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Interpretar envolve sempre uma situação de natureza valorativa, ou seja,

buscar o significado de algo em função dos valores que o orientam, para além
da mera relação de causa-efeito.
e todo processo de interpretação e aplicação das leis correspondem a uma
situação hermenêutica, ou seja, a uma apreensão de sentido que só ocorre no
fenômeno da compreensão. Isto porque a interpretação jurídica é um processo
de atribuição de sentido aos enunciados de textos ou normas jurídicas, visando
à resolução de um caso concreto.
A interpretação jurídica é dessa forma apenas uma espécie do gênero
denominado interpretação em função normativa. Tem por finalidade fixar uma
determinada relação jurídica mediante a percepção clara e exata da norma
estabelecida pelo legislador
É Intérprete, portanto, a pessoa que faz a versão dos textos escritos,
atribuindo-lhes significados ou sentidos, ou aquela que faz a interpretação da
lei, atos e decisões jurídicas
Um conjunto de regras e métodos que regessem o ato de interpretar, ou seja, a
hermenêutica.
É, portanto a hermenêutica uma teoria científica da arte do interpretar.
Onde houvesse a linguagem, ali aplicar-se-ia sempre a interpretação.
No âmbito da interpretação jurídica, ou seja, o substrato constituído pelos
enunciados prescritivos que formam a base do Direito, a hermenêutica é uma
espécie do gênero denominado interpretação em função normativa, pois
consiste em um processo de atribuição de sentido aos enunciados de textos ou
norma que compõem o ordenamento jurídico visando à resolução de um caso
concreto.
É a hermenêutica, portanto o meio ou modo pelo qual se devem interpretar as
leis, atos e decisões jurídicas, a fim de que se tenha deles o exato sentido ou o
fiel pensamento do legislador. Nela estão encerradas todas as regras e
princípios que devem ser juridicamente utilizados para a interpretação dos
textos legais.

Os métodos de interpretação jurídica são

METODO GRAMATICAL: Com efeito, é o método usado para se compreender


as palavras do legislador. Ele serve apenas como meio de se tomar um
primeiro contato com o texto interpretado, não se presta a se extrair o sentido
completo que a norma pode oferecer.
Mas, por si só é insuficiente, porque não considera a unidade que constitui o
ordenamento jurídico e sua adequação à realidade social” (MONTORO, 2011,
P. 425). Portanto, é necessário colocar seus resultados em confronto com os
elementos das outras espécies de interpretações
MODELO SISTENÁTICO: A interpretação sistemática assim entendida leva em
conta o sistema em que se insere o texto e procura estabelecer a
concatenação entre este e os demais elementos da própria Lei, do respectivo
campo do direito ou do ordenamento jurídico geral, o que possibilita ao
intérprete da norma jurídica a verificação do Direito como um todo, averiguando
todas as disposições pertinentes ao mesmo objeto e entendendo o sistema
jurídico de forma harmoniosa e interdependente.
Ressalta Claus-Wilhelm Canaris: É uma interpretação “a partir do sistema
externo da lei, portanto nas conclusões retiradas da localização de um preceito
em determinado livro, seção ou conexão de parágrafos, da sua configuração
com proposição autônoma ou como mera parte de uma proposição (...)”
(CANARIS, 2002, 158). Esse método, portanto, tem por finalidade analisar a
norma jurídica em seu contexto com outras normas e repudia a análise isolada
da mesma, o que sentencia a percepção de que ele permite afastar a
concepção da interpretação hermenêutica tradicional disposta a declarar ou a
descobrir o sentido e alcance de expressões do Direito sem auxílio de nenhum
elemento exterior e emerge na concepção mais moderna tendente a encarar a
interpretação como atividade atribuidora de sentido.
MÉTODO HISTÓRICO: O método histórico, por sua vez, baseia-se na
investigação dos antecedentes da lei, seja referente ao histórico do processo
legislativo, seja às conjunturas socioculturais, políticas e econômicas
subjacentes à elaboração da lei.
O reconhecimento desse método de interpretação, portanto deixa transparecer
que o Direito é dinâmico e que a norma jurídica não fica estática no tempo. É
mutável e por isso sofre as influências das transformações da sociedade.
MÉTODO TELEOLÓGICO – AXIOLÓGICO: Consiste esse método na busca da
finalidade das normas jurídicas tentando adequá-las aos critérios atuais, pois o
Direito por ser uma ciência primariamente normativa ou finalística sua
interpretação há de ser na essência teleológica. O interprete ou aplicador da
norma jurídica, desse modo sempre terá em vista o fim da lei, ou seja, o
resultado que a mesma precisa atingir em sua atuação prática
Nela o intérprete deverá primar pelo fim da lei, assentando que esse e a razão
da lei são indicados pelas exigências sociais, conduzindo à compreensão de
que o fim prático da norma coincide com o fim apontado pelas exigências
sociais (fim social), tendo-se em vista o bem comum.
O método em destaque é, portanto aquele que prima pela finalidade das
normas jurídicas e delimita o conteúdo da norma interpretando. Depreende-se
daí, que toda interpretação jurídica é de natureza teleológica (finalística)
fundada na consciência axiológica (valorativa) do Direito, o que sentencia
também que toda norma deverá ser interpretada no conjunto da ordenação
jurídica, implicando apreciação não só dos fatos e valores que lhe deram
origem, mas também dos supervenientes.

