jaior piétl(i~~nhecido no Sistema Solar. Esta elevação, entretanto>;Aã,o _-
;i•:)i!~tq-~âó soetguíP'.í!ento da crosta mis: a
evasão d~: materiais magmáticos derivados de uma ip:iensâ p!Uil!na .
·~f;iiiij~ai.qttê,(oo ausênciâ de um regime a:~vo de ~yimento de placas em Marte, permaneceu nd!m~&mo /í
:r,l!Ji~*'i~,jt9~co durante toda sua duração. 0 mestrid,.fenômeno na Terra, por outro lado, produz ~ol~es 'J
';:.i1~jl~~tês de rochas vulcânicas,. só que ·espa!J:lados s.~kre áreas muito maiores devido à Tectônica Gl~bal,
)':~g~•âós.casos dàcadéia•d~vulcões que cons1ãtui asilhas do Havaí ou os espessos•derrames dâba~ do,t
'!1,l:i~~âilo;Bm.sil e Etendeka na Narmbia, hoje separadospi~lo oceano Atlântico. · •· · ·
·,,,,n ., , .·., .••.·.,,,,, ·.· _:. , ,
;, .:' '"'·'''e '
Tabela 23.6 Deslocamentos verticais provocados por movimentos glácio-isostáticos
como resposta elástica da crosta frente ao derretimento de grandes massas de gelo
r::::;fü. 'é:i(,;,\;-:,.,; <;>),;:,; J '--·: : 'o e nia, .' ' . '. .;' ,_ ~ ' ··:: .' . m a :,.·U/,úJ!f!Wi-·ij';:: :11,i ;;i:>.;!f1,;.';;t9·',bi:\· .:t~:::i;.J;:)iíif:i;J:ii
Plataforma Russa (adjacente à Escandinávia) Subsidência de 2-3 mm/ano (movimento compensatório do soerguimento
na Fenoscândia)
!C~~!ll~~'.;iJ:;i::0IiW,,;;;, ,;
Groenlândia
xas maiores daquelas calculadas a longo prazo? Isto de- des pcJdem demorar para desaparecer ou serem tão
corre do fato de a intensidade e a magnitude desses marcantes que criam seu próprio sinal distinto, como
fenômenos não serem constantes ao longo do tempo se fosse um desvio do caminho normal de eventos,
geológico. Analisados de perto, observam-se os efeitos com significado geológico e temporal préJprio. Anali-
mais espetaculares, mas ao interpretar todo o registro de saremc)S no decorrer do capítulo as tendências seculares
milhões ou de dezenas de milhões de anos de atuação relacionadas a quatro elementos importantes da histó-
do fenômeno, os surtos de atividade mais intensa ficam ria terrestre: 1) impactos de meteoritos; 2) decaimento
diluídos pelos muitos períodos longos de quietude. radioativo, que gera o fluxo térmico; 3) evoluçãc) bio-
lógica; e 4) evolução do sistema Terra-Lua e seus
efeitos.
23.2 As Linhas-Mestre da História
da Terra Quanto aos processos cíclicos, vale lembrar que o
termo "ciclo" é empregado pelo menos de três manei-
Para entender a história da Terra, é importante não ras diferentes na Geologia: como uma série de eventos,
se prender a detalhes locais ou eventos particulares de normalmente recorrentes, que perfazem parte de um
um período gec)lógico qualquer, por mais marcantes prc)cesso mais amplo que se inicia e termina mais ou
que possam parecer. Sinteticamente, essa história pode menos no mesmo estadc), ccJmc), pc)r exemplo, os ciclos
ser contada em termos de três linhas-mestre da histó- das rochas (Cap. 2) e da água (Cap. 7); como um perío-
ria da evolução de nosso Planeta: do de tempo para completar uma sucessão mais ou
• tendências seculares; menos regular de eventos (por exemplo, o ciclo de evo-
luçàc) do rele,·o - Cap. 9); ou como um conjunto de
• processos cíclicos; unidacles litológicas que se repetem sempre na mesma
• eventos singulares. ordem (por exemplo, ciclotemas e varvitos - Cap. 11).
Aqui enfatizaremos os fenômenos do primeiro tipo, os
No âmbito das tendências seculares estão incluí-
e,·entc)s cíclicos da primeira grandeza na história da Ter-
dos os processos que, partindo de determinado estado
ra, especificamente os ciclos astronômicos e geológicos.
físico, químico ou biológico, progridem
unidirecionalmente, sempre afastando-se da condição Eventos singulares, no sentido empregado aqui,
~ . . , .
original. Atuam durante longos períodos de tempo, nao representam necessariamente acontecimentos uru-
ou seja, por muitos "séculos", milhares, milhões c)u cos na história do planeta - embora a reação nuclear
até bilhões de anos. ::-..:em sempre a progressão das natural ocorrida
,
há 2 bilhões de anos em Oklo, Gabão,
tendências pode ser resumida por uma funçãc) mate- no Oeste da Africa, tenha sidc) realmente singular -
mática regular, uma linha reta ou uma curva regular, mas e,·entos imprevisíveis que se destacaram por sua
pois a complexa interação das múltiplas partes do sis- magnitude excepcional ou pelo efeito que tiveram no
tema Terra costuma introduzir irregularidades na desenrolar da história do planeta. O mais importante
•
tendência normal. As ,·ezes, porém, essas irregularida- destes e,·entos foi, sem dúvida, a c)rigem da vida. Com
500 D ECI FRA N DO A T ER RA
4
ela. surgiu a bieisfera que transformou a st1perfície e a 10
atmosfera de nosso planeta, teirnand<J-<J único no Sis-
tema Seilar (Tabela 23.1 ). Também merece atençãei (i o o
ü ü
impacto de um grande meteorito no fim dei (O ·-
::::J
(/) +-' 10
3
'ºN 'ºN
.'\[eseize'iic<J, apontado como respeinsável pela extinção o (O o,_ o
,_
d<Js dinossauros e muitos outros organismos. ü (O C]) C])
Cll X
o..
...... e
(O o
,_ co
E+-' 2
·- •Cll CL LL
10
23.3 Tendências Seculares na Histó- Q)
"C "C
(O
igual, c<imci poderíamos distinguir entre o presente, ci Fig. 23.4 Gráfico da freqüência relativa de impactos
passad(i e ei futuro? Ela fundamenta neissas tecirias da meteoríticos na história da Lua. Por ser muito maior do que a
e\-olução do Universo (Cap. 1) e explica cJ decréscitn<i Lua, a Terra deve ter sofrido um bombardeio cósmico ainda
mais intenso do que a Lua.
secular na geração de calor pelo e-lecaimento radieJati-
\-o de materiais naturais (Cap. 15). A tendência ele
,1umentei de ceimplexidade registrada na história da Nessa ép<ica os impact(is teriam sidei tãci impcir-
bieisfera peide parecer uma e:xceçã(i a essa lei, um pa- tantes (ciu mais) quantcJ os ptcJcessos ncJtmais da
radoxei. Mas nãci é, porque em termos cósmiccis, a dinâmica terrestre na diferenciação e retrabalhamenteJ
biosfera é efêmera, mantida pela energia irradiada pelei da crosta e porção externa dei manto superior. C)s
Sol, que sustenta, peir sua vez, toda a vida através ela efeitos desses impactos feiram diversos, de devasta-
fotossíntese. QuanelcJ o Sol se extinguir, daqui a uns dcires a restauradores. (-)s maiores devem ter
quatro ou cinco bilhc"íes e-le anos, toda a complexidade vcJlatilizad<i grandes massas de crosta e manto, elevan- ·
biológica acumulada será desfeita e a energia e matéria
associada a ela se juntarão, finalmente, aci c:eism<is.
o
tena de metr<JS de diâmetr<J causaria danos locais e ..... 8 ....o
CI) CI)
e:
regionais nunca antes vistos pela humanidade. Impac-
X ,._ ta
o LL
0.
tos de meteeiritcJs dessa magnitude e mai<ires deixaram e
til
dezenas de crateras na Terra desde que os animais sur- ,_ ra
o
a.
giram e pelo menos um deles c::1usou um dos maieires V)
6
(Fig. 23.6). A energia gerada t-lessa maneira na Terra Idade geológica (bilhões de anos)
de 4,5 bilhões de anos atrás equi\-alia a 53 picowatts Fig. 23.6 Curva representando o somatório do ca-
lor produzido pelo decaimento radioativo dos principais
por quilograma (p\X./kg), quatrei ,,ezes superior ao
elementos radioativos ao longo da história da Terra.
valor atual de 13 p\X'/kg. Essa é a principal fonte de
Observe que o calor gerado, responsável por grande
calcJr que movimenta as placas litosféricas, funde as parte da dinâmica do planeta, era três a quatro vezes
rochas e preimeJve a desvolatização do interieir de> maior no Hadeano do que atualmente.
diferenciadc), enquanto as microplacas, ao colidirem, milh('íes de anos atrás. Quando se comparam cJs fós-
criaram placas cada vez maiores. Esta etapa culminou seis e (JS organismcJs que produziram estes fósseis nessas
ao final do Arqueano com a aglutinação de grandes duas fases distintas da história da bicJsfera, percebe-se
massas siálicas de dimensões verdadeiramente conti- com() o próprio modo e ritmo da evolução se modi-
nentais, as macroplacas, e ciclos tectônicos mais lentos. ficou com a expansão d(JS animais nessa época (Tabela
Desde então o ritmo de diferenciação e formação de 23.8). l_-,'.nquanto os primeiros 7 /8 do temp() geológi- ·
nova crosta vem diminuindo de modc) geral, em con- co (Pré-cambriano) f(Jram clominad(JS por formas;
sonância com o clecréscimo na prc)dução de energia microscópicas de vida procariótica, generalistas em i
'
radiogênica (Fig. 23.7). seus hábitos e morfologicamente simples, ccJm repro- ·
duçãc) apenas assexuada e taxas evolutivas lentas, o
23.3.3 Evolução biológica Fanerozóic(J, que representa apenas a cJitava parte mais
recente da hist('iria do planeta, viu surgirem organis-
Noções básicas da evolução bic)lógica, de fósseis e mos eucarióticos de tamanho macroscópico, de hábitos
de preservação, bem como os principais eventos na especializados, mc)rfologia complexa, reprcJdução
história da biosfera, foram tratadas brevemente n() sexuada e taxas evolutivas rápidas.
Cap. 15 e estão resumid()S no "Ano-Terra", na Muitos eventcJs de cliversificação e extinção das
contracapa deste livro. Já vimos que o registro fóssil ,.. .,.. ,. .
espec1es eucar1ot1cas, tanto as macrcJscop1cas comcJ as
do Panerozóico difere fundamentalmente do registro microscópicas (microalgas, protistas e outros), ocor-
do Pré-Cambriano por causa da expansão global ex- reram na história terrestre. A evolução biológica é
plosiva de metazoários com conchas e outras partes marcada, na verdade, por uma série de saltos na com-
duras (carapaças, escamas etc.) pouco depois de 550 plexidade da bic)sfera provocados por inc)vações
·•. ·'·ê~l~:~{~!!~~i~~~•,,, .,. · · ·. "'•L;~~~ento .· •. ·••· .•. ••. •••·•·•··•··•··. i •· ..•.,.>:Mgss9i ~~í~.:t>Q•~~:~~~.,~~~ '.,
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' ' :! >:";,;,, ;_;::!,):' '
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Tabela 23.8 Contrastes entre a evolução biológica fanerozóica e pré-cambriano
Fig. 23.7 Distribuição de crosta continental por idade (Arqueano, Proterozóico e Fanerozóico). Coberturas sedimentares mais
recentes foram retirados poro mostrar as rochas crustois do embasamento.
