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BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA CRIMINOLOGIA

QUEER

Bárbara Victória Brito Gilini1


Bruna Caroline Ottobelli2

Área de conhecimento: Direito.


Eixo Temático: Criminologia.

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo abordar os aspectos mais relevantes da
chama criminologia queer, cujo objeto da referida teoria é a comunidade LGBT e a violência
homofóbica sofrida por tais grupos. A criminologia deve ocupar-se do estudo da comunidade
queer e da estigmatização de tais indivíduos, que sofrem discriminação inclusive pelo Poder
Judiciário, visando romper com os padros heteronormativos que legitimam e reforçam uma
cultura homofóbica.

PALAVRAS-CHAVE: Direito. Criminologia. Queer. LGBT.

1 INTRODUÇÃO

O termo “queer”, do inglês, é usado para descrever pessoas de


diferentes orientações sexuais e gêneros, como gays, lésbicas, bissexuais e
transgêneros.
No passado, tal termo era utilizado de forma pejorativa, sendo que
sua tradução – embora não haja uma tradução exata para a língua portuguesa
– pode ser entendido como algo estranho, até mesmo ridículo. Seu uso nos
estudos acerca da comunidade LGBT possuem uma conotação de
empoderamento.
Salo Carvalho (2012) explana que “Criminologia queer poderia ser
traduzida, portanto, como criminologia estranha, criminologia excêntrica,
criminologia homossexual, criminologia gay ou, simplesmente, criminologia
bicha.” (CARVALHO, 2012, p. 153)
O autor Manoel Rufino David de Oliveira (2016) ressalta que, até o
final dos anos 80 não havia qualquer estudo ou preocupação com os crimes
cometidos contra pessoas que integram a comunidade queer.

1
Acadêmica do 4º ano de direito da UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
E-mail bgilini@gmail.com;
2
Acadêmica do 4º ano de direito da UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
E-mail brunaottobelli@outlook.com;
Ainda hoje existem poucos estudos, e na criminologia é recente a
teoria ora apresentada, que, ao reconhecer a existência de um preconceito social
e institucional promovido contra tais cidadãos, e a não rara ocorrência de crimes
de ódio contra tais grupos, é imprescindível analisar com mais cuidado o tema,
visando encontrar meios de combater a cultura heteronormativa e a
estigmatização e violência promovida contra os indivíduos que não seguem esse
cultura, os “desviados”.

2 METÓDO
O método utilizado para alcançar os resultados objetivados através do
presente estudo é a pesquisa bibliográfica e utilizando-se do método dedutivo,
partindo de premissas que permitem alcançar uma conclusão lógica.
A pesquisa bibliográfica será fundamentada principalmente em artigos
sobre o tema, tendo em vista a dificuldade de encontrar material doutrinário, pois
os estudos sobre uma criminologia queer ainda são recentes.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A homossexualidade, nas civilizações primitivas, não era condenada,


sendo vista como algo normal, embora possuísse significados distintos para
dentro das sociedades – sendo que em algumas, como na Mesopotâmia, o amor
entre pessoas do mesmo sexo era respeitado e honrado, sendo sinal de
virilidade.
Entretanto, no início da Era Cristã, a homossexualidade passou a ser vista
como uma transgressão à ordem natural, que considerava casal o homem e a
mulher, de acordo com a criação de Deus de “Adão e Eva”.
Dessa forma, acredita-se que o preconceito contra a homossexualidade
seja proveniente das religiões. Tal visão deu origem a uma cultura homofóbica,
que considerou por muitos anos a homossexualidade como uma distúrbio
psicossocial, uma perversão, algo que deveria ser combatido.
Essa ideia de homossexualidade como doença passou a ser rechaçada
por volta dos anos 90, época em que a Organização Mundial da Saúde a retirou
da Classificação Internacional de Doenças (CID).
No brasil, tal visão já era desconsiderada pelo Conselho Federal de
Medicina e Conselho Federal de Psicologia, que por volta dos anos 80 já não era
vista como um distúrbio.
No entanto, o preconceito com LGBT’s permanece na sociedade,
principalmente entre indivíduos “conservadores”. Esse preconceito, não raras
vezes, se manifesta em forma de violência. Dados de entidade LGBT (GGB –
Grupo Gay da Bahia), Brasil registra uma morte por homofobia a cada 23 horas.
A entidade ressalta que pode haver uma margem de erro na estatística,
tendo em vista que tais informações são colhidas através de veículos de
comunicação, registros policiais e informações de parentes das vítimas, pois o
governo não realiza tal estudo, não havendo informações oficiais.
A ausência de estudos e estatísticas oficiais demonstram o descaso do
poder público com essas comunidades. Carrara e Ramos (2006) frisam que em
raros casos há o indiciamentos de acusado de violência contra homossexuais, e
mais rara ainda a condenação desse.
Quando há investigação sobre violências praticadas contra
homossexuais, é inegável a estigmatização de tais indivíduos, que são acusados
de terem contribuído para a ocorrência da violência, por levarem uma vida
“desvirtuada”.
Diante dessa evidente exclusão de tais minorias, os estudos
criminológicos, durante muitos anos, não se preocuparam em oferecer um
espaço próprio para estudo e discussão da questão homossexual. Apenas
recentemente alguns estudiosos e algumas vertentes da criminologia tem se
dedicado a analisar os crimes de ódio cometidos contra tais comunidades.
Os avanços dessa teoria são tímidos, e tem se apresentado mais
notadamente por meio de trabalhos acadêmicos. Conecta-se com as teorias
criminológicas feministas, tendo em vista a análise do crime por um viés que leva
em consideração a orientação sexual/gênero da vítima.
Nesse sentido:
Para Welzer-Lang, o conjunto social atribui aos homens e ao masculino
funções nobres e às mulheres e ao feminino tarefas de pouco valor,
sendo esta divisão de mundo mantida e regulada por distintas formas
de violências: “violências múltiplas e variadas as quais – das violências
masculinas domésticas aos estupros de guerra, passando pelas
violências no trabalho – tendem a preservar os poderes que se
atribuem coletivamente e individualmente aos homens à custa das
mulheres” (Welzer-Lang, 2001:461). A teoria queer, ao dialogar com o
feminismo, direcionará sua crítica à inferiorização das diversas
identidades de gênero e de orientação sexual estabelecida no
processo histórico de naturalização do ideal heterossexual. Não se
trata, portanto, apenas da denúncia da desigualdade derivada dos
papéis atribuídos aos gêneros (masculino e feminino). As teorias queer
procuram, em primeiro lugar, desconstruir a hierarquia estabelecida
entre hetero e homossexualidade, independente do gênero; e, em
segundo, romper com a fixidez dos conceitos e superar a lógica binária
que cinde e rotula as pessoas como hetero ou homossexuais.
Hierarquização, fixidez e binarismo que instituem e legitimam no
cotidiano formas específicas de violência homofóbica. (CARVALHO,
2012, p. 155)

