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Geometria Diferencial de Curvas e Superfı́cies

IMPA, Verão 2022 - Prof. Lucas Ambrozio

Material complementar - Lista de exercı́cios - IV

Favor entregar sua lista até 01 de Fevereiro de 2022, às 10h.

Exercı́cio 1. (O cı́rculo osculador ).


Seja α : I → R2 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco e escolha um ponto
q = α(s0 ), s0 ∈ I, no traço de α onde a curvatura não se anula (se tal ponto existe). Sem
perda de generalidade, suponha k(s0 ) > 0. Seja Dλ o disco fechado de raio λ > 0 que é
tangente a curva α em q0 e tal que a normal unitária N (s0 ) de α em s0 aponta para dentro
dele.
i) Se k(s0 ) < 1/λ, então existe uma vizinhança J de s0 em I tal que α(J \ {s0 }) está
contido fora do disco fechado Dλ .
ii) Se k(s0 ) > 1/λ, então existe uma vizinhança J de s0 em I tal que α(J \ {s0 }) está
contido no interior do disco Dλ .
iii) Dê exemplos que mostrem que o comportamento descrito nos dois itens anteriores
não ocorrem necessariamente no caso k(s0 ) = 1/λ.
(Comentário: na situação descrita neste exercı́cio, o cı́rculo tangente à curva α em α(s0 ),
cuja normal que aponta para o centro do cı́rculo coincide com N (s0 ) e cujo raio é 1/k(s0 ), é
chamado de o cı́rculo osculador de α no ponto s0 ∈ I. Observe que, em vista dos itens i) e
ii) acima, dentre os cı́rculos tangentes à curva no ponto em questão cuja normal apontando
para o centro do cı́rculo coincide com a normal da curva neste ponto, o cı́rculo osculador é
um caso limı́trofe entre dois comportamentos locais distintos da posição relativa dos pontos
no traço de α e um tal cı́rculo tangente, em vizinhança do ponto em questão).
Exercı́cio 2. Seja α uma curva parametrizada regular plana, fechada e simples. Seja R0 o
ı́nfimo dos raios de cı́rculos que contém o traço de α na região compacta que ele delimita (=
fecho do aberto limitado que é uma das componentes conexas de R2 \ C).
i) Mostre que R0 > 0, que existe um disco fechado D0 de raio R0 que contém o traço
de α, e que este disco é único. Seu bordo é o cı́rculo circunscrito a α.
ii) Se o cı́rculo cincunscrito toca o traço de α em no máximo dois pontos, então ele toca
o traço de α em exatamente dois pontos, os quais além disso são diametralmente
opostos.
iii) Mais geralmente, se um ponto p1 do traço de α intersecta o cı́rculo circunscrito, então
o semi-cı́rculo fechado do cı́rculo circunscrito que começa em p1 e segue no sentido
anti-horário contém necessariamente outro ponto p2 do traço de α. (Dica. Suponha,
por absurdo, que não. Encontre um semi-cı́rculo aberto do cı́rculo circunscrito que
contém todos os pontos de interseção do cı́rculo em questão com o traço da curva
α. Mostre que mover ligeiramente este cı́rculo em direção ortogonal ao diâmetro que
determina o semi-cı́rculo e no sentido onde se encontram os pontos de intersecção,
produz um cı́rculo contendo o traço de α sem intersectá-lo. Diminuindo o raio deste
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ligeiramente, produz-se um outro cı́rculo de raio r < R0 , o qual contradiz a escolha


de R0 ).
Exercı́cio 3. Sejam S uma superfı́cie regular em R3 em p ∈ S. Fixe uma base ortonormal
positiva {W1 , W2 , Np } tal que Np é normal a Tp S. Mostre que existe uma parametrização
X : U → V ∩ S de vizinhança de p em S, com (0, 0) ∈ U e X(0, 0) = p, tal que
X(u, v) = p + uW1 + vW2 + φ(u, v)Np para todo (u, v) ∈ U,
onde φ : U → R é função suave. (Dica: use o teorema da função inversa).
Em seguida, estude as derivadas de φ em (0, 0) até segunda ordem, e calcule os coeficientes
da primeira e segunda forma fundamentais em (0, 0).
Finalmente, conclua que é possı́vel encontrar vizinhanças coordenadas de qualquer ponto
dado p de uma superfı́cie regular S em R3 nas quais os coeficientes das primeira e segunda
formas fundamentais neste ponto dado p = X(q) são tais que E(q) = 1, F (q) = 0 e G(q) = 1,
e e(q) = k1 (p), f (q) = 0 e g(q) = k2 (p).
Exercı́cio 4. Seja S uma superfı́cie regular em R3 . Em vizinhança coordenada V ∩ S do
ponto p, sejam k1 ≤ k2 as curvaturas principais de S ∩ V com respeito ao campo normal
unitário induzido por uma parametrização. Mostre que, se p é simultaneamente um ponto
de mı́nimo de k1 e um ponto de máximo de k2 , então K(p) ≤ 0 ou p é umbı́lico.
(Dica: como na prova do Teorema de Hilbert-Liebmann, use o item anterior para encontrar
um sistema de coordenadas útil para simplificar contas, e explore as propriedades das funções
auxiliares (u, v) 7→ IIX(u,v) (Xu (u, v)/|Xu (u, v)|) e (u, v) 7→ IIX(u,v) (Xv (u, v)/|Xv (u, v)|).
Exercı́cio 5. Seja S uma superfı́cie regular em R3 , e X : U ⊂ R2 → V ∩ S ⊂ R3 uma
parametrização de S. Mostre que vale a seguinte identidade:
h((Xuu )T )v − ((Xuv )T )u , Xv i = (K ◦ X)(|Xu |2 |Xv |2 − hXu , Xv i2 ),
onde v T denota a projeção ortogonal de um vetor v em R3 no plano tangente Tp S no ponto
p em questão, e K ◦ X é a expressão em coordenadas da curvatura Gaussiana de S.
(Sugestão: Reveja este exercı́cio depois que introduzirmos o conceito de derivada covari-
ante, e interprete o cálculo acima à luz deste conceito).

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