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RESUMO
A dengue constitui-se numa das enfermidades virais transmissíveis por artrópodes mais preocupantes
no momento atual, haja vista o aumento expressivo dos casos, especialmente nas áreas de clima
tropical, dado que o mesmo apresenta características ambientais, climáticas e sociais que são
potencializadas pela manutenção dos criadouros nas cidades. A transmissão do vírus foi intensificada
em função da interligação e circulação de pessoas na rede urbana, pois a mesma possibilita a dispersão
dos casos e, desse modo, muitos são contaminados pelo vírus. Assim, e está vinculado à Geografia da
Saúde. Dessa forma, pela abrangência do tema estudado, a análise é multicausal, e envolve questões
econômicas, sociais e ambientais. Pode-se comprovar mediante análise que os fatores multicausais
foram responsáveis pelas epidemias de dengue nos anos citados, pois as variáveis climáticas
favoreceram no aumento dos casos, confirmando-se a sazonalidade da dengue nas estações de verão e
outono. Contudo, as referidas epidemias também podem ser agravadas devido ao modo de vida da
população em se tratando do descarte inadequado dos resíduos sólidos urbanos a céu aberto. Assim
sendo, afirma-se a necessidade constante quanto ao planejamento das ações governamentais, como
pesquisas, campanhas de prevenção e monitoramento no que diz respeito a este vetor, entretanto, a
sociedade de forma geral, deve ter preocupação com os ambientes domiciliares, especialmente aqueles
com maior adensamento de população, haja vista a dispersão rápida e a transmissão do mosquito da
dengue.
ABSTRACT: Nowadays, dengue fever is one of the most worrying viral illness transmitted by
arthropods, considering the expressive increase in cases of the fever, especially in tropical regions,
since they have climate, environmental and social characteristics that favor the creation and
maintenance of mosquito housings in urban centers. The transmission of the virus was intensified due
to the interconnection and circulation of people in urban areas, what causes an increase in the cases
and, therefore, an increase in contamination. That’s why the theme of this research is relevant, this
study is related to Health Geography. From the analysis, it was proved that the multiple triggers were
responsible for the dengue fever epidemies during the studied period, since the climate changes
favored the increase in cases, confirming the seasonality of the fever in summer and autumn seasons.
Besides that, these epidemies can be aggravated due to the way the population discards of solid urban
residues, something that is usually done inappropriately and in the open air. Therefore, it is important
to reaffirm the constant necessity of governmental action planning regarding this vector, such as
researches, prevention campaigns and monitoring. However, society as a whole must be concerned
with home environments, especially those with higher populational density, since dengue fever is
rapidly spread and transmitted in these places.
INTRODUÇÃO
A preocupação com a distribuição geográfica das doenças não é tema recente, vem
ganhando cada vez mais destaque, especialmente nas últimas décadas, mediante “a
emergência do mundo urbano-industrial que provocou a rápida disseminação de doenças
transmissíveis” (GUIMARÃES, 2015, p. 23). Assim, é importante considerar as abordagens
segundo os novos temas ecológicos, políticos, econômicos, demográficos e sociais, em
discussão, nos quais o problema das doenças emergentes e reemergentes se torna importante.
Nesse contexto, a dengue, que se sobressai como doença reemergente no Brasil, por sua
rápida extensão e aumento relativo quanto ao número de casos notificados e também
confirmados (TORRES, 2005). Nesse sentido, faz-se relevante, empreender estudos que
abordem o tema, por se tratar de um dos principais problemas relacionados à saúde pública da
atualidade, especialmente num país de grande extensão territorial como o caso do Brasil, e
que o vírus da dengue já se instalou.
Por esse viés, a compreensão do processo de saúde-doença deve ser aprofundada, tanto
por estudiosos da área de Geografia da Saúde, e áreas afins, para que possam contribuir
especialmente com as doenças endêmicas, que vêm causando ao longo da história problemas
à sociedade, de maneira especial quando há epidemias e, consequentemente, perdas sociais.
Assim, tornam-se relevantes as pesquisas referentes à distribuição têmporo-espacial, visando
identificar o âmbito das ocorrências no espaço geográfico e aquelas doenças que são
consideradas potencialmente, as de maior risco para a população.
