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Escrito por Mark Alan Hewitt | Traduzido por Lis Moreira Cavalcante
Este artigo foi originalmente publicado na CommonEdge como "A Palavra com 'B': como um Conceito mais
Universal de Beleza pode Remodelar a Arquitetura".
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22/02/2022 16:40 O que é a beleza na arquitetura hoje - e porque temos medo dela? | ArchDaily Brasil
Há uma nova escola de arquitetura em Nápoles chamada “Building Beauty” ["Construindo Beleza",
tradução livre] dirigida por discípulos do ex-professor de Berkeley, Christopher Alexander. O nome contém
uma referência deliberada a uma palavra raramente usada pelos arquitetos do establishment hoje - uma
palavra que Alexander acredita que incorpora a ordem natural das coisas.
Para aqueles que seguem a ciência, a palavra beleza também está aparecendo com frequência,
particularmente entre os biólogos evolucionistas, porque pássaros, rãs e outros organismos parecem ter
um senso estético embutido que facilita a procriação. Como os animais podem ter uma "estética"? O
ornitólogo de Yale, David Prum, acredita que criaturas como o pássaro-lobo macho atrai as fêmeas com um
elaborado ritual que usa suas penas de cores vivas e uma espécie de área de acasalamento no chão
construído especificamente para esse fim. Ele descreve o processo como "arbitrário", em vez de ligado a
alguma função que era necessária para a seleção natural, o processo evolutivo que Charles Darwin explicou
em seu livro A Origem das Espécies. E apesar de certo ceticismo entre os biólogos, a teoria de Prum está
começando a se firmar, levando outros a investigarem o papel da beleza no mundo natural. Um artigo
recente da New York Times Magazine apresentou uma reportagem de capa sobre seu trabalho.
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Ainda mais surpreendente é o fato de que o ornamento, a coisa supérflua que Leon Battista Alberti disse
que poderia ser “adicionado” a um prédio para realçar sua beleza, é tão necessário quanto. Os animais têm
enfeites orgânicos que contribuem para a sua beleza e conveniência como parceiros, embora possam
aumentar sua visibilidade como presa. O baiacu até constrói anéis elaborados no fundo arenoso de seu
habitat para atrair parceiros, e os desenhos mais elaborados trazem os melhores resultados.A neurociência
provou que os padrões, as texturas e a articulação dos limites fornecem pistas necessárias que permitem
que os humanos negociem seus ambientes. Guardar
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Em seu monumental tratado de quatro volumes, A Natureza da Ordem, Alexander ligou algumas das
recentes descobertas da biologia evolutiva à arquitetura, ao discutir a necessidade de beleza na biosfera. O
desenvolvimento evolucionário nos permitiu sobreviver e florescer ao precisamente adotar certas
preferências específicas por belas coisas naturais. Isso agora está sendo reconhecido na disciplina em
desenvolvimento “biofilia”, ou o amor pelas coisas vivas e suas estruturas.
Um fascinante novo periódico italiano, Intertwining, reúne muitas dessas ideias. O neurocientista italiano
Vittorio Gallese juntou-se ao renomado arquiteto e educador Juhani Pallasmaa para iniciar colaborações
entre cientistas e designers que pensavam de forma semelhante em todo o mundo, muitos dos quais
apoiam a teoria da cognição incorporada. Se a primeira edição indica algo, é que essa fusão de arte, ciência
e design mudará a maneira como olhamos para o ambiente projetado. Em seu novo livro, From Object to
Experience, Harry Francis Mallgrave instiga os projetistas aabraçarem a experiência da arquitetura como
seus usuários fazem e abandonarem a antiga obsessão com as qualidades da forma e do objeto.
Ele pergunta corretamente por que a dimensão social do projeto foi amplamente esquecida na prática
contemporânea: “Nada é mais importante para a felicidade humana e a expressão do amor do que a nossa
socialização. A expressão artística é apenas uma manifestação de um passo de seu desenvolvimento.Nossa
propensão à ritualização, gestos e brincadeiras, nosso cultivo da beleza e nosso senso de
comunidade — tudo está ligado a esse ethos social compartilhado, fundamental para nossas vidas.” Ao
contrário do que os cientistas sociais acreditavam em meados do século XX, humanos em todas asGuardar
culturas
têm um senso compartilhado do que é belo que foi nutrido pela experiência.
