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Direito Civil
Cristiano Sobral
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restituir, pode ser perda ou deterioração ou até o que significa desfazer o negócio. Veja que o dono
mesmo uma melhora no bem. (devedor do carro) sofreu a perda, pois ficou sem o
carro e sem o dinheiro.
Como é questão constantemente cobrada
na prova da OAB, apresento um macete para que c) Prestação de dar, deterioração do bem, com
você, caro leitor, conheça todos os casos previstos culpa do devedor (art. 236): Devedor de um carro
nos citados artigos. Basta conhecer uma regra por tê-lo vendido ao credor, mas antes da entrega o
básica, à qual somamos duas regras acessórias amassa ao bater por dirigir embriagado. O credor
lógicas: poderá escolher entre receber o equivalente mais
perdas e danos ou aceitar o bem no estado em que
REGRA BÁSICA: Se o devedor teve culpa se acha acrescido de perdas e danos, incluindo o
na perda do bem, a regra sempre será a mesma: abatimento do valor em razão da deterioração.
deverá pagar ao credor o equivalente acrescido de
perdas e danos. Se o devedor não teve culpa na d) Prestação de dar, deterioração do bem, sem
perda do bem, a regra será sempre a mesma: res culpa do devedor (art. 235): Devedor de um carro
perit domino (a coisa perece para o dono), será dele por tê-lo vendido ao credor, mas antes da entrega o
o prejuízo. E quem é o dono? Depende se a carro é amassado por bater em um poste ao ser
obrigação é de dar ou de restituir. Na obrigação de levado pela correnteza da inundação provocada por
dar, antes da entrega o dono é o devedor, pois a violenta tempestade. Consequência: credor poderá
aquisição da propriedade só se dá com a entrega optar em resolver a obrigação (desfazer o negócio)
do bem. Na obrigação de restituir, o dono é o ou aceitar o carro amassado, abatendo do seu
credor, pois ele sempre foi o dono, uma vez só ter preço o valor perdido pela deterioração. Note que é
emprestado para o devedor. o dono (devedor do carro) que sofre a perda, pois
ficou sem dinheiro e com o carro amassado ou sem
REGRA ACESSÓRIA 1: Se ao invés de o carro pagando pela deterioração.
perda, houver apenas deterioração do bem, a
solução é a mesma, mas com uma diferença: ele e) Prestação de dar, melhora do bem (art. 237):
poderá optar entre a solução da perda Devedor de uma fazenda por tê-la vendido ao
supramencionada ou receber o bem deteriorado, credor, mas antes da entrega o bem se valoriza em
abatendo-se o valor da deterioração. razão do acréscimo de terra trazido pela correnteza
das águas (fenômeno chamado de avulsão). O
REGRA ACESSÓRIA 2: Se a coisa perece vendedor poderá pedir aumento de preço, pois é o
para o dono, a coisa também melhora para o dono, dono e ele se beneficia com a vantagem. Se o
ou seja, se, ao invés da perda ou deterioração, comprador não aceitar pagar o acréscimo, poderá o
houver uma melhora no bem antes da entrega, vendedor resolver a obrigação, ou seja, desfazer a
quem dela se beneficiará será o dono. venda. E se, ao invés de melhoramento ou
acrescido, o bem deu frutos? Os frutos percebidos
Vamos analisar, com base no macete ou colhidos antes da tradição são do devedor, pois
apresentado, as regras dos arts. 234 a 242 do CC. ele ainda é dono do bem, mas se pendente quando
Qual a consequência da perda, deterioração ou da tradição, será do credor, pois o bem acessório
melhora do bem antes da tradição, no caso da segue a sorte do bem principal. Assim, se o devedor
prestação de dar e no caso da prestação de vende uma cadela para entregar tempo depois e
restituir? antes da entrega fica prenha, se na época da
entrega o filhote já nasceu será do vendedor, mas
a) Prestação de dar, perda do bem, com culpa se estiver na barriga da cadela na época da
do devedor (art. 234): Devedor de um carro por tê- entrega, será do comprador.
lo vendido ao credor, mas antes da entrega o
destrói porque provoca um acidente com perda total f) Prestação de restituir, perda do bem, com
do carro por dirigir embriagado. Será devedor no culpa do devedor (art. 239): Devedor de um carro
equivalente (devolve o valor recebido ou não o por tê-lo recebido emprestado do credor, mas antes
recebe) acrescido de perdas e danos. da entrega o destrói porque provoca um acidente de
perda total do carro por dirigir embriagado. Será
b) Prestação de dar, perda do bem, sem culpa devedor no equivalente (indeniza o valor do carro)
do devedor (art. 234): Devedor de um carro por tê- acrescido de perdas e danos.
lo vendido ao credor, mas antes da entrega o carro
cai em uma ribanceira por ser levado pela g) Prestação de restituir, perda do bem, sem
correnteza da inundação provocada por violenta culpa do devedor (art. 238): Devedor de um carro
tempestade. Consequência: resolve-se a obrigação, por tê-lo em empréstimo do credor, mas antes da
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entrega o carro cai em ribanceira levado pela No entanto, se antes da escolha o bem se perder ou
correnteza da inundação provocada por se deteriorar, mesmo que por caso fortuito ou
tempestade. O dono é o credor e ele sofre a perda, motivo de força maior, o devedor não se exime de
ou seja, o devedor não terá que indenizá-lo da cumprir a prestação, pois o gênero não perece,
perda do carro. podendo o bem ser substituído por outro da mesma
espécie para ser entregue ao credor.
h) Prestação de restituir, deterioração do bem,
com culpa do devedor (art. 240): Devedor de um 2.2. Obrigação de fazer
carro por tê-lo recebido emprestado do credor, mas
antes da entrega o amassa ao bater por dirigir A obrigação de fazer é aquela em que a
embriagado. O credor poderá escolher entre prestação do devedor consiste na realização de
receber o equivalente mais perdas e danos ou uma atividade, como na contratação da prestação
aceitar o bem no estado em que se acha acrescido de um serviço. A obrigação de fazer pode ser de
de perdas e danos, incluindo o abatimento do valor dois tipos: personalíssima (infungível) ou não
em razão da deterioração. personalíssima (fungível). Será personalíssima
quando só o devedor puder cumprir a prestação,
i) Prestação de restituir, deterioração do bem, como na contratação de um pintor famoso para
sem culpa do devedor (art. 240): Devedor de um pintura do retrato do credor em um quadro. Será
carro por tê-lo recebido emprestado do credor, mas não personalíssima quando não só o devedor, mas
antes da entrega o carro é amassado por bater em outra pessoa também puder cumprir a prestação,
um poste ao ser levado pela correnteza da como a contratação de um pintor para pintura das
inundação provocada por violenta tempestade. O paredes de uma casa.
dono é o credor, que sofrerá a perda, pois a lei diz
que ele receberá o bem deteriorado sem direito de Por que diferenciar? Se for obrigação
indenização. personalíssima e o devedor se recusa a cumpri-la
ou por sua culpa se tornou impossível, responde por
j) Prestação de restituir, melhora do bem (art. perdas e danos. Se for obrigação não
241 e 242): Devedor de uma fazenda por tê-la personalíssima, poderá o credor optar em reclamar
recebida emprestada do credor, mas antes da indenização por perdas e danos ou mandar
entrega o bem se valoriza em razão do acréscimo executar às custas do devedor. Como isso é feito?
de terra trazido pela correnteza das águas Ajuizamento de ação com orçamento do serviço,
(fenômeno chamado de avulsão). Por evidente, será pedindo condenação do devedor do fazer a pagar.
do credor o ganho, pois ele é o dono do bem, Todavia, se for urgente, poderá o credor mandar
recebendo-o de volta valorizado, desobrigado de executar o fato independente de prévia autorização
indenizar. Se para o melhoramento ou acréscimo judicial, buscando em juízo depois o ressarcimento
houve trabalho do devedor, é benfeitoria, razão pela do que foi gasto.
