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UNIVERSIDADE UNOPAR

PEDAGOGIA

DENISE FONSECA AVANTI

PROJETO DE VIDA E A FORMAÇÃO INTEGRAL DOS


SUJEITOS

São José do Rio Preto


2021
DENISE FONSECA AVANTI

PROJETO DE VIDA E A FORMAÇÃO INTEGRAL DOS


SUJEITOS

Trabalho apresentado ao Curso de Pedagogia da


UNOPAR - Universidade Norte do Paraná, para as
disciplinas: Adolescência e Juventude no Século XXI,
Temas Atuais em Educação, Gestão Educacional,
Pedagogia em Espaços Não Escolares, Relações
Interpessoais e Administração em Conflitos, Ed - Práticas
de Estudo - Competências Socioemocionais, como
requisito de média semestral. Tendo como tutor (a):
Maria Claudete Ferreira da Silva.

São José do Rio Preto


2021

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................4
DESENVOLVIMENTO..................................................................................................5
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................11
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...............................................................................12
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INTRODUÇÃO

O portfólio deste semestre acadêmico traz como temática de estudo


a inserção do Projeto de Vida com tempo curricular definido em matriz. Dessa forma,
fica assegurado que a perspectiva de protagonismo presente na Base Nacional
Comum Curricular seja também materializada através do trabalho pedagógico com
esse campo curricular inovador e necessário. Para tanto, o Ensino Fundamental nos
anos finais é permeado por importantes marcos geracionais na vida dos estudantes,
considerando que adolescentes, jovens, adultos e idosos constituem o universo
atendido por esta etapa da educação e que cada ciclo de vida desses sujeitos
guarda as suas singularidades.
De forma simplificada, na educação formal, Projeto de Vida é uma
metodologia dentro da dinâmica de projetos envolta em aprendizagens ativas de
valores, competências onde o aluno encontre sentido e propósito no seu processo
de aprender através da significância de suas vivências, reflexões, consciência, visão
de mundo, buscando desenvolver habilidades cognitivas e não cognitivas capazes
de orientar o jovem no desenvolvimento de um projeto para si. Assim sendo, Projeto
de Vida se alinha com a educação integral e emancipatória que auxilia o jovem a se
conhecer, entender sua relação com o mundo e desenhar o que espera para si no
futuro.
O Projeto de Vida trabalha sob a ótica de uma proposta educacional
interdimensional, capaz de aliar aspectos cognitivos e não cognitivos na busca por
um projeto escolar capaz de trazer significado para a educação, ao mesmo tempo
em que contribui para uma formação integral do indivíduo.
O projeto de vida tem por um dos objetivos ajudá-los na organização
dessas experiências, valorizando-os como cidadãos e orientando-os ao longo do
período a traçar objetivos de vida, estabelecer metas, planejar com determinação,
esforço, autoconfiança, e persistência em seus projetos presentes e futuros.
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DESENVOLVIMENTO

Projeto de Vida, já ouviu falar sobre isso? Definida pelo Ministério da


Educação (MEC) como sendo um componente curricular do ensino médio na matriz
de Educação em Tempo Integral nos estados brasileiros. É também considerada
como o princípio pedagógico do modelo Escola da Escolha. A concepção deste
modelo,
pautou-se por novos paradigmas e aliou-se à necessidade e urgência para
responder aos desafios e provocar mudanças que cheguem à sociedade, na
perspectiva de que se torne mais justa; que se pautem na cidadania para
reiterar o exercício do direito; que fortaleçam a democracia para que se
torne mais legítima; que influenciem a economia para que se torne mais
competitiva e que, finalmente, possibilitem o desenvolvimento da dignidade
humana (ICE, 2010a, p. 23).