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Uma das fascinantes descobertas compartilhadas por biólogos e pesquisadores que estudam o cérebro é a
percepção de que lugares e características ambientais específicas contribuem para o desenvolvimento de
preferências “estéticas” do organismo. As espécies da floresta tropical cultivam características coloridas e
usam o verde como camuflagem, enquanto as criaturas do deserto desenvolvem tons de terra e cores mais
claras em sua pele ou camadas externas. Da mesma forma, todos os artefatos tradicionais e artes
populares, incluindo a arquitetura, são baseados nos materiais e cores do ambiente particular em que seus
produtores vivem. Somente a arquitetura do século passado renunciou a essas características regionais —
até mesmo o chamado regionalismo "crítico". Um novo grupo de pesquisa fundado em Estocolmo em
2016, o Place Science, propôs um programa que pode fornecer dados sobre como as pessoas vivenciam um
senso de lugar, usando ferramentas disponíveis comercialmente, bem como entre pesquisadores
universitários.
O crescente grupo de pesquisadores e designers que participam das conferências bienais da Academia de
Neurociência para Arquitetura (ANFA) está comprometida em trazer questões estéticas para a discussão de
como o cérebro funciona. Muitos estão ligados às profissões de saúde, porque é claro que a beleza no
ambiente terapêutico desempenha um papel na cura. Johns Hopkins estabeleceu o primeiro instituto
médico para o estudo de neuroestética em 2016, apresentando seus primeiros resultados na reunião da
ANFA daquele ano. Estranhamente, poucos líderes de programas de arquitetura participaram da reunião, e
menos ainda parecem estar cientes da pesquisa lá apresentada. Tom Fisher, ex-diretor da Faculdade de
Arquitetura da Universidade de Minnesota, afirmou que seus colegas decanos zombavam da ideia de
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ensinar neurociência a arquitetos quando ele abordou o assunto há alguns anos.
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Ainda assim, é surpreendente saber que os decanos das escolas de arquitetura do nordeste são paranoicos
em relação aos jovens que seguem as críticas “pós-modernas” do Modernismo durante as décadas de 1970
e 1980, como mostra quão arraigados são esses teóricos em nossas escolas de arquitetura.Você não os
ouvirá aplaudindo os cientistas que continuam mostrando como a beleza afeta nossa saúde, felicidade e
bem-estar. Eles nem usam a palavra para elogiar o trabalho de seus melhores alunos, porque ela foi banida
há muito tempo do discurso do establishment. Como o ornamento, os conceitos estéticos tradicionais do
verdadeiro e do belo foram retirados do cânon pelos modernistas após a década de 1920 e raramente
foram discutidos desde então. Faço questão de enfatizar o "raramente", porque certamente houveram
debates sobre essas ideias durante os anos 1970, que inclusive participei como estudante.
Os chamados textos pós-modernos, como Learning From Las Vegas, revelaram a lógica defeituosa por trás
desses ataques na base atemporal e humanista do design visual, discutida pela primeira vez por Vitrúvio
no século I a.C. Em vez de um equilíbrio entre firmitas, utilitas e venustas, o modernismo nos deu “utilidade
+ firmeza = prazer”,de acordo com Robert Venturi, Denise Scott Brown e Steven Izenour. Continuamos a
abraçar essa fórmula absurda hoje.Os cientistas não se deixam mais enganar, então por que os arquitetos
devem continuar enfatizando o “funcional” e o “tectônico” nos critérios estéticos? Como argumentei em
ensaios anteriores na Common Edge, a ignorância da história do século XX não é desculpa para que os
pronunciamentos flácidos sobre a estética pós-moderna sejam um subproduto do Reaganismo ou MAGA,
ou ataques a autores que defendem pontos de vista que criticam o establishment acadêmico.
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Beleza não é política ou ideológica. Está ligada ao nosso desenvolvimento como espécie e será sempre
uma preocupação vital para aqueles que querem que nossa sociedade seja justa, igualitária e preocupada
com a verdade — que é, sim, bonita de se ver. John Keats e Friedrich Schiller não estavam errados sobre a
relação necessária entre duas coisas que acreditamos serem fundamentais para nossa humanidade, e uma
delas começa com “B”.
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