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1 ETA TERRA E SUAS ORIGENS ...................................................... ■ • - ••••••••••••••••••••••••••••••••• .. 1


Estrutura do Universc.J ........................................................................................................................................ 2
Come) Nasceu o lJnivcrso ................................................................................................................................ 4
Evolução Estelar e Fc)rmaçãc) dos Elen1cntos ··················································································"·········· 6
O Sistema Sc)lar .................................................................................................................................................. 11
Meteoritos .............................................................. ' ...........................................................................................13
Planetol(>gia Cc>mparada ................................................................................................................................. 1 7
Perspetivas dr> Estudo do U niversl) ............................................................................................................. 24

. . . .... .. . . . . . . . . .. . . . . ................ . .27 '

Minerais: Uniclades Constituintes das Rochas •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 28


Rochas: Unidac.les Formadc)ras c.la Crosta ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 37

3 SISMICIDADE E ESTRUTURA INTERNA DA TERRA ···································-············-············· .43


,
3.1 O que E o 1erremoto? ................................................................................................................................... 44
32 Estrutura Interna da Terra .................................................................................................-........................... .47
3.3 Medindo os Terremc)tos ................................................................................................................................. 50
3.4 Sismicidade Mundial ........................................................................................................ -.............................. . 54

4 INVESTIGANDO O INTERIOR DA TERRA ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• .......................... 63


4.1 O que e' a Gravidac.le ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 64
4.2 Medindc> a Gravidade ........................................................................................................ _............................ 65
4.3 A Forma da Terra ...........................................................................................................-............................... . 66
4.4 Interpretando Anc)malias Gravimétricas ......................................................................................-............. .
4.5 O Princípi<J da ls<>stasia .................................................................................................. ·-··········"·· ................. 69
,
4.6 A Terra CC)ffiO um lmensc) lmã .......... ' ..........................................................................................................71
4.7 Representação Vç:tc)rial do Campo Magnético ..................................................................................-...... . 74
4.8 A Magnetosfcra ................................................................................................................................................. . 74
4.9 Por que o Campo Magnéticc) é Variável ....................................................................................... -............ . 76
4.10 Mapas Magnéticos e Anomalias Magnéticas .............................................................................................. . 77
4.11 O Mecanismo de Dínamc) na Geração de) Ca1npc> Magnético .............................................................. 78
4.12 O Magnetismc> da Terra no Passado
4.13 A História Gravada elas lnversc>es
4.14 Magnetismo das Rochas e a Deriva <lc>s Continentes
l
A COMPOSIÇÃO E O CALOR DA TERRA ··························••;•·······························t······················· 83 •
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5• t --i, Introdução ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••a•••••••••••\•••••••••••••••••••••••• .. •••••••••••••t•••••••••••••••••••••••••• 84
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Modelos de Estrutura e CompcJsição ········································"······································•::o••······· . ··············· ',•.
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O Calc>r do Interior da Terra ...... ' .................................................................................................................. 90
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NICA GLOBAL ....................................................................................................................... 97


6.4:L O Surgimento da Teoria da Deriva Continental ........................................................................................ 98
6.2 Anos 50: O Ressurgimentc> da Tec>ria da Deriva Continental ................................................................. 99
6.3 O Surgimento da Teoria da Tectônica Global ........................................................................................ 101
6.4 Placas Tectônicas ............................................................................................................................................ 1 ()1
6.5 A Dança dos Continentes ............................................................................................................................ 111
-

7 CICLO DA ÁGUA, ÁGUA SUBTERRÂNEA E SUA AÇÃO GEOLÓGICA .............................. 113


,
7.1 O Movimento de Agua no Sistema Terra - Ciclo Hidrológico ............................ ..... ... .. ............ ........ 114
7.2 Agua no Subsolo: Água Subterrânea ...................................... ............................. ............ ........ .................. 118
,
7.3 Ação Geológica da Agua Subterrânea ...................................................................................................... 127

8
-
INTEMPERISMO E FORMAÇAO DO SOLO ............................................................................. 139
8.1 Tipos de Intemperismo ................................................................................................................................. 141
8.2 Intemperismo, Erosão e· Sedimentação .................................................................................................... . 144
....;_~-'-·º· ,·----
~ A' R.
8.3 ns eaçoes do Intemper1smo
- . ..................................................................................................................... . 144
8.4 Distribuição dos Processos de Alteração na Superfície da Terra ......................................................... 148
8.5 Fatores que Controlam a Alteração Intempérica ..................................................................................... 150
8.6 Produtos do Intemperismo ......................................................................................................................... 15 7

9 SEDIMENTOS E PROCESSOS SEDIMENTARES .................................................................... 167


9.1 Como Formas e Processos se Relacionam? ............................................................................................. 17()
9 .2 Biografia de um Grão de Areia .................................................................................................................. 170
9.3 Sedimentos que Não São Grãos: o Transpc>rte Químico (iônico) ...................................................... 174
9.4 Dando Nomes aos Sedimentos .................................................................................................................. 175
9.5 Categorias de Transporte Mecânico ........................................................................................................... 1 79

OS E PROCESSOS ALUVIAIS ................................................................................................... 191


·10.1 Bacias de Drenagem ...... ............... .............. ... .................................... ................................... ........................ 19 2
10.2 Rios .................................................................................................................................................................... 196
10.3 Leques Aluviais e Deltaicos .......................................................................................................................... 2()()
10.4 Os Depósitos Aluviais no Registro Geológico ....................................................................................... 2()2

11 AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO .................................................................................................... 215


11.1 Gelo e Geleiras ....................-. .. ............ ............ .................................................................. ..... ......................... 21 ()
11.2 Ação Glacial Terrestre ................................................................................................................................... 222
11.3 Ação Glacial Marinha .................................................................................................................................... 238
11.4 Glaciação ao Longo do Tempo Geológico ............................................................................................ 242
11.5 Causas das Glaciações ............................. ~ ..................................................................................................... 243

12 PROCESSOS EÓLICOS E A AÇÃO DOS VENTOS ................................................................. 24 7


12.1 Os Mecanismos de Transporte e Sedimentação ....................................................................................... 250
12.2 Registros Produzidos pelo Vento ................................................................................................................ 252
12.3 Depósitos Eólicos Importantes na História GeoléJgica deJ Planeta ..................................................... 259
12.4 Características Mineralógicas e Físicas dos Sedimentos Eólicos ............................................................ 259
12.5 Registros Sedimentares Eólicos Antigos ................................................................................................... 259

13 PROCESSOS OCEÂNICOS E A FISIOGRAFIA DOS FUNDOS MARINHOS .................... 261


13.1 O Relevo dos Oceanos .................................................................................................................................. 262
13.2 A Origem e a Distribuição dos Sedimentos nos Fundos Oceânicc>s Atuais ...................................... 266
13.3 Processos Responsâveis pela Distribuição de Sedimentos Marinhos ................................................... 268
13.4 A Fisiografia da Margem Continental Brasileira e o Funde> Oceânico Adjacente ............................. 275
13.5 Ocupação, Conhecimento e Exploração do Litoral e Margem Continental Brasileira .................... 281
13.6 Perspectivas da Exploração dos Fundos Oceânicos ............................................................................... 283
,
INDICE vii


14 DEPOSITOS E ROCHAS SEDIMENTARES .............................................................................. 285
14.1 Transformando Sedimentos em Rochas Sedimentares .......................................................................... 288
14.2 Componentes de Rochas Sedimentares .................................................................................................... 292
14.3 Dando Nomes às Rochas Sedimentares ................................................................................................... 293
14.4 Para que Servem as Rochas e Depc)sitos Sedimentares ......................................................................... 3()1

15 EM BUSCA DO PASSADO DO PJ.ANETA: TEMPO GEOLÓGICO ..................................... 305


15.1 Corno Surgiu a Ge()logia e uma Nc>va Concepção do Tempo ........................................................... 307
15.2 Dataçãci Relativa e o Estabelecimento da J:-,:scala de Temp<> G cológicc> ............................................ 314
15.3 Princípios e Métodos Moclern(>S d.e Datação Absc)luta ......................................................................... 32()
15.4 A Humanidade e o Tempc> Geológico ...................................................................................................... 326

'
16 ROCHAS IGNEAS ............................................................................................................................ 327
16.1 Magma: Características e Prc)cessos de Consolidação ............................................................................ 329
16.2 Variedacle e Características das Rochas Ígneas .......................................................................................... 335
16.3 Rochas Intrusivas: Modos de ()corrência e Estruturas ........................................................................... 342
16.4 Magmatismo e Tectônica de Placas ............................................................................................................. 345

17 VlJLCANISMO: PRODUTOS E IMPORTÂNCIA PARA A VIDA ............................................ 347


17.1 Conhecendo os Prc)dutos Vulcânicc>s ........................................................................................................ 350
17.2 Morfologia ele um Vulcàl) ............................................................................................................................ 361
17 .3 Estilos Eruptivos ............................................................................................................................................ 364
17.4 Vulcanismo e seus Efeitos nc> Meio Ambiente ........................................................................................ 373
,
17.5 E Possível Prever Riscos Vulcânicos? ......................................................................................................... 375
17.6 Vulcanismc) e seus Bcnefíci<.Js ....................................................................................................................... 379

18 ROCHAS METAMORFICAS ................................................................................................................. - ... 381
18.1 Evc)lução Histórica dos Estudos sobre Metamorfismo ........................................................................ 383
18.2 Fatores Cc)ndicionantes do Metamorfismo ............................................................................................. 384
18.3 Prc)ccssos Físico-químicos de> Metamc>rfismo ........................................................................................ 386
18.4 Tipo de Metamorfismo ............................................................................................................................... 388
18.5 Sistemática do Estudo Gec)lógiclJ dos Terrenos Metamórficos .......................................................... 391
18.6 Míneralogia, Texturas e J--,:struturas ele Rc)chas Metamórficas ............................................................... 393
18. 7 Nomenclatura de Rochas Metamórficas ................................................................................................... 39 5
18.8 Rochas Metamórficas e a Tectônica Global ............................................................................................. 397

19 ESTRUTURAS EM ROCHAS .......................................................................................................... _... 399


19.1 Princípios Mecânicc)s da Deformação ....................................................................................................... 400
19 .2 Formand(J Dobras .............................................................................................................................. -......... 406
19 .3 Formandc) Falhas ............................................................................................................................................ 411

20 RECURSOS HIDRICOS ................................................................................................................................... 421
20.1 Abundância e Distribuiçãc> de Agua Doce nc) Planeta .......................................................................... 423
20.2 Demanda de Ágtia ........................................................................................................................................ 422
20.3 Impactos das Atividades Antrópicas nos Recursos Hídricos ................................................................ 427
20.4 O RecurS(J Hídric(l Subterrâneo ................................................................................................................. 427
20.5 A Influência das Atividades Antrópicas n<>s Recursos Hídric<>s St1bterrâneos .................................. 430
,
20.6 A Contaminação da Agua Subterrânea ..................................................................................................... 435

20. 7 Proteção das Aguas Subterrâneas ............................................................................................................... 442
,
viii INDICE

21 REC:lJ RSOS MINERAIS ........................................................................................................•......... 445


21.1 Dep()sito Mineral: Conccitc)S Básicos ........................................................................................................ 446
21.2 C)s Principais Tipos Genéticos de Depósitos Minerais - Feições Essenciais ..................................... 456
21.3 Tectônica Glol1al e Depé)sitos Minerais ..................................................................................................... 461
21.4 DescolJtindc) Novos Depósitos l\ilinerais ................................................................................................ . 462
21.5 Panorama dos Recursos Minerais do Brasil ............................................................................................. . 463
21.6 · e e·. .1vru· zaçac)
R ecursc)S Minerats ~ .................................................................................................................. . 467

22 Rl~ClJRSC)S ~~NRR.GETICOS ························································"'··············································· 471


22.1 Biomassa ......................................................................................................................................................... . 472
, . F'
22.2 e.,c)mb ust1ve1s ~asseis . .................................................................................................................................... . 472
22.3 Energia Nuclear ............................................................................................................................................ . 480
. G , .
22.4 .1n ·.. ncrg1~1 eotcrm1ca ··································································~·····································-····· ....................... . 482
22.5 Hidre l_ctricidade .......................................................................................................... _.................................. . 488
22.(i (Jutras f--,ontes de Energia ............................................................................................................... ~ .......... .. 489
23 PT,ANETA TERRA: PASSADO, PRESENTE E FUTlJRO ......................................................... 493
23.1 (_) Ritmo e Pulse) d~1 ,._lêrra ........................................................................................................................... 49 5
23.2 As Linl1as-Mcstre ela 1-Iistc'Jria tla Terra ..................................................................................................... 499
23.3 Tendências Seculares na História GecJlógica ............................................................................................ 500
23.4 Ciclos Astt(>Ilt)micos e Geológic(>S ........................................................................................................... 506
23.5 Eventos Singulares e seus Efeitos ................................................................................................................ 511
24 A TERRA, A HUMANIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................... 517
24.1 Corn<J Nasceu o C<)nceito de DesenvcJlvimento Sustentável ............................................................... 521
24.2 A e-; l<Jl)alizaçào e a Dinâmica Social d<J Final do Século XX ............................................................... 522
24.:, Papel elas Geociências no Sécul(> XXI ....................................................................................................... 524
24.5 Glo\)alizaçào versus Sustcntabilitlade ......................................................................................................... 528

BIBJ....,JOGRAt'IA COMI'LEMENTAR .................................................................................................. 529

AIJÊNDICE I Cl,1ssificaçâo Sistctn,ítica de Minerais e set1s U Sl>s ..................................................... 533

Al'f~NDICE II Cflnversão de Unidades ...........................................................................................•... 537

AI>ÊNDIC:E I.Il D~ttlos Nt1tnéricos S<>hre a Terr,1 ................................................................................ 538

APÊNDICE IV Minerais c<>t110 Fonte ele Elen1cntos Q11ín1icos ........................................................ 539

APl~NDICE V Minerais E1nprcgados etn s11a Forma Nat11ral ........................................................... 544

API~NDICE VI Resistê11cia Mccâr1ica tlc algu1nas Rocl1as ................................................................. 548

ÍNDICE REMISSIVO ·~·········· ........................................................................................................................ 549


2 DECIFRANDO A TERRA

pla11eta en1 ql1e vivemos é formallo pelo mes- Para as quatro primeiras perguntas já existem evi-
m(J n1aterial que con1põe os clemais corpos dências suficientes para estabelecer uma razcJável
de) Sisten1a S(>lar e t11d<> <J mais ql1e faz lJarte de n<JSS<J confiança nos pesquisac.lores em relação às suas teori-
UniverscJ. Assin1, a <Jrigen1 da Terra está ligalla intrin- as, baseadas no conhecimento científicci, tantci teé)rico
seca1nente à formação llo Sol, llos llemais planetas ccJm<J prátic<J, <Jbservacic>nal <Ju experimental. A quinta
d(J Sistema S(ilar e ele toclas as estrelas a partir de nu- e a sexta talvez também possam vir a ser responclidas
vens lle gás e poeira interestelar. PcJr isscJ, na investigaçãcJ a contento com o progresso c.la Ciência.
ela origem e evcJluçã<) c.le n(JSSCJ planeta, é necessári<J Contuc.-!o, o que existia antes do Universo? Para esta
reccirrer a l1ma análise llo espaço exterior 1nais longín- pergunta ainda não temos esperança de resposta no
ql10 e, ao 1nesmo temp<), às evic.lências c1ue temos llo camp<> d(> C(Jnhecimento científico convencicinal, e tal
passadcJ 1nais re111oto. (~om !Jase nas informações c.1uestão permanecerá C<Jm<J <Jbjetc> de considerações ·
dec(irre11tes ele eliversos camp(JS ela c:iê11cia (Física, filosóficas e metafísicas - tema de âmbito c.las c.liferen-
Quí1nica, Astr<J11(>111ia, Astr(>t1sica, C(>Slll(Jc.1uímica), tes religiões, cujos dogmas implicam a presença de
ben1 como estulh1t1llo a natureza li<) 111aterial terrestre um Criadcir, exercendo sua vontade superior.
(crJnlp<Jsiçã(J c.1uí1nica, fases minerais, etc.), já f(>ra1n
cilJticlas respostas para algu111as i1np<Jrtantes c.1uestr"ies
ql1e clizen1 respeite> à r1ossa existência: 1.1 Estrutura do Universo
• C<llll(J se t"i:ir1naran1 eis clc:111entos químiccis? A Astronomia nos ':nsina que existem incontáveis
estrelas nc) céu. AcJ mesmcJ tempci, c)bservamos que
• (~orno se fr:>r111ara1n as estrelas?
elas se clispõem ele uma maneira ordenada, segundo
• C:r.>m(> se f<>rmaram (JS lJlanetas d(> Sistema Sc>lar? hieratql1ias. As estrelas agrupam-se primeiramente em
• '(~ual é a idade ela Terra e do Sistema Solar? galáxias, c11jas dimens<->es sãci da ordem de 100.000
anos-luz (c.listância percorrida à vel<icidade da luz, 300
• (Jual é a illac.le c.lc> lJ11ivers<>? mil km/s, clurante um ano). As figuras 1.1 e 1.2 apre-
• (~uai é o futur<> li(> Siste111a Sc>lar, e elo própri<) sentam d<iis exemplos comuns ele galáxias: tipo elíptico
LJ nivcrsr:>? e tipo espiral. A estrutura interna das galáxias pode

Fig. 1.1 A galáxia gigante de Andrômeda (tipo elíptico) - a mais próxima do nosso Sistema Solar (2,4 milhões de anos-luz) - com sai
núcleo denso e brilhante contendo bilhões de estrelas. Fonte: NASA.

Fotomontagem Terra e Lua, NASA.


CAPÍTULO 1 • O PLANETA TERRA E SUAS ORIGENS 3 ,_
f,iF

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LJniverso é <> de superagk>111eracl<Js, c<Jn1p<>st<is ele até


dezenas ele n1ilhares c.le galáxias, e C<>lll exte11s{>cs qLte
atingem centenas ele n1ill1ões c.le a11c>s-ll1z.
As <>l)scrvações astt<JntJmicas 11<>s cc>ncluzen1 a pel<>
men<)S dt1as reflcxi'>es relevantes lJara <JS te1nas da <)ri-
p;em elo llnivers<J e da tnatéria nele CC>t1cer1trada:
• un1a-visãc) rett<>s11ectiva, viste> que a <Jl1servaçã<>
elas feições 111ais c.listantcs nc>s leva à i11f<Jtt11açãl> ele
é11<>cas passaclas, c1ua11c.l<J <Js <>l1jetr>s c>lJservac.l<>s eram
111ais jc>vens. Sào as c>bservaç<Jes das regiões tl<J limite
cio observúvel, l}lle retlete111 eventc>s <JC<>rridc>s há vá-
ric>s bill1ões Lle atl<>s (Pig. 1.3);

Fig. 1.2 Exemplo de uma galáxia do tipo espiral (NGCl 232).


Fonte: NASA.

conter mais de 10() !)ilhões c.le estrelas de tc)clas as d.i-


mensões, cc)m inc<>ntávcis particularidades. l~or
exemplo, entre as c.lese<>l1ertas ql1e vên1 senc.l<> alv<> de
estudos rádio-astronômicc)s estã<> <>s q11asars, c>bjetos
peculiares c<>m dimensão semelhante à d<> n<>sso Sis-
tema Solar, mas contenc.lo imensa ql1anticlacle ele e11ersria
e brilhand<> c<>m extrcn1a intensiclade. As galáxias po-
dem conter enormes espaç<>s interestelares de baixa
densidade, mas taml)ém regiões de densic-!acle extre-
ma. Os assim chamados buracos negros p<)dem sugar
qualquer matéria das pr<>ximiclacles, em virtude de Slla
gigantesca energia gravitaci<>nal. Nem mesmo a luz
consegue escapar elos burac<>s negtc>s, e o seu estuc.lo
é um dos temas de fronteira da Astt<>n<>mia.
A Via Láctea é taml1ém llma galáxia c.lcJ tip<> es-
piral, senclo que o Sol - a estrela central c.le nc)SS<>
Sistema Solar - está situad<> nun1 de sellS braç<>S peri-
féricos. A Via J,áctea possui ta1nbé1n um núcleo cer1tral,
onde aparecem agrupamentos c.le estrelas jc>vens.
Fig. 1.3 Imagem obtida pelo telescópio Hubble numa das par-
As galáxias, por Slla vez, se agrl1pam n<>s assi1n
tes mais distantes do Sistema Solar. Os três objetos com raios
chamallos. aglomerados, l}Ue p<>dem conter e11tre al-
sóo estrelas, enquanto os demais objetos visíveis são galáxi-
gumas dezenas a alguns mill1ares lle galáxias. A Via
as, cada uma delas contendo muitos bilhões de estrelas. Os
Láctea pertence ao chamadc) (-;rupo Local, l}Ue incll1i objetos menores e menos luminosos são galáxias q0e distam
também a galáxia lle A11drt>n1eda e as Nuvens de cerca de 11 bilhões de anos-luz em relaçóo ao Sis,ecna Solar.
Magalhães. Finalmente, o maÍ<>r 11ível hierárquic<) ll<J Fonte: NASA.
4 DECIFRANDO A TERRA

• t1111a visãci ccim1)arat1va, que possibilita a rc- ticlade muito stiperior à da matéria visível, e nesse caso
c<>nstrt1çã<J d<> ciclcJ ele cvcilt1çãci estelar, vist<J que a densidade média potleria superar o valor crítico,
existe u111a grar1ele eliversielaele ele tipologia nas es- apontanc.lo assim para um Universo "fechado".
trelas, er11 relação à sua massa, tamanho, cor,
tc1111)cratt1ra, idaclc, etc. f,'.n1i)<Jra se sai!)a que a vida
1.2 Como Nasceu o Universo
de t1111a estrela é 111t1it<> l<>nga, da <>rden1 de diver-
S<)S lJill1c>es ele ar1<)S, o granele nt'.n11ero ele estrelas Se nosso Universo for fechac.lo, isto é, se sua densida-
clis1)cJnívcis para observação faz com que seja pos- de média for superior a 6,5 x 10-30 g/ cm3 , sua velocidade
sível verificar a existência ele mt1itas clclas cm de expansãc> deverá diminuir até anular-se, e em seguida
difere11tcs fases da cvcilt1çãci estelar, desde a sua ele c.leverá imple>dir se>l1rc si mcsmcJ, num cr>le>ssal
f<>r111açã<J até <> sct1 dcsaparcciment<> <Jll a sua trans- costnocrttnch, no futuro longínquo, daqui a muitas c.lezenas
f<>rt11açãcJ en1 <>utr<J <>bjet<J eliferente elo Universo. de bilhões ele anos. Toela a matéria estará ret1nida numa
() Llnivcrsci cnccintra-sc cm expansão. Nãei é a clis- singularidade, um espaçei muito pcqueneJ de densidade
túncia e11tre as estrelas de t1ma galáxia que está extremamente alta, virtualmente infinita, e se>b uma tem-
at1111cntandci, e ncrn a Llistância entre as galáxias ele tim peratura também extremamente alta, virtualmente infinita.
agl<>tncradc>, vistci qt1c tanto as primeiras como as úl- Nesta singularidade qt1e foge a qualquer visualização,
tin1as estão lig;adas entre si pela atraçãc> da gravidade. matéria e energia seriam indistinguíveis, não haveria espa-
A expansãc> el<) lJniverscJ si,gnifica tiue aumenta conti~ ço cm seu entorno e o tempo nã() teria sentido.
nt1a111cntc <J cs1)açci c11trc os aglorncradcis galácticc>s Esta poc.le ter sido a situaçãc> existente cerca de 15
<.Jue 11ã<> estã<> suficiente1nente ligadc>s pela atraçãc> !)ilhõcs l1C anos atrás, o ponto c.le partit-la ele tudo o
gravitacicinal. A vclociLlatle Llesta expansão é clada pela tiue nc>S diz respeite>, utn p<lnto rcunindci tcida a maté-
constante de Hubble, ainda nãc> determinada c<>m ria e energia de> Universc>, c.1t1e explr>diu ne> evente> únicr>
granLlc f)rccisà<), e que presenten1ente parece se situar e cirigir1al qt1e os físicos c.lenominaram Grande Explo-
11rc'Jxi1na de 18 k111/ s.1 {_)e; ar1os-luz. Se o nosso llniver- sãc>, <Ju Big Bang.
s<> f<>r "al1ert<>", este valcir pcr111a11cccrá c<>nstantc, <>ll
[)c>r mcic> deJ conhccin1ento existente sobre matéria
pc>elerá au111er1tar nc> futurcJ. Se entretantc> e) Universc)
e energia, raeliações, partículas elementares, e fazendo
f<)r "fecl1aelo", a velocielaele ele expansão tliminLdrá
tiso tios rectirsos ela Písica teé>rica, incluindo moc.lela-
cc>tn <> te111p<i, tenderá a anular-se e em seguida t<>ma-
gens e simulações, C>S cientistas recc>nstituíram com
rá val<)res negativc>s característicos ele contração.
grande precisãc> as etapas st1cessivas à Grande Explo-
A Astr<>11<Hnia ainda nãe> está segura quante> à na- são. Scgunclo c.lizem, tenc.lc) cc)me> situaçãc> de partida o
t11rcza a!Jcrta ou fechaela elc) Universo, pois isto elepen<.le _yletn imaginac.lo recentemente p<>r Game>w, e iniciadcJ ci
de st1a elcnsiclaclc 111éclia, ct1jo valor não se encontra B{g Bat{g, <> reste> é perfeitamente previsível. A Tabela
cstal1clccidcJ ac-lcqt1adamcntc. () valor limite entre 1.1 reúne <>s eventos ocorriclos por ocasião da origem
lJnivers<J al1ert<> e fechadc>, chamad<J de densidade t-lo llniverso, orc-lenaclos cronologicamente. A Ciência
crítica, é c.laelo pcJr p = 3 H 1/ / SrcG, onc.le H é a
0 0
não tem elementos para caracterizar o período que os
ceinstantc ele l lt1!Jlllc e G a constante gravitacional. físicc>s denc>minam Planckiano, dccorrideJ lc>g<J após
Para <> valc>r mencicJ11adcJ acima de H0 a densidade o instante inicial. Trata-se e.lo tempo necessário para
crítica é ele 6,5 x 10-10 g/ cmi. Observações recentes a luz atravessar o comprimente> de Planck, a unida-
(ver c>s ccJn1cntários finais Lleste capítulo) st1gerem que de fundamental de comprimento, pois não é possível
a de11sidade média tem valc>r infericir a<> crítice>, indi- sa\)er se as constantes fundamentais que governam nos-
candt> t11n lJ 11ivcrscJ a!)crtei, peirtante> tendend<> a so mundo já atuavam naquelas condições. Durante os
expandir-se 11ara se111pre. b'.ntreta11tc>, é difícil medir 3 x 10-10 segundos iniciais a temperatura era alta de-
essa de11sidade e111 virtude da existência da chamada mais para a matéria ser estável, tudo era radiaçao. Ainda
n1atéria csct1ra, ele cor11plicacla caracterização e de pre- hoje, o espectro da radiaçãe> de micre>c>ndas de funde>
sença ubíc.1t1a em t(Jdc> <J cspaçcJ interestelar. 1'~ste (nu'crowave background radiation) que pervaga o Univer-
111aterial, virtt1alt11cntc invisível, consiste ele net1trinos e s<> cm todas as direções do espaço, come)
pc>ssivelmente de c>t1tras partículas c]csconhccidas qt1c remanescente da radiaçãc> emitida, é uma das maiores
ir1terage111 aper1as p<>r fc>rças de gravidade cc>m a ma- evic.lências para a tecJria do R~ Bang e implica que a
téria conl1ecic.la. Muitos cientistas acrec.litam que esta radiaçãc> e>riginal partiu para todos os lados com a
matéria invisível estaria presente no llnivcrsci cm quan- mesma temperatura.
CAPínJLO 1 • O PLANETA TERRA I SUAS ORIGENS 5 .

Tabela 1.1 Cronologia do Big Bang, mostrando que Tempo e Espaço são grandezas físicas
que nasceram junto com a Grande Explosão.

Tempo Raio do universo Temperatura (K) Eventos


(metros)

Zero (inicial) Zero Infinita Aparecimento de espaço, tempo e enorgio.

, 5,4 X 10 44 S l ,6 x l O Jé, l 032 íi1n do período Plo11ckia110.

10·43 s 3 X l O"' ·.:J.-1


l 031 Seporaçõo do c;ravidadc.

l 035 s 3 X l 0- 27 l 02s Soporoçõo das forços Nucleor-Fodc e tlétric:o f1·oco.

l Q- 33 -- lO 3? s 3 x l O 27 até O, l l 0 27 até l O ?7 Fose inflacionário.

l 0-10 s 013 l O1s Seporaçõo dos forç.os Nucloor-Fraca e Eletro111ognólico.


'

.10 9 's 0,4 75Xl0 14 Eslobilizorn-se os quorl<s do lipo 1 (rnosso - 50 u).


'

7,5 X 10 13 Estobili1an1-se os quarks do tipo b (n1asso - '.) u).


'' ' '
' ' '. ' ' ' '

•lO·i, .~ 300 l 3 X lo 13
Estabili1a1n-se os quorks do tipo e (1nosso --~ 1,8 u).
'
3,3 l0 11
':, :, ,: '
•', X • Estabilizam-se os quorks do tipos, d eu (mossas 0,5 ü,4 u).
" '' ' ,!.':'
"i :.;· :' "·,

'', ,
... • '
"' ' ' ! ,:
' .: : 1 -- l 01? Estobilizo1n-se p1·ótons e nêutrons.

300,000 14xl0
, 10
Estabilizorn-se os núcleos 1 11 (oncr~iia de ligoçõo - 1,7 MeV).

3 X l 09 4 /l X l 09 Estobilizarn-se os elétrons (1nossa = 0,00055 u).

3 X l C' 1º 1,5 X l 09 Estobiliz.am-se os núcleos lHe e 4 He.

' ' ' '.,"


6,6 X 1011 3.000 Copturo de olótrons pelos núcleos. Forn1oçõo de áto1nos do
' " ' :;
' ,;· '

: : ._::-_>::'::-:"{ '' H e He e n1oléculas H.1 . O l)niverso torno-se tronspore11to


poro a luz.
;' ,Qbs: u = l ,660540 X l o ·27 kg.
': ,:•'

( :(llll a c:-.11:tns:'í<> e a cri:1ç:1tJ C<HltÍnua c!(J es\):1ÇfJ, i<J


0

Cl'f, vist(l (JUC, :ljJ< JS :1 l:1sc i11flacic,n:'iri:t, estes tena111 sua


ra111 surgind(J as quatnJ fr>rças fund:1111cntais ela r1ature/:1 flrt)flfia exria11sã() e evrJluç,1c) n1uit<) distante de 111\s, ele
tjue ir1cluc111 a f(Jrça clctn Jt11a,t~11é:tica, as i< >r~::1s nucleares lll<>d<J que sua lu/ 11:1<> ll<JS alc:111~:ari:1.
f(Jrtc e (rac:l (que s('i tê111 influc~ncia tHJ i11teric>r d1J n(1c!e(> 12
i\f)('.>S 1O· se,l',ur1d<>s, 11(lSS( l univcrs(J ir1fl:1tl( J, 1> uni
at(H11ic(l), e :1 f<Jrç:1 da graviclade c1uc, ele hJr\l!;e, é a 111:iis
vcrsrJ visível, tcri:1 sua l''-)J:111sãc, ,l',(l1crn:1da 11cla e< ,nstantc
f~u11iliar a tt 1d(JS 11(-lS. ( :rJntuclc1, a Í(Jrça da graviclade j)(lr
de l lulil)!e, e SlLl cv1>l11ç:11J <J levaria :tt(: <J cst:\t:11> arual,
ser rnuitt, fraca é difícil ele ser 111edida (na vcrclade, sua
c111 Ljut: seu rai11 é· ela (irden1 de l.'i liillH-JCS de anr>S lu/.
n1celid.1 llJUÍvalc :1 C()nstantc (;). H(iuve t:n11\iC:n1 urr1a
f:1sc dl l,J7:n1sã(J extrc111:1111cnte r:1r:iicla (fase inil:ici1J11:t- Nesta c1(>l11~·:11J 1:i1-i111Ítiva, a tcll,j><Tatura e a dcnsid:tdl'
ria), cn1 LjLLC a vckJciclacle ela ex1):1ns;\<J fr.Ji até· 111:tÍ(lr d1J de c11erl',i:t

f(Jran1 dccresccnelci, e fc,ra111 cri:1d:1s as c1111di-
quc J \·cl, ,cidade d:1 lu:,,. (>H11 \)ase nesse rn<>clcl(l, (JS Çi°)l'S riara :l f< 1rn1:1çiú) da lll:l 1<'.:ria, 11( 1rir( )CeSS() dl'tl( nnÜ1:td( J

astn ,ri,ic, ,,; c:-.r:ilicarr1 as feic;t°)CS ant)lllalas c,hscrv:1d:·lS Clll t1t1cle<1gê11csc: 1:ir('1t< Jns, nêut n >ns, clétr< n1s e en1 Sl',l;llid: 1
!Hl"", L 11i\crs1J. lt1111lica tan1!Jé111 que j7(Jc!c ter-se (Jrigi <JS :it(Jlll(JS dll', clcrne11t(JS 111:1is lcvl's. ])rirne1ra111t·ntl' 11 c
n:id,, d.-1 111L·s111:1 f(Jrn1:1 un1:1 e1ua11tidadc en<>rr11c de 1 11· <JS d< >Ís clen1ent(JS f>rinci11:1is d:1 n1:1tr'Ti:1 d1) 1 1IÍ\ LT,1,
1,u1r, ,, _1n:1 lTS<1s c1ue jan1:1is scrcnHJS cai)a/cs de c<H1he- - 1· fl<JstcrilJrn1er1tc l.i e l~c. (:1)111 )7!JlJC(J lllL'tl(>s ri, 111:.
6 DECIFRANDO A TERRA

111ill1ã<> de an<>s de vida, a tcn11)ctatura d<> Univets<J en- 1.3 Evolução Estelar e
c<>rltrava-se en1 cerca de 3.0(JO I<, e a energia estava
Formação dos Elementos
suficientc111cntc !Jaixa para permitir aos átcJmcJs permane-
ccrc111 estáveis. Ccim a capt11ra dcJs elétrc>ns pelc>s át<>m<JS N<J Universo cm expansão havia variações de den-
cm tc>tt11açã<>, <> lJrúvers<> embricJnário tornou-se trans- sic.lade como em gigantescas nuvens em movimento,
l)atente à luz, ser1elcJ CCJt1stituíelc> por H (7 4'1/.J), l-Ie (26'1/.J), com regiões de grande turbulência. Embora sua den-
alé111 ,le quanti,la,lcs muito ,limin1.1t,'ls ele T,i e Bc. silialie fosse muito baixa, eram tão vastas que sua
IJ<Jt CJlltt<> lad<>, ql1a11dc> a tcmperatl1ra decresceu para própria atração gravitacional era suficiente para pro-
valcJtes abaixcJ ele algu11s n1ilhões ele graus, nenhum ou- d l1zir ccJntração, ao mesmo tempo em que o seu
trcJ elen1er1tcJ teve cc>r1elicã<) ,, ele ser criaelo. As estrelas e as mcJment<J angular impedia a sua rápida implosão. Na
galáxias for111ara111-se 111ais tarclc, quanclo o rcsfriamcntcJ mellilla em que elas foram se c<Jntraindo e a densida-
ger1eraliza,lo f)er1nitil1 qL1e a matéria viesse a se cc>nfinar de aumentando, algumas regiões menores com
cm in1c11sas nuvc11s ele gCts. Estas, pcJsteric>rmente, entra- densidade maior passaram a se autocontraírem, e a
ria111 e111 ccJlapsc> gravitacic>nal pela ação c.la força c.le grande nuvem dividiu-se cm nuvens menores separa-
,las, mas orbitando entre si. () pr<JgtesscJ da contraçãcJ
,,graviclacle, e scl1s 11í1clc<is se aqueceriam ' lcvandc> à tc>r-
111açã<J c.las pri111eiras estrelas. As primeiras galáxias gravitacional resultou na hierarquia hoje reconhecida,
Sl1rgira111 f)Or volta de 13 !Jill1ôcs de anos atrás. A Via c<Jm as galáxias pertencendo a aglomerados, que por
l ,áctca tc111 a11rc>xi111adamc11tc 8 !)iih<3cs de ancJs de ida- Slla vez formam superaglcJmerados.
de e dentr<J elela <J n<JSS<J Siste111a Solar originoL1-se há
cerca ,le 4,6 !Jill1ôcs ,le anos.

Fig. 1.4 Nebuloso do Caranguejo. Troto-se de uma grande nuvem de gós, localizado no constelação de Touro, originado pelo
explosão de uma supernova, ocorrido no ano de l 054 e registrado por vórios povos na época. Fonte: NASA.
f.l#~

CAPÍTULO 1 • O PLANETA TERRA E SUAS ORIGENS 7 .-. 1;


' --1-

As estrelas nascem pela raclicalização de) processe) e 1nais para a esc1uerda 11c> elia,gran1a. A c1uei111a ele
de cc)ntração, a partir elas mencionadas nuvens de gás Hidrogênio - a rcaçà<) ter1n(Jt1l1clear característica das
(nebulosas), constituídas quimicamente p()t grande estrelas (111e se situan1 na Scc1üência l.lri11cipal, e1n que
quantidacle de Hidrogêni(> e Hélio, além de alguns pela fusão (!e lJl1attc> 11úclecJs de 11 ielr<)gêni<> f(Jrma-se
outros gases e partículas sc>lidas que integram a poei- um de 4 l-le - inicia-se c1uanclc> as tctnt)craturas centrais
ra interestelar (Fig. 1.4). Observações astronômicas ela estrela cm for111açã(> atinge1n 1()7 l(. b'.sta reaçã(> li])c-
revelam regiões (>nde está ()C(>rrendo o fenômene) da ra uma imensa c1uantidadc ele ener6>ia, mtlitos 11lilh(:>cs ele
formaçã(> de estrelas, em nebulc)sas de enc)rme massa vezes supcric>r àc1uela l)UC seria causada !)ela l}ueil11a quí-
e baixa densidade. N(> interior destas, um volume 1nica ele) H. l)esta fcJrlna, a estrela l)<Jc!e ccJnti11l1ar
men(Jr com densidade ligeiramente mais alta entra em l}ueimanelo H durante lJilhões de anos, cc>11l<> é <> case> deJ
aut()C(Jntração, e () material tende ao cc)lapso produ- Sol, vist<J qt1e tal pt(>duçã<J ele energia ccJ111pensa e ccJtlÍ-
zindc) uma esfera, na região central, tornand(J-se uma libra a tendência à contraçà(> 1)cla açàcJ ela gravillaele.
prc)t(>-estrela. Daí em diante cc)ntinuará a cc>ntrair para
compensar a perda de calor pela sua superfície, dc-
senvolvendc) temperaturas
progressivamente mais eleva- -s......--.--.....----.----.--...--....,...--,----,---,---..---....,...-----,----.
o o
das cm seu centro. o SUPERGIGANTES
\ Deneb VERME.LHAS
,910M 0 o
A evolução das estrelas, tal
como será relatada a seguir, 5
ºº
o ()
GIGANTES
AZUIS
8
,,.., Polaris
o
Betelgeus/
o o
encontra-se sintetizada na Fig. o
4Mo
o
i
Antares
Splca-__. ()

1.5, que representa o diagra- o


(.)

ma de Hertzsprung-Russel ()
o
GIGANTES
(H-R). Neste gráfico, a maio- -1
o Mlza/º VERMELHAS Alci':baran
... o
ria das estrelas situa-se perto ela
curva representada, desde o
o
v'ega-· ►O
J /
1'5 M o eapeôli a
o ij
00
º""·
ip,8
-
o
o ', Arclurus
-1 castoro"° ,I 8.- Pollux
cant(> inferior direito (baixa /

Sinus/ t
temperatura e baixa luminosi- ,,1'
Altair,
dade) até o canto superior Procyan 11
o
esquerdo (alta temperatura e "'
alta luminosidade). Esta regiãc>-

no diagrama é a denominada
0. Centaur! •
Seqüência Principal, co1n a
estrela de massa unitária (Sol ::::
1 MJ ocupand() a posição cen-
tral. Uma certa C()ncentração de
+1
estrelas aparece acima e para a ANAS BRANCAS 1 0.1 M
direita da Seqüência Principal, •• 0

/).
enquant(> apenas algumas apa- Sirius B _,
recem abaixe) dela. • •
Quando uma estrela nasce, • •
seu material está ainda muito +1,.-
ANÃS NEGRAS
• ,,,/
,,,..
1 10·
4

diluído e expandido. Sua tem- Pióxima.,...


Centauri
peratura superficial é baixa, de
modo a situar-se na porção in-
ferior direita do diagrama H-R. •
Com sua contração, temperatu- o 8 A F G K M
Tipo espectral
ra e luminosidade aumentam, e
Fig. 1.5 Diagrama H-R (Hetrzsprung-Russel), no qual o tipo espectral (que depende do
a estrela vai ocupandc> posições
. . . cor e do temperatura da superíície) de muitas estrelas cujas distâncias são conhecidos,
sucessivamente ma.Is para cima
está representado em função da luminosidade (relativo ao Sol= l ).
A c1uein1a llo H 110 centro Lias estrelas, onlle a Calla estágio sucessivo de queima, desde o H
temperatura é n1áxima, prolluz rle, elemento que até o Pe, libera menos energia que o anterior. A
pcr1na11ccc (Jndc é fcJrmadc>, viste> ljt1e e) calor pro- Lliminuição Lla fonte Lle energia coincide com a ne-
dt1zidc> é transfcridc> 11ara as camadas mais externas cessidade crescente ele energia para as etapas
pe>r ralliaçãei, e nã<) por cor1vecção. A acumulaçãc> pc>steric>res da evc>lução estelar, Lle modo que estas
ele He fc>r111a un1 núcleo c1ue cresce, C(Jm e) 11 cm são sucessivamente muito mais rápidas do que as
ignição, confinallo a uma camada ceincêntrica cx- anteriores, e especialmente a fase ele estabilidade,
tcr11a a esse ní1clcei. (=eim CJ crcscimcntc> de> núcleei, ljua11dc> a estrela permanece ae> lc>ngo da Seqüência
a parte exterr1a ela estrela expanlle muito, e sua su- Principal. lJma estrela que permaneceu durante bi-
perfície
,
resfria, assutninll<> unia coloração vermelha. lhc3cs de anos queimando 11 e depc>is He, passa
E a fase Llenc>minalla gigante vermelha (b'ig. 1.4). extremamente rápidci pela fase de>s prc)cessos ele
Nesta fase C> 11úcleo se contrai novamente pela atra- el1uilíbric), em segunelos apenas, formando Fe, para
ção gravi taci(it1al, e a te111pcratura central aumenta ter imelliatamente seu combustível nuclear esgota-
111ui te>, 11ara vale>res da (Jtde111 de 108 K. Inicia-se d ci cm sua parte central. Nesta situação, a
a qL1eir11a Llc> He, que polle llurar muitos milhões tcmpcratt1ra aumenta muito, a ccJntraçãci te>rna-se
de an<Js, fe>rmand<J C: 11cla fusã<J de três partículas insl1stcntávcl, e a estrela implode em frações de se-
alfa. En1 seguiela, co1n o esgota111ento llo He, nova gundo comprimindo as partícl1las e formande> uma
contração clcJ núcleo e nc)vei au1nc11tei de tempe- estrela de nêutrons com diâmetrci da e>rdem de
ratL1ra acarrctatn t1111a cncirme expansão da estrela. apenas algi_1ns quilô-metre>s.
Trata-se da fase ele supergigar1te vermelha. Se e>
Sol atingir esta fase, claqt1i a cerca de 5 bilhe>es de Nas can1adas mais externas da estrela permane-
an(is, sct1 tan1anl1e> estender-se-á para além Lla ór- ce grande '-luantidade de elementos ainda não
bita de Marte. queimaclos: H, He, C, O etc. A implosão do centro
causa <) cc>laps<) generalizade> de tais camadas ex-
b:111 estrelas de tama11he> médie>, ce>me) é C> case)
ternas, com o concomitante grande aumento da
ll<) Sol, <) núcleo Lle C é muito qc1ente, mas não o
temperatura. A quantidade de energia liberalla é tão
suficiente para proclltzir fltsõcs nucleares, de meide>
grande, cm tão pciuco tempo (mene>s de um se-
que cessam as reações prcidt1teiras de energia. Como
gunllo), que a estrela explolle literalmente, lançande>
rest1ltad<>, eJ núcle<> cc>ntrai ulteriormente, e a sua
para ci espaço a maicir parte de seu material, num
Llensillaele aunienta, <)riginanclo un1a anã branca.
event(J únice> nc> céu, um grande espetáculo para os
Tais tipos de estrela pcr<-lcm st1a energia residual
astrônomos, e que caracteriza a fase ele supernova
c<>nti11uamer1te, p<>r radiação, resfrianllo Llurante
(Fig. 1.6). Nesta explcisãci, grande número de nêu-
(Jlltr(is \)ilhc>cs de ancJs, tra11sfeir1nandei-se em anãs
111arrcins, e fi11al1ne11tc, ctn anãs negras. trons é liberallo pela fissão Llos nuclídeos mais
pesados, e esses nêutrons são imediatamente cap-
Pc>r C>utrc> lallci, em estrelas cujo tamanho é pelei turalios por outros nuclídios, dandci <Jrigem aos
men<)S c>ito vezes maior qc1e o cio Sol, cm suas fa- pre>cesse>s den<)minadc>s r (rapid - rápidos) e s (s/ow
ses Lle supergigantcs vermelhas, a temperatura de> - lentos) de formação de elementos novos. A pro-
ní1clccJ <1C (~ é st1ficicntc para pre>duzir O, Ne e Mg
va lia nucleossíntese pelas supernovas está na
pela aeliçã<> de partículas alfa, e posteriormente fur1-
detccçãci dei espectro de certos elementos instáveis,
dir (), forn1a11clo Si e outros nuclídccis de númcre>
como o 'fecnécio, ot1 alguns elementos
de massa 111ais elevade>. Tais prc>cessc>s, em ljue os
transurâniccis, tal ceimli foi observadci recentemen-
resídt1<Js da ljuein1a de ce>mbustível nuclear se acu-
te pelos astrofísicos.
111ula111 ne> nt:iclec> para en1 seguilla c1ueimarem por
st1a vez em e>utra reaçãe> termonuclear mais com- () diagrama H-R tem fundamental importância
plexa, fazen1 corn que as estrelas se c(i11stitt1am pe>r no entenllimento Lia evolução estelar, descrita an-
L1ma série ele ca111aclas co11cêntricas. As reaçc>es nu- tes, visto que poelem ser observaelas estrelas
cleares cessam quanllo o ele111ento Pe é sintetizallo i11dividt1ais cm todas as etapas evolutivas, e deter-
(pr(Jccsscis <-lc cqt1ilíl1ric>, <>ll e-processes), viste> que este minadas as suas pre>priedades através de análises
ele111e11t<> é <> 111ais estável de sua regiã<J na curva de espectrais Lle Lliversos tipos. Após longa permanên-
energia ele ligaçã<>, e por isso uma fusão nc1clear cia scil1rc a Seqüência Principal, produzindo He, a
ulterior consttmiria energia aci invés de 11rcidt1zi-la. luminosillaele elas estrelas aumenta nas fases scguin-
formaratn-se clurantc a ev,Jluçà(J das estrelas, nas
partes centrais e.las gigantes ver111elhas, e11q11anto
aqueles ceJtn 11í1111crc> atôrr1ico sur,ericJr acJ clc> f<e ori-
ginara111-sc u11ica1nente naq11clcs ir1sta11tes 111ágiccJs
das cx11losões Lias superneJvas. Ac> r11esn1c> te111pei,
Llesapareccndc_J a cstrcla-111ãe, teJcla a s11a 111atéria fcJi
deveJ!vida ac> cspaçc> interestelar, fcrtilizar1c.1(J-(J e
pcJssiveln1entc danclo inícic> a 1101 n<JVCJ ciclo c.le eveJ-
1ução estelar.

SeJmcntc as estrelas c.le n1assa gigantesca p(Jden1


ev(Jluir até a fase de supern(>va. b:sti111a-sc que etn
caLla galúxia (JceJttctn duas r1u três ex11llJS(JCS Lle
SLtpernovas em cada séculcJ. () cventcJ 111ais !Jrilhan-
tc parece ter sic.lcJ ac.1uele rcgist raLlc> ncJ at1(J 1()54,
cuja 1natéria, cspalhaLla pela cx11losào, lteu (Jrigen1
à N ebulrJsa deJ (~ara111-ori-1cjo (f<ig. 1.4).
Existe 11ma relação íntitna entre a c>rigetn d(J L:ni-
verso e a dinâ111ica das estrelas, pelr u111 laLlo, e
a!Junclà11cia Llos elementcJs 110s siste111as estelares,
pelr eJ11tro. J~xplosões Lle supern(JVas tê111 conl(J C(Jt1-
sel1üência im11(Jrtantc que (JS neJV(>s clc111er1tos
for1nallos, pri1neiramcntc no intericJr da estrela, e
peJstericJrmcnte Llura11te a ex11lcJsào, são cleveJlvidcJs
ao espaçeJ e 1nist11rados ao n1eieJ interestelar, esse11-
cialmente constituídeJ 11<> inícic> lle H e lfe. l)csta
f(1rma, as ne>vas estrelas a se f(Jr1narc111 a partir de
tal mist11ra já C(Jtncçaria111 a sua evcJl11çãcJ com um
cc)mpleme11to Lle elen1e11tcJs pcsaLlos, incl11i11deJ-sc
Fig. 1.6 Exemplo de fase de supernova. Nebulosa com formato aí c>s isótopos raLlioativ(JS de mcia-villa lc>r1ga, C(J01cJ
II
de uma ampulheta", mostrando os anéis ejetados de gases (N,
lJ e Th. Este é (J mccanis1no peleJ lJt1al (J ll nivers(J
H, O) resultantes de sua explosão. Fotografia tomada do teles-
se torna progressivan1cntc 111ais ric<J c111 clcn1cntos
cópio Hubble. Fonte: NASA.
pesadeJs. b'.strclas fc>rmadas rccc11tcn1er1te 1JeJss11cn1
cerca Lle 100 a 1.0()() vezes 111ais Pe e 0L1tros ele-
tcs, de gigante vermelha e ele supergigantc verme- 1nente>s mais pesaLlos ll(J LJ11e aql1clas n1ais a11tigas,
lha, mas diminui a temperatura de sua s11pcrfície, fcJrmadas cm épocas 1na1s pr<'>ximas Lia l>rigem de>
por causa Lia expansã(J. As estrelas se desl(Jcam en- lJ nivers<J.
tão para a parte superieJr direita Llo Lliagrama (Fig.
O Sistema S<Jlar foi for111all(J há "a11cnas" 4,6
1.4). P(Jr eJutr(J lado, com a perda de lumi11osidade
bilhc3cs ele ar10s, LJuandeJ e> LJniverscJ já ceJntava ele 8
que anteceLle a meirte das estrelas, as anãs brancas
a 1() l1ilhõcs Lle an(JS de idade. A nebulosa solar
vã(J se situar na parte inferieJr cio Lliagrama, al)aixo
resultou pe>ssivclmente da explosào Lle uma
da Seqi.iência Principal.
supernova, cuja massa csti111aLla teria sido llc aprcJ-
Assim, CJS elementos cc1nstit11intcs cio llniverseJ ximadamente 8 n1assas scJlarcs, e <Jue em sua fase
fcJram fcJrmados cm parte durante a nucleo,gênese, t"inal teria sintetizadeJ <>s clcn1entos pesadcJs que hoje
nos tempc>S LlUe se succcicram ao Bzg l3ang (!Jasica- constituem CJ Sol e seus planetas (J--,'ig. 1.7). PeJrtan-
mente H e He), ou entãeJ foran1 si11tetizadcJs no to, a matéria ccJnstitui11te LleJs C(Jt!JCJS planetárieJs deJ
interior das estrelas cm processeJs dcnrJminadeJs Sistema Solar peJssui certa c1uantidadc ele cle111en-
genericamente de nuclecJssíntese. Ac.111eles com nú- teJs pesados, e C<Jnstit11içào quín1ica ceJcrcntc (Yer as
mereJ at(Jmico intermediárieJ entre o He e o Fe denominadas abundâncias solares na Tabela 1.2).
Tabela 1.2 Abundância Solar dos elementos. Embora existam diferenças de estrela pare. estrela, por causa
da própria dinâmica interna, a abundância solar é tida como um valor médio representativo da constituição
química do Universo, também chamada abundância cósmica (valores em átomos/lOSSi).

2 He.

4 Be

' '
6 ' ' '
e : '

i1itl 1!t~11lf1!{tl~1~,i1>:r1•···
8 o 1,01x
.. ·'h

.._...... _J.Lt-\
10 Ne 3,76x

Mg

18

20.
.

24 cr•

26' Fe

' : ' : -,:''

Ni 4,93x104
Fonte: Anders & Ebihara, 1982.
1.4 O Sistema Solar
Nosso Sol é uma estrela de méclia grandeza, ocu-
pando a pcisição central na Seqüência Principal no
diagrama H-R (Fig. 1.5). Come> tal, encontra-se fc>r-
mandc) He pela queima ele H, há cerca ele 4,6 bill1cJes
de anos. Pc>ssivelmentc, permanecerá nesta fase por
outros tantos bilhcJes de anos, antes de evoluir para
a fase de gigante vermelha, anã branca, e finaltnen-
te tornar-se uma anã negra.

Os clemais cc>rpc>s que pertencem aci Siste1na


Solar (planetas, satélites, asteróides, cc>metas,
além de poeira e gás) fcirmaram-se ac> mesmo tc1n-
po em que sua estrela central. Isto confere aci sistema
uma organização harmê>nica no tocante à distril)llÍ-
çào de sua massa e às trajetórias cir!)itais ele seus
corpc>s maiores, os planetas e satélites. A massa e!<)
sistema (99,8 %) concentra-se nci Sol, co1n c>s pla-
netas girando ao seu redor, cm órbitas elípticas ele
pequena excentricidade, virtualmente cciplanares,
segundo um plano básicci dcnominadc> eclíptica.
Neste plano estão assentadas, com pec1uenas incli-
nações, as órbitas de toclos os planetas, e entre Marte
e Júpiter orbitam também nl1merosos asteróides.
Por sua vez, a grande maioria dc>s ccimctas parece
seguir também órbitas próxi1nas de> plano ela Fig. 1.7 O Sistema Solar. Os quatro planetas internos situ-
eclíptica. e:) movimento de tcidos estes cr>rpc>s ao am-se mais perto do Sol e são rochosos e menores em
redor do Sol concentra praticamente tc>dc> e> n1ci- tamanho, enquanto os quatro planetas externos são gigantes;
mentc> angular do sistema. estes possuem satélites majoritariamente gasosos e com nú-
cleos rochosos. O planeta mais distante, Plutão, é um pequeno
A Tabela 1.3 reúne os principais parâmetros fí- corpo congelado de rnetano, água e rocha. Notar o cinturão
sicos dc>s planetas do Sistema Sc>lar. São, ele dentre> de asteróides que se localizo entre o grupo de planetas inter-
para fora do sistema: Mercúrio, Vênus, Terra, Mar- nos e externos.
te, Júpiter, Saturno, LJ rano, N et11nci e 1:11 utão. Pc>de-sc
verificar que suas distâncias e1n relaçàci ao Sol obe-
decem a uma relaçãc> empírica (a clenc>minada '1ei Tal)ela 1.3, verifica-se 911c c)s pla11etas i11tcr11cis pos-
de Titius-Bode '), prc>pcista por J.E. Bc>dc : s11cm massa pec1ue11a e dcnsidacle 111éclia semelhante
d :::: O,4 + O,3 x 2" à da Terra, da orclem ele 5 g/ cm\ cnqua11tc> tJue c>s
planetas externos pc>ssuetn n1assa grancle e dcnsi-
na qual d é a distância helic>cêntrica cm uniclades
clacle n1édia 11r(ixima à cio Sc>l. (-)s i11ccintáveis cc>rpcJs
astronômicas (UA :::: distância média entre a 'l'erra
ele cliinensões mcncircs, qlte orbita111 11ci cinturãc> ele
e e> Sc>l, equivalente a cerca de 15() milhões de km),
aster(iidcs (o maic>r asterc'>ide cc)nheciclc>, C:ercs, tem
e n é igual a -oo para Mercúrici, zero para Vênus, e
diâmctrci da orclen1 ele 97() kn1), apresentam caracte-
tem númercis de 1 a 8 para c>s planetas (l'erra até
rísticas variáveis, porén1 mais assc111elhaclas àcJuelas
Plutão). Os asteróides têm n:::: 3.
dc>s planetas internos. Os planetas inter110s pcJssu-
As características geométricas, cinemáticas e di- em poucc>s satélites e at1nosferas finas e rarefeitas.
nâmicas dos planetas do Sistema Sc>lar fora1n Já os planetas extcr11cis 1)ossue111 ncJtmalmcnte r11ais
condicic>nadas pela sua origem comum. Os plane- satélites e suas atmc>sferas sàci muito espessas e de
tas podem st;r classificaclos em intcr110s (c)u cc>tnpc>siçàc> tnl1ito parecida à dcJ Sol, con1 pred(>mi-
terrestres, ou telúricos) e externos (ou jc)vianc>s). l>cla nância ele H e He.
12 DECIFRANDO A TERRA

Tabela 1.3 Parâmetros físicos dos planetas do Sistema Solar.

,,.,, ,,
o, 18
__ .

·- -''
0,38 1 11,21 4 - . • e "
''<·' ·,'·,·e,''._-;.
;

0,055 1 '•· 317,7 14,53 0,002


/Si• ''

'5,4 5,5 1,3 1,3 2

N (78) H (78) H H (15) '"''tl'"Íll,''''i~'-":·


H~ ~H (iJ;:j~;f;;, ~~'i: '.
O (21) He (20) 2 f 41 t,f_:
'·'·\·<M.

NH (60) •11:i/i41tt:t ,·:·


3 ,'.;/t;~;~~}Tl/' .
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1 16 ,gh.
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0,39 1 .. 5,2 19, 19 39,53

88 365 ¼ 4.347

30.680
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90.582

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. 58,6 0,99 . O, 41 -0,72 -6,39


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4.879 ''" ,,_, ''!, h' 1', ,/'/t;:; 12.756 ''.:, 142.984 ,•· · 120.$3i6 51.118
'i•

1,31 0,77

,\s cliferenças fundamentais entre planetas interneis sàci nl1clear, a temperatura de toda a rcgiàcJ mais inter-
e externos pcic.lem ser atribuídas à sua evciluçà<i quí- na, pcJuccJ ac.1uém da c'Jrbita de Júpiter, permanecia
mica primitiva. Basicamente, eis últim<JS sàc) gigantes clc, acla. (~cJm cJ resfriamento grac.lativcJ, pela perda de
0

gascisos, com ccinstituiçà<J química similar à c.1a nc\Jll- energia pcir racliaçãci, !Jartc e.lo gás incandescente
k)sa S<Jlar, enquanto que eis internos sãci ccJnstituídcis c(inclensc>u-se en1 partículas sólidas, iniciandcJ o prci-
de material mais denso. C<)mo será clescritcJ adiante, cesso de acrcsção planetária, mccliante ccJlisões entre
tais diferenças, a partir de uma química inicial si111ilar, tais partÍclilas, guiaelas pela atraçàc) gravitacicJnal.
se devem a um event<) de alta temperatura c.1uc ciccir-
JJrova, elmcntc fcirmaram-sc nci estágicJ inicial al-
0

reu numa fase precoce da evcJll1çàc) dos sistemas


gl1ns anéis ccJtn C(Jt1centraçãcJ tnaicJr c.lc material sc'JlidcJ,
planctáricis, respcinsável pela perc.la ele elemcntcis vci- '
scparac.los pcir espaçcis ccJm men(Jr ccincentraçãci. A
láteis pelos planetas internos.
mec.lida que cJccirreL1 cJ resfriamentci, e) material c.lcJs
Segundo os mcic.lelcJs mais aceitos (pcJr exemple) ci anéis fcJi se ccincentrandcl en1 ccJrp<is ccim c.limensc)es
ele SafrcincJv, 1972), a cirigem e.lei Sistema ScJ!ar re- ela ()rclctn c1c un1 c.1uiltimctr<1, cJu pcJuccJ maic)r
mcJnta a uma ne\JlÜCJSa de gás e pcieira cc'ismica, cc)m (planetésimos), c.1l1e pcistericirmcntc se aglc)meraram
cc)mpcisiçãcJ c1uímica correspcJnelentc à alJL1ndà11cia cm cc>rpcis ai nela 111aic Jrcs (pr(Jt<iplanctas). Finalmente,
S(Jlar dcJs clementcis (l'abela 1.2). ;\ nc\JulcJsa tinha f<Jr- estes varreram as respectivas órbitas, atrainel() para si,
ma c.le um elisccJ acl1atadcJ, en1 lenta rotaçãci. Ncis pela açãcJ gravitacicinal, tcicl<_J (l material sc'Jlic.lcJ que gi-
prit11círdicls ela cvc)ll1çãc1, cJcasià<) cm c.1ue a sua estrela rava nas prcJxi111ic.lac.les, c.lanc.lci cirigem ac.Js planetas.
central, o Sol, iniciava seL1s prcJcesscis interncJs ele fl1- 1·:m l1cira seja c.lesccinhecic.la a c.lL1raçãcJ dcJ prcicessci c.le
acresçãc) planetária, estima-se que, numa escala de tem- ccinhecimentcis cJbtielos pela meteorítica, que serão
. .
pci cósmica, ele fcii muitc) rápidci, pois a cristalizaçãci ,,1s tcis a seguir.
ele ccirpcis diferenciadcis, conforme será visto a seguir,
cicorrcu nci máximci 200 ciu 300 milhões de anos apc'is
eis prciccssos ele nuclecissíntese que ciriginaram a ne-
1.5 Meteoritos
bulcJsa scilar.
:\Ieteoritos sãci fragmentos de matéria s(Jlicla prci-
() processo de acresçãcJ planetária, extremamente ,·enicntes elo cspaçci. A imensa tnaiclria, L1e tamanhcl
complexci, nãci é totalmente ccinhecidci, ele tal mcielci ditninutci, é destruída e vcilatilizaela pelcJ atrite), pcir cJca-
que eis mcidclos nãcJ explicam aclequadamcnte tcJdas siàcJ ele seu ingresso na atmcJsfcra da Terra. ()s
as particularidades cibscrvaelas ncis planetas e satélites meteoros (estrelas cadentes) - estrias lumincJsas que
do Sistema Scilar. Independentemente dcJ modelei es- sulcam o céu e são cJbservadas cm nciites escuras e
colhiclcJ, parece 9L1c o cstágici inicial da fcirmaçãcJ sctn nLJ\'ens - sãci cJs cfeitcis visí,,eis ele sua chegacla.
planetária ccJrrespcinde à condensaçãci ela ne!Julcisa em /\penas eis mctecJritcJs maicircs ccinseguem atingir a
resfriamento, ccJtn cis primeircJs s(ilidos, minerais rc- superfície da Terra. ;\lguns cuja massa alcança clivcrsas
fratáricis aparecendo a uma temperatura da c)relcn1 de tcH1claelas preiduziram crateras de impactei que vez clu
1. 700 I<. (-) mecanismo para agregar as partícL1las, ciutra sãcl desccil1crtas. Pcir exemplo, um mcteciritci
possivelmente rclacicJnado ccim afinieladc e1uímica, ain- C<lln cerca de 150.000 t<Jnelaclas chclcciu-sc cclm a Terra
da é obscurc). Pcir ciutrci ladcJ, eis protciplanetas, ele l1á cerca de 5().000 ancJs, cavanclci ci lvfeteor C"rater
elimcnsõcs grandes e ccim apreciável campcl (1\rizcina, r:.Ll.1\.), uma depressão ccim 1.2()() metros
gravitacional, podem atrair e reter planctésimcls. Nci ele diâmetrcJ e 180 metrcis de prcifundidadc (Fig. 1.8).
citadcJ modelcJ de Safronov, cm cerca de 100 milhcJcs l; m impacto mcteclrítico aine{a mai<Jr, occJrridci em
de anos poderiam ter-se acumulaelo 97-98'1/,, dei ma- épcica ainda não determinada, prcieluziu uma cratera
terial que ccJnstitui hoje cJ planeta Terra. ccim cerca de 3.600 metros de diâmetrcJ nas prclximi-
daeles ela cidaele ele SãcJ Paulo, hcJje, porém, prccnchiela
As diferenças nas densidades dos planetas interneis
pcir sedimenteis (Cap.23).
(Tabela 1.3), decrescendo na ordem J\fercúrieJ-Terra-
Vênus-J\Iarte (e também Lua), sãci atribuíelas à () estuelci de algu1nas trajetórias, quando a cibscr-
prcigrcssão clci acrescimentcJ, visto que a ceJmpcJsiçãci vaçãci feii pcissível, inelicciu ccJmo prcivável região de
e1uímica da nebulosa original feJi uniforme e análciga à origem <lcJs meteciritcJs CJ anel de asteróides já rcfcri-
abundância seJlar <los elementos. elci e1ue se situa entre as órbitas de J\1artc e de Júpiter
(f'i,g. 1.7). J\nálises c1uímicas ele alguns mctC(Jritos su-
I,'inalmente, após os eventos rclacionaelcJs ccJm sua
gerem uma prcl,,eniência da Lua, e também de 1\1artc,
acresção, <JS planetas interncls passaram pcir um está-
arrancaclcis elas superfícies desses C(Jtpcis por grandes
gio de fusão, conelicicJnado pelo aumcnteJ ele .
impacteis.
temperatura ocorridcJ em seu intericir, cc)m o intenscJ
calor produzidci pelos isótopeis radioativos existentes
em quantidade relevante, nas épcicas mais antigas da
evolução planetária. Com seu n1aterial cm grande parte
no cstadeJ liquidei, cada planeta scifrcu difcrenciaçãcJ
química e seus elementos agregaram-se de accirdo ccJm
as afinidades químicas, resultane{ci num núcleci metáli-
co interno, constituídcJ essencialmente de Pc e Ni
'
envolto pcJr um espesso mantei de ccimpeisiçãci
silicática (Cap. 5). NcJ caso dos planetas externos, além
de ccintercm H e He, ao laelo de ciutros ccimpeJstcis
voláteis em suas atmcisferas exteriores, acredita-se que
tenham núcleos interiores sólidcJs, cm que preclcimi-
nam compostcJs silicáticos. TantcJ no caso elo cpisc)dicJ
inicial <la acresção planetária, como neste epis(ielio
pcJsterior de diferenciação ge<iquímica, sãci cruciais c)S
Fig. 1.8 Meteor Crater, Arizona, EUA. Fonte: NASA.
14 DECIFRANDO A TERRA

As amc)stras de meteoritc)S conhecidas e estudadas Dc)is aspecte)s da meteorítica são importantes para
pela meteorítica - o ramo da Ciência que estucla es- o entendimento <la evoluçãc) primitiva de) Sistema
ses cc)rpos - são da c)rdem de 1. 700. Pc)rém, alguns Sc)lar: a significação dos meteorite)s condríticos para o
milhares ele amostras adicie)nais estão sendo cc)ntinua- processo de acresção planetária e a significaçãc) dos
mente coletadc)S por expedições na Antártica. A busca metec)ritc)s diferenciade)s em relação à estrutura inter-
de meteorite)s é granclemente facilitada na calota gela- na dos planetas terrestres.
da, onde eles se ce)ncentram na superfície (juntamente ()s meteoritos de) tipo condrítico correspondem a
com C)utros resíduos sólidos), com o passar de) tem- cerca de 86% do total, em relação às quedas de fatc)
pe), pc)r ce)nta <la reduçãe) do volume das geleiras, e)l)servaclas, sendo que 81 °/ti correspe)ndem aos de) tipo
causada pela ação de) vento combinada cc)m a trajetó- orclinário, enquanto que os e)utros 5°/o sãe) e)s chama-
ria ascendente do fluxc) do gele) quando este ence)ntra dos cc)ndritos carbe)náceos (Tabela 1.4).
elevaçe;es tope)gráficas.
Cc)m exceção de alguns tipe)s de condritos
()s meteoritos subdiviclem-se em classes e carbonáceos, todeJs os demais tipe)s de condrite)s pos-
subclasses, de acorde) ce)m suas estruturas internas, suem côndrulos, pequenos glóbulos esféricc)s ou
compc)sições químicas e mineraló 6ricas (Tabela 1.4).

Tabela 1.4 Classificação simplificada dos meteoritos.

Características: Primitivos não diferenciados. Idade


entre 4 ,5 e 4 ,6 bilhões de anos. Abundância solar (cós-
· Ordin6rios {81%).
' '' '
mica) dos elementos pesados.

Possuem côndrulos, à exceção dos condritos carbonáceos


Condritos (86%)
tipo Cl.

Composição: Minerais silicáticos (olivinas e


Carbonáceos (5%) piroxênios) fases refratárias e material metálico (Fe e Ni).

Proveniência provável: Cinturão de asteróides.

Acondritos (9%)

Meteoritos Composição: Mistura de minerais silicáticos e material metálico (Fe + Ni).


ferro-pétreos
(siderólitos) Proveniência provável: Interior de corpos diferenciados do cinturão de asteróides.
{1%)

Meteoritos Composição: Mineral metálico (Fe + Ni).


Metálicos
(sideritos) (4%) Proveniência provável: Interior de corpos diferenciados do cinturão de asteróides.

...
CAPÍTULO 1 • O PLANETA TERRA E SUAS ORIGENS 15 """'
'·~,,
~

elipsc)idais, com diâmetrcis ncirmalmente C)s condritos orc.lináricis ccins1stem em aglomera-


submilimétriccis (0,5- 1mm), e constituídcis ele mine- çc'ics de côndrulos. Ncis interstícicis entre os côndrulos,
rais silicáticcis (Fig. 1.9), principalmente cili,·ina, aparecem materiais metáliccis, quase sempre ligas de
pircixênios ciu plagioclásios. F,stes minerais, que serãci ferrei e níquel, ou sulfetcis desses elementcis, fazendcJ
vistos no Cap. 2, são os mesmos que se encontram com que o ccinjunto tenha uma composição química
em certos tipcis de rcichas terrestres, denominaclas glcibal muito similar àquela preccinizada para a prc'i-
magmáticas, formadas pela cristalização de líquiclos pria nebulosa solar para quase tcJclcis eis elementcis,
silicáticcJs (magmas), originadcis nas prcifunclezas ela ccim exceção de H, He, e alguns cJutrcJs entre os mais
Terra. Pcir analcigia, os cêinelrulcis de, em ter-se fcir-
0
,•cJláteis. F,m conseqüência, tais meteciritcis ccindríticcJs
madci, ccJm grande prcibabilidade, pcir cristalizaçãci (e entre estes os condritos carbcJnáceos c.lcJ tipci C:1)
de pequenas gritas c.1uentes (temperatura da cirdem de sãci ccinsideraclos os corpos mais primitivos do Siste-
2.()00"C), que vagavam no espaço em grandes c1uanti- 111a Solar diretamente acessí,·eis para estudo científico.
dades, acJ longe) das c'irbitas planetárias, em amlJientes 1\ interpretação de sua origem é a de que eles são
virtualmente sem gravidade. fragmentos de corpcis parentais maicires, mais ciu
mencis hcimcigêneos cm composiçãcJ, que existiam
comcJ planetésim<JS na região elo espaço entre Marte e
Júpiter, que não chegaram a scJfrer diferenciação quí-
mica, permanecendo portanto sem transformações
itnpcJrtantes cm suas estruturas internas. A figura 1.1 O
ilustra a formação e evoluçãci primitiva elcJS corpos
parentais elos meteciritos.

A própria existência deis cêindrulcJs inelica que cJ


n1aterial formou-se durante o resfriamento e a cor-
respondente condensaçãci da nebulosa solar, portanto,
antes elos eventcis principais ele acresçãci planetária. l'v1ais
ainda, indica que houve um cstágici de alta temperatu-
ra, seguramente acima de 1. 700"C e prcJvavelmente
prc'iximcJ de 2.000ºC, pelo mencJs em toda a parte
interna do Sistema Solar, incluinelo o anel dos
asteróides. Ccinsielera-se que este evento de alta tem-
Fig. 1.9 Meteorito condrítico (Bar,:ell. Inglaterra). Fonte: IPR/
7-79. British Geological Survey@ NERC. AII rights reserved. peratura, cJcorrido numa fase precoce da evolução dos

Acresção j 1 Fragmentação j

Crosta

Manto

Fig. 1.1 O Esquema simplificado da


origem dos corpos parentais dos
meteoritos. Grandes impactos no
Núcleo
Acondritos espaço causaram a fragmentação

Acresção j Diferenciação j j Fragmentação 1


desses corpos parentais, originan-
do diferentes tipos de meteoritos.

UNIVERSIDADE POTIGUAR - G
'°:iSrerna Integrado de Bibholecas - ·
sistemas planetáricis, tenha sidc> e> rcspcinsávcl pela 11cr- a <Jccirrência c.lc fusãei interna. De certa fc>rtna, trata-se
ela c1cis elcmentcis 111ais \-c>látcis, e principalmente H e ele sistemas qt1ímiccis celmplementares cm relaçãci aci
Hc, pcir parte elci n1aterial Cjtte viria mais tarcle a C<Jns- "m<idcle> ccinc.lríticci".
tituir eis planetas interneis, seus satélites e os astercíides.
N ci âml1ito e-la cvciluçã<) clcis celrpcis parcntais e.los
()s cc>ndritc)S carlJc>náccc>s e-lei tipc> Cl ccintém mi- mcteciritos, até a sua fragmentaçãei final (Fig. 1.1 O), ei
nerais hielratadcJs e ccimpc>stos cirgânicc>s, fcirmaelcis cm prcicesso acrecionário inicial seria similar, e no casei e.lo
temperaturas rclativan1ente \Jaixas, e nãc> pcisstiem ccirpci parental nãc) atingir graneles dimensões, a stia
cêinelrulc>s. 1\lém clissci, apresentam tima ccirnp<lsiçãci fragmentaçãei prcic.luziria apenas ccindriteis. l)ara eis
e1uímica mt1itci prr'Jxima da al1t1ndância scilar elcis clc- c<irpcis maicJres, a energia dcJs impacteis, aliada acJ ca-
mentcis, à exceçãci el<is elcn1entcis gasciscis e elcis lcir prcieluzic-Jci pelas elcsintegraçc:ies de determinados
ccin1pc>stc>s mais \'<ilátcis. Assi111, este tipci é c<insielera- isc'itclp<)S radiciativos existentes no material, elevariam
elci ci mais primitivc> e mcncis diferenciae-lci elcis a temperatura e prcieluziriam a fusãci e.lei material, C<)m
prcieltttcis ccinclensaclcis ela matéria planetária inicial. St1as a cc>nscqüentc separaçãci das fases silicáticas em rela-
fciçc:ies partictilarcs sugerem e1uc set1s ccirpcis parcntais çãcJ às fases tnctálicas. ()s cc>rpcis parentais, tantci
fc>ra111 menos aqtieciclcis elci e1ue eis e1uc eleram cirigc111 elifcrenciaclcis comcJ nãc) c.liferenciados, colidiram en-
acis elc111ais C<Jnelritcis e pcirtantci estarian1 situacl<>s a tre si, fragmentandc>-se e prcicluzindci cibjetcis n1cncJres,
rnai<ircs c-listâ11cias elci Sei], na rcgiãci cJr\Jital entre i\Iar- ccitno cJs atuais asterc'>ielcs. :tviuitc,s elcis fragmentos re-
te e Júpiter. sultantes das inúmeras cc)lisc:ies acabariam cruzandci
( )s acondritos, siderólitos e sideritos (TalJela 1.4) C\-e11tualmentc ccim a órbita da Terra e seriam captu-
perfazen1 cerca ele 14'1/c, elas Cjlteelas rccupcraclas. 1\ rac.lcJs pclr ela, comei metecJritc)s, devido à atraçãcJ
gravi tacic>nal.
r•ig. 1.11 mc>stra a estrutura interna típica de tim sidcritcJ,
fcJrn1aela pele> intercrcscimentcJ de stias fases minerais () cstt1dci clc)S n1cteciritos permite cJ estabelecimen-
na épcica ela sua fcJrn1açãci, ai nela nci intericir ele J r1t'.1- tc>, ccim certa precisão, d.a croncilcJgia deis cventcis
clcci elci ccirpci parc11tal. ciccirridcis c.lurantc a evoluçãc> primitiva do Sistema
Scilar. l)eterminaçc:ies de idacle, cJbtic-las diretamente
n<JS e-li, crscis tipc)s ele meteoritcis, têm revelado uma
0

c1t1ase totalie-ladc ele valcires entre 4.600 e 4.400 mi-


lhc3cs ele ancJs, scne-lc> que há cleterminaçc:ies de granele
]Jrecisã<i em certcis metecJritcis rochciseis (pcirtanto cli-
ferenciaelcis) pcir vcJlta c.lc 4.560 milhões de anos. A
principal cxceçãcJ refere-se acJ grupcl d.e mctc<Jriteis
dei tipci SNC: (Sherg<)ttitcis-Nalzhlit<is-C:hassignitos),
cujas iclac-les c.lc cristalização sãci da ordem de 1.00()
n1ilhões c.le ancJs. J---,:stas idades mais jcivens e a natureza
e 111incralcigia basáltica (silicatcJs ferro-magnesianos
principalmente) destes meteoritcJs apcliam sua prcJvc-
niência ele Nfarte.
Fig. 1.11 Siderito de Coopertown, EUA. Face polido mos-
C:cim \Jase na idade e!cJs metecJrttcJs eliferenciados
trando o estruturo típico de Widmonsti.itten, produzido pelo
pcir vcilta ele 4.560 milhc:ics ele anos, evie-lenciou-se que
intercrescimento de lamelas de dois minerais diferentes, am-
bos constituídos de Fe e Ni. Siderito de Coopertown, EUA. nae1uela épcica já tinha ciccirriclc) acúmulci ele material
Fonte: IPR/7-79. British Geologicol Survey 0l NERC. Ali rights c111 ccirJJCJS parentais ccim elimcnsão stificiente para
reserved. c11scjar difcrcnciaçãcJ gecJqt1Í111ica. (~cJ111cJ corc>lári<i, eis
pla11etas terrestres tam\Jém devem ter sidei formac.los
F~sscs meteciritc>s 11ão-ccindríticcis ccirrespcindcm a
ele accirc.lc) C<Jm este crc>ncJgran1a. Segundei <J moc.lelo
eliversas categc,rias de siste111as quín1iccJs djfcrc11tes,
já 111encio11ado de Safrcineiv, a acumulaçãei de 97-98%
fcirmaclcis cn1 prc>ccsscis 111aic1rcs ele elifcrcnciaçãci
eh> 111aterial dei 11la11eta Terra teria cJcorridcJ cn1 cerca
gecie1uímica, nci i11tcricir ele cclrpcls parcntais 111aÍ<Jrcs
ele 100 milhões de anos. :tv1ais ainda, a existência das
do e1ue aqt1clcs e1ue eleram <Jrigcm acJs ccindrit<Js e que
assim chamac.las "radicJatividaclcs extintas" permite
ati11gira111 dirr1cnsc'Jes su11cricJres ac>s lin1ites crític<is 11ara
ccJlcicar lllll lir11ite ele idade para aqt1eles cvc11t<1s ele
leossíntese que 1)rc)duziram, n() interior de un1a n1e impulso e levcJu ao estabelccimcntc> da planetologia
supemo,·a que explodiu, a grande parte dos elemen- comparada, um ramc) recente das ciências geológicas
tos d<) Sisten1a S<Jlar. Ra(lÍcJatividades extintas ql1c l1t1sca eluciciar cc)ndiçi>es e processcls que ocorre-
reterem-se a certos isótc)pcls, con1c) e) 12"Xe, gue se ram e111 determinad<JS pcrícJdcis da história da Terra,
forma a partir da c.lesintcgraçào dcJ iscJtc)po radic>ati- pc>r n1cic> das c>bservações ncis planetas e satélites 9t1e
! \·o 2 ·1, de meia-vida curta (Cap. 15), da <Jrde1n ele 12 são ncissos vizi11hos.
mill1ões de anos. 1-i.stc isótcipo forn1ac.lo no interior da
Para a Terra, assi1n comcJ para j\Iercúrio, Vênus e
estrela, fcJi la11çadc1 no espaçc> e produziu Xe até cJ seu
;\;farte, a existência de u1n núcle<J clenso fc>i demons-
desaparecimento, nas primeiras duas <>u três centenas
tracla há n1uito tempci, em virtude dos dadcJs
de mill1ões de anos a partir dcJ eventcJ de sua fcJrma-
cibscrvadcis scll)re seus rncJmentos ele inércia, IJem
càcJ. () fato de 127Xc em excesso ter sido enccintrado e
com<J as cleterminaçi'>cs, pela .Astronomia, de suas
medido en1 n1uitc1s 1netcoritos indica qµe o isót<lpo
ciensiL1adcs tnédias. (:tJm<) os planetas telúricos tive-
127 elo Ic>dc> esteve presente no sistema durante os
ram e\'<>luçà<1 sirnilar à dos corpos parentais elos
processeis ele acresçàci e diferenciação. A meclida da
n1etcc>ritc)s difercnciadtJs, pcJde1uos concluir que eles
<Juanticiade ele xenc'inio fc1rmac.icJ em excesso permi-
tên1 11m núcle<J 1netálicc), análcJgo cm composição acJS
tiu fixar u111 li1nitc, ela c>rdem de 2()() milhfies ele anos,
siclerittJS, e un1 mante> silicáticci, a11álcigci em ccJn1p<lSÍ·
para <> prcJcessc> ele nuclec>ssíntese gue fcJrmou a gra11-
çàcJ a cert(JS ac<lndritos. Nci case> da "ferra, a separação
de maiclria dt)S elementos que hoje constituem cJ S<ll e
er1tre esses delis sistemas quin1icamcntc muitc> diferen-
seltS C<)rp<>S planetárÍ<)S. 1":stes, p<lr sua vez, clescen-
tes é caracterizacla por uma clara c.lesccJntinuidadc nas
c.iem da ex\Jlclsà(l cie uma supcrn<lva <>C<Jrrida por ,T<ilta
proprieclacles sísmicas, sitt1ada a uma proft111didade
de 4.8()() míll1õcs de anf>S atrás.
aprcJxi1nada de 2.885 krn (Cap. 4).
1\s 1uissc1es 1\pclll<> e T,una efetuaram valicJsas cJbser-
1.6 Planetologia Comparada vaçr'íes na f ,ua e coletaram mais Lle 38() qttilcis de a111ostras
(~<Jm <l advcnt<> da era espacial, a partir do fi11al lunares (Fig. 1.12). De> 1ncsmcJ mcJdci, T\1erct'.1ricJ fcii estu-
clcis anc>s 5(), 1nais de 8() cspaçcJna\'es n()tte-ameríca- cladcJ pelas sc>11das espaciais l\iariner; \'ént1s pelas S()ndas
r1a s e da ex-U nià<l S()Viética efeti.1aram missões Venera e l\lagellan, e o planeta 1\1arte pelas scindas 1\1(1/J,
explc)rat('irías, trazc11dci infc)rmações cl<is planetas e 1\1ariner, Vicking, l\lars l)athfincler, e l\fars Global
outrcls cil)jetr>s <l<> Sistema Solar ele uma n1aneira sem Survcy(Jt. 1\s s1>nclas Pioneer e \ 1c)yager feiram lançadas
precedentes. i\ssin1, o estud<J ct<)S planetas teve enor- !Jara c)l,serv'ações à <.-listáncia c.lcJs c!Ív'erscJs plane1:t1.s e sa-

Fig. 1.12 Astronauta do missão Apollo 17, examinando uma grande rocha lunar nos proximidades do sítio de pouso do nove
espacial, em dezembro de 1972. Fonte: NASA.
télites externos, tendo sido pre)duzidas fotografias e ima- .-\o mesmo tempo, a superfície terrestre recebe
gens de enorme valor científico. Outra iniciativa estratégica energia d() Sol, através da radiaçãc) S()lar incidente,
é a missão Gaiiieo, um pr()grama científic() d()S mais am- que produz os movimentos na atmosfera e nos occ-
bici()Se)s, em que a nave espacial, lançada em 1989, chegou anc)s d() planeta. Estas últimas atividades sãc) as que
até J úpitcr cm 1995, e desde então está realizando um provocam profundas transf()rmações na superfície
tour fantástico daquele planeta e de seus satélites princi- da Terra, modificando-a continuamente. Justificam
pais, destacandc) uma missão suicida de uma de suas assim o fato de que quaisquer feições primitivas de
sc)ndas, que mergulhou na atmosfera de Júpiter, colhen- sua superfície, como pc)r exemplo crateras de im-
do dados precic)S()S S()bre sua C()nstituiçãc) e sua dinâmica. pacto meteorítico, tenham sido fortemente
()bscurecidas ou totalmente apagadas ao longo da
Resumiremc)S a seguir algumas características dos pla-
sua hist(Íria.
netas e dc)S principais satélites do Sistema Solar, com
ênfase nc)s que têm especial importância para a elucidação A laua, () satélite ela Terra, apresenta 1,25(¾1 da
de eleterminados ambientes físico-químice)s e pr(iceSS(JS massa do planeta a que se relaciona, sendo neste
evolutiv()S relevantes para a hist()ria de) n()SS() planeta. particular um dos maic)res satélites do Sistema Sc)-
lar. Tem um diâmetrcJ de 3.480 km e densidade de
1.6.1 Planetas internos 3,3 g/ cm', portante) mui te) men()r d() que a da Ter-
ra. N ã() detém atmosfera.
Terra - C) terceiro planeta do Sistema Solar apresenta
massa aproximada de 6x10 2'Jg e densidade de 5,52 As feições geol.'igicas maiores ela Lua sãc) visí-
g/ cm3. C) raie) equatorial terrestre é de 6.378,2 km e o seu veis a olho nu (Fig. 1.13). Trata-se de áreas claras
vc)lume 1,083 x 1()12km3. r-,:mbcJra tenha perdidc) seus ele- que circundam áreas mais escuras de cc)ntc)rnc) mais
mentos voláteis na fase de acresção de) Sistema Scilar, a ou menos circular, conhecidas come) mares
Terra apresenta uma atmosfera secundária, formada por ("maria"). As informações obtidas nas missões es-
emanações gasosas durante toda a história do planeta, e paciais à Lua indicaram que as primeiras sãci regiões
cc)nstituída principalmente por nitrogênio, oxigênio e de terras altas (h~ghlands), de relevo irregular, e apre-
argê)nic). A temperatura de sua superfície é suficientemente sentando grande quanticlaelc de crateras de impacto,
baixa para pertnitir a existência de água líquida, bem cc)mc) enquanto que as segundas são vastas planícies, cc)m
de vapc)r ele água na atmosfera, responsável pelo efeito muitcJ menor quantidade ele crateras.
estufa regulador ela temperatura, que permite a existência
da biosfera. IJor causa dos envoltórios fluidos que a reco-
brem, atmosfera e hidrosfera, a Terra quando vista do
espaço assume ce)k)raçãc) azulada, cc)nf()rme simbc)lizadc)
pela fotomontagem introdutória deste capítulo. ,E-,:sta vi-
sã() ma!-,>n.Ífica fc)i relatada por Yuri Gagarin, () primeir()
astrc)nauta a participar de uma missão aeroespacial.

A característica principal do planeta Terra é seu con-


junto de condições únicas e extraordinárias que favorecem
a existência e a estabilidade de muitas formas de vida,
sendcJ que evidências de vida bacteriana abundante fo-
ram já encontradas em rochas com idade de 3.500
milhões e-le anos.

A Terra possui importantes fontes de calor em seu


interior, que fornecem energia para as atividades de
sua dinâmica interna e condicionam a formação de
magmas e as demais manifestações da assim chamada
tectônica global (Cap. 6). Este processo conjuga-se ac)s
mc)viment()S de grandes placas rígidas que constituem Fig. 1.13 Principais feições observáveis no superfície lunar o
a litosfera, a capa mais externa do planeta, que pc)r sua partir do Terra, destocondo•se os planícies, os mores (áreas
,·ez situa-se em todo o glo!Jo acima de uma camada escuros) e os terras altos de relevo irregular com grande quan-
tidade de crateras. Fonte: Observatório Lick, NASA.
mais plástica, a astenc)sfera.
CAPÍTULO 1 • O PLANETA TERRA E SUAS ORIGENS · ::

As amostras de material lunar cc)letadas pelas mis-


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sões Apollo permitiram esclarecer que nas terras altas ,, { . .~1
,
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predc)minam rc)chas claras, pouco comuns na Terra e


denominadas anortositos, constituídas essencialmente de
plagioclásios (silicatos de Na e Ca) que são por sua \"ez
muito comuns na Terra. Determinac('":ies
., de idade cJbti-
das nestas rochas mostraram-se sempre acima de 4.000
milhões de anos. Alguns valores de ie-lade resultaram pró-
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ximos de 4.600 milhc3es de anos, da mesma cJrdem elas .

idades obtidas cm meteoritos. Estas idades indicam c1ue ..,'


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os materiais lunares foram também f<JrmadcJs ncJs • ,- ,
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primórdios da evolução do Sistema Solar. ·" ·,t,, .,

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Por sua vez, as amostras coletadas das regi<'"ies l1ai- j . .t t-.,,- _.,.,, < • ,~·

xas (nos maria) revelaram uma C<lmpclsição basáltica,


' l!t.') .! ..'óí '
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material de ()rigem \,ulcânica muitc) cc)mum na Terra. • 1 • . * ( ~ ):,;,~; -~, (' i) _
Suas idades resultaram em geral mais ncJvas elo que as Fig. 1.14 Imagem do More lmbrium, uma cratera de impacto
das r()Chas an()rt()SÍticas, mas de qualquer forma mui- gigantesco, preenchido por lavo, com cerco de 1.000 km de
to antigas, da orelem de 3.800 milhões de ancJs. As diâmetro. Notar o grande número de crateras menores e mais

datações mais jovens obtielas nas rcJchas basálticas lu- jovens também presentes. Fonte: NASA.

nares foram da ordem ele 3.200


milhões de anos.
a I Minuto após contato b I O M1 nutos após contato e I Hora

A análise das estruturas de im- " ' '

CORPO
pacto visíveis na superfície da I,ua IMPACTAIITE . •1;';
demonstra que o satélite foi sub-
metido a um violento bcJmbardeio
p()r planetésim()S e astercJides de
TERRA
todos os tamanhos, desde sua fase
embrionária. As crateras maiores 1-lúcleo r~ucleo impactor

têm diâmetros superiores a 1.000


Manto do
km (como por exemplo os uen()- Manto corpo impactante

minados Mare Imhrium, Mare


1ranquilitatis, ou a Bacia Oriental, nc) d 2,3 Horas e 4 Horas f 24 Horas
lado distante da Lua), mas existem
muitas outras, de todos os tama-
nhos (Fig. 1.14).
·. • ._-_._ Núcleo
A origem do sistema Terra-J,ua
é assunto ainda controvertido, tendo
•,
·.,,/··
.

..
:- _·
.. ..
impactar

em vista as muitas semelhanças e di-


ferenças de nosso satélite em relação
à Terra. () mc)delc) mais aceito atual- Manto
l'·lúcleo do impactante
mente (Fig. 1.15) postula um impacto corpo impctante

de um corpo de dimensões pouco


maiores que Marte, durante CJS está- Fig.1.15 Sistema Terra-Lua - Simulação de computador sobre o origem do Lua, conside-
gios finais da acresção planetária, rando o impacto oblíquo de um objeto com cerco de O, 14 do mosso terrestre, com
velocidade de 5 km/s. Ambos os corpos já estariam diferenciados em núcleo metálico e
ocasião em que a Terra já tinha prati-
monto silicático. Logo após o colisão, o corpo impactante e porte do monto terres''e
camente seu tamanho atual, e já estava
foram despedaçados, e muitos compostos voláteis foram vaporizados. Em seguido, g·c--
diferenciada, com núcleo ·metálico e
de porte do monto do objeto que colidiu teria sido ejetado poro uma situação o--:i 'e, e
manto silicático. coalesceria rapidamente formando uma Lua parcial ou totalmente fundido. G·o~,oe po,ne
do material do núcleo do corpo impactante, mais pesado, teria sido incoroo,ooo e Te, ,u.
20 D ECI FRA N D O A TERRA

Mercúrio - é () planeta mais interno dei Sistema S(J- ral-lar de sua superfície (I<'ig. 1.17). Algumas dessas mis-
lar. Sua massa é apenas 5,5% da Terra, mas sua densidade sões chegaram a pousar neJ planeta, e as análises o!Jtidas
é apenas poucc) inferior à do neisso planeta. Seu nt.\- revelaram reichas com compeisiçãcJ basáltica similar à
cleo metálic(J é, portanto, prciporcionalmente muttcJ ele rochas terrestres.
male)r que o terrestre.

Mercúrio tornou-se geol(Jgicamente inativo lcJgeJ


após ter sido formado. Praticamente não tem atmos-
fera, e por causa dissei sua superfície não S()freu grandes
transformações, sendo p()rtant(J muito antiga. ()!Jser-
vações l1a sonda lviariner 1O revelaram e1ue a sua
superfície é áriela e preserva granl-le quantielal-le ele cra-
teras de impacteJ resultantes eleJ boml-Jardeio CJCcJrrideJ
nos primórdie)s da evolução dei Sistema S(Jlar (Fig.
1.16), ce)mO na laua.
Vênus - é o planeta que apresenta n1at(Jr seme-
lhança com a Terra, em tamanhei, em peso, na sua
herança de elementos químiceis, e sua massa equivale a
81,5'1/o da massa desta. Sua aparência externa, cJl1ser-
vada aci telesce'ipio, é obscurecicla p(ir nu\'ens,
refletindei a densa atmosfera, que esc(inde suas feiçé'ics
tope)gráficas. Contudei, diversas sondas, a exemplei das
Fig. 1.17 Feições morfológicas da superfície de Vênus em
S(Jviéticas Venera 9 e 10, ou a norte-americana i\lagellan,
mosaico de radar obtido pela missão Magellan. Observares-
nas décadas de 70 e 80, lograram cibtcr imagens ele truturas circulares gigantes e a faixa mais clara de planaltos
elevados. Fonte: NASA/JPL.

O relevo dei planeta é mcneis variado que (J da


Terra. São observaclas cindulacõcs
, mcJderadas da su-
perfície em cerca de 60'1/ri da área, terras baixas cm
cerca de 30l1/o, e alguns planaltos elevaelos (ferra Ishtar
e 1erra Aphrodite), que f(iram interpretados ccimo
massas rocheisas "continentais". Feicões
.. similares a vul-
cões e estruturas circulares gigantes (Fig. 1.17 parecielas
ccJm grandes estruturas vulcânicas de colapsei existen-
tes na Terra foram observadas. Além disso, f(Jram
identificael()S sistemas simétricos de elevações lineares
de grande extcnsãe), interpretados como análc)gos aos
sistemas de dorsais existentes nos cicean()S terrestres
(Cap. 17), e taml1ém elevações t(Jpográficas na Ierra
Ishtar interpretadas ccJmo cadeias mcintanheisas pro-
duzidas pcir colisão de massas continentais. Grandes
crateras de impacto feiram identificadas, sugerindci que
certas áreas de) planeta são gcol(igicamente antigas.

1\ atmeisfcra lle Vênus, secunelária ceim<J a da Ter-


ra, é fc)rmada basicamente pcir CC) 2 e quantidades
menores de N, SC) 2 e outros gases. 1\ pressãcJ atmcis-
férica na superfície de) planeta é de cerca de 92 bars, e
a encJrme quantidade de gás carbônico existente gera
Fig. 1.16 Superfície árida de Mercúrio, mostrando grande um cfeitcJ estufa gigantescci, elevando a temperatura
quantidade de crateras de impacto de tamanhos diversos. da superfície a quase SO(r•C.
Fonte: NASA.
,. ~~
CAPÍTULO 1• O PLANETA TERRA E SUAS ORIGENS 21 1
·1.
'.;J.?

l_}<)r causa elas sin1ilariclaeles ele tarnanl1ci e C<Jt1111<i- \farte ccinté111 u111a atmeisfera tênue (pressãei at-
siçã<), Vênus e-le,-eria ter regi111c térmice> similar acJ ela n1c>s férica na st111erfícic ele apenas 0,007 bar),
Terra, sugcrind<>, p<>rtantci, a existência ele un1a ccinsistinelcJ principalme11te ele C:( ),, além de quanti-
estruturação interna. EntretantcJ, evidências diretas ele elades eliminL1tas de 11itrcJgêniei e argêinie>. ( )s preJcesseis
uma tectêinica gleil1al elei tipcl terrestre nãci estãei ccH11- gee>le'igicc>s su11erficiais elei planeta sãc> eleJminaeleis pela
provadas. 1\0 mcsmcJ te111pei, a ele\·aela temperatura acàc> cl<i vente>, tcnelci sielei eJIJser\·aelcis eneJrmes cam-
superficial do planeta sugere que a sua liteisfcra seria pcis ele elunas, cci11stantemente tTI<>dificadc>s por
meneis espessa e 111ais ílutLtante, i111pcdind<> <Ju dificul- tc111pestadcs ele areia. ;1larte ta111lJén1 apresenta caleJ-
tandci prcJcesscJs de subclucçãei para ci n1anto intcrÍ<>r tas p<ilares e1ue inclue111 gelei, alén1 ele gelei secei.
dei planeta ceimei eis e1ue eiccirrc111 na Terra (C:ap. 6).
1 Lí t1n1a grane-lc clifcrcnça entre cJs dc>is l1cn1isféri-
Além disse>, a grande e1uantidaele ele vulcões apcintaria
eis 111arcia11eis, senelci ei merielieJnal ele relevei mais
à existência de regic)es ccim elevaela prcJduçãei ele ca-
ele, aclci e mais acicle11tadcJ, enquantci que ci setentricJ-
lcir (hot spots) (C~aps. 6 e 17) nei manteJ ele \Tênus, as
nal é feirmaelcJ peir u111a extensa planície pcJ11tilhada por
quais peieleriam refletir ei prcidutci final de Ltma elinâ-
cncirn1cs ,·ulcc'ics, entre eis e1uais e> 1\IcJntc ()limpus, ccJrrl
mica ele dissipaçãei SL1pcrficial clci caleir internei ele>
26 kn1 ele alttira sc>IJrc a planície circundante (Fig. 1.19).
planeta.
Este é eJ 111aicir ,-ulcã<J C<>nhecicl<> deJ Sistema Seilar. ()
Marte - () quartel planeta dei Sistema SeJlar é pc- hc111isféricJ sul é repleto de crateras de impact<J, e <J
quene>, ceim massa teital de cerca de 11 cy., elaqucla ela panora111a asscmell1a-sc às terras altas lunares, de mcido
Terra. t\s numercisas seinelas cs11aciais, n1as em especi- e1uc a superfície el<> hemisférici sul eleve ser
al as missões recentes elas seinelas Pathfine-ler e c;leJl>al analcigamcntc 111uitcJ velha. J)cJr <)utrcJ lad(), a st1perfí-
Surveyor, trouxeran1 eneirme quantidade de dadeis tnLÚtei cie elei hemisfériei neirte peJssui nú111erei mcncir de
valiosos acerca do "planeta vermelhc/' (Fig. 1.18). crateras, e sua superfície dc\-c ser relati\'amente mais
j<JYem, e111bcJra ainda antiga se ceimparada ceim à ele
\' ê11t1s <Ju ela "ferra. ()s eclifícicis ,-ulcâniccJs e seus eler-
ra111es de la,·a praticamente nãci pclssucm crateras,
devendo ser gccJlogicamcnte mais j<ivens. Quant<> à
ccJ111peisiçãci c1uímica elas lavas marcianas, elevem pre-
cleJminar \'ariedadcs IJasálticas ciu \-aricdadcs derivadas
de magmas l1asálticcJs, ccJn1e> fcii re,,eladcJ pelas análi-
ses efetuaelas elurante a n1issã<J Pathfincler e também
aeJtielas realizadas ncis meteciritcis SN e:, já mencicina-
clci s, cujas ccJ111posiçe)es químicas mostram-se
sc111clhantes às dos basaltos terrestres.

1\ litcJsfera de .i\farte deve ser muitei espessa, neJ


mínim<> de 150 a 200 km, pc>r ser capaz de supeirtar ei
crescimento ele estruturas \'ulcânicas tãcJ altas comei a
elci .i\íeJnte ()!impus, numa posiçãci fixa. l)rovavelmente
eJ planeta teve nos seus prim(irelieis uma eveiluçãeJ ge-
eJlé>gica interna impeirtante, e1ue deve ter cessadcJ há
muito tempo, visto que, pelo seu pequencJ tamanhci,
muito do calor interno produzidcJ teria escapadcJ di-
retamente para o espaçei. Interpretações com base em
determinações de iclade dos meteoritos SNC suge-
Fig. 1.18 Marte visto do espaço. Destacam-se 3 vulcões como
rem que as rochas vulcânicas de I\Iarte teriam cerca de
manchas escuras circulares no setor ocidental, bem como uma
1.000 milhe'ies de aneJs, ape'is ei quê teria terminadeJ a
estrutura enorme que cruza o planeta em sua porção equatori-
al. Trata-se de um cânion com 4.500 km de extensão, fase ele vulcanismo ativo nci planeta. Presentemente,
denominado Valles Marineris, semelhante aos vales de afun- nãci se obscr,,am evidências de ati\,iclades geoléJgicas
damento terrestres e possivelmente formado por processos cm I\Iarte, com as feições inclicanelci que o planeta
geológicos internos de Marte. Fonte: NASA/JPL. prcJvavelmente nL1nca te,,e uma tectônica glcilJal pare-
cicla ccim a 9ue se desen\'(Jlve até hcijc na l'erra. Tcida-
via, feições morfcJlcígicas lineares típicas de rv1arte, tais
comei o já menci(Jnadci L afies Marinens (Fig. 1.18), sãc)
semelhantes a certas estruturas terrestres de mesma

magnitude, ccJmo cJs vales de afundament(J ela Africa
oriental, ou a estrutura geológica 9ue ccindicionciu o
aparecimentcJ do _;\;Iar Vermelho.

F'.m vários lugares, a superfície de Marte aparece


ccimci dissecada e moclificada pcir uma combinaçãci
de ercisão a9uosa e movimentos de massa (Pig. 1.20).
Tenclo em vista 9ue a superfície é muito fria, com tem-
peraturas ncirmalmente abaixo de (Y'C, a água scJmente
pcJderia atuar ccJmo agente ercisivo em episc'idicis
"9uentes" de curta duraçãci, comei em deccirrência de Fig. 1.20 A superfície de Marte tal como foi vista pela sonda
Pathfinder, na região de seu pouso, na confluência dos vales
eventuais impactcJs meteciríticc1s. 1~m tais casc)s cicor-
Ares e Tiu. Trata-se de uma enorme planície de inundação, for-
reria a liquefaçã(J do gelcJ que deve existir de mcJc!cJ
mada numa época em que ocorreram grandes movimentos de
permanente na sul1-superfície de rviarte, em materiais material transportado em meio aquoso.Fonte: NASA.
pcJroscis cJu fraturadcis, em situação similar à c!cJs ter-
renos ccJngeladcis que existem na Terra nas regiões de
altas latitudes. pequeno grupo de meteoritos SNC que se considera
prcJveniente de Marte. Tais evidências, ainda hoje de-
Descle as primeiras observaçc3es de Marte, passan- lJatidas pela Ciência, ccJnsistem de hidrocarbonetos
clo pelcJs relatos de astrôncimos dei século XVIII, ccimo arcJmáticos encontrados em superfícies frescas de fra-
o italiancJ Schiaparelli e (J norte-americanci C. Lowell, turas dcJ meteoritci e formações glcibulares carbonáticas
9t1e clescreveram eis famciscJs "canais", sempre hciuve 9ue se assemelham, em textura e dimensão, a alguns
especulações scJl1re pclssíveis hal1itantes, cJu scJbre a precipitados carl1onáticos terrestres formados pcir ação
existência de formas de vida na9uele planeta. F:m 1996 bacteriana.
um _l,>rupo ele pesquisadores da N1\S,>\ relat(Ju ter en-
ccJntradcJ pcJssíveis evidências de atividade biogênica
1.6.2 Planetas externos: os gigantes gasosos
ncJ shergottitci AI "H84001, um dos constituintes dcJ
Júpiter, Saturno, UrancJ e Netuno são muitci clife-
rentes dos planetas interneis descritos até aqui e
correspondem a encJrmes esferas de gás comprimi-
do, de baixa densidade. Júpiter e Saturno são gigantes
gascJsos formados principalmente pcir I-I e He, en-
quanto que Urano e Netun(J possuem cerca de 10-20c1/o
desses elementos, mas suas massas compreendem tam-
bém sólidos, incluindo gelei e materiais rcJchosos. De
qualquer forma, nos quatro planetas é possível obser-
var diretamente apenas as partes mais externas de suas
atmosferas e especular a respeito da nature:-'.a e das
ccJndiç(3es de seus interiores, onde as pressc3es exis-
tentes são tão grandes que desconhecemos a física que
nelas pre\-alece.

I\ missãci Voyager 2 foi a que trouxe maior número


de infcJrmaçc'ies e ma6iníficas visões de seu "grande tour'
pelei Sistema Scilar na década de 80. EntretantcJ, a missão
Fig. 1.19 Monte Olimpus, o maior vulcão conhecido do Sis- GalilecJ, iniciacla em 1989 e 9ue chegciu a Júpiter em 199 5,
tema Solar, cujo tamanho é •rês vezes o do monte Everest. cibte\-e a maicJr 9uantidade de infcJrmaçc'ies sobre este
Fonte: NASA/JPL. planeta gigante, seus anéis e seus satélites.
~~"!\

CAPÍTULO 1• O PLANETA TERRA E SUAS ORIGENS 23 ·. t .


~'

Júpiter (Fig. 1.21 ), pelcJ seu tamanhci clesceJn1unal,


peJde ser consieleraelci un1a estrela que fall1eJu. J)cissi-
velmente, neis primc'irelieis de sua e\•eJluçàeJ, ele lirilhcJu
tal ccimcJ uma estrela, pcirém ccim lumincisielac1e mui-
tei fraca. Se Júpiter tivesse massa muitei maicJr, ci
Sistema ScJlar teria sidei uma estrela dupla, ccJmcJ há
muitas no Universci, e prcivavelmente a Terra e cJutrcJs
planetas nàeJ teriam sido fcJrmadeJs. Júpiter pelssui al-
guns anéis e diverscJs satélites, teJe!eis diferentes e11tre si
e fcJrmados pclr material sc'iliclei. ()s maieJres, dc11<J-
minadeis satélites galileancJs, sàei l~ur<Jpa, c;anin1edcs,
Callistci e lo (Fig. 1.21). Este último satélite tem tempe-
ratura interna extremamente alta, ele tal mcJdcJ que prcidu;,,,
eeintinuamente vieilentas e gigantescas erupçc"'Ses vulcâni-
cas em sua superfície (J,'ig. 1.22). Trata-se eleJ mais intensei
vulcanismcJ eleJ ncisso Sistema Solar.

A energia interna de .Júpiter é ainda muitci elevaela,


preivavelmente suficiente para manter eJ material ele
seu interior inteiramente líquidei. (~onsielera-se e1ue as Fig. 1.21 Mosaico mostrando Júpiter e quatro de seus satéli-
camadas externas do planeta ccintenham essencialmen- tes (Ganymede, Callisto, Europa e lo), como observado pela
te H mcilecular, II 2 , enquantei que nas internas nave Voyager l. Fonte: NASA.
predeimina H metálico, liquide). .Júpiter teria ainela L1m
IJeJuccJ se ccJnhece acerca elcJ interieJr ele SaturneJ
núcleei relativamente pequencJ de material funelielci, pels-
(l;ig. 1.23), que eleve ceimpartilhar tnuitas elas preiprie-
sivelmente silicatos.
elaeles ele Júpiter. 1\inela mencJs se ccJnhece scJlire lJrancJ
e Netunci, que pelas suas elensidacles 111éelias clevetn
ter núcleeJs ele material elenscJ. ( )s tncJdelcJs flfclpcistcJs
para suas estruturas internas !JreceJnizam um núclecJ
reich<Jsei, ceibertcJ peir um "mantei" ele água líquida,
n1etanci, amônia e cJutrcis ceimpc>stcJs, feirtnanel<J um
cJceancJ ceJm milhares de quil{Jmetrcis ele espessura. I•:ste

,_:: "'a\:,<" ~
oceanei seria reccibertc> pelr uma atmcJsfera muitcJ clensa
feJrmada pcir I I e }-! e.

1.6.3 Cinturão de asteróides

1-.:ntre as c'irlJitas de Jviarte e Júpiter cJccirre <J cinturàci


ele asteróides, ccJnstituídcJ ele incc>ntá\·cís celrpcls pla-
netáricis de tamanheJs eli\·erseis. (~<Jn1eJ f<Ji n1e11cicJnae!eJ
anterieirn1entc, a grande maicJrÍa dos meteeJri t< JS que
continuamente caen1 na superfície ela Terra prcJvém
,

desse cinruràeJ. f~ prcJ\-á\·el que eis astere'iides nàeJ pu-


deram se reunir num únícci planeta, na épeica de
acresçào, de\·ideJ às perturbaçé'ies e-le natureza
gra\·itacicJnal causadas pela proximidade de Jí1piter.

() n1aior asteróide ceinhecido é C:eres com diâme-


treJ ele 9--+ km. _\lém deste, ccJnhecem-se mais seis
Fig. 1.22 lo, um dos satélites de Júpiter, cuja superfície é coberta astere'>ides com diámetreJS superieJres a 30() ktn, cerca
de vulcões ativos (por exemplo na parte centro sul do satélite), que de duzentos C<Jn1 diâmetro superieir a 100 km, pcJr
expelem enxofre líquido e compostos sulfurosos. Fonte: NASA. \"<Jlta de ')_l11u ccJm diâmctrcJ supericJr a 10 km, e as-
I
bitas dos cometas fc)ram perturbadas pela ação
gravitacic)nal das estrelas mais próximas, e agora
eles estariam oricntadc)s ac) acaso nas prc)ximida-
des elo plano principal do sistema. A nuvem de
Oort deve cc)nter possivelmente muitc)s bilhões de
cometas.
Cerca de 7 50 cometas são cc)nhecidos, como
+ .·
, ' ' '<,
pc)r exemplo o de l-Iaii€J, de período curto, cuja
,,
órbita o faz se aprc)ximar da Terra a cada 75- 76
anc)s, como C)CC)treu em 1986, ou o "'lchumacher-Le1!)!,
que cc)lidiu espetacularmente cc)m o planeta Júpiter
cm julhc) de 199 5. A constituição dos cometas in-
clui compostos voláteis congelados, tais como H 20,
H 2 CO, C, CC), C~0 2 , l-I, l1H, CH, O, S, NH, NH 2 ,
HC:N, N 2 , e muitc)s c)utros, inclusive metais como
Na, !(, Al, 1'1g, Si, Cr, Mn, Fe etc. Quando cometas
são traziclc)s para pertc) da c)rbita da Terra, seus gases
sãc) vaporizadc)s e ionizados pela radiação solar, e
C) conjunto toma a forma típica de um núclec) (coma)

Fig. 1.23 Mosaico mostrando Saturno e seus satélites Dione, e uma cauda apc)ntando para o lado opc)sto do
Rhea e Tethys. Os sete anéis deste planeta são formados essen- Sol.
cialmente de gelo e poeira, em partículas e fragmentos pequenos.
Fonte: NASN.

sim por cliante. Cerca de 75% desses corpc)s consis-


tem de silicatc)s de Fe e 1'1g, material similar ac) dos
meteoritos condríticos. Cerca de 15% apresentam-se
como misturas de material silicáticc) e material metáli-
co (Fe-Ni), podendo ser análc)gc)s aos siclerólitos, e
cerca de 5% parecem ser tc)talmente metálicos, asse-
melhandc)-se aos sideritos. Os 5% restantes pc)dem
representar C)utros tipos de meteoritc)s. A massa total
dos asteróides conhecidos correspc)nde a cerca de 2°/ci
da massa da I,ua.

1.6.4 Cometas

Cometas são constituídos predominantemente


por material gasoso (Fig. 1.24), que representa a
matéria primordial da ncbulc)sa solar. Acredita-se
que durante o processo de acresção planetária, na
fase de formação de planetésimos, os cometas tam-
bém foram formados numa região muito além do
anel planetário mais externe). Tais corpos, de di-
mensões variáveis (da ordem de 1 km de diâmctrc)
ou menos), não puderam originar protoplanetas,
por estarem muito afastados entre si. Durante os Fig. 1.24 Cometa de Hyakutake, descoberto em 30 de janei-
4,6 bilhões de anos de nosso Sistema Solar, as ór- ro de 1996. Fonte: NASA .

..
,rt:P·.

CAPÍTULO 1 • O PLANETA TERRA E SUAS ORIGENS 25 ',"'••


~,L.)

1. 7 Perspectivas do Estudo alta precisão foram instalados num balão atrnc)sférico


que se encc)ntra sobrevoanc-lo a 1\ntártica, com a fina-
do Universo
lidade de observar uma região do céu praticamente
A aventura extraterrestre da hwnanidade está apenas co- sem estrelas, buscandci captar a lumincJsidade da cha-
meçando, na busca de respc)stas para aquelas questc'ies macla radiação de fundo, resultante dcJ Bi;; BanJ;• As
fundamentais formuladas no inícici deste capítulci. J\ tc)dci imagens cibtidas por este telescópio permitiram ac)s
momento, novas observaçc)es e novos dados científicos sãci cie11tistas oferecer uma estimativa da densidade do
adicionados, e muitos deles causam surpresas inesperadas Universo, cc>nsiderada cc)nvincente por muitos
que modificam teorias e idéias estabelecidas. f~ desta fc)rma astrc)físicos, e com istci sugerir que tal clensic-lade esta-
que a Ciência progride. ria al)aixci do \"alor crítico comentado no item 1.1 deste
capítLilci. Embora a demc>nstraçãc) inequívoca ainda
Para o conhecimento do Sistema Solar, as últimas quatro
dependa de uma solução definitiva para ci mistério da
décadas do século XX foram cruciais. Contuclo, a e"''Plcira- matéria escura, a evidência do prc>jetcJ Boomerang apc)n-
çào dos planetas, satélites e demais objetos associados está taria para a hipcitese do Universo aberto, portanto
apenas começando. A sonda C-,a]i]eo ainda cc)ntinua estu- ccim uma expansãci ccJntínua para sempre. VciltamcJs
dando Júpiter, e são apenas do final de 1999 as imagens assim às nossas inquietudes metafísicas iniciais, com
fantásticas do satélite lo, com wn de seus vulcões expelindci uma possível respcista para o futuro elo UniverscJ. Mas
la\-a extremamente quente, a mais de 1 km de altura, numa se o nosso Universo teve um início, no Big 13ang, e se
escala maior do que qualquer das erupções famosas do Havaí. for finalmente clemonstrado que ele é eterno e ocupa
Para a primeira década do século XXI estão programadas um espaçci em contínua expansãci, tendendci pc)rtanto
outras missões, com ênfase para o planeta Marte, ao redcir ao infinito, não seriam estas características sugestivas
do qual ainda permanece o Global ,\urveyer. Planeja-se coletar da existência de uma vontade criadora?
amostras de gases, solos e rochas, entre outras coisas, para
buscar evidências inequívocas de vida, na seqüência das indi- Nesse contextci, cabe lembrar as palavras de Albert
cações fc)rnecidas pelo estudo do meteorito ALH84{)01. Einstein: Quero saber cotno Deus criou este mundo. Não estou
Pretende-se também obter wn melhor conhecimentc> de interessado neste ou naquele fenôtt1eno, ou no espectro deste ou
asteróides e cometas, talvez os objetos mais enigmáticos do daquele elemento. Quero conhecer seus pensamentos, o resto são
Sistema Solar, por meio de missões especiais, envolvendo detalhes.
. ~ ,. .
aproXlffiaçoes e ate mesmo aternssagens.

Para melhor compreendermos o Universci, têm


sido decisivas as fotografias obtidas pelo telescó-
pio orbital Hubble (Fig. 1.25). Este instrumento com
12 toneladas, lançado ao espaço em 1990 a mais de
: 500 km da superfície terrestre, permitiu evitar
f distorções provocadas pela nossa atmosfera nas
i
f imagens fotográficas dos telescópios convencionais.
! Em poucos anos, o Hubble produziu remotamen-
te, a partir de sistemas de ccintrole na Terra, mais
de 270.000 observações preciosas. Entre elas, estão
imagens nítidas de nebulosas, galáxias antigas, bu-
racos negros, explosões de supernc)vas e até mesmo
do choque espetacular do cometa Shumacher-laevy
contra Júpiter se fizeram disponíveis para astrôno-
mos e astrofísicos, e seus resultados revolucionaram
a cosmologia moderna.

Em 1999 foi implementado outro experimento


científico ambicioso, denominado projeto Boomerang.
Um telescópio de duas toneladas e instrumentos de Fig. 1.25 Telescópio espacial Hubble. Fonte: NASA.
1.1 Planetologia comparada
Atualmente, os planetas do Sistema Solar deixaram de ser objetos de estudo apenas de astrônomos, passando
também a ser foco de interesse dos geocientistas. Embora cada c>bjeto no Sistema Solar seja único, o novo campo
da Ciência, a planetologia comparada, tem fornecido muitas lições que podem ser aplicadas à Terra, em especial
quantc> aos tópicos de sua origem e evolução primitiva, conforme resumido n<>s temas abaixo:

1. () estudo da Lua, Vênus, Marte, e de muitos acondritc>s, .mostrou que o magmatismo de tipo basáltico é
orupresente.

2. Embora alguns objetos primitivos, tais como os condritos carbonáceos, sobreviveram para indicar a idade do
Sistema Solar, não há evidências da existência de material primordial não transformado, nos planetas e em seus
satélites.

3. Os planetas formaram-se quentes, ou tornaram-se quentes logo após a sua origem. A sua estruturação quimica
em manto e núcleo ocorreu numa fase precoce, provavelmente ainda durante a chamada acresção planetária.
4. As diferenças na composição das atmosferas dos planetas internos indicam que as composições originais de seus
gases, a perda inicial dos compostos voláteis e os subseqüentes processos de degasificação para a formação das
atuais atmosferas foram específicos e distintos, para cada planeta.
5. Aparentemente, e> regime de tectônica global do planeta Terra é único.

6. A evidência de grandes impactos pelo bc>mbardeio de cc>rpos de todos os tamanhos durante o acrescimento planetário,
que continuou pelo menos durante 800 milhões de anos, é observável nas superficies da Lua, Mercúrio e Marte.

Leituras recomendadas
ANDERSON, D. L. Theory of the Earth. Boston:
Blackwell, 1989.

CROSWELL, K. Magniftcent Universe. New York:


Simon & Schuster, 1999.

GOMES, C. B. & KEIL, K. Brazilian Stone


Meteorites. Albuquerque: University of New
Mexico Press, 1980.

KERRIDGE, J.F. & MATTHEWS, M. S. (eds.)


Meteorites and the Ear!J Solar System. Tucson:
University of Arizona Press, 1988.

MASSAMBANI, O & MANTOVANI, M. S.


(orgs.). Marte, Novas Descobertas. São Paulo: Ins-
tituto Astronômico e Geofísico, USP, 1997.
WEINER, J. Planeta Terra. São Paulo: i\fartins
Fontes, 1986.
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ara estudarmos o planeta Terra é necessáric), ini- Embc)ra coesa e, muitas vezes, dura, a rocha não é
cialmente, conhecer as características dos homogênea. Ela nãci tem a ccintinuidade física de um
materiais que C) cc)nstituem, especialmente os mais su- mineral e, portanto, pode ser subdividida em todos
. . . .
perficiais e cc)m C)S quais temos maior contato. Na os seus m1nera1s const1tu1ntes.
superfície terrestre, podem ser observados materiais
Já o termo minério é utilizado apenas quando o
inconsolidados (por exemplo, os solos dc)s ncisscis jar-
mineral ou a rocha apresentar uma importància eco-
clins, as areias dos rios e das praias) e rochas
nê)mica (Cap. 21 ).
consolidadas, ambos constituídc)s pc)r associaçêíes mais
ou mcnc)s características de minerais. Para conhecer mais sobre os minerais, vamos de-
talhar os principais conceitos usados na definição
lJs principais usc)s atuais dos minerais e rc)chas mais
apresentada. Como será visto, a tradição estabelecida
comuns são apresentados no Cap. 21. A impc)rtància
pelo uso e, às vezes, ci abuso dos termos, conduz a
dos minerais e rc)chas no desenvol,-imentc) tecncilcSgico
algumas inconsistências. Conseqüentemente, a utiliza-
e.la humanidade cresceu cc)ntinuamente desc.lc a épcica
ção do termo mineral nem sempre é completamente
da pec.-lra lascada. f~ntrc ciutras coisas, a sciciec.lac.-le
ccJns1stente.
tecncilcSgica não teria conseguic.-lo chegar à Lua nãc) fcisse
o seu conhecimento sobre as características e proprie- a) Quanto à definição" .. .elemento ou composto químico
dades dos minerais. A dureza excepcional do c.-liamante, co111 composição definida dentro de certos limites. .."
por exemple), fc)i responsável pela fabricaçãc) de pe- Alguns pouc0s minerais têm uma composição quí-
ças mecànicas ele altíssima precisãci que auxiliaram a mica muito simples, dada por átcJmos de um mesmo
ic.la de) hcimem à J,ua. Além dessas aplicações mllÍtc) elementci químico. São exemplos o diamante (átcJmos
especializadas, muita coisa que usamos no nc)ssci dia- de carbono), <) enxc)fre (átomos de enxofre) e o ouro
a-dia vem do reino mineral. (átomos de ouro). A grande maioria dos minerais,
entretanto, é formada por compostc)s químicos que
2.1 Minerais: Unidades Constituintes resultam da combinação de diferentes elementos quí-
micos; sua composição química pode ser fixa ou variar
das Rochas
dentro ele limites bem definidc)S. Na composição quí-
mica e.lo quartzo (SiOJ, um átomo de silício combina
2.1.1 O que são minerais e rochas? com dois de oxigênio, qualquer que seja o tipo de
ambiente gecilógicc) em que o quartzo se forme.
Minerais sãc) elementos .ou compcJstcJs químicos
com ccimpcJsiçãcJ definida c.lentrc) de certos limites, Já na composição dcJ mineral olivina (Mg, Fe)2 SiO 4
cristalizados e formados naturalmente por meio de -mineral inccimum nas rochas da superfície terrestre,
processos geológicos incirgànicos, na Terra ou cm Cl1jo mcml,ro magnesiancJ, no entanto, deve formar
corpos extraterrestres. A compc)sição química e as parte impcirtante das rochas do interior da Terra (Cap.
propriedades cristalográficas bem definidas do mine- 5) - as relações que se mantêm fixas são a soma das
ral fazem ccJm que ele seja únicc) dentro ele) reino quantidades de ferro e magnésio, cc)m dois átomos, a
mineral e, assim, receba um ncime caractcrísticc). quantidade de silício, com um átomo, e a de oxigênio,
cc)m quatro átc)m<JS. A cc)mposição química das
Cada tipc) de mineral, tal como o quartzc) (Si() 2),
olivinas pode variar entre dois átomos de ferro e zero
constitui uma espécie mineral. Sempre c1ue a sua cris-
ele magnésio e dois de magnésio e zero de ferro, sem-
talizaçãc) se der em condições geológicas ideais, a sua
pre com um átomo de silício e quatro de cixigênio,
cirganização atômica interna se manifestará em l1ma
fcirmando uma série de minerais que fazem o grupo
forma geométrica externa, ccim o aparecimento de
das cJlivinas.
faces, arestas e vértices naturais. Nesta situaçãcJ, a amos-
tra do mineral será chamada também de cristal. b) Quanto à definição " .. .cristalizado. .."
() termo rocha é usado para descre,-er uma asso- O fato de a c.lefinição de mineral destacar o termo
ciaçãci de n1inerais que, por diferentes motivos cristalizado, para esses materiais, significa que eles têm
geológicos, acabam t1cando intimamente unidc.)s. um arranjo atômico interno tridimensional. Os áto-

1 Veio pegmatítico no qual se destacam cristais centimétricos de Amazonita (cor esverdeada), intrusivo em rocha gnáissica, cuja
estrutura orientada típica é visível no canto inferior esquerdo. Foto: Museu de Geociências/lG-USP.
CAPÍTULO 2 • MINERAIS E ROCHAS: CONSTITUINTES DA TERRA SótlDA 29 ~-
,.

mc)S constituintes de um mineral encontram-se distri- Substâncias sólidas amorfas, tais cc)me) géis, vidros
buídc) S ordenadamente, fe)rmando uma rede e car\·Ões naturais, não são cristalinas e, pc)rtanto, não
tridimensional (o retículo cristalino), gerada pela re- satisfazem às exigências da definição de mineral. Estas
petição de uma unidade atômica ou iêinica fundamental substâncias formam parte da classe dos mineralóides.
que já tem as prciprieclades físicci-químicas elo mineral
/\ repetiçàcJ sistemática dos mc)tivos estruturais
completo. Esta unidade que se repete é a cela unitá-
formados de átomos, ícins ou moléculas sustenta o
ria, o "tijcilo" que vai servir de base para a construçãci
conceitc) de simetria cristalográfica. A
do retículo cristalinc) cinde cada átc)mo ocupa uma
Cristalografia estuda a origem, desenvolvimento e
posição definida dentro da cela unitária (Pig. 2.1).
classificação dos cristais naturais - cJs minerais que exi-
bem formas externas geométricas - e artificiais.
e
() estudo ela simetria externa dos cristais é feitc)
com auxílic) dcJs elementos abstratos de simetria
(planeis, eixc)s e centro) e as suas respectivas opera-
ções de simetria (reflexão, rotação e inversão). Assim,
°CI reccJnhecer a existência de um plano de simetria no
• Na cristal é visualizar uma superfície que o corta em duas
o 1netades iguais, simétricas (Fig. 2.2).

• Na B' B

0 CI

Fig. 2.1 Arranjo espacial dos íons de Na e CI no composto


1

NaCI (halita), mostrando a cela unitária que resulta no hábito


cristalino em cubos geralmente apresentados pelo mineral.

A B
Duas pre)priedades físicas ':lue pcir si só atestam
esta organizaçãe) interna são o hábito cristalino e a Fig. 2.2 Plano de simetria, que corta o objeto em duas partes
clivagem. C) há\Jito cristalino é a fcirma geométrica iguais, simétricas, como um objeto e sua imagem refletida num
externa natural dcJ mineral, desenvolvida sempre que espelho.
a cristalização se cler sob ccindições calmas e ideais.
Já a clivagem é a quebra sistemática da massa mineral () eixo de simetria é uma reta imaginária que passa
em planos preestabelecieleis que reúnem as ligaçc"íes pelcJ centreJ gecimétrico do cristal e ao redor ela qual,
químicas mais fracas oferecidas pela estrutura elo num giro total de 36()º, uma feição geométrica elo
mineral. cristal se repete certci número de vezes (Fig. 2.3).

Na natureza, eis cristais perfeitos deJs minerais sãeJ () centro de simetria é um pontci de simetria ce)in-
raros e conseqüentemente ceinstituem as jc)ias do rei- ciclcnte cc)m cJ centreJ geométrico elo cristal, em relação
no mineral. Mais comumente os minerais se apresentam aci qual as feiçc"Ses gecimétricas elcJ cristal se invertem
como massas irregulares. Nei entanto, a cristalinidade (Fig. 2.4).
destas amostras de minerais também peide ser reco-
() ccinjuntc) dos possíveis elementcJs de simetria
nhecida de ciutras fe)rmas, por meio de suas
enccJntrados em um cristal é chamaelo de grau ciu classe
propriedades c'ipticas, por exemplo.
de simetria ciu grupo pontual. Existem, na natureza,
() mercúrio (elemento nativci), é o único líquideJ apenas 32 graus de simetria, agrupaclos ele aceJrdc) com
consideradc) espécie mineral. O gelei fcirmado natu- a similaridade de seus elementos ele simetria em sete
ralmente (nas calotas pcilares, pcir exemplei) é sistemas cristalinos, elo "mais simétrico" ao "me-
ce)nsiderado mineral, mas a á6rua líquida, não. nc)s simétriccJ": cú\Jico, tetragcinal, trigeJnal, hexagcJnal,
3Q DECIFRANDO A "l'ERRA

clrtcirrcimbicc), meinciclíniccl e triclínicci. ()s sete siste-


mas cristalineis sãci Ltsaclos para a classificaçãel
cristalc1gráfica ele tcJdas as Sl1bstáncias, naturais ciu nãei,
'
qL1e apresentam estrutura cristalina (Tabela 2.1 ).

1\ escc1la nc1rte-americana ele cristalcJgrafia consi-


elera a existência ele apenas seis sistemas cristalinc1s, uma
vez c1ue ce1lelca ci nc>ssci sistema trigeJnal como uma
sul)clivisã<J clci sisten1a hexagclnal, chamaela ele hexa-
gc1nal rcJm\JcJeclral. 1\ssim, ene1uanteJ n{is, brasileireis
(que seguitneis a esce1la eurc>péia ele cristaleJgrafia), fa-
lamcJs e1ue, peir exemple>, ei qL1artzcJ a e a turmalina se
cristalizam nci sistema trigcJnal, els ncltte-americanos
ccinsicleram estes minerais comeJ pertencentes ao sis-
tema hcxagcinal re1mbeJedral. l)cir issei, devemeis tomar
el cuicladc>, sempre e1ue usarmeJs um livrei de
cristale1grafia e minerale1gia ela csceila neJrte-america-
na, ele nãcJ confunelir ei ncJsso sistema hexageinal (H)
cc>n1 a classe hexagcJnal reimlJeJeelral (Hr) eleles.

c) CluanteJ à definiçãel " .. júrmado naturalmente. .. "

(luanelcl usamels CJ termcJ "naturalmente" na defini-


çãci ele mineral, inelicameis que as sulJstâncias <levam
eiceJrrer espcintaneamente na natureza. Cc1me1 regra ge-
ral, substâncias sintéticas feitas peleJ ser humanci peir síntese
11ci labeiratóricl <Ju eis prc1dL1tcJs resLtltantes de com!Jus-
tãc1 clu os fcirmaclcis a partir de materiais artificiais, mesmo
ccin1 a açãcl dei ar ciu de água, nàcl sàci ceinsieleraelcis
n1incrais embcira apresentem tcJdas as características ele
seus ee1uivalentes naturais, e sua síntese possa ajuclar a en-
tenelcr ci prcJcess<> da fclrmaçàei elcis minerais neis
eliferentcs am!Jientcs geeil{igicos. l)cJr exemplo, enquantcJ
e1 rubi natural é mineral, o rLilJi sintéticci não ei é . F,ntre-
~ , . . , .
tantci, ceimel se ve, na pratica <JS ceimposteis s1ntet1c<JS
rece\Jem eis mesmcJs neimes e-lcJs cc1uivalentes naturais.
} '.n1 alguns textcJs, vê-se ei termo "mineral sintéticcJ" ei
0

c1ue é, estritamente, um ccintrasensci.


Fig. 2.3 Eixos de simetria: ternário, quaternário e senário.
cl) (._2L1antei à definiçàei " .. processos inor;gânicos. .."

---
() uscl clci termci incirgâniccJ na c-lefiniçàci de mine-
.,,. .,,.
1
1
1
1
- - .,,. .,,.
ral impede c1ue as substâncias puramente biogênicas
sejam minerais. A pérola, ci âml1ar, os recifes de ccirais
• 1 e ei carvãcJ são algumas substâncias bicJgênicas que nàci
• • 1
• • 1 poclem ser ceJnsideradas minerais, pcir um mcitivo ou
' . . /e ,
. e( 1
• 1 eiutrel. São tcJdas minerale'iides. Nci casei dei coral,
• •
• • • 1
f. embcira possamcis reccJnhecer ceimpostcis químicos
• 1

•• '
1 • iclênticeJs às fcirmas naturais de carl1einateJ de cálcio
• 1
1 . Y'"
. . . l ,,.
<Ili sc'ilidci, ci cirg:anismcJ \'ÍVCJ tem intervençàei essencial na
~,.,,~·' 1
1 1
1 11 prodL1çãci del ccimposto - que é uma secreçàcJ gerada
1
1 pelr seu merabc1lisn10.

de simetria (C).
Tabela 2.1 Sistemas cristalinos, constantes cristalográficas e simetria principal de alguns minerais.

Sistema Constantes cristalográficas Simetria principal Exemplos de minerais

Cúbico (Isométrico) 0 1 = 0 2= 0 3 4 eixos ternários Diamante, granada, espinélio


a=l3=y=90º

Tetragonal ai =ai"C 1 eixo quaternário (eixo c) Zircão, cassiterita, rutilo


a=l3=y=90º

Hexagonal ª1 =a2=a3;tcc 1 eixo senário (eixo c) Quartzo l3 , berilo


a=l3=8=90 e y = 120º

Trigonal ª1 =02 =a3;tcc l eixo ternário (eixo c) Quartzo a, turmalina, coríndon


a=l3=8=90 e y = 120º

Ortorrômbico a;tcb;tcc 1 eixo binário (eixo c); Olivina, ortopiroxênio, topázio


a=l3=y=90º pode ter mais 2 eixos
binários e até 3 planos

Monoclínico a;tcb;tcc 1 eixo binário (eixo b); Ortoclásio, mica,


a=y= 90º e l3;tc90º 1 plano contendo os eixos a e c clinopiroxênio, clinoanfibólio

Triclínico um centro de simetria Microclínio, plagioclásio


ou sem simetria

(a, b e c: dimensões da cela unitária; a, 13, y e 8: ângulos entre seus eixos. Nos sistemas hexagonal e trigonal, há quatro eixos,
três no mesmo plano.)

2.1.2 A origem dos minerais


(Cap. 16). ()corre também pela ceJndensação de
A origem de um mineral está cc>ndicionada aeJs materiais rochcJscJs cm estado de vapc>r, quando os
"ingredientes químiceJs" e às condições físicas (tempe- cristais se formam diretamente dcJ vapor sem pas-
ratura e pressãe>) reinantes neJ seu ambiente ele sar pcleJ estágio intermediário cio estadcJ líquido. A
fcJrmaçãcJ. Assim sende>, minerais c>riginaelc>s nc> inte- cc)nelensaçãcJ de minerais a partir da nebulosa solar
ric>r da Terra sãe> geralmente diferentes daqueles (Cap. 1) eleve ter sido um prc>cesscJ impcJrtante
fc)rmadc>s na sua superfície. As informaçe"'ies sobre clurante a formação dc>s planetas. Atualmente, po-
minerais presentes em cc>rpos extraterrestres sãcJ demos ver na Terra a formaçãc> ele cristais de
inferidas a partir de amostras desses corpcJs; nc> case> cnxcJfrc a partir das fumarolas de ati\·idades ígneas
da l,ua, coletadas diretamente de sua superfície e ncJ vulcânicas.
caso de Marte e alguns aster(Jidcs maiores, a partir de A cristalização de substâncias a partir de soluções
amcJstras de metee>ritos caídos na Terra. aquosas a baixas temperaturas (< 1OOºC) é um pro-
Um mineral pode se formar de diferentes ma- cesscJ impcirtante na formação das rochas sedimentares
neiras, por exemplo, a partir de uma solução, de químicas (Cap. 14).
material em estadcJ de fusãc> cJu vapor. () prc)cessc> Na passagem de matéria de um para outro estado
de cristalização tem início com a formaçãc) de um cristalinc), cJs materiais rochcJsos que já estão cristaliza-
núcleo, um climinuto cristal que funciona comcJ uma dos pc>dem, por modificações nas condições de
semente, ao qual e> material vai aderindc>, ceJm cJ pressão e/ ou temperatura, tornar-se instá\·eis e se
conseqüente crescimento do cristal. (_J estadeJ cris- recristalizar em uma nova estrutura cristalina mais es-
talino pode ser conseguido pela passagem da tável para as novas conclições, sem que haja fi1são do
matéria dcJ estadcJ físicc> amc>rfcJ para e> cristalino, mineral inicial. Este processo é imporumte na forma-
cm ambiente gcolé>gico quente. IstcJ cJccorre na cris- ção ele alguns dos minerais das rochas metamórficas
talização de magma, material rc>chcJso funclidcJ (Cap. 18).
2.1 Ligações químicas no reino mineral
Os minerais apresentam composição química constante dentro de certos limites, o que permite, portanto, que
se atribuam fórmulas químicas aos minerais. Os elementos químicos constituintes dos minerais estão unidos
através de diferentes tipos de ligação, sendo as mais comuns as ligações iônicas, covalentes, metálicas e de Van
der Waals.

Nas ligações iônicas, cátions (íons com carga positiva) e ânions (íons com carga negativa) se unem. Por exem-
plo, no mineral halita, de fórmula NaCl, o cátion Na, de valência 1 +, une-se ao ânion Cl, de valência 1-. Ao
invés de um ânion simples, como o Ct, pode se constituir um grupo aniônico ("radical aniônico"), como o
4
SiQ 4 -, que é a unidade fundamental de todos os silicatos. Nas ligações covalentes, ocorre o compartilhamento
de elétrons, a exemplo da ligação entre os átomos de carbono no diamante. As ligações metálicas são aquelas
em que se formam "nuvens de elétrons", como nos elementos nativos (ouro, prata, cobre etc.). A mais fraca
das ligações químicas é a de Van der Waals, que une moléculas e unidades estruturais praticamente neutras, ou

seja, com pequenas cargas residuais. E rara nos minerais e um exemplo é a grafita, onde as camadas de átomos
de carbono ligadas de modo covalente são unidas entre si por ligações de Van der Waals. Em decorrência da
força de ligação entre os átomos de um mineral, formam-se "empacotamentos" de átomos, às vezes mais
outras vezes menos compactos. Obviamente, isto vai influenciar sobremaneira as propriedades dos minerais. A
substituiçao de íons em um determinado sítio catiônico é favorecida por sen1elhanças de raio e valência. Os
átomos constituintes de um mineral podem ser imaginados como "esferas" com carga positiva ou negativa.
Assim, Mg2+ e Fe2+ apresentam carga 2+ e volumes relativamente semelhantes (caracterizados pelo raio iônico,
respectivamente 0,74 A e 0,80 A; lA= 0,1 nm = 10-10m ), enquanto Na+ (raio 0,98 A) e K+ (1,33 A), ambos
com carga 1+, são íons maiores. Assim, as substituições entre Na e I<, e entre Mg e Fe são mais freqüentes que
entre Na e Mg, Na e Fe, I<. e Mg, e I<. e Fe, por exemplo.

Nos silicatos, a unidade estrutural é o tetraedro Si044 com quatro 0 2- (raio 1,36 A) unidos a um Si4+ central
(raio 0,39 A), que pode ser parcialmente substituído por Al3+ (raio 0,57 A). Essa unidade fundamental, que
constitui um "poliedro de coordenação", ou seja, uma figura geométrica definida pela união dos átomos de
oxigênio, pode aparecer isolada (evidentemente rodeada por cátions, para neutralizar sua carga negativa), cons-
tituindo os silicatos chamados de nesossilicatos, ou, muito freqüentemente, associada, formando substâRcias
tais como os sorossilicatos etc. A polimerização é a união entre estes poliedros (no caso tetraedros), que origina
associações entre 2, 3, ... infinitos poliedros (Quadro 2.3). Quanto maior o grau de polimerização, menor fica
a razão entre o número de átomos do Si e o do O no ânion polimerizado.

2.2 Polimorfismo e solução sólida


· Mine~~s p<>lim<>rfºs (de "poli", muitos, e "morphos", forma) são aqueles que têm essencialmente a mesmá
·.' compQsiçjo químifá mas estruturas cristalinas diferentes, o que se reflete em suas propriedades físicas e
' ,... . ' ' .'·<·--· "" "'''' .,,.,'' ·•···
morfológicas diferenciadas. Por exemplo, grafita e diamante são polimorfos de carbono. Ambos têm a mes-
·•· ma composição qt1íniicatnas suas estruturas são diferentes, e como tal são considerados como espécies separadas.
• · Assim ocorre também çom a cal.cita e a aragonita, polimorfos de CaC03• Quartzo a, e quartzo ~ (Tabela 2.1) ·
·. · são dois dos polimorfos. de sfilca Siü2•
··. . .

. · _M!~~r,~s_!sCltn,Qrfos· (de "iso", igual? e ''morphos'', forma)


são os que possuem estrutura çristalina se1I1elhante
mas CC>tpposiç~o qµimitJtdiferente ou variável dentro de determinados limites (e.g. calcita - CaC03, magnesita
· ·. ~ .MgC03 e siderita - FeCOJ. Em diversos casos, pode ocorrer um intercâmbio de determinados elementos ·
" ' ' '

na estrutura, dando origem a substâncias de composição intermediária entre dois (ou mais) termos finais,
•· ·result::indo ..em um fenômeno conhêcido como solução sólida, por exemplo, olivinas: forsterita (M&SiOJ .e •••·•
\ faialita (Fe2Si0J, nas quais Mg e Fe2+se substituem mutuamente; e plagioclásios: albita (NaAISi,Og) e anortita>
·.·. . (CaA12Si20g), nas quais a solução sólida se realiza através da substituição acoplada (assim chamada porque
.. envolve dois pares de elementos) dê (Na,Si) por (Ca,Al).
CAPÍTULO 2 • MINERAIS E ROCHAS: CONSTITUINTES DA TERRA SóLIDA 33 "

2.1.3 Classificação sistemática de minerais Tabela 2.2 Alguns dos critérios usados para
classificar os minerais.
O estudo sistemático dos minerais fica facilitado quan-
do se usam critérios que permitam agrupá-los em
conjuntos com características similares. Alguns dos crité-
rios mais usados são resumidos na Tabela 2.2. ... Min~rais mih~clínicos,
cúbicos> •
Nos livros de mineralogia descritiva, exposições
mineralógicas em museus e em coleções em geral usa-se Usos Minérios, gemas, minerais
o critério químico baseado na natureza do radical aniônico formadores de rochas
do mineral. Por exemplo, no mineral barita (BaSOJ, o •·. •. > Element<,á ~<1li~~s, ~~id~Íij . •·
radical aniônico é o S042- e, portanto, a barita será classi- · sulfetos. ·. • ••.:.1 · •
ficada como sulfato.

Esta última classificação dos minerais se assemelha à exemplo, a siderita (FeCOJ tem mais afinidades com a
de compostos químicos utilizada pela Química Inorgánica calcita (CaCOJ, ou com a magnesita (MgCOJ do que
e apresenta as seguintes vantagens: com a pirita (FeSJ ou com a hematita (Fe20J;
a) minerais com o mesmo radical aniônico possuem b) minerais com o mesmo radical aniônico tendem a
propriedades físicas e morfológicas muito mais seme- se formar por processos físico-químicos semelhantes e a
lhantes entre si que minerais com o mesmo cátion. Por ocorrer associados uns aos outros na natureza.

2.3 Classificação sistemática dos minerais


As espécies minerais conhecidas são agrupadas em Silicatos: Devido a sua grande importância, os
classes minerais com base no ânion ou radical silicatos são subdivididos de acordo com o grau de
aniônico dominante em sua fórmula química. James polimerização dos tetraedros SiQ44- e conseqüente-
D. Dana (1813-1895) teve papel fundamental na ela- mente pela razão Si:O dos ánions:
boração desta classificação. Assim, tem-se, de
maneira simplificada, as seguintes classes, e no caso • tetraedros isolados (nesossilicatos) - Si:O = 1:4.
dos silicatos, as subclasses, seguidas de alguns exem- J,
olivina [(Mg,Fe) 2Si0 granada, zircão, topázio.
plos e suas fórmulas químicas: • duplas de tetraedros (sorossilicatos) - Si:O = 2:7.
• Elementos nativos: ouro (Au), enxofre (S). hemimorfita [Zn4 (Si20 7)(0H).H2 0], epídoto.
• anéis de tetraedros (ciclossilicatos) - Si:O = 1:3.
• Sulfetos: galena (PbS), esfalerita (ZnS), pirita (FeSJ.
berilo [Be3Al2 (Si60 1s)], turmalina.
• Sulfossais: tetraedrita (Cu 12 Sb 4 S 13), enargita • cadeias de tetraedros (inossilicatos)
(Cu3AsSJ.
, a) cadeias simples de tetraedros - Si:O - 1 :3.
• Oxidas: gelo (H2 0), hematita (Fe20J, cassiterita piroxênios: enstatita [M&(Si20J].
(SnOJ.
b) cadeias duplas de tetraedros - Si:O = 4: 11.
• Halóides: halita (NaCl), fluorita (CaFJ. anfibólios: tremolita [Ca2Mg5 (Si80 2J(OH)J.
• Carbonatos: calcita (CaC0 3), dolomita • folhas de tetraedros (ftlossilicatos) - Si:O = 2:5.
[CaMg(COJJ. argilominerais (caulinita, esmectita), micas
(muscovita, biotita).
• Nitratos: salitre (l<NOJ, salitre-do-chile (NaNOJ.
• estruturas tridimensionais (tectossilicatos) - Si:O = 1:2.
• Baratos: bórax Na2B40 7 .10H20. quartzo Si02
• Sulfatos e cromatos: barita (BaSO J, gipsita • feldspatos:
(CaSO 4 .2H2 0).
a) potássicos: microclínio (KA1Si30J, ortoclásio
• Fosfatos, arseniatos e vanadatos: apat1ta (KAlS½OJ.
[Ca5(F,Cl,OH)(PO JJ.
b) plagioclásios: albita (N aA1Si 3 0 8
), anortita
• Tungstatos e molibdatos: scheelita (CaWOJ. (CaA12Si2 0s).
34 DECIFRANDO A TERRA

Das várias classes minerais existentes, apenas uma, F,xemplos: tetraedrita (de,-ido ao seu hábito
a dos silicatos, é responsável pela constituição ele apro- tetraédrico), cianita (devidci a sua cor mais comum,
ximadamente 97% em volume da crosta continental. azul).
Esta, como veremos no Cap. 5, configura a parte ex-
• que o ncJme indique a presença ele um elemento
terna da Terra em regiões continentais, com espessura
químico predominante.
de algumas dezenas de quilc)metros (Tabela 2.3). l\1i-
nerais das demais classes, embora menos abundantes, Exemplos: mcJlibdenita, cupr1ta, arsenop1r1ta,
também são impcirtantes pelo seu interesse econômi- lantanita.
co e científico. • que o ncJme homenageie uma pessoa proemi-
nente. ExemplcJs: andradita (em homenagem
Tabela 2.3 Constituição mineralógica
a José Bonifácio de Andrada e Silva, 1763-
da crosta continental.
1838, geólogci e patriarca da independência
Classe mineral Espécie ou grupo mineral % brasileira); arrojadita (em homenagem a l\figuel
emvol. Arrojado Ribeiro LisbcJa, 1872-1932, geólogo
feldspatos 58 brasileirci).

piroxênios e anfibólios 13 Quando occJrrem apenas pequenas variações quí-


Silicatos micas na compclsiçãci de um mineral, utiliza-se o
quartzo ll
termo variedade e'l:1 ccJntraposiçãcJ a "espécie mi-
micos, clarita, argilominerais lO neral". PcJr exemplo, quando parte do zincci da
olivina 3 espécie mineral esfalerita (ZnS) é substituídcJ pcir
ferro, gerandcJ assim a fórmula (Zn,Fe)S, origina-
epídoto, cianita, andaluzita,
sillimanita, granadas, 2 se uma variedade de esfalerita enriquecida em Fe, e
zeólitas etc. nãcJ uma outra espécie e, pcirtantci, não recebe um
novo nome.
·Ca rbonafos,
. Óxidos, 3
Sulfetos, 2.1.5 Identificação dos minerais
.·• Hal6ides etc.
C)s minerais mais comuns pcldem, muitas vezes,
ser identificados simplesmente ccJm a cJbservação
de suas propriedades físicas e morfológicas, que
2.1.4 Nomenclatura dos minerais sãci decorrentes de suas composições químicas e
de suas estruturas cristalinas. U tilizamcJs para fins
A nomenclatura dos minerais é hoje contrcilada de identificação rápida de minerais as seguintes prcJ-
pela Comissão de Novos Minerais e Novos No- priedades: hábito cristalino, transparência, brilho,
mes de Minerais (CNJ\1Nl\1) da Associação cor, traço, dureza, fratura, clivagem, densidade re-
Mineralógica Internacional (IMA), criada em 1959. la tiva, geminação, propriedades elétricas e
, .
Os nomes de novos minerais devem ter, no caso magnet1cas.
brasileiro, a terminação "ita". Em contrapcisiçãci, a
terminaçãcJ "ito" é usada para nomes de rochas.
Hábito cristalino
Os minerais conhecidos desde épocas remcitas e
,
cujos nomes já têm uso consagrado podem não E a fcirma geométrica externa, habitual, exibida
respeitar esta regra. pelos cristais dos minerais, que reflete a sua estrutura
,
cristalina (Fig. 2.5). E chamada simplesmente hábito
C_)utras recomendações para a criação de um
do mineral e pclde ser observada, sobretudo, quando
nome para um novo mineral são:
o mineral cresce em condições geológicas ideais. C_)s
• que o nome indique a localização geográfica hábitcis mais ccJmuns sãci: o laminar, o prismático (os
de sua descoberta. cristais aparecem alongados comcJ prismas), o fibro-
• que o nome indique uma de suas proprieda- so, o acicular, o tabular (em forma ele tábuas ou tijolos)
des físicas. e o equidimensional.
IA, o 2 • ~s ER : C::oNsmut s DA TERRA SôLIDA 35 ~

Transparência

()s minerais que não absorvem c)u absc)r\'em


pciucci a luz sãcJ ditcJs transparentes. ()s que absor-
vem a luz ccJnsidera,-elmente são translúcidos e
dificultam que imagens sejam reconhecidas atra,-és
'
deles. ()bviamente, estas características depenciem e-la
espessura do mineral: a maic)ria dos minerais .
. '.
"
.,
·,,_
.
t
•·,
. !'
'oi'..·
'

Tu1ffi
'
'
'

translúcidos torna-se transparente quandcJ em lâminas '

muitci finas (Fig. 2.6). Existem, ccintuclcJ, CJS elementos


nativos metáliccis, óxidos e sulfetos que absorvem to-
a b
talmente a luz, independentemente da espessura. SãcJ
. . Fig. 2.6 Transparência e translucidez: (a) escala vista através
os m1nera1s opacos.
do quartzo (Si0 2) transparente, variedade cristal de rocha; (b)
a luz é parcialmente transmitida pelo quartzo translúcido, vari-
a b edade leitosa, porém a escala embaixo da amostra, na parte
inferior, não é visível. Foto: 1. McReath.

Cor

;\ cor de um mineral resulta da absorção seletiva


da luz. () simples fato de o mineral absorver mais um
determinado comprimento de onda dei que os ou-
0,5cm trcis faz com que CJS comprimentcis de onda restantes
se componham numa cor diferente da luz branca que
fig. 2.5 Exemplos de hábitos cristalinos: (a) cubo de pirita (FeS2) chegcJu ao mineral. C_)s principais fatcires que colabo-
visto por um eixo ternário, mostrando também sua cor amarela e ram para a absorçãci seletiva são a presença de
seu brilho metálico; (b) fibras de gipsita (CaS04 . 2H 2 0). Foto: 1. elementcJs químicos de transição (ferro, cobre, níquel,
McReath. crc)mo, vanádio etc.) na compc)sição química do mi-
neral, os defeitos na sua estrutura atômica, e a presença
Brilho de pequeníssimas inclusões de minerais, dispersas atra-
, vés dos cristais. Alguns minerais têm cores bastante
E a quantidade de luz refletida pela superfície de
características, sendo chamados de idicicromáticos (por
um mineral. Os minerais que refletem mais de 75(1/o da
, exemplo, o enxofre, amarelo). Outros são
luz incidente exibem brilho metálico (Fig. 2.7a). b~ cJ
alcicrcimáticos, isto é, sua cor varia amplamente. A
• caso da maioria dos minerais opacos.
turmalina e o quartzo, por exemplo, ocorrem cm
. Os que não atingem esta reflexão têm brilho não- muitas cores. Conseqüentemente, a cor do mineral nem
i' metálico. Entre os tipos de brilho não-metálico, é usual sempre é propriedade confiável na sua identificação.
1 distinguir alguns característicos, como o vítreo (o bri-
,

r llio da fratura fresca do vidro), o gorduroso (o brilho


'
f do azeite), o sedoso etc. (Fig. 2.7b).
a b
'f
1 O brilho metálico, como o nome diz, é o brilho
1dos metais polidos, que todos estamos acostumados
j, a ,·er cm objetos de uso comum. Por causa disso, al-
i guns esquemas sistemáticos de identificaçãcJ de minerais
i' utilizam o tipo de brilho - metálico ou não-metálico -
1
t como o primeircJ critéricJ de identificaçãcJ. Entretanto,
0,5cm
: é bom lembrar que alf,>uns minerais (a pirita, por exem-
• pio) podem scifrer leve c)xidação superficial, o que Fig. 2.7 Brilhos: a) nao metálico, tipo terroso no minério
'. resulta na perda pelo menos parcial do brilho metáli- bauxita (oxi-hidróxido de AI); b) metálico [galena (PbS)]. Foto:
co natural. 1. McReath.
Traço
'
O traço é a cor do pó do mineral. E c)btida ris-
cando o mineral contra uma placa ou um fragmento
de porcelana, em geral de cor branca (Fig. 2.8). Esta
propriedade só é útil como elemento identificador dos
minerais c)pacc)s C)U minerais ferrosos, que apresen-
tam freqüentemente traços coloridos (vermelho,
marrom, amarelo etc.). A maioria dos minerais
translúcidos ou transparentes exibe traço branco. Ao
prc)var minerais mais duros que a porcelana (aproxi-
Fig. 2.9 Fratura e clivagem: a) fratura conchoidal do quartzo;
madamente 7 na escala de Mohs - ver a seguir), o
b) três clivagens perfeitas, em padrão romboedral, cujos pla-
traço resultante não é de) mineral, mas sim da porcela- nos se destacam pela iluminação, de brilhante a bastante
na. A cor do pó destes minerais somente pode ser escuro; cristal de calcita (CaCO), variedade de espato da Is-
observada por moagem do mineral. lândia. Foto: 1. McReath.

Fig. 2.8 Traço vermelho (ris- Fratura


co de comprimento de 1 cm,
aproximadamente, na parte su- Denomina-se fratura a superfície irregular e curva
perior sobre placa de resultante da quebra de um mineral. As superfícies de
porcelana) da hematita • fratura, obviamente controladas pela estrutura atômi-
(Fe 2 0), mineral de cor cinza ca interna do mineral,·. podem ser irregulares ou
escura e brilho metálico. Foto: conchoidais (são estes os tipos mais comuns de fratu-
1. McReath.
ra) (Fig. 2.9a).
Dureza

A dureza é a resistência que o mineral apresenta Clivagem


ao ser riscado. Para classificá-la, utiliza-se a escala de
Muito freqüentemente, ocorrem superfícies de que-
Mo!-.-3, em homenagem ao mineralogista australiano
bra que constituem planos de notável regularidade.
F. Mohs, que a elaborou com base na dureza de mine-
Neste caso, a quebra passa a ser denominada clivagem,
rais relativamente comuns utilizados como padrões e
que pode ser perfeita, boa ou imperfeita. A maioria
que varia de 1 a 10, em ordem crescente de dureza.
dos minerais, além de mostrar superfícies de fratura,
Na falta destes, podem ser usadas algumas alternativas
apresenta uma ou mais superfícies de clivagem, no-
apresentadas na coluna à direita da Tabela 2.4. A lâmi-
meadas segundo sua orientação com referência a faces
na de aço risca todos os materiais com dureza menor
de sólidos geométricos (por exemplo, clivagem cúbi-
que 5 e, por sua vez, é riscada por todos os materiais
ca, clivagem romboédrica etc., Fig. 2.96).
com dureza maior que 5,5.
Tabela 2.4 Escala de Mohs Densidade relativa
e padrões secundários.
'
Mineral padrão Dureza Padrão secundário E o número que indica quantas vezes certo volu-
me do mineral é mais pesado que o mesmo volume
tàlco 1
unha{~,5)• .· de água (a 4°C). A densidade relativa da maioria
gipsito 2
dos minerais formadores de rocha oscila entre 2,5 e
·· colcito 3 ·· alfioetij(3,5)
· fluorito . 4 3,3. Alguns minerais que contêm elementos de alto
· apotito ., 5 peso atômico (por exemplo, Ba, Pb, Sr etc.) apresen-
· ortoclósio 6 tam densidade superior a 4. Com alguma prática,
. quartzo 7 porcelana (-7) pode-se avaliar manualmente, de forma qualitativa, a
topázio 8 maior ou menor densidade do mineral ou seu agrega-
coríndon 9 do. No entanto, a determinação precisa deste valor é
diamante 1O feita utilizando-se uma balança especial.
CAPíTULO 2 • MtNERAtS E ROCHAS: 0:>NSTITUINTES DA TERRA SóLIDA 37 ~
,_ -

Geminação fornecedeJr de quartzeJ para esta finalidade.


, PircJeletriciclade é a eletricidade eJriginada pelo aumento
E a propriedade de certos cristais de aparecerem de caleir. (-)s minerais sem centro de simetria, quando
intercrescidos de maneira regular. C)s diferentes indi- aqueciclos, emitem uma ceJrrente elétrica. Os primei-
víduos de um cristal geminado relacionam-se peir ros pirômetros, usados para medida de temperaturas
operações geométricas. A geminação peide ser sim- em altos forncis, feiram fabricados explorando a ele-
ples (dois indivíduos intercrescidos) ou múltipla vada piroeletricidade das turmalinas.
(polissintética). O tipo de geminação é, muitas vezes,
uma propriedade diagnóstica do mineral (Fig. 2.1 O). Entre os minerais mais comuns, a magnetita (Fe, O J
e a pirreJtita (Fe 1 ,S) são eJS únicos atraídos por um
a campcl magnético (ímã de mãei). Este "1-x" na fór-
mula química da pirreJtita significa que a relação Fe:S é
mencir que 1; ficam vazias, então, algumas posições
destinadas aei Fe.
A cirientação dos minerais magnéticos nas reJchas
ígneas é impclrtante no estudeJ deJ paleomagnetismo
terrestre (Caps. 4 e 6). Sua presença é de grande valor
para as explorações minerais baseadas em técnicas de
. . , .
sensor1amento remeitci, uma vez que os m1ner1os as-
0,5cm
sociadcis à magnetita são mais facilmente localizados,
Fig. 2.1 O Exemplos de geminados: (o) geminado simples em mesmci em subsuperfície, por meio de magnetômetros
cruz do estourolita (mineral da família dos silicatos); (b) espec1a1s.
geminação polissintética (repetido) no labradorito, da família
silicático dos plagioclásios; o padrão destaca-se pela
alternância de finas bandas que apresentam reflexões
2.2 Rochas: Unidades Formadoras
alternadamente mais e menos fortes; este padrão de da Crosta
geminação, quando visível, serve para distinguir os plagiocásios
dos feldspatos alcalinos. Foto: 1. McReath.
2.2.1 O que são rochas?
Propriedades elétricas e magnéticas
Por definiçãcJ, as rochas são produtos consolida-
Muitos minerais são maus condutores de eletrici- deJs, resultantes da união natural de minerais. Diferente
dade. Exceções a esta regra se devem à presença de dos sedimentos, por exemple) areia de praia (um con-
ligações atômicas totalmente metálicas, ccJmeJ é eJ caseJ junte) de minerais soltos), as rochas têm os seus cristais
dos metais nativos ouro, prata, e cobre, todos exce- ou grãos constituintes muiteJ bem unidos. Dependen-
lentes condutores. Nas estruturas em que as ligaçe:íes do deJ processo de formação, a força de ligaçãcJ deJS
atômicas são apenas parcialmente metálicas, por exem- grãeJs constituintes varia, resultando em rochas "du-
plo, sulfetos, os minerais são semicondutores. No caseJ ras" e rochas "brandas".
dos minerais considerados não-condutores, as ligações Chama-se estrutura da rocha o seu aspecto geral
iêJnicas e covalentes predominam. externo, que pode ser maciço, com cavidades, orien-
Piezoeletricidade e piroeletricidade são propriecla- tado ou não etc. ,,\ textura se revela por meio da
des elétricas especiais. Elas aparecem em minerais que observação mais detalhada do tamanho, forma e rela-
se cristalizam em classes de simetria sem centro de cionamento entre os cristais ou grãos constituintes
simetria. Piezoeletricidade é a propriedade que um mi- da rocha.
neral tem de transformar uma pressão mecânica em Outra informação importante no estudo das ro-
carga elétrica. Se uma placa de quartzo, conveniente- chas é a determinação dos seus minerais constituintes.
mente cortada, for pressionada, surgirão cargas Na agregação mineralógica constituinte das rochas,
positivas e negativas extremamente regulares. Esta ca- receinhecemos os minerais essenciais e minerais aces-
racterística faz com que o quartzo seja muito usado sórios. Os essenciais estão sempre presentes e são os
pela indústria eletroeletrônica, no controle das rádio- mais abundantes numa determinada rocha, e as suas
freqüências. O Brasil tem grande importância ceJmo proporções determinam o nome dado à rocha. Os
acessórios podem ou nãcJ estar presentes, sem que isto
mcJdifique a classificação da rcJcha cm questão.
Quando os minerais agregados pertencerem à mes-
ma espécie mineralógica, a rocha será ccJnsiderada
mcJnominerálica. Quande) forem de espécies dife-
rentes, ela será pluriminerálica (Tabela 2.5).

Tabela 2.5 Rochas monominerálicas


e pluriminerálicas.

Rochas Rochas
monominerálicas pluriminerálicas Fig. 2.11 Detalhe de uma chapa de granito polida. As massas
róseas (por exemplo, FA) são o feldspato alcalino, as brancas
Calcário Gnaisse
(por exemplo, PL), o plagioclásio. Junto ao quartzo (as massas
Mármore Gabro levemente esbranquiçadas, por exemplo, QZ), os feldspatos
Quartzito Granito formam os minerais essenciais que somam em torno de 80%
do volume da rocha. A mica preta (biotita) e o anfibólio
(hornblenda) compõem a maior parte das áreas escuras.

2.2.2 Classificação genética das rochas () resfriamenteJ dc)s magmas extrusivos é muito
mais rápidc). Mui tas vezes, nãc> há tempo suficiente
Classificar as rochas significa usar critérieJs que
para os cristais crescerem muitc>. A rocha extrusiva
permitam agrupá-las segundeJ características seme-
tende a ter, pcJrtantcJ, uma textura de granulação
lhantes. Uma das principais classificaçeJcs é a fina.
genética, em que as rochas sãeJ agrupal-las ele accJr-
do ceJm o seu mc>dcJ de feJrmaçãeJ na natureza. ScJ\J C)utrcJ fato que chama a atcnçãeJ no estudcJ das
este aspecte>, as rcichas se dividem cm três grandes rcJchas ígneas é lJUe a sua ccJr é bastante variável. As
grupeJs: rochas ígneas escuras sãe) mais ricas em minerais
ccJntendeJ magnésio e ferre) (daí cJ neJme "máfico").
' () gabro, de ceimpc)siçãcJ equivalente acJ basalto, é
Igneas ou magmáticas
uma rocha ígnea, intrusiva, pluttinica e máfica. As
Estas rcJchas resultam do resfriamenteJ de mate- re>chas ígneas claras sãeJ mais ricas cm minerais ceJn-
rial rcJchoso fundidc), chamadci magma (Fig. 2.12a). tcnc!eJ silícieJ e alumínici (siálicas), que incluem os
Quando o resfriamento ciccJrrcr no intericJr do glcJ- feldspatcis e <J quartzei, eJu sílica (daí, o nome
beJ terrestre, a re>cha resultante será dcJ tipc) ígnea félsico). () granitcJ é uma rocha ígnea, intrusiva,
intrusiva. Se e> magma conseguir chegar à superfí- plutc")nica, siálica e félsica. 1":sta diferença na cc>nsti-
cie, a reJcha resultante será deJ tipe) ígnea extrusiva, tuiçãcJ química deJs magmas indica que existem
também chamada de vulcânica (Fig. 2.12IJ). 1\ rcJ- diferentes tipos de magmas (Cap. 16).
cha vulcânica mais abundante é o basalto, cuja
·~ ~- ~· . "'
ccimpos1çao qu1m1ca e rica cm p1roxcntcJs e Sedimentares
plagioclásio cálciccJ. () C:ap. 16 trata especificamente
deJs magmas e rochas ígneas. IJarte das rcJchas sedimentares é formaela a partir
da cc)mpactaçãcJ e/ ou cimentação de fragmentos pro-
Para recc>nhcccr se a rocha é intrusiva cJu
duzidos pela açãcJ deis agentes de intemperismo e
cxtrusiva é neccssáricJ avaliar sua textura. ()
peelogênesc (Cap. 8) scJbre uma reJcha preexistente
resfriamento dc>s magmas intrusivcJs é lente>, dan-
(prote'ilite)) (Fig. 2.126), e apc'is serem transportados
dcJ tcmpc) para que os minerais em formaçãeJ
pela açãc) deJs \"entcJs, das águas que escoam pela su-
cresçam o suficiente para serem facilmente , isívcis.0

perfície, ou peleJ gelei, elo pcJnteJ ele origem até o peJnto


Alguns cristais peJdcm chegar a várieJs ccntímetrcJs.
de llepcJsiçãc> (I:ig. 2.12c). IJara qLte se forme uma reJ-
() granito (Fig. 2.11) é a rcJcha ígnea intrusiva mais
cha sedimentar é necessário, pe)rtanteJ, que exista uma
abundante na crosta terrestre.
rcJcha anterior, que pode ser ígnea, metamórfica e mes-
CMituLO 2 • MI s I ROOIAS: CoNSmUI DA TE SóUDA 39 -~
..

m(J ()utra sedimentar, fcirnecenclci, pelcl inten1peris111<J, ( l n1etan1cJrt1s111c1 rcgicJnal cJccirre c111 ,graneles ex-
sedimentos (partículas e/ CJLI con1p( JS tos qL1Ín1iccJs ciis- ten sc'íes ela sulJsupcrfícic clci glcJIJcJ terrestre, cm
scilviclcis) qL1e serãcJ as 111atérias-primas L1sadas na cclnsce1(.iência cic c\·cnt<Js gecJl<'igiccJs ele granele pcirte
t<irmação da futL1ra rcicha scelin1entar. ()s ccHnpcJstcis ccJn1c J, pc Jr exen1plcJ, na celificaçãci ele cadeias ele mcJn-
químicos dissol,-ic!cJs representam a 111atéria-prima para tanh as. l)epe11dcndcJ elcis ,-alclres alcançaelcis pela
eis sedimentos químiccis. ()s seclimentcJs (Fig. 2.1 ?e) ,·ariacàcJ de rircssãcl e tc111pcratura têm-se cJs
sempre se elcpcisitan1 em camae1as scJlJrc a superfície n1ctan1c Jrt1s111cJs rcgicJnais de l,aixcJ, médicJ e altcJ grau.
' '
terrestre. ,\s principais rcicl1as mcta111('Jrficas fcirmam-sc no
111cra111c1rfismci regicJnal. ,\Iuitas rcichas n1ctaméJrficas
C,2uandcJ a rcJcha seelitnentar é ccinstituíela prir partí-
sà(l rccc>nl1ccielas graças a SL1a cstrut11ra ele foliação, ciu
culas (clastos) preexistentes, ela é classificacla ccin1cJ
seja, a cJrientaçã(J prcfcre11cial qtie eis minerais placéiielcs
elástica. () prcJccsscJ gecilc'igicci qL1e 1111e as partículas
assu111c111, lic111 ccJn1ci a sua estrutura ele camaclas c1()-
sedimentares é ccinhccidcJ ccimcJ litificaçàcJ ciu diagêncsc,
liradas (l~ig. 1 . 12e1), ele\ iclcJ às def<irn1açéies qtic
e ccJmpreende Lima ccJml1inaçàci entre cJs prcJcesscJs ele
accJn1pa11han1 ci 111ctamcirfis111ci rchri(Jnal (C~ap. 19) . ()
compactação e ci111entaçàci. ,\ litificaçàci ciccirre en1
111eta111cJrt1s111<1 lcical restringe-se a c1cJ111ínicJs ele terrc-
condiçc)cs gcc)lc'Jgicas de baixa pressãci (lJescl c1cJs secii-
11c1 ciuc \·arian1 entre ccntítnctrc>s e elezenas de mctrcis
mentcJs pcJstericJres) e lJaixa temperatura (- 25(1º(=) e.
c1c cxtcnsàci. (2uanclcJ, nc) 111cta111cJrfis111c1 lcical, cJ a11-
pcir issci, as rcichas clástjcas nàci têm, sal,·cl raras exce-
111cn t(J ele te111peratura prcdc1111ina, fala-se em
ções, a mesma ccJnsistência dura das rochas ígneas.
111ct,1111cJrt1smcJ ter111al CJLl de ccintat<l. JJcir cxcmp!cJ, as
:\s rochas seclimentares elásticas sàcJ classificadas rcichas regicJnais
, sulJmctielas acJ ccJntatcJ ccim uma câ-
de accJrdo ccim ci tamanho de suas fJartículas ccJnstitu- 111ara n1agn1ática peidem scifrcr este tipci e1e
inres, ccJmci veremcis ncJ Cap. 14. I~las sàcJ faci!t11cntc 111etan1cirt1sn1cJ. ,\s rcichas resultantes sãcJ chamaelas
reccJnhecidas, pela seqüência ele camaclas hcirizcintais hcJr11fcls. '.\;cJ n1etamcJrfisn1cJ elinâmicci preclcimina ci
com espessuras ,,ariá,-cis qL1e normalmente exilJctn. aun1entcJ cic prcssãc> nci fen(i111encJ ela transf(1rmaçãcJ
, .\s rcichas seelimcntares c1uín1icas clu nàcJ-clásticas elas rc Jcl1as, ccin1ci em zcinas de fall1as.

[sªo {cirmadas pela precipitaçãci deis radicais salincls, (2uandcJ a tcn1pcratura elci 111eta111cJrfism<J L1ltrapassa
.· que feiram prciduzidcJs pelo intc111pcrismc1 qLlÍn1icc1, e 11m certcJ li111itc, eleterminac1ci pela natureza química ela
agora encontram-se dissc1l, ielcJs nas ág11as elcJs ricJs,
0
rcJcl1a e pela pressão Yigcnte, freqüentemente na faixa de
os e mares. ~:ntre CJS principais ânicJns salincJs estãci 700-8()()
0
(-:, as rcichas ccimeçam a se fundir, proeluzindci
carl1cJnatc1s, clciretcis e sulfatcJs, ene1uantcJ eis princi- nci,·amente L1n1 mahrma (Fig. 2.12e).
· s cátions são os mais scilúve1s, eis alcalincis J\:a e 1--::,
os alcalino tcrrosc)s l\lg e Ca.
2.2.3 Distribuição e relações das rochas na
()s dcpé1sitc1s sedimentares de cirigem cirgânica sãcJ crosta terrestre
· mulos de matéria cirgânica tais ccJmci restcJs de ,-e-
. s, conchas de animais, excrementcis de a,,es etc. 1\ crcista terrestre representa a camada sólida externa
e, por ccimpactação, acabam gerando, rcspccti,,a- elcJ planeta. Ela está eli,,ielida em crcista continental, que
ntc, turfa, coquina e guano. São pscL1dc)-rc1chas ccirrespclnde às áreas continentrus emersas, e crosta oce-
, rque as suas partículas agregadas nãci sãci minerais. ânica, que ccJnstinú eis asscJalhos cJccânicos (Cap. 5). Tanto
Lima ccJmcJ cJutra são fcirmaclas pcir rcJchas. F,stuclos ela
distribuição litcilc\L,rica c1a crosta continental inilicam que
etamórficas
95'1/i, elci seu ,,cilume tcital corrcsponc.lcm a rcichas crista-
.-\s rochas metamórficas (C:ap. 18) resultam ela linas, ciu seja, r(1chas íh,neas e metamc'irficas e apenas 5cv;1
sfcJrmaçãci de uma rocha preexistente (protc'ilitci) a rcichas seelimentarcs. b:ntretantci, ccinsiderandcJ a ilistri-
estado sólido. () prc)cesscJ gecJléigicci de transfcJr- buiçào destas rcichas cm área de cxpclsiçàcJ rcJchcisa
cão se dá pcir aumentei de pressãcJ e/ ciu superficial, os números se modificam para 75º/t, de ro-
peratura sobre a rcicha preexistente, sem que cJ chas seilimcntares e apenas 25cy;, de rochas cristalinas. lstci
ntcJ de fusão dos seus minerais seja atingielcJ. Os inelica que as rochas sedimentares representam uma fma
ólogos não ccinsidcram transformações lâmina rcichcisa e1ue se dispõe sobre as ígneas e
tamórficas aquelas que C)CC)rrem elurante eis prci- metamórficas, consideradas principais na ccinstituiçàcJ
sos de intempcrismcJ e ele litificaçãci. litc1lé1gica da crcista continental.
Os agentes de erosão podem movimentar
o material que forma o manto de
intemperismo, incluindo o solo. A falta de
vegetação contribui para a erosão. A de-
posição dos sedimentos (foto c) ocorre nas
zonas mais baixas, em bacias de sedimen-
tação. Com o tempo, este material pode
ser soterrado, compactado e transforma-
do em rocha sedimentar (Litificação).

SEDIMENTO

ROCHA
SEDIMENTAR

Qualquer tipo de rocha pode sofrer metamorfismo


em ambiente de altas P e T, com produção de dobras
(foto d) e foliações, além de recristalizações mine-
rais, gerando rocha metamórfica.

ROCHA
METAMÓRFICA

Fig. 2.12 O ciclo das rochas


ICL DAS
O intemperismo altera as características físicas e químicas das ro-
chas ígneas, metamórficas e sedimentares quando expostas no
superfície terrestre, formando um manto de intemperismo, consti-
tuído por material friável (foto b). A pedogênese é a formação do
solo na parte superior do perfil.

MANTO DE
INTEMPERISMO

ROCHA
ÍGNEA
No vulcanismo, o magma quente
chega à superfície, onde se derrama
como lava (foto a). Sua solidificação
forma rocha ígnea vulcânica. Se o
magma ficar preso no interior da
crosta terrestre, forma rocha ígnea
plutônica após sua solidificação.

ualquer tipo de rocha (ígnea, metamórfica ou


dimentar) pode ser levada a ambientes geológi-
cos de P e T ainda mais altos que o ambiente
metamórfico. Neste caso, pode ocorrer a fusão par- ·
·ai. No'exemplo (foto e), as massas claras são
mpostos por. feldspatos e quartzo· cristalitddos ·. ··
magma formddo pela fusão dos mine_rais me-.·
s refratários, enquanto as partes escuras são
mpostôs pelos minerais mais refrat6rios que não
egam a fundir.
;\s relaçi'ies entre <JS três tip<)s genétic<1s ele rc>- cin1entaçãci elcis fragmente>, uns a<15 ciutrcJs. J\s rci-
chas na cr<Jsta nà<l se dàcl aci acasci. i\<i ccintrárici, chas seclimentares, peir sua vez, p<>r aumentei de
existe urna elisposiçãci rígiela e1ue retletc exatamente pres sãei e tetn pera tL1 ra, gc ra rã <l as rcic h as
eis c,·cnt<JS gccJlcigicc1s c1ue <)c<irreram cm dctermi- mctam{Jrficas (f<ig. 2.12el). 1\(1 aumentar a pressãci
,

11acla rcgià<J. f( peissível, para <J ge(ilcig<i, clescrc,:er e, especialn1entc, a temperatura, em cleterminadci
a l1istc'Jria geeJ!c'Jgica e-la crcista, através elci estuelci pcJntci ciccJrrerá a fusàcJ parcial (t;ig. 2. l 3e) e nciva-
elas r<>chas e deJs tip<>S e-le C<Jntat<1s que existcrn en- tnente a pc>ssibilielaele de feirmaçãei ele uma n<Jva
tre elas. 1\s f<intes de inf<irmaç<->es para este estude> rcicha ígnea, danclci-se inícici a um neJV(J ciclcJ.
sà<J c>s mapas gecilc'igicc>s, ceirtes r<>ch<>sc>s cn1 es-
l~sta seciüência ele cventcis geci]{JgiccJs é apenas
tradas e ferrc>vias, perfuraçc'íes ele pclÇ<>s para
un1a elas ,•árias alternatiYas que a natureza tem para
<>l1tençà<J de água e petr<'ileeJ etc.
esta!Jelecer um relacieinamcntci gcnéticci entre as
rcichas ele neissa crcista.
2.2.4 O ciclo das rochas

1\s r<Jchas terrestres nà<J ceinstituen1 111assas es- 2.2.5 Utilidade dos minerais e rochas
táticas. !·:las fazem parte ele utn planeta chei<J de
()s minerais e rcichas representam bens minerais
energia, que preJm<ive, C<Jm sua alta ten111eratura e
ele granele impcirtáncia aci ceinfc)rtc1 e IJcm-estar ela
11ressã<i interna, tcieleis <is pr<icessc>s de al1alcis sís-
humanidade. Enccintram utilizaçc"ies elas mais diver-
n1iccJs, mci,•imentc>s tect<Ínicc>s ele placas e ati\ iclaeles
0

sas fcirmas, nas áreas ela metalurgia (fcrrcJsa e nãei


yu]cânicas en1 uma dinâmica muit<J intensa ((~aps. -1
ferrcJsa), ela ccinstruçãci civil, da indústria ele fertili-
e 6). l)a n1esma fc1rn1a, a atividade intempérica e
zantes, etc. (C~ap. 21).
er<)si,·a externa, envol,·endei <JS agentes atm<Jsféri-
ceis ceimei <J caleir elei Sei], ch11vas, ,·entcis, geleiras,
tamlJém atuam seilJre estas reicl1as, causa11dei cc>ns-
Leituras recomendadas
tantes alteraçe1es (Caps. 8 a l-1). J•:m s11ma, a 'ferra é
um planeta vive> em ccintínua n1<ielificaçà<J. DANA, J. 1). 1i1anual de },1ineralogia. Portei Alegre:
LTC, Ri(i de Janeiro, 1976.
J\s atuais r<Jchas ígneas superficiais ela Terra es-
tãei sofrenelci c1 C<Jnstante atae1ue clcls agentes DEER, WA., HC)WIF:, R A. & ZUSSMAN, J. Mi-
intempériccJs - CJS cc1mpc1nentes atme)sfériccis ()2 e nerais constituintes das rochas - uma introdução.
C() , a água e c1s cirganistncis - que lentamer1te re- Lisbcia: f<undação Calouste Gulbenkian, 1966.
2
eluzem-nas a material fragmentar, incluinelcJ tantei
ERNST, G.W l'vfinerais e Rochas. SãcJ Paulo: Edgard
eis cletritcis sc'ilielcis ela rcicha <>riginal cein1e1 <JS 11c1-
Blücher, 1971.
vc1s n1inerais fcJrmaclcis e-!t1rante ei inten1perismc>
(F;ig. 2.12b). 1\ açãci ele agentes de ercisãc> e trans- I<I,EIN, C. & HURLBUT, Jr., C.S. Manual of
pcirte - a água c<Jrrente, eis ,•entcis <>Lt c1 gelei - lvfineralogy. New York: John Wiley & Sons, 1993.
reelistrib1ii o material fragmentar através ela super- LF'.INZ, V. & SOUZA CAl\íPOS, J. E. Guia para
fície, depc>sitando cc1mcJ seclimentcis (f<ig. 2.12c), deter1t1inação de minerais. São Paulo: Nacional, 9ª
incciesc>s nci inícici. 'fransfcirmam-se en1 rcichas ed., 1982.
seelimentares, pcirém, pela compactaçà<J clcis frag-
mentos e expulsãci c-Je água intersticial e pela
urquia, madrugada de 17 de agc)sto de 1999. Terra revela sua estrutura interna, tema que será deta-
Na cidade de Izmit, numa das regiões mais den- lhado nos próximc)S capítulos.
samente povoadas do país, a pc)pulaçãc) dorme
O Brasil era considerado assísmico até pouco
tranqüila. De repente, sem nenhum aviso prévio, a ter-
tempci atrás, por nãc) se conhecerem registros de
ra treme violentamente, causanc.lo terror e destruição.
sismos destrutivos, e os poucos abalos sentidos eram
Em menos de um minuto, está deflagrada mais uma
interpretados cc)mc) "simples accJmodação de cama-
tragédia: mais de 15.00() mc)rtos, quase meio milhãc)
das". B~studos sismolc')gicos a partir da década de 70
de desabrigaclos, a cidade inteira praticamente arrasa-
mostraram que a atividade sísmica no Brasil, apesar
da e prejuízos de l)ilhões ele dólares ac) país. Em pc)ucos
de baixa, não pode ser desprezada e é resultado de
segundos, a Terra faz lembrar ac) ser humanc) que a
fc)rças gec)lógicas que atuam cm toda a placa que
noção de terra firme é uma ilusãc): o país já havia qua-
contém o continente sul-americano. Veremos tam-
se esquecido a calamidade semelhante sofrida 60 anc>s
bém que um dos aspectos importantes da sismicidade
antes. Cc)mo se não bastasse a tragédia humana para
no Brasil é que parte dela é causada pela implanta-
mostrar o poder das fc)rças internas da Terra, uma
ção de ncJvos reservatóric)s hidroelétricos (chamada
ruptura de 40 km c-Ie extensão na superfície, com des-
sismicidade induzida).
lc)camcnto lateral de vários metrc)S, evidencia mais uma
vez a evoluçãc) contínua e inevitável do nossç) planeta. r

()s terremotos, mais de) que qualquer c)utrc) fencí-


3.1 O que E o Terremoto?
mcno natural, demc)nstram inequivocadamente o caráter Com e) lento movimento das placas litosféricas,
dinâmico da Terra. O registro de milhares de tcrremo- da ordem de alguns centímetros por ano, tensc3es
tcis em todc) o mundc) (1''ig. 3.1) define e emc)ldura as vãc) se acumulando em vários pontos, principalmente
várias placas que formam a casca rí6ricla da Terra. Nes- pertc) de suas bordas. As tensões acumuladas po-
te capítulc), estudaremos os terremotos e sua relaçãc) dem ser compressivas ou distensivas, dependendo
com a mc)vimentaçãc) destas placas litosféricas (a c-Ii- ela direçãc) de mc)vimentação relativa entre as pla-
ferença entre litosfera, a casca rígida da Terra, e crosta cas, cc)mo veremos adiante. Quando essas tensões
será cxplicacla adiante). Veremcls também cclmc) C) estu- atingem C) limite c-le resistência das rochas, occ)rre
de) da propagação das c)ndas sísmicas pelo interic)r da uma ruptura (Fig. 3.2); o movimente) repentinc) en-
180' -160' -140' -120' -100· -80"
..J
-60' -40' -20· o· 20· ~· oo· 80' 100· 1~· 1~· 100· 1~·

60'- •
• l

• •


40'-


20· - •


o· -

-20· •

-40· _;

• •
• •
-60' - prof, (km)
••

O~ 35 •
36 • 350 ••
351 · 675
-

Fig. 3.1 Sismicidade Mundial. Mapa de epicentros do período 1964 a 1995 de sismos com magnitude> 5,0. Fonte: U.S. Geological
Survey.
• Efeitos de um terremoto ocorrido em Taiwan, em 1999. Foto: Reuters.
lc·Jgic( J de acúm ulc1 lente, e liberaçãc1 rápida de tensões .
.\ eliferença principal entre eis grandes terremc>tos e os
pcqucncis tremcires é e, tamanhci da área de ruptura, ci
• que c1etermina a intcnsidac1e elas \ ibraç<">es emitidas .

• 3.1.1 Ondas sísmicas

C1uandcJ occirre lllna rl1ptura na litosfera, sãci gera-


elas , ibraçc:ies sísn1icas que se prcipagam em todas as
clirecc:ics na forma ele cindas. C) n1csmcJ ciccirre, por
exe111 piei, cc1n1 uma dctcinaçãci ele cxplosivcis numa
peelrcira, cujas ,·il,rações, tantci nci terreno cc,mci sci-
nciras, pcielem ser sentidas a graneles clistâncias. Sãci
estas "cin . . " qltC causam elaneis pertci d ci
d as s1sm1cas
epicentro
epiccntrci e pc1c1em ser registradas pcir sismcJgrafos
e1n tcJdci e) ml1nclc1.
e
l ·:n1 23 ele jancirci de 1997, ciccirrcu um terremoto
na frcinteira Argentina/Bolí,·ia (I;ig. 3.3a), ccim pro-
fundidae{e fcical de 280 km e magnitude de 6,4. As
ruptura · hipocentro
ou foco
cJnclas deste sismei ti,·cram amplitueles suficientes
para serem sentidas na cid.acle ele São Paulci, nc>s

Fig. 3.2 Geração de um sismo por acúmulo e liberação de


esforços em uma ruptura. A crosta terrestre está sujeita a ten- 70cV\' 60°W 50°W 40°W
sões (a) compressivas neste exemplo, que se acumulam
lentamente, deformando as rochas (b); quando o limite de re- BOLfVIA a
sistência das rochas é atingido, ocorre uma ruptura com um BRASIL
20°S epicentro
deslocamento abrupto, gerando vibrações que se propagam em
estação
todas as direções (c). Geralmente, o deslocamento (ruptura) se
dá em apenas uma parte de uma fratura maior pré-existente
---- -►--- ....
(falha geológica). O ponto inicial rJa ruptura é chamado ARGENTINA
hipocentro ou foco do tremor, e sua projeção na superfície é o
epicentro. Nem todas as rupturas atingem a superfície. --..
E 0.05
E
'-
z b
O 00
o '
'<ll
.i::
-0.05 p
trc os blocos de cada lado da ruptura geram vibra- u 0.05
ções que se propagam cm tcidas as direções. (1 plan<, o N
-o 0.00
de ruptura fcJrma o que se chama de falha geológi- ...oe: -0.05
s s
ca. Os terremotos podem cJccirrcr no ccintato entre Q)

E 0.05
duas placas litosféricas (caso mais freqüente) ou nci Ili E
e., O 00
interior de uma delas, ccimo indicadci no cxcn1plci
da Fig. 3.2, sem que a ruptura atinja a superfície. ()
-
Q
o
l i)
Q) -0.05
w

200 400 600


pontci cinde se inicia a ruptura e a liberaçãci das ten-
Tempo desde origem (s)
sões acumuladas é chamado de hipocentro c>u foco.
Sua projeção na superfície é o epicentro, e a clis-
Fig. 3.3 Argentina abala São Paulo. a) Registro no es'oção
tância do foco à superfície é a profundidade focal. sismográfica de Valinhos, SP, de um sismo ocorriao na frontei-
Embora a palavra "terremoto" seja utilizada mais ra Argentina/ Bolívia (23.01. l 997) com magnituae 6,4. b) O
movimento do chão é descrito pelos três componentes: Z (ver-
para os grandes eventos elestrutivos, enquanto eis me-
tical, positivo para cima), NS (positivo para o Norte) e EW
nores geralmente são chamadcis de abalcJs ou tremcires
(positivo para o Leste). As ondas P e S chegam 230s e 41 Os,
de terra, todos são resultado do mesmo processei geei-
respectivamente, após a ocorrência do terremoto.
anelares st1pericires ele lJrédicJs altcJs (na \'erclae-!e, as
one-!as sísmicas fizeram alguns préclicJs entrar em res-
scJnância: eis andares mais altcJS cJscilam ccim maicir
an1plitude!). 1\ r'ig. 3.3\J mcJstra cJs sismcJgramas (u1n
para cada cc>mpclnente elcJ mcJ\iimentci ele> cl1àe1: ver- Onda P
tical, NS e f,'.\\') registradc1s nac1uela cJcasiàci pela
estaçàci sismcJgráfica ele Valinhos, a 7() kn1 ele Sàc>
Paulc1. t\ ruptura e1ue causc>u o terren1otc> fcii muitci
rápida e durc>u cerca ele 5 s apenas. Nci entantci, fei-
,, :',
ram geraelas cindas sísmicas c1ue passaram pela , ,

estaçàci, a 1.930 km ele elistância, clurante 111ais ele 2(1


. ··········.: : Oitcll~ $ i
minutos. lstci ciccirre pc>rque h~í ,,áric1s ti11cis ele cin-
das sísmicas c e> m \'e Io ci el ael e s ele 11 r cJ p agaç àci
diferentes e CJLlC perccirrem traj etéirias el is tintas.

3.1.2 Como vibra o chão?


Na f·'ig. 3.3 a primeira mci,·imentaçà<> e-lei chàci
(chegandci 230s após a cJccirrência dcJ terremcito) é
um deslcJca1nentci de 0,03mn1 para ci111a e para
],este. Nesta primeira cinela, e1t1ase nàci há vil1raçàc1
na c-!ireçàci N S. CcimcJ as cinclas esta ,·atn se prc>pa ··
ganelo ele ()este para ],este (ele> epieentrci para a
estaçàcl) e ehegara111 na estaçàci ,-inelc.> ele l1aixr> para Fig. 3.4 Os dois modos principais de propagação das vibra-
cima (pcirque as <>nelas sàc> transmitielas pelei interi- ções sísmicas são a onda P (a), longitudinal (vibração paralela
cJr da 'ferra), vemcis c1ue as ,,ibraçc'ies nesta primeira à direção de propagação), e a onda S (b), transversal (vibração
r1nela sàc> paralelas à e-!ireçàcJ ele prc>pagaçàci. r'.sta perpendicular à direção de propagação). Junto à superfície da
Terra, propagam-se também as ondas superficiais: onda
prin1eira cJnda é, pc>rtantci, lcin,c;itt1elinal e charna-se
Rayleigh (c), que é uma combinação de ondas P e Sonde cada
cinda P. (~uase 20() seguneleis elepciis ela ci11da P, ci
partícula oscila num movimento elíptico, e ondas Lave, com
chàci scJfre um eleslcJcamentci ele 0,07 m1n ncJ senti-
oscilação horizontal transversal. Nas ondas de superfície, as
elo Norte. r'.sta segunda cJnela tem ,·i\Jraçàci amplitudes diminuem com a profundidade. Note que, na pas-
perpendicular à elireçàci ele prci11agaçà<J e é cl1a111a- sagem das ondas sísmicas, o meio se deforma elasticamente.
da cinela transversal cJu cJnela S.

Há, pcJrtantci, clciis tipe>s ele YilJraçc-ies sís111icas


e1n um meici sc'ilidci qt1e se prcipagam em tciclas as a chegar e a S é a segunela (daí <J ncJme ele P e S). ()
clireçc'ies: vibraçc'ies lcingitudinais e trans,·ersais. Nas sc)m e1t1e se prclpaga no ar também é uma onda P, da
c>nclas lcingitudinais (cJnelas P), as partículas dei tneio mesn1a fcirma que as \-ibrações em um meic> líquidc1.
,,ibram paralelan1ente à direçàcJ ele prc>pagaçàci; nas r\s cJndas S não se prcipagam em meicis líquidos e
trans,,ersais (cinelas S), as ,,i)1raçc'ies elas partíctilas gasciscJs, apenas nos sólielcis.
são perpeneliculares à elireçào ele pr<>pagaçàci ela 1\s ,-elocie-!aeles e-!e prclpagaçào das ondas P e S
c1nda. 1\s Figs. 3.4a e 3.4b mcistram ccimci un1 rneici elepenc-!em essencialmente dcJ meic> por onde elas
sc'ilidci se elef<irma ccim a passagem das rinelas lci11- passam, ccimlJ mostrado na Fig. 3.5. r-,:m geral,
gi tuelinais e trans\"ersais. N u1na c)nda sísmica há e1uantci maicJr a densidade de uma rcJcha, maior a
,
transmissàci nàcJ apenas e-!e ,·ilJrações elas partículas velcJcielade e-las cJndas sísmicas. E justamente esta
e-lei meic>, n1as tambén1 de elefcJrmaçc1es l1(J n1eic1: prcipriedade que permite utilizar as cJnelas sísmicas
as ondas l) ccirrespcindetn a clefcirmaç(>es ele c.lila- para c>bter informações scibre a estrutura e a ccim-
taçàcJ / con1pressàci, e as (Jndas S ccirrespcJndem a pcisiçào em grandes prcifune-!idades. PcJr exemplo,
d.efcirmações ta11genciais (tan1l1én1 cl1a111aelas ele analisandcJ-se as ,,ibracc1es prci,·licaelas por explo-
cisalhamentc>). A ,,elcicielae-le ele propagaçàcl ela Clnela sc:ies artificiais ccintrcilac-las en1 uma bacia sedimentar,
[) é maic>r e1L1c a ela S. Pc>r issc>, a (Jnda Pé a 11rin1eira pcJdemos deduzir as velciciclacles sísmicas nas várias
CAPÍTULO 3 • SISMICIDADE E ESTRUTURA INTERNA DA TERRA 47 · .

camadas sedi111entares da bacia e cJlJter infcJrmacõcs O.O p


sobre eventuais estruturas geológicas impc)rtantes.

-
E
O.O
z

Assim, CJ métoclcl sísmicci é de grande impclrtância -


E -0. 1

prática, peJr exemplel, na explcJração de petróleo e -"


o 0.1
e:
E
O.O
N
s
Rayleigh•·

-0. 1
na busca de água subterrânea. Em uma escala glci- "'o
-.," 0.1
s
Love
bal, os registrcls elcJs terremeitcis em uma rede de "' O.O E
□ w
estações sismográficas permitem também conhecer -O 1

as velcJcie-lades sísmicas no interior ela Terra e estt1- 400 600 800 1000
Tempo desde origem ( s)
dar a estrutura, a ccJmpclsiçàcJ e a e,reJluçàeJ atual del
neJsScJ planeta.
Fig. 3.6 Sismo das Ilhas Sandwich (Atlântico Sul) em 27-09-
As vibraçe3es P e S sàcJ chamaelas ondas internas 1993, registrado numa estação perto de Poços de Caldas, MG
por se propagarem em tcldas as dircçe3cs a partir (Brasil), a 3.570 km de distância. No trem de ondas superfici-
de uma pcrturbaçàeJ dentreJ de um meio. 1\lém elas ais Rayleigh (componentes Z e NS) e no trem das ondas Lave
eJndas internas P e S, há uma maneira especial ele (componente EW), as oscilações com períodos maiores che-
gam antes por terem velocidades de propagação maiores.
prclpagaçào de vibrações junto à superfície da Ter-
ra: são as cindas superficiais, que peidem ser de dois
tipos, Love e Rayleigh. As cJnelas superficiais Lc>vc
ccJrrespclndem a supcrpclsiçc3es de cJndas S ceJm vi- 3.2 Estrutura Interna da Terra
braçc3es hcJrizcJntais concentradas nas camadas mais
NàeJ é pcJssível ter acesso diretci às partes mais prci-
externas da Terra. 1\ onda superficial Rayleigh é uma
ti1nclas da Terra devidcJ às limitaçc'íes tecncJlc'igicas de
ccimbinaçàcl de vibraçc"íes P e S ccintidas nci plancJ
cnfre11tar as altas pressões e temperaturas. () furo de
vertical (Figs. 3.4c e 3.4el). No sismograma da Fig.
scJnelagem mais profundei fcitcJ até hcljc (cm I<.cila,
3.6, pcJdemos observar que as c>ndas superficiais
Rússia) atingiu apenas 12 km, Lllna fraçãcJ insignifican-
aparecem como um trem ele cJnelas de maior dura-
te cei111parada acJ raicJ da Terra de 6.370 km. J\ssim, a
çàei e cclm perÍeJelcJs diferentes. Uma característica
estrutura interna elcl planeta scJ pciele ser estuelac-la e-lc
elas onelas superficiais é que a veleJcielaele ele prei-
maneira indireta. A análise elas eJndas sísmicas,
pagaçàcJ elepene-le também do perícJdcJ da CJscilaçàcJ
registraelas na superfície, permite deduzir várias carac-
(ncJ exemple), vê-se que as ciscilações de maicJr pe-
terísticas das partes internas da Terra atravessadas pelas
rÍcle-lo estão chegando primcircl). 1\s ondas I~cJve,
cJndas. r\lguns aspccteis lJásiceJs ele prelpagaçàeJ de
cm geral, têm vcleJcidade de prcJpagaçãci maicir de>
c>nclas sísmicas serãcJ abcire-lae-lcJs agcJra, mcJstrandcJ
que as anelas Rayleigh.
comei as principais camadas da Terra sãc) estudadas.

3.2.1 Lei de Snell e curvas tempo-distância


Arélli •
satíiri\ . (~e)mo qualquer outro fcnômcncl ondulatóricl (por
Aterro''
'' ',' exemple), a luz), a direção de prcJpagaçàcJ das cJndas
' ; ' ,, ' ' ' " '

Arg/1.a • ···••
' ' '' sísmicas muela (refrata) ao passar de um meio com
Agu.<1• .. •···•·•·· vcleJcieladc \ 11 para eJutrc) cc)m velc)cidade diferente
Ar&/a• •, •
saturi\ili. .. V 1\s c1ndas sísmicas scJfrem refraçàcl e reflexàcJ e
0

Folh;t~iJ.
' ", ;,s,•'''·'"' ' ·• tamlJém eJbedecem à lei de Snell (Fig. 3.7). Numa
interface separandc) dc)is meios diferentes, há também
ccJnvcrsãcJ de oncla P para S e ele onela S para P. Por
exemplei, a Fig. 3. 7 e mc>stra uma cJnda P incidente,
;,•' ; ' " cuja energia é repartida entre P e S refletidas e P e S
B aai\//q• ••·. ," '

·"'• ·i. refratadas. A lei d.e Snell, neste cascJ, se aplica a cada
o 1000 2000 3000 4000 5000 6000
tipci ele raio.
Velocidade da onda P (m/s)
(~uandcJ o meio é constituído ele ,árias camadas
Fig. 3.5 Exemplos de intervalos de velocidades da onda P horizc)ntais, a lei de Snell define a ,-ariaçàei da
para alguns materiais e rochas mais comuns. direçàcl dcJ raiei sísmicc>, comcJ mcJstradcJ na Fig. 3.8.
jetória da onda se apre)xima ela normal à interface
0 (ceimo viste) na Fig. 3.7b). Isto faz e) raio sísmice) C se
afastar muite) de) raie) sísmice) B, crianclo uma inter-
rupção na curva tempo-distância (Fig. 3.10b), também
0,
chamada "zona de sombra" na superfície. As ondas
que penetram na camada mais profunda formam um
ramo mais atrasado com relaçãei ao ramci mais rasei
(Fig. 3.1 Ob). () núclee) da Terra fcii desce)berto pela
s sua Z<)na de sc)mbra, ccimo se verá adiante.
p

sen01 sen02 sen~.1 sen~ 2


- - -
p
Vp, Vp, Vs, Vs, ® T tempo
:4
''
i3
''

i1
''
Fig. 3.7 Lei de Snell que rege a reflexão e refração das on- '
'''
das. Quando a onda passa de um meio de menor velocidade ''

para outro de maior velocidade, o raio da onda se afasta da


distância Ll
fal V fê\ .
normal à interface (a). Quando a onda passa para um meio "'-'.'.J .---.--- ~ sismo 1
velocidade .----+-...!2Í'------;3-;.--..:;4~
com velocidade menor, ela se aproxima da normal à interface
(b). No caso das ondas sísmicas, parte da energia da onda
incidente P (ou S) pode se transformar em ondas S (ou P), sem-
pre obedecendo à lei de Snell (c).
z
profundidade
a Fig. 3.9 Quando a velocidade aumenta linearmente com
a profundidade (a), os tempos de percurso formam uma cur-
va (b), e as trajetórias dos raios sísmicos são arcos de
circunferência (c).

@T e
B ., - - -
'''
!
''
'
l'
l
Fig. 3.8 Lei de Snell numa sucessão de camadas horizontais. 'l
:
'

Nci caso em que a velocidade aumenta graclualmente A B C


L.\
ccim a pre)fundidade, equivalente a uma sucessãc) de
infinitas camadas extremamente finas (l~ig. 3.9a), as • ::,,.,,....,_,: ___ ----------
ondas percorrem uma trajetória curva (Fig. 3.9c) e ei
gráfico deis tempe)s de percurse) em função e-la clistância
será uma cur,·a, como na Fig. 3.9b.
z \

Imaginemc)s agc)ra que haja uma desce)ntinuidade


nei interieJr da Terra separando dois meic1s diferentes Fig. 3.1 O Quando a estrutura de velocidades apresenta uma
diminuição abrupta na velocidade numa certa descontinuidade
(Fig. 3.1 Oa), sendo que o material imediatamente al)ai-
(a), as curvas de tempo de percurso terão uma interrupção (b).
XC) da descontinuidade tem ,-elocidade mencir à dei
A onda correspondente ao raio "C", ao atingir a descontinuidade
material acima. Quando as ondas passam do meio (c) sofrerá uma refração (aproximando-se da normal à interface,
com velc)cidade maic1r para e) meio com velocidade como na Fig. 3. 76) que a afastará bastante do raio "B", criando
mene1r (ponto P na Fig. 3.10c), pela lei de Snell, a tra- uma "zona de sombra" na superfície.
3.2.2 As principais camadas da Terra
40
A análise de milhares de terreme)tos durante mui-
tas décadas perm1t1u cc)nstru1r as curvas
tempo-distância de todas as ondas refratadas e refleti-
ses
~ 30 Pl(l(p
das no interior da Terra (Figs. 3.11 e 3.12) e deduzir a 1/)
o
....,
sua estrutura principal: crosta, manto, núcleo externo e ::,
e
núcleo interno (Fig. 3.13), assim como as proprieda- E p
des de cada uma destas camadas principais. - 20
o
e. ses
E
PKIKP 9
ºº ~
pcS p

PcP 10

Foco

o
-- --,J
' .........
o 30 60 90 120 150 180
''' -180° Distância (graus)
. Núi:leo
Fig. 3.12 Tempo de percurso das principais trajetórias pelo
interior da Terra. A distância é medida pelo ângulo subtendido
no centro da Terra. SKS, por exemplo, é a onda S pelo manto
,
PKKP que se transforma em P durante a passagem pelo núcleo exter-
no (percurso "K") e se transforma em S novamente ao voltar ao
Fig. 3.11 Trajetórias de alguns tipos de onda no interior da
manto.
Terra. O trecho do percurso da onda P no núcleo externo é de-
nominado "K". Assim, a onda PKP é a aquela que atravessa o
núcleo externo. No núcleo externo, não há prc)paga-
manto como onda P, depois o núcleo externo e volta pelo manto
como onda P novamente. O percurso no núcleo interno é cha- ção ele e)ndas S, o que mostra que ele deve estar em
mado "I" para onda P. Letras minúsculas designam reflexões: "c" é estado liquide), razão pela qual a velc)cidade da onda P é
reflexão do núcleo externo e "i" do núcleo interno. bem menor do que as do manto sólido. Por outro lado,
a densidade do núcleo é muito maior do que a do man-
to (conforme deduzida de outras considerações
A primeira camada superficial é a crosta, com es-
geofísicas, como a massa total da Terra e seu momento
pessura variando de 25 a 50 km nus cc)ntinentes e de 5
de inércia). Estas características de velocidades sísmicas
a 10km nos oceanos. Na Fig. 3.11, a crosta não apare-
baixas e densidades altas indicam que o núcleo é com-
ce por ter uma espessura comparável à espessura da
posto predominantemente de Ferro.
linha que representa a superfície da Terra. As veloci-
dades das ondas P variam entre 5,5 km/ s na crosta
superior e 7 km/ s na crosta inferior. 3.2.3 Litosfera e crosta
A curvatura da primeira onda P (Fig. 3.12) indica que A grande diferença entre as ,·elocidades sísmicas
as velocidades de propagação abaixo da crosta aumen- da crosta e do manto 'Fig. 3.136) indica uma mudan-
tam até a profundidade de 2.950km. Nesta região, ça ele composição química das rochas. A
chamada de manto, as velocidades da onda P vão de descontinuidade crosta, manto é chamada de Moho
8,0 km/s, lc)go abaixo da crosta, a 13,5 km/s (Fig. 3.13a). (em homenagem a ~Iohoro,·icic, que a descobriu em
Nas curvas tempo-distância (Fig. 3.12), a interrupção da 1910). Abaixo da crosta, estudos mais detalhados em
onda P à distância de 105º e o atraso do ramo PI<P entre muitas regiões mostram que há uma ligeira diminui-
120º e 180º, com relação à tendência do ramo das ondas ção nas ,·elocidades sísmicas do manto ao redor de
P, caracterizam uma "zc)na de sombra" e indicam que as 100km de profundidade, especialmente sob os ocea-
ondas PI<P atravessaram uma região de velocidade me- nos . .,\ composição química das rochas do mante) varia
nor abaixo do manto. Esta região, a profundidades relati,·amenre pouco comparada com a da crosta. Esta
maiores de 2.950km, é o núcleo da Terra (Fig. 3.13a). "zona de baixa ,-elocidade" abaixo dos 100km é cau-
Dentro do núcleo, existe um "caroço" central (núcleo sada pelo fato de uma pequena fração das rochas
interno), com velocidades um pouco maiores do que o estarem fundidas 'fusão parcial), diminuindo bastante
o
crosta
.......
-...... ---
li)
12 p
-E 50 litosfera
-- Moho
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i
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>
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2 núcleo 300
manto externo interno @
® 350
o 2000 4000 6000 , 4 5 6 7 8 9 10
Profundidade(km) Vp(km/s)

Fig. 3.13 a) Perfil de velocidades sísmicas (Vp e Vs) e densidade p) no interior da Terra. b) Exemplo de perfil de velocidade da onda
P na crosta e manto superior, numa região continental.

a rigielez do material nesta profunelielacle. Desta ma- com valores aproximac-l<JS elas acelerações dcJ mc1vi-
neira, a crosta, jL1nto C<)m uma parte do mante) acima 111ent<) dcl scilo. Cada grau da escala J\1M ccirrespclnde
da zona de baixa velocidade, fcirma uma camacla mais aprcJximadamente ac) cl<)bro ela aceleraçà<J c-l<l grau
dura e rígida, chamada litosfera. Nesta zcJna ele baixa anterÍ<Jr. Naturalmente, quantci maicir a distância d<J
velocidade, chamada astenosfera, as r<ichas sà<i n1ais epicentr<J, a intensidade tende a ser men<Jr. 1\ Fig. 3.14
maleáveis (plásticas). linquant<J a l\IohcJ é uma mcistra um exemplei ele mapa ele intensiclac-les (c-lito
clesc<)ntinuiclacle abrupta inclicanc-lc> mudança c-lc ccim- mapa " macr<Jssísmicc>") cl<i sism<J de 1\t<>gi-Ciuaçu,
p<)siçàcJ, <) limite litcJsfera/ astenosfera é mais graclL1al STJ, de 1922, scntic-l<i até mais de 30Clkm de distância.
e indica mudança de propriedades físicas: aument<J de Na regiãcJ epicentral, a intensidade atingiu CJ grau VI
temperatura, fusãcJ parcial e granelc diminuiçãci ela \"iS- l\L~I, prcl\'Clcancl<i rachacluras em várias casas e c-!es-
cosielade. 1\ verdadeira "casca" ela '!'erra, p<)rtantcJ, é a pertanclc> muitas pesscias cm pânic<i. As is<Jlinhas c-!e
litc)sfera. 1\s placas tect<)nicas (ou litosféricas) sãci pe- intensidacle (linhas c1ue cercam intensiclacles igL1ais) s:'ío
daçc) s de litcJsfera e1ue se movimentam s<ibre a chamaclas isossistas.
astenc)sfera.
52° 44°

3.3 Medindo os Terremotos


20°

3.3.1 Intensidade
Classificando os efeitos do terremoto II-Ili

;\ l ntensidade Sísmica é uma classificação dos


efeitos que as <inclas sísmicas provocam em cletermi-
nado lugar. N à<J é uma medida direta fci ta C<Jm 24°
instrumentos, mas simplesmente uma maneira de c-!es-
crc\·er eis cfeit<is em pess<Jas (cc)mo as pessoas
sentiram) en1 cJl)jetcis e ccJnstruções (barulhei e c1ueela
de cJl1jetcJs, trincas ciu rachaduras em casas, etc.) e na Fig. 3.14 Intensidades do sismo de 27.0l. l 922, com
epicentro na região de Mogi-Guaçu, SP. Os números são in-
natureza (mcJvimentcJ de água, escorregament<Js, lique-
tensidades "Mercalli Modificada". As maiores intensidades
façà<J de solos aren<JS<JS, mudanças na top<lgrafia, etc.).
foram VI. O epicentro (estrela) foi estimado com base na dis-
;\ Tabela 3.1 mcJstra u1na descricão •
da f~scala l\1ercalli
tribuição das intensidades e em dados da estação sismográfica
J\1cidificada (J\11\I), a mais L1sac-la atualmente, juntamente do Observatório Nacional no Rio de Janeiro.
C:omci a intensidacle é apenas uma classificaçàci, e " p<>uca, pcsscias "" .
, muitas pesscias " , etc. A ma1cir
.. uti-
nàcJ uma meclicla, ela está sujeita a muitas incertezas. lidade ela escala de intensidades é ncJ estudcJ de sismcJs
As infcJrmaçc>es ele ccJmci as pesscJas sentiram ci tre- "histcíricc>s", i.e., sismc>s ocorriclcJs antes da existência
mcir é sempre su!Jjetiva. 1\ prcípria escala tem utna c1e estaçc3es sismográficas.
natureza c1ualitati,,a quanclci se refere, por exemplei, a

Tabela 3.1 Escala de Intensidade Mercalli Modificada (abreviada).

Grau Descrição dos Efeitos Aceleração {g)

Não sentido. Leves efeitos de período longo de terremotos grandes e distantes.

11 Sentido por poucas pessoas paradas, em andares superiores ou locais favoráveis. <0,003

111 Sentido dentro de casa. Alguns objetos pendurados oscilam. Vibração parecida à da 0,004 - 0,008
passagem de um caminhão leve. Duração estimada. Pode não ser reconhecido
como um abalo sísmico.

IV Objetos suspensos oscilam. Vibração parecida à da passagem de um caminhão 0,008 - 0,015


pesado. Janelas, louças, portas fazem barulho. Paredes e estruturas de madeira rangem.

V Sentido fora de casa; direção estimada. Pessoas acordam. Líquido em recipiente é 0,015-0,04
perturbado. Objetos pequenos e instáveis são deslocados. Portas oscilam, fecham,
abrem.

VI Sentido por todos. Muitos se assustam e saem às ruas. Pessoas andam sem firmeza 0,04 - 0,08
Janelas, louças quebradas. Objetos e livros caem de prateleiras. Reboco fraco e
construção de má qualidade racham.

. .
VII Difícil manter-se em pé. Objetos suspensos vibram. Móveis quebram. Danos em 0,08-0,15
construção de má qualidade, algumas trincas em construção normal. Queda
de reboco, ladrilhos ou tijolos mal assentados, telhas. Ondas em piscinas.
Pequenos escorregamentos de barrancos arenosos.

VIII Danos em construções normais com colapso parcial. Algum dano em construções o·15-0 ao
' J ' ,! ,,
reforçadas. Queda de estuque e alguns muros de alvenaria. Queda de chaminés,
monumentos, torres e caixas d' água. Galhos quebram-se das árvores. Trincas
no chão.

IX Pânico geral. Construções comuns bastante danificadas, às vezes colapso total. 0,30- 0,60
Danos em construções reforçadas. Tubulação subterrânea quebrada. Rachaduras
visíveis no solo.

X Maioria das construções destruídas até nas fundações. Danos sérios o barragens 0,60-1,0
,
e diques. Grandes escorregamentos de terra. Agua jogada nos margens de rios e
canais. Trilhos levemente entortados.

Trilhos bostante entortados. Tubulações subterrâneas completamente destruídos.

XII Destruição quase total. Grandes blocos de rocha deslocados. Linhos de visado
e níveis alterados. Objetos atirados ao ar.
3.3.2 Magnitude Ms = log(1\/T) + 1,66 log(~) + 3,3
Medindo a ''força'' do terremoto onde:

Em 1935, para comparar os tamanhos relativos A = amplitude da one-Ja superficial Rayleigh (µm)
dc)s sism(is, Charles l~ Richter, sismólog(> american(>, registrada entre 20º e 1()0º ele distância;
formulou uma escala de magnitude baseacfa na am-
T = perícideJ da onda superficial (deve estar entre
plitude dcJs registros das estações sismcigráficas. ()
18e22s).
princípio básico da escala é que as magnitue-les sejam
expressas na escala logarítmica, de maneira que cada ~= distância epicentral, cm graus; é () ângulo no
pcinto na escala corresponda a um fator ele 1O vezes centro da Terra entre e> epicentro e a estação
nas amplitueles das vibrações. Existem várias fcirmu- (1º = 111km).
las diferentes para se calcular a magnituelc Richter, A escala M 5 S() é aplicada para sismc>s com pro-
dependend(i elo tipo da onda sísmica medida n(i fundidades men(>res de - 50km. Sismos mais
sism(igrama. Uma das fcirmulas mais utilizadas para prcifundos geram relativamente poucas cindas super-
terremotos registrados a grandes distâncias é da mag- ficiais e sua magnitude ficaria subestimada. Nestes casos,
nitude Ms: são usadas outras fc'>rmulas para a (>nda P.

Para sismos pequenos e moderados no Brasil não se pode utilizar a escala M;, (pois dificilmente são registrados
a mais de 20º de distância (2.220km), e as ondas superficias têm períodos menores de 20 s). Nestes casos, usa-
se uma escala de magnitude regional, mR, elaborada para as condições de atenuação das ondas sísmicas na
litosfera brasileira, e válida entre 200 e 1.500 km de distância:

mR = log V + 2,3 log R - 2, 48

onde V= velocidade de partícula da onda P, em µm/s (V=2rc A/1), e Ré a distância epicentral (km).

Da maneira cc)mo fcii defmiela, a magnitude Richtcr A Tabela 3.2 mostra a relação entre magnitude (MJ,
não tem um limite inferior nem superi(ir. TremcJres mui- amplitude máxima do movimente) do chão (A) a 50 km
to pequenc>s (mict(>tremores) p(>dem ter magnitude de elistância, tamanho ela fratura (L), deslocamento mé-
negativa. () limite superior e-!epende apenas da própria dio na fratura (D) e energia.
natureza. Tremores pequenos, sentidos num raie> de p(>U- ,

ccis quilômetrc)s e sem causar clanos, têm ma1--,:initude da E impcirtante ressaltar que cada p(>nto na escala de
ordem de 3. SismcJs moderadcis, que podem causar al- magnitude corresponde a uma eliferença da ordem
gum dan(J (dcpenelendci da prcifundidadc dei f<JC(J e do de 30 vezes na energia liberada. Para se ter uma idéia
tipo de terreno na região epicentral) têm ma6:initudes na e-lo que seja um terremotci de magnitude 9, imagine
faixa de 5 a 6. Os terremotos C(Jm granele pcider de uma rachadura cortandcJ toda a crosta entre RicJ e SãcJ
destruição têm magnitudes acima de 7. As maic)res mag- Paulo e cada bloco se movimentando 1O metros, late-
nitudes já re6ristraelas neste século chegaram a J\1s =8,5 ralmente, um em relaçãci ao cJutro.
(terremotos ncJs Himalaias cm 1920 e 1950, e no Chile
em 1960).

Tabela 3.2 Energia relacionada à magnitude dos terremotos

lm 10 m 1,6 X 1018 4,5 anos


. . ·. 7" 1 cm 1m 2, 1 X 101' 5 .· 2 dias
' ,, ', ,.,,
''

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:
. .· 5'
.
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O, 1 mm •. .; ',•,si)
.,. ' í:: 1 cm 2,8 X 1012 4 m1n
' :.· _· <; 5..
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.•. ~. < . .. 1·.


0,1 mm ·-
' "
' ',·· ' 1 mm 3 l 6·X
.· 10
9
· 0,3 s
Tabela 3.3 Alguns terremotos importantes do mundo

Data Local Magnitudes Mortos Observa~ões


ano mêsdia Ms Mw

1531 01 26 Portugal, Lisboa 30.000

1556 01 23 China, Shensi 830.000 Maior mortalidade da história.


,
1737 1O 1 1 lndia, Calcutá 300.000

1755 1 1 01 Portugal, Lisboa 8,7 . ······70.000 Tsunami devastador; maior terremoto em crosta
' .
ocean,ca.

1811 12 16 E.U.A.,Missouri, 8,5 8, 1 Dois maiores terremotos intraplaca, intensidade


Nova Madrid XMM.

• 1812 02 07 E.U.A., Missouri, 8,8 8,0 lntraplaca, intensidade XI MM.


Nova Madrid

• 1868 08 16 Equador e Colômbia 70.000

1886 09 01 USA, Carolina do Sul 7,7 7,3 60 Intra placa, margem Atlântica.

1906 04 18 Califórnia, S. Francisco 7,8 7, 9 700 Grande incêndio; falha de San Andreas.

1908 12 28 Itália, Messina 120.000

1920 12 16 China e Tibet 8,5 8,3 180.000

1922 11 ll Chile central 8,2 8,7

1923 09 O1 Japão, Kwanto 8,2 8,5 143.000 Grande incêndio de Tóquio.

1929 11 18 Costa do Canadá 7, 1 6,5 Margem passiva do Atlântico; deslizamento de


talude continental destruindo cabos submarinos.
XMM.
,
1950 08 15 · lndia e Tibet 8,6 8,6 1.500 Um dos maiores no Himalaia.
'' :'

1960 05 22 Sul do Chile 8,5 9,7 5.700 Maior terremoto do século XX.

196;4 .• 03 28 Alaska 8,4 9,2 131 Segundo maior terremoto.

1970 05 31 • Peru 7,6 7,9 66.000 Grande avalanche.


,
1975 02 04 China, Liaoning 7,2 6,9 poucos Unico grande terremoto previsto com sucesso.

1976. 07 27 China, Tangsham 7,8 7,4 250.000 Não foi possível prever.

1~88 12 07 Armênia, Spitak 7,0 6,7 25.000


. . . Placas Arábia/Eurásia.

1990 06 20 Norte do Irã 7,7 7,3 40.000···


.. :: . '
'' ' ' .
':·(:' ._'/ ._:·_::.
'
'" ·"

1992. 06 •28 Califórnia, Landers •7,5 .·. 7,3 Ruptura na superfície, mais de 70km .
,
lndia central, Killari .•.· 6,4. · 6, 1 •10.000. Região intraplaca; falha nova gerada pelo sismo.

1995 O1 . 16 Japão, Kobe 6,9 6,9 5.400 100.000 prédios destruídos.


.·.

1999 08 17 Turquia 7,8 7,5 15.000 Falha de Anatolia do Norte.


3.3.3 A nova escala de magnitude Mw são principalmente raseis (prcifl1ndielaclc focal mcncJr que
~ 50km), mas peidem atingir prcJfundidades ele até 670
J\ escala de magnitude Richter, por clcfiniçãci, nãci km (Fig. 3.1).
tem unielaelc e apenas ceimpara os terrcmcitos entre si.
1\tualmentc, os sismólogos usam uma nciva escala de Nestas faixas, como pcir exemplei na margem cieste
magnitude que melhor reflete eis tamanhcis alisciluteis dcJ C)ceano IJacíficci (fig. 3.1) e na ccista ocie-lental ela
elos tcrremcitcJs, lJaseaela ncis prcJccsseis físiccJs que ;\mérica do Sul (Fig. 3.15), pode-se neitar que as prcifun-
cJcorrcm durante a ruptura. Esta magnitude é bascac!a diclaclcs clcis sismeis alimentam cm e!ireçãci a(J continente.
nci "mcimentcJ sísmico" !'vfci: C1ttandci observae-!cis em perfis transversais às faixas, eis
sismos se alinham cm uma zc,na inclinacla, geralmente
t\lci = µ f) S (unidade de N.m) ccJm 30º a 60º de inclinaçãci, ccJnhecida comcJ Zona de
eJnde µ = méiclulei de rigidez da rcJcha c1uc se rcim- Benioff (l;ig. 3.15). Esta distril1uiçãcJ elos sismos em
peu; D = =
deslcicamcntei mée-JicJ na falha; e S área tcital prcifundidadc revela uma placa cJceânica mer~ilhandci
ela superfície de rl1ptura. em direçãcJ aci mante,, scJl1 ciutra placa. 1":stas faixas sís-
micas mais largas, incluindci sismeis prcifundcis, marcam
2 . regie:>es da Terra de ccJnvcrgência de placas litcisféricas.
MH' = -log M 0 -6.0
3 Nestas áreas, C>S sismeis raseis (até ~S() km aprcJximada-
mente) são causadcis pcir esfcJrçcis cclmpressivos
Nesta nciva escala, ci maieir tcrremotci já registra-
hcJrizcJntais. ()s grancles terremoteJs, ccim magnitudes
cleJ oceJrrcl1 em 1960 nei sul dei Chile ccim tima ruptura
acirr1a c-le ~ 7, acontecem geralmente nestas zonas, exata-
ele mais de 1.(JOOkm de ceimprimentei clancleJ t1ma
mente nci contatei entre as duas placas.
magnitude de 9,7 J\\, .
(_)s sismcJs intermcdiárieis e prcifundcJs occirrem,
preferencialmente, acJ lcingeJ e-lei Cinturãci CircLtm-Pa-
3.4 Sismicidade Mundial cíficci. EntretantcJ, na margem eieste ela América elo
;\ ati,,idaclc sísmica munclial, através elas ceinccntra- N cJrte, eles nãei estão presentes. Neste setor, sãci
çõcs cios epiccntrc,s meistraela na Fig. 3.1, elclimita áreas registradc1s apenas sismcJs rasc>s, a maioria asseiciada à
ela superfície terrestre comei se feJsscm as peças de um ~'alha de San Anc-lreas, limite entre a placa norte-ame-
"c1ue\Jra-cabcça glcl!Ja!". ";\ clistri!Juição deis sisn1eJs é uma ricana e a placa elcJ Pacíficci, as c1uais se mcJvimcntam
elas mclheircs eviclências deis limites e-lestas "peças" cha- lateralmente. Este tipo de limite entre placas é chama-
madas placas tectônicas (Cap.6). Cerca ele 75(1/r, da do transformante (C~ap. 6).
energia liberada ccJm tcrremotcis cicorre aci leingci das A quase teJtalidaclc da ativiclade sísmica mundial CJCCJrre
estruturas mar_L,>Ínais clcJ ()ceano Pacíficei, caracterizando asscJciaela acJs limites das placas, delincanclo-as e possibi-
ei "CinturãcJ C:ircl1m-Pacífico" eiu "C~inturãci ele FeigcJ dcJ litanclci caracterizar o mcJ,'lmcnto relativci entre as placas.
JJacífico", cm alusãeJ à presença de Vl1lcões ccJincidcntes Trata-se da sismicidade interplacas, a respeitei ela qual
CClm OS sismcJS (ver (:ap. 17). ncis referimos até aqui.
Padrão em Linha - cJnclc CJS epicentros se orgaru-
'.Lam, na escala glci\Jal, ao lcingo de um fino traçcJ, nci 3.4.1 Sismicidade intraplaca
fundo elos eiccaneis seguindcJ CJ eixei das clcirsais ciccâni-
cas que sãcJ ccirdilhciras submarinas marcanclci ci lcical NcJ intericir das placas, também occirrem sismos,
cinde placas oceânicas são criadas e se afastam un1as das chamadcis "sismeis intraplaca", cm dcccirrência elas ten-
eiutras, comeJ pcir exemple, nei c:)ccano 1\tlânticei e neJ sc:>cs geradas nas b<1rdas e-las placas transmitirem-se por
,
I nclico. Este padrãeJ se relaciona, pcirtantci, acJs limites ele rodei o seu intcrieJr. F,stes sismos sãci raseis, com até 30-
placas oceânicas, com regime ele esfcirçcJs tracicinais. C)s 40 km de profi.1ndidade. Esta "sismicidade intraplaca" é
sismc,s associaclos a estas estruturas são bastante rascJs, relativamente pequena, com sismeis ele magnitudes bai-
ceim prcifuncliclades focais de pciuccis qlúl(imctrcis. xas a moderadas, quando ccimparaclas à sismicidade nas
Padrão em Faixa - a distribuiçãci deis sismeis aci lcin- bcirdas das placas. I:,~ntretantci, há registr<JS de sismcJs al-
go ele faixas caracteriza CJ Cinturãci Circum-Pacít'icci, assim tamente destruti,·os nci intericir das placas (come) o de
,
ccJmcJ a atividacle sísmica na Eurelpa e Asia. b'.stc paelrão Nc1va Madric!, ,\lisscJuri, 1':stadcJs UnidcJs, 'fabcla 3.4),
sísmiccJ se associa a regimes ccJmprcssicinais, em especial inclicando que, apesar de remota, a pclssibilie!ade de occ1r-
a limites ceJnvcrgentcs ele placas. ()s sismeis 11cs tas faixas rência de um grande terremoto intraplaca não é nula.
.90• -50• -40· -30• -20· -10· e
20· _J 1 1 1 1 A .,,,, -- A'
·.. ,._ •
l
• •
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10· .. ...,

-• -200

E'
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Q
o· ••
-600
• •

o 400 800 1200 1600


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o 400 800 1200 1600


• •
• •
prof. (km) •
Fig. 3.15 Sismicidade da América do Sul (l 964 a

"'•
0-60 • ·•·· •. • • • ....

l995,mag>4,7).Círculovermelho,quadradoama-
• •

!~~ 5~~:~ ~ 1
"'""' ~• ,,
,1-, .,, 1 • •
relo e triângulo branco indicam epicentros de sismos ,.•
-eo·- • · rasos (<60km), intermediários e profundos
(>350km). Nos perfis Me BB', mostram-se a topografia (linha grossa) e a projeção dos hipocentros (pontos) dos sismos até 300
km de cada lado do perfil. Na região do Peru (perfil M), os hipocentros se alinham horizontalmente, antes de mergulhar sob oAcre.
Fonte: U.S. Geological Survey / Engdahl.

Tabela 3.4 Principais terremotos em regiões continentais estáveis.

Ano Latitude{º) Longitude {º) Magnitude M 5 Localidade Feiejão tectônica

1à11/. 36,5 N 89,6 W 8,5 Nova Madrid, MO, E.U.A. R

1812 36,5 N 89,6 W 8,8 Nova Madrid, MO, E.U.A. R


.... . . ,
. . 1819 • • · 23,6 N 69,6 E 8,0 Kutch, lndia
:'· ,-,": ': ,'
FC

1886 32,9 N 80,0 W 7,7 Charleston, SC, E.U.A. MP?/E


.. .. ..
19()9
. . 39,0 N 8,8 W 6,6 Costa de Portugal MP

1918 23,5 N 11 7,O E 7,3 Nanai, costa SE da China MP/FP?

•· 1929
.. •··· 44,7 N .• 56,0 W 7, l Costa leste do Canadá MP/R?
,
1932 28,5 S 32,8 N 6,8 Africa do Sul MP
,,, ' ',

.·•· 1933
''
' . '
,,
'
•,'
"
,, .
,:', ',:,

·.·. 73,2 N 70,0W 7,3 Baía de Baffin, Canadá MP


,
1935 31,5 N 15,3 S 7,0 Golfo de Sidra, Líbia, Africa MP/R
·•· ,i"96éiY.·•· 31,6 S 11 7,0 E 6,8 Meckering, Austrália FP?

1988 19,8 S 133, 9 E 6,8 Tenant Creek, Austrália FP

MP = margem passivo; FP = falho pré-existente; R = rift; FC = folho Cenozóico;


E = crosta extendida (geralmente relacionada à formação de margem passivo).
()s ma1eJres sismos cm rcgic'ies
, continentais está- ci sisme> ele J\fci1-,ri-Guaçu, ele 1922, ccim ma1-,rnitudc 5,1IT\,
veis (intra placa i ocorrem preferencialmente em áreas ([;ig. 3.14). Um dos mais importantes sismeJs do Nordeste
c>nele a crosta continental fc>i tracionada e cxtenelicla fcii scntidcJ cm praticamente tcie!a a região em 1980, ccim
pelr pr<Jcesscis _geoló,giccJs relativamente recc11tcs magnitue!e 5,2 01, e intensidade máxima VII MJ\f, provci-
(.\leseJzeiico ciu Cencizc'>ico), cc)mcJ pelr cxemplcJ 11as candcJ o e-!esabamcntei parcial de algumas casas moe-lestas
platafcJrn1as cc)ntinentais c)u cm nfts intra-ccJntincntais na região ele Pacajus, c:r: (Tabela 3.5). O maior sismo co-
abeJrtadei~ Cap,6,, ccimcJ cm N cJva J\Iadriel nos Esta- nhecido elo Brasil cJcorrcu em 19 55, ceim m"brnitude Richter
c-lcis l- nidos, 6,2 01, e epicentro localizadc) 370 km ao ncirte de Cuiabá,
J\ff. As infeirmaçc:ics contidas na f<ig.
c.
3.16 retratam ci míni-
3.4.2 Sismicidade do Brasil mo ela sismicielaelc real.

()cupa11dc> grande parte ela estável PlatafcJrma


3.4.3 Sismos intraplaca e
SLil-americana, ei Brasil era ceinsideraclc), até pciuceJ tem-
estruturas geológicas
pc), ce)mcJ assísmicci, pcir nãci se ccJnhccer a eiccirrência
ele sismeis destrutivcis. Js:stuelos sismcilógiccis d.eselc a dé- Pec1uenos sismos intraplaca poclem e)ccirrer em
cae!a de 1970 mc)straram que a ati,cie-lade sísmica nci Brasil, c1uale1uer k)cal. Entretanto, algumas áreas são bem mais
apesar de !Jaixa, nãei pode ser negligenciada (l •ig. 3.16 e ativas do que OL1tras, ceimo é ei caso deis Estaclcis deJ
Tabela 3.5). Para sismos nei Brasil usa-se preferencial- Ceará, do Rio Grande elo Norte e da parte neirtc de
mente a magnituelc mb calculada com a c,nda P de lvfatci Greisso. I'~em sempre é fácil ccimpreeneler as
estações distantes. Esta escala é equivalente à escala re1-,riei- causas desta variação na sismicidade intraplaca cm ter-
nal mRe aproximadamente i1-,rual à escala i\1_,. mcis de estruturas c)u fcJrças geológicas, 1\inda sãci
1\ f:,rtande quantidade de epicentros nas regiões Su- insL1ficientes os estudos geológiceis e sismológiccis ne-
deste e Nordeste (Fig. 3.16) reflete, em parte, <J prciccssei cc s sário s para explicar o padrãei observado da
histórico de cicupação e distribLüçãci populacicinal, pelo sismicie-lae!e. J\ lJaixa freqüência de cJcorrência dos sismos
fatci de muitos e,,cntos terem sidci cstuelaelos a partir de não permite uma relação estatística segura, a não ser em
deicu1nentcis antigcJs. J\fesmci assim, sismeis de elestaquc alf:,>11ns pouccis casos estudados cm maior detalhe.
têm sido registrados nestas regic:ics, comei pc>r exemple>

-60' .55· -50' .45· .40· .35·


.1

2400

Fig. 3.16 Sismos do Brasil o· - 1600


Epicentros do Brasil de 1724 a
9
1998, com magnitude > 2,5, . . .
1200
. i __ - -_ ~.
Note que a cobertura do catálo- .5· - 4 '' .
.· .
'
().-
- o·
.< 900
go utilizado (fonte: USP, UnB, '',.

UFRN, IPT) é bastante incomple- • 700


ta: até meados do século XX,
11 500
apenas sismos com magnitude
acima de 4 em áreas bem povo- 1 400
adas estão incluídos, Atualmente, -15º
sismos da região Sudeste com 300
5
magnitudes acima de 2,5 são
prof. (km)
o
registrados, mas na Amazônia o -20'
limite de detecção é de 3,5, Os O- 60- 550- -500
60 200 650
números indicam os sismos da
-2000
Tabela 3.5, A linha tracejada -25'
grossa no oceano indica o limite -3000
da crosta continental que foi
extendida e afinada durante a se- -4000
.30·
paração entre a América do Sul e
-4500
a África_ Fonte: IAG - USP.
-5000
Tabela 3.5 Sismos mais importantes do Brasil.

Nº Ano Latitude Longitude Magnitude Intensidade Localidade


0
( 5) {ºW) {mb) máx. {MM)
;· '' ·: ,:·
: . : ': ,'
'

. . 'l ... 1955


... .
,'

'
.
'

12 42 ,· 57,30 6,2 Porto OÓ$éoóchos, MT. Êm Cuiabó,.


/. .

'
ao
370 km sul, pessoas foram acordadas,
'' ' ' '

'
"
" ',
' ' ''

. 2 ,.· 1955 19,84 36,75 6, l Epicentro no mar, a 300km de Vitória, ES, ·•. ·. ,·

'. 3 1939 · 29,00 48,00 5,5 > VI Tubarão, SC, plataforma continental..··.

1983 3,59· · 62, 17 5,5 VII Codajás, AM, bacia Amozôn.ica.


..
5 . 1964 18,06 56,69 5,4 NW de MS, bacia do Pantanal.
'
;-, ..
•,''
'
'' ..
'
. .:' '' i ..
' ._.
,'•,6 ''
'
' 1990 31, 19 48,92 5,2 No mar, a 200km de Porto Alegre, RS .

4,30 38,40 5,2 VII Pacajus, CE.


,' '' ,, ' >

·,::: ,,'.'
22 t 17
' " 47,04 5, 1 VI Mogi-Guaçu, SP, sentido em SP, MG eRJ. , > r'
'.))i :'
,,,.,• '"

)9, 1963 2,30 61,01 5, 1 Manaus,AM

•l.ô 1986 .. 5 153 . 35,75 5, l VII João Cômara, RN .

;kJ;~! 1998 56,78 5,0 VI ·Porto dos Gouchos,•MT.


'' ' '

A zona sísmica de Nc)va Jvladrid (Tabela 3.4), no cen- devido a tensões compressivas c)rientadas aproximada-
trc)-leste da América elo Nc)rte, respunsável pelos grandes mente na clireção f•'.-W e tensões tracionais N-S. Estas
terremotc)S intraplaca de 1811 e 1812, caracteriza-se pela tensões podem ter várias <>rigens, cc>m<> a mcYvimenta-
reativaçãc) de um sistema de falhas geológicas antigas. çãc) da placa sul-americana e fc)rças locais causadas pela
Estas falhas foram criadas no Mesozóico, por forças estrutL1ra crustal <la re6rião.
tracionais num processo de extensão crustal que formou
A faixa sísmica SW-NE nos Estados de Gc)iás e
um graben (Cap. 6). A sismicidade que se re6ristra hoje
Tc)cantins (Fig. 3.16) tem um paralelistno marcante com
C)CC)rre nas mesmas estruturas antigas, mas em respc)sta
C) Lineamentc) Transbrasilianc) (Fig . 3.18), em\Jora não
,
às forças compressivas que atuam hc>je na placa nc)rte-
. cc>incida exatamente com ele. E possível que os sismos
americana.
cicorram de\·idc) a dois fatores: concentraçãc) de ten-
A ativiclade sísmica, ocorrida de 1986 a 1990 em sc3es e existência de uma zc>na de fraqueza, aml1c>s
JoãcJ Câmara, RN, fc)i estudada em detalhe cc>m uma tal\·ez relacic)nadc)s às estruturas que deram C)rigen1 ac>
rede de estaçc3es sismográficas, permitindcJ identificar antig<> lineamentc>.
L

uma Zc)na de falha de aproximadamente 40 km de


D<> mesmc> modo, a concentração de epicentros
ccJmprimentc>, c)rientada N40"E cc)m mergulhe> de 60"-
na plataf<)rma cc)ntinental da regiãc) Sudeste e em re-
70' para NW (Fig. 3.17). Apesar da grande extensão
giões próximas à costa (Fig. 3.16) p()cle inclicar que
da zona sísmica, ainda não foi possível assc)ciá-la cc)m
estes sismc)s estejam relacic)nadc>s às estruturas da
c)utras feições gec)lé)gicas de superfície. Istc) mc)stra cla-
margem continental geradas, ou reativaclas, em C(>nse-
ramente a grande dificuldade de se estuclar a correlação
qüência da fragmentaçãc) ela crc)sta C()ntinental clurante
entre sismicidade intraplaca e c)utras feições geolé)gicas.
a formacão do oceano Atlântico.
Sabe-se, porém, que <)S sismc)s de) Nordeste ocorrem '
.5· 25' --".···.·•.-.----.• . ·. · -~·------~--e · ------
,,, :,,::_:-:,:::--- ,:
"'"','"','
-52°
-,o, lmagnitud~ r· -50°
I .......... ···········
-48°
T . .. .

~
'-'li. n::u u., RN f J~
João C....,ª_ ',

j :
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-12°
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. 5· 30' -•· · •
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1
MT
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,

• l
j

.5· 35'

profundidade Fig. 3.18 Faixa sísmica Goiás-Tocantins. Notar o paralelismo


0-4km entre a direção geral dos epicentros e a orientação do linea-
4-Bkm
mento Transbrasiliano, estrutura formada no final do
.5• 40'
.35· 50' Pré-Cambriano t: início do Paleozóico (~570 Ma). Os
.35· 45' .35· 40'
epicentros, no entanto, não coincidem diretamente com os li-
neamentos, indicando uma relação indireta entre a sismicidade
Fig. 3.17 Sismos de João Câmara, RN. Os hipocentros defi- e a estrutura que originou os lineamentos.
nem uma falha principal mergulhando para NW.

3.4.4 Sismos e barragens No mundo todci, já ocorreram elez sismos induzidos


por reservatórieis com magnitude superior a 5, vários de-
1\ interferência do homem na Natureza peide prei- les em regiões intraplaca ele baixa sismicidade. A maior
vocar sismos, através de expleise3es nucleares, de injeçãei parte dos eventos induzidos têm magnitude entre 3 e 5.
de água e gás sob pressão no subseilci, de extraçãci ele
A scibrecarga causada pela massa de água do re-
fluidos do subsolo, do alívio de carga em minas a céu
servatéirici gera pequenos esforços no maciço rochoso,
aberto e dei enchimentei ele reservatc'>rieis artificiais li-
normalmente insuficientes para prove)car sismos. Desta
gados a barragens hidroelétricas.
fcirma, o efeito da seibrecarga e o aumento da pres-
Ccim exceçãci das barragens, eis sismc)s induzielos sãci ela água nos poreis e fraturas das rochas, causado
pele) restante de)s casos têm sielo muiteJ pec1uenos e de pela variação dei nível hidrostático, favcirecendo a di-
efeitei estritamente local, nãei havendo registros de minuição da resistência ao cisalhamento dos materiais,
elanos ceinsideráveis. Entretantci, eis sismeis ineluzi- atuam ceimo disparadcires na liberação dos esforços
dos por reservatórios, apesar de neirmalmente pré-existentes na área deJ reservatório. Não seria exa-
pequene1s, pc>dem alcançar magnitudes moderadas. gero afirmar que o reservaté>riei é a "gota d'água" que
() maieJr eiceirreu em 1967, no reser,•atórici de pode provocar sismos.
I<:oyna, Índia, com magnitude 6,3, tendei prcivcica-
Em reservatórios maiores, há maicir probabilidade de
do 2()0 mc1rtes e sérios danos à estrutura da
ocorrência de sismos induzidos. Deve-se ressaltar, entre-
barragem.
tanto, que a maioria dos reservatéiric)s artificiais não provoca
Com ci enchimentci do I~agci Meael dei reservatéi- sismicidade alguma, mesmo nas regie3es mais sísmicas dei
rio Hoover, Estados Unidos, em meados da década mundo. A grande dificulelaele que se enfrenta é não se
ele 1930, e, principalmente, neis anos 60, ccim a cicor- poder determinar se as tensões numa região estãei muito
rência de sismc1s induzide1s pelos reser,,até>ricis ele altas, pre)ximas dei ponte) de ruptura, ou não. Por esse
Hsinfengkiang, l(ariba, I<:remasta e I(c1yna (rabeia 3.6), motivo, todas as grandes barragens operam estações
reconheceu-se que ei enchimento L-le reservatcSrios poele sismcJgráficas para eletectar alguma possível atividade sís-
causar terremotcis e danc'Js ccJnsidcrávcis. mica que venha a ser induzida pelei reservatório.
CAPÍTULO 3 • SISMICIDADE E ESTRUTURA INTERNA DA TERRA 59 l
.· ·
4 t ,
~

Tabela 3.6 Principais sismos induzidos por reservatórios no mundo

Barragem, país Altura (m) Ano Magnitude (~) Sismicidade regional

,
Koyna, lndia 103 1967 6,3 · baixa

Kariba, Zâmbia 128 1963 6,2

Kremosta, Grécia 160 1966 6,2 oito

Xinfengkiang, Chino 105 1962 6, 1 média

Oroville, E.U.A. 236 1975 5,7 alta

Marathon, Grécia 67 1938 5,7 alta

Aswan, Egito 1 11 1981 5,6 baixo

As primeiras citações sobre sismeis induzidos nei Brasil de 19lJ4, ocorreu e> maieJr sismei, cci111 magnitude 3,0
(Tabela 3.7) referem-se à Usina Hidrelétrica de Capi, ari- 0
(fig. 3.20). Os e,,entos sísmicos que eicc>rreram entre
Cachoeira, a NE lle Curitiba, PR. 1\ ati,·idade sísmica os anc>s de 1987 e 1989 apresentaram forte correla-
principal ocorreu em 1971 e 1972, na fase fina] da forma- çàci ccHn as variaçc3es nci ní,·el do reser,,atéirici, ce>mci
çãci do lago, e se prolongeiu até 1979, decrescendcJ pc>de ser cibser,,ac.lci na fig. 3.20, enquanto nos outrcis
lentamente com aJ6runs pulsos de reati,,ação ~'ig. 3.19). anos essa assciciacàci
, nàci é tão clara. 1\ ativiclade sísmi-
ca occ>rreu pcir reati,·açãci de antigas rupturas orientadas
() reservatório de Açu, RN, apresenteJll ati,,idade
N b~ - S\'(', dc•,ido a tense3es compressivas J:,~-W e
sísmica induzida pelcJ mencis desde 1987, quando feii
tracic>nais N-S, semelhantes às tensões que agem na
iniciaclcl cJ mcJnitoramento sismciléigiceJ. Em agostcJ
regiãci de João Câmara, RN, mais a leste.

Ili Barragem
Usina

20 -
C/l
o
E nível do
C/l reservatório
15 _,
C/l
845,00 845,50 (m)
CJ)
"C
834,00 , ! 835,00
! 833 80 - 850
0
z 1 O -· l '' ' ,..., ! - 840
823,00 , ' '
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- 830
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1111
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n
- 810
i
- -- - -,- \ - _'
1 tJ 1 1'. '' ! 800
JUL/70 JAN/71 JAN/75 JAN/76 JAN/77 JAN/78 JAN/79 JAN/80

Fig. 3.19 Distribuição mensal da atividade sísmica induzida e nível do reservatório de Capivari-Cochoeira, PR.
barragem 1989 A
35 100 -5°40'
altura d'água 2.6 3.0 ~ 1990/ 91 ♦

i 0 80
1995 e

-
~

E rn
<(]J
111
30 E
:,
e,
60 ....
·Ili o
e.
"O
sismos 40 orn
....:,111 25
-
-Ili 20
E
rn
"êij
-5°44'

20
87 88 89 90 91 92 93 94 95 96
o •

Fig. 3.20 Sismicidade induzida no açude de Açu, RN. (a) Nível d' água -5°48'
e sismicidade. De 1987 a 1989, o aumento do nível d'água foi segui-
do, aproximadamente 3 meses depois, por um aumento na atividade
sísmica. De 1990 a 1993, o regime pluviométrico variou e a correla-
ção não é clara. Depois de 1994, há nova correlação entre nível d' água
e sismicidade. (b) Epicentros em três épocas diferentes. A área mais
ativa varia com o tempo. Os sismos de Açu provavelmente ocorrem -5°52' •·
por reativação de pequenas falhas antigas, orientadas SW-NE, sob o
regime atual de tensões: compressão E-W (setas vermelhas) e tração
N-S (setas amarelas). 5km
-36°56' -36°52' -36°48'
'
3.4.5 E possível prever terremotos? dades, tais come) diminuição nas velocidades de pro-
pagaçãei das anelas P e S, queda na resistividade elétrica,
Quando vai CJCeJrrer o préiximo granelc terremo-
mudanças no número de microtremores, entre outras.
to? Esta pergunta free1üente ainda nàei ten1 respeista. ,-\
Na décacla de 1970, fc)ram estudadcis vários casos de
prc,·isàei ele terremotos tem sidei um dos maicires de-
sismeis anteceelielos peir tais mudanças, levando mt1i-
safieis para <)S gecicicntistas. Apesar ele intensas pcse1uisas
tc1s sismólcJgeis a acreelitar que a previsão de terremotos
peir ,•árias elécad.as, ainda não fe)i peissí,-cl elesen,-c)l,·er
seria finalmente possível. 1\lguns sismos pequenos,
t1m méte>dei práticc) e segttro para se fazer prc,-ise:>es
ele terreme)teis. durante estue-leis detalhados ele microtremores, pude-
ram ser antccipac1os, e tim granele terremoto na China,
1\s ,-árias etapas elurante a gcraçàei ele utn sisme> cm 197 5, f(ii prc,·isto C(Jm sucesso, salvand() milhares
(acúmulc) lentcJ de tensões na creista, d.efcirmaçàei das e-le ,,il-las (\·er Tabela 3.3). N e) entanto, a Terra me)s-
reichas e ruptura aei atingir ei limite de resistência) sàci trc>u-se muitc) mais ce>mplexa dei que se imaginava, e
relati,-an1ente bem ccinhccie-las. Assin1, l1avcria dt1as nem sempre os terremeitos são antecedid(JS pc)t fenô-
maneiras L-le se prc,•er terrcn1e1teis: mcdie-las Llirctas elas tnenos fáceis de detectar. C)utrei fator ccimplicante é
tense:>es crustais e eil1ser,·açe'>es ele algtins fcnàmencis que eJ compc)rtamento das rochas varia muito depen-
c1tte indicam a iminência ele uma ruptura na crc)sta. clendci elo regime de tensões, profundidade,
En1l1c>ra seja possí,,el tnee-lir as tensões crustais, há cncir- temperatt1ra e ccimpeisiçào mineralógica. Assim, mes-
mes prcil)!emas práticeis a stiperar: seria necessário mei que a pre,·isào f(isse pcissível na prática, os
tncdir as tense'>es em prc>fundidades ele elezenas de qtti- métoclos t1sac1(JS na Califéirnia, por exemplo, pclderi-
lômetreis, en1 áreas mui te> extensas e ccim ttma precisàei am não ser úteis ne) }Jeru.
ainda nãe) dispciní,-el na prática. ,\lém disse>, seria ne-
Quande) as tense:ies atingem () ponto crítico de re-
cessário ccJnhecer detalhaclamentc as características ele
sistencia elas reichas na cre)sta, uma fratura se inicia.
resistência aeJ fraturamente) deis ,·árie)s tipos de reicha

llma quantidae-le enc)rme de eletalhes geeilógicos de-
Cjtte compõem a crosta numa certa rcgiãci. Na prática,
termina a localização exata deJ ponto crítico (início do
ei custo e a quantidade de medidas necessárias tc1rnan1
inviável essa abeirdagem. sismo) e o tamanho final da fratura (e, portanto, a
magnitude do sismo). J\.fuitos sismólogos acreditam,
(2uandci uma reicha está prestes a se rcimper, há por razões físicas, que a previsãc) de terremotos é in-
uma pequena n1uelança em algumas e-lc suas pre>pric- trinsecamente in1possí,·el.
CAPÍTULO 3 • SISMICIDADE E ESTRUTURA INTERNA DA TERRA 61 ~'"••r~~".
, ."½ > ~- ' ~

Tabela 3.7 Principais sismos induzidos no Brasil

Porto Colômbia, MG/SP 40 1974 4,2 VI-Vil


Nova Ponte, MG 140 1998 4,0 VI
:i' ' ,,, . . . •'•
Cajuru, MG 22 1972 3,7 ·•·•· · . ' "'VI' .'•.•.
' (', .;> •, '

Capivara, PR/SP 60 1979 3,7 .ivr


Tucuruí, PA 100 1998 3,6
Balbina,AM 35 1990 3,4
Miranda, MG 85 2000 3,3 VI
Paraibuno, SP 98 1977 3,0 IV
lgarató, SP 53 1985 3,0 IV
Capivori-Cachoeira, PR 60 1971 3,0 VI
Açu, RN 31 1994 3,0 1

3.4.6 Convivendo com o risco


1OºN
Como nãc) é pcissí,,el prever terremcitcis (e mes-
mo que fc)sse, não se pcJc{eria e,,itá-lcJs) CJ melhcJr é se '
'
f ,-,'
\,,-✓, \,

prevenir. 1'~m regic'íes sísmicas, ccim muitas falhas gecJ- ',,


,

lógicas ativas, a melhcJr estratégia tem siclo identificar ('


\ (
í~ !
- '
_) \
,,.__.......,/ \ ,, Ij '-..
_,. - - - ')-
as zcinas de maic)r ati,•iclade sísmica e n1apcar as áreas
ccJm maicJr probabilidade de que cJ chãcJ tenha fcJrtcs º'
1
/
\'")
. '----------/
/
'
"-·---,.('
'; Í 1'v-'(.,
'.°h./'

,,/ .,/ (,i,,,.. ,.--,..


vibraçc'íes (mapas ele "risco" sís·niccJ) Fig. 3.21. Isto é ''
'·- .....,,,---,
,

feito combinandci-se as prcJbabilidades de CJCCJrrênci- _h,___ _

·,
',

as de terremcJtos fortes, para ,•áricJs 11í,·eis de


magnitude, ccim as vibrações esperadas para cacla
magnitude. Nci cascJ do l~rasil, cJccJrrcm a cacla anel, 30'

em média, cerca de 20 sismos con1 magnitudes maicJ-


res de 3, dois sismcJs com magnitt1cles maicJres l1C 4;
40'
0,2 sismos maicires ele 5 (i.e., um a cacla 5 ancJs); 0,02
sismos maiores c1ue 6, etc. 1\ cJlJscrvaçãcJ ele que C)
númerci de sismos diminui aproximaclamcnte 10 ve-
zes para cada incremcntcJ ele uma t1nidacle ele
magnitude é uma lei empírica válie-!a em qualquer re- 60'
80' 40'W
gião do munelo e foi desccJlJcrta pcir Richter. Jlode-se,
assim, extrapolar que sismcJs com magnitudes acima
00 0.2 0.8 16 24 32 4.0 4.8
de 7 deveriam occJrrer no Brasil tima vez a cada 500
anos. Em regiões de alta atividade sísmica, ccimo cJ Fig. 3.21 Mapa de perigo sísmico na América do Sul mos-
Chile por exemplei, terrcmotc)s ccJm magnitude acima trando o nível de vibração (aceleração máxima do chão, em
de 7 occ)rrem, em média, uma vez a caela 3 ancJs. m/s 2) com a probabilidade de 90% de não ser excedido, para
um período de 50 anos. Estes níveis de vibração referem-se à
rocha sã exposta; locais de sedimentos inconsolidados podem
amplificar bastante as vibrações. Fonte• IDNDR-ILP
3.1 Tsunamis
Em 22 de maio de 1960, pescadores na ilha de Chiloé, sul
do Chile, ao sentirem as fortes vibrações de um dos maio- .· .... .....J\~.JJ
. .·... .
res terremotos já registrados, correram para () mar em suas /
.. '·'--·--··· ,. ~, ·-
- ; -:·
. .
embarcações tentando se proteger. 1Oa 15 minutos após o
terremoto, o mar recua dezenas de metros e volta logo em
seguida numa onda gigantesca destruindo todos os barcos.
Apenas na ilha de Chiloé 200 mortes foram contabilizadas.
Até no Havaí, a 10.000 km de distância, os efeitos destas falha
ondas causaram mais de 60 mortes e milhões de dólares
em destruição.

