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UNIVERSIDADE METODISTA DE ANGOLA FACULDADE DE

CIÊNCIAS JURÍDICAS, ECONÓMICAS E SOCIAIS

CURSO DE DIREITO

DIREITO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

TEMA:
AS TAXAS LOCAIS

LUANDA, 2020
UNIVERSIDADE METODISTA DE ANGOLA FACULDADE DE

CIÊNCIAS JURÍDICAS, ECONÓMICAS E SOCIAIS

CURSO DE DIREITO

DIREITO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

TEMA:
AS TAXAS LOCAIS

Edmilson Ricardo Alexandre de Almeida


23816
5º Ano
Especialidade Jurídico Públicas
Manhã
U-307

Professor:
Luís Rangel

Luanda aos, 11 de Dezembro de 2020


Índice

Introdução………………………………………………………………………………..4
Autonomia Financeira…………………………………………………………………..5
As Taxas Locais…………….…………………………………………………………..8
Conclusão………………………………………………………………………………11
Referências Bibliográficas……………………………………………………………..12
INTRODUÇÃO

Visando a materialização do princípio da descentralização administrativa,


plasmado no n.º1 do art190.º, a Constituição da república consagra a existência de
autarquias locais, para as quais é reconhecida a existência de assuntos próprios das
comunidades locais em relação aos quais estas dispõem de uma faculdade de direção
político-administrativa para determinar livremente os próprios fins e as formas de os
materializar.

Quer dizer que apesar de Angola ser um Estado unitário, admite ao nível
administrativo a sua descentralização, corporizada em autarquias locais, que podem ser
conceitualizadas como sendo pessoas colectivas de administração e território que visam
a prossecução de interesses próprios das populações, dispondo de órgãos representativos
eleitos que gozam de liberdade na administração das respectivas comunidades.

Desta prossecução de interesses que assenta na satisfação de necessidades de


carácter geral por um lado, e na satisfação de necessidades de carácter local de acordo
com o 214.º da CRA, por outro, aparece como importante a delimitação do campo de
actuação e das respectivas funções do Estado e das autarquias locais.

Nas autarquias locais devem concentrar-se, em princípio, todas as funções de


interesse local imediato, enquanto ficam reservadas ao Estado as funções de interesse
geral, que visam garantir o funcionamento de bens e serviços públicos que se destinam a
toda a população, independentemente do local de residência

4
AUTONOMIA FINANCEIRA

A realização de interesses e satisfação de necessidades das comunidades locais


pelas autarquias pressupõe que devam possuir e dispor de recursos financeiros
suficientes para aplicarem-se à realização de despesas, desde que previstas em
orçamentos próprios. A necessidade de as autarquias serem dotadas de finanças
próprias, ou seja, de possuírem autonomia financeira, é condição sem a qual não
conseguem prosseguir as suas atribuições ou exercer as suas competências, no interesse
das comunidades locais. Por isso se afirma que a autonomia financeira é um pressuposto
essencial da autonomia local1.

A autonomia financeira implica, a existência de um orçamento elaborado e


aprovado pelos órgãos competentes, mediante o qual se afectam as receitas próprias a
despesas livremente escolhidas e determinadas. As autarquias dispõem de
independência decisória em matéria de afectação dos seus recursos e no que diz respeito
à gestão do seu património.

Uma vez que as Autarquias Locais representam entes colectivos de base


territorial, que têm como finalidade prosseguir e realizar a satisfação das necessidades
colectivas das referidas circunscrições e conforme o artigo nº 5 da Proposta de Lei que o
aprova, as Autarquias Locais estas devem possuir um património e finanças próprios,
cuja gestão compete aos respectivos órgãos

O grau de satisfação das necessidades locais pelas autarquias depende do nível


de descentralização das funções que lhes estejam atribuídas e da autonomia financeira
de que gozem. É a autonomia financeira que vai permitir a definição dos limites da
acção económica das autarquias, cujo objectivo consiste em aumentar o bem-estar
colectivo, através da satisfação das necessidades públicas (locais), sendo seu elemento
fundamental a oferta de bens e serviços locais de qualidade, com o menor dispêndio de
recursos possível.

