Resumo
A identificação de alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD) tem se constituído em
um desafio para as escolas e demais profissionais da educação. Este estudo buscou identificar
indicadores AH/SD em alunos(as) medalhistas da Olimpíada Brasileira de Matemática das
Escolas Públicas (OBMEP). A seleção desses(as) alunos(as) como público-alvo da pesquisa
justificou-se após confirmarem-se os indicadores de AH/SD nos alunos(as) e alunas
medalhistas da OBMEP atendidos no Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação
(NAAH/S) da Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE). Participaram da pesquisa
os (as) alunos(as) das escolas da Grande Florianópolis premiados com medalhas de ouro,
prata e bronze, na OBMEP no ano de 2015. Como instrumentos de coleta de dados, foram
utilizados os Questionários de Identificação de Indicadores de Altas Habilidades/Supedotação
(QIIAH/SD) com os alunos(as), seus(suas) responsáveis e seus(suas) professores(as) de
matemática, além de aplicado o Teste de Inteligência Geral não Verbal (TIG-NV) com os(as)
alunos(as). Para a análise, foram considerados alunos(as) com indicadores de AH/SD os(as)
que apresentaram indicadores em, pelo menos, dois QIIAH/SD e/ou QI superior ou muito
superior no TIG-NV. Os resultados finais mostraram que, dos 25 alunos participantes da
pesquisa, 24 apresentaram indicadores de AH/SD. Concluímos que a OBMEP pode ser uma
estratégia válida para a identificação de alunos(as) com AH/SD nas escolas.
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(WINNER,1998); (FREITAS; RECH, 2005a, 2005b); (FREITAS; NEGRINI, 2008); (PEREZ,
2003), (AZEVEDO; METTRAU, 2010).
permitem somar informações sobre diversos aspectos da vida dos sujeitos,
favorecendo a percepção sobre os indicadores de AH/SD de um aluno.
Considerando que uma das estratégias para identificação de alunos com
indicadores de AH/SD é o destaque em concursos, torneios e olimpíadas do
conhecimento, desde 2009 o Núcleo de Atividades de Altas
Habilidades/Superdotação (NAAH/S) da Fundação Catarinense de Educação
Especial (FCEE), realiza o atendimento educacional especializado de alunos
premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas
(OBMEP). Esses alunos são também avaliados processualmente, a partir de
inúmeros instrumentos e estratégias, a fim de serem identificados indicadores
de AH/SD.
Diante da observação empírica de que a grande maioria dos alunos
medalhistas da OBEMP atendidos no NAAH/S/FCEE apresentou indicadores
de AH/SD e, tendo em vista a dificuldade das escolas em identificar esses
alunos, surgiu o interesse de investigar, por meio de pesquisa científica, se a
OBMEP se configura como uma estratégia válida para identificar alunos com
AH/SD nas escolas. Nessa perspectiva, esse estudo foi desenvolvido com o
objetivo de identificar indicadores de AH/SD em alunos(as) medalhistas da
OBMEP no ano de 2015 nas escolas da Grande Florianópolis.
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Disponível em: <http://www.obmep.org.br/>. Acesso em 11 de agosto de 2017.
bronze os(as) alunos(as) que se destacam. A partir de 2017 a OBMEP passou
também a permitir a participação de alunos(as) das escolas privadas.
Os estudantes premiados com medalhas na OBMEP têm oportunidade
de participarem do Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC), promovido
pelo IMPA. As atividades do PIC são desenvolvidas por professores
qualificados de instituições de ensino superior e de pesquisa. Os(as) alunos(as)
que já participaram do PIC mais de duas vezes e que já foram premiados no
nível 3 da OBMEP participam, ainda, do Programa Mentores OBMEP, onde
realizam estudos avançados de matemática em cursos ministrados por
professores universitários. Além disso, alunos(as) medalhistas da OBMEP que
acompanham todas as etapas do PIC ou do Programa Mentores recebem uma
bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) como forma de incentivo para realizarem seus estudos na área da
matemática. Isso ilustra as vantagens possíveis a partir da participação dos
estudantes na OBMEP.
Segundo Quadros, (et al. 2013, p. 156) os estudos sobre olimpíadas
científicas têm indicado esse tipo de competição “como uma atividade
vantajosa, que vai além da simples competição. Essas atividades despertam a
motivação e, como consequência, aumentam o engajamento dos estudantes
para com os conteúdos escolares”. Esse fato foi também constatado por
Biondi, Vasconcellos e Filho (2009) em sua pesquisa. Analisando o impacto da
OBMEP no rendimento das escolas públicas em avaliações educacionais, os
autores demonstraram que escolas que participaram da OBMEP obtiveram
efeito positivo e estatisticamente significativo em relação às notas de
matemática na Prova Brasil dos alunos(as) da 8ª série do ensino fundamental.
Para os autores, o incentivo à participação dos alunos(as)na OBMEP possibilita
um aumento de qualidade da educação.
