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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


COORDENAÇÃO DO CURSO DE HISTÓRIA

ALANKASSIA MAIA DE OLIVEIRA

A DEMARCAÇÃO E HOMOLOGAÇÃO DA TERRA INDÍGENA RAPOSA/SERRA


DO SOL E O DISCURSO DO JORNAL FOLHA DE BOA VISTA (1998 a 2005)

Boa Vista, RR

2017
ALANKASSIA MAIA DE OLIVEIRA

A demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol e o


jornal Folha de Boa Vista

Monografia apresentada como


prérequisito para conclusão do curso de
graduação em História da Universidade
Federal de Roraima.
Orientador: Profº. Me. Orlando de Lira
Carneiro.

Boa Vista, RR
2017
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima

O48d Oliveira, Alankassia Maia de.

A demarcação e homologação da terra indígena Raposa/Serra


do Sol e o discurso do jornal Folha de Boa Vista (1998-2005) /
Alankassia Maia de Oliveira. – Boa Vista, 2017.
54 f. : il.
Orientador: Prof. Me. Orlando de Lira Carneiro.

Monografia (graduação) – Universidade Federal de Roraima,


Curso de História.

1 – Análise do discurso. 2 – Raposa/Serra do Sol. 3 –


Demarcação. 4 – Homologação. 5 – Jornal Folha de Boa Vista. I –
Título. II – Carneiro, Orlando de Lira (orientador).
CDU – 93(811.4)
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por me conceder forças nos momentos difíceis


quando pensava em desistir.

Aos professores do curso de História pelos ensinamentos transmitidos.

Agradeço especialmente ao meu orientador Orlando de Lira Carneiro pelo


interesse, dedicação e paciência.

Aos meus amigos que caminharam junto comigo e que muito me ajudaram
especialmente a Mayara, Bárbara, Thiago, Midiel e Rozenildo e que fizeram parte do
meu grupo de estudos e seminários.

A minha mãezinha e meus irmãos e irmãs.

Agradeço a William meu companheiro de luta. Aos meus filhos Matheus,


Wesley, Junior e Olga. A minha comadre Silmara. Vocês mais do que ninguém
sabem o quanto foi difícil esta jornada.
RESUMEN

Este trabalho se propõe a analisar o discurso no jornal Folha de Boa Vista sobre o
processo de demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol no
período de 1998 a 2005 a partir de análise das notícias publicadas. A coleta dos
dados da pesquisa, para posterior exame, ocorreu durante os meses de dezembro
(2016) e janeiro (2017). Trabalhamos com um recorte temporal que abrange as
notícias e matérias do jornal de 1998 a 2005. Utilizamos como suporte metodológico
para a realização da pesquisa a Análise do Discurso. Destacamos que a referida
terra indígena enfrentou inúmeras invasões realizadas por fazendeiros, garimpeiros
e rizicultores, acometendo aos índios vários tipos de violências e mortes. Estes
conflitos geraram muitas discussões na imprensa local e nacional causados pelo
embate da não demarcação e homologação da terra indígena em área contínua.
Assim, percebemos que o jornal abordou a questão de forma parcial e distorcida, no
qual o posicionamento e seu discurso contrários eram evidenciados nas notícias e
charges.

Palavras-chaves: Análise do Discurso, Raposa/Serra do Sol, Demarcação,


Homologação, jornal Folha de Boa Vista.
ABSTRACT

Este trabajo se propone a analizar el discurso em el periódico Folha de Boa Vista el


proceso de demarcación y homologación da La tierra indígena Raposa/Serra do Sol
en el período de 1998 a 2005 a partir del analice de lãs noticias publicadas. La
colecta de lós datos de La investigación, para posterior examen, há ocurrido a ló
largo de lós meses de diciembre (2016) y enero (2017). Trabajamos com um recorte
temporal que contempla las noticias y materias del periódico de 1998 a 2005.
Utilizamos como soporte metodológico para La realización de La investigación La
analice del discurso. Destacamos que la referida tierra indígena enfrento inúmeras
invasiones realizadas por granjeros, garimpeiros y cultivadores de arroz,
acometiendo a los indios vários tipos de violencias y muertes. Estos conflictos
generaron muchas discusiones en la impresa local y nacional causado por el embate
de no demarcación y homologación da la tierra em área continua. Así, hemos
percibido que el periódico abordo la cuestión de forma parcial y destorcida, em el
cual el posicionamiento y su discurso contrários eran evidenciados em las noticias y
charges.

Palabras-clave: Analice del discurso, Raposa/Serra do Sol, Demarcación,


Homologación, periódico Folha de Boa Vista.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa da Terra Indígena Raposa/ Serra do Sol ...................................... 31

Figura 2 – Imagem da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol ................................... 32

Figura 3 – Parabólica – Página 03 – 22 de outubro de 1998 ................................... 43

Figura 4 – Estada vai contestar FUNAI na justiça – Página 04, 11 de novembro


de 1998......................................................................................................................44

Figura 5 – Deputado diz que internacionalização da Amazônia brasileira não é


delírio – Página 07, 22 de setembro de 1999........................................................ 45

Figura 6 – Charge: “Despejo” – Página 02, 06 de setembro de 2002.................. 46

Figura 7 – Rizicultores afirmam que pode faltar arroz em RR – Página 03, 02 de


setembro de 2002.................................................................................................... 47

Figura 8 – CIR acusa arrozeiros pelos atentados – Página 07, 24 de novembro


de 2004 .....................................................................................................................48

Figura 9 – Lula homologa Raposa/Serra do Sol e entidade dizem que vão


recorrer - Notícia de primeira página, 16 e 17 de abril de 2005........................... 50

Figura 10 – Boa-vistenses vão ás ruas e fazem vigília em protesto contra


demarcação – Notícia de primeira página, 18 de abril de 2005........................... 51

Figura 11 – Reservas ocupam 90% do território roraimense – Página 05, 18 de


abril de 2005............................................................................................................. 52

Figura 12 – Charge: “Tensão no ar” – Página 02, 26 de abril de 2005................ 53


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Municípios brasileiros com as maiores proporções da população indígena


por situação do domicilio........................................................................................... 29

LISTA DE SIGLAS

AD Análise do Discurso

ARIKON Associação Regional do Rio Kinô, Cotingo e Monte Roraima

CIMI Conselho Indígena Missionário

CIR Conselho Indígena de Roraima

FUNAI Fundação Nacional do Índio

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

ONGs Organizações Não Governamentais

SODIURR Sociedade de Defesa dos Índios do Norte de Roraima

STJ Supremo Tribunal Federal


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 09

1. ANÁLISE DO DISCURSO: CONCEITOS ............................................................


11

1.1 Histórico ..............................................................................................................


11

1.2 Objeto de análise do discurso ............................................................................ 12

1.3 Formação discursiva e formação ideológica ...................................................... 13

1.4 Análise de discurso como metodologia .............................................................. 14

2. BREVE HISTÓRICO DA IMPRENSA NO BRASIL ............................................. 16

2.1 A imprensa escrita em Roraima ......................................................................... 19

3. A OCUPAÇÃO DE TERRAS NA AMAZÔNIA .....................................................


23

3.1 Ocupações de terras em Roraima: antecedentes históricos .............................. 27

3.2 A Terra Indígena Raposa/Serra do Sol .............................................................. 30

4. O PROCESSO DE DEMARCAÇÃO E HOMOLOGAÇÃO DA TERRA INDÍGENA


RAPOSA/SERRA DO SOL ...................................................................................... 35

4.1 A ideologia e a linha editorial adotada no jornal Folha de Boa Vista ................. 37

4.2 As notícias veiculadas sobre a demarcação e homologação em área

contínua 40

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 55

REFERÊNCIAS..........................................................................................................56
9

INTRODUÇÃO

O processo de demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa/Serra


do Sol teve início ainda no início do século XX. A violência cometida contra os povos
indígenas que habitavam o vale do rio Branco durante o processo colonizador esteve
e está associada á questão da terra.

Todo o processo da demarcação foi muito debatido pela sociedade e gerou


muita repercussão na imprensa local e nacional. Os principais questionadores foram
os políticos locais, fazendeiros, rizicultores e algumas lideranças indígenas
contrários à demarcação em área contínua que passaram a contestar todo o
processo demarcatório e impetrar ações judiciais para barrar todo o processo. O
debate se intensificou com a demarcação em 1998 quando o ministro Renan
Calheiros declara a área indígena Raposa/Serra do Sol como posse permanente dos
povos Macuxi, Ingarikó, Taurepang e Wapixana que habitavam a referida área. No
mesmo período aumentaram os conflitos violentos na região que incluíam agressões
físicas, prisões e assassinatos.

Durante a demarcação em 1998 e homologação em 2005 inúmeras notícias


foram publicadas pelo jornal Folha de Boa Vista sobre a questão. O discurso
propagado pelo jornal evidenciava o tom depreciativo totalmente contrário à
demarcação e homologação em área contínua. O jornal Folha de Boa Vista divulgou
ao longo do processo em suas páginas notícias, editoriais, charges um discurso
preconceituoso sempre distorcendo a imagem do índio e de certa forma, tentando
influenciar a sociedade e seus leitores.

A análise foi realizada através das edições selecionadas das notícias,


editoriais e charges do jornal no período de dezembro a janeiro onde verificamos o
posicionamento contrário à demarcação em área contínua. Como ferramenta
metodológica utilizou-se a Análise do Discurso, que nos permitiu compreender e
identificar as formas discursivas sobre a questão.
10

O trabalho está dividido em quatro capítulos: o primeiro aborda a Análise do


Discurso e seus conceitos e a metodologia utilizada na pesquisa. O segundo
capítulo faz um breve histórico da imprensa e a inserção da imprensa em Roraima.

O terceiro capítulo trata da ocupação de terras na Amazônia e relata os


antecedentes históricos da ocupação de terras em Roraima. Além de
contextualizarmos sobre a Terra Indígena Raposa/Serra do Sol. No quarto capítulo
abordaremos o processo de demarcação e homologação da referida área, a
ideologia adotada pelo jornal Folha de Boa Vista e as notícias veiculadas sobre o
tema e como o jornal abordou a questão, utilizando a Análise do Discurso para o
exame das matérias e charges.
11

1.ANÁLISE DE DISCURSO: CONCEITOS

Para análise das notícias veiculadas no jornal Folha de Boa Vista sobre a
demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol utilizamos
como metodologia a Análise do Discurso (AD) que nos permitiu compreender e
analisarmos o discurso contido nas notícias e a ideologia adotada.

O discurso é a exposição de uma ideia que pode ser falada ou escrita, o


contexto social influencia diretamente a construção de um discurso, assim a AD
propõe pensar e analisar o discurso como processo construído pela realidade onde o
sujeito está inserido.

Segundo Orlandi (2010), discurso é a palavra em movimento e algo que está fora
da fala e da língua, mas que precisa da língua para se concretizar. A AD reflete
sobre a maneira como a linguagem está materializada na ideologia e como se
manifesta na fala procurando compreender a língua fazendo sentido onde a
linguagem é construída através da ideologia.