1
Finanças Locais em Angola, Elisa Rangel Nunes - Palestra por iniciativa da Fundação Friedrich Ebert , 06
de Março de 2001

5
A autonomia financeira pode apresentar as seguintes modalidades: autonomia
patrimonial – existência de património próprio e/ou poder de tomar decisões relativas ao
património público de que dispõe; autonomia orçamental – que consiste na elaboração,
aprovação e alteração do orçamento próprio, gerindo as respectivas despesas (o que
impede o legislador ou qualquer outro órgão do Estado de interferir no destino a dar às
receitas autárquicas), e receitas, e bem assim elaborar e aprovar planos de actividade,
balanços e contas; autonomia de tesouraria – poder de gerir autonomamente os recursos
monetários próprios, em execução ou não do orçamento; autonomia creditícia – poder
de contrair dívidas, assumindo as correspondentes responsabilidade, pelo recurso a
operações financeiras de crédito

As taxas locais são tributos que assentam na prestação concreta de um serviço


público local, na utilização privada de bens de domínio público e privado das
Autarquias Locais, ou na remoção de um obstáculo jurídico ao comportamento dos
particulares, quando tal seja atribuição das autarquias2.

A autonomia financeira das Autarquias Locais assenta, designadamente, nos


seguintes poderes: Elaborar, aprovar, executar e modificar as opções de plano, os
orçamentos e outros documentos previsionais; elaborar e aprovar os documentos de
prestação de contas; arrecadar e dispor, nos termos da lei, as receitas das taxas, tarifas e
preços por elas cobrados; dispor das receitas fiscais próprias e das que lhes sejam
transferidas nos termos da lei; ordenar e realizar as despesas legalmente autorizadas;
adquirir, administrar e alienar o seu património, bem como aquele que lhe for afecto,
nos termos da lei; e ainda, recorrer ao endividamento nos termos da lei.

Por sua vez, a Proposta de Lei que aprova o Regime Geral das Taxas das
Autarquias Locais, foi concebida com vista a definir as balizas que permitirão a cada
Autarquia criar as taxas que devem subordinadas aos Princípios da Equivalência
Jurídica, da Justa Repartição dos Encargos Públicos e da Publicidade, incindindo sobre
utilidades prestadas aos particulares, geradas pela actividade das Autarquias ou
resultantes da realização de investimentos autárquicos, nos termos da alínea o) do n.º 1
do artigo 165.º e do artigo 221.º, ambos da Constituição da República de Angola

2
Art .3º da Lei 12/20 de 14 de Maio – Lei do Regime de Taxas das Autarquias Locais

6
É necessário falarmos também sobre o conceito regime financeiro das autarquias
locais cujo conceito visa abranger o conjunto de acções desenvolvidas pelas autarquias
locais no domínio financeiro, envolvendo assim o quadro de vários recursos financeiros
de que estas possam dispor, as decisões que a nível financeiro têm de ser tomadas pelos
órgãos autárquicos, do ponto de vista das despesas a realizar e receitas a afectar,
concretizáveis através da elaboração e aprovação de planos de actividade e orçamentos
próprios e as formas de fiscalização exercida sobre a gestão desses recursos.

Elisa Rangel Nunes afirma que, o estabelecimento de um quadro de impostos


locais no que respeita o regime financeiro das autarquias, apresenta um conjunto de
dificuldades que se situam designadamente: na escolha de figuras tributárias que
traduzam as diferenças nas preferências dos cidadãos, assim como na oferta
diferenciada de bens e serviços; na relação entre o benefício obtido pelos contribuintes e
as despesas públicas por eles financiadas, devendo ser nessa base determinadas, quer a
base de incidência, quer a taxa dos impostos; na correspondência entre os custos de
administração do imposto com a dimensão da autarquia onde seja tributado, com o
sentido de ser mais baixo o imposto, quanto menor for a autarquia. Não obstante esta
preferência, por impostos que assentam a obrigação de pagamento no benefício retirado
pelos contribuintes, na escolha de impostos locais haverá que saber conjugar impostos
que se baseiem no princípio do benefício com impostos que se fundem na ideia de que
os custos devem ser distribuídos por todos os cidadãos.