504 D Ee I FRA N o o A TERRA ·
soterracla e colocada fora de) alcance do oxigênic), uma te, de> aparecimento da reprodução sexuada. A diver-
parcela equivalente de oxigênio sobrará. No 1\rqueano, sidade genética e morfológica pre)pe>rcionada pela
este oxigênio em excesso reagia quase que imediata- sexualidade deve ter levado ao surgimento de1s pri-
mente com compostos químicos reduzidos nc) meie) meiros metazoários megascópicos, representados pela
ambiente, principalmente com gases vulcânicos, mi- fauna de Ediacara (Cap. 15), entre 59() e 565 milhões
nerais e compostos químicos dissc>lvidos na hidrosfera, de anos atrás. Pe>uce> depc1is, entre 545 e 525 milhões
portanto não passandc> diretamente para atmosfera. de ane>s, ocorreu a explosão cambriana de animais
No período entre 3 e 2 bilhões de anos atrás, esse cc1m conchas e carapaças (Fig. 23.9), que estabeleceu o
pre)cessc) fc)i responsável pela oxic1ação da superfície modo e o ritmo fanerozóicos da evoluçãe> biológica,
e da atmosfera e pela cleposição de dezenas de bi- marcando assim novo salto na complexidade da
lhões c1e toneladas de minério de ferre), se)b a forma bie>sfera.
de formações ferríferas bandadas, que vieram a
constltwr 1mpe)rtantes depósitos de ferro (Fig. 23.8)
(Cap. 21 ).
Depois da oxidação da hidre)sfera e da superfície
terrestre, o oxigênio começc)u a acumular-se paulati-
namente na atmosfera e a exercer forte pressãc) ne)s
rumos da pré)pria evc)lução biológica. Ce)mo resulta-
de>, surgiu o processo metabólico c1e respiração, que
Fig. 23.9 Um fóssil típico do explosão evolutivo dos
aproveita o oxigênio para produzir energia e permitiu
invertebrados no Cambriano, um anelídeo (poliqueto), Conodio
o desenvolvimente> de)s eucariotos ce)m suas células spinoso, preservado em detalhe no folhelho Burgess, de idade
maie)res e mais complexas e suas funções metal1c'>licas cambriano, do Colômbia Britânico, Canadá. Os feixes de
ce>mpartimentadas em organelas intracelulares, inclu- cerdas finos funcionavam como órgãos de locomoção. Foto:
indo um núclec> distinto. Diversas evidências S. Conwoy Morris/Combridge University .
geoquímicas e palec>ntc>lógicas sugerem que e) teor
crítice> de e>xigênio na atmosfera para o surgimentc) A julgar pela cc>mposição da bic>ta cambriana de
dos eucarie)tos (1 ry,, do nível atual) tenha sido atingido pouco mais de meio bilhãc1 de anos atrás, somos leva-
antes de 2 bilhões de anos atrás. Niesmo assim, e>s dos a ce>ncluir que a transfe>rmação da atmosfera
eucariotos, ainda microscópicos, se'> ce>meçaram a se terrestre, originalmente inóspita à vida complexa (Ta-
destacar no registre> palec>ntc1lógico em torno de 1 bela 23.1), já tinha se cc>mpletade1 em função da
bilhão de anos atrás ce)me1 cc1nseqüência, aparentemen- intervençãc> bic>lc'>6rica ne>s cicle>s da dinâmica externa
da Terra durante c1 Pré-Cambriano. Desde o início do
Fanerc)zc'iico, a atmosfera já era oxidante o suficiente
para sustentar muitos filos de invertebrados marinhos
ainda bem representados nos mares moderne)s, ce>mo
artrópodes, moluscos, braquiópodes, esponjas e
equinodermes e até e>s primeire>s ce1rdados primiti-
ve)S. A tremenda quantidaele de (~0 2 da atmosfera
e>riginal já tinha siclo seqüestrada e escondida sc>b a
fe>rma de rochas carbonáticas (calcários) e matéria or-
gânica na litc1sfera e biosfera ao longo de três e meio a
quatro bilhões de anos de intemperismo (Cap. 8) e
processos vitais (Pig. 23.10). Com isse>, a alta tempera-
tura da superfície terrestre, resultante do forte efeito
estufa exercido pelo gás carbônico na atmosfera c>ri-
ginal, diminuiu a pe)ntc) de permitir a formação de
calc>tas de gelo de mc1do esporádico na Terra no iní-
Fig. 23.8 Formação ferrífero bondada do Quadrilátero Fer-
rífero (MG). O nome se refere às camadas alternados ricos cic1 do Proterozóico e de forma mais ou menos regular
em ferro e sílica (quartzo). O minério encontro-se recristalizado a partir de 800 milhões de anos atrás (como verem
e deformado. Foto: T. R. Foirchild. mais adiante). Ac> mesmo tempo, a atmosfera tor
CAPÍTULO 23 • A TERRA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO 505 >
'
:,!
\-açào perfeitamente coerente c<im o aumentei do c<>m <)S efeitos eleste ripei em C<)njunçãci ceim coneliçc'Ses
dia em dois segundos a cada 100.000 anos elesele o paleeigecigráficas, esses cicleis resultam cm etapas ainela
Devoniano. mais longas, ora dciminadas pe>r climas fricis <)ra pcir
climas quentes, numa alternaçãe) conhecida comei ci ci-
Entretanto, a cxtrape)laçà<J desta tendência nei <Jll-
clo estufa-refrigerador.
tro scntidci, ciu seja para o passaclc) antcricir a<>
Devoniano, esbarra num paradoxe) referente à cstal1i- 5 - 1 a
1
lidade dei sistema Terra-Lua n<1 lJa]coproter<)Zéiic<i, há ~ 4 ,... 1
~~ 1 1
mais de 1,6 l1ilhàci de anos. Peleis cálculos que se pêidc 1 1
-8Ili iií!':! 3 1 1
fazer, a laua e a Terra, nessa época, teriam estadcJ tàci "O Q)
1 1
'õ t:: 1 1
próximas que a Lua teria sido dcspeelaçada e destruíela --
·e
e
~""
Ql
Ili
2 - 1
1
1
1
1
1
por fortes marés internas prc>vocaelas pela atraçàcJ X -e 1 - 1 1
W •o 1 1
gravitacic)nal da Terra. Tcidavia, comei se sabe, este 1 1
Dos ml1it()S ciclos geológicos <lo planeta, CJ mais :\rqtiean(J, cedeu lugar para cJ atual regime de
importante é ci ciclo de supercontinentes, relacieJ- macrciplacas iniciadcJ O(J Palecipr(Jterciz(iicei e que con-
,
naelei à Tecttinica c;hil,al e a todas as suas ceJnsee1üências tinua até (J presente. E fácil vislumbrar o formato do
orogenéticas e palecigeográficas (C:ap. 6). Trata-se de últi111ci superc(Jntinente, a Pangea, que se fcirmciu nci
um conceito mais al1rangente do e1t1e eJ ciclo de Wil- t1m c1cJ PalecJz(iicci, há 250 milh(:íes de an(JS, aprcixi-
son (homenagem ao geofísico canadense J. Tuzei madamente (Fig. 23.13). Basta juntar eis C(Jntinentes
Wilson que ci elescreveu), que explica a fcJrmaçào e <J atuai5 c1e accirc1(J ccim sua dispcisiçãeJ em relaçãcJ às
desaparecimentcJ de grandes bacias oceânicas. () ciclo caeleias mescJ-cJceânicas que os separam como se fos-
de supercontinentes não scimente englcJba essa ieléia, sem peças de um quebra-cabeça afastadas umas das
C(Jm(J inclui também o fentJmeneJ mais amplo e de- outras S(Jbre CJ tabuleircJ (Cap. 6). Num exame mais
moraelo ela agregaçàci e elesmantelamentei <las massas <letalhaelo, poelemos ielentificar, em cada uma dessas
ccJntinentais acJ l(1ngo e-la hist(iria ela "lerra. ComcJ ve- peças, quebra-cabeças palecigeográficos ainda mais
remeJs, envcJlve ainda muc-lanças cíclicas na atmeisfera, antigcJs, C(JmcJ os supercontinentes Pannótia (fcJrma-
nei clima e nei nível deJ mar, teJelas ceim ceJnsee1üências dcJ há 600-550 milhões ele anos), Roclínia (formaelo
neJtáveis na mcJelelage111 ela superfície terrestre e nei há 1 l1ilhà(J de ancJs) e e1utreJs (Fig. 23.13). 1\
caráter ele) registreJ geológiceJ. receJnstituiçãcJ <lcls superccintinentes mais antigcJs é di-
()s ge(ileJg(JS reccJnhecem a feirmaçào e fícil, pelrque já elesapareceram teielcJs els assoalhos
clesmantelamentci de várieis supercontinentes aei leJn- CJceâniccis, bem ceJmeJ muitcJs <los registrcJs
go dos últimos deiis bilhões e meiei de anos, desde pale(in1agnéticos e gecicron(Jle:igiceJs de sua existência
que (J regime geeJtect(Ínicei ele micrciplacas, típico do (Cap. 4). 1\ grande maioria da crcJsta cJceânica claque-
Gondwana
Ur ... Oriental··
(IJ ...
· · - · - - ·- ~ . . .
(3,0) :;:: . Gondwana
Ártica 'º · Goridwana ,li . · · ·· "'-ã
(2,5} ·~ Nena· Rodínia 11 ~· . Ocidental Pangea
11111
---r
Báltica
Atlântica
4 (1,0) ,_ n.. Laurâsia . ;/ (0,3)
a
Proterozóico Fanerozóico
,,-Gondwana
Gondwana
1 bilhão de anos atrás 600 milhões de anos atrás 250 milhões de: anos atrás
ROOiNIA PANNÓTIA PANGEA
b
Fig. 23.13 O surgimenro e desaparecimento dos principais supercontinentes ao longo da história da Terra (a). Os números entre
parênteses em a representam a idade aproximada, em bilhões de anos, da formação de alguns dos supercontinentes. Os três
principais supercontinentes do último bilhão de anos (Rodínia, Pannótia e Pangea) estão ilustrados em b. Fontes: a) J. J. W. Rcgers,
1996; b) M. Yoshida.
les tempos foi reciclada cm Z(Jnas de subducção entre J:-,~sta etapa de subducção da crosta oceânica gera
placas, ceim algumas peiucas lascas desta crosta incor- ma1:,>111as profundos debaixo das margens antigamente
poradas na zona de sutura entre antigcis continentes. passivas dos oceanos interiores. Estes magmas, por se-
Sãc) estas lascas - verdadeiros "féisscis" de ocean(is rem menos denseis do que as rcichas circundantes, tendem
antigos - que permitem determinar as margens de a ascender pela crosta e extravasar sobre o continente
paleocontinentes e saber quando o oceano existiu. ~:stas cm vulcões. A subducçãe) também pode afetar a crosta
informações, juntamente com estudos paleomagnéticeJs oceânica dos oceanos exteriores, do outro lado dos frag- :
e gcocronológicos de rochas nos continentes e com- mentas do supercontinente, gerando uma atividade !
parações entre preivíncias estruturais e, quand_o possível vulcânica periférica na forma de ilhas em arco ao largo 1
(no Fanerozéiico principalmente), entre províncias dos fragmentos do supercontinente (Cap. 6). i'
palec)bieigeográficas, permitem vislumbrar o que res-
A' medida que o fundei ocearuco d os eiceanos mtenores
A• · - 1
1
tou elos diversos fragmenteis ele paleeicontinentcs mais
é ceJnsumido, os fragmentos dei supercontinente ceimeçam •
antigos e que feiram st1cessivamente rccortadc)s e cada
a entrar na fase de colisão. Soerguem-se entãci montanhas,
vez mais dispersos em relaçãe) às suas peisiçõcs eirigi- cm extensas faixas dobradas muito deformadas (Fig. 23.14c),
nais. Para ei períeielo anterior a um bilhãe) de anc)s, como as cadeias paleeJzóicas conhecidas como os
esses quebra-cabeças são muito mais difíceis ele re- Caledonides (Escandinávia, Grã-Bretanha, Groenlândia e.