Ondas gigantescas e destrutivas (até 10 ou 20 metros de


altura) podem atingir regiões costeiras após a ocorrência de um grande terremoto com epicentro no mar. Estas ondas,
ou tsunamis, são geradas por um deslocamento rápido da coluna de água na área epicentral de um terremoto ocorrido
em uma falha próxima ao fundo do mar. Este deslocamento (raramente superior a um metro de altura) se propaga
como ondas em todas as direções com velocidades que dependem da profundidade do mar. Em alto mar as ondas
viajam com velocidades de um avião, mas, tendo amplitude pequena e um comprimento de onda de centenas de
metros, constituem ondulações suaves da superfície do mar e passam desapercebidas. Chegando próximo ao litoral,
onde o mar é mais raso, a velocidade diminui (para 50 - 70 km/h, como um automóvel). Esta diminuição da velocidade
de propagação faz a energia da onda se acumular em uma extensão bem menor de água aumentando, conseqüentemen-
te, a altura da onda (até mais de 30 metros já foram observados); este acúmulo de energia provoca também transporte
de água (correntes) inundando a região costeira por centenas de metros terra adentro.

Tsunamis são muito freqüentes no Pacífico devido à predominância de falhas inversas nas zonas de subducção. Terre-
motos no Alasca, por exemplo, podem gerar tsunamis que causam destruição no Havaí, várias horas mais tarde, a
milhares de quilômetros de distância.
Está em implantação um sistema de alarme para tsunamis nc) Pacífico baseadc) na determinação rápida de epicentros,
magnitudes e orientação das falhas Gá disponível pela rede mundial de sismógrafos), modelamento matemático das
ondas do tsunami (em aperfeiçoamento) e medidas em tempo real registradas por sensores colocados no fundo oceâ-
nico (em instalação).
Fontes: González, 1999. Tsunami! Scientific American, maio de 1999 pp. 44-55.

Com base nas freqüências de sismeis, pode-se C()ns-


truir mapas de risco sísmicc> (ou mais precisamente
"perigo" sísmicc>), comcJ na f,'ig. 3.21. i\o se constrLÚr Leituras recomendadas
um prédicJ no (~hile, por exemplo, que cie\·e durar 50 ASSUMPÇÃO, M. Terremotos no Brasil. Ciência
anos, e se quiscrm()S ter uma garantia de 90 1~~1 de acert(), Hoje. Rio de Janeiro: SBPC, 1983. vol. 1 (6).
(J prédio de\·e ser prc>jetado para resistir a acclcraçc3es
d(J chão de até S(Jf1/r1 da aceleração e.la gravidae.le. No BOLT, B.A. Earthquakes, 4th edition. New York:
Brasil, ccim p()ucas exccç(3es, os UÍ\•eis csperad()S ele \·i- W.H.Freeman & Co, 1999.
'
bração elo chão são mcn(Jres de 2'1/o de /~, em rc)cha. GONZALEZ, F. I. "Tsunami!" in: Scientific
,\lapas mais detalhac.lcJS de perigci sísmiccJ pc)dcm ser American. Nova York: Scientific American
feitos considerand() ()S diferentes tipc)s de S(JkJ e substrato Publishing, 1999. vol. 280, nº 5.
rcJchoso de uma cidade, cstimandcJ 9L1ais bairr<)S sc)freri-
JOHNSTON, A.C, I<ANTER, L.R. "Earthquakes
am mai(Jres \•ibraç(3es do chãcJ. l~n1 países sís111iccJs, leis
in stable continental crust" in: ScientijicAmerican.
que re1::,rulam o tip(l de C()nstruçã() permitid() em cacla
Nova York: Scientific American Publishing, 1990.
área ((>briganclc) ccinstrUÇ(Jes mais resistentes em k>cais
vol. 262.
mais perigos()s) climinucm CJS risc(JS de perdas 111ateriais
e humanas cm caseJ de: terre111<Jt()S.
estudei das propriedades físicas fundamentais mes nos seus interieires, atraem-se na razão efueta elo prci-
deJ interior da Terra corresponde aci ramo das duto ele suas massas e na razãc> in\-ersa do quadrado da
Geociências denominado GecJfísica. ~1uitas informaçe:,es elistância entre CJS seus centreis, ceJnforme descritei pela
scibre o compc>rtamento dinâmico dei interic>r elo nc>sse> equação 4.1:
planeta resultam elo estudei de suas propriedades físicas,
F=G (4.1)
tais como a gravidade e o magnetismo. Através dei estu-
r'
do glcibal do campci da gravielade, obtém-se infcirmaçãci
acerca das dimensões, forma e massa da Terra, bem
na qual m 1 e m 2 são as massas elas esferas, r é a distância
ccimo do modo ceimo a massa se distribui nci interior
entre elas, F é a força ele atração qt1e age sobre cada uma
do planeta. Em escala local, a análise das variações de
das esferas e G é a constante da gravitação universal (veja
gravielade é ci fundamento da prcispecção gravimétrica.
tabela ele unidades no final dei livrei).
() uso criteriosc> desta í1ltima, combinado com infcJr-
mações geológicas, permite localizar, identificar e avaliar De acordei com a lei de Newton (equação 4.1), se a
o pc)tencial econtimico ele jazidas de minéricis diverscis, esfera ccJm massa m 1 estiver fixa e a esfera cc>m massa
carvão, pctróleci, sal, matéria-prima para indústria cerâ- m 2 puder meivimentar-se, ela irá se dcslcJcar cm elireção
mica e de ceinstrução, etc. à primeira, devidei à fcirça F. Neste caso, sua aceleraçãc>
ag será igual a F/m2 eiu, substituindci-se na eqt1ação 4.1:
O campci magnético terrestre origina-se nci núcleci
terrestre e a observação na superfície da Terra da fcirma F (G-m 1) (4.2)
ag =
e variações desse campo magnéticci permite estuelar a m2 r
elinâmica dessa região da Terra. J\s rochas da supert1cie
terrestre, ao se formarem, rehristram as informaçc:,es do Pcirtantci, a aceleração a" depenele apenas da distância
'

campo gecimagnético da épcica, e a recupcraçãci dessas entre as duas esferas e ela massa m 1, qt1e cria um campo
infeirmações permite desvenelar a histéiria do magnetis- ele aceleração gravitacicinal ao seu rcdcir, o qual é igual
mo terrestre no passado gecJlógico. 1\lém elissci, através em todas as direções, ou seja, é isotrópico. Estas caracte-
das propriedades ma6méticas das rochas, é pc)sSÍ\-el lcica- rísticas fazem ccim que um ccirpci, mesmei possuindo
lizar jazidas minerais e traçar os mei,,imentcis pretéritos massa muito ele\ ada, produza um campci menos inten-
0

dos bleicos litosféricos durante a evcilucão da Terra. seJ de> qt1e um outro, ccim massa muitci menor, mas
'
sitt1acleJ mais próximcJ. Ccimei exemplei, podemcis citar
O cibjetivo eleste capítulo é fc>rneccr os ccinceitos fun- a queda ele metecJritos scJbre a superfície terrestre. Em-
damentais sobre a gravielaele e ci campo magnéticci bc>ra sendci atraíclcis pelei Sol, muitcJs deles acabam caindo
terrestres e ilustrar de que forma estas características físi- na Terra, de massa muito menor, aci passarem em órbita
.
cas trazem informações scibre a própria estrutura interna ,
prcix1ma.
do planeta.
,-\lém clisso, ccimci o campo gra,'ÍtacicJnal é iscJtrélpico,
as fcJrças de atração tendem a aglutinar massa em corpos
4.1 O que é a Gravidade? esfériccis. r~sta característica explica a forma aproximada-
mente esférica do ScJl e dcJs planetas que ccimpc3em o
:b~mbora os estudeis cmpíriceis sobre ci meivimentcJ
Sistema Solar, eis qt1ais foram formados a partir de uma
de queda livre tenham sidc> iniciadcJs e publicados por
nu, em de gás e pcleira intt:rcstelares, há 4,6 bilhões de
0

Galileu no final do século XVI, a fcirmulaçãcJ ela teoria


aneis, durante o prcicessci de acresçãei (Cap. 1).
da gravitação universal só cicorreu praticamente um sé-
culo depois, quando Newton publicou os seus estudos Como a Terra executa um mcivimento ele rotaçãc)
nc> ano de 1687. Nessa época, o conhecimento de que a ao reelor de si mesma ccim um período de 24 horas,
Terra possui fc)rma aproximadamente esférica já esta,·a qualquer ponte) do seu interior eiu de sua superfície
tcJtalmente difundidci, visto que em 1522 ~Iagalhães ha- scJfre o efeit<J da aceleração centrífuga dada pela ex-
via concluído a primeira viagem de circuna\'egação. pressaci:

A gravitação é uma prcipriedade funclamental da (4.3)


matéria, manifestando-se em qualquer escala ele grande-
za, desde a atômica até a cósmica. C)s fenc'imcncJs na qual CD = 2rc/T é a velcicidade angular de rcJtação,
gravitacionais são descritos pela lei de Ne,vtcin, na qual T é o período de rotação e r é a distância aei eixo de
duas massas esféricas m 1 e m 2, com densidades unifor- rcJtação. C:eimo a aceleração centrífuga é dirigida per-

- Ação do vento solar sobre as linhas de força do campo geomagnético.


Capítulo 4 • Investigando o Interior da Terra 65 ,

pendicularmente ao eixo de rotação, os únicos locais ccimpcJnente a 0 , diminuindo gradualmente etn dire-
onde não há aceleração centrífuga (ac = O) são aqueles ção aci Equador, onde atinge ci ,,alc)r mínimci. c:cimcJ
situados sobre e) eixci de rotação, ou seja nos pólos. pode ser obser,-adci na Fig. 4.1, a clireção de g sei
Todos os outros pontos da Terra sofrem uma acele- cciincide com aquela do componente gra, itacional 0
ª~
ração centrífuga cuja intensidade é diretamente nos pólos e no Equador, sendci que nas clemais latitu-
proporcional à distância do eixo de rotação, atingindci des ela não é radial.
valc)res máximos na linha do Equador, ccimo pode
ser observado na Fig. 4.1.
4.2 Medindo a Gravidade
__ -, (O
.\tra,·és da medida do campo da gra,·idade da Terra
fciran1 cibtidas in1portantes infor111açc'ies scibre o sell in-
tericir, determinandci-se também cli\'ersas de suas
características, ccJmci sua forma e interaçc'ies ccim outrcis
corpcis dcJ Sistema Solar.

g Con1cJ ,-imcis antericirmente, o campci ela gra,·idacle


associa a cada pcinto da superfície terrestre un1 vetc>r ele
aceleração da gra,·idade g. :r:sse ,·etcir caracteriza-se pcir
Raio sua intensidade, denciminada gra,-iclacle, e pc>r sua clirc-
equatorial
6378 km çãci, clenominada ,-ertical. ,\ gra,-idacle é tnedida pclr meici
de gravimetros, enquantcJ a ,·ertical é obticla por n1étc>-
dcis astronômicos. Em gra,-imetria, en1 hc>menagcrn a
Galileu, utiliza-se ccJmci unidade de aceleração o Gal (,•er
tabela de unidades nci final do li,-rc>).

DcJis tipos de gra,-ímetros pc)c-lem ser utilizaclcis er11


medidas da graYidade. ()s gravimetros absolutos (fª'ig.
4.2) 111edem diretamente a intensidade ela aceleraçã<) ela
Eixo de rotação
gra,1dade em um claclc> pont<J, se11cl<> eis dei tipcl c1uecla
Fig. 4.1 A aceleração da gravidade varia de ponto paro ponto
sobre a superfície terrestre. A Terra é achatado nos pólos e
executa movimento de rotação, portanto a aceleração do gra-
vidade em um dado local resulta da somo vetorial das
acelerações gravitacional a e da centrífuga a,. A direção do
9
aceleração da gravidade g não é radial e suo intensidade atin- . . .. " .--"~..... -.
" .....
ge valores máximos nos pólos e mínimos na região equatorial.

A soma vetorial da aceleração gra,•itacional e da


aceleração centrífuga é denominada aceleração da gra-
vidade (Fig. 4.1) ou simplesmente gravidade.

g- = ag +ae (4.4)

Tanto a direçãc) comcJ a intensidade de g variam


conforme a posição sobre a superfície terrestre. Em-
bora o componente gravitacional ag pcJssua intensiclade
aproximadamente constante, sua direção é variá,,el,
sendo praticamente radial e apontando para cJ centro
da Terra. Já o componente centrífugo ac tem direção
sempre perpendicular ao eixo de rotação terrestre, mas
sua intensidade varia em função da latitude. Desta fc>r- Fig. 4.2 Experimento realizado em Volinhos (SP) para a medi-
ma, a intensidade de g é máxima nos pólos e igual ao da da gravidade utilizando um gravímetro absoluto.
livre (que se baseiam na medida do tempo de percurso Como a diferença entre os raios equatorial e po-
de um corpo em queda livre) os mais utilizados atual- lar é relativamente pequena (21 km), em comparaçãc)
mente. Com() são de difícil transporte, ficam instalados com as dimensões da Terra, seu achatamento é mui-
em lab()ratórios. Por outro lado, os gravímetros diferen- to pequeno, sendo de 1 /298,24-, quando calculado
ciais são basicamente balanças de mola que determinam precisamente. PortanteJ, em primeira aproximação, po-
com precisãci e) peso de uma massa de valor constante, clemos considerar que a Terra é esférica.
cuja variação é causada por diferenças ne) valeir de g.
A atração gravitacional mantém a Terra, cJs CJutros
Este tipo de gravímetro mede a diferença de gravidade
planetas do Sistema Solar e o prc'Jprie) Sol coesos.
entre dois pontos distintos, e nos casos em que e) vale)r
Entretanto, contrariamente ao que ocorre na Terra,
em um dos pontos é conhecido, pode-se determinar a
nem todos os planetas possuem achatamento tão pe-
gravidade no outro.
queno. Por cxcmplo,Júpiter apresenta um achatamento
Em levantamente)s gravimétriceis de detalhe é nc- polar (1 / 15) bem mais acentuado. Mesmo assim, esse
ces sário medir pequenas variações da gravidade, achatamento é pouco perceptível cm fotografia. Para
causadas por estruturas ou corpos localizadeis na sub- se ter uma idéia, para um raicJ equatcirial de 1O cm, ()
súperfície, requerendo, uma sens'ibilidade instrumental raio polar seria de 9,3 cm. Júpiter efetua um rápido
da ordem de 0,01 mGal. Para essa finalidade são ge- mc)vimento de rotaçãcJ (período de. cerca de 1O ho- .
ralmente utilizados gr,av.:ímetros · diferenciais, qL1e ras) e possui também elevadas dimensões (raio
possuem maior sensibilidade do que os absolutos. equatorial de 71.60() km), implicando grandes distân-
Nesses gravímetros é possível medir, pe).r exemplo, cias de pc)nt()S localizados em sua superfície em relação
variações do valor de g quando o instrumento é colo- ao eixo de rotaçã(J. Estes dois fatores fazem com que
cado sobre uma mesa ou sobre o assoalho de um a aceleração centrífuga no bojo equatorial de Júpiter
mesmo local. Entretanto, como sofrem deriva, isto é, seja muito maior dcJ que a equivalente na superfície
diferenças temporais nas medidas devido a mudanças terrestre, provocando assim um maior achatamenteJ.
nas propriedades elásticas de seus componentes, esses
O achatamentcJ terrestre forneceu informações
gravímetros devem ser aferidos em locais cuja gra,,i-
fundamentais para o conheciment() do interieJr dcJ
dade é conhecida, antes de se iniciar a aquisição de um
ne)sso planeta. Com a suposiçãcJ de que a Terra p()Ssui
novo ceJnjunto de medidas. Como isso nem sempre é
densidade constante e é constituída por um fluido em
possível, costuma-se ao final de cada dia de trabalho
perfeito equilíbricJ hidrostático, Newton calculou um
retornar ao ponto da primeira medida e efetuar no,,a
achatamento de 1/230. Com os conhecimente)s atuais
leitura. Dessa forma, determina-se a deriva do instru-
sobre a velocidade de rotação da Terra e de suas di-
mento durante o período, para posteriores ceirreções.
mensc3es, o achatamentcJ polar teórico é de 1/299,5,
bastante próximo do val()r aceitcJ hoje, obtidcJ por
4.3 A Forma da Terra meio ela observação precisa das órbitas de satélites
artificiais.
ComeJ a intensidade de g é maior neis pcJl(JS d(J
que no EquadeJr, a Terra não possui forma totalmen- Esse resultado indica que grande parte elo interior
te esférica, sendo que o seu raio equatorial (6.378 km) da Terra ccJmp(Jrta-sc come) um fluido. A princípio,
é ligeiramente maior do que o raio polar (6.357 km). isto parece contraditório, tendcJ em vista CJS resultadeJS
Portanto, a Terra possui a forma de um esferóide CJbtidos pela Sismologia, que indicam que a crosta,
achatado nos pólos e isto explica, por exemple), peJr- manto terrestre e núcleo internei sãei sólidos. A expli-
que um objeto é levemente mais pesado nos pólos do cação para esse fato é que as rochas do manto terrestre
comportam-se como um sólido elástico em curtos
que no Equador. O grau de deformação do esferóide
é medido pelo seu achatamento, definido como sen- intervalos de tempo (segundos), durante a passagem
do a diferença relativa entre os raios equatorial e polar das ondas sísmicas por exemplo, e como um fluido
do esferóide, conforme a expressãeJ: viscoso na escala do tempo geológico (milhões de
anos). Ce)nsidcrando que a Terra formou-se há 4,6
a-c (4.5)
f=--- bilhões de ane)s, hou,·c tempo suficiente para ocorrer
a deformação plástica das rochas que compõem o man-
to terrestre, originando assim, seu achatamento devido
na qual a é o raio equatorial, c é o raio polar e f é o
ao movimento de rotação.
achatamcntcJ.
· Capítulo 4 • Investigando o lnter;or da Terra 67 i

4.4 Interpretando Anomalias que corresponde à média da crosta continental. "-\ corre-
ção Bouguer é aplicada conjuntamente com a de altitude
Gravimétricas
(ar-li,,re), restando apenas o efeito dC\ido à atração dos
Na superfície terrestre, o valor médio da gravidade é materiais situados abai's:o do nÍ',el do mar.
de aproximadamente 9,80 m/s2 ou 980 Gal. De,ride) ae) F,m regiões muito acidentadas, é efetuada uma ter-
movimento de rotação e ac) achatamento na região po- ceira correção, denominada correção de terreno, que
lar, o vale)r da gra,ridade diminui cerca de 5,3 Gal dc)s leva em conta as feições topográficas de uma área. Em
pólos ao Equador, o que representa uma variação em geral, como seus valores não ultrapassam algumas deze-
torno de 0,5r1/o. Além disse), a atraçãe) exercida pela Lua e nas ele mGal, são aplicadas somente nos le,·antamentos
pelo Sol, bem come) as diferenças de altitude entre os de detalhe. Em áreas oceânicas, onde as medidas são
pontos de medida causam alteração no valor da gravi- realizadas nc> nível do mar, costuma-se efetuar apenas
dade. Como todas essas variações se superpõem, te)rna-se correcões ar-livre ' enquanto em áreas ce)ntinentais utiliza-
,
necessário quantificá-las e eliminá-las ao máxime) para, se também a correção Be)uguer.
então, estudar aquelas variações causadas por diferenças
Se o interior da Terra fosse uniforme, os valores pre-
na composição e estrutura da crosta ou do manto supe-
ric>r da Terra. viste) e medido da gravidade seriam iguais, após tc)das
essas correções. Entretanto, como existem importantes
A maior variaçãe) ne) valor de g é a latitudinal, causa- variaçe'Ses laterais e verticais nas rochas que compõem o
da pela rotação e achatamento terrestres. () valor teórico interior da Terra, esses valores são geralmente distintos.
da gravidade y ac) nível de) mar é descrito pela Fé)rmula A diferença entre o valor medido e o previsto é chama-
Internacional da Gravidade, estabelecida em 1980 como: da de anomalia de gravidade. Dependendo da ce)rreção
y(~)=978,0318(1 +0,0053024sen2~-0,00000587sen22~)Gal (4.6) aplicada, a anomalia recebe o nome de anomalia ar- livre
c>u de anomalia Bouguer.
na qual ~ é a latiu1de sobre um pc)ntc) de) elipsé)icle de
As anomalias gravimétricas resultam de variações na
referência, cuja superfície é a que melhor se ajusta à for-
densidade dos diferentes materiais que constituem o inte-
ma da Terra.
rie)r ela Terra. Os ce)ntrastes de densidade entre diferentes
As variações da gravidade devido à ação da Lua e do tipos de rochas modificam a massa e causam, conseqüen-
Sol (efeitos de maré) são descritas pe)r meio de tabelas temente, mudanças nos valores da gravidade (Fig. 4.3).
publicadas periodicamente. As variações causaclas por di-
ferenças de altitude, devido à topografia do terreno, também '
1

podem ser eliminadas através de duas correções, denomi- Peridotitos 1 1


3,20
nadas correção ar-livre e correção Bouguer. Esta última 1
Basaltos 1 1
deve seu nome a uma homenagem a Pierre Bouguer por 1
2,74
seus estudos, no século XVIII, sobre a força de atração Gnaisses 1
1
'' 2,71
gravitacional exercida pela Terra.
Granulitos
: +-
1 2,63
A correção de ar-livre é aplicada para eliminar o efei-
to causado pela diferença de altitude entre o ponto de
Granitos : H-
2,66
1
1

observação e o nível do mar (Equação 4.6) no valor da Calcários 1


1 1
: 2,63
gravidade. F:sta correção é dada por 0,03086 x h mGal, 1

e)nde h é a altitude em metrc)S, e deve ser somada ao


Folhelhos
li
2!,53
1
valor medido, já que a gravidade diminui com a altitude. Arenitos
1

2,22 :
Como existem massas rochosas entre o ponto de Crosta Continental
:*
medida e e) nível de) mar, em áreas continentais, aplica-se
: :*
' 1 '
1 1 '

Crosta Oceânica !'


a correção Bou6>uer para eliminar o efeito gravitacional .,,1111,,,.1, 3
1.5' ' ' 2.0
1 1 1
2.5 3.0 g/cm
dessa porção crustal, sendo conveniente conhecer a sua
densidade com a melhor exatidão possível. 1\ correçãc) Fig. 4.3 Intervalos de variação da densidade de algumas ro-
chas freqüentemente encontradas na superfície terrestre e
de Bouguer é dada por -0,0419 x p mGal por metro de
densidades médias para essas mesmas rochas. A título de com-
altitude, em que p é a densidade em g/ cm3. Quando
paração, encontram-se também representados os valores
esse parâmetro é desconhecide), utiliza-se 2,67 g/ cm3, médios da crosta continental e da crosta oceânica.
Nas an<imalias negativas de gravidade, os valo- p<isiçã<J de matéria cirgànica, que peide originar pe-
res n1edidcis sà<J menores do que os previstos, após tróleo, essas anomalias podem indicar áreas
t<idas as cc)rreções, sendc) causadas por rochas com pcitencialmente favoráveis à prospecçã<i.
densidade relativamente baixa ou sedimenteis lcica-
Anomalias positivas de gra,-ielade cic<irrem quan-
li:éaelc>s na s11IJ-SL1perfície, em contato C<Jm outras
e-!o os valores de gravielade medidcis são maiores
f<Jchas de n1aic)t densidaele existentes no s11lJstrat<J.
do que os previstos e sã<i causados pela presença
Pcir exempl<i, an<Jmalias negativas são encontradas
de materiais ccim alta densidade na superfície ou
em cadeias mcintanhosas (que possuem raízes pro-
em prcifunclidade. Assim, lcicais onde oc<Jrrem ro-
fundas c<instit11ídas por rcichas com densidade
chas com alta densidade são caracterizados pclr
relativamente baixa), ou ainda associadas à presen-
apresentarem a11omalias positivas. Na região meri-
ça ele c<Jrpos rcichosos intrusivos ele baixa
dional do Brasil há uma anomalia dessa natureza
clensidadc (f'ig. 4.4).
(Fig. 4.5), causada por uma das maiores manifesta-
ções de vulcanismcJ basáltico d<J planeta, que
originou, há aproximadamente 130 ~1a, a FcJrma-
37'30'W
ção Serra Geral ela Bacia elo Paraná.
Bacia Potiguar .
•,,,• '
,,. ' --- .= ·;;-
'
'
' '
" ·.., .-- ''

' i,
sedimento
6°S
- granito
. .
; gna1sse

BRASIL
10 km
1 1 - r

---+ Vulcanismo da
B A--..._ . ·· Bacia do Paraná
·-........_ ~A'

i
' --· ----

'

1.., -_

N s
5km

5km
g Anomalia positiva
de gravidade
Fig. 4.4 Anomalia de gravidade causada pelo granito Tourõo
(situado no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil). O perfil A-B,
indicado no mapa, mostro uma acentuado quedo no valor de gra-
A'
vidade que coincide com o setor de maior profundidade do
km vulcânicas básicas
granito, menos denso que as rochas encaixantes. Note que a roêhas< ·•·•·
extensão horizontal do corpo intrusivo (- 50 km) é cerco de dez 20 sedimentares
vezes maior que a sua profundidade máxima (- 5 km). Cortesia crosta . · •· ·
de R.I.F. Trindade. 40

Fig. 4.5 Anomalias positivas de gravidade podem ser causa-


As anomalias negativas são geradas também pela
das pelo presença de rochas de alta densidade próximas da
presença ele dcimos ele sal de baixa densidade, for- superfície. Na Bacia do Paraná, onde houve a extrusão de uma
madcJs pela cvapciraçãci da água de antigos mares grande quantidade de magmas básicos, observa-se uma pro-
rasc>s. Como este ambiente é propício para a de- nunciada anomalia positiva de gravidade.
Capítulo 4 • Investigando o Interior da Terra 69

Depc)sitos ele minerais metálicos de alta densi- 4.5 O Princípio da Isostasia


clade l<)calizadcJs em sul1-st1perfícic p<ldem tambén1
ser iclcntificadJJS cm levantamcnt<)S gra,-imétricc)s 1":ntre 1735 e 1745 foi realizada uma expcdiçãc)
ele detalhe, pc)r prcJcluzirem ancJmalias p<lsiti,-as ele francesa para <J Peru, liderada por P. Bc)ugucr, cc)m
gravidade. <> cJIJjeti,·<) ele determinar a fcJrma ela Terra. T\cssa
,·iage111, Bouguer nc)tou que as mcJntanhas ela Cor-
A represcntaçã<1 de an<)malias gravimétricas é
c-lilheira dos J\nclcs exerciam uma f<1rça ele atraçãc)
feita por meicJ de mapas de cur,-as iso-anômalas,
gravitacional menor dcJ que a esperada para e) res-
cujas linhas unem pontos cc)m c1s n1csmcJs ,·alores
pecti,·cJ ,-cJlumc. c=crca ele um século mais tarde, G.
de anomalia. Nesses mapas (Pig. 4.6) <)correm al-
L,·crcst fez a mesma c)bscr,,açãc) nos Himalaias,
tos e baixos gra,-imétricc)s causadcJs p<lr diferenças ,
durante uma cxpediçãcJ à Inelia. Na época, fcJi
na densidade elcJs materiais que C)CCJrrem na crc)sta
sugcriela a hijJC)tesc de que as mcJntanhas teriam
e no manto superi<Jr. r\s ancJmalias que posst1em
menc)r massa ele) que as áreas adjacentes; nã<) havia,
dimensões ele até dezenas ele quilêJmetros sã<J clc-
cntrctantc), u111a explicação gec)lcJgica razc)ávcl para
ncJmi nadas anomalias lcJcais, e sã<1 geralmente
esse tip<> de fenômeno comum.
associac-las a corpcls rcJchos<JS rclati,-amcnte pcquc-
ncJs, ccJm densicladc antJmala, lcJcalizadcJs préJximcJs ,\ explicação ,-iria cm 1855, quando J. H. Pratt e
ela superfície (na crc)sta supcricJr). Por <Jt1tro laelo, G. ,\irv prc1pt1seram, independentemente, hipóte-
as anomalias regicJnais pclssuem dimensões ele até ses para explicar essas obser,•ações, e cm 1889 o
milhares de quiltJmctros e são, e111 geral, asscJciadas termo isostasia foi utilizado para denominar o me-
a feições de grancle escala. Pc)r exemplei, <)S altc1s canismcJ que as explica. De acorde) com o conceitc)
gravimétricos ele escala regional c1ue C)correm c111 de iscJstasia, há uma deficiência ele massa abaixe)
bacias oceânicas profundas são cat1sados pela prc1- e-las rcJchas da cordilheira aproximadamente igual à
ximidade das rochas cio mante), uma vez que a crosta massa das próprias mcJntanhas.
CJceânica é p<)uco espessa (6 a 7 km).

-75'
mGal
60
40
20
o
-20
-40
o -60
-1 O" -80
éÍ1i 1--1---100
S--1- -120
-1 s· o o -15º 1--1-- -140

• Q
--160
-20· -180
-20· --200
o -220
-25· -240
.
,,- __
'','
;'' '
-260
-280
-300
-3o· o -3o· -320
-340
-360
-35' -380
-10· -s5· -35. -30"
Fig. 4.6 Mapa de anomalias Bouguer do Brasil e áreas adjacentes. O intervalo das linhas de contorno é de 20 mGal. Fonte: Só et ai. 1993.
() concelt() de isostasia baseia-se nci princípio
de equilíbrio hidrostático de Arquimedes, no qual
nível do lâmina
um corpo ao t1utuar desloca uma massa de água mar d'água
equivalente à sua própria. Nesse caso, uma cadeia
montanhosa poderia c(impcirtar-se ccimo uma ro- \ + /
lha flutuandci na água. De acordo com este + +
X X
·!· V V
princípio, a camada superficial da Terra relativamen- X V
,J v
X V
te rígida flutua sobre um substrato mais dens(J. X • +
Sabemos hc>je que essa camada corresponde à cros-
ta e parte do manto superior, que integram a
litosfera. () substrato denso é den()n1inad()
astenosfera (Cap. 5), comportando-se ccimo um
fluidcJ viscoso, nci qual ocorrem deformações plás-
ticas na escala do temp(l ge(iléigico. () equilíbrio
isostático é atingid(J quando um acúmulo ele carga
ou perda de massa existente na parte emersa é
contrabalançada, respectivamente, por uma perda Fig. 4.8 Ilustração do modelo de compensação isostática
de massa ou acúmulo de carga na parte submersa. de Pratt. A camada superior rígida é composta por blocos
de igual profundidade, mas com densidades diferentes e
Nas duas hipóteses de compensação isostática, menores do que aquela do substrato plástico. A condição
a superfície terrestre é considerada suficientemente de equilíbrio isostático é atingida pela variação da densi-
rígida para preservar as feições tcipográficas e me- dade, de modo que as rochas sob as cadeias montanhosas
neis densa do que o substrato plástic(J. N ci modelo são menos densas, enquanto as das bacias oceânicas são
de Airy, as montanhas sã(J mais altas por p(lSSLtÍ- mais densas.

rem raízes profundas, ela mesma forma que um


imenso blcJC(J de gelo flutuandei ncJ mar (f;i,g;. 4. 7).

nível do
mar lâmina d'água Sabemos hcijc que os dois moclos de compen-
/ sação isostática ()ccirrem na natureza. As montanhas
sãcJ mais altas, pois se preJjctam para as partes mais
profundas c10 mantei, ccJnforme infeirmações obti-
clas através da SismcJlogia. PeJr (JutrcJ lado, os
ccJntinentes situam-se acima do nível do mar devi-
dc> às diferenças de composiçãcJ e densidade
(fig. 4.3) entre crosta ceJntincntal e a crosta oceâni-
ca (fig. 4.9). J\fesmo após ter sofrido intemperismo
e ere>são intense>s ncJ decorrer deJ tempo geológi-
co, a creJsta continental situa-se acima deJ nível do
mar dcvide> à isostasia, peJis à medida que a er(Jsão
rcmcJve as camadas mais superficiais, (Jceirre lento
Fig. 4.7 Ilustração do modelo de compensação isostática
de Airy. A camada superior rígida possui densidade cons- scJerguimento. Portanto, rochas originadas em pro-
tante mas inferior àquela do substrato plástico. A condição funclidade s maicires acabam atingindci níveis
de equilíbrio isostático é atingida pela variação da espes- superficiais. Uma confirmação desse fato é a ocor-
sura da camada superior, de modo que as montanhas têm rência de rcichas metaméJrficas, formadas em condições
raízes profundas. de alta pressão e temperatura, compatíveis com as exis-
I>or outrcJ lacio, no modelo de Pratt, as m(Jnta- tcn tes na base da crosta ccintinental e que hoje
nhas são elevadas por serem compostas pcir rochas enccintram-se expostas em ,'árias regiões do planeta.
de menor densidade do que as existentes nas regic'ies J\ícJ Brasil, estas rcJchas (granulitos) são vistas, por exem-
vizinhas (Fig. 4.8), havendci neste caso clifercnças late- plei, cm ,,árias pclntos dei EstadcJ da Bahia (CrátcJn c10
rais na densidade. São Francisco).
Capítulo 4 • Investigando o Interior da Terra 71 ,

crosta crosta C) prcicesscJ e)pc)ste), soerguimento, resulta da


continental oceânica
ren1<Jçào ele uma carga existente na superfície da
1

crcJsta, cc)mc) nc>s caseJs elo degelo de calotas glaci-


litosfera [ ais ciu e.la erosão intensa de áreas mc)ntanhosas. 1\
r:scancliná,·ia, por exemple), encc)ntra-se em fase l-le
manto sc)erguimentci (de até 1cm/ ano), retornandc) acJ
equilílJrio isostáticci, de,-ido acJ desaparecimentei do
gelei que ali existia há cerca de 10.000 aneis. r~sse
Fig. 4.9 Os dois modelos de compensaçao isostática ope- mc),-imento persistirá até que o equilíbrio isc)stático
ram simultaneamente. As montanhas possuem raízes profundas,
seja tcitalmente atingidc). ?\essas situaçc3es, a falta
compostas por rochas com densidade relativamente baixa, fa-
c.le equilíbrie) isostático pode ser re,-elac.-la pela pre-
zendo com que a crosta e a litosfera sejam mais espessas nessas
sença c.le anon1alias c.le gra,-idade (l''ig. 4.1 O).
regiões, conforme previsto no modelo de Airy. Por outro lado,
a crosta oceânica situa-se em níveis topográficos mais baixos
,
do que a crosta continental, devido à sua maior densidade,
4.6 A Terra como um Imenso Imã
conforme previsto no modelo de Pratt.

l lcJje estamcis abseJlutamente familiarizados ceJm


Em geral, a litosfera supe)rta granlles esfc>rç<Js se111 ci magnetismo terrestre atra,-és dcJ uscJ da bússcila para
se)frer llefe)rmaçàe). l~ntretante), em algumas situaç<)es eirientaçào. Este instru111ento nac.-la mais é de) que uma
geoléigicas, uma carga muitc) ele\'ada pode ser aclicic>- agull1a imantada, li,-re para girar nc) plano hcJrizcintal,
nada ou reme)vida da litosfera, deformando-a. senc.le) atraída pelos pcileJs magnéticeis da Terra. Des-
Pe)demc)S citar como exemple) a adiçàe) de massa cau- de há séculcJs, esta propriedade física da Terra é
sada pelo extravasamento de grandes quantidades de cc)nhecida e tem-se relatc)s de que a bússola já era usa-
basaltc)s em prc)vÍncias ígneas, pela seclimentaçàe) ciu da pc)r ,-cJlta de 1100 d.C. pelos chineses, a quem é
pela formaçàc) c.lc calotas de gele.). Essa massa adicic)- atribuída sua descoberta. f:videntemente, a fc)rma da
nal faz ce)m que a litosfera entre em subsidência, para bússc)la era muito diferente da atual: uma ccileçàci de
que e) equilílJri<i ise)státice) seja atingido. 1\tualtnente, ccintcis persas escritos em 1232 descreve uma fc)lha de
na Gre)enlândia, está oce)rrendo um processo l-lesse ferre> em fc)rma de peixe usada ccimo bússola dez
tipe), devido ae) pese) da espessa camada ele gel<J da anc)s antes ou, como relatado por escritores árabes,
sua superfície, de modo que suas rochas encontram- uma agulha magnetizada flutua\'a em água apoiada em
se abaixe) de) nível do mar. madeira ou junco.

,. - - - - - - ... gravidade
- - - - - - ,:- •
,. .,
••••••••••••••••••
' '
■ - - - - - - - - - - - - - - - --------
•••••• 1 • • • • • • • • .,.. - - - - - - - -

(b)
(a)
carga

Fig. 4.1 O Movimentos verticais da litosfera causados pela


- - - - - - ~·'...................., - - - - - - ":,,..

' .,
adição (a) e remoção (c) de uma carga (calota de gelo, sedi- (e) ---------
mentos, derrames de basaltos, etc.) na sua superfície. A linha
pontilhada refere-se ao valor da gravidade antes da adição ou
remoção da carga (situação de equilíbrio isostático). A linha
tracejada indica como a gravidade varia com a adição ou re-
moção da carga quando ainda não ocorreu a compensação
isostática, como ilustrado em (a) e (c).
i\'las as pri111ciras in\-estiL,acc'ics scibre ci fc11(in1e11ci dei dessa esfera é se111elhante à ele un1 ín1à LlC !Jarra que cha-
ma1--,rnctis111<l sc'i tiYeran1 iníci< > cm 1269 ccJm as experiên- 111an1cis de elipcilc>. l1 cJc-!en1os entàc> in1a1-,rinar a Terra C<>mci
cias ele Petrus l)cregrinus de J\laricc)urt. file csclilr:iiLt uma esfera, nc> centre> da c1ual existe u111 clipcJlcJ <>Ll ímã ele
magnetita 1n1ineral n1a;_rnéticci de c'>xielcJ ele ferrei) nu111a ]Jarra (Pig. 4.11 ). () eixci do dipolo gec>cêntric<J está prci-
t< >rtna esféricr1, Lla LJltal aprciximava pec1uencls Ítnàs. l)c- xi111ci cl<J cixc> ele rc>taçà<J da Terra e faz ccJm ele um ângtilc>
senh<iu s<ibre ;1 superfície esterica as dircç<1es indicaelas ele cerca ele l l,5°. Pc>r esta ra7.àcJ, a agLJha de uma l1t'.1ssc1la,
pc lr eles, <>i)tcnclc l linhas que circunclavam a estcra e inter- cm geral, nàc> a11cinta para ci ncirte 111as SLta e\ireçàcJ faz
cepta,-an1-se en1 dciis pcJnt<JS, da 111csma fcirn1a L]lle as
linhas da lc >n,,ón1ele sc>IJre a "lerra interceptam-se ncJs pci-
lc>s. TJcir analcJi--,rÍa, ele denc>mincJu esses pclntcis ele p<'ilcJs
clci ímã. Na Inglaterra, \'\'illiam C~ill1ert rcpctiLt e an1plicJll
tais experiências, reunindcJ tcJelcJ <J ccJnhecimcntcJ ele até
entà<J sc>l1re ma1-ornetisn1cJ 11ci tratadci / )e i\lc/1!,l!e!c, pul)lica-
elci cm 16()0. 1\ partir Lias semelhanças ncJ ccim1)<irtamentc>
n1agnéticci C<ll11 a 111agnetita esférica, ele rccc>nhcceLJ Ljue a
prc'ipria Terra era urn itnenscJ ín1à.

i\las f<Ji apenas elepciis ele 1838 LJUe se p(iclc ccinhecer


mclhcir a distribuiçàcJ clci campci ma1--,rnéticcJ terrestre, LJuan-
el< > Carl rºrieelrich c-;auss c<1mecc1u _, a fazer 111celielas
sistetnáticas da ir1tensidacle clci campci gccJma1--,rnéticcJ. 1\tra-
,0és ele anúlise matemútica, mcistrciu que 95'1/r, c1<> can11)<J
rna1--,rnéticci da Terra ciriginam-se no seu interic>r e scin1e11te
uma pequena parte restante prci,,ém ele fc>ntes externas.

PcJr ciutrci laelc>, a ccincllisàcJ ele Gill)ert de e1l1e <l can1-


pci magnéticci ela Terra é semelhante acJ ela esfera ele
magnetita equi,,aJe a dizer que a Terra é uma esfera ltnifcir- Fig. 4.11 O campo magnético terrestre é equivalente ao cam-
po de um dipolo, cujo eixo faz um ângulo de l l ,5º com o eixo
memente magneti?.ada. A for1na elci campci magnéticci
de rotação da Terra e está um pouco afastado de seu centro.

\
\ ,:,'0 /'
40 ' ' '
/'
~

60°
,' ' - -- ~-~Ç)
/
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30°
\

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-60° 40 ~ '
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! /- 1
50~ \ 1
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1
' \ / '
/ /
-180° -120° -60° Oº 60° 120° 180°
Fig. 4.12 Mapa de declinação magnética indicando a posição dos pólos e a linha de declinação zero. Fonte Langel et ai., 1980.
Capítulo 4 • Investigando o Interior da Terra 73 1

utn ângul<i C<lln a direçà<J n<>rte-sLt!, fat<> este j;í ccJnhccielcJ a uniclaele ga111111,1 - y e1ue ee1uiyale 1 nT; (,·er talJela ele
elcis e:ra11clcs na,·ee:antes elesele <> séculcJ X\!í. l~ssc ,'tne:ulc>
( J (_ l (
u11ielaeles n(l final clci li\·rci). lst<l ccJrresp<lnele a utn
lle desvie> ela aµ;ull1a é a declinação magnética. ca1111,( i ce11te11as lle ,·ezes n1ais frac<J elci l]Lte <J ca111p<l
entre <>S pc'ilcJs ele um Í111à ele l1rinc1ueelci. ;\ intensielacle
;\ agulha ela bússcila cles,1 ia el(l ncJrte ge(\µ:r,ific(J
\aria C<H1fcirn1c a rcgiàci C(Jnsicleraela s<JlJre a su11erfí-
para ],este c>u para ()este scgunel<J u111 à11gul(J ciue
cie ,la 'ferra, sencl<J 1ne11(Jr pr<íxi111cJ acJ 1~e1L1aclcir e
depe11clerá cl<l lcical ci11ele se enc<Jt1tra <> cJl)ser\ acl<Jr
111aú1r cn1 clireçàcJ acJs 1,cílcJs ((>0.0()() 11T 11cJ pc'Jl<i mag-
cm relaçà<J acis 11c'ilcJs µ;e(Jgráfic<J e 111ag11éticcJ. l)esta
11é·ricc J nc Jrte e~( 1.( )( )(111T t1<J p<ílci 111agnéticcJ sul), C<>m<>
fcJrma, se <J p<lt1t(J ele cJl)ser,·açà(J e esses p<'ilcJs csti\ e-
1,(Jdc ser (JlJser,·acl(i na fig. 4.13.
rem alinhael<is s<Jl)re CJ 111es111<> n1erieliancJ, e11tà(J a
eleclinaçàci será 1er<J. Se (l eixc> elcJ eliJJ<ilcJ C(>i11ciclisse l. 111a agull1a it11a11taela li\·re para girar e1n t<irnci c-le
c<im ci eixcJ gc<igráficcJ, nà<J l1a\·cria c-lcclinaçà() (1 iµ:. u111 cÍX(l h<lrizcintal nàci per111a11ece na l1cJrÍ1<Jt1tal. J•:la
4.12). S<Jtne11tc ncJs p<Jl1t<>S cc>rresp<J11e-lentes à linha ele aC(J111J,a11l1a as li11has de fcirça el<i camp<l magnéticcJ
eleclinaçàci 1erc1 (ciu li11ha agc'inica) ela J,'iµ:. 4.1' é c1ue a (1 ig. 4.1 1), ele tal fcirn1a c1ue a extren1iclacle 11cirte da
agulha ir1elicará <J 11<irte µ;ecJgráfic<J \·erclaeleirci. agull1a i11clina-se para lJaixc> 11<J l1e1nisféri<1 NcJrte e,
1,ara cin1a 11(J l1e111isféricJ Sul. () à11gLil<i Cjlle a a,t.;ull1a
l~11tretant<J, <J ca111p<i 111aµ:11étic<J ela 'ferra nà<i é·
faz C( >111 (l J,lan<J l1cJriz<J11tal é cha1nae-l<J de inclinação
un1 elÍJJcilcJ perfeitci e cerca ele 51;~, elesse ca11111c1 é irre-
gular, <llt seja, nàci-elip<ilar. 1\ c<i11jugaçàci clesses e!tJis
magnética. S<l!Jre <JS pc'>lc>s 1nagnétic<is a agulha cci-
luca-se 11a pcisiçà<J ,·crtical e p<irta11tci a incli11açà<J é ele
ca111p<>S prci,·cica cles,·icJs nas linhas ele cleclinacà<>
911°. 1:111 pc1ntc1s inter111ediáricJs, <J àngulcJ ele inclina-
magnética, l1em c<in1ci en1 t<ielas as li11!1as ele fcirça d(>
çàcJ Yaria até che,µ:ar a zer<J 11c> ee1L1aclcJr 1nag11étic<i, <Jnele
can1pcJ n1ag11éticcJ terrestre, 11ciis ci ca111pc1 nà<i-cli11<>lar
as linhas ele fcirça sàcJ paralelas ;1 SL1perfície. ()s p<ílcis
é cliferente JJara caela regiàci ela superfície da Terra,
111ag11é·tic<JS estàcJ l<icali1ae!cJS a aprc>xi111aclamente 78°N
resulta11clci nL1111a elistril1uiçà<J e-le i11te11sielaeles (r'ig. 4.13)
1(14 °\\ e óS ºS 139ºr:, p<Jrtant<J nàci sà<J dia1netralmente
diferente elae1uela es11eraela 11ara un1 ca111pcl diJJ<Jlar.
si111étriccis, afasta11el<i-se cerca e-le 2.300 kn1 clci
;\ intensielade el<J ca1npc1 ge<Jn1ag11éticci é n1L1Ít(l a11típclda. Desta f<irma, a melh<Jr representaçà<J el<i
fraca, cerca ele 50.0()(1 x 10" 'l" ciu SO.()()(l 11·1· (T repre- catTI\1(> n1agnéticc> terrestre é a ele un1 clipcll<J cuj<J cixci
senta Tesla e1ue é a Ltnielaele ele indL1çàc1 1nagnética 11c> está eleslcJcacl<J e111 relacàci aci centre> ela Terra c-le 49()
·'
Sistema lnternacicJnal; c<irrenten1cnte usa-se ta111l)én1 kn1. l •:ste elipc>lci é chan1aclc> dipolo excêntrico.

61
60° 61

60 ·'

30° 50

40
30

23
-30°

67

-60°

-180° -120° -60° Oº 60° 120° 180°


Fig. 4.13 Mapa de intensidade total do campo geomagnético em milhres de nT.
()s pé)lc)S n1agnéticos migram a uma ,,e]ocidade de \·etorialrr1ente nu111 sistema de eL,c)s c>rtc)go11ais cc>nvcni-
cerca de l),2° p<)t ano ac) redcJr (lo pólo geográfico (l:ig. cnten1ente esccJlhic!c1s, cc>1nc1 mostra a Fig. 4.15. () eixo x
4.14), em geral setn se afastar mais do que 3() 0 cleste ten1 direção nc)rte-sul, y tem clirecàc) leste-cJeste e <> eixo
últim<>, p<)rém descre\'enc!(, uma trajetória irre1'-,'1.tlar. z\s- , ertical z é tomado cc>m sentidei pcisiti,-ci para baixo. ()
sitn é que a cleclinaçà<) 111agnética de um lcical mucla ân!-,>ulc> ele t!cclinaçàci D é (J ángul(J entre cJ mericlia11cJ
cc>11tinuan1enre, atunentanclo ou diminuindc). Ttlrna-se n1agnéticcJ que passa pelo pclnt<> ccJnsic!eraclci e a dire-
entàci necessário corrigir <l ,-alar de declinaçàcJ conheci- ção norte-sul. 1\ inclinaçà<) ma!-,>nétÍca I é e> ângt1lc1 qL1e <>
dc1 para um dcterminadti pclntcl da superfície terrestre a vetcir campo magnético tcJtal F fa✓, Clitn e> planei l1tlrÍ-
cada cíncc> ant>s apr<>ximadamentc. Como se pc>de de-
duzir facilmente, os 1,éilos 1nagnétícos le,,a1n alguns zcJnt2 ~,e-:..."'_$\__x_______---;:>f
mill1ares de anl)S para perccJrrer os 360° de trajetc'>ria ao
redclr deis pólc>s geclgrát1cos.

.__ _ _.;.,_;:,,;.__---li-~----+ y
180°E 1 y

•270°E 90°E

25 z (vertical)
Fig. 4.15 Represen7ação vetorial do campo geomognético.
15 Os eixos x e y coincidem co'Tl as direções geográficos e o eixo
z tem sentido positivo ern direção ao centro da Terra. Os ân-
gu!os D e I são, respectivamente, a declinação e inclinação
magnéticas.

Cc>n1cJ é ,,istcJ na Fig. 4.15, os componentes do


Fig. 4.14 Movimento do pólo magnético norte ao redor do carnpo gec>magnético relacionam-se através <las ec1ua-
pólo geográfico durante o período compreendido ertre apro- çc'ics abaixo:
ximadamente 69.000 e 45.500 anos atrás, como reaistrado
~ (4.7) (JU
em rochas sedimentares do Jaoão. Fonte: Oowson e Nev1itt,
1982. (4.8)
-
l)--arctg \
(,) (4.9) e
.1\lào só a direção, mas também a intensidade ele) cam- 1=arctg ( {i) (4.1 O)
po geclmagnético variam com períodcJs muitcJ lentcls e,
por issci, Cl cc1njuntci dessas variações recebe e> n(>me de 4.8 A Magnetosfera
variaçàc> secular. J\ origem da variação secular é inter11a
1\pcsar de fraco, o can1po geo1na~rnétic(1 ocupa utn
à Terra e c.leve-se aos prc)cessos geradores dcl campo
\·olume n111ito grande, cclm s11as linhas de força esten-
geomagnétíco que ocorrem no núclec> da 'ferra.
de11do-se a distâncias de 1() a. 13 raicJs terrestres (vide
secào 4.3). 1\ regiào <)cupada pelo campc> magnéticci,
4. 7 Representação Vetorial terrestre recebe o ncime de magnetosfera (Fig. 4.16). E
do Campo Magnético un1a região com fcirma característica, assimétrica em re-
lacào à Terra, assemelhando-se a uma gc>ta com caucia
" <

Uma vez gue o campo magnéticr) terrestre não é extremamente ccimpricla. Essa forrna particular é C(ln-
constante nc) espaço, --variandci tanto em direçàc) c()t11<l sec1üencia principalmente de) chamado vento solar, c1t1e
en1 i11ter1sidacle, torna-se necessário representá-lc> será explicado a seguir.
Capítulo 4 • Investigando o Interior da Terra 75

rnente à Sl1perfície da Terra, as partículas penetram facil-


111e11te até a atmosfera superior C)U ionosfera inferic)r
(CiU kn1 a 100 km de altitude), porque sàci conduzidas
pelas próprias linl1as de campci.

Vento \ icJncJsfera cc)rresponde à camada mais externa da


Solar atmcistera terrestre (Fig. 4.17) e se caracteriza por ser uma
/~
(,1,
Ili ca111aela eletricamente ccJndutora, constituída por íons e
...
41 _..
- - - Cinturões ciutras partículas carregadas (elétrcJns e prótons). PcJr essa
é_,,.,.-
..... .,..,.,. de radiação
razãci, ela é l1tilizacla na radiocomunicaçãc>, propaganclci
e rctletinclcJ cJndas de rádíci. Quando essa camada é inva-
Cauda geomagnética diela pc)r utn tluxc) de radiação sc)lar mais intenso, sua
ccJneluti,-ic-lade elétrica é alterada, podenelo causar intcr-
rlipçc)es na comunicaçàcJ de rádíc).
Fig. 4.16 Representação esquemática da magnetasfera e ação
do vento solar sobre as linhas de força do campo geomagnético.

7,--.f', -r------,----,------,;-----------==------7"',.-,
()bser,,açé":ies ccJm equipan1entcJs a Satélites h,-.i,...
be)rdei de na,,es espaciais le,-aram à cc)n-
, v"

metereológicos _;y;.ft
__,,

clusão de que ei espaço entre e, Scil e a 10 - '


00
6 Uu
Terra nãeJ é llm ,-ácuo ql1asc pcrfeitcJ
ccimci se acrcdita,·a, mas está preenchide, ,,
10 -
pcir um gás ionizado ccinstituídci de par- 10 -S
cnc
uu

tículas ccim díferentes energias (núclecis ele


áte)meis, principaln1cnte ele hidrcJgênici e a
Auroras boreais e austrais
10 -
elétreJns), c.1ue são emitidas pelei Sei] e peir
lCO
isscJ chamadc) de vento solar. C_1 ,·ente)
10 .,, - <t
solar flui a utna ,-elocidadc de cerca ele o:
w
10 ·1 TERMOSFERA LL
(/)
300 a 500 km/s; próximcJ ela Terra exer- o
z
ce uma pressac) sobre o can1po
300

-"' -E 10'
o
-
n M

E
~

.o - cn 10 -•o_ E
u
Camada F
magnético, comprimindo-o. No lado da
Terra c1ue nãci está sendo illiminado pele)
-"'
.li:

"C
-E,,,o 10
s -"' .li:

"C
ui
-"'u:,

-- 200 10 .g

Sol, isto é, no lac-lo noite, as linhas de feir-


:,
'",,,' ·-"',,,e
"C •(I)

o Camada E
<t "'
~
a.
10 ·S - :::; 10 10_
ça do campo nãc) seifrem essa pressão e o"'
--
11
10' 10
10 '- 10 12_ ~/

estendem-se a distâncias que 100 10 ' 10 13 Camada D


10 -6 -

correspondem a mais de 2.000 vezes o 10 ·3


-200 o 200 400 600 800 1000 1200
90
1o " -
·e
raio da Terra, chegando a atin6rir a Lua. 10 -l
10 ' ',,~
80
10 15_
O campo magnético terrestre desem- 70
o
., 10 -4_ 'õ MESOSFERA
10 1"
penha um papel importante come) 60 f5 '
10 H>_ U)
blinc.-lagem, impcdindei que as partículas <t
50 10 .) - "'
1J
e:
o:
w
solares mais energéticas atinjam a superfí- 1 o LL
(/)
o
cie terrestre, causanc-lo danos à biosfera.
40

10
10 ·
2
-
10
17
/
ESTRATOSFERA
z
o
N
o
30
Quando ocorrem erupções solares, há 1
!
-~
10
20
emissão de grande quantidade de partí- 100 10 ·1-
Monte Everest
culas de alta velocidade, que alcançam a 10 10 19_ 8.882 m
ROPOSFERA
1000 1-
Terra cm algumas dezenas de minutos. o .100 .ao -õO -40 -20 o 20 40
Parte dessa radiação é bloqueada pelo Temperatura (·e)
, . ~ .
campo geoma6>nettcc) e nao atinge a at- Fig. 4.17 Desenho esquemático das camadas que compõem a atmosfera,
mosfera. Entretanto, nas regiões polares, ilustrando a propagação e reflexão de ondas eletromagnéticas utilizadas na
e)nde as linhas ele força de) campo radiocomunicação. A linha vermelha representa a variação de temperatura
geeima1-,méticc) ccilcicam-se perpendícular- na Ozonosfera e na Ionosfera. Fonte: A. Miller, 1972.
4. 9 Por que o Campo Magnético é l~ n1a ten1ptstacle n1c1_gnétic:1 cJC<Jrre en1 gc:ral t1m
clia apc'is <l apartcin1l'.nt<> da~ cha111as s<ilares, eJLIC
Variável?
sãci emissc3es lumi11cJsas ele gr.1ndts prcipcirçc'ies ela
() efeitci ela ati\ idadc scilar é senticlci pela mag-
0 regiãcJ mais txtcrna clcJ Sei! •a cromosfera). JJcir
netosfera C<JntinL1a1ne11te, senc-lci que ci lac-lci da Terra <Jcasiãci clcsses fcnc"Jmencis, <J ScJ] en1ite nãci sc'i racli-
iluminaclo pelei S<Jl (laelci clia) é CJ laclcJ e1t1e sc>fre as açãci ele ei11da visí\ el, mas tarnlJén1 um flL1xc1
0

pertt1r\Jaç<'ies. () laclc> ncJite, cm geral, 11àcJ é afcta- cc)rpusctt!ar c1ue \"Íaja ccim vclciciclaelc de 1000 km/ s e
dcJ. Dcpendcnclci da i11tensiclade ela ativiclacle sc>lar, ati11ge tcicla a Terra caL1sanclc> clistúrlJi<is n1agnéti-
fa%-se a clistinçãci entre clias magnctica111ente cal- C<Js. 1\s tempestaeles sãci free1i.icntes e pclcltm
n1cis e clias ati\"CJS <JLI pertt1r\Jaclcis (fig. 4.18). r\ eJC<Jrrtr até várias \ºe?.es clurantc um mesm<J mês.
magnitude elas ,-ariaçc'ies gecJn1agnéticas re,gL1lares "rê1n iníci<J rcpentin<i e sct1s efcitcJs sãci se11ticlcis
(clias calmeis) é scJmentc cerca ele 1/1.00() da inttn- clurantt un1 clia <Jll \ áric1s dias. LJma vc;;, c1ue as tem-
0

siclaele deJ eamp<i gccimagnéticc> tc>tal. f,:m ricstaclcs causatn interferência na ccimL111icacàc>

c-le
cletcrminadcis dias, ceintudcJ, <Jccirrem grandes j,tr- ráclici, é i11tercssantc pcider 11rc\·er sua <JC<lrrência.
tur1Jaçc3ts cc1ui\·alc:11tes a \'áricJs ,grat1s na cleclinaçàcJ 1,:,1rretantcJ, cJs seus "si11tcJmas" s(J sãci percc!Jiclcis
e a até 1.000 nT (1.000 e;) <JLI mais em intt11siclaclt. 11as c1l1scryaçc'its n1ag11éticas p<lUC<J antes de accJn-
f,:sscs elistúrl1ic1s sãcJ cl1a111aelcis de tempestades teccrern.
' .
magnet1cas. L.l 111a te1111Jestade pcJc!t ser ac<1111panhacla pc]cJ
aparecin1tntc1 ele um e1cJs fcnc'i111encis lumi11<1scis
Toolangi 1/mar/79 tnais intc11s<1s t fascinantts nci céu, l]Lle sãci as aurcJ-
ras l1cJrtais ciu aL1strais 11as regi<'ics pcilares nc>rtc ciu
sul, respectiYa111ente. 1\ aurcira é causada pela c:mis-
sàci dt lL1z ela atm<Jsfcra SL1pericir nu1na fcirma
o parecicla CCJtn urna descarga elétrica (fig. 4.19).
z ,\ parece ccin1cJ Lin1a ccJrtina I u mi n<J s a d e cor
Z♦
ts\·erclcacla <JLI rcísea, ccin1 a l1c1rcla infcricir a cerca
00 03 06 09 12 15 18 21 24
Toolangi 8/mar/79
ele 1O() k111 de altt1ra e a suptricir tal,·cz a 1.000 ktn.
() tlL1xcJ dt energia trniticlci pclr uma aurcJra inttnsa
H
H ♦ ·.....
, '----- ,,

é apenas três yezes mencir d<i qL1e ci flux<i de ener-


gia rctletidcJ 11cla I~ua na fase cheia.
ot
o
z
z♦ .
00 03 06 09 12 15 18 21 24

Toolangi 11/mar/79
H ""'""'""=,: ,', "
Ht

o+-----------
0--------------
z
Z♦
00 03 06 09 12 15 18 21 24

Fig. 4.18 Diagramas de variação da intensidade


geomagnética ao longo de períodos de 24 horas durante
dias n1agneticamente calrnos (l l /03/1979) e perturbados
(l e 8/03/1979), conforme registrado no observatório
magnético de Toolangi, Austrália. Fig. 4.19 Fotografia de uma aurora boreal.
Capítulo 4 • Investigando o Interior da Terra 77

4.1 Auroras e Outras Manifestações do Campo Geomagnético


Um dos fenômenos naturais mais espetaculares da Terra sãci as aurciras, que podem ser vistas em noites claras em
locais situados a altas latitudes, tantc) nc, l1emisfé1Í(J ncirte C(Jmc, no sul. 1\s auroras ocorrem na alta atmosfera (-100
km de altitude) e são causae-las p(lf partículas energéticas, p1incipalmente elétrons que são guiados para dentro da
atmosfera pelo campo ma1,,rt1ético da Terra. Portante>, as estruturas obser•çadas nas auroras são freqüentemente
alinhadas ccim (J campo gecJmabmétic(J. "\s altroras pcic1cm ser 1nuit(J ati,-as e às ,-ezes apresentam uma fase expan-
siva em e1ue se espalham p(,r uma re1,,riãci ccirresp(i11dente a ,-áric,s graus de latitude no lac.lo noite da Terra e dissipam
enerbria a taxas cc,mpará,-eis con1 o ccJnst1mcJ e-le energia elétrica dos Estados l'nic.l(JS. "\ cc1r elcJminante das auroras
é o verde, mas outras cores poden1 ser ,istas e1n períc,dos de alta ati, ic.lade. 1\ cor ,-erde dc,-e-se a emissões de
0

energia por áto1ncis de oxigênio e a ccir ,-er1nell1a c.1ue pcJde aparecer nas borelas, às emissões de nitrogênio molecular.

Partícttlas energéticas que nãcJ são conduzie-las pelas linl1as de força dcJ campo gecimagnético às regiões polares são
também aprisionadas por este ca1npci e quanelcJ c1esacelerac.las ccincentram-se em regiões anelares ao redor da Terra,
com mais de 36.000 km de raicJ, chan1adas ele C:inturões de \Tao s\llen. C,2uandcJ esses cinturões foram detectados, há
cerca de 40 anos, acredita,·a-se que cran1 n1uitcJ está,-eis, sendci seus elétrons dissipac.los em perí(Jdcis de meses. Pela
rede de satélites, ,-erific(JLt-se, entretanto, que cJs elétr(ins p(ic.-len1 ser aceleradc1s pelas ,-ariações do ca1npo geomagnético,
até atin1,,rirem velcJcidaeles próxin1as às da luz. l\'essas cc,ndiçõcs, CJS elétrons pcJdem atra,-essar uma lâmina de
alumínio com mais de um centí1netrcJ de espessura.

Estações e ônibus espaciais orbitam a cerca ele 450 km ela Sl1perfície e-la Terra estando, portanto, mergulhados nos
campos elétricos mais intensos dos cinturcíes; seus equipamentcis eletr(:JlliC()S podem estar sujeitos a interferências,
devido à ação dos elétrons aceleraelc1s. Da mesma fcirma, eis satélites de telecc1municação estãcJ sujeitos a essa
interferência, que pode causar mau funcionamento de "pagers" e telefones celulares. fcJi o que realmente aconteceu
em maio de 1998, c.1uando dez satélites científic<JS elc>s E L ,\ receberan1 sinais de que os elétrons esta,-am acelerando
e, finalmente, em 19 de maio, o satélite Galaxy 4 scitreu pane e 45 milhões de ustiários perderam o serviçci de
"pagcrs". ()s cientistas esperam que os Cinturões de \'ao ,\llen torncn1-sc particltlarmente dinâmiccJs nci fmal dcJ anel
2()()0, durante CJ pcríodc1 de máxin1a ati,-ielaele scJlar, c1ue irá prcieluzir ,-icilentas te1npcstades solares, causando
intensas emissc'íes de partículas elétricas e fcirtes tempestades gecin1ahrt1éticas.

Fonte: Space Scicnce Ncv.:s, N1\S1\, ()8/12/98.

4.10 Mapas Magnéticos e Anomalias () n1a11a da i11tensielaele t<Jtal elci campci (1 ;ig. 4.13)
, . ; .
111c>str,1 e1ue e> can1pci magnettc<J terrestre e mais ccJtn-
Magnéticas
plicadcJ e1uc e> ca11111ci que seria assciciaclci a t11n sin1ples
;\ elistril)t1içàci clci ca111pci gecJ111ag11éticci sciLire a di]1<Jlc l ,c;ecicéntric<J. Se ci carnp(J fcissc exata111ente:: um
superfície ela 1'erra é n1ell1(Jf ci!)ser,·aela e1n cartas ca11111c > dipc>lar, as linl1as ele n1esmci ,-alcir ela intensi-
is(imagnéticas, istc> é, mapas ncis e1uais linl1as u11e111 claele tcital (I:ig. 4.13) seria1n li11has 11aralclas aci cquadcir
pcintc,s eJlle ccirrespcH1den1 a utn 1nes111ci ya]cir de t1n1 111ag11éticc> clcJ clipcJlcJ (linha scibre a e1ual a inclinaçãcJ
eleter1ninaelci parâ1netrc1 n1agnéticci. n1ag11ética é igt1al a zer(i), ist(J é, excet(J pert(J el(JS pc'i-
lc>s, e::las seriam 11ratica1nente re::tas nesse mapa. 1-;:sta
(~cintcirncis e-le igtial intensie-lacle para qt1alqt1er cc>111-
diferença é chan1acla de campo não-dipolar ciu ano-
pcinentc el(J campci sãci chan1aelcis ele:: linhas
' malia geomagnética. (2uanc.lci as cartas is(Jtnagnéticas
isodinâmicas (l "igs. 4.12 e 4.13). b: impcirtante:: cil,se::r-
sàci cc>nstrt1íclas a partir ele pcse1uisas 1nais pcirmenciri-
var eiue um fenc1111enci ccimci ci camp(l ge(Jmagnéticc>
zadas, cJs ccJ11t(Jr11cis aparecen1 SL111erp(istcis pcir campcis
mcJstre tãci pciuca relaçãcJ ccitn as feiçc>es principais ela
lcicalizadcis cle,,ielcJ a fci11tes 1nagnéticas na cr(JSta ela
gecJlc>gia e ge<igrafia. 1\s li11has iscimagnéticas cruza111
Terra. l ~stas ancH11alias ccin1 secc>es tra11sversais c1e 1 a
<
ccintinentes e (Jcea11cJs sem clisttirbicJs e nã(J 111<istra111
1()() k111 eiu 111ais nãci pcJe!c111 ser representaelas num 111apa
relaç(>es c'Jl)vias ccJtn as granc.les cadeias de 1ncJnt;111l1as
ele escala glcll1al (f,'ig. 4.20).
Clll ccim as caeleias sulJmarinas. 1-:<:ssc fatcJ eleixa clarci
c.1ue a cirigem et(J camp(> gecHnagnéticcJ necessaria1nen- (>H1centraçãc> ele 111inerais magnétic(JS cm rcJcl1as e
te te1n ele ser pr(Jft1nc.la. algu111as C(Jrrcntes elétricas tracas na cr<ista (Ju O(JS <icea-
ºS • questões são difíceis de rcspelneler pcirque o núcleei não
24.35 ,t-
nT pode ser in,,estigado diretamente e as altas pressões e
1400
•... , 1200
temperaturas lá existentes são difíceis de reproduzir em

24,39 ;....
11000
800
laboratório. _i\'fas a combinação de resultadcJs teóricos e
'
. : 600
experimentais já permitiu estabelecer alguns fatos.
, 400
: 200
() núcleci ccinsiste de uma esfera gigante, essencial-
' 'o mente metálica, do tamanho aprcJximado dei planeta
24.43 1i-:_-I"""'.... -200
J\'Iarte. Sob ceindições normais, ei núcleo fluido conduz
--º -400
calor e eletricidade até melhor que eJ cobre, e tem prcJva-

• 1:~~Iº velmente a mesma viscc)sidade que a á6rua. Com um raio


médici de 3.485 km, corresponde a cerca de 1 / 6 do
\'cJlume ela Terra e a cerca ele 1/3 de sua massa. A den-
sidade do núclec> , aria de, nci mínimc>, 9 vezes a densidade
0

Fig. 4.20 Anomalia magnética de intensidade total gerada da á6rua nas suas bordas até 12 vezes a densidade da ágt1a
por concentração de minerais magnéticos em corpo ígneo no seu centro. C)s cálcL1leJs de densidade combinados
intrusivo na região de Juquiá, Estado de São Paulo. Cortesia ceJm as hipciteses acerca da eJrigem do sistema solar su-
de W. Shukowsky. gerem que o ni.'.1cleo é ceimposto principalmente de ferro
neis sã<) as principais fontes responsá, eis pelos cam-
0
e níquel ceim traços de elementos mais leves como en-
pcis localizadeis. Essas irregularidades de superfície ciu xofre e oxigênicl. No seu interieJr, localiza-se um núcleo
aneJmalias magnéticas podem ter intensidades corres- interno ccim propriedades diferentes. Tem um raiei de
pondentes a uma pequena porcentagem d<i campo 1.220 km, o que corresponde a 2/3 do tamanho da I"ua
normal mas, acima de jazidas de ferro ou depósitos e, aci contráriei do núcleo externe), é sólidei.
magnéticeis próximeis à superfície, estas aneimalias po- i\ partir dessas infeJrmações, a única tecJria viável de
,
dem exceder o campo da Terra. F, na busca e geraçãei do campo magnético terrestre é aquela que trata
interpretação dessas aneimalias que se baseia ci n1étei- ei núcleei comei uma espécie de dínamo auto-susten-
dci magnéticei cm prospccçãci gecifísica. tável. Este modeleJ foi desenvol,·ideJ por volta de 1950
por Bullard e F:lsasser. Um dínamo é qualquer mccanis-
4.11 O Mecanismo de Dínamo na mcl qL1e ccin,·erte energia mecânica em energia elétrica,
comei aquele utilizadci cm centrais hidrelétricas. () dína-
Geração do Campo Magnético mei eia Terra é autc)-SL1stcntá,·cl pcirque, depciis de haver
Como ,·isto até aqui, o campo magnéticci ela Terra é sido disparado pcir um campo magnético que poderia
razeia, clmente bem representado pelr um dipcilci mag-
0
ter sielo muitei fraco (ccJmo peir exemplo o próprio cam-
nético localizado em seu centrei. b:ntrctantei, cabe a pci do sistema scJlar), continuou produzindo seu próprio
pergunta - o que poderia causar esse magnetismo? 1\ campo sem suprimento de campo externo. O líquido
presença c1c minerais permanentemente ma6>nctizados nas m~tálicci do núcleo terrestre, mo, endo-se de maneira
0

camadas superficiais da Terra não é suficiente para expli- apropriada (Fig. 4.21 ), a6:riria como um dínamo, neccssi-
tandeJ apenas de um SL1primentei ceJntÍnuo de energia para
car a intensic1ade deJ campo geoma1-,>nético. 1\lén1 eiei mais,
manter o material cm mo,·imentci.
esses minerais não são suficientemente mó,·eis para ex-
plicar as mudanças periódicas na dircçãc) e intcnsie-lade C ma das feintes de energia mais prováveis nesse caso
deJ campci. Desta forma, algum OL1tro mecanismcJ ca- seria a mo,·imentação do fluido causada pelo seu
paz de gerar um campo ma6mético com as características resfriamentcJ, com a cristalização e fracic)namcnto de fa-
obser, adas deve ser proposto. A análise de ondas sísmi-
0
ses minerais densas, liberando energia potencial. Pode-se
cas indica que pelo menos parte dei núcleo da Terra é estabelecer assim um mei,,imentc) de convecção provo-
fluido. Já é universalmente aceito que o movimentei eles- cado por diferenças de temperatura e composição do
se fluido metálico gera ceirrentcs elétricas que, por sua tluidei, que cle,·em ser mantidas para que eJ mo\'imento
,,ez, ine1L1zem campo magnético. Entretanto, discute-se não cesse. () mo,·imenteJ de rotaçãeJ da Terra exerce
ainda de que feirma Cl fluido metálic<i flui no ni.'.1clecJ, qL1e L1ma força no tluido do núcleo, chamada força de
fcinte de energia coloca ei tluido em mo,'imentcJ e ccimci Coriolis, que atua em qualquer massa que descreva um
esse r11ovin1ento dá cirigem a um campo magnéncci. l~ssas mo,~imento de rcitação. Esta é a mesma força resplJnsá-
Capítulo 4 • Investigando o Interior da Terra 79

vel pelels me)vimentels cicleíniceJs


Zona de Auroras
do ar e c_\as correntes marinhas. 1\
massa é acelerada cm uma dirc- Vento
solar
çãel perpendicular ael seu
mclvimente), fazendel celm que,
no caso del fluielel celndutc)r del / Manto sólido
núcleo, estabeleçam-se espirais e-Je
material ce)nelute)r c1ue vãcl gerar
campcl magnéticei ccim resultan- Núcleo externo
te apreiximadamente paralela aei
eixc) de reitaçãci c_Ja Terra. •

4.12 O Magnetismo Movimento


do fluido
da Terra no Pas-
sado Geológico
As obser\•açe:ies dei campci •
, .
magnet1co terrestre resumem-
se a apenas alguns séct1leis,
considerandei-se aí aquelas
mais rudimentares cm que, Fig. 4.21 Movimento do fluido condutor do núcleo externo e geração do campo magnético
por c1uestões práticas de nave- dipolar, indicado pelas linhas de força. Fonte: Jeanloz, 1983.
gação, media-se a declinação
em rotas marítimas e porteis ,·isitac_lcis. I~ste é um tentar receinstruir ei passadcJ ma6méticcl da Terra. () estu-
intervalei de tempc) muito curtcl em cclmparaçãcJ à dcJ sistcmáticci elas rcichas ccim essa finalidacle é chamado
história c_la Terra. I~ntão cabe perguntar: terá tic_lci o de Paleomagnetismo. () mesmo princípio elo
, .
campo magnet1co terrestre sempre e) mesmo pa- Palec1n1a1-,rnetismc1 pelcle ser aplicado a cerâmicas e fornos
drãei que eJ atual? Terá sempre existiclei Cl arquecilcígiceJs e este estudo recebe Cl neime de
magnetisme) ela Terra clu será apenas transitóriei? Arqueomagnetismo. Esses materiais cerâmiccJs são
Questões desse tipe) puderam ser responelic.las a particularmente aprelpriados para se determinar a inten-
partir de quandcJ se verificelu (meados del séculci siclade clei campel clurante cJs tempos históriccJs. !:-''oi através
XX) que a histc'Jria magnética e-la Terra não se perc.le dei Arc_1t1ecJma6rnetismeJ que se ce)nstataram as variações
completamente, mas fica registrada ccJmcl um mag- de intensidade do campo ela Terra.
netismci fc'lssil nas reJchas. Alguns minerais que ()s estudos paleomagnéticos indicam que a Terra
contêm ferro, ao serem submetidos a um campo tem tic-lcl um campo magnéticcl significativo, pelo
,, . ,, -
magnetice), cclmpe)rtam-se comei 1mas permanen-
. ,. . . " . - meneis e-Jurante os últimcls 2,7 bilhc:ies de anos. Entre-
tes, isto e, esses m1nera1s retem uma magnettzaçael tantei, várias rc)chas apresentam magnetização inversa
que é chamaela remanescente, mesmo depois de à esperada, istc> é, compatível cclm um campo
cessada a açãei ele) campei magnéticci. Substâncias geomagnético de polaridade oposta à do campo atu-
desse tipo são chamadas ferromagnéticas. Os prin- al, ccJm linhas de fe>rça que emergem dei pólo norte e
cipais minerais magnéticcJs presentes nas rochas são ccin,•ergem para eJ pólo sul. Acreditava-se, a princípio,
els óxidos de ferro, comeJ pelr exemplel, a que aquelas reJchas teriam propriedades especiais, ad-
magnetita (Fe 3 0 4) e a hematita (Fe 2 0 3). Embclra quirinc.lc) magnetização ccintrária à do campo
estejam presentes em pequena prclporçãeJ (cerca de magnetizante. Porém, grande número de experiências
1 º!ti), esses minerais são, em geral, os responsáveis meJstreiu que somente algumas poucas relchas apre-
pelas propriedades magnéticas de uma reJcha. sentavam tal propriec.lade. Datações pcir métoclos
1\ intensidaele ele ma6rnetizaçãcJ das rcJchas é em ge- radiométriccis, asseiciadas a determinações de polari-
ral fraca mas, através de instrumente)s sensí,•eis, é peissí,•el el ac-J e c.lemeinstram claramente que tem havidc)
determinar a direçãeJ ela ma6rnetização remanescente e inter,·alc>s nos quais as rc)chas de teidas as regie:ies da
Terra aclcJLtÍrira111 ll1:l'2:11cttz,1cà(J C(lll1 pcllaridadc igual 4.13 A História Gravada das
à atual e, altcr11adan1cnrc. intcrvah>s cm c1uc t<>das as
Inversões de Polaridade
r(Jchas aclquirir'11l1 ['' >L1rid,1dc ()r(JSta. 1\í()S :ltl()S (iO
f(JÍ cstal1elccicla un1a escala de reversões (l;ig. 4.2 1), ~ ,, . . . . /

]\ja ep(ica em c1uc se 1n1c1aran1 as pesqL11sas n1agne-


agrurla11cl<J-sc <>S d,1d<>s 11clr1nais e rcvers(>S de v(1rias A • -

ticas nas r<Jcl1as da cr<ista <1cean1ca, tettas p<ir navt<JS


• •

regic>es ela "ferr,1 nun1a seqüência cr(Jll<ll(igica, c<Jnfir <Jceanc>gráfic<JS levanclci a l,circl<i n1a,l!;netêin1ett(JS, re-
111ancl<J C<lnclusi\·,1111cnrc a realiclacle elas rc\l:'rsiícs. () ' el(lU-se utn fat<J sur11rcendente. i\ n(lreleste cl<J ()ccan<J
ca11111<l h<rec)l11a<rnétic<>
,--. 1,l'rrr1a11cce l't11 Ltt11a deter· JJacífic<l, fc>i 111a11cach> u111 paclrâ(l ele an<lmalias 1nag-
n1ir1acla p<ilaridade dura11te inter,·al<>S \·ari:í, eis de néticas lineares, cliferente lle c1ualljuer 1,adrã<J
apr<JxÍ111aela111e11te ](( a 1()- an(lS, e 1,ara C<>111J,lc- cc Jtl hccid (l n<JS C(Jn tinentes. fs'.sse pad rã<i é fcJrn1ael<)
tar-se L1n1a transiçit<J ele p(llaridade sà<> t1l'cessári<>, 1,cJr faixas lle p(llaridae-les alternae-las e e-lispcJstas sime-
10' a 10 an<Js.
1
trican1ente cn1 relaçâ(J à cadeia meso-oceânica, C<Jm<J
ilustrael<> na I,'ig. 4.23.
POLARIDADE
PERIODO
Ma Ma EVENTO ÉPOCA \
1
ir1l:' e :\lat he\vs ]Jf<l(1uscram c1n 1963 l]UC esse
GEOLÓGICO
-o- o
PLEISTOCENO
Laschamp (/)
w padrão "zebrado" era ccJnselji.iência ela expansãci cl(l
:e
z
::, :iss<ialhcJ Clceâ11ic(l e das rc,·ers('ícs el<J campci ge(Jtnag-
PLIOCENO -4.5- o::
0.5 1D nét1 cr J, atra,·és ele um pr(Jccssci represcntacl()
L'sc1ucr11atican1cnte na Pig. 4.23. () r11aterial fune1icl<1
10

MIOCENO 1.5 _

20 - Gilsa
, .
Afr1ca

2.5
30
OLIGOCENO (/)
(/)
::,
3.0 <(
- Mammoth (!)

40
3.5 - - América do
--. 1-
Sul
Cochltl
o::
EOCENO w
4.0 1D

50
Nunivak -
.J
( !) .f::!
!11

'~
4.5
fJ
'?
o
!
PALEOCENO 60

70
cadeia
CRETÁCEO -.
meso-ocean1ca
/

Fig. 4.22 Escala de inversões de oolaridade ou 1·evc1sues do


campo geomag11étic:o nos últin1os 80 n1ilhões de a11os. Faixas
escuros representor77 polaridade norrn.al e faixas claras, polar·i-
dade inverso. À direita, detalhe ela coluna, ressoltando épocc1s
Fig. 4.23 Padrão zebrado' de anomalias do assoalho oceâ-
e eventos de polaridade ocorridos nos últimos 4,5 n1ilhhes de
nico e sua relacão cor77 a tectônica de placos.
o
anos e que recebem nomes especiais.
clc) n1ant<J, ascendencl<i em c<irrentes c_le cci11,·ecçàci atra-
vés c_las cacleias ciceânicas, esfria aci ati11gir a superfície
terrestre. ()s minerais ferrcH11agnéticcis (principaltnen-
te n1agnetita) cristalizadc>s 11esse 111ag111a adc1uire111
n1agnetizaçãc> induzicla pele) ca111pci geci111agnéticc).
F,ssa n1agnetizaçà<J será JJer111anentemente retic-!a pcir
esses 111i11erais qltanelei ati11giren1 te111peraturas abai:-;eJ
ele um certc) \'alcir característiceJ. 1":ssas ten1JJeraturas
sàci cha111aclas ele temperat11ras de Curie que, para a
magnetita, é c_Ja cJrde111 de 58()º(~. ,\ nc)va rcicl1a assi111
feir111aela e já n1agnetizaela ccH1stitui-se num 11<i,·ci seg-
mentei l1<) assc>alh<) ciceânicc>, e1ue lenta111e11te afasta-se
c-la cac_-leia, enc111antci pcir ela 11ei,·e> 111aterial ascencle.
s
Nesta fase, se <l ca111p<> gec)111agnéticci in\'erteu a rJc>la-
riclacle, surgirá entàci u111a 11c>\'a fai:-;a ele asscJall1ci, clesta
vez ceJn1 pcilariclacle in,,ertic_la. ,\ssii11, surge, a lclngci
praz<>, ci paelrà<J ze!Jraclc> si111étricc> à cadeia, tal C<Jl11<J
fcJi <>bser,,adcJ. () asscialhci <Jce,'i11iccJ ccJ111pc>rta-se,
pc>rtantc>, ccJ111cJ l1111a esteira r<ilante Cjlte gra\'a a hist<'i-
ria elas re,,erse'>es de> campc> gecHnagnéticcJ tal ljllal u111a Fig. 4.24 Correlação entre o vetor magnetização de uma
fita 111agnética, à 111ecliela c1ue vai se fcir111a11c!cJ 11cJ te111- rocha (seta), definido pelos ângulos de declinação (D) e in-
pci gecilcJgiccJ. clinação (1), obtido em um sítio (S), e a posição do pólo
paleomagnético (P),

4.14 Magnetismo das Rochas e


a Deriva dos Continentes Sal,enelcJ-se C]lle <J ca111pei htreeJn1a,rnétic<J
<.J
S<Í p<iele
ser representaclci JJeir t1111 11nicci elip<il<J magnétic<J, ist<J é,
() palecimag11etismc) nàc> sc'i cci11trilJlti JJara a existe apenas u111 par ele p<'>lcJs ncJrte e sul situaelc)s pr<íxi-
recc)nstituiçàc) cla l1istc'Jria c_lci campci n1a1-,rnéric< J da Terra, 111<JS ac JS 11cíl<is geci1-,rráfi.c<is, a existência cle váric)s pcílcis
ccJmci tambén1 fcirnece infcirn1aç<"ies quanritari,,as sc)!Jre ncJ passael<i ge<Jkí1-,ricc1 ten1 e-!e ser c-!escartacla. 1\ explica-
<JS pr<icess<JS c111e afeta111 as can1ad"s superficiais da Ter- çà<> 1,ara <i fatcJ está l,asealla n<) cleslc>camentcJ clc>s
ra, re,,elaelcJs cc)mci graneles m<Yvi111ent<Js laterais cl<is ccintinentes c1ue n1c)clit1ca a <irientaçà<i ela ma_L,rnetizaçàci
c<intinentes c>11 cleriva ceintiner1tal. Ncis aneis 50, resulta- reg1stracla e111 suas rc>chas, em relaçà<J alJ peíki ge<i1-,rráfi-
ll<JS pale<i111a1-,'11ériceJs reavi\'ara111 ei i11teresse 11as Sltgestc"ies cc >. JJ<'il<>S pale<ima1-,rnéric<is ele n1esma iclacle e pertence11tes
ele q11e eis c<Jntinentes se mci,,era111 ccinsidera, eh11e11te 0
a cliferentes 1,1<,C<JS ccJntinentais p<icle111 ser cleskicaclc)s
dura11te ci te111p<i ge<Jlc'i1-,ricci. 1\lfreel \X'egener prllj1<Ís e111 até que c<iincidan1. 1\cJ fazern1cJs iss<), eis ccJntinentes ele
191 () tjlle t<JlleJs eis cc>ntinentes já ha\'iam estael<i agru1Ja- <inde feira111 extraídas as rc>chas a11alisac_las tan1bén1 se
,. 11 superccJnt111e11te
llC)S 11u111 untcll , 11
, c1ue e1e c h an1lJU lle cleslcica111, cheganc_-!cJ-se a recei11strt1çc"ies palec>gecigráf'icas
Pangea. I<Je sugeri11 que esse superc<)t1tinente teria se surpreenclentes, tal ccJtTICJ a ilustraela 11a Fig. 4.25 para a

c_-lesmem]Jraclci l1á cerca de 2()0 milh<"ies de a11cis. l ~ntre- 1\mérica llei Sul e i\frica.
tant<J, suas icléias 11à<> fcJra111 aceitas p<Jr muitc)s cie11tistas
1\ 111aneira 111ais c<inveniente lle se representaren1
e a cliscussão S<)bre a eleriva c<intinental ficc)ll esta1-,rnacla
c_Jac_leis palecimagnéticc)s 11ara C) estuelci ela cleri,a C<J11-
até que cJs resultad<is palec>n1agnéticc>s trciuxeram n<J\·as
tine11 tal é em term<is d.a peJsiçâ<J de pcíl<Js
e,,illências.
palecimagnétic<is. 1J(JÍ<JS pale<Jn1agnéticcJs para perÍ(J-
J\ 111a1-,rnerizaçàcJ rema11escente de reichas ele 111esn1a cl<Js ge<J!(Jgic<Js c<JnsecutÍ\'eJs e, de llm 11niceJ ceJnti11t:nte,
ielade e ma_L,rnetizallas sin1ultaneamente pelei mesn1ci ca111- sà<) i11terligacl<is para pr<Je!uzir u111 ca111i11!1ci <JU u111a
p<i 111a1-,'11étice> cleve Íl1clicar a tnesma kicalizaçà<) para <JS cur,·a ele eleriva p<ilar (Fig. 4.25). Tcirna-se .iparcnte,
p(ikis magnéticeis assc,ciadcJs a esse campo ind11tcir. J•:n- quancl<> se c<impara111 as cur,,as para cJs ,ári< JS e< Jt1ti-
tretantci, a ma1-,rnetizaçâ<J de r<ichas antigas e de 111esn1a ne11tes ljlte, durante um lcing<i inter,·alcl de te111p<l, <)S
ielacle, prcJvenientes cle clistintc)s ccJntinentes, inelicam p(i- cc>ntine11tes movera111-se ccJnjuntan1entt: e clt:p<)ÍS afas-
kis (pc'ikJs pale<Jma1-,'11éticcis) diferentes (l~ig. 4.24). taram-se. () grau ele eJi,,ergência c11rrc c_1uas Cl1r,as cle
cleriva pc>lar é a 111cdida deJ grat1 ele Se\Jaraçà(J clcJs 300ºE 30ºE

ccintincntcs. LJma rclaçàci entre a i11cli11açà<J el<J vct<Jr Africa

magnetizaçàci (I) e latitt1de palecigecigráfica (<p) pciLlc :(i\ei\c'3


f'C s-ol
ser facilmente ci lJtida dcJ mcie-lelcJ ele d i pei 1ei óº
60ºE
270ºE
gceicéntriceJ, pcir trigcJncin1etria esférica:
\
tanl = 2tan <p (4.11)
°'"
"",0

(~cim este e-laclci é pcissÍ\·el aYaliar e1uantitati\·a111cnte I ·,' 80


CI
O,
a palecJlatituele em e1t1c se cncc>ntra,,a u111a clcter111ina- 24DºE
fJ
ela regiàci ela 'lªcrra. l)cir exe111plci, eis fiJc:>es ele rcJcl1as ------- &
130 O 200
90ºE

íg11cas (diques) que ccJrtan1 as praias ele Ilhéus e


()li,,ença, na regiàei SL1l cio I :staclci ela Bal1ia, apresen- 210°E
/ j
'"-.,
120ºE

tam n1agncti;,:açàcJ cujci \'et<Jr ccJleJca-sc a -66º ele


Fig. 4.25 Curvas de
inclinaçàcJ crn rclaçàci aci pla11cJ l1cJri;,:cintal. LJtili;,:ancleJ-
deriva polar para a Amé- África
,
sc a fc'Jrmula 4.11, calctda-sc e1t1c a latitL1clc cm L\Ue se rica do Su I e Africa e 1 A;-:me:_-:,:-:,i:-:ca-:----..___~
fcirmaram essas rcJcl1as há um bilhàcJ ele a11cJs era clc reconstrução desses do Sul

48º, pcirtantcJ mLlÍtei mais ele, ada dei ciue a atual (1 SºS), 0
continentes, com a jus-
inclicanclcJ que aqL1ela rcgiàcJ era ele clima frieJ. 30'8
taposição de parte
dessas curvas. "lotar
Neste capítulci estt1elamcis eis ca111pcis de gravida-
que entre 200 e 130
60°S
cl c e magnéticc> ela Terra. \'in1cJs ccJ111<i estas milhões de anos atrás as
in1pclrtantcs prciprieclaelcs físicas pcJdc111 ser utilizaclas curvas começam a diver-
80
o
o
11ara se e11 tender prcicesscJs clinâ111iccis e1 uc cJc, Jrrc111 gir porque os dois 30 0 80

cm ncJssci planeta. r\lén1 dissei, ei 111a11ean1entcJ continentes migraram o


200 130
gravimétric<> e ma,~néticeJ da su11erfícic 11crn1ite iclen- independentemente.
tificar an<>n1alias c1uc rctlctcn1 cstrutt1ras elas can1ada,
mais SL1pcrficiais eJu estàcJ dircta111entc relacicJ11aLlas C<Jt11
a 11rcscnça de c-lc\Jc'isitcis 111incrais. Desta fcJrn1a, 111étc>-
cle>s c-lc in,·estigaçàcJ bascac-lc>s c111 gra, i111etria e
mag11ctcimetria ccJ11stitL1en1 i111pcirtantes ferra111cntas
gceifísicas ,,ciltaclas à prc>spccçàcJ de bens n1inerais.

Leituras Recomendadas
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mairJr parte dcJ intericJr da Terra é inacessÍ\'el ela "ferra. Peidem ser cletecta(-las pela rede ele eil1ser,,a-
às cll1,er\ ac<"ie, diretas, ele tncJdcl que, para cci- t<'>ricJs sismográficc>s elistribuíelc>s peleis ccJnti11entes,
nhecer sua c< >r1stituicà<i interna, é necessárici recc1rrer a apc'is sofrerem reflexc'"ies, refraçe"ies e elifraçc1es, c1uan-
n1ét<>elcis inclirct<i,. '\cJ C:ap. 3 fcii apresentada ttma clc1 enccintram superfícies ele scparaçãci entre camadas
aplicaçàci da ,i,n1<ilc>gia na cil1tençãci ele estin1ati\-as e1t1e ccintrastem pc>r sua densiclaele, parâmetros elás-
para as elensiclaclt:s e <Jutras prc1prieelaeles físicas elas ticos (tais comei C<JtnpressilJilielacle e rigielez) cJu

rc>cl1as el<> ir1teric>r elc> planeta. A primeira Clrclen1, a composição mineralógica e química (C:ap. 3) .
sismcil<Jgia revela e1ue a estrtitura interna ela Terra ccin-
siste ele u111a série ele ca1nadas qt1e cc1mpc"iem a crcista, 5.1.1 As descontinuidades mais notáveis do
<J mantci e <> núclecJ. ,\ partir das pr<>priec-laeles físicas,
interior da Terra
e ccJm cJ apclici ele experiências que simulam as ccineli-
çc"ies ele tem11eratt1ra e pressão nci intericir ela Terra, é ;\ primeira descontinuidade detectada na "l'erra
p<issível inferir as ccin1pcisiçc"ies mir1era!c'Jgicas elas ca- fcii e, limite crcista-mant<J, encontraela pele> sism(ilogcJ
n1aclas presentes. () calcJr internei ela Terra e eis it1gcislavci i\ne-lrija i\1eihcJt<J\'icic, em 1909. C:cimparan-
prcJcesscis ele sua reelistril1uiçãe1 sãc> fatcJres Í111pcirtan- elc> c>s tempe1s ele chegacla a váricJs eJl1ser\'at(iricis elas
tes para enteneler eis mcivimentos cle11trci ele e entre as <H1elas sísmicas ele um granc-le terremc)t<J eiccirridc) na
camadas ela 1'erra. 1°'.sses mc1vimentc1s sãc1 respcinsá- C:rcJácia, J\1oheirovicic verificou que a velocielaele era
veis pela estrutura interna de segt1nda cirelen1, que é sensivelmente maior para distâncias ao epicentro su-
dinâmica. periores a 20() km. _b~xplicciu a diferença supondei qt1e,
à prcJfundiclaele ele cerca ele 50 km, haveria uma l1rt1s-
ca \'ariaçãc> das prc)priedaeles elásticas dei material
5.1 Introdução
terrestre. i-,:sta é a clescontinuidae-le que separa a crcista
Nci séculci 19, eis cientistas especula\'am sc1bre a clc1 mante> c1ue, em homenagem a seu clesco!Jricleir,
ccinstituiçãcJ interna ela Terra. c=harles Dan\-in, pc>r passcJLt a ser chamacla de Moho. Sabemc>s heije c1ue
exemplei, depciis de testemunhar ert1pçc"ies \'ulcânicas ei {\fcJhei nãci está a prcJfundidade constante pcir
e terremoteis ncJs Andes, sugeriu, já na primeira n1eta- tcicla a Terra mas a cerca de 5-1 O km nas áreas C)ce-
ele daquele século, que a Terra era cc,mpeista pc>r u1na ânicas e a 30-80 km nc1s cc>ntinentes, variandeJ com
fina casca, que clenominame1s crosta, ao recleir de uma o relevei.
massa funcliela. Na segunela metade dei séct1lei, partin- (~uante> mais penetram na Terra, as ondas sísmicas
elc1 de estimati\'as para ci raio e massa ela Terra, a \'ãc> senelcJ detetadas em cihservatc'irios cada vez mais
densiclade méclia terrestre fc1i calculada em 5,5 g/ cm' clistantes e-lo epicentrcJ (Cap. 3). l~ntretante>, há uma
aproximadamente. Uma vez qt1e essa densielaele é zcina ele sc)mlJra entre 103" e 144" cio fc1cci sísmice1
maior que a da grande maicJria elas rochas exp<>stas na (C=ap. 3), qt1e fc1i interpretada ce>me> senelei clevida ao
superfície terrestre (2,5 - 3,0 g/ cm'), ccincluit1-se que núcleo, por conta de propriedades muito diferentes
pelei mencis parte elo interior terrestre de,,eria ser cc>m- elac1uelas do mantc1. A interface manto-núclec), ou
p<Jsta por material muito denso. Usando eis sicleritcis e descontinuidade de Gutenberg, situa-se a 2.900 km
os meteciritos pétreos (Cap. 1) comcJ analogia, suge- ele prcifunclidacle, implicanclo que <J manto forma 83°/41
riu-se, ainda nc1 final do séculci 19, que a Terra teria dei vcJlume da Terra. Estuelando as ondas S, que são
um núcleci composto peir uma liga metálica ele ferrcJ trans,·ersais, \'erificciu-se que elas não se pre)pagavam
e níquel, envoltci por um manto de silicatos ele ferro e ncJ núcleci, ci que le,·cJu à ccinclt1sãci de que a rigidez do
magnésio. Antes da utilização da sisme>lcigia para eles- material é nula, c1u seja, <J meio é líquidc1 (Fig. 5.1 ).
vendar a estrutura terrestre, essas idéias representa\·am
meras especulaçe"ies. Examinando eis sismeigramas c<Jm mais detalhe, ve-
rificciu-se que apareciam algumas ondas, de amplitt1de
Cc1mo vistci nci Cap. 3 anterior, emlJcira els foccJs muitc1 reduzida na zcina de sombra que não era, então,
da maioria dos terremotos estejam a mencis de 100 uma ze)na de con1pleta sombra. 1~:m 1936, a sismóloga
km de profunclidacle, eles emitem e1ndas elásticas en1 dinamarquesa lnga I~ehman concluiu que a parte inter-
toelas as direçc"ies, propagandc)-se por te)clci cJ intericir na do núcleo era elistinta da parte externa, com

-•• Erupção do Kilauea, no Hovoí, um dos mais


,
ativos vulcões do planeta, derramando suo lava nos águas do oceano Pacífico. No
detalhe, fotografia tomada no Microscópio Optico de uma rocha ígneo. G. Brad Lewis/ SPL / Stock Photos.
'

CAPÍTULO 5 • A COMPOSIÇÃO E O CALOR DA TERRA 85 ' '


"(

vel<iciclaelcs de 11rcl11agaçà<l das <Jnelas JJ 111u1to 111,11<J- c,1s !2L"<>i<.>,!2ÍC:1s L",ter11as, cc,n1cl ,1 ercisà<i, ciue c,,nrril1ui
rcs, clanchi <irigi:n1 ás cJnclas que arJari:cian1 11,1 ;;cJn,1 de 1,,1r.1 1> des,gastL das nl<Jntanhas, ccJn1 a exp<Jsic.1<> de
S<Jtnl,ra. Sal1c111<JS h<Jjc c1uc <l núcleo interno cc >n1cca r<Jch,1s cada \C/ n1ais r1r<Jfu11das (C:a1,. 2).
a ar)t(lXÍlnada111ente 5.1 ()() k111 de jlf( lfu11elidadc e e1uc
l ., s1, n1csn1a, fcJrcas gcc>l<.>_gicas sà<J res11c)l1s,ívcis
0

nele se rlr<Jpaga111 nà<l s<Í as <Jndas P 111as tan1h0111 ,is


<Jndas S Cjl!C, C<lt1l<l já \'Ín1<JS, s,1<> <JI1das trans\ cr,;;1is, e, 1,L·Li , e ,1( JC;1c:1c >, p( >r s( Jlire cJs C()nrincnti:s, Lle segn1en-
f< JS (Lt cr(>Sta (JCe:'tnic,1 chan1adcis de <Jfi<liitcJs e 11ela
que sig11ifica e1uc <> n1atcrial cc>11stituinte 0 sc·Jliel<>. \'cri-
cxr,c J,ic:1c J na su11crfícic C< >ntinL·t1tal de 1,artcs ela cr<Jsta
tica-se, p<Jrta11t<l, que cJ nCiclc<> 0 cc>n11,<lStcJ jl(>r u111a
C<Jt1flnc11tal 11r(ifu11da, L'Xj,<)11dcJ na h<iriZ<Jntal seçc'Jes
parte externa e1uc 0 líc1uicla e un,a 1,artc i11terna, sc'iliLla.
L]LIL ,tn reri, Jrn1cnte fic:t\ an1 na I crtical. ( )l1ser\·aç<'ies
dirLt.ts desses fra,gn1entc JS crus tais r1crn1item a verifi-
5.2 Modelos de Estrutura e Composição c,1c:1c, de >S 111( Jdclc JS sísn1ic<JS .

C:<in1 <J elcsc11\ cJI\ in1entcJ da rede sis111cJgr,1fica n1u11- . \ crc)sta C<>ntinental ,11,resenta espessura 111u1t<l
,
clial e cl<lS n10t<lelcis ele c>bser1açi1<> e a11álise, f<>ran1 \ ,1ri:t\ cl, desde cerca de _)( 1-4(1 kn1 nas regi<,leS sisn1ica-
cnc<intraelas n<i\·as interfaces e zcJI1as ele tra n sicàc l nc l n1entc LSLÍ\eis 111,tis antigas (els
\ .
crátrins1' até· 60-8(1 k111
interi<ir terrestre, tn<istranel<i c1ue a cr<Jsta, <l 111a11t<J e<> nas c.tdcias de 111cJntanhas, tais C<J111<> c>s l lin1alaias na
núclccJ sàcl dcH11íni<JS l1eter<Jgê11c<JS. Partit1elc> elas \el<>- \si:1 L' <,s . \rides ,la. \111é·rica cl<l Sul. .\ e1 ielé11cia sís111i-
cielaeles sísmicas, calcl1lan1-sc as elensielaclcs elas ca 111, JStra lJUC, c111 al,gu111as regic'Jes crat<Í11icas, a cr<JSta
ca1naelas principais e ele suas sulJeli,iséics, 1,ara e111 sc- C<Jnrinental cst:í elividida c111 cluas partes n1ai<ires 1,cla
gtiiela l1uscar a ielentificaçàcl elas r<Jchas presentes nessas descontint1idade de Conrad eiuc assit1ala un1 ligeir<l
camaelas. aun1c11t<J das \ clcJcielaeles sís111icas c<ltíl a pr<Jfunclicla-

5.2.1 A crosta terrestre

Para alcançar as partes ela cr<ista atu-


almente mais pt<lfu11elas, já fclratn feitas
s<1ndagens tantci n<JS <Jccan<JS C<lmci n<JS
c<intinentcs. ()s cust<Js ele tais scJnela-
gcns sã<J muit<J altcis, e é necessáriri
buscar <Jutras evieléncias eliretas para
c<introlar eis 1nc1clck1s <Jbticl<lS através
das ondas sísmicas. Dentre as rclcl1as
Descontinuidade
expcistas na superfície el<is C<lnti11en-
de Mohorovicic
tes, enc<intram-sc dcsele as rcicl,as
seclimentares p<lUC<> <>u nàcl defcirma-
elas até as rcichas mctam(lríicas ljlte - - i Descontinuidade
foram submeticlas a ccincliç{ies ele tem- de Gutenberg
peratura e pressà<l ccirresp<inelcntes às
ela crosta intermediária c>u prcifuncla a
tnais ele 20 k.m. P<ielem estar presen-
tes, também, r<ichas p!Lttêinicas que
cristalizaram cm níveis crustais desele
rasc)s (1-3 km) até pr<Jfunelc)s. Tantci NÚCLEO
1NTERN0
as rcichas mctaméirficas C<Jt1l<J as
plt1têinicas estãci cxp<istas atL1a!tnente
pela ação ccimlJinaela eias t<ircas gecl-
l(igicas internas que, entre ciutras ccJisas,
sãcJ respc1nsáveis pel<> scierí-,,ruir11e11tci elas
Fig. 5.1 Estruturo interno do Terra: o modelo clássico de primeiro arde,~. e~- :ccr-odos
cac1cias montanhcisas (Cap. 6), e elas fcJr-
concêntricos, obtido o partir dos velocidades dos ondas sísmicos. Mar~e~-se cs ai visões
no devido escola, exceto poro os crostas e o zona de baixo velocidcce.
de e que separa, peirtanto, rcichas ele densidaelc tneneir supericir, às vezes clenciminaelo de camada 4. Cc>nfir-
na crcJsta supericir de rochas de maicJr dcnsielaelc na ma-sc essa inferência neis ofi<ilitc>s (fig. 5.311), que
'
creista infericir (Fig. 5.2a), enquantci as e>l1scrvaçc'ícs elemcJnstram que a camada 3 é feirmada peir rcichas
diretas sugerem que uma elivisàeJ em três partes peide intrusivas máficas a ultramáficas, muitci ricas em mine-
ser mais adequada (fig. 5.21)). rais ele magnésici e ferrei. f1á ampla variaçàcJ das
() modelei geeifísico para a crosta oceânica su- espessuras das camadas e, consee1üentcmente, da es-
pessura tcital ela creista eiceânica. l~nquantci a creista
gere a presença ele três camadas de rcichas sc>bre ei
eiceânica média apresenta espessura tcital em teJrnei ele
manto (Fig. 5.3a). Programas de seindagens elci asscJa\heJ
7,5 km, nei ()este do ()ceancJ Pacíficei enceintram-
oceânico incluíram alguns fureJS mais profunde>s que
penetraram até em teirno de 1,5 km, permitineleJ, as- se alguns platêJs eiceâniccis neis quais a espessura da
crcista eiceânica alcança de três a quatro vezes a es-
sim, a verificaçàci elireta de parte dei meidclcJ geeifísicci.
pessura méelia.
A camada supericir (camada 1), mais fina, apresenta
velcicielades sísmicas baixíssimas e é ceimpcista preelci-
minan tcmente pc1r sedimentos inceinseiliclae1eis. 1\ 5.2.2 O Manto
camada intermediária (camada 2), ele velocidades sís-
micas mais altas, inclui re>chas vulcânicas máficas () manto superior situa-se abaixei ela
(relativamente ricas cm minerais que ccintêm tnagnésiei descontinuidade de 1VlcihcJreJvicic até a primeira das
e ferro) no tcipo e diques sul1vulcânice1s n1áfice1s na clesceintinuiclades mantélicas a\1ruptas, que se manifes-
base. Infere-se que a camaela inferior (camaela 3) deve ta a uma pre>fundiLiae1e ele cerca de 400 km (liig. 5.1 ).
ser ceJmposta por rcichas plutc'inicas preelcJminante- Nci mantci superieir, a densielaelc, geralmente ex-
mente máficas. 1\baixo da camaela 3, cJcorre ei mantei pressa em valcires para pressàei zerei P.,, varia desde

- - - - - -----·· " - • - - - - - .--'-••- ·--·-·1


Vp '
Fig.5.2 (a) Estrutura da crosta con-
km/s materiais materiais km •zona• 1
tinental em regiões cratônicas ou
' '
4-5 sedimentos sedimentos
+ vulcânicos
-Oz
a: <
escudos - regiões que permanece-
ram geologicamente estáveis durante

1---- -- xistos ii: o longos períodos de tempo até os dias


xistos WN
Q. ã: de hoje - sugerida pelas velocidades
________ granitos ::, w
a: granitos V, das ondas P, onde se nota a separa-
o
-aw: ção em duas partes sísmicas pela

Q.
::,
---- gna1sses
10
--a:<
<
descontinuidade de Conrad em cros-
ta superior, com rochas de V p
"' 5 ' 5-6 migmatitos anfibolitos ·<(Z
-o
..J
menores, e crosta inferior, com ro-
~ ON
<(
chas de V p maiores.
1-
"'oa: migmatitos
WO
:E VJ
a: w (f)
o W;:E
1-
::::,
intrusões máficas z
- a::
o
(b) Estrutura da crosta continental
rochas máficas/
sugerida pelas observações de seções
- ultramáficas
descontinuidade ..J
20 crustais expostas. Nota-se a divisão
a: de Conrad gna1sse w em três partes petrologicamente di-
o
-aw: -7 > ,
ferentes. E importante notar a
IL z presença das rochas ígneas máficas
-z e ultramáficas na mesozona e na
~ 6-7 catazona, demonstrando a contribui-
"'oa: ção da intrusão de rochas ígneas à
o descontinuidade formação da crosta continental. A
30
Moho sismologia dificilmente distingue as
8 Manto Superior rochas máficas ígneas das máficas
metamórficas (anfibolitos).
CAPÍTULO 5 • A COMPOSIÇÃO E O CALOR DA TERRA 87

3,2 g/ cm 1 no t()pc) até cn1 tcirnci ele 3,6 - 3,7 g/ c111; a t1ca-sc que a temperatura elci soiidus é superic)r à ela
400 km. Dentre as rcJchas terrestres ccinhecielas, sàc) as geciter111a scilJ press(1es lJaixas e altas. Nessa situação o
ultramáficas ricas em cili,·ina magnesiana (\lgêSi()) e mante> permanece scílidei. IJcir cJutrei laelei, se a tempera-
'''.; piroxênios (l\IgSi() 1 e (~a_i\lgSi, () 1) eiue apresenta111 tura da geciter111a exceele a elei so!idus, c1 mante) deve
densidaeles adequadas a estes \Jarâ111ctrc>s (Tal1ela :i.1). t'icar incipienten1ente funelielci, num intervalei de prei-
r~ntre ei ~ÍeJhei e ~400 km de preiti1nelielaele, a \·cleici- fttnelielaele que ccJrrespc)nele, aproximad.amente, à zona
dade de preipagaçàc1 das einelas sísn1icas nas regic1es de baixa velocidade elefinida pelas proprieelades sís-
C)ceânicas e cm partes das regic1es ceintinentais sc>frc 111icas. f~sti111a-se que a c1uantidade de líe1uidei presente
uma ligeira eliminuiçãeJ ceim at1mcntc1 da prcifuncliela- nesta zcJna seja pequena, em tc)rncJ de 2 (1/o no máximeJ.
de. lissa zcina eiu camaela recebe a deneiminacàei
,, ele t~ssa quar,tidadc de líqtiidcJ, no entanto, é suficiente
zona de baixa velocidade. para tcirnar o 111anto mais plásticcJ e mole do que o
111antcJ scJl1rejacente qt1anelci se considera a escala do
Um ccintr(Jle aelicional seJbre a prcJ\·á,·el celmpc)si-
tcn1pci geeil(JgiccJ.
çào deJ mantei superieJr é dadeJ pelas rc)chas mát1cas
c)bscrvadas na superfície terrestre, cuja cJrigem se e-Já
prcdeiminantemente ali. A petroleigia
experimental clemcJnstra que, para ei
mantci superior pc>elcr prciduzir estas ® DIVISÕES
SÍSMICAS
MATERIAIS

reichas máficas, as reJchas nele presen- Camada 1• Sedimentos


tes sãci, com maior preibal1ilidadc, c1 espessura variável (100m)
. "~·v"u·.··•··- Vp = 1,8kmls
peridotito (eilivina + pircJxênio) e>u eJ .J~~~~=t:~:;: r:z~:~~~:-: ~,~:
~'~"f_'¼,~·~,:,t'::;;;'tJ,,v,,.':''r,:...,,,,"v-,--,.t"'~-
Camada 2:
1 7 + O 75km
Vulcânicas
eclogito (granada+ pireixênio). 1\s den- máfícas (2km)
sidades deis minerais presentes e as ts~;:~!±;:::;~:·:::::: ·: -:; 1 1

V p - 5 Okm/s
,

velc1cidades V nas reichas sàcJ aprcscn- Diques máficos


P (1,5km)
radas na Tabela 5.1.
Intrusões
As rcichas se ft1nelcm ao leJngeJ de Superiores
Camada 3 (0,6km)
um determinaelei intervalo de tem- 4,86+ 1,42km
peratura, uma vez que sae1 ceimpeistas Vp = 6,4kmls
, . . .
pelr var1os mtncrats que peissuem, pclr Série de rochas
acama dadas
sua vez, faixas de temperaturas de (4km)
fusãei diferentes. J\ temperat..;ra do Descontinuidade
início de fusàeJ - e1 primeirei apareci- de Mohorovicic

. mento de líquidc> - determina ci soiidus Moho


Camada 4: Manto
da rocha, e1ue depende da pressãc) vi- Vp ~ 8,0kmls
gente, entre outros fatores (Quaelro
5.1 e Fig.5.1). A curva de) soiidus ela Manto

rocha peridotito aumenta de modo


- o linear com e> aumento da pressão
da profundidade na Terra. A tempc- Fig. 5.3 (a) Estrutura média da crosta oceânica sugerida pela velocidade das
A

tura, eiutrci parametreJ 1mpcirtantc,


'
ondas P, com base em diversas perfilagens sísmicas (Raitt, 1963). Nota-se a grande
variação de espessuras das camadas. A partir das velocidades observadas, é possí-
bém aumenta ele maneira não line-
vel propor que a camada l compõe-se de sedimentos, a camada 2, de rochas
, aceimpanhandeJ ci aumentei ela
vulcânicas porosas com proporção pequena de sedimentos, a camada 3, de rochas
funelidade. Chama-se de geoterma
máficas maciças e a camada 4, de rochas ultramáficas.
· cur\·a que relaciona a temperatura vi-
(b) Estrutura da crosta oceânica observada no ofiolito de Omã, Golfo Pérsico (Lippard
te a uma determinad.a profundidade et ai., 1987). Nota-se que, embora haja correspondência entre as composições das
interior da Terra. camadas superiores, nos ofiolitos é possível distinguir rochas vulcânicas maciças de
rochas plutónicas, com e sem estruturas de acamamento. Mesmo que apareçam
E peissível experimentalmente ceJm-
rochas ultramáficas na série acomodada, é possível distingui-las das ultramáficas
C)S prováveis formateJs da curva
do manto pelo fato daquelas serem não deformadas e claramente associadas à
solid11s e da geoterma (Fig. 5.5). Vcri- série acomodada, enquanto estas são deformadas e metamorfisadas, e suas com-
posições possuem relações apenas muito indiretas com a série acomodada.
5.1 Produtos minerais em laboratório
A petrologia cxp.:ri11,ental representa uma ferramenta de estudo muito importante para a investigação das partes ·
mais profundas e inacessíveis clâ Terra. Através de equipamentos especiais, nos quais alcançam-se altas prêssõ<es ê
temperaturas correspondentes às condições vigentes desde a crosta até o núcleo externo, estudam-se pequenas ·.
cargas experimentais cujas composições iniciais são conhecidas. Investigam-se os produtos formados após cad~
experiência, conduzida a um determinado valor de temperatura e de pressão, e subseqürntemente resfriada râpída-. •
. mente até a temperatura ambiental. Assim, identificam-se os minerais estáveis presentes e a presença ou aúsênctá dê
vidro (que representa o líquido fundido porventura formado à temperatura da experiência) a cada fatta de pressã<i•
e temperatura. A figura 5.4b apresenta, esquematicamente, os resultados de experiências destinadas à d~terminâção
do início de fusão (ou a curva do solidus) de determinada rocha. · · · · ·· ·

DIAMANTE SUPERIOR

...
.·:.--·.
. ..
.
.. .::.
""' '""'·"'"" ---........ ----- - - .. .
. ...
.
1
amostra 0
VEDAÇÃO ICIS
E AMOSTRA.SS-._--... ► Ili
Ili
._
CU P2 ------
a.
---------------- 1,00mm
fundido ausente

DIAMANTE INFERIOR D fundido presente


Fig. 5;4o À esquerdo, os peços críticos do ceio de diamante,
poro alcançar pressões ultrafortes, do ordem de 1 Mb, equivo-
·. lente 6 .pressão vigente dentro do núcleo externo. A escalo Temperatura
refere-se a essa porte do diagramo. Os diamantes são coloca-
dos numa prenso de oito pressão e, devido o suo formo cônico,
agem como ampliadores de pressão. A o mostro, muito peque- Fig. 5. 46 Gráfico esquemático dos resultados de experiên- ...• ,,

no (à direito), é aquecido por raio laser e alcanço temperaturas cios destinados o determinar o curvo do solidus de uma ·
da ordem dos 2.000ºC. Pressões mais modestos são determinado rocha. A presença de vidro no amostro quando·.
• ak:ançodas em equipamentos diferentes, que podem utilizar frio implico que líquido esteve presente no cargo no momento .
. cargas experimentais maiores. Fonte: Siol & McReoth, 1984. do experiência o oito temperatura.

5.2 Rochas vulcânicas como sondas naturais


Outro meio indireto de estudar a possível composição das camadas internas do planeta é através dos fragmen-
tos arrancados pelo magma (líquido quente produzido pela fusão parcial de rochas) das paredes do conduto
magmático pelo qual o magma ascende. O magma transporta os fragmentos até a superfície, onde se solidifica
para formar rocha vulcânica. Por serem, de modo geral, muito diferentes das rochas que os hospedam, os
fragmentos chamam-se de xenólitos (rochas estranhas). Também são chamados de nódulos pelo formato
geralmente subesférico. Dentre as informações que o estudo detalhado de determinado fragmento pode
fornecer, podemos citar a pressão de sua origem e, conseqüentemente, em que camada terrestre - crosta,
manto - ele foi originado. Alguns tipos muito especiais e exóticos de rochas vulcânicas (por exemplo, os
kimberlitos) são portadores de diamantes, cuja pressão mínima de formação corresponde a várias dezenas
de km, portanto, dentro do manto. Muitas vezes, os diamantes contêm pequenas inclusões de minerais que
podem representar os minerais presentes no manto na região de formação dos diamantes. As rochas vulcâni-
cas representam, portanto, sondas naturais da crosta e de parte do manto superior. Vários tipos de nódulos
ultramáficos são encontrados em rochas vulcânicas, incluindo-se peridotito e eclogito, esperados a partir dos
dados sísmicos. Comparativamente, os nódulos peridotíticos são mais abundantes que os eclogíticos. A diver-
sidade dos nódulos demonstra que o manto superior deve ser heterogêneo composicionalmente.
CAPÍTULO 5 • A COMPOSICÃO
, E O CALOR DA TERRA 89

Ac) descer através da crosta e do topo do manto Temperatura


superic)r, portante), passamos de uma parte rígida, aci- ·-·- . -
ma da zona de baixa velocidade, para uma parte -------------------------
sólido +
plástica dentro da zona de baixa ,-elocidade. ,\ parte
líquido
rígida que inclui crosta e parte dei manto é denomina-
da litosfera, enquanto a parte dúctil é denominada --------------------------------------
astenosfera. Na mesosfera abaixo da zona de bai."a sólido
velocidade, o manto, a despeito de sua mais alta tempe-
ratura, que poderia tcJrná-lc) mais plástice>, está submeticlcJ o I.P
a uma pressão mais alta, eJ que faz com que seja nc),·a-
l(tJ
til
\
• s...__..
til IO \ o-
mente pc)uco plástico e totalmente sc'ilido. ...e..
Q) ©'
o......\ ~
1\ geofísica re,-ela que numa zona de transição no .....
© \

intervalo de apreJximadamente 400 a 650 km (Fig. 5.5) 3' •


e;:.),

há algumas descontinuiclades, caracterizadas por pe-


Fig. 5.5 Diagrama esquen1ático mostrando os formatos da
quenc)s aumentos de densidade nítidos cJu graclati,·cJs
geoterma e do solidus de peridotito, e a faixa de pressões (P1 a
que pcJdem ser causados pc)r mudanças na compcisi- P2) onde deve ocorrera fusão parcial (em larania). Na prática,
çãcJ química do mantcJ para uma cclmposição em que o topo dessa zona de baixa velocidade deve ocorrer em torno
um ou c)utro clementei de maior peso atc:imiccJ (por de 75 km de profundidade sob os oceanos, e a 150-200 km
exemplo, o ferro) começa a predominar sobre os cJu- sob os continentes. A espessura da zona de baixa velocidade
tros elementos de menor peso at<Jmico (por exemplei, deve alcançar em torno de 200 km abaixo dos oceanos.
o magnésio). Igualmente, a cc)mposição química peide
ser mantida, e els minerais mudam de estruturas cristali- dcJ manto supericJr para estruturas mais clensas devido às
nas menos densas sob as pressões relativamente mcncires pressc'ies maiores de) topo do manto infcric)r, através de
transfcJrmações polimórficas ou reaçc:ies de decc)mposi-
Tabela 5.1 Densidade de alguns minerais e velo- çãcJ prcimo,ridas pela pressão sempre crescente quantcJ
cidades de ondas primárias em algumas rochas maior fcir a profundidacle terrestre.

Mineral Densidade, g/cm3 i\tra,Tés da petrol<)_l,'1a experimental, demcJnstra-se


que, nesse intervalo ele grande profundidade, os mi-
Quartzo 2,65
nerais presentes ncJ top<l do mante) superior tcJrnam-se
Feldspato potássico 2,57 instáv·cis e sãcJ substituídos por C)utrc)s mais densos.
PcJr exemplo, a cJlivina magnesiana transforma-se su-
Plagioclásio 2,64
cessivamente a ~400 km e a ~ 500 k.m e111 polimorfcJs
Olivina magnesiana 3,3 ~ e y, respectivamente, que mantêm a fc'irmula (Mg,
Fc) 2Si() 4 , porém adc)tam estruturas mais clensas, com
Clinopiroxênio 3,3
menc)r espaçcJ livre entre os íons constituintes. No
Ortopiroxênio 3,4 mesmo intervalo, os piroxênie)s também adotam es-
Granada 3,6 truturas mais densas. A ~650 km, a fase eilivina-y
decc)mpc:ie-se, feJrmando (J\,fg,Pe)() e (J\,fg, Fc)Si0 1
Rocha VP (km/s) com estrutura densa, adotada também pelos
Granito 6 pirc)xênios. Te)das as transformações citadas sãci acom-
panhaclas pc)r aumentos das densidades e das
Gabro 7 velocicladcs de propagação elas ondas sísmicas, prati-
Peridotito 8 camente idênticcJs aos aumentos eibservadeis
. .
s1sm1camente.
Os três primeiros minerais são os constituintes essenciais do
Acredita-se que, desde ~650 km até em tc>rno de
granito, rocha comum na crosta continental. A olivina
100-300 km da clescontinuidadc de Gutenberg a 2.900
magnesiana e o clinopiroxênio são minerais essenciais dos
km de profundidade (Fig. 5.1 ), ci manto inferior seja
gabros, que formam parte importante da crosta oceânica. Es-
ses dois minerais, mais o ortopiroxênio e a granada, compõem
composto prcdcJminantemente pc>r silicatcis
o peridotito. ferromagnesiane>s com estrutura densa e, em menor
qL1antie-lade, p()r silicatos cálci()-aluminos(JS taml1ém temente, acreelita-sc que a liga dc,·a inceirp<1rar algum
e-lcnscis, l1em ccim(J óxiclc)s de magnésiei, ferrei e alu- elemento de númerci atc"imico baixel, cuja presença re-
míni(1. Tenelci em vista ei grande V(1lume elci mantei sulta numa eliminuiçàci da densidade. ()s candidateis já
infericJr, a percJvskita ferromagnesiana, mineral muit() sugeridos são vários, ccJmci hidr(>génic1, eixigênici, sódio,
incomL1m nas rcichas crustais, eleve ser o silicatci mais n1agnésici, enx(1fre. () ní1clcci interne>, sc'ilielci, deve ser
al1unelante da 1crra. ce)mpcJsteJ pela liga fcrre)-nÍqL1el, un1a YCZ que sua den-
sidade corresponelc à densidaelc calculada. () núcleo
Nesse intervalei ele ~650 a ~2.6(}0-2.800 km, a elen-
1 internei e-leve crescer lentamente pela sc>lidificação clei
sidadc p o deve aumentar desele cerca de 4,0 ,, <J:./ cm até
ní1cle() externei. F'.stud(JS recentes sugerem que ci núcleci
pert(J dos 5,0 g/ cm'. F,studcJs recentes e ainela ccintrcJ-
interno assemelha-se a um encirme cristal anisotrc'ipicci
verscis sugerem qL1e peide haver hetcr(1geneie-ladcs
c1uc permite L1ma velcJciclaele ligeiramente maicJr às an-
importantes n() 1nantc1 inferieir, cc1neluzinele) à presença
elas sísmicas preipagae-las na clircção N-S. C) núclec1 interno
de el(1mínios c1uímiccJs distintcis separadcJs pcir uma SLt-
É:,rira ccim velocieladc mai(Jr que a d(J rcst(J dcJ planeta, ci
perfície bastante irrcÉ:,rular, cuja prcifunclielac1e peicle variar
que sugere c1ue nL1ma é11cica antericJr toclcJ planeta girava
e-lesde 1.ô()O km até a desccintinuidaelc e-le Guten!Jerg.
ccim maicir rapidez. Pcir estar iscilado mecanicamente
;\ zona entre 2.600 e 2.9()() km, aprciximaclamente, el(J restei el(1 planeta pelei nírclccJ externei líquidcJ, c1 nú-
apresenta prciprieelae-les sísmicas anc'imalas e variá,·eis. cleci interneJ mantém sua velocidaclc.
Junt(J à zcina e-le !Jaixa velcicie-!aele, essa zcina inferieir
clci mant(1, elcnciminaela de D", rc,,ela uma di1ninui-
çã(1 elas vcl(icidaelcs sísmicas ccim aL1mcnto de
5.3 O Calor do Interior da Terra
prcifL1ndiclaele. 1\ (Jrigcm e natL1rc;,:a ela ;,:cina D" é ain-
da especulativa. PcJe-le ser uma zcJna herdada ela ép(ica 5.3.1 Origem do calor dos corpos do
ela aglutinaçãci da "I'crra (cmbcJra seja clifícil imaginar
Sistema Solar
ccJmci ficeiu prcser,·ada elurantc as fcJrtes scgrcgaçé"ies
internas que ciccJrrcram), peide representar uma Z<Jna Ccimo \'Ístci nci C~ap. 1, (JS ccirp(JS elci Sistema So-
cinde se acumLt!am l1cilsc:íes de material gerael<> anteri- lar, e-!eselc eis meteoritcis até ()S grancles planetas, feiram
ormente a prcJfL1ncliclaelcs l1em mcneires e em ,·ias ele fcirmaclcis pela agrcgaçã(1 ele ccJnelcnsaeleJs elo materi-
reciclagem dcntr<1 da Terra,pode incluir n1atcrial lilJc- al <Jriginal, cm prciccsseJ chamaclci e-le acresçãei. A
raelci e-lei núcleci, ciu pcielc representar material c-l<i mantci energia cinética dei impactei dc1s fragmenteis acretadeJs
inferi(Jr, deccimpcistci para a fcirma ele (Jxielc1s elenscis. acab()U se transfcirmandci cm calc1r, que elevciu a tem-
r:stuelc1s recentes elcmeJnstram eJLte essa zcJna pc>ele ter peratL1ra cio ccirpc1 al,,ci.
superfícies supericir e infcricir irregulares, e CJL!e as par-
l:ma scgL1nela fcintc ele energia térmica foram cmis-
tes mais espessas pcielem acumular-se em \'cilumes cuj<JS
sc:íes de átcimos radiciatÍ,'e)s que cc1nstituíram a
tamanhcis assemelham-se acis deis ccJntinentcs na crc>s-
matéria-prima e)riginal- a energia de partículas c1u fótcJns
ta.
tamlJém se transforma em calc)r. I s(itc)pc1s de meia vida
curta ti\·eram papel importante nei início, mas sãcJ os
5.2.3 O Núcleo isc'itopcis raclioati\'OS ele elcment()S ceimei o urânic1, CJ
t(irÍ<J, <l ráclici e ci peJtássici, ccJm meias vidas da mesma
()s aumenteis da densidaele e e-la ,,elciciclaclc \ 1p , aci
<1rdem que a iclac-le elo Sistema Solar, que contril1uem
atravessarem a elcsccintinuielacle ele c;utcnlJcrg, sãci
significativamente para manter funcicinandcJ as máqui-
muitcJ grandes e nãcJ podem ser gcraclcis pcir transfc>r-
nas térmicas respcinsá\·eis pela dinâmica interna elos
mações pcilim(irficas dos materiais que c<1m11c:ícm ci
planetas.
mantci inferior. As c-lensidades calculadas para CJ nú-
cleci terrestre deixam poucas dí1,ielas ele e1uc seja () calcir geraclo em ambcis eis prciccsscJs c-lepcnde
compcisto prcdciminantcmentc pcir uma liga metálica ela qL1antielade ele material e, p(1rtantcJ, dcJ volume
ele ferro e níe1uel, hip(itcse ccirrcilJcJrada pela e-lei C(Jtp(); eis ccirpcis 1nai<1res, ccJmo eis planetas,
planetcilogia ccimparada e pelei cstL1elcJ de mctecJritcJS. elc,·em ter gerac-lcJ maicir quantic!aelc ele caleir. Pcir
r:ntrctantcJ, a densidade p calculada para ci núclcci c1L1trcJ lado, parte dei calcir do intcrieir dcJ cc>rpcl,
"
cxternc1 na clesceintinuidade ele Gutenberg é un1 pcJu- cl1eganelci à superfície, pciele ser irracliada para ci
ceJ menor elei que 1 O g/ cm', infericir à elcnsielade ele espaçei. b:sta pcrcla de calcir é pcirtanto prcipcJrcicJ-
11,5 g/ cm 1 elcterminada para essas ligas. (~cinseqi.ien- nal à superfície de> corpcl.
não houve fusão por acresção fusão por acresção

convecção possível

sem atividade ígnea atividade ignea atividade ígnea


limitada próxima
à superfície

remanência magné- estrutura interna semelha


, , tica primitiva condi-
possível remanência magnet1ca cionada remanência magnêtica apagada
primitiva

, , A

ASTEROIDES LUA MERCURIO MARTE VE

o 1588 2200 6150 Raio (km)


Fig, 5.6 A relação entre o tamanho do corpo planetário e alguns fenômenos que dependem de sua evolução térmica, Vulcanismo,
a erupção na superfície de magma gerado por fusão parcial dentro do corpo planetário, é discutido no Cap, l 7, A Tectônica de
Placas corresponde, essencialmente, aos movimentos dos segmentos da litosfera e é discutida no Cap, 6,

(~c)ncluímc)s entãci c1ue ci calcir pre)duzic-lci en1 tim () fluxo geotérmico tcital corresponde a uma
ceJrpo del Sistema Scilar é preJpcircicinal a seu vc1lun1e, energia ele 1,4xl021 joules por anei, que é muitcJ maicir
enquantci que o calclr que perdeu por irracliação é preJ- deJ 9ue ciutras perclas de energia ela Terra, comei aque-
pcircional a sua superfície. lim cc1rpc1 esféricci de raiei la ela elesaceleração ela reJtaçãci pela açãcJ elas marés
R ceJnse,!c;uiria pclrtanteJ reter quantielacle de calcir preJ- (10 211 jeJules pcir anci) eJu ceJmc1 a energia liberada pelcJs
pclrci eJnal acJ qt1c1ciente entre R:; e R 2 , pclrtantci terremcJtcis (10 1') jeJules peir ano). A energia para pro-
preJpcJrcicinal a R. ( )u seja, eis ce)rpcls maieires retive- cesseis ccJmci a mcivimentacãei ,, essencialmente
ram grande quanticlade de calcJr, tenclci siclo capazes de l1eirizc intal ela litcisfera pclr se1bre a asteneJsfera (Cap.
elesenvolver prcJcesse1s mais ccJmplexcJs, en9uantcJ Ljlle 6) e a geraçãei dcJ campo geeimagnéticci e-leve preivir,
eJs ce1rpc1s mencires percleram praticamente tcicleJ CJ seL1 pcirta11tci, e-lei calc1r ela Terra,
calor pcJr irradiaçãel. ()utros fatcires, ccJmci ci graL1 de
() fluxo geeJtérmicci através de uma camada da
cixiclaçãci dei material acretadcJ, que ,•aric1u ccim a dis-
Terra é elefinidci ceimcJ o prciclutci da variação da
tância aeJ Sol, também devem ter siclc1 impcJrtantes para
temperatura com a profundidade (gradiente
a eliferenciaçãcJ dos planetas.
geotérmico), pela condutividade térmica das reJ-
A ~·ig. 5.6 ilustra diferentes fenêJtnencis qL1e occirre- cl1as claquela camaela. IJara medi-lcJ, é necessáriei,
ram para aster(iides, a J ,ua e cJs planetas terrestres, e1n pe1rta11tcJ, cc1nhecer as variações ele temperatura.
funçãci dei seu tamanho, ciu seja, ela energia térmica
() ccJnhecimentcl das variaçc"ies ela temperatura
dispeJnÍvel.
ceJm a prcifundic-lade é, entretante), precáric1 quanclcl
ceimparaclci, pcir exemplei, com variaçe"'ies ele elensi-
5.3.2 O fluxo de calor do interior da Terra elacl e e de parâmetros elásticcis, cibticlos da
;\ radiação seilar é a maieir respclnsável pelos feneí- sismcJlcigia. A razão é que as temperaturas somente
mencJs c1ue ciccJrrem na superfície da Terra e na atmcisfera. sãcJ ccJnhecidas pr(iximas à superfície ela Terra, me-
J-,'.ntretanto, a pc)Ltcas dezenas c-le centímetrcis de prcifun- didas em fureis de sondagem ciu nci intericir de
e-liclade da superfície, seus efeitcJs diretcis scibre a minas. 1\ condutivie.lade térmica também é medida
temperatura terrestre sãcJ praticamente c-lesprezíveis e ei experimentalmente ccim rochas prc'iximas à super-
aumentei e-le temperatura que sentimos ao elescermos nci fície e eis valcJres para maicires prcifunclidades
interior ele uma mina, pelr exe1nplo, é somente devidcJ acJ acal1am senc-lei inferidcJs a partir ele eiutras prclprie-
fluxo de calor elcl intericir da Terra. ciades físicas ol1tidas principalmente da sismoleJgia,
Dependendo da composição, idade e natureza do 5.3.3 O transporte de calor e as
material da litosfera e dos processos que ocorrem abai- temperaturas no interior da Terra
xo dela, o fluxo de calor varia com a região da Terra. J\
Fig. 5.7 ilustra valores de fluxo geotérmico obtidos para O transporte de calor no interior da Terra ocorre
áreas com diferentes características gec)lógicas. A Fig. por dois prc)cessos: condução e convecção. A con-
5.8 ilustra um modelo de distribuição global do fluxo dução é um processo mais lente>, com transferência de
geotérmico, proposto em 1993. De acordo com este energia de uma molécula para as vizinhas. Acontece
modelo, as regiões de fluxo térmico mais elevado es- nos sólidos e, por isso, é importante na crosta e litosfera.
tão associadas ao sistema de dorsais mesc)-oceânicas.
A convecção é um processo mais rápidc) e eficien-
Aproximadamente a metade do fluxo total de calor da te, com movimento de massa, que ocorre nos fluidos,
Terra é perdida no resfriamento de litosfera oceânica
quando o gradiente térmico excede um certo valor,
de idade cenozóica (menor do que 65 l\ía).
chamado de gradiente adiabático. A convecção
acontece nc> núcleo externo e também no manto por-
que, embora ele se comporte cc)mo sólido na escala
FI..UXO DE CALOR
2
·-(mWlm J de tempo da propagação de ondas sísmicas, numa
20 40 60 80 100 escala de tempc) geológico, comporta-se como um
líquido. A con\-ecção no manto é essencial para expli-
~9 dados / car o movimento de placas tectônicas. No núcleo
província
externo, e. a convecçao - que pr<)VC)ca movimentos
.
ra-
diais do fluido condutor, permitindc) a ação das forças
de Cc>riolis, essenciais para a geração do campo mag-
• •
poucos
net1co terrestre.
dados /
província Nosso conhecimento direto sobre a temperatu-
ra limita-se aos dados obtidc)S em furos de
sc)ndagem na crosta, onde a variação da tempera-
tura com a profundidade (gradiente térmico) alcança
r-•--j fluxo médio . 20..
;l de 30 a 40ºC por quilômetro. É claro que, se estes
·-:·._.,_,
- fluxo reduzido
gradientes continuassem com e) mesmo valor para
- espessura da camada
o interior da Terra, as temperaturas próximas ao
centro seriam tão altas que todo o material estaria
Fig. 5.7 Fluxo de calor médio, fluxo reduzido e espessura da
fundido. ,-\ sismolc)gia informa contudo que o nú-
camada que produz calor através de radioatividade em várias
cleo interno é sólido.
províncias de fluxo de calor, segundo Vitorello & Pollack (l 980).
O fluxo de calor médio é a média de medições em cada área. Reunindo dados sobre densidade, parâmetros elás-
O fluxo de calor reduzido é o fluxo constante que vem do manto ticos e limites entre diferentes fases, através da
e crosta inferior, passando através da crosta superior. A espes- sismologia, \"ariações do campo magnético da Terra e
sura da camada é a espessura efetiva da crosta superior. Os
informações sc)bre seu mecanismo de geração, do
exemplos incluem: (i) regiões com forte fluxo de calor, medido
gec)magnetismo, a distribt1ição de densidades, a varia-
e reduzido. O exemplo da província Basin e Range é do Oeste
ção da pressão e a massa total da Terra e a possível
dos EUA, numa região em que a crosta está bastante recorta-
da por falhas e onde há vulcanismo recente; (ii) regiões com
distribuição de materiais radioati\-os, com os valores
forte fluxo de calor medido e baixo fluxo de calor reduzido, de fluxo térmicc), elaboraram-se modelos de variação
com crosta superior bastante espessa; os exemplos são da da temperatura no interior do planeta.
Austrália central e do Escudo Indiano antigo, com rochas re-
,\ Fig. 5.9 mc>stra a cur,-a proposta por um desses
lativamente antigas; (iii) regiões de fluxos de calor reduzidos,
modelc)S, indicando a ,-ariação da temperatura com a
com crosta superior de espessura variável; os exemplos são •
do Canadá, do Escudo Indiano muito antigo e do Oeste da
profundidade (geoterma). E mostrada também a curva
Austrália. De um modo geral, o fluxo de calor, medido ou efe- ele ,·ariação da temperatura de fusão do material com
tivo, tende a diminuir com aumento da idade geológica da a profundidade. ,A temperatura de fusão muda com
área. O escudo litorâneo brasileiro apresenta características o tipo de material, como na interface manto-núcleo,
térmicas condizentes com sua situação geológica e idade, não mas muda também com a pressão, como ilustrado na
muito antiga. interface núclec) externo-11t'icleo interno.
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1 1 1 1

o 40 60 85 120 180 240 350

Fig. 5.8 Distribuição global do fluxo de calor na superfície da Terra, segundo Pollack et ai. (1993). As linhas contínuas representam
os limites de segmentos da parte superior terrestre (Cap. 6) que incluem as dorsais meso-oceânicas, compostas por vulcões subma-
rinos ativos ou recentemente at'1vos. Os fluxos de calor mais intensos (em marrom) associam-se a essas dorsais, enquanto as pares
mais frias (em branco, em regiões oceânicas nas proximidades dos continentes) concentram-se nos continentes.

1000 Temperatura do
geoterma inferior
à do solidus
2000

(])
"O 3000
C\l
"O Temperatura do
·-
"O geoterma superior
4000
e à do so/idus
::::, r
'+- ;:
o
L...
L
"
5000 .
Cl.
Núcleo de
Núcleo interno Temperatura do
ferro sólido
geoterma novamente
6000 sólido - inferior à do solidus

1000 2000 3000 4000 5000

Temperatura na Terra (ºC)


Fig. 5. 9 A relação entre a geoterma e o so/idus de liga de ferro.
94 D Ee I FRA N oo A T ERRA

f: imp(irtante ncitar c1ue aincla há muitas clúvidas a Atualmente, cc>n1 a rede mundial ccimposta de cen-
respeitei c1(JS valcJres a!JscJlut(JS das temperaturas vi- tenas de estaç(>es sismoléJgicas c-listribuídas peleis
gentes nas partes mais pr(ifundas ela 'l"erra. J\ssim, ccJntinentes e ilhas, é pcissí\·el estudar como cada estação
estuclos recentes sugerem que a diferença de tempera- rece!Je as (Jnelas en1iticlas por milhares de terremotcis,
tura entre a lJase c!(J mant(J infericJr e (l top() d(J n1.'.tcle(J c1ue cJccirrem pred(iminantemenre cn1 determinaelas fai-
externei (0L1 seja, na interface mant(J-núcleo) pcicle fi- xas mL1itcJ ativas. Aplicandci-se cJs princípi(JS da
car na casa de centenas ele ºC até talvez 1.500°C. I"'.sse t(Jm(Jgrafia, utilizacla na :.Iedicina, para a análise, olJ-
aumentei de temperatura é rápid(J e deve ser ac(imci- têm-se clistribuiçc"íes triclimensicJnais e-las \'elocidades,
claclcJ pela zona D". 1\ temperatura clentr(J d(J núcle(J mcJstranc-lcJ que, além das variações ccJm a profundida-
externo pcJcle ser da circ-lem ele 6.0()()º(~, ou seja, ele ele, existem C(Jnsideráveis variaçi'>es laterais n(J material
1.()00 a 1.500ºC mais c1uente que inelicad(J na Pig. 5. 9. do interior da Terra. Para ilustrar estas diferenças, a fig.
1\creelita-se que () núcle(J esteja se resfriand(J, com 5.1 O, de um trabalhcJ picineiro publicadcJ em 1984 por
conseqüente aumentcJ d(J volume do núcle(J intern(J. W(l(Jelhouse & Dziewonski, m(Jstra ancimalias no man-
Calculciu-se que um aument(J ela ordem de 25m1 pclr t(J superior, até 67() km de profundiclaele, e n(J manto
segundo, embora imperceptível para detecçà(J pela inferior, entre 670 e 2.890 km. A figura mostra, por
Sism(ilogia, poderia liberar 2xl 0 11 watts, na f(irma de exemplo, velocidades sísmicas anomalamente altas em
calor latente de solidificaçãcJ, c1ue seriam suficientes para regiões d(J manto abaix(J de continentes como América

manter o dínamo que gera o campo gecimagnético. elcJ Sul e Africa.

2
....
.........
E
-
º·º....
e (1)
ctl a.

-
-lo::'.

(1)
"C
670
670
ANOMALIA
de
ONDAS-S
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"C
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.....
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o
• o -
o o
·-
e.._
....
,_ ctl (1)
a_ ~'2
ANOMALIA
de
2890 ONDAS-P

-3% ondas-S +3%

-0. 75% ondas-P +O. 75%


Fig. 5.1 O Mapa da distribuição dos continentes (superior) e seções sísmicas tomográficas do manto em perfis equatoriais
para ondas S no manto superior (intermediário) , e para ondas P no manto inferior (inferior), segundo um estudo pioneiro de
Woodhouse e Dziewonski (l 984). A linha tracejada no mapa superior indica as dorsais rceso-oceânicas (Fig. 5.8). Material
que transmite as ondas sísmicas com maior velocidade, portanto mais denso e mais ;rio, é representado em roxo. Esse
material deve afundar através do material menos denso ao seu redor. Em contraoariao, o material com velocidades sísmicas
menores, portanto menos denso e mais quente, representado em vermelho, deve es·ar em ascensão. Os braços ascendentes
e descendentes constituem partes de células de convecção de material dentro do ·erra, em que o calor interno circula pelo
transporte de material. Nota-se que, nesse estudo, não há sempre uma correspondência perfeita entre as secções de 25 a
670 km e de 670 a 2.890 km.
CAPÍTULO 5 • A COMPOSIÇÃO E O CALOR DA TERRA 95

A interpretação elos resultaelc)s ela tomografia sís- transicicJnal c)u mesmc) até a desccJntinuidade de
mica relaciona as ze)nas ccim vclcicidacles sísmicas maicJres Gt1ten\1erg. Além disse), deve ha,,er ressurgências de
que a ncJrmal com zonas mais c-lensas e mais frias, en- material qt1ente e menos denscJ, ascendendo desde a
quanto as zonas com velc)cidades sísmicas mcncJres sãci clescontinuidade de Guten\1erg, cm direção à superfície.
zcinas cc)m rcichas mencis densas e 111ais quentes. b~ssas Pc)rtantci, assim ccimo a litosfera está cm mcivimcntcJ
situações são instáveis: CJ material mais dcnscJ tencle a essencialmente lateral (Cap. 7), e) interior da Terra con-
afundar, enquantc) C) menc)s denseJ tende a bc)iar. ;\tra- tém celas ele convecçãc) cm que e) material está em
vés de) modelamento numérico· dessas situaç<':>es, é mci,,imento essencialmente vertical.
possível demonstrar que ci material mais frio peide ccins-
tituir verdadeiras avalanches muito lentas dentre) dei * Técnico em que se utilizam equações que relacionam variáveis

mantci, que afundam desde o ní,,el crustal até cJ mantcJ conhecidos poro determinar os valores de variáveis desconhecidos.

5.3 Modelos de circulação do material


Atualmente, a maior parte dos estudiosos da Terra e seu interior considera que o modelo clássico da Terra em
camadas é suficiente para descrever sua estrutura grossa apenas. Quanto mais se investigam os detalhes, mais se
percebe que, superposta a essa estrutura grossa, há outra muito dinâmica, em que os materiais que compõem
as camadas estão em movimento. Em determinadas partes da Terra, esse movimento restringe-se a uma
determinada camada, como, por exemplo, o manto superior. Por outro lado, em outras partes, os movimen-
tos podem abranger todc) manto, desde o superior até a zona D". F,sses movimentos têm como origem a
presença de material mais frio e mais denso, que tende a afundar, e de material mais quente e mais leve, que
tende a ascender. Os movimentos são lentos, e as distâncias, grandes. A circulação de material dentro das celas
que abrangem todo o manto demora centenas de milhões de anos.
A Fig. 5.11 mostra uma simulação da situação atual dentro da Terra. Material frio em azul (Fig. 5.11 a) está
afundando ou já afundou até a descontinuidade de Gutenberg. Por outro lado, material quente em vermelho
(Fig. 5.11 b) também ascende a partir da interface manto-núcleo em zonas que na superfície terrestre correspondem,
aproximadamente, a regiões grandes de ilhas oceânicas vulcânicas ativas, tais como as partes centrais do Ocea-
nos Pacífico e Atlântico.

Fig. 5.11 Resultados de simulações por computador da circulação de materiais frio (a) e quente (b) dentro do manto. Fonte:
Paul Tackley, California lnst. Technol.
---:O, , , -:-: : ,

·• Leituras
,_ ,,- ," : , , ,
·recõ111endadas
,, ,_:", , i-: ,, , ,
•· ·,
. ASSUMPÇAO, M. 'S. Terremotos no Brasil . Ciência
·.· Hoje. Rio de Janeiro: SBPC, 1983. · ·

,
JEi\.NLOZ, R. & LAY, T; The CareaMantle Boundary.
, ,, , , , , , , ,

· ·· . Nova York: Scientiflic Amet:ícan Publishing, 1993 ..


, ', , , ', , , ' , , ', , , , , , :

. LAY; T.• & WILLIA.MS, . Q. Dynamics ef·Earth}!nteri-


... or. Geotimes. Alexandria, VA, EUA: American
Geological lnstitute, Novetnber, 1998.
. PACCA, I. G. Olnterior da Terra. Ciência Hoje. Rio
·•· dê Janeiro: SBPC, 1983.' ··
•· POWlil,,L, C.S. Peering!nward. Nova York: Scientific
· Ârueric~n Publi.shing, 1991. ·.•. ·.·
, , , ,, ,,,, ', , ,
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Terra é um planeta dinâmico. Se fosse f<Jt<J- 6.1 O Surgimento da Teoria da
grafada cio espaç<J a cada sécul<J, desde a sua Deriva Continental: o embrião
formaçã<J até h<Jjc, e estas fcJtos compusessem um ." .
de uma revolução nas c1enc1as
filme, <J que ,·eríamcis seria um planeta azul se contcir-
ccndcJ ceJm eJs ccJntincntes ora colielindei, ora se geológicas
afastando entre si. 1\tualmcr1te, acreditamcJs que a
A teciria da 1"ect<'inica ele Placas - que revcilucici-
litcJsfera terrestre é fragmentada em cerca de uma clú-
ncJu as Geociências assim come) a te<iria da ()rigem
zia c-le placas, que se movem pcJr raze3cs nãcJ muito
das Espécies m<JdificoL1 as BicJciências e as teorias da
bem ccJmprccnclidas, mas cuj<) meJtor situa-se ncJ
Relativiclade e e-la Gravitação Universal mudaram os
mant<). J:JJacas sãcJ <)riginadas nas clorsais mescJ-oceâ-
cc)nceitos cla Física - nasccL1 quandei surgiram eis pri-
nicas e acJ se chcicarem prcJvcJcam cJ mergLt!h<J cla placa
meit<JS mapas elas linhas c-las cristas atlânticas ela
mais densa S<)b a <Jutra e o seu ccJnscqüente retorncJ '
1\mérica c-l<i Sul e da 1\frica. .b~m 162(), Prancis Baccin,
a<J manto. A ccJnstataçã<J da existência clas placas
filéisofcJ inglês, apontciu ci perfeitcJ encaixe entre estas
tectêJnicas deu uma nova rc)upagctn às antigas icléias
duas ceistas e levant<)Ll a hipc'itese, pela primeira vez
ele Deriva (~<)ntincntal, explicancl<) satisfatcJriamentc
histciricamente registracla, cle que estes ceJntinentes es-
muitas das grandes feições geeJléJgicas da Terra, com<J
tiveram L1nidc)s ncJ passado. Ncis sécL1lcJs que se
as grandes corclilheiras de montanhas, cc,m<J eJs An-
seguiram, esta icléia feii cliversas ve✓,es retcJmada, po-
des, e responclcndei a qucstc"Jes, pcJr exemplei, seJbre as
rém raramente co~ argumentações científicas ciuc lhe
cc,nccntracões
., cios sismeJs e vulcões atuais ou seJ!Jre as
dessem suporte teéiricei.
rcJchas c1ue já estiveram no funclo cios <)ceancJs e estãeJ
hcJjc ncJ tcJpei de grandes cadeias montanheisas, com<J A <Jrigem da teoria e-la 'fectcínica cle Placas occirreu
ncis flimalaias. A Tectônica GlcJ!Jal cJu Tect(Jnica cle ncJ início clcJ séculci XX ccJm as idéias visionárias e pciu-
Placas é a chave para a ceJmpreensà<J cla histéiria geo- cei ccJnvencicJnais para a épcJca dcJ cientista alemão
léJgica da Terra e clc ccJmo será <J futurci clcJ planeta Alfrecl Wcgencr, que se clcdicava a estuclos
.
cm que v1vcmcis. metcorol<'igicos, astrcJn(imic<Js, geeifísiceis e
paleeJnt<iléJgiceis, entre ciutreis assuntcJs. Wegcner pas-
Neste capítulo será mcJstraclcJ um !Jreve histéJrico
sciu grandes perícidcJs de sua vicia nas regic3es gelaclas
e1cJ descnvcilvimcntci da 'leoria da Deriva c:onti11ental
ela Grcienlândia fazendci obscrvaçc3es metecJreilógicas
até chegar à mciclerna Tectônica de Placas. Também
e misturanclo freqüentemente ativiclades clc pesc1uisa
serãci enfatizadeis aspectcis scil,rc a constituiçãcJ das
com aventuras. Entrctantci, sua vercladeira paixã<J era
placas tectc'.>nicas, as causas de seus mciviment<JS, !Jcm
a C<)mprcJvaçãei cle uma icléia, l1aseacla na eil,servação
ccJmei as feições t1sieigráficas e cJs pr<idutos geradeis a
cle um mapa-múndi neJ c1ual as linhas de ccJsta atlântica
partir da clinâmica destas placas. Além clisscJ serão clis- ,
atuais da América clci Sul e ;\frica se encaixariam ccimcJ
cutic-leis os mccanismeis de crescimento d<JS C<)ntincntes
um quebra-ca\Jeças gigante, de c1ue teJclos <JS C<Jnti-
e a movimcntaçà<J clas massas ccJntinentais através cl<J
nentes pcideriam se aglutinar fcJtmanclo um únice)
tempo gcoléigiccJ.
megaccintinente. 11 ara explicar estas ccJincidências,
Wegener imaginciu que CJS ccJntincntes peJcleriam, um
clia, terem cstaclo juntcJs e peistcri<Jrmente teriam sidei
separaclcJs. Poucas icléias nc> mL1nd<) científicci fcJram
i:i't·;
,t"'u/ ,
tã<J fantásticas e revcilucieJnárias cc1m<J esta.

1\ este superc<Jntinente Wcgener dencimineiu


Pangea, eJnde Pan significa tcidcJ, e Gca, Terra, e ccJn-
sidercJu que a fragmentaçãci clci Pangea teria iniciadei
há cerca de 220 milhões ele aneis, dL1rante eJ Triássicci,
quandcJ a Terra era halJitada p<Jr I)ineissaureis, e teria
prcisseguidcJ até eis clias atuais. () Pangea teria iniciado
a sua fragmentaçãei diviclind<i-se cm clcJis ccJntinentes,
scncleJ o setentri<inal chamadci cle Laurásia e a austral
Fig. 6.1 Pangea e sua divisão em dois continentes, Laurásia a
norte e Gondwana a sul, pelo Mar de Tethys.
d.e Gondwana (Fi,~. 6.1).
, ,
• Imagem de satélite mostrando a cordilheira do Himalaia como resultado da colisão da lndia com a Asia.
NSIDC/SPL/Stock Photos.
t\pcsar ele nãci ter siel() (J primcir<> ne111 <> únicc> c-!e
seu tempo a ccinsie-lcrar a existência ele 111<i,,imcntcis
horizontais entre eis ccintinentcs, \\"egener fcii e> pri-
mcirci a pesquisar seriamente a icléia da deriva
continental e a iníluenciar ciutrcis pesc1uisaeleires. TJara
ist<J, preict1reiu evidências que ccin1pr<J\"assem sua teo-
ria, alén1 e-la cciinciclência entre as linl1as ele C<>sta attiais
(leis ccintincntes. Wegencr enu111ereiu algumas feiçc3cs
gccimeirfciléigicas, ceimei a caelcia ele mcintanhas ela
Serra chi C:al>e> na África cl(i Sul, ele elircçãei lcste-cies- a

tc, e1ue seria a ccintinuaçãei ela Sierra ele la \Tentana, a


qual e>ccirre ccim a mesma elirecãci na Argentin·1 eiu
J ( { '

ainela um planalte> na (~cista ele> tvlarfi111, na 1\frica, que


teria ceintinuielaelc nei l,rasil. l~ntrctantc>, as evie-!ências
. . .
mats 1mprcss1einantcs aprcscntaelas pelei pesc1uisaclcir EQIJA[X):S·

feiram:

• Presença de fcísscis ele (;l<iss<>pteris (tipc> ele


gimnc)sperma primitiva) cm regic'ies ela 1\frica e Brasil,
cujas e>c<>rrências se cc>rrelacie>navan1 perfeitamente, aci
se jtintarcm <JS C<>ntinentcs. b

Fig. 6.2 a) Distribuição atual das evidências geológicas de existên-


• E,,idências de glaciaçãe>, há apr<>ximadamentc 3()0
cia de geleiras há 300 Ma. As setas indicam a direção de movimento
J\1a na regiãci Suelcstc d<> Brasil, Sul ela ;\frica, Ínelia, das geleiras. b) Simulação de como seria a distribuição das geleiras
()este ela ;\ustrália e 1\ntártica. Estas evie-lências, c1ue com os continentes juntos, mostrando que estariam restritas a uma
incluem a presença ele estrias ine-licativas das direcc'ícs
., calota polar no hemisfério Sul .
deis n1civin1cntcis elas antigas geleiras, sugeririam e1ue,
nae1ucla épc>ca, granelcs peirçt"'ics ela Terra, situadas nci qucla épcica as prciprieclaeles plásticas ela astenosfera
hemisfériei sul, cstarian1 ceil>crtas p<>r camadas ele gelei 11ãcJ cra111 ainda ccinhecielas, e> c1uc impeeliu Wegcner
(Fig. 6.2a), ce>111ei as que ciceirrcm hcijc nas rcgic3es de explicar sua teeiria. F'.m virtucle elcstas impeirtantes
pcilarcs e, pcirtantei, e> planeta estaria sub111etielci a un1 c>bjeçe'ícs ccileicaelas principalmente peleis gecifísiceis, (l
clima glacial. c:asei istc> feissc vcrctaelc, ceimo explicar a li,,rc> ele Wegener nãci feii consieleradci série> pe>r gran-
ausência de geleiras nei hcmisféri<) neirte, e>u a presen- de parte ele> mundei cicntíficei. C:cim a me>rte ele
ça ele graneles tlcirestas treipicais, e1uc teriam dadci 'w'cgener, em 1930, a "l'ee>ria da Deriva C:cintinental
eirigcm naquela épeica aeis grancles elcpeísitos ele car- ceimcçciu a ficar ese1uecicla, nãei cJbstantc ainela he>u-
vãei? Este aparente parade>xc> climátice> pe>deria ser Ycsse te11tativas ele alguns cientistas c111 l1tiscar pre>vas,
facilmente cxplicaelci, ccimc> mcistraelci na Pig. 6.21J, se que aca!Jaram peir elescartar a icléia, uma ,,ez c1uc nãcl
eis continentes estivessem juntc>s há 3()() Ma, pois neste ccinseguiam cnccintrar uma cxplicaçãci l(igica e aceitá-
case> a e-listribuiçãci elas geleiras estaria restrita a uma ,,el ele> mecanismci capaz de movimentar as imensas
. .
calota pcilar ne> Sul ele> planeta, aprciximaelan1ente massas cont1nenta1s.
cci111ci é hcijc.

b'.m 1915, Wegener reuniu as c,·ielências que cn- 6.2 Anos 50: O Ressurgimento da
ccintrciu para justificar a te<>ria ela Dcri,a Ceintincntal, Teoria da Deriva Continental
o que para ele já seriam prci\'a~ c< >11,incentcs, cm u111
livrei elcnc>minadc> A ori,ze111 dos (~011ti11t11tes e Oceanos. J\ chave para explicar a c-linâmica ela Terra, aci cc>n-
I~ntrctanto, ele nãci conseguiu resp<>nder a questé'íes trárici e-lei e1uc muitos cientistas pensavam, nãci estava
fundamentais, ccimo por exemplei: Qtie f<>rças seriam nas r<>chas continentais, mas nci fundei elcis (JCean(JS.
capazes de mover eis imcnscis bleiceJ~ C<>ntinentais? Na elécaela ele 1940, eltirante a Se,runda Guerra J\1un-
""
elial, devielci às necessidades militares ele leicaliY.acãci ele
Come> uma cre>sta rígiela ceimci a ccintinental eleslizaria .,

solJre ltma ciutra crcista rígiela C<Jlll(J ,1 e>ceânica, sem sul>marinc>s ne> fundei cleis mares, fcJram elcsenvcil\,i-
que fcisscm quebradas pele> atrite>~ lnfclizn1cntc na- eleis cquipamenteis, cc)mei eis scinarcs, que permitirarn
traçar mapas detalhados do relevo do fundo oceânic<), J)or outro lado, no final dos aneis 50 e inícici da
muito distintos da planície monótona com alguns pi- década ele 19611. o surgimento e aperfeiçoamento da
cos e planaltos isolados que se imaginava na ép<ica geocroncilogia permiáu a obtenção de importantes
para o fundo dei mar. Surgiram cadeias de monta- infcirmaçc°íes scJbre a idade das rochas do fundo oce-
nhas, fendas e fossas ou trincheiras muito profundas, ânicci, cinde no,·amente. ao contrário do que se
. . ~ ....
mostrando um ambiente ge<)l<)gicamente muit<1 mais 1mag1nava na epcica, a crosta ocearuca nao era ccim-
ativo do que se pensava. po s ta pelas rcichas mais antigas do planeta mas
apresentava idades bastante jo,·ens. não ultrapassando
No final dos anos 40 e na década seguinte, expedi-
200 milhões de anos. Datacões de rochas ,·ulcânicas
ções constituid_as principalmente por pesquisad<ires das
dei Atlântico Sul efetuadas no c=enrro de Pesquisas
universidades de Columbia e Princeton (EUA)
Geocroncil(igicas da Universidade de Sãci PaulcJ ccJn-
mapearam o fundo do C)ceanci Atlântico, utilizando
tribuíram para o cstabelecimentci e-lei padrão de idades
ncivos equipamentos e coletando amostras de rochas.
e-la crosta oceânica, no qual faixas de rochas de mesma
Estes trabalh<)S permitiram cartografar uma en<irme
idade situam-se simetricamente elcis elois lados da
cadeia de m<intanhas submarinas, denominadas Dorsal
dcirsal meso-oceânica, com as mais jcivens pr(iximas
ou Cadeia Meso-Oceânica, que constituíam um sis-
ela dorsal e as mais velhas ficanelci mais próximas dos
tema contínu<) a<i lcingo de toda a Terra, estendenelci-se
continentes, conf<)rme ilustrado na I'ig. 6.3.
por 84.000 km e apresentand<) uma largura da cirdem
de 1.000 km; nci eixo destas mc)ntanhas constatou-se () estudo do magnetismo das rochas (Cap. 4) tam-
a presença de vales ele 1 a 3k:m, associado a um siste- bém ccintribuiu para uma melhor compreensãci elos
ma de riftes (Cap. 19), indicando a presença ele um m<ivimcntos ela crosta ccintincntal. F,studos de
regime tensional. PostericJrmente fcii ccinstatad<) que paleomagnetismc) revelaram que as posiçc°íes primiti-
a<) longo da cad_eia meso-oceânica <) fluxo térmico vas e-lc)s pólos magnéticos da Terra tinham muelado
era mais elevae-lo que nas áreas contíguas de crcista aci longo dei tempt) geol(igicci em relação às posições
ciceânica, e que esta era uma zona de forte atividade atuais dos continentes. Com<) era sabid<) que ci eixci
sísmica e vulcânica. Esta cadeia de mc)ntanhas emerge magnétic<1 da Terra coincie-lia ccim e) seu eixo rcitacional,
na Islândia, anele seus habitantes levam uma vida pa- os dadc)s paleomagnéticcis pcidcriam indicar, ao invés
cata, mas freqüentemente afetada por sismos e de mudanças do eixcJ magnético, um mcivimentci rc-
vulcanismc). () mais importante, porém, era que esta lativc) entre os ccintincntes. As ncivas informaç<°íes
elorsal mesci-<iceânica dividia a crcista submarina em prc)venientes elo estuclci da crosta oceânica e ele
duas partes, podendci representar, portanto, a ruptura palecimagnctism<) fizeram com que parte dos geofísicos
ou a cicatriz pr<iduzida durante a separação elcis ccin- passassem a ccinsidcrar uma deriva dos continentes
. .
tinentes. Se assim fcJsse, a teciria da Deriva Cc)ntinental mais seriamente.
poeleria ser aceita.

"<o<o / Eixo da Dorsal Meso-Oceânica


.-"''õ<o

Placa
Africana
/

----
liO
Porto Rico
Fig. 6.3 Disrribuiçõo dos idades geocronológicas do fundo oceânico do Atlântico Norte, onde se observam as idades (em Ma) mais
jovens próximos à dorsal meso-oceânico.
CAPÍTULO 6 • TECTÔNICA GLOBAL 101 ~

6.3 O Surgimento da Teoria da rcilantc. C:om a continuidade cio preiccssci de geração


ele crcista eJceânica, em algum outre> local deveria ha-
Tectônica Global
,,er um consumei ou destruição desta crosta, caso
No final elos anos 50, estuclos de magnetisme> das ccintrário a Terra expancliria. A destruição ela crosta
rochas dei funelo eiceânico, realizade)s na porção nor- oceânica mais antiga oceirreria nas cha1nadas Zonas
deste do Oceanci Pacíficc>, meJstraram anomalias de Subducção, que seriam locais cine!e a crosta eiceâ-
magnéticas (desvios deis valores do campeJ magnétice) nica mais densa mergulharia para o interieir da Terra
em relação à média medida), que exibiam em mapa até atingir ceindições de pressão e temperatura sufici-
padrão simétrico b 1ndadeJ, ce)m as sucessivas bandas entes para sofrer fusãeJ e ser inccirporada novamente
indicando alternadamente ancimalias positivas e nega- aei manto.
tivas (Cap. 4). Em 1963, F. J. Vine e D. H. I\;fathews,
ambos da Universidade de Cambridge, sugeriram que Baixo fluxo Alto fluxo
as bandas magnéticas eibservadas eram relacionadas a térmico Dorsal térmico Ilha vulcânica
bandas magnetizadas de lavas vulcânicas do fundei
oceânicei, geradas durante a cxpansãci eleste funelo e
que guardavam o registre) de> campo magnéticeJ ter-
restre na época de extrusãei das lavas submarinas.

Esta interpretação trouxe subsídios a favor dei ccin-


ceito da expansão de) assoalhe) eiceânicei pe)stulado por
Harry Hess da Universidade ele Princetein (EU1\) nci
iníciei da década de 1960, quanelo a atençãei deis pes-
Zona de alta temperatura
..--
quisadores estava voltada para o estudo ele l1acias Fig. 6.4 Esquema de correntes de convecção atuantes na
dorsal mesa-oceânica.
oceânicas. Foi neste contexto que surgiu a hipótese de
expansão dei fundcJ oceâniccJ, publicae-la em 1962 nci
trabalhe> de 1-Iarry, Hess, "Histciry, eif thc C_)cean Basins". 6.4 Placas Tectônicas
Com base nos daelos geeilógicos e gec>físiccis disponí-
(~omci viste> em capítulcis anterieircs, o planeta Ter-
veis, este autor propunha que as estruturas elo func.-lei
ra esta recJlcigicamcnte dividielc1 em elomínieis
oceânico estariam relacionadas a processos de
concêntriccJs maiores, sendo ci externo constituído pela
convecção no interior da Terra. Tais preiccssos seriam
Litosfera. A parte superieJr da litc>sfcra é chamada de
originados pelo altcJ fluxo calorífico -.:manadei na elorsal
crcista e a parte inferior, mais interna, é composta peir
mcso-oceânica, que provocaria a ascensãci de material
reichas el<J mantei supericir, sendcJ que t1ma das c.-life-
dei manto, devido aei aumentei de temperatura que CJ
rcnças principais entre elas é sua ccimposiçãc) e1uímica.
tornaria menos denso, ceinforme ilustradci na Fig. 6.4,
A crcJsta ela Terra é constituída pela creista continental,
cinde se enceintra representada uma célula de
e1ue inclui prcdciminantemente rochas ele ccimpeJsiçãeJ
convecção. De acordei com ei mcidelei ele Hess, este
granítica e pela creista eJceânica, que ceintém rochas
material, ao atingir a superfície, se movimentaria late-
basálticas. i\s rcichas crustais ocorrem scibre ci mantei
ralmente e o fundo oceânico se afastaria da deirsal. A .
supertc>r.
fenda existente na crista da dorsal não continua a cres-
cer porque o espaço cleixado pele> material que saiu A espessura média da crosta varia ele 5 a 1O km
para formar a nova cre)sta eiceânica é preenchidei peir para a ciceánica e entre 25 e 50 km para a ccintinental,
neivas lavas, que, ao se scJliclificarem, fcirmam um nove> scndeJ que scib as grandes ccirdilheiras, com<J os
fundei oceânico. A ccintinuielade deste preicesso pro- Hin1alaias, esta espessura peide atingir até 100 km. l~stas
duziria, portanto, a expansão elo assoalhei oceânico. A camadas de crcista mais uma pcirçãci rígida c.-lcJ mantei
Deriva Ceintinental e a expansão dei fundei dos cicca- superior seJte)posta constituem a liteisfcra.
nos seriam assim uma conseqüência das correntes de
- A litcisfera tem espessuras variaclas, ceim uma mé-
convecçao. ,
dia pre)xima a 100 km. E ceimpartimentaela peir falhas e
Assim, em função da expansão dos fundos oceâni- fraturas profundas em Placas Tectônicas. 1\ distribui-
cos, os ceintinentes viajariam como passageiros, fixeJs çãei gecigráfica elestas placas na Terra é ilustrada na
em uma placa, comei se estivessem cm uma esteira Fig. 6.5.
. 5,6
6
7,4 ,9

Placa
-\-FIRplna
Placa PacWlco

• ·10,5 16,
Placa·
iana ,, 7, 1 18,3 ~
Nazca
., '

,•,J ~ ' \
'' ·••, '

Dorsal do k'Jecj . .
Leste-Pacíflc 10,3 ·s~•-·-·_.

• •
. ..

• . •Pla~Aôt6Jtleo

~
Fig. 6.5 Distribuição geográfica das placas tectônicas da Terra. Os números representam as velocidades em cm/ano entre as
placas, e as setas, os sentidos do movimento. Por exemplo, a velocidade de l O, l para a placa Sul-Americana indica que um ponto
situado nesta placa está se aproximando de algum ponto da placa de Nazca a uma razão de l O, l cm por ano.

() limite infcri()r da Litosfera é marcacl(J pela pcquencis fragmentos de crosta ccintinental, ci que
Astcnosfera que ccJnsiste de uma zona ncJ mantcJ pciele ser exemplificado pela imensa Placa d() Pací-
supericJr, conhecida tamlJém comei "Zc)na ele Bai- fico, de natureza oceânica, que contém uma pequena
xa Velcicidade", por causa da diminLiiçàc) de parte da Califórnia, c)ndc se situa a cidade ele T,os
\•clocidade das cindas sísmicas P e S deviel(J aci es- 1\ngclcs. De uma forma geral, as placas desta natu-
tado algo plástico desta zcina, pois entre 1()() e 350 reza incluem somente crcista oceânica, a exemplo
km de prcifundielaele (t()p() e base da astenosfcra) da Placa de Nazca.
as temperaturas alcançam valcires próximcis ela tem-
i\.s características elas crcistas ciccânicas e conti-
peratura ele fLisàc) elas rochas mantélicas. () prcicesso
nentais são muitci distintas, principalmente nci que
de fusàci parcial inicia-se prcieluzindcJ uma fina pe-
diz respeitei à ccJmposiçào litológica e qt1ímica,
lícula líquiela cm tcirnc> d(JS gràcis minerais, suficiente
mcJrfcilogia, estruturas, idades, espessuras e dinâ-
para diminLLÍr a velc>cidae-!e elas ondas sísmicas. Desta
mica ((=aps. 3, 4 e 5). A crcJsta ccintinental tem uma
forma ci estaelci mais plástico elesta zc>na permite
ccimpcJsiçàcJ litcilógica muito variaela, pciis ccimpre-
que a litcJsfera rígiela deslize scJ!Jre a Astcnosfera,
enele rcichas de caráter ácido até llltramáficc), (J que
tornandci possível o dcslcicamento lateral elas pia-
- .
cas tectcin1cas.
lhe ccinferc uma composiçàcJ média análoga às elas
rcichas granodioríticas a diciríticas (C=ap. 16). A crcista
ccintincntal pcldc ser subdividida cm superior e in-
6.4.1 A natureza das placas tectônicas fericir, sendo a supericJr compclsta p(Jr rcichas
seelimentarcs, ígneas e metamórficas de baixo a
As placas lit()sféricas poc-!em ser de natureza cJce-
médicJ grau, e a infcric)r constituíela predcJminante-
ânica cJu mais ccimumente ccimpostas ele pcJrçc>es
mentc por rochas metamórficas de alto grau de
ele crosta ccJntincntal e cr(Jsta (Jceânica. C~cJmci exem-
natureza básica a intermee-!iária.
plei deste tipo ele placa pcidemcis citar as Placas
Slil-Americana, i\.fricana e Ncirte-Amcricana. As A crcJsta ccintinental está sendo formada há pelei
placas de natureza ciccânica p(Jelem ciu nàc> incluir me11cis 3, 96 l1ilhões ele aneis, ccJmo mostram as ida-
des de gnaisses na região centro-ne>rte do Canadá. 6.4.3 Que forças movem as placas
Por isso apresenta estruturas complexas, preJduzi- tectônicas?
das pelos diverse)s eventels geológicos que afetaram
as rochas após a sua formação. Em geral, a espes- Uma das principais cJl1jeçc>es à Teoria da Deriva
sura média da crosta continental é ela ordem de 30 Continental era que Wegener não conseguia explicar
a 40 km, adelgaçandeJ-se à medida que se aproxi- as fcJrças que mo\•eriam os continentes. Hoje sabe-
ma da zona de transição com a crosta e>ceânica. mos qual o motor que faz as placas tectônicas se
mclverem, mas não sabemos explicar exatamente
A crosta oceânica tem uma compe)sição litológica
como os processos naturais fazem este motor funci-
muito mais homogênea, consistindo de rochas ígneas
onar. 1-<~ntretanto, nós podemos me>delar as causas
básicas (basaltos), cobertas em várias partes peJr uma
' elcls mcivimentos e testar estes modeleis com base
fina camada de material sedimentar. E bem menos
nas leis naturais. () que sabemos é que a astenosfera e
espessa do que a crosta continental, cm geral da or-
a litosfera estãe> intrinsecamente relacionadas. Se a
dem de 6 a 7 km, adelgaçanelo-se à medida que se
astenosfera se mover, a litosfera será moviela tam-
aproxima das deJrsais mesel-Clceânicas.
bém. Sabemeis ainda que a lite>sfera pcissui uma energia
cinética cuja fonte é o fluxo térmico interne> da Ter-
6.4.2 Tipos de limites entre placas ra, e e1ue este calclr chega à superfície através e-las
litosféricas correntes de convecçãeJ do mante> superior. (1 que
nãci sabemos com certeza é como as cclnvecções do
C)s limites das placas tectê)nicas podem ser de manto iniciam o movimente) das placas.
três tipos distintos:
() princípio básico de uma célula de ceJnvecção pode
a- Limites Divergentes: marcados pelas dorsais ser obs<::rvadeJ esquentandei uma grande panela com
meso-oceânicas, onde as placas tectêlnicas afastam- mel, nci qual bóiam eluas rolhas ele cortiça. Ao aquecer
se uma da outra, com a formaçãeJ de nova crosta o centrei da base da panela ci mel esquenta mais rapida-
A •

ocean1ca. mente ne1 centro do que nas bordas ela panela, climinuindcl
b- Limites Convergentes: onde as placas ali a densidade do mel. C~onseqüentemente, o mel aque-
tectônicas colidem, com a mais densa mergulhan- cidei sul,irá enquanto o mel mais frio da borda descerá
deJ seJb a outra, gerando uma zona de intenso para ocupar o lugar do mel que sul1iu, instalando-se
magmatismo a partir de preJcessos de fusãcJ parcial uma circulação de fluidos, que afastará as eluas rolhas
da crosta que mergulhou. Nesses limites <Jcorrem para a beirela da panela, segundo o sentidel das ceJrrentes
fossas e províncias vulcânicas, a exemplo da Placa de convecção geradas.
Pacífica (Cap. 17). De forma análoga este movimento de convecçãe>
c- Limites Conservativos: onele as placas ciceJrre nci manto. r:ntretanto, a convecção no mante)
tectônicas deslizam lateralmente uma em relação à refere-se a um meivimentcl muito lente> de rclcha, que
outra, sem destruiçãcl <JU geraçãcJ de crostas, ao sob ceJnclições apropriadas de temperatura elevacla,
longo de fraturas deneJminadas Falhas se compelrta como um material plástico-viscoso mi-
Transformantes (Cap. 19). Como exemplo de li- grandei lentamente para cima. Este fenômeno ocorre
mite conservativo temos a Falha de San Andreas, quanclel um foco ele calor localizade> ceJmeça a atuar
na América do Norte, oncle a Placa dcl Pacífico, produzindo e-liferenças ele elensidade entre ei material
contendo a cidade ele Isos Angeles e a Z<lna da Bai- aquecielci e mais leve e o material circundante mais
xa Califórnia se desloca para o norte em relação à frio e denso. A massa aquecida se expande e sobe len-
Placa Norte-Americana, que contém a cidade de tamente. Para compensar a ascensãei destas massas de
São Francisco. material do manto, as rochas mais frias e densas des-
, cem e preenchem eJ espaçcJ deixado pelo material que
E em tornel destes limites de placas que se ccJn-
subiu, completando o ciclo de convecçãei deJ manto,
centra a mais intensa atividade geológica do planeta,
cc)nforme ilustrado na Fig. 6.6. O movimente) de
como sismos (Cap. 3), vulcanismo (Cap. 17) e
ccinvecçãci das massas do manto, cuja viscosidade é
orogênese. Atividades geológicas semelhantes tam-
10 18 vezes maior do que a água, ocorre a uma veleici-
bém ocorrem no interior das placas, mas em menor
dade da e>rdem de alguns centímetros por ano.
intensidade.
104 DECIFRANDO A TERRA

Dorsal
- -
meso - ocean1ca
a- Pressão sc)bre a placa provocacla pela criaçãe) de
Fosso
Astenosfero nova litosfera nas ze)nas de dorsais mesa-oceânicas, o
litosfera
Dorsal que praticamente empurraria a placa tecte)nica para os
mesa - oceânica
lados.
b- Mergulhe) da litosfera para e) interior do manto em
c_lireção à astenosfera, puxada pela crosta descendente
mais densa e mais fria do que a astene)sfera mais quente a
sua veJlta. PeJrtanteJ, pe)r causa de sua maior densidade, a
a parte da placa mais fria e mais antiga mergulharia puxan-
do parte da placa lite)sférica para baixo.
Dorsal c- A placa lite)sférica te)rna-se mais fria e mais es-
meso - oceânico
pessa à medida que se afasta da de)rsal mesa-oceânica
c)nc_le foi criada. c:ome) conseqüência, o limite entre a
litosfera e a astene)sfera é uma superfície inclinada.
i\1esmc, com uma inclinação muite) baixa, o próprio
pese) c_la placa tectê)nica poderia causar uma movimen-
tação de alguns centímetros por anei.

6.4.4 A velocidade do deslocamento das


b placas tectônicas
Fig. 6.6 Modelos sugeridos poro mecanismos de correntes
de convecção. o - Correntes de convecção ocorrendo somen- Em média, a velocidade de movimentação das
te no astenosfera. b - Correntes de convecção envolvendo todo placas tectônicas é considerada de 2 a 3 cm/ ano, em-
o monto. bora a velocidade relativa constatada entre algumas
Muitos cientistas acreditam que as correntes de placas seja muite) maie)r de) que entre outras. Geral-
convecção do manto por si só nãeJ seriam suficien- mente, as diferenças de velocidade estão relacionadas
tes para movimentar as placas litosféricas mas à proporção de crosta continental presente nas placas.
constituiriam apenas um dentre e)utros fatores que As placas Sul-Americana e Africana mostram baixas
em conjunto produziriam esta movimentaçãe). () velocidades, enquanto as placas com pouco ou ne-
processo de subducção teria início quando a par- nhum envolvimento de crosta continental, como a do
te mais fria e velha da placa (portanto mais c_listante Pacífice), tendem a exibir velocidades maiores. Além
da dorsal mesa-oceânica) se quebra e começa a disso, a velocidade das placas depende também da
mergulhar por debaixo de outra placa menos den- geometria do movimento da placa em uma superfície
sa, e a partir daí os outros fatores ilustrados na Fig. esférica, como será visto a seguir.
6.7 começariam a atuar em conjunto com as cor- Em um primeiro momento, podemeJs pensar que
rentes de convecção. Estes outros fatores incluem: todos os pontos situados em uma placa litosférica te-
riam a mesma velocidade. Isto seria verdade se a placa
Dorsal mesa-oceânica
fosse plana e deslizasse sobre uma superfície chata e
ª Litosfera
aplainada, como uma balsa navegando sobre a água.
Na verdade, as placas são convexas e deslizam sobre
uma superfície esférica em torno de um eixo e de um
Ascensão de magmas pólo, denominados de eixo de rotação da placa e pólo
de expansão, que nada têm a ver com o eixo rotacional
Fig. 6.7 Processos geológicos que causam a movimentação da Terra e os pólos norte e sul geográficos. O pólo de
das placas tectônicas: a) criação de nova litosfera oceânica no
expansão é definido como um ponto em volta do
dorsal meso-oceânica; b) mergulho da litosfera para o interior
qual uma placa tectônica gira, representado na Fig. 6.8
do manto, puxada pela crosta oceânica descendente mais den-
sa; c) espessamento da placa litosférica, à medida que se
por p O • Para uma dada velocidade angular de uma
distancia da dorsal meso-oceânica, tornando o limite entre o placa, a velocidade de distintos pontos sobre a placa
placa e a astenosfera uma superfície inclinada. será diferente, aumentando à medida que os pontos
se distancian1 d<i !J<Íl<>. PrJr exempl<J, <J p(Jlci pº gira, Eixo de rotacão
.,
da placa
mas nãci perc<Jrre nenhuma distância e peJrtant<J sua
vel<icidacle é zero, enguanto e>s p<lnt<is mais distantes
d<J pc'il<i, clentrci ele um mesmci intervalei de tempci,
terãcJ de percorrer clistáncias maicires e ccinseqüente- . •
men te terão n1aicJr velocidade, ccinf<>rn1e pocle ser
." .
,,ist<i na Fig. 6.8. .
. . .
b'.mbcJra tcidas as placas litosféricas possam se
. ..
m<iver, não sãc> todas que atualmente estã<i em mcJvi- ."
"
ment<J. Existem algumas, C<Jm<i a Placa Africana, gue .... " "
parecem estacionárias, p<>r estarem bordejadas quase
inteiramente p<lr limites divergentes de placas que se
afastam a taxas similares.

;\ vel<icic-!ade medida de placas litcisféricas geral-


mente é relativa, mas a velocidade abscJluta pode ser
determinada através da utilizaçã<J de pontos de refe-
rência, c<Jmo <JS Hot Spots <Ju Pontos Quentes.
I~stes p<intcJs quentes na superfície terrestre registram
atividades magmáticas ligadas a porções ascenclentes Dorsal
. .
de material quente d<J mant<J clenominadas Plumas rneso-ocean1ca
do Manto e cJriginadas em profundidades diversas
do manto, a partir do limite entre o núcleo externo e
o manto inferior. As marcas que eles deixam nas pla-
cas que se movimentam sobre eles incluem vulcões Fig. 6.8 Modelo de movimento de uma placa curva sobre
(ilhas vulcânicas, comcJ ci Havaí), platôs mes<J-<Jceáni- uma superfície esférica. Notar que os pontos l e 2, na placa
cos e cordilheiras submarinas. B, exibem diferentes velocidades, pois têm de percorrer dife-
rentes distâncias no mesmo intervalo de tempo, tendo o ponto
As plumas do manto, em comparação com as pla-
2 uma velocidade maior do que o ponto l.
cas, são relativamente estacionárias, de modo que as
placas litosféricas se moviment;im sobre elas.
Freqüentemente, a passagem de uma placa sobre um asscJalh<J <Jceánico. Um exempl<J espetacular desta fei-
Hot Spot resulta em um rastro de feições lineares na çãcJ é a Islândia, onde a atividade magmática relacionada
superfície da placa, cuja direção indica a movimenta- acJ Hot ,lpot f<>i tãcJ intensa que o platô, na dorsal meso-
ção desta placa. No caso de placas cJceánicas, como a oceánica, se expõe acima d<J nível do mar (Cap. 17).
deJ Pacífico, o traço dos Hot .5pots pode ser uma ca-
deia de montanhas vulcânicas ou uma série de ilhas 6.4.5 As colisões entre placas tectônicas
vulcânicas, que quando datadas radiometricamente
permitem calcular a velocidade de movimentação das C) m<Jvimento das placas tectônicas produz ao lon-

placas, a partir da distância entre as ilhas e as idades geJ de seus limites ceJnvergentes colisões que, em
das erupções vulcânicas, comcJ mostrado na Fig. 6.9. função da natureza e composição das placas envolvi-
das, irão gerar rochas e feições fisiográficas distintas.
As plumas do manto explicam muitas das ativida- Nesse sentido, o choque entre placas litosféricas pode
des vulcânicas que ocorrem no interior das placas, para envolver crosta oceânica com crosta oceânica crosta
o caso de crosta oceânica gerando ilhas oceânicas, e no '
continental com crosta oceânica ou crosta continental
caso de crosta continental, gerando um espessamento da com crosta continental, como ilustrado na Fig. 6.10.
crosta com uma cadeia de vulcões, como por exemplo
a costa cJeste da América do Norte. Quando o Hot Jpot Quando placas oceânicas colidem, a placa mais den-
se situa sob ou próximo da dorsal meso-oceánica, ele sa, mais antiga, mais fria e mais espessa mergulha sob a
produz um aumenteJ do fluxo de material fundido outra placa, em direção ao manto, carregando consigo
' parte dos sedimentos acumulados sobre ela, que irão
causando um espessamento maior do que no resto da
dorsal, muitas vezes sob a forma de um platô sobre o se fundir em conjunto com a crosta oceânica em
subducçãe). O processe) pre)duz intensa atividade vul- O choque entre placas continentais (Fig. 6.1 Oc) pe)de
cânica de composição andesítica, comumente ocorrer após o processo colisional do tipo Andino,
manifestada sob a forma de arquipélagos, conhecidos onde a ce)ntinuidade do processo de subducção da
como ''Arcos de Ilhas'' (Fig. 6.10a), de 1()0 a 400 km crc)sta oceânica sob a crosta continental leva uma massa
atrás da zona de subducçãe). Na zona de subducção continental ao choque com e) arcc) magmáticc) forma-
fc)rma-se uma fossa que será mais próxima elo arco do inicialmente. Quande) os de)is continentes colidem,
de ilhas, quanto mais inclinadc) for o ângulo de mer- a crc)sta continental levadapela crosta oceânica mais
gulho. As ilhas do Japão constituem um exemple) atual densa mergulha sc)b a e)utra. Este processo nãe) gera
de arce) de ilhas. vulcanismo expressivo como nos C)utros dois ptc)ces-
sos anteriores, mas produz intenso metamorfismo de
A colisão entre uma placa continental e uma oceâ-
rc)chas cc)ntinentais pré-existentes e leva à fusão parci-
nica (Fig. 6.106) provocará a subducção desta última
al de porções da crosta continental gerando
sob a placa continental, que, a exemplo dc)s arcos de
magmatismo granítico. Os exemplc)s clássicos de fei-
ilhas, ptc)duzirá um arco magmático na borda ele) ce)n-
ções geradas pc)r este processe) são as grandes
tinente, caracterizade) por re)chas vulcânicas ele
cordilheiras de montanhas do tipo dos Alpes e dos
composição andesítica e dacítica e rochas plutt>nicas
Himalaias, esta última gerada a partir da cc)lisão entre
de cc)mposição principalmente diorítica e granodic)rítica, ,
as placas da India e a Asiática, pre)cesso este iniciade)
acompanhado de defe)rmação e metamorfismo tantc)
cerca de 70 milhões de anos atrás que continua até os
das rochas continentais pré-existentes como de parte
clias atuais.
das te)chas formadas ne) processo. i\s feiçe"íes
fisiográficas geradas neste processo colisional são as
grandes ce)rdilheiras de montanhas continentais como
os Andes na América do Sul.

Ilha vulcânica Ilha vulcânica


i 1·

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Câmara Câmar
magmática magmática
a

Ilha vulcânica

Câmara.
· magmática
e

Fig. 6.9 Esquema de formação de ilhas vulcânicas a partir deHol spots: a) O Hot Spot produz a primeira Ilha Vulcânica; b) com o
movimento da placa e o Ho/ Spot fixo a Ilha Vulcânica 2 irá se formar em outro lugar; c) com a continuidade de movimento da placa,
as ilhas l e 2 se deslocam e a ilha vulcânica 3 se forma; d) mapa mostrando as ilhas que compõem o Arquipélago do Havaí formada;
por ação de Hot Spot desde 5,6 milhões de anos atrás. Os números correspondem às idades das rochas vulcânicas em milhões de
anos. Notar que as idades aumentam conforme o movimento da placa, indicado pela seta, a partir da ilha mais jovem, que contém o
vulcanismo recente, para a ilha mais antiga de 5,6 Ma.
CAPÍTULO 6 • TECTÔNICA GLOBAL i 27 '1
./\ssr)ciadr>s a(>S prr>cessos cc)!isic)nais entre placas
tecttlnicas occ>rrern urna série de feiç<':íes geológicas e
associações litológicas características ilt1stradas na Fig.
-.. . . .

6.11, cc>rn<l as bacias de Ante-Arco e Retro-Arco,


\Manto litosférlco
·; :-:·. ·..- ~-. . . . ·- ·.
fossas e assc)ciações de rc>chas típicas de zonas de
. . . "' ".

:·_: _- í' ·>.:: :. ,.,, > . subducçãci como mélanges e ofiolitos.

i\s bacias ele> tipo ante-arco sãc> formadas na placa


a continc11tal, na frente de> arco entre este e a fossa ".Fig.
6.11 ), uma vez guc o choguc de placas prc)duz uma ele-
vação (socrguimentc>) na bc>rda da placa e como
cc)nsegüência forma-se uma bacia entre esta ele,·açào e o
arco. (;eraln1ente, estas bacias cr>ntêm importante cr>n-
. Manfolitosfético tribwçào de sedimentos prcivenientes da erc>sào de rochas
vt1lcânicas e sedimentares do próprio arco adjacente. Pc>r
c>utrc> lado, a formaçãr> de uma bacia do ripe> Retro-
i\rco em um process(> colisional enV(llvendo crosta
oceânica pocle ou não oc<lrrer. I<'.ssas bacias são forma-
das a partir Lie fent>menos distensívos gue produzem f>
adelgaçatnento da crc>sta atrás do arco. Este process<> de
. . distensão occ>rre em função de vários fatores relaciona-
clt1s, tais C<lffi(l iciade, clensidade e velocidade da placa
Mooto•Ltt06fénco• ..... ·.Manto Utostético
oceânica e111 subdução, gue vãc> resultar 11<) ângulo de
mer6rulh(J e.ia j)laca. Se o ângulo fr>r maior do que 45°, o
que implica uma placa oceânica mais velha e mais densa,
c
a zclna de subducçào migrará para a frente e a placa que
cc>ntén1 o arC(l sofrerá distensão, gerando a bacia de retro-
Fig. 6.1 O Processos colisionais envolvendo: a) crosta oceâni- arco. Os dois tipos de bacias são paralelos ac> arco e as
ca com crosta oceânica; b) crosta continental com crosta
bacias retro-arcci são preenchidas por sedimentos mari-
oceânica; c) crosta continental com crosta continental (ostra-
nhos tipiccJs de mar raso, podendo occ>rrer vulcanismc>
ços representam rupturas).
basáltico ass<>ciado a(JS movimentos tensic>nais (rupturas).
Batóllto do
i
Bacia de granito Crosta continental ;

Prisma de acresção Ante-arco Bacia de


Crosta oceânica Mélange, Otiolito Retro-arco
Fossa ,,,..__,A..___,

Fig. 6.11 Perfil de um limite de placa convergente mostrando as principais feições geológicas formadas e os associações de
rochas relacionadas.
108 D EC I F R A N D O A T ERRA

1'vfuit()S materiais rochosos <)C()rrem come) resulta- =1i4 . . ..


.' . .

d() de pr()Cess<)S c<)lisionais e constituem as


denominadas "associações petrotectônicas", sen-
do as mais típicas as iVlélanJ!,eS e els Ofic)litos.

;\s fossas ou trincheiras ccJmumente contêm pe-


quenas quantielades de sedimentos marinhos e
sediment<JS provenientes do arco, d<)S quais uma par-
te é carregada para l1aixo pela placa que mergulha na .......
' ..
Z()na ele subducçã<), e outra parte, mais significativa, é
'

k~. • '>
c1ef<)rmada e e1uel1rada pel<) tectonismcJ e1ue <)CC)rre .. . ....
~

_\·.: ' .
nas margens con\'ergentes. A esta mistura cac')tica ele
rochas ciuebradas e elesordenadas, que OC()rrcm nas Fig. 6.13 Ofiolitos com pillow-lovas (Complexo de Troados,
f<)ssas por uma extensão que varia ele metros a algu- Chipre). Foto: B. B. de Brito Neves.

mas dezenas de quil<>metros, den<Jmina-se t11élan,Re


(palavra francesa que significa mistura). Ccim<) estes ser explicadcJs pelc)S prc)cessc)S ncJrmais de subelucçã<J,
sedimentos sã<) de baixa densidade, nãcJ p<)dem ser cJnde a placa C)ceânica mergulha pc)r debaixcJ da placa
levados para o interic)r do manto. C<)nseqüentemente, cc1ntinental. Nesse sentido fc)i definido e) tcrmcJ
sãc) pressionad()S pela colisã(J das duas placas, send<) obducção, que estaria relacionadc) acJ cleslocamcnt<1
cisalhadc)s, fraturad<)S e metamc)rfisac-lcJS etn cc)ncli- de partes ele cr<Jsta oceânica sobre un1a cr<Jsta ccH1ti-
ções de alta pressão e baixa temperatura, já que estãcJ nental através de processc1s tectônicc1s cclmplexos. 1\
pr{)ximos da superfície. As rochas típicas deste prc)- l•'ig. 6.14 ilustra três mecanism<lS de ccJlocaçãcJ de pe-
cesso são os ecl<)gitc1s, rochas mantélicas e os xistcJs daços ele crosta oceânica em meio à crosta continental,
azuis, cuja cor azt1lada é prc1veniente ele um anfi\1c'.>lic) onde <)S dois primeiros modelos mc)stram eventos ele
chamadcl glaucofânio. Cc)mo as mé!anges são feiçc3es obduccão.
'
superficiais, dificilmente são encontradas em terrenc)s
() primeirc) e-liagrama mostra um mcJdc!cJ ele
pré-cambrianos C<)m<J no Brasil porque sãcJ erc)c-liclas
cJbdt1cçãcJ através e-lcl cavalgamentcJ da crosta oceâni-
com facilidade. Na América de) Sul, exemplcJs ele n1éla1zRes
ca sobre margem continental passiva durante um
pc)dem ser enc<)ntradcJs n<JS i'\ndes.
pr<Jcessc1 C<)lisicJnal. () segund_c) exemplcl tan1\1ém ele
()s <Jfiolit<Js sã<) rochas máficas-ultram,íJicas (Figs. cJbclucçãcJ ilustra c1 fraturamento e-la parte superi<lr e-la
6.12 e 6.13) que representam fatias e fragmentcJs de litcJsfera oceânica em SLtbducção e p<lsteri<1r ca,,alga-
crc)sta c1ceânica C)U manto st1perior pcJsicic)naelcls em mentc> dcJs fragmentc)s assim geraclcls pcir sci\1rc urn
meici a rcJchas da crc)Sta ccJntinental, geralmente asscl- arc<) pré-existente. () últim(J cse1uema m<)stra a adiçãcJ
ciadc)s a sedimentc)s marinhos na Z<)na ele ccJntatcJ entre tectônica a<J cclmplexcl ele stil1ducçàcl CJU prisma de
as placas. ()s prcJcesscJS de cavalgamentos ele fraç<Jcs acresção de uma fatia de crosta ciceânica através ele
de ofiolitos sc)\Jre margens continentais nãcJ pc1de1n seu e-leslc)camentc1 para fora da fcJssa e sua respectiva
introduçàc) no prisma. ()s melhc)res excmpl<is ele
cJfi<)litcis são enccJntradcJs nc) ComplexcJ de TroodcJs
em Chipre (Figs. 6.12 e 6.13) e nas ;\fcintanhas de ()mã,
prc'>ximcJ à 1\rábia Saudita.

6.4.6 Margens continentais

c:omo consee1üência da tectônica de placas, os con-


tinentes fragmentam-se e juntam-se peric1dicamente ao
longcJ do tempc) geológicc). As evidências gecJlé)gicas
e-lestas aglutinaç<Jes e rupturas são encontradas em áreas
de margens dos cc)ntinentes atuais ou que fc)ram nc>
passado geológico e hcJje se encontram suturadas n<)
Fig. 6.12 Ofiolitos com pillow-lavas cortados por diques (com- meic) dos continentes. Nesse contexto podemcJs rcccJ-
plexo de Troados, Chipre) Foto: B. B. de Brito Neves.
nhecer dois tipos de margens continentais:
l1 - Margens Continentais Passivas desenve)l-
,,e111-se dura11te e) preJcesse) de feJrmaçàeJ ele neJvas
l1acias e>ceânicas quando da fragmentaçàeJ ele ccJnti-
Margem continental nentes. 1,:stc processo é denominado ele rifteamentcJ,
passiva pala,•ra prc)\'eniente do termo geológico em inglês Rift
Valley, que significa um ,,ale de grande extensàe) fcJr-
111aelo a partir ele um movimente) distensi,•cJ na crosta,
a que prc>dL1z falhas su!J,,erticais e abatimento de bloccJs
► (Cap.19). I~ste prcJcesse1, ilustradeJ na Fig. 6.15, inicia-
se ccJm ci aL1mentcJ pontual do fluxo térmico no manto,
Arco anterior que irá caL1sar o soerguimento e abaulamento ela cros-
ta cc)ntinental se>bre este ponto, e,-entualmente
prc)\'eJcandeJ eJ fraturamentc) e extrusàcJ ele rochas
má ficas (lC:ig. 6.1 Sa). Com a subsee1üente instalaçào de
b ceJrrentcs de con,,ecção no mante) sul1jacente a esta
Fragmento da crosta
regiàe>, inicia-se um pre)cesseJ distensivcJ gerando
oceânica adicionada falhamcntcJs normais e o desenvolvimentcJ de estrutu-
ao prisma de acresção
ras do tipc1 rift valley (Fig. 6.156). CcJm a continuidade
Arco do mo,,imento distensivo, ocorre o adelgaçamento da
crcJsta ccJntinental até que finalmente ocorra a ruptura
desta crosta e C) clesenvc)lvimento de uma crosta
basáltica oceânica incipiente (Fig. 6.1 Sc). Um novo
'
e cJceancJ ccJmeça a se fc)rmar. A medida que o proces-
scJ distensivo continua, a crosta oceânica e e) cJceano
Fig. 6.14 Mecanis1nos possíveis paro a colocação tectônico ,·ãcJ também aumentando (Fig. 6.15d). Ao longo das
de fragmentos de crosta oceânica em meio o rochas continen- margens adelgaçadas dos continentes ocorre a movimen-
tais. Fonte: Condie, 1989. taçãcJ tectê)nica de bloccJs, caracterizada, principalmente,

a - Margens Continentais Ativas, si-


tuadas nos limites cc)nvergentes de placas
tectônicas onde ocorrem zonas de
subducção e fallias transformantes; nestas
margens estão em desenvc)lvimento ativi-
dades tectônicas importantes, ccJmo por
exemplo, formação de cordilheiras, ncJ prcJ-
cesso chamado de orogênese. Na 1\mérica
do Sul, o exemplo de margem continen-
tal ativa é a costa do Pacífico, onde a Cadeia
Andina encontra-se atualmente em desen-
volvin1ento. As margens continentais ativas
constituem os ambientes geológicos cJnde e
se formam mélanges e ofiolitos, e1ue irão Plataforma continental
compor o denominado prisma de acresção ....;;;,:,::.:;-,-·
--~ ...-......
/ Dorsal Meso-Oceânica

de um arco. Este prisma acrescionário é ---


··---·--·-~
-··::::..,,.~
,. ...
,,,.,.,
/,

composto por rochas basálticas e se<lin1en-


tos provenientes da raspagem da parte
d
superficial da placa oceânica descendente,
Fig. 6.15 Esquema evolutivo de fragmentação de uma mosso continental e
que foram adicionadas ao arco.
desenvolvimento de margens continentais passivos.
por sistemas de falhas subverticais. Atualmente este pro- fratura em geral forma um vale que se estende para
cesse) ocorre no C)ceano Atlântico, onde as ccJstas leste dentro de áreas continentais, mas não chega a de-
,
da América do Sul e oeste da Africa constituem as senvolver uma bacia oceânica. Este terceiro braço
margens cc)ntinentais passivas. Portanto, este tipo de constitui um rifte abortado.
margem continental situa-se ao longo de limites diver-
O ponto de encontro destes três riftes é denomi-
gentes de placas tectônicas e não sofre tectcJnismcJ
nado junção tríplice ou ponto tríplice e marca o
importante em escala regional.
ponto geográfico onde se inicicJu a fragmentação de
Quando o processo de rifteamento é iniciado, continentes. Um dos exemplos atuais de junção tríplice
,
possivelmente induzido pela ascensão de uma plu- ocorre entre a Arábia Saudita e o noroeste da Africa,
ma do manto (1-íot Jpot), é comum que a crosta onde os dois riftes ativos formam o Golfo de Aden e
continental se rcJmpa ao longo de um sistema de o Mar Vermelho, e o terceiro rifte constitui o Rift Valley
três fraturas separadas por ângulo de 120º, sendo Africano que se estende para o interior do continente
que duas delas evoluem para a formação de ocea- africano, como mostrado na Fig. 6.16.
nos e de margens continentais passivas e a terceira

Dorsal
. Mesa - oceânica

,
Oceano Indico

Graben no Falha
continente transformante

· . f .1 Cadeia
Rifte preenchido , , ,·· · Mesa - oceânica
por sedimento, e graben central
coberto pelo mar

Fig. 6.16 Ilustração mostrando a junção tríplice no Oriente Médio: a) riftes do Golfo de Aden, do Mar Vermelho e do interior da
, ,
Africa; b) junção tríplice entre a América do Norte, Africa e América do Sul, no início da fragmentação do Pangea.
A abertura e o fechamento de bacias oceânicas 6.5 A Dança dos Continentes
ou oceanos é conhecida como "Ciclo de Wilson",
nome dado por Burke e colaboradores, em 1976, em Um processo geológico da importância e magni-
homenagem a J. T. Wilson, que foi um dos tude da fragmentação do supercontinente Pangea não
idealizadores da Teoria de Expansão do Assoalho ocorreu somente nos últimos 200 milhões de anos da
Oceânico. Este ciclo inicia-se com a ruptura de uma história da Terra. As informações geológicas disponí-
massa continental, através do desenvolvimento de veis, principalmente as geocronológicas,
fraturas e de sistemas de riftes, como os que ocor- paleomagnéticas e geotectônicas, demc)nstram que a
,
rem atualmente no "Rift Valley da Africa", seguido aglutinação e a fragmentação de massas continentais
pela abertura de uma pequena bacia oceânica/ f)cea- ocorreram diversas vezes no passado geológico e que
no, como o Mar Vermelho hoje; este deverá o Pangea foi apenas a última importante aglutinação
expandir-se até uma extensão indeterminada, que de continentes. Antes do Pangea as massas continen-
poderia ser similar à do atual Oceano Atlântico Sul. tais se juntavam em blocos de dimensões e formatos
Posteriormente, o ciclo se inverte, iniciando-se uma diferentes dos continentes atuais, pc)is os primeiros blo-
CC)S de crc)sta continental fc>rmaram-se há 3,96 bilhões
subducção de crosta oceânica em uma ou ambas as
de anc)s e foram crescendo com o desenvolvimento
margens continentais, que passam de passivas para ati-
vas. Pode c)correr, então, o fechamento total ou parcial de nova crosta continental, através de orogêneses, até
das bacias oceânicas, gerando uma orogênese. O re- atingir as dimensões atuais. Há 550 milhões de anos
gistro gec)lógico existente indica que C) Ciclo de Wilson cerca de 95% das áreas continentais atuais já estavam
formadas.
ocorreu várias vezes na história da Terra, o que prc)-
duziu uma movimentação contínua dos cc)ntinentes A Fig. 6.17 mostra a reconstituição da aglutinação
em diversas direções, ora se aglutinando ora se frag- de blocos continentais elaborada para os últimos 2
mentando. bilhões de anos (2,0 Ga) da histé)ria geológica da Ter-

2 .bilhôes de anos atrós 1 bilhão de anos atrás

• Terrllóri01 (!1U!:llmenle llUbmersos


i
· ■ ·~$Jblllersos hó2 bilhões
do al'lO$ . ,,,,. .
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•Terrl16dos
bmad0o

105 milhões deCOO$ atrás

Fig. 6.17 Reconstituição da


posição dos continentes de 2,0
bilhões de anos até l 00 mi-
lhões de anos atrás, mostrando
as diversas aglutinações e
fragmentações das massas
' ':;,, ' ', '

'' : :i,:, ·:
continentais.
ra. Nessa figura p<)de ser observadc) que, n<i iníci<>, as fragmentc>s de crrJsta continental teriam tornado a co-
massas continentais
,
estavam reu11idas em três micro- lidir entre si formando um nf)\'() superc()!ltinente
continentes, 1\rtica, Atlà11tica e Ur, con1 partes do que denominado Gond\\'ana, que incluiu a América do Sul
seria a futura ;\mérica do Sul faze11do parte ela 1\tlânti- e ()utros dois menores, Laurentia-l3áltica e Sibéria. Há
ca. Entre 2,() e 1,0 bilhão de anos atrás, estes 55() ]\fa, estes três continentes esti,·eram junt()S, fc)r-
n1ictcJcontincntes se fragmentaram, através de pr()Ccs- mando, por 11m curto período de temp<) geológico, C)
sos de rifteameotos, cc)m os fragmentc)s ccJlidiodc) entre s11percontinente denominado Panótia, o que em gre-
' .... ~ . . .
s1, para gerar novas conttgL1raçoes continentais mat<J- go significa "t11do no Sul", já c1ue este supercc>ntinente
res. E11tre 1,3 e l ,(l bilhão de ancJs atrás, os principais situ<)u-se no hemisfério Sul. Há cerca de 500 l\fa,
blocos de crosta continental se juntaran1 originando e) Pané>tia teria iniciadc) a sua fragmentação, permane-
primeiro supercontínente, qt1c foi denc)minac!c) Rodínia, ccndcJ Cl Gon<.-lwana i11teiro nc) hemisféric) Sul, inclui11do
'
rc)deadc) pelo <>ccano ::VliréJvia. i\mbas as dencnnina- a t\mérica do Sul e 1\frica, e uma <)utra n1assa conti-
ções são de origcrn russa significando rcspcctiva1nente nental constituída pela Laurentia-Báltica e Sibéria, que
n1ãc-pátria e paz. ,;\ 1\mérica do S11l faria parte d<JS incluía partes do que seria l1oje a 1\mérica do Norte,
blocos }\maz<'>nia, Rio da Prata e Sãci E•rancisccJ. Entre E~uropa e 1\sia. l-Iá aproximadarncnte 340 t\1la todas
1.(l(l() e 80() milhões de anos atrás, o cc>ntinentc Rodínia
. . .
as massas cc)nt1nenta1s cclmeçararn n<>vamente a se Jun-
teria sido fragmentado e entre 80(1 ívfa e 50() ::Via cJs tar, culminando há cerca de 23(1 l\1a com a formação
elo supercontinente Pangca, circunclado por um único
oceano denominad• J Pantalassa (em grego significa
"todos os mares"). l-Iá 2()() mill1õcs ele anos o Pangea
vem se fragmentando,
,
e a América do Sul iniciou sua
separaçãc) da ,;\frica l1á 180 l\Ia. Nesta mesma época,
a ,i\t1strália , e a J\ntártica também se separaram do
Pangea, e a India, c1ue estava na parte sul do Gondwana,
iniciou sua viagem ,
até o hemisfério Norte, onde foi
colidir co1n a J\sia, sendo a c:ordilheira dos Himalaias
(l prcidL1to dessa colisão.
750Ma 422 Ma
(Neoproterozóico J (Siluriano médio) i\ f'íg. 6.18 mcJstra as posições da ,;\mérica dcl Sul
e da 1\frica, ao longo do tempo gecllcSgico, ciesde 75()
milhões de anc>s atrás.

Leituras recomendadas
BURCHFIEL, B. C. The Conti1zental Crust. Scientífic .
550 Ma 374Ma American, v. 249, 1983.
(Neoproterozóico tardio) (Devoniano)
SKINNER, B.J.; PORTER S.C. The Dynamic Earth.
N. York: J. Wiley, 1995.

-
'' TAKEUCHI,H.; UYEDA, S.; KAN&.\10Rl, H.
A terra, um planeta em debate: introdução à geeflsica
pela análise da deriva continental. São Paulo:.
EDART/EDUSP, 1974.
VINK, G.E.; MORGAN, J.W.; VOGT, P.R. ''The .
Earth's Hot Spots'', ín: ScientijicAmerican, v.252,. ·
530 'vlo 260 Ma 1985,
(Cambriano méd:oJ (Permiano}
W'YSESSION M. The Inner Workings of the
Fig. 6.18 Posições aas massas continentais da América do
' .
Sul e Africa de 7 50 milhões de anos atrás. Fonte: Dalziel, 1995.
Earth. American Scientist, v. 83, 1995.
água é a substância mais abundante na superfí- servatórios cc)mprcende o ciclo da água ou ciclo
cie do planeta, participando dos seus processos hidrológico, movimentado pela energia solar, e repre-
modelade)rcs pela dissolução de materiais terrestres e do senta o pre)cesso mais importante da dinámica externa
'
transporte de partículas. E o melhor e mais comum da Terra.
solvente disponível na natureza e seu papel no
intemperismo químico é evidenciado pela hidre>lisc (Cap.
7.1.1 Origem da água
8). Nos rios, a água é responsável pelo transporte de
partículas, desde a forma iônica (em solução) até casca- No ciclo hidrológico vamos acompanhar o percur-
lho e blocos, representando o meio mais eficiente de so de uma gota de água pelos reservate)rios naturais
erosão da superfície terrestre (Caps. 9 e 10). Sob forma (Tabela 7.1). Mas de onde veio a primeira gota? Ares-
de gelo, acumula-se em grandes volumes, inclusive gelei- pe)sta está nos passos iniciais da diferenciação do planeta.
ras, escarificande) e) terreno, arrastando blocos re)che)Se)s A e)rigcm da primeira água na história da Terra está rela-
e esculpinde) a paisagem (Cap. 11). cic)nada com a formação da atme)sfera, ou seja, a
Sua importância na superfície terrestre é atestada ain- degaseificação do planeta. F~ste termo refere-se ao fent>-
da quandc) se comparam as áreas cc)bertas pe)r água e meno de liberação de gases por um sólido ou líquido
gelo com aquelas de "terra firme": de) total de 510x10' quando este é aquecido ou resfriado. Este processo, atu-
km2 da superfície da Terra, 310xlü6 km 2 sãe) cobertos ante até hoje, teve inícic) na fase de resfriamento geral da
por oceanos, em contraposição a 184,94x1CY'km2 de ter- Terra, após a fase inicial de fusão parcial. Neste gradativo
ra firme, resultando numa proporção entre superfície resfriamento e formação de rochas ígneas, foram libera-
marítima e terra firme de 2,42: 1. Ce)nsidcrando-se que elos gases, principalmente vapor de água (H 20) e gás
cerca de 2,Sx106 km 2 das terras firmes são cobertas pe)r carbônico (COJ, entre vários outrc)s, como subpre)dutos
rios e lagos e até 1Sx106 km2 por geleiras, esta relação voláteis da cristalização do magma (Cap. 16). A geração
fica ainda mais desfavorável para as terras emersas. Pe)r de água sob forma de vapor é observada atualmente
isse) a Terra é chamada de planeta azul quando vista de) em erupções vulcânicas, sende> chamada de água juve-
espaço: é a ce)r da água. Em subsupcrfície, a água tam-
nil, suportando o modelo acima, se)bre a origem da
bém é importante, alimentando poços, hoje respe)nsávcis água. Logo surge outra dúvida: o volume de água que
por significante abastecimento de água em grandes cen- atualmente compõe a hidrosfera foi gerado
tros urbanos e áreas áridas (Cap. 20). gradativamente ae) le)ngo do tempo geológico ou surgiu
, repentinamente num certo mc)mento desta história? Os
E a água que mantém a vida sobre a Terra, pela geólogos defendem a segunda possibilidade. Existem
fotossíntese, que prc)duz biomassa pela reação entre evidências geoquímicas que suportam a formaçãe) de
CC) 2 e H 2(). Neste contextc) biológico, deveme)s lem- quase toda a atmosfera e a água hoje disponível nesta
brar que praticamente 80% do corpo humano é primeira fase de resfriamento da Terra; desde então, este
,
composto pc)r agua. volume teria sofrido pequenas variações, apenas por
A origem da á6rua, sua distribuiçãe) em superfície e reciclagem, através do ciclo das rochas (Cap. 2).
subsuperfície, assim como o movimento entre seus re-
servate'>rios naturais são temas de) presente capítule>, todos 7.1.2 Ciclo hidrológico
fundamentais para orientar o aproveitamento, maneje) e
proteção dos mananciais hídricos do planeta Terra. Partindo de um volume total de água relativamente
constante no Sistema Terra, podemos acompanhar o ci-
, clo hidrológico (Fig. 7.1), iniciando com o fenômeno da
7 .1 O Movimento de Agua no Sistema precipitação meteórica, que representa a condensação
Terra - Ciclo Hidrológico de gotículas a partir do vapor de água presente na at-
me)sfera, dande) C)rigcm à chuva. Quando e) vapor de
A água distribui-se na atmosfera e na parte superficial
água transforma-se diretamente em cristais de gelo e es-
da cre)sta até uma profundidade de aproximadamente
tes, por aglutinação, atingem tamanho e peso suficientes,
1O km abaixo da interface atmosfera/ crosta, cc)nstituin-
a precipitação ocorre sob fe)rma de neve ou granizo,
do a hidrosfera, que consiste cm uma série de responsável pela geração e manutenção de) importante
reservatórios como os oceanos, geleiras, rios, lagos, va-
reservatório representado pelas geleiras nas calotas pola-
por de água atme>sférica, água subterrânea e áf:,>ua retida res e ne)s cumes de montanhas.
nos seres vive)S. O constante intercâmbio entre estes re-
-"'11111'111 Lago subterrâneo da caverna Poço Encantado (calcários do Grupo Una), ltaetê, BA. Foto: Adriano Gambarini.
Tabela 7.1 Distribuição de água nos principais reservatórios naturais. A água doce
líquida disponível na Terra corresponde praticamente à água subterrânea.

Reservatório Volume (km 3 x 106 ) Volume (%) Tempo médio de permanência

Oceanos 1.370 94 4.000 anos

Geleiras e capas de gelo 30 2 l O - l 000 a nos


,
Aguas subterrâneas 60 4 2 semanas a l 0.000 anos

Lagos, rios, pântanos e 0,2 <0,01 2 semanas a l O anos


reservatórios artificiais

Umidade nos solos 0,07 <0,01 2 semanas a l ano

Biosfera 0,0006 <0,01 l semana

Atmosfera 0,0130 <0,01 - l O dias

Parte ela precipitação retorna para a atmosfera p()r mos, principalmente as plantas, através ela respiraçãc).
evaporaçã() direta elurante seu percurso em direção à Esta soma de processc)s é den(iminaela evapotrans-
superfície terrestre. Esta fração evaporada na atm()S- piração, na qual a evaporaçà() direta é causada pela
fera S(ima-se ao vapor de água formad(i sobre o S(ilo radiaçãc) sc)lar e ventei, enquanto a transpiraçãci de-
e aquele liberado pela atividade biológica de organis- pencle e-la vegetaçãci. A evapotranspiraçãcJ ~m áreas

Vapor de água
""\.···
Neve
.
. . "'
Precipitação
meteórica

Chuva

I
Nível d'água

' '''
: ' . . .

•·.
--,,.,,
· •· i.::t:,. ~--~-~ l ····•···

... •· ...... · · ~ Cid<1htdr<1logito.lento ,dmômie;Q il>!l\ríl<> ·


. . · •. \..Jif
"
Cick, hid1clógicQ rópioo : din.,~i<Q
' ' ' '
~rno
'

Fig. 7.1 O ciclo hidrológico.


ílc>rcstadas de clima quente e úmic1o devol,/e à atmos- eis C<)mci de transfc>rn1ac:1.<1 entre <>s estaclcis gas<)SCJ,
fera até 70°/o da precipitação. Em ambientes glaciais C) liquielci e sc'ilielci. Prriccss< ,s de e, ,11su111<J e fcirmaçãci
rct()rnci da água para a atmosfera ocorre pela subli- ele água interferem neste cichJ. e111 rclativci ec1uilíliric)
n1açãc1 d() gelo, na qual a água passa diretamente d() através dei tempcJ gc(Jl<'i,c!Íc, ,. ::1,111tc11d<, <i \'<>lun1e geral
estad() sólido para() gasoso, pela ação do vento (Cap. 11). ele ágt1a cc)nstante n(J Si~tL111.1 lc 1·ra. l la, [H>rtantci, un1
1~m regiões ílorestadas, uma parcela da precipita- balançci entre a geraçãcJ ele água juvenil e c<Jnst1mc> ele
ção pode ser retida sobre folhas e caules, scifrend(J água pcir diss<Jciaçãci e sua inc< ,r11< >raçà<J cm rcJchas
evaporaçã() posteriormente. Este processe) é a sedimentares.
interceptação. Com a movimentação das folhas pele) c=cJnsideranclci ci tem11c> gccilc'Jgicci, ci cicl<J
vento, parte ela água retida continua seu trajetcJ para o hidrológicci pc)dc ser sti!Je!ivielielci cm elciis st1l1ciclc1s:
solo. A interceptação, portanto, diminui o impacto das <> primcirc1 <Jpera a ct1rtc> prazcJ cn\ c1lvenelcJ a elinâmi-
0

g()tas de chuva sobre o S()lo, reeluzind(J sua ação ca externa da 'ferra (1nc1\·idci pela energia scilar e
erosiva. gravitacional, Cap. 9); <J segt1nclc\ ele lcingci prazc>, é
Uma vez atingido o solo, dois caminhos podem mcl\'imentaclci pela elinán1ica interna (tectêinica ele pla-
ser seguidos pela gotícula de ágt1a. () primeiro é a cas, C:ap. 6), <Jnelc a água fJarticipa elc1 ciclci elas rc>chas
infiltração que depende principalmente das carac- (Fig. 7.1).
terísticas do material de cobertura da superfície. A Nci ciclo "rápidcJ", a água é cc1nst1micla nas rea-
água de infiltração, guiada pela força gravitacicinal, ções fcJtcic1uímicas (fcit<issíntcse) cJne1c é retida
tende a preencher os vazios no subsolo, seguindc) principalmente na prcidt1çàci ele !Ji<imassa vegetal (ce-
em profundidade, onde abastece o corpo ele água lulc)se e açúcar). CcJm a reaçãcJ ccintrária à f<Jt(Jssíntcse,
subterrânea. A segunda possibilidade ocorre quan- a respiração, esta ágt1a rctcirna ac> ciclo.
do a capacidade de absorção de água pela superfície
N o etc. 1o "lento " <J ccJnst1m<> e1e agua
, cicorre no
é superada e o excess() de água inicia ci escoamen-
intemperismo químico através das reaçc3cs e1e hiclrólise ((~ap.
to superficial, impulsionado pela gravidade para
8) e na f(irmaçãcJ de rcichas sccli1nc11tarcs e tnctamc'Jrficas,
zonas mais baixas. Este escoamento inicia-se atra-
com a formação de minerais hidrataclos (Cap. 2). A pro-
vés de pequenos filetes de água, efêmercis e
dução de água juvenil pela atividade vulcânica representa
disseminados pela superfície do solo, que conver-
o retorno desta água ao ciclo rápido.
gem para os córregos e rios, constituindo a rede de
drenagem. O escoamento superficial, com raras ex-
,
ceções, tem como destino final os oceanos. E bom 7.1.4 Balanço hídrico e bacias hidrográficas
lembrar ainda que parte da água de infiltração retorna
O ciclo hidrológico tem uma aplicação prática
à superfície através de nascentes, alimentando o
no estudo de recursos hídricos (Cap. 20) que visa
escoamento superficial ou, através de rotas de flu-
avaliar e monitorar a quantidade de água disponí-
xo mais profundas e lentas, reaparece diretamente
nos oceanos. vel na superfície da Terra. A unidade geográfica
para esses estudcJs é a bacia hidrográfica, defini-
Durante o trajeto geral do escoamento superficial da como uma área de captaçã(J da água de
nas áreas emersas e, principalmente na superfície dos precipitação, demarcada por divisores topográfi-
oceanos, ocorre a evaporação, realimentando o vapor cos, onde toda água captada converge para um
de água atmosférico, completando assim o ciclo único ponto de saída, o exutório (Fig. 7.2).
hidrológico. Estima-se que os oceanos contribuem com
A bacia hidrográfica é um sistema físico onde
85% do total anual evaporado e os continentes com
podemos quantificar o ciclo da água. Esta análise
15% por evapotranspiração.
quantitativa é feita pela equação geral dcJ balanço
hídrico, expressão básica da Hidrologia:
7.1.3 Formação e consumo de água no ciclo
P -E - Q (+ ~S) = O
hidrológico
Nesta equação, JJ corresponde ao vc)lume de água
O ciclo hidrológico pode ser comparado a uma gran- precipitado sobre a área da bacia, E o volume que
de máquina de reciclagem da água, na qual operam voltou à atmosfera por evaporação e transpiração, e
processos tanto de transferência entre os reservatóri- Q ao volume total de água escoado pela bacia, duran-
Bacia hidrográfica

exutório

Linígrafo

Curva chave

Régua Seção no exutório


Q3
--------------------------· a3
E

z
al

Ql Q2 Q3
Vazão

Registro do linígrafo Hidrogramo

Escoamento direto
E

Fluxo basal

J F M A M J J A S O N D
Tempo +. = escoamento total ( Q }
Tempo

Fig. 7.2 Elementos de uma bacia hidrográfica e obtenção do hidrograma. O fluxo basal no hidrograma representa a água do rio
proveniente da água subterrânea, enquanto o escoamento direto corresponde à água superficial em resposta a eventos de chuva.
118 DECIFRANDO A 1'ERRA

te um intervalo de tempe). Este escoamento te)tal (Q) água ou seu aproveitamento hidroelétrico. Permite ana-
representa a "produção" de água pela bacia, medida lisar o comportamento das bacias, identificando
pela vazão ne) exutório durante o período de períodos de vazão baixa e alta, auxiliando na previsão
monitoramento. O termo ~S refere-se a variações de enchentes e estiagens, assim como períodos e volu-
positivas e negativas devido ao armazenamento no mes de recarga da água subterrânea. Através da
interior da bacia. F:ste armazenamento ocorre na for- identificaçãc), no hidrograma, dos ce)mponentcs de es-
ma ele água retie1a nas formações geológicas de) coamento direte) e fluxo basal, é possível avaliar a
subse)lo, cujo fluxc) é muito mais lento que e) do esce)- contribuiçãe) da água subterrânea na produção te)tal
amento superficial direto. Considerando-se perÍe)dos de água da bacia (Fig. 7 .2).
de monitoramento mais longos (ciclos anuais), as di-
,
ferenças positivas e negativas de armazenamento
7 .2 Agua
,
no Subsolo:
tendem a se anular. C)s valores positivos ocorrem quan-
do o esce)amento te)tal da bacia é alimentado pela água Agua Subterrânea
subterrânea (períodos de estiagem), enquante) os ne-
Trataremc)S agora da fraçãc) de água que sofre in-
gative)s refletem períodos de recarga (época de chuvas),
filtração, acompanhando seu caminho pelo subse)lo,
quando parte da precipitaçãe) sofre infiltraçãe),
onde a força gravitacional e as características dos ma-
realimentando a água subterrânea, em vez de escoar
teriais presentes irão controlar e) armazenamentc) e o
diretamente da bacia. Portanto, para um ciclo
movimento das águas. De maneira simplificada, toda
hidrológico complete) da bacia, é possível resumir a
água que ocupa vazios em formações roche)sas ou no
equação geral de) balanço híclrico para:
regolito (Cap. 8) é classificada como água subterrânea.
J)=E+Q,
onde Q (vazãc) total da bacia) representa a soma 7.2.1. Inftltração
do escoamento superficial direte) com o escoamento
Infiltração é e) processo mais importante de recarga
da bacia suprido pela água subterrânea e li, a água
da água no subsole). () ve)lume e a velocidade de infil-
perdida por evapotranspiração.
tração dependem de vários fatores.
Na maioria das bacias hidrográficas a saída elo es-
coamento tc)tal (Q) é através de um rio principal que
Tipo e condição dos materiais terrestres
coleta te)da água pre)duzida pela bacia. A medição de
Q constitui um dos objetive)s principais da hidre)logia A infiltração é favorecida pela presença de materiais
de bacias. Baseia-se na construçãe) de umhidrograma, pe)rosos e permeáveis, como solos e sedimentos areno-
que expressa a variação da vazão em função de) tem- sos. Rochas expostas muito fraturadas ou porosas também
po (Fig. 7.2), enve)lvendo as seguintes etapas: permitem a infiltração de águas superficiais. Por e)utro
1. Medição ele diferentes vazões do rio ao leingo lado, materiais argilosos e rochas cristalinas pouco fratu-
de) ano para e)bter a curva chave que relaciona a radas, pc)r exemple) corpos ígneos plutônice)S e rochas
altura com a vazãe) do rio. metamórficas como granitos e gnaisses, são desfave)rá-
veis à infiltraçãe). 1"~spessas cc)berturas de se)lo (ou material
2. ()btençãe) do traçade) da variação de) nível elo inconsolidado) exercem um importante papel no con-
rio ae) longo do períoe-lo ele mc)nitoramento pe)r trole da infiltraçãc), retendo temporariamente parte ela
meie) de um linígrafo. água e-le infiltração que posteriormente é liberada lenta-
3. Transformação do registre) da variação do nível mente para a rocha subjacente. A quantidade de á6'Ua
do rio em curva de vazão (hidrograma), pela transmitida pelo solo depende de uma característica im-
substituição de cada ponto de altura do rio pele) pe)rtante, chamaela de capacidade de campo, que
seu correspondente valor de vazão. corresponde ao vc)lume de á1-,rua abse)rvido peleJ sole),
antes de atingir a saturação, e que não sofre mc)vimentc)
4. Cálculo da vazão total da bacia através da área
para níveis inferiores. Este parâmetro influencia direta-
sob a curva de) hidrograma (m1 /s x tempe), cm
mente a infiltração, pois representa um vc)lume de água
segunde)s = vc)lume total).
que participa do solo mas que não cc)ntribui com a
() hidrograma é a base para estudos hidrcilógicos recarga da água subterrânea, sendo aproveitada somente
de bacias visande), por exemple), o abastecimento de pela vegetação.
Cobertura vegetal 7 .2.2 Distribuição e movimento da
água no subsolo
Em áreas vegetadas a infiltraçãc) é favorecida pelas
raízes que alJrcm caminhe) para a água descendente nc)
solo. 1\ cobertura flc)restal taml)ém exerce impc)rtante O conceito de superfície freática ou nível dágua
funçãc) nc) retardamcntc) de parte da água que atinge
o sc)lo, através da interceptação, sendc) o excesso len- Além da força gravitacicJnal e das características
tamente liberadc) para a superfície do sc>lo pc)r dos solc)s, sedimentos e rochas, e) mc)vimcntc) da
gotejamento. Pc)r outro !ade), nc)s ambientes densa- água no subsolo é controlado também pela fcJrça
mente florestados, cerca de 1 /3 ela precipitaçãcJ de atraçãcJ mcJlecular e tcnsãc) superficial. A atraçãcJ
interceptada sofre evapc)ração antes de atingir o sc)lo. molecl1lar age quando mc)léculas de água sãc) pre-
sas na superfície ele argilomincrais por atraçãc) de
cargas cJpostas, pc)is a mc)lécula de água é pc)lar.
Topografia
Este fenc:imeno cJcorre principalmente nc)s primei-
De modo geral declives accntuadc)s favorecem C) ros mctrc)s de prcJfundidadc, no solo ou rcgcJlitc),
esccJamentc) superficial diretc), diminuindc) a infiltra- ricc) cm argilcJminerais (Cap. 8). A tensão superfici-
ção. Superfícies sua,,emente C)nduladas permitem C) al tem efeitc) nos intcrstícic)s muitc) pequenos, cJndc
escoamento superficial menos veloz, aumentando a a água fica presa nas paredes dos porc)s, podenc.lcJ
possibilicladc de infiltração. ter movimento ascendente, contra a gravidade, pc)r
capilarielade. A adsc>rçãcJ de água cm argilcJminerais
e nos capilares dificulta seu movimente) nas proxi-
Precipitação
midades da superfície, reduzindc) sua evapc)raçãc) e
C) modc) como o tcJtal da precipitação é distribu- infiltraçãc). J\ssim, cc)nforme o tamanho do pcJrc), a
ído ao lc)ngo do anc) é um fatc)r decisi\TCJ no volume água pcJele ser higrcJscópica (aclsorvida) e pratica-
de recarga da água subterrânea, em qualquer tipc) de mente imóvel, capilar quando sc)frc ação da tcnsãcJ
terreno. Chuvas regularmente distribuíelas ac) longo de) superficial movendo-se lentamente c)u gravitacic)nal
tcmpc) prc)movem uma infiltração maior pois, elcsta (livre) cm porcJS maicJres, c.1ue permitem mo,,imcn-
maneira, a velocidade ele infiltração acc)mpanha o vc)- tc) mais rápiclo.
lume ele precipitação. Ac) contráric>, chuvas tc)rrenciais () limite inferior da percolação de água é dado
favorecem o escc>amento superficial diretc), pclis a taxa quandc) as rochas não ac.lmitem mais espaços aber-
de infiltraçãcJ é inferior ao grande vo 1umc de água pre- tos (porcJs) devido à pressão da pilha de rochas
cipitada em curto intervalo de tempo. sobrejacentcs. Esta prcJfundic.lade atinge um máxi-
mc) de 10.(lOOm, dependendc) da situaçãc) tc)pográfica
Ocupação do solo e do tipc) de rocha. Pode-se imaginar entãc) que tcJda
água de infiltração tende a atingir este limite inferi-
() avançc) da urbanização e a devastaçãc) da vegeta-
or, cJndc scJfrc um represamento, preenchendo tcJdcJs
ção influenciam significativamente a quantidade de água os espaçcJs abertos em direção à superfície. Estabe-
inftltrada em adensamentos populacionais e zonas de in-
lece-se assim uma zona oncle todos os pc>ros estãc)
tenso uso agropecuário. Nas áreas urbanas, as construções cheios ele água, dcncJminada zona saturada ou
e a pavimentação impedem a inftltraçãc), causandc> efei- freática (Fig. 7 .3). Acima desse nível, os espaçcJs
tos catastré)ficos devido ao aumento do escoamentc) vazios estãcJ parcialmente preenchidos por água,
superficial e reduçãc) na recarga da água subterrânea. Nas ccJntendc) também ar, definindo a zona não
áreas rurais, a infiltração sc)fre reduçãc) pelo desmatamentc) saturada, também chamada de vadosa c>u zona de
em geral, pela expclsição de vertentes através de planta- aeração. () limite entre estas duas zonas é uma im-
ções sem terraceamentc), e pela cc)mpactação dos sc)los pc)rtante superfície dencJminada superfície freática
causada pelo pisoteamento de animais, como em exten- (SF) C)U nível da água subterrânea (nível d'água, NA),
sivas áreas de criação de gado. facilmente identificado na prática, ao se perfurarem
Um fato curioso é a situação em grandes centros poços, nos quais a altura da água marca a posiçãcJ
urbanos, comcJ São Paulo, onde se detectou uma do nível da água. A superfície geracla por váricJs
recarga significativa da água subterrânea pc)r vazamen- pontos do NA constitui a superfície freática.
tos da rede de abastecimento (Cap. 20).
120 DECIFRANDO A TERRA

, Poros
Zono vadesa Agua
ou não saturada

Zona freática
ou saturada

Fig. 7.3 Distribuição de água no subsolo.

() nível freático acompanha aproximadamente as Em áreas áridas, cinde a evaporaçãc) é intensa e su-
irregularidacles da superfície do terreno, e) que pocle planta a precipitaçãc>, pode <)Cc>rrer a inversão sazonal
ser visualizado pele) traçado de sua superfície através da infiltração, quando uma parte da água subterrânea
de uma rede de pe)ços (Fig. 7.4). Sua profundidade é tem meivimento ascendente pcir capilaridade, atraves-
função da quantidade de recarga e dos materiais ter- sando a zcina vadosa para alimentar a evaporação na
restres do subsol<). Em áreas úmidas, C<)m alta superfície elo solo. Este prcicessci é responsável pela
pluviosidade, tencle a ser mais raso, enquant<i em am- mineralização dos horizontes superficiais do solo, pois
bientes árid<)S tende a ser profund<). De moclo geral, sais disseilvidos na água subterrânea acabam precipitan-
é mais profunde) nas cristas de c-livise)res topográficc>s dci e cimentando os grãos dei regolito (salinização do
(ne)s interflúvios) e mais ras<i ncis fundos de vales. scile)). O caliche é um exemplo de solo endurecidci pela
Quandci o nível d'áb>ua intercepta a superfície dei ter-
reno, aflora, gerando nascentes, córregc>s ciu rios. 1\ Infiltração e
Nível freático
recarga
maioria dos leitcis fluviais com água são afloramentcis
de) NA.

C_) nível freático tem uma relaçãci íntima cc)m os


rios. Os rios cuja vazão aumenta para jusante sãci cha-
madcis de rios efluentes, e são alimentadcis pela água
subterrânea, situaçãci típica de regiões úmidas. Ac) con-
trário, nos rios influentes, a vazão diminui a jusante,
como conseqüência da recarga da água subterrânea pelo
escoamento superficial. Nestes caseis a água elo rio
Fluxo de água
infiltra-se para o nível freático (Fig. 7.5) e ci ric> pciderá subterrânea
secar se o nível for rebaixado, abandonando o leite) dei
rio, comcJ é ce)mum em áreas semi-áridas ou áridas. Fig. 7.4 O nível freático e o relevo da superfície.
N.A.

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·- N.A.
\UíJ;;~ '

,
.....__ _ _".'."':", Agua
· subterrânea
alimenta os rios

Porosidade intergranular

precipitação de carbonato de cálcio


pelas águas ascendentes em áreas
semi-áridas a áridas.
o
Porosidade Porosidade de fraturas:
tectônicas de resfriamento
1\ porosidade é uma prc)prie-
dade física definida pela relação
entre C) volume de pc)rc)s e C) volu-
me total de um certo material. 1mm ·. lmm_

Existem dois tipos fundamentais


de porosidade nos materiais ter-
restres: primária e secundária. A
Porosidade de condutos
porosidade primária é gerada jun- ( cárstica )
tamente com o sedimento ou rc)cha, -- estratificação

sendo caracterizada nas rc)chas - fratura

sedimentares pelos espaçc)s entre os


conduto
clastos ou grãos (porosidade 1mm

intergranular) C)U planc)S ele /-0-"


1
Colúvios
estratificação (Cap. 14). Nc)s mate- /
/,

riais sedimentares o tamanho e fc)rma


das partículas, o seu grau de seleção
e a presença de cimentação influen-
ciam a porosidade. A porosidade
secundária, por sua vez, se desen-
volve após a formação das rochas
ígneas, metamórficas ou
sedimentares, por fraturamento ou
falhamento durante sua deformação
(porosidade de fraturas). Um ripe)
especial de porosidade secundária
se desenvolve em rochas solúveis,
como calcários e mármores, atra-
vés da criação de vazios por Gnaisse
dissolução, caracterizando a
porosidade cárstica (Fig. 7.6).
Fig. 7.6 Os três tipos fundamentais de porosidade conforme diferentes materiais numa
seção geológica.
'122 DECIFRANDO A 'l'ERRA

Tabela 7.2 Volume de poros e tamanho de partículas em sedimentos.


Fato importante é a diminuição da permeabilidade com o aumento da
porosidade e diminuição do tamanho da partícula.

Material Tamanho das partículas, mm Porosidade % Permeabilidade

Cascalho 7 a 20 35,2 Muito alta

Areia grossa 1a 2 37,4 Alta

Areia fina 0,3 42 Alta a média

Siltes e argila 0,04 a 0,006 50 a 80 Baixa a muito baixa

Permeabilidade J\ssim com(J os ripeis de pelrcJsiclade, a pcrmeabili-


(la(lc peide ser primária eiu secundária.
() principal fator que determina a (lisponibilidacle
ele água subterrânea não é a quantidade ele água e1ue
(JS materiais armazenam, mas a sua capacidacle cm O fluxo de água no subsolo
permitir (J fluxo ele água através deis poros. Esta pre)-
1\lém da força gravitacicinal, o meivimento (la água
priedadc dos materiais concluzirem água é chama(la
sul1tcrrânea também é guiadei pela diferença de pres-
de permeabilidade, que depende (-!ei tamanhei deis
são entre dois pontos, exerci(la pela C(Jluna de água
poreis e da ceinexão entre eles.
seil1rcjacentc aeJs p()ntos e pelas reichas adjacentes. Esta
Cm sediment(J argilosei, por exemplei, apesar ele c-!ifercnça de pressã(J é chamada de peitencial da água
peissuir alta porosidade (Tabela 7.2), é praticamente (potencial hidráulico) e preimovc e) meivimcnto ela
impermeável, pciis os p(lr()S são muito pe(1ueneis e a água subterrânea de p()ntos com altei pe)tencial, como
água fica presa peir adseJrçãc>. Por (Jutro lado, clcrra- nas cristas do nível frcátic(J, para zcJnas de baixo po-
mes basálticos, e)n(le a rocha cm si nãei tem pelr(isidadc tencial, como cm fundos (le vales. Esta pressão exercida
alguma, mas possui abunelantcs fraturas abertas e pela coluna de água peJ(-!e causar fluxos ascendentes
intcrccinectadas, come) disjunções ccilunares (juntas de da água subterrânea, contrariande) a gravidade, come)
resfriamento), p(l(lcm apresentar alta permeabilidade ncJ case) de porçc:,es preJfundas abaixeJ de cristas, ()nde
devido a esta porosidade primária. a água tende a subir para Zc)nas de baixo potencial,
juntei a lcitcis de rios e lageis .

. . ._ ► Linhas de fluxo da água subterrânea Relevo Nível d'água


' - Equipotenciais

,.,,.,----
X
I -- 1
--- Rio~::(
\ \ _/
I

1
I
1 , 1 1
1
1 1
1
1 1 1
,_-~,"
1 I
1
I
I 1
1
1 \
' ..... __ ..,,,. .. ✓ -...,e__,;
\ 1 \ I
\ I 1 1 I
I \
\ 1 1 \ I
• •
Zona impermeável

Fig. 7.7 Percolação da água subterrânea com linhas de fluxo e equipotenciais.


A uniã(J de p(>nt(is ccim e> mesmo pcitencial hidráu- i\lcrta-se para ei fatc> de que a ,,azãei específica é
lic(i em subsuperfície define as linhas ee1uipotcnciais d(i um conceitc> macr(>sc<>pic(J que ccinsidera ei material
nível freáticc), semelhantes a cur,,as de nível tc)pográficas. teidei, nà(i se referind(J às \'ele>cidadcs reais deis trajc-
() fluxc) de água, partinc-l(i de um p(itencial mai(ir para t(is micrc>sc(ipiceis entre os espaç(is ela pc>rc>sidade. A
(iutrcJ menor, define Lima linha de fluxo, que scgtie (i vazão específica, ccim unidades de ,,elc>cidade (distân-
caminh(i mais curto entre dois potenciais diferentes, num cia/ ternpei), deve ser cntcnc-lida ceimo urna vel(>cidadc
traçado perpendicular às linhas ee1uipotenciais (Fig. 7.7). macrcisc(>pica, c>u média, aci lc>ngci ele> trajetci entre
um pcintci de entrada e outro de saíela ela água.
Condutividade hidráulica e a lei de Darcy llma das aplicações ela lei de Darcy é determi-
nar ei fluxo da água subterrânea numa certa região,
C)lJscrvando () m(ivimento dei nível freátic(i em p(>-
pela condutividaele hidráulica meelida cm labcira-
çc>s e nascentes após event(is de chuva (recarga), n(ita-sc
tório OLt, acJ ceintrário, medind(i a ,,clocidade méelia
que a velcicidadc do fluxo da água subterrânea é relativa-
elo flux<J, determinar a condutiviclaelc hidráulica dos
mente lenta. Se fosse rápida, passados alhruns dias depois
mater1a1s.
da chuva, um poço normal iria secar. Surge a pergunta:
porque (J fluxo da água subterrânea cm certos lcicais é A velc>cidade de perccilação da água subterrâ-
rápielc> e cm outrc>s é lent(>? nea também pcie-le ser medida ccim e> uso de
traçadcircs, corno C(Jrantes inofcnsiv(is à saúde e ao
N(> fluxo de água em superfície, a vclocielacle é
ambiente, quandci e> trajeto deJ fluxo é C(inhecido.
<liretamente prop(Jrci(inal à inclinação da superfí-
Neste casei, injeta-se cJ C(>rantc na zcina saturada de
cie. liste grau de inclinaçã(J, denorninaelcJ
um pc,çc>, rnedindei-sc o ternpeJ ele percurse> deste
gradiente hidráulico (!-:i.h/ !-:i.J ,), é definido pela ra-
até um outro poço e>u uma nascente. A vclocidacle
zão entre (i desní,,cl (!-:i.!j e a clistância h(iriZ(>ntal entre
ele> fluxo é a distância entre os ponteis sobre () tem-
dois pc>ntc>s (f..L). () desnível indica a diferença de p(>-
pc> ele percurse>.
tencial entre c>s p()ntc>s. Quanto maicir a diferença ele
pcitencial, dada urna distância lateral C(>nstante, maior será De maneira geral, e> mcJvimcnto ela água subterrâ-
a velocidade d(J flux(i. nea é muito lento quanc-lc> ccimparado aei escoamentci
superficial. Em materiais permeáveis, como areia mal
Para (J flux(i ela água subterrânea, necessita-se C(>nsi-
selecieinada, a velcicidadc varia entre 0,5 e 15 cm/ dia,
derar, além da inclinaçãe) do nível d' áhrua, a permeabilidade
atingindci máximc>s de até 100 m/ dia em cascalh(JS
de> subsolo e a ,risc(isidadc da água. A influência desses
!Jcm sclecicinadcJs sem cirnentaçãei. No caso de grani-
parâmetr(is sobre o fluxo da ágt.a subterrânea f(ii
te>s e gnaisses pouco fraturados, (1 fluxci chega a
investigada e e1uantificada em laboratório pelo cngenhei-
algumas dezenas ele centímetros pcir an(J. Já cm basaltcis
rei hielráulico francês Henrv Darcy, em 1856, rcsultand(i
; ;

muitcJ fraturados, registram-se velcicidades de até


na f(>rmulaçãci ela lei de Darcy, base da hielrc>logia de
. 1OOm/ elia. ()s fluxos mais rápidc>s sãc> registrados em
meios peirose>s.
calcáric>s co1n ccindute>s (cársticos), com máximc>s de
C) experimento de Darcy baseeiu-se na rnewção da 1.00() m/hora.
vazão de água (Q) com um cilindro preenchid(J pe>r
Para movimenteJs muito lentos e pcir longas distânci-
material arenoso, para diferentes gradientes hielráuliccis
as, e>s hidrogcólogcis utilizam métod(>S ge(>cronológic(JS
(Fig. 7.8). O fluxo de água para cada gradiente foi calcu-
(Cap. 15) para medir velocidades. Um deles baseia-se no
lado pela relação entre a vazão (Q) e a área (A) da seção
i,ic, presente no C02 atm(1sféricci dissolvido na água
do cilindro. Este fluxc>, cc>m unidac-le ele velocidade, f(Ji
subterrânea. Uma vez que cJ isótopo radicJativo 14(= nãc>
definielo como a vazão específica (q) do material.
é reposte, nei percurso subterrâncc>, seu decaiment(J em
A vazãe> específica é diretamente pre>pcircional ao funçã(J d(i tempo permite elatar a água subterrânea. Di-
gradiente hidráulico. Neste gráfico (Fig. 7.8), o ce>efi- ,ridindc>-se a distância entre a zona de recarga da á6rua
ciente an1::,rular da reta correspclnde à condutividade subterrânea e e> pc>nto analisado (um poçcJ ciu nascente)
hidráulica, que é uma característica intrínseca do ma- pela ielade da água, c>btém-se sua velocidade de
terial, expressando sua capacidade de transmissão de percolação. Estudeis realizados na bacia do Maranhão
água. Este parâmetro é uma forma de quantificar a (Piaw'), mcistraram idades de até 35.000 an(is para a água
capacidade d(JS materiais transmitirem água cm fun- subterrânea em camadas profundas, indicandcJ fluxos cm
çãc> da inclinação d(> nível freático. tcJrnci ele 1m/ ancJ.
Na natureza:

gradiente hidráulico:
H 1 - H2
L
-- ,\H
L '
Epoca de
Poço A
chuva

H1 '
-------------- Epoca de
estiagem
Poço B

----
---- ---~
Descarga no vale

Ensaio no laboratório:

Volume injetado

► -1, ---------• 1
1
1

2
A= Área da seção do cilindro ( m )

1
1 Q = Vazão obtida para ~H e :\H
1 1 2
c1H 2 1 ''
1 ''
1 '' Volume recuperado em
1 '' tempo t
1 ''
1 '' Q
A vazão específica q ( m/s) é obtida de Q = q x A q =
A

1
1

No gráfico de q em função de il.H


L
ql K = Constante do material = condutividade hidráulica
a
u
,_
'-<-
u q
(!J
o...
K~ ou
<./) -'iH
(!J

o L
'ªN
i'.H
!i2 92 q = K ou
L
equação de Darcy
Q - K il.H
A L
Gradiente hidráulico

Fig. 7.8 Obtenção experimental da lei de Darcy.


