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Unidade 4.

Plantas Medicinais e Herbalismo

Sumário
Introdução ..................................................................................................................................... 2
Para quê servem as ervas? ............................................................................................................. 2
História da utilização das ervas ..................................................................................................... 3
Comprovação biológica................................................................................................................. 7
A sabedoria do uso das ervas ........................................................................................................ 9
O uso das ervas no Brasil ............................................................................................................ 10
Plantas em perigo ........................................................................................................................ 12

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Introdução

Muitas plantas sintetizam substâncias que são úteis para a manutenção da


saúde em humanos e animais. Muitos são metabólitos secundários, dos quais
pelo menos 12.000 foram isolados - um número estimado em menos de 10%
do total. Em muitos casos estas substâncias (em especial os alcalóides)
servem como mecanismos de defesa da planta contra a predação por
microorganismos, insetos e herbívoros. Muitas das ervas e especiarias
utilizadas por humanos para temperar alimentos produzem compostos
medicinais.

Para quê servem as ervas?

O mundo vegetal é composto por três grupos principais de plantas: Superior,


Intermediario e Inferior. Entre estes grupos estão bactérias, algas
microscópicas, cogumelos, samambaias, musgos e árvores, entre outros. A
identificação é uma tarefa para especialistas e o limite entre o mundo vegetal
e o animal não é tão claro quanto se imagina. Para simplificar o assunto,
vamos considerar nós os humanos e as plantas que tanto bem nos fazem.
Livros sobre propriedades medicinais de plantas regularmente parecem tratar
as ervas e as plantas medicinais diferentemente. Porém, ervas são plantas
anuais, bienais ou perenes que não desenvolvem um tecido lenhoso.

Talvez pelo fato das ervas têrem um papel importante histórico e tradição de
cura, às vezes elas são tratadas como uma categoria especial de plantas, ou
seja, são avaliadas particularmente pelas suas qualidades medicinais, de
sabor ou aromas.

Como o nome tradicional ou popular das plantas medicinais variam muito de


acordo com aspectos regionais e culturais, a melhor maneira de se agrupar
as plantas é através do seu nome científico e seguido dos seus nomes
populares.

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Plantas medicinais e ervas contêm substâncias conhecidas pelas civilizações
modernas e antigas pelas suas propriedades curativas. Até o
desenvolvimento da Química e, particularmente, da síntese de combinações
orgânicas no Século XIV, plantas medicinais e ervas eram a fonte exclusiva
de princípios ativos capazes de curar as doenças do homem. Elas continuam
sendo importantes para pessoas que não têm acesso a medicamentos
modernos e, além disso, os remédios farmacêuticos modernos contém os
mesmos princípios ativos muito mais concentrados, sejam eles naturais ou
sintéticos.

Os princípios ativos diferem de planta para planta devido à biodiversidade


delas, isto é, pela habilidade de codificação genética da planta para os
produzir. Com milhares de princípios ativos ainda a serem descobertos ou
avaliados, não é nenhuma novidade que a biodiversidade é um tópico
fundamental em qualquer programa de trabalho de preservação da natureza.

O material genético das plantas deve ser conhecido para a descoberta de


novos princípios, afim de se combinar, manipular e sintetizar medicamentos
novos. Assim, até mesmo para pessoas que não tem interesse nos adventos
da indústria farmacêutica, as plantas e ervas medicinais continuam sendo a
fonte de medicamentos e de drogas novas e revolucionárias.

Se os princípios ativos de drogas sintéticas são tão importantes e podem ser


achados em muitas plantas e ervas, a um preço barato e facilmente
compradas na sua cidade, por que não usa-los? Se tomado na dose apropriada
e de forma correta, elas podem ser tão efetivas quanto drogas farmacêuticas.

História da utilização das ervas

Pessoas em todos os continentes têm usado centenas de milhares de plantas


para o tratamento de doenças desde a era pré-histórica. A primeira
documentação do uso de plantas como agentes de cura foram retratados nas
pinturas rupestres descobertas nas cavernas de Lascaux, na França, que
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datava para entre 13.000-25.000 AC. As ervas medicinais foram encontradas
em pertences pessoais de um homem do gelo, cujo corpo foi congelado nos
Alpes suíços por mais de 5.300 anos. Estas ervas parecem ter sido usadas
para o tratamento contra parasitas intestinais. A antropologia tem a teoria de
que os animais desenvolveram uma tendência em encontrar partes de plantas
amargas em resposta à doença.

