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ESTÉTICA

ARQUITETURA

Gabriela Ferreira Mariano


UNIDADE 1
Conceitos de estética
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer os conceitos de arte e estética na história da humanidade.


 Identificar as características que acompanharam a evolução do con-
ceito de estética.
 Exemplificar os padrões de estética mundiais.

Introdução
O significado de arte vem do latim ars, que significa “o ato de fazer”, e
deriva da ideia de saber fazer algo ou fazer algo muito bem feito. Assim,
arte é o ato de fazer uma obra que será admirada, seja ela uma canção,
uma escultura, uma poesia, uma dança, uma arquitetura. Já o uso da
palavra “estética” deriva da palavra grega aesthesis, que significa percep-
ção e sensação. Desse modo, no sentido mais estreito do significado, a
palavra estética significa sensibilidade e será, portanto, a disciplina que
vai estudar e analisar a relação existente entre a arte e o homem.
Neste capítulo, você vai conhecer sobre os conceitos de arte e estética,
identificar as características da evolução e reconhecer exemplos que
expressam os padrões estéticos no mundo.

Arte e estética: conceitos


Para os gregos antigos, a arte significava o domínio do ser humano de uma
ou mais técnicas. Deriva daí a ideia de que saber fazer algo muito bem feito
é uma arte, por exemplo, a arte da guerra, da política, de fazer parto, da me-
dicina, do direito, etc. Outro conceito é que a arte é uma experiência humana
de conhecimento estético, que transmite e expressa ideias e emoções; por isso,
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para a apreciação da arte, é necessário observá-la, refletir sobre ela, criticá-la


a ponto de emitir opiniões fundamentadas sobre gostos, estilos, materiais e
modos diferentes de fazer arte (AZEVEDO JÚNIOR, 2007).
A função da arte e o seu valor estão na representação simbólica do mundo
humano. A partir disso, Aristóteles e Alberti apresentam visões diferentes sobre
o assunto. Aristóteles, pensador grego que viveu nos anos 300 a.C., entende
a arte como uma criação especificamente humana, na qual o belo não pode
ser desligado do homem: está em nós. Entretanto, ele separa a beleza da arte,
e muitas vezes, a feiura, o estranho ou o surpreendente se tornam o principal
objetivo da criação artística. Para o filósofo grego, o que confere beleza a uma
obra é a sua proporção, simetria, ordem — isto é, uma justa medida. Dessa
maneira, ele distingue dois tipos de artes: as que têm uma utilidade prática,
isto é, completam o que falta na natureza; e as que imitam a natureza, mas
também podem abordar o que é impossível, irracional, duvidoso.

Juntamente com Platão e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é visto como um dos


fundadores da filosofia ocidental. Essa linha de pensamento dominou verdadeiramente
o pensamento europeu a partir do século XII, principalmente nos campos de física,
química, lógica e ética. Em 335 a.C., Aristóteles fundou a sua própria escola em Atenas,
em uma área de exercício público dedicado ao deus Apolo Lykeios — daí surgiu o
nome liceu. Em todas essas áreas de estudos, o liceu coletou manuscritos e, assim, de
acordo com alguns relatos antigos, criou-se a primeira grande biblioteca da Antiguidade.

Leon Battista Alberti (1404–1472) foi um arquiteto e teórico de arte italiano,


seguidor de Vitrúvio. Teve o livro De re aedificatoria como seu principal
tratado teórico, o qual tomava como base de referência a arte da Antiguidade.
Nesses estudos, é possível identificar quatro pontos de arte clássica, os quais
se mantiveram vigentes por mais de 300 anos: arte é uma ciência; arte deve
interpretar um ideal objetivo de beleza; arte deve dizer respeito às ações hu-
manas; o propósito da arte não é somente proporcionar prazer, mas também
ensinar uma lição de moral.
Em resumo, arte é o ato de fazer uma obra que será admirada, seja ela
uma canção, uma escultura, uma poesia, uma dança, uma arquitetura. A es-
tética será, portanto, a disciplina que estudará e analisará a relação existente
entre a arte e o homem. Nesse sentido, a estética é vista como uma ciência
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que remete à beleza relacionada a algum sentimento, demonstrado por suas


