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AMANDO A DEUS E AMANDO O PRÓXIMO


Exposição em Mateus 22:34-40
EXÓRDIO: Os fariseus e escribas amavam debater sobre a Lei do Senhor. Eles passavam
boa parte do dia discutindo questões como pecados graves, pecados leves e,
principalmente, a punição e disciplina para estes pecados. Como nós já vimos aqui, os
mestres da Lei aparentemente conheciam a Lei do Senhor, mas não a conheciam
verdadeiramente. Eles fundamentaram-se na leitura da letra tão somente, mas a
verdadeira interpretação e o sentido da Lei passaram longe destes homens. O próprio
Jesus disse que, se eles lessem realmente a Lei da forma que deveriam, eles encontrariam
Cristo estampado nos versos do antigo testamento: “Vocês estudam cuidadosamente as
Escrituras, porque pensam que nelas vocês tem a vida eterna. E são as Escrituras que
testemunham a meu respeito, contudo vocês não querem vir a mim para terem vida” (Jo
5:39,40). Esses homens tinham aparência de intelectualidade bíblica, mas eram
ignorantes com relação ao sentido da Lei. Uma vez que a Lei aponta para o Cristo, rejeitar
a Cristo por meio da Lei é revelar-se como um completo ignorante da própria Lei.
O salmista 119: 129, 130 diz: “Os teus testemunhos são maravilhosos, por isso lhes
obedeço. A explicação das tuas palavras ilumina e dá discernimento aos inexperientes”.
Ora, se os mestres da Lei verdadeiramente fossem iluminados pela Escrituras, eles
saberiam quem é o Cristo. Mas eles não sabem, não possuem a iluminação e
discernimento da Lei. Passar tempo lendo a Lei não é o mesmo que ser iluminado e
convencido por ela. Por isso, ao invés de reconhecer que Jesus era o messias, eles desejam
matá-lo.
Tal como vimos, os fariseus tentaram encurralar Jesus diversas vezes, principalmente
desde que ele entrou triunfantemente em Jerusalém. Somente nessa semana da paixão,
Jesus teve a sua autoridade questionada em Mateus 21:23-27; foi colocado a prova com
relação ao imposto romano (Mt 22:15-22); e foi questionado acerca da ressurreição e das
implicações no estado eterno (Mt 22:23-33). Hoje, veremos a última dessas tentativas de
encurralar Jesus. Mais uma, e agora pela última vez, os fariseus se dirigem a Jesus com
um questionamento para tentar prendê-lo e acusa-lo de blasfêmia. Agora, a pergunta é
com relação ao maior mandamento da Lei. O que o Senhor tem a nos ensinar?

1) DEVO AMAR O SENHOR DEUS COM TODO O MEU SER. VS 34-38


O texto inicia dizendo: “Ao ouvirem dizer que Jesus havia deixado os saduceus sem
resposta, os fariseus se reuniram. Um deles, perito na lei, o pôs a prova com esta pergunta:
Mestre, qual é o maior mandamento da Lei” (vs 34—36)?
Fariseus e saduceus viviam em debates e quase sempre se mostravam incompatíveis uns
com os outros. Quando Jesus calou os saduceus apontando para a realidade do estado
eterno, os fariseus devem ter gostado. Era um assunto que os fariseus tinham grande
dificuldade de conversar com os saduceus. Pois bem, os saduceus ficaram em silencio
enquanto a multidão ficou admirada com Jesus.
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Contudo, enquanto os saduceus se retiravam humilhados pela resposta de Jesus, os