Curandeiros indígenas muitas vezes afirmaram ter aprendido observando os


animais doentes que mudavam as suas preferências alimentares para ervas
amargas que normalmente rejeitavam.

Pesquisas de campo têm fornecido evidências corroborando com base na


observação de diversas espécies, como os chimpanzés, galinhas, carneiros e
borboletas. Os gorilas têm 90% de sua dieta baseada dos frutos de
Aframomum melegueta, um parente do gengibre, que é um antimicrobiano
poderoso. Pesquisadores da Ohio Wesleyan University descobriram que
alguns pássaros selecionavam material de nidificação rico em agentes
antimicrobianos que protegem seus filhotes das bactérias patogênicas.

Os animais doentes tendem a ingerir plantas forrageiras ricas em metabólitos


secundários, como taninos e alcalóides. Uma vez que estes fitoquímicos têm
propriedades antiviral, antibacteriana, antifúngica e anti-helmíntica.

Alguns animais têm sistema digestivo especialmente adaptado para lidar


com toxinas de certas plantas. Por exemplo, o coala pode se alimentar das
folhas e brotos de eucalipto, uma planta que é tóxica para a maioria dos
animais. Uma planta que é inofensiva para um determinado animal pode não
ser seguro para os seres humanos. A suposição é que essas descobertas eram
tradicionalmente coletadas pelos curandeiros das tribos indígenas, que
passavam a informação sobre a segurança e precauções para a utilização
dessas ervas.

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O uso de ervas e especiarias na culinária foi desenvolvido em parte como
uma resposta à ameaça de patógenos aos alimentos. Estudos mostram que
em climas tropicais, onde os agentes patogênicos são mais abundantes, as
receitas são mais temperadas. Além disso, as especiarias com a atividade
antimicrobiana mais potente tendem a ser escolhidas.

O estudo das ervas teve inicio a mais de 5.000 anos com o sumérios, que
descreveram usos medicinais das plantas, tais como louro, cominho e
tomilho. No Egito antigo de 1000 A.C. era utilizado ópio, alho, mamona,
coentro, hortelã, anil e outras ervas medicinais. No Antigo Testamento são
mencionados o uso de ervas e o cultivo, tais como a mandrágora, ervilhaca,
cominho, trigo, cevada e centeio.

A medicina indiana Ayurveda tem usado ervas como o açafrão,


possivelmente por volta de 1900 A.C. Muitas ervas e outros minerais
utilizados na Ayurveda foram posteriormente descritos pelos antigos
herbalistas indianos como Charaka e Sushruta durante o primeiro milênio
antes de Cristo.

O livro chinês “Primeira Ervas”, compilados durante a Dinastia Han, mas


que remonta a uma data muito anterior, possivelmente 2700 AC, enumera
365 plantas medicinais e seus usos.

Os antigos gregos e romanos fizeram uso medicinal de plantas. Hipócrates


defendeu o uso simples de alguns fitoterápicos, junto com o repouso e dieta
adequada. Galen, por outro lado, recomendava grandes doses de misturas de
drogas, incluindo plantas, animais, minerais e especiarias. O médico grego
elaborou o primeiro tratado europeu sobre as propriedades e usos das plantas
medicinais, The Materia Medica. No primeiro século D.C., Dioscorides
escreveu um compêndio de mais de 500 plantas que continuou sendo uma
referência oficial para o século 17.

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Importante para herbalistas e botânicos de séculos mais tarde, foi o livro
grego que fundou a ciência da botânica, History Plantarum, escrito no século
IV A.C. por Teofrasto. O uso de ervas para tratar a doença é quase universal
entre as sociedades não industrializadas. Uma série de tradições passaram a
dominar a prática da fitoterapia no final do século XX:

• O clássico sistema de fitoterapia, baseada em fontes grega e romana,

• O Siddha e sistemas de medicina ayurvédica em vários países do Sul


da Ásia,

• Fitoterapia chinesa,

• Medicina Unani-Tibb,

• Shamanismo: maior parte da América do Sul e do Himalaia.

