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Trabalho de Culminação de Curso

Ficha #1: Estrutura do Projecto de Pesquisa


Para Gil (2002, p. 19), Projecto de Pesquisa “[...] é o documento explicitador de todas acções a
serem desenvolvidas ao longo do processo de pesquisa”. Trata-se, portanto, do documento que
nos permite planear todas as acções inerentes à pesquisa.
Para o desenvolvimento de qualquer pesquisa, em qualquer nível (graduação ou pós-
graduação), há a necessidade de um Projecto de Pesquisa. Nos cursos da Faculdade de
Engenharia e Tecnologias da Universidade Pedagógica de Maputo, também há a exigência de
um Projecto de Pesquisa para a elaboração de Monografia.
De modo geral, um projeto de pesquisa deve oferecer respostas às seguintes indagações:
Pergunta Indicação
O que pesquisar? Determinação do objecto da pesquisa por meio da
apresentação, principalmente, do tema, delimitação do tema
e da problematização
Com que base teórica pesquisar? Referencial teórico e/ou marco teórico e/ou revisão de
literatura
Por que pesquisar? Justificativa
Que acções serão desenvolvidas na pesquisa? Objectivos
Quem pesquisar? Sujeitos
Onde pesquisar? Unidade ou local de observação e/ou colecta de
dados
Quando pesquisar? Cronograma
Como pesquisar? Determinação dos métodos e técnicas
Com quanto pesquisar? Orçamento

É comum encontrar na literatura de Metodologia Científica e Pesquisa vários modelos de roteiro


(estrutura) de Projecto de Pesquisa. O modelo apresentado a seguir não deve ser entendido
como único e absoluto, ao contrário, deve ser entendido apenas como um roteiro que nos
permite entender quais são as etapas que se sucedem na elaboração de um Projecto.

Elementos pré-textuais:
 Capa
 Folha de rosto
 Índice

Elementos textuais:
1. Título e Tema do Projecto
2. Delimitação do Tema
3. Justificativa
4. Problematização/Problema
5. Formulação de Hipóteses
6. Objectivos
7. Fundamentação Teórica
8. Metodologia
9. Resultados Esperados
10. Cronograma
11. Orçamento

Elementos pós-textuais:
 Bibliografia

1. TÍTULO E TEMA DO PROJECTO


O título parte do tema e é o “cartão de apresentação” do projecto de pesquisa. Ele expressa a
delimitação e a abrangência temporal e espacialdo que se pretende pesquisar. O tema parte

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preferencialmente da realidade circundante do pesquisador, como, por exemplo, de seu
contexto social, profissional ou cultural.

2. DELIMITAÇÃO DO TEMA
Como é impossível abranger em uma única pesquisa todo o conhecimento de uma área, deve-
se fazer recortes a fim de focalizar o tema, ou seja, selecionar uma parte num todo. Delimitar,
pois, é pôr limites.
O que delimitar?
 Área específica do conhecimento;
 Espaço geográfico de abrangência da pesquisa;
 Período focalizado na pesquisa;
 Etc.

3. JUSTIFICATIVA
A justificativa constitui uma parte fundamental do projecto de pesquisa. É nessa etapa que o
pesqusador convence o leitor (professor, examinador e demais interessados no assunto) de que
seu projecto deve ser feito. Para tanto, a justificativa deve abordar os seguintes elementos: a
relevância (importância, pertinência, actualidade, etc.) e a viabilidade.

Deve ser evidenciada a contribuição do projecto para o conhecimento e para a sociedade, ou


seja, em que sentido a execução de tal projecto irá subsidiar o conhecimento científico já
existente e a sociedade de maneira geral ou específica. A justificativa deve demonstrar a
viabilidade financeira, material (equipamentos) e temporal, ou seja, o pesquisador mostra a
possibilidade de o projecto ser executado com os recursos disponíveis.
Nota: A justificativa deve ser elaborada em texto único, sem tópicos.

4. PROBLEMATIZAÇÃO/PROBLEMA
A problematização é a descrição, a colocação ou o levantamento da situação ou das
necessidades constatadas e que inquietam ou não deixam indiferente o estudante, como
pesquisador. Sem problema não há pesquisa, mas, para formular um problema de pesquisa, urge
fazer algumas considerações pertinentes no sentido de evitar equívocos. Em primeiro lugar é
preciso fazer uma distinção entre o problema de pesquisa e os problemas do pesquisador. O
desconhecimento, a desinformação, a dúvida do pesquisador em relação a um assunto e/ou tema
não constitui um problema de pesquisa. Essas lacunas podem ser resolvidas com uma leitura
selectiva e aprofundada, dispensando, portanto, um projecto de pesquisa. Em segundo lugar,
não confundir tema com problema. O tema é o assunto geral que é abordado na pesquisa e tem
carácter amplo. O problema focaliza o que vai ser investigado dentro do tema da pesquisa.
Nota: Problema é uma interrogação que o pesquisador faz à realidade.

5. FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES
Nas pesquisas quantitativas, as hipóteses são possíveis respostas ao problema da pesquisa e
orientam a busca de outras informações. A hipótese pode também ser entendida como as
relações entre duas ou mais variáveis, e é preciso que pelo menos uma delas já tenha sido fruto
de conhecimento científico. E o que são variáveis? São características observáveis do fenómeno
a ser estudado e existem em todos os tipos de pesquisa. No entanto, enquanto nas pesquisas
quantitativas elas são medidas, nas qualitativas elas são descritas ou explicadas (TRIVIÑOS,
1987). Nas hipóteses não se busca estabelecer unicamente uma conexão causal (se A, então B),
mas a probabilidade de haver uma relação entre as variáveis estabelecidas (A e B), relação essa
que pode ser de dependência, de associação e também de causalidade. A pesquisa pode
confirmar ou refutar a(s) hipótese(s) levantada(s). Nas pesquisas qualitativas, no lugar das
“Hipóteses” utilizam a expressão “Questões de pesquisa” ou “Questões norteadoras”, etc.. As
Questões de pesquisa funcionam como roteiro da pesquisa, devendo relacionar-se com a
metodologia, a colecta e o tratamento dos dados. Quando respondidas, permitem a clarificação
do problema.
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Nota: As hipóteses não são perguntas, mas sim afirmações, ou seja, possíveis respostas à
interrogação (problema) que o pesquisador fez à realidade.

6. OBJECTIVOS
Nesta parte o estudante/pesquisador formula as suas pretensões com a pesquisa. Ele define,
esclarece e revela os focos de interesse da pesquisa. Os objetivos dividem-se em geral e
específicos.

6.1 Objetivo Geral


O objectivo geral relaciona-se diretamente ao problema. Ele esclarece e direciona o foco central
da pesquisa de maneira ampla. Normalmente é redigido em uma frase, utilizando o verbo no
infinitivo. Verbos mais indicados para os objectivos gerais: Adquirir / Desenvolver / Racicionar
/ Saber / Aperfeiçoar / Entender / Apreciar / Aprender /Julgar / Compreender / Conhecer /
Melhorar / etc.

6.2 Objectivos Específicos


Os objectivos específicos definem os diferentes pontos a serem abordados, visando concretizar
o objectivo geral, confirmar as hipóteses ou responder as Questões Científicas. Os verbos dos
objectivos específicos também devem ser utilizados no infinitivo. Verbos mais indicados para
os objectivos específicos: Aplicar / Distinguir / Numerar / Identificar / Investigar / Marcar /
Classificar / Contextualizar /Redigir / Relacionar / Exemplificar / Listar / Traduzir / etc.
Nota: Para cada hipótese se estabelece mais de um objectivo específico. Portanto, quanto
mais hipóteses, mais complexa é a pesquisa.

7. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nessa etapa, como o próprio nome indica, fundamentam-se as mais recentes teorias contidas
em obras científicas disponíveis que tratem do assunto ou que servem de base teórica
metodológica para o desenvolvimento do projecto de pesquisa. É aqui também que o
pesquisador demonstra estar actualizado sobre as últimas discussões, a nível global, no campo
de conhecimento em investigação.

8. METODOLOGIA
Metodologia é o conjunto de métodos e técnicas utilizados para a realização de uma pesquisa.
Faz-se necessário, contudo, definir o que é método. Este pode ser compreendido como o
caminho a ser seguido na pesquisa. O capítulo 8 – Metodologia, deve conter os seguintes
subcapítulos: 8.1 Tipo de Pesquisa (classificado segundo: a área da ciência, a natureza, os
métodos de procedimentos, a forma de abordagem, os objectivos, o objecto, etc.), 8.2 População
e Amostra (Descrição da área (geográfica) de investigação, delimitação do universo, descrição
da população, tamanho e tipo de amostra (aleatória ou intencional, cálculo amostral)), 8.3
Instrumentos (guiões de observações, questionários, roteiros de entrevista, e/ou outros
formulários de registos adicionais relevantes) e Técnicas (observação, inquérito, entrevista,
etc.) de Colecta de Dados. 8.4 Procedimentos para Análise de Dados, 8.5 Aspectos Éticos a
observar na pesquisa.

