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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de História

Disciplina: História do Brasil II

Prof. José Augusto Valladares Pádua

Estudante: Maria Eduarda de Moraes Vieira Peixoto

DRE: 117042925

Resenha do Documento “Representação à Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do


Império do Brasil sobre a escravatura”

Em 1823, José Bonifácio - deputado da Assembléia Constituinte brasileira - formulara


uma Representação, na qual defendia a extinção da escravidão e a gradual emancipação dos
escravos africanos, assim como denunciava os efeitos do tráfico sobre a África e defendia a
mediação do Estado sobre as relações senhor - escravo. Esta não foi apresentada visto que a
Constituinte foi dissolvida no mesmo ano, portanto foi primeiramente publicada em 1825.

José Bonifácio inicia sua proposta com a apresentação de dois objetos importantes
para a prosperidade do futuro do Império: um regulamento que promova a civilização geral
para os índios no Brasil e uma lei que promova a emancipação dos escravos por meio da
abolição do tráfico para assim o Brasil afirmar a sua independência nacional. Ele enxerga
certa contradição e um impasse entre a elaboração de uma Constituição “liberal e duradoura”
e a existência da escravidão no território brasileiro. Denuncia não somente a condição dos
negros no Brasil, mas também à que são submetidos na própria África e na sua vinda ao
território.

Na página 91, Bonifácio faz um apelo emocional descrevendo a situação dos negros
transportados, procurando entender como estes se sentem frente à tamanha violência e falta de
humanidade em seu tratamento. Critica também as justificativas dos portugueses como um ato
de caridade, a mudança de clima e o conhecimento do Evangelho, deslegitimando cada uma
delas. Explicita ainda o seu desejo de formar uma nação homogênea, com o fim da
heterogeneidade “física e civil”.

A fim de fundamentar seus argumentos, oferece uma série de exemplos de territórios


nos quais não há escravidão africana e ainda assim a produção apresenta um crescimento,
como na Índia e na Conchinchina (atual Vietnã). Pode-se notar então que ele faz uso de
fatores não só sociais, como econômicos para desqualificá-la, por exemplo, ao dizer que a
escravidão é um obstáculo para o desenvolvimento de indústrias, visto que os senhores
“entregam-se à vadiação e desleixo” (p.94) e as máquinas são poupadas, além do lucro ser
pequeno nas lavouras.
Bonifácio cria, na página 95 do documento, um cenário hipotético no qual não há
tráfico de escravos africanos. Neste cenário os senhores de terras seriam mais ricos, bens
rurais seriam estáveis e haveria um aproveitamento de terras pelos pequenos proprietários,
conservando as “matas virgens”. Demonstra que a escravidão já é desnecessária e que os
negros africanos poderiam ter condições de constituir famílias livres com um “governo justo”.

Além de apresentar suas críticas sobre a escravidão e os fatores inerentes a ela, José
Bonifácio apresenta medidas a serem tomadas quanto à liberdade dos negros sem que os
prejudiquem de imediato: fazê-los homens livres e ativos, favorecer seus prazeres domésticos
e civis e instruí-los na religião católica.

Por fim, apresenta suas propostas em artigos para a nova lei, totalizando 32. Vários
deles consistiam em regulamentar as condições de trabalho escravo – incluindo o auxílio na
alimentação e vestimenta - e restringiam a exploração de menores e de mulheres. Entre eles o
artigo 11, no qual o senhor que se relacionar com uma escrava terá que dar liberdade à mãe e
aos filhos, assim como auxiliar na sua educação. Também o artigo 31 que consiste na criação
de um Conselho Superior Conservador dos escravos na capital de cada província a fim de
vigiar a execução da lei. Finaliza na página 104 com a seguinte frase: “Sem liberdade
individual não pode haver civilização nem sólida riqueza.”

BIBLIOGRAFIA

José Bonifácio de Andrada e Silva. “Representação à Assembléia Geral Constituinte e


Legislativa do Império do Brasil sobre a escravatura”. (1825)

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