Você está na página 1de 98

Família e Novas Parentalidades

Brasília-DF.
Elaboração

Jackson Santos dos Reis/Mariana da Silva Pereira Reis

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................................................................... 6

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
FAMÍLIA................................................................................................................................................ 11

CAPÍTULO 1
FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA..................................................................................................... 11

CAPÍTULO 2
NÚCLEO FAMILIAR................................................................................................................... 13

CAPÍTULO 3
MATRICIALIDADE FAMILIAR...................................................................................................... 20

CAPÍTULO 4
NOVAS CONFORMAÇÕES FAMILIARES.................................................................................... 25

CAPÍTULO 5
CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA................................................................................ 29

UNIDADE II
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA.................................................................................................................. 30

CAPÍTULO 1
FAMÍLIA E POLÍTICAS PÚBLICAS – SUAS..................................................................................... 30

CAPÍTULO 2
A FAMÍLIA E O SERVIÇO SOCIAL.............................................................................................. 42

CAPÍTULO 3
FAMÍLIA E DIREITO SOCIAL....................................................................................................... 47

CAPÍTULO 4
A FAMÍLIA COMO QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL....................................................................... 55

CAPÍTULO 5
FAMÍLIA E POLÍTICAS PÚBLICAS – PNAS................................................................................... 58
UNIDADE III
FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE........................................................................................................ 62

CAPÍTULO 1
FAMÍLIA E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA – VIOLÊNCIA, VIOLÊNCIA DOMÉSTICA,
HOMOSSEXUALIDADE/HOMOAFETIVIDADE............................................................................... 62

CAPÍTULO 2
FAMÍLIA E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA – MERCADO DE TRABALHO E MULHER, PRIMEIRO
EMPREGO, DESEMPREGO....................................................................................................... 73

CAPÍTULO 3
FAMÍLIA E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA – ALCOOLISMO E OUTRAS DROGAS, GRAVIDEZ NA
ADOLESCÊNCIA, IDOSOS........................................................................................................ 77

UNIDADE IV
MATERNIDADE E PATERNIDADE.............................................................................................................. 86

CAPÍTULO 1
MATERNIDADE: CONCEITOS CONTEMPORÂNEOS.................................................................... 86

CAPÍTULO 2
PATERNIDADE: CONCEITOS CONTEMPORÂNEOS..................................................................... 90

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 94
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

7
Introdução
A pluralidade na contemporaneidade, o crescimento progressivo de arranjos culturais,
monogâmicos ou poligâmicos, hierárquicos e nucleares, têm sido foco de estudos, e
atualmente nos deparamos com a intenção de reorganizar e compreender o modo de
pensar sobre as novas formas de se relacionar e vivenciar a atual parentalidade, que é
o que vamos trabalhar durante toda esta apostila.

O processo de construção de uma família mais igualitária e flexível no Brasil começou


por volta dos anos de 1960 e 1970 com as diversas mudanças sociais, culturais e
econômicas. Como resultado da gestão social, principalmente do feminismo, as
mulheres passaram a ter maior reconhecimento e independência social, ao ingressar
no mercado de trabalho e ter possibilidade de competir nele, o que gerou relações
sociais distintas dentro do seio familiar. O surgimento da pílula anticoncepcional e
o advento do divórcio também foram apontados como parte desse ponto de partida.

Ao lidar com os modos de ser, a novidade e o que já não é tão novo têm coexistência
temporal, dificultando uma melhor compreensão do significado único que a
define. Maior liberdade de valores leva a família a novas maneiras de medir seus
relacionamentos, papéis e funções. No entanto, na prática, a incorporação das
mudanças se dá de forma lenta e complexa, principalmente quando se trata de uma
divisão sexual do trabalho doméstico, na qual é importante acompanhar a cabeça se
comparada ao ser humano.

O fato de que a ideia de família se instala no imaginário coletivo como norma se dá


pela tentativa de se tornar um novo modelo de conhecimento, o que significa que a
construção de outros modelos familiares (como a homoparental) agrega questões e
experiências a uma noção apropriada de ser humano e sujeito de uma criança dentro
desse grupo.

Falando de criança, seu papel dentro da família também se transformou diante


dessas grandes transformações. O desenho da infância é feito como um lugar de
privilégio, em oposição ao lugar do adulto em miniatura advindo da Idade Média.
Já na modernidade, surgem novas transformações e, a partir daí, as crianças são
promovidas passando a serem vistas como um ser social, tendo, como preocupações
familiares, a sua saúde e a sua educação.

A organização da família permanece, até hoje, em um lugar de destaque. A preocupação


com a criança e o exercício da parentalidade têm sido avaliados constantemente,
considerando a influência que a família e suas experiências originais têm na formação
da subjetividade das crianças.

A abordagem psicanalítica atribui grande importância à família, como as


internalizações dos pais em relação à infância e o modelo de relacionamento parental,

8
além de enfatizar a capacidade de cada um para criar novos vínculos e novas relações.
Dentro da teoria das relações, o desenvolvimento dessa capacidade de criar vínculos
está diretamente ligado à subjetividade do indivíduo. Pensando nas experiências,
teremos a vida e a adolescência como um contexto familiar para os demais ambientes
que contribuem para sua formação e maturação até a idade adulta.

A nomeação de laços de parentesco e de processos psicológicos tem sido avaliada


pensando na junção dos termos paternidade e maternalidade. Distinguir da noção de
paternidade por não estar relacionada ao modelo tradicional de família, com ênfase
nos papéis biológico e social, insistindo no processo de construção e vínculo psíquico.

Nas transformações do momento, notamos uma busca por referências que tenham
um relato da história da família atual, sobrepondo-se a uma questão biológica ou
vinculante.

Diante das várias possibilidades de vivenciar a parentalidade, o que se supõe é que o


vínculo parental esteja diretamente relacionado à filiação psíquica, que independe da
filiação biológica. A filiação psíquica é uma realidade psíquica da relação construída
entre pais e filhos dentro de uma família, e pode ser considerada vital, sendo
identificada pelo sentimento de pertencimento e descendência das pessoas dentro de
um grupo.

As novas formas de parentalidade, especialmente a homoparentalidade, estão


integradas na filiação psíquica independente da questão biológica, permitindo o estado
periférico de consciência de menor valor ou realidade, ou que gera patologias. Na
busca por uma ética relacional que não esteja limitada a uma questão biológica e que
reconheça a importância do vínculo na construção da parentalidade, pretendemos,
com esta apostila, aprofundar a reflexão sobre o tema em questão e suas decisões no
mundo contemporâneo.

Objetivos
» Refletir sobre o conceito de família e as configurações contemporâneas.

» Compreender as alterações no padrão de organização familiar e sua


relação com a esfera pública.

» Aprender sobre a prática familista nas esferas de proteção social.

» Analisar os impactos dos desdobramentos da questão social na sociedade


e nas políticas sociais.

» Entender sobre as práticas profissionais e as alterações no padrão de


organização relacionados a família e novas parentalidades.

9
10
FAMÍLIA UNIDADE I

CAPÍTULO 1
Família contemporânea

Família é uma palavra única, permeada de diversos significados. As pessoas têm muitas
maneiras de definir uma família e o que ser parte de uma família significa para elas. As
famílias diferem em termos econômicos, culturais, sociais e muitas outras facetas, mas
o que todas têm em comum é o fato de darem muita importância aos familiares.

O dicionário define família de várias maneiras, como um grupo social fundamental


na sociedade tipicamente constituída por um ou dois pais e seus filhos. Embora essa
definição seja um bom ponto de partida, existem várias estruturas familiares modernas
que são excluídas por essa definição, como casais sem filhos ou outras variações da
unidade familiar. Outra definição é duas ou mais pessoas que compartilham metas e
valores, têm compromissos de longo prazo umas com as outras e residem normalmente
no mesmo local. Essa definição engloba a grande maioria das unidades familiares
modernas.

A família tradicional consiste em pai, mãe e filhos. Essa é a família mostrada na


televisão como a família padrão no conceito do patriarcal. No entanto, o século
XXI apresenta uma variedade de unidades familiares, algumas muito diferentes do
padrão dos anos 1950. Hoje, as crianças também são frequentemente educadas em
lares de pais solteiros, por avós ou por pais em relações homoafetivas. Algumas
famílias optam por não ter filhos, ou não podem ter filhos devido a alguma barreira
médica ou emocional. A ideia de que pais e filhos formam uma família é uma definição
básica, no entanto, para reconhecer com precisão outras estruturas familiares,
é necessária uma definição mais ampla. Além de uma definição familiar mais
universal, o conceito de família socialmente aceito perpassa pelo entendimento de
consideram um grupo de amigos como família e adultos que consideram os animais
de estimação – do peixinho dourado aos cavalos – como membros definidores da
unidade familiar.

11
UNIDADE I │ FAMÍLIA

A família tradicional cujo termo era utilizado para um casal heterossexual com filhos
biologicamente relacionados está em declínio. Em vez disso, um número crescente
de crianças é adotado por pais, mães, pais solteiros e padrastos, com muitas crianças
entrando e saindo de diferentes estruturas familiares à medida que crescem. Essas
famílias são muitas vezes referidas coletivamente como “famílias não tradicionais”.
resultado principalmente da separação ou divórcio dos pais e da formação de novos
relacionamentos coabitantes ou conjugais.

O termo “novas famílias” é usado para se referir a formas de família que ou não existem
ou foram escondidos da sociedade até a última parte do século XX e que representam
um afastamento mais fundamental das estruturas familiares tradicionais do que
fazer famílias não tradicionais formadas por relacionamentos diversos. Estes incluem
famílias criadas por tecnologias de reprodução assistida que envolvem Fertilização In
Vitro (FIV), doação de óvulos, inseminação de dadores, doação de embriões e sub-
rogação, bem como famílias de mães, pais homoafetivos e mães solteiras por escolha.

A FIV tem atraído muita publicidade, visto que a reprodução assistida envolve a doação
reprodutiva, ou seja, a doação de gametas (espermatozoides ou óvulos), embriões
ou a gravidez para outra mulher e isso teve um impacto fundamental na família.
Filhos nascidos por meio de doação de óvulos carecem de um link genético para sua
mãe, enquanto crianças nascidas por meio de doação de esperma (inseminação de
doadores) não têm uma conexão genética com o pai. Com doação de embriões, tanto o
óvulo quanto o esperma são doados, e nenhum dos pais é geneticamente relacionado
à criança. Isso envolve uma mulher que hospeda uma gravidez para outra mulher, e
os filhos não têm vínculo gestacional com a mãe deles. Eles também não têm um link
genético com sua mãe se o ovo do substituto foi usado em sua concepção.

12
CAPÍTULO 2
Núcleo familiar

No contexto da sociedade humana, uma família é um grupo de pessoas relacionadas


por consanguinidade (por nascimento reconhecido), afinidade (por casamento ou
outro relacionamento), co-residência (como implicado pela etimologia da família) ou
alguma combinação destes. O núcleo familiar pode incluir cônjuges, pais, irmãos,
filhos, avós, tios, primos, sobrinhos e “irmãos de lei”. Às vezes, estes são considerados
também membros da família imediata, dependendo da relação específica de um
indivíduo com eles.

Na maioria das sociedades, a família é a principal instituição para a socialização das


crianças. Como unidade básica para criar filhos, os antropólogos geralmente classificam
a maioria das organizações familiares como matrifocal (uma mãe e seus filhos); conjugal
(esposa, marido e filhos, também chamada de família nuclear); avuncular (por exemplo,
um avô, um irmão, sua irmã e seus filhos); ou estendido (pais e filhos co-residem com
outros membros da família de um dos pais). As relações sexuais entre os membros são
reguladas por regras relativas ao incesto.