Existem duas abordagens de pesquisa, a qualitativa e a quantitativa. A primeira aborda o objecto


de pesquisa sem a preocupação de medir ou quantificar os dados colectados, o que ocorre
essencialmente na quantitativa. Porém é possível abordar o problema da pesquisa utilizando as
duas formas. Numa pesquisa existem métodos de abordagem e métodos de procedimento. O
método de abordagem diz respeito à concepção teórica utilizada pelo pesquisador, enquanto o
de procedimento relaciona-se à maneira específica pela qual o objecto será trabalhado durante
o processo de pesquisa. Exemplos de métodos de abordagem podem ser: hipotético dedutivo,
indutivo, fenomenológico, dialético, positivista, estruturalista e hermenêutico. Exemplos de
métodos de procedimentos podem ser: histórico, estatístico, comparativo, observação,
monográfico, econométrico e experimental. Os métodos de pesquisa e sua definição dependem

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do objecto e do tipo da pesquisa. Os tipos mais comuns de pesquisa são: de campo;
bibliográfica; descritiva; experimental. Aliadas aos métodos estão as técnicas de pesquisa, que
são os instrumentos específicos que ajudam no alcance dos objetivos almejados. As técnicas
mais comuns são: questionários (instrumento de colecta de dados que dispensa a presença do
pesquisador); formulários (instrumento de colecta de dados com a presença do pesquisador);
entrevistas (estruturada ou não estruturada); levantamento documental; observacional
(participante ou não participante); estatísticas. Nesta parte, além do que já foi dito, também
devem ser indicados as amostragens (população a ser pesquisada), o local, os elementos
relevantes, o planeamento do experimento, os materiais a serem utilizados, a análise dos dados,
enfim, tudo aquilo que detalhe o caminho que o pesquisador trilhará para concretizar a pesquisa.

9. RESULTADOS ESPERADOS
Esta parte é dispensável nos trabalhos de graduação, porém faz muito sentido em projectos com
financiamento. Devem ser explicitados os resultados práticos esperados com a pesquisa.

10. CRONOGRAMA
No cronograma, o pesquisador dimensiona cada uma das etapas do desenvolvimento da
pesquisa, no tempo disponível para sua execução. Geralmente os cronogramas são divididos
em meses. O cronograma fica muito mais fácil de ser visualizado se estiver em uma tabela. É
possível ocorrer execução simultânea de etapas, as quais podem ser semanais ou mensais. O
número de etapas do cronograma deve estar de acordo com o que foi proposto no projecto,
especialmente na parte da metodologia.

11. ORÇAMENTO
Nesta parte são indicados o custo de todos os materiais ou equipamentos necessários para o
desenvolvimento da pesquisa, tais como: despesas de custeio (remuneração de serviços
pessoais, materiais de consumo, outros serviços de terceiros e encargos), despesa de capital
(equipamentos e material permanente). O orçamento faz muito sentido em projectos que
concorrem para o financiamento.

 REFERÊNCIAS
As referências são as fontes utilizadas para a elaboração do projecto e as fontes documentais
previamente identificadas que serão necessárias à pesquisa devem ser indicadas em ordem
alfabética e dentro das normas de publicação de trabalhos científicos. Existem diferenças entre
Referências, Referências bibliográficas e Bibliografia. A palavra Referências indica as obras
efectivamente citadas no trabalho em questão. Quando usada sozinha, pode indicar diferentes
tipos de obras, como livros, revistas ou documentos, sejam manuscritos, impressos ou em meio
electrónico. Quando o trabalho apresentar somente citações de obras publicadas em papel,
utiliza-se o termo Referências bibliográficas. Já a palavra Bibliografia indica todas as leituras
feitas pelo pesquisador durante o processo de pesquisa.

 APÊNDICES E ANEXOS
Os apêndices e os anexos só devem aparecer nos projectos de pesquisa se forem extremamente
necessários. Apêndices são elementos complementares ao projecto e que foram elaborados pelo
pesquisador. Aqui entrariam, por exemplo, questionários, formulários de pesquisa de campo ou
fotografias. Os Anexos são textos de autoria de outra pessoa e não do pesquisador. Por exemplo:
mapas, documentos originais, fotografias batidas por outra pessoa que não o pesquisador.

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