Um caso observado em Santa Catarina é o da Escola de Educação
Básica Altamiro Guimarães, localizada no município de Antônio Carlos. Desde
2009 esta escola desenvolve um projeto de incentivo à participação de seus
alunos(as) na OBMEP. Como resultado, essa escola apresenta o maior índice
de medalhistas na OMBEP, dentre as escolas públicas da grande Florianópolis
anualmente, além de ter alcançado, em diversos anos, o maior Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), dentre as escolas estaduais de
Santa Catarina.
Registramos também que nessa escola foram identificados, em 2014,
quatorze alunos(as) com AH/SD, a partir dos resultados da OBMEP 2013, o
que fez com que fosse implantada na escola a primeira sala de Atendimento
Educacional Especializado para alunos(as) com AH/SD no estado de Santa
Catarina.
As Olimpíadas Científicas de Matemática têm sido utilizadas também em
outros países como parte de políticas educacionais, científicas e tecnológicas,
como relatam Maciel e Basso (2009, p. 5):
Método da pesquisa
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A SDR Grande Florianópolis era uma das 36 secretarias descentralizadas do Estado de Santa
Catarina, composta pelos municípios de Florianópolis, Antônio Carlos, São José, Santo Amaro
da Imperatriz, Palhoça, São Bonifácio, Biguaçú, Águas Mornas, Rancho Queimado, Angelina,
Anitápolis, São Pedro de Alcântara e Governador Celso Ramos.
aluno(a), e não necessariamente seu desempenho acadêmico ou laboral
(FREITAS; PÉREZ, 2012).
Considerando que os(as) alunos(as) foco desta pesquisa se destacaram
em competição específica da área da matemática, os QIIAH/SD-P foram
respondidos por seus(suas) professores(as) de matemática. No impedimento
do(a) professor(a) de matemática, foi possibilitado que outro professor
preenchesse o questionário, dando preferências para professores de áreas de
interesse apontadas no QIIAH/SD-A, conforme Pérez (2009) indica.
Os QIIAH/SD contêm perguntas relacionadas aos comportamentos
comuns às pessoas com superdotação, onde o respondente deve apontar a
frequência com que ele percebe os comportamentos no(a) aluno(a). São
compostos por 59 questões, subdivididas em 5 conjuntos de comportamentos
de AH/SD: Características Gerais de Ah/SD, Liderança, Habilidade Acima da
Média, Criatividade e Comprometimento com a Tarefa, além de 8 questões
referentes às atividades artísticas e esportivas desenvolvidas pelo(a) aluno(a).
Após aplicados, os QIIAH/SD foram corrigidos de acordo com a “Tabela
Respostas mais Frequentes em Pessoas com Altas Habilidades/Superdotação”
(FREITAS; PÉREZ, 2012). Para considerar que um(a) aluno(a) apresentou
indicadores em um dos QIIAH/SD (aluno, responsável ou professor), devem ter
sido assinaladas mais de 50% de repostas comuns aos alunos(as)com AH/SD,
de acordo com a tabela.
Após corrigidos, foi feito cruzamento dos QIIAH/SD preenchidos pelos
responsáveis, alunos(as) e professores, verificando a compatibilidade de
informações entre eles. Foram considerados alunos(a) com indicadores de
AH/SD, através desse instrumento, aqueles apresentaram compatibilidade de
informações (indicação) em, pelo menos, dois QIIAH/SD, conforme Freitas e
Pérez (2012).
O TIG-NV é um teste que tem como objetivo avaliar desempenhos
característicos dos testes de inteligência não verbais, possibilitando uma
análise neuropsicológica que permite identificar os tipos de raciocínios errados
e os processamentos envolvidos na sua execução, além das classificações
habituais do potencial intelectual. Pode ser utilizado de forma individual e
coletiva, sendo esta última para fins de seleção, pois possibilita uma
classificação dos sujeitos em termos de percentil ou quociente de inteligência
(QI) (TOSI, 2008).
Foram considerados alunos(a) com indicadores de AH/SD, através
desse instrumento, os(as) que apresentaram conceito de inteligência não
verbal superior (QI acima de 120) ou muito superior (QI acima de 130) à média
da população da mesma idade e escolaridade, de acordo com a correção do
TIG-NV.
Para avaliação, final nessa pesquisa foram considerados(as) alunos(as)
com indicadores de AH/SD os(as) que apresentaram indicação em, pelo
menos, dois QIIAH/SD (aluno, responsáveis ou professor) e/ou QI superior ou
muito superior no TIG-NV.
Registramos que os procedimentos adotados nessa pesquisa buscaram
identificar indicadores de AH/SD, não podendo ser utilizados como resultado
final de avaliação dessa condição nesses estudantes. Conforme já
apresentamos, a identificação de AH/SD deve partir de variados instrumentos e
estratégias que permitam uma apreensão global do desenvolvimento dos
alunos. Sendo assim, compreendemos que a confirmação dos indicadores de
AH/SD demanda tempo e observação sistemática do rendimento do aluno em
atividades de seu interesse. Esse processo só pode acontecer de forma
intencional, sendo o Atendimento Educacional Especializado (AEE) o espaço
mais indicado para isso (FREITAS; PÉREZ, 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS