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INDICADORES DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO EM ALUNOS

MEDALHISTAS DA OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA DAS ESCOLAS


PÚBLICAS (OBMEP)

Liliam Guimarães de Barcelos


Fundação Catarinense de Educação Especial
liliambarcelos@fcee.sc.gov.br

Ananda Ludwig Burin


Fundação Catarinense de Educação Especial
ananda@fcee.sc.gov.br

Andreia Rosélia Alves Panchiniak


Fundação Catarinense de Educação Especial
apanchiniak@fcee.sc.gov.br

Eixo temático: Políticas de Educação Inclusiva: desafios atuais


Modalidade de apresentação: Comunicação Oral

Resumo
A identificação de alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD) tem se constituído em
um desafio para as escolas e demais profissionais da educação. Este estudo buscou identificar
indicadores AH/SD em alunos(as) medalhistas da Olimpíada Brasileira de Matemática das
Escolas Públicas (OBMEP). A seleção desses(as) alunos(as) como público-alvo da pesquisa
justificou-se após confirmarem-se os indicadores de AH/SD nos alunos(as) e alunas
medalhistas da OBMEP atendidos no Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação
(NAAH/S) da Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE). Participaram da pesquisa
os (as) alunos(as) das escolas da Grande Florianópolis premiados com medalhas de ouro,
prata e bronze, na OBMEP no ano de 2015. Como instrumentos de coleta de dados, foram
utilizados os Questionários de Identificação de Indicadores de Altas Habilidades/Supedotação
(QIIAH/SD) com os alunos(as), seus(suas) responsáveis e seus(suas) professores(as) de
matemática, além de aplicado o Teste de Inteligência Geral não Verbal (TIG-NV) com os(as)
alunos(as). Para a análise, foram considerados alunos(as) com indicadores de AH/SD os(as)
que apresentaram indicadores em, pelo menos, dois QIIAH/SD e/ou QI superior ou muito
superior no TIG-NV. Os resultados finais mostraram que, dos 25 alunos participantes da
pesquisa, 24 apresentaram indicadores de AH/SD. Concluímos que a OBMEP pode ser uma
estratégia válida para a identificação de alunos(as) com AH/SD nas escolas.

Palavras-chave: Educação Especial. Altas Habilidades. Superdotação. Olimpíadas Científicas.


OBMEP.
INTRODUÇÃO

Na realidade escolar brasileira é fato que a temática das altas


habilidades/superdotação (AH/SD) está longe da pauta de discussões. Dentre
as possíveis razões para o afastamento das escolas e a esse tema, apontadas
pela literatura, está o desconhecimento de professores e demais profissionais
da escola, o que gera uma série de mitos sobre as características comuns aos
alunos com AH/SD, impedindo sua identificação1.
É consenso na literatura que a identificação de AH/SD não pode ser
baseada apenas nos resultados de testes padronizados, distantes da realidade
educacional dos sujeitos. Ao contrário, identificar um aluno com AH/SD requer,
primeiramente, conhecimento sobre as características desses sujeitos, pois
trata-se de um grupo heterogêneo, no qual cada qual traz uma combinação
única de aspectos, gerados a partir de muitas fontes de influência
(GUENTHER, 2006). Dessa forma, deve-se levar em conta questões referentes
ao “contexto no qual ele está inserido e a maneira como age e interage no
mundo, seu ritmo, suas conexões, características psicológicas e habilidades;
sendo assim, uma atividade contínua e variável” (FONSECA, 2010, p.32).
Nessa perspectiva, o processo de identificação de AH/SD deve partir de
múltiplas formas de observação, nas quais possam ser analisados os dados
sobre os talentos e as capacidades dos alunos, a partir de testes formais, bem
como procedimentos de observação informais. Deve-se lançar mão de diversas
fontes de informação tais como o próprio aluno, professores, colegas de turma
e família, a fim de compreender a realidade do aluno avaliado, suas
potencialidades e interesses (GUIMARÃES; OUROFINO, 2007). Para tanto, é
possível a utilização de algumas estratégias, tais como: avaliação psicológica
de inteligência; indicação pelo(a) professor(a); indicação pela família; indicação
por colegas; autoindicação pelo aluno; indicação pela produção do aluno; e
destaque em torneios ou competições (SANTA CATARINA, 2016). Cada uma
dessas estratégias, aplicadas de forma isolada, não contribuem efetivamente
para identificar indicadores de AH/SD. Contudo, quando aplicadas em conjunto,

1
(WINNER,1998); (FREITAS; RECH, 2005a, 2005b); (FREITAS; NEGRINI, 2008); (PEREZ,
2003), (AZEVEDO; METTRAU, 2010).
permitem somar informações sobre diversos aspectos da vida dos sujeitos,
favorecendo a percepção sobre os indicadores de AH/SD de um aluno.
Considerando que uma das estratégias para identificação de alunos com
indicadores de AH/SD é o destaque em concursos, torneios e olimpíadas do
conhecimento, desde 2009 o Núcleo de Atividades de Altas
Habilidades/Superdotação (NAAH/S) da Fundação Catarinense de Educação
Especial (FCEE), realiza o atendimento educacional especializado de alunos
premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas
(OBMEP). Esses alunos são também avaliados processualmente, a partir de
inúmeros instrumentos e estratégias, a fim de serem identificados indicadores
de AH/SD.
Diante da observação empírica de que a grande maioria dos alunos
medalhistas da OBEMP atendidos no NAAH/S/FCEE apresentou indicadores
de AH/SD e, tendo em vista a dificuldade das escolas em identificar esses
alunos, surgiu o interesse de investigar, por meio de pesquisa científica, se a
OBMEP se configura como uma estratégia válida para identificar alunos com
AH/SD nas escolas. Nessa perspectiva, esse estudo foi desenvolvido com o
objetivo de identificar indicadores de AH/SD em alunos(as) medalhistas da
OBMEP no ano de 2015 nas escolas da Grande Florianópolis.

A OBMEP como ferramenta para a identificação de talentos

Organizada pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada


(IMPA) em parceria com Ministério da Educação e com o Ministério da Ciência
e Tecnologia, a OBMEP tem como objetivo estimular o estudo da Matemática
por meio da resolução de problemas que despertem o interesse e a curiosidade
de professores e estudantes, além de revelar talentos nessa área2. Dividida em
três níveis (nível 1 – 6º e 7º ano do ensino fundamental; nível 2 – 8º e 9º ano do
ensino fundamental; e nível 3 – 1º, 2º e 3º do ensino médio), essa competição
oportuniza a participação de estudantes de escolas federais, estaduais e
municipais, premiando com menções honrosas e medalhas de ouro, prata ou

2
Disponível em: <http://www.obmep.org.br/>. Acesso em 11 de agosto de 2017.
bronze os(as) alunos(as) que se destacam. A partir de 2017 a OBMEP passou
também a permitir a participação de alunos(as) das escolas privadas.
Os estudantes premiados com medalhas na OBMEP têm oportunidade
de participarem do Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC), promovido
pelo IMPA. As atividades do PIC são desenvolvidas por professores
qualificados de instituições de ensino superior e de pesquisa. Os(as) alunos(as)
que já participaram do PIC mais de duas vezes e que já foram premiados no
nível 3 da OBMEP participam, ainda, do Programa Mentores OBMEP, onde
realizam estudos avançados de matemática em cursos ministrados por
professores universitários. Além disso, alunos(as) medalhistas da OBMEP que
acompanham todas as etapas do PIC ou do Programa Mentores recebem uma
bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) como forma de incentivo para realizarem seus estudos na área da
matemática. Isso ilustra as vantagens possíveis a partir da participação dos
estudantes na OBMEP.
Segundo Quadros, (et al. 2013, p. 156) os estudos sobre olimpíadas
científicas têm indicado esse tipo de competição “como uma atividade
vantajosa, que vai além da simples competição. Essas atividades despertam a
motivação e, como consequência, aumentam o engajamento dos estudantes
para com os conteúdos escolares”. Esse fato foi também constatado por
Biondi, Vasconcellos e Filho (2009) em sua pesquisa. Analisando o impacto da
OBMEP no rendimento das escolas públicas em avaliações educacionais, os
autores demonstraram que escolas que participaram da OBMEP obtiveram
efeito positivo e estatisticamente significativo em relação às notas de
matemática na Prova Brasil dos alunos(as) da 8ª série do ensino fundamental.
Para os autores, o incentivo à participação dos alunos(as)na OBMEP possibilita
um aumento de qualidade da educação.
Um caso observado em Santa Catarina é o da Escola de Educação
Básica Altamiro Guimarães, localizada no município de Antônio Carlos. Desde
2009 esta escola desenvolve um projeto de incentivo à participação de seus
alunos(as) na OBMEP. Como resultado, essa escola apresenta o maior índice
de medalhistas na OMBEP, dentre as escolas públicas da grande Florianópolis
anualmente, além de ter alcançado, em diversos anos, o maior Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), dentre as escolas estaduais de
Santa Catarina.
Registramos também que nessa escola foram identificados, em 2014,
quatorze alunos(as) com AH/SD, a partir dos resultados da OBMEP 2013, o
que fez com que fosse implantada na escola a primeira sala de Atendimento
Educacional Especializado para alunos(as) com AH/SD no estado de Santa
Catarina.
As Olimpíadas Científicas de Matemática têm sido utilizadas também em
outros países como parte de políticas educacionais, científicas e tecnológicas,
como relatam Maciel e Basso (2009, p. 5):

[...] cerca de noventa países utilizam Olimpíadas de Matemática como


parte de suas políticas educacional, científica e tecnológica. O
InterAcademy Council, que reúne as mais prestigiadas Academias de
Ciências do mundo, defende a idéia de que as atividades com
Olimpíadas são uma ferramenta de inclusão social e de avanço
científico e tecnológico, principalmente para os países periféricos.

Verificamos, a partir dessas observações, a importância do incentivo à


participação dos estudantes nesse tipo de competição, tendo em vista as
vantagens apontadas.
Com relação aos alunos(as) com AH/SD, a participação em olimpíadas
do conhecimento possibilita a oferta de atendimento educacional especial, uma
vez que essas competições estimulam os(as) alunos(as) a aprofundarem seus
conhecimentos sobre temas de seu interesse, permitindo que desenvolvam seu
potencial, além de revelarem crianças e jovens com talentos nas mais diversas
áreas. Dessa forma, consideramos que a OBMEP pode ser uma ferramenta
válida para a identificação de talentos na área da matemática.

Método da pesquisa

Para o desenvolvimento dessa pesquisa, inicialmente foram


identificados(as) os(as) alunos(as) que receberam medalhas de ouro, prata e
bronze na OBMEP 2015, em todos os 13 municípios que compreendiam a
Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR) da Grande Florianópolis3,
através da página eletrônica da OBMEP.
Em cada município que compreendia a SDR Grande Florianópolis
obtivemos o seguinte número de medalhistas em 2015: 41 alunos(as) em
Florianópolis; 14 alunos(as)em Antônio Carlos; 04 (quatro) em São José; 02
(dois) em Santo Amaro da Imperatriz; 01 (um) em Palhoça; 01 (um) em São
Bonifácio; 01 (um) em Biguaçú; 01 (um) em Águas Mornas; 01 (um) em
Rancho Queimado e 01 (um) em Angelina. Os municípios de Anitápolis, São
Pedro de Alcântara e Governador Celso Ramos não tiveram alunos(as)
medalhistas na OBMEP 2015. Assim, o total de medalhistas de ouro, prata ou
bronze na Grande Florianópolis foi 67 alunos(as), pertencentes a escolas
federais, estaduais e municipais.
Tendo em vista que a listagem da OBMEP indica o nome e a escola dos
alunos(as) premiados(as), todas as escolas foram contatadas a fim de convidar
os(as) alunos(as), seus responsáveis e seus professores(as) de matemática
para participarem da pesquisa. Ao final, obtivemos consentimento de 25
famílias, sendo esse o número de alunos(as) que compuseram a amostra
(37,3% da população de interesse). Os participantes assinaram Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido e procedeu-se à etapa de avaliação.
Os(as) alunos(as) participantes foram avaliados(as) quanto aos
indicadores de AH/SD a partir de dois instrumentos: os Questionários de
Identificação de Indicadores de Altas Habilidades/Superdotação (QIIAH/SD)
desenvolvidos por Freitas e Pérez (2012) e o Teste de Inteligência Geral – Não
Verbal (TIG-NV), desenvolvido por Tosi (2008).
Os QIIAH/SD consistem em um conjunto de instrumentos a serem
respondidos individualmente pelo(a) aluno(a) (QIIAH/SD-A), seu(sua)
responsável (QIIAH/SD-R) e pelo(a) professor(a) da área de interesse desse
aluno(a) (QIIAH/SD-P). Podem ser aplicados individualmente ou em grupo e as
respostas devem levar em conta a área de maior destaque/interesse do(a)

3
A SDR Grande Florianópolis era uma das 36 secretarias descentralizadas do Estado de Santa
Catarina, composta pelos municípios de Florianópolis, Antônio Carlos, São José, Santo Amaro
da Imperatriz, Palhoça, São Bonifácio, Biguaçú, Águas Mornas, Rancho Queimado, Angelina,
Anitápolis, São Pedro de Alcântara e Governador Celso Ramos.
aluno(a), e não necessariamente seu desempenho acadêmico ou laboral
(FREITAS; PÉREZ, 2012).
Considerando que os(as) alunos(as) foco desta pesquisa se destacaram
em competição específica da área da matemática, os QIIAH/SD-P foram
respondidos por seus(suas) professores(as) de matemática. No impedimento
do(a) professor(a) de matemática, foi possibilitado que outro professor
preenchesse o questionário, dando preferências para professores de áreas de
interesse apontadas no QIIAH/SD-A, conforme Pérez (2009) indica.
Os QIIAH/SD contêm perguntas relacionadas aos comportamentos
comuns às pessoas com superdotação, onde o respondente deve apontar a
frequência com que ele percebe os comportamentos no(a) aluno(a). São
compostos por 59 questões, subdivididas em 5 conjuntos de comportamentos
de AH/SD: Características Gerais de Ah/SD, Liderança, Habilidade Acima da
Média, Criatividade e Comprometimento com a Tarefa, além de 8 questões
referentes às atividades artísticas e esportivas desenvolvidas pelo(a) aluno(a).
Após aplicados, os QIIAH/SD foram corrigidos de acordo com a “Tabela
Respostas mais Frequentes em Pessoas com Altas Habilidades/Superdotação”
(FREITAS; PÉREZ, 2012). Para considerar que um(a) aluno(a) apresentou
indicadores em um dos QIIAH/SD (aluno, responsável ou professor), devem ter
sido assinaladas mais de 50% de repostas comuns aos alunos(as)com AH/SD,
de acordo com a tabela.
Após corrigidos, foi feito cruzamento dos QIIAH/SD preenchidos pelos
responsáveis, alunos(as) e professores, verificando a compatibilidade de
informações entre eles. Foram considerados alunos(a) com indicadores de
AH/SD, através desse instrumento, aqueles apresentaram compatibilidade de
informações (indicação) em, pelo menos, dois QIIAH/SD, conforme Freitas e
Pérez (2012).
O TIG-NV é um teste que tem como objetivo avaliar desempenhos
característicos dos testes de inteligência não verbais, possibilitando uma
análise neuropsicológica que permite identificar os tipos de raciocínios errados
e os processamentos envolvidos na sua execução, além das classificações
habituais do potencial intelectual. Pode ser utilizado de forma individual e
coletiva, sendo esta última para fins de seleção, pois possibilita uma
classificação dos sujeitos em termos de percentil ou quociente de inteligência
(QI) (TOSI, 2008).
Foram considerados alunos(a) com indicadores de AH/SD, através
desse instrumento, os(as) que apresentaram conceito de inteligência não
verbal superior (QI acima de 120) ou muito superior (QI acima de 130) à média
da população da mesma idade e escolaridade, de acordo com a correção do
TIG-NV.
Para avaliação, final nessa pesquisa foram considerados(as) alunos(as)
com indicadores de AH/SD os(as) que apresentaram indicação em, pelo
menos, dois QIIAH/SD (aluno, responsáveis ou professor) e/ou QI superior ou
muito superior no TIG-NV.
Registramos que os procedimentos adotados nessa pesquisa buscaram
identificar indicadores de AH/SD, não podendo ser utilizados como resultado
final de avaliação dessa condição nesses estudantes. Conforme já
apresentamos, a identificação de AH/SD deve partir de variados instrumentos e
estratégias que permitam uma apreensão global do desenvolvimento dos
alunos. Sendo assim, compreendemos que a confirmação dos indicadores de
AH/SD demanda tempo e observação sistemática do rendimento do aluno em
atividades de seu interesse. Esse processo só pode acontecer de forma
intencional, sendo o Atendimento Educacional Especializado (AEE) o espaço
mais indicado para isso (FREITAS; PÉREZ, 2012).