MÉTODO SOCIOLÓGICO: a interpretação tem que se basear no sentido da


Lei e das mudanças sociais que constituem no fundo a razão de ser de toda a
evolução jurídica. Dessa forma, o método sociológico baseia-se na adaptação
do sentido da Lei às realidades e necessidades sociais.
Nessa acepção, o método sociológico é aquele pelo qual o intérprete deve
adaptar a norma jurídica prescrita às novas condições ou efeitos sociais
inexistentes ao tempo de sua formação.

Posto isto, cabe frisar que também o Artigo 4º da Lei de Introdução às normas
do Direito Brasileiro sugere técnicas de interpretação que devem ser utilizadas
na seguinte ordem: Analogia, Costume, Princípio Geral do Direito e Equidade,
sendo esses, foco das abordagens que se precede.

As técnicas de interpretação jurídica são:

ANALOGIA: Essa técnica consiste em permite ao intérprete ou aplicador da norma jurídica


estender a um caso não previsto aquilo que o legislador previu para outro semelhante, em
igualdade de razões. É o caso, por exemplo, de aplicar à televisão um preceito legal referente
ao rádio; ou a uma empresa de transportes rodoviários uma norma relativa às companhias
ferroviárias. Dessa forma, pressupõe a falta de um dispositivo expresso e a interpretação

Não obstante, não bastam afinidades aparentes ou semelhanças formais, mas exige-se que
esta seja real, ou seja, que a hipótese nova a que se compara com ela assemelha-se na
essência e na mesma razão de decidir, o que demonstra que na analogia o pensamento funda-
se em duas situações jurídicas semelhantes in concreto e no princípio geral de que se deva dar
tratamento igual a casos semelhantes.

O que torna viável concluir que a analogia permite constatar e preencher situações em que a
norma jurídica for omissa.

Distingue-se ainda, a analogia legis da analogia júris, ou seja, analogia da lei e analogia jurídica
(MAXIMILIANO, 2002, P. 171). A analogia legis ou legal é aquela que extrai a igualdade de
tratamento para certo caso de uma norma jurídica existente para outro similar; a analogia júris
ou jurídica, porém não se apoia na norma jurídica existente, essa implica na ausência total de
norma a respeito do objeto.

Contudo, cabe ressaltar que essa técnica não é admissível fundamentalmente no caso da Lei
de caráter criminal, exceto às hipóteses em que essa pode beneficie o réu.

COSTUME: O costume baseia-se na crença e na tradição sob a qual está o argumento de que
algo deve ser feito e deve sê-lo porque sempre o foi. Sua força repousa no tempo e ao uso
contínuo como reveladores de norma. Como observa Carlos Maximiliano, “é uma norma
jurídica sobre determinada relação de fato e resultante de prática diurna e uniforme, que lhe
dá força da lei. Ao conjunto de tais regras não escritas chama-se Direito Consuetudinário”

Sustenta ainda que “como elemento da hermenêutica o costume não é aproveitado por
obrigação; fica o seu emprego, neste particular, ao critério do aplicador do Direito, como
acontece, aliás, com os demais fatores do trabalho interpretativo” (MAXIMILIANO, 2002, p.
155).