Todo discurso é impregnado pela ideologia de quem detém o poder, seja ele
econômico, político ou social. Ou seja, se determinado jornal estiver ligado a grupos
políticos ou interesses econômicos, a notícia publicada irá ter como objetivo principal
favorecer os apoiadores deste jornal, no caso específico do jornal Folha de Boa
Vista as notícias buscavam distorcer a questão da demarcação em área contínua e
assim influenciar seus leitores.

1.1 Histórico

A Análise do Discurso (AD) é um campo de conhecimento


que tem como objetivo principal o discurso. De acordo com Brandão
(1998), a AD teve início entre 1920 e 1930 onde formalistas russos
abriram espaço para a entrada de estudos linguísticos que mais tarde
conheceríamos como discurso. Porém, foi com Michel Pêuchex,
12

fundador da Escola Francesa de Análise do Discurso, que este campo


se firmou como disciplina. Pêuchex defendia que a linguagem é
materializada na ideologia e esta se manifesta na linguagem, ou seja, é
através da ideologia que a linguagem profere o pensamento que é
exposto por meio da linguagem. A AD abriu um campo de
questionamentos dentro da linguística se diferenciando porque
procurava analisar a particularidade e o contexto do próprio texto.
Assim, a AD analisa a relação do homem falando e a influência do
meio social para o discurso. Os estudos da Análise do Discurso foram
constituídos a partir da relação de três domínios disciplinares: a
Psicanálise, a Linguística e o Marxismo. A Linguística tem seu objeto
próprio, a língua, e esta tem sua ordem própria; o Marxismo aborda o
materialismo histórico e a AD pressupõe este legado; a Psicanálise
desloca a noção de homem para a de sujeito, onde o homem se
constitui na relação com o simbólico na história.

Sobre a relação com esses domínios disciplinares, Orlandi (2010, p.20)


destaca que a AD:

Interroga a Linguística pela historicidade que ela deixa de lado, questiona o


Materialismo perguntando pelo simbólico e se demarca da Psicanálise pelo
como, considerando a historicidade, trabalha a ideologia como
materialmente relacionada ao inconsciente em ser absorvida por ele.

Carneiro (2013), conceitua discurso como algo demarcado, que se sobrepõe a


outros objetos estudados pela linguagem. Algo que está fora da língua e da fala. A
AD sugere pensar o discurso e o funcionamento discursivo adotado pela a ideologia
que influencia diretamente o discurso. Assim, a AD atua em conformidade nesses
campos de conhecimento, interfere em suas fronteiras para produzir um novo objeto
de estudo, que pela sua relevância vai afetar as formas de conhecimento: este novo
objeto é o discurso.

1.2 Objeto de análise do Discurso


13

A Análise do Discurso (AD) tem como objeto principal o


discurso. E a palavra discurso nos remete a ideia de movimento,
percurso, prática da linguagem e observa o homem falando. Em outras
palavras procura compreender a língua fazendo sentido. A AD atua
como mediadora entre o homem e sua realidade natural e social, na
qual o discurso transforma o homem e sua realidade. O discurso para a
AD é efeito de sentidos entre locutores e está fora da fala e da língua,
entretanto precisa da língua para se materializar (ORLANDI, 2010).

O discurso para Fiorin (1988), são combinações de vários elementos


linguísticos com o objetivo de exprimir sentimentos, onde a fala é individual e realiza
o ato de exteriorizar o discurso. A fala é individual, entretanto o que influencia a
construção do discurso é a ideologia presente no contexto em que o autor da fala
está inserido.

Segundo Orlandi (2010), o discurso e língua são diferentes e não podem ser
confundidos, mas para a AD a língua é condição de possibilidade de discurso e
precisa da fala. Todo discurso se estabelece sobre um discurso já produzido
anteriormente dando sequência a outro discurso. Ou seja, o discurso não é fechado
em si mesmo, mas é um processo discursivo que dependendo do recorte é possível
analisar vários estados do discurso. Desde modo, o discurso divulgado no jornal
Folha de Boa Vista sobre a demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa/
Serra do Sol foi totalmente construído em cima de preconceito contra o indígena. A
ideologia adotada pelo referido jornal enfatizava a visão do grupo dominante local.
Neste contexto, para a AD a ideologia torna possível a relação palavra/coisa e a
relação entre pensamento, linguagem e mundo.

1.3 Formação discursiva e formação ideológica

A formação discursiva no contexto da Análise do Discurso


(AD) é relevante, porque nos permite compreender o processo de
produção dos sentidos e sua relação com a ideologia. Ou seja, quando
14

uma palavra adquire sentido diferente depende de quem está


produzindo a fala ou o discurso influenciado pela formação ideológica.
Desde modo, o lugar onde o sujeito está será representado nas suas
falas, o posicionamento ideológico influenciará o que o sujeito diz.

Segundo Orlandi (2010), a formação discursiva é definida como aquilo que


numa formação ideológica dada determina o que deve ser e pode ser dito. Ainda
segundo a autora as palavras falam com outras palavras e toda palavra parte de um
discurso. A formação discursiva ainda possibilita compreender dentro do
funcionamento discursivo os diferentes sentidos e se delimitam a partir das relações
que estabelecem com as formações ideológicas.

Conforme Fiorin (1988), a formação ideológica abrange uma visão de mundo


de uma classe social e é assimilada ao longo do processo de aprendizagem e impõe
o que pensar. Logo a formação discursiva determina o que dizer. Assim, a formação
discursiva estabelece relação com a formação ideológica e influencia o sentido de
uma fala permitindo ao homem construir seus discursos.

1.4 Análise do Discurso como metodologia

Apenas na década de 1970 é que se passou a utilizar jornais e revistas como


fonte de conhecimento da história no Brasil. As pesquisas historiográficas eram
realizadas somente em documentos e caberia ao historiador utilizar apenas fontes
marcadas pela neutralidade, objetividade e credibilidade. Segundo Pinsky et al
(2008), os jornais pareciam inadequados para serem aproveitados como fonte
historiográfica, porque abrangiam registros fragmentados do presente e as
informações eram consideradas imparciais, distorcidas e subjetivas. A chamada
Escola dos Annales veio romper com este modelo de pesquisa, permitindo ao
historiador reinventar-se e trabalhar com outras disciplinas. Conforme o autor:

A prática historiográfica alterou-se significadamente nas décadas finais do


século XX. Na França, a terceira geração dos Annales realizou
deslocamentos que, sem negar a relevância das questões de ordem
15

estrutural perceptíveis na longa duração, nem a pertinência dos estudos de


natureza econômica e demográfica levados a efeito a partir de fontes
passíveis de tratamento estatístico, propunha “novos objetos, problemas e
abordagens”.

Não obstante, o uso de jornais como fonte historiográfica foi e continua sendo
objeto de polêmicas devido ao que se é publicado. De certa forma, a imprensa tenta
influenciar o leitor na medida em que escolhe cuidadosamente o que se deve chegar
ao conhecimento do público. Os discursos adquirem significados diferentes e,
geralmente, estão carregados de ideias e valores onde a linha editorial é a
responsável por tudo o que deve ser publicado.

Neste sentido, a AD surgiu como linha teórica e metodológica propondo


compreender a fala e o sentido do discurso, produzindo um conhecimento a partir da
própria fala ou de um texto com sua materialidade simbólica e significativa
estabelecendo relação direta entre o discurso, a história e a ideologia.

Os estudos discursivos propostos pela AD visam fazer uma análise no campo


das ciências sociais e repensar como o discurso construiu o seu objeto. Para isso,
foi necessário romper com estudos já existentes e construir um novo quadro
ideológico, político e cultural (DANTAS, 2007).
16

2. BREVE HISTÓRICO DA IMPRENSA NO BRASIL

A inserção da imprensa no Brasil ocorreu tardiamente em comparação com os


outros países. Somente com a chegada da família Real no Brasil, em 1808, é que
surgiu a imprensa oficial brasileira. Conforme Sodré (1983), o atraso no surgimento
da imprensa no Brasil ocorreu, principalmente, em virtude do caráter explorador e
dominador de Portugal em relação à colônia. Para Bahia (1990), a Coroa portuguesa
queria dominar a colônia de várias maneiras, asfixiando a manifestação livre do
pensamento, onde a palavra imprensa era considerada crime.

O primeiro jornal oficial publicado no Brasil foi a Gazeta do Rio de Janeiro em 1808.
Segundo Sodré (1983, p.20), “nada nele constituía atrativo para o público, nem essa
era a preocupação dos que o faziam, como a dos que o haviam criado”. Era um
jornal sem conteúdos importantes, preocupado em exaltar e agradar à Coroa. Toda
impressão era examinada cuidadosamente para que nada se imprimisse contra a
religião, o governo e os bons costumes. Lustosa (2004, p.20) classificou a Gazeta
como “tediosa”.

No mesmo período, outro jornal era lido no Brasil, o Correio Brasiliense. Assim, “o
Correio Brasiliense se aproximara do tipo de periodismo que hoje conhecemos como
revista doutrinária, e não jornal; em tudo a Gazeta se aproximava do tipo de
periodismo que hoje conhecemos como jornal” (SODRÉ, 1983, p. 22). Porém,
Martins e Luca (2006) destacam que estes dois jornais encerraram suas atividades
às vésperas da independência do Brasil.

A censura foi um dos maiores entraves para a imprensa no período. Em 1824, a


nova Constituição decretou o fim da censura. Vários jornais, pasquins e panfletos
passaram a circular no Brasil aclamando a Independência. Como destaca as
autoras, uma imprensa que nascia nacionalista e antilusitana. (MARTINS; LUCA,
2006)

Os acontecimentos políticos que antecederam a Independência do Brasil, em


1822, foram complexos. Sodré (1983, p. 45) ressalta que “o processo da
Independência foi longo, tortuoso, cheios de altos e baixos, com avanços e recuos,
17

dependentes de muitos fatores”. Com os problemas agravados pela crise política


vigente do período, onde ideias republicanas assolavam os pensamentos dos
jornalistas, surgiram vários jornais com o intuito de propagar a República.
Circulavam os jornais A República (1870), A Gazeta de Campinas (1869), Diário
Popular (1884), O País (1884), A Gazeta de Notícias (1875) e Diário de Notícias
(1875). Outro tema bastante utilizado pela imprensa da época foi a Campanha
Abolicionista, que tinha como defensores diretos os redatores dos principais jornais.
(MARTINS; LUCA, 2006).

Com o golpe militar realizado no dia 15 de novembro de 1889, o Brasil deixou


de ser um país monárquico tornando-se uma República. Esta mudança de regime foi
anunciada pela imprensa, porém timidamente e até mesmo temerosa. Os temores
que assolavam a imprensa nos primeiros momentos da Proclamação da República
foram concretizados. Assim sendo, o Governo Provisório decretou censura total à
imprensa, instaurando um período de temor e prisões a jornalistas contrários ao
Novo Regime.