fariseus entraram em cena novamente. Agora enviando até Jesus um dos seus melhores
peritos da Lei para lhe fazer uma pergunta. O texto é claro com a intensão do fariseu: ele
deseja colocar Jesus a prova. Deseja pega-lo numa controvérsia. Por isso a pergunta:
Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?
Esse perito da Lei, portanto, quer saber de Jesus qual é o mandamento dos mandamentos;
o maior dos maiores e mais importantes dentre os mandamentos importantes. Jesus
respondeu, dizendo: “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua
alma e de todo o seu entendimento”. Jesus faz uso de dois textos do Antigo Testamento
para dizer o maior de todos os mandamentos. Primeiramente Jesus usa a confissão do
povo de Israel, encontrado em Deuteronômio 6:4 – “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso
Deus, é o único Senhor”.
Segundo Jesus, ao responder o perito da Lei, o maior mandamento de todos é amar a Deus
com tudo o que o homem é. Ou seja, não é simplesmente amar a Deus, mas amar a Deus
ao máximo. Não simplesmente amá-lo de forma singela e discreta; mas amá-lo
expressivamente. Em Deuteronômio 6:5 – “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o
teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força”, Jesus tem a ideia de amar a Deus
na totalidade do ser. Deus não pode receber uma parte da nossa devoção, mas nossa
devoção inteira e completa.
Quando falamos em adorar a Deus de todo o coração, falamos em totalidade de vontade;
em totalidade de escolha, decisão. É necessário dar um passo a frente e desejar amar a
Deus.
Mas não basta somente amar a Deus com todo o coração. É preciso amá-lo com toda a
alma. O que é amar a Deus com toda a alma? É por meio da alma que sentimos as
emoções. E que tipo de amor é esse? Amor de toda a alma, é o amor encontrado, por
exemplo, na mulher pecadora que quebrou um frasco de alabastro com perfume e
derramou aos pés de Jesus, enxugando com seus cabelos. É o amor que emociona; que
constrange; que nos enfraquece e nos deixa perplexo e apaixonados pela pessoa e obra de
Deus. Amar a Deus de toda a alma é expressar nossa devoção a ele com nossas emoções.
Amor que se quebranta diante da glória de Deus; é o amor que se aquieta, que se cala
diante de sua soberania e providência.
Porém, não basta amá-lo com todo o coração e com toda a alma. É preciso também amá-
lo com todo o entendimento. O entendimento aqui tem ideia da mente, do intelecto e das
faculdades que compõem o aspecto racional do homem. Esse amor é o amor gerado pelo
reconhecimento intelectual da pessoa e da obra de Deus. Não basta ter emoções e paixões,
ou mesmo disposição voluntária de devotar amor a Deus. É necessário usar ao máximo
minhas faculdades e todo o meu intelecto como instrumento desse amor. Em outras
palavras é necessário conhecer aquilo que se ama; por isso além de amar a Deus com todo
o coração, e de toda a alma é preciso também amá-lo com todo o entendimento. Deus não
pode ser amado por alguém que não o conhece como ele realmente é.
Por isso, é necessário conhecê-lo bem para amá-lo da forma que lhe convém. É o amor
que me leva estudar e me maravilhar no conhecimento de seus atributos. É o amor que
me leva refletir nas verdades do evangelho. É um amor, cujo o instrumento, é o
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reconhecimento da verdade do que Deus é. Por exemplo, foi amando a Deus com todo o
entendimento, que Davi observando e refletindo a criação do Senhor, escreveu: “Os céus
proclamam a glória de Deus; o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19:1);
Foi por meio do uso do entendimento como instrumento para amar a Deus, que
Paulo também chega ao final do capítulo 11 de Romanos, dizendo: “Ó profundidade da
riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os
seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do
Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha
a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois,
a glória eternamente. Amém! ” (Rm 11:33-36).
Como é que o salmista Davi e o apóstolo Paulo, chegaram a essa conclusão da pessoa e
da obra de Deus? Amando a Deus e usando as suas faculdades e intelecto para
compreender ao máximo quem Deus é e adorá-lo por meio desse conhecimento. Eles
compreenderam intelectualmente essas verdades de Deus.
Portanto, veja que amar a Deus de todo o coração (vontade); de toda a alma (emoção) e
com todo o entendimento (intelecto) ilustra o homem como um todo, na plenitude do seu
ser. O que Deus exige no maior mandamento é que os homens aprendam a amá-lo com
todo o seu ser. O homem como um todo deve se dedicar no amor ao Senhor. Seu coração
deve desejar, sua alma deve ter profundas emoções e seu entendimento deve compreender
suas verdades.
A pergunta é: Por que Deus deseja a totalidade do nosso amor? Por que ele não aceita
nada menos do que todo o nosso coração, toda a nossa alma e todo o nosso entendimento?
Por que Deus deseja nosso ser por completo. Porque Deus deseja que venhamos a
responder justamente o que ele é e o que ele fez por nós! Deus não recebe menos do que
o tudo da nossa parte porque ele entregou-se em tudo. Ele doou-se em tudo. Ele se deu
completamente na pessoa do filho. Deus espera ser correspondido no uso do amor. Como
você corresponde a um amor que se entregou por completo? Dando-se por completo.
Amando-o com todo o meu coração, toda a minha alma e com todo o meu entendimento.
Deixe me ilustrar isso com os atributos de Deus Pense comigo por um instante nas
perfeições dos atributos de Deus. Um dos atributos incomunicáveis de Deus é sua
infinitude. Dizer que Deus é infinito é postular que em Deus não há limites em suas
perfeições e atributos. Então Ele é infinito em poder, infinito em santidade, infinito em
amor, por isso enviou seu Filho para morrer em nosso favor. Somente um Deus cujo ser
é infinito, pode nos livrar de uma ira infinita também. Isso explica porque Deus não exige
nada menos que todo o nosso ser no uso do nosso amor por ele.
Se Jesus Cristo é Deus e morreu por mim e por você, então nenhum sacrifício que nós
fizermos pode ser grande demais.
Precisamos ser justos com o que ele é e com o que ele fez por nós. Deus se doou com o
seu tudo, por isso, nós devemos dar a ele o nosso tudo também.
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2) DEVO AMAR O PRÓXIMO COMO A MIM MESMO. VS 39-40