manifestações artísticas e naturais, sendo vista como a filosofia da arte. É
um ramo da filosofia com o objetivo de interpretar simbolicamente o mundo
e as formas de manifestação da beleza pura e artística. Platão foi o primeiro
a formular, explicitamente, a pergunta sobre o que é o belo. Para ele, o belo é
identificado com o bem, a verdade e a perfeição. A beleza existe em si, separada
do mundo sensível. Nesse sentido, ele criticou a arte que se limitava a “copiar”
a natureza e o mundo sensível, afastando assim o homem da beleza que reside
no mundo das ideias. As obras de arte deviam seguir a razão, procurando atingir
tipos ideais e desprezando os traços individuais das pessoas e a manifestação
das suas emoções. Assim, entende-se que Platão ligou a arte à beleza.
Foi o filósofo Alexander Gottlieb Baumgarten (1714–1831) que utilizou
pela primeira vez a palavra “estética”, no conceito moderno, com o intuito de
estabelecer uma disciplina da filosofia que se encarregaria de estudar todas
as manifestações artísticas. Na Grécia Antiga, outros filósofos já utilizavam
a palavra “estética”, que deriva da palavra grega aesthesis, a qual significa
percepção e sensação. Desse modo, no sentido mais íntimo do significado, a
palavra “estética” significa “sensibilidade”. Ela está presente desde o surgimento
do homem: os povos primitivos usavam óleos e perfumes para ocasiões especiais.
Atualmente, o seu significado moderno corresponde à doutrina do conheci-
mento sensível. Baumgarten definiu a estética como sendo uma disciplina que
deveria refletir sobre as emoções produzidas pelos objetos que são admirados
pelos seres humanos. O autor ainda afirma que a estética deveria ser abordada
de forma subjetiva, ou seja, a partir da consciência de cada indivíduo. Esse
filósofo da arte entende que a única forma de se apreciar uma obra se dá pela
sensibilidade do observador. Ela — a sensibilidade — só é possível quando o
observador se permite contemplar a arte a partir da sua própria subjetividade.

Evolução do conceito de estética


ao longo dos anos
Ao longo da história, a filosofia sempre se perguntou a respeito da essência do
belo — a interrogativa central da estética. A estética enquanto filosofia surgiu
na Grécia Antiga, como uma reflexão sobre as manifestações do belo, seja ele
natural ou artístico, bem como o estudo da filosofia, em conjunto com a lógica
e a ética, formando os conceitos de belo e bom para os valores da humanidade.
Essa reflexão sistemática é inseparável da vida cultural das cidades gregas,
as quais atribuíam uma enorme importância aos espaços públicos e ao livre
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debate de ideias. Dessa forma, os poetas, arquitetos, dramaturgos e escultores


desfrutavam de um grande reconhecimento social.
No Egito, Cleópatra acreditava que a beleza era importante para a imortali-
dade e, desse modo, serviu de inspiração para diversos artistas e suas pinturas.
Nesse período, a representação da figura humana aparecia na versão idealizada
dos artistas, com grandes olhos escuros, figuras esbeltas, corpos morenos e
perfeitos, e cabelos brilhantes. Na Idade Média, a Igreja acreditava que a vaidade
vinha de forças malignas, e qualquer preocupação estética não era bem vista
(pregando inclusive o abandono dos hábitos de higiene). Além disso, julgava-se
que a preocupação com o belo estaria alterando a face dada por Deus.
Dois pensadores tiveram grande importância na definição dos conceitos
de estética. Platão já definia o belo como o bom; a estética existiria em si, a
partir de uma essência ideal, objetiva, independente do gosto. Essa tendência
compôs o ideal universal de beleza, dominando a arte da Antiguidade até o
século XVII. No caso de Aristóteles, pupilo de Platão na sua academia, a
estética tem como base dois conceitos de caráter realista: a teoria da imitação
e a catarse (libertação). Os conceitos platônicos reaparecem no Renascimento,
principalmente nas escolas inglesas, em conjunto com pensamentos que con-
templam o belo como uma manifestação do espírito. No classicismo francês,
como nos pensamentos de Descartes, as ideias de Aristóteles se mantêm vivas,
e são introduzidos novos conceitos de beleza, como claridade e distinção.
Durante o século XVIII, a história da estética encontra o seu ponto máximo.
Os críticos ingleses foram os responsáveis por analisar as impressões estéticas
e estabelecer as diferenças entre a beleza da experiência imediata e a beleza
relativa. A partir disso, originou-se outra tradição: o belo tornou-se relativo,
subjetivo, relacionado à maneira como cada sujeito nota o objeto. Também foi
apresentada a separação entre o que era belo e o que era magnífico ou sublime.