Desse modo, percebe-se que o costume nasce em decorrência do exercício de direitos e sua
função é para auxiliar a interpretação da norma jurídica.

Com o decorrer do tempo esses modos de agir, por sua oportunidade, utilidade e coerência,
vão se constituindo em preceito rígido a ponto de que adquirirem força de verdadeira Lei.

Destacam-se, três espécies de costumes, a saber: praecter legem, secundum legem e contra
legem. No primeiro caso, o costume desempenha a sua função supletiva prevista
expressamente na Lei de Introdução ao Código Civil. No segundo, substitui a lei nos casos pela
mesma deixada em silêncio, preenche as lacunas das normas jurídicas e serve também como
elemento de interpretação. Já o último, forma-se em sentido contrário ao das disposições
escritas. Desta feita, o costume situa-se imediatamente abaixo da Lei, pois o intérprete ou
aplicador da norma jurídica só pode dele recorrer quando esgotar todas as potencialidades
legais de preenchimento das lacunas.

Com efeito, quando não for possível decidir sobre uma controvérsia com uma disposição
precisa da lei, recorrer-se-á às disposições que regulam os casos semelhantes ou matérias
análogas. Entretanto, se o caso permanecer ainda em dúvida recorrer-se-á em seguida ao
costume. Se, porém, ainda permanecer a dúvida, cabe ao interprete ou aplicador da norma
jurídica decidir de acordo com os princípios gerais do direito, pois constituem esses as diretivas
ideais do hermeneuta, os pressupostos científicos da ordem jurídica.

Dessa percepção resulta a conclusão, que os princípios gerais do direito são os alicerces do
ordenamento jurídico que informando o sistema independentemente de estarem positivados
em norma legal. É, portanto, a técnica mais adequada para interpretação e integração
valorativa do Direito.

EQUIDADE: Dizíamos, quando não seja possível decidir sobre uma controvérsia com uma
disposição precisa de Lei, poderá o interprete ou aplicador da norma jurídica recorrer às
disposições que regulam casos semelhantes ou matérias análogas. Se o caso permanecer ainda
em dúvida recorrer-se-á, em seguida, ao costume. Se, porém, ainda permanecer a dúvida,
assiste-lhe decidir entre os princípios gerais do direito ou socorrer-se da equidade, pois esse
último é técnica a qual o intérprete ou aplicador do Direito deve recorrer para completar o que
a norma jurídica não alcança. Esta escolha faz com que a aplicação da mesma não se torne
muito rígidas e não prejudique situações específicas não contempladas pela norma prescrita.

Trata-se, na realidade, de uma técnica de adaptar norma a uma situação existente na qual são
observados os critérios de igualdade e de justiça, e evita que a aplicação da norma possa, em
determinadas circunstancias, prejudicar alguns indivíduos, já que toda a interpretação deve
tender para o justo na medida do possível, suplementando e preenchendo os vazios
encontrados na norma jurídica.

Nessa ordem de ideia percebe-se, portanto, que a equidade é uma autorização de apreciar
segundo a lógica do razoável os interesses e fatos não determinados de antemão pelo
legislador, estabelecendo uma norma individual para o caso concreto, sempre considerando as
pautas axiológicas contidas no sistema jurídico, ou seja, relacionando sempre os subsistemas
normativos, valorativos e fáticos.

Após o exposto, pode-se concluir que a interpretação jurídica é examinar ou fixar o sentido de
um texto escrito seja da lei, atos e decisões jurídicas, para que dela se tenha sua exata
significação ou sentido. A hermenêutica, porém, é o meio ou modo pelo qual se devem
interpretar tais textos escritos, a fim de que se obtenha deles o exato sentido ou o fiel
pensamento do legislador.

SLIDE 01 – RESUMO:

ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA:

[...] o objeto da argumentação jurídica é visar à sustentação de uma tese e cada tese é passível
de uma antítese, o que determina que as escolhas dos argumentos aspiram a superar ou a
minimizar as fragilidades dos sentidos da linguagem e a reforçar os procedimentos de
sustentação da tese já que a verdade dos argumentos é sempre parcial, pois não há verdade
absoluta [...]