qual o art. 242 do CC determina aplicar as regras do
direito de indenização que o possuidor de boa-fé e As obrigações de fazer podem ser
de má-fé tem em razão das benfeitorias que faz no classificadas em obrigação de meio e de resultado
bem (sobre isso, ver o capítulo próprio na parte de ou de fim. Nas obrigações de resultado, o devedor
direitos reais neste livro, quando da abordagem dos se vincula a atingir determinado resultado, sob pena
efeitos da posse). de inadimplemento e, consequentemente, dever de
indenizar perdas e danos. Já na obrigação de meio,
2.1.2. Obrigação de dar coisa incerta o devedor não se vincula a atingir determinado
resultado, mas sim a corresponder no meio para
É a obrigação de dar um gênero em certa atingi-lo, ou seja, a empregar a diligência na busca
quantidade, como na venda de três cavalos de uma do resultado. Não responde se o resultado não for
fazenda. Em dado momento, os bens a serem atingido, apenas se não empregou a diligência
entregues deverão ser escolhidos, o que chamamos necessária. Um advogado ou um médico tem
de concentração da prestação. A quem cabe a obrigação de meio, enquanto que, segundo a
escolha? A quem definido no contrato. Se nada for jurisprudência do STJ, o cirurgião plástico, embora
dito, a escolha caberá ao devedor, que não poderá seja um médico, tem obrigação de resultado,
escolher o pior nem ser obrigado a escolher o quando se tratar de intervenção meramente estética
melhor. ou embelezadora.
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Imagine dois amigos devendo vinte mil reais Todavia, em dois casos, os herdeiros
a um credor. Em tese, cada um deve dez mil reais, poderão cobrar a dívida toda: se a obrigação for
mas, se for obrigação solidária, o credor pode indivisível (exemplo: o devedor deve um cavalo aos
cobrar toda a dívida de qualquer deles (quem paga três credores solidários) ou, segundo jurisprudência
se sub-roga nos direitos do credor perante os do STJ, se os herdeiros cobrarem juntos através do
demais devedores). Por outro lado, se um devedor espólio, pois no direito das sucessões aprendemos
deve vinte mil reais a dois amigos, em tese, deve que o espólio se sub-roga nos direitos do de cujos.
dez mil reais para cada um deles, mas, se for
obrigação solidária, qualquer dos credores pode Nos termos do art. 271 do CC, convertendo-
cobrar toda a dívida (quem recebe se torna devedor se a prestação em perdas e danos, nelas
perante os demais credores). subsistem a solidariedade. Imagine um devedor de
um carro a três credores solidários, mas o destrói
Portanto, haverá solidariedade quando ao dirigir embriagado. Trata-se de obrigação de dar
houver mais de um devedor ou mais de um credor coisa certa com perda do bem por culpa do
obrigados ou com direito à totalidade da dívida. A devedor. Conforme visto, torna-se devedor no
solidariedade não se presume, resultando apenas equivalente acrescido em perdas e danos, no que
da lei ou da vontade das partes. A solidariedade permanecerá havendo a solidariedade.
pode ser ativa ou passiva, a depender se a
pluralidade está no pólo ativo ou passivo da 2.6.2. Solidariedade passiva
obrigação.
É a obrigação em que há mais de um
2.6.1. Solidariedade ativa devedor, cada um deles obrigados a toda a dívida.
Significa que o credor tem direito de exigir de
É a obrigação em que há mais de um qualquer deles o valor total da dívida, mas quem
credor, cada um deles com direito a toda a dívida. pagar se tornará credor dos demais devedores nas
No vencimento, qualquer credor pode se antecipar e suas respectivas partes (internamente não há
cobrar toda a dívida ou, enquanto nenhum deles a solidariedade). Se o credor optar cobrar apenas
cobrar, o devedor se libera pagando a qualquer parcialmente de um dos devedores solidários, os
deles. Quem receber, responde perante os demais demais continuam obrigados solidariamente pelo
credores, tornando-se devedor nas partes que lhes resto.
cabe.
Se um dos devedores solidários falecer, a
O mesmo ocorre se um dos credores remitir solidariedade é transferida aos seus herdeiros?
(perdoar) a dívida. Devedor deve trinta mil reais a Não, pois, como visto, a solidariedade é
três credores solidários e um deles perdoa toda a personalíssima. Significa que os herdeiros só
dívida. Este se tornará devedor de dez mil reais a podem ser cobrados na quota que corresponde ao
cada um dos demais credores, como se ele tivesse seu quinhão hereditário. Todavia, há duas
se antecipado e cobrado o devedor (art. 272 do exceções: se a obrigação for indivisível (ex:
CC). Cuidado: é diferente quando credor solidário devedores solidários devem um cavalo) ou se os
perdoa sua parte. Nesse caso, subsiste a herdeiros forem cobrados juntos através do espólio,
solidariedade para os demais credores depois de pois o direito das sucessões preceitua que o espólio
sua parte ser descontada. No exemplo citado, o se sub-roga nos deveres do de cujos.
devedor continua a dever vinte mil reais a dois
credores solidários. Atenção: a lei dá tratamento diferente
quanto à manutenção da solidariedade no que se
A solidariedade é personalíssima, ou seja, refere ao pagamento de perdas e danos e de juros
se um dos credores falecer e deixar herdeiros, que podem ser irradiados da obrigação, pois nas
estes não se tornarão credores solidários. Significa perdas e danos não subsiste a solidariedade. Mas
que cada um de seus herdeiros só poderá exigir e nos juros, sim.
receber a quota que corresponder ao seu quinhão
hereditário. Imagine um devedor devendo trinta mil Se devedores solidários têm obrigação de
reais a três credores solidários, sendo que um deles dar um carro e, por culpa de um deles, este é
morre deixando dois filhos. Os filhos não poderão destruído, a obrigação se converte no pagamento
cobrar os trinta mil, pois não se tornam credores do valor equivalente acrescido de perdas e danos.
solidários. Cada um só poderá cobrar a parte que No valor equivalente, todos continuam devedores
lhe cabe na herança, ou seja, cada um só pode solidários, mas pelas perdas e danos só responde o
cobrar cinco mil reais. culpado (art. 279 do CC). Todavia, se um dos
devedores solidários dá causa a acréscimo de juros
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ao valor devido, todos respondem solidariamente cobrar do cedente, que indevidamente recebeu o
pelo valor dos juros, pois o pagamento de juros é pagamento.
uma obrigação acessória e o acessório segue a
sorte do principal (art. 280 do CC). Em regra, o cedente não responde pela
solvência do devedor, ou seja, caso o cessionário
Importante (art. 285 do CC): Conforme não consiga receber o crédito em razão da
vimos, o devedor solidário que paga a dívida pode insolvência do devedor, não poderá cobrar a dívida
cobrar dos demais devedores a parte que lhes cabe do cedente. No entanto, ele responderá se vier
(se nada for dito, presume-se dividida em partes expresso no contrato. Quando o cedente não
iguais). Todavia, se a dívida solidária interessar responde pela solvência do devedor, a cessão é
exclusivamente a um dos devedores solidários, chamada de cessão de crédito pro soluto; quando o
responderá este por toda a dívida quando da ação cedente responde pela solvência do devedor, é
regressiva aos demais credores. O exemplo típico é chamada de cessão de crédito pro solvendo.
o contrato de fiança. Quando há renúncia ao
benefício de ordem, devedor principal e fiador são Embora o cedente, em regra, não responda
devedores solidários. Se o fiador for cobrado, pela solvência do devedor, ele responde pela
poderá cobrar em regresso do devedor principal não existência do crédito, ou seja, se ceder um crédito
só a metade da dívida, mas sim sua totalidade, pois que não existe, aí sim poderá ser cobrado pelo
é uma dívida contraída no seu exclusivo interesse. cessionário. O cedente responderá pela existência
Da mesma forma, sendo caso de mais de um fiador do crédito tendo o cedido gratuita ou onerosamente.
e um deles sendo cobrado pela dívida, só terá ação Se ceder de forma onerosa, responderá tendo agido
regressiva contra o devedor principal na totalidade de má-fé ou até mesmo de boa-fé, pois recebeu
da dívida, não tendo ação contra os demais co- pela cessão, devolvendo o valor auferido. No
fiadores. entanto, na cessão gratuita, como nada recebeu em
troca, só responderá se tiver procedido de má-fé, ou
3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES seja, se sabia da inexistência do credito que cedeu.