montar e, portant(J, a reconstituição paleeJcontinental parte nordeste da América do Norte), Hercinides (Europa
torna-se um exercíciei especulativo. central), Apalaches (parte leste da 1\mérica do Norte), lvl(Jn-
, ,
tes AA.tlas (parte nciroeste
,
da Africa) e Montes Urais (que
23.4.1 O ciclo de supercontinentes e seus di,'ide a Europa da Asia, na Rússia) e as cadeias cenozéiicas
efeitos dos Alpes até os Himalaias. A junção e elevação do no\-O -
supercontinente em f(irmação resultam em intensa erosão,
O desmantelamento de um supercontinente con- alterações nos padrões de circulação atmosférica e mudan- ·
tend(i a maior parte da crosta continental de uma ças nci clima no seu interior. Zonas de subducção do lado
épeica qualquer inicia-se com uma fase de exterior elos fragmentos mergulham debaixo dei continente
rifteamento interno, ceimo resp(ista ao acúmulc) ele agora, causando extense) vulcanismo em teJda a borda exte-
caleir (pcinto quente OLl pluma) abaixei do ceintinente ricir dei novei superceintinente. Enquanto isto, ilhas em arco
durante centenas de milhões ele aneis. (=om a conti- também são acrescidas ao continente em sucessivas colisões.
nuidade elesse fentimene) térmicei, ei continente se Finalmente, as atividades vulcânicas e tectônicas são atenua-
racha em elois c)u mais fragmentos e se inicia a pre)- das, a erosão reduz as montanhas e ci equihbrio isostáticci
duçãei de asscialhci oceâniceJ entre eles. I"ogo eice>rrem estabelece. A fase orogenética passa e um no\-
invasões de águas d(is oceanos que circund_am ei superceintinente está formado.
superccintinente, formandci oceanos interiores, à
lviuitas dezenas ou até uma ou duas centenas d
semelhança do atual eJceano Atlântico, peir exemplei.
milhões de anos passarão antes que o calcir gerado no
Dei ciutrci laelo deis fragmentos há (JS oceanos ex-
mantei debaixo do superccJntinente possa se acumul
teriores, comeJ ei atual oceano Pacífico, pelr exemplcJ.
a ponto de iniciar ncivo processo de rifteamento de
Durante apre)ximadamente 200 milhões de aneis, eis
sa massa continental (f!ig. 23.14d).
oceanos interiores se expandem na medida em que
progride a criação do assoalho oceânico por conta () novo superce)ntinente nunca tem a mesma con
da atividade vulcânica e tecte'inica nas cristas mes(i- guração dcJ anterior, pclis as fases envolvidas não operam
oceânicas (Fig. 23.14a). Acompanhando todo o simétrica e contemporaneamente. A fase ele rifteamen
processo, espessas pilhas de sedimentos se acumu- começa em mcJmentos e partes diferentes do
lam nas margens tect(inicamente passivas banhadas supercontinente; alguns dos riftes originais podem s
pelos oceane)S interiores. Esta é a chamaela fase de abortados cm qualquer fase de seu desenvolvimento; a ,
dispersão no ciclei de supercontinentes. Apéls apro- vclcicidade de dispersão e de reaproximação varia consi- i
ximaelamente 2()0 milhões de aneJs, as partes mais deravelmente; as colisões podem ser ciblíquas, sem
antigas ela crcista deis ciceanos intericires, ou seja, as par- subelucçãeJ, como ao longo da falha de San Andreas na
tes mais próximas das margens elos fragmentc)S elci Califórnia. Ce)m isto, os processos de separação e junção
antigci superccintinente, tendem a afundar nci mantci uma d_eJs fragmentos de um supercontinente não são
vez e1ue ocorre aumento de densidade em funçãeJ elo sincrónicos mas diacrônicos, isto é, espalhados ao longo
resfriamento aei leingo elo tempei (Fig. 23.14b). de dezenas de milhc'Ses de anos.
. CAPÍTULO 23 • A TERRA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO 509 ~' '.d.
vulcanismci mais intenso al- O supercontinente se rompe, com afastamento dos fragmentos
formando oceanos interíores com margens passivas. \
tera o nível dei mar I \
Oceano Crista
mundial, deslocando água interior mesoceârnca
das bacias oceânicas sobre
os continentes (transgres- B Aproximação e colisão dos fragmentos continentais
são). O prc)cesso inverso,
Arco de ilhas Arco de ilhas vulcânicas
e)u seja o retorneJ da ábrua
~ /,,1·~·
deis ce)ntinentes (regressãcJ)
para as bacias eiceânicas,
"íi 1 J. 1 ....
.1.
~~!.
resulta do abatimentci das
cadeias meso-oceânicas
durante períclclcls de quie- Após 200 milhões de anos, chega-se ao afastamento máximo.
As margens passivas tornam-se ativas e os fragmentos continentais . .. . .
! •
Vulcanismo
Efeitci semelhante ocorre subducção continental
efeitos de transgressões e
regressões relacionadas ao
ciclo de supercontinentes.
llatgemp1 ...
-- • . ,,.,
.· · -~!4Ai},.-A!AW . ~W~.1.!o/@j.,.fl!~~.1.. f~
Falha transformante
Durante as regressões, o nível do mar cai, expon- infravermelha (calcJr) irradiada da superfície terrestre
do mais área continental à erosão e fornecendcJ mais quando aquecida pelo Sol. Acima de certos níveis, CC)2
nutrientes acJs oceancJs. Sem o efeiteJ amenizadeJr no peJde determinar aumentos significativos na tempera-
clima que os mares epicontinentais preJpiciam, a tem- tura média da atmosfera, comcJ pcJde ser observado
,
peratura média da Terra cai, as zonas latitudinais hoje com a queima de combustíveis fósseis. E o cha-
tre)picais retraem-se e o gradiente térmico entre os madc) efeito estufa.
pólcJs e o equad_cJr aumenta, eJ que gera circulação at-
Por outre) lado, quando a atividade vulcânica na
mc)sférica e oceânica mais vigore)sa, misturando melhor
Terra diminui ou quando os continentes estão mais
a água no mar e pondo fim às ceJndições anóxicas deJ
altos ou mais amplamente expostos, durante épocas
func1o. A regressão marinha acaba espremendo os
ele nível deJ mar baixo, os processcJs intempéricos se
ecossistemas deJs mares raseJs (que antes ocupavam
encarregam de retirar C02 da atmosfera em reações
vastas áreas deJs ambientes marinhcJs
ce)m rochas expostas na superfície. O efeito estufa
epiceJntinentais), numa estreita faixa da parte exter-
tcJrna-se fraccJ, e a temperatura atmosférica cai. Even-
na elas platafeJrmas continentais. Isto preJvoca
tualmente, a temperatura média climinui a ponteJ de
intensa competiçãeJ por espaçeJ e nutrientes, ,
iniciar períodos ele extensa glaciação. E o efeito refri-
deflagrando extinçe)es e rápidas mudanças evolutivas
gerador. Sua expressão mais dramática ocorreu pouco
em muitos grLtpos de eJrganismos.
antes deJ término do Proteroz(Jicei, quando, segundo
especialistas, as geleiras avançaram até as regiões tropi-
23.4.2 O ciclo estufa-refrigerador cais, dando ao planeta um aspecto de "beJla de neve",
como mencieJnado no Cap. 11. Veevers relaciona os
Talvez o efeiteJ mais marcante do ciclci ele
aumenteJs tanto neJ fornecimento ccJmo no consumo
supercontinentes esteja nos controles que parece im-
de CC) 2 aos cinccJ estágios que ele reconhece ne) ciclo
por aeJ clima, estimulando a alternância de intervalcJs
dos supercontinentes, conforme ilustrado na Fig. 23.15
frescos cJu até marcadcJs por glaciações com períodos
e resumielo na Tabela 23.1 O.
quentes, de acorc1o com eJ incremento vulcânice) ou
consumeJ inte_mpérico do C0 2 proveJcadcJs durante A I1ig. 23.15 mostra, graficamente, a relação dessas
as c-Jiferentes fàses desses ciclos, segundo meJdeleJ de- tendências climáticas com os três grandes ciclos de
sen vcJlvideJ pelo geólogo australianeJ J. J. Veevers, supercontinente ocorridos nos últimcJS 1.100 milhões de
ilustrado na Fig. 23.15. C) CC) 2 é transparente à luz aneJs, cada qual com duração aproximada de 400 mi-
incidente do Sol mas retém parte da radiação lhe)es de anos.
Tabela 23.9 Comparação dos efeitos causados por transgressões e regressões eustáticas (globais)
'
Tende o aquecer _
. •' ' '
onóxícos em profundidade
Distribuição dos mares epicontinentais Aumenta Diminui
• i'Fêt1dit1tlÔ$' êvolvtíVÓ$ n<.is -rnorei~ci~ós>
••, ' .. ,, .... ' .
.. . . . .
,,,
/i'E.ê6ês~~itbumenta, oferecendo --- ·• --.-_ - - -
' "''·'"''•'"•·· ,'' '
' ',, ' ' ' ' ",',, '
' ,., ' ' ,.·, '' ' ,, ' ,;, '',, ., " ··'',;'•i•,,<;;,i,<út··
- •·•-· ·•- -·i.•_ ,.< !l>portvnl~j~~.s de contato entre biotéls _ - -._ ooeíirninômdô'bídt:Qs\ :1;,r :.:;:._,-.-•
' ·.:·,:·:i'.:'.>.1ii':\':•.. :
-_ . }[p;essão s;l;tívo baixa, mudanças - - -- - Pressão seletiva aguda, mudcinças• ' ' " '
Cada um desses ciclos exibe uma série de efeitos 23.5 Eventos Singulares e seus Efeitos
semelhantes scJbre o clima global, que tende a ser quente
durante a fase de dispersão e amalgamação do novo ~uperimpostos nos ciclos e tendências já discuti-
supercontinente, notadamente no Proterozóico entre dos, ocorrem eventos cuja raridade ou intensidade
1.000 e 800 milhões de anos, no Paleozóico Inferior e descomunal faz com que fiquem registrados na histó-
durante o Mesozóico e a maior parte do Cenozóico, ria geológica da Terra. A reação nuclear natural de
e frio durante a formação final e breve períodcJ está- Oklo,
,
ocorrida há dois bilhões de anos no GabãcJ
vel do supercontinente, como no final do Proterozóico ("\frica Ocidental), foi um desses eventos. Ela sc'i acon-
e do Paleozóico. Por motivos ainda nãcJ muito claros, teceu por causa de uma série de coincidências
as fases quentes são pontuadas perto de seu fim pcJr en,-cJl,-endo o aumento recente de oxigênio na atmos-
um mini-período de forte glaciação, como ocorreu fera, as características geoquímicas do Urânio, e as
há 780 milhões de anos no Proterozóico, no condições hidrogeológicas do arenitcJ onde o Urânio
Ordoviciano e no fim do Terciário (começando há 3 se alojou. Aparentemente, a concentração de várias to-
ou 4 milhões de anos). Destas observaçc'íes, podemos neladas de minério contendo 20 a 30% de óxido de
concluir que o clima relativamente bom que experi- urânio a alguns quilômetros de profundidade, subme-
mentamos hoje, ao contrário do que se pode imaginar, tida às temperatura e pressãcJ críticas de 650 I( e 215
deverá ser passageiro, apenas parte de uma curta fase bares, respectivamente, foi suficiente para iniciar uma
interglacial da mais recente mini-idade de gelo. Nesta reação nuclear em cadeia que durou vários milhões de
visão, as calotas polares poderão voltar a crescer num anos, prcJduzindo
,
mais de 500 bilhões de megajoules
futuro não muito distante (alguns milhares ou dezenas de energia. Agua subterrânea circulando pelo arenito
de milhares de anos). CcJmo observou Jonathan Selby em abundância serviu para dissipar o calor e evitar
ao comentar o modelo proposto por Veevers, se o qualquer reação mais explcJsiva.
presente ciclo de supercontinentes correr o curscJ es-
Dificilmente outro evento deste tipo pocleria ter
perado, a previsão dcJ tempo para o futuro geológico
acontecido antes ou depcJis deste: primeiro, pcJrque o
próximo é de melhoria com aumento de nebulosida-
urânio, muitcJ pouco solúvel em ccJndições redutcJras,
de e calor seguidcJ de forte quecla na temperatura com
só começou a formar minérios sedimentares após a
períodos glaciais daqui a oitenta milhões de ancJs, isto
oxidação efetiva da atmosfera, em torno de 2 bilhões
é, se as atividades antrópicas, especificamente o lança-
de anos atrás; e, segundo, por causa do rápido decrés-
mento de C0 2 em excesso na atmosfera, não
cimo desde a proporção ele z,su, com meia vida de
interferirem neste processo.
Clima ,_____________ _
Fria
Ma 1100 1000 900 800 700 600 500 400 300 100 o +100
Fase Refrigerador Estufa Refrigerador Estufa Refrigerador Estufa Refr.
Estágio 1a3 4 5 1a3 4 5 1a3 4 5 1
Ciclo A B e D
Fig. 23.15 As fases do ciclo estufa-refrigerador do clima terrestre e sua relação aos estágios (1-5) dos últimos três ciclos de s1.percontinentes
(A-C). Durante o ciclo A, a Rodínia se fragmenta e parte de seus fragmentos se juntam para formar a Pannótia. Durante o ciclo a
Pannótia se desmantela, fornecendo fragmentos para a formação de Laurêntia e Gondwana, e estes continentes, mais diversos, outios
menores, colidem no decorrer do Paleozóico, para construir a Pangea. O ciclo C, ainda incompleto, retrata a fragmentação da Pargea
e o início da amalgamação do próximo supercontinente, Amásia (nome derivado das palavras 'América" e "Ásia"). Observe que a
formação de Pannótia e Pangea coincidiu, grosseiramente, com as duas maiores épocas de glaciação (azul-escuro), precedidas por
"mini-idades de gelo" (setas) iniciadas há 780, 450 e 4 milhões de anos. As relações entre os estágios do ciclo de supercontin01tes e o
ciclo estufa-refrigerador estão resumidas na Tabela 23.1 O.
512 DECIFRANDO A TERRA
5 . Dispersão mais lenta; Fluxo de calor diminui Alta no início; diminuindo Temperatura alta no início, ·
fragmentos continentais · com o fechamento dos com o tempo em função diminuindo em seguido . · ·
·. entram em colisão, mares interiores; calor do consumo do C02 (com "mini-idade de gelo")/.
·. formando o novo • começo a ser represado pelo intemperismo seguido de nova elevação
. supercontinente debaixo do supercontinente das cadeias de montanhas·
em formação dobradas recém-elevadds
apenas 710 milhões de anos (e responsável pela sus- ric/' surgiu aqui mesmo, come) conseqüência da intensa
tentação da reação em cadeia), em relação a 238 U em interação entre o calor, a litosfera, a hidrosfera e a atmos-
depc'isitc)s naturais de Urânio (Fig. 23.6). Dessa manei- fera primitivas muitc) cedo na história do planeta, de tal
ra, e) evento de Oklo se caracteriza como realmente mc)dcJ que e)s oceanos precoces fc)ram transformados
único na história da Terra. em se)luções ricas em compc)St<)S orgânicos dos mais
Todavia, dentre os <)utros eventos singulares nc)tá- divcrseJs, uma verdadeira "seJpa primordial" na qual os
veis, vale a pena destacar dois, a origem da vida e o primeiros seres vive)s teriam se originado.
impacte) de um gigantescc) meteorito há 65 milhões de Seja a vida indígena (surgida aqui) c)u exógena (entre-
aneis respe)nsável pela extinção dos clinc)ssauros e muitc)s gue "em c.lcJn1icílio" pe)r um cc)meta), ela só experimentou
e)utrc)s grupc)s de animais terrestres e marinhos; e) pri- succssc) ap()s o último impacte) esterilizante, que, segunde)
meire>, pela importância que a bie)sfcra tem na clinâmica C)S cosme'ilcJge)s, deve ter ocorridc) antes de 4 ou 3,8 bi-
e na própria evolução da Terra e o segunde), pele) sihrnifi- lhões ele anos atrás (Fig. 23.5). Estas e.latas ce)incidem
cado de) acaso e da catástrofe na história da vida. apre)ximadamente com a idade de compostos grafitosos
da Grcienlânc.lia (3,85 !Jilhões de anos), tidos por alguns
23.5.1 A origem da vida estudie)Se)s (nem todc)s) como as mais antigas evidências
de \rida, sendo apenas 300 a 500 milhões de anos mais
Durante a infância da Terra, no Hadeano, a superfície antigas c.1ue eis mais antigos fósseis irrefutávcis, os
terrestre foi bc)mbardcada constantemente pe)r tc)c.la micre)fósseis e estromatólitos encontrados no noroeste de
matéria de sc)bra do processo da formaçãc) do Sol e Austrália, datadcJs cm 3,5 bilhões de anc)s (Cap. 15). Desta
planetas, cuja trajetc')ria cruzava a e)rbita da Terra nc) discussão, transparece uma conclusão altamente surpreen-
momentc) errado. Pc)stula-sc, inclusive, que boa parte cle)s dente: a vida pode ter surgidei e se extinguideJ diversas
gases e da água de nossa atmosfera e hidrc)sfera foi en- vezes entre 4,5 e 3,5 bilhões de ane)s atrás, mas a fe)rma
tregue à Terra pe)r impactc)s de cometas. Há quem que sol)re\7Íve até hoje, baseada em DNA, deve ter apare-
especule que a vida teria se originado cm cc)metas quan- cido e cvoluídc) rapidamente próximo do fim do Hadeano,
do e) SeJl os ac.1uecia, volatilizande) suas capas externas estabelccende) e)s prcJcessc)s mctab(ilicos básicos (fermen-
geladas e criando o equivalente a um enc)rme labc)tatc')- taçãe), autotrc)fismcJ, etc.), hábitc)s de vida diverse>s
rio químico à base de cc)mpostos de C, H e N. A maieiria (proclutorcs primáric>s, decc>mpositores, etc.) e ecossistemas
dos especialistas, no entanto, acredita que este "labc)rat()- variac.te)s cm pe)ucas centenas de milhões de anos.
CAPÍTULO 23 • A TERRA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO 513 ~""
Piratininga
dos astrc)s"), ou crateras, de tamanhos e idades de)s
mais variados, fe)rmados pela queda, no passaclo, ele
•.
grandes meteoritos, ce)metas e até asteróides (coleti-
vamente conhecidc)s como bólidos) (Tabela 23.11).
O que poucos sabem é que o Brasil também tem sua
cota de crateras, inclusive uma de 40 km de diâmetro,
o domo de Araguainha, em Gc)iás, na divisa com Mato
Grosso, e outra de mais de 3 km de diâmetro em Fig. 23.16 Localização de astroblemas no Brasil identifica-
Colônia, a 35 km de) centro da cidade de São Paulo dos por círculos proporcionais aos seus tamanhos. Fonte: C.
Riccomini.
(Fig. 23.16).
~f'~'fô~li C ·
Sudbury 250 2
•.• •Âttf:Õti11ii · · •· . 90·.•··>. ·•· · 7(empcite)
. .
•.·.
Shark Bay Austrália 280-200 120 4
•·• MB(lfcc:fPi:lç~ :. · · · . . ··· ··. '"
Canadá
' ' '' '
i> ·
'
. • ·.•214·
' ' ''
... •· · · liôô .·... •· ·• ·.. ·. ·. ·•. 5(empate)
Puchez-Katunki Rússia 175 80 9
··Ma~j~~ •<· · ·. . Átric<l~~ '$tjl •. ·•· . • > 1••fS . . 79> ·.. ....·.....·. . ·•·.· . · 1Õ
Kara Rússia 73 65 11
·. '.''Ch1!ri1:1t~b : ••·•.· ·•.· · · ··
::,~·..<:. '·:,, México 65 < 170 ••... ·3 . ·.·•· ....
Chesapeake Bay Estados Unidos 90 7 (empate)
' ' '
'
'
,,,
'''
' "
," '
' ' " '
'' ' '
Não há C<Jm<J negar <)S efeitos catastréific<Js l<icais, hipéitesc e.lei impactei, com<) a presença de uma an<J-
regionais e até glcil,ais, especialmente sc>bre a l,i<isfcra, malia em Creimei (C=r), micrcic.liamantes e pequenas
elos impacteis rcspcinsávcis pcir estas crateras. () n1ais g<itícttlas vítreas ele rcichas siálicas ft1ndidas nci mesmcJ
impressionante clclcs (e ClLle mais atençã<i tem rcccbi- nível estratigráfico. 1',m 1999, F. "f. l(yte, da U niversi-
d<>) é aquele citadc1 c<imci responsável pela onda ele c.laclc de C:alifórnia etn Leis J\ngeles (EUA), anuncie)u
extinções que marcciu <> fim do períodci Cretácc<J e a c.lcsccibcrta, em scelimentcis ele func-leJ de) neirte elcJ
,
da era Mesozéiica, há 65 milh<'ícs ele anos. P, C<Jnhcci- e>ceanei PacíficcJ, a milhares ele e1uileímetrcJs de
do com<) cJ evento K/T, termo derivael<i elas siglas Chicxulu\J, de uma partícula de rocha ele menos de 3
ad<>tadas cm mapas ge<)léi 6riceis para o c=retáce<J (I() e mm em c.liâmetrei, cuja análise textura! e química ci
Terciári<J (T). F'oi a equipe de Luís Alvarcz, ganhael<Jr C<)nvenceu de que se tratava e-le Ltm fragmento d<) préi-
d<J prêmÍ<) N<il,el e pr<Jfessc)r da U niversidadc da pri<i l1c'>lidcJ I(/T, prcivavelmente um asteréiiele.
Califórnia em Berkeley, que, cm 1980, chamou a aten-
() impacto do béiliclo assassino ncJ limite 1(/1' te-
ção ela ceimunidade científica para esta idéia, e1uc até
ria c)casieinac.lci e1 CJLlC I< yte clescrcvc ccimo "L1m e-l<is
então nã<> passava de mais uma elas hipéitcscs
pic>res elias ela hist(iria ela Terra". (~alcLda-sc cm 1 O km
catastrofistas, vistas como "p<iliticamentc inccirretas"
eJ eliâmctt<J dei astcrc'iidc qLte caiu em C:hicxulul1. Alétn
na Gecilogia desde a época ele (~harles l ,ycll, n<J sécul<J
elas cJnelas ele chcieJLJe e ca!cJr (até 500° C:), terremoteJs
XIX ((~ap. 15). F,m análises de rochas argilcJsas situa-
(até 9 e 1 O na escala Richter) e vaporizaçáci de rcichas
das exatamente n<> limite I(/T em LJmllria, Itália,
11r<Jveicacleis pcl<J impactei, <JLltreis efeitos igL1almentc
Alvarez e colabeJrael<ircs ce)nstataram LHna co11centra-
atcrr<irizantcs teriam se sucedieleJ pcir dias, meses e até
ção anêJmala no elemento Irídi<> (lr), um metal
aneis: tsunamis gigantescc)s (c<im onclas de até 300 m),
semelhante à platina, extremamente rare> na crcJsta ter-
chuvas ácielas fcJrmaelas a partir ela grande quantidaele
restre. Nci entanto, este clcmcnt<) é presente ncJ mant<i
ele clic'1xide1 ele carbcJnei e éJxidcis e-lc enxcifre prciveni-
e sal,ielamcntc cnric1uecidc1 em asteréiielcs, mctcc>riteis en tes de calcáric>s e sulfateis (evapeiriteis)
e cometas. Preipuseram e1uc as arhrilas enric1L1ccidas cm instantanean1entc \'apcirizados, incênelieis em escala
Ir e1ue marcam CJ limite 1(/T rcpresentaria111 a pcicira ceintincntal, quccla de fragmenteis ejetad<is ela cratera
lançaela na cstratcisfera pelo impact<J ele um bé>liclc> ele e, principalmente, ei cfciteJ ''inverno nuclear''.
dimensc'ícs qLiilon1étricas e que este impact<J eleveria
ter sido a causa principal ela cxtinçãcJ deis elincJssaL1rc >S, 1\ idéia el<i invernei nuclear parece ter surgid<J na
reptéis v<Jadcircs, c1uase t<ielcis CJS grancles ré11tcis r11a- clécaela de 1980, pelei men<>S cm parte, das disct1s-
se'ies geraelas cn1 tcirn<J eleJs p<issíveis efeitos cl<J
rinhos, c-liversos grupcis ele invcrtcbrael<is marinhc>s e
i11111actcJ gigante ne1 fim elci Crctáccei. Percebeu-se
até microcJrganismeis e plantas ne) fim elo (=rctáce<J
c1ue u111a guerra nuclear SLtrtiria um efeitci muiteJ pa-
(l;ig. 23.17a, b, c). Nei fervor que suceeleLt à publica-
rccicl<i com ci ele um granelc impactei ele metccJritei,
ção da hipéitese do grupc> ele Al\ arcz, muitas 0
1
500km
1
Fig. 23.17 o) O bólido assassino, de dez quilômetros de diâmetro, um segundo antes do fim do Cretáceo, há 65 milhões de anos.
b) O impacto. c) O local do impacto, mil anos depois. d) A localização atuai do suposto cratera em Chicxulub, México. Fonte:o-c
William. K. Hortmonn. d) A. R. Hildebrond & W. V Boynton, 1991.
516 DECIFRANDO A TERRA
fósseis e subseqüente degelo das cal()tas p(Jlares, pro- de suas instituições diante da dinâmica geológica e do
V(Jcando a inundação de regiões costeiras populosas, mei() ambiente.
à destruição da camada de ozt)ni() que protege a vida
F<~m termos d() futuro geol(igico do planeta, en-
d()S raic)s ultra-violeta mais danosos, até extinções em
volvend() perÍc)dos de tempo de milhões de anos,
massa e desequilíbrio de ecossistemas inteiros com
podem(JS esperar que os pr()Cessc)s, tendências, ciclc)s
desertificação de grandes regiões onde atualmente
e eventos singulares continuem a acontecer num ritmo
existem florestas tr()picais, etc., etc. r:xistem C)rgani-
cada vez mais lento, na medida em que os elementos
zaçõe s Não Governamentais (ONGs), órgãos
radioativos serão exauridos e o calor geotérmico di-
governamentais e cc)missões especiais que lidam com
minuirá nos próximos bilhões de anos. Antes disto,
esta questão bem como conferências internacionais
p()rém, o atual ciclo de amalgamação de novo
para discutir os resultados dos estudos sobre o tema.
supercontinente deverá se completar, começando com
A preocupação C()m este tópico, que é apelidado de
a inversão do sentidc) de movimente) das placas
"mudanças globais", é real e o perigo também, p()is
litosféricas daqui a algumas dezenas de milhões de anc)s.
a população humana, que em 19 50 era de dois bilhões
Enquanto esta etapa não tiver se completado, ocorre-
e meio de habitantes, hoje passa de seis bilh(:>es e, com
rão alternâncias climáticas de curta duração com uma
crescimento anual de 2%, ameaça chegar a 11 bilhões
tendência ao aquecimentc), terminandci, como já foi
até o an(J 2050. Este fato, por si só, é prova cabal da
dito acima, numa nova era glacial daqui a cerca de 80
"mudança global" mais significativa dos últimos sécu-
milhc:ies de anos, em função do término do presente
los, o superpc)voamento da Terra por nós, humanos,
ciclo de supercontinentes.
com todas as demandas e ameaças que isto impõe ao
meio ambiente e ao suprimento de alimentos e de bens
duráveis.
() que talvez esteja passando despercebido ao lei-
Leituras recomendadas •··
tor recém-chegado neste problema é que, como vimos
neste capítulo, a Terra é um planeta dinâmico, em que DOTT, R. L., Jr. SEPM Presidential Ãli<;lr6s;~:
as mudanças globais,
,
em diversas escalas tempc)rais, Episodic sedimentation. How nôr$a.f· is
são a nc)rma. E normal, portanto, que o clima mL1ndi- average? How rare is r.are? Does.Jt ~!ti~r?
al esquente ou resfrie, permitin(Io o avanço ou o degelo Journal of Sedimentary Petrology, nº 1, 19$3, yól.
:'"·: ''· .' ' ' ' ,· '
.. : . . ..
., ' '
53 .
' " "
-"ti<'f!t).aoi r
/t
' •
imos n<)S capítulos anteriores que a Terra é exploração mais ativa são de 8.000 a.C., com o início
um sistema viv<), com sua dinâmica evolutiva da chamada revolução agrícc)la. Desde então a huma-
própria. Montanhas e oceanc)S nascem, crescem e de- nidade explora <)S recursos naturais do planeta e
saparecem, num processo cíclico. Enquanto os vulcões mc)difica a superfície terrestre para atender às suas
e os pr<)cessos orogênicos trazem novas rochas à su- necessidades que crescem continuamente cc)m o de-
perfície, os materiais são intemperizados e mobilizados senvolvimento das civilizações. Por outro lado, a
pela açãc) dos ventos, das águas, das geleiras. Os rios constante e crescente exploração dos recursos naturais
mudam constantemente seus cursos e fenômenos cli- tem ocasionado intensas pressões sobre o ambiente
máticc)S alteram periodicamente as condições de vida em determinadas regiões, prejudicando a própria vida.
e o balanço entre as espécies.
A História fornece exemplos de diversas civiliza-
A Terra, graças à sua evolução a<) lc)ngo de alguns ções antigas que perderam sua importância por terem
bilhões de anc)s, propiciou condições para a existência degradado o ambiente em que viviam. Váric)S séculos
,
de vida, vindo a ser, hoje, a casa da humanidade. E atrás, a civilização da Mesopc)tâmia utilizava intenso
sobre ela que vivemos, construímos nossas edificações, sistema de irrigação que, pel<) manejo intenso e im-
e dela extraímos tud<) <> que é necessário para manu- próprio, levou à salinização dos solos e sua
tenção da espécie, tal como água, alimentc)s e conseqüente degradação para a agricultura. Também
matérias-primas para produção de energia e fabri- a civilização Maia, na América Central, entrou em de- ,
'
cação de tod<)S os produtos que usamos e cadência pela má utilização do solo, o que provocou 1
consumim<)S. Contudo, também é nela que depc)sita- intensa erosão e escassez de água.
mos nossos resíduos, tantc) industriais cc)mo
domésticos.
Por outro lado, se analisarmos o histórico da ocu- i
paçãc) da Terra pela humanidade, a população global
As primeiras intervenções da humanidade nos pro- era da ordem de 5 milhões de habitantes 10.000 anos l
cessos naturais C<)incidem com o domínio do fogo. A atrás, cresceu para 250 milhões no início da era Cristã,
partir daí os seres humanos começam a modificar as e atingiu 1 bilhão em torn<) do ano de 1850. Segundo '
cc)ndições naturais da superfície de) planeta. Estima-se estimativas da C)rganização das Nações Unidas
que a exploraçã<) mineral iniciou-se há 40.000 anc)s, (ONU), atingimos cerca de 6 bilhões de pessoas no
'
quando a hematita era minerada na Africa para ser ano 2000, o que caracteriza um crescimento i
utilizada como tinta para decc)ração. No entant<), os populacic)nal segundo uma curva exponencial, como 1
registr<)S mais antigos do uso artificial da Terra e sua mostra a Fig. 24.1.
'
E interessante lembrar que por volta de 1800
Thomas Malthus (1766 - 1834) sugeriu que a taxa de
-"g' crescimento populacional era muito maior do que a
capacidade do nosso planeta de prc)duzir subsistência
6 "'
"'o.G> para a humanidade. Se os limites de subsistência ainda
5 .g não foram superados, isto se deve basicamente a duas
G>
,o
"' razoes:
4 s:.
1) a ocupação e exploração de novas áreas. Para .
-.!!--
.0
3
se ter uma idéia, durante o século XIX a área de terras
"O
e aradas, ou seja, destinadas à agricultura, cresceu 74 %
:::i
· 2 E em relação às terras aradas no século anterior. Tal cres- .
o
1\1
(.),
cimento deu-se através do desflorestamento de
... 1 ..!! enormes áreas, observando-se, no fim, do século X,~
:::i
~========:::::!==r:=:1::::~_J, l
1 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 O
taxas
,
anuais da ordem de 1,7% na Africa, 1,4%
Asia e 0,9% nas Américas Central e do Sul;
Ano 2) <)S enormes progressos tecnológicos, em tod
Fig. 24. l Evolução populacional mostrando tendência as áreas de) conhecimento, levam a uma maior produ .
exponencia 1. ção de alimentos por área cultivada graças ao us
Cultivo de arroz em terraços criados sobre encostas, na Indonésia. Foto: Stock Photos.
'i'
1
i11tensc) <le fertilizantes, agrcit(Jxiccis e sementes Llesen- O~~J~~fal =i,,- América do Norte
1.0
vcJlviLias em la!Jc>rat(JricJ, cl que, em ecintrapartida,
impõe a implemcntaçãcJ ele ccltnplexos sistemas prci-
<lutivcis, de transpcirte e <le abastecimentcJ. g 0.8
~
E
cr1 tas exigem um ccinsumcJ cada vez maicir <le > •·'',, ,'.,"'
'"
õ
matérias-primas tanto minerais ccJmci energéticas. f~s- >
e:
5l
ti111a-se que ci consumo ele matérias-primas minerais ~ 0.4
varia entre 8 tcin/ ano pcir pesscJa nas regiões mencis "O "
Q)
"O "
desenvcJlviclas e de 15 ou até 20 tcln/ ano pcir pesscia e:
0.2
nas mais desenvolvidas. Além elissci, cJ consumcJ e-le
energia pcir habitante parece aun1entar elepenelendci
o
do estágicl de desenvcilvimentci em que a sc>cieelaclc se o 2 4 6 8 10
encontra, ccinfcJrme mcistra111 as Figs. 24.2 e 24.3, le- Consumo anual per capita de energia
(tonelJdas equivalentes de petróleo/capital
vanelci a supcir e1ue, quandc> els pcivc>s se desenvcilvem,
cresce a dernanda de energia per capita.
Caça
vciaram a 1-<'.urcipa, ci Mediterrâr1ec>, a 1\sia J\fcnc>r, a
,
o Inclia e e> I~cstc Asiátic<J mciclificaram p<lr cclmpletci
E
:::,
1
1
"'
(1)
•O
.e:
é maior dcl que aquele mcibilizadci pelcJs prclcesscls
-"'
(1)
50 2.5 ..o
geológicos característicc>s da dinâmica externa da Ter- "'u
(1) Mamíferos
•(I) 40 2.0 "C
ra. Tal constataçãcl ccJloca a humanidaele não s(J cci1110 a. e:
:,
"'
(1)
30 1.5 E
um efetivo "agente geoléigiccJ", mas comcJ o mais (1)
"C o
e 1.0 '"cu:,'
importante modificadcir da superfície elo planeta na u-
(1) 20
atualidade. E
,:, a.
o
z 10 0.5 a..
Paralelamente, <l prcJcesso de ocupação ele ncivas
áreas para a garantia de stiprimentci das necessidae-les 1700 1800 1900 2000
da humanidade le,·a à e-lomesticaçãc> e criaçãcJ de algu- Ano
mas espécies animais, prcJtegi<las e utilizaelas ccimci Fig. 24.4 Comparação entre o número de espécies de pás-
alimento, enquantcl ciutras, consideraelas daninhas, são saros e mamíferos extintos com o crescimento demográfico.
1
tcs e agrotóxicos. Tais práticas são extremamente agres-
sivas ao solo, podendo levar à sua salinização. Além
disso, podem provc)car a contaminação tanto das .
águas superficiais como das subterrâneas, inviabilizando
o aproveitamentc) da região por longo períodc) de
tempo, ou mesmo permanentemente, visto que as .
águas subterrâneas deslocam-se a velocidades extre-
mamente baixas, e não se renovam facilmente.
A necessidade de maior produtividade da área cul-
tivada obriga a uma modernização e progressi,·a
mecanização da agricultura (Fig. 24.7), o que cria um
Fig. 24.5 Erosão linear (boçoroca) em área de cultivo agríco- grave problema social na medida em que alija os tra-
la. Foto: IPT. balhadores rurais do seu mercado de trabalh
tradicional, fazendo com que grandes contingentes
abandonada ou, eventualmente, ocupada por pastos e
por uma pecuária extensiva que, à medida que são
disponibilizadc)s melhores meios de comunicação, pro-
gride para uma agricultura intensiva. A extração da
floresta e sua substituição por uma vegetação rasteira,
freqüentemente manipulada de forma inadequada, leva
à maior exposição do solo, que passa a ser mais susce-
tível aos agentes erosivos, com sua conseqüente
desestruturação e perda da capacidade de absorção
de água, o que provoca maior escoamento superficial
que, por sua vez, intensifica a erosão (Fig. 24.5). Perda
de solo causará, de modo complementar,
assoreamento dos rios (Fig. 24.6), dos lagos e final-
mente a deposição de material sedimentar nas
plataformas cc)ntinentais dos oceanos.
Com a exaustão do solo, as populações procura- Fig. 24.7 Agricultura intensiva com 1rrigaçao mecanizado
rão novas áreas que sofrerão o mesmo processo de (pivô central). Foto: IPT.
-Ili
GI
•O
2
•• --------· //
Índia - 1,8
China - 1,4
:\fundo Desen,-olvido, aguçando as discrepâncias já exis-
tentes.
·-.....
.e 1 -
.a- /
Nigéria "-\ questão ambiental, fundamental para qualquer pla-
!
Bangladesh no de desen,·o!Yirnento, começou a ganhar destaque nos
Paquistão
meios de comunicação por volta de 1960. Na época,
vários países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, con-
Ex-USSR
1
sidera,·am in,-iável incluir grandes programas de
\ EUA consen·ação ambiental em seus programas nacionais, pois
01-
, Japão acredira,·am que poluição e deterioração ambiental eram
Brasil conseqüências inevitáveis do desenvolvimentc) industrial.
E,1dentemente tal atitude foi conveniente para os países
mais desen,·ol,1dos pois, ao mesmo tempo que restringi-
1
am a implantação de indústrias poluidoras em seus
1950 2000 2050 2100 Ano
territórios, tinham para quem transferir sua tecnologia, e
Fig. 24.9 Estimativa de crescimento populacional para diver-
sos países durante o século XXI.
ainda, garantiam o suprimento de bens pro,·enientes dos
1
11aíscs mene)s dcsenveilvidc)s gue cnccJrajavam a instalaçãcJ harme>nia na busca cki desenveJlvimentcJ sustentável. A
dessas inclústrias. Agencia 21 receinhcce que c1s preiblcmas de crescimentcJ
Nci final dessa clécacla, a humanidaelc ganheiL1 um clemcigráfice> e da pc>breza sãci internacicinais. Para sua
aliadei importante para a mclhcir ceimprcensãeJ ela clinâ- soluçãci, eleve-se elesenvcilvcr prcigramas específicos lo-
mica terrestre, ccim as missc"'íes espaciais e a implantaçãei cais e re6rieJnais, associadcis entretanto a prcJgramas de
de um sistema de satélites para cJ senseJriamcnto remcJto mciei ambiente e desenvolvimentc> intc6rrados, com apoio
nacicinal e intcrnacieinal. Passada quase uma elécada, nãci
da Terra, <J que pcJssibilitc>u cJ monitoramento integradci
eleJs várieis prcJcesscis atmcisfériccJs e climáticcJs, e fc>rnc- se percebe que eis grandes problemas levantados naque-
la e>casiãci tenham sie!c) atacaelos. Ac1 ccintrário, os dois
ceu a visãei elo planeta scJb nciva perspectiva gkibal.
maicircs pre>blcmas glcibais - ei crescimento elemográfico
Em 1972, na C:einferência das Nações Unidas sobre e a peibreza - têm se aguçadci diante da nciva cirdem
e> Ambiente Huma11eJ (em l{stocolme>) fcJi receinhccidci cce>ntimica c1ue surgiu nas últimas décadas do século XX.
ci relacicJnamcnto entre eis ccinccitos ele ccJnscrvação
ambiental e dcsenvc>lvimentci i11dustrial; fc>ram discuti-
deis eis efcitcis causaclcis pela falta de dcscnvolvimcntc> e
24.2 A Globalização e a Dinâmica Social
do Final do Século XX
surgiram as ieléias ele "poluiçãci da pc>l1rcza e
.
ecciclcsenvei1v1mcntei '' . ;\ globalização, a nciva ordem ec(int>mica e social
lJma reavaliação ele> conceitei ele dcsenveilvimcntci mundial, impôs uma transforrnação epistemcilc)gica fun-
c>rientou a Terceira Década das Nações Uniclas para ei damental para as ci~ncias seiciais, em que o seu
l)cscnvcilvimcnte> (1980 - 1990), quanclo f<1ram l1usca- paradigma clássicci, baseadc) nas sciciedades nacicinais,
clas estratégias de clistribuiçãci, visanelo uma melhor fcii n1odificado pela necessielade de levar em conta a
rcpartiçãc> de>s bcncfícicis de> eventual crescimcntc> da rcaliclaelc de uma "sciciedade global", implicando uma
cccJn< >mia mundial. intensificaçãei das relações seiciais cm escala mundial,
associandei leicalidades distantes de tal maneira que
Na clécacla segui11te, a ()N LJ reseilvcu criar un1a cc>-
ace>ntccimentos lcicais sãci influenciadcis por evente>s
missãei para efetuar um amplo estudei dos prc>blemas
que podem occJrrer cm gualquer lugar do munelo.
globais ele ambiente e clesenvc,lvimente>, e cm 1987 essa
ccimissãe> apresentciu <> Relat(>ric> Brundtlanc-l (NeJsso 1\ glcibalizaçãci rccolcica cm discussão muitcis dos
l~uturo c=eimum), nei c1ual fc>i intrcJduzidei e> conccitei ele cc>nceitos das ciências p(llíticas. Pcir exemplo, devem
desenvolvimento sustentávei que preceiniza um siste- ser rcfeirmulaL-las as noçc3es de sciberania e hegemonia,
ma de desenvcilvimento s<'>cie>-cccJnômico ccJm justiça associadas ac)s Estac!c)s-nação como centros de pe>dcr.
seicial e cm harmc>nia ceJm os sistemas de supcJrtc da Na ne>va ordem mundial, scib a égide da economia ca-
vida na Terra. Pcirtantc>, passa-se a reconhecer a ncccssi- pitalista neoliberal, operam neivas forças sociais,
clacle ela manutcnçãc> clci cqui!Jbriei ambiental e ele> alcance ece1ntimicas e pc)líticas, em escala mundial, que desafi-
de justiça scicial. F:m tal ce11ário, haveria uma melhcir qua- am e reduzem os espaços elos Estadcis-nação, mesmo
liclaelc de ,1ela ccJletiva, ceJm as nccessiclaeles básicas da daqueles de maior expressão política, anulando ou obri-
humanidade atcnc-lic-las e alguns de seus "elesejcis", sem ganclci a refcirmulaçc3es profundas cm seus projetos
que houvesse ccimprcimetimentei de> suprimento de re- nacionais. As nações buscam se preitcgcr formando
curseis naturais e ela qualidade de vida das futuras gcraçc')es. l1lcicos geopolíticcis, nc) interior dos quais cedem parte
PortantcJ, como ceJroláric>, o desenvolvimento sustentá- ele sua autodeterminação, e também fazendo acordos
vel preconiza dispc>nibilizar recursos que atendam às seib os auspícios de organizaçc3es internacionais (C)Nl-,
necessiclades básicas de cerca de 80% ela população da Fi\Il, (;ATI, etc.), sujeitando-se às suas normas e ccin-
Terra, que no fim clci séculc> XX vive em países mencis vcniências temporais. Ao mesmei tempo, surgem nc1,-eis
elesenvcilvidos.
centros ele pc>der que agem em escalas local, regional,
J~:m 1992 realizc>u-se no Ric1 de Janeiro a Conferên- continental e mundial, e dispõem de condições para se
cia das Nações Unielas seibre Meie> Ambiente e impc)r aos diferentes regimes políticcis através de re-
Desenvolvimento, cicasião em que o prciblema ambiental des e alianças, de seus planejamentos detalhadcis e da
ocupciu importante espaçci neJs meios ele comunicação facilidade cm teimar decisões instantâneas em virtude
de teielci o glcibc>. ComcJ rcsultadeJ dessa Conferência, del fluxo de informações que lhes sãei disponíveis: são
fc>i elal1ciraela a 1\genela 21, que representa um ccimpro- as grandes empresas multinacionais e os conglcime-
missci pcilítico elas naçc3es de agir em cooperaçãcJ e rados transnacicinais.
.. , ''
;e:·:
',"' " '
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As multinaci()nais normalmente p()Ssuem recurS()S ele qualqu1::r fcJrma têm de estar inseridcJS na ec(incimia
humanos entre os melhores de calla especialiclade, os n1unelial, a estal,elccer ncirmas e leis nacic)nais segundei eJ
mais avançad()S recursos tecnoló1-,>ic(>s e sistemas lle C()- ideárici ne(ililJeral. Desta f(irma, surgem mcdiclas C(Jmci
municação instantâneos, o que lhes permite ccintrcJlar, na elin1ir1açãei de tarifas alfanllc1-,rárias, liberação lleJ fluxc) ele
esfera de seus interesses, a produção e ccimércicJ de bens capitais, pri,·atizaçãci elc)s serviçcis pú\JliC(>S essenciais, etc.,
e boa parte das finanças internacionais. Disp()em de mais cc>le>canelo setcJres estratégicos el(JS países nas mãe>s ela
recursos fmanceiros dei que a maiciria dcJs l,anc(JS cen- inici;1ti,-a pri\'aela. TcJrna-se pc>rtantei difícil cc)lcJcar cm
trais até mesmc) ele alguns países llesenvolvidcis e, dessa prática c-letcrminaelas p(i!íticas públicas e estratégias alter-
fc)rma, pcldem especular contra a estabilidade lle várias nati\ as de desenv(ilvimentcJ rcgicinal ciu nacicinal que
m(Jedas nacicJnais, auferinllc> lucr(JS ainda maicires e \-ise111 a un1a n1elh(>r elistril,túçãc> ela riciueza.