Em vez de simplesmente definir a família por uma definição de dicionário, cada


indivíduo deve procurar definir uma família por seus próprios padrões, enriquecendo
a definição do dicionário. Podendo ter várias famílias em sua vida, até mesmo várias
famílias ao mesmo tempo, se quiser. Independentemente escolhe definir sua unidade
familiar, seja ela tradicional ou única, a definição é da unidade familiar que funciona
para o indivíduo. Como diz o ditado: “Família é o que você faz.” Seja constituída de
consanguinidade, amigos ou animais de estimação, ou uma combinação destes, sua
família pode oferecer-lhe o apoio de que você precisa para prosperar.

Considerar que os amigos são tão próximos ou mais próximos do que os familiares
extensos (ou imediatos) é uma prática comum na contemporaneidade. As pessoas
que perderam membros próximos da família podem criar uma unidade familiar
de amigos com interesses e metas semelhantes para se tornarem substitutos ou
melhorias na falta de estrutura familiar. Esse tipo de unidade familiar, embora não
seja tradicional, pode ser tão próximo, se não mais próximo, do que uma estrutura
tradicional. Amigos são escolhidos por um indivíduo; às vezes, essas pessoas podem
ser mais especiais ou importantes do que a família com a qual uma pessoa nasceu.
Além disso, algumas pessoas que têm famílias de apoio também têm uma extensa
rede de amigos que consideram ser uma segunda família ou como adições ao seu
sangue ou parentes legais.

13
UNIDADE I │ FAMÍLIA

Os animais de estimação também podem se tornar membros de uma unidade familiar.


Para casais que não podem ou não querem ter filhos, os animais de estimação podem
ser um substituto e ser amados tão carinhosamente quanto os filhos, pois são dotados
de toda a carga emocional do núcleo familiar.

Uma das funções primárias da família envolve fornecer uma estrutura para a produção
e reprodução de pessoas biologicamente e socialmente. Isso pode ocorrer por meio do
compartilhamento de substâncias materiais (como alimentos); dar e receber cuidados e
nutrir (nutrir o parentesco); direitos e obrigações legais; e laços morais e sentimentais.
Assim, a experiência de alguém da família muda ao longo do tempo. Do ponto de vista
das crianças, a família é “família de orientação”: a família serve para localizar as crianças
socialmente e desempenha um papel importante na sua enculturação e socialização. Do
ponto de vista dos pais, a família é uma “família de procriação”, cujo objetivo é produzir
e socializar as crianças. No entanto, produzir crianças não é a única função da família.
Em sociedades com divisão sexual do trabalho, o casamento relação resultante entre
duas pessoas, é necessário para a formação de um agregado familiar economicamente
produtivo.

O termo “família nuclear” é comumente usado, especialmente nos Estados Unidos da


América, para se referir a famílias conjugais, às quais incluem apenas os cônjuges e
filhos solteiros que não são maiores de idade.

Alguns sociólogos fazem distinção entre famílias conjugais (relativamente independentes


das famílias dos pais e de outras famílias em geral) e famílias nucleares (que mantêm
laços relativamente próximos com seus parentes). Outras estruturas familiares com
pais mistos, pais solteiros e parcerias domésticas começaram a desafiar a normalidade
da família nuclear.

Uma família monoparental é aquela em que um dos pais vive junto com seus
filhos, em que o pai ou é viúvo, divorciado e não se casou novamente ou nunca se
casou. Os pais podem ter a custódia exclusiva dos filhos ou os pais podem ter um
arranjo parental compartilhado, em que os filhos dividem seu tempo igualmente
entre duas famílias monoparentais diferentes ou entre uma família monoparental
e uma família mista. O bem-estar físico, mental e social é menor para os filhos de
custódia exclusiva, em comparação com as crianças em famílias nucleares ou com
os arranjos parentais compartilhados. O número de famílias monoparentais tem
aumentado, e cerca de metade de todas as crianças nos Estados Unidos viveu em
famílias monoparentais em algum momento antes de atingirem a idade de 18 anos.
As famílias são chefiadas por uma mãe, mas o número de famílias monoparentais
chefiadas por pais está aumentando.

14
FAMÍLIA │ UNIDADE I

Uma família “matrifocal” é aquela em que uma mãe vive somente com seus filhos.
Geralmente, essas crianças são seus descendentes biológicos, embora a adoção de
crianças seja uma prática em quase todas as sociedades. Esse tipo de família ocorre
comumente onde as mulheres têm recursos para criar seus filhos sozinhas ou onde os
homens são mais móveis do que as mulheres. Como definição, “um grupo familiar ou
doméstico é matrifocal quando centrado em uma mulher e seus filhos. Nesse caso, o(s)
pai(s) dessas crianças estão intermitentemente presentes na vida do grupo e ocupam
um lugar secundário. A mãe das crianças não é necessariamente a esposa de um dos
pais das crianças”.

O termo “família de escolha”, às vezes também chamado de “família escolhida”, é comum


na comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros
(LGBTQI+) tanto na literatura acadêmica quanto no vocabulário coloquial. Refere-se
ao grupo de pessoas na vida de um indivíduo que satisfaz o papel típico da família como
um sistema de apoio. O termo diferencia a “família de origem” (a família biológica ou
aquela em que as pessoas são criadas) e aquelas que assumem ativamente esse papel
ideal.

A família de escolha pode ou não incluir alguns ou todos os membros da família de


origem. Essa terminologia deriva do fato de que muitos indivíduos LGBTQI+ enfrentam
rejeição ou vergonha das famílias em que foram criados pelo início da vivência da
sexualidade socialmente.

O termo família mista ou família adotiva descreve famílias com pais heterossexuais:
um ou ambos os pais se casaram novamente, trazendo filhos da antiga para a nova
família. Também na sociologia, a família tradicional refere-se a uma família de classe
média com um pai que exerce a atividade remunerada e uma mãe que se ocupa das
atividades de gestão doméstica, casados entre si e educando seus filhos biológicos e não
tradicionais às exceções dessa regra.

Em termos de padrões de comunicação nas famílias, há um certo conjunto de crenças


dentro da família que refletem como seus membros devem se comunicar e interagir.
Esses padrões de comunicação familiar surgem de dois conjuntos subjacentes de
crenças: a orientação de conversação (o grau em que a importância da comunicação é
valorizada) e a orientação de conformidade (o grau em que as famílias devem enfatizar
semelhanças ou diferenças em relação a atitudes, crenças e valores).

Uma família monogâmica é baseada em uma monogamia legal ou social. Nesse caso,
um indivíduo tem apenas um parceiro (oficial) durante a vida ou a qualquer momento
(por exemplo, monogamia em série). Isso significa que uma pessoa pode não ter vários
cônjuges legais ao mesmo tempo, pois isso é geralmente proibido pelas leis da bigamia,
em jurisdições que exigem casamentos monogâmicos.
15
UNIDADE I │ FAMÍLIA

A poligamia é um casamento que inclui mais de dois parceiros. Quando um homem é


casado com mais de uma esposa de cada vez, o relacionamento é chamado de poliginia;
e quando uma mulher é casada com mais de um marido de cada vez, é chamado
poliandria. Se um casamento inclui múltiplos maridos e esposas, ele pode ser chamado
de casamento poliamorial.

A poliginia é uma forma de casamento plural, em que é permitido a um homem mais de


uma esposa. Nos países modernos que permitem a poligamia, a poliginia é tipicamente
a única forma permitida. A poliginia é praticada principalmente (mas não apenas) em
partes do Oriente Médio e da África e é frequentemente associada ao Islã, no entanto
existem certas condições no Islã que devem ser cumpridas para realizar a poliginia.

A poliandria é uma forma de casamento em que uma mulher relaciona-se com dois
ou mais maridos ao mesmo tempo. A poliandria fraterna, em que dois ou mais irmãos
são casados com a mesma esposa, é uma forma comum de poliandria. A poliandria era
tradicionalmente praticada em áreas das montanhas do Himalaia, entre os tibetanos no
Nepal, em partes da China e em partes do norte da Índia. A poliandria é mais comum em
sociedades marcadas por altas taxas de mortalidade masculina ou em que os homens
muitas vezes estarão separados do resto da família por um considerável período.

Graus de parentesco
Um parente de primeiro grau é aquele que compartilha 50% do seu DNA por meio de
herança direta, como um irmão completo, pai ou progênie.

Há outra medida para o grau de relacionamento, que é determinado pela contagem de


gerações até o primeiro ancestral comum e de volta ao indivíduo-alvo, que é usado para
várias finalidades genealógicas e legais.

Tabela 1. Parentescos.

Grau de relacionamento contando gerações para


Parentesco Grau de relacionamento
ancestral comum
Gêmeos idênticos primeiro grau segundo grau
Irmão primeiro grau segundo grau
Pai-descendente primeiro grau primeiro grau
Meio irmão segundo grau segundo grau
Avó avô segundo grau segundo grau
Sobrinha/sobrinho/tia/tio segundo grau terceiro grau
Meia sobrinha/sobrinho/tia/tio terceiro grau terceiro grau
Primo em primeiro grau terceiro grau quarto grau
Meio primo quarto grau quarto grau
Bisavô terceiro grau terceiro grau
Primeiro primo, uma vez removido quinto grau quinto grau
Segundo Primo sexto grau sexto grau
Fonte: Elaborada pelo autor.

16
FAMÍLIA │ UNIDADE I

Em parte considerável das sociedades ocidentais utiliza-se a terminologia de parentesco


esquimó. Essa terminologia de parentesco comumente ocorre em sociedades baseadas
em famílias conjugais, em que as famílias possuem um grau de relativa mobilidade.
Membros dos termos de parentesco:

» Pai: um pai masculino.

» Mãe: uma mãe feminina.

» Filho: um filho do pai(s) do sexo masculino.

» Filha: uma criança do(s) pai(s).

» Irmão: um irmão masculino.

» Irmã: um irmão do sexo feminino.

» Marido: um cônjuge masculino.

» Esposa: uma mulher cônjuge.

» Avô: o pai de um pai.

» Avó: a mãe de um pai.

» Primos: duas pessoas que compartilham pelo menos um avô em comum,


mas nenhum dos mesmos pais.

Tipicamente, as sociedades com famílias conjugais também favorecem a residência


neolocal; assim, no casamento, uma pessoa se separa da família nuclear de sua
infância (família de orientação) e forma uma nova família nuclear (família de
procriação). No entanto, na sociedade ocidental, a família monoparental tem
crescido e sendo mais aceita, o que começou a causar impacto na cultura. Famílias
monoparentais são mais comumente famílias de mães solteiras do que de pais
solteiros.

Essas famílias, por vezes, enfrentam problemas difíceis, além do fato de terem
que criar seus filhos por conta própria, por exemplo baixa renda, dificultando o
pagamento de aluguel, cuidados infantis e outras necessidades para um lar saudável
e seguro. Os membros das famílias nucleares de membros da própria família nuclear
(antiga) podem ser classificados como lineares ou como colaterais.

Os parentes que os consideram como lineares se referem a eles em termos que se


baseiam nos termos usados na família:

17
UNIDADE I │ FAMÍLIA

» Avó:

› Avô: pai dos pais.

› Avó: mãe de um dos pais.

» Neto:

› Neto: filho de uma criança.

› Neta: filha de uma criança.

Para parentes colaterais, termos mais classificatórios entram em jogo, termos que não
se baseiam nos termos usados na família nuclear:

» Tio: irmão dos pais ou cônjuge masculino do irmão dos pais.

» Tia: irmã dos pais, ou esposa do irmão dos pais.

» Sobrinho: filho do irmão, ou filho do irmão da esposa.

» Sobrinha: filha do irmão, ou filha do irmão da esposa.