CAPÍTULO 7 • CICLO DA AGUA
,
125 ~
.
.,

7 .2.3 Aqüíferos: reservatórios da água sub- aqüífer<is deste tip<l. 1\ produtiviclade cm água d<JS
A
terranea arenit<JS diminui com o seu grau de cimentação, comcJ é
<J caso de arenitos silicificaclc>s, quase sem permeabilidacle
Unidades rochosas ou de sedimentos, porosas e intcrgranular.
permeáveis, que armazenam e transmitem v<ilumes
J\ mai<Jria dos aqüíferos de fraturas fcJrma-sc em
significativos c-le água subterrânea passível de ser ex-
ccinscqüência de deformação tect{Jnica (Cap. 19), na
plorada pela sociedade são chamadas de aqüíferos
qual prcicessos de dobramento e falhamento geram
(do latim "carregar água"). O estudo dos aqüíferos
sistemas de fraturas, normalmente seladas, devido à
visando a exploração e proteção da água subterrânea
pr<ifundidade. Posteriormente sofrem aberturas
(Cap. 20) ccJnstitui um dos objetivos mais imp<irtantes
submilimétricas a milimétricas, permitindo a entrada e
da Hidroge<Jlogia.
flux<J de água, pela expansão das rochas devido acJ
Em <iposição ao termo aqüífer<i, utiliza-se o ter- alí\·io ele carga litostática causado pel<i soerguimcnto
,
m<) aqüiclude para definir unidaeles geolcigicas que, regional e erc)sãcJ das rcJchas sobrejacentes. E óbvio
apesar de saturadas, e ccim grandes quantidades de que o fluxo de água somente se instala quando as
água absorvida lentamente, são incapazes de transmi- fraturas que compõem o sistema estão
tir um volume significativcl de água com velocidade interconectadas. Praturas nã<J tecttJnicas, dei tipo
suficiente para abastecer poç<is ou nascentes, por se- disjunçã<J C<>lunar (Cap. 17) em r<Jchas vulcânicas,
rem rochas relativamente impermeáveis. Pcir outro ladci, com<J n<JS derrames ele basaltos, poelem ser gera-
unidades geológicas que não apresentam poros das durante as etapas de resfriamento e contração,
interconectados e não absorvem e nem transmitem possibilitand<J que estas rcJchas tornem-se posteri-
água sã<i denominadas de aqüifugos. ormente importantes aqüífcros.
Recentemente os hidrogeólogos têm utilizac-lo os 1\qüíferos de condutos caracterizam-se pela
termos aqüífero e aqüitarde para exprimir compara- pclrcisidade cárstica, constituída pcir uma rede de ccin-
tivamente a capacic-lade de prcidução de água por dut<Js, c<im diâmetros milimétricos a métriccJs, gerados
unidades rochosas, oncle a uniclade com produçã<i de pela diss<iluçào de rochas carbonáticas. (:<instituem
água corresp<inde ao aqüífer<) e a menos pr<idutiva aqüífer<JS c<Jm graneles v<ilumes de água, mas extrema-
a<J aqüitarde (Cap. 20). PcJr exemplo, numa seqüência mente \"Ltlneráveis à c<Jntaminação (Cap. 20), devido à
de estratos intercalados de arenitos e siltitos, os siltit<Js, baixa capacidade de filtração deste tip<i de porcisidade.
menos permeáveis que os arenitos, ccJrrespondcm a<)
Na natureza, esses aqüíferos ocorrem associadcis,
aqüitarde. Numa outra seqüência, f•)rmada de siltitos
refletindo a variedade litológica e estrutural de seqüên-
e argilitos, a unidade siltosa pode representar o aqüíferci.
cias estratigráficas. Situações transitórias entre os tipos
Pcirtanto, CJ aqüitarde correspelnde à camada ou uni-
ele aqüíferos ocorrem, como por exemplo, em regi-
dade geológica relativamente menos permeável numa
ões calcárias, onde aqüíferos de fraturas passam a
determinada seqüência estratigráfica.
aqüífer<is c-le ccJndutos, <Ju de porcisidade granular nos
Bons aqüíferos são os materiais com média a alta depósitcJs de cobertura.
conclutividade hidráulica, c<imo sedimentos
inconsolidados (por exemplo, cascalhos e areias), rochas
Aqüíferos livres, suspensos e confinados
sedimentares (por exemplo, arenitos, cc)nglomerados e
alguns calcários), além de rochas vulcânicas, plutônicas e Aqüíferos livres são aqueles cujo topcl é demarca-
metamórficas com alto grau de fraturamentcJ. do pelo nível freático, estando em contato com a
atmosfera (l~ig. 7.9). Normalmente cJCCJrrem a pr<J-
Aqüíferos e tipos de porosidade func-lidades de alguns metros a p<iucas dezenas de
metr<is ela superfície, associados ao reg<ilit<J, sedimen-
Conforme os três tipos fundamentais de porosidade, tos de ccibcrtura ciu rochas.
identificam-se aqüíferos de p<Jrosidade intergranular (ou
Aqüífcros suspensos são acumulações de água so-
granular), de fraturas e de condutos (cárstico). Os
bre aqüitardes na zona insaturada, formando níveis
aqüíferos de porosidade granular ocorrem no regolito
lentiformes de aqüíferos livres acima do nível freátic<i
e em rochas sedimentares elásticas com porosidade
principal (Fig. 7. 9).
primária. ()s arenitos, de modo geral, são excelentes
Poço no 1\qüíferos confinados occ)rrem quando um estra-
aqüífero livre
to permeável (aqüífero) está confinado entre duas
Poço no nível unidades poucc) permeá,·eis (aqüitardes) ou imperme-
d'água suspenso
áveis. Representam situações mais prcifundas, a dezenas,
,,árias centenas ou até milhares ele metros ele prc)fun-
didacle, c)nde a água está sob ação da pressãc) nãc)
somente atmosférica, mas também de toda a ccJluna
Aqüífero suspenso
sobre material 1 de água lc)calizada no estrato permeável (Fig. 7.10).
/ impermeável

Artesianismo

Em determinaclas situações geológicas, aqüíferos con-


fi nadcJs dão origem ac) fenômeno cio artesianismo,
responsável por pc)ços jorrantes, chamados de artesi-
ancJs (nome derivaclo da localidade de Artois, França).
Neste caso, a água penetra no aqüífero cc)nfinado em
direçãc) a profundidades crescentes, c)nde sofre a pres-
Fig. 7.9 Aqüíferos livres e suspensos. Aqüíferos suspensos são hidrostática crescente da coluna de água entre a
ocorrem quando uma camada impermeável intercepta a infil- zona de recarga e u!"'7 ponto em prc)fundidade. Quan-
tração. dcJ um pc)ço perfura esse aqüífero, a água sobe,
pressionada pclr esta pressão hidrcJstática, jcJrrando

rec.or9°
cl
f,..reo e nlinoclo
.. í\ero e.o
cio oo.u
''
li
\
1
1
1
\
1
''1 \
1
1
Superfície
1
\ \ potenciométrica
\
1
1
1 Altura do nível da água
\ 1
1
1
1
1
na área de recarga
1 1
\ 1
\ \
\
\
\ Poço
\
\
\ comum
■ .............. - •
••• ••
. .......... . -.... -...... .
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Aqüífero
confinado Poço não
artesiano
Aqüiclude
Poço
artesiano
Fig. 7.1 O Aqüífero confinado, superfície potenciométrica e artesianismo. A água no poço artesiano jorra até a altura da linha AC
e não AB devido à perda de potencial hidráulico durante a percolação no aqüífero.
CAPÍTULO 7 • CICLO DA AGUA
,
127 ..
-
naturalmente. A formação deste tipe) de aqüífero re- 1\ ze)na de C)Ce)rrência da água subterrânea é un1a
quer as seguintes condições: uma seqüência de estratos região c>ndc é iniciada a maioria das formas de rclc,·c>,
inclinados, onde pelo menos um estratc) permeá,-el pcJis a água subterrânea é e> principal meie) das reações
. - . .
encontre-se entre estratos 1mpermeave1s e uma situa- de) intemperisme) químice). () me)vimcnto da água sub-
ção gee)métrica em que e) estrato permeável intercepte terrânea, sc)made) ae) da água superficial, sãe) e)s
a superfície, permitindo a recarga de água nesta cama- principais agentes gee)me'irficos da superfície da Terra.
da. () poço, ao perfurar o aqüífero, permite a ascensão A ação geomórfica da água subterrânea se traduz pc)r
da água pelo princípio dc)s vasos comunicantes, e a vários processos de modificação da superfície terres-
água je)rra na tentativa de atingir a altura da zona ele tre e seus respectivos produtos (Tabela 7.3).
recarga. A altura do nível ela água no pc)ÇC) ce)rres-
ponde ao nível potcnciométrico da água; em três
7 .3.1 Escorregamentos de encostas
dimensões, o conjunto de vários níveis pe)tencic)-
métrice)S define a superfície potenciométrica da A mc)vimentação de coberturas come) se)le)s c)u sc-
água (Fig. 7.10). Devido à perda de carga hiclráuli- dimente)s inconsolidadc)s em encostas de morros tem
ca ao longo do fluxo há um rebaixamento no nível velocidacles muito variáveis (Cap. 9). C)s me)vimente)s
dágua ne) pe)çe) em relaçãc) ao nível dágua da zona rápide)s, com deslizamentos catastróficos acontecem
de recarga. Este desnível cresce conforme aumenta com freqüência cm épocas de fortes chuvas, em regi-
a distância da área de recarga. ões ele relevo acidentado. Os movimentos muito lentos
sãe) chamados de rastejamento (creep) do solo, com
Quando ocorre a conexãc) entre um aqüífere) ce)n-
velociclades normalmente menores que 0,3 m/ ane). C)s
finado em condições artesianas e a superfície, através
mc)vimcntos de encostas com velc)cidades superiores
de descontinuidacles, como fraturamentc)s, falhas ou
a 0,3 m/ ano são cnglo bados na categoria de
fissuras, formam-se nascentes artesianas.
escc>rregamentos ou deslizamentos de encostas, com
, vele)cidades que podem ultrapassar 100 km/he)ra.
7 .3 Ação Geológica da Agua Enquante) C) rastejamento lento é movido unicamente
Subterrânea pela força gravitacional, não havendo influência de água
nc) material, os escorregamentos são movidc)s pele)
Ação gee)lógica é a capacidade de um conjunto de prc)ccsso de solitluxão, no qual a força gravitacional
processos causar modificaçe:íes nos materiais terres- age devido à presença de água subterrânea nc) subsolo.
tres, transformando minerais, rc)chas e feições terrestres.
C)s materiais inconsolidados em ence)stas pc)ssucm
() esculpimento de formas de relevo da superfície ter-
uma estabilidade controlada pelo atrite) entre as partí-
restre é um tipo de ação geológica, dominada pela
culas. No momento em que o atrite) interno é vencido
dinâmica externa de) planeta Terra, conhecida como
pela fc)rça gravitacional, a massa de se)lc) entra cm
ação geomórfica.
movimente), encosta abaixo. A climinuição do atrite)

Tabela 7.3 Principais processos e respectivos produtos


da ação geomórfica da água subterrânea.

Processo Produto

Pedogênese (intemperismo químico) (Cap. 8) Cobertura pedológica (solos)

Solifluxão (Cap. 9) Escorregamentos de encostas

Erosão interna, solapamento Boçorocas

Carstificação (dissolução) Relevo cárstico, cavernas, aqüífero de condutos



128 D I e I FRA N D o A TI R R A ··

entre as partículas é causada principalmente pela ae_-li-


ção ele água aci material. F:m\Jora a água at1mentc a
ceJesãc> entre partículas elo seJleJ quandcJ presente em
pequena '-]tiantidade, (através da tensão superficial que
aumenta a atraçãcJ entre as partículas), a saturação deJ
seilci em água acaba envcJlvendo a maioria das partí-
culas por um filtne de água, diminuindeJ e_lrasticamentc
o atritcJ entre elas e permitinde1 e1 seu movimento pela
feJrça gravitacieJnal, ne1 processe) cclnhecieleJ C<JmeJ
solifluxão. A saturaçàci cm água taml1ém aumenta o
peso da cobertura, eJ que ccintribui à instabilizaçàeJ do
material.

TanteJ o rastejamento ceimei o esceirregamentc> e_-le


, ' ", ,

ence1stas sãeJ processcls naturais que ceJntribuem para ,,

a eve>luçàeJ da paisagem, modificane_lo vertentes. llm


)
'&
exemplo de esccirrcgament<J catastrófico ciccirreu na f
d,#
'
Serra c!eJ J'vfar, em 1967, e_lestruine_-leJ estrae_-las e S<>ter- , , , .'
#f'••··'
randc> l1airros perifériceJs da cie_laele de Caragtiatatuba,
, ,,'

j ,

(~/
liteJral e_le SàeJ JJaulei. Esses movimenteJs peie_len1 ser
induzideJs eJu aceleradcJS pela retirada artifical da co-
l1ertt1ra v·cgetal, acarretandeJ eJ aumentei da infiltraçàeJ
de chuvas, lt1l1rit1caçãci elas partículas e seu meiv·in1cn- Fig. 7.11 A saturação em água do material inconsolidado
teJ vertente abaixeJ (t-,"ig. 7.11). devido à subida do lençol freático em períodos de chuvas in-
tensas promove escorregamentos de encostas.

-
7 .3.2 Boçorocas: a erosao que ameaça
cidades

Qt1em viaja pela serra e_la l\Jantiqt1eira (sul e_le !\fi-


cn1 linhas, as blJÇ<Jrocas sãlJ geradas pela açàeJ da água
nas c;erais) e v ale deJ Paraíba, eJu observ·a as c<Jlinas
0

subterrânea. 1\ ampliaçãcJ de sulcos pela erosàcJ super-


e_-leJ eJeste ele SãeJ Paulo e ncJrte deJ Paraná, ncita a pre-
ficial forma vales fluviais, em forma de V, com
sença de fene_las e ceJrtcs elisseminadeJs nas v·ertentes,
,,ertentes inclinae_las e fundeJ estreitll. A partir e_lcJ mo-
cada vez mais frelJÜentes: sãeJ as boçorocas (eJu
mento em que um sulce1 deixa de evoluir pela erosão
veJçcircJcas), temidas pelcJs me1radores locais pcJrquc
fluvial e Cl afleJramcntcJ e_lo nível freáticcJ inicia eJ proces-
ceJnstituem fciçe>es erl1sivas, altamente dcstrtitivas, '-lue
sei de ereJsàe1 na base das vertentes, instala-se o
rapielamente se ampliam, amcaçane_lcl campcls, seileJs
beJçeJrocamenteJ. A erosão pre1vocae_-la pelo afloramento
cultivadeJs e zonas pclveJadas. () termcJ beJçeJroca (il,ttlly,
elci fluxeJ da água sul1terrânea tende a solapar a base elas
cm inglês) tem sua cirigem do tupi guarani "yl1y", ter-
parelles, carreandcJ material em profundidade e forman-
ra " scireJ l<:,, , rasgar ou reimper.
elcJ vazios no interior do soleJ (erosão interna eJu
1":sscs ceJrtes se instalam em vertentes sci\Jre o manto tubificaçãcJ). () colapse) desses vazios instabiliza as ver-
intcmpérico, see_-limenteJs eJu rochas seelimentares pou- tentes e é responsável pela inclinação abrupta e pelo
ceJ C<JnseJlidae_-las, e peldem ter profundie_-laelcs de recueJ das paredes de boçorocas.
clccímetrcis até vários metrcis e parceles abrt1ptas e
A evc)lução ele sulcos de drenagem para boçorocas
ft1ne_lc1 planeJ, ccim seçãcJ transversal em U. () funeleJ é
ncJrmalmente é causada pela alteração das condiçc)es
ceJbertcJ pelr material dcsagregadcJ, eJndc aflcJra água,
ambientais do leJcal, principalmente pela retirada e_-la
frce_JÜentcmente asseiciada a areias mcJv•ee_liças (Cap. 9),
ceibertura vegetal, sendo quase sempre conseqüência
ciu canais anasteJmc1sae_lcJs (Fig. 7 .12).
da intervenção humana sobre a dinâmica da paisa-
()riginam-se de sulccJs geradc1s pela erosàcJ linear. gem. Estas feições pcJdem atingir dimensões de até
1vlas, enqt1antc1 eis stilceJs ou ravinas sàcJ fcJrmados pela várias dezenas de metros de largura e profundidade,
açãeJ crcJsiva dei escc1ame11teJ superficial concentradeJ ceJm várias centenas de metrlJS de co111primento. A
. , .
CAPÍTULO 7 • CICLO DA AGUA 129 :..

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Boçoroca
Nível d'água

Sulcos ou ravinas Zona temporariamente encharcada

Fig. 7.12 Morfologia de sulcos e boçorocas.

e)corrência de boçorocas sobre vertentes desprotegidas


torna este processo pe)uco contre)lável, e o seu rápido
crescimento freqüentemente atinge áreas urbanas e es-
-·-·
...-
' "f•' ;::·

tradas (Fig. 7.13).

7.3.3 Carste e cavernas: paisagens


subterrâneas

Dentre as paisagens mais espetaculares da 1erra


ressaltam-se e)s sistemas cársticos, com cavernas,
cânions, paredões rochosos e relevos ruiniformes pro-
duzidos pela ação gec)lógica da água subterrânea sobre
rochas solúveis. Além de representarem atrações obri-
gatórias para turistas, fotógrafe)s e cientistas, as cavernas
constituem um desafio aos exploradores das frontei-
ras desconhecidas de) nosso planeta. Juntamente com
te)pos de cadeias de montanhas e funde)S oceânice)s, as
cavernas ainda reservam territc')rios nunca antes per-
corridos pele) ser humane). A exploração de cavernas
tem sido de interesse da humanidade desde tempos
pré-histeSricc)s, conforme o registro arqueológicc) de
habitações humanas, ce)m até dezenas de milhares de
Fig. 7.13 Boçoroca na região urbana do município de Bauru
anos, come) nas cavernas de Lagoa Santa (J\.1G) e São (SP), desenvolvida sobre o manto intempérico em arenitos da
Raimundo Nonato (PI). bacia do Paraná. Foto de 1993, arquivo IPT-SP.
131 D1crFRANDO A IERRA

· ·

Carste é a tradução e1() term() alemãc) karst, cJrigi- chas mais fa\·c)ráveis à carstificaçãcJ encc)ntram-se as
nadc) da palavra krasz, denominaçãci daela pelc)s carbc)náticas (calcáric)S, mármores e dc)lcJmitc)s, pclr exem-
camponeses a uma paisagem ela atual c:reJácia e pleJ), cujci principal mineral calcita (e/ou dcJlomita),
B~slovênia (antiga Iugoslávia), marcada por ric)s SLtb- dissocia-se ncJS ÍcJns Ca2 - e/c)u l\1g2+ e C() 12 pela açãci
terrâneos ccJm cavernas e superfície acidentada ela água. ()s calcáric)s sàc) mais scJlúvcis que os dc)lcJmitc)s,
dc)minada por elepressões ccJm paredões rochosc)s e pc)is a solubilidade ela calcita é maicJr que a da elolomita.
tcJrres de pedra.
Rochas evapc)ríticas, ccJnstituídas pclr halita e/ ou
De) ponto de vista hidrológico e geomorfcilé)gicci, gipsita, apesar de sua altíssima solubilidade, originam
. , . . -
sistemas carstlcos sc)mcnte cm sitL1açc)es cspec1a1s, comei
sistemas cársticc)s são cc)nstituídos por três cc)mpo-
nentes principais (Pig. 7.14), que se desenvc)lvcm ele cm áreas árielas a semi-áridas, pois seu intemperismo
maneira conjunta e interdependente: sc)b clima i'.1midc) é tào rápidcJ que não permite e) ple-
nc) desenvc)lvimentc) elo carste.
1. sistemas ele cavernas - formas subterrâneas aces-
síveis à exploração; (~c)mcJ exemple) de rocha cc)nsiderada insoh'.1vel,
pc)de-se citar <JS granitcJs, ncJs quais feldspatos e micas
2. aqüífere)s de condutos - fc)rmas condutoras da
submetidos ao intcmperismo originam argilominerais,
água subterrânea;
estáveis cm superfície, prc)duzindo muito resíduc) in-
3. relevo cársticc) - formas superficiais. seJli'.1vel em ccJmparação ao vc)lL1me inicial de rocha, C)
qL1e impede o aumef1to da pcJrosidade secundária.
Rochas carstificáveis lJ m case) especial, pc)ucc) cc)mum, são qL1artzitc)s. C)S

;\pesar ela baixa scJlubilielac-!e d(J quartzo em águas


Sistemas cársticc)s são fcJrmae!c)s pela disscJluçãc) de
naturais, c1uartzitcJs cc)m IJaixc) tec)r de resíduos inso-
ccrtc)s tipels de rochas pela água subterrânea. C:cJnsiclera-
lú\0eis pc)dcm elcsenvcil,,cr sistemas cársticcJS, quando
se rocha soh."tvcl aqL1ela c1ue ap(is sofrer intemperismcJ
sc)frcm longc)s perÍc)e1<Js ele expc)siçãc) à açãcJ da água
químicc) produz pc)uco rcsíelucJ inseJlúvel. r~ntre as rcJ-
subterrânea.

Nível d' água antigo Sumidouro

Dolina de colapso
Entrada de caverna
Dolina
~',.._ ' ' ' Caverna vertical

''.i 1
f{ •
1
,~~ Dolina de
,, •,,
Vale fluvial ~
subsidência lenta
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\ _j_-+-,,---j---...•"""-"""'l'-.....~·-•~---~l~::_""!"'~...,..;-
Nível d' água atual

Salão de abatimento Estalactites


Estalagmites
Condutos freáticos
Fig. 7.14 Componentes principais do sistema cárstico.
. ,
IAPÍl'ULO "I • 0cLO DA .AGUA 131

Dissolução de rochas carbonáticas cársticas, cuias ágL1as são chamadas de "cluras", dcvi-
cl<i a<J altci teor ele Ca e J\lg (até 250 mg/J ,). F,~ste fatc)
() mineral calcita é c1uase insc)lúvcl em ágL1a pura,
eleve-se à cliss<)luçâ<) ácida elo carb<Jnat<J ele cálcici peki
prc)dL1zind<i concentraç<>es máximas em Ca2 + de cer-
ácielci carbônicci (C:ap. 8), geradcJ pela reaçãcJ entre água
ca de 8 mg/J ,, a<) passcJ que em águas naturais é
e gás carbtinicci (l -'ig. 7 .15).
bastante s<ilúvel, ccim<J é eviclenciaclc) em nascentes

,,,, /
/
/
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Tipos de espeleotemas
1 - Estalagmite 3 - Estalactite tipo canudo 5 - Cortina com estalactite 7 - Excêntricos ( hei ictites )

2 - Estalagmite tipo vela 4 - Estalactite 6 - Coluna 8 - Represas de travertino com


cristais de calcita subaquática
Fig. 7.15 Dissolução e precipitação de calcita num perfil cárstico e principais tipos de espeleotemas.
132 D ECI FRA N DO A :J E R R A

i\s águas de chuva, acidificadas inicialmente ccim cJ subterrâneeis, acelerando ei processo de carstificação.
,
C() 2 atmosféricci, scJfrem um grande enriquecimenteJ Aguas com fluxo lentei exercem pouca ação, pois
em acielo carl)tinico quanelo passam pelo sole), peiis a logci saturam-se em carbonatci, perdenelo sua ação
respiraçãei das raízes elas plantas e a decomposição c1e ceirrcisiva e a capacidade c-le transportar partículas.
matéria orgânica resultam em elevado teeJr de C()2 no
solo. () ácido carbtinico é quase tcitalmente ceJnSLtmi-
c) Clima - disponibilidade de água
do neis primeireis metreJs de perccllaçãeJ da água de
infiltraçãeJ nci pacote rochosc>, sendei que, nas partes Sendo a dissoluçãei a causa principal da formaçãci
mais profundas do aqüífero, resta seimente uma pe- de sistemas cársticos, cJ desenvolvimento do carste é
quena parcela deste ácido para disscJlver a rocha. mais intenso em climas úmidos. Além de alta
pluviosidade, a carstificação também é favorecida em
()utro agente ccirrcJsivo às vezes presente na água
ambientes de clima quente ceim densa vegetação, onde
subterrânea é ei ácido sulfúricci, geradeJ principalmen-
a produção biogênica de C() 2 no solo é maieir, au-
te pela cJxidação de SLtlfetos, ceJmei pirita e galena,
mentandei o teor ele ácideJ carbc"inico nas águas ele
minerais acessórios muitcJ freqüentes em rcichas
infiltraçãei. Desse modo as paisagens cársticas são mais
carbeináticas.
desenvcilvidas em regiões de clima quente e úmido
quandci comparadas às regiões de clima frio.
Requisitos para o desenvolvimento de sistemas
' .
carst1cos
Cavernas e condutos
() desenvolvimento plenei de sistemas cársticos
Cavernas são cavidades naturais com dimensões
requer três ccindições:
que permitem acesso ao ser humano. Cavernas cársticas
a) Rocha solúvel com permeabilidade de fraturas. são parte do sistema de condutos e vazios característi-
Rcichas solúveis do substrato geológiceJ, principal- cos das rcichas carbonáticas.
mente calcários, mármcires e c-lolomitos, devem peissuir A ampliação dos conduteis que ccimpõem as ro-
uma rede ele clesccintinuidades, formadas por superfí- tas preferenciais de fluxo ela água subterrânea aumenta
cies ele estratificação, planeis ele fraturas e falhas, grac1ativamente a permeabilidade secundária da ro-
caracterizanelci um ae1üífero de fraturas. C~om a disseJ- cha, transformando parte elo aqüífereJ fraturado em
luçãc) da rocha ao longo ele intercesse>es entre planos, aqüíferei de condutos, característica hidrológica fun-
instalam-se rotas preferenciais de circulação da água damental de sistemas cársticos.
subterrânea. Em rochas sem descontinuiclaeles plana-
Devido ao rebaixamento do nível freáticei em
res e pc>rc>sidade intergranular dominante, a dissoluçãci
função da crescente permeabilidade, muitas vezes
ocorre de maneira disseminada e heimeJgênea, sem eJ
sc)mada ao soerguimentci tectônico da região, se-
desenvcilvimento de rotas de fluxci preferencial da água
tcires da rede de condutos, iniciados e desenvolvidos
subterrânea.
em ambiente freáticci, são expostos acima do nível
ela água, seifrendo modificações e ampliação em
b) Relevo - gradientes hidráulicos moderados a ambiente vadoso . .b~stes segmentos de condutos,
altos quandeJ atingem dimensões acessíveis aei ser huma-
no, ceinstituem as cavernas.() processo de formação
() desenvolvimento do carste é favcirecido quan-
elo aqüífero de conelutos e cavernas é chamado de
do a região carbonática pcissui topografia, no
mínimo, mcideradamente acidentada. Vales encai- espeleogênese, termo originado do grego spelaion,
que significa caverna.
xac-leis e desníveis grandes geram gradientes
hidráulicos maieJres, com fluxeis mais rápidcis elas No vasto sistema de pcirosidade de condutos de
águas de perceilação ao leingo dos conduteis nci um aqüífero cárstico, cerca de 1°/ri é acessível ao ho-
aqüífero, à semelhança do que se observa no esco- mem, formando sistemas de cavernas, compostos por
amento superficial. Essas velocidades maiores da um conjunto de galerias, condutos e salões, todos fa-
água sulJterrânea resultam em maieir eficiência na zendei parte de uma mesma bacia de drenagem
remoçãcJ de resíduos insolúveis, bem comei na dis- subterrânea, caracterizada por entradas e saídas da água.
solução da re)cha ao longo das rotas ele fluxo e rieis (-)s padrões morfeilógicos dos sistemas de cavernas
-

refletem principalmente a estrt1tura da rcicha detriteis preivenientes das áreas ele captaçãeJ superficial
(acamamento dobrado eiu hcirizontal e geometria e desses rieJs. Parte elcis eletritos pcJde ser acumtilaela ao
densidade dei sistema de fraturas) e a maneira ce)mc> é leingei elas drenagens subterrâneas, feJrmanL-lei clepc'isi-
realizada a recarga de água no sistema, e>u seja, através tcJs seelimcntares flu,,iais nas cavernas. C:eitn ci graelativcJ
ele sumidciureis de rios com cirigem externa aei carste rebaixamentc> de> leitei fluvial, acc>mpanl1anelcJ ci
ou a partir de várieJs pontos de infiltração distribuídcis sc1ergtiin1entci regional, testcmunheJs eleJs sedimenteis
sobre a superfície carbonática. fluviais sãci preservadcJs cm níveis supericircs elas gale-
rias st1lJterrâ11eas. b:stas feições sãci impcirtantes nei
Depósitos sedimentares em cavernas e estudeJ eia histe'iria ele entalhamentei e registreJs
espeleotemas paleoambientais elei rieJ subterrânecJ.

()utrei fenêJmencJ imr,c>rtante e1ue eJccJrre nas ca-


Nos conduteJs expelsteJs na zcJna ele oscilaçãei elei
vernas acima dei nível freáticcJ é a clepcJsiçãeJ de
nível da água, a ampliaçãcJ das cavernas eJccJrre pela
n1inerais ncJs teteJs, paredes e piseis elas cavidades, prei-
açãei de ricJs subterrâneeJs, os quais entalham seus lei-
dt1zineleJ um variadcJ conjt1nteJ ele fcJrmas e
tos, formando cânions subterrâneos. Nesta fase
eirna1ncntaçõcs, generica1ncnte de11cJminadas ele
iniciam-se prcJcesscis ele abatimentcJ de bleJccis, trans-
espeleotemas (fig. 7.15). ()s minerais mais ceJmt111s
fcJrmando parte elcis ceJncluteJs e>riginais em salões de
elcpositad<JS cm ca,,ernas cársticas sãcJ a calcita e
desmoronamentei eJnde se acumulam pilhas de frag-
arageJnita (l;ig. 7.16). 1'\ precipitaçãcJ eiceirrc quandcJ as
mentos de rocha com elimensões extremamente
águas saturaclas em c:aCC) 1 pcrdetn c:c) 2 para ci am-
variadas.
biente das cavernas, pclis a concentração ele (:() 2 da
CeJm eJ rebaixamento do nível da água, rios ela atmosfera subterrânea é mtiiteJ mcne)r que a e1uanticla-
superfície são absc>rvidc>s pelos conelutos cársticos, CJ cle ele C() 2 elisseJl,,idcJ nas águas de infiltraçãcJ
que causa a injeção de importantes ve)lumes de água e enriquecidas em C() 2 l,icJgénico. Devielci a esta dife-
rença ele ccinteúelo cm C() 2, a scJluçãci de infiltraçãei
tcnele a se equilibrar ccim a atmc>sfcra da caverna, 11er-
denelcJ CC),, e causa ci deslocamentei ela rcaçàc> entre
água, gás carbê>nicei e carl1eJnato de cálcieJ nei sentido
de precipitaçàc) ele c:ac:0 1 •
, '''

·~· ()s espeleotemas sãeJ classificadcJs segunde) st1a fc>r-


ma e <J regime de fluxe) ela água ele infiltraçãcJ, causa
principal da sua granele eliversielade meirfeile'igica. ()s
mais frec1üentes sãeJ feirmados pelr gciteja1nentei da
ágt1a de infiltraçàeJ, como estalactites e estalagmites

Figs.7.16 (a) estalactites do tipo canudo e estalagmite no


centro, compostas por calcita, caverna Santana, SP Foto: Ivo
Karmann; (a) espeleotema tipo flor de aragonita, caverna
Santana, SP Foto: Adriano Gambarini.
134 DECIFRANDO A TERRA

(Fig. 7.15). J\s primeiras sãc) geraelas a partir ele gc)tas trechos do pisel e paredes de cavernas até uma espes-
que surgem em fraturas nos tetos de cavernas e cres- sura de vários metreis.
cem em direção ao piso. Inicialmente formam-se
C)s espeleotemas peidem formar acumulações
estalactites do tipc) canuelc) (Fig. 7.16), pela
de várias camadas, cclmpclstas pcir mais de um mi-
superpc)siçãe) de anéis de carbonatc) de cálcici com
neral (por exemplei calcita e aragonita), e englobar
espessura micrciscópica. i-,:stes canudc)s podem dar
cc)ntribuições detríticas, ceimc) areia e argila, trazi-
c)rigem posteriormente a fe)rmas cônicas, quanelo C)
dos por enchentes de ricis sulJterrâneos, ou mesmc)
interior dei canuelo é cibstruído e a deposiçãc) dcJ mi-
pela água de gotejamento. Desta maneira, cc)nstitu-
neral passa a ocorrer através elo escorrimentc) da . . .
em rcJchas sedimentares e-le origem qu1m1ca
soluçãci pela superfície externa ele) canudci. i\s
precipitac-las a partir ela água subterrânea.
estalagmites crescem e-lo pisei cm elireçãcJ à c)rigem
do geJtejamento, ce)m o acúmulo de carbonatc) de
cálcio precipitadei pela gota após atingir cJ pise). Quan- Formas do relevo cárstico
do a depeisiçãeJ ele) mineral é associaela a filmes de
A característica principal de superfícies cársticas
seJlução que escorrem sobre superfícies inclinadas, são é a sulJstituiçãci da rede de drenagem fluvial, ccJm
geradc)s espelcc)temas em fc)rma de crostas
seus vales e canais cJrganizados pclr bacias de elre-
carbonáticas, que crescem com a superposiçãcJ de
nagem centrípeta, que à primeira vista feJrmam um
finas lâminas ele carlJonato de cálcio, podendo ccJbrir
quadrei de drenagem ca(Jtico. Essas bacias condu-
zem a água superficial para sumidouros, que
ceinectam a superfície cc)m
a drenagem subterrânea
' Divisor topográfico (Fig. 7.17).
50

~ Drenagem QuantcJ mais desenvc)l-


vido o sistema cársticc),
• Sumidouro
maior sua permeabilidade
Contato litológico
secundária, o que aumenta
Curvas de nível o númereJ de sumideiuros e
respectivas bacias de drena-
gem centrípeta. Istel, por sua
vez , condicieina um forte in-
550 cremento no vc)lume ele
500
Vale cego da infiltração e diminuiçãe) no
Caverna Laje Branca
veJlume de água do esceia-
mento superficial.
Associadas às drenagens
centrípetas, desenvolvem-se
550
dolinas, que representam
N uma das feições de relevo
mais freqüentes e típicas de
paisagens cársticas, com ta-
Vale cego da
Caverna Tobias manhos que variam entre
uma banheira e um estádio
de futebol. Dolinas sãcJ de-
pressões cônicas, circulares
na superfície, lembrando a
forma de um funil. Dolinas
400 m j de dissolução formam-se
com a dissolução a partir de
fig. 7.17 Bacias de drenagem centrípeta e vales cegos vistos em mapa topográfico. Exemplo da
região da bacia do rio Beta ri, vale do Ribeira, sul de São Paulo.
um ponto de infiltração na
Dissolução do
calcário ao longo
Drenagem das fraturas e
início da depressão

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N.A. N.A.
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condutos
Fraturas freáticos

~ - - - - - - - - A depressão
é ampliada com
a dissolução ao
longo das fraturas

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Rebaixamento do N.A. e
abatimento de blocos no
teto da caverna

O abatimento de blocos
atinge a superfície

antigo
nível d'água

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Dolina de subsidência lenta Dolina de colapso


Fig. 7.18 Evolução esquemática de dolinas de colapso e de subsidência lenta.

superfície da rocha (zona de cruzamentc) de fraturas). dolina a subsidência do terrenc) é lenta, enquanto no
Crescem em profundidade e diâmetro, conforme a segundo, é rápida, freqüentemente dando acesso a ca-
rocha e o material residual são levados pela água sub- vernas. Um dos processos que desengatilha o
terrânea (Pig. 7 .18). Do li nas de colapso (Fig. 7 .18) são abatimentc) de cavidades em profundidade é a perda
aquelas geradas a partir do colapso da superfície de- da sustentação que a água subterrânea exerce scJbre as
vidc) ao abatimento do teto de cavernas ou C)utras paredes e.lesses vazios, pelo rebaixamento do nível
cavidades cm prc)fundidade. No primeirc) tipo de freático e exposiçãc) das cavidades na zona vadosa.
()utra feição diagnós-
tica do carstc são eis
vales cegos com rios
que repentinamente desa-
parecem em sumidourcis
junto a anfiteatros rcicho- -·~-
41,,
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sos ou depressões. ()s


vales cegcis mais expres-
sive)s ocorrem quandci a
superfície cárstica é re-
baixada em relação aos
terrencis nãei carbonáti-
ceis, onde os rios correm
em direçãei aos carbona-
tos e os sumidouros
marcam a zona de con-
tate) entre as rcichas (Fig.
7.17).
Vales cársticos ou Fig. 7.19 Vale cárstico associado à caverna Lapa dos Brejões. No lado esquerdo do vale avista-se
de abatimento são fcir- o pórtico de entrada da caverna com l 06 m de altura. Município de Morro do Chapéu, Chapada
mados quando galerias Diamantina, BA. Foto: Ivo Karmann.
de cavernas sofrem aba-
timento, freqüentemente expondo rios subterrâneos,
e geram depressões alongadas com vertentes
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verticalizadas. Apesar do produto final ser pareci- ,;,,, -":..·-
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do com vales fluviais, este nãc) peide ser classificac.lo ½,,•'P' : '__:·\)!_' 1
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como tal, pois sua origem não é devida aei ,~-.
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entalhamento de um canal fluvial (Pig. 7.19). ~,,.~ •Íi ,. . , ""'


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Arcas de rochas carbonáticas expostas quase sem-


pre exibem um padrão de sulce)s com .: ' '\ \ \\~
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profundidades de milimétricas a métricas, às vezes \
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com lâminas proeminentes entre os sulcos. São os \
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cialmente pela dissolução da rc)cha na interface scilo !.1 . -,,r. 11.
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precipitação diretamente sobre rocha (Fig. 7 .20).
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Entre as formas mais notáveis do relevo cársticci, •


citam-se ainda os cones cársticos. Constituem
morros de vertentes fortemente inclinadas e pare-
des rochc)sas, representando morros testemunhos
que resistiram à dissciluçãci. São típicos de áreas
carbonáticas com relevo acidentadei. Distribuem-
se na forma de divisores de água ccintornando
bacias de drenagem centrípeta. Freqüe11lemente abri-
gam trechos de antigos sistemas de cavernas em
diferentes níveis (Pig. 7 .21).
Fig. 7.20 Afloramento calcário entalhado por caneluras de
dissolução (lapiás) na região da caverna do Padre, Tocantins.
Foto: Adriano Gambarini.
Fig. 7.21 (a) Cones cársticos, região do vale do rio Beta ri, lporanga, SP; (b) região de Pinar
dei Rio, Cuba. Fotos: Ivo Karmann.

Carste no Brasil

Cerca de 5 a 7°/ci do territóric) brasileiro é ocu- com dolinas de abatimento e vales cársticos. Mui-
pado por carste carbonático, constituindo um tas cavernas são conhecidas nessas áreas, incluindo
.
1mpc)rtante componente nas paisagens do Brasil. a mais extensa do País, como a Toca da Boa Vista
(municípic) de Campo Formc)SC), BA), uma caverna
A maior área de rc)chas carbonáticas
cc)m padrão labiríntico e cerca de 80 km de galeri-
corresponde aos Grupos Bambuí e Una, do
as mapeadas. Além de cavernas e vistosas paisagens,
Neoproterozóico. O primeirc) cc)bre porções do
abrigam também importantes aqüíferos, ainda pc)u-
noroeste de Minas Gerais, leste de Goiás, sudeste
Ct) explorados para abastecimento de água. Grande
de Tocantins e oeste da Bahia. O segundo ocorre
parte da região metropolitana de Belo Horizonte,
na região central da Bahia. Predominam calcários e
por exemplo, é abastecida com água subterrânea
dolomitos pouco deformados e drenagens de bai-
prc)veniente do carste.
xo gradiente, com relevos suaves e vastas depressões
N<>s l•'.stad<is de Sà<> \Jaul<i e \Jaraná, <>s terret1<JS grandes la,l!;<>S suh1crr,i11L·1 ,, .. \ti\ idades de e:,q1l<1ra-
cárstic<>s c<>ncentran1-se s<ilire calc:'trÍ<>s ç:1<> sul1al1u:1tica té·n1 rc\cL1dt> p:1ssagc11s cc>tTl 5() 111
rnetatn<>rfizad<JS e dc>l1racl<Js li<> ( ;ru11<> 1\çun,[!;UI, c<>tll de largura e pr<>fund1dadcs de ! .'ili tn, cvidcncian-
relev<l acillentall<> e Z<>nas ele carste p<>lig<>nal, dc>n1i- dc> cavernas en1 11r<>cess<> de sul1n1crsà<J LlcviLl<> ;1
nad<i 11<>r lJacias lle drcnagcn1 centrípeta e \'ÍSt<>S<>S sul1sidência tcct<'>nic:t lia rcL1;i:1<>.
'
cc>ncs cárstic<>S. ( )s sistemas clc cavernas, atinginll< >até·
8km llc descnvc>lvin1c11t<>, caracteriza111-se fl<>r aliri,l!;ar
<>s rnaic>res llesníveis su\Jtcrráne<>S cl<> 11aís, C<>lll<l as Leituras recomendadas
cavernas c:asa de \Jcdra, c<H11 .)5() 111, e <l 1\lJisn1<> d<>
l;f~I'f()SJ\, 1;: t\. (:. e 1\1;\N()l~I, I;<>., J. (cc>c>rcl.)
Ju,•cnal, C<>tn 250 111, lcJcalizadas nci alt<> vale cl<> riti
f-fidro,_2,eoloJ',ia - conceitos e aplicafÕes. f;c>rtaleza:
Ri!Jeira, sul de Sàc> Paul<>.
CIJRi\1 e l.1\Bflll)-Uf 'l)li, 1997.
0

N<i ()este cl<> l3rasil, 1n1p<>rtantes s1ste1nas


l;R1,:1,:z1~, 1\. & (~1-l l~RRY, J. J\. Ground2vater.
cársticcis enc<Jntran1-se n<>s calcáricis e cl<il<Jmit<>s
l~ngelw<>c>cl ( Jiffs: [Jrentice-llall, 1979.
de) (;rup<l c:ciruml1á, J\IS C c;rll]l<) /\raras, 1\l'J', Nt)
sct<ir leste lia serra da 13<ill<>lJUena e regià<i dti n1u- e; I 1.1 .Il~S()N, [). (,aves: J>rocesses, !Jevelop1ne11t,
nicípi<1 de l3<Jnit<i, J\!IS, <JC<irrem cavernas c<>n1 A1anagement. ( )xf<)rcl: Blackwell, 1996.

7.1 ''Buraco'' de Cajamar: acidente geológico no carste


Em agostc> de 1986, a p<>pulaçàc> lle C:ajarnar (S P) assistiu a<> epis(Jeli<J repentinc> ela fc)rmaçàcJ lle uma cratera
ccirn cerca de 1(Jrn ele diârnetrc> e profundiclacle. I)cstruinll<i ci quintal lle unia casa, a fc)tmaçàc> dcl buraccJ fc>i
antecedida por ruídcJs descritc>s cc>tncJ cxplc>S<>es c>u tr<JV<Jadas l<Jngínc1uas. 1\ partir deste clia, <> buracci ccinti-
nucJu a crescer, atingin<lc> 29m de diárnetrc> e 18m ele prcJfLtnliiclade em um mês, ccJnsuminc.lo quatrcJ scJbrac!cJs
(figura 7.22) e fcJrmandci trincas cm ccinstruçc"íes 11urn rai<J de 4()()rn. Após seis meses, cl l1uracc> estabilizciu
ccJm 32m de diâmetro e prcifundiclade ccinstantc ele 13m. ;\ pclpulaçàc> lcical, sem sa!Jcr, estava sentindci a
predispcJsiçãc> ac> ccilapsc> ccirn muita anteccclência <JlJscrvanclcJ defcJrmaçc"íes em piscJs, surgirncntci ele racha-
duras em paredes, rornpirnentci de tubulaçc"ícs Lia rcllc de fc>rnccirnentcJ lle água e a <JC<Jrrência de ruíclcJs.
No dia dcJ ccilapso, ge(JlcJgos em visita acJ lcical levantaram a hipc5tese de> abatimentcJ de Luna caverna abaixcJ da
cidalle, pois esta se encontra sobre calcáric>s. I~studcls pcisteri<Jres realizadcis pc>r gc(JlcJgcJs de> Instituto de Pesquisas
Tccnolc'>gicas de São Paulo, rncJstraram tratar-se l1C urna dc>lina clesenvolvicla nc> rnantci intcmpériccJ que cobre as
rochas carbonáticas, devido ao ccilapso de cavidades prcJfundas na rc>cha. () rebaixarncntc> e.lo nível freáticcJ abaixe>
da zcina de cavidades fcii a causa deJ cc>-
lapseJ destas. Atribuiu-se o rebaixarnentcJ
do nível d'água à sornatória dos cfeitcJs
da épcica de estiagem e da extração ele
água por pclÇCJS lia regiãc>. E~ste acidente
gecJlógicc> causou muita polêmica na
épcica, pcJis foi a primeira dolina de
colapso nc> Brasil que afetcJu urna
zona urbana densamente ocupada.
Apc'is sua estabilização, a área da
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,--; dolina de Cajarnar foi transforma-
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da em praça pública. FenômencJ
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semelhante aconteceu em seguida na


zona urbana de Sete Lagoas, MG.
Aliás, Sete I,agoas deriva seu nome
de sete dolinas com lagos. A forrna-
çãcJ de dolinas representa um
fenêJrnencJ de risco geológico que
Fig. 7.22 Situação estabilizada da dolina de Cajamar em 7/1/87, com
deve ser considerado nc> planejamen-
afloramento do nível d' água no fundo. No início do colapso em 12/8/86, época
to do 11so e cJcupaçãcJ do solo em
de estiagem, não aflorava água.
terrenos carbonáticcis.
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1 40 D ECI FRA N D O A TERRA

abitamos a superfície da Terra e dependemos, Terra. Os produtos dei intemperismo, rocha alterada
para viver, dos materiais disponíveis. F<:stes, em e solo, estão sujeitos ae)s outros processos do ciclo
sua maior parte, são produto das transformaçe)es que supérgeno - ercJsão, transporte, sedimentação - os
a crosta terrestre sofre na interação com a atmcisfera, c1uais acabam levando à denudação continental, com
a hidrosfera e a biosfera, ou seja, são produtcis do o ce)nseqüente aplainamente) do rele,·o.
intemperismo. Constituem a base de importantes ati-
Os fateires que controlam a ação dei intemperismo
vidades humanas, relacionadas, por exemplei, ao cultivo
sãe) ci clima, que se expressa na variação sazonal da
do solo e ao aproveitamento dos depósitos minerais
temperatura e na distribuição das chuvas, o relevo, que
na construçãe) civil e na indústria. A exploraçãe) sus-
influi ne) regime ele infiltração e drenagem das águas
tentável desses recursos depende dei conhecimento de
pluviais, a fauna e flora, que fornecem matéria orgâni-
sua natureza e da compreensão de sua gênese, o que
ca para reações químicas e remobilizam materiais, a
constitui o objetivo principal deste capítulo.
rocha parental, que, segundo sua natureza, apresenta
O intemperismo é o conjunto de modificações de resistência diferenciada acis processos de alteração
ordem física (desagregação) e química (deceimposi- intempérica e, finalmente, o tempo de exposiçãcJ da
çãc)) que as rochas sofrem ao aflorar na superfície da rocha aos agentes intempéricos.

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A

E
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Fig. 8.1 Perfil de alteração ou perfil de solo típico, constituído, da base para o topo, pela rocha inalterada, saprolito e solum. O
solum compreende os horizontes afetados pela pedogênese (O, A, E e B). O solo compreende o saprolito (C) e oso/um.

Descrição dos horizontes:

C - Horizonte de rocha alterada (saprolito). Pode ser subdividido em saprolito grosseiro (parte inferior, onde as estruturas e 'exturas
da rocha estão conservadas) e saprolito fino (parte superior, onde a herança morfológica da rocha não é mais reconhecida).
B- Horizonte de acumulação de argila, matéria orgânica e oxi-hidróxidos de ferro e de alumínio.
E- Horizonte mais claro, marcado pela remoção de partículas argilosas, matéria orgânica e oxi-hidróxidos de ferro e de alumínio
A- Horizonte escuro, com matéria mineral e orgânica e alta atividade biológica .
O - Horizonte rico em restos orgânicos em vias de decomposição.

Perfil de solo. Foto: Alain Ruellan.


CAPÍTULO 8 • INTEMPERISMO E FORMAÇÃO DO SOLO 141

A pedogênese (fclrmação do S()lc)) ocorre q1.1an- predcJn1inantes de atuação, são normaln1ente classifi-
clo as mcidificações causae_las nas rochas pelrJ cadcis e1n intemperismo físico e intemperismo
it1temperismo, além de serem e_1uímicas e mineralógicas, químico. Quando a açã(> (física c)u bioqt1ímica) de
tornan1-se sc)bretudo estruturais, co1n importante re- organismcJs vivos cJu da 1natéria orgânica proveniente
<)rgaoizaçãc) e transferência dos minerais formadcircs de sua decomposição participa do processo, o
de) Scllci - principalmente argílominerais e oxi- intemperismcl é chan1ado de físico-l1iolc'>gico ou guí-
hidróxidc)s de ferro e de alumínicJ - entre os níveis n1i cc>-bicilé>gico.
superiores do manto de alteração. Aí dcsen1penham
papel fundan1ental a tàuna e a tlcJra do scilo que, ao
8.1.1 Intemperismo físico
realizarem suas funções vitais, modificam e movin1en-
tam enclttnes quanticlac!es de material, rr1antendcl o 'fc>d<is <>S prc>cessos que causam desagregação das
solo aerado e renovado em sua parte mais superficial. rcJchas, com separação dos grãos minerais antes ccle-
sos e cc>m sua fragme11tação, transformandc> a rc>cha
O intemperisn1cl e a pedogênesc levatn à forma-
inalterada em n1aterial desctJntinuci e friável, constitu-
ção de um perftl de alteração ci1.1 perfil de solo. ()
e111 o inten1peris111c> físico.
perfil é estruturad<J verticalmente, a partir (1a rocl1a
fresca, na base, sobre a qual formam-se o saprolito e 1\s variações de ten1peratura ao lcJngcl dos dias e
o t,olt1m, que constituem, juntos, cl manto de altera- nc)Ítes e ao !cinge> das Lliferentes estações do ano cau-
ção ou regolito (Fig. 8.1 ). C)s materiais do perfil vãcJ sam expar1são e contração térmica n()S tnateriais
se tcirnando tanto mais diferenciados com relação à rochosos, leva11do à fragmentaçã(l dos grãos mine-
rocha parental em ter1ncls de ccimposiçãcl, estruturas rais. 1\lém disse>, os minerais, com diferentes coeficientes
e texturas, quanto mais afastaclcls se encclntram dela. <le dilataçãc> tér111ica, cc)mpc>rtam-se de forma dife-
Sendo clependentcs do clima e do relevo, o renciada às variações de temperatura, o que provoca
intemperís1no e a pedogênese (JCcJrrem de maneira deslocamentcJ relativo entre os cristais, rompendo a
c1istinta 110s cliferentes cc>111partimentos 111c)rftJ-climá- coesà<J inicial entre els grãcJs. f\ mudança cíclica ele
ticc)s do glc>btJ, levand(> à fc>rmação de perfis de umidade também pode causar expansã<J e ccJ11tração
. ~ . ~ ~ .
alteração con1pcistos de hc>rizontes de diferente es- e, ern assoc1açaci com a var1açac> tern11ca, prc)voca um
pessura e c<)mpos1çao. efetiv<l enfraciuecimentci e fragmentaçãc) das rochas.
f~ste mecanismci é especialmente eficiente nos deser-
t<)s, oncie a diferença de temperatura entre e> clia e a
8.1 Tipos de Intemperismo
noite é muitc> marcada.
()s prc)cesscJs inten1péricos atuam através de me- () c<>ngelarnentcl ela água nas fissuras das r<lchas,
canis1ncis mcJditicadores das propriedades físicas dos acompanhaci<> por um au1nento de vc>lume de cerca
tnmerais e rochas (morfo!cJgia, resistência, textura, etc.), de 9ºÁ,, exerce pressão nas paredes, causa11dcJ esforçc>s
e de suas características quí1nicas (c<>mpcJsiçã<J quími- que terminam pcir aumentar a rede de fraturas e frag-
ca e estrutura cristalina). E1n função dos n1ecanismos mentar a rocha (Fígs. 8.2 e 8.3).

J J J J
J
J chuva J
J J
J J J J
J J J
J J J

a b

Fig. 8.2 Fragmentação por ação do gelo. A água líquida ocupa as fissuras da rocha (a), sendo posteriormen-
te congelada, expandindo e exercendo pressão nas paredes (b).
142 D EC I F RA N DO A TERRA

A cristalização de sais dis-


solvidos nas águas de
infiltração tem C) mesmo efei-
to. C<im o passar do temp<),
o crescimento clesses mine-
rais também causa expansãci
'' '
das fissuras e fragmentaçã<) ~ ,'
''½ -
' "'
...-
"' ~
'

das rochas. Essa cristalização


pocle chegar a exercer pres-
sões enormes scibre as
paredes das rochas, não so-
mente devido ao pr<'iprio
crescimento d<is cristais, mas
também por sua expansão tér-
Fig. 8.3 Bloco de gnaisse fraturado pela ação do gelo nas fissuras (Antártica). Foto: Michael
mica, quando a temperatura
Hambrey.
aumenta nas horas mais
quentes do dia, ciu pela ab-
sorçã<) de umidade.

F,ste tipo de intemperismo físico é um dos princi- pelas soluções percolantes provenientes das chuvas.
pais pr<iblemas que afetam os m<)nl1mentos. C)s sais Há, atualmente, uma grancle precicupação em preser-
mais comuns que se precipitam nas fissuras das rochas var e restaurar m<inument<JS históricos e, por essa razã<),
são cloretos, sulfateis e carbonatc)s originados da prc)- esses pr<Jcessos intempéricos vêm sendo intensamen-
pria alteração intempérica ela rocha, que são disscilvidos te investigad<is.

O intemperismo físico também ocorre quando as


Superfície
partes mais profundas dos corpos roch<)Sos ascen-
dem a níveis crustais mais superficiais. C<)m o alívio
Vários quilômetros · da pressão, <JS corpcis t<Jchos<JS expandem, causando
Rocha Encaixante . a abertura de fraturas grosseiramente paralelas à super-
fície ao long<) da ql1al a pressão foi aliviada. Estas fraturas
recebem o nome de juntas de alivio (Pig. 8.4).

Batólito .. ;:;.:: . ' ' : \ !}~'. <li


' . .

Juntas

de alívio

Soerguimento da região

Fig. 8.4 Formação das juntas de alívio em conseqüência da


expansão do corpo rochoso sujeito a alívio de pressão pela ero-
são do material sobreposto. Estas descontinuidades servem de Fig. 8.5 Ação do crescimento de raízes, alargando as fissuras
caminhos para a percolação das águas que promovem a altera- e contribuindo para a fragmentação das rochas. Foto: Alain
ção química. a) antes da erosão; b) depois da erosão. Ruellan.
Finalmente, outr<J efeito d<i intemperismo físico é e oxigêni<i, é muit<J c-liferente daquele <inde a mai<iria
a quebra das rochas pela pressã<J causada pelei cresci- das r<Jchas se f<Jrmaram. Pc>r esse m<Jtivo, quando as
ment<J de raízes em suas fissuras (Fig. 8.5). rcichas afloram à superfície da Terra, seus minerais
entram em c-lesequilíbri<J e, através de uma série de
Fragmentand<J as rochas e, portanto, aumentancl<i
reações químicas, transf<irmam-se em outros mine-
a superfície exposta ao ar e à água, o intemperism<J
rais, mais estáveis nesse novo ambiente.
físicci abre o caminh<J e facilita ci intemperismo quími-
C<J. A Fig. 8.6 m<Jstra o aument<J da superfície específica () principal agente d<> intemperismo químic<J é a
de um blc>co de rcicha quandci divididc> em blocos água da chu,1a, que infiltra e percola as rochas. Essa
menores. água, rica em(),,
. "
em interação com o CC)?. da atmcis-
fera, adquire caráter ácido. Em ccintato com <> solo,
<Jnde a respiraçãcJ elas plantas pelas raízes e a <>xidação
8.1.2 lntemperismo químico
da matéria cirgânica enriquecem <> ambiente em C()2 ,
() ambiente da superfície da Terra, caracterizado tem seu pH ainda mais diminuídci.
por pressões e temperaturas baixas e riqueza de água

· Bloco único de oproximadomente


l m de lado
70 _,
3
- Volume - l m

2
- Superfície especifica 6 m
"' 50
o
~
7 rr,
fü -10
E
8'
~
30
u..
10

20

6 9 12 15 18 21 24
R.uptura ao
longo de Superfície específica total ( m")
fraturas

- 8 fragmentos, cada um
com aproximadamente
0,5 m de lado

3 3
- Volume = ( 0,5 ) x 8 = l m

3
· Superfície específica 12 m

.-"•-·

·1,,·;i. ...

Fig. 8.6 A fragmentação de um bloco de rocha é acompanhada por um aumento significativo da superfície exposta à
ação dos agentes intempéricos. Neste exemplo, um bloco de rocha aproximadamente cúbico, de 1 m de lado, apresenta
uma área exposta de 6m 2 ; quando dividido em oito volumes cúbicos de 0,5m de lado, passa a apresentar superfície
exposta de 12m 2 • O gráfico mostra que a superfície específica aumenta geometricamente com o aumento do número de
fragmentos em que é dividido o bloco.
144 D EeI FRA N oo A TERRA

As equações abaixe) representam eis equihbric)s de as micas mais c)u menos transformadas, eis argilominerais
H 2() com C() 2 : e-lo grupo da caulinita e da esmectita e os c)xi-hidróxidos
ele ferro e alumínio. Cc)mplementarmente à geração
C~C)2 + HzC) ➔ H2CC)1
de) manto de alteraçãc), é produzida uma fase líquida
HZCC), ➔ H~ + HC:CJ, cclmposta de sc)luções aquosas ricas nc)s elementos mais
solúveis nas condições reinantes na superfície da Ter-
HCC) -➔ H+
1 + CC)12- ra, tais como o sóelio, o cálcio, o potássio e o magnésio
C~uancio a degraciaçãci da matéria c)rgânica não é e, em menor grau, cJ silício.
ccimpleta, vários tipos ele áciclc)s orgânicos são fcJr- 1":m perícidos de estabilidade tectônica, quando os
mados e incorpcJrados às águas percolantes, tornane-lo-as continentes estão recobertos pc)r vegetação, essas so-
muitcJ ácielas e, consec1üentemente, aumentanelo seu luções sãci lentamente drenadas do perfil de alteração,
pc)der de atae1ue cm relação aos minerais, intensifican- indcJ depositar-se nos compartimentos rebaixados das
clcJ assim o intemperismci químico. paisagens, entre os quais os mais importantes são as
()s ccJnstituintes mais sc)lúveis elas rcichas bacias de sedimentação marinhas. Assim, enquanto e)
intemperi%aelas sãcJ transportadcJs pelas águas que dre- ccintinente sofre principalmente erc)são química, que
nam e) perfil de alteração (fase solúvel). Em leva aci rebaixamento de sua superfíce, nas bacias
conseqüência, o material que resta nci perfil de altera- sedimentares precipitam-se essencialmente sedimentos
ção (fase residual) torna-se progressivamente químicos, que darão origem às rochas sedimentares
enrie1uecido nos ccinstituintes menos solúveis. f~sses químicas, tais comoº" calcários, cherts e evaporitcJs (ver
constituintes estãc) nos minerais primários residu- Cap. 14).
. . ~. ,. . .
ais, que resistiram a açacJ 1ntemper1ca, e nos m1nera1s Mudanças climáticas e fentimenos tectôniccis po-
secundários que se fc)rmaram no perfil. Dentre c)s dem colcicar em desequilíbrio ci mantcJ de alteraçãc)
principais minerais residuais, o mais comum é o quartzc). dcJs ccJntinentes, removendc) a vegetacão e tornando-
()s minerais secundários sãci chamadcJs de º mais vulnerável à erosãc) mecânica. Dessa forma, os
neoformados quandci resultam da precipitaçãci de minerais primáricis e secundários formados no perfil
substâncias elissolvielas nas águas e1ue percc)lam CJ per- serãc) carregados pelas águas e depositados nas bacias
fil, ccimo é C) casei, peJr exemplo, deis oxi-hielrc'ixielos ele sedimentação. Essa etapa do aplainamento deis con-
de ferre) e de alumínio. QL1anelo se feirmam pela tinentes dciminaela pela remoçãci mecânica dc)S materiais
interação entre as soluções de percc)lação e eis mine- de) mantci de alteração está relacionada à geração das
rais primáric)s, mc)elificando sua compcJsição química, rcJchas sedimentares elásticas, tais como os arenitos,
porém preservandci pelcJ menc)s parcialmente sua es- fc>lhelhos e argilitc)s (ver Cap. 14).
trutura, sãc) chamaelos de minerais secundários
1\mbientes de intemperismcJ e ambientes de sedi-
transformados. A transfcirmaçãc) ocorre essencial-
men taçãc) podem ser vistcJs, portantcJ, como
mente entre os filcJssilicatc)s, ccJmo no cascJ elas micas
complementares, sendo dominantes nos primeiros os
(fileissilicatcJ primário) alteraclas em illitas c)u
processos de subtraçãci de matéria e, nos últimcJs, os
vermiculitas (filc)ssilicatcis secundários).
prcicessos ele adição ele matéria.

8.2 Intemperismo, Erosão e


8.3 As Reações do Intemperismo
Sedimentação
As reações do intemperismo químico podem ser
() intemperismci é um elo importante no ciclci das
representadas pela seguinte equaçãci genérica:
rochas, estane-lci sua atuação estritamente relacicinada à
gênese das rochas sedimentares. lviineral I + soluçãci de alteração ➔ lvfineral II +
solução de lixiviaçãci
()s preJcessos intempériccis atuando sobre as rc)-
chas individualizam Lima fase residual que permanece Estas reações estão sujeitas às leis do equilíbrio quí-
in situ, cc)brindo eis ccJntinentes, e que é formaela pc)r micci e às oscilações das cc)ndições ambientais. Assim,
minerais primáricis inalteradc)s e minerais secund.ários se ccJmponentes, como a própria água, são retirados
transfcirmaclcis e necifc)rmadc)s. As principais asscicia- eJu adicionados, as reações poderão ser aceleradas ou
ções rninerais cio manteJ de alteração incluem o quartzc), retardadas, ou seguir caminhos diferentes, gerandci
diferentes minerais secundáricis e diferentes solucc°íes
o Hidrólise
de lixiviação.
(_)s principais minerais formadcires das rochas, que
Na maior parte dos ambientes da superfície da são eis silicatcis, podem ser C<)ncebidos com<) sais de
Terra, as águas perccilantes têm pH entre 5 e 9. Nesses J
um ácic1o fracc) (H 4Si0 e de bases fortes (Na()H,
ambientes, as principais reações do intemperismci sã<) l(()f1, Ca(()H) 2 , í\íg(OH)J. Quando em contato ccim
hidratação, dissolução, hidrólise e oxidação. Em a água, <JS silicatc1s sofrem hidrólise, resultandc) numa
alguns ambientes, <J pH das águas pode ser infericir a sciluçãci alcalina, pele) fato de ci H4Si() 4 estar pratica-
5 e, neste casei, aci invés da hidrólise, a reaçãci predo- mente indissociado e as bases muitci dissciciadas.
minante é a acidólise.

co2
Hidratação co,

A hidratação dos minerais ocorre pela atração en-


tre os dipcilos das moléculas de água e as cargas elétricas Pequena proporção de
não neutralizadas das superfícies deis grãos (Fig. 8.7). cq, moléculas de C0 7 no ar
Na hidratação, mciléculas de água entram na estrutura
mineral, modificando-a e formandci, portant<J, um
dissolve em gotas de chuva
n<JV<J mineral. Como exemplo, pode-se citar a trans- para formar ácido carbônico
formação de anidrita em gipso, segundo a reação: cq,
(H 2 C0 3 )-

Uma pequena proporção de


moléculas de H 7 C0 3 ioniza

Argilomineral formando íons H' e HC03


(bicarbonato) tornando as
+ + - gotas levemente ácidas.
H H
- +
o ·- -
- + A água levemente ácida
dissolve potássio e sílica
-
- do feldspato

Molécula de água
- +
-
+
( H20) -
Fig. 8.7 As cargas elétricas insaturadas na superfície dos
grãos minerais atraem as moléculas de água, que funcio-
nam como dipolos devido à sua morfologia.

que se recombinam em
caulinita neoformada; os
Dissolução íons hidrogênio são retidos
na água do argilomineral.
1\lguns minerais estão su1e1tos à dissolução, l)Ue
,
consiste na S<)lubilizaçãci completa. E o casei, por exem-
Sílica, íons potássio (K')
plo, da calcita e da halita, que entram em scilução
e bicarbonato (HC0 3) são
conforme as equaç<)es abaixo:
lixiviados em direção aos rios.

CaCO,- ➔ Ca2+ + colz-


-

Fig. 8.8 Alteração de um feldspato potássico em presença


de água e ácido carbônico, com a entrada de H+ na estrutura
A dissolução intensa das rochas, que <)ccirre mais do mineral, substituindo K~. O potássio é totalmente elimina-
comumente em terrenos calcários, pode levar à for- do pela solução de lixiviação e a sílica apenas parcialmente; a
mação de relevos cársticos, caracterizados pela presença sílica não eliminada recombina-se com o alumínio também não
de cavernas e dcJlinas (ver Cap. 7). eliminado, formando uma fase secundária argilosa (caulinita).
1 46 D Ee I F RA N o o A T ERRA

C) Í<in f-I ·, resultaclci ela il>nizaçà<J da á1-,ri_ta, entra nas


estruturas minerais, clesl<icanelci principalmente (JS cátilins 12 .,.·
alcalin<is (I<+ e Na") e alcalin<i-terrcJS<Js ((~a.,' e i\lg2 1
),

que sàci liberados para a SlJluçàcJ. J\ estrutura ei<> mineral 10


na interface sólid<i/ sciluçà<J ele alteraçà<J acaba sencllJ rlin1-
piela, liberanclci Si e t\1 (átcimcis iscJladlis: m(Jnêin1er(JS, o 8
em grup<is: p<ilímercis) na fase líc1üiela. f~sses element<JS -'-
·-
'-
AIIOH) 3

poelem recomlJinar-se, resultaneici na necJf<Jrmaçàl> ele 8_ 6


minerais scct1nclárÍ<)s. i\ I~ig. 8.8 m<istra <J ese1uema ele C/J
Q)
alteraçàlJ de um felelspat<J em um mineral secLtncláricJ o 4
nccifcirmadc), a caulinita. Na 1,'ig. 8.9, um cristal ele E
felelspatci cm ,rias de altcraçàcJ pcir dissciluçà<J, sem f<ir- ~2
mação de prcidutcis secundários ele prccipitaçà<J imeeliata,
dá uma ieléia da perela ele matéria e ela geraçà<J ele
p<ir<isidacle causaelas pelei intcmperism<i químicl>.

o 2 4 6 8 10 l2

pH
Fig. 8.1 O Solubilidade da sílica e do alumínio em função do
pH, a 25"(. Até valores de pH de cerca de 8, a sílica é pouco
solúvel; sua solubilidade aumenta em meios mais alcalinos. O
alumínio é praticamente insolúvel no intervalo de pH dosam-
bientes normais na superfície (4,5 a 9,5); en1 meios muito
ácidos ou muito alcalinos, é solubilizado como AI'' e AI02·,
respectivamente.

mente elin1inada se as Sliluçc)es de alteraçà<J perma-


necerem cliluíclas, <J e1ue accintece en1 C<>ncliçc)es ele
plt1,·icJsiclaele alta e clre11agen1 eficiente clcJs perfis.
() resíeluci ela hielrc'Jlise t<>tal d<> I(-felcls11at<J é e>
hielr<Íxielci ele alu111íni<i (gib!Jsita), ins<Jlúvel nessa
Fig. 8.9 Imagem obtida ao Microscópio Eletrônico de Varre-
faixa ele plf (I<'ig. 8.1 O).
dura, mostrando feldspato parcialmente dissolvido ao longo
das clivagens pelo intemperismo químico. Foto: A. Alcover Neto. I<.AlSi,()8 + 8 1-12() ➔ i\l(( )11) l + 3 I I ISi() .j + !(' + () f 1

1\ hielrcílise <1cc1rre sempre na faixa ele pl-I de _"i a 9. Hidrólise parcial


Se há, n<J mci<i, c<inc-liçi:ies ele ren<ivação e-las sciluçc)es
reagentes, estas mantêm-se sempre diltiídas, e as rea- Na hiclrt'Jlise parcial, em funçàci ele C<Jncliç<)es
Çl)es podem pr<Jsseguir, eliminanelci eis Cllmpcinentes de clrenagem men<is eficientes, parte ela sílica per-
scilú,,eis. () grau ele eliminaçãcJ d<is element<Js/ subs- manece nci perfil; CJ p<Jtássi<J p<lcle ser t<ital cJu
tâncias dissolvielcis define a intensidade de hiclrcílise. parcialmente eliminacl<). b:sses element<Js reagem
Por exempl<i, no cascJ dcJs feldspatcis plltássiccis, p<i- c<im cJ alumíni<J, f<irmanclcJ alumincissilicatcis
dem-se distinguir: l1idratadc)s (argilominerais).

b'.m funçà<J clci grau d.e eliminaçãci eicJ p<ltássÍc),


Hidrólise total eluas situaçé'íes sà<J p<issíveis:

• 100'1/,, c1<1 pc)tássi<J é eliminaclcJ em s<iluçãcJ:


Na hidrólise t<ital, 100°/.1 da sílica e do p<Jtássici
são eliminad<is. A sílica, apesar de p<luco solúvel na 2 J<:_;\lSi,C)H + 11 l-I2() ➔ Si2Al2(),(C)}{).j + 4 H4Si().j +
faixa de pJ-I da l1iclrólise (Fig. 8.10) pllde ser t<>tal- 2 1z+ + 2 ()l-í
Nesse cas<>, fe>rn1a-se a caulinita, C<>m climinaçà<> 1\ acidólise parcial <JC<Jrrc quandci as S<Jluçc)cs c.lc
ele 6(>'1/o ela sílica e pern1anc'ncia de te>d<l <l alumí11ic>. ataque apresentatn pH entre 3 e 5 e, nesse cas<J, a re-
• r,arte ele> p<ltássic, nà<> é elin1inacla cn1 s<,luçà<,: 11,<>çà<> c.lc> alun1ínici é apenas parcial, levanc.lc> à
inc.liYidualizacà<l
·'
de csmectitas alumin<isas:
2,3 IS.:.1\!Si 1( ), + 8,4 11,<) ➔ Si 1_ 1\t, C\ 11 ;\J" (< )li), IS.:.11 ,
+ .),2 I IISi( )1 +21( 1 + 2( )] 1 !(;\]Si, () 8 + .)2 1-1' ➔ 3 Si,." 1\1 11 ,
<) ()
111
;\L, (C)H) 2
+ 1,5 1\I'' + 9 I(' + <i,5 l l 1SiC) 4
1\e1ui fc,rn1a-sc <>utre> tip<> ele argil<Jn1ineral, a
es111cctita, cc>m eliminaçàc> de 87'½, clel p<>tássi<l, 4<i(½,
Oxidação
da sílica e pcrn1anê11cia de t<ld<l e> alu111ínic>.

Nc> caS() de hielrc>lisc t(ltal, alc'tll e!() alumínicl, tam- ;\l,guns elemcnt<JS p<leiem estar presentes n<JS mt-
llét11 <> fcrr<> rler111anecc 11<> \'1erfil, já e1uc esses elc>is ncrais e111 n1ais c.lc u111 estadc> ele c>xiclaçãci, ccimc>, p<lr
clc111ente>s tê111 C<>t11pc>rtan1cnt<> gecJquímicci tnuit<J excn1plcl, ci ferrei, que se cnc<>ntra ncls minerais ferr<J-
se111clhante n<i d<imínici hielre>líticc>. ;\e> prclccsse> de n1agncsiancis primáricis c<imc> a bic>tita, anfib<'llicis,
elin1inaçà<> t<ital ela sílica e fiirtnaçàel de <lxi-hiclrc>xidcis pircJxênicis e <Jli,,inas sc>IJ fc>rma de fc 21 . Jj\,craei<i cm
de alumínici e ele ferrc> elá-sc <> ncin1e de alitização <>u scJluçà<>, <>xiela-se a J-,'c 1 +, e precipita C<JtTicJ um n<>V<J
ferralitização. n1i11eral, a g<>cthita, c.1uc é t1111 <'>xid<J de ferro hiclratadcJ
(1-'ig.8.11):
Nci cas<> ele hidrc'ilisc parcial, há a fclrmaçà<J ele
silicatc>s de alumíni<>, e <> prc>cessc> é gcnerican1ente
elcnci111inad<i sialitização. (Juanelc> sà<J clriginael<is
argilclmincrais ele> tipci ela caulinita, e111 e1ue a rela- ;\ gc>ethita p<lele transf<Jrmar-sc c111 hematita p<ir
c.lcsic-1 ra taçàc>:
çà<J de át<>m<>s Si:1\l é 1:1 (uni át<imc> e-le silíci<i para
uni ele alumíni<i na mc>lécula), fala-se ele
monossialitização. Nc> cas<> ele sere111 f<JrmadcJs
argil<Jtninerais ele> tip<l csmcctita, cn1 que a relaçà<>
Si:;\] é 2:1 (el<lis átclm<>s ele silícicJ 11ara uni ele alu-
míni<> na mc>lécula), <> prcJcess<> é a bissialitização.

Acidólise

Na maicJr parte c.la st1pcrfícic elcJs continentes,


<JS prcicessc)s intcmpériccJs sà<J ele natureza Piroxênio rico em ferro,
liberando sílica e íons
hielr<ilítica. Ncl entanto, em ambientes mais fric>s, ferrosos para a solução.
<Jnelc a c.lecc>mp<isiçãe) c.la matéria orgânica nãcJ é
t<>tal, fcirmam-se ácid<>s orgânicc>s que c.liminuem
bastante <J pH das águas, send<J assim capazes ele
Ferro ferroso é oxidado
complcxar <> ferre> e e> alt1mínicJ, C<Jlcicanc.lo-cis cm pelas moléculas de
oxigênio, formando ferro
sc>luçãc>. Nestes dcJmínic>s e-lc pl--I < 5 nà<J é a férrico.
hidrc'Jlisc, mas a acidólise <J prcJcesscJ d<iminantc
ele dec<JmposiçãcJ elc>s minerais primáricis.

No casei do feldspatci pcitássiccJ, <Jcorre acidólise


Ferro férrico combina com
total, quandci as scJluçõcs de ataque tiverem pH me- água precipitando produtos
ferruginosos.
nor que 3, fazendcJ c<im qt1e t<ic.lcJs <JS clemcnt<JS entrem
cm s<ilucãcJ:
..

I<:.1\I Si3 ()8 + 4I-1' + 4 I-l 2C) ➔ 3 H4SiC)4 + Al'+ + J<:.+


1\s rcichas que sc>frem aciclc>lise tcJtal geram sol<is
constituídos praticamente apenas d<Js minerais primá- Fig. 8.11 A alteração intempérie□ de um mineral com Fé'-
ri<is mais ins<ilúvcis ccJm<i o quartzo (solos resulta, por oxidação do Fe2 + para Fe 3 ' , na formação de um
podzólicos). oxi-hidróxido, a goethita.
148 D ECI FRA N D O A TERRA

() Fe 3+ não entra na estrutura da maic)r parte dos 8.4 Distribuição dos Processos de
argilominerais. Apenas em certas esmectitas
(nontronitas) pc>de ser encontrado substituindo ei Ali+_
Alteração na Superfície da Terra
Mais raramente, em quantidade muito pequena, pode A distribuição potencial dos processos de altera-
sulJstituir o Ali+ nas caulinitas. De meide) geral, ne> çãc) na superfície da Terra na escala do planeta, em
domínie) da hidrc>lise teital e)u da hidrólise que leva à função de)s parâmetros climáticos atuais, está repre-
mone)ssialitizaçãe), o ferro é individualizade) cm óxi- sentada na Fig. 8.14. Esse esquema distingue
dos e oxi-hielróxide)s (hematita e geiethita, basicamente dois domínie)s:
principalmente). F,sses minerais ce)nfercm às ceJbertu-
ras intempéricas tons de castanho, vermelho, laranja e • Regiões sem alteraçãe> química, correspondendo
amarele>, tão comL1ns nos sc>leJs das Ze)nas tropicais. a 14°/ti da superfície de>s continentes;

Genericamente, dá-se o nome ele lateritas às for- • Regiões com alteração química, correspc)ndcndo
mações superficiais constituídas pe)r e)xi-hidróxielos de a 86% da superfície dos ce>ntincntes.
alumínio e ele ferre) e por caulinita. Ao conjunte> de As regiões sem alteração química são aquelas ca-
, . . ~ . .
processos respe)nsavets por essas asse>c1açc)es m1nera1s, racterizadas por uma carência total de água ne) estado
respectivamente, alitização e monossialitizaçãe), dá-se líquidc), e> que pode resultar de duas situações:
o ne)me de laterização.
a) as temperaturas reinantes são inferiores a O'C,
Todas as reações do intemperismo químico acon- d.e tal sorte que a ág.1a se encontra sempre no estadc)
tecem nas descc)ntinuidades das rc)chas, pe>clenclo sólidc): são as Zc)nas polares;
resultar no fenômeno denominado esfoliação
b) o meio é caracterizado por uma secura extrema
esferoidal. As arestas e os vértices dc)s blocos rc)cho-
devido à ausência de chuva, eiu por forte evapciração:
sos são mais exposte)s ao ataque elo intemperismo
são c)s deserte)s verdadeiros, ce)me) e> Saara, o Atacama
químico que as faces, o que resulta na formaçãc) ele
e e> Gobi.
blocos ele formas arrcdondaelas a partir de formas
angulcJsas (Figs. 8.12 e 8.13).

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Ataque ern
• Ataque ern
dois lodos . uni lodo

Progressivo redução
do cubo er11 esfera

Fig. 8.12 A alteração esferoidal resulta na produção de formas ..... ,_


.
~-•"#·,.- ·'Jlil·· _.,
.
. -
°'""""'!...
fi"" -~-- -.,.. . .
......

arredondadas a partir de formas angulosas de blocos de rocha. -··,, .,,


' '
-~- .. ''

As formas arredondadas podem apresentar-se escamadas, como


.> J;, : ..._, , .,.;t,,·-~-- 2
mostra a Fig. 8.13. Este fenômeno deve-se à maior rapidez do Fig. 8.13 Alteração esferoidal em bloco de rocha ígnea, com
ataque do intemperismo nos vértices e arestas dos blocos rocho- escamas concêntricas, sendo as mais externas mais alteradas
sos, em relação às faces. que as mais internas. Fonte: Plummer & McGeary, 1996.
CAPÍTULO 8 • INTEMPERISMO E FORMAÇÃO DO SOLO 149 ~··1':

As regiões com alteração química correspondem plex<Js cirgâniccis capazes de fazer <J alu1nínicJ migrar
ao restei dei globo e são caracteri'.i'.adas, ao mesmci pcJr acic.l(ilise tcital. ()s scilcis resultantes sãcJ scil<)S
tempo, pcir uma certa umidade e pela existência de pcidzc'iliccis, riccis em c.1uartzcJ e em 111atéria cirgânica.
cobertura vegetal mais <)U menos desenvolvida. Trata- 1\ Z<Jna e.la acid<'>lise total c<Jrrespcinde à Z<Jna
se de um domínio heterogêneo, que é subdivididci em circump<Jlar cio hemisféric) ncirte.
quatro zonas de distribuição grosseiramente latitudinal,
• ZcJna da alitizaçào (13,5°/o da superfície continental)
em função de suas características climáticas:
CcJrrespcinde às regic)es de> domínicJ tropical, ca-
• Zona da acidólise total (16°/o e.la superfície continental)
racterizadas por precipitaçà<J abunc-lante, st1peric1r a
São as zonas frias do globo, oncle a vegetaçãci é 1.50() mm, e vegetaçã<J exuberante. 1\ associaçã<J mi-
composta principalmente pcir líquens e cciníferas, cujos neral característica é de cixi-hidróxic.icJs ele ferre> e de
resíducis se degradam lentamente, fornecenc1o ccim- alumínici, gcJethita e gibbsita, respectivamente.

o
o o

ó
= ó

2 o

Oº 7
2
3
2 o
5

o
D
7

750° 120º 90º 60º 30º 30º 60º 90º 720° 150º 780º

l Zona da alitização
Sem alteração química
2 Zona da monossialitização (aridez e gelo)
3 Zona da bissialitização
4 Zonas muito áridas, sem alte-
- , .
raçao qu1m1ca
Acid6lise total Monossialitização
5 Zona da acidólise total
6 Zonas cobertas por gelo
7 Extensão aproximada das áre-
39%
as tectonicamente ativas (TA),
nas quais os tipos de
intemperismo encontram-se Bissialitização
modificados

Fig. 8.14 Distribuição dos principais processos de intemperismo na superfície da Terra.


1 50 D Ee I FRA N oo A TERRA

• Zona da monossialitizaçãel (1 sc1/o da superfície con-


tinental)
,J,
. '"I

Está contida nel domínio trelpical sub-úmidel, celm
precipitaçãel superior a 500 mm e temperatura média
··-.._,··· .
.
,,,
('

anual superielr a 15ºC. C)s principais minerais felrma-


dos são a caulinita e os oxi-hidróxidos de ferrei.

• Zona da bissialitização (39c1/c, da superfície continental)

São as zonas temperadas e áridas, onde a alteraçãci ",,,,'


"""''' ,,,,,,,,,,' ' ' '

e lixiviaçãcJ são pouce1 intensas, resultando na forma- ,, , i~M,&,..;,>1<••·• ",

çãei ele argilominerais secundários em silíciei. F,ssa zona


engloba tantei ei ambiente hielrolítico de fcirmaçãeJ de
esmcctitas ricas em elementeis alcalinos e alcalino-
terrclscis, como o ambiente da acidéilise parcial, onde .
. .

·~"l· ,.
se formam as esmectitas alumineJsas.

F~sse esquema, válido na escala do planeta, poele ser


bastante me1dificaelo por ccindiçc'íes lcicais de relevo,
micreiclima, tipo liteiléJgico predominante, etc. Na Bacia
Amazônica, por exemplei, eml1ora o processeJ elomi-
nante seja a laterização, sobre rochas ricas em quartzo
pode ocorrer uma acidéJlise secundária, resultanele> na
perda de argilas e levando à formaçãci de verdadadeiros
seJlcis peldzólicos.

8.5 Fatores que Controlam a Fig. 8.15 Rochas diferentes expostas na mesma época
Alteração Intempérica (década de 1960), apresentando diferentes graus de alte-
ração. A escultura, em mármore, encontra-se bastante
Várias características deJ ambiente cm que se prcJ- alterada, enquanto o túmulo, em granito, está bem melhor
cessa o intemperismo influem diretamente nas reaçe:íes preservado. Foto: M. C. M. de Toledo.

de alteraçãcl, no que diz respeito à sua natureza, vele1ci-


elade e intensidade. São os chamae-los fateires ele controle
do intemperismci, basicamente representae-leJs pelcJ
(ver Cap. 16), que representa a cirdem de cristalização
material parental, clima, topografia, biosfera e tem-
dos minerais a partir do magma. Assim, ccinsideran-
po.
dei a seqüência de minerais máficos, a cJlivina, primeireJ
mineral a cristalizar-se, a cerca de 1.400º C, é o mineral
Material parental mais suscetível à alteração; em seguida vêm cJs
piroxênie1s, eis anfibólios e as micas, cristalizados a tem-
A alteração intempérica das rochas depencle ela
peraturas mais baixas. Considerande1 a seqüência dos
natureza de1s minerais constitutintes, de sua textura
plagioclásie1s, a anortita apresenta ponto de fusãeJ má-
e estrutura. Pe1r exemplo, uma rocha silicática como
ximo e a albita, mínimo. Os I(-feldspatos fundem a
cJ granito é mais resistente à alteração que uma ro-
temperaturas ainda mais baixas. i\ssim, são mais sus-
cha carbonática, como o mármcire (Fig. 8.15).
cetíveis à alteraçãeJ intempérica, pela eJrdem, anortita,
Entre os minerais constituintes das rochas, alguns albita e !(-feldspato. O quartleJ, último mineral a cris-
são mais suscetíveis que outre>s à alteração. A série de talizar-se, já a temperaturas próximas de 500'C, é o
Goldich (Tabela 8.1) representa a seqüência ne1rmal mineral comum mais resistente ao intemperismei. Não
de estabilidade dos principais minerais frente ao é, entretanto, inalterável, pois, em condições de clima
intemperismo. Para eJs minerais silicáticcis de origem tropical muito agressivas, o intemperismo químico
magmática, esta série é equivalente à série de Belwen peide dissolvê-lo.
Tabela 8.1 Série de Goldich: ordem de estabilidade frente ao intemperismo dos minerais
mais comuns. Comparação com o série de cristalização magmático de Bowen.

ESTABILIDADE DOS VELOCIDADE DE ,


SERIE DE BOWEN
MINERAIS INTEMPERISMO

Mais estável Menor


Óxidos de ferro
(hematita)

Hidróxidos de alumínio
(gibbsita) ,
Ultimo a cristalizar
Quartzo
Quartzo
Argilominerais

Muscovita
Muscovita
Ortoclósio
Albita
Ortoclósio
Biotita
Biotita
AI bita

Anfibólios

Piroxênios Anfibólio

Anortita Piroxênio

Olivina Anortita

Calcita Olivina

Halita

Primeiro a cristalizar

Menos estável Maior


-- ..... -----------------

Como conseqüência dessa diferenciação de com- água, ocorre hidratação pela atração entre os dipolos
portamento dos minerais frente ao intemperismo, da água e as cargas superficiais (Fig. 8.7), podendo
os perfis de alteração serão naturalmente enrique- esta atração ser forte o suficiente para ionizar a água.
cidos nos minerais mais resistentes, como o quartzo, Os íons H+ assim gerados substituem os cátions
e empobrecidos ou mesmo desprovidos dos mi- · nas superfícies dos grãos minerais, o que resulta no
nerais mais alteráveis, como a olivina. aumento do pH da fase líquida. Assim, a presença
de minerais portadores de elementos alcalinos e al-
A composição mineralé)gica da rocha em vias
calino-terrosos possibilita a instalação de um pH
de alteração modifica o pH das soluções percolantes
mais alcalino nas águas que os percolam, enquanto
em função das reações químicas que ocorrem.
minerais sem estes elementos geram condições de
Embora a carga elétrica global das estruturas mi-
pH mais ácidas.
nerais deva ser nula, a superfície dos grãos pode
conter valências insaturadas. Em contato com a
152 D EeI FRA N oo A TERRA

Uma idéia liesta cliferença é dada pela escala de A textura da rocha original influencia o intemperismo,
pH de abrasão (Tabela 8.2). O pH de abrasào é de- na medida cm que permite maior ou menor inftltraçào
terminado experimentalmente através da medida d<i da água. Entre cis materiais sedimentares, os arenosos
pH d.a suspcnsàc) formada plir água destilada e áciclli tendem a ser mais permeá,·eis que os argilosos. C:c)nsi-
carbtinic<i cm ccintato, durante um certo tempci, ccim derando <JLttros tip<lS de r<ichas, aquelas cc)m arranjei mais
a fase mineral pura moída. Na natureza, onde rara- compactei e texturas mais greJssas (menor superfície es-
mente as rochas sàci monominerálicas, eis valcJres lie pecífi.ca dos gràcJs) alteran1-se menos rapidamente que
pH resultantes do cc)ntato e1elas com as águas sào a as menos compactas e de texturas mais finas. Outras
média peinderada d<is valores relativ<JS às fases mine- clescontinuidadcs, ceJmo juntas e diáclases, também faci-
rais presentes. (_) pH e1epende também do tcmp<l ele litam a percolaçà<i elas águas e, portanto, a alteração. E
,

contato das S<)luçõcs com os gràcJs minerais e pelcle nesse sentid<) que <J intemperismc) físicci, com seu efeito
variar dentro do perfil, de acordo com cJs minerais l1esagregadcir do material original, contribui para acele-
presentes. 1\ b<ia circulaçào das S<)luç<>CS no perfi.l le\·a . . ~

rar o mtempensm<i c.1u1m1ceJ.


.

à homogencizaçà<) dli pH. Assim, nas partes deis per-


fis <Jndc a alteraçào se processa já há algum tcmp<l, a Na Fig. 8.16, polle-se observar o efeito, após erosào,
circulaçàcJ das á!-,ruas é mais intensa e o pH das SlJlu- do chamado intemperismo lÜferencial. A rocha da base
ções é mais heimogêneo. Nas zonas mais pr<ifundas da seqüência foi mais intemperizada, tornando-se friável
d<J perfil, <indc a alteraçào é incipiente pelo fatei c.le as e sendo mais erodida que a rc)cha da parte superior, que
descontinuidades serem mais fechadas, restringind<J a fica suspensa, ainda coesa, não afetada pelos agentes
circulaçào das águas, a variaçào do pH das sciluçc"'ies é erosivos que atuaram na área. Efeito semelhante ocorreu
muit<J maior, diferindo de um ponto a outro, em fun- nas rcJchas vulcânicas e sedimentares da Bacia deJ Paraná,
cào de) contato com um ou outr<) mineral. onde as camadas de derrames basáltic<Js foram menos
'

Tabela 8.2 Valores de pH de abrasão para os principais minerais

Mineral Composição pH de abrasão

diopsídio CaMg(SiOa)2 10 - 11
olivina (MgFe) 2Si0 4 1O - 11
hornblenda (CaN a) 2(M gF eA 1}s(AISi) 8 0:i 2(0H )2 10
leucita KAISi 20s 10
CI) ai bita NaAISi30a 9 - 10
-o
CIS
u
biotita K(Mg Fe)3(Al)Si3Ü1o(OH)2 8 - 9
·-
-c.n
·-
microclínio KAISi 30a 8 - 9
anortita CaAl2Si20a 8
hiperstênio (MgFe)2Si20s 8
muscovita KAl2(Al)Si 301o(OH) 2 7 - 8
ortoclásio KAISi30a 8
montmorillonita AbSi401o(OH) 2.nH 20 6 - 7
caulinita AbSi20s(OH)4 5 - 7

li)
o gibbsita Al(OH) 3 6 - 7
·-
"C

,o
)(
quartzo
Hematita
Si02 6 - 7
Fe.zOa 6
i'.:;\:<
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G, . •
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·····.•. <J :.· ,;. ,•···.
intemperizadas e, assim, mais preservadas da erosãci, que J\ velocidade da alteração de um mesmcJ tipo de
as rochas sedimentares sobre e subjacentes. O resultadc> n1aterial pode mcJdificar-se com o tempo. Por exem-
é eJ relevo em forma de ruestas. plei, um derrame vulcânico recém-formado apresentará,
nci início de sua exposição aos agentes intempéricos,
uma alteração mais lenta, de,·ido à limitacla infiltraçãeJ
das águas. Com o desen,TcJl,·imentc> de material
intemperizado na st1perfície do derrame, ha,,erá pre)-
gressi,,amente condiçe1es para que as águas se infiltrem
cada ,,ez mais e permaneçam mais tempo em contate)
ccim eis materiais ainda inalterados, promcJvendcJ as re-
ações químicas de forma mais eficiente que no início.

Clima
() clima é ci fateJr qt1e, iscJladamente, mais influen-
Fig. 8.16 O intemperismo, desagregando e decompondo os
cia ncJ intcmperismo (Fig. 8.17). i\fais deJ que qualquer
rochas, preparo o material poro o erosão. Assim, rochas me- outreJ fator, determina o tipcl e a ,Telcicidade do
nos intemperizodos serão menos afetados pelo erosão. No intemperismo numa dada região. C)s dciis mais im-
fotografia, observo-se que o erosão incidiu mais fortemente no portantes parâmetros climáticeis, precipitaçãcJ e
rocha inferior, mais afetada pelo intemperismo. Fonte: Plummer, temperatura, regulam a natureza e a velocidade das
C. & D. McGeary, com permissão da .McGrow Hill Companies. reações químicas. 1\ssim, a quantidade de água dispo-

Físico moderado

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-+- --- -t"'~:!
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\
Pluviosidade anual (cm)
\
1
\
Fig. 8.17 O papel do clima é preponderante no determinação '

do tipo e eficácia do intemperismo. O gráfico mostra os variações


,,' , '•,
das condições de intemperismo em função da pluviosidade anual ·-. ', (~';:
e da temperatura médio anual. O intemperismo físico predomina
nas áreas onde temperatura e pluviosidade são baixos. Ao contrá-
60º .. -\ .

rio, temperatura e pluviosidade mais altos favorecem o


intemperismo químico. No mapa estão representados os diferen-
tes regimes de intemperismo 8177 várias regiões do continente ' ' ' ' ' ' ' ' "·"

ail7encano.
1 54 D EC I FRA N D O A T ERRA

nível nos perfis de alteração, fornecida pelas chuvas,


bem como a temperatura, agem no sentido de acele-
rar ou retardar as reações do intemperismo, ou ainda o
o
modificar a natureza dos produtos neoformados, se- (/)

gundo a possibilidade de eliminação de componentes


oe
potencialmente solúveis. o
oxi-hidróxidos de
Quanto maior a disponibilidade de água (pluviosidac-le ferro e de alumínio
. .
total) e mais freqüente for sua renovação (distribuição
êouÍinita
das chuvas), mais completas serão as reações qwmicas
do intemperismo. A Fig. 8.18 mostra que a quantidade e
a natureza dos produtos do intemperismo estão muito l .000 2.000 3.000 4.000
bem correlacionadas com a precipitação média anual.
Pluviosidade anual ( mm )
A temperatura desempenha um papel c-luplo,
condicionando a ação da água: ao mesmo tempc) em Fig. 8.18 A intensidade do intemperismo aumenta com a
que acelera as reações qwmicas, aumenta a evapora- pluviosidade, resultando num solo com maior proporção de
ção, diminuindo a quantidade de água disponível para minerais secundários (fração argila). A cada faixa de
a lixiviação dos prcJdutos solúveis. A cada 1OºC de pluviosidade corresponde uma composição preponderante dos
aumento na temperatura, a velocidade das reaçoes minerais secundários: esmectita para pluviosidade não muito

químicas aumenta de duas a três vezes. elevada (bissialitização), caulinita para pluviosidade média
(monossialitização) e oxi-hidróxidos para pluviosidade mais alta
A Fig. 8.19 mostra o efeitci combinado da precipita- (alitização e ferralitização).
çãci, temperatura e vegetação sobre o desenvolvimento

-o e:
Tundra Zona de Estepe Deserto e
semi-deserto
Savana Floresta tropical Savana

e padzolização <l\ec.ipitoçõ0
'-.

-o
E 2700
E
. •.
')
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-
'ºg' 1500 íemperaturq
'JI, ..,
••-,,_
-e
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25 :,

15
-e
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e o..
>
w 300 s E
'-. ~
o
'ºU'>
E
o..
u
~
a..

Zona do Alitizocão
.. Zona do Bissiolitização Rocha inalterado

- Zona do Monossiolitizoção ~;")J?'.)1i\i/ Rocha pouco alterado

Fig. 8.19 O tipo e a intensidade do intemperismo podem ser relacionados com a temperatura, pluviosidade e vegetação. O
intemperismo químico é mais pronunciado nos trópicos, onde temperatura e pluviosidade são maiores. Ao contrário, nas regiões
polares e nos desertos, o intemperismo é mínimo.
do perfil de alteração. O intemperismo é mais pronun-
ciado nos trópicos, onde a alteração é intensa, afetando
todos c)s minerais alteráveis ac) mesmo tempo, que de-
saparecem rapidamente, dando lugar a produtos
secundários neoformados. Em geral, os minerais pri-
mários estão ausentes, com exceção daqueles mais
resistentes como, pc)r exemplo, o quartzo e a muscovita.
Os perfis apresentam grande espessura de saprolito e
de solum.

Nos climas mais frios, a alteração afeta apenas os mi-


nerais primários menos resistentes (por exemplo, nas
rochas mais comuns da crosta, os ferromagnesianos, dei-
xando inalterados os aluminc)ssilicatos). Esta alteração é
diferencial no tempo, resultando em níveis alterados que
contêm uma certa quantidade de minerais primários não
decompostos.
Um exemplo clássico da açãcl dcl clima na veloci-
dade do intemperismo químico é dadcl pelo caso de
um obelisco egípcio com idade de mais de 3.000 anos
e que se encontrava ainda bem preservado em seu
local de origem; quando foi retirado e expostcl em
região mais úmida (Nova lc)rque, f:UA), sofreu tama-
nha alteração que, após pouco tempc), as inscrições
originais já não eram mais legíveis (Fig. 8.20).

Fig. 8.20 A agulha de Cleópatra, um obelisco egípcio de


Topografia granito, sofreu alteração mais intensa em 75 anos em Nova
Iorque do que em 35 séculos no Egito, sob clima muito mais
A topografia regula a velocidade do escoamento su- seco. Foto: M. C. M. de Toledo.
perficial das águas pluviais (que também depende da
cobertura vegetal) e, pclrtantcl, cclntro1a a quan-
tidade de água que se infiltra nos perfis, de
cuja eficiência depende a eliminação dos com-
ponentes solúveis. As reações químicas do
. .
1ntempensmo ocorrem mais mtensamente nos
compartimentos do relevo onde é pclssível
bela infiltraçãc) da água, percolação por tempo
suficiente para a consumação das reações e
drenagem para lixiviação dos produtos solú-
veis. Com a repetição desse processo, os
componentes solúveis são eliminados e o
perftl se aprofunda.
A Fig. 8.21 mclstra diferentes situações
de relevo que influem diretamente na infil-
tração das águas e na drenagem interna dos A B e
perfis. Em encostas muito íngremes, o per-
Fig. 8.21 Influência da topografia na intensidade do intemperismo.
fil de alteração não se aprofunda porque as
Setor A: Boa infiltração e boa drenagem favorecem o intemperismo químico.
águas escoam rapidamente, não ficando em Setor B: Boa infiltração e má drenagem desfavorecem o intemperismo químico.
contato com os materiais tempo suficiente Setor C: Má infiltração e má drenagem desfavorecem o intemperismo químico
e favorecem a erosão.
1 56 D EC I FRA N D O A TERRA

para promover as reações químicas. Além disso, o ma-


terial desagregado em início de alteração é facilmente
carregado pela erosão. Por outro lado, nas baixadas, as
águas ficam muitc> tempo em contato com as rc>chas e
tornam-se concentradas ncis componentes solúveis, per-
dendo assim sua capacidade de continuar promovendo
as reações de ataque aos minerais. Nesses meicis
confmantes, próximos ao nível freático e sem esceiamen-
tci suficiente, o perfil também não se aprofunda muito e
o processo atuante é normalmente a bissialitização.

O relevo ideal para o desenvolvimcntcJ de perfis de


alteração proft.1ndcis e evoluíelos, eiu seja, pc>rtac-leires de
Fig. 8.22 A concentração h1drogeniônica nas imediações
minerais seclineláric>s de composição bem distante da-
das raízes das plantas pode ser muito grande (baixo pH),
quela dos minerais primários e pcibres em compcinentes facilitando trocas iônicas corn os grãos minerais.
potencialmente seJlúveis, é o de platôs de encostas suaves.
Nesses compartimentels topográficos, há desnível consi-
derável em relação ao nível de base regional, permitinelo elos silicatos que as águas da chu,·a. Superfícies rci-
boa infiltração das águas, drenagem interna e-los perfis chcisas ccll<lnizadas por líquens, que secretam ácidci
eficiente e ccinseqüente eliminaçãci dos produtcis elissol- eixálicei e ácidos fcnóliccJs, sãci atacadas pelo
\'Ídos. Ccim o escoamento superficial reduzido, os perfis intempcrismo quín1ico mwtci mais rapidamente que su-
formados são pciupados de uma erosão intensa, poden- perfícies rcichosas nuas, diretamente expostas acis
do desenvolver grandes espessuras, de dezenas ciu mesmo cJutros agentes do intemperismo.
de centenas de metros. Os minerais secundários aí fcir-
mados tendem a uma composiçã<l mais simples: Tempo
oxi-hidróxielos ele ferro e de alumínio e caulinita <Jnde a
sílica nãc> tiver sidci totalmente lixiviada; cm e>utras C) rempei necessário para intcmperizar uma deter-
pala\ ras, ocorre alitização (ou ferralitização) e mcJn<issi-
0
minada r<Jcha depende dos CJL1tr<JS fatores que controlam
alitizaçàcJ. eJ intemperismc), principalmente ela susceptibilidadc dos
constituintes minerais e do clima. Em condições ele
. . . , ~.
Biosfera 1nremperismo pouco agress1,·as, e necessario um tem-
po mais lclngo de exposiçãcJ às intempéries para ha,·er
J\ qualidaele da água que promo,rc o intcmperismo o desen\·olvimento de um perfil de alteração.
químic<J é bastante influenciada pela ação da bicisfera.
Calcula-se a taxa atual de intemperismo através de
A matéria orgânica morta no scilo decompc:íc-se, libe-
estudcls de balanço de massa em bacias pequenas, me-
rando CO 2 , cuja ccincentração nos pelros do sole> pode
dindo a saíl-la de substâncias dissolvidas na drenagem. A
ser até 100 vezes maicJr que na atmosfera, <J que elimi-
avaliaçãcJ da velocidade do intemperismcl passado pode
nui o pH das águas de infiltração. Em tclrno das raízes
ser realizada nc) caso de ha,,er, por exemplo, la,,as
das plantas, o pH é ainda menor, na faixa de 2 a 4, e é
capeando o perfil de alteraçãci: a dataçãcJ absoluta da
mantidci enquantci o mctabcllismo da planta continua
rcicha parental do perftl e das lavas cciloca um intervale)
(Fig. 8.22). Issci é particularmente importante para o
comportamcntcJ dei all1mínio que, sendo muitci pou- máximc) de tempci para o desenvolvimento do perfil.
co solÚ\'el nos meicis normais, teirna-se bastante scJlúvel A\·alia-se também ci tempo a partir do qual as rochas
cm pH abaixe) de 4. foram sujeitas ao intemperismcJ pela datação das super-
fícies de aplainament<J onde os perfis se desenvolvem.
J\ bicisfera também participa mais diretamente no
processo intempériccJ através da formaçãcJ de tncilé- Valcires da orl-lem de 20 a 50 m por milhão de
culas orgânicas que são capazes de ccimplexar cátions anos peidem ser consideradc)s representativos para a
dcls minerais, colcJcando-os em soluçãci. Os ácidels ,,e]ocidaele de aprofundamento do perfil ele altera-
orgânicos prcJduzidos pelos microcirganismos são ca- ção, sendo qL1e cl extremo superior deste intervalo
pazes de extrair até mil vezes mais ferrei e alumínici refere-se aos climas mais agressivos.
Em climas muito frios, ce)mc) na Escandiná,,ia, su- ()s processcls pedclgenéticos ou de felrmação dels
perfícies graníticas descobertas pele) gelo há cerca de sellos sãel estudados pelr um ramo relativamente re-
10.000 anos apresentam um manto de alteração ele cente das Ciências da Terra, a Pedologia, cujas noções
poucos milimetrc)s, de espessura. Pclr outro laciC), sob !Jásicas e cclnceitos funelamentais fe)ram definidos em
clima tropical, na Inelia, cinzas \7.llcânicas datadas de 1877, pelo cientista russo Dokouchae,,. J\ partir dessa
4.000 anos desenvc)lveram uma camada de sello argi- data, <) solo deixot1 de ser cc)nsideraelo simplesmente
losc) de 1,8 m de espessura. Em regiões muite) úmielas, um celrpo inerte, que reflete t1nicamente a composi-
como no Havaí, o intemperismo de lavas basálticas ção da rocha que lhe deu origem (rocha parental), para
recentes permitiu a formação de solo suficiente para ser identificado como um material que evolt1i no tem-
o cultivo em apenas um ano. pc), sc)b ação dos fatores ativos elo ciclcl supérgeno
C)s estuelos da decomposição das rochas em mc)- (clima, ,,egetação, tclpografia e biosfera).
numentos e edifícios também é útil na cc)mpreensãcl Nãcl é fácil elefinir cl scllo, pelo fatcJ de ser um materi-
elo fatc)r tempc) no fenê)meno ela alteração intempérica. al ccJmplexc), cujc) ccJnccito varia em ft1nção da sua
A velocidade do intemperismo dos monumentos pcldc utilização. Assim, para o agrc":,nomc) elu para o agricultor,
ser muito pequena, da ordem de alguns milímetrcls Cl solel é C) meicl necessário para o desenvc)lv'Ímentcl das
por ano. O exempl1J já citadcl do obelisco (Fig. 8.20) plantas, enquanto para e) engenheiro é Cl material que ser-
que foi rapidamente alterado em Nc)\'a lc)rque, sclb ve para a base ou fundaçãc) de obras ci,1s; para eJ geéllogo,
clima mais úmidc) q11e C) reinante no Egitc), onele fc)i CJ solo é viste) cclmo o produtc) da alteração das rochas
naturalmente preser,,ado por cerca de 35 séculc)s, de- na superfície, enquanto para C) arqueólc)go é o material
monstra o efeito interati,,o entre clima e tempo no fundamental para as suas pesquisas, por ser,'Ír ele regis-
processo de intemperismc). tre) ele ci,1lizações pretéritas; já para o hidrólogc), Cl solo é
simplesmente o meio porosc) que abriga reservatórios
8.6 Produtos do Intemperismo de át,JUas subterrâneas. Desta forma, cada uma das espe-
cialidades possui uma definiçãc) que atende a seus
() manto de intemperismo geralmente e,•olt1i, clbjcti,,os. Entretanto, existe uma definição simples que
em suas porções mais superficiais, através dos prcl- se aclapta perfeitamente aos propósitos das Ciências
cessos pedogenéticc)s, para a fc)rmação dc)s solos. da Terra e que considera e) solo como o produto do
Em condições excepcionais, que exigem uma cc)n- intemperismcl, do remanejamento e da cJrganização
junçãc) de vários fatc)res, entre C)S quais condições das camadas superiores da crosta terrestre, sob ação
relativamente agressi,,as de inte:11perismo, formam- da atmosfera, da hidrosfera, da biosfera e das trocas
se no manto de alteração horizontes enriquecidels ele energia er1volvidas.
em minerais de interesse ecc)nÔmico. São os depó-
sitos lateríticos. Para um saprolito tornar-se um solo, é precisei, cm
primeireJ lugar, que nesse meio a alimentação mineral dos
organismos vivcls autótrofos e, em particular, dos ,,cge-
8.6.1 Solos
tais sL1pcric)res, esteja assegurada. A ,'ida necessita ele água
()s produtos friáveis e móveis formados na su- e de elementos químicos, que são encontraclos no ar ou
perfície da Terra como resultado da desagregação e dissol,'ielos na água e que têm como fonte primária as
decomposição das rochas pela ação do intemperismc) rclchas e, secundariamente, os tecidos orgânicos pré-exis-
podem não ser imediatamente erc)didos e transporta- tentes. Nas rochas, esses elementc)s estãcJ dispclníveis
dos pelos agentes da clinâmica externa (vento, gelel, para els elrganismc)s em concentrações muito baixas e,
águas) para bacias de seelimentação cc)ntinentais ou ma- nas soluções, em concentrações demasiadamente eleva-
rinhas (zc)nas deprimiclas nos continentes, ric)s, lagcls, elas, para assegurar uma alimentação contínua e suficiente
mares e oceanos). Quando formados em regiões pla- para os organismos vivos. Neste particular, o solo de-
nas ou de relevo suave ou, ainda, quando estão sempenha um papel fundamental por se tratar de um
protegidos por cobertt1ra vegetal, sofrem pouco a açãel meio intermediário entre a fase sólida (rocha) e líquida
da erosão, sobretudo a erosão física ClU mecânica. Nesta (át,JUa). No solo, essa função vital para os cJrganismos
situação, o saprolito e,volui através de reorganizações ,'ivos é desempenhada por uma fração organclmineral de-
estruturais efetuadas J'.lOr processcls peelogenéticos, ncJminada plasma argilo-húmico, por ser constituída
dando origem aos solc,s. pela íntima associação de argilominerais e húmus. _r\ as-
sociação deste plasma argila-húmico com minerais resi- vermes se estende por todo o planeta, mas concentra-se
duais, herdados da rocha parental como, por exemplo, o preferencialmente nos ambientes úmidos das pastagens
quartzo, fornece a organização estrutural e textura! do e florestas. Em termos geográficos, as formigas são mais
solo. disseminadas que qualquer outro animal. A atuação da
Em função das condições ambientais, que envol- fauna nos solos pode atingir profundidades de até al-
vem rocha parental, clima, organismos vivos (flora e guns metros, com a escavação, transporte e redeposição
fauna, incluindo o ser humano), relevo e tempo, os de consideráveis quantidades de material, misturando os
solos podem apresentar características e propriedades vários componentes do solo e promovendo a forma-
físicas, químicas e físico-químicas diferenciadas. Assim, ção de estruturas típicas de bioturbação. A importância
os solos podem ser argilc)sos ou arenosos (varia- da bioturbação pode ser avaliada pela vdocidade de cons-
ções texturais), podem ser vermelhos, amarelos ou trução de cupinzeiros, que se dá na razão de alguns gramas
cinza esbranquiçados, podem ser ricos ou pobres a alguns quilogramas de material por m2 por ano.
em matéria orgânica, podem ser espessos (algumas Os horizontes mais superficiais do perfil, por con-
dezenas de metros) ou rasos (alguns pouco centí- terem quantidades maiores de matéria orgânica,
metros), podem apresentar-se homogêneos ou apresentam uma tonalidade mais escura, enquanto os
nitidamente diferenciados em horizontes. horizontes inferiores, mais ricos em argilominerais e
oxi-hidróxidos de ferro e de alumínio, são mais claros
A formação do solo (regiões temperadas) ou mais avermelhado-amarela-
dos (em regioes tropicais).
Na porção mais superficial do perfil de alteração,
o saprolito, sob a açao dos fatores que controlam a
alteração intempérica, sofre profundas e importantes Classificação dos solos
modificações, caracterizadas por: (i) perda de maté- Os solos encontrados na superficie da Terra apre-
ria, provocada pela lixiviação tanto física (em partículas) sentam grande diversidade em função das diferentes
como química (em solução), (ii) adição de matéria, combinações de seus fatores de formação. Para a re-
proveniente de fontes externas, incluindo matéria or- alização da cartografia dos solos, etapa essencial e
gânica de origem animal ou vegetal, poeiras minerais necessária para sua correta utilização nos diferentes do-
vindas da atmosfera e sais minerais trazidos por fluxo mínios de aplicação, é de fundamental importância sua
ascendente de soluções, (ili) translocação de maté- classificação.
ria, isto é, remobilização através dos fluxos de soluções
no interior do perfil (movimentos verticais e laterais) Classificar um solo, entretanto, nao é tarefa fácil,
ou pela ação da fauna e (iv) transformação de ma- pois eles formam um meio contínuo ao longo do re-
téria, em contato com os produtos da decomposição levo, sendo que a passagem lateral de um tipo a outro
post mortem da matéria vegetal e animal. se faz de forma gradual, o que dificulta em muito a
colocação de um limite entre os vários tipos.
Esses mecanismos são controlados pelas solu-
ções que percolam o perfil vertical e lateralmente A classificação dos solos pode ser feita segundo dife-
ao longo da vertente e pelos organismos. A cober- rentes critérios. A ênfase na utilizaçao de critérios
tura vegetal, dificultando a erosão, tem um papel genéticos, morfológicos ou morfogenéticos varia de país
mais protetor que destruidor das estruturas dos para país, o que dá origem a diferentes classificações
solos. pedológicas. São bastante conhecidas a classificação fran-
cesa, largamente utilizada para cartografar os solos tropicais
Numa escala global, os principais agentes de da África, a classificação adotada pela FAO (Food and
remobilização dos materiais do solo (bioturbaçãc)) são Agricultura! Organization) na sistematização da carta
os animais. Os vermes são os mais importantes mundial de solos, e a classificação portuguesa, tam-
,
bioturbadores, seguidos pelas formigas. Os cupins e bém largamente utilizada na Africa. Entretanto, sem
outros invertebrados têm papel menos importante. O dúvida, a classificaçao mais difundida é a ''Soil
impacto desses vários grupos não é uniforme no globo Taxonomy'', desenvolvida nos EUA, que considera 12
porque habitam ambientes específicos. Os cupins atuam ordens de solos, subdivididos em sub-ordens, grandes
principalmente na faixa tropical, enquanto a atuação dos grupos, grupos, familias e séries.
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Fig. 8.23 Mapa de solos do continente americano.


160 D ECI FRA N D O A TERRA

A classificação é imp<)rtante e essencial para a car- ção deis solos tropicais. que pode levá-los à destruição, é
t<igrafia do sc)lo, pois permite estabelecer correlações um d<)s mais importantes problemas ambientais que a
entre solos encontrados em diferentes regiões dei glo- humanidade terá de enfrentar neste século.
bo. No mapa de solos do continente american<i (Fig.
8.23), traçado ccJm base na classificação norte-ameri- Solos brasileiros
cana, fica evidente que a distribuição dos s<ilos é zonal,
em função da latitude e da altitude, estando relaciona- O Brasil situa-se quase que inteiramente no domí-
da, portanto, ao clima e à vegetação. nio tropical úmidc) (excetci a região Sul e o Nordeste
semi-árido). Esta situaçãc), aliada à estabilidade estru-
Solos Tropicais tural de seu embasamento, qt1e desde o final de)
Cretáceo nãcJ sofreu movimentaçc'ies de grande por-
Nas regiões tropicais, como é o caso do Brasil, te, leva à predominância de uma ccibertura pedológica
cada tipo de solo pcJssui propriedacles físicas, quí- que reflete, de maneira acentuacla, cJ fator climático
micas e morfológicas específicas, mas seu conjunto como preponderante na sua f<Jrmação. Nessa escala
apresenta um certo número de atributos ccimuns de análise, rocha <Jriginal e condições topcigráficas lo-
como, pcir exemplo, comp<)sição mineralógica sim- cais têm importância secundária.
ples (quartzcJ, caulinita, oxi-hidróxidos de ferr<> e de
C)s sol<Js brasileiros sãc) bem estudados, existindo
alumínio), grande espessura e hcirizontes ccim cores
um serviço cartográficcJ da f~MBRAPA (1-<'.mpresa
dominantementc amarelas <)U vermelhas (Fig. 8.24).
• Brasileira de Pesquisa Agropecuária) qt1e vem reali-
Em função deis processos genéticos e elo lcingo zando, desde a década de 1960, levantamentos
tempo env<ilvido na sua formação, eis sol<)S tr<ipicais cartográfice)s sistemáticos deJ território brasileiro. Es-
são geralmente empobrecidos quimicamente, come> ses trabalhos permitiram o desenvolvimentei de t1ma
reflexo de uma composição dominada por minerais classificação própria, publicada em 1999, subdividin-
desprovidos deis elementos mais solúveis. São sc)los dcJ os solos em classes, com seis diferentes níveis
de mais baixa fertilidade, quando comparad<Js cc)m hierárquiccis. () primeiro nível comporta 14 classes,
<JS S<Jlos de clima temperado, ricos em argilominerais identificadas por características expostas na Tabela 8.3.
capazes de reter os elementos químicc)s nccessári<is aci
N <J Brasil, eis latosseilos sãc), de longe, os solos
metabolismo vegetal.
mais importantes do pe)nto de vista da representa-
C)s solos tropicais representam ecossistemas frágeis, ção geográfica. Eles ocorrem cm praticamente todas
extremamente vulneráveis às ações antrópicas, e que so- as regiões bic)climáticas do País, sobre diferentes
frem de forma acentuada os efeitos de uma utilizaçã<) que tipos de rochas. Comei pode ser visto na Fig. 8.23,
se dá por técnicas de manejo não adequadas. A degrada- outros tipos de solos occ)rrem em função de pecu-
liaridades das condições de formação
e evoluçãcJ pedológica, comei o cli-
ma semi-árid<J do Nordeste brasileiro,
que c<indicicina a formação de
vertissolos e entissolos, segundo a
"Soil Taxc)nomy", já mencionada.

Importância do solo e de sua


-
preservaçao

O sole) é, sem dúvida, o recurso


natural mais importante de um país, p_eJis
é dele que derivam os preJdutos para
alimentar sua populaçã<). Nas regi<3es
• • • • A • , •

1ntertrop1ca1s, essa 1mportanc1a e maior


ainda, por duas razões principais:
Fig. 8.24 Perfil de solo laterítico, com cores avermelhadas características. Foto:
Aloin Ruellan.
CAPÍTULO 8 • INTEMPERISMO E fORMACÃO
>
DO SOLO 161

Tabela 8.3 Classificação de solos utilizada pela EMBRAPA


Solo Características
Neossolo Solo pouco evoluído, com ausência de horizonte B. Predominam as
características herdadas do material original.
Vêl'tlttôlo;. . 1uSt>Jó . .·.•· •.dstli~;iipvolvímento testtito;:ifü•Pt•~nta• expan~ito e e~tihi~I~
. . ··•·I::~!'i:::. ,~~ifde argilas~:.1 · expaq$iva,r . .•.· · · ·•·.•· · ; ':;••:J:i:I:•J}lii ::]r![l.,!
Cambissolo Solo pouco desenvolvido, com horizonte B incipiente.
CbJ'i >
1
.:alo com desenvolvimento médio; atuação• l'Jê prÔÕessos (ti
... . Sisslalltlzação, podendo ou nlo apresentar aoum.ii.ilaçlo :11t ·,e·
• ·•·... ,i.·.·1~,.....· .•·.·• .•. ··.
.......... .. . .. . . . . --,-,:<><:·,·.
..... . , :\·•:-:;::--r;:;,._.·,, ..•,,,.....
va"" u

Luvlssolo Solo com horizonte B de acumulação (B textura!), formado por argila de


atividade alta (bissialitização); horizonte superior lixiviado.
Âll1âof.c,. .·. •. •.•• Sil'Q• com•·· Í'tC>tíaonte B·•text1.1raf,. •·com : a:ltg ointtiilti~j.;,~11,,/iil"lii
... . .. ..·.-,,. t<>:~~
:..,,,.1.,. ·.1.,.,:t,.10·. .
,Y.: <~~;t:u·. · !(.. ·.
.• . . . ··•·••• ·•·· :·•\![ •...,. .••••
·· ·· •· ·· ··· .,,,"·'"·--,· < ·"·., .,, .·.,·"

Argissolo

Latossolo Solo altamente evoluído, laterizado, rico em argilominerais 1: 1 e ox1-


hidróxidos de ferro e alumínio.
!i~!~i~i•~~~•.. ·•· ·. •· ·• :.,yldtrycljtt~~:&, at~tJ9êo d<) .prô~&$$iji:iii,~r•• .
.,l:!nW't•••:..·••·•:•··••:·::·· ::.[.·curi\.···. :,1~,l;,~r(~t~!·,•'·º mi!'lQ$ô•,· ~[~liirm!; ': • ·
Planossolo Solo com forte perda de argila na parte superficial e concentração
intensa de argila no horizonte subsuperfícial.
,~~,,~i••i~~:!,.l~çEtlilt~tJj.•.d~if•~i'G).,
,,, . . •
iilo 11~m exfir,~i&i'li pllntitiztiçã•o
i
($•1r•··.
L •.· · · ........... •·•· · . . . · · ...·. .
Glelssolo

• nessa zona climática, encontra-se a quase totali- ras, uso de agroquímicos e exploração mineral sãc1 ativi-
dade dos países em desen,,olvimentc), cuja econc)mia c1ades que, se não forem bem conduzidas, através de
depende da explc)raçà<) de seus recursos naturais, es- técnicas desenvcJl,,idas cc)m criteriosa base científica, po-
pecialmente agrícc)las; dem levar à erosão e à C<lntaminação dc)S solos.

• os prc)cessos que le,-am à formação dos solos Pcir ser um recurso finito e não renová,,el, pc)den-
podem, na zona intertr<)pical, le,,ar também à f<Jrma- dcl le,·ar milhares de anos para tc)rnar-se terra prc)clutiva,
çã<) de importantes recursos minerais. o scJl<l, uma vez destruídc), na escala de tempo de al-
gumas gerações, desaparece para sempre. De acordo
Entretanto, os solos dessas regiões são, em geral, de-
com estimativas recentes, as várias formas de degracla-
senvolvidos em áreas tectc)nicamente estáveis e sobre
ção c1cJs solos têm levadc) a perdas de 5 a 7 milhões de
superfícies de aplainamento esculpidas a partir do final
hectares de terras culti,,á,,eis pc)r ano. Para compensar
do l'viesozóico. São, portanto, solos velhos, frágeis, em-
essas perdas, seria necessária a dispc)nibilização dessa
pobrecidos quimicamente e que se encontram em
mesma superfície a cada ano para fins de culti,·o, e)
contínua evc)luçãc). Existem em situaçàc) de equilíbrio
que é cada vez mais difícil.
precário, de tal forma que os impactos provocadc)s por
causas naturais ou por ati,,idades antrópicas podem A perda dc)s solos e o crescimento demogrático,
desestabilizar o sistema. Desmatamento, culti,,o de ter- lJue gera grandes pressc''>es para a produção de maior
162 0 EC I F RA N D O A T ERRA

quantidade de aliment<)S, têm resultado nc) Em algumas situações, ocorre um processo mis-
c-lesmatamento de áreas florestadas para expansão das to, pelo qual o mineral primário portador do
áreas agriculturáveis. Essa é uma solução ilusória, pois elemento de interesse permanece inalterado no que
<)S solos das florestas representam sistemas muito frá- diz respeito a seu arcabouço essencial, mas sofre
geis, que acabam send<) destruídos com <) transformações que podem melhorar ou piorar sua
desmatamento. Na Amazônia, por exemplc), a taxa qualidade como mineral de minério. Um bom
anual de desmatamento para fins agrícolas está em exemplo dessa situação são os depósitos lateríticos
torno de 1,3 milhões de hectares, e não tem resolvidc) de nióbio, onde o pirocloro do manto laterítico
satisfatoriamente o problema. O uso adequado dos não é mais o Ca-pirocloro da rocha parental, mas
solos já existentes, prevenindo-se sua destruição, é a sim o Ba-pirocloro transformado pelo
melhor soluçãc). Além disso, solos de outros ambien- . .
1ntemper1smo.
tes, come) o cerrado, com a aplicação de formas
adequadas de irrigação, poderiam contribuir de for- No caso de alguns depósitos lateríticos, como
ma mais concreta e permanente para o aument<) da os de ouro, o minério é formadeJ pela atuação
prc)dução ele alimente)s. conjunta dos dois processos: o mineral de miné-
ri<) é uma mistura de partículas de ouro primário
Para prc)teger os recursos de) solo, está disponível
mais ou menos preservadas da alteração e de par-
hc)je um C<)njunto de técnicas de manejo que incluem a
tículas de ouro secundário precipitado a partir de
identificação e mapeament<) dc)s solos vulneráveis, a sc)luções.
implementaçã<) de soluç<">es alternativas à forte depen-
dência de agroquímic<)S e, finalmente, o reflorestamento. Como conseqüência de seu modo de forma-
ção, por processeJs de acumulação relativa e/ ou
absoluta de elementos no perfil de alteração, em
8.6.2 Depósitos lateríticos
ambiente de abundância de água e de oxigênieJ, as
()s processos genéticos que atuam na formação jazidas lateríticas apresentam algumas característi-
de um depósito laterític<) classificam-se em 2 grup<)S: cas comuns. Ocorrem sempre na superfície da terra
ou prc1ximo dela, sob forma de bolsões ou man-
• Preservação do mineral primário de interesse e
tos, o que permite a lavra a céu aberto. No caseJ de
sua concentração por acumulaçãe) relativa devida à
elementos que admitem mais de um número de
perc-la de matéria do perfil durante a alteração. Nesse eJxidação, estes se encontram com seus números de
caso, o mineral portador do elemento de interesse
oxidaçãe) mais altos. De modo geral, os depósitc)s
econômicc) é relativamente resistente ao intemperismc)
lateríticos possuem teores relativamente baixos, o
e permanece no perfil, enquanto os outros minerais
que é compensado por tonelagens expressivas. Fi-
sãc1 alterados, e pelo menos parte da matéria é lixiviada
nalmente, dada a dificuldade de preservação de
d<) perfil. É o caso, pc)r exemple), llC)S depósit<)S de
formações superficiais por um período de tempo
fosfato, por concentração de apatita, de crc)mio, por
muito extensc), os depósitos lateríticos estão limita-
concentração de cromita, estanho, por cc)ncentração
dos a<)S tempos gec)lógicos mais recentes,
de cassiterita, ferro, por concentração de hematita, etc.
principalmente cenozóicos.
• l)estruição do mineral primário e formaçãc) de
Para que um depósito lateríticc) se forme, é ne-
minerais secundáric)s mais ricos que o mineral primá-
cessário que ocorra uma convergência de fatores
rio no elemento de interesse. Isso occ1rre com elementos
de ordem litológica, climática e morfotectônica. Por
de baixa solubilidade como C) Al e o Ti, que formam
fator litológico, entende-se a natureza da rocha so-
minerais secunelários (!,,ribbsita e anatásio, respectiva- bre a qual o intemperismo vai atuar. De modc) geral,
mente) imediatamente após sua liberaçã<) d<)S minerais nas jazidas lateríticas, há um enriquecimento prévio
primários portade)res. Mas também pode eJce)rrer com do elemento em questão na rocha parental que, nesse
elementos mais solúveis, que migram no perfil de alte- contexto, é denominada protominério. As '
vezes,
ração e vãe) precipitar como fases secundárias neJs o próprio protominério pode ser explorado, ·e,
horizontes que apresentem condições propícias para nesse caso, o minério laterítico é apenas uma co-
tal. É o caso, pe)r exemplo, do minéri<) de níquel bertura enriquecida do minério primário. Como
(garnierita e goethita niquelífera) e ele manganês exemplo, peJdem-se mencionar algumas jazidas de
(psil<)melano e pirc)lusita). apatita e de manganês. Em outros casos, o
CAPÍTULO 8 • INTEMPERISMO E FORMAÇÃO DO SOLO 163

protominério é rocha estéril, come) as rochas Depósitos lateríticos de ferro


ultramáficas que dão origem às jazidas de níquel
laterític(), ()U rochas de qualquer natureza, que dão Em tcielas as jazidas de ferr(J d(J Brasil, a primeira
origem às bauxitas (minério de alumínio). concentraçã(J é de origem sedimentar química, cc)m()
n() Quaelrilátero Ferrífer() (MC~) e cm Carajás (PA), e
() clima tem um papel importante na gênese d()S
parcialmente detrítica, como em Urucum (MS). ()s
depc)sit<)S lateríticos. De modo geral, são necessári-
sedimentos depositaram-se em bacias pericratônicas ·
as condições de alta pluviosidade e temperatura para
vulcano-sedimentares que sofreram pclsteriormente
que a alteração tenha natureza laterítica, caracteri-
uma ou mais fases de metamorfismo. () pr()tominério
zada pelo intenso ataque aos minerais primários e que resulta desses process()S é () itabirito, rocha l-!e
lixiviação dos íons mais solúveis. Por esse motivo,
estrutura bandada característica, com alternância ele
a maic)r parte das jazidas lateríticas d() mundo en-
leitos fcrrugin()S()S (hematita pred(iminantc) e
contra-se na faixa tropical d() globo, sobretudo nas
silic(JS(JS (quart'.i'.o).
regiões úmidas. Depósitos laterític()S situados fora
desta faixa foram originados em outras épc)cas geo- () prc)cesso intempérie() levou à l-!isS()lução d(J
lógicas quando, em funçã(J da deriva continental, quart ✓.o com a ccinseqüente C()ncentração relativa ela

estavam sujeitos a condições climáticas mais favo- hematita (mineral de minério) n() perfil, por uma es-
, . pessura que p()de ultrapassar 300 m. N () topei do
rave1s.
perfil clesenvolveu-se um hc)rizc)nte endurecido de
Por fatores morfotectônic(JS favoráveis à gênese
couraça ferruginosa formada principalmente por
de jazidas lateríticas, entendem-se as características goethita (canga), qtie impediu a er()São e permitiu ()
do relev(J que permitem uma boa drenagem, possi- aprofundament() d() perfil. Í''.m Carajás e no Qua-
bilitand() o escoamento elas soluções de ataque das elrilátcro Ferrífero, esse h()riZ(Jnte de canga
rochas para que o intemperismci seja intenso. Além corresp()nde à Superfície Sul-Americana, indicando
disso, é necessário que o perfil seja preservado da um período de tempo mui te) l()ng() (desde o P,()ceno)
erosão para poder aprofundar-se. São, dessa fcirma, para a formação dos depósitos.
as áreas bem drenadas e tectonicamente estáveis as
N() cas() d()S depósitos de ferr() lateríticos, os con-
mais fav(iráveis para a formação de depósitos es-
pessos e ev()luídos. tr()les preponderantes na gênese do minéric) são de
cirdem litológica e morfotectônica.

Depósitos lateríticos do Brasil


Depósitos lateríticos de manganês
No Brasil, situad() quase todo na faixa tr(ipical do
() Brasil possui n umer() S(J s de pó si tos ele
globo, as condições para o intemperismo laterítico vêm
manganês, para eis quais a laterizaçã() C(Jntril)uiu
existindo pelo menos desde o Terciário, o que resul-
decisivamente. C)s principais situam-se no l\1at(J
tou numa área de 75°/r, de) territóric) nacional coberto
(~rosso do Sul (Urucum) e na Amazt)nia (Serra d(J
por formações lateríticas. Essas formações estã(J au-
Navio, Azul, Buritirama). Nesses últimos, a primei-
sentes apenas na região Nordeste, de clima semi-árido,
ra acumulação de manganês é de origem sedimentar
e na região Sul, de clima sub-tropical. As fc)rmações
(JU vulcano-sedimentar, sob a f()rma de uma r()cha
lateríticas comportam inúmeras jazielas, que contribu-
rica em carbonatos (r()dc)crosita) e silicatc)s de
em com cerca de 30(1/ri da produção mineral brasileira,
manganês (Mn-granadas, l\1n-()livinas e l\[n-
excluindo o carvã() e o petróleo.
piroxênios), onde este elemento aparece com
()s principais bens minerais concentrados por númerci de oxidação 2 1 , ac(impanhados de (Jutrc)s
laterização no Brasil sã() Fe, Mn, Al, Ni, Nb e fosfatos minerais tais ccimo micas, quart'.i'.o etc. Quanclo a
(Fig. 8.25). Os depc)sitc)s formaram-se a partir de pr(ipcirção de minerais de manganês já é elevae-Ja
protominéri()S de idades que vão do Arqueano a() nc) pr()t()minério, este pode ser explorado econo-
Terciário, mas a laterização é sempre relativamente re- micamente, C(Jmo é o caS() do dep(isito de
cente, estando relacionada principalmente às superfícies Conselheiro Lafaiete (MG). P()rém, em geral, é a
de aplainamentci Sul-Americanas (Eocen(i) e Velhas laterização que, aumentanelo o tec)r de manganês
(Plicicen()). nc) minéri(), tcirna econômica sua exploraçã<).
A

A-Amazonas

Bacias B - Parnaíba

C - Paraná

G) -Guianas
Escudos 0- Brasil - Central

@ -Atlântico

ÔAI .Fe 0Mn Ni ◊PeNb


1- Trombetas 1 - Carajás 1 -Amapá 1- Carajás 1 - Catalão
2- Jari 2 - Urucum 2 - Carajás 2- Santa Fé 2 -Araxá
3- Paragominas 3 - Quadrilátero 3 - Urucum 3- Niquelândia 3 - Tapira
4- Poços de Caldas Ferrífero 4 - Quadrilátero 4- Barro Alto
Ferrífero

Fig. 8.25 Localização dos mais importantes depósitos lateríticos do Brasil de AI, Mn, Fe, Ni, P e Nb.
CAPÍTULO 8 • 1NTEMPERISMO E fORMACÃO
, DO SOLO 165

i\ alteração intempérica pro,,eJca a disscilução deJs NãeJ há, portanto, ceJntrcile litológiccJ na geração das
minerais que acompanham os minerais de minériel e jazidas de bauxita, sendc> os fatcires mais influentes as
promove a oxidaçãeJ dcls minerais de manganês, ceim a ccJndiçe>es morfotectt>nicas, que de,,em propiciar uma
formaçãei de óxidos de J\fn1+ (hausmanita e manganita, alteração em ambiente de drenagem livre para que a
por exemplo) e J\fn 4 + (pirolusita, criptomelaneJ e lixiviaçãeJ eiels ciutros elementels pcJssa ocorrer, e cli-
liticlforita, por exemplo), mais riccJs em manganês que máticas, caracterizadas por precipitaçãei intensa e
os minerais originais. Aqui também eJ celntreile princi- temperaturas altas.
pal na gênese dei minériel é litológico. Porém, ao
contrário dcl casel do ferro, parece nãcl existir uma as-
Depósitos lateriticos de nióbio e fosfatos
sociaçãeJ clara entre els depéisitos e as superfícies de
aplainamento. (J Brasil pcissui grandes reservas de nióbio e
fc>sfateJs, cuja origem está relacionada à alteração de
maciçcls carbcinatíticos. Essas rochas têm originalmen-
Depósitos lateriticos de níquel
te teores elevados de Nb e P, e sãc1 facilmente alteráveis,
C)s maciços ultrabásicos elo Brasil, que sãei as rcJ- pois seLtS constitutintes principais sãcJ carbeJnatos. A
chas originais dos depc'>sitos de níquel laterítico, são gênese das jazidas é, portanto, estritamente contrcJlaela
numerclsos, de tipc>s variados e dispersos pelr todas as pele1 fateJr litológico.
zonas climáticas. Os depc'isitos mais importantes estão () Nb é enriquecido a partir da concentração resi-
situados no Centro-C)este (Niquelândia e Barrel Alto), dual elo piroclclrci, sua principal fase portadeira. Apesar
região de clima trelpical de estações contrastadas e, em desse mineral poder sofrer uma certa alteração duran-
menelr grau, na t\mazc">nia (Vermelho), sob clima tropi- te o intemperismo, seu conteúdo em nióbio fica mantidel.
cal úmido. J\s maiores jazidas de nióbio del Brasil estão situadas
em 1\raxá e Catalão. A primeira, Araxá, ccinstitui amai-
() Ni está presente na relcha original ultrabásica, e>r reserva de nióbio de> mundcJ.
incelrpclrado ao retículo cristalinel das olivinas, serpen-
tinas e, em menor grau, dos piroxênios. 1''.sses minerais Da mesma forma, o fe'isforei é enriquecido pela cein-
são facilmente alterados, danclo origem a novos mine- centraçãei residual da apatita. Em alguns maciços, como
Jacupiranga (SP), o teor de apatita no carbonatito já é
rais como a serpentina, Cl talco, a clarita e a geJethita,
suficientemente alto para que a rocha parental pclssa
enriquecidos em Ni. () controle litolc'Jgico é muito im-
ser exploraela como minériel. Porém, na maielr parte
portante nesse caso, pois as rochas ultrabásicas sãcJ as
das jazielas de fc>sfatel, como, pelr exemplo, CatalàeJ e
únicas rochas que possuem teor<"s de níquel suficien-
Araxá, é c1 mante> de alteração, anele a apatita está cein-
te para gerar depc'isiteJs por intemperismo. Nesse casei, centrada, que ccinstitui el minério.
entretanto, o fator climáticeJ também conta muito, sendo
as regiões de clima mais contrastado as mais faveiráveis
para a gênese de depc'isitos de níquel laterítico.

Depósitos lateriticos de alumínio

O Brasil possui enormes reservas de bauxita (mi-


nério de alumínio), concentradas principalmente na
Amazônia (Paragominas, Trombetas, etc.), cJnde deri-
vam de sedimentos arena-argilosos. Porém, espalhados
por todeJ o País, há pequencls depósitos de bauxita re-
lacionados principalmente a rochas alcalinas (Poços de
Caldas, por exemplo). Diferentemente de>s elutros mi-
nérios lateríticos, qualquer rocha pode gerar bauxita,
pois o Al é um elemento abundante nas rochas co-
muns e muitci peiuco solúvel na superfície, de modcJ
que se concentra facilmente com a lixiviaçàeJ intensa
dos outros componentes. () principal mineral de mi-
nério é um hidróxido, a gibbsita.
ma maneira ilustrativa de intrc)duzir um estu-
do sobre modelagem da superfície é eveicar
alguns cenárieis do ecogeeiturismo brasileirei: a planí-
cie do riei Amazonas, os lençóis maranhenses, a serra
elcJ Mar, Vila Velha, as lagunas fluminenses, as dunas
ceisteiras do NeJrdeste, os pantanais matogrossenses e
as praias do Rici ele Janeiro. Não é difícil associar a
cada uma destas paisagens naturais uma imagem dig-
na de cartão peistal. Em cada imagem pode-se ver
uma fcirma eiu um conjuntei de fcJrmas de releve), que
peldem ser ccJnsideradas nas mais e-liferentes escalas: a
duna da Careca, em Natal (RN), apreciada para pas-
seicis de bug{!), é uma forma ele releveJ individual, ceim
algumas centenas e-le metrcis de extensãcJ, L-lentro de
um campe) e-le dunas maicJr que se estenele peir quilô-
metros. Duna e campo de dunas inserem-se numa
unidae-le de relevo ainela mais ampla, uma planície litei-
rânea delimitada ao seu intericir por escarpas e serras.
Duna e campc) ele dunas diferem das serras, escarpas
e planícies costeiras não apenas quanto à escala espaci- •

al (que pressupõe escala de tempo ele feirmaçãei), mas


também quanto à constituição. As dunas sãci um tipei  l

específico de fcirma ele relevei construída inteiramente


pela eleposição de grãc)s pcir um agente natural (no
,,' .
,, ff

,,
case), ei vente)), o e1ue será visto no Cap. 12. Para este fJI '· ,
tipo ele relevo, ce)stuma-se utilizar a denciminação for- lt::t 1
ma de leito sedimentar. As formas de leite) eiccirrem Fig. 9.2 Fotografia aérea da região da laguna lbiraqüera,
em escalas que variam de alguns milímetros (elenomi- município de Garopaba (SC). Calhas de dunas similares às da

nadas microondulações ou marcas onduladas) a figura anterior aparecem agora como traços escuros sinuosos
sobre uma forma de leito de hierarquia ainda maior (de cor
quilcímetreis (megaondulações, incluindei e-lu11as
branca na fotografia), com geometria parabólica. A extensão
eólicas), e envolvem processos feirmadores cuja dL1ra-
da megaforma eólica é de cerca de 7 km. Norte geográfico
ção varia respectivamente ele segundos a centenas de voltado para cima. Aerofoto Cruzeiro do Sul, vôo 1977-1979.
milhares de anos (Figs. 9.1 e 9.2).

As serras, escarpas e planícies são fcirmas mcJdela-


elas na superfície terrestre pclr uma ceimbinaçãci de
prcJcessos erosi,-eis e deposicicJnais, tendo ccJmo
substrato nãeJ apenas grãos, mas reichas de diferentes
naturezas. Sua formaçãe) pclde envolver processos ge-
olóJ..,ricos ceim duração de até várias dezenas de milhões
de aneis. i\las serras e escarpas têm uma diferença fun-
damental em relaçãcJ à planície, que reside na escassez
de sedimentos em deposição. Sob esse aspecto, pe)de-
se dizer que dunas e planície litorânea têm em comum
e> fato de serem formas superficiais dominadas po
processos sedimentares deposicionais, eJ que chama
remc>s simplificadamente de fcJrmas deposicionais.
Fig. 9.1 Duas hierarquias de formas de leito em areias depo- I\ssim, drJs exemplos de paisagem mencionadcJs no
sitadas pelo vento: microondulações e duna. Proximidades da início deste capítulo, dois deles não correspondem a
praia do Sol, município de Laguna (SC). Foto: P. C. F. Giannini.
formas depclsicionais, mas a forrnas erosivas: Vila Ve-
lha, no Paraná, é exemplo de forma erosiva esculpida
-•• Leque aluvial na região andina. Foto: W.Teixeira.
9.1 Qual o tamanho de um grão de areia?

Areia é um conceito relativo ao tamanho do grão. O estudo ou medida do tamanho do grão recebe o nome de
granulometria. De acordo com a escala de granulometriamais utilizada hoje para classificar sedimentos (fabela 9.1),
· um grão de areia possui entre 2 e 0,062mm. Os qualificativos para referir-se aos materiais sedimentares formados
predominantemente por cada uma das três faixas granulométricas principais são: rudáceo (de rude, grosso), para
granulação cascalho; arenáceo (de arena), para areia; e lutáceo (de luto, massa fina e plástica), para lama. Estes termos,
de etimologia latina, têm equivalência com outros termos, de origem grega: psefítico, psamítico e pelítico. Para
referir-se a depósitos endurecidos (rochas sedimentares), acrescenta-se o sufixo ito aos mesmos radicais: rudito,
arenito e lutito ou psefito, psamito e pelito.

se)bre re)chas sedimentares; a serra ele) Mar é exemple) ae)s rieJs Tietê, l)inhciros e 1ºamaneluateí, na cielaele de
de fe)rma esculpida sobre rochas ígneas e metamc')rficas. Sãe) Paulc) e dos morros supcr-habitadeJs do Rio de
,
Janeiro e de Santos.
F, importante lembrar que a ação modelade)ra de)s
processos sedimentares, erosivos ou dcposicionais, nãe) Neste capítulo, estudareme>s as relaçc"ies entre e)s
se restringe às paisagens que fazem jus ao adjetive) na- processos sedimentares e a me)delagem da superfície
turais, isto é, às paisagens menos modificadas pele) ser terrestre. Procuraremos eleme)nstrar a premissa fun-
humanc). Aliás, a idéia ilusória de que a urbanizaçãc) damcn tal de ne)sse) estudeJ: a de e1ue a interação
seria capaz de estancar estes processos conduziu, cm processo-forma se elá nas mais diferentes escalas, da
muitas cidades, a uma e)cupação urbana sem critérie)s, planície sedimentar à marca e)nelulada. (-) recurso de
que ignorou e desrespeite)u e)s sític)s naturais de erosão reduzir e ampliar nossa escala ele observação é válido
e deposição. Assim, à lista de feJrmas de relevo aqui para exercitarmos nossa capacielacle ele enteneler a na-
citadas ce)mC) exemplos de açãe) de processos tureza elessas interaçe"íes (que, afinal, é sempre a mesma,
sedimentares, é precise) acrescentar regiões onde pre)- independente ela escala), desde que se compatibilizem
cessos naturais e ocupação humana interagem de modo entre si as escalas relativas à forma e acJ processo. Cha-
agressivo, em um autêntice) exemple) de equilíl)ric) ins- 1nareme)S a este recurso de zoom, cm alusão ao
tável: são os casos das avenidas e bairros marginais mecanismeJ das câmeras fotográficas e filmadoras.

Tabela 9. l Classificação dos sedimentos segundo a granulometria

Intervalo
granulométrico Classificação nominal
(mm)
1
• · i Prôp~siiõó r;>riginal (inglês)
'
.. .tradução usua 1. [p.~ir+uguês} ·• . · ·
' ' ' ' ' " " ' '

> 256 GRAVEL Boulder CASCALHO Matacão


256-64 Cobble (ou balastro Bloco ou calhau
64-4,0 Pebble em Portugal) Seixo
4,0-2,0 Granule
.. .
Grânulo
, ,, "'•1· ••o< > ·•· · · ··
: ,;~· /V..,.,_::. ,: : ,_' -"" ' "
' '

· ·•·• Vêry coarse sand


' '

· AREIA
• Coorse sand ··
' ' ' ',. ': ': ' .· ' ·.· . ' ', ,' ,' '

·••·. Mediürtl. sand ·. ·


fi!'iesand • .• ·.·.·..•. ·
·• Vêt'Y fir;l~~and ·. · · . . ~~iJ•fhvllri Hriê! •·. ·•
' " ' ' '

0,062-0,031 SILT Coarse silt SILTE Silte grosso


0,031-0,016 Medium silt Silte médio
0,016-0,008 Fine silt Silte fino
0,008-0,004 Very fine silt Silte muito fino
,' ''<Q,'004<'"" ,,,
·· . . . •.•.·.• c.tay ARGILA Argila
Lniciarem<)S ncissa abcirdagem cc>m gran(_le (_letalhe, çãcJ, t1midade e tamanheJ de, grãci, influenciam a forma
cibservan(lci t1m gràe> de areia de praia, e tentanclcJ cc>n- e as climensc3es da duna (Cap. 12). Havendo mútua
tar ciu filmar a sua histc'iria. Cc>m issci, tentarem<>s interaçãci entre fcJrmas e processos seclimentares, C)
respcJn(_ler às perguntas mais urgentes (_leste inícic> de estalJelecimento ela escala e-Ie cJl,servação ela fcirma
capítulo. () que é, afinal, um seelimento e <J (_rue é um implica uma escala cc)mpatível de processcJ. Assim nãci
prcicesso sedimentar? l~ (_1t1al a diferença entre eis pro- pcidemcis explicar tcidci C> campci de elunas do Nor-
cessos seelimentares que occirrem boje, pcir exempkl, eleste IJrasileirci apenas C(Jm base ncJs mecanismos aqui
na serra do l\1ar, e aqt1eles que ciccJrrem ncJs pantanais evcicae-!cJs ele queda e avalancha ele grãos, pcJis estes
e nas planícies litcJrâneas? A opção pcir um grãcJ (_le prcicesscis dizem respeito a uma escala muitcJ básica e
areia ele praia ccJmo ncisscJ perscJnagem central deve- instantânea de análise do processo de transp(Jrte
se apenas a uma questãci de universalida(!e elci exemplei, sedimentar eóliccJ. Será preciso utilizar conhecimentos
istci é, acJs fatcJs (!e CJ cJceancJ ser cJ (_lestincJ final ela sol1re prcicesseJs e variáveis mais eluradciurcJs e regio-
rr1aiciria dcJs se(!imentc)s, <J que facilita a reccinstituiçãci nais, respcJnsáveis pela fcirmação dcJ estcJc1ue de areia
de ttm ciclc> se(limentar completo, e ele a 11raia ser a na ccista: a energia (_las one!as, a meJrfoelinâmica das
parte mais acessí,,el cios cJcean<is. Do pontci ele vista praias, as ccJrrentes de cleriva litorânea e a declivie-Iade
deis ccinceit<JS que se quer intrcJduzir, nãcJ há cliferença da platafcJrma continental interna (pcJrção da plata-
pcirém entre este grãcJ de areia e o seixo ele utna planí- fcJrma caracteriLada pela interaçàcJ das cindas ccim <J
cie aluvial ciu a partíct1la ele argila presente ncJ n1angt1e ft1nelci; Cap.13).
ou numa laguna. Antes de passarn1<is à histc'Jria dei
grãci, peirtantcJ, é cc,n,,eniente ccinbecer ci signi ficaclci
9.2 Biografia de um Grão de Areia
dc,s termcis areia, seixo e argila.

9.1 Como Formas e Processos se 9.2.1 Intemperismo da rocha-mãe:


gestação e nascimento do grão
Relacionam?
C~cJmcJ se pode definir o termci sedimento? A raiz
c:ada fcirma de relevei deposicicinal correspcinde a
dei termci, sedzs, ,"em do latim, que significa assento,
uma série (_!e prcicesseis mcJdelaelores. No neisseJ exem-
clepcisiçàci. Assim, sedimentcJ, numa traduçãc)
plei e-Ia duna, estes preicessos incluem o transpcirte e
etimo!c')gica literal, seria aqt1ilo que se deposita, c1ue se
(_lepclsição da areia seja através de nuvens (_le grãcJs em
c-!epcisitcJu ou c1ue é passível de se depositar. Por aqui-
suspensãci, seja através de avalanchas na frente da (_!una,
!(J, deve-se entender, no casei, material sc'ilido.
seja pela migraçãci de marcas e,neluladas em sua st1per-
Deposição pressupõe movimento, transporte. Por ex-
fície (Fig. 9 .1). Incluem, a mais leingo prazo (e em escala
tensão, a formação do sedimente) implica algum tipo
espacial prcJporcicinalmente maicJr) o fcJrnecimentci de
areia pelas praias adjacentes e, em última instância, a ele transpcirte físico (mecânic(J) e/eJu químico. NeJ
prc'ipria (_linâmica das cindas e marés respcJnsável pelei transporte mecânico, o sedimenteJ, enquanto matéria
excessci ele areia existente na ceista, clisponível para a sólida, já ccJmeça a existir durante o transpcirte. NcJ
açãei deJ ventei. transporte químico, a matéria sólie!a só se fcJrma na
eleposiçãci a partir de ícins.
Tipeis de feirmas sedimentares e tipcis de preJcesscis
sàc> interdependentes: se, pcJr um la(lo, a forma da eluna F:m geolc>gia sedimentar, o termc> grãci, por defini-
eólica determina a ocorrência de a, alanchas (tlt1xcJs
0 çãc>, denota transpcirte mecânico. Se admitirmos qt1e o
rápidos de massas de grãcis de areia) ou de nu, ens ele 0 grãci de areia e-!e praia, que escolhemos comei exemplo,
grãos (movimentei ele grãos solteis em suspensão) a é ccinstituído de quartzcJ (por se tratar do mineral mais
partir ela açãci dei vento sobre sua pcirção mais alta e ccJmum ncis sedimentc)s), e considerando que eJ quart-
expcista (a crista da duna), p<>r outrcJ laclci, a repetida 7.<J nãcJ p<i(le precipitar-se quimicamente nem na bacia
sucessãcJ de fentJmenos (_!e avalancha e queda li\'re de cJceánica nem na planície litcJrânea, ccJncluímos que
grãcis promc1, e eJ avançci gradual ela duna para sota-
0
ele sofreu transporte mecânico desele a área elevada
ventcJ. A intensie-lade e freqüência ccim erue caela un1 acljacente à ccista (a serra do ?\,lar, num exempleJ típico
destes dois mecanismcis de transporte sedimentar ciccir- elo Sul-Sudeste brasileirci). Sua "biografia" inicia-se
rem, em função de ccJndições comcJ energia dcJ ,'entci, pcirtantci nesta serra cJnde pasS(Ju muitos milhares ou
quantidade de areia clisponível, presença ele vegeta- mill1ões de ar1<JS nci que poderia ser chamado de seu
est411.,io,/éta! c)u está._11.,io prf-grâo, Se aelcJtar111cJs, para exercí- eh> scdi111c11tci e eiue dcpcnele e1a SL!a densidade. (_) tlui-
cicJ de excmplificaçàc), c1uc esta serra era sustentada dcJ e1ue cnyc1l\'e ci gràci exerce scJlJrc seu centrei ele
pclr rcJchas ígneas ou n1ctan1t'Jrficas, este cstágicJ 111assa u1na fcirça ele rcaçàci, ccinhccida ccJmeJ empuxei
corresponderia acJ períodc) em e1ue cJ cristal ele c1uartzcJ de 1\rcJLlÍt11eeles. ,\ 111agnitL1dc dcJ cmpuxci é diretamen-
do qual ele se eleri,-ciu fcii senclci graclua!t11ente lil)era- te prc>pc>rcicJ11al à densidade eleJ íluielcJ que envc>lve ci
do elos cristais vizinl1os na rcJcha, Esta liberacàcJ
'
elá-se gràci ciu que este c1esleica. 1\ fc>rça resultante entre peso
através de uma gama e1e prcJcesscJs ele elesi11te,graçàcJ e emJJUXCJ é a tcnsàci interna atL1ante nci grão, a qL1al
física e deccJmpclsiçàcJ química ela rcJcha expclsta en1 dcpcnclc ele sua elensielaele efcti,,a (elifcrcnça de dcnsi-
superfície, e pcJrtantcJ SL1jcita acJ inten11Jerisn1ci (Cap, 8), daele entre grà<J e íluidc>). ciuaneleJ a elensidaele efetiva
1\ rcicha onde se cJpera este perÍcJelcJ ele gestaçàcJ elcJ é nega ri, a (t1uielci mais dcnseJ que ci gràci), cJ empuxcJ
gràcJ (cJL1e ncJ C:ap,8 fcJi denominada rocha inaltcraela) é S(>brcpuia a fcJrça-pescJ e cJcorrc ílutuaçàcJ.
tamlJém ccinhecida comeJ rcJcha-111àc eiu rcJcha-111atriz,
1\s elen1ais fc>rças passí,,eis ele atuar ncJs sedimen-
1"~stes ncJmes sàcJ muito apropriadcJs a esta lJiografia elci
te JS agem 111ais scJ!)rc SL1a área sLtperficial elci e1ue scibrc
grào, porque fazem alusàc1 direta à idéia de gcstaçàcJ,
sua 111assa ClLl YCJlun1e. l~tn razàcJ disse>, sàcJ denomina-
,
r:impclrtante ressaltar que cJs prcJcesscJs das fc>rças ele superfície. Destacam-se entre elas a
intcmpéricos nàcJ en,,c>l,-em transpcirte mecâniccJ sig- fricçà(J (resultante elci atritei entre gràc>s), a ccJcsàci (rc-
nificativci, de mcJdcJ c1ue cJ resLiltaele> nàei é ainela u111 sul tan te ela a traçà<J el ctrcis tática ciu cletrciq uítnica
scelimentcJ, mas um mantcJ de altcraçàeJ in sit11, nci qL1al superficial entre gràeis), a fc>rça ascendente prcJduziela
se inclui uma camaela supericJr ele scJlci, 1\ rigc>r, nàc> p<Jr turl,Lilência e as fc>rças de açàei e reaçàci na interface
podemos falar cm gràcJs ele scilcJ, mas apenas em partí- gràci/ tlLiiclci. f'.ntrc estas últimas, incluem-se pelo mc-
culas. Quanto à etimcilcJgia, CJ ter1110 partículas significa nc>s delis pares de fcirças impc>rtantes. () primcirci par é
partes pequenas, ci que se pode traduzir gccJlcJgica- fc>rmaelcJ pelei esfeirçci tangencial (fcirça que eleslcica
mente ccJme) as partes menores de um tcJdc1, neste casc1 111assa ncJ sentidcJ ele SL1a açàci, ccimci a c1ue separa as
a rcicha-màe cJu cJ prc'Jpriei scileJ. 1\ partir e1cJ mcJmentcJ cartas ele um baralhe> scil)rc uma mesa) exerciela pelei
em que esta partícula começa a sc>frer transpc>rte n1e- íluidc> em mci,,imentcJ so!Jre Llm gràci, e sua fcirça c>pcista
cânicci em superfície, ela passa a ccJnstituir un1a (a resistência cJfcrccida pcl<J gràcJ). () segundcJ 1,ar é
partícula sedimentar, sinônin1cJ de gràcJ. feJrt11aelcJ pele> esfe>rçc> tangencial impcJstci pelei gràcJ
cm me >vimenteJ sc>l)rc um íluidcJ cstacicJnárici e a resis-
9.2.2 O que move o grão? tência de> ílLiidci a este cisalhamentcJ (Fig. 9 .3).

Seelimento implica elepc1siçàc1. DcpcJsiçàci pressu- i\s fcJrças de superfície dependem da ra7ào área
põe açàci da gravidade. l•'.m funçàci distei, a feirça da superficial / volume (fcirma) ncis gràcJs, e e1a visccisi-
gravielaele é a variável física básica cm tc,elcis eis fenc'i- claelc ele> íluid<J. ,,\ ,,isccisidade ccJrrespc>nde à tcnsàcJ
mencJs de sedime11taçàcJ. 1rata-se ele utna fc>rça ele ccirpc>, necessária para prcJduzir determinada deformaçàci ncJ
isto é, uma força que age sol1rc o vcilumc ciu a 111assa íluidci e mede a resistência de> íluidc> ac> cisalhamcnto.


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Fig. 9.3 Principais forças atuantes sobre grãos livres em movimento: a - força-peso (P) e sua reação, o empuxo (E), b - força de
coesão (C) entre partículas, c - força ascendente (A), introduzida devido à turbulência gerada no fluido pela presença de um ob;táculo
e d - esforço tangencial (T) exercido pelo fluido sobre o grão (e vice-versa),
Como a intensificaçãc) (la viscosidade e elas f()tças de cas (mineral(>gicas) t>u físicas (texturaís), em respc>sta à
superfície dificulta () ffil)VÍmentc> autt:in<in1ci clc:i grão, ação d(JS agentes de intcmperismcJ c transpc)rte. 1\ mag-
oferecend<i, por exempl<J, resistência a sua decantação, r1ítude destas muclanças é un1a n1anifestaçãc> desse
estas f<Jrças sãci conl1ecidas tan1bém con1cJ forças de processei de maturação, mas depencle também de1 grau
resistência. l)cJr (Jutr<:i ladc:,, as f<Jrças de superfície ot1 ele sensibilidacle de> mineral que (J constitt1i. j\ssin1,
resistência, qt1andcJ intensas (istc> é, em fluidcis muitc) p<lr exemplei, o quartzo é muitcJ mencJs prclpensc> ciue
viscosc:,s), pc>dem constituir tuna for1na l1C trans1)<>rtc <> feldspato a tais n1c>dificações. Dentre as mudanças
de grãos contra a açà<J (le seu peso índividt1al. Pc:,r c1uí1nicas, p<>cie-se citar de sele altcraçc>es ténues nas
exemplo, um bl<Jco (dimensão maior que 6,4 cm) in1 superfícies de fratura e cli\'agcm até a con1pleta trans-
passível à passagem ela água cJu do vento, !J<>de ser f(:,rmaçãc) ciu n1esn1c> a disscJlução dcJ 111ineral (C:ap. 8).
faciln1entc transpc:,ttado p<>t uma cc>rrente de lama ele l~stas mudanças nãc> sãc1 raras en1 feldspatos e em n1i-
mesma velc:,cidacle (porém mais viscc>sa). ncrais ferrc>n1agnesianos ccJt110 piroxênic>s e anfibólios,
n1as pc>c1en1 ser ccinsicleraclas clespre:,:íveis em grãc>s de
As cc>nsiclcrações acima sugerem que, fisican1cnte,
quartzo. 1\s mudanças físicas incluen1 a rec1uçãc1 de
!1á diferenças substanciais entre o transporte seditnentar
ta111anh(J e <J autnentc> de grat1 ele arredondarr1entcJ
pelas águas de um ric) e tJela massa visc<JSa c.1ue cles-
cl<J gràcJ, devi de> à abrasão (desgaste) e ccJmin11içãc)
mc:,rona numa enccJsta. ,;\ difere11ca ., reside nc:, mc:,dcJ
(c1uebra) .
c<>m<) <JS c1<JÍs ti{)<JS de ft)rças, Lle C<)rpo e lle Sttperfí-
cíe, atua111 nc>s sedin1er1tclS. Reconhecem-se assim t1<)ÍS /\. comr,aração entre o trans1)c,rte se(1in1entar e a
tipr:,s de transporte sedin1entar mccâniccJ. Qua11clo fc>r- maturaçãcJ de grão,, ele c>rigem física cncc)ntra expres-
ças de C<>rpo c ele SL1perfícic atL1an1 sc>brc cada gràcJ são ncJ ccinceit() ele maturil1acle seclimentar. 1\ mau1ridade
incliviciualmente é pcJrque els grãcJs aprescr1tan1 sufici- representa a cxr)eriér1cia ele um secliincntcl, no sentícl(l
ente liberdade de mc>viment<J e111 L1n1 flLticlcl p<>LJC<J c.le c1uã<) ínte11sa e prc)l<Jt1gada foi a l1istc'>ria ele tra11s-
\-iscc>S<>: é o transporte de grãos livres. ()Ltar1d<> a pclrte a que ele se submeteu. F,ntre CJS parâmctrc>s
fc>rça-peso age mais scJbre a massa de grãc:,s d<> 9L1e CJL1Ín1icos ele avaliaçãcJ da n1aturidade, clestaca-se a re-
scJl)re grãos i11clivicJuais, é pclrqL1e <JS grãos estã<> m11Ít(J lação entre minerais estáveis e instáveis, con1() a razão
pr<>xi111cJs uns cl<is tJutros, en1 alta ccincentraçãc> e1n tJuart/CJ / felclspato, f~ntre eis físic<JS, tlestacam-se a eli-
relaçãcJ ao íluicio: é <J transporte gravitacional <>Ll 1ni11açàc> de rr1atriz {)elítica, a seleção grant1lcimétríca
fluxo denso. Neste {1\timc> tipc> de tra11spcirtc n1ecánic(), (grat1 ele hcimc)geneidacie dcJs gràcJs quant<l a<i tama-
a 1-,rrande prc>ximídade entre 1-,rrãos vizinheis fa,·<,rcce a nl1ci) e ci arredcJnclan1er1t(>.
forte interaçãc> entre eles. CcJm<J c<i11se9üéncia, ace.ntu-
am-se as forças de superfície cler1trc) tia n1assa, cc>n1ci 9.2.4 Principais cenários da existência do
cc>esâc), fricçãci <Jll tensão cisall1ante (esta ligacla à capaci- grão: conceitos de área-fonte, bacia
dacle de transpc)rtar massa). ()utro efeit<> pc>ssível é a sedimentar e nível de base
mistura entre flL1itlc1 e sedimentcJs fincJs criar titna n1assa
pseuclotl11idal -vísc(JSa e densa, capa:,: de exercer fclrte l'.tn resun10 das infc>rmaç(".>es acumtilaclas até aqui
empuxo e resistê:11cia visctJSa scJbre (JS ~rrãc>s n1ai< >res e \Jermite abai1clc>nar <> zoo1n c.le cletalhe e retc)rnar à visâ<>
antilar e:, efeit(J eia f(1rça-pesc1. mais abrangente e sintética p(Jssível (1a história d<) grãc>.
Nessa ,risâ(), pc>dcrn-se rec()nhecer três grandes estágic)s,
fases maic)res de sua [JÍ<Jgrat1a, C<)rrcspc1ndentes a três
9.2.3 Transporte sedimentar: a maturação
cet1áric)s ger>gráfic<is principais: a serra, sua escarpa frcin-
do grão
tal e <J oceancJ. }Jc,clem••SC tambén1 destacar quatt<J
1\p(>s o transporte inicial p(>r tc>rrentes pluviais e/ CJt1 prcicess(JS gec)!c'Jgiccis n,aic>res: o inten1perísn1ci, a erc>sã<1,
mcJvin1e11tos )-,rta\·itacionais nas encc>stas da serra, (l J.,>Tà(l <J transp()rte e a clefl<Jsição (E7íg. 9.4).
é incorpcJradci à carga elos rios e C(Jrredeiras da escaqJa, (~om ciue intensiclade atuam estes prcicesscJs n1aic1-
através das qttais atir1girá eis ric:,s ele mais baixe> 1-,rracliente res cm cada urr1 dac1ueles cenáricis? J\ att1açâcJ dei
(na m:ÚcJria das vezes, ccJm m<>rfc>lc)gia meandrante; (:ap.1 (J) it1ten1perismc> é cliretan1ente proporcicJnal ac) tempc> de
que caracterizam a plar1ície litc)rânea.
rcsiclência em superfície dei grãci e ela n1atétia-1Jrin1a
() transprlrte d(J h"ão da serra ao n1ar ccJrrespcJnclc gecJl(>gica ern geral. i\ssim, C> intemperismc> é mencJs
a u1n períoclo ele intenscJ amaclurecimento cJu matt1racãc:, atuante nas partes mais íngremes da escarpa, (>ncic c>s
em sua bí(>grafia. () grã(J pocle s<)frer n1udanças tJt1ít11i- prcicesscJs de retncibilização dc1s prcidL1tos de alteração
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Nível de base de erosão

Fig. 9.4 Cenários da existência de um grão sedimentar, com quantificação relativa das taxas de erosão (E), intemperismo (1) e
deposição (D), tomando como exemplo o caso atual do leste do Paraná. Fonte: João José Bigarella,A Serro do Mor e o Porção
Oriental do Estado do Paraná, 1978.

sãeJ aceleradeJs pela intensa ação da gra, ielaele. ~: é mais


0
pc>rte. Rele, cJs tnuitcJ acidentadeJs e a!Jruptos favc>re-
0

atl1ante nei teipei ela serra e na planície liteirânea, c>nde e> cem CL1rtas distâ11cias de transpcJrte, a base ele fluxc>s e
baixei declive favc1rece a longa manl1tenção, e111 super- tc>rrentes episóe-liceJs e ele alta visccJsic.lade, bem ccJmeJ
fície, de solcJs, depósitos seclimentares e sedimenteJs e> scJterramenteJ rápicleJ, que reeluz CJ cc>ntate1 c-leJs seeli-
em trânsitcJ (Fig. 9.4). 1nentc>s con1 os agentes intempériccJs. Relevos suaves
propiciam transpcJrte ceJntínucJ e prolongadeJ, atuante
() transpeirte deJmina onde cria urn sal(lo negati, cJ 0

scibre grãc>s livres, ceJtn leJngc1 tempel ele ação dos agen-
de matéria. Trata-se aí da remeJbilizaçãcJ sistemática de
tes ele intemperistno (Fig. 9.4).
grãeis e partículas, que se pocle chamar ele erosão. Tem,
portante), uma distribuiçãeJ geeJgráfica recíprcJca à elcJ ;\ clepcisiçãcJ eiceJrre preferencialmente em algumas
intemperismo. Na serra ccimcJ na planície, ci transpcJrte pc>rçc'ies da planície litcirânea e etn grande parte eleJ
dcJ grãeJ peJde ter caráter intermitente e, assim, alternar oceanc>, embora pcJssam existir pequenos depc'isitcJs tem-
fases de alta energia e transpeJrte rápidcJ ccJm perÍeJeleJs pe>ráric>s tam\Jém nas drenagens que clescem a escarpa
proleJngaclos de arrasto lento, Oll mesmo retençàc1 em (~'ig. 9.4).
meici a eJutros grãcJs da margem tempcirariamente ex- Têtn-se, assim, quanto à relaçãcJ intemperismo / ero-
posta. A duração, intensiclacle e in1pcJrtância relati,·a sàci / depcisição, três tipe1s de clomínios geográficcJs: no
elestas fases ou regimes hidrc>dinâmiceJs ele transpc>rtc primei rei tipei, eJ intetnperismo predcJmina francamente
sedimentar dependem do graeliente de rele,-ci e elas scibre a ereisãeJ e a eleposição. CorrespeJnde, em neisso
ceJneliçc'ies climáticas. A iníll1ência dcJ clima, ccJnforme exetnplo, ao interior da serra. Nl1m lapso de tempei
visto no Capítulc1 8, reside em especial na intensiclacle 1nenc>r, inclui também a planície litcirânea. Deve-selem-
de açãeJ deJs agentes intempériceJs. Climas ql1entes e brar, porém, que peJr vcilta ele 120.000 aneJS atrás, a
úmideJs prcJmeJvem desintegraçãci e decomposição mais maicJr parte das atuais planícies litcJrâneas brasileiras
rápid.a que climas fricJs ou áridos. A principal influên- enccJntrava-se submersa, e, pelrtanto, com preeleJmínio
cia dei releveJ está ncJ tempo de açãeJ deJs agentes de prcicessos depcisicieJnais marinhos (Cap.13). Nci se-
intempériccis e ele elesgaste mecânico durante cJ trans- gunelcJ tipci ele elomínic>, a erosãcJ prevalece francamente
sc)brc <l i11te1nperisn1c> e a clep(isiçà(J. I~ste llc>t11í11i(J en- temp<> att1al, <J nível de base é uma linha melhcJr defi-
,
cc)ntra-sc hc>je na escarpa da serra. l~, t)(Jf excelé11cia, nida. :\essa escala lle análise, a planície lit<>riínea
<l <l<JmÍnÍ(l cl<> transporte se<-1Ímentar. (} ccJ11jL1nt<l fclr- t(Jrna-se úrea-fcJntc. f'. ClS scclimentc)S l1e praia att1al
n1atl<J pclr estes clc>is primeirc>s dc>mínicJs é resp<>nsável p<lSStiíríarn cl<JÍs clomínic>s ele áreas-fc>ntes: utn \Jrirná-
pelcJ fclrnecimc11tcJ de sedimenteis para <J rnar. Pcir esta ricJ, situaclcJ na serra e na escarpa, e <Jutr<> sect1ne1árici,
razão, ccJstun1a-sc dencH11iná-lc> área-fonte e as rcichas lclcalizac1<l na planície litrirânea.
nele existentes, rcJchas-fcJntes (l;ig. 9.4). Nesse senti--
<1<>, rcJcha-fc>nte pcJde ser ccinsicleraclcJ um tern1<i
sínónin1r> \Jara rc>cha-111ãe. Nc) terceircJ tipc> ele cl<lt11í-
9.3 Sedimentos que Não São Grãos: o
11icJ,
,
a dep<Jsiçàc> precl<Jn1ina solJre c1s l1emaís pr<>ccsscls. Transporte Químico (iônico)
1~ <J que ciccJrre hcJje na bacia cJccànica st1l>n1ersa e na
praia, e C.)ttc, há 120.()0() ancJs, estcnc.lia-sc taml)ém à NcJ inicie>, aiJ<lrdam<JS a hist<'iria ele tun gràcJ
atLtal pla11ície litc>rânea. r'.stc (l<ltnínÍ<l rccclle <l ncit11c seclirnentar c1e c1uartzci, clesdc a árca-fc>nte até a bacia.
,
ele bacia sedimentar (Fig. 9.4). l~ imJJ<Jrta11te ressal- N(l entanto, ern sua trajetória ele grãc> seclirnentar, <>
tar c.1t1c <J cl(imíni<J e-ia dcpcJsiçàcJ scibre eis pr<>cesscis tJuartz<l pc><ic ser ac<ln111anl1acl<i nà<l apenas p\lr gràcJS
i11tcn1péricc>s e crcJsivcJS pc>cle ciccirrer tarnlJén1 cr11 rÍc)S, ele várícJs <Jutrcls minerais e rc>cl1as, ccirncl tatnbém prlr
lagc>s, lagunas e campcis ele clunas existe11tes nc> C(>11- Í<>ns transpcirtaclc)s cm sciluçà<J. l~ste sc)lt1tc) tc111 t1n1a
ti11ente. I)csse m(lclcl, bacia sec1i1nentar nà(> in1plica (Jrigern e l1ist('iria l)astantc parccicla C<ltn a cl(>S sedi-
<>IJrigatciríamentc l1acia marinha. mentcJS, C(lrr1 a clifcrença de c.1ue SCll transpcJrte é
"'
<jlÚtnic<i, pclrtantcJ nãcJ e11V(Jl\'C carrea111cntcl ele mate-
() nível hc,rizcJt1tal imaginúric, al)aÍxcJ ele, c.1t1al a cie-
rial s<'>lí<.l<J. () (\estinc> final do sciltit<> é ígualrncntc a
pcisiçà<J pte<.lc1n1ina sobre ercisà<i e intemperis1n<> e l)acia sedin1entar, <Jntle parte c!cJs ÍcJ11s pcJtle agrupar-
acima dei c1ual ercisàci e inten1peris1ncJ prcclci111inam scJ-
se, aclquirir a f<Jrn1a ele CC)tr1pcistci s(Jlicl<J e
IJre clepcisiçàci rece!Je <> nci1nc <.te 11ível c1c l1ase ele
tra11sflirmar-se assim crn sec1in1entci. 1\ transfclrn1a-
er(JSà(J, ()U sirr1r)lcsrncr1te, nível ele !Jase cr:ig. 9.4). 1•'.sta
çà<l c!cJ scilL1tci ern sellimc11tci, dentrlJ ela lJacia
clencJminaçà(> expressa ci fat<J ele CJllC a erclsàc> r1àcJ 11<icle
sedimentar, p(lcle <>cc>rrcr pcir peh> n1c11c>s três nl<l-
atLtar significativan1entc além (al1aixcl) clestc 11ívcl. 1-,:
cl<Js clitcrentes: pela precipitaçãci c1uín1ica, pc1r exet11plcJ
tan1bé1n que a cr<isà(J contínuacla <la área-f<)ntc ten,le-
cm un1 cvajJ<>ritci (saís fcJr1nadc>s 11t1m mar restritcJ ciu
ría a arrasá-la, nci rnáxirr1cl, até este nível. N(JS cas<>S ele
11<J s<Jl<J devicl<> à taxa <le e,rap<>raçâ<l 111aicir l]Lte a ele
l1acías n1arínl1as e nac1L1elas c<Hn ec)nexàc> ·,l(l n1ar (1>
11rccipitaçàci; C:ap. 1?)); !)ela açàcl clireta c1e <>rganistn<JS
<JLte ír1clui pla11ícics litc)râneas, [Jlatafc>rn1a st1l1n1crsa,
\'i\'CJS, pc>r cxen11)l<J cn1 u111a carapaça ele m<ilL1sccJ tlu
plarúcícs alJíssais, gcilfcis, lagL1nas, eleitas e cstuári<Js), (J
cm Ltt11 recife ele ccJrais; ciu pela prccipítaçàcJ c1uímíca
nível ele base cc>nfLtnclc-se cc>n1 CJ nível clcl rnar. i\1as,
incluzida l1elc) rnctabcJlisrncJ de seres vÍ\ <>S, f)Clr exem-
0

em !Jacías scclitnencarcs C<Jntíncntais, ele pc>cle enc<in-


plti e111 u1n carl)cJnat(l j)recítJitacl<i devic.lcl à re(it1çà<J
trar-se S(Jl1relevac-lc> em diferentes altitt1clcs cr11 relaçàc>
c1c c<Jncentraçã<J ele gás carlJ(JnÍC(> 11a água, alJs< lrvíd(J
aci 11ívcl clcl mar. Deve-se ressaltar qLte (l nível llc lJase
11a fclt(JSSÍ r1tesc ele algas \/Crdc-aztiis (cían<>l)actérias).
varia ncJ tcn1pci, cm fu11çâc> de t11Ltclanças del r1í,·el rela-
tívci clci rr1ar (nível cJl1servá vcl dcJ r11ar, rcs ui tan te clcJ () li1nite e11tre Í<JI1 e {Jartícula s(Jli<la e, p()r extensãc>,
efeitci ccJn1l1inadel eia varíaçãc> de> v<>lume ele água n<> entre transp(>rte ljLlÍrnicrl e físicc), nà,i é al,scJlutci. lintre
cstaclci líc.1uíehi e ela tcctc;,nica; (~ap.13). 1-"fá 12(1.(í( )() a11c>s, t1111 e Cltttr(J, existe urna categcJria íntermec1iária ele partí-
p<lr excn1pl<J, <l nÍ\'el relatível c1<J n1ar r1<J Brasil estaria cula <JLt C(lmplexcl itJniccJ, grc>ssa e pesal1a d_emais para
8 a ll) m acin1a cici att1al, a<J pasS\J c1uc há 17.()(Hí an<JS, ter (> ccJn1pcirtan1entcJ ele ícin, e fina e leve tlctnaís para
estaria a cerca ele 11 () m abaixe). i\ssirn, <) r1ível Llc !)ase respeitar as f<'.1r111ulas físicas de tensà<> interna (fc>rça-
para a IJacia <>ceànica d(> Atlântico acljacentc a(> territ(J- pcs<l e cn1puxcl). F~111 lt1gar c_ic cleca11tar scgt1nc.1rl as leis
rio brasileirri, 11c)s últim<JS 12().()(){) an<1s, teria \'ariaci<l eia física clássica, este típc> ele partíctila realiza n<> tltticl(>
dentt(J <le t1ma faixa entre as C<Jtas -11() e +1() 111. :\es- u111 mrJ,·in1cntci aparenter11ente alcat<'iríc), denci111i11adcJ
se Ínterval<> tle temp<l, as p<Jrções att1almer1te er11ersas n1<J\"Íment<1 brc1\v11íanc.i, que seria 111cll1<ir descrÍt\l pelas
e submersas ,la lJlatafcJrma ccintinental <>ra atL1ara111 tc<Jrias cla l-'ísíca cicJ (~acJs. l{stas partículas que exil1ern
C<Jn10 área-f<lnte (Jra ccimci bacia. t"~stc fatcl nacla n1ais é c<Jn11J<irta1ne11tc>s interrnecliárÍt>s c>u cliscrcpantes ele s(i--
qtie uma e,·itlê11cía ele seu caráter eie lJ<Jrcla ele l)acia liclrls e Í<J11s recel1cn1 <l ncJmc ele cc>l<'Jíc-les, e cc1nstitue111
seclímentar. N<i c11tantci, se consiclerarn1()S ape11as <J u1na espécie ele estac!(l ela 111atéria i111p(lrtantc c111
sedimentcJlogia, ccJn1 características físicas n1u1tcJ prc'i- \ rcs11<JSta para esta pri111eira pergt1nta permite clas-
prias. Suas dimcnsc'ics 111ínin1as e 111áxit11as ,-aria111 cn1 sificar <JS 111ateriais seditnentares cm alóctones e
fL1nçàcJ ela co111pcisiçàci e1l1Ín1ica e elas ccine-lice-ics at1tóctones. () prcfixeJ alei cJrigi11a-se dcJ gregci állos,
ambientais. i\Iuitcis elcis cc)mp<Jstcis fe)rn1ae-Jcis pclr prci- ciue significa Clutrci ciu eliferentc. () prefixe> autcJ, tan1-
cessc)s químiccis e !JicJl<'igiccis en1 a1111Jientes intempériccis l1én1 ,·inclcJ eleJ gregcJ ({111/ó.1) e1ucr dizer pcir si prc'iprieJ
e seelitnentares prccipitan1-se ciriginalinente scilJ a têir- c>u ele si 111csn1cJ..-'\ssin1 al(ictonc é cJ seelimentcJ e1ue
ma ele colóidcs, pciele11dci passar n1ais tarde a fcir111as ,-c111 ele un1 lt1gar cliferente elae1uclc c1ndc ele se elepcl-
,
mais cristalinas. E ci casei ele alguns c'ixiel<Js metáliccJs e sita. SeJfrct1, pcirta11tci, transpcirte n1ecànico e pcissui
da sílica (clpala) presentes ccimcJ cit11entcJs c111 arcnitcJs e cJrigen1
, 1.iltima de caráter físiccJ. _b: autc'Jctcine é ci sedi-
ccJncreções c)u e-!c) carlJcinatcJ precipitadci \Jela açàci elci 111e11tcJ c1t1e se fcirn1cit1 exatamente cJnele se enccintra
metal1cilismci ele algas. I\ matéria cirgânica 11as ágt1as ele (i11 sit11). i\:àcJ scJfreu nenl1L1m transpclrte (a nàci ser ci
ricis e lagos apresenta-se ccin1 frcc1üência sc)lJ a fcJrma iêiniccJ, c1uanelei pcirém ainda nãci existia a matéria sc'ili-
ccJlcJiclal e peide ser ac-lseir,-icla pelr argilci111i11erais cla seclin1cntar). Desse modci, pcissui cirigem
(filcissilicatcJs hielrataelcJs, ccin1ci ilita, cs111cctita e caulinita), pura111c11tc qt1ín1ica e/ ciu l1icilc'igica.
estes também ccimumentc ccJlciidais.
r:n1 scguiela, seràci apresentadas as elemais pergun-
tas, a scrc111 feitas em cacla uma das dLras graneles
9.4 Dando Nomes aos Sedimentos catcgcJrias pre\·ian1entc rcccJnheciclas.

A esta altura já rcuni111c1s infcir111açc1es suficie11tes


para percclJcr CJ e1uãci di\·ersificaelcis sàcJ <JS tipeJs de 9.4.1 Transporte e deposição por processos
sedimentcJs. (J ccinceitci inclui tuelcJ eJ que se dcpeJsita, físicos: materiais alóctones
ccJm transpcirte pré,,ici ljllÍmiceJ ciu n1ccànicci, feira e/
( ) cc inccitci de alc'ict<ine abrange tantci Cl gràci ele quartzci
ot1 dentrci da bacia, pcir \'ias físicas, qL1ímicas, bicilc'Jgi-
prcJ,-indei de um i--,>ranitci na área-fcinte quantci cJ frai--,rmen-
cas cJu bic)cjuÍmicas. "f'cJrna-sc ccJn,-cnicntc assim uma
tcJ ele la,·a lancadci
,, e c<Jns<ilie-ladci nci ar, clurante uma
classificação e!cJs tipcis ele sce-!in1cntc)s, qt1c pcr111ita, ccJ111
expleJsàc l \'ulcânica. ;\ssim, a primeira peri--,'1.lnta a fazer
um cJu elcJis tcr111cis técniccJs, infcJr111ar scJlJrc tcJelas
11ara classificar eis sedimenteis alc'ictcines cJbjetiva c-listin-
essas questc3cs relativas a setis jJrcicesscJs fcirn1adcircs.
guir entre estes elciis tipcJs de eJrigctn: ci seelimentci fcii
A classificaçàeJ geral elcis 111ateriais ele cirigen1 tra11speirtaclci ]JCJr feJrça elcJs agentes da clinâmica externa
seelin1entar (istcJ é, seelimentcJs incc)nscJlielaclcJs e reJ- ela Terra, ccHnci ccJrrentes, geleiras e venteis, ciu teve par-
chas seelimcntarcs) visa respcJnc1~r a uma série cic ticipaçàc l essencial de fenêimencis da e-Jinàmica interna
questc'ícs scibre st1a "bicJgrafia" (Pig. 9.5). l)e certci manifestadcJs scib a fcirma e-lc cxplcJsàcJ vulcânica? ( )s
mcJdcJ, sàci as perguntas que faremcis aci seelimenteJ materiais al(ictcines classificam-se elesse mciclci em
para saber o seu ncJme. l~mbora as perguntas sejam epiclásticcis (clci gregci epi, pcisiçào Sl1pcricir, superfície) e
genéticas, tenclcJ ccJmci pcintci ele partiela a caracteriza- pir<JclásticcJs (dcJ grcgci pytrJs, fcJgcJ), respectivamente.
çãci elci transpcJrtc sedimentar, cil1têm-se facilmente as
respcls tas cotn l1ase na análise ela ccJn s ti tuiçàcJ () cc lnceitcJ ele alc'ictcJnc cpiclásticcl nãci cstal1elece
mineralc'igica e de aspectcJs texturais dei grãci, depéisitcJ exigê11cias c1uantcJ à distância de trans11cJrte. ;\tendem
ciu rcicha. à elefiniçàci tanto Cl grãci ele qt1artzci e1ue atravessa mi-
lhares ele c1uilêimetrcis dcse-!e a área-têinte até a l1acia
A primeira pergunta que se eleve fazer para pc>dcr
e1uantei à carapaça carl1cinática de fcJraminífcro
classificar CJ seelimentcJ é: sua origem última é C)LÚmica,
planctêiniccJ, que, após a 111cirte elo anin1al, tem apenas
bicJlógica ciu física? l fá clciis eletalhes a e-lestacar nesta e1ues-
e1uc elecantar aci lcJngo da espesst1ra ela cciluna de
tàci. Primeiro: pcir cirigem física, entenda-se transpe1rtc
água eleJ mar para se elepcJsitar. lJara distinguir entre
mecânicci. Segundc1: quer-se saber scJ]Jre a cJrigem tilti-
estes elcJis tipcis ele cJrigem ele sedimentos
ma, imediata, e nàcJ scJbre seus prcicesscis geraelcires tnais
epiclásticcis, a pergunta a respclnder é: ci sedimentei
remcJtos. lstci si6>nifica c1ue um fragmento ele ccincha ele
fcii transpcirtae-!cJ clesc-lc a área-fcinte (externa à l1a-
molusco enccJntrae-lo na areia de praia deve ser ccinside-
cia, pc>r elefiniçàci) ciu apenas dcntrcJ elcJs limites da
radcJ ccimcJ de cJrigem física e nàci bicJléigica, pciis emlJcira
bacia seelimentar? (~lassificam-se assim CJS materiais
secretadc) cJriginalmentc por um animal, o últimci prci-
cesscJ em sua história seclimentar fcii ci ttanspcirte mccàniccJ epiclásticcJs em extraclásticos e intraclásticcJs, respecti-

(físicci) pelas cJndas e correntes litorâneas. va111ente.


() sufix<) clasto, que aparece nos quatro terrnc)s exemplo anterior ou de qualquer c)utrc) tipc) de animal
introc.luzidos neste item, origina-se do greg<>, onde pode encontrar-se intacta em um c.lepósitc) sedimentar
klástos faz alusã<) à c1uebra ou a<) fragment<) p<)r ela e, ainda assim, ser considerada um clasto, desde que
produzido. () termo foi incc)rporado e substantivado tenha sofrido algum transporte para poclcr depositar-

pele) latim, de onde chegou ao português. E um típicc) se. Um sinônimo usLtal para clast<) é detrito. A
exemple) ele palavra cuj<) significado técnicc) extrapcJ1a etirnol<)gia deste últimc> termo é muito sugestiva ela
a etimologia, pois entende-se por clast<) e1n idéia de transpc)rte rnecâniccJ, pc)is detn'tus cm latim
sedimentologia qualquer sedimento c1ue experirnentc)u significa gasto pelo atn'to. 1\1as também não abrange de
transporte rnecânicc), tenha sofrido literalmente que- mc)do rigoroso o exemplo da decantaçãc) elo
bra ou não. Assim, urna carapaça de foraminífer<) do f<)rarniníferc) planctônico.

A origem imediata é física


(com transporte mecânico)?

• Origem química e/ou


Sim . Não. biológica, in sifu.

Alóctone Autóctone

A força-motriz do A origem é puramente química


transporte mecânico (transporte iônico seguido
foi explosão vulcânica? por precipitação química)?

• A precipitação teve
Sim •. Não Sim • Não influência da vida.

Piroclasto Ortoquímico Biogênico


Epiclasto

O trans[_Jorle mecânico A precipitação deu-se Seres vivos secretaram


veio de fora da bacia em salmouras nas carbonato construindo
sedimentar? águas deposicionais? um edifício?

• Em águas
Sim •. · Não vadesas.
. Não
Sim • Não • Metabolismo "'.egetal

Sim· · 1nduz1
- u, a .prec1 pila-
Aguas vade- • çao qu1m1ca.
lntraclasto Evaporito
Extraclasto sas formaram
ou cavernas? Bioconstruíclo
terrígeno Bioinduzido
Sim Não
Houve influência de
. .
processos qu1m1cos
Espeleotema Caliche
e/ou biológicos na
formação do clasto?

O fluxo de água vadosa


Sim\• foi ascendente?

Sim·. Não
Alobioquímico
Evaporito Silcrete
pedogênico Ferricrete
(calcrete)

Fig. 9.5 Roteiro - fluxograma de perguntas e terminologia para classificação geral dos materiais sedimentares a partir da carac-
terização do transporte.
·'!':-t'3 espa rito fósseis
~'1
,t::::;.Y
-----(cimento)
oóide
oncóide

•. I ,"-
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'
'
' intraclasto micrito

esparito

Fig. 9.6 Representação de uma seção delgada de rocha calcária, conforme vista ao microscópio óptico, com os principais tipos de
grãos alobioquímicos e de matriz/cimento. O desenho é idealizado porque raramente os quatro componentes alobioquímicos
ocorrem juntos na presença de lama carbonática (micrito).

Origem externa: materiais extraclásticos ou embcira ccinsagrado pelo uso, é parcial, pois não ex-
,
terr1genos pressa a evidente contribuiçãc) biolcigica dos pellets e
biciclastcJs. Desse mcitlcJ, essa clenci1ninaçãci é aqui subs-
() termc) terrígenc) é utilizado ccimo sintinim<) tle tituída pelo tcrmci alobiciquÍtnicci.
extraclásticc) pclr alguns autores, e de cpiclásticcJ em
geral, por outros. Considerando e;ue o nome faz alu- ( )s setlimentcis intraclásticos sem influência de prci-
são acis sedimentos gue provêm da terra e1t1ersa, nci cesscis ljtúmico-bicilc>gicos ccirrespcindcm a fragmentc>s
sentido de área-fonte cm sua acepçãcJ clássica (área c>u tc>rrc:íes de depc>sitcJs tcrrígencis preexistentes, retira-

alta), o uso ccimci sinônimo de extraclástico é mais deis mecanicamente tlcJ ft1nclc> da mes1na bacia e
ad.eguado. redepcisitatlcis, sem que haja hiatci tle tempcl gecilc>gicci
significati,•o entre a tlepcisiçãci ciriginal tlo sedimentcJ e
sua retiepcisição. A tlistância tle transpcirtc, alé1n tlc limi-
Origem interna: materiais intraclásticos
tar-se às fronteiras da bacia seclimentar, é restrita aci
Para detalhar a classificação dc)s sedimentos máximci transpcirte que o intraclastc>, p<lr seu incipiente
alóctcines intraclásticos, deve-se c>bservar se houve c>u cstágici ele consolidaçàci, ccinsegue supcirtar. No exemplo
nãc> influência de processos guímicos e/ ciu biolc'igiccis mais tipice> e cc>n1un1, os fra)..,>n1entcJs sãci ruclácccis (maic>-
na formação do material. Os intraclastos com influ- res qt1e 2mn1), exibem gecimetria relitJuiar ele estruturas
ência desses processos incluem os compcinentcs sedimentares primárias, ccimo pc>lígc>ncis ele greta tle
aloquímicc)s da classificaçãc) tle rcichas calcárias prci- dcssecaçàci de lama e estratcJs tabulares, e recobrem tlire-
posta pclr Robert Fc)lk em 1962 (Fig. 9.6): bioclastos tamcnte a própria camada qt1e os forneceu (1 :ig. 9.7). NãcJ
(fósseis), pellets (pelotilhas), resteis mineralizadcis de há termcJ usual para tlesignar de mcitlci específic<J c>s
excrementos fecais, oóidcs (grãos esferoidais com es- intraclastcis de origem predciminantemente física. C)s cle-
trutura interna concêntrica fc>rmada pela precipitaçãcJ pósitos descritc>s recebem Cl nome de ccinglcimeratlcis cit1
química tle sucessivas camadas, em condição de água brechas intraformacionais (Cap.14), mas esta dencimina-
cm movimento) e fragmentos líticos calcáric>s çãc> aplica-se também a depósitc>s tle intraclastc>s
(intralitoclastos ou intraclastos). () termo aloquímico, alo bioquímicos.
Edifícios sedimentares bioconstruídos

:\a categrJria de edificiris bicJcc)nstruídcJs, els repre-


sentantes clássicc>s são os recifes ele corais e algas
,-crn1clhas. F~stes dcJis típ<is ele cirganismcis ,rivem asscJ-
ciadc>s cm edífícicis 1narinhcis, trocando cJxigêrúcJ e gás
carl)(·inico necessários respectivamente !Jara sua respi-
raçàc i e fc>tcissíntese. () ter me> retife pcissui um significaclc>
abrangente e será disct1tidcJ nci C:apítulci 13. Refere-se a
qualquer cJbstáculo natural à navegaçàcJ, parcial flU to-
ta!tnc11te sulJmcrs<J, lcJcalizadcJ pr(Jximo à ccJsta e llrescJ
nri sullstratci. i\ssim, ne1n tuclcJ <> que se conhece ccimci
recife corrcsponcle a !)ioccinstruçc)eS de ccirais e algas.
Parte d<JS recifes deJ Nordeste l,rasileirc), i11cluindc) c)s
cia praia (_le Bc)a Viagem, en.1 Recife (r>E), é fc)r111ada
pcJr arer1itos e não tJor ccJl<'>nias lle C<>raís e algas. Reci-
fes ele corais e algas de Í<Jrmat<J circular pcldem
l~1r1nar-se ncJ entorno tle íll1as, 111uítas ·vezes ele <>rigen1
-_ ,.. .,'P""' -"'" """' - vulcânica. l{ecebf'm e> nome de at<Jl. :1\!cJ Brasil, um
excmpleJ é () at<>i elas Rc>cas (RN).

Edifícios sedimentares bioinduzidos

()s e<-lifícicJs secli1ne11tares bíciind11zi<-los são re-


11resentadcls p<Jr C<Jt1strt1çõcs calcárias, cit1 mais
raramente feJsfáticas, fcJrmadas pcl<J metab<>lisn10
f<JtcJssíntctizantc de cía11<1lJactérias. De> ponte> de vis-
Fig. 9.7 lntroclosto de folhelho siltoso (rocha foliada de ta quín1ico, e> 111ecar1ismo de lJicJincluçà<> de calcáric>s
granulação menor que 62 µm) arroxeado, pouco acima do peide ser cntencfidcJ com base n() pri11cípirJ da
contato de sua camada hospedeira (arenito esbranquiçado) retrc1ali1nentaçãci de sistemas abertos, ci [>rincípici
sobre sua camada de origem; km 306 da Rodovia BR-37 6, de I~e Chatelicr, aplicaclc> à e<..Jtiaçã.ci química que
região de Mauá do Serro (PR). Foto: P. C. E Giannini.
relaci<Jna as fc>rmas í{Jnica e precipitada cio carbci-
natc> (bicarhc>r1atcl e carbc1nato).
9.4.2 Transporte e deposição por processos + t
bioquímicos: materiais autóctones Ca+ 2 (at1.) + HC~C) (aq.) . ·•. CaCC) 1 + C02 + ll2() (9.1)
Para classificar seclimentc>s auté)ctones, a primeira per- Segttnclo o f>rincípi<J ele !~e (~hatelier, a retirada de
gunta a ser rcspcindida é: c>s scc-limentcis fc>ram qt1al9L1er compeinente ele utn sistema quínúco abertcJ,
clepositacic>s p( 1r proccssr>s quín1ic,>s r>u l)Íclléihricc>s? N C) c1n prejuízo ele um clr>s ladcis e-la equaçao, é natural-
case> de {Jrcicessc)S bic>l(igicc)s, a s(>lícla fundaçàc> cJll mente ccimpensad<> pele> dcslc)ca111entc> de) equilíbricJ
ancc>ramcntcl clci dcpc'isitc> nci substrato e CJ seLt crcsci- para esse lad<) e pela rcposíçac) c-!c) componente con-
1nentci .L,rradual i1z sit11, afastanclo-se ela superfície ele f1:xaçàc) sutnidcJ. i\ssitn, a retirada de CC) 2 pela cianr>l)actéria
(ele \)aixci para cima, nci caso mais ccimun1), permite desloca o ec.1uih1JrÍo (eq. 9.1) para a direita, rep<)e e> gás
C<Jlnpará-lc>s ccim edifícios. [>ara classificar estes ecfifícic>s, carbónicci cc)nsumid(J e favc)rece a precipitaçàci ele
respclncle-sc à pergttnta: <JS cirganismcis t'i>r111acirires fixa- carlJ<>natc> insoli'.tvel ((:aC~()J, sc>l1 a t<lrma de calcita
ram-se en1 viela a um SLtl)stratci, aí dei.xandcJ suas carapaças? cJu aragc>nita (dc>is n1inerais de estrutura cristalina dife-
()u prcyvc>caran1, através de seu metab<)lismcJ, muclanças rente e mesma composição química). Deve-se ressaltar,
quírr1icas e/ (JU liicfrcJclinámicas c1ue geraram a clepcJsiçàcJ 11cJ entanto, que a presença de carbr>nat<J nas c<Jnstru-
seclimentar? F'.stc'ls tlt1as f)rissibílidades permite111 classifi.- çiics micrc>l1ianas pc>de também ter uma cc)mponente
car cJs edificios sedimentares cm bioconstruídos e mecânica, isto é, a retenção ou filtragem de partíctilas
bioinduzidos, respectivamcritc. finas pelc>s n1icrcic>rganis1nc>s.
()s edifícios estr<imat<Jlíticc>s sàci fcirmadc>s pela 111ica residual ncJs hciriz<Jntes superieJrcs c-le sc>leis
alternância regular c<incordantc entre lâminas de estei- (calic h es) e a algumas precipitaç<>es calcárias ctn
ra micro!Jiana e lâminas elci carbcinatc> que as reccilJre. ca,,ernas (cspelecitcmas, Cap. 7). lltna pcissi!Jiliclade
As lâminas sà<i finamente e)ndulaelas (Fig. 9.8). e-lc stilJcli,,isàcJ el<is dcp<'isitcis ort<>c1uímicc>s é sepa-
Materiais ortoquímicos rar c>s clcp<'isitcis fcJrmaclcJs nas águas ela !Jacia
secli1ncntar, rcpresentadcis peleis evapcJriteis mari-
C)s materiais aut(>ctones de cirigcm química sà<J nheis e c<intincntais, claquelcs fcirmad<JS pela
chamados de ortoquímicos. ()rthós, cm grcgcJ, signi- circL1laçãci de águas ,-aclcisas (ágt1a intersticial acitna
fica direit<>, ou ceirreto. C) c-lircitcJ eiu cc>rrctc) inelicadcJ dei lcnçcil freátic<i), incluinelcJ CSjJelceitcmas, caliches
pelo prefixei, neste casei, cliz respcitcJ à cJrigem qL1Ín1i- e etl<ircscências salinas. ()s calichcs ccJ11sistcm ele
ca. Assim, <i prcicessei fcJrmadcJr clci seelimcntc> crc>stas superficiais ele sais c1L1 e'ixiel<is e classificam-
<Jrt<iquímiccJ seria a precipitaçàci química, sem interfe- se C<>nfeirmc a c<imposiçàcJ quín1ica 11rcdcJminante
rência de mccanismcis biok'igicos <Ju físic<Js. cm silcrctes (sílica criptc1cristalina), ferricrctcs (c'ixi-
()s cxemplcJs mais típiccJs ele depc'ísitcis clcis e hic-lréixidcJs ele fcrrcJ), calcrctes (carl1<inate1 ele
ortc>c1uímicos sinclcpc>sicionais referem-se acJs pr<i- cálcicJ) etc. JJ<1e-le111 fcJrmar-se pe>r tluxcJ desccne-lcntc
d u tcJ s de cvap<iraçàc> ele salmcJuras naturais <Jll asccnelentc (evapelríticei) de água vad<isa. J,:n-
(eva1Jc>rit<is), à precipitaçàci ou ccincentraçà<J quí- c1uantci a f<irmaçãc> ele silcrctes e fcrricretcs depende
de intensa precipitaçã<J pluvic>métrica, <J calcrete
ccirrcspcinelc a pr<ielutc> típic<J de peclc1gênesc
cvapcirí tica cm desert<is.

9.5 Categorias de Transporte Mecânico


() transporte seclimcntar cicc>rre sempre através
ele um tnei<> fluie-lc>, paraclc> CJU em m<ivimcnt<J, seja
ele ci ar, a água c>u uma massa visc<>Sa c<instituíela
pela mistura entre seclimcntcis e água e/ ou ar. ()
gcleJ tamlJétn p<ide estar presente n<i mci<J, e até
mcsm<> ceJnstituir, sob a f<Jrma ele geleiras, ci prin-
cipal vcícul<J d<i transp<>rte sedimentar (C:ap.11). PcJr
sua rigiclcz, as geleiras ciferecem pc>uca libercladc
ele mcJvimento às partículas sedimentares, asscme-
lhancl<i-sc assim, cm term<is de prcJcess<is e seus
respecti\-os dep(isitos, a<Js fluxos de fluid<>s ele mais
alta \ isccJsielaelc.
0

D<i pont<J de vista físico, <> estudo el<i transp<ir-


te sec-!imcntar rest1me-se, portantei, a um cstud<J de
feirças atuantes no interieir ele fluidos, tendcJ a vis-
Cl1siclade ceimcJ critério de abeJrclagem. A
viscc>sieladc é a propriec-!aele física determinante d<>
me)do ele manifestaçàci e-las forças de superfície,
assi111 c<imo a densidade <J é cm relação às forças
c-le ceirpo. Em termos de fluid<J, a ccJrrelaçãci entre
Fig. 9.8 Estromatólito com esteiras planares horizontais. a) elas quase sempre é direta. Sob esse cnfe)que, <JS
Metacalcário do Proterozóico superior, aflorante na estrada tip<>s de transporte sedimentar serãei classificad<is
entre Apiaí e lporanga (SP). Foto: P. C. F. Giannini. b) Calcário em dliis grandes grupcis, conforme a viscosidade
cretáceo da Chapada do Ara ripe, no Ceará (mesma região onde (e, na maioria elas vezes, a densidade) seja baixa
ocorrem os fósseis de peixes mais famosos do Brasil), obser- (água e ar com baixa c<Jnccntração de grãos em
vado ao microscópio óptico. Amostra coletada por M. L. Assine. suspensão) <Ju alta (gelei e misturas ccJncentradas de
Fotomicrografia: A. S. Assoto e P. C. F. Giannini. gelei/água/ar com sedimentei).
180 D EC I F RA N DO A T E R RA

9.5.1 Fluxos de baixa viscosidade

Nos fluidcis de baixa viscosidacle estacie)nárieis (caso 100


. .
raro na natureza mas que, numa pr1me1ra apre)xlma-
çãeJ, pode ser exemplificadeJ pelas águas de um lago
.
-
~
E 10
estagnadci), as fe)rças de celrpei e de superfície agem -V
G)
-o
se)bre cada grãei individualmente (pe)r exemplei, uma D 1
-o
partícula de argila decantanclo lentamente nas águas ·-V
cio !age), à mercê da força-peso e dei empuxo). Neis -~o 0.1 Veloc,dodes
críticas de:
fluideis de baixa viscosidade em mcJvimento (ccJrren- erosao
teza de um rieJ, por exemplo), as forças de ccirpcl agem transporte

0.01
scJbre ei fluido, fazendo-o se meJvimentar declive abai- 0.1 l 10 1000
0.001 0.01 100
xo; ci fluielo repassa esta ação a cac-!a grão, sob a fcirma Diâmetro (mm)
de esforço tangencial, e transporta-o ou nãei, de accJr-
dei com seu peso e ccJm sua fc)rma. Assim, a Fig. 9.9 Diagrama energia x granulometria, apresentando as
característica essencial do transpcirte de grãos em meio curvas de velocidade crítica de transporte e erosão. A curvo de
pcit1co viscoscJ é e1ue as fcJrças agem de maneira pre- transporte (inferior) represento os velocidades necessários poro
dciminan temente individual. O comportamento colocar em movimento grãos isolados de diferentes tamanhos.
dinâmico do grão, isto é, sua velocidade, trajetcJria e A curvo intermediário cepresenta os velocidades necessários
meJelcJ ele deslocamento, é uma respeista direta às feJr- poro erodir leitos friccionais formados por grãos (esferas de
vidro, por exemplo) de diferentes tamanhos. A curvo superior
ças nele atuantes e reflete suas características individuais
represento os velocidades necessários poro erodir leitos
comeJ feirma, densiclade, tamanho e rugeisidade su-
coesivos formados por grãos (placas de filossilicotos, por exem-
perficial. Enfim, ncis fluidos pouco viscosos, os grãeis
plo) de diferentes tamanhos. Fonte: Sundborg, 1956.
têm identie-!ade própria. Como efeito, a corrente pode
prcivocar uma seleção dos grãos no espaço, separan- transporte. Partículas e-!e diferentes tamanhos po-
de) eJs grãos mais leves (menores e/ ou menos denscis e/ dem apresentar veleJcidades e mecanismcJs de
ou ele formate) mais Jlutuáve~ dos mais pesados. F,sta se- transpclrte individual diferentes. C)s principais me-
leçãei peide, portanteJ, ter ao mesmo tempel caráter canismos são a suspensão, a saltação, o arrasteJ e o
granulométricei, elensimétriceJ e mcirfométrico. rolamento. NeJ fluxo não viscoso típico, estes me-
Em um fluxe) de baixa viscosidae-!e, os grãos mais canismos ocorrem de maneira predeiminantemente
pesad.eis tendem a ser transpcJrtados mais devagar que livre. A interação entre grãos vizinhe)s é subcire-!ina-
eJs leves. Fixada a densidade e demais variáveis, quantei <la e nãci compromete a trajetória de modo
mais grossa a granulação de um leito sedimentar essencial.
inccinsolidade), maicir a velocidade mínima necessária A suspensão é o carreamento ou sustentaçãci deJ
para dar início aei meJvimento dos grãos, ou seja, a grão acima da interface sedimento/fluido (superfície
veleJcida<le crítica (Fig. 9.9). Esta regra tem exceções deposicional). Ela pode ocorrer por uma ou mais
impelrtantes nas granulações muito finas, cinde o au- dentre três condições físicas: existência de turbulência,
mento <la superfície específica eleva a magnituele relativa baixa densidade e comportamente) coloidal. As duas
das fcJrças de superfície intergranulares (coesão/ fric- últimas condições não requerem meJvimento, poden-
çãcJ). () efeito pelo qual leitos de silte e argila são mais do ser observadas mesmo em fluidos estacionários.
difíceis de serem erodidos que os de areia recebe o As fcirças que mantêm o grão em suspensão, em cada
nome de efeito ou aneimalia Hjülstrom-Sundborg. A uma destas situações, são, respectivamente, a força de
granulação máxima para existência deste efeite) anô- ascensão hidráulica (Fig. 9.3), o empuxo e a resultante
malc) é de cerca de 0,1mm, em leitos coesivos, e 0,7mm, do movimento browniano.
em leitos friccie)nais (o que define se um leite) é coesivo
A saltação é a manutenção temporária do grão
cJu fricciona! é, em grande parte, a prc'ipria granulação).
em suspensão (Fig. 9.10), em trajetória aproximada-
Uma vez que a ceirrente colocou a partícula em mente elíptica, entre seu desprendimento inicial e o
movimento, diminuem drasticamente os efeitos de impacto na interface fluido/ sedimento eiu entre dois
coesão e fricção sobre ela. Nessas condições, e1uantci impactos sucessivos. Durante o choque, o grão peJde
mencir a granulação elo n1aterial, mais fácil é o seu afetar algumas partículas da interface e provocar rico-
chete, uma fc)rma c.lc saltação inc.luzida peleJ impacto.
A saída de 6rrãos pc)r ricc)chete cria um pcquenei déficit
leJcal, marcac.lo pc)r irregularic.-lac.lc nc) leite), e tc)rna esta
área mais exposta aei esforçci tangencial e mais sujeita
a neivos lançamentos. Desse mciclei, o fenê)menei da
saltaçãei possui a capacidacle de se autc)multiplicar.

() arrasto eiu rastejamcntei (creep) é ci clesleJca-


mentei de) grão subparalclo e rente à interface
sedimento/ fluic.lo, em contatei durac.le)t1rc) eiu
tangencial com esta interface. ;\ exemplei dei qt1e
cice_irrc na saltaçãe), eJ ccintato ou aproximação com Fig. 9.11 Produção de subleito friccionai ou carpete de tra-
a interface pode afetar eiutreJS grãe)s. () movimente) ção (camada de fundo com alta concentração de grãos em
movimento trativo), em condições de alta energia e baixa pro-
induzidei mais ccJmum é um ligcircJ rcmanejamcntcJ,
fundidade, na zona de espraiamento. Praia de Peruíbe (SP). Foto:
através de empurrãcJ dos grãc)s uns sobre os e)t1trc)s.
P. C. F. Giannini.
Devic.lo ao efeitei multiplicador dei rcmanejamentei,
el arrasto em enccistas pode prcJvcicar, a longeJ pra-
zeJ, o mc)vimente) lentei, imperceptível cm escala Fixada a energia de transporte, cm um sedimento
anual, do acúmuleJ sedimentar eiu c.lc) regolitc) com certei intervalei de variaçãeJ granulométrica, a
(C:ap.7). Quandei o material da enceJsta encontra-se peipulação mais fina tende a ser transpeirtada cm sus-
saturadeJ cm água, este efeito é urn poucei mais rá- pensãei, a mais grossa pe)r traçãei e a intermediária peir
pic.!eJ (da ordem de 1 a 30 cm/ano). Recebe então saltaçãei. Fixada a granulação, a tração é ci mecanismei
e) neimc de scilifluxão. de transporte preferencial nas baixas energias, passan-
do-se, ceim o aumentei gradual de energia, para saltaçãe)
(_) rolamento é a rc.Jtaçãei do grão cm teirne) ele
e depeiis suspensão.
um eixei, pcir sobre outros grãeis da interface. É facili-
tado pelas feirmas esféricas e principalmente pelas A visceisidadc, a clensidadc e a profundic.lac.lc do
cilindróides e pelo tamanho relativo de) grão (maieJr meio também influem nei mccanismei c.le transpeirtc,
que a média do substrato). cm especial no inícicJ e.lo movimento. Esta influência
fica clara quande) se ccimparam eJs transpclrtes aquoso
() mc.Jvimento dos grãeis por arrasto e rolamento
e ecilico. 1\ água impõe maieir resistência visceisa e des-
é denominadci tração (Fig. 9.11) Em sedimcntcileigia,
se mcidei, ei dcsle)camento para cima, peir saltaçãei por
ceinvém utilizar o termo especificamente para o mei-
exemple), nci início do movimentei dos grãos, torna-se
vimento e não para a fcJrça meJtora (tensão tangencial
mais clifícil. No ar, a menor resistência na vertical faz
à superfície depeJsicional).
ceim que a maioria dc)s grãos passe diretamente do
repouso para a saltação e suspensãci, em detrimento
do estágio trativo (Fig. 9.1 O). Delis fatores adicionais
de fundamental importância nessa peculiaridade do
transpeJrte eólico são as forças de fricção intcrgranulares,
as quais aumentam nos meios menos viscoscis e difi-
cultam ci movimento trativo deis grãos, e a energia de
impacto, mais violenta quanto menor a viscosidade.

Examinados apenas como mecanismcis de trans-


porte de grãos livres, suspensão e tração exercem
efeitos parecidos na dispersão dos sedimentos, pciis
ambos obedecem ao sentido de atuação da tensãcJ
tangencial imposta pela corrente. Vistos como me-
Fig. 9.1 O Fenômeno de queda ou nuvem de grãos, exemplo canismos de deposiçãci e de construção do leito
de transporte por saltação/suspensão, na crista de uma duna sedimentar, eles possuem ações distintas. A deposi-
~ ~ A •

em Laguna, SC. Foto: P. C. F. Giannini. çao pcir suspensao ocorre, em sua essenc1a, na
vertical, e pron1<)VC <J acÚmL1l<) gradual chJs grã<JS e sc>crgt1ídas de estc)quc <lesenvcJlvem rapi(lamente cerra
o crescitncnto do leit<1 sc<1imcr1tar de l,aÍx(J para assin1etría, a<ll1uirir1clo incli11açà<i suave a mor1tante
cima. (~cJ111cJ a deposiçàcJ c1ccirre de tn<l<lci h(JlTill- <la C()rre11te e al,rupta a jusa11te, <l que configura a
gênccJ acJ largo do leito, este tende a ser plano. 1\ m(JrfcilclgÍa
c.
de marca <ir1dulada assimétrica. () cci111-
clepc>siçàc> pcJr traçàc> clep<)SÍta els sedimenteis nc> fJrimentci de <)n<ia da <Jn<lulaçà<J relaci<)na-se assim
sentidcJ (la te11são tange11cial, ccim um f<irte cc>111- ccin1 a extcr1sa<> preferencial <i<JS salt(JS. S<il1 rnais ener-
!)(Jnente paralelc, ao leite> secJimentar. CcJ111ci a gia, salt<JS prcJ!c1ngadcJs f(Jr1na1n ondulaçêies até
c1uantidade ele sedi111ento que chega cm clad<J tre- 111étricas (mcgaclndulaçl>es). () dcJmínio ela saltaçàc> /
chc> dei leitcJ é igual à c1uantielade que sai, cJ leit<J suspensãcJ cc>n1<1 mccanisn1ci de transp<>rtc ele areias
resL1lta11te tan1bém tcncJe a ser plano..A cc>nclusãcJ é e{Jlicas explica pc)r<1ue o lcit<) pla11cJ nãci é t1n1a forma
C]lie, apesar ele ccJntrastantes, <)s n1ecanismcJs dcpcisicicJnal estável em cam1J<Js ele dunas (l~ig. 9. l(l).
cleposicic>nais p<ir traçàc1 e suspensãcJ fJt1ras ccJnc1u-
zen1 a un1 111es111ci tipo ele fcirma ele leitc> seciimentar: 9.5.2 Fluxos densos ou gravitacionais
ci leito plano.
()s ílux(JS gravitacionais cc)t1stitL1en1 <) tipo de flt1X<)
i\ saltaçàcJ ccin1porta-se cr)m<J n1ecan1smo inter-
• -viscoscl em que a viscosidade elevada se deve à gran-
n1ecliári(l entre a traçà(J e a suspcr1sà<i. t\ se111cll1ar1ça
tle c<incentraçà<l de sedimentcls no fluidc1. Do pclnto
ela st1spcnsàcl, <JC<irrc c1uccla cl<J grãcJ, p<1ré111 existe
<ie vista estritamente físicc>, C)S f1t1xos gravitacionais
u111 cc)111pcinc11te tangencial i1npc1rtantc, ligaci<J à in- L

clisti11gt1e111-se d,Js fluxos tlc l1aixa visccJsidacle pele>


cli11açàcJ da trajet(>ria ele lJUecla e a(J efeit<J de riccJchete.
l)l1jetcJ de atL1açào das fc>rças ele cc>rpcl (a mistura grac>s/
Se i111agínarn1cis c1ue, para C<Jnelições fixas ele energia
fluÍl1CJ e nàc1 n1ais CJ grã<, in<livicl11al) e pele> mcidcJ e
e grar1ulaçàci, t<JdcJs CJS gràcis iguais tcnclerr1 a realizar
inte11siclade de manifestação das fcirças ele superfície
salteis iguais (ccim amplitt1cle e extensà<J cc>r1stantcs),
(forte int1uência ela cc1esàc>, ela fricçàc>, <lo cbcie1ue mú-
e se c<insiderarn1os que as zc1nas ele impact(J e ric<)-
ttH) ciu ela turl,L1lência). DcJ pot1to de vista gec)lógicci,
chcte sàci áreas preferenciais para iniciar n<J\•as
as três características mais ccJtnuns aos diferentes ti-
saltaçc>es, conclt1ire1nris eJL!e <> leito alternará Z<inas
p<is de fluxos gravitacicJnais sãci: 1) a assc>ciaçãci
deficitárias cm grà<>S, nas áreas de incidência ele ric<i-
IJreferencial a declives, 2) a fc>rmaçà<J de depósitos, na
cbctc, C<>tn Y.<>nas d<: est<JCJue, rr1encJs im\Jactaclas (I:ig.
l,ase destes cleclives, C(Jm a morfcJlogia ele lobcis e/ c>u
9.12). Dcvici<J à cirier1taçà(J d(J flux<i, as zc)nas
leqttes, e 3) <> caráter episódiccl (clissipaçàcJ de grancle
quanticlacle de ener1-,ria e dcslcJcamcntc> de gra11de mas-
Grãos menores, em sa de secli111entcJs em tem1J<l muito reduzidci, de
suspensão temporária
, .... _,
Vento lllo ,, ; ,.. ...... ----- seg11nclc1s a po11cas hciras).

,, ,, () jc,go de fcirças c1ue C(Jntrc)lava cJ cc1m1Jorta-


111<:n tcJ ele cada grão en1 fluic!cJs cie visccisiciade l,aixa

I
/
I✓
I
/
;
_ -

, ,---.....
- - -
-- - _

' ...
Gráos maiores em saltaçoo

.......
..... .......... .. ...
,,,,.. ._...., ~
<:stá presente também aqui, só que aplícac!c) a t1m
co11juntci <le gra<)S, unido pela ação de fcJrças ele
1 1 / ....... f .............
resistência (principalmente cclesào e atritei). () equi-
lv\ovimento Movimento secundário lí!JrÍcJ elo ccJnjt1ntc) é dadci pela sc1ma das fc)rças eie
lniciol por impacto de graos
resistência c1ue se opclem à cclmpone11te tangencial
tia fcJrça-pescl, ccim efeito cisalhante. Este cotnpcl-
Vento lllo
nentc é tant(J n1aic>r qt1antcl mais acentL1adcJ o c'lcclive
PahO 1 elo terrcncl, t) c1uc explica a mencÍclnada assclcíaçào
11refercncial dcJs prcicessos gravitaciclnais c<1m en-
. ! li!, li! l 1,. ,t, ... ri
....... " ... " ' '' ' .' . ... ' ' ..... ... .......... ' ... ' ..........
.. !.,,. L, 1 .. , 1,1;., !. i .. 1.l; l.,
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1 ... L., !. , , :. .. !i, 1,
'

Passo 2 costas e talueles. Nessas ccinclições de t<)pografia,


materiais ínccinscilicladcis C<ln10 solos, acurr1ulações
.... ' ' ..' '.' ,·'...."" ' ........ . ' ., . ' .' '..... . .. . ' ' ......... ' ... ' .. ' ' .
.' ... '-, .......... .' ......
' ...
' .......... ' .. ' ... ' .. ' ' .. ' ' ." ' . ' ' ' ... ' ... ' .. ' ' ... ' .... ' .. ' ..
' '
"
sedimentares e aterreis pc>clen1 111anter-sc durante
Passo 3 mLtitcls anos cm cquilíbri<l instável, <: ele um tninuto
para ot1tro, movimentar-se declive al)aixcJ cc>m C<ln-
Fig. 9.12 Representação esquemática do transporte por ~-
··" . catastrcit1cas.
saltação e suspensão e dos efeitos da saltação sobre um leito
sec1uenc1as
sedimentar. Fonte: Bagnold, 1941 .
CAPITULO 9 • SEDIMENTOS E PROCESSOS SEDIMENTARES 183 ~-,

Mas o que provoca o fluxo gra,·itacional? De acc>r- causa e efeiteJ. () enfcJque geeJlc'igico nã(J explica pcJrque
d(J com a equação de equilibric), o ccimponente cisalhante ei fenômencJ ciceJrre e sim comei ele ocorre. DeJ mesmo
da fc>rça-peso deve ter superadei as forças ele resistência. 1nodci, não ceJnsegue prever a oceirrência, mas sim ape>ntar
Explicada assim, a causa do flt1xei parece muito simples. a localizaçãei de zcJnas de iminência ele fluxei e ei _l,>rau de
1"~ o cálculei vetc>rial das feirças parece o suficiente para 1iscci de habitaçe:íes e (Jbras ,rizinhas.
prever o destinei de qualquer enceJsta. No entante), à
Cm exemplo das múltiplas possibilidades de descnca-
medida e1ue se tenta um enfoque meneJs determinísticei e
deamenteJ ele um fllLxei 1c,ira,ritacional p(icle ser enceintrado
mais geológice), delis fatos se cibservam. r:m primeiro
na Fig. 9.13, que reproduz uma ncitícia do jornal Folha de ,S.
lugar, a encosta tem uma clinâmica incessante, e ,,ariáveis
Pa1,h seil1re as causas preJváveis do movimento de terra ele
imponderáveis (pe)r exemple), um recorde histórico de
Barraginha, em Ccinta1c,rem, na Grande Belo Horizonte (MG).
pluviosielaele ou um sismei acima ela méclia leical) po-
Cc)m base em interpretaçe"'íes de geé>logos entrevistados pelei
dem surgir de uma hcira para eiutra. F"m se1c,rundo lugar, ,
jeirnal, cinccJ fateires possíveis sãcJ evcicados. E interessante
várias hipc'iteses podem ser formuladas, pois muitas va-
ne)tar ceimo todcis os fateJres enumeradeis resumem-se, de
riáveis ccJntreJlam a força-pese) e as fe>rças de resistência
uma forma eiu de outra, em um clesbalançeJ na equação de
atuantes na massa que se meivimentc)u. Come) em qual-
equih11rio. () fateir 1, fortes chuvas, pode representar tanteJ
quer outro fenêimeno geeJlc'Jgico, as palavras causa e
um decréscimo nas forças de resistência, devido à perda de
previsão são apenas fcirças de expressãei. Diferentes con-
cocsãeJ c1ei seilc), como um aumento da feirça-peso, preivo-
junções ele variáveis pc>dem conduzir ao mesmei efeito.
cadei pela saturaçãeJ intersticial. () fator 2, obras no altci da
Ceimo conseqüência, as relaçe:íes prc>cesso-produtei não
encosta, também pode representar qualquer um dos ladcJs
sãeJ únicas, como numa equação eJu numa asseJciação de
da ee1uaçãc) de equilíbriei: ci peso aclicieinal exercidei pelo
maquináriei eJu a perda de resistência por
trepidaçãei. e·) fator 3, peso da estrutura
Favela corre risco de novo deslizamento recém-estabelecida no teipo da enceJs-
Da agência Folha em Contagem
ta, refere-se explicitamente aei aumenteJ
Hipóteses do soterramento cio componente cisalhante da fe)rça-
Cousas p1·ováveis cio ocidente e1n Minas
pescJ. () fator 4, acúmulci de lixeJ e ei
fator 5, existência de turfeiras, evocam
2. Obras que c1 ernpresa tv\. a falta de resistência acJ lc)ngo de peinteis
t/\artins estava realizando ern
área próxima à favela. 1. .As fortes chuvas de
ou superfícies de fraqueza previamente
janeiro e fevereiro terlan1 definidos. Qualquer um dos fatores ou
sido uma dos causas do
cleslizarnento de tetTa. combinação entre eles pode ter desen-
cadeadei ci escorregamento.

() exemplei deixa clarei o quan-


tei um conhecimento geeJlógico
• 3. Peso da estrutura do básico pode explicar um fenômenei
almoxarifc1do ela f/i. tliartins,:
que faz parte ele nosso dia-a-dia. E
situado em um barranco acima :
do nível da favela, que teria , serve para ilustrar o papel scicial que
ocasionadoo deslocamento de ;
: terra.
'
' a geologia desempenha ou, pelei me-
nos, que virá a desempenhar a partir
4. Acú1nu!o de motericd orgânico : 5. Esta pode ser uma áreo de turfeira · do meJmento em que o parecer do
- (lixo) teria provocado C! formaçao (tnaterial orgânico natural que fica no ; · geólogo for solicitado para planejar
• de gás metano que poderia ter . superfície), Tais depósitos,:
causado a movímentaçóo da · pressionados por u1n peso muito a ocupação urbana e a construção
: terra ao ser liberado. Outra ; grande, escorregam e provoc_am a
· hipótese,mais retnota, é que este rnovimentaçao da terra. E um ci,·il e não mais para avaliar as cau-
• gás poderia ter explodido. fenómeno parecido ao de uma sas de um desastre já consumado.
gelatina que espirra quando
pressionada. Este e outros acidentes similares não
poderiam ter sidei evitados se um in-
Fonte: Marcus Tonus, 33, é geólogo do Cenfro Tecnológico de Minas Gerais e integra a equipe encarregado de emitir o laudo
técnico sobre o acidente e Eduardo Soares de Macedo, 35, geólogo do lnstilulo de Pesqulsos Tecnológicos de São Paulo (IPT}. ves t1m en to no ceJnhecimento
técniceJ-científico tivesse sidei feito
Fig. 9.13 Notícia do jornal Folho de São Paulo de 21 de março de 1992, destacando na hora certa?
as causas prováveis do soterramento de Barroginho, em Contagem (MG).
TIPO DE MEC/\i"JIS1V,Cl DE 1~;TERAÇAO d"\ e;
REP PESE"'T'• /-\o
SUBTIPOS DE ' I'-..

·-
·•
' ...
i\NGULO SUFICIE>JTE
PROCESSO PROCESSO INTERGRANULAR E;OU GRAO / ESQUEtvi)\TIC ..:\ DO REPRESE'\.JTAÇÃO ESOUE1V.J\TICA
REOLOGIA PARA PRODUTO
GRAVITACIONAL GRAVITACIONAL FLUIDO (SUSTENTAÇAO DO t,1ECANISi'AO DE DO PRODUTO
DESENC .:\DEAi'AENTO'
MOVIMENTO\ INTERAÇÃO
'
Depósitos de olistólítos
Cisalhamento ao longo de (clastos rudóceos
Queda de rocha
(rockfa/1)
fraturas e na superfície de 25 a 35 deslocados ou
contato de clastos rudáceos ressedin1entodos o
pequena distância)

Cisalhamento concentrado Folhas norrnoís de o lta


Rúptíl ou 20 (água)
Deslizamento ao longo de superfícies encosta ou talude;
disjuntivo o olistó)itos tabulares
(sliding) planas de descontinuidade
Deslizamento/
física
30 (ar) deslizados (slide deposits)
escorregamento
(s/iding / slumping) Ciso!hamento concentrado Foi has lístncos e
ao longo de superfícies 20 (água) depósitos dobrados
Escorregamento
(slumping) curvas de descontinuidade a (slun,p folded deposits) de
físico 30 (ar) baixa encosta ou talude

Olístólitos deforn,ados

Lentes delgadas de oreia


Fluxo granuiar Pressão díspers1va (espessu n] rnúxirno
18 (óguu) G 25 (orj
(grain flow ou (choque entre grãos) e subdecírnétrica) com
para areia médio a
sand f!ow) peneiramento cinético ·~···.······.···
.... · . grodaçôo inversa e
fino
Dúctil ou .
_- . ·.-,--:: empacotan1ento aberto
plástica . .

/de massa} Fluxo de detritos Tensão interna ,.·.··<'


.
...
,.
) ~
'·.,., /"
ou de larna (densidade/ viscoside) da
Depósitos rudáceos con1
(debris f/ow ou matriz: empuxo e/ou 5
orga nizaçôo incipiente
mud flow-) turbulência viscosa

Acomodação de
Descenso (compactação) Areias con1 aspecto
sedimentos
de grãos e deslocamento macice ou estruturas
liquefeitos
ascendente de fluidos o '
deformocíonois coóticas
Acomodação (/iquefied flovv)
intersticiais (convoluções)
de sedimentos
l1qu idificados
Acomodação de
(quick sands) Areias corn estrutura em
sedimentos Escape ascendente
Fluida! pires (dish), tubos de
fluídificados concentrado de fluidos o escape de fluidos (pdlar)
(fluidized flow)
e microvulcões

Corrente de
.
Turbulência fluido!, sob Turbiditos: sucessões
~

• .AI"
turbidez energia e concentração o granodecrescentes de
(turbidily current) declinantes · areia cascalhoso a argila ~J
* Este ângulo aumenta com a fricção ou coesão entre os grãos. Depende portanto da granulação, do teor de água e de lama 1 do grau de arredonda111ento, da presençci de superfícies prévios de fraqueza, da ene1gícJ de
atívaçôo do processo (fortes correntes, tempestades, sisrnos) etc. Os valores fornecidos são apeneis para comparação de ordens de grondeza.

Fig. 9.14 Principais tipos de fluxos gravitacionais e suas característicos quanto a regime reológico, mecanismo de interação grãos/fluido, declive mínimo e depósito.
CAPÍTULO 9 • SEDIMENTOS E PROCESSOS SEDIMENTARES 185 1
· , ,

Regimes de transporte de alta viscosidade

;\ matéria-prima d() transpc)rtc gravitacic>nal é u111a


mistura de fluidc) (líquido e/ ciu gás) e s(>lielci, cujc)
C<)mpc)rtamentci nà() é pr(iprici de nenhum deles. 1\
disciplina ela Física e1ue descrC\'C C) ccin1pcirta111entcJ
deste tipo ele material é a recJlogia. f~ntcnde-se 11cJr
reologia também a rcspc)sta dada por estes materiais
à scJ!icitaçàcJ de esfcirçcJs. Neste últimcJ scntidcJ, as mis-
turas cm mcivimentci nos fluxcJs clcnscis pciclcm
aprese11tar três tipcls l,ásicc)s e-le regimes recil(igiccJs: ci
r1.'.lptil, ci plásticcJ e ci fluidal.

Nc) regime rec)lógicc) rúptil, els grãcJs 111antê111


ccJntato sistemático e permanente (cstáticci) entre si
e-le mcido que esta se rcimpe scJmente a<J lcJngo de
superfícies clefiniclas. Ncl regi111e plásticcJ, existe
movimentei entre CJS grãcJs, ccJm chcJcJue cJ11 atritcJ
cm grau variá\·el. A resposta recJl(igica e111
macrciescala é e1ue a 111ist11ra se clcfcirma e/ ()LI se
cleslcJca comei um falso fl1iidc> ()u uma massa (nci Fig. 9.15 Dois aspectos de aterro em encosta, recém-afeta-
se11tielci de pasta). No regime fl11ielal, eis grãcJs cn- do por escorregamento (Curitiba, PR, março de l 993). a)
ccintram-se separad(is pclr água, ele 111ciclci e111e a Planos de deslocamento subvertical no alto de encosta. Notar
mistura flui ao ser scilicitada pcir 11111 esfcJrçci. C ma o escalonamento de blocos. b) Deformação compressivo na
vez iniciad(J ci fluxc> dcnsci fluida], sua clinán1ica é base da encosta. Foto: P. C. F. Giannini.
ccJmandada pelcJ tluie-lo vereladeirci.
de planeis ele dcslc>can1ent<> sub\'erticais (falhas nc>r-
A classificaçãci recil(igica clestaca ci ccimpcirta-
mais; C~ap. 19) e l,lcicos cscalcinael()S (Fig. 9.1 Sa), e
mento dos fluxos sob o ponto ele vista mecánicci.
ccimprcssãcJ na base, cinde a elepcisiçãcJ se c1á S(Jb a
N ci ámbito sedimentcJlógicci, do mecanismo de
fcirma ele elc)l)ras recum!Jcntcs atectónicas (Fig. 9.156)
interaçãci entre os grãos e elas características ele seus
e l1rechas ele scJlci ou sedimentcJ subccinscilidaclcJ (neste
dep(isitos, pode haver mais de um tipc) de tluxci
últit11ci casei, intraclásticas). lstcJ significa que a mistura
dens(J dentro de mesma reolcigia. Desse mcidci, seis
grà<Js/ íluie1(1 cleslcica-sc decli,,e abaixei con1cJ u111 l1hi-
variedades principais de fluxos gravitacicinais pei-
C(J n1ais <JLI mencJs ccierentc e hcimcJgêneci, pcJdenclci
dem ser distintas: escorregamento, desliza111entcJ,
percler parcialmente (Pig. 9 .16) ciu nãci esta ccierência
fluxo granular, fluxo de lama, liqüefação e corrente
clurante sua deposição na base da enccJsta.
de turbidez (Fig. 9 .14).

Fluxos densos de reologia rúptil:


escorregamentos e deslizamentos

Os escorregamentcis e deslizamentcJs constituem


os tipos mais comuns de fluxo gravitacional rúptil,
em encostas ou em bacias submersas. Os dois ter-
mos são diferenciadcis por alguns autores e utilizados
como sinônimo por outros (para conhecer quais se-
riam as diferenças entre eles, consulte a Fig. 9 .14). A
característica essencial é o desequilíbrio localizado de
tensão interna, ao longo de uma superfície de fraque-
Fig. 9.16 Aspecto geral de um escorregamento com depósito
za preexistente ou definida durante o início do
incoerente. Notar forma em meia-lua e escalonamento da cica-
processo. O regime de forças distribui-se de tal modo triz de escorregamento. Proximidades do km 33 da Rodovia
que há distensão no topo dcJ declive, com formaçãcJ SC-032 (ltuporanga -Alfredo Wagner). Foto: P. C. F. Giannini.
Fluxos densos de massa cxempl(, atra\·és de choques na lateral d() prato, a pilha
l1e açúcar se espalhará, passando a ângt1lc)s ele repouso
()s exemplos mais típicos de flux<)S gravitaci()nais cada \·ez mais baixcls. Nesse t)rocesso, muito prova\'el-
plásticos sào o t1tLX<) granular e o fluxo de lama. Os m()· mente oo,·rls torrões emergirão. O espalhament() de>
\·imentc)s de areias liquefeitas constituem um exempl<) açúcar\ isa à aquisiçà(l ele um empaccltamento mais aberto
de t1tLxtJ plástico na transição para C> regiine t1uidal. ele cristais <>u grãris de açúcar, co1npatível com o aumen-
to de energia n1ecánica. E este empacotament<l aberto é
Fluxos granulares: o mistério dos torrões no cJbtído por choques sucessivos, pilha abaixe), entre cris-

açucareiro tais e grãcis vizioh(is, mecanismo conheci(lo cc)tnc>
e

pressa<) dispersiva. l\ pressão dispersiva é a tnodalidade


O princípio físico do fltLxo grai1ular (grainf/ou 1 ou sa11d de interação intergranular típica de) processo de fl11xci de
flo1v) nàcJ é exclusivo de fenômencJs sedimentares. Ele -
graos.
ocorre em pr<)ccssos bastante comuns oc) dia-a-dia. ()
feo{imencl explica un1a pergi1nta que se faz às vezes à () fl11xo gra11tilar é plástico con1 razão 1:,irãcJs/ fluido
mesa dei café, diante de u111 açucareircl conteotlo açiicar elevada. O fluido pclde ser água ot1 ar. A interação
levemente útnido e empeclrado: pcir qlie <JS tc>rrões de intergranular típica tem caráter friccicinal e clá-se em sedi-
açúcar c<incentram-se de preferência ncl tclpci dei açuca- mentc)s relativamente puros na gran1tlaçào areia. 1--:m
virtude das intensas fc)rças de atrito q11e se (lbservam
reiro e não na base, comcl seria de esperar com base en1
nessas condições, o ángiilo mínimcl necessári<> \)ara de-
seta relação de massa ccim os demais cristais de açúcar?
sencatiear o procc:ss<> é o mais alto dentre os vários tipos
E, ainda, pt,r que a iniciativa ele chacoalhar ligeiran1cote e>
de fluxcJs gravitaciclnais (Fig. 9.14). () fluxo granular de-
açucareir<i parece apenas agravar essa situação, fazcnclo
posita lentes de areia ccin1 nci 111áxin10 alguns centímetros
cmerbrir mais e mais t<Jrr<les, em vez de esconclê-los?
Uma pilha ele açúcar despejada sobre um pratci
possui um ângiilci natural de repcJuso. Se fcJroecer-
mos uma energia adicio11al para o deplisíto, pclr

b) Avalancha coesiva ou escorregamento de areia: tipo de fluxo gravitacional


em areia com umidade elevada. Notar cicatrizes de escorregamento, produ-
zidas por esforço distensivo, no alto da duna, e pequenas dobras, geradas
por compressão, na porção basal.

.,,,,,,/ ' ' .


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-- >
)~-_: _.,._t-i{.'.)>~> .;, ·. , :~ -;~-:; ;· ,. .
a) Fluxo granular clássico. A extensão 1/FI
da língua de areia é de aproximadamen-
te 20 cm.

c) Escorregamento degenerado: tipo de fluxo gravitacional in-


termediário entre o fluxo granular e o escorregamento de areia.

Fig. 9.17 Exemplos de fluxos gravitacionais em


frente de dunas da região de Jaguaruna-Laguna
(SC). Fotos: P. C. F. Giannini.
CAPiTUl.:O 9 • SEDIMENTOS E PROCESSOS SEDIMENTARES 187 ,
~

de espessura. Sua ocorrência restringe-se em essência a ze>na de máxima fricçãci ccJm o substratc), deslocan1-
avalanchas na frente ele megae)ndulaçc')es, subaquosas e,u se mais rapiclamente e levam consigo os grãe)s mais
subaéreas. Come) e) impacto entre grãc)s de areia é mais grcJssos, cuja superfície expc)sta à tensão cisalhantc e
vie)lento nos meie)S de menc)r visce)sidae-le, e)s exemplos a<) empuxc) é maior. Este efeito pclde gerar uma li-
mais didáticos de fluxe) granular encontram-se nas a\"a- geira graclação in\'ersa no depc')sito de fluxcJ de lama,
lanchas de areia seca de frente de duna eólica. ajudada pela anulação que o empuxo viscosc) exerce
na força-pese> dc>s grãos ine-lividuais. () fluxc) ocorre
Quando submetidas a vente)s mais fc)rtes que e)s res-
p<)r distância limitada, devielo ac> cc)ngelamento
ponsáveis por sua deposição inicial por saltação, as
concentrações ele grãe)s nos arredores da crista tc)rnam- coesi-ve) dcJ mo,,1mente).
se instáveis e passam a alimentar um fluxo gravitacional () le>l1e) de fluxo de lama costuma apresentar
ao longo de) flanco prote6>ide) da duna (Fig. 9.17a e 9.17c), un1 zcJneamento interne) (Fig. 9 .18). Denominam-
em busca de empacotamente) mais abertc) e ângulo ele se eligt1es marginais as zonas de cc>ncentração ele
declive menor. Na elependência da energia de fluxc) e da clastos grc)SSe)s, ce)m l,aixa velocidade ele desloca-
hetere)geneidade granulométrica, a pressão dispersi\-a men tc> e prcdomínic> de pressão dispersiva. ()
pode criar um empace)tamento aberto e permitir a pro- núclee) ele) lobo, viste) tantc) em planta como em
dução de gradação inversa. seção transversal, é a ze)na de menor resistência ae)
() depósito de fluxei granular concentra-se na parte mc)vimentcJ e de maie)r ,,elocidadc.
média do flanco protcgidc) da duna, se)b a fe)rma de ()s fluxos ele lama são, muitas vezes, o resultaclo
le)lJe)s linguóides, ind_ividuais ou ce)alescide)s (Fig. 9 .17). da eve)lução para jusante de depósitos de
Ne) entanto, a morfeilogia exata de)s depc')sitcJs de fluxc) escorregamento ince)erente subaéree)S e)u subaquosc)s.
granular na frente ela e)ndulação depende da ce)esãe) apa- Nel case) sul,aéreo, desempenham papel fundamen-
rente da areia, controlada pelo teor de umidade. Ce)m tal na sedimentação ele leques aluviais. f'.m bacias
base no critério de um_idade da areia, é pcJssível reconhe- oceânicas, fe)rnecem seclimentos para a formação
cer uma série contínua de processos gravitacionais cm de correntes de turbiclez, e, por extensão, de leques
sedimentos eólicos, desde C) membre)-extreme) mais sece) sul,marinos.
(!<ig. 9.17a) até e) mais úmido (Fig. 9.176). A
avalancha de areia úmida é muite) similar a A
1
um escorregamente). B_ Fluxo de detritos
1
--- B'

Quando a lama comanda o movi- Dique marginal M Dique \marginal


Seção
, transversal ao fluxo
mento: fluxos de lama ou de detritos
Cisalhamento plástico
No fluxo de lama ou de detritos (1nud A
jtow ou debris _flow), a interação
Êmbolo móvel
intergranular que garante e) ce)mporta-
mcnto de fluxo gravitacional é dada pela
Cisalhamento plástico
matriz pelítica. Presente em quantida-
des muite) variáveis de case) a case), cJu Seção longitudinal ao fluxo
mesmo ao largo de um mesmc> lc)bo de
Velocidade zero
fluxo de lama, a matriz fina desempe-
' ' ' ' ',
' ,,, ,,, '
' ,,,,

nha a função de ligante e lubrificante B '' '


' '

'
'
'' ' ': ,, '.''
,,
'

~ . : ' ",, '' '

entre e)s graos mais grossos. : : ': .·· ' ' ' ' ' ,' ''

..2e ..2e
O mais típicc) dentre os mecanismos (1)
·, • . • Êmbolomóv~L'
(1)
E E
comandac-los pela matriz é o empuxo o
~-g 1 ..r:.
u o
O) o
(bu~yance), impe)rtante nos fluxe)S cuja o oE U u·-"'
·- i.... V)
·-
constituição é dominada em volume por
lama de alta viscosidacle. Nesta situação,
a viscosidade acentuada inibe a turbu- Vista em planta
lência e e) fluxo tende a ser laminar. As Fig. 9.18 Desenho esquemático de um fluxo de lama ou de detritos, em cortes
lâminas superie)res, mais afastadas da transversal e longitudinal e em planta. Fonte: Fritz & Moore, 1988.
Areias movediças: o fenômeno da liquidificação I~nquantcl e-lura a vibraçào capaz de manter C)S
gràos levemente afastados uns elcls c)utrcls, a mistura
;\ lie1ucfaçàcJ (fluielificaçào cJu liquielificaçàci) é
sedimentei/água permanece cm empacotamcntr) ci
um cstaelcl ela n1atéria, no limiar entre a reolc>gia
mais al)erto possível (Fig. 9 .19 .1). Em nos seis exem-
plástica e a tluielal, cm que os gràcis estàcJ suspensos
plos, esta vil)raçâcl pcJde ser representada pelo
em sct1s prê>pricls pc)ros. F~sse estado é atingielci em
impacto repetid_cJ dcls pés cm movimento sobre a
areias fcJfas, encharcadas durante cJu lc>g<l apc'is a
areia (l:ig. 9.20a). Uma vez suspensa a vibraçãcJ me-
depc>siçàcl, cc>tn a água nos pclros sclll máxitna prcs-
cânica, Cl cstac.lcl liquefeito torna-se insustentável, e
sàcl pclssívcl. ;\ última ccJndiçâci corrcspc>ndc à
<>s gràcis ccJmeçam a afundar, ene1uant<l a água é cs-
villraçà<> mecânica scil,rc a massa, suficier1te pJra
premiela e forçada a ascender, seja através dos poros
que caela grà<l fiqt1e separaelo de seu \·izi nl1ci pr>r
intergrant1larcs seja c<infinada em tubcis ele escape
um clelgaelc) filme de água (f•ig. 9.19).
(Fig. 9.19.2). Tcrminad<> o mcivimentcl dos grã<1s (fig.
() fenêJmenc) ela liqt1ielificaçàc> é conhecidr> e até 9.19.3), a água excedente terá se acL1mulado nas po-
familiar para a maiclria ele nc'is. A areia mcJ\·celica (q11ick ças fabricadas pelas marcas de noss<Js pés <lu ncls
sancD é t1m excmpl<l ele sedin1entcJ n<> estaelc> arredores de pcqucn<is vulcões de areia (liig. 9.20.b)
lie1uidificadc1. Saltitar scgLiid.amcntc scibre uma areia fc>rmaelc)s naturalmente pelcl cxtravasament<l de tu-
ele praia encharcada, na parte emersa ela Z<Jna ele cs- b<JS ele escape.
praiamentci, p<>eie liquidificar a areia (Fig. 9.20a). ()
Na natureza, ci fat<)r de vil1ração mecânica neces-
estadcl lic1ucfeitci é mantielc> apenas enqt1antcl dt1rar a
sária para tluielificar a areia pcieie ser a tL1rbulência
vil,raçào mecânica que <l intr<JdL1ziu ou em cas<>s de
exercida pela própria corrente que acaba de depclsitar
íluxcJs d'ágt1a asccnelentcs. () caráter efémcrci da
a areia ou o pis<ltci<l eia areia pc)r algum animal. No
liquieiificaçàci está ligadci a<J tàtcJ ele que esse estael<l da
entantci, a passagem de geleiras e eis sismos poelem
matéria representa um cstadci de cqwlíl,rio instável: cc>m<i
prcldt1zir efcitcJ de intensa liquidificação, afetand<l es-
n1antcr água sc)b um ,gràcl cstátic<>, mais pesaelcJ que ela?
pessuras ccinsideráveis ele sediment<JS, por dezenas de
Seria Cl mesmcl eiue desafiar a lei da gravidaele.
e1uilômetros ele elistância (Fig. 9.21).

Aplicação de Fluxos densos de teologia


Estado de Suspensão Novo
equilíbrio
choques cíclicos
dos estado de fluida!: correntes de turbidez
t equilíbrio
inicial equilíbrio modificado choques
estãvel
o 1 2 3 1\s ccJrrentes de turbidcz constitu
Agua cm misturas ele água C<Jm sedimcnt<lS
Agua
Agua •
• .• . •
que se movem junt<l a<J fund<l
◄ Agua
sedimentar, claramente eüstintas ele) C<lr-
. .• . • •
.. . ' . '. . . . .
~

Areia liqüefeito
••. . .rz:! . -
Areia liqüefeito
• • • • •• .·...... ·...............
.. . . .
......... ... . ..........
............. . .
V O p<1 ele água circL1ndante. () movimento
e a manutençã<J da corrente junte) a<)
' . • •
' .
'
. . ''
• . , l:.:J.
·◄

........
. . . v
T
.·....·............
.. . . . . . . . . . .
-······-· fund<J é atribuída à sua maic)t elcnsida-
'
. .' . . Areid º~~-;;;.Jdiiii iintada
. . • em empacotamento de cm C<>mparaçã<l ccim as águas
.:-çs,m
. . . .. pacto;.
. . .. .
.. ·m ..
. . . . .
. . .. b . . .
. . . .
arreelc)res, deviei<l à presença de partí-
culas em suspensà<). l:<~ntre estas
partículas e <l fluielo, <J mecanism<l ele
a b,c d,e interaçào determinante elas característi-
► Fluxo de fluido
intersticial
cas e1<) transporte é a turbulência.
l' Movimento
de grdos
4 ~Aovi mento A turbulência e sua instável C<lmp<l-
· da interface
basal da ctreia sição de fclrças com resultante para cima
liquefeita
sà<) respclnsávcis pela capacidaeie de
Fig. 9.19 Representação esquemática dos três principais estágios de evolução hidrodinâmica auto-sustcntaçàc) das correntes de
de um depósito sed-1mentar liquefeito: l. Equilíbrio instável: estado de fluidificação; 2. Que- turbidez. Graças a essa capacidade, este
bra do equilíbrio instável e início da ressedimentação: busca de urr1 novo estado de equilíbrio; tipo de fluxo densci consegue percor-
3. Final da ressedimentação: aquisição do equilíbrio estável. Fontes: Allen & Banks, 1972 e rer c.listc'Í.ncias de milhares de qLrilt>metros
Allen, 1984.
' '

CAPÍTULO 9 • SEDIMENTOS E PROCESSOS SEDIMENTARES 189 .~,,.-.,, '

Fig. 9.20 Experimento em praia do município de lmbituba


(SC). a) Fluidificação da areia de praia provocada por
pisoteamento intenso na zona de espraiamento de ondas. b)
Vulcões de areia produzidos como resultado da quebra does-
tado de fluidificação, após a suspensão do pisoteamento.
Fotos: P. C. F. Giannini.

antes de se dissipar. J\ autc)-sustentaçãc) pc)e!e ser explicaela


do seguinte mcidc): uma vez iniciaela, a ccirrente de
turl1idez erode o funelo sedimentar e coloca mais partí-
culas em suspensãci; <> incremento da carga em suspensãci
eleva a viscosidaele ela corrente; mais viscosa, a ccirrente
Fig. 9.21 Convoluçães de amplitude métrica em arenito no
ganha maicir pcider erosivo e revr1ve ainela mais ci fun- Município de São Pedro (SP), possivelmente induzidas por sismo
dcJ; esta erosão vc>lta a elevar a viscosidade, e1ue ereide penecontemporôneo à deposição. Foto: P. C. F. Giannini.
. . .
mais, e assim sucessivamente.