Muitos dos fármacos atualmente disponíveis para os médicos têm uma longa
história de uso como remédios à base de plantas, incluindo o ópio, a aspirina,
digitálicos e quinino. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que
80 por cento da população do mundo atualmente utiliza as ervas medicinais
para algum tipo de cuidado primário à saúde. Produtos farmacêuticos são
proibitivamente caros para a maioria da população do mundo, metade dos
quais vive com menos de 2 dólares por dia. Em comparação, os
medicamentos fitoterápicos podem ser cultivados a partir de sementes ou
recolhidos da natureza com pouco ou nenhum custo. Fitoterapia é um
componente importante em todos os sistemas da medicina tradicional, e um
elemento comum em Siddha, ayurvédica, homeopáticos, naturopatia e
medicina tradicional chinesa.

O uso e a procura por medicamentos e suplementos alimentares derivados de


plantas têm aumentado nos últimos anos. Farmacologistas, microbiologistas,
botânicos, naturais e químicos estão vasculhando a Terra por fitoquímicos
que poderiam ser desenvolvidos para o tratamento de várias doenças. Na

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verdade, segundo a Organização Mundial de Saúde, aproximadamente 25%
das drogas modernas utilizadas nos Estados Unidos foram derivadas de
plantas.

Três quartos das plantas que fornecem ingredientes ativos para drogas são
utilizados na medicina tradicional. Entre os 120 compostos ativos atualmente
isolados de plantas superiores e amplamente utilizadas na medicina moderna
de hoje, 80% revelam uma correlação positiva entre a sua utilização
terapêutica moderna e o uso tradicional das plantas das quais derivam. Mais
de dois terços das espécies vegetais do mundo - pelo menos 35.000 dos quais
se estima que tenham valor medicinal - provêm dos países em
desenvolvimento. Pelo menos 7.000 compostos da farmacopéia moderna são
derivados de plantas.

Comprovação biológica

Todas as plantas produzem compostos químicos como parte de suas


atividades metabólicas. Estes incluem metabólitos primários, tais como
açúcares e gorduras, encontrados em todas as plantas, e metabólitos
secundários encontrados em menor quantidade nas plantas, alguns mais
especializados são encontrados apenas em um gênero em particular ou
espécie. Alguns pigmentos protegem o organismo contra as radiações e usa
a exposição de cores para atrair agentes polinizadores. Muitos desses
pigmentos têm propriedades medicinais.

As funções dos metabólitos secundários são variados. Por exemplo, alguns


metabólitos secundários são toxinas utilizadas para evitar a predação, e
outros são utilizados para atrair insetos para a polinização. Fitoalexinas
protegem contra ataques de bactérias e fungos. Aleloquímicos inibiem
plantas que estão competindo por água, nutrientes e luz.

O perfil químico de uma única planta pode variar ao longo do tempo,


dependendo de como reage às condições do ambiente. São os metabólitos
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secundários e os pigmentos que podem ter ações terapêuticas em seres
humanos e que pode ser purificado para produzir drogas. As plantas
sintetizam uma enorme variedade de fitoquímicos, mas a maioria é derivada
de um ou poucos ciclos bioquímicos.

Os alcalóides possuem um anel com nitrogênio, muitos causam danos sobre


o sistema nervoso central. A cafeína é um alcalóide que ocasiona uma
elevação rápida da atividade circulatória, mas os alcalóides da Datura
causam graves intoxicações e até morte.

Os compostos fenólicos contem anéis de fenol. As antocianinas, que dão às


uvas sua cor roxa, as isoflavonas, os fitoestrógenos da soja e os taninos que
dão a sua adstringência ao chá são compostos fenólicos.

Terpenóides são construídos a partir de grupos de terpenos, cada terpeno


consiste de dois isoprenos emparelhados. Os monoterpenos, sesquiterpenos,
diterpenos e triterpenos são fundamentados no número de unidades de
isopreno. A fragrância da rosa e lavanda é devido aos monoterpenos. Os
carotenóides produzem as cores vermelhas, amarelas e laranjas do tomate,
milho e abóbora.