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concordar, mas deve ser notificado da cessão de No direito comparado, há dois tipos de
crédito para saber que o credor mudou. Vimos que obrigação: quérable ou portable. A obrigação
se não for notificado e de boa-fé pagar ao cedente, quérable (chamada no Brasil de quesível) é aquela
ele está exonerado e a razão é simples: pagou a que deve ser cumprida no domicílio do devedor e
credor putativo. obrigação portable (chamada no Brasil de portável)
é aquela que deve ser cumprida no domicílio do
No que se refere ao objeto do pagamento, credor. No Brasil, conforme previsão do art. 327 do
este será o cumprimento da prestação. O credor CC, em regra as obrigações devem ser cumpridas
não é obrigado a aceitar prestação diversa da que no domicílio do devedor, ou seja, são quesíveis ou
lhe é devida, ainda que mais valiosa, afirma o art. quérable. Poderá ser portável ou até em outro local
313 do CC. Ainda que a obrigação seja divisível, a depender da vontade das partes, da lei, da
como dever dinheiro, não pode o credor ser natureza da obrigação ou das circunstâncias. Como
obrigado a receber nem o devedor ser obrigado a exemplo, o art. 328 do CC determina que se o
pagar por partes, se assim não se ajustou. pagamento consistir na entrega de um imóvel ou de
prestações relativas a ele deverá ser cumprido onde
Quem paga tem direito de receber uma situado o bem.
prova de que pagou. É o que chamamos de
quitação. O instrumento da quitação é o recibo, que 4.2. Pagamento em consignação
sempre pode ser por instrumento particular. Se o
credor se recusar a dar quitação, o devedor pode Consignação de pagamento significa o
legitimamente reter o pagamento enquanto não lhe depósito judicial ou em estabelecimento bancário
for dada. da coisa devida, o que a lei equipara a pagamento,
extinguindo a obrigação. O devedor tem não só o
Assim sendo, em regra, quem prova o dever de pagar, mas também o direito de fazê-lo
pagamento é o devedor, apresentando o recibo para evitar as consequências de sua mora. A
recebido como instrumento da quitação. No entanto, consignação em pagamento é, portanto, um valioso
em três casos haverá presunção de pagamento, instrumento para o devedor não suportar os
dispensando o devedor de provar que pagou. encargos moratórios.
Ocorre que é uma presunção relativa, ou seja,
aquela que admite prova em contrário. Desta forma, Poderá o devedor consignar pagamento
sendo um dos casos de presunção de pagamento, basicamente quando houver mora do credor ou
não se fixa uma verdade absoluta de que existiu algum risco para o devedor na realização do
pagamento, mas sim uma inversão do ônus da pagamento direto. Nesse sentido, o art. 335 do CC
prova, pois o devedor não precisa provar que arrola casos de cabimento da consignação em
pagou, mas o credor pode provar que o devedor pagamento: se o credor se recusar sem justa causa
não pagou. a receber o pagamento ou não puder recebê-lo, se
o devedor tiver dúvida sobre quem é o verdadeiro
São os três casos de presunção de pagamento: credor ou se o credor for desconhecido, entre
outros.
a) Art. 322 do CC: quando o pagamento for em
quotas periódicas, a quitação da última estabelece, Feito o depósito, a princípio, suspende a
até em prova em contrário, a presunção de estarem incidência dos encargos moratórios, mas o devedor
solvidas as anteriores; deverá propor ação judicial para discussão da
matéria, podendo o credor impugnar o pagamento,
b) Art. 323 do CC: sendo a quitação do capital sem pois só exonera o devedor se observados os
fazer reserva que os juros não foram pagos, estes mesmos requisitos exigidos para validade do
se presumem pagos; e pagamento. Se julgado improcedente, o depósito
não terá efeito. O processo tem procedimento
c) Art. 324 do CC: a entrega do título firma especial previsto no CPC.
presunção do pagamento, presunção que pode ser
elidida no prazo de sessenta dias. 4.3. Pagamento com sub-rogação
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é: A deve a B e um terceiro C paga essa dívida e difere da obrigação anterior pela substituição do
agora A deve a C, pois este se sub-rogou nos credor (novação subjetiva ativa) ou do devedor
direitos de B. (novação subjetiva passiva).
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seguinte ordem: (i) primeiro se pagam os juros requisitos, ainda sim poderá haver compensação,
vencidos e só depois o capital; (ii) pagamento mas será convencional, por depender da vontade
imputado às dívidas vencidas há mais tempo; (iii) se das partes. Nada impede, portanto, haver
todas vencidas no mesmo tempo, a imputação será compensação de uma dívida vencida com outra a
na mais onerosa (maiores juros ou multas); (iv) se termo, com bens infungíveis ou de natureza
todas no mesmo tempo e mesmos ônus, a lei não diferente (dinheiro por saca de café), mas será
dá solução, mas jurisprudência diz ser de forma compensação convencional, onde o que importa é a
proporcional em cada uma das obrigações. vontade das partes.
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reais. Da mesma forma, imagine que um devedor pagamento, sendo o pagamento em consignação a
deve trinta mil reais a três credores solidários, solução para o devedor se livrar dos encargos da
sendo um deles o pai do devedor (solidariedade mora.
ativa). Com a morte do pai ou do filho ou se o pai
perdoar só a dívida do filho, os outros dois credores Segundo art. 395 do CC, configurada a
serão solidários em vinte mil reais. mora, o devedor pode purgá-la, cumprindo a
prestação acrescida dos encargos moratórios.
5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES Todavia, se a prestação tornar-se inútil ao credor,
este poderá enjeitá-la e pedir perdas e danos. A
5.1. Diferença entre inadimplemento e mora razão é simples: se inútil ao credor, deixou de ser
mora e se transformou em inadimplemento
Quando o devedor não cumpre a prestação, absoluto.
estamos diante do inadimplemento, que pode ser
de dois os tipos: absoluto ou relativo. O Como exemplo, imagine uma costureira que
inadimplemento é absoluto quando a prestação não deixa de entregar o vestido de noiva no prazo
é cumprida e não é mais útil ao credor que o estipulado. É caso de mora ou inadimplemento?
devedor a cumpra - por exemplo, contratação de Depende. Se ainda não houve a cerimônia, em
cantor para cantar em um casamento que não razão de a data marcada lhe ser bastante anterior, o
comparece à cerimônia. O inadimplemento é caso é de mora; se já houve a cerimônia, em razão
relativo quando a prestação não é cumprida, mas da data marcada ter sido na véspera do casamento,
ainda é útil ao credor que o devedor a cumpra, por o caso é de inadimplemento, caso em que o credor
exemplo, não pagamento de uma dívida em poderá rejeitar a coisa e pedir perdas e danos, pois
dinheiro no dia do vencimento. O inadimplemento ao se tornar inútil a ela, a mora se transformou em
absoluto é chamado simplesmente de inadimplemento absoluto.
inadimplemento e o inadimplemento relativo é
chamado de mora. Completa a ideia de mora o art. 396 do CC,
que preceitua não incorrer em mora o devedor
Note que a diferença entre inadimplemento quando não haja fato ou omissão imposta a ele.
e mora reside no critério de utilidade para o credor. Significa que a mora é o não cumprimento culposo
Em ambos os casos, a prestação não é cumprida, da obrigação. Se não há culpa, não há mora. Se
sendo inadimplemento se a prestação não é mais uma conta do devedor só pode ser paga no banco e
útil ao credor e mora se a prestação ainda é útil ao o vencimento cai em um domingo, ao se pagar no
credor. dia seguinte, não há de se falar em mora, tanto que
se paga sem encargos moratórios.