7
AS TAXAS LOCAIS

A criação de impostos, é uma realidade que se encontra regulada


constitucionalmente. Estando esta matéria sujeita ao princípio da legalidade fiscal, não
podem as autarquias criar impostos, podendo, no entanto, fixar e criar taxas3.

Os poderes tributários das autarquias manifestam-se nas leis das finanças locais,
dispondo a lei 12/20, de 04 de Maio, que os as autarquias dispõem de poderes
tributários quanto a taxas e outros tributos a cuja receita tenham direito, manifestando-
se estes poderes tributários, na fixação de taxas e concessão de isenções e benefícios
fiscais inerentes a estas.

Ao nível das finanças locais, a importância que as taxas têm deve-se à margem
de liberdade de actuação que as autarquias possuem na conformação destas, uma
margem de liberdade maior do que aquela que possuem na conformação dos impostos,
sujeitos à reserva da Assembleia Nacional.

As taxas são um instrumento financeiro com grande flexibilidade, o que permite


que as autarquias criem, extingam e adequem às suas necessidades com grande rapidez
e inteira liberdade de manobra, o que não acontece com os impostos, mesmo quando
estes são da titularidade das autarquias. Apesar de produzirem uma receita inferior à dos
impostos, possuem sobre estes a vantagem de oferecerem às autarquias um poder de
conformação mais amplo4.

Na criação de taxas, em regra operada por via de regulamento5 e que incidem


sobre as utilidades prestadas aos particulares, geradas pela atividade das autarquias ou
resultantes da realização de investimentos, actua-se em subordinação a vários
princípios, a saber:

3
Art .7º da Lei 12/20 de 14 de Maio – Lei do Regime de Taxas das Autarquias Locais
4
TEIXEIRA, Maria Eduarda Oliveira – Tese de Mestrado em Solicitadoria (2014) Escola Superior de
Tecnologia e Gestão do Porto
5
Art .7º da Lei 12/20 de 14 de Maio – Lei do Regime de Taxas das Autarquias Locais

8
* Princípio da equivalência jurídica – traduz-se na ideia de que a criação das
taxas, assenta no equilíbrio entre o custo do serviço público prestado pela autarquia e a
contraprestação, no caso o benefício auferido pelo particular6.

* Princípio da justa repartição dos encargos públicos – deste princípio resulta


que as taxas devem assumir uma dimensão social, ao determinar, que a par do interesse
público local e da satisfação das necessidades financeiras das autarquias locais, devem
prosseguir a promoção de finalidades sociais e de qualificação urbanística, territorial e
ambiental7.

* Princípio da publicidade – as autarquias devem disponibilizar, quer em


formato de papel, em local visível nos edifícios das sedes e Assembleias respetivas,
quer em página eletrónica, os regulamentos que criam as taxas previstas na lei. A
publicitação é fundamental pois permite aos particulares conhecer a totalidade dos
elementos que têm obrigatoriamente de constar do regulamento que cria a taxa.

* Princípio da proporcionalidade – a decisão administrativa deve ser adequada


ao interesse público a atingir; necessária para atingir o interesse público desejado; e
ponderada dentro de uma relação custo /beneficio.

* Princípio da justificação económico-financeira do quantitativo das taxas – a


Assembleia Autárquica pode criar taxas ou alterar o seu valor, por meio de regulamento,
que deverá conter, obrigatoriamente, a fundamentação económico financeira dos
quantitativos a cobrar, designadamente os custos diretos e indiretos, os encargos
financeiros e as amortizações e os futuros investimentos realizados ou a realizar pela
autarquia local.
O Regulamento de criação de taxas deve conter a indicação da incidência
objetiva e subjetiva, o valor ou a fórmula de cálculo do valor das taxas a ser cobrada; as
isenções e a sua fundamentação; o modo de pagamento e outras formas de extinção da
prestação tributária admitidas e a admissibilidade do pagamento em prestações.

