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ESTUDO DE CASO

Teoria Geral do Delito e


Principiologia Constitucional
JUR0245_v1.0

Priscila Cristina Silva da Silveira


1. O caso
Juliana, viúva, mãe de 7 filhos, todos menores de idade, respondendo
atualmente pelo delito de descaminho, perante a 2ª Vara Federal Criminal da
Subseção Judiciária de São Bernardo do Campo/SP, residente e domiciliada na
Rua Senador Flaquer, n.º 25, São Bernardo do Campo/SP, foi denunciada pelo
crime previsto no artigo 155, caput, do CP. Narra a exordial acusatória que, no
dia 20/01/2017, Luciana preparou em sua casa um jantar para suas irmãs Juliana,
Joana, Beatriz e Letícia. Juliana, ao passar pela porta do quarto de sua irmã,
avistou um belíssimo colar de diamantes em cima da penteadeira. Pensando em
sua grave situação financeira de quase miserabilidade, e que seria despejada de
sua casa com sua família caso não pagasse até o final do dia o aluguel e diante da
negativa de conseguir emprego e/ou qualquer tipo de ajuda financeira, vendo na
joia a única forma de quitar todas suas dívidas e dar alimentos aos seus filhos que
estavam se alimentando na casa dos vizinhos, tamanha necessidade vivenciada,
adentrou ao local e surrupiou o objeto. Ao notar o sumiço do pertence, Luciana
comentou o ocorrido com sua colega Patrícia, cujo marido é delegado de polícia
da cidade. Este, ao saber dos fatos, ficou indignado com a possibilidade de uma
irmã ter furtado a outra e, por conta própria, determinou que Antônio,
investigador de polícia, interceptasse imediatamente a linha telefônica das irmãs
de Luciana. Depois de vinte dias de efetiva interceptação, descobriu-se que uma
pessoa não identificada entrou em contato com Juliana reclamando que o colar
que ela havia dado como forma de pagamento não se tratava de um colar de
diamantes, mas sim de uma bijuteria e que valeria no máximo cinquenta reais.
Diante desta descoberta, em 11 de março de 2017 (sexta-feira), Luciana
atendendo à intimação do delegado, compareceu ao distrito policial, ocasião na
qual soube que sua irmã Juliana fora a autora do delito. Na mesma oportunidade,
informou que o colar não era uma joia verdadeira, mas sim uma réplica de joia
que pagou por ele o valor de R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) em um bazar.
Ocorre que, em 22 de setembro de 2017 (segunda-feira), durante a festa de
aniversário de sua irmã Letícia, Luciana e Juliana discutiram calorosamente.
Tal situação gerou em Luciana uma mágoa muito grande e, como forma de
vingança, compareceu no mesmo dia ao distrito policial e manifestou o interesse
em ver sua irmã processada e condenada pelo sumiço da joia. Instaurou-se
Inquérito Policial, instruído com a interceptação telefônica outrora realizada.
Relatado o procedimento investigativo, os autos foram remetidos ao Ministério
Público, o qual ofereceu denúncia. Recebida a exordial acusatória em 20/11/2017
(quinta-feira), o juiz competente determinou a citação da acusada Juliana, que foi
efetivada em 28/11/2017 (sexta-feira).

2. Papel do aluno e sua


participação na resolução
do problema
Considerando a situação hipotética apresentada e com base somente nos
dados apresentados pelo problema, você, na qualidade de advogado(a), deverá
adotar a medida judicial cabível, protocolando-a no último dia do prazo,
argumentando todas as teses possíveis em favor de Juliana, especialmente
àquelas que visem à absolvição da Acusada, bem como todos os pedidos
subsidiários atinentes ao caso em apreço.

3. Objetivos
Gerais
• Desenvolver a autonomia na realização de pesquisas embasando o
raciocínio jurídico com embasamento legal.

• Ser criativo na solução do desafio.


• Planejar as atividades no tempo disponível.

Específicos
• Compreender a necessidade de multidisciplinaridade na composição
das decisões do plano.

• Desenvolver a prática da pesquisa e escrita sobre teses de defesa


desdobradas da Teoria do Delito.

• Identificar a tese de defesa para afastar a imputação.


4. Atividades
Considerando as informações contidas no enunciado, este Desafio
Profissional deve ser desenvolvido com o apoio nas seguintes leituras
complementares:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal 1 - Parte Geral. São Paulo:
Saraiva, 2017.
DELMANTO, Celso; Delmanto, Roberto; Delmanto Jr., Roberto. Código
Penal Comentado. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
NUCCI, Guilherme De Souza. Manual de Direito Penal. São Paulo: Editora
Gen, 2018.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro - Parte Geral, Vol. I,
15. ed, 2017.

5. Resolução
Deverá ser apresentada a peça de Resposta à Acusação com fulcro nos artigos
396 e 396-A, ambos do Código de Processo Penal, endereçada ao Excelentíssimo
Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca de 2ª Vara Federal
Criminal da Subseção Judiciária de São Bernardo do Campo/SP.
Preliminarmente, poderá ser arguida a tese da ilicitude da interceptação
telefônica, consoante dispõe o artigo 5º, inciso XII, da Constituição Federal,
combinado com os artigos 3º e 5º da Lei 9296/96, requerendo, para tanto, o
desentranhamento das provas ilícitas, nos moldes do que determina o artigo 157
do Código de Processo Penal.
No mérito, a absolvição sumária com fundamento no artigo 397, IV do Código
de Processo penal é medida que se impõe, vez que se vislumbra no caso em
referência causa de extinção da punibilidade pela ocorrência da decadência,
conforme artigos e Art. 107, IV, e 103, ambos do Código Penal e artigo
38 do Código de Processo Penal, pois o crime de furto cometido pela Acusada
teve como vítima sua irmã, e o artigo 182, II do Código Penal determina
que nesse caso, como se trata de ação penal condicionada, necessário se faz a
representação da vítima dentro do prazo de 6 (seis) meses a partir do
conhecimento da autoria delitiva para que haja o início da ação penal,
o que não ocorreu.
De outro lado, mais uma vez resta demonstrada a absolvição sumária com
fulcro no artigo 397, inciso III do Código de Processo Penal, pela atipicidade da
conduta, tendo em vista que, de acordo com os vetores trazidos pelo Supremo
Tribunal Federal, a Denunciada agiu abarcada pelo princípio da insignificância,
pois o colar subtraído era uma bijuteria avaliada em R$ 45,00 (quarenta e cinco
reais), devendo ser então levado em consideração a mínima ofensividade da
conduta, nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica
provocada, resultando no afastamento da tipicidade material.
É possível também argumentar como tese defensiva o instituto do estado de
necessidade, vez que a Ré subtraiu a joia para vender e dar comida aos filhos, o
que restou evidenciado no caso em tela, restando evidenciada a absolvição
sumária, nos moldes do artigo 397, I, do Código de Processo Penal.
Por fim, caso o feito atinja o grau de instrução, devem ser requeridas todas
as provas em direito admitidas, em especial testemunhal, que devem ser
arroladas na oportunidade de apresentação e prazo da peça de resposta à
acusação, a qual deve ser datada em 10 de dezembro de 2017, sendo este o
último dia do prazo, conforme solicitado pelo problema.

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