Por que diferenciar mora e inadimplemento?
Se o caso é de inadimplemento, como a prestação O art. 397 do CC nos faz perceber haver
não é mais útil ao credor, a única solução é o dois tipos de mora: ex re e ex persona. A mora ex
pagamento de indenização por perdas e danos (ar. re é automática, ou seja, é aquela que independe
389 do CC). Por outro lado, se o caso é de mora, de ato do credor para o devedor ser constituído em
cabe o que chamamos de purgação ou emenda da mora (interpelação judicial ou extrajudicial,
mora. O que é isso? É cumprir a obrigação, porque notificação, protesto ou citação do devedor). Por
ainda útil para o credor, acrescido dos encargos sua vez, a mora ex persona é aquela que precisa de
moratórios. Purga-se a mora pagando-se com um dos citados atos do credor para o devedor ser
retardo, acrescido de: correção monetária, juros de constituído em mora. Quando a mora é ex re e
mora, perdas e danos decorrentes da mora e quando é ex persona?
eventual honorários de advogado (art. 395 do CC).
Há dois tipos de obrigações: com dia certo
5.2. Mora de vencimento e sem dia certo de vencimento.
Quando a obrigação tem um dia certo de
O art. 394 do CC diz que se considera em vencimento, o devedor não precisa ser constituído
mora o devedor que não efetuar o pagamento e o em mora por ato do credor, pois o simples não
credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e pagamento no vencimento o constitui em mora (dies
forma que a lei ou a convenção estabelecer. Note interpellat pro homine, ou seja, o próprio dia
haver mora não apenas quando não se paga no interpela o devedor). Por outro lado, quando a
tempo devido, mas também se não se paga no obrigação não tem dia certo de vencimento, o
lugar e na forma devida. Note ainda não haver mora devedor só estará em mora se for constituído por
só do devedor, mas também do credor, que ocorre ato do credor. Assim, quando a obrigação é com dia
quando este não quiser injustificadamente receber o certo de vencimento, a mora é ex re e quando a
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obrigação é sem dia certo de vencimento, a mora é 5.3. Responsabilidade Civil Contratual
ex persona.
Responsabilidade civil é o dever de
O art. 398 do CC demonstra que a mora é indenizar um prejuízo causado. Há dois tipos de
ex re quando a obrigação não cumprida decorre de responsabilidade civil: contratual e extracontratual.
ato ilícito. Com efeito, ato ilícito civil é causar dano a A responsabilidade civil contratual é aquela em que
alguém, gerando ao causador o dever de indenizá- há um contrato entre as partes, ou seja, um
lo. Poderíamos pensar ser caso de mora ex contratante não cumpre o contrato, causando
persona, pois o devedor deve ser constituído em prejuízo ao outro contratante, gerando dever de
mora por um ato do credor, propondo ação judicial indenização. A responsabilidade civil
(citação válida constitui o devedor em mora). No extracontratual, também chamada de aquiliana, é
entanto, tal entendimento é equivocado, pois a lei aquela em que não existe um contrato entre quem
diz que essa mora é automática, independendo de causa e quem sofre o dano, como no caso de
qualquer ato do credor. O art. neste momento em alguém bater no carro de outrem, tendo que
análise diz que nas obrigações provenientes de ato indenizá-lo. Responsabilidade civil extracontratual é
ilícito, considera-se o devedor em mora desde que o tema do capítulo responsabilidade civil.
praticou (a responsabilidade de reparar o dano Responsabilidade civil contratual é estudada aqui
fixada na sentença judicial retroage à data do ato em obrigações, pois ocorre diante de mora e
para aplicar os efeitos da mora). inadimplemento.
Os arts. 399 e 400 do CC trazem dois O contratante que não cumpre o contrato
efeitos da mora, um para mora do devedor e outro será civilmente responsabilizado, mas apenas se
para a mora do credor: isso gerar um dano ao outro contratante, pois
responsabilidade civil é o dever de indenizar um
a) Efeito da mora do devedor (art. 399 do CC): O dano causado. Conforme o art. 402 do CC, o
devedor em mora responde pela impossibilidade da inadimplente deverá indenizar não só o dano
prestação, ainda que esta se dê por caso fortuito ou emergente, mas também os lucros cessantes, que
força maior. Se a prestação do devedor se torna são os dois tipos de dano material. Dano
impossível sem culpa do devedor, simplesmente se emergente: prejuízo efetivamente experimentado;
resolve a obrigação sem qualquer ônus a lhe ser lucro cessante: o que se legitimamente se deixou de
imposto. Todavia, se a impossibilidade ocorrer ganhar. A eles se acrescenta dano moral.
durante seu atraso, o devedor ficará obrigado a
indenizar o credor pela impossibilidade da Diante de inadimplemento, seja absoluto ou
prestação, mesmo que esta tenha se dado por caso relativo, quem não cumpre o contrato causando
fortuito ou por força maior. Apenas em dois casos, dano ao outro contratante deverá indenizá-lo. A
estará desobrigado de indenização: quando provar questão é: a responsabilidade civil contratual é
isenção de culpa no seu atraso (evidente, pois subjetiva (depende de culpa) ou objetiva (independe
nesse caso não há mora, pois a mora é o não de culpa)?
cumprimento culposo da obrigação) e se provar que
o dano ocorreria mesmo se a prestação tivesse sido A responsabilidade civil contratual é
cumprida no tempo, lugar ou forma devida, ou seja, subjetiva, pois só há mora se o não cumprimento
mesmo se não houvesse mora. da prestação for culposo. Significa que não há mora
e, portanto, não há responsabilidade civil contratual,
b) Efeito da mora do credor (art. 400 do CC): A se não houver culpa do contratante em não cumprir
mora do credor, ou seja, se o credor se recusar a prestação. O mesmo ocorre com o
injustificadamente a receber o pagamento, gera três inadimplemento absoluto, que pode ser culposo
efeitos: (i) retira do devedor isento de dolo a (com culpa do devedor) ou fortuito (sem culpa do
responsabilidade pela conservação da coisa (só devedor), mas, em regra, só haverá obrigação de
indeniza perda ou deterioração do bem se teve indenizar se o devedor teve culpa no
dolo, não respondendo se teve culpa stricto sensu, inadimplemento. Se um cantor é contratado para
ou seja, imprudência, negligência ou imperícia); (ii) cantar no casamento e propositalmente não
obriga o credor a ressarcir o devedor das despesas aparece na cerimônia, será responsabilizado em
que teve para conservar o bem; e (iii) sujeita o perdas e danos, mas se não cumpriu o contrato
credor a receber o bem pela estimação mais porque foi sequestrado na véspera, não há de se
favorável ao devedor se o seu valor oscilar entre o falar em dever indenizatório.
dia estabelecido para o pagamento e o da sua
efetivação. Importante: O art. 393 do CC dispõe que “o
devedor não responde pelos prejuízos resultantes
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atrasar o pagamento do aluguel por não pagar no seguinte. Sendo cláusula penal moratória,
dia do vencimento, será uma cláusula penal sobrevindo mora, o credor pode exigir o
moratória, pois o pagamento da multa é para o cumprimento da prestação acrescido da multa, pois,
retardamento no cumprimento da prestação. se não pagou a dívida no dia, o credor a cobrará
acrescido da multa com os demais encargos
Note que há dois tipos de cláusula penal, moratórios.
cada uma com uma finalidade específica. A
cláusula penal compensatória tem a função de Para fechar o tema, é preciso saber que o
compensar o contratante por não ter o outro juiz pode reduzir o valor da cláusula penal
contratante cumprido sua prestação. Já a cláusula compensatória em dois casos previsto no art. 413
penal moratória tem a função de intimidar, pois o do CC:
contratante pagará uma multa se retardar o
cumprimento da prestação. a) Se o valor é manifestamente excessivo: O art.