No mundo da filosofia, existe uma antítese clássica entre o belo e o sublime. Esse
segundo termo é associado ao êxtase e à criação poética pelos antigos. Porém, na
linguagem corrente, sublime é amplamente empregado como um sinônimo ou um
superlativo de belo.
Como referência de literatura, o texto Na Inquiry into the Origin of Our Ideas of the
Sublime and the Beautiful, de Edmund Burke, é o que melhor aborda essa problemática
de mudança de sentido dos termos.
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Essa oposição ao pensamento do passado é aliviada por Kant, no século


XVIII, definindo que, na estética, a objetividade está no objeto, enquanto a
subjetividade está no sujeito. Portanto, o belo existe em si, no objeto, mas nem
sempre é percebido pelo leigo — aquele que não foi educado para apreciar
a beleza como um crítico de arte. Seguindo essa evolução, no século XIX,
Hegel introduziu o contexto histórico na concepção de beleza, para o qual o
“devir” (as mudanças) se reflete no gosto. Em outras palavras, ele sofre uma
interferência da cultura, construindo uma nova visão de mundo.
A partir dessas tradições, outra concepção de estética surgiu no século XX,
vinculada à fenomenologia, principalmente em relação à arte. O belo passou a
ter significado, independentemente de sua correspondência com o real. Esse
conceito é mensurado pela sensibilidade, o que atualmente remete à psicolo-
gia, ciência que atribui à beleza uma resposta narcisista ao que gostamos ou
gostaríamos de ver em nós mesmos. Em um conceito mais filosófico, pode-se
dizer que é o que apreciamos ou o que se identifica com a nossa visão parti-
cular de mundo. Essa definição apresenta o belo numa questão geral, mas não
responde por que consideramos determinado objeto que não é belo como arte.
No momento contemporâneo, a estética é explicada em duas tendências:
a ontológica-metafísica, que substitui o belo pela vertente do verdadeiro ou
do verídico; e a histórico-sociológica, que mostra a obra de arte como um
documento e uma manifestação do trabalho humano.
Camargo e Bulgacov (2007, p. 187) justifica:

Na relação estética o sujeito entra em contato com o objeto mediante a tota-


lidade de sua riqueza humana, não apenas sensível, mas também intelectiva
e afetiva. Os fenômenos naturais só se tornam estéticos quando adquirem
uma significação social e humana. A sensibilidade estética, como todas as
qualidades humanas, é fruto da conquista da história da humanidade.

Padrões estéticos no mundo


O belo e a beleza têm sido objeto de estudo ao longo de toda a história da
filosofia. Com isso, é notável a mudança de conceitos estético com o passar
dos anos, seja por influência de pensadores ou pela cultura e mudança dos
hábitos da população.
Os corpos curvilíneos e generosos eram o padrão de beleza na pré-história.
Para as mulheres, era um facilitador para procriar; para os homens, significava
reserva energética até a próxima caça. Na Grécia Antiga, o padrão desejado
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era o atlético e musculoso, já que o lugar onde se estudava filosofia, artes e


música também era um local para a prática de exercícios. O culto ao corpo era
tanto, que os homens ficavam nus para realizar as atividades atléticas, como
está registrado nas esculturas em pedra.
Esse conceito estético segue vigente até o século V, já que, na Idade Média,
por influência da Igreja, o cuidado com a beleza era tido como um pecado.
Esse pensamento inclusive julgava os hábitos de higiene e qualquer outra
situação que buscasse a melhora da aparência. As pinturas retratavam as
figuras humanas sem embelezá-las, mais como uma forma de representação.
Em oposição a essa ideologia, surge no século XV uma frente de pesquisas em
diversas áreas, tendo o corpo humano com proporções geométricas. O Homem
Vitruviano, de Leonardo da Vinci (Figura 1), representa o ideal clássico do
equilíbrio, da beleza, da harmonia e da perfeição das proporções do corpo
humano. O desenho de Da Vinci também está filosoficamente ligado ao an-
tropocentrismo, transformando-se num símbolo desse conceito humanista.