ASPECTOS DO ARGUMENTO JURÍDICO:

a) Receptividade do discurso em diferentes realidades sociais: A grande virtude dos enfoques


argumentativos acerca do fenômeno jurídico é precisamente a de assumir que o direito deriva
de um conjunto de relações ocorridas no meio social, que estão longe de ser estáveis e
permanentes [...] (MENDONÇA apud ANDRADE, 2011, p.212)

• Observação das normas processuais;

• Processo de significação dos fatos e eventos;

• Atenção ao uso da linguagem!!

Sem o domínio da linguagem, o sistema jurídico se constrói na obscuridade e se nutre de


incongruência, sua execução se torna problemática e sua aplicação pode se transformar numa
charada estranha à justiça. (AZEVEDO apud ANDRADE, 2011, p.213)

• ASPECTOS DO ARGUMENTO JURÍDICO:

• A construção da causalidade no argumento jurídico;

• Quatro formas de relação entre evento e circunstância sob a perspectiva da


causalidade:

- Por via da causalidade produtora;

- Por via de derivação;

- Por via de conexão colateral;

- Por via de influência conjunta.


Somente depois de percebidas tais conexões de causalidade, é possível estruturar a
argumentação, a qual será perpassada pelas escolhas realizadas. (ANDRADE,2011, p.214)

• TIPOS DE ARGUMENTOS JURÍDICOS:

• Argumento de autoridade;

• Argumento exemplar;

• Argumento analógico;

• Argumento ao absurdo;

• Argumento a contrario sensu;

• Argumento a fortiori;

• Argumento silogístico ou entimema.

SISTEMA RETÓRICO

Na descrição do sistema retórico, Olivier Reboul, em sua obra “Introdução à Retórica”,


apresenta uma classificação que representa as partes (fases) que compõem um discurso, as
quais devem ser conhecidas por todos interessados na Retórica e na Oratória.

São elas:

(1) A intervenção (heuresis em grego): a busca que empreende o orador de todos os


argumentos e de outros meios de persuasão relativos ao tema de seu discurso;
(2) A Disposição (taxis): a ordenação desses argumentos, donde resultará a organização
interna do discurso, isto é, um plano que contém as suas partes;
(3) A Elocução (léxis): que não diz respeito à palavra oral, mas à redação escrita do
discurso, ao estilo, o ponto em que a retórica encontra a literatura;
(4) A Ação (hypocrisis): a proferição efetiva do discurso, com tudo o que ele pode implicar
em termos de efeitos de voz, mímicas e gestos. (cf. REBOUL, 1998, p. 44-67).

• LÓGICA INFORMAL
• Todos os dias utilizamos o discurso para levar os nossos interlocutores a aderir às
nossas opiniões – chamamos a isto comunicação argumentativa. • Estamos no
domínio da lógica informal, mais centrada nos efeitos da comunicação do que na
validade formal dos argumentos.

Retórica é o domínio da lógica informal que estuda a arte de falar com eloquência.
• A retórica surgiu na antiga Grécia, ligada à democracia e em particular à necessidade
de preparar os cidadãos para uma intervenção ativa no Governo da cidade. ―Rector‖
era a palavra grega que significava ―orador‖, o político.

• DEMONSTRAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO:
1. Se o Mar Mediterrâneo for água, é H20. O Mar Mediterrâneo é água. Logo, é H20.
2. Se os animais não têm deveres, não têm direitos. Os animais não têm deveres. Logo,
não têm direitos.
No argumento 1, trata-se de verdades estabelecidas, que ninguém põe em causa. Mas
a primeira premissa do argumento 2 é muitíssimo disputável. Até pode ser verdadeira,
mas não é uma verdade solidamente estabelecida e amplamente reconhecida como
tal. Aristóteles diria que o primeiro é um raciocínio analítico ou demonstrativo e o
segundo um raciocínio dialético, ou argumentativo.

• A argumentação trata de questões éticas, jurídicas ou politicas.


• Procura-se o mais verosímil ou provável.
• Na ausência de verdade, procura-se a adesão do interlocutor ou do auditório,
tentando persuadir, convencer (retórica).

ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS:

Na sua obra sobre a retórica, Aristóteles distinguiu três formas de argumentação:

• A argumentação baseada no carácter (ethos) do orador;

• A argumentação baseada no estado emocional (pathos) do auditório;

• A argumentação baseada no argumento (logos) propriamente dito.

• O ETHOS:

• O orador persuade por intermédio do carácter moral, do ethos, quando é visto pelo
auditório como alguém que inspira confiança.

• Para isso, é preciso que o discurso crie no auditório uma imagem do orador como
pessoa prudente, virtuosa e benevolente.

• O ETHOS

Persuade-se pelo carácter quando o discurso é proferido de tal maneira que deixa a impressão
de o orador ser digno de fé. Pois acreditamos mais e bem mais depressa em pessoas honestas,
em todas as coisas em geral, mas sobretudo nas de que não há conhecimento exato e que
deixam margem para dúvida. É, porém, necessário que esta confiança seja resultado do
discurso e não de uma opinião prévia sobre o carácter do orador; pois não se deve considerar
sem importância para a persuasão a probidade do que fala (…), mas quase se poderia dizer que
o carácter é o principal meio de persuasão.» Aristóteles, Retórica, 1356ª.

• O PATHOS:

• Para ser persuasivo, o orador deve procurar suscitar sentimentos e emoções no


auditório que o predisponham de forma favorável para a tese que defende.

• O apelo à popularidade ou à maioria é uma forma de argumento que explora


sentimentos da audiência para a fazer adotar o ponto de vista de quem fala.
• O LOGOS:

• Conjunto de argumentos organizados de modo a persuadir.

• Hoje designa o medium (meio - palavra ou imagem) que transmite a mensagem.


Refere a racionalidade dos argumentos e o tipo e a estrutura dos discursos

SLIDE 03: RESUMO

ANTINOMIA JURÍDICA
(LACUNA DE CONFLITO)

• Noções Introdutórias:

• No plano hermenêutico, a teoria das antinomias jurídicas está ligada ao problema da


CONSISTÊNCIA (coerência) do sistema jurídico.

• Para que um sistema seja coerente é necessário que os seus elementos não sejam
contraditórios.

• Conceito:

Antinomias Jurídicas: Ocorrem quando diferentes normas jurídicas permitem e proíbem um


mesmo comportamento, o que suscita uma situação de indecibilidade que requer uma
solução.

“Antinomia jurídica é a oposição que ocorre ente duas normas contraditórias (total ou
parcialmente), emanadas de autoridades competentes num mesmo âmbito normativo que
colocam o sujeito numa posição insustentável pela ausência ou inconsciência de critérios aptos
a permitir-lhe uma saída nos quadros de um ordenamento dado”. (Tércio Sampaio Ferraz
Júnior).

Para a caracterização da antinomia exige que:

(a) Ambas as normas conflitantes sejam jurídicas;

(b) Ambas as normas conflitantes sejam vigentes e pertençam a um mesmo ordenamento


jurídico;

(c) Ambas as normas conflitantes devem ser normas emanadas de um mesmo âmbito
normativo;

(d) Ambas as normas devem ter sentidos antagônicos, ou seja, um autorizando e outro
permitindo, e como derradeiro requisito;

(e) Que o sujeito ao qual às normas conflitantes são dirigidas esteja em uma posição
insustentável (isto é, de dúvida insustentável).

• Classificação das Antinomias Jurídicas:


1) Antinomias Próprias: Verificam-se toda vez que uma norma jurídica proíbe uma dada
conduta, enquanto outra norma jurídica faculta a mesma conduta. Exemplo: ocorre
quando um soldado recebe a ordem de um oficial para fuzilar um prisioneiro, sendo
crime tanto descumprir a ordem do superior hierárquico, quanto praticar o delito de
homicídio.

Antinomias Impróprias: São aquelas contradições mais sutis entre as normas


jurídicas, envolvendo o conflito de valores, finalidades, sentimentos e terminologias do
sistema jurídico. Dividem-se em: teleológica, valorativa, principiológica e semântica.