Quando outras gerações intervêm (em outras palavras, quando os parentes colaterais
pertencem à mesma geração que os avós ou netos), os prefixos “grande” ou “grandioso”
modificam esses termos. Além disso, como acontece com os avós e netos, à medida que
mais gerações intervêm, o prefixo se torna “bisavó”, acrescentando outro “grande” para
cada geração adicional. A maioria dos parentes colaterais nunca foi membro da família
nuclear dos membros da própria família nuclear.

» Primo: o termo mais classificatório; os filhos de tios ou tias. Pode-se


distinguir ainda os primos por graus de colateralidade e por geração.
Duas pessoas da mesma geração que compartilham um avô contam
como “primos de primeiro grau” (um grau de colateralidade); se eles
compartilham um bisavô, contam como “primos em segundo grau” (dois
graus de colateralidade) e assim por diante.

Se duas pessoas compartilham um antepassado, um como neto e o outro como bisneto


daquele indivíduo, então os dois descendentes são classificados como “primos de
primeiro grau removidos” (removidos por uma geração); se compartilhavam figuras
ancestrais como o avô de um indivíduo e o tataravô do outro, os indivíduos são
classificados como “primos de primeiro grau duas vezes removidos” (removidos por
duas gerações), e assim por diante.

18
FAMÍLIA │ UNIDADE I

Da mesma forma, se compartilhavam figuras ancestrais como o bisavô de uma pessoa e


o tataravô da outra, os indivíduos classificam-se como “primos de segundo grau outrora
removidos”. Portanto, pode-se referir a um “terceiro primo, uma vez removido para
cima”.

Primos de uma geração mais velha (em outras palavras, os primos de primeiro grau
de seus pais), embora tecnicamente primos de primeiro grau uma vez removidos,
são frequentemente classificados como “tias” e “tios”. Da mesma forma, uma
pessoa pode se referir a amigos próximos dos pais como “tia” ou “tio”, ou pode se
referir a amigos próximos como “irmão” ou “irmã”, usando a prática do parentesco
fictício.

19
CAPÍTULO 3
Matricialidade familiar

A Matricialidade Sociofamiliar é definida pela centralidade da família como núcleo


social fundamental para a efetivação de todas as ações e serviços da política de
assistência social.

Entre os avanços da Assistência Social está uma matriciliadade sociofamiliar,


entendido a partir das diretrizes definidas pela Política Nacional de Assistência
Social (PNAS) para o território nacional, com a opção de centralidade para a
designação e implementação de benefícios, serviços, programas e projetos.

A PNAS é uma política que, junto com as políticas setoriais, considera as desigualdades
socioterritoriais, visando ao seu enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais, ao
provimento de condições para atender à sociedade e à universalização dos direitos
sociais.

Segundo a PNAS, o paradigma da universalização do direito à proteção social supõe


a ruptura com ideias tutelares e de subalternidade, que identificam os cidadãos
como carentes, necessitados, pobres, mendigos, discriminando-os e apartando-os
do reconhecimento como sujeitos de direito.

Assim, a nova concepção de assistência social como direito à proteção social, direito
à seguridade social tem duplo efeito: o de suprir sob dado padrão pré-definido um
recebimento e o de desenvolver capacidades para maior autonomia. Nesse sentido,
ela é aliada ao desenvolvimento humano e social e não tuteladora ou assistencialista,
ou ainda tão só provedora de necessidades ou vulnerabilidades sociais.

O público dessa política são os cidadãos e grupos que se encontram em situações


de risco. Ela significa garantir a todos, que dela necessitam, e sem contribuição
prévia, a provisão dessa proteção. A Política de Assistência Social vai permitir a
padronização, melhoria e ampliação dos serviços de assistência no país, respeitando
as diferenças locais.

A Assistência Social tem como foco principal a proteção social. O que antes era
benefício dos que, de alguma maneira, contribuíam, atualmente é direito de todos,
mesmo que os que nunca contribuíram têm por obrigação prover o mínimo social
garantindo as Necessidades Humanas Básicas (NHB).

20
FAMÍLIA │ UNIDADE I

Como tornar direta a opção PNAS em colocar a família em foco assistência social, tem
uma adoção do princípio da matri-sociofamiliar, entre os que governam o Sistema Único
de Assistência Social (SUAS). Segundo a PNAS, a matricidade sociofamiliar refere-se
à centralidade da família como núcleo social fundamental para a eficácia de todas as
ações e serviços da política de assistência social.

O princípio da matrícula sociofamiliar é um progresso segurança social, que obteve


um pedido da PNAS e a criação do SUAS mais diretamente, ao cuidado dos indivíduos,
de forma isolada da família. Nesse sentido, a matrícula sociofamiliar surge como um
antídoto para a fragmentação da serviços, o sujeito à proteção de uma rede de serviços
de apoio à família.

Essa centralidade dada à família na política de assistência social é justificada pelo


reconhecimento da responsabilidade do Estado e pela proteção social às famílias,
apreendido como núcleo social básico de aceitação, convivência, autonomia,
sustentabilidade e protagonismo social e um espaço privilegiado e insubstituível de
proteção e socialização das crianças.

A abordagem que eleva a família à localização central em assistência social também


é frágil e contraditória. O quadro conceptual utilizado para apoiar as matrizes
sociofamiliares não elimina contradição e conservadorismo. Um diálogo está ocorrendo
agora, observando dicotomia entre os avanços e retrocessos da política de assistência
social em relegar à família a centralidade na política pública.

Do mesmo modo, é uma superação que a PNAS apresenta em relação ao desenho


familiar, desengajando de um modelo padrão, idealizado na sociedade diante de um
contexto histórico burguês – nessa perspectiva de superação, família em diferentes
arranjos, variações, dinâmicas e modelos diferentes.

Da mesma forma, o compromisso de cuidar da família em sua unidade é importante e


é dito. Existe um conjunto de instruções que considera uma família qualquer um dos
modelos, modelos e recursos que têm assumido as transformações econômicas, sociais
e culturais contemporâneas, líder da proteção social e fundamental de seus membros.
Com base nessas instruções, faz-se um diálogo sobre formas e processos de suposição do
SUAS de organizar os serviços de matrimônio sociofamiliar com vantagens, programas
e projetos que listam elementos questionadores.

A centralidade da família na política de assistência social não pode significar


responsabilização da família, mas uma superação do foco das ações históricas. Essa
prestação de contas, no entanto, é fornecida em todos os serviços, programas e projetos
organizados pela política de assistência social.

21
UNIDADE I │ FAMÍLIA

Todas essas questões apresentam que a matricialidade sociofamiliar traz um horizonte


de responsabilização das famílias, desvelando seu verdadeiro significado, de ampliar e
contar, mediante estratégias de racionalização e orientação, com a proteção da família,
reforçando a tendência familista da política social brasileira.

Como é concebida, a matrícula sociofamiliar é ter uma família. Portanto, o vínculo


social com as crianças é constituído a partir da unidade familiar, inter-relacionando
programas e serviços de assistência social e famílias com estratégias de ação articuladas.
Em outras palavras, as famílias devem ter possibilidades de inserção social, para garantir
sua sobrevivência, aceitação de suas oportunidades e interesses e da vida familiar e
comunitária, em resumo, proteção social.

A PNAS tem por princípio a vulnerabilidade e análise dos riscos sociais e como diretriz
a proteção social das pessoas, bem como o núcleo de apoio desse indivíduo (“família”)
e as circunstâncias de onde vive.

A Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), no art. 1o, descreve que a assistência social
é algo de direito do indivíduo e dever do Estado; não cabe contribuição este deve ofertar
o mínimo de sobrevivência humana, sendo que os princípios entram em consonância
com a LOAS no art. 4º:

» atendimento às necessidades econômicas momentâneas;

» universalidade do direito social, propondo o alcance a todas as políticas


públicas;

» respeito ao cidadão e qualidade na prestação dos serviços;

» igualdade e acesso sem discriminação de qualquer natureza (raça, cor,


idade);

» divulgação dos projetos sociais e critérios claros de concessão.

Ao município cabe a análise situacional, das pessoas e territórios, unidade sociofamiliar,


e deve reportar a esfera federal esse panorama.

A PNAS se configura sob a visão socioterritorial, por isso é fundamental entender


o indivíduo no coletivo, ou seja, fazer a análise do cotidiano da população. Como
ferramenta dessa política, pode-se citar o Censo e a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD). Essas ferramentas possibilitam o entendimento
da dinâmica demográfica, socioeconômica, associando-se a inclusão ou exclusão
social, além da detecção dos riscos e vulnerabilidades sociais e pessoais nos
diferentes territórios.

22
FAMÍLIA │ UNIDADE I

Outra ferramenta importante para a PNAS é a dinâmica populacional, ou seja, os


aspectos demográficos da nação. Ela prevê as características de perfil da população de
cada município por habitantes/território.

Como diretriz, a PNAS deve prever o que se tem na Constituição Federal de 1988
e na Loas, com:

» descentralização político-administrativa;

» participação da população;

» responsabilidades claras para cada esfera governamental;

» centralização na família, com implementação dos benefícios, serviços,


projetos e programas sociais concedidos.

Dos objetivos, cabe:

» a promoção dos serviços, programas, projetos e benefícios de proteção


social básica tanto para a pessoa quanto para sua família;

» incluir indivíduos do campo, vida urbana, a ter equidade e acesso aos


serviços sociais;

» garantir assistência social a família com foco na inserção da


comunidade.

A Loas dispõe sobre a organização da assistência social. Trata-se de um o instrumento


legal regulamentador dos pressupostos constitucionais (Constituição Federal, arts.
203 e 204), os quais descrevem a garantia dos direitos à assistência social. Essa lei
institui benefícios, serviços, programas e projetos destinados ao enfrentamento da
exclusão social dos segmentos mais vulnerabilizados.

Lembre-se: o foco principal dos serviços assistenciais são as famílias vulnerabilizadas


pela pobreza e exclusão social. Considere o grupo familiar e a comunidade como
espaço social de proteção e inclusão social.

O público-alvo dessa política é indivíduo e grupos que se encontram em situações


de vulnerabilidade e riscos, tais como:

» ciclos de vida;

» diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e


indivíduos;

23
UNIDADE I │ FAMÍLIA

» estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem


representar risco pessoal e social;

» exclusão da pobreza e o acesso às demais políticas públicas;

» famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade,


pertencimento e sociabilidade;

» identidades estigmatizadas em termos étnicos, culturais e sexuais;

» inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e


informal;

» uso de substâncias psicoativas.

Valoriza-se a implementação de ações e serviços intersetoriais. Essas ações e serviços


intersetoriais precisam explicitar claramente como farão a proteção e a busca da
qualidade de vida do grupo familiar, e não apenas do indivíduo isoladamente.

Compreender o universo heterogêneo da família, situando-o em termos de classe


social, gênero e etnia, é uma das questões a serem analisadas a fim de implementar
a PNAS nas matriciais sociofamiliares.

Nesse sentido, somos instigados a pensar a família de sua jornada, sua inserção
e seus direitos sociais e, como consequência, uma intervenção em bases teórico-
metodológicas e técnico-operativas que tome essa perspectiva de análise. Essa
causa traz novos debates para entender uma família PNAS, uma vez que deixa de
ser um dos pilares das ações de cuidado e ser agente principal na formulação e
implementação da política pública de assistência social, com foco pela busca de
justiça social.

A matricialidade da família requer que novas formas de enfrentamento das


expressões da questão social sejam atraídas para e com uma família, de modo
integrado e articulado com serviços e demandas de assistência social de um diálogo
que os considera sujeitos de direitos, agentes sociais.

Apesar das construções teórico-metodológicas baseadas na matrícula sociofamiliar,


notamos que esse eixo da PNAS é assumido em seu sentido estrito e com a vibração
assumida pela centralidade da família.