Glicosídeos são compostos por uma molécula de glicose ligada a uma


aglicona. A aglicona é uma molécula que é bioativa na sua forma livre, mas
inerte até que a ligação com o glicosídeo seja quebrada pela água ou por
enzimas. Esse mecanismo permite que a planta adie a utilização da molécula
para um momento oportuno.

Um exemplo é o cianoglicosideo em cereja que libera toxinas quando


mordida por um herbívoro. Outros exemplos são a inulina de raizes de dálias,
o quinino da quina, a morfina e a codeína da papoula e a digoxina da
dedaleira. O ingrediente ativo da casca do salgueiro, foi prescrito por
Hipócrates, é a salicina, que é convertida no organismo animal em ácido
salicílico. A descoberta do ácido salicílico acabaria por levar ao
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desenvolvimento da forma acetilada do ácido acetilsalicílico, também
conhecido como “aspirina”.

A sabedoria do uso das ervas

A maioria dos especialistas admite que os medicamentos sejam mais eficazes


em situações de emergência onde o tempo é crucial para a resposta de cura.
Um exemplo seria o caso de um paciente com pressão arterial elevada onde
o perigo é iminente. No entanto, eles afirmam que as ervas a longo prazo,
podem ajudar o paciente a resistir à doença, e que, além disso, fornecem
suporte nutricional e imunológico que falta em produtos farmacêuticos. O
principal objetivo do uso das ervas esta na prevenção, assim como a cura.

Os usuários das ervas medicinais tendem a usar extratos de partes de plantas,


tais como as raízes ou folhas. A farmacêutica prefere ingredientes isolados
pelo motivo que a dosagem pode ser mais facilmente quantificada. A
Fitoterapia rejeita a utilização de um único ingrediente ativo, existe o
argumento que os diferentes fitoquímicos presentes nas ervas irão interagir
para aumentar os seus efeitos terapêuticos e diminuir a toxicidade. Além
disso, um único ingrediente pode contribuir para vários efeitos. O sinergismo
entre ervas não ocorre da mesma forma que as substâncias químicas
sintéticas.

Em casos específicos, o sinergismo e a multifuncionalidade das ervas tem


sido apoiado pela ciência. Os casos de sinergia podem ser generalizados,
com base na interpretação da história do uso das ervas pela sociedade, não
necessariamente partilhadas pela comunidade farmacêutica. As plantas estão
sujeitas à pressões seletivas iguais ao seres humanos e, portanto, devem
desenvolver resistência a ameaças tais como a radiação, oxidação e ataque
por microrganismos a fim de sobreviver. As defesas químicas foram
selecionadas durante a evolução, ao longo de milhões de anos. As doenças
humanas são devidas a muitos fatores e podem ser tratadas pela ingestão das

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defesas químicas que estão presentes nas ervas. Microrganismos,
inflamações, baixa qualidade nutricional e radicais livres podem ter
participação nos vários tipos de doenças.

Uma única erva pode tratar simultaneamente vários desses fatores. Da


mesma forma, como a presença dos radicais livres pode estar na origem de
mais de uma doença. Na Fitoterapia existe uma inter relação entre os
diversos fatores que cercam o sistema de cura, ao invés de uma busca por
uma única causa e uma única cura para uma única condição.

Na Fitoterapia o tratamento com ervas pode usar várias fórmulas que não são
aplicáveis aos farmacêuticos. Porque as ervas podem ser usadas em diversas
formas como chás, temperos ou crus que têm uma enorme aceitação pelos
consumidores e vários estudos epidemiológicos que comprovam sua
eficiência. Os estudos etnobotânicos são uma outra fonte de informação.
Quando uma determinada comunidade indígena em áreas geograficamente
dispersa usa como sistema de cura apenas as ervas, para algum tipo de
problema, que tem a sua cura comprovada, é tida como evidência de sua
eficácia. Os registros históricos médicos e etnobotanicos são recursos
subutilizados, o que favorece a utilização de informações convergentes na
avaliação do valor medicinal das plantas. Um exemplo seria quando os testes
“in vitro”, concordam com o uso tradicional.