O modelo Escola da Escolha foi pensado para ser operacionalizado


pela ampliação do tempo de permanência de toda a comunidade escolar (equipes
de gestão, professores, corpo técnico-administrativo e os estudantes). Todos
envolvidos de modo a viabilizar o projeto escolar de educação integral.
A escola em tempo integral para o ensino médio foi uma aposta do
MEC, via Medida Provisória 756/2016, na pessoa do ministro da pasta José
Mendonça Filho, em resposta ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) que sinalizava uma estagnação, no rendimento dos estudantes do ensino
médio, nas avaliações, desde 2011. Acreditamos que a experiência vivenciada pelo
ministro, quando este fora governador de Pernambuco, estado que conseguiu
avançar no IDEB, com a implantação dos Centros de Ensino Experimental (Escolas
em Tempo Integral) foi decisiva para sua escola como modelo para o ensino médio
brasileiro. Tal proposta foi ampliada pelo sucessor Eduardo Campos, que implantou
um modelo de gestão na educação, tendo o foco em resultados.
Tais decisões políticas visaram fortalecer e interiorizar o ensino
médio, mediante a expansão da rede de escolas de ensino médio com jornada
ampliada de aprendizagem e criação do Programa de Educação Integral,
constituindo uma rede estadual de escolas em educação integral, mediante o
estabelecimento das Escolas de Referência em Ensino Médio (EREM).
A centralidade deste modelo de escola está no Projeto de Vida que,
como apresentado anteriormente, é um componente curricular e um princípio
pedagógico que direciona as ações nessas escolas. Ao analisarmos o material, o
que nos chamou atenção foi o uso recorrente da matemática como forma de
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direcionar comportamentos, validar posicionamentos, subsidiar decisões, justificar


ações.
Neste sentido, este texto tem por objetivo descrever como o Projeto
de Vida pode estar usado como um direcionador de comportamento e como a
matemática reforça tais condutas para os estudantes, auxiliando na constituição de
um desejável aluno.
O projeto escolar destas escolas foi e está ancorado na tríade:
formação acadêmica de excelência; formação para a vida; formação para o
desenvolvimento das competências do século XXI. O modelo Escola da Escolha,
desenhada pelo ICE, organização que concebeu e implantou há mais de 10 anos o
modelo atual da escola para o ensino médio em tempo integral, está pautado no
aluno e na sua centralidade.
O Projeto de Vida, além de ser componente curricular é um princípio
pedagógico, ou seja, uma das metodologias de êxito da Escola da Escolha
oferecidas aos estudantes e compõe a parte diversificada do currículo. Também é a
razão de existir do projeto escolar, sendo foco e conjugação de todos os esforços da
equipe escolar (ICE, 2010a).
O Projeto de Vida como componente curricular, baseia-se na
garantia de:
tempo para o seu desenvolvimento e deve ser acompanhado de material
específico para o trabalho em sala de aula, que pode ser adaptado a partir
da realidade local, como autoconhecimento, construção do sujeito e
discussão sobre sonhos. Esta opção assegura um momento específico para
a discussão e aprofundamento no tema, além de possibilitar formação aos
profissionais envolvidos. É importante que o projeto de vida, apesar de
trabalhado em componente curricular, seja compartilhado com todos da
escola de modo que seja possível alinhar o trabalho em torno dos temas
desenvolvidos (BRASIL, 2018, p. 09, grifo nosso)

Já, como princípio pedagógico, funda-se em exigir,


(...) forte articulação de toda a equipe escolar, de modo que as temáticas
que compõem o percurso formativo sejam trabalhadas por todos e façam
parte do planejamento das práticas da escola. É preciso ter atenção para
garantir o alinhamento da equipe. Esta opção perpassa todas as ações da
escola e não exige a formação docente específica em Projeto de Vida.
Neste caso, a prática docente se organiza a partir de temas inerentes ao
Projeto de Vida de forma que o estudante esteja desenvolvendo o seu
projeto de vida a todo momento (BRASIL, 2018, p. 10, grifo nosso).