Ressalta-se que, conforme cita Manoel Rufino David de Oliveira (2016), a


violência contra a população queer não se manifesta somente na agressão ou
homicídio de pessoas LGBT’s, mas em todo tipo de discriminação promovida
contra tais pessoas, inclusive pelo próprio Poder Judiciário na interpretação da
lei. Vejamos:
A partir do ponto de vista de uma Criminologia Queer, se pode analisar
que inexiste apenas uma violência homofóbica, mas de fato existem
diversas interfaces de uma mesma violência homofóbica, podendo
esta se apresentar de forma interpessoal por crimes de ódio (casos de
violência contra a pessoa e violência sexual), de forma institucional por
um Estado homofóbico (interpretação sexista e homofóbica da lei penal
e práticas homofóbicas pelas agências punitivas) e de forma simbólica
pelos processos formais de informais de elaboração de discurso e da
gramática heteronormativa (cultura homofóbica). (OLIVEIRA, 2016, p.
69)

A importância de um estudo da violência e discriminação praticadas


contra pessoas LGBT’s sob um olhar criminológico possibilita a compreensão da
origem de tal problema, tornando possível encontrar formas de romper com a
cultura homofóbica e exigir do poder público medidas que assegurem o respeito
e integridade da população homossexual.
Assim como a criminologia feminista e racista, que estudam e dedicam-
se a romper com os padrões heteronormativos, que discriminam as minorias
praticando misoginia e racismo, uma Criminologia Queer, mesmo que ainda não
esteja devidamente formada, dá importância ao tema, tirando da invisibilidade as
comunidades LGBT, demonstrando uma preocupação com as violências
sofridas por tais minorias.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente resumo, inicialmente, propôs uma introdução ao tema,


elucidando acerca do termo queer e a necessidade de se analisar esse tema sob
um viés criminológico.
Apresentou-se a metodologia usada, baseando o estudo em materiais
sobre o tema, principalmente artigos acadêmicos.
Por fim, explanou-se acerca dos resultados objetidos com a pesquisa,
demonstrando a necessidade de se desenvolver estudos criminológicos que
incluam comunidades LGBT’s e a violência praticada contra a população
homossexual, seja a violência praticada em sociedade, física e verbal, como a
violência institucional e a discriminação dessas pessoas, inclusive no âmbito do
Poder Judiciário.
Uma criminologia queer, que assim como a criminologia feminista, vem
crescendo e ganhando forma diante da violência sofrida pelas minorias, é de
suma importância para romper com esses padrões, compreender a origem de
tais discriminações e tornar possível, assim, encontrar meios para que haja
respeito e inclusão dessas comunidas em todos os âmbitos da vida em
sociedade.

5 REFERÊNCIAS

ARCOVERDE, Léo; SOUSA, Viviane. Brasil registra uma morte por


homofobia a cada 23 horas, aponta entidade LGBT. G1, 2019. Disponivel
em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/05/17/brasil-registra-uma-
morte-por-homofobia-a-cada-23-horas-aponta-entidade-lgbt.ghtml. Acesso em
13 out. 2019.

CARRARA, Sérgio; RAMOS, Silva. A Constituição da Problemática da


Violência contra Homossexuais: a Articulação entre Ativismo e Academia na
Elaboração de Políticas Públicas. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, 2006.

CARVALHO, Salo de. Sobre as possibilidades de uma criminologia queer.


Revista Eletrônica da Faculdade de Direito. vol. 4, nº 2, jul/dez 2012. Porto
Alegre. p. 151-168.

MEDEIROS, Amanda. A evolução histórica de intolerância a


homossexualidade. JUSBRASIL, 2015. Disponível em:
https://amandamedeiiros.jusbrasil.com.br/artigos/255042093/a-evolucao-
historica-da-intolerancia-a-homossexualidade. Acesso em: 11 out. 2019.

OLIVEIRA, Manoel Rufino David de. Interdisciplinaridade e estudo


criminológico da violência homofóbica: Tensões entre criminologia e teoria
queer. Revista Eletrônica de Direito Penal e Política Criminal. Vol. 4, nº 1,
2016.

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