24
CAPÍTULO 4
Novas conformações familiares

Atualmente a evolução do Direito de Família traz uma reflexão, já que passamos por
uma inversão de valores, pela liberação sexual das mulheres, pela igualdade jurídica
dos cônjuges e dos companheiros, pela modificação dos padrões de conduta social e
das estruturas de convívio familiar, e tantos outros fatos que demonstram a relevância
e atualidade do tema versado.

Dados do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) descrevem a aproximação


da Ciência Jurídica e a Psicanálise, buscando fazer entender os membros das famílias
como sujeitos com desejos e não como subordinados às regras morais e conservadoras
impostas que não prezam pelo bem-estar psicossocial de cada pessoa.

A Carta Política de 1988 trouxe a questão da proteção referindo a identidade civil


à realidade sociológica que a sociedade manifesta, com diversas modelagens de
constituição, estrutura e de formatação familiar existentes nesse imenso país e, assim,
procedeu ao retirar do porão de armazenagem das categorias excluídas as famílias
naturais, assim chamadas por terem nascido da informalidade de uma relação afetiva,
outrora denominada de concubinato e modernamente rebatizada com a denominação
jurídica de união estável.

Observa-se que a atualidade traz a família com novos conceitos, tendo como elemento
identificador a afetividade, situação que ocasionou o aparecimento de outras
conformações e terminologias familiares, tais como: entidade familiar, união estável,
uniões homoafetivas, família monoparental, família anaparental, reprodução assistida,
concepção homóloga, heteróloga, filiação socioafetiva e outras.

Em consequência disso, o antigo conceito de família vai se reformulando, ganhando


nova feição com a modificação da sociedade e seus valores, ao passo que torna evidente
uma reflexão interdisciplinar para lidar com essa realidade irreversível, polêmica e
ainda cheia de preconceitos que persiste no ordenamento jurídico brasileiro.

Deve-se refletir sobre as mudanças de paradigmas na estrutura familiar, pois, em


termos jurídicos, ainda há impasses, mesmo com as novas normatizações.

Embora haja muitos avanços da Constituição Federal em relação ao direito de família, é


fato que a justiça no Brasil ainda é conservadora quando se trata de questões familiares,
pois essa nega inserção no âmbito jurídico àqueles que vivem de modo diferente ao

25
UNIDADE I │ FAMÍLIA

padrão tradicional considerado como o correto, situação esta que obstaculariza


sobremaneira o reconhecimento dos novos vínculos familiares.

Diante da evolução da sociedade, o aparecimento das novas formas familiares é


uma realidade inevitável, devendo, para essas conformações familiares, ser criadas
normas regulamentadoras que disciplinem a respeito desta situação.

As modificações ocorreram na organização, na composição, na função, no governo e


na conduta dos membros da família atuais. No Estado Democrático de Direito, deve-
se dar prioridade ao princípio da dignidade humana, não mais se admite intolerância
e preconceito aos relacionamentos afetivos que destoam do relacionamento homem
e mulher.

Ideias preconceituosas e conservadoras conjuntamente com alegação de falta de


previsão legal dos novos vínculos familiares não podem ser justificativas aceitáveis
para entravar o reconhecimento jurídico a essas novas famílias.

Assim como os valores sociais mudam, o Direito, como ciência jurídica dinâmica
que é, deve também acompanhar essas mutações e encontrar soluções viáveis
utilizando-se de todos os recursos que lhes são postos à disposição.

A reflexão acerca do novo cenário da família atual se faz necessária para trazer à
tona a necessidade de se ter um entendimento interdisciplinar sobre a temática,
observando a mudança de comportamento dos membros familiares ao longo dos
tempos e a análise da sexualidade humana, pois deve-se refletir sobre Ciências para
que sejam rompidos os obstáculos para o reconhecimento dos direitos a esses novos
arranjos familiares.

É importante o reconhecimento dos novos relacionamentos familiares, em prol da


resolução das inúmeras controvérsias relativas ao âmbito familiar, do bem-estar
psíquico e social das pessoas, do respeito ao Estado Democrático de Direito e ao
princípio da dignidade humana.

A estrutura familiar tradicional é considerada um sistema de apoio familiar


envolvendo dois indivíduos casados que prestam cuidados e estabilidade para seus
filhos biológicos. No entanto, essa família nuclear de dois pais tornou-se menos
prevalente, e formas familiares alternativas tornaram-se mais comuns.

A família é criada no nascimento e estabelece laços entre gerações. Essas gerações,


a família extensa de tias, tios, avós e primos, podem ter papéis emocionais e
econômicos significativos para a família nuclear.

Com o passar do tempo, a infraestrutura teve que se adaptar a mudanças muito


influentes, incluindo divórcio e a introdução de famílias monoparentais, gravidez na

26
FAMÍLIA │ UNIDADE I

adolescência e mães solteiras e casamento entre pessoas do mesmo sexo, além de maior
interesse na adoção. Movimentos sociais como o movimento feminista e o pai de dona
de casa contribuíram para a criação de formas familiares alternativas, gerando novas
versões da família.

A partir da década de 1970, a estrutura da família nuclear “tradicional” começou


a mudar. Foram as mulheres nas casas que começaram a fazer essa mudança. Eles
decidiram começar as carreiras fora de casa e não viver de acordo com as figuras
masculinas em suas vidas. Estes incluem relacionamentos entre pessoas do mesmo
sexo, famílias monoparentais, indivíduos adotantes e sistemas familiares ampliados
que vivem juntos. A família nuclear também está escolhendo ter menos filhos do que
no passado.

Uma mãe ou pai solteira(o) é uma mãe/pai que cuida de um ou mais filhos sem a
assistência do outro pai/mãe biológico(a). Historicamente, famílias monoparentais
muitas vezes resultaram da morte de um cônjuge, por exemplo, no parto. Esse termo
pode ser dividido em dois tipos: pai/mãe solteira(o) e co-pai/mãe. Um pai/mãe
sozinho(a) está gerenciando todas as responsabilidades da criação dos filhos por conta
própria, sem assistência financeira ou emocional. Um pai único pode ser um produto de
abandono ou morte do outro progenitor, ou pode ser uma única adoção ou inseminação
artificial. Um co-pai (mãe) é alguém que ainda recebe algum tipo de assistência com a
criança/ filhos.

Residências monoparentais estão aumentando à medida que casais se divorciam ou


casais não casados têm filhos. Embora acredite-se amplamente que seja prejudicial para
o bem-estar mental e físico de uma criança, esse tipo de agregado familiar é tolerado.

Novas formas de parentalidade assumem hoje a responsabilidade pela homossexualidade:


a situação em que pelo menos um indivíduo homossexual assume a responsabilidade
por uma criança. O termo homoparentalidade foi criado em 1997 pela APGL (Associação
de Pais e Futuros Pais Gays e Lésbicas) (ROUDINESCO, 2003).

Tipos de parentesco

Patrilinear

A patrilinearidade, também conhecida como linhagem masculina ou parentesco


agnático, é uma forma de sistema de parentesco em que a afiliação familiar de um
indivíduo deriva e é traçada por meio da linhagem de seu pai. Geralmente envolve a

27
UNIDADE I │ FAMÍLIA

herança de propriedade, direitos, nomes ou títulos por pessoas relacionadas por meio
de parentes masculinos.
Uma patrilina (“linhagem paterna”) é o pai de uma pessoa e ancestrais adicionais que
são traçados apenas por machos. A patrilinha é, portanto, um registro da descendência
de um homem no qual os indivíduos de todas as gerações intermediárias são do sexo
masculino. Na antropologia cultural, uma patrilinhagem é um grupo de parentesco
masculino e feminino consanguíneo, cada um dos quais é descendente do ancestral
comum por meio de antepassados masculinos.

Matrilineal

A matrilinearidade é uma forma de sistema de parentesco em que a afiliação familiar de


um indivíduo deriva e é traçada por meio da linhagem de sua mãe.

Também pode se correlacionar com um sistema social em que cada pessoa é identificada
com sua matrilina, a linhagem de sua mãe e que pode envolver a herança de propriedade
e títulos. Uma matrilina é uma linha de descendência de um ancestral feminino para
um descendente em que os indivíduos de todas as gerações intermediárias são mães em
outras palavras, uma “linhagem materna”.

Em um sistema de descendência matrilinear, considera-se que um indivíduo pertence ao


mesmo grupo de descendentes que sua mãe. Esse padrão de descendência matrilinear
está em contraste com o padrão mais comum de padrão de descendência patrilinear.

Descendência bilateral

A descendência bilateral é uma forma de sistema de parentesco em que a afiliação


familiar de um indivíduo deriva e é traçada pelos lados paterno e materno. Os parentes
do lado da mãe e do lado do pai são igualmente importantes para laços emocionais
ou para transferência de propriedade ou riqueza. É um arranjo familiar em que a
descendência e a herança são transmitidas igualmente por ambos os pais. ​​As famílias
que usam esse sistema rastreiam a descendência por meio de pais simultaneamente e
reconhecem múltiplos ancestrais, mas, diferentemente da descendência cognática, não
são usadas para formar grupos descendentes.
Tradicionalmente, isso é encontrado em alguns grupos da África Ocidental, Índia,
Austrália, Indonésia, Melanésia, Malásia e Polinésia. Os antropólogos acreditam que
uma estrutura tribal baseada na descendência bilateral ajuda os membros a viver em
ambientes extremos, porque permite que os indivíduos confiem em dois conjuntos de
famílias dispersos por uma área ampla.

28
CAPÍTULO 5
Convivência familiar e comunitária

O presente capítulo se propõe a discorrer a respeito do direito a convivência familiar e


comunitária preconizado no Brasil.

Trata-se de um plano com abrangência nacional com vistas a promoção, proteção


e defesa dos direitos das crianças e adolescentes brasileiros, para que possam ter
de forma assegurada essa proteção articulada por meio do Estado.

Esse plano é fruto de um amplo processo de participação da sociedade civil,


entidades do terceiro setor ligadas a infância e adolescência, e sobretudo as
esferas municipais e estaduais, e participação de organizações internacionais
que se dedicam a atuar perante a proteção e promoção dos direitos de crianças
e adolescentes. É considerado um marco nas políticas públicas brasileiras
por conta da questão da infância, quando se destina a romper com práticas
de institucionalização de crianças e adolescentes e busca fortalecer a proteção
integral e a convivência comunitária e familiar.

Entende-se que a manutenção dos vínculos comunitários e familiares estão


diretamente ligados ao bem-estar e pleno desenvolvimento de crianças e
adolescentes.

Cabe ressaltar que esse plano visa também a romper com a visão fragmentada de
crianças e adolescentes, e suas ações e estratégias devem ser de modo articulado
com os diversos setores públicos e as demais entidades ligadas a infância, com
vistas a emancipação deles e de suas famílias e o estímulo a convivência, sentimento
de pertencimento a sua comunidade e cuidado protetivo.

É importante salientar que somente quando esgotadas todas as possibilidades de


fortalecimento dessa convivência comunitária e familiar, e não restando qualquer
outra forma de estratégia e/ou intervenção, é que se dará a condução e/ou
encaminhamento da criança e/ou adolescente para conviver em família substituta
por meio de processo judicial na vara da infância.

Contudo, a presente estratégia governamental articulada com diversos setores da


sociedade se coloca como uma ferramenta de grande relevância, no que tange à
mobilização dos diversos atores governamentais, não governamentais e sociedade
civil, com vistas a desenvolver ações e atividades de fato comprometidas em zelar
pelo direito a convivência familiar e comunitária de forma saudável, com proteção
e promoção de todos os direitos inerente a crianças e adolescentes.
29
POLÍTICA SOCIAL E UNIDADE II
FAMÍLIA

CAPÍTULO 1
Família e políticas públicas – SUAS

O Sistema Único de Assistência Social (Suas) trata-se de um sistema unificado,


hierarquizado e descentralizado, da política de assistência social.