O período denominado como Primeira República foi marcado pelo capitalismo


em várias regiões do mundo. No Brasil, o café impulsionou a economia, o que forçou
o governo modernizar-se para atender as demandas do mercado capitalista. A
imprensa teve papel decisivo na divulgação destes eventos. No mesmo período
nota-se a modernidade da imprensa, porém os textos jornalísticos atendiam o
interesse da elite.

Com a deposição do presidente Washington Luís e Getúlio Vargas tomando o


poder em 1930, o Brasil foi varrido por mudanças políticas e econômicas, o governo
se tornou totalmente centralizado. Esta mudança política teve impacto profundo,
principalmente, para a imprensa. Assim ressaltam Martins e Luca (2006), jornais que
defendiam o antigo governo desapareceram ou tiveram que mudar sua linha
editorial.

Em 1937, com a implantação do Estado Novo, o governo decretou guerra à


imprensa e aos demais meios de comunicação. O artigo 122 da Constituição de
1937 não só censurava a liberdade de imprensa como permitia ao governo punir
quem se posicionasse contrário ao regime. (MARTINS; LUCA, 2006).
18

Desta forma, foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) em


1939, que tinha por objetivo fiscalizar todos os meios de comunicação existentes e
divulgar os atos do governo. O cenário de repressão, ditadura, clandestinidade e
censura muda a partir da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos
Aliados, dando início assim a uma série de manifestações no país contra Getúlio
Vargas, que aos poucos foi enfraquecendo-se politicamente. Neste momento, a
imprensa antes subjugada, passou a publicar em suas páginas matérias pedindo a
volta da liberdade democrática. Martins e Luca (2006) sublinham a atuação dos
jornais O Globo e Correio da Manhã.

O Regime Militar foi instalado no Brasil após o Golpe de 1964, e a imprensa foi
peça importante neste cenário. Os jornais O Estado de São Paulo, O Globo e
Gazeta Mercantil articularam junto com os militares o golpe que depôs o presidente
da república, João Goulart.

Com a chegada dos militares ao poder, a imprensa foi atingida por várias
transformações. A liberdade de expressão passou a ser restrita, a censura foi
instalada ainda que gradativamente. Com a publicação do Ato Institucional nº 5 em
1968, o governo militar decretou censura total à imprensa e aos seus opositores
(MARTINS; LUCA, 2006).

A partir daí, a imprensa que apoiou o golpe se viu prisioneira da ditadura


militar. Era comum a prisão e tortura de jornalistas e editores no período, “alguns
jornais foram invadidos e fechados pelos órgãos da repressão policial-militar”.
(ABREU, 2002, p.48).

Vários eventos marcaram o período da Ditadura Militar, prisões, torturas e


mortes tiveram notoriedade. Greves, inflações e censuras acabaram por enfraquecer
o regime. A campanha das “Diretas Já” mobilizou a imprensa que pedia o fim do
regime. Embora a “Diretas Já” não tenha tido êxito no congresso, a Ditadura Militar
encerrou-se, ocorrendo a eleição indireta de Tancredo Neves para presidente,
porém com a sua morte toma posse em seu lugar José Sarney, seu vice, em 1985.

Para a imprensa o período foi muito importante, pois assinalou mudanças


significativas. Um dos momentos foi a elaboração da Nova Constituição em 1988,
amplamente divulgada em vários setores da imprensa escrita, na televisão e nas
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rádios. Neste contexto surge Fernando Collor de Melo, que utilizou a imprensa para
se promover. Ironicamente a mesma imprensa que o apoiou, passou a divulgar os
escândalos políticos que passaram a fazer parte de seu governo e motivaram seu
impeachment. (ABREU, 2002).

Os anos de 1980 marcaram o desenvolvimento no setor de telecomunicações


e da informática o que “alteram substancialmente a forma de produção, divulgação e
consumo de notícias” (MARTINS; LUCA, 2006, p.124). Deste modo, a Rede Globo e
o Grupo Folha se sobressaíram, impulsionando todo contexto da imprensa.

As empresas de comunicação se adaptaram às novas tecnologias vigentes,


onde predominou o jornalismo investigativo e o denuncismo. Para Abreu (2002),
estas modalidades atuaram na imprensa a partir dos anos 1990. A chegada da
internet revolucionou a imprensa no Brasil. No próximo tópico abordaremos o
surgimento da imprensa roraimense, entretanto contextualizamos sobre o início da
imprensa no Amazonas.

2.1 A imprensa escrita em Roraima

Para compreendermos e analisarmos a imprensa escrita em Roraima é


necessário contextualizarmos o surgimento da imprensa no Amazonas. Uma vez
que esta região pertenceu a Província do Amazonas.

A imprensa no Amazonas surgiu em 1850, quando o mesmo já era Província


autônoma do Estado do Pará. A imprensa do Amazonas só desenvolveu-se a partir
do período áureo da borracha, que permitiu à região desenvolvimento econômico,
cultural e social. O primeiro jornal publicado no Amazonas foi o Cinco de Setembro
em 1851, após a criação da Província. Posteriormente, o jornal teve seu nome
alterado para Estrella do Amazonas. Conforme Soares (1998), publicava atos do
governo provincial e imperial. No decorrer de sua história este jornal enfrentou
significativas mudanças que incluíram o nome, direção e formato.

Segundo Joaquim (2003), uma das características da imprensa amazonense


foi a produção de periódicos destinados a vários segmentos da população e marca
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os jornais operários e políticos que circulavam entre os moradores do interior da


província e, consequentemente, na vila de Boa Vista do Rio Branco.

Em Roraima, o primeiro jornal a circular foi o manuscrito O Caniço em 1905


quando esta região era denominada Vila do Rio Branco e fazia parte da Província do
Amazonas. O Caniço circulava quinzenalmente e teve duração de mais ou menos
dois anos. Para Soares (1998), não há registros da duração exata deste jornal. O
segundo periódico foi o Tacutu, criado em 1907, com circulação mensal. A duração
do Tacutu foi efêmera, durando apenas dois meses. Soares (1998) ressalta outros
jornais manuscritos do período, A Carvão e O Bem-te-vi. Esses periódicos se
limitavam a informar os atos do governo provincial, além de elogiar políticos locais.

Em 1914 passou a circular na Vila de Boa Vista do Rio Branco jornais


impressos em oficinas tipográficas. O primeiro foi o Rio Branco, com o subtítulo
Independente. A partir do segundo número muda o formato e o nome, que passa a
se chamar o Rio Branco - Orgam Hebdomadário, Literário, Noticioso e Comercial.
Tinha como proprietários Alfredo do Carmo Ribeiro e Diomedes Souto Maior. De
acordo com Soares (1998), noticiava em suas páginas informações sobre a região e
da elite local, além de divulgar artigos sobre o Rio Branco.

Nos anos de 1917 a 1918 surgiu o segundo periódico tipográfico intitulado


Jornal do Rio Branco - Orgam dos Interesses dos Moradores de Boa Vista, com
vários proprietários que incluíam Dias Medeiros e Cia; Mizael Guerreiro e a Prelazia
do Rio Branco, sua circulação era mensal. De 1919 a 1947 não há registros de
jornais locais circulando na Vila de Boa Vista do Rio Branco. Lima (2009) acrescenta
que os periódicos deixaram de circular no período devido a questões políticas e
financeiras.

A década de 1940 foi marcada por instabilidade econômica, política e social,


causadas pelas incertezas que a Segunda Guerra Mundial gerava em todo o mundo.
No Brasil, o contexto político era marcado pela política desenvolvimentista de Getúlio
Vargas, que visando integrar as fronteiras do país e assim como também proteger e
defender de possíveis ataques estrangeiros cria os territórios federais em 1943.
Assim, foi criado o Território Federal do Rio Branco, que visava integrar a região ao
restante do país. No mesmo período a imprensa local enfrenta significativas
21

mudanças, o governador Ene Garcez funda a Imprensa Oficial em 1947. O então


Boletim Oficial era imprenso em mimeógrafo (SOARES, 1998).

Em 1948 foi criado o primeiro jornal do Governo do Território Federal do Rio


Branco, O Boa Vista, com circulação semanal, divulgava notícias do governo e uma
variedade de informações segundo Soares (1998). O jornal O Boa Vista foi extinto
entre os anos de 1957 e 1958. Vale destacar que em 1962 e 1963 o mesmo
ressurge com o título de Boa Vista. Gonçalves (2008) ressalta que este jornal
circulou até 1983, onde noticiava as ações do governo e de políticos aliados.

Vários jornais surgiram a partir de 1950 fazendo oposição ao governo do Território,


geralmente ligados a políticos de oposição. O Átomo surgiu em 1951 e de acordo
com Gonçalves (2008) era o jornal mais lido do período, porque fazia duras críticas
ao governo e seus aliados.

Com o passar dos anos a disputa política se torna acirrada, jornais são criados com
o intuito de promover e apoiar políticos. Por outro lado, no mesmo período surgiram
jornais que adotavam em suas linhas editoriais uma política de oposição ao governo,
como o jornal Roraima e o Jornal Boa Vista, conforme Soares (1998).

A década de 1980 foi marcada pelo surgimento de vários periódicos, com estilos
variados de jornalismo “todos usados com cunho político” (GONÇALVES, 2008, p.
41). O jornal O Observador e o Folha de Roraima publicavam em suas páginas
críticas ao governo, que resolveu tomar medidas para barrar estes ataques, para
isso resolveu comprar os jornais de oposição ou fechar aqueles jornais.

Em 1998, com a passagem do Território para Estado, apareceram vários jornais


ligados a grupos políticos, merecem destaque: O Estado de Roraima, de
propriedade de Romero Jucá, que no ano de 1993 passou a se chamar O Caburaí,
veiculava em suas páginas apoio total a prefeita de Boa Vista e criticava o
governador Ottomar de Sousa de Pinto (GONÇALVES, 2008).

Dando suporte e viabilidade ao governo, desponta O Estado de Roraima (1990)


divulgando ações do governo em suas páginas. Para Lima (2008), apesar de
estarem ligados a grupos políticos, estes jornais contribuíram para o
desenvolvimento sociocultural do roraimense.
22

A história da imprensa escrita na década de 1990 foi marcada pelo surgimento de


vários jornais: Última Hora (1990); O Povo e a Cidade (1991); o Correio Roraimense
(1993); O Editorial - O arauto dos municípios (1993); O Correio Agrícola (1994). Silva
(2014) frisa que estes jornais eram ligados ou pertenciam a empresários e políticos,
o que acabava influenciando a escolha e a manipulação das notícias, deixando de
lado a imparcialidade adotada pelo jornalismo.

Por outro lado, em 1996 nasce um jornal ligado aos movimentos sociais, o
Vira-Volta - Comunicação Popular, segundo Soares (1998), de responsabilidade das
Entidades Sociais. De acordo com Silva (2014), o objetivo principal do Vira-Volta não
era apenas informar, mas formar a consciência cidadã da população. Já em 2006,
surge o jornal Brasil Norte, também ligado a um político acabando por seguir a
tradição jornalística roraimense e atender interesses políticos. O jornal Roraima Hoje
foi criado em 2006, sob a responsabilidade da Editora Boa Vista, para se opor ao
jornal Folha de Boa Vista, que mantinha em sua linha editorial motivações políticas
(SILVA, 2014).

Vários jornais eclodiram no decorrer desse período e quase todos adotavam


uma linha editorial de acordo com o grupo político que estava no poder no momento
ou seguiam suas ideologias. Neste contexto, surge o jornal Folha de Boa Vista, no
qual abordaremos mais profundamente no próximo capítulo.
23

3. A OCUPAÇÃO DE TERRAS NA AMAZÔNIA

Com o objetivo de encontrar o El Dorado, que de acordo com cronistas e


exploradores do período seria um local repleto de riquezas, expedições espanholas
adentraram a América do Sul. Joaquim (2003) frisa que entre 1541 e 1542 a
expedição organizada por Francisco Orellana navegou o rio Amazonas dos Andes
até a foz. Esta expedição tinha caráter de legitimar a posse das novas terras para a
Coroa espanhola. As frequentes invasões estrangeiras pela região induziu a Coroa
portuguesa a garantir a posse efetiva deste território. Ingleses, franceses e
holandeses iam aos poucos fundando fortificações e povoando a região amazônica.

Os espanhóis foram os precursores em explorar a região amazônica, porém


seu projeto colonial iniciado no século XVI foi interrompido por vários anos em
consequência da crise econômica que o Estado colonial espanhol estava
enfrentando, o que abriu espaço para os portugueses expandirem sua conquista no
vale amazônico (SOUZA, 2001). Do mesmo modo o autor frisa que o processo
colonial na região não foi uma tarefa economicamente rentável e os portugueses
ainda tiveram que enfrentar várias rebeliões indígenas que ocorreram no período. Os
Mura e os Manau resistiram bravamente contra a invasão de suas terras, porém
estas rebeliões foram contidas pelo Estado ocasionando o extermínio de aldeias e
etnias. Assim, em 1621 foi criado o Estado do Maranhão e Grão- Pará.

De 1750 a 1780, na administração do então ministro Sebastião José de


Carvalho e Melo, o marquês de Pombal, a colônia iniciou uma nova fase política e
econômica. Em 1755 foi criada a Companhia Geral do Grão-Pará que visava tirar a
Amazônia de sua estagnação econômica, as medidas adotadas foram a
comercialização dos produtos amazônicos, executado agora pela Companhia, a
introdução de escravos africanos na região, o fim da escravidão indígena, a retirada
do poder dos missionários sobre os aldeamentos e a expulsão dos jesuítas em 1759
(FARAGE, 1991).

O caráter expansionista adotado pela Coroa portuguesa na Amazônia tinha


interesse em inserir a região na economia europeia, para tanto se fez necessário
adotar várias medidas importantes. Ainda em 1755, Pombal fundou a Companhia
24

Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que detinha o monopólio sobre os


produtos extraídos e comercializados na região.

Com a secularização das aldeias e o seu poder temporal retirados dos


jesuítas, Pombal expulsa a Companhia de Jesus em 1759, sendo seus bens e
propriedades confiscados. Os aldeamentos tornaram-se laicos e transformados em
vilas e povoados, o casamento dos colonos com as índias passou a ser permitido,
servindo assim com o propósito de Portugal, que era se estabelecer definitivamente
na Amazônia.

As exportações na Amazônia tiveram um breve crescimento no século XVIII,


alavancada pela guerra da Independência norte-americana e a demanda europeia
de cacau. No Brasil, o contexto era o processo de Independência, que ocasionou
mudanças no cenário político em 1822. Na década seguinte o descontentamento na
Amazônia foi generalizado, a economia e a política local entraram em declínio.
Revoltas explodiram e foram duramente reprimidas. Contudo, nada se compara a
revolta ocorrida em 1835, a Cabanagem, assim chamada por causa dos cabanos
que eram índios, mestiços e negros. Joaquim (2003) define este movimento como
sendo a revolta da população contra a elite e o poder local.

A Cabanagem durou quase dez anos e no final da revolta não só a economia


estava destruída, como também a população foi drasticamente reduzida. Esse
cenário desolador começou a mudar quando se avançou a exploração da borracha
na região amazônica. Devido à grande seca ocorrida no Nordeste entre 1877 e
1879, vários nordestinos partiram para a Amazônia fugindo do flagelo da seca. A
chegada destes migrantes propiciou o crescimento demográfico da região, onde os
mesmos atuariam nos seringais.

Manaus e Belém se transformaram completamente após o ciclo da borracha,


seu perfil populacional foi alterado pelas ondas migratórias que conquistava judeus,
sírios, italianos e japoneses, os quais buscavam oportunidades de empregos na
região e eram atraídos pela riqueza do látex.

Após o apogeu da borracha, o monopólio começa a decair resultante da


concorrência asiática, que recebeu mudas de seringueiras contrabandeadas por
Henry Wickhan. Assim, o sudeste asiático foi transformado em seringais ordenados,
25

tornando a colheita mais fácil e mais rentável. Esse processo acabou com o
monopólio da borracha brasileira e afetou todo o sistema econômico da região, logo
o seringalista brasileiro perdeu espaço para a concorrência dos capitalistas asiáticos
(SOUZA, 2001).

Apesar da atuação do governo federal através do Plano de Defesa da


Borracha em 1912, tentando medidas de proteção para salvar a economia regional,
a crise econômica era irreversível e a região amazônica voltou a ser um território
empobrecido e abandonado, retrocedendo no tempo. Manaus e Belém tornaram-se
cidades obsoletas, os seringueiros viram-se livres do sistema semiescravo adotado
nos seringais, mas não puderam retornar para seus locais de origem. (JOAQUIM,
2003)

Visando incentivar a ocupação da região e a proteger de invasores


estrangeiros, foi criado, por Getúlio Vargas, o Movimento de Reconstrução Nacional
que tinha por objetivo desenvolver a economia e o progresso, melhorando,
consequentemente, a vida da população. Apesar do discurso elaborado de Vargas,
que queria integrar a região ao progresso econômico Souza (2001) cita que o único
ato concreto do presidente foi criar os Territórios Federais em 1943.

Pressionado pelo governo americano a implantar a produção da borracha na


região, uma vez que os japoneses tinham ocupado as áreas produtoras asiáticas,
Vargas promoveu uma operação denominada Batalha da Borracha, na qual milhares
de trabalhadores adentraram novamente a floresta para a extração da borracha.
Sobre este plano:

A campanha da borracha não era, na verdade, um plano de valorização


regional em longo prazo, embora assim se apresentasse, mas
consequência do esforço de manter a demanda da borracha e de outras
matérias-primas da selva em nível satisfatório ás exigências do mercado
internacional dominado pelos Estados Unidos (SOUZA, 2001, p. 200).

Objetivando realizar um pacto com as elites locais em troca da modernização


regional, Vargas criou novas medidas para alavancar a economia. Em 1942 foi
criado o Banco de Crédito da Borracha, que tinha como objetivo fomentar a
produção da borracha; várias colônias foram instaladas próximas às rodovias e
26

estradas. Bahiana (1991) destaca a Colônia Nacional do Amazonas em 1941 e a


Colônia Agrícola Nacional do Pará em 1942.

Com a chegada de Juscelino Kubischek à presidência da República, que tinha


dentro do seu plano de metas investir no setor rodoviário no Brasil e na região Norte
inicia um período de construção de estradas que iriam ligar a região ao restante do
país: a Brasília-Acre e a Belém-Brasília.

Após a instituição do golpe militar de 1964, o Estado consolidou sua presença


na Amazônia visando explorar os recursos naturais e desenvolver a agricultura. O
Programa Nacional de Desenvolvimento tinha como projeto principal a construção
Transamazônica. A construção destas rodovias priorizava ligar o litoral nordestino a
região e, assim, abrigar os nordestinos que estavam fugindo da seca (BAIHANA,
1991).

As ações dos governos militares voltadas para a Amazônia foram importantes nos
aspectos sociais e econômicos. Para Silva (2001), este crescimento só foi possível
devido ao predomínio constante do governo federal na região. Neste contexto, o
autor destaca a criação da Zona Franca de Manaus em 1967, que ocasionou uma
explosão demográfica em Manaus, que em 1968 tinha cerca de cinquenta mil
habitantes e saltou para seiscentos mil em 1975.

O processo de colonização dirigida adotada pelos militares foi responsável


pelo surgimento de núcleos urbanos. Conforme Becker (1998), a criação do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) em 1970 veio dar suporte ao
projeto de colonização de terras na Amazônia. Este projeto visava, principalmente,
distribuir terras na região. Outro fator que impulsionou a chegada de vários
imigrantes à região amazônica foi a mineração, que atraiu milhares de
trabalhadores. Vilas e cidades foram planejadas para abrigar esses trabalhadores
envolvidos na extração de minérios. A política de ocupação adotada pelo governo
intensificou os conflitos em toda a região.

De acordo com Becker (1998), estes conflitos não são mais apenas por terras,
mas pelo direito dos territórios onde se localizam as jazidas, que envolve empresas,
garimpeiros e índios. A usurpação de terras indígenas pela mineração ocorreu pela
problemática de a maioria não estar demarcada e sendo as mais cobiçadas por
27

abrigarem em seu subsolo vários tipos de minérios. A construção da rodovia


Perimetral Norte em 1974, dentro do território indígena Yanomami em Roraima,
quase dizimou os indígenas por epidemias de gripe e sarampo.

A colonização da Amazônia foi marcada desde o início por uma série de


conflitos e degradação do seu meio ambiente. A política adotada pelo governo de
modernizar e integrar a região contribuiu para expandir o progresso, porém, teve
impacto profundo na vida dos indígenas que habitavam este imenso território.
Crimes ambientais, invasões de terras indígenas e assassinatos destacam a
ocupação de terras na Amazônia.

3.1 A ocupação de terras em Roraima: antecedentes históricos

A ocupação e o processo colonizador na região do rio Branco ocorreram


desde o século XVIII. Os povos indígenas Macuxi, Wapixana, Ingarigó e Taurepang
vivenciaram um duplo processo de ocupação: a colonização portuguesa e a
holandesa. Segundo Farage e Santilli (1992), as expedições portuguesas no rio
Branco inicialmente tinham o objetivo de capturar indígenas e somente no final do
século estabeleceram aldeamentos. Da mesma forma, os holandeses realizaram na
região uma extensa rede de trocas de manufaturados por escravos índios.

Com o avanço espanhol e holandês na região, a ocupação efetiva tornou-se


crucial para a Coroa portuguesa que desenvolveu uma estratégia militar com o
objetivo de impedir essas invasões e iniciar a construção do Forte São Joaquim em
1775, que era vista pelos portugueses como uma barreira à invasão e desempenhou
papel importante na ocupação da região do rio Branco. Outra estratégia adotada
pelos portugueses para assegurar a posse da região foi o estabelecimento de cinco
aldeamentos que fracassaram no final do século XVIII. (MAGALHÃES, 2008)

Com a chegada de colonos civis na segunda metade do século XIX, a


pecuária tornou-se outra opção portuguesa para ocupar a região e visava integrar o
vale do rio Branco ao mercado interno colonial. Neste período, iniciou-se a
28

espoliação dos territórios indígenas que foram sendo invadidos por inúmeras
fazendas de gado. Com a ascensão da pecuária na região, incentivada pelo
Presidente da Província do Amazonas, as terras das Fazendas Nacionais foram
sendo ocupadas por particulares e pelos antigos administradores, conforme
registram Farage e Santilli (1992).