A forma de confirmar a existência dos indicadores é sempre a


constatação da intensidade e da frequência ao longo da vida da
pessoa ou, quando a avaliação é feita em salas de recursos ou outra
modalidade semelhante de atendimento, com a observação dos
indicadores ao longo de um período de tempo que pode ser de 6
meses a um ano (PÉREZ, 2009, p.313).

Dessa forma, um aluno que apresente comportamentos indicadores de


AH/SD pode ser encaminhado à sala de recursos multifuncional, onde receberá
AEE a fim de não somente estimular seu potencial, mas também avaliar a
frequência e a consistência dos comportamentos apresentados, para fins de
confirmação de AH/SD (SANTA CATARINA, 2016).
Resultados da pesquisa

Dos 25 alunos(as) medalhistas da OBMEP que participaram da


pesquisa, 20 frequentavam o ensino fundamental e 5 (cinco) o ensino médio de
sendo 11 em escolas públicas estaduais de Santa Catarina, 12 em escolas da
rede municipal de educação de Florianópolis e 2 da rede municipal de ensino
de São José. Desses alunos, cinco foram premiados com medalhas de ouro,
seis com medalhas de prata e 14 com medalhas de bronze.
De acordo com a correção dos QIIAH/SD respondidos pelos
responsáveis, professores e próprio aluno, 23 alunos(as) (92% da amostra)
foram indicados em, pelo menos, dois QIIAH/SD como alunos(as) com
indicadores de AH/SD e dois alunos(as)(8%) não apresentaram compatibilidade
de informações entre os QIIAH/SD, o que indica que a maioria dos alunos(as)
participantes da pesquisa têm comportamentos de observados por eles
próprios, seus responsáveis ou seus professores.
As respostas aos QIIAH/SD demonstraram um predomínio de alunos(as)
com indicadores de AH/SD nas áreas intelectual geral e acadêmica específica
(matemática). Foram identificados também indicadores nas áreas de liderança,
psicomotricidade e artes em alguns alunos(as), os quais necessitam ser mais
investigados.
A aplicação dos QIIAH/SD mostrou pontos de vista diferentes sobre as
características de AH/SD em alguns alunos(as) por partes deles mesmos, de
seus responsáveis e de seus professores. Em alguns casos, os professores
não apontaram indicadores de AH/SD suficientes em seus alunos, sendo que
os QIIAH/SD respondidos pelas famílias e pelo(a) próprio(a) aluno(a)
referendaram os indicadores não percebidos na escola. Quanto à percepção de
indicadores de AH/SD pelo próprio(a) aluno(a), muitos não percebiam
comportamentos de superdotação em si mesmos, sendo esses
comportamentos referendados nos QIIAH/SD respondidos por seus
professores e por seus responsáveis. Dentre os responsáveis dos alunos(as)
participantes, apenas dois não indicaram comportamentos de AH/SD
suficientes em seu(sua) dependente, sendo esses comportamentos indicados
nos QIIAH/SD professor ou aluno.
A dificuldade de percepção de comportamentos de AH/SD pelos sujeitos
que respondem aos QIIAH/SD foi apontada por Freitas e Pérez (2012), que
indicam que, situações como conflitos entre alunos(as) e professores ou a sub-
representação de potencialidades dos próprios sujeitos ou das suas famílias,
por serem excessivamente exigentes, podem fazer com que não observem e
não apontem os comportamentos de AH/SD dos(as) alunos(as) nos
questionários.
De acordo com a correção do TIG-NV, 14 alunos(as) (56%)
apresentaram conceito muito superior (QI acima de 130) e 9 alunos(as) (36%)
conceito superior (QI acima de 120), o que mostra que a grande maioria dos
alunos(as) avaliados (92%) apresenta conceito de inteligência não verbal acima
da média da população da mesma idade e escolaridade. Dois alunos(as) (8%)
apresentaram conceito de inteligência não verbal médio superior, sendo
desconsiderados como alunos(as) com indicadores de AH/SD, de acordo com
os critérios dessa pesquisa.
Assim, dos 25 alunos(as) participantes da pesquisa, 22 apresentaram
indicadores de AH/SD nos dois instrumentos aplicados (TIG e QIIAH/SD), o
que corresponde a 80% da amostra. Uma aluna não apresentou indicadores de
AH/SD nos QIIAH/SD, contudo apresentou conceito muito superior de
inteligência não verbal no TIG e, por isso foi considerada aluna com
indicadores de AH/SD. Uma outra aluna apresentou conceito de inteligência
médio superior no TIG-NV (QI abaixo de 120), não sendo indicada através
desse instrumento, contudo apresentou indicadores de AH/SD no QIIAH/SD e,
por isso, foi considerada aluna com indicadores de AH/SD. Somente um aluno
não apresentou indicadores de AH/SD em nenhum dos dois instrumentos.
Como resultado final, dos 25 alunos(as) medalhistas da OBMEP
participantes da pesquisa, 24 apresentaram indicadores de AH/SD, o que
corresponde à 96% da amostra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A preocupação com a identificação de alunos(as) com AH/SD tem sido