É organizado em níveis de complexidade de atendimento por meio de programas,


projetos, serviços e benefícios, que vem sendo definido, construído, organizado em
processo contínuo de categorização, conceituação e especificação.

A deliberação do Suas foi na IV Conferência Nacional (2003), após 10 anos


de aprovação da Loas, considerada um marco para a assistência social, pois
nela foi definida a realização de uma agenda de discussões para que em 2004
se construísse o Suas, no qual foi previsto um modelo para a articulação e o
provimento de serviços continuados de Proteção Social Básica e Proteção Social
Especial de média e alta complexidade que falaremos mais adiante.

A primeira ação para regular o Suas foi o Decreto n o 5.085, aprovado em 19 de


maio de 2004, que estabeleceu o caráter continuado das ações financiadas pelo
Fundo Nacional de Assistência Social, assegurando atendimento sistemático
aos usuários. Na ocasião foi aprovada a Política Nacional de Assistência Social
(PNAS/04), requisito essencial para dar efetividade à assistência social como
política pública.

Nessa conferência foi regulamentada a hierarquia, os vínculos e as


responsabilidades do sistema de serviços, projetos, programas e benefícios
de assistência social de âmbito nacional, além da garantia da conquista dos
direitos socioassistenciais com regulação, criação de novas processualidades e
enfrentamento da violação de direitos.

Garantia de unidade da política visando alterar a história de fragmentação


programática, entre as esferas do governo e das ações por categorias e segmentos
sociais.

30
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

No âmbito da consolidação da nova política de Assistência Social, na perspectiva do


Suas, o desenvolvimento de um Sistema Nacional de Informação da Assistência Social é
fundamental para o aprimoramento da gestão, além da institucionalização das práticas
de planejamento, monitoramento e avaliação do conjunto de ações, programas, serviços
e benefícios da política assistencial, de forma a aumentar sua efetividade.

No Brasil, em 2005, o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) aprovou e


consolidou as diretrizes do Suas por meio da Norma Operacional Básica (NOB/SUAS).

O CNAS foi instituído pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei no 8742, de
7 de dezembro de 1993), como órgão superior de deliberação colegiada, vinculado à
estrutura do órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da
Política Nacional de Assistência Social (atualmente, o Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome), cujos membros, nomeados pelo Presidente da República,
têm mandato de 2 (dois) anos, permitida uma única recondução por igual período.

No âmbito da União, é o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) que está à


frente do processo de viabilização do controle social do Suas, tendo como principais
competências aprovar a política pública de assistência social, normatizar e regular
a prestação de serviços de natureza pública e privada, zelar pela efetivação do Suas,
apreciar e aprovar propostas orçamentárias, entre outras.

Já o Distrito Federal, os estados e os municípios instituíram seus próprios conselhos,


leis, políticas e ações de assistência social, almejando efetivamente articular o controle
social pleno sobre a gestão da assistência social brasileira, em seu modelo descentralizado
e participativo, consolidado no Suas.

A gestão das ações na área de assistência social é organizada sob a forma de sistema
descentralizado e participativo, denominado: Suas, Sistema público não contributivo,
descentralizado e participativo, destinado à gestão da Assistência Social, por meio
da integração das ações dos entes públicos (União, Estados, Municípios e DF) e das
entidades privadas de assistência social.

A assistência social é dever do Estado e direito do cidadão, reconhecida desde a


promulgação da Constituição Federal de 1988, sendo integrada a seguridade social, e
ratificado esse reconhecimento com a lei orgânica da assistência social de 1993.

A ideia do modelo é promover a garantia e efetivação de direitos, sendo uma política


para quem dela necessitar, não tendo caráter contributivo.

Para a efetivação da Assistência Social como política pública, é fundamental sua


integração e articulação à seguridade social e às demais políticas sociais.

31
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

A Assistência Social não é uma política exclusiva de proteção social, ela articula os
serviços e benefícios com as demais políticas, estabelecendo a Seguridade Social como
um grandioso sistema.

As transformações destrutivas são o que regem a sociedade globalizada. O neoliberalismo


e a reestruturação da produção estão ampliando a precarização do trabalho, o número
de excluídos e o índice de miserabilidade na sociedade, aspecto este que somente não
se faz mais agravado devido à implantação da Política de Distribuição de Renda por via,
principalmente, do Programa Bolsa Família.

Homem e natureza agora estão no reino da lógica de mercado, na era da


flexibilização e fetichização. Isto implica que há uma fragilidade estrutural
decorrente da valorização do ideário neoliberal e suas decorrentes representações;
esse é um problema vivenciado por todos os países, principalmente para os países
em desenvolvimento como o Brasil.

Países capitalistas observam a deteriorização das relações sociais e do generalizado


mal decorrente das incertezas e instabilidades estruturais do sistema, especialmente
no âmbito social.

Por isso, declara-se, no campo sociológico e jurídico, a busca da seguridade social,


sendo que essa tem se estabelecido como um direito que infelizmente, na grande
maioria das vezes, dá-se ao trabalhador segurado somente pela previdência social,
aspecto esse que faz a primeira caracterização de desconhecimento e descrédito
da assistência social como direito legítimo e primaz para o justo equilíbrio das
relações econômico-sociais no Brasil.

A Constituição de 1988, como já discutido anteriormente, busca as relações sociais


por meio de princípios e normas que propiciem real apoio a parcela populacional
espoliada das condições de acesso econômico, objetivando combater a miséria
e equilibrar o descompasso neoliberal de desigualdade socioeconômica, aspecto
que tem essência básica no Welfare State (Estado de Bem-Estar Social).

Assim, o povo brasileiro tem garantias constitucionais que garante mínimos sociais
como direitos e não mais como benesse governamental voltado a todos aqueles que
precisarem, porém o fato se firma na deslegitimação dos direitos sociais em que
coloca as regulamentações normativas presas aos vieses burocráticos e políticos
em que engessam o atendimento aos cidadãos carentes.

Logo, vale ressaltar sobre o real significado da seguridade social para a vida
brasileira, propondo perceber a assistência social como um direito real voltado

32
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

a atender os cativos e oprimidos pelo sistema capitalista em que se perfazem na


dependência da ajuda do Estado para prover as condições mínimas de sobrevivência.

A assistência social tem como principal alicerce da seguridade social combater os males
ocasionados pela expansão latente da questão social e suas expressões na sociedade
capitalista brasileira.

A seguridade social, bem como especialmente a assistência social quanto a aspecto


de finalidade social, está diante do contraste entre o sistema neoliberal e a essência
de atendimento ao cidadão garantido pela Constituição Federal de 1988.

A seguridade social corresponde a um conjunto de coberturas ou certezas sociais


que todo e qualquer cidadão pode contar para satisfação de suas necessidades e que
são supridas por uma decisão e financiamento da totalidade da sociedade.

De acordo com o art. 194 da Constituição Federal de 1988, a seguridade social


é um conjunto de ações integradas destinadas a garantir os direitos da saúde, a
previdência e a assistência social – isso deve ser feito pelo governo.

Observa-se que a Seguridade Social corresponde a um sistema de proteção


que ampara a sociedade visando atender a necessidades básicas do ser humano
quando, justamente em situações contingenciais, vê-se ameaçada a sobrevivência e
possibilidade de mínimos sociais aos indivíduos e família.

Trata-se de um sistema protetivo estatal voltado ao atendimento das necessidades


básicas do ser humano, cuja ideia central é justamente a de propiciar aos indivíduos e
suas famílias tranquilidade para que, na ocorrência de uma determinada contingência
(e.g., invalidez, morte etc.), a qualidade de vida não seja significativamente
diminuída.

A Constituição Federal de 1988 ainda se tem por deslegitimado esse direito e, por
isso, não se tem como perceber essa tranquilidade pelas famílias brasileiras haja
vista a inexistência da cultura do direito de modo empírico-material.

Essa ausência de concreticidade ocasiona a passividade típica da mentalidade do


descrédito que essa lei não vigora e ocasiona a perpetuação da não segurança à
sociedade quanto ao apoio de fato e de direito dos que carecerem desse amparo
estatal por via da seguridade social.

Nessa direção, cabe situar também que esse direito garantido constitucionalmente
não se faz como uma benesse Estatal, mas corresponde a uma tentativa de minimizar
os efeitos do neoliberalismo implantado na sociedade brasileira, bem como uma

33
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

forma de reduzir as dissonâncias provenientes da má distribuição de renda existente


no Brasil.

Paralelo a essa assertiva, expõe-se também que esse direito não emerge sem fundamento,
mas decorre do pensamento do Estado de Bem-Estar Social em que, ao mesmo tempo
em que promove os direitos, coloca-os sobre a responsabilidade do custeio por parte da
própria sociedade.

Como se verifica na Constituição Federal:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,


de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma


da lei, incidentes sobre:

a) independente do vínculo de empregabilidade, os rendimentos devem


ser apresentados;

b) a receita ou o faturamento;

c) o lucro;

II – do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não


incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo
regime geral de previdência social de que trata o artigo 201;

III – sobre a receita de concursos de prognósticos;

IV – do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a


ele equiparar.

§ 1o As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios


destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos,
não integrando o orçamento da União.

§ 2o A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de


forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência
social e assistência social, tendo em vista as metas e prioridades
estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área
a gestão de seus recursos.

§ 3o A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social,


como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público
nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.

34
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

§ 4o A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a


manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto
no artigo 154, I.

§ 5o Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado,


majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total.

§ 6o As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser


exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que
as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no
artigo 150, III, b.

O Suas tem um enfoque na proteção social, sendo que organiza suas ações por
níveis de complexidade, o que estabelece dois tipos de proteção social:

» Básica (PSB); e

» Especial (média e alta complexidade).

Enquanto parte de um sistema que trata de necessidades sociais, individuais e


coletivas, cabe ao Suas garantir a Proteção Social Básica (PSB) como um conjunto
de serviços, programas, projetos, benefícios que visam prevenir situações de
vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de potencialidades
e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.

O foco da PSB é constituir-se como um conjunto de ofertas visando à promoção


do sujeito de direito usuário da política pública de assistência social, a Proteção
Social Básica opera desenvolvendo ações que fortaleçam potencialidades,
vínculos e autonomia.

Ela tem caráter preventivo, mas também protetivo e proativo.

Serviços de proteção social básica


» Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif);

» Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos;

» Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com


deficiência e idosas.

O caráter preventivo tem por objetivo a prevenção e redução do impacto das


vicissitudes sociais e/ou naturais relacionadas ao ciclo da vida, à dignidade

35
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

humana e à família, assim como referentes aos laços afetivos e relacionais. Requer,
portanto, a antecipação de situações de risco por meio do conhecimento prévio
do território e das famílias, das demandas sociais e dos níveis de desproteção
social a que estão expostos aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade
social, decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo
acesso aos serviços públicos, entre outros) e/ou fragilização de vínculos afetivos –
relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero
ou por deficiências, entre outras).

O caráter protetivo consiste em centrar esforços nas intervenções que visam a


apoiar, amparar, resguardar, defender e garantir o acesso das famílias e seus
membros aos seus direitos.

O caráter proativo é aquele que antecipa ou impede a ocorrência de situações


de vulnerabilidade ou risco social. A atuação proativa deve intervir em situações
que impõem obstáculos ao acesso aos direitos. Ela é primordial para que se
materializem as ações preventivas e protetivas.

A PSB tem como objetivos o desenvolvimento de potencialidades, aquisições e o


fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.

Assim, pode-se dizer que ela se destina àqueles que necessitam dessas ofertas
devido a vivência de situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza,
privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, entre
outros) e/ou fragilização de vínculos afetivos relacionais e de pertencimento
social.