Nas citações acima, já destacamos trechos do documento analisado,


que modificam o trabalho docente e conduz comportamentos juvenis. Entretanto, por
que trabalhar com o Projeto de Vida nestas escolas? O próprio documento ressalta:
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“O projeto de vida traz sentido para a escola, uma vez que o jovem passa a ver o
ambiente escolar como um impulsionador dos seus sonhos e desejos, podendo
reduzir índices de abandono e evasão escolares” (BRASIL, 2018, p. 06). Um ponto
de discussão é a questão do trabalho docente, mesmo sendo algo que “perpassa
todas as ações da escola”, para se trabalhar com o componente curricular Projeto de
Vida não é exigido a “formação docente específica”.
Lançamos luz também, na questão que o projeto de vida “dá sentido
para escola” e é “impulsionador dos seus sonhos e desejos”. Lopes (2019)
questiona:
Como conceber o ajuste a um projeto de vida? Por que supor que a
juventude pode ou deve antecipar seu projeto de vida, como se as
experiências educativas estivessem obrigatoriamente sintonizadas com um
futuro pré-programado no presente, ao invés de atenderem demandas e
expectativas urgentes da vida dos estudantes hoje? Tal enfoque pode
apenas estar tentando antecipar decisões, submeter experiências
imprevistas a um dado projeto de futuro que não faz obrigatoriamente
sentido para as singularidades juvenis, mas estão submetidos aos anseios
de grupos sociais que supõem saber dizer como o futuro dos jovens deve (e
pode) ser (p. 67-68).

Destacamos que as escolas de ensino médio integral têm uma


matriz curricular ampliada de 6 a 9 horas diárias, conforme decisão de cada estado
brasileiro. Neste tempo “a mais” a parte diversificada é composta pela inserção de
outras componentes curriculares, como por exemplo: projeto de vida, disciplinas
eletivas, avaliação semanal, práticas experimentais, estudo orientado, pós-médio e
outras.
O Projeto de Vida está presente nos três anos do ensino médio,
porém a carga horária semanal também é estipulada pelas secretarias estaduais,
variando de 2 a 6 horas. E sendo este o centro do modelo Escola da Escolha, o ICE
elaborou alguns cadernos de modo a orientar gestores, professores e estudantes.
Estes foram disponibilizados para secretarias estaduais e escolas com esta oferta,
como subsídios para estudo e formação dos professores destas. As principais
características desses cadernos são: bem ilustrativos, com fotos, gráficos,
infográfico, fluxograma, diagramas e outros elementos gráficos que auxiliam na
visualização de dados, possuem design próximo de uma revista, geralmente tem
poucas páginas, com linguagem simples e fundamentada nas legislações vigentes,
nos relatórios da Unesco e Unicef.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os textos curriculares estudados podem ser vistos como um manual


que ajusta, homogeneíza, normaliza e uniformiza modos de vida, sempre
enfatizando a importância de conhecer quem o aluno é para fazer um planejamento
cuidadoso de quem o aluno deve ser no futuro. As características da política
neoliberal são alinhadas às instruções matemáticas e transformam, num processo
mágico de alquimia curricular (POPKEWITZ, 2004), crianças e jovens em desejáveis
estudantes de matemática e desejáveis cidadãos neoliberais.
Assim o Projeto de Vida dos estudantes, direciona valores,
comportamentos e moralidades, produzindo implicações políticas. Talvez seja
necessário a conversão do olhar o qual faça com que muitos não enxerguem, por
opção ou por desconhecimento, as pautas do projeto neoliberal que capta a ordem
dos discursos e “mundializam o capital e exclusão, distribuem desigualmente
recursos simbólicos e materiais, privatizam e mercantilizam a educação” (CORAZZA,
2010, p. 104).
Sob este olhar, alertamos que é preciso ter uma postura de
desconfiança diante da proposição de projetos educacionais que, teoricamente,
visam o bem-estar social, a melhoria da qualidade da educação e o crescimento do
país. É evidente que, nesse modelo de Escola da Escolha, há aspectos neoliberal, e
as prescrições servem para tornar as ações pedagógicas avaliáveis e gerenciáveis.
Essa lógica é tão naturalizada que acabamos assumindo posturas e agindo de
maneiras a contribuir para a suposta melhoria da qualidade da educação. No
entanto, essas posturas e ações, geralmente, reforçam e nos aproximam cada vez
mais de modelos neoliberais pautados na eficácia e no controle.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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Integral.
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DARDOT, P.; LAVAL, C. A Nova Razão do Mundo: ensaio sobre a sociedade
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FISCHER, R. M. B. Foucault e a análise do discurso em educação. Cadernos de
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3–34, 2004. 1
SILVA, M. A. Currículo e Educação Matemática: a política cultural como
potencializadora de pesquisas, Perspectivas da Educação Matemática –
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