;\ fcirmaçãci de uma corrente ele


turl1idez depende de um estímulo inicial
Linha de costa
que cc)loque sedimentos do fundo "
F',,
., ..

sedimentar em suspensão na água. () es- Plataforma


continental Recifes
tímulo primárici pode ser representaelci Margen1 da taforma

por um abale) sísmiccJ, pela chegaela


abrupta de uma corrente de fundcJ cc)m
forte esforço cisalhante, pelei apcirte e de-
Talude
pcisiçãei rápida ele grande quantidade de continental
sediment<JS ou peleJS diferentes tipc>s
possíveis de ccimbinações entre esses fa-
tores. Não por acas<J, a ciccirrência de
correntes de turl1idez de porte concen-
..·... , :/': _}:'•, 'i1".'
tra-se ncJ talude continental (Fig. 9.22), .,, :
' ',,'' "" '

onde a sismicidade e o eleclive acentua- Fig. 9.22 Representação esquemática do sistema plataforma - talude - planície
do estão presentes, defronte a zonas ele abissal, com a localização dos leques submarinos, formados em maior parte por
intenso aporte sedimentar terrígeno, depósitos de correntes de turbidez.
como grandes deltas ou desembocaduras de rios ali- proximais, preenchendo cânions no talude e na parte su-
mentados p<ir imenscis sistemas de leques aluviais. perior dos leques submarinos, as correntes de turbidez
transportam sedimentos grasseis por carpetes de tração
O conhecimento que hcJje se dispõe sobre ccJrrentes
(subleito friccionai de alta energia). Na parte mais distal
de turbidez é relati,·amente recente e sua evoluçãci histó-
do leque, depositam-se desde areias com estratificaçãci
rica é um assunto interessante para quem aprecia estudar
planar trati,·a e marcas <Jnduladas até lamas em leito pla-
o processo das descobertas científicas. C<)mo se trata de
no de suspensão livre (Fig. 9.23). Pode-se dizer, p<irtanto,
um fencJmeno escondido no fund<) do mar, a milhares
que as correntes c{e turbidez são miscelâneas de pr<Jces-
de metrcis de pr<ifundidade, as primeiras referências ci-
sos de tração e suspensão ocorrend<J dentro de um flux<J
entíficas, datac1as do início da década de 19 50, foram
gravitacional. A razão para que ela seja classificada como
feitas com base em indícios indiretos e suspeitas, sem
fluxo gravitacional é que sua préipria existência e movi-
nenhuma <ibservaçãci de processo. O indício mais im-
mento são consec1üências de uma ação da gravidade sobre
p<irtante f<iram as várias ocorrências de rompimentos
uma mistura grãcis/ fluido.
sucessiv<is de cabos tele6rráficos sulJmarinos, registrad<is
no clec<irrer das duas c1écadas antericires. F~m cada uma
c_{essas <Jcorrências, os cabos de determinada l<Jcalidade
Leituras recomendadas
rompiam-se sucessivamente das profunc{idades meno-
res para as maiores, em questão de p<iucas horas e p<ir . COLLINSON, J. D. & THOMPSON, D. B.
uma distância, transversal à margem continental, de cen- Sedimentary Structures. London: Allen & Unwin,
tenas de quiléimetros. A idéia de que correntes de fund<i 1982.
densas e viscosas seriam responsáveis por esses rompi-
FRITZ, W. ]. & MOORE, ]. N. Bµsics ef P01sical
mentos e pela clep<isiçã<) de areia e cascalho no fundo
Stratigrap01 and Sedimentology. New York: John
d<J mar chegou a ser ccinsiderada na época uma fantasia
Wiley & Sons, 1988.
de geól<)gos de imaginaçãci excessiva. Mas em questão
de menos de dez anos, converteL1-se em importante LEEDER M. R. Sedimentology; Process and Products.
paradigma da geologia sedimentar. London: George Allen & Unwin, 1982.

Do ponto de vista do transporte sedimentar, a cor- SUGUIO, I<.. Rochas Sedimentares. São Paulo:
rente de turbiclez é o tipo de fluxo gravitacional que Edgard Blücher/Edusp, 1980.
possui mais pcintos em comum ccim os fluxos c{e tra- WALKER, R. G. Ed. Facies Models. Ontario: Geol ..
ção e suspensão livre. Isto se deve a sua reologia t1uidal e Assoe. of Canada, 1986.
à elevada relação fluido/ grãos. Em suas porções

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Fig. 9.23 Turbiditos entre Rio do Sul e ltajaí (SC), na altura do km l 06,5 da Rodovia SC-470, com espessa sucessão rítmica de areritos
e lutitos marinhos. a) Aspecto geral. b) Detalhe do afloramento. Até o iníc·10 do século XX, imaginava-se que areias marinhas sópoderiam
ser depositadas em águas rasas (sob ação de ondas e marés) e sucessões como estas eram atribuídas a repetidas oscilações de prdun-
didade. A interpretação mais aceita é a de que cada par de estratos foi formado pela passagem de uma corrente de turbidez. Notcr contato
brusco na base e transicional no topo das lâminas de arenito (litologia de coloração bege). Fotos: P. C. F. Giannini.
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ios, no sentido geral, são cursos naturais de água racterização dos processos hidrodinâmicos e a com-
doce, ccJm canais detiniclos e fluxo permanente preensão da evolução sedimentar dos depósitos
ou saZc)nal para um oceano, lago ou tJutro rio. Dada a antigos, fundamentais na distribuição dos recursos e
sua capacidade de erosão, transporte e deposição, os na reconstituição da evolução tectono-sedimentar de
rios são os principais agentes ele transformaçãcJ da pai- uma bacia.
sagem, agindo continuamente no modelado elo relevo.
Neste capítultJ trataremos os aspectos essenci-
São importantes para a atividade hwnana, seja como vias
ais dcJs rios e dos processos aluviais. Inicialmente
de transporte e tcJntes de energia hidroelétrica e de água
serão abordadas as bacias de drenagem. Em seguida
potável, seja comcJ supridores de recurscJs alimentares
apresentaremos algumas formas de classificação dcJs
através da pesca e de água para irrigação. Além disso, a
rios, dos leques aluviais e dos leques deltaicos, com
existência de terras férteis nas planicies de inundação
base no estudo de processos e produtos em análo-
situadas às suas margens permite o cultivo em larga
gos atuais. Passaremos então ao estudo dos depósitos
escala. Por outro lado, as inundaçc'ies asscJciadas aos
aluviais ncJ registre) geológico. Analisaremos tam-
rios constituem um dos principais acidentes geoló,l,ri-
bém as inundações, que constituem <J principal
cos, acarretandcJ perdas de vidas humanas e grandes
. , acidente geoléJgiccJ relacionado aos rios, ccJm sérias
preJ uJZ<)S.
implicações para a atividade humana.
Os processos asscJciadcJs aos rios, dencJminados
processos fluviais, enquadram-se, num senticlo mais
10.1 Bacias d~ Drenagem
amplo, ncJ conjunte) de processos aluviais, que com-
preendem a erosão, transporte e sedimentação cm Os rios são tJS principais compcJncntes das ba-
leques aluviais, rios e leques deltaicos. C)s leques cias de drenagem. A bacia de drenagem de um
aluviais são sistemas fluviais distributários espraia- determinado rio é separada das bacias de drenagem
dos por dispersão radial no assoalho de uma !Jacia a vizinhas pclr um divisor de águas. As bacias de dre-
partir dos locais de saída de drenagens confinadas nagem podem atingir grandes extensões territcJriais,
em regiões montanhcJsas. Por sua vez, <JS leques comcJ é <J caso dcJs rios AmazcJnas, com cerca de
deltaicos são leques aluviais que avançam direta- 5.780.000 km 2 (Fig. 10.1), Congc), com pouco mais
mente para o interior de um corp<l de água (lago cJu de 4.000.000 km 2 e Mississipi, com cerca de 3.220.000
mar). Os depósitos correspondentes, ou depósitos km 2 •
aluviais, apresentam grande impcJrtância econêJmica
como hospedeiros de recurscJs minerais (comcJ urânio
e depósitc)s de placer com diamantes, cassiterita e <Juro
- ver Cap. 21), cnergéticcJs (carvãcJ, petrólecJ e gás -
Cap. 22) e hídriccJs (água subterrânea - Cap. 20).
() transporte sedimentar em sistemas aluviais prci-
cessa-se principalmente ccJmo fluxo de detritcJs,
típico dcJs leques aluviais, ou como carga suspensa
ou de fundcJ em canais fluviais. C_)s sedimentos
aluviais apresentam natureza essencialmente elástica
(Cap. 9), com granulaçãcJ muitc) variável. Seclimen-
tos químicos podem <)correr localmente, c<)mo
crostas e concreções de calei ta (calcretes - Cap. 9)
desenvolvidas cm paleossolos e evaporitcJs cm
sabkhas continentais.
Os depósitos aluviais ctJnstituem um dos mais im-
portantes componentes do registro gecJlógico. Seu
estudei, baseadcJ cm mcJdelos estabelecidos a partir Fig. l 0.1 Bacias de drenagem dos rios Amazonas e Orinoco.
da cJbservação de dcpósitcJs recentes, permite a ca-

1 .\rquipélago de Anavilhanas, rio Negro, Brasil, na época das cheias. Foto: Roberto Linsker.
CAPÍTULO 10 • Rtos E PROCESSOS ALUVIAIS 193 ,

Todos os rios numa bacia ele elrenagem pc)ssuem transpcirtadcJs pelei riei, resultando na constru·ção de
um nível de base (Cap. 9), que pode ser definidcJ deltas, ciu a mcJntante, através do processo denomina-
ccJme) CJ le)cal de mene)r ele,Taçãc) em relação ao c1ual do erosão remontante. Este últimci prc)cessc) ciccirre
um rio pode erodir o seu prcSpricJ canal. b:sse nível pelcJ fato de que nas cabeceiras das drenagens têm-se
de base pode ser regional, o que na maioria dc)s as pc)rções de maior declividade, e portanto de maior
casc)s é o nível dei mar, ciu lcical, nesse caso repre- energia e maior capacidade de erc)sàci aci le)ngei ele um
sentado por lagos, rochas mais resistentes (Pig. 1 ().2), curse) fluvial. A erosão remontante, em certos caseis,
ciu ainela drenagens ele maicJr porte que atuam ccJme) pode re)mper a barreira do diviscJr de águas promoven-
limites para seus tributáricis. Praticamente todos cJs e-lo a ligação entre cursos fluviais de duas diferentes
grandes ríeis pcissuem ccimci nível de base regional bacias de drenagem. F,ste fenômeno é denominadci cap-
<) ciceanci, ccim ci e1ual se enccintram (Fig. 10.3) e pc)r

vezes ccinstrciem deltas. Deltas são protuberâ11cias


na linha de ccista fcirmaelas nos locais onde eis ricis
ae-lentram os oceanos, mares interiores ou lagos. C)s
deltas sãc) ccinstituídcis pcir sedimentos transpcirta-
elc)s pelos rios que os alitnentam. f<~sta designaçãci
prcivém da semelhança dessas feições ccim a letra
grega delta (~), reconhecida desele f-íeródotcJ (4 sé-
culcis antes de Cristc)).

Excepcionalmente, rios de granc-le pc)rte pcielem


clesaguar em amplas bacias em regiões áridas de) interi-
or dos continentes, construindci leques aluviais de
grandes dimensc3es, C)nele, e1n funçãc) da infiltraçãci das
águas no substrato, e-las altas taxas ele evapotranspiraçãc)
e baixa pluviosielade, toda a água é evapcJrada. Um no- Fig. l 0.3 O rio Amazonas transporta um monumental volume
tável exemplei é ci casei elei rio Olzavango, em Bcitswana, de sedimentos para o mar. Na sua foz tem-se uma extensa pluma
cujas águas evapc)ram ao atingir CJ eleserte) eleJ I<.alahari. de sedimentos finos em suspensão (porção avermelhada na par-
te superior da foto) e o desenvolvimento de um expressivo cone
()s rios pcldem estender C)S seus cursos a jusante, submarino, sem qualquer tipo de construção emersa (imagem
através ela prograelaçãe), que é o recuei da linha de cc)s- obtida pela missão STS-46 do ônibus espacial da Naliona/
ta em deccJrrência da deposição de seelimentcis Aeronaulics and Space Administration - NASA).

Fig. l 0.2 As cataratas


do Iguaçu, desenvolvidas
em basaltos cretáceos da
Bacia do Paraná, consti-
tuem um nível de base
local para o rio Iguaçu,
afluente do Paraná. Foto:
,, ,, C. Riccomini.
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tura de drenagem e também pc)de ser impulsic)nado () rebaixamento do ní,·el de base de um rio prc)-
por fenômenos recrônicc)s (Figura 10.4). voca o aprc)fundamento do seu leito com a
conseqüente erosão de sedimentos anteriorrriente
As bacias de drenagem encerram também numero-
depositados . .r\s feições resultantes, elevadas em
sos tipc)s de lagos (Quadro 10.1).
relação ao novo nível d'água do ric), são designadas
de terraços fluviais, eventualmente submersas du-
rante as cheias.
N

i 'Cotovelo' de
Guararema
Fig. 10.4 O desvio das cabeceiras do rio Tietê para a bacia
de drenagem do rio Paraíba do Sul é um dos mais notáveis
Alto estrutural
. .
exemplos conhecidos de captura de drenagem. Previamente
;«(1JJ ao soerguimento do alto estrutural de Aruiá, ocorrido no
Terciário, as cabeceiras de drenagem do rio Tietê estendiam-
se a mais de cem quilômetros a leste das atuais. O alto é
delimitado por falha (traço em azul; A - bloco alto; B - bloco
baixo). As setas indicam o sentido de fluxo dos rios. O local
assinalado com o círculo indica o provável local de ligação
pretérita entre as drenagens. Com a captura desenvolveu-se
o "cotovelo" de G,iararema, onde o rio Paraíba do Sul sofre
inflexão de 180º em seu curso.

10.1 Lagos
Lagos são massas d'água estagnada, de origem natural (não antrópica), maiores de 0,1 knt, situadas em depres-
sões do terreno e sem conexão com o mar. As dimensões dos lagos são variáveis, existindo pouco mais de 250
com área superior a 500 km2• Em relação às suas drenagens, os lagos podem ser classificados em exorreicos,
quando deles saem rios conectados aos oceanos, ou endorreicos, que não apresentam ligação com o oceano.
Cerca da metade dos lagos conhecidos é de origem glacial e outro terço formado por processos tectônicos (Cap 19),
particularmente em rifas (Fig. 10.5). Ocorrem ainda sob a forma de lagunas costeiras, em crateras de vulcões e
estruturas de impacto de corpos celestes (astroblemas), em ambientes fluviais (por barramentos e em planícies
de inundação) e em zonas deltaicas. Podem ainda ocupar depressões resultantes de escorregamentos, deflação
ou rebaixamento geoquímica. Eles estão distribuídos em diferentes partes do planeta, compreendendo as
regiões polares (Fig. 10.6), temperadas, desérticas e tropicais úmidas.
A flutuação da lâmina d'água de um lago é função do balanço hidrológico, que compreende a interação com a
atmosfera (precipitação e evaporação), com as águas superficiais e com as águas subterrâneas, incluindo as
hidrotermais. Estes fatores controlam a composição das águas, que podem ser doces ou salinas.
A deposição nos lagos processa-se por decantação, com taxas de sedimentação muito baixas, atingindo valores
da ordem de 10-2 cm/ ano. Predominam sedimentos pelíticos (Fig. 1O. 7), podendo ocorrer também a precipitação
de sais (Fig. 10.8) ou a floculação de argilas em função das características químicas das águas. A matéria
orgânica, incluindo restos vegetais, pólens e esporos, além de animais, é um constituinte freqüente nos depósi-
tos.
Tendo em vista as baixas taxas de sedimentação e a composição dos sedimentos lacustres, pequenas espessuras
de sedimentos podem guardar longos registros de mudanças climáticas do passado. Nos últimos quinze anos,
concentram-se esforços no estudo de lagos na busca de informações sobre a evolução paleoclimática do
planeta. Sondagens rasas foram efetuadas nos depósitos lacustres pleistocênicos do astroblema de Colônia,
estrutura circular com 3,64 km de diâmetro, situada a cerca de 50 km ao sul do centro da Cidade de São Paulo.
. Os dados obtidos indicaram que ao redor de 28.000 A.P. (antes do presente), passou a vigorar um clima frio e ·
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condições de semi-aridez na região, que perduraram pelo menos até 18.000 anos A.P..
CARÍTULO 10 • RIOS E PROCESSOS ALUVIAIS 195 .

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Fig. 10.5 O lago de Ypacaraí, nos arredores de Assunção


(Paraguai), ocupa a porção central de um ríft-valley delimi-
Fig. 10.6 O lago Vostok, com cerca de 14. 000
tado por falhas de direção noroeste-sudeste (modelo de
km 2 de superfície e 51 O m de profundidade máxi-
elevação digital do terreno elaborado por A. E. M. Sallun).
ma, é o maior lago de água doce do mundo sob o
gelo. Esse lago está situado na porção centro-leste
da Antártica. Na estação de Vostok, localizada so-
bre a extremidade sul do lago, foi registrada a
temperatura mais baixa do planeta (-89,3°C), em
julho de 1983. A superfície do lago está sob uma
camada de gelo com cerco de 3.750 m de espes-
sura e presume-se que ocorram sedimentos no seu
fundo. _Uma perfuração no gelo que recobre o lago,
efetuada em 1998, atingiu pouco mais de 3.620
m de profundidade, fornecendo um registro de
aproximadamente 500.000 anos de dados
paleoclimáticos. Microorganismos isolados pelo
gelo durante o último milhão de anos poderão ser
encontrados nestes sedimentos e nas águas do
lago.

Fig. 10.7 Durante o Oligoceno (Terciário), a porção central


da Bacia de Taubaté (Estado de São Paulo) foi ocupada por
um extenso lago, onde foram depositadas as camadas de ar-
gilas esverdeados da Formação Tremembé. Estas argilas, de
composição esmectítica, são lavradas para uso industrial. Foto:
C. Riccomini.

Fig. 10.8 O Solar de Atacamo é um logo situado em região


desértico no norte do Chile. Nos porções secas podem ser en-
contrados crostas salinas de diferentes composições,
particularmente de holito. Foto: C. Riccomini.
10.2 Rios rochas sedimentares ccJm estratos hcJrizcJntais. Um se-
gundo padrãc) é o paralelo, descnvolvidc) cm rcgic>cs
()s rios e as drenagens pc)dem ser classificadc)s de com declividade acentuada, onde as estruturqs elo
diferentes fc)rmas. Do geral para o particular, as classi- substrato orientam-se paralelamente ao mergulho de)
ficações mais cc)muns têm como base o padrãcJ de terreno. Nos casos em que a drenagem distribui-se em
drenagem, e) cc)mportamento das drenagens em rela- t()das as direções a partir ele um ponto central, come)
çãci ao sulJstrato e a mc)rfolcJgia c!cJs canais. um C()ne vulcânicc) ou uma feiçãcJ dômica, tem-se o
padrã() radial. Quando a clrenagem exibe cm planta um
10.2.1 Padrões de drenagem arranje) retangular, mas com os tributários paralelc)s entre
si, ocorre o paclrãcJ cm treliça, típiccJ de regiões com
As drenagens, c)bservadas cm uma carta topc)gráfi- substrato rochc)so c)nde se alternam rc)chas mais ou
ca, fotografia aérea ou imagem de satélite, apresentam menos resistentes em faixas paralelas com planos ele
padrc>cs bastante característicos em funçãcJ cio tipcJ de fraqueza ortogc)nais, como no case) de regiões dobra-
,rc)cha e das estruturas gec)lc\gicas presentes nc) substrato das de relevo de) tipo Apalachiano. Um exemple) deste
da bacia (Fig. 1O. 9). (_) padrão mais comumcnte c)bser- últimc) padrãci c)ccirrc aci longe) da Paixa ParagL1ai, nc)
vaclo é o <lendrítico, no qual o arranjo ela drenagem Mato Grossc) (ver figura introdutória do Cap. 19). Na-
assemelha-se à distribuiçãci cios galhos de uma árvore turalmente existem padrões intermediáricJs entre estes
e cJcorrc c1uando a rcJcha <los substratc)s é hc)mogênca, casos extremos ou ainda a mudança de padrãcJ ac) lon-
cc>mo um granito pc)r exemple), ou ainda nc) case) <lc go de um rio ou bacia de drenagem, os qt1ais recebem
clenominaçc">es específicas.
Dendrítico Paralelo
10.2.2 Comportamento das drenagens em
relação ao substrato

A natureza e o arranjo espacial das rochas <lo


st1bstrato das bacias de drenagem exercem também um
papel fundamental quantcJ ao sentido de fluxo das águas
nos seus cursos.

C)s rios instalados em terrenos constituídcJs por


Radial Treliça
rochas sedimentares podem ser classificados em ccJn-
seqüentes, subseqüentes e obseqüentes. Os rios
conseqüentes correm segundo a declividade do terre-
no, em concordância com o mergulho das camadas.
Os rios subseqüentes têm seu curso controlado por
descontinuidades dei substrato, como falhas, juntas e pre-
sença de rochas menos resistentes. Os rios obseqüentes
têm seu fluxo no sentido oposto à declividade das
Fig. 10.9 Os principais padrões de drenagem. Baseado em camadas; nc)rmalmente são de pequena extensão, des-
Bloom, A.L., 1991.

Tabela 10.1 Relação entre sinuosidade e grau de


entrelaçamento para os principais tipos de canais
fluviais. Modificado de Rust B.R., 1978.

Baixo ( < 1,5) Alta (> 1,5)

< l (canal único) Retilíneo Meandrante

> 1 (canais múltiplos) Entrelaçado Anastomosado


cem escarpas e c1cscmbocam em rios subseqüentes. () 10.2.3 Morfologia dos canais fluviais
rio Tietê, no seu trecho sc)bre c)s terrenos sec1imentarcs
da Bacia do Paraná, é do tipc) conseqüente. As elrcna- De) ponto de vista geológicc), a morfologia dos ca-
gens que descem as serras de Botucatu, São Pedro e nais é C) principal atributc) consideraelo na classificação
São Carlos, nc) interior paulista, sãc) de) tipo e)bscqüente. dc)s ricJs. A morfc)logia dos canais fluviais é controlada
Algumas dessas clrenagens cleságuam em ricJs subse- pc)r uma série de fatcJres autocíclice)s (próprios da ba-
qüentes, como é C) caso dei Passa c=ince) na rcgiãc) ele cia ele drenagem) e alocíclicos (que afetam não apenas
Itirapina e Ipcúna (Estade) de São IJaulo), cc)ntrolaclci a lJacia de drenagem mas toda a região onde ela está
por uma zona de falha de dircçãc) nc)reJeste-suc-leste. inserida), com relações bastante complexas. Cc)mo fa-
tc)res autc)cíclicc)s são consideradas a descarga (tipo e
()s ric)S dcsignadcJs ele inseqücntes não apresentam
quanticlaelc), a carga de sedimentc)S transportada, a lar-
contrc)le gec)lógico recc)nhccível e normalmente estãcJ
gura e a prcJfundidade dei canal, a velcicidadc de fluxo,
relacionaelos à presença de rochas he)m<)gêncas (grani-
a cleclividade, a rugcisidade do leito, a cc)bertura vege-
tos p<)r exemple)) C)u de camadas sedimentares
tal nas margens e ilhas. F:sses, por sua vez, são
horizontais. Alguns ric)s meanc1rantes, come) o Ribeira
c<Jnclicic)naelos peleis fatores alocíclicos, como variá-
de lguape (Estado de SãcJ Paulo) em seu baixel curse),
veis climáticas (pluviosidade, temperatura) e geológicas
apresentam caráter predc)minantemcnte inscqüentc.
(liteilcJgia, falhamentos).
()s ric)s que cc)rrem sobre tcrrenc)s compc)stos pc)r
rc)chas cristalinas podem ser classificados em antece- a) Parâmetros morfométricos
dentes e superimpc)stc)s. Rios antecedentes entalham o
seu curso de maneira rápicla, contemporânea a um prc)- J\ maioria dc)s estudos sobre sistemas fluviais em-
ccsso tectônico (falhamento, por exemplo) C)Lt já prega uma classificaçãci lJascada em quatro padrc3es básicos
existiam previamente a este fentJmcnc). São típicc)s de de canais, designados de retilíneo, meandrante, entre-
regiões cc)m tectc)nismo ative). Por C)lttro laclo, em rcgi- laçado e anastomosado, ciu, respectivamente, de straight,
c>es onde camadas sulJ-horizcintais c-le scdimentc)s <Ju meanderin/1,, braided e anastomosed nos trabalhos em língua
rochas sedimentares recobrem um st1bstratc) com rc)- inglesa (Pig. 10.1 O). Esses quatro padrões podem ser
chas deformadas (dobradas e/ ou falhadas) podem caracterizados em função de parâmetros morfométricos
desenvc)lver-sc rios superimpostc)s. Esses ric)s têm seus dc>s canais, como sinuosidade, grau de entrelaça-
cursos cstabelecielos na cobertura sedimentar, sem in- mento e relação entre largura e profundidade. Para
fluência das estruturas do embasamento. Ce)m o avançc) um determinado segmento de um canal, a sinuosidade
do entalhamento do canal o rie) atinge as rochas de> é definida cc)mo a relação entre o comprimento do
substrat<), mas continua a escavar seu leite) seccionando talvegue (linha que une os pontos mais baixos doca-
as estruturas. C) rio Ribeira, na divisa entre c)s Estados nal fluvial) e <) comprimento dei vale. O valor de 1,5
de São Paulo e Paraná, apresenta caráter superimpostc) divide arbitrariamente os ricis de alta (maior que 1,5) e
cm relação às rochas dc)bradas que atravessa, de idade baixa (menor que 1,5) sinuosidade (Tabela 10.1). O grau
, . de entrelaçamento mede e) número de barras ou ilhas
proterozo1ca.
ncJ canal, por comprimento de onda desse canal, medi-
do ao longo do talvcgue, o que permite definir a sua
multiplicic-laele. A relação largura/ profundidade ofere-
ce também uma boa discriminação entre os diferentes
Retilíneo tipos de ricis (Tabela 10.2).

Anastomosado
PcJdc-se dizer que os rios entrelaçados sãci mais co-
muns cm regiões elesérticas secas (Fig. 10.11) periglaciais,
enquanto os rios meandrantes estão ligados a climas
mais úmidos (Fig. 10.12). Os rios anastomosados são
também mais freqüentes em condições climáticas úmi-
das, pciis, do mesmo modo, dependem fortemente da
Meandrante açãei da vegetação na fixação das margens (Fig. 10.13).
Entrelaçado
()s rios retilíneos estão praticamente restritos a peque-
Fig. 10.1 O Os quatro tipos fundamentais de canais fluviais. nc)s segmentos de drenagens e distributários deltaicos
Adaptado de Miall, A.D., 1977. (Fig. 10.14).
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Fig. 10.11 Extensa planície fluvial entrelaçada desenvolvida


no Deserto de Nazca, Peru. Foto: C. Riccomini.

Fig. 10.13 O rio Congo apresenta típico padrão anastomosado


com amplas ilhas fluviais (imagem Landsat obtida em julho de
1984, NASA).

b) Regime de transporte da carga

Os quatro padrões fundamentais de ric)s podem


ser desmembrados em tipos intermediários cc)m base
no regime predominante de transporte da carga
sedimentar (Cap. 9) - em suspensão, por tração ou
misto (Fig. 10.15). Os fatores que controlam a varia-
ção na descarga e o tipo de carga sedimentar são
variáveis. As regiões alpina e ártica caracterizam-se por
fortes escoamentos superficiais sazonais, ac) passo que
em regiões semi-áridas a áridas o escoamento pode
ocorrer apenas a intervalos de meses ou até mesmo
Fig. 10.12 O rio Madre de Dios, na Bolívia, atravessa região
tropical úmida com densa cobertura vegetal. Seu segmento nor-
anos (chuvas torrenciais esporádicas). Em ambos os
deste exibe padrão meandrante de baixa sinuosidade. Para casos a vegetação é esparsa, favorecendo o escoamento
montante, no lado esquerdo da imagem, o padrão inicialmente superficial, com o conseqüente transporte de clastos
é de baixa sinuosidade, com canais múltiplos do tipo de granulação grossa resultantes dos processos de de-
anastomosado, no lado esquerdo da imagem, passando a canal sagregação mecânica. Em climas mais úmidos, com
único (imagem Landsat obtida em julho de 1984, NASA). cobertura vegetal mais abundante e o nível freático

Tabela 10.2 - Relação entre largura e profundidade para os principais


tipos de canais fluviais. Modificado de Rust, B.R., 1978.
Tipo Morfologia Razão largura/ profundidade

Retilíneo canais simples com barras longitudinais <40

Entrelaçado dois ou mais canais com barras e pequenas ilhas normalmente >40; comumente >300

Meandrante canais simples <40

Anastomosodo dois ou mais canais com ilhas largas e estáveis normalmente < 10 .
CAPÍTULO 10 • Rios E P1oc:essos ALuv, t99 ·

Carga de fundo

il

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i
i
j /

1 2 3 4

Carga mista

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1
·, ''
Fig. l 0.14 O Delta do Mississipi é composto por distributários
retilíneos que configuram um arranio em "pé-de-pássaro". i

6 7 8 9 10

Carga em suspensão
mais constante e próximo à superfície, ocorre a reten-
l i
ção dos clastcJs mais grossos, predominanc.lcJ o ; 1
i' ''
1 !
transporte de partículas de granulação fina. Entretan-
to, mesmo em condições úmidas, onde pode ocorrer /1/
\ i
a remoçãc) da cobertura vegetal - particularmente por )\
ação antréJpica - o fornecimento ele carga ele granulação
(, f1
grossa será favorecido. 1
!1
Í I
Em ccJnc-lições climáticas áridas, o nível freáticcJ é mais !/
' 1
profundo, mas pode ser alçado rumo à superfície pc)r '
\
ocasião de chuvas tcJrrenciais. A alta permeabilidade dos 11 12 13 14
sedimentcJs arenosos e ccJnglcJmeráticos, predominantes
em desertos áridcJs, propicia a infiltração e percolação Fig. l 0.15 Variações nos padrões de canais fluviais em fun-
eficaz das águas superficiais, com inibição do escoamen- ção do tipo de carga. Segundo Schumm, S. A., 1991.
tcJ superficial. C:om isto os rios tendem a perder
rapidamente a energia de transporte. Conseqüentemen-
te, haverá um predomínio da deposição de sedimentos (1) 1.3-
""0
nas porções proximais (próximas às cabeceiras) e for- ..g 1.2-
maçãcJ de crostas duras, especialmente calcretes, em • vi o
o <lJ
porções clistais ou marginais.
::, 1.1- ,e
e -
-
v=; - Q} - - - Meandrante Entrelaçado
1,O o.:'.
Experimentos laboratoriais indicaram que a mu-
dança de padrão do canal pode ocorrer de forma ' '
o '
0,4 '
0,8 1,2 '
1,6 2,0
abrupta, ccJm limites niticlamente elemarcados e ccJn- Declividade (%)
trolados por fatores como a sinuosidade e a declividac.le
(Fig. 10.16), cJu ainda pela carga de sedimentos trans- Fig. 10.16 Variação na morfologia de canais fluviais em
portada pelcJs ricJs. função dos parâmetros sinuosidade e declividade. Segundo
Schumm, S. A. & Khan, H.R., 1972.
~~mbc)ra se1a ób,-ia a
distinção entre um canal
retilínec) e um tipicamente
meanclrante, nem sempre
C)S termos extrcmc)S estãc) ,; ' ;

representados na natureza.
C)s paclrõcs descritos são
. :::;_>,!~f .~;~
· ~ ....... ,

. .
comuns, mas existem mui-
tas gradações entre eles. Ac)
lc)ngo de um mesmo ric) i,i.,',,

pode-se observar a passa- <'.l;í<::t,
gem grac1ativa ele
características próprias de Fig. l 0.17 O rio Japurá (Bacia do Amazonas) exibe padrão transicional entre anastomosado,
tim determinadc) padrãc) com grandes ilhas cobertas por vegetação, meandrante de alta sinuosidade com canais aban-
donados, e trechos retilíneos provavelmente controlados por estruturas do embasamento (imagem
para c)utrc) (Pigs. 10.12 e
do radar orbital SIR-A, obtido em 1981, NASA).
10.17). r~, a<) lc)ngo elo
tempo, pc)de <)correr va-
riação em funçãcJ da clescarga de) ric) nas épc)cas de
10.3 Leques Aluviais e Deltaicos
cheia e cie estiagem. Aciicionalmente, existem ri<)S
com vales estrcitc)s, cm fc)rma de "V", qtie enta- A ccJnstruçãc) dos leques aluviais se prclcessa atra-
lham C) seti substrato rochc)so e freqüentemente sã<) vés de tim canal principal e numcros<JS clistributários.
encachoeiradcJs. ~:stes rios nãc) se enquadram ncs- Nclrmalmente, pc)uCc)S canais sãc) ativos ao mes-
sas classificações. mcJ tempc). Em geral eles apresentam confinamento
efêmero acJs seus respectivos canais e freqiientc
avulsã<) associacla às
descargas fluviais mais
elevadas. Em regicJes
áridas, a descarga flu-
vial c)corre sob a
forma de inundações
em lençol e fluxos
gravitacic)nais (Cap. 9),
permitinclo a dispersão
de sedimcntc)s sobre a
superfície de) leque a
partir de seu ponte) de
saí ela (ápice).

Cc)mumente <JS le-


ques alt1viais sãc)
assc)ciados a regiões
desérticas (Fig. 10.18).
Dessas re1',riàes prc)vém a
maicJria d<)S mc)dclos
existentes, onde, fre-
qüentemente, os leques
Fig. l 0.18 No região desértico do leste do Egito desenvolvem-se leques aluviais o partir de são tratad<)S como pclr-
escarpas de idade terciário, associados ao flanco oeste do rift do Mor Vermelho. No superfície dos ç<'íes prc)ximais de rios
leques ocorrern fragmentos rochosos transportados por fluxos gravitacionais e pelos raros chuvas entrelaçadc)s. F,ntretanto,
que ocorrem no região. Foto: C. Riccomini.
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Fig. l 0.19 O leque do rio Kosi (a) tem seu ponto de origem (ápice) nos Himalaias, na região fronteiriça entre a ln dia e o
Nepal. Os sedimentos gradam de conglomerados com blocos e matacões, nas porções proximais, a pelitos nas porções
distais. Este rio apresentou acentuda migração dos canais distributários para oeste nas últimas centenas de anos (b). a)
Imagem Landsat obtida em fevereiro de 1977, NASA; b) Modificado de Holmes, A., 1965.

existem leques aluviais ele granclc cxtcnsã<i, <Jll


megaleques, descnv<ilviel<JS em climas úmid<JS, como
,
cJ el<J rio I<.osi, na India, e <J elci rici "J"ae1t1ari, nci Panta-
nal MatcJgr<isscnsc. N<i leque do rio I<.osi (f<ig. 10.19),
a sedimentação <JC<Jrrc cm can,,is fluviais entrelaçaelos,
principalmente nas pcirç<'íes pr<>ximais. O leque ele> rici
Taquari (f<ig. 10.20), cc>m cerca de 250 !(m ele eliâmc-
tro, é provavelmente o mais extens<i dei munelo. FJe é
c<imposto p<lr uma sucessã<J de lobos elep<isicicJnais
arencJS<JS construídos por ricis meanc-lrantcs ele l1aixa
sinuosidaele, tende) com<J nível ele base o ri<J Paraguai.

C_)s leques deltaiccJS sãci casos particulares ele lee1ucs


aluviais que prcigraclam diretamente para o intericir ele
um ccirpc> de água - lago ou mar. Váric>s lee1ues aluviais
clessa natureza, cm regiões clesérticas ou periglaciais,
são ccinstruíclcis pclr um arranj<i ele drenagens
entrelaçadas paralelas, mas não exibem <J padrão ele
dispersão radial. Para estas situações emprega-se o ter-
mo planície entrelaçada ou, n<J caso das feiçc3es
ccJsteiras, <J termci delta entrelaçaelci.

Fig. l 0.20 O megaleque do rio Taquari, no Pantanal Matogrossense,


provavelmente o mais extenso do mundo (imagem Landsat obtida
em maio de 198 7, NASA).
10.4 Os Depósitos Aluviais no comparaçãci de perfis verticais e seções em aflc)ramentcis
com mc)delcis de fácies, sucessões e associações de fácies
Registro Geológico
(Quadro 10.2). Estes mcidelcJs são elaborados de modc a
()s depc'Jsitos alu,iais sãc) um impc)rtante ccimponen- representar, na sua essência, a combinação de feições de
te do registro geológico e ocorrem em contextcJs depc'isitcis sedimentares recentes e antigcJs e permitir a
gecitectônicc)s distintos, podendo constituir indicadores caracterização dos diferentes sistemas depcisicicinais en-
sensí,,eis deis controles exercidos pelo tectonismo e pe- vcJlvidos.
las variações do ní,,el do mar na sedimentação. Para a
análise e interpretação desses depósitos e seus prc)cessc)s 10.4.1 Análise de fácies em depósitos
geradcires, os geólogos valem-se e.lo conceito de fácies, aluviais
entendidc) ccimci ci conjunto de características c.lescritivas
de um corpo sedimentar que permitem interpretá-lo como A análise de fácies é efetuada com o levantamento
ci prcJduto de um c.leterminadc) tipo de processo e descrição de seções, visando caracterizar um corpc)
depcisicional. C) métoclo da análise de fácies l)aseia-se na rochoso a partir da combinação particular de litologias

10.2 Modelos de fácies


Sob o termo fácies, entende-se um corpo rochoso caracterizado por uma combinação particular de litologia,
estruturas físicas e biológicas, as quais lhe conferem um aspecto diferente dos corpos de rocha adjacentes. As
fácies podem ser reunidas em associações de fácies ou sucessões de fácies. Uma associação de fácies compre-
ende um grupo de fácies geneticamente relacionadas entre si e que possuem significado ambiental. A sucessão
de fácies refere-se à mudança vertical progressiva em um ou mais parâmetros, como a granulação e estruturas
sedimentares, dentre outros. Um sistema deposicional corresponde à assembléia tridimensional de litofácies
(fácies definidas com base nos seus atributos litológicos) geneticamente relacionadas em termos de processos e
ambientes. O trato de sistemas representa a interligação e11tre sistemas deposicionais contemporâneos.

Os modelos de fácies representam um sumário de


um sistema deposicional em particular e envol-
vem vários exemplos de sedimentos recentes e rochas
Agrupamento das fácies
sedimentares antigas. Roger G. Walker, sedimentólogo
, , "" ,
canadense e um dos formuladores desses concei-
• Aiísóciações de fá<;le~ .
·.. Sucessões de fácié!lE :i
tos, cc)nsídera que os modelos de fácies devem
reunir informações provenientes de diferentes
exemplos de um sistema deposicional específico,
Comparação com exemplos atuais
e antigos (registro geológico) C) qual, além de ser utilizado como ponto de refe-

+ rência para interpretação de novos casos estudados,


Destilação (discriminação entre
Ambientes deposicionais feições comuns a diferentes exemplos deve permitir inferências a partir de um número
e aspectos particulares locais)
(aspecto geográfico) limitado de dados obtidos nesses novos casos (Fig.
10.21).
Integração com processos Modelos de fác ies

\
Sistemas deposicionais '
Interligação entre sistemas deposicionais coetâneos

Tratos de sistemas Fig. 10.21 Relações entre fócies, ambientes deposicionais,


sistemas deposicionais e tratos de sistemas deposicionais.
. CAPiTULO 18 • Rios E PROCESSOS ALUVIAIS 283 .

e estruturas físicas e bi<iléigicas que permitam N<i estudo dos depéisit<JS aluviais, emprega-se <J
discriminá-lo dos corpos rcichcisos adjacentes. As vá- métcid<J da aproximação sucessiva, ou "zoom", partin-
rias fácies analisadas podem ser reunidas em dci-sc da observação mais geral, cm escala de
ass<Jciações ou sucessões de fácics, com C) intuito de afl<iramentci, onde são identificaclas superfícies
generalizar, categorizar e simplificar as obser\Taçõcs da limitantes, descritas diferentes fácies, suas geometrias
variabilidade lit<iléigica de um m<)clel<i ou de uma lJa- internas e externas, suas relações C<Jm as fácies adja-
.
Cla. centes, até a cibser,Tação de mai<Jr eletalhe, quand<J
porções elo depósito sãci estudadas individualmente,
Para a análise de fácies pode ser empregada uma
correspondente à análise de fácies (fig. 10.22).
classificaçãcJ fcirmulada por 1\nclrew D. J\Iiall,
sedimentólogo inglês, baseada em códigos de litofácies, Esses procedin1entos e classificações podem ser
comp<istos por uma letra inicial maiúscula, ql1e repre- relativamente bem aplicad<is para sistemas fluviais atu-
senta a granulação cl<) material, seguida p<ir Lima c1u ais, <Jncle é possível a observação direta da morfologia
ciuas letras minúsculas, e1ue indicam as estruturas el<is canais, dos pr<Jcessos erosivc)s e sedimentares atu-
sedimentares presentes. A esta classificaçã<i peide ser antes, l1em como da distribuiçãci tridimensional elos
asscJciada a caractcrizaçã<J lit<il(Jgica dcJs depósit<JS. ciepéisit<Js. f:ntrctanto, a definiçãci e distinção de tip<is
Dessa forma pode-se interpretar cada litcifácic cm ter- ele paelrõcs para sistemas flu,Tiais antigos, a partir ele
mos de sua origem hidroc1inâmica e pcisição nas aflciramc11tos geralmente alteradcis e descontínu<)S,
diferentes fácies do sistema fluvial (Tabela 10.3). J\tu- pode ser cc)nfusa e de difícil execuçãci. Adicionalmen-
almente, este métoclci está amplamente difundido entre te, <J métoelo de análise de fácies C<Jm seções verticais
os sediment<)l<ig<is, send<i cmpregacici também para pcJdc não ser suficiente para representar adequadamente
outros tipos de sistemas deposici<Jnais, tanto para re- as variações laterais e tridimensionais ela composiçãci e
gistros m<Jdernos como antig<JS.

E V✓

\ . ,S

,.,, t,,
3m

Fig. 10.22 Método de descrição de um depósito fluvial, com a identificação de superfícies limitantes (tracejado), caracterização
das litofácies (códigos representados pelas letras, conforme a Tabela 10.3) e determinação de atributos vetoriais, como paleoccrrentes
(setas, indicando o rumo do mergulho de camadas frontais de estratos cruzados em relação ao norte geográfico). Formação
ltaquaquecetuba, Cenozóico, Bacia de São Paulo (painéis elaborados por P. Aronchi Neto).

UNIVERSIDADE POT1r.:11 õR .
Tabela 10.3 Litofácies associadas a depósitos aluviais

Litofácies Classificação litológica Estruturas sedimentares Interpretação

Gms OA/15, ortoconglomerados arenosos maciços depósitos de fluxo de


sustentados por areia e PLS, detritos
paraconglomerados sustentados por lama

Gm O, ortoconglomerados e OACS, maciços ou grosseiramente barras longitudinais,


ortoconglomerados arenosos, ambos estratificados (acamamento depósitos residuais
sustentados por clastos horizontal, imbricação de de canais, depósitos de
elas/os) peneiramento com
estrutura gradacional inversa

Gt AC, arenitos conglomeráticos e estratificação cruzada preenchimento de canais


OA/15, ortoconglomerados arenosos acanalada
sustentados por areia

Gp AC, arenitos conglomeráticos e


OA/15, ortoconglomerados arenosos estratificação cruzada planar barras linguóides
sustentados por areia

St A, arenitos, a AC, arenitos médios a estratificações cruzadas dunas (regime de fluxo inferior)
muito grossos, conglomeráticos, acanaladas isoladas (q) ou
podendo conter grânulos e seixos agrupadas (o)

Sp A, arenitos, a AC, arenitos médios a estratificações cruzadas barras linguóides transversais


muito grossos, conglomeráticos, acanaladas isoladas (a) ou e ondas-de-areia (regime de
podendo conter grânulos e seixos agrupadas (o) fluxo inferior)

Sr A, arenitos muito finos a grossos marcas onduladas de todas ondulações (regime de fluxo
os tipos inferior)

Sh A, arenitos muito finos a muito grossos, laminação horizontal, lineação fluxo acamado planar (regimes
podendo conter grânulos de partição ou de fluxo de fluxo superior e inferior)

SI A, arenitos finos estratificação cruzada de baixo preenchimento de sulcos,


ângulo (<10º) rompimento de diques
marginais, antidunas

Se A, arenitos com intraclastos sulcos erosivos com estratificação preenchimento de sulcos


cruzada incipiente

Ss A, arenitos finos a grossos, podendo sulcos amplos e rasos incluindo preenchimento de sulcos
incluir grânulos estratificações cruzadas tipo h

Sse, Sh A, arenitos análogos a Ss, Sh e Sp depósitos eólicos


e e Spe
F/ AP, arenitos pelíticos, PA, pelitos laminação fina, ondulações de depósitos de transbordamento
arenosos e P, pelitos amplitude muito pequena ou de decantação de enchentes

Fsc P, pelitos laminada a maciça depósitos de áreas pantanosas


ou planície de inundação

Fcf P, pelitos, localmente com moluscos maciça depósitos de pântanos


de água doce alagadiços

Fm P, pelitos maciça, com gretas de contração depósitos de transbordamento


(ressecação)

Fr P, pelitos marcas de raízes camadas pelíticas sotopostas


a camadas de carvão (underclay)

c carvão, pelitos carbonosos restos vegetais, filmes de lama depósitos de pântano


p carbonatos (calcretes) feições pedogenéticas solos

Fonte: adaptado de Mia li, A. D. , 1978.


gee)metria dc>s elepeSsitos seelimentarcs. Assim, existem clesagregaçãci mecânica produz cletritos em abundân-
métodos complementares, baseaclc>s ncis clemente)s cia, eis quais são remeil1ilizadcis elurante as chuvas
arquitetônicos (ver sugestc'ics ele leitura aei final eleste torrenciais que ocorrem ele forma espcirádica.
capítulci).
( )s perfis típiceJs para els leques aluviais prc>ximais
Programas ccimputacicinais específicos ,,ên1 scndcJ ccimprcendem basicamente uma st1cessão de depósi-
elcsenvcilvielos e aprimorade)S para auxiliar nesses prcJ- tc>s c-le fluxo de e-letritos atingindci inelividualmcnte
ceelimente>s, nas diferentes escalas, eleselc a simulaçãci espessuras métricas (I'ig. 10.23), cmbcJra por vezes seja
de formas deposicie)nais até CJ cstal)elecimentci do ar- difícil a separação dcJs diferentes fluxcis cm
ranjei tridimcnsicinal de fácics em elcpcisitcis c-le aflcJramenteis. ( )s fluxeJs ele detriteis apresentam bases
elifcrentes naturezas. Tais aplicaçcJes são particularmen- a\1ruptas e aplainadas e padrão lobaclci, excetci quando
te relevantes acJ cstuelci ele meicis pore)scis ceJme> estãci alojados ae) lcJngo ele canais. lntcrcalaçcJes ele cas-
reservatórieJs de fluielcis - água, pctrc'ileei e gás. calheis clispc'iem-se ao lcingo ele estruturas de corte nos
elepc'Jsiteis de ílL1xo de cletritos. Depe'isitcJs de transbor-
10.4.2 Modelos deposicionais clamentcJ dei fluxci st1perficial canalizadci pcielcm
tamlié111 eJccirrer e apresenta111 cicleis grosseiramente
Dada a grande variabilidade elcis fatores e1uc con- grancidecrescentcs.
trcilam os diferentes tipeis ele rieis e lcqt1es aluviais, é
possível elabcirar uma infinielade de moelelcis
depcisicionais. J,eques aluviais ele climas áriclcis e úmi- ,,, ' ",, -<,-·

de)s, assim come> rios entrelaçaelcis, meanelrantes e


anastomosadcis, entendidos ceimo termeis extremeis elas
prope>stas de classificação, peissticm elen1cnteis carac-
terísticos que peidem ser utilizadcJs para finalidaeles
didáticas.

a) Sistema de leques aluviais

C)s meidelos dcposicic>nais para lec1t1cs alt1viais fcJ-


ratn originalmente elabcirados ce>nsideranclci estas
feições comei distri\JutárieJs do sistema flt1vial. ()s es-
tudos desenvolvidos sãci praticamente rcstritcis às Fig. l 0.23 Depósito de fluxo de detritos contendo blocos
regic'ics de clima árido, ceim forte escciamento st1perfi- métricos de rochos do embasamento na porção proximal de
cial e transporte de clastcis de granulaçãeJ grcissa leque aluvial da Formação Resende (Oligoceno), junto à bor-
resultantes da desagregação mecânica das rochas. J\s- da norte da Bacia de Resende, Estado do Rio de Janeiro. Foto:
sim, com freqüência eis leques aluviais sãei tratados em C. Riccomini.

conjunto com eis rios entrelaçados. Ne> laelo opeistci, cJs


mcidelos depeisicicinais para lec1ucs aluviais c-le climas
f<ora dei alcance deis fluxos de clctritos, em pclsi-
ú1nielos ainda sãcJ escassos na literatura.
çào intermediária a elistal ncJs leques aluviais,
predciminam depósitos (Jtiginados pcir corridas-dc-
Leques aluviais de clima árido lama. Sàc> ce)mpclstos principalmente por lamitos C(Jm
seixeis a blocos nas pcirçõcs intermediárias e lamitcis
As pe)tÇeJcs proximais elcis leques aluviais são ca-
arencJsos a argiloseis nas distais, em cicleJs grosseira-
racterizae-las pela presença de depc'>sitos de fluxcJ de
mente grancidecrescentes, podendci eiceJrrcr calcretes
detritos (Cap. 9) pe>limíticos, ceintendo seixos a ble>ce>s.
nas terminações deJs leques.
I 1'.ste tipo de depc'isitei é desenvolvideJ em locais de
grande declividaele, abundante suprimente) de detritcis, ;\ alternância de depósitos originados por fluxcJs
requerendci descargas muiteJ fcirtcs para seu inícici, ceJn- de dctritcis e corridas-de-lama, elcccirrente da ,,ariaçà(J
dições essas mais típicas de climas árielos e semi-áriclcis. na descarga ou tectcJnismo, é uma característica deJs
Nesses lcJcais, clurante os lc>ngcis períeielos seccJs, a leques aluviais em seções verticais (f<igs.1 ().24 e 10.25).
206 D E e I F R A N o o A TERRA

b) Sistema fluvial entrelaçado

Rios entrelaçados caracterizam-se pelo amplo pre-


domínio da carga de fundo. Possuem razão largura/
profundidade do canal normalmente maior que 40,
comumente excedendo 300. ;\ formação de canais en-
trelaçados é fa,,orecida pela presença de declividades
médias a altas (>5º), abundância de carga de fundo de
granulação grossa, grande variabilidade na descarga e
facilidade de erosão das margens. Canais entrelaçados
são desenvc)lvidos pela seleção das partículas, cc)m a
deposição de material de frações granulométricas que
o rio não pode transportar. A diminuição progressiva
Fig. l 0.24 No sopé do maciço alcalino de Itatiaia, Estado da declividade leva à menor granulação de) material
do Rio de Janeiro, ocorrem intercalações de depósitos de flu-
9L1c compõe a carga de fundo. A c.leposição da carga
xos de detritos (constituídos de blocos arredondados de rochas
de fundo propicia o desenvc)lviment<) de barras que
alcalinas), e depósitos de corridas-de-lama. Antigo leque aluvial
obstruem a corrente e ramificam-na, processo este fa-
da Formação Resende (Oligoceno). Foto: C. Riccomini.
cilitado n<)S casos em que margens sejam facilmente
erodic.las, com ccinscqüente aumento do suprimento
detrítico. Também a variação na descarga de um rio
SV✓
afeta sua capacidade de transporte: a ocorrência de
períodos nos quais o rio nãc) possui energia para trans-
pc)rtar toda a sua carga de fundo conduz à formação
de barras e à ramificação do fluxo.
Muita atençã<) é dada à classificação dos diferentes
tip<)S de dcpósit<)S nos rios entrelaçadcis e vários mo-
Fig. l 0.25 Representação esquemática de corte de estrada deleis foram definidos (Fig. 10.26). Entretanto, L1m
mostrando a alternância de fácies de conglomerados de fluxo mesmc) rio pode apresentar modelos deposicicinais dis-
de detritos e de lamitos argila-arenosos de corridas-de-lama,
tintos, ccinforme a posição de um determinado
em depósitos de leque aluvial da Formação Sete Barras
segmento do canal cm relação à cabeceira, ou ainda
(Cenozóico), nos arredores de Sete Barras, Estado de São Pau-
c<)mo decorrência da variação de sua energia de trans-
lo: l - solo; 2 - lamito argila-arenoso; 3 - arenito; 4 -
ortoconglomerado.
p<)rte, por exemplo na enchente e na vazante. Dessa
maneira, os rios entrelaçadc)S pc)dem ser analisados em
função da sua pcisição na bacia de drenagem, se
proximais, intermediários ou distais.
Leques aluviais de clima úmido 5

Nos megaleques aluviais desenvolvidos em re-


4 l ,,,, l
1
{
gic"íes de clima úmido a seclimentação C)CC)rre em - 3

canais fluviais. Estudos realizados p<)r l\1. L. Assine


e P. C. Soares, geólogos brasileiros, permitiram ve-
-
rificar que a mc)rfologia do megaleque elo rio Taquari
(Figura 10.20) é marcada pelos traços de Lima gran-
de quantidade de canais abanc.lonados, em parte
ativos durante as cheias. ;\ sec.iimentação caracteri-
za-se p<)r prciccssos pro,,avelmente cíclicos de Fig. l 0.26 Bloco-diagrama com as principais feições cons-
tituintes de um rio entrelaçado distal. As setas indicam as
construção e abandc)no de lobos dcposicionais are-
direções de fluxo. l - planícies de areia emersas recobertas
nc)SC)S durante o Quaternário. O lobo atual está
com ondas-de-areia; 2 - ilha coberta por vegetação; 3 - nú-
sendo construído por um rio meandrante, com vá-
cleo emerso; 4 - barra submersa oblíqua ao canal; 5 - dunas
ric)s lc)cais de rápido abandono do canal devidc) ac) de cristas sinuosas; 6 - depósitos residuais de canais. Modifi-
rompimento de diques marginais. cado de Cant, D. J. & Walker, R. G., 1978.
CAPÍTULO 1 O • Rios E PRocessos ALUVIAIS 207 ·-

Depósitos de rios entrelaçados proximais

l)s deplSsitc)s proximais ele ric)S entrelaçados sãc)


normalmente cascalhentos e dominados por litofácies
ele clrtc)conglomeradc)s maciços clu grosseiramente
estratificados; neste último caso formam barras lclngi-
tudinais (alongadas paralelamente ao canal fluvial)
cc)nstruídas durante as enchentes (1''ig. 10.27). De ma-
neira subc>rdinada, incluem ortoconglomcrados a
arenitc)s cc)m estratificações cruzadas, depclsitadc)s du-
rante as fases de enfraquecimento ele inundaçc"íes e
redt1ção da prc)fundidade. Podem constituir ainda ci-
clc)s granc>decrescentes de pequena escala, até métrica.
1\s unidades arenosas são depc)sitadas em canais aban-
donae-lcJs ou cm continuidade de barras ele cascalhos, à
meelicla que estas últimas emergem durante o rebaixa-
mento do nível d'á6rua.

Depósitos de rios entrelaçados intermediários

()s rios entrelaçados cm pc)siçãc) intermediária po-


dem incluir depósitos cíclicos granodecrescentes
desenvolvidos em canais ativclS e bem definidos, cuja
carga ele funde) é essencialmente cclnstituída por areia
e cascalho. O elesnível do topo das barras em relaçãc)
ac> fundo dos canais chega a atingir dimensões métri-
Fig. l 0.27 Depósito de barra longitudinal de cascalhos na
cas. l)s scdimentcls mais grosscls ocorrem nas porçc"íes
porção proximal de um rio entrelaçado atual (a) e depósito
mais profunelas e-los canais, cc)nstituindo, por vezes,
antigo de natureza semelhante em terraço fluvial do mesmo
rio (b), mostrando a persistência do processo no tempo geoló-
barras longitudinais de cascalhos maciços com grclS-
gico. Exposições ao longo do rio do Braço (município de scira estratificação horizontal e clastos imbricados (Fig.
Cruzeiro, Estado de São Paulo). Fo'os: a) C. Riccomini; b) F. 10.28). Ocorrem também cm barras transversais de
Mancini. arenitos localmente conglomeráticc)s cotn
estratificaçc"íes cruzadas planares e barras lobadas de

Fig. l 0.28 Depósitos de barras longitudinais de cascalhos intercalados com areias (porção intermediária de um antigo rio entre-
laçado) da Formação Ponta Porá (Cenozóico), na região entre Bela Vista e Jardim, Estado de Mato Grosso do Sul. Visão geral (a) da
estratificação horizontal dos cascalhos e um detalhe (b) mostrando a imbricação dos clastos, indicando sentido de transporte para o
lado direito da foto. Fotos: C. Riccomini.
arenitos ccJngl<Jmerátic<1s com estratificação cruzada ao ser introcluzida em um ccirpo d'água), constru-
planar. Segment(JS parcialmente inativos podem rece- indci sucess(Jes c-le litofácies de arenitos com
ber seclimentacã(J de areias e cascalh(JS durante as cheias.
o
estratificação cruzada. Areias com laminações on-
duladas e siltes peidem ocorrer nc1 tcipo das barras.
Depósitos de rios entrelaçados distais Novamente vale lembrar a existência ele transições
entre (JS tipos de depc'isitos, a alternância vertical de
As porções distais de sistemas fluviais entrela-
dep(isitcis de cliferentes pcJrções no sistema fluvial en-
çac1os correspcindem a ri(JS ncJrmalmente largo, e
trelaçaclo (F•ig. 10.29), bem C(Jmo a intercalação de
rasos, sem diferenciaçãcJ topcigráfica clara entre a,
p(irçc)es ativas e inativas. Os depósit(JS raramente
sãcJ cíclicos e corresp(Jndem predominantemente a
barras arenosas ot1 ondas-de-areia (depéJsitcis gera-
c1c>s pela rápicla clesaceleraçãcJ da carga seclimentar

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-, _,_ -,- -, - --- --- - -·,


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'
' Fig. 10.29 Afloramento de areias e conglomerados da For-
·- ---
•2
.., mação ltaquaquecetuba, Cenozóico da Bacia de São Paulo,
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mostrando a predominância de depósitos fluviais entrelaça-
1' dos distais, na porção inferior, e proximais na porção superior

\ da exposição: l - troncos fósseis carbonificados; 2 - brechas


com clastos de argila; 3 - conglomerados; 4 - lâminas e ca-
madas com concentração de clastos milimétricos de pelitos
arenosos ricos em matéria orgânica; 5 - arenitos médios a
. grossos com estratificação cruzada. Foto: A. M. Coimbra .

4m
Fig. 10.30 Seção colunar mostrando intercalação entre depósitos de arenitos fluviais
de rios entrelaçados e de lamitos da porção distal de leque aluvial: l - arenito
conglomerático a conglornerado com estratificações cruzadas; 2 - lamito argilo-areno-
so; 3 - lamito argiloso. Formação Resende, Oligoceno da Bacia de Resende, Estado do
Rio de Janeiro.
IAPituL.o 10 • Rios E P1oe1:ssos AL.uv1A1s 209

c1epé)sitc)s fluviais entrelaçadc)s e leques aluviais cm f11n- Depósitos de canais


ção da variação na eles carga e/ ou existência de
tectonismc) clt1rante a e-leposiçãc) (Fig. 10.30). ()s depósitc)s de canais (channel !ai) englobam os
sedimentos mais grossos de um sistema fluvial
meandrante, situados na parte 1nais prc)funda de) leite)
c) Sistema fluvial meandrante
(f'igura 10.33). J.itc)lc)6:ricamentc, preclominam C<)nglo-
() sistema flu,,ial meandrante caracteriza-se pela merados e areia grc)ssa a média, com estratificações
presença de canais com alta sinu(Jsidade e razão largt1- cruzadas acanaladas e tabulares. Localmente, podem
ra/ prc)fundidade de) canal menc)r de) qt1e 40, onde <Jcorrer intraclastos argi!e)S<Js resultantes da queda de blc)-
prcdc)mina o transpc)rte de carga cm suspensãc). A rni- cc)s ere)didos das margens devide) à migraçãe) do canal.
graçãc) lateral elc)s canais <)corre através da ere)são
pre)grcssiva elas 1nargens cêJnca,,as e secli1nentaçãc) nos
leitos cc)nvex<)S dos meanclros. Ela é dcviela ao fluxc) 7

tridimensional helicoidal nc) canal e ao gradiente topc)- 3


8 9

gráficc) extremamente l1aixo. 6


8 4

() modele) para e) sisten1a flu,,ial meanclrante en- '


cerra u1na asscJciação ele fácies característica CJtle 3

apresenta relaçc"íes internas complexas durante a


cvoluçãc) do canal. A presença ele barras de pontal
com superfícies de acrescentamentcJ lateral, as pla-
nícies de inundaçãc) l1em elesenvc)lvidas e a
Fig. 10.31 Bloco-diagramo com os principais feições constitu-
dccrescência ascendente ela granulcJmetria e ele) pc)rte intes de um rio meandrante. l -canal fluvial; 2- borro de pontal;
das estruturas sedimentares sãc) cc)nsidcrae-las ca- 3 - dique marginal; 4 - depósito de rompimento de dique ma~-
racterísticas típicas d(JS dcpcísitos sedimentares ginal; 5 - meandro abandonado; 6 - atalho em corredeira; 7 -
geradc)s em sistema fluvial meanclrante (Figs. 10.31 atalho em colo; S - planície de inundação; 9 - bacia de inun-
e 10.32). dação. Modificado de Walker, R. G. & Cont, D. J., 1984.

'

Fig. 10.32 O rio Paraíba do Sul, ao atravessar os terrenos sedimentares do Bacio de Taubaté, apresento marcante caráter
meandrante. No trecho ilustrado, o oeste de Coçapovo, Estado de São Paulo, são observados inúmeros meandros abandonados
por atalhos em corredeira. As manchas brancos indicam áreas de extração de areia nos barros de pontal. Foto: Secretaria da
Agricultura do Estado de São Paulo, SP-31, obtido em julho de 1973.
Depósitos de atalho e meandros abandonados

Cm meandre) pode ser abandonade) gradual-


mente pe)r atalho em corredeira (chute cutoj]J,
quando o canal passa a ocupar antigos locais de
sedimentação e o fluxo diminui paulatinamente
(Figs. 10.31 e 10.32), peJr atalho em colo (neck cu-
toj]J, quando ocorre abertura de um novo canal
entre dois meandtcJs (I'-'ig. 10.31) eJu ainda por avul-
são de vários meandros concomitantemente. Com
a avulsão, forma-se um meandro abandonado (ox-
Fig. 10.33 Depósito de canal de rio meandrante da Forma- bow lake), com depósitos predominantemente
ção São Paulo, Oligoceno - Mioceno da Bacia de São Paulo, pelíticos (Pig. 10.34), por vezes com turfa e carvão.
em exposição nos arredores de Santa Isabel, Estado de São
C)s canais de atalho em ccJrredeira, cortando as
Paulo. Foto: A. M. Coimbra.
barras de pontal, podem ser reconhecidos pela sua
Depósitos de barras de pontal pequena escala e pela presença de cascalhos e estra-
tificações cruzadas acanaladas interrompendo a
C)s depósitos ele barras de pontal (point bar), seqüência granodecrescente ascendente da barra de
de ccimposição arenosa a conglcJmerática, ccJm pelntal ou mesmo da planície de inundação. Pode
decrescência ascendente ele granulcJmetria, formam- ocorrer ainda o abandono de um segmento do ca-
s e pela erosãeJ dos seelimentos das margens nal através da captura por outro canal ou pe)r
côncavas, eis e1uais são depositados pele) preJcesscJ avulsão, geralmente relacionados à atividade tectô-
ele acrescentamento lateral nas margens ccinvexas nica. Nestes casos, ce)m a diminuiçãeJ repentina do
dos meandros seguintes. O acrescentamente) late- afluxo de sedimentos de carga de fundeJ, o canal é
ral, respe)nsável pela natureza das estruturas vagarosamente preenchido por material em suspen-
seelimentares e pela migração do canal e das barras sãc) ela planície de inundação, formando corpels de
ele pclntal, depenele de vários fateJres, destacanc-lc>- argilas restriteJs e alongados sobre depósitos con-
se a sinue)sielaele deJ canal e o tipo e quantidade de gle)meráticeJs e arene)sos típicos de canal.
carga transportada. Ne) acrescentamente) lateral, e)s
planos de tempo não sãeJ limites horizontais entre
Depósitos de diques marginais
as feições deposicicJnais, mas mergulham paralela-
mente à migraçãcJ lateral dcJ eixeJ deJ meandro, Os celrpos elevados, alongados em faixas sinu-
feJrmandcJ estruturas sigmoidais para o intericJt deJ osas junte) às bordas do canal, deneJminados
canal. Estes planos são chamados de estratificações diques marginais (natural levees), formam-se em
cruzadas epsilon (Fig. 10.34). períodos de inundação. QuandeJ ocorre a invasão
da planície de inundaçãeJ, devido ao extravasamentcJ
das águas do canal, a velocielade de transpcirte di-
minui bruscamente, depositando um leque de areias
finas próxime) às margens. Os depósitos associa-
deJs caracterizam-se pela presença de camadas de
areias médias a finas, ceJm estratificações onclula-
das de pequeno porte (centimétricas), associadas a
argilas laminadas. Por ser uma feição elevada na
planície de inundação, freqüentemente é ceJberta por
vegetação, podendcl preservar marcas de raízes,
frag1nentos cJrgânicos, paleossoleJs e gretas de
Fig. 10.34 Exposição de seção transversal de um rio
ce>ntraçãcJ.
meandrante da Formação São Paulo na região de Guara rema,
Estado de São Paulo, mostrando estratificação cruzadaepsi/on,
na parte centro-esquerda da foto, e meandro abandonado,
na porção central e centro-direita da foto. Foto: C. Riccomini.
Depósitos de rompimento de diques marginais suspensãci, geranc-lci cciberturas centimétricas de silte e
argila unifc>rmemente laminaclas (l~ig. 10.36). A planí-
Durante enchentes de grancle porte, a energia do t1u-
cie de inundaçãci apresenta-se intensamente vegetada,
xo de) ric) pc)c!e romper ci dic1ue marginal, fcirmanclci
pc)denc!c) formar significativc>s depé>sitc)S de restos ve-
canais efêmerc)S e pc)uco defmiclcis que se espalham sc)-
bre os elepé)sitos de planície de inunclação, geralmente
com extensão de pc)ucos metros, em casos excepcionais
atingindcJ algumas centenas ele metrcis. Constituem os
depósitc>s de rompimento de diques marginais (crevasse
spla_y) e são compostos de areias e argilas que podem
misturar-se com os depósitc>s do dique marginal e da
planície de inundaçãcJ, fc)rmandcJ muitas vezes brechas
intraformacicJnais cc>m clastos ele argila ercJdida da pró-
pria planície de inundação. Occirrem estruturas
sedimentares como estratificação cmzacla de pequeno
pc>rte, laminações cruzadas cavalgantes (climbitzJ!,-ripples),
laminação plano-paralela, e estruturas de corte-e-preen-
chimento. Poc-lem c>correr também estratificaçcJes Fig. l 0.36 Camadas horizontais de siltitos e argilitos inter-
sigmoidais de médicJ a grande pc>rte, quandc) o rompi- calados de depósitos de planície de inundação da Formação
Fonseca, Cenozóico da Bacia de Fonseca, Estado de Minas
mentcJ se dá com lâmina el'á6rua elevada na planície de
Gerais. Foto: L. G. Sant' Anna.
inundação (Fig. 10.35). Comumente sãcJ recobertos pcir

getais e hc)rizontes de scilcis, além ele c)utras feiçcJes


cc>mci biotur!JaçcJes, marcas de raízes, gretas ele ccin-
traçãci e c-lepélsitos de turfa e carvão.

d) Sistema fluvial anastomosado

C)s sistemas fluviais anastomosadcis ccinsistem num


complexo de canais de baixa energia, interconectadcis,
desenvcilvidos solJretudc) em regiões úmidas e alagaelas,
e formando várias ilhas alongadas recobertas por ve-
getaçãci (Fig. 10.37). Entretanto há exceções, e esse
. .

tipo ele sistema pode cJccJrrer sob condições climáticas


áridas. Os rios entrelaçados caracterizam-se pela baixa
razãc) largura/profundidade do canal, a qual pode ser
Fig. l 0.35 Estratificação sigmoidal de grande porte em
depósito de rio meandrante da Formação Pindamonhangaba,
Cenozóico da Bacia de Taubaté, nos arredores de Quiririm,
Estado de São Paulo. Foto: C. Riccomini. l ,2 5
6 3

camadas de argila oriundas da instalaçãc> da planície de


inundação sucessora. 7
10

Depósitos de planície de inundação

A planície de inundação (jlood plain) é a área rela- Fig. 10.37 Bloco-diagrama com as principais feições cons-
tivamente plana adjacente a um rio, ccJberta pc)r água tituintes de um rio anastomosado. l turfeira; 2 pântano; 3
nas épocas de enchente. O termo bacia de inundaçãc> lagoa de inudação; 4 dique marginal; 5 depósito de rompi-
(jlood basin) é reservado às partes mais baixas elesta pla- mento de dique marginal; 6 canal fluvial; 7 cascalho; 8 areia;

nície, constantemente inundadas. A planície possui 9 turfa; l O silte arenoso; l l lama. Modificado de Smith, D.G.
& Smith, N. D., 1980.
forma alongada, onde predominam os prcicessos de
10.3 Inundações
Historicamente as populações concentram-se às margens dos rios e invariavelmente estão sujeitas às inuncla-
ções. Os prejuízos anuais acumulados pelas inundações atingem cifras astr()nômicas.
As inundações constituem um dos principais e mais destrutivos acidentes geológicos e ocorrem quando a
descarga do rio torna-se elevada e excede a capacidade de) canal, extravasando suas margens e alagando as
planícies adjacentes. Elas podem ser controladas por fatores naturais ou antrópic<)S. Entre os fatores naturais
encontram-se normalmente as chuvas excepcionais e o degelo (Fig. 10.38). Períodos anc">malos de chuva sobre
as bacias de drenagem podem ocasionar a súbita elevaçãc) do nível d'agua dc)s cursos fluviais, os quais, além de
inundar áreas cultivadas e reduzir a disponibilidade de água potável, acarretam a destruição ele construç<"'>es e
podem redundar na perda de vidas humanas e de animais domésticos (Fig. 10.39). Por outro lado, a ação
antrópica pode ser responsável por grandes enchentes, como nos casos de rupturas de barragens e diques
artificiais.
Importantes obras de engenharia, como diques margiRais artificiais, barragens de contenção e canalização de ric)s
são construídas no sentido de minimizar os efeitos elas enchentes, com resultados positivos, mas que também
apresentam seus inconvenientes. Diques marginais artificiais pr()Vocam o assoreamento do canal devido ao
incremento da acumulaçã<) de sedimentos que normalmente seriam depositados nas planícies de inundação.
Barragens de contenção, que de um lad<) podem ser aproveitadas para geração de energia hidroelétrica e irriga-
çã(), de outr<) também retêm sedimentos e por vezes, na sua construção, acabam por alagar áreas cultiváveis,
núcleos urbanos, reservas florestais, monumentos históricos, sítios arqueológicos e geológicos. A canalização
cc)mpreende a alteração do padrão do canal de um rio, em casc)s extremos através da sua retificação, de modo a
aumentar a velocidade de fluxo das águas e evitar que estas atinjam o nível de inundação; pode envc)lver a
simples desobstrução do canal ou até seu alargamento e aprc)fundamento. Reduzindc)-se e) comprimento do
canal, aumenta-se o seu gradiente e portanto a velocidade de fluxo. Assim, a grande descarga associada às
enchentes pode ser rapidamente dissipada. Entretanto, a canalização não impede a tendência de um rio meandrar
e retc)rnar ao seu curso prévio. Um exemplo. que quase tc)dos os anos causa grande comoção à população
paulistana, é o das enchentes ao longo das antigas várzeas elo rio Tietê e seus tributários. As inundações ocorrem
em função da redução da área de inftltração das águas pluviais pelas construções e pavimentações de vias
públicas, levando a um rápido escoamento superficial rume) a um rio originalmente meandrante e atualmente
retificado, com sua planície de inundação densamen-
te ocupada. Apesar d()S altos custos das obras de
contenção de enchentes na cidade de São Paulo -
reservatórios de contenção (popularmente conheci-
dos como "piscinões"), canalizaçãc) de rios e córregos,
construção de diques marginais - uma solução para
<) problema está muito distante.
A alternativa mais racional para minimizar o efeito
das enchentes é, sem dúvida, o adequado planeja-
mento da ocupação territorial, particularmente das
áreas inundáveis, através da identificação de áreas de
risco e do estabelecimento de regras específicas para
seu uso.

Fig. 10.38 A enchente do rio Potomac, na divisa entre os


Estados de Maryland e Virgínia (Estados Unidos), foi causa-
da por intensas nevascas, seguidas de fortes chuvas e
temperaturas mais amenas, durante o inverno (janeiro) de
1996. Para comparação: a) foto tomada do mesmo ponto
de visão durante a primavera de 1996: o rio possui uma
barranca que atinge quase 20 metros acima do nível d' água;
b) foto durante a inundação. Fotos: NASA.
Fig. 10.39 A região da confluência dos rios Mississippi e Missou ri,
nas proximidades de St. Louis, Missouri (Estados Unidos), foi palco
de uma grande inundação em iulho e agosto de 1993, que provo- ,i.. -
.
-•")

:; .·_
cou a evacuação de mais de 50.000 pessoas, além de alagar grande :-,,, -
.
•• .
extensão de terras cultivadas. A figura é uma combinação de duas 'ti.
imagens. A área azulada indica a extensão da inundação e foi
delineada a partir de imagem de radar ERS-1, sobreposta a uma
imagem SPOT que exibe os canais dos rios sob condições normais
(imagens produzidas pelo lnstitute of Technology Development/Space
Remote Sensing Center, divulgadas pela NASA).

infcri()r a 1O, e alta sintte)sidade, supcrieir a 2. NeJrmal- elo à ccintenção pela vegetação. c=einscc1üentemcnte, a
mentc, os eletritcis são transpc)rtacl<)S C()meJ carga em característica cliagnéistica deste sistema tluvial é eJ C(Jn-
suspensão e)u mista, embora esses ríeis pc>ssam trans- tatc> subvertical entre as diferentes fácies, o que teirna
portar sedimentos grc)ssos em abunclância. clifícil a sua caracterizaçãcJ em afloramentos e a ceJrrc-
A baixa declividade elos canais e a sua sint1cisidac-!e laçãei lateral entre (JS peiços. () rec()nhecimcnt(J
provocam freqüentemente <J seu extravasamentci ceim sulJst1perficial desses depósitos exige uma malha mui-
clcposiçãei de siltes e argilas. As turfeiras, áreas panta- tci clensa de scindagens. A persistência do cenário, aliada
neisas e lagoas ele inundaçãei cicupam normalmente mais à agradaçãci vertical pcir inflt1ência ela elevaçãci e-lei ní-
de de)is tcrçcJs ela área de t1m sistema flt1vial vel ele base regional em relaçãe) aei do ri(>, é a
anaston1osadei cm tcrrcne)s úmideis. resp(H1sável pela precleiminância ele dcpósitcis ele trans-
!Jeirclamentei em rios anasteJmosadeJs.
Os rios anastomosadeis caracterizam-se pela pre-
sença de c-!ois ciu mais canais está,1 eis e C)ceirrcm en1
Depósitos relacionados ao canal fluvial
regiões de su!Jsidência em relaçãcJ ao nível de base
regional. C)bscrvaç('íes de campo e cstudcJs cxperin1en- C)s dcpósit(JS ele canal ceimprcenelem cascalheis e
tais demonstraram que a estabilidade c!(JS canais é areias grossas, eis quais p(ldem ser eliferenciadeis dos
feJrtemcnte C(Jnelicionada pela presença c-!e vcgctaçãei; clepc'isitos de relmpimento de diques marginais peir apre-
a resistência à erosão de margens ccim vegctaçãc), es- sentarem !Jascs ctJnca,•as erosivas. 1'\ ccJnstituicã(J deis
'
pecialmente raízes, peide ser 20.00() vezes maicir dei diques marginais é geralmente silt<)sa, ceintcndo ele
que para margens sem vcgetaçãcJ. Climas úmiclc>s, prei- 1() a 2(Y1/ti ele raízes vegetais em vcJlume. C~radam, late-
pícieis ao desenvolvimentci de vegctaçãcJ, são mais ralmente, para turfeiras, pântan(JS ciu lageias de
favoráveis para a implantação desse tipo ele sistema. inunelação.
Tais conelições, tcidavia, podem conduzir também à fcJr-
mação de ri(JS meanclrantes. F,ntretanto, eis ricis
Depósitos de transbordamento do canal fluvial
anastomosados apresentam pouca migração cleJs canais
e ausência ele barras de pelntal, eJ que (JS diferencia, ()s clepósitos de rompimento de diques margi-
peirtanto, dos ricis meandrantes. nais ccJnstituem camadas pciuco espessas, centimétricas
a dccimétricas, c-le areia, grânulos e pequeneis seixos.
_b:studos realizadeis ccim sondagens permitiram ave-
Tendem a formar corpcls de geometria sigmciidal, com
rificaçãe> de taxas altas de acrescentamente> vertical cio
bases planares não erosivas. c:)s depéisit(JS de turfeiras
canal. A migraçãe> lateral, no entantci, seria baixa, devi-
214 DECIFRANDO A TERRA

cc)mpreendem camadas de turfa compostas quase que


exclusivamente por matéria c,rgânica, com espessuras
centimétricas a decimétricas. Os depósitos de pânta-
no são representados por argilas siltosas a siltitos
argilosos com cc)nteúdo variável de detritos c,rgâni-
cos, lcicalmente exibindci empilhamento de camadas
centimétricas e estruturas gradacionais, produzidas pc,r
inundações sucessivas. Estes depc'isitos e os de turfeiras
c,cupam posições em comum no sistema, sendo
diferenciáveis pelas suas características sedimentares
e pelei conteúclo em matéria orgânica.

As lagoas de inundação encerram argilas siltosas


laminadas com matéria orgânica vegetal esparsa, alcan-
çando espessuras métricas. São ccinectadas com os
canais anastomcisados pcir canais estreitos e profun-
dos, os quais ccintrolam o nível d'água do lagci.

Leituras recomendadas
ETHRIDGE, F. G.; FLORES, R. M.; HARVEY,
M. D. (ed.). Recent developments in fluvial
sedimentology. Tulsa: Society of Economic
Paleontologists and Mineralogists, Special
Publication 39, 1987.

MARZO, M. & PUIGDEFÁBREGAS, C.. Alluvial


sedimentation. Oxford: Blackwell, 1993.
MIAIL, A.D., "Alluvial deposits", in: WALKER,
R. G. & JAMES, N. P. (ed.). Facies models: response
to sea levei change. St. John's, Geological
Association of Canada, 1994.

MIALL, A. D.. The geology ef fluvial deposits. Berlin:


Springer-Verlag, 1996.
RICCOMINI, C. & COIMBRA, A. M .. "Sedimen-
tação em rios entrelaçados e anastomosados".
São Paulo: Boletim do Instituto de Geociências, USP,
Série Didática, 1993.
SUGUIO, K. & BIGARELLA, J.J.. Ambientesfluvi-
ais. Florianópolis: UFSC/UFPR, 1990.
1,"·
. .
,.

,.;;;:,
despeito de cobrirem hoje somente cerca ele gumas das mais belas paisagens da Terra, proporcio-
10% da superfície emersa da Terra, as gelei- nando oportunidades de apreciação cênica e da prática
ras constituem um elementei extremamente importante de lazer e esporte.
na constituiçãeJ física do planeta.
A despeito de seu aspecto estático, as geleiras são
() manto de gelo que receibre atualmente a Antár- dinâmicas, em constante movimento e mudança. O
tica, por exemplo, representa ei maior "scirvede)uro" conjunto de feições erosivas, depelsicionais e de ambi-
de calor da Terra, influencianelo preifundamente as entes direta e indiretamente ligados às geleiras é, pois,
condiçêies climáticas, a circulação das águas oceânicas extremamente variado e complexo. O estudo desse
e da atmeisfera terrestre. O debate sobre a possibili- registrei é o esceipo ela Geologia Glacial, enquanto a
dade da ocorrência de um aumento da temperatura Glaciologia ocupa-se do estudo da física, forma e re-
glcibal causado pelos gases do efeito estufa despertou gime das geleiras. Os depósitos glaciais oferecem
atenção de pesquisadores e mesmo do público sobre excelentes opcirtunidades de estudo e aprendizado de
o estado de equilíbrio da grande massa ele gelo que processeJs geológicos diversos que oceirreram na su-
recobre a Antártica. () registro da celmposição preté- perfície da Terra, ccimo veremos a seguir.
rita da atmeJsfera terrestre arquivada no gelei antártico
permitiu comprcivar o aumento de C0 2 e outreis ga-
11.1 Gelo e Geleiras
ses na nossa atmosfera há 420.0()() anos, abrangendo
as quatro últimas glaciações do Cenozóico. Estimati-
vas indicam que o elerretimento dei manto de gelo 11.1.1 Tipos de geleiras
austral provocaria uma elevação de até 60m no nível
do mar, ccim conseqüências catastróficas seibre a vida Geleiras são massas ccintinentais de gelo de limites
das pelpulações litprâneas. definidos, que se movimentam pela ação da gravidade.
Originam-se pela acumulação de neve e sua
Vivemos hoje uma fase interglacial da idade glacial
compactação por pressão transformando-a em gelei.
occirrida na Era Cenoz()ica e váricJs modelos desen- ,
volvidos pelos cientistas tentam prever as futuras Há várias maneiras ele classificar geleiras. E usual,
ccindições climáticas da Terra. A despeito dei compo- por exemplo, dividi-las em geleiras de vale, alpinas,
nente dramático que uma drástica mudança climática de montanha eiu altitude, e geleiras continentais ou de
pode encerrar, em razão de suas possíveis conseqüên- latitude. As primeiras cJcupam depressões fe)rmadas nas
cias para a vida na Terra, ela nãei constitui uma ncividade altas cadeias de montanhas, como os Alpes, Andes etc.,
na história geeilógica do planeta. Ceim efeitcJ, eJ regis- e as segundas desenvolvem-se sobre áreas continen-
tro gecile:igicei meistra evidências de pelo mencJs sete tais ou ilhas junto aeis pólos, podendo atingir o nível
eJutras idades glaciais ou períeidos ele refrigeração dei mar. Um dos esquemas de classificaçãci mais sim-
gleJbal relativamente bem documentados, sob a ples (mas, nem por isso, destituído de dificuldades)
forma de rochas e feições típicas da ação geológi- leva em conta a teJpografia do terreno sobre o qual as
ca pretérita dei gelo. Esses perÍeJdos alternam-se geleiras se assentam e o seu tamanho (área). Outra
com fases de aquecimenteJ global. A duraçãeJ des- abordagem significativa baseia-se na distribuição da
ses intervalos fcii variável, desde alguns milhc)es até temperatura no gelo cJu eJ seu regime térmico. No
dezenas de milhões de anos. presente estudo utilizaremeJs o primeirei esquema, dei-
Mesmo no Brasil, um país predominantemente tro- xando para mais adiante a consideração do regime
pical, há indícios geol(igicos extremamente ceJn,mcentes térmico das geleiras. Conforme veremos, há ainda ou-
da ocorrência de cinceJ dessas idades glaciais, durante tras maneiras de qualificar diferentes tipos de massas
o último bilhão de anos de sua geohistória. As gran- de gelo, porém, de maneira geral, trata-se de varieda-
des massas de gelo que se desenvolveram durante esses des vinculadas a uma das categorias abaixei.
intervalos, em território brasileiro, influenciaram enor- SegundeJ o esquema aelotado, as geleiras podem
memente a paisagem, a geografia, o clima e a vida do ccinstituir massas de gelo não ceinfinadas pela topogra-
passado. fi.a ou confinadas pela topografia. O tamanho permite
Além de sua grande influência scibre o ambiente então subdividir cada uma dessas categcJrias em diver-
natural, as áreas afetadas pela glaciação ccimpõem ai- sos tipos, conforme resumido a seguir (Figs.11.1, 11.2).

--• Geleira na ilha Elefante, Antártica. Foto: Stock Photos.


CAPÍTULO 11 • AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 217 ~-~~
. ,., -

Manto de gelo

Língua
e-~- '
,,.,.. j , ~ _, ,, ,

Plataforma

Fig.11.1 Principais tipos de geleiras: a) de margem marinha aterrada assentado sobre o substrato; b) manto de gelo de margem
lobada aterrada terminando em lago; c) manto de gelo de margem marinha flutuante (plataforma de gelo); d) manto de gelo de
margem terrestre; notar morenas terminais e feições lineares à frente da geleira. Fonte: Eyles, 1983.

Geleiras não confinadas pela topografia

Manto de gele): > 50.000 km2

Exemplc)s: mant<)S de gelo da Antártica e da


Groenlândia

Casquete de gelo: < 50.000 km2


'
Exemplos: casquetes de gelo de Svalbard, Artice) e
da ilha do Rei George, Antártica ocidental.

Geleiras confinadas pela topografia

Campo de gelo: 10-10.000 km2

Exemplo: campos de gelo de Colúmbia, Monta-


nhas Rc)ch<)sas, Canadá

Geleira de vale: 5 - 5.000 km2

Exemplos: geleiras dos Andes, Alpes etc.

Geleira de circo: 0,5 - 1O km2

Exemplc)s: geleiras dos Andes, Alpes etc.

Os exemplos mais espetaculares de mantos de


gelo (na verdade, os únicos existentes atualmente) sãc)
eis que cobrem a Antártica e a Groenlândia.

Fig.11.2 Tipos de geleiras recentes: a) geleira do vale Atabasca,


Montanhas Rochosas, Canadá; b) margem marinha flutuante de
língua de gelo, ilha de Ross, Antártica oriental; gelo marinho frag-
mentado pelo degelo pode ser visto na frente da geleira; c) margem
marinha de geleira de maré, cabo Melville, ilha do Rei George, An-
tártica ocidental. Fotos: A. C. Rocha-Campos.
218 DECIFRANDO A TERRA

() manto de gele) da Antártica, com cerca de 14 As chamadas geleiras de escape (outlet glaciers), pc)r
milhões de km 2 de área, ncitabiliza-se por conter exemplo, sãci semelhantes distalmente às geleiras de vale,
91 <½1 do gelei de água doce e 75r1/o da água de)ce de) porém são alimentadas, nas suas regiões superiores, por
mundo. F,m várie)s locais, sua espessura supera os manto, casquete ou campo de gelo. Incluem-se as gelei-
4.()()0 m. A morfc)lc)gia do manto caracteriza-se pela ras que drenam o casquete da ilha rei George e os mantos
presença de damos, regiões de topografia arredon- de gelo da Antártica e Groenlândia. Quando geleiras de
dada, mais salientes, a partir das quais o gelo flui vale atingem vales mais amplos, ou planícies, no sopé de
radialmente pela gravidade. () manto de gelo da montanhas, elas podem espraiar-se, formando grandes
Groenlândia, por sua vez, ce)bre uma área de 1,7 massas lobadas ou em leque, chamadas geleiras de
milhão de km 2 , mais ou menos do tamanho do piemonte. Tal é o caso e.la famosa geleira de Malaspina,
México, e retém cerca 8% da água doce do plane- no Alasca, com 70 km de largura.
ta. Seu perfil é também convexo, parabólico,
Em muitos casos, as geleiras têm as suas extremida-
atingindo espessuras de mais de 3.0()0 m.
des sobre o continente, em ambiente terrestre. Em outros,
Casquetes de gelo (ice caps) nãe) se diferenciam contudo, atingem C) litoral, pe)dende) ou não adentrar o
morfe)logicamente dos mante)s, a não ser pelo seu mar. Neste casei, formam as chamadas geleiras de maré
tamanho mene)r. São encontrados principalmente e)u intermaré, línguas de gelo e plataformas de gelo.
se)l)re planaltos elevados, situados em regiões Platafc)rmas de gelo C)correm atualmente somente na
subpcilares, onde fcirmam massas de gelo de perfil Antártica e constituem enormes massas tabulares, que
convexei, cobrindo substratos muitas vezes irregu- invadem o mar, movendo-se a partir de regiões mais
lares. Exemplos típicos são as massas de gelo que elevadas, nc) interior do continente. As plataformas
recobrem a ilha de Svalbard, na região ártica, e a adentram o mar assentadas (aterradas) sobre o substratc),
ilha rei George, ne) arquipélago das Shetland do Sul. tornandei-se, em seguida, flutuantes. Sua espessura varia
() casquete ele gele) da ilha rei George tem mais de de 1.()00 m, na sua parte interna, até centenas de metros,
300 m de espessura e cobre cerca de 93% da su- na sua margem marinha. As plataformas de Ross, Weddel
perfície da ilha. e Pilchner cobrem os mares de Ross e Weddel, respecti-
vamente. A primeira tem cerca de 850 x 800 km, uma
Menores c.1ue os casquetes, os campos de gelo (ice
área maie)r que a da França.
fields), encontrados comumente em regiões alpinas e
temperadas, têm perfil plano, em grande parte margi- I~ínguas de gelo são semelhantes às plataformas,
nalmente cercadeis por topeigrafia montanhcisa mais pc)rém c.le menor tamanho. Finalmente, geleiras de
elevada. C) espetacular campo de gelo de Colúmbia, maré (atingidas pela maré alta) e de intermaré (atingi-
nas Montanhas Rochosas do Canadá, desenveilve-se das pelas marés alta e lJaixa) fe)rmam-se quando geleiras
extensivamente sobre o divise)r de águas continental c.le vale ou de escape alcançam o mar, permanecende)
da América dei Ne)rte. aterradas ou formando pequena extensão flutuante.
Muitas dessas geleiras são encontradas no interior de
Geleiras de vale (c)u alpina) constituem massas
fiordes, como oceirre na Nc)ruega, Patagônia, Penín-
de gelo alongadas, circunscritas a vales montanhcisos e
sula Antártica, Alasca etc.
alimentadas por massas de gelo maie)res acumuladas
nos chamados circe)s glaciais. Um fenômeno comum que atinge geleiras que che-
gam ae) mar é a desagregaçãei (calviniJ de sua extremidade
Circo é uma espécie de bacia C)U concavidade limi-
marinha, desprendendo massas flutuantes de gelo, os
tada ne) seu lado proximal cc)ntra paredes re)chosas
chamados icebergs. A fragmentação do gelo decorre
abruptas. _b'.m alguns casos, os circos contêm massas de
elo seu fraturamento interno intenso, em contato com o
gelo circunscritas a eles, de extensão limitada, desligadas
mar, causado pela ação das marés. Nos casos acima, os
das geleiras de vale, as chamadas geleiras de circo.
icebergs produzidos são relativamente pequenos e irre-
Como tivemos ocasião de ccimentar, além desses gulares na forma. Icebergs gerados por fragmentação
tipos básicos de geleiras, outras variedades são reco- das plataformas de gelo, típicos da Antártica, são, ao
nhecidas e denominadas ce)m base em diferentes contrário, tabulares e muitas vezes imensos (até cente-
critérios, ocorrendo muitas vezes associadas às cate- nas de quilômetrcis de comprimento). Eles podem
gorias acima definidas. igualmente formar-se quando as extremidades de geleiras
entram em cc)ntato com lagos de água doce. Icebergs libe-
rade)s, nos últimos anos, pela fragmentação das plataformas
CAPÍTULO 11 • AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 219 •'!,, ::

de gelo de Filchner e Ross, na Antártica, atingiram até mais do gelo é maicir que o seu acúmulci. Dencimina-se
de wna centena de quilômetros de comprimentei. linha de equilíbrio ou linha de neve o limite entre as
duas zonas (Fig. 11.3).
11.1.2 Balanço de massa
11.1.3 Fluxo do gelo e seus mecanismos
Geleiras fcirmam-se quando a acumulação de neve
excede a sua perda. () scJterramentcJ da neve acumulada A zcina de acumulação das geleiras situa-se nas suas
leva à sua transfeirmaçãci em gelei, através de uma série partes topograficamente mais elevadas e a ablaçãcJ
de muelanças físicas, incluindo compactaçãei, expulsãci preelomina nas regiões mais baixas, em direção a sua
do ar intersticial e crescimento de um sistema engrenadci margem frontal. A adição de) gele) na zona de acumula-
de cristais de gelo. As primeiras transformações occJr- çãci é ccimpensada pela sua diminuiçãei na zcina de
rem na neve remanescente do derretimentci eJccJrriclcJ ablaçãci. Ccim o aumento da acumulação, a declividade
no verão elo anel anteric>r, formando o .firn ou nevée, das geleiras acentua-se, gerando esforçcis que levam a
que caracteriza os chamados campos de neve. En- massa de gelo a mover-se sob a ação da gravidade.
quanto a neve recém-depclsitada tem 97°/o de ar por Há, portanto, uma transferência lc>ngitudinal de massa
vcilume e a densielae-le ele (),1 g/cm-', cJ gelo é pratica- aci lcingci da geleira, contrcJ!ada pe!cJ gradiente entre a
mente destituído ele ar e tem a densidade de 0,9 g/ acumulação e a ablaçãci.
cm 3 •
1\ gravidade é a força responsável pelo movimen-
Após a sua fcirmação, a manutenção das geleiras tei ciu fluxcJ das geleiras. () esforço de cisalhamcntci
depenele elcJ equilíbrio ou balançeJ entre a acumulaçãci criaclo pela gravidade provoca a defcirmaçãci dei gelo
de neve e sua perda por ablação, o chamado balan-
ço de massa (Fig. 11.3). O processo afeta a vida das
Linha de equilíbrio Linha de equilíbrio
geleiras independentemente de seu tamanho, sejam man-
tos ele gelo ou geleiras de vale. () balançci peide ser
pclsitivo, negativo ou neutro. No primeiro caso, a acu- i " ·,

J
', ~ ',,
e
mulação supera a perda levandcJ ao crescimentc> e
ampliação das geleiras. No segundo, a perda é maieir,
e as geleiras diminuem de tamanho, podendo até de-
Lado continental Lado marinho
saparecer. As geleiras mantêm uma massa constante
quando o balanço é zero. a - Manto de gelo

Além da neve acumulada, ciutros materiais pc>dem


contribuir para ci aumento de massa elas geleiras, scJb
a forma de granizei, geada, avalanche ele neve e chuva. Linha de equilíbrio
f"'

De cJutro lado, cJ termo ablação envolve a perela de 1 -

massa das geleiras por derretimento, fragmentaçãci e


sublimação do ge!cJ. (-) derretimentcJ produz a cha-
mada água de degelo. A radiaçãci solar é responsável
pela fusão superficial do gelo. I<usão juntei à ]Jase das
geleiras ocorre pelo calor gerado pela fricçãeJ dei ge!cJ b - Geleira de vale
sc)bre o assoalho rochoso e pelo calor geotérmico
(Cap. 5). A distribuição da acumulação e ablação va-
ria ao lcingcJ das geleiras. Costuma-se então distinguir
-1 • •. Acumulação -
.., ► Velocidade basal do gelo
duas regiões principais, a zona de acumulação, que ~
, : - Trajetória das partículas
· • Ablação
supera a ablaçãci, e a zona de ablação, onde a perela

Fig.11.3 Elementos do balanço de massa de manto de gelo (a) e geleira de vale (b); setas verticais mostram a intensidade de acumu-
lação (brancas) e ablação (vermelhas); velocidade basal relativa das geleiras é mostrada pelas setas horizontais pretas. Zonade acumulação
chega até a costa do lado marinho (a) onde a ablação ocorre pela formação de icebergs. Fonte: Sugden e John, 1976.
Fig.11.4 Mecanismos de fluxo de gelo: a) ajus-
tamento intergranular do gelo; b) deslocamento
de cristais engrenados, através de fusão local e
regelamento (mudança de fase); c) deslizamento
ao longo de planos internos da massa de gelo; d)
deslizamento ao longo de planos internos de cris-
tais de gelo. Fonte: Sharp, 1988.
b - Mudança de fase

e sua movimcntaçãc). Três tipos diferentes


,'
,'
, de mecanismos de fluxos são conhecidos:
a) deformação interna; b) deslizamento
basal; e c) deformação do substrato da ge-
leira (Fig.11.4).
Deformação interna envolve
. •, ·,.
,.
,,1
rastejamento (deformação ou desloca-
,'
1 mento relativo de cristais de gelo). Este é
,,
,''
'' maic)r junto à base das geleiras, porque o
e - Deslizamento interno da d - Deslocamento intragranular
esforçci ,isalhante é diretamente propc)rci-
massa de gelo e recristalização
cinal à espessura do gelo. Irregularidades no
asscialho da geleira que produzem aumento da taxa
de deformação do gelo ou abaixamento do seu pon-

óC1 c,e\eirO
,\íc.le to ele fusão, seguidc) do recongelamento da água,
':,\l~e
- o
,o
u· - o
e
facilitando ci rastejamento.
o ClJ ---
a - Geleira de base E E o Finalmente, quanto ao último mecanismo, recentes
oN "'
-o
~
0
quente repousando o .:__-;_ ...D

sobre substrato duro +-'" "'(1/ estudos demonstraram que a presença de uma cama-
o
da não congelada, cleformável no substrato diminui a

Assoalho do geleira \ ◄
fricção basal entre geleiras e seu assoalho facilitando o
deslizamento (Fig. 11.5). A variação no declive do
Embasamento
embasamento sobre o qual as geleiras deslizam peide
produzir deformações compressivas (declividade
menor) ou distensivas (declividade maior), resultando
b - Geleira de base na formação de fraturas verticais no gelo, as chama-
fria repousando
sobre substrato duro
das crevasses, de disposição, respectivamente, radial ou
transversal, cm relação ao corpo de gelo (Figs. 11.6, 7).

11.1.4 Regime térmico das geleiras


Assoalho da geleira

Embasamento Uma c)utra maneira de classificar geleiras leva em


conta a distribuição da temperatura do gelo ou seu
. . .
regime term1co.
0\eira
Vários fatores influenciam a temperatura do gelo
e - Geleira de base acumulado nas geleiras. Em um contexto mais amplo,
quente repousando sobre
substrato deformável

Fig.11.5 Componentes do fluxo do gelo em geleiras de diferentes


Assoalho da geleira regimes térmicos basais. O deslocamento ocorre pela soma de
Horizonte
deformável ___ _
deslizamento basal e deformação interna do gelo em (a); só deforma-
Camada ção interna em (b); e soma de deformação subglacial, deslizamento
estável basal e deformação interna em (c). Fonte: Boulton, 1993.
1 Fluxo do gelo rápido 1 Fluxo do gelo 1 Fluxo do gelo 1
1 1 1 1
1 1 constante 1 lento 1
1 1 1 1
1 Compressvo 1 Sem extensão 1 Distensivo 1
1 1 longitudinal 1 1
1 1 1 1
1 1 1 1
• 1 •

◄ Direção do fluxo
1 1 1 1 1
1 1 1 1 1
1
• Crevasses I Devasses 1 Crevasses marginais 1 Crevasses 1
:
1
radiais llongitudinaisl
1 1
l1 1ransversais 1
1

Fig.11.6 Tipos de crevasses em geleiras de vale. As setas normais às crevasses indi-
cam as direções de distensão (estiramento) da geleira. Fonte: Hambrey e Alean, 1992.

pe)de-se dizer que o clima é o principal fate)r. Deste O ce)njunto dessas condições é respc)nsável pela
modo, as geleiras são denominadas temperadas, ocorrência de gelo frio e gelo quente. No primeiro
subpolares e polares. Em geral, pode-se dizer que a caso, a temperatura do gelo está abaixe) dcl ponto de
distribuição da temperatura no gelo é função da troca fusão pe)r pressão e, no segundo, encclntra-se próxi-
de calor gerade) na superfície, internamente e na base ma ou acima deste (Fig. 11.8).
da geleira. A transferência do calc)r faz-se segunde) e)
De particular impe)rtância em Glaciologia e Gec)-
chamado gradiente térmico, dado pela diferença en-
logia Glacial é o regime térmiceJ basal das geleiras, ou
tre a temperatura superficial e basal do gele), e através
seja, a temperatura na interface gelo/ substrato, c1ue é
de transferência horize)ntal ou vertical de calor pelo
funçãcJ c-la quantidade de calor gerado e sua taxa de
movimento de gelo ou neve.
transferência ao longo de) gradiente térmico. Três celn-
A temperatura da superfície das geleiras é influencia- dições térmicas basais do gelo podem ser reconhecidas.
da pela incorporação de firn, condução do cale)r e F:m geleiras de base fria, também chamadas de base
transferência de cale)r latente pelo recongelamento da água. seca, predomina o congelamento. Não há, portanto,
Na regiãe) basal, a espessura do gelo e sua taxa de acu- água de degeleJ e as geleiras estão ceJngeladas e aderidas
mulação, o calor geotérmice), a frir:ção interna causada ao seu substrato. No caso de geleiras de base úmida
pela deformação do gelo e a fricçãeJ basal produzida
pelo seu deslizamente) se)bre o substrato sãe) as variáveis
principais que afetam a geração de calor.
mais frio mais frio

Superfícíe da geleíra Superficie da geleíra

Perfil de
temperatura
1
Perfil de Ponto de fusão :
temperatura-~• sob pressão
1
''
''
a - Gelo quente b - Gelo frio

Fig.11.8 Regime térmico de geleira de base quente (a) e base


Fig.11.7 Crevasses transversais em zonas de distensão da fria (b). O perfil de temperatura da primeira está sempre abai-
geleira Ata basca, Montanhas Rochosas, Canadá. Foto A. C. xo da fusão sob pressão e da segunda, coincide com o ponto
Rocha-Campos. de fusão sob pressão. Fonte: Sharp, 1988.
ou base quente, predomina a fusão, formande)-se água plexe) de regime térmico basal. Variaçàe) temporal
de degele). i\s geleiras estãc), portanto, desligadas de nas condições climáticas que afetam as diferentes
seu assoalho. Pode-se ainda supor a existência de situ- partes e-las geleiras resultam também em padrão
açe:ies intermediárias, em que C)corre tanto ce)ngelamento, complexo de regime térmico basal.
qL1ante) degelo basal.

O regime térmico pode variar espacial e tem- 11.2 Ação Glacial Terrestre
peiralmen te dentro da mesma geleira (Fig. 11. 9). Um
aspecto rele,·ante ligado ae) regime térmico basal
das geleiras refere-se à sua ce)nseqüência no com- 11.2.1 Processos de erosão glacial
pc) rtam e n to dinâmico, particularmente ne)s
Os processos de erosão glacial ocorrem seJIJ as
mecanisme)s ele tluxo de gele), e e)S efeiteJs destes
massas de gelo, sendo, portanto, de difícil observação
sc)IJre els diferentes substratos sobre os quais as
e estudo, e e) seu conhecimento é ainda incompletc).
geleiras se mc),·imentam. F,sses efeite)s ccJntrolam
ainda a ocorrência e a intensidade dos prcJcessos A erosãeJ glacial pclde ser definida cc)mo envol-
erc)sive)s e deposicionais subglaciais (I,'ig. 11.1 O). vendo a incc)rporação e remcJçãcJ, pelas geleiras, de
partículas ou detritos de) assoalhe) sobre o qual elas se
Geleiras submetidas, ae) longe) de sua extensão,
mcJvem. De modo geral três processc)s principais de
a diferentes condições climáticas, como, por exem-
plo, de ce)ntinental polar a temperada (latitude
média) peJdem exibir um pae-Jrãe) ainda mais ceJm-

Fig.11. 9 Diferentes condições térmicas


Fria Fria Equilíbrio basais de geleiras. a) fria: o substrato é
congelado e não há água de degelo e
deslizamento; b) fria na margem e em
·•· ~*· equilíbrio térmico (condições de conge-
Solo perenemente congelado lamento e fusão coexistem): pode haver
água de degelo e deslizamento na parte
a b
interna, mas não na margem, resultando
em compressão marginal e deformação
do gelo (empurrão); c) quente na parte
Linhas de interna e em equilíbrio na margem: pode
fluxo do gelo Equilíbrio C)uente Ouente haver água de degelo e deslizamento
\_ l basal; d) quente: ocorre água de degelo
------:------- : e deslizamento. Fonte: Bennett e Glasser,
e - - - - - Água de degelo d - - - - - Água de degelo 1996.

Fig.11 .1 O Relação entre o regime tér- Movimento do gelo


mico de geleiras, erosão e
sedimentação. Abrasão glacial e remo-
ção ocorrem nas zonas de base quente, Base /no (;,;iuente Quente•
associadas à presença de água de de- • fusôo congelamento Base /na

gelo, quando houver condições de


fusão; erosão e remoção estão ausen-
tes ou são pouco intensas nas zonas de
base fria; sedimentação ocorre na zona
. : . . .
.
de base quente marginal. Fonte: Sem.er05ãc,
Bennett e Glasser, 1996.
CAPÍTULO 11 • AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 223 ° ;

erc>são glacial C)Ce)rrem: a) abrasão; b) remoção; e c) <leira e preJduzindo risca1nento e reme)çàe> ele partícu-
ação da água de degelo. las. A maic)r e>u menc,r eficiência ela al,rasãc> depende
ela pressão exercida pela partícula rc,chc>sa sc>bre o
Abrasãc> correspc>nde ae> elesgaste de> asse>alhcJ S<>-
assoalho, da ,-elc>cidaele do 1ne>vimento das geleiras e
bre o qual as geleiras se deslc>cam, pela ação ele partículas
' da dispc>nibilidade ele partículas prc)tuberantes na sua
rc>chosas transpe>rtadas na base ele> gelo. F, importante
l,ase.
frisar que a maior parte ela abrasãc) é proclt17.iela nãc>
pela açãc> direta eleJ gele>, mas pelcJs fragmentcJs re>- () prc)CeSS() ele remoção (pluckiizl!. ou quarrJ 1i1ziJ ce)n-
chcJsos que ele transporta, pelo fatc, de o gelo ter dureza siste na remoçàcJ de fragmentc>s rc>chc>scis maic>res pelas
relativamente l1aixa. Váric>s autc,res cc,mparam a geleiras. () fenê>menc> está assc>ciaele) à presença ele fra-
abrasão ao efeitcJ de uma lixa passando sobre a ma- turas CJll descontinuielac-les nas rcJchas dei sul1stratcJ (Fig.

Fig. l l. l l Diferentes tipos de feições de abrasão glacial. a)


estrias, sulcos e cristas produzidos por geleira neopaleozóica
sobre arenito devoniano, Wittmarsum, PR, recobertos por tilito
de alojamento (ao fundo); b) estrias, sulcos e cristas de abrasão
glacial sobre tilito de alojamento, Cachoeira do Sul, RS;
estriação sobre substrato inconsolidado, pela geleira moven-
do-se da esquerda para a direita; c) rocha moulonnée recente,
geleira Ata basca, Montanhas Rochosas, Canadá; o gelo mo-
veu-se da esquerda para a direita; d) estrias, sulcos e cristas de
abrasão glacial sobre rocha moulonnée de Salto, SP (Permo-
Carbonífero); notartilito compactado sobre o flanco da rocha;
o gelo moveu-se da direita para a esquerda; e) canal de ero-
são aquosa subglacial, recente, Prince William Sound, Alasca,
E. U. A. Fotos: a, b, c e d: A. C. Rocha-Campos; e: Paulo R.
dos Santos.
11.11 ), que podem corresponder a estruturas previa- típicas, nos diferentes substratos sobre os quais as
mente existentes ou a descontinuidades f(irmaelas geleiras se desl(Jcam. Embora a maior parte das
subglacialmente pelo alí,·ici da pressão causaela pela feições erosivas, e-!escritas na literatura, ocorra em
erosão glacial. \ºariações na pressão basal do gelo, nor- substratos consolidados (rcichas duras), algumas
malmente associadas à presença de irregularidades no delas podem também formar-se sobre seelimentos
embasamento, podem gerar campos de esfcJrços ou inconsolidados. As feições ou formas erosivas de
alterar eis existentes, facilitando ci aparecimento ciu am- oc(irrência mais comum serão descritas neste capí-
pliaçàc) das zc)nas de fraqueza, promovendo a remoção tulci e sua provável origem brevemente discutida.
de fragmentcJs ele rcicha. O mesmo peide resultar de Além de sua morfologia diversificada, as ,
formas
muelanças térn1icas na base do gelo. Finalmente, vari- erosivas glaciais têm tamanho variad(J. E comum,
ações na pressãcJ da água de clegelo subglacial, nas p(lrtanto, subelividi-las em feiÇ(Jes de micro, meso
adjacências de ca,·idades nas rochas do embasamente) e megaescala.
peidem também tornar eJ prcJcesso de remoção mais
As formas erosivas glaciais de microescala mais
eficiente.
comuns são as estrias glaciais. Na literatura, o ter-
Duas sãcJ as maneiras pelas quais a água de degelei mo estria glacial pode incluir uma gama de feições
glacial produz erc)são: a) mecanicamente; b) por açãci negativas ou pcJsitivas, de dimensões variadas. Aqui
química. As características dei embasamento (presença usaremos o nome de estria para feições alongadas,
de fraturas, maicir CJU menor resistência à ação quími- retas, de relev() positivo ou negativo e largura de
ca), velocidaele e turbulência da água e quantidade ele até pciucos milímetros (até 5 mm). Feições maiores
partículas transportadas sã(J os fatcires que interferem serão chamadas sulcos quando negativas, e cristas
na açã(J erosiva da água de degelo. quando positivas. As estrias formam-se quando as
A ação abrasiva mecânica da água de degelei asse- geleiras deslizam sobre diferentes substratos arras-
melha-se à ela erosão fluvial. Resulta dei impacto de tandci detritos prcituberantes na sua base sobre o
partículas transportadas sobre a superfície das rcichas assoalho rochoscJ. ()s detritos incluem não só par-
do assoalho das geleiras, pela agitação de clastos trans- tículas incorporadas sulJglacialmente, C(Jmo as que
portados e ação de redemoinho elestes, dentrci de transitam dentro da massa de gelo, a partir da zona
cavidades subglaciais, e pelo processo de cavitação. superior das geleiras. Uma pressão efetiva n(Jrmal
Cavitaçã(J consiste na fcirmação de ondas de chciqL1e do gelo sobre o substrato é necessária para prcJdu-
pelo colapso de bc)lhas de ar dentr(J da corrente aquo- zir abrasão. Estrias são feições descontínuas, embora
sa, que se faz sentir mais intensamente em geleiras de possam individualmente alcançar cclmprimentos de
base quente, drenadas por fortes correntes aquosas até vários metros. As interrupções são prcJvavel-
subglaciais. O estado insaturado elas soluções aquosas, mente devidas à perda de ccJntato do objeto
a disponibilidacle de partículas finas, com grande su- abrasivo ccJm o assoalho (Fig. 11.11).
perfície relativa de reaçãeJ e a maior solubilidade dei Tendo em vista a sua origem, as estrias orientam-se
dióxido de carbono em razã(J da baixa temperatura paralelamente à elireção do fluxo do gelo. Embora se-
da água, acidificando-a, sãci os fatores aventados para jam indicadores dessa direção, nem sempre permitem
explicar a ercisão química glacial. a interpretação do sentido do movimento. Outras fei-
Estimativas da taxa de erosãc) do substrato por ções associadas podem, entretanto, ser usadas nesse
geleiras de vale variam de 1,5 a 3,00 mm/ anc) e de particular. Não é incomum encontrarem-se conjuntos
120 a 200 m, no cascJ dos mantos de gelo, va!cJres de estrias entrecruzadas sobre o mesmo substrato
estes C(Jnsiderad(JS pcluC(J confiáveis por causa elas in- estriad(J, indicando um reavanço do gelo após um pe-
certezas do método utilizado. ríodo de recuo ou simplesmente uma mudança na
direçã(J do movimento da geleira. A formação de es-
C(Jnforme vimos, além de influenciar o padrão de
trias é influenciada pelo regime térmico basal das
sedimentaçã() das geleiras, () regime térmiccJ e-lestas
geleiras, e ocorre somente sob geleiras que estã(J desli-
contrcJla o padrã(J de erosão subglacial.
zando sobre o seu assoalho, o que acontece no caso da
geleira de base quente ou úmida. Geleiras de base fria
11.2.2 Feições de erosão glacial
ou seca estão ccJngeladas ao seu substrato e, portanto,
A ação e-leis processeis de erosãcJ glacial resulta não formam estrias, mas podem preservar feições pre-
na formação de uma grande variedade de feições ,·ia1nente formadas. A muelança espacial e temporal d()
CAPÍTULO 11 • ÃÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 225 ·~~c'l'

regime térmico resulta em pa-


drão complexo de orientação
das estrias, sendo muitas vezes

- -
difícil correlacic)nar um conjun- . .L.:;,;.·: ..

to dessas feições com a fase


específica do fluxo glacial res- ----
ponsável pela sua fc)rmação.
Numerosos exemplos de pavi-
b
mentos e superfícies estriados
são encontrados associados a
depósitos glaciais pré- ,.' .,.,"_____ , W< ~ifj~;:i_;:,;;:;,,~Y;iiiih.;.:0.;x:,::~:·,;~i'Ji:~· '
cambrianos e neopaleozóicos (- •-~~c;;;:;;;i;:;;c; '.-,;{.:,' :;;;:;,:w:;;:;;;;;;;,:;;::,_;;._;·;,:~.:~,,;;;;~:;:~~;~.:::;::::.::::.~~::;;~~-:.:;,;;::~~=-.: ~--~.; ;. ;, ' '

do Brasil.
Além das estrias, as chama-
das marcas de percussão e d
(chatter marks) e fraturas de Fig.11.12 Tipos de estrias: a) sulco em crescente; b) fratura lunada; c) fratura em crescente;
fricção (jriction cracks) são tam- d) estria grampo de cabelo. Seta indica sentido de movimento do gelo. Dimensão das feições
bém feições comuns de abrasão varia de cm a dm.
glacial, e incluem as fraturas em
crescente (crescentic Jractures), os sulcos em crescente considerados, por alguns autores, come) originados pela
(crescentic gouges) e as (Fig.11.12). As primeiras, semicir- açãc) de corrente de água de degelo de grande energia.
culares, fc)rmam séries coaxiais com a ccJnvcxidade
voltada em direçãc) à proveniência da geleira. As se- feições de terreno de abrasão glacial de mesoescala
gundas, também semicirculares, resultam da remoção cc)mumente observadas são as fc)rmas alongadas
de fragmentos de rocha entre duas fraturas, uma abrup- moldadas (streamlined moldedfarms), as formas montante-
ta e outra menos inclinada. O lado c(Jncavo da jusante (stoss and lee), as bacias rochcJsas (rock basins) e
estrutura aponta em direção à origem da geleira. Fi- os vales glaciais. As primeiras incluem estruturas
nalmente, as marcas de percussão resultam da remoção chamadas dorso de baleia (whale back) (Fig.11.13),
de pequenos fragmentos da rocha, formando séries alongadas, alisadas e arredondadas em toda a volta pelas
alinhadas de fraturas irregulare~ O uso das fraturas de geleiras. Embora tenham a sua forma final controlada
fricção na interpretação do sentido do movimento das pela estrutura da rocha, tendem a apresentar altura re-
geleiras não é, entretanto, desprovido de controvérsia. lativamente grande cm relação ao comprimento e
Dados experimentais mostram que a orientação da alinham-se paralelamente ao fluxo dcJ gelo. Estrias so-
convexidade das fraturas pode diferir, em função da bre essas estruturas tendem a ser contínuas em todc) <J
intensidade da pressão efetiva exercida sobre o objeto seu comprimento, sugerindo manutenção da ação
produtor da fratura. A orientação dos sulcos em cres- abrasiva glacial. As chamadas rochas moutonnées
cente pode também variar, dependendo da estrutura (roches moutonnées) diferem na morfologia e origem (Figs.
da rocha submetida à abrasão. Fraturas de fricção de 11.11, 11.15). Segundo a literatura, o nome deriva de
diversos tipos ocorrem sobre pavimentos e clastos gla- um tipo de peruca usada na França, no século 18, e
ciais do Permo-Carbonífero brasileiro. não da semelhança com um carneiro (mouton, em fran-
cês) deitado, como popularmente aceito. Trata-se de
Sulcos, cristas e canais retos ou sinuosos, maiores elevações rochosas de perfil arredondado assimétrico
que estrias, de forma e dimensões variadas (de milí- ' '
com o lado menos inclinado e estriado (a montante) e
metros até metros) podem também ocorrer sobre outro mais abrupto, irregular e em escada (a jusante),
superfícies rochosas erodidas glacialmente, isoladamen- em relação à proveniência do gelo. A teoria da origem
te ou associadas às estrias normais. Sua origem é das moutonnées implica a existência de uma elevação ini-
controvertida, sendo atribuída à abrasão glacial, ero- cial do embasamento e a presença de cavidade a jusante,
são por fluxo denso de til! ou fluxos catastróficos de entre a geleira e o embasamento. O aumento da pres-
água de degelo. Sulcos do tipo grampo de cabelo são normal efetiva do gelo scJbre a superfície a
(hairpin), formados por dois sulcos paralelos, laterais a montante é responsável pela estriação. Diminuição da
um obstáculo que dividiu o fluxo do agente erosivo, são pressão a jusante, associada à maior velocidade do gelo,
prclduz a cavidac1e. () processei de remoção de frag- C)s vales e os circeis glaciais sãel as estruturas mais
mentos da rclcha é facilitadcl pela existência de juntas impressionantes esculpidas pelo gele). Vales glaciais
ou descontinuidades na relcha. A penetração del gelo formam-se onde quer que geleiras sejam canalizadas
em fraturas, cleslcJcamento de fragmentcls e açãeJ de acl longo de depressões topclgráficas, modificandei-
água de degelei, sob pressão, nas descontinuidades, sãel as. 1'~mbora mais visíveis quando associadas com
os fateires respclnsáveis pela remclção. Embe)ra bas- geleiras de vale e de escape, os vales glaciais ocorrem
tante destruída pela açãel humana, a famosa rocha também sob mantos e casquetes de gelo. Ao início da
moutonnée de Salto, SP, recoberta por rochas cio glaciaçãci, as geleiras eJcupam vales pré-existentes, que
Subgrupo Itararé, mantém ainc1a a sua forma caracte- passam a ser modificadcls pela combinaçãel de abrasão
rística e feições de abrasãei glacial (Figs. 11.11). glacial e remoção. A ação abrasiva do gelo resulta em
mcldificação de) perfil dos vales fluviais de "V" para
Bacias reJchosas são um tipcl de depressàci ampla,
"U" em vales glaciais (Fig. 11.13).
formada subglacialmente sobre Cl assoalhe) das gelei-
ras, ele dimensões variandcl ele metreis a centenas de Regie)es montanhosas glaciadas exibem comumente,
metros. Freqüentemente acumulam água e-!e degelo. nas partes altas dcls vales, circos glaciais ligae!os elu nãcl
Sua formaçãcl é cc)ntrcJlada pela existência de zonas a geleiras, os quais têm a forma de uma bacia rochosa
de fraqueza na rocha, o que facilita a erosãeJ. () pro- côncava, encravada na parede das montanhas. São ge-
cesse) envolve a mudança no fluxel do gelo ael passar rados peir uma combinação de abrasão glacial del seu
se)bre uma elepressãei pré-existente mene)r. () íluxel é assclalhcl através de remoção e ccJngelamentei, e degelo
distensivo na margem descendente, e celmpressivel na na cabeceira mais abrupta da bacia, em contato celm a
ascendente. A distensão aumenta a pressão basal do parede relchosa da montanha.
gelel sobre el substratel levando à abrasão, enquanto a
Além elas fclrmadas pela açãeJ abrasiva do gelo, as
compressãci prcJmove o arrancamentcl e remelção ele
paisagens glaciais caracterizam-se pela ocorrência de
fra1:,rt11ente)s de reicha. Bacias ocorrem cclmumente as-
feJrmas de erosão produzidas pela água de degelo. As
sociadas a substratos portadclres ele rochas tnoutonnées.

Fig.11.13 Feições erosionais e geomórficas de contato com o gelo. a) dorso de baleia; a geleira moveu-se da esquerda para a
direita, Prince William Sound, Alasca, E. U. A.; b) vale glacial em "U" do rio Saskatchewan, Montanhas Rochosas, Canadá; c)esker
pleistocênico, Minnesota, E. U. A.; d) lago dekettle, geleira Saskatchewan, Montanhas Rochosas, Canadá. Fotos a e d: Paulo R. dos
Santos; b e c: A. C. Rocha-Campos.
feições incluem os chamadcis canais de água de dege- tastréJficeJ ele água de elegeleJ eJu _jiikulhlaups peJdem
lo (Fig. 11.11 ). Um impeirtante aspecto desse sistema elcscirganizar a drenagem flúvio-glacial e erodir prei-
do esceiamento refere-se ao padrãeJ de drenagem que ft1ndamente eJs leques. BleJcos de geleJ meJrto incluíeleJS
se instala subglacialmente. Em geleiras que se situam ncJs sedimentos f1úvio-glaciais, particularmente nas
solJre substratos duros, sistemas de canais e cavidades proximidaeles das geleiras, aeJ se fundir por abatimento
subglaciais interligadcis pcJdem se fcJrmar e escoar a elos sedimentos da planície ele lavagem, produzem dc-
água ele degelo. Canais subglaciais se'i sãeJ visíveis junto presse:ies circulares chamadas kettles (chaleiras) (Fig.
às margens de geleiras, onde desembocam e descarre- 11.13). Kames e terraços de kame, resultantes dei acúmuleJ
gam um grande veilumc de água. }\rgumenta-se que o de sedimentos entre a cnceista de vales glaciais e a
sistema de canais séi pode existir quandci a geleira esti- tnargem lateral de) geleJ são também típicos desse
ver cm ccintato ccim ei substrato elurcJ. Nei cascJ de ambiente. Pcic-lem asseiciar-sc a kettles se contiverem
substratcis deformáveis, a drenagem pode ser realiza- blcJccis de gelei mcJrto.
da pelo escoamento da água através dei pre'iprio
A paisagem de uma re6riãeJ glaciada é freqüentemente
sedimentei. Scimentc quanelo a drenagem nãeJ fcJr efici-
perccJrrida por cristas contínuas cJu interrelmpidas, si-
ente, pode-se pensar na formação de sistemas de canais
nucisas, ele sedimentos flúviei-glaciais (areia, cascalho e
subglaciais rasos. () gradiente hidráulico das geleiras
até til!) deneJminados eskers (Figs. 11.13, 16). Suas di-
controla a formaçãeJ do sistema de canais subglaciais
mensões sãeJ variáveis, de centenas ele metrcis até
de degelo, que peJdem entãci ter distribuição inde-
centenas de quiltimetros de comprimento, eleze11as a
penelente da tcJpeJgrafia atual e ceirrer encosta acima, centenas de metrcJs de lar6rura (4() a 700) e dezenas de
resultando em perfil de drenagem muitci irregular.
metrcJs de altura (1 O a 50). PcJdem ser feições continu-
Canais de degelo preiglaciais subaéreos são mais as eJu formar sistemas cntrelaçac-lcis. A cJricntaçãcJ dos
visíveis junto às zcinas de ablaçãeJ de geleiras, corren- eskers é contreJlada peleJ graeliente hielráulicci e-las ge-
do paralelamente às suas margens, peJrém, ceJm leiras, peidendo ter eirientação indejJendentc da
mudanças bruscas de orientação. () sistema de canais tcipeigrafia do asscialhci. O bloqueio ela água em ca-
de degelo proglaciais passa, por transiçãei, para eJ sis- nais scibre, dentro e scib geleiras proveJca a depcJsição
tema flúvio-glacial, abaixcJ descritcJ. de sedimento, gerando eis eskers.

A ação da á6rua de degelo é responsável pela gera- F"mbcJra os eskers feirmadcJs subglacialmente se-
çãeJ de uma diversidade de feições geeJméJrficas jam mais comuns, eles podem também resultar do
flúvio-glaciais, que se formam junto à margem elas preenchimento de canais supra e englaciais e serem
geleiras, embaixo (subglacialmentc) ou se)bre elas depois rebaixados até o substratei pela fusãeJ dcJ gelo.
(supraglacialmentc). O primeirei grupel de feições en- A cJrigem dos eskers entrelaçados é atribuícla a fluxcJs
globa planícies (outwash plains e sandur) e leques de de áí'-,rua subglacial catastróficeis, c1uandei então um único
lavagem glacial (outwash fans), kettles, kames e terraços canal não pode acomeidar todo o volume de água e
de kame. Os eskers são, sem dúvida, o principal tipel de sedimento transportaelo.
forma de terreno produzida pela açãcJ flúvio-glacial
(Fig. 11.16). 11.2.3 Transporte de detritos pelas geleiras
Ao emergir de uma geleira, a corrente de água de
Partículas e fragmentos rochosos são transpor-
degelo perde pressão e velocidade e começa a depe)-
tados pelas geleiras sobre sua superfície
si tar sedimentos. Os depósitos proglaciais assim
(transporte supraglacial), nei seu interior (trans-
formados na chamada planície de lavagem glacial va-
porte englacial) e sua região basal (transporte
riam pela sua posição em relação à margem do gelo, a
subglacial). (l~igs. 11.14, 15).
quantidade de sedimento transportado e a presença
de gelo soterrado. Leques de lavagem são gerados na O material supraglacial inclui detritos caídos das
frente de geleiras estacionárias, pela deposição de se- paredes dos vales de geleiras de vale ou de nunataks
dimentos carreados pela água de degelo. Sedimentos (elevações cercadas pelo gelo), materiais transporta-
mais grossos acumulam-se perto do local de emer- dos por avalanches ou depositados pele) venteJ, tais
gência do fluxo de água, enquanto os mais finos como cinza vulcânica, poeira, sal marinho etc. A maior
depositam-se mais adiante, confundindo-se com os parte dos detritos basais representa material inceirpei-
depósitos de rios entrelaçados. Eventos de fluxo ca- radci peleJ gelo através da erosãci dei substrateJ ou
derivado do material supraglacial. Após serem depo- 15), pc)dem ser capturados em falhas reversas ou de
sitados, os detritos supraglaciais são recobertos pela empurrão que se formam, elevando-se ao lc)ngo de-
neve que cai anualmente, incorporando-se nas super- las e atingindo a superfície das geleiras. Como se vê,
fícies de fluxo da geleira, podenclo descender até a há uma constante troca de pc)sição dos detritos das
base desta, passando a integrar a zona de transporte diferentes zonas das geleiras.
basal. Podem ainda ascender, emergindo na zona de
ablação da geleira, incorporando-se ac)s depósitos
11.2.4Ambientes e depósitos
supraglaciais. Partículas acumulaclas na zona de ablação
poc.iem aí permanecer, a não ser que, transportadas Associados às geleiras
por água de degelo superficial, penetrem em fendas
A sedimentação glacial terrestre ocorre quandc.) a
no gelo, atingindo a parte interna e a base das geleiras.
geleira termina em cc)ndições subaéreas ou terrestres.
Detritos subglaciais, de modo geral, permanecem na
f-<:ssa sedimentação pode envolver diretamente as ge-
zona de transporte basal das geleiras, a partir c.ie onde
leiras e ocorrer em contato com/ c)u nas proximidades
são depositadcJs. Somente junto às margens destas, na
delas, cc.)mo também, em rebriões mais afastadas, pela
chamada zona de compressão de) gelo (Figs. 11.14,
ação da água de degelo (sedimentação glácio-fluvial)
ou em corpos de água doce (sedimentaçãc) glácio-
lacustrina) (Fig. 11.16).

, ,
Areo de oblação Areo de acumulação
1 ..,
1 1 1 1
1 1
1 1
: Detritos de origem 1
1 1 1 suproglociol :
: Detritos de origem suproglociol (Ã) 1 Detritos de origem suproglociol 1descem até o zona 1

~--------__;______.,
1 1 1
1 permanecem no superfície 1 são transportados englociolmente ide transporte basal 1

1
1
1
1
1
1 ,,
1 I

1 ,I
1
1
1
'/ ,:,'
,
,, ,
I
1
: .. ------- I
I

• ,, ,
I

:
1
1 ...,.___ ,
,, ,
,, ,
:1 ===------
.....~ :r-=:----.. . . . . . . . .
,

1 ~- ~
1 ......~-----~ ---.- --------"------

,' '" "'" ', .. , '' ,..• ' '


1 1 1
1 1 1
1 Zona de compressão marginal 1 Detritos erodidos subglociolmente 1
: Detritos basais movem-se poro cimo : permanecem no zona de transporte basal 1
100 longo de folhas de empurrão no gelai
1
1

Fig.11.14 Transporte de detritos glaciais. Setas maiores mostram possíveis trajetórias de transporte de detritos
em geleiras. Detritos de origem supraglacial podem ser transportados englacialmente (sem contato com o
assoalho) e na zona basal (em contato com o assoalho). Fonte: Boulton, 1993.
CAPÍTULO 11 • AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 229 ',""?~;.:'

Dá-se o nome de til! ao depósito formado


diretamente pelas geleiras. Trata-se de sediment(>
inconsolidado, nã(> selecionado, constituído pc>r •

matriz argilosa/ siltosa/ arenosa, cc>ntendo frag-


mentos roch(>SC)S ca(>ticamente dispersos, ele
\
tamanho variado, desde grânulo até matacãc>.
Clastos cc)ntidos no till têm arredondamentc> e
angulosidade variáveis e muitc>s exibem evidên-
cias de abrasão glacial S(>b a fc>rma de facetas e
estrias (Fig. 11.17). Denc>mina-se tilito o equi-
valente litificado (rocha) do til!. Tendo em vista
a dificuldade em se recc>nhecer os vercladeiros ~ •~""•,w

P' ·"""'"''·'~ '••',,,

:::-- ··-· ~,.


•• - - - ·
""""' -".'
n,«-••
' '

tilitc>s de outras rochas de aspecto similar, po- '$id!ll'!~::::'' '-~ .·-~- :::;::;,,"':;
rém de origem diversa, como é e> caso de
brechas tectônicas e conglomerados ele matriz Fíg.11.15 Zona de detritos basal da geleira de maré Winspianski, ilha Rei
não selecionada gerados pelo flux(> densc> George, Antártica Ocidental, mostrando faixas de detritos deformadas; o
gravitacic)nal de mistura de detritos e lama (cor- atual recuo da geleira expõe rochas moulonnées erodidas sobre basalto
mesozóico. Foto: A. C. Rocha Campos.
ridas de detritcls e lama), é preferível utilizar os
termos não-genéticos diamicto e diamictito
para nomear, respectivamente, os seus equivalentes Quatro tipos distintos de depc'>sitos subglaciais sãc)
inconsolidados (sedimento) e litificadc>s (Fig. 11.18). rec(>nhecidc>s na literatura: a) til! de alojamento; b) til/
Muitos dos diamictitos permo-carboníferos da Bacia
de ablaçãcl subglacial; c) til! ele defclrmação; d) til/ de
do Paraná, Brasil, foram depositad(>S diretamente pelo
c-1eposiçãc> em cavernas subglaciais.
gelo e cc>rrespondem, portanto, a tilit()S.
]zll de al(ljamento cclrresponde a um diamicto fclrma-
Deposição glacial terrestre diretamente em conta- do pela agregaçãcl subglacial, através do retardamento
to com o gelo pc)de ocorrer sob as geleiras (deposição friccic>nal de detritos englaciais liberados a partir da base
subglacial) (>U junto às suas margens, a partir de mate- de geleiras em movimento. A liberação de clastos ou
rial transportadc> sobre a superfície do gelo (cleposição agregaclcls de detritcls dá-se por derretimentcl sob pres-
supraglacial). Os processos sedimentares envc>lvidc)s
são, durante Cl deslizamento da geleira sclbre o seu
são diversc)s e serão abaixe> delineados.
assc)alho. A ocorrência de alojamento exige, geralmente,
a presença de um substrato rígido, seja ele cc)nscllidado
(rochc>so) ou nãcl
deformável.

Segundo o modelo
mais aceito, o processo de
alcljamento ou
"encaixamento" no
substrat(l envolve a inter-
rupção do movimente) de
clastos que se deslocam e
erodem, na base da gelei-
ra, quando sua fricção
sobre o assoalho supera e>
arrasto exercido sobre ele
pelo fluxo do gelo.
Fíg.11.16 Depósitos e feições glaciais terrestres. l) formas alongadas moldadas no embasamento;
Taxas de depc)siçãcl de
2) detritos basais da geleira depositam-se como til/ de aloiamento em depressões do assoalho (3) ou
em cavidades (4); 5) til/ de ablação; 6) liberação de detritos por fusão da margem do gelo; 7)esker;
tills de alojamento atingem
8) leques de lavagem glacial; fusão de blocos de gelo morto forma superfície mamelonada (iunto à menos de 1O cm por anc).
margem da geleira); 9) canal d e água de degelo. Fonte: Boulton, 1993.
O prclcesscJ resl1lta ncl acúmulo ele massa seelimentar
supercompactaela, não inteiramente maciça, mas exi-
bindo uma superposiçãcJ de unidades em cunhas
truncantes, separadas pclr superfícies ele nãcl depclsi-
ção <lu erclsivas. Iintrc as unielades é cclml1m
intercalarem-se dcpc'lsitos acanalaelcis, raseis, ele água
ele degelo (areias, cascalhcls), ncirmalmente ccim seus
tcipcis clefclrmaelcis pela retomae-la ela depclsiçãci da
unidaele de til! sl1perie1r. De mcielo geral, paccJtes ele til!
de alojamentcJ, c1ue raramente atingem alguns metrcJs
ele espessura, assentam-se scJbre superfícies elisccirdan-
tes. f,'.spessuras 1naic1res requereriam espaçci SlÜlglacial
maicJr e cJs elepc'isitos seriam, dcstarte, sujcitcJs a
rctrabalhamcnto e crcisão. EmlJora clastos facetaelcis
e estriados sejam mencicJnadcJs comcl típiccis de ti/Ir
ele alcijamentci, sãci eis clastos em forma de bala (hul!et
shaped) ciu de "ferro de engomar" cJs mais represen-
tativcJs elesses elcpc'lsitos (I "ig. 11.17). c:lastcJs facetadcls,
estriadcJs e cm fcJrma de lJala são ccimuns em
diamictitcJs de dep(isitcJs glaciais ele várias ielaeles
(PermcJ-Carbonífercl, Pré-C~ambriano etc.), nci Brasil.

b'.mbora ci processe) de alojamentcJ seja normal-


mente associadci a substratos elurcis (rclchoscis), ele
pclde cicorrer também em substratos pouco
deformáveis. Neste cascJ, clastcis em mo,,imcnto scib
as geleiras sulcam ou aram (p!ottgh) o substratci, acu-
mulandci massas de sedimento a jusante, que terminam
pclr criar resistência ao avanço do gelei, retardando cJ
movimento para frente. Outros clastos podem então
congestionar-se atrás do primeiro, fcJrmando ccincen- Fig.11.17 Diferentes tipos de til/. a) till subglacial sobre til/ de
traçãcJ do ripei pavimento de clastos. Pavimenteis de deformação (amarelado), Pleistoceno, Dakota do Norte, E.U.A.;
clastcis similares acis que occJrrcm nci Pleistoceno da b) til/ subglacial sobre sedimentos lacustrinos deformados,
Pleistoceno, Minnesota, E.U.A.; c) clastos imersos em til/ de
América dei Ncirte foram descritos em rcichas
alojamento atual; clasto em forma de bala aparece na meta-
necipalcozc'iicas dei Brasil.
de superior da foto; sentido do movimento do gelo da esquerda
]'ili ele deformaçãci é OLLtro tipo de elep(isitci para a direita; d) diam·1ctito mac·1ço, tipo chuva de detritos,
subglacial formadci sob geleiras em movimentcJ, neste Prince William Sound, Alasca, E.U.A .. Fotos a e b: A. C. Ro-
caso agindo sobre a chamada camada defcirmávcl, istci cha-Campos; c: gentileza (arrie J. Patterson; d: Paulo R. dos
'-
Santos.
CAPÍTULO 11 • AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 231 '\.,• . .;:.

é, um depósito sedimentar impregnadc) de água (Fig. l~nquanto C)S ti/Is de alojamento e de eleformação
11.17). () conceito surgiu na década de 1980 e embo- originam-se durante o avanço glacial, o chamado til!
ra tenha ganho grande popularidade não é destituíelcJ de degele), ablação ou derretimento acumula-se sob
de C()ntrovérsias. gele) esta6,nadeJ, que se derrete in situ (fig. 11.16). Isto
O tipo de depósito resultante da deformaçãc> eJccJrre quando as geleiras cessam de se me)ver. Nessas
subglacial C()rresponde a uma massa sedimentar me- cone{ições, o degele) pre)duz a liberação e acumulaçãeJ
canicamente remexida e def(Jrmaela, constituíela ele subglacial e supraglacial de partículas de rochas. f-Iá
partículas de sedimento pré-glacial "sobrepassadc/' e na literatura amplo debate a respeito elo pe)tencial de
deformado pela geleira, ou seclimento glacial, incluin- preservação d()S chamadc)S ti/Is de ablação por causa
do til/ de alojamento, sedimento flúvic)-glacial da ação eficiente das cc>rrentes de degelo.
previamente depositado ou conc()mitante ao avançc) Pela descriçãc) acima é fácil perceber que os três
das geleiras. Ti/Is de deformação p()dem atin6rir espes- tipos de deposição subglacial do til! são grandemente
suras maiores (até várias elezenas de metros) que os transicie)nais. As tentativas ele distingui-los baeiam-se
ti/Is de alojamente). A clef(JrmaçãcJ pode envolver uma nas características dos dep(Jsitos, pe)r exemple), a '_'fàbric'
fase proglacial (compressiva), seguida de uma fase (arranje) interno dos clastc)s nos ti/Is). Clastos de til!, de
subglacial, eminentemente distensiva. O aument() da a!cJjamento são geralmente descritos como tendo seus
intensidade do esforço pr()duz uma seqüência de es- eixc)s maiores paralele)s à direção deJ fluxo do gelo
truturas cada vez mais intensamente defc>rmadas, cJriginal e apresentando clastos imbricados, com incli-
levandc) à heJm(>geneizaçã() da massa deformada, que naçãcJ para montante. Uma_fabric menos desenvolvida
pode assemelhar-se a um til/ maciçc). Estruturas típicas caracterizaria C)S ti/Is de ablação.
de cada fase peJdem, entretanteJ, persistir e permitir
Dep(Jsitos de ti/Is pcJdem ainda fcJrmar-se em ambi-
identificar a seqüência de eventos oce)rriclos. Defe)r-
ente terrestre, sem a intervenção direta do gelo. Incluem-se
maçoes glacieJtectônicas afetande) rochas
aqui eis depc'Jsitos de til/ supraglacial de degelo e e)s ti/Is
neopaleozc)icas d(> Brasil feJram identificadas em
de fluxc). O derretimento do gele> da superfície das gelei-
Cerquilho, SP.
ras pode pr(Jduzir grandes acumulaçe:íes de detritos

Fig.11 .18 Diferentes tipos de diamictito. a) matacão de


quartzito alojado em tilito subglacial do Permo-Carbonífero;
oração do substrato inconsolidado provocou o acúmulo de
sedimento na frente do clasto (direita), impedindo o seu movi-
mento; sentido de movimento do gelo da esquerda para a
direita, Cachoeira do Sul, RS; b) diamictito estratificado forma-
do por fluxo gravitacional de sedimento (Permo-Carbonífero),
Igreja Nova, AL; c) diamictito maciço, subaquoso, Pré-
Cambriano, Jequitaí, MG;. Fotos: A.C. Rocha-Campos.
supraglaciais, muitas vezes sobre cris-
tas ou elevações do gelo. Esse
material facilmente desestabiliza-se e
desloca-se declive abaixo, sob a for-
ma de fluxo de cletrito ou lama. 1zlls
supraglaciais podem recobrir a su-
perfície e depe>sitos subglaciais
quando do derretimento do gelo
sciterrado, resultando em uma topo-
grafia chamaela mamelonada
(hummock:y). PcJde também misturar-
se com a água de degelo, próximo à
margem do gelei (Fig. 11.16).

Finalmente, resta lembrar a pos-


sibilidade de tills fe)rmarem-se por
sublimação de gelo (passagem di-
reta do estado sólido para cJ gascJScJ)
contendeJ detritcis rochosos, em am- Fig.11.19 Tipos de morenas em geleira de vale. a) mediana; b) lateral; c) terminal.
bientes polares áridos, muito fricJs,
ce)mci é o caso da Antártica oriental. Podem oceJrrer su- mam-se quando as geleiras avançam sobre sedimen-
pra e subglacialmente. teis pro glaciais (no geral til/ e depósitos flúvicJ-glaciais ),
Morenas são, provavelmente, as formas mais ca- seja durante reavanços sazonais, de curta duração, ou
racterísticas de depósitos glaciais formados mais contínuos. Essas morenas são feições glácio-
adjacentemente às geleiras. Elas são geralmente classi- tectônicas de empurrão e acavalamento (Cap. 19) e,
ficadas de aceirdo com sua posição em relação às l \ Lobo
1'"' Green Bay
'
geleiras, seu estaclo de atividade (isto é, asscJciadas a
geleiras ativas ou inativas) e processo de formação.
""""',
Morenas medianas são feições, no geral superficiais, ' .. - .. - - .. - - .. - .
•• ILL.
sob a forma de cristas alongadas, que se estendem a par- \
1
tir da confluência de geleiras de vale. McJrenas laterais '
podem também constituir depósitos pouco espessos,
supraglaciais, de detritos provenientes das paredes dos
vales, mas, muitas vezes, assumem a forma de cristas,
junto às margens laterais das geleiras, separadas destas e
das paredes do vale por ravinas de ablação. Finalmente,
morenas terminais constituem cristas de detritos glaciais
que acompanham a margem frontal das geleiras de vale
ou de mantos de gelo. São no geral arqueadas, refletindo
a forma da margem da geleira. Morenas laterais e termi-
nais podem conter um núcleo de gelo que, às vezes,
forma a maieJr parte do volume das morenas. Trata-se de
massas de gelo destacadas da margem das geleiras e pro-
tegidas da fusãei pela cobertura de detritos (Figs. 11.19,
11.20, 11.21).
IND . ...--.,._
Feições mcJrfeJlcigicamente similares às acima des- Fig.11.20 Morenas terminais (em marrom) da última
critas podem c)correr en1 associação com geleiras em glaciação, no Meio Oeste dos E. U. A., mostram a forma lobada
fase de recuei ou estagnadas. Morenas de empurrãcJ da margem do manto de gelo continental pleistocênico da
(p11sh moraines) terminais, simples cJu compelstas, for- América do Norte; WIS: Wisconsin; ILL: Illinois; IND: Indiana.
Fonte: Frye e William, 1973.
ta1,,rnacias incluem as chamadas mcJrenas basais (ground
111oraines) e morenas com núclecJ de gele> ~ce-cored moraines)
(F'ig.11.21 ). Diferentemente elos primeircJs, estes tipcls nãc)
têm uma fcJrma cJu orientaçãcJ definiela em relaçãe> às
geleiras. r\s primeiras clepc>sitam-se a partir da zcina basal
de> gele), através da açãcJ de diversos preJcessos que inclu-
em <J acúmulcl ele detritos liberados por fusãci e
alojamentcJ. l;ormam uma espécie de tapete irregular (pla-
nície de til~ na frente ele geleiras em recue> (Figs. 11.16,
11.21 ). wfassas de gelei cobertas de detritcJs destacadcis
da margem de geleira constituem morenas de núcleci de
gelcJ. Sua fusão pocie também provcJcar a formaçãc> de
superfícies de terrenci mamelonadas (Fig. 11.16).

Além das acima descritas, outras feições de terrenci


formam-se subglacialmente, tcJrnanclo-se expostas quan-
do a geleira recua. Incluem tantci feiçe>es mcildadas pelo
gelei durante o seu avanço (drumlins, caneluras, mcJrenas
de> ripe> f"OJ!,en e megafeições lineares), quantc> produzidas
peir outrcJs prcJcessos subglaciais (cristas de preenchimento
de crevasses) (Fig. 11.22).
Fig.11.21 a) morenas laterais compostas da geleira de l)rumlins são colinas de forma oval, de 5 a SOm ele
Atabasca, Montanhas Rochosas, Canadá; b) morena basal
altura, e 1 O a 3.0()0m de ccimprimento, e perfil
(til/ de alojan1ento) exposta na planície de til/, na frente da ge-
assimétrico, ceJm um lado abrupto, a mc>ntante (volta-
leira Atabasca (ao fundo); superfície estriada aflora na parte
do para a geleira) e um lado de declividade mais suave, 1
inferior da foto. Fotos: a) Paulo R. dos Santos; b) A. C. Rocha-
Carnpos.
a jusante. Sua compcisição é variada (til!, sedimentos 1
flúvio-glaciais e rochas do substratci) e sua origem con-
C<)m<i tal, exibem clef<)tmações d<J tipci elcibras e fa- treivertida. São atribuídas a diferentes prc)cesscis, dentre
lhas. Seu tamanho é variável, p<ldendci atingir grandes eis quais, aleijamento subglacial, fusãci de gelo rico em
dimensões (até dezenas de qt1ilômetros ele cclmpri- detritcis e mesmci preenchimento de escavações
mentcJ) e envc>lver e> pr<'>pric> embasamentci da sul1glaciais c)u fluxcJ catastróficc) de água subglacial. A
geleira. Um c>utrcJ tipc> cJrigina-se pela liberaçãcJ, pc>r hipc'itese cie origem por deformação subglacial pare-
degeleJ, ele massas de sedimentos incc>rpc>raclcJs nci ce, entretanto, ser a mais aceita atualmente.
gele>, a partir da zona de detritos basal, por empur-
Drumlins occJrrem em enxames, cobrindo áreas
rãci clci gelei juntei à margem frc>ntal elas geleiras.
prciglaciais extensas expostas pela retiracla de> gelo. Exem-
() esce>rregamentc> de detritos supraglaciais sc>lJre as plos de estruturas dei tipo dmm!in foram registrados nci
margens laterais,
mais íngremes das
geleiras, leva à for-
maçãe> de mcJrenas
laterais, pelcJ proces- . . .

so de despejo t:!••>•v,·· .....


(du11;pini) de detritos.
() material acumula-
d eJ p<>de também
pr<Jvir cias paredes
dos vales. C)utrc>s
dc>is tipc>s ele mcJre- Fig.11.22 a) drum/in pleistocênico recoberto por vegetação, Wisconsin, E.U.A.; b) cristas de til/ sobre
nas associaelas a planície de lavagem glacial na frente da geleira Saskatchewan, Montanhas Rochosas, Canadá; notar
matacão alojado na extremidade a montante de uma das cristas de til/. Fotos: a) gentileza Carrie J. Patterson;
geleiras inativas ou es-
b) A. C. Rocha-Campos.
nee)paleozóice) da Bacia do Paraná, Brasil. Me)renas tipo () sistema fluvial que se fc)rma na ref:,>Íão proglacial é
rogen sãe) também moldadas subglacialmente, transver- tipicamente do tipc) de canais múltiplos, ou entrelaçado
sais ae) fluxo de) gele), adquirindo a fe)rma de meia lua, (hraided). Os prc)cesse)S de sedimentação que occ)rrem
ce)m as pontas voltadas para e) sentido de) fluxo de) gelo. nesse ambiente são semelhantes aos ela deposição fluvi-
Oce)rrem asse)ciadas a campos de drumlins. al comum (Cap. 10), exceto pelo fato de a água ser mais
,·iscosa, por causa ele sua temperatura mais baixa e den-
Planícies proglaciais expostas pelo recuo da geleira
sidade mais alta, e a descarga de água e sedimente) variar
freqüentemente mcistram numerosas estruturas linea-
diurnamente e sazonalmente. Estes fatores retardam o
res, paralelas, sob a forma de cristas baixas (< 3 m),
assentamento das partículas sedimentares, facilitando e)
estreitas (< 3 m), mais ou mene)s regularmente espa-
seu transporte.
çaelas, de comprimento variável (até cerca de 100 m
ou mais), chamadas cristas de til! (jlutes). Sua origem é CJ transpc)rte de sedimente)s no sistema flúvio-glacial
atribuida ao acúmulo de til!, areia e cascalho na som- ocorre em suspensão e como carga de fundo, sendo a
bra (a jusante) de obstáculo formadc) por matacão ou proporção entre os dois mecanismos grandemente variá-
grupo de clastos. A observação de imagens de satéli- vel. Valores entre 40°/ci a 90% de carga de fundo sobre o
tes de áreas glaciadas atuais levou ae) reconhecimento total de sedimentos são conhecidc)S na literatura. A pre-
de megalineaçe)es glaciais ou megacristas de til! sença de alta carga de fundo, a grande variação na descarga,
(megajlutes), com até dezenas de km de comprimento acima comentados, além da erodibilidade alta (a fácil ero-
(8-70 km), larguras de até mais de um qui!ê)metre) e são) das margens dc)s canais, explica a predominância do
espaçadas de 300 a 5.000m. Formas subglaciais mol- sistema entrelaçado, na planície prc)glacial.
dadas pelo gelo pe)dem ocorrer superpostas em · A distância da geleira é C) principal fator que controla
razãe) de mudanças na capacidade de deformaçãc) as características elo sistema flúvio-glacial. Na zona ime-
da geleira. diatamente em cc)ntatcJ com o gelo, os pre)cesso são mais
Feições geomórficas não-moldadas pelo gelo e, pcJr- complexos, por causa da variaçãe) na forma e posição
tanto, não alinhadas em relação ao mc)vimento das geleiras da margem do gele) e intercalação entre processos fluvi-
podem também ser geradas e preservadas geologicamente. ais e de elepc)sição ele detritos glaciogênicos liberados
Incluem-se aqui as cristas de preenchimento de crevasses. pelo derretimento da geleira ou de gelo morto (Fig.11.23).
As cristas têm uma dispe)sição geométrica, refletindc) o A mesma complexidade é visível nos depósitos resultan-
padrão de distribuição das crevasses no gelo. C)riginam-se tes. Na regiãe) proximal, predomina o sistema fluvial
pela injeção de til! subglacial em fendas e e)utras entrelaçado, caracterizadc) por canais e barras de dife-
descontinuidades ou ao longo de falhas de empurrãc) rentes tipos. Barras longitudinais de cascalho, de forma
marginais, em geleiras estagnadas. le)sangular em planta, alinhadas paralelamente a
subparalelamente ao fluxo da água prede)minam.
Flúvio-glacial Estratificação subparalela horizontal é a estrutura predo-
minante, acompanhada por imbricação do cascalho. Além
() ambiente flúvie)-glacial resulta da formação de água disso, areias são depositadas em períe)dos de água mais
de degelo, pelo derretimento de geleiras que terminam baixa, como, por exemplo, ao final da temporada de
em ambiente terrestre, sejam elas de vale ou grandes man- fusão de gelo. As areias podem exibir dunas e marcas
tos de gelo. Vale nc)tar que correntes de água de degelo e)nduladas migrantes. O componente arenoso tende a
formam-se sobre e dentro de geleiras, porém cJ seu papel aumentar em relação ac) cascalhcJ. Em condições inter-
na sedimentação é negligenciável em relação ao das águas mediárias e distais, predominam, na carga de fundo, a
subglaciais. A água gerada drena e) substrato glaciade), areia cascalhosa e às vezes areia pura (Fig.11.23). O fluxo
erodindo, incorporandc), transportando e depe)sitando de água concentrado em canais, esporadicamente, carac-
sedimentos em baixo ou além das margens das geleiras, teriza-se por barras linguóides ou lobadas recobertas por
sobre a chamada planície de lavagem glacial (outivash plain). dunas e marcas onduladas. Na planície aluvial as areias
As correntes e rios glaciais são, deste modo, importantes são mais raras e marcas onduladas predominam. Nesses
agentes de retrabalhamento de paisagens glaciadas. !e)cais, formam-se depósitos de silte, lama e restos de
Embora o transporte e deposição de sedimente)S em raízes. Finalmente, nas Ze)nas mais distantes, o sedimento
túneis subglaciais pe)ssa occ)rrer, a ação fl{ivic)-glacial predominante é, geralmente, silte e o sistema de barras
subaérea é, sem dúvida, mais visível e relevante. torna-se menos pronLmciado.
CAPÍTULO 11 • AçÃo GEOLÓGICA oo GELO 235 ·",,~ ~

Glácio-lacustre C)ndas e ce)rrentes, a queda de icebet;gs e variações


de pressão atmosférica são os fenômenos respe)nsá-
Lagos são uma das feições mais comuns de regi-
veis pela circulação da água dentro dc)s lagos. A açãe)
e:íes afetadas pela ação glacial e podem se formar em
dos ventos e a queda de icebergs são fatores que po-
uma variedade de situações, seja na frente ela geleira,
dem produzir ondas. Além de afetarem o transporte
na região proglacial, ou subglacial e até
de sedimentc)S em suspensão, as c)ndas podem pro-
supraglacialmente.
vocar mistura das camadas superficiais de água,
Uma maneira ce)mum de formaçãe) de lagos é por alterando a estrutura térmica.
represamento da água de degelo pelc)s depósitc)S ele
morenas, na frente da ou lateralmente à geleira. As
próprias geleiras podem causar C) represamento. La-
gos podem tamlJém formar-se em depressões
causadas pelo derretimento de massas de gelo estag-
nado (gelo me)rto) dentro de) sedimento glacial,
criando os chamados lage)s de kettle (Fig. 11.13, 11.23).
A concentraçãc) de água ele degele) subglacial pode
também levar à fe)rmação de acumulações embaixo
de) gelo. Um dc)s exemplos mais notáveis de !age)
subglacial fc)i descoberto sc>b o mante> de gelo da
Antártica oriental, a mais de 3.600m de pre)fundidade,
na área da estaçãc) antártica russa de Ve)stok. Final-
mente, em escala maior, grandes lagos proglaciais
podem formar-se junto à margem de mantos de gele>
em recuo, preenchende) depresse:íes causadas pelo re-
baixamento isostático da crosta da Terra (Cap. 4), em
razão do enorme peso de) gelo. ()s comentárie)s abai-
xe) referem-se principalmente às formas mais comuns
de lage)s glaciais, ou seja, e)s que se formam
proglacialmente. Os processos que aí ocorrem são, em
geral, aplicáveis a todos os tipos de massas de água
dc>ce glaciais.

A sedimentação e as características dos depósitos e


glácio-lacustrinos são controladas pelas propriedades
físicas e químicas dc)s lagos (Cap. 1O), daí a necessic-la-
de de entendê-los. Temperatura, salinidade e o
conteúdo do sedimento em suspensão, e em muito
menor grau, a quantidade de gases dissolvidos (()2 ,
C0 2 etc.) e pressãe) hidrostática são fatores que influ-
enciam a densidade da água de lagos, fator primordial
que governa os processos que a1• ocorrem.
Fig.11.23 a) torrente subglacial emergindo da base da geleira
A variação sazonal da temperatura (ou seja, a vari-
Saskatchewan, Montanhas Rochosas, Canadá; mudanças na po-
ação de calor absorvido e dissipado pela água durante
sição do canal e na descarga de água desorganizam a drenagem
o ano) afeta a estrutura térmica, estratificação, circula-
iunto à geleira; o derretimento de blocos de gelo morto,
ção e o compe)rtamento ecológico de)S lagos. Durante recobertos de detritos, contribui para a complexidade sedimentar
e) verão, muitc)s desenvolvem uma estratificação for- da região; b) região distal do sistema flúvio-glacial entrelaçado
mada pe)r camadas de água de temperatura e densidade do rio Saskatchewan, Montanhas Rochosas, Canadá; c) more-
distintas. nas, planície de lavagem e delta lacustrino da geleira Peyto, mesma
localidade. Fotos a e c: A. C. Rocha-Campos; b: Paulo R. dos
Santos.

UNIVERSIDADE POTfGUAR · i
··,w,ma lntearado de P.iblioteç ,r ·
i\ intre)duçào de partículas sedimentares dentro de de partículas (rain out). Vários tipcis de processeJs e
lagos glaciais faz-se principalmente pelas ccJrrentes de depósiteJs seelimcntarcs estàcJ relacieJnacle)s a esses me-
água de degele\ ljlle podem provir de distâncias variá- carusmcJs.
veis, guande) a margem das geleiras nàe) está em contato
Ireher:gs desprcndielos ele margens ele gelo cm con-
com a água, cJu pcir c1escarga direta a partir de ceindu-
tat<J ccJm lageis lil,eram detritcJS glacicJgênice>s acJ se
tos na lJase das geleiras cJu cm pc)siçàe) englacial.
funclircm, geranelcJ uma vcreladeira "chuva" de partí-
Correntes de água de clegelcJ que entram em lagos car-
culas. () casei mais ce)nheciclc> resulta na elepeJsição de
regande) sedimentos pcJdem c-leslcJcar-sc juntei à
clastos caídos (tlropstones,· ra/ied clasts), ele tamanhei va-
superfície, neJ meio eJu rente acJ fundeJ deJ lageJ, elepen-
riadc\ sobre as camaelas de sedimente) deJ funele> elo
dendeJ de sua densidade em relaçàeJ à ela água. FeJrmam
lago, defcJrmanelcJ eJu rcJmpeneleJ-as (Pig. 11.24). ()
as chamadas plumas de sedimento. Uma feJrma parti-
tcrmc> "clasteJ pingadei", pclpularmentc aplicaelcJ a es-
cular de descarga sedimentar pode ainda oce)rrer pelo
ses clastcis é, pcJrtantei, inccirrete>. c:cJnccntraçe1es
despejeJ direteJ de partículas variadas, liberadas da mar-
maieJrcs ele detritcJs pciclem ser "despejadas" (dutnpetG
gem deJ gelei, cm cc)ntato ceJm a água dos lagos. C)s
por ti_1sàeJ !Jasal eiu embcJrcamenteJ de massas ele gekJ
detritos glaciais prcJvêm de concentrações feJrmadas
eJu ainda por clerrctimentcJ local ele icel,ergs anccJra-
supraglacialmentc CJU incluídas na zeJna basal dcJ gelo,
elc>s ncJ flindcJ clcJ lagei.
neJrmalmente transportadas pcJr algum tipel de fluxo
aqucJseJ denso. C)utra maneira cnveJlve a queda ele par- () acúmu]eJ ele partícLt!as sedimentares em lageJs
tículas a partir elo derretimento de massas flutuantes leva à fcirmaçàeJ de váricJs tipcJs ele dep(JsitcJs e de
de geleJ, os icebergs, mecanismo denominado chuva feJrmas de terreneJs subae1uáticc1s. 1\ clispersàei elas par-

'' _,,' ''

;,;J;;,.i, i0, ·

Fig.11.24 Varves e varvitos. a) varves pleistocênicas contendo clastos caídos; b) iceberg ancorado na margem do lago Edith
Cavell, Montanhas Rochosas, Canadá, com detritos supraglaciais; q ritmito regular (varvito), Permo-Carbonífero, contendo clasto
caído; Trombudo Central, SC; d) ritmito regular (varvito) mostrando marcas onduladas e variação na espessura das camadas,
Permo-Carbonífero, ltu, SP. Fotos a: Paulo R. dos Santos; b, c e d: A. C. Rocha-Campos.
CAPÍTULO 11 • AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 237 "~~~
-~

tículas, sob a forma de S()brefluxos e interfluxos, 1\lém dos deltas, c)utras formas de terreno ou fei-
freqüentemente resulta na constituição de deltas mar- çc3es gec)mórficas subaquáticas podem cJriginar-se, sob
ginais. Deltas glaciolacustrinos são tipicamente a forma de morenas subaquáticas, geradas pelo avanço
constituídc)S de três conjuntos de camadas: c)s estratos sazonal de geleiras, que empurram c)s detritos glaciais.
ou camadas de tope) (topsets), de frente (jóresets) e de Podem tambén1 formar-se terraçcJs marginais, associa-
funde) (bottomsets) (Fig. 11.23). dcJs a ,-ariações da linha de costa dos lagos.

Outr()S processos sedimentares comuns em lag()S


incluem a decantação de partículas em suspensão, que Ambiente periglacial
cobrem hc)mc)geneamente c)utrcJs sedimentos, na parte
F-<:mbora típicos de clima frio, sujeito a congelamento
central dos corpos de água. Depósitos marginais de lagos
do scilo, processos e feições periglaciais nãci guardam
podem ainda ser afetadcJs e modificados por ondas. A
cJbrigatcJriamente relação de idade e prcJximidade com
C(Jntribuição biogênica é, entretanto, no geral, pcluccJ ex-
. geleiras. São, portanto, essencialmente nãc)-glaciais .
press1va.
CcJnelições periglaciais cJccJrrem em uma variedade ele
Em regiões de lagcJS nãcJ afetadas pelr prcJcesscJs situaçc3es tclpCli-orfáficas e geográficas, de pc)lares até de
sedimentares marginais, pode OC(Jrrer a elepclsição ele baixa latitude, e de aml)ientes. Vale lembrar ainda que
sedimentos rítmicos ou ritmicamente estratificad()S, váricJs prcJcesscJs que ocorren1 em cc)ndiç(3es periglaciais
mostrandc) alternância de dep(JsitcJs grossc)s e finos. nãc) são exclusivos desse amlJiente. l\fuitos prc)cesscJs
C)s primeiros são fc)rmados por ccJrrentes de turbidez e feições periglaciais occ)rrem, entretanto, a uma relati-
que caracterizam os fluxos de fundel. A interrupçãc) va prcJximidade de geleiras, cJ que justifica a sua
da entrada de sedimentos, durante o inverno, quanelc) discussão juntamente com os fenêJmenos glaciais pro-
a superfície dc)S lagos congela, permite a decantaçã() priamente ditos.
del material em suspensão na água sobre a camacla
Nc) Pleistoceno d() Hemisfério Norte, ccJnhecem-
inferior. Em casos em que essa alternância é contr(Jla-
se extensas áreas recolJertas p(lr depósitos e feições
da sazonalmente, o estrato ou camaela resultante é
gec)mórficas periglaciais, que se fc)rmaram a até ,,árias
chamada varve (Fig. 11.24). Os fluxos de fundcJ, du-
centenas de quilômetros de distância da margem elas
rante o verão, quandc) a entrada de água de degelo é
geleiras. Condições periglaciais são conhecidas atual-
mais intensa, alternam-se com a decantação de partí-
mente em regiões circumpolares da parte norte da
culas em suspensão, durante o inverno, quando os lagos ,

ccJngelam e correntes densas de fundo cessam. O fa- América do Norte, Europa e Asia. As condiç(3es de
moso varvito (varves litificadas: da pedreira de ltu, SP temperatura, entretanto, são aí, provavelmente, mais
(Permo-Carbonífero), exibe muitas das características rigorosas do que as que existiam em latitudes médias
acima discutidas. associadas aos mantos de gel() pleistocênicos do He-
misfério Norte.

65° 57°
N Tundra Floresta s
Camada ativo

..,,E

Fig.11.25 Perfil norte-sul mostrando a estrutura de solo perenemente congelado, ao norte do Cana-
dá; a extremidade norte da linha de árvores coincide com o limite entre o solo congelado contínuo e
descontínuo. Fonte: Eyles, 1985.
Uma característica comum do sc)lo de regiões sub- dcJs pingos, massas elevadas de sello geraelas pelcl cres-
metidas a condições periglaciais é a presença ele zc)na cimento do gelo, scJlos estruturadcJs, fraturados em
de congelamento permanente da água intersticial, de- padrão pclligonal (patterned groundr) e cricldeformações
nc)minado scJlo perenemente congelado (perma/rost). ou in,,oluções pcriglaciais, incluem-se nessa categoria (Fig.
(Fig. 11.25). Atualmente, o pertt1afrost pode occJrrer até 11.26). () congelamento e derretimento repetidcl da água
a uma prcJfundidade de 1 km ou mais nas áreas dcl scJlo são respclnsáveis por prcJccssos ele evcJlução de
circumpolares. f~m direçãc) a latitueles mais baixas, a encostas ncls ambientes pcriglaciais, através de sellifluxãcJ
profundidade atingida pelo permafrost contínuo dimi- ou fluxos de solcl e rocha encharcados de água, gera-
nui, passando a formar uma camada menos espessa, dcls pela fusãcJ del gelel. Estruturas de preenchimento
fragmentada (permafrost descclntínt10). Zonas de de fendas formadas cm sole) perenemente congelaclo
permafrost sãc) recobertas pc)r camada ele scJlcl pou- de idade neopalecJZélica fclram identificadcJs em rcJchas
co espessa, afetada por congelamento e degelo sazonal, permcJ-carboníferas do Brasil.
a chamada camada ativa. C) limite inferior entre a ca-
C)s am!Jientes periglaciais pcldem também ser afe-
mada ativa e Cl pcrmafrost é chamado de nível elo
tados pela açãc) dcJ ventei sobre superfícies inativas,
pcrmafrcJst (permafrost tah!e). Em alguns locais, cl scJ!cJ
sem ccibertura vegetal, fcirmandcl depósitos de silte e
perenemente ccJngelado estende-se à plataforma con-
areia, de razoável espessura, às vezes scJb a forma de
tinental, formando Cl permafrost submarincl.
dunas. O tipo mais conhecidci de dcpéisito ec'iliccJ gla-
Solos e rochas das regiões scJb condições periglaciais cial é, sem dúvida, o loess, constituíelo de silte calcário
são afetados pclr uma variedaele de alterações físicas, bem selecionaclc), depcisitadc) em ambientes periglaciais
resultando em estruturas e feições geoméJrficas varia- de baixa umidad.e. Dep{lsitos de loess pleistocênicos
das. CcJngclipartiçãcJ (conge!ifraction = fraturamentcl e são bem ccinhecidcis nci interior dos continentes, na
separaçãcJ por congelamentcl) e congeliperturbação Rússia, China e Meio ()este dos E.U. A., onde podem
(conJ!,eliturhation = agitação e mistura pcJr congelamento) cobrir áreas extensas, de mais de SÇ)0.000 km2, e atin-
são os processos principais que afetam camadas de sclicl gir espessuras superiores a 200 m.
e rocha decomposta em ambiente periglacial. Peições
resultantes desses processos inclt1em fraturamento e ele-
formação de camadas de) solcl ou de rocha
11.3 Ação Glacial Marinha
intemperizada, resultante dcJ congelamento ela água Geleiras que chegam até e) litoral pclelem atingir o
intersticial e penetração de massas de gelo. C)s chama-
mar, internando-se nele aterradas, istci é, arrastando-se
sobre o sulJstrato, ou flutuantes, e passar a influenciar
prcJcesscis e depósitc)s sedimentares que aí ocorrem.

Em vários locais da Terra, geleiras entram em ccinta-


tci cc)m cl mar, nc) funde) cJu na boca de entalhes costeirc)s,
dentre os quais os mais conhecielos sãc) eis fiordes. l-,'.stes
tipos de ambiente cc)nstituem cstuárie)s influenciados por
geleiras. Em outrcis, as geleiras atingem diretamente ci
mar aberto. As condições relativas a várie)s fatcires
ambientais sãc) suficientemente distintas, em cada caso,
para merecer uma discussão em separadci.

11.3.1 Ambiente glácio-estuarino

Fiordes são um tipo de estuário glaciadcJ caracteriza-


do por grande profundidade (até mais de 1.000 m), de
mcJdo geral cercadcJs por relevo mcJntanhciso escarpa-
do. St1a mcJrfolc)gia é similar à dcJs vales glaciais e a
Fig.11.26 Pseudomorfo de cunha de gelo em til/ pleistocênico, declividade al1rupta de suas paredes sugere açãc) intensa
Minnesota, E. U. A. O sedimento preencheu o espaço da an- da abrasão glacial. A submergência pós-glacial dcls fiordes
tiga cunha, após o derretimento do gelo. Foto: A. C. atL1ais (eia ordem de 1.000n1) nãci explica a sua grande
Rocha-Campos. prcJfundidaeie, resultante ele intensa erosãcJ glacial, aci lcin-
gci (1e vales pré-existentes. () asseialhc) deis ficJr(les ca- degelo e Lle rios, nci v·erãcJ, juntamente ccim a de água
racteriza-se pela presença de uma bacia prlJfun(la, marinha, mais densa, gera um sistema Lle circulaçãci dcn-
submersa, delimitada pclr saliências do em!Jasamento. trci deJs fiordes. CcJndiçc~ies euxínicas (re(luçãcJ nci teor de
A presença de uma dessas elevações, junto à boca L1<J cJxigênio) podem cicorrer nas bacias prcifun(las de ficirdes,
ficir(le, o chamado si!!, restringe sua comilllÍcaçãci com onde a circulação é Llcficiente. flcxc3es das frentes das
o mar aberto. FicJr(_les existem hoje nas ccJstas de várias geleiras produzidas pela variação das marés estimulam
regiões Lla Terra (Noruega, C:hile, C:anadá, Antártica etc.), sua desintegração e a produçãcJ de icehet;[J,S.
limitados a latitudes acima de 45º.
Além do aporte realizado por ricis e água ele Llcge-
1\s condiçc3es hidrcigráficas e os prciccsscis lo, outrcis processeis sãeJ responsáveis pela introclução
sedimentares cm fiordes são contrcJlados por váricJs de partículas sedimentares nos filirdes (Fig. 11.27).
fatores. () influxo de água Lloce, a partir (lei Llerreti- Dentre estes, temeis a quecla de partículas a partir de
mentci Lle geleiras e do gelo do mar (ou banquisa: iceher!',s, avalanches de rocha e/ ciu neve (te rcgic3es mon-
camada delgada de água do mar que congela sazci- tanhcisas que flan(1ueiam (JS estuários e transporte pele)
nalmente; Fig. 11.2) ciu Lle ríeis que Llescmbcicam nlJS vent<J. Paclr<>cs de se(!imcntaçàci glácicJ-estuarina Llis-
estuáricis, o efeitci das marés e Lla fcJrça de Ceiric>lis tintos sàei rcconhecidcJs entre ficir(lcs parcialmente
(desvio das correntes de água que entram no estuáricJ, cicupa(lcJs pcir geleiras e naqueles cm c1ue dcp{Jsiteis
causadci pela rcitaçàci da Terra), a entrada Lle sedi- flúvi<>-glaciais, fcirmadcis pelei recuo de geleiras, cicu-
menteis trazidos pelas ccJrrentcs de água de degelo e a pam a cabeceira elos estuáricJs.
floculação de partículas sedimentares (principalmente
argilas) sãei os principais. NeJ primeiro casei, Llepósitc)s Lle sedimentcJs mais
'
grcJssc)s <>ClJrrcm ccimumente na frente da geleira, pelei
Como é de se esperar, a variaçãci das marés tem acúmulcJ prciglacial, relativamente rápi(lei de partículas 1
gran(le influência nãcJ se'> na circulação (_la massa de água, liberaclas da base de> gele> por fusão, <>u Llc c)rigem 1
como também na estabilidade de geleiras em ccJntatci supraglacial. i\reias e sedimentc)s mais fineis entram ncJs '
com ci mar. A presença de gelo clcJ mar em muitc>s
fiordes provoca a formaçãcJ de áhrua salina densa e de
ficir(lcs trazidcis pcir ceirrentes Llc água L!e degelei !
subglaciais. Mu(lanças laterais na pcisição das ccirrcntes
estratificação nci corpo de át-:irua. A entrada de água de 1
provcicam hetercJgcneida(le dc>s depéisitc>s. f<luxc>

Geleira

3elo do mor

Fig.11.27 Esquema de estuário glacial mostrando processos de entrada e transporte de sedimentos; a geleira está em
contato com a água. Sedimentos introduzidos pela água de degelo distribuem-se através de solo, inter e sobrefluxos. Outros
mecanismos incluem: vento, rios, avalanches e icebergs. Fonte: Drewry, 1987.
gravitacional de sedimentos (diamicto e areia), scibre antericirmente tratadcis. Do mesmo modei, são tam-
enccistas submarinas geradas pela acL1mulaçãci bém semelhantes às deis lagos, as feirmas de terreno
sedimentar, redistribuem-nos junto às geleiras l)U na geradas no ambiente glácic1-estuarino. Além de deltas
parte mais interna dcJs estuários. ()utros prcicessos e leques de sedimentos prciglaciais, ocorrem ainda acu-
sedimentares incluem a ação de icebe,;gs na liberação de mulações de sedimentos "despejadc1s" das frentes de
clasteis e parúculas mais finas, que se intercalam com geleiras em contato ceim o mar e vários tipos de cris-
os clepósitos de fluxo gravitacional. tas ou l1ancos proglaciais de till ou detritos (morenas
Nos casos em que a frente cla geleira recuou para e) de empurrãcJ ). Estas feições são formadas por em-
interior, desligando-se do corpci de água, deltas ou le- purrão ele geleiras ou pcir concentração de sedimentos
ques de sedimentos, formadcis pelo acúmulo marginal gerados pela fusãc1 do gelo.
de detritos, avançam em direçãc1 à cabeceira dos t1cJrdes, Depé1sitcJs glaciais neopaleozc'Jicos do Brasil ocor-
alteranele1 o seu padrão depeisicional. Nestas ccindições, rem cm vales pré-glaciais identificados como
planícies de lavagem ncJrmalmente intercalam-se entre as palec)estuárie1s.
geleiras e eis deltas. A maior parte dos sedimenteis grc)s-
sos é, entãcJ, aí retida, predominando, ncis fic1reles, c1s
11.3.2 Ambiente glácio-marinho
sedimentcJs fmos. Processos comuns de redistribuição de
sedimentos, nesses tipos de estuárici, incluem fluxc1s Quanelo o vcilume ele gelei de uma região e sua taxa
gravitacicJnais de sedimentos, particularmente, correntes de descarga no mar são altos, occ1rre uma depressão
de turbidez. Clastcis e outros detritcis caídos ele icebet;l!,S glácic1-iscistática causada pelo peso da massa de gelo so-
são, evidentemente, raros ou inexistentes. Outras ccJntri- bre a crcista da Terra, e submergência do substrato
buições sedimentares sãei dadas pela acumulação ele marginal sobre o qual o gele) se assenta. Nessas condi-
eirganismos e de material biogênico nci fundo deis fieirdes. ções, pcirções dos mantos ele gelei pc1dem avançar mar
As duas situações acima descritas pcielem ccirresponder adentro aterrados e, a partir de certa altura, a chamada
a diferentes fases da evcJlução de um fiorele. De uma linha ciu zona de aterramento (Fig. 11.28), tornarem-se
maneira aprc1ximada, as associações de fácies resultantes flutuantes, projetandci-se seib a forma de plataformas
incluem três tipcJs: fácies de ccintato de gelo, fácies ele ou lín1:,ruas de gelo (Figs. 11.1, 11.2), em resposta ao adel-
delta e praia e fácies de fundei ele fiorde. As fácies po- gaçamentei da geleira causaelo pelc1 rastejamento do gelo.
dem, entretantci, suceder-se de me1do complexei, durante 1\ maior parte deis sedimenteis transpeirtados na base da
a história deposicic1nal do estuáriei. geleira é liberaela na zona ele aterramento. Deste mcidci, é
(~c1mo se percebe, o ccintexto deposicicinal deis es- limitado o apc1rte ele detritos até a platafcirma continen-
tuários glaciais é similar ao de lagos proglaciais, tal, liberac-lcis pela fusão basal dei gelc1 ou, mais distalmcnte,
l .000 km 150 km

..
Elevação do gelo

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r -- :,1 ·· V -

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b
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• iPontode
••. oncoragem ' '· ·- . .
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Zona deotern::imento
_. da gelo
• • • Diamidito . Till de ■ Leque
glácio-marinho alojamento .·

Fíg.11.28 Processos e depósitos associados à plataforma de gelo marinho. A existência de um ponto de ancoragem permite o
crescimento do plataforma. o) zona de acumulação de gelo e neve; b) zona de adição de gelo por regelomento basal; c)ti/1 e
depósitos de leque formados durante avanço prévio de geleira aterrado; d) deposição por chuva de detritos o partir deicebergs; e)
ressedimentação de diomicto; f) retrobolhomento por correntes marinhos; setas horizontais indicam velocidade relativa de fluxo de
gelo. Fonte: Eyles e Menzies, 1985.
e sr 1 s
--
CAPÍTULO 11 • AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 241 ·~~,~

a partir de icehe,;~s. Sà<l prcd<)mÍna11temente clcr)c'isít<i::- fi- subglaciais de ágiia ele elege lei carregancl( l scdimentt JS são
n<)s, lam<iscJs. J)latafcirtnas e lín1--,ruas de gel<J sà<), cntreta11t<J, iritrcicluziclas ncJ rnar, sci\1 a fc1rma ele tlux<>S ele superfí-
instáveis e, cm ép<lcas ele !)alanç<> (1c 1nassa negati,1<i, cie c1u ele fu11clr> (plu111as de seditncntcis). ()s secüment<>s
pc>de1n c1csinte1--,>ra.r-se e recuar até a n1argen1 C<lntine11tal suspensc1s nas pl11n1as assentam-se <>u <iecantam-se, r)rc>·
e1u air1cla a terra emersa <>nele fc>rmam geleiras ele maré c>u cess<l <jlle peide ser acelerac!(J JJcla fl(Jculaçàc> ele partículas
geleiras aterradas, respectiva111c11tc. i\s extensas plataf(Jr• ;irgilr>sas e1n ccintat<> C(Jm a água ele> mar. Desagregaçà<>
mas de Rc>ss e \X'ecldcl-f)ilchncr na ,\11tárrica, tê111 cacla aceleraela da margcn1 ele geleiras n1arinhas é fcn{>tnenc>
utna mais ele 5()(),()()() km' ele área, pcirtantci, supcricJr à ccHnurn. [~sse pr<>cess<J le\·a à pr<1duçàc> intensa ele icebe1:~s.
ela 1;rança. T~inalmente, a fusàcJ ele icehe,;~s e/ CJLl (J seu em!Jclrcan1cnt(l
leva à lil'ieraçâ(i cie eietrít<)S C<>ntídcls nci gel<l, a clistâ11cias
Yáric>s fatcJres que intlL1encian1 a clepcJsíçà<i ele
variá,,eis <las geleiras. Par!ÍcL1las ela chuva eie eietritcJs, l)f(J-
seclin1entcis en1 cstuáricJs afctad<is pela açi'1<J ele ge-
venicnte de icehe,;e,s, inclL1em clast<)S isc>laclcJS e <jtla11ticlacles
leiras (circLilaçàc> marinha, fcirça de c:(JrÍ<Jlis, cntraela
variá,,eis ele fragt11cnrcis mais fir1cJs. l '.111 alp;tJr1s caseis, es-
de seditnent<is, fl(JculaçàcJ etc.) s,trJ tan1!1ém rele-
tes fclrman1 clep('isítí>S sc1ncl11ar1tcs a til!, dencJminaclcJs
,,antcs 11<> casei ele an1l)ientes 'gláci(J-marintl<lS
'
err<>neamenre ti/Lr ele elcpc>siçãii sL1l)ae1uática (n 1r;t111ain ti/Lr)
abert<lS. ( )titr<is, c<JITl<J p<lr exempl(1 a cstratificaçàcJ
(T~igs. 11.17, 18). 11,,he,;e,s p<>dem aincla reITl(>i)ílizar secli-
ela massa de água, sà(> <le p<>uca i1np<>rtâr1cia. ()
mcntcJs aci se arrastarem scJbre fu11cl<is 1narinhc1s rase )S.
paclrà(> <le circulaçàcl ela n1assa ele ágtia eli fere, f)( 1is,
sul)stancialincntc e1a gue caracteriza (JS amhicnrcs Depr'isít<>s glácíri marinl1c>s estâcl tan1l)ém sujeitcJs
gláci(i-marint,cis ccinfinael<is. a retral)all1an1entci pc>r Cllrrcntcs marinhas tle fLtntl<> e
à resseclímcntaçàcJ pcir fluxc> gravitacic>r1al ele seclin1en-
1\lém elos já rcfericlris, diverS(JS (lUtr,Js fatores in-
t<is (cleslizamentc>, tluxcis de cletritcis e/ ciu lama),
terferem na sedimentaçà(i gláci(J 111arinha, tais C<>m<>,
acun1ulacl<>s sc>lJrc clcclives. J~sta n1(Jvimentaçàci pcicle
(l reg;ime térmicci !,asai ela geleira, as características ela
ainda gerar C<Jrrentes c]c turl,iclez.
massa ele ágL1a, a e11ergia elas <indas, a lJatimetría e ci
relev<J clci fund<i 1narinl1c>. l)c particular í111prirtância N<J c<Jntcxtri elas variacões
, resultantes ela intera-
sàc> <J regime térrnicci !)asal e a clinâ111ica elci tluxci ele cà<J

clcls fatcJres acima mencÍ<>nacl<is, C<JStt1ma-se
gele>, esta já <liscuticla n<l inícÍ<> clestc t(lpicc>. Resta-n\)S distingt1ir clc>is sul1aml)ientes glácic>-marinl1c>s clis-
ci prín1eirci. Diferenças ncJ regime térn1ic<> l1asal cle- tintc)s, d<i p<>ntc> ele \'Ísta ela depclsiçà<J seclin1e11rar.
terminan1 <> vc1lt1tne ele áh'l.la ele elcgehi 1,rc>cluziclci fJelas () glácio-marit1ho pr<Jxirnal (incluincl(J a 1/.(>na ele
geleiras, <J c1ue, p<>r SL1a vez, inflL1encia a eJLtar1ti<lacle ele C(Jntat<> c<in1 a n1argen1 ela geleira) e ci glácic)-mari-
secliment(JS gue atinge (l an1l)ientc 111ari11h(J. l •:n1 gelei nl,<l cJist,il. f·'.111l,(Jra a clistància a !Jarrir ela frente
ras ele lJasc q11entc, a água ele <lep;cl<J sulJJ!;lacial rcn1(lVe
(is pr<>cl u t<>S ela er< >sàt i glacial
tra11sp<>rtar1clci-<JS 11ara <> 111ar.
Ncl cascJ elas geleiras ele !,ase J
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fria, a água ele elegei<> é restrita • ~-"



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<iu 1nex1stentc, e mult(l pclLtC<J 1 •

se<li111ent<> ati11ge c> ambiente •
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n1arinhc>.
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l)e tJ1<><i<) geral, a :,,eclimcn-
ta çãcJ nci a1nl>iente . ..
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glácicJ-n1arinl1c) scJfre <JS efeit<is
ela açàci c<Jm]Jinada de várícis d
prcJcesscis cle11<isicicJnais, mtlÍt<>S
cltJS quais sitnilares acis e1ue <>c<>r·
retn nc>s lag<is glaciais. l)etrit<J'.; Fig.11.29 Depósitos, processos e feições sedime•itares do arT,b•ente glácio-n1orinho proxí-nol.
a) sedín1entos marinhos deformados pelo avanço 01c'erior do geleira; b) boncc)S de moreno de
engl::iciais e supraglaciais, p(ir
empurróo; e) sedimento grosso de leque de lavagem subaquoso; d) día:níctítos grossos
exemJ)l(>, sà<J lil,eracl< >S oti "cles-
estr-atilicodos; e) lorno/d,omictiíos de zocia de :ceberg; f) fí!I de olojornento; g) arenitos de
pejacl<>s" rJelci elegei(>, juntei à leque e conglornerodos de canal; lê) canal de água de degelo subglacial; i) iceberg liberando
margem elas geleiras. C:<>rrentcs detritos; j) detritos suproglociais.
das geleiras seja utilizada para definir o limite entre ,,ale)s são comumentc chamadc)s de estados de Terra
as duas regiões, (1-100 km e mais de 100 km, res- refrigerador (ice house) e Terra estufa (greenhouse). Ne)s
pectivamente), elas são melhe)r caracterizadas pele)s intcr,-alos de refrigeraçãe) da Terra teria havido a ex-
processos sedimentares que ocorrem t1p1camente pansão das geleiras nas altas latitudes do planeta,
em cada uma delas. correspondendo às chamadas idades glaciais. Restri-
Depósitos sedimentares típice)s do ambiente glácio- çãc) ou desaparecimento das geleiras caracterizariam
marinhe) proximal (Fig. 11.29), também dene)minade)s as fases estufa, quando ocorreria um aquecimente) glo-
proglaciais subaquáticos, incluem leques subaquáticos bal. 1\16,uns autores criticam o use) dc)s termos acima,
de seixos e areias, diamictos, lama e til! (stricto sensu), for- tendo em ,-ista eles enfatizarem mudanças climáticas
mados próximo e se)!J a influência de margem glacial ligadas ae) acúmulo de gases do efeito estufa na at-
aterrada. Leques subaquáticos acumulam-se junte) à aber- mosfera (gás carbc)nicc), metano etc.).
tura de condutos subglaciais ou englaciais. Areias de leque Além elessas e)scilaçeJes maiores, outras flutuações de
exibem estratificações cruzadas, enquanto depósitos de mencJr peJrte foram reconhecidas na história climática da
canais distributários de leques (cascalho e areia) meJstram Terra. Serãc) elas tratadas mais adiante, juntamente ccJm a
estratificação planc)-paralela ou gradacie)nal. ]'ills e ou- cc)nsidcração das possíveis causas das idades glaciais.
tros depc')sitos dessa região pe)dem fe)rmar bancos de
Um aspecto de crucial importância na discussãe) da
morenas (moraine banks) ou me)renas de empurrão
história glacial ela Terra refere-se à questão do reconheci-
construídos pelo avanço ou oscilaçãe) da margem das
mento de evidências ~;eológicas das glaciações e de sua
geleiras em recessão. Esses depósitos exibem deforma-
prcservaçãcJ no registro geológico.
ções glácio-tectônicas.
Morfc)logias típicas de abrasão glacial (vales cm "U",
Prc)cessos sedimentares não-glaciais de)minam C)
rc)chas moutonnées, pavimentos estriados etc.) são conside-
subambiente glácio-marinho clistal. Depósitos caracte-
rados indícic)s diretos da presença pretérita de geleiras.
rísticos englobam os formade)S a partir ele sedimcnte)S
Depc')sitos do tipc) til! e tilito, ceJntcndo seixos de com-
em suspensão e de chuva de detritc)s liberados ele icebe,;gs
p<Jsição variada, muitas vezes facetade)s e estriados,
(Fig.11.28). Dependendo da disponibilidade e dispersãe)
freqüentemente associaelos às feições abrasivas, constitu-
desses detritos, as unidades sedimentares glácio-marinhas
em e)utras indicaçc)es. Sua separação de c)utros diamictos/
podem ser muito extensas, e apresentar geometria tabu-
diamictitc)s de origem diversa (e.g., tectônicos, depcísitos
lar e estratigrafia mais organizada do que no case) dcJs
de movimento gravitacional de massa, tais cc)m<J
depósitc)s formados em ficJrdes ou no ambiente glácio-
deslizamentos, fluxos ele detritos etc.) é freqüentemente
marinho proximal.
contre)vcrtida. A presença de clastos isc)lados, dispersos
Remobilização de sedimentos por fluxo gravitacional em sedimentc)s finc)S, laminados, deformando os estra-
de massa e o seu retrabalhamento pe)r correntes de fun- tos entre os quais se intercalam, é usada ccJmo indicação
do são ce)muns ncJ subambiente distal. Mais afastadc) da presença pretérita de iceber/!,s em um corpo de água.
dos leques, depósiteJs resultantes de decantação de sedi- (:)utros tipc)s de gelo flutuante (gele) sazonal), não liga-
mentos e de chuva de detritos de iceber.f!,s são ceJmuns. deJs à presença de geleiras, são também capazes de
Também aqui, icebergs podem revolver o fundo ce)m suas produzir claste)s caídos. Clastos podem ser liberados de
quilhas, alterando e)s sedimentos depositados. raízes de árvores e algas flutuantes às quais estãc) presos.
Depósitos atribuídcJs tanto ao subambiente glácio- Além dessas e outras evidências mais concretas, as
prcJximal, quanto ac) glácio-distal fcJram reconhecidc)S em rochas da Terra peJdem conter indícios indiretos da
rochas glaciais neopalcozóicas do Brasil. ocorrência de antigas glaciaçeJes. Mudanças nc) nível
do mar associaelas a avanços e recuos de geleiras con-
11.4 Glaciação ao Longo do Tempo tinentais, variações em razões isotópicas C80 / 16 0; 12 C/
11
C) e e)utros tipc)s de alterações geoquímicas,
Geológico registradas em rochas e fósseis, pc)dem fc)rnecer indí-
() reb>istrcJ geológico da história da Terra prcser- cie)s de períodc)s de aquecimento e resfriamcntc) da
vadcJ nas rochas e fcísseis indica que C) nosse) planeta Terra. Fases marinhas transgressivas e regressivas
passou por lcingos períodos alternados de resfriamento distinguidas nas sucessões sedímentares, sob a forma
e aquecimcntcJ global. Na literatura atual, esses inter- de repetições cíclicas de sucessões de estratos, cclmo
c)corre ne)S ciclotemas do Pensilvanianc) (Carbe)nífcre) nc) Arqueano. C)s dadc)s disponíveis não permitem,
superior) da América do Nc)rte, podem refletir o efeito entretanto, recc)nhecer um padrão de repetição cíclica
das glaciações neopalee)Z()icas cc)evas de) c;ondwana. de fases de Terra refrigerade)r e estufa (Fig. 11.30).
Variações contrc)laelas sazc)nalmente, ligaelas às
Embe)ra seja um país prede)minantemente tropical,
glaciações estão refletidas nas argilas várvicas fe)rma-
existem ineücios ce)nvinccntes da ocorrência pretérita ele
das ne)s lagos pleistc)cênice)s e no seu ce)rresponc-lente
cinccJ dessas idacles glaciais no Brasil, nc) Nee)prc)terozóice)
litificado, e) varvito, sob a fe)rma de repetiçãc) de pa-
(cluas), Siluriano inferior-C)rdc)viciano superior,
res de litc)logias fc)rmadas no verão e inverne) de)
Devc)niano superie)r, e Permo-Carboníferc). Seus depc)-
mesmo ano. Sedimentos de aspecte) rítmice), os cha-
sitos estão extensivamente distribuídos nas bacias
mados ritmite)s, podem ter origem diferente, e
sedimentares brasileiras. Muitos exemplos de depósitos
representar depósite)s e-le correntes de turbidez distais
e feiçe:ies típice)s da açãcJ glacial do gelo estão excelente-
ou de decantaçãe) de sedimentos fine)s.
mente preservade)s nessas rochas.
Além de suas possíveis relações ele causa e efeito ::>:_:::r/-:- -- ,:, ,_
',',;_,,
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cc)m fases de crescimentc) e desagregação de geleiras, , ,
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as características tectônicas das rcgie:ies glaciadas pare-


. ·. •!Mi::it .
.. 65·.·.•~:...
.
cem ser de fundamental impe)rtância para a
preservação dos depósitos glaciais ne) registre) geole)- ~sc,:. ...,i1i1 --1:
gico. De modo geral, depósitc)s glaciais terrestres, come) , ,,:_:_, ',' ,' PAL
. . .
os de) Pleistocene) da América de) Ne)rte e da Europa, '"
,
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. . . :545..i...._
têm pouca pre)babilidade de serem conservados pc)r
terem ficado expe)stos à erc)são pe)stcrior. Por causa
do caráter, pc)r assim dizer, "aute)fágice)", da glaciação,
que a cada avançe) da geleira elestreSi e)s seus próprie)s
depé)sitc)s prévios, retrabalhando-os, somente e) regis-
1
tro da última fase glacial tem mais chance de ser melhor
representado geologicamente. Na 1\mérica de) Norte, 1
por exemplo, são os sedimentos da última glaciação, , ,' ,
,'
,'
,
.
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..', '
,

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" , , "''"
ocorrida no Wisconsiniano (parte final do Pleistocene)),
os que estãe) melhor expostc)s hoje. >)il~:. .·-
.
Sítios ce)ntinentais aptos a preservar e) registro gla-
cial antigo são rarc)s. De mc)elo geral, a probabilidade
de sc)brevivência dos sedimcntc)S é maie)r cm lc)cais
sujeitos à subsidência, tais como bacias intracratônicas
tecte)nicamente ativas, fossas tectônicas, bacias de pré
e pc)s-arco etc. A constatação da predominância ele
depósitc)S glácio-marinhos no registro gec)lógicc) de
glaciações pré-pleitocênicas é perfeitamente consistente
. .
com o conce1tc) acima.

No intervale) gec)lóg-ico que vai de) Neoprotere>Zc)ico


(parte final do Pré-Cambriano) até ci Cenozóico, in-
clusive, abrangendo um intervale) de cerca de um
bilhão de anos, evidências de seis idades glaciais fo-
ram reconhecidas no registro geológicc), senelo duas
no Neclproterc)Zc)ico e quatre) no Fanerc)zóice) Fig.11.30 Distribuição cronológica das idades glaciais da Ter-
(C)rdoviciano superie)r-Siluriano inferior; Deve)niano ra; notar a grande duração da idade glacial permo-carbonífera

superior; Permo-Carbonífero e Terciárie) superior- (l 00 Ma); ARQ: Arqueano; PAL PROT: Paleoproterozóico; MES
PROT: Mesoproterozóico; NEO PROT: Neoproterozóico; PAL:
Pleistoceno). Fases de refrigeração terrestre menos
Paleozóico; MES: Mesozóico; Cz: Cenozóico; E: Cambriano;
adequadamente ce)nhecidas podem ter ocorride) em
O: Ordoviciano; S: Siluriano; D: Devoniano; C: Carbonífero;
épocas mais remotas, no Paleoprotcrozóico e mesmo P: Permiano.
11.5 Causas das Glaciações Excentricidade da órbita
( Período: 91 Ka )
Um dos aspect(>S ainda prc>l,lemáticos lia hist<'iria cli-
mática da Terra cnvc>lve () csclareciment(J da causa (JU
causas ela alternáncia entre períc>c.lc>s ele resfrian1cntcJ e
aqL1ecimentc> gl(>l1al.
L.

LJm grande ni'.1mcro de fat()res inf1uenciad()rcs elas


mudanças climáticas sãcJ eliscutic.los na literatura. l)c
mcJd(J geral, eles pc>dem ser agrupaclc>s em quatrc>
categc>rias principais, envolvcnelc>: a) variações na rac.li-
açã(J scJlar; b) variações na cc>mp()siçãcJ da atm(Jsfcra
terrestre; c) altcraç(>Cs na pc>siçãcJ palec>gec>grática na
posiçãc> de cJceancJs e cc>ntinentcs e nas característica
e.lestes; d) caL1sas extra-terrenas.

Variaçc;es na raeliaçãcJ sc>lar causaclas por mullanças


astronêimicas ou (Jrl,itais lia '!erra têm importáncia l1ási-
ca para ci entendimento das mudanças climáticas. Al6runs Precessão dos equinócios Obliquidade do eixo
autcires propuseram que, numa escala de tempci mais ( Período: 21 Ka ; ( Período: 40 Ka )
lcinga, alteraçc>es na quantidaclc l:-: radiação scJlar pe)dem
<>correr em razãcJ da rcJtaçãci do sistema sc>lar acJ reelc>r
de> eixo ele ncJssa galáxia. Durante esse eventc>, c.1ue e.lura
cerca lle 300 Ma, a 'Terra passaria através de duas 11uvcns
de ce>ncentraçãc) ele hidtc>gênic>, c1 que prc>vc>caria, a caela
14() Ma, rcduçãcJ 11a rccepçãcJ e.la rac.liação solar pela Ter-
ra. 1\ resultante peric>c.licidadc elas i<lac.lcs glaciais sugerida
pela hipc'>tcse (a cacla 150 i\1a), nãc) encontra, entretant<J,
apciic) nos c.lac.!c)s atuais ele> registre> gec1lc'Jgic(J. Fig. l l .31 Diagrama dos ritmos orbitais de Milankovitch. Fon-
te: Eyles, 1993.
Ritrnc>s c1rbitais ele peri(>c.liciclaclc mencir, também
ce>m pc1ssívcis efeitos sc>bre n1udanças climáticas da
1erra, fc>ram ilientificac.las primeirarnentc pekJ astr<>-
ncJmc) iugoslavc> l\1ilutin ?-.1ilank(Jvitch, que cJs atril1uiu
ac>s seguintes pr(Jcessc>s (f,'ig. 11.31 ): çà(J c.leJ períc>c.l(l de elegelcJ d(J verãcJ, de mcic.lc> que a
neve clep(isitac.la O(J invern(J nã(J c.lerreteria complctan1ente
a) inclinaçãcJ axial: refere-se à variaçãcJ d(J eixo ele
em certas (Jcasiõcs. C:cim (l cresciment(J e.las áreas C(Jber-
rcJtaçãcJ da 1"erra cm relaçãcJ ac> plancJ lia elíptica (pla-
tas pe>r neve, mais luz S<Jlar seria refletilia (e) chamado
ne> e.la ('>rbita terrestre em t(Jtn(J d(J Sc>l). () á11guhi,
albedo, cJu pciclcr elifus(Jr c1a luz, aLtmentaria), permitin-
hoje de 23,5º, c>scila entre 24,5º e 21,5º a calla 41.0()0
clo <> aparecitnent(J e.las graneles massas de gelei.
anc>s (I< anc>s);
l)al1<JS scibre variaçãci na razã(J entre 1H() / 11,(), a par-
b) excentricillade e.la c'>rbita terrestre: a cada 91 l< an< >S
tir da análise ele testas (carapaças) de fcJran1inífer(JS
em média, a c'Jrl1ita da Terra passa ele elíptica a circular;
prcservac.lcis cm sec.limcntcis marinheis ccnc)zóicc)S,
c) prccessãcJ dc>s equinc'>ci(JS: causada pela (Jscila- apciiam a hipc'>tese de ccJntrcile astrcJn('>miccJ solJre a re-
çãc> dc1 eixc> da Terra, e1n razà(J da atração gravitacic>nal petição peric'idica de fases glaciais e interglaciais, l1t1rante
da 1-ua e ele> S<>l, C(Jt1figt1rane!(J um cone, em 111éclia a c>s últimcis 3 mi!h(>es de aneis. 1~m épc>cas de crescimcn-
cada 21 [( anc>s. t<J e.leis mantcis ele gel<>, a razãci 18() / 1<'() aumentaria pc>r
causa ela retençãeJ de 11'() n<J gel(J ccJntinental.
1\ ação cc>njunta desses ritm(JS c>rl>itais pr<>v<Jcaria
variaçc>cs cíclicas na intensic.lac.lc e clistrilJuiçã<> saz<>nal e.la 1\ extensão d(JS chamaclos cichis ele l\1ilankeJvitch (cc>m
racliaçãc1 sc>lar reccl1icla pela Terra, influcnciane!(J a c.lL1ra- duraçã(J de cerca c.1c 100.00() anc)s), durante (J restei e.lo
CAPÍTULO 11 • AÇÃO GEOLÓGICA DO GELO 245 •!.,~~

Faner<)Zc)iC<) é, entretantc\ matéria


controvertida. Além disso, pensa- R = Trióssico
P = Permiono
se que os ciclos sejam, por si s<J, C = Carbonífero
• D = Devoniono
insuficientes para prc)vocar <) cres- \
S = Siluriano
AF 3
cimento e desaparecimento d<)S 2 O = Ordoviciano
€ = Cambriano
mantos de gelo. ()utros fatc)res
podem então amplificá-los, dentre o . AF·••
.. :

os quais, as mudanças na concen-


tração de gases do efeito estufa na
atmosfera. 7
AS
C) aumento de c=c), na atmos-
-
fera durante as erupções vulcânicas
é considerada fator fundamental no \"•

contr<)le de sua concentração na at-


mosfera. Além do vulcanism<), fases
de expansão do fundo oceânico,
. /
orogênese e transgressão marinha / /

resultariam em produção de CC)2•


f~m contrapartida, fases de levan-
tamento, regressã<) marinha e erc)são
corresponderiam a épocas de mai- Fig.11.32 Migração polar do Gondwana durante o Paleozóico; a passagem do
supercontinente através dos pólos poderia explicar a distribuição dos depósitos de diferen-
or retirada de CC) 2 da atmosfera,
tes idades preservados, em numerosas bacias sedimentares identificados abaixo: l -3:
através da exposição mais extensa
Norte da África; 4: Gana; 5: Gabão; 6: Parnaíba; 7: Amazonas; 8: Solimões; 9: Cancaniri;
,
das plataformas continentais ao l O: Paraná; l l: Karoo; 12: Cabo; 13: Andes; 14: Montanhas Transantárticas; 15: lndia
intemperismo químico das rochas, (várias); 16: Austrália (várias). AF: África; AR: Arábia; AS: América do Sul; M: Madagascar;
sob a ação do C0 2 dissolvid<) na 1: Índia; AN: Antártica; AU: Austrália; NZ: Nova Zelândia. Fonte: Copulo e Crowell, 1985.
água, acidificand<)-a.

A c<)rrelaçãc) entre a concentração de massas conti- s<)lar, c<)lalJorando para a diminuição da temperatura glo-
nentais no pólo e mudanças eustáticas de longa duração, bal. Mudanças na circulaçã<) oceânica e atmosférica
e a ocorrência de fases de refrigeração glc)bal são uma produzidas p<)r diferentes c<Jnfigurações paleogeográficas
indicação da relevância da distribuiçã<) dc)s continentes e e altitucles c!c)S cc)ntinentes da Terra seriam, pois, um fa-
cJceanc)S na variação climática da Terra. O padrã<) de tor 1mp<Jrtante.
distribuição e cronologia das glaciações que afetaram o Finalmente, causas extra-terrenas têm sid<) também
continente de (;cJndwana, durante a Era PaleozcJica invocadas para explicar a alternância de fases de
(Fig.11.32), podem ter seguido o modelo de migraçãc) resfriamento e aquecimento da Terra. () lançamento de
dos centros glaciais, resultante da passagem d<) grande quantidade de poeira na atmosfera, resultante do
supercontinente pel<J pc)lc) sul. Uma situação paradcJxal, impacte) de bólido_ ou corpo celeste sc)bre a superfície
no que diz respeito ao conceit<) acima, envc)lve a ocor- c-!c) planeta, tem sido aventad<J cc)mc) causa de
rência, em muitas partes do mundc), c-!e depósitos glaciais resfriamento, pelo bloqueio da radiação solar. F:feitcJ
na região equatorial, durante o Neopr<Jter<)ZC)ico. Segun- cc)ntráric) cJcorreria se <) impacto se desse sobre o ocea-
do a recente hipótese da Terra bola de neve (snowball no. Neste caso, a vaporização da água levaria à formação
Earth), a diminuição global, da temperatura em resposta, de nuvens, resultando em fase de aquecimento.
por exemplo, à retirada de C0 2 da atmosfera, pele)
intemperismo de rochas (chamado de efeito anti-estufa), Da leitura dessa síntese, percebe-se ser difícil apontar
poderia ter levado à expansão dos mantos de gelo até às claramente os fatores de primeira c)rdem controladores
baixas latitudes da Terra. das variações de temperatura occJrridas na Terra, sen-
dc) pr<)vável que as idades glaciais do planeta tenham
Grandes massas continentais situadas em altas latitu- resultadc) de combinação de fatores incluindo mudan-
des podem permitir a acumulação de neve, o que, por ças paleogeográficas e variação na composiçã<) da
sua vez, conforme vimos, aumenta a refletividade da luz atmosfera.
246 D ECI FRA N D O A T ER RA

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uem nunca sentiu C) impacto de minúscu- _-\tra\·és desses fenê)menos atmc)sféricos, partí-
las partículas de areia carregadas pelo vento culas de areia e poeira podem ser transpc)rtadas por
forte ao caminhar cm uma praia? Esse é e) mais milhares de quilê)metros. Com a diminuição da ener-
simples exemplo de deslocamento ele partículas em gia de mo\·imentc) das massas c-le ar, as partículas
funçãc) da ação do vento e cc)nhecida como ação carregadas depositam-se em diversos ambientes
eólica. Esta atividade está assc)ciada à dinâmica ex- terrestres, desde continentais até c)ceânicos, passan-
terna terrestre e modela a superfície da Terra, do a participar de c)utros processc>s da dinâmica
particularmente, nas regiões dc)s desertos. externa. :\as áreas cc)ntinentais, estas partículas de-
pc)sitam-se sobre todas as superfícies desde as
() movimento das massas de ar representa mais
mc>ntanhas até as planícies. A atividade eólica re-
um dos fenômenos dinâmicc)s importantes obser-
vadc)s no planeta e pode ter intensidade muitc) presenta assim um conjunto de fenômenos de
variável. Freqüentemente, são nc)ticiados na impren- erosãci, transporte e sedimentação promovidos pelo
sa deslocamentos de ar catastróficos, associadc)s a \'ento. C)s materiais movimentados e depositados
furacões e tc)rnados com seus efeitc>s dc\ astac!c)res 0
nesse prcJcesso sãci dcnominadc)s sedimentos
eólicos.
sc>bre a superfície da Terra.

Célula polar boreal

Célula boreal das


latitudes médias
._ ::)'./i·\/f~k,····
l'l):'::(::}::,;-:r.::..:::::•: ,',/' 60°

J
Célula equatorial
boreal de Hadley

Célula equatorial
a ustra I de H ad ley

Ventos
de leste

60°
Célula borea I das
latitudes médias
Célula polar austral

Fig. 12.1 Modelo simplificado da circulação atmosférica resultante das diferenças de aquecimento entre as
regiões de latitudes baixas e altas e da rotação terrestre.

·"""/11111 Campo de dunas, ilha Caju, Delta do Parnaíba, MA. Foto: R. Linsher.
30°

60°

Fig. 12.2 Distribuição das principais áreas desérticas (em amarelo) na Terra.

() deslocamento das massas de ar, formandci eis médias e os ventcJs de leste elas regiões pcllares.
ventos, é frutci de diferenças de temperatura e, por- Esse esquema relativamente simples ccimplica-se na
tantei, de densidade, nessas massas ele ar. Essas prática devido às interações desses venteJs ccJm eJs
diferenças são geradas pela maior ou menor incidên- oceanos, elevações terrestres e turbulências atmos-
cia de energia solar sobre a superfície do planeta em féricas temporárias.
função da latitude e da estação dei ano e pela diferen-
As regiões do planeta mais sujeitas à atividade ec'ílica
ça do albedo. Este termo diz respeito à proporção
sãcJ eis denominados desertos absolutos - regiões na
entre a energia solar refletida e a energia solar inciden-
Terra anele inexiste água em estaelo líquido. l:<:xemplos
te, revelando, assim, a capacic1 ade de alJsorçãci ela
clesse tipo de deserto situam-se no Continente Antár-
energia solar deis materiais terrestres (flcircstas, ricis,
ticci e na Groenlândia, onde a água se enccJntra no
lagcis, deserteis, ciccanos e geleiras ccJntinentais).
estaelo sólidcJ scib a forma de espessas massas de gelo
O aquecimento mais intenso das zonas equatoriais e neve. Assim, nesses desertos quase nãci existem grãos
cm relação às zcinas polares cirigina lenta circulação de areia e de poeira. Porém, os clesertos mais conheci-
geral das massas de ar. (~ada hemisfério apresenta três dos ccJmpreendem imensas áreas de precipitação anual
células de circulação (Fig. 12.1). O ar ascendente nci muito baixa (ou mesmo inexistente), com clevadcJ grau
}~quador e nas latitudes 60º N e S fcJrma zcJnas de de evaporação e intensa atuação de ventos. As áreas
baixa pressão, enquanto o ar descendente nas latitudes desérticas mais expressivas no planeta sãcJ ci Saara na
,
de cerca de 30º N e S e nos pólcJs gera as zonas ele alta Africa, Atacama no Chile, Gobi na Mongólia e China,
pressão. Deste modo, as massas de ar fluem das zo- Arábia, sudoeste dos Estados Unideis e a parte central
nas de alta pressão (de tendência descendente) para as da Austrália (Figura 12.2). Essas regiões desérticas muito
de baixa pressão (de tendência ascendente). DevidcJ à quentes costumam localizar-se nas baixas latitudes (en-
força de CoricJlis resultante da rcitação terrestre, esses tre 30º, de latitude norte e 30º, de latituele sul). Nesses
mcivimentos produzem rotações voltadas em geral locais, de modo geral, os processcJs de erosão, trans-
para a direita (de eieste para leste) no hemisfériei Ncir- porte e sedimentaçãc> de materiais sãcJ ccimandados pela
te, e para a esquerda (de leste para oeste) nci hemisfério ação dcJs ventos, a nãcJ ser nas áreas ou nos períodos,
Sul. A essas células correspondem três sistemas de ven- pouccJ freqüentes, em que as partículas encc>ntram-se
tos dominantes para cada hemisfério: os alíscos das umedecidas e, pcJrtanto, mais cciesas.
latitudes intertropicais, os ventc>s de oeste das latitudes
Nessas áreas clesérticas c)bservam-se regiões cci- ~este capítulo sãci elescritcis os mecanismeJs de trans-
bcrtas de areia cuja magnitude permite defini-las ceJmei porte realizados pela ativielade ec'ilica e suas feições erosivas
mares de areia. Bela parte dessas regiões enccintra-sc e deposicieJnais. SãeJ descritcis também eis principais re-
submetida à açãcJ de)s ventos, que desloca e redepeisita ..._ristrcJs sedimentares produzielos pelr essa atividade e sua
grandes quanticlades ele areia ao salJe)r das elireçc'íes importáncia no contextei histc'irico terrestre.
preferenciais deis venteJs mais fcJrtes. PeJr exemplei, em
19()1 fortes ventcJs do Saara transpclrtaram mais e-le 4
milhões de tcineladas ele areia e pcJeira, elepeisitanc-lei
12.1 Os Mecanismos de Transporte e
este material sobre 1,5 milhàeJ de quiltimctre>s quadra- Sedimentação
de)s da f~uropa. ()utrei exemplo é observadcJ nos navicis
cujeJ trajetcJ passa prc'iximo à região de Cabe) Verele neJ
,
12.1.1 O movimento das massas de ar
cJcste ela J\frica, recebendo cm seus conveses freqüen-
tes "chuvas" de areia e peieira pre>venientes do Saara, a () movimento das massas de ar que funciona ceimo
mais c-le 1.500 km de distância. mecanisme) de redistribuiçãeJ da energia solar na at-
I-<'.sse fenômeneJ de transpcirte e sedimentaçãei cicorrc meisfera representa a fcinte ela maior eiu meneir
ccJtic-lianamente nas áreas ceistciras clci planeta e nãeJ capacidade para deslocar partículas. Quanto maior feir
,
scJmente ncJs cleserteis abse)luteJs. f~ sempre comanela- a veleJcidade da massa de ar, maior capacidade de trans-
c-lei pc)r venteJs feirtes deccJrrcntes, em última análise, peirtc ela pc>ssuirá (Tabela 12.1). I->or outro lado,
das diferenças ele albedo e de troca c-le calor entre eJ anteparos naturais e artificiais ceimei florestas, eleva-
mar, CJ ce)ntincnte e a atmosfera. (~elmo nas áreas çc}es e edificaçe°íes podem recluzir a veleicidade dessas
c-lesérticas, esse fenômencJ gera dunas, ceim inúmercis massas, diminuinc-leJ, portanto, sua capacidade de trans-
excmplcJs nei litcJral brasileirei, dcsc-le CJ Sul (Laguna, peirtar partículas. Pcir exemplei, a (=adcia Andina, ccim
f,ageia dcJs Patcis, FlcJrian{ipeilis, Gareipaba, etc.) até ei altitude média ele 4.000 m e quase 8.000 km de exten-
Neirdeste (Natal, FcJrtaleza, Salvaclcir, Recife, etc.). sãeJ, é um anteparo natural importante, interferindo
com as massas ele ar frio prcJvenientes da Antártica.
DcJs agentes meidclaclcires da superfície terrestre,
l)ependendei da direção dei movimento da massa de
ei ventei é eJ mencis efetivo. l\fuitas das feirmas ercisivas
ar e de sua interaçãcJ com a Cadeia Anelina, essas mas-
eibscrvadas em áreas elesérticas são creelitadas erreJne-
sas sãei conduzidas para o OceaneJ Pacífico ou OceancJ
amcnte ao ventei, quanelo na realidade, sua origem está AtlânticeJ ou para ci interior da América do Sul.
ligada à ativielaele da água ceirrente ((:ap. 1()). Ncl en-
tantei, dentrcJ do Sistema ScJlar, verifica-se que em Marte Tabela 12.2 Classificação Beaufort dos tipos
, . . ~
ei vente> e ci agente mais 1mpe>rtante na ceJnstruçaei e de vento baseada em sua velocidade
muc1ança ela paisagem em sua superfície, face à exis- de deslocamento.
tência ele uma atmeJsfera muiteJ rarefeita e à abseiluta
Vento Velocidade km/h
ausência de água.
1. Calmaria 1,5

Tabela 12.1 Diâmetro máximo de partículas 2. Aragem leve 1,5 a 6, 1


movimentadas pelo vento, para partículas de 3. Brisa leve 6,lall,1
quartzo (Peso específico= 2,65 g/cm3 ).
4. Vento suave 11 , 1 a 17 ,2
Velocidade Diâmetro máximo
5. Vento moderado 17,2 a 24,1
do vento (km/h) movimentado (mm)
6. Vento médio 24,1 a 31,6
1,8 0,04
7. Vento forte 31,6 a 38,5
11 0,25
8. Vento fortíssimo 38,5 a 46,4
32 0,75 9. Ventania forte 46,4 a 55,4
47 1,O 1O. Ventania fortíssima 55,4 a 64 ,8

furacão 1O 11. furacão > 64 ,8 (alguns com mais


de 150 km/h).
. . .
CAPÍTULO 12 • PR SOS EóLICOS 25"1 •
J;;t
°
.,"J

A proximidade dei vento à superfície terrestre


também influi em sua velocidade devidcJ aci atritei
da massa do ar com eis cJbstáculos presentes (vege-
tação, construções, relevo acidentadcJ, etc.). Assim,
a velocielade eleJ ,,ento aumenta ceJm ei afastamenteJ
da superfície, pcJrém a partir de cleterminaela alti-
tude, que depende elas ceJndições leicais, ela nãci mais
se modifica significativamente. A Fig. 12.3 exibe a
variaçãci da velocidade elas massas de ar com a al-
titude e a Tabela 12.2 a classificaçãci de ventos de
accirdo com sua velocidade.

40

30

-G)
"'C
20 -►
i
e
"'C
·-u
o 10 ------►
-
>
G)
------~►
o -!----...-----------_..,
o 5 10 15 20
Distância do solo (m) Fig. 12.4 Deslocamento das massas de ar por fluxo turbu-
lento (acima) e por fluxo laminar (abaixo).
Fig. 12.3 Variação da velocidade do vento em função da
distância do solo.

As massas de ar deslocam-se segundei dciis tipos xei turbulentei e ela velcicidacle da massa de ar pcir lcJn-
principais ele fluxo: fluxo turbulento e fluxo geJs períeidcis ele tempo e assim serem transportadas
laminar (Fig. 12.4). Distante da superfície terrestre pclr grancles distâncias. Nessa situaçãeJ e1iz-se qt1e as
ou de l1arreiras, mais laminar é o mcivimentei da partículas estão em suspensão eólica (Iiig. 12.5). Par-
massa ele ar. () fluxo dei ar será predominantemen- tículas e obstáculos maiores apresentam resistência aei
te turbulento quantci mais próximo da superfície ventcJ, gerandei intensa turbt1lência em seu entcirno e
ou de barreiras. No entanto, a atividade gecilógica prcimovendei a eleposiçãci das partículas em suspensãci
mais comum deis ventcJs resulta quase sempre des- pclucei após cJ cJbstáculcJ.
se fluxei turbulentcJ.

12.1.2 O movimento das partículas

Transporte de poeira

Partículas menores que 0,125mm de diâmetro são


consideradas poeira, compreendendeJ as frações de
areia muitcJ fina, silte e argila da escala granulométrica
de Wentworth (C=aps. 9 e 14). São as menores frações
trabalhadas pelos agentes de transporte mecânicei em
geral e representam ei maieir volume de material trans-
portado e depositado pelos processos eólicos. Quandci
removidas de seu local de cirigem, essas partículas
podem permanecer em suspensão em funçãci do flu- Fig. 12.5 Deslocamento de partículas de poeira por suspensão.
192 D I e I F R A N o o A I' a 111 A ·

Transporte de areia nificati,·ei e bem mais restritei do e1ue ei transporte de


poeira e de areias menores por saltaçãcJ e suspensãeJ
As partículas maiores que a pc)eira - areia fina a de,ido ao peso das partículas maiores e ao atritei en-
muito grossa (diâmetros entre (),125mm e 2mm) -
tre elas e o substratci (Fig. 12.7).
sofrem transpcirtc mais limitado. Para uma mesma
velocidade de ,·cnto, quanto maior a partícula, menor
será ci seu deslcicamcnto. A ccilisão de partículas em 12.2 Registros Produzidos pelo Vento
c1eslcicamcnto ccim grãos na superfície promcJve o seu
.\ acão do ,·ento fica registrada tanto nas feirmas
dcslcicamento muitas vezes pcir mciei de pequencJs
de rele,·ei comcJ nos fra 6rmentos trabalhados pela ação
salteis. () movimentei da areia por esse prcJcesso de-
cólica. seia de forma destrutiva (erosão) eJu de forma
ncimina-se saltação (Fig. 12.6).
ceJnstruti,·a (sedimentaçãci).
1\s partículas ec'ilicas c1ci tamanhci ele areia são par-
ticularmente importantes, peiis constituem diferentes
12.2.1 Registros erosivos
feições mcirfcJlógicas, das quais as dunas sãcJ, sem dú-
vida, as mais impcirtantes acumulaçc1es de areia cm Deflação e abrasão cc'ilica são e)s elois preicessos
áreas desérticas e mesmcJ em muitas áreas litcirâneas. ereisiveis da atividade cólica. Na deflaçãcJ, a remeiçãci
A açãei cólica também ceinelicicJna a organizaçãci eleis de areia e poeira da superfície pode produzir depres-
grãe)S ele areia, proeluzindei estruturas sedimentares co- sões nei dcserteJ chamadas bacias de deflação, podendo
nhecidas como marcas onduladas e estratificação chegar a níveis mais baixos elo que ei nível do mar.
cruzada. Fciçe3es ceimcJ dunas e certos tipos de mar- Deflação também pode preJdu1.ir eis chamados pavimen-
cas eindulaelas e de estratificação cruzada, quanelei tos desérticos, caractcrizaelos peir extensas superfícies
preservados nci registro geológicci, representam evi- cxibinelo cascalhei ou cJ substratcl rcichciso, expostas pela
dências inegáveis de ativielaelc e(ilica neJ passaelci, remoçãeJ dos sedimentcJs finos. (Pig. 12.8). Se o nível
permitinelci mltitas vezes a reconstitl1ição dcl ccnárici teJpeihrráficei no deserte) é rebaixado pelr esse mecanismei
paleciambiental e palcc)gecigráficc) elei ]cJcal. até atingir a 7.ona subsaturada ou saturada em áhrua, pei-
dem formar-se eis oásis (f_;ig. 12.9).
Transporte de partíct1las maiores PcJr causa eleis ccinstantes impactos ele diferentes
partículas em meivimento (areia fina, média ou mcs-
c:omci indica a ls'ig. 12.6, a colisãci de partículas em
mci grossa) entre si e ccim materiais estacieJnados,
dcslcicamcntci, além de causar fragmentação e clcsgas-
geralmente maiores (seixos, l1lciceJs, etc.), occirrc inten-
tc, pciclc inelu1.ir cJ mcJvimento de partículas cnccintradas
so processo de elcsgastc e polimentei de, teielcls esses
na superfície elci sc>lcJ. Partículas de eliâmctrci sL1pcrieJr
materiais, deneiminado abrasão e(ilica. E importante
a 0,5 mm (areia grcissa, areia muitei grossa, grânuleis e
ressaltar que o vento iseJladamente nãeJ produz qual-
scixcis) ceimumente se deslcicam pcir esse prcicesscJ,
quer efeiteJ abrasivcl scibre materiais rocheJsos. Apenas
chamadc> arrasto. TranspcJrtc peir arrasto é pciltcci sig-

_, .. -·

,(// ~· --:1·• \. \;• v

Fig. 12.6 Impacto de grãos causando deslocamento de par- Fig. 12.7 Deslocamento de partículas por saltação e por
tículas de areia por saltação. arrasto.
quand<.> transp<1rta areia e poeira é que
exerce papel erc)sivc1. A abrasàci proc1u-
zic1a pelo \'ento assemelha-se ao
processo de "jatean1ent(l e p<Jliment(J
C(Jn1 areia'', utilizad(J na indústria para
limpar, polir <Jtl decc)rar diverscJs ol1je-
tc1s. Pc)r iss,1, as st1pcrfícics d(JS grãos
tcnde1n a adc1uirir l)rilhcJ fcJsco, uma
feiçàci er<Jsiva especít1ca etc) ,,ento, ben1
distinto do aspecto brill1ante c1uc resul-
ta cio polin1cntci de materiais em
amlJiente aquáticc>. I)c tnCJl1C> análc>g<>
são fcJrmaclc1s por abrasâ(l r>s
ventifactos, eis yardangs e as super-
Fig. 12.8 Pavimento desértico no Deserto de Atacamo, Cordilheira dos
fícies polidas.
Andes. Foto: C. C. G. Tassinari.
()s vcnt:ifactcJs sao sctx<)S que apre-
se11ta111 duas c>u n1ais faces pla11as
desenvcilvidas pela açàci ela abrasà(J e(>lica.
() vent(> carregaclc> de partícLilas ercJc!e
t1rna face dc> seix(J (}~ig. 12.1 í)a), t(Jrtnan-
dci u111a superfície 11lana e pcilicla ,.:cJltalla
para cJ ventcJ (}!ig. 12.1 (ll,). i\ tur!)t1lên-
cia gerada e!<) lad(J opclsto da face pc>licla
ren1clve parte ela areia, tc>rnanclcl o sei-
Xtl i11stávcl (I;ig. 12.l(HJ). c:()111 ÍSS{), ()
scix<i se ir1clina, cxpcJncltl n<iva face à 1
1

abrasâcJ e(ilíca (l<'igs. 12.l()c e d). ()s


vc11tifactcis sà<J tÍ}JÍC<JS de clesert<JS t
C<>tTI<l 1\tacama, Tal,lin1al~an (China),
Saara e J\nrártica (Fig. 12.11).

Fig. 12. 9 Ousis no deserto de


-- .........
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Atacamo, Cordilheira dos Andes.
Foto: C. C. G. Tossinori.
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Fig.12. l O Etapas de formação


e d
de um ventifacto.
1

i\ açãc> er<isi\·a e-l<i vente) prciduz <Jutras f<irmas de 12.2.2 Registros deposicionais
registrei ccim(l <JS ,·arelangs eJLte se assemelham a cas-
C<Js de barc<JS ,·irael<is, formael<is pela açà<J al1rasiva ( l transpclrte e a pcisterielr dcp<isiçàei c.le partículas
e(>lica sc>brc materiais relativamente frágeis cclm<l sc- pelei \e11tci f(irman1 registrc>s gecil(igic(JS pecLtliarcs elLle
eliment<JS e r<ichas sedimentares pc>ucc> c<insc>liclael<is. sàc> testcn1unhcis e-lesse tipe> ele ativielacle O(J passaelci.
Representam f<>rmas c.le abrasãcJ impc>rtantes cm di- ( )s principais registreis e(Jlic<JS cleste tipel sã(J as dunas,

ferentes áreas c.lcsérticas tais C<>m<i a Bacia c.lcJ l ,L1t n<i <>S n1arcs ele areia e (JS c.lep(lsitc>s de k>ess.
suclcJeste c-JcJ Irã, Taklimakan na C:hina e 1\tacama ncJ
Chile. Tais fc>rmas de abrasà<J cólica enccintram-se res- Dunas
tritas geralmente à pc>rçà<l mais árie-Ja c.l<is c.lescrt<Js <Jnc.lc
há pcluca vegctaçãe> e e1 sc>lc> é praticamente inexistente. Dentre as eli,·ersas fc>rmas c-le c-lep<Jsiçã(l de sec-limen-
tcls cc.Jlicc JS atuais eles tacam-se as clunas. 1\ss(Jciam-se a
NcJ Brasil, embclra cJs ventifactc)s sejam rarels, <>u-
elas feic(Jcs
_, seelimcntares tais c<Jm<> cstratificacãcJ
_, cru-
tras formas ercisi,,as sãeJ encc)ntraclas, mL1itas e.leias
zacla (I;ig. 12.14) e marcas cJnduladas 9L1e, O<J entant<J,
ccJnjugadas à ativic-Jadc pluvial. (luancl<i assim cicc>r- nà<> sã(J exclusivas ele ccJ11strucc'ics sedimentares e(>licas .
.,

I •'.xistem e-luas principais classit1caçc1es para dunas: uma


ccJnsielerancl(l seu aspectc> c<Jm<> parte ele> releve>
(m(irfc>lcJgia) e a eJutra ccJnsicleranc.lcJ a fcJrma pela qual
<JS grã(JS ele areia se ·lispõcm em seu intericir (estrutLl-
ra interna).

/\ classificaçà(J l1ascac.-Ja na estrutura interna e.las c.-lunas


leva cm C<lnsideraçàci a sua c.-linâmica de f(irn1ação, sen-
c.l<J rec<Jnhecic.l< is elciis ripeis: as dunas estacionárias e as
. ' .
rmgratonas.

Fig.12.11 Ventifacto proveniente do Dry Valleys, Antártica,


coletado por A. C. Rocha Campos. Foto: C. Juliani.

rem, as açc'ícs ct(JSivas e(Jlica e pluvial p(iclen1 prelelL1-


zir fc>rmas cs11ccít1cas O(J relevei celOl(), pclr exen1pl(>,
ncis arenitcls dei Sul>grL1pei Itararé cn1 Vila Velha, Jlaraná.
t\li, as chtrvas tc11elem a erelelir, prcfcrencialn1cnte, as
peirçiics argil( >sas desses arco it(JS, tcJrnanelei (l cc >n jLlll-
tei muitc> mais friável e suscetível à abrasà(i pele> ve11t(J,
gerandcJ fcirtnas variadas, similares a cálices, tartart1-
gas, garrafas etc. (fig. 12.12).

l~m c>utrel exempl(J, ncJ {lar9L1e c-le Sete Ciclades,


Piauí, a ccimposiçãcJ da reicha e as ccJndiç('íes climáti-
cas também sãcJ fatcires imp(irtantes na singular
n1cirfoleJgia d.as rcichas areníticas e.lesse lc>cal (I:ig. 12.13).
Neste cas(J, as reJchas exibem maicir resistência ,1 açãei
ercJsiva pclr haver cimentaçãci mais resistente (sílica).
Assim sendcJ, a açàcJ er(isiva plt1vial e eólica é rncncJs
efetiva d(J 9L1c e111 Vila Velha. Fig. 12.12 Arenitos do Subgrupo Itararé erodidos pela con-
jugação da ação eólica e pluvial em Vila Velha, Paraná. Foto:
Faustino Penalva.
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Fig. 12.13 Feições de erosão eólico e pluvial em arenito no


Fig. 12.14 Estratificação cruzado em dunas do litoral de
Porque de Sete Cidades (PI), Foto: L D, Wohnfried,
Notai (RN). Foto: J. B. Sígolo.

Dunas estacionárias (ou estáticas)

Na cc>nstruçã(> da duna, (JS grãc>s ele a reta (geral- supera esse ângulcl, justamente pc>r causa dei seu cclnstan-
mente quartze)) ,•ão se agrupandcl de ac(>rel(J cc>m (J te retral,alhamcnto pelo ventcJ, esse fenômeno é
sentido preferencial ele> vent(l, fclrmande> acumulaç<"'>es, praticamente restritcl ac> flanco sotavento, daí a razão de
geralmente assimétricas, que p(>eiem atingir várias cen- sua inclinaçãci maicir, prc'ixima aci ângL1lo de repc>US(l.
tenas de metr(JS ele altura e muit(JS eJuilc\metr(JS ele
Nas elunas estacionárias a areia depcisita-sc em ca-
ccimprin1ent(l. A parte da c"luna que recclJe (l ventei
madas e1ue ac(impanham o perfil da d.una. Deste
(barlavento) p(lssui inclinaçãcl baixa, ele 5 a 15º n(ir- mclcl(l, sucessivas camadas vãcJ se dep(isitando sc>bre
malmente, enquantcJ a (lutra face (sotavento), a superfície d(J tcrrencJ com o soprar el(J vento carre-
pr(ltegida de) venteJ, é bem mais íngreme, cclm inclina-
gael(> ele partículas, partindci de l1arlavcnto cm direção
çãcJ ele 20 a 35" (l<'ig. 12.15). l~ssa assimetria resulta da
a scltaventc\ criandc> uma estrutura interna estratificada.
atuaçãc> da graviclade sc)bre a pilha crescente de areia I~mlJcira a scitaventc> da eluna ocorra fc>rte turbulência
sc>lta. (~uandci c>s flanc(JS ela pilha exceelcn1 um deter-
gcracla pela passagem e1(> ventcJ, os grãos de areia per-
minaeici ângul(J (entre 20 e 35º, dependendcJ de> grau
manecem agregadcJs aos estratos em formação, o que
de cciesão entre as partículas) a força da gravielaelc tende a impeelir o movimento da duna. Estas clunas
supera o ângulc> eie atritei entre eis grã(JS e, cm vez ele
ficam im(iveis pc>r diversos fatores, tais como aumen-
se acumularem ncJ flanco da duna, els grãc>s rcilam ele-
te> ele un1idaele, que aglutina (JS grãos pela tensãcJ
clive abaixe> e o flanco tende a desmcJronar, até atingir
supert"i.cial da água, obstáculos interncJs (blocos de rcJ-
um perfil estável. O ângulcJ máximci dei flanco ele uma cha, trclnC(JS, etc.) (JU desenvolvimentcJ de vegetação
pilha ele material sciltc> estável se chama ângLile> de rc- asse>ciada à duna.
pciusc>. Uma vez que clificilmcnte e> flancci lJarla,,cntc>

--·. . . __.. . _
VENTO
~►

BARLAVENTO SOTAVENTO
Fig. 12.15 Formo- 5-15 ° 20-30°
ço

o e estruturo
interno de uma duna
estacionário (os ân-
gulos do barlavento e
sotavento foram exa- .... .. ............
.......... ..
... .··············.
.'. . .. ..
gerados). .. ' . . . ........ . .·... ·,.
.. .. .
.. :111 ·• Dl,CIFRANDO A T11R• ·• .
' ' " : ' ' ' ' •" ' '

Dunas migratórias
VENTO
'
;\ semell1anca das dunas es-
tacicinárias, c> transporte deis
gràc>s nas elunas migratórias se- SOTAVENTO
BARLAVErJTO
gL1e inicialn1ente o ànguleJ do 5-15 °
,----, \
20-35°

barla, enteJ, depeJsitando-se, em


0
.,, .,, .,, \~ '-,\ '-_ \\ \\'-,
seguida, nci sc>ta,,ento, cinde há ,, ,,, , \\
,\
, , \\ \ \ \ \

,,,, \\\ \ ,,,,,,


\\\\\\

fcirte tL1rlJulência (fig. 12.16). ,,, ,,,, \\\\\'''''''


,,,,,, -"' .\
\\ \\ \ \ \ \ \ \ \
\ \ \ '
--
\ \ \ \ \
Desta fe>rma eis grãos na \)ase \ \ \ \ \
\' \ \ \ \ \ \
---
,,,,,,. \ \ \ \ \\ \

dei l1arlaventeJ n1igram pelcJ ' \


\ \ \ \ \ \ \ \ \ \
\ \ \ \ \ \ \ \ \ \ ,,
\ \ \ \ \ \ \
\ \ \ \ \ \

perfil ela eluna até ci se1taventeJ. Fig. 12.16 Formação e es•ru 1 ura inrer'lo de uma duna migratória (os ângulos do borla-
IstcJ gera uma estrutura interna vento e sotavento foram exagerados).
e-le leitcJs ceim mer,l;Lilhci pr<'>xi-
n1igratcírias. 1\ mais eficiente até ci meime11tc1 tem siclei
mei ela inclinaçàcJ elcJ seitaventci. l~sse eleslcican1ent<>
cJ plantie> de vegetaçàeJ psameifítica (e1ue se elesenvol-
cci11tínuei causa a migraçàci de teiclri cJ ce>rpel ela c-lur1a.
ve \Jem ne> seilei arencisei) eiu de certas gran1íneas na
1\ n1igraçàei de dunas cicasieina pr<Jblemas de \1ase ela e-luna, a l1arlaventei. (~<Jm issei <) elesleicamen-
sciterratnentci e de assc1reamentcJ nas Z<Jnas liteiràneas tci deis gràcJs é im11edidci e a duna teirna-se
elcJ I3rasil, exiginel<i elragagem ccJntínua para n1it1in1i;,:ar estacicinária (Fig. 12.19).
ei riscei aci tráfegei de navicis, ceimc1 ciceirre nci 11c>rtci
;\ classificaçãci ele clunas [Jaseaela em sua mcJrfeilc>gia
de Natal, Riei C_~ranele dei Neirte, e na l,ageia dc>s Pa-
inclui grancle varieelade ele termeis descritiv(lS reíletin-
teis, Ri<i C~ranele elei Sul. F'.m laaguna, Santa C:atarina,
clei a cli\ ersidade ele fc>rn1as icle11tificaclas ncis e-leserteis
0

JJeJr exemplei, dunas 1nigrat(irias, algun1as ceJ111 elezc-


e en1 regiões ccisteiras, cacla c1ual ccim estrt1tura interna
nas ele tnctre>s ele altura, invadiram e seitcrraratn \ árias 0

e externa prcíprias, sujeitas à mcielificaçàci pela açãcJ


casas de vcraneÍt> (F'ig. 12.17). l•'.m cidae1es C<>t11r> Pe>r-
elc is ventcis.
taleza, Iiccife, i\Iaccic'i e eJutras ela ceista ele> Neirelcste,
sàei ccin1u11s prci\J!cn1as similares, cm elccc irrê11cia clcJs 'frês paràmetrcis eleterrninam a n1c>rfc1leigia de urr1a
ventcis perpendiculares à linha ele C(lsta. Vcntcis ch>mi- duna: a) a velcicielacle e variaçã<J e-lei rL1mc1 de> ventei
nantcs vinel<is ele sudeste fcirn1an1, desse n1<>cl<i, prccl<iminante; l1) as características e-la superfície per-
en<ir1nes ca111p<>S ele clL1nas migratc'irias que se elcsi<J- crirriela pelas areias transpcirtaclas pelei ventcJ e, c) a
ca111 ac> leH1g<> da crista até enceintrarem eJl1stácul<>S c1uanticlacle de areia dispcinível para a formaçà<J elas
C<HTI<J casas, fazendas, rciclcivias, ferr<ivias, lag<>s, etc. dunas. f\s feirmas de clL1nas mais ccimuns sàei dunas
(I•'ig. 12.18). Ji,ssc fentimenci p<Jcle ta111\1ém clesviar <> transversais, barcanas, parabólicas, estrela e longi-
curse> natural de ric>s preíximeis à ccista. l)iferentes téc- tudinais.
nicas sàci utilizaclas na tentativa ele imcil1ilizar elunas
Dunas transversais

r\ fcir111açàei deste t1pc> de eluna é ccJndicicinacla


pc>r venteis freqüentes e ele elireçàc> ceinstante, \Jen1
ccin1ci pele> suprimento ceintínucJ e a\Jundante eie areia
para sua cc>nstruçàci. i\s regic3cs litcirâneas constituem
arr1biente prcipícici para a fcirmaçàeJ elas dunas trans-
versais, ccim venteis adequaelcJs aliandcJ velcJcidade
ccJnstante e al1unclància ele grãos ele areia. A elencimi-
11açãc> ele transversal prcJvém ela sua eirientaçàei
perpenelicular a<J sentiele> preferencial dei vente). f<'.m
clesertc1s, cJ ccJnjunteJ e.lestas elu11as ccistL1ma111 f<1rmar
<JS cban1acleis mares de areia, caracterizaclclS p<>t ccJli-
Fig. 12.17 Invasão de casas por dunas migratórias na re- nas sinLteisas, grcisseiramente paralelas e11tre st,
gião de Laguna (SC). Foto: PC. F. Giannini.
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Fig. 12.18 Lago entre dunas no campo de dunas de Natal


Fig. 12.19 Método de contenção de duna migratória com
(RN) (direção preferencial do vento da esquerda para a direita).
utilização de plantio de vegetação apropriada para conter a
Foto: J.B. Sígolo.
migração dos grãos (direção preferencial do vento da esquer-
da para a direita). Restinga da Lagoa dos Patos (RS). Foto: Zig
Koch.

lcmbranelo a m(irfcilcigia revcilta d(J ciccan(J elurante J\Iuitcis campeis e-lc dunas desse tipeJ também exi-
uma tempestade (Fig. 12.20). lJcn1 marcas <Jne-luladas abundantes (Fig. 12.21),
Nas áreas C()Steiras os campcis ele dunas pcie-lem pr(iduzidas pelei deslcicamcnto elos grãeis de areia prin-
apresentar pcquen(JS lagc>s ele áf,>ua elcJcc, bastante cci- cipaln1cntc pc>r arrastei e saltaçãci. Pcir causa ele sua
nhecidos aci ncirtc do Espíritci Santci, n(J sul dei J--,'.stacl(J assin1ctria, essa feiçãei permite determinar ci sentidcJ
da Bahia e ao lcingcJ ele tc1ela a C<Jsta dc1 Ncirdeste. elo vcntcl prcdciminantc que a fc,rmeiu (dei l1arlavento
para cJ seitavcrl1cl).
Dl1nas transversais sãcJ taml,ém cnccintradas cm am-
bientes fluviais c<imci na Ilha elo (:aju, n<) delta dei ri<i
Parnaíl1a, Tvlaranhãei (Pig. 12.21). Dunas barcaPas

l)esenvol\'em-se cm ambientes ele venteis mode-


raelcis e fcirnccimentci de areia limitadcJ. c:omo
resultado, este tipc> ele eluna assume f(irma ele meia-
lua cJu lua crescente ccJm suas extrcmie-lae-lcs vciltadas
n<J 111csmcJ sentielo d<J vento. (Fig. 12.22). f'.ssas elunas
nãei f<irmam can1pcis ccJntí11ueis e tenelem a ser pe-

Fig. 12.20 Campo de dunas transversais (direção Fig. 12.21 Pequeno lago represado por duna transversal exibindo mar-
preferencial do vento da direita para a esquerda). Ilha cas onduladas (direção preferencial do vento da direita para a esquerda).
do Caju, delta do rio Parnaíba (MA). Foto: R. Linsker. Campo de dunas dos Lençóis Maranhenses (MA). Foto: 1. D. Wahnfried.
-

Fig. 12.22 Duna barcana no lado direito do campo de dunas associada a cadeias barcanóides (direção preferencial do vento da
direita para a esquerda). Ilha do Caju, delta do Parnaíba (MA). Foto:R. Linsker.

quenas, não superando 50 m de altura e 350 m de Dunas parabólicas


largura. No Brasil, estas formas são relativamente ra-
Embora semelhantes às dunas barcanas, as dunas pa-
ras. Porém ne) litoral, onde a vegetaçãc) limita ()
rabólicas diferem dessas pela curvatura e.las extremidac.les,
fornecimento de areia, formam-se cadeias de clunas
que é mais fechada, assemelhando-se à letra U, ceJm suas
similares às barcanas, que recebem o nome de cadei-
extremidades voltadas nc) sentic.lo contrário do vente) (F'ig.
as barcanóides. Estas diferem das barcanas por
12.24a). Formam-se em ref:,iiÕes de vente)s fortes e cons-
ocorrerem unidas, tais como os exemplos no litoral
tantes ceJm suprimento de areia superior ao das áreas c.le
de Laguna, Santa Catarina, ilustrados na Fig. 12.23.
barcanas. Sãe) pouce) comuns na América do Sul, limitan-
do-se às zonas lite)râneas. Nestas regiões, a vegetação
costeira é importante ne) controle e evolução e.la constru-
çãcJ deste ripe) de duna, pc>r ser o parâmetro que limita o
fornecimento de areia.

Dunas estrela

Estas dunas são típicas dos desert<)S da, Arábia Saudita


e de parte dos deserte)s do Norte da Africa. Não são
conhecidas na América de) Sul. Sua formação está dire-
tamente relacionada à existência de areia abundante e a
ventos de intensidade e velocidade constantes, mas com
Fig.12.23 Cadeias barcanóides em Laguna (SC). Foto: P. C. freqüentes variações na sua direção (pelo menos três di-
F. Gianinni. reções). C) resultade) é uma duna cujas cristas lembram
os raios de uma estrela (Fig. 12.246).

Dunas longitudinais

Também são conhecidas como du-


nas do tipo sei/, do árabe, descritas
originalmente no deserte) da Arábia (Fig..
12.25). Fe)rmam-se em regiões com
abundante fornecimento de areia e ven-
tos fortes e de sentido constante no
a b an1biente desértico ou em campos de
dunas litorâneas. Pc)dem atingir dezenas
Fig. 12.24 a) Dunas parabólicas, formadas pela destruição de uma duna transver-
de quilômetros de comprimento e mais
sal; b) Dunas estrela.
12.4 Características Mineralógicas e
Físicas dos Sedimentos Eólicos
C)s sedimentos assc)ciados às atividades eólicas com-
l i põem-se quase que exclusivamente de pequenos grãos
de quartzo, sendo, pc)rtanto, monominerálicos. Esta ca-
racterística está ligada à abundância desse mineral nas
rochas comuns da crosta continental (Cap. 2) e à sua
granclc resistência à alteração intempérica (Cap. 8). Há
cas<)S impc)rtantes, evidentemente, da ocorrência de ou-
Fig. 12.25 Dunas longitudinais na Ilha do Caiu, delta do
trc)s minerais cm depósitos eólicc)s, cc)mo nos depósitos
Parnaíba (MA). Observar as zonas de desmoronamento associ-
adas a marcas onduladas. Foto: R. Linsker. de lc)ess, já comentados.

As características típicas de sedimentos eólicos são


facilmente observadas com uma lupa de mãe). Os im-
de 200 m de altura. F,m muit<)S casos esse tip<) de duna pactc)s cc)nstantes entre <)S grãos nc) ambiente atmosférico
prc)duz feições morfc)!é)gicas similares a "cc)rdc1es ele produzem brilhe) fosco da superfície, morfole)gia arre-
areia". Contudo, em menc)r escala, corelõcs semelhantes donclada e alta esfericidade dc)s grãos. O aspect<) fosco
podem também fc>rmar-se pela ati,ridade fluvial. elas partículas dccc)rrc da difusão da luz causada pelas
minúsculas marcas de impacto deixadas nas superfícies
Mares de areia dc)s grãos e difere do aspecto brilhante provocadc) pelo
desgaste durante o transporte em ambiente aquático vis-
Este termo é empregado em clcsertos para grandes
to que a água, por ser muito mais densa que C) ar, amc)rtece
áreas cc)bertas de areia, a exemplo ela Arábia Saudita,
a força de)s choques entre os grãos.
C<)m cerca de 1.000.000 km 2 da superfície atualmente
coberta por areia. Gigantescas áreas com dunas tam- C)s mesmos impactc>s que provocam o polimento
,
bém oc<)rrem na Austrália e Asia. 1\.s extensas cc)bcrturas fosc<> das superfícies também quebram os grãos e suas
,
de areia no Norte da 1\frica sã<) conhecidas como ergs. arestas, diminuindo e arredondando as partículas. No
caso de) quartZ<), mineral dominante nos sedimentos
cólicc)s, este processo aproxima os grãe)s da forma esfé-
12.3 Depósitos Eólicos Importantes rica, já que este mineral não possui clivagem e, portanto,
na História Geológica do Planeta nã<) apresenta planos preferenciais de quebra.

Além disso, depósitos de <)rigem e()lica exibem ele-


Loess vada seleção granulométrica como outra característica
peculiar. Pequenas variações na velocidade do vento au-
Um dos mais importantes exemplos de sedimenta- mentam ou diminuem sua capacidade de transporte,
ção eólica no registro geo!()giC<) consiste de sedimentos restringindo o tamanho dos grãos de forma mais efici-
muito finos (silte e argila), homogêneos e friáveis, ente que o meio aquático, no qual a maior viscosidade da
comumcnte amarelaclos, dcnc)minadc)s Joess, do alemão. água atenua as conseqüências das variações de vdocidade.
Depósitos de loess foram descritos pela primeira vez no
nordeste da China, <)nde atingem mais de 150m de es-
pessura, embora em média apresentem espessuras em 12.5 Registros Sedimentares Eólicos
torno de 30 m. O lc)css é cc)nstituídc) de diversos mine- Antigos
rais (quartzo, feldspato, anfibólio, mica, argila e alguns
carbonatos) e fragmentos de rocha pouco alteradc)s. Feições características da ação eólica podem ser reconhe-
(-)corrências muito expressivas de loess afloram na cidas em sedimentos antigos e rochas sedimentares,
Mc)ngólia central, China, Eur<)pa e E.U.A. permitindo a reconstituição de diferentes paleoambientes
eólicos. Pc)r exemplo, a identificação em sedimentos antigos
Parte importante desses sedimentos é originada pela ele estruturas internas e externas típicas das dunas atuais, tais
ação erosiva glacial (Cap. 11) que produz sedimentos como estratificações cruzadas, marcas onduladas, barlaven-
muito finos posteriormente transpc>rtados pelo vento to e se>tavento, permite o reconhecimento de uma duna
e depositados sobre vastas regiões. fóssil Através da análise da orientação das faces barlavento e
SC)tavent<) em dunas fósseis, é p<)ssível identificar e) sentido
preferencial do ,-ente) na época de sua fc)rmação. Leituras recomendadas
Registros eólicc)s sãe) recc)nhecíveis na história ge<>lc)gi- CARON, J. M., GAUTHIER, A., SCHAAF, A.,
ca de muitas regie:ies do Brasil. No interi<)r de) f-<~staclc) elo ULYSSE, J. & WOZNIAK, J.. Comprendre etEnseigner
Rio Grande de> Sul, espessas camadas de arcnit<)S, ampla- .Lt Planeie Terre. Paris: Ophrys, 1989.
mente cxpe)stas em ce>rtes das tc)c!ovias, sãe) testemunhe)s
CORDANI, U. G. & SÍGOLO, J. B. Composição,
de ambientes clesérticos cliversos durante boa parte ela era
estrutura interna e geologia de Marte. ln: Massambani,
l\1esozóica (Pigura 12.26). Registros semelhantes e perten-
O. & Mantovani, M. (eds.), Marte Novas Descobertas,
centes ac> mesmo ambiente que dc)mine>u a região ela Bacia
São Paulo: I.A.G., 1997.
de) Paraná sãc) observade)s cm várias fe)rmações gee)k')gi-
cas de e)utrc)s F,stad<>s lJrasileirc)S (São Paulei, Santa Catarina, HAMBLIN, I<.. The Earth's PJnamic ~stems. A Textbook
Paraná, Minas Gerais, Tviato c;re)SS() do Sul e Tviate) c;re>s- in Pf.Jysical Geology. New York MacMillan, 1989.
Se)), estendendc)-se para C) Uru1--,ruai, IJar:11--,ruai e J\rgentina.
PRESS, F. & SIEVER, R . Understanding the Earth. New
York w.H. Freeman, 1996.

SI<INNER, B. J. & POR1ER, S. C.. The Dynamic Earth.


New York J. Wtley & Sons, 1995.

Fig.12.26 Duna fóssil na Formação Camaquã. Perfil na estra-


da Santana da Boa Vista-Caçapava do Sul (RS). Foto: R. Machado.

12.1 Desertificação
Embora o nome seja sugestivo, o termo desertificação não retrata de forma específica os eventos dinâmicos dos
desertos da superfície da Terra. Sabe-se que a formação dos desertos atuais envolveu múltiplos fatores geológicos e
climáticc)s atuando durante longos períodos de tempo. Neste processo, continentes migraram para regiões de clima
seco, comuns em zonas de baixa latitude e de alta pressãeJ atmosférica. Este desleJcamento continental expôs rochas
e outros materiais superficiais a condições especiais de clima, dominadas pelos processos eólicos. Durante sua
evolução, uma área desértica expande-se ou retrai-se quase exclusivamente em função de flutuações climáticas
cíclicas. De modo geral, as áreas desérticas naturais (sem influência direta da atividade humana) fazem divisa com
regioes de maior umidade e, ccJnseqüentemente, de maior desenvolvimento da vegetação que inibe a expansão de)
deserto. Atualmente, quase sempre às margens das áreas desérticas desenvolve-se atividade humana, a qual pode
acelerar a expansão da área desértica, ou seja a desertificação. Em regiões não desérticas, especialmente nos ecossistemas
mais delicados e frágeis, a atividade humana pode aumentar a aridez local e levar, eventualmente, à desertificação
regional. Isto aconteceu nos EUA na década de 1930 como resultado de práticas agrícolas ecologicamente agressivas
que deixaram o solo exposto à dissecação. Milhões de toneladas de solos férteis foram erodidas pelo vento e
redistribuídas pelo centro-oeste norte-americano em terríveis tempestades de poeira e areia. No Brasil, o desmatamento
desordenado, a queima constante da madeira e mesmo as inadequadas práticas agropecuárias nas zonas de fronteiras
agrícolas, como na Amazonia meridional, expõem o solo e seus constituintes, como a matéria orgânica, à rápida
degradação física e química, reduzindo as condições de plantio e criando situações de estresse no ecossistema
existente. Este fenômeno também tem recebido o nome de desertificação porque desequilibra o delicado balanço
entre nutrientes, umidade e solos existentes nessas regiões, provocando modificações ecológicas irreparáveis que
culminam em mudanças climáticas, passandc) de semi-úmido para árido com incrível velocidade.
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uem nãc) se lembra da primeira vez em que Contam-se aeis milhares as vezes em que livros di-
. .esteve em contate) ceJm o mar, com cJ ge)stci dáticcis e científicos bcJmbardciam e) leiteir ccJm a
••
salgatio de suas águas e os mclvimentos de vai-e-vem infcirmaçào de que eis cJceancJs ccibrem cerca de 7(Y1/ri
das cindas? da superfície da Terra. Mas, que importância têm os
oceancis além da imensidãc> de sua área? l~ntre ciutras
Comei é p<)ssível esquecer a f<)rma c<imcJ assc)cia-
propriedades, sabemos que os ciceaneis constituem um
mos <J mar ao tlcsconhecido, descobrindo que, quanto
imenscJ reser\·atcirio de sais e gases, atuandci como ele-
mais n<is afastávamcJs da praia, mais profundei ele fi-
mentci reguladcir na ciclagem de um grande número
cava, e os mcivimentos de suas águas nos expunham
de elementcls nc) planeta. Sabemc>s também que os
mais e mais ao perigo?
prcicessos oceânicos figuram entre os maiores agentes
Será que o mar se apr<lfunda sempre? Como será transpc>rtadcires de calcir dei planeta, contrcllandcJ C)
que ele é lá no meio? A busca do tlesconhecido e CJ clima e ccintribuindcl para a distribuição espacial dos
fascínio por um ambiente tão distinto daquele dcimi- . , . .
prcicesscis 1ntempcr1cos e ercis1vos.
nadc) pela humanidade tem, dcstle a Antiguidade,
1~ scJb ci ponte) de vista tlcls prcicessos geciléigiccis?
impulsionadc) a cxpl<iração e conhccimentc) dei mcic)
(~uai a importância deis funtlos eiceânicc)S n<> conheci-
marinho.
mentc) da hist(iria evolutiva do planeta? Qual ci papel
Muito embora o ciclo tias Grandes Navegaç<>cs, elos fcnômcncls eiceânicos na recepçãcl e redistribuiçàc)
nos séculos XV e XVI, tenha pc)ssibilitado tiescortinar das partículas sedimentares?
a imensidão dos mares, e suas correntes superficiais
Neste capítulcl, pretendemcls introduzir aci leitelr
tenham sido aproveitadas pelas frágeis embarcaçe>es
alguns aspectos relacionadeis acJs processos cJceanci-
de madeira que ccinduziram o hcimen1 ac) enccJntr<J
gráficcJs e acJs funtl<ls marinheis, principalmente quantcJ
de novcis continentes, foi apenas ncJ ano de 1872 t1uc
à sua morfolclgia e aeis materiais que C>S C<lmpõem.
foi lançado ao mar um navio C<Jm a missão ele, pela
Prctenelcmos, ainda, analisar as características dels fun-
primeira vez, estudar cientificamente os mares e siste-
dcJs oceâniceis em funçàci ac)s grantles movimenteis
matizar teidcJ o cclnhecimentci até então existente scJ[Jre
da crcista terrestre. Finalmente, discutiremos a impcir-
os animais e plantas marinhas, a química da água e-lei
tância deis materiais que reccibrem eis fundos marinheis
mar e a profundidade dos oceanos. Durante cJs qua-
ncis recursos minerais, bem ccJmo na reccinstituiçã<J
tro ancJs que durou a viagem de circunavegaçãeJ t1<J
da histc'iria gecilc'igica t-la Terra.
H.M.S. Challenger, <J veJlume de ccinhecimentos f<Ji tal
que permitiu a publicação de 50 volumcis<Js livrcJs C<Jm
eis resultatlos das cibservações, coletas e análises exe- 13.1 O Relevo dos Oceanos
cutadas.
Estima-se que a área da crcista terrestre recoberta
Devem-se à expedição Challenger, por exemplei, pelos cJceanos represente cerca de 7()(1/ci da superfície
as primeiras informações sobre CJ relevo tla Cortli- tcital, sendo que cl ()ceanci Pacíficcl constitui o maior
lheira Meso-Atlântica, uma elevada e extensa cadeia corpo aquoso, com área aproximada tle 18() milhões
de montanhas, de origem vulcânica, submersa nci meio
de km 2 , ciu seja, 53º/ti da área oceânica, se/c-,11.iidci pelo
do ()ceano Atlânticci, bem comei scibre a existência ()ceano Índicei (24°/o cm área) e ci Atlânticci, com cer-
de áreas pr<ifundas e planas, presentes no fundo de ca de 23(1/o da área total (Fig. 13.1).
todos os oceanós, além de montanhas, morros iscJla-
dos e vulcões submarinos. A prcifundidatle méclia deis ciceanos é estimada em
3.870 mctrcls, sendci as maicJres prc>fundidades lclcali-
Passado pouco mais de um sécule) da expetlição pi- zat-las ncJ "Challenger Dcep" (11.037 metros) nas Fcissas
cineira, o desenvolvimento da tecnolci!c-,ria de explciraçàci das l'vfarianas, no ()ceancJ IJacífic<i, que entre toclcis els
dei meio marinho permitiu aos navios de pesquisa cJcea- oceanos é <J que pcissui também a maicir profundida-
nográfica, com suas equipes multidisciplinares, mapear de média (4.282 metrcis), ccim cerca de 87(1/ri de seus
os fundeis marinhos, subdividi-los em grandes pro,·ínci- fund<is lcicalizad<>S a prcifu11clidades superic>res a 3.000
as fisiográficas, detalhar sua compcJsição e, principalmente, metrcJs (Tabela 13.1). As maiores prcJfunditlades do
compreender a origem e evolução de seu releve) extre- OceancJ Atlânticci cstà<J localizadas juntcJ às fcissas de
mamente variado, associanclo-cJ aos grancles preicesscls Pclrto Rico (9.220 metrcis) e !Jtc'iximas às ilhas de
tectônicos atuantes na crc>sta terrestre. Sandwich dei Sul (8.264 metros), em um ciceanc) cuja
....., Arrebentação de onda na praia. Foto: Stock Photos.
prc)funcliclade méc-lia nãc) ultrapassa os 3.6()0 metrcis.
,
() ()ceanci Indicei pc)ssui uma prcifundiclacle méclia
de cerca de 4.()0() 1netrcis e sua maieir prcifundiclaele
leicaliza-se na Feissa e-lei Almirante (9.000 metrcis).

llma análise da configuraçãci atual ele) rele,,c> ela


crosta terrestre presente S()l1 a coluna de ágL1a que ccins-
titui eis oceanc)s tem pe)ssil1ilitae-lei a ceJmpartimentaçãcJ
clc>s fundos marinheis atuais etn grandes unidades de
relevei, moldaclas tante> peleis preicessos tectêiniccJs glei-
bais ccJmo peleis eventos relacic)naclos à clinâmica
seclimentar atuante nos últimcis milhares de ancJS.

J\1argeancle> els ceintinentes predominam releveis


planos ele natureza essencialmente seelimentar qt1e C(Jns-
tituem a Plataforma Continental (b'ig.13.2).

t\s platafeJrmas ceintinentais ccJnstituem extense3es


submersas clcis ceJntinentes, apresentandcJ pequena
cleclividade rumo acJ altci mar (1:1.00()). SãcJ ceintÍnL1as
e largas em cJceaneis de) ripei AtlânticcJ, comei margens
passivas (ver (~ap. 6), a exemplo dei enceintracleJ ncJ
liteira! sucleste brasileirci, onde a plataforma ceJntinen-
tal apresenta largura e-le mais de 160 km. Plataformas
Fig. 13.1 Mapa fisiográfico dos fundos oceânicos

Elevação ou - Talude
sopé continental continental Falhas
Arco de transformantes Continente
Plataforma Guyot
ilhas Planície abissal Ilhas
continental Cordilheiras vulcânicas
Vulcão • •
Planície abissal Montes ocean1cas Planíci
Submant submarinos
••
ocean1co Ilhas. . abissal
vulcan1cas

Fig. 13.2 Perfil das unidades do relevo submarino


C<Jntinentaís cl(l cipci PacíficcJ, <JC<irre11tes e111 rnargcns l1eh:cera111 J)r<ilc H1gan1cnt<1s ela c-lre11agem ccintír1cr1 tal.
tectclnican,ente ati,·as, apresentam larguras reLluziLlas e l)uranrc esses 11crÍclclc1s, as linhas ele C<Jsta t(1ra111 cc1ns-
são ladeadas p(lr fcJssas sulJ1narír1as, cc>n1<> é· cibserva- tantct11e11te cleslcJcaclas, resultanclcl na C<J11str11çàcJ e
clo nas platafcJrmas ccintinentaís cio l)eru e ll<i (~hile. cl.:,tr11íçàc1 llc in(uner<)S atnl)ientes C(lsteircls, fc1rma-
Lh ,s 11.:la í11teraçàc) ll()S fe11cín1cn< lS ele clinfuníca marir1ha
r\<1 lc1ngc1 clcJ 'l'en1pc1 Geolc'1gíco, eis eve11tcJs ele
, ,nlL1,, 111arés, C<)rrentcs), cc>tn <>S prclcesscJs gecJl{lgÍ-
ciscílaçilcJ relativa ele> nível clrl mar têm ex[)<JstcJ, tc1tal-
cr.,~ aru;1ntcs scll)rc (lS C<lntir1ent<.:s.
n1ente ciu l'.m 11arte, as platafcJrmas ccJnti11cntaís,
tra11sfortnar1clcJ-as cn1 pla11ícies ccisteiras cincle se es t,1- l ·.111 algLu11as áreas Llci 1,laneta, principalmente na-
yt1eL1~ sul)t11cti(las, 11cl 11rcse11te <lLl t1<J passaclc> recente,
.1 alter,1c<'ics Llcc<irrentcs clcis fencítnenc>s (le glaciaçàc>,

a .1, pL1raf<,r111as ccJnti11e11taís aprescnta111 rcle\r<is irrc-

_\!11lares. C(>t11 arr111lit11cll'.s ele clcze11as ele 111ctrcis,


recclrt,ill<JS p<1r \ales 11r<iti.1nclcis.
l 111a a11:ílísc rr1ais clctalhada elas plata6.)rmas cc>n-
tinc11tais e,,iclencia a <>ccirréncia ele inrcrr11pçc"ies
tcip<Jgráficas neste relevei [Jlan<J, claclas pela prcse11ça
(ie fciçi}es cie C(Jnstruçà(J l)Í(Jgêníca (recifes, at{>is), além
llc clefcJrn1açc""ícs rrustaís, gcraclas p(ir ativíclaclcs vul-
cânicas ()U ()Lltf()S C'VCní()S teCt()t1ÍC()S (l'igs. 13.3).
Ilha vulcânica orlada por um recife costeiro lJ111a n1L1clanca., accntuacla 11:1 llcclivíc!aclc c.l<J relevei
r11arca <J lin1Ít<: externei ela plataf< irma ccJntínental. l~sta
transiçâc>, clcn<Jn1í11acia Quebra da Plataforma, n1arca
a passagc111 para <> Tall1<le Continental (I}ig.13.2).

() T'aluclc <.:clntir1ental ccinstittlÍ u1na unicl,1c.le ele


relevci, tan1\Jén1 ele C<JtlSttltÇà(J sec!Í111entar, c111e se í11-
cl ina acentuaclan1l'.11te (1 :4CJ) r11m<J ac>s fLtnclcJs
<Jceá11iccis, até prclfunclic.lac.les da circ!e111 ele 3.(l()(l
tTictr<ls. () relev<J e-lei ral11cle ccJntinental nãc1 é l1(Jn1cJ-·
gér1c<i, cJccirrenc!cJ c.1ucbras ele <.iecliviclade e ta1nbén1,
fre<.1üentc111cntc, câ11icins e vales sti!J111crscis. ()s câ11icJns
Recife-barreira e laguna: o vulcão afundou sul,n1arin<Js sãci vales prcifundcis, ercJciidcJs scit)rc a
platafcirn1a C(JI1ti11ental externa e o taluc.le ccintincntal,
atingindrJ, p<)r vezes, até a elevação ccJntinentaL

ilha

"' ?tJj\\~, :;::~" Tvasa calcária


·· .· \ recife
. • • interno
areia ca 1cana
(~ húmus)

Atol e a sua laguna: o vulcão desapareceu

Fig. 13.3 a)Formaçõo de um atol segundo a teoria de Darwin; b) f-\tol das Rocas . Foto: Carlos Sechin.
Na l,ase elcJs taludes c<intinentais, preelciminante- l:,re grancle C<Jtnpartimentci fisi<igráficci, f<ir111a-
mente em margens d<i tipo J\tlântic<J, p<Jde ser clcl pelas trés unielac-les c-lescritas acin1a, ccim estrt1tura
inelivieluali7ada Lima unidade de relev<J irregular, crusta] sin1ilar à d<is ccJntinentes acljacentes, é den<J-
c<instrL1ída pcJr seqüências seclimentar~s, cliretamente minacl<> .\largem c=cJntinental (Fig 13.4).
rclacicJnadas acis prcicesscJs ele tra11spcirte e elep<isiçàcJ
'.\ as n1argcns c<i11tinentais de> ti1,<> 1\tlânticci, apc'>s
ele sedirnentc,s que mcilcla111 as plataf<irmas e talueles
a :\largen1 Cc>ntinental, c1esenvcil,1 e-sc a Planície
ccJntinentais, ccJnheciela ccJmci Elevação ou Sopé
Abissal (l .-ig. l .1. 7 ). r\s Planícies ;\l)issais sã<i áreas ex-
Continental (Fig.13.2). 1\ J-,]evaçãci C<intir1ental csten-
tensas e prcifL111das, de relevei relativan1ente 1,lanci,
c-le-se em prcifunelidades entre 3.000 e 5.()00 metrcis e
que se estende111 e-la base das elevações ccintinentais
apresenta declivielaeles intermediárias entre as cilJser-
até <JS rele,,cis íngremes e abrupt<>s cJas ccJrdilheiras
vac-las nas plataformas e ncJs taludes ecintinentais. P,sta
feiçãci é ccinstituída pred<imi11antemente por depéJsi- ciceânicas, e111 pr<ifunc-liclades supericires a 5.000
t<is de sedimentcJs ele <Jrige111 ccintinental, muitas vezes 111etrcis. Iisses compartimenteis, c1ue constitL1em as
associados a feições de clesl<icament<J e/ eJu maicires extensões territcJriais d<is relevos deJ fund<i
esc<irregamentci, ou entãci a feiç<Jes ele escarpamento de tc>cl<is CJS <iceanos atuais, sã<J lcical111ente interr<>m-
erosivc) n<i Taluele C<intinental. pidcJs pela presença de séries de Nl<intes SubmarincJs
(ele,,aç<Jes oceânicas ligadas às C<Jrdilheiras oceânicas
e às elevações continentais, com alturas entre 200 e
1.000 metr()s), cJu ainda por l\ícintanhas Submari-
nas, que sã<J elevaç<Jes isciladas, p<)dendci apresentar
plataforma
continental talude mais de 1.000 metros ele altura. _1\ parte emersa elas
(m) conti nenta 1
o I nível do mar irregularidades do relev<) das planícies abissais cons-
elevação ou titui as ilhas <)ceânicas.
2000 sopé continental

4000

6000

Fig. 13.4 Perfil esquemático das margens continentais

Tabela 13.1 Porcentagem em área dos oceanos e compartimentos


fisiográficos dos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico.

'
Dados Geométricos Oceano Pacífico Oceano Atlântico Oceano Indico

% em área
dos oceanos 53% 23% 24%

Profundidade média 4.282 m 3.600 m 4.000 m

'
Area da plataforma
continental (x l 0 6 km 2) 2.712 (1,6%) 6.080 (7,9%) 2.622 (3,6%)

'
Area do talude
continental (x l 0 6 km 2 ) 8.587 (5,2°/o) 6.5 78 (7,6%) 3.475 (4,7%)

'
Area de elevação
continental (x l 06 km 2) 2.090 (l ,6%) 5.38 l (6,25%) 4.212 (5,7%)

Nota: as porcentagens entre parênteses ·indicam a freqüência relativa do compartimento de relevo em cada oceano.
() relev() ciceânico apresenta, ainda, uma impcir- :'\eJ eiceancJ Atlântico, a Ccirdilheira ()ceânica, aí
tante feição presente nas 7,()nas ele suhducçãci ele placas denciminada Mesei-Atlântica, cicupa a região central,
litcJsféricas (veja C~ap. 6), clenominaelas fossa subma- partindci-o em eluas porções de ccinfiguraçào ele rele-
,
rina. 1\s fcJssas constituem clepressc3es alcJngadas e \·o similar. Nos ciccancJs .Pacífico e Indicci, há
estreitas, ccim laterais de altas cleclividades. cordilheiras que c)cupam posições marginais, bem
A Cordilheira Oceânica (l;ig.13.2) é <) ccimparti- como rifts que resultam do arranjo das várias placas
-
que celmpoem a crosta ocean1ca.
. .
ment(J fisiográfic(J construído preelominantemente
pel()S pr()cessos vulcâniccis e tectêiniccis de fcJrmaçàcJ
de crosta oceânica, relacionadcis a(JS movimentos das 13.2A Origem e a Distribuição
placas e superpcistos por prcicessos eleposicicinais ele
dos Sedimentos nos Fundos
ciceano prcJfunclo (Cap. 6).
Oceânicos Atuais
r\s C()rdilheiras (-)ceânicas sãeJ feições lcingas e ccin-
tínt1as, fraturadas, com escarpamentos ladeadcis pelas 1\ maioria das partículas geradas pelo intemperismo
planícies abissais. F,ste compartimento, presente em (Cap. 8) e erodidas (Cap. 9 a 12) nos continentes é
rodeis os eJceancis, é a expressãci espacial das zcinas de depositaela nas áreas oceânicas. NeJ entantei, os secli-
acresçã(J das placas litcisféricas. As rq,riões centrais das mentcis aí depositaclos, ccJnstituídeis por uma grande
ccirdilheiras oceânicas apresentam as porções de maior varieclaele de tipos de partículas, pcielcm também pro-
atividade tectêinica dos fundeis oceâniccJs atuais, cc)m vir de <Jutrcis procl".ssos (Fig. 13.5).
fraturamentcis e intrusões ele diques e soleiras de l1asalto,
além de ativiclades hidrotermais.

11

1. Transporte eólico
2. Transporte fluvial
3. Erosão costeira
4. Queda de cinzas vulcânicas
5. Detritos biogênicos
6. Autigênese 6 7
7. Transporte por gelo
8. Fluxo gravrtacional de massa
(deslizamentos e correntes de turbidez)
9. Atividade hidrotermal
1O. Vulcanismo submarino
11. Queda de material particulado a partir
de correntes de ar de altas altitudes

Fig. 13.5 Os processos de transporte e deposição de sedimentos no meio marinho.


Grande parte elcJs elepósitcJs sedimentares marinhcJs míni<l ele sedimentcJs terrígcnc>s, e1n algumas áreas de
é compclsta por um tipo predcJminante ou misturas margens ccJntinentais, a alta produtiviclaele bicJlc>gica
variadas de sedimentos origináricJS
'-
de fontes c1iversas, ciu ccindiçc"íes físico-químicas adequaelas levam à de-
'
tais como os precipitados de sais a partir da água cio posiçàcJ de volumes significativcJs de sedimentos
mar (seclimentcJs autigênicos), conchas e matéria cJrgâ- bicJgêniccJs, seja de natureza carl1cJnática (restcJs de
nica derivadas da vida marinha e terrestre (seditnentcJs conchas e esqueletcJs), seja carboncJsa (matéria cJrgâni-
biogêniccJs), prcJdutos vulcâniccJs e hidrotermais ori- ca resultante ela deccimpcJsiçàci de cJrganismcJs
ginados das atividades magmáticas no meicJ marinhe> marinhos). Dep(Jsitos de sec-!imentcJs terrígencJs em
(sedimentos vulcanogênicos), além ele uma pequena áreas ele bacias cJceânicas sãci fcJr1nadcis c1uase que ex-
quantidade de fragmentos cósmicos, atraíclos pelagra- clusivamente pcir ar6rilas transportaclas em suspensão,
vielacle terrestre, c1ue se depositam em bacias cJccânicas cm áreas adjacentes a dcsembcJcacluras de granclcs rios,
(sedimentos ccJsmcJgêniccJs). e elepcJsitadas cJnde a scdimentaçàcJ de partícttlas de
cJutras naturezas nãcJ é favoreciela.
Dentre essas cinccJ possíveis fontes ele seditnentcJs
para CJS fundos cJceâniccJs, apenas CJS prcJdutcJs de três () predcJmínicJ das partículas bicJgênicas cJccJrre,
(terrígencJs, bicJgênicc>s e autigêniccJs) respclndem pela pc1rém, em assc>alhcJs ele l1acias c>ceânicas, cinde cJ in-
quase totalidade dcJS sedimentos recentes que reco- gresscJ de material terrígencJ é limitaclcJ. C)s seeliment<JS
brem as bacias cJceânicas atuais. ele cirige1n lJicJgênica sãcJ elencJminaelcJs genericamen-
te ele \'asas, ccJmprccndenelcJ as carapaças de
Ao lcJngo das margens continentais, estãcJ clcpclsi-
constituiçãcJ carlJcJnática c>u silicc>sa. ;\ CJCCJtrência ele
taelas predominantemente as partículas terrígenas,
clep(Jsitos carbcJnáticcJs CJU siliccJSCJS no funclcJ elas ba-
transportadas para CJ meio marinho na fcJrma de secli-
cias ciceânicas clepcnde de ccJndiç<:ícs físico-quín1icas,
mentos transpcJrtaclcJs por tração (grânulcJs, areias) cJu
c1t1e eleterminam a scJlulJi!idadc ela sílica ou dcJ carb<J-
suspensãcJ (siltcs, argilas) (1 ;ig. 13.6). Apesar elcJ predcJ-
nat<J ele cálcio, Tabela 13.2.

60"

áreas emersos/ Glóc,o c1ogêr1co


' .
p1o•oiormo rnorinho c:orbonó!oco s,_<1C:OSO
ar91io
verrMeiho
SCdir"rOnlos
rn i.stos
cont;nen!al

Fig. 13.6 Mapa de distribuição atual de sedimentos nos fundos oceânicos.


Tabela 13.2 Porcentagem de tipos de sedimentos que
recobrem as bacias oceânicas

Sedimentos Oceano Pacífico Oceano Atlântico Oceano Índico

Vasos de foraminíferos 36% 65% 54%

Vasos de diatomáceas 10% 7% 20%

Vasas de radiolários 5% 1%

Argilas continentais 49% 26% 25%

Fonte: Kennett, J. 1982.

I)epé>sÍtcis ele minerais autigênic<Js pc)clcn1 ser en- 1\<J l<)ng<> ll<J tet11JJ(J gecJléJgÍc(J, crn situaç<>es t1Ís-
cc>ntraclcJs 11as n1argcr1s cc>ntÍ11entais (ltl n<>s assc)alh<is ti11tas c'lc clistri!Jt1içào lie massas c(Jt1tincntais e, \J<irtant(>,
elas LJacias (Jceánicas, pcirém apenas cJnde tenr1am si<J<J tlc (>ceancJs, a circulação <Jccànica f<JÍ clifcre11tc ela atLt-
criadas c<i11cliçc1es físicci-c1uín1icas (te1n1Jeratura, rª:h, a 1, levand<J a<> clcscnvt>lvímentcl l1C prcJcesstis
p 1--:1) aclec.JL1aclas à cristalizaçàtl dcis 1ninerais a partir da e>ceat1l>gráfic,is e ele clepcisiçàti ele scdimcr1ros IJastan-
água clci 111ar. te cli, ersc1s e-leis att1ais (l;igs. 13. 7 - a,l,,c,cl,e).
0

( )s cle1)é1sittJs tle setli1ne11tc>s vt1lca11cigênicc>s pre- 1\lé111 cliss(l, <JS pr<iccss<Js de fc>rmaçàc> e su!JclLtcçàc>
cl<H11inan1 a11e11,1s j11r1t<> às :treas ele ariviclacle mag111ática, ele placas levaram all clcsen\"(J!vin1ent<) das grancles
tais Ct>tnci as cac.leias cJceú11icas e <>S "hot-spo!s'~ <JLt c.le ur1ídacles clcl relcv<J (lceànicl1, tais cc>n1<> as cl<>tsais <lee-
ativiclae!e !1ic-lrc>tern1al ( Ca\J. 17). l·'.stas áreas re11rcse11- á11icas, asslJCÍaclas a Z<Jnas ele fraturas, e as 1nargcns
. . .
tan1 regi<'>es restritas d(>S funlll);; tJcct1nic<>S, eiint1nenta1s atJ\•as.
c<>m11aratívamente às cli111ens<1es clcJs dc1nais C<)mpar-
;\ <>rientaçâ<> e ft>rn1a clessas gra11des ltníc.lacles c1c
tit11ent<lS fisÍ<Jg1·áfie<Js marir1l1<>s. '
rele,'<) C<Jntrr>hu11 a circulação <Jccánica, c1ue é u111,1 d;1s
pri11cipais rcsrJ<lt1sávci, peleis pr<>eess<>s clep<lsici1Jnais
13.3 Processos Responsáveis pela e111 <Jccanc, a!Jert<,. l)esta n1aoeíra, sà<> <JS pr<>ccsscls
Distribuição de Sedimentos tcct<'inie<>S c1t1c iràc) co11trcJlar a c!istribuiçà<J <1a 1naÍ(Jr
parte tl(JS \Jtincipais tip<is de sccliment<is
Marinhos (,·1dcancJgê11ic<JS, terrígcn(>S, bic>gê11ic<)S, autip;ênic<>s).
r\ (_lisrril11tiçàcl <_Je seditnent<>s ncJS f1.1nci(JS llccàni- 1\lé111 disse>, a C<Jnt1guraçà<1 attial elas l)acias occá11icas
C<>S 11,'ttl é alcatr'JrÍa, [)CJÍs <llJe(!ccc a 11111 paclrà(> cletern1ina a c-listril)uiçào ll<)S principais sisternas ele cir-
cletermi11atl<> p<lr 11n1a série c1c prticcsscJs ge<Jl<'igic<>S culaçâcJ <Jccá11ica.
e c>ceat1(igrát1ccJs, de escalas tcmp(lral e espacial l)as-
tante clistintas. Vcrcrr1<1s a seguir c1uais sàc, <JS principais 13.3.2 A circulação oceânica
pr<Jcesstis e ccirr1<J eles atuan1 11a <_1Ístril>uiçàcJ <le scc1i-
111cnt<>s ncJs <Jceancis. 1\ circt1laçâ<i superficial c-l<JS <iceancJs é ttm i111p<>r-
tantissimcJ rncca11ismci de cci11trcJlc e c!istril1uicàci ~'
clcis
fltixcJs de partíctdas sedi1nentares que recc1bren1 <JS
13.3.1 A tectônica global fLtnclcis ciceánicc>s atuais. f.".sta eircL1laçàcJ é cleterrnina-
;\ 1cctôrtica (~l(Jl)al, c11jc>s ccJnceit<>s achan1-se a1)re- cla pela Ír1teraçà(l entre (JS pr<icesscJs atn1cJsférícc>s, a
se11taclcJs ncl (~ap. (,, é <J granclc n1ecar1isn1ci resp<>nsávcl c!ispc>siçàc> elas n1assas cc>ntincntaís e <> n1c>vi111entc> de
pela rn<Jvimc11taçacJ e clístrihuiçâci das massas cci11t1- r<>taçâ<J c1a 'ferra. 1\ssi111, no l1cn1isféric> 11c)rte, a circu-
ncntais e, pcirta11tc1, <.las l>acias c1ceánícas. laçàc> cJccánica ele superfície se JJr<Jcessa O(l sentidcJ
80'
6D"
h<)ráric> e nc) he1nisférici sul, n<l se11tidci
anti-hcirárici. Pcir cxcn1plci, nci J\tlântic<i
Sul, dcsenvc>lve-se un1 fluxci principal a
partir clci cleslcicamentci ela C:c>rrente clc
l)enguela, ele águas frias, aci !cinge> cla
'
C<>sta africana, até a altura de ;\ngcila. i\
n1edida c1ue vai atinginel<> latitudes me-
nc >res, este fll1xci vai ganhandc> calcir e,
40º Domínio de depósitos
lar:Jals (PvrmlanoJ nas prc>ximidac-les elci b:quaelcir, deslc)-
80'
ca-se para ciestc, gcra11dci a (~cirrente Sul
60'
l ·'.c1uatc)rial, c1ue se eleslcica até ci litc)ral
,, ,,
11c)relestinc) brasileirc>. ;\ partir elaí, ele-
fi~~rJJ ;1ii!1:.x~ .•\tt\;•1· senvcilvc-sc, ac> sul, a C:c>rrente elci Brasil,
ele águas CJLtentes, LjllC se estencle pcir
Oº quase t<>cla a margcm ccintinental \Jrasi-
leira. b:sta distrilJuiçãc> cle águas LJuentes
e frias ccJ11elicic>na fc)rtemente a prc1cll1-
·<.·-- tivielaele tJic>lc'>gica na ccista africana, cc)n1
~ . ,.,1;~1J•.: /_...;,I,..•
,;,•1,._,_,/;$,'I..*;;.'-~
'
,
a\Jundante prc)e-luçãc> ele materta cirga-
' .
80' 80"
60' nica e cleric>siçãc> ela mes1na nc>s
seclimentc>s. I><ir c1utrc> laclc>, as águas
que11tes ela C~c>rre11te cl<> Brasil, se nà<)
favcirecen1 a Produção Primária, sãc>
resp<H1sáveis pela tnanutençãc> clc>s ex-

tcnsc>s cler>c'isitcis carl1<1náticc>s ela cc>sta
leste e nc>re-leste l>rasileira.

.. . 1\ Circulaçãc> Termohalina é a c1r-


,: ,: v/i <(\:··,·}?) . .·/, ')) c ulaçãci ineluzida 11ela 111uclança ele
60°
cle11siclac1e, cletern1inacla 11elas variaçcJes ele
tetn]Jeratura e salinidade ela água ele> tnar,
scnclci a grancle rcspc>11sável pela circula-
0

çãci ciceânica cle prc)funeliclacle. le1n cc>m<>


cirigc111 a fusãci de gelei elas cakitas pc>la-

res, cc)m a ccinsec1üente fcirmaçãci clc águas
111uitcJ frias e, pc>rtantci, mais e1ensas, e um
elesl<ican1entci en1 clirecãci ., a latitueles mais
l1aixas. l~ste cleslcicarnentci leva, pcir sua
8D 0
60° vez, à 111c1vimentaçãci lateral e \"ertical ele
80'
60" tnassas cl'á1c-,1Ua ele elensiclacles tncncires e
a<i seL1 arranje), se1c-,'L1nelc1 a latitL1clc e a ]Jr<>-
fundidade (Fig. 13.8).

Além de apresentar fluxci intcnsci ci


O' bastante para prc)mciver a crcisãc> de
funclcis 111arinhcis e a reclistrilJuiçà<) de
secli1ncntc)s 1Jreviame11te clep<>sitaelcis, a
circulaçà<> tern1c)halina cc)ntrola, físicci-
- - 60° quimican1cnte, a depcisiçãc) de partículas
80'
ncJ func!c) occânicci. Há lima fcirte de-
Fig.13.7 Distribuição de massas continentais e oceânicas a partir do início da sepa- pendência entre a scilulJiliclade itinica e a
ração dos continentes até o Recente. temperatura. Nci cas<> clcis ciceancis, CJ
ele ft1ndcJ estiver l1aixa ci bastante para permitir a
s<ilubilizaçãeJ dei carbcJnato, nãc) haverá a f(irmaçãci
de depósitos !Jiogênicc>s carbcJnáticos. N<ls oceanos
circumpolares, as baixas temperaturas, ass<)Ciadas à alta
produçãcJ bicJlógica, levam à formação predeiminante
-.,.E de depósitcJs biogêniccJs silic<JS<Js, constituídeJs por
<I> 2 esqueletos de Diatomáceas e Radieilários.
"O
a
·-1!
"O
4
C)s processos gravitacionais associados às Corren-
::,
tes de Turbidez são os mecanismcJs mais efetivcJs na
ê
... C<Jnstrucão
, de cânions e na transferência de sedimen-
40'N Oº
Latitude tcJs para eJ eiceano profunde). Essas correntes se
pr<ijctam, a partir da b<irda da plataf<Jrma e deJ talude
Fig. 13.8 O esquema de circulação termahalina no Oceano
Atlântico.
continental, a velocidaeles prcJporcionais às diferenças
ele densidades entre o íluxcJ e o meio aqt1(JScJ e à
cxctnpl(i tnais evielcntc está relacÍ<)nad(i à sc>lu!Jiliclade L-leclividaelc elo talude. ()s depósitcis sedimentares asseJ-
cl(l carbonat<>, que representa a lJase elas partes duras ciadeJs às correntes de turbie-lez sãcJ dencJminados
ele um sem númerci ele <Jrganism(JS marinh(is. 1\.ssim, turbielitcis e pcJdem recobrir extensas áreas d(is fund(is
depenclenel<i ela temperatura ela ágt1a elei fur1eleJ, pclele eJceânicc)s préJximos às n1argens continentais (Fig. 13.5).
ser e1ue nà<J (JC<Jrra a elepclsiçãcJ elas carapaças
carl1c>náticas, apéis a mcJrtc elcJs cJrganismcis, eleviclci à
13.3.3 As mudanças climáticas de larga
sua se>lu!JilizaçãcJ. l)efinimos o ccinceit(J L-le Profundi-
escala e as variações relativas
dade de Compensação do Carbonato c<in1(J a
do nível do mar
11rofundidaelc limite, dcterminaela pela tetnperatura,
alJaix<i da qttal eJ carbcJnatci será sc)lt1bilizaelcJ. l)esta () rcgistrcJ geoléJgicci revela e1ue o planeta está st1-
maneira, pc>cle-sc compreender e1ue, mcsm<J en1 áreas jeitci a imp(irtantes mudanças climáticas, que têm ccJmo
ele alta prcidt1çàeJ bicJléigica, se a temperatttra ela água causas principais fatcJres astrcinômic<Js, atmc1sféricos e
tectônic(is. As mt1elanças climáticas, com registreis de
perÍcJdcis glaciais e interglaciais,
>27ºC
têm reflcx(J marcante, não apenas
24 - 27ºC nci volume de água armazenada
21 - 24°C nas bacias (Jceânicas, mas também
10 - 21ºC em grandes mcidificaçc'ícs nos sis-
11\ffl 12 - 1OºC temas de circulação oceânica (Pig.
6 - 12ºC 13.9).
<O - 6ºC ,
• gelo ou terra E sabid(J qt1e o últimcJ evcntcJ
glacial ccJm alcance glcibal teve
seu máxim(i há cerca ele 18.000
anos e qt1c CJ aprisicinamcntc> ele
água nas cal(Jtas lev(Ju a um abai-
>27°C xamento de) nível do mar cm até
24 - 27°C 160 metrc)s. Isto significa 9L1e,
21 - 24°C e{urante e) último máximo glacial,
"' 10-21"C
quase reidas as áreas que fcirmam
12 - 10°C
as plataformas continentais att1ais
6-12"C
encc)ntravam-sc emersas, ou seia,
<O - 6°C
submetidas a cc>ndições ambientais
• gelo ou terra
C(impletamente diferentes t-las
att1ais. Assim, a n1aioria dcJs gran-
des ri(>S transpcirtava sua carga de
Fig. 13.9 Mapa das temperaturas oceânicas durante o máximo glacial há 18.000 anos.
13.1 Por que a água do mar é salgada?
A água do mar é uma solução rica em sais, com 85°/ci de cl<)reto de sódio (NaCl), também conhecid<) como sal
comum, ou sal de cozinha.

São duas as principais hipcíteses sobre as fontes de enriquecimentc) de sais para a água do mar, sem que a ocorrência
de uma delas pc>ssa significar a ausência da outra.

A primeira delas, a mais C<)nhecida, e que durante longe) tempo se acreditou ser a única, é da origem desses sais a
partir da dissolução das rochas da superfície terrestre e de seu transporte pelos rios até os ocean<)S. P<)rém, a análise
comparativa entre os sais dissolvidos trans-
portados pelc>s rios e a composição dos
sais presentes na água do mar demonstra
que nem todo sal existente poderia ter se
originado só através deste processo.

A segunda hip(>tese está ligada a<>S pro-


cessos vulcânicos existentes nos assoalhc>s
marinhos. As lavas originárias do manto
trazem diretamente ao oceano água ju-
venil, ou seja, água cc>ntida nas camadas
interic)res do planeta e que nunca esteve
na forma líquida na superfície da Terra.
Esta água juvenil contém, em solução, vá-
rios constituintes quimicos como clc>retos,
sulfatos, brometos, iodetos, carbc>no, clo-
rc), boro, nitrc)gênio e muitos outros.

Além disso, devido ao calor do mat,lffia, Fig. 13. l O Depósitos de evaporitos no Mar Morto.
a água fria dos fundos dos oceanos, ao
percolar as rochas do assoalho, se aquece, ac> mesmo tempo que trc>ca elementos químicos com <> meic) rochoso.
Ao ascender, integra-se ao ambiente <>ceânico (ver Cap. 17).

As interações entre <>S constituintes quimicos dissc>lvidos através c-le um C<>njunto de complexos prc>cessc>s, envolven-
do trocas entre oceanos, atmosfera, fundc)s marinh<)S, ric>s, rc>chas ela superfície, ma6m1a, etc., originam um balanço
geoquimico estável do meio marinh<>, fazendo C<>m que a quantidade de sais dissc)lvidcJs mantenha-se constante pc)r
décadas, séculos, milênios.

Muito embora a concentração salina e a dinâmica dos oceanos não favoreça a dep<)sição de sais, cm condições
particulares, quando C)C<>rrc a livre circulação das águas, cc)m<> nc>s mares internos, ou onde os eventos c-le evap<)ra-
ção superam os de recarga de água, poderá <)C<)rrer a deposição dos sais dissc>lvidos na água de) mar nc>s fundos
marinhos. Estes depósitos salinos formad<Js preferencialmente em lagunas e mares reliquiares são denominados
genericamente evap<>ritos (I<igs. 13.10 a e b), sendo o Mar
Nlorto uma elas áreas mais evidentes da formação atual
destes depósitos. (I<ig. 13.11). Ali, a salinidade das águas é
dez (1 ()) ,,ezes superior a qualc1uer outrc) <Jceano com altas
concentrações de magnésio, sódio, potássio e brometos.

Por causa desses sais, as águas elo Mar M<>rto sã<J ricas em
propriedades terapêuticas n<) cas<> de várias dc)enças de
pele e problemas respiratórios.

O Mar Morto localiza-se na maior cavidade tect<)nica do


planeta, a cerca de 395 metros abaixe) do nível do mar
Fig. 13.11 Vista do Mar Morto. Fotos: Wilson Teixeira. atual.
sedimentos diretamente até o talude, levandc) a uma "\ maicJria das one-Jas que atinge a ccJsta é gerada em
maior deposição de sedimentc)s terrígencis nas partes zcinas de alta pressãci atmosférica, nci meic) deis ocea-
mais profundas dos oceanos. ncis, prcipagandci-se, a partir e-Jaí, em elireçãci acis
cc)ntinentes. A rigor, não c)ccJrre transporte de massa
Mudanças climáticas implicam, também, alteraçc)es
pela cinda, mas e-Je energia. Pcir cJutrc) ladc), ao se ob-
na umidade relativa e na pluvicisidade sobre áreas ccin-
ser,-ar e) compc)rtamentcJ de uma partícula de água,
tinentais, C) que influencia diretamente C) intemperismo,
prc'Jxin1ci à superfície da água, cm uma <Jnela e-Jc mar
a ercisão e ci apc)rte de sedimcntc)s terrígenos para <)S
abertcJ, ,-erifica-se que esta exerce um mc)vimentcJ
oceanos.
<>rbiraL e1uase circular. Partículas lcicalizadas a\Jaixo da
superfície iràci também executar este mcJvimentci, pci-
. .
13.3.4 Os processos hidrodinâmicos ,
rcm ccin1 raios pr<>.gressi,,amente menores, ate eiue, a
,

em áreas costeiras e plataformas uma prcJfundidae-Je equi,·alentc à metade dei ccitnpri-


• • .
cont1nenta1s mente> de <)nela ela cinda gerada, nãci haver~1 mais
mc),•imentcJ c)rbital da partícula de água.
C)s fundeis marinhos de áreas cc)steiras e as plata-
'
formas continentais são as porções dos oceanc)s onelc 1\ meelida que cJnelas ele superfície, geradas cm mar
• ~ A •
alJerto, se propagam em elireçãci às áreas mais rasas,
as 1ntcraçoes entre os prcJcessos astroncim1ccJs,
meteorológicos e c)ceanográficc)s cc)m os prciccsscis elas passam a scifrer um processe) ele m<>e-lificaçãcJ,
sedimentares sãc) mais intensas. Nessas áreas, além elcis determinadcJ pcir sita interaçàci cc)n1 ci fune-JcJ mari-
fenômenos analisados acima, ocorre também a ação nho. A prc>fundidade na qual se inicia essa interaçãci é
de três processos hidrodinâmicos que têm papel fun- aprc>ximadamente eq1tivalente à metaele dcJ cc>mpri-
damental nos mecanismc)s de erc)são, transpcirte e mento de cJne-la das onelas incielentes (Fig. 13.12). F,sta
dcpcisição de sedimentc)s: as ondas, as marés e as prof11ndidadc é ccinsieleraela ccJmc) o limite extericir

correntes costeiras. da platafc>rma ccintinental interna, senel<1 taml-Jém
clenciminada nível de l>ase elas onelas.
As cindas oceânicas são as grandes respcJnsávcis pela
remobilização de seelimentc)s nas platafc)rmas ccinti- 1\0 se aproxin1ar ele áreas mais rasas, ci mcivimentcJ
nentais e na fcJrmaçãcJ das praias (Pig. 13.12). Para elas partíc11las ele água nas <>nelas, ciriginaltnente circ11-
entender sua açãc1 sobre os prc)cesscis de scelimenta- lar, passa a elípticci, apresentanelci, juntei aci fundei, um
ção, é importante compreender a movimcntaçàcJ de mc)vimentc) e111e se assemelha a un1 vai-e-vem nc) scn-
uma partícula de água em uma onda. tielci de propagaçãc) ela cinela. ScJl1 <J pcintcJ ele vista da
c-Jinâmica sedimentar, esta 1ncivimentaçà<> peide ser su-
ficiente para nãci permitir e1ue partículas finas (areias
ª--•direção das ondas de propagação muitci finas, siltes e argilas) pcJssa111 ser dep<isitaelas,
le,,andci a uma e-lepcisiçãcJ preferencial ele frações
granulc>métricas mais grcissas (areias méclias e grcJssas)
partícula
o 110s funclc>s dc>minadcis pcir cinclas.

1\cJ atingir áreas de prcJf11nclielaeles mencires que 1 / 25


elc1 seL1 cc1mprimentci de cJnda, a eliminuição elas veloci-
a, e
..., o elaeles cJrbitais, j11ntc) ao funelc>, em ccimparaçãci cc)m a
..g...,
..., o
comprimento do ando superfície, faz cc)m e1ue a cinda perca cJ ee1uili11rici, C)CC)r-
.Ee -e
._ "E
o rendcJ a arrebentaçãci. Existem três ripeis ele arrel1entaçàcJ
a. o b--•direção das ondas de propagação
u
o mais evidentes (Fig. 13.13), c!efmidcJs pela fcJrma e ener-
...,"'"
- ----- - gia das ondas incidentes e pela tclpo1c.,>íafia ela zcina ccJsteira

so
V
o o na e1ual a onda incide. A arrebentaçãc) ascenelente occJrre
em funelcis de alta e-Jeclividade. A arre!Jentaçãci
mergulhante cJcorre em fL1ndos de declividade média,.
quando as cristas das c)ndas se rompem apc'is formarem
um enrolamentc) em espiral. Pinalmente, a arre]Jentaçãci
comprimento da onda
deslizante <Jcc)rre nas regiões de tcJpografia de fundo mais
Fig. 13.12 Esquema de movimentação de onda em a) águas SL1ave, e1L1andci as cJnclas e1uebram perccirrendo uma gra11-
profundas e b) águas rasas. ele elistância (~'ig. 13.14).
f:m Z(>nas preferenciais ele depc>siçàc) llC sedi111cn-
tc>s, ccimo resultado d(>S process(JS ele arrel1entaçà(1 ele
deslizante
cJne-las, clesenv(Jlve-se (l aml1iente praia!. Praias pc>-
espuma clem ser C(Jnceituadas cc)mcl aml1ientes sedimentares
C(Jsteir(JS, f(Jrmad(JS mais C(>mumente pc)r areias, de
C(lmp(>siçà(J variada (Fip;. 13.15). O limite extern(> da
praia é marcaelcl pela ciccJrrência ele uma feiçà(> ele
funel(l, fc)rmaela pelo inícic) dcJ 11rcJcesS(l ele arrel1en-
- nível da pra ia
taçà(>. Seu limite interne) cc)nsiste na Z(Jna ele máxima
incielência de c>ndas ele tempestacle (berma).

I~m um ambiente praial, ap(Js a arrel1entaçà(J, cJccJr-


re a zclna ele surfe e, ap(ls esta, a zc>na ele cspraiament(J.
mergulhante
( )s processcls de incidência de cJndas scJl1re as praias
levan1 à f(lftnaçà(J de feiçi:ies t(>p(>gráficas características
. .. . ·.. :
--- ----- -- ---- -- - --- -- --- ...,,,;.. ___________ ""'""~:~:.;,4·~;,:;::,:c,: .. lle calla utn ekls pr(JcesscJs clescritc>s acirr1a. ;\ m(Jrt<Jklgia
clcis 11erfis praiais depencle da ge(Jt11(lrfcJlcigia ccJsteira e
n1ais ai11ela ela interaçà(J entre "e) clima de cJndas" e a
granl1l(>metria e!(JS sediment(JS. c:(>nsee1üentemente, os
abaixo do nível da praia r>erfis praiais sc>frem \'ariações temp(lrais e1n funçàc) elas
alternáncias das ccJncliç(:ies ele temp(l l1clm (acresçàcJ) e
ele tempestade (ercJsà(l).

ascendente

muito abaixo
do nível da praia

\.~"'
fig, 13.13 Tipos de arrebentação.
Fig. 13.14 Arrebe11tação tipo desliza11te. Foto: S. C.
Goya.

profundidade

Face Plataforma Plataforma


Pós-Praia Praial
Antepraia
Continental Interna Continental

Costa esproto•
menlo orreben/oção costa aforo
_________________________ __Nível de
lempesfude
------------- ---------- ------- ---------------------- Preanau
Ni>el médio
1
- Buixon,01
'

Nível de
dos trens de
onda
Fig. 13.15 Perfil esquemático da topografia praial
bém, o grande mecanismo de circulação rcsponsá-
,·cl pela manutenção da estabilidade e equilíbrio dos
ambientes praiais (f'ig. 13.16).

:\lém das correntes de eletiva, oc<)rrem, em regiões


costeiras, as chamadas C<>rrentes de retorno, que cons-
tituem um fluxo transversal à costa, no sentielo do mar
aberto; estas correntes são, muitas vezes, ass<>ciadas a
canais <)u cânions de plataforma e, pe)rtanto, permi-
tem o transporte de sedimentos C<Jsteiros cm direção
a porções mais profundas dos oceanos.

,\ pluma de sedimentc>s que sai pela desemboca-


dL1ra d<) sistema costeiro, Cananéia, litoral sul d<) F,stado
ele São Paul<), é transportada ao lc)ngc> d<) litoral (Ilha
Comprida) pelas c<>rrentes ele deriva litorânea.

As marés são fenômenos ondulatórios, gerados


pelcJs pt<)cesse)S de atração gravitacional entre a Terra,
o Se)] e a Lua (Fig. 13.17). Tanto a periodicidade quan-
tci a intensicladc e amplitude das marés nã<) são
homogêneas nos oceanos. Na verdade, há vários fa-

Fig. 13.16 Ação de correntes de deriva (Cananéia, SP). Fonte:


INPE/Ministério da Ciência e Tecnologia.

(Juando de sua incidência em situação não normal


à linha de costa, a açã<> das <>ndas leva ao dcsenv<)lvi-
mento de dois tipos de transp<)rte de sedimento. Um,
uniclirecional, paralelo à linha ele c<)sta, é dcvid<) à cor-
rente lc)ngituclinal, também chamac1a corrente de deriva
litc)rânea, presente entre a %<>na de arre\)entaçã<) e a
zona de espraiamentci. () outro tipc> corresponde a<>
transporte de scdiment<)s na zona de espraiamento,
por ação c<>mbinada do espraiamento c<>m C) reílux<>
da <)nda. Destes d<>is tip<)S, resulta um padrã<) de des-
le)camente) dei tipo ziguezague ou serrilhadc).

As C<>rrentes costeiras constituem alguns d<)S


mais impc)rtantcs agentes de rem<>IJilizaçãe) de se-
diment<)S. F:ssas C<>rre11tes são responsáveis pele)
transp<)rtc de material a<) longo da c<1sta, a partir
de Lima fe)nte, tal cc1me) um ri<J. Cc1nstituerr1, tam- Fig. 13.17 Ação do sol e da lua sobre as marés.
tores influentes nas características das marés de uma 13.4 A Fisiografia da Margem
área, tais como as características meirfeJléJgicas da bacia
Continental Brasileira e
oceânica e a elistância entre esta área e o ponto
anfidrômico (ponto onde nãeJ há maré, a partir e-lcJ e1ual o Fundo Oceânico Adjacente
se distribuem as linhas de mesma amplituele ele maré).
i\s margens ceJntinentais brasileiras, as bacias
A amplituele das marés peJdc variar de alguns ccn- sedimentares ccJsteiras de idades mese)zóico-cene)zc'iicas
tímetreis a mais ele dez metros, fazenelcJ ceJm c1uc o e os funcle)s eJccâniceJs adjacentes têm sua histéJria
efeito da maré seJbre os processos sedimentares seja cvcJlutiva diretamente vinculac-la acJs fenéJmenos
extremamente variável. De qualquer modo, é impelr- tectôniceJs que deram eJrigcm ao C)ceane) AtlânticeJ Sul,
tante observar que existem, mesmo cm áreas de a partir da separação dos ccJntinentes africaneJ e sul-
platafeirmas continentais com amplitudes de maré in- amcricancJ. 1\s bacias sedimentares brasileiras
feriores a 2 metros (regime de micrcJmarés), evidenciam os quatro cstágicJS l,ásicos da fe)rmaçãcJ
compeJnentes das correntes junteJ aeJ fundo que pel- deJ 1\tlântico Sul, a sal,cr: pré-rift; rifi:, preJto-oceâniceJ
dcm ser atribuídeJs às marés, e que possibilitam eJ e eiceânico (C:ap. 6).
transpeJrte de scdimenteJs perpendicularmente e le)n-
1\ fase de pré-abertura (pré-ri/t) caracteriza-se pela
gitudinalmentc à ceJsta (Fig. 13.18).
intumescência e distensões da crosta ccJntinental assc)-
As marés também exercem importante papel na ciadas a atividades magmáticas e vulcânicas. A eveJlução
configuração e dinâmica ele tele-las as desembcJcaduras desses pre)ccssos resultcJu neJ aparecimento de
fluviais, podendeJ formar ambientes conhecidos ceJmeJ fraturamenteJs e falhas normais gerande) estruturas do
estuários, que ccJnstituem algumas das áreas de maieJr tipel graben e horst, asseJciadas a ativielades vulcâni-
importância para o crescimento ele espécies de orga- cas ccinstituindeJ o cstágieJ denominadei rift.
nismos marinl1os de interesse ce)mercial (Fig 13.19).
(1 prosseguimcnteJ de)s esfc1rçcis tensionais preiveJ-
ca a derradeira separaçãc1 crusta!, com acresçãci ele
material proveniente deJ mante>, evoluindo para a fcJr-
maçãcJ de uma neJva crosta (crcista oceânica) e CJ
aparecimento de um novo eJceaneJ (cstágieJs preJto-
eJceâniceJ e occâniceJ).

1\ ceJnfiguração do liteJral brasileireJ resulta da


interação, durante um longe) período de tempo, entre
preJcesseJs geoléJgicos, geeJmeJrfeJle'>gicos, climáticos e
oceânicos. Verifica-se, cm elireção ac1 sttl deJ Brasil, uma
diminuição prcJgressiva ela importância da maré, para-
lelamente acJ aumento da impclrtância das anelas como
CJ principal agente dinâmico deJs aml,ientcs ccJsteiros.
Esta transição faz com que haja diferenças bastante sig-
Fig. 13.18 Ação das marés. Monte Saint Michel (Fra,nça). Foto:
nificativas nas características elo litoral brasilcircJ.
Michael St. Maur Sheil/Corbis/Stock Photos.
TradicieJnalmente, o litoral brasileiro é divielieleJ em
cinceJ grandes compartimenteJs: NeJrte, Noreleste, I "este
cJu C)riental, Sudeste cJu das 1':scarpas Cristalinas e Sul.
() cclmpartimento Norte vai dcJ extremo norte dcJ
Amapá até o Golfào Maranhense (Maranhão). Neste
trecheJ da costa, a amplitude da maré, que pode che-
gar a mais de 12 metros, faveJrece o dcscnveJlvimento
'" ,,, ,
" ,_, :---:!%'.
de cxtcnseJs manguezais. Além dissci, grande parte deste
liteJral é fcJrmada pelr ceJstas lamosas, cujeJs sedimcn-
tcJs são originadeJs da descarga deJ rio AmazcJnas, cuja
média da descarga sólida total para e) e)ceancJ
Atlântico é aproximadamente igual a 1227 .1 oc. t/ ano.
Fig. 13.19 Ambiente estuarino (Cananéia, SP).
13.2 Oceanos: fonte de alimento
Desde a pré-história, a humanidade tem aproveitado recursos vivos dos oceanos, especialmente peixes, como
uma fonte inesgotável de alimentos para seu sustento.
Os ecossistemas costeiros e oceânicos contêm grande parte da biodiversidade do planeta, e vêm sofrendo os
mais diversos tipos de pressãcJ, especialmente de origem antrópica, gerando sensíveis reduções na abundância
dos recursos pesqueiros o que representa uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável.
A cadeia alimentar, C)U o ciclo de vida marinho, é profundamente dependente dos organismos fitoplanctônicos
que, usando o gás carbônico e os nutrientes contidos na água do mar, sintetizam a maior parte dos compostos
orgânicos necessários à existência da vida marinha. Esses microorganismos constituem o primeiro nível da
cadeia alimentar do meio marinho, apresentando maior abundância na superfície dos oceanos até a profundi-
dade máxima de penetração da luz solar (40-50 metros de profundidade), a camada fótica.
Desta forma, muito embcira as áreas compreendidas pelas plataformas continentais representem, em superfí-
cie, apenas uma pequena porcentagem dos c)ceanos, elas sãc) respc)nsáveis por mais de 90% de toda a proteína
animal retirada dos oceanos pela atividade eccJnômica humana.
De forma simplificada, o segundo nível da cadeia alimentar dos oceanos é representado pelos animais herbí-
vorcJs, que também vivem na zona fótica e que se alimentam do fitoplâncton. Os carnívoros menores (sardinhas,
anchovas, etc.) que se nutrem dos herbívoros compreendem o terceiro nível da cadeia alimentar.
Este terceiro nível é formado principalmente por cJrganismos que possuem locomoção própria, nécton, e que
ocupam todos os ambientes dcJs oceanos desde as regiões próximas às costas (ambiente nerítico) até as
grandes profundidades, compreendendo os ambientes hemipelágicos (zona batial) e os pelágicos (zonas
abissal e hadal) (Fig. 13.20).

MARGEM CONTINENTAL PLANÍCIE ABISSAL


Os carnívoros do 3º e 4º níveis (car-
'' nívoros maiores) servem de
'' ''' alimento para o ser humano, que
O . 1700 : 20 . 100 :
' ''
'
O. 1 ººº
pode ser entendido nesta simplifi-
Ambienfe Ambiente Ambiente
Ner/tico Hemipe!ógico Peiá91co Fossas cação da cadeia alimentar do meio
marinho como o quinto (5º) e últi-
mo elo da cadeia alimentar dos
oceanos.
A partir da transformação dos pro-
o cessos artesanais de pesca para os
2
km
processcJs industriais, a explotação
100 200 km de recursos vivos marinhos tem re-
Plataforma Continentol
sultado em um grande incremento
• da produção pesqueira, especial-
mente de algumas espécies, visto
que, das mais de 25.000 espécies
conhecidas do meio marinho, não
mais do que 300 são aproveitadas
Talude
• ••
Elevação Continental

comercialmente para o consumo hu-


Bacio Oceânico
mano ou na indústria· de
• transformação como proteína con-
• centrada (farinha de peixe) para ração
animal. (Fig. 13. 21).
Fig. 13.20 Ambientes marinhos.
De acordo com a FAO foram pescadas, em 1997, cerca de 75.500.000 toneladas de peixes marinhos, sendo que
o Brasil contribuiu com apenas 480.000 toneladas. Dados mais recentes obtidos pelo Projeto REVIZEE (Re-
cursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva) indicam, para o Brasil, uma potencialidade para os recursos
pesqueiros marinhos da ordem de 1,5 milhões de t/ ano, com os desembarques efetivos da pesca nacional em
valores abaixo das 700.000 toneladas anuais.

As características trc)picais e subtropicais das regiões da margem continental brasileira são limitantes à abundân-
cia de grandes estoques pesqueiros, mas permitem a existência de espécies bem variadas.

Na região Sul, predominam a merluza, a corvina, a pescada, havendo também um grande estoque de camarão.
No Centro-Sul, são mais comuns a sardinha e o camarão. Nas regiões Nordeste e Norte, predominam as
lagostas e o pargo, além do atum e do peixe-voador.

A pesca predatória e a ausência de medidas de

........ •..,
ordenamento eficientes à indústria pesqueira têm oca-
"'\" i'. . "•>"
sionado, na última década, uma diminuição dos ~-
··,~·,' ·...
""
.

. .
estoques de recursos vivos do meio marinho, o que . . .

poderá ser superado com a limitação da pesca de


determinadas espécies em volumes e em períodos
definidos do ano e principalmente através do de-
senvolvimento de técnicas de aqüicultura, que
consistem em controlar diretamente o crescimento
e a reprodução de organismos marinhos confina-
dc)s. Embora ainda de aplicação limitada, a
aqüicultura já é responsável por cerca de 3% da pro- Fig. 13. 21 Arte do pesco. Foto: Alessondro A.R. Athiê.
dução e consumo mundial de peixes marinhos.

A llescarga sólida tc)tal l1e sedimente)s dc)S sistemas cânica mais antiga. Na plataforma de Abrolhos, forma-
fluviais para c)s c)ceanc)s, na superfície do planeta, está çc'íes calcárias constituem um relevo irregular com parcéis
entre 15.00()x1 (JC' a 20.()00x 106 t/ ano. Desta fc)rma, e) e cabeços pc)ntiagudc)s que atingem a superfície do mar.
rie> 1\maze>nas cc>ntribui cc)m uma carga de sedimen-
Do Cabo Frio até o Cabo de Santa Marta (Santa
teis entre 7'½, e 9'½, para c>s c)ceanos e ce>m cerca de
Catarina), desenvolve-se o litoral Sudeste, também de-
10'1/o do total de água doce. ,
nominado Litoral das Escarpas Cristalinas. E marcado
C) litc)ral Nc>rdeste c>u I jtoral das Barreiras carac- pelas encc)stas da Serra do Mar próximas à costa, favo-
---
teriza-sé-'Rela presença, junte> à cc)sta, l1e tabuleirc)s recenl1C) o llesenvolvimento de pequenas planícies
terciárÍ<)S dÀ formação Barreiras estenllendo-se até a costeiras ou de praias de bolso entre costões rochosos.
baía l1e Tol-lc>s C)S Sante)s, Bahia (Pig.13.22). É um se-
() litc)ral Sul prc)lc)nga-se até e) limite meridic)nal do
tc>r l1a cc>sta dc>minadc) pele> clima secc), principalmente
território brasileiro (Chuí, RS) em uma linha l1e costa
ao ne)rte do Rio Grande de> Nc>rte, e por uma ten-
retilínea, desenvolvida a partir de uma sucessão de cor-
llência marcalla l1e prc)cessos erc)sivc>s da cc>sta.
dc'íes arene)sos, depositados em períc)dc>s de nível de mar
() cc)mpartimento J,este c>u ()riental tem o Cabe) mais altc)s que C) atual. Essas seqüências de cordões leva-
,
Fric) (Ric) de Janeire)) come) seu limite sul. F'. um trecho ram ac> desenvc)lvimento de vários ambientes lagunares,
de> litc>ral brasileirc> marcade> pela desembc>cadura l1e destacandc>-se as lagunas dos Patos e Mangueira.
alguns grandes ric)s (Dc>ce, Jequitinhc)nha) e pela for-
Gec)morfologicamente, o Atlântico Sul tem sidc) di-
maçãc> de extensas planícies de idade quaternária.
vididc> em três grandes domínios fisiográficc)s: Margem
J\1erece destaque, neste trecho, a c)cc)rrência dc)s ban-
Continental, Assoalho das Bacias ()ceânicas e Dorsal
cc)s l1e 1\lJrc)lhc)s, cc>nstruíllos por e)rganismos com
J\1esc>-Atlântica.
estrutura carbc)nática sc)bre elevações de natureza vul-
Fig.13.22 Afloramento da Formação Barreiras.

13.4.1 A margem continental A í\fargem (:cJntinental Sul possui um espesso pa-


ccJte (1C sc(_iimentos terrígencJs. A presença de um
C:einstittii a unidade de transiçã<i entre ci C(H1tincntc
ce>m11lexci serrano junt<J à linha de ceJsta, representan-
emersci e <J asseialhei eiceânicci, a!)rangcnci<J uma stt!)-
(1<J um declive acentuado entre a área emersa e a área
divisãei lcingitudinal ,'i C<>sta cm três prcivíncias lJem
ciceánica, asseiciada a uma cc>ntínua e preilc>ngada
indiviclualizadas - platafcJrma cc>ntinental, talucle cei11-
sulJsidência ela área marinha, eiriginc>u a formaçãci dessa
tinental e elevaçãei ciu sclpé ccintinental. liste clcimínicJ
se(JÜência sedimentar. l~sta ciepcisição, avançandei cein-
marca ci limite entre a crcista ccintincntal e a creista
tinuamente mar adentrei, rcsulteiu no estabclecimentci
ciccânica e SL1as prc>víncias sãcJ gc11eticamente relaciei-
de uma plataforma larga ccim uma suave transiçãci
naclas aeis ccJntinentes. J\ J\;Jargcm C:e>ntincntal Brasileira
para CJ talude ccintinental.
(J,'ig. 13.23) é sti!)c!ivi(_iida etn três gran(ies setcJres, trans-
versalmente à C<)Sta: Nc>rte <>u liquatcirial, clei (:abei 1\ platafcJrma T.-este, gerada mais recentemente C_JUC
C)range (i\wl) até ei C:al)ci c:alcanhar (RN); l ,este, (_-lei a plataforma St1l, durante o eventci de fcirmação de>
C~ai,<l C~alcanhar até Vitcíria (I~S); e Sul, de Vitcíria até 1\tlànticc> Sul, apresenta largura reduzicla, atingindo um
ei extreme) sul !Jrasileirei. l·:stas su!Jdivisoes feiram ela- mínimei de 8 km (_le largura (_lefreinte a Salvaclor (BA),
!)ciradas principalmente a partir das características <>n(le cJcorrc uma transição platafcirma - talude ccJnti-
teJpeJgráficas mais peculiares (_le cacla setcJr e, secuncla- ncntal situada a pequenas prcifundidades, ccJm uma
riamente, (_ias (_liferenciaçc'íes genéticas e estruturais ceintribuição (_lc seclimentc>s terrígeneis pouco expres-
e11tre ca(-la segmente) (_la margem ccintinental. 1•:ssas pe- siva na mcJdelagem clcJ relevo submarino. _b~sta pequena
culiariclacles restdtaram, peir sua vez, em tima ev<Jluçãei ccJntri!)uiçãcJ (_le seclimentos terrígenos, associada às ca-
se(limentar particular para cada utn deis set<ires. racterísticas da circulaçãci oceânica, cc>m massas d'água
ele temperatt1ra elevada e salina, implicaram eJ clesen-
1\ IJlataf<Jrn1a c=cintinental Brasileira apresenta suas
V<JlvimentcJ de extensas fcJrmaçc)es calcárias de algas e
maieircs dimcnsc'ícs junto à fcJZ clci riei 1\mazcJr1as, cein1
ceirais e ncJ pre(lomínio (le sedimentcJs !JicJgêniccJs.
lar,Q;uras de cerca de 350 kn1, na regiã<J (ie 1\IJrcJlh<is
(246 kn1), e a<J lc>ngci ele tc>clci <J sctcJr sul, cJnclc atinge t\ transiçãci entre a platafcirma e o talucle ccintinen-
cerca (_le 200 k111 na área entre Santcis e Cananéia (S!l). tal, ccJnhecida C<)mo quebra da plataforma, taml1ém é
Sopé
Continental
Cone do
Amazonas
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SÃO PAULO

"i
·-.,
PARANÁ ..._
\..
. Sopé
,,' '_ ' ', '
Continental
Platô• Montes
... ·de ... Jean Charco!
São Paulo

30°

Terraço do
Rio Grande
Elevação
Rio Grande
Elevação (leste)
Cone do Rio Grande
Rio Grande • Sopé (central)
•Continental

250km
1

50° 40° 30°


Fig. 13.23 A topografia e a compartimentação geomorfológica da margem continental brasileira e dos fundos oceâni-
cos adjacentes.
diferenciada cm cac1a seteJr, estando le)calizada entre as abissal de Demerara. (_) ceJnc ele RicJ Grande, <le meneir
isóbatas de 75 e 80 metros no scte)r Nclrte, 40 e 80 expressãe1, se desenvolve clesde a borela da plataforma
metros neJ setor Leste e até 16() metre)s no Setor S ui. do Ricl Grande do Sul até profundidades de 4.000 metros.
f:sta transiçãcl é recortada por câniclns e canais, teste-
.\ssim comei as feiçe)cs atuais elo relevei de fune-lci,
munhels de drenagens desenvolvidas quanc-lei Cl nível
a c-listribuiçãei dos sec1imenteis que receibrcm a plata-
deJ mar está mais baixo, ou pelr depressões eiriginadas
feirn1a continental lJrasileira tem seus prcJcessos
a partir deJ desleicamento de seelimenteJs, ccJmei tlu-
e,·ciluti,-os intimamente rclacieinacleis às variaçc)es rela-
xeis ele massa subaquosos, dei talude superieir para o
ti,-as do nível dc> mar, cJcorridas ao longe> dc1
ciccanei profu11elo. A distribuição dessas feiçe)es aci lcin-
(,2uaternário, c1ue foram responsáveis pela reclistribuiçãcl
gci dcJ talude cclntinental brasilcirei é descontínua, e a
ela ceilJertura sedimentar incclnscJlidada dos funelos
aparente falta de conexão entre a drenagem ceJntinental
marinhe1s, desele CJ último grande evento glacial cJcor-
atual e os vales e cânions da bore-la supericlr do taluelc
rideJ há cerca de 18.000 aneis. b'.m conseqüência, ciceJrrcu
cc>ntincntal sugerem a inatividade atual de al1-,rumas eles-
um rel1aixament<J elci nível elo mar em cerca ele 11 O
sas feiçe)cs ce)mo elemento ele transferência ela carga de
metros, expeJnd<J à atmosfera c1uase teJela a Plataforma
see-!imentcis terrígeneJs para o oceano pre)fund<i.
C~<Jntincntal Brasileira, desleicanclc> progressivamente a li-
C) talt1ele ce)ntinental apresenta declivielades acen- nha de costa e eis ambientes ccisteireJs em e-lireçãc) aeJ
tuadas (4º a 12º cm sua porção superieir e 1,5º a 2º na oceano preifundei (regressão marinha). Esses ambien-
inferi<Jr) e alcança, na margem continental brasileira, tes costeiros, relativamente planos e predcJminantementc
prcifundidades entre 2.00() e 3.200 metrcJs; nei Ne)rte, arencisos, dissecados pclr uma reele ele drenagem que
entre 1.600 e 3.600 metros; no J,este, entre 2.()00 e avançou se1brc a platafe)rma, acompanhande1 ei recue)
3.()00 metreis no Sul. relativcJ elci nível marinhei, foram remeidelados nei eventei
P,m trecheis ao leingo de teido o taluelc ceintinental, sulJseqüente de subiela de) nível do mar.
os relevc)s accntuaelos sãei su!JstituíeleJs pcir níveis me- Feiçe)es resultantes elcssa mcJdelagem são enccJn-
neis inclinae-!cis, sub-hcirizontais, formando platôs ciu tradas na pia tafeirma continental brasileira, e1ne-Je
terraços marginais. ()s platôs marginais mais pr<ie- escarpas, terraçcJs e palecilagunas representam rema-
mincntes <la margem co11tinental brasileira encontram-se nescentes de antigas linhas de ccista, construíelas em
na margem Iaestc (I->latô do Riei c;rande elo Neirte e pcríeidcis de estabilizaçãe) elo nível relativo clcJ mar
PlatêJ de Pernambuco) e na margem Sul (Platti de Sãci elurante eJ processo de subida clei nível dei mar (trans-
Paulei). gressão marinha) occ)rrielo apcls ei eventc) glacial dei
A Elevaçãei Continental eiu Sopé C:eJntinental é a 1->Jciste1ceno. Este remcieiela<lcJ, resultaelo da interação
preJvÍncia fisiográfica mais desenvolvida <la margem c-lcJs prcicessos eiceaneigráficeis seJbre eis fundos mó-
cclntinental brasileira. Sua cei!Jertura sedimentar é cons- veis, representa também, em grande escala, o padrão
tituída predciminantemente por sedimentos terrígcnos, de distribuiçãei sedimentar que recobre, atualmente, a
provenientes da plataforma continental, transportaelos Plataforma CeJntinental Brasileira.
e elepcisitados por fluxos gravitacicinais de massa Na platafeJrma ceintinental norte preelomina a cicor-
(eleslizamentos, ceirrentes de turbielez) da bcJrda ex- rência e-le extensas faixas ccinstituídas pelr areias bem
terna da plataforma e do talt1ele continental. A elevação arreelondadas, além de fragmentcJs calcários ampla-
ceintinental dc) 1\tlânticei Sul oriental desenvcilve-se a mente elistribuíelc1s.
prcifundidadcs que variam de 2.000 a cerca de 5.000
Na platafcirma continental leste, as cclnstrt1çe3es
metre)s de prclfune-li<lade. Na porção externa da mar-
calcárias, de natureza bicJgênica, clclminam eis fundeis
gem ceintincntal brasileira (talude e elcvaçãci continental),
marinhos com a presença, entre a linha de cclsta e as
destacam-se eluas marcantes feições: o cone submarino
construções carbe1náticas mais externas, de faixas cein-
dei 1\mazeJnas, aci norte, e eJ cone deJ Rio Granele, ac> sul.
tínuas de areias Sltbarceisianas e areias bicidctríticas. Na
() ceinc dei Amazonas al1range uma área c1ue se es- região mais aeJ norte ela plataforma continental leste, a
tende da beJrda externa ela plataforma continental até a occ)rrência de C<Jnstruções carbonáticas prciximas à li-
elc,-ação ceintinental, ao largeJ ela crista do Amapá, prei- nha de costa reduz a occirrência dessas faixas ele
jctanelci-se por cerca de 700 km para nc)rte, atinginelo sedimentc>s arenc)sos. Uma interru1)ção nc> padrão
preifundidades entre 4.750 e 4.850 metrcis na pla11Ície cleposicicinal da plataforma continental leste ocorre na
região de influência de) rio Sãc) Francisco, onde estão rnentei por cerca de 45 a 75 km de largura, ele,·anclc>-
presentes faixas de lamas terrígenas. Ae) sul desta área sc, cm média, de 300 a 400 metros a partir deJ fundc1
até a regiãc) de Vitória (Espíritei Santo), as construções eiceânice1. A Cadeia de Fcrnandei de Norc)nha é cons-
carbonáticas encontram-se mais afastadas ela costa, em tituída por um agrupamento de montes, alinhadeis na
razão ele um aumente) relativo da contribuicãei ,, elireçà<J lestc-cieste, elevaelos elesde cerca de 4.000
terrígena, proveniente de váricJs rios e1ue deságuarn nci rnetrc>s de profundieiadc até a superfície. Esta cadeia
rneie) marinho, tais ceJrno o Rio Dc>cc e o Riei estende-se desde o taluele continental até ei ar9uipélago
Je9uitinhc>nha. hornC:inirnci, 9uc representa eJ te1po de um rneinte sub-
marinei cuja base tem diâmetro aprc1xirnae10 de 6() !<111.
A plataforma ce>ntinental sul caracteriza-se pelr
() Atol das Rocas também representa um rne1ntc da
apresentar e> preelornínio de areias 9uartzcisas, ce1rn
mesma cadeia, com topei localizadci quase à superfície
contribuiçãcJ secundária de carbonate) bicidetríticci, sen-
do mar, ceJlonizado por organisrne>s marinhos.
do 9ue suas áreas mais externas sãci receibertas por
termos finos (siltes e argilas), que se associam a faixas
de sedimentos de 11ature:,:a carbonática. b~stes últirne1s 13.4.3 A dorsal meso-atlântica
sãei compostos peir conchas e restos de rne)lusceJs,
Trata-se de urna cadeia rne>ntanhosa na pe>rçãei
forarninífcros, algas calcárias, brioze)árieis e
central dei AtlânticeJ, representativa dcJs eventos
equine1derrnos, entre outros.
rnagrnáticeis recentes de formação ele creJsta oceâ-
nica ne) Atlântico Sul. Constitui o limite gcográficc>
13.4.2 O assoalho das bacias oceânicas ele scparaçãe>, ceJrn scntiele>s e-livcrgcntes de propa-
gaçãei, das placas Sul-americana e 1\fricana (Caps. 6
O Assoalho das Bacias Oceânicas é ce)nstituídeJ es-
e 17). 1\prcsenta urna cobertura seclirnentar pciuceJ
sencialmente pelr crosta ciceânica, gerada na ruptura e
expressiva, cm eleceirrência da intensa atividade vul-
separaçãc) crustal, podcnelo estar recoberto por sedi-
cânica associaela à área.
mentos de naturezas e prciveniências diversas.
A crista da cordilheira define a linha média que sub-
() assoalho das bacias ciceânicas é constituído pcir
divide o Oceano Atlântice1 em eluas porções
áreas de relevo relativamente plano, nivelado por de-
geeirnorfologicarnentc semelhantes; varia a sua pro-
pósitos de correntes de turbielez e sedimentos
funelidade entre 1.800 e 3.000 rnetre)s e a largura entre
transpe1rtados por correntes de fundei. Os fundos oce-
100 e 400 km. A re1-,>ião central da crista é assinalaela
ânicos do Atlânticei Sul Oriental são pouce) ce)nhecidos,
pc)r urna dcprcssãei (rift valley) ele 25 a 60 km de largu-
tendo siele) cornpartirnentadeis principalmente com
ra, alcançando profunelieladcs de até 4.000 rnetrcJs.
base em levantamentos batirnétricos e geeJfísicos.

O relevo relativamente plano das planícies abissais


do Atlântico Sul C)riental é intcrreirnpide), em algumas
13.5 Ocupação, Conhecimento e
áreas, por altos topográficc)s vulcânicos, que abran- Exploração do Litoral e Margem
gem e sas áreas deis fundos das bacias oceânicas Continental Brasileira
(elevações C) eânicas). Eventos vulcânicos mais lcicali-
zadeis foram 'também responsáveis pela fcJrrnação de 1\1uito antes deJ Descobrirnentei, e) litoral brasilcirci
colinas ou montes submarinos que podem estar agru- fcii cJcupado e expleJrado pele) ser hurnanei. C)s inú-
pados cm cadeias ou alinhamentos, e ocorrem rnerc>s sambaquis, presentes nei lite1ral sul e sueleste,
disseminados em todas as províncias da região eiceâ- são tcstcrnunhc>s de que povos habitaram e explora-
nica adjacente de> Brasil. As elevações do Ceará, nci ram e)s recursos alimentares de praias e outros ambientes
'

setor norte, e a elevação ele> Rio Grande, nci setcir sul, costeiros.
constituem as duas mais destacadas c)ceirrências anfi- T)atarn do período colonial as primeiras interven-
rnalas de efusivas l1asálticas, de expressão regional nos ções humanas sobre a linha da ce>sta, tais corno portos
fundos abissais do Atlântico Sul ()ricntal. e cais e-le atracação em cidades corno o Rio ele Janeire1,
A Cadeia Ncirte Brasileira é descrita corno um ccin- talvez a cidade brasileira que tenha sofrido as rnaicires
junto de colinas e montes submarinos, com urna crista rneJdificações ele sua configuraçãe) ceisteira.
quase contínua com cerca de 1.300 km de cornpri-
13.3 Reconstituindo o passado dos oceanos
() estudo de seqüências sedimentares dc)s fundos marinhos, iniciado após o término da Segunda Guerra
Mundial, teve um grande impulso após o Ano Gec)físico Internacional (1956-1957) e, mais espetacularmente,
durante a década de 60, com C) desenvolvimento do "Deep Sea Drilling Project" (DSDP). As perfurações nos
assoalhc)s das bacias oceânicas, realizadas com o navio Glomar Challenger, permitiram consolidar as bases
científicas da Teoria da Tectônica de Placas (Cap. 6), através da determinação da idade dos fundos oceânicos
e da configuração pretérita dos continentes e a partir de dados paleomagnéticos (Fig 13.24) .

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Fig. 13.24 A idade da crosta oceânica do Atlântico

O Projeto DSDP deu lugar a um outro projeto, intitulado


"C)cean Drilling Project" (C)DP), cujas perfurações
acham-se a cargo do navio Joides Resolution (Fig. 13.25).
Ambos os projetos têm permitido a obtenção de milha-
res de metros de testemunhc)S de sondagens, nas mais
diferentes profundidades dos fundos oceânicc>s, e con-
tribuem não só ao estabelecimentci da evolução
paleogeográfica de) planeta, ccimo também à identifica-
ção das variações da circulação das correntes marinhas
e do clima da Terra, com especial ênfase no Cenozóico.
Fig. 13.25 Navio de perfuração Resolution
f~m escala mais detalhada, é possível analisar variações
ambientais cm intervalos mais curtos, ele milhares ou até centenas de anos, através de estudos realizados em
testemunhos dc)s sedimentcJs coletados. Esses estudos envolvem a análise da textura, composição química,
isotópica e mineralógica dos sedimentos, indicadores paleomagnéticos, densidade e, ainda, as associações de
microfósseis neles presentes. Hoje, com esses indicadores paleoceanográficos e paleoclimáticos, é possível estimar
a temperatura da água do mar, de um determinado período, nos últimos 20.000 anos, com uma precisão de O,S'C.
C:c>ntinental l)rasileira (I,b'.lJT.1\C:). l~stc planei tem
C<>n1<> <JlJjetivc> principal estalJelecer <>s limites lhi l1<irllcJ
extcric>r ela platafcirma ccintinental brasileira, n<i seu
enf<ll]Ue juríc.lice> e nà<> gecimc>rf<il<'igic<i, ncJs term<>S
cm llue esse limite é dcfinidc> nc> artig<i 76 e.la (~<Jnven-
çãeJ. Para c.lemarcar esta platafc>rma, ci IJr<ljet<>
I ,J•:JJJ .1\C: (l,cvantament<J l1a Plataf<>rma (~<Jntincntal
Juríllica Brasileira) vctn executanll<> levantan1cr1tc>s
ge<lfísic<is e \Jatimétric<>S ele precisàcJ de t<iela a n1ar-
gen1 C<Jntinental.

1\ inc.lustrializaçà<i c.l<i Brasil, incrementac.la a partir


"-'"lG
"'' e.la segunda metade d<i sécul<i XX, tr<Jltxe para a re-
già<i c<isteira tant<> u111 expressivci grau lle
c.lescnv<>lvimentei ceJtTI<> ta1nl1ém 11reJlJlemas gc<iléigi-
cc>s relaci<inall<is à ausência de planejan1e11teJ. 1\lém
lliss<>, prcJcess<is c.le explcJraçãeJ turística c<n11 C<Jnstru-
Ç<>es cm zcinas praiais, c<instruçã<i ele molhes,
c.lragagem l1e sellimentcis para ci\Jras ele engcirc.lamentcJ
c.le c<Jsta e <llltras interv·ençc>es hL1manas têm pr<imei-
vic.l<> m<Jc.lificaçe~les na elinâ1nica ccisteira, tais c<im<i a
erelsàeJ ele praias e e> assc>reamenteJ de \JaÍas e estuáricls,
llue C<lnstituem pr<il1lemas an1!Jientais.
Fig. 13.26 Mini-submarino. Equipamento utilizado para pro-
porcionar ao homem uma visão e possibilitar a amostragem ( )s fL1nclcls da margem ccintinental l1rasileira tén1
das grandes profundezas dos oceanos. sic.l<> <llJjetcJ ele expl<iraçàci 111ais recente. De u111a f<>r-
n1a geral, ceJtl1 exceçà<l ll<Js ca111pcls petrcilífer<>S,
lvfuito embcira tenha sill<l criada c111 fcvcreir<i c.lc prir1cipalmente eis lcicaliza(lc>s nas l1acias c.le c:ampc>s e
1876, por Decrete) I111perial, a Rc11artição 1Iic.lr<igráfica, Sant<is, e lle llep(isiteis c.le calcári<i, <i fLtnc.l<> n1arinhcl
primeirei organisme) brasileir<l cificial encarregac.l<i ele l1rasileir<J é ceinsideradcJ ele perspectiva expleirat(iria
executar o levantament<J hielreigráficei ela c<ista !Jrasi- 111ineral reduzida. l~ntretant<i, a expleiraçã<i petr<ilífera
leira, estud<is sisten1atizados para <i ccinheciment<i e.la tem levaclci a estudcls !Jastante aprc>funelac.-l<is, relacici-
fisicigrafia e gee)logia da margem ccintiner1tal séi pas- nall<>S à eJCUJ)açà<l ll<i funclo marinh<i, tanteJ na
saram a ser execl1tados a partir c.lc> final ela década ele instalaçãci ele platafcirn1as e expleJraçà<l ll<> petr(JleeJ
60. r~sses levantamentc>s feiram real_izall<ls tantcJ pck> 11r<i11riame11te elito, quantci nc> seu transp<irte. C:<im a
interesse da Petréile<i Brasileir<i S/ 1\ (PetreJbrás), e1ue ex1)lciraçàci a pr<ifunc.lic.lalles cada ,-e:z maicires, cres-
estendeu aci mar a exploraçà<J c.le petrólee), c<im<i p<ir cem eJs pr<Jl1lemas rclacieinaelcls à estabilic.laele de
prograJ:lliÍSdc êãráter técnic<l-científiccl, C<>mcl <i Prei- estrL1turas c.le perfL1raçàel e explcJraçà<i n<> talul-le e t<ir-
grama de Ge<)logia e (~ecJfísica ]\,farinha (PGGJ\!I), na-sc necessária uma melheJr ccimpreensà<J eleJs
iniciadcJ em 1969 e <> Preigrama ele Reconheciment<J 11reJccss<is sedimentares de talL1ele, c<1mc1 as c<irrentes
Global da lvfargem CcJntinental Brasileira (Rb'.lvf;\C), c.le tur\Jide:z.
iniciac.l<i em 1972. I~ste últim<J f<Ji responsável pela
execução d<) mais sistemáticci reconheci111entcJ
13.6 Perspectivas da Exploração dos
fisiográfic<) e ge<>l(Jgicci de teicla a margem ce>ntinen-
tal do Brasil. T<>d<)S esses preigramas env<ilveram ci Fundos Oceânicos
esforço ceinjunteJ c.le várias instituiçe>es de pesqllÍsa ele>
JJassadcls pc>LlC<J mais de 120 ancls lla expediçà<i lles-
país ceim interesse ne> meici marinh<i.
l1ravall<ira ll<i H. M. S. c:hallenger e mais de 7 clécal-las
Mais recentemente, para atenc.ler às exigências da llas primeiras c.leterminaç<>es c.le prcifunelillac.les ciceâni-
C<>nvençà<> das Naç<>es lJnidas scibre o Direit<i c.l<i cas pclr meici ele sinais scinorcis a l1<lrc.lci l1<l navi<i alemãcJ
J\far (CNUDJ\f), de 1982, da qual ci Brasil é signatá- Mete<ir, a pcsc.1uisa l1<lS funll<is cJccánic<lS mcistra um
rie>, foi criac.le> ci Plane> ele J.evantamentei e.la l1 latafcirma avançc> tecncilc'>gicci e científicci cxtracirelinári<l.
A pesquisa em Geole>gia Marinha ince>rpe>rou a Finalmente, cabe destacar a forte associação entre
tecnolc>gia ele satélites em estudos sobre transpc>rte de os fundos oceânicos e os recL1rsos renováveis. Neste
sedimentos e na eleterminaçãe> dei releveJ e>ceânicci. aspecto, é impe>rtante ressaltar que os organismos
liquipamente>s de pesquisa teJrnam-se cada vez mais marinhos não se revelam apenas ceimo fonte de ali-
precisos, ce>nfiáveis e barate>s, através da inceJrpe)ração mente>; há L1m grande número de pesquisas nas
de recursc>s eletrônicos e computacionais (Pig. 13.26). indústrias química e farmacêutica efetuadas com a aná-
lise de substâncias extraídas de algas, peixes, mciluscos,
Na pesquisa de recurse>s minerais, as prcifundida-
crustaceos e \'ários outros grupcis de organismos
eles oceânicas estão, paulatinamente, deixanelo ele ser
marinhos.
limitantes na exploraçãei petre>lifera. Em cerca ele 3(1
ane>s, o petré>leo passe>u a ser explc>radcJ além ele>s li- f~m pouco mais de 120 ancJs da ciência ciceano-
mites da platafcirma continental rasa para até cerca de grát1ca, muitci fc)i feito na pesquisa dos fundos marinhos.
2.000 metre>s no talude cc)ntinental. ()s fundeis mari- \Iuitci mais há para ser explorado.
nhos sustentam oleodutcis, plataformas de exple>raçãei,
cabeis submarincis, fibras c'ipticas e estudos scJbre sua
estabilidacle são cada vez mais necessárieis. Né>dulos e
crcistas de sulfetos pcilimetálicos, associadeis a zcinas
ele atividade vulcânica, têm revelaele> uma ric1ueza en1
metais e-le alt<> valeir eceinômiccJ, que desfaz algumas
idéias iniciais scibre sua impcirtância apenas cc>mc> feJnte
pc>tencial de ferre> e manganês.

()s ciceancis e as regiões ce>steiras sãc> ainda focci


ele atençãeJ científica, devielci a prciblemas ce>m eis re-
sícluc,s geradeis pela atividade ecein<">mica. Têm sidci
realizadcJs estudeis seibre a viabilidade ele accindicio-
namente> de resíducJs radioativcis em fL1ndcJS de planícies
a!Jissais tecteinicamente estáveis. 1'viuitas vezes, as regi- Fig. 13.27 Depósito de resíduos (lixão). Foto: Alan Morgan,
c'íes ccJsteiras são usaelas c<Jmo repe>sitéJrio de materiais University of Waterloo, Ontário, Canadá.
elas mais variaclas naturezas, funcicinando ceimcJ verda-
deiros lixões para dejetos inelustriais e urbancis (I;ig.
13.27). Leituras recomendadas
I~m acliçàci, interesses estratégicos, ccimc> Cl cálculc> I<:ENNETT, J. P. Marine Geology. New Jersey:
dei desviei de reitas de mísseis, justificam o interesse Prentice-Hall, 1982.
científico e militar scibre variações nos campcis mag- ()pen University. Iõe Ocean Basins: their Structure and
néticos e gravitacicinais deis ciceanc>s. Evolution. C)xford: Pergamon Press, 1989.
F,m regic'íes costeiras, pesquisas assc>cianelci proces- C)SBORNF'., R.; TARLING, D. (eds.) 1õe Historical
seis sedimentc>lcígicos e ciceanográficos atuais têm sidci Atlas oJ the Earth: a visual celebration oJ earth s
exaustivamente executaclas com vistas à ielentificaçãe> physical past. New York: Henry Holt and
e-las relações de causa e efeito entre as variaçe'íes elo Company, 1996.
nível marinhei, a atividacle antre'ipica e eis processeis de
tendências ercisivas e depeisicionais das linhas ele costa SEIBOLD, E.; BERGER, W H. The J'ea Floor: an
ele> planeta. introduction to marine geology. Berlim: Springer-
Verlag, 1996.
[ixiste, ainela, um imenso esfc>rço na pesqL!lsa
palecJceanográfica que transcende ci interesse meramen- MAGLIOCCA, A. Glossário de Oceanogrqfia. São
te científicci e que se apcíia ncis estL1elos ele tenelências Paulo: Nova Stella/Edusp, 1987.
c-le evc)IL1çãcJ dei clima ela Terra. Hoje é peissível deter- SUGUIO, I<. Dicionário de Geologia Marinha: com ter-
minar paleotemperaturas da água dei mar, acJ le)ngo mos correspondentes em inglês, francês e espanhoL São
ele> Quaternário, ce>m uma precisãc> de O,SºC. Paulo: T. A. Queiroz, 1992.
· 11<'is term<is C(inl1eciclo as etapas ele ercisào, ní,·el de base c1e açã<) das cindas), existe contraste si-
. · transp,lttc e scdirnentação por váric)s agen- milar entre áreas ele deposição 1,redo1ninantemente
tes ge<ll<'igic<>S (Caps. 9 a 13), csttidarcmc)s c>s prc>cessos terrígena e áreas carl)onáticas. 1\s prím.eiras concen-
subseqüentes qt1e cc>ndt1zem à fclttnaçâ<> ela rocha tram-se na maicir parte da margen1 contine11tal, até a
sedin1entar. l)a llic>gratia dri grão de c1t1artzcJ da areia prcJfundidade aproxin1ada de 2.()0() n1. Abaixo dessa
ele praia, narracla nc> Cap. 9, passa a interessar c> seu profundic.lacle, até a ccJta de 4.()00 m, a sedimentaçãci
<lcstino tinal: a ciepclsiçãcl. i\ escc>ll1a clcl c1uartzc, ba- marinha é dominantemente carbcJnática, à base de ca-
SC<>u-sc n<l fatc> <le se tratar de, 1nineral mais cc>mum rapaças de fc>raminífercJs planctc>nicos (globigerinas),
na maic>ria elas praias. /\gora C]tle n<)SSC> enfcique se excet(J nas águas frias da regiãc> antártica.
V<)ita para CJ clep<SsitcJ sec.1imc11tar, tcirna•se in1pc>rtan-
,\ existência de domínios terrígenos e carbo11áticos
te ressalvar que muitas cclstas (e1n tc>rno cle 2()(~~, ele las)
de sedimentação não é urna exclt1sividade dos depó-
sàc> fcir111ac1as de sediinentcJs pc>bres e1n c1ttartzci e em
sÍt(JS se(lime11tares 4t1e estão se fcJrmando l1oje, pois
ciutrcis materiais seciimer1tares terrígenos (felcls])atc)s,
há bacias sedimentares inativas essencialmente
micas e argihiminerais) e rÍC()S em tninerais ele clrigem
tcrrígenas e outras essencialmente carbc)náticas. F~stes
alc>llÍ(JlJLlÍmica e atttóctcine, ele ccJn1pcJsiçãci <.Juímica
dcimínic)s alter11am-se aincla na dimensão tempciral:
principalrnc11te carbonática (em que p<)ciem estar
lJacias cJu espessas se(1üências e tipos específicos ele
prcse11tes sulfat(Js, fcisfatcis, nitratcJs e sais \1alóicles).
rcJchas carbonáticas desenv(Jlveram-se preferencial-
1":xcmplcis destas cristas <Jcc>rretn nc> Ncirte da i\t1s-
n1ente em certos intervalos de tempo da história da
trália e nc> lal1C> atlâ11tic<i da i\méríca (~entrai (IJig. lL'!..1).
1~erra (Fig. 14.2). l)cir essa razãci, o registr<J se(limentar
No Brasil, há exetnplos ele sec.limentaçãc) preclc>mi-
ele n1uitas regiões compc1e-se de uma intercalação en-
nantemcnte carbcJnática nas ccistas da região Ncircleste.
tre t<Jcl1as terrígenas e rc>chas calcárias.
Nas pcirçc1es 111ais 11rcifundas elos cJceanos (a\JaixcJ de>

Ser terrígeno ou ser


ÃO DE SEDIMENTOS MARINHOS carbonático: a questão
- existencial dos depósitos
sedimentares

Qt1e fatores determinam o


, ,
cara ter terr1gcno ou
carbonático de um depósitcl
sedimentar? O primeiro pas-
so para responder a esta
pergunta é C)!Jservar o que as
áreas de sedimentação
carb<)t1ática moderna pc>ssuem
em C<)mutn. 1\nalisandci a dis-
tribuiçàc) geclgráfica na Fig.
14.1, nota-se 9t1e ()S sític)s de
SEDIMENTOS DE ÁGUAS RASAS SêD(MENTOS DE ÁGUAS PROFUNDAS deposíçãci carbonática costei-
.-
L~---· Terrigenos {silicatos) EfJiª Vaso de dtatomác:eas {silice) ra se concentram em regioes
n tntrobodnais {corbonafos e outros sais}
'" .. ,
L-... J
---
Vaso de g!obtgerinas (carbonato) de baixa -latiu1de e clima quen-
B Areias de coro is
'""-
! _. _; Vaso de pterópodos (carbonato) te. l\ maioria dessas regiões
- Vaso de rodlolór!Os (tfllCo) pc)ssui ainda duas c)utras ca-
, .
- Vota vetma!ho (tutbonoto •- silicatosj racter1st1cas marcantes: o
releve> pc>uco acidenta<l<J na
Fig. 14.1 Distribuição atual de sedimentos rnarinhos e suo composição. O termo vasa desig- área-fr)t1te e o clin1a relativa-
no de modo genérico um sedimento fino, lamoso.

Relevo '.obular sustentado pelos arenitos da Formação Tombador, Grupo Chapada Dian1ontina, Mesoproterozóico. Vista do
Morro Pai Inácio, Lençóis, BA. Fotografia: 1. Korn1ann.
mente secc). Nas águas mais profundas, a distribuição para a formaçãc) de depósitos carbc)náticc)s, através
dos carbonatos é essencialmente controlada pela tem- da precipitação química ou da ação biogênica (Cap.
peratura, daí a escassez de vasas de fc)raminíferos nos 9). F~m qualquer um desses casos, a formação de cal-
C)ceanc)s pc)lares. cáricJs depende de uma relação íons/ terrígenos elevada.
() apclrtc tcrrígcno configura obstáculo para a forma-
() scgune-!o passo é analisar os pc)ntc)s em cc)mum
ção de calcários: primeiro, por diluir a impcirtância da
das fases pretéritas e-le intensa e--!epc)sição carbonática
sedimentaçãcJ química e biogênica; segundo, pc1r tur-
(Pig. 14.2). Notaremos que C)S perÍc)dc)s de máxima se-
var a água, tornando-a menos prc1pícia para a passagem
dimcntacão ., calcária coincidem cc)m mc)mcntos L-le
ela luz, e, portanto, para a realização da fotossíntese
separação das placas litosféricas (C:ap. 6) e expansão
por parte de algas e bactérias. Assim, ao limitar a exis-
dc)s c)ceanos. Desse mc)do, um dos auges de depcisição
tência e-!e vida fc)tc1ssintetizante e animais bentêJnicc)S
mundial de calcários é o i\1esozóico, e em particular, o
asscJciados, a turvação da água inibe a atividade bio-
Cretáceo, época em que a temperatura elc)s C)ceanos
cc)nstrutora e bioindutora. A conclusão é que a
teria sic-!c) mais elevada. Uma cc)nclusãc) parcial é que a
fc)rmaçãc) de calcáric)s é favc)recida pela escassez de
fc)rmaçãc) de calcáric)s é favc)reciela pela existência de •
aporte terr1geno.
ágL1as marinhas quentes, sol1 clima secc).

() terceiro passc1 para responder à questão existen-


Fatores que controlam o aporte terrígeno
cial acima é analisar a competição entre a chegada de
íc1ns e d.e materiais terrígenos na bacia. A biografia do ()s fatores que controlam o aporte terrígeno elctcr-
grão que fc)i narracla nc) (~ap. 9 ilustrou a variedade e minam a proporção cc)m que grãcJs e scJlutc) participam
intensidade de no transporte sedimentar e, em seguida, nc) preenchi-
processos a que C) 1nento sedimentar da bacia (Cap. 9). F,sses fatcJres
~ • •
gracJ tcrr1geno e ccJrrespcJndem às condições climáticas, tectêJnicas, e ele
Pli-Ple
M obrigado a subme- prcJveniência sedimentar (rcJchas fcJntes).
Oli
Eoc
ter-se, em seu
1\ influência do clima resume-se à disponibilidaele
traieto entre a
ele água nc) estado líql1ido. A água cm circulação atra-
área-fonte e a ba-
vés elas rcJchas-fontcs e das acumulações sedimentares
cia sedimentar.
é C) veÍcLtlcJ funelamental de dissc)luçãcJ química de mi-
J Partículas de mine-
. . . nerais instáveis. Sua açãcJ é catalisaela pele) aumento e-la
rats menos estave1s
temperatura. l)cssc mc)dc), climas e1ucntcs e Í1midos
são parcial ou tc)-
favorecem o intemperismo químico (Cap. 8) e a libe-
t a l mente
p raçãc> de material iônico facilita, na mesma prc.1pcJrção,
disscJlvidas, dane-\c)
. . C) apc)rte de matéria sc\lida fina sei 11 a fc)rma de
c1r1gem, assim, a
argilcJminerais, especialmente se nãcJ existir cc1bertura
c íons cm soluçãc1 na
vegetal que contenha seu desloca1nento eleclive abai-
á6rua. Desse modo,
xo. Desse mcJdc), C) clima quente úmidcJ nãc) chega a
els graos, cm sua
D ser particularmente favc1rável à fc1rmação de calcários
trajetc\ria sedimen-
na bacia sedimentar. Climas seccJs C)U glaciais favcJrc-
tar, não caminham
s ◄ cem a desintegração mecânica da rocha-mãe, em
sozinhc1s, mas
detrimento de sua dissoluçãcJ. Em águas muito
acompanhados
o frias, sob climas glaciais, a pouca disponibilidade de
de íons, que são
. .
a mater1a-pr1ma
. ÍcJns e a elevada solubilidade elo carbc)nato

PE Fig. 14.2 Distribuição dos depósitos carbonáticos de recifes de corais e algas ao longo
do Fanerozóico. PE: pré-Cambriano; C: Cambriano; O: Ordoviciano; S: Siluriano; D:
Devoniano; C: Carbonífero; P: Permiano; TR: Trióssico; J: Jurássico; K: Cretáceo; Pai:
Recifes isolados, em montículo Paleoceno; Eoc: Eoceno; Oli: Oligoceno; Mio: Mioceno; Pli-Ple: Plioceno e Pleistoceno.
Complexos recifais Fonte: James, 1979.
desfavorecem a precipitaçãc) de calcários. Nc)s clcser- superfície .. \lguns dos minerais sc)lúveis que pc)dcm
tC)S c1ucntcs, cm cc)ntrastc, a raridaclc elas chtivas tc)rna estar presentes cm abundância na área-fonte sãc) cJs
as águas plttviais altamente concentraclas cm Íc)ns. ;\pcís próprios carbonatc)s de rochas ígneas, metamé)rficas
a chuva, tipicamente tc)rtencial e efêmera, c>s Íc)ns em c)u sedimentares preexistentes. J\ssim, áreas-fc)nte dc)-
soluçãc) podem precipitar-se nc) sc)lo, em lagcls ciu en1 minada s p<)r carbonatitc>s, mármc)res e calcáricJs
mares fcchaelc)s, clevidc) à alta taxa e-le evaporação. t\lém liberam uma razão solt1tc)/ detritci elevada, dada a di-
disse), a solubilielade de) bicarlJc)nato na ágt1a é rccluzi- ficuldade c-le <) car!Jc)natcJ manter-se inscJ!úvel,
da pclr sua te1npcratura geralmente clevaela. r\ssim principaln1cntc nas granulações mais finas. N C) I3rasil,
scnelc>, cJs climas c1ucntes e secos sãc) mais fa\"C)ráveis á as bacias ele elrenagcm da regiãc> de Bc)nitci (Estaelc>
fc)rmaçãc) de dep(>sitc)s carbcJnáticcls. eicl \late) (;rc>sscJ elcl St1l) atravessam essencialmente
rrlchas metacalcárias, o e1ue explica as águas límpidas,
A açãc) da tectônica ((~ap. 6), recente ot1 C<>nten1pr1-
a abundância exuberante ele algas fcJtossintctizantes de
rânca à sedimcntaçãc), favc)recc a fc)rn1ac:Í<J <JU
água elcJce (Fig. 14.3) e a f<.Jrmaçã<.) local ele sedimen-
manutençãcJ ele relcvc)s acidcntadc)s, cc>m árcas-f<1ntc
tc)s carbc)náticc)s continentais (I;ig. 14.4).
muitc> pr()ximas da bacia elcpc>sicic)nal. ;\ taxa de erc1-
sãc) nas vertentes tcnelc a ser muitc) n1air1r e1uc a ele
intemperismcJ. C~c)mc> resultadcl, <) V<)lumc ele matéria
scíliela elcslc>cadc> em dircçãc) á bacia é tipican1ente ele-
\'aelc). NcJ case) op<>Sto, em c1t1e a tectt)nica enC<)ntra-se
inativa, <> lc>ngci tempo eic açã<) cl<>S agentes superfici-
ais prc>picia a forn1ação de relcv<) suave, sc)llre CJ e1t1al
<) transporte see-limentar resulta lente> e prcJl<Jngaelc). J\
razãc) intempcrismcJ / erc)sãc) e C) tcmpc) ele ccJntatcl dc)s
seelin1cntcJs acJs age11tes clepc>sicic)nais sãc) clevaelos. S<Jl1
essas C<Jndiçc'ies, c>s minerais mais instáveis s<1frcn1 dis-
Sc)luçãc) parcial C)U tcJtal, ali1ncntanelcJ a carga de
transporte químiccJ e favc)rccendc) a fclrtnaçãc> ele
calcários e de c>utrc)s materiais sedimentares autcíctc)-
Fig. 14.4 Tufas calcárias precipitadas por escape de C02
ncs C)U alobic)químiccls. '
induzido por turbulência, em corredeiras do rio Formoso, Bo-
A prc)veniência também pc,de influir 11a geraçãcJ de nito. Exemplo de queda de água em que a sedimentação
sc)lutc>s, uma vc% que algumas litolc)gias sãcJ mais ricas predomina sobre a erosão. Foto: Divulgação da Prefeitura Mu-

elo qtie c)utras cm minerais solúveis nas coneliçEíes ela nicipal de Bonito, Mato Grosso do Sul.

14.1 Transformando Sedimentos em


Rochas Sedimentares
A histcSria seelimcntar nãc) termina na elepc)sição.
LJma vez depc)sitadc), e> material sedimentar, tcrrígeno
CJt1 carbclnáticcJ, passa a respcJneier às coneiiçc)es de
um ncJvcl ambiente, o cie soterramento. AcJ cc)njuntc)
ele transfc)rmaçc3cs c1uc cJ depósitc) sedimentar sofre
após sua depc)siçãc), cm resposta a estas novas condi-
ções, elá-se o nc)me de diagênese. Assim cc>mo e)
metamorfismo (Cap. 18), a diagênese é uma transfor-
Fig. 14.3 Dois aspectos do rio Sucuri, em Bonito: águas crista-
maçãc) cm adaptaçãcJ a nc>vas ccJndições físicas (pressão,
linas e desenvolvimento exuberante de algas verdes (caráceas).
temperatura) e químicas (F,h, pH, pressãc) de água). A
O leito deste e de outros rios da região é constituído predomi-
nantemente de b'1oclastos, resultantes do transporte mecânico
diferença é que cJ material cJriginal aqui é exclusiva-
de cápsulas carbonáticas precipitadas em torno dos talos 1nente sedimentar e que os processeis de tra11sformação
algáceos. Foto: P. C. F. Giann·1ni. não incluem recristali;,-;ação no estado sólido, mas dis-
" ·:-::i:i/i•---idt;:, · :~ ._,._ -_ ,:.e,- --i:.:::;,;_:~·-:-: ~'-~:;A1·i,~wfú{::-.::;/}f:_,1tijt··
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Sl)luções e reprecipitações a partir das S()luções aque)- Compactação mecânica


sas existentes ne)s poros. Agentes e respostas
diagenéticas pl)dem envolver aspectos químicos, físi- A compactação diagenética peide ser mecânica ou
cos e biológicos. () termo diagênese é portanto muitlJ química. A compactação química resulta d() efeite) de
abrangente quanto à natureza dos processeis. Se leva- disscilução de minerais sob pressão e, por esta razãl),
da adiante, a diagêncse pode conduzir à transf()rmação será referida no subitem scibre dissolução.
(lo clepósito sedimentar inconsolidado em reicha, só Em escala de grãos, a compactação exclusivamen-
desagregável ccim uso de martelei. Í":ste processo é te mecânica (sem envolvimento de dissolução química)
conhecido como litificação (fito, em grego, significa abrange delis efeitos possíveis: a mudança no
r()cha). empacotamento intergranular e a quebra ou defor-
A diagênese começa no final da deposição e prcis- mação de grãos individuais (Fig. 14.5). CJ acúmulo de
scguc indefinidamente, não importa qual o grau de grãos rígidos aproximadamente esféricos, como re-
conscilidaçãei que ei depósito sedimentar tenha atingi- sultado de preJcessos cleposicionais ceJm baixa energia
do. Assim, a litificação dei depósitei é um dos aspect(JS de impactei (queda ou avalancha de grãos na frente de
possíveis da diagênese, mas não o seu processe) essen- formas de leitll, peir exemplo) preJduz um
cial, nem mesmo o seu estado últimei. empaceitamento aberto, em que os grãos dispõem-se
no espaÇll tridimensional segundo arranjos próximl,s
a cubos de faces centradas (Fig. 14.5). Sob o efeito da
14.1.1 Processos e produtos diagenéticos compactação por soterramentci, C) empacotamento
A diagênese é caracterizada por um ccinjunte) de abertei dá lugar a um empacotamentei fechado, de
geeimetria romboédrica. Este efeito é comparável a(J
pre)ccssos e por seus respectivos preiduteis. A impor-
que exerceríamos ao tentar comprimir uma pilha de
tância de cada processei cliagenéticei varia na
bolinhas de gudc. Se os grãos não forem análeJg(is a
dependência do estágiei (le soterramentei e do tipll ele
bolas de vidro, mas a folhas de jornal, uma redução
rocha sedimentar, se calcária ()U terrígena. ()s prc)ces-
expressiva de volume ocorrerá muito mais facilmente.
scis mais cc)nhecidos são: 1. compactação, 2.
O equivalente sedimentológico são os depósiteJs ricos
dissolvção, 3. cimentação, e 4. recristalização
em filossilicatos, mais comuns dentre os depósitcis ar-
~tªgé~ética. Neste ítem, serão descritas e ilustradas
gileiseis. Uma porosidade inicial tão alta quanto 70%,
as principais feições diagenéticas produzidas plir cacla
encontrada em algumas argilas, peiderá ser reduzida,
um desses quatro processeis. As feições mais típicas
por ceimpactação mecânica, para menos de 15%. A
de calcárieis aparecerão desenhaJas na cor azul.
compactação mecânica é portante) um fenômeno mais
impelrtante cm rochas lutáceas que em arenáceas.

a
b e

Empacotamento
Empacotamento cúbico
romboédrico
(porosidade: 4 7 .6%)
(porosidade: 26.0%)

Fig. 14.5 Representação esquemática de algumas mudanças introduzidas, em escala de grãos, por efeito de
compactação mecânica: a) fechamento do empacotamento; b) deformação de grãos; c) quebra de oóides.
Em escala meso a macre)scópica (isto é, na escala
50µm
de amostra de mão à de afle)ramento), um exemplo
da diferença de compactabilidacle entre rochas
arenáceas e lutáceas é a produção de dobras ptigmáticas
em diques elásticos de areia (Fig. 14.6). Os diques de
areia são corpos tabulares, com dimensões geralmen-
te centimétricas a submétricas, disce)rdantes em relação
a um estrato lutáceo hospedeiro. Eles são formados
por sobrecarga ou por injeção de areias fluidificadas
nos sedimentos lamíticos ainda moles (durante o está-
gio inicial da diagênese, conhecido comei diagênese
precoce). Após a fase de injeção, a lama hospedeira,
submetida ao se)terramento, passa a compactar-se mais
rápida e intensamente que o ce)rpo disce)rdante de areia
Fig. 14.7 Denteamento (crista-de-galo) paralelo a linhas de
injetada, o qual é forçado a deformar-se, para assimi- clivagem em grão de estaurolita, observado ao microscópio.
lar a redução de espessura se)frida pele) estrato de lama. Trata-se de feição de dissolução que pode ser originada tanto

A quebra mecânica é uma feição micre)scópica de acima do lençol de água subterrânea (zona vadosa) como em
meio a ele (zona freática). Grão proveniente de arenito da Ba-
ce)mpactação comum em grãc)s de minerais duros,
cia do Paraná (Formac,,ão Botucatu, Jurássico). Fotomicrografia:
pouce) maleáveis. O quartzo é mais propense) que o
E.K.Mori.
feldspate) a fc)rmar rachaduras de compactação. A
razãe) é que eJ feldspato, menos rígido, aceimoda-se
melhor que o quartzo à pressão mecânica. () caso ex- mentos intraclásticos de pelitcis (pedaços de lama ar-
tremo de assimilação de ccJmpactação mecânica, sem rancados do fundo sedimentar da própria bacia)
quebra, é exemplificado pelas micas (comei outros podem ser amassadcJs e intrcJduzidos pcir grãos rígi-
ftlossilicatos em geral). Pe)r sua própria estrutura foliada, dos. Se a compactaçãei mecânica for intensa, o clasto
elas são extremamente flexíveis e amoldam-se aos chega a ser espremiclo por entre eis grãos.
grãos rígidos vizinhos (Fig. 14.5). AnaleJgamente, frag- N eJ caso deis grãos carbonáticos, clisseJluçãeJ e
cimentaçãei são fenômene)s muito mais importantes
que a compactação mecânica, dada a facilidade com
que o carbonato se dissolve e se reprecipita, em com-
paração com ei qLiartzei e o feldspato. Ainda assim,
efeitos de compactação mecânica podem ser <)bser-
vados em grãos ccinstituintes de rochas calcárias. C_1
exemplo clássic<) é o dos oóides (esferóides
carbonáticos concêntricos; ver Cap. 9) amassadeJs e
com lamelas desmanteladas (Fig. 14.5).

Dissolução

A dissolução diagenética pode ocorrer sem ou com


efeito significativo da pressão de soterramento. A dis-
solução sem pressão cicorre apenas pelo efeito da
percolação de seiluç<>es pós-deposicionais, aincla na
diagênese precoce. C_)s minerais suscetíveis ao caráter
químico da água intersticial (comltmente alcalina) são
corroídos ou dissolvidos totalmente. Olivina,
Fig. 14.6 Dique elástico de arenito muito fino, com
dobras ptigmáticas, em meio a rocha laminada de piroxênios, anfibólicJS e feldspatos, por terem C<)m-
arenito ondulado e lamito. Formação Camarinha, porta111e11to invariavelmente instável nas C<)ndições
provável idade neoproterozóica. São Luiz do Purunã superficiais, são os minerais mais freqüentemente afe-
(Estado do Paraná). Foto: P. C. F. Giannini. tadcJs. Ccimo efeiteJ, exibem tern1inações denteadas e
água é gradualmente aumentada. Quanto à composi-
ção química, os cimentos mais C<)muns em rochas
sedimentares são os silicosos (quartzo, calcedê)11ia,
quartzina e c)pala), os carbonáticc)s (calcita, calcita
► ferrosa, ankerita e siderita), <)S férricos e ferros<)S (pirita,
marcassita, goethita, hematita) e <)S aluminossilicáticos
(argilc)minerais como clc)rita, caulinita, ilita e esmectita).
A precipitação química do cimento depende de sua
a
insolubilidade no ambiente geoquímico intersticial.
Como o ambiente intersticial p<)de variar de um pon-
to para outro de uma mesma rocha, na dependência
ele sua composição, porosidade, permeabilidade etc.,
a cimentação p<)cle ocorrer apenas lc)calmente. (-) nó-
dulo é uma cc)ncentração localizada e bem clefinida
de ciment<), criando uma zona visivelmente diferenci-
ada dentr<) da r<)cha (Fig. 14.9). FJe pode exibir estrutura
e d concêntrica, devida à cristalização gradual d<) cimento
a partir de um núcleo de germinaçàc), e então recebe o
Fig. 14.8 Representação esquemática da evolução dos tipos
nome ele concreção. Os nódulos e cc)ncreções são es-
de contato entre grãos terrígenos, durante a diagênese: a) con-
tatos pontuais; b) contatos planares; c) contatos
truturas sedimentares tipicamente diagenéticas.
côncavo-convexos; d) contatos suturados.

sulcos ao longo das direções de intersecção de clivagem


(Fig. 14.7) ou de geminações. Estas feições têm sido
descritas mesmo em sedimentos submetidos a pouco
temp_9-,eYe diagênese, como em areias pleistocênicas e
h<)l<)cênicas.

A dissolução sob pressão ou compactação quími-


ca pr<)cluz dois tipos principais Je feições. Em escala
de observação de grãos, afeta a morfolc)gia de conta-
to (Fig. 14.8), que passa de tipicamente pontual, na
diagênese precoce, para planar, côncavo-convexo e Fig. 14.9 Nódulo métrico de carbonato de cálcio em meio a
suturado, com <) efeito crescente do soterramento. A siltitos laminados de idade permiana (Formação Teresina).
mudança do tip<) de cc)ntato intergranular reflete a Afloramento da serra do Rio do Rastro (Orleans - São Joa-

interpenetração gradual d<)S grãos submetidos a lenta quim, Estado de Santa Catarina), local onde foi definida a
primeira proposta de coluna estratigráfica para a Bacia do
dissolução sob pressão. Em escala mes<) a
,,. ~ ,,. Paraná (Coluna White). Foto: P. C. F. Giannini.
macroscop1ca, a compactaçao qu1m1ca gera estruturas
sedimentares de interpenetraçã<) parecidas com os Recristalização diagenética
contatos suturados. Entre essas estruturas, destacam-
se superfícies cuja geometria em corte transversal O termo recristalização diagenética designa a mo-
lembra o registro de um eletroencefalograma, feição di ficaçào da mineralogia e textura cristalina de
esta denominada estilólito. componentes sedimentares pela ação de soluções
intersticiais em condições de soterrament<). O efeito
Cimentação da recristalizaçà<) diagenética é particularmente evidente
em clastos carbonáticos (oóides, bic)clastos e pelotilhas;
A cimentaçãc) é a precipitação química de minerais ver Cap. 9). Dois tipos de moclificaçc'Ses sà<) mais co-
a partir dos Íc)ns em S<)luçãc) na água intersticial. Sob muns (Fig. 14.1 O): o primeiro é a transformaçà<) de
esse aspecto, <)corre em conjunto com o prc)cesso da arag<)nita em calcita, dois polimorfos cie carbc)nato
dissolução, através do qual a concentração iônica da de cálcio. Come) não ocorre nenhuma mudança es-
sencial de ce)mposição química, mas apenas de estru- 14.2.1 Componentes deposicionais:
tura cristalina e, conseqüentemente, de fc>rma dos arcabouço, matriz e poros originais
microcristais, este tipo de recristalização diagenética é
denominado nec)morfismo (em alusãe) à nova forma). ()s componentes deposicionais de um agrega-
O segundo tipo de modificação é a transformaçãe) do sedimentar (rocha ou depéísito sedimentar
do carbonate) (aragonita e/ e)u calcita) em sílica, em ince)nsolidado) são três: o arcabc)uço, a matriz e a
que a composição química é drasticamente modifica- porosidade primária. O arcabouço cc)rresponcle à
da e o fenômene) recebe o nome de substituição. 1\ fração elástica principal (que dá nome à rocha C)u de-
substituição de carbc)nato por sílica é amplamente pósito) e às fraçe3es mais grossas que esta (Fig. 14.11).
dc)cumentada no registro sedimentar, não somente em Num arenito, por exemplo, o arcabouço são os grãos
grãos alobioquímicos como em calcários autóctc>nes de tamanho areia (0,062 a 2 mm) e eventuais clastos
e em nódulos e cimentos carbonáticos em geral. Isto na granulação cascalho (> 2 mm).
se deve ae) fato de que sílica e carbonato possuem
() material elástico mais fine) compõe a matriz (Fig.
comportamentos geoquímicos diametralmente opos- 14.11). No exemple) do arenito, a matriz seria consti-
tos. A dissolução de um implica condições favoráveis
tuída pelos grãos menores de 0,062 mm, ou seja, grãos
para a precipitação do outro.
de silte e de argila. O compc)rtamcnto das granulações
que compõem a matriz c1epende da viscosidade do
transporte. Fluxos de lama e escc)rregamentos (Cap.
9) transportam e depositam conjuntamente frações
síltico-argilosas e arcno-rudáceas. () transporte trativo,
em contraste, ce)loca a argila e o silte fino em suspcn-
sãe), cvitanclo que eles se clepositem junto às frações
ou ,; 'i ,' ' "
• ,>"''Ç',

' ., _, ' '


areia e cascalho. A presença significativa de matriz ar-
,,,.,.
,,,,' -~,"""'"""; (---t,,,j. ;· \... . ' ,,, ·'· '
gilosa ou pelítica seria portanto um traço preferencial
\ :;, •i. ,¼ .:· ? ;7 ;:- -i .... L'. ..'. . . . . .,"'
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de depósite)s de fluxos gravitacionais.
y
,, ' Neomorfisrno
,_...-0-"'" "· ''' ••.• --

ou ()s pe)re>s têm importância cm geologia do petró-


leo, pois representam condute) e receptáculo para e)s
hidrocarbonete)s. C)utra importância da análise dos
Substituição
poros, esta com um campo ainda mais vasto a explo-
rar, reside no estude) de vulnerabilidade de aqüíferos
Fig. 14.1 O Representação esquemática de carapaças
(Cap. 7).
carbonáticas de pelecípodo sofrendo dois tipos possíveis de
recristalização diagenética: neomorfismo e substituição. A porosidade primária refere-se ac) volume, à
geometria e à distribuição de poros que o agregado
,
sedimentar tinha nc) momento de deposição. E im-
portante ressaltar que se trata de uma feição efêmera,
facilmente modificável pelo soterramento, e raramen-
14.2 Componentes de Rochas te e)bscrvável no pre)duto sedimentar final. Assim, a
Sedimentares pc>rosidade primária é muito mais freqüente como um
cc>nceite) de que como feição descritiva concreta. Cu-
Os processos diagenéticos modificam a textura e a
riosamente, a distribuição e geometria da pore)sidade
mineralogia dos grãos, alteram a forma e a taxa de
primária só se preserva numa rocha sedimentar quan-
porosidade e criam novos componentes mineralógicos
do é imediatamente preenchida por cimento (e,
(minerais autigênicos ou autígenos), sob a fe)rma de
pc)rtantc), quande) deixa ele se tornar vazia). Ela é en-
cimentos. Desse modo, uma re>cha ou clepósito
tão rece)nhecida pele) grande vc)lume dos interstícios
sedimentar pode ser dividido em clois grupos de com-
preenchidos, associado a empacotamento aberto do
ponentes: os que já existiam na deposição e os surgidos
arcabouçe). Nesse caso, o cimento que a preenche é
durante a diagênese (Fig. 14.11 ). Chamareme)s os pri-
interprctadc> come) precoce (Fig. 14.12). FJc deve ter
meiros de depe)sicionais (primárie)s) e os últimos de
se fc>rmado no inícic) da diagênese, logo após a clepo-
diagenétice)s (secundários).
siçãe>, restringinde) a compactação.
14.2.2 Componentes diagenéticos: cimento :'\ pcir<J5idaele secunelária resulta ela interaçãcJ quí-
e porosidade secundária n1ica cl<) arcalJciuçcJ e da matriz ccim a água intersticial,
fa,-<JreciLla c>u nãci pelas ccindiçc'"íes diagenéticas de tem-
()s prcicesscis cliagenéticcis incluem clissciluçãci e peratura e pressacJ.
fragme11taçãci, ci que equivale a criar pcircis. Pcir cJutrcJ
ladci, a cliagênese é i1orualmente capaz de fechar pclrcis,
seja pcir cc)mpactaçãcJ, seja pela precipitaçãcJ de mine-
14.3 Dando Nomes às Rochas
rais scib a fcJrma de cimentcJ. l)cssc mcidci, CJS principais Sedimentares
ccimpcincntcs introduzielcis num agregado scc-limcntar
por diagênesc sãci a pcircisidade secundária e <J cimen-
14.3.1 Descrições e julgamentos: nomes
tcl (~'igs. 14 .11 e 14 .12).
descritivos versus nomes genéticos

J\ classificaçãcJ das rcJchas seelimentares nãci escapa


----·- ....
--· ·-·•·.
--, .hc'.,C à regra que abra11gc a granele maicJria elas classifica-
Ç<>es cnccintradas em gecJ!cigia e na ciê11cia cm geral: a
arcabouço ele pclssuir tantcJ critéricJs gcnéticcJs cc>mci dcscritivcJs.
... ,-.---cimento Não existe nenhum mal metcidcil(igiccJ nesse fatcJ, eles-
ele que se saiba clistinguir CJS elciis tipcis ele critéricis e
matriz
descle e1ue se cc)11heçam as vantagens e limitaçc"'íes ele
cac-la tipcl.

()s termos dcscritivcis permitem clar ncJmcs às rcJ-


cl1as e sãci a base s(ilida scJbrc a c1t1al se pclde eelificar a
ccHnunicaçãcJ científica bem ccJmcJ e1uale1uer interpre-
tação genética pcistericir. ()s termos gcnéticcJs dizem
scJbre ccJmci se fcirmcJtl a rcJcha sedimentar e sãcJ l1as-
Fig. 14.11 Representação genérico de rochas sedimentares, com tante usaclcis, talvez além elcJ que d.everiam. I-i.ntre CJutrcJs
indicação d seus componentes principais. Fonte: Wilson, 1977 . termcis, pcic-le-sc mencicinar varvitci, tilitci, turbielito,
inunclitcJ, tempestitcJ e sis1nitci, que, na circlem e-la cita-
çãc>, rcpresenta1n a materializarão rochosa de estaçc'"íes ele
a um anc> glacial, de um elepósitcJ na !)ase cJu na bcirela
de uma geleira, ele uma ccJrrcntc de turbidcz, de uma
int1nclaçàc> fluvial, ele uma tempestac-le no mar e de
um terremcitcJ.

Uma ciência que tem certezas abscJlutas scJbre


cenários tão imaginativcJs quanto estes que acaba-
mcJs de mcncicJnar nãci é uma ciência, mas uma
crença! lstcJ significa e1uc CJ uso elesta classe ele ter-
b mcis eleve ser feitci ccim extrema prudência, pois
serve apenas para rcitular ot1 etiquetar certos tipcls
de rcJcha de mcidcJ prcivis(>ric> e nãc) para gravar
um ncJme para a eternid_ade. Se estes termcJs têm
alguma funçàcJ, sc'i peide ser a de provocar um
1 questicJnamentci. Aci ler cJu escrever um termci ge-
néti ccJ, lembre-se ele que há um pcln tci de
interrcigaçãcJ implícitcJ ao ladci dcJ ncJme. [~111 cJu-
1ooµm . ~
tras palavras, as 1nterpretaçc>es passam, mas as
Fig. 14.12 Desenho esquemático comparando duas distribui- rcicl1as ficam ...
ções de cimento de quartzo em um arenito: o) típico de cimentação
de porosidade primário (cimentação precoce) e b) típico de
cimentação de porosidade secundário (cimentação tardio).
14.3.2 Classificação geral: de onde e como tulo, de que os materiais sedimentares dividem-se em
veio o sedimento? dois universos muitc> distintl1S e, sob muitos aspectos,
antagônicos: ci dos terrígcncis e ci dos carbl1náticos.
A classificação mais abrangente das rochas
Apesar de> antagcinismo entre sedimentação
sedimentares é a que as divid_e em alóctones terrígenas,
terrígena e carbonática, <>s dois tipc>s de materiais pei-
alóct(1nes alobic>químicas e autóct(1nes (termc>s discu-
dem cc>existir nci mesmo sítio c1eposicional. Há todas
tic1os no Cap. 9). Estes nomes relacionam-se à
as proporções possíveis de mistura de materiais
c>corrência ou nãc> de transpl1rte mecânico (alóctones
terrígencis e não terrígenos numa rcicha sedimentar
x autóctones) e à origem dos grãos fora ou dentro da
(pelo menos, se ela for alóctone). Desse modo, parece
bacia sec1imentar (extrabacinais x intrabacinais). Trata-
lógicci que o material que dá nome à rcicha seja aquele
se, sem clúvida, de uma classificação genética. No
que predomina em volume. Talvez pelo mesmo mo-
entantc>, a simples descrição da composição c1uímic<>-
tivo, ou seja, pela possibilidade de <icorrência de grãos
mineralógica das rochas é suficiente para permitir o
terrígenos e carbonáticos lado a lado, r<>chas terrígenas
uso desta classificação: rochas sedimentares quartzo-
e calcárias p<issuem também vários critérios de classifi-
feldspáticas, por exemplo, são praticamente sinc:>nimo
caçã<i em comum, aincla que, cm cada grupci, esses
de rc>chas extrabacinais tcrrígenas, assim c<>mo
critérios conduzam a ncimes diferentes. Dividircmcis
fosfc>ritc>s, cloretos e principalmente calcáric>s sãci c1uase • , • A • / •

esses cr1ter10s em tres grupos: tcxtura1s, qu1m1co-


sinêinimos de rochas intrabacinais. Trata-se de pôr em
mineralêigicc1s e geométricc>s (relativc>s a estruturas
prática a ccinstataçãci, Cl1mcntacla nll inícici clcste capí-
sedimentares), conforme a Tabela 14.1.

Tabela 14.1 Critérios e termos mais usuais na classificação de rochas sedimentares terrígenas e
carbonáticas. Os termos grafados em azul, verde e vermelho são específicos para rochas de
granulação, cascalho, areia e lama, respectivamente.

Tipo de rocha Caráter do critério Critério Termos


Terrígeno Textural Granulação Rudito (psefito)

Lutito (pelito)
Proporção de matriz , ortoconglomerado
, paraconglomerado
La mito
Arredondamento Conglomerado
Brecha
Mineralógico Proporção QFL Quartzo
(quartzo, feldspato, líticos)
Rudito feldspático,

Rudito lítico,
Diversidade ou pureza Conglomerado oligomítico, conglo-
composicional merado polimítico
Folhelho, folhelho carbonático,
folhelho silicoso, marga, porcelanito
Geométrico Fissilidade Folhelho
(estruturas sedimentares) Ritm icidade Ritmito
Carbonático Textural Granulação Calcirrudito (dolorrudito)

Calcilutito (dololutito)
Tipo de grão/ tipo de Ooesparito, oomicito
material intersticial lntraesparito, intramicrito
Bioesparito, biomicrito
Pelmicrito, pelsparito
Mineralógico Relação calcita/dolomita Calcário, dolomito
14.3.3 Classificação das rochas terrígenas b) N ornes baseados na quantidade relativa de
matriz: arenitos, wackes, ortoconglomerados e
No estudo de rochas sedimentares, o conceito de paraconglomerados
textura refere-se às propriedades físicas de partícula.
Sua descrição ou medição pode ser aplicada a cada O processo mais elementar de seleção
grão individual. As três propriedades texturais clássi- granulométrica consiste na deposição trativa (Cap. 9)
cas são o tamanho do grão (granulação), a forma e de areia ou cascalho, com manutenção das partículas
suas feições superficiais de escala menor (isto é, inde- finas em suspensão. Pode-se dizer que toda corrente
pendente da forma). (fluxo trativo) ou onda (fluxo oscilatório), acima de
um certo nível de energia, é capaz de realizar este tipo
As propriedades físicas (e geométricas) cuja avalia- de seleção. O resultado é a deposição de areia e/ ou
ção depende do exame do conjunto das partículas cascalho limpos, isto é, sem matriz. Assim, a separa-
não são texturas, mas propriedades de agregados ou ção das rochas sedimentares em dois grandes grupos,
de massa. Podem ser incluídas aí a petrotrama (arran- quanto à presença ou ausência de matriz, é uma classi-
jo espacial dos grãos uns em relação aos outros), a ficação que tem implicações genéticas quanto à energia
porosidade (quantidade relativa de poros), a e ao mecanismo de transporte. Além disso, a identifi-
permeabilidade (quantidade relativa de poros cação de matriz em uma rocha sedimentar possui
intercomunicáveis, que permitam a passagem de flui- sempre uma dose de interpretação, porque· nem todo
dos) e as estruturas sedimentares (arranjo de grãos material lutáceo é matriz: a massa fina pode ter-se
quanto a qualquer uma das demais propriedades, ca- infiltrado a partir de camadas sobrejacentes durante a
paz de produzir um padrão geométrico visível no diagênese, por exemplo. Um outro fator complicante
depósito ou rocha sedimentar). Existem também pro- é que nem toda matriz continua fina após a deposição,
priedades de agregado, que ,
são diretamente derivadas pc)rque os filossilicatos podem transformar-se em cris-
de parâmetros texturais. E o caso da homogeneidade tais maiores durante a diagênese (matriz transformada).
de forma ou de tamanho dos grãos, conhecidas res- Uma vez que a distinção entre matriz, c)riginal ou trans-
pectivamente como seleção. morfométrica e seleção formada, e finos de origem diagenética (matriz falsa)
granulométrica. A eliminação de matriz é o processo pode ser muito difícil em alguns casos, as classifica-
mais simples de seleção granulométrica, o qual será ções de rochas terrígenas baseadas na observação da
incluído entre os critérios texturais de nomenclatura. matriz não utilizam como critério a simples ausência
Nomes texturais C)U presença de matriz, mas a sua quantidade relativa.

a) Nomes granulométricos: rochas rudáceas, Nos psamitos terrígenos, a frc)nteira entre rochas
arenáceas e lutáceas limpas e impuras equivale aos 10% de matriz verda-
deira, original ou transformada (Fig. 14.13). Os
O tamanho do grão é a propriedade textura! mais
psamitos são classificados como arenitos, abaixo des-
utilizada na nomenclatura de rochas terrígenas e a sua
se limite, e como wackes, acima dele. Um wacke pode
medida recebe o nome de granulometria. Os nomes
ser um arenito lutáceo ou um lutito arenáceo em que
granulométricos das rochas baseiam-se nas escalas de
o material fino tem caráter de matriz. Analogamente,
tamanho de grão mais utilizadas pelos sedimentólogos,
o termo lamito inclui lutitos em que o material fino
discutidas no Cap. 9. Utilizam-se assim os termos de
tem caráter de matriz.
origem latina rudito, arenito e lutito, ou seus equiva-
lentes de origem grega: psefito, psamito e pelito. Para Dentre as rochas rudáceas, os equivalentes a arenito
rochas que possuam mais de uma granulação, podem- e wacke são, respectivamente, os termos ortoconglome-
se utilizar termos compostos. Por exemplo, uma rocha rado e paraconglomerado (Fig. 14.14). Embora alguns
com 70% de areia e 30% de silte/argila é um arenito autores sugiram quantidades limítrofes de matriz fina
lutáceo. Se as p r o p o ~ m inversas, trata-se de como fronteira entre estes dc)is tipos de rochas (em
um pelito arenáceo. A proporção limítrofe entre um torno de 15%), o critério mais operacional em traba-
arenito e um arenito lutáceo (ou vice-versa) mais ado- lho de campo consiste em observar se os clastos
tada é de ¾ (75%). De acordo com essa convenção, grc)SSC)S (isto é, maiores de 2 mm) se tocam ou se são
um arenito com 80% de areia e 20% de silte-argila separados por matriz. Daí falar-se em rochas susten-
não é um arenito lutáceo, mas um arenito (acrescente a tadas pelo arcabouço (ou pelos clastos grossos) e
expressão com silte-argila, se quiser ser mais preciso). rochas sustentadas pela matriz.
A experiência demonstra que, de iní-
cio, há certa dificuldade para distinguir,
dentre os termos paraconglomerado e
ortoconglomerado, qual deles se refe-
re ao rudito sustentado pelo arcabouço
. ,,,_, .'
'"

:,,,,
,
,,,.
, , ,
, ,
.
__
,
, ,
,
' e qual se refere ao sustentado pela ma-
f>.,tefÍI\ Oi . . .. triz. Mais uma vez, a análise
Quartzo• etimológica das palavras é muito útil.
wackes
Quartzoorenitos O prefixo para é o mesmo de parado-
xo, e lembra, portanto, contradição.
Ortodoxo é usado em português no
sentido de dentro das tradições. O pre-
fixo orto aparece também em ortogonal.
Significa, portanto, reto ou correto. Um
conglomerado correto, clássico, tradici-
c)nal, é aquele que tem muito cascalho
,
e é sustentado pelo arcabouço. E
ortoconglomerado. Já o conglomera-
do em que a lama, e não o cascalho,
,
sustenta a rocha é paradoxal. E
paraconglc)merado.
Fig. 14.13 Classificação de arenitos. Segundo Dott, 1964.
c) Nomes alusivos ao arredondamento dos grãos:
brechas e conglomerados

A forma dos grãos não tem sido formalmente lem-


brada como critério usual de classificação descritiva.
a) Ortoconglomerado b) Ortoconglomerado
De maneira informal, no entanto, costumam-se dis-
tinguir as rochas rudáceas ou psefíticas de arcabouço
anguloso, designaclas brechas, das de arcabouço
subarredondado a arredondado, denominadas con-
glomerados. Do ponte) de vista interpretativo, as
brechas são associadas a transporte muito curto de
material recém-desagregado, tais como brechas de
intraclastos tabulares arrancados de estratos subjacentes
e) Ortoconglomerado d) Paraconglomerado (Fig. 14.15), brechas de colapso cárstico e brechas de
sedimentos cataclasados. A maioria dos usos do ter-
mo brecha encontrada na literatura refere-se, como
nesses exemplc)s, a transpc)rte epiclástico ausente ou
muito localizado (restrito não somente à bacia como
ao próprio sítio deposicional).

N ornes mineralógicos
D vazio D areia D lama D cascalho Nomes mineralógicos de rochas arenáceas

Fig. 14.14 Representação esquemática: orto x


()s índices mineralógicos de maturidade sedimentar
paraconglomerado. "a", "b", e "e" são sustentados pelo em depcísitos terrígenos são a relação quartzo/
arcabouço, enquanto "d" possui arcabouço flutuante (é sus- felds1Jato, a relação quartzo / fragmentos de rocha
tentado pela matriz). Fonte: Harms et ai., 1975. não-silicosa (considerados mais instáveis) e a diversi-
dade de mineralogia (Cap. 9). Esses parâmetros sãc)
utilizados como critérios para classificar rochas fragmentos de rocha instável, ceJmo granito ou
sedimentares terrígenas. C)s arenitos têm sido histori- basaltei ·as liteJlogias mais comuns na creista), o que
camente subdivididos em quartzo arenitcis (ciu denunciaria sua baixa maturidade química real.
quartzarenitos), arenitos feldspátic<JS (arcéisicis, nas clas-
Desse modci, a classificação composicional das
sificações mais antigas) e arenit<JS lític<JS (<iu litarenitcJs),
rochas rudáceas é feita em deJis passos. No primei-
conforme prevaleçam respectivamente quartzo,
rc>, classifica-se a rc>cha, quanto à diversidade
feldspato ou fragmentos de rocha instáveis (xistcJs,
ceimposicional do arcabeJuçeJ, em pe>limítica ou
basaltos, metapelitos, andesitos, granitos etc.) em sua
oligcimítica. O prefixo poli vem dei grego e signifi-
composição. Deve-se ressalvar que eis critérios quanti-
ca muitos/muitas (por exemplo, politécnica). Nci
tativos, isto é, quanto de cada mineral a rocha deve ter
caso, muita di,-ersidade composicicinal. O prefixo
para receber cada qualificativo, variam bastante de autor
oligo, de oligarquia por exemplo, indica pc>ucos/
para autor. Tanto os psamitos limpos, ou arenitos,
peiucas. ::'\o caso, pouca diversidade composicional.
quant<J os psamitos ricos em matriz, ou wackes, po-
() rudito polimítico pc>de ser definido como aque-
dem receber os mesmos três qualificativos: quartzoso,
le em que mais de duas litcJlogias eiu mineralogias
feldspático (arcoseano) e lítico (Fig. 14.13).
são necessárias para perfazer 90% da ce>mposição
Nomes mineralógicos de rochas rudáceas de> arcabouço. O oligeJmítico define-se como o
rudito em que apenas uma ou duas lite>lcJgias ou
No caso das rochas rudáceas, <J critéri<J clássico
mineralogias perfazem mais de 90% da composi-
de maturidade mineralógica empregad<i na classi-
ção dei arcabouço.
ficação é a diversidade composici<inal. Trata-se de
um parâmetro inverso de maturic1ade: quanto mais Nei segundo passo, classifica-se a rocha rudácea
diversificada a composição do arcabouço, mais ima- quanto ac> tipo ele mineralogia/litolcigia que a ceJm-
tura é a rocha. Nci entantc>, a diversidade p<"íe. U sandeJ o mesmo princípieJ ele classificação
composicional depende também da r<Jcha-feinte. de psamitos, os ruditos peidem ser subdivididos
Um conglcimeradeJ formado ao pé de uma escarpa cm c1uartzeJ ruditos, litorrucliteJs e ruditos
de falha ativa ou recente, como num leque aluvial fcldspáticeis. Estes últimos são rarc>s na natureza,
ou submarinc>, tende a ter área-fonte pré>xima e excetei na dimensão de grânulos ou seixos peque-
peJuco diversificada, independentemente ele seu neis, pe>is são incomuns os cristais de feldspato
. .
transporte curto. A baixa diversidade sugeriria ma- malcJres que poucos cent1metreJs.
turidade alta, mas a maturidade real elo elepósitei é
Nomes mineralógicos para rochas lutáceas
baixa. Convém, portanteJ, nãeJ se restringir ao exa-
me da diversidade composicicJnal, e atentar também Um instrumento clássico para classificação quími-
para o tipo de composição. Em nossei exemplei, muitei co-mineralógica de rochas sedimentares de granulação
provavelmente o conglomerado seria ccJnstituídc> pc>r fina é o diagrama triangular propelsto por Alling em
1945. F,stc diagrama classifica as rochas lutáceas de
acordo com a prcipc>rção relativa de três componen-
tes (e>s três vértices do triângulo): argilominerais
(filossilicatos hidratados), sílica (quartzo, calcedônia,
opala) e carbonatcJS (Fig. 14.16). () triângulo de Alling
nãci se limita ao universo das rochas terrígenas porque
grande parte das rochas lutáceas carbcJnáticas e siliceisas
tem origem química e/ ou biogênica. Nãci se limita
também ao conjunto das rochas alóctones, pclis algu-
mas das rochas calcárias e silicosas finas são formadas
por microcristais precipitados in situ. Apesar disso, a
classificação é operacional, porque descreve com fi-
Fig. 14.15 Brecha intraformacional de matriz arenosa (dois delielacle as diferentes misturas de terrígeneJs e
terços superiores da imagem), em contato irregular sobre não-tcrrígeneis c>bservadas na natureza, e particular-
arenito com estratificação plano-paralela. Rochas permo- mente freqüentes nas granulações mais finas.
triássicas da Bacia do Paraná (Formação Piram bóia), na região
de São Pedro, Estado de São Paulo. Foto: P C. F. Giannini.
Os silexitos e porcelanitos
podem receber denominações ARGILOSA
específicas, que explicitam a
forma biológica de ocorrência
dos grãos de sílica, como, por
exemplo, silexitos e porcelani-
tos radiolaríticos (ricos em
carapaças de um protozoário
marinho denominado radiolá- '•

rio), diatomíticos (ricos em .,,~,-


carapaças de algas diatomáceas;
Fig. 14.17) e espongilíticos (ri-
cos em espículas silicosas de A~ENTO NfTIDO,,,,_.-
espongiários). Mais do que os
_ _ _J,.~C)J,MMEt-ITO fNCIPIEWE
seis termos do triângulo, estas
últimas adjetivações dependem
necessariamente de um estudo ASPECTO Ail.ACIÇO
microscópico de) depósito e CALCÁRIA 20 40 60 80 SILICOSA
por isso não devem ser utiliza- (510 2 livre)
COMPOSIÇÃO - ESTRUTURA
das como denominações de
campo.
Fig. 14.16 Diagrama triangular para classificação composicional de rochas de granulação
N ornes relativos a estruturas
lutácea. Os vértices do triângulo referem-se aos extremos composicionais. As subdivisões
sedimentares: folhelhos e internas indicam as estruturas sedimentares predominantes. Fonte: Alling, 1945.
• •
r1tm1tos
As estruturas sedimentares deposicionais (mar- deposição (Cap. 9) e na individualização de fácies
cas onduladas, estratificações cruzadas e sedimentares (unidades de descrição de depósitos
estratificações plano-paralelas) são de fundamental sedimentares, com possível significado em termos
importância na compreensão dos processos de de processo sedimentar). De modo geral, uma
mesma litologia (no sentido visto até aqui, em
que litologia resume-se a características texturais
e mineralógicas) pode apresentar diferentes es-
truturas. Contudo, a mesma estrutura pode
ocorrer em muitos tipos de litologia. Desse
modo, a estrutura é tradicionalmente tratada
como feição independente da litologia, sem in-
fluir na terminologia adotada para a rocha.

.
1
• 1, t . :i:;~:J/$!1 Exceções encontram-se entre as rochas lutáceas
,
terr1genas.
('.,:,.i, ·,·i.'.~
••
A relação entre aporte de ftlossilicatos e estrutu-
ra de rochas lutáceas é sugerida no triângulo de Alling
(Fig. 14.16). Com a redução no teor de
· ·, líli/;w1 .·.· .i• ., .,
·. ·,. : ....·::tt ·f#fMtv~t/:'.t':Y-
1
..
argilominerais, a estrutura do pelito passa de físsil,
nos folhelhos, a laminada, nas margas e folhelhos
silicosos, e daí a estrutura em camada, nos calcários
finos, porcelanitos e silexitc)s. Para entender plena-
mente esta relação entre tipo de rocha lutácea e
Fig. 14.17 Carapaças silicosas de algas diatomáceas ao microscó- estrutura sedimentar, é preciso conhecer o signifi-
pio eletrônico de varredura. Imagem obtida com detector de elétrons cado dos termos fissilidade, laminação e
secundários. Fotomicrografia: 1. J. Sayeg. acamamento. São todas formas de estratificação.
.:•:'l '
,, "' ,·,.

14.1 Estratos, camadas e lâminas: os tijolos de construção de depósitos sedimentares


A maioria das rochas sedimentares pode ser subdividida em camadas, estratos ou lâminas. Embora, no senso comum,
estes termos pareçam sinônimos, na linguagem geológica existem diferenças entre eles. O estrato é uma unidade física ou
visualmente distinta, definida pela distribuição de suas características sedimentológicas deposicionais (homogêneas ou
variáveis segundo um padrão organizado) e/ ou pela presença de superfícies delimitantes, de origem primária deposicional
ou erosiva. Os estratos cujas características sedimentológicas variam segundo padrão organizado podem ser rítmicos,
cíclicos ou gradados. Os rítmicos alternam repetidamente duas litologias (ABAB...); os cíclicos, mais de duas (ABCBA...);
os gradados apresentam mudança gradual de granulação.
,
A estratificação é uma superfície de separação física que indica deposição segregativa no tempo e/ ou no espaço. E o que
delimita dois ou mais estratos vizinhos. Pode ser originada de duas maneiras diferentes:
1. pausa na deposição com ou sem erosão, ligada à mudança abrupta nas condições deposicionais (energia e aporte). Neste
caso, a estratificação é uma superfície formada aproximadamente num só tempo (síncrona);
2. seleção espacial de grãos (de diferentes tamanhos, por exemplo) sob aporte e energia constantes. Neste caso, a
estratificação não é obrigatoriamente formada num só tempo (pode ser diácrona).
A camada é um estrato considerado fundamental em dada escala de análise de afloramento e a lâminaé o menor estrato
visível. A fissilidade é uma foliação sedimentar e encontra-se abaixo da escala de laminação, pois embora sua existência
possa ser visualizada, não é possível ver claramente a olho nu os limites de cada folha. Esta foliação não se deve à
diferença de cor primária nem a diferenças de granulometria ou mineralogia, mas à orientação deposicional dos
,
microcristais placóides de argilorninerais. E a característica distintiva dos folhelhos

Os ritmitos são rochas em que a estratificação pla- forma calciarenito seria mais adequada, porém é me-
no-paralela se deve a uma alternância repetitiva entre nos usual) e calcilutitos, para calcários de composição
estratos de duas litologias diferentes. O caso mais co- calcítica. A porcentagem mínima de arcabouço
mum é a intercalação entre lutito escuro, rico em matéria rudáceo ou arenáceo necessária para denominar uma
orgânica, e arenito ou siltito claro. O par claro-escuro r<)cha de calcirrudito e calcarenito é de 10%. Desse
compõe a unidade rítmica da repetição. A produção modo, rochas calcárias com mais de 90% de matriz
de ritmitos deve-se a dois tipos básicos de processos: micrítica são automaticamente classificadas como
oscilações no aporte de material cm suspensão, difuso calcilutitos. Para calcários de composição primária
na coluna de água (sobrefluxo ou oveiflow), ou corren- dolomítica, substitui-se o prefixe) calei por dolo.
tes densas, de fundo de bacia, de caráter episódico e N ornes granulo métricos para rochas não-
intermitente (subfluxo ou undeiflow). Neste último caso, carbonáticas, formadas de material de dentro da
o par claro-escuro tende a ser gradado. Os dois proces- bacia (fosforitos e silexitos)
sos podem alternar-se num mesmo sítio deposicional, e
seu registro aparecer intercalado. A classificação granulométrica de rochas
carbonáticas segundo Folk pode ser adaptada para
rochas elásticas intrabacinais com outras composições
14.3.4 Classificação das rochas carbonáticas
químicas, tais como dolomita, fosfato (colofana) e sílica
Nomes texturais micro a criptocristalinos. Os fosforitos, definidos como
rochas sedimentares com mais de 18% de P20 5, fica-
Nomes granulométricos: calcarenitos, calcirruditos riam assim subdivididos em fosfarruditos, fosfarenitos
e calcilutitos e fosfalutitos. Os fosfalutitos incluiriam os fosforitos
As rochas calcárias elásticas podem ser classifica- microcristalinos homogêneos, também denominados
das segundo a granulação, de modo análogo às colofanitos ou microfosforitos. As rochas silicosas, com
terrígenas. Para distinguir a terminologia de calcários mais de 50% de sílica livre, poderiam, de acordo com
elásticos em relação a rochas terrígenas, os termos o mesmo critério, ser classificadas em silruditos,
rudito, arenito e lutito devem ser antecedidos de um silarenitos e silutitos. Os silutitos incluiriam os silexitos
prefixo que indique a compo~ção mineralógica da e porcelanitos da classificação triangular de Alling.
rocha. Têm-se assim calcirrudi~s, calcarenitos (a
N ornes baseados no tipo de grão

t\ segunda classificação textural mais utilizada para


calcários abarca aspectos nãc) conrempla(ios nas classifi-
cações anteric)res, porém importar1tes na interpretação dos
processos de1Josicionais: o ripe> de gràc> alc>bioqtúmiC()
prevalecente (O<>icles, bú1clastos, pclotilhas e intralitc)clastc)s)
nc> arcabc1uço e o tipo de material intersticial dominante
(se matriz depc>sicional c1u ci1nento). 1\ cc>nstittüçà<> de>
arcabouço fc>rnece o prefixo de) nome da rc>cha: oo, para
<>óide, bio, para tõsseis (a figura da primeira página deste
capírulc) é um exemple>), pel, para pelcJtilhas, e intra, para
intralitc>cla<,tc1s. A constituiçàcl elo carlJ<)natcJ intersticial fc)r- Fig. 14.19 Ooesparito, observado em seção delgado
nece C) sufix() de) termcJ: micrito, para preenchin1entcl (polarizadores cruzados). Notar núcleo de microclínio no oóide
domi11anren1ente microcristalino, com caráter de matriz central. Os grãos possuem cerca de 2mm de diâmetro.
Calcário da Bacia de ltabora', RJ .. Fotomicrografia: A. M.
lanútica calcária, e esparito, para preenchime11to domi-
Coimbra, L. A. Fernandes e A. M. Góes.
nantemente espátic<J (espato significa cristal), istcJ é, cristais
limpos de carbcJnatcJ, maic>res de 30 mm. Têm-se assim
c>itc> nomes, resultantes das con1bínações de prefixei e su-
tixo: oomicritc>, oc>esparit<), bicimicrito, bicJesparito,
pelmicritcJ, pelsparito, intramicríto e intraesparitcJ (Figs.
14.18, 14.19 e 14.2()).

1
lntraclastos !
l
1
!'
lntroesporito 1ntram icrito

1 1 ·

Oóides
l 1 ..·
,
Fig. 14.20 Biomicrito silicificado da lndia, observado à lupa.
...._··-·..·.~..... . . .-.J Os bioclastos de moluscos possuem cerca de 0,5 cm de com-
Ooesparito Oomicrito primento em média. Fotomicrografia: A. S. Assoto, 1. J. Sayeg
e P. C. f Giannini.
1
Bioclastos j
• . 1
Nomes químico~mineralógicos: dolomitos e
BioesÓÕ~
calcários

Entre as propc)stas puramente composicionais de


Pelotilhas
classificação de rochas carb()náticas, a da Fig. 14.21 é
pr<1vaveln1ente a mais utili%ada. Ela não leva em con-
Pelesporito Pelmicrito sícleraçàcJ a orige1n da composição, se prin1ária ou
secundária. t\dc>ta a definícãr) clássica tle rocha
□ calcita □ calcita '
espáfica microcristalina carbonática, istci é, aquela que cc)11tém pelo menos 50°/o
de carbonatt1 em sua crJmposição..A.s rochas crJm tnais
Fig. 14.18 Quadro da classificação de rochas calcárias, ba- da metade de st1a massa em carbonato dividem-se
seado no tipo de grão e de carbonato intersticial. em <JÍt<) grupcis. (~alcáric>s e dolotnitos sãc> as rocl1as
14.4 Para que Servem as Rochas e
Impurezas
Depósitos Sedimentares e para
que Serve o Seu Estudo?
A importância das matérias-primas sedimentares no
Terrígenos cotidianc> das civilizações expressa-se em sua influência
(não-corbonáticos) histórica na linguagem e nc>s costumes (Cap. 21 ). Até hoje,
50% nin6ruém consegue pensar cm sala de aula, pc)r exemplo,
sem lembrar de giz, lousa e cadcrnc>. () giz era ori1-orinal-
mcn te obtido a partir de rochas calcárias finas,
Carbonato
dolomítico
pulverulentas, que deixavam um traço esbranquiçado
(impuro) quandc> riscadas sobre uma rc)cha mais dura e lisa. A
rc)cha dura e lisa sobre a qual se escrevia nas salas de
10%
Calcário dolomítico Colcódo
aula pelo mcnc>s até meados do século XX era e> fc>lhelho
CO 9/1 1/1 Dolo mito : Colcifo c)u a ardósia (folhelho levemente metamorfizaclc>; Cap.
100% 90% 50% de dolomito do total de carbonalo
Dolomita 18). Pc)steriormente, a rocha foi substituída pele> cimento
Fig. 14.21 Diagrama triangular para classificação composicional
pintadci, mas a cor da pintura ccintinuc>u imitando e> ver-
de rochas carbonáticas cálcio-magnesianas. de-escurc> ou o preto característiccis e-los folhelhcis, de
<)nde surgiu a denominaçãci quadro-ncgrci.

No caderno, a participação da matéria-prima gecilógi-


com menos de 10% de impurezas (não-carbonatos) ca é mais sutil, mas nem por isso mencis visível e clara,
cuja relação dolomita/calcita é de 1/9 e 9/1, respecti- no sentido literal destas duas palavras, porque a substân-
vamente. Rochas carbonáticas cc)m menos de 1()% de cia utilizada para clarear o papel é a caulinita, um
argilomineral, na maiciria dos caseis c)riundo de depc'isitc>s
impurezas e relação dolomita/calcita entre 9/1 e 1/1
sedimentares. Os depósitos de caulinita ccinsistem geral-
são ditas dc>lc>mitos calcários. Reciprocamente, rochas
mente de argilas esbranquiçadas. No entanto, nem toda
puras com relação calcita/ dolomita entre 1 / 1 e 1 /9
ar6>ila branca é pura ou mesmo suficientemente rica em
são denc>minadas calcários dolomíticc>s. Para teores ele
caulinita para pc)der ser cxplc>rada economicamente para
impurezas entre 50 e 10%, acrescenta-se às mesmas
designações (dolomito, calcário, dc>lc)mito calcário e a indústria de papel. Outros ar6>ilciminerais podem estar
calcário dolc>mítico) o acljetivo impuro. presentes, com propriedades indesejáveis.

() emprego dos argilciminerais é as-


sunto suficiente para um livro. Um livro,
aliás, que ganha páginas novas a cada dia:
a tccnc>logia de ar6>ilas é um dos rarr1cis da
gccilc>gia aplicada que mais cresce, com
perspectivas de tcirnar-se o principal re-
curso mineral do séculc> XXI, ao lado da
água subterrânea e do petróleo. isto se
deve principalmente ao dcscnvcilvimento
das cerâmicas especiais, com proprieda-
des específicas de condutividade e
densidade que lhe cc)nferem aplicações
tecnológicas na indústria eletrônica, na
construçãci civil e na engenharia aeronáu-
tica. Mas deve-se também aos useis mais
simples porém pciucc) ccinhecidos das ar-
gilas cm nossc) dia a dia: por exemplo, na
Fig. 14.22 Extração de ritmito (nome comercial: ardósia), na Pedreira ltaú, muni-
fabricação de sabãc) em pó e rcmédicis, na
cípio de Rio do Sul (SC). Notar que a rocha já é retirada na forma apropriada a seu
uso como piso. Foto: P. C. F. Giannini.
limpeza de peles e couros de animais em curtumes e no O uso como pedra de revestimento e de constru-
enchimento de vasos sanitários para gatos domésticos. ção envolve também os outros dois tipos principais
de rochas sedimentares: arenitos e calcários. Arenitos
Pisos em jardins, terraços e calçadas de dezenas de
róseos e amarelados constituem exemplo de pedra de
milhares de casas e edifícios brasileiros são revestidos
revestimento muito utilizada nas casas e edifícios do
por uma pedra cinza-escura, conhecida comercialmente
Brasil, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. As
como ardósia, mas que, na maioria dos casos, é um
variedades silicificadas (isto é, com cimento de sílica
folhelho intercaladc) em laminação rítmica com siltito.
entre os grãos de areia) são as mais apreciadas, por
As pedreiras de onde provém este ritmito concen-
causa de sua resistência e coesão (Fig. 14.23). Estas
tram-se hoje na região leste do Estado de Santa
rochas provêm principalmente de uma unidade
Catarina (Fig. 14.22). No passado, houve pedreiras
estratigráfica da Bacia do Paraná, a Formação Botucatu,
importantes da mesma rocha na região de ltu (Estado
que corresponde a dunas eólicas do final do Jurássico
de São Paulo). Uma delas, desativada, foi transforma-
(140 milhões de anos) e aflora em vários Estados do
da em parque turístico (o Parque do Varvito). Se
Sul-Sudeste do Brasil. r~m Araraquara (Estado de São
prestarmos atenção a estes pisos de ritmito, encontra-
Paulo), por exemplo, várias calçadas são feitas de
remos em sua superfície marcas onduladas, produzidas
arenito, algumas delas com pegadas de pequenos
por correntes, e pistas deixadas por pequenos animais
dinossauros!
(possivelmente artrópodos).
A importância dos calcários como rocha de cons-
trução e revestimento remonta aos monumentos
pré-históricos e históricos, desde os sambaquis (mon-
tes de conchas de moluscos construídos pelo homem
pré-histórico), até os vários edifícios das civilizações
gregas e romanas, passando pelas pirâmides do Egi-
to. A famosa esfinge também é constituída de calcário,
ainda que não seja propriamente uma construção. Tra-
ta-se de uma rocha calcária esculpida e escavada in situ:
cabeça, pescoço e tronco da esfinge correspondem a
três estratos sedimentares, com resistências e aspectos
diferentes.
O fato de os monumentos de calcário da Europa,
do Egito e do Oriente Médio fazerem-nos pensar
imediata1ncnte em coisa velha, não só na idade, mas
no aspecto, tem uma parcela de fundamento geológi-
co, quanto à solubilidade e fragilidade física do calcário,
evidenciada pela exposição, durante séculos, ao uso e
às intempéries. Talvez por isso, nas últimas décadas, os
calcários têm ganhado preferência no revestimento de
ambientes internos, além do fato de as tonalidades cla-
ras, dominantes nesse tipo de rocha, ajudarem a refletir
a luz e a iluminar esses ambientes. Daí seu uso, como
norma, em pisos e paredes de grandes shoppings.
Retornando à casa como exemplo de uso de ma-
teriais sedimentares, encontraremos o próprio concreto,
em que a areia é um dos ingredientes principais. O
consumo da areia em construção civil cresce na pro-
Fig. 14.23 Laies de arenito silicificado (Formação Botucatu)
porção da expansão dos centros urbanos. Assim, não
da região de Ribeirão Claro (PR), prontas para comercialização.
há grande cidade no País que não disponha de uma
Notar a presença de marcas onduladas na superfície da laie,
produzidas pelo vento que soprou no deserto há mais de 140 dezena de lavras desse material, também conhecidas
milhões de anos. Foto: P. L. Fonseca e P. C. F. Giannini. como portos de areia. ◄
A areia, se de composição quartzosa, é também ,·és da atuação hidra ou aerodinâmica de agentes
uma das matérias-primas preferidas pelas indústrias sedimentares naturais. Estas concentrações, denomi-
de vidro, abrasivos e moldes de fundição. Embora os nadas pláceres, constituem uma das fontes principais
quartzitos (arenitos metamorfisados) sejam mais pu- de extração da maioria dos minérios metálicos e pre-
ros em quartzo, a exploração de arenitos e areias têm ciosos, entre os quais: ouro, ilmenita (minério de titânio),
como vantagem a facilidade de desagregação (o que cassiterita (minério de estanho), diamante, coríndon (nas
significa economia de energia e tempo). suas ,·ariedades gemológicas rubi e safira), crisoberilo
(na sua ,·ariedade gemológica alexandrita), topázio,
Os materiais sedimentares são ainda importantes
monazita (fosfato de terras raras empregado em rea-
fornecedores de minerais de minérios metálicos e de
tores nucleares) e granada (mineral semi-precioso,
gemas. A cena do garimpeiro concentrando ouro ou
também usado como abrasivo). O mineral que pre-
diamante nas águas de um rio, com auxílio de uma
domina e confere cor negra à maioria dos depósitos
bateia, é o exemplo clássico desse tipo de extração.
de plácer é a ilmenita (Fig. 14.24). No entanto, conhe-
Não é raro depararmo-nos com uma película de areia
cem-se pláceres com diferentes colorações, de acordo
de cor diferenciada concentrada na parte alta de uma
com o mineral dominante (Fig. 14.25). Os pláceres de
praia (Figs. 14.24 e 14.25), no banco de um rio
areia de Guarapari (Estado do Espírito Santo) devem
meandrante ou no flanco de uma duna. Trata-se de
sua cor amarelada à alta c9ncentração de monazita.
concentrações superficiais de minerais pesados, atra-

'
'

,, ,
, '"' -~,-,, "

Fig. 14.24 Concentração natural de mi-


nerais pesados escuros em praia do sul da
Bahia. O teor de minerais pesados nas areias
da superfície dessa praia varia com a ener-
gia das ondas. Foto: A. M. Coimbra e L. A.
P. Souza.

Fig. 14.25 Praia do Forno, em Armação de Búzios (RJ).


A cor rósea das areias deve-se à elevada concentração de
granada, proveniente dos biotita-granada xistos que cir-
cundam a praia. Foto: P. C. F. Giannini.
Leituras recomendadas
POLI(, R. L. Petrology ef Sedimentary Rocks. Texas:
Hemphill's Publish,1980.
FRIEDMAN, G. M. & SANDERS,J. E. Principies
ef Sedimentology. New York: John Wiley & Sons,
1978.
PETTIJOHN, F. J. Sedimentary Rocks. New York:
Harper & Row, Publ. 3 ed., 1975.
SCHOLLE, P. A.A colourillustratedguide to carbonate
rock constituents, textures, cements and porosities ef
sandstone and associated rocks. Tulsa: AAPG
(Memoir nº 27), 1978.
SCH O LLE, P.A. A colour illustratedguide to constituents,
textures, cements and porosities ef sandstone and
associated rocks. Tulsa: AAPG (Memoir nº 28),
1979.
SI<INNER, B. J. & PORTER, S.C. The Dynamic
Earth. New York: J. Wiley and Sons, 1995.
TUCI<.ER, M. E. Sedimentary Petrology: an
Introduction. Oxford: Blackwell, 1981.
i·~ 306 D ECI FRA N DO A T ERRA

da natureza humana refletir sobre si e sobre o bilhões de anos, pelo exame do registro geológi-
mundo ao seu redor. A consciência deu ao ser co das rochas, fósseis e estruturas geológicas. Esse
humano o domínio do tempo presente -penso, logo exercício trabalhoso é complicado ainda mais pela
existo - mas também o desejo de saber do seu passa- natureza incompleta e, comumente, muito comple-
do e da origem do seu mundo para poder entender xa do registro (Fig. 15.1) e também em função da
seu lugar na Natureza e enfrentar o futuro. Todo povo, superposição e repetição de fenômenos ao longo
desde os tempos pré-históricos, guarda seus mitos e da história geológica.
histórias sobre sua origem e a criação da Terra. Com
Para ordenar e comparar eventos passados, os
o notável desenvolvimento das ciências nos últimos
geólogos desenvolveram uma escala de tempo padro-
três séculos, a humanidade finalmente começou a des-
. , . nizada e aplicada no mundo inteiro. Neste capítulo,
vendar, objetivamente, essas questões e os misterios
veremos como se divide o Tempo Geológico e como
do mundo em que vive.
a mudança paulatina na sua concepção e magnitude
E é a Geologia, centrada no estudo das rochas, revolucionou nossa percepção da própria história da
que nos auxilia nessa tarefa fascinante e difícil por- Terra. Veremos também como é possível estabelecer
que, ao contrário das ciências exatas, trata-se, em a idade das rochas, seja por meio do estudo dos fós-
essência, de uma ciência histórica, fundamentalmente seis, seja pela medição de isótopos radioativos e
dependente do elemento tempo. O físico ou o quí- radiogênicos, avanço que culminou com a definição
mico, por exemplo, observa e analisa fenômenos da idade da Terra em 4,56 bilhões de anos. Diante
' - experiencias
atuais "" . e reaçoes ~ rigorosamente
. con- dessa dimensão temporal, refletiremos quão pequeno
troladas. O geólogo, contudo, busca entender é o ser humano no espaço-tempo e quão insignifican-
fenômenos findados, já há milhares, milhões ou até te é sua civilização milenar.

o Origem da Terra
u o "--•--•--•a-•----,-•-••••--"•-•- - '

•O u o 1

8 ·O u '

e 8 •O Materiais terrestres
u<lJ "'
<lJ 8<lJ mais antigos
~
J'. Primeiros Rochas
-- ------ .,. ··----- - - -- -- ---,
. .
an1ma1s mais antigas !
Fósseis ''
mais antigos

o 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4560

Milhões de anos

Fanerozóico - - - - Proterozóico _ _ _ _ __.,l+-----Arqueano

Pré - Cambriano

Fig. 15.1 Distribuição de rochas sedimentares no registro geológico. A curva da média de rochas sedimentares preservadas ao
longo do tempo geológico sugere que o registro diminui quase que geometricamente com a idade. Será que realmente houve menos
sedimentação no passado? Claro que não! Nossa dificuldade de compreender a imensidão do tempo envolvido é que nos dá esta
impressão errônea. Além disso, quanto mais antigo o registro sedimentar, menores serão suas chances de ter escapado da destrui-
ção erosiva ou transformação metamórfica.

• Stereosternum tumidum, um membro do grupo dos mesossauridos, conhecidos apenas na bacia do Paraná e na bacia
'
contemporânea de Karroo, na Africa do Sul, extintos há 245 milhões de anos. Embora aquáticos, os mesossauridos não eram
'
nadadores suficientemente fortes para terem migrado da Africa para América do Sul. Simbolizam, portanto, uma das evidências da
união pretérita destes continentes antes da abertura do oceano Atlântico. Comprimento máximo: 45 cm. Foto: Sérgio F. Beck.
15 .1 Como Surgiu a Geologia e uma "-\ntes disso, nem se cogitava que o mundo pudesse
ser "imperfeito" ou muito antigo por causa da forte in-
Nova Concepção do Tempo
fluência religiosa no pensamento intelectual da época. O
judaísmo pré-cristão, por exemplo, concebia a Terra como
15.1.1 Concepções iniciais da idade da Terra tendo apenas poucos milhares de anos. Idéia semelhante
e o princípio da Geologia continuou a ser difundida ao longo da Idade Média e
Renascença por sábios na Europa, que geralmente afir-
A idéia de que a Terra poderia ser extremamen- mavam que a criação do mundo, em coerência com a
te antiga só emergiu nesses últimos dois séculos, Bíblia, se deu há cerca de 6.000 anos (Fig. 15.2). Tal con-
como conseqüência dos dois grandes movimentos cepção transformou-se defmitivamente em dogma em
da cultura ocidental que consolidariam a Geologia tomo de 1650 quando o religioso Arcebispo U ssher (1581-
• A •

como uma c1enc1a: 1656) (Fig. 15.3a), primaz da Irlanda, publicou volumoso
tratado sobre a cronologia bíblica, cuidadosamente
• Durante o Iluminismo o ser humano substituiu
pesquisada nas escrituras sagradas e em outros docu-
as explicações sobrenaturais para fenômenos da
mentos históricos. Levando em conta todas as mudanças
Natureza por leis naturais, fruto de descobertas
cronológicas impostas pela troca do calendário juliano
da observação, pesquisa científica e emprego do
pelo calendário gregoriano em 1582, U ssher declarou que
senso comum.
a Criação deu-se na noite anterior ao dia 23 de outubro,
• Com a Revolução Industrial, incrementou-se a um domingo, do ano 4004 antes de Cristo. Tal foi a influ-
demanda por matérias-primas e recursos ência de Ussher que essa data permaneceu até o início
energéticos oriundos da Terra. do século XX como nota de rodapé nas Bíblias publicadas
pelas editoras das prestigio~<=1.s universidades inglesas de
Oxford e Cambridge.

O cômputo cía Icíacíe cía rterra


{J)a Criação até o(J)i{úvio_J.656 anos
(J)o (J)i{úvio até )f.6raão _ _292
(J)o :Nascimento tíe)f.6raão
até t4,odo do P,gito_ _503
(J)o t4,oáo até a Construção b
do r'empfo_ _ _ _ 481
(J)o r'empfo até oCativeiro_414
(})o Cativeiro até o:Nascimento
le Jesus Cristo_ _ _ 614
(})o :Nascimento le Jesus Cristo
aténo_je _ _ _ _l.560
lide la IJ'e,ra J.510 anos
~,\,_
\ e

d
Fig. 15.3 Ilustres personagens no surgimento da Geologia.
a) Arcebispo Ussher, respeitado Primaz da Irlanda, em ima-
gem da época. Fonte: Bettmann/ Corbis/ Stock Photos. b)
Nicolau Steno, o primeiro a enunciar princípios da Geologia.
Fig. 15.2 O conceito medieval da idade da Terra. Esse cálculo Desenho: T. M. Fairchild. c) Caricatura de James Hutton, o
da idade da Terra, baseado nas escrituras bíblicas, foi publicado escocês que estabeleceu a Geologia como uma ciência mo-
na Crônica de Cooper, em Londres, em 1560. Um século de- derna, surpreso ao descobrir as imagens de seus rivais no
pois, o Arcebispo Ussher apresentaria o último (e mais detalhado) afloramento. Fonte: Corbis/ Stock Photos. d) Sir Charles Lyell,
o mais influente geólogo do século XIX, popularizou o concei-
estudo deste tipo.
to de uniformitarismo. Fonte: Ann Peck Dunbar Trust.
O descrédito ao qual o Arcebispo Ussher é ge-
ralmente submetido em livros, em função da falta a, Deposição original em ca-
madas horizontais sucessi-
de lógica de suas idéias à luz da Ciência moderna, é vas e lateralmente continuas
a partir das óguas da
certamente exagerada, pois a história nos mostra Criação.
que ele foi um estudioso muito respeitado e influ-
ente em sua época. Que isso nos sirva de exemplo
para refletir sobre a imagem que gerações futuras
poderão ter da Ciência de hoje. A

No clima intelectual dos séculos XVII e XVIII, que b, As águas retiram-se pa-
ra dentro de cavidades, onde
mantinha a idéia do ser humano como centro do Uni- dissolvem e solapam o su-
porte da camada A-A'.
verso e a Terra como de seu uso exclusivo, começou a
surgir, timidamente, a Geologia. O dinamarquês Nils
Stensen, mais conhecido pelo nome latinizado de Nicolau
Stcno (1638-1686) (Fig. 15.3b), foi quem primeiro enun- A Ar
ciou os princípios dessa nova ciência. Médico, religioso C, Colapso da camada A-A'
permite que a água recubra
(católico convertido do luteranismo) e perspicaz obser- novamente a superf[cie . É o
Dilúvio.
vador, Steno explicou a origem dc)s gêiscres (Cap. 17),
reconheceu como dentes fósseis de tubarões as pedras
popularmente chamadas de "línguas petrificadas"
(glossopetrae), constatou a constância dos ângulos entre fa- A A'
B B'
ces cristalinas (Cap. 2) e contribuiu para o estudo da
d. Novo fase de deposição
anatomia humana. Nc) seu livro J)rodromus, publicado cm de camadas entre B e B' du-
rante o Dilúvio.
1669, ele estabeleceu os três princípios que regem a or-
ganização de seqüências sedimentares e que até hoje são
chamados, muitas vezes, de princípios de Stenc) (Fig. 15.4):
• Superposição: sedimentos se depositam cm A A{
B B'
camadas, as mais velhas na base e as mais nc)vas e. As óguos do Dilúvio
. . drenam para cavernas,
sucessivamente acima. -===::tí;Z'.:__~i.l..J solapando, agora, o suporte
L...::;Ji.._ _,.:::.L"' da camada 8 - B',
• Horizontalidade original depósitc)s sedimentares
se acumulam em camadas sucessivas dispostas de
modo horizontal. A'
B B' f. Novo colapso resulta na
• Continuidade lateral: camadas sedimentares são paisagem do mundo moderno.
Pontos A, 1( 1 B e B' sobrevivem
contínuas, estendendo-se até as margens ela ba- como testemunhos isolados
de camadas originalmente
cia de acumulação, ou se afinam lateralmente. continuas.

Apesar de simples, esses princípios são absoluta-


Fig. 15.4 A formação das rochas e da paisagem, sugerida por
mente fundamentais na análise geológica das relações
Steno (1669), de acordo com os princípios de superposição,
tempc)rais e espaciais entre corpos rochosos. Por exem- horizontalidade original e continuidade lateral.
plo, o princípio da superposição permite ordenar
cronologicamente estratos não perturbados e, uma vez
conhecida essa ordem, reconhecer situações em que Contudo, a aplicação indiscriminada desses princípi-
tenham sido invertidas por processos tectônicos. Ao os pode levar a interpretações equivocadas. Por exemplo,
encontrarmos estratc)s sedimentares inclinados, é pos- numa sucessão estratificada de rochas sedimentares e
sível inferir, com base no princípio de horizontalidade ígneas, o observador deve reconhecer corretamente a
original, que o pacote sofreu deformação pc1sterior. diferença entre um derrame de lava, cuja formação obe-
E pelo princípio de continuidade lateral, pcJdemos dece a esse princípio, e um si!!, sempre intrusivo e, portanto,
reconstituir a distribuição geográfica original de uma sempre mais novo do que as rc)chas encaixantes (Caps.
camada dissecada pela erosão através da correlação 16 e 17), não se aplicando, aqui, C) princípio da
física dos seus vestígic)s (fig. 15.5). superpos1çao.
na parte a da figura, que o princípio de continuidade
a B
A lateral não se aplica estritamente, pois as camadas em
vez de se estenderem até os limites da bacia gradam
E lateralmente para fácies sedimentares distintas, cada qual
o
r0
como produto de um ambiente contemporâneo di-
100 m YYT lóssels
ferente. ".\ parte b mostra como o arranjo geográfico
desses ambientes e o registro sedimentar dessas fácies
podem se modificar, ou não (seção à esquerda), com
b o tempo, a,-ançando sobre o continente (transgressão)
quando a subida do nível do mar é mais rápida do
que o preenchimento da bacia sedimentar (seção do
meio), ou migrando no sentido oposto (regressão)
quando os sedimentos oriundos do continente avan-
100 m
çam mar adentro (seção à direita). A parte e registra a
Fig. 15.5 Utilização dos princípios de Steno no campo. Uma transgressão ocorrida na região do atual Grand Canyon
geóloga investiga afloramentos A, B e C; em a) Pelos princípios
(E.U.A.) durante e) Cambriano. O exagero vertical de
de superposição e de horizontalidade original (e apoiada pela
mais de 200 vezes permite visualizar bem o avanço
observação dos corais fósseis preservados em posição de vida),
ela interpreta como normal (não perturbado) o arranjo das
principal das fácies de oeste para leste, bem como os
camadas l a 5 no afloramento A, sendo a camada l a mais avanços e recuos menores (nos círculos) superimpostos
velha e a camada 5, a mais nova. Pelos princípios de continui- nesse processo. As duas linhas de tempo (linhas ponti-
dade lateral e de superposição, ela infere que a mesma seqüência lhadas, definidas paleontologicamente), passando
também se estende até B e C, apresentando-se, porém, pelo lateralmente de uma litologia para outra, demonstram
princípio de horizontalidade original, ligeiramente dobrada em que enquanto o arenitc) Tapeats se depositava na parte
B e invertida em C. b) Com base nessas conclusões, a geóloga central da região, o folhelho Bright Angel se
apresenta sua interpretação final sob a forma de um perfil geo-
sedimentava logc) a oeste. Pouco depois, o mesmo
lógico.
fenômeno repetiu-se entre as lamas do folhelho Bright
Angel e os carbonatos do calcário Muav.

Dependendo da energia do meio e da topografia Hoje esses três princípios de Stenc) parecem mais
do substrato, o princípio de hc)rizc)ntalidade nãc) se do que óbvios, mas o clima intelectual da Europa no
aplica estritamente, como no ca~o da formação de século XVII era de transição entre os mundos medie-
estratificação cruzada em ambientes sedimentares de val e moderno, com Inquisições e interpretações
alta energia (Caps. 9, 12 e 14), ou durante a deposição eruditas da história da Terra baseadas nas escrituras
sobre as superfícies inclinadas de leques aluviais e fren- bíblicas, e nas grandes descobertas científicas, como
,
o
tes deltáicas (Cap. 10). Nem toda camada termina telescópio, o microscópio, a física e o cálculo. E sinto-
lateralmente por afinamento ou nos limites de bacias, mático que tenha sido um padre católico e naturalista,
pois comumente um sedimento cede lugar, lateralmen- Steno, quem tenha enunciado esses princípios.
te, para outro de maneira gradativa. Um arenito, por A simplicidade do conceito bíblico da formação
exemplo, pode passar para siltito, devido a mudanças da Terra refletiu-se também nas primeiras tentativas
na distância da tonte, energia do meio, profundidade, científicas de ordenar a história geológica do planeta,
etc. Transições aterais desse tipo, chamadas de mu- pc)r vc)lta do século XVIII. Entre 1750 e 1760,
danças de fá ·es litológicas (nesse caso particular, de Giovanni Arduino (1713-179 5) nos Alpes italianos e J.
fácies sedimentares), refletem normalmente a distri- G. Lehmann (1719-1767) na Alemanha denominaram
buição de ambientes de sedimentação distintos no as rochas cristalinas com minérios metálicos, observa-
interior de uma mesma bacia (Cap. 9). A migração das nos núcleos das montanhas, de primárias ou
desses ambientes ao longo do tempo produz diferen- primitivas e as rochas estratificadas bem consolidadas
tes padrões de interdigitação e sucessão de fácies que (calcáric)s, folhelhos) com fósseis de secundárias; as
denotam avançc)s (transgressões) e recuos (regressões) rochas estratificadas pouco consolidadas, com fósseis
do corpo da água relativos às margens da bacia. marinhos e intercalações vulcânicas, receberam a de-
A Fig. 15.6 ilustra algumas situações de registro signação de terciárias. Posteriormente, surgiu o termo
sedimentar de diferentes ambientes costeiros. Vê-se, transicional para acc)modar rochas intermediárias en-
Ambienta continental Ambiente tronsicional Ambiente marinho

Silte, malária
Areia, lama organ1ca
. . Areia Lama
abundante

Restos de plantas a Restos de plantas e animais


da águas salobras a marinhas: Restos da algas, animais e
animais terrestres
eventuais organismos do ambi- microorganismos marinhos
de água doce
ante continental

Pântanos costeiros, lagunas Ilhas (barreira) Mar rasa


Planície de
inunda~ão
fluvial

t E
o
,....

i -
_,'

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-•--~-~-

._--------------30km--------------•
A

Transgressão. Regressão

E

o::
"' :
t
•---- ---------------- - ---30 km - --- ------------- ------·--► 30 km ◄-- ------- --30km-
Com o tempo as fácies se acumulam no mesmo lugar_ Os ambientes e as facíes avançam sobre o continente. As fàcíes continentais avan~am sobre as marinhas.

400 ~w_ _____________ - ---- -------- - -------------- ----------- - - ------------- ------- --- - ------------ E
j Calcório Muav ]

300~
'\

1
200--\
Arenito Tapeats

100
Rochas fgneas e metamórficas
pré-com brianas
o-
. .- - - - - - - - - - 1 8 0 k m - - - - - - - - - - _ .

e
Fig. 15.6 O conceito de fácies sedimentares exemplificado na distribuição de alguns ambientes costeiros e seus
produtos litológicos (fácies).
tre as primárias e secundárias, e em 1829 o francês J.
Desnoyers cunharia o vocábulo quaternário para sedi-
mentos marinhos recobrindo rochas terciárias na bacia TABELA 15.1 A escala do tempo geológico
de Paris (França). Os termos "primário e "secundá- (idades segundo Gradstein & Ogg, 1996).
rio" já foram abandonados, mas os termos Terciário Para facilitar a compreensão da magnitude
e Quaternário ainda constam da escala moderna do dos 4.560.000.000 anos de tempo geológi-
tempo geológico, embora com conceitos diferentes co, veja o quadro na contracapa que conta a
história da Terra como se ela tivesse ocorrido
dos originais (Tabela 15.1).
no intervalo de um ano, o "Ano-Terra".
Na segunda metade do século XVIII, essa sub-
divisão simples foi interpretada à luz do relato
:· •:, :
bíblico da separação das terras e das águas durante Eon· Era .ifêí'Íodo.
a Criação. De acordo com essa idéia, quase todas
Holoceno (ou
as rochas, incluindo rochas ígneas como granitos e Recente)
Quatenário 0,01
basaltos, teriam se precipitado das águas do mar
primordial, daí a razão do nome, netunismo, em Pleistoceno
1,8
homenagem a Netuno, o deus do mar da mitolo-
.
g1a grecc)-romana.
Neógeno 5,3
Conforme mostra a Fig. 15.7, os netunistas acredi-
tavam que as rochas se formavam em quatro séries 24
seqüenciais a partir das águas do mar primevo, como
relatado na Bíblia. Para eles, as duas séries mais antigas, 33
.. .. .
. ..
"

incluindo rochas ígneas e metamórficas, eram precipi- f'aleógeno'


. . ,. .. .:
·· :·
54
tadas em capas concêntricas sobre toda a superfície
original da Terra quando esse mar ainda cobria tudo. 65
o
As outras duas séries, mais restritas geograficamente e
'S·-o
u
Cretáceo
caracterizadas por fósseis, marcas de correntes e ou- 142
...li
tras estruturas indicativas de águas mais rasas, eram ; Jurássico
u. 206
originadas quando os continentes já se expunham aci-
ma do nível do mar. Para explicar a descida do nível 248
de) mar primevo os netunistas, como Steno, postula-
290
vam que as águas sumiam para dentro de imensas
cavidades no interior da Terra (Fig. 15.4). Carbonífero
354
O netunismo teve em Abraão Gottlob Werner
Devoniano
(1749-1817), professor durante 42 anos na Academia 417
de Minas em Freiberg (Alemanha), seu proponente mais
carismático. Werner foi o mais renomado professor de 443
Geologia da sua época, lecionando inclusive para o
1
Ordoviciano
'
eminente mineralogista (e político) brasileiro, José
Bonifácio de .A,,,drada e Silva na década de 1790. Os
livros-texto e Geologia tendem a tratar Werner com 545
certo desprezo, por causa da insustentabilidade científi-
ca do netunismo. Mas a influência de Werner se estendeu
até 1840, inclusive no próprio berçário da doutrina an-
tagônica, o plutonismo, que nascera no fim do século 2.500

XVIII em Edinburgo, Escócia. Por ser um dos primei-


ros naturalistas a adotar um ponto de vista
geológico-histórico, Werner merece ser lembrado como
4.560
um dos pioneiros da Geologia Histórica. (Ma)
Nível do mar durante a: Primeira Série

Segunda Série
Rochas de
TransiçãQ
Terceira Série

Quarta Série

Nível do mar atual

Quarta Série Terceira Série Segunda Série Primeira Série

Formações Parciais, Formações Universais


geradas após a emergência dos precipitadas sobre toda a
continentes acima do nível do mar superfície original da Terra

Rochas Terciárias Rochas Secundárias Rochas de Transic_jão Rochas Primitivas


Material aluvial Arenitos,ca lcá rios Calcários e grauvacas, ou Primárias
dos terrenos e folhelhos, muito até com fósseis e Granitos, gnaisses,
baixos fossilíferos, com marcas de corrente, xistos, ardósias,
intercalações de ainda com outras e outras de
rochas "precipitadas" rochas "precipitadas" "aspecto antigo"

Fig. 15.7 A origem das rochas segundo os netunistas.

15.1.2 James Hutton e a consolidação da Hutton também percebeu que a história da Ter-
Geologia como ciência ra era inimaginavelmente mais longa dcl que se
pensava em sua época. Em seu trabalho mais im-
Enquantcl Werner lecionava na Alemanha, o natura-
portante, Theory of the Earth, de 1788, e reformulado,
lista escocês James Hutton (1726-1797) (Fig. 15.3c) fazia
após sua morte, por John Playfair, em 1804, Hutton
as observações que serviriam de base para transformar
articulou suas idéias m(Jdernas sobre a Ge(Jlogia e a
a Geologia numa ciência, nas primeiras décadas do sé-
história lcJnga e complexa da Terra. Para Hutton,
culo XIX. Hutt(Jn descreveu evidências de metamorfism(l
toclo o registro geológico podia ser explicado pe-
de contato entre basalto e rochas sedimentares próxi-
los mesmos processc)s que atuam hoje, como er()SãcJ,
mas à sua casa em F'.dinburgo, interpretou como intrusivo
sedimentação, vulcanismo, etc., sem necessidade de
(e não "precipitad()'') um granito que cortava calcário,
apelar para origens especiais ou intervenção divina.
supostamente mais novo segundo os netunistas (Fig.
Esse conceit() leva o nome de princípio de causas
15.9). Juntand() essas observações com seus conheci- •
naturais.
mentos de experiências de fusão e resfriamento de
materiais rochosos realizadas por colegas, Hutton de- Hutton chegou a essa conclusão, em parte, ao
monstrou a natureza fluida, quente e intrusiva das rochas reconhecer em Siccar Point, Escócia (Fig. 15.8d), o
ígneas, fundamentando, assim, o conceito de plutonismo caráter cíclico d(J registro ge()lc'Jgiccl, pois cada vez
(de Plutã(J, deus greg() das profundezas), em que pr()curava a base de uma seqüência de rcJchas
contraposição ao netunismo de Werner. em busca dcl suposto "início" da atividade geológi-
ca na Terra, sempre se deparava com outras rochas H uttc)n a escrever sua frase mais célebre: "() resul-
ainda mais antigas, representando ciclos mais anti- tado, pcirtantci, de nc)ssa presente investigação é que
gos, muitas vezes clobradas ou metamorfizadas e nãci encc)ntramos nenhum vestígio de um cc)meç<),
separadas das rochas do primeiro ciclo pc)r uma su- nenhuma perspectiva do fim", ao referir-se à ação
perfície discorclante erosiva. Tal superfície fc)i dos pr<)cessos geológicos. Esta frase rompeu, de
denc)minada discordância (Fig. 15.8), o que levou vez, cc)m <) conceito de uma Terra recém-criada, e
acenou não somente cc)m um passado geológico
incalcula,-elmente longo como também com um fu-
turo geológico sem fim, ou seja, idealizc)u-se <) tempo
infinito.
Como resultado de) trabalho de Hutton, reconhe-
cemos hoje três tipos distintos de discordâncias
a originadas pela erosã<) c)u pela ausência de sedimenta-
çãc) num dado lugar:
• não-conformidade, quando e) pacote
sedimentar se assenta em contato erosivo direta-
mente sobre rochas ígneas c)u metamórficas
(Fig. 15.Sa);
b
• discordância angular, quando o paccite sobre-
põe-se a outrci, ccim contato brusccJ em relação
ao pacote mais antigo, ccJnstituídcl por camadas
inclinadas cclm ângulo diferente do pacote supe-
rior, mais jovem (Figs. 15.Sb e d);
• desconformidade, quando a descontinuidade
entre <)S pacotes sedimentares, bem come) o
e acamamento dessas rochas são quase paralelcis;
este último tipo de discordância é difícil de ser
identificado, só pcidendo ser detectado por di-
ferenças paleontológicas ou contrastes
faciológicos entre as camadas em contato
(Fig. 15.Sc).
Ao reconhecer as relações de contato e de ida-
de relativa entre corpos geológicos justapostos
(intrusões/ rochas encaixantes, discordâncias/ rochas
sotopostas, etc.), Hutton efetivamente estabeleceu
outro princípio fundamental da Geologia, ou seja:
as relações entrecortantes de corpos rochosos
(Fig. 15.9). Este princípici pode ser desdobrado em
// duas partes, uma regida pela lei das relações de corte
Fig. 15.8 Diagrama esquemático mostrando os três tipos de e a outra pela lei das inclusões. Segundo essas duas
discordâncias. a) não-conformidade; b) discordância angular; leis, qualquer feição geológica (rocha, fóssil ou es-
c) desconformidade; d) Exposição de dois ciclos de deposição, trutura) cortada <lu afetada por outra (dique, sill,
soterramento, deformação, soerguimento e erosão. O ciclo mois disccirdância, falha, dobra, atividades de organis-
antigo é ilustrado por rochas silurianos com acamamento
mos, etc.) ou contida em outra (um seixo num
subvertical e o mois recente por arenitos devonianos
conglomeradci, uma bolha de gás num cristal ou
subhorizontais, em Siccar Point, Escócia. Uma discordância an-
um xenólito numa rocha ígnea, etc.) é mais antiga
gular visível separa os dois ciclos geológicos (Fig. 15.86). Foto:
W. Teixeira.
do que a rocha que a corta ou que a contém ClU que
a estrutura que a afeta.
o Sul até o Nordeste do Brasil. Se pudéssemos regressar
no tempo, observaríamos fauna, flora, continentes e até
atmosfera cada vez menos familiares, até que, finalmen-
te, nos primórdios do tempo geológico, possivelmente
Rio Glen não mais reconheceríamos nosso próprio planeta, tama-
nha sua diferença dos dias de hoje.
O uniformitarismo proposto por Lyell revelou-se
dogmáticc) demais, de modo que se ensina o princípio
de causas naturais através do conceito de atualismo,
muito parecido com o uniformitarismo, mas sem a
conotação da estrita igualdade de condições entre o pre-
sente e o passado da Terra. Na sua essência, portanto, o
atualismo é a afirmação da constância das leis naturais
que regem a Terra, mesmo que no passado os produtos
e intensidade dos processos geológicos tenham sido algo
diferentes daquilc) que se c)bserva atualmente (Cap. 23).
granito Sendc) assim, não há nada particularmente "geológico",
nem novo no conceito de atualismo, pois a crença na
Fig. 15.9 Seção esquemático do região do rio Tilt, no Escó- imutabilidade das leis básicas da natureza é o substrato
cio, onde pode ser observado o conceito dos "relações
de toda a Ciência.
geológicos entrecortantes" (baseado em figuro de Charles Lyell).
Notar que o granito (rosado) penetro e circundo blocos de
calcários e folhelhos. Esta provo cabal contrariou o idéia 152 Datação Relativa e o Estabelecimen-
netunisto do formação dos granitos por precipitação antes dos
calcários e folhelhos.
to da Escala de Tempo Geológico

15.1.3 ''0 presente é a chave do passado'' - 15.2.1 Fósseis e idades relativas


uniformitarismo e atualismo
Estimulados pela curiosidade fomentada pelo
Entre 1830 e 1875, outro escocês, Sir Charles Lyell Iluminismo e pela crescente demanda para recursc)s mi-
(1797-1875) (Fig. 15.4d), popularizaria, em 14 edições nerais, alguns naturalistas na F,uropa e Grã-Bretanha no
de seu clássico J)rinciples of Ceology, o princípio de causas fim do século XVIII e inícic) do século XIX notaram, ao
naturais sob o prisma do uniformitarismo. F,ssa obra aplicar os princípic)s de Steno, que os mesmos conjuntos
influencic)u várias gerações de geólogc)s, a começar pelo de fósseis (restos e vestígios de animais e plantas preser-
jovem Charles Darwin (1809-1882), que o levou consi- vados nas rochas) (Fig. 15.1 O) apareciam sempre na
go ao embarcar no Beagle em 1831 em sua monumental mesma ordem. Entre 1799 e 1815, o topógrafo inglês
viagem ao redor do mundo. William Smith (1769-1839), publicou o primeiro mapa
geológico da Grã-Bretanha, e o célebre anatomista
Na visão de Lyell, o presente seria a chave do passa- L.C.F.D. Cuvier (1769-1832), em cc)njunto com o mine-
do, sendo o passado igual ao presente inclusive em gênero ralogista A. Brongniart (1770-1847), na França,
e intensidade dos processos atuantes da dinâmica interna cc)ncluíram, independentemente, que essa constatação
e externa. Todavia, sabemos hoje que isso não é verdade. permitia estabelecer a equivalência temporal, ou seja a
Por exemplo, perante a inexistência de cobertura vegetal correlação fossilifera ou bioestratigráfica (Fig. 15.11 ),
nos continentes no período anterior a 400 milhões de entre faunas e floras fósseis iguais, mesmo que contidas
anos atrás, os processos de intemperismo, erosão, for- em litologias diferentes e em seqüências distantes entre si.
mação de solos, absorção e reflexo de energia solar, etc. Estava enunciado, assim, o princípio de sucessão biótica
certamente foram bem diferentes dc)s que atualmente (ou faunísrica/ florísrica), que estabelece ser possível co-
operam. Ou ainda, consideremos o contraste da histc)ria locar rochas fossilíferas em ordem cronológica pelo
recente da Terra, advindo do clima glacial rigc)roso, há caráter de seu conteúdo fóssil, pois cada período, época
poucos milhares de anos, que envolveu boa parte da ou subdivisão do tempo geológico possui um conjunto
,
América do Norte, Asia e Europa, ou ainda quando, há particular de fósseis, representativo dos organismos que
300 milhc"'íes de anos, CJ mesmo fenômeno afetava descle viviam naquele tcmpc).
15.1 Fósseis, Paleontologia e Arqueologia
·.. Quem nunca ouviu falar em "fósseis" e nos paleontólogos que os estudam. após os filmes dos anos 1990 sobre dinossauros? A
· •. Paleontologia, que se torna cada vez mais sofisticada e interdisciplinar, é, e sempre fo~ fundamental na resolução de problema; de
paleoambientes, paleogeografia, paleoecologia, correlação e evolução. Não deve ser confundida com a Arqueologia, apesar dessas
duas ciências. compartilharem de muitas técnicas de investigação. Diferem principalmente no tipo e idade dos objetos de estudo,·
cabendo à Arqueologia as culturas humanas e civilizações, principalmente dos últimos 10.000 anos, e à Paleontologia o estudo da
.. ·fósseis, que compreendem qualquer evidência, direta ou indireta, de vida mais antiga que esse limite. Os fósseis incluem desdeos
•.restos resistentes dos próprios organismos, como conchas, dentes, ossos, carapaças, matéria orgânica carbonizada ou mumificada, ·.
etc., até vestígios biológicos indiretos, como moldes e réplicas de conchas e folhas ou marcas indicativas de atividades biológcas ··
pretéritas (pegadas, pistas, etc.) (Fig. 15.1 O).
Por que o limite de 10.000 anos para distinguir entre objetos arqueológicos e paleontológicos? &istem, evidentemente, sítios
· .arqueológicos mais antigos e jazigos fossiliferos mais recentes como, por exemplo, muitas das pinturas em cav\Unas da Europa eas
· ossadas de animais extintos encontradas em cavernas e cacimbas aqui no Brasil. Mesmo assim, esta da.ta representa um divisor
temporal entre as investigações da maioria desses dois grupos de cientistas, pois marca o início da mais recente época geológica, o
.· Boloceno, após a última fase glacial pleistocênica. A subseqüente mudança climática favoreceria a expansão demográfica de nossOl
· ancestrais e desencadeou grandes ttansformações culturais. Este rico registro está tipicamente preservado em materiais pouco .
.consolidados e associado a resto$ de animais e plantas comuns até hoje. Em contraste, o registro paleontológico das épocas mais
.· •antigas, repleto de fósseis de organismos eytintos, encontra.se invariavelmente litificado. · ·f
.· ♦

·•·,;~gLJ'$;lÔ,.;Tipp~ 4El{Ç>S$eís, •.• ô):ln$et6rn\.lmifitQdo .em âmbar de ídad~ ½$~/~ticii >D.imensõQ.6'~~Í~êl/ lófu.•Fonte:··.Alfred Posieka,.sPl] ;
··•StoçkPho(ôs. ·• b)F~lhêi índd.rbónixqdci de plqntqtercióriq supostamente ané~fol do pou-brqsilt:Mi!'IQs Géfoís.. DimeniíõQ ·móxima';6 cm.· ·• ·•
.·.· f#bf<S:)$! !\}~~~- c)'d6n$~r\iôgã9 ~t<;lal (ôss&i; dentes) de peixe ·postil~i~lppgatus), CrettSiQ)dQ Ceqró .. DirnensõQ mp,xín'\9,.p crn. •·
·. ·' ~l?to~[S>f;.~i;ic~.' d) Môldti1dê".êd~pti~ dé&l.1n,trtl~b~/~v«;>níano do P<:lr!l;~~'..Dimensõo mli~oi 7;5 cm. fQto: ·S. E'Beck.{ 1:1/Ptgados . •.
{(~$$~\s;~~. <:IU ic116fôSsfiíis) de~adbs ~<;>r!';i,l.~~~\i!r<:iêçlf/riívpro,. Cretóct'Jó di:>:Piau(. Foto: e,·~ríotdi; 1•984, •ij. Microfôs$i,ílêimentoso·. •. ·
.· . {~iç'~9t)(;lçf~rib. ()U bô~l'i9) C\?lyl 3;q bilhõ-,t;çfia í,qôst~/rr\Qiií. ontigo f6S$íl !i:lo mundo, Arq~~nc!"dá ~vstrôlío. Fofo:· J;W. .Schopf. g)F ••.
.·. :Es;ti'!:jtfidt6!!ti:>s•(esfrµt1.Jl'tjs!)dolc~rig$ êonstruídqs .por· çqm~ni~odes de ·micr;çbíe>s;} ·do Proterozptcq (r(>OO .rnilhõ6$. de.çiqos} do 8ohiq,•·•
FF6~Ej.. R, foifçhl!d/. b)Mólpé #~íMyeriél>rodo despro~íi:fgde91:in;ipciço da Fav~ de Ediocaro; /~fhiu.~a fó$$ll rtioís oritígq do murdê>.1)(5~9.·.·•
. . .•1t;iílij~ d~ 9nq.s}•, Neoprqfeç<:>t~i<QO .9P .A.ustr6lío.; fotof B::;N; R'l:/nnegar. i) Tubós.)cPlc6rios secl'!llteidôs pefo~ p.ri@eir~ animai~• él;póttilS. ••
·. :de;pef$çli.1,zlr êdgurn t/PQ de çofuppgo: ttilnêrrili:zodo (C/oudintr /l)c/<1noi), ·,,.. 545 mílh~ de anos de•íddde (limite Protêrç;z.6ico/Ftin~z6ico), ·.
·t •..,.-.;.• •••'• .. :.i' s•.·u.;t• .F·oto:
•• "M',(:t.O,QrQSSouo ' .c,ld .. ..·..
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· •. ,.••• .•·. ·..·.· ' ·•.· : .·.·.
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Para explicar a curiosa sucessão de fósseis no re- o País de Gales), geológico (como Carbonífero, com
gistro geológico, surgiram de)is conceitc)s radicalmente referência ao rico conteúdo em carvão, Triássicci, por
opostos: o catastrofismo de Cuvier, que interpretava causa da sua subdivisão em três sucessões litologicamente
o registro fóssil como resultado de sucessivas extinções bem distintas e Cretáceo, da palavra francesa cré- giz -,
cataclísmicas globais, cada qual seguida pela recriação, com referência à grande quantidade de calcário fmo), ou
logo depois, de uma nova fauna e flora, e a evolução até histórico (ce)mo Terciário e Quaternário, herdados,
biológica de (~harles Darwin, que explicava a diversi- mas conceitualmente mc)dificados, de)s primeiros esque-
dade e.lo registro fc)ssilífero como resultado da mas de subdivisão geológica).
interação entre seres e o meio ambiente com a sobre-
Mas por que a sucessãc) biótica permitiu essa sub-
vivência e sucesso das formas mais bem ac.laptac.las
divisão tão notável do registro sedimentar e do tempo
(seleçãc) natural). Para Darwin, pe)rtanto, as extinçe'ies
geológico? Por cc>nta dos mecanismos da evolução
representavam eventos naturais, ao contrário de Cuvier,
biolc'>gica e pele) grau de preservação dos organismos
c.1ue advogava o sobrenatural para explicá-las.
qt1e já habitaram nosso planeta. A eve)lução dos e)rga-
Com o princípio de sucessão bicStica à sua c.lisposi- nismos mais complexos (e)s eucariote)s), como os
çãe), geólogc)s da Grã-Bretanha e Eurc)pa puc.leram, ne) invertebrados, vertebrados e plantas, por exemplo,
curte) intervalo de 1822 a 1841, orclenar as principais me)stra-se extremamente ope)rtunística em função da
sucessões geolé)gicas dessas regiões em uma escala de diversidac.le genética produzida pela reprodução
tempo geológico pela datação relativa (Fig. 15.11, sexuada. Qualquer inovação evolutiva vantajosa tende
Tabela 15.1) das faunas e floras fósseis contic.las nas ro- a ser explc)rada rápida e intensamente, produzindo um
chas estudadas. Inicialmente, descreveram sistemas surto de formas ne)vas e a invasão de novos nichos
espesse)s de rochas, cada qual ce)m seu conteúdo fc)ssilifero ece)lógicos. Por outre) lado, quando os descendentes
distinto. Cada sistema de re)chas teria sidc) depositade) se te)rnam tão especializados que perdem a capacida-
durante um período específice), identificade) pelo cc)n- de de se adaptar a mudanças ambientais, o grupo
junto de fc')sseis peculiar ao sistema e designado pe)r um esvanece e se extingue. Na verdade, mesmo sem en-
nc>me alusivo a alf.,ruma feiçãe> da região onde o sistema tenc.ler e)s processe)s evolutive)s envolvidos, C)S geólogos
fe)i definido, por exemple), um terme) geográfice) (cc)mo da primeira metade do sécule) XIX acabaram delimi-
Cambriane), de Cambria, antigo nc)me rc)mane) para In- tando, intuitivamente, seus sistemas pelo registro fóssil
glaterra; Devoniano, de Devonshire, Inglaterra; J urássice), dos principais eventos de expansão e de extinção bio-
dos Montes Jura na Í''.uropa e Permiano, da cidacle de lógica ocorridc)s nos últimos 550 milhões de anos.
Perm, na Rússia), cultural (como ()rdoviciano e Silurianc1,
Evidentemente, a definiçãe) de novos sistemas e
dos nomes das tribos ()rdovices e Silures que hal)itavam
període)s só podia ser feita em rochas contendo fc')sseis
B
facilmente rece)nhecíveis. Anteriormente ao perÍe)do
Cambriane) praticamente tcldos e)s organisme)s eram mui-
A
-- -- --6 e
to pequenos e desprovidos de partes suficientemente
-- ---.................-.....5 resistentes para serem preservados no ret,ristto sedimentar.
--4
Por isso, C) registro fóssil relativamente escasso e pouco
diversificade) anterior ac) Cambriano passou despercebi-
do pele)s geóloge)s britâniceJs e europeus, que nãe)
...... , .........
... --
.................
. ......
definiram nenhum sistema pré-cambriano no século XIX.
Por outrcl lado, e) registro fóssil do intervalo desde o
1
Cambriane) até hoje tem outre) caráter, farte), variado e
facilmente visível, resultado do aparecimento repentino

e diversificação explosiva, pouce) antes de 540 milhões
Fig. 15.11 Correlação fossilífero ou bioestratigráfica. A var·1-
de anos atrás, e.los primeiros animais e algas capazes de
edade e as mudanças no conteúdo fossilífero, representado
secretar partes duras de calcita, fosfato, sílica, quitina,
pelos diversos símbolos de conchas, quadrados etc. nas ca-
etc. Poucos milhões de anos mais tarde, apareceram re-
madas l a 6 da seção B permitem uma correlação temporal
com as camadas nas seções A e C, com base no princípio de presentantes de praticamente todos e)s grandes grupos
sucessão biótica. Na seção A, a camada 4 está ausente, re- (ftle)s) de invertebrados ce)m ce)nchas, carapaças e outras
presentada por uma desconformidade, já que as camadas 3 e partes e.luras, distinguindo para sempre o registre) geoló-
5 são paralelas entre si. gico subseqüente.
CAPÍTULO 15 • EM BusCA DO PASSADO DO PLANETA 317 ~;li,
A cc>rrelação fossilífera ou bioestratigráfica, cada via!, como hoje se receinhece. E Darwin pressupôs
vez mais refinada, levou, mesmc> antes de 1850, à sub- uma \·elcicidade de denudação uniforme e ce)nstante
,
divisão dos períodos, e destes em Epocas e unidades ao le>ngo do tempo, ignorante, pc)rtantc), da conside-
menores. Ao mesmo tempo, semelhanças e distinções rá\·el \·ariabilidade dessa taxa em função da história
entre os fósseis de diverse)S períodos permitiram a do se)erguimento dessa região.
agregação dos períodos nas Eras Paleozóica,
Pouco depois da divulgação da estimativa ousada
Mesozóica e Cenozóica, delimitadas pelas maiores de Dan,·in, outros cientistas desenve)lveram idéias en-
extinções na história da vida nc) fim do Permiano e
genhcisas para estimar a duração do passado terrestre.
Cretáceo, respectivamente. Modernamente, as eras têm Vários geólogos tentaram calcular o tempo necessá-
sido agrupadas em intervalos de tempo maiores cei-
rio para acumular sucessões de rochas sedimentares,
nhecidos como C)S Eons: Arqueano, Proterozóico e dividindo a soma das espessuras máximas conhecidas
Panerozóico. () ncime "Fanerozóico", derivado de
para os diversos sistemas por uma taxa de sedimenta-
phaneros, visível, e zoos, vida, é particularmente adequa- ção julgada "razoável". Desta forma, chegaram a
dei, pois refere-se ao intervalo de tempo (do
valores muite) diferentes para a idade da Terra, desde
Cambriano até he)je) caracterizado por abundante, di- 3 milhões até 1,5 bilhãc) de ane)s (Tabela 15.2). Esta
versificado e facilmente reconhecível registre> fóssil. Os
enorme variação deveu-se, evidentemente, ae) ceinhe-
eons Arqueano e Protereizé)ice> são conhecidos, coleti- cimentc> inadequado da complexidade dos processe)s
vamente, pele) termo informal Pré-Cambriano.
de sedimentação, cc)mpactação e erosão ao longo do
tempo (Fig. 15.1). Estimativas deste tipo são fadadas
15.2.2 Darwin, Kelvin e as primeiras ao insucesso, tamanha a variação de espessura dos
tentativas de calcular a idade da Terra depé)sitc)s e das taxas de sedimentação. Considere, por
exemplo, o registre) sedimentar da épe)ca Mie)ceno, de
Se pe)r um lado os naturalistas da primeira metade 18 milhões de ane)s de duração, representado por ape-
do século XIX resc)lveram e) problema da datação nas 30 cm de espessura na Inglaterra e por 6 a 7 km na
relativa do registro, utilizando os princípios de Califórnia.
superposição e de sucessão biótica, por outro lado,
não tinham idéia de quanto mais velha ou mais nova ()utro estudie)so do tema da idade da Terra, o
uma rocha seria em relação às outras. Aparentemente, geóle)go e geofísice) irlandês John Joly, retomou uma
muitos deles compartilhavam da proposta de Hutton sugestão feita em 1715 por Edmund Halley (1656-
e Lyell de uma Terra sem início e sem fim. Contudo, a 17 42, e) descobridor do cometa que leva seu nome), e
publicação da ()rigem das Espécies de Charles Darwin, tentou estimar a idade dos oceane)S com base no tem-
em 1859, despertou grande interesse em descobrir a pe) necessário para a salinizaçãe) de suas águas, a partir
idade absoluta do registro geológico, ou seja, de ca- ela água originalmente doce. Concluiu que seriam ne-
librar as r · chas em terme)s de sua idade em anc)S. cessários 90 milhões de anos para o acúmu!e) dei séidici
presente nos oceanos, oriundc) deis cc)ntinentes (Tabe-
Na a sência de conceitos modernos da genética, o 1a 15.2). Antes desta data, J oly assumiu que a
me)delo Darwin necessitava de um período de tem- temperatura superficial da Terra, superior a 1OOºC, teria
po suficientemente longo para perm1t1r a impedido a condensaçãe) de água líquida na superfície
transformaçãc> evolutiva das espécies. Dessa forma, do planeta. Em 1924, Joly recalcule)u este valor cm
submetido à forte influência do uniformitarismc> rígi- 17 4 milhe>es de anos, extrapolando, assim, uma idade
de) de seu ídolo e amige) Lyell, Darwin usou as taxas de 200 a 300 milhões de ane)s para a Terra.
aceitas na época para erosão marinha do litoral da In-
glaterra, para estimar em 300 milhões de anos o tempo Ce)mo em todas as tentativas de datar a Terra, o
necessário para expor rochas fossilíferas do Cretáceo método foi prejudicado pc)r premissas inadequadas
ne) sul da Inglaterra. Deste me)dc>, Darwin concluiu diante da complexidade do pre>cesse) que se tentava
que a idade de) planeta seria ela e)rdem de bilhões de quantificar. Para Je)ly, faltaram-lhe dados precisc)s quan-
ane)s. Hoje sabemos, contudo, que Darwin se enga- te> à quantidade de sal já removiela elos oceanos por
nou em seu cálculo, pois as rochas mencionadas meio de precipitação, evaporação e transpeirte pele)
fc)rmaram-se há apenas 85 milhões de anos. Esse en- vento, bem como noções corretas da variação das ta-
gano deveu-se primeiramente à interpretação errônea xas de erosão e sedimentação continental ac) longo do
do processo erosivo atuante como marinho e não flu- tempo geológico.
Tabela 15.2 Tentativas de estimar a antiguidade da Terra baseadas na acumulação de sedimentos e de
sal nos oceanos, antes do advento de métodos radiométricos.

Ano Autor Espessura (m) Taxa sedimentar Idade estimada


de sedimentos utilizada (milhões de anos)
considerada (cm/1000 anos)
' ' ' ' ' 1

1860 . . PhiÍJips
. ,, ' '
21.960 96
.• •· . · · .·. :1/~69·•··•·· Huxley ··· · · ·i. •.· .· ·.·.•3. ••. ·.o. . . ·.•.• ·•.·o•o·.· .·. • •· ·:,·.··.·•. :-":"·_'
·.·s• ·
-:.:·> ..:. . .,.:._, i/·::· 30,5 .•. · · .·•· •· > . ició /............ . · ·
'

1871 54.024 1526

. ·•· · •· · .· tl878 Haughton • i:~0·2·4·


·:·.·.~·"t:::,.,
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1883 ····. •· · W•inch~n i./\ '· ' ___,;,.,. ' "
3

i i . ·.·Ji$93•.·•···.·.•··•·. Walcott Valores diferentes paro


·•· •· .3SiSOi•·.·.··· ... ·. ·>
rochas elásticos e rochas químicos

1899 Tempo necessário poro salinizar 90


os mores, originalmente de água doce

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Sollos ·.. 1,02.400. 305


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Entre 1862 e o início do século XX, a idade mais tão desconhecidos, tais como a idade do Sol, a estru-
aceita para a Terra resultava dos cálculos feitos por tura térmica e temperatura (estimada inicialmente em
William Thomson, conhecido como Lorde I<:.elvin 3.888ºC, e mais tarde em 1.200ºC) do interior do pla-
(1824-1907), o mais conceituado físico da época. Pen- neta primitivo e mudanças de condutividade térmica
sava-se então que o calor armazenado no planeta Terra em função da profundidade. Entre 1862 e 1897, de
teria sido produzido quase que exclusivamente pela acordo com sucessivos refinamentos do seu modelo,
contração gravitacional, com uma pequena quantida- I<:.elvin calculou diferentes idades para a Terra, mas os
de advinda da radiação solar. Naquela época, já se valores obtidos situaram-se sistematicamente entre 25
conhecia, por meio de medições em minas subterrâ- e 400 milhões de anos.
neas, que a temperatura da Terra aumentava
Por outro lado, se a Terra estava se resfriando, ima-
uniformemente em cerca de 35ºC por km de pro-
ginou I<:.elvin, então certamente o mesmo acontecia
fundidade - uma clara evidência da existência de um
com o Sol, devido à enorme dissipação de sua ener-
fluxo de calor do interior para a superfície terrestre.
gia tão evidente num dia ensolarado. A despeito da
Verificado que este calor se irradiava para a atmosfera
falta do conhecimento preciso sobre como o Sol gera
fria, deduziu I<:.elvin que a Terra estaria se tornando
e transmite sua energia, I<..elvin concluiu que a Terra
gradativamente mais fria ao longo do tempo.
estaria recebendo cada vez menos energia solar ao lon-
Kelvin pressupôs que o mecanismo de resfriamento go do tempo. Portanto, o Sol deveria ter sido muito
gradual da Terra seria por condução térmica, a partir mais quente no passado, inclusive a tal ponto de ter
de um estágio inicial incandescente, até atingir a tem- retardado o surgimento de vida na Terra. Ou seja, a
peratura atual da superfície. Para fundamentar seu própria habitabilidade da Terra teria sido, necessaria-
modelo, postulou valores para vários parâmetros en- mente, condicionada pela história térmica do Sol.
CAPÍTULO 15 • EM BUSCA DO PASSADO DO PLANETA 319 ,/!I.
1

Em seu último cálculo, feito em 1897 - logo após milh('"ies de anos para a idade da Terra - muito aquém
a descoberta dos raios-X - Lorde I<.elvin afirmou que do ,·alor real de 4,56 bilhões de anos, o que, de manei-
o Sol teria iluminado a Terra por apenas algumas de- ra nenhuma, diminui a importância da descoberta da
zenas de milhões de anos e que a superfície terrestre radioati,·idade, pois somente a partir do entendimen-
só teria se tornado habitável nos últimos 50 milhões to desse procesS() é que se tornou possível quantificar
de anos. a história geológica de nosso planeta e investigar os
Originalmente, graças à reputação científica de mistérios da formação do Universo.
I<.elvin, suas estimativas para a idade da Terra, funda- A percepção do significado geocronológico da ra-
mentadas em medições físicas precisas e forte base dioati,cidade no limiar do século XX permitiu, finalmente,
matemática, pareciam irrefutáveis e, como tal, encon- a subdivisão do imenso registro geológico pouco
traram grande receptividade por parte da comunidade fossilífero do Pré-Cambriano bem como a ordenação e
científica. Por isso, não é de estranhar que a grande calibração mais precisa de toda a história geológica da
maioria das estimativas da idade da Terra, calculadas Terra. Por volta de 1917, após a primeira década de es-
por geólogos (Tabela 15.2), assemelhava-se ao inter- tudos geocronológic()S, uma caracterização mais concreta
valo de valores sugerido por Kelvin. Até o próprio de) tempo geológico começou a emergir (Fig. 15.12). Já
Darwin parece ter-se inibido diante da influência de se sabia, por exemplo, que o Eon Fanerozóico iniciou-se
I<.elvin, já que após a primeira edição da Origem das entre 550 e 700 milhões de anos atrás, intervalo bem
Espécies, não mais incluiu sua estimativa da idade das próximo aos 545 milhões de anos atualmente adotados
rochas cretáceas do sul da Inglaterra. para este limite. Do mesmo modo, já se tinha conheci-
mentci de que a duração do Pré-Cambriano excedia em
Os argumentos de Lord I<.elvin acerca da idade da
várias vezes a do Fanerozóico.
Terra e do Sol somente foram desacreditados defini-
tivamente após a descoberta da radioatividade em 1896 Nas últimas décadas, muitas das lacunas e impreci-
por H. Becquerel (1852-1908). Poucos anos depois, sões que existiam na história desse período de tempo
com a percepção da importância da radioatividade na e do Fanerozóico têm sido solucionadas pelos avan-
produção de calor na Terra, desfez-se todo o susten- ços tecnológicos e pelas descobertas mais curiosas na
to teórico do modelo de I<.elvin. O cientista morreu Geologia, subsidiadas pelas datações radiométricas das
em 1907, sem reconhecer, pelo menos publicamente, rochas. Para compreender melhor a imensidão do tem-
a relevância da radioatividade no seu modelo. po geológico, recomenda-se ao leitor o quadro na
Curiosamente, a Geofísica moderna mostra que cc)ntracapa que apresenta os principais eventos da his-
não. foi apenas o desconhecimento da geração radio- tória geológica de nosso planeta como se tivessem
atiJ;a de calor que levou I<.elvin a errar a idade da ocorrido no período de um ano, uma analogia que
podemos apelidar de ''Ano-Terra" .
Tefra em mais de uma ordem de magnitude. Talvez
~ais importante do que isto fosse sua
desconsideração da importância da convecção Ussher 1 10000
1650 X • I 0,006
térmica no manto, que serve de motriz para o
movimento das placas litosféricas (Cap. 6) e Hutton
1788
incrementa, significativamente, o fluxo térmi-
co medido tanto na superfície como em minas Walcott 1
- 55
1893
subterrâneas. Ao interpretar esse fluxo como , Í] Cenozóico
produzido exclusivamente por condução tér- Barrei 1500 Mesozóico
1917 Paleoz61co
mica (transferência da energia térmica de
Holmu Pré-Cambriano
molécula em molécula e não pelo deslocamen- 1947 3000

to de massas quentes como ocorre na


Patterson 4560
convecção), I<.elvin superestimou a taxa de 1956
resfriamento da Terra por condução. O efei- 1 1 1 1 1
500 1500 2500 3500 4500
to da convecção é de tal ordem que mesmo MIihões de anoa
se considerasse a radioatividade, mas continu-
. J ue elemen-
asse a desconsiderar a convecção, seus cálculos
Fig. 15.12 Mudanças na concepção da antigui.0ros.
nunca teriam ultrapassado algumas centenas de 350 anos.
15.3 Princípios e Métodos Modernos tem número attimico 6 e númerci de massa 12, 13
ou 14, depenelendo do número de nêutrons pre-
da Datação Absoluta
sentes no seu núclecJ. Elementos com o mesmo
número atômico mas com diferentes números de
15.3.1 Decaimento radioativo e a datação massa são chamados isótopos (Fig. 15.13). A grande
absoluta maioria dos isótopos é estável, tais como os do
12
C 6 e 1JC 6 , mas outros, C(imo o 14 C 1,, sãeJ instáveis.
Como visto anteriormente, a estimativa da idade Os iscitopos instáveis (radiciativos) são impcirtantes
ela Terra variou muito dos séculos XVI a(i XIX. na geol(igia uma vez que sua taxa de decaimento
Com a descoberta da radioatividade, este tema ga- pode ser usada para determinar idades absolutas
nhou maior estímulo, já que estudos realizae-!e)s pcir de formação de minerais e rochas.
Marie e Pierre Curie e por Bertram Boltw(Jod, no
Decaimento radioativo é uma reação espon-
início do século XX, mostraram a possibilidade de
tânea que occirre no núcleo do átcimo instável que
empregar um mét(ido físico na determinação e-Ia
se transforma em outro átomo estável; os elétrons
idade da Terra. P(Jrém, antes de mostrarm()S como
que orbitam eJ núcleo não sãei envolviclos neJ pro-
é possível determinar a idade das rochas e mine-
cesso. O elemento com núcleo atômico instável, em
rais, vamos entcncler a radioatividade e ei fcnêimeno
elecaimento radi(Jativo, é conhecido como elemen-
de decaimento radioativo.
to-pai (Ju nuclídeo-pai; o novei elemento formado
()s minerais e as rochas, assim com(J te)da a ma- c(im núcleo atômico estável é denominado elemen-
téria dei nosso planeta, sã(J constituíd(is pelr to-filho ou nuclídeo-filho (ou radiogénico). O
elementos químicos que, por sua vez, são fcirma- preicessci de decaimento peide occirrer de três for-
dos por átomos. O núcleo de um átomo é mas diferentes, todas resultandci cm mudanças da
composto p(ir prótons e nêutrons e é re)deaelo por estrutura atômica: decaimento alfa, decaimento beta
uma nuvem de elétrons (Fig. 15.13). O número ele e decaimento peir captura de elétron (Fig. 15.14).
prcJtons cletermina eJ número atômico (Z) dei ele-
Alguns elementos instáveis se transformam em es-
mento químico e suas propriedacles e características.
táveis através de um único tipo de decaimento. Por
Assim, uma mudança no número ele pre)teJns feJr-
exemplei, o 87 Rb (número attimico 37) decai para 87 Sr
ma um nove) elemento químico com diferente
(númerci atômico 38), emitindo apenas uma partícula
estrutura atômica e, conseqüentemente, diferentes
beta; o 411 1<.. (número attimiceJ 19) decai para 411 Ar (nú-
propriedades físicas e químicas.
merei atômico 18) com uma única captura de elétron.
A soma do número de prcitons e nêutreins de C_)utros iscJtopos radieiativcis sofrem decaimentos con-
um átomo é, por sua vez, denominada número de secutivos até se tornarem isótopos estáveis: o 235 U
massa dei átomo (A). () Carbonci, por exemplei, (número atômico 92) , pcir exemplo, decai para 2117 Pb

,,
V

o
6p 6p
6n
tJ

12C 6 (carbono 12) 1JC 6 (carbono 13) 14C 6 (carbonol4)

gLu,_ Próton •
Nêutron Elétron
de um estag,~
peratura atual da supté'i1~9º os três isótopos de Carbono. Todos têm o mesmo número atômico (Z = 6), que é igual ao número de
- rle massa diferentes (A= 12, 13 ou 14), de acordo com o número de nêutrons (6, 7 ou 8) no núcleo.
mo de1o, pos tul ou v al ores para , ~-
•. ,~
CAPÍTULO 15 • EM BusCA DO PASSADO DO PLANETA 321 ■
X

(númerc) atômicc) 82) ap<)s a emissão de sete partícu- po decorrido para que a metade da quantidade ori-
las alfa e seis partículas beta, enquanto o 238 U decai ginal de átomos instáveis se transforme em átomos
'
para zuc,pb através da emissãci de (Jit<) partículas beta e está,·eis. Pcir exemplo, após decorrido o tempo de
seis partículas beta (Fig. 15.15). uma meia-,-ida, um elemento com 1.000 átomos ins-
tá,·eis terá 500 átomos instáveis (radioativos) e 500
Durante <) decaiment<J radioativo, cada elemen-
át<im<)S esrá,·eis (radiogênicos). Após duas meia-vi-
to-pai leva um determinado tempo para se
das ha,·erá apenas 25() átomos instáveis e 750
transf<irmar em elemento-filho. F,studcis de labo-
átomos está,·eis (Fig. 15.16). O decaimento radioa-
ratório têm mostrado que as taxas de decaimento
tiv<J nã<) depende da massa do material presente,
(denominadas constantes de desintegração) nã<i
mas da probabiliclade estatística de decaimentci.
são afetadas por mudanças físicas ou químicas do
Assim, não importa a quantidade inicial do elemento
ambiente. Isto é importante pois assegura c1l1e a taxa
radioati,·o presente, seja ela um grama ou uma to-
de decaimento de um e-lado isótopo seja indepen-
nelada, pois as chances do decaimento radioativo
dente dos prcieessos ge<)lógicos. Portanto, esta taxa
são rigorosamente iguais para cada átomo. Após o
é a mesma n<J manto, n<J magma, num dado mine-
tempo correspondente a uma meia-vida, a metade
ral ou numa rcicha.
da massa original do element<J-pai terá se converti-
Usa-se o cc)nceito de meia-vida para expressar do em element<i-filh<J.
as taxas de decaimento rac-lioativo, ou seja, C) tem- ,
E o conhecimento da meia-vida dos vários
isótcipos e da atual, razão entre <) número de áto-
Núcleo do Núcleo do Alterações
mos dos elementos pai e filh(J da amostra que
elemento-pai elemento-filho atômicas permite a determinaçãci de idades de minerais e
·. Partlcula
Alfa
Número
atõm ico
Número
de massa
rochas. A Tabela 15.3 apresenta os principais
isótopos utilizados em dataçã<J radiométrica e suas
-2 -4 respectivas meia-vidas.
Decaimento
Alfa
a

Partícula Beta


+1 O
Decaimento
234Pa
Beta
\ b

(2í4~) ,1ía~22Ri)
. . ____ ;--·:s:: '-. · · - -· . (226R'
_____ !) (23or~<(:i34U')
) / Elétron
.------. (21or1
, ______ __ .,,."i
,
214Bi
.Y - - - - __ / - - - - · .•

• ~ Decaimento alfa
Captura
-l o
\ Decaimento beta
de Elétron

• •· .
Próton Nêutron Elétron

Fig. 15.14 Os três tipos de decaimento radioativo. a)


Decaimento alfa, no qual o núcleo instável perde dois
prótons e dois nêutrons, diminuindo seu número atômico
em 2 e sua massa atômica em 4. b) Decaimento beta, no Fig. 15.15 Série de decaimento radioativo do Urânio 238
qual um dos nêutrons do núcleo emite um elétron, trans- (2 38 U 9) para Chumbo 206 (2º6 Pb 82 ). Neste processo, cuja meia-
formando-se em próton, o que aumenta o número atômico vida é de 4 ,4 7 bilhões de anos, a emissão de partículas alfa e
em l, mas não altera o seu número de massa. c) Decaimento partículas beta transforma o Urânio 238 (radioativo) em Chum-
por captura de elétron ocorre quando um próton captura bo 206 (radiogênico), um elemento estável, após ter sido
um elétron da camada de elétrons que rodeia o núcleo e formado momentaneamente um grande número de elemen-
se transforma em nêutron, diminuindo seu número atômi- tos intermediários, também radioativos.
co em um, mas não afetando seu número de massa.
1/1
:li
+-
e
1/1 (
' ..........
' " -

,·"••········ Mineral na época


da cristalização
e
+-

:li
L
• Átomos do elemento-pai
·• 1/2
·-e • Átomos do elemento-filho

'?-e
E
Ili

~ 2Ili 1/2
..........
, ••• ~~;-~~-~~,
/
Após uma meia-vida

E·;;;
'ºa, eo
"'O
o 1/4 -- ; ' ..........
_, -;~-;-;;-;-~; •• \_ Após duas meia-vidas

'º~ 1/8
,, ~--~~.-~ ••• ~\.Após três
· .•••••••••• / meia-vidas
o
Q. 1/16
o
L
a..
o 1 2 3 4 5

(a) Tempo (b) Tempo (em meia-vidas)

Fig. 15.16 Decaimento radioativo e o conceito de meia-vida. a) A meia-vida de uma vela corresponde, rigorosamente, ao tempo
necessário para queimar a metade dela porque a queima depende, diretamente, do número de átomos presentes na vela. b) No
decaimento radioativo o processo é diferente, envolvendo a estabilidade dos núcleos dos átomos, independentemente da massa
presente. Na curva de decaimento radioativo, cada unidade de tempo equivale a uma meia-vida, que representa o tempo necessário
para que metade dos átomos do elemento-pai (radioativo) se transforme em átomos do elemento-filho (radiogênico).

Tabela 15.3 Isótopos mais utilizados em datação radiométrica e suas respectivas meia-vidas.

Elemento-Pai (Radioativo) Elemento-Filho (Estável) Meia-Vida (bilhões de anos)

·• .• • Potólls.iç 40 (40K) . Argônio 40 (40Ar) 1,3


i Rwbídio 87 { Rb) ·
','' ' ' ','
'
' '
87
' '
Estrôncio 8 7 ~7Sr) 48,8
·.·· sqmno
... 6 ' 1·47 (·147·$.m ) ·
' ' "
' ' ' '

' ' ' ' ' '


Neodímio 143 (1 43 Nd) 106
: ' '

..· Tório 232 (232Th) Chumbo 208 (2º8 Pb) 14,01


Urônio 235 (235 U) Chumbo 207 (2º7 Pb) . 0,704.
. . .

· Urânio 238 (238U) ··•• Chumbo 206 (2º6 Pb) 4 147


. . ·
' ' " '
,
·.·. Rênio 187 (187Re) . ·· Osmio 187 {1 870s) 42,3

15.3.2 Como se determina a idade de uma


rocha ou de um mineral? •
Todos esses métodos exigem laboratórios quími-
O ramo da geologia que trata da datação de ro-
cos especiais, onde o ar é purificado através de filtros,
chas é conhecido como Geocronologia. Para
o ambiente é mantido sob pressão ligeiramente mais
determinar a idade de uma rocha ou mineral é possí-
alta que o ar fora do laboratório e as análises químicas
vel aplicar vários métodos radiométricos, sendo que
são realizadas em capelas de fluxo laminar de ar (Cap.
esta escolha depende da composição química de) ma-
12), empregando apenas reagentes superpuros, tudo
terial a ser datado, da sua provável idade e também
para evitar problemas de contaminação, Após a prepa-
do tipo de problema geológico que se pretende estu-
ração química da amostra, as razões entre os isótopos
dar. Os métodos radiométricos mais comumente
de um mesmo elemento são determinados com grande
utilizados na geocronologia são:
precisão num equipamento computadorizado chama-
4ºK-4ºAr, 81Rb-s1sr, U-Pb, 201pb_206pb e 141Sm-143Nd. do espectrómetro de massa.
A obtenção de idades de minerais e rochas, inde- SOOºC; já na biotita esta temperatura é da ordem de
pendente do método adotado, é feita utilizando 300ºC. Se o mineral após atingir esta temperatura for
a equação fundamental da geocronologia, basea- no,,amente aquecido a temperaturas mais altas, o retículo
da no processo de decaimento radioativo, representada
cristalino se abre, ocorrendo o escape ou, eventualmen-
pela seguinte fórmula:
te, a entrada de argônio por difusão. A temperatura em
que o sistema isotópico se fecha, e por conseqüência, dá
N = N o t:J,t início ao funcionamento do "relógio" radiométrico, é
t = (! / J 1n (N0/N) se N 0 = N + F, então: conhecida como temperatura de bloqueio. Cada mé-
todo radiométrico possui uma temperatura de bloqueio
t:::: (!/ J 1n [1 + (F/N)] onde:
distinta. Desta forma, quando determinamos a idade de
N = número·de átomos do isótopo radioativo (ele- uma homblenda pelo método I<-Ar, estamos, na verda-
mento-pai) medido hoje na amostra
de, determinando a época em que o mineral esteve à
N 0 = quantidade inicial do isótopo radioativo no mo- temperatura de 500ºC pela última vez. Por outro lado, a
mento do fechamento do sistema· idade da biotita da mesma rocha, obtida pelo mesmo
F = número de átomos do isótopo radiogénico (ele- método, indica a época quando a rocha esteve à tempe-
mento-filho) medido hoje na amostra ratura de cerca de 300ºC.

t = tempo decorrido desde o fechamento do sistema O método I<-Ar é muito utilizado para determinar
· isotópico Qdade do sistema) o tempo envolvido no resfriamento de corpos ígneos,
ou o término de um processo metamórfico, entre ou-
·Â, = constante de desintegração do elemento-pai. tras aplicações. A presença de I< em muitos minerais da
crosta terrestre torna este método aplicável em grande
A datação pode ser feita em minerais ou numa amc)S- número de rochas, enquanto seu tempo de meia-vida
tra representativa de rocha, visando a definição da idade permite a datação de minerais desde muito jovens (50.000
da cristalização da rocha ígnea ou da idade de) anos) até muito antigos, da ordem da idade da Terra.
metamorfismo ou da deformação sofrida. Avanços tecnológicos introduziram uma variante , do
método I<-Ar que fornece idades muito precisas. E o
Os métodos radiométricos envolvendo isótopos com
método 4ºAr- 39Ar, que através de sistemas de fusão pon-
meia-vida longa (Tabela 15.3) são os mais utilizados para
tual a laser possibilita a análise de cristais individuais. Em
datação de rochas mais antigas, como as pré-cambrianas. 1997, Paul R. Renne do Laboratório de Geocronologia
Isótopos de meia-vida curta são utilizados para a datação de Berkeley, Califórnia, E. U. A., analisou amostras de
de materiais geológicos e eventos r11uito mais jovens; o rochas vulcânicas da famosa erupção do Vesúvio que
14
C, or exemplo, C()m meia-vida de 5.730 anos, é utiliza- causou a destruição de Pompéia no ano 79 depois de
do p a datação de materiais de até 70.000 anos. Porém, Cristo. Análises isotópicas de argônio num cristal de
recurs s tecnológicos modernos têm permitido empre- sanidina (feldspato com alto teor de potássio) fornece-
gar alguns isótopos de meia-vida longa no estudo ram uma idade 40 Ar- 39 Ar de 1.925 + 94 anos, que é
geocronológico de materiais muito jovens. comparável à idade da erupção. A eficácia desse método
em materiais geológicos muito jovens expande sua apli-
Os isótopos radioativos de meia-vida longa emprega- cação para investigações arqueológicas e estudos de outros
dos na geocronologia são urânic), tório, rubídio, potássio registros históricos da Terra.
e samário. A maioria destes elementc)s não forma seus Um outro método radiométrico muito utilizado para
próprios minerais, mas ocorrem como "impurezas" nos datação de minerais é o método U-Pb, que se baseia no
minerais formadores de rocha. Quando um mineral se decaimento de dois isótopos radioativos de urânio, o 235 U
forma, os elementos radioativos presentes continuam a e o 238 U, gerando os isótopos radiogênicos, o 2º7Pb e o
decair, mas agora os elementos radiogênicos podem se 206
Pb, respectivamente. Cada um destes pares ~35 U-2º7Pb
acumular no mesmo retículo cristalino onde está locali- e 238 U-2116 Pb) fornece uma idade independente e quando
zado o elemento-pai. Vamos exemplificar este processo coincidem costuma-se chamá-las idades concordantes.
usandc) o isótopo 40Ar, o elemento-filho produzido pelo Lançados em gráfico 238U- 2116 Pb vs. 235 U- 2c17 Pb, os pontos
de todas as idades concordantes definem a curva con-
decaimento do 4ºI<. Por ser um gás nobre, o argônio não
córdia (Fig. 15.17). Por outro lado, idades discordantes
participa das ligações químicas, estando como tal aprisio-
entre os dois sistemas são devidas, em geral, a perdas de
nado mecanicamente no retículo cristalino do mineral. Pb do mineral, e neste caso os pontos analíticos se ali-
Durante o resfriamento de um cristal de hornblenda, à nham numa reta denominada discórdia. A intersecção
retenção de argônio se dá a temperaturas em torno de dessa reta com a curva concórdia defme a idade de cris-
talizaçãc) do mineral.
0,4
2.000
1.790±9 Ma

0,3 .. \
Concórdia l. \
Idade de cristali-
,, zação da rocha
1.2 1! (milhões de anos)

,,i.i ', ',,,,

Discórdia

O, 1

2 6

Fig. 15.18 Grão de zircão proveniente do sudoeste da


Fig, 15.17 Diagrama Concórdia. Neste caso, a idade de cris- Groenlândia formado por cristalização concêntrica há 3,8 bi-
talização dos cristais de zircão analisados é obtida através do lhões de anos. Do lado direito, observa-se a recristalização
intercepto superior da reta discórdia com a curva concórdia. parcial ocorrida durante evento metamórfico, há 2,8 bilhões
de anos. Foto: A. P. Nutman e P. Kinney.

No método U-Pb não são utilizadas hc)mblendas ou como as fe)ntes de material detrítico cm rochas
micas, mas minerais que contêm Urânio no seu reticulc) secümentares. Por estes motive)s, este método tem sido
cristalino, tais como zircão, titanita, monazita, etc. F,stes muit<) utilizade) para calibrar a escala do tempo gee)lógico,
minerais, principalmente o zircão (Fig. 15.18), apresentam ,
E possível também utilizar amostras de rocha-total,
um retículo cristalino muito resistente, que retém com maic)r
em vez ele minerais individuais, para obter a idade de
eficiência tanto os elementos-pai (Urânio) como os ele-
cristalização ele uma rocha ígnea ou a idade de
mentos-filho (Chumbo). Além disso, apresentam
metamorfismo, Ne) caso do método Rb-Sr, muitc) empre-
temperaturas de bloqueio muito altas para o sistema
gado principalmente com granitos, várias amostras de um
isotc)pice) U-Pb: cerca de 800ºC no caso do zircão; entre
mesmo corpc) rochoscl são coletadas, seus teores e suas
650 e 700ºC para titanita; e cerca de 65ü°C para monazita,
compe)sições isotópicas de Rb e Sr determinadas e os
Devido a esta alta temperatura de bloqueio, os zircões resultados lançados num diagrama 87 Sr/86 Sr vs, 87 Rb/ 81'Sr.
sã<) capazes de preservar a idade da cristalização da rocha Se as amostras analisadas forem da mesma idade, com a
ígnea original, mesmo em rochas metamorfisadas cm fácies mesma razão isotópica inicial de Sr da época da cristaliza-
anfibolito (Cap. 18). Adicionalmente, tendo em vista a tem- ção da rc)cha e sem distúrbios posterie)res no seu sistema
peratura de bloqueio relativamente mais baixa da titanita, isotópico, os dados obtidcls deverãc) se alinhar numa reta,
esta pode ser empregada na determinação da idade de chamada isócrona. Conhecendo-se a constante de
eventos superimpostos (metamorfismo, por exemplo) as- decaimento do 87 Rb, podemos calcular com o emprego
sociados à formação deste mineral, Os avanços recentes da equação da reta, ilustrado pele) ângulo de inclinação
neste método possibilitaram determinações precisas cm da isócrc)na, a idade elo conjunte) de amostras da rocha,
cristais minúsculos de zircão, ou até em partes diferentes Este é o diagrama isocrônico (Fig. 15.19).
de um único cristal com evidências de sobrecrescimento
Das três classes ele re)chas, as ígneas sãc) as mais fáceis
durante um ou mais eventos, Neste último caso, é utiliza-
de serem datadas, Pc)r quê? Na câmara magmática, els ele-
do um espectrómetro de massa de alta rese)lução
mentos radioative)s sofrem decaimento, liberando os
analítica, o SHRIMP (sensitive high resolution mass spectromete~,
elementos-filho para o magma. Mas quando os elementos-
que permite determinar a idade ela cristalizaçãc) ígnea
pai são aprisionade)s no retículo cristalino de um mineral
do núcleo do mineral e dos eventcls metamórficos
durante o resfriamento do magma, a fuga dos elementos-
registrados no sobrecrescimento e porções
filho torna-se cada vez mais difícil, se não impossível.
recristalizadas do cristal (Fig. 15 .18),
Com o passar do tempo, de acordo com a meia-vida de)
Esta técnica foi utilizada na análise d.e grãc)s detríticels elemento (Tabela 15.3), a quantidade do elemento-pai di-
de zircão do conglomerado Jack Hills da Austrália, o que minui no mineral enquant<l a do clementc)-filhe) aumenta.
permitiu demonstrar serem estes os materiais mais antigos Se o sistema isotópico permanecer fechado desde a crista-
já encontrados no noss<) planeta (4,2 bilhões de anos). Atu- lização da rocha, será p<)ssível determinar a quantidade de
almente, o método U-Pb é considerado um dos mais elementos e obter a idade da rocha ígnea, utilizando a
precisos para datar eventos ígneos e metamórficos, assim equação fundamental ela gee)ctonolc)gia,
No caso de rochas metamórficas, a idade olJtida re- mais tempo passar após a morte da planta ou do animal,
fletirá a intensidade do metam()rfismc) que afetou, sempre menor será a quantidade de 14C preservada. Desta forma,
de maneira diferenciada, os diversos sistemas isotópicos comparandc) a razão de 14C/ 12C medida na amostra C()m a
dos minerais presentes, causando, <Ju não, o ganho ou a razão moderna universal, é possível calcular o tempo de-
perda dos elementos-pai e filho. Este ponto é de grande corrido desde a morte do organismo.
importância, pois geralmente as idades medidas nessas
l-ma fonte de erro neste método advém das varia-
rochas corresp()ne-lem às idades do último event() que -
ções já C()nstatadas na prc)dução de 14C ao longo dos
abriu C) sistema is()tc)pico. Dependendo do mineral e do
últimos -0.Cl(l(l an()S, de m(Jdo que se t()rnou necessário
sistema is(Jtópicc), (J moment() "congelado" na datação
aplicar fórmulas de correção acJs resultados obtidos para
poderá se referir ao início, meio ou fim do evento
C()rrigir os erros sistemáticos verificados. Uma maneira
metamórfico. Quando este processo for brando, não
de confi.rmar as idades obtidas em certas regiões pelo
atingindo temperaturas suficientemente altas para abrir o
método 14 C é atra,-és da dendrocronologia, a datação de
sistema isotópico, a idade obtida poderá ser a da crista-
tr<JnC(JS de án-ores pela contagem e medição da espessu-
lização da rocha ígnea original antes do metamorfismo,
ra dos anéis de crescimentQ:. A variação na espessura
dependendo do método radiométric() empregado.
e-lesses anéis reflete não apenas o ciclo anual das esta-
A datação de r()chas sedimentares, por outro lado, é ções, como também mudanças climáticas ele mais longa
mais complicada, pois elas formam-se a partir de mate-
rial (Jriundc) da desagregaçãc) de rochas ígneas,
metamórficas ou mesmo sedimentares pré-existentes. Por
0,76 ..
isso, a datação de rochas sedimentares, se não seguir cri- ''
térios rigorosos, pode fornecer não a idade da deposição ,_ ''
''
dos sedimentos ou e-la formação ela rocha sedimentar, .,"'
to
'' \
1:: 0,73 - ''
mas a idade das rochas da área-fonte d()S detritos, como .,,!!> '\ \
\
no caso dos zircões eletríticos de Jack Hills, C()m idade ''
U-Pb de 4,2 bilhões de anos. Contudo, em outros cas()S, ' \e
a idade pode não ter significado geológico nenhum, se a 1 3 5
rocha sedimentar originar-se de detritos de áreas-f()nte 87
Rb/ 86 Sr
com idades distintas.
Fig. 15.19 Diagrama isocrônico Rb-Sr. Os pontos a, b e c
representam valores isotópicos de três amostras no momento
15.3.3 O método radiométrico 14 C do fechamento de seus sistemas isotópicos no passado. Com o
87
decaimento do Rb, estas amostras apresentam valores atuais
Com() já vimos anteriormente, ?. carbono possui três
de a', b' e c'. A reta definida por estes pontos, a isócrona, terá
isótopos: 12C, 13 C e 14C; send(J (JS dois primeiros estáveis
um ângulo, a, diretamente proporcional à idade da amostra,
e o t ceiro, 14C, radioativo, cc)m meia-vida de 5.730 an(JS.
calculada na equação: tga = (eM - 1) = À.t, portanto, t = tga/À..
A da ção usando o 14C, ou radiocarbono, é aplicada, 87
O intercepto da isócrona com o eixo Sr/ 86 Sr define a razão
porta to, em materiais geológicos e biológicos relativa-
inicial de Sr no sistema, (87 Sr/86 Sr), um importante indicador da
mente jovens (troncos e folhas fósseis, ossc)s, dentes, '
origem (se do manto ou da crosta) do material analisado.
conchas etc.), sendo de extrema utilidade na Arqueologia
Raios
e nos estudos de mudanças recentes no nível d(J mar e 14 c:ósmíc:os
"N + nêutron C
no clima. /í
··/
nêutrons
O 14C é formado na atmosfera superi(Jr através da ação . Decaimento
de raios cósmicos, que são partículas de alta energia, sobre
átomos de 14N, conforme ilustrado na Fig. 15.20.
,,
'"i"',''
.
radioativo
1 •c
-N
,.

Na medida em que o 14C se forma, ele se combina


5700
anos
com o oxigênio para formar dióxido de carbono (como
acontece também com os demais isótopos de carbono),
que circula na atmosfera e hidrosfera, sendo absorvido
por plantas e animais. Embora o 14C decaia para 14N, sua
contínua formação na atmosfera mantém a razão 14C/ 12C
praticamente constante, a qual é incorporada e mantida
pelos organismos vivos. Ao morrer, o organismc) deixa
de absorver C, embora seu 14C continue a decair para
14
N, alterando essa razão e iniciando, em termos
14
geocronológicos, a contagem do relógio geológic(). Quanto Fig. 15.20 Formação do C.
duração. Assim, a confrontação do espectro de anéis pre-
servado num artefato arqueológico com padrões já
conhecidos para materiais originados nos últimos seis ou 40
Idade = 4 ,55 + O,07 Ga (bilhões de anos)

sete milênios revela não só a idade da peça como tam-


bém as características do clima na época da sua cc)nfecção. 30 .