Após a criação do município de Boa Vista em 1890, a pecuária passa a


ocupar os campos da região. Assim, Vieira (2014) aponta que a formação de novas
fazendas foi intensa e contribuiu para enriquecer ainda mais os grandes
latifundiários, como o comerciante de Manaus JG Araújo, que em 1937 abarcava
uma grande fortuna e tinha quarenta fazendas na região.

Em 1943, foi criado pelo Governo Federal o Território Federal do Rio Branco,
desmembrando-o do Estado do Amazonas, e em 1962 esse território passou a ser
denominado Território Federal de Roraima. Para Lima (2008), o objetivo da criação
dos territórios foi ocupar os espaços vazios e garantir a segurança e a soberania
nacional.

Outro ponto no processo de ocupação em Roraima foi à exploração das


riquezas naturais desenvolvidas em terras indígenas, a descoberta de ouro e
cassiterita no território Yanomami, trouxe para a região mineradora e garimpeiros.
Neste contexto, Lima (2008) enfatiza que a população indígena passou a sofrer
violência e morte praticadas por garimpeiros, além das inúmeras doenças trazidas. A
garimpagem nas terras indígenas degradou o habitat natural dos Yanomami e
depois de muitas pressões o governo brasileiro proibiu a atividade garimpeira e
demarcou este território, em 1985, e iniciou as contestações sobre as demarcações
destas terras na imprensa local que alegava que havia favorecimento de interesses
internacionais e atrapalharia a economia da região.

A questão da demarcação das terras indígenas suscitou inúmeros debates no


Brasil. Em Roraima, destacamos a criação de várias organizações que se
mobilizaram lutando pelo direito às terras que tradicionalmente ocupavam e
assegurar a demarcação de seus territórios. Com a criação do Estado de Roraima
em 1988, a situação e disputa destas terras se mantém até os dias atuais.
29

Roraima é o estado com uma das maiores populações indígena do Brasil.


Conforme dados do Censo Demográfico de 2010, divulgado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), 49.637 pessoas se declararam indígenas em
Roraima. Os municípios de Uiramutã, Normandia, Pacaraima e Amajarí concentram
a maior proporção de índios no total da população. Representados pelas etnias
Macuxi, Ingarikó, Wapixana, Taurepang, Waimiri-Atroari, Wai-Wai, Patamona,
Yekuana e Yanomami. Observemos no mapa os municípios brasileiros com maiores
populações indígenas e o município de Uiramutã, que aparece na primeira
colocação, com 88,1%.

Tabela 1 – Municípios brasileiros com as maiores proporção da população indígena, por situação do
domicílio – Brasil – 2010.
30

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

3.2 A Terra Indígena Raposa/Serra do Sol

A demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol gerou


muita discussão e vem se prolongando até os dias atuais. O tema foi debatido,
analisado e muito criticado pelos diversos setores da sociedade. Os principais
31

questionadores foram os políticos locais, fazendeiros, pecuaristas e alguns líderes


indígenas que defendiam a tese que a demarcação e homologação em área
contínua comprometeria o desenvolvimento econômico de Roraima.

A Terra Indígena Raposa/Serra do Sol compreende uma área de 1.680.000


ha, situada no nordeste de Roraima, entre os municípios de Pacaraima, Uiramutã e
Normandia. Para Lima (2009), a área está compreendida por uma região de planície
(Raposa) e uma montanhosa (Serra do Sol). Faz fronteira com a Venezuela e a
Guiana, vivem nesta área as etnias Macuxi, Wapixana, Ingaricó, Taurepang e
Patamona, esses grupos vivem dentro da área indígena, porém cada etnia se
concentra em aldeias separadas.

Uma definição de Santilli (2001, p. 95) aponta a Raposa/Serra do Sol como


uma área extensa e “ecologicamente diferenciada”. No entanto, a região se destaca
por sua diversidade, com uma área de campos, florestas e serras. Os índios que
moram na região dos campos praticam à pesca, agricultura e pecuária; a caça,
coleta e agricultura são praticadas na área das serras. É possível identificar dentro
da área uma diversidade de frutos que são comercializados pelos índios. Desde
modo, percebemos o quão é importante para as etnias que habitam a região a
demarcação da forma e da dimensão física como foi demarcada e homologada,
porque os indígenas precisam reproduzir sua cultura e seu modo de vida.

A seguir, o mapa da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol.

Figura 1- Mapa da Terra Indígena Raposa/ Serra do Sol.


32

Fonte: Pemongon Patá: Território Macuxi, rotas de conflito. (SANTILLI, 2001, p. 77)
33

A seguir, imagem da Raposa/Serra do Sol, notando-se as serras também dentro da


Raposa/Serra do Sol.

Figura- 2 - Imagem da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol

Fonte: Funai, 2013

Todas as demarcações de terras indígenas no país ocasionaram vários


debates, porém o conflito em torno da demarcação e homologação da Terra
Indígena Raposa/Serra do Sol foi intenso, criticado e debatido entre os diversos
setores da sociedade, principalmente entre os representantes do poder político
roraimense os rizicultores que plantavam na região. As críticas eram acirradas e
defendiam a demarcação em ilhas, não em terras contínuas. Essa opinião contou
ainda com a participação de alguns índios, que representados por entidades
indígenas se posicionaram contra a demarcação contínua. Neste contexto,
destacamos o posicionamento da Sociedade de Defesa dos índios do Norte de
Roraima (SODIUR) e a Associação Regional do Rio Kinô, Cotingo e Monte Roraima
(ARIKON), justificando que a demarcação contínua retiraria não índios e ocasionaria
o enfraquecimento da economia indígena. Para os indígenas, lutar para ter suas
terras demarcadas significa manter seu modo de vida tradicional e sua cultura
34

diversificada. No entanto, o principal argumento defendido pelos indígenas na luta


pela demarcação é para lutar contra o extermínio de suas etnias. Assim, frisamos
que a maioria dos atos violentos praticados contra os povos indígenas estão
relacionados à disputa da terra.

Apesar de a Constituição Federal de 1988 declarar nos artigos 231 e 232 que
“terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se à sua posse
permanente” (BRASIL, 1998), pouco ou nada se fez para garantir ao índio direito
relacionado à terra. A inércia do Governo Federal e a instabilidade jurídica permitem
que a Constituição não seja cumprida em relação a demarcação e homologação das
terras indígenas, permitindo o agravamento dos conflitos entre índios e não índios,
estes últimos utilizando violência, pressão e morte. Apesar de concordar que os
índios tenham direito a terra que tradicionalmente ocupam, Rebelo (2010) destaca
que as demarcações de terras indígenas no Brasil foram marcadas por distorções.
Corroborando para o discurso que essas demarcações objetivavam interesses
internacionais por se tratar de uma área onde estariam localizadas as maiores
reservas minerais do mundo.

Desde o início da colonização os índios da Raposa/Serra do Sol foram obrigados a


enfrentarem diversas invasões. Santilli (2001), em sua obra Pemongon Patá:
Território Macuxi, rotas de conflito, faz uma análise da garimpagem na área
indígena. O autor observa que a invasão de garimpeiros iniciou-se na década de
1920, mas com a proibição do garimpo na área Yanomami, o foco garimpeiro
passou a ser a área da Raposa/Serra do Sol. Neste contexto, Santilli (2001) enfatiza
que a garimpagem na região produziu efeitos socioambientais muito nocivos à
população indígena, porque causou degradação dos rios e do meio ambiente.
Queremos destacar que o garimpo na Terra Indígena Raposa/Serra do Sol teve um
impacto profundo, porque influenciou diretamente no sistema social e econômico do
índio, além de trazer inúmeras doenças e submeter o indígena a vários tipos
violência.

Sobre as ocupações ilegais a terra indígena em questão Vieira (2014) destaca a


realizada por rizicultores, que chegaram à região na década de 1970 ocupando as
áreas mais produtivas, foram alargando seus domínios e compravam terras de
antigos fazendeiros. Conforme Vieira (2014, p.198):
35

Em 2010 estavam localizados numa área de mais de 100 mil hectares, com
uma produção de 160 mil toneladas de arroz irrigado anualmente, mais de
30 mil cabeças de gado e mais três mil hectares de plantação de soja.

As invasões patrocinadas por pecuaristas e rizicultores na área da


Raposa/Serra do Sol foram traumáticas para os índios que ao longo deste processo
foram perdendo seus territórios e diferentemente do que a historiografia local
ressalta as relações entre índios e não índios não foram brandas e nem
harmoniosas. As ações violentas praticadas contra os povos indígenas sempre
existiram desde o início da ocupação, porém tornaram-se mais frequentes e
aumentaram significativamente ao longo do processo da demarcação e
homologação desta área indígena. Os atos violentos contra os indígenas estão
diretamente ligados a não demarcação e homologação de suas terras,
proporcionada pela não fiscalização e inexistência de políticas públicas que
possibilitasse a autonomia e o desenvolvimento das várias etnias.

Sem apoio do Estado, os indígenas foram obrigados a escolher o conflito


direto para se defenderem e suportar a violência de seus oponentes. A Fundação
Nacional do Índio (FUNAI) tem-se mostrado ineficiente na efetivação da política
indigenista e age contrária aos seus objetivos que é apoiar e defender os interesses
dos povos indígenas.

Apesar da violência a que eram submetidos, os índios da Terra Indígena


Raposa/Serra do Sol passaram a reivindicar seus direitos. A organização indígena
desempenhou um papel importante na trajetória em busca da demarcação e
homologação de suas terras onde os indígenas passaram a criticar e a contestar
seus direitos através das lideranças. Segundo Vieira (2014), a partir de 1960 a
resistência indígena se intensificou, as reuniões organizadas pelos padres da
Consolata inicialmente tinham caráter religioso, porém no decorrer dos anos serviu
para os índios darem visibilidade aos problemas enfrentados nas comunidades e de
certa foram expor a violência que sofriam em defesa de seus territórios. Assim
sendo, salientamos a atuação de ONGs junto às comunidades indígenas que
contribuíram para destacar os conflitos e a violência acometida aos índios.
36

4. O PROCESSO DE DEMARCAÇÃO E HOMOLOGAÇÃO DA TERRA INDÍGENA


RAPOSA/SERRA DO SOL

As discussões a respeito da demarcação e homologação da área conhecida


hoje como Raposa/Serra do Sol tiveram início ainda no século XX, quando surgiram
as primeiras tentativas governamentais para demarcar o território. A violência e o
sofrimento impostos aos índios no decorrer da história impulsionou alguns setores
da sociedade a cobrar que esta terra fosse demarcada.

O processo de demarcação e homologação deste território indígena se


arrastou por anos e repercutiu na imprensa nacional e internacional. A Terra
Indígena Raposa/ Serra do Sol passou a ser alvo de contestação tanto judicial como
civil organizado por políticos que representavam o Estado. Além de terem sido
criados os municípios de Normandia, Pacaraima e Uiramutã dentro da área
indígena. Vieira (2014) frisa que a criação de Pacaraima e Uiramutã teve o intuito de
dificultar a homologação em área contínua.

A ocupação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol foi traumática para os índios


que foram perdendo seus territórios desde o início da colonização da região do rio
Branco. De acordo com Lima (2008), foi somente em 1977 que a Fundação Nacional
do Índio deu início ao processo de demarcação desta área indígena. Deste modo, foi
instituído um Grupo de Trabalho Interministerial para identificar o espaço, porém
este relatório não chegou a ser finalizado. Em 1979 um novo Grupo de Trabalho deu
sequência à identificação parcial da região. Em 1984, outro Grupo de Trabalho
realizou trabalhos inconclusivos e em 1988, mais um Grupo procedeu com o
levantamento fundiário da área, mas assim como nos demais os trabalhos não foram
finalizados. Somente em 1992 foram concluídos os trabalhos de reconhecimento da
extensão contínua da área.

Veras (2014) destaca que o grupo técnico que atuou neste processo fazia parte da
Secretaria do Meio Ambiente, Interior e Justiça do Estado de Roraima; técnicos da
Fundação Nacional do Índio; representantes da Igreja Católica; Conselho Indígena
Missionário e Diocese de Roraima. Para o autor, os relatórios elaborados pelos
técnicos que atuaram no processo demarcatório tiveram algumas distorções e não
37

foram consistentes, houve erros, pois deixaram de ouvir os não índios e os índios
que não eram ligados ao Conselho Indígena de Roraima. Assim, ressaltamos que os
índios que se posicionaram contrários a demarcação em área contínua eram ligados
à SODIUR e a ARIKON.

Como já foi citado, a Igreja Católica fez parte do Grupo Técnico que atuou no
processo da demarcação da terra indígena. De acordo com Santilli (2001), as ações
da Igreja Católica foram essenciais e decisivas nos processos de identificação e
homologação da Terra Indígena Raposa/ Serra do Sol, o que levou a Igreja a sofrer
ataques de políticos locais, empresários e da imprensa local.

Apesar dos protestos e ações judiciais realizados por políticos locais,


fazendeiros, rizicultores, pecuaristas e garimpeiros, a Terra Indígena Raposa/Serra
do Sol finalmente foi demarcada em 11 de dezembro de 1998 pelo então Ministro da
Justiça Renan Calheiros, que assinou a portaria nº 820/98. A notícia da demarcação
causou muita discussão em Roraima. A imprensa local atuou como defensora dos
contrários a demarcação em área contínua, desta forma, o tema passou a ser pauta
constante no jornal Folha de Boa Vista, onde opositores declaravam, que a
demarcação e homologação não atendiam as necessidades dos índios, mas os
interesses de ONGs e do CIR.

Conflitos, violências e assassinatos marcaram todo o período da demarcação.


Em 15 de abril de 2005, o Decreto Presidencial da homologação da Terra Indígena
Raposa/Serra do Sol foi sancionado pelo então presidente da República Luiz Inácio
Lula da Silva e publicado no Diário Oficial da União:

Fica homologada a demarcação administrativa promovida pela Fundação


Nacional do Índio - FUNAI, a Terra Indígena Raposa Serra do Sol,
destinada à posse permanente dos Grupos Indígenas Ingarikó, Macuxi,
Patamona e Wapixana [...] tem a superfície total de um milhão, setecentos e
quarenta e sete mil, quatrocentos e sessenta e quatro hectares, setenta e
oito ares e trinta e dois centiares e o perímetro de novecentos e setenta e
oito mil, cento e trinta e dois metros e trinta e dois centímetros, situada nos
municípios de Normandia, Pacaraima e Uiramutã.

Em 2009 o Supremo Tribunal Federal ratificou o Decreto Presidencial da


homologação por entender que todo o processo de identificação, demarcação e da
38

própria homologação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol ocorreu dentro das leis
vigentes no país, anulando assim as Ações Judiciais impetradas pelos políticos de
Roraima que alegavam que o processo foi ilegal.

Desta forma, a demarcação e homologação em área contínua da


Raposa/Serra do Sol serviram para que os índios mantivessem seus costumes e
tradições, mas, principalmente, serviu para dar esperança para os indígenas que ao
longo da história tiveram seus territórios invadidos e onde muitos perderam a vida
lutando para manter suas terras.

4.1 A ideologia e a linha editorial adotada no jornal Folha de Boa Vista

A atuação da imprensa é importante na vida dos brasileiros. Desde seu


surgimento em 1808, é testemunha de várias mudanças ocorridas no país, sejam
elas políticas, sociais e/ou econômicas. Não se pode negar sua importância para a
sociedade, a qual assume condição de intermediária. Neste contexto, é relevante
frisar que o papel da imprensa é manter-se neutra e isenta ao publicar uma notícia.

Na história da imprensa no Brasil, observamos a atuação da imprensa na


defesa de interesses políticos e econômicos como instrumento da manutenção do
poder. Em Roraima é perceptível a atuação da imprensa servindo a interesses do
poder político, principalmente em relação a questão da demarcação e homologação
da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol.

Compreendemos a relevância de uma análise da ideologia adotada na linha


editorial do jornal Folha de Boa Vista sobre a demarcação e homologação da
Raposa/Serra do Sol por acreditarmos que o jornal servia aos interesses dos
poderosos locais. Defendemos também, que quando um jornal publica uma notícia
deve-se ter em mente que a mesma está carregada de informações subjetivas.
Assim sendo, Silva e Vieira (1995) defendem que o jornal Folha de Boa Vista era
conivente com as classes dominantes: políticos, fazendeiros, rizicultores,
mineradores e empresários.
39

O jornal Folha de Boa Vista, objeto de estudo desta pesquisa, começou a


circular na cidade de Boa Vista no dia 21 de outubro de 1983. Surgiu da ideia de
quatro jornalistas: Fernando Estrella, Cosete Spíndola, Sônia Tarcitano e Cícero
Cruz Pessoa. Estes jornalistas tinham o idealismo de fundar um jornal em Boa Vista,
desvinculado de grupos políticos, mas faltavam condições financeiras (SOARES,
1998).

Em sua fase inicial, o jornal Folha de Boa Vista enfrentou muitas dificuldades.
Como não tinham como imprimir o jornal, os jornalistas “tiveram a ideia de rodar em
Manaus na Editora Calderaro, uma vez por semana” (SOARES, 1998). Seis meses
após a publicação da primeira edição é que a equipe conseguiu empréstimos
financeiros em um banco e assim comprar equipamentos para montar a gráfica em
Boa Vista. Outro problema apontado por Silva (2014) era o desgaste dos
equipamentos que quebravam com frequência e não havia peças para reposição.

Com o agravamento das dificuldades financeiras, a solução encontrada pelos


fundadores do jornal foi vender e doar as ações para que o jornal não fechasse. O
novo proprietário, Eloy Santos, conseguiu estruturar o jornal e no mesmo período a
linha editorial mudou o direcionamento e passou a abranger uma ideologia política
(LIMA, 2009).

Em 1998, o jornal foi vendido a Getúlio Cruz, então ex- governador, que impôs
um novo estilo ao jornal (SILVA, 2014). O projeto adotado por Getúlio Cruz foi o de
um projeto de um jornal diário, onde o mesmo fez várias modificações que incluíam
dispensar alguns funcionários, e o jornal passou a circular apenas três vezes por
semana (SOARES, 1998). Na mesma época circulava também o jornal Estado de
Roraima, que concorria com o Folha de Boa Vista, além de outros jornais, o que veio
agravar os problemas financeiros do jornal.

Para Soares (1998), o fator primordial utilizado por Getúlio Cruz para manter a
consolidação do jornal Folha de Boa Vista no mercado foi a instabilidade da
circulação e a criação do Classifolha, que publicava anúncios do mercado privado e
permitiu à empresa instabilidade econômica.

Apesar das dificuldades, o jornal conseguiu manter-se até os dias atuais, a


intuição do proprietário alinhado a percepção de mercado tornou-se responsável por
40

consolidar o jornal em circulação. Desta forma, o jornal Folha de Boa Vista foi
determinando suas características próprias e circula atualmente de segunda a
sábado, e desde 1998 possui uma edição on-line, a Folha Web (SILVA, 2014).

Em suas páginas diárias que incluíam a Coluna Parabólica, as charges e as


próprias matérias principais, o jornal não adotou uma postura imparcial sobre o
tema, ou mesmo mantinha-se em total silêncio quando era conveniente. Para
Carneiro (2013) esta atitude adotada pelo jornal revelava uma aversão à causa
indígena, uma vez que o jornal era apoiado por grupos políticos e econômicos e
atendia aos interesses dos mesmos.

Assim, convém-nos questionar se a linha editorial do jornal Folha de Boa Vista


sempre esteve ligada a grupos políticos. Para Soares (1990), inicialmente a linha
editorial do jornal era mais independente, por não está ligada a nenhum grupo
político. Esta afirmação foi questionada por Getúlio Cruz que defende que a linha
editorial continua a mesma. Porém, para Silva e Vieira (2014) a imparcialidade e a
isenção política não predominam nas matérias publicadas pelo jornal, deixando clara
a ideologia adotada pelo proprietário, que aliado à grupos políticos e empresários
utilizam o jornal Folha de Boa Vista para dar ênfase ao seu posicionamento contrário
à questão e criticando ferozmente a demarcação e homologação da Terra Indígena
Raposa/Serra do Sol.

De acordo com Bahia (1990), editorial seja ele no jornal, revista, rádio ou
televisão como sendo o seu ponto de vista do dono e o que pensa sobre
determinado assunto. Do mesmo modo, Melo (2003) frisa que o editorial expresso à
opinião das forças que mantêm a instituição jornalística e pretende orientar a opinião
pública. A linha editorial do jornal Folha de Boa Vista noticiava informações
preconceituosas em relação a demarcação e homologação da Terra Indígena
Raposa/ Serra do Sol e tentava persuadir seus leitores em relação à questão,
utilizando uma linguagem direta e tendenciosa.

A demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol foi


pauta constante no jornal Folha de Boa Vista, onde eram comuns reportagens em
que políticos, fazendeiros e advogados escreviam artigos contrários a demarcação
nos seus editoriais.
41

Deste modo, Silva e Vieira (2010) sublinham que a mídia local nunca
defendeu de verdade os interesses da sociedade roraimense. Em se tratando da
demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol ficou evidente
seu posicionamento contrário em relação à questão:

O jornal Folha de Boa Vista, ideologicamente, foi importante na formação da


opinião pública, pois na maioria dos seus espaços como: coluna Parabólica,
de opinião, charges e manchetes que trata da questão indígena, sempre foi
vista como movimento contrário ao desenvolvimento econômico de
Roraima.