Muitas endemias, como a malária e a leishmaniose, e epidemias ou surtos recorrentes de
cólera ou dengue foram relativamente controladas por meio do avanço da medicina,
tecnologias aplicadas na área da saúde e também do saneamento básico, com o surgimento de
novos medicamentos e vacinas diversas. Porém, muitas doenças ainda causam preocupação
aos governantes e à população, especialmente quando se tratam daquelas reemergentes, a
exemplo da dengue que tem como agente transmissor o mosquito Aedes aegypti. O mesmo
mosquito é responsável ainda pela transmissão da Febre Chikungunya e do Zika Vírus.
A partir do exposto, é conveniente citar as contribuições do geógrafo Maximiliano
Sorre (1984), representante da Geografia Humana e citado até os dias atuais, concebia a
Geografia Médica a partir de três pilares fundamentais: “o ecúmeno (meio natural), os seres
vivos (vírus, bactérias, animais, etc. – meio vivo) e as diferentes sociedades (meio social)
compreende-se a problemática da dengue como um Complexo Patogênico”. Sorre contribuiu
grandemente com a ciência geográfica, especialmente quanto à abordagem médica, de modo
especial quanto “a aplicação do método da Geografia regional ao estudo das doenças. A
região, nesse caso, era o complexo patogênico, compreendido mediante a integração analítica
de dados físicos e humanos” (GUIMARÃES, 2015, p. 23).
Nesse entendimento, há conexão entre a abordagem física e humana da Geografia, que
é estabelecida por meio de uma abordagem integralizante entre os hospedeiros e os vetores,
onde o homem ocupa papel principal, o de agente transformador na produção e reprodução
dos espaços urbanos desiguais. Esses espaços desiguais refletem as vulnerabilidades
socioambientais, e consequentemente, riscos à saúde humana, de modo especial quando há
maior densidade populacional, irregularidades quanto ao uso do solo urbano, saneamento
precário, cultura de armazenamento de água da chuva, e também por conta da circulação de
pessoas, em território nacional e internacional contribui com a disseminação de vetores,
notadamente daqueles transmissores de endemias. Nessa pesquisa, o mosquito transmissor da
dengue – o Aedes aegypti.
Em função das considerações a propósito da temática, entende-se a relevância de se
levar em conta fatores multicausais como os de ordem econômica, ambiental e cultural para
que haja melhor entendimento acerca da enfermidade em foco. Contemplando os fatores
ambientais, o clima e seus atributos influenciam quanto ao aumento do número de casos de
dengue, especialmente a temperatura do ar, a precipitação e a umidade relativa do ar, sendo
necessária, portanto, a compreensão da dinâmica do tempo atmosférico que se dá por meio
dos mecanismos de sucessão dos diferentes tipos de tempo, como também a caracterização
entomológica, como a distribuição geográfica dos casos de dengue, os índices de infestação e
depósitos predominantes na área urbana (BUSQUIN, 2013).
O aumento, e consecutivamente a dispersão dos casos de dengue pode ser atribuída
aos movimentos migratórios da população que ocorreu em alguns momentos da história do
país, especialmente por motivos empregatícios, mas também em razão das políticas públicas
que foram gestadas ao longo da história em curto prazo, não atendendo aos objetivos na área
em saúde pública, dentre outros fatores responsáveis pela disseminação da dengue na maior
parte do país. Outra característica seria a sazonalidade da doença, pois quando a população é
contaminada, fica imune a certo tipo de sorotipo, seja do DEN1, DEN2, DEN3 ou DEN4. No
entanto, em média de dois a três anos, caso circule novo vírus por algum país, a população
fica susceptível a um novo sorotipo, sendo que o mesmo pode agir no organismo de forma
mais invasiva.
Salienta-se que além do mosquito Aedes aegypti (fêmea) ser responsável pela
transmissão do vírus da dengue é responsável também pela transmissão da febre Chikungunya
e o Zika Vírus, doenças epidêmicas que têm aumentado consideravelmente em todo o país,
tanto em cidades de grande porte quanto de pequeno, não poupando nem os habitantes das
áreas rurais, em função da motivação das mesmas, especialmente os relacionados à saúde e à
educação.
Assim, o objetivo do artigo é avaliar a distribuição e a temporalidade dos casos
confirmados de dengue, autóctones e importados e correlacionar as ocorrências segundo a
sazonalidade, no período de 2005 a 2013, verificando em quais anos houve surtos e epidemias
de dengue e correlacioná-los com os índices térmicos e pluviométricos e com a sucessão dos
tipos de tempo no município de Campo Mourão.