.e
a.
e!
15.3.4 Como foi determinada a idade
da Terra? -...
"'.e
a.
20

!iil , , meteoritos férricos


10
Desde que a Geocronologia surgiu nc) inícic) do sé- • meteoritos líticos
culo XX, um dc)s seus maiores objetivos foi a + sedimentos pelágicos
determinação da idade correta da Terra. Mas somente
em 1956 é que o geocronólogo Claire Patterson conse-
guiu datar, com precisão, sua idade, através do método
isotópico 2º7Pb- 2º6Pb (uma variante do método U-Pb).
Patterson partiu da premissa de que a idade e-la Terra º º
Fig. 15.21 Diagrama 2 º7 Pb/2 º4 Pb vs. 2 6 Pb/2 4 Pb mostrando
deveria ser igual à dos meteoritos, uma vez que ambos como foi determinada a idade da Terra por Patterson em 1956.
devem ter se originado na mesma época, juntamente com
o resto do Sistema Solar, e passado, posteriormente, pela
mesma evolução isotópica. Assim, racic)cinou Patterson, a poucas centenas de milhões de anos. A Terra come-
se o sistema isotópico nos metecJritos se manteve fecha- çava a mostrar sinais de sua verdadeira velhice.
dc), a sua idade teria de ser igual à da Terra. Patterson Com a descoberta e refinamento dos métodos de
datou meteoritos férricos e líticos, obtendo uma isócrona datação radiométrica, no decorrer do século XX, foi
que indicava uma idade de 4,55 + 0,07 bilhões de anos possível, finalmente, estabelecer a idade da Terra em
(Fig. 15.21). Para testar a hipótese de uma origem em mais de 4,5 bilhões de anos. Nossa pequenez diante
comum, ele lançou, no mesmo gráfico, os dados refe- de um intervalo de tempo tão grande, intangível e quase
rentes às composições isotópicas de Pb obtidas em inimaginável, não deve ser motivo de lamentação nem
sedimentos marinhos fundos, interpretadas comcJ repre- de sensaçãcJ de impotência. Ao contrário, com a
sentativas da cc)mposição média da crosta terrestre. O desmistificação da posição do ser humano na Nature-
alinhamento perfeito desses dados com os dos meteoritos za - decorrente das descobertas de Copérnico, Galileu,
demonstrou que a idade, origem e evoluçãc) dos isótopos Hutton, Darwin e outros - devemos nos maravilhar
de chumbo eram idênticas. C)u seja, os meteoritos e a com a grandeza do mundo natural do qual também
Terra têm a mesma idade. Investigações científicas pcis- fazemos parte e nos unirmos para preservá-lo para
teriores em outros meteoritos, utilizando outros métodc)s gerações futuras.
4 39 144
( ºAr- Ar e Sm- 143 Nd), corroboraram C)S resultados
obtidos por Patterson.
Leituras recomendadas
DOIT, R. H.; BAITEN, R. L .. Evolution of the
15.4 A Humanidade e o Tempo
Earth. New York: McGraw-Hill, 1971.
Geológico
EICHER, D. L. Tempo Geológico. São Paulo: Edgard
Vimos neste capítulo que a evolução do conceito Blücher/EDUSP, 1969.
de tempo geológico se deu em diversas etapas nos FAUL, H. A history of geologic time. American ·
últimos 350 anos. Nc) século XVII, aceitava-se a expli- Scientist, v. 66, 1978.
cação bíblica para a criação da Terra em poucos dias,
há poucos milhares de anos. No crepúsculo do século GOHAU, G. História da Geologia. Portugal: Euro-
XVIII, com as palavras "nenhum vestígio de um co- pa-América, Mem Martins, 1987.
meço, nenhuma perspectiva de um fim", Hutton MEND,ES, J. C. Paleontologia Básica. São Paulo: T.
acenou com a possibilidade de uma Terra A. Queiroz/EDUSP, 1988.
imensuravelmente velha, quase eterna, idéia corrente
dentre os geólogos na primeira metade do séculcJ XIX. SCHOPF, ]. W (ed.) Mqjor Events in the History oj
Posteriormente, até o início do século XX, geólogos e Lift. Boston: Jones and Bartlett Publishers, 1992..· .
físicos, influenciados pelos modelos precisos de Lc)rde WEINER,J., Planeta Terra. São Paulo: Martins Fon-
I<:.elvin, admitiram uma idade para a Terra de dezenas tes, 1986.
328 D EC I FR A N DO A T E R RA •

• termcl ígneo tem sua raiz no latim ~2,nis, e


refere-se àquilo que tem sua elrigem nei fcJgcJ,
ou seja, reJchas ígneas sãeJ aquelas cuja formaçãei se
a preJe!ução de n1ater1a1s de ceJnstruçãeJ e para fins
eJrnatnentais (Fig. 16.1 ), acJ passe) c1ue jaziclas de miné-
rios de eJrigcm magmática são explcJradas em tciclo o
deu a altas temperaturas, a partir de matéria mineral munclo (Cap. 21). AclicicJnalmente, as prelpriedades
fundida cm grandes profundidades e que, às vezes, mecânicas das rcJchas ígneas tornam-nas ideais para
extravasa à superfície deJ planeta através dels \'tilcões, elbras de engenharia, reservatcíricJs subterrânecJs de água
de maneira espetacular. SalJcmos que todeJ material cJu petróleeJ, ou mesmo para a instalaçãel de dep{lsitos
s{Jlidcl tem o seu ponto de fusãeJ: é apenas uma ques- ele rejeitos raclioativeJs, entre eJutras aplicaçe:ies.
tãcJ de quanta energia, que temperaturas são necessárias
PcJr fim, o estuclo das rochas ígneas tem ceJmcl
para liquefazer um material sólido qualquer. Nas fun-
prclpcSsiteJ o cntenelimentcJ do mt1nelo em c1ue vive-
diçe:ies, o minério a partir do qual se deseja extrair al~'1.lt11
mcls, tentando satisfazer a curiosidade humana que
metal - ferro ou ceJbre, por exemple) - é ceileicaclcJ
prcJcura respeJstas aos fatos da natureza. ComeJ as ro-
em grandes fornos, aquecido a temperaturas muitei
chas ígneas são a classe de rochas predominante na
altas (da ordem de 1.000º C), até que todo o material
crosta da Terra, perfazendo mais de 70(1/i) do seu vo-
se funda, quandci ocelrre a separação entre um líc1uiclel
ltime, constituem o arcabouçeJ de tcida a "arquitetura"
metálico e, um outrcJ, de compeJsição geralmente
crt1stal, e a compreensão da cclnstituição, eJrigem e
silicática. E um exemplo práticei de como materiais
eveJlução do nosso planeta seria impossível sem o seu
geeJl{igicos sólidos, ceJmei rochas e minéricJs, que são
estuclo.
agregados de minerais naturais, podem se fundir a tem-
peraturas elevadas.

() material fundido em partes preJfundas nei interior


da Terra, que denominamos magtna, pode deslocar-
se no interior da crosta, em direção a regiões de menor
pressão. À medida que o magma se elesloca para regi-
ões· mais "frias", perde calor e se conscJlida,
cristalizando as fases minerais que ceinstituirão as rci-
chas ígneas ou magmáticas (Cap. 2). Os prcJcessos de
geração, transporte, modificações no percurso e con-
solidaçãeJ de magmas são complexos e exigem
conhecimenteJs de física e química para o seu estude).

Mas para que serve o estudeJ das rcichas ígneas? Fig. 16.1 Blocos de granito destinados à preparação de pla-
Por que nos empenhamos em compreender a stia ori- cas para revestimento de edifícios, prontos para exportação.
Foto: N. R. Rüegg.
gem e clescrever suas características físicas e químicas?
A respcJsta é múltipla. Em primeiro lugar, clesde eJs Neste capítulo, serãci apresentaclos os conceitos
,
seus primórclios, a civilizaçãci dependeu dessas rochas fundamentais da IJctrolcJgia Ignea, o ramrJ da GeeJlo-
para sua scJbrevivência e seu desenveJlvimento. As pri- gia c1ue estuda a origem e as características das rochas
meiras ferramentas, de peclra lascada e>u polida, eram ígneas. Serão tratados t{Jpicos como a pre>ccdência e
manufaturadas predominantemente a partir de rochas consoliclaçãeJ dcJs magmas a partir dos quais se feJr-
ígneas finas ou vítreas, comcJ a obsidiana. As rochas mam as rochas ígneas, os cliversos ambientes em que
ígneas eram as preferidas para ccinstruções e cJutros estes magmas podem se consolidar, e as característi-
fins (pedras de moinho, por exemplel), pela sua alta cas mineralógicas e texturais/ estruturais que a
resistência mecânica e estrutura maciça. lmpelrtantcs di,Tersidade compclsicional dos magmas, combinada
jazidas minerais de ouro, prata, chumbo, cobre, creJ- com ci ambiente de cristalizaçãcJ, imprimem às rochas
meJ, diamantes, entre outras, tiveram sua eJrigem em ígneas. SerãeJ apresentadas com maior destaque as ca-
processos magmáticeJs, e são expleJraclas há milênios. racterísticas das rochas ígneas intrusivas, uma vez que
A importância das rochas ígneas para a socieeladc cres- os fenê)mcncJs gcradcJrcs elas rochas vulcânicas ou
ceu ccJncomitantemente aeJ seu dcsenvolvimentcJ: heJje, extrusivas, bem como muitas das suas características
volumes enormes ele rochas ígneas sãeJ extraídos para serão discutidas nei Cap. 17.

• Sienitos do Maciço de Itatiaia, Parque Nacional do Itatiaia (RJ/MG/SP). Foto: E.R.T óth.
,
CAPÍTULO 16 • ROCHAS IGNEAS 329 ..
'

16.1 Magma: Características e C(Jnta dei magma e gases que vão se acumulandci abai-
X<J d<J edifíci<) vulcânico. (~uando a pressão interna
Processos de Consolidação
supera o peso do material sobrejacente, oc<)rrem CJS
fen<)men<is de vulcanismci explosivo (C:ap. 17). A re-
16.1.1 O que é magma? laçàci entre viscosidac.le e c<impclsiçãcJ elos magmas
será discutida mais adiante.
A palavra magma pr<ivém do grego e refere-se
originalmente a uma massa ou pasta, como a utilizada
16.1.2 Sobre a origem dos magmas
no preparcJ dcJ pãci. Na gecilcigia, magma é qualquer
material rochoso fundidci, de consistência past()Sa, que Evidências sobre o ambiente e ccineüções de gera-
apresenta uma mobilidade pcltencial, e que, acJ conso- çã<J de magmas são fornecidas por dados geofísiccis,
lieiar, constitui as rochas ígneas (ou magmáticas). () principalmente os sísmicos e geotérmicas, pelos frag-
magma que extravasa à superfície, fcJrmandci os eier- mentos de rocha - xenólitos ou nódulcis (Fig. 16.2) -
ramcs vt1lcânicos, recebe a denominação mais específica transp<)rtados pelos magmas desde as suas regiões de
ele lava, uma vez que, durante o processo vulcânic<), cirigem, ou ainda por estudos de petrologia experi-
scifre alb'llmas impcJrtantes mcJdiftcaçc)es físico-quími- mental que procuram reprcJduzir em laboratóri<J as
cas (devolatilizaçãcJ, reações de oxi-redução), e1ue a condições formadcJras de magmas e definir eis
diferenciam do magma retido e cristalizado em pr<J- parâmetros termodinâmiccis ccJrrespclnelentes. C)s
fundidade. magmas se originam ela fusão parcial de rochas ele)
Magmas apresentam altas temperaturas, da ordem mantci na astenosfera, ou elo manto superior ou crcis-
de 700 a 1.200º e=, e sã<i ccinstituídcis por: ta inferi<Jr na litosfera (Cap. 4). A fusão pode ser
prcivcicaela pelcJ aumento e-Ia temperatura, por alívicJ
a) uny,( partelíquida, representada pelo material
da pressãci ccJnfinante a c.1ue estão submetidas estas
r ·choso fundido;
rcichas, p<Jr variações no teor de fluidos ou, como
b) u a parte sc'ilida, que ccirrespcincle a minerais já <JCCJrre mais comumente, p(ir uma ccimbinaçãci eles-
cristalizadcJs e a eventuais fragment<JS de rcicha ses fatcires. A Fig. 16.3 ilustra genericamente a fusão
transportados em meio à pcJrção líquida; e ele rcichas em condições extremas: em sistemas
saturaelcis em água e em sistemas anidrcJs. As curvas
c) uma parte gasosa, constituída p<lr voláteis dis-
so!idus representam o início da fusão, quando então
solvidos na parte líquieia, predominantemente
C<Jcxistc CJ líquidci geradcJ pela fusãci ccim eis minerais
H 2 0 e C0 2 • '
ainela nãci funelic-l<JS. 1\ mec-Iida que (J prcicessci ele fu-
}:sscs componentes ciccirrcm cn1 pr<)pclrÇc)es \'a- sà<J avança, a pr<ipcirçã<J líc.Juid<J/ s(ilie-Ici aumenta, até
riáveis em função da origem e evolução dos magmas. c1ue, em uma sitt1ação ideal, todos os minerais da rc)-
A consistência física de um magma, que se reflete na
sua mobilidade, é função de diversos parâmetros: ccJm-
posiçào química, grau de cristalinidaele (em que 6mm

proporção o magma contém material já cristalizado),


teor de vcJláteis dissolvidcJS e a temperatura em que se
encontra. Esta consistência física, que implica maior
ou mencJr facilidade de fluir sob tensões cisalhantes, é
definida pela viscosidade, medida cm poises. Magmas
pouco viscosos, logo, mais fluidos, ccJmo os basálticos
(viscosidade aproximada de 102 a 103 poises), extrava-
sam com facilidade, e formam corridas de lava como
as do Havaí (Cap. 2), que pcJdem estender-se por de-
zenas de quilômetros. Magmas mais visccJS<)S, ccJmci
os riolíticos (viscosidade aprcJximada: 1(1' a 10 7 poises),
têm dificuldade até mesmo para extravasar, fcirman-
do freqüentemente "rolhas" que entclpem os condutos
Fig. 16.2 Nódulo peridotítico em rocha vulcânica alcalina.
vulcânicos, o que provoca aumento de pressãcJ por
Nemby, Paraguai. Foto: G. A. J. Szabó.
cha geradora tenham sido fundidos. Nesse ponto, o ção da temperatura e, conseqüentemente, do grau de
sistema ultrapassa a curva liquidus, passando a consti- fusão, líquido e os minerais ainda não fundidos; a tem-
tuir-se apenas na fase líquida. Ou seja, a temperaturas peraturas acima da curva liquidus, passa a existir apenas
abaixo da curva solidus, a rocha geradora encontra-se a fase líquida, estando todo o sistema fundido.
inteiramente sólida; a temperaturas entre as curvas solzdus ,
E importante frisar que não existe um "oceano de
e liquidus, coexistem, em proporções variáveis, em fun-
magma" contínuo por baixo da litosfera: o compor-
tamento reológico anômalo (mais "plástico") da
astenosfera, indicado pelas ondas sísmicas, deve-se à
perda da rigidez das rochas que constituem a
astenosfera, em função das altas temperaturas, mas no
estado fundamentalmente sólido. Conforme ilustra-
do na Fig. 16.4, os sítios de formação de magmas
--
o.. concentram-se em locais específicos na astenosfera ou
o na litosfera em função dos mecanismos tectônicos res-
•O
C/1 ponsáveis pelas variações nos parâmetros físicos que
C/1

...
O)

o..
controlam o processo de fusão das rochas. Assim, nas
dorsais mesa-oceânicas, o manto quente é conduzido
para regiões mais rasas através das células de convecção,
sofrendo descompressão e produzindo, por fusão
parcial, o grande volume de magma basáltico que ali-
Temperatura (Tº) menta o vulcanismo das dorsais mesa-oceânicas e que
dá origem à crosta oceânica (Cap. 6). Já nos arcos de
ilha e nas cadeias de montanhas das margens conti-
Fig. 16.3 Diagrama P x T (Pressão x Temperatura) com as
nentais convergentes, os magmas andesíticos são
curvas so/idus e /iquidus para sistema saturado em água e
para sistema anidro. produzidos pela fusão da crosta oceânica conduzida

Cadeia de Montanhas
(limite de placas convergentes Vulcanismo
Vulcanismo continente-oceano) de Ilhas Oceânicas Dorsal Meso-Oceãnica
Inira-Placa Continental ex: CordJlheira Andina ex: Havoí (limite de placas divergentes)
I \
Batólito
Vulcanismo granítico Vulcanismo andesitico
antigo a riolítico
Vulcanismo basáltico
exumado

---···
rio lítico \ Sedimentos Vulcanismo basáltico
~, do fundo oceânico
1
Crosta I.!a,
continental -Moho
Manto j
litosférico _,
----------
j
E
li
li
'V
D
·-1
'V

i
- Manto astenosférico Rochas/magmas - Rochas/magmas - Rochas sedimentares
graníticos básicos
Manto litosfárico - Rochas/magmas lffl}Jjf0fulf~1@/ Rochas metamórficas lal Diques básicos
andesíticos e ígneos antigas

Fig. 16.4 Seção esquemática da crosta/ manto (astenosfera / litosfera), indicando a localização dos sítios formadores de magmas
no modelo de Tectônica de Placas.
,
CAPÍTULO 16 • ROCHAS IGNEAS 331 .. '

para o manto, onde as temperaturas são maiores, por tios, o magma é conduzido à superfície através dos con-
meio dos mecanismos de subducção. Nas grandes dutos magmáticos ou vulcânicos, que podem apresentar
cadeias de montanhas, a parte inferior da crosta conti- geometria e complexidade variáveis, gerando uma gran-
nental chega a atingir profundidades da ordem de 40 de gama de formas de ocorrência de rochas magmáticas,
a 50 quilômetros, com o conseqüente aumento de tem- conforme será discutido mais adiante.
peratura, que pode ultrapassar a temperatura de início
de fusão das rochas constituintes da base da crosta, de 16.1.4 Quais são os constituintes dos
modo a gerar os magmas de composição granítica.
magmas?
Adicionalmente, sítios anomalamente aquecidos, de
origem muito profunda, podem desenvolver-se no A composição de um magma depende de vários
manto, denominados plumas mantélicas, que trazem fatores:
calor das partes mais profundas do manto e produ-
a) da constituição da rocha geradora;
zem fusão parcial localizada, gerando tipos
característicos de magmas basálticos, a exemplo das b) das condições em que ocorreu a fusão desta ro-
ilhas vulcânicas do Havaí, no Oceano Pacífico. Os Caps. cha e da taxa de fusão correspondente; e
6 e 17 trazem informações adicionais desse tipo de c) da história evolutiva deste magma do seu local de
atividade ígnea. origem até o seu sítio de consolidação.
Magmas têm, majoritariamente, composição
16.1.3 A viagem e chegada dos magmas aos
silicática, em consonância com a composição predo-
seus sítios de consolidação minante da crosta e do manto terrestre; porém,
9 magma, uma vez gerado, tende a deslocar-se na magmas carbonáticos e sulfetados também são co-
crcrta em direção à superfície, por apre~entar densi- nhecidos. Em outros planetas e seus satélites também
dape menor do que as rochas sobreiacentes. O podem existir magmas de composiçoes muito diver-
de~ocamento de um magma no interior da crosta é sas, como demonstrado pelos vulcões sulfurosos de
complexo e variado, em função da sua constituição e Vênus e de lo (uma das luas de Júpiter).
da estruturação das rochas ao seu redor. Sempre que Os principais componentes dos magmas silicáticos
possível, magmas ascendem através de grandes falhas na Terra são, além de O e Si, o Al, Ca, Fe, Mg, Na, K,
e fraturas. Quando estas descontinuidades não se en- Mn, Ti e P. A composição química de rochas e magmas
contram disponíveis, formam-se bolsões de magma é indicada, por convenção, com os elementos consti-
em forma de gigantescas "gotas invertidas" ou "ba- tuintes apresentados na forma de óxidos. A variação
lões" (diápiros), da ordem de vários quilômetros composicional dos magmas, assim como das rochas
cúbicos, que se deslocam por fluxo plástico em meio ígneas, é descrita principalmente por seu teor de sílica,
às rochas sobrejacentes. Freqüentemente, o bolsão de que indica a porcentagem em peso de Si02 . O espec-
magma força as rochas encaixantes, às vezes quebran- tro composicional dos magmas silicáticos é muito
do-as e englobando seus fragmentos. Quando há fusão amplo, e praticamente contínuo em termos do teor
e assimilação dos blocos capturados, podem ocorrer de sílica; porém, dois tipos de magma se destacam
modificações na composição química do magma ori- amplamente pela sua abundância na crosta terrestre:
ginal, outras vezes, à medida que o bolsão de magma são o magma granítico, com teores de sílica superio-
se move para cima, vai fundindo a rocha encaixante, e res a 66%, e o magma basáltico, com teores de sílica
que também pode implicar significativa transforma- entre 45 e 52%. Alguns pesquisadores acrescentam um
ção na composição química original do magma, terceiro tipo de magma, o magma andesítico (teor de
dependendo do tipo de rocha atravessado. sílica entre 52 e 66%), por sua freqüência e ambiente
Em muitos casos, grandes volumes de magma "es- de colocação específico na crosta (Fig. 16.4). Em ter-
tacionam" a determinadas profundidades e fornecem mos de volume estimado, porém, os magmas
material para manifestações vulcânicas na superfície por graníticos e basálticos são nitidamente preponderan-
períodos da ordem de dezenas de milhares de anos tes. Composições médias de rochas representativas dos
(Cap. 17). Nestes casos, são denominados câmaras três tipos de magmas - respectivamente granitos,
magmáticas, cuja presença e dimensões podem ser andesitos e basaltos - são apresentadas na Tabela
aferidas indiretamente por estudos geofísicos. Desses sí- 16.1 e ilustradas, a título de comparação, na Fig. 16.5.
332 D Ee I FRA N o o A TERRA

Tabela 16.1 Exemplos de composição média de rochas ígneas conso-


lidadas a partir de magmas graníticos, andes:ticos e basálticos
(valores em% em peso).

Rocha/Magma Granito Andesito Basalto


,
Oxido
.. , , , ,, ' , , , ...
.. , '' ' .. ' ',- ,

Si0 2 . 72,08. 54,20 . . 50,$3 •

Ti0 2 0,37 l ,31 .· 2,03 ·. •

Al 2 0 3
13,86 l 7, l 7 14 ' 07'
" , ,

Fe 20 3
0,86 3,48 2 ' 88 .

FeO 1,67 5,49 .··9,os

MnO 0,06 O, 15 O 18 .
-- __ , I

MgO .0,52 4,36 ... 63.


, 4 ·.··
. . .

..
CaO 1,33 7,92 10,42

Na 20 3·03.
' 3,67 2 23
.
'
K20 5,46 l ,l l 0,82

P20s o, 18 0,28 0,23 .·

H2 0 0,53 0,86 0,91

Total l 00,00 l 00,00 l 00,00

Basáltico Andesítico Riolítico

MgO+CaO Todas as demais

Fig. 16.5 Diagramas em "pizza", comparando as composições médias de magmas graníticos, andesíticos e basálticos.
16.1.5 A influência da composição sobre o d(i-sc ctn estruturas prcigrcssivatncnte mais ceJmple-
comportamento dos magmas x;1s à n1cdida que a cristalização de um magma avança.
~:m ma!c-,rmas riceis em sílica, esta peilimerização se dá
As características físicas dos magmas, como a tem-
nas primeiras etapas da ccinsoliclaçãci, e em escala mais
peratura e a visccisidade, antes mencionadas, estãei ampla, prc>cluz extensas cacleias e1ue e-lificultam e> íluxei
intrinsecamente relacionac1as à composiçãcJ deis n1cs-
dei n1aL_>1na, aumcntande> sua visceisielade. 1~m magmas
' '
mcis e estas relaçe)CS enccintram-sc ilustradas na I•ig. l1ásiceis, ccim tceires de sílica meneircs, essa
16.6. Magmas !)asálticeis sãe> mais "quentes", com tem- peilin1crizacão se'i acontece, cm escala significativa, nas
peraturas da eJrdcm ele 1.000 a 1.200º C, e têm etapas 111ais a,·ançadas ela cc>nseilidação, eiu seja, nàeJ se
visceJsidade mcneir. Já os magmas graníticos são signi-
fc>rmam granelcs estrl1turas pe1limcrizaelas e1l1e peis-
ficativamente mais visccJseis e apresentam temperaturas sam clificultar <J tluxcJ elci magma ncis está1-,rieis iniciais.
da orde111 de 700 a 8()0" C. A viscosidade de um
NeJs n1ag1nas graníticc>s, pclrém, o aumento de tem-
magma silicáticci alimenta ceim:
peratura tende a clestruir as estruturas polimerizadas,
a) CJ,rnnJ_entp, dei tcc)r de sílica; c-liminuinelci assitn a visceJsidade dei magma. (-) aumen-
teJ elei teeir de água disscilvida neJ magma tem cfeitc>
b) a redl1ção ela temperatura;
similar, tendendo a diminuir a sua viscosielade. t\ssim,
c) a e-liminuiçãei dei conteúdci de veiláteis. magmas granítice>s, ainda que mais viscosos, podem
ter sua mobilidade ampliada quando a altas tempera-
F~stas relações peidem ser explicadas através do
turas, ciu quando apresentarem tecires elevadcis de água
ccimportamento deis radicais aniônicos tetraédricos
4 dissolviela. Magmas liasáltice>s, apesar de apresenta-
fSiC)J que existem ncJs mabrmas, e que representam
rem baixos tecires de água disseJlvida, têm nei seu baixei
as unidades estruturais fundamentais para a ceinstitui-
conteúdo em sílica a principal razãci para as suas vis-
çãei do retículo cristalinci dos minerais silicáticos
ccisidae-les mais baixas.
formadcis quando ela cristalização destes magmas (ver
Cap. 2). Essas unidades tenelcm a se peilimerizar, unin-
16.1.6 As razões da diversidade de magmas

A variedade compcisicional elos magmas (e, pcir


ccJnsee1üência, das rcichas ígneas cm geral) é frutci dc>s
próprios prcJcesscis geradeircs de magmas. Magmas
e-livcrscis são prciduzie!cJs em funçãcJ da ccJnstitliiçãei
da área-fcinte, Oll seja, dei tipo de rcicha Cl1ja fusãei
preie-!L1Z o magma e da taxa ele fusãeJ desta rocha gcra-
deira. c:cJntude>, a prcJfundidadc cm que eJceirre a fusãei
também é um fatcir importante, que pode influenciar
significativamente a composiçãei clcJs 1nagmas pre1elu-
zidcis. tviagmas l1asálticcis sãci geraclcis em grancles
veilumcs pela fusàci elos peridotitos rnantélicos (ro-
chas ccJnsritui11tes elci n1a11tc>, fcirmaelas
prcele>n1inanrcn1c11re pcir 111incrais fcrrei-magncsiancJs,
ccimo eili,·ina e piroxênios), principalrnente nas regi-
ões al1aixc) das de>rsais mcsei-oceânicas, mas
eventualmente também abaixo da crosta ccintincntal,
no mantci superior. Já eis magmas graníticos são asso-
ciados à fusão de partes profundas da crosta
1 continental, enriquecida em sílica cm relaçãci à crcista
50 60 70 oceânica. _\laginas andesítice)s sãei característiccis dcJs
'
o/o em peso de Si02 arcos de ilha ou de cadeias de montanhas em margens
continentais con,·ergentes, comei na Cacleia Andina. Por
Fig. 16.6 As relações entre composição (teor de sílica), terr1- razões termodinâmicas, magmas gerados a partir da
peratura e viscosidade dos principais tipos de magmas. fusão parcial de uma determinada rcicha-fonte são
enriquecidos em sílica em relação à mesma. Assim, varia de caso para caso, às vezes de maneira ainda não
basaltos são mais ricos em sílica que os peridotitos a perfeitamente compreendida. O mais importante des-
partir dos quais se formam os magmas basálticos; tes processos diz respeito à cristalização fracionada de
andesitos apresentam-se enriquecidos em sílica quan- magmas. A consolidação de um magma por cristali-
do comparados aos basaltos de fundo oceânico; e zação é um processo complexo e, quando em
granitos, que em muitos casos podem formar-se pela profundidade, demorado. O magma idealmente líqui-
fusão parcial de rochas de composição andesítica, são do encontra-se a temperaturas elevadas, quando então
ainda mais enriquecidos em sílica que estas. todos os seus componentes estão dissolvidos no ma-
A variedade composicional de magmas é amplia- terial fundido. Quando o magma se instala em porções
da através de processos modificadores de magmas superiores mais frias da crosta, perde calor para as
"primários", gerados pela fusão parcial das áreas-fonte. rochas encaixantes por condução, e sua temperatura
Estes processos são diversificados, e sua importância diminui paulatinamente. Quando a temperatura atinge

a
SÉRIES DE REAÇÃO DE BOWEN

SÉRIE DESCONTÍNUA SÉRIE CONTÍNUA

'' > : ·:. ,,·: "' :· : : : '' ;· !":"!• " <':i:::::: : Cristalização
de alta Tº
. ·.
(> 1.000ºC)

...... (fetMSJ:••···••······...
•. • jjjiiil,~i .. 'l,ê;····••·~ .J•·,··· .... ::;m' (C~ >Nt..};, . ·.
,~ .•. . E, ,,,_ e ....'.«1g .·
. ·.· ·. •i~nfiti,, . ···. •.
'··.

··•. ..,
' :">' '-':<"

· (Ma>Cd}
.,, .... .
' Biotito
........''

\,.
"""''

. .
.

. .,,
. Pl<igioclásio ~ic9 •·
.. ·
· .·

.. ·.
.

·.··

. ·Feldspato potássico (Ortoclásio} . ·


. '
·· · Muscovita (mica. bronca} ··· ·
.
Cristalização
tardia de
Quartzo ' baixa Tº
(:'5 600°C)

,,-·~ .,"· · .., ""'li


... ·
Jl':"•~.\>'T'"
·.. , ' · '' ' . ,- '' ' -~f.ffl_" ' ' ;

. . Fig. 16.7 a) As séries de reação de Bowen. Do lado esquer-


do, a série descontínua inicia-se com a cristalização de olivina,
substituída posteriormente pelo piroxênio sub-cálcico (enstatita
ou pigeonita), e prossegue com a cristalização de piroxênio
cálcico (augita) e·finalmente anfibólio e biotita. Do lado direito,
a série contínua, representada pelo grupo do plagioclásio. O
plagioclásio inicial é mais cálcico (anortita a bytownita), tor-
nando-se paulatinamente mais sódico (oligoclásio ou albita
nos líquidos residuais). Esta variação composicional ao longo
• da cristalização do magma pode estar registrada nos padrões
de zoneamento dos cristais de plagioclásio; b) Cristal de
plagioclásio zonado. Foto: S. R. F. Vlach.
um determinado valor crítico, inicia-se a cristalização de processos modificadores de magmas que, em
magmática: formam-se germes cristalinos, minúscu- muitos casos, adquirem importância até maior que a
los núcleos de cristais, de formas vazadas, esqueletais, cristalização fracionada são a mistura de magmas ori-
às vezes até plumosas, que crescerão para constituir as ginalmente diferentes, a imiscibilidade de magmas, e a
fases minerais da rocha ígnea resultante. assimilação de rochas dos condutos magmáticos du-
rante a sua ascensão, ou ainda das rochas encaixantes
Nos estágios iniciais da cristalização magmática, as
após o alojamento no sítio de consolidação fmal. Na
diferentes fases minerais não cristalizam
mistura de magmas, magmas de composições distin-
concomitantemente: algumas formam-se primeiro, e
tas, mas gerados em um mesmo contexto tectônico,
só depois que a composição do magma remanescen-
podem ter contato durante a sua ascensão na crosta e
te tiver sido apreciavelmente modificada pela extração
misturar-se em proporções diversas, gerando todo um
destas primeiras fases, e sua temperatura tiver diminu-
espectro de composições intermediárias. Na
ído ainda rpais, é que as demais fases minerais irão se
imiscibilidade de magmas, durante a evolução de um
juntar às ue já se encontram em processo de cristali-
volume de magma originalmente homogêneo, podem
zação, u mesmo irao substituí-las neste processo. A
separar-se frações imiscíveis (como água e óleo), e cris-
seqüência de cristalização resultante é definida por
talizar em separado, produzindo estruturas muito
parâmetros termodinâmicos, e depende fundamen-
particulares nas rochas geradas. A assimilação de ro-
talmente da composição do magma inicial. A seqüência
chas acontece quando o magma abre caminho para
ideal de cristalização dos minerais foi originalmente
avançar na crosta rumo à superfície, e pedaços das
estabelecida para magmas basálticos pelo petrólogo
rochas encaixantes sao incorporados ao magma, sen-
experimentalista N. L. Bowen, em 1928, nas Séries de
do "digeridos" pelo mesmo, que conseqüentemente
Reação de Bowen, ilustradas na Fig. 16. 7. Teoricamente,
sofre mudanças na composição em função da nature-
é possível obter, a partir de um magma "primário"
za e do volume da rocha assimilada.
basáltico, toda uma série de rochas ígneas, desde as
ultrabásicas (ou peridotíticas) até as ácidas (ou
graníticas), utilizando para tanto processos de 16.2 Variedade
,
e Características das
fracionamento do, magma basáltico original durante a Rochas Igneas
sua cristalização. E importante frisarmos que as Séries
de Reação de Bowen representam um modelo gené-
rico e simplificado ilustrativo de um processo natural 16.2.1 A variedade das rochas ígneas
muito mais complexo e que, portanto, deve ser utili-
zado com cautela na interpretação da cristalização de Como vimos antes, magmas apresentam variações
qualquer corpo magmático. composicionais significativas em função de sua gênese
e dos processos modificadores que podem ocorrer
Exemplos reais da geração de rochas composicio- durante a sua cristalização. A variedade composicional
nalmente variadas através da cristalização fracionada das rochas ígneas é conseqüência natural da variedade
de um mesmo magma antecessor podem ser encon- composicional dos magmas a partir dos quais se con-
trados nos complexos estratiformes nos quais, a partir solidaram. Há tipos de rochas ígneas mais comuns,
de magmas originalmente basálticos, são gerados pe- que ocorrem em volume significativo, como constitu-
ridotitos, ricos em olivina e piroxênios, pelo acúmulo intes fundamentais da crosta: granitos e basaltos são
destes minerais nas partes inferiores da câmara mag- os mais representativos. Outros tipos são mais raros,
mática, gabros, constituídos de plagioclásio cálcico e ocorrendo em sítios geológicos particulares e em vo-
piroxênios, pela cristalização do magma basáltico mais lume reduzido, às vezes como verdadeiras curiosidades
ou menos modificado, e anortositos, pelo acúmulo geológicas, como é o caso, por exemplo, dos
de plagioclásio. Exemplos brasileiros de complexos carbonatitos. Estas rochas são cristalizadas a partir de
deste tipo são, entre outros, os maciços máfico-ultra- magmas de composição carbonática (predominam
máficos de Niquelândia e Canabrava, em Goiás. minerais como a calcita e a dolomita), e não silicática,
A cristalização fracionada é apenas um dos meca- como a maioria das rochas ígneas. Sua importância
nismos que permitem a obtenção de magmas econômica está em poderem alojar importantes jazi-
composicionalmente modificados a partir de um das de fosfato, como as de Cajati, no Vale do Ribeira
magma original qualquer. Outros exemplos possíveis (SP) e de Tapira ~IG), além de outros bens minerais,
como em Araxá (NIG), onde se localiza a maior jazida Nas rochas ácidas, a alJundância em sílica resulta
de nióbio do mundo (Caps. 8 e 21). na cristalização de quartzc>, que representa o excessc)
de sílica, c)u sílica livre, não incc)rporacla ac) retículo
A cc)mposição química de uma determinacla ro-
dos demais minerais silicáticc)s. F~m rochas lJásicas, os
cha reflete-se nas espécies minerais cc)nstituintes e na
teores reduziclc)s ele sílica implicam aumento
proporção entre as distintas fases minerais. Cm dc)s
ccJncomitante no teor deis clemais cc)mpc)nentes quí-
parâmetros fundamentais para a caracterização
micc)s, nc)tadamente J\Ig, r;e e Ca, o que resulta na
composicional de rochas ígneas é o tec)r de sílica, já
abundância ele silicatos ricc)s nesses elementos ccimcJ
mencionadc) anteriormente. Segundo este parâmetrc>, '
olivina, piroxênic1s, anfi!Jc'ilios, e eventualmente bic>tita,
as rc)chas ígneas podem ser subdiviclidas em áciclas,
clenominadc)s, cc)letivamente, minerais máficc)S, ou
com tec)r de sílica superior a 66%, intermediárias, com
cafêmicc)s (de Ca-I~e-J\Ig), ciue apresentam caracteris-
teor de sílica entre 66 e 52%, básicas, cc)m tec)r de
ticamente cores esct1ras (Fig. 16.8 d). f'.m rochas ácidas
sílica entre 52 e 45% e ultrabásicas, quando C) teor de
e intermecliárias, preclominam amplamente os minerais
sílica é inferior a 45r1/r1. Granitos (Pig. 16.8 a e l1),
félsicc)S, de cores claras, e ccim altcis tec>res c-le Si, ;\l,
andesitos, basaltc)s (Fig. 16.8 c) e gabros (Fig. 16.8 cl) e
Na e 1(, representactc)s principalmente pelcJs feldspatc)s
peridotitos (Fig. 16.2) são, respectivamente, represen-
e feldspatóides, além dcJ próprio c1uartzc) (Fig.s 16.8 a
tantes típicos de cada categoria.
e b).
1 '.{' J:1!T
>------<

a) Granito: rocha intrusiva ácida maciça, fanerítica c) Basalto: rocha vulcãnica básica mac·1ça, afanítica. Bacia do

equigranular média. Capão Bonito, SP. Paraná.

b) Granito: rocha intrusiva ácida maciça, porfirítica, com ma- d) Gabro: rocha intrusiva básica maciça, fanerítica, com alto
triz fanerítica. Piedade, SP. teor de minerais máficos (piroxênio). Ilha de São Sebastião, SP.

Fig. 16.8 Quadro de amostras 1. Fotos: G. A. J. Szabó.


,
CAPÍTULO 16 • ROCHAS IGNEAS 337 :.
'
'

Outras relações compe)Slcle)na1s importantes sãe) 9U) e ultramelaneJcráticas (ou ultramáficas - M > 90).
aquelas que dizem respeito às proporções entre sílica De maneira simplificada, pode-se referir apenas a ro-
(Si() 2) e alumina (Al2 () 3), e ao conteúde) em álcalis chas leuceicráticas, se houver amplo prcdomínicJ de
(Na2 C) e l-C2()). Rochas muito ricas em álcalis apresen- minerai5 félsicos, ou rochas máficas, quando os mine-
tam composições mineralógicas peculiares, com rais n1áficos forem os mais abunclantes. Há uma
minerais máficos de Na e 1-C, e são clenominadas re)- ceJrrelacào 'genérica entre tec)r de sílica e índice de ce)r
.

chas alcalinas. Quande) o teor de Al2 () 3 é elevado, das rochas ígneas, come) ilustrade) na [<'ig. 16.9: rochas
cristalizando minerais ricos em Al, falamos ele rochas ácidas a intermediárias sãc>, em geral, leucocráticas (ou
peraluminosas. Em alguns casos, o tee)r de sílica ne> félsicas), enquanteJ re)chas básicas são mclanocráticas
magma em cristalização é insuficiente para garantir a (c)u máficas), e rc)chas ultrabásicas, na sua maioria, sãe)
incorporação de todos os álcalis e alumina clispc)nÍveis ultramelanocráticas (ou ultramáficas).
ae)s feldspatos e cristalizam, adicionalmente, minerais
dite)s "insaturacle)s em sílica", como c>s felclspatéiides.
16.2.3 Como interpretar o ambiente de
l~stes minerais sãei ince)mpatíveis cc)m teores mais clc-
consolidação de uma rocha ígnea
vacle)S ele sílica, CjLtancle) cntãc) cristalizam ne)rmalmcntc
e>s feldspate>s em seu lugar. Rc)chas que ce)ntêm A ccnnpc>siçãc> mineralé)gica das re)chas ígneas é o
fclclspaté>ides sãc) alcalinas, denc)1ninadas re)chas c1uesitci funclamental para a sua nc)menclatura e classi-
insaturadas cm sílica ou, abreviadamente, rochas ficaçãe> petreJgráfica, e relacic)na diretamente cada rocha
insatL1radas. ígnea ce>m a cc)mpc>siçãc> do magma a partir do qual
se ce>nsc>lidc>u. Para uma ne)menclatura e classificação
16.2.2 Como inferir a composição química a petre)gráfica ce)mpletas, pe>rém, é necessário acrescen-
partir da composição mineralógica tar in fe)rmações se)bre o ambiente e a histé)ria da
ce>nse>lidaçãei de cada re>cha. 1'~stas informaçe'íes po-
Um parâmetro muito útil na caractcrizaçãc> dem ser c)btidas a partir das texturas e estruturas
ccJmposicional expedita de rochas ígneas é o índice apresentadas pelas diversas rochas ígneas, que se dc-
de cor (M), que diz respeito à proporçãc) entre n1ine- scnvc>lvem cm rcspc)sta clireta ao ambiente nc) c1ual
rais máficos e félsicos, e é definido pele) númercJ puro um cletcrminaclc) magma finalmente se alc>ja e se cc)n-
correspondente ao perccntt1al ele minerais 1náficos na solida. Textura diz respeite) às características e relações
ce)nstituiçãe) ve)lumétrica de uma rc)cha ígnea qualquer. entre as fases minerais constituintes de uma determi-
Segunde) este parâmetre), as rochas ígneas pe)clem ser nada rc>cha: suas dimensões absc)lutas e relativas, seus
subdivididas em hole)leuceicráticas (lv[ < 1()), hábitc>s e formas, seus padrões de arranje>, e é defini-
leuce)cráticas (M entre 1O e 30), mcsc>cráticas (M entre da, tl(Jrtnalmcntc, cm escala de amostra ele mão e/ <Ju
30 e 6()), melanc>cráticas (eiu máficas - M entre 60 e em escala n1icreJsce'>pica. Estrutura cliz respeite> ac> ar-

':. '·:> ' "· ., ::· '


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'"" , , '"

····· bâcito
,

\!:'!! ; i;tfl'.iríltit!i! .. . . '" """ '"" ,

Textura (ou matriz) Rochas


fanerítica Granito Granodiorito Diorito Gabro Peridotito plutônicas
.,, .,, /Plagioclás'

--------
Quartzo
__ -- ...-
_. --;:, ?
/

_,,..,,,,., Plagioclásio
/
//
/
/ "(Ca >N
Minerais
félsicos

K-Feldspato ,,,,.,,,,,- (Na>Ca) ,,"


-✓
--
/
/ /

- -- --
Muscovita
-,,L----
Biotita

------------l 5------30---50-----90------
Rochas félsicas > < Máficas > < Ultramáficas >
,,
, , ,
,
,
,'
'"
,,--,",
', " ,_,',', '
',' '

' " ,, ,
•Si "" '"
Rochas ácidas >:<Intermediárias >j< Básicas
'
Fig. 16.9 As relações entre lndice de cor, teor de sílica, composição mineralógica e ambiente de cristalização para as
rochas ígneas mais comuns (excluindo as alcalinas).
~--~
i'.1 mm

a) Obsidiana (vidro vulcânico). b) Pegmatito de turmalina granito, textura fanerítica grosso o


muito grossa. Perus, SP.

c) Basalto vesicular/ amigdaloídal. Bacia do Paraná. d) Púmíce.

Fig. 16. l O Quadro de amostras li. Fotos: G. A. J. Szabó.

ranjo de porções distintas de uma rocha (por exem- consolidação é acelerada. Em muitos casos, esta con-
plo, se a rocha é bandada ou maciça) bem como suas solidação é tão rápida, que não há tempo suficiente
feições macroscópicas a mesoscópicas (observada em para o surgimento dos germes cristalinos, ou para o
escala de amostra de mão a escala de afloramento), desenvolv-imento adequad() de minerais a partir deles,
sem entrar no mérito das relações entre os constituin- e o produto final do processo de consolidação é um
tes fundamentais, os minerais. vidro \'Ulcânico, como a obsidiana (Fig. 16.1 O a). Em
outras situações, a consolidação pode se dar por cris-
Os contrastes texturais mais evidentes são os que
talização total ou parcial. Quando o resfriamento é
ocorrem entre rochas consolidadas em ambiente ,ru.1-
rápido, um grande número de germes de cristalização
cânico (à superfície da crosta, na forma de derrames,
é formado em um curto intervalo de tempo, sem que
ou muito próximo à superfície, em condutos vulcâni-
haja uma difusão adequada dos componentes em di-
cos) e rochas consolidadas no interior da crosta (a
reção aos sítios de cristalização. Formam-se assim
profundidades consideráveis, na forma de corpos
cristais diminutos e em grande quantidade. Já em ro-
intrusivos). No caso das rochas consolidadas em am-
chas consc)lidadas a grandes profundidades, há um
biente vulcânico, ou sub-vulcânico raso, a
contraste de temperatura menor entre o magm.a e as
profundidades não superiores a algumas dezenas ou
rochas encaixantes que, adicionalmente, constituem iso-
poucas centenas de metros, o magm.a - ou, no caso
lantes térmicos muito eficientes. Isto diminui a perda
de derrames, a lava - perde calor rapidamente, e sua
de calor do magma, fazendo com que sua consolida- Para as rochas faneríticas, fala-se ainda em rochas de
ção tenha duração longa. Derrames de lava espessos granulação fina, quando os constituintes, apesar de
consolidam-se em questão de alguns anos, decênios, perceptí,-eis, são diminutos, de dimensões sub-
ou séculos, quando muito; a consolidação de corpos milimétricas, e rochas de granulação média (Figs. 16.8
magmáticos intrusivos pode prolongar-se por alguns a e d), quando os constituintes têm dimensões da or-
milhares, ou até dezenas de milhares de anos. Por con- dem de até alguns milímetros. O termo granulação grossa
ta da cristalização lenta, a difusão dos componentes é empregado quando os constituintes possuem dimen-
em magmas alojados em profundidade é muito mais são entre 0,5 e 3,0 cm. A granulação muito grossa é
eficiente e, portanto, desenvolvem-se minerais de di- típica dos pegmatitos (Fig. 16.10 b), cc)m os minerais
- maiores.
mensoes .
individuais tendo tamanhos da ordem de vários centí-
metros, decímetros, ou até metros, em alguns casos.
O desenvolvimento das fases minerais pode ser afe-
rido através do grau de cristalinidade e do grau de O grau de cristalinidade e grau de visibilidade po-
visibilidade de uma rocha ígnea. O grau de cristalinidade dem ser correlacionados ao ambiente de consolidação
diz respeito à participação da fase vítrea como consti- de uma rocha ígnea (Fig. 16.11). Rochas portadoras
tuinte representativo de uma rocha vulcânica. Rochas de vidro vulcânico em qualquer proporção formam-
isentas de vidro, constituídas essencialmente de fases se à superfície, em ambiente vulcânico. Rochas
cristalinas, os minerais, são holocristalinas. Rochas cons- holocristalinas afaníticas indicam cristalização rápida
tituídas predominantemente de vidro vulcânico são à superfície, em derrames, ou próximo à superfície,
denominadas vítreas (Fig. 16.10 a).Já o grau de visibi- em dutos alimentadores dos mesmos, ou ainda em
lidade diz respeito ao tamanho absoluto dos corpos intrusivos rasos associados. Rochas faneríticas
constituintes minerais. Em rochas de granulação mui- finas sãc) geralmente também associadas a ambientes
to fina, os cristais são praticamente imperceptíveis a vulcânicos / sub-vulcânicos, como constituintes das
olho nu, ou mesmo à lupa manual; neste caso, diz-se partes centrais de derrames espessos ou de corpos
que a rocha apresenta textura afanítica (Fig. 16.8 c). ígneos intrusivos de dimensões reduzidas. Já rochas
Quando os constituintes minerais têm dimensões que faneríticas médias e grossas desenvolvem-se tipica-
permitem individualizá-los a olho nu, ou mesmo mente em corpos intrusivos profundos, de dimensões
identificá-los, a rocha passa a ter textura fanerítica. expressivas. No caso dos pegmatitos (Fig. 16.10 b),

Diques
Neck radiais
vulcânico Derrame
Derrame

Fig. 16.11 Diagrama esquemático mostrando as formas de ocorrência de rochas magmáticas (derrame,si//, dique, batólito, stock,
neck vulcânico, diques radiais e lacólito).
o crescimento exagcrac!c) clc)s minerais é dcvic!c) a escc>riáccas. Já os púmices representam um tipci parti-
fatcires adicionais, comei uma grande riqueza em flui- cular de rocha vulcânica ccJm altc> índice de vazios
dos e elementos de alta mcJbilidade, e não ao tempo produzidos pclr escape e-le gases, ccJm uma estrutura es-
e prc)fundidade de cristalização prc)priamcnte e-litos. ponjosa / celular, onde os septc>s entre os vazios são de
Podemos também reconstituir a histc'>ria da crista- material vítreo muitci delgaelo (Fig. 16.1 O d).
lização de uma rocha ígnea a partir das dimensões
relativas entre as suas fases minerais. Magmas que cris- 16.2.4 Dando nomes às rochas ígneas
talizam cm um t'.1nico episódio, diretamente nci seu síticJ
final de alojamento, tenelcm a prciduzir constituintes A nomenclatura de rcichas ígneas é definida, ccJmo
ccim dimensões da mesma cirdem de grandeza, sejam já mencionado, com base nas suas composições
eles muitcJ finos, finos, de granulação média ciu gros- mineralc'>gicas e nas suas texturas. ()s critérios de nci-
sa. Já magmas que iniciam sua cristalização cm um menclatura são paelronizados internacionalmente pela
determinadci ambiente, sc)frem novo transpc)rte, e ter- sistemática adotada pela IUGS (lnternational Union oj'
minam sua consolidação em um ambiente distintci dei c;eolog,ical ºS'ciences ~ União Internacional das c:iências
inicial. Em geral registram isto através da existência de GecilcJgicas). Esta sistemática é também ccinhccida
uma geração de cristais de elimensc)es supcricires às como Ncimcnclatura de Rochas Ígneas de
dimensões dos demais constituintes. Quanel<) todc)s Strcckeisen, cm hcJmcnagem ao geólcJgcJ suíço A.
eis constituintes têm dimensões de mesma orclem ele f .. Streckcisen, que prcipôs a adoção de critérios
grandeza, a textura é dita equigranular (f•igs. 16.8 a e mundialmente uniiicadcis de nomenclatura para as
d). Já quando há uma geração de cristais que sobressai rc>chas ígneas. Segundo esta sistemática, as rochas
na textura por apresentar dimensões supericircs às e-leis sãcJ subdividiclas em vulcânicas, quandcJ apresen-
demais constituintes pcir pelo menc)s uma c>rdcm de tam textura afanítica ou vítrea, e intrusivas, quando
grandeza, a textura é designada porfirítica (Fig. 16.8 a textura for fancrítica de quale1uer granulação. O
6) e os cristais de tamanhc) avantajado são elencimina- ncime da rcJcha é então definielo pela prclpcirção
dos fenocristais, enquantcJ os demais, de elimcnsc)es cibservada entre seus constituintes minerais majcJri-
infcricJres, constituem a matriz. Depenelendc) d<i am- tários, ou pela proporção entre constituintes
biente em e1ue a consc)lielaçãc) é cc>mpletacla, a matri✓, minerais inferida através de critéricis variados, quan-
de uma rocha ccJm textura porfirítica pode ser vítrea, c!cJ os minerais inelividuais não feirem visíveis.
afanítica, <>U fanerítica fina, média ou até grc)ssa. Rochas ultramáficas, ccJm mais ele 90% de mine-
As estruturas das rochas íhrneas tatnbém sãci impc)r- rais máficos (J\1>90), sãci ccinsideradas à parte, e
tante fcinte de infc>rmações scibre o seu ambie11tc e histc)ria constituem clciis grandes grupcls principais: cJs
de c<>nsolidaçãc>. Geralmente, a cstrl1tura ele rcJchas í1orneas pcridc)titcis, ricc)S cm c)livina acompanhac.la de prci-
, . pcirçõcs variáveis de piroxênicJs, e os pircixenitcis, nos
e maciça, uma vez que magmas tendem a se alojar e
ccinsolidar em regimes isentos ele tensões; exemplcJs desta e1uais prevalecem eis piroxênios, podendo conter um
estrutura são as amostras das J-<'igs. 16.8 a e d. Há, pcirém, pouccJ de olivina. JJeric!c)titos sãc) as rochas constituin-
estruturas inclicativas ele fluxci, tanto cm rochas vulcâni- tes dei mantei da Terra, e servem de fonte para a
cas como intrusivas: as lavas ccJrdadas (pahoehoe) sã<) um extraçãe> dos magmas basálticos; piroxenitos eJceJrrem
exemplo do primeiro caso (Cap. 17), enquanto a cirien- em cclrpcis máfico-ultramáficos estratiformes, fcJrma-
tação ele cristais tabulares de feldspatc) em sicnitc>s de)s pelo acúmulo de) piroxênio cristalizado na câmara
exemplifica o segundei. J-<:m rochas ,rulcânicas, há uma magmática. Rochas vulcânicas ultramáficas tiveram
série de estruturas assciciadas aos prcJcessos de extrusão, granelc impcirtância no passado, no Arqueano (Cap.
fluxo e scJliclificação das lavas. F'.struturas inelicativas de 23), quando a temperatura mais elevada do manto per-
escape de gases sãc> as vesículas (quandcJ vazias) e as mitia maiores taxas de fusão, gerando magmas ricos
amígdalas (quando preenchidas por minerais tardios, em ~lg que, alcançando a superfície da crosta primiti-
come> variedades cristalinas e criptcJ-cristalinas de sílica, \'a, consolidavam-se na fcJrma de derrames de
carbonatos, zcólitas, etc. - Fig. 16.1 O e). Derrames komatiitos, rcJchas peculiares de grande interesse para
basálticc)s, como eis da Bacia do Paraná, apresentam o estudei da e\rolL1ção dcJ manto e da crosta are1ueana,
freqüentemente t<ipcis vesiculares/ amigdalcJidais. RcJchas pcirtacloras eie texturas curicisas (I;ig. 16.12), dencimi-
ccim alto vcilumc de vesículas sãcJ elenc)minaeias
,
CAPÍTULO 16 • ROCHAS IGNEAS 341 ,,

nadas spiniféx pela semelhança que apresentam cc)m Rochas não ultramáficas (M <90) podem ser classifi-
. uma gramínea australiana hcimêinima. caclas pelas propc)rções que apresentam entre seus
constituintes félsicos: feldspatos alcalincis, plagioclásio,
quartzo e feldspatóides Oembrando que quartzo - sílica
cristalina livre - é incompatível com a presença ele
fcldspatcíic.-les). ;\ prcipcirçãcJ entre estes ccJnstituintes é
recalculada para 100°1<1, e o resultado lançado cm um dos
clciis diai-,rramas triangulares de referência (Diagrama QFAP
- Fig. 1(J.13). C) nome-raiz ela rocha é obtido a partir dos
ca1npcJs c-let111idcis nestes diagramas, e acrescido de infor-
n1açõcs adicionais julgadas relevantes. Por exemplo, uma
rcJc!1a ccJm textura fancrítica de granulação média, cc)nsti-
tuída predcJminantemente pelos minerais félsicos quartzo,
plai-,ric)c!ásio (ccJm teor do componente anortita cm torno
ele 2(Jl1/ci = ciligcJclásio) e feldspato alcalinc) (ortoclásio ou
microclínio) em proporções equivalentes será dcnomi-
nacla "granito". Se este granito tiver quantidades
representativas de biotita, e alguns e-los seus cristais de
Fig. 16.12 Komatiito com textura spinifex. Pium-hi, MG. fcle-lspatcJ ccJnstituírem fenocristais, co1n tamanho relati-
Foto: G. A. J. Szabó. V<J avantajadci quando ccJmparados aos clemais, que

Denonúnação dos campos:


Q
.90 M<90
1a Quartzolito
1b Granitóide rico em quartzo
Rochas 2 Álcali-feldspato granito
com
quartzo 3 Granito
4 Granodiorito
5 Tonalito
6 (Quartzo*) Álcali-feldspato sienito
7 (Quartzo*) Sienito
8 (Quartzo*) Monzonito
... . . ..

A p 9 (Quartzo*) Monzodiorito ou monzogabro


10 (Quartzo*) Diorito ou gabro
,
6' Alcali-feldspato sienito com feldspatóide
7' Sienito com feldspatóide
8' Monzonito com feldspatóide
9' l\1onzodiorito ou monzogabro com feldspatóide
Rochas 60
10' Diorito ou gabro com feldspatóide
com
11 Feldspatóide sienito
feldspatóldes .:. . .

12 Feldspatóide monzossienito ·
13 Feldspatóide monzodiorito
14 Feldspatóide diorito ou gabro
F 15 Foidolito
. :, -' . . ·. . : . . .

Fig. 16.13 Diagrama QFAP da Sistemática da IUGS (simplificado) para classificação de rochas ígneas com Índice de Cor (M)
·. · · < 90 com os principais nomes-raiz para rochas ígneas intrusivas. Q quartzo; F feldspatóide; A feldspato alcalino; P plogioclásb.
Obs: Quartzo* - usar o prefixo quando este mineral for superior a 5%; gabro difere de diorito por apresentar, em geral, M::50.
constituirão portanto a matriz (Fig. 16.8 b), a sua deno- não de feldspatóides (quando insaturados em sílica)
minação mais completa será biotita granito porfirítico, ou quartzo (quando supersaturados em sílica), além
acrescentando importantes informações mineralógicas e de eventuais minerais máficos portadores de Na e/ ou
. .
texturais ao nome-ra12. K. Devemos ter em mente, ainda, que este diagrama
Para rochas vulcânicas, a composição mineralógica representa uma abstração, e as relações entre os
é inferida a partir dos fenocristais, quando presentes parâmetros utilizados podem não ser tão diretas assim
(fenocristais de quartzo indicam elevado teor em sílica, em muitos casos (há exemplos de granitos mesocráticos
logo, a rocha seria o equivalente vulcânico do granito, e até melanocráticos, e de gabros leucocráticos, ainda
denominada riolito), ou pela cor da rocha (rochas es- que sejam rochas menos freqüentes). No entanto, ser-
curas são, em geral, máficas; rochas de coloração ve como boa aproximação para uma classificação
avermelhada / arroxeada a acinzentada ou mais clara preliminar, desde que utilizado com critério, dentro
serão mais félsicas). A classificação mais acurada de das suas limitações.
rochas vulcânicas é difícil quando em amostras de mão,
necessitando de estudos de microscopia ou análises 16.3 Rochas Intrusivas: Modos de
químicas. Macroscopicamente, rochas ígneas afaníticas
Ocorrência e Estruturas
podem ser chamadas de felsitos, quando apresenta-
rem cores claras, e de mafitos, ou rochas basálticas (no A seguir serão descritas as formas de ocorrência
sentido genérico), quando forem escuras. das rochas ígneas intrusivas com maior detalhe. As
Para rochas com textura fanerítica fina, rec()men- formas de ocorrência das rochas vulcânicas e suas es-
da-se usar o prefixo micro(microgranito, microgabro, truturas específicas serão consideradas no Cap. 17.
etc.). Tradicionalmente, previa-se uma nomenclatura Se o magma, gerado em profundidade, se conso-
distinta para rochas com essa textura, consolidadas ge- lidar no interior da crosta, teremos a formação de
ralmente em corpos menores, de colocação pouco rochas plutônicas ou intrusivas. Dependendo da pro-
profunda. Neste sentido, haveria um tipo de rocha fundidade na qual o magma se cristaliza, os corpos
intermediário entre o gabro, resultante da consolida- rochosos gerados podem ser classificados em: abissais,
ção de um magma básico em profundidade, e logo se a cristalização ocorrer em grandes profundidades
com textura fanerítica média a grossa, e o basalto, seu (mais de 2 km) e hipabissais, se cristalizarem em níveis
equivalente vulcânico, de textura afanítica. A rocha de crustais rasos.
textura fanerítica fina resultante da consolidação de um
magma básico em corpos intrusivos rasos denomina- Os corpos de rochas ígneas intrusivas podem tam-
se diabásio, que julgamos necessário mencionar por bém ser classificados em relação às suas formas (Fig.
tratar-se de um termo firmemente arraigado no linguajar 16.11 ), que podem ser alongadas, circulares, tabulares
dos geólogos. ou mesmo totalmente irregulares. De um modo ge-
ral, todos os corpos intrusivos são denominados
Uma classificação simplificada que pode ser utili- "plutons" e podem ser distinguidos de acordo com
zada de maneira expedita é aquela apresentada na Fig. seu tamanho e relação com as rochas encaixantes da
16.9, relacionando composição química, índice de cor crosta.
(M), textura e ambiente de cristalização de algumas
das rochas ígneas mais freqüentes na crosta. Neste di-
16.3.1 Corpos intrusivos menores
agrama, a proporção entre os principais constituintes
minerais permite optar entre os nomes granito, Os corpos intrusivos menores são representados
granodiorito, diorito, gabro e peridotito para rochas pelos diques e sills (ou soleiras), que têm formas ta-
intrusivas, e os respectivos equivalentes vulcânicos bulares, pelos !acólitos, em forma de cogumelo e
riolito, dacito, andesito, basalto e, caso particular, pelos necks vulcânicos. Diques e sills possuem a
komatiito. Não são apresentadas, neste diagrama, as mesma geometria e a diferença entre eles está no modo
rochas alcalinas, como sienitos e seus equivalentes vul- em que se dá a sua intrusão nas rochas encaixantes.
cânicos, os fonolitos. Estas rochas podem ser
identificadas pela sua riqueza em minerais de Na e I<: Os diques são formados quando o magma invade
sienitos e fonolitos, que são constituídos predominan- as rochas encaixantes através de fraturas ou falhas, e
temente por feldspatos alcalinos, acompanhados ou apresentam uma atitude vertical ou cortam as estrutu-
ras c)riginais dessas rochas, sendo portanto
'

são cc)nstituídos pc)r magmas básicos, que sãc) mais


fluide)s e conseguem perccilar pelas fraturas e falhas
da crcista com maior facilidade. Contudc), diques de
rcichas félsicas (graníticas) também ocorrem.

Os ji//s (soleiras) são corpos intrusivos tabulares


que se alojam com atitude horizontal a sub-hori-
zontal, paralelamente à estratificaçãe) quando as
rochas encaixantes forem sedimentares (Fig. 16.15),
pelo que são chamados de corpos concordantes.
Seu tamanho também é variável, porém, para um
mesmc) corpo, a espessura é relativamente ccinstan-
Fig. 16.14 Dique básico cortando gnaisse migmatítico. Foto: te. Este fato levciu os geólogos a sugerirem que os
B. B. de B. Neves.
si/Is sãei formados pe)r lavas bastante fluidas, o que
é geralmente observado, já que a grande maioria
clenominadc)s cc)rpos discordantes (Fig. 16.14). Os
dos ce)rpos é constituída de rochas básicas. A ocor-
diques podem ser enormes ce)mo, por exemplo, e)
rência de um si//, por ser um corpe) cc)ncordante,
"Grande Dique" na Rodésia que é representado por
exige que a camada de rocha sedimentar
um corpo de gabro com aprc)ximadamente 500 km
scibrejacente seja soerguida por igual a uma altura
de comprimento e 8 km de espessura. No entanto,
equivalente à espessura dei si//. f'.mbora isto pareça
eles também podem ter dimensões pequenas, de al-
muito difícil, o processe) de soerguimento da ca-
guns metros ou centímetros. C)s diques podem oce)rrer
mada de rocha requer menos energia do que aquela
isoladamente ou come) enxames. Seu tamanho clepen-
de de) volume de maf:,>111a dispc)nível e do tamanhe) da
fratura pela qual ele percola. Geralmente, e)s diques

Fig. 16.15 Si// de microgabro (diabásio - rocha escura) intrusivo em calcários paleozóicos (rochas claras). Represa Roosevelt,
Fênix, Arizona, E. U. A. Foto: W. R. Van Schmus.
geralmente G) bem formadas. Isto se dá devido à
perda rápida d.e calor da lava (originalmente a cer-
ca de 1.000º C) em níveis crustais rasos, fazendo
com que haja uma contração e formaçãcJ das colu-
nas poligonais .

As vezes, os si/Is podem se assemelhar muito a
corridas de lava soterradas, já que ambos são tabu-
lares e podem apresentar disjunção colunar.
Adicionalmente, pelo fato dos si/Is se colocarem em
níveis crustais rasos, próximo à superfície, sua
granulação é fina e pc)de ser facilmente confundida
. : . . .
ccJm a de derrames basálticos. J\ distinção entre eles

é muito importante quando da reconstituição da
Fig. 16.16 Disjunção colunar em basaltos da Bacia do Paraná. história geológica de uma regiãcJ. Uma feição pode
Torres, RS. Foto: R. Machado. auxiliar na identificação clestas estruturas: a parte
supericJr de uma corrida de lava, como já mencio-
necessária para levar o magma até a superfície. Con-
nado freqüentemente contém vesículas e/ ou amígdalas
seqüentemente, cJs si/Is se fcJrmam preferencialmente
formadas pelcJ escape de gases enquanto a parte infe-
em níveis rasos da crosta, próximos à superfície,
rior do derrame mostra sinais de metamorfismcJ de
onde a _pressão exercida pelo pescJ das rochas so-
ccJntato. Já no case) de um si/1, ambos os limites do
brepostas é relativamente pequena.
corpcJ, tanto CJ inferior quanto cJ superior, mostram
Um exemplo clássico de um corpo em fcJrma de si!! eviclências de metamorfismo e cJ hcJrizonte vesicular-
é o de Palisades nos Estados UnidcJs. FJe possui cerca amigc-laloidal não occJrre.
de 300 m de espessura e hoje, por causa dos prcJces-
Os !acólitos são corpos ígneos intrusivos, ccJm a
sos erosivos, ocorre como um "paredão" na margem
forma de um cogumelo, que podem representar uma
do rio Hudson. Devido à sua grande espessura e ao
variação dcJs si/Is, já que invadem conccJrdantemente
lento resfriamento do magma ele é um ótimo exemplo
camadas de rochas sedimentares em níveis rasos da
de cristalização fracionada. Este si!/ formou-se a partir
crosta. PcJrém, diferentemente dos si/Is, o lacólitcJ ar-
de um magma rico em componentes dos minerais
queia as camadas de rocha supra jacentes (Fig. 16.11)
olivina, piroxênio e plagioclásio. Como olivina forma-
para obter espaço para seu alojamento. Outra dife-
se primeiro durante o processo de cristalizaçãcJ (série
rença é na compcJsição, uma vez que os lacólitcJs sãcJ
de Bowen, Fig. 16.7) e é o mais denso des-
tes minerais, sofreu precipitação perfazendo
cerca de 25% dos minerais presentes na parte
basal do si!!. Próximo ao topo do corpo, a
olivina perfaz apenas 1% da rocha, enquan-
to o mineral mais leve, o plagioclásio,
constitui cerca de 60- 70% da mesma. O
exemplo deste si!! diferenciado é importan-
te para os geólogos porque confirma os
experimentos de laboratório sobre a crista-
lização fracionada à qual alguns magmas são
submetidos.
O resfriamento de corpos ígneos tabu-
lares, como si/Is e diques, e mesmo derrames
de lavas, pode causar um padrão distinto
de fraturamento nas rochas que os constitu-
em, conhecido como disjunção colunar Fig. 16.17 Neck vulcânico no Wyoming conhecido como Torre do Diabo.
(Fig. 16.16). Este padrão de fraturamento Foto: Dave G. Hauser/Stock Photos.
gera prismas colunares com faces (4 a 8,
geralmente formados por magmas mais viscosos. rante a sua colocação na região em que irá se consoli-
Constituem, em geral, corpos pequenos se compara- dar.
dos aos batólitos e sua largura é inferior a poucos
Estes plutons, em sua grande maioria, são constitu-
quilômetros.
ídos por rochas graníticas de textura média a grossa,
i'\íecks vulcânicos são corpos intrusivos discordan- já que resfriam lentamente, dando tempo para os mi-
tes formados pela consolidação do magma dentro de nerais crescerem. Os batólitos podem atingir até 20
chaminés ,rulcânicas, C)S condL1tc)S por onde o magma ou 30 km de diâmetro e são corpos com história
sobe e chega à superfície através dos -vulcões. i\pós a geológica con1plexa, formados em raízes de cadeias
erosão do cone vulcânico, principalmente daquele cons- de montanhas. Eles podem consistir de vários corpos
tituído por material piroclástico mais facilmente menores que podem ter idades e composições quími-
erodível, sobressai na topograf1a a antiga chaminé, o cas diferentes, representando pulsos magmáticos
neck VLtlcânico (Fig. 16.17), que serviu de alimentador sucessivos a partir de uma mesma fonte. A colocação
de magma para o ,ru!cão. A partir da parte central da destes pulsos de magma na crosta ocorre através de
chaminé o magma pode percolar lateralmente preen- mecanismos complexos, tal como já discutido, de ma-
chendo fraturas e gerando diques radiais (Fig. 16 .11). neira breve.
Outra feição comum relacionada aos grandes cor-
16.3.2 Corpos intrusivos maiores ,.. - . ,,.
pos gran1t1cos sao os vetos pegmat1t1cos que,
geralmente, ocorrem nas bordas dos batólitos. For-
Os batólitos são os corpos ígneos plutônicos de
mam, igualmente aos batólitos, estruturas discordantes,
maior dimensão e possuem uma forma irregular (Fig.
já que cortam as rochas encaixantes. A fcirmação dos
16.11). Como eles se cristalizam em profundidade,
pegmatitos se dá na fase final de resfriamento do
somente graças à erosão é que hoje podem ser obser-
magma, através da percolação de soluções ricas em
vados à superfície. Seu tamanho pode variar bastante.
sílica, água e, ocasionalmente, em alguns íons que não
Convencionalmente, costuma-se chamar de baté)litos
entraram na estrutura cristalina dos minerais até então
os corpos que apresentam, em superfície, uma área
formados. Estas S()luções são chamadas hidrotermais,
superior a 100 km2; quando a área for menor, os cor-
e a partir delas são geradas os pegmatitos, constituí-
pos são denominados stocks. Os stocks podem ser
dos, principalmente, por quartzo e feldspato potássico
parte de batólitos parcialmente erodidos, que com um
(I1ig. 16.10 b). No entanto, em alguns casos, estas solu-
processo mais intenso de erosão podem passar a ser
ções hidrotermais podem estar enriquecidas por
totalmente expostos. Ambos, batólitoli e stocks, são cor-
elementos químicos de interesse econô1nico fazendo
pos intrusivos discordantes, que cortam as estruturas
com que os pegmatitos sejam mineralizados a
das rochas encaixantes. Uma feição bastante comum
tungstênio, uraninita, estanho, turmalina, topázio, etc.,
nas regiões marginais destes corpos é a presença de
como é comum encontrar em l\1inas Gerais.
xenólitos (Fig. 16.18), que são fragmentos da rocha
encaixante arrancados e englobados pelo magma du-
16.4 Magmatismo e
Tectônica de Placas
i\ grande variedade de rochas ígneas está intima-
mente associada ao seu ambiente de formação e este
depende dos processos tectônicos envolvidos na his-
tória do Planeta. Como foi visto no Cap. 6 (Tectônica
Global), nos diferentes limites de placas atuam pro-
cessos tectônicos distintos, cada qual gerando um
magmatismo característico. Existem dois tipos funda-
mentais de limites de placas que estão intimamente
associados com a formação de magma: os limites di-
vergentes e convergentes (Fig. 16.4).
Fig. 16.18 Xenólitos de anfibolito bandado / dobrado em
rocha granítica (tonalito). Eou Claire, Wisconsin, E. U. A. Foto: Os limites divergentes, como já vimos, são marca-
W. R. Van Schmus. dos por movimentos de extensão da crosta, com
ruptura da placa litosférica em função do m<iviment<J crostas continentais. Neste caso, predominam os prcJ-
em sentido opost<) das placas e ascensã<) ele plumas cessos de metamorfismo e a intensa deformação das
mantélicas superaquecidas. Esta ruptura é tão pr<ifun- massas cc>ntincntais envolvidas na colisão.
da que o magma basáltico gerado pela fusã<J parcial
()utro tipo de magmatismo basáltico, similar ao
de materiais rochcis<Js da astencisfera (os peridotit<)S
pre>duzido nas cadeias meso-occânicas, é encontrado
do mant<J) ascenele através ele sucessivos derrames. ()
cm alguns continentes ou mcsm<J cm ilhas isoladas
process<J de abertura da crosta e subida ele magma
(HavaD, no interior das placas litosféricas, distantes de
dura milhões de aneis, originando um assoalho oceânicei
seus limites. Nestes lc>cais ocorrem ve>lumosos derra-
como aquele que existe entre os ceintinentes sul-america-
mes de lavas que ascendem de grandes profundezas.
nc> e africano e que ainela hcije continua a ser formaelci
Alguns pesquisadores sugerem que estas lavas pos-
com uma taxa de crescimento de 2 a 3 cm/ an<>.
sam ser oriundas do mant<J inferior, talvez do limite
C)s limites C<Jnvergentes (Cap. 6) são resultantes da manto-núcleo terrestre. As lavas basálticas chegam à
ccilisão entre placas litcJsféricas e p<)dem ser ele três superfície através de conelut<)S vulcânicos cc>m a for-
. . . .
tipos: continente-oceano, ceintlnente-c<)ntlnente e oce- ma de lápis, também conhccidc>s como plumas
an<>-oceano. Quandci ocorre <J ch<)que entre placa mantélicas. A <>rigcm elcste magma está vinculada a
continental e oceânica, a exemple> do que occirre na pontc>s quentes (hot spots) no intcricJr do manto. Estes
Cacleia Andina, a placa <iceânica (mais densa) mergu- pont<>s sãcJ fixos, enquanto as placas litosféricas se
lha sob a placa continental (menos densa) nt1m me>vcm; com<> conseqüência, ocorre a formação de
processo conhecido c<imo subducçã<J. Neste limite, ilhas alinhadas, c<>m idaeles sucessivamente mais jo-
os magmas sã<) gerados pela mistura ele material <Jri- vens, e que gradativamente ganham estabilidade à
ginadei da fusã<> da crosta <>ceânica (basáltica) medida que se distanciam do hot spot estacionário, a
C<)nsumida juntamente com sedimenteJs marinhcJs acu- exemple> do que está acontecendo no interior da Pla-
mulados na zona de trincheira e da interação c<Jm as ca Pacífica, no Arquipélago elo Havaí.
raízes ela cr<ista continental (félsica). Esta mistura ele
componentes origina magmas de comp<lsições varia-
das. As r<Jchas ígneas pr<)duzidas nas Z<)nas de
subducção são mais félsicas (ácidas) qt1e aquelas gera- Leituras recomendadas
das nas cadeias meso-<>ceânicas (predc>minantemente
basálticas), sendo comum o vulcanismo andesíticci (in- BEST, M. G. Igneous and Metamorphic Petrology. Ncw
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leucogranitos f<>rmaelos a partir da fusão da lJase das
ndes Equatorianos, outubro de 1999: após 70 câmara
magmática
anos de repouso, o vulcão Tungurahua entra
em erupção, forçando 25.000 pessoas a deixarem suas
casas. Repete-se, uma vez mais, a saga da humanidade
perante as forças do interior terrestre ao mesmo tem-
po que desfruta da beleza das paisagens dos vulcões
quando dormentes, sofre seus terríveis efeitos
destrutivos quando estão em atividade. A vulcanologia,
uma especialidade criada na década de 1980, dedica-se
ao estudo do vulcanismo - termo cujas raízes remon-
a ,
tam à mitologia greco-romana, quando Vulcano era o scendente '' '

deus do fogo. Desde então, a vulcanologia teve enor- Fig. 17. l O sistema de bombeamento de um vulcão.
me progresso, passando a ser uma ciência
interdisciplinar e quantitativa, de grande importância
para a redução de riscos para populações situadas em
regiões vulcânicas. ativo do nosso Sistema Solar. Suas abundantes erup-
ções expelem lavas com altíssimas temperaturas, muito
Quando nos deparamos com uma erupção vulcâ-
superiores às das lavas terrestres atuais.Além disso, ja-
nica, testemunhamos, na verdade, a liberação
tos violentos de en:vofre e outros gases alcançam mais
espetacular do calor interno terrestre acumulado atra-
de 300 km de altura em lo, fenômeno tão gigantesco
vés dos tempos, principalmente pelo decaimento de
que pode ser visto a partir da órbita da Terra, a mais
elementos radioativos. Este fluxo de calor, por sua
de 600 milhões de quilômetros de distância.
vez, é o componente essencial na dinâmica de criação
e destruição da crosta, na qual os vulcões, juntamente Os vulcões (Fig.1 7.1), são considerados fontes de
com os terremotos, têm papel essencial, desde os observação científica das entranhas da Terra, uma vez
primórdios da evolução geológica. Atividades vulcâ- que as lavas, os gases e as cinzas fornecem novos
nicas foram também importantes na Lua, Marte e conhecimentos de como os minerais são formados e
Vênus, onde modelaram paulatinamente suas superfí- onde recursos geotermais de interesse para a humani-
cies em diferentes épocas geológicas. O monte Olimpo, dade podem se localizar. A importância do vulcanismo
em Marte, é a maior estrutura vulcânica conhecida do transcende a notória influência que exerce no nosso
Sistema Solar, com seu cone de 26 km de altura em ecossistema, em que 25% do O 2' H 2' C ' Cl e N 2 ho1·e
cujo cume existe uma depressão com 65 km de diâ- presentes na biosfera têm esta origem. Sabemos, por
metro. Todavia, os exemplos mais impressionantes exemplo, que milhares de vulcões ativos há mais de 4
ocorrem no satélite mais interno de Júpiter lo, o mais bilhões de anos, liberaram enormes volumes de água,

Tabela 17.1 Principais erupções explosivas e sua freqüência temporal

pequena
, , , ,
' '

moderada 106-}07 m:i


-: , , __ , , ; , ' ,
15/ ano
, , , "O,' , ',, "
, , , , , ,

.•,oa m3
, , , ,

moderada a grande 1(J' ' 2 - 3/ ano

enorme 1/ 1O anos
, , , O',

gigantesca ·····10 • 100


,: , , 'oi : _, , -,:-- -,: " , ,,,-,i, :, , ,(-"',""
1/40anos
, , , , , ',' , , "" , , ',',

colossal 1--o·o • 1.0··•·0••O• •k=~


_______ nr · l/ 200 anos

incomensurável 1/ 50.000 anos

1 '/isto noturna da erupção do vulcão Etna, Itália. Foto: P. Abori


CAPÍTULO 17 • VULCANISMO 349 ,

gás carbônico e outros elementc>s


químicc>s, formando os primeirc>s
oceanos e nc>ssa atmc)sfera primiti-
va - originalmente uma mistura
tóxica de hidrogênio, metano, ame'>-
. ,
n1a e agua - qt1e perm1t1r1a a
produçãc), mais tarde, das substân-
c1 as essenc1a1s para e)

clesenvolvimentc) l1C)S prin1eirc)S c)r-


ganismos eia Terra.

()s episódios vulcânicos ocor-


rem desde o inícic> da evc)ltição da
Terra (4,5 bilhc"'íes de an<)S). J=>clrtan-
tc) numa escala clistinta de
clesenvolvimentc) da htimaniclade
(séculos). Assim, a aparente quie-
tude de um ,,ulcão para nós
Fig. 17.2 Paisagem vulcânica. Derrames da Formação Serra Geral, bacia do Paraná,
decorre simplesn1ente de> fato de
Brasil. Foto M. Ernesto.
nãc) ter havido nenhum relato his-
tórico ele sua erupção. Nada impecie que um vulcão assoalhc>s oceânicos. As lavas, por outro lado, repre-
considerado "extinto" nc)S últimc)s 5.000 anc)s (data sentam amc)stragens reais dos materiais das profundezas
dos primeirc>s registros históriccis), situado porém numa da 1'erra, muitc) embora parte dos elementos voláteis
regiãc) cc)m vulcanismo latente, pclssa entrar em ativi- clci n1agma original seja perdida durante o processo de
dade no futurc>, tendo em vista a ciclicidade ela solidifi.caçãc). Nicsmo assim, as lavas podem fornecer
evc)lução gec)lógica terrestre. infc>rmações úteis sobre a composição química e o es-
tadc) físico do 111aterial constituinte do manto superior.
A magnitude dos eventc)s vulcânicc)s, pc>r outro
lac1c), é altamente variável, come) podemos c)bservar Neste capíttilc), conheceremos o processo que
nc)s exen1plos selecionados da Tabela 17 .1. leva cJ magma à superfície, originando a lava e ou-
As rc)chas vulcânicas c)riginam-se da ccinsc)Jidaçãcl tros prcidutos asscJciados à erupção. J"evando em
das lavas, cc)nstituindo pclrções significativas da crosta cc>nta as características dcJ magma que condicionam
terrestre (Iiigs 17.2, 17.3), represcntaclas pcir mcinta- tcJdcJ c) processo eruptivo, apresentaremos ainda uma
nhas e enc)rmes depé)sitos rc)chosos nc)s ccintincntes e classificação da mc)rfologia e dc)s estilos eruptivos
dos vulcões. Finalmente, aborda-
rem os os risccls vulcânicos,
contrapondo-els com os efeitos
das erupções nc) meio ambiente.
Por vezes, estes efeitos são be-
nét1cos à ht1manidade, já que os
,-ulcões são fcJntes térmicas po-
tencialmente favoráveis ao
. ,
ecossistema e portanto, a manu-
tenção da própria vida.

Fig. 17.3 Paisagem de vulcões. Ilha


Bartholomé; arquipélago Colón
(Galápagos), Equador. Foto: R. Trouw
350 D ECI FRA N D O A TERRA

17 .1 Conhecendo os Produtos a) Lavas basálticas


,
Vulcânicos E o tip<) de lava mais comum n<JS derrames, ca-
racterizando-se pela cor preta e temperaturas de
Os produtos gerados numa erupção vulcânica po-
erupção entre 1.000 e 1.200ºC, temperaturas estas se-
dem ser sólidc)s, líquidos ou gasosos, confc)rme
melhantes às do manto superior. As propriedades
sintetizado na Tabela 17.2 e Figs. 17.4 a 17.10.
químicas e físicas das lavas basálticas, tais c<)mo a bai-
xa viscosidade devida ao menor C()nteúdo em sílica
17.1.1 Lavas (SiC) 2), menor retenção d<)S gases diss<)lvidos e alta tem-
peratura permitem que o fluxo seja menos espesso e
Representam o material rochoso em estado de fu-
atinja áreas distantes em relação à erupção. Fluxos com
são que extravasa à superfície, contempc)raneamente
até 100 km/h já foram observadc)s, mas as velocida-
ao escape dos componentes voláteis do magma. Du-
cles C<)muns sãc) da <)rdem de alguns km/h. Derrames
rante o processo, pode haver adição ou perda de
enormes oc<Jrrem em diversos continentes e ilhas vul-
compostos químicos. Os vári<)S tipos de lavas sã<) C()r-
cânicas, alguns deles c)riginad<)S durante eventos
responden tes extrusivos de magmas félsicos ou
geológic<)S gigantescos, a exempl<) elos derrames do
máficos, conforme já visto no capítulo anteri<)r.
Deccan (Índia) e da Bacia do Paraná (América do Sul).
Descreveremos a seguir as principais caracte- As lavas basálticas exibem variações na sua morfologia
rísticas dos diferentes tipos de lavas: e fluidez no decorrer do processo de consolidação,
recebendo diferentes den<)minações, a saber:

Tabela 17.2 Características dos produtos vulcânicos

Derrame
de lava
Rocha
vulcânico
•r.ii!t~;:ª~lu;;~do •conf~ndo.t~i~faiisi~ii':i

Poeira/cinza fina Partículas menores que 0,062mm


. i:Cil'ita grQss~ .... Tufo grosso ·... Rortfculos eritre.2'é~,~62 mm? .• ••x••• :;; •
La pi/li Partículas entre 64 e 2 mm
:t~nub(ls : .·· Aglomerado >·Frêigmeniôs plóstrcÔs•> 64'~vn.•·
Blocos Fragmentos rígidos > 64mm

lgnimbrito · ·•·• Emulsões gasosas,,superoquecid~s'~~


ico
fragmentos de
... entre Lapilli e
púmiêê ou e~cdfi~•······ .. ·
Bombas),G:ri~t~ís d~ ·· ·
,, , '

Fluxo .··•····•:;;:~s~l~+e~i:~1~ize(:~o,.•.····
piroclóstico Escórias Fragmentos vesiculares restritos às
proximidades dos condutos vulcânicos
Brecha de . . ·. be~~~ltoslde grarde~;•~l~~~~,d~.;
blocos e cinzas suste!'ltodos,por crcnzqs,. ptó>i.1 •
>C::,,Y:·<-',,i \/; !:-':'!;';];'.'':" -_-,
,, , , ',,,, -: _,,,",,ii;::;:'.:OC-'<""", , · condutos d; \f;ufçõesf . ·• •· ·· ··•·· .
Lahor Fluxo viscoso de lama com fragmentos
inconsolidodos de variados dimensões,
. originados do retrobolhomento de depósitos
de encostos vulcânicas por chuvas, degelo
e/ou tremores de terra .
. Semêlhantês aos flux.ôs de lôrn1;1.,.p •••
11

. matriz mais grossa<(rnenõrj~r


, " , , ,

'", '" '",

Emanações gasosos e fluidos contendo


minerais dissolvidos

/
Fig.17.4 Derrames de lava, vendo-se ao fundo o Monte Fig.17.7 Resto de brecha vulcânica. Ilha Fernando de
Etna; Sicília, Itália. Foto: R. Trouw. Noronha, NE do Brasil. Foto: C. M. Noce.

Fig.17.5 Depósito por lahar. Notar o abundância e tamanho Fig.17.8 Camadas de tufos e brechas piroclásticas intercala-
dos fragmentos sólidos carregados pela torrente de lama. An- das. No canto inferior esquerdo da foto observa-se deformação
tártica. Foto: J. B. Sígolo por acomodamento, causada por bloco lançado bolistican1ente.
Maciço alcalino de ltaúno, Rio de Janeiro. Foto: A. Ferrari.

Fig. 17.6 Depósito piroclástico com deformação por bomba. Ilho Shetlond do Sul, Fig.17.9 Tufo vulcânico. Foto: C. M.
Antártica. Foto: R. Andreis. Noce
Fig. 17. l O Fuma rolas. Campo de gêiseres EI Tatio, Chile. Foto: C. M. Noce.

· Lavas almofadadas p(>r cc)ndut(JS tt1bulares afunilad()S CC)lTI cerca de 20 a


30 m de altura e 1 km de largura. Isto sugere que este
São acumulaçc"íes subaquáticas qt1e possuem a for- tipo ele lava é um dos constituintes importantes da
ma de almofadas (tradução literal do termo em inglês crc>sta c>ceânica em fc)rmação. 1\s lavas almofadadas
pillow) (Fig. 17.1 le 17.12), com diâmetrC) de até 1 metr(). pocle1n c)ccirrer tanto em águas rasas como profundas
Sua ocorrência resulta do comportamento plástico cio e, apesar de freqüentes em basaltos subaquáticos, sãc>
magma basáltico que, em contato com a água fria, res- também observadas em lavas C(>m maior conteúdo em
fria instantaneamente. Com isso, cria-se uma película SiC) 2 •
exterior vítrea, enquanto o interior de) material t()cho-
so submetido a resfriamento mais lente> adquire uma
granulometria cristalina mais grosseira. 1\ profundida-
de do derrame é também um parâmetro importante no
processo, pois a pressão da água deve ser suficiente-
mente alta, de modo a impedir que os gases dissolvidos
no magma fervam ou se expandam.

As lavas almofadadas se acumulam devido à flui-


dez da lava e à pressão interna dos gases, que leva ao
rompimento da película rochosa recém-consolidada
pela expulsão continua do magma. Nas profundezas
da cadeia Mesa-Atlântica e também no assoalho oceâ-
nico do Pacífico Leste, a cerca de 2. 700 m. de Fig. 17.11 Lavas almofadadas preservadas de vulcanismo pré-
profundidade, submergíveis confirmaram a occ>rrência cambriano (> 2,7 bilhões de anos) na região de Abitibi,
dessas acumulações de lava almofadada, interligadas Canadá. Foto: C. M. Noce.
c,c:ipc d,,, 2:.1,c, diss<>lvi<lc>s 11(1 111arrn:1 clurar1te a ccJn-
. '!

,11licl:1c.1,, Citu,a rápidc> au111cntci 11a \ 1sc1Jsicladc dei


n1aterL1: ,11.11, ,u11crficial. () fluxl> clcssc tip<i ele la,'a é
n:1tur.1'n~cr,t~ n1iis lcnt<l que <l da L,\'a ;,r1hoehoe. [)esse
n,, ,d1,. e pr, 'Liu11,!a unia caria rna1s grlJssa, que 11c,dc
atin[!Jr c"('c,,ur.1, de .1 a 4 n1. ;\ lav,1 a11 se c1uclJra cn1
1, :
11 ]( ic< rrcc.::•: .in..-, ria 111cd 1cla cn 1eIr 1c , : 11 ux, l r11agr11á ti C<J
inrern,, c,,:,t:nu.1 1·iµ. 1-.l:'i). Ntis cxc11111lt)S drl tLrvaí,
a, fcic,·,c, de· 1.1· .\ .,~,1hoehoe sà1J <11,ccrvadas flCrt(> <1<l
l(lc,11 (1.1 ,r:_)))C.11). r()J' C<)llta das alt.is lCl1lf)Cratura,; rei-
r1,\!1Íl''· 1., .l, t-,ÍC(-)('S l/11 S(H11C!lLC se f<Jrt11an1 ,l 11n1a
,
;1,,1Íl>t ,l1,:.'ir1cia ll,, \ ulc:'ill, '11_)()S Ull)a CXt)()S!Ça() su--
-
Fig. 17.12 Lavas almofadadas de idade pré-con1briano (600
pértici 1; 111,us dcn1(,r,1da ,la lava.
milhões de anos) na região de Piropora do Bom Jesus, São
Paulo. Notar os bordos das almofadas marcados pela co: ele
alteração marrom avermelhado. Foto: M. V Coutinho.

· Lavas pahoehoe e aa

São termos oriund<>S de ciescriec~1e:;


·'
na ill1a vulcáni
ca do 1-lavaí, relacionad<JS aci tluxcl e a11arência
superficial de resfriament<J elas lavas lJasáh1cas, 1\ L1va
pahoehoe (<>u lava "ern C<>rcla") é :1 111:1is C(JJ11urr1 ll(l''·
vulcões d<1 Havaí. J\ lava l;asáltica cn1 c<1ntal(l C(H-,, 1,
ar resfria-se, forn1a11dc> u111a crfJSt:1 f1t1:1. cn,.n1:111i(1 ,,
f1ux<1 magmátic<1 c<>nti11ua alJalxcJ dt~lil, J,:; í, flu,:()
subsuperficial, que lerr1bra a \'Ísccisicladc Lh> 1·-1,·i, !..''-'!'?
feições retorcidas na película rcJchc>sa e11.1 r,r(l( c<,s11 ele
solidificação (f'ig. 17.13). 1\lgu111as vc,es <J t7ux1; cL,
,, ,Jc trincas :1: ;:p
lava se dá mtiito rapicla111ente acJ I,jni,<>
xo da crc>sta já ccJns<>liclada. J~vcntu:1i: 0 l'c flu·:r,,, l1,
magma levam à clrenage111 desses túnc,,,, cr1arH ic > , , , ·
canal subterrâne<J - <> tu!Jc> ele lava. () di:in·:c1n 1, 1,·::::c•
túneis é variável (1a10111etrc>s), r,c:d('llll(J :1ri-1;;u -. -r
os quilômetrc1s em exter1sãcJ (T•'ig. ] '7,: ,J')

Fig. 17.13 Lava pahoehoe. Baía Sullivor·, :lho dt, Sur:',c•,c -, , , :_ ;:.I" :,r'-11' __ ~-

Arquipélago Colón (Golópagos), Equodor Foto: R. Trc,;v:


b) Lavas riolíticas e andesíticas sua formação em estadci plástico ou pastoso. Podem
ter o tamanho de uma bola de tênis. Em função da
f~stas lavas possuem composição mais diferencia-
intensidade dos ventos e do caráter muito fluido da
da (félsica). O maior conteúdo em Si02 (veja capítulo
lava, os lapilli podem ser alongados a até fiapos, à
anterior), bem como a sua mineralogia mais c(imple-
. ~ . . maneira de fios de cabelo (cabelos de Pelée), em referên-
xa e maior retençao em gases tornam-nas mais viscosas
cia a JJe/ée, deusa dos vulcões do Havaí. As bombas
que as lavas basálticas. Apresentam temperaturas entre
representam os fragment(is vulcânicos (em estado plás-
800 e 1.000ºC e a rocha vulcânica formada possui cor
tico) com aparência ret(Jrcida, resultantes da
clara a avermelhada. A baixa fluidez das lavas ricilíticas
consolidação durante a sua trajetória no ar (Fig. 17.5).
leva geralmente a um acúmulo rochoso que pode al-
Existem registros de bombas com dezenas de m 3
cançar dezenas ou até centenas de metros de espessura,
lançadas a mais de 10 km do vulcã(J. Eventualmente, a
tornando comuns as explosões. As lavas de composi-
superfície externa das bombas apresenta-se com ra-
ção andesítica possuem conteúdo de sílica
chaduras, em função da expansão deis gases internos
intermediário entre os basaltos e ri(ilitos.
da lava, formando uma textura superficial den(Jmina-
Vários episódios vulcânicos de compcJsiçã(i da "crosta de pão". Já os b(ocos sã() C()nstituídos por
andesítica a riolítica acompanharam a construção da fragmentos angulosos de lava consolidada ou da ro-
crosta terrestre. Muitas dessas ocorrências estã(i pre- cha encaixante do cone.luto, lançados à atmosfera.
servadas na América do Sul. Um dos episódios mais
expressivos atingiu a Amazônia há cerca de 1,7 - 1,8 17.1.3 Depósitos piroclásticos
bilhões de anos atrás, tendo recobertci uma área supe-
rior a 500.000 km2 • O termo piroclástico deriva d(i grego pyros (fogo)
e klastos (quebrado). Os materiais piroclásticos são
17.1.2 Fragmentos vulcânicos constituídos por materiais solteis (iu misturas de cinzas
vulcânicas, bombas, bl(icos e gases, produzidc)s duran-
Correspondem aos vulcanoclastos e pir(iclastos. te erupçc"íes violentas ele gases (Fig. 17.16).Tais produtos
Os primeiros englobam os fragmentos vulcâniccJs fcir- podem ser classificados em: a) juvenil (fragmentos so-
mados pela erosão. Já o termo piroclasto refere-se a(is liclificado s do próprio magma); b) não juvenil
materiais lançados na atmosfera pcir erupções explosi- (fragmentos originados da parede da cratera, do con-
vas. Esses prcidutos recebem o nc)me de tefra. () dute) magmático ou quebra de rochas pré-existentes);
material particulado mais fino é constituído por cinzas c) fra6>rr1entos de origem diversa assciciados a partícu-
e pcleira, podendo formar espesS()S pacotes, em geral las ()U gotas de lava.
nas proximidades d(J vulcão. Todavia, a ação d(is ven-
As brechas vulcânicas representam os produtos
tos pode transportar as partículas a enormes distâncias.
pir()clásticos de granulação mais grossa, sendo consti-
O lapillito (ver Tabela 1 7 .1) é geralmente formado
tuídas por fragmentos angulosos de material
pela colagem de cinzas (lapilli acrescionário). São gotas
pré-existente ou d(i próprici clerrame, cimentados numa
de lava maiores que a cinza, cuja morfologia indica
matriz também grosseira (Figs. 17.17 e 17.18). Os de-
pósitos de queda piroclástica recebem o nome de tufos
vulcânicos. São constituídos por fragmentos men(!res
numa matriz de granulação fina (Fig. 17.8).
Esses depósitos podem atingir grandes espessuras.
Por exemplo, nas imediações de Santiago do Chile, os
depósitos piroclásticos da última erupção do vulcão
~faipo, ocorrida há 400.000 anos, possuem espessuras
de até 8 m. Esta constatação retrata o risco potencial
de uma área hoje clensamente povoada, muito próxima
a esse vulcão, além de vários outros neste setor da
Cordilheira Andina (Fig. 17 .19). Por outro lado, esse
material, devido à sua elevada dureza, tem sido utiliza-
Fig. 17.16 Detalhe da heterogeneidade dos materiais
do pela indústria local co1110 abrasivo.
piroclásticos. Foto: R. Trouw.
Fig. 17 .18 Rochas piroclásticas da Formação Baquero, Cretáceo Inferior,
Província de Santa Cruz, Argentina. Foto: R. Andreis.

bilidade observada em fluxos piroclásticos recentes,


apc>ntam para <) caráter catastrófico e relativamente fre-
fig. 17.17 Brechas vulcânicas da série andesítica,
qüente desses eventos na história d() planeta. Em vários
Terciário Inferior. Vila Traful, Argentina. Foto: C.
eventos desse tipo observ()u-sc que quanto maÍ()r o
Cingolani,
volume de água que se tnistura ao magma, maÍ<)r é a
violência da explcJsão.

()s depósitos de t1uxo pir<)clástico são mistt1ras de Já nuvens ardentes (tzttée ardente) representam tor-
fragmentos, partículas de rocha e gases quentes c1ue, rentes de baixa densidade que se expandem encosta
independentemente da granulação, movem-se pelo set1 abaixo com velocidades extremamente altas de até 200
próprio peso, condicionadas à declividade do terreno. km/h, e altíssimas temperaturas, geraln1ente acima de
1\ emulsão de gases super,1quecidc>s é tal que a resis- 70()º(=, acc)mpanhadas p<)r um som ensurdecedor.
tência ao atrít<) entre as partículas é reduzida ao
mínimo. Com isso, forma-se um fluido densc), cuja 12• 10• 69"
zc)na superior torr1a-se mencJs densa à medida que
as partículas caem S(Jbre a superfície dc) terreno. i\s
temperaturas envc,lvidas são muitcJ variáveis, de
900ºC até inferiores a 100°(~.

Os fluxos piroclásticos caracterizam-se por mai-


cJr densidade e b,úxa turbulência. Confinam-se aos
vales. Já os platôs ignimbríticc)s sàc) os produtos que
recc)brem as áreas ao redor do vulcàc). O nome
ígnin1bríto representa uma rocha ígnea fcirmada por
"soldagem'' de cinzas e brecha ,rulcânica, processo
que occ>rre em ccJndíções menos enérgicas de tem-
peratura, graças à maior dístância cm relação ao
vulcàc). Esses materiais depositam-se ainda quentes,
tornando-se fortemente soldad<)s e assemelham-se Fig. 17.19 Distribuição dos depósitos piroclásticos (em preto) nas
a um cimento muitc) resistente. O gigantismo dos proximidades de Santiago do Chile, provenientes da erupção do vul-
depósitos ib'!l.Ímbriticc>s (Fig. 17.20) orí6>inados em cão Maipo há 400.000 anos. Símbolos em vermelho representam
diversos epis{)dios ,rulcânicos, além da enorme mo- vulcões da Cadeia Andino (adaptado de Projeto IGCP-120, 1985).
Fig. 17.20 f)epósito ii.Jnirril:iritico, riodocítico-docític o, Terciário Inferior. (~hubut, Argentino. Foto: C. Cingoloni.

1;_111 lC)<)J, Llill;J tlllVCi:l :1t·dc111c J>!(>cluzid;1 r,ei(l Vlll- S, (:J, e l\ f)<Jr sua vez, reage111 com a água, originando
câ() l:lzc11 ():lj.l~(l) i<'V<>Ll :1 ;nc,rtc cl, ns vul,-a11,·,1(1g(>S :ícid<Js 11cicivc1s para <JS olhc)s, pele e sistema respirató-
fatlH)S()S li()r ~('u:-:; cn~;ai,,s r(lh,liTT:íf1c,)S e t11111c\ :;()l.1rc 1
ri( i. :\lcsr11cJ quar1LlcJ err1 baixas co11centrações, podem
''
vulciícs -· ci casal l(ratft. 1,:,1,-~ cícr1hstas 1n(111i\tlr,1\a111 ciestruir a vegetaça<1 e cc,rrcier n1cta1s.
o descll\'<>lví111et1t(J de unia 11u1 c111 :11dc11tc-, a ,.111:tl rc-
pentina111cntc alrcr,>u ,, seu 111111,, ,1,·,,cidci a,_.,,, c11t\ 1 s,
a) f'11n1arolas e fo11tes térn1icas
ati11t.ót1d(J·<lS scn1 cl1,111cc de fuua.
( ) ' ( Js rcst(i;; 11H1rtais
(_

él<> casal I<raff~ <Jt1:H1,lc1 fr>ra111 rcc11r1cr:1ck1s, :q,rc,:c11ta f,:stas exalaçc'ies Lle gases e vap<)res se dão através
va111-sc cn1 cst:1d,, de incincr:l(;,ir,, , 111 ,.lcc(;rri·r1c·i,1 cl:1
0

de !)CCJl 1e11cJs ccH1clutcis e p<Jéler11 c<>ntinuar por l1éca-


V<>latilizac:t(l
·'
instant,inca cl,,, iiuid(1•; 1n1cnH,s ,!, , cr>r das <Jlt rr1csn1<J sé-culcJs a1Jc'Js a erupção vulcânica.
p(), Ulrl iCll()tllCil(l causad,) \:·('I() :,11r,cr:1c1ul'CÍlllc:it(J d() IJ( Hlcn1 ser tantcJ prit11árias (gases clci própric) magma

a1n!Jic11te. liste cxcn111l(J LJtutal ir1dica <-JUC :1 tj11ic:1 al- ciuc pela pri111eira ,·ez sâ(J libcral1CJS em superfície) ou
ternativa para 111inin1i1ar <'S r1scc ,s de u111:1 cr1q,ç:10 sccu11clárias, l]Ua11clci CJccJrre a ir1terferência ccim água
11irc,clástica é- a rctirada \'fC\ cn1i\ a tia j1(lJ,1il:1c:í, > d:1s su l)tcrr:111ca.
r1r(lXÍt11idadcs d() 111lc:l(J.
",as ru111arc,las, <JS ele111c11tcis rr1ais comuns que en-
tr,1111 na c,J1111,c>siçiici ll<lS gases sã11 hiclrogênio, clóro,
17.1.4 Gases e vap<lres v11lcát1ic<)S c11x(,fre, nitr,,1c,;êni(i, carl)cinci e oxigêni<J. l::'~stes elemen-
l)ura11tc utna crui,,;,t,) trJs podc111 <1cc1rrer na sua forma elementar ou
ttr de s1s1c111as
, H: ,1 l':11
, ,
hillt(Jtcrn1::iis asscJci:1d( ,'.; ,l (illll;]l:lS llta~i;111at1cas
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c•1r11l1inacl()S ((li)}() 12(), HzS, fl(:l, c:c), CC)z, (NIJJ+,
se). ,, ,s· ( ),, (,··r i1 ~'
• etc.
sttlJsttfJerficiais, tis 1';ases e ',:q1,Jrc"; cÍ!ss,,l, idt>s tl<J
n1ai~n1a siiri lilJcr:1d<>, 11ar,1 ,i :1t11111,fcr,1. (í 111ais :1l1Lt11 . \ cc11np(isiçãc> ele is gases \'ulcâniccJs pode variar em
_.., ;i í):'i" .·, () tr:1n,r,,>rtc funcií(l Llas ten1pcraturas etl\"<Jl\·iélas (SOOºC a 100°C) e

desses ~ases na :1t11Hisfcr:1 :,e ,l:'i c1n ·.1,·r1,:;,;,.,, urn:1 , lcJ e, ,ntcúdci c111 rrii11erais lliss<)l\'id<>s. Eventualmente,
'
sc1lu\1ii<J crJl1,idal cr11 l)UC a f,1sc cli,1,ir,,Jr:1 e': .l:.1'< ·,.1 e a clcn1cntc >S cc1n1cJ tl,ícJr, e11xc1fre, zinco, ccJbre, chumbo,
fase dispersa e:- ,('ilid:1 (>U l1,.111i,L1 .. i•·.i:1 :1ds,,rc:í,, cL,s ;1rs,:•r1i1 i, estanhe>, 111c1lil)dê11Í<J, l1râni<1, tungstênio, prata,
c<n11p(>St<is ctn c:1111:1d:1s, (>li :1ind,1 ;;,1 (1,r111:1 1i1 1i:1r 11 n1crcúric> e ,,urc1 se ass(iciam acJs gases, podend<) se
..r ; ·,;
~ 1 ,. ( , ~
cc ,nccntrar 111ir1ci1,ali11c11tc e111 vcic>s na r<Jcha encaixante,
Fig. 17.23 Campo de gêiseres EI Tatio, Chile. Foto: C. M. Noce.

Fig. 17.21 Fumarola com depósitos de enxofre formados


e i--,:stados Unidos são mundialmente conhecidas pe-
pelo resfriamento dos gases vulcânicos e sua mistura com o
los seus campos de gêiseres (Fig. 17.23). Uma das
ar. Vulcão Kilauea, Havaí. Foto: R. L. Christiansen/US Geological
Survey.
feições características dos gêiseres são os terraços, for-
mados por sedimento de origem química. Este material
encrustra-se nas rochas ou no solo, como resultado da
por conta do resfriamento do vapor d'água e sua
precipitação de minerais dissolvidos à medida que ocor-
interação com o ar. Desse modo, vários depósitos de
re a evaporação ou resfriarr..ento. Os terraços podem
interesse econômico podem ocorrer em fumarolas
ter natureza silicificada (si12ter) ou cálcica (travertine) -
(Figs. 17.21e 17.22).
(Fig. 17.24).
Dentre esses elementos o mercúrio possui um com-
portamento particular, por ser volátil. Sua perda à
atmosfera pode ser facilmente comprovada nas proxi-
midades de vulcões ativos no Chile, por exemplo, onde
a alta concentração do mercúrio no ar ultrapassa in-
clusive o limite internacional estabelecido de risco para
a saúde.

b) Gêiseres e fontes térmicas

Gêiseres são jatos de água quente e vapor em rup-


turas de terrenos vulcânicos. F,stes jatos ocorrem em
intervalos de tempo regulares e com grande força,
freqüentemente acompanhados por um som ruidosc). Fig. 17.24 Terraços de sinter. Campo de gêiseres EI Tatio,
Chile. Foto: C. C. G. Tassinari.
Regiões vulcânicas na Islândia, Nova Zelândia, Chile

Fig. 17.25 Nascente térmica; Parque Yellowstone, E.U.A. As


Fig. 17.22 Fumarola em lago termal ácido. Cratera ativa do diferentes cores refletem os tipos de algas associadas à variação
Vulcão Poás, Costa Rica. Foto: L. L. Casais e Silva. das temperaturas. Foto: 1. Wahnfried.
Nc)s camp<)S de gêiseres, padrões únicc)s ele \rida ani- que Nacional YellowstcJne (oeste dos EUA) pcJssui a
mal e vegetal clesenvcJlvcm-se ao redcJr das fontes e águas maior cc)ncentraçãcJ mundial de feições hidrcJtermais e
térmicas, mcsmcJ nos invernos mais rigc)r<JScJs. f ,agos ele cerca de duas dezenas de gêiscrcs. Turistas do mundo
água quente, surgentes das profunc-lezas vulcânicas, apre- inteiro visitam este parque, vivenciando a experiência fan-
sentam colcJraçc3cs curiosas, c)ndc as variações de tons tástica, o gigantism<J e a variedade desses fenômenos
azul, verde e avcrmelhadc)-marrom refletem <) crcsci- terminais de uma estrutura vulcânica originada há cerca
mcntc) vigcJt<JSCJ de diferentes tipos de micrc'ibicJs, de 630.000 anos. O exemple) mais espetacular é o gêiser
bactérias, cianobactérias e algas, cm funçãcJ das tempera- "()lt-l Faithful", que lança pericJdicamentc (em média a
turas (Fig. 17.25). 1\lém dc)s gêiseres podem <)correr cada 64 min.) uma cc)luna de água superaquecida e va-
panelões de lama quente bcJrbulhante (Fig. 17.26). () Par- por (>94ºC) a 55 metros de altura.

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ij jij~is~ .a~rttnula em· "panelas'' gêiser


. .. átn~qt:tentê(;E7igs.17.26 e 17.27).
'"' "' --·c:::;;_,;,.·,' '"""'"''',

magma

uQ .borbulhante.
Gêiser Pohur~~ :Fig. 17.27 Mecanismo de funcionamento
...
í:!;Nova
. ...
Zelândia. Foto: P. A. Soude~/' fumorolas e fontes térmicos. · · · ·· ·········· ··"'•••·
ock Pho ,;;.l:E.
e) Plumas hidrotermais submarinas Equatorial Leste puderam confirmar essa hipótese. Ali,
a 2.SO(l metros de profundidade, foram identificadas,
Trata-se de fontes térmicas surgentes na crosta
pela primeira ,·ez, chaminés expelindo continuamente
basáltica pelas quais fluidos minerais sã() expelidos. A
partículas 11egras de sulfetos de Fe, Zn e Cu (Figs.
ação contínua do processo hidrotermal edifica "cha- 17.29, 1-.30).
minés". As maiores p()dem atingir mais de 10 metros
de altura e 40 cm de diâmetro, sendo denc)minadas "-\ decantação dessas partículas finas, dissolvidas na
black smqkers (Fig. 17.28) por expelirem fluidos de cor água surgente a altas temperaturas, se dá pelo choque
negra com alta temperatura. As chaminés menores rece- térmico com a água fria das profundezas oceânicas.
bem () n()me de white smokers, sendo caracterizadas por 1Iuitas dessas concentrações polimetálicas contêm
. . . . ,
fluidos de cor esbranquiçada e menor temperatura. metais preciosos e sem1-prec1osos, porem os custos
de recuperação são ainda demasiadamente altos para
Depósitos de sulfet<)S metálicos submarinos, asso- ,-iabilizar C) apro,·eitamento comercial.
ciados às fontes termais em sistemas vulcânicos de
rifts meso-oceânicos, ocorrem no arquipélago de Os estranhos oásis de vida, cm meio aos sulfetos
Galápagos e no Mar Vermelho. l)erfurações revelaram metálicos decantados, ocorrem numa estreita zona de
teores elevados cm Fc, Cu e Zn na lama recuperada, interação com a água oceânica oxigenada, ao longo dos
sugerindo sua associação às atividades de plumas
hidrotermais. Em 1977, cientistas operando um sub-
mergível explorador do assoalho do rift no Pacífico

Fig. 17.29 As plumas hidrotermais ocorrem em zonas de


separação de placas, onde ocorre formação de cadeias mon-
tanhosas e assoalho oceânico (Fig. 17.16 com a localização
de plumas).Nessas regiões, a crosta oceânica é pouco espes-
sa (cerca de 4 km) e o material basáltico é continuamente
adicionado a ela a partir de câmaras magmáticas situadas no
interior do planeta. O magma sob alta temperatura aquece a
Fig. 17.28 Black Smokers no assoalho do oceano Pacífico água densa e gelada das profundezas oceânicas que se infiltra
Leste (2.500 metros de profundidade), pelas quais águas térmi- continuamente, através de fissuras da crosta basáltica. Du-
cas contendo partículas de sulfeto metálico são expelidas. Estas rante o processo de percolação, o sulfato (um íon abundante
se decantam rapidamente pelo contraste brusco com a tempe- na água do mar) é transformado em sulfeto de hidrogênio por
ratura baixa da água do mar (ca. 2ºC), permitindo assim o conta do ambiente anóxico, enquanto ocorre a lixiviação de
crescimento da chaminé incrustada na rocha basáltica do muitas substâncias minerais da rocha, além do intercâmbio
assoalho. Ao redor dos condutos hidrotermais e na ausência de de elementos químicos. Graças ao calor, o fluido tende a as-
luz solar, bactérias e vermes tubulares peculiares são abundan- cender por causa da diminuição da densidade sendo então
tes, configurando uma das maiores descobertas da biologia do expelido pela ruptura da crosta. A temperatura dessas plumas
século XX. A sobrevivência de organismos nesse oásis exótico pode atingir 400'( (6/ack smoker), sendo, nesses casos, cons-
ocorre graças a reações metabólicas, envolvendo principalmen- tituídas por fluidos com baixo pH, contendo minerais dissolvidos,
te H2S dissolvido nos fluidos hidrotermais. Foto: NOM Central cátions incomuns e alta concentração em H2S. Outras plumas
Library; OAR/National Undersea Research Program (banco (white smokers) produzem somente nuvens esbranquiçadas
NURP de imagens públicas). de fluidos aquecidos e vapor (ca. de 300º().
eixos de nfts. Nessas zonas, a ativicladc \'Lt!cànica fre- ceJn1 genes elistintos de eJutras bactérias (Eubactéria) e
qüente prcJp<Jrcio11a calclr e gases para SLtstcntar e) de f<lrmas mais ccimplexas de vida (Eucaryota). Perto
ecclssistema cxc'Jti,cl. Nas margens
e
cc)ntinentais Clndc ele 2/3 de seus genes nãc) se assemelham a nada visto
as placas estão et,". subducçãc), a OC<lrrência clt fluidos até helje, enquantci parte deJs 1 / 3 dos genes restantes
hidrotcrmais também guarcla asselciação ccJn1 habitats enceintra ceJrresponclência cm bactérias e até cm hu-
que tm alguns aspcctcJs ltmbran1 ci an1!Jit11tc elas plu- manels atuais. Esta descotJerta revcJlucionc1u as idéias
mas hiclreltcrmais de rifts mtscJ-<JctâniccJs. scJbre a cJrigcm ela vida no planeta, a!Jrindo a possibili-
() mais imp<)rtante dessa dcscc)berta científica, p<l- claele deste evento tão importante ter acontecidcl no
rém, está no fato ele o Sc)l e a felt<Jssíntcsc nã<i serem fundo del mar, aproveitando o calor e e1s sais minerais
das plLimas hidrotermais há bilhões de anos.
os parâmetros exclusivos n<) suprimente) ela tncrgia
para a viela terrestre. 1\cJ ccJ11tráric), as bactérias ,ulJtna-
rinas clcsenvolvcm-se vigcJrosamente 11a ausê11cia 17.1.5 Outros fenômenos vulcânicos
completa da luz seJlar, numa dieta de C() 2 e c<Hnpeis-
teJS ele fi, N, S e calor vulcânico, scnel<l <J 1ncta11ci o Lahars - 1\s erupções explosivas peidem deposi-
principal subprcicluto deJ metal1eJlismo. I nvcstigaçe1es tar encirmc quantidade de cinzas e outros fragmentos
recentes revelaram qt1c essas bactérias sàcJ t1n1a felrma vulcâniccis sobre els flancos d.os vulcões. Os lahars sãci
de vida previamente desccJnhecida dcnominacla_/lrcht1ea, formadeis quandei ela ocorrência repentina de grandes
vcJlumcs de água, dcvielo a chuvas tcJrrenciais, derreti-
1nentcJ de neve e/ ,>u gelo acumulados no tc1po do
vtilcãei, C)U mesmel pela ruptura de barragens naturais.
Essas águas se misturam com e1 material vulcâniceJ
inccinsolidadel, criando fluxos de lama que se movi-
mentam por gravidade. Enquanto nos rios é a água
e1t1e carrega eis fragmcntc1s, nos lahars é a abundância
de material sólidc1 que gera e1 meivimento. Cerca de
40°/ti em peso cios cc>nstituintcs dessas misturas são
cinzas vulcânicas e fragmenteis e-le rocha (desde partí-
culas de argila até blocos enelrmcs), tornandc1-as elensas
e ,riscosas c<Jm a consistência da massa de concreto.
Ceimei ·tal, formam espesse)s depósitos que incluem
grancles bk)ccis rcichcisos arreelonclados, fragmentcls vu1-
cànicels e lama endurecida e também podem incluir
peclaços de ,
árvclrcs, se o fluxo tiver atravessado uma
tl<)rcsta. f: justamente através da determinaçãci da ida-
de desses restos de árvores que é possível saber quando
ocorreu o fenêJmene) - um daclo importante para se
estimar a taxa ele freqüência de lahars relacionados à
rcati, acãci de um vulcão.
0

C)s !ahars eleslocam-se cclm velocidades superfores


às clcis curseis d\í.gua, tendei condições de fluir até mes-
n10 sobre a neve ou gelo. Sua força de impacto é tal
que elcstreJem a n1aioria das edificaçe}es feitas pelo ho-
men1. :\s ,relocidades deis !ahars pclclem atingir até 40
n1/ s em declives vulcânicos mais íngremes e alcançar
clistàncias de até 300 km dei local de origem. Aqueles
Fig. 17.30 Imagem computadorizada de dados acústicos pro-
cc>m prcipelrçe1cs de material sc'JlidcJ da eirdcm de 90%
cessados a partir de ondas geradas por sonar ilustra as plumas
hidrotermais emergindo no assoalho oceânico a 2.635 metros sãc> eis mais \'clcJzes e mais ciestrutivos, geralmente
de profundidade. A imagem das plumas, recuperada na ele- <Jriuncicis ele deslizamentos cneirmes eicasionados por
vação do Pacífico Leste, próximo a 21 ·• de latitude Norte, tem ccllapsci ele tlanccJ de \'ulcãeJ.
uma alturo rJe 40 metros. llustração:TL1nni,liffP, 1992.
CAPÍTULO 17 • VULCANISMO 361 ,

Avalanches - São movimentações superficiais de fendas podem ter p(Jucos metros ele largura e alguns
grandes massas de neve, gelo, sol() ()U rochas, ou uma quilómetros de comprimento, como as que existem na
mistura destes materiais, que se tornaram eventualmente ilha ,ctlcânica da Islândia.
instáveis por diferentes causas. Esses fluxos de detri-
_-\s formas topográficas vulcânicas dependem da
tos podem ser gerados por abalos sísmicos que
composição química, deJ conteúdo de gases, da visco-
normalmente precedem uma erupção, (JU até mesmo
sidade e temperatura das lavas. I~avas pouco viscosas
chuvas muito intensas, aliados a uma f(Jrte inclinação
constituem edifícios vulcâniceJs com flancos suaves,
do relevo vulcânico. Levantamentos geológicos ao re-
ou ainda derrames extensos e espessos.Já as lavas muito
dor da base de vulcões d(J Havaí identificaram
,-iscosas não fluem com facilidade, eJ que resulta em
gigantescos deslizamentos submarinos de material frag-
edifícios com flancos íngremes constituídos, em geral,
mentado. Isto revela que a conexão entre grandes
pelo material fragmentado por explosões. O ambiente
avalanches e erupções vulcânicas pode ser mais co-
superficial é também um dos fatores que controla o
mum do que imaginamos.
modo de acumulação do material vulcânic(J. O
vulcanismo submarino em grande profundidade, por
17.2 Morfologia de um Vulcão exemplo, não é explosivo porque a alta pressão da
, água impede a formação e expansão de vapor. Como a
E comum pensarmos que a lava chega à superfície
água resfria a lava mais rapidamente que o ar, a pilha
sempre através de edifícios cônicos perfeitos, a exem-
de lava é geralmente mais íngreme que o perfil das
plo do monte Fuji no Japão ou o mc)nte Osorno no
acumulações de lava acima do nível deJ mar.
Chile, o que não é verdade. Muitas vezes, a erupçãci
se dá através de fissuras profundas na crosta que al- A seguir, descreveremos os elementos geométri-
cançam a ref,>Íão ()nde o magma está acumulado. Estas cos principais de um vulcão cônico (Fig. 17 .31).

vento
predominante
...._",.'
~llf.-,,. ' .

coluna
eru.ptiva

/ _,'

.-· /
i J
·;

Fig. 17.31 Modelo teórico de um vul-


cão. O reservatório magmático pode se
situar na astenosfera ou litosfera. O
magma é periodicamente expelido pela
chaminé que liga o reservatório com a cra-
tera. A lava difere do magma pelo fato de
não conter alguns dos constituintes gaso-
sos e/ou elementos químicos originais. A
subida do magma pode também ocorrer
em cones satélites ou pelo fraturamento
do edifício vulcânico em erupções de
flanco. Dá-se o nome neck (Fig. 17.32) ao
realce topográfico de uma chaminé. A fei-
ção decorre da erosão diferencial dos
flancos de um vulcão. Estão também re-
presentados os diferentes produtos
vu!cânicos.
362 D ECI FRA N DO A TE R R A

Fig. 17.32 Relevo vulcânico da ilha de Trin-


dade, destacando-se um neck à direita da
foto. Foto: F. R. Alves.

• Cratera - Este termo é uma tradução literal do causar torrentes de lama, emanação de gases, (Qua-
grego krater, que significa um vaso de boca larga. A dre) 17 .2) ou mesmo a liberação de enorme volume
cratera representa o local de extravasamento do magma de água que eventualmente se acumulou na caldeira
e demais produtos associadc)s (Fig. 17.31). A chaminé, com o passar dos anos.
ou conduto magmático, liga a câmara magmática em
O famoso Parque de Yellowstone, nos EUA, está
prc)fundidade com a cratera. Com o passar do tempo,
localizado numa caldeira vulcânica com cerca de 2.800
as paredes da cratera podem desmoronar, causando o
km2• A ressurgência desta caldeira há 630.000 anos ocor-
seu preenchimento parcial. A cratera do monte Etna
reu devido à presença de um enorme reservatório
(Sicília), por exemplo, está atualmente a 800 metros de
magmático debaixo dela, liberando, durante a explo-
profundidade em relação ao topo e possui 300 metrcJs
são, mais de 1000 km3 de material. Esta estimativa
de diâmetro. Eventuais cones satélites podem apare-
volumétrica baseou-se nos levantamentos geológicos
cer nos flancos do vulcão, por um desvio do conduto
que identificaram a distribuição dos produtos
ou à medida que a chaminé e/ ou a cratera são bloque-
piroclásticos numa extensa região. O assoalho da cal-
adas pelo resfriamento da lava ou soterramento.
deira está sofrendo arqueamento e dilatação, processo
• Caldeira - O termo, derivado do latim tardio este iniciado há cerca de 150.000 anos, expondo ro-
caldaria, é aplicado às enormes depressões circulares, chas e estruturas profundas. O fenc:imeno está sendo
originadas pelo colapso total ou parcial da cratera e do estudado e monitorado, como forma de prever uma
topo do vulcão, por conta da perda de apoio interno, futura reativação.
seja pelo escape de gases, seja pela ejeção de grandes
No Brasil, a região de Poços de Caldas, Minas Ç-e-
volumes de lava (Fig. 17.33). O diâmetro desta feição
rais, uma estância hidromineral famosa pelas águas
pode ser superior a 50 km e a ela geralmente se asso-
sulfurosas medicinais e importantes jazidas de U, Th e
cia um sistema de fissuras radiais e em forma de anel
Al, é um outro exemplo de caldeira vulcânica. Sua
na rocha encaixante, preenchidas por diques ou que
origem se deu pelo abatimento de um cone vulcânico
servem de conduto para manifestações explosivas.
há cerca de 90 milhões de anos. Associado à estrutura
Tanto as crateras como as caldeiras de vulcões "dor- circular, com um diâmetro de 30 km, hoje parcialmen-
mentes" podem ser preenchidas por água (Fig. 17.34) te erodida, mas ainda visível em imagens de satélite
- uma feição de risco potencial na eventualidade de (Fig. 17.35), ocorre um sistema de diques em forma de
uma reativaçãc) vulcânica. Esse processo inicia-se pelo anel.
domeamento do assoalho interno da caldeira, c)u
ressurgência da caldeira. Uma reativação vulcânica pode
Fig. 17.34 Caldeira do vulcão Fernandina com lago ácido;
Arquipélago Colón (Galápagos), Equador. Notar o pequeno
cone satélite preenchendo parte da caldeira, cujas paredes são
muito íngremes, e mais ao fundo uma fuma rola. Foto: R. Trouw.

21°30'

22•00·

47º00' 46°30' 46º00'

Fig. 17.35 Parte de imagem do satélite Landsat, canal 7, da


região sudoeste do Estado de Minas Gerais, mostrando a caldei-
ra vulcânica de Poços de Caldas em meio às estruturas das rochas
metamórficas Pré-cambriano. Na extremidade oeste da imagem,
aparecem os sedimentos paleozóicos da Bacia do Paraná. Adap-
tado de C. Schobbenhaus e outros (coord.). Texto explicativo do
Mapa Geológico do Brasil e da área adjacente incluindo depósi-
tos minerais.

Outro exemplo famoso é a caldeira vulcânica de


Crater Lake, no Estado de Oregon (E.U.A.) - Fig.
17.36. Trata-se de uma estrutura preenchida por um
lago com cerca de 8 km de diâmetro e 580 metros de
profundidade. Esta caldeira originou-se há 6.845 anos,
com base nas datações 14C de amostras de árvores
carbonizadas, soterradas pelc)S fluxos piroclásticos. O
Fig. 17.33 Esquema simplificado das etapas de formação
cataclisma formou nuvens de cinzas que foram distri-
de uma caldeira. O colapso do teto do vulcão condiciona a
criação de um sistema de fraturas, o que leva a uma erupção
buídas pelo ,,ento, depositando-se sobre extensas áreas
imediata do magma, num cataclismo explosivo. da orla pacífica dos E.U.A.
364 D EC I FRA N D O A T ERRA .

A distinção entre crateras e caldeiras é pc)r vezes pósitos piroclásticos ao redor dc)s edifícios vulcâ-
difícil. As crateras podem se formar tanto por cc)lapso nicos, sugerindo que feii o refluxc) do magma a causa
como por explosão do vulcão, ao passo que as caldei- dei colapso e conseqüente formação das duas de-
~
ras são produzidas em poucas horas ou dias, pelo pressoes.
vic)lento escape de gases e conseqüente reduçãc) do
volume do reservatório magmático. Além disso, cal-
17 .3 Estilos Eruptivos
deiras geralmente possuem diâmetros superic)res a 1km.
A morfologia do tope) dos vulcões I<.ilauea e Mauna Por que parte dc)S vulcões ocorre em cadeias
Lc)a no Havaí configuram, na verdade, caldeiras. Esta montanhc)sas, como ncis Andes, aci passo que em eiu-
interpretação é reforçada pela inexistência de de- tras regiões o vulcanismo se dá através de fissuras,
como foi e) caso dc)S derrames da Bacia do Paraná?
Neste item, veremcJs alguns parâmetros que determi-
nam os estilos eruptivos tão diferentes de atividades
vulcânicas.
··"f(;,'
;fl, ~
' ,, '

C) vulcanismo atual cc)ncentra-se em rupturas da


crosta com atividade sísmica associada. O processo
está condicic)nadc) ao mc)vimento das placas litosféricas,
ciu ainda a plumas prc)fundas do manto que ascendem
em regiões nci interior das placas. Cerca de 60% dos
vulcc"íes ativos situam-se ne) chamado "Cinturão de)
I•ogc)" - uma zona de borda do C)ceano Pacíficc) com
terremotos e vulcões jovens. Estes vulcões formam
montanhas em áreas cc)ntinentais e conjuntos de ilhas
Fig. 17.36 Lago de caldeira, cratera Lake, Oregon, EUA. ncis oceanos, como resultado da convergência de pla-
Foto: D. E. Wieprecht/US Geological Survey. cas litc)sféricas (Figs. 17 .3 7, 16.38).

Placa
Eurasiana
Placa Placa
Eurasiana Norte
Americana Placa
Rainer Anatoliana
Placa Vesúvio
Sta.Helena •
Juan
Unzen de Fuca Placa
Bacia
Ok1naw
1 ··Fujíyama

'
Mauna Loa
.
'
Bacia
Guayamas
Ilhas ...-J(i/auea
. E/ Chichon Caribeana

:i,. ..~
Poás (!)
Etna - •
Santorini' Placa-J
Aráb·ca
Bacia "'o • Cabo Placa
Taal Havaianas Placa Cocos
• • Mariana Verde . Africana
·· Pinatubo Placa t/' Ruiz •
' -~---------/----~-~11:J!tt~-----------".>!'_____ b::il,:l.
-.,.,. Bacia .,§ Rift

Fiji ......,.. ~ Galapagos


Placa
Krakatoa Placa
Índico-

Ba ·a • •
• Q.
-S1
~
...~...
d e Nazca j ()

Australiana
Lau-,..._ ,& -- Q)

r_ ig ")-'S~ t'
"
ilj Placa
Sul
• Americana


• vulcões ativos

• Placa
Antártica
• pluma h1drotermal -

Fig. 17.37 Distribuição global do vulcanismo. Notar o condicionamento geográfico em que a maioria dos vulcões ativos (em
vermelho) está situada ao longo dos limites convergentes de placas (azul). Apenas 15% do vulcanismo atual local·1zam-se nos
limites divergentes (traços em vermelho) e o restante em regiões internas das placas.

,.
CAPÍTULO 17 • VULCANISMO 365 •

lava
almofadada

crosta
oceinica
~

Fig. 17.40 ~soJen-a simplificado da estruturação topográfi-


Fig. 17.38 Vulcão Arena! (Costa Rica), um dos constituintes co de U'" · it subnoa,·ino meso-oceânico e vulcanismo associado.
do Círculo do Fogo. Foto: L. L. Casais e Silva.

1\s atividades vulcânicas p<>dem ser classificadas p<>siçãcJ lJásica, <>riginad<J na astencJsfera (I1ig. 17.39).
como fissurais e cc11trais, em ft1nçà(J de stia lcicaliza- l"ais erupções t:1m!Jém sã<> clen<Jminadas de \·ulcanisn1(J
çã<J cm rclaçà<) às placas lit<isféricas e a<> tipc> ele seus de rifi por guarclarem associaçãc> c<Jm sistetnas ele
pr(Jdutos. As características desses prcJclut(JS, pc>r sua falhamentc>s sul1verticais (rifi-va//~ys). Trata-se de cc>n-
vez, vinculam-se às prclpriedadcs da lava e condiç(~>es juntc>s de vales submarincJs prcJfunclos a<J l<>ng<> das
de> ambiente da erupção. cacleias mcJntanh(Jsas mes<J-(Jceânicas, que se asseme-
lham às feiç<>es C(Jntit1entais cJriginalmente definiclas

na 1\frica ()riental (l~ig. 17.40). A 1nagnitude clessas C(Jr-
17.3.1 Erupções fissurais
Jill1eiras é ilustracla pela st1a clistril1uição pc>r mais ele
Neste tipo ele vulcanism<>, não há for1nação ele um 76.0()0 km nas pr(Jfu11clezas dcJs (1cean<JS.
cone vulcâniccJ. A presença de fissuras prcJfundas na
crosta permite a ascensão do magma, em geral de com-

derrames
antigos

Fig. 17.39 Esquema de erupção fissura!, condicionada à as-


censão de magmas muito fluidos por fissuras profundas na Fig. 17.41 "Cortina de fogo" e derrames de lava em erup-
crosta, com a formação de camadas sucessivas de lava. ção fissura[ no Havaí. Foto: J. D. Griggs/US Geological Survey.

UNIVERSIDADE POTIGUAR - 1J,


366 D Ee I FRA N oo A TERRA

As erupções fissurais representam, em termcis de ca exposto acima do nível do mar - representado p(ir
volume, o principal tipo de atividade ígnea terrestre, p(iis derrames e fontes de lava (denominadas cortina de fogo,
80% da atividade vulcânica d() planeta acham-se concen- Fig. 17.41) comuns também no Havaí.
trados no oceano (veja Fig. 17.37). Portanto, o assc1alho
Nos continentes, o vulcanismo de rift pr(Jduz (JS
oceânico originadci nos rift-vallrys submarinos representa
derrames de platô. Alguns desses são enormes, a
a extrusão contínua de magmas basálticos p(lr milhões
exemplo deis encontrados na América do Sul (F(Jr-
de anos, a partir de cordilheiras meS(J-oceânicas.
maçãci Serra Geral da Bacia do Paraná), América do
,
O vulcanism(J fissural p(Jde ser observado atualmente Norte (Columbia River) e India (Deccan), (Fig. 17.42).
na Islândia - um segmento da Cordilheira l'víes(1-Atlânti- No topo desses clerrames, podem ocorrer vesículas,
pequenas bolhas decorrentes do escape d(JS gases
dissolvidos na lava. r:stas cavidades podem vir a ser,
eventualmente, preenchidas por zeólitas, ametista ou
ágata, as amígdalas (Fig. 17.43). N(JS casos em que a
expansão gasosa tenha sid(J exp!(isiva, podem cicor-
rer as brechas (Fig. 17.44). Ncls derrames continentais,
o resfriamentcJ da lava prcJduz a clisjunção colunar.
Trata-se de uma feição peculiar de ruptura geométri-
ca do material rochoso que se associa à contração
muito rápida do magma a(J se scilidificar (Fig. 17.45).

3 4

,
Fig. 17.42 Area do vulcanismo da Formação Ser-
ra Geral, Bacia do Paraná, comparada a outros
derrames de platô.

Fig. 17 .43 Rocha


vulcânica amigda-
loidal. Formação
Serra Geral da Bacia
do Paraná. Foto: Co-
leção do Instituto de
Geociências da USP.

Fig. 17.45 Disiunção colunar em derrame basáltico. Escó-


Fig. 17.44 Brecha cia. Esta feição geométrica em colunas forma-se pela
vulcânica. Ilha Trinda- contração inerente ao resfriamento da lava basáltica. Foto:
de. Foto: F R. Alves. Corbis/Stock Photos.
CAPÍTULO 17 • VULCANISMO 367 ,

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tmn~o> pt()cesso que emiué. •
.,lf.,:~t:í\tllar~éhoje (Fig. 17.36; Cap. 6). As ilhas
1
· • .r,~ando de Noronha (12,3 milhões de
ahos) e.Trindade (3.5- ZS milhões de
,anos) são alguqs dos,mate()S vulcâni-.
,,:fu's, hoje «iro da Çaq.~•
., Meso-A ..taw· .~. ,~.t:.'fü

-basalto
17.3.2 Erupções centrais

Este estilo eruptivo com a formação de edificicJ vulcâ-


nico está condicionado à presença de um magma de cratera
composição mais félsica. C(Jmo produto das expl(Jsões,
(Jcorrem grandes volumes de cinzas, púmice, blocos e bcJm- domo domo
soterrado
bas, além de derrames (Fig. 17.31 ). As erupç('ies centrais /
podem ser classificadas com base em semelhanças com / erupções
d
descriç('ies de erupções passadas, conforme abaixo:

a) Pliniana: nome derivado da erupção do Vesúvio ocor-


rida em 79 d.C (Quadro 17.3). A explosão violentíssima de
magma viscoso, muito rico em gases aprisionados em pro-
fundidade ncJ \'lllcão, lança nuvens de gases, cinzas e outr(JS
materiais sólidcJs de granulação fina;
h) J'tromholiana: denominaçã(J oriunda d(J vulcão câmara
magmática
Stromboli (Itália), em que a liberação periódica de gases
aprisionad(JS na câmara maf,rmática leva à ejeçã(J de bom-
bas de lava viscosa e de blocos angulosos. C) ritmo da Fig. 17.50 Perfil esq11emático de um estrato-vulcão.
erupção é altamente variável, podendo ocorrer em inter-
valos de alguns minutos CJu até de décadas; vulcão Pelée, Martinica). Estas C(Jndições causam a li-
beraçã(J de uma nuvem densa e superaquecida (nuvem
e) JJe/éeana: origina-se de um magma visc(JSO riccJ em
ardente) de púmice e cinzas que desce velozmente as
gases, submetido a pressões muito baixas (derivad(J do
encostas do vulcão;

d) Havaiana: representa um estilo eruptivo relativa-


mente calmo, em decorrência do magma ser de baixa
viscosidade. As atividades típicas acham-se represen-
tadas n(JS vulcões do Havaí, onde rios de lava são
expelidos a partir da cratera (JU de erupções de flanco,
C(JnstruindcJ um cone de grande dimensão com flancos
p(lUCCJ inclinados.

A caracterizaçãcJ ccJm base em registros históricos


tem sido substituída, no entanto, pcJr uma nova classi-
ficação que leva em conta o tipcl do cone vulcâniccJ e
seus produtos, mais condizente com a complexidade
dos estilos eruptivos. Desse m(Jdo, os cones podem
ser classificados em 4 tipcJs principais:

• Estrato-vulcões - são as erupções centrais mais


ccJmuns. As camadas alternadas e sucessivas de lava e
fluxos piroclásticos constróem um cone enorme com
perfil íngreme e simétrico, cujos flancos eventualmente
alojam diques radiais (Fig. 17.49). Vulcões como o Fuji
Qapão), Santa Helena (EUA), OscJrno e Lascar (Chile),
e Etna e Vesúvi(J no J\1editerrâneo (Itália) são alguns
dcJs exemplos clássicos (Figs. 17.50, 17.51). ()s estra-
to-vulcc'ies são perigosos, uma vez que a reativação
p(Jde ocorrer após séculos de inatividade. Produzem
explos(3es violentas e nuvens incandescentes, fruto da
alta viscosidade do magma e sua saturação com gases
Fig. 17.49 Diques radiais. Vulcão Etna, Itália. Foto: P. Abori. (Fig. 1 7 .52).
CAPÍTULO 17 • VULCANISMO 369 .

Fig. 17.51 Estrato-vulcão Osorno, Ch.ile. Foto: W. Teixeira. Fig. 17.52 Vulcão Lascar (l 993), região de Antofagasta (Chi-
le). Foto: C. M. Noce.

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370 D E CIFRANDO A TERRA

• Vulcões de escudo - o cone é em geral de grande • Domos vulcânicos - são formas resultantes da erup-
dimensão, com várias dezenas de quilômetros de base ção de lavas félsicas extremamente viscosas. A lava, em
e poucos quilômetros de altura. Seus flancos apresen- vez de fluir como nos derrames basálticos, acumula-se
tam declividade muito suave, em decorrência da baixa numa feição dôrnica com encostas íngremes e topo arre-
viscosidade do magma (Figs. 17.54, 17.55). O vulcão é dondado (Figs. 17.56, 17.57). Devido à alta viscosidade,
edificado pela sucessão de derrames de lava de compo- os gases geralmente permanecem aprisionados na lava,
sição basáltica com baixo conteúdo de gases. As e, quando a pressão aumenta muito, ocorrem explosões
erupções ocorrem freqüentemente pela cratera ou pelo que fragmentam os materiais formados e, ao mesmo tem-
flanco do vulcão. Comumente, o magma não emerge po, contribuem para o crescimento do domo. No caso da
imediatamente, mas se acumula em câmaras magmáticas erupção do vulcão Santa Helena (EUA), em 1980, ocor-
subjacentes. O extravasamento é relativamente calmo reu uma intumescência no flanco da montanha, uma vez
(quiescente), eventualmente formando lagos de lava que a cratera era muito pequena. Atualmente, está se
borbulhante na cratera ou caldeira, devido às condi- formando um novo domo no interior do flanco aberto
ções físicas da lava. pela explosão. Fenômeno semelhante está também ocor-
Vulcões de escudo são encontrados no Havaí rendo na caldeira do Parque Yellowstone.
(IZilauea, Mauna Loa; Fig. 17.37). O monte Mauna Loa,
apesar de ter sido construído em alguns milhões de
anos apenas, é o mais alto vulcão de nosso planeta,
superior ao Everest (8.848 m). Seu topo situa-se 4 km
acima do nível do mar, sendo que a maior parte do edifí-
cio encontra-se submersa. A sua base, com um diâmetro
de 120km, está a 10km de profundidade.
domo
wlcânico

Fig. 17.54 Vulcão de escudo (Wolfj, ilha lsabella. Arquipéla-


go Colón (Galápagos). Foto: R. Trouw. Fig. 17.56 Esquema simplificado de· um domo vulcânico.

lago de
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',:,,;':',_•r/;JJ;\f.:;-,f,-/::i,¼:

Fig. 17.55 Diagrama esquemático de um vulcão de escudo.


entrar em contato com a água subterrânea
subsupert1cial. Já as explosões freáticas são causadas
quando o magma muito enriquecido em gases tem con-
tato com a água subterrânea ou oceânica, gerando uma
gigantesca explosão de vapor superaquecido. A catas-
trófica erupção do vulcão I<rakatoa (Indonésia) em 1883
foi desse tipo.
Diatrema - trata-se de um tipo raro de estrutura
,·ertical, formada pelo preenchimento da chaminé e da
cratera por brecha vulcânica, processo que se dá com
enorme energia explosiva. Os diatremas são origina-
dos a partir de magmas muito profundos enriquecidos
Fig. 17.57 Domo riodacítico formado em 20 de maio de em gases (profundidades de cerca de 100 km). Estes
199 l no interior da cratera do Monte Ulzen, Japão. Foto: magmas, ao ascenderem, causam a fusão das rochas
K. Ota/Serviço Geológico do Japão - GSJ 9202. encaixantes, combinada com a explosão violenta de
gases e lava, carregando inclusive fragmentos rocho-
• Cone vulcânico piroclástico (cinder cone) - são acu- sos da crosta inferior e do manto (astenosfera). A rocha
mulações acamadadas, produzidas pela ejeção de formada a partir de um magma explosivo extremamen-
material piroclástico. Geralmente, o edifício tem a for- te rico em C0 2 é denominarla kimberlito.
ma de um cone pequeno, menor que 300 metros de
altura, freqüentemente ocorrendo em grupos (cones
satélites) nos flancos de grandes vulcões ou nas suas
proximidades (Figs 17.58, 17.59). Cones piroclásticos
possuem flancos íngremes, em que a inclinação é regida
pelo ângulo de repouso dos fragmentos inconsolidados.
Erupções piroclásticas múltiplas eventualmente
formam depósitos em círculo ao redor da cratera de
explosão. Estes depósitos, denominados tufos anela-
res ou Maars, são constituídos ror uma mistura de
fragmentos da rocha encaixante e material vulcânico.
Originam-se da explosão de um magma ascendente, ao

fragmentos
de rocha Fig. 17.59 Cone piroclástico em formação na ilha do Fogo.
Arquipélago de Cabo Verde. Fonte: Instituto de Investigação
material Científica Tropical, Lisboa.
piroclástico

Eventualmente, o processo erosi,·o destrói os


flancos do vulcão, expondo os materiais da parte su-
perior do diatrema. Os diatremas são economicamente
importantes, pois podem conter diamantes.

17.3.3 Pontos quentes (hot spots)

Como \·imos anteriormente, apenas uma peque-


na parte (5° o) dos ,·ulcões ativos da Terra situa-se
no interior de placas litosféricas. As ilhas vulcâni-
cas do Ha,-aí, um desses exemplos, integram uma
Fig. 17.58 Esquema de um cone piroclástico. cadeia montanhosa submarina parcialmente submersa
com cerca de 6.0()0 km de extensãei na placa Pací- movimenteJ, proporciona que um novo cone seja for-
fica. () vulcanismo dessas ilhas mcistra um padrão mado pela continuidade de ascensão do material da
de idade peculiar frente ao exibido pelos vulcões pluma. A menor densidade do material fundido em
localizados em margens de placas; as rochas são relação às rochas encaixantes norteia todc) cJ processo.
. . .
progressivamente mais antigas rumo neiroeste ao f~xperimentos sugerem que a ascensão ocorre, prova-
longe) ela cadeia (Fig. 17.60). () fc)CO magmático - \·elmente, muito mais pela criaçãc) de sistemas de
que também leva à e)corrência de numerosos terre- tissuras no material rochoso do manto do que através
motos - encontra-se hoje na extremidade sudeste de um conduto único, por conta das modificações de
da cadeia na Grande Ilha do Havaí, onde estãci em pressão e temperatura, que também explicam a inci-
atividade os vulcões IZilauea e Mauna Loa, além de) dência de terremotos. Com o decorrer do tempo
vulcão submarino Loihi, situado pe)uco aci sul. geeilógico, um ceJnjunto de vulce"'íes aparece no interi-
eir da placa liteJsférica, aos quais se associam também
grande número de vulcões submarincJs (seamounts), con-
2,6-3,7 Ilhas Havaianas forme observa-se na fisicJgrafia do assoalho oceânico.

No caso do vulcanismo do Havaí, os estudeis sís-


micos sugerem a presença de duas câmaras ma_l,>rriáticas,
situadas entre 50 - 60 km e 3 - 6 l,m abaixo da superfí-
0,0-0,4 cie, ambas senelo abastecidas por uma pluma de grande
profundidade. Na câmara mais rasa, as rochas
Grande Ilha
encaixantes abaixo ele 6 km são mais densas que o
(Havai) magma, cuja ascensãeJ ocorre por diferenças de densi-
dade; acima de 3 km, as rochas encaixantes são mencJs
Fig. 17.60 A cadeia vulcânica do Havaí na placa Pacífica elensas que o magma, impeclindo assim a ascensão
(Ma = milhões de anos). O aparecimento das ilhas é resulta- magmática. A magnitude da pluma do Havaí é de tal
do da ação de um ponto quente (hot spot) muito profundo e cirdem que abastece simultaneamente três vulcões
estacionário no interior da placa Pacífica que está em movi- (i\launa Loa, l(ilauea e J~oihi).
mento a uma taxa de l Ocm/ano. O foco atual do vulcanismo
está situado na extremidade sudeste da cadeia na Grande Ilha (-)s pontos quentes são receJnhecidos em cerca de
do Havaí. 40 sítieis com vulcanismo ativo no interior de placas
liteisféricas (por exemplo, ilhas c;alápagos e Havaí),
muito em!Jora ainela nãei haja um consenseJ a respeito
() mecanismo de criaçãci desse ccJnjuntci de ilhas é
explicado pela ação de um pcinto quente (hot spot) eJu
pluma mantélica. (_) ceJnceitc) feii introduzielcJ peleis pes-
vulcões
quisadores norte-americanos Jasein J\Iorgan e TuzeJ extintos
Wilson para explicar a associaçãei incomum ele cadeias
vulcânicas inativas e ativas no interÍ<lr de cc)ntinentes.
A pluma ce)nfigura uma coluna de material rcJcheisei
superaquecidei ql1e ascende lentamente à superfície
desde a interface manteJ inferior - núcleo externe) (Fig.
17.61). f~ssas plumas representam, portante), mais um
mecanismo eficiente de perda de) calor internei terres-
tre, associado ao movimente) das placas litosféricas (Cap.
6).
núcleo
Aparentemente, a pluma mantélica, ceJm Sl!a pcir- externo
çãei Sl1perior em estac-leJ ele fusãei, mantém-se
Fig. 17.6 l Perfil esquemático da pluma mantélica e geração
estacionária
,
por milhões de anos alimentandei um Vl1l- de um vulcão intra placa. A geração das plumas aparentemente
cão. A medida que a placa se afasta lentamente da está condicionada a correntes de convecção profundas e es-
pcisição da pluma, ela transpcirta ci \·ulcão , teir11and.c1- tacionárias que ascendem a partir da interface manto inferior
. . .
Cl 1nat1vo e, aei mesmcJ tempo que ccint1nua C) - núcleo externo.
CAPÍTULO 17 • VULCANISMO 373 •

do n1ecanismo da <)rigem dos mesmos. Plu1nas


mantélicas também podem explicar ocorrências alinha-
das de vulcanismo com idades distintas situados em
áreas continentais, sugerindo a atuação do fenômencJ
pelo menos desde o Mesozóico. Nos continentes, a
açã<) das plumas pode causar afinamento e enfraqueci-
mento da litosfera e permitir não só a exposição das
rochas mais profundas como também induzir a fc)rma-
ção ,de um rift. Um dc)s exemplos é o vale do rio Niger,
na 1\frica Ocidental.

() modelo das plumas mantélicas é também uma


alternativa interessante para explicar o porquê da ilha
vulcânica da Islândia ser a maior parte emersa da ca-
deia Meso-Atlântica no <)cean<J Atlântico Norte. A
razão disso estaria numa origem magmática híbrida
para a Islândia. Ali, o vulcanismc) fissura] gerado por
cc)nvecção ascendente de material astenosférico (que
forma a nova crosta no eixo da cadeia Mesc)-Üceâni-
ca) teria uma contribuição adicional de uma pluma
mantélica. O processo permitiria cc)nstruir uma crc)sta
oceânica anormalmente espessa, com o crescimento
se dandc) hoje acima de) nível de) mar. O resultado é,
Fig. 17.62 Erupção do vulcão Santa Helena, Estado de Wa-
portantcJ, distinto do que <)corre na crosta continental,
shington (EUA), ocorrida em 18 de maio de 1980. A explosão
onde a influência de uma pluma causa <) seu afinamento. liberou um gigantesco cogumelo de cinza e gases, atingindo
altitudes da ordem de 14 km. Foto: SPL/Stock Photos.

17 .4 Vulcanismo e seus Efeitos no () maior impacto dcJs gases vulcânicos se dá pela


Meio Ambiente liberação de cinzas e SC) 2 • Este gás transforma-se em
ácido sulfúricc) pelos raios solares que interagem com
Apesar de sabermos que as mudanças climáticas
o vapc)r de água da estratosfera para então formar ca-
estãcJ associadas à variabilidade natural dos processc)S
madas ele aerossóis. Essas camadas sào constituídas
atmosféricos, pelo menos dois outrc)s parâmetros - a
também por pequenas partículas e/ eJu gc)tículas, com
revolução industrial e os vulcões - têm adicionado
diâmetro inferior a 1 micrômetro (0,(}01 mm), pclr sal
enormes quantidades de material particulado e gases à
marinho e pe)eira silicática de origem diYersa (marinha,
atmosfera - Fig. 17.62. Há evidências de que as erup-
erupções vulcânicas, incêndios tlorestais, grandes tem-
çe:íes vulcânicas afetam o comportamento do clima em
pestades de poeira, fumaça industrial. etc.,. :\s camadas
curtos períodos de tempo e possivelmente influenci-
de aerc)ssóis resistem em suspensão na estratcJsfera por
am as alterações de longa duração, inclusive no
muito tempo apéls as partículas de cinza terem se de-
aquecimento global. Isto poderia causar no futuro, por
positadc) na Terra, uma Yez que em altitudes muito
exemple), o degelo das calotas polares com conseqüen-
elevadas não há nu\·ens e chu,·a para uma lavagem
te subida do nível dos oceanos, trazendc) efeitc)s
mais rápida e efeti\·a. Obser,·ações meteorológicas
catastróficos para habitantes de cidades como Rio de
cclmprc)vam que essas camadas, entre altitudes de 15 e
Janeiro, Buenos Aires, Tóquio, Los Angeles e Nova
30 km, interceptam a luz solar, aquecendo a estratos-
Iorque, entre tantas outras situadas em litorais. Entre-
fera e diminuindo a temperatura da superfície terrestre
tantc), a recc)nhecida abundância do Cü 2 nos gases
e da pr{Jpria atmosfera.
vulcânicos não é suficiente para ce)ntribuir significati-
vamente para o efeito estufa. Enquanto os vulcões O estadista e in,·ent<)r norte-americano Benja-
produzem cerca de 11 O milhc:ies de toneladas de CC)2 min Franklin foi o primeiro a sugerir que os vulcões
por an<), as atividades industriais adicie)nam à atmc)sfe- são importantes modit1cadc)res deJ clima, com base
ra em torno de 1O bilhões de toneladas por ano. na obserYacào dos efeitos da erupção Laki (Islân-
dia), no ano de 1783. Esta erupçãc), além de gerar vcirecer e entardecer tiveram ccires exóticas e muito
o mai(ir derrame vulcânico da história recente da vivas (verde, azul, azul-brilhante), além de halos colo-
Terra, liberou uma gigantesca quantidade de gás que ridcJs circundandcJ cJ Sol e a I~ua. C~alcula-se que cerca
envolveu completamente esta ilha e uma grande de 13c1/o da luz scJlar tenham sidcJ bloqueados após a
parte da Europa Setentrional, durante vários meses. explcisão, CCJm o cc>nseqüente alJaixamento das tempe-
Denominada de neblina seca, essa nuvem era muito raturas glcJbais de O,SºC durante dois ou três anos, em
rica em flúcir, um gás altamente corrosivcJ, que se relação à média ncirmal d.a temperatura na troposfera
condensou na fc)rma de chuva ou em partículas de (Fig. 17.63).
cinza, vindo finalmente se t-lepositar scJbre a grama
Mais recentemente, nas erupções dos vulcões
e campos de cultiv(J, poluindo rios e lagos pelo ex-
Pina tubo (Filipinas, 1991) e FJ Chichón (México, 1982),
cesso de flúor. Em conseqüência, mais de 230.000
nuvens ccJm teores anormalmente altos de S02 alcan-
reses morreram, causando falta de alimento para os
çaram a estratcisfera, trazenclo também efeitos
10.()00 habitantes da Islândia. A neblina seca que atin-
atmosféricos glo!Jais (I1ig. 17.64). No caso da erupção
giu a Europa felizmente nãcJ f(Ji tãcJ nociva, n1as se
do PinatubcJ, imagens de satélite mc)straram um cogu-
manteve visível pclr muitcJS dias durante o verão e
melo explosivcJ gigantesco ccim 4()0 km de largura e 34
outono claquele ano. Come> ci inverncJ de 1783-1784
km de altura. () incremento do S02 causado pela erup-
foi anormalmente severo, especialmente na F:urci-
ção oxidou a atmosfera e, em conseqüência, as
pa, Franklin C(JncluiL1 que a erupção Laki teria sil-lo
temperaturas médias mundiais durante 1991-1992 so-
a principal causa das baixas temperaturas médias da
, freram reduçãci ele cerca de 0,4°C. Pelo fatci desses
epcica.
clois vulcões estarern localizadcis a baixas latitudes, os
Vários outros cientistas propuseram a Cl)rrelaçãcJ aerossóis de ácido sulfúrico, cinza e pcieira vulcânica
entre as alterações climáticas globais e grandes erup-
ÇC)es (I<rakatcJa - Indc>nésia, 1883; Tarawera
- NcJva Zelândia, 1886; Banclai-sar1 - Japão, TEMPERATURA (ºC)
1888; Bc)goslof - 1\laska, 1890), as quais -100° -60° -20° 20° 60° 100°
50
teriam influenciaclo (J clima, tcJrnandcJ-CJ
mais fril) nas décaelas finais dcJ séculc) XIX. 100%
lncic:tência
C)s relatos histc>ricos sobre }Crakat()a -- 11rr1 solar-IR
.· . ·. (uv+OH)
dc>s integrantes ele um grupll de cones vul- 40
câniccJs no interic)r de uma caleleira situacla
entre Java e Sumatra - revelam que a ex-
plcJsãc) foi equivalente à liberaçãci
-
E 30
instantânea ele 1-1ma energia cerca ele 5.000 Jil:
vezes maicir que a l)<Jmba de I-lir(ishima. w -
e
A magnitucle ela explcisão foi tal que foi :::J cinzas
ouvida na 1\L1strália, a mais ele 2.000 km de
....-
!:i 20
clistância, distribuindcJ cinzas vulcânicas pcJr e(

7()().00() km 2 . r•:specula-sc que a erupçãc>


do I<rakatoa tenha siclci prcJvcicacla pela in-
filtração da água dei mar nas fissuras d(J 10

asscialho ciceânicci, atinginc!cJ uma câmara


magmática. A expansão extremamente vi-
olenta da água do mar prcJduziu uma o
erupção freática e tsur1amis sucessivos ccim
anelas de 4() metrcis ele alt11ra, destruincl<J
cerca de 300 assentament(JS costeircJs e cau- Fig. 17.63 Ilustração da magnitude do cogumelo explosivo do vulcão Krakatoa
em 1883, que alcançou a estratosfera. A inexistência de nuvens impediu o retor-
san dci 36.000 mcirtcs. ()s efeitcis
no mais rápido das cinzas e poeira par·a a superfície da Terra por meio da chuva,
atmc>sfériccJs iniciaram-se cluas semanas
obliterando a luz solar durante vários meses a anos. Com isso, a temperatura
apcis ci cataclisn1a e prcJlongaram-se pcir média global sofreu redução de 0,5ºC. A curva em vermelho representa a varia-
váricis meses. I)ura11te esse fJerÍc>clc>, <J al- ção da temperatura em função da altitude.
..
.! 95
17 .5 É Possível Prever Riscos
Vulcânicos?
o
cn
·-.
Ili
a,
90
C)s excn1plc>s citaelc1s ncis itens a11teric>res (Vesúvici,
li l ,aki, l,rakatcia, l la,,aí, l)inatul1c>, 1•J C:hich<'in, J ,ascar,
e
w l'tc.) sàc> a11enas un1a 1ni11úsclila arnc>stra ele> que a natu-
Ili
'D re;,:a 1,<>lle tl<>S <>ferecer cn1 tern1<>s llc cataclis111<>S
O 85 ..
1111 ,·tdc,ínic<>S. ;\ vulcan<il<>gia tctn 11rc>greelidc> a tal 11<>t1t<>
CII

·-E
CII l1ue h< >jc sal1em< is ljLIC existem entre 500 e (iOO vul-
~ 80
c<·>cs ati,·c>s na 1'erra e lJuais sà<J <>S ele n1aic>r risc<J.
Ili ,\ssin1, p<>eletn<>s ccJn1preeneler as causas 1,ri11ci11ais ll<i
t. '>r ·.
1970 1980 1990 ANOS terrÍ\'el registr<J l1ist<'>ricc> legadci pela evciluçàci ge<>lc'i-
Fig. 17.64 Relação entre a transmissão da energia solar que gica ll<> 1,la11eta, represcntael<J, a1,er1as nc>s últin1cis .SOO
passa na atmosfera e as erupções dos vulcões EI Chichón e an<>s, 1,ela perda <le 2()0.0()() villas!
Pinatubo.
Pc>r <iutrcJ lall<>, c<>l11<l p<ieletn<>S avaliar se utn vul-
cãc1 está esta\)ilizael,> <>u a11cnas "elc1r1nente", <Ju att1da
fciran1 transpcirtael<is pcir vcnt<JS cstratc>sfériccis, e1uc, C<>l11<> J,<>de111<JS 11reYer eiuanel<> se llará <> m<>t11e11tc1
TI() caS() el() l•J c=hichc'in, circunclaram a Terra cm arie- exat<J ela c1nissãc1 ele gases tc'Jxicc>s <>u 111esm<> ele
nas 1 n1ês. Passaelc>s 12 meses elesta erupçãcJ, a 11uven1 utna eru11çãcJ? l•:ssas resJ,<JStas têm itnJ,<irtância 11àci
estratc>sférica atingiu seu efcit<J máxi1ncJ na l~urci11a, e se'> para a c<>mprecnsãc1 cl<> clima gl<il)al, C<Jl11C> já
scJn1c11te em 1985 as 1nediçi>es ele transmissãc> da ener- viste>, n1as taml)étn 1,ara as 11<>J1ulaçc:íes que \'Íven1
gia sc>lar rctcirnaram a<Js níveis pré-erL1pçãcJ. nas 11r<>xin1ielaeles <le vulcc->es e até· para fins ele> a11r<J·
vcitan1entci raci<inal ela cncirn1e e11ergia tcrn1al
RcgistrcJs adici<Jnais da influê11cia clci vulcanismc>
ass<>ciaela acis vulcc:íes.
ctn granelcs n1udanças cli1náticas feiram <Jl)tielc>s a partir
ele S<>nelagens clci asscialhci elcis c>cea11c>s. 1\1nc>stras re- l)c>r excn1pl<>, e> exame d<>S prc>clut<>s de eru11çc:íes
Cl1peraclas revelaran1 e1ue a e1uanticlaclc ele cinza passaelas seryc ele guia para ci cstal)clccin1cntc> ele u111
vulcânica ncis seclimentcis depcisitaelc>s TI<> asscialhc> 1/.<>nea111er1tcJ seg;ur<> el<J use> el<> sc>lc> e111 rcgi<:ícs vul-
<>ceânic<J aumc11tc>u há cerca de 2 n1ill1<:íes ele a11<>S e cânicas, a tnceliela tnais efetiva para re<luzir fatalilla<les.
tetn-se n1anticlc1 alta desde cntãci. Este pcrÍ<>d<i tctnp<>· 1\lén1 dissci, instrun1ent<is sc11sÍ\'eis p<idem detectar
ral C<>ir1ciele exatamente ccJtn a glaciaçãcJ gl<Jl)a! de> sinais lla ativielalle vulcâ11ica 1,rec<Jce, tais C<>n1<> sisn1<>s
Pleistc>cenc>, dcm<>nstranelc> e1ue ci increment<J ela ativi- intertnitentes ass<>ciael<>s i1 111<>vin1entaçãc> d<> n1ag;1na
dacle VLilcânica pcissi,,elmentc se asscJcic>u à e1uccla da en1 pr<>funclie-!aele, dilataçã<> e it1clinacà<> li<> terrencJ
temperatura ela épcica. Alguns cientistas, tc>clavia, nãc> vulcânic<i, e as e111issc->es ,u;ascisas que -~eralt11ente ;1re-
ccJnsideram esta evielência cc>mc> ccinclusiva, uma vez cedc111 as eru11ç<:íes. T<ielavia, apesar ele t<>ll<i <> a,·anc<>
e1ue a coleta ele a1ncJstras ele scelin1cnt<>s c>ceânicc>s mais científicci alcançaelc>, pern1anece111 <>S risc<Js latl'ntes
a11tig<1s não é SLtficienten1ente ampla 11ara cml)asar u1na de vulct'íes ccim<> e> Vcsú,·i<J ((~u.tllr<> 1-.,1,. que apc'>s
cc>mparaçàcJ científica. séculc>s ele i11ati,,ielaelc c11rrc1u en1 erupcào repcnti11a-
r11ente.
De tc>elc> mciel<>, sabe111<>s que a interaçãc> ela atm<>S·
fera, ciceancis e superfície dc>s cc>ntincntes é Setn elúviela, <>s ete1t<>S carastr<'>t!C<>s elas eru11-
cxtre1na1ncnte ccimplcxa e que <> Yulcanism<i é apc11as çc:ícs p<>elem ser n1inin1iz:1d<)S com a C<>111\1inaçà<1 ela
um elos fat<ires, entre ra11rcis <>Lltr<>s, que inf1ucncian1 e> ciência e p<llítica pública. r:m al~L1ns casc>s, é p<>s-
clima da Terra. [>c>rén1, inelepcndentc1nentc elesta sível, inclusive. rre,-er onde a erupçà<i terá lugar a
C<Jnstatação, permanece un1a ÍI11p<>rta11te pergunta para partir ela l<icaliz,1càcJ do foc<1 ele tcrremc1tc>s e ele
a ncissa rcflexãc>: até que pc>ntc> a frce1üência e a mag11i- alteraçc'ícs n< > padrào das anelas sís1nicas, c1u ainda
tL1dc elas erupçc:íes vulcânicas afctan1 <> nc>ssc> clima? c<intrc>lar, n1esm<l que em pe9L1cna escala, a erup-
() enteneliment<J ele> vulcanisn1cJ e a quantificaçãci ele çà<J, de 111< >d<> a reduzir eis SCL!S elan<Js. \.>or c1casià<J
seus cfeitcis são, sem clú,·iela, un1 elesafi.c> para gcc'ilc>gc>s, ela erupcàc> de 19- 3 ncis arredcJres dcJ pc>rtci ele
mctec>rc>lc>gistas e climatokigistas, ainda mais p<>r caL1sa Hein1ae, Islândia,. a p<lpulaçã<J !)cJ111bccJlt a água
elas implicações fundamentais para a viela. gelacla li<> ocean(J para jcigá-la elia e n<Jite scJl,rc a
Fig. 17.65 Estrato-vulcão Santa Helena: cenário anterior e posterior à erupção de maio de
1980. O impacto explosivo com ventos arrasadores ocorreu em segundos na região, sucedido
por um /ahar que destruiu um floresta de l O milhões de árvores. Foto: US Geological Survey.

lava e1uc avançava. C:e)m isse), cc)nscguiL1-sc resfriar tla11cei de> VL1lcãc1. Rcsultaclei impressicinante ela tra-
a SL1perfície ela lava, diminuinl-le) lentamente ei seu géclia: 57 meJrtes, t1ma área de 4()0 km 2 totalmente
flux<J, <J c1ue evitciu e1uc <) únice) acessei e-las em\-Jat- arrasada e cciberta pe)r cinza vulcânica, cc)m danc)s
caçe-Jes ae> pc>rtc) fcisse ble>qLteaelo. materiais supericires a 1 bilhãcJ de d<'>lares america-
ncis. C:cintudo, Lima efetiva açãcJ da defesa civil e
A explosãcJ de> mc>nte Santa I Iclcna - ei n1ais ati-
elas instituiçc)es gc>vernamentais pc)ssibilitciu a reti-
ve) estratci-vulcãeJ da cadeia ele mcintanhas jeJvcns
racla prcivillencial de milhares ele pesseias da zona
expc>sta desde a (~alif(Jrnia Setentricinal (I~l11\) até a
ele risccJ dias antes da crt1pçãc).
CcJlúmbia Britânica (C~ar1aelá) - cJccJrrcu cm 18 ele
maiei ele 1980. Seguiram-se diversas eJLttras cxplci- ;\ ,,ic)lência elci cataclismc) deveu-se à intrusãe) de
s e>es e dcrramamente) ele lava ne>s seis anc)s magma de caráter viscoso ceim alte) tec)r ele gases elis-
seguintes, até CJ vL1lcãei entrar cm rcpoLlSl). 1\ pesar scilvielos (principalmente 1-1 2 () e (~()), em torno ele
de) Santa Helena estar sene{ci dctalhaclamente 6l1/ri (cm pese>). Trata-se de um valc1r muito alto se cc)m-
mciniteiraelcJ, a prin1eira pesseJa a mcirrcr fcii L1111 paraelci com CJ ceinteúelci de gases no mah:rrna ele) vulcão
vulcanc'ilcigo que trabalhava na estaçãe> sismc>gráfica, J<._ilatiewa (HavaQ, c1ue é de apenas 1(1/o. Como resulta-
sitL1ada justamer1te na base elo flancci norte da mcin- clci, eice>rrct1 o conftnamentci e rctarelamento dc1 escape
tanha que cxplcJl-liu. ele)s gases interncJs dei magma no Santa Helena até qtic
as presse)es atingiram níveis tão altos que ccJnduziram
A primeira erupçãci, segundcJs apc'is tim feirtc trc-
à elesesta!Jilizaçãc) elci ,,ulcão e à grande exple1são. Tam-
meir que causciu <) ccilapso elestc flanco dei ,,ulcãe>,
l1é1n impc)rtante é o fateJ que erupçe>es ainda maiores
fe>i ceinsielcrada a n1aicir elcis últin1os 60 ar1eis ne>s
clci vtilcãci Santa Helena c>corrcram ncJ passado (Fig.
RlJA. 1,ançc)u cerca ele 1 ktn' de pc>eira e gases na
17.66). PcJrtantcJ, cJutras podem ocorrer nc) ft1tt1rci.
atmcisfcra, proeluzinllo um cc1gu1nclcJ ccJn1 2().()00 m
I\inda mais preeicL1pantc pc)rém, é a existência ele ou-
e-le altura (Figs 17.62, 17.65) - material este sufici-
treis vulcc:ies "c-!cJrtnentes" come> cJ mcJnte Rainier, nas
ente para ce)nstruir 400 ,~randes pirân1illes! ()
prcJximidaelcs de Seattle (EUA). É eviclente o enorme
impactei explcisivc) gcrot1 vcntc)s ,,ieilentíssimcis, c1ue
riscci ela pc>pulaçãeJ da região fronteira F,UA-Canadá,
clevastaram uma flciresta ele 1 O milhoes de árvores
parte dela resielinelo inclusive scibre depéisitos dos !ahars
(Fig. 17 .65). Destruição aelicional feii causaela pcir
prcJduzieleis pele) Rainier a cada 500-1000 anos.
um gigantesceJ lahar inl-luzic!e) pelei ccilapso l1CJ
CAPÍTULO 17 • VULCANISMO 377 •

no n1<JnitcJramentcJ visual do fentimeno. Um planeJ


de emergência de divulgação de alarmes S<Jl,re a eJceJr-
réncia da maioria d<JS lahars em PinatubcJ tem
din1inuído eJ risco de vida de centenas de pesscJas que
. .-
,-1,-em na regiacJ.
100
50
I:-~stes relateJs pos1t1vos contrastam com os erros
10 cometidos por ocasiã<J da erupção tl<J Nevado dei Ruiz
5
em n<)vcmbro ele 1985 - um vulcãeJ com 5.389 m ele
1 altura n<JS _-'\.ndes ColombianeJs em cujcJ t<ip<l havia uma
0.5
calei ta de cerca 17 km 2 de gelo perene. ()s vulcan{ilogos
0.1
4.600 1.900 79 1104 1500 1707 1815 1883 1902 1912 1980 sabian1 que se tratava de um vulcãcJ de alteJ risco e
B.C. B.C.
csra,·am preparados para divulgar CJS alertas, mas ne-
Fig. 17.66 Diagrama comparativo de várias erupções famo- nh un1 a cJrdem para evacuar a populaçã<J foi
sas vs. sua magnitude explosiva. Erupções do vulcão Santa
implementada pelo govern<J. En1 decorrência clessa
Helena estão entre as mais violentas do planeta, ultrpassando
c,missão, mais de 22.000 pesscJas perderam a vicia por
em magnitude até a famosa erupção do monte Vesúvio no
ano 79 d.C. (Quadro 17.3).
causa de um laharque seJterrou a lcJcalidade de Armerc).
Apesar da erupção piroclástica ter sidcJ de pequena
A erupção do Pinatubo, em 15 de junho de magnitude, foi suficiente para fundir cerca de 1()!¾1 da
1991, um vulcã<J "dcirmente" por 500 anos situa- calota de gel<,, gerando os lahars que rumaram para cJs
do a apenas 70 km a noroeste de Manila (Filipinas), vales abruptcJs adjacentes. ()s clepósitos de lama e
foi considerada a segunda maior tio século XX (I<ig. fragmentos com 1 metrcJ de espessura, distribuíd<is
17.66). Em c<inseqüência, mais de 5 km 3 de frag- numa área de 40 km 2 no vale de ArmetcJ, testemu-
mentos de rocha foram depositados nos flancos do nham a dimensão da catástrcJfe. Bastaria que as
vulcão e nos vales adjacentes. As nuvens de cinza autcJridades tivessem cJrganizado a retiracla da pcl-
vulcânica, de tão densas, derrubaram edificações. pulação para áreas topograficamentc mais ele,-aclas
Em questão de horas, chuvas torrenciais lavaram (alguns metros apenas!) para ter sidei evitada tama-
este acúmulo de material inconsolidado, gerando nha tragédia.
fluxeJs de lama (lahars); nas quatreJ estações chuvo-
Tabela 17.3 Relação dos vulcões estudados
sas seguintes, mais da metade desse depósitcJ foi
durante o projeto das Nações Unidas "Década
transportada pelos lahars, qut- causaram destruição
Internacional de Redução de Desastres Natu-
maior inclusive do que a erupção em si. rais" (1990-2000).
Apesar diss<J, o Pinatubo causou apenas 300 víti- Vulcão País
mas fatais. Isto se deveu aos alertas divulgados sobre a
México
iminência da erupção, a partir do momento em que
Etna Itália
sismógrafos do observatório local acusaram o proces-
Japão
so de ascensão do magma. Tais informes sensibilizaram
as autoridades civis e militares que, por sua vez, <)rga- Mauna Loa. EUA
nizaram a retirada de 250.000 pessoas, bem como de ..•>~•,;·
aeronaves e equipamentos da zona mais perig<Jsa, pou- Niragongo Zaire
cos dias antes da grande erupção.

A partir do estudo dos lahars produzidos pela ex- Sakurajima Japão


1
plosão de 1991, cientistas têm elaborado mapas de i;i ii~~~ijljil6na/ Sa alo
risco vulcânico para a região. Estes mapas são perio- Santorini Grécia
dicamente atualizados com índices de pluviosidade filipi
regional e l<Jcal e dados de monitores acústicos de flu- Teide Ilhas Canárias
xeJ postados nos terraços tlu,-iais. Tais monitores
detectam vibraç<}es no solo à medida que um lahar se
1
l: llilt1lawin •· :li~~mml~ii!lii-:.. . ·
Unzen Japão
movimenta, notificando automaticamente a sua pro- '' "' -
··••Ves' ·
gressão. Técnicos em locais estratégicos também atuam
378 DECIFRANDO A TERRA

(~atástr<>fcs cc>n1r> essa revclan1 a imp<>rttu1cia d<> () mcJnitclramcnt<J ele c1nissiics t(ixicas ele gás e
mc>nit<>ramcntci ll<Js vulciics 1nais perig<lscis (1\1!Jela seus cfeitcis tan1!Jén1 faz parte dcJS pr<Jgramas ele re-
17.3). l)<>t cxcn1pl<J, lag<JS ácid<JS !Jcielc1n se instalar n<J el uçà<> ele risccJs vulcâniccis, sendci de grande
t<JJ1<) ele vLilceJes e ci ITI<lnit<Jramc11t<J de variaç<Jcs 11as i111pclrtância para <J ser human<J e seu habitat. Pcir exem-
ccJncentraçeJes ele elcn1cnt<JS ccJmcJ Na, 1\Jg e S auxilia ple), a cn1issà<J ele S( )2 e <>utrcis prilucntes pelei vulcàci
na 11revisãci da ascc11sà<J eleJ 111agrna. l)<Jr ciutr<> laelei, I(ilauea interagem L]LIÍmicamentc C<Jm <J () 2 , eJs vapci-
satélites pcrn1itcn1 ielcntificar cxplciseJcs vulcfu1icas, eJ res attneisfériccis, a p<icira e a lu7. S<Jlar, rcsultandci cn1
CjLte C:· 11articularmentc im11cJrtantc n<J mcinitcJran1ent< > ncl1lina e chL1va áciela. () primcit<J preJclutcJ vulcânicci
de regi<Jcs rc111<Jtas ceHn tráfeg<i aére<l, Ltn1a vez c1uc traz riscci para a saúelc, p<lis agrava enfcrmielacles rcs-
radares llcis avicJes nãci dctectan1 as nuvens ele cin1.as. piratc'irias, aci passei que a chuva ácie-la pcle-le contaminar
J\cide11tes <JC<1rre111 c1uar1elcJ as cinzas vulcânicas ci S< >l<J, a vegctaçà<J e as reservas l1e água pc)tável.
superac1uccielas e clcnsas sà<l aspiraclas pelas tL1rl1inas N eJs I ,; LJ ;\, elesdc 198(), têm sielcl cstuc1aelas as imc-
de aereJt1aves, causanelci sua qucela. cliaçcJes <la m<intanha Mammcith (na c:alif(irnia) - um
Nà<i 111c11eJs in1pclrtante é <J prcJlJlcrna s<Jcial cnvcil- vulcàcJ jcivcm cujas últin1as crupç<Jcs <lCclrteram há
vill<i ccim a 11rcvisã<J desses desastres naturais, eJ cjuc apenas 200 an<lS - cinde tcrrcmcit<lS sãci frcc1üentcs.
passa 11eccssarian1cnte pelei ccinvenciment<J lias aut<Jri- r,:m 1989, intermitentes trc1ncJres ele magnituele baixa
elac-lcs gcJvernatncntais. Sem elúvida, a n1aic1r ra?.:'i<J ele fcJram mcJnitcirallcls peleis cientistas, aci n1esmo tempci
ter <JC<JtrielcJ um n1cnclr númcr<J de vítimas fatais nas eJLtC cilJservaram a mcirtc elas árvcJres ncJs flanccis ela
n1cintanl1a. () fcnc'.imc11ci se cleL1 cm funçàci da emissàci
cxpleiscJCS llci Santa I Iclcna e ]linatulici f<)i a 11<Jstura
ele etl<Jttnes vcilumcs ele (:( )2 ciriginael<JS elcJ magma
preventiva allcitacla 11clas autcirielaeles.

•.· i i i 17.4 A cat.ástrofe,do lago Nyos, República dos Camarõe.s···


l\,errlissãõ
,',, ,,:
,'"',,
letal
:
de• gás ocorrida· no lago
, , ,,
Nyos é um caso relativamente raro na longa lista
,,', ,,' , '" , , ,,,
,,
•dê catástrofes
,,
· .· ,, , ,, , ,, ', ",

. ,tulcâ#ii:;as. Este lago localiza-se nunra cratera que integra uma zona cc>m vulcões na Africa Oi:;idental,
~â:i,ip~ del~s iltivos qos ülcimos.1 O milhões de anos. No dia 21 de agosto de 1986, repentinamehte, tonela~ ·
4ils q:~•[g~s ÇQ2 e 802 emanaram da superfície do lago. Mais pesados que o ar, estes gases ê6.i{icos
espallilarahl~se silenciosa e rapidamente vale abaixo, encapsulando três vilas nas proximidades do 'Vulcão. ·
:E~ ~eno!i de 10 min1;1to~, 1.700 habitantes e 3.000 animais morreram sufocados pela falta de oxígêrtiq. •
i 't.J~~\':~~q~~iâ s~l'n_~]r1ante, porém/de menor• magnitude,• ac;onteceu .em 1984 no· lago Monoun~i distante .·
!·•~!2Q•~iil d~>]agq,Nyos,
>,,'",,<,'',,:S, \,
causando a morte de 37 pessoas, mas pouca·inrportância foi dada então ao.fâto. ·.·
\o,:ii,,\;;,L,O:<]:(':(,;'.':'i'<'''.';°i,, :;:;-,/'',,, \:'.>:',<: ,-, :'-'',',, , ', , , ", ,, , , , ,, ,;/--'-',, , ,,':-'-,,, '

• ~Iíttbs,•da.~pôca nrene'iooaranr que este primeiro desastre foi precedido por um ruído semelhante ao de .
~~lit.a~ão ao .ãterriss~., acompan.hado por um sismo. Possivelmente, este sismo causou uma mudítnça ·
·. . . . . . ·. 'iija:.no suJ:>Strâiõi do lago., pertnitindo a emissão gasosa letal, descrita pelos sobreviventes eq.lllO .·
ijfa,m~rg~r;e acidêz. Os·corpos~rtca.ntrados apresentavam queimaduras· e estavam espãlhaelot.nas·.·
1'0 •••••.n••· .. ..·. a.s•i!O r~dordoJago, cotl,fi~~ •. •. () que a nuvem muito densa propagou;;sê próximo ílocil:lâlo..;.
.·. . ~e.~~ê<ás. queit;niaduras tenhafil,; •• . . .fllsadas pelo ácido sulfúrico, uma vez que. o ódor.4arâ~te~ .· .·
. . 'OO°~i:.ij~m~lat•a.o do lago Nyos. PossiJC!!. l~it;e, a emanação de co2 foi acompanhada ainda de outtóS .
t:t{98~9 Q ácido sulfídtico (H2S), detÍuij~i~i9 pelo odor característico de ovo cozido descrito pelos·.·
.' btê~i~entês.
', '"' '""''' ,,",, "' , , ' , ,
. :: i •. ·
:c:r::,<,"

~.i•.~~~.acêi.tiIS()br~..a catástrofe do~~ Njps admite uma infiltração de águas da estatã~ml.l/ito


...... ·. · ~.r<:>~dades da cratera. Esta ' ! ·
j:aquecida pelo magma ascendente• e, ao se 'V'apór~~9.f;
J, êt~~•g::tsês$ubterfâneos, diretamente no suistrato submerso da cratera. Os cientistas alertam. qtie•:ia
;r,ecortência de,emíssões gasosas na região, bemG:omo a atividade sísmica freqüente, podem estar prerttjn'-
il. ~i~~do.tt~a futura "bomba geológica vulcânica'','.ainda mais porque centenas de lagos como os de Nyos e
r.m.linq~.n.'ê~stem ha região. .. . . .
cc:!;1>[>,'.i,,,, ,: .... "
e-las prc>funclezas ele> vulcãci, ljlle ascenc-leu através ele c< ,111crci,1lr11ente cc>mci aclitivcis aci cimentcJ, al1rasivcis,
fissuras da rcicha. Sua alta concentraçãci nci sc>lcJ ma- c, ,111,, inl!:reelientes ela inclústria farmacêutica e na pr<>-
tcit1 as raí:;,cs elas árvc>res. ;\ rcgiãci ten1 granele afluxci lluc.1,, ele sal1á<i e materiais ele limpeza.
de turistas, que clesfrutam ela beleza cênica e praticam
espclrtes de invernei. ])c>r issci, C>S ge{ilcigcis cci11tint1am () .1prc J\ eita111ent<> ele ca1npcis gecltérn1icc>s ilustra
a monitcirar ci vtilcãci, uma vez c1ue <> C:C)2 , pc>r ser mais L1n1bér11 e>urra itnpcirtante ccintril1uiçãci elci vulcanismci
elenso eJtle ci ar, pcicle se act1mular cm l1anccis de neve, c:ap. ' ' . ,iir1ela rnais pcir ser un1a fcinte energética ines-
l!:<Jt.1\ cl n,1 esc,1la hurnana ele te111p<l. ;\ existência desses
deprcssc->es e áreas cc>m !Jaixa ventilaçãc> C<>tnci calJi-
ncs, tenclas e casas (]iig. 17.Ci7). c.1n1pr ,, se d,i nas 11rc>ximielaeles de c<irp<>S ígnec>s
sul1,upcrtici,1is, cn1 mei<i a rcichas C<>n1 alta pc>rcisielade
t pcrn1cJlJilic1,1cle, situaçáci essa qt1e fàvcirece a circu-
17 .6 Vulcanismo e seus Benefícios laciir > ele ~rrancl<:s c1uantidaclcs ele água sttl1terrá11ea. ()
tn< ,rn1<: cale ,r ass<>cia(lcJ ac> prcicessci map;111áticcl ac1ue-
As rr1ilhares ele mc>rtes e <JS clancis materiais causa-
ct J c't,\..'.LLl c\·cntualtnente aprisic>nada nas rcichas
clcis pelei vulcanism<> ccintrapr'iem-se acis seus
enc:!Í:-;a11rcs, de\·iclc> a carnadas rcichc >sas irr1perme:1vcis
benefícicis, a exe111pl<> elcis recursc>s mi11erais ele c>ri-
S<>l)rt:J,<Jstas. l)esse n1cicl<>, campc>s ge<>térmic<is
ge111 hiclrcitermal, cc>mci tamliétn eis l1ilhéies de
su!Jsuperficiais ccim fluielcis superal1ueciclcis (água e
tc>neladas ele lava e cin:;,a vulcánica c1t1e sã<> transfcir-
vap<ir, <Jll sclmer1te vapcir) sà<l fcir111a(lcis, c>s (JUais, uma
maelcis, aci lc>ngci chi temp<i, cm sc>lcis muitci férteis,
vez perfuraclcJs, \Jermitetn ci escape extren1amente ve-
pclr ccinta da presença ele nutrientes ccim<> lie, S, Na e
l<iz (l<>S flui(lcis. J,'.stes íluidcis JJ<icle111 girar tt1rliinas e
1( e ainela c>utrcis, ccitn<J na ill1a vulcánica ele Java.
gerar energia elétrica, a e1ual é c<insicleracla "limpa" ern
()utrc>s prciclutcis eie erupçc'íes pciclem ser utilizacl<>S ccimparaçá<J c<>n1 a ter1nc1eléctrica e 11uclear.

Montanha
·Mamute

abaixo
da superfície .,. ' '

·árvores
•. secas
1
banco de
r
"
neve

_epressão

Fig. 17.67 Ilustração da emissão de gás C07 na montanha Mammoth (Califórnia). O magma em ascensão causa rupturas na
rocha, propiciando a liberação de grandes volumes de gás. Estes, ao alcançarem o solo, matam as raízes das árvores. Existe risco
potencial de acúmulo do CO: em depressões e áreas pouco ventiladas, pela sua maior densidade em relação ao ar.
380 D EeI FRA N oo A T ERRA

i:llj t)iT . .•..·• .R,k.it)Êê . ..• ]~?mí.Jl1). ~~hr~otl j 1

< ....... ~t:~êtllàn.andiÇo~pany, 1~~~-·•· ·.•. · · ·

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re1êp'""'" irrtr: . >
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'.'""' "

izá Basín. São


,;;iG-êofísico, USP /
. ~('Tu'f, t988( i \

·. .t~tl!§),eJtSea. Amedcari.Scientíst, 1980, vol. 80.


.· •·VI!\]~. . i~.}: MO~GM-J, .J,iMOGT, P,i.The . Earth~ . ·.
•· •. ••·t~5.•···· c·· . .
· • ·• • •Hi t Sptits: Scientinê AméinlcâQ, ·. ol 252 n 4
· . ) • V • · • / · , ... '
transf<lrt11açàcl ele u111a lagarta e111 crisáliela e ( )s prcJcess<JS n1etam<írficc)s <JC<Jrrem, cm geral,
elesta cm b<Jt!)<ilcta den(lmi11a-se "1ncta111<Jr- ass<iciael<JS acJs pr(icess<ls tectt>nic<JS (C:ap. 6). ()s lc>-
f<Jse". N<J livr<l fan1<JS<J ele l(afka, L\!Ieta11iorjóse, <J cais mais in1pcJrtantes sâc> as margens cc>ntinentais
persci11agen1 princiJ)a! transf<Jrtna-sc, de 111aneira in- C<>nvergc.:t1tes, <lncle se elcsenvcJlvem as graneles cae-leias
l]Ltictante, cr11 utn inset<J. !\'lc.:tamclrf<JSe significa de mc>ntanhas, c<imcJ <JS i\ndes, as RcJch<>sas ClLI (JS
tra11sfcirmaçà<l, n1L1elança ele fclrma, sem e1ue se perca 1-lirnalaias, <JLJ (JS arccJs e-le ilha, c<Jtnc> <J arquipélagl>
a essê11cia ela 111atéria e111 transf<Jrmaçàci (11c1s elclis ca- clcl JaJJà<J. RcJchas n1etamcírficas sà<J ccinstitLIÍntes pre-
scJs, un1a Í<Jrt11a ele ser Yivci cm <lutra fcirma). dc>mi n antes nestas granelcs estrL1turas lineares,
Nfetam<irfis111ci, e111 (~e<Jl<Jgia, elcfine ci ccinjunt<J ele prir1cipalrnente 11as suas partes centrais, na f(itma e-le
pr<lcess<JS peleis c1uais urna eletern1inaela r<Jcha é trans- extensas faixas, den(Jn1inae-las cinturões
Í<lrn1ada, através ele reaç<1es l]Lte se pr<>ccssan1 n<l metamórficos, rnuitas vezes intimamente ass<Jciaelas
estadci s<'ilid<J, en1 <>utra r<Jcha, ccim características elis- a rc lchas magn1áticas plu rti11icas. R<>chas mctan1<írficas
tintas elae1uclas e1uc.: ela apresentava antes ela atuaç,1<1 descnv(llven1-se tam!Jém nas prcixi111ielaeles elas el(1rsais
ele 1 tnetatn< Jrfi stn< l. 1,:s tas me leli fi caç<1es in1 plican1 111 u - 111es<J-<1ceánicas, a<J reel<lr ele cclrpcis ígne<)S intrL1sivcis,
ela11ças 11a estrutura, textura, C<Jr11p<lsiçàcl 1,1incral<'>gica a<l i(H1g< >cle grancles :-'.<lr1as ele fall1as Clll ai nela nas era~
<Ju 111esn1<1 C<>n111<1siçàcl c1uí111ica ela rclcl1a, c1ue <lC<>r- teras ele it11pact<J de n1ete<>ritcJs.
rl:'.111 gcral111e11tc ele 111ancira C<Jm]Jinaela. () can1p<l el<>s
J)r<Jcc.:ssc>s tc.:cti'>nic<is pr<lVC>cam mcJclit1caçc1es nas
11r<Jcc.:ss<lS n1eta111c'1rficcJS é ell:'.!itnitacl<J, p<ir u111 lael<i,
ccindiçc1es físiccJ-CJLIÍmicas às <[Ltais <lS pr<Jt<ilitcis esta-
pel<JS pr<icesscJs cliagcnétic<JS, de l1aixa len1perat ura,
\an1 sulJn1eticlc>s. lstcJ C<JnclL1z a<J reeeJL1ilíl1ric> elessas
de até aJ)fCJxi1naclan1ente 250"(: ((:ap. 14) e, p<>r (Ju-
rcJchas através ele rcaç<1es metam<'Jrficas, cJLtc ill<Jelifi-
tr<J, pelcl inícicJ ela fusii<J cle rcJchas a altas ternpcraturas
can1 a cci1n11<Jsiçàcl n1inera!(Jgica e prcim<lvem
(C:ap. lô), C<lt1Í<1r1ne ilustrad<l r1a [!ig. 18.1. 1\s f(>Chas,
rccirganizaçà<i estrutural e textura!. ()s principais
a partir clas c1uais se <lr(l';inam as rc>chas metamórficas,
11arán1etr<JS fí sicc lS en V<i]yielcJs n<J 1netamclrfism<J s~Hl
sã<> cha111aelas cle protc>litos, e sua iclentifical;ii<> len1
a tcn111cratura e a pressàcJ. C:<im Cl aL1111entci ela ten1pe-
granele in1p<>rtáncia c.:111 c.:studcJs gcc>l<'>giccJs.
ratura, 11c1r excmpl<J, <lS argil<ir11inerais elas r<ichas
scelin1entares sà(l sul1stituíclcls 1,<Jr micas e <lLttrcJs
silicat<Js alun1in<lS(lS e a textura seelirnentar elástica de
Temperatura (ºC) un1 arenit(l p<lt<lS<> é recristalizada para uma textura
o 200 400 600 800 l 000 1200 1400 1600 c1n 111< lsaiccJ, <ln ele Llesaparecen1 eis espaçcis vazieis entre
(JS grà<is (I•'ig. 18.2).

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1 1 mm 1
Fig. 18.1 O can1po do metamorfismo em diagrama P x T. O
asterisco indica as condições de pressão mais elevada Fig. 18.2 Arenito corn textura sedimentar elástica bem sele-
cionado, poroso e com grãos de quartzo arredondados (a) e o
registradas em rochas atualmente expostas à superfície da cros-
seu equivalente metamórfico, um quartzito (b), com textura
ta terrestre. A - curva de fusõo para granitos sob condições
granoblóstica em niosoico (poligonizado), onde os grõos de
hidratadas (P, 01 ~ P1- o); B - curva de fusõo poro granitos sob quartzo preenchem todo o espaço, tocando-se através de con-
72
condições anidras (PH)o=O). tatos retos que fazern junções de 120° entre si.

• Leito dobrado de anfibolito intercalado o ortognoisses migmatíticos (MG). Foto: G. A. J Szobó.


R()chas mctamé)rficas p()elc1n preservar algumas das nJ. :\(,rUts!:a,

en1 aurécilas ele metamorfismo de con-
características <)riginais dc)s prc>tc)litc)s, C<>mo C()mpcJsi- tato J.<J reelc>r ele pee1uen<)S C<lrpc)s ele sienitcJs e
çàc> c1uímica, estruturas primárias <>u ni'.1clccJs 1".rJ.n1r,,s. l·Je ,crificcJu eJt1e cJs mi11erais elas r<)chas
remanescentes ele minerais env()lt<Js p<)r auréc)las ele n1etc1111,·,rficas se assc>ciam ele accirel<) ccJm eleter-
minerais nec>f<>rmaelc>s. Pode-se elizcr c1uc as caractc- 111inad.1, cc>n1binações e nâ<> ac) acasc>. Além eliss<),
rí sticas primárias que s<>brevivcm ac>s prc>cesscJs in, csti_C:<JU as C<>ndiçc'ícs ele fc>rmaçàc) ele W<Jllastc>nita
n1etam()rficcJs constituem uma mernória passaela das ncsr.1, rc,chas pela reaçàcJ:
r<)chas metam(>rficas, esse11cial para a ielcntificaçâ<) e-l<J
c:.ic:c) (calcita, c:al) + Si()2 (lJltartZ(), (~tz) =
pr<Jt<Jlite). I>c>r <>utrc) lad<), a asscm!Jéia mineral e as
c:aSi(). \\'(lllast()nita, Wc>) + c:c)2 (fase fluida)
texturas geradas pele> mctamc>rfism<) corresp<)nelcm
(l:ic:.
• •
18 ..).,

atra\·és ele cálcul<JS \Jaseadc>s em n1étcJ-
a t1ma mem<'>ria rece11te. /\través ele) estuele> desta as-
el<>S ter111c>eliná111ic<Js. Na n1es111a linha ele pese1uisa,
scml,léia mineral e texturas, pc>elcm-se estabelecer as
]lenrri l .skcila estt1elc)u <)S terrenc>s metamc'irficc)s ela
cc>neliçc'ícs físicc)-eJttímicas e1uc atuaratn clurante <>
r:i11Li11elia, aplicand<) princípi<JS de cquilíbri<J l)UÍ111i-
metamc>rfismcJ e rec<)nstituir e> processe> cveJlutiveJ
ccJ e111 assc)ciaçc'íes minerais, e1t1e refletem as
elcssas r<)chas.
ce>neliçc'íes ele temperatura e prcssàcJ atuantes elu-
rante <) 111etan1c>rfis1ncJ.
18.1 Evolução Histórica dos Estudos
Sobre Metamorfismo 3 , .
I I
o<'101
1 , "'I
()s prc)cessc>s mctamé>rficc>s c>cc>rrem nc> áma-
gc, da cr(1sta e st1a atuaçà<> é p(>rtantc> inacessível à J: '
D... !
I a..8 lI
,
<)\Jser,,açà<> direta. I~ por esta razâ<> e1ue () seu cstt1- li '
1 l 11 1
l
1~ I•
ele) elesenvc>lveu-sc tareliatncnte, ele n1ancira mais
cc>mplcta apenas na scguncla metaelc ele> séculc> XX. ....
Antes elistc>, C) cstuc-lc> d<> metam<)rfistTI() li111itava- - oN
sc a dcelt1çe1cs feitas a partir de> mapeamcnt<J
minuci<JSe) e-le algutnas regi<'íes onelc as rc)chas
2
Cal
a..:r;
+
I
metamc'>rficas afl<>ravam e-le n1ancira n1ais evielente. +
o"' Qtz
1\s primeiras cJ\Jservaç<'ícs se elevem a (;i<Jvanni a...u
1\relui11<> ne>s ;\lpcs italian<>s, cm 1779, e1uanelcJ en- li l
C<Jt1trcJu cvielências de repetielas tn<>vimentaç<'íes ela
superfície, leva11dcJ à defc)rmaçàcJ elas catnae-las e à
~
li /
transf<)rmaçà<) de calcári<> em mármore, num 1,rcJ-
o
,e
Ili
l I
E
I'
ccss<) qt1c ele denc)mÍne:>u "n1ctamc>rf<)sc". (~uase ~ , l
simt1ltaneamentc, 1-luttcJn rcce>nheceu que algu11s D...
'/ f

micaxistos na l :sc(>cia reprcsentavan1 fcilhclh<>s


0

m<>elificad<)S ncJ interic)r ela crc>sta deviclcJ a<J at1-


ment(J ele prcssàcJ e temperatura. 1•:m 183(), C:harlcs
Tavell intr<>duziu () term(J "mctatn(>rfism<)". l~tn
1877, 1--larry Rc>sen!Jusch estudcJu as re)chas fc>rtna- o
300 700 900
elas na auré<)la tnetam<'>rfica ac> reel<>f ele u111a
Temperatura (ºC)
intrusã<J granítica. GecJrgc l1arrc>w, em 1893, elefi-
niu a clistril1uiçãcJ ele minerais ir1dicativc>s e-lc> at1ment<J
Fig.18.3 D;cg'□ ..,-o das curvas de equilíbrio na campo P x T
ela intensidaele ele> metam( Jrfisn1<) ele fcJlhelh<JS nas
pero io--o;êo ce wollastonita em rochas carbonóticas
Terras 1\ltas (Hz;ghland.1) ela f-·:sc('icia. silicosas :::ie1c -eaçêo CaC0 3 (calcite - Cal) + Si0 2 (quartzo ·

t\s icléias m<)elernas S<JlJre ci metam<>rfismc> C<)- Otz) = CcS O · .-.,::; 1aston·1ta - Wo) + C02 (fase fluida), sob
condicces oe ;cse fluida hidratada (P 11 =PH o), mista
meçaram cc>m <)S cstuel<)S ele \'iktor c;c>lelschmielt, 2
(P 11 =PH o-:::cO . , l) e carbônica (P11 =Pco)·
elesenv<)lviel<)S na prin1cira elécaela el(> sécul<> XX
() grande avanço no entendimento c1cJs processos

metamórficcis occirreu na segunda metade dei século
XX, a partir de experimentos laboratoriais com mate-
riais crustais sob condições de temperatura e pressão
elevadas. As características termodinâmicas da cristali- • ..
zação de minerais e de suas associações em cquilibrio
tornaram-se conhecidas e técnicas analíticas scifistica-
das desenvcilvic1as para determinações do quimismci e
idade de minerais e rochas permitiram a modelagem
da evolução de terrenos metamórficos.

18.2 Fatores Condicionantes do


Metamorfismo
Os fatores principais que ccintrcilam os prcicessos
metamórficos sãci: natureza do prcitolito, temperatu-
ra, pressão (litostática e dirigida), presença de fluidos e
tempo de duração dos processos.

18.2.1 Temperatura (T)


As principais fontes de calor na Terra são ci calor
residual do manto e do núcleo, e o calor geradci pc)r
desintegração radioativa (Cap. 5). O mecanism,> mais
importante de transferência c.le calcJr do seu intericir
para a superfície é promcJvido pelo sistema mcitor da
tectônica global (Cap. 6), através dcJ c.1ual grande vcJlL1- Fig. 18.4 Migmatito: rocha mista, com feições metamórficas
(estrutura gnáissica, bandamento) interdigitadas com feições
me de material mantélicci de alta temperatura é trazido
ígneas (bolsões e veios graníticos). Foto: R. N. Rüegg.
à superfície junto às cadeias mesci-oceânicas. Na cros-
ta continental, ci calor é transportado por meio de
. ~ , ,. _ .
1ntrusoes tgneas, por eventcJs tectcJntcos como zonas J\s cJscilações térmicas existentes na crosta terrestre
de cisalhamento e grandes fraturas (rifts ccintinentais - devem-se ao íluxci de calor da Terra, que é variável
Cap. 19) e, ele forma mencis efetiva, pclr ccJndução ncis c.listintcJs ambientes tectônicos, sendo maior na
térmica através das rochas. crcista continental quando comparadcJ a crostas oceâ-
Nas áreas tectonicamente ativas as varições de tem- nicas mais antigas. (_)s valores de fluxo de calor mais
peratura com a profundidade são bastante complexas. elevados foram medidcJs em crcistas oceânicas jovens
A mudança de temperatura em um ambiente geoléJgi- (<40 J\ía). Comei regra, a temperatura aumenta ccJm
~ , . . .
co ptcJvoca rcaçoes qu1m1cas entre eis m1ncra1s a profundidade, segundei uma razãci dencJminada gra-
presentes na rocha, reequilibrando-els sob as novas diente geotérmiccl (C:ap. 5). Em geral, ()S gradientes
condições. As reações metamórficas propriamente geotérmicas na crcista variam entre 15 e 30ºC/km,
ditas iniciam-se a temperaturas supericJres a 200ºC. f'.m poclenc.lo ocorrer gradientes anômalcJs entre 5ºC e
temperaturas muito elevadas o metamorfismc> se de- 60º(:/km. Essas variações dependem das fontes de
senvolve nos limites da transição para o campci de calcir e seus mecanismcJs de transferência para a su-
geraçãcJ das rochas ígneas, quandci entãcJ ocorrem prci- perfície. PcJr exemplei, nas áreas de cadeias de
cessos de fusão parcial, que cJriginam rcichas mistas mcJntanhas jc>vcns, cJ gradiente gecitérmico mais ele-
denominadas migmatitos (Pig. 18.4). Estas rochas vaclo é devido à rápic.la exumaçãcJ (scicrguimcnto e
apresentam porções metamórficas, rccristalizac.las cm erosàci) dessas regiões, expcinc.lcJ rcichas mais "quen-
estado sólido, e porções ígneas, cristalizadas a partir tes" à superfície antes c.1uc o seu calcJr possa se dissipar
dcJ material fundido. cm profundic.-lade.
18.2.2 Pressão (P) tomam mais intensos, dandc) <)rigcm às rochas miloníticas
e cataclásticas das zonas de cisalhamento, cc)mo será vis-
As pressões atuantes na crosta podem ser dos tip<)S to mais adiante.
litostática (ou confmante) e dirigida. A pressão litostática
atua à semelhança da pressão hidrostática, onde um cor-
po mergulhado cm água recebe o mesmo módulo ele 18.2.3 Fluidos
pressão em todas as direções, variando de intensidade
.-\s transformaçc:íes mineralé)gicas que ocorrem du-
c<)m a profundidade. A intensidade da pressão litc)stática
rante o metamorfismo se desenvc)!vcm n<) estadc) sólido.
é função da cc)luna de rc)chas sc)brcjacentc e da densida-
:\:o entanto, sistemas metamórfic<)S contêm uma fase
de destas rochas, sendo definida pela equaçãc):
tluida, constituída sobretudo por ~O e/ <)U CC) 2, cuja
PI= dgh existência pode ser constatada pela presença de minerais
hidratadc)s (micas, anfibólic)s, cloritas) e/ ou de carbona-
onde ])1 é a pressão litostática, d a densidade das ro-
tos na maioria elas rochas metamórficas. Além disso, os
chas, g a aceleraçãc) da gravielade e h a prc)fundidade
minerais pc)dem conter climinutas inclusões fluidas (diâ-
considerada. Em geologia, as unidades de pressão mais
mctrc)<102 mm) que representam amostras elo fluid<)
utilizadas sãc) bárias (bar) ou kilc)bárias (kbar) e, mais re-
presente durante a sua cristalização (Fig. 18.6).
centemente, pascais (Pa) c)u giga-pascais (GPa). f~m
rochas sem a presença de um fluid<) intersticial, a pressão A pressão de fluid<)S (Pn) é a prcssã<) exercida pelos
litc)stática é transmitida através dos cc)ntatos entre os mi- fluidc)s intersticiais aos minerais e pc)de equiparar-se à
nerais. A presença de fase fluida intersticial implica um =
pressãc) litostática cPn PE, c)u P",,), ser inferior C)U supe-
componente de pressão que atua nc) sentido contráric), rior à mesma. No último case), se a pressão de fluid<Js
tendendo a aliviar a pressão litostática e favorecendo e) superar a resistência mecânica da rc)cha, ocorrerá
desenvolvimento de fraturas. fraturamento e perda dc)s fluidos através das fraturas.

F'.m regiões prc)fundas (35-40 km) da cr<)Sta as ro-


chas são submetidas a pressões cc)nfmantes da ordem de
10 a 12 kbar, C)U seja: cerca de 10.000 a 12.000 vezes a
pressão atmosférica na superfície. Em alguns ambientes
gec)lé)gicos as rochas podem ser submetidas a pressões
muitc) elevadas, superiores a 18 ou 20 k:bar, e mesmo
que sejam posteriormente expostas à superfície pela ero-
são, preservarão as assembléias nuneralógicas geradas sc)b
aquelas condições. Estas rochas, porém, são raras à su-
perfície, e constituem importantes registros elos pr<)ccssos
tectônicos. Confc)rme a intensidade da pressão litostática
podem-se definir os regimes báricos de baixa, média e Fig.18.5 Muscovita-biotita xisto (micaxisro) com es''u'urc
alta pressão. xistosa e textura lepidoblástica. Petúnia, ,ViG. Foto: G. A. J.
Szabó.
A pressão litostática, por ter intensidade uniforme em
tc)das as direções, não causa deformação mecânica acen-
tuada durante o metam()rfismo. A pressão dirigida, por
sua vez, é produzida pela mo,,imentaçã<) das placas
litosféricas e atua de forma ,·etorial, produzindo tensões
e deformações. Durante o metamc)rfismo, a deforma-
ção mecânica das rochas exerce grande influência na
geraçãc) de texturas e estruturas c)rientaclas e na migração
de fluidos. Em conseqüência da deformação, os mine-
rais com estrutura em folha, tais como as micas e cloritas,
se desenvolvem c)rientados segund<) direção perpendi-
Fig. 18.6 Inclusões fluiaas em água-marinha. A inclusão mai-
cular à de máxima pressão, originando rochas tipicamente or é bifásica, aquosa-carbonosa (H 2 0-CO), com uma bolha
foliadas, cc)mo os micaxistos (Fig. 18.5). Quando a pres- de C0 2 (gasoso) em meio à água líquida, e tem comprimento
são dirigida prevalece, os processos de deformação se de aproximadamente l 00 mm. Fotomicrografia: R. M. S. Bel lo.
l 1:ste prc>cess<J é i111p<>rtante para a f(Jrtnaçà<> ele clep<.>si- 25
tc>s minerais <)nele <JS tninéricJs se ccincentram en1 vei<is.
l\ pressãcJ ele fluielc>s ir1terfere ncJs pr<>cessc>s
20 Alta P
ter111cJdinàn1iccJs d<J sistcn1a, ccltnc> temperatura de ee1ui-
lí1JrÍCJ elas reaçc'ies entre cJs n1inerais, !Jen1 cc>mci t1<J estacl<>
ele valê11cia ele elementcis l]uÍtniccis (reaçc'ies ele <>xi-reelu-
çà<i) e, ccinsee1üe11te1nente, na nature:,:a ela asscn1lJléia
111ineral resultante. i\ preser1ça ele flt1iclc>s acelera as rea-
-o
•O Média P
çc'ies n1etam<'irficas, facilitancl<l a n1igraçà<J clc>s ele111ent< >S.
A c<>m11c)siçà<> chi t1uiclci mticla c<>nstantemente elurante
i"'
10

<> pr< >cess<J 111etan1<·irficcJ, c<in1 tr< >cas ele elemcnt< >S en-
tre <> íluielcJ e <JS n1inerais recêrr1-fcJr111acl<>s. 1i,11'1 r<>chas 5
p< ilires cn1 t1uid<>s (IJt1 < < P10 ) as reaç<'ies n1etan1<·irficas
sà<> lentas p<irqtre t<icla tnigraçà<J clc>s eletnent<is se fa:,:
p<>r difusà<J i(>nica en1 n1ei<> s<'>licl<>, através d<>S retíctrl<>S
300
cristalin<is cl<is n1inerais, clificLrltanel<i <> Jlr<>cess<> ele trar1s-
p<>rtc ele c<Jn111<H1entes e1uír11ic<>s. Temperatura (°C)
Fig. 18.7 Exemplos de possíveis caminhos P-T-t para
rnetamorfismo regionu'. de alta, média e baixa pressão. Notar
18.2.4 Tempo
que os caminhos de alta e média pressão exemplificam desen-

() temp<> é uni fat<>r in1p<>rtante n<J 1netarr1<>rfism<i, volvimento no sentido horário, enquanto o caminho de baixa
pressão, neste exemplo, segue sentido anti-horário.
n1as ele ditTcil aferie;à<i r1a 11rútica. 1im n1uit<>s cas<>S, rea-
ç<'ies n1etan1<'>rficas se 11r<>cessa1n de n1a11eira relativ:u11ente
le11ta err1 resp<>sta às n1trclanças elas c<H1cliç<'ies físicas, f<>r-
mancl<J-se asscJciaç<'ies minerais e texturas "n1istas", e1uc
registram t<>ela a série ele rnuelanças qtte a r<>cha s<Jfreu
18.3 Processos Físico-químicos do
aclafJtanel<>-se C< >nÓnttatnentc às n<>Yas ccJneliç<>cs. C:c>n- Metamorfismo
tt1cl<i, a velc>cielaele C<)n1 e1ue essas n1uclanças c>c<irrcn1 é
n1uit<1 variável e, er11 <Jutras sittraciies,, as cc>ndicc'ies
'
18.3.1 Metamorfismo
metaméirficas variam ele fcirma st1ficiente111ente lenta para . , .
1soqu1m1co x
.
metassomat1smo
que as reaç<'ies rnetam<'irficas se c<Jn111lett:n1, 11r<Jelu:,:in-
elci r<>chas c1ue registran1 apenas urr1 cleterminad<> i11stantc l'n1 deis pr<JlJlemas f11nelamentais da JJetrcil<>gia
- aquele c1uc as 111c>clitic<Jlt p<>r últitn<> - cl<> regime 1\letan1círfica é elefinir se ttn1a cleterminacla r<>cha scJ-
metam(irfic<>. b:n1 geral, as r<ichas re1--,ristrarn, de 111aneira freu <Ju nà<i 111<Jelificaç<'ies na s11a C<Jn1pc>siçà<J c1uímica
mais efica?., as C<Jnclic<'ies
'
rnetam<.>rficas n1ais i11tcnsas a durante <> metatn<>rf1sn1<J. Há duas situac<'ies extremas:
.,
c1ue fiJran1 sulimeticlas, p<>rérr1 às \'ezcs este rcgistr<> é 11a primeira, a r<icha p<>de se cc>t11p<>rtar c<imcJ ttm
cJl1literacl<J pcJr reec1uilí11rÍ<>s S<>lJ c<>ncliçc'ícs r11ais lJrar1- sistcrna fecbaelc>, sen1 ganhei nem perc-la ele C<Jnstituiri-
clas, en1 C<>nsecJüência cl<> rcsfriar11ent<> c1ue <JC<irre a<> tes quírnic<Js <Ju, na seguncla, ser sul1111eticla a variaç<'íes
final ele um episcíclici metamc'irfi.cc>. C<>111p<>sicÍ<Jnais it1tensas. t\<J prin1eir<> cascJ, ccJns\cle-
J~stuclcis gecJcr<)n<il<'>gic<>s e rn<Jdelagens tcc·>ricas ra-se que<> n1ctan1<>rfism<1 fc>i is<>quín1icc>; nc) segunclc>,
baseaelas err1 regimes termais atua11tes na cr<>sta 111cJS- ci r~rcicess<> é elcn<>rr1inacl<> mctassomatismo. Para
tram, para terren<Js 111etam(>rftc<is, eYent<>s ele l () a 50 efeit< >S prátic<Js, pc>cle-se assumir que a mai<>ria dcJs
J\1a ele cluraçàci. 1\ evcJluçàcJ metan1c írfica ele u111 ele- ar11!Jientes metamc'irficc)s ccimpcJrta-se cc>m<> sisterna
terminaclc> terretl<J a<J kingc> cl<> terr1p<> cc>stun1a ser parcialn1ente alJertcJ, <icc>rrencl<> trcJcas li\'res de ílui-
rctratacla pcir diagramas, cJtl caminh<JS 1)-1'-t (pressàc> cl<>s c<Jn1 ei n1ei<i, pc>rém cc)m variaçc'ies desprezíveis
- temperatt1ra - ten1pcl - Fig. 18.7), <inde a \'ariaçã<i 11ara <>S ele111ais c<H1stitui11tes c1uín1ic<is. F:sta premissa
elas ccJndiç<'íes rnetam(irficas é expressa ccJnl lJase na te111 se tncJstraclc> satisfat<'iria para a n1aieJria d<JS cas<is,
pressà<> litcistática (geralmente, C< >111 JJ11t = [) 11 ) e tc111pc- p<>ré1n é precis<J estar sempre atente>, p<>Ís pc>clem
rattrra ('f) a<> l<>r1gci ele um cami n l1<J c1ue indica a <>C<>rrer variaçc'ies c<Jt11pc>sicic>nais significativas entre
t:v<>luçàci ten1pc>ral (t) clesses par:unetr<JS. <> pr<Jt<ilitci e a rcicha metamc'irtica resultante.
18.3.2 Paragêneses minerais l]Uc ;1cc )!ltece lcig<> r1c1 iníci<l d<l mcta111<irfismc1 ele r<i-
chc1~ pcliticas:
J\ asscml)léia mineral cm ec1ui!í1)ric) ele uma r<Jcha
cha111a-se sua paragêncse mineral. Nas r<)chas \]Si_ C); (() 11) 4 (l(ln-ca< ilinita) + 2 Si()2 (Qtz-e1uartzci)
mctamcJrficas, a ielcntificaçã<i elcsta "asscml)!éia mine- \LSi ,C ) 11 ,(C )1-1) 2 (llrl-pircifilita) + 11 2() (fase fltiiela).
ral cm cquilí!JrÍcl" nem sc1npre é imccliata: nas C:c llll <J incren1cntci Llci grau metam<írficci, a pit<lfilita
assembléias minerais naturais, CJ clcsceJl1i!í1)ri<J é a re- arinl!e
, ~cu li111ite 111áxit11<J ele estal)ilidaelc, <JC<Jrrc11ehl en-
gra. Nci cnta11t<J, as rclaç<>cs tcxtt1rais f)crmitc111
rccc)nhcccr as "tenelências ele ce1uilíbrici" mcstnci se este
.\l .Si 1C) 111 (C)I 1) 2 (]lrJ-pir<Jfilita) ;\] 2 Si();
cquilí!Jri<) nà<J tiver siel<l ati11gidcJ plenamente. ()s tra-
(alun1i11c>ssilicatcJ: ;\nel-anelaluzita c>u l(y-cianita) + Si()2
lJalhcis experimentais C<Jn1plcn1cnta111 as cJbscrvaç<>cs
((Jtz-quartz<i) + lt,C) (fase fluicla).
feitas ctn assembléias naturais, per111itincl<J assim ielc11-
tificar paragênescs ideais. () alu1nin<>ssilicat<l fc>rmael<> 11csta rcaçà<> elc11cn-
derá elas C<>t1cliçc>es de prcssàcJ: sc>IJ pressc->cs
Rc>chas de ccimp<Jsiç<>es e1uímicas ce1uivalentes p<)-
rclativan1c11tc !)aixas (< 2,S kl)ar), serft a a11daluzita, e
elen1 apresentar assc1nl1léias n1incrais elistintas cn1
S<>li pressc>cs 111ais altas, a cianita (l;ig. 18.<)). Ju11tan1c11-
funçãci ela variaçà<J dc>s fat<ircs atl1a11tes durante <>
tc C<Jlll a silli111anita, estável a te111pcraturas 111ais
mctamc>rfismcJ. C:cJn1<J cxcmpl<J, uma rcJcha
clcvaelas, estes n1i11erais C<>nstitucm um tric> de
mctam(Jrfica A exil1ind<J uma asscml)léia mineral ccin1
p<llit11c>rf<is (minerais c<i111 mesma cc>rr1pcisiçãc>, n1as
clcJrita + epíelcltci + actincilita (a11filJcilicJ cálcic<J ferrci-
ccJt11 cstrutLtras cristali11as elistintas - ( :ap. 2) muitci im-
magnesian<l) + al!Jita tem a 111es111a cc1n111<>siçãcJ
J1< >rtantc na interprctaçãc >elas c< >neliç<>cs rcinar1tcs c111
e1uímica c1ue <Jt1tra r<icha B, cc1nstitt1íela ele plagi<>clúsi<>
tcrrc11c>s 111eta111<írt1ccis (1 ;ig. 18.8).
+ granaela + h<irnl1lenela (anfilJc'ili<J cálcic<J fcrrcJ-
magnesianci alumin<Js<i), clifcrindci entreta11t<> 11cl<> /

ccintcí1clc1 cm água, mais altcJ para a rc>cha 1\. ()s cstu-


10
d<>S experimentais revelam c1uc a asscmlJléia ela rcJcha
B cquilil1rc)u-sc c111 tc111pcratt1ras relativamente altas,
cnc1uantc) a ele 1\ cm temperaturas mais l)aixas. JlcJr- B
tantc1, um mesmcJ prc1tcilit<J gcrciu cluas paragêncscs
elistintas em funçãci elas elifcrcntes c<Jneliçõcs de
o
,o +
mctamcJrfismo. Ili 6

18.3.3 As reações metamórficas


l
4 •
i
l
A transfclrmaçà<J de um protolit<J ncJ seu ceJuiva-

lcn tc metam{Jrfic<J ac<intccc através de rcaç<>cs !
i
2
metamórficas, que cic<irrcm para rceluzir a energia livre
d<i sistema (da r<icha cm transf<irmação) frente às ccJn-
200 300 400 500 600 700
diç<>es físic<i-químicas 111cic-lificadas. Váric1s tip<is ele
Temperatura (°C)
reaç<>es sãci p<issíveis: a) en,-<il,,enelc1 apenas fases s(ilielas,
sem geraçãci <Ju c<insum<J ele fase fluiela; b) entre 111inc- Fig. 18.8 Curvos de ecv 11::;' e no esaaçc P x T poro os rea-
rais e uma fase fluicla, proeluzind<> assembléias hie-lrataelas ções: (l) Al 2 Si 2 0.(0H <~-cooii,.,i·o - 2 S O (Qtz-quortzo)
O

e/ <Ju carl1<inatadas; e) assembléias pre,-iamente hielrataelas - Al 2 Si 4 Ü (0H'_ ::,, -:J 'O: :•a - H O 'fase fluido), (2)
10
gerandcl asseml1léias anidras e t1n1a fase fluiela rica cn1 Al 7 Si 10 10
(0H) :P,i-::i 'º: ·o = ALS:O. oiun1inossilicoto: And-
H 2 C); e assim pcir diante .•\ reaçàc> ele fcirmaçà<J da ondoluzito ou K.,-c c,.,i•c - S,O: Otz-quortzo) + H7 0 (fase
wcillast<inita a partir ele quanz<J e caleira, previamente fluido), e (3: K,.'.,,,S;,O :iOH: i,V,s-rnuscovito) + Si0 7 (Qtz-
aprescntaela (I•ig. 18.3) é u111 exempkl e-le reaçãci ccJn1 quortzo) = K.'.,,Si:Ü, 'K:s-ie dspoto potássico) + Al 7 Si0"

dev<ilatilizaçãci, n<J casei, e-lecarl1cinataçà<J. (olurninossiiico·c: Ky-cioni·o 00 Sil-sillirnonito) + H2 0 (fase flui-


do), com iraicoção dos cacnpos de estabilidade e curvos de
Um exemple> ele reaçàci metamórfica c<im dcsi- equilíbrio oo•a os oolirnorfos Al 2Si0 5 : andaluzito, cionito e
drataçãcl é a rcaçàcJ d<i argilcimineral caolinita c<in1 sillirnani·o.
quartzc> para fcirmar a mica !)ranca pirc>filita (I~ig. 18.8),
TradicicJnalmente, são identificados, com base nes-
ses fatores, três cenários ou tipos de metamorfism(J
fundamentais: regional cJu dinamotermal, de con-
tato ou termal, e dinâmico ou cataclástico. Foram
reconhecidos, pcirém, outros tip()S de metamorfismo,
que pocicm cm parte confundir-se com os três já mcn-
cionadcJs, mas que apresentam combinações de fatores
suficientemente particulares para serem considerados
à parte. Destes, podem-se mencionar os
mctamcJrfismos de soterramento, hidrotermal, de fun-
dcJ oceânico e ele impacto. Os diferentes tipcis de
metamorfismo são descritos a seguir, de maneira su-
Fig. 18. 9 Cianita-muscovita-biotita xisto, com porfiroblastos cinta.
de cianita em matriz lepidoblástica. Lapônia, Finlândia. Foto:
G. A. J. Szabó.
18.4.1 Metamorfismo regional ou dinamotermal
A cinética das reações depende de uma série de Desenvolve-se em extensas regiões e alcança ní-
fat()res: a natureza da assembléia mineral original e da veis prcifundos da crosta, relacionado geralmente a
sua textura, a presença de uma fase fluida e da sua cinturc)es orogênicc s nos limites de placas convergen-
compcisição, a temperatura e pressão, e a defcirmação tes (Fig. 18.10a). As transformações metamórficas se
que a rocha scifre durante o metamorfismo. 1\s rea- processam pela ação combinada da temperatura, pres-
ções se processam cic maneira mais eficiente em rcJchas são litcistática e pressão dirigida, que persistem durante
pcirosas, de granulação fina, ccinstituídas de minerais centenas de milhares a alguns milhões de anos. () flu-
hidratados, submetiLias a temperaturas elevadas e que xci de calcir pode ser muito intensci, com gradientes
scJfreram cieformação na presença de uma fase fluida gecitérmiccis clevadcis, de até 60ºC/km. Os prcJtolitcJs
abundante. Por outrcJ lado, rcichas de constituição ciri- sãci fcirtcmente deformados (dobraclos e falhadcis -
ginalmcntc anidra, maciças, de granulação grossa e não Cap. 19), ao mesmo tempo que sofrem recristalização,
deformadas sãci impermeáveis à circulação de tluicl(JS fcJrmandcJ ncJvas texturas e assembléias minerais está-
e peidem permanecer praticamente imutáveis pcir lon- veis nas ncivas condições. As rochas metamórficas
gcJ períodci de tempo mesmo em ccindiÇ()es de restiltantes (ardósias, filitos, xistos, gnaisses,
temperaturas relatjvamente elevadas. anfibolitos, granulitos, migmatitcis) apresentam ge-
ralmente estrutura fcJliada.
18.4 Tipos de Metamorfismo () metamorfismo regional é responsável pela
fcirmaçãci da grande maiciria das rochas
() metamorfismo desenvolve-se cm cliversos am-
metamc'irficas na crosta da Terra e freqüentemente
bientes na crosta, com extenscies variáveis: clesdc
está asscJciado a expressivos volumes de rochas
restrit(J a pequenas áreas, de c.limensões da cirelem de
graníticas. No deccJrrer deste tipo de metamcirfismo
pouccis centímetros, até abrangendo grandes faixas,
desenvolvem-se seqüências de zonas de minerais e
com centenas a milhares de quilômetros de extcnsãci,
texturas que são estabilizadas em ccindições fís,icas
cm profundidades que vã(J de níveis crustais mais ra-
de pressão e temperatura crescentes com a profun-
sos até os mais profundos. Esta grande diversidade
didade, definindo o c1uc se chama de metamorfismo
pocle, porém, ser sistematizada em alguns pouc()S ce-
regional progrcssiv(J. Em geral, temperatura e pres-
nários, estabelecidos com base nos seguintes fatores
sã(J aumentam de maneira concomitante: zonas mais
essenc1a1s:
prcJfunclas apresentam assembléias minerais desen-
a. els principais parâmetros físicos envcilviclcJs; vcJlvidas sob concliçc"ícs de temperatura e pressão
6. o mecanismo responsável pela ccinjunçãc) desses elevadas (650 a 750ºC e 8 a 10 kbar), ocorrendo o
A

parametros; in,,erso para zonas mais rasas. Há, nci entanto, algu-
mas situaçc"íes ele metamcirfismo regional em que
c. a localização e extensão na crosta terrestre; as relações entre pressão litostática e temperatura
d. os tipos de rochas metamórficas que se formam. são anômalas, como nos terrenos de alta pressão,
CAPÍTULO 18• ROCHAS METAMÓRFICAS 389

a b
·Hornfels 11

Ardósias,
filitos
7
Granito

100 m

e r' r' ,.1 ;;';:: r'?


r' r' d km
r' ~, '"J o
r' r'
. . r' ,., r',-!.r',-!. ""
,.,,.,',.,
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Protomilonitos,-,
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r' ,., ,.,r' r' ~ '? ._,., ,., r' r'
,., r' ,-!. ? ,., 2
r' ,-, r' r' , ( rc1. ;,; r' r' ,-, r' Ultramilonilos
: ,.,,_, ,-,,(r-!. l11 1
/ 1 l 1 1 Falha Transcorrenle
1 1 l l/ 1 1
1 1
1 1 1i 100 m

e f

Granito

Magma
basáltico

Fig. 18. l O Representação esquemática dos diferentes tipos de


metamorfismo: a) Metamorfismo regional ou dinamotermal; b)
j
9 Metamorfismo de contato ou termal; c) Metamorfismo dinâmico
ou cataclástico; d) Metamorfismo de soterramento; e)
Metamorfismo hidrotermal; f) Metamorfismo de fundo oceânico;
Cratera de g) Metamorfismo de impacto.
impacto
1. 1

onde a pressão litostática é sobremaneira elevada,


alcançando ,·alores da ordem de 15 a 20 kbar, às
vezes sob condições de temperatura relativamente
baixas, ciu ncis terrenos de baixa pressão, em regi-
ões (le acentuado gradiente geotérmico, onde as
rochas podem ser submetidas a temperaturas ele-
vadas sob cc)ndiçc'íes de pressão litostática
relativamente baixa, da c)rdem de 2 a 3 kbar.
18.4.2 Metamorfis1no de contato ou termal rais, ccim< > tnícr<JlJanclarnent<) <>u lan1ír1aç(1es. N(lS ní-
\ eis sL1pcrficiais lias Z<>11as ele cisall1an1cnt<>, as
Desenvc>lve-se nas t()chas e11caixantes aci red(Jf
clct<JrmaÇ(lCS Sâ() 1nais c1<l tip<> rúptil cc:ap. 19) e ()S
ele intrusoes magn1áticas, fc)rn1ancl<J as auré(>las de
111i ncrais sã() fragn1er1tad<>S <>Li 1nesm<> pttlveri?.adc>s.
tnctam<>rfismc> ele C(Jt1tat<J (Fig. 18. 1()b). 1\s pri11ci-
1i1n 7.CJtias ele císall1amentci mais prrlfur1clas, c!cviclcl às
pais transf<Jr111açc1es n1etam(írficas geraclas nessas
cclncliç('íes ele t)rcssâc) lít< lstática e tctnperatttra clcva-
aL1récJlas deven1-se a<) calor emanad<> d<) 111agma
clas, <lS minerais passam a ccJmp<Jrtar-sc ele fc)rtna
dttrante <l set1 rcsfriament<J. () n1cta1ncJrfistn(1 trans-
Llúctil, S(lfte11c.l<1 frirte cicfcir1naçàc1 plástica e
C<>rrc sem L[cfc>rmaçã<J acentuacla. ;\ t<>cha
cstirame11t(l. ScilJ estas c<i11clições, a ccJminuiçã<> se c!á
resultante, clen<Jtninada 'gc11ericarnente hornfels.
c<Jrnt1bianit<>), aprcser1ta uma textura grantdar fi11a,
(<>U . p<ir rccristalízaçãc1 clinàmica en1 vez ele, si111ple's1nente,
. . pcir frag111cntaçàcJ n1ec:lnica. I (111 muítcis cas<JS, a dc-
ts<>tr<ipa e estrutura maciça.
fcirr11açãcl é acc>n1pa11hacla pcir pcrcc>laçàcJ ele fl1iicl<1s,
t\ cxtcnsâ<> ela auréc>la ele mcta111cirfisn1<> clC(lCn- pr<ivcicanclci rccristalizaçãcJ clc>s minerais e cristaliza-
clc cl<> \'<Jlumc e ela 11aturc?.a dei 1nagrna in vas<ir, çã<l de minerais r1civc>s, l1íclrataci<>s.

gracliente térn1ic<> cm t<Jrn<l ela i11trt1sà<1 e r1aturcza
eia f(Jcl1a cr1caixante. r'.m níveis crustais pr<>f11nci<is, 18.4.4 Meta111orfismo de soterramento
C<>n1ci as r<1cl1as já se e11c<intra111 S<JlJ tc111pcraturas
elevadas, <l egrac!icnte têrinic<J restiltantc a<i rccl<ir ()c<Jrrc etn bacias scclimcntarcs cm subsiclência.
de C<>rpos 1nagn1áticc>s intrusiv·<is será 11ciuc(J accn- Rcstilta clci scJtcrra•nent<J ele eSJ)essas scqüê11cias ele
t11aclci. ()s maÍ<ircs 'grac{ientes térn1 iccls <>C< >rretn a<l r<>cl1as scclín1e11tares e \'ulcânícas a prc>fundiclacles
.
rcdc>r de ccir11,is intrusiv(JS 11<>s 11í, eis intern1ccli,iric>s e
0 <>t1cle a te111peratura pc>clc chegar a 3()() 0 ( : C>ll 1nais,
mais Sl1perficiais da crcJsta, cJnde t) c<intraste ele rc111 clc,Tic.1cJ ac> rlttxci ele calcir na cr(1sta (Fig. 18.lflcl).
1,cratura entre a rcicl1a encaixante e <> ccirr)<> PrC\'alece a pressà(J lítr1stática, cnc1uar1t<J a fJressàcl
magmáticc> é. mais accntuadci. Nc> conrat<> e< lm. 11c- e_lirigicla é ausente <Jlt insuficiente 1)ara caL1sar defcJr-
quenc1s ccirpc>s intr11siv<is ras<JS, C(Jtll<l si/Ir e clíc1ues tnaçiies significativas. l)ma stiríl fl)liaçà<1 hcJrÍZtJntal,
(Cari. 1 (i), a attrérila é geralr11entc ce11ti1nétrica, en- 1,aralcla acJs 11lanc)s ele estratificaçàc1, pc1de se f,>r
quantc> a<) recl<Jr ele tlm c<irp<> C<>tn c!ián1etrc1 ela n:1ar \Jela cristalizaçàcJ i11cipíentc ele rr1ícas, <Jrie11tadas
cJrc!em de algu11s <JL1ilc'in1etr<>S pc>de ter centenas clc e_lc\"Ídci a(l pese) lias camaclas sc1brcjacentcs. i\s trans-
metros. i\uréolas n1eta111órficas a1)resentan1 geral- for1naçê>es 111ctarr1órficas clesenvcJJ,,cm-sc C<lm a
n1ente zcineamcnt<> rnineral(>gico. Nas prciximic.laclcs cristalizaçàcJ ele nciv<>s 111ir1eraís s<1l1 influência de
d<J C<Jf!J<l intrusivci fcJrman1-se assen1bléias 111i11c- flLticlcis intergra11ulares cl<>S scclir11cntc1s, preser\Ta11-
raís (!e temperaturas n1ais elevadas, cc>nstitt1íclas cl<i C<Jntttd<J a textura e a estrutura das rc1cl1as
'

prefere11cialn1ente pcir 1ni11crais anidros (granacla, c1r1g1na1s.


< •

pÍr(JxênicJ), en9t1anto nas regiões tnais c1ista11tes as


assembléias sàc> C(>nstituíclas p(lt 1nincrais gcraltncntc 18.4.5 Metamorfismo hidrotermal
hiclratacl<Js (micas, J)rincipalmente), estáveis a ren1-
pcraruras 111ais l1aixas. Rcst1lta ela pcrcc1laçãc1 ele águas e1uentcs ac> lc>n-
,gcJ ele fraturas e es1:1açc>s intcrgra11L1lares elas rc>cl1as
,
(I'ig. 18.1 ()e). r'. um prt>cessci n1etasscJmátícci que se
18.4.3 Metamorfismo cataclástico oti dinâmico '
clcse11,'<>lve atra\'és e.ias trc1cas i{111icas entre a água
l)csenvolve-se cm faixas l(ingas e estreitas nas c1t1cntc circulante e as paredes elas fraturas. Nesse
adjacências de fall1as <>u zc>nas de cisall1a111ent<>, <J11cle pr<>ccssc>, c1s mi11erais pcrclem a estabiliclaLlc e
pressões ciirigíclas ele grande intensiclaclc causa111 111<J- recristaliza111-sc cm ncivas assem!Jléias mineralógicas
vimentaçãc1 e r11pruras na crc>sta (J 'ig. l 8. l (Jc). I\ energia
0
se) IJ ten1 pera tu ras cn trc 1 ()() a 37()° C. ()
mecânica cnvcJlvida pr<1dt1z intensa C(1n1inL1içà(J clcis 111etan1c>rfism<) hiclrcitermal <JC<Jrre frcqüe11temer1tc
minerais na zcJna de maicJr m<)\Timentaçâ<\ rcclL1zi11cl<l 11as lJc)rclas <le ir1trusc1es 'graníticas,
..
en1 áreas ele
a grar1ulaçãc> elas t<Jchas cm escalas cliversas e clef<Jt- \ t1lcanis111r1 !Jasálticci st1lJn1arinci e cm campcls
n1anclcJ-as ccJm intcnsíclacle variável. () n1etan1<Jt:tis111<1 gcclter111ais, scnclri um in1p(>rtantc pr<lcesscl gera-
di11á111ic1J r,rc>v<>Ca transfcirinações texturais e est ruttl· cl(lr ele clepc>sitcis n1ir1erais.
CAPÍTULO 18• ROCHAS METAMÓRFICAS 391 ', ,;
>

18.4.6 Metamorfismo de fundo oceânico Felizmente, alguns tipos de r(Jchas sã(J mais fre-
qüentes na crosta e o metamorfismo se desenv(Jlve
Ocorre nas vizinhanças d()S rifar elas cadeias meso-
segund(J padrões repetitivcJs. Assim, é possível
oceânicas, onde a crcJsta recém-formada e quente interage
correlacionar entre si rochas de comp<)sição similar
com a água fria do mar através de processos de terrenos metamórfic(JS distintos. As variações sis-
metassomáticos e metamórficos termais (Fig. 18.10f). A
temáticas na composiçã() mineralógica, textura e
água aquecida carregandcJ íons dissolvidos percola as rcJ-
estrutura das rochas metamórficas p()dem ser segui-
chas básicas e ultrabásicas da litosfera oceânica segundo
das de maneira mais ou mencJs contínua em muitos
um movimento convectivo, removendo ou precipitan- terren(JS. Adici(Jnalmente, estud(JS experimentais per-
do elementos e provocando sensíveis mudanças químicas.
mi tem reconstituir as cc)ndições sob as quais se
Pode ser consideradcJ um tipo particular de
desenvolvem as reações metamórficas e analisar as
metamorfismo hidrotermal, em escala muito ampla.
variações das assembléias minerais, além de fornecer
dados termodinâmicos para a mcJdelagem teórica
18.4. 7 Metamorfismo de impacto dessas transf(Jrmações.

De extensão reduzida na crosta terrestre, desenv(Jl- Tanto em auréolas de contato, quanto em áreas de
ve-se em locais submetidos ao impact(J de grandes metam(Jrfismo regi(Jnal, as variações nas paragêneses
meteoritos (Fig. 18.1 Og). A energia do impact(J é dissipa- minerais acontecem de mcJdo transicional. Essas vari-
da na fcJrma de ondas de chcJque, que fraturam e ações servem de base para a sistematizaçãcJ do
deslocam as rochas formando a cratera de impacto, e de mapeament() destes terrenos: procuram-se definir fai-
calor (com temperaturas que alcançam até 5.000'C), que xas, ()U zcJnas, c)nde o metamorfismo atucJu sob as
vaporiza o mete(Jrito e funde as rochas. As ondas de mesmas condições, C()rrelacionane-lo-as entre si, de
ch(Jque são transmitidas através das r(Jchas em frações mod<J a definir () padrãc) ele variação elo
de segundo, produzindo pressões elevadas (ela cJrdem metam(Jrfismo.
e-le até 1.000 kbar) que reequilibram os minerais quase
instantaneamente, transfc)rmandc) o quartzo ncJs seus 18.5.1 Grau metamórfico
polimorfcJs de alta pressã(J, stish(JVita e coesita. (_)
metamorfismo de impacto é possivelmente um proces- A intensidade elo metamorfismo é referida tradici-
so difundido em muitos corpos planetários marcadcJs <Jnalmente como grau metamórfico: alto grau implica
pc)r grandes crateras, C(Jmo a Lua. Na Terra, um exem- conc.liç(>es enérbricas, de altas temperaturas, enquanto
plo eles te processo é o MetecJr Cratet" no Arizona, Estados baixcJ grau define condições brandas, de temperatu-
Unidos, onde o impact(J de um meteorito nos arenitos ras mais baixas. Entre os e-lois extremcJs, encontra-se e)
cretáce(JS gerou uma cratera, ou astroblema, com 1,2 metamorfismo ele médio grau. Fala-se ainda em grau
incipiente quando as condiç(>es metamt'Jrficas fcJram
km de diâmetro e 200 m de pr()fundidade. f~struturas
muito branc.las, no limiar entre diagênese e
semelhantes sã(J conhecidas também no Brasil, C(Jm(J o
metamorfismo.
Domo de Araguainha em Goiás, (JU a estrutura de Co-
lônia, na parte sul do município de São Paulo (Cap. 23).
18.5.2 Minerais-índice, isógradas e zonas
metamórficas
18.5 Sistemática do Estudo Geológi-
co de Terrenos Metamórficos Deve-se a Barrow o reconhecimento e-le que deter-
minae!o s minerais desenvolvem-se de forma
Rochas metamórficas são pr(Jduto de uma com- seqüenciada em rochas pelíticas submetidas a
binação de fatc)res. Qualquer rocl1a sedimentar, ígnea metamorfismo prcJgressivamente mais intenso (Fig.
ou -metamórfica, representa um potencial prcJtolito 18.11). Estes minerais, denominados minerais-índi-
para a geraçã(J de no,·a rocha metamórfica. A atuaçãcJ ce, sãci, na ordem de aparecimentcJ: clcJrita, bicJtita,
dcJs fatcJres respcJnsá,·eis pelo metamorfismc) sobre a granada (almandínica), estaurolita, cianita, sillimanita.
grande variedade de protolitos em combinações e i11- A linha definida pelos lcJcais dcJ primeir() aparecimen-
tensidades diversas resulta em um univers() cc)mplexcJ to de caela um deles no terreno denc)mina-se a sua
e de difícil sistematização. isógrada, que separa faixas ele disp<)sição mais ou
mcne)s paralela, as zonas metamórficas, elcncimina-
das sempre pele) mineral da iséJgrada anterieJr. ;\ssin1,
a zc)na ela ch)rita inicia-se na isógrada da clcJrita, e ter- Glen Esk
mina na isógrada da biotita, c)nde cJ mineral-índice
aparece pela primeira vez. Nesta is(Jgrada i11icia-sc a
.,,.-,
..,,-·
zc>na da bicitita, que segue até e> primeircJ aparecimen- ,,..,.·" "' Ed ze li

to ela granada almandínica, na isc'igrada da granaela. ,,./
/'~"

, .,,,.

Desta ise'igracla etn eliante fala-se na zona da granacla, ,


, - ·.-
e assim por diante. I~ impc>rtante nc,tar que, acJ iniciar-
se uma nova zeJna metamórfica, ci mineral-ínclicc da .
_., f , '
j i'
'..
' ,' ,' ' '
. '
-J
'
zcJna anteric1r nãcJ desaparece necessariamente: a bicJtita,
Zanu l1ógradu
pc>r exemple>, persiste através ela zcJna da granacla, ela Clorita (Chi - não indicada) Sedimentos mais jovens
1··· "I Biotita
cstaurc1lita e ela cianita, alcançandc> até a zc>11a da ' ' Bt 0 Zona de falha (Highland Boundary)

sillimanita. Ili Granada Grt Granito


Estaurolita St
Cianita Ky
Sillimanita Sil
18.5.3 Fácies metamórficas
Fig. 18.11 Mapa geológico esquemático da região estuda-
Assembléias minerais características defincn1 as va- da por Barrow nas Terras Altas (Highlands) da Escócia oriental,
riaçe3es deJ grau meta1n(>rficcJ, essencialmente em fL1nçàe) com as isógradas minnrais e zonas metamórficas.
da temperatura e pressãcJ (1)101 = PH ( )). (~e)m base nes-
7
se princípici, [~skola estabeleceu C) -fatc> ele que re)chas
de mesma ccimpelsiçãcJ, mas de tcrrene1s distintc>s, aprc-
scntarãc) paragêneses similares qua11dcJ sul1metielas a Temperatura (ºC)
metamcJrfismc> se)l1 c<Jncliçc3es ielênticas. RcJcl1as ccJm 200 400 600 800
o
paragêneses dcscnvc>lvidas scJ!J n1csn1as ce)neliçc>cs sàc)
referidas cc)mcJ pertencentes a uma mesn1a fácics o N
2-
10
-E
metamórfica. I:<:skola denciminou as fácies scgunclci
as paragêncses observaelas cm re)chas metabásicas, uma
a.. 4

a..
11
r

o
-
..:,/.

-e
li)

6
.. 20
-ee
vez que sãeJ constituintes freqüentes clcis terrcncis o
•e --
-e
metamc'irficos. As principais fácics metamc'1rt1cas cnce)n- 8 e
"'Ili :)
e:' 30 .....
tram-sc situadas neJ campcl P x T na Fig. 18.12. ;\I/c-,111mas a.. 10 e
a..
das características mais impclrtantes de caela fácies sàei
12 40
descritas sucintamente a segwr:
\
a) Fácies de Grau Incipiente, ciu Sub-XistcJ Vereie
- - - Linha inferior do campo metamôrfico
(Fácies da Zeé)lita e Fácies da Prchnita - 11umpcllyita). - •- Curva de fusão mínima para granitos (P1o1=PH o)
2
Sàci representadas pelas primeiras assembléias clescn- Z-zeólita, PP-prehnita-pumpellyita, XV-xisto verde,
A-anfibolito, GR- granulito, HH-hornblenda hornfels,
vcJlvielas ne) mctamcJrfismo e-le sotcrramcntcJ ele rcJcl1as PH-piroxênio homfels, E-eclogito e XA-xisto azul
vulcânicas e seelimentarcs (l1asaltcJs, vielros \"Lilcá11ice1s,
grau\ acas). 1~m pre>fune-lielaelcs de pc>uccJs quile'ime-
0
Fig. 18.12 A distribuição das principais fácies metamórficas
trcJs, desenvc)lvcm-se zec')litas (fácics zcc'ilita), no espaço P x T.
particularmente a laumontita, juntamente ccJn1 <>utrcJs
minerais de baixa temperatura: clcirita, quartzcJ, al!)ita,
carbonatos. Aumcntandci ei graLt metamc'irfic<>,
laume>ntita desaparece e formatn-se prchnita e
característice)s sãei allJita, epÍt1C)tci, clcJrita, fengita e
pumpellyita (fácies prehnita - pL1mpellyita).
actincilita (anfilJéiliei). Na transiçãcJ para as fácies de
IJ) Fácies XistcJ Verde - é uma fácies de l1aixc1 grau grau incipiente, a fácies xisteJ vereie é marcada pela
de mctamorfismcJ que se clcsenveJl\"C cm caclcias ele 1-1rcsença ele cpíelcitcJ em lugar da pumpellyita; e na
montanha fanereJzc'iicas, áreas ele escueleis pré- transiçàcJ para a fácics xistcJ azul (ver abaixo), pela pre-
cambrianos e ncJ asscialhcJ c>ccânicci. ()s n1inerais
1
CAPÍTULO 1 8 • ROCHAS METAMÓRFICAS 393 il'~

,
sença de actinolita (anfibólio cálcico ferro-magnesianc)) da fácies xisto verde (clc)rita e albita). E encontrac.la
em lugar de glaucofânic) (anfib<'>lio sé>dico). em regic::ies de sulJducção jovens cc)mcJ no Japãc) e
:\: ova Caledt)nia.
e) Fácies Anfibolitc) - é caracterizada por paragêneses
cristalizadas em gradiente geotérmico moderado, sc)b cc)n- h Fácies f:clogito - é caracterizac.la pc)r assembléias
dições de grau metamórfico intcrmcdiáric) a altc). Em n1inerais desenvolviclas solJ cc)ndiçc>es de pressc>es
rochas básicas, a paragênese diagnóstica é cc)nstituída de muitci ele,~adas (> 12 kbar) e altas temperaturas, pos-
hornblenda (anfibé)licl cálcicc) ferro-magncsiancl si,~eln1ente em placas c)ceânicas transpc)rtadas para e)
aluminoso) e plat,ric)clásio, este com teor de anortita tipi- manto en1 zc)nas de subducçãc).
camente superior a zor1/o, caracterizando els anfibolitos
(item 18.7.2). Rochas pelíticas apresentam abundante
18.6 Mineralogia, Texturas e
muscovita, bic)tita e granada (almandina). Cianita e
estaurolita são minerais diagnósticcJs, estáveis nas condi- Estruturas de Rochas
ções de metamorfismcl intermediárias da fácies. Nos Metamórficas
limites superiores da fácies anfibolito, a muscovita, em
presença de quartzo, torna-se instável, produzindo
feldspato pc)tássico e sillimanita.
18.6.1 Mineralogia de rochas metamórficas

d) Fácies Granulito - ocorre principalmente em A cc)mpc)sição mineralógica de uma rcJcha


áreas de escudos pré-cambrianos e representa as con- metamé)rfica depenc.le da natureza c.lcl seu prcJtcJlito e
dições mais altas de pressão e temperatura das cc)ndições metamórficas sc)lJ as quais foi gerada.
normalmente cncclntradas em metamorfismo prc)gres- RcJchas metamórficas pcJdem ser monc)minerálicas,
sivo de pressão intermediária. Hornblenda e biotita co1nc) muitos quartzitos e mármores. Rc)chas
desaparecem paulatinamente e as rochas tc>rnam-sc metapelíticas apresentam grandes quantidades de micas
desidratadas. O limite inferior da fácies granulito é (bic)tita, muscc)vita) em sua cc)mpc)siçãc>, além de mi-
marcada pela aparição de ortopiroxênio em rochas nerais ricos em alumínio. Destes, C)S mais importantes
metabásicas e metapelíticas e de olivina cm mármc)res são pirc)filita, clarita, clc)rité>ides, granadas, estaurolita,
magnesianos silicosos. Quartzo e calcita reagem for- C) tricJ de aluminc)ssilicatos pc)limé)rficos constituídc)

mandc) wollastonita (Fig. 18.3). pela andaluzita, cianita (Pig. 18.9) e sillimanita, e
cc)rclierita. Sob conc.liçc"'_íes de altc) grau metamórficc)
e) Fácies Hornblenda Hornfels - desenvolve-se cm
muscovita é cc)nsumida na presença de quartZ<), fcJr-
condições de pressãc> baixa, principalmente em auré-
mandc)-SC feldspato pc)tássicc) em seu lugar, segunde>
c)las de metamorfismc) de contato ao redc)r de corpos
a reação (Pig. 18.8):
intrusivos como gabros e granitos. Em rcJchas pelíticas,
distingue-se pela cristalização abundante de cordicrita fu\l,Si,C) 10(0H) 2 (?vfs-muscovita) + Si() 2 (Qtz-
e rara de granada e pelo aparecimento de andaluzita quartzo) = Kr\1Si 1 () 8 (I(fs-feldspatcJ potássicc)) +
em lugar da cianita. Al 2SiC), (aluminossilicato: l(y-cianita ou Sil-sillimanita)
+ H 2C) (fase tluida)
f) Fácics Pirc)xênio Hc>rnfels - é representada pelas
paragêneses cc)rc.lierita + ortopircJxênic> + feldspatc) Em rochas metabásicas, a riqueza em anfibólios ca-
p<ltássico + plagioclásio + quartzo (em metapclitos) racteriza as paragêneses sc)b ccindições de baixe) a
c)u ortopiroxênicl + clinc)pirc)xênio + plagioclásic) + médic) grau metamc)rfico, sendo substituídos pelos
quartzc) (em rochas metabásicas). Oce>rre nas zonas piroxênios no alto grau. Rc)chas carbonáticas
internas, de temperaturas mais elevadas, de auréc)las magnesianas, com argilc)minerais e quartzo na sua ccJns-
de contato. tituição, produzem assembléias minerais variadas, com
diopsídio, tremolita (respectivamente piroxênic) e
g) Fácies Xistc) Azul - é marcada por assembléi- anfibólio de Ca e Mg), talcc), c)livina, wollastc)nita, gra-
as contende) minerais de alta densidade (lawsonita e nada e plagioclásio cálcico, entre <)utrcJs, em função
aragonita) e de baixa temperatura (clarita), inc.lican- das propcJrçc>es entre os cc)nstituintes químicc)s (fun-
dc) ambientes de pressão ele,,ada e temperatura damentalmente CaC), Si() 2 , MgO e Al2C)J e do grau
baixa. As rochas são constituídas de combinações metamórt1cc). Em rochas ultramáficas, ricas em MgO,
variadas de lawsonita, aragonita, pirc)xênic) ricc) em as assembléias minerais mais hidratadas, de baixcJ grau,
Na e glaucofânio (anfibó!ic) sóc-lico) com minerais são e.laminadas por minerais de> grupo das serpenti-
nas, talccl e clcJrita, enquanto os anfibé)!ic)s tremc)!ita e
antc)filita, os pirc)xênios diopsídio e enstatita, e olivina dade menor de minerais micáceos cJrientados em meio
dcJminam as paragêneses de médicJ e alto grau a minerais granulares. Em rochas que sofreram inten-
metamórfico. so cisalhamento ocorre uma forte cominuição, ou
redução granulométrica, gerando texturas
18.6.2 Texturas em rochas metamórficas granoblásticas ou lepido-granc)blásticas muito finas.
.-\lguns minerais são mais resistentes a esse processo,
As texturas das rochas metamórficas desenvc)l- e tendem a preservar dimensões mais avantajadas em
vem-s e pcJr blastese, que implica nucleação e
crescimento mineral no estadc) sólido. Por esta razãcJ,
o radical "blasto" é utilizado para designar texturas
metamórficas. Texturas granulares isótropas, sem pre-
domínicJ de uma ou outra dimensão nos minerais, sãcJ
denominadas granoblásticas. Esta textura pclele de-
senvolver-se na forma de mcJsaicos, caracterizandc) a
textura granoblástica poligonizada, onde os grãc>s ad-
quirem dimensões similares entre si, ccJm interfaces retas
e junçc)es tríplices (Figs. 18.2 e 18.13).

RcJchas com predomínio de minerais micáceos


orientados, come) muscovita, biotita c)u clarita, apre-
sentam textura lepidoblástica (Figs. 18.5, 18.9 e
18.14). Quanelo C)S minerais c)rientadcJs forem Fig. 18.14 Granada-clorita xisto. Porfiroblastos de granada
em matriz lepidoblástica. Mariana, MG. Foto: G. A. J. Szabó.
prisn1áticos, ccJmo anfibólicJs e pirc)xênios, a textura é
referida como nematoblástica. Algumas espécies mi-
nerais podem elçstacar-se ncJ tamanhcJ por pelo mencJs
uma ordem de grandeza: neste case), sãcJ dencJmina-
dcJs porfiroblastos (Fig. 18.14) e o ccJnjl1nto ele
granulação mais fina que cJs cerca, ele matriz. ()s vári-
c)s tipos de textura pc)dem ocorrer ccJm\Ji11adcJs:
pcJde-se falar, pcJr exemplo, de um granaela anfil1olito
pcJrfirc)blástico ccim matriz nematoblástica, ou ele uma
textura lepido-granoblástica, quando há uma ql1anti-

Fig.18.15 Porfiroclastos de feldspato em milonito de granito.


Foto: G. A. Szabó.

meicJ à matriz de granulação reduzida: são denc)mina-


dc)s porfiroclastcJs (f'ig. 18.15), e apresentam geralmente
ccJntornos lenticulares, ccJm a foliaçãcJ da matriz amol-
dando-se acJ seu redcJr.