412 do CC estipula um valor máximo da cláusula
O art. 408 do CC demonstra que a cláusula penal compensatória ao afirmar que ela não pode
penal é uma prefixação de perdas e danos e que a exceder o valor da obrigação principal. No entanto,
responsabilidade civil contratual é subjetiva, pois diz mesmo dentro desse limite, o juiz poderá reduzi-la a
que incorre de pleno direito na cláusula penal o pedido da parte se manifestamente excessivo
devedor que culposamente deixe de cumprir a segundo as circunstâncias do caso.
obrigação ou que se constitua em mora. Significa
que, em caso de inadimplemento, o outro b) Se a prestação tiver sido cumprida em parte:
contratante pode executar a multa, independente de a função da cláusula penal compensatória é
provar a extensão do dano em ação de compensar o contratante pelo fato do outro não ter
conhecimento. E a lei vai mais longe ainda com o cumprido a prestação. Assim, se este cumpre parte
art. 416 do CC, prevendo que sequer é necessário da prestação, a compensação deve ser apenas da
provar que houve dano, se este foi prefixado no parte não cumprida. Exemplo: se o contrato de
contrato. locação diz que o locatário deve pagar multa de três
meses de aluguel se devolver as chaves antes do
Uma questão pode ser levantada: se o fim do contrato, caso ele devolva tendo cumprido
prejuízo do contratante for maior do que o valor da metade do contrato, não deverá arcar com toda a
multa, poderá ele cobrar a diferença? A princípio multa, mas apenas metade dela.
não, pois o parágrafo único do art. 416 do CC diz
que só poderá cobrar eventual valor a mais, se esta 5.5. Arras
possibilidade estiver expressa no contrato. Se assim
for, o valor da multa já é objeto de execução e o Arras significam sinal, ou seja, é aquilo que
valor a mais deverá ser provado em ação de é entregue por um dos contratantes ao outro como
conhecimento para seguir a execução por título princípio de pagamento quando da celebração do
executivo judicial. Se não houver permissivo contrato para confirmação do acordo. A vantagem
contratual, limita-se a executar a multa. do adiantamento de um sinal é confirmar o negócio,
pois se houver desistência, aquele que desistiu
Há importante diferença na cobrança da perderá o valor das arras para compensar os
cláusula penal a depender se compensatória ou se prejuízos. Se quem deu o sinal desistir, não poderá
moratória (arts. 410 e 411 do CC): no cobrá-lo de volta; se quem o recebeu desistir,
inadimplemento o credor cobra cláusula penal devolverá o valor em dobro (como recebeu arras, a
compensatória ou o cumprimento da prestação perda efetiva será no valor das arras)
enquanto que na mora o credor cobra cumprimento
da prestação e cláusula penal moratória. São dois os tipos de arras: confirmatória e
penitenciais. A diferença decorre se no contrato
No caso da cláusula penal compensatória, existe ou não cláusula de arrependimento.
havendo inadimplemento, esta se converterá em
alternativa a benefício do credor, ou seja, este a) Arras confirmatórias: As arras serão
poderá escolher entre cobrar do contratante confirmatórias quando não houver previsão no
inadimplente a multa ou o cumprimento da contrato de direito de arrependimento. É o normal,
prestação. No exemplo do cantor contratado para pois as partes celebram um contrato não esperando
cantar no casamento, diante do não que a outra parte desista. Assim, estipulam um valor
comparecimento à cerimônia, o contratante poderá de sinal a ser pago imediatamente para confirmar o
cobrar a multa ou pedir para cantar depois, por negócio. Se quem deu arras desistir, perderá o sinal
exemplo, no aniversário dele que será na semana
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dado, mas se quem desistir foi quem recebeu o humana em que se escolhem os efeitos que dele
sinal, devolverá o dobro do valor. serão produzidos, mas não é um contrato, pois é
um negócio jurídico unilateral.
b) Arras penitenciais: As arras serão penitenciais
quando houver previsão no contrato de direito de 2. CLASSIFICAÇÕES DOS CONTRATOS
arrependimento. Qualquer das partes terá direito de
se arrepender, mas tem um preço para isso, ou 2.1. Contrato unilateral, bilateral e plurilateral
seja, o valor das arras. Se quem desiste deu arras,
perderá o sinal dado, mas se quem desistir foi quem Não se fala aqui no número de vontades
recebeu o sinal, devolverá o dobro do valor. envolvidas, pois vimos que não existe contrato com
uma vontade apenas. Fala-se aqui em número de
Ora, tanto nas arras confirmatórias como prestações.
penitenciais, a consequência é a mesma: se quem
desiste deu arras, perderá o sinal dado, mas se a) Contrato unilateral: é aquele em que há
quem desiste foi quem recebeu o sinal, devolverá o prestação apenas para uma das partes. Doação é
dobro do valor. Então, pergunto: para que contrato, pois há duas vontades, em razão da
diferenciar uma da outra? necessidade do donatário aceitá-la. Todavia, é
contrato unilateral, pois só tem prestação para o
Para o caso do prejuízo com a desistência doador (entregar o bem).
ser maior que o valor fixado a título de arras. Se
forem arras confirmatórias, não há previsão de b) Contrato bilateral: é aquele que, além de duas
direito de arrependimento e posso cobrar o prejuízo vontades, tem prestação para ambas as partes, por
que a desistência me acarretar. Como já me exemplo, contrato de compra e venda, pois o
beneficiei do valor das arras, cobro apenas o vendedor tem a prestação de entregar o bem e o
prejuízo que tive a mais. No entanto, se forem arras comprador tem a prestação de dar o preço.
penitenciais, há no contrato previsão de direito de
arrependimento, sendo fixado um preço para isso, c) Contrato plurilateral: é aquele em que há pelo
ou seja, o valor de arras, não podendo o menos três vontades envolvidas. Exemplo: contrato
prejudicado cobrar eventual valor a mais que tenha de sociedade, em que são partes os sócios e a
tido de prejuízo com a desistência do outro própria sociedade, como parte credora das
contratante. prestações dos sócios (contribuição para o capital
social).
Diferença: nas arras confirmatórias
(quando não há direito de arrependimento), o 2.2. Contrato oneroso e gratuito
contratante pode cobrar indenização suplementar,
enquanto que não poderá fazê-lo nas arras a) Contrato oneroso: é aquele em que as partes
penitenciais (quando há direito de arrependimento), ganham algo equivalente à sua prestação, ou seja,
pois se fixou um preço para isso. há equilíbrio econômico entre as partes porque
ambos perdem e ganham na mesma proporção
econômica, por exemplo, contrato de compra e
DIREITO DOS CONTRATOS venda.
I. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS b) Contrato gratuito: é aquele em que a parte não
ganha algo equivalente à sua prestação, ou seja, há
desequilíbrio econômico, pois uma das partes só
1. CONCEITO ganha e uma das partes só perde, por exemplo,
contrato de doação.
Contrato é o negócio jurídico bilateral
formado pela convergência de duas ou mais 2.3. Contrato comutativo e aleatório
vontades, que cria, modifica ou extingue relações
jurídicas de natureza patrimonial. a) Contrato comutativo: é aquele em que as
partes podem antever os seus efeitos, ou seja, ao
É um negócio jurídico, pois é uma atuação celebrar o contrato, já sabem os efeitos que serão
humana em que as partes escolhem os efeitos que produzidos. Exemplo: contrato de compra e venda,
serão produzidos ao praticarem o ato. É bilateral, pois já se sabe que um entrega o bem e que outro
pois é formado pelo acordo de vontades, ou seja, entrega o preço.
são necessárias pelo menos duas vontades. O
testamento é um negócio jurídico, pois é atuação
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Os arts. 458 a 461 do CC trazem dois tipos 2.5. Contrato de execução instantânea,
de contratos de compra e venda atipicamente continuada e diferida
aleatórios: compra e venda de coisa futura e de
coisa exposta a risco. a) Contrato de execução instantânea: é aquele
que é cumprido em uma só vez, no momento da
a) Compra e venda de coisa futura: O contrato de celebração do contrato (exemplo: compra e venda
compra e venda de coisa futura é aleatório, pois não com pagamento à vista).
se sabe se a coisa virá a existir e em que
quantidade. Pode o contratante assumir o risco da b) Contrato de execução continuada: é aquele
coisa não vir a existir, pagando mesmo assim o em que a prestação é cumprida em cotas periódicas
preço (chamado de contrato de compra e venda (exemplo: compra e venda com pagamento
emptio spei) ou assumir o risco de vir a existir em parcelado).
qualquer quantidade, pagando o preço se vier a
existir em quantidade inferior à esperada, mas não c) Contrato de execução diferida: é aquele em
pagando se nada do avençado vier a existir que a prestação é cumprida em uma só vez, mas no
(chamado contrato de compra e venda emptio rei futuro (exemplo: compra e venda com pagamento a
speratae). Em ambos os casos, não pagará o preço prazo).
se menos do esperado vier a existir por culpa ou
dolo do contratante. Como exemplo, pense na 2.6. Contrato entre presentes e entre ausentes
compra de peixes que ainda serão pescados, em
que se paga o preço mesmo que nenhum peixe seja É uma classificação que se refere à
pescado (emptio spei) ou se vier em qualquer formação do contrato. Pelos nomes, parece que
quantidade, só não pagando se nenhum vier depende se as partes estão ou não na presença
(emptio rei speratae). Em nenhum dos dois casos física um do outro. Não é bem assim, pois há
pagará, se o insucesso total ou parcial decorreu de tecnologias que fazem com que uma conversa entre
dolo ou culpa do pescador. pessoas distantes seja como se estivessem
fisicamente presentes, pois proposta e aceitação se
b) Compra e venda de coisa exposta a risco: O dão em tempo real.
contrato de compra e venda de coisa exposta a
risco é de coisa que já existe, mas é atipicamente a) Contrato entre presentes: é aquele em que
aleatório, pois o comprador assume o risco exposto. proposta e aceitação se dão em tempo real, sendo
Exemplo: compra de cerâmica a ser transportada firmado não só entre pessoas fisicamente
em navio, cujo risco de vir a se quebrar o presentes, mas também por telefone ou meio de
comprador assuma. Deverá pagar todo o preço, comunicação semelhante (vídeo conferência, chats,
mesmo que alguns venham quebrados, a menos entre outros).
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Essa é a noção básica do princípio, mas o c) Extrema vantagem para a outra parte: Para a
seu estudo pode e deve ser aprofundado. O atual resolução dos contratos, não basta este ter ficado
CC adotou o princípio do pacta sunt servanda, mas muito oneroso para uma das partes. É preciso que,
não de forma absoluta, pois foi mitigado pela concomitantemente, tenha havido extrema
previsão da chamada cláusula rebus sic stantibus. vantagem para a outra parte. Assim sendo, se o
contratante perde seu emprego e consegue outro
Para entender essa cláusula, é necessária recebendo metade do salário anterior, o contrato
uma breve análise histórica. Desde a origem dos fica excessivamente oneroso para ele, mas não
contratos, vigora o princípio do pacta sunt servanda, poderá pedir a resolução pela onerosidade
ou seja, o contrato sempre fez lei entre as partes. excessiva porque não houve extrema vantagem
No entanto, a Idade Média foi uma época que para a outra parte.
ameaçou a sobrevivência desse princípio, pois foi
um período marcado por constantes guerras e c) Fato superveniente e imprevisível: A resolução
conflitos feudais, o que inviabilizava o cumprimento do contrato só terá lugar se o desequilíbrio das
de um contrato. Por isso, naquela época, tornou-se prestações decorrerem de um fato superveniente
comum vir nos contratos com prestação que se que as partes não podiam prever quando da
prolongava no tempo uma cláusula liberando o celebração do contrato.
contratante em caso de ocorrer uma guerra ou
conflito feudal, permitindo-lhe pedir o fim do Atenção: não confunda teoria da
contrato. Rebus sic stantibus significa “coisa assim onerosidade excessiva com lesão e estado de
ficar”, ou seja, o contratante é obrigado a cumprir o perigo. Nesses defeitos do negócio jurídico, o ato já
contrato, mas apenas se a coisa assim ficar. nasce viciado, enquanto que na aplicação da teoria
ora em estudo, o contrato nasce conforme a lei,
A inovação do atual CC foi tornar a cláusula mas se vicia por fato superveniente. A
rebus sic stantibus implícita aos contratos, quando consequência disso é que na lesão e no estado de
passou a prever a teoria da imprevisão ou da perigo o contrato é anulado, enquanto que na teoria
onerosidade excessiva. Se um contrato for assinado da imprevisão ele é objeto de resolução. Nos
e sobrevier fato imprevisível que o desequilibre, citados vícios da vontade, como o ato é invalidado,
tornando-o excessivamente oneroso para uma das a sentença anulatória retroage à data da prática do
partes e com extrema vantagem para a outra, ato, desfazendo todos os efeitos produzidos,
poderá aquela pedir a resolução do contrato (art. inclusive os anteriores à anulação. Na resolução do
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questão é: nesse caso de mútuo benefício, a quem Este princípio vem consagrado no art. 422
caberá pedir a intervenção judicial? do CC, que obriga as partes contratantes a agirem
de boa-fé quando da celebração de um contrato. A
O papel de guardião do princípio da função palavra chave do princípio é confiança, que significa
social do contrato deve recair sobre os ombros do parceria contratual. A ideia é que os contratantes
Ministério Público. A princípio, o parquet não teria não são lutadores, um querendo prejudicar o seu
legitimidade ativa para pedir a intervenção do juiz adversário, mas sim parceiros, porque um confia no
no contrato, por tratar-se de interesse privado. outro, uma vez que são obrigados a agir conforme
Todavia, como o contrato tem uma função social, os ditames da boa-fé.
não podendo prejudicar a sociedade como um todo,
o interesse passa a ser coletivo, legitimando a Imagine um casal de noivos que compra
atuação ministerial. suas alianças em uma joalheria, optando por um
modelo que é feito com ouro amarelo e ouro branco.