Continuando no versículo 39, Jesus disse: E o segundo é semelhante a ele: “Ame o seu
próximo como a si mesmo. ”
No primeiro e maior mandamento Jesus se utilizou de Deuteronômio 6:4; no segundo ele
se utiliza de Levíticos 19:18: “Não procurem vingança, nem guardem rancor contra
alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o Senhor.

O que significa amar o próximo, como a si mesmo? Perceba que, o segundo maior
mandamento envolve a mesma virtude do primeiro grande mandamento, ou seja, o amor.
O amor é emoção e sentimento, mas também vontade e disposição. Veja que o amor ao
próximo deve ser uma escolha proposital, intencional, ativa, e, além disso, o amor deve
ser medido com o amor que tenho por mim mesmo. É fazer ao próximo, tudo aquilo que
eu desejaria que o próximo fizesse a mim, ou mesmo o que eu faria a mim. Não é qualquer
amor, mas o amor correspondente ao amor que eu tenho por mim mesmo.
Jesus ilustrou esse amor de forma simples na parábola do bom samaritano, narrada em
Lucas 10:25-37: Certa ocasião, um perito na lei levantou-se para pôr Jesus à prova e lhe
perguntou: “Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna? “O que está escrito na
Lei? “, respondeu Jesus. “Como você a lê? “Ele respondeu: ” ‘Ame o Senhor, o seu Deus
de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu
entendimento’ e ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’”. Disse Jesus: “Você respondeu
corretamente. Faça isso, e viverá”. Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: “E
quem é o meu próximo? ” Em resposta, disse: Um homem descia de Jerusalém para
Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no
e se foram deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um
sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita;
quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas um samaritano, estando de
viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele.
Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-
o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte,
deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas
as despesas que você tiver’. “Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que
caiu nas mãos dos assaltantes? “Aquele que teve misericórdia dele”, respondeu o perito
na lei. Jesus lhe disse: “Vá e faça o mesmo”.
Amar o próximo é se colocar no lugar do outro. Eu devo fazer para o meu próximo
exatamente o que eu desejaria que fizesse a mim se tivesse no lugar dele.
A maior prova e demonstração do meu amor por Deus é o meu amor pelo próximo, de
modo que os dois mandamentos se completam perfeitamente.
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CONCLUSÃO

Amados, é impossível obedecer esses mandamentos, se estivermos alheios aos méritos de


Cristo.
Só podemos amar a Deus e ao próximo como convém, se estivermos unidos a Cristo. Sim
é na graça da união com Cristo, por meio da santificação que o discípulo pode cumprir
esse mandamento. O único modo de amar a Deus como convém é por meio da
regeneração. Somente um novo coração, preparado e capacitado para ser recipiente do
amor de Deus, pode respondê-lo também com amor: 1 João 4:19, diz: “Nós amamos
porque ele nos amou primeiro”. Perceba que somente o nascido de novo tem capacidade
de amar a Deus como convém.
Precisamos de uma intervenção divina para amar o outro com o amor que Deus deseja.
Nós aparentemente poder ser bons cristãos, sermos ativos na Obra, mas se não amarmos
o Senhor e o próximo, nossas palavras não tem peso algum. Pelo contrário, nossas vidas
e ações atrapalham o progresso do evangelho.
Paulo inicia a sua exposição do amor bíblico em 1 Coríntios falando da incapacidade de
viver o evangelho, separado do amor: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos
anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine”. O
amor é o elo perfeito!
Que possamos crescer em amor a cada dia, amando a Deus sobre todas as coisas, de forma
integral, de forma total, e ao próximo como a nós mesmos!

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