Figura 1. Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci.


Fonte: Architecteur/Shutterstock.com.
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O Renascimento segue ligando a estética ao homem, retratando nas pinturas


os corpos curvilíneos, com cabelos longos e penteados, bem como a adoração
aos deuses, como na Antiguidade. Os corpos despidos voltam a aparecer,
como na estátua de Davi, de Michelangelo, e nas imagens da deusa Vênus
(Figura 2). A relação com o corpo proporcional e belo, como retratado, foi se
tornando uma obsessão e, a partir dos anos 1990, os exemplos dessa beleza
ideal são extremos.

Figura 2. Davi, de Michelangelo, e Vênus, de Sandro Botticelli.


Fonte: PeterVrabel/Shutterstock.com; Dias (2015).

O início do século XX mostra homens exageradamente musculosos, compe-


tindo por quem tem o corpo melhor, por meio dos concursos de fisiculturismo.
A figura humana desse período lembra muito o que já havia sido retratado na
Grécia Antiga, mas cada vez mais exagerada. As mulheres passam a mostrar
partes do corpo como forma de insinuação. Os longos cabelos são deixados
de lado, e o corte “à la garçonne” é amplamente adotado — um clássico das
mulheres europeias mais antenadas à moda.
Os anos vão passando, e a imagem da mulher adquire conotação sexual
(ainda que sutilmente). Nos anos 1940, Marilyn Monroe aparece com decotes e
saias esvoaçantes; já nos anos 1960, as curvas perdem força, e o corpo esguio,
andrógeno e magricelo é predominante. Com isso, a modelo Twiggy vira
referência de beleza. A definição de gênero é deixada em dúvida, tanto para
homens quanto para mulheres. Nos anos 1980, modelos com mais curvas, mas
ainda magras, roubam a cena. O corpo mais natural e sem exageros se opõe
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à década anterior. No entanto, essa ditadura durou pouco: nos anos 2000, a
exigência é que as modelos (e referências estéticas) sejam ainda mais magras.
Considerando toda essa história, como é possível denominar o que é belo?
O que se pode notar é que muitas variáveis estão envolvidas nesse processo,
sejam elas culturais, humanas ou históricas.

AZEVEDO JUNIOR, José Garcia de. Apostila de Arte – Artes Visuais. São Luís: Imagética
Comunicação e Design, 2007. 59 p.: il.
CAMARGO, D. de; BULGACOV, Y. L. Por uma perspectiva estética e expressiva no
cotidiano da escola. In: ZANELLA, A. V. et al. (Org.). Educação estética e constituição do
sujeito: reflexões em curso. Florianópolis: NUP/CED/UFC, 2007.
DIAS, L. Botticelli: o nascimento de Vênus. 2015. Disponível em: <http://virusdaarte.
net/sandro-botticelli-o-nascimento-de-venus/>. Acesso em: 2 maio 2018.

Leituras recomendadas
AYDOS, L. A. S. Pitoresco e sublime: duas estéticas, duas arquiteturas da Modernidade.
Porto Alegre: PROPAR/UFRGS, 2003.
BURKE, E. The sensation which accompanies de removal of pain or danger. In: BOUL-
TON, J. T. A critical enquiry into the origin of our ideas of the sublime and the beautiful.
London: Routledge & Kegan Paul, 1967.
CORNETET, B. C.; PIRES, D. G. M. (Org.). Arquitetura. Porto Alegre: SAGAH, 2016.
LIMA, F. A. de A. Estudos dos conceitos de ordem e relação, estética pitagórica e fórmula nas
tratadísticas de Lon Battista Alberti e Andrea Palladio. Porto Alegre: PROPAR/UFRGS, 2004.
SANDER, L.; ZANATTA, S. (Org.). Educação estética e constituição do sujeito: reflexões
em curso. Florianópolis: Núcleo de Publicações, 2007.

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