Com efeito, o princípio da função social do Satisfeitos com a bela aliança, no dia da festa do
contrato possibilita uma nova tendência de controle noivado, um casal de amigos informa que toda
dos contratos inaugurada pelo atual CC: o dirigismo aliança com ouro branco fica amarelada com o
judicial dos contratos. O que significa isso? O decorrer do tempo. Revoltados, reclamam junto à
contrato sempre sofreu controle externo, limitando a joalheria, que diz nada poder fazer. Os noivos
atuação dos contratantes. Até então, prevalecia o poderão pedir a resolução do contrato de compra e
controle feito pela lei, razão pela qual esse controle venda, devolvendo as alianças e recebendo seu
é chamado de dirigismo legal dos contratos. Pense, dinheiro de volta, em função da quebra da boa-fé do
como exemplo, no contrato de locação, onde a lei vendedor, que não informou um relevante aspecto
do inquilinato limita a atuação do locador. Hoje, com do contrato, que interferiria na escolha do modelo
o CC vigente, prevalece o dirigismo judicial dos da aliança ou na própria realização do negócio.
contratos, ou seja, não é a lei que controla o
contrato, mas sim o juiz, na análise do caso O princípio que rege os contratos é o
concreto. princípio da boa-fé objetiva, mas, em realidade,
existem dois tipos: a objetiva ou a subjetiva. A
O que torna isso possível é a utilização das subjetiva, como o nome sinaliza, é a boa-fé interior,
chamadas cláusulas gerais ou conceitos jurídicos psicológica, ou seja, o que o contratante acredita
indeterminados, que tem como exemplo a função ser correto. Já a objetiva lhe é exterior, ou seja, é
social dos contratos. São expressões vagas em seu agir de forma correta, segundo um padrão normal
conteúdo, exigindo do aplicador do direito uma de conduta. A boa-fé que rege os contratos é a
análise do caso concreto para suprir a vacância. A objetiva, pois é mais segura, uma vez que não
lei diz que o contrato deve atender a função social, depende do que pensa o outro contratante, mas sim
ou seja, não pode ir contra o interesse social. O que em verificar se o contratante agiu seguindo um
é atender ou ir contra o interesse social? A lei não comportamento normal das pessoas.
enumera casos, preferindo usar uma expressão
vaga, permitindo ao juiz dizer, analisando o O que é um comportamento normal? Como
contrato, se ele atende ou não o interesse social. saber se o contratante agiu seguindo um padrão
normal de conduta? É o juiz que dirá na análise do
Em conclusão, não se pretende aniquilar o caso concreto. Com efeito, vimos que a tendência
princípio da autonomia da vontade ou o pacta sunt atual em matéria de controle contratual é o
servanda, mas temperá-lo, tornando-os mais chamado dirigismo judicial dos contratos, em
vocacionados ao bem-estar comum, sem prejuízo substituição da antiga prevalência do dirigismo
do interesse econômico pretendido pelas partes legal. Cabe ao juiz controlar os contratos, o que lhe
contratantes. A lei relativiza o princípio do pacta é permitido a partir do uso de cláusulas gerais ou de
sunt servanda com regras específicas, como a conceitos jurídicos indeterminados, que são
cláusula rebus sic stantibus ou com a previsão da expressões vagas, reclamando suprimento da
lesão ou do estado de perigo, mas também vacância pelo aplicador do direito na análise do
relativiza permitindo intervenção judicial em uma caso concreto. É o caso não só da função social
relação que deveria interessar unicamente às partes dos contratos, mas também da boa-fé objetiva. A lei
do contrato, mas que interessa a toda a sociedade, obriga as partes a agirem de boa-fé, sem, no
pois a lei diz que o contrato tem uma função social. entanto, enumerar as condutas permitidas e
proibidas sob esse aspecto. Esse papel caberá ao
3.5. Princípio da boa-fé objetiva juiz, que poderá intervir em um contrato, podendo
até resolvê-lo, mesmo tendo sido observados os
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com o formal de partilha, sendo considerado por lei Sobrevindo uma proposta à fase de
um contrato de bem imóvel (art. 80, II, do CC). puntuação, esta vincula o proponente, pois, se a
outra parte a aceitar, o contrato estará formado e
5. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS ambos estarão obrigados em seus termos. A
questão é: podemos falar em responsabilidade civil
O contrato se forma, em regra, quando a nesta fase de negociações preliminares pela não
uma proposta se seguir uma aceitação, seja com o conclusão do contrato? Em regra não, pois não há
acordo de vontades das partes. Como exceção, qualquer problema em se iniciarem negociações e
temos os contratos reais, em que este acordo não é se perceber a inviabilidade ou inconveniência da
suficiente para a formação do contrato, o que só contratação. Todavia, em alguns casos, pode haver
ocorre com um ato posterior: a tradição, ou seja, a responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana,
entrega do bem. É o caso de três tipos contratuais: pois não há ainda um contrato, sendo chamada de
mútuo, comodato e depósito. responsabilidade civil pré-contratual.
Não confunda a formação do contrato com a Quando isso ocorre? Quando, nas
sua validade. O contrato se formar significa passar negociações preliminares, uma das partes cria na
a existir no mundo jurídico, obrigando as partes ao outra a justa expectativa de contratação e, sem
seu cumprimento, enquanto que ser válido é estar qualquer justificativa, por mero capricho, não
de acordo com a lei e, portanto, apto a produzir formaliza a proposta. O fundamento é a quebra da
seus regulares efeitos. O art. 107 do CC prevê que boa-fé objetiva na fase das negociações
a validade dos contratos não exige forma especial, preliminares. Há um abuso de direito, que é
senão quando a lei exigir, ou seja, o contrato se considerado pela lei ato ilícito a ensejar
forma com o simples acordo de vontades, mas, em responsabilidade civil (art. 187 c/c art. 927, ambos
alguns casos, sua validade reclama uma forma do CC). Ora, ao criar a justa expectativa de
especial para produzir efeitos. Assim, destacando contratação, legitima a outra parte a contrair gastos
que em alguns casos deve haver uma forma e até a recusar outras propostas, e não concluir o
especial do contrato, o que tratamos aqui é do contrato sem qualquer justificativa é causar o que
momento da sua formação, pois passando a existir chamamos de “dano de confiança”, em razão da
no mundo jurídico, obriga as partes ao seu quebra da boa fé objetiva, que deve nortear o
cumprimento, sob pena de responsabilidade civil comportamento dos contratantes até mesmo antes
contratual, ou seja, indenização de perdas e danos da proposta.
em razão da mora ou do inadimplemento (tema
tratado em obrigações, para onde remetemos sua Como exemplo, cito um caso cobrado na
leitura). prova da OAB organizada pela FGV. Imagine que
durante anos um fabricante de extrato de tomate
O CC trata do tema formação dos contratos distribui gratuitamente sementes de tomate entre
nos arts. 427/435, mencionando a proposta e a agricultores de uma região, procurando-os na época
aceitação. Todavia, a formação do contrato não é da colheita para celebrar com eles contrato de
composta apenas por esses dois atos. compra e venda de toda a produção de tomate. No
Normalmente existe uma fase prévia, de décimo ano distribuiu as sementes, mas não
negociações preliminares, chamada de fase de apareceu para compra da safra. Procurada pelos
puntuação, que poderá culminar na formulação de agricultores, recusou-se, sem qualquer justificativa,
uma proposta, que, se aceita, formará o contrato. a celebrar o contrato. Nesse caso, há
São as fases que passamos a estudar. responsabilidade civil pré-contratual aquiliana do
fabricante de extrato de tomate, tendo que indenizar
5.1. Fase de puntuação e a responsabilidade os agricultores em razão dos prejuízos que
pré-contratual resultaram da não contratação, como os custos da
produção e eventual recusa de venda para outros
Fase de puntuação é a fase de negociações compradores. O fundamento da responsabilidade
preliminares que antecedem a proposta, marcada pré-contratual é a violação do princípio da boa-fé
por conversações prévias, ponderações, reflexões, objetiva nessa fase de negociações preliminares
sondagens, cálculos e estudos de viabilidade de anterior à proposta, pois o fabricante criou nos
negociação futura. Pode resultar, inclusive, em uma agricultores a justa expectativa de contratação e,
minuta contratual se alguns pontos acordados forem sem qualquer justificativa, por mero capricho, não
reduzidos a termo, ou seja, a escrito (difere da formalizou a proposta de compra e venda.