18.6.3 Estruturas metamórficas

1\s estruturas de rc>chas metamc'>rficas fcJrnecem


importantes informações sobre o processo
metamc'>rficcJ. RcJchas geradas sem a atuação de pres-
Fig. 18.13 Hornblenda (h) em anfibolito, com textura
sãcJ dirigiela apresentam estrutura maciça, ou preservam
granoblástica poligonizada. Alpinópolis, MG. Foto: G. A. Szabó.
vestígicJs das estruturas primárias dos prc>tolitos. Quan-
do as paragêneses metamórficas são formadas du- á,-el com material quartzo-feldspátic<i em veios ou
rante a atuação de pressão dirigida, as rochas adquirem bolsc"ies (Fig. 18.4), configurandei uma ampla varieda-
estruturas orientadas e desenvolvem foliações de di- e-le ele estruturas c<inhecidas como estruturas
. , .
,-ersos tipos. Rochas com foliação definida pela m1gma titicas.
'
cirientação de minerais placóides (micas, clorita, tale<))
ou prismáticcis (anfibólios) apresentam estrutura
18.7 Nomenclatura de Rochas
xistosa (Figs. 18.5, 18.9 e 18.14). Quando a fcJliaçã<i é
incipiente, definida pela orientação de minerais Metamórficas
micáce<is finos, a rocha apresenta uma fissilidade de-
Dar nome às rochas metamcirficas é uma tarefa difí-
nominaela clivagem ardosiana. Por sua vez, gnaisses
cil. 1\ grande variabilielaele mineralcigica, textura] e
desenvolvem orientação deis feldspatos e quartzo, seus
estrutural, fruto da combinação dos divers<is fatcires en-
constituintes fundamentais, definindo a foliação ou
volvie-lcis na sua gênese, impossibilita ci esta!Jelecimento
estrutura gnáissica (Fig. 18.16). ()utra feição comum
de um critério ele classificação expedito para elas. En-
em gnaisses é o bandamenteJ, que resulta da presença
e1uant<i algumas vezes as feições adquirielas durante <)
de faixas de coloração alternaelamente mais clara ~
pr<Jcessci metamórfico prevalecem, <iutras vezes persis-
mais escura, <ira mais contínuas, nítidas, ora
tem as feiçc:íes herdadas dos protolitc)s. A mesma rocha
desccintínuas e difusas (F'ig. 18.17). Em migmatitcJs, as
peide apresentar-se com texturas e paragêncscs diversas
estruturas gnáissica e bandada adquirem aspecto
quando submetida a cone-lições metamórficas variáveis.
freqüentemente caótico, interdigitadas em escala vari-
Dessa maneira, os critérios de nomenclatura ad<itad<Js
p<idem variar cm vista do context<i elentro do qual se
deseja referir uma determinada rocha eiu cc)njunto ele
rochas. () prefixo "meta" pode ser utilizado, c<im<i em
mctabasaltei ou metagrauvaca, <Ju pode-se falar ele ro-
chas metapelíticas, metacarbcináticas ou metabásicas,
quandei se deseja realçar a natureza e-l<is protolitos. (~uan-
elo fcir importante destacar as c<indições metamc'irficas,
poelc-sc designar as r<)chas cciletivamentc de "rochas e-le
fácies xisto verele", ou "de baixe) grau metamórfico",
"de alta pressão", e assim por eliante.

() critéri<J ele ncimenclatura mais adcitadci, cssenci-


almen te petr<igráfic<i, combina estruturas e
composição mineralcigica. Assim, surgem <is termos
fundamentais ardósia, filito, xist<i, egnaisse, márm<irc,
Fig. 18.16 Ortognaisse com foliação gnáissica em evidên-
cia. Foto: R. N.Rüegg.
anfibcilitei e c.1uartzitci, utilizados ccimo nomes-raiz que
peidem ser ccimplemcntad<Js com infcirmações adici-
onais julgadas relevantes, ceimei presença de minerais
c.liagnósticos ou feições cspccíticas.

A c<)mp<isiçã<i n1ineral<ígica dá importantes infor-


maçc'Jes sobre as condições metam<írficas sob as quais
se formou uma determinada rocha. Tradicionalmen-
te, listam-se c1s minerais volumetricamcnte mais
representa ti,-os (com freqüência superior a 5(1/o) em
cirdem crescente de abundância antes do nome-raiz,
separadcis entre si por hífen, que eleve ser cvitadei apcis
o último mineral, mais abundante, que precede ime-
diatamcn te o nome-raiz. Minerais cuja presença se
deseja destacar, mas que ocorram em quantidade su-
Fig. 18.17 Biotita-anfibólio gnaisse bandado. Foto: G. A. J. borc.linada, devem ser acrescentados após o nome-raiz
Szabó. precedidos da palavra "ccim". Desta maneira, um gra-
nacla-bic)tita-quartzo-musce)vi ta xis te) pcirfi re) blásticc) os caracterizam. Gnaisses originados de rochas graníticas
com estaurolita significa c1ue muscovita é o mineral sãci designadcis ortognaisses: o prefixo orto designa ro-
volumctricamente mais impe)rtante, seguida, cm eir- chas metamc'irficas de protolito ígneo. Gnaisses podem
dem decrescente, por quartzc), bicJtita e granada, além também ser originados pelo metamorfismo progressi-
de estaure)lita, esta em pequena quantidacle, peirém vci de micaxistos, quando entãcJ sãci ricos em quartzo, e
importante porc1ue sua presença inc1ica cc)ncliçõcs de podem ceJnter 1,i-ranad_a, ceirdierita, cianita ou sillimanita,
• '
fácics anfibcilitc). A textura porfireJb!ástica, considera- eiu de arcóseos (arenitcJs feldspáticcJs) ou grauvacas (ro-
da relevante, é também acrescentada ei nome da rcicha. chas sedimentares arenosas ricas em argilominerais).
ciuanelo ciriginadcis dei metamorfismo de rochas
sedimentares, sãcJ denominados paragnaisses: o prefixo
18. 7 .1 Ardósias, filitos, xistos e gnaisses
para designa rcJchas metamórficas de protcilito
1\rdósia é uma rocha metassedimentar de baixel sedimentar.
grau metam{irficeJ e granulação muito fina, inclistinta,
ceinstituída c-!e muscovita, cleirita e quartzei. IJcicle pre- 18.7.2 Quartzitos, mármores, talco xistos,
servar a estratificaçãc) sedimentar, e apresenta clivagem
serpentinitos e anfibolitos
ardosiana, reconhecida pele) brilhei scdeJso das micas,
quer paralelamente à superfície de estratificaçãci, c1uer A composição mineralógica é o critériei essencial para
aci longo de pla11cis de fcJliação eJblíqL1os. Sua resistên- a nomenclatura ele algumas rcichas, principalmente as
cia mecânica é supericir à clc)s fcilhelhos deis quais se monciminerálicas. Quartzitos, originados dei
originoLt. Ceim aumento deJ grau metamórficci, trans- metamorfismo de arenitos, sãeJ ccinstituídos pcir qL1artzo
feirma-se graclativamente em filitei, constituídeJ também (Fig. 18.18). J\1ármores, originac-!os de calcários, são ccJns-
ele muscovita, clcJrita e c1uartzel, porém ccim uma tituídeis peir carbcJnatos (Fig. 18.19) e peidem ser
granulação mais clescnvolvida, e Lima feiliaçãei bandados <Ju maciços. Prec1üentemente contêm minerais
metamórfica per\•asiva, cujas superfícies apresentam-
se sedcJsas a prateaclas, freqüentemente onclulac-!as.

() aumente) preigressivo elci grau metam(irficci leva à


transformação elos filitcis em micaxistc)s (Figs. 18.5, 18.9
e 18.14), ccim musccP;ita, clcJrita e/ cJLJ !Jiotita em palhetas
!Jem visíveis e isei-orientadas. 1\lém elcJ crescimentc) mais
acentuaclci deJs minerais micáceeJs, podem c-lesenvcil,•er-
se andaluzita, cleJritc'iicles, granadas (l <'ig. 18.14), estaL1rcilita,
cianita (Fig. 18.9), sillimanita ciu ccirclierita em funçãei elci
grau metam{irficci.

RcJchas de eirigem metasseelimentar, ccim estrL1tL1-


ra xistosa de cclmposição pelítica ou psamcJ-pelítica
(argilosa ou arencJ-argilcisa) peielem ser denc)minadas Fig. 18.18 Quartzito com estrutura maciça. Foto: G. A. J. Szabó.
genericamente micaxistcis quanelo sua compc,siçãei é
predcJminantemente micácea. Rochas de cirigem ígnea
básicas ou ultrabásicas também podem ostentar es-
trutura xistosa, ccJmo os "xisteis vereies", ccinstituídeis
de clarita, actinolita, epíclotci e albita, ou ant1bc'ilio xistcJs
e talco xisteJs.

() neJme-raiz gnaisse é reservado para rcichas consti-


tuídas predominantemente por feldspatcJS e quartzci, ccJm
no mínimo 20°/c, ele feldspatcJ em volume (Figs. 18.16 e
18.17). A estrutura bandada é comum em gnaisscs: algu-
mas classificações chegam a considerá-la essencial para a
sua definiçãci. De maneira mais abrangente, pcirén1, é a
composição quartzc>-feldspática e a feiliaçãei 6rnáissica que Fig. 18.19 Mármore calcítico puro. Foto: G. A. J. Szabó.
CAPÍTULO 18• ROCHAS METAMÓRFICAS 397 "'~~~
••

acessórios come) tremcJlita e diopsíelic) (respectivamente, ras •1c._rranc1blásticas a t-,·


u-ranci-nematc>l,lásticas, ce>nstituídas
anfib{>lic> e piroxênio de Ca e i\1g), c>livina, wcJllastc>nita, ele pr< >pcJrce"íes variáveis ele pla1-,ric>clásic> e anfib(ilici ver-
talcc), principalmente qt1ane-lci e> protc>litcJ tiver sidc> um ele , acrinc>lita cJu heirnl1lenela), que pcielem conter ainda
calcário dolomíticc) silicc>sc>. Rc)chas ccinstituídas pcir tal- ~rranac-la. lJUartzci, biotita <Ju epídcitci.
co são designadas esteatitc)s quandci maciças, cJu talcci
xistcis, quanelo foliadas. De maneira similar, rc)chas ccins-
18. 7 .3 Rochas cataclásticas: brechas de
tituíelas preelominantemente pcir minerais elo grupci ela
falha, cataclasitos e milonitos
serpentina são chamadas de serpentinitcis. AnfilJolitcJs sãci
originados dei metamcirfismc> de rcichas ígneas l,ásicas, R<Jchas cataclásticas cc>rrespc>ne-Jem a u111a cate-
como basaltos e gabrc>s (ortcianfil,cilitos) c>u, menc>s g<Jria especial ele rc>chas metamc'irficas fcirmadas
freqüentemente, ele margas, e1ue sãc> rcicl1as seelimentares pela atuacãci cc>mbinaela ela fragmentaçãci (cataclase)
mistas, carbonáticas e argilc>sas (para-anfibcilitos). 1~111 e recristalizacãc> (blastese) deis minerais durante ci
ambcJs casos, sãci rcichas maciças a t<:>liadas, cc>n1 textu-

Tabela 18.1 Classificação simplificada de rochas cataclásticas.

> 30% > 5mm l -4 km

Rúptil < 250'1


. .

",•
'/t ' ,,,
" Cataclasitos < 0,2 mm 4- l O km
,' .:;_:.-:.: •') >_,,: :· '"
'<1 50-90 %
Orientado Milonitos > 0,2 mm Dúctil > 250º >lOkm

metamcirfismo c-linâmicci. i\s rc>chas cataclásticas rr<>t<lt11ilclni tcis, a }1rclpc>rçãc> ele 111atriz é infcric>r
podem ser elivielielas em e-lc>is grupc>s: um cc>m es- a 50'1/,,, ncis n1ilc>nitcis, entre 50 e 90'1/,,, enquantc>
trutura não e>rientada e eiutr<i cc>n1 estrutura nc>s ultramilcJnitcJs é superic>r a 90'½,.
c>rientada (Ta!Jela 18.1).

(-) primeiro grupc> englc>ba as brecl1as de falha 18.8 Rochas Metamórficas e a


e cataclasitos e ci segunelci, <JS milonitos (I~igs.
Tectônica Global
18.15 e 19.24 a e b). Sãc) ccJ111uns transiçc"íes e11tre
esses elois grupc>s e variaçc"íes i11 ternas em caela um N ci cenáric> ela 1'cctêinica e;
lc> bal, rcichas
deles. c:ataclasitcis sãc> rc>chas cc>esi\·as, sem estru- n1eta111(irficas pciden1 ser fc>rmadas em três grandes
tura de fluxc>, afaníticas, fc>rn1aelas em C(indiçc"ícs aml,ientes cm li111ites ele placas cc>n,,ergcntes: a) nas
de def(irmação rúptil ciu rúptil-elúctil. l)cir ciutr<i zc>nas ele subelucçãc>; lJ) nas de cc>lisão; c) nci fundei
lad(>, brechas ele falha sãc> r(icl1as sem cc>csãc> 11ri- <>ceânicci, na regiãci elas elcirsais mesci-ciceânicas. Dcs-

mária, caracterizadas pc>r fragn1en t<Js angulc>sc>s ele tes, ci meta111c>rfisn1c> de fundo oceânicc> já fcii discutielc>
tamanhcis variá,,eis en1 uma matriz fina com as- nci item 18.-1-.6.
pectci de farinha. :.Iil(lnitos sãc> rcichas ccicsivas ele
granulação fina e estrutura fcJ!iada, fcJrmac-las em
18.8.1 Metamorfismo em zonas de
condições dúcteis, e caracterizadas pela presença
subducção
de porfiroclastc)s lJUe se destacam na matriz fina.
(Js milonitc>s fazem parte da série n1ilc>nítica, onde r\ 1:ig. 18.20 me>stra o padrãe> de distribtiiçãc> das
protomi!c)nitci e ultrami!cJnito aparecem C(Jmci ter- isclter1nas cn1 um zona de subducçãci. Nota-se que essas
mos extremcJs. A separacãc> é feita C(>m base na linhas accin1panham a gecJmetria e-la placa ciccânica dcs-
relação entre porfiroclast(is e matriz: nc>s cenclente e da cunha mantélica na placa ccJntinental
Placa
adjacente (Cap. 6). Na re1-,rião da fossa, elas oceânica antiga: Placa continental:
baixo gradiente Arco magmôtico: gradiente geotérmico
seguem em profundidade com uma geo- geotérmico alto gradiente geotérmico constante
metria em forma de "ponta de lápis"
Metarmofismo
paralela aci plano de subducção e retornam Fossa
1 de baixa Pressão km
para cima ccim um forte degrau inverso ~ 600 200 o
em direção à placa superior. Esta geome- "0 800 600
1000 ···. 800
tria em degraus se deve ao contraste de E 1200
õ" 1000
temperatura entre as r()chas "frias" da placa "' 1400 200
1200
oceânica descendente e a cunha mantélica
1400
quente em ascensãci, esta última a fonte
principal de calor para o metamorfismo 400
elos basaltc)s e sedimentos em subducção.
O patamar exibid(J pelas curvas acima da
fossa (parte superior da placa ccintinental) 600
é devido ao ma1-,>matismo pr(iduzido pela
fusão parcial d(J manto e da base da cr(JS-
• • • • Região de menor
ta continental (Cap. 16). Nesta região, temperatura na placa
800
desenv(Jlvem-se terrenos metamórficos de em subducçôo
1OOO"C
baixa pressãcJ e alto gradiente geotérmico.
Fig. 18.20 Padrão das isotermas em umu zona de subducção.
A velocidade da subducção é um
parâmetro determinante do tipo de metamorfism(J, se níveis superpostos - níveis "mais quentes" sobre níveis
de alta pressão (e baixa temperatura), onde aparecem os "mais frios" - é suficiente para pr(iduzir um tipo espe-
xistos azuis, ou de baixa pressão (e alta temperatura), quan- cial de metamorfismo conhecido como metamorfismo
do então aparecem os xistos vereies, asscJciados a inverso. O efeito produzido nesse tipo de metamorfismo
anfib()litos e gnaisses. São ainda parâmetros impcirtantes, é semelhante ao de um "ferro-de-engomar'', onde uma
entre cJutros, a inclinação do plano de subducção, a ida- superfície mais quente desliza sobre uma superfície mais
de da crosta oceânica subductada, o regime tecttinico fria. Assim, em uma seção estratigráfica, podem ocorrer
reinante (se c(impressivo ou extensional), o grau rochas metamórficas de mais alto grau, com(J gnaisses e
gecJtérmico (alt() ou baixo), a pressã(J de fluidos e o tipo migmatitos, S(Jbrepostas a rochas de mais baixel grau, como
e natureza da margem C(Jntinental envolvida ncJ prcices- xistcJs e filit(JS.
so ele subducçãcJ (Cap. 6).

18.8.2 Metamorfismo em zonas de colisão


continental

Durante o processo de ccilisão ccintinental (Cap. 6),


as isotermas são modificadas e elevadas na crosta, pas-
sando a ter um disp()sição que é função do espessamente)
crustal e da tectônica env()lvida na fcJrmaçãc) da cadeia
de montanha. Este espessamento crustal (Jcorre princi-
palmente na parte superi(ir da crosta continental. Com()
esta camada da crosta possui densidade menor que a
crosta oceânica em subducção, ela tende sempre a "t1u-
tuar". Em regiões de colisão continental envoh<'endo
6>randes massas
,
de rochas, comcJ nos Himalaias,
,
cJnde a
placa da India colide com a placa da Asia, occJrre a in-
versão das isotermas, com rochas de mais alt(J grau
metamórfico sendo colocadas sobre rochas de mais baixel
grau. Em alguns casos, a diferença térmica entre os dois
·"i'
·" ·",: ',\ ,"

1,1,

:, '·_,:,iJ,(: ·, -i' '

os capítulos precedentes vimos que nosso 19.1 Princípios Mecânicos da


planeta encontra-se em prc)cesso contínuo
Deformação
de transformação, modificando sua forma, estrutu-
ra e características fisiográficas. Em sua grande Por que as deformações ()correm? Esta é uma ques-
maioria são modificações imperceptíveis pela exis- tão que tem instigado os cientistas desde o século
tência humana, sendo, contudo, significativas À'. 111. Com base na observaçãc>, eles concluíram que
quando consideradas em relação ao tempo geológi- as rochas sedimentares eram depositadas c)riginalmen-
co. Tais modificações podem então resultar no te como camadas horizc)ntais em fundos de lagcJs, rios
surgimento de oceanos, nos deslocamentos de gran- e oceanc)s. Contudo, questionavam como essas cama-
des massas continentais e na formação de grandes das eram modificadas de sua posição cJriginal, passando
cadeias de montanhas, que são acompanhadas da a ser inclinadas e deformadas. Qual cJ tipo de fcJrça que
deformação das camadas de rochas, como já estu- poderia deformar uma rocha dura e resistente? Seriam
dado anteriomente. essas deformações relacionadas a um processe) maior
A Geologia Estrutural, disciplina das Ciências d() planeta? Só recentemente, no final da década de
da Terra, estuda os processos deformacionais da 1960, com o advento da tectônica de placas, é que os
litosfera e as estruturas decorrentes dessas defor- avanços no cc)nhecimento geológico permitiram que
mações. Investiga, de maneira detalhada, as formas os cientistas chegassem à conclusãc) de que essas de-
geométricas que se desenvolvem em decorrência do fc)rmações eram o resultad(1 de movimentos entre as
dinamismo de nosso planeta, abrangendo da escala placas litosféricas, à sc:melhança de outros fenômenos,
microscópica à macroscópica; portanto, deforma- tais como terremotos e vulcanismo.
ções desde a escala dos cristais formadores de rochas Antes de iniciar o estudo descritivo das principais
até a escala continental, neste último caso voltan- estruturas geológicas conhecidas, serão discutidos c)s
do-se ao exame do deslocamento de blocos de principais tipos de processos que conduzem à defor-
grandes dimensões. mação dos corpos rochosos.
O estudo e reconhecimento das estruturas geo-
lógicas possuem importância científica e prática. Do 19.1.1 Processos deformacionais: conceitos
ponto de vista científico, os estudos em geologia básicos
estrutural têm mostrado que nosso planeta é dinâ-
mico e que vivemos sobre placas litosféricas de Um corpo rígidc) rochosc>, uma vez submetidc) à
dimensões continentais, que se movem de maneira açãc) de esforços, qualquer que seja a causa, p()de so-
lenta e contínua (Cap. 6). Esta movimentação é, em frer modificações em relação à sua posição, pc)r
grande parte, responsável pela formação das estru- translação e/ou rotação (Figs. 19.1a e 19.1c), ou em
turas geológicas. Do ponto de vista prático, muitas destas relação a sua forma, por dilatação e/ ou distorção (Figs.
estruturas são responsáveis pelo armazenamento de 19 .1 a e 19 .1 d).
hidrocarbonetos (petróleo e gás), água, minérios etc. São No conjunto, considera-se que o C()rpo sofreu uma
importantes também em obras de engenharia civil, onde deformaçã(), resposta das rochas submetidas a esfc)r-
o levantamento das estruturas geológicas constitui a base ços, c)s quais são gerados por forças.
para as grandes obras de engenharia, como barragens,
pontes, túneis, estradas etc. Os conceitos de força e esforço são consideradc)S
básicos em Geologia Estrutural, pois estão diretamen-
A primeira parte deste capítulo é dedicada ao estu- te relacionados com a formação das estruturas
do dos principais tipos de deformação e processos pelos geológicas. Para compreender os processos mecânicos
quais as estruturas são formadas, isto é, como as ro- envolvidos na dinâmica de nosso planeta, é necessário
chas respondem aos esforços, baseando-se no antes conhecermos os conceitos de força e esforço.
comportamento dos materiais rochosos e seus meca-
nismos deformacionais. A segunda parte contém uma Força é definida, classicamente, como uma entida-
descrição das principais estruturas, formadas pela di- de física que altera, ou tende a alterar, o estado de
nâmica de nosso planeta. repouso de um corpo ou o seu movimento retilíneo

· Imagem de satélite mostrando dobras na Faixa Paraguaia, na região de Cáceres, oeste de Cuiabá, MT.
uniforme. Esta definição refere-se à primeira lei de Uma força, \·ertical F, atuandc) sobre um plano in-
Newton. Em relaçã() à sua segunda lei, Newton obser- clinado 0 graus em relação a um plano horizontal, pode
vou que a aceleração de um objeto é diretamente ser decomposta em um Cl)mponente vertical, denomi-
proporcional à força resultante que atua sobre o corpo nado força normal Fn e outro componente paralelo
e inversamente proporcional a sua massa - expresso, ao plano, denominado força cisalhante Fs, sendl) que
matematicamente, pela equação: Fn = F cos0 e Fs = F sen0 (Fig. 19.2a).
F=ma (19 .1) Consideram-se dois tipos fundamentais de forças que
() newton (N), a unidade básica de fc)rça no Sistema afetam os corpos geolt'>gicos: forças de corpc> (ou de vo-
Internacional (MI<S), é a força necessária para imprimir lume) e forças de contato (ou de superfície). As forças de
aceleração de 1m/.s2 em um corpo de 1kg de massa. volume atuam sobre a massa de um corpo como um
No sistema CGS, a unidade básica de força chama-se dina, todo, a exemplo das forças gravitacional e eletromagnéti-
que é a força necessária para imprimir aceleração de 1 ca. 1.\.s forças de contato atuam empurrando ou puxando
cm/ s2 a um Cl)rpl) com massa de 1 b>rama. determinado corpc) ao longo de uma superfície imabriná-
ria, como uma fratura.
Descrever a magnitude de uma força, seja em
newton ou em dina, não é suficiente para definir força. Quando uma força F atua sobre uma superfície,
Forças sã() entidades vetoriais, sendo necessária a tem-se uma outra entidade físico-matemática denomi-
especificação de sua direção e sentido. A caracteriza- nada esforço. Isto significa que a magnitude do esforço
ção das propriedades vetoriais da força utiliza-se, por não é simplesmente função da força F, mas se relacio-

sua vez, dos princípios de Algebra Vetorial. na também com a área sobre a qual essa fc)rça atua, ou
seja, esforço é a relação entre
...... força e área:
_E
a b a= A (19.2)

,,•·•··., No Sistema Internacional cos-


• •
'•
'• tumamos quantificar o esforço em
''
'
termos da força e área (Newton/
m 2l caraterizando a unidade
Pascal. Devido a pequena mag-
- nitude desta unidade comparada
à magnitude dos esforços que
atuam em nosso planeta, o Pascal
é normalmente empregado prece-
dido de um pretixo como quilo,
mega ou giga. Outra unidade de
e d esforço utilizada em Geologia é
.,
o bar, que equivale a 1Lf Pa. Pres-
_. "
] sões dciiNias no interior da Terra
' são frequentemente dadas em
i,
..
kbar, sendo que 1 kbar
"' axtcspoade a 100:i\fPa.
l
.w Para melhor ilustrar a impor-
t:inc:ia do assunto, será utilizado
• um caso não geológico, que

• exemplitica a estratégia utilizada


para resgatar um patinador de
gelo que se exercitava num lago
Fig. 19.1 Movimentos básicos devido à ação de esforços: (a) Dilatação - v01ioçã,> de
volume; (b) Translação - mudança de posição; (e) Rotação - variação de orietttoç5o; (d)
Distorção - mudança de forma.
. .,, .,
'. '
·:_;_: :/·:- " '

',·.,,
'/, . _., '.. f./ ' ,'\

Plano P Plano P
) A
p
) A
p

2
F cos 8 = cr cos 8
- F sin 0 =_Q. sin
2
28
Fig. 19.2 Ilustração mostrando a decomposição de uma força F e esforçocr sobre um plano inclinado (P) de
0 graus em relação ao plano A.

congelado (Fig. 19.3). Em razão do ''peso" do bt1a a1Jresentar uma maic>r superfície, fazendo com
patinador (77 kg), houve a ruptura da delgada cama- que o esforçc> exercidc, sobre a camada de gelo fc)sse
da de gelo de) !age). Este "peso" estava distri!)uídci distribuído numa área maior, senão vejamcls: o "peso"
uniformemente sobre as lâminas dos patins e a área da prancha somado ao "peso" do nosso ''hercSi'' é
de contato con1 o gelo era de apenas 5,fJ8 cm2 , o que igual a 81,64kg, com a área da tábua de 5.486,4 cm2 •
significa que cl esforço atuando sobre a (lelga(la ca- Deste modo, o peso do homem passou a ser distri-
mada de gelo era buído ele tal maneira que a concentração do esfcirço,
ern qualqt1er ponte> sob a tábua, é bem menc>r, e, por-
2
9 tante), bem abaixo da resistência à ruptura ele> gelo.
a= F = ??kgx ,Sm.s- =1.485.433Pa=l485bar
A 5,08xl0-4 m2 '
6 9 2
a F Sl, kgx ,Sm.s- = 1.458Pa = OOlbar
2
A Figura 19.3 mostra que o nc>sso ''l1eré>i'' para se
A 0,54864m '

aproximar da vítin1a, utilizou u1na tábua suficientemen- Neste cas<), <Jbserva-se que a pressà() exercida so-
te larga, evitando assim que a catnada de gelo se bre (J gelo é cerca de 1.50() vezes menor do qt,e a dei
rompesse. 1\ explicação para isso está no fatcJ da tá- patinador.

mas eu peso 800N e a


Eu peso 754,6N e a área da tábua é
2
L,xl 2 =A (área do patins) _,, de 0,548m ,
.4 2 então 0'=0,0lbar.
de 5,08 xlO m
Portanto o gelo não rompe_!..,
então O' = 14 ,Sbar
(

gelo
fino

-- ',-·
,. ',, -~'""'~'"';~.e:\,

Fig. 19 .3 Salvamento de um patinador e a importância da intensidade do esforço.


'',' ,-,,,
..
'' ,,,,,'

19.1.2 Noções básicas de teologia Um corpo ao se deformar pode sofrer distorções,


'
que apresentam comportamentos mecânicos distintos;
A Geologia Estrutural interessa, particularmente, deformações pc)dem ser recuperáveis, isto é, um car-
e) estudo dos corpos deformados (seja por translação, pe) pode sofrer contração ou estiramento quando
rotação ou distorção), bem como a investigação de suas submetido à ação de esforços, porém, quando esses
, .
causas, procesS()S e aspectos geometr1cos. esforços são retirados, o corpo retorna a sua forma e
A disciplina que estuda o comportamento dos ma- p()sição originais. F:ste tipo de deformação é denomi-
teriais submetidos à ação de esforços denomina-se nada elástica (e). Um exemplo é a expansão térmica
Reologia, termo cujo sentido etimológico é () estud() de um corpo rochoso, o que não envolve quebra ou
da deformação e do fluxo da matéria. ruptura, mas apenas al()ngamento (dilatação). Encurta-
mento ou flexura é outro exemple) de deformação
As condições físicas reinantes durante a deforma-
elástica.
ção são fundamentais no comportamento do corpo
submetido à ação de esforços. Para um material geoló- Para ilustrar esse tipo de deformação, considera-se
gico qualquer, as condições físicas sãc): i) pressão um corpo submetido a um esforço uniaxial (cr). Sua
hidr()Stática/litostática e temperatura, as quais depen- deformação é definida fisicamente pela relação
dem da profundidade onde ocorre a deformação, ii)
condições term()dinâmicas e iii) esforço aplicado à ro- e= ~l, (onde e é a elongação e 1o comprimento).
cha. Nessas condições, as deformações podem ser 1
rúpteis ou dúcteis, isto é, podem occ)rrer, respcctiva-
Supondo-se que o corpo sofra um encurtamento
men te, quebras e descontinuidades ou apenas
relativo homogêneo, isto pode ser representado em
deformação plástica, sem perda de continuidade. A Fig.
gráfico CJ j(e), ou seja esf01ço cm função do encurta-
19 .4 mostra e) C()mportamento dcformacional dos ma-
mento (Fig. 19.Sa). O gráfico resultante deste tipo de
teriais em função da temperatura e pressãe) hidrostática.
deformação mostra, inicialmente, uma relação linear
entre o esforço e a deformação, iste) é, o esf()rÇ() é
proporcional à deformação (a = Eé:), onde E é uma
o T = Tem eratura constante denominada módulo de Young. Porém, se o
esf()rÇ() é retirado, a deformaçãc) é instantaneamente
re\·ersÍ\'el, ou seja, elástica. A partir de um determina-
do \·alor do esforço, denominado esforço limite (cre),
ou conhecido também C()mo limite de elasticidade, ocor-
....
-o
'ti re uma diminuição da inclinação do gráficc), deixando
7J
e de existir uma relaçãc) linear com a deformação do
..e corpo. ~este setor do gráfico, caso () esfe)rçc) aplicado
o
'º V,
V,
seja retirado, tornando-se zero, a deformação é restitu-
Q)

a..
.... ída apenas parcialmente (trajetória XX'), permanecendo
li ainda uma deformação, denominada deformação plás-
b tica (é:J.
,
Se a carga é reaplicada neste mesmo corpo,
li \·erifica-~, no gráficc) CJ versus E, a trajetória X'; onde
a..
o no,·o limite de elasticidade é agc)ra a,, o qual é maior
que a,. ~otar a no\·a deformação elástica (é:) em rela-
ção ao no,-o limite de elasticidade a, Quando isso
ocorre, diz-se que houve um "endurecimento" do
material, ou seja a deformação plástica mudou o esta-
d() do material, que ,
pode ser quantificado no eixo das
Fig. 19.4 Domínios de deformação natural em função do abcissas por (e). E justamente o aumento da deforma-
pressão hidrostático/litostático e temperatura. As linhos BP-AT ção que le,·a à ruptura do carpe). Quand() as rochas
e AP-BT representam o comportamento esperado em regimes
são deformadas sob condições ele pressão e tempera-
de oito e baixo gradientes térmicos, respectivamente. AP=Alto
tura ambientes, ocorre a ruptura sem haver uma
pressão; BP=Boixo pressão; AT =Alto temperatura; BT =Baixo
temperatura.
deformação plástica significativa.
Examinando os fatores que determinam uma pcir longc1s períodcis de tempo, não apresentam gran-
rocha se romper ou sofrer apenas flexão des resistências aos esforços, ao contrário, fluem como
se fossem um líquidci extremamente viscoso. Este é o
lJ exame da influência da pressão hie.lrc1stática/
caso do comportamento dei manto terrestre que se mo-
litcistática, da temperatura e da velocidade de defor-
vimenta, lentamente, por estar submetido a pressc)es
mação no comportamento dúctil ou rúptil das rochas,
litostáticas elevadas, entre outras ccindições. A pressão
durante o processo deformacional, permite uma me-
litostática no interieir da Terra aumenta com a profun-
lhor compreensão de1 processo.
didade de accirdo com a equação:
• Pressão Hidre)stática/Litostática ➔ é a pressão
P = pgz (19.3)
vertical em um determinado ponto ela crosta terres-
tre, que é igual à pressão exercida pelas rochas onde p é a densidade da rocha, g é a aceleração da
sobrejacentes. Rochas submetidas a pressões elevadas, gravidade e z a profundidacle.

(CT l - CT 3)
(A) MPa
CT = F/A

CT 3 = 100 MPa

CT X
l CT 3 = 35 MPa
F
O" e
O" 3 = 10 MPa
T= 2sºc
tg a= E O"
R
3 = 0,1 MPa
f R = Ruptura
a

o 0,5 1 2 3
Ee
a

(CT 1 - O" 3)
MPa
cr
o
400 300 e R3
aumento da velocidade
R de deformação
CT E3 ---
300 sooºc
R
200 . - - - - - - - - - - 600º e
O" E2 Rl
0"3 = 40MPa
100 f R = Ruptura O" El
R = Ruptura

2 4 6 8 10 E% E%
e d
Fig. 19.5 Gráficos da deformação em função do esforço: (a) Para um cilindro sob compressão uniaxial; (b) Deformação sob
temperatura constante e pressões de confinamento variáveis; (c) Deformação sob pressão confinante constante e temperatura
variável; (d) Deformação sob condições de velocidade e deformação variáveis.
.
···•
..
'i ' '

Os ensaios laboratoriais, em amc)stras de rochas, de deformação? Experiências semelhantes àquelas re-


mc)stram que C) aumento da pressão confinante, que presentadas na Fig. 19.Sa foram realizadas com
desempenha o papel da pressãcJ litc)stática, torna as diferentes velocidades de colocação das cargas, sobre
rochas mais resistentes à deformação, isto é, elas testemunhos de material rochoso. A Fig. 19.Sd mostra
necessitam de uma pressão de carga maior para se que, com o aumento da velocidade de deformação, há
deformar. Se a pressão litostática for muito ele,·a- uma diminuição considerável do domínio referente à
cla, as rochas se deformam, sem no entanto ocorrer deformação plástica e um aumento do limite de elasti-
a ruptura. Denomina-se deformação dúctil (Fig. cidade a, Portanto, para velocidades de deformação
19.Sb). crescentes, o domínio da plasticidade diminui, com a
rocha tornando-se rúptil ou friável.
Conclui-se que um aumento da pressão litostática
tem por efeito tornar as rochas mais resistentes ao
fraturamento, fazendo com que a deformação ocorra 19.1.3 Domínios deformacionais em função
no campo dúctil. da profundidade na crosta
• Temperatura ➔ sabemos que a temperatura no C)s fatores físicos descritos acima, em particular a
interior da Terra aumenta com a profundidade; o gra- temperatura e a pressão hidrostática/litostática, são
diente térmico médio é da ordem de 20ºC/km, função da prcJfundidade na crosta terrestre e permi-
pcldendo entretantcJ, em algumas regiões, chegar a cerca tem distinguir dois domínios deformacionais distintos:
de 100ºC/km. o superficial e o profundo. Estes domínios
Estudos experimentais, sob pressão confinante defcJrmacionais são caracterizados pela formação de
constante (a =40MPa) e temperatura variável, mos- estruturas geológicas distintas.
r
tram, em geral, que o comportamento mecânico das O domínio superficial caracteriza-se por uma de-
rcJchas varia ccJnfcJrme C) gráfico da Fig. 19.Sc. Com o formação essencialmente rúptil, enquanto o domínio
aumento da temperatura, a rocha se deforma mais profundo caracteriza-se por uma deformação dúctil.
facilmente, isto é, um menor esfc)rço é necessário para Neste último, a rocha pc)de sofrer fusão parcial, se a
causar uma deformação, fenômeno este acc)mpanha- temperatura for suficientemente elevada. Portanto, es-
do pelo abaixamento do limite de plasticidade do truturas formadas a cerca de 40 km de profundidade,
material. com pressões da ordem de 1O kilobares e temperatu-
Com a profundidade, há o aumento da pressão ras de 800° a 1.000ºC são muito diferentes de estruturas
litostática e da temperatura, fazendo com que a rocha se fcJrmadas em subsuperfície. Isto significa dizer que, para
deforme plasticamente, retardando assim a ruptura. o estudo das estruturas geológicas, é necessário levar
em consideração o nível crusta! em que ela foi forma-
• Velocidade ou taxa de deformação ➔ corresponde
da. Cada ní,-el apresenta estruturas com geometria e
à defc)rmação CJCC)rrida em uma rocha durante um in-
mecanismos de formação similares que, no entanto,
tervalo de tempo. Na natureza, essas deformações são
são diferentes de outros níveis crustais por conta das
extremamente lentas, da ordem de 5 a 10% em um
leis reológicas específicas. Denominamos níveis es-
milhão de anos. Desse modo, a velocidade de defor-
truturais os diferentes domínios da crosta, onde
mação pode ser representada pela seguinte equação:
ocorrem os mesmos mecanismos dominantes da de-
formação. Entende-se, aqui, como mecanismos da
V =& , onde t é o tempo em segundos e E a medida
t deformação, a deformação rúptil, isto é, a formação
da elongação, que é adimensional. A taxa de deforma- de falhas, fendas e fraturas marcadas por planos de
ção E é fornecida em s 1• descontinuidades, enquanto a deformação dúctil é en-
tendida como deformação sem perda de continuidade,
Em ensaios de laboratório, as taxas de deforma-
porém com a rocha sofrendo distorção.
ção são da ordem de 1Oõ a 1O8 s 1, chegando a 10 9 s· 1
para o fluxo experimental. Estes ,·alares estão longe _\ Fig. 19.4 representa, esquematicamente, os cam-
de representar as velocidades dos fenômenos geológi- pos da deformação natural em função da pressão
cos naturais, que são da ordem de 10- 14 a 10-11 s· 1 para hidrostática e da profundidade. Contudo, como já vi-
os deslocamentos horizontais. Qual seria então o com- mos, de,-e-se le,-ar em conta o gradiente térmico
portamento dos materiais rochosos em função da taxa regional, isto é, a variação da temperatura em função
da profundidade na crc)sta terrestre. Neste sentido, são integração e reconstrução de afloramentos, sendo, em
considerados dciis gradientes geotérmicas distintos, geral, representada em perfis ou mapas geológicos.
cada um deles apresentando uma evoluçãcJ
Usa-se o termcJ estilo para descrever llobras, à
deformacional diferente. É importante salientar que a
semelhança do seu significadcJ em arquitetura. Assim,
deformação não depende apenas da temperatura, pres-
estilo de uma clobra corresponde a um conjunto de
são e profundidade, mas também de ciutros parâmetrcis,
feições mcirfológicas e geométricas associadas a um
como, natureza da rcJcha, velocidade de deformação, pres-
grupo (ou família) de dobras. Essas feições são aliqui-
são confmante, pressão de fluidos, etc.
ridas durante a deformação e poclem ser reccinhecidas
Nc) caso do gradiente térmico mais elevado, isto é, em Llm mesmo grupo de dobras, mesmci em
a reta que apresenta menor inclinação, observa-se que afloramentos diferentes. () estilo traduz uma identida-
a uma profundidade mencir pode-se atingir tempera- de de um mesmo grupc1 de estruturas, contudo, ele
turas suficientemente elevadas para que a deformaçãcJ tenlle a variar com o tipo de rocha e com a profundi-
ocorra no domínio da plasticidade ou até da viscosilla- dade na crosta, lJem comcJ ccim a taxa ele deformação.
de, isto é, no campo dúctil. Para um gradiente térmico 1\ cibservação dei estilo lieve ser feita num plano per-
menor (reta de maior inclinaçãci) é necessário atingir pendicular ao eixci ela dcilJra. Este plano é referido
pressões elevadíssimas, o que implica ambientes ele ccJmci plano de perfil da dobra (Fig. 19.6). Em qual-
grande profundidade, para que as deformações occir-
ram nos campos plásticcJ e viscoso.
a
As estruturas rúpteis e dúcteis, características de
cada um desses campos deformacionais, são descritas
a seguir, levanllo-se em considrr'1çãcJ as principais clas-
sificações geométricas existentes na literatura,
incorporandc), sempre que pc)ssível, exemplos de es-
truturas brasileiras.

19.2 Formando Dobras


As dobras são deformaçc3es dúcteis que afetam
corpos rochosos da crosta terrestre. Acham-se as-
sociadas a cadeias de montanhas lle diferentes idacles b
e possuem expressão na paisagem, sendci visíveis
em imagens de satélite. São caracterizadas por cin-
Lc
dulações de dimensões variáveis e podem ser Zc
quantificadas individualmente pcir parâmetros ccimci
FI
amplitude e comprimento ele onda. A sua fcirmaçãci
se deve à existência de uma estrutura planar anteri-
a
or, que pocle ser <J acamamentcJ sedimentar ou a
foliação metaméirfica (clivagem, xistcJsidacle,
bandamento gnáissico ), Cap. 18.

() estudo elas dcJbras pocle ser ccJnduzido em três


escalas: macroscópica, mesciscópica e micrciscópica. ,\
escala microscópica corresponde à escala de cstuclo cm
que a estrutura é observada ccim o auxilio de micrcJscó-
pio ou lupa. Na escala mesciscópica a estrutura é
visualizada de modcJ contínuo desde amostras na escala
Fig. 19.6 Elementos geométricos de uma superfície dobrada
de mão até afloramento, ou maior ainda. Na escala
cilíndrica (a) e plano de perfil de uma dobra (b): Sa- Superfície
macroscópica a estrutura cilJservacla é prc>l-luto da
axial; Lc - Linha de charneira; Li- Linha de inflexão; Zc- Zona
de charneira e FI- Flanco.
quer ciutrei planeJ diferente elcstc, cJ cstil<i ela elci!Jra l .1nha ele crista e linha ele e1uilha sàe> clen1entcis ge-
. .
será altcradcJ. , n11etr1ccJs e1t1e unem, respect1varr1ente, <>S J1<Jnt<Js 1na1s
.1lr,, e n1ais l1aixcJ ela superfície deJl1raela. l •:stas lir1has
() estudo elas eleibras é impcirtante na pcsl1uisa n1i-
cn1 L:cr.tl nãeJ cciincielem ccJm a linha ele charneira das
ncral, em prcigramas de prc>s11cccàc> n1ineral.
ll, ,brJ,, excet<> t1<J cas<J ele el<i!Jras si111étricas c<>n1 st1-
cxploraçãe) e lavra eie jazidas, pese1uisa ele pctrcílee> e
pcrfícic .ixial vertical e eix(J hciri:,:cJntal.
obras de engenharia comcJ esca,•açàci e-le túneis, ceJns-
trução de estradas, barragens, etc. .\ st1pcrficie axial pcielc ser curva <Jll 11lana, se::11d<>
neste case> referida c<i111<J plancJ axial. 1:Ja é· dcfi11ida
1\s pcsscias interessadas cm estuelcJs n1a1s
C<Jl11<> u111a superfície e1ue:: C<H1té1n a li11ha de char11cira
aprcifuneladeJs scJbrc este tcipicc\ ccimeJ a análise basea-
ela su11erfícic elcJlJrada (1 ;ig. 19.6 a). ;\ sua intcrsecçàcl
da em duas superfícies deibraelas e na análise
cc>n1 a t<JJ1<>grafia (cn1 n1apa cJu etn 11crfil) resulta cm
geei1nétrica utilizanelci prcJjeçãei csterceJgráfica, deve-
u1na linha C(lt1l1ccida C(Jn1(J traçcJ axial da clcJ!1ra, e que
rão recorrer acJs livreis espccializadeis ele h,rcc>lcJo·ia
h
aparece represcntacla e111 111apas geeJ!c'igic(JS. ()
estrutural relacieJnaelos acJ final de1 capítt1leJ.
cspaça111entci e a ccJ11figt1raçãcJ elessas linhas, e111 n1a11a,
re::flcte111 a arquitetura e a pclsiçãc> espacial elas elcJ!iras,
19.2.1 Elementos geométricos de uma ccinstituii1e!(J, assit11, un1 par,í1netrc> tnuiteJ útil à sua i11-
superfície dobrada terpretaçaci.

1\ st1perfícic e!eJbrada é um clen1ento funelan1c11tal


para a classificaçãei elas dobras. St1a eiefiniçã<J é !Jasca- 19.2.2 Classificando as dobras
da na curvatura da superfície, sendeJ ela rcferenciaela à
1\s clcJbras peldcn1 ser classificadas cm elciis tÍj1<Js:
curvatura de um círculo (l,'ig. 19 .6). A sua cletcr111ina-
atectc1nicas, re::Jacieinaelas ceJm a dinâmica extcr11a d(J
çãeJ, cm um pontci qualquer deJ círculcJ, é feita meelia11tc
planeta, e tectônicas, rclacicir1adas ceJm a dinân1ica
o traçaeieJ de uma tangente e ele sua normal a partir elcJ
it1terr1a. 1\s primeiras sã<J f<irmaelas na superfície <JU
pclntci consideradeJ. Esta neirmal ccJrtespeinde aei prcJ-
Jlrcixin1as a ela, cn1 ceJndiçc"'íes 1nuit<i semelhantes às
prieJ raiei do círculo ele referência.
ccJneiiç("'ícs ambiente, se::ncle> elcsencaeleaelas pela açà(J
Na Fig. 19.6b sãcJ inclicaeios os principais elcmc11- ela f(irça ela graviclacle (t,'ig. 19. 7) e pcisst1em exprcssãei
tcis geométriccis de uma superfície dobracla cilínelrica, apc11as lcical; as últimas sã(J feJrmaelas S(J!J ccineliçc"'íes
e1ue serão definielos a seguir. variacias ele:: csfeirçci, tc1n11cratura e pre::ssàcJ (l1ielrcJstática,
ele fluid<is), se11dc> mais relacicinacias cci1n 11rcJcesseis de
Linha de charneira ccirres11l1nde à linha que une
cve>luçà(J crusta], crn partic1ilar c<Hn a fcJrmaçà(> ele
os pontcJs de curvatura máxima ela superfície elobra-
cadeias ele mcintanhas.
da (Fig.19.6b). Uma outra linha dessa superfície que
une os pontcJs de curvatura mínima é dencJminada
linha de inflcxãci da dobra. Esta linha divide as clcJbras
em delis setores: um de ccJnvcxidade veJltae-la para cima
e outr<J, para baixo. Ilstas duas linhas peidem ser retas
ou curvas, dependendo da gceimctria ela superfície
dobrada. Uma linha de charneira reta é conhcciela ccimei
geratriz ou eixei da dobra. A sua oricntaçãcJ permite
definir a posiçãci espacial da deJ]1ra, horizontal, verti-
cal ciu inclinada. Ela situa-se numa região ela superfície
dobrada conhecida ccimci zona de charneira da
dobra (Fig. 19.66). 1':sta regiàci ccJrrespe1nde aeJ seg-
mento de curvatura máxima desta superfície e é
defirúda em relaçãci a um arccJ de círct1lci unitário em
que ela é inscrita. Desta fcirma, cibtétn-sc um
parâmetre> dcscritivci útil que expressa a relação entre Fig. 19.7 Dobras atectônicas em rochas sedimentares da re-
a curvatura da superfície e dei círculei. gião de Punta Arenas, Sul do Chile. Observar que as dobras
são restritas à parte inferior das camadas. Fonte: R. Machado.
As dobras atectônicas podem ser formadas a par-
tir de sedimentos saturados em água, os quais, apt'ls o
rc)mpimento da força de coesão entre os grãos, ad-
quirem fluidez e se movimentam num meio de menor
densidade, em geral aquoso. A quebra de estabilidade
de um sedimento pode gerar fluxo de detritos
(subaéreos ou subaquosos) c)u promover a formação
de correntes de turbidez, que são capazes de trans-
portar sedimentos para regic3es mais profundas de uma
bacia (Cap. 9). Os sedimentos depositados por esse Fig. 19. 9 Dobras
processo são denc)minados turbiditos. Neles são co- intrafoliais em

muns dobras (cm a mm) restritas a um mesmo nível gnaisses do Gru-


po Paraíba do
sedimentar, as quais nãc) se propagam nos níveis vizi-
Sul, Rio de Janei-
nhos. A compactação e diagênese dc)S sedimentos
ro (Rodovia Pres.
também podem levar à fc)rmação dessas estruturas.
Outra, Belvedere/
As dobras tectcJnicas são formadas pc)r dois meca- Serra das Araras).
nismos básicos: flamblagem e cisalhamento (l"'ig. 19 .8). Foto: R. Machado.

C) mecanismo de flambagem promove o encurtamento


das camadas perpendicularmente à superfície axial das
dobras, preservando porém a espessura e o comprimen- reduzir, pc)is parâmetrcis como pressão e temperatura
to das mesmas. Este mecanismcJ é acompanhado pelo passam a ser mais importantes no contrc)le do estado
deslizamento entre as camadas, de forma análoga ao que fisico do material rochtiso. Contrariamente, dobras for-
ocorre em cartas de baralhcJ quando flexionadas (Fig. madas por mecanismo de cisalhamento simples não
19.Sa). Isto é favc)recido em seqüências estratificadas ccJm envc)lvem o encurtamento ortogonal às camadas, pois
alternância de camadas de quartzitos e xistos. Esta os planos de deslizamenttJ são cJrtogonais ou oblíquos às
heterogeneidade litolé)gica se traduz em diferenças me- mesmas (Pig.19.Sb). As dtibras fcirmadas por este me-
cânicas impc)rtantes que vão controlar a geração de canismti são acompanhadas de mudanças na espessura e
dc)bras, St)bretudo em níveis superiores da crtista. Ccim comprimento das camadas. As zonas de charneira são,
a profundidade, estas diferenças mecânicas tendem a se em geral, espessadas e os flancc)s adelgaçados, ocorren-
do mesmo o rc)mpimento destes últimos, com formação
de dobras isoladas ccJnhecidas ccJmo dobras intrafoliais
a (Fig. 19.9).

19.2.3 Classificação geométrica

As c.iobras pt)dem ser classificadas com base na


posição espacial de seus elementos geométricos (linha
de charneira e superfície axial), na combinação entre
estes elementos, na variação da superfície dobrada, ou
ainda ccimbinandci estas classificações com critérios
geométricos ou estratigráficos. ,
b
Classificação com base na linha de charneira e
superfície axial

A classificaçãc) baseada na linha de charneira permite


di,,idir as dcibras em dois grupc)s: um com linha de
Fig. 19.8 Mecanis-
charneira reta (eixo) e ciutro ccim linha de charneira cur-
mos de formação de
va. Em ambos os casc)s a classificaçãc) se aplica apenas
dobras: Flambagem
para as dobras cilíndricas. As dcibras ccim linha de
(a) e Cisalhamento
simples (b).
charneira reta poc.len1 ser di,lididas em três tipos princi-
a b
a

e
b e
. .'
///

,, :::sr:;:>

Fig. 19.12 Classificação de dobras com base na superfície


axial: normal (a); recumbente (b) e inversa (c).
Fig. 19.1 O Classificação de dobras com base na linha de
charneira: horizontais (a); verticais (b) e inclinadas (c).

pais: dobras h(irizontais; dobras verticais e dobras com


caimento ou inclinadas (Fig. 19.1 O). CcJnsideram-se do-
bras horizontais (ciu sub-horizcintais) quanclo o caimento
do eixo situa-se nci intervalo de O alOº (Fig. 19.11); verti-
cais, entre de 80 e 90°, e inclinadas, entre 10 a 80°.

A classificação com base na superfície axial pode


ser em relação à simetria da dobra ou em relaçãci à sua
pcisição no espaço. No primeirci caso, a superfície axial
corresponde a uma superfície bissetara, com as do-
bras sendo divididas cm dois grupos: simétricas e
assimétricas. No segundo caso, as dobras podem ser
normais, inversas e recumbentes (Fig. 19.12). Fig. 19.13 Dobra recumbente em quartzitos do Grupo
Andrelândia, Serra de Carrancas, Minas Gerais. Foto: R.
Machado.

,.\s dobras normais pcissuem superfícies ax1a1s


sub,·crticais (entre 80 e 90°) (fig. 19.11), as
..
rccumbentes, sub-hcirizontais (entre O e 10°) - Fig.
<·;'
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19.13; as in,·ersas, inclinadas (entre 10 e 80°), porém
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com os tlanccis mergulhando no mesmo sentidci e
·~~-i'·.
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usualmente com ângulos diferentes (Fig. 19.12). As
dobras recumbentes de grandes dimensões são referi-
das comei nappes, e são comuns cm cadeias de
montanhas como os Alpes e Himalaias. Uma caracte-
rística das dobras inversas e recumbentes é a inversão
estratigráfica em um de seus flancc)s.

,-\.s duas classificações acima poc.lem ser combina-


Fig. 19.11 Dobra com eixo sub-horizontal em metarenitos das em um mesmo gráfico, representando-se a variaçãci
da Unidade La Palona na região de Piriapólis, Uruguai. Foto:
de mergulho e.la superfície axial versus o caimento da
R. Machado.
linha ele charneira (Fig.19.14). N(Jta-se, ncJ diagrarr1a,
qL1e a passagem ele uma d(i!Jra para (Jutra cJccirre ccJm
a variaçãcJ de um destes paràmetr(is, iscilad(J (JU em
Mergulho da superfície axial
C(Jnjunt(i. 1\ssim, passa-se de uma cl(i!Jra n(irmal para
90 80 60 30 10 O
un1a recum!Jente C(im variaçãcJ apenas c-!(i mergulhei
10 ela superfície axial, (Jll ainda, para uma d(ilJra vertical,
o \·arianc!(J apenas (i caimentci c!(i eix(i. b:ntre as duas úl-
·-o
><
CII 30 tin1as el(>lJras, aparece um ti11cJ especial classificad(i
C(ltTI(i e!(JlJras reclinac-las (l~ig. 19.14, camp(i 1()). f,:stas
..
~
o
e
CII
•• elc>IJras 11cJssuem algumas feiç("'ies ccimuns às clci!Jras
E in\,ersas, C(Jtrl mergu!h(i deis flanccis na mesma clireçãci
·-a
V
60
e-la superfície axial e t(Jtação dei ílanc(i invertidci de Ltm
::;
vah>r angLtlar supericJr a 90°. C(JntuelcJ, trata-se c-le um
80 --·~··
ilJt': 9 ti11<i particL1lar de dcJ!Jra, cincle a clireçãci da superfície
90 axial é <>tt<Jg<inal ac> run1<i L1(J eix<i.

C:Jassificaçà(> ccim lJase na superfície elc>braela

Fig. 19.14 Classificação de dobras com base no mergulho 1°:sta classificaçãci le\•a en1 c<insicleraçàci <> ângulcJ
da superfície axial versus caimento do eixo. Adaptado de inter-fla11c<Js ele un,,1 d(J!1ra (l;ig.19.15a). lst<i é deter-
Fleuty, 1964. 111i11aclc> a partir de cluas tangentes que passam ncis
p<Jt1tc>s ele inflexã(i ela superfície dcJl1rada (I~ig. l 9.15lJ).
a 1\s el(>l1ras sà(J assim classificaclas etn suaves (180
180"
l 20''

70"

180"
Fig. 19.16 Dobra fechada afetando gnaisses da base do
Grupo Andrelândia (região de São Vicente de Minas, MG).
Foto: R. Machado.
b

. . . ..
~ ,>.,., ~'"". '. --~-· t~;.~...
Fig. 19 .15 Classificação de dobras com base Fig. 19.17 Dobra isoclinal em xistos do Grupo Andrelândia.
no ângulo inter-flancos. Serra da Pedra Branca, estrada Luminárias. Foto: R. Machado.
a b .\ classiticacàe> elas e-\eJbras em sinclinal e anticlinal é
o

:11w.it,, .1nriga e cnceJntra-se extremamente arraigaela na


Üter.1r,1r.1. 1-:111lJc>ra seja u1na classit1caçãe> 9L1e implica <>
~1,,, Llc crité1icis cstratigráficcis, ncn1 se1npre istc> é scgui-
Ll, ,. '.\este case>, ela passa a ter ei 1nesn1c> significaek> ela
Fig. 19.18 Classificação de dobras com base no sen·ido ae ie- cL1ss1ticacàci acitna. l)cfine-se sinclinal ccimc> uma ck>l1ra
chamento da superfície dobrada: antiforme (a) e siníorme (b).
c1ue pc,ssui ca111aclas mais nc>vas n<> seL1 intericir, e n1ais
antigas, n<> extcrie>r (l;ig.19.19a). Ne> anticlinal, é eJ c>pc>s-
120°), abertas (120 - 7() 0 ), fechaelas (70 - 30°) (fig.
tc>, as camaelas tnais antigas estàci n<i núcleei (l;ig. 19.1911).
19.16), apertac-\as cJLJ cerraelas (30 - 0°) e iscJclinais (1-'ig.
19.17). f~mbcJra esta classit1caçàeJ seja muiteJ sin1ples e
de aplicaçàeJ imediata, ela 11àe> f<>rnece inf<Jrmaç<'ícs 19.3 Formando Falhas
S<>l1re variaçc'íes mcirfcil(>gicas ela superfície clc>liraela,
/\s fall1as resultam ele elefc>rmaçe'ícs rí1ptcis nas r<>-
p<iis nela sà<> engl<Jbaclas, sc>lJ a 1nesn1a clenciminaçà<>,
el<>bras cc>m estil<>s diferentes. cl1as ela crc>sta terrestre. Sàc> expressas 11eir superfícies
elescc>ntí11uas cein1 elcslcicamcntci eliferencial ele p<>u-
C:Jassificaçà<J cc>n1 lJase e1n critéricis ge<>métric<Js cc>s cn1 a elcze11as e centenas ele km, ser1el<> esta a eirelc1n
e estratigráfic<JS ele grancleza para cJ elcslc>can1entei nas granelcs fall1as.
() sentiel<i de fechan1ent<> de uma superfície elr>lJra-
ela é um critérici gec1n1étricci muit<l simples L1tilizack1 para
classificar e-\c>l1ras. Segunclc> este critéric>, sà<J elistin1-,ri.1iclas
elcibras cc>m fechamentci para cin1a, antif<irme <>u, para
lJaixci, sinfcirme (I;igs. 19.18a e 18lJ). C:<intuelr>, esta classi-
ficaçà<> apresenta eluas restriç<'íes in111<>rtantes: (a) eleixa
ele fc>ra eleterminadcis tipc>s ele d_c>lJras e ~1) ene1uaclra S<>I>
a mesn1a e-\eneJn1inaçàc> elcilJras c<>n1 peisiçc'íes espaciais
e-\istintas.

Fig. 19.20 Imagem de Satélite Landsat do rio Paraíba do Sul,


a 110 Esrado do Rio de Janeiro, mostrando o relevo fortemente
sinclinal sinclinal 3
orier'ooo ao longo do vale do rio, como resultado do con-
2 '
1
~ ·role exerc do pela falha de Além-Paraíba. Fonte: CPRM/P D.

anticlinal
\parcccn1 C(>l11< >superfícies iseiladas e discretas ele pe-
. .
c1uenc1 cxprcssac>, c>Lt, ne> casei mats eeimum, ccJmci Ltma
regià< J clcfcJrt11acla ele grancle magnitucle, que é a zcina
de fall1a. <>ndc <>eleslcican1entci te>tal é a sei ma eleis cles-
b anticlinal l<>c,1111 c11 t< >5 i11cliYicluais. A ce>neliçàci básica para a
existéncia de u111a falha é qL1e tenha ciccirriclci deslc>ca-
n1c11n> ac> !(inge> ela superfície. C:cJ11tL1cle>, se cicc>rrcr e>
1
me>Yin1entc> perpenclicularmcnte à supert1cie, a estru-
2~
sincl inal tura receberá eJ ne_in1c ele fratura. () rclcY<> e>riunelc>
3
ele fall1as é. cm geral, estruturaelci, bem rctletielc> en1
fcJtcis aéreas e imagens d.e satélites (1-;ig. 19.2()). r:m
alguns c,1,c>s, seil1retudc> 9L1aneki se tem uma referên-
Fig. 19.19 Classificação de dobras com base na estratigrafia cia estratigráfica (uma ca1nacla ele car,·àei, peir exemplei),
das camadas: sinclinal e anticlinal. Seqüência estratigráfica
a sua ielentit1caçàc> é imeeliata, em e>utrc>s, é mais elifí-
das camadas: l mais antiga, 2 intermediária, 3 mais nova.
cil, n1csmcJ para ae1uelcs já familiarizaeleis cc>m e> assuntc>.
Em a, seqüência normal, em b, seqüência invertida.
l•'.ssa eli ficLtlelaele é crescente em regií:'ies ceim densa
..
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J
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cobertura vegetal e espesso manto de alteraçãc), como


na Amazônia e bcJa parte das regiões Sul e Sucieste dcJ
Brasil.

As falhas são encontradas em vários ambientes


tectônicos, sendo associadas a regimes defc)rmacionais
compressivos, distensivos e cisalhantes. São feições
ccJmuns em cadeias de montanhas modernas e antigas
e aparecem em diferentes estágios de sua evolução.
Podem ser rasas ou profundas. No primeirc) caso afe-
tam camadas superficiais da crosta, sendo muitas vezes
ligadas à dinâmica externa do planeta. A atividade sís-
mica (rasa ou profunda) pode também formar
estruturas superficiais. No s~>undc) caso, podem atra-
Fig. 19.22 Estrias de atrito horizontais em metarenitos do
vessar toda a litcJsfera, passando a se constituir em limite Grupo Camaquõ, RS. Foto: R. Machado.
de placas litosféricas (Cap. 6), sendo então referiL-las como
falhas transfcJrmantes, cc)mo a falha de San Andreas na Outros elementos geométricos <le uma falha, comcJ
costa oeste dos Estados Unidos da 1\mérica. a escarpa e o traço (ou linha) <la falha (Figs. 19.21e
19.24), resultam da intersecção do plano de falha com
a superfície topog,·áfica. Escarpa de falha é a parte
19.3.1 Elementos de uma falha exposta da falha na topcJgrafia. Traço de falha
correspc)nde a uma linha no terreno que, em mapa, é
A posição ncJ espaço da superfície de uma falha é
representado por uma siml1ologia característica. Isto,
fundamental para sua classificação geométrica. C)utro
parâmetro importante é a estria de atrito desenvolvida
ncJ plano de falha (Figs. 19.21 e 19.22). Ela permite, Fig. 19.23 Espelho
deduzir C) tipo de movimento <JCC)rridcJ no mesmo. E de falha ou
comum a falha exibir uma superfície brilhante, conhe- slickenside em
cida come) espelho de falha cJu s!ickenside (Fig 19 .23). arenitos do Grupo
Em uma falha inclinada, os blocos separados são c-le- Caacupé, bacia do
nominados capa ou teto e lapa ou muro (Fig. 19.21). Choco,
A capa corresponde ao bloccJ situaclo acima dcJ plancJ Paraguai. Foto:
C. Riccomini.
de falha, e a lapa, ao bloco situado abaixo. 1\ existência
de um nível de referência em ambc)s os blocc>s per-
mite classificar a falha com base nc) seu mc)\ in1ento
0

relativo, conforme será visto mais adiante.


escarpa de
falha
b

rnuro
(lapa)

•.


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plano de falha ., ._~
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- -$\ .
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Fig. 19.21 Elemento geométricos de uma falha: blocos de fa- Fig. 19.24 Traço de falha no terreno resultante da falha de
lha: muro ou lapa e teto ou capa; escarpa e plano de falha. San Andreas. Foto: C. Riccomini.
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e B
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Fig. 19.25 Aspectos geomorfológicos de uma escapa de


recuo de falha.

Fig. 19.27 Bloco diagrama mostrando a proie-


na realidade, é uma simplificaçãcJ cartográfica, pois as
ção horizontal de uma linha segundo um plano
falhas, na natureza, são formadas p<Jr inúmeras super-
vertical que a contém (OBA), referido como cai-
fícies subparalelas, dispostas em um arranjo tabular
mento (plunge-a), e o plano (OCA)no qual se
que, c<)njuntamente, definem a zc)na de falha. A escarpa
define o ângulo~ (rake).
de falha original pode ser erodida, aparecendo no seu
lugar uma escarpa de recuo de falha (Fig. 19.25). () C<)mpc)nentes do rejeito, sendo, portanto, utilizada ele
deslcJcament<J entre dois pc)ntos previamente adjacen- forma similar.
tes, situados em lados opostos da falha, medido no
plano de falha, corresponde ao seu rejeito, <) qual pcJde
ser referidc) cc)m<) rejeite) t<)tal, de mergulho, direcional, 19.3.2 Evidências de uma falha
hc)rizc)ntal e vertical (Fig.19.26).
A ocorrência ou existência de uma falha tem refle-
() rejeito total, que é expresse) por uma linha, pode xos na superfície, com suas evidências podendo ser diretas
ser determinado por meio do seu valor angular de duas <Ju indiretas. As evidências diretas são observadas em
maneiras: (i) medindo-se a prc)jeçã<) desta linha em rela- afloramentos ou na superfície do terren<) e envolvem o
ção a uma hc)riZc)ntal contida no plano de falha, isto é,
deslocamento de um nível de referência estratigráfico
em relação à direção da mesma, ou (ii) determinando-se
<Ju a presença de indicadores na superfície da falha que
sua projeção horizontal segundo um plano vertical que a
C<)ntenha. Nc) primeiro case) denc)mina-se obliqüidade refletem o atrito ocorrido pelo deslocamento dos blo-
(ou rake), no se.&,>undc), caimento (ou plunge) (Figs. 19.27). cos (Figs. 19.21, 19.22 e 19.28). A fragmentação e
Quandc) <J rejeito da falha é em relação a uma camada moagem, acompanhadas ou não de recristalizaçãc), ocor-
<)U a um nível mineralizad<J, utiliza-se o termo separa- ridas na zona de falha produzem uma rocha cataclástica.
ção. Devido ao seu caráter mais aplicado, este termo é ,\s rochas cataclásticas dividem-se em dois grupc)s prin-
usado ccJtrentemente na geologia do petróleo e na mi-
neração. A separação apresenta os mesmos tipos de

,;;; .,.· .•· R -.T


.1r.c _______--_~,...:,l!,,i

19.28 Falhas, a maioria


Fig. 19.26 Componentes do reieito e separação de uma falha: normal, afetando arenitos
OP=reieito total, OR=MP=rejeito direcional, OM=RP=reieito e conglomerados da For-
de mergulho, OT =reieito horizontal, PT =reieito vertical, mação ltaquaquecetuba,
Sh=separação horizontal, Sv=separação vertical, em ltaquaquecetuba, SP.
SmM=separação de mergulho, Ra=reieito aparente. Foto: C. Riccomini.
Cl[)IUS (C:a11. 18): cataclasitos e brechas tectônicas eviclências sà<J daclas 1,cla análise cl<>S padr<>CS de drc11a-
(·1 •1g
,. ...
l <) ~C)()'), e n11·1onttos
· (t ·1g ·1 l) 3()) . <.) s 11r1n1e1rt)s,
'· .... . · ca- gcm (padr<Jes em treliça cJu rctangL1lar). Nci case) ele
ractcrizaclc>s r1ela ausência ele cstrL1tt1ra (1ric11tatla, sà<) imagens, <J sctt tratatncnto cm ccimputador perrnite res-
fé 1rn1atl(lS en1 [1r< JÍt.tt1tliclacles rclativan1cntc rasas r1a Cf()S- saltar feiç<Jes lineares de relcvcJ ass<)ciadas às falhas. lstci é
ta (entre 4 e 8 kn1), (lt1c1c preclc11ninam C<Jt1cliçiíes ele mllÍtri útil en1 regi{Jcs ele clima tr<>pical, c)r1de a espessa
tlcf<>rmaçàc, rC111ril. Já r>s n1íl<irlÍtos, clistinguicl<1s 11cla sua C<Jl)ertt1ra ele S<Jl() e a \'egetaçàcJ cerracla geralmente 1nas-
csrrtttura f(Jrtc111c11tc cJrie11racla, sà(1 ftlrr11ach JS ct11 regi- , cararn tais fciçcJes 11a supcrficic.
t'Jes 1nais pr(lfunclas ela crtJsta (st1pericJr a l(l kn1), <inclc
11rctltin1i11an1 C<Jt1tliçr1es ele cleftJrrnaçii<i clúctil elas rri-
19.3.3 Classificando as falhas
chas, C<J111 a recristali:zaçàcJ sen,l,) <J 11r<icess<1 1nais
l!11pcJrtante. I\s falhas sii<l classít'icac!as c(Jm !)ase em elcn1er1tc)s
,. . " .
gC(l!11CtrlC(lS
'
e mecat1JC()S.
1:viclê11cias ele falhas sâti ta111l)étn f<1r11eci<las i11clire- .·

ta111e11re p(Jr r11eÍ<l ele 111étr1tl<lS ge<ifísic<>S, crité·rÍ(Js


gc<ltD<lrti>h·1_gic()S (11rcse11ca ele escarpa ele fálha, vales Classificação geométrica
característicris, etc.), frit<JJ..,rrartas aéreas, in1agens ,ll: satéli-
.,\ classificaçàc) gcc>métríca leva cm cc>nta cJ n1er-
te, n1apas ge<it('JgíC<JS e tr1p1Jgráfic<lS. Nestes úlri111,ls, as
µ;ulh<> elcl plan<> ele falha, a f<>ttna ela sttperfície de
fall1a, () n1rivin1ent<> relativ,1 entre llS l1lc)c<1s e tipci ele
rc1c1tci:
a) ,\:Iergldhc> ela superfície L1e falha - é ltma classi-
ficaçà<i n1uitc1 sin11Jles, tJllC c.liv·icle as falhas cm clois
grupcis: fall1as ele alt(l ángulci, c1uan<lc1 e> mergull10 c!tJ
1,lancJ ele fall1a é st111cri<1r a 45º, e falhas ele l1aix<1 án-
gt1l(J, c1uanelcJ é ínfcricir a 45°.

!)) l-'c>rt11a ela stipcrfície ele fall1a - esta classit'icaçà<)


11er111ite clÍ\"Íclir :is falhas cm planares e ctit,"as. lJn1a
falha é 11la11ar, c111 tcrn1<1s estarísticc>s, 9L1anc1cJ a vari-
açà<J ela clireçà(J ela st1pcrf1cie e11ccJr1tra-se n(l intervalcl
ele aprcixi1na<-lan1e11te 5°. Esta stipcrt1cic prlc.le ser ver-
tical c>u i11clinac!a, 1\s falhas curvas sào dcn(lminaelas
t:1ll1as lístricas, e sà<i rclacÍ<Jnaclas a regimes clistensiv<JS.
Fig. 19.29 Brecha tectônico ern calcários do Grupo Barnbuí,
l·'.111 perfil, ,·arü1111 clesclc t1n1a falha ele altcJ àngulo até
região Vazante, rV,G. Foto: R. tv'1ochodo.
l1aix<J á11gu l(i, j)(Jc!cncl<l n1es111c1 l1<JrÍz<J □.ralizar-sc. Sã<)
cclnl1eciclas cc1r11<, falhas em Í()t111a ele "pá" ot1 "c<i-
lher" ( [lig.19.31).

Fig. 19.30 Miionitos o parii' de rochas g,·oni:óides do Zona


de Cisalhornento de Além-Paraíba (BR
. 393.' en1 ,:1.ncrode Pin-
to, entre Vassouras e Poraíbo do Sul, RJ). Foto: R. f✓1ochodo. Fig. 19 .31 B:oco diagrcrna 'nostrando un,a folha lístrica.
c) Movimento relativo -
nesta classificaçã<i as falhas sã<i
clivididas em vários tipos: fa-
lhas normais (ou de
gravidade) e falhas reversas
ou de empurrão (I,'ig. 19.32).
Numa falha ele empurrão a
capa é o blocci que S<)be em
rclaçã<i à lapa (Figs. 19 .326,
19.33), ao passo que numa fa-
lha normal ocorre <J inversci,
ou seja, a capa desce em rela-
ção à lapa (fig. 19.28). C<im<>
<J mcivimcnto <Jc<irridci entre
eis l)l<ic<>S é relativo, torna-se
clifícil saber exatamente com<J
ele <iccirreu, pois várias com-
binaçc)es são possíveis: <JS dois
blocos podem descer ou su-
bir cc>njuntamente, porém cm
velcicidades diferentes, ciu ain-
da, um pode permanecer Fig. 19.32 Classificação de falhas com base no movimento relativo entre blocos adjacentes.
. , .
cstac1<inar1ci, enquantci o outro a) falha normal; b) falha inversa; c) falha transcorrente e d) oblíqua.

s<ibe ou desce.

d) Tipcis de rejeite) - esta classificação leva em conta 19.3.4 Tipos principais de falhas e estrutu-
<JS c<imponcntcs ge<imétric<JS cl<) deslcicamentci entre ras associadas
dc>is pontos previamente contíguos, cm lados opos-
te)s da falha, e que são medidos nci planei de falha (Fig. ()s três tipcJs principais ele falhas descritos abaixo
19.26). Estes elementcis, já definid<)S anteriormente, sãci enccJntrados freqüentemente em sistemas de fa-
apresentam número máximo c1e componentes em fa- lhas. Além clisscJ, cada uma delas é caracterizada p<)r
lhas oblíquas, sendo menor nos demais tip<is. ,-\ssim, orientação, mcJviment<> a<) longo da superfície de fa-
cm falhas neirmais e reversas (ou inversas), o rejeit<J lha e campo de tensã<J distintos.
tc)tal correspond.c ao rejeito de mergulhei, nas fa-
lhas transcorrentes, ao rejeito direcional, enquant<J Falhas normais ou de gravidade
nas falhas oblíquas, ao rejeito total (Figs. 19.26, 19.31
e 19.32c) São falhas asscJciadas principalmente com a tectônica
extensional. :\:a escala global, elas ocorrem associadas às
cadeias meso-cJceânicas e às margens continentais tipo
Classificação mecânica
:\tlânticcJ. São imp<)rtantes na formação e evolução de
A classificaçã<i mecânica leva em c<JnsideraçãcJ o bacias sedimentares, sendo comuns em regiões com
quadro de tensões que produziu a falha e distin6'1.le três deslizamentos de encostas e taludes. Ass<iciam-se,
tipcls: normal, inversa ou de empurrã<) e transcorrente. freqüentemente, a arqueamentcJs regionais, a estruturas
Na falha normal, o esforço principal é vertical, enquantci dc'.>micas ou antiformais, sendo aqui o reflexo da fase de
nas falhas inversa e transcorrcnte, é horizontal. A dife- rela..-..;:amento que acompanha o soerguimento destas es-
rença entre as duas últimas está na <)rientação deste truturas. São falhas em geral de alto ângulo, cm que a
csforç<J; na transc<)rrente ele é cJblíquo à direçãcJ da capa desceu em relação à lapa (Fig. 19.32a). O desloca-
falha, c<)m valor angular inferior a 45º, enquantci na ment<J principal é ,·crtical e o componente de m<iviment<J
inversa, ele é ortog<Jnal a ela. é scgundcJ o n1ergulh<) do plane) de falha.
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.... :

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::: .... ··

' Falha reversa ou de empurrão As falhas transformantes estão assciciadas a limites


, de placas litosféricas. Nc)s fundos oceânicos estão inti-
E uma falha inclinada com mergulhos, cm ge-
mamente ligadas ao desenvolvimento das cadeias
ral, inferiores a 45°. Especificamente para as falhas A • • ~ •
meso-c)ceanicas que atingem uma extensao superior a
reversas de baixo ângulo emprega-se também a de-
75.000 km, sendo uma elas feições morfcJlógicas mais
nominação de falhas de empurrão. Nc) Brasil, usa-se
notáveis da Terra. As cadeias mesa-oceânicas c)riginam-
ainda o termcJ cavalgamento para falhas de empur-
se em conjunto ccim o crescimento do asscialho
rão com mergulhos inferic)res a 30°.
oceânico pela adição contínua de material magmático
Neste tipo de falha o esforço principal é horizon- juvenil, prcJcessci este contemporâneci ao desenvolvi-
tal, e o mínimo, vertical. Em termos de mclvimentcl mento das falhas transformantes, conforme já
relativo, a capa scJbe em relação à lapa. O rejeitei segue apresentado no Cap. 6.
cJ mergulho do plano de falha, porém o componente
i\s falhas transccJrrentes caracterizam-se por ter o
principal do deslocamento se dá na horizontal (Figs.
componente principal do deslocamento segundei a di-
19.26e 19.32c). O seu traço em mapa é sinuoso, pcJ-
reçãc) do plano de falha, com a movimentação entre
dendo mesmo acclmpanhar as curvas de nível. Em
blocos adjacentes sendci essencialmente horizontal. O
falhas recentes feições geomorfológicas cc)mo escarpas
mergulhe) do planei de falha é vertical a subvertical,
de falha são cclmuns.
resultando em mapa a traçcis retilíneos. As falhas mai-
As zonas de falhas, como já vimos, são acompa- cJres pc)ssuem rejeitas da cJrc-lem de dezenas a centenas
nhadas pelo desenvc)lvimento de rochas cataclásticas, de km. A mudança na direção elessas falhas propicia o
e podem ter sua instalação favc)rccida pela occJrrência aparecimento ele ramificações curvas acJ longo ele seu
nc) terreno de tipos litc)lógicos muitcJ contrastantes (pcJr traçado. Nesses trechos, dependendo dei tipo de cles-
exemplo: rochas do embasamento vs. rochas locamento (horáricJ, clestral ou anti-hcirário, sinistral),
sedimentares), ou pela presença de um nível de ccJm- cicorre cJ clesenvcilvimentc) de estruturas compressivas
portamento mais plástico, ccJmo sal (anidrita C)U halita), (falhas de empurrão) c)u extensionais (falhas normais,
talco, fcJlhelhcl ou grafita, que funcicJnam come) cama- bacias, blclcos al,atielos). Os termos dcstral e sinistral
das lubrificantes favorecendo CJ deslocamentc). J--,:ste tipcJ sãcJ usaclcJs em analogia ao mcivimentcJ observado nc)s
de situação é exemplificadcl pelas 1,fcintanhas c-lc) Jura, ponteircJs elo rcl(igici. Para chegar-se a esta conclusãcJ,
no leste da França, cJnde rcJchas pelito-carbcináticas ccinsiclcra-se t1m ci!Jservaclc)r fixcJ situado em um dos
dobradas de idade jurci-cretácica scJfreram blciccJs de falha e olhandc) o sentido de deslocamentci
deslizamento horizcJntal ao longci de níveis mais plás- dcJ CJutrcJ bloco. ,'\ssim, quando o bloco cibservado
ticos (folhelhos e sal) dispostos sobre um st1lJstrato deslcJca-se para clireita, diz-se que CJ deslocamentc) da
rcichoscJ (embasamento de idade palecJzéiica). falha é destra!, caso cclntrário, é sinistra!.

A geometria destas falhas, em perfil ciu em plan-


ta, é, muitas vezes, ccJmplexa. Falhas indi\·icluais
conectam-se \"ertical e lateralmente entre si, resul-
tandcJ, no mapa, em padrões de falhas subparalelcJs
interligados, com geometria em fc)rma de fatias ciu
escamas. Em profundidade, os empurrc"ics lístriccJs
passam para falhas horizontais, onde freqüentemente
seguem contatos litológicos ou descontinuidades
crustais importantes.

Falha transcorrente ou de rejeito direcional

As falhas trancorrentes cJu de rejeito direcicinal


correspondem a uma das feições estruturais mais es-
petaculares da crosta da Terra (Cap. 6). 1\lguns autores Fig. 19.33 Falhas inversas em gnaisses do Complexo
consideram as falhas transcorrentes e transfcJrmantes Mantiqueira. Pedreira nos arredores de ltumirim, MG.
cc)mo uma divisão das falhas direcicinais. Foto: R. Machado.
'' ' '

São comuns faixas de rochas cataclásticas ccimo falhas normais ou de gravidade, com abatimen-
(mile)nite)s) ce)m largura superior a 1 ou 2 km e exten- to de blocos assc)ciade)s. Na região Sucleste do Brasil
são da ordem de dezenas a centenas de km ..\ falha sãei comuns falhas transcorrentes pré-cambrianas que
de San Andreas, por exemplo, estende-se pela costa foram reativadas como falhas nc>rmais durante o
oeste dos EUA por mais de 1.000 km. O desloca- Terciário. A elas associam-se bacias sedimentares como
mento destral acumulado é de cerca de .560 km. A a de Santos, Itaboraí, Taubaté, São Paulo, Curitiba, den-
falha Alpina, na Nova Zelândia, acomodou nos últi- tre outras. Estas bacias fazem parte do Sistema de Rifts
me)s 40 Ma um deslocamente) destral de cerca de 460 da Serra do Mar ou do Sudeste brasileiro.
k:m. Extensas zonas de falhas transcorrentes pré-
cambrianas têm side) descritas nas regiões Sudeste e Influências no relevo
Nordeste do Brasil. Nesta última, destacam-se as fa-
lhas de Pernambuco (PE), Patos (PB) e Sobral-Pedro As falhas normais e transcorrentes possuem, em
II (CE e PI). As duas primeiras possuem direção W-E geral, expressão topográfica, sendo marcadas por rele-
e a última, NE-SW Possuem extensão superior a 300 vo estruturado e alinhado, com vales alongados de
k:m. Na região Sudeste, eles tacam-se as falhas de fundei planei (Fig. 19.20). Em ceindiçe3es de clima tro-
Jundiuvira e Taxaquara, situadas a norte da cidade de pical, essas feições são acentuadas, pois as rochas da
São Paulo, e a falha de Cubatão, situada a leste da ca- zeina de falha sãe), em geral, mais facilmente
pital paulista, próxima ac> lite)ral. Esta última integra o intemperizadas de) que as rochas adjacentes. Estas es-
sistema Lancinha-Cubatão-Além-Paraíba, estendende)- truturas prc)me)vem ci ajuste regieinal da drenagem,
se do Paraná ao Rio de Janeiro, com extensão de quase resultando em mapas, fotos aéreas e imagens de saté-
1.000 km. lite, padrões de drenagens retangulares e em treliça. E
ceimum, na paisagem, a existência de escarpas de fa-
Outra característica das falhas transcorrentes é a
lha, que, quando jovens, são recortadas por ,·ales
possibilidade de servirem ele descontinuidades para
triangulares e trapezoidais, ocorrendo, junto à sua base,
novos movimentos, causados pc)r e)utre)s esforços se-
depósite)s cciluvic)nares e aluvieinares (Cap. 10), como
melhantes ou diferentes dos originais, propiciando a
ce)nseqüência do relevo gerado pela falha (Fig. 19.25 .
sua reativaçãe>. Esta reativaçãe) pode ocorrer com mu-
1"~stes depósitos estão relacionados com a evolução do
danças ou não no tipo de movimentei da falha. No
próprio falhamento e da escapa. f<:m falhas antigas, eles
primeiro caso reflete também mudanças nc) quadrei
sãei geralmente ereididcis, apagando assim seu ,-estígio
regional das tensões. Assim, falhas originalmente
sedimentar. Com a progressãe) dei prc)cessci ere>si,·o
transcorrentes podem ser reativadas tectonicamente

km
2

3
~ tlll1ITt~;

o-
o 8 16 24 32
19.34 Secção geológica esquemática da bacia (graben) Terciária de Tauba,é, Vaie do rio Paraíba do Sul, São Paulo. Fonte: C.
Riccomini.
km
Q....,..----,-,,-------------------------------------------
··.· ;Arenito . Gr. Ilha
(Indiviso)
·· ,?/;' l'n!lt:íço .·•. ·

l Fm. Candeias
Fm. ltaparica

\ I
2 I I I
\
I
fl
\ I I

lt
\
I
I
lf
3

4
o 2 4 6 8

NW SE
Fig. 19.35 Secção geológica da bacia (graben) do Recôncavo, Bahia. Gr. Grapu; Fm. Formação; Mb. Membro.

11(Jlle e>ceirrcr (J rccu(J ela escarpa llc falha, cleixand(J i11teraçà<J ele placas lit<>sféricas, senelci fcirmaclas elLt-
para trás a linha ele fall1a. b'.sta situaçà(J é cibservacla na rantc a sul1elttccà(J
., ciu ccilisàci.
falha lle Ct1l1atà<i, e111 Sàci Paulci, 11ci trech<J ela r<Jll(ivia
() estilcJ ele ut1l'a dci!Jra é um clernent<J muitci im-
deis Imigrantes.
rJ<>rtar1te ncJ estl1elcJ ela geometria ele uma cacleia ele
1\s falhas ncJrn1ais estacJ ccin1t1mentc assciciaclas a r11<>ntanhas. 1\pesar ele variar lateral e \'erticaln1entc r1a
fcirmaçào ele grabens (l1lcic<JS rebaixa<-1<Js) e horsts calleia, ele p<>ssilJilita a C(Jrrelaçàci entre estrutt1ras ele
(blciceJs elcvallcis). l~stas estrutt1ras clestacatn-se pela lt1gares llifcrcntes. ;\ st1a caracterizaçà<> é muitci t'.ttil para
sua cncJrme ex11ressàci tcip(igráfi.ca. 1\lgttns exe111pl(JS clifercnciar clcil1ras ele geraçc"'"ies (ciu grltpcis) difercr1tes,
brasileircJs sàci els gralJens de> Paraí!Ja llci Sul Il(l I istaclci is t< i é, LI( iIJras s uperpcis tas, as e1t1ai s p< iden1 refletir tan-
ele Sàci Paulci (l~ig. 19.34), Rec(inca\"(J na Bahia (l,'i,g. t< J cliferenças tcmpcirais imp<irtantes entre elas, eJLlanto
19.35) e o lle 'fakutu cm RcJraima. ccH1eliçc"'"ics físicas distintas Lle geração na crcJsta.

1\s f~1lhas dcse111penham papel impcJrtante na cvcJ-


19.3.6 Estruturas e sua importância 1uçàcJ tectC:inica ela litcisfera, seja nci ccintrole cio
1nag1natismci e ela sellimentaçàci e ncJ mcidclaelci dei
As clci!Jras sà<> fcirmallas em ,-árias ccinLliçc'íes e relev<J atual ncis ccintinentcs e ciccancis. Pcissl1cm, tam-
ambientes ela cre>sta terrestre. Resultam de prciccsscis lJétn, impcirtância em cil1ras ele engenharia civil
associallos à dinâmica externa ciu interna cl(J planeta. (l1arragens, tí1ncis, estraelas etc.), mineraçàci, ágt1a sub-
NcJ primcirci case>, são geraelas préiximas à st1perfície, terriinea, petróleci, ,gás, etc.
ncJ segunclci, em prcifttndielaele, cinelc prelle>minan1 prci- -
1\s falhas sàcJ encc,ntradas cm vários ambientes
cesscis de elefc>rtnaçàc> em ccinelições clúcteis. C)c(irrcm
tectc'Jnicris, sendci assciciadas a regimes ccimprcssivcis
em an1bicntes ccJn1prcssivc1s c>u extensicinais, ,geraelas
<JU extcnsici11ais. Sàci c-lesen\-cil\'ielas partict1larmentc
por mecanismcis de flaml1agem <Ju ele cisalha111ent<i
n<> elc>t11ínici superficial ela crcista, cJndc predcJminam
simples, pcielcnelci ser accimpanhaelas pelcJ
(JS 111ecanis111cis ela clefcir111açàri rt'.1ptil (elcimíni<J su-
mctamcJrfisrncJ regie>nal. Sàci ceJn1uns en1 cacleias lle
11erficial), ciu pel(J C(J11trastc recilc'igicci significativci
montanhas ele várias iclaeles, hcije cxp< is tas à su11erfície
entre ca111aclas rcicl1c1sas. ;\ pressàci ele flt1icl(JS nas
ccimc> resultaclci e-le mcivimcnt<JS tcctcí11iccJs e d( JS prci-
t(icl1as ta111l1é111 faycirecc a gcraçà<J <Ju prcJgressàc1
cesscis ercisi\'<JS. 1"ais cadeias tên1 sielcJ prcillLt:!'.idas pela
llcssas estruttiras.
As falhas t1<Jrmais sãcJ ccJmuncnte asscJciadas ccim ncJ, .\lpe,. 1lin1alaias e Apalaches. Nci Brasil, elesta-
estruturas ccimc) horsts e /!,rahens, yue caracteri?.am regi- cam-,c: <>S sistemas de empurrc"íes na regiãcJ dei
!
f
c'ics ela crosta submetidas à extensãci crustal. Pcir <Jutrci (JuadriLírerc J Fºcrrífcro, neJs arreclcircs ele ()urcJ Preto,
laclo, falhas reversas ciu de empurrãcJ sãcJ característi- e na p<>rcic> cicic-lental da bacia SãcJ l;rancisccJ, suclcJes-
cas de regic}cs sulJmetidas aci encurtame11tci crltstal, te de \linas Gerais, cinelc CJS xistcJs clci Grt1pci 1\raxá
rcsultanc1c) assim seu espessamente,. J\ssociam-se, às estãc> scJbrepcJstcis acJs calcáricJs ele, c;rt1pcl Bambuí.
vezes, a flanccJs invertielcJs ele grandes clcJl)ras
.\s fall1as transccJrrentcs e transfcir1nantes sãci ca-
recL1m\)entcs (nappes), CJU pc,dem prcin1civer a inversã<J
pazes de .1cc>r11<Jdar <Ju transferir grandes quantic-ladcs
metam(Jrfica das rcichas, cinc1c níveis crustais mais prci-
clc n1< ,vin1cntc i, tenclcJ grande impcJrtáncia na articula-
fundcJs (metan1cJrfismcJ 1nais alto) acham-se
cã< J entre as placas litcJsféricas, a exemple) e.la falha c-le
scibrepcistcJs a níveis crustais mais raseis (metamcJrfismci
mais baixei). Algu1nas dessas falhas scifreram desleica- San .\nclreas, na ccista <Jeste c.lc)s }.,;lJ1\, cJu e.la falha de
mcntcJ hcJrizcJntal ccJnsielcrável, ccJm valcJres supericJrcs \lcira~a 11a c;uatemala ((:ap.6). Sãci cstrt1turas yue apre-
a 10() km. AsscJciam-se a caeleias clcJbraclas, fcirn1an- senran1 ati,·ic-lade sísmica até <JS clias atuais, ccJmci rcflexcJ
dci sistemas e-le fal\1as subparalelas nas pcirçc>es ele sua n1ci,·in1cntaçãcJ e ela elinámica interna clcJ plane-
antcricires elas 1nesmas, ccJm exc1np!cJs espetaculares ta Terra.

19.1 Exemplos de rifts brasileiros


O Sistema de FJjt da Serra do Mar é um dos mais importantes dcJ Brasil, estendendci-se por mais de 800 km aci
longci da sua costa sucleste. Na área continental é integradci pelas bacias de ltaboraí, Taubaté, São Paulo e c:uritiba,
acJ passo yue no litoral submerso, pelas bacias petrolíferas ele Campc)s (RJ e liS) e SantcJs (entre SP e SC). A diferença
de nível entre a Serra da Mantiqueira (topo) e a base ela bacia de SantcJs é superior a 11 km, e sc)mcnte a escarpa da
Mantiqueira possui um desnível de cerca ele 1.50() m (Fig. 19 .34). As bacias produtc)ras de petrólec) dei Brasil (Cap.
22), possuem espessura superior a 10 km de seelimentcJs, e são ccinstituíclas por três seyüências estratigráficas maio-
res: (1) basal (riftJ, lacustre, (2) intermediária, de ambiente transicicinal, cc)m evaporitcJs e, (3) tclpo (mais de 2/ 3),
marinha. Estas scyüências desenvolveram-se entre o Cretáce<) Inferior e o Terciário Superior/Quaternário. OGrahen
do Recôncavo (Fig. 19.35) conecta-se para nc)rtc cc)m as bacias TucancJ e Jatc)bá. Trata-se de uma bacia alongada na
direção N e NNE, cc)m extensão superior a 400 km e mais ele 5.()()() m de see-limentos. Possui uma forma assimétrica
cm perfil -grahen assimétrico - limitado a cJestc pela falha de Nfaragc)gipe, e a leste pela falha de Sal,·ador, esta última
com rejeito vertical superior a 5 km. Junte) a esta falha fcJrn1ou-se um espesso pacote de conglomerado, que
testemunha sua atividade sincr{Jnica à sedimentaçãci. Nc, graben distinguem-se delis sistemas principais de falhas: um
mais antigo, com falhas ncJrmais associaelas a horsts e J!,rahens, que afetam as unidades basais; e outro mais jo,·em,
associado com falhas lístricas, que afetam as unidades de topo. r~stas estruturas foram importantes no condiciona-
mento de hidrocarbonetos na bacia, principalmente os horsts. As falhas, além de terem sen-ido de condutos para
migração ascendente de) petr(Jleo, prcipiciaram tam!Jém a ccJlocaçãc) lado a lado de rochas gecadoras (folhelhos)
com rochas reservatórios (arenitos), favorecendo assim sua migraçãc) lateral. \luitos evii\M de rifts são conheci-
dos em outrcJs continentes. Um dos mais famoscJs é cJ c;rahen dcJ Reno, na .\lemanha, ~ na direção ).;NE
(300 km de extensãc)), com largura entre 35 e 40 km. A sedimentação é de idade tcn rria, lacustre na base e marinha
para o tclpo. Calcáric)s e depósitos de sal do C)ligocenci, marcam a passagem para o ◄••141:Hc unrinho. "-\ espessura .
de sedimentos atinge cerca de 1.500 m. No leste da Africa cJcorre um dos mais - sistema de rifts com
mais de 3.000 km de extensão. f~sta feiçãc) encontra-se em desenvol,-imento poa:GJll[lacla 1n:.tônica global (Cap. 6)
e em mais alguns milhares de anos levará à fragmentação do continente e ~ • • • • • 00,-0 oceano.
;;~-;
Leituras recomendadas
CAIXETA,]. M.; ,
BUENO, G. V; MAGNAVITA,
L.P.; FEJ_JO, F. J. Bacias do Recôncavo, Tuca-
no e J atobá. Boletim de Geociências da Petrobrás
vol.8, n.1. Rio de Janeiro: 1994.
DAVIS, G. H.; RRYNC)LDS, S. J. Structural Geology
ef Rocks and Regions. New York: John Wiley &
Sons, 1996.

HOBBS, B. E.; MEANS, W D.; WILLIAMS, P. F.


An Outline ef .5'tructural Geology. New York: John
Wiley & Sons, 1976.
LOCZY, L.; LADEIRA, E. A. Geologia Estrutural
e Introdução à Geotectónica. São Paulo: Edgard
Blücher, 197 6.
RAGAN, D. M . .5'tructural Geology, an Introduction to
Geometn"cal 1echniques. New Yc)rk: John Wiley &
Sons, 1968.
RAMSAY, J. G.; HUBER, M. I. The Techniques oj'
Modern .5'tructural Geology. I,ondon: Academic
Press, 1987.
RANGEL, H. D.; FRANCISCO, A. L. M.;
ESTEVES, F. R.; FEIJÓ, F. J. Bacia de Campos.
Boletim de Geociências da J)etrobrás vol. 8, n.1. Rio
de Janeiro: 1994.
SI<.INNER, B. J.; PORTER, S. C. 1'he D_ynamic
Earth: an Introduction to Physical Geology. New
York: John Wiley & Sons, 1989.
VIANA, C. F.; GAMA, E. G.; SIMC)1"~S, l.A.;
MOURA,]. A.; FONSECA,]. R.; ALVJ-,:S, R. J.
Revisão estratigráfica da bacia Recôncavo/Tu-
cano. Boletim Técnico da Petrobrás v. 14, nº 3 / 4.
Rio de Janeiro, 1971.
1

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422 D Ee I F RA N o o A TERRA

,
grande "planeta ágt1a" está passando sede. senta\-am 40'½i ela populaçàc) munclial, padeciam de
Ii incrível in1agir1ar que atual1nente dezenas gra\·e carência ele água e que em 1nuitc)s casos esta
de milhões ele pess<)as vivam con1 n1enos de ci11co falta era um fator lin1itante para o desenvolvirnentci
litrcis de água por clia em um planeta que possui 70 1½1 econômico e S<)cial. A escassez de ágL1a atinge hc)je
,
de sua superfície coberta por água. 1::.: cert(J que a mais de 46() milhões ele pessc)as. Se nâ() fc>r alteradc> e)
''hidrosfera aproveitável" é suficiente para o abasteci- escilo de vida da s<>ciedade, um qt1arto ela p<>pulaçàc>
n1ento de água de toda a população da Terra, mas ela n1undial sofrerá este problema nas pré>ximas décac1as.
é irregularmente distril)l1ída. A á6>ua C<>mc> substância
.-\ ccintamínaçào da água vem crescend<> assusta-
está presente en1 toda parte, mas o recLtrs<i hídrico,
d<1ramente, scJ!Jretudc1 nas zc,nas costeiras e em grandes
entendido com<) um bem econômico e que pode ser
cidades em todo o n1undo. FcJrnecer ágt1a p<)tável para
aproveitado pelo ser hu111ano dentro de custos finan-
. ; . , . todc>s é o grande desafie) da humanidacle para os pró-
cetrcJS razc>ave1s, e mais escassc).
ximos anos. /\ ágt1a de bc)a qualidade 1)ode reduzir a
Cerca de 97,5°/o ele tcida a á1-,>ua na Terra sàc) salga- taxa de mortalidade e aun1entar a expectativa de vida
clas. Me11cJs de 2,5c½i sãcJ tloces e està<) tlistrilJuítlas da pc1pt1laçàc!. Segunde) a (-)rganizaçàcJ l\1unelial ela
entre as calotas polares (68,9°/o), cJs aqüíferos (29,9º1Í,), Sa<1de, cerca ele 4,6 tnilhc'íes de crianças de até 5 anc>s
tÍ(JS e lagos (0,3%) e c1utros reservatórios ((),9t1/o). Des- ele iclade mc>rrem por ano de ciiarréia, doença relacio-
ta forma, apenas 1 ~/,i da água doce é Ltm recurs(J nada à ingestão de ágL1a na(> potável, agravada pela
aprc>veitável pela humanidade, o que representa 0,(J()7l;\1 fcime e resultado da má c1istribuicão ecc>ncímica de
o

de toda a água do planeta. rencta. 1\ falta de higiene assciciada à escassez de água é


causadora ele doenças come> tracoma, infecção conta-
O problema da escassez de água está atingin(lo pt()-
gicisa que atinge a córnea e causa a cegL1eira. F~stitna-se
porçôes alarmantes. }:m 1972, a Cor1ferência t1as
que tneÍ<> bilhão de pessc>as em países pc)btes scifre1n
Nações Unidas st)bre () lY1ei<) Ambiente em Estocol-
deste mal. O abastecimento cie água potável e o sane-
mo já prenunciava tima crise mundial da água. Na
amento ambiental pcideriam redtlzir em 75c1/o as taxas
década de 1990, o Comitê de Recursos Naturais das
(ie mc)rtalidalie e enfermidacles da populaçàcJ.
Nações Unidas confirn1ou que 8() países, c1ue repre-

_J Hiperáridas
_J Áridas
_J Semiáridas
_J Sub-úmidas
~ Úmidas
Frias

Fig. 20.1 Distribuição das regiões secas e úmiaas no planeta. Fonte: Noções Unidos, 1997.

• Vista aérea da região de mangues no Parque Nacional do Cabo Orange (AP). Em muitos situações, a água subterrânea é origern
e parte dos corpos de água superficial. Por que distingui-los, se são componentes do mesmo recurso? Foto: Zíg Koch/Kino Arquiva
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HÍDRICOS 423 ~ .

Neste capítulc) veretnc)s a situaçãc) elos recursos amentc) superficial e subterrâneci representam Cl ex-
hídricos no Brasil e no mundo, sua dispcinibilidadc, cedente hídrico, que é a diferença entre o veJlume
seu usei atual e as perspectivas futuras. Especial aten- precipitadcJ e ci evapotranspirado, e peide ser decom-
ção será dada à água subterrânea, à sua distribuição e postc, neJ escc)amento de água superficial e subterrânea.
aos impactos causados pela atividade humana, inclu-
.\ abundância de água cm uma região é o resulta-
indo a contaminação e a extração excessiva.
do da interação entre o clima e a fisiografia. O Atlas
da desertificação do Programa das Nações Unidas
20.1 , Abundância e Distribuição da para ei :\IeieJ Ambiente mostra seis diferentes clivisõcs
Agua Doce no Planeta segundo a dispelnibilidade de umidade, desde hiper-
áridas até úmidas (Pig. 20.1 ). As regiões como América
Aproximadamente 72.000 km 3 / ano de água de) Sul e .-\sia são aquelas onde há maiores porções de
retc)rnam à atmosfera por evapotranspiração, deis terras úmidas, enquanteJ os maiores desertos encon-
, ,
119 .000 km3 / ano da precipitação que caem sobre e)s tram-sc no norte da Africa e centrcJ da Asia. Somente
continentes (Cap. 7). Os 47.000 km3 /ano restantes de na bacia do Amazonas fluem 16º/c) da água dcJcc do
água doce que circulam pele) planeta, através de) esco- planeta e apenas a bacia do Conge)-Zaire representa

Tabela 20.1 Descarga dos rios dos países mais ricos e mais pobres em água do planeta.

País Descarga média País Descarga média


dos rios (km 3/s) dos rios (km 3 /s)
Brasil 6.220 Malta 15
Rússia 4.059 Gaza 46
,
EUA (incluindo Alasca) 3.760 União dos Emirados Arobes 500
Conadó 3.290 Líbio 600
Chino 2.800 Singapura 600
Indonésio 2.530 Jord6nio 680
,
lndio 1.850 Israel 750
Colômbia 1.200 Chipre 900
Peru 1.100
Comunidade Econômico 1.1 71
Européia (15 países)

Tabela 20.2 Excedente hídrico nos continentes.

Europa 8.290 2.970


,
Asio •--..«..,...., 32.200 14.100
,
Africo 22.300 4.600
Américo do Norte 18.300 8.180
·:::, _,''
/ ' _,.

Américo do Sul 28.400 l 12.200


Austrália e Oceonia 7.080 4 •
5ifjt,'
""'·"
'
, ,O''.,;,. .
'..·
2.51 O
'. '",,-· ,'·

Antártico 2.31 O o 2.31 O


~-

Total 119.000 72.000 . 47.000

Fonte: Nações Unidas, 1997.


,, 424 D Ee I F RA N o o A T ERRA

um terçcJ das drenagens de tcJdos os rios africanos 4


(Tabela 20.1 ). 1\s regiões semi-áridas ce)nstituem 40 1¾1
da superfície continental e somam apenas 2°/.i elo es-
ccJamenteJ hídrico superficial. Nos 9 países mais ricos O 3
e
em á6rua, incluinde) Brasil, Rússia, E.U.A., Canadá, Chi- e
........
, M
na, Indonésia, India, CcJlômbia e Peru, estão E2
~
concentradcJs 60 1¾1 deJ total de água doce deJ mundcJ, o
o
ou seja, um vcJlume superior a 26.800 km3/ ano. o
....
X l
1\ Tabela 20.2 detalha o balanço hídrico dos prin-
cipais ccJntinentcs, indicando aqueles onde o excedente
hídrico é positive).
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
A má distri!JuiçãeJ dos recursos hídricos não existe -Total - Indústria
apenas espacialmente. Muitas vezes várias regiões sãeJ - Agricultura Município
acomctieias por grandes enchentes e em eJL1tra épeJca
Fig. 20.2 Uso mundial de água por setores nos últimos 60
do ano há períodos de seca. () tempo ele residência
anos. Fonte: Nações Unidas, 1997.
da água na superfície terrestre também acaba por li-
mitar sua dispelnibilidadc. Suécia e Botswana recebem
a mesma precipitação anual, mas o primcireJ pelssui O uso da irrigac,,aei, juntamente ccJm a introduçãcJ de
um clima úmido e o eJutrcJ semi-áride). A razão desta espécies de alteJ rendimento, a utilização ele fertilizan-
desigualdade está nas altas taxas de evapotranspiração tes e agrcJtóxiccJs, tem permitido um grande
e distribuiçãeJ irregular da chuva no país africano. rendimento das culturas. Embora ocupaneio somente
17% das terras agrícolas do mundcJ, a lavcJura irrigada
,
20.2 Demanda de Agua produz 35% eia produçãeJ mundial de alimentos. A
necessidade cac1a vez maicJr de água para a irrigaçãcJ
Segundo estatísticas recentes, estima-se que 9.000 km1/ fez ccJm que descle 1960 tenha havido um aumente)
ano de água são acessíveis ao consumo humancJ e cerca de ccJnsumcJ de água em mais de 60%.
de 3.500 km1 encontram-se armazenadcJs em represas,
Dividinelo-sc globalmente a água existente no pla-
somando um total de fácil accsscJ de 12.500 km1 / ancJ. ()
neta pelr teJda a sua população, não haveria escassez
escoamento superficial tcJtal é de 47 .()00 km1/ ancJ, mas a
de água. Para CJ ano 20()0, cJs aportes superficiais e
exploração dos restantes 34.500 km1 / ano é dificil, custo-
subt~rrâneeJs de água peJderiam fornecer cerca de 6.500
sa ou pode causar impactos negativos ao meio ambiente.
m 1 / ano.pessoa, cJu seja 6,5 vezes maior que a quanti-
Atualmente, 6.500 km1 de água são utilizados por ano
dade mínima ceJnsiderada razoável pelas Nações
pela sociedade para diversos fins, concentrando-se ncJ
Unidas. 1'~ntrctantcJ esses números são irreais, pois, além
uso predominantemente agríccJla, seguido pelcJ industri-
de cc)nsiderarem toda a água de superfície e não aque-
al e urbancJ (Fig. 2(l2).
la efetivamente disponível, não analisa a distribuição
No século XX a demanda de água aumentou em dcJ recurso hídrico e da pclpulação no mundo. Consi-
mais de seis vezes, superando em duas vezes o cresci- deranelo CJ número ele pessoas em 1995, o uso per
mento populacional no período. () consumo per capita capita ele água e a classificação em cinco níveis das
do recurso aumenta gecJmetricamente ce)m a melhcJra Nações Unidas, determinou-se e) grau de carência de
da renda da scJciedade. Enquanto um volume de 80 água de)s países (Fig. 20.3 e Ta!Jcla 20.3).
litros/ dia é considerado suficiente para a manutenção
Nesse cenário o Brasil é um país privilegiado, uma
ele uma pessoa em bons níveis de saúde e higiene, a
,-ez que recentes estimativas indicam que aqui correm
população de Madagascar sobrevive ccJm \'<Jlume per
53 11/0 da água deJcc da América do Sul e 12% da vazão
capita de 5,4 litrcJs/ dia, e um cidadão ncJrte-americano
total mundial elos rios, ou seja, um total de 177 .900
usa quantidades superiores a 50() litros/ dia, sobretu-
m 1/s. Esta imensa quantidade de água é resultado da
do devido ao desperdício.
extensão territorial, somada ao regime climático, pre-
O própricJ crescimento populacicJnal demanda um dominantemente equatorial e tropical úmido, ceJm
aumento na produção agríccJla. Hoje, 2.600 km1 / ano precipitações méelias anuais de 1.000 a 3.000 mm/
de água sãeJ utilizados nas lavouras cm todeJ o mundo. anel cm mais de 9()% do território.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 425 '
.

l=l,"'"~ 'li' o=
~

. v
~~

Proporção do
uso da água em
relação à sua
disponibilidade

> 40% o
..J 20-40%


_J <
10-20%
10% [7

Fig. 20.3 Proporção entre uso e disponibilidade hídrica no mundo. Fonte: Nações Unidas, 1997.

Tabela 20.3 Classificação de Margat (1997) dos países segundo


a disponibilidade e uso per capita de água em m3/ano.pessoa.
Disponibilidade
Muito Pobre Pobre Regular Suficiente Rico Muito Rico
Uso (<500) (500-1.000) (1.000-2.000) (2.000-10.000) (10.000-100.000) (>100.000)

Muito Baixo Bahamas, Quênia Etiópia Gana, Nigéria, Angola,lndonésia, Gabão


(<100 Singapura Zaire

,
Baixo Argélia Cabo Verde África do Sul, China, Etiópia Austria, Bangladesh, Guiana (Fr)
{100-500) Líbano, Polônia, Bolívia, BRASIL,
Somália Colômbia, Venezuela

,
Moderado E. Arabes, Bélgica, Islândia
(500-1.000) Gaza, Israel, Ucrânia
Jordânia, Tunísia França,
México,
Síria, Reino .. ·

Alto Arábia, Egito Paquistão Argentina,


(1 .000-2.000) Saudita, Líbia Fi Austrália, Canadá,
Chile

Muito Alto EUA Turquistão, Sibéria


(>2.000) · (Baixo Colorado) EUA (Colorado) (Rússia)
426 D Ee I FRA N oo A TERRA

Tabela 20.4 Disponibilidade hídrica social e demandas por Estado no Brasil.


Estados Potencial hídrico População Disponibilidade Densidade Utilização utilização
(km 3/ano) hídrica social populacional total em %
(m 3 /hab/ano) (hab/km2 ) (m 3 /hab/ano) 1991
Rondônia ·. 150,2 .
.. . .

1.229.306
. . ., -

115.538 ·< 5(81 .• . . .. < 44 · · •·.· ·•. ô,(}3 i


Acre 154,0 483.593 351.123 3,02 95 0,02
·. Amazonas · · 1.848
. . I
3 . · · 2.38.9.279 773.000 1,50 . ·.· .. 80 ... ·.•.· . • . 0,00 •·
. ·- .· ' ...

Roraima 372,3 247.131 1 .506.488 1,21 92 0,00


Pará 1;124,7. 5.510.849 204.491 . 4,43 46 · . 0,02·. • •.
Amapá 196,0 379.459 516.525 2,33 69 . 0,01
Tocantins 122,8 .•. · 1.048.642 116.952 3,66
Maranhão 84,7 5.022.183 16.226 15,89 61
Piauí · 24,8 2.673.085 · 9.185 . l0,92 ·.. 101
Ceará 15,5 6.809 .290 2.279 46,42 259 10,63
·.· R.Grande do Norte 4,.3 .· .. 2.558.660 1.654 49,15 · ·. · 207 . ·.·. ·•• ll,62 ·.·.·•.··
Paraíba 4,6 3.305.616 1.294 59,58 172 12,00
· Pernambuco 94 7.399.071 l .270 75,98 · 268 •·...... 20,30 >

Alagoas 4,4 2.633.251 1.692 97,53 159 9, 1O
Sergipe · · . 2,6 ·. .l.624.020 1.625 73 I 97. -- .· 16 l . · . _·• s,1.a
Bahia 35,9 12.541.675 2.872 22,60 173 5,71
. Minas Gerais 193,9 · · 16.672.613 11 .611 28,34 262 · <2
. .J
12>
.
.•
Espírito Santo 18,8 2.802.707 6.714 61,25 223 3, l O
Rio de Janeiro . 29 6
. I 13.406.308 2.189 305,35 ·. ·. 224 ......... , ,9,óª
São Paulo 91,9 34.119.110 2.209 137,38 373 12,00
• Paranó> · 113,4 9.003.804 12.600 43,92 . 189 · · .•.... • . Ti4 l >:
Sta. Catarina 62,0 4.875.244 12.653 51,38 366 2,68
·- ..
•· R.. Grande do Sul 190,0 9.634.688 19 .792 34,31 1.015 ·. 4,9()
Mato Grosso do Sul 69,7 1.927.834 36.684 5,42 174 0,44
••·. Moto Grosso 522,3 2.235.832 237.409 2,62 89 . 0,03 .
','. -.

Goiás 283,9 4.514.967 63.089 12,81· 177 0,25


D. Federal 2,8 1.821.946 . J .555 .. .. · .. · 303,85 150 .· 8,56 .·
BRASIL 5.610,0 157.070.163 35.732 18,37 273 0,71
Fonte: Rebouças, 1994.

1\ maior bacia hidrográt1ca brasileira é a do t\ma· outros apresentam abt1ndáncia do recurso. EntretantcJ
Z()nas, cc)m 72% da vazâc) dos rios nacionais, seguida uma análise mais detalhada vai expor a carêõcia do
l1as bacias dcJ Paraná (6,3(1/o), 1:0cantins (6°/o), Parnru1)a- recurs(J em bacias hidrográficas especít1cas, como a
Atlántico Norte (3~/4i), lJruguai (2,5'~10), e i\tlántico Sul dei i\lto (lcJ 1'ietê (SP), de> ()riental Pernambuco, do
e Sãc) Prancisco (ambas com 1,7~!,,). Leste PcJtiguar (R..~) e de PcJrtaleza (CE), p<Jr exem-
() valor de disponibilidade hídrica social, ou seja, plei. ()s f~stados brasileiros de maior utilização per rapitct
o total de água da <.lescarga continental, di,•idid() pela ele ágl1a são Rio Grande de> Sul, São PaulcJ, Santa
população nf> Brasil é de 35.732 m 3
/hal)/an() (1'al1ela Catarina, Pernambuco e wfinas Gerais, e aqueles que,
,
20.4). E possível notar que son1ente alguns F:staLl<)S pcJrcentualn1ente, mais utiliza1n o recurse> hídrico total
dei Nordeste apresentam uma disp(Jnibiliclacle hídrica sãcl Pernan1l1ucci, Sã<l Paulo, Paraíl1a, Rio Grande d<J
considerada regular (1.000-2.()()()m1/hab/ano), p,>is <JS Norte e Ceará.

' . /~;;._ •'


..... .
.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 427 ,
'

O que representa 1µg/L (micro-


20.3 Impacto das Atividades grama por litro) de contaminação?
lf\~Y\°' .A!J:t~<lpiç~§,__ nos Recursos Alguns compostos químicos como solventes
Hídricos halogenados, utilizados amplamente como
desengraxantes pela indústria moderna, são alta-
As extrações desmedidas dos corpos de água e mente tóxicos. O padrão de potabilidade para alguns
a contaminação são os dois grandes problemas que deles não ultrapassa alguns microgramas por litro.
têm ocupado as atenções dcJs governcJs nas últimas Como um litro de água tem uma massa aproximada
décadas. O abastecimento de grandes áreas metro- de 1 kg (densidade 1 kg/litro), pode-se dizer que
politanas exige que a água seja trazida de regiões 1µg/L corresponde a uma solução contendo um
cada vez mais distantes, onerandc) e comprc)me- micronésimo de grama (0,000001g) de contaminante
tendo os recursos hídriccJs. AcJ mesmcJ tempcl, misturada em uma massa de 1 kg de água. E' equi-
tradicionalmente os rios têm servido de receptores valente, então, a uma concentração de uma parte
para os lançamenteJs de esgeJteJs urbane)s, de lixe)s e por bilhão (ppb), ou seja, 1 kg de contaminante em
de efluentes agro-industriais. Em várias regiões o um bilhão de kg de água. Mas para se ter uma idéia
meie) ambiente tem sidc) incapaz em degraclar estes de quão pequeno é esse valor, imagine um edifí-
contaminantes e restituir o seu equilíbrio natural. cio residencial médio de 20 andares com 80
apartamentos. Se fosse possível enchê-lo completa-
A derivaçãcJ de um curse) de água pe)de tam-
mente de água, seria necessário apenas o volume de
bém compre)meter a sua qualidade, uma vez que a
uma xícara de chá do contaminante para se obter a
redução na vazão do rio diminui a sua capacidade
concentração de lppb.
depurativa, aumentando assim a contaminação.

No Brasil os corpos de água doce sãcJ classifi-


cados em cinco classes, segundeJ a sua qualidade 20.4 O Recurso Hídrico Subterrâneo
bicJ-físico-química. As classes limitam a concentra-
ção de contaminantes presentes nos efluentes 20.4.1 Ocorrência e importância da água
lançados em rios ou infiltrados em aqüíferos. Por subterrânea
exemplo, o chumbcJ peJde ser tc)lerade) em até
Embora representem 97<1/c) da á!-,rua doce líquida deJ
0,03mg/I. em corpe)s de classe 1 e 2 e até 0,05 na
planeta, o que por si se'i mostraria seu ,·alor, as á!-,ruas
classe 3 e praticamente sem restrição para a classe
sulJterrâneas desempenham um papel fundamental nc)
4. A classe especial, que inclui as águas subterrâne-
abastecimento público e pri,·ado em todo o n1undo.
as, é aquela em que os lançamentos de efluentes ou
Estima-se que mais de 1,5 bilhão de pessoas em núcleos
infiltrações de contaminantes não devem exceder
urbanos e uma grande parcela da população rural te-
as qualidades naturais do corpo receptor ou os nham suas necessidades supridas pelo manancial
padrões de potabilidade humana para a água (Ta- subterrâneo. As tendências mundiais wn tone
bela 20.5). crescimento dessas cifras, soL1eu.ln em países de eco-
() padrão de potabilidade é definido pelas le- nomias periféricas, que estão tr.mdo na água
gislações federal e estadual, ceJm uma série de subterrânea uma alternam'll de bano oNn, de,ido a sua
parâmetros físicos, químicos e biológicos e os limi- fácil obtenção e boa qiiali ai
tes máximos permitidos para o ser humano. Esse O valor ecc1nômico deste também é grande.
padrão é baseado em dois critérios diferentes: um O uso agrícola na ~ de pequenas e grandes pro-
que afeta a saúde (toxicidade, carcinogenicidade e priedades tem aumaJlallD. pctnutindo a regularização
mutagenicidade) e o segundo, associado a valores no suprimento de ígl- - 111 épocas de seca. Muitas vezes,
estéticos (organolépticas). Várias são as limitações em grandes ■alwnos, as águas subterrâneas pel-
de tais listas, uma vez que a quantidade de produ- dem até ter es ,·olumétricas meneJres, em
tos químicos comercializados hoje supera em muiteJ comparação - RCUl'SOS superficiais, mas eJ uso pela

as substâncias analisadas quanto ao risco à saúde e indú,rria e ' · tem freqüentemente gerado pro-
ao meio ambiente. dutos de IDlim valor agregado.

UNIVERSIDADE POTtGUAR - lJ,


'
<:;istema Integrado de Bibhfltetas ·
.
428 D ECI FRA N D O A J ERRA

Em áreas de elevac10 risco ge<ilógico e climatoló- seca. O fluxo de base pode chegar à totalidade da
gico, c<)m<) aquelas sujeitas a terremotos e vulcanismo, vazão de um rio durante certas épocas do ano, per-
a água subterrânea é uma reserva estratégica, Lima vez mitindo a utilização desse recurso superficial para
que é menos vulnerável aos eventcis catastróficos que os mais diversos fins, incluindo a captação para <J
atingem as p<)pulações. abastecimento ou para a diluição do esgoto não
trataclo lançadci pelas cic1ades. O mesmo mecanis-
()utro importante papel desempenhad<) pela
mo garante a manutençã<i de áreas alagadiças, c<imo
água subterrânea é sua descarga em cursos de água
brejos, pântanos, mangues e restingas, importantes
superficial (fluxo de base), com<) rios e lagos, <)
para o equilíbrio ec<ilógic<J.
que permite a sua manutenção dL1rante a época ele

Tabela 20.5 Padrão de potabilidade e classificação dos corpos de água considerando


alguns compostos inorgânicos e orgânicos de risco à saúde.
COMPOSTOS Padrão de

INORGANICOS (mg/L) Potabilidade* Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4

Amônio (NH 4 ) 0,01 0,02 0,02

Arsênio (As) 0,5 0,05 0,05 0,05

Cádmio (Cd) 0,005 0,001 0,001 0,01

Cromo hexavalente (Cr) 0,05 0,05 0,05 0,05

Cianeto (CN) 0,05 0,01 0,01 0,2

Fluoreto (F) 0,6-1,7 1,4 1,4 1,4

Ferro (Fe) 0,3

Chumbo (Pb) 0,05 0,03 0,03 0,05

Mercúrio (Hg) 0,001 0,0002 0,0002 0,002

Nitrato (N0 3 -N) 10 10 1O 10

COMPOSTOS Padrão de

ORGÂNICOS (µg/L)** Potabilidade* Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4

Benzeno 10 10 10 10

Clorobenzeno O, 1 - -
Tetracloreto de carbono 3 3 3 3

Clorofórmio 30

Pentaclorofenol 1O 10 10 10

Clordono (total de isômeros) 0,3 0,04 0,04 0,3

DDT (diclorodifenil- tricloroetano) 1 0,002 0,002 l

PCBs 0,001 0,001 0,001

2,4 D (ácido dicloro-fenoxiocético) 100 4 4 20

* Portaria 36 do Ministério da Saúde; **A Comunidade Econômica Européia (1982) recomenda l Cµg/L de hidrocarbonetos
dissolvidos totais e de 0,5µg/L de fenóis sintéticos.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 429

Na América Latina, embc)ra não existam cifras muitcis países. A Fig. 20.4 mostra a dependência dos
oficiais seguras do uso da água subterrânea para c1 países dc1 recL1rsci hídrico subterrânec1, indicando tam-
abastecimento públicc1 e privado, seu papel é vital para bén1 alguns núclec)s urbanos de grande demancla.

.., ,BAHAMAS

'.,a: REP.DOMINICANA
HONDURAS - n l " I I ~ dO~TO RICO
-BELIZE JAMAICA 00
ANTILHAS MENORES
"&
GUATEMALA- NICARÁGU •
ELSALVADOR GUIANA
URINAME
COSTA RIC
GUIANA FRANCESA
San José
(428)

Proporção "
..., :., '" "
:',.,
' ",

estimada de água <a ;< "<,


potável derivada
de fontes subterrâneas ',
.. ':- .. . ..'_::·: ::..·:-...,"·:,;.:,:,'·"'< . ;..... ·....) ; ..
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i ,. ·,;· •
■ 0-25%
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25 - 50°/4
■ 50-100%
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Produção diária de
algumas cidades com ....
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... ,,,
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,,
.•, J
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'

alta dependência de :,,···


.• .

fontes subterrâneas Santiag


e (366 ML/d) do Chil
(950)

Fig. 20.4 Importância das águas subterrâneas para o abastecimento público no Américo Latina e Caribe.
Em pelo menos duas das maiores ce>ncentra- Qualquer bombeamento de um poçeJ causa al-
ções urbanas do ce>ntinente americane>, Cidade do guma descida nc>s níveis de um aqüíferc>. Caso a
Méxicc> e Iaima (Peru), e>s rect1rsos hídricos subter- extração seja limitada, o nível de água se equilibrará
râneos suprem a maior proporção das necessidades em função do balanço entre a extração e a recarga.
municipais e domésticas de água pe)tável. No case) Entretanto, se a extração for maie>r que a capacida-
da Cidade do Méxicc>, a gigantesca cifra de 3.200 de de reposição de água no aqüífero, o nível
milhões de litros por dia (ML/ dia) (94% do total hidráulico continuará caindo ao lcJngo de>s anos e
suprido em 1982) é fornecida por um ce>njunto ele pclderá chegar a comprometer seriamente o recur-
1.330 poços tubulares. A água distribuída na Gran- so subterrânee).
de Lima, incluindo e> Porto ele Callao, é obtida pelo
Quando a extração de água do aqüífero supera
bombeamento de 320 poços, produzindo mais de
a recarga em períodos muito prolongados, ou quan-
650 ML/ dia. Em outras grandes áreas urbanas, in-
do e) bombeamento está cc)ncentrado em uma
cluindo Buenos Aires e Santiago (Chile), a água
pequena ze>na, ocorre a superexploração, ou seja,
subterrânea proporciona uma significativa parcela
a rctiraela de água do aqüífcro se elá em quantida-
do suprimento municipal de água potável.
des maiores que a sua repc>sição, acarretando
A excelente qualidaele natural aliacla ao baixe> clesequilílJrios no balanço entre as entradas de água
custe) tem justificado eJ crescente uso deste recurso nc> aqüíferc> (recarga) e as saíclas (extração). Devi-
mesmcJ em áreas úmiclas com excee-Ientes híelricos, dcJ ao grande arr,1azenamcnto do aqüífcro, este
como na América Central ou no Brasil, onele 35(1/ci pe)dc ser, durante períodos específicos, explorado
da populaçãcJ fazem use) deste recurse) para o su- cm volumes maiores que a sua recarga sem proble-
primento de suas necessidades de água pcltável. No mas, desde que isso ocorra de forma estudada e
Estado de São Paulo, pe>r exemplo, 70°/ci dos nú- planejada.
cleos urbanos são abastecide>s total ou parcialmente
por águas oriundas de aqüífere>s, totalizandc) 34'1/o
da populaçãc>. As ce)nseqüências da exploração irracional nor-
malmente estãe) associadas aos seguintes problemas,
20.5 A Influência das Atividades algt1ns já interpretadc)s no Cap. 7:
Antrópicas nos Recursos
Hídricos Subterrâneos
• redução na capacidaele pre>dutiva inelividual do
pcJço ou de poços próximos, com aumento nos
20.5.1 A extração intensiva das aguas
' custc>s de bombeamente);
subterrâneas
• indução de fluxos laterais de água salina da
, .
~íuite> embora e)s aqüíferos fe>rmcm CJ male>r costa mar1t1ma;
reservatórie) de água pe)távcl líquida deJ mune-lo, sua • infiltração de água subterrânea de baixa quali-
distribuiçãe> não é igual no planeta. Algumas áreas dade advincla de outras unidades aqüíferas mais
possuem uma abundância deste recurse> enquanto superficiais;
em outras é quase inexistente. O principal contrc>le
é a interaçãe) entre as características gec>le'igicas e • drenagem ele rie)s e outros corpos de água su-
climatológicas da área. ComeJ ·viste) ncJ Cap. 7, a perficial, pelo rebaixamento de> nível hidráulico do
aqüífero;
permeabilidade e a porosidade eia rocha definem a
capacidade do aqüífero em transmitir, armazenar e • subsidência elo terreno, resultando em pre>ble-
fc>rnecer água. O clima, na zc>na de recarga, vai con- mas de estabilidade e danos de edificações e rede
trcJlar els volt1mes ingressadeJs de ágt1a ao aqüífero, de esgcito.
através do balançcJ hídrico.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 431 .
'

20.1 Quanto de água subterrânea tem o Brasil?

Os 8.512.000 km2 do território nacional po-


dem armazenar um volume superior a
112.000 km3 de água subterrânea. Esta co-
lossal quantidade de água poderia abastecer 2

a população do planeta durante 250 anos. 10g

Infelizmente, nem tc)da a água subterrânea 60


( 6b
6c
pode ser extraída, tampouco a sua distribui-
ção é equitativa em todo o País. Diferentes
rochas têm diferentes capacidades de arma-
zenar e transmitir água. Em certas áreas, o
regime climático limita a recarga dos
aqüíferos, reduzindo a sua produção. 1\s
grandes províncias hidrogeológicas do País
e as suas principais características aqüíferas
estão na Fig. 20.5. 300 km

Províncias hidrogeológicas do Brasil


[DNPM/CPRM, 1983)

SISTEMA VAZÃO/
PROVÍNCIA DOMÍNIO VOLUME DE
AQÜÍFERO POÇO
HIDROGEOLÓGICA AQÜÍFERO ÁGUA (km')
PRINCIPAL (m'/h)

ESCUDO SETENTRIONAL

.2 ESCUDO CENTRAL
Zonas fraturadas 80 < 1-5

3 SÃO FRANCISCO

ESCUDO ORIENTAL 4a - Nordeste Área cristalina exposta


4b - Sudeste e rochas alteradas

~ ESCUDO MERIDIONAL

--;;--1 CENTRO OESTE 6a - Ilha do Bananal


6b - Alto Xingu
Manto de rocha alterada
e/ou fraturada
10.000 5 - 1O

6c - Chapada dos Pareeis


6d - Alto Paraguai

Ba e i.a Se-a ,...-..e--:a • 3a""e ·as


ºAMAZONAS ao A r.a.zoras :.:e· :lO :.--ã:::: 32 500 10-400

PARAÍBA Baci.a Sed,~--4- ::aoec .. ·_


do Marar,.,ã::: ::::.0,-...as- :; '"il
Yc(: ,ca
ª-
"::,o-",a..1
:ar:eças
SeraGcaiae

PARANÁ Bacia Vulcano - Sec1í"'ie!'ta· 5au-.;


do Paraná Sera ~
(porção brasileira) 3..;a.·a,tt
·3cc -'Ci0-r-Pl1aatré 11
~QOCR Jt 504UI "º . 700

COSTEIRA 10a - Barreirinhas Bacia Sedimentar 10 - 150


São
-+----
Luís - Barreinnha
----------- ---

1Ob - Potiguar Bacia Sedimentar


Potiguar - Recife 230 5 - 550
-------
10c - Alagoas e Sergipe Bacia Sedimentar
Alagoas - Sergipe 100 10 - 350
10d - Recôncavo, Tucano Bacia Sedimentar
e Jatobá Jatobá - Tucano - Recó..,::;:a,.o 840 10-500
e------
10e - Amapá
1 Of - Ceará e Piauí
1 Og - Pernambuco, Paraí-
ba e Rio Grande do
Norte 1 Depósitos diversos ,, a • a 411 2-40
1Oh - Rio de Janeiro,
Espírito Santo e
Bahia
1Oi - Rio Grande do Sul

Fig. 20.5 As águas subterrâneas no Brasil. Fontes: DNPM/CP~ 1983 e Rebouças, 1999.
432 D ECI FRA N DO A TERRA

Problemas de extração não C()t1trcJ!acla en1 aqüíferc)s ciu pela pc.lssibilidade cie cclntar com runa fonte adicional
sãcJ bastante ccimt1ns em várias partes do mL1nd(l, con1cJ se,1.,'Ura, em áreas onde o fc>r11ecimento nac.J é regular.
C<Jnsec1üência do crescin1ento des<Jrdenadcl llas cidacles De,·idci à falt.a de c.lisciplina nas autorizações de perfura-
e da falta de planejamento no uso dcls recursc1s hídricos. çãcl e de exploraçâc1 de pc)ços na maioria dos países, a

F.m várias ciclades cla i\sia têm siclo observadas lJUecias grande densidade ele poços cm ni'.1cleos urbancJs acaba
e11tre 20 e 50 metros ncls rúveis dos aqüíferos. 1\ situação prci\-ocanclo pro\)len1as de supcrexploraçãcl e redução
mais dramática é observada en1 1,e(Jn-Guanajuato, .\:lé- dramática dc>s túvcis dos aqüíferc)s.
xico, cJnde c)s rúveis descerarn 9() n1etr<lS e11trc l 96() e
,,\ urbanizaçãc> causa a impermeabilização dtl sofrl e
1990 e ncls ancls subseqüentes a um rit1ncJ ele 1 a 5 metrcis
a expt1lsãcJ das áreas verdes agrícolas em tcirncJ das cida-
por ano.
des, o que acaba por reduzir a infiltração e a recarga do
No Brasil, muitcJS cascJs de perfuraçã<J descontr<1la- aqüífero. Por outrcJ lado, as perdas de água pot:1.vel por
c:la ele poços cJcorreram pela inexistência de dispositivos vazatnentc.i da rede de elistril1uição, que facilmente che-

legais que regi.ilamentetn a atívic1ade. () CódigcJ ele i\guas gam a 45'1/o dcl volume total, ccJntribuen1 de forn1a
de 1934 dispunha c1ue o d<Jno de qualquer terrent1 pcl- bastante eficie11te cc.Jm a recarga do aqüífer<J. Jv[uitas ve-
deria se apropriar, por mei<i de pciçcis ou galerias, da zes, a urbanização tàz com que a contabilidade hiclráulica
água que existia em subsuperfície na stta pr<1priedade, seja n1ais favorável ao ac1üítet<).
cclntantci que não {)tejudicassc ()S apr<Jvcit_an1entcJs exis-
tentes, nem de1ivasse a água ele seu curso natural. Somente 20.5.2 Intrusão salina
com a Constituicã<J, Federal de 1988 e ccJm as leis elecor-
rentes, a água subterrânea passou a ser considerada berr1 Nas áreas cc>steiras, os aqüíferos normalmente des-
cie domíni(J elos Estadcls, pclssibilitando <) cfetiv<l carregam Sl1as águas no mar. Existe um equilí\)rio
gerenciamento da reserva hídrica subterrânea. dinâmico entre as águas subterrâr1eas, de baixo C<lnteúdo
salin<), e as águas salgalias qL1e satt1ran1 as rochas ou sedi-
Nlesmo en1 áreas <1nde as prc>prieclades ccintarn cc,m
mcnt<)S se)!) e> mar. Quandc) este equili1Jrio se rclmpe,
rede ele ágt1a tratada, a perfuração de poçcls para uso
através d<) bombea1nento de pc>Ç<lS, pc>r exempki, há a
privadci é bastante ccJ1num, SfJbretudo para indústrias,
in, asâcJ ela água marinha salina nc> ir1terior de> a,Jiliferc>,
0

empresas e condomínicJs residenciais. f.~sta prática é


causanclo a sua <-legradaçã<).
motivalia pela econcimia direta desta f<)nte alterr1ativa e/

20.2 Superexploração de aqüífero


Na América Latina, um dos mais importantes exem- Queda no nivel de água do aqüífero entre 1964 e 1984
·. plos de superexploração de aqüífero pode ser com diferentes regimes de bombeamento
,
Nível sem
observado na Arca l\.ietropolitana de lima (Peru). Em bombeament~ Vazão (Us)
1985, 264 poços tubulares municipais extraíam mais de
o 20 40 60
208l\.1m3 / a de água de um sistema aqüífero livre (alúvio- o t

. coluvionar) de grande produtividade. A falta de - - ----'!.!._-1954


o
planejamento de uso do recurso tem causado proble-
mas de queda dos rúveis do aqüífero, que implicam
---- -- --o
poços de maior profundidade e maior dispêndio de
energia elétrica. Em 1964, os rúveis de água eram quase
--
E
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20 ..o
C
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J
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aflorantes e, em menos de 20 anos, desceram 40 metros,
exaurindo os horizontes aqüíferos mais permeáveis. A
·-e
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40 .
o:
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.2
produção média, de 43-60L/s (154-216m3/h) por poço E
Q.
em 1964, caiu para menos de 25 L/s (90m3/h) em 1984. ·
·. Em 1975 gastava-se 0,7 kW para produzir 1 m1 de água·
60.
·. e dez anos após, 0,88kW / m3 (Fig. 20.6).
O Poço tubular
típíc:o
íl Horizonte mais
IJI penneável do
aqüífero
.· Fig. 20.6 Redução dram6tica na produção de poços públicos
de abastecimento de água na cidade de Lima, Peru.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HÍDRICOS 433
'

A água do mar é mais densa que a água subterrâ-


nea. Isto faz com que uma cunha de água salgada se
Lan~
posicione sob a água doce do aqüífero (Fig. 20.7). hór.co '---...
Obviamente o formato preciso dessa cunha, bem ,
Ague
como suas dimensões, vai depender do fluxo da água SubtemSnec
cioce
subterrânea, dl) gradiente hidráulico do aqüífero, da
lnterfcao /
,,ariação do nível do mar, do efeito de maré, da óguc sclgadc ,
e doce
heterogeneidade e anisotropia d(> aqüífero e, caso exis- Agua
subterrânea
ta, da intervenção do ser humanc>. salgada

Cone de
Na virada do século XIX, os pesquisadores Ghyben
e Herzberg, trabalhandl) independentemente, estabe-
leceram uma relação entre um aqüífero livre, de Len~I
freót,co ---
porosidade primária, homc>gêneo e isotrópico e as
águas d() mar, com um modelo hidrl)Stático, que le-
vava em consideraçã() apenas as densidades dl)S lntarfcao /

íluidc>s. Embora o modelo seja bastante simples, ele


óguc salgada
e doca / ,;\
Cone de
dá uma noção da sensibilidade deste sistema face ao oscensao Água
subterrênaa
bombeamento de poços na linha de costa. Segundo salgada

esses autores, o rebaixamento de apenas um metro Fig. 20.7 Relação entre água subterrânea e água do mar em
do nivel do aqüífero, através da extração de um poço área de descarga de um aqüífero livre. Aextração de água sub-
prl1ximl) à cunha salina, causaria uma ascensão ou terrânea da linha de costa acaba por criar o avanço da água
intrusão de até 40 metros da água salgada. salgada em subsuperfície, processo chamado de intrusão salina.

Tabela 20.6 Áreas de subsidência causada pelo bombeamento excessivo de água subterrânea.
Localidade Subsidência Área de Principais períodos
máxima (m) subsidência (km2 ) de ocorrência
Japão

Osaka 3 190 1928 -68


Tóquio 4 190 1920 -70
México

Cidade do México 9 130 1938- 70


Taiwan

Taipei 1- 3 130 1961 -69


·EUA·
Arizona Central 2 -3 650
··. Cqlifornia
' ' ' ' ' ' '

Vale de Sta Claro 4 650 ·


··· Vole de Sc;tn
' . :
Joqquin '
3-9 1.000
"
' '

.
.. .

·· Lancoste . ·• l 400
Nevada

Las Vegas 1 500 - 63


íexas····
:: . .-,"•"

Hou~on-Galveston .. · · ·l .- 1,5
Louisiana

Baton Rouge 0,3 6 1934 - 65


A relaçã(J de Ghyben-Herzbcrg subestima a pr(J- verticalmente a água deis aqüitardes. Duas pressões
fundidade da interface da água salgada. Na verdade, atuam scilJrc o aqüíferci: a pressão hidrostática, re-
para uma representaçãci mais realista da interface presentada pela carga hidráulica e a tensão efetiva,
devemos levar cm consideração o fluxo de água resultante da massa de sólidos que compõe as ca-
do aqüífcro para o ciccano, a espessura da interface maelas confinantes do aqüífcro. A extração de água
água d(icc-água salgada e a dispersãci-difusão da reduz as pressões hidrostáticas e isto acaba pcir
água salgada no aqüífero, entre outros parâmetrcis. impcir ao sedimentei uma carga maicir (tensão efe-
ti,·a), que compacta o meio aqüífero, reduzindo os
20.5.3 Subsidências espaços porosos. A compactação é pouco eficiente
em materiais grcisscJs como areias e cascalhos, mas
A exploração de aqiiíferos de fcirma descon- é até três ordens de magnitude mais importante
trolada em alguns terrenos sedimentares pciele em argilas.
causar a sua subsidência, ccim sérias ccinsee1üências
Outrci problema associaelo ao bombeamcnte) de
para obras civis. A Tabela 20.6 mostra os caseis mais
aqüíferos cicorre em terrenos cársticos. Neste caso,
conhecidos de subsidência no mundo.
ci mccanismci é mais simples e está rclacionac.lo ao
A subsielência indu;,.:ida pela extraçãci de água colapse) ele vazieis cm rocha calcária que eram par-
subterrânea cicorre mais freqüentemente em cialmente suportadcis pela água no seu interior. Com
ac.1üíferos espessos, compcistcis por seelimcntcis a extração e não r,_,peisiçãc) da água nessas cavida-
pouco conscilidadcis, formadeis pela intercalaçãci de des, aumenta ci risco d(l tctci ceder às pressões das
camadas aqüífcras, mais arenosas, e aqüitare-!es (ca- porçc)es superiores. Tal problema fcii dramatica-
madas de baixa permeabilidade), mais argilosas. A mente ,-ivenciadei na cielade de Cajamar, no intericJr
extração de água do aqüíferci se dá preferencial- ele Sãci Paulo, na década de 1990, confcirmc <leta-
mente pelas camadas mais arencisas, drenanelo lhaelo nci Ca p. 7.

20.3 Subsidência na Cidade do México


A Cidade do México tem vivenciado sérios problemas de subsidência associada à exploração descontrolada
do aqüífero. As duas fotos foram
,
tiradas do mesmo local, mas em datas distintas. A primeira na década de
191 O e a segunda em 1995. E possível notar que a avenida, por onde circulavam os antigos carros, estava na
mesma altura da base da estátua. 30 anos depois, uma escadaria de mais de 2,5 m foi construída para se ter
acesso ao mesmo nível da estátua. A avenida abaixou em relação à estátua, que tem a sua fundação em rochas
mais estáveis e não passíveis de subsidência (Fig. 20.8) .

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,,.,,,'

~
~
Fig. 20.8 Subsidêncià na
Cidade do México causado
pela extração de água sub-
terrâneo. Pode-se notar o
rebaixamento do nível da
avenida em relação à base do
estátua. Fotos: Instituto No-
cional de Bellas Artes y
Literatura, México, e R.
Hirata.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 435 %" ,
,

,
20.6 A Contaminação da Agua ele fertilizantes nitrc)genadcJs na aí-,,>ricultt1ra. A grande pre-
ocupacão ambiental associac1a ao nitrato está no fatcl dele
Subterrânea
pcJssuir grande mol1ilidade e persistência em condições
A água subterrânea apresenta geralmente excelen- aerc'lbicas. ()s n1etais pesados (incluindcl cádmicl, cromo,
tes qualidades químicas e físicas, sendo apta para C) chumbe) e mercúric)) apresentam baixa mobilidade em
consumo humano, muitas vezes sem tratamento pré- muitc)s ambientes naturais. r'.ste comportamentc) pode
vic). A cc)ntaminaçãcl c)corre quandc) alguma alteração ser alteradc) sob forte mudança nas cc1ncliçc'íes físicc)-quí-
na água colc1ca em riscc1 a saúde ou o bem estar de micas pH e 1-~h). C)s compostos orgânicos sintéticc1s são,
uma pc)pulação. pela tcix.icid~de, aqueles de maior preocupação ambiental.
Os padrões de potabilidade existentes nãci cobrem a
r'.ntre os compostos inclrgânicos, o nitrate) é cl
totaliclade das substâncias utilizadas pela scJciedade in-
cc1ntaminante de ClC<lrrência mais atnpla em aqüíferos.
dustrial. Isso decorre da insuficiente evidência méclica que
As fclntes mais ccJmuns deste contaminante sãc1 os siste-
permita <l estabelecimentcl de recclmendaçc'ies seguras.
mas de saneamento in situ (fossas e latrinas) e a aplicaçãcl

Tabela 20.7 Exemplos de alguns casos de contaminação de aqüíferos envolvendo solventes


halogenados altamente tóxicos em aqüíferos permeáveis.

Local e mapa da pluma Volume estimado


contaminante Fonte Contaminante Volume
do contaminante
2,5 km provável predominante da pluma
1 lançado no aqüífero
(litros)
FILIXO ----'►► (litros)

Tricloroetileno
Indústria 5,700,000.000 15.000
1, 1, 1-Tricloroetano
Química
Tetracloroetileno
Ocean City, New Jersey

Indústria Tricloroetileno
Eletrônica 1, 1, 1-Tricloroetano 6.000.000.000 9.800

Mountain View, California

Drenas de
Tricloroetileno 40.000.000.000 1.500
infiltração de
Tetracloroetileno
esgoto
Cape Cod, Massachusetts

.. Aterro sanitário
1,4-Dioxano
Freon 113 102.000.000 190

Gloucester, Ontario

1, 1, 1-Tricloroetano
Indústria
Freon 113 5.000.000.000 130
Eletrônica
1, 1-Dicloroetileno
San Jose, California

1, 1, 1-Tricloroetano
Aeroporto Tricloroetileno 4.500.000.000 80
Dibromocloropropano
Denver, Colorado
Alguns cc)mpostos orgânicos halogenados, utiliza- !idade da água tanto superficial como subterrânea, é
dos amplamente como solventes e desengraxantes, e usado o padrão de contagem de coliformes. Embora
alguns hidrocarbonetos pc)dem causar problemas ir- estas bactérias sejam inofensivas ao homem, elas são
remediáveis aos aqüíferos. Estes compc)stos são usadas devido a sua grande abundância nas fezes de
altamente tóxicc)s e bastante persistentes em animais. Portanto a detecção de coliformes nas águas
subsuperfície. Devido a suas características físicas, os é um indicadc)r de cc)ntaminação recente.
primeiros são geralmente mais densc)s que as águas
Embora esse padrão seja mundialmente aceito e
(DNAPL: dense non-aqueous phase liquidj e os outros, me-
disseminado, para as águas subterrâneas ele é bastante
nos densos (I"NAPL: light non-aqueous phase liquidj. Cc)mo
limitado. Essas bactérias sobrevivem em aqüíferos, em
apresentam baixa solubilidade geralmente acabam por
média uma semana, cc)ntra mais de 200 dias de alguns
criar uma fase imiscível que afunda ou flutua no
,·írus patogênicos, fazendo Cl)m que muitas vezes a
aqüífero, de acordo com o composto. A rcmoçãc)
sua ausência não exclua problemas de qualidade da
tc)tal desses cc)mpostos em meios porosc)s, principal- , • • A • •

agua por c)utros micrc)organismos patogerucos mais


mente quando frações argilosas estãc) presentes, é
persistentes.
praticamente impossível. Não existe ainda tecnologia
dispc)nível que permita que aqüíferos seriamente cc)n- Eventualmente, a cc)ntaminação das águas subter-
taminados por esses produtos sejam remediados. A râneas pode ocorrer por mecanismos naturais. A
preocupação ambiental ainda é maior quandc) se veri- interação entre a água e a rocha faz com que a água se
fica que pequenas quantidades desses líquidos podem enriqueça de cert~s substâncias, algumas das quais em
gerar grandes volumes de aqüíferos contaminados, concentrações que a tornam não potável. Estes pro-
conhecidos como plumas contaminantes (Tabela !)!em as, embora não tão comuns, ocorrem em
20.7). Um exemplo impressionante foi o occ)rrido em aqüífcros c)nde a matriz mineral apresenta concentra-
San Jose (Califórnia, EUA), onde apenas 130 litros de ção elevada dessas substâncias e o ambiente
sc)!ventes geraram uma pluma de 5.000.000.0()0 litros. freqüentemente prc)picia a sua solubilização. Os
cc)ntaminantes mais comuns sãc) ferro, manganês e
Outros cc)ntaminantes bastante comuns nas águas
flúor, e cm ccJncentrações menores arsênio, crc)mo,
subterrâneas são os micrc)otganismos patc)gênicos,
cádmio, níquel, zinco, cobre, entre c)utros.
incluindc) as bactérias e vírus. Para a mec1ição da qua-

DILUIÇÃO RETARDAÇÃO
-
ELIMINAÇAO

Solo
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N a.. Reações em
arnbientes redutores

Fig. 20.9 Perfil de degradação do solo e zona saturada e não-saturada. A espessura da linha corresponde a maior ou menor
atuação do processo indicado.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 437 l •
,

Uma das mais graves contaminações de origem 1-ais pre)cessos cc)ntinuam, em menor grau, na zc)na
natural, cnvolvende) arsênio, C)correu em Banglal-lesh. saturada. :'\esta zona a redução das ce)ncentrações
Um programa ce)e)rdenadc) pelas Nações Unidas per- e)ce>rrc principalmente pela diluiçãe), resultado ela llis-
furou milhares de poços nos vales deltáicos daquele persão que acc>mpanha o fluxei lia água subterrânea.
país, come) alternativa para o abastecimento de água
i\ atenuaçãei de contaminantes não é a mesma para
de populaçãe) ali residente, que anterie)rmente extraía
tcideJs eis aqüíferc)s. Algumas unidalles oferecem me-
água diretamente de rie)s contaminados. A exploração
lhc>r preiteçãe) que outras, llevidc) às características
clc)s aqüíferc)S rebaixc)u os níveis freátice)s, que induziu
litolÓ\!;Ícas

e hidráulicas da ze)na não-saturada C)U do
a oxidaçãc) do sedimente). F,~sta alteração de) ambiente
aqüitarde. Desta forma, a vulnerabilidade à polui-
físicc)-químico acabou por solubilizar o arsênic), que
ção de um aqüíferc) é uma característica intrínseca que
contaminou milhares de pesse)as causande> problemas
determina a sensibilidade dei aqüífero em ser conta-
graves de saúlle.
,
minado.
Agua subterrânea ce)ntendo elevada cc)ncentraçãc>
de flúor tem sido detectada na bacia sedimentar de>
20.6.1 Causas Antrópicas da Poluição de
Paraná. Vários poços, inclusive de grande profundi-
Aqüíferos
dade explorando o Sistema Aqüífere) Guarani
(fe)rmaçõcs Botucatu-Pirambóia), estão inoperantes ou Uma lista das principais fe)ntes potencialmente
sendc) sub-utilizados pe)r esta razão. Embe)ra vários cc)ntaminantes é apresentada na Tabela 20.8. As ativi-
estudc)s tenham silio realizade)s, ainda existem muitas dades mais impc)rtantes no contextei latino americano
dúvidas sobre a origem desse íon na água. sãei e)s sistemas de saneamento in situ, ou aquelas que
O sc)le) participa ativamente da atcnuaçãc) de mui- infiltram os efluentes diretamente no sc)lci, como de-
te)s, mas não te)de)s, ce)ntaminantes da á6rua subterrânea. pcisiçãe) incorreta de resíduos sólidos, vazamento de
C) processo de atenuaçãc) cc)ntinua em menor grau na poste)s de gase)lina, entre outras.
zona não-saturada, especialmente onde sedimente)s não
consolidadc)s, cm oposiçãc) a rochas fraturadas (pou-
co reativas), estão presentes (Fig. 20.9). Tanto C) se)lo
como a zona nãc)-saturada são a primeira linha de
defesa natural contra a pc)luição da água subterrânea.
Isto occ)rre não somente pela sua posição estratégica,
mas também pele) ambiente n1ais favorável à atenua-
ção e eliminaçãc) de poluentes e pela presença de grande
quantidade de micre)organismos.

A água na zona nãe)-saturada movimenta-se nor-


malmente de forma lenta, restrita ac)S menores poros.
As vele)cidadcs geralmente não excedem a 0,2m I dia
em curtos períodos de tempo e menc)res ainda para
períodos mais longos. As condições químicas geral-
mente sãe) aeróbicas e freqüentemente alcalinas,
permitindo:

a) interceptação, sorção e eliminação de micre)-


. . .
organismos pate)gcn1cos,

b) degradação da carga de metais pesade)s e ou-


tros químicos inorgânicos, através da precipitaçãc) (como
carbonatos, sulfatos e hidreixidos), sorção e trc)cas iônicas
e

e) sorçao e biodegradação de muitos hidro-


carbc)nete)s sintéticos e naturais. Fig. 20.1 O Contaminação da água subterrânea por fossas
sépticas e negras.
438 D ECI FRA N D O A TERRA

,
Areas urbanas sem rede de esgoto ()s efluentes dcJmésticcis municipais possuem ele-
vadas ccincentrações em carbono orgânicci, cloreto,
Sistemas in situ de esgotamente) sanitáric), cc)mo
nitrogênic), sódio, magnésicJ, sulfatei e alguns metais,
fossas sépticas, latrinas, fossas ventiladas e secas, entre
incluindo ferro, zinco e cobre, além de concentrações
ciutras, são adequadas para a dispc)siçào de eflt1entes
variadas de microorganismos patogênicos. Destes com-
dc)mésticos em zonas rurais, vilas e pequenas cidades . . ' ,
pcistos, os que apresentam os ma1cJtes riscos a agua
a um custo bastante reduzido, comparativamente a
subterrânea sàci o nitrcigênio e eis micrc)cirganismc)s
redes de esgc)to e estações de tratamentc) de efluentes.
patogênicos (Fig. 20.10).

Tabela 20.8 Atividades antrópicas potencialmente poluidoras


do aqüífero, mais comuns na América Latina.
Atividades Característica da carga contaminante
Distribuição Principal contaminante

URBANA (o)

Saneamento ln situ u/r P-0 nfo

Lagoas de oxidação u/r P ofn m

Lixivíados de lixões/aterros sanitários u/r P osh m

Tanques de combustível u/r P-D o

INDÚSTRIA

Vazamento de tanques/tubos (b) u P-D oh

Derramamento acidental u P-D oh

Lagoas de efluentes up oh s m

Lixiviado de resíduos sólidos (chorume) u/r P oh s m

AGRÍCOLA (c)
,
i - Areos de cultivo

, .
- com ogroqu,m,cos rD no

- e com irrigoçêo rD nos

- com lodos/resíduos rD nos

ii - Beneficiamento de godo e animais

- lagoas de efluentes sem revestimento rP fo n '

(a) Pode incluir componentes industriais f Potógenos fecais


(b) Pode também ocorrer em áreas não industriais o Compostos orgânicos sintéticos e/ou cargo orgânico
(c) Intensificação apresento aumento no risco de conto- s Salinidade
. -
m,naçao m Metais pesados
u/r Urbano/Rural - P/L/D Pontual/linear/difuso h Hidrocarbonetos
n Nutrientes
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 439 •
.,

Compostos nitrogenados nos dejeteis humanos depcisitadcis (cstcicadcJs) inccirrctamcnte (Fig. 2().11 ). ()
podem causar uma persistente e extensa contamina- armazenamento de matérias primas também poderá
çãc) em a9üíferos freáticos em zonas urbanas e contaminar o solo e as águas subterráneas.
peri-urbanas. Por exemplo, uma área de densidade
::\ão são necessariamente as indústrias causadoras
populacional de 20 pessoas por hectare pc)de gerar
dos maiores problemas das águas superficiais 9ue re-
uma carga de 1()0 kg/ha/ ano de nitrogênio 9ue, se
presentam o maior perigo para as águas subterrâneas.
oxidado por 100 mm/ a de infiltração de água de chu-
O lancamento de efluentes com altos valores de DBO
va, poderia resultar em uma recarga local ao a9üífero
(demanda bio9uímica de oxigênio), 9ue causa a mor-
de 100 mg/L de nitrato, ou seja, 9uase 10 vezes maicJr
talidade de peixes na água superficial, representa uma
9ue o padrão de potabilidade aceito para água. Na
menor preocupação aos a9üíferos, devido à alta ca-
prática, a proporçãc) de nitrogênio depositado 9ue será
pacidade depurativa do solo em relação a este
lixiviado é desconhecida, bem como a sua diluição e
contaminante. Da mesma forma, pe9uenas indústrias
redução 9uímica, devido a vários processos 9ue ocor-
e oficinas mecânicas 9ue manuseiam compostos tóxi-
rem em subsuperfície. Entretanto, o exemplo
cos sem muito cuidado podem causar sérias
demonstra 9ue áreas sem rede de esgoto, mesmcJ em
contaminações ao subsolo, sem atingir contudcJ os
climas bastante úmidcJs, podem ser alvos de contami-
corpos de água superficial. As dificuldades na identifi-
nações significativas. Em áreas mais secas, onde o fluxo
cação e fiscalização desses pe9uenos empreendimentos
regional é mencJr, a concentração do contaminante na
complicam a implementação de programas eficazes
água infiltrada pode ser ainda maic)r.
de prcJteção das águas subterrâneas.

Uma prática muito comum é a utilização de lagoas


Atividades industriais
para a estocagem, manuseio, evaporação, sedimenta-
A atividade industrial contamina os a9üíferos 9uando çãcJ e oxidação de efluentes industriais e sanitários. A
seus efluentes lí9uidos, gasosos e resíducJs s(JlidcJs sãcJ grande maioria dessas lagoas tem uma base em terre-

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Fig. 20.11 Contaminação do água subterrâneo pelo atividade industrial.


440 D ECI FRA N D O A T ER RA

no natural, que, em certci grau, é impermeabilizado culta a avaliação precisa dos riscos para o aqüífero e
pela compactação ou pela sedimentação dc)s sólidos da qualidade dos líquidos que percolam através do
trazidcis pelos efluentes. Tal condição, entretantci, nãci lixo (chorume).
é capaz de evitar uma infiltração, que em alguns caseis
A construção de aterros de resíduos sc'ilidos tem
é maior que 20 mm/ dia, e a freqüente ccJntaminaçãcJ
de obedecer a normas mínimas, regidas por legisla-
de aqüífercJS.
çãcJ. A obra deve ser bem localizada em relação aos
aqüíferos existentes e aos corpos de água superficial.
Resíduos sólidos Atualmente, estudos hidrogeológicos prévios são ne-
cessários e, quando da construção, é exigida uma
A deposição de resíduos sólidos de origem dcJ-
camada inferior impermeável de argila de 0,6 a 1,Sm
méstica ciu industrial tem causado muitos incic.lentes
de espessura e um recobrimento diário de 0,1 a 0,3m
de contaminação na água subterrânea em nosso País,
de sc)lcJ compactado. Algumas vezes é necessária a ccJ-
especialmente quandcJ feita sem controle e quando a
locação de camadas de material sintético, de grande
deposiçãcJ, que muitas vezes envolve líqüidcJs perigo- •A• A• ;• "

res1stenc1a mecan1ca e qu1m1ca, para garant1r a com-


sos, é realizada em locais hidrogeologicamente
pleta vedação hidráulica do empreendimento. Drenas
vulneráveis (Fig. 20.12). No passadc), vários resíduos
superficiais são necessários para escoar águas de chu-
foram enterradc)s para evitar a contaminação de águas
va, e diminuir a infiltração no núcleo do aterro.
superficiais e a exposição ao ar livre. Hoje, muitos clestes
depósitos estãci poluinclo os aqüífercJs.
Atividades agrícolas
Em vários casc)s, resíduc)s industriais perigcJsos, que
pcJdem conter metais pesados e solventes orgânicos, Como conseqüência do aumento do uso de ferti-
são ccJlcJcados em áreas destinadas ac)s resíduos do- lizantes inorgânicos, depclis da II Guerra Mundial,
mésticcJs. C)utras vezes, a deposição clandestina de muitos solos, anteriormente pobres em nutrientes, pas-
substâncias tóxicas, comum em muitas regiões, difi- saram a conter intermitentemente excessos de sais,

Fig. 20.12 Contaminação da água subterrânea pela deposição incorreta de resíduos sólidos e pelas perdas da rede de esgoto.
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HíDRICOS 441 .

compostc)s nitrcJgenadc)s e ciutros produtos que, uma Extrativismo mineral


vez mobilizados pela água infiltrada, podem atingir os
aqüíferos. Séricls prc)blemas associados aos fertilizan- .\ extração de minérios que mais preocupa ClS recur-
tes nitrogenados são observadc)s em ,·árias partes do sos hídricos subterrâneos está ligada aos bens minerais
mundo, incluindc) nos países do oeste europeu e na metálicos, à exploração de petrólec) e gás e a al!:,>umas
América do Norte (Fig. 20.13). substâncias não-metálicas muito solúveis. Estes materiais
representam perigo para os aqüíferos devido às suas ca-
O comportamento pouco conhecido de racterísticas de solubilidade e toxicidade ou por estarem
agrotóxicos (herbicidas, inseticidas, fungicidas, associados a processos de beneficiamento que pc)dem
acaricidas, entre outros) em subsuperfície, assclciadcl gerar substâncias perigosas.
às baixas concentrações e à sua ampla aplicação, faz
Mesmo quando o bem mineral explclrado repre-
da atividade agrícola uma das mais difíceis de serem
senta pc)uco risco hidrclgeológiccl, podem ocorrer
avaliadas em termos de riscos hidrogeológicos. Com
as facilidades analíticas das instituições de cclntrclle impactos sobre a água subterrânea devido a pertur-
bações hidráulicas, diretas ou indiretas, deposiçãc) de
ambiental, iniciou-se uma ampla monitoração da água
líquidos com alto conteúdo salino ou lixiviaçãc) c.lcl
subterrânea em muitos países da América do Norte e
Europa na década de 1990. C)s resultados mostram material estéril remclvidcl durante a extração. Quando
que mais de 70 agrotóxicos foram detectados, mas na campos de petróleo e jazidas de bens minerais estão
localizados sob aqüíferos importantes, deve haver um
maioria dos casos, em concentrações seguras, inferio-
res acls padrões de potabilidade. () número c.le cuidac.lo especial clurante a construção de obras de
trabalhos desenvolvidcls ainda é insuficiente para per- acesso à mina ou dos poços c.le petróleo para iscllar <)S
aqüíferos mais importantes.
mitir a caracterizaçãcl satisfatória de impactos causac.los
por agrotóxicos, fazendo com que estes contaminantes ()s bens minerais não-metáliccJs, pclr exemplo, ,de
mereçam estudos mais detalhados. emprego imediato na construção civil, apresentam

Fig. 20.13 Contaminação da água subterrânea em área agrícola, provocada pela aplicação de fertilizantes e agrotóxicos.
442 D ECI FRA N D O A T ER RA

baixo pe)tencial gerador de cargas cc)ntaminantes, uma vistcJ neste capítulo, uma forte contaminação por subs-
vez que compreendem substâncias não-perigosas e tâncias altamente tóxicas e persistentes pode tornar um
muitas vezes inertes. O risco maior está relacic>nado à aqüífero irrecuperável em sua qualidade natural. Estu-
remoção do sole> e da camada nãe>-saturada, expon- dos para caracterizar a contaminação de um aqüífero
de> muitas vezes o ní,rel freático, o que não só reduz a podem facilmente alcançar centenas de milhares de
capacidade de degradação dos cc>ntaminantes ne> per- dólares enquanto sua recuperação, que muitas vezes é
fil geolc)gico como aumenta a vulnerabilidade de> pouco eficiente, freqüentemente demanda dezenas de
aqüífero à poluição. milhões de dólares. Da mesma forma, a intensa ocu-
pação territorial, assc>ciada ac> uso da água subterrânea
Acidentes ambientais e tanques enterrados torna o gerenciamento do recurso complexo. Definir
programas de proteção é portanto permitir o uso ra-
Um dos mais freqüentes casos de contaminação cional e sustentável da maior reserva de água doce da
de aqüíferos em centros urbanos refere-se a tanques Terra, em termos quantitativos e qualitativos.
enterrados contendo líquidos perigosos, incluindo os
combustíveis. Estatísticas na Holanda, por exemple>, ,
20.7.1 Assegurando a quantidade das aguas
mostraram que até o ano de 1985, os postos de servi-
subterrâneas
ço foram responsáveis por mais de 30% dos case>s de
contaminação, seguidos de perto pelos resíduos sóli- () grande problema no gerenciamento da quantida-
dos, muito embora não fossem os casos mais graves de dos recursos hídricos subterrâneos é estabelecer o
de degradação de aqüífere)s naquele país. volume total explotável de um aqüífero ou parte dele,
() grande número de contaminações por poste>s sem que isso esgote o recurso. A estratégia mais comum
de serviço decorre da quantidade de empreendimen- é controlar a perfuração de novos poços e o regime de
tos, da estocagem de produtos perigosos e altamente extração em áreas mais críticas, sempre baseada na recarga
tóxice>s, que mesmo em pequenas perdas causam po- do aqüífero, no rebaixamento causado pela nova obra
tencialmente grandes plumas contaminantes, da de captação, nos outros poços existentes, no uso previs-
dificuldade da detecção de vazamentos em tanques to para a água e em outros impactos secundários. Em
subterrâneos e da falta de fiscalização adequada. Atu- áreas de baixo uso, as restrições poderão ser menores. O
almente, em áreas de maior risco ambiental, vários procedimente) de aprovação de licenças de perfuração e
tanques tradicionais estão sendo substituídos pe>r tan- outorga do recurso poderá favorecer o planejamento
ques de paredes duplas, com detectores de fugas e racional de ocupação territorial.
poços de monite>ração. Para se determinar a disponibilidade de água de
O vazamento de tanques e tubulações, choques de um aqüífero para um uso qualquer é importante defi-
caminhões transportando compostos perigosos, falta nir as suas reservas, ou seja, a quantidade de água
de cuidado na carga e descarga de produtos são al- armazenada no substrato rochoso ou no sedimento
guns dos possíveis vetores de contaminação. passível de ser utilizada pelo bombeamento de um
poço ou grupo de poços. A reserva permanente é o
r volume total de água que pode ser extraído de um
20. 7 Proteção das Aguas Subterrâneas aqüífere> utilizando técnicas convencionais de
be>mbeamento. A reserva reguladora ou dinâmica
O uso cada vez mais intenso e extensivo das águas
corresponde à parcela da água infiltrada no solo, a .•
subterrâneas em todo o mundo, decorrente da sua
partir das chuvas, acrescida da água infiltrada artificial- ·
grande disponibilidade, menores custos de produção,
mente, a partir das perdas das redes de distribuição de ·
distribuição e qualidade natural normalmente excelen-
águas e esgoto, ou seja, o próprio volume de recarga
te, está levando a se>ciedade a se preocupar mais e
do aqüífero. E finalmente, a reserva explotável
mais com este recurso. A implementação de progra-
correspe>nde a uma fração da reserva reguladora (usu-
mas de proteção da quantidade e qualidade da água é
almente de 25% a 75%), entendendo-se que extrações
bastante recente no mundo, mas apenas incipiente em
maiores que esta fração comprometeriam o recurso. .
países de economias periféricas, como o Brasil.
, Em algumas áreas, mesmo que respeitando as
O ditado popular - "E melhor prevenir que remediar" -
servas explotáveis, a extração efetuada por um conjun
é diretamente aplicável às águas subterrâneas. Ce>mo
CAPÍTULO 20 • RECURSOS HÍDRICOS 443 ., .

de poços pode, através do rebaixamento conjunto, C)s PPPs são mais eficientes em aqüíferos simples,
comprometer o aqüífero. Isto C)Cc)rre pcJis e) cc)nceito homogêneos e isotrópicos e em pequenas áreas. A gran-
de reserva explotável é definido para o aqüífero todo de densidade de poços explorados de forma irregular
e não para problemas de interferência entre poços, difi.culta a definição das zonas a serem protegidas. A
onde a distância entre as obras de captação deve ser estratégia de mapas de vulnerabilidade é melhor em
considerada. Neste caso, a autorização para a perfura- áreas maiores, com a análise de um número relativa-
ção, concedida pelo órgão de gestão do recurso hídrico mente grande de atividades potencialmente
deverá vetar a construção de novos poços, apoiado contaminantes e ccJm a existência de uma quantidade
em critérios de importância do usuário e estudos pré- reduzida de informação C)U grande complexidade
vios da hidráulica do aqüífero. hidrogeológica. Esta técnica é mais adequada para pla-
nejar o uso e ocupação do solo e estabelecer
prioridades de ação para a proteção do recurso, base-
20. 7 .2 Assegurando a qualidade das águas
ado no reconhecimento de áreas ou atividades de maior
subterrâneas
perigo de degradação de aqüíferc)s.
A análise das estratégias de proteção de qualidade C) planejamento de uso do solo pode se dar de
de aqüíferos em vários países revela duas linhas bási- três fcJrmas, de acordo com a existência de fontes de
cas de ação, muitas vezes independentes e baseadas no contaminação antrópica: em áreas onde já se com-
controle do uso da terra. A primeira linha restringe a provou a contaminação de aqüíferos por uma atividade
ocupação do terreno a partir de cartas de específica (fontes herdadas), em áreas onde novas ati-
vulnerabilidade à poluição do aqüífero, proibindo ou vidades potencialmente contaminantes serãcJ instaladas
autorizando a instalação de novas atividades potenci- e em áreas onde a c)cupação já ocorreu, porém não
almente contaminantes segundo áreas de alta ou baixa foram detectados problemas de ccJntaminação.
vulnerabilidade. A segunda linha se baseia no estabeleci-
mento de zonas ao redor de poços ou fontes de Em zonas altamente urbanizadas e industrializadas cJu
abastecimento com diferentes graus de restriçãc) de ocu- com intensiva atividade agrícola, a prioridade será na iden-
pação, a partir da identificação de contribuições de áf,>ua tificaçãc) de áreas ou atividades que apresentem os maiores
para o poço ou fonte (parte da área de recarga do risccJs à poluição dos aqüíferos. Para isto precisam ser
aqüífero), conjuntamente com o tempo de trânsito e o identificadas e cadastradas as atividades antrópicas e es-
comportamento hidráulico do aqüífero. Esta estratégia tes dados confrontados com uma carta de vulnerabilidade
se apóia na idéia de que quanto mais próxima a atividade à poluição de aqüífercJs ou com a localização das zonas
do poço, maior o perigo de contaminação. (Fig. 20.14). de captura de poços e seus perímetrcJS de proteção. O
perigc) maicJr será definido pela atividade que apresente
Quando o poder público estabelece o zoneamento maicJr potencial contaminante e que esteja locada em área
e o oficializa por meio de um instrumento legal, este de elevada \'llillerabilidade do aqüífero ou mais próxima
zoneamento é chamado perímetro de proteção de de poços importantes. Em áreas degradadas de aqüíferos,
poço (PPP). caracteriza-se o risco real para a população e para
o meio ambiente. Este critério de,·erá nortear a
decisão da remediação do aqüífero e o grau de
Poço 1 Zona de captura limpeza que se quer atingir. No terceiro caso, em
áreas no,·as onde se planeja ocupar o solo, a
implementação de atividades de reconhecido po-
Divisor de tencial poluente deverá ser precedida por estudos
drenagem
de impactos ao meio ambiente específicos, para
subterrânea
definir as restrições que deverão ser impostas à
ati,idade.

Perímetro interno Em suma, a chave para o sucesso de qualquer


Perímetro imediato programa de manejcJ e prcJteção dos recursos
hídricos é a participação dos envolvidos, incluin-
Fig. 20.14 Conceito de perímetro de proteção de poço. Controle da
do a sociedade civil, o contaminador e o Estado,
atividade antrópica em relação à proximidade do poço e da sua zona de
atra,·és de seu órgão de controle ambiental.
contribuição ou de recarga.
444 DECIFRANDO A TERRA

Leituras recomendadas
CUSTODIO, E.; LLAMAS, R. Hidrologia
Subterrânea. Barcelona: Omega, 1981.
FEITOSA, F.; MANOEL FILHO,]. Hidrogeologia:
Conceitos eAplicações. Fortaleza: CPRM, 1997.
POSTER, S.; VENTURA, M.; HIRATA, R.
Contaminación de las aguas subterrâneas: un
enfoque ejecutivo de la situación en América
Latina y el Caribe en relación con el suministro
de agua potable. Lima: CEPIS Technical Paper,
1987.
FREEZY, R. A.; CHERRY, J. A. Groundwater.
Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1979.
··-
·,.•···••t. ·, ........
446 DECIFRANDO A TERRA

em os recursos minerais, a humanidade não Neste capítulo abc)rdaremos de forma ampla


teria como subsidiar seu crescente desenvol- vários conceitos básicos relativos aos diferentes ti-
vimento tecnológico. A aplicaçãc) de técnicas pos de depósitos minerais. De inícici, procuraremos
modernas, pc)r vezes altamente refinadas, permi- olhar o depósito mineral do ponto de vista essen-
tiu-lhe descobrir, obter e transformar bens minerais cialmente gec)lógico, mostrando como e porquê
em bens manufaturados que tornaram a vida mais ele se fc)rma, diferenciandc)-o das demais rochas
confc)rtável. Nos primórdios da civilização, nós, que o envolvem, caracterizado por quantidades ele-
humanos, utilizamos lascas de quartzo para confec- vadas de um ou mais minerais úteis. Veremos que
cionar nossos instrumentos rudimentares de caça els depósitos minerais são fcirmados por proces-
ou luta e hoje ainda utilizamos este mineral para sos geológicos comuns, discutidos em capítulos
produzir objetos sofisticados como transistores ou anteriores.
fibras ópticas.
Prosseguiremos comentando seu papel importan-
Daquela época até hoje, uma diversidade de tipos te como fonte comercial de minerais e materiais
de minerais e rochas vem sendo usada em quantidade rochosos necessários à fabricação de uma infinidade
crescente. As substâncias minerais, sejam metálicas, não- de produtos industriais, assim como apresentando
metálicas, combustíveis fósseis ou pedras preciosas, noções sobre sua extração e aplicações. Também des-
passaram a fazer parte inalienável de nossas vidas. Essa creveremos simplificadamente como os depósitos
dependência, às vezes imperceptível, mantém e apri- minerais sãcJ gerados.
mora nossa qualidade de vida.
Certamente, a partir deste ponto estaremos con-
Volumes gigantescos de bens minerais estão sendo vencidos de que as ocorrências de substâncias minerais
rapidamente extraídos de seus depósitos, o que pode úteis, além de poderem constituir porções muito res-
levar à escassez ou mesmo exaustão dos mesmos. A tritas na crosta terrestre, estão bastante espalhadas ao
demanda de bens minerais pelas futuras gerações é redor de nosso planeta e constituem recursos naturais
pauta de estudos dos governos, pois as acumulações finitos. Dessa forma, indicaremos em linhas gerais as
econômicas de substâncias minerais úteis constituem ações necessárias à procura, descoberta e reposição
porções muito restritas da crc)sta terrestre. Além dis- de novos recursos minerais.
so, para a formação de qualquer bem mineral é
Por fim, esboçaremos um panorama sobre a situa-
necessário um período de tempo muitc) maior de) que
ção mineral brasileira, enfc)cando aspectos de reserva,
aquele decorrido desde quando começamos a utilizar
produção e ccJmércio de suprimentos minerais.
as primeiras lascas de quartzo.
A conservação do recurso mineral, ou seja, fazer
21.1 Depósito Mineral: Conceitos
dele um uso adequado no atendimento de nossas ne-
cessidades e evitar os excessos de um consumo Básicos
ambicioso, é uma atitude necessária para garantir o su-
primento de insumos minerais praticamente 21.1.1 Recursos e reservas minerais
imprescindíveis à manutenção de uma forma de desen-
volvimento sustentável. Dentro dessa perspectiva, A expressão recursos minerais qualifica materiais
muitos metais são atualmente obtidos por meio de rochosos que efetiva ou potencialmente possam ser
técnicas de reciclagem, a partir de bens manufatura- utilizados pelo ser humano. Costumeiramente, repre-
dos sucateados, assim como outros, menos abundantes sentam desde porções relativamente restritas até
na natureza, são substituídos por metais mais abun- grandes massas de crosta terrestre e a própria rocha .
dantes. Essa atitude permitirá que preservemos por ou um ou mais de seus constituintes - minerais ou
maior tempo os recursos minerais, diminuindo assim elementos químicos específicos - despertam um inte-
o impacto ao meio ambiente. resse utilitário.

....,..
.. Atividade garimpeiro no Brasil nos tempos coloniais, executado pelos escravos, até o século XIX. A gravura ilustro o lavagem c:e
minério de ouro no serro do ltocolomi, em Minas Gerais. Fonte: Martins & Brito, 1989.
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CAPÍl'ULO 21 • Recu~os MINERAIS 447 ,,!~r
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RECURSOS MINERAIS TOTAIS
Identificado Não descoberto
Demonstrado
Inferido Hipotético Especulativo
Medido Indicado

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Grau crescente de conhecimento geológico
Fig. 21 . l Classificação de recursos minerais. Fonte: US Geologicall Survey Buli. 1450A, 1976

Os recurse)s minerais pe)dem ser distinguidos cm zam <JS termos jazida mineral e minério para desig-
diferentes classes, correspondentes a volumes re)chc)- nar <> ce)rpo mineral de onde suas substâncias úteis
se)s discriminados de acordo cc>m e> grau ele pcissam ser eccineimicamente extraídas.
conhccimentl) gel>lógicc> e técnice>-eceinêimice> de suas
1\ identificação de um depósito mineral freqüentemente
diferentes peirçe)es (Fig. 21.1 ). J\ssim, a reserva mi-
se inicia ceim o exame dcJ indício mineral ou da ocorrên-
neral, comei parte do recurso mineral, representa
cia mineral. :b~ssas expresse3es são praticamente equivalentes
volumes re)che)se>s ce)m determinadas características
e, em essência, referem-se a cc)ncentraçe)es usualmente su-
indicativas de seu aproveitamentci eceinêimico. Plir sua
perficiais ele um ou mais minerais úteis para indicar a
vez, a reserva mineral peide ser distinguida em três
localização de um depósito mineral.
classes de reserva: inferida, indicada e medida, c1ue
refletem nesta ordem o nível crescente de pesquisa e
cnhecimento do depósito. 21.1.2 Como nasce um depósito mineral

O estudo cletalhado de um recurse> e)u reserva mi- .\s substâncias minerais, salve) raras exceções, estãeJ
nerais pode levar à viabilidade técnica-ec<Jnômica de presentes em seus c1epósitos em concentrações supe-
um depósito mineral. Este, cc)mei um eibjetei gee>lc)- riores àquelas com que participam na compc>siçãe)
gico, é uma massa ou volume rochoso no qual química média da crc)sta terrestre (Cap. 5), ou seja,
substâncias minerais ou químicas estãcJ clincentradas acima de seu clarke (Tabela 21.1 ).
de modo anômalc>, quandci ccimparadas com sua c-lis-
,\ razãc> entre o cc)nteúdo (tecir) de uma substância
tribuição média na crc)sta terrestre, e em quantidade
num n11nérici e seu clarke é o chamacleJ fator de con-
suficiente para indicar um potencial mineral ecc)nê>mi-
cenrracão (f.c.).
cei. Quanto maic>r feir o teor, que é o grau de
concentração dessas substâncias no depósito mineral,
mais valilJSl) será, pois somente a partir de um vale>r f.c. conteúde) nei minériei / clarke
mínimo de teor é que suas substâncias úteis pciderãei
ser extraídas com lucro. :\ssim, comumente se utili-
Tabela 21.1 Conteúdos médios de alguns metais na crosta
continental (c/arke) e em seus depósitos minerais
(teores aproximados). l ppm = 0,0001%

Metal Clark (ppm) Teores aproximados (%)


,.
m1n1mo médio

alumínio 82.300 17 22
ferro 56.300 20 40
titânio 5.650 3 7
'
manganes l .000 7 20
• ' .
z1rcon10 165 0,5
vanódio 120 o, 12 0,2
cromo 102 7 30
níquel 84 0,25 1, 1
zinco 70 1,5 4,5
cobre 60 0,35 1,0
cobalto 25 O, l 0,3
nióbio 20 0,34 0,6
chumbo 14 1,5 3,5
tório 9 0,01 0,05
'
uran10
. 3 0,005 o, 13
estanho 2,3 o, 1 0,4
' .
arsen10 1,8
tungstênio 1,2 o, 1 0,4
antimónio 0,2 0,5 l ,2

ouro 0,004 1 (ppm) 6 (ppm)

Fonte: P. Laznicka, 1985.

Assim, nos casos do Al e do Pb, de acordo com para a formação de uma jazida de flúor ou de es-
os valores da Tabela 21.1, teríamos: tanho, estes elementos deverão ser concentrados,
f.c.A 1 22% / 8,2% ~ 2 a 3 respectivamente, em 200 e 2.000 vezes em relação
às suas concentrações médias na crosta terrestre
f.c.P 6 3,5% / 14ppm ~ 2.500 (clarke) ou a uma particular fonte com conteúdos
Uma vez que a abundância dos elementos é va- de flúor e estanho iguais aos da crosta (Tabela 21.2).
riável na crosta terrestre, assim como há minérios Como diferentes tipos de rochas contêm dife-
que exigem maior ou menor conteúdo da substân- rentes quantidades de um mesmo elemento químico
cia útil, o valor do fator de concentração pode (ver Cap. 5), podemos dizer que as rochas onde o
variar amplamente (Fig. 21.2). elemento está originalmente mais concentrado se-
O fator de concentração pode ser aplicado para riam as mais adequadas como fontes de depósitos
estimar o grau de facilidade com que os depósitos minerais. Para a geração de um depósito de chum-
minerais podem ser formados. Pelos valores dos bo, por exemplo, cujo clarke é 14ppm, os fatores
fatores de concentração, podemos entender que, de concentração devem ser de cerca de 40.000 para
CAPÍTULO 21 • RECURSOS MINERAIS 449 ir'."'
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AI 1 11111111 1
1 1
Fe 1 1
1 1
Ti 1 1
V 1 1
1 1
REE 1 1
1 1
Zr 1 1
Th 1 1
1
Ni 1
1
Co
Mn '
1
1
Cu 1
1
Nb 1
u 1
1
Ta 1
1
Zn 1
Pt 1
1
Mo 1
1
Au 1
' Sn 1
1
Pb 1
Cr 1
1
w 1
1
Ag 1
Hg 1
1
Sb '1
Bi
1 10 100 1000 10.000 100.000
Fig. 21.2 Fatores de conce-ntração necessários para a geraçao de minérios de alguns metais, baseados no
clarke crustal. Escala logarítmica. Fonte: Laznicka, 1985.

uma rocha ultramáfica (teor médio de 1 ppm de Aparentemente, alguns depósitos minerais são
Pb), 2.000 para uma rocha granítica (que contém gerados somente a partir de rochas fontes especi-
em média 19ppm de Pb) e 500 para argilas (com ais, como é o caso dos depósitos de metais raros
80ppm de Pb em média). ()s processc)s naturais (elementos presentes na crosta em teores menores
responsáveis pela geraçãc) de minérios terão maior que 0,1 % cm peso), entre eles C) estanho. Rochas
rendimento e eficiência partindo de fc)ntes previa- fc)ntes especiais sãc) as que tiveram um modo parti-
mente enriquecidas. cular de fcJrmação em relação às suas congêneres,
tornando-se previamente enriquecidas em metais ou
Tabela 21.2 Comparação entre . . , .
fatores de concentração
m1nera1s ute1s.
Assim, os depósitc)s primários de estanho estão
Elemento Clarke Teor f.c.
asscJciados a determinados granitóides que se distin-
(ppm) médio(%)
guem dos demais por feições tectônicas, texturais,
mineralógicas e químicas específicas. Os granitos
AI 82.300 22 3
estaníferos deri,-am de um magmatismo essencialmen-
te silícico, típico dos estágios finais de um evento
Fe 56.300 40 8
tectono-magmático (Cap. 6), ocorrendo junto às por-
F
ções mais superiores de complexos rochosos intrusivos.
625 12 200
Isto lhes confere feições químicas peculiares em rela-
Sn 2,3 0,4 2000
ção a granitos normais, com aumento no conteúdo
de elementos raros específiccJs como F, Rb, Ll, Sn, Be,
Obs.: Os processos geradores dos depósitos de flúor ou esta- W, l\fc) e também em Si02 , Na20, e IZ20; por outro
nho deverão ser mais eficientes que os de alumínio ou ferro lado, são mais pobres cm MgO, CaO, Fe 20 3 e Ti0 2
para concentrar, num dado local da crosta terrestre, quanti- . .
que os grarutos normais.
dades economicamente viáveis desses elementos.
Podemos agora nos perguntar: como nasce um
depósito mineral? Ou de uma forma mais explíci- depósito
mineral de M
ta: como ocorre o enriquecimento de uma
armadilha
substância mineral num dado local da crosta ter-
restre constituindo um depósito? Este é um assunto
extenso e relativamente complexo que usualmente
é abordado na geologia econômica, o ramo da
geologia que estuda as rochas e minerais de interes-
A •

se econom1co.

O depósito mineral, embora sendo um corpo ro- Fig. 21.3 Elementos essenciais de um modelo de geração de
choso diferenciado devido a sua inusitada composição um depósito mineral, segundo Routhier, 1980. Usualmente mais
química e mineral, tem sua origem relacionada aos de uma fonte pode contribuir com substâncias úteis para o de-
processos geológicos comuns, tais como sedimenta- pósito. M = substância útil (elementos químicos, minerais,
fragmentos de rocha, etc.).
ção, intemperismo, metamorfismo, vulcanismo,
plutonismo, etc. Durante o desenvolvimento desses
processos geológicos podem ocorrer, coeva ou su- profunda), pode ser acionado por energia térmica
cessivamente, mecanismos ou condições especiais que (um corpo intrusivo, por exemplo) ou pela força
conduzem à.concentração de substâncias úteis, poden- gravitacional (carreamento de detritos por um flu-
do, então, a partir desse instante ser denominados xo d'água). A substância útil ou seus constituintes
processos de mineralização. Tanto é que podem ser transportados, conforme o caso, meca-
freqüentemente nos referimos, como que fazendo uma nicamente ou como soluto numa solução natural.
classificação de depósitos minerais, a depósitos O ambiente de deposição, por outro lado, varia
sedimentares, intempéricos, metamórficos, muito quanto à sua escala e natureza, podendo ser
hidrotermais etc., conforme a dominância de um des- representado pelo manto de intemperismo, siste-
ses processos na geração do depósito. mas de fraturas, plataforma continental, etc.
No entanto, não é no decorrer de todo proces- A fixação da substância mineral útil comumente
so geológico que depósitos minerais são formados. se faz em uma porção mais restrita do ambiente de
Ou seja, nem todo granito é portador de pegmatito deposição em conseqüência da ação de fatores que,
estanífero, assim como nem todo folhelho contém agindo como armadilhas, favorecem, naquele lo-
depósitos sedimentares de cobre. Para ocorrer uma cal, sua maior acumulação em relação ao resto do
mineralização, deve estar presente uma fonte que ambiente de deposição. Tais fatores são designa-
forneça a substância útil e um local/ ambiente para dos de controles da mineralização ou metalotectos
sua deposição de forma concentrada. A substância e são de naturezas diversas, tais como geoquímica,
útil geralmente sofre um menor ou maior trans- mineralógica, estrutural, paleogeográfica, etc. As-
porte, envolvendo energia (força-motriz), em um sim, certos jazimentos do ambiente sedimentar
meio que permite sua migração (Fig. 21.3). Esses ocupam volumes rochosos limitados dentro da se-
,
fatores deverão atuar de forma eficiente, conver- qüência sedimentar hospedeira. E o caso de alguns
gindo cumulativamente para a elevação do jazimentos de Pb, Zn ou Cu na forma de sulfetos,
conteúdo de um dado elemento químico, em de- que ocorrem como estratos rochosos relativamen-
terminado lugar da crosta terrestre, gerando um te delgados, dentro de uma seqüência sedimentar
depósito mineral. mais ampla e espessa que constitui o ambiente de
A fonte pode ser simplesmente uma rocha pré- deposição. Também é o caso das concentrações
'

existente particular, um sistema geológico mais aluvionares auríferas que preferencialmente se as-
complexo, como um magma, porções mais pro- sociam aos níveis conglomeráticos de um sistema
sedimentar aluvionar.
fundas da crosta terrestre, como o manto superior,
ou águas retidas dentro de uma seqüência Há muitas razões para se considerar um depósito
sedimentar ou vulcano-sedimentar. O transporte, mineral como um objeto rochoso especial quanto à
usualmente promovido pela água (superficial ou sua natureza mineralógica e/ ou geoquímica. Uma
CAPÍTULO 21 • RECURS.OS MINERAIS 451 ,'.-

.. ..

ortognaisse,charnoquito, etc.
• 1.750 a l.570Ma Mineralizações de cassiterita

- biotita, granito equigranular


G) em pegmatito
5 a 10 ppm Sn . 990Ma
@ em veios de quartzo
tapázio-albita granito
15 a 50 ppm Sn. 970Ma @ em elúvio e @colúvio

- manto de intemperismo E,, E2, E3 = estágios genéticos


(Quaternário)

Fig. 21.4 Visão esquemática sobre a sucessão no tempo e no espaço de eventos geológicos, magmáticos e de intemperismo,
convergindo para a geração de depósitos de cassiterita hospedados em elúvios ou colúvios. O esquema ilustra exemplos de
mineralizações que ocorrem na Província Estanífera de Rondônia.

delas decorre da observação da composição química Nesse sentido, a gênese de um depósito mineral
média da crosta continental (Cap. 5), na qual oito ele- guarda um paralelismo com a maioria dos proces-
mentos, com abundância crustal acima de 1% (O, Si, sos de preparação de minérios e de obtenção de
Al, Fe, Ca, Mg, Na, I<:.), correspondem a aproximada- metais, a qual não se realiza num único estágio, mas
mente 98% em peso da sua composição total. Um segundo uma seqüência progressiva de estágios,
depósito mineral para os demais elementos menos cada um deles contribuindo para o produto tinal,
abundantes, que perfazem cerca de 2% da composi- como por exemplo a obtenção do metal estanho a
ção da crosta continental, incluindo a maioria dos que partir de um minério estanífero. Assim, a fonte ini-
são úteis ao ser humano, certamente é uma anomalia cial de um depósito mineral pode estar bastante
, .
geoqu1m1ca. afastada no tempo e no espaço e o depósito mine-
ral é uma conseqüência da evolução geológica da
Apesar de suas feições peculiares, os depósitos
área na qual ele ocorre.
minerais resultam de processos naturais que se ex-
pressam paralela e/ ou sucessivamente; são
processos, em sua grande maioria, geológicos, mas 21.1.3 Minerais e minérios
também incluem processos climáticos (tal como nos ,-\ssociado ao conceito de depósito mineral, vimos
depósitos gerados por intemperismo) e/ ou bioló- que se utiliza o termo minério para designar a rocha
gicos (freqüentes nos depósitos sedimentares). Por da qual podem ser economicamente obtidas uma ou
exemplo, a gênese de depósitos estaníferos aloja- mais substâncias úteis. Como uma rocha, um minério
dos no manto de intemperismo (Fig. 21.4) ou, tem uma composição mineral especial, pois nele estão
mesmo, em sedimentos detríticos (Caps. 8 e 14) presentes de forma concentrada minerais que usual-
pode remontar à formação de magmas pré-enri- mente ocorrem dispersos na maioria das outras rochas
quecidos em Sn (estágio 1), os quais tardiamente, (Cap. 2). Assim, hematita (Fe2 0 3) pode ser mineral
em sua consolidação, geraram mineralizações de acessório em muitos tipos de rochas, como nos
cassiterita hospedadas em rochas graníticas (estágio granitóides e gnaisses, mas num minério de ferro este
2), que por sua \·ez foram alteradas e mobilizadas mineral está altamente concentrado, podendo ser pra-
por intemperismo e erosão (estágio 3). ticamente a única fase mineral presente (Fig. 21.5).
MINERAIS MINERAIS transformado, na forma de metais ou ligas metáli-
DE GANGA DE MINÉRIO
cas. Diferentemente, o minério não-metálico pode
::-'.:":<>_:>'; <F '<Y:-::':':,

Granito
• ser utilizado sem maiores alteraçe)es de suas carac-
terísticas originais, a exemplcJ de) amianto utilizado
na fabricação de artefatos de fibrocimento ou do
Pegmatito . . minério de
l ltio talco como constituinte de massa cerâmica. Outros
minérios nãei-metálicos precisam também ser trans-
minério de formados química ou fisicamente para a utilização
Serpentinito •·
amianto
comercial. FlucJrita e enxofre exemplificam clara-
Aluvião
mente este caso, pois é respectivamente na forma
de ácido fluorídrico e ácido sulfúrico que estes dois
minerais têm suas maiores aplicações industriais.
Fig. 21.5 Os minérios distinguem-se das rochas comuns por
estarem enriquecidos em substâncias minerais úteis, ou seja
Um grupo amplo de materiais minerais vem mere-
em minerais de minério, como a cassiterita em granito. cendo atenção pela diversidade de suas aplicações, da
demanda e dependência crescentes de nossa civilização
em relação a eles, assim como das perspectivas de novos
No minério associam-se dois tipos de minerais: o usos solicitados por inovações tecnológicas atuais (cerâ-
mineral de minério, que é C) mineral que lhe confere mica fina, fibras ópticas, supercondutores). Trata-se dos
valor econômice), e ei mineral de ganga ou, simples- minerais industriais e rochas industriais, definideis
mente, ganga, que não apresenta valor econômico. simplificadamente como materiais minerais que, dadas
Assim, num minériei de estanhei em granitci, a cassiterita suas qualidades físicas e químicas particulares, são ceJnsu-
(SnOJ é o mineral de minério, enquanto os demais mideis praticamente sem alteração de suas propriedades
minerais presentes, ceimo feldspatcis, quartzo e mica, originais, por terem aplicaçãeJ direta pela indústria.
constituem a ganga (Fig. 21.5). Os ccinceitos de mine- Os minerais e rochas industriais participam ativa-
ral de minério e de ganga não são absolutos, uma vez mente de nossa civilização, estando presentes em
que um mesmo mineral pode passar de uma a eiutra diversos segmenteJs industriais modernos: fabricação
categoria conforme o depósito mineral consicleradeJ de fertilizantes feJsfatados (fcisfcirita, apatita) e
ou até pertencer a ambas categeJrias em um mesmeJ potássicos (silvita, carnalita), indústria da construção
minério. Assim, tanto o feldspato qL1anto o quartzo e civil (brita, calcárici, quartzitci, areia, cascalhei), materi-
a mica podem ccinstituir minerais de minérici impcJr- ais cerâmicos e refratários (argilas, magnesita), papel
. .
tantes em muitos pegmatltos. (caulim), iseilantes (amianto, mica), rochas ornamen-
Distinguem-se os minérios em duas classes bastante tais (granitci, mármcire), perfuração de poços para
amplas designadas minérios metálicos e minérios não- petróleo e gás natural (argila, barita), cimento (calcário,
metálicos, conforme possam ser ou não feintes de argila, gipsita), além da indústria de vidros, tintas, bor-
substâncias metálicas cJu, também, tenham eJu nãei em rachas, abrasivos, eletro-eletrônicos, etc.
sua composição minerais úteis de brilho metálico. Em- Em sua grande maioria, os minerais industriais são
bora essas qualificações sejam freqüentemente utilizadas, representados peir minerais ou minérios não-metálicos,
elas refletem um certo artificialismo e, amiúde, esbarram tais ccimo o amianto e o talco nas aplicações citadas.
cm dificuldades para uma aplicação rigorcisa. Podemos Entre outre)s minéricJs metálicos, a cromita pode tam-
dizer que são expressões que surgiram espontaneamente bém ser considerada como mineral industrial quando é
na prática profissional para caracterizar de forma rápida, utilizada na fabricação de peças cerâmicas refratárias.
porém, superficialmente, as matérias-primas minerais. '
Neis países industrializados, a preJdução e o ceJnsu-
Minérios, por exemplo, constituídos por calamina,
mo de)S minerais e rochas industriais superam, na
scheelita e malaquita nãcJ seriam ccJnsideradeis metálicos,
maioria das vezes, os deJs metais. A taxa de seu consu-
uma vez que estes minerais ele minério não peJssuem bri-
mo constitui inclusive um de)s indicadores do nível de
lho metálico, embora sejam, respectivamente, minerais
desenvolvimento inclustrial de um país. No Brasil, a
de zinco, wolfrâmio e cobre.
demanda e o consumo de minerais e rochas industri-
Para SL1a utilização, o minério metálico normal- ais é grande, principalmente no setor ela construção
mente necessita ser trabalhado, profundamente civil, com forte tendência de alimento. As caL1sas estão
CAPÍTULO 21 •
-
RÊDJRSOS
-
MINERAIS 153 ·- ~:".,, 1
-,' " '

45
!1l
areia !1l 1/)
fluorita chumbo +cascalho {.)
o, 6 ,
1200 -
40
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IV 800 -
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Bem mineral
Fig. 21.6 Estimativa do consumo anual médio por habitante de alguns bens minerais metálicos e não-metálicos no Brasil. Dados
do Sumário Mineral, Departamento Nacional da Produção Mineral, 1998.

relacionadas à industrialização, à melhoria da


infra-estrutura social (saneamento básico, habi-
tação, transporte), ao aumento da produtividade
agrícola, mas, acima de tudo, ao aumento da
renda per capita associado ao crescimento in-
dustrial e aumento pc)pulacional. A Fig. 21.6
ilustra uma comparação do consumo de alguns
minérios não-metálicos/industriais e metálicos
pc)r habitante no Brasil.

21.1.4 Extraindo e utilizando minérios


Fig. 21.7 Lavra por desmonte hidráulico de depósito de cassiterita
O conjunto de operações que são realizadas em aluviões (Oriente Novo, RO) Foto: J. S. Bettencourt.
visando à retirada do minério a partir do depósi-
to mineral denomina-se lavra. O depósito mineral
em lavra é denominado mina, e esta designação
continua sendo aplicada mesmo que a extração
tenha sido suspensa. ,\ la,-ra pode ser executada
de modo bastante simples, por meio de ativida-
des manuais, ou até por meios altamente
mecanizados e em larga escala, como ocorre nas
grandes minerações (Figs. 21.7 e 21.8).

Fig. 21.8 Lavra a céu aberto de minério de ferro na mina


Cauê (ltabira, MG). Foto: E. Ribeiro Filho.

UNIVERSIDADE POTIGUAR · ,
Sistema Integrado de Bibliotecx. • ·
O garimpo também constitui uma jazida mineral No início dcJs ancJs 1980, no depósito de cJuro de
em lavra e para a extração de suas substâncias úteis Serra Pelada, locali?.adcJ na Província Mineral de Carajás,
não foram realizac1os estudos prévicJs da jazida. ncJ Estado do Pará, instalcJu-se uma das mais intensas
Costumeiramente, os métodc)s extrativos utilizadcJs são ati,·idades garimpeiras do país, nãcJ só por uma ex-
rudimentares (Figs. 21.9 e 21.10). Apesar disscJ, cJs ga- pressi,·a produção de ourcJ, como também pcJr uma
rimpos podem respc)nder por uma parcela significativa asscJm\JrcJsa concentraçãcJ c.le pesscJas nas suas escava-
da produção de certcJs bens minerais, tais ccJmo es- çc"'ies, resultanc.lo em imagens semelhantes a um
meralda, topázio, minerais litiníferos, diamante, cJurc) '"fcJrmigueiro" humancJ (Figs. 21.11 e 21.12).
. .
e cass1ter1ta.
Senc.lo cJ depósitc) mineral um produto natural, o
ser humancJ não decic.le scJbre suas características (tais
ccJmcJ composiçãcJ mineral e química, teor, quantida-
de da substância útil, lcJcalização gecJgráfica,
profunc.lidade etc.), pc.Jde apenas aceitá-las. F,m decor-
rência dessa situação, a obtenção de substâncias a partir
ele um depósito mineral depende de vários fatores,

Fig. 21.1 O Ilustração do processo mecânico para concentra-


ção de minerais pesados por meio de uma batéia. Foto: R. Falzoni.

Fig. 21. 9 O minério extraído do


depósito é lavado com água no
sluice (um tipo de calha usada pe-
los garimpeiros, também
conhecida como "cobra furnan-
do"), obtendo-se um concentrado
da substância útil (ouro,
cassiterita, diamante) que fica
retida nas ripas transversais ao
comprimento da calha. Foto: J.
S. Bettencourt.

Fig. 21.11 Visão geral da garim-


pagem de ouro em Serra Pelada
(PA), no decorrer de 1982. Foto:
E. Ribeiro Filho.
Para muitos bens minerais, ne)tadame11tc aqueles
de baixe) valor unitário (usualmente nãe)-mctálicos), a
le)calização geográfica de) recurse) constitui um
parâmetrc) crítico à vista de sua lavra. Uma das
caraterísticas inerentes de) depósito mineral, tal cc>mo
\·im()S, é que "ele está e)ndc ele c>ce)rrc" , C)u seja, não
poden1e)s alterar sua le)calização ce)m e) intuito de
melhc)r lavrá-lo, da mesma maneira e1ue um fazendei-
ro muda C) lc>cal de pastagem de seu gado ou ele cultivo
de suas plantaçc"'>es a fim de obter uma melhor prc)du-
tividade.

A irregularidade na distribuiçãc) gee)gráfica de)s rc-


. . . .~ . , .
cursc)S m1ncra1s, seia cm regte)es 1nosp1tas,
climaticamente agressivas e)u deficientes cm água e
energia elétrica, ce)nstitui um fator limitante para a ex-
traçãe) ele muitc)s minérie)S e)u, mcsmc) antes, para sua
descoberta. Da mesma forma, a instalaçãc) das ativi-
dades de lavra ou o custo de transp()rte (frete) da
substância útil, entre outras implicações, pode ser críti-
ca para viabilizar a lavra de um recurso mineral distante
elos centre)s industriais e/ ou de consume).

Ae) mesmo tempo, fatores técnice)s e econômicos


elevem ser considerade)s quanto ao aproveitamentc) de
um recurse) mineral. Eles podem viabilizar a utilização
Fig. 21.12 Escavações por meio de trabalho manual rudimen- de substâncias minerais até então marginalizadas dc\'i-
tar, utilizando-se ferramentas simples no garimpo de ouro de Serra do a características inadequadas de teor, compe)sição
Pelada (PA), no decorrer de 1982. Foto: E. Ribeiro Filho. mineral ou química, assim como co11dicionar a extra-
ção ele) minério em funçãe) de preçe), mercado, demanda
e e)fcrta.
que incluem desde suas feições intrínsecas até e)s prc-
ÇC)S e me)de)s de aplicação de suas substâncias úteis. ;\ l)csigna-se minério bruto e) minério tal ce)me) ocor-
análise elcsscs fatores é e1ue indicará se a substância re na natureza, pe)rém, dcsmontaelo, deslc)cade), por
mineralizada pode ser lavrada e gerar produte)s co- uma c)peraçãe) qualquer de la\·ra. Na maie)ria dc>s ca-
merciais economicamente rentáveis. Assim, a quantidade sos, e> minérie) bruto não se encontra suficientemente
da substância útil deve ser expressiva o bastante para puro ou adequade) para que seja submetido a pre)ces-
garantir a lavra e suprimente) adequado a longo prazo, sos metalúrgicos ou para sua utilizaçãc) industrial. ,-\ssim,
assim como o teor e-la substância útil deve proporcic)- após a la,·ra, e)s minérios são submetide)S a um con-
nar uma extração lucrativa. junto de pre)cessos industriais, denc)minado
tratamento; benefi.ciamcnto, que e>s torna aptos para a
Além disse), a cc)mposição química, as feições
utilizacãe>.
mineralógicas e as características físicas do minérie) .•

devem ser favoráveis às aplicações antevistas para a () tratamento divide o minério bruto em duas fra-
se)ciedadc. Assim, os minérios de ferro devem ter bai- ções: concentradc) e rejeito. O concentrado é C) produto
xos conteúdos cm fósforo e a bauxita deve ser pobre em que a substância útil está com teor mais elevado
em sílica; pirita, apesar de ser e) mais comum dc)s ou as qualidades tecnológicas do minéric) estão apri-
sulfetc)s, não é mineral de minério de ferro, que é ob- moradas. O rejeito é a fração constituída quase que
tide) em larga escala a partir de seus e)xidos cc)mo cxclusi,·amente pelos minerais de ganga e usualmente
hematita e magnetita, bem come) quartzitos friáveis é descartado. Assim, por meio de métodos adequa-
por intemperismo podem constituir excelentes fontes dos de tratamento, um minério de berílio a 10% de
de areias quartzosas, em c)posição ao quartzito com- beri!c) poderá produzir um concentrado composto
pacto, não intemperizado. dominantemente (80 a 90%) pele) mineral bcrilo; de)
mestnc) modc), um minério ele ferr<) ele altc) tcc>r, na- dc>s 11ãei-n1etáliceis sãci dcfiniclas ncitaelan1ente em fun-
turalmente friá,-cl, pciclerá ser trataclcJ por simples çà<> ele> us<J ela substância mineral. J\lguns minerais sãci
lavagem, segLiida por classificaçãci grant1le)métrica, prci- ccilc)cac!c)s em mais de uma classe cm virtude ele te-
duzinclei, cc)mo ccJncentraclos, seus diferentes tipeis rcm eluas eJu mais utilizações distintas, ce>mei creimita
ceimerc1a1s. n1eralúrgica e crc)mita refratária CJLt chamante inclustrial

"para fa\Jricaçà<) de ferramentas de ce>rte) e cliamante
(~erte)s minéric>s de eiure>, metais básicc)s, urânici,
c<in1ci pcclra precic,sa. As qualificaç<'ícs para as clife-
platina, feisfatei, grafita e tantalita, em virtude de parti-
rcntcs aplicaçeJes ele uma substância mineral pc1clem
ctilar ce)tnposiçãci mineral e>u !)aixcis tecires, cxigcn1
ser in1peistas pelas características naturais ele) minéricJ
méteiclcis ele tratamente) mais seifisticadc>s, às vezes de
< >u clalJ<Jraclas pcir métcielos 11re'ipric1s ele tratament<J.
altc) CL1stei, tais come) c1uímicc>s e elétriceJs, para prepa-
rar a substância útil cc1m vista a Stta Lttilizacão inclustrial.
'

()s usos e aplicaçeJes elas substâncias minerais per-


21.2 Os Principais Tipos Genéticos
mitem avaliar sua impcirtância para a humanidacle e, de Depósitos Minerais - feições
. . . ~

• •
ae> mesme) tempo, ccJnstttL1en1 um cr1ter1e> para essenc1a1s
classificá-las. i\ classificação utilitária é uma pr<ipcista
clássica de sistemati?:açãc) das substâncias minerais úteis, Tipci genético de depe'isitei mineral ceirrespeinde a
ft1nclamentacla nas suas aplicaçcJes (fal)ela 21.3). grupos ele depcisitos que tiveram um modo ele for-
maçãci scmelh:inte. (~orno os clepósitos minerais
()s metais fcrros<1s distinguem-se cleis n1etais nã<J-
resultam ela ação de prcicesseis geeilcigiceis comuns, tal
ferrciscis por st1a utilização essencial na inclústria ele>
comei cc>mentado anterieirmente, cJ processo gcoló-
açei e na fabricaçãei elas demais fcrrc)ligas. t\s classes
gicci dcJminante na geração dei depcisiteJ ceinfere-lhe
sua classificaçãc) genética.

Tabela 21.3 Classificação utilitária simplificada das substâncias minerais: alguns exemplos

Metálicos

Ferrosos ferroligas ferro, manganês, cromo, molibdênio,


níquel, cobalto, wolfrâmio, vanádio

Não-ferrosos básicos cobre, chumbo, zinco, estanho

leves alumínio, magnésio, titânio, berílio

preciosos ouro, prata, platina

raros berílio, césio, lítio, etc.

Não-metálicos

materiais de construção areia, cascalho, rochas industriais, brita

materiais para indústria química enxofre, fluorita, sais, pirita, cromita

fertilizantes fosfatos, potássio, nitrato

cimento calcário, argila, gipsita


A
ceram1ca argilas, feldspato, sílica

refratá rios cromita, magnesita, argilas, sílica


'
abrasivos córindon, diamante, granada, quartzito

isolantes amianto, mica

fundentes carbonatos, fluorita

pigmentos barita, ocre, titânio

gemas diamante, rubi, turmalina


Supérgeno pr< >ce,,<is intempériccis sãci mais intcnscis. c:cin10 tal, sãcJ
ccJn1uns e impcirtantes cccJno1nica1nente nci Brasil, cJndc <JS
Inclui um grupo de depósit()S cuja geração se rela-
climas cquatcirial e trcJpical favcireccm sua formaçã<>.
cic)na às alterações físicas e químicas sofrid_as pelas
rochas submetidas ao intemperism<J. A gcraçã<) eles- () alun1ínio cm depc'isitcJs de bauxita (Cap. 8), é um
ses depósitos depende em primeira instância da elos bens minerais ci]Jticlc>s a partir de depósitc>s deste
existência prévia de uma rocha adequada, designada rip<> ~enéticc). ,\lém cleste, tan1bém sãci ccinhccidc>s
de rocha inalteraela, parental <)u rocha-mãe, sobre a depc.>sitc>s supérgenos significativcis de manganês, ní-
qual agirá a alteração supérgena. De ac(irdo com seu quel. fcisfatcls, urânici, caulim, areia qL1artzosa, etc.
cc)mportament<J gec)químico supérgen<) (C:ap. 8), al- \'c>lu111ciscJs depósitc>s ele ccibre viabilizaram-se cccincJ-
. . . ,

guns constituintes da rcicha-mãe sã(i imobilizadc)s no m1ca1nente graças aci enr1quec1mcntci supergeno atuante
manto de intemperismo enquanto outros sãc) elimina- sc>l1re SL1as mineralizações disseminadas a l1aixcJ tec>r,
dcis. Concentra-se ao final do procesS() um resíduci tal C<Jn1cJ nos depc'isitcis de cobre pcirfirítico, ccJm 1nui-
químico constituíe-lo essencialmente por substâncias tcJs excn1plc)s na caeleia andina.
pouc<) S<Jlúveis nas condiçc°íes de intemperismo, dc>n-
cle serem também designados depc)sitos residuais Sedimentar
(Fig. 21.13). Quimicamente, as substâncias mineralizaelas
Delis grandes grL1pos c-le elepósitos minerais
se apresentam principalmente na f()rma de <)xiânions,
seclimentares sã<> diferenciaelos: os cletríticcJs, taml1ém
tais como silicatcis, fosfatos e carbonatos e, também,
conhecielos com<J plácer, e os químiccJs. Esses e-lepó-
C<Jmo óxidos e hidróxidos.
sitcis decorrem, tal come> uma rcicha sedimentar (Cap.
Clima, vegetação, relevo e drenagem igualmente in- 14), dei transporte de substâncias úteis pelos agentes
fluem na formação do depósito supérgeno, governanelo geolc)gicos superficiais e da sul1scqüente elepc>sição
a alteração química dc)s minerais ela rocha-mãe, retendo mecânica (depcisitcJs sedimentares eletríticos) ciu da pre-
a fase química insolúvel ou promovendcJ a eliminaçãci cipitaçãc) química (dep(>sit<JS sedimentares l]Ltímicos)
da fase solúvel. Sendo geradcJs no manto de das substâncias transportadas em lagcis, deltas, linhas
intemperismo, portanto próximos da superfície, podem de praia, planícies aluvicJnares, platafcirma cc)ntinental,
ser facilmente erodidos. Por isso a maior parte dos de- etc. (Fig. 21.13). Daí podermos também qL1alificar CJS
pó si tc) s conhecidos e lavradcis desta classe é elepc'isitc>s minerais sedimentares ele accJrdcJ cc)m <) am-
relativamente jovem (pós-Mesozóic<J) e com maior fre- l1ientc de depc)siçãci, por exemplei, lagunares, e-leltaicos,
qüência cJcorrcm na regiãcJ intertrc)pical, onde cJs marinhc)s, alu,•ic)narcs, etc.

depósitos minerais exógenos - - - - - - - - - - - - - - - - - - M

a.1o1--- depósitos supérgenos _ ___. depósitos sedimentares

intemperismo
transporte de material sedimentação
depósitos detrítico ou em solução
manto de residuais e eluviais
intemperismo depósitos d l)Ó ~ sedimentares
sedimentares detríticos · bioquímicos

Fíg. 21.13 Alguns tipos de depósitos minerais exógenos (formados junto à SL>perfície rerresrre), dependentes do intemperismo e da
sedimentação. Os depósitos supérgenos freqüentemente se limitam ao manto do intemoerismo sobre o rocha-mãe. Os depósitos
sedimentares envolvem também um transporte da substância útil, seguido de deposição mecânico do fração sólida (depósitos
detríticos) ou precipitação química do fração solúvel (depósitos químicos/bioquímicos _
458 DECIFRANDO A IERRA

Representam um 6rrupci eccinomicamente impcirtan- pc)ucc1 scilúveis na fusão e se6rregam-se ccJmo minerais
te e diversificadci e{e substâncias qt1e incluem ferrcJ, (pcJr exemplo, cromita) ou mesmc) cc)mo fases ainda
manganês, metais básicc)s, rcichas carl)cináticas, evapc)ritos, fundidas imiscíveis (pcir cxempkl, sulfetcJs ele ferrei e ní-
ouro, fcisfatci, gipsita, cassiterita, etc. Podem também ser qt1el). Essas fases, no deccirrer da ccJnsolidação, pod_em
incluídos os chamaelos combustíveis fc'isseis (petrólcc), car- se ccJncentrar gerando pclrçc>es ele rocha magmática
vão, gás natural), gerados em ambientes seelimentares. enriquecidas que pelden1 ser sul1stâncias t'.1teis (l'ig. 21.14).
Esse prcicesscJ de geração ele elepélsitcJs minerais é cha-
()s mecanismcJs envolvidcis na acumulação das subs-
n1adcJ de segregação magmática. Dessa forma, t1m
tâncias úteis na seqüência sedimentar sãc) bast.'lnte distintos.
n1inérieJ cirtomagrnáticci é a prc'ipria rcicha í6rnea, asse-
Nos pláceres, cinde se concentram minerais usualmente
melhandcJ-sc a ela etn sua textura e estrutura, porém com
ele dureza e densielaele elevadas, variaçc>es na capacidade
uma compcisiçãei mineral especial e1ue lhe confere t1m
de transpcirte do meio aqucisci pcielem condicicinar a de-
valcJr eccinêimiccJ. São importantes c)s depc'isitcis asscicia-
posiçãcJ elo material que está sendo transpcirtaelci em
clc1s a rcichas básicas e ultralJásicas (crcJmita, metais elc1
suspensão ou pcJr arrastei. Nos pláceres aluvicinares, pc1r
grupcl da platina, níquel, ccJbaltei), rcichas alcalinas (ele-
exemplei, a deposiçãci pode ser ccJnseqüência ela dimi-
mentcis de terras raras, zirctinici, urânici), carlJonatito
nuição da velcicidade da ágt1a do rio. Assim, partículas
(fc1sfato, nic'ibio, elementcis de terras raras, \Jarita), e rci-
fmas de minerais bastante elensos, como cassiterita, pei-
chas granitóieles (estanhe), wcilfrâmici).
dem estar disseminaelas na fração sedimentar de
6rranulação maior e menos densa, come) em areias 6rrcis- As mineralizações tardi- a pc'is-magrnáticas ocorrem
sas ciu em cascalhos. l\1ecanismos de natureza qt1ímica elt1rante as fases terminais ele cristalização de rochas
mais complexa, freqüentemente interagindo com a ativi-
1;1;,, - --- ol1v1na
dade biolc'igica, governam a eleposição de substâncias
--- cromita
previamente elissolvidas na fase aqucisa de um am\Jiente · - -•- -_-. • ,_,___ magma
sedimentar. Condições reelutoras ou oxidantes e ácidas
ou básicas reinantes num sítio deposicional podem, ccJn-
forme cJ caso, acarretar a inscilubilidade de espécies químicas base da câmara
disscJlvidas e cone1icionar a depc)sição de metais na forma magmática
de sulfetos, carbonatcis, hidróxidos, sulfatos, ckiretcJs, etc.
Fig. 21.14 Separação e deposição de cromito dentro de uma
Os depc'isitcJs sedimentares, tantcJ eletríticos comcJ quí- câmara magmático. A baixo viscosidade do magma básico ou

miccis, costumeiramente se alojam em hcJrizcintes ultra básico, submetido o temperaturas elevados (-1 .200º C),
permite o atuação de um movimento convectivo. Variações su-
rocheJsos particulares da seqüência sedimentar hclspedei-
cessivos no intensidade do fluxo convectivo conduz à deposição
ra, os quais poelem corresponder a algum tipo de contrc)le
alternado de camadas ricos em cromito e camadas ricos em
sedimentar, litolc'igico ou estratigráfico. f'eições elcJ ambi-
olivino formando assim depósitos estratiformes de cromito. Me-
ente depcisicional associadas à paleogeo6rrafia e palecJclima canismos semelhantes podem também conduzir à segregação
podem igualmente influir na geração desses elepélsitos. e concentração de fases magmáticos imiscíveis ricos em sulfetos
(Fe, Ni, Cu) ou óxidos (Fe, Ti).

Magmático
ma6rmáticas, em especial aquelas de natt1reza granítica.
()s depósitos malc,,>máticos são geradcis pela cristaliza- Uma fração fundiela residual deceirrente da consolida-
ção de magmas (Cap. 16). Aqueles formados çãei do magma é enriquecida em veiláteis, principalmente
concomitanteme11te à fase principal da cristalização sãei água, o que lhe cc)nfere bastante fluiclez. Dadas as condi-
denc)minados depósitos ortomagmáticos ou sinmagrná- ções de pressãci e temperatura a que está submetida, peide
ticcJs. Ceimumente hospedam-se em rochas ricas em migrar para regic:íes apicais das cúpulas graníticas ou para
olivina e pircixênio (tais como dunito, peridotito, gabro). suas encaixantes próximas, gerando produtos rochciscis
Os depc'isitos gerados na fase fmal da cristalização são e minérios bastante clistintc)s do granitóiele-fonte (Fig.
ccinhccidos como depósitos tardi- e pc'>s-magrnáticos. 21.15). À medida que se movimenta, este fluidcJ tam-
()correm freqüentemente em rcichas enriquecidas em bém promci,,e transformaçc>es químico-mineralc'i6ricas nas
quartzo e feldspatos (tais comei granito e granodicirito). rochas percc)laelas. i\ deposição dos metais comumente
Durante a cristalização do magma, devido à queda mcistra um zc)neamento, ou seja, elas regiões all1itizadas
da temperatura, alguns dos seus constituintes teirnam-se
CAPÍTULO 21 • RECURSOS MINERAIS 459 •, .1
' f ;


e

. '
m1ner10
.
disseminado minério maciço
(Fe,Cu) (Fe ,Pb,Zn,Ag)

I I
I ✓
I /J' água 1narinha
1 ,
..... ~'.k f,
1
,",.
'//~-•'
U) ~ /
o.>! rocha permeável
Brochas encaixantes ~ fluxo do fluido aquoso
~j.-------------------------------------------
2.l.:l ·· • . · · rocha menos
rocha granítica ~ permeável

Mineralizações
gre,sens
albititos a
- esca rn itos
peg matitos
- depósitos em veios
•"'fntF "
Fig. 21.15 Diagrama esquemático resumindo os principais '1 ' "U!J< ';,'

tipos de depósitos minerais tardi e pós-magmáticos. fontes termo is ,


rochas 1
reg1ona1s
'"' 1 1
até <)S veios hic1rc>termais, p<)clem cc)ncentrar-se sucessi-
vamente Sn, Mo, Be, W, Bi, Zn, J)lJ, Ag.

A partir dessa fase mab:rmática residual e fluida, come)


também de sua interação cc)m a rc)cha já cristalizacia <Ju
C<)m suas encaixantes, p<)cierãcJ surgir mineralizaçc"Ses
geoquimicamente especializadas, tais cc,mo pegmatit<)S,
all,ititcis, escarnitcJs, .~reisens e clepc')sitcis hicircitermais de
filiaçãc) magmática. A diversificaçãci e varieelade
mineralógicas nesses depc'isitc)s sãc> nc>táveis e incluem b
bens minerais, entre <)utr<)S, ele metais rarc,s, tlucJrita, mica,
feldspatc), quartzo, sulfetc)S e Sltlfossais de \·áricis metais e,
ambiente metamórfico ambiente sedimentar
praticamente, t<)e!as as pedras p•·ecÍ<Jsas. (veios auríferos em (depósitos Pb - Zn
zonas de cisalhamento) em carbonatos)

Hidrotermal

Depé)sitc)s hidrc)termais sãc) prc)duzidos pelas scilu-


çc°Jes hidrotermais. f'.stas, de um moclo simples, p<)ciem
ser entendidas como sc)luçc"Ses aquc)sas aquecidas (usu-
e
almente acima de SO"C), caracterizadas por compc)siçãci
química complexa clacla p<)r cliversas substâncias dis- Fig. 21.16 tsqJe"las ilustrativos de situações geológicas onde
sc)!vidas. Essas soluções ou íluidc)s podem ser geradc)s poce"" ocorrer ceoósitos minerais hidrotermais, por percolaçõo
em diversos sistemas gec)lc'igicc>s, dcinde a fase aquosa e ae ;i~,cos ra :::ros·a oceânica (a) ou continental (b, c). De início,

seus solut<)S terem fc)ntes eli\'ersas, tais cc)mC) magmática, a égJc rerr uma circulação descendente, difusa, envolvendo
grandes vo•umes de rocha. Ocorre a lixiviação de metais trans-
metamc'irfica, meteórica de circulação crusta! profun-
por·ccos corT'o solutos. A circulação ascendente ocorre
da, sedimentar, entre <>utras (Fig. 21.16). Nestes diferentes
usL,clrren•e ae forma canalizada ao longo de fraturas, falhas,
ambientes gec)l(igicc)s, a água pc)de ser pr<)h>ressivamente
planos ae o:::or,,amento ou de foliação, onde também pode ocor-
aquecida e reagir quimicamente ccim c>s minerais e ro- rer o precioi·ação das substâncias transportadas. A situação (a)
chas percc)lados, transformando-se então numa pode es•ar associada ao vulcanismo intermediário e félsico em
soluçãc)/ íluidci mineralizadc)r. ,\ cieposição das su!Js- zonas ce s~:)Q'J:::ção; a situação (b) pode ser encontrada em
tâncias transportadas e a geraçãci de) minéric) decc)rrerãc), zonas ce r;,s continentais, e os exemplos da situação (c) em
conforme <) casei, da inter\·ençã<) combinacla de fat<)- seqüências seaimentares de margens continentais passivas e em
res, tais cc>mo resfriamento e quecla de pressãc) ela cinturões metamórficos ao longo de zonas de colisão de placas.
------"··

460 DECIFRANDO A TERRA

se)luçãc), reaçe"ies com as rochas percoladas, variação de mineralizando-se e retornando ao assoalho oceânico
pH, Eh, cc)ncentraçãci de oxigênie), etc. como uma salmoura hidrotermal. A percolação descen-
'falvez seja e) prc)cesso d.e mineralização mais comwn c.lente e ascendente da água configura um sistema
atuante na creista terrestre, ilustradc) por depc\sitos mine- hidrotermal no qual a água perccilante, inicialmente de
rais p<)rtadores ele quase todcis os elementos qLúmiccis natureza marinha, sofre modificações físicas e químicas,
de cicorrência natural. Morfcilei1:,ricamentc, os depósiteis t()rnando-se cm diferentes graus mais ácida, mais reduzi-
hidrcitcrmais poe-lem se apresentar comei veios c)u ftlões, da, enriquecida em solutos e, evidentemente, quente. A
onde os minerais úteis preenchem, pcir exemplo, fratu- insrabilização química dessas soluções, em níveis mais
ras ciu falhas na forma de corpe)s de minério tabulares, raseis do assoalhei <)ceânico e)u sobre o próprio assoalho
ciu ainda come) depósitos disseminados. Nestes últimc>s, ()ccânico, ce)nduz à precipitação dos metais carreados em
a mineralizaçãc> envolve um maior volume de rocha, prc- solução, junto à atividade vulcânica e ao processo
enchcnclci fraturas delgaelas eiu substituindo minerais ela sedimentar (Fig. 21.16a). A descarga do fluido sobre o
reJcha hospee-leira, ccimo carbeJnatos. l)m deis exemplos asscialho oceânico poc.lc levar à construção de estruturas
ccimL1ns sãeJ os elepósiteis de ciureJ hcispedados cm zci- ctn fcirma de chaminé (tais comei eJs hlack s111okers e 2vhite
nas de cisalhamentei, onelc íluidei e solutei peidem ter stnokers), C<Jnstituídas de substâncias químicas (sulfatcJS e
cJrigetn no metamcirfismo ela seqüência rochosa heispc- sulfetcis) precipitadas em contato com a água do mar
cleira das mincralizaçc"ics. (Cap. 17).

()s clepéJsiteis hie-lrcitcrmais ccinstituc1n uma elas mais b:ssas mineralizações nãci são somente visualizadas nas
impeirtantes fc>ntes ceJmerciais de 1netais, que se expres- atuais !Jorc.-las de placas c.livergentcs. F,xemplos dessas
sam ccJmLtmcntc na forma de sulfetc)s, tais cc>mo c>s ele mineralizaçe)cs sãci conhecid<JS desde cJ Arqueano. Os
ferrei (pirita), zinc<1 (esfalerita), co!Jre (calcopirita), chum- principais depósitos são de metais básicos (tais comei
bei (v;alena), prata (argentita), mercúrio (cinábrio) e arsênici cobre, zinco, chumbe)), níquel e eiuro, correspc)ndendo a
(realgar, arscn<ipirita). C)ccJrrem com freqüência cm imp<Jrtante parcela e.los recurseJs mundiais desses bens
. .
m1nera1s.
cintur<3es cJrcigênicc)s c)nde o aqL1ecimcntci dc)s flLticlc)s,
aliad.e) à geração de fciçe"ies cstrLtturais (falhas, !Jrechas,
faixas cisalhadas, foliaçã<>, etc.), e1uc ser,,irãeJ ele c<inclutc>s Metamórfico
para a circulação elas sc1luç<"ies, facilitam a interaçãc> tlui-
elo-rcicha. J\ci leingci elcssas estruturas peidcrá cic<1rrer ()s depc'isitos mctamc'irfic<JS mais evidentes decor-
tambén1 a prccipitaçãei dos seJlL1tos. Daí muitcJs elcpósi- rem da recristalizaçãc) ele rochas ou minéricJs
tcis hie-lrcitern1ais apresentarem um ccJntrolc estrutural pré-existentes por ação da pressão e temperatura. Entre
e,,ielcnte na e-lepcisiçãei e localização de seus minéricJs. as transfeirmaçe"ies impostas, o aumento da granulação
e cristalinidade das fases minerais iniciais comumentc
C()nfcre ae) minério melhor qualidade para sua utiliza-
Vulcano-Sedimentar
ção, a exemplo dcis mármores e grafita, também
A ati,cidadc vulcânica que se instala conccimitantemcntc designadcis dcpc'Jsitos mctameirfizadcJs. C) mármore é
ao preiccss<) seelimentar, p<)r meÍ<) de seus fluie-lcis e exa- <J ee1uivalente metamórfico de reJchas sedimentares
laçc'ics que atingem <) assc>alhei elo sítici elcposicieinal calcárias e a grafita, c.lc sedimenteis carboncisos.
LlSL1almcnte marinhei, p<Jde gerar os elepósitcis vulcanci- (_)s íluidcis metamórt1ce)s, gerados em condições de
seelin1entarcs. temperatura e prcssãc) elevadas (Cap. 18), pcldcm conter
:b~sse processei de mineralizaçãcJ poclc ser atualmente substâncias passí,-eis de serem precipitadas em respc1sta
cibscrvac-lci junto acis sistemas ele riftr das dorsais mesei- a muc-lanças qtúmicas, físicas, gee)mecânicas ou devidas a
cJceânicas. Equipamentos e ,-eíct1lc)s submergíveis, reações com as rochas percc)ladas. A deposição occ)rre
, .
prciprtos para atuar etn granc-les profundidades, pude- clurante a perc<1laçãci desses fluidcis através de rochas
ram re1:,ristrar e filmar a ati,,iclacle vulcânica cxalativa nessas mais permeáveis eJu de estruturas tectônicas favciráveis
clc)rsais, betn ccitnci amcistrar materiais já mineralizad<JS ceimo feiliações, planeis de falha ou zonas de cisalhamento
'
de uma jazida em formaçã<) a partir e-la precipitação clessas concluzindei à fcirmaçãcJ de c.lepc'isiteJs hidrotermais de
scilt1ções (Caps. 13 e 17), C<)nstituídas pela prc'>pria á1-,,ua filiaçãci metamórfica.
dei mar qttc, infiltrane-lci-sc prc>fundamentc na crc)sta c;cc- 1\ maic>ria dos clepéisitos dessa classe origina-se da
. . .
an1ca, aquece-se e interage quimicamente com suas rcJchas, açãci ele e,,entos regicinais usualmente progressivcis.
Durante esses eve11tc>s, pele> 111cnc>s parte das sLtl1stán- 1111ner:us Tºig. 21.17). 1\s margens de placas tectônicas de
cias mi n eralizaclas é transpc>rtaela pc1r tl LliLlrJ, n1ai, ,r ir1teresse metalogenéticci sàcJ as ccinvergentes, eli-
de,,cilatilizadc1s ccinccimitantes ac> meta111eirfisme> e ,·erge11tes e as n1argens passivas, cc>nfcirme exemplificaelc>
interatuantes ccim as rc>chas percciladas. \lineralizaceJes na 1·al1ch1 1 1.4.
de ouro, freqüentemente na fe1rn1a de filcJes, sàci al-
() impacte> e-la tect{inica global na geologia eccinômi-
guns elos exempleJs elesse processe> genéticci
ca pe Jssibilita entenelcrmos melhe>r ci aml1iente tectônico,
cc1nstituinelc> c1s ,,alic1scis Iodes auríferos (fºig. 21.1 Cíc).
as asscJciacr"ies litcJl(Jgicas e a metalcip;ênese ccirrelata ncJ
Além do metamcirfismc> rehricinal, o de ceintatc1 pclde an1l)iente ela e, eiluçãcJ ccintincntal, Cl c1ue, pcir sL1a vez,
feirmar dep(JsitcJs específiccJs, elitcJs clep(isitcJs facilita a clabciraçàcJ de rnclelelcls e prcigramas
metassc>máticcis ele ccJntatcJ CJLl escarniteis, c1ue se asscJci- expkirat(Jricis clirigiclcis à proct1ra e desccJberta de 11ovc1s
. .
a111 à zcina c-le ce111tatci entre intrL1se'íes 111ag111àticas, recurscJs nunera1s.
usualmente de natureza granítica, e see1üências rcJcl1eJsas
;\ maicir parte elos exempleis de dep(isitcis 111inerais
carbcinatadas. l\linerais nee1fcirmadcis tais ccimci de
fanerciz(iiccis (C~ap. 15) mc>stra uma clara relação espacial
wcilfrâmici, ferre\ ciuro, ccibre, wcillastcinita, gra11ada, etc.
e genética ccirn a tectê>nica glcJl1al, a qt1al, pcir mcici ele
pcldem se tcJrnar enriqL1ecielc>s elentrci ela aL1récila ele ccJn-
seus 111ecanismcis e prcJcesscJs, atucJu ele têirma mais e,·i-
tatci ccim a rcicl1a encaixante.
dente até hcije ccJnhecicla e registracla. l~la é ccinsieleraela
a causa maicJr, evidentemente nàcJ exclt1siva, da prcJ!ifera-
21.3 Tectônica Global e Depósitos çãcJ abunelante e variacla ele elep{>sitcis minerais elurante
Minerais cJ l~a11erc11,{iiccJ.

VárieJs tipcis ele elep{isitcJs prciterci7Óicos, c1u mesmc>


Ceimo já saben1cis, a superfície ela Terra é ccJ11stituícla
arc1ueancis, vêm sendc1 também interpretados à lLiz ele
pc1r um númerci finiteJ de placas ciceânicas e ceH1tinentais
mecanismcis semell1antes à tect{inica glcJbal, atl1antes nessas
c1t1e se mc>vem a taxas da cJrelem ele alguns ccntín1etreis
épcicas mais antigas. lintre eles, pcielem ser citaclc>s: feir-
pc>r ano ((~ap. Cí). ()s processeis tect{JniccJs, 111agmáticeJs,
maçc"íes ferríferas paleciprciterclzc'iicas (pcirtaelciras deis
termais e seelimentares que se instalan1 acJ lcJngc> elcJs li-
impclrta11tes clep(Jsitcis ele 111inéricJ ele ferre1 chi CJuaclrilá-
n1ites de placas 11c>ele111 ccineluzir à geraçàci de clep(isitos

Zona Zona de Zona de Zona de


continental •
convergenc1a•
separac;ao - •
convergenc1a•
sedimentos de placas de placas de placas
fossa crosta oceânica
oçeano
''

rifts arco bacia de assoalho !' ao,sol... • l' , bacio de arco


magmático , ante-arco i
A

ocean1co :' meso-oceon1co,


' ..
••
:' ante-arco .'

de ilha
estanho depósitos chumbo, l nódulos depósitos de i '
l pló-e.es , depósitos de
. l
nióbio porfiríticos de zinco, plurimetálicos , sulfetos moci9os l i auríferos • sulfetos maciços


uran10 cobre, cobre (Fe,Mn,Ni,Co) ! (C u,Zn,pirila) i • (Cu,Zn,Pb,Ag,Au)
ca rbo natito molibdênio; i depósitos de f '
!
kimberlito depósitos de !
i seg rega-J.-..
'
i
•j
:'
''
'
depósitos metassomatismo i' rniitwn
mogn,óliw
sedimentares e de contato !' (eremita
.i;
sedimentar- (Cu,Fe,W,Au); podiformet
. '
exalativos veios •'
'
(Pb,Zn,Cu) hid roterma is

Fig. 21.17 Exemplos de depósitos minerais freqüentemente associooos o ombien·es do tectônica global.
462 DECIFRANDO A 'l'ERRA

Tabela 21.4 Tipos de margens tectônicas e mineralizações associadas

'
area ' .
ocean1ca mineralizações de sulfetos nas cadeias meso-oceânicas atuais: exalações na dorsal
do oceano Pacífico, lama metalífero do mor Vermelho
mineralizações em ofiolitos: sulfetos vulcanogênicos de Cu - Zn (Canadá)
e cromita (Turquia)

nódulos polimetálicos (Fe, Mn, Ni, Cu) no assoalho oceânico


área continental depósitos de Ni e Cu em lavas basálticas (Rússia)

mineralizações em rochas magmáticas associadas a rift continental: granitos


estaníferos (Brasil), carbonatitos com Nb, apatita e elementos de terras raras (Brasil)
Margens Convergentes
com subducção depósitos de sulfetos polimetálicos (Cu, Pb, Zn) vulcanogênicos (Japão)
mineralizações de Cu porfiríticas (Chile e outros países ao longo dos Andes)
depósitos hidrotermais de Sn, W, Bi, Pb, Zn, Ag (Bolívia, Peru)
com colisão mineralizações a metais raros (Sn, W): Província estanífera do sudeste asiático
(Malásia, Indonésia, Tailândia)
depósitos de Pb - Zn em rochas carbonáticas: EUA
Margens Passivas
petróleo, gás natural, evaporitos, fosfato: bacias marginais brasileiras (Sergipe-
Alagoas, Recôncavo-Tucano, Campos)

tcro Fcrrífero cm Minas Gerais), mineralizações de Sn mento dei corpci de minério, até a determinação de seu
mesc)prcltcrc)zc'Jicas (Província Estanífcra ele Rclnclê)nia), aprcJveitamentcJ eccJnômico. Ela é, em si, um negócicl de
,
minérios (Cr, Ni, Cu, platin{Jieles) em cc)mplexc>s altci riscci mas de retorno atraente. f: um excrcícicl de
máficcls / ultramáficcls arqueanc)s cJu palec>proterc>zc'iicos criatividade intelectual e científica, cnvc)lvendo geração
'
(Africa de> Sul, C:anadá), sulfetcls ele Zn, Cu, Ni cm se- ele idéias e teste cc)ntínuo elas mesmas. A pesquisa mine-
qüências vulcancl-sedimentares arqueanas (C:anadá, ral é a primeira fase de) processo ele suprimente) de
Austrália). matérias-primas minerais. F;:ste prc)cessci é dinâmico, pciis
a demanda estimula a pesquisa mineral e, aci mcsmci tem-
pc), a busca ele alternativas de suprimento.
21.4 Descobrindo Novos Depósitos
Minerais 1\té a década de 1950, a pesquisa mineral resumia-se
basicamente ao exame ele indícios minerais, em que o
Devido à grande produção de minérios, as reservas prospectcir era a fi 6rura central. Atualmente, os esforçc>s
minerais mundiais conhecidas estàcl sendc> exauridas, sãcJ diri6rielos e baseaclos em uma análise re6ric>nal mais
podendo ncl futuro tcirnar-se escasscis eis dcpc'lsitos cc)m ampla, na qual os programas ele pesquisa mineral consti-
ccincentraçc1es eccinômicas de elcmentcis ou substâncias tuem operações sincronizadas ciu neg{icios de
minerais úteis. Dessa forma, dcsccibrir novcis depc'lsitcJs cJrganizações, e nãcJ ações individuais, envolvendci a aná-
minerais si6rnifica acima de tuelo asse6rurar o suprimente) lise de áreas e alvc)s tàvc1rávcis à existência de minéric)s.
ele metais e insumc1s minerais nãc1-mctálicos para benefí-
NcJ Brasil, nas últimas décadas, muitci pcJuco se fez
cio geral da humaniclade e também prciporcicinar meios
em relação à pesquisa mineral, embora, recentemente,
para estabelecer nclvas minas, vilas mineiras, cidacles e '
ncJvas áreas estejam sendo pesquisadas para ouro, dia-
ativielades comerciais inerentes.
mante, platinc'iidcs, rcichas e minerais industriais. Ncivas
() e1ue é a pesquisa mineral? Significa a cxecuçãci técnicas de pesquisa sãc) aplicaelas para avaliar cJ pcitencial
de uma seqüência contínua de atividades, quandcJ ncivos mineral principalmente cm áreas mais favciráveis à occ)r-
clepósitcis e rccL1rsos minerais são descclbertc)S. F,ssas ati- rência de ncivos depósitos minerais.
vidaclcs vãc) desde a prclcura de indícicis ele mineralização,
passanelo pelei estuelo lcicalizado elos mesmos, elclinea-
21.4.1 Os objetivos e as atividades na pesqui- Hc>ie faz-se uso intensivo deJ chamadcJ modeleJ de
sa mineral depe>sito mineral, que consiste em um arranje) sistemá-
tico de informações que descrevem cJs atributrJs
A desceJberta, caracterização e a\·aliaçãcJ de subs- essenciais de uma dada classe de depósito mineral. Am-
A • • • , • • • •

tanc1as m1nera1s ute1s existentes no interior cJu na biente geológico de fcJrmação, ambiente deposicional,
superfície da Terra constituem os objeti\-e)s essenci- idade do e\·entcJ geraclor e feições deJ clepósiteJ (tais
ais da pesquisa mineral. F~la procura descobrir ccJrpos ceJmci as referentes a mineralogia, ccJntroles da
minerais que peJssam ser colocadeJs em produçãeJ mineralizaçãeJ, assinaturas geoquímica e geeJfísica, tama-
lucrativa no meneJr intervalo de tempo possível, ao nho e teor de elementos ou substâncias úteis) são alguns
menor custo e, freqüentemente, em situação econé'Jmi- exemplos de atributos essenciais.
ca e tecnológica diferente da época em que a pesquisa
A utilização critericJsa do mcJdelo de depósito mine-
foi executada (geralmente alguns anos depois). () mo-
ral pcJde ccJnduzir ao reconhecimento, em uma nova área
delo econômico utilizadcJ na programação da
de pesquisa, de atributos semelhantes <Ju idênticos àque-
pesquisa vale naquela épcJca, naquela região e naque- les já descritos cm áreas onde sãcJ conhecidrJs eJu lavradcJs
le caso, podendeJ exigir refeJrmulaçãcJ e aclaptaçe"íes dep(Jsitos minerais. Assim, as neJvas desceJ]Jertas, mes-
à medida que o tempo passa. mo de ccJrpos nãeJ imediatamente receJnhecíveis juntei à
Qualquer preJgrama de pesquisa mineral segue uma superfície, deceJrrem da seleção de áreas eJnde a eJceJr-
seqüência lógica de atividades e é parte essencial de rência mineral eJu depósitcJ mineral resultaram de
um empreendimento mineiro (Tabela 21.5). () suces- levantamentos científicos e técnicos planejadcJs.
so caracteriza-se pclr um aumento crescente de
favorabilidade da área a pesquisar. O caráter prcJgres- 21.5 Panorama dos Recursos
siveJ e a reduçãcJ do tamanhcJ da área são características Minerais do Brasil
intrínsecas de um programa bem sucedideJ.
lJma visão geral seJbre a situaçãci reinante cm bens
Para direcionar a escolha de áreas de pesquisa e minerais de um país peJde ser avaliacla cJbservanc!eJ-se as
desccJberta de neJveJS depe'isitos minerais, eJ prcJspec- suas reservas minerais dispcJníveis e a produção realizada,
. , . . , .
tor usa métodeJs e técnicas que pcJssibilitam uma análise assim ccJmo o comercio extenor que mantem ccim 1m-
previsicJnal do sucesso cJu não deJ empreendimento. portadeJres e exportadores de !Jcns minerais.

Tabela 21.5 Etapas de uma seqüência de atividades de um empreendimento mineral

Etapas Objetivos

1 . Análise regional Seleção de áreas favoráveis à ocorrência de mineralizações de interesse; investigação do


conhecimento e de trabalhos eventualmente já realizados nas áreas selecionadas; procura de
indícios de mineralização; seleção de áreas prioritárias paro estudo de detalhe nos etapas
seguintes.

2. Levantamento regional Procurar alvos dentro dos áreas selecionados favoráveis à ocorrência de depósitos minerais.

3. Prospecção Investigar os indícios de mineralização superficiais e subsuperficiois; hierarquizar ou classificar


os indícios por ordem de prioridade poro posterior estudo de detalhe.

4. Avaliação de depósito Caracterizar o depósito mineral (formo, extensão, profundidade, quantidade dos substâncias
úteis, teores, etc.) para decisão se ele é ou não viável economicamente.

5. Lavra Estabelecer métodos de lavro e de beneficiamento, definir equipamentos poro essas atividades
e estudar o viabilidade econômico do empreendimento mineiro.

6. Controle e recuperação Coletor dados que permitam conciliar os trabalhos de mineração versus o proteção do meio
do meio ambiente ambiente, recuperando áreas já degradados por essas atividades.
Algumas das principais reservas minerais brasileiras As principais produções físicas (pre>dução expressa
estão relacionadas na Tabela 21.6, ordenadas confc)rme em termc>s de quantidacle) correspc>ndem, em boa parte,
suas participações percentuais (acima de 4c1/r1) na elisponi- a minérie)s com reservas igualmente impe>rtantes interna-
bilic1ade mundial ela matéria-prima mineral. cie)nalmente. Alguns depe'isitos minerais l1rasileiros ceJm
() nióbio ce)nfere ac) Brasil a posiçãe) ele maicJr eleten- reserva e/ ou preJduçãcJ expressivas, com exceçãeJ elas
tc)r de reservas desse bem rnineral e mantém essa pcJsiçãeJ substâncias combustíveis, estãe> ineucadcJs na l;ig. 21.19.
há alguns aneJs no quaelrcJ mundial das reservas minerais. i\. quantielaele de l>ens minerais preJduzida pe)r utna
O depé>sito lcJcalizade) no carbeJnatito do Barreire> (Araxá, naçãeJ é funelamental para o atenelimentc> ele suas ne-
MG) é o principal responsável pelas nossas reservas e cessidades internas e para a geraçãcl de divisas através
também pela maior proeluçãcJ. C)utrc)S bens minerais de exportação. J\. razão produçãc) / consume>, que peJde
listados na Tabela 21.6 representam frações impe>rtantes ser expressa em pclrcentagem, permite qualificar cJs
da disponibilidade mundial. ()s bens minerais ceJm parti- bens minerais de um país ccJmeJ excec-!ente, suficien-
cipaçãe) percentt1al pequena, mas ocupandeJ posiçãeJ ele
destaque, ceJmumente correspe>ndem àqueles ce)m dis-
Sudão
tribuição geeJgráfica heterogênea, onde pe>ucos países
Argentina
detêm a maie)r parte das reservas muneuais cc>nhecidas.
Arábia Saudito
N 106 _, • Zaire
1:,:studos recentes têm mostrade) que parece l1aver >< t •
• Irá
uma relação entre a área ele um país e a quantielade de N

E • Líbio • Africo

do Sul
substâncias minerais prc>duzielas (Fig. 21.18). IJara os
chamados países mais desenvolvidos, esta correlação
-
..::,(. _, • Ango

é bastante evidente: aqueles ele maior área proeluzem


mais, certamente come) decorrência ele maieJr possi-
- Poíses rnois desenvolvidos
bilielade de enccJntrar substâncias minerais e pc>r serem
olonda Poí:,es rnenofi desenvolvidos
regic3es geol<>!:,ricamente bem conhecielas. élgica
1 cf 1 1

Na Tabela 21.7 estãcJ algL1ns deJS principais !Jens o 10 20


minerais metálicos e nãcJ-metáliccJs produzideJs, <>r- Bens Minerais Produzidos
denadeJs e-!e aceJrdeJ ccJm a oferta mL1nelial ela
Fig. 21.18 Relação entre área e substâncias minerais produzidas em
matéria-prima mineral, a exempleJ ele cerca ele 90'1/r, países mais desenvolvidos (boa correlação) e países menos desenvol-
deJ nióbio ofertadeJ nc> munelo. vidos (sem correlação). Fonte: Kesler, 1994.

Tabela 21.6 Principais reservas minerais brasileiros. Tabela 21.7 Principais produções minerais brasileiros.
Bem mineral Reserva medida Reserva Posição Bem mineral Produ~ão produção Posição
+reserva mundial (10 3t) mundial
indicada (106 t) (%) (%)
Nióbio (Nb 20 5
) 3,7 86,0 l Niábio (Nb 20 ) 26,0 92, 9 l
5
Grafita 95,0 20, l 2 Ferro 186.700,0 l 8, l 2
Talco 178,0 19 ,o 3 Manganês1 11 956,0 12,5 4
Caulim (reserva total) l .524 ,O 14 ,7 2 Magnesita calcinada 295,0 l 0,4 3
Vermiculita l 6 ,4 8,3 3 Alumínio (bauxita) ll.671,0 9,9 4
Estanhol 11 0,6 8,0 5 Amianto (fibra) 208,0 9, l 5
Ferro 20.000,0 7,3 7 Estanho 111 l 8,0 9,0 4
Alumínio l.809,0 6,6 5 Caulim l .280,0 6,7 3
Magnesita (MgO) 180,0 5,2 4 Talco 452,0 5,5 6
Níquel{II 6,0 4,4 9 Vermiculita 23,0 5,3 4
Ouro(em t) 1.900,0 4, 1 6 Cal 6.469,0 5,2 6
Zircônio (Zr0 2) 2,5 4,0 6 Grafita 27,0 4,8 4
Fonte: Sumário Mineral, Departamento Nacional da Produção Mineral, l 998. (l) metal contido

CAPÍTULO 21 • RECURSOS MINERAIS 465 1?i :~ 1


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68° , 52° 36°
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16° -

Cobertura fanerozóica

Sistema e dnturóes de dobramento do


domínio brasiliano (450-700 MA)
Cobertura sedimentar relacionada
ao domínio brasiliano

Domínios pré-brasilíanos:
A- Amazónico
B - Sao Luís
C - Sâo Francisco 750km
D- Luís Alves
E - Rio de La Plata

Alumínio AI- l Trombetas Ferro Fe- 1 Ouadrdátero Ferrifero Ouro Au- 1 Dist. de Nova Uma
Al-2 Parogorninos Fe-2 Distr. ~Ain. de Coraias Au-2 Serra da Jacobína
Al-3 Almeirim Fe-3 Urucum At.J-3 ~/\aria Preta
Al-4 Poços de Caldas Au-4 Província Tapajós
Fluorlta f. 1 Distr de Sio Catorino Au-5 Província Xingu-Araguaio
F-2 Cerro Az.ul Au-6 Província Rio ~Aadeira
Amianto A,n-1- Minaçu Au-7 Alta Floresta
Gf-1 Pedra ~ui Au-8 Serra Pelada
Barita Ba- l - Araxá Grafita Gf-2 ltapecerico
Ba-2 - Camamu Fosfato Fo- 1 Araxa
Magnesita Mg-1 - Brumado Fo-2 Patos de ~Ainos
Caulim C1n- l - Rio Capim Fo-3 Jacupiranga
Cm-2- Rio Jari Manganês Mn-1 . Serro do i Ja·,io
fv~n-2 - Azul Talco To- 1 Brumado
Chumbo
/An-3 - Buritirama To-2 Nova Uma
Pb-1 - Morro ,¾) udo Mn-4 - Urucum
Pb-2 - Baquira Mn-5 - Cons. lofaiete Varmiculita Vm- l - Catalao
Pb-3 - Panelas Vm-2. Ouvidor
Pb-4 - Canoas Nlóbio Nb- l - Araxá Vm-3 - Paulistana
Pb-5 - Perau 1'16-2 - Tapira
~!b-3 - Ouvidor Zinco Zn-1 Morro Agudo
Cobre
~lb-4 - Catalão Zn-2 . Vazante
Cu-1 - Solobo 1'16-5 - Sete Lagos
Cu-2 - Caraíba Zircónio Zr- 1 Pi tinga
Cu-3 - Camaquã Niquei Ni-1 Americano de Brosii Zr-2 - lv1ataraca
Cu-4 • Mora Rosa Ni-2 Fortaleza de !.';n;:is
l·I-3 Niquelândia
Estanho Sn- l - Pitinga Ni-4 Santa Fé
Sn-2 - Rio Xingu Ni-5 Barro Alto
Sn-3 • Rio Tapajós-Jamanxim
Sn-4 - Província Estanífera de
Rondônia
Sn-5 - Província Estanífera de
Goiás

Fig 21.19 Localização de distritos e depósitos minerais mais importantes do Brasil.