constantemente apontada na literatura. Embora exista consenso sobre a não
necessidade de laudos clínicos para identificar esses alunos(as) e que a forma
mais adequada para isso é a utilização de variados métodos e instrumentos, a
falta de informação sobre esse tema impede que esses alunos(as)saiam do
anonimato.
Considerando essa dificuldade e a experiência do NAAH/S-FCEE com a
identificação de alunos(as)com AH/SD dentre medalhistas da OBMEP, a
presente pesquisa teve como objetivo identificar indicadores de AH/SD nos
alunos(as) medalhistas da OBMEP 2015 da Grande Florianópolis, a fim de
verificar se a OBMEP consiste em uma estratégia válida para a identificação de
alunos(as) com indicadores de AH/SD nas escolas.
O resultado final mostrou que apenas um aluno, dos 25 participantes da
pesquisa, não apresentou indicadores de AH/SD, ou seja, confirmou-se a
hipótese de que alunos(as) medalhistas da OBMEP apresentam indicadores de
AH/SD. Assim, consideramos que a OBMEP, bem como demais competições e
torneios escolares podem ser uma estratégia válida para a identificação de
alunos com AH/SD nas escolas.
Não obstante, ressaltamos que o desenvolvimento dessa pesquisa
possibilitou a identificação de 24 alunos(as) com indicadores de AH/SD que
estavam “invisíveis” em escolas públicas catarinenses. A partir da premiação na
OBMEP foram descobertos jovens talentosos(as) de diferentes níveis
socioeconômicos e culturais, o que confirma que a superdotação é um
fenômeno democrático: ocorre em pessoas com condições socioeconômicas
diferentes, em diversos níveis e possibilidades.
Atualmente, em todo o Brasil, há uma série de Olimpíadas Científicas
por meio das quais é possível encontrarmos jovens talentosos nas mais
diversas áreas do saber. Além da OBMEP, as escolas têm a possibilidade de
participar de outras competições como a Olimpíada Brasileira de Física (OBF),
Olimpíada Brasileira de Química (OBQ), bem como torneios esportivos e
concursos de desenho e poesias, por exemplo, onde podem ser revelados
futuros grandes físicos, químicos, atletas, artistas, poetas, etc.
Nosso país é internacionalmente conhecido pelos potenciais na área
esportiva. Brasileiros como Pelé, Neymar, Dayane dos Santos e Gustavo
Kuerthem são mencionados, frequentemente, como talentos em suas
respectivas áreas. Entretanto, faz-se necessário ressaltar que essas pessoas
foram incentivadas e adequadamente estimuladas para que tivessem seu
potencial máximo atingido. Da mesma forma, crianças com habilidades em
áreas acadêmicas têm condições de se tornarem brasileiros talentosos. Mas,
para isso, é necessário que se invista em seu potencial. Uma das formas de
investimento é incentivando-os a participarem de Olimpíadas Científicas.

REFERÊNCIAS

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