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DIMENSÃO EXPRESSIVO-SIMBÓLICA
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A DIMENSÃO EXPRESSIVO-SIMBÓLICA
COMPOSIÇÃO E REPRESENTAÇÃO
Ações de compor e representar objetos, situações e eventos por meio de outros são universais.
Não apenas em ocasiões excepcionais, mas também nas práticas cotidianas, todo ser humano
estabelece vínculos emocionais quando:
- efetua arranjos de quaisquer objetos procurando obter, embora involuntariamente, resultados
sensorialmente agradáveis;
- representa de diversas maneiras noções difíceis de serem auto-materializadas, exercendo
simbolização.
- agradabilidade visual, que diz respeito à fruição pela contemplação de coisas belas;
- simbolização, que se refere a despertar sentimentos e evocar significados de natureza
simbólica.
CONHECIMENTO SENSÍVEL
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AGRADABILIDADE VISUAL
A agradabilidade visual dos lugares se exerce por meio de sua composição espacial, em atributos
desta incidentes na percepção dos indivíduos. Logo, avalia-se o desempenho de situações
espaciais para sua fruição a partir de qualidades de sua composição plástica sensorialmente
captáveis pelos indivíduos que os freqüentam. Esta sub-dimensão opera com critérios
compositivos focados em estabelecer apenas se lugares são mais ou menos bonitos,
independentemente dos sentimentos ou lembranças que os mesmos evoquem.
SIMBOLIZAÇÃO
- o caráter das trocas sociais nos mesmos (espaço religioso, espaço doméstico, espaço cívico,
etc.);
- a identidade dos grupos que os utilizam (atribuição aos lugares de caráter personalizado, como
austero, sóbrio, aconchegante, alegre etc.).
LEGIBILIDADE E IMAGIBILIDADE
Legibilidade é a facilidade com que a forma física de certo lugar pode ser apreendida e relaciona-
se às leis da Gestalt ou mecanismo de cognição das formas. Imagibilidade é a capacidade da
forma física de certo lugar evocar conteúdos pregressos além da natureza da mesma. Entendida
como potencial de simbolização, imagilbilidade relaciona-se à semelhança estrutural entre a
configuração percebida (material ou concreta) e a entidade simbolizada (imaterial ou abstrata).
Uma composição pode ser visualmente agradável apenas como resultado da forma por si mesma
e independentemente do significado por ela evocado. Do mesmo modo, certa composição
fortemente evocativa não necessita ser visualmente agradável. Em ambos os casos, porém,
melhor legibilidade facilita percepção e conseqüente fruição e decodificação da mensagem.
SIMBOLIZAÇÃO X UNIVERSALIDADE
O processo de simbolização por meio da forma dos lugares ocorre ao associarmos noções
captadas pela percepção com informações previamente adquiridas ou inatas, relacionadas a
entidades de natureza diferente do percebido. Tais informações comportam-se como filtro que
influenciam as interpretações. Por isso, é possível haver constâncias nos conteúdos evocados por
certos atributos, mas filtros culturais e pessoais são mais numerosos do que os inatos.
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c) análise de toda a seqüência ou de partes dela, a partir de suas possibilidades de configurar
percursos significativos, principalmente por DIFERENÇAS NOTÁVEIS;
d) reconstrução do possível significado global transmitido pelo lugar.
O desempenho para agradabilidade visual dos lugares atribui melhor condição às cenas que
apresentem maior quantidade dos atributos compositivos de pregnância, equilíbrio e unidade.
O desempenho para capacidade simbólica dos lugares atribui melhor condição às cenas com
coerência de significado ao caráter do lugar e àquelas que apresentem significados de diferentes
níveis.