466 D Ee , FRA N o o A T ER RA

te <Ju insL1ficiente, cmb<ira a p<>siçãc> de um elael<i A produção física de bens minerais tem, elo ponte>
bem mineral pcissa variar n<J tempci entre essas três ele vista cconc"imicc>, L1m significadcJ mL1ito relativc> se
classes. N<> Brasil, atualmente, nióbi<i, fcrr<J, lJauxita, nãcJ ass<>ciarmcJs a ela <J valor da sul1stância procluzi-
manganês, grafita, vermicL1lita, níe1uel, caulim, entre da, pois há bens minerais extremamente valicisos e
<Jutr<is, exemplificam <J cas<> de bens minerais cx- <>utr<>s ccJm preçc> unitário muitcJ baix<J. Por exemplo,
ceelcntes, a<J pass<J que f<isfat<J, p<itássici, enx<>fre, <J valc>r da produçãc> de centenas c.1e milhões eie tcinc-
c<imbustívcis fé>sscis e chL1mb<i p<leiem, entre ciu- ladas ele minéricJ eie ferrcJ p<idc ser c<imparável àquele
tr<Js, exemplificar a situação ele lJens minerais ele apenas centenas e{e tcineladas e{e prcieluçã<1 de ourcJ.
insuficientes, necessitando ser impcirtaeicJs para o Assim, o elevado valor da produçã<i mineral de um
c<implctc> atcndiment<J da dcman<la interna. país dependerá basicamente das quantidades de miné-
A razãci entre reserva e pr<>duçã<J anual, e1ue pc>dc ser ri<Js valioscJs produziclas e qL1e C<Jmumentc podem
expressa em an<>s, fornece uma estimativa de elL1raçã<> c<irrcsp<lneler quantitativamente a produç<)CS físicas
.
das reservas ccinhecidas (f~ig. 21.20) e S<>ll esse critério menc>s expressivas.

qualificam-se as reservas em a!Jundante (duraçã<> acima A imp<irtância da inelústria extrativa mineral peide
de 2(} anc>s), suficiente (eiuraçãc> aprcJximaeia ele 20 anc>s) ser melhcir percebicla, nci contextcJ eccinêJmico, ccinsi-
ou carente (eluraçãc> men<ir ele 20 anc>s). A referência clerand<i-sc a inelústria ele transf<Jrmaçãci mineral que
temp<>ral convencicinaela (2 1) anc>s) representa <J perícid<> a SL1ceclc na cadeia prcJdutiva e que S<Jma valor à maté-
eie tempc> nc> qual n<JV<>s dcpé>sitc>s pc>deriam ser elesc<J- ria-prima mineral primária. 1-<:ntre cJutrc>s, pcir exemplo,
lJertc>s ciu minas já C<Jnhecidas pc>dcriam ser an1pliae1as estã<> eis segmcntc>s mctalúrgic<J, pctr<1qL1ímico, de ci-
ciu, ainda, a implen1cntaçãcJ de nc>vas técnicas de mcielc> n1 cn tci e de fertilizante que transformam,
a permitir a utilizaçãc> ele minéricJs até cntã<J elescartaelcJs, respectivamente, a cassiterita cm fcilha de ílanclrcs, ci
levand.<i a altcraçc)es nc> qL1ae1r<J ele prcvisc~>es de dL1ração pctróle<J cm c<imbustívcis, <J calcárici em cimento e a
ele reservas minerais. apatita cm ácid<i fc>sfóric<J.

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Bem mineral
Fig. 21.20 Duração estimada de reservas brasileiras de alguns bens minerais, com base na razão reserva/produção anual. Dados
de Anuário Mineral Brasileiro, 1997 e Sumário Mineral, 1998, Departamento Nacional da Produção Mineral.
CAPÍTULO 21 • RECURSOS MINERAIS 467 .YJ.i
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() Brasil vcnc1c e cc)mpra e-Ji,·erscls prcldutcls ele Tabela 21.8 Classificação e exemplos de produ-
clrigcn1 111it1cral que sàc) agrupaelc>s crr1 e1uatrc> classes tos de origem mineral comercializados pelo Brasil.
(Tal1ela 21.8), ccinstituindci o denc>minaelci sctcir 1ni11c-
Classes Produtos - Exemplos
ral, ccinfcirmc sistematizaçàc> ele> Departa111c11tc>
Nacic)nal da PrcJducàc>,, i\Iineral.
Bens minerais minério bruto ou beneficiado,
' , '

() País pcissui uma pauta eli,·ersificada ele cxpc)rta- pnmanos mas ainda substância mineral:
minério ele ferro (hematita),
çc)es c-Je bens minerais primários, na qual clestacam-se
concentrado de minério de
ci minérici de ferrcl, além ele l1auxita, rcJchas ornamen-
cobre (calcopirita)
tais, manganês, caulim, amiantci, cliamantc e magncsita,
Pcir cJutrci laelcJ, ci ccinsumo dc)mésticc> clepcnclc cm
cliferentes graus ela impcirtação de váric)s prciclL1tcis de Semi-manufaturados produtos da indústria de
cJrigcm mineral, dos quais ci petréileeJ tem sidci e> item transformação mineral: ferroligas,
mais oncrosc>, apesar dos avançcJS na prcJeluçãc> inter- cátodos de cobre.
na ccJm base em ncivas desccJl)ertas realizadas pela
Pctrc)brás, Prc)duçãci insuficiente c>u ausência de recur-
Manufaturados produtos comerciais finais:
scJs minerais eccJncimicamentc viáveis implicam pesacla
tubos de aço, chapas de cobre,
depcnc1ência externa ele outrcJs bens minerais, tais como
carvãcJ metalúrgico, cobre, fertilizante potássicc>, en-
xcJfrc, gás natural, fosfato, titânici e chumbeJ. Compostos químicos produtos específicos da
indústria de transformação
mineral da área química: óxido
21.6 Recursos Minerais e Civilização férrico, cloreto de cobre,

() estilo de viela que herdamos, praticamc)s e c1ue


, . ~ ,
certamente passaremcis para as proxtmas geraçcies e
inegavelmente depene-lente de> use> e ele aplicações ele l)ifcrcntcmcntc de eJutreJs recurseis naturais, tais
recursos minerais. Sàc) muitos eJs exempleis de situa- ccirr1c> eis de cirigcm vegetal CJLI animal, a n1aiciria elc>s
ções cotidianas que se via]Jilizatn à base da extraçãci recl1rscJs minerais nãci é rencivávcl, e a cxtraçãc> se elá
de rccurseJs minerais. Basta olharmcJs atentamente ac> nur11a velcJcillalle bem mai<ir llcJ aquela cc)m que eles
redor ele ncJssci ambiente ele tral)alho, cm neJssa casa, se f(>rmam (n1ilhares c>u mestnc> milhc)cs ele anos).
na esccJla e mesmci ncJ lazer p,ira c1ue ielentifiquc111<>S l: n1a ,·cz la,·raclc>s e utilizadc>s, eles pc>clc111 nã(J mais
cquipamcntcJs, aparelheis, mc'iveis, utcnsílicis - uma sé- se f(ir111ar na escala de tc111pl> da vicia humana. De-
rie ele cibjetcis - cuja falJricaçãci envcJl,·e uma ,•ariedade cc>rrc elaí a elisp(inilJilielaele finita ele lJcns minerais, pelei
ele produtcJs derivadcis de bens minerais e-Je toelas as men(>S e111 tcrr11(JS clcJs tipllS ele elcpc'isiteJs e1ue atual-
classes (metais, não-metáliccis, ccJm!Justívcis féJsseis, mc11tc cc)nhecc111c>s e eiuc cstamcJs habituaelcJs a la,·rar.
metais prccic)SC)S, gemas, etc.). Cma csri111ari,a de duracào de reser\·a ele um elad(J
'
bem n1ineral pc>dc ser ,·isualizada, ele uma fc)rn1a sim-
As atividaeles inclustriais moelcrnas em diferentes
ples, pela razàc> entíe sua reserva e sua produçàcJ atuais
áreas de metalurgia, química, fertilizante, cimentei, cc>ns-
' 1] //
(F 1g,
truçãc) civil, elétrica, etc. usam e transfcirmam bens - ·---.
minerais, gerandcJ prcidL1tcis manufatL1rados, ( )s aprc>xirnada1ne11te seis 1Jilhc3es de hal,itantcs
inimagináveis peleis ncisscis antepassadcJs, e1ue permi- da Tcrr.1 cst:ic> progressivamente prcicurandcJ CJ
tem a execuçãcl ele nossas ativielades cc)m eficiência e ben1-estar que ci cc>nsumci mineral pcJdc prcipcircici-
certo conforteJ. nar e prcssic)nam para que sejam cncontraclcis e
prc>L-luzidc)s cada vez mais l,ens minerais. Nl> cn-
Se analisarmcJs CJS usos que a l1umanielaele faz e-leis
tantci, nc>tamcis uma clistribuiçãci elesequilibraela ele>
diversos bens minerais, percebcrcmcJs a e-lepenelência
ccJnsun1cJ dcls \Jcns minerais, cabcndc) a maic)r fatia
que temos deles e, se somarn1cJs as qL1antidades utili-
al,S países industrializados, ac> passe> que un1 111enlir
zadas, pcleleremcis chegar a númercJS no mínimc)
ClJnsumcJ caracteriza eis mencJS elesenvcJlvielcis. Para
curiosos cm tcrmcls de> ccJnsumeJ per capita clesses bens
estes países é lógicc> prever c1ue, ccim Cl aumente)
(Fig. 21.21 ), em particular ncJs países altamente indus-
deJ padràl) de viela, passarãci a ccJnsumir sua parte
trializados.
468 D EC I FRA N DO A T ERRA

brita areia e cascalho cimento argilas sal fosfata


4704 kg 3750 kg 300 kg 170 kg 165 kg 54 kg

ferro e aço alumínio cobre chumbo •


zinco
520 kg 24 kg 9,5 kg S kg 5 kg

• • •
petróleo carvao gás natural uran10
3650 kg 3840 kg 1500 kg O,OS kg

Fig. 21.21 Consumo anual médio de alguns recursos minerais por pessoa nos E.U.A. Fonte: Craig, Vaughan, &
Skinner, 1996.

de minerais, necessária a seu desenvolviment(J, le- Fisicamente, os recursos minerais são praticamente
vando o consumo mineral per capita a crescer mais inesgotáveis, pois a crosta terrestre dispõe de gigantescas
rápido e implicando a intensificação da produçãci quantidades de substáncias minerais úteis, pcirém, ocor-
mineral. () crescimento populacional é também um rem em concentrações menores do que aquelas atualmente
fator de aceleração da produçã() mineral. Embora exigic1as para que sejam lavradas. No entanto, a utilização
a taxa de expansão demográfica venha diminuindo de recursos minerais a teores progressivamente decres-
globalmente, é evidente que o consumo de vários centes, implicando maiores custc)s energéticos, será viável
bens minerais tem crescido mais rápido que a po- somente se dispusermos de fontes abundantes e baratas
pulação, tal como é cJbservado com o petróleo (Fig. de energia, pois esta é um insum(J essencial na extração e
21.23). tratamento de bens minerais, assim ccimo na fabricação
Essa situação delega, em particular aos geólcigos, uma de seus produtos derivados.
grande responsabilidade, pois eles têm a missão de prci- Além disso, estamos n(Js tornando cada vez mais
curar e identificar depósitos minerais, assim como avaliar conscientes de que sua produção e uso devem ser con-
suas características com vistas à obtenção do bem mine- duzidos preservando o meio ambiente. A produçã() e
ral. Nesse contexto pode-se perguntar: será possível uso inadequados do bem mineral podem direta ou indi-
descobrir novos depósitos minerais parecidos com os retamente levar a diferentes formas da degradação
de hoje, quanto a porte, teor e viabilidade técnica e eco- ambiental, outrora de efeitos locais ou regionais, agora
nômica? Boa parte dos bens minerais, notadamente amplos (aquecimento global, chuva ácida, deterioração
aqueles de elementos menos abundantes, é historica- da camada de ozônic), poluição de reservatórios de·água
mente lavrada com teores decrescentes e com isso os etc.). Assim, não séi a provável futura escassez do bem
custos energéticos são cada vez mais elevados para trans- mineral nos aflige, mas também as conseqüências noci-
formar esses minérios em produtos manufaturados. vas e, às vezes, desastrosas de sua lavra e utilização.
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CAPÍTULO 21 • RECUR MINERAIS 469 '
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Bem mineral
Fig. 21.22 Estimativa de duração das reservas mundiais para alguns bens minerais com base na razão reserva/produção anual.
Dados do Sumário Mineral, Departamento Nacional da Produção Mineral, 1998.

/\. pressão exercida pe)r esses fatclrcs levou à elabcira- 70


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ção e.lo conceito c.lc cclnscrvação do recurse) cclmcl sendo
o uso adequado do bem mineral ("sabenc.lcl usar, nãe) 8 1
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sur6iimentcl de ncJvas tecncllclgias cm suas diversas ativi-


dades, paralelamente ao crescimento contínuo da
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população, ainda acelerado cm certas regiões deJ nc)ssc) 1750 1800 7850 7900 7950 2000 ·2050 2700
ano
planeta. Em particular na inclústria extrativa mineral e na
indústria de transformaçãcJ mineral, as inovações Fig. 21.23 Relação entre o crescimento da população mun-
tecnc)lógicas incidiriam em suas diferentes fases cJu eta- dial e o consumo de petróleo: este aumenta mais rapidamente
que a população. Fonte: Kesler, 1994.
pas, levandc), pc)r exemplo, a um melhclr aprclveitamento
dos recursos minerais já conhecidos, ao incremente) da
reciclagem de prc)dutos manufaturados ou à viabilizaçãcJ
de recursos outrcJra marginalizados.
470 D Ee, FRA N oo A TERRA

Leituras recomendadas
CRAIG, J. R.; VAUGHAN, D. J.; SI<.INNER, B.
J. Resources of the Earth - Origin, Use and
Environmental Impact. New Jersey: Prentice-Hall,
1996.
EVANS, A. M. Ore Geology and Industrial Minerais:
an Introduction. 3ª ed. Oxford: Blackwell, 1994.
KESLER, S. E. Mineral Resources, Economics and the
Environment. Cambridge: MacMillan College
Publishing, 1994.
PRESS, F.; SIEVER, R. Understanding Earth. 2ª ed.
New York: W H. Freeman and Cc)mpany,
1998.
SIZINNER, B. J.; PORTER, S. C. The Dynamic
Earth. New Yc)rk: John Wiley & Sons, 1995.
TARBUCK, C. J.; LUTGENS, F. K. Earth - An
Introduction to Pf?ysical Geology. New Jersey:
Prentice-Hall, 1996.

'
472 DECIFRANDO A fERRA ••
.• •

energia é o grande "motor" do sistema 22.2 Combustíveis Fósseis


Terra. Ao mesmo tempo, não há animal
ou vegetal que subsista sem consumir alguma for- Os combustíveis fósseis recebem esta denomi-
ma de energia. Os vegetais utilizam a energia nação por derivarem de restos de plantas e animais
proveniente do sol para efetuar a fotossíntese e as- soterrados juntamente com os sedimentos que for-
sim fabricar seus constituintes. Os animais, pc)r sua mam as rochas sedimentares. O tipc) de combustível
vez, alimentam-se de vegetais ou outrc)s animais para fóssil formadc) depende da matéria orgânica c)riginal
obter a energia necessária e se manterem vivos. e da sua subseqüente história geológica.

Os seres humanos aprenderam ao longo dos sé-


culos a utilizar diversas formas de energia que são 22.2.1 Carvão Mineral
encontradas na Terra, sendo este um fator de ex-
O carvão mineral é utilizado há mais de 2.000
trema importância no desenvolvimento da anc)s, desde a épc)ca da ocupação romana da Inglater-
civilização, permitindo a fabricação de instrumen-
ra, quando era usado para aquecer as casas dos
tos e armas, além de propc)rcionar o cozimento de romanos. No entanto, sua importância maior surgiu
alimentos e aquecimento de ambientes. A habilida-
cc)m o desenvolvimento das máquinas a vapor, graças
de de obter e utilizar energia tem permitido que a
a seu alto conteúdo ,energético e sua grande disponibi-
humanidade ocupe áreas do planeta onde o clima é
lidade na Europa e Asia, e posteriormente no nordeste
extremamente adverso, locomova-se de forma rá-
dos Estados Unidos. Ainda hoje é um componente
pida e mantenha um complexc) sistema de
importantíssimo na matriz energética (conjunto de
civilização, empregando diferentes fontes energéticas fontes de energia que abastecem um país) de diversos
em distintas regiões do planeta. Os recursos países, por exemplo, Estados Unidos e China.
energéticos utilizados atualmente pelas nações in-
dustrializadas são os combustíveis fósseis (carvão No Brasil, a existência de carvão nc) sul de Santa
mineral, petróleo e gás natural), hidreletricidade, Catarina é conhecida desde 1827, quando tropeiros,
energia nuclear e outras fc)rmas de energia menos acampados na região conhecida come) Barro Branco,
difundidas cc)mo geotérmica, solar, eólica, prove- perceberam que algumas das rochas que haviam utili-
niente da bic)massa, de marés e, mais recentemente, zado para a montagem de uma fogueira haviam
de ondas. entrado em combustão, transformando-se em cinzas.
No entanto, fc)i somente durante a 2ª Grande Guerra
que a exploração de carvão ganhou relevância, devi-
22.1 Biomassa do à necessidade de substituir os combustíveis
importados. Outrc) grande avanço se deu após a pri-
A biomassa foi, sem dúvida, o primeiro recur-
meira grande crise do petróleo (1973 / 197 4), quando
so energético utilizado pela humanidade. A queima
houve um enorme incentivo à produção de recursos
de lenha foi responsável pelo fornecimento de
energéticos alternativos. Atualmente a produção bra-
energia desde os primórdios das civilizações, sen-
sileira de carvão mineral é praticamente toda
do utilizada principalmente nos países menos
consumida em termoelétricas, ou seja, em usinas de
desenvolvidos. Estima-se que cerca de 10% dos
geração de energia elétrica a partir do calor gerado
fogões existentes na Terra ainda utilizem lenha
pela combustão do combustível, representando hoje
como fonte de energia. Apesar de envolver a des-
cerca de 1,5% da matriz energética do Brasil.
truição de florestas, o cultivo controlado de árvores
pode ser uma importante forma de geração de
energia a custos relativamente baixos. Como se forma o carvão?

A biomassa pode também ser utilizada para a () carvão é uma rocha sedimentar combustível,
produção de combustíveis (por exemplo etanol e formada a partir do soterramento e compactação de
metanol), que podem substituir com certas vanta- uma massa vegetal em ambiente anaeróbico, em bacias
gens outras fontes de energia (ver o quadre) sobre originalmente pouco profundas (da ordem de deze-
,
o Proálcool) . nas a centenas de metros). A medida que a matéria

...,.. Usina hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta (l ,8GW), Primavera, SP Foto: CESP
orgânica vegetal é soterrada, inicia-se o processo de (_) car,·ão é denominado húmico quando forma-
: sua transformação em carvão, devido principalmente do a partir de ,·egetais superiores de origem continental
ao aumento de pressão e temperatura, aliados à ou paludal e sapropélico ou saprotético, quando ge-
tectônica. Graças ao ambiente anaeróbico, e com a rado a partir de algas marinhas. ()s carvões húmicos
crescente compactação, os elementos ,·oláteis e a água só se formaram na Terra a partir do Devoniano, perí-
presentes na matéria orgânica original são expelidos, odo em que os ,·egetais superiores surgiram e passaram
gerando, concomitantemente, uma concentração rela- a ocupar grandes áreas. Hoje os carvões húmicos per-
ti ,,a de carbono cada vez maior. A principal fazem cerca de 95% das reservas conhecidas de carvão
matéria-prima do carvão é a celulose (C 6 H 10 0,), e, no mundo.
dependendo das condições de P e T, e do tempo de
()s ambientes propícios à formação de depósitos
sua atuação, sua transformação pode gerar, progressi-
de carvão são bacias rasas, deltas, estuários ou ambi-
,·amente, turfa, linhito, carvão (também chamado
entes pantanosos, relativamente mal oxigenados.
de carvão betuminoso) ou antracito, de acordo com
Muitos depósitos ocorrem em sucessões de repetidas
o grau de maturação ou carbonificação, exemplificado
transgressões e regressões marinhas que, com a varia-
pelas seguintes equações:
ção do nível de base, possibilitaram o avanço de
S(C6H100s) ➔ C 20 H 22 0 4 + 3CH 4 +8H 2 0 + florestas durante o recuo d<) mar, seguida de
6C0 2 + CO linhito soterramento quando o mar invadiu a região costeira
novamente. Isto explica a ocorrência, numa mesma
região, de diversas camadas de carvão intercaladas por
6(C 6H 10 0J ➔ c22H 2003 + SCH4 + 10H2c) + sedimentos.
8C0 2 + CO antrac1to
A distribuição de carvão mineral no mundo é irre-
gular. A Rússia detém cerca de 50% das reservas
A Tabela 22.1 mostra a classificação adotada no conhecidas, enquanto os Estados Unidos contam com
Brasil para os diversos tipos de carvão mineral. cerca de 30%. O Brasil conta com apenas O, 1% d<)
carvão conhecido no mundo.

Tabela 22.1 Variação das características do carvão de acordo com o grau de carbonificação.

Parâmetros Turfa Linhito Carvão Antracito

Densidade (kg/m 3 ) 1.000 1.000 a 1.300 1.200 a 1.500 1.300 a 1.700

Umidade(%) 65 a 90 15 a 45 1a 3

Carbono* (%) ± 55 65 a 75 75 a 90 90 a 96

Hidrogênio (%) ±6 5 4,5 a 5,5 2a5

Oxigênio* (%) + 33 25 3a 11 4 a 11
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Componentes Voláteis* (%) + 60 + 40 10 a 45 · 3a 10
...

Carbono Fixo (%) + 25 + 35 25 a 80. + 90

Cinzas (%) (material não combustível) +10 +9 3 a 30

Poder Calorífico cal/g 4.000 a 5.700 · Até 5.700 :5• • O•


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Brilho fosco baixo · rnodeFado alto

( • ) medidas sobre o carvão isento de umidade e cinza


O carvão brasileiro Problemas Ambientais

()s carvões minerais exploraclos no Brasil sã(J de) .-\ explciraçã(J do carvãci mineral env(ilve a remo-
tip(i húmic(J, c)riginad(>S a partir d_e teciclos lenh(>S()S, çãci, cJ transpc>rte e cJ beneficiamento de grandes
celu!()Se, esp()ros, ceras, resinas, géis, betumes e ,-c>lumes ele massa mineral, ativiclaeles que modificam
hidrocarb()netos derivados de uma paleoflora, típica <> n1eic> ambiente (f1ig. 22.3). CcJntuelo, a cc>nscientização
cl(> C:arbcJnífer(> e IJermian() elo antigci pale(Jcontinente da necessidacle ela preservaçã(> el(J meici ambiente e a
G(indwana e pc)r diversas espécies ele l:,rimnospermas, adcição de pc>líticas que permitam um desenvcilvimentcJ
pteridc'>fitas (samambaias), licófitas e esfenófitas extintas. sustentá,·el sãcJ pc>sturas relativamente recentes. (~L1an-
dc> a mineraçãcJ ele> carvãc> ncJ Brasil intensificc>u-se,
() carvãc> é prcJduzidcJ no Brasil a partir de depcí-
nci inícic> elcJ séculc> 20, pclucc>s cuidados de preserva-
sitc>s na Bacia dei Paraná, principalmente n(JS r:sradc>s
çãci ambiental foram tc>madc>s. Com isso, muitas áreas
de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em rc>chas c-le
pr(ielutoras de carvão mineral têm sc>frie-lo as C(Jnse-
ielaele permiana inferi(Jr (cerca de 260 J\Ia) (Fig. 22.1).
1\ [ 1ig. 22.2 m(Jstra a elistribuiçã(> d(J carvão mineral e1üências inelesejadas de tal atitucle.
n(> Brasil. C) carvã(> mineral, p()r se f(Jrmar sob cc>ndiçc>es
anc'ixicas, é comumente assc>ciado a sulfetos, principal-
mente à pirita. Exposta à ação do oxigênio elo ar e da
água, a pirita sofre oxidaçãc), gerandci uma soluçãc> de
ácid(J sulfúrico e sulf'J.tc> ferr(JSO, que é a principal fonte
pciluidora. Quando estes produt(>S, pr(>venientes e-los
depósitos de rejeitas e das minas, alcançam c>s cursos
d'á1::,rua, acidificam as águas, aumentand(> () teor de sul-
fat(>, e desencadeiam uma série de reaç(>es químicas,
C(Jmo, pc>r exemple>, a solubilização ele metais pesadc>s,
ferrei, manganês, cálcio, sódio etc. i\dici(Jnalmcnte, a
reação exc>térmica da oxic.laçãc> d(JS sulfetos pode ge-
rar calor suficiente para iniciar a aut(>C(Jmbustão d(>
carvão, com a liberaçã(J de I-I 2S; além de> odor desa-
Fig. 22.1 Mineração subterrânea de carvão na região de gradável, a liberação deste gás na atm(isfcra pode
Criciúma, Santa Catarina. Foto: S. L. F. de Matos. promover a posterior ocorrência de chuvas ácidas.

Até poucos anos atrás os rejeitc>s das usinas de


beneficiamento eram depcisitadcJs a céu aberto sem
qualquer critério técnico, cm áreas próximas às usinas,
enquanto os efluentes (resíduos) líquidos eram lança-

_Ocorrência de
carvão mineral

9001cm
Fig. 22.3 Mineração a céu-aberto de carvão na região de
Charqueadas (RS), onde pode-se observar a grande mobilização
Fig. 22.2 Distribuição de ocorrências e jazidas de carvão de material para exploração do carvão mineral. Foto: S. L. F. de
mineral na borda leste da Bacia do Paraná. Matos.
CAPÍTULO 22 • RECURSOS ENERGÉTICOS 475 ,....
\

dos diretamente nas drenagens. Se) a partir do início ligaelas ao ramo da 111ineraçãei, que estavam acc)stu-
da década de 1980 é que as primeiras prc>,·idência, n1adas ae1 ciclo da indústria mineral (elo ouro e do
oficiais f()ram tc)madas para diminuir os impactc>s carYãc>). Nesses setores e> minérici é retirac.lo ela mina e
ambientais e1as atividades mineiras de car,·ãci. cc>n1ercializaelo ou armazenadci em pilhas até a chega-
da de um ceimprador. Para eles havia também a
Embora a acidificação dos rios e a geração de chu,·a
possibilidade de interre>mper a mineraçãeJ em épocas
ácida sejam os mais graves problemas ambientais de-
de l1aixa demanc.la, sem c.1ue e> minério fe)sse pcrdic.le>.
correntes da mineraçãei (lo carvão, e)utre)s impacte)S,
;\ explciração ele> petróleo me)strou-se ceimpletamen-
também graves, pc>dem ocorrer, ce)mo degradação
te diferente. De,·ido a seu cstac.le> líquidci, apc>s a
da paisagem, subsidência local, rebaixamento do nível
perfuração normalmente cJcorre surgência natural, o
freático, assoreamento das drenagens, poluição dos
que tcirna difícil e extremamente e1ncros(> tantel seu
S()los e doenças relacionaelas a(i trabalho.
armazenamente> para regular o flux(> de mercado,
comei seu transpeirte por grandes distâncias. Issei, alia-
22.2.2 Petróleo e gás natural dc> à descciberta de inúmer<)S outros campe>s
petre>líferos, fez cc>m que c-livcrseis e.lesses cxplciraclci-
() petróleo é conhecidei desde tempeis remoteis.
res, aceJstumac-los c(im eiutra realicladc, falissem e ci
A Bíblia já traz referências sobre a existência de lagcis
preç(i ele> pctrc'ilee> caísse tremendamente. Para se ter
de asfalto. Nabucc1deineiseir pavimentava estradas C()m
uma idéia, o preço elo barril de petrc'>leei (unidade ele
esse proe1uto na Bal1ilônia, enquanto os egípcios o uti-
meeliela de V(>lume e1ue equivale a apr(>ximadamente
lizavam como impermeabilizante. P(ir vários séculos
159 litros) caiu de cerca ele US$2() cm 1860 para US$
ci petróleo foi utilizade> para iluminaçãe>.
(), 1O cm apenas dois aneis.
Apesar da técnica ele perfuração de peiçe>s profun-
Nc> entantei, a grande reve>luçãei da indústria do
dc)s ser dominada desde 200 anos a.e:., o objetive>
petréile<1 e)ccirreu ceim a invençãci de>s meiteircs ele
exploratcirie) era sempre água pe)tável. Entretantc>,
cc>mbustãei interna e a preiduçãe1 de auteimó,·cis em
durante o século XVIII já eram cavados pe)ços a pre>-
granele escala que elcram à gascilina (obtiela a partir de>
fundielades de até 50 metr(is que buscavam e> petrólec>.
refine> de) petrcileci) uma utilidade mais ne)bre ele> c.1uc
A vantagem desse procedimentcl era que e> petróleo
a simples queima (iu descarte neis rieis (prática cc>mum
assim pr(>duzido era mais "leve" do que e> aflc>rante
ne> século XIX).
naturalmente, e1u seja, com os seus ceinstituintes mais
voláteis ainda presentes. Ne> entanto, a construçãc> des-
ses pe)ços era uma tarefa extremamente arriscaela Petróleo e Gás
devido à presença de gases altamente inflamáveis. No
() petróleo é um líquido c>leeisei, normalmente com
início de> século XIX, as primeiras destilarias foram
densidade mencir que a da água. Sua cc>r varia desde o
ce)nstruídas, visando a separação dos ccinstituintes d(>
incolor até e> preto, passando por verde e marre1m.
petróleo. Paralelamente era e1esenvc>lvido o lampiãc> a
querosene, que prc>duzia uma chama muito mais bri- r:xistem di,·ersas teorias para explicar a e>rigem de1
lhante e com muitc> menos fumaça do que (is que pctre:ileci.. \ mais aceita atualmente é de sua e)rigem
utilizavam petróleo l1rute) ou mesmo óleo de baleia. c>rgânica, e>u seja, tante> o petrc'ileei ccimo o gás natu-
Na primeira metade do século XlX, fc>ram construíelas ral são ceimbustíveis fc'>sseis, a exemplo do carvão.
também as primeiras refinarias, que processavam e> Sua eirigem se e-lá a partir de matéria orgânica (princi-
petróleo extraído dc>s poços cavadeis manualmente. palmente algas) sc>terrada juntamente com sedimentc>s
lacustres ou marinhos.
A moderna era do petrólee> te,•e inícici c.1uando um
n(Jrte-americano conhecido c(ime> Ccire>nel Dral<e en- C)s ambientes que impedem a oxidação da maté-
controu petré>leo a cerca de 20 metre>s de ria eirgânica são aqueles de rápida sedimentaçàc) (e.g.
profundidade no oeste da Pensil,·ânia, utilizando uma plataformas rasas) ou de teor de oxigênio restrito (e.g.
máquina perfuratriz para a construção elei poço. Sua fundo oceánice>). Em ambos os caseis e1 ambiente
descoberta causou tanta sensaçãei na época que em anaeróbico permite e> aprisionamento de matéria or-
,
apenas um ano 15 refinarias de petróleo foram insta- gânica nãci eixidada. A sen1elhança deis processe)s que
ladas na regià(>. Na ,·erdade, nessa época, (>S primeiros transfe1rmam restos vegetais em carvão mineral, vis-
. ~· "' .
exploradores de petróleo foram pessoas ou empresas tos anteriormente, a matcrta organ1ca vat se
476 D E C I fl R A N D O A 'f E I RA

transformando, com a perda dos componentes volá- se acumular logo abaixo. Diversos tipos de rocha po-
teis e concentração de carbono até sua completa dem ter esse papel, por exemplo folhelhos, argilitos,
modificação para hidrocarbonetos. A grande dife- sal, etc. Essas rochas são chamadas rochas capeadoras.
rença entre a formação do carvão mineral e dos A rocha permeável em que o hidrocarboneto se acu-
hidrocarbonetos é a matéria-prima, ou seja, principal- mula é chamada rocha reservatório.
mente material lenhoso para o carvãei e algas para os
Caso esse sistema (rocha reservatório mais rocha
hidrocarbonetos, CJ que é definido justamente pelo am-
capeadora) forme uma estrutura que bloqueie o mo-
biente de sedimentação. Normalmente, o petróleo e
vimento ascendente do hidrocarboneto, este se
o gás coexistem, porém, dependendo das condições
acumulará, formando, assim, uma estrutura
de pressão e temperatura, haverá maior quantidade
armazenadora de hidrocarboneto. Esse sistema, com-
de um ou de outro. A Fig. 22.4 mostra as modifica-
posto pela rocha reservatório e rocha capeadora,
ções da matéria orgânica em hidrocarboneto com o
associadas à estrutura, é chamado armadilha ou trapa.
incremento da profundidade e, conseqüentemente, das
Um aspecto curioso é que as concentrações de
ceindições de pressão e temperatura.
hidrocarbonetos apresentam, devido às diferenças de
A mais importante rocha-fonte de óleo e gás é densidades, três níveis de fluidcis, sendo que no superior
formada por sedimentos fineis, ricos em matéria eir- fica o gás, neJ intermediário o petróleo e no inferior, água.
gânica, soterrados a uma profundidade mínima de
As armadilhas têm basicamente duas origens dis-
500m eJnde a rocha se ccimprime, diminuindo sua
tintas: estratigráfica Ju estrutural, mas podem ter
porosidade e, com a alta temperatura, induz os
diversas formas, sendci que alguns exempleis são apre-
hidrocarbonetos a migrarem para cima, para um am-
sentados na Fig. 22.5.
biente de menor pressão e maior porosidade. Esse
mo\ imento é chamadei de migração primária.
0

' A ''indústria'' de hidrocarbonetos


A medida que eJ hidrocarboneto atinge materiais
de maior permeabilidade, ele se move mais livremen- J\ prospecção de hidrocarbonetos envolve as fases
te, porém, devido ao fateJ de sua densidade ser inferior comuns de prospecção mineral, ou seja, o mapeamento
à da água, tende a subir para a superfície. Esta migra- geológico e geofísico da área, por meio de levanta-
ção é chamada de migração secundária. Em seu mentos aéreos e terrestres, ei processamento desses
caminhei para a superfície, o hidreicarboneto, aei en- dados e sua postericir interpretação. Paralelamente são
contrar uma barreira relativamente impermeável, irá perfurados alguns poços exploratórios para que os
dados de mapeamento sejam correlacionados com
a estratigrafia da região. Dos peiços exploratórios
◄◄1---- Hidrocarbonetos gerados--•


------ são extraídos testemunhos, submetidos a análises
' geoquímicas e paleontológicas que indicarão a pos-
sibilidade de existência de hidrocarbonetos na região.
A partir do conjuntei de dados adquiridos nessa fase,
é elaborado um modelo geológico-estratigráfico-es-
trutural da bacia, que ser\'Írá de base para a locação
GJ
de levantamentos de maior detalhe com vistas à defi-
,, 2.
,,e nição de possíveis armadilhas portadoras de
--g hidrocarbonetos. Uma vez identificada uma armadi-
:::, Óleo
õ lha em potencial (principalmente por meio de métodos
.t 3
geofísicos), é efetuada uma sondagem mecânica (per-
furação) que irá comprovar a existência ou não do
Gás.
hidrocarboneto. Se encontrado, é iniciada a delimita-
,
çào da reserva, quando diversos furos de sondagem
são efetuados visandei a definição do volume de
hidrocarbcineto contido. A fase seguinte é chamada
de desenvolvimento, quandci é montada a infra-es-
Fig. 22.4 Esquema simplificado do formação de hidrocorbonetos
em função do profundidade.
trl1tl1ra para a exploração ceimercial (produção) do
hidrcicar!Joneto.
CAPÍTULO 22 • RECURSOS ENERGÉTICOS 477 . ._
'

E ,·entualmente, poderão ser necessários estudos


mais detalhados para verificar se a recuperação do
hidrocarboneto está C)CC)rrendo de acordo com o es-
peradc). l\:esta fase utilizam-se levantamentos sísmicos
de grande detalhe que geram imagens em três dimen-
sões do reservatório.

~a mc)derna indústria de hidrocarbonetos, em to-


das as fases de exploração (ou prospecção) e produção,
os diversos prc)fissionais (geólogos, geofísicos, enge-
nheiros, químicos, físicos e matemáticos) trabalham em
conjunto, de forma a haver uma perfeita integração
a dos dados gerados por meio de cada técnica específi-
ca. F:ssa atitude leva a um desenvolvimento de técnicas
indiretas de mapeamento e monitoramento, destacan-
dc)-se, entre elas, a sísmica de reflexão, capaz de gerar
imagens de grande fidelidade e correlação com a
'i
estratigrafia da área (Fig. 22.6).

Uma vez trazido à superfície, o petróleo é trans-
" ,,, "''''- ,..,,, ~
.:>~•""''
pc)rtado à refinaria para a separação de seus diversc)s
,,.,..._ -~,~: ·'=, ''-., ',,~t~"''}~·,~ ',
constituintes, produzindo descle os cc)mbustíveis de
uso consagradc), tais como gasc)lina, óleo diesel, óleo
combustível, querc)sene, GLl) (gás liquefeito de pe-
tróleo), até asfalto e outros prc)dutc)s. Já o gás natural,
apcSs um beneficiamento muito simples, é utilizado
diretamente como combustível.

• 1
. I l. .. ·1.····· 1
. •· .
.r t · .1 .1. . 1 ,.r
1

- ........ ~. Rocha Capeadora - ...


••"",,, •...,,_ ' '

- '"-,•-

Fig. 22.6 Seção sísmica de uma armadilha e sua interpreta-


ção sismo-estratigráfica.

Ocorrência dos hidrocarbonetos no mundo

"-\ ocorrência de hidrocarbonetos é variável no


espaço e no tempo. Isto se deve ao fato de regiões
e outrcira importantes produtoras terem exaurido
suas reservas, ao mesmo tempo que novas reser,·as
Fig. 22.5 Exemplos de trapos: (a) anticlinal, (b) falha, (c) são descobertas em outras regic'Ses.
discordância.
:\tualmente, a distribuição conhecida de
hidrc)carbonetos no mundo é extremamente irre-
Durante a fase de produção, são efetuadas cons- gular, ocorrendo uma grande concentração de
tantes rea,·aliações e reestudas que c)bjetivam petróleo no Oriente Médio e de gás na Europa
verificar se as hipóteses adotadas nas fases anterio- Oriental. A Fig. 22. 7 mostra a distribuição das re-
res estão se confirmando. ser,·as conhecidas de petróleo e gás.
.... . . . : .
Distribuição dos
. . . ·. . :
. . _. : '
. ..
. .
... _. ..
. . hidrocarbonetos no Brasil
. ..•·······•··•
. ..... ··.•1··_··..
·.. .· ·.· J . ·.
. . ... .
,
'
.... : N ci Brasil já existiam re-
ferências à existência lle
petr(ileci na regiàci ele) s ui e{ci
F,stallcJ ela Bahia clesde ci fi-
nal dcJ séculci XIX; nessa
J!ci.
. '"':
épcica, clL1rante a ccJnstrL1çàci
da .b~stracla ele I~errci T,cste
13rasileircJ, as ferramentas uti-
lizaelas ficavam cobertas ele
c'.>leci. IJcJrém, a primeira des-
ce) b erta e{c petr(J I eci lle
interesse ccJmercial data ele
193 8, n cJ n1 Llnl C 1p !() ele
Iacl!Jatc), l~ahia, na bacia
. .. .

-Óklo
. C::::r ftsi •.. ..
sedimentar dei Recôncavci.
Seguiram-se elesccJbertas na
\Jacia ele Sergipe-J\lagoas.
Fig. 22.7 Distribuição de petróleo e gás no mundo. f,:m 19Ci8 fc>i llesccJbertcJ ci
primeircJ campo petrc>lífercJ
na platafcJrma continental

Foz do Amazonas

Pará-Maranhào
/ Barreirinhas
Ceará
Potiguar
Solimões

Acre Parnaíba
Paraíba

. Sergipe/Alagoas

São Bahia-Norte.
,..__ Camamu-Almada
.--- Jequitinhonha
Cumuruxatiba ·
1---
f--..'..M ucu ri

Paraná Espírito Santo

Campos

Pelotas 500km
1 1

Fig. 22.8 Distribuição das bacias sedimentares brasileiras.


. .. . .
. CAPÍTULO 22 • RECURSOS ENERGÉTICOS 479 .,
\

brasileira (Sergipe), seguindo-se, en-


tão, diversas descobertas, tanto no
continente (Bacia do Espírito Santo,
Bacia Potiguar, Bacia do Solimões e
mais recentemente na Bacia do .. 'Atb'~i:'Ôrti ·
Paraná) como na plataforma conti- ,}ií.tite''
nental (Potiguar, Campos, Foz do
Amazonas, Ceará, Santos e Costa da
Bahia) (Fig. 22.8). A Bacia de Cam-
pos possui as. maiores reservas de
petróleo conhecidas no Brasil, des-
tacandc>-se c>s campos de Albacc>ra,
Marlin e Barracuda, todc1s em águas
profundas (lâmina d'água superior a
8()() metrc)s), o que exigiu o desen-
vc)lvimento de tecnc)logia especial
para tc)rná-lc)s produtores (Fig. 22.9).
Fig. 22.9 Mapa do Bacio de
Campos mostrando os campos
petrolíferos em exploração.
Apesar de as Bacias do Recôncavo e de Sergipe-
Alagoas terem sidc) impc)rtantes prc>dutc>ras, atualmente
as Bacias de Campos e Potiguar respondem por quase
tc)da a produção de hidrocarbonetos do Brasil.

~~i
Santos

-ÓI ■•
·- ~j

Fig. 22.1 O Mapa com o distribuição de petróleo e gás no Brasil.


480 D E e 1, RA N oo A T ERRA

Impactos ambientais devidos à exploração e (PR), graças a um inovador processo de


consumo de hidrocarbonetos beneficiamento desenvolvido pela Petrobrás e de-
nominado "Petrosix".
Como os outros combustíveis fósseis, ()S
hidrocarbonetos devem ser de alguma forma quei-
mados para aprc)veitar a energia neles armazenada. 22.3 Energia Nuclear
Se imaginarmos que uma imensa quantidade de A energia nuclear é gerada pela fissão d(> núcleo
combustível ficou armazenada durante milhões de anos do elemento Urânio ~35 U) por bombardeamento de
em sub-superfície e depois, em poucas décadas é ql1ei- nêutrons (Fig. 22.11 ). Esta reação libera três nêutrons
mada, é intuitivo imaginar que essa queima irá gerar e calor. Os nêutrons liberados ativam novas reações
uma grande quantidade de C0 2 num espaçc) de tem- que liberam mais nêutrons e mais calcir, produzindo
po relativamente pequeno. Sabe-se que o CC) 2 na uma reação em cadeia. A partir de) desenvolvimento
atmosfera deixa passar os raios solares, mas tende a de sistemas de controle dessa reação em cadeia, que
absorver os raios infra-vermelhc)s irradiados pela Terra, ciccirreu em 1942, fcii possível utilizar a energia pro-
funcionando como uma camada de "isolante" térmi- duzida na reação tanto para fins militares (na 2ª Grande
co. IJortanto, essa produção de C02 anc)rmal, derivada Guerra), como para cibtenção ele energia termoelétrica.
da queima de grande quantidade de combustível, pc)- Atualmente estão em ciperação no mundc> todo cerca
derá provc>car o aquecimento global da Terra, de 440 usinas nucleares. f: uma importante fonte de
conhecido cc>mo efeito estufa, acarretando e) derre- energia para alguns pai'ses, pcir exemple> na França, onde
timento das calc>tas polares e inundação de terrencis 75r1/o da energia elétrica é produzida por usinas nucle-
,
litorâneos ou de baixa altitude. E exatamente esse o ares. No Brasil a energia nuclear ainda fcii pouco
maicir dano ambiental atribuíc-lc) ao usei de exploracla, tendc)-se somente a Usina de Angra dos
hid rc)carbonetc)s. Reis em c)pcraçãc>.
()utros danos dizem respeit(J à geração de SC), e C)s sistemas de geração de energia por fissão nu-
NO, durante a queima, que vão se C(Jnccntranclo na clear são chamados de reatores, e fazem parte das usinas
atmosfera e, na presença da água geram ácidc)s que se geradciras de eletricidade, conhecidas também como
precipitam cm forma de chuva ácicla, com evidentes usinas termonucleares, uma vez que a geração de ener-
reflexos na biosfera em geral e na saúde ela pc1pulaçã(J gia elétrica é feita através de turbinas movidas a vapcir
em particular. Podem, ainda, c)ccirrer eventuais clerra- de água, aquecida por combustível nuclear.
mamentos acidentais durante o ciclo produtivci do
hidrc>carbonetci. Exemplos marcantes foram c>s aci- PodemcJs encontrar na natureza três isótopos de urâ-
dentes na costa do Alasca em 1989 e na Baía da nio em proporções desi6ruais. 238 U representa cerca de
Guanabara em 20()0, que prcivocaram a morte p(ir 99,3r1/o de tcido urânio enccintrado, enquanto 215 U perfaz
asfixia de milhares de animais. 0,7% e 234 U cc)ntribui com algo em torno de 0,005'1/o.

22.2.3 O Folhelho Betuminoso


Fragmento
de fissão
O folhelho betuminoso (também chamado de •
J'
"xistci" betuminoso) é uma rocha de granulaçãci fina, u23s / Calor
relativamente rica em petróleo que não sofreu os prc1- Núcleo
/r.,,,
/ ,.i;.. ....-
cessos de migraçãc). Devido à baixa permeabilidade ....- Nêutron
intrínseca da rocha, a extraçãc) desse petróleo exige ---► ---+ livre
Nêutron
um processo de beneficiamento que só se torna eco-
nomicamente viável se a quantidade de éileo ccintida
for maior do que 40 litros por tonelada de rc)cha. '
Fragmento
N C> Brasil encc)ntra-se a segunda maic>r reserva de fissão
de fc>lhelho betuminosc> dei mundc>, na Formação
lrati, Bacia do Paraná, explorada ec(inomicamente
há \-ári(is anos no município de São iviatel1s do Sul Fig. 22.11 Esquema da fissão nuclear do 235 U.
O 2,1u
· · e, o un1co
, . e1emento fi1ss1onavel
. , que ocor- 22.3.1 Como o reator funciona?
re naturalmente, sendo, portanto, essencial para a
produção de energia nuclear. Nc) entanto, para ser reator nuclear é formado por uma cápsula
C)

utilizado como combustível, o minério deve ser de contenção que envolve a cápsula do reator, um
concentrado até atingir um conteúdo de urânio de certo número de arranjos de combustível nuclear,
cerca de 3%, na forma de U0 2 gerando o produ- um circuito de tubos que leva água do reator para
to chamado de urânio enriquecido. Por outrc) lado, um gerador de vapor e de volta ao reator por meio
o 218 U, após bombardeado por nêutrons, transfor- de uma bomba, outro circuito de tubos que trans-
ma-se em 219 Pu (plutônio), que é fissionável. O porta o vapor de água à turbina geradora e outra
urânio enriquecido é colocado dentro de tubos fei- bomba que faz o seu retorno para o gerador de
tos de uma liga metálica de zircônio e estanhe) vapor para ser reaquecido (Fig. 22.12). A chave do
(zircaloy) ou, eventualmente, de aço inoxidável. Es- processo é o controle da reação em cadeia gerada
tes tubos são enfeixados formando um arranjo pela fissão do 215 U, que produz calor. Esse controle
reticulado que varia de tamanho, geometria e quan- é obtido por meio da inserção de varetas metálicas
tidade de tubos, dependendo do tipo de reator. que absorvem nêutrons (feitas de cádmio ou boro),
entre os arranjos de combustível, limitando a rea-
Existem basicamente dois tipos de reatores, co- ção. Adicionalmente, como os arranjos de
nhecidos como B\'vR (boiling water reactor - reator combustível são mantidos em água circulante, são
de água fervente) e PWR (pressurized water reactor - resfriados, evitando a fusão do núcleo do reator.
reator de água pressurizada). Em média, os reato- Se as varetas de controle forem todas inseridas en-
res do tipo BWR utilizam arranjo de tre os arranjos de combustível, a reação cessa,
aproximadamente 60 tubos pesando cerca de 320 enquanto sua progressiva retirada gera cada vez mais
kg, dos quais 180 kg são de urânio enriquecido. Já calor.
os arranjos para os reatores do tipo PWR pesam
cerca de 650 kg, dos quais 460 são de urânio enri- Uma reação em cadeia de fissão estável no
quecido, dispostos em 260 tubos. Os reatores BWR núcleo é mantida contrc)lando-se cl número de
têm, em média, 750 arranjos, enquanto os do tipo nêutrons que causam fissão, bem como a con-
PWR têm cerca de 150. A vida útil desses arranjos centração de combustível. Uma concentração
de combustível nuclear varia de 4 a 6 anos, quando mínima de combustível é necessária para asse-
- , .
gurar a reaçao cr1t1ca.
então devem ser substituídos.

Estrutura
de ContenCjãO Linha de Vapor

Barras de
Controle
Câmera -r,• Torre
do •::• Gerador
Reator. de
; i i
Resfriamento
i : l
~ator

Condensador
de Resfriamento
da água

Fig. 22.12 Esquema simplificado de uma usina nuclear.


.
482 DECIFRANDO A IERRA : .

O núcleo elo reate)r é mantido em uma caixa ele raçãei aliad.eis a mau funcicJnamcnteJ e1eJs sistemas de
aço inoxidável, sendo que, para uma segurança extra, segurança prcivocaram o superae1uec1mcnto e poste-
ci reateir inteirei é guardado cm uma ccJnstruçãci de rior combustão do núcleci clei reateir, causandcJ uma
concreto. explosão liberanc1cJ gases e partículas racliciativas para
a atmcisfera. A repetiçãei ele um acidente desse tipo,
Nci Brasil é gerada energia elétrica a partir de usi-
contuelc1, é mLtÍto elifícil ele c1cc1rrcr uma vez c1ue aquela
nas nucleares no municípici de Angra dos Reis (RJ),
L1sina utilizava tecneilcigia ultrapassaela e feira de usc1
com reatcires do tipo PWR, ccim água como elemen-
há muite)s anos. Para se ter uma idéia, eiceirreram ape-
to moderador.
nas dciis acidentes ce>m vazamcntci ele radieiatividade
em cerca de 50 aneis ele cJpcração das usinas nuclea-
22.3.2 Distribuição do urânio res, evidenciandei e>s granelcs cuidaeleis ccim a
segurança das t1sinas. C~eJntuclci, eleve ser lcml1radei
A concentração média de urânio na crcista terres-
qLte um úniccJ acielcnte ccim qualqLter elas usinas peicle
tre é de cerca de 2 partes pcir milhão (2 ppm). JJara ser
atingir grandes prclpcirçõcs, com cfciteis aml1ientais
ccinsiderada jazida, a ccinccntraçãei de L1rânicl d.evc ser
clL1raclciure)s. NcJ entantci, eJ maÍCJr preil1lema ambiental
ele 400 a 2.500 vezes SLta concentraçãci média.
cliz respeitei à elispcisição cios rejeiteis raclieJativos ge-
Nci Brasil já feiram estudaelas e catalcigadas cieze- raelcis pela tisina. F,stcs rejeiteis sãci ccimpostcJs de
nas de milhares de ocorrências de urânici. No entanto, elementeis raelieJativos de meia-vic1a longa. A grande
uma ocorrência não leva necessariamente à clescciber- qL1cstãcJ é como dispclr e iseilar de maneira segura
ta de um dcp(isitcJ cccJnomicamcnte cxplcirávcl. A tais rejeiteis, para nãc) ccJntaminar os rccurscJs híclriceis
primeira unidade mineira e ele beneficiamento dei Brasil eJLl mesmei a atmeisfera. Nenhum país usuário de
iniciou suas ativielaeles em 1982 nei mL1nicípio de Cal- energia nuclear enccJntrcJu Ltma soluçãci definitiva para
das (sul de J\fG), tendo fornecido cciml1ustível para as este prcJlJlcma c1uc se agrava a caela anci à medida
usinas nucleares de Angra deis Reis. C:eJm a exaustão que ncivas unidades entram em eJperaçãcJ e os rejeitos
dessa mina, o urânio passará a ser prc1eluzielci na re- sãcJ acumuladcis em dep(isiteis prcivisc>ricis, sem ccin-
gião sudcJcstc da Bahia, nos municípios de I"agcJa Real cliçc'ies aclequaclas ele segurança a longo prazo,
e Catité, que apresentam reservas estimadas em 100.()()0 incltisivc no Brasil.
toneladas de urânici, sem outrcJs minerais assciciaelcis.
Recentemente, atendendo à pressão dos (irgãos
No c=eará, município de Itataia, há OL1tra jazida ccJm
ambientalistas, a 1\lemanha rescJlveu desativar prcJgrcs-
reserva estimada tam!Jém cm 10().000 teineladas. Re-
si,,amente suas usinas nucleares.
centemente foi ncJticiada a descoberta, no Pará, ela mais
extensa área dei munelcJ em mineralização de urânio,
com 600 km 2 , porém os estudos para avaliaçãcJ da 22.4 Energia Geotérmica
reserva ainda estão sendo realizados.
A variação da temperatura tantcl espacial ccJmcJ
temporalmente é uma elas mais importantes proprie-
22.3.3 Energia nuclear (fissão) dades físicas da Terra. Tal variaçãcJ se reflete na
e meio ambiente superfície do planeta devido às peculiaridades sazci-
nais e internamente em ft1nçãc) da evolução térmica
Energia nuclear e eis possíveis efeitos adversos associ-
do planeta ao longci c10s bilhc)es ele ancJs de sua histó-
ados a ela têm sido motivo de muitc)s debates, peiis o
ria (Caps. 5 e 15).
número de reatores em operaçãcJ tenele a aumentar e
juntei com eles os riscos e as reais possibilidades de de- i\s diferentes temperaturas são o resultado de
sastres de terríveis conseqüências. hetercigeneidades laterais e verticais em pequena escala
cJu na escala da Terra. J\ tendência de equilíbrio destas
A utilizaçãci ele combustível nuclear peide ser ccJn-
diferenças é regida pelo transpclrte de calor, quc,,sob
siderada uma forma bastante "limpa" de geraçãcJ de
CJ ponto de vista da Gecilcigia, e mais especificamente
energia elétrica, uma vez que nãeJ gera H 2S ciu NO,
ela tectônica das placas (Cap. 6) inílui na distribuição
(óxidos de nitrogêniel). Nci entantc1, há vários prci-
de calor na 1erra, modificando-cJ continuamente tan-
blemas que devem ser consideraelos, por exemplo se
to no interior cc)mcJ nas camadas mais superficiais elo
uma usina sofrer um acidente e se rc>mper, cc>mo e>
ocorridcJ em Chernobyl cm 1986, onele erros de cJpc- planeta.

.. ·•' ."
• ... · '
..·' '
· · '
. CAP.ÍTU LO 22 • RECURSOS INERGÍTICOS 483 ,.

22.4.1 Gradiente geotérmico larmente eficiente quandc) a temperatura do material


ultrapassa C)S 1.000ºC. E' C) mccanisme) principal de
() grac.licnte gee)térmico é simplesmente uma ex- tra11sferência de calc)r cio núclec) interno para as cama-
pressão da clifcrença de temperatura entre cluas elas mais periféricas.
superfícies c)u clc)is ponte)s na Terra. () gradiente, as-
sim come) a temperatura, c1epende de) ten1po e de st1a
posição espacial, e sua dimensãc) é ne)rmalmente dacla 22.4.5 Condições térmicas da crosta terrestre
em ºC/km. \' áric>s fatclres aml1ientais afetam a temperatura das
Sempre c1ue he)t1ver um gracliente térmicel entre can1aclas supcrie)res da cre)sta terrestre, senclcl que três
dc)is pontos, e)celrrerá um prelcessc) dinâmico que vise deles merecem ser citaclos:
el estalJelecimentel clei equilíbrie) climinuinclel esse gra-
a. a temperatura cm sul1-supcrfície é alteracla por
diente. Durante esse processe) eicelrre a transferência
variaçc3es de temperatura tante) diárias como anuais
de calor do peinto mais quente para o 1nais friei, se-
clu de longeJ terme>, Cl que é refletidei, pclr exemplo,
gunde) a clireção dcJ gradiente. Essa transferência ele pelas glaciaçc3es e clcglaciaçc:íes;
energia é chamada de fluxo térmico (Q). C) fluxc>
térmico, por sua vez, clepende de uma característica l1. a distribuiçãci de temperatura é me)dificada
ele cada material, chamada de condutividade térmi- pela morfologia da superfície (pclr exemplo pela pre-
ca. J\ unidade nclrmalmcnte utilizada para climcnsionar sença ele cacleias ele montanhas) e estruturas gee)lógicas
e) fluxcl térmico é mW /m2 • de regiões adjacentes à creJsta (pe)r exemplo pela pre-
se11ça de batéllitos);
J\ transferência de caleJr na 1crra é dada, por sua vez,
por meic) de três mecanisme)S clistintcJs, descritos a seguir. c. meivimcntos de água, fluidos hidre)termais e
evente)s tectêlnicos que são capazes de movimentar
grande quantidade ele calor através de ceJnvccçãc) ac)
22.4.2 Condução
invés de conc-!l1ção térmica.
A transferência de calc)r por cc)nclução se dá pela 1\pesar da quanticladc de caleir irracliado pele) Scil e
transferência de caleir entre mc)léculas deviclc) ao ceJn- recebiclo pela crosta terrestre ser da eirclem de 2.500
tato físico entre elas. PcJrtante) a cc)ndução clepcnde da vezes o irradiadcJ pela Terra, esta energia é dissipada
estrutura molecular cio material. Desta forma, obser- ne>s primeirc)s ccntímetre)s e)u metros da cre)sta (Fig.
va-se que os metais sãe) bclns ce)ndutc)res de cale)r, 22.13). l)elrtantc), sãci as fontes de cale)r internas na Terra
enquanto as rclchas em geral são pclbrcs condutelres. que exercem tcJtal influência neis eventos tectê>nicos.
Dentre estas, as rochas básicas e ultrabásicas apresen-
tam melhor conduti,,idade del que as alcalinas e ácidas.

22.4.3 Convecção
-E 20

A transferência ele cale)r causada pelo c1eslocamen-


to de um fluido é chamada de convecção. Trata-se de -,,
11,1

G1 40
um processo extremamente mais eficiente elo que a ,,,a,
ce)nduçãc), predeJminandc) na astenosfera, e também
nc) núcleo externo.
-e
::::,
60 ·

e
a. 80 ·
22.4.4 Radiação

Tcidc) e)bjetc) emite energia na forma de radiação ele-


tromagnética; a emissão na faixa de celmprimento de 100 .J-,- - - - - - - - - - - - - - •

23 25 27 29 31 32 33
onda entre 1()' e 10' metrc)s (regiãe) cio infra-vermelhe))
Temperatura (ºC)
é um pc)derelSCl mecanismo de transferência de calor.
Este processo pode ocorrer mesmo quando a trans- Fig. 22.13 Variação da temperatura do solo a diferentes
ferência por cc)ndução e cc)nvecçãci é impossível, pois profundidades, em diferentes horários do dia. Medidas
independe de ceJntato meJlecular, e teJrna-se particu- efetuadas no Nordeste do Brasil.
484 DECIFRANDO A TERRA

22.4.6 Fontes de calor da Terra (Cap.6), <)nde a surgência de novo material rocho-
so e a ação hidrotermal nos oceanos com crosta
As teorias hoje aceitas para a origem do calor da
oceânica jovem gera calor convectivo. Portanto, à
Terra consideram duas fontes principais, o calor origi-
medida que se afasta das cadeias mesa-oceânicas
nal, gerado por ocasião de sua formação, e o cal<)r
ocorre uma granc.le diminuição no fluxo térmico.
gerado pelo decaimento natural de elementos radioa-
tl\'OS presentes na composição química da Terra O fluxo térmico é mais elevado (100 a 200 m W /
(Capítulos 3, 4 e 5). m 2) em regiões de crosta <)ceânica mais jovem, de-
caindo até um valor cc)nstante de 50 mW /m2 para
A principal fonte de calor da Terra, a partir do
as rochas oceânicas mais antigas (200 milhões de
~-\rqueano, tem sido o decaimento isotópico de ele-
anos), valor este que representa uma estabilidade
mentos radioativos de longa vida média
da crosta <)ceânica. Por outro lado, o fluxo térmico
(comparável à idade da Terra). Estes elementos são
em regi<3es continentais que experimentaram algum
apresentados na Tabela 22.2, com dados de suas
tipo de magmatismo ou metamorfismo é elevado,
abundâncias relativas calculadas a partir do conhe-
decrescendo para um valor constante de 40 a 50
cimento de suas meia-vidas. Evidentemente, durante
m W / m 2 após 1.000 milhões de anos de tal ativida-
os primeiros estágios do desenvolvimento da Ter-
de, e só então atingindo a estabilidade. Uma vez
ra, o calor gerado pelo decaimento isotc)pico de
que a concentração de materiais radioativos na
elementos radioativos de meia-vida média e curta
litosfera oceânica é tão pequena que chega a ser
contribuiu significativamente no balanço energético.
desprezível, e) fluxo térmico aí é função apenas do
cal<)r conduzido e do último evento magmático. Já

22.4. 7 Comparação entre litosfera cont1nen- para a litosfera continental, devido à sua maior
tal e oceânica heterogeneidade, o fluxo térmico advém da crosta
inferior, manto superior, elementos radioativos, e
O fluxo térmico nos continentes é menor d<) também do último evento metamórfico ou
, .
que nos assoalhos oceânicos. Valores médios p<)- magma tice).
dem ser considerados 55 + 5 m W / m 2 para os
continentes e 95 + 10 mW /m2 para os oceanos. Apesar das dificuldades para a determinação do
~-\lém da diferença de condutividade térmica entre valor de fluxo térmico, tanto em escala global C<)mo
a crosta continental e oceânica (devidc) à própria em escala local, áreas geotermicamente anômalas apre-
diferença litológica), a diferença em fluxo térmic<) sentam-se também sísmicamente ativas, conforme já
foi discutido nos Caps. 5, 6 e 17.
é também atribuída ao fenômeno de formação de
nova crosta ao longo das cadeias mesa-oceânicas

Tabela 22.2 Meia-vida e abundância relativa de isótopos produtores


de calor no passado em relação ao presente.

Meia vida Geração Hoje 109 2x10 9 3x10 9 4,5x10 9


x10 9 anos" de calor anos anos anos anos
(mW/kg) atrás atrás atrás atrás

l ,30 2,8 l ,00 l ,70 2,89 4,91 l 0,90

14 ,O l 2,6 l ,00 l ,05 l ,l l l, 16 l ,25


'

2su.·• 0,704 56 l ,00 2,64 6,99 18,50 80,00

238LJ 4,97 9,6 l ,00 l , 17 l ,36 80,00 2,00


CAPÍTULO 22 • RECURSOS ENERGÉTICOS 485 ,

plo de local apropriado para set1 aprc)veitamento


comercial é onde ocorremgêisers, com atividade vul-
cânica recente, ou CJutrc)s pontos quentes localizados
próximos à superfície, que podem ser detectados
utilizando métodos diretos (sondagem) ou indire-
tos (geofísica) de prospecção.
Dependendo das características gec)lógicas da área
geotermicamente anômala, diferentes sistemas de apro-
,,eitamento são utilizados. Estes sistemas são chamados
de: 1) convecção hidrotermal, 2) sistemas ígneos quen-
tes e 3) sistemas de geopressurizaçãc).

fluxo'
polélnilco Sistema Convectivo Hidrotermal

-<
{n.W/1112)

-
40
40-60
F,ste sistema é caracterizado por um leito permeá-

11000km, ->
060-80
80
vel no qual circula uma quantidade variável de água
quente. Os sistemas de convecçãci hidrotermal com-
preendem reservatórios naturais de água e vapor em
Fig. 22.14 Mapa do fluxo térmico do Brasil (cedido por V M.
Hamza). profundidade. Próximo à superfície, onde a pressão é
mencJr, a água flui na forma de vapor superaquecido,
No Brasil há uma relativa estabilidade tectônica, que pode ser captado e canalizado diretamente para
pc)rém, a distribuição geotérmica não é regular, como turbinas para produzir eletricidade (analogamente a
pode ser observadc) no mapa geotérmico apresenta- uma termoelétrica) (Fig. 22.15). Nesse sistema a recarga
dc) na Fig. 22.14. de água subterrânea lenta permite que as rochas quen-
'
tes cc)nvertam a agua em vapor.
22.4.8 Sistemas de aproveitamento
'
da energia geotérmica Sistema Igneo Quente

A conversão do calor natural do interior da Terra Este sistema peide envolver a presença de magma
(energia geotérmica) para aquecimento de edifí- a temperaturas de 650 a 1.200ºC, dependendo do tipo
cios e geração de eletricidade resulta da aplicação de magma. 11esmo se a massa ígnea não estiver fun-
dos conhecimentos geológicos à engenharia. A idéia dida, ela pode envolver uma grande quantidade de
de se trabalhar com o calor interno da Terra nãc) é rochas quentes. Estes sistemas contêm mais calor ar-
nova. Já em 1904, a energia geotérmica foi apro- mazenado por unidade de volume que qualquer outro
veitada na Itália usando o vapor seco. No entanto, sistema gec)termal; entretanto, neles falta a água quente
o interesse pela energia geotérmica aumentou na de circulação que existe no sistema de convecção.
crise energética da década de 1970, devido à eleva-
:\lguns desses reservatóricis gecitérmicos com ro-
ção mundial do preço elo petróleo. Cc)nstitui-se
chas quentes e secas, por serem subsuperficiais, são
numa fonte energética cc)nsiderada limpa quando
acessí,·eis para perfuração, podendci mesmo ser
comparada às energias termoelétrica e nuclear, já
fraturadas com explosivos ciu técnicas de
que o vapor e água geotermal não produzem resí-
hidrofraturamento. Assim, a água pode ser injeta-
duos e geralmente contêm baixa quantidade de CC)2 ,
da, a partir da superfície, dentro da rocha em um
um dos gases que p<Jde causar o aquecimento glo-
local e bombeada com temperaturas elevadas em
bal pelo efeito estufa.
outro local, recuperando-se o calor. C) vapcir d'água
O desenvol,·imento cc)mercial de energia assim produzido é utilizado na geraçãc) de energia
geotérmica é possí,·el em regiões com fluxo relati- elétrica, analogamente ao sistema ccJn,·ecti,·o
vamente alto de calc)r, c)u seja, em áreas onde a fonte hidrotermal (Fig. 22.16). Apesar ele ser um sistema
de calor, tal como o magma, é relativamente pró- tecnicamente aplicável para prcifundidades até 1O
xima à superfície (3 a 1O km) e está em contato km, a tecnologia de perfuração e aproveitamento
com as águas subterrâneas circulantes. Um exem- do calor ainda nãci está desenvolvida.
486 DECIFRANDO A TERRA

Turbina Gerador

o
N
::::, ttt Ar e vapor
de água
..o Condensador
b___c:::::-:;:::::i__
-5l
Q)
lsobutano
...o
'"O

Cl.
~ Trocador de calor ,
Agua '
Agua

Fluido quente Fluido frio

Fig. 22.15 Diagrama esquemático do aproveitamento de energia pelo sistema convectivo hidrotermol.

Sistema Geopressurizado

Este sistema ocorre naturalmente quando e) fluxc) Nc)va Zelândia, Japão, Islândia, América Central,
normal de calor da Terra é impedidc) pclr rochas im- i\mérica dcl Norte e 1\mérica dcJ Sul. Na ilha elo
permeáveis que atuam como um eficiente iscJlantc Havaí, pc)r exemplo, na primeira perfuração (1.970m)
térmicc). Tal situaçãc) pc)dc ocorrer cm sedimentos realizada nas ptclximidades do vulcãcJ l(.ilauea foi
depositadcJs rapidamente em lJacias que estão passan- c)btido vapor geotermal com temperatura de 350ºC.
dcJ por subsidência regional. A água assim aprisionacla /\. realização de outros poçcls na área permitiu a
ganha cc)nsiderável pressãcl e conseqüente temperatu- instalação de uma usina de energia de 25 1'1W res-
ra. Adicionalmente, a água aprisic)nada pode conter ponsável pela produção de um parte significativa
grande quantidade ele gás metano, que também pode da cletricielade da ilha.
ser exploradc). (_') maior campo de explcJração de energia
gec)térmica lclcaliL'.a-se na ccista da Califórnia (EUA).
22.4.9 Utilizações de energia geotérmica Sãc) cerca de 600 perfurações que produzem vapclr
a 240ºC extraídcJ de um reservat()rio de arcnitc) ar-
A utilizaçãcJ da energia geotérmica para fins elé- gilcJso muitc) fraturado. A produçãc) atual alcança
triccls foi efetuada pela primeira vez no inícic) do 1.200 N[W ele energia, suficiente para abastecer uma
século XX na Itália, na regiãc) da Toscana. () aprcl- cielade cclm cerca ele 1.000.00() de pessoas. A ener-
veitamento de campos gcotermais de regiões gia geotérmica é considerada uma fclnte inesgcJtável
vulcânicas recentes encontra-se em franca expan- de energia na escala humana de tempo, uma vez
são. Vapores gecJtcrmais são empregados cm Lisinas que a recarga de água meteórica que penetra além
de prcJdução ele eletricidade cm regiões da l~Liropa, dcJs limites cxternc)s da cobertura rc)chosa imper-
CAPÍTULO 22 • RECURSOS ENERGÉTICOS il8'7 ,.
. 1

Usina
Geradora
Gerador Fluxo em sistema
/ fechado

,
Vapor vai Agua é

para a usina injetada
Profundidade
> 3 km

Volume de magma
> 4 km3 com tem-
peratura de cerca
de 1.200ºC

Fig. 22.16 Aproveitamento energético de um sistema ígneo quente.

meável é contínua. Entretanto, na usina da Califórnia "-\plicações não elétricas dos fluidos geotérmicas a
a extração rápida de enormes quantidades de vapor baixa entalpia já existem em muitos países do mundo.
tem causado uma diminuição na pressão com con- Por exemplo, na região de Paris, vários milhares de habi-
seqüente redução na produção de energia no campo tações são aquecidas por águas com temperaturas entre
geotérmico. Novas técnicas de injeção de água e 60 e 73ºC, provenientes de profundidades em torno de
taxas menores de produção de vapor deverão ainda 1.800 m. ).;a Islândia os gêisers e fontes quentes que nas-
prolongar a vida útil deste campo por várias déca- cem em meio aos derrames de lava ccJnstituem parte da
das. Os aqüíferos com baixo conteúdo de calor vida diária. Em Reykjavik, a capital, a maioria das habita-
(baixa entalpia) podem também ser úteis para subs- ções é aquecida e servida por águas com temperaturas
tituir fontes de energia mais caras em determinadas até 1OOºC, cujas fontes termais são basaltos muito poro-
situações, uma ,,ez que as tecnologias modernas de sos. Essas águas quentes são utilizadas por lavanderias
isolamento térmico permitem o transporte desses e também para irrigar a terra, possibilitando o culti,-o de
fluidos a distâncias
,
superiores a 1O km sem grandes plantações próximas ao círculo ártico. As águas termais
, perdas de calor. 1\guas com temperaturas inferiores das ilhas vulcânicas do Japão são de longa data uma
a 100ºC podem ser empregadas, por exemplo, em fonte de lazer, a exemplo dos tradicionais banhos co-
habitações e estufas, nas indústrias de lã e de refri- munitários até hoje praticados, bem como em hospitais
geração, nos processos de dessalinização de água nos programas de reabilitação de pacientes com artrose
do mar e na criação de animais. e reumatismo.
N<l I-3rasil a utilizaçà<i dessas águas já <Jc<irrc cm i\. energia elétrica assim geral-la é c<Jnsielerada comeJ
algun1as rcgiiícs. l~xpcriment<lS esti1nara1n tcn1pe- energia renc>vável, senelc) muit<i utilizaela ncJ Brasil, prin-
raturas tnédias lia <Jrdcn1 lle 60º(~ para eJ alJÜÍfer<l cipalmente nas regicJes SL1l e Sueleste, graças à extensa
HcJtucatu, l,acia elci JJaraná (C:ap. 7) para pr<Jfuneli- malha tlL1vial, respclnsável pcir cerca ele 30º/ti de t(Jela
clallcs infericJrcs a 2.500 m, e e1n Presillcnte energia utilizada n<i país (Fig. 22.17).
Prudc11te (S JJ) ágLtas termais l1eJmlJeaclas lia rcJcha
( )s lag<JS feirmadcis pelas barragens llos rios p<l-
liasáltica cm JJr<Jfu11clillalle abastecetn l1al11eári<1s.
llem prc1piciar (l elescnve)lviment<i da navegaçàcJ flL1vial,
1:a111<JSClS sàcJ, ta111!Jé111, ClS balncáricJs de Termas d<J
servir para a piscicultura, recreaçãci e ccJmo fonte lle
l{i<i (,2ucnte ((~( )) e ele (~ravataí (SC:).
água tantc> para eJ cclnsum<i humanc) cc1mo para irri-
gaçà< J, tcirnanl1CJ-se impcirtante fatcir l1e elesenvcil viment(l
22.4.10 Impacto ambiental e via c-le escciament(l ela prcieluçàci agríccila, a(i leJngo
eleJ rici, além ele serem utilizad(is taml1ém para <J lazer.
()s im1JacteJs arn !Jientais pr<ive11ientes cl<i apr<1-
veitamcntc1 intensivci ele energia geeJtérmica sàei Apesar da geração de energia por hidrelé-
talvez 111cn<Jrcs cm extensàci lJUe as <Jutras f<intes tricas peiller ser C(Jnsideraela limpa, têm sillci
de energia, un1a \"eZ que nãei é necessáricJ cJ trans- c<ilcJca(las restriçcJes e1t1antc1 à área inunllalla pela
11<1rt c lle tnatéria-prima <iu beneficiame11tc1 ele> lJarragem. i\. relaçãci entre a energia gerada e a
c<Jtnl1ustívcl. ÜC\'emeis lembrar que a c11crgia área inu11dada é llepenelente da altL1ra ele crista
gec1tér111ica é apr<Jveitalla cm locais bastante parti- ela barragem e lia" ecindiçc3es tcipcigráficas lc1-
culares e <JS prcJl1lc1nas tan1l1ém seràeJ lcJcalizacl<is, cais, senll(J considerada illeal a relaçàci lie 1 ()W
C<>t1sisti11do cn1 ruíll<J ambiental e geraçàci llc gases. por metrci lj uad rallei de área in t1ndad a. ;\ re-
Sua 11rcilluçà<>, a<l ccintrári<i lle ciutras fcJ11tcs giã<i Ncirte clci Brasil, apesar ela en(irme malha
enct)!;éticas, nà<i necessita ele c1uein1a nem lia llisp<l- hillrcigráfica, sc>frc restriçc"íes à implantaçàc) de
siçà<i ele rejeit<is ralliciativcJs. PcJr c1utrc1 laci<l, a mais Ltsinas hidrelétricas, justamente deviel(l às
cxplclraçàcl ccintínua p<Jde caL1sar prciblcmas ele SL1as características topcJgráficas, muitc) planas,
SL1lisielência elcvidci tantci acJ alívi<l ele 11rcssà<J el<l c1ue exigem (J alagamento ele áreas muitc> maio-
sistcrna (C:a11. 7), c<1n1ci ll<l rcsfriament<l e ccinsc- res daeJLiela ccinsiderada ieleal, cc1mc1 peide ser
qüc11te C<lntraç,t<J lia rcicha. ()s dcn1ais prc1l1lemas cibservad<i na Ta!Je!a 22.3.
a111\1icntais sà<i aclvinel<lS das <il,ras ele eng;cn\1aria
Tabela 22.3 Comprometimento ambiental
civil necessárias para a implantaçà<i ela usina.
de algumas usinas hidrelétricas brasileiras

Usina Produção/Área inundada


22.5 Hidreletricidade
{W/m 2 )
Barragens já eram ccinstruídas na antigüielaele
Xingó (SE/AL) 58,8
para regularizar ei stiprimentcJ de água elas cillaeles,
para irrigaçà<l lias lavciuras e para eJ cclntrcile ele Segredo (SC) 15,3
inunelacc'íes. C:cim ci elesenvolvimentcl el<i LlS<l ele
'
energia elétrica nci final elei séculeJ XIX, as liarra- ltoipu (PR) 9,4
gens passaram a ser utilizaelas também para gcraçàcJ
de energia elétrica, aprciveitanelci CJ grae-liente hidrá- ltoporico (PE) 1,8
ulic<J cl<is ricis, prcin1cJvenclcJ Llffi fluxcJ ele água
Tucuruí (PA) 1,4
ceintínuc1, que é utilizallci para mei\1 cr turbinas e ge-
ral1<lres (le energia elétrica. A seleçãci el(lS lc)cais para
Porto Primavero (SP/MS) 0,85
a implantaçã<i de liarragens leva em cc)nsiclcraçào a
largL1ra dei ri<i e a tcJp<igrafia no entcirnei para mai- Serro do Mesa (GO) 0,67
<Jr aprc1veitame11t<1 dei gralliente dei riei e para evitar
a int1nelaçàcJ lie uma área muitcJ extensa, já e1ue esta Bolbino (AM) o, 11
área será inL1tilizalla para ()utro apre)veitamentcl ccc)-
A •

neJmtccJ. Ideal 1O
Fig. 22.17 Usina de aproveitamento múltiplo Três Irmãos (Pereira Barreto, SP). Foto: CESP

Diversos fatc)res C()ntribuem para aumentar as res- 22.6 Outras Fontes de Energia
triçt':íes à implantaçã() de barragens. Entre eles p()dc-se
destacar a necessidade de desmatar a área do lag(), a .\lém das f<)ntes ele energia já aprcsentae-!as, outras
p(issibilidade de ocorrer salinização da á_l,iua do reser- f()ntes sãcJ utilizadas cm pequena escala. I-<'.ntre elas cstã()
vatóri(J devido ao aumento da evaporaçã(J, a eventual a cneri--,ria e(Ílica, pr(Jduzida pclcJs vent()S e a energia scilar.
necessidade de deslocar cidacles, povoad()S ()U popula- r:stas fcJntes ele energia apresentam granele vantagem
ções indígenas e a também eventual inundação de sobre eis cc>mbL1stíveis f(isseis, uma vez que sãc> ren(Jvávcis.
atrações turísticas (a exemplo ele) que occirreu cc)m Sete i\o entant(J, ci seu US() depende de aspect(JS ecc>nômi-
Quedas (n() ri(J Paraná). Pode também (JC(Jrrcr cc>s, tc11do se m(istraelo viáveis para a gcraçã(J ele energia
assoreamento nos reser\'atórios das barragens, () que elétrica en1 regiões que nãc) sãcJ assistidas pela reele ele
levaria a uma diminuiçã(J significativa de sua capacida- distribLiicàcJ ele cJutras fcintes ele ener1-,ria.
de de geração de energia e mesmo ele sua vida útil.
Este fator se torna mais rele\·ante pois, nc)rmalmcnte, a 22.6.1 Energia eólica
implantação de uma barragen1 gera clesenvolviment(J
populacional nas margens d() lagci e cJ conseqüente in- "\ energia eólica é produzicla pela m(JYin1enta-
cremento na taxa de urbanização e1ue, se não seguir un1 çà(J ele hélices pela açà(J do ventei. A energia gerada
planejamentc) adequad(), pc>de contribuir ainda mais para p(ielc ser utilizaela diretamente para !Jcin1bcar água cJu
o assoreamento deis lagos. Outr(J questionamento diz mo\·er m(iinhcis, ou ainela para gerar energia elétrica.
respeitei à destinaçã() que será clada às barragens quan- (_) use) para bcimbear ágL1a é bastante antigo e C(>nhc-
do dei términ(J de sua \·ida útil. cid(J, pcirém, a geraçãcJ de energia elétrica s(i se tornc)u
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econc)micamente viável após o desenvolvimento de


rotcJres e geradores de alta eficiência. Hoje este tipo
de energia é aproveitado em várias partes dei mundo
que apresentam incidência ccinstante c-le ventos, inclu-
sive no Brasil, que dispc'íe de L1sinas em ciperaçãci no
Ceará (Fig. 22.18) e l)araná, além de várias áreas pci-
tencialmentc favciráveis, uma vez que ci custo de energia
eólica gerada torna-se competitivo à medida que as
melhcires possibilidades de,
aprc)veitamento hidrelétri-
cc) forem se esgcitando. E importante ressaltar que, por
se tratar de uma fcinte limpa de energia e a área ocupada
poder ser usacla simultaneamente tanto pela agricultura
Fig. 22.18 Usina eólica da Taíba, CE, que produz 5 MW, é a como pela pecuária, sua utilização tem crescidci sensivel-
primeira a ser implantada sobre dunas. Foto: Wobben mente. Em 1990 a capacidade de geração instalacla no
Windpower.
mundci era da cirdcm ele 2 MW, saltciu para 10,2 MW

22.1 Proálcool
Com a primeira crise do petróleo ocorrida nci final de 1973, diversos países incentivaram pesquisas para o
desenvolvimento de energias alternativas. Dentro de tal cenário, o Brasil criou o que, sem dúvida, tem sido a
maior experiência mundial na produção e utilização de energia provinda de ccimbustíveis derivados da biomassa
no mundo.

Trata-se de um programa, criado em 1975, cujo objetivo central era substituir parte das importações de
petróleo, que comprometiam pesadamente a balança comercial do Brasil, devido ao seu repentino aumento
de preços.

Esse programa visava a utilização de álcool (etanol) produzido a partir da cana-de-açúcar em substituição acis
combustíveis derivados do petróleo, principalmente a gasolina. Para isso, deveu-se criar uma infra-estrutura de
plantio, destilação e distribuição que atendesse a tal objetive). Paralelamente, o programa exigia, por parte dos
fabricantes de veículos automotores, um esforço de desenvolvimento tecnológico na adaptação dos motores
movidos a gasolina.

A implantação do programa se daria paulatinamente, primeiramente com a adição de um percentual crescente


(até 25%) de álcool à gasolina para, posteriormente, implantarem-se veículos movidos exclusivamente a álcool.

O Proálcool foi sendo implantadci com sucesso, apesar da sua inerente complexidade, devido à extensão
territorial e a conjunturas políticas internas, sendo que em 1985 cerca de 96% dos automóveis novos eram
movidos exclusivamente a álcool.

Apesar do êxito alcançado, a partir de 1986, com o decréscimo dos preços internacionais do petróleo, e
paralelo aumento dos preços do açúcar, o álcool combustível perdeu sua competitividade, provocando uma
crise no abastecimento interno. Tais fatores levaram a um relativo descrédito popular ao programa, decrescen-
do sensivelmente a produção de novos veículos movidos a álcool. No entanto, o programa possibilitou
expressivo desenvolvimento tecnológico tanto na área de refino como na biotecnologia e cultura da cana-de-
,
açucar.

Fica evidente que o futuro do Proálcool depende das oscilaçc}es do preço do petróleo. No entanto, o fator
positivo é a disponibilidade de um programa bem-sucedido, com tecnologia própria, que, além de utilizar
uma fonte de energia renovável e menos poluente, quando comparada à energia produzida a partir de com-
bustíveis fósseis, é um fator importante na geração de empregos e desenvolvimento nas áreas rurais.
no final de 1998, sendo a Et1ropa respo11sável por mais brasileiras. A energia solar peide também ser aprcivei-
de 60% dessa produção. Na Eurcipa, estima-se c1ue a tada pcir meio ele células fotovoltaicas, que geram
partir de 2020 cerca de 10°/ci ele tt)da energia elétrica Lima corrente elétrica capaz de carregar baterias. ()
gerada será de origem ec'.>lica. custti relativamente elevado dessas células tem caído
sensivelmente nos últimcis anos, pcissibilitando sua uti-
22.6.2.Energia solar lizaçãci em áreas c.1ue nãci clispõem ele outras ft>rmas
ele energia, a preços c.1ue, a lcingci prazo, tcirnam-se
A energia solar é aquela aprciveitada da incidên- compensat(iricis, visto não necessitarem de extensas
cia de raios solares na superfície terrestre. Pc)de ser redes de distrilJuição. J ,cvandcJ em conta ci retcirno
utilizada de forma passiva simplesmente para o aque- social que o acessti à energia elétrica propicia, o usei de
cimento de água ou mesmo ele aml)ientes, sendo que, células fotovtiltaicas pode passar a ser um importante
nos últimos aneis, cada vez mais unidades coletoras de meici ele promoçãci scicial, principalmente para as re-
calor podem ser vistas sobre os telhadcis nas cic.lades giões mais e.listantes deis centros urbancis.

22.2 Fusão Nuclear


Em contraste com a fissão nuclear, que envolve a quebra de átomos pesados ccJmo o urânio, a fusão nuclear
envolve a combinação de elementos leves como o hidrcigênici para a formação de hélici, a exemplo do que
ocorre no sol e outras estrelas. A Fig. 22.19 esquematiza a reação provocada na fusão, com a respectiva
liberação de energia.

Em um hipotético reator de fusão, dois isótopos de hidrogênio (átomos com diferentes massas devidcJ a
diferentes números de nêutrons presentes no núcleo), deutério (D) e trítio (T), são injetados na câmara do
reator onde são mantidas as condições necessárias para a fusãcJ (temperatura, tempcl, densidade).
Como produto da fusão D-T, 20% da energia liberada é utilizada na fcJrmação de hélio, enquanto os outros
80% de energia são liberados em nêutrons.

Para a ocorrência desta fusão, no entanto, é necessária a criação de um ambiente com condições favoráveis: 1)
temperatura extremamente elevada (aproximadamente 100 milhões de graus Celsius), 2) elevada pressão de
confinamento, criando um plasma, e 3) confinamento dei plasma durante um certo tempo de modo a assegu-
rar que a energia liberada pela fusão exceda a energia necessária para manter o material em estado de plasma.
A partir desse sistema, um grama de ccimbustível D-T (de um suprimento combustível de água e lítio) tem a
energia equivalente a 45 barris de óleo, sendo que o Deutério pode ser extraído economicamente da água dos
oceanos, enquanto o Trítio pode ser produzido em uma reação com lítio em um reator de fusão.

No entanto, para que a fusão nuclear se torne


comercialmente viável, as tecnologias de geração
lsotópos de
Hidrogênio \ 80% da Energia
liberada
de altíssimas temperaturas e pressões necessárias
para sua ocorrência devem ser desenvolvidas.
Trítio
Nêutron 14.1 MeV
A energia gerada a partir da fusão teria aplicações
-+► + 20% da Energia
diversas, tais como a geração de energia elétrica e
produção de combustíveis sintéticos
e,. a Liberada
Deutério {y
Hélio . . . 3.5 MeV

Combustível Condições de Reação


Do ponto de vista ambiental, a fusão nuclear se
1Densidade. Temperatura e Ten1po)
\
Produtos
mostra atraente quando comparada com os com-
bustí1:eis fósseis ou com a fissão nuclear, pois
• Próton
gera uma quantidade mínima de resíduos além da
-- Nêutron

MeV ~ Milhàes de eletron V~ts


possibilidade de instalação de usinas próximas às
(medida de energia) regiões de maior consumo de energia.
Fig. 22.19 - Esquema da reação de fusão nuclear.
22.3 E o Futuro?
Cc)mo fcii vistcJ neste capítulo, cada uma das alternativas de prc)duçãci de energia apresenta algum tipo de
impacto ao meio ambiente, que não tem sidc) cc)ntabilizaclo no seu custe). Os combustíveis fósseis apresentam
prc)blemas cc)m respeite) ac) efeitcJ estufa, a alternativa nL1clear com a disposição final dc)s rejeiteis radioativos e
as barragens ccim a área inundada e a alteraçãcJ elo regime dcJS rios. As demais alternativas têm uma aplicação
mL1itci lc)calizada. As questões inevitáveis sãci: 1) haverá energia suficiente para suprir uma população crescente? !
2) até quando o planeta suportará a degraclaçãcJ ambiental causada pelas fontes de energia em uso atualmente? "·
C)s especialistas c.1ue se ocupam em avaliar cJ ccJmpclrtamentcJ do mercado internacional e o futuro dos recur-
S<JS energéticos não acreditam que possa haver uma crise energética a curto prazo. Estimam que há reservas de
petré)leci para mais um século de consumeJ, além da pc)ssibilidade ele se implantarem muitas novas usinas ·
nL1cleares. Paralelamente, ci decréscimo de custcJ das unid.ades eólicas e fotovoltaicas tem levado a um incre-
mente) ncJ uscJ destas alternativas. JJrevêem, também, que em tempo muitc) menor (talvez 50 anos) já se tenha
c.lesenvcJlvidcJ Llm recurso energéticc) qL1e substitua o petréilecJ e que não cause tantos problemas ambientais.
F:stas supclsições explicam, em parte, a relativa estabilidade dos preços elos combustíveis fósseis.

Leituras recomendadas
BUNTERBAR1"f-f, G. Geothernzics- an lntroduction.
Springer-Verlag, 1984.

DF,i\,fRTRIC), J. G. A. Perfis de te11perafura na !oca-


çiio de poços tubulares no c1irta!ino do nordeste brasileiro.
SãcJ IJaulo: InstitutcJ de c;ecJciências - USlJ, 1998
(tese).

IZI<'.LI"ER, f~. i\. J~nvironmenta! Geo!ogy. New YcJrk::


J\;1acmillan. 1996.

PRiiSS, I~ & SIEVf~R, R. [Jnder:rtandinJ!, F:arth. 2nd


ed. New Ycirk: \'V, H. Freeman, 1998.

RAHN, l~}-f. l~r{gineerint, G'eology - an l",nviron111enta!


Approach. New YcJrk: r:lsevier, 1986.
SIZINNER, B.J. & l)(JltTER, S. e:.
7'/;e l)ynan1ic
Earth: an Introduction to JJh_ysica! Geolo,_1!,)'· Ne\v
Ycirk:: John \X1iley & ScJns, 1995.

'
494 D ECI FRA N D O A J ER RA

os capítulos precedentes, foram abordados presente está mais para o "buraco da fechadura do
. . . . ,
os pr1nc1pa1s processos que const1tu1ram e passado" do que para a "chave", ou seja, o presente
modificaram a Terra - plutonism<), vulcanism<), não abre a porta do passado, deixando-a escancarada
tectonismo, metamorfismo, intemperismo, erosão, para nossa inspeção fácil e completa da história geo-
transporte, dep<isição e litificação, entre outros. Des- lógica de nosso planeta. Muito pelo contrário, a visão
de que a Terra se diferenciou em litosfera, hidrosfera do passado que o presente nos propicia, embora ra-
e atmosfera há mais de 4 bilhões de anos, esses pro- zoável, é algo limitada. A lição que Bengston nos ensina
cessos ditaram a evolução geológica e biológica. Por é que devemos atentar para a possibilidade de nos
causa disso, costumamos dizer que o "presente é a defrontarmos, em nossa análise do passado, com si-
chave do passado" e com isto podemos vislumbrar o tuações e fenômenos estranhos à nossa experiência e
vasto registro geológico de eventos passados. No en- ao mundo atual.
tanto, como vimos no Cap. 15, diversas observações
Se o presente nos permite desvendar pelo menos
indicam que o presente é muito diferente do passado,
parte do passado, então é igualmente verdadeiro que
ainda que os processos geológicos atuais e do passa-
a análise deste passado pode nos ajudar a entender o
do obedeçam às mesmas leis físicas e químicas. Por presente e vislumbrar o futuro geológico. Trata-se de
exemplo, estudos de planet<)l<igia comparada (Cap. uma percepção nada trivial, especialmente no que diz
1) não deixam dúvidas de que nossa atmosfera era respeito à ocorrência de desastres naturais (terremo-
originalmente muito parecida com as atm<)sferas de tcis, enchentes, vulcanismo etc.) ou catástrofes induzidas
Vênus e l'vfarte (Tabela 23.1), apesar de hoje ser com- pela humanidade (di111inuição da biodiversidade, mu-
pletamente diferente. danças no nível do mar, alterações climáticas etc.).
Evidências geológicas de todo tipo comprovam Assim, devido à visão abrangente de nosso planeta, o
que a geografia atual dos continentes representa ape- geólogci desempenha um papel fundamental não ape-
nas ci mais recente arranjo entre crosta continental, nas na identificaçã<i e prevenção de riscos geológicos,
crosta oceânica e nível do mar num planeta dinâmiccJ. como deverá ter uma atuação cada vez mais impor-
Da mesma maneira, sabemos que o clima global já tante na resolução de grandes problemas que a
variou muito ao longo d<) tempo. Isto é exemplificad<), humanidade enfrentará nas próximas décadas: supri-
pelas numerosas cJscilações entre perí<idos glaciais e ment<) de água potável, uso racional e degradação de
interglaciais ncis últimos três milhões de anos. Similar- solos, fornecimento de energia, exploração de recur-
mente, a biosfera, em constante mudança e interaçã<i S<JS minerais tradicionais e alternativos e planejamento
com a atmosfera, hidrosfera e litcisfera desde que sur- (e reorganização) urbano. Neste capítulo, identificare-
giu, transformou nossci planeta, diferenciando-o de mos algumas das linhas-mestre da história geológica
tod<is os outros do Sistema S<ilar. da Terra para que o leitor possa se situar, historica-
mente, no presente e avaliar, criticamente, o que poderá
O paleontólogcJ sueco Stefan Bengtson apresenta ocorrer no futuro próximo. Afinal, como saber para
uma visão interessante sobre esse tema. Para ele, o onde vamos sem conhecer de onde viemos?

Tabela 23.1 Comparação das atmosferas de Marte, Vênus e Terra

98% .
Nitrogênio 3,5% 2,7% 1,9% 79%
•· Ôxigêni◊
. .

"" - '
· .i ff:,!;~~; :::;·;:··•····. o, 13%
Argônio
.,· .... · . .:
70 ppm 1,6% o, 1% 1%
· Metono >·•. ó,óf ·• 0,0 .·.·
1,;r ti'fihl •· •
Temperatura da superfície (ºC) 459 240 a 340 13
. . .. '
Pressão .atmosférica total, em bares 90 60 . l •· .·•

• Formação ferrífera bondada (Quadrilátero Ferrífero, MG), testemunho da oxidação dos materiais geológicos na superfície,
quando da liberação de grande quantidade de oxigênio pela biosfera. Foto: T. R. Fairchild.
23.1 O Ritmo e Pulso da Terra
Antes de discutir processos e fenômenc)s específi-
cos, faremos algumas considerações sobre a
superposição dos ciclos, tendências seculares e e,·en-
tos singulares na história de nosso planeta - resultado
do ritmo e pulso da Terra. ~;fesmo reconhecendo a
utilidade do conceito do atualismo (Cap. 15), sabe-
mos pelos registros geológico e fossílifero que o
passado nunca foi igual ao presente. Mesmo com mais
de seis mil anos de história da civilização documenta-
da por escrito, é fato que C) ser humano, desde que se Fig. 23.1 Deslocamentos tectônicos normais, ocorridos nos
socializou, ainda não experimentou toda a variedade e últimos l 0.000 anos nas proximidades de Taubaté (SP), isola-
magnitude dos fenômenos geológicos mais comuns ram este bloco trapezoidal (horsl) de sedimentos terciários no
da Terra. Por exemplo, nem em tempos históricos nem meio do regolito homogêneo. Foto: C. Riccomini.
nas lendas indígenas, há registros de ocorrência de gran-
des terremotos no Sudeste do Brasil. Contudo, nos por exemplo, por atividades sísmicas e vulcânicas na
últimos 10.000 anos, no vale de Taubaté, prc)ximo a :-:ona de falha do Mar Morto (limite entre as placas
São José dos Campos (SP) o regolito sofreu africana e asiática), onde essas duas cidades se locali-
falhamento com deslocamento vertical de 6 m certa- zam. Estórias deste tipo, interpretadas cientificamente,
mente acompanhado de fortes tremores, deslizamentos juntamente com inferências obtidas da própria análise
e destruição em toda a região (Fig. 23.1 ). do registro geológico, permitem-nos compreender
melhor a dinâmica da Terra em termos da freqüência
Pc)de-se pensar ainda nas muitas vezes em que o e duração de suas manifestações, ccimo mostram as
mundc) foi palco ele inundações, secas ou furacões ti- Tabelas 23.2, 23.3 e 23.4.
dos como únicc)s na memória de) povo local c)u nos
registros histc)ricos das regiões afetadas. Embora es-
. ondas criadas
ses eventos nos pareçam muito raros no contexto de . por lmp~cto
. de asteroide
nossas vidas, são muito comuns, até corriqueiros, na
história geológica. j\1uito mais do que tempestades,
estiagens e vendavais, que comumente modelam a
--
Ili
~ 1 o15
· grande ·
·. terremoto ·

paisagem da Terra, esses eventos modificam as linhas o ·· grande


..... . corrente de ·
turbldez
de costa e deixam marcas no registro sedimentar atra- E grande
QI tsunamis .deslizamento
vés da sua repentina e tremenda capacidade para submarino
l'll ondas de
erosão, transporte e deposição (Fig. 23.2). ..
'ãi
QI
1o
10 tempestade

vento de
furacão
fluxo de
detritos
subaéreo
Segundo especialistas, cada segmento da cc)sta norte e:
do Gc)lfo do México é atingidc) por uin furacãc) pelo
....
QI
grande rio .
em período
de cheia
menos uma vez por século. Embora pouco freqüen- correntes
de maré
tes em termos humanos, em um milhão de anos (um e: · zona de
CI arrebentação
período de tempo curto da história da Terra) seriam l'll correntes
::!E oceânicas
10.000 vezes!

A saga humana registrada nas lendas, escrituras an- 1oº l-


sed1m,ntação
peláglca
tigas e literatura científica dos últimos dois séculc)s, 1 1 1 1 1 1
fornece-nos um quadro geral da freqüência, duração 1 ""

e magnitude dos e,·entos da dinâmica externa e inter- 1ntervalo de recorrência (anos)


na da Terra. ;.luitos dos relatos dos terríveis flagelos
Fig. 23.2 Gráfico de energia versus freqüência de diversos
bíblicos encontram fundamento científico na instabili- processos importantes da dinâmica externa. Quanto mais
dade tectônica do Oriente ;.lédio. A destruição das energético o processo, maior a chance de deixar sua marca
cidades de Sodoma e Gomorra pode ser explicada, no registro sedimentar.
496 D EC I F RA N D O A TERRA

Tabela 23.2 Freqüência de eventos recorrentes na dinâmica da Terra


Período de recorrência Evento ou processo

l . <l ano Deposição de vaNes


Furacões e seus efeitos erosivos e deposicionais
· 2. i)i~'ilí ijiQQiôno~ •• ·· Jernpe$tddes e inUndaçõésexcepc\onais ·
dê turbidez ~otroôis ..... ·
Correntes
.< .l;iÊrufJç~ê$) V~ltpiií~s .t()~êÍísrni<tos•
3. l 0 2 a l 0 4 anos Oscilações climáticas
Correntes de turbidez gigantescas
4. ?fi~i~ 1.~nnós.·· ... ◊scllaçõ~scllrnêi~icas•rndiõres
· ·• •·•·' : Alterac,;$ês rro til!térl'IÔ de correntes oceônicos profundos
5. l 05 a l 0 7 anos Inversões dos pólos magnéticos
Mudanças críticas no movimento e reorganização de placas litosféricas
Principais ciclos de mudança do nível do mar (dezenas a centenas de metros)
6. !1,Q~í;J;JQ~qnos•• .··. . Impactos de bólidos.(meteoritos, cometas, asteróides) maiores.que] 00. mde diâmetro·
·•• • Cicloide Wilson · · ·· · · ·· · ··
··.•··. ·•···••· ,Cicliôde
.. . .
Supercôntinente
. .

Podemos ter uma idéia da magnitude de eventcis falha, em média, a cad~. 140 aneis. Com base nesta
geológicos pelos resultadcis impressionantes de um frcqi_iência, ci tempci mínimo para obter eis 240 km de
terremoto (Tabela 23.5). A falha mais estudada e.la afastamento seria de apenas 700.000 anos, mercis três
Terra, a falha transccirrente de San Andrcas, estende- ou quatro pcir ccntci e.la idade da falha. Peidemos con-
se por mais de 1.200 l'"m na c=alifórnia (EUA) e cluir, portanto, que os terremcitos maiores fcJram
apresenta 560 km de deslcicamento cumulativo desde menos freqüentes do que se imaginava e que foram as
que surgiu, há 15-20 milhões de anos (Fig. 23.3). Na centenas ele milhares ele abalos mencJres que possibili-
porçãci sul da falha, rcichas antes ccintíguas estãc) sepa- taram a maior parte da separação lateral aci longci da
radas hcije por 240 km. Com base nas informações falha de San 1\ndreas.
da Tabela 23.5, podemos extrapcilar que seriam ne-
Pcir outrci Jade>, occirrem mcivimentcis que, embo-
cessáricis quase 5.000 terremotos ccim os efeitcis
ra gcolc)gicamente bruscos, passam c.lesaperce]Jidos
daquele que destruiu a cidade de San Pranciscci cm
pcirque sua açãcJ é ccintínua e relativamente pouco
1906 para obter essa separação. Um terremoto c.le ele-
ncitada durante a vida c.le uma pessoa. Sãc) eis movi-
,·ada magnitude é registrado em ccrtc)s trechc)s clessa

Tabela 23.3 Processos dinâmicos contínuos e descontínuos

Processos contínuos Processos descontínuos


1. Evolução biológica gradual (gradualismo filético) 1. Evolução biológica em saltos (equilíbrio pontuado)
'. 2i Er~~fiódê um rio meandrante
' . ' '. ' . ' ' ' '
· · 2. lnundoções•torrencioís
3. Compactação de sedimentos 3. Colapso interno de sedimentos
. 4. ·ê~êlmentô. de recifes .
' ' ' " ' ' ' ' 4. Remodelamento da faixo litoral durante tempestades
5. Subsidência 5. Escorregamentos
· • .~; ~(>ergllimento .• . 6. Terremotos
7. Diapirismo 7. Falhamentos
· âi:ôJ~õ~!$flo pelógico {em oceanos profundos)
º/,,;'. '•i< \!-· <· '·, . '' ;,' ;·;: i> -:·· ,"< ' ' ·>' ' . '
8. Deposição de turbiditos
9. Fluxo térmico do interior da Terra 9. Intrusões
'I •,; ',' ,' ,,,, , ' , . , ,' ., , , , . .

I\:lll,
'.''.'.,'"/'" ', '.
fot~~~µé:lde
.,.
-,.; .. ,. .
. ossoolho oceânico
. ' ,,' ', ', ,,, '
1O. Colisão entre continentes
11. Geração do campo magnético terrestre 11. Inversões dos pólos magnéticos
-vw,-.,,u ..... ·. ,.,,,,.,· .., -.
••mt'lt lflI1~1i'~ roios cósmicos
!P11fJt:/'.:;jA;n:} ;};;;<;:;,il:i!i~;ixtL i-·:,: ' ': : : "i;: , ,·: ' _'; ' ·. ' :>' '
.·.] 2. Impacto de meteorito
CAPÍTULO 23 • A TERRA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO 497

Tabela 23.4 Duração de eventos importantes na história da Terra

.·· :e:::.';:i;:j::<i:;:;"::,
e tmiliíQ!í."'.,
,,J<tli~~!:~i~:i.fi!1f[:t·!irn!,,''.,,.,
1
,0c,..... ,. • '"·

2. Mudanças na velocidade segundos Deposição de uma lâmina de sedimento

de correntes de água

;:;'.:[[1:. :·:; ~~,~~! ·~roij ~â. •' ;j 1


:!H.Í ;.s ,:L: >i ',
/ :

,., .:~~iJIJ. ,'., ,., . . l~il~~i


. . . · ~êó~~:•:: > ·

4. Erupções vulcânicas horas, dias Derrame de lava ou deposição de uma

camada piroclóstica

6. Mudanças climáticas sazonais


•.ul\::;~•'~~l~~~tJ~~~~ t,~) •· 1
meses, ano Formação de um vaNe (varvitos); anéis

de crescimento em árvores
'"" ,•<,;;:;) '

;~~l~~{.

8. Alterações em processos no núcleo da Terra l 03-10 5 anos Geração de anomalias magnéticas lineares

no assoalho oceânico

l O. Mudanças no regime climático global 105- 106 anos Extinções, inovações evolutivas, mudan

ças sedimentológicas e faciológicas

Tabela 23.5 Magnitude de movimentos geológicos bruscos


- deslocamentos provocados por terremotos históricos

··1"a~~••;)!Saío de Yakutat, Alasca.· .• . ~5!:~r:t~tii~~;;fü~lif:l'lé~t~i:~erticol


,-,,, •. ,-- i::_ ·, • · • ;;t ::- .::;,;;r .· qg.: ::'.J;·";,:·
.· ·• ,.::::,
domr"ii:Jffâdo)
/y."·; ::·.-':;',:/ /' :.·,:.:,1 •./;,;, . ·;_, : /.: ,--

1960 Chile

,:~~i Anchoroge, Alasca

·. . 1::~~,/ 1':iS~n Francisoot Califórnia 7m


1940 Vale Imperial, Califórnia 5,5 m

• ][~~~,i:i1!!'t.~~~horoge,AJasca,·• •.e•1~:1~~1~~imfl~~2~~mij~~~tol documentcu:l~~ili!liM!'. i;·.•••·, 1

1980 AI Asnam, Argélia 6,5 m em falha com traço de 30 km de comprimento


498 D Ee I F RA N oo A T ER RA

mentc)s verticais glácio-isostáticos da crosta (Cap. 11)


que ocorrem em várias regiões do hemisfério norte,
conseqüentes do derretimento recente das espessas
coberturas pleistocênicas de gelo. Foram registrados
soerguimentos com taxas anuais milimétricas a
decimétricas. Na Escandinávia o soerguimento total
nos últimos 10.000 anos alcançou cerca de 250 m. Para
compensar esta forte elevação, as regiões adjacentes
da Rússia e Holanda apresentam taxas de subsidência
também altas (Tabela 23.6). A cidade de Amsterdã
registrou 20 cm de subsidência em apenas 40 anos.
Não é à toa, portanto, que os holandeses chamam sua
pátria de "Países Baixos" (Nederland).
Fig. 23.3 Falha de San Andreas, Planície de Carrizo, Califórnia
Surpreendentemente, entre os movimentos verti- (EUA). Foto: David Parker/SPL/Stock Photos.
cais da Terra, é o soerguimento que costuma ser mais
rápido do que a subsidência. Fluxo térmico, espessura
valores entre 0,4 e 0,6 mm/ ano. Atualmente, a cadeia
da crosta e isostasia (Caps. 3, 4, 5) comumente supe-
I<..arakc)ram, no norte do Paquistão, apresenta a maior
ram a força gravitacional nesses movimentos, sendo
taxa de soerguimentc) conhecida, de 1O mm/ ano, que
mais rápido o soerguimento das regiões de maior flu-
vem se mantendo ao longo dos últimos 500.000 anos.
xo térmico do que o abatimento das regiões tidas
O valc)r é mais de 1O vezes superior à taxa registrada
como estáveis (de fluxo térmico baixo). Mesmo as-
nos Himalaias e nos Alpes (0,6 mm/ano). Em regiões
sim, as taxas de soerguimento em regiões orogenéticas
estáveis das placas litosféricas, longe de suas margens
(de formação ativa de montanhas, principalmente nas
ativas, C)S movimentos, principalmente de subsidência,
margens ativas das placas - Cap. 6) nãc) são tão espe-
são ainda mais lentos, de 1 a 2 mm/ ano a curto prazo,
taculares quanto se esperaria. A curto prazo as fases
e de apenas O, 1 mm/ ano a longo prazo.
de soerguimento mais rápido, oscilam, normalmente,
entre 1 e 3 mm por ano, o que é quase imperceptível. Pc)r que os fenômenos geológicos - erosão, sedimen-
A longo prazo, considerada toda a história de uma tação, soerguimento, subsidência, etc. - quando
cadeia de montanhas, a taxa de soerguimento cai para observados a curto prazo, quase sempre apresentam ta-

. :. :·. " ..
,' /:-:"\_..
- . _-_ 23.1 -Quão altas as montanhas?
:•:à~$~~mliliniteS na altiti:,,d~~ que uma cadeia de montanhas pode atingir? Parece que sim, pois quimdo
"'. ,,,:•·.-.,.: •;, .. ::· . __ ._ ,"-'_ ' :. . " . •', .--:•- ', ' ', ,'. ' . ' . ' ' '

•· '11S>f>~es; mais elevada$, d~ u~~+regi.ão sobressaem de 2 a 4 km acima dos terrenos circundantes, o próprio
i •~o ~ tadêi~ começa a~p~,~~qt}tinuidade de sua elevação através de abatimentos tectônicos (falhamentos
.. ·" ;-······•:·•.·,: .-,• . .. .;: . ·:.:--_-,- ·:.:--·>::, .. ·... ,p,.:U·:-... -'-'. . ,·• ,,

•.•~O~P'.íi~'s (!)'ti. gravitacionais)1 q~~ ~1;1rlb!íi!n,~pe çom as. onipresentes forças erosivas se opõem ao soerguíP'.í!ento, E
.• ~~sni.~qé:.~c-◊ntec~ atuahnebte~~parte~tt!ail da cadeia Andina, pot exemplo, onde se encontram grandes vales
/:••.:,ª~ ~~e~!~ect:ônica (grabe!'l.r);'é~p;iiq <1 :it1tlp1airtb Andino na Bolívia e Peru,· onde se localizam o Lago Titicaca e
'/;!~ii~~ii~~ta~se. qµe a (;aµti~ 1~~iláia, có~i•altitude máxima de 8.840 m acima do nível do mar, JlQ cume ·.
1!::Jji1\ljji~;l#~est, ~enl êomo '~s;~~ do Havli,[~qm o vulcão Mauna Loa se elevando a quase 9km ~êhtlá d~
'::;1~,~~~~~:Jciê~~cô,:já~stejam.nôlirnite~áximo d<i,:~tu.ta para cadeias montanhosas em nosso planeta. Oinesm '
fi1 i#~~!~~t-.e aplicar::se ao planeta Marte;q~de o~~~? Monte Olimpo (Cap: 1) atinge uma altura de 26 km li4\ima -
}lt~~~~l~ij9s adjaceitte&, o• que o torna Çi).jaior piétl(i~~nhecido no Sistema Solar. Esta elevação, entretanto>;Aã,o _-
;i•:)i!~tq-~âó soetguíP'.í!ento da crosta mis: a
evasão d~: materiais magmáticos derivados de uma ip:iensâ p!Uil!na .
·~f;iiiij~ai.qttê,(oo ausênciâ de um regime a:~vo de ~yimento de placas em Marte, permaneceu nd!m~&mo /í
:r,l!Ji~*'i~,jt9~co durante toda sua duração. 0 mestrid,.fenômeno na Terra, por outro lado, produz ~ol~es 'J
';:.i1~jl~~tês de rochas vulcânicas,. só que ·espa!J:lados s.~kre áreas muito maiores devido à Tectônica Gl~bal,
)':~g~•âós.casos dàcadéia•d~vulcões que cons1ãtui asilhas do Havaí ou os espessos•derrames dâba~ do,t
'!1,l:i~~âilo;Bm.sil e Etendeka na Narmbia, hoje separadospi~lo oceano Atlântico. · •· · ·
·,,,,n ., , .·., .••.·.,,,,, ·.· _:. , ,
;, .:' '"'·'''e '
Tabela 23.6 Deslocamentos verticais provocados por movimentos glácio-isostáticos
como resposta elástica da crosta frente ao derretimento de grandes massas de gelo

r::::;fü. 'é:i(,;,\;-:,.,; <;>),;:,; J '--·: : 'o e nia, .' ' . '. .;' ,_ ~ ' ··:: .' . m a :,.·U/,úJ!f!Wi-·ij';:: :11,i ;;i:>.;!f1,;.';;t9·',bi:\· .:t~:::i;.J;:)iíif:i;J:ii
Plataforma Russa (adjacente à Escandinávia) Subsidência de 2-3 mm/ano (movimento compensatório do soerguimento
na Fenoscândia)

!C~~!ll~~'.;iJ:;i::0IiW,,;;;, ,;
Groenlândia

xas maiores daquelas calculadas a longo prazo? Isto de- des pcJdem demorar para desaparecer ou serem tão
corre do fato de a intensidade e a magnitude desses marcantes que criam seu próprio sinal distinto, como
fenômenos não serem constantes ao longo do tempo se fosse um desvio do caminho normal de eventos,
geológico. Analisados de perto, observam-se os efeitos com significado geológico e temporal préJprio. Anali-
mais espetaculares, mas ao interpretar todo o registro de saremc)S no decorrer do capítulo as tendências seculares
milhões ou de dezenas de milhões de anos de atuação relacionadas a quatro elementos importantes da histó-
do fenômeno, os surtos de atividade mais intensa ficam ria terrestre: 1) impactos de meteoritos; 2) decaimento
diluídos pelos muitos períodos longos de quietude. radioativo, que gera o fluxo térmico; 3) evoluçãc) bio-
lógica; e 4) evolução do sistema Terra-Lua e seus
efeitos.
23.2 As Linhas-Mestre da História
da Terra Quanto aos processos cíclicos, vale lembrar que o
termo "ciclo" é empregado pelo menos de três manei-
Para entender a história da Terra, é importante não ras diferentes na Geologia: como uma série de eventos,
se prender a detalhes locais ou eventos particulares de normalmente recorrentes, que perfazem parte de um
um período gec)lógico qualquer, por mais marcantes prc)cesso mais amplo que se inicia e termina mais ou
que possam parecer. Sinteticamente, essa história pode menos no mesmo estadc), ccJmc), pc)r exemplo, os ciclos
ser contada em termos de três linhas-mestre da histó- das rochas (Cap. 2) e da água (Cap. 7); como um perío-
ria da evolução de nosso Planeta: do de tempo para completar uma sucessão mais ou
• tendências seculares; menos regular de eventos (por exemplo, o ciclo de evo-
luçàc) do rele,·o - Cap. 9); ou como um conjunto de
• processos cíclicos; unidacles litológicas que se repetem sempre na mesma
• eventos singulares. ordem (por exemplo, ciclotemas e varvitos - Cap. 11).
Aqui enfatizaremos os fenômenos do primeiro tipo, os
No âmbito das tendências seculares estão incluí-
e,·entc)s cíclicos da primeira grandeza na história da Ter-
dos os processos que, partindo de determinado estado
ra, especificamente os ciclos astronômicos e geológicos.
físico, químico ou biológico, progridem
unidirecionalmente, sempre afastando-se da condição Eventos singulares, no sentido empregado aqui,
~ . . , .
original. Atuam durante longos períodos de tempo, nao representam necessariamente acontecimentos uru-
ou seja, por muitos "séculos", milhares, milhões c)u cos na história do planeta - embora a reação nuclear
até bilhões de anos. ::-..:em sempre a progressão das natural ocorrida
,
há 2 bilhões de anos em Oklo, Gabão,
tendências pode ser resumida por uma funçãc) mate- no Oeste da Africa, tenha sidc) realmente singular -
mática regular, uma linha reta ou uma curva regular, mas e,·entos imprevisíveis que se destacaram por sua
pois a complexa interação das múltiplas partes do sis- magnitude excepcional ou pelo efeito que tiveram no
tema Terra costuma introduzir irregularidades na desenrolar da história do planeta. O mais importante

tendência normal. As ,·ezes, porém, essas irregularida- destes e,·entos foi, sem dúvida, a c)rigem da vida. Com
500 D ECI FRA N DO A T ER RA

4
ela. surgiu a bieisfera que transformou a st1perfície e a 10
atmosfera de nosso planeta, teirnand<J-<J único no Sis-
tema Seilar (Tabela 23.1 ). Também merece atençãei (i o o
ü ü
impacto de um grande meteorito no fim dei (O ·-
::::J
(/) +-' 10
3
'ºN 'ºN
.'\[eseize'iic<J, apontado como respeinsável pela extinção o (O o,_ o
,_
d<Js dinossauros e muitos outros organismos. ü (O C]) C])
Cll X
o..
...... e
(O o
,_ co
E+-' 2
·- •Cll CL LL
10
23.3 Tendências Seculares na Histó- Q)
"C "C
(O

ria Geológica (O ....(O


X (O
(O o..
f-
Di\"ersas tendências seculares na Natureza são re- E 10
o
u
tlexe) da segunda lei da termoe-linâmica, que afirma
que a entropia no Universo sempre tende a aumentar,
cJu seja, a matéria e a energia estão se degradando rumo 1
a um suposto estágio final de inércia unifcJrme e tcital.

.-\ luz desta lei, a passagem clei tempei eleceirre exclt1si-
5 4 3 2 1 o
\-amente desse processo, pois se tudci permanecesse Idade geológica (bilhões de anos)

igual, c<imci poderíamos distinguir entre o presente, ci Fig. 23.4 Gráfico da freqüência relativa de impactos
passad(i e ei futuro? Ela fundamenta neissas tecirias da meteoríticos na história da Lua. Por ser muito maior do que a

e\-olução do Universo (Cap. 1) e explica cJ decréscitn<i Lua, a Terra deve ter sofrido um bombardeio cósmico ainda
mais intenso do que a Lua.
secular na geração de calor pelo e-lecaimento radieJati-
\-o de materiais naturais (Cap. 15). A tendência ele
,1umentei de ceimplexidade registrada na história da Nessa ép<ica os impact(is teriam sidei tãci impcir-
bieisfera peide parecer uma e:xceçã(i a essa lei, um pa- tantes (ciu mais) quantcJ os ptcJcessos ncJtmais da
radoxei. Mas nãci é, porque em termos cósmiccis, a dinâmica terrestre na diferenciação e retrabalhamenteJ
biosfera é efêmera, mantida pela energia irradiada pelei da crosta e porção externa dei manto superior. C)s
Sol, que sustenta, peir sua vez, toda a vida através ela efeitos desses impactos feiram diversos, de devasta-
fotossíntese. QuanelcJ o Sol se extinguir, daqui a uns dcires a restauradores. (-)s maiores devem ter
quatro ou cinco bilhc"íes e-le anos, toda a complexidade vcJlatilizad<i grandes massas de crosta e manto, elevan- ·
biológica acumulada será desfeita e a energia e matéria
associada a ela se juntarão, finalmente, aci c:eism<is.

23.3.1 A fase cósmica de impactos


meteoríticos na superfície terrestre

A Terra, como tcJe-l<JS os outros corpos mai(ites


do Sistema Solar, formou-se pela aglutinação de par-
tículas do tamanho de pó até asteréJides (Cap. 1).
Contudei, mesm<i elepois de formada, a Terra conti-
nucJu a ser bcimbardeada por uma chuva de poeira,
meteoritcJs e c<imetas das mais variadas composições
e tamanhos. Muito alta inicialmente, com impactos 100
vezes mais freqüentes do que heJje, a taxa de impacteis
e-liminuiu geometricamente, até atingir um valor mais
ou menos constante, próximo acJ atual, em teJrn<i de 3
bilhões de anos atrás (Pig. 23.4). Durante os primeir<is
500 milhões de anos da história de nosscJ planeta, cal-
Fig. 23.5 A face da Terra durante sua fase cósmica (4,5 a 4
cula-se que devem ter se formado dezenas de crateras
bilhões de anos atrás) mostra apenas as crateras maiores
maiores de 500 km e pelei menos 25 maiores de 1.0()0 500 km em diâmetro. Pelo menos 25 destas teriam tido diâme-
km, ccimei ilustrado na Fig. 23.5. tros superiores a l 000 km.
de) a temperatura atmosférica gl<)balmente a pont<) planeta responsável pela liberação ele grande parte da
de causar a evapc)ração dos mares t-la época, extin- ;1tme>sfera e hidre)sfera. Portanto, podemos imaginar
guind<) qualquer tipo de vida precoce que porventura um renebre)SO mundo primitivo hatleano de intenso
tivesse surgide) até entãe). C:einstituíram, assim, verda- ,·ulcanismo - um cenário que também é aplicável a
deiros impactos esterilizantes. P<)r eiutrcJ lado, há rodo <> eein Arqueanei. De fato, o registre> geológico
quem assegure que boa parte da hidrosfera ou até a do _\rqueanci ce)nfirma essa expectativa (Tabela 23.7),
própria vida peissa ter side) trazida à Terra pelo im- uma vez que muitos dos magmas máficc>s (komatiitos)
pacte) de ceimetas nessa época. Nàei é de estranhar, eJriginaram-se cm altíssimas temperaturas e pela pre-
portante), a dificuldade que os geéileig<is têm tido em deiminância de material mantélico na compe)siçãeJ das
encontrar vestígieis de crosta terrestre t-lesta fase da reichas graníticas e gnáissicas. F,stas evidências apon-
história da Terra. Por estas raz{íes, o pcríeidei anterior tam para um regime tectônico de frenética reciclagem
ao registro mais antigo de rochas terrestres (há mais de placas pequenas (microplacas), cnvolvendeJ
de 4 bilh<)es de anos) foi designado a fase cósmica convecção do manto estimada em cinceJ a dez vezes
da Terra ou ei eon Hadeano, elo grego hades, <J 1nais rápida do que a atual.
submundo da miteJlcigia greco-reJmana, um termo ain- 1Jossivelmente, o maior volume da crosta conti-
da informal, mas muito sugestivei. nental se feJrmou neJs primeireis 40r1/o da história
(-) número tle mete<)rite)s e ceimetas que colidem ge<Jléigica da Terra, corrcsp<indentes aos éons Hacleano
ceim nosso planeta mantém-se mais ou menos c<ins- e Arqueano. Neste períotlo, c<Jnformc m<Jstra a Ta-
tantc há quase 3 bilhões de anos, e há pelo menos 3,8 bela 23.7, cJs basalteJs, as rochas sedimentares e as rochas
bilhões de an<)S nàei hc>uve nenhum impacto esterili- graníticas adquiriram caráter geoquímic<J cada vez mais
zante. Após o }-JadeaneJ, portanto, este bombardeicJ
cósmico passeiu a ter importância mais leJcalizatla. 10
Embora nàe> existam mais corpe)s celestes errantes o o
(J (J

capazes de extinguir teJda a vida na Terra, eJ impacto ·--o ·-


'ºN
N
de qualquer meteoriteJ eiu ceJmeta maior de uma cen- ,,..._ o,._ o,._
~

o
tena de metr<JS de diâmetr<J causaria danos locais e ..... 8 ....o
CI) CI)
e:
regionais nunca antes vistos pela humanidade. Impac-
X ,._ ta
o LL
0.
tos de meteeiritcJs dessa magnitude e mai<ires deixaram e
til
dezenas de crateras na Terra desde que os animais sur- ,_ ra
o
a.
giram e pelo menos um deles c::1usou um dos maieires V)
6

eventos de cxtinçàeJ - e) t1CJ fim do Cretáceei. Ce>ntu- til


,_
do, devido à sua imprevisibilidade, podemos considerar o
til
impactos deste tipel como eventos singulares que se- u

rão abordadeis mais adiante.


---o
-o 4
N
~
-o
23.3.2 Fluxo de calor radiogênico e a forma- o
,_
a.
ção de crosta continental ,_
o 2
a,
Da mesma f<)rma que a taxa de impacteis de ü
meteoritos fe)i muito mai<)r durante a fase cósmica da - _j23eu 1

Terra, ei fluxo ele calor gerado peir decaimento radio-


ativo (Cap. 15) também ei feii, peir causa da maior o
abundância dos elementos de meia-vidas mais curtas 5 4 3 2 1 o

(Fig. 23.6). A energia gerada t-lessa maneira na Terra Idade geológica (bilhões de anos)

de 4,5 bilhões de anos atrás equi\-alia a 53 picowatts Fig. 23.6 Curva representando o somatório do ca-
lor produzido pelo decaimento radioativo dos principais
por quilograma (p\X./kg), quatrei ,,ezes superior ao
elementos radioativos ao longo da história da Terra.
valor atual de 13 p\X'/kg. Essa é a principal fonte de
Observe que o calor gerado, responsável por grande
calcJr que movimenta as placas litosféricas, funde as parte da dinâmica do planeta, era três a quatro vezes
rochas e preimeJve a desvolatização do interieir de> maior no Hadeano do que atualmente.
diferenciadc), enquanto as microplacas, ao colidirem, milh('íes de anos atrás. Quando se comparam cJs fós-
criaram placas cada vez maiores. Esta etapa culminou seis e (JS organismcJs que produziram estes fósseis nessas
ao final do Arqueano com a aglutinação de grandes duas fases distintas da história da bicJsfera, percebe-se
massas siálicas de dimensões verdadeiramente conti- com() o próprio modo e ritmo da evolução se modi-
nentais, as macroplacas, e ciclos tectônicos mais lentos. ficou com a expansão d(JS animais nessa época (Tabela
Desde então o ritmo de diferenciação e formação de 23.8). l_-,'.nquanto os primeiros 7 /8 do temp() geológi- ·
nova crosta vem diminuindo de modc) geral, em con- co (Pré-cambriano) f(Jram clominad(JS por formas;
sonância com o clecréscimo na prc)dução de energia microscópicas de vida procariótica, generalistas em i
'
radiogênica (Fig. 23.7). seus hábitos e morfologicamente simples, ccJm repro- ·
duçãc) apenas assexuada e taxas evolutivas lentas, o
23.3.3 Evolução biológica Fanerozóic(J, que representa apenas a cJitava parte mais
recente da hist('iria do planeta, viu surgirem organis-
Noções básicas da evolução bic)lógica, de fósseis e mos eucarióticos de tamanho macroscópico, de hábitos
de preservação, bem como os principais eventos na especializados, mc)rfologia complexa, reprcJdução
história da biosfera, foram tratadas brevemente n() sexuada e taxas evolutivas rápidas.
Cap. 15 e estão resumid()S no "Ano-Terra", na Muitos eventcJs de cliversificação e extinção das
contracapa deste livro. Já vimos que o registro fóssil ,.. .,.. ,. .
espec1es eucar1ot1cas, tanto as macrcJscop1cas comcJ as
do Panerozóico difere fundamentalmente do registro microscópicas (microalgas, protistas e outros), ocor-
do Pré-Cambriano por causa da expansão global ex- reram na história terrestre. A evolução biológica é
plosiva de metazoários com conchas e outras partes marcada, na verdade, por uma série de saltos na com-
duras (carapaças, escamas etc.) pouco depois de 550 plexidade da bic)sfera provocados por inc)vações

Tabela 23.7 Contrastes entre os registros geológicos do Arqueano (>2.500 milhões


de anos) e do Proterozóico e Fanerozóico ( <2 .500 milhões de anos)

Rochas. vulcõnicos Comumente ultramáficas Ultramáficas menos comuns


Ultramáficas vs. máficas (komatiitos)
dótiôrÍs•lit6fílos gróndes· ·•· ·•
. >J(ln. ~J<. 'K• Rb• Th •U' ' .....
· Baixas quantidades .. Mais comuns, especialmenfe êm tib~ôs
... ~ , .. •, ·... , .J I. I J siálicas •
',, '

••·•·•••···.~1~1T1~11tbsterras-roras (menosl:u) ·••· ..•· Boixas


. .
quantidades · Mais abundantes
!tí'~ê~li-nênte.imoturas,
',"''"''" ,,,
,,,,,
·mêih ' ''' ' ',' ' ' '
•·
' ' · ~íonadas, CO(n••Çlast~;.,. ·····•

Na, Mg eCa Relativamente enriquecidas Menos enriquecidas


Si, K, elementos terras-raras, Relativamente empobrecidas Relativamente enriquecidas
cátions litófilos grandes

·•. ·'·ê~l~:~{~!!~~i~~~•,,, .,. · · ·. "'•L;~~~ento .· •. ·••· .•. ••. •••·•·•··•··•··. i •· ..•.,.>:Mgss9i ~~í~.:t>Q•~~:~~~.,~~~ '.,
. . ·. :.•.~. ·.
1
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..•.·.•;.. ,·.·i.,,;•~
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.• •..·•j•:[···
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••,'.·,.•·•.·:'••.••,,•..,: .•.
, •..•.·.,·•,.. •···.··. ·. ·.•· . . . <: \::
. - .· ·--.: .•M:' _,.
-_-:-:· ,.,•::-,,- · ·.
• 1-· -··· >,h!-i.,,;lª<<:;,;l.V..a,i;.l;-)-,.~tiití.i~<;>1:c->:>":A
. , .:· , . 1 _- - . ---/'\jif~9;:a,._99,l.;;f~{;_~,!~i~Iir;!J::tff:1Jfi:iJUt _., '"
1 8

Crosta Pequenas (microplacas) até o Grandes (macroplacas) desde o fim do


Placas tectônicas fim do Arqueano Arqueano

' '
.Volóres m'
meteoritos'
.. _ ·u.. ,: :,/: "'il':>lr
.,dll
. :'!'.'\'~,. !tios
' ..... ··valo~s· ,ni~tt~ ~º!!~fj
j;f:11;.,1,:1
meteoritos cohdrífiê,ç~< /.ii+i.; '.,; .
~f
' ' :! >:";,;,, ;_;::!,):' '
''_i-\·i,1/,~ ,;,,,
Tabela 23.8 Contrastes entre a evolução biológica fanerozóica e pré-cambriano

. 15% do regi$IJQ fóssil~


545 qülhãei,~onos
Natureza dos organismos Eucariotos multicelulares e megascópicos: Procariotos unicelulares a coloniais,
dominantes metazoórios e plantas microscópicos: bactérias, cianobactérias
e arquebactérias
·•.: ~~r(g~tdMtn~~t~i~epehdentes lnde~~hef~~%f!,é(6r:icier{>biç~s[2ui
'.. . .. ...
' ,• . . . . ..'
. · '·
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,· ·, ,,.VI,;,
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1.icfs•·) · , . • · · •::.
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Reprodução Sexuada Assexuada

•f\'.~~~:i l : ~1~~~1~~!j~1t~i ·.•,:\j~1:~r,,111i:;~


1
1 11ri:1
:i< i,·:r1:i:·.
1
;ªment~. ·.·. ·• • • . : · •·
$~11~rqlistet1'' .i~liit!J$ •i,:idlví~,u~s
,. •'' '

Modo evolutivo (aspecto Morfológico (órgãos, tecidos) Intracelular-bioquímico-metabólico


mais afetado)

evolutivas com conseqüências incomensuráveis para a (e provavelmente antes) a litc)sfera, a atmosfera, a


evolução do planeta. Nos ecossistemas microbianos hidrosfera e a própria biosfera nunca mais foram as
dos mares hadeanos e arqueanos surgiram praticamente mesmas.
todos os prc)cessos metabólicc)s básicos à vida, inclu-
Embora a reação da fotcJssíntese seja reversível,
sive a vida moderna, com destaque para a fc)tossíntese.
com e) c)xigênio reagindo com a matéria orgânica para
Com o aparecimento da fotossíntese à base de dióxido
formar água é dióxido de carbono, isto não se dá
de carbono e água para formar compostos orgânicos
instantaneamente. Se parte desta matéria orgânica for
e liberar oxigênio há pelo menos 2, 7 bilhões de anos

Fig. 23.7 Distribuição de crosta continental por idade (Arqueano, Proterozóico e Fanerozóico). Coberturas sedimentares mais
recentes foram retirados poro mostrar as rochas crustois do embasamento.
504 D Ee I FRA N o o A TERRA ·

soterracla e colocada fora de) alcance do oxigênic), uma te, de> aparecimento da reprodução sexuada. A diver-
parcela equivalente de oxigênio sobrará. No 1\rqueano, sidade genética e morfológica pre)pe>rcionada pela
este oxigênio em excesso reagia quase que imediata- sexualidade deve ter levado ao surgimento de1s pri-
mente com compostos químicos reduzidos nc) meie) meiros metazoários megascópicos, representados pela
ambiente, principalmente com gases vulcânicos, mi- fauna de Ediacara (Cap. 15), entre 59() e 565 milhões
nerais e compostos químicos dissc>lvidos na hidrosfera, de anos atrás. Pe>uce> depc1is, entre 545 e 525 milhões
portanto não passandc> diretamente para atmosfera. de ane>s, ocorreu a explosão cambriana de animais
No período entre 3 e 2 bilhões de anos atrás, esse cc1m conchas e carapaças (Fig. 23.9), que estabeleceu o
pre)cessc) fc)i responsável pela oxic1ação da superfície modo e o ritmo fanerozóicos da evoluçãe> biológica,
e da atmosfera e pela cleposição de dezenas de bi- marcando assim novo salto na complexidade da
lhões c1e toneladas de minério de ferre), se)b a forma bie>sfera.
de formações ferríferas bandadas, que vieram a
constltwr 1mpe)rtantes depósitos de ferro (Fig. 23.8)
(Cap. 21 ).
Depois da oxidação da hidre)sfera e da superfície
terrestre, o oxigênio começc)u a acumular-se paulati-
namente na atmosfera e a exercer forte pressãc) ne)s
rumos da pré)pria evc)lução biológica. Ce)mo resulta-
de>, surgiu o processo metabólico c1e respiração, que
Fig. 23.9 Um fóssil típico do explosão evolutivo dos
aproveita o oxigênio para produzir energia e permitiu
invertebrados no Cambriano, um anelídeo (poliqueto), Conodio
o desenvolvimente> de)s eucariotos ce)m suas células spinoso, preservado em detalhe no folhelho Burgess, de idade
maie)res e mais complexas e suas funções metal1c'>licas cambriano, do Colômbia Britânico, Canadá. Os feixes de
ce>mpartimentadas em organelas intracelulares, inclu- cerdas finos funcionavam como órgãos de locomoção. Foto:
indo um núclec> distinto. Diversas evidências S. Conwoy Morris/Combridge University .
geoquímicas e palec>ntc>lógicas sugerem que e) teor
crítice> de e>xigênio na atmosfera para o surgimentc) A julgar pela cc>mposição da bic>ta cambriana de
dos eucarie)tos (1 ry,, do nível atual) tenha sido atingido pouco mais de meio bilhãc1 de anos atrás, somos leva-
antes de 2 bilhões de anos atrás. Niesmo assim, e>s dos a ce>ncluir que a transfe>rmação da atmosfera
eucariotos, ainda microscópicos, se'> ce>meçaram a se terrestre, originalmente inóspita à vida complexa (Ta-
destacar no registre> palec>ntc1lógico em torno de 1 bela 23.1), já tinha se cc>mpletade1 em função da
bilhão de anos atrás ce)me1 cc1nseqüência, aparentemen- intervençãc> bic>lc'>6rica ne>s cicle>s da dinâmica externa
da Terra durante c1 Pré-Cambriano. Desde o início do
Fanerc)zc'iico, a atmosfera já era oxidante o suficiente
para sustentar muitos filos de invertebrados marinhos
ainda bem representados nos mares moderne)s, ce>mo
artrópodes, moluscos, braquiópodes, esponjas e
equinodermes e até e>s primeire>s ce1rdados primiti-
ve)S. A tremenda quantidaele de (~0 2 da atmosfera
e>riginal já tinha siclo seqüestrada e escondida sc>b a
fe>rma de rochas carbonáticas (calcários) e matéria or-
gânica na litc1sfera e biosfera ao longo de três e meio a
quatro bilhões de anos de intemperismo (Cap. 8) e
processos vitais (Pig. 23.10). Com isse>, a alta tempera-
tura da superfície terrestre, resultante do forte efeito
estufa exercido pelo gás carbônico na atmosfera c>ri-
ginal, diminuiu a pe)ntc) de permitir a formação de
calc>tas de gelo de mc1do esporádico na Terra no iní-
Fig. 23.8 Formação ferrífero bondada do Quadrilátero Fer-
rífero (MG). O nome se refere às camadas alternados ricos cic1 do Proterozóico e de forma mais ou menos regular
em ferro e sílica (quartzo). O minério encontro-se recristalizado a partir de 800 milhões de anos atrás (como verem
e deformado. Foto: T. R. Foirchild. mais adiante). Ac> mesmo tempo, a atmosfera tor
CAPÍTULO 23 • A TERRA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO 505 >
'
:,!

Oxigênio Carbono o dia tinha 20 horas e 40 minutos. Contude), uma vez


!Ili! que a ,·olta da Terra em torno do Sol não é afetada pela
atmosfera,
matéria orgânica
hidrosfera e dinân"lica do sistema Terra-Lua, e) ane) tem permaneci-
atmosfera biosfera
em rocílas
sedimentares dei ce)nstante, com período de aproximadamente 8.766
hc)ras; assim, nessa época, o ano de,ria conter 424 dias,
sulfato na su alo quase 60 a mais do que atualmente.
hidrosfera sedimentar

■ .-\lgumas observações palec)nte)lógicas são coeren-


11!11
biosfera e
outras fontes oxidação de
Fe0-Fe 20 3 tes com a idéia de) aumento linear na cluração do dia e
551x10 g
20
tola 1 252 x 1 O'''g na diminuição do número de dias no ano pelo mencJs
descle o final do ProterozcSico. (Js pesquisadores J. P.
total 590 x 1 O''g
Vanyo e S. l\1. Awramik, na década de 1980, constata-
Fig. 23. l O Distribuição atual de Oxigênio e Carbono na su-
ram mudanças regulares na curvatura e laminação de
perfície da Terra. Veja quanto carbono originalmente na atmosfera
estromatólitc)S ceJlunares australianos (Cap. 15) suges-
(Tabela 23. l) já foi incorporado na hidrosfera, na biosfera e,
tivas de anos com duração de 41 O a 485 dias, há 850
especialmente, na litosfera.
milhões de ane)S atrás. Suas pesquisas vieram ae) en-
contro de outras, realizadas antericirmente por John
se menos densa e a pressão atmosférica caiu para 1 / Wells, que detectou mais linhas de crescimentc) diá-
60 de seu valc)r e)riginal, favorecendo o aumento de ric) em corais devonianos de 35() milhões de anos
• A • • • A •
gases como n1trogen10, pouco reativo, e ox1gen10, de idade (em te)rne) de 400 linhas) (Fig. 23.11) do
oriundo da fotossíntese. que em corais modernos (36() linhas), uma obser-
Ao longo do Fanerozóico, a biosfera sofreu no-
vos saltos em sua ce)mplexidade ce)m a conquista dos
sedimente)s do fundo dos mares por animais da
infauna, no Cambriane>, e) surgimento dos peixes no
Paleozóico médio e, em especial, a invasão dos conti-
nentes pelas plantas vasculares, pelos artrópodes e pelc)S
vertebrados também a partir do Paleozóico infericlr e
médio (ver contracapa del livre)). () sucesse) atual dos
artrópodes, ce)m milhões de espécies só de insetos, e
das plantas com flores (angir,spermas), que somam
quase 300.000 espécies, sugere que a Terra vi\·e o seu
período de maior complexidade biológica.

23.3.4 Sistema Terra-Lua e seus efeitos

Atualmente, a teoria da e)rigem da I~ua mais aceita


considera-a come) derivada da própria Terra pelo
impacto tangencial de um asteróide ou planetésimo
(Cap. 1) muito cedo na fase cósmica da Terra. Desde
então, segundo essa tecJria, os de)is cc)rpos ccJnstituem
um sistema dinâmrco responsável tanto pelas marés
nos oceanc)s da Terra como, em menor escala, pela ~mm
1 1
distorção análoga das partes sólidas da Lua e da Ter-
ra. Estas marés atuam como uma espécie ele freio na
rotação da Terra, transferindo momento angular para
a Lua. Como resultado, atualmente a Lua se afasta 4
cm por ano da Terra. Com isso, a velocidade ela rota- Fig. 23.11 Linhas diárias de crescimento no coral devoniano
ção da Terra diminui, aumentando a duração do dia Holophragma calceoloides, do norte da Europa. Ao contares-
em dois segundcls a cada 100.000 anos. Isto significa sas linhas, John Wells demonstrou que o ano, no passado,
que há 600 milhc:>es de anos, nc) final de) Proterozé)ice), continha mais dias do que atualmente. Foto: Steven M. Stanley.
---------------··
506 D ECI FRA N D O A T ER RA

\-açào perfeitamente coerente c<im o aumentei do c<>m <)S efeitos eleste ripei em C<)njunçãci ceim coneliçc'Ses
dia em dois segundos a cada 100.000 anos elesele o paleeigecigráficas, esses cicleis resultam cm etapas ainela
Devoniano. mais longas, ora dciminadas pe>r climas fricis <)ra pcir
climas quentes, numa alternaçãe) conhecida comei ci ci-
Entretanto, a cxtrape)laçà<J desta tendência nei <Jll-
clo estufa-refrigerador.
tro scntidci, ciu seja para o passaclc) antcricir a<>
Devoniano, esbarra num paradoxe) referente à cstal1i- 5 - 1 a
1
lidade dei sistema Terra-Lua n<1 lJa]coproter<)Zéiic<i, há ~ 4 ,... 1
~~ 1 1
mais de 1,6 l1ilhàci de anos. Peleis cálculos que se pêidc 1 1
-8Ili iií!':! 3 1 1
fazer, a laua e a Terra, nessa época, teriam estadcJ tàci "O Q)
1 1
'õ t:: 1 1
próximas que a Lua teria sido dcspeelaçada e destruíela --
·e
e
~""
Ql
Ili
2 - 1
1
1
1
1
1
por fortes marés internas prc>vocaelas pela atraçàcJ X -e 1 - 1 1
W •o 1 1
gravitacic)nal da Terra. Tcidavia, comei se sabe, este 1 1

satélite tem sidci c<impanheirci ela Terra desde mttitci


o - 1 1
1 l
200 100

o 100
cedo na fase cc'>smica ele nossa histéJria (Cap. 1). Para 1 1
1
explicar este parade)xci, alguns pesquisadores peistu- 1
1
lam que a dcsaceleraçà<J da r<)taçào terrestre promcivida
CI)
1 1 b
1 1
1 1
pela Lua teria sido compensaeia por um efeit<J <>pcisto 1 1
1 1
provocaelo pela aceleraçàc) da atmosfera pré- 1
cambriana causada pelo campel gravitacional seilar. Este
equilíbrici clinâmico teria mantidei a duraçàc1 elci elia
em aprciximadamente 21 horas durante a maic>r parte
1 ......... ... 1
dei Pré-Cambrianei. 1 1
200 100 o 100
1 1
1
1
23.4 Ciclos Astronômicos e Geológicos
Ciclos astronômicos dizem respeit<J ao movimen-
to, posiçãei e interação do planeta Terra e dos outreis
-
CI)
::J
~ 24,0 1
e
Cl 1
corpos elo Sistema Solar (Tabela 23.2). Tais cicleis pcl- 1
1
o 1
dem influir na dinâmica externa de curtci praz<J, X 1
1
Q) 1
1
determinando o trabalho e-las marés e a distribuicàc>., eliá- o 1
1
-e 23,0 1
ria e sazonal ele cale)r e luz sobre a face de) planeta, ceim o 1
1
•Ili 1
o,
fortes reflexos nos padrões meteorcilé>gic<)S. Incluem ain- Ili
1
1
1
e 1
da ciclos plurianuais, como ci ciclei de manchas seilares, o 1
1

relativamente curte> (11 a 12 anos), qt1e pode afetar as e 22,0 - l1 1

ccindiçc'ies do tempo globalmente, bem ccimci cicl<is de o 100


:-•~ futuro
períoeios muito maiores (dezenas de milhares de anos) 1

como eis da precessão dos pólos, da variaçàc) na


elipticidade da órbita da Terra e da inclinação elci péile)
terrestre (os ciclos ele 1'1ilankovitch discutidos cm Cap. Mais frio 1 1 d
1 1
1 1
11) (Fig. 23.12). Seu efeito mais espetacular ocorre quan- 1 1
1 1
dci tcirnam os verões tão frios que o gelei deis invernos 1 1
1 1
anteriores não se derrete e as geleiras e calotas polares
1 1
avançam, iniciando uma "idade de gelo". De aceJrdo 1 1
1

Fig. 23.12 A superposição dos ciclos astronômicos (ciclos de


Milankovitch) envolve a excentricidade da órbita terrestre
(a), a precessão (6) e a inclinação (c) do eixo de rotação,
tida como um dos fatores influenciando o clima terrestre,
especialmente, a ciclicidade das etapas frias e mornas da atual "idade 400 300 200 100 o
de gelo" (d), iniciada há 3 ou 4 milhões de anos. Milhares de anos
CAPÍTULO 23 • A TERRA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO 507 ✓ -~

Dos ml1it()S ciclos geológicos <lo planeta, CJ mais :\rqtiean(J, cedeu lugar para cJ atual regime de
importante é ci ciclo de supercontinentes, relacieJ- macrciplacas iniciadcJ O(J Palecipr(Jterciz(iicei e que con-
,
naelei à Tecttinica c;hil,al e a todas as suas ceJnsee1üências tinua até (J presente. E fácil vislumbrar o formato do
orogenéticas e palecigeográficas (C:ap. 6). Trata-se de últi111ci superc(Jntinente, a Pangea, que se fcirmciu nci
um conceito mais al1rangente do e1t1e eJ ciclo de Wil- t1m c1cJ PalecJz(iicci, há 250 milh(:íes de an(JS, aprcixi-
son (homenagem ao geofísico canadense J. Tuzei madamente (Fig. 23.13). Basta juntar eis C(Jntinentes
Wilson que ci elescreveu), que explica a fcJrmaçào e <J atuai5 c1e accirc1(J ccim sua dispcisiçãeJ em relaçãcJ às
desaparecimentcJ de grandes bacias oceânicas. () ciclo caeleias mescJ-cJceânicas que os separam como se fos-
de supercontinentes não scimente englcJba essa ieléia, sem peças de um quebra-cabeça afastadas umas das
C(Jm(J inclui também o fentJmeneJ mais amplo e de- outras S(Jbre CJ tabuleircJ (Cap. 6). Num exame mais
moraelo ela agregaçàci e elesmantelamentei <las massas <letalhaelo, poelemos ielentificar, em cada uma dessas
ccJntinentais acJ l(1ngo e-la hist(iria ela "lerra. ComcJ ve- peças, quebra-cabeças palecigeográficos ainda mais
remeJs, envcJlve ainda muc-lanças cíclicas na atmeisfera, antigcJs, C(JmcJ os supercontinentes Pannótia (fcJrma-
nei clima e nei nível deJ mar, teJelas ceim ceJnsee1üências dcJ há 600-550 milhões ele anos), Roclínia (formaelo
neJtáveis na mcJelelage111 ela superfície terrestre e nei há 1 l1ilhà(J de ancJs) e e1utreJs (Fig. 23.13). 1\
caráter ele) registreJ geológiceJ. receJnstituiçãcJ <lcls superccintinentes mais antigcJs é di-
()s ge(ileJg(JS reccJnhecem a feirmaçào e fícil, pelrque já elesapareceram teielcJs els assoalhos
clesmantelamentci de várieis supercontinentes aei leJn- CJceâniccis, bem ceJmeJ muitcJs <los registrcJs
go dos últimos deiis bilhões e meiei de anos, desde pale(in1agnéticos e gecicron(Jle:igiceJs de sua existência
que (J regime geeJtect(Ínicei ele micrciplacas, típico do (Cap. 4). 1\ grande maioria da crcJsta cJceânica claque-

Gondwana
Ur ... Oriental··
(IJ ...
· · - · - - ·- ~ . . .
(3,0) :;:: . Gondwana
Ártica 'º · Goridwana ,li . · · ·· "'-ã
(2,5} ·~ Nena· Rodínia 11 ~· . Ocidental Pangea
11111

---r
Báltica

Atlântica
4 (1,0) ,_ n.. Laurâsia . ;/ (0,3)

a
Proterozóico Fanerozóico

,,-Gondwana

Gondwana

1 bilhão de anos atrás 600 milhões de anos atrás 250 milhões de: anos atrás
ROOiNIA PANNÓTIA PANGEA
b
Fig. 23.13 O surgimenro e desaparecimento dos principais supercontinentes ao longo da história da Terra (a). Os números entre
parênteses em a representam a idade aproximada, em bilhões de anos, da formação de alguns dos supercontinentes. Os três
principais supercontinentes do último bilhão de anos (Rodínia, Pannótia e Pangea) estão ilustrados em b. Fontes: a) J. J. W. Rcgers,
1996; b) M. Yoshida.
les tempos foi reciclada cm Z(Jnas de subducção entre J:-,~sta etapa de subducção da crosta oceânica gera
placas, ceim algumas peiucas lascas desta crosta incor- ma1:,>111as profundos debaixo das margens antigamente
poradas na zona de sutura entre antigcis continentes. passivas dos oceanos interiores. Estes magmas, por se-
Sãc) estas lascas - verdadeiros "féisscis" de ocean(is rem menos denseis do que as rcichas circundantes, tendem
antigos - que permitem determinar as margens de a ascender pela crosta e extravasar sobre o continente
paleocontinentes e saber quando o oceano existiu. ~:stas cm vulcões. A subducçãe) também pode afetar a crosta
informações, juntamente com estudos paleomagnéticeJs oceânica dos oceanos exteriores, do outro lado dos frag- :
e gcocronológicos de rochas nos continentes e com- mentas do supercontinente, gerando uma atividade !
parações entre preivíncias estruturais e, quand_o possível vulcânica periférica na forma de ilhas em arco ao largo 1
(no Fanerozéiico principalmente), entre províncias dos fragmentos do supercontinente (Cap. 6). i'
palec)bieigeográficas, permitem vislumbrar o que res-
A' medida que o fundei ocearuco d os eiceanos mtenores
A• · - 1
1
tou elos diversos fragmenteis ele paleeicontinentcs mais
é ceJnsumido, os fragmentos dei supercontinente ceimeçam •
antigos e que feiram st1cessivamente rccortadc)s e cada
a entrar na fase de colisão. Soerguem-se entãci montanhas,
vez mais dispersos em relaçãe) às suas peisiçõcs eirigi- cm extensas faixas dobradas muito deformadas (Fig. 23.14c),
nais. Para ei períeielo anterior a um bilhãe) de anc)s, como as cadeias paleeJzóicas conhecidas como os
esses quebra-cabeças são muito mais difíceis ele re- Caledonides (Escandinávia, Grã-Bretanha, Groenlândia e.
montar e, portant(J, a reconstituição paleeJcontinental parte nordeste da América do Norte), Hercinides (Europa
torna-se um exercíciei especulativo. central), Apalaches (parte leste da 1\mérica do Norte), lvl(Jn-
, ,
tes AA.tlas (parte nciroeste
,
da Africa) e Montes Urais (que
23.4.1 O ciclo de supercontinentes e seus di,'ide a Europa da Asia, na Rússia) e as cadeias cenozéiicas
efeitos dos Alpes até os Himalaias. A junção e elevação do no\-O -
supercontinente em f(irmação resultam em intensa erosão,
O desmantelamento de um supercontinente con- alterações nos padrões de circulação atmosférica e mudan- ·
tend(i a maior parte da crosta continental de uma ças nci clima no seu interior. Zonas de subducção do lado
épeica qualquer inicia-se com uma fase de exterior elos fragmentos mergulham debaixo dei continente
rifteamento interno, ceimo resp(ista ao acúmulc) ele agora, causando extense) vulcanismo em teJda a borda exte-
caleir (pcinto quente OLl pluma) abaixei do ceintinente ricir dei novei superceintinente. Enquanto isto, ilhas em arco
durante centenas de milhões ele aneis. (=om a conti- também são acrescidas ao continente em sucessivas colisões.
nuidade elesse fentimene) térmicei, ei continente se Finalmente, as atividades vulcânicas e tectônicas são atenua-
racha em elois c)u mais fragmentos e se inicia a pre)- das, a erosão reduz as montanhas e ci equihbrio isostáticci
duçãei de asscialhci oceâniceJ entre eles. I"ogo eice>rrem estabelece. A fase orogenética passa e um no\-
invasões de águas d(is oceanos que circund_am ei superceintinente está formado.
superccintinente, formandci oceanos interiores, à
lviuitas dezenas ou até uma ou duas centenas d
semelhança do atual eJceano Atlântico, peir exemplei.
milhões de anos passarão antes que o calcir gerado no
Dei ciutrci laelo deis fragmentos há (JS oceanos ex-
mantei debaixo do superccJntinente possa se acumul
teriores, comeJ ei atual oceano Pacífico, pelr exemplcJ.
a ponto de iniciar ncivo processo de rifteamento de
Durante apre)ximadamente 200 milhões de aneis, eis
sa massa continental (f!ig. 23.14d).
oceanos interiores se expandem na medida em que
progride a criação do assoalho oceânico por conta () novo superce)ntinente nunca tem a mesma con
da atividade vulcânica e tecte'inica nas cristas mes(i- guração dcJ anterior, pclis as fases envolvidas não operam
oceânicas (Fig. 23.14a). Acompanhando todo o simétrica e contemporaneamente. A fase ele rifteamen
processo, espessas pilhas de sedimentos se acumu- começa em mcJmentos e partes diferentes do
lam nas margens tect(inicamente passivas banhadas supercontinente; alguns dos riftes originais podem s
pelos oceane)S interiores. Esta é a chamaela fase de abortados cm qualquer fase de seu desenvolvimento; a ,
dispersão no ciclei de supercontinentes. Apéls apro- vclcicidade de dispersão e de reaproximação varia consi- i
ximaelamente 2()0 milhões de aneJs, as partes mais deravelmente; as colisões podem ser ciblíquas, sem
antigas ela crcista deis ciceanos intericires, ou seja, as par- subelucçãeJ, como ao longo da falha de San Andreas na
tes mais próximas das margens elos fragmentc)S elci Califórnia. Ce)m isto, os processos de separação e junção
antigci superccintinente, tendem a afundar nci mantci uma d_eJs fragmentos de um supercontinente não são
vez e1ue ocorre aumento de densidade em funçãeJ elo sincrónicos mas diacrônicos, isto é, espalhados ao longo
resfriamento aei leingo elo tempei (Fig. 23.14b). de dezenas de milhc'Ses de anos.
. CAPÍTULO 23 • A TERRA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO 509 ~' '.d.

b~videntemente, o ciclo de supercontinentes afeta Quandci os mares invadem os continentes, a presença de


muito mais de) que a simples distribuição e fc)rma dos água nci seu interior tende a amenizar CJ clima, elevandcl a
cc)ntinentes no mapa de) planeta. Envcllve a abertura e temperatura méclia, alargando a faixa latitudinal tropical
fechamento de oceancls e, cclnseqüentemente, a recJrga- e redL12indo a diferença de temperatura entre o pólo e o
nizaçãc) da circulaçãc) clceânica e atmosférica, alterando equadc>r. i\ elevaçãci clci rúvel do mar, pcir sua vez, dimi-
els padrões climáticcls gleJbais. A diminuiçãe) c)u aumento nui a área ccintinental sujeita à erosão e, conseqüentemente,
no número de cclntinentes isola ou aproxima ecossistemas a quantidade de nutrientes que chegam ao mar. Seib tais
distintos, ora estimulando, C)ta impedindo a dispersão e ceindicões, a circulação clceânica se torna mais lenta, fa-
evolução dcls animais e plantas de) planeta. Nos perío- ,·orecendo a estratificaçãci das ábruas em camadas, e a
dos de maiclr atividade vulcânica, oce)rre aumente) ne) estagnação das águas do fundcJ que nãci se misturam
vcllume de gás carbêlniccl na atmcisfera, mas este cc)me- com as outras, mais oxigenadas. As taxas evcllutivas di-
ça a ser cc)nsumido, lcJgo em seguida, pclr prcicesscis minuem, ficando em ccimpasso de espera.
. , . .
1ntemper1cos e erosivos,
especialmente quandc) a ele- A Desmantelamento do supercontinente
vação ccintinental é Margem
passiva
relativamente alta. A intu-
Margem passiva Oceano interior Oceano exterior
mescência elas cadeias .. ,::;-__
meso-oceânicas durante
· ,.::(. ,,pii,7· .. ,,.,./( .. · · i:U/!V.'~~~-~?~\ . !"1%Hf .,.,t.#"'.'j..½l,i\t!if..+ll?Mi
fases de dispersão rápida e Crista mesoceãnica
' ' ''' '

vulcanismci mais intenso al- O supercontinente se rompe, com afastamento dos fragmentos
formando oceanos interíores com margens passivas. \
tera o nível dei mar I \
Oceano Crista
mundial, deslocando água interior mesoceârnca
das bacias oceânicas sobre
os continentes (transgres- B Aproximação e colisão dos fragmentos continentais
são). O prc)cesso inverso,
Arco de ilhas Arco de ilhas vulcânicas
e)u seja o retorneJ da ábrua
~ /,,1·~·
deis ce)ntinentes (regressãcJ)
para as bacias eiceânicas,
"íi 1 J. 1 ....
.1.
~~!.
resulta do abatimentci das
cadeias meso-oceânicas
durante períclclcls de quie- Após 200 milhões de anos, chega-se ao afastamento máximo.
As margens passivas tornam-se ativas e os fragmentos continentais . .. . .
! •

tude vulcânica (Tabela 23.9). se reaproximam, fechando os oceanos interiores.


L
Zona de
/,/
,
. 4 4
\

Vulcanismo
Efeitci semelhante ocorre subducção continental

quando as massas cc)ntinen-


tais se deslocam scibre cJs e O novo supercontinente formado Zona de
pólos, favorecendo a for- ~ubducção
Cadeias de montanhas dobradas /
/
mação de calotas glaciais às
custas da água nos oceanos
e, consequentemente, a que-
d a dei nível do mar
globalmente.
Colisão continental leva à formação tio novo s.upercont1nente.

Todas estas mudancas .'


Cadeias de montanhas
são muito interligadas, dobradas

como se pode ,·er pelos Novo oceano interior


D Desmantelamento do novo supercontinente \,•,.. ,--• ' '

efeitos de transgressões e
regressões relacionadas ao
ciclo de supercontinentes.
llatgemp1 ...
-- • . ,,.,
.· · -~!4Ai},.-A!AW . ~W~.1.!o/@j.,.fl!~~.1.. f~

Novo ciclo de fragmentação se tntcia com nova configuração


Fig. 23.14 O ciclo de dos fragmentos.
supercontinentes, segundo J. B.
Murphy & R. D. Nance, 1992.
/ ...

Falha transformante
Durante as regressões, o nível do mar cai, expon- infravermelha (calcJr) irradiada da superfície terrestre
do mais área continental à erosão e fornecendcJ mais quando aquecida pelo Sol. Acima de certos níveis, CC)2
nutrientes acJs oceancJs. Sem o efeiteJ amenizadeJr no peJde determinar aumentos significativos na tempera-
clima que os mares epicontinentais preJpiciam, a tem- tura média da atmosfera, comcJ pcJde ser observado
,
peratura média da Terra cai, as zonas latitudinais hoje com a queima de combustíveis fósseis. E o cha-
tre)picais retraem-se e o gradiente térmico entre os madc) efeito estufa.
pólcJs e o equad_cJr aumenta, eJ que gera circulação at-
Por outre) lado, quando a atividade vulcânica na
mc)sférica e oceânica mais vigore)sa, misturando melhor
Terra diminui ou quando os continentes estão mais
a água no mar e pondo fim às ceJndições anóxicas deJ
altos ou mais amplamente expostos, durante épocas
func1o. A regressão marinha acaba espremendo os
ele nível deJ mar baixo, os processcJs intempéricos se
ecossistemas deJs mares raseJs (que antes ocupavam
encarregam de retirar C02 da atmosfera em reações
vastas áreas deJs ambientes marinhcJs
ce)m rochas expostas na superfície. O efeito estufa
epiceJntinentais), numa estreita faixa da parte exter-
tcJrna-se fraccJ, e a temperatura atmosférica cai. Even-
na elas platafeJrmas continentais. Isto preJvoca
tualmente, a temperatura média climinui a ponteJ de
intensa competiçãeJ por espaçeJ e nutrientes, ,
iniciar períodos ele extensa glaciação. E o efeito refri-
deflagrando extinçe)es e rápidas mudanças evolutivas
gerador. Sua expressão mais dramática ocorreu pouco
em muitos grLtpos de eJrganismos.
antes deJ término do Proteroz(Jicei, quando, segundo
especialistas, as geleiras avançaram até as regiões tropi-
23.4.2 O ciclo estufa-refrigerador cais, dando ao planeta um aspecto de "beJla de neve",
como mencieJnado no Cap. 11. Veevers relaciona os
Talvez o efeiteJ mais marcante do ciclci ele
aumenteJs tanto neJ fornecimento ccJmo no consumo
supercontinentes esteja nos controles que parece im-
de CC) 2 aos cinccJ estágios que ele reconhece ne) ciclo
por aeJ clima, estimulando a alternância de intervalcJs
dos supercontinentes, conforme ilustrado na Fig. 23.15
frescos cJu até marcadcJs por glaciações com períodos
e resumielo na Tabela 23.1 O.
quentes, de acorc1o com eJ incremento vulcânice) ou
consumeJ inte_mpérico do C0 2 proveJcadcJs durante A I1ig. 23.15 mostra, graficamente, a relação dessas
as c-Jiferentes fàses desses ciclos, segundo meJdeleJ de- tendências climáticas com os três grandes ciclos de
sen vcJlvideJ pelo geólogo australianeJ J. J. Veevers, supercontinente ocorridos nos últimcJS 1.100 milhões de
ilustrado na Fig. 23.15. C) CC) 2 é transparente à luz aneJs, cada qual com duração aproximada de 400 mi-
incidente do Sol mas retém parte da radiação lhe)es de anos.

Tabela 23.9 Comparação dos efeitos causados por transgressões e regressões eustáticas (globais)

'
Tende o aquecer _
. •' ' '

Erosão Diminui Aumenta


1 r11c•-a· <-' ·- -
•:<::::~:1
:r-"i .. -~ · y: oci
inj',;..,;;'!-oraJ"' . • -~: i :: · <:- •:< mais lentos
.
_. -_-_
' ,•, ,,
•-- - · - -_ •·• _ •_ êótr~ntes dtívôs --
. ' ',

Ágvos estratificadas, potencialmente - Bem misturadas e oxigenadas •·


,' ,'

onóxícos em profundidade
Distribuição dos mares epicontinentais Aumenta Diminui
• i'Fêt1dit1tlÔ$' êvolvtíVÓ$ n<.is -rnorei~ci~ós>
••, ' .. ,, .... ' .
.. . . . .
,,,
/i'E.ê6ês~~itbumenta, oferecendo --- ·• --.-_ - - -
' "''·'"''•'"•·· ,'' '
' ',, ' ' ' ' ",',, '

-• - •- •Eêo.espçç<::> dirniritJ í/is~!~~d~ii> _


', ', ,, ,.,_.,, .. JS'"é\•),•";,,,.,1 ..

' ,., ' ' ,.·, '' ' ,, ' ,;, '',, ., " ··'',;'•i•,,<;;,i,<út··
- •·•-· ·•- -·i.•_ ,.< !l>portvnl~j~~.s de contato entre biotéls _ - -._ ooeíirninômdô'bídt:Qs\ :1;,r :.:;:._,-.-•
' ·.:·,:·:i'.:'.>.1ii':\':•.. :
-_ . }[p;essão s;l;tívo baixa, mudanças - - -- - Pressão seletiva aguda, mudcinças• ' ' " '

- _t gradativas, radiação evolutivo abruptas, extinções


Suprimento de nutrientes aos oceanos Menor Maior
·•-· !1!ltttdii~~I~~~ir~inpehltpfp entre o pólo _-_ •_ -. - DirrlÍriuf •- _ .- -• ·•_- Aurnenti:t
/.~ri e~V$d~rf •· -
Zoneamento climático latitudinal Zona tropical aumenta Zona tropical diminui
-- -Aurnentcif\
,,:;,;;,.,:/'. ;.
' '
- --- Dirni~µ( -• .
CAPÍTULO 23 • A TERRA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO 511 tf,/!j
•'

Cada um desses ciclos exibe uma série de efeitos 23.5 Eventos Singulares e seus Efeitos
semelhantes scJbre o clima global, que tende a ser quente
durante a fase de dispersão e amalgamação do novo ~uperimpostos nos ciclos e tendências já discuti-
supercontinente, notadamente no Proterozóico entre dos, ocorrem eventos cuja raridade ou intensidade
1.000 e 800 milhões de anos, no Paleozóico Inferior e descomunal faz com que fiquem registrados na histó-
durante o Mesozóico e a maior parte do Cenozóico, ria geológica da Terra. A reação nuclear natural de
e frio durante a formação final e breve períodcJ está- Oklo,
,
ocorrida há dois bilhões de anos no GabãcJ
vel do supercontinente, como no final do Proterozóico ("\frica Ocidental), foi um desses eventos. Ela sc'i acon-
e do Paleozóico. Por motivos ainda nãcJ muito claros, teceu por causa de uma série de coincidências
as fases quentes são pontuadas perto de seu fim pcJr en,-cJl,-endo o aumento recente de oxigênio na atmos-
um mini-período de forte glaciação, como ocorreu fera, as características geoquímicas do Urânio, e as
há 780 milhões de anos no Proterozóico, no condições hidrogeológicas do arenitcJ onde o Urânio
Ordoviciano e no fim do Terciário (começando há 3 se alojou. Aparentemente, a concentração de várias to-
ou 4 milhões de anos). Destas observaçc'íes, podemos neladas de minério contendo 20 a 30% de óxido de
concluir que o clima relativamente bom que experi- urânio a alguns quilômetros de profundidade, subme-
mentamos hoje, ao contrário do que se pode imaginar, tida às temperatura e pressãcJ críticas de 650 I( e 215
deverá ser passageiro, apenas parte de uma curta fase bares, respectivamente, foi suficiente para iniciar uma
interglacial da mais recente mini-idade de gelo. Nesta reação nuclear em cadeia que durou vários milhões de
visão, as calotas polares poderão voltar a crescer num anos, prcJduzindo
,
mais de 500 bilhões de megajoules
futuro não muito distante (alguns milhares ou dezenas de energia. Agua subterrânea circulando pelo arenito
de milhares de anos). CcJmo observou Jonathan Selby em abundância serviu para dissipar o calor e evitar
ao comentar o modelo proposto por Veevers, se o qualquer reação mais explcJsiva.
presente ciclo de supercontinentes correr o curscJ es-
Dificilmente outro evento deste tipo pocleria ter
perado, a previsão dcJ tempo para o futuro geológico
acontecido antes ou depcJis deste: primeiro, pcJrque o
próximo é de melhoria com aumento de nebulosida-
urânio, muitcJ pouco solúvel em ccJndições redutcJras,
de e calor seguidcJ de forte quecla na temperatura com
só começou a formar minérios sedimentares após a
períodos glaciais daqui a oitenta milhões de ancJs, isto
oxidação efetiva da atmosfera, em torno de 2 bilhões
é, se as atividades antrópicas, especificamente o lança-
de anos atrás; e, segundo, por causa do rápido decrés-
mento de C0 2 em excesso na atmosfera, não
cimo desde a proporção ele z,su, com meia vida de
interferirem neste processo.

Proterozóico Paleozoico esozoico Cenozoico


O S D J K T/Q

Clima ,_____________ _
Fria

Ma 1100 1000 900 800 700 600 500 400 300 100 o +100
Fase Refrigerador Estufa Refrigerador Estufa Refrigerador Estufa Refr.
Estágio 1a3 4 5 1a3 4 5 1a3 4 5 1
Ciclo A B e D
Fig. 23.15 As fases do ciclo estufa-refrigerador do clima terrestre e sua relação aos estágios (1-5) dos últimos três ciclos de s1.percontinentes
(A-C). Durante o ciclo A, a Rodínia se fragmenta e parte de seus fragmentos se juntam para formar a Pannótia. Durante o ciclo a
Pannótia se desmantela, fornecendo fragmentos para a formação de Laurêntia e Gondwana, e estes continentes, mais diversos, outios
menores, colidem no decorrer do Paleozóico, para construir a Pangea. O ciclo C, ainda incompleto, retrata a fragmentação da Pargea
e o início da amalgamação do próximo supercontinente, Amásia (nome derivado das palavras 'América" e "Ásia"). Observe que a
formação de Pannótia e Pangea coincidiu, grosseiramente, com as duas maiores épocas de glaciação (azul-escuro), precedidas por
"mini-idades de gelo" (setas) iniciadas há 780, 450 e 4 milhões de anos. As relações entre os estágios do ciclo de supercontin01tes e o
ciclo estufa-refrigerador estão resumidas na Tabela 23.1 O.
512 DECIFRANDO A TERRA

Tabela 23.1 O Como o ciclo de supercontinentes afeta o clima mundial

Estágio Crosta Fluxo de calor Concentração de Efeitos no clima


continental co2 na atmosfera mundial
. . .

1. Supercontinente · • • Calor retido debaixo .•.· Baixa Temperatura baixa;··


·.·.formado da crosta continental efeito refrigerador

2 Adelgaçamento Vulcanismo e Começa a aumentar Temperatura ainda baixa; o


da crosta fluxo aumentam efeito refrigerador continua

3 •Adelgaçamento extremo; Vulca.nismo continua Continua a aumentar Temperatura aumentar


•.rifteomento começo. intenso · iniciando o efeito estufo •

4 Fragmentação e dispersão Fluxo de calor e Alta Temperatura alta; efeito


rópida; intensa formação vulcanismo ao móximo estufa continua
de assoalho oce6nico

5 . Dispersão mais lenta; Fluxo de calor diminui Alta no início; diminuindo Temperatura alta no início, ·
fragmentos continentais · com o fechamento dos com o tempo em função diminuindo em seguido . · ·
·. entram em colisão, mares interiores; calor do consumo do C02 (com "mini-idade de gelo")/.
·. formando o novo • começo a ser represado pelo intemperismo seguido de nova elevação
. supercontinente debaixo do supercontinente das cadeias de montanhas·
em formação dobradas recém-elevadds

apenas 710 milhões de anos (e responsável pela sus- ric/' surgiu aqui mesmo, come) conseqüência da intensa
tentação da reação em cadeia), em relação a 238 U em interação entre o calor, a litosfera, a hidrosfera e a atmos-
depc'isitc)s naturais de Urânio (Fig. 23.6). Dessa manei- fera primitivas muitc) cedo na história do planeta, de tal
ra, e) evento de Oklo se caracteriza como realmente mc)dcJ que e)s oceanos precoces fc)ram transformados
único na história da Terra. em se)luções ricas em compc)St<)S orgânicos dos mais
Todavia, dentre os <)utros eventos singulares nc)tá- divcrseJs, uma verdadeira "seJpa primordial" na qual os
veis, vale a pena destacar dois, a origem da vida e o primeiros seres vive)s teriam se originado.
impacte) de um gigantescc) meteorito há 65 milhões de Seja a vida indígena (surgida aqui) c)u exógena (entre-
aneis respe)nsável pela extinção dos clinc)ssauros e muitc)s gue "em c.lcJn1icílio" pe)r um cc)meta), ela só experimentou
e)utrc)s grupc)s de animais terrestres e marinhos; e) pri- succssc) ap()s o último impacte) esterilizante, que, segunde)
meire>, pela importância que a bie)sfcra tem na clinâmica C)S cosme'ilcJge)s, deve ter ocorridc) antes de 4 ou 3,8 bi-
e na própria evolução da Terra e o segunde), pele) sihrnifi- lhões ele anos atrás (Fig. 23.5). Estas e.latas ce)incidem
cado de) acaso e da catástrofe na história da vida. apre)ximadamente com a idade de compostos grafitosos
da Grcienlânc.lia (3,85 !Jilhões de anos), tidos por alguns
23.5.1 A origem da vida estudie)Se)s (nem todc)s) como as mais antigas evidências
de \rida, sendo apenas 300 a 500 milhões de anos mais
Durante a infância da Terra, no Hadeano, a superfície antigas c.1ue eis mais antigos fósseis irrefutávcis, os
terrestre foi bc)mbardcada constantemente pe)r tc)c.la micre)fósseis e estromatólitos encontrados no noroeste de
matéria de sc)bra do processo da formaçãc) do Sol e Austrália, datadcJs cm 3,5 bilhões de anc)s (Cap. 15). Desta
planetas, cuja trajetc')ria cruzava a e)rbita da Terra nc) discussão, transparece uma conclusão altamente surpreen-
momentc) errado. Pc)stula-sc, inclusive, que boa parte cle)s dente: a vida pode ter surgidei e se extinguideJ diversas
gases e da água de nossa atmosfera e hidrc)sfera foi en- vezes entre 4,5 e 3,5 bilhões de ane)s atrás, mas a fe)rma
tregue à Terra pe)r impactc)s de cometas. Há quem que sol)re\7Íve até hoje, baseada em DNA, deve ter apare-
especule que a vida teria se originado cm cc)metas quan- cido e cvoluídc) rapidamente próximo do fim do Hadeano,
do e) SeJl os ac.1uecia, volatilizande) suas capas externas estabelccende) e)s prcJcessc)s mctab(ilicos básicos (fermen-
geladas e criando o equivalente a um enc)rme labc)tatc')- taçãe), autotrc)fismcJ, etc.), hábitc)s de vida diverse>s
rio químico à base de cc)mpostos de C, H e N. A maieiria (proclutorcs primáric>s, decc>mpositores, etc.) e ecossistemas
dos especialistas, no entanto, acredita que este "labc)rat()- variac.te)s cm pe)ucas centenas de milhões de anos.
CAPÍTULO 23 • A TERRA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO 513 ~""

23.5.2 O evento K/T e o bólido assassino

Atualmente, a grande maic)ria de meteorite)s tem


tamanho muito pequeno e cai sobre o mar. Desse
modo, os destroços de corpos celestiais recém-caídos
são muito raramente recuperados (em torne) de uma
dezena de novas quedas, anualmente), e as crateras as- Ria_çhão •s.Migu
fí do Tap
sc)ciadas a eles normalmente não passam de alguns Serra da
metre)s de diâmetro. l\1esmo assim, e apesar da efici- Cangalha
ência do intemperisme) e erosão em apagar tais feições
da superfície terrestre, são conhecidos, mundialmente,
em tc)rno de 160 astroblemas (literalmente, "feridas
e Araguainha

Piratininga
dos astrc)s"), ou crateras, de tamanhos e idades de)s
mais variados, fe)rmados pela queda, no passaclo, ele
•.
grandes meteoritos, ce)metas e até asteróides (coleti-
vamente conhecidc)s como bólidos) (Tabela 23.11).
O que poucos sabem é que o Brasil também tem sua
cota de crateras, inclusive uma de 40 km de diâmetro,
o domo de Araguainha, em Gc)iás, na divisa com Mato
Grosso, e outra de mais de 3 km de diâmetro em Fig. 23.16 Localização de astroblemas no Brasil identifica-
Colônia, a 35 km de) centro da cidade de São Paulo dos por círculos proporcionais aos seus tamanhos. Fonte: C.
Riccomini.
(Fig. 23.16).

Tabela 23.11 Os maiores astroblemas da Terra e os exemplares brasileiros conhecidos

~f'~'fô~li C ·
Sudbury 250 2
•.• •Âttf:Õti11ii · · •· . 90·.•··>. ·•· · 7(empcite)
. .
•.·.
Shark Bay Austrália 280-200 120 4
•·• MB(lfcc:fPi:lç~ :. · · · . . ··· ··. '"
Canadá
' ' '' '
i> ·
'
. • ·.•214·
' ' ''
... •· · · liôô .·... •· ·• ·.. ·. ·. ·•. 5(empate)
Puchez-Katunki Rússia 175 80 9
··Ma~j~~ •<· · ·. . Átric<l~~ '$tjl •. ·•· . • > 1••fS . . 79> ·.. ....·.....·. . ·•·.· . · 1Õ
Kara Rússia 73 65 11
·. '.''Ch1!ri1:1t~b : ••·•.· ·•.· · · ··
::,~·..<:. '·:,, México 65 < 170 ••... ·3 . ·.·•· ....
Chesapeake Bay Estados Unidos 90 7 (empate)
' ' '
'
'
,,,
'''
' "
," '
' ' " '
'' ' '

Neodevoniono •" ...... :t.·


Serra da Cangalha Tocantins Eopermiano 12 3 (empate)
Riochão ·· • Mi\lr<inl'ia$ · Mesopermiono .•4> . . . . .. ••••••·•·• < 6. · • ·.• ..
Araguainha Goiás Mesopermiano
,,,
40 1
. Vargeão Santo Catatíao ••• •·
' ,','

Eocretóceo ·.•.•· }i2> 3 (empate)


Piratininga São Paulo Eocretáceo 12 3 (empate)
.bôlônia
,,., ' ' ,, ' ' ,,, São f>ô~l~ <• . terciário . 3 6>,,i
" i_, 7
Fonte (parcial): Folha de São Paulo, 26 de abril de 2000.
514 DECIFRANDO A TERRA

Não há C<Jm<J negar <)S efeitos catastréific<Js l<icais, hipéitesc e.lei impactei, com<) a presença de uma an<J-
regionais e até glcil,ais, especialmente sc>bre a l,i<isfcra, malia em Creimei (C=r), micrcic.liamantes e pequenas
elos impacteis rcspcinsávcis pcir estas crateras. () n1ais g<itícttlas vítreas ele rcichas siálicas ft1ndidas nci mesmcJ
impressionante clclcs (e ClLle mais atençã<i tem rcccbi- nível estratigráfico. 1',m 1999, F. "f. l(yte, da U niversi-
d<>) é aquele citadc1 c<imci responsável pela onda ele c.laclc de C:alifórnia etn Leis J\ngeles (EUA), anuncie)u
extinções que marcciu <> fim do períodci Cretácc<J e a c.lcsccibcrta, em scelimentcis ele func-leJ de) neirte elcJ
,
da era Mesozéiica, há 65 milh<'ícs ele anos. P, C<Jnhcci- e>ceanei PacíficcJ, a milhares ele e1uileímetrcJs de
do com<) cJ evento K/T, termo derivael<i elas siglas Chicxulu\J, de uma partícula de rocha ele menos de 3
ad<>tadas cm mapas ge<)léi 6riceis para o c=retáce<J (I() e mm em c.liâmetrei, cuja análise textura! e química ci
Terciári<J (T). F'oi a equipe de Luís Alvarcz, ganhael<Jr C<)nvenceu de que se tratava e-le Ltm fragmento d<) préi-
d<J prêmÍ<) N<il,el e pr<Jfessc)r da U niversidadc da pri<i l1c'>lidcJ I(/T, prcivavelmente um asteréiiele.
Califórnia em Berkeley, que, cm 1980, chamou a aten-
() impacto do béiliclo assassino ncJ limite 1(/1' te-
ção ela ceimunidade científica para esta idéia, e1uc até
ria c)casieinac.lci e1 CJLlC I< yte clescrcvc ccimo "L1m e-l<is
então nã<> passava de mais uma elas hipéitcscs
pic>res elias ela hist(iria ela Terra". (~alcLda-sc cm 1 O km
catastrofistas, vistas como "p<iliticamentc inccirretas"
eJ eliâmctt<J dei astcrc'iidc qLte caiu em C:hicxulul1. Alétn
na Gecilogia desde a época ele (~harles l ,ycll, n<J sécul<J
elas cJnelas ele chcieJLJe e ca!cJr (até 500° C:), terremoteJs
XIX ((~ap. 15). F,m análises de rochas argilcJsas situa-
(até 9 e 1 O na escala Richter) e vaporizaçáci de rcichas
das exatamente n<> limite I(/T em LJmllria, Itália,
11r<Jveicacleis pcl<J impactei, <JLltreis efeitos igL1almentc
Alvarez e colabeJrael<ircs ce)nstataram LHna co11centra-
atcrr<irizantcs teriam se sucedieleJ pcir dias, meses e até
ção anêJmala no elemento Irídi<> (lr), um metal
aneis: tsunamis gigantescc)s (c<im onclas de até 300 m),
semelhante à platina, extremamente rare> na crcJsta ter-
chuvas ácielas fcJrmaelas a partir ela grande quantidaele
restre. Nci entanto, este clcmcnt<) é presente ncJ mant<i
ele clic'1xide1 ele carbcJnei e éJxidcis e-lc enxcifre prciveni-
e sal,ielamcntc cnric1uecidc1 em asteréiielcs, mctcc>riteis en tes de calcáric>s e sulfateis (evapeiriteis)
e cometas. Preipuseram e1uc as arhrilas enric1L1ccidas cm instantanean1entc \'apcirizados, incênelieis em escala
Ir e1ue marcam CJ limite 1(/T rcpresentaria111 a pcicira ceintincntal, quccla de fragmenteis ejetad<is ela cratera
lançaela na cstratcisfera pelo impact<J ele um bé>liclc> ele e, principalmente, ei cfciteJ ''inverno nuclear''.
dimensc'ícs qLiilon1étricas e que este impact<J eleveria
ter sido a causa principal ela cxtinçãcJ deis elincJssaL1rc >S, 1\ idéia el<i invernei nuclear parece ter surgid<J na
reptéis v<Jadcircs, c1uase t<ielcis CJS grancles ré11tcis r11a- clécaela de 1980, pelei men<>S cm parte, das disct1s-
se'ies geraelas cn1 tcirn<J eleJs p<issíveis efeitos cl<J
rinhos, c-liversos grupcis ele invcrtcbrael<is marinhc>s e
i11111actcJ gigante ne1 fim elci Crctáccei. Percebeu-se
até microcJrganismeis e plantas ne) fim elo (=rctáce<J
c1ue u111a guerra nuclear SLtrtiria um efeitci muiteJ pa-
(l;ig. 23.17a, b, c). Nei fervor que suceeleLt à publica-
rccicl<i com ci ele um granelc impactei ele metccJritei,
ção da hipéitese do grupc> ele Al\ arcz, muitas 0

lançandcJ tanta pelcira e fuligcn1 na estrateisfcra que


ocorrências novas e-la anomalia de Ir 11cm ceimci cris-
a luz d<i seJl não penetraria até a superfície terrestre
tais ele quartze) c<im sinais de fraturamcnto pclr fcirtc
cm tciclei <1 gl<ib<i pc1r dias, semanas Clll meses. J\
impact<J f<iram cnc<intradas na mesma p<Jsiçá<J
temperatura cairia rapiela1ncnte para valcircs r1cgati-
estratigráfica em cJutras regie3cs do mL111elei, inclusive
vc)s n1esm<J n<)S trc'Jpiceis, elizimandcJ a vegetação
no Ncirdeste do I-3rasil, na bacia ceisteira PernamllttceJ-
terrestre e matanel<) ci fitclplânctcin marinhei, base
Paraíba.
das cacleias alimentícias. lim cfcitcJ cm cascata lc-
F:m 1991, gecifísicos localizaram, cm subsL1perfície, \'aria à tTI<Jrtc eJs ceJnst1mic.leires primáricJs e, em
o principal canclielatcJ para ei leical de impact<) elci béJlic.lo scguicla, <JS carnívcircis, e assim cm diante. PcJuccJs
assassine), uma cratera ele 1 70 km de cliâmetrei e CiS animais seibreviveriam, mas as plantas terrestres tal-
milh<3cs de an<is ele idade na península de Yucatan \"ez puelcsscm l1rotar de n<ivo, a partir ele sementes
(M:éxicci) debaixeJ ele rcichas ccnozc'iicas nas cercanias ciu raízes resistentes, quand<i a p<Jcira se assentasse
,
do povoad<i de (=hicxulul1 (pront1nciadci chíc' -chu-lub') 111cses ciu anos elepciis. F, este o cenári<) que é ima-
(Fig. 23.17 d). Em bcJra alguns gecicientistas argumen- ginaelcJ para o terrÍ\'Cl fim elo Cretáceci, um cvent<J
tem que a anomalia em Ir pc)deria ter se cJriginaele> do c1ue acal1ciu ccJm o e-lcimínio d<is répteis e permitilt a
vulcanismeJ basáltic<J extrac1rdinárici registrado na mes- ascensão cl<is mamífereis, que elesele sua origem na
,
ma ép<ica na India, tal hipótese nãci explica c•s grácis mesma épclca d<i surgimenteJ dcJs primeireis
de quartzci fraturadcis e <Jutras evidências favcirávcis à
elinossat1r<is até entà<J ti11l1a1n dese111per1hadci un1 de\ .1stciclc>r <Jlte nada tinha a ver c<im els pr<icessos
papel ele mercis c<iaeljuvantes nas faunas mescJzc'.>icas. n( ,rn1,1i, ela evcJ!uçà<i, ccJ111cJ ccimpetiçãci e seleçà<J na-
A aceitaçàcJ desta l1ip{Jtese pela 1nai<Jria dos rurc1l. Dificilmente qualquer outr<J grupo el<imina11te,
ge<Jcientistas fcJrçciu a ccimunielaele ge<il{igica a repen- de LJUalquer época gecilc'igica, escaparia ileso de um
C\ cnt() ,en1elhante. I~les estavan1, simplesn1ente, no
sar <J papel de catástrcifes na história ela Terra e
lu~.1r erradci, 11ci n1cJmentci erradcJ.
especialmente na cvcJluçàcJ l,icJlcJgica. () eventci 1(/T •

eliminou grupcis ele c>rga11ismcJs que tinham experi-


mentado granele sucess<i e dcJminância p<Jr 1nuitas 23.6 Amanhã e Depois
elezenas de milh<'íes ele ancJs - eis din<JSsaurc)s na terra
e os amcJnites (cefalcip<Jeles c<im ccinchas cc)111plexas) 1lá uma precJcupaçàcJ generalizada, de e1ue a açà<J
n<is oceancJs. NàcJ feiram extintc>s p<Jrque eram neces- da civilizaçàcJ p<Jssa perturbar a diversiclaele ela vida, <J
sariamente "infericJres" a<is mamífer<is e Cllttrcis grup<is clin1a e CJ nível d<J mar, provcJcanelcJ tcJda espécie de
que <)S sulJtituíram, pois f<iram extint<JS ccJn7<J uma tragédias para o mundcJ e1ue c<JnhecemcJs, elesele a ele-
c<intingência de um eventcJ aleatcJricJ instantanea1nente vaçà<J ela temperatura pela queima ele ccJmb11stíveis

- · -, •- ·• ••~.,,~,--. " • ~ - - • - • • • - - - - • ~ " - • • -• r , é~--,:~•"=•-•~ , • , ••-• •-~•••-•••w•--••-.--•"•---••••~••---••-,


'
ll
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1
500km
1

Evidências de. tsunamis

Fig. 23.17 o) O bólido assassino, de dez quilômetros de diâmetro, um segundo antes do fim do Cretáceo, há 65 milhões de anos.
b) O impacto. c) O local do impacto, mil anos depois. d) A localização atuai do suposto cratera em Chicxulub, México. Fonte:o-c
William. K. Hortmonn. d) A. R. Hildebrond & W. V Boynton, 1991.
516 DECIFRANDO A TERRA

fósseis e subseqüente degelo das cal()tas p(Jlares, pro- de suas instituições diante da dinâmica geológica e do
V(Jcando a inundação de regiões costeiras populosas, mei() ambiente.
à destruição da camada de ozt)ni() que protege a vida
F<~m termos d() futuro geol(igico do planeta, en-
d()S raic)s ultra-violeta mais danosos, até extinções em
volvend() perÍc)dos de tempo de milhões de anos,
massa e desequilíbrio de ecossistemas inteiros com
podem(JS esperar que os pr()Cessc)s, tendências, ciclc)s
desertificação de grandes regiões onde atualmente
e eventos singulares continuem a acontecer num ritmo
existem florestas tr()picais, etc., etc. r:xistem C)rgani-
cada vez mais lento, na medida em que os elementos
zaçõe s Não Governamentais (ONGs), órgãos
radioativos serão exauridos e o calor geotérmico di-
governamentais e cc)missões especiais que lidam com
minuirá nos próximos bilhões de anos. Antes disto,
esta questão bem como conferências internacionais
p()rém, o atual ciclo de amalgamação de novo
para discutir os resultados dos estudos sobre o tema.
supercontinente deverá se completar, começando com
A preocupação C()m este tópico, que é apelidado de
a inversão do sentidc) de movimente) das placas
"mudanças globais", é real e o perigo também, p()is
litosféricas daqui a algumas dezenas de milhões de anc)s.
a população humana, que em 19 50 era de dois bilhões
Enquanto esta etapa não tiver se completado, ocorre-
e meio de habitantes, hoje passa de seis bilh(:>es e, com
rão alternâncias climáticas de curta duração com uma
crescimento anual de 2%, ameaça chegar a 11 bilhões
tendência ao aquecimentc), terminandci, como já foi
até o an(J 2050. Este fato, por si só, é prova cabal da
dito acima, numa nova era glacial daqui a cerca de 80
"mudança global" mais significativa dos últimos sécu-
milhc:ies de anos, em função do término do presente
los, o superpc)voamento da Terra por nós, humanos,
ciclo de supercontinentes.
com todas as demandas e ameaças que isto impõe ao
meio ambiente e ao suprimento de alimentos e de bens
duráveis.
() que talvez esteja passando despercebido ao lei-
Leituras recomendadas •··
tor recém-chegado neste problema é que, como vimos
neste capítulo, a Terra é um planeta dinâmico, em que DOTT, R. L., Jr. SEPM Presidential Ãli<;lr6s;~:
as mudanças globais,
,
em diversas escalas tempc)rais, Episodic sedimentation. How nôr$a.f· is
são a nc)rma. E normal, portanto, que o clima mL1ndi- average? How rare is r.are? Does.Jt ~!ti~r?
al esquente ou resfrie, permitin(Io o avanço ou o degelo Journal of Sedimentary Petrology, nº 1, 19$3, yól.
:'"·: ''· .' ' ' ' ,· '
.. : . . ..
., ' '

53 .
' " "

das calotas polares, que o nível do mar suba ou desça, . ... ··


':-' : \.; -i" ·:
redesenhando toda a linha de ccista, perturbandcJ
KUKAL, Z. The ·rate of geologicalprocess.és; •Ê/iti..tR~
ecossistemas costeircis e até ribeirinhc)s e mc)dificando
Science Reviews, nºs. 1-3, 1990, vol.28.
o clima; é também n()rmal que os ccJntinentes se afas-
tem ou se aproximem e que espécies e\'(Jluam e sejam MURPHY, J. B. & NANCE, R. D. Mountai~.b~ts
extintas, continuamente, em funçãc) dessas muclanças. and the supercontinent.cycle. Sr:ientiftc~êiiÍ(l;fJ,
A questão é o ritmo dessas mudanças. () pc)nto mais nº 4 (April 1992), 1992,.vol. 266. . ... <
· preocupante é que a atividade antrópica, ou seja dcJ
ROGERS, J. J. W A history of continentsfu tlte
ser humano como agente transf()rmad()r do planeta,
past three billion years. The Journal of Geology,
seja um catalizad()r de processos geológicos, induzin- 1996, vol. 104.
do, provocando e aumentando num curto prazcJ,
efeitos que a Natureza ncJrmalmente levaria séculos, SALGADO-LABORIAU, •M. L. ·Histótia.;13'c&~gi-
milênios ou milh(:>es de anos para fazer ... ou desfazer. ca da Terra. 2' ed. São Paulo: Edgard •ijl(j~~t,
~·. .....

lvias isto não é prcJblema para a mãe-natureza, p()is 1994.


ela já sobreviveu a inúmeras crises sem a presença do SCHOPF, J. W Ritmo e modo da evalução~tt~ti~ifa
ser humano, pois a vida é extremamente oportunista e pré-cambriana. São Paulo: Instituto d~ ~stµijijs
rapidamente repcivcJa nichos vagos enquanto os ciclos Avançados (USP), nº 23, 1995, vol. 9)) .• · : i
':::,.·'
dinâmicos e tendências seculares C(Jntinuam em seu
ritmo inexorável. Talvez a questão principal seja: e a VEEVERS, J. J. T ectonic-climatic supercyckin ~e.g,;Íli,.ti.
espécie humana? Ela é capaz de sobreviver a si mes- year p!ate-tectonic eon: Permian Pangean .icébi,.Jse
ma? F~sta questão será abc)rdada n(J últimc) capítulo alternates with Cretaceous dispersed~c~ntln~nts
deste livro, que fala sobre a pcisiçã(J d(J ser humano e greenhouse. Sedimentary Geology, 1990; vdl. 6.
o

-"ti<'f!t).aoi r
/t
' •
imos n<)S capítulos anteriores que a Terra é exploração mais ativa são de 8.000 a.C., com o início
um sistema viv<), com sua dinâmica evolutiva da chamada revolução agrícc)la. Desde então a huma-
própria. Montanhas e oceanc)S nascem, crescem e de- nidade explora <)S recursos naturais do planeta e
saparecem, num processo cíclico. Enquanto os vulcões mc)difica a superfície terrestre para atender às suas
e os pr<)cessos orogênicos trazem novas rochas à su- necessidades que crescem continuamente cc)m o de-
perfície, os materiais são intemperizados e mobilizados senvolvimento das civilizações. Por outro lado, a
pela açãc) dos ventos, das águas, das geleiras. Os rios constante e crescente exploração dos recursos naturais
mudam constantemente seus cursos e fenômenos cli- tem ocasionado intensas pressões sobre o ambiente
máticc)S alteram periodicamente as condições de vida em determinadas regiões, prejudicando a própria vida.
e o balanço entre as espécies.
A História fornece exemplos de diversas civiliza-
A Terra, graças à sua evolução a<) lc)ngo de alguns ções antigas que perderam sua importância por terem
bilhões de anc)s, propiciou condições para a existência degradado o ambiente em que viviam. Váric)S séculos
,
de vida, vindo a ser, hoje, a casa da humanidade. E atrás, a civilização da Mesopc)tâmia utilizava intenso
sobre ela que vivemos, construímos nossas edificações, sistema de irrigação que, pel<) manejo intenso e im-
e dela extraímos tud<) <> que é necessário para manu- próprio, levou à salinização dos solos e sua
tenção da espécie, tal como água, alimentc)s e conseqüente degradação para a agricultura. Também
matérias-primas para produção de energia e fabri- a civilização Maia, na América Central, entrou em de- ,
'
cação de tod<)S os produtos que usamos e cadência pela má utilização do solo, o que provocou 1
consumim<)S. Contudo, também é nela que depc)sita- intensa erosão e escassez de água.
mos nossos resíduos, tantc) industriais cc)mo
domésticos.
Por outro lado, se analisarmos o histórico da ocu- i
paçãc) da Terra pela humanidade, a população global
As primeiras intervenções da humanidade nos pro- era da ordem de 5 milhões de habitantes 10.000 anos l
cessos naturais C<)incidem com o domínio do fogo. A atrás, cresceu para 250 milhões no início da era Cristã,
partir daí os seres humanos começam a modificar as e atingiu 1 bilhão em torn<) do ano de 1850. Segundo '
cc)ndições naturais da superfície de) planeta. Estima-se estimativas da C)rganização das Nações Unidas
que a exploraçã<) mineral iniciou-se há 40.000 anc)s, (ONU), atingimos cerca de 6 bilhões de pessoas no
'
quando a hematita era minerada na Africa para ser ano 2000, o que caracteriza um crescimento i
utilizada como tinta para decc)ração. No entant<), os populacic)nal segundo uma curva exponencial, como 1
registr<)S mais antigos do uso artificial da Terra e sua mostra a Fig. 24.1.
'
E interessante lembrar que por volta de 1800
Thomas Malthus (1766 - 1834) sugeriu que a taxa de
-"g' crescimento populacional era muito maior do que a
capacidade do nosso planeta de prc)duzir subsistência
6 "'
"'o.G> para a humanidade. Se os limites de subsistência ainda
5 .g não foram superados, isto se deve basicamente a duas
G>
,o
"' razoes:
4 s:.
1) a ocupação e exploração de novas áreas. Para .
-.!!--
.0

3
se ter uma idéia, durante o século XIX a área de terras
"O
e aradas, ou seja, destinadas à agricultura, cresceu 74 %
:::i
· 2 E em relação às terras aradas no século anterior. Tal cres- .
o
1\1
(.),
cimento deu-se através do desflorestamento de
... 1 ..!! enormes áreas, observando-se, no fim, do século X,~
:::i

~========:::::!==r:=:1::::~_J, l
1 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 O
taxas
,
anuais da ordem de 1,7% na Africa, 1,4%
Asia e 0,9% nas Américas Central e do Sul;
Ano 2) <)S enormes progressos tecnológicos, em tod
Fig. 24. l Evolução populacional mostrando tendência as áreas de) conhecimento, levam a uma maior produ .
exponencia 1. ção de alimentos por área cultivada graças ao us

Cultivo de arroz em terraços criados sobre encostas, na Indonésia. Foto: Stock Photos.
'i'

1
i11tensc) <le fertilizantes, agrcit(Jxiccis e sementes Llesen- O~~J~~fal =i,,- América do Norte
1.0
vcJlviLias em la!Jc>rat(JricJ, cl que, em ecintrapartida,
impõe a implemcntaçãcJ ele ccltnplexos sistemas prci-
<lutivcis, de transpcirte e <le abastecimentcJ. g 0.8
~
E

1\s características de desenvcllvimentci acima cles- . .


' ' ',' ", '

cr1 tas exigem um ccinsumcJ cada vez maicir <le > •·'',, ,'.,"'

'"

õ
matérias-primas tanto minerais ccJmci energéticas. f~s- >
e:
5l
ti111a-se que ci consumo ele matérias-primas minerais ~ 0.4

varia entre 8 tcin/ ano pcir pesscJa nas regiões mencis "O "
Q)

"O "
desenvcJlviclas e de 15 ou até 20 tcln/ ano pcir pesscia e:
0.2
nas mais desenvolvidas. Além elissci, cJ consumcJ e-le
energia pcir habitante parece aun1entar elepenelendci
o
do estágicl de desenvcilvimentci em que a sc>cieelaclc se o 2 4 6 8 10
encontra, ccinfcJrme mcistra111 as Figs. 24.2 e 24.3, le- Consumo anual per capita de energia
(tonelJdas equivalentes de petróleo/capital
vanelci a supcir e1ue, quandc> els pcivc>s se desenvcilvem,
cresce a dernanda de energia per capita.

Fig. 24.3 Consumo de energia em relação ao índice dé de-


Alimento : Moradia e Indústria e senvolvimento humano, que leva em conta a expectativa de
Comércio agricultura vida, mortalidade infantil, grau de escolaridade e poder de
:g
"" Tecnológica
o compra da população.
-""
o
o
Indústria
extintas (Pig. 24.4), pr(ivcicanch> pcrclas irreversíveis à
"""'a.
~ Agricultura \)i<itliversielade ele> planeta e causa11tl<> elesee1uilí\)ric1s
."' avançada
e
(!)
ccc>lc'>giccJs.
~ Agricultura
~ primitiva ( :cltTI a ev(iluçàc> agríc(ila, as civilizaçc->cs que pci-
,

Caça
vciaram a 1-<'.urcipa, ci Mediterrâr1ec>, a 1\sia J\fcnc>r, a
,
o Inclia e e> I~cstc Asiátic<J mciclificaram p<lr cclmpletci
E
:::,
1
1

"'o: Primrtivo 2 c>s tcrritéJricis c>CL1paclc>s, explciranclcl seus bosques e


8 tlcircstas e transfcJrn1andcJ-cis cm campc>s agrícc>las. De
50 100 150 200
3 maneira c<>crc11te e> n1c>elelc> ele cc>l<lnizaçãc> a<lc>taelci
Consumo diário/capita (10 kcal) ,
pclc>s eur(ipeus nas Américas e ;\frica, e partict1lar-
n1cntc nci Brasil a partir el<l séculci XVIII, lJaseia-se ncJ
Fig. 24.2 Consumo de energia por habitante nos diferentes
de~n1atamentci de extensas áreas ílcirestaclas para ex-
estágios de desenvolvimento da humanidade.
plclracàc> da maeleira. A área des111atada pc)dc ser

Para possibilitar ci cc>nfortci da populaçãci atual da


Terra, o volume de materiais mobilizadcJs pela huma- População
nidade (materiais para ccJnstrução, minerais e minéric1s) --
"'"'e:
)C
60
Pássaros Mundial 3.0
~

"'
(1)
•O
.e:
é maior dcl que aquele mcibilizadci pelcJs prclcesscls
-"'
(1)
50 2.5 ..o
geológicos característicc>s da dinâmica externa da Ter- "'u
(1) Mamíferos
•(I) 40 2.0 "C
ra. Tal constataçãcl ccJloca a humanidaele não s(J cci1110 a. e:
:,
"'
(1)
30 1.5 E
um efetivo "agente geoléigiccJ", mas comcJ o mais (1)
"C o
e 1.0 '"cu:,'
importante modificadcir da superfície elo planeta na u-
(1) 20
atualidade. E
,:, a.
o
z 10 0.5 a..
Paralelamente, <l prcJcesso de ocupação ele ncivas
áreas para a garantia de stiprimentci das necessidae-les 1700 1800 1900 2000
da humanidade le,·a à e-lomesticaçãc> e criaçãcJ de algu- Ano
mas espécies animais, prcJtegi<las e utilizaelas ccimci Fig. 24.4 Comparação entre o número de espécies de pás-
alimento, enquantcl ciutras, consideraelas daninhas, são saros e mamíferos extintos com o crescimento demográfico.

1
tcs e agrotóxicos. Tais práticas são extremamente agres-
sivas ao solo, podendo levar à sua salinização. Além
disso, podem provc)car a contaminação tanto das .
águas superficiais como das subterrâneas, inviabilizando
o aproveitamentc) da região por longo períodc) de
tempo, ou mesmo permanentemente, visto que as .
águas subterrâneas deslocam-se a velocidades extre-
mamente baixas, e não se renovam facilmente.
A necessidade de maior produtividade da área cul-
tivada obriga a uma modernização e progressi,·a
mecanização da agricultura (Fig. 24.7), o que cria um
Fig. 24.5 Erosão linear (boçoroca) em área de cultivo agríco- grave problema social na medida em que alija os tra-
la. Foto: IPT. balhadores rurais do seu mercado de trabalh
tradicional, fazendo com que grandes contingentes
abandonada ou, eventualmente, ocupada por pastos e
por uma pecuária extensiva que, à medida que são
disponibilizadc)s melhores meios de comunicação, pro-
gride para uma agricultura intensiva. A extração da
floresta e sua substituição por uma vegetação rasteira,
freqüentemente manipulada de forma inadequada, leva
à maior exposição do solo, que passa a ser mais susce-
tível aos agentes erosivos, com sua conseqüente
desestruturação e perda da capacidade de absorção
de água, o que provoca maior escoamento superficial
que, por sua vez, intensifica a erosão (Fig. 24.5). Perda
de solo causará, de modo complementar,
assoreamento dos rios (Fig. 24.6), dos lagos e final-
mente a deposição de material sedimentar nas
plataformas cc)ntinentais dos oceanos.

Com a exaustão do solo, as populações procura- Fig. 24.7 Agricultura intensiva com 1rrigaçao mecanizado
rão novas áreas que sofrerão o mesmo processo de (pivô central). Foto: IPT.

ocupaçãc) e degradação. Nas áreas em que a agricultu-


ra intensiva é implantada, quase sempre cm associação mudem para as áreas urbanas à procura de novas
com técnicas de irrigação, o desequihbrio ecológico se c)pc)rtunidades. Nos países menos desenvolvidos, es-
faz presente, obrigando ao uso excessivo de fertilizan- ses trabalhadores chegam às metrópoles sem condições
financeiras e instrução adequadas para competir no
mercado de trabalho. Em muitos casos, estabelecem-
se em áreas periféricas geralmente inadequadas para
ocupação, onde a vegetação é retirada e cortes e ater-
ros sãc) construídos sem o mínimo controle técnico.
Tais alterações do meio físico aumentam a
vulnerabilidade das populações, como é o caso de
cc)nstruções em áreas de risco sujeitas a
escorregamentos. (Fig. 24.8).
Esse fenômeno é específico dos países menos de-
senvolvidos e dos bolsões de pobreza no hemisfério
norte, com populações ocupando vertentes de vul-
cões ativos, planícies de inundação, zonas sujeitas a
Fig. 24.6 Assoreamento de rio causado por uso impróprio
do solo. Foto: IPT. movimentos de massa e avalanches, mangues etc. A
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()s países mais desenvolvidos caracterizam-se por


um pertil de consumo exagerado tanto de matérias-
primas como de energia (ver Fig. 24.3).
Conseqüentemente, produzem enormes quantidades
de resíduos, como nos Estados Unidos da América,
onde cada habitante gera cerca de uma tonelada de
resíduos por ano, que têm de ser dispostos em áreas
apropriadas para essa finalidade.

~a busca de uma melhor qualidade de vida, a ten-


dência seguida pelos países menos desenvolvidos é
atingir os padrões de consumo dos países industriali-
zados do Hemisfério Norte. Entretanto, fica evidente
Fig. 24.8 Escorregamento em área urbana de Campos de
que isso levaria a níveis insustentáveis de consumo de
Jordão (SP) com várias edificações em área de risco. Foto: IPT. matérias-primas e combustíveis, de maneira que as
naçc3es em desenvolvimento deverão buscar caminhos
ocupação de áreas de risco coloca em permanente diferentes, evitando o mesmo nível de consumc) e des-
evidência as desigualdades sociais e econômicas e cria perdício praticados naqueles países, uma vez que os
um estado de contínua tensão social. recursos globais são limitados.
A taxa de crescimento populacional nos países
menos desenvolvidos é muito maior do que aquela 24.1 Como Nasceu o Conceito de
dos países desenvolvidos, onde na maioria dos casos
Desenvolvimento Sustentável?
há uma população estável e, devido às melhores con-
dições de vida, expectativas de vida mais elevadas. Essa Estudos sc)bre desenvolvimento iniciaram-se por volta
distribuição populacional leva a crer que, mesmo que de 1950, quando muitos territórios coloniais tornaram-
as taxas de natalidade nos países menos desenvolvi- se independentes. A Organizaçãc) das Nações Unidas
dos decresçam, um patamar de relativa estabilidade (ONU) denominou a década seguinte como a Primeira
populacional na Terra só será atingido depois de 2050 Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento,
quando, estima-se, a população mundial será em tor- acreditando que a cooperação internacional pr()porcio-
no de 10 a 11 bilhões de pessoas (Fig. 24.9). naria crescimento econômicc) pela transferência de
tecnologia, experiência e fundos monetários, resolvendo,
10 - ~ 1Oa 11 assim, os problemas dos países menos desenvolvidos.
bilhões
:t\a realidade tais ações mostraram-se inócuas, uma vez
que criaram uma total dependência, não só econômica,
mas também tecnológica, daqueles países com os do

-Ili
GI
•O
2
•• --------· //
Índia - 1,8

China - 1,4
:\fundo Desen,-olvido, aguçando as discrepâncias já exis-
tentes.

·-.....
.e 1 -
.a- /
Nigéria "-\ questão ambiental, fundamental para qualquer pla-
!
Bangladesh no de desen,·o!Yirnento, começou a ganhar destaque nos
Paquistão
meios de comunicação por volta de 1960. Na época,
vários países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, con-
Ex-USSR
1
sidera,·am in,-iável incluir grandes programas de
\ EUA consen·ação ambiental em seus programas nacionais, pois
01-
, Japão acredira,·am que poluição e deterioração ambiental eram
Brasil conseqüências inevitáveis do desenvolvimentc) industrial.
E,1dentemente tal atitude foi conveniente para os países
mais desen,·ol,1dos pois, ao mesmo tempo que restringi-
1
am a implantação de indústrias poluidoras em seus
1950 2000 2050 2100 Ano
territórios, tinham para quem transferir sua tecnologia, e
Fig. 24.9 Estimativa de crescimento populacional para diver-
sos países durante o século XXI.
ainda, garantiam o suprimento de bens pro,·enientes dos

1
11aíscs mene)s dcsenveilvidc)s gue cnccJrajavam a instalaçãcJ harme>nia na busca cki desenveJlvimentcJ sustentável. A
dessas inclústrias. Agencia 21 receinhcce que c1s preiblcmas de crescimentcJ
Nci final dessa clécacla, a humanidaelc ganheiL1 um clemcigráfice> e da pc>breza sãci internacicinais. Para sua
aliadei importante para a mclhcir ceimprcensãeJ ela clinâ- soluçãci, eleve-se elesenvcilvcr prcigramas específicos lo-
mica terrestre, ccim as missc"'íes espaciais e a implantaçãei cais e re6rieJnais, associadcis entretanto a prcJgramas de
de um sistema de satélites para cJ senseJriamcnto remcJto mciei ambiente e desenvolvimentc> intc6rrados, com apoio
nacicinal e intcrnacieinal. Passada quase uma elécada, nãci
da Terra, <J que pcJssibilitc>u cJ monitoramento integradci
eleJs várieis prcJcesscis atmcisfériccJs e climáticcJs, e fc>rnc- se percebe que eis grandes problemas levantados naque-
la e>casiãci tenham sie!c) atacaelos. Ac1 ccintrário, os dois
ceu a visãei elo planeta scJb nciva perspectiva gkibal.
maicircs pre>blcmas glcibais - ei crescimento elemográfico
Em 1972, na C:einferência das Nações Unidas sobre e a peibreza - têm se aguçadci diante da nciva cirdem
e> Ambiente Huma11eJ (em l{stocolme>) fcJi receinhccidci cce>ntimica c1ue surgiu nas últimas décadas do século XX.
ci relacicJnamcnto entre eis ccinccitos ele ccJnscrvação
ambiental e dcsenvc>lvimentci i11dustrial; fc>ram discuti-
deis eis efcitcis causaclcis pela falta de dcscnvolvimcntc> e
24.2 A Globalização e a Dinâmica Social
do Final do Século XX
surgiram as ieléias ele "poluiçãci da pc>l1rcza e
.
ecciclcsenvei1v1mcntei '' . ;\ globalização, a nciva ordem ec(int>mica e social
lJma reavaliação ele> conceitei ele dcsenveilvimcntci mundial, impôs uma transforrnação epistemcilc)gica fun-
c>rientou a Terceira Década das Nações Uniclas para ei damental para as ci~ncias seiciais, em que o seu
l)cscnvcilvimcnte> (1980 - 1990), quanclo f<1ram l1usca- paradigma clássicci, baseadc) nas sciciedades nacicinais,
clas estratégias de clistribuiçãci, visanelo uma melhor fcii n1odificado pela necessielade de levar em conta a
rcpartiçãc> de>s bcncfícicis de> eventual crescimcntc> da rcaliclaelc de uma "sciciedade global", implicando uma
cccJn< >mia mundial. intensificaçãei das relações seiciais cm escala mundial,
associandei leicalidades distantes de tal maneira que
Na clécacla segui11te, a ()N LJ reseilvcu criar un1a cc>-
ace>ntccimentos lcicais sãci influenciadcis por evente>s
missãei para efetuar um amplo estudei dos prc>blemas
que podem occJrrer cm gualquer lugar do munelo.
globais ele ambiente e clesenvc,lvimente>, e cm 1987 essa
ccimissãe> apresentciu <> Relat(>ric> Brundtlanc-l (NeJsso 1\ glcibalizaçãci rccolcica cm discussão muitcis dos
l~uturo c=eimum), nei c1ual fc>i intrcJduzidei e> conccitei ele cc>nceitos das ciências p(llíticas. Pcir exemplo, devem
desenvolvimento sustentávei que preceiniza um siste- ser rcfeirmulaL-las as noçc3es de sciberania e hegemonia,
ma de desenvcilvimento s<'>cie>-cccJnômico ccJm justiça associadas ac)s Estac!c)s-nação como centros de pe>dcr.
seicial e cm harmc>nia ceJm os sistemas de supcJrtc da Na ne>va ordem mundial, scib a égide da economia ca-
vida na Terra. Pcirtantc>, passa-se a reconhecer a ncccssi- pitalista neoliberal, operam neivas forças sociais,
clacle ela manutcnçãc> clci cqui!Jbriei ambiental e ele> alcance ece1ntimicas e pc)líticas, em escala mundial, que desafi-
de justiça scicial. F:m tal ce11ário, haveria uma melhcir qua- am e reduzem os espaços elos Estadcis-nação, mesmo
liclaelc de ,1ela ccJletiva, ceJm as nccessiclaeles básicas da daqueles de maior expressão política, anulando ou obri-
humanidade atcnc-lic-las e alguns de seus "elesejcis", sem ganclci a refcirmulaçc3es profundas cm seus projetos
que houvesse ccimprcimetimentei de> suprimento de re- nacionais. As nações buscam se preitcgcr formando
curseis naturais e ela qualidade de vida das futuras gcraçc')es. l1lcicos geopolíticcis, nc) interior dos quais cedem parte
PortantcJ, como ceJroláric>, o desenvolvimento sustentá- ele sua autodeterminação, e também fazendo acordos
vel preconiza dispc>nibilizar recursos que atendam às seib os auspícios de organizaçc3es internacionais (C)Nl-,
necessiclades básicas de cerca de 80% ela população da Fi\Il, (;ATI, etc.), sujeitando-se às suas normas e ccin-
Terra, que no fim clci séculc> XX vive em países mencis vcniências temporais. Ao mesmei tempo, surgem nc1,-eis
elesenvcilvidos.
centros ele pc>der que agem em escalas local, regional,
J~:m 1992 realizc>u-se no Ric1 de Janeiro a Conferên- continental e mundial, e dispõem de condições para se
cia das Nações Unielas seibre Meie> Ambiente e impc)r aos diferentes regimes políticcis através de re-
Desenvolvimento, cicasião em que o prciblema ambiental des e alianças, de seus planejamentos detalhadcis e da
ocupciu importante espaçci neJs meios ele comunicação facilidade cm teimar decisões instantâneas em virtude
de teielci o glcibc>. ComcJ rcsultadeJ dessa Conferência, del fluxo de informações que lhes sãei disponíveis: são
fc>i elal1ciraela a 1\genela 21, que representa um ccimpro- as grandes empresas multinacionais e os conglcime-
missci pcilítico elas naçc3es de agir em cooperaçãcJ e rados transnacicinais.
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;e:·:
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As multinaci()nais normalmente p()Ssuem recurS()S ele qualqu1::r fcJrma têm de estar inseridcJS na ec(incimia
humanos entre os melhores de calla especialiclade, os n1unelial, a estal,elccer ncirmas e leis nacic)nais segundei eJ
mais avançad()S recursos tecnoló1-,>ic(>s e sistemas lle C()- ideárici ne(ililJeral. Desta f(irma, surgem mcdiclas C(Jmci
municação instantâneos, o que lhes permite ccintrcJlar, na elin1ir1açãei de tarifas alfanllc1-,rárias, liberação lleJ fluxc) ele
esfera de seus interesses, a produção e ccimércicJ de bens capitais, pri,·atizaçãci elc)s serviçcis pú\JliC(>S essenciais, etc.,
e boa parte das finanças internacionais. Disp()em de mais cc>le>canelo setcJres estratégicos el(JS países nas mãe>s ela
recursos fmanceiros dei que a maiciria dcJs l,anc(JS cen- inici;1ti,-a pri\'aela. TcJrna-se pc>rtantei difícil cc)lcJcar cm
trais até mesmc) ele alguns países llesenvolvidcis e, dessa prática c-letcrminaelas p(i!íticas públicas e estratégias alter-
fc)rma, pcldem especular contra a estabilidade lle várias nati\ as de desenv(ilvimentcJ rcgicinal ciu nacicinal que
m(Jedas nacicJnais, auferinllc> lucr(JS ainda maicires e \-ise111 a un1a n1elh(>r elistril,túçãc> ela riciueza.
freqüentemente influenciandci f(irtemente CJ destine) p(i-
l_-ica clarc>, releJ expe)stei, e1ue a gkilJalizaçãc> ela ec(J-
lí tic(J llos países. 1\ci mcsmeJ tcmpcl, c>s l~stallcis
nein1ia tem sillc> um retrcJcesscJ ceim relaçàci a(J ca1ninheJ
enfraquecidcis perllen1 sua capacilialle de ccJntrcilar CJ flu-
que a ,\genda 21 preceinizc>u à hur11anielaele, visanclc> à
xci de capitais na mediela em que lliminui sua capacidalle
sustentabilidade de viela nci planeta, JJrincipahner1tc
de gerar recurscJs através ele taxas e imp(istcJs. PcirtantcJ,
pc>rque (JS paralligmas asseiciaelcis à lJLialieladc lle vicia sàei
tais países têm reduzillel sua capacillade para investimen-
ac111cles ela S(Jciedaelc e-Je cc>nsumei, cc>m seus desrerdíci-
t(JS púl>liccJS c>u para orientar adequaclamente (JS
()S e injustiças seiciais e a deg-rallaçã(J ambiental cm nível
investimentcJs privadcJs, O(> sentillcJ ele atender ccim priei-
gk>l>al.
ri elad e a(JS segmenteis mais necessitadcis de suas
p(ipulações. Se eis r~stackJs estiverem perelenclc> a capaciclalle de
planejar e lle C(>C>rdenar seus prclprieis pre>cesseis ele de-
() pr(ijet(J pcJ!ític(J ne(J!i[,cral vigente privilegia cJ li-
senvolvimento, quem p(llleria sul1stitt1í-lc>s ne> n(lV(J
vre ccimércic>, ccJm reduçã(J ou a\J(Jliçã(J de tarifas '
ccJntcxt(J ela glcibalizaçàei? J~ pcJssível in1aginar lJUe e>
alfandegárias, e incluz a retraçã(J el(JS I~stad(JS elas fun-
mcrcallci gk)bal peissa ser capaz ele rreJnl(Jver ei clcse11-
ções de pr(iduçàeJ e planejament(J, fazendcJ ccim lJUe as
privatizações sejam a opçà(J natural existente no rr1un- V(J!vimentei eccinômicei ncJ mund(J tc>el(J e, aei n1es111c>
llcJ gl(il,alizallc>. N(l entant(J, tal m(idel(J ec(JnêJn1ic(J nãeJ te111r(>, t()mar C(Jnta ll(JS aspectcis se>ciais na \1usca da
está conseguindcJ relluzir a pcll,reza O(J mundci. 1\ci sustentabiliclaele? (~(Jmci ccimpatibilizar a influência ele>
ceintrário, mesmci O(J país mais fe)rte econ(>micamente f--<:stacl(J e as fcirças lla glcibalizaçã(i? C:e>me> induzir senti-
(I~UA), tetn autnentadci a desigualdade entre riccis e mentc>s éticos, ele solidariedade e de respeinsal>ilic-lade
pcil,res, assim ccJmci a preipcJrçãcJ destes na p(ipulaçãe>. nc>s clivers(>S scgtnentcis ccim pc>llcr ecc>n('imic(J, para ljUe
Mais ainlla, a ece>neimia neoliberal nãei ceJnseguiu fazer eles ce>ntril,uam esp(>ntar1eamentc para <> prcicessei de
com lJUe (J crescimento econêimic(J na 1-,rranele mai(iria desenv(ilvimentci, sacrificanclci, se fc>r e> casei, alguns ele
dos países, p(lr mais desenv(ilviclcis que sejam, favcJ- setts cJl,jetiv(JS restritos, em neimc ele> lietn-estar cein1um
recesse a diminuiçãci da taxa de deseP1preg(J. da S(Jciee-Jadc? C:eJl1Hl incluzir (JS 1nes1neis sentin1entc>s ele
se>lielariellacle neis setc>res que vêtn sc1trencl(> e1npe>!Jreci-
() aument(> da riqueza S(Jb contrcJ!e lle grup(>S priva-
ment(J ccim a p(>lítica nee>liberal lle gl< >l,alizacàc>~ !·: \ Íá\ el
dos é o melhcir indicad(>r da muelan~·a ele peiller aclvinela
pensar en1 t1n1 ge>\·ernci supranaci< inal <1u glcibal~
ccim a globalização. Nãci se trata apenas ele empresas
multinacicinais, mas também de e>utre>s ate>res n1aicires. .\ ():\l- pc>ch: ser \ista ce;mcJ <> en1IJriàci de un1 pe>der
ccimo ()S grandes fundos de in,·estin1entcis. fundeis c-lt: p< >líucc J ct:nrral e n1undial. :\ci t:ntant<>, durante mais ele
pensã(J cJu similares, sediados em países desen,-()l\ id,Js. mc:Íc> ~éculo de \ida, eLl se constituiu en1 um espaçei ele
mas que ciperam em c1ualquer lugar do munllci. Trata-se discussões interminá\·eis e poucc> eí1cazcs, e pela falta
de investimento especulativeJ, c(imp(JSt(J peleis capitais de ações que de·,eriam se se1-,ruir acis c(imprcimiss()S as-
vc)láteis, que se m(ivimentam rapielamente em transaçc>es sumidos em suas assen1bléias gerais e C(Jnfcrências.
controladas p(>r redes eletre'inicas, igncJrando territ('irios e disso, as (JrganizaÇ()es internaci()nais, e inclusi-
.-\Jé111
frcJnteiras naci(Jnais, sem qualquer pcissibilidade de C(>n- ,-e a própria O~l-. acabam pricJrizane!c) (JS interesses elas
trole por parte el(JS Estadeis (JU das organizaç()es nações desen,-ol,-illas, C(Jm maicir p(lelcr ele influência,
internacionais do setcJr. cuios problemas interncJs ccintrastan1 ccJm CJS elas naÇ()es
A glcJbalização da ec(inomia, que atenele especialmente em deseri,~ohimentcJ e, paradcJxalmente, são as que mais
aos interesses das corporaçcJes transnacionais e dos gran- exercem pressàr >scibre ei ambiente gl<Jbal, ce>m seus al-
des investidores, acaba pressionandcJ els governos, que tei5 índices de cc >nsumc> ele energia e matérias-prin1as.


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24.3 Papel das Geociências precisão, e gerando informações em tempo real, os


no Século XXI geocientistas deverão ocupar um papel cada vez mais
importante nas diversas atividades em que seu traba-
Come) vimos neJs capítulos anteriores, as
lho se aplica. As informações disponíveis pelo
Geociências abrangem os aspectos que envolvem a
monitoramento podem ser críticas para a tomada de
dinâmica da evolução do planeta e seus processos na-
decisões de planejamento de uso e ocupação dc>s ter-
turais, incluindo-se aqui de modo especial aqueles que
ritórios, com vistas à melhor e mais apropriada
se manifestam em sua superfície.
disposição espacial das atividades econômicas, as quais
Como uma Ciência Natural, a Geologia busca apri- devem se adaptar às características naturais do espaço
morar o conhecimento do planeta, a par da Geofísica, físico, em consc)nância com os preceitos do desenvol-
C)ceanografia, í\1eteorologia, Botânica, Zoologia, etc. vimento sustentável.
Entretanto, para uma efetiva contribuição na solução
das dificuldades que a sociedade enfrenta, para ce)n-
Busca, gerenciamento e fornecimento de
trole e gerenciamento dos processos naturais, os • •
recursos rrunera1s
geocientistas devem, cada vez mais, estar sintonizados
com os profissionais de outras especialidades, e prin- A prospecção, gerenciamento e fornecimento de re-
cipalmente com os cientistas sociais e humanos, para cursos minerais são atividades tradicionais dos
se fazerem ouvir, principalmente pela classe pe)lítica, gee)cientistas, inseridas em um complexo contexto eco-
nas discussões que envolvem a sustentabilidade do pla- nc">núco no qual os minérios são considerados mercadorias
neta. Em tal cenário, os geocientistas e os profissionais padronizadas (commodities). Os empreendimentos minei-
da Geole)gia devem e)cupar o lugar que é inerente à ros devem levar em ce)nsideração, além da quantidade,
sua formaçãc), e exercer sua experiência e ce)mpetên- teores e localização gee)gráfica dos minérios, e)s equipa-
cia nos campos de atividade discriminados a seguir. mentos utilizados para sua extração, beneficiamento e
transporte, bem come) eJs aspectos de mercado.
Monitoramento contínuo dos processos
Na década de 80, o setor núneral sofreu séria retração
evolutivos do planeta
devido a diversos fatores, entre eles o crescimento da
A Terra tem sua dinâmica própria, cc)m flutuações reciclagem industrial, a substituição de diversos metais
e me)dificações ae) longo do tempo, nas suas diversas pe)r novos materiais, e a liberação de estoques estratégi-
escalas. Os geocientistas conhecem a dinâmica do "Sis- ce)s graças ae) fim da Guerra Fria e a inserção mais
tema Terra" e dominam as ferramentas para o acentuada dos países de) leste europeu ne) mercado in-
monitoramento das suas mudanças, a exemplo das ternacional. Por outro lado, com a expansão populacional,
redes internacie)nais de observaçe3es meteorológicas e os padrões de demanda persistem, aliados a uma maior
sismológicas, da utilização de sensoriamento remc)to necessidade de minerais não-metálicos e materiais de
para monitoramento dos fenômene)s atmosféricos e - que, com a crescente preeJcupaçae)
cc)nstruçao - nas con-
oceanográficc)s, dos regimes hidrológicos, de)s padrões seqüências ambientais, lançam novos desafios nas
de vegetação, do use) e ocupação territorial, etc. atividades de núneração.

Alguns exemplos práticos dessa atuaçãe) podem Os recursos minerais da Terra são finitos. Dentro do
ser citados: 1) as análises dos testemunhos de sonda- panorama econômico e com o conhecimento
gem do Projeto Vostok no gelo da Antártica, com tecnológico atual, não se pode pensar que a humanidade
registro contínuo de aproximadamente 420.000 anos possa manter os níveis atuais de consumo de recursos
de variações climáticas; 2) as medidas sistemáticas de núnerais, com a população atingindo cerca de 11 bilhões
temperatura e de nível do mar, que permitiram alertar em 2050.
sobre os problemas que pc)derão ocorrer em conse-
Qual será o canúnho a ser seguido para garantir o
qüência do aquecimento global do planeta e do
suprimento de matérias-primas núnerais para tantos habi-
derretimento das calotas polares; 3) redes sismc)lógicas
tantes do planeta? Provavelmente deverão ser
que permitem antecipar grandes erupçe)es vulcânicas
a tempo de evacuar populações assentadas em áreas concentrados esforços para melhorar o aproveitamento
de risco. mineral por meio de tecnologias de cc)ncentração mais
eficientes, visando o aproveitamento integral dos materi-
Com a disponibilidade de sistemas de ais mobilizados durante a mineração. Issc), aliado à maior
morútoramcnto e posicionamento globais de grande reciclagem de material, poderá fazer com que muite)s dos
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modelos tradicionais de jazidas minerais se tornem obso- :\ energia gcracla pela fissão nuclear é uma alterna-
letc)s, sendo abandonados e substituídos por outros que ri,·a amplamente utilizada, principalmente no Japão e na
levem em consideraçãc) toda a cadeia econômica na qual França. PcJr outro lado, a implantação de novas usinas
o custo ambiental ocupará um percentual impc)rtante. Em não tem ocorrido, e alguns países (e.g. Alemanha) estão
conseqüência, é de se esperar que o geocientista envol- subsriruindo esta forma de geração de energia por apre-
vido em atividades da indústria mineral trabalhe, de sentar o gra,,e e aincla não resolvidcJ problema da
forma criativa e inovadora, muito mais próximo dos se- disposição dos rejeitas radioativos, de alta periculosidadc
tores de decisão econômica, assim como das engenharias para o meio ambiente. Cabe aos geocicntistas a enorme
de metalurgia, de transporte e também na reabilitação responsabilidade de dispor de tais rejeiteis, e inclusive os
dos ambientes afetados pelc)s trabalhos de extração do já produzidos, de forma a garantir a saúde das gerações
bem mineral. futuras.
1\ implantação de usinas hidrelétricas será cada vez
Busca, gerenciamento e fornecitnento de mais difícil, uma vez que tal alternativa interrompe o flu-
, .
recursos energet1cos xo natural dos rios, gerando de um lado a salinização e
assoreamento progressivo destes reservatórios e, de ou-
Os combustíveis fósseis sempre fc)ram um dos prin- tro, a diminuiçãcJ ou mesmcJ interrupção do aporte de
cipais alvos prospectivcJs das atividades deis geocientistas. sedimentos aos oceancJs, ocasieJnando alteração dcJs
O petróleo e C) gás natural, que le,•am milhões de ancJs ecossistemas a jusante e deflagração de prcJcessos
para serem formados, têm reservas finitas e distribuição erosivos na costa oceânica. AdicicJnalmente, as melhcJres
irregular na Terra (Cap. 22), com grande concentração de locações já foram utilizadas. De toda forma, a instalação
petróleo no Oriente Médio e de gás na Rússia. A conti- de no,·as usinas deverá contar com uma participação
nuar a sua extração na propc)rção efetuada no fmal do maicJr de geocientistas, tanto nas atividades tradicionais
século XX, e com a perspectiva de aumento devido à da busca de materiais de construção e análise geológica
expansão populacional, mesmo encontrandcJ novos de- da região afetada, como na modelação e previsão das
pósitcJs cm áreas a serem desenvcJlvidas, as reservas alterações geológicas e ecológicas lcJcais e regionais que
deverão se esgotar em 2 ou 3 séculcJs. possam advir. Com relação às usinas já implantadas, so-
Novas tecnolc)gias de prcJspecção e recuperaçãcJ nos 1uçc"ies devcrãcJ ser encontradas para minimizar o
campos petrolíferos têm obtidcJ avanços significativos, asscJreamento dos rescrvatóricJs e a salinizaçãcJ das águas.
assim como a busca de petróleo no mar, em águas pro- A alternativa de produção de energia a partir de ano-

fundas. A medida que os hidrocarbcJnetos escasseiam, malias gec)térmicas, adotada hoje nas regiões de alto fluxo
serão necessários esforços adicicJnais nesta área, obrigan- térmiccJ, pclderá se tornar viável mesmo nas regiões de
dcJ a uma maior interação entre os gecJcientistas, baixel fllLxo térmiccJ (aproveitamento de baixa entalpia)
engenheiros de diversas especialidades, e profissionais à medida que a tecnolo6>ia se aperfeiçcJa. A definição dc)s
ligados aos estudos econômicos. Antigos campos petro- lcJcais mais aprcJpriaclos para seu aproveitamento é, sem
líferos pcJderão inclusive ser "minerados" para apro,·eitar dú,ida, responsabilidade dcJs geocientistas.
as reservas não recuperadas por falta de tecnologia apro-
.-\ busca pela sustentabilidade de) planeta fará com
priada. Nesse contexto, os setcJres mineral e de
que a energia solar e suas variantes (eólica, marés e
hidrocarbonetos deverão compartilhar suas respecti,·as
biomassa) contribuam com maior percentual na matriz
experiências de forma a obter os melhores resultados.
energética dos países. Deverão contar, a exemplo do que
As reservas de carvãc) mineral permitirão seu uso já occ)rre, com importante participação elos geocientistas
por mais tempo, devido às enormes reservas conheci- na escolha dos locais mais apropriados para sua implan-
das como as localizadas na China. Porém, da mesma tação, e nas fases de operação e manutenção.
forma, trata-se de recurso não renovável e também de
distribuição irregular na Terra. Conservação e gerenciamento dos recursos
A queima de combustí,·eis fósseis, com a liberação hídricos
de C0 2 e CO na atmosfera, acarreta conhecidos pro- .-\ disponibilidade de água é vital para a humanidade.
blemas ambientais, sendo a maior responsável pelo No final do séculcJ XX, mais de 250 milhões de pessoas
aumento do efeito estufa do planeta, e portanto do no mundo sofriam com escassez crônica de água. Pode-
aquecimento global. se lembrar que um dos moti,·cJs da guerra entre os

1
israele11ses e áral,es etn 1967 fcli a ameaça clcls áralies ele lhi">es ele hectares de áreas a1:-,m'.ccilas sãcJ perdidos anual-
elesviarem as ágltas eh1 rici Jcirclãei, eJLte fclrnece cerca ele mente para <JS ocean<JS, senc-l<J impossível recuperá-leis.
60'1/o ela água ccinsumicla na Jclre!ânia. C:cinsielera-se ljLte Pcir exemple>, 4()'1/o e-la área ciri1-,ri.t1almente apta à agricul-
,
n1ais c<inf1itcls entre países pcissam elccirrer à meclida c1ue tL1ra na Inclia enc<intram-se parcialmente <lLt tc)talmente
a dis11einil1iliclade de água se t<irne mais crítica pciis, a clegrac.lac-lcis. Na Bacia cio Paraná (principalmente PR e
exemplcl ele c1uase tciclcls <JS recurS<lS nanirais, SL1a c-listri- Sf)) c.liversas e extensas áreas apresentam-se improcluti-
bLúçãci n<i planeta 11,l(J é re1-,>cuar. vas, cJcupaclas pclr graneles feições erc>sivas elenominadas
boçorocas (Fig. 24.5), fclrmaelas a partir de erc>sàc> in-
(~alJe acis ge<icientistas <> estueici e gerenciamentci ela
tensa cicasicinada pelei e-lesn1atamento, us<J inaclequac-lo
água sul,terrânea, cuja c111anticlaele n<i 11la11eta ((:a11. 20),
dei scilcJ e clescuiclci nc> gere11ciamentci elas águas superfi_-
n11útci maic>r el<i e1ue a água ele superfície, per111itc certa
ciai s. 1~m áreas url,anas, apesar ele1 altci grau ele
tranc1iiilielaele c1uant<> à clis11<J11il1iliclacle futura el<i recur
i1npern1ealJilizaçàcJ c.l<J seilcJ prcimcJvid<i pelas eelificaçc"ies
se>. f)cir e>utr<J lacl<>, se a ág11a e-le superfície é ra11iclar11cnte
e pavin1entcis, <l prcil1len1a ele erclsàci taml,ém se faz pre-
rene >vaela 11elci cicl< 1 l1íclric<>, <>c1ue 11ern1itc a restauraçàc >
se11te ele fclrma intensa, c.levic.l<> à expc>siçà<J de extensas
ele sua q11alielaell'., a rl'.ncJvaçàeJ ela água su!Jterránea é· l'.X -
áreas ele scik> sem e1ualc1uer prciteçàcJ. 1~m vista eliss<J, a
trl'.n1an1ente mais lenta, senel<>, 1,c>r issc>, n1uit<i n1ais
11ar dcJs elepc'lsitcls minerais e c<im!Justíveis fc'isseis, tlS
vulnerável à pc>luiçàc>. lstci se t<>rr1a rr1ais crític<i nas re1-,ri-
se >l<JS Llevetn ser tan1bém C<Jnsic.lerac.lcJs ccimci recurseis
c""ies n1etre>pcilitanas, <>nele a grande cc>nce11traçàc>
11aturais nàci ren<iváveis, c-le impcirtáncia \'Ítal a sua C<)n-
pci111dacicinal imrie""ie a ir1stauraçàc> ele C<>rr111lex<>s siste-
scrvaçàci e aclcc1uada utilizaçàc1.
mas ele clistril11úçàc> ele ág11a, ccileta e tratament<J ele esg< >t<Js
e resitlueis el<Jtniciliares e inelL1striais, etc. !\1uitas vezes tais ( )IJserva-se uma diversielade muit<i grande entre as
sistemas se ar1resentan1 muitci v1tlneráveis, e acarretam práticas de ceinservaçà<J ele> scileJ utilizaclas em diferentes
ctJntaminaçàc> em impc>rtar1tes reservas naturais. ~este regic'ies ele> planeta. N ac111clas prc'Jximas deis principais
aspcctc >, <JS gec icien tistas elcven1 i,1 f1 uir fL1nLlan1ent,tln1l'.n- cer1tr<JS c<>nsurnielc>res, e1L1e já S<Jfreram certa degradaçàcJ
te na l111sca ele pre >cesse JS eccJ11tHniceJs ele rerneeliaçâ< > e 11elei 1nanejc1 irnprc'ipric> elcis scllc>s, <JS agricultc>res têm
recuperaçà< i ele >S al\ i."ií fere JS. un1a crescente pretJcupaçãri ccJm sua ccinservaçãc>, aelei-
tanel< >11ráticas simples e efi.cientes, ele !JaixcJ custo, aliaclas
l\>r ccH11preencler a tlinâmica env<>ivida n<> ciel<>
a cliversas técnicas ele m<>nitciramcnt<J elas ccincliçr"ies at-
hiLlr<>l<'igiceJ, <> gec>cier1tista tem a tarefa imp<>rtante tle
rn<isféricas e ela variaçiiel e-las prciprieclaL-lcs do seJlc, a<i
levar a<i ceJnl1ecimc11tci Llcis 11cilíticels, inclustriais, agricul-
lcn1g<i clcl te111pc>. 1'iitn ta111l1én1 l,uscacle> ci auxílio ele
t<>res e r1rincipaln1e11tl'. a f1<lpulaçàei ern geral a 11ecessiLlade
sensciriamentci remcitc) na avaliação ela eficácia deis prci-
ela preservaçàe i eleis n1ananciais.
cesscis pr<iclutivcis aclcltaele1s. Nci entantci, nas chatnadas
frcJnteiras agrícolas, áreas recentemente c-lesfl<irestadas,
Conservação e gerenciamento de solos agrícolas cc n1tt11uam a se repetir cJs crrcJs e elescuiclcis de antiga-
111ente. Neste aspectc1, <>s gecJcientistas cleverãci atuar junte>
S<>l<is ar{1veis, 11r<iclutci ±1nal tia alteraçàcJ inten11Jérica
acis agricultcires na l1L1sca elas sc1luçc"ies técnicas e eccinci-
elas r< ichas, levarn r11uitc >s milhares de ancJS para scren1
mica111ente viáveis para evitar <Ju mitigar a percla de áreas
feirmac\cJs. ( )s seileis icleais 11cJssuem \Jc Hn supri111e11tc>
prcielutivas eleviel<i aei manejei inaelequac-1<> e ccJnsee1üente
ele nutrientes, estr11tura e n1ineral<>gia acleeJLtaclas riara a
ereisàcl, cclntatninaçàcJ dcJs recurscJs híelriccis, e
retençàc> ele água e \1c>speclagen1 ele n1icr<H irga11isn1c>s,
asscireamer1tel elc>s reservat(>ri<Js.
bem ccJmc > espl'.ssura sL1fi.ciente para SU\J<>rtar váric >S ri-
peis ele vida vegl'.tal. l\Jr e>utrc> lacl<>, en1 terrencis utilizatle>s
exaustivamente na agricultura, n1uitc> sc>lci é 11ereliele> 11clr Redução de desastres naturais
cliverseis fatc>rcs, entrl'. <>S c1uais 11 saliniza~:àei cleviela à irri-
( )utra missãe> func-!amental deis gecJcicntistas é CJ
gaçãel itnprc'ipria, a ccintarr1inaçàe> t<'ixica pele> use>
ccinhecimentci, e> mais c<)mpletcl pc>ssível, dc>s fen(i-
incclrretei e/ tJu inter1sc> ele fertilizantes e riesticiLlas, e a
111enc>s natLtrais e111e \Jeidem pr<J\'CJcar grandes
erc1sàc1 c.leviela ac> n1anejc1 inaelel1uaclcJ, ccin1 cultivei cm
catástrc1fes c<>n1ci tcrremc>t<Js, erL1pçõcs vulcânicas (tan-
clcclives, eles±1e1resta111e11te> e ati,-idaeles extrativas.
t<J ele la\'aS ccimel ele cinzas), ciclcJnes trc)picais,
Segunelcl cstudc>s recentl'.s, áreas já ele1-,rracladas perf;1- inunclaçc"ies, escorregamentos ele terra, secas prolc1n-
zem cerca ele 300 1nill1iies ele l1ectarl'.s na .\frica, 440 gaelas, l'.tc. Tais desastres naturais, além ele
n1ilhc'ies ele hectares na 1\sia e ] 4() n1ill1c->cs ele l1ectarcs 11a prcJ\ <Jcaren1 graneles perclas ele vielas e propriedac-les
1\mérica 1_ati11,t. 1\lén1 clissc>, cerca L-le cinc<1 a sete 1111- (1 ·ig. 7 4.1 O), peidem eicasicJnar tamlJém atrasos na cvci-
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lução do desenvolvimento econêimico, especialmente


para os países mais pobres. A imp(irtância deste tema
levou a C)NU a chamar a década de 1990 de a "Dé-
cada Internacional para Redução de Desastres
Naturais". Cabe às ciências da Terra a tarefa de forne-
cer eis instrumentos para prevenir tais desastres naturais
e preparar as comunidades para reduzir sua
vulnerabilidade. Isto é muito importante nas áreas ur-
banas onde, com(J já mencionado, os processeis são
catalisados pela desorganizada ocupação antrópica.
I~m termos de desastres naturais, a diferença de
vulnerabilidade entre (JS países desenvolvidcis e em Fig. 24.11 Cicatrizes deixadas por processos naturais de
desenvolvimento é marcante. Por exemplo, terremo- escorregamentos na Serra do Mar (SP). Foto: L. Soares.

tc>s de mesma magnitude OC()rridos recentemente


prov(Jcaram apenas pequenos danos em Sãei I1rancis- Defesa Civil acionam o alerta que faz transferir a p(i-
ccJ (listados Unidos, 1992) devido às construç(3es pulação de áreas de risco para locais seguros. Tal
anti-sísmicas, enquanto na Armênia (1987), num terre- experiência, em prática desde o final da década de
moto de intensidade similar, mcirreram mais de vinte 1980, tem evitado perieJdicamente inúmeros acidentes
mil pesscias. ceim vítimas, e a experiência foi transmitida para ou-
Um exemplei brasileiro bem sucedido ela aplica- tras áreas críticas, por exemple) nas cidades de Salvador
çãci do conhecimento dos processos geológicos na (BA), Rio de Janeiro (RJ), Petrópolis (RJ), etc.
redução de acidentes é a correlação entre as taxas de
precipitação pluviométrica e a OC(Jrrência de Disposição adequada de resíduos
escorregamentos na Serra d(J Mar (SP) (Fig. 24.11).
Através do estud(J de inúmeros casos históricos de A disposiçã(J de resíduos d(iméstic(JS e industriais
escorregamentcis, f(iram definidas pelo Institut(J de tem sido objeto ele crescente preocupação d(JS seto-
Pesquisas Tecnole'igicas de Sãei Paulo - IPT áreas (JCu- res de planejament(J, da classe política e, mais
padas que apresentavam risco, bem como eis limites recentemente, da população em geral. Os espaçcis para
críticos de precipitaçãci que deflagravam pr(icessos de a disposição convencional em aterreis sanitários nos
esceJrregamentos (Fig. 24.12). QuandeJ as precipitações grandes centreis urbancis estão se esgotando, enquan-
aproximam-se desses limites pluviométricos, os to nas regiões mais peJbres as práticas de disposiçãcJ
geólogos que atuam em C(Jlaboração aos setores de de resíduos são muitas vezes impr{iprias, causand(J con-
taminação nos solos e mananciais. Mesm(J com a
crescente adoçãci de políticas de reciclagem e

~ 90
-
.e
E
+

escorregamentos induzidos
sem registro de
escorrega mentas
.S
l1l
70 •
>
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o 50
G)
,.,• ++
+
+ +
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G) • •• + + +
CII 30
-u •• +++
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e:
se: 10 oi +

150
'111

250
••350 450
50
Precipitação acumulada (mm)
Fig. 24. l O Escorregamento de grandes proporções ocorrido
na cidade de Los Corales, Venezuela. Foto: Sociedad Fig. 24.12 Correlação da taxa de precipitação com
Venezuelana de Geotecnia, 1999. escorreaamentos. Fonte: IPT.
-
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'::':./i-;_Li.J:: . -_. : ·.;

reaproveitamento industrial de alguns resíduos, conti- Ainda não há respostas definitivas e satisfatórias
nua fundamental a escolha dos locais para a disposição para tais questões, principalmente levando-se em con-
do resíduo final de forma a garantir a saúde e segu- sideração a estimativa que a população da Terra deverá
rança da população, e neste aspecto os geocientistas atingir os 11 bilhões mencionados acima durante a vida
devem desempenhar importante papel. de muitos dos leitores deste livro.
Vimos que os geocientistas, graças à sua formação
24.4 Globalização versus Sustentabilidade e ao seu conhecimento dos processos naturais, têm
condições de contribuir para a solução das muitas di-
Diante do quadro até aqui expc)sto, entende-se que ficuldades que deverão surgir neste início do terceirc)
o modelo econômico baseado na globalização e a milênio. O principal problema a ser resolvido é exata-
política neoliberal caminhe em direção oposta ao de- mente o do crescimento demográfico, para que se
senvolvimento sustentável, o que nos leva a algumas chegue o mais rápido possível a um equilibrio e esta-
questões: bilidade populacional.
• até que ponto o "sistema Terra" suportará o cres- Finalmente, qualquer modelo de desenvolvimento
cimento demográfico? deverá se pautar em padrões éticos que objetivem um
melhclr equilíbrio nos padrões de ccJnsumo entre os
• há condições de se reverter as taxas de cresci-
povos, de forma a garantir um bem-estar mínimo a
mento demográfico existentes atualmente e se chegar
toda a população, sem ultrapassar a capacidade do
a uma estabilidade populacional?
meio ambiente de se regenerar. Nesse contexto, os
• há condições de se garantir qualidade de vida que têm muitc) e mais pressionam os eccJssistemas do
satisfatória a uma população de 11 bilhões de pessc)as? planeta terão de abrir mãe) de uma parte de seus privi-
légios para que aqueles que têm pouco possam
• há condições de melhorar os padrões de vida também viver dignamente. Desta forma, não só os
das populações mais pobres aproximando-os dos pa- geocientistas mas toda humanidade terá de participar
drões do mundo desenvolvido? na preservação do Sistema Terra, cc)ndição necessária
para a própria sobrevivência da espécie humana.

Leituras recomendadas
ABGE - IPT. Curso de Geologia Aplicada ao Meio FYFE, W S. & CALDWELL, W G. E. "Earth
Ambiente. São Paulo: Associação Brasileira de sciences and global development", in IUGS
Geologia de Engenharia - ABGE / Instituto perspective. Episodes, 1996, v.19.
de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo - IPT,
GOLDEMBERG, J. Energy, environment &
1995.
development. London: Earthscan Pub., 1996.
Agenda 21. Conferência das Nações Unidas sobre meio
MULDER, E. F. J. & CORDANI, U. G.
ambiente e desenvolvimento. 2ª ed. Brasília: Senado
Geoscience provides assets for sustantable
Federal, 1997.
development; Episodes, 1999, v. 22.
BELLINAZZI, R., Jr.; BERTOLINI, D.;
NORSE, D.; JAMES, C.; SKINNER, B. J.; ZHAO,
LOMBARDI NETO, F. ''A ocorrência de ero-
Q. Agriculture, land use and degradation. ln
são urbana no Estado de São Paulo". Anais do
Dooge, J.C.I.; Goodman, G.T.; la Riviere, J.WM.;
II Simpósio sobre o Controle de Erosão. São Paulo:
Marton-Lefevre, J.; O'Riordan, T.; Praderie, F.,
ABGE, 1981, v.1.
editors, An Agenda ef Science far Environment and
CORDANI, U. G. As Ciências da Terra e a Development into the 21 st Century. Cambridge:
mundialização das sociedades. São Paulo: Estudos Cambridge University Press, 1992.
Avançados, 1995, v.9.
ZISWILER, V Extinct and Vanishing Species. New
DEMENY, P. A perspective on long-term York: Springer-Verlag, 1967.
population growth. PopuL Develop. Rev., 1984, v.1 O.
0294
Decitra11do a rrerrét / organizadores: Wilson
Teixeira ..... let ,11.].- Sã(1 Pa11!cJ: ()t1cina de
Textos, 2000. I~ei111pressãc), 2001.
568 pp 558; 2lx28 c111.

ISBN 85-86238-14-7

Inclui biblio0"at1a
~

1. Geociencias. 2. GeL1 lo~ia.


- 3. Terra ( Planeta).
I. Teixeira, \\.j]-;L)J1.
CDD-550

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