freqüentemente influenciandci f(irtemente CJ destine) p(i-
l_-ica clarc>, releJ expe)stei, e1ue a gkilJalizaçãc> ela ec(J-
lí tic(J llos países. 1\ci mcsmeJ tcmpcl, c>s l~stallcis
nein1ia tem sillc> um retrcJcesscJ ceim relaçàci a(J ca1ninheJ
enfraquecidcis perllen1 sua capacilialle de ccJntrcilar CJ flu-
que a ,\genda 21 preceinizc>u à hur11anielaele, visanclc> à
xci de capitais na mediela em que lliminui sua capacidalle
sustentabilidade de viela nci planeta, JJrincipahner1tc
de gerar recurscJs através ele taxas e imp(istcJs. PcirtantcJ,
pc>rque (JS paralligmas asseiciaelcis à lJLialieladc lle vicia sàei
tais países têm reduzillel sua capacillade para investimen-
ac111cles ela S(Jciedaelc e-Je cc>nsumei, cc>m seus desrerdíci-
t(JS púl>liccJS c>u para orientar adequaclamente (JS
()S e injustiças seiciais e a deg-rallaçã(J ambiental cm nível
investimentcJs privadcJs, O(> sentillcJ ele atender ccim priei-
gk>l>al.
ri elad e a(JS segmenteis mais necessitadcis de suas
p(ipulações. Se eis r~stackJs estiverem perelenclc> a capaciclalle de
planejar e lle C(>C>rdenar seus prclprieis pre>cesseis ele de-
() pr(ijet(J pcJ!ític(J ne(J!i[,cral vigente privilegia cJ li-
senvolvimento, quem p(llleria sul1stitt1í-lc>s ne> n(lV(J
vre ccimércic>, ccJm reduçã(J ou a\J(Jliçã(J de tarifas '
ccJntcxt(J ela glcibalizaçàei? J~ pcJssível in1aginar lJUe e>
alfandegárias, e incluz a retraçã(J el(JS I~stad(JS elas fun-
mcrcallci gk)bal peissa ser capaz ele rreJnl(Jver ei clcse11-
ções de pr(iduçàeJ e planejament(J, fazendcJ ccim lJUe as
privatizações sejam a opçà(J natural existente no rr1un- V(J!vimentei eccinômicei ncJ mund(J tc>el(J e, aei n1es111c>
llcJ gl(il,alizallc>. N(l entant(J, tal m(idel(J ec(JnêJn1ic(J nãeJ te111r(>, t()mar C(Jnta ll(JS aspectcis se>ciais na \1usca da
está conseguindcJ relluzir a pcll,reza O(J mundci. 1\ci sustentabiliclaele? (~(Jmci ccimpatibilizar a influência ele>
ceintrário, mesmci O(J país mais fe)rte econ(>micamente f--<:stacl(J e as fcirças lla glcibalizaçã(i? C:e>me> induzir senti-
(I~UA), tetn autnentadci a desigualdade entre riccis e mentc>s éticos, ele solidariedade e de respeinsal>ilic-lade
pcil,res, assim ccJmci a preipcJrçãcJ destes na p(ipulaçãe>. nc>s clivers(>S scgtnentcis ccim pc>llcr ecc>n('imic(J, para ljUe
Mais ainlla, a ece>neimia neoliberal nãei ceJnseguiu fazer eles ce>ntril,uam esp(>ntar1eamentc para <> prcicessei de
com lJUe (J crescimento econêimic(J na 1-,rranele mai(iria desenv(ilvimentci, sacrificanclci, se fc>r e> casei, alguns ele
dos países, p(lr mais desenv(ilviclcis que sejam, favcJ- setts cJl,jetiv(JS restritos, em neimc ele> lietn-estar cein1um
recesse a diminuiçãci da taxa de deseP1preg(J. da S(Jciee-Jadc? C:eJl1Hl incluzir (JS 1nes1neis sentin1entc>s ele
se>lielariellacle neis setc>res que vêtn sc1trencl(> e1npe>!Jreci-
() aument(> da riqueza S(Jb contrcJ!e lle grup(>S priva-
ment(J ccim a p(>lítica nee>liberal lle gl< >l,alizacàc>~ !·: \ Íá\ el
dos é o melhcir indicad(>r da muelan~·a ele peiller aclvinela
pensar en1 t1n1 ge>\·ernci supranaci< inal <1u glcibal~
ccim a globalização. Nãci se trata apenas ele empresas
multinacicinais, mas também de e>utre>s ate>res n1aicires. .\ ():\l- pc>ch: ser \ista ce;mcJ <> en1IJriàci de un1 pe>der
ccimo ()S grandes fundos de in,·estin1entcis. fundeis c-lt: p< >líucc J ct:nrral e n1undial. :\ci t:ntant<>, durante mais ele
pensã(J cJu similares, sediados em países desen,-()l\ id,Js. mc:Íc> ~éculo de \ida, eLl se constituiu en1 um espaçei ele
mas que ciperam em c1ualquer lugar do munllci. Trata-se discussões interminá\·eis e poucc> eí1cazcs, e pela falta
de investimento especulativeJ, c(imp(JSt(J peleis capitais de ações que de·,eriam se se1-,ruir acis c(imprcimiss()S as-
vc)láteis, que se m(ivimentam rapielamente em transaçc>es sumidos em suas assen1bléias gerais e C(Jnfcrências.
controladas p(>r redes eletre'inicas, igncJrando territ('irios e disso, as (JrganizaÇ()es internaci()nais, e inclusi-
.-\Jé111
frcJnteiras naci(Jnais, sem qualquer pcissibilidade de C(>n- ,-e a própria O~l-. acabam pricJrizane!c) (JS interesses elas
trole por parte el(JS Estadeis (JU das organizaç()es nações desen,-ol,-illas, C(Jm maicir p(lelcr ele influência,
internacionais do setcJr. cuios problemas interncJs ccintrastan1 ccJm CJS elas naÇ()es
A glcJbalização da ec(inomia, que atenele especialmente em deseri,~ohimentcJ e, paradcJxalmente, são as que mais
aos interesses das corporaçcJes transnacionais e dos gran- exercem pressàr >scibre ei ambiente gl<Jbal, ce>m seus al-
des investidores, acaba pressionandcJ els governos, que tei5 índices de cc >nsumc> ele energia e matérias-prin1as.
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Alguns exemplos práticos dessa atuaçãe) podem Os recursos minerais da Terra são finitos. Dentro do
ser citados: 1) as análises dos testemunhos de sonda- panorama econômico e com o conhecimento
gem do Projeto Vostok no gelo da Antártica, com tecnológico atual, não se pode pensar que a humanidade
registro contínuo de aproximadamente 420.000 anos possa manter os níveis atuais de consumo de recursos
de variações climáticas; 2) as medidas sistemáticas de núnerais, com a população atingindo cerca de 11 bilhões
temperatura e de nível do mar, que permitiram alertar em 2050.
sobre os problemas que pc)derão ocorrer em conse-
Qual será o canúnho a ser seguido para garantir o
qüência do aquecimento global do planeta e do
suprimento de matérias-primas núnerais para tantos habi-
derretimento das calotas polares; 3) redes sismc)lógicas
tantes do planeta? Provavelmente deverão ser
que permitem antecipar grandes erupçe)es vulcânicas
a tempo de evacuar populações assentadas em áreas concentrados esforços para melhorar o aproveitamento
de risco. mineral por meio de tecnologias de cc)ncentração mais
eficientes, visando o aproveitamento integral dos materi-
Com a disponibilidade de sistemas de ais mobilizados durante a mineração. Issc), aliado à maior
morútoramcnto e posicionamento globais de grande reciclagem de material, poderá fazer com que muite)s dos
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modelos tradicionais de jazidas minerais se tornem obso- :\ energia gcracla pela fissão nuclear é uma alterna-
letc)s, sendo abandonados e substituídos por outros que ri,·a amplamente utilizada, principalmente no Japão e na
levem em consideraçãc) toda a cadeia econômica na qual França. PcJr outro lado, a implantação de novas usinas
o custo ambiental ocupará um percentual impc)rtante. Em não tem ocorrido, e alguns países (e.g. Alemanha) estão
conseqüência, é de se esperar que o geocientista envol- subsriruindo esta forma de geração de energia por apre-
vido em atividades da indústria mineral trabalhe, de sentar o gra,,e e aincla não resolvidcJ problema da
forma criativa e inovadora, muito mais próximo dos se- disposição dos rejeitas radioativos, de alta periculosidadc
tores de decisão econômica, assim como das engenharias para o meio ambiente. Cabe aos geocicntistas a enorme
de metalurgia, de transporte e também na reabilitação responsabilidade de dispor de tais rejeiteis, e inclusive os
dos ambientes afetados pelc)s trabalhos de extração do já produzidos, de forma a garantir a saúde das gerações
bem mineral. futuras.
1\ implantação de usinas hidrelétricas será cada vez
Busca, gerenciamento e fornecitnento de mais difícil, uma vez que tal alternativa interrompe o flu-
, .
recursos energet1cos xo natural dos rios, gerando de um lado a salinização e
assoreamento progressivo destes reservatórios e, de ou-
Os combustíveis fósseis sempre fc)ram um dos prin- tro, a diminuiçãcJ ou mesmcJ interrupção do aporte de
cipais alvos prospectivcJs das atividades deis geocientistas. sedimentos aos oceancJs, ocasieJnando alteração dcJs
O petróleo e C) gás natural, que le,•am milhões de ancJs ecossistemas a jusante e deflagração de prcJcessos
para serem formados, têm reservas finitas e distribuição erosivos na costa oceânica. AdicicJnalmente, as melhcJres
irregular na Terra (Cap. 22), com grande concentração de locações já foram utilizadas. De toda forma, a instalação
petróleo no Oriente Médio e de gás na Rússia. A conti- de no,·as usinas deverá contar com uma participação
nuar a sua extração na propc)rção efetuada no fmal do maicJr de geocientistas, tanto nas atividades tradicionais
século XX, e com a perspectiva de aumento devido à da busca de materiais de construção e análise geológica
expansão populacional, mesmo encontrandcJ novos de- da região afetada, como na modelação e previsão das
pósitcJs cm áreas a serem desenvcJlvidas, as reservas alterações geológicas e ecológicas lcJcais e regionais que
deverão se esgotar em 2 ou 3 séculcJs. possam advir. Com relação às usinas já implantadas, so-
Novas tecnolc)gias de prcJspecção e recuperaçãcJ nos 1uçc"ies devcrãcJ ser encontradas para minimizar o
campos petrolíferos têm obtidcJ avanços significativos, asscJreamento dos rescrvatóricJs e a salinizaçãcJ das águas.
assim como a busca de petróleo no mar, em águas pro- A alternativa de produção de energia a partir de ano-
•
fundas. A medida que os hidrocarbcJnetos escasseiam, malias gec)térmicas, adotada hoje nas regiões de alto fluxo
serão necessários esforços adicicJnais nesta área, obrigan- térmiccJ, pclderá se tornar viável mesmo nas regiões de
dcJ a uma maior interação entre os gecJcientistas, baixel fllLxo térmiccJ (aproveitamento de baixa entalpia)
engenheiros de diversas especialidades, e profissionais à medida que a tecnolo6>ia se aperfeiçcJa. A definição dc)s
ligados aos estudos econômicos. Antigos campos petro- lcJcais mais aprcJpriaclos para seu aproveitamento é, sem
líferos pcJderão inclusive ser "minerados" para apro,·eitar dú,ida, responsabilidade dcJs geocientistas.
as reservas não recuperadas por falta de tecnologia apro-
.-\ busca pela sustentabilidade de) planeta fará com
priada. Nesse contexto, os setcJres mineral e de
que a energia solar e suas variantes (eólica, marés e
hidrocarbonetos deverão compartilhar suas respecti,·as
biomassa) contribuam com maior percentual na matriz
experiências de forma a obter os melhores resultados.
energética dos países. Deverão contar, a exemplo do que
As reservas de carvãc) mineral permitirão seu uso já occ)rre, com importante participação elos geocientistas
por mais tempo, devido às enormes reservas conheci- na escolha dos locais mais apropriados para sua implan-
das como as localizadas na China. Porém, da mesma tação, e nas fases de operação e manutenção.
forma, trata-se de recurso não renovável e também de
distribuição irregular na Terra. Conservação e gerenciamento dos recursos
A queima de combustí,·eis fósseis, com a liberação hídricos
de C0 2 e CO na atmosfera, acarreta conhecidos pro- .-\ disponibilidade de água é vital para a humanidade.
blemas ambientais, sendo a maior responsável pelo No final do séculcJ XX, mais de 250 milhões de pessoas
aumento do efeito estufa do planeta, e portanto do no mundo sofriam com escassez crônica de água. Pode-
aquecimento global. se lembrar que um dos moti,·cJs da guerra entre os
1
israele11ses e áral,es etn 1967 fcli a ameaça clcls áralies ele lhi">es ele hectares de áreas a1:-,m'.ccilas sãcJ perdidos anual-
elesviarem as ágltas eh1 rici Jcirclãei, eJLte fclrnece cerca ele mente para <JS ocean<JS, senc-l<J impossível recuperá-leis.