Ao tratar de questões relacionadas ao “meio ambiente”, Pessoa (1983) diz que, “o meio
físico exerce efeitos gerais sobre a multiplicação do germe, não só devido à temperatura,
umidade, radiações, dentre outros fatores, bem como quanto ao ciclo do parasita no vetor”.
(PESSOA, 1983, p. 130).
Coaduna-se com essas reflexões, o autor Ayoade, quando ressalta que a saúde humana
também pode ser influenciada pelas condições do tempo meteorológico, haja vista algumas
doenças se associarem a certas zonas climáticas, como a malária, a febre amarela e a dengue
“porque os germes causadores dessas doenças são transmitidos por espécies de mosquitos que
proliferam em climas tropicais” (AYOADE, 1986, p. 291). Assim, “os elementos do clima
que afetam diretamente as funções fisiológicas do homem incluem radiação (insolação),
temperatura, umidade, vento e pressão atmosférica” (AYOADE, 1986, p. 289).
Estas se relacionam diretamente “ao crescimento, a propagação e a difusão de alguns
organismos patogênicos ou de seus hospedeiros” (AYOADE, 1986, p. 291).
Com opinião análoga aos autores citados, Aquino Junior (2012), demonstra em seu artigo:
A problemática da dengue em Maringá-PR: uma abordagem socioambiental a partir da
epidemia de 2007, publicado na Revista Hygeia, que há relação entre os elementos climáticos,
temperatura e precipitação com o aumento dos casos de dengue, ao dizer:
[...] as temperaturas médias e máximas são favoráveis à elevação dos
casos e à formação do pico epidemiológico, já as temperaturas
mínimas criaram um ambiente limitante à reprodução do mosquito.
Outro elemento climático que serviu como um ótimo parâmetro no
estudo dos condicionantes da doença foi a precipitação pluviométrica,
esta apresenta influência direta sobre o mosquito (AQUINO JUNIOR,
2012, p. 11).
Murray et al. (2013), tece opinião que vai em direção a opinião de Aquino e Ayoade,
quando salientam:
Temperature is known to play a role in adult vector survival, viral
replication, and infective periods. Increases of temperature may result
in increased survival and or migration of vectors into previously non-
endemic geographic areas outside the tropics. As the proliferation
of Aedes mosquitoes is climate dependent, climate or meteorological
factors can potentially provide useful information in predictive models
(MURRAY et al., 2013, 305).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Averiguou-se que o controle clínico da enfermidade estudada ainda é incipiente, assim
a prevenção quanto aos aspectos ambientais, onde está inserido o ser humano, se torna
fundamental. Por meio de uma visão multicausal podem-se evidenciar nesta pesquisa, alguns
condicionantes que foram responsáveis para que houvesse o aumento dos focos de dengue, no
município de Campo Mourão, especialmente nos anos estudados, e que ocorreram epidemias.
Dentre os quais se destacam os elementos climáticos, como a temperatura a umidade relativa
do ar e a precipitação, que somados a disposição de dejetos domiciliares, propiciaram
ambientes favoráveis à formação de criadouros, e a possível dispersão dos mosquitos na área
de estudo.
Assim, considera-se que a proliferação da dengue decorre por diferentes fatores, dentre
as quais, estão principalmente os depósitos domiciliares que abastecidos com água encanada
das residências, e especialmente da pluviosidade de forma periódicas, associada às
temperaturas e umidade relativa do ar elevadas favorecem o ciclo de reprodução do Aedes
aegypti. Certamente os motivos nominados auxiliaram quanto ao desenvolvimento larval do
mosquito, desde a postura dos ovos, a eclosão e a dispersão do vetor e, consequentemente na
transmissão e continuidade do ciclo no ambiente estudado.
Conclui-se desse modo na pesquisa, que o aumento ou diminuição dos casos
confirmados de dengue estão diretamente relacionados aos fatores multicausais, fatores que
envolvem o vetor/ambiente, a sociedade e as políticas públicas. Assim, perpassa pelos
elementos climáticos, áreas adensadas e com disposição de dejetos domiciliares, por
campanhas de sensibilização junto à comunidade, fiscalização do ambiente urbano,
pulverização em áreas com presença de focos, entre outras ações que visam o controle desta
enfermidade, já que a mesma apresenta danos à saúde.
4. RERERÊNCIAS
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