Portanto, é preciso levar em conta a diversidade das vulnerabilidades sociais dos


públicos da Proteção Social Básica, considerando a forma como as desigualdades
se reproduzem e a diversidade de modos e de dinâmicas de vida específicos. São
públicos que requerem atenção e proteção social por acumularem situações e
experiências históricas e coletivas de desproteção social.

Sendo assim, a PSB exige um “olhar atento” às peculiaridades dos territórios, à


diversidade de públicos, aos contextos de produção e reprodução da desigualdade,
assim como às estratégias adotadas para prestar-lhes atendimento com equidade.

As condições de vulnerabilidade das famílias e dos territórios, assim como a


vivência de desproteções que requerem proteção da política de Assistência Social,
são variadas, sendo sua identificação e reconhecimento um importante desafio
para as equipes de vigilância e de proteção socioassistencial.

36
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

Proteção social especial

A Proteção Social Especial (PSE) destina-se a famílias e indivíduos em situação de risco


pessoal ou social, cujos direitos tenham sido violados ou ameaçados. Para integrar as
ações da Proteção Especial, é necessário que o cidadão esteja enfrentando situações
de violações de direitos por ocorrência de violência física ou psicológica, abuso ou
exploração sexual; abandono, rompimento ou fragilização de vínculos ou afastamento
do convívio familiar devido à aplicação de medidas.

Diferentemente da Proteção Social Básica que tem um caráter preventivo, a PSE


atua com natureza protetiva. São ações que requerem o acompanhamento familiar e
individual e maior flexibilidade nas soluções. Comportam encaminhamentos efetivos e
monitorados, apoios e processos que assegurem qualidade na atenção.

As atividades da Proteção Especial são diferenciadas de acordo com níveis de


complexidade (média ou alta) e conforme a situação vivenciada pelo indivíduo ou
família.

Os serviços de PSE atuam diretamente ligados com o sistema de garantia de direito,


exigindo uma gestão mais complexa e compartilhada com o Poder Judiciário, o
Ministério Público e com outros órgãos e ações do Executivo. Cabe ao Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em parceria com governos estaduais
e municipais, a promoção do atendimento às famílias ou indivíduos que enfrentam
adversidades.

O Centro de Referência Especializada em Assistência Social (Creas) é a unidade


pública estatal que oferta serviços da proteção especial, especializados e
continuados, gratuitamente a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou
violação de direitos. Além da oferta de atenção especializada, o Creas tem o papel
de coordenar e fortalecer a articulação dos serviços com a rede de assistência
social e as demais políticas públicas.

37
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

Figura 1. Capa da brochura da política nacional de assistência social.

Fonte: <https://fpabramo.org.br/acervosocial/wp-content/uploads/sites/7/2017/08/009capa.jpeg>.

O Suas é organizado pela União, por meio de seu ministério, que até 2018 tinha um
ministério próprio para cuidar da política de assistência social que era o MDS Ministério
do Desenvolvimento Social e combate à fome, a partir de 2019, com a nova gestão, todo
o desenvolvimento e gestão da PNAS/SUAS foi incorporado ao Ministério da Cidadania,
coordenado pela Secretaria Nacional de Assistência Social.

Integram o Sistema órgãos, instâncias, entidades e trabalhadores dos três entes


federados:

» órgãos gestores;

» instâncias de controle social como os conselhos de assistência social;

» instâncias de pactuação como as Comissões Intergestores Bipartite (CIB)


eTripartite (CIT);

» instâncias de deliberação: Conferências de Assistência Social.

Também são parte do sistema todos os trabalhadores que planejam e operam a política
em todo o território nacional.

38
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

A atuação das instâncias de articulação política em torno da sua implementação é


importante componente para realização do SUAS: o Colegiado Nacional de Gestores
Municipais de assistência social (Congemas) e suas referências estaduais e municipais,
o Fórum Nacional de Secretários Estaduais de Assistência Social (Fonseas) e os Fóruns
de discussão política.

A PNAS/2004 fundamenta e define funções para a implantação do Suas, que foi


regulado pela Norma Operacional Básica (NOB/SUAS).

O Suas e a PNAS devem atender às necessidades sociais.

Ele direciona a Assistência Social para garantir a proteção básica e especial.

A função da Assistência Social estabelecida na PNAS é garantir proteção social básica


e especial. É fundamental definir claramente o que e quais são as ações ou serviços
socioassistenciais que possuem o caráter de básico e de especial, pois esse é um requisito
imprescindível para estruturação do trabalho dos/as profissionais que atuam nessa
política social.

Logo, entre as funções PNAS cabe garantir proteção social, prevenir/reduzir situações
de risco social e pessoal; proteger pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade,
considerando a multidimensionalidade da pobreza; criar medidas e possibilidades
de socialização e inclusão social; efetuar vigilância socioassistencial; monitorar as
exclusões e os riscos sociais da população; assegurar direitos socioassistenciais

Na PNAS (2004) e na NOB (2005), a Proteção Social Básica está referida a ações
preventivas, que reforçam a convivência, a socialização, o acolhimento e a inserção,
e possuem um caráter mais genérico e voltado prioritariamente para a família; e visa
desenvolver potencialidades, aquisições e fortalecimento de vínculos familiares e
comunitários e se destina a populações em situação de vulnerabilidade social.

A indicação do Suas é de que as ações socioassistenciais de proteção social básica serão


realizadas, prioritariamente, pelos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS).
Assim, a realização dessa modalidade de proteção social requer o estabelecimento de
articulação dos serviços socioassistenciais com a proteção social garantida pela saúde,
previdência e demais políticas públicas, de modo a estabelecer programas amplos e
preventivos que assegurem o acesso dos cidadãos aos direitos sociais.

A definição dos campos de proteção social (básica ou especial) que compete à assistência
e às demais políticas sociais é fundamental, não por mero preciosismo conceitual, mas
por outras razões. Primeiro porque o sentido de proteção social extrapola a possibilidade
de uma única política social e requer o estabelecimento de um conjunto de políticas

39
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

públicas que garantam direitos e respondam a diversas e complexas necessidades


básicas da vida social.

Desse modo, à Assistência Social não se pode atribuir a tarefa de realizar exclusivamente
a proteção social. Esta compete, articuladamente, às políticas de emprego, saúde,
previdência, habitação, transporte e assistência, nos termos do art. 60 da Constituição
Federal.

Se essa articulação não for estabelecida, corre-se dois riscos: o primeiro, de


superdimensionar a Assistência Social e atribuir a ela funções e tarefas que
competem ao conjunto das políticas públicas; o segundo, de restringir o conceito de
proteção social aos serviços socioassistenciais. Nesse caso, o conceito de proteção
social passa a ser confundido com a Assistência Social e perde sua potencialidade de
se constituir em amplo conjunto de direitos sociais.

Outro ponto é o fato de o tipo de serviços socioassistenciais (de proteção social


básica ou especial) executados pelos municípios e estados ser definidor do montante
de recursos que o Governo Federal repassará aos Fundos de Assistência Social, já
que os pisos estabelecidos na NOB/SUAS diferenciam-se para cada tipo de proteção
social. Portanto, é preciso ter clareza de quais são os direitos da Assistência Social
que serão executados nas modalidades de proteção básica e especial, pois sua
configuração definirá o montante de recursos que cada município, estado e/ou DF
receberá.

A NOB/SUAS definiu que o repasse de recurso financeiro é automático, e não mais


vinculado a convênios, considerando indicadores sociais, aumentando a autonomia
dos municípios para alocação dos recursos federais repassados via fundo.

A vinculação dos municípios à regulação do Suas é condição para receber o repasse


de recursos do Fundo Nacional de Assistência Social.

Essa não é a única forma de financiamento, a outra forma é a transferência direta


aos beneficiários de programas sociais.

Para a efetivação do sistema, é imprescindível a ampliação dos recursos nas três


esferas de governo e a execução contínua dos serviços. Apesar da garantia do Suas em
lei, ainda fica o desafio de garantir o repasse de recursos para Estados e municípios.

A prestação de contas dos recursos da assistência social foi desburocratizada, e é


feita por meio do Relatório de Gestão, que está inserido na Rede Suas, assim como
da utilização de outras tecnologias de informação.

40
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

A RedeSUAS é o sistema de informação do Sistema Único de Assistência Social e


tem a função de responder às novas necessidades de informação e comunicação
no âmbito do SUAS.

É estruturada segundo a organização da política pública de assistência social,


atendendo às necessidades informacionais dos setores que compõem a política:
gestores, técnicos, entidades, sociedade civil e usuários.

Leia mais sobre o assunto em: http://www.mds.gov.br/suas/redesuas.

O Suas possibilita a normatização, a organização e a padronização dos serviços,


sem deixar de considerar as particularidades regionais e locais. Com a criação de
parâmetros técnicos, existe a possibilidade de superar a cultura assistencialista. A
atenção deve ser de qualidade, rápida e garantida pelo poder público.

Assim sendo, a Assistência social se consolida passo a passo diferentemente de


um direito, transpondo-se como caridade e benesse do governo, aspecto este que a
coloca entre os três pilares da seguridade como o direito público mais negligenciado
pelo desconhecimento legal e político, bem como pela complexidade de seus
atendimentos às situações contingenciais.

No que tange aos mínimos sociais, verifica-se que corresponde à percepção de


determinado padrão de dignidade objetivada pela sociedade, aspecto este que, por
não ser bem delineado, muitas vezes desmerece o cidadão, dando continuidade no
processo de extrema pobreza e mendicância por ações do poder público e do terceiro
setor.

Nessa direção, cabe refletir mais acentuadamente o que vem a ser o direito
a Assistência Social, refletindo ,a partir daí, as razões de ser um direito público
negligenciado.

O centro de ação da política de assistência social é a família, vista como elo integrador
das ações e como foco de programas específicos. Todos os programas que visam à
inserção e à reinserção familiar são prioritários na política de assistência social.

O poder público, federal, estadual ou municipal tem o dever de formular políticas e


realizar ações e atividades que protejam e promovam aquela parcela da população
que se encontra em situação de vulnerabilidade, permitindo alcançar uma situação
de plena cidadania.

41
CAPÍTULO 2
A família e o serviço social

A família hoje é o produto de um processo histórico e, para entendê-la, é preciso


relatar seus modelos anteriores. Por meio dessa análise será possível observar a
dinâmica das relações familiares. Caracterizada pelo patriarcalismo na Grécia e
Roma antiga, ela era subordinada ao pai da família. Eram claros, naquela época,
a servidão em que a família vivia e o poder que o pai da família detinha, podendo
até decidir pelo direito à vida ou à morte. Com a mentalidade dominada pela
religiosidade, acreditava-se que o estilo de vida de cada um derivava da vontade
divina.

Havia dois tipos de família: nobre e camponesa. A nobre era a senhoria, e a camponesa
era composta dos agricultores. O século XVIII é marcado pelo surgimento da família
nuclear: pai, mãe e filhos; em que o pai era o provedor e a mãe o cuidador.

Com o crescimento do capitalismo industrial no século XIX, ocorreram mudanças


nos valores, hábitos e costumes da família nuclear.

Essas mudanças foram ainda mais marcantes no século XX e, finalmente,


consolidadas após a Primeira Guerra Mundial, quando as mulheres ingressaram no
mercado de trabalho e conquistaram vários direitos.

No Brasil, com a entrada das mulheres no mercado de trabalho e com o advento


da pílula anticoncepcional que se iniciou a partir dos anos 60, o país apresentou
um crescimento econômico especial. Na sociedade brasileira, a família nuclear
predominou, mas, por causa das mudanças mencionadas acima, as mulheres
ocuparam cada vez mais posições remuneradas e, muitas vezes, foram as únicas
provedoras de suas famílias.

Assim, na área urbana, o surgimento de diversas configurações familiares foram


se formando, contribuindo, assim, para uma diversidade de grupos familiares, nos
quais todas devem ser consideradas como família.