Os remédios à base de ervas são muito comuns na Europa, na Alemanha, os


medicamentos à base de plantas são produzidos em boticários. As plantas
são preferidas por alguns como tratamento em relação aos medicamentos
químicos que são produzidos industrialmente.

O uso das ervas no Brasil

A humanidade utiliza os vegetais para proteção da saúde e alívio de seus


males desde o princípio de sua existência na Terra, há muito tempo, as
plantas medicinais têm sido usadas como forma alternativa ou complementar
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aos medicamentos da medicina tradicional. O seu uso na medicina popular e
a literatura etnobotânica têm descrito o uso dos extratos, infusões e pós de
plantas medicinais por vários séculos contra todos os tipos de doenças
(Vanden Berghe et al., 1986).

A utilização de plantas medicinais tornou-se um recurso terapêutico


alternativo de grande aceitação pela população e vem crescendo junto à
comunidade médica, desde que sejam utilizadas plantas cujas atividades
biológicas tenham sido investigadas cientificamente, comprovando sua
eficácia e segurança (Cechinel e Yunes, 1998).

É notável o crescente número de pessoas interessadas no conhecimento de


plantas medicinais, inclusive pela consciência dos males causados pelo
excesso de quimioterápicos causados no combate as doenças. Remédios à
base de ervas que se destinam as doenças pouco entendidas pela medicina
moderna – tais como: câncer, viroses, doenças que comprometam o sistema
imunológico, entre outras – tornaram-se atrativos para o consumidor
(Sheldon et al., 1997).

O uso de plantas medicinais pela população mundial tem sido muito


significativo nos últimos tempos. Dados da Organização Mundial de Saúde
(OMS) mostram que cerca de 80% da população mundial fez o uso de algum
tipo de erva na busca de alívio de alguma sintomatologia dolorosa ou
desagradável. Desse total, pelo menos 30% deu-se por indicação médica.

A situação mundial ocorre da mesma forma no Brasil, que é um dos países


de maior diversidade genética vegetal, contando com mais de 55.000
espécies catalogadas (Nodari & Guerra 1999), entretanto, como
conseqüência da revalorização mundial do uso de plantas medicinais, a
pressão ecológica exercida sobre alguns desses recursos naturais tem sido
grande nos últimos anos colocando em perigo a sobrevivência de muitas
espécies medicinais nativas (Montanari Junior 2002). De acordo com

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Sánchez e Valverde (2000) o comércio local de plantas medicinais leva à
deterioração de populações naturais, tanto quanto a pressão extrativista da
indústria farmacêutica.

Plantas em perigo

O relatório da ONG Plants for the Planet (http://www.bgci.org/), alerta para


o perigo que as plantas estão correndo, principalmente pela destruição do seu
habitat, as causas apontadas são extrativismo, a destruição das florestas e a
expansão da fronteira agrícola, dos pastos para criações animais e da
urbanização. O impacto causado nessas espécies afeta ainda as comunidades
que tem como fonte de medicamentos as plantas dessas regiões. Essas
milhões de pessoas ao redor do mundo confiam na medicina tradicional para
tratar doenças graves com plantas medicinais. A proteção dessas plantas não
só é importante para a saúde humana, mas para o ecossistema circundante e
também para a própria conservação da espécie.

Ainda de acordo com este relatório apenas 15% das drogas convencionais
são usadas em países em desenvolvimento. Por outro lado, 50 mil tipos de
vegetais (cerca de 20% das espécies conhecidas) são usadas hoje em
medicina tradicional.

Na China, em áreas rurais, o uso da medicina tradicional chega a 90%. Ao


mesmo tempo, de acordo com a Red List da ONG World Conservation
Union (UICN), o país tem quase 70% de suas espécies vegetais ameaçadas.

Estimativas recentes indicam que aproximadamente a cada quatro segundos,


um hectare de floresta tropical é perdido (Trankina, 1998). Segundo Beachy
(1992) 40% das florestas foram destruídas entre 1940 e 1980.