6
Art .4º , n.º1 da Lei 12/20 de 14 de Maio – Lei do Regime de Taxas das Autarquias Locais
7
Art .º 5, n.º1 da Lei 12/20 de 14 de Maio – Lei do Regime de Taxas das Autarquias Locais

9
Os valores das taxas podem ser atualizados de acordo com a taxa de inflação,
através dos orçamentos anuais das autarquias locais. Quando a alteração não seja pelo
critério da taxa de inflação, efetua-se mediante alteração ao regulamento de criação
respetivo, tendo, no entanto, que conter a fundamentação económico financeira
subjacente ao novo valor.
A lei 12/20 de 14 de Maio, consagra a incidência objetiva e subjetiva das taxas,
sendo, por isso, uma das normas mais importantes do regime das taxas locais, uma vez
que consagra os elementos estruturantes das taxas locais, a saber: A incidência objetiva
das taxas é definida pelas utilidades prestadas aos particulares ou geradas pela atividade
dos municípios sobre as quais podem incidir as taxas.

As taxas municipais podem, também, incidir sobre a realização de atividades,


por particulares, geradoras de impacto ambiental negativo. Através da possibilidade da
criação de taxas ambientais, os municípios concretizam o princípio do direito ambiental
designado por princípio do “poluidor pagador”. Trata-se de uma incidência objetiva
ampla, tanto no que se refere às taxas em geral, como no que se refere às taxas com
intuitos ambientais, estando estas ao serviço do princípio da promoção da
sustentabilidade local8.

A lei das taxas das autarquias locais, define também, a incidência subjetiva das
taxas, determinando como sujeito activo da relação jurídico-tributária a autarquia local,
titular do direito de exigir a prestação e como sujeito passivo é a pessoa singular ou
coletiva ou outras entidades legalmente equiparadas que estejam vinculadas ao
cumprimento da prestação tributária.

Importa realçar que, para além da possibilidade da criação de taxas, prevista na


lei 12/20, é previsto como receita das autarquias ao abrigo da lei 13/20 de 14 de Maio,
sobre as Finanças das Autarquias Locais o produto de alguns impostos como o Imposto
Predial Urbano – IPU, o Imposto de Sisa e outros, com o pressuposto de que a cada
autarquia respeita o património localizado no território desta autarquia.

8
NABAIS, José Casalta – A Autonomia Financeira das Autarquias Locais, 2007, Almedina Edições, p.49

10
CONCLUSÃO

Pode-se concluir que, ao mesmo tempo que a Administração Central do Estado


pensa em redistribuir responsabilidades, delegando poderes de gestão às autarquias que
com o andar do tempo se vão deparar com um aumento de funções sem uma necessária
correspondência financeira, são as Autarquias Locais obrigadas a criar mecanismos de
financiamento alternativo às tradicionais transferências do Orçamento de Estado, sendo
certo que para alem das taxas locais poderão elas criar outras figuras tributárias assentes
na comutatividade, com vista à cobertura de custos da atividade mas também como
meio de regulação e de prossecução dos interesses da comunidade.

11
REFEREÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Serviram como fonte de pesquisa para a elaboração deste trabalho:

- Lei 12/20 de 14 de Maio – Lei do Regime de Taxas das Autarquias Locais

- Lei 13/30 de 14 de Maio – Lei do Regime Financeiro das Autarquias Locais

- NABAIS, José Casalta – A Autonomia Financeira das Autarquias Locais, 2007,


Almedina Edições

- TEIXEIRA, Maria Eduarda Oliveira – Tese de Mestrado em Solicitadoria, 2014,


Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Porto

- Dissertação sobre Finanças Locais em Angola, Elisa Rangel Nunes - Palestra por
iniciativa da Fundação Friedrich Ebert , 06 de Março de 2001

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