Cabe aqui fazer um breve destaque a respeito do trabalho técnico social desenvolvido
no Brasil em relação a família: eram sempre atividades direcionadas a partir de uma
moral normatizadora e disciplinadora e destinadas geralmente à mulher.

Entretanto, com o a promulgação da Constituição Federal, esse caráter normatizador


de atender famílias tem se buscado superá-lo e redefinir as ações do trabalho técnico

42
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

social com vistas ao acolhimento das famílias e no desenvolvimento de atividades


que orientem a superação dos riscos vivenciados e promovendo o fortalecimento e
emancipação.

Nessa lógica, dentro da política de assistência social, por meio de sua inserção nos
serviços e programas nos três níveis de proteção social, há o papel de fornecer suporte
a famílias e indivíduos, por meio da escuta qualificada, da acolhida e do atendimento
social sistematizado com vistas a enfrentar vários desafios e riscos.

No Brasil, a família é protegida por meio de artigos da Constituição Federal


e do Código Civil, criados com o objetivo de salvaguardar essa instituição. Cabe
ressaltar que a própria Constituição Federal de 1988 não faz qualquer tipo de
distinção de família, ratifica que a família merece proteção do Estado e deve ser de
responsabilidade da sociedade.

A família na contemporaneidade vem enfrentando inúmeros desafios, como


violência, desemprego e diversas outras expressões da questão social.

Desse modo, a fundamentação para o trabalho social com famílias, sobretudo as


famílias que estejam passando por quaisquer expressões da questão social, está
previsto na política de assistência social e tem como matricialidade de suas ações a
família.

A PNAS, tendo como referência o Paif, Serviço de atendimento integral à família, que
é desenvolvido no âmbito do CRAS, na proteção social básica, destaca a concepção
de família como conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos,
afetivos e/ou de solidariedade”; portanto, partem de uma visão ampliada de família,
reconhecendo que não há um único modelo e/ou formação de família (BRASIL,
2004).

Assim, o trabalho social desenvolvido no âmbito de todos os serviços e programas


da assistência social é realizado por intermédio de ações e estratégias como:
acolhida, plano atendimento familiar, acompanhamento social sistematizado,
visita domiciliar, grupos de convivência, palestras, encaminhamentos, concessão
de benefícios e reuniões socioeducativas.

Destacamos aqui que essas reuniões socioeducativas são espaços de discussão,


reflexões e vivências e permitem abordar as etapas do ciclo de vida familiar, como
seus anseios, conflitos, sensibilizar para o cuidado e função protetiva da família
dentre outros (BRASIL 2006).

43
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

Diante do exposto, por intermédio do trabalho nas diversas áreas, pode fortalecer
a luta emancipatória dos usuários por meio de sua escolha teórico-metodológica e
ético-política.

Assim, para uma intervenção social e crítica do Assistente Social, as linguagens


de trabalho com as sessões de aperfeiçoamento das técnicas, as habilidades e os
conhecimentos expressam o reconhecimento social do trabalho profissional.

Portanto, o uso de instrumentos e técnicas, quando articulados a um referencial teórico,


garante uma análise e uma interpretação da realidade, bem como uma ação coerente e
comprometida para alcançar o projeto ético-político da profissão.

O trabalho social tem sido acompanhado pela consolidação do sistema capitalista no


momento de sua manifestação, os monopólios, momento marcado pelo surgimento da
questão social.

Essa forma de concepção ou serviço social é um compromisso socioestatístico de um


determinado momento histórico. Seu significado social é, na verdade, uma contradição
entre as pessoas e a formação que ocorre na sociedade capitalista.

Contudo, pode-se dizer que a profissão vem avançando no que tange a seu papel dentro
do trabalho social que se exige a política pública. No sentido de romper com velhas
concepções, deslocadas da realidade, em uma visão de Serviço Social não delimita essa
forma de reconhecimento de uma profissão que não é assumir o determinante histórico
que é a social questão.

Trabalho social e o processo de trabalhar com


famílias
O reconhecimento da importância da família no contexto da vida social está explícito
no art. 226 da Constituição Federal do Brasil, quando se afirmar que a família, base
da sociedade, tem especial proteção do Estado, endossando o art. 16 da Organização
de Direitos Humanos, que traduz a família como o núcleo natural e fundamental da
sociedade e a proteção da sociedade e do Estado. No Brasil, esse reconhecimento
encontra-se na legislação específica de Assistência Social (ECA), no Estatuto do Idoso e
na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), entre outras.

A família é uma instituição social historicamente condicionada e dialeticamente


articulada com a sociedade em que está inserida. Isso inclui as formas de trilhas em
diferentes horários, em diferentes lugares, e as percebe como as diferenças em um

44
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

espaço social. Essa questão faz sentido de uma das mais recentes perspectivas sobre o
futuro.

A miséria e a falta de oportunidades de vida podem ser pontos que dificultam


que as famílias expressem suas próprias opiniões e as mantenham submissas e
não ocupem seu espaço cidadão. Gerar uma ausência de protagonismo, por sua
vez, contribui para que essa situação de exclusão seja suportada ao longo da
vida. Na maioria das vezes, a cultura foi conquistada de proibições, cumprimento
de ordens e obediência, nunca uma cidadania ou criatividade. Muitas vezes, ao
mesmo tempo pensativo, foram geradas retaliações e punições, demonstrando
uma política de clientelismo ainda presente hoje.

Uma organização familiar é a ressonância, a vítima e o reprodutor de todo esse


sistema cultural que reverencia as exigências do ensino: o trabalho infantil deixa
de ser um problema e passa pelos pais educando seus filhos com o pensamento
de que o que não é trabalho.

Como resultado, as diferentes expressões sociais colocam limites e desafios de


intervenção, exigindo um exame no mundo do trabalho, particularmente em
instituições que lidam com o binômio saúde-doença, as contradições e os males
de uma sociedade com níveis de a exclusão emergir com força.

É de extrema importância que o profissional, ao trabalhar com famílias, adote


uma postura socioeducativa, de trocas, numa relação horizontal, sempre tendo
em mente que uma realidade social e uma família dinâmica que é profissional
com uma individualidade de cada família, procurando não fazer juízo de valor.

Critérios científicos ou valores moralistas não podem servir de pretexto para


o julgamento das famílias. Como base para ações socioeducativas, devemos
nos aportar para em processos de democratização da informação, divulgação
de critérios de atendimento, esclarecimento próximo ao papel dos membros da
família sempre de forma ética e respeitando a condição das famílias.

É fundamental que apareça uma linguagem clara, e de fácil apreensão e


compreensão que permita aos usuários fazer perguntas, esclarecer dúvidas.

O desafio está no fato de o Assistente Social aprender a lidar com as diversas


manifestações, sejam elas verbalizadas ou aquelas que são expressas por meio
de gestos e o silêncio, podendo direcionar sua ação e propor novas articulações
para uma melhor condição humana.

45
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

Figura 2. Exemplo de trabalho social com famílias.

Fonte: <https://www.mundonovo.ms.gov.br/2019/03/22/cras-sao-jorge-realizou-reuniao-mensal-com-familias-do-paif/>.

Portanto, faz-se necessário, no exercício do trabalho social com famílias, que o


profissional sempre avalie suas condutas, para que não aja a partir do senso comum, e
em uma lógica irracional, colocando a família como culpada do processo de rupturas,
perdas e vulnerabilidades que se encontra.

Cabe ainda dizer que deve-se pensar e criar estratégias de ações a partir do reconhecimento
destas enquanto sujeitos de direitos e que estão passando por momentos em que,
com o acompanhamento social realizado de acordo com suas demandas, podem ter
possibilidades de superação e, assim, alcançar sua emancipação, buscar sempre formas
de fortalecer e encorajar as famílias e, no âmbito institucional, estar disponível para
debater e melhorar constantemente o atendimento prestado por meio das políticas
públicas sociais.

46
CAPÍTULO 3
Família e direito social

Definindo o capital social


Capital social pode ser definido como redes de relações sociais caracterizadas por
normas de confiança e reciprocidade. São as relações sociais desta qualidade e natureza
que são pensadas para afetar a capacidade das pessoas de se unirem coletivamente para
resolver os problemas que enfrentam em comum.

Essas relações sociais podem existir em uma multiplicidade de diferentes tipos de redes,
que existem em diferentes escalas sociais. Estes variam de laços familiares a outras redes
informais (incluindo amigos e companheiros de trabalho), a relações comunitárias ou
“sociais” que as pessoas têm com pessoas que não conhecem pessoalmente.

O capital social de nível familiar tem sido o foco de pesquisadores, que observam que a
importância do capital social nas famílias traz uma série de resultados positivos para os
membros, particularmente nos resultados de educação e emprego dos jovens. Quando
falamos de capital social da família, estamos falando de laços familiares que confiam
e se apoiam mutuamente. Embora a coesão familiar seja um conceito mais amplo, o
capital social familiar está intimamente relacionado a qualidades particulares de coesão
familiar, como vínculo, envolvimento afetivo, apoio e ajuda.

Embora tenha sido dada alguma atenção ao capital social nas famílias, este na comunidade
mais ampla tem sido frequentemente o foco da literatura. As relações familiares eram
mais eficazes para reforçar as normas do grupo e sancionar o comportamento não
recíproco quando a família estava inserida em uma rede de laços comunitários densos.

Teóricos do capital social preocuparam-se com a extensão das redes e o nível de


associação – particularmente a associação voluntária – além da família. Esses escritores
argumentam que o número de grupos e organizações em uma determinada comunidade
(incluindo, por exemplo, grupos esportivos, grupos religiosos e grupos de vizinhança) é
uma medida-chave do capital social de uma comunidade, representando a capacidade
de adultos se unirem e cooperar em relação aos interesses que eles compartilham em
comum. Acredita-se que esses vários membros sustentem a confiança e um ethos de
reciprocidade e cooperação, que também são considerados elementos-chave do capital
social da comunidade. Esse é o tipo de confiança e reciprocidade que se estende a
estranhos, muitas vezes com base em expectativas de comportamento ou um senso

47
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

de valores compartilhados. Esse tipo de capital social é visto como um bem público,
pensado para gerar resultados positivos para comunidades inteiras.

Relação entre capital social familiar e comunitário

Na literatura de capital social, “a família” e “a comunidade” são frequentemente


apresentadas como instituições pareadas ou ligadas, relações familiares que são
os alicerces vitais de comunidades fortes. Por sua vez, são apenas as comunidades
fortes que têm a capacidade de realmente envolver as famílias na vida econômica e
comunitária. Reescrita em termos de capital social, a política pressupõe que famílias
ricas em capital social alimentem estoques deste dentro de suas comunidades locais, e
que, vivendo em localidades ricas em capital social, as famílias prosperarão.

Talvez a suposição mais difundida sobre a ligação entre família e comunidade na


literatura seja sobre o papel da família na criação de capital social na comunidade.

Há um sentido em que o papel da família foi idealizado como o local mais produtivo
do capital social e, portanto, um pilar da virtude cívica e da democracia. A natureza
dessa idealização é que se presume que as famílias fornecerão modelos de bons
relacionamentos e virtudes cívicas.

Enquanto os mecanismos pelos quais as famílias geram capital social nas comunidades
raramente são articulados, acredita-se que eles incluam o papel das famílias na criação
de redes sociais e na transmissão de normas comportamentais. Por exemplo, é provável
que onde as crianças experimentam conexões de boa qualidade com a comunidade e a
sociedade civil por meio de suas famílias, isso levará a uma maior propensão para essas
crianças se tornarem cidadãos engajados e ativos na idade adulta. Geralmente, quando
as crianças são expostas ao comportamento cooperativo no início da vida, elas são mais
propensas a se tornarem adultos cooperativos.