No Brasil não tem sido diferente, os seus maiores biomas, Cerrado,


Amazônia e Mata atlântica sofrem uma destruição cada vez maior. Em um
estudo recente que utilizou imagens do satélite MODIS do ano de 2002,

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concluiu que 55% do Cerrado já foram desmatados ou transformados pela
ação humana (Machado et al., 2004), a floresta da Mata atlantica já perdeu
mais de 93% de sua área (Myers et al., 2000) e menos de 100.000km2 de
vegetação remanescente. Na Amazônia mais de 67 milhões de hectares
(2004) já foram desmatados (Homma, 2005).

A exploração das empresas e a biopirataria também tem causado prejuízos


no Brasil, não somente à flora, mas principalmente ao conhecimento
tradicional da biodiversidade e aos povos tradicionais que dela dependem.

Uma das causas da degradação esta no fato de que muitas plantas medicinais
são colhidas no seu meio natural, em vez de serem cultivadas, muitas plantas
são exploradas indevidamente por vendedores autônomos ou como são
conhecidos “raizeiros”. Estes por sua vez não têm o conhecimento necessário
sobre coleta ou conservação de plantas medicinais, assim como muitos tem
dificuldades de reconhecer uma planta de uso medicinal, comercializando
plantas sem eficácia comprovada ou plantas com identificação incorreta.
Além deste fator que coloca em risco a saúde de seus compradores, existe
outro problema que é o beneficiamento incorreto e o mau armazenamento
das plantas, pela possibilidade de contaminação com microrganismos e
insetos.

Soluções

As soluções a serem apresentadas para este problema são simples e eficazes,


embora necessite de uma união de esforços tanto do poder público quanto de
entidades civis e comunidade em geral.

O primeiro passo para se proteger as plantas medicinais em cada ecossistema


é fazer um levantamento para determinar quais são as plantas. Esse
levantamento deve ser feito nos ecossistemas presentes na região de atuação
e também na região urbana para se determinar quais plantas estão sendo
comercializadas na cidade.
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A Educação Ambiental no sentido de proteção das espécies deve ser a
principal ação de qualquer projeto conservacionista. Os coletores autônomos
devem ser capacitados tanto quanto a coleta dessas plantas no seu habitat,
quanto ao cultivo e beneficiamento dessas plantas, sempre no sentido de se
evitar o desaparecimento das plantas do seu local de origem.

O incentivo a pesquisa nas universidades locais, principalmente em relação


ao cultivo de espécies medicinais nativas deve ser incentivado, assim como
outros projetos como levantamento etnobotânico e identificação de espécies.
Deve se levar em consideração que para se proteger uma planta em perigo,
o uso de outras plantas em menor risco deve ser estimulado. A casca de uma
arvore, por exemplo, nunca deve ser fonte de coleta, a não ser que exista um
plano de manejo para cada espécie, pois as suas partes coletadas podem
deixar cicatrizes para a entrada de organismos que poderão destruir a planta
em poucos anos. Um outro exemplo seria a coleta de raízes, que pode levar
a extinção da espécie no local, pois assim se retira a principal forma de
desenvolvimento vegetativo da planta. As flores, frutos e sementes podem
ser retirados, mas somente a partir do momento que se iniciarem a
propagação em viveiros dessas espécies, pois assim o homem poderá
introduzir as plantas que estariam sendo propagadas pela dispersão das
sementes.

Políticas publicas e fiscalização devem andar juntas no sentido da


regulamentação da comercialização dessas plantas na venda informal no
município. A criação de reservas naturais de plantas medicinais silvestres e
a promoção do cultivo pelos agricultores locais também pode colaborar no
sentido de preservação. A garantia da não super exploração significa que as
plantas permaneceriam disponíveis para a comunidade local assim como
para os próprios coletores dessas plantas, mantendo contínua a sua fonte de
renda.

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A orientação sobre o uso das plantas medicinais, tem potencial para ser uma
grande força motivadora para a conservação da natureza. A melhoria da
saúde, uma fonte de renda e a manutenção de tradições culturais são
importantes para todos e devemos estar envolvidos em motivar as pessoas a
conservar as plantas medicinais e, por conseguinte, o habitat onde são
encontradas.

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