A análise da composição das cenas contidas nos campos visuais da seqüência considerada
realiza-se a partir de efeitos expressivos incidentes na agradabilidade visual dos lugares. Tais
efeitos são observáveis por meio de três grupos de leis ou qualidades de formação de conjuntos
morfológicos na percepção. Os componentes de cada grupo são estruturais na organização das
formas, mas sua percepção é condicionada por cor, luz, textura e movimento. Tais componentes
operam no sentido da lei da pregnância, que permite facilidade de leitura da configuração dos
lugares e sua fixação na memória, não como agrupamento aleatório de elementos, mas como
conjuntos, unidades ou totalidades. Assim, os integrantes das categorias analíticas que se seguem
são possibilidades de estratégia para pregnância, podendo ser dominantes, excludentes ou
complementares na organização morfológica, conforme o caso:
a 2) leis de composição plástica: são relações de organização morfológica que facilitam sua
apreensão baseadas nos princípios de unidade e harmonia:
- formação de figura: facilidade em decompor uma forma em figuras geométricas básicas;
- equilíbrio: distribuição eqüitativa do peso visual na composição; pode realizar-se em sentido
vertical (alto-baixo) e horizontal (esquerdo-direito);
- nivelamento x aguçamento: tendência a igualar formas semelhantes e exagerar diferenças
numa composição;
- semelhança x diferença: tendência à harmonia pelo equilíbrio entre características
semelhantes e diferentes numa composição;
- ritmo: repetição de elementos com um padrão no tempo; relacionado com proximidade,
semelhança e continuidade, dá movimento e unidade à composição;
- tensão: articulação entre vetores visuais na composição, dando-lhe dinamismo, estaticidade ou
equilíbrio.
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a 3) qualidades semânticas: advindas da relação sígnica entre objeto, seu sinal e observador,
elas ofelecem legibilidade à organização morfológica:
- clareza: facilidade de apreensão de uma composição;
- dominância: realce morfológico ocasionado pela relação entre o tamanho do objeto e seu
entorno;
- originalidade: singularidade da configuração ou de certo atributo seu em determinado
contexto;
- simplicidade: presença de poucos e semelhantes elementos na composição;
- complexidade: diversidade e abundância dos elementos constituintes da composição;
- continuidade: persistência de certas características morfológicas em composição sob
transformação;
- associatividade: vinculação entre várias composições como pertencentes ao mesmo lugar,
por semelhanças da organização do conjunto ou permanência de certo atributo.
Observa-se a composição das cenas contidas nos campos visuais da seqüência analisada por
meio de efeitos expressivos relacionados à capacidade simbólica dos lugares. Esses efeitos
podem ser abordados empregando-se seis grupos de leis, fenômenos ou qualidades de formação
de conjuntos morfológicos na percepção. Os integrantes desses grupos estruturam a organização
das formas, mas sua percepção é condicionada por cor, luz, textura e movimento. A resposta dos
mesmos à lei da pregnância atua parcialmente na simbolização, pois permite facilidade de leitura
da configuração dos lugares e sua fixação na memória, não como agrupamento aleatório de
elementos, mas como conjuntos, unidades ou totalidades.
Além destes grupos, há duas classificações de significados, apresentados em seguida aos seis
grupos mencionados.
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- associatividade: evoca parentesco, semelhança, continuidade, tranqüilidade, passividade,
permanência, perseverança, constância, solidariedade, monotonia, sobriedade e formalismo;
- variabilidade: qualidade de configurações espaciais serem mutantes, conota movimento,
dinamismo, transformação, mudança, descontração, surpresa, agitação, alegria e entusiasmo;
- minimidade: atributo de composições serem morfologicamente econômicas, evoca
austeridade, pobreza, singeleza, humildade, individualismo, sinceridade, despojamento,
formalidade, tranqüilidade, banalidade e desinteresse;
- unidade: predicado de composições serem fortemente apreendidas como totalidades, associa-
se com coletividade, solidariedade, cooperação, despojo, simplicidade e inteireza.
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b 7) tipos de significados: referem-se a associações genéricas das configurações das cenas:
- utilitários: dizem respeito ao tipo de atividade a que se destina o lugar;
- latentes: dizem respeito à representação de alguma coisa que não está diretamente presente
no lugar, funcionando esse como um símbolo.
b 8) níveis de significados: referem-se ao grau de abstração da associação realizada:
- alto: são significados com maior grau de abstração, relacionados a cosmologias, esquemas
culturais, visões de mundo etc.;
- médio: são significados que comunicam identidade, status social, aspectos latentes e não
instrumentais das atividades, do comportamento e dos lugares - como elementos da estrutura
social (família, clã, comunidade);
- baixo: são significados do cotidiano e instrumentais, como sinais mnemônicos para indicar
usos pretendidos, situações sociais, conduta esperada, privacidade e outras informações que
capacitam os usuários a comportar-se e agir apropriada e previsivelmente, possibilitando a
interação social diária.
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