Acredita-se também amplamente que as relações familiares são essenciais para o


desenvolvimento da confiança básica, é uma concepção cotidiana e valorizada em nossa
sociedade que a família é a fonte primordial e a localização da confiança.

Se você não pode confiar em sua família, em


quem você pode confiar?

Em termos gerais, a família pode ser vista como uma instituição intermediária por
meio da qual os indivíduos estão ligados à sociedade. O relacionamento e a formação
da família podem ser importantes transições de vida a esse respeito. A formação de
relacionamentos não apenas une dois indivíduos, mas também, tipicamente, suas

48
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

redes familiares e de amizade. Também pode representar o início do tipo de construção


familiar e comunitária associada à administração de filhos e à casa própria – fatores
que são preditores fundamentais da vinculação e envolvimento da vizinhança.

A extensão em que as crianças são um canal para o capital social na comunidade também
foi explorada em pesquisas anteriores, mas as descobertas foram misturadas.

As crianças parecem ser um conduto para a participação da comunidade por meio de


coisas como pais e grupos de crianças, e interesse na provisão de infraestrutura local,
como parques para o esporte infantil, mas uma barreira a outras formas de participação
(como no hobby dos pais ou grupos de interesse) devido às limitações de tempo e
recursos associados à criação dos filhos.

Em suma, é comum supor que as famílias e as comunidades se fortalecem mutuamente


e que as famílias são uma fonte fundamental de capital social nas comunidades. Embora
haja alguma evidência empírica para apoiar essas ideias, ela é escassa, e as ideias em
si nem sempre são diretamente expressas ou articuladas. Não obstante, é provável
que, na prática, a natureza das normas e conexões familiares afetará o grau em que os
indivíduos podem se engajar em aspectos da vida cívica, e até que ponto eles confiam
em pessoas além da unidade familiar.

Mudanças na vida familiar

Nas últimas quatro décadas, as famílias foram transformadas pelas altas taxas de
separação e divórcio, aumentando a popularidade da coabitação, os posteriores anos no
casamento e os níveis decrescentes de fertilidade. Isso levou a mudanças dramáticas na
forma familiar, com um aumento substancial no número de famílias monoparentais e
famílias de famílias isoladas, e os agregados familiares agora sendo consideravelmente
menores.

As normas que regem a vida familiar também estão passando por mudanças, sendo
principalmente obrigatórias para negociação. Os papéis em mudança de homens
e mulheres significaram maior liberdade e flexibilidade de entrada e saída de
relacionamentos, na definição de relacionamentos e na organização de responsabilidades
profissionais e familiares, pelo menos em algumas famílias.

Uma mudança em direção ao “relacionamento puro”, pelo qual ele quer dizer: “uma
relação social que é assumida por si mesma, pelo que pode ser derivado por cada pessoa
de uma associação sustentada com outra; e que é continuado apenas na medida em
que se pensa que ambas as partes entregam satisfações suficientes para cada indivíduo
permanecer nela.

49
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

O que isso significa na prática é que os relacionamentos são cada vez mais baseados
em estruturas normativas negociadas e são altamente individualizados – as pessoas
decidem como querem viver juntas e como desejam colaborar e se comunicar. E a
intimidade negociada não se restringe aos casais. O domínio das relações de parentesco é
também cada vez mais negociado, em vez de governado por regras estritas e expectativas
normativas, sendo baseado em empatia e afinidade, em vez de obrigação e dever.

Implicações para o capital social da comunidade

Embora poucos contestem a importância das mudanças familiares descritas acima,


existem correntes teóricas que trazem em seu bojo um descontentamento na mudança
da família e dos papeis de seus membros, e do que elas significam para a vida em
comunidade. A interpretação dominante é de declínio da família e da comunidade. É
importante que você, aluno, tenha o conhecimento do que as correntes teóricas mais
conservadoras discutem esse assunto.

Essa interpretação, a chamam de “tese do declínio da família”, e supõe que essas


mudanças na vida familiar levarão a níveis decrescentes de capital social da
comunidade.

A principal explicação fornecida é que as mudanças na vida familiar constituem um


enfraquecimento do capital social dentro das famílias, e o capital social dentro das
famílias é uma fonte-chave de capital social nas comunidades. Assim, prejudicando
as relações familiares, mudanças na vida familiar levarão a níveis decrescentes de
capital social comunitário.

Para elaborar, a tese declínio da família vê aumento das taxas de divórcio e separação,
aumento do número de famílias monoparentais, aumento da participação da força
de trabalho das mulheres e aumento do individualismo nas relações, como um
enfraquecimento dos laços familiares e normas de confiança e reciprocidade (capital
social) na vida familiar.

O divórcio e a separação são vistos como a ruptura de laços, confiança e reciprocidade


dentro das famílias. Da mesma forma, o aumento da participação da força de trabalho
das mulheres é visto como uma ameaça ao capital social das famílias, pois o aumento
do número de horas no trabalho remunerado significa que as mulheres têm menos
tempo para se dedicar aos filhos e parceiros, e a autossuficiência financeira das
mulheres significa menos necessidade de formar ou manter relações cooperativas
com homens.

50
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

Quando a família é vista como o local-chave para o desenvolvimento de normas


comportamentais, conclui-se que, se as pessoas não experimentam relacionamentos
cooperativos em sua vida familiar, é menos provável que tenham relações de cooperação
com outras pessoas da comunidade. Da mesma forma, se os indivíduos não aprenderem
a assumir responsabilidade pelos outros dentro da família – como pais ou provedores –
isso bloqueará sua transição para a vida adulta responsável.

Enquanto a tese de declínio da família representa a interpretação dominante


das mudanças na vida familiar e o que elas significam para a comunidade, há,
naturalmente, também possíveis interpretações alternativas. É possível que
mudanças na vida familiar estejam associadas a níveis decrescentes de capital social
comunitário, consistente com a tese do declínio da família, mas não pelas razões
enfatizadas pela tese do declínio. Outra explicação para o porquê de podermos
esperar que essas mudanças na vida familiar sejam vinculadas a níveis decrescentes
de capital social da comunidade não se deve ao seu impacto no capital social familiar,
mas devido ao seu impacto sobre os outros recursos disponíveis para as famílias,
como capital humano e financeiro.

O que pode, por sua vez, relacionar-se com o capital social da comunidade. Por
exemplo, o divórcio está associado a tensão financeira e a problemas de saúde, e
esses fatores, por sua vez, restringem a capacidade de um indivíduo em participar
de várias atividades comunitárias. Outro exemplo é que o aumento da participação
da força de trabalho das mulheres pode estar ligado ao declínio do capital social da
comunidade, porque as restrições de tempo associadas ao emprego remunerado
podem dificultar outras formas de participação comunitária e atividade voluntária.

Pesquisas anteriores fornecem algum suporte para essa explicação. Isso mostra que
as mães com filhos, sem a presença do marido, têm menores níveis de educação e
recursos financeiros do que as mães do casal, e que esses recursos são um importante
preditor do capital social da comunidade.

As mulheres que trabalhavam em tempo parcial eram as que mais confiavam e eram
engajadas – mais do que as mulheres que trabalhavam em período integral e as
mulheres que não trabalhavam fora de casa.

Isso sugere que o emprego remunerado das mulheres não é um problema em si, mas
que longas horas de trabalho remunerado podem não ser conducentes a altos níveis
de confiança e participação da comunidade entre as mulheres. No entanto, para
os homens, mais horas de trabalho remunerado estavam vinculadas a um maior
envolvimento da comunidade.

51
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

Assim, a questão de o aumento da participação da força de trabalho das mulheres


estar associado a níveis mais baixos de capital social da comunidade, e porque requer
exploração adicional, levando em conta as circunstâncias familiares e o status de
emprego e horas de parceiros, quando presente.

Também é possível que essas mudanças na vida familiar não estejam de fato relacionadas,
ou positivamente relacionadas, ao capital social da comunidade. Os teóricos da família
que interpretam as mudanças na vida familiar em uma luz positiva apontam que,
embora alguns laços familiares possam ter enfraquecido, outros podem ter se tornado
mais fortes.

Por exemplo, enquanto as mulheres podem dedicar mais tempo ao trabalho remunerado,
os homens se envolveram mais na educação de seus filhos. E, embora o divórcio possa
envolver o enfraquecimento de alguns vínculos, ele pode fortalecer os relacionamentos
entre outros membros da família e abrir oportunidades para a formação de novos
relacionamentos.

A confiança e a reciprocidade são características definidoras das relações modernas,


que não podem mais ser mantidas juntas por lei ou tradição. E, em vez de refletir
um individualismo amoral, o aumento do nível de negociação requerido nas relações
modernas pode ser visto como reflexo da ascensão da democracia na vida íntima, e isso
deve levar a debates mais amplos sobre moralidade e ética.

O relacionamento puro leva a sério os valores da autonomia e da igualdade. Assim,


a ascensão do relacionamento puro deve coincidir com a solidificação dos ideais
democráticos na política.

À medida que os indivíduos experimentam as alegrias de arranjos sociais igualitários


em seus relacionamentos mais íntimos, podem levar consigo, quando participam da
esfera pública, um sentido da importância desses mesmos valores.

Finalmente, uma perspectiva alternativa sobre a relação entre o capital social familiar
e comunitário evidencia as possíveis tensões entre os dois. Dessa perspectiva, a família
pode, de fato, ser opositora ao capital social na comunidade. Em circunstâncias de
“familismo”, os laços e obrigações familiares e de parentesco são elevados acima de
outros tipos de laços e obrigações sociais, e a lealdade à família “afasta” os laços mais
fracos da comunidade.

Em circunstâncias de familismo, esperaríamos descobrir que fortes laços de confiança e


reciprocidade dentro da família coexistem com laços fracos de confiança e reciprocidade
fora da família. Isso pode, portanto, ser visto também como um exemplo de excesso de

52
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

capital social vinculado, em que as normas de confiança e reciprocidade tendem a ser


restritas aos membros do próprio grupo familiar. Nessas circunstâncias, o “colapso da
família” pode ter um lado positivo em relação ao capital social da comunidade. Pode
levar a maiores níveis de associação, confiança e reciprocidade fora da família. Isso é
reconhecido como um possível desdobramento positivo da família desmembrado.

Em suma, enquanto a interpretação dominante da mudança na vida familiar e


suas implicações para o capital social da comunidade é de declínio da família e da
comunidade, há pouca evidência empírica sobre como a vida familiar se relaciona com
o capital social da comunidade. Não sabemos se a experiência de divórcio e separação,
a vida em domicílios de famílias monoparentais, o aumento do emprego de mulheres
com filhos ou o individualismo em relacionamentos íntimos estão associados a baixos
níveis de capital social da comunidade.

A questão abrangente que essa temática quer apresentar é como a vida familiar
se relaciona com o capital social da comunidade. Ao fazer isso, planejamos
especificamente testar a tese do declínio da família, que gera três hipóteses-chave.
A primeira hipótese é que várias características-chave da família que se tornaram
cada vez mais comuns estarão associadas a níveis mais baixos de capital social da
comunidade. Em particular:

» o apego da comunidade e a confiança serão menores nas famílias


monoparentais do que nas famílias dos casais;

» o apego e a confiança da comunidade serão maiores entre os que são


casados e os mais baixos entre os que estão separados ou divorciados;

» o apego e a confiança da comunidade será menor nas famílias em que as


mulheres trabalham em tempo integral do que nas famílias em que as
mulheres trabalham meio período ou não trabalham fora de casa; e

» o apego e confiança da comunidade será menor entre as pessoas que


possuem valores familiares não tradicionais.

Além disso, de acordo com a tese de declínio da família, a principal razão para essas
características familiares estarem associadas a níveis mais baixos de capital social da
comunidade é porque elas estão associadas a um declínio do capital social dentro das
famílias e o capital social familiar é uma fonte-chave de comunidade. Consistente com