• Antinomia imprópria teleológica: Ocorre quando uma norma jurídica estabelece


os meios para a aplicabilidade de outra norma jurídica, mas os meios oferecidos se
revelam
incompatíveis com o fim previsto na norma originária. Exemplo: Sucede com a lei que
fixa o valor atual do salário mínimo, que não atende às necessidades vitais do
trabalhador,
aludidas na norma constitucional do art.7º da CF/88.

• Antinomia Imprópria Valorativa: Ocorre toda vez que acontece uma discrepância
entre os valores cristalizados por duas ou mais normas jurídicas, quando a ordem
jurídica
pune mais severamente uma infração social branda e mais levemente uma infração
social
mais grave, como ocorre com a punição mais severa dos crimes de furto e roubo,
quando
comparada com a punição dos crimes contra a administração pública, no Código Penal
Brasileiro,
potencialmente mais lesivos para o conjunto da sociedade.

• Antinomia Imprópria Principiológica: Verifica-se toda vez que os princípios jurídicos


entram em colisão, sinalizando soluções diversas para o intérprete/aplicador do
Direito, como ocorre com o conflito entre os princípios constitucionais da liberdade de
informação e da vida privada das autoridades públicas.

Antinomia Imprópria Semântica: Surge toda vez que uma mesma palavra comporta diferentes
sentidos, a depender do ramo jurídico em que é utilizada. Exemplo:  A palavra posse tem
diversos significados a depender de se utilizada no Direito Civil ou no  Direito Administrativo.

 Critério de Solução de Conflito:

1) Hierárquico: O mais importante, e que tem mais referência diante dos demais. Norma
jurídica
superior x inferior. Prevalece a superior. Ex.: CF x L.O.

2) Cronológico: Norma jurídica anterior x posterior - prevalece: posterior. Ex.: CC 1916 e CDC

3) Especialidade: Conflito entre uma norma que regule um tema genericamente x uma norma
que regule especificamente. Prevalece a norma jurídica especial. Ex.: CDC x Estatuto do Idoso.
 Para a solução das antinomias principiológicas:

• Recorrer-se-á ao uso da ponderação.

• A subsunção já foi muito utilizada, mas se revela insuficiente para lidar com o uso
hermenêutico dos princípios jurídicos.  Operação formal e lógico-dedutivo: premissa
maior (norma), delimitação da premissa menor (fatos) = adequação da norma jurídica
ao caso concreto. Solução: a ponderação.

• Consiste numa técnica jurídica de interpretação e decisão, aplicável a casos difíceis


(hard cases), em relação aos quais a subsunção figura insuficiente, especialmente
quando a situação concreta rende ensejo para a aplicação de normas principiológicas
que sinalizam soluções diferenciadas.

O Processo cognitivo da ponderação pode ser decomposto em 3 etapas:

1ª) Cabe ao intérprete detectar no sistema as normas relevantes para a solução do caso
concreto, identificando eventuais conflitos entre elas;
2ª) Cabe examinar os fatos e as circunstâncias concretas do caso concreto e sua interação com
os elementos normativos, daí a importância assumida pelos fatos e pelas consequências
práticas da incidência da norma;
3ª) Os diferentes grupos de normas e repercussão dos fatos do caso concreto estarão sendo
examinados de forma conjunta, de modo a apurar os pesos que devem ser
atribuídos aos diversos elementos em disputa e, pois, qual grupo de normas deve preponderar
no caso concreto. Exemplos da aplicabilidade do raciocínio ponderativo:

A) O debate entre os princípios da liberdade de expressão x proteção aos valores éticos e


sociais
da pessoa ou da família, ao tratar do eventual controle da programação de televisão.

B) Conflito entre os princípios da liberdade religiosa x proteção da vida, em situações em


que envolvam a transfusão de sangue para as testemunhas de Jeová. Além de outras hipóteses
ilustrativas.

• As antinomias ainda podem ser de:

o Primeiro grau: Conflito que é resolvido usando apenas um dos critérios acima.

o Segundo grau: Conflito que é resolvido usando dois ou mais dos critérios expostos.

Havendo a possibilidade ou não de solução, conforme os meta-critérios de solução de conflito:

o Antinomia aparente: situação em que há meta-critério para solução de conflito


(antinomias de 1º e 2º graus);

o Antinomia real: situação em que não há meta-critério para solução de conflito.

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