proposta, pois esta é completa, uma vez bastar um
sim para o contrato se formar). 5.2. Pré-contrato ou contrato preliminar
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regras quando inaplicáveis as regras do CDC. apenas diante da má-fé será obrigado a indenizar
Quando, então, aplicamos as regras dos vícios perdas e danos. Nos termos do art. 443 do CC, se o
redibitórios previstas no CC? Quando não houver alienante agiu de boa-fé, apenas ressarcirá o
relação de consumo, o que ocorre em dois casos: (i) adquirente dos gastos que teve com o negócio em
quando o alienante não é fornecedor, como ocorre si, ou seja, devolução do valor recebido e
na venda ocasional de um bem usado, pois ser ressarcimento das despesas do contrato. Se o
fornecedor exige habitualidade da negociação; e (ii) alienante procedeu de má-fé, não só devolverá o
quando o adquirente não for consumidor, como valor recebido, mas também indenizará o
ocorre no caso de alguém adquirir um bem para adquirente de todas as perdas e danos decorrentes
renegociação, pois o CDC afirma que só é do vício redibitório.
consumidor quem adquire um bem como
destinatário final. Aqui nos concentraremos na Qual o prazo que tem o adquirente para
disciplina civil do tema, deixando as regras da reclamar vício redibitório em juízo? Depende do
relação de consumo para um estudo específico do bem adquirido: trinta dias para bem móvel e um ano
tema. para bem imóvel. A princípio, o prazo se inicia
quando da entrega efetiva do bem e não quando da
Por definição, vícios redibitórios são defeitos alienação, pois só com o seu uso é que ele
ocultos que tornam o bem impróprio para o uso a consegue perceber o defeito oculto. No entanto, se
que se destina ou que lhe diminuem o valor. Note o adquirente já tinha a posse do bem, o prazo se
que na disciplina civil, diferente da relação de iniciará quando da prática do ato, pois é quando
consumo, o alienante só responde por defeitos adquire legitimidade para reclamação em juízo, mas
ocultos, ou seja, que não poderia ter sido facilmente os prazos serão reduzidos à metade, por já ter tido
detectado pelos órgãos dos sentidos, pois se o vício contato com o bem. Além disso, se for um defeito
era aparente, presume-se que o adquirente o oculto que por sua natureza seja de difícil
admitiu, pois dele ciente. percepção, o prazo só se inicia quando o adquirente
dele tiver ciência. Todavia, a lei confere um prazo
Note que o vício redibitório é um defeito máximo para ciência do defeito a se somar ao prazo
material que pode tornar o bem impróprio para o de reclamação: cento e oitenta dias para bem móvel
seu uso ou que pode apenas lhe diminuir o valor. e um ano para bem imóvel. Por fim, não se
Portanto, haverá vício redibitório tanto no defeito esqueça que eventual prazo de garantia
oculto em um motor de um carro que o faz não mais convencional oferecida pelo alienante não substitui
funcionar, como também no defeito oculto de uma o prazo de garantia legal, mas sim a ele se soma,
máquina que produz determinado produto, pois, se houver garantia convencional, o prazo de
diminuindo a sua produção, embora ela ainda garantia legal só se inicia quando este for
funcione. Assim sendo, o adquirente pode reclamar encerrado.
do vício redibitório em juízo optando por uma de
duas ações judiciais: 7.2. Evicção
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temos um caso de imperfeição do contrato, pois ele inclusive, o sentido que caiu no gosto popular, que
já nasceu viciado. Nesse caso, o contrato é inválido, só fala em rescisão do contrato quando este chega
podendo ele ser nulo ou anulável, a depender do ao fim. Autores clássicos, como Orlando Gomes e
vício. Não é tema para aqui ser visto, pois é assunto Caio Mário, no entanto, com base na doutrina
da parte geral do direito civil, para onde remetemos italiana, ensinam que rescisão em sentido técnico
sua leitura. só ocorre quando um contrato é extinto em caso de
lesão ou de estado de perigo. Modernamente, esse
Se a causa de extinção do contrato é não é o entendimento, até porque são defeitos do
superveniente à sua formação, estamos tratando negócio jurídico, portanto, causas antecedentes ou
de um contrato perfeito, ou seja, que se formou de concomitantes à formação do contrato, caso de
forma válida, não sendo caso de nulidade nem de invalidade e não de inexecução, quando
anulabilidade. O contrato perfeito pode ser extinto pressupomos um contrato perfeito. Outros autores
de duas formas diferentes: por execução ou por mencionam rescisão como uma espécie de
inexecução do contrato. resolução do contrato, significando a resolução
culposa ou voluntária, ou seja, quando o contrato é
Execução do contrato é quando ele é extinto por inadimplemento culposo do outro
cumprido, o que pode ocorrer pelo pagamento ou contratante. O conselho é evitar o uso do termo
até pelas formas anormais de extinção das rescisão, pois, como não há consenso, é um risco
obrigações, quais sejam: pagamento em desnecessário em prova.
consignação, pagamento com sub-rogação,
novação, imputação ao pagamento, dação em
pagamento, compensação, confusão ou remissão.
Também não é tema para aqui ser tratado, pois é
assunto de obrigações, para onde remetemos a sua 8.1. Resilição do contrato
leitura.
Conforme visto, resilição do contrato ocorre
O caso é de inexecução quando não há quando há extinção do contrato unicamente em
cumprimento de um contrato perfeito, que é o tema razão da vontade das partes. A resilição pode ser
que aqui estudamos. Perceba a impropriedade do unilateral ou bilateral, a depender se a vontade é de
CC ao tratar do tema sob o título “da extinção dos apenas um dos contratantes ou de ambos. Não se
contratos”, quando, na verdade, deveria tê-lo discute aqui culpa da parte fazendo surgir uma
intitulado de “inexecução dos contratos” ou até causa de extinção do contrato, pois não há causa
mesmo “da extinção dos contratos pela jurídica que motive o seu fim, simplesmente não
inexecução”. quero ou não queremos mais.
A inexecução pode causar três tipos de
extinção do contrato: resilição, resolução e a) Resilição unilateral: ocorre quando apenas uma
rescisão. Vamos definir cada um dos institutos, para das partes não quer mais manter o contrato, sem
em seguida aprofundar o estudo. precisar externar qualquer razão para isso. O art.
473 do CC diz que se opera mediante denúncia
a) Resilição: extinção do contrato por vontade de notificada à outra parte, ou seja, o contratante deve
um ou de ambos os contratantes, ou seja, é quando notificá-la formalmente. A resilição unilateral do
eu termino o contrato porque quero ou quando contrato pode se dar quando a lei permitir ou
terminamos porque queremos, sem ter qualquer quando houver expressa previsão no contrato. Há
razão jurídica para isso. Exemplo: celebrei contrato casos em que a lei permite a resilição unilateral do
de aluguel pelo prazo de três anos e decido resili-lo contrato, razão pela qual não será devedor em
com dois anos por questão pessoal. perdas e danos à outra parte. Por exemplo: o
direito de revogação de contrato de mandato. Pode
b) Resolução: extinção do contrato em razão do a lei não permiti-la, mas a vontade das partes sim,
inadimplemento da outra parte, ou seja, um dos quando inserem no contrato cláusula permissiva,
contratantes não cumpre o contrato, legitimando a podendo ou não ser fixada uma multa a ser paga ao
outra parte pedir sua resolução. Exemplo: mesmo outro contratante se esta ocorrer. Se não houver
contrato de aluguel de três anos, resolvido pelo previsão legal nem contratual, a parte não poderá
locador em razão do inquilino não pagar o aluguel. unilateralmente resilir o contrato, podendo ser o
caso de reclamação judicial para sua execução
c) Rescisão: não há consenso na doutrina sobre o forçada. Exemplo: contrato de locação em que há
significado de rescisão do contrato. Muitos usam o previsão apenas para o locatário o resilir, tendo o
termo rescisão como sinônimo de extinção do locador que esperar o fim do contrato pela total
contrato, até mesmo por causa antecedente, sendo, execução.
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