60'1/o ela água ccinsumicla na Jclre!ânia. C:cinsielera-se ljLte Pcir exemple>, 4()'1/o e-la área ciri1-,ri.t1almente apta à agricul-
,
n1ais c<inf1itcls entre países pcissam elccirrer à meclida c1ue tL1ra na Inclia enc<intram-se parcialmente <lLt tc)talmente
a dis11einil1iliclade de água se t<irne mais crítica pciis, a clegrac.lac-lcis. Na Bacia cio Paraná (principalmente PR e
exemplcl ele c1uase tciclcls <JS recurS<lS nanirais, SL1a c-listri- Sf)) c.liversas e extensas áreas apresentam-se improcluti-
bLúçãci n<i planeta 11,l(J é re1-,>cuar. vas, cJcupaclas pclr graneles feições erc>sivas elenominadas
boçorocas (Fig. 24.5), fclrmaelas a partir de erc>sàc> in-
(~alJe acis ge<icientistas <> estueici e gerenciamentci ela
tensa cicasicinada pelei e-lesn1atamento, us<J inaclequac-lo
água sul,terrânea, cuja c111anticlaele n<i 11la11eta ((:a11. 20),
dei scilcJ e clescuiclci nc> gere11ciamentci elas águas superfi_-
n11útci maic>r el<i e1ue a água ele superfície, per111itc certa
ciai s. 1~m áreas url,anas, apesar ele1 altci grau ele
tranc1iiilielaele c1uant<> à clis11<J11il1iliclacle futura el<i recur
i1npern1ealJilizaçàcJ c.l<J seilcJ prcimcJvid<i pelas eelificaçc"ies
se>. f)cir e>utr<J lacl<>, se a ág11a e-le superfície é ra11iclar11cnte
e pavin1entcis, <l prcil1len1a ele erclsàci taml,ém se faz pre-
rene >vaela 11elci cicl< 1 l1íclric<>, <>c1ue 11ern1itc a restauraçàc >
se11te ele fclrma intensa, c.levic.l<> à expc>siçà<J de extensas
ele sua q11alielaell'., a rl'.ncJvaçàeJ ela água su!Jterránea é· l'.X -
áreas ele scik> sem e1ualc1uer prciteçàcJ. 1~m vista eliss<J, a
trl'.n1an1ente mais lenta, senel<>, 1,c>r issc>, n1uit<i n1ais
11ar dcJs elepc'lsitcls minerais e c<im!Justíveis fc'isseis, tlS
vulnerável à pc>luiçàc>. lstci se t<>rr1a rr1ais crític<i nas re1-,ri-
se >l<JS Llevetn ser tan1bém C<Jnsic.lerac.lcJs ccimci recurseis
c""ies n1etre>pcilitanas, <>nele a grande cc>nce11traçàc>
11aturais nàci ren<iváveis, c-le impcirtáncia \'Ítal a sua C<)n-
pci111dacicinal imrie""ie a ir1stauraçàc> ele C<>rr111lex<>s siste-
scrvaçàci e aclcc1uada utilizaçàc1.
mas ele clistril11úçàc> ele ág11a, ccileta e tratament<J ele esg< >t<Js
e resitlueis el<Jtniciliares e inelL1striais, etc. !\1uitas vezes tais ( )IJserva-se uma diversielade muit<i grande entre as
sistemas se ar1resentan1 muitci v1tlneráveis, e acarretam práticas de ceinservaçà<J ele> scileJ utilizaclas em diferentes
ctJntaminaçàc> em impc>rtar1tes reservas naturais. ~este regic'ies ele> planeta. N ac111clas prc'Jximas deis principais
aspcctc >, <JS gec icien tistas elcven1 i,1 f1 uir fL1nLlan1ent,tln1l'.n- cer1tr<JS c<>nsurnielc>res, e1L1e já S<Jfreram certa degradaçàcJ
te na l111sca ele pre >cesse JS eccJ11tHniceJs ele rerneeliaçâ< > e 11elei 1nanejc1 irnprc'ipric> elcis scllc>s, <JS agricultc>res têm
recuperaçà< i ele >S al\ i."ií fere JS. un1a crescente pretJcupaçãri ccJm sua ccinservaçãc>, aelei-
tanel< >11ráticas simples e efi.cientes, ele !JaixcJ custo, aliaclas
l\>r ccH11preencler a tlinâmica env<>ivida n<> ciel<>
a cliversas técnicas ele m<>nitciramcnt<J elas ccincliçr"ies at-
hiLlr<>l<'igiceJ, <> gec>cier1tista tem a tarefa imp<>rtante tle
rn<isféricas e ela variaçiiel e-las prciprieclaL-lcs do seJlc, a<i
levar a<i ceJnl1ecimc11tci Llcis 11cilíticels, inclustriais, agricul-
lcn1g<i clcl te111pc>. 1'iitn ta111l1én1 l,uscacle> ci auxílio ele
t<>res e r1rincipaln1e11tl'. a f1<lpulaçàei ern geral a 11ecessiLlade
sensciriamentci remcitc) na avaliação ela eficácia deis prci-
ela preservaçàe i eleis n1ananciais.
cesscis pr<iclutivcis aclcltaele1s. Nci entantci, nas chatnadas
frcJnteiras agrícolas, áreas recentemente c-lesfl<irestadas,
Conservação e gerenciamento de solos agrícolas cc n1tt11uam a se repetir cJs crrcJs e elescuiclcis de antiga-
111ente. Neste aspectc1, <>s gecJcientistas cleverãci atuar junte>
S<>l<is ar{1veis, 11r<iclutci ±1nal tia alteraçàcJ inten11Jérica
acis agricultcires na l1L1sca elas sc1luçc"ies técnicas e eccinci-
elas r< ichas, levarn r11uitc >s milhares de ancJS para scren1
mica111ente viáveis para evitar <Ju mitigar a percla de áreas
feirmac\cJs. ( )s seileis icleais 11cJssuem \Jc Hn supri111e11tc>
prcielutivas eleviel<i aei manejei inaelequac-1<> e ccJnsee1üente
ele nutrientes, estr11tura e n1ineral<>gia acleeJLtaclas riara a
ereisàcl, cclntatninaçàcJ dcJs recurscJs híelriccis, e
retençàc> ele água e \1c>speclagen1 ele n1icr<H irga11isn1c>s,
asscireamer1tel elc>s reservat(>ri<Js.
bem ccJmc > espl'.ssura sL1fi.ciente para SU\J<>rtar váric >S ri-
peis ele vida vegl'.tal. l\Jr e>utrc> lacl<>, en1 terrencis utilizatle>s
exaustivamente na agricultura, n1uitc> sc>lci é 11ereliele> 11clr Redução de desastres naturais
cliverseis fatc>rcs, entrl'. <>S c1uais 11 saliniza~:àei cleviela à irri-
( )utra missãe> func-!amental deis gecJcicntistas é CJ
gaçãel itnprc'ipria, a ccintarr1inaçàe> t<'ixica pele> use>
ccinhecimentci, e> mais c<)mpletcl pc>ssível, dc>s fen(i-
incclrretei e/ tJu inter1sc> ele fertilizantes e riesticiLlas, e a
111enc>s natLtrais e111e \Jeidem pr<J\'CJcar grandes
erc1sàc1 c.leviela ac> n1anejc1 inaelel1uaclcJ, ccin1 cultivei cm
catástrc1fes c<>n1ci tcrremc>t<Js, erL1pçõcs vulcânicas (tan-
clcclives, eles±1e1resta111e11te> e ati,-idaeles extrativas.
t<J ele la\'aS ccimel ele cinzas), ciclcJnes trc)picais,
Segunelcl cstudc>s recentl'.s, áreas já ele1-,rracladas perf;1- inunclaçc"ies, escorregamentos ele terra, secas prolc1n-
zem cerca ele 300 1nill1iies ele l1ectarl'.s na .\frica, 440 gaelas, l'.tc. Tais desastres naturais, além ele
n1ilhc'ies ele hectares na 1\sia e ] 4() n1ill1c->cs ele l1ectarcs 11a prcJ\ <Jcaren1 graneles perclas ele vielas e propriedac-les
1\mérica 1_ati11,t. 1\lén1 clissc>, cerca L-le cinc<1 a sete 1111- (1 ·ig. 7 4.1 O), peidem eicasicJnar tamlJém atrasos na cvci-
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Precipitação acumulada (mm)
Fig. 24. l O Escorregamento de grandes proporções ocorrido
na cidade de Los Corales, Venezuela. Foto: Sociedad Fig. 24.12 Correlação da taxa de precipitação com
Venezuelana de Geotecnia, 1999. escorreaamentos. Fonte: IPT.
-
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reaproveitamento industrial de alguns resíduos, conti- Ainda não há respostas definitivas e satisfatórias
nua fundamental a escolha dos locais para a disposição para tais questões, principalmente levando-se em con-
do resíduo final de forma a garantir a saúde e segu- sideração a estimativa que a população da Terra deverá
rança da população, e neste aspecto os geocientistas atingir os 11 bilhões mencionados acima durante a vida
devem desempenhar importante papel. de muitos dos leitores deste livro.
Vimos que os geocientistas, graças à sua formação
24.4 Globalização versus Sustentabilidade e ao seu conhecimento dos processos naturais, têm
condições de contribuir para a solução das muitas di-
Diante do quadro até aqui expc)sto, entende-se que ficuldades que deverão surgir neste início do terceirc)
o modelo econômico baseado na globalização e a milênio. O principal problema a ser resolvido é exata-
política neoliberal caminhe em direção oposta ao de- mente o do crescimento demográfico, para que se
senvolvimento sustentável, o que nos leva a algumas chegue o mais rápido possível a um equilibrio e esta-
questões: bilidade populacional.
• até que ponto o "sistema Terra" suportará o cres- Finalmente, qualquer modelo de desenvolvimento
cimento demográfico? deverá se pautar em padrões éticos que objetivem um
melhclr equilíbrio nos padrões de ccJnsumo entre os
• há condições de se reverter as taxas de cresci-
povos, de forma a garantir um bem-estar mínimo a
mento demográfico existentes atualmente e se chegar
toda a população, sem ultrapassar a capacidade do
a uma estabilidade populacional?
meio ambiente de se regenerar. Nesse contexto, os
• há condições de se garantir qualidade de vida que têm muitc) e mais pressionam os eccJssistemas do
satisfatória a uma população de 11 bilhões de pessc)as? planeta terão de abrir mãe) de uma parte de seus privi-
légios para que aqueles que têm pouco possam
• há condições de melhorar os padrões de vida também viver dignamente. Desta forma, não só os
das populações mais pobres aproximando-os dos pa- geocientistas mas toda humanidade terá de participar
drões do mundo desenvolvido? na preservação do Sistema Terra, cc)ndição necessária
para a própria sobrevivência da espécie humana.
Leituras recomendadas
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