De acordo com Luft (2005), inúmeros artigos e reportagens foram publicados


diariamente no jornal sobre a demarcação e homologação da Terra Indígena
Raposa/Serra do Sol, onde contrários e a favor da questão defendiam seus pontos
de vista. A autora também ressalta que a linha editorial do jornal era conivente com
setores políticos. Então é relevante analisar as inúmeras matérias distorcidas e
preconceituosas sobre o tema. Partindo do que já foi exposto nesta pesquisa, que o
jornal atuava em virtude dos interesses do poder político local, é essencial um olhar
minucioso para as matérias publicadas nos diversos setores do jornal Folha de Boa
Vista.

4.2 As notícias vinculadas sobre a demarcação e homologação

Neste tópico abordaremos as notícias sobre a demarcação e homologação da


Raposa/Serra do Sol. Analisaremos também as charges publicadas pelo jornal nos
artigos de opinião, que evidenciava claramente o preconceito contra o índio.

A notícia dentro do jornal é um texto informativo, com temas variados atuais e


importantes para a sociedade, deve ser pautada na veracidade dos fatos e clareza
de informações. Para Bahia (1990), a notícia é tudo que o jornal publica e a maneira
do jornalismo registrar e levar os fatos ao público. Já Melo (2003) define notícia
como o relato integral de um fato importante no momento.

Para os autores o que torna uma notícia diferente da outra e o que influencia
a seleção das notícias é a ideologia no editorial. A linha editorial geralmente segue
42

uma visão política e econômica, e assume papel de influenciar seus leitores. Assim,
para Motta (2002), os fatores principais na seleção das notícias são as ideologias,
que pode ser direta, coercitiva, indireta e sutil. Neste sentido, para a Análise do
Discurso (AD), a ideologia está presente na construção do discurso e sugere
compreender a construção deste discurso.

Conforme Melo (2003), charge é uma crítica humorística de um fato ou


acontecimento específico onde a opinião se manifesta explicitamente. Ainda
segundo o autor, as charges exercem influência para criticar, humanizar e
popularizar certos personagens ou fato. Porém, as charges publicadas pelo jornal
enfatizavam somente uma visão da questão, neste caso, a opinião contrária a
demarcação.

Percebe-se então que as notícias e as charges publicadas no referido jornal a


respeito da demarcação eram preconceituosas e tendenciosas, onde a manipulação
tinha por objetivo impor a visão e os interesses de grupos que dominavam o Estado.
De acordo com Carneiro (2013), a postura do jornal era distorcer propositalmente as
informações para inviabilizar o processo demarcatório, onde o discurso
predominante era o instrumento da ideologia dominante e assim excluir os
indígenas.

Para a AD, o discurso é a construção da linguagem dentro do contexto social


em que o autor da fala está inserido. A ideologia presente em um discurso também é
construída e influenciada dentro desse mesmo contexto. Assim, segundo Dantas
(2007), em um discurso sujeito e ideologia são uma e a mesma realidade, e se
destacam simultaneamente.

De 1998 a 2005, o jornal Folha de Boa Vista publicou inúmeras notícias sobre a
questão da demarcação. Os discursos defendidos pelo jornal eram de que a
demarcação contínua atrapalharia o desenvolvimento econômico de Roraima.
Destacamos também que foi muito divulgado pelo jornal que ONGs estrangeiras
tinham interesse em internacionalizar a Amazônia. Segundo Carneiro (2013), o
jornal criminalizava o índio e defendia seu posicionamento pela demarcação em
ilhas, e excluíam totalmente a realidade histórica e o contexto das lutas indígenas
em favor da demarcação de suas terras em área contínua.
43

Embasados pela Análise do Discurso, analisaremos as seguintes notícias:

1. Parabólica – Página 03 – 2 de outubro de 1998.

2. Estado vai contestar Funai na Justiça – Página 04 – 11 de novembro de 1998.

3. Deputado diz que internacionalização da Amazônia brasileira não é delírio –


Página 07 – 22 de setembro de 1999.

4. Charge: “Despejo” - Página 02 – 06 de novembro de 2002.


5. Rizicultores afirmam que pode faltar arroz RR – Página 03 – 02 de dezembro de
2002.

6. CIR acusa arrozeiros pelos atentados – Página 07 – 24 de novembro de 2004.

7. Lula homologa Raposa/Serra do Sol e entidades dizem que vão recorrer – Capa
– 16 e 17 de abril de 2005.

8. Boa- vistenses vão às ruas e fazem vigília em protesto contra demarcação –


Capa- 18 de abril de 2005.

9. Reservas ocupam 90% do território roraimense – Página 05 – 18 de abril de


2005.

10. Charge: “Tensão no ar” – Página 02 – 26 de abril de 2005.

As notícias publicadas pelo jornal Folha de Boa Vista se inserem no contexto da


Análise de Discurso e de seus conceitos propostos, a formação discursiva e
ideológica influenciam diretamente o discurso do sujeito e de sua inserção na
linguagem. Para a AD, o sujeito instigado pela ideologia nega os significados
históricos e naturaliza os fatos para que o discurso faça sentindo. Nesse sentido, a
linguagem utilizada pelo jornal expõe um discurso para comunicar ou não
comunicar. As notícias e as charges divulgadas no jornal primavam os discursos
tendenciosos e contrários dos grupos econômicos e políticos em relação a
demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol.

Ressaltamos que as notícias analisadas nesta pesquisa abrangem um período que


vai de 1998 à 2005, tempo correspondente ao processo de demarcação e
homologação. Salientamos que o jornal publicou inúmeras notícias sobre o tema
44

quando iniciaram os levantamentos fundiários na área indígena. Porém, destacamos


que as discussões tornaram-se mais acirradas e passaram a ser pauta constante no
jornal no ano de 1998, época da demarcação. Assim, iniciamos com a análise da
notícia publicada na editoria “Política” do dia 22 de outubro de 1998.

Figura 03: Notícia assinada da editoria Política - Página 03, 22 de outubro de 1998.

Fonte: Folha de Boa Vista, 1998.


45

A notícia publicada no editorial “Parabólica” destaca a preocupação do jornal


sobre a questão da demarcação em área contínua. A notícia ressalta que a
demarcação estaria contrariando a vontade de toda a classe política e a sociedade
civil. Na verdade, esse é o discurso defendido por políticos e empresários, que
tentam influenciar a opinião pública com seus discursos contrários. O que
percebemos é a manipulação e imparcialidade do jornal quando publica que a
demarcação em área contínua acabaria com a única atividade agrícola, a cultura do
arroz em Roraima. O que segundo a coluna seria uma tragédia para o estado se os
rizicultores fossem expulsos de suas terras. Em nenhum momento a publicação frisa
que as terras citadas foram tomadas por estes rizicultores e fazendeiros que
usurparam as terras o consentimento do Estado. A historiografia de Roraima ressalta
o uso de forças físicas, ameaças e mortes em todo o período da ocupação à Terra
Indígena Raposa/Serra do Sol.

Figura 04: Notícia assinada da editoria Política- Página 04, 11 de novembro de 1998.

Fonte: Folha de Boa Vista, 1998.

Nesta notícia apresentada na editoria de “Política”, percebemos o


posicionamento do governador Neudo Campos que em entrevista à imprensa
46

declara que o Estado vai recorrer da decisão e contestar na Justiça a demarcação


da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol em área contínua. Segundo a informação do
jornal, a demarcação iria acarretar inúmeros prejuízos econômicos ao Estado,
principalmente aos moradores da região, entre eles rizicultores e fazendeiros. Assim,
salientamos que o discurso do jornal era defender os interesses dos rizicultores e
fazendeiros. A nota ainda frisa que não houve qualquer entendimento entre o
governo do Estado e a Funai, forçando assim o Estado a “brigar” na Justiça e
prevalecer os direito dos não-índios.

Desta forma, evidenciamos que não existe relevância para o Estado em cumprir a
Constituição Federal que declara nos artigos 231 e 232 que as terras ocupadas
tradicionalmente pelos índios destinam-se à sua posse permanente.

Figura 05: Notícia assinada da editoria Municípios – Página 07, 22 de setembro de 1999.

Fonte: Folha de Boa Vista, 1999.


47

Durante todo o processo da demarcação e homologação da Terra Indígena


Raposa/Serra do Sol inúmeras notícias foram publicadas pela imprensa local. Vários
discursos contrários à demarcação e homologação em área contínua
multiplicavamse no noticiário. Um discurso muito divulgado no jornal Folha de Boa
Vista era de que a demarcação atenderia interesses internacionais para
internacionalizar a Amazônia, com a ajuda de Organizações Não Governamentais
(ONGs) que atuavam nas áreas indígenas. A notícia destaca o discurso do deputado
Mecias de Jesus que contesta as críticas que recebeu de religiosos, dirigentes de
ONGs e políticos ligados a partidos de esquerda em resposta a fala do deputado
que declarou que o interesse em demarcar e homologar a área Raposa/Serra do Sol
seria para beneficiar estrangeiros interessados nas riquezas da região. Ainda
segundo o deputado, essas entidades teriam suas ações patrocinadas por capital
estrangeiro e o propósito seria a exploração dos minerais existentes no subsolo das
áreas indígenas. Conforme Carneiro (2013), esse discurso sobre a
internacionalização da Amazônia foi muito cantado e decantado na sociedade
política roraimense e na região como um todo.

Figura 06: Charge “Despejo” – Página 02, 06 de setembro de 2002.

Fonte: Folha de Boa Vista, 2002.


48

A charge é um texto humorístico e opinativo. Destaca a opinião de determinado


acontecimento, seu objetivo é criticar um personagem que está em evidência. Assim
sendo, as charges publicadas pelo jornal Folha de Boa Vista retratam a questão
indígena de forma depreciativa e preconceituosa, construindo uma imagem do índio
desvalorizado e manipulado. Da mesma forma foram publicadas várias charges que
retratavam a criminalização indígena, apresentando-o como marginal e violento.
Esta charge divulgada na editoria de Opinião, como o título de “Despejo”, expressa
que há um diálogo entre dois personagens, o primeiro seria um fazendeiro e o
segundo um civil e temos ainda um terceiro personagem que de acordo com a
charge seria um indígena que se mantém alheio à discussão, mas que seria
beneficiado com a retirada dos rizicultores da área indígena. Ao analisarmos a figura
do índio percebemos que o mesmo foi retratado usando roupas modernas e tênis e
estaria ouvindo música, numa alusão a um dos discursos defendido pelos contrários
à demarcação e homologação de que os índios seriam aculturados e não
necessitavam de 1.7 milhões de hectares da área contínua que foi demarcada.
49

Figura 07: Notícia assinada da editoria Política – Página – 03, 03 de dezembro de 2002.
50

Fonte: Folha de Boa Vista, 2002.

Após a demarcação ocorrida em 1998, inúmeras notícias foram produzidas pelo


jornal Folha de Boa Vista sobre a questão. Os editoriais ressaltavam o
posicionamento contrário e agora buscavam apoio perante a sociedade para
impossibilitar a homologação. Nessa notícia divulgada na editoria de Política
observamos que após o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) negar ao governo do
Estado o pedido feito em mandato de segurança para anular os efeitos da Portaria

820, vários rizicultores organizaram protestos no Centro Cívico de Boa Vista. A
notícia enfatizada pelo jornal apresenta o discurso dos rizicultores que afirmavam
que faltaria arroz em Roraima. O jornal entrevistou dois produtores rurais que
expressaram a preocupação pela homologação, onde os mesmos teriam que deixar
a área se a terra indígena fosse homologada. No trecho do discurso de um produtor
que declarou: “estão querendo nos expulsar de nossas áreas produtivas e este é o
retrato do que será o futuro do Estado”, notamos que o jornal deixou de divulgar que
estes produtores assim como os fazendeiros e garimpeiros ocuparam a Terra
Indígena Raposa/Serra do Sol. Mais uma vez, o jornal silencia quanto ao direito do
índio dando amplo espaço para as notícias que propagam discurso contrário à
homologação. Corroborando com o discurso da elite de que os índios e a
demarcação de suas terras atrapalham o desenvolvimento econômico de Roraima.

Figura 08: Assinada da editoria Cidade – Página 07, 24 de novembro de 2004.


51

Fonte: Folha de Boa Vista, 2004.

O contexto da área hoje denominada Raposa/Serra do Sol foi marcado por


disputas relacionadas a questão da terra. Conflitos violentos marcaram todo o
período colonial, estendendo-se até os dias atuais. Os primeiros que adentraram à
área foram lentamente se apoderando das terras e ao se instalarem começaram a
praticar violência contra os índios, queimando aldeias e pressionando-os a
trabalharem forçadamente. Nas décadas seguintes a violência contra o indígena
aumentou significativamente. Agressões físicas e verbais, prisões e assassinato
definiram todo o período do processo da demarcação e homologação. Ressaltamos
que durante a mesma época outros invasores chegaram a região, usurpadores de
terras, garimpeiros e fazendeiros.

No decorrer de todo o procedimento da demarcação e homologação várias notícias


sobre a violência sofrida pelos indígenas tiveram notoriedade nos jornais locais e
nacionais. A notícia publicada no editorial Cidade relata uma tentativa de homicídio
contra um índio e que aldeias foram queimadas na região de Normandia. A nota
ainda frisa que houve conflitos entre arrozeiros e índios contrários a homologação.
Percebemos na notícia e no subtítulo o destaque que o jornal deu ao publicar que
índios tinham praticado os atos violentos. Numa tentativa de minimizar o conflito. O
52

CIR acusa os arrozeiros, encabeçados pelo prefeito de Pacaraima, Paulo César


Quartieiro, de terem praticado tais atos. Numa ação com intuito de amedrontar a
aldeia os invasores queimaram e destruíram a roças e as criações que os índios
mantinham, conforme a nota, realmente houve espancamento de um índio que
precisou ser atendimento no Pronto Socorro Estadual devido à gravidade dos
ferimentos. A fala do tuxaua foi relevante e evidenciou a violência praticada na
região pelos latifundiários que não aceitaram a homologação e estavam dispostos a
tudo para atrapalhar a homologação. A utilização de violência como prática para
subjugar o outro esteve sempre presente no processo de colonização da região e se
perpetuou durante o processo da demarcação e homologação da Terra Indígena
Raposa/ Serra do Sol. Muitas vezes com o Estado atuando e concordando com a
violência contra os índios.
53

Figura 09: Notícia principal de primeira página – Página 1A, 16 e 17 de abril de 2005.

Fonte: Folha de Boa Vista, 2005.

No dia 15 de abril de 2005 o dia amanheceu tenso em Roraima, a Terra


Indígena Raposa/Serra do Sol foi homologada pelo presidente Luís Inácio Lula da
Silva. As notícias divulgadas pela imprensa local retratavam um discurso de tristeza
e revolta. Entidades Indígenas como a Arikon e a Assembleia Legislativa de Roraima
divulgam notas contrárias a decisão e multiplicaram-se no jornal Folha de Boa Vista
editoriais consternados pela assinatura da homologação. Destacando assim o
posicionamento do jornal sobre a questão. Essa notícia foi capa do jornal e assim
como os editoriais desse dia eram sobre a assinatura da homologação. A nota ainda
frisa que o Governo do Estado e entidades do setor produtivo entrarão com uma
ação contra a União para anular a Portaria 534 do Ministério da Justiça que definiu
os limites da área indígena Raposa/Serra do Sol.
54

Figura 10: Notícia principal da primeira página – Página1 A, 18 de abril de 2005.

Fonte: Folha de Boa Vista, 2005.

Essa notícia publicada na primeira página do jornal destaca que a população boa-
vistense vai às ruas protestarem contra a homologação assinada pelo presidente
Lula. A nota ressalta que dezenas de pessoas participaram do protesto na praça do
Centro Cívico. Segundo o jornal a foto da capa traduz o sentimento de revolta entre
os boa-vistenses pela homologação da Terra Indígena Raposa/ Serra do Sol. As
notícias divulgadas pelo jornal após a assinatura da homologação eram exaltadas,
sempre acentuando que o Estado perderia muito com a homologação e os indígenas
seria um empecilho para o desenvolvimento econômico de Roraima. Desta forma,
realçamos que o jornal não agiu com parcialidade em relação à questão, deixando
evidente seu posicionamento a favor da elite local.
55

Figura 11: Notícia assinada da editoria Cidade – Página 05, 18 de abril de 2005.

Fonte: Folha de Boa Vista, 2005.

A notícia apresentada da editoria Cidade e assinada por Cyneida Correia traz um


panorama das reservas indígenas em Roraima. A informação ainda destaca um
mapa e um quadro com as principais terras indígenas demarcadas no estado.
Percebemos que a notícia ressalta que as reservas ocupam 90% do território
roraimense, onde é perceptível o diagnóstico apresentado pelo jornal sobre a
situação fundiária do estado que utilizando dados do último censo de 2000 procura
influenciar a sociedade para a questão das terras indígenas. Ainda segunda a
notícia a população indígena representa apenas 7% da população e corrobora com
o discurso predominante e defendido pela elite dominante de “que é muita terra para
pouco índio”. Assim o jornal procura atrair a atenção dos leitores com a notícia de
que restam apenas 10% de terras para a população e para desenvolver os
interesses e o desenvolvimento econômico de Roraima.
56

Figura 12: Charge: “Tensão no ar” - Página 02, 26 de abril de 2005.

Fonte: Folha de Boa Vista, 2005.

O contexto dessa charge publicada no dia 26 de abril e intitulada “Tensão no ar”


retrata a tensão em Roraima após a assinatura da homologação em área continua.
A charge também representa um cenário onde o índio não está presente.
Caracterizando assim somente o posicionamento dos contrários a homologação
contínua. A fala dos dois policiais federais denota a situação de tensão vivida no
estado no período no qual foram bastante publicados pelo jornal os conflitos gerados
após a homologação. Compreendemos que o jornal sempre anunciava a opinião de
políticos, arrozeiros e entidades e enfatizava as manifestações e os protestos que
ocorreram após a homologação em área contínua.

Ao analisarmos as notícias e as charges publicadas observamos que o discurso


presente demonstram o preconceito e criminalização contra o indígena durante todo
o processo da demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol.
Os índios ao longo da história foram vítimas de violência praticada pelos defensores
57

do discurso desenvolvimentista. A imprensa roraimense foi responsável pela


construção da discriminação da imagem do índio como sendo alienado, preguiçoso
e violento para atender os interesses dos contrários a demarcação e homologação
em área contínua. Neste contexto, o jornal Folha de Boa Vista não atuou com
imparcialidade durante a disputa, o posicionamento do mesmo sobre a questão
evidencia que ele era ligado a grupos dominantes e políticos no estado.
Compreendemos que a vinculação das notícias almejava colocar a sociedade contra
os índios e sua causa principal que era a demarcação da sua terra.

Neste sentido, o discurso defendido pelo jornal é definido pela Análise de


Discurso como o dito e o não dito, onde o não dito é algo implícito, subtendido.
Orlandi (2010) define o não dito como o silêncio que dependendo do contexto indica
que o sentido pode ser outro. No caso do jornal Folha de Boa Vista, o silêncio foi
destacado pelo posicionamento contrário a demarcação contínua, pelo fato do jornal
está ligado a grupos dominantes que atuavam em Roraima, onde o jornal se calava
ou silenciava perante a questão.
58

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer da pesquisa analisamos as notícias e a charges publicadas pelo jornal


Folha de Boa Vista e notamos que o posicionamento do jornal era contrário à
demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol em área
contínua. Constatamos que o mesmo,, ao publicar as notícias defendia um discurso
anti-indígena, refletindo assim uma posição tendenciosa e imparcial a respeito das
demarcações de terras em Roraima.

Utilizamos como metodologia a Análise do Discurso (AD), que nos permitiu assimilar
as construções ideológicas e compreender o posicionamento discursivo defendido
pelo jornal ao defender os interesses dos grupos dominantes que atuavam em
Roraima no qual os mesmos eram contrários a demarcação e homologação em área
contínua.

A Terra Indígena Raposa/Serra do Sol enfrentou várias invasões antes mesmo da


demarcação ocorrida em 1998. O contexto histórico das invasões á região teve início
durante o processo de ocupação e colonização utilizada pela Coroa portuguesa, que
temendo invasões estrangeiras á região estabelece aldeamentos. A partir daí, inicia-
se a espoliação dos territórios indígenas que foram invadidas por várias fazendas de
gado, ocasionando assim, conflitos entre índios e não-índios. A garimpagem na área
foi outro fator que não só degradou o meio ambiente como acometeu os índios a
vários tipos de violência. Sublinhamos também a invasão realizada por pecuaristas e
rizicultores que num período mais recente da história dessa área indígena foi muito
expressiva e violenta gerando debates na imprensa nacional e internacional,
mobilizando assim os índios a organizarem-se contra seus opositores e criticar,
contestar e reivindicar a demarcação de sua terra.

Vários discursos foram publicados no jornal por meio das notícias e as charges, no
qual a posição contra a demarcação e homologação contínua era evidente.
Restando aos defensores da demarcação ocupar espaços secundários para expor
seus posicionamentos no jornal ou as notícias eram silenciadas, distorcidas e
preconceituosas.
59

Durante a análise das notícias e das charges notamos que a posição do jornal
sobre a questão foi a de defender os interesses dos grupos dominantes que
apoiavam a garimpagem, as fazendas de gado e as plantações de arroz existentes
na área. A demarcação e homologação em área contínua entravaria a visão de
desenvolvimento criado e defendido pelos que dominavam Roraima. Assim,
enfatizamos que o jornal Folha de Boa Vista contribuiu para divulgar um discurso
contrário e distorcido sobre a questão perante a sociedade roraimense. E ressaltou
em suas publicações o posicionamento de apenas um dos lados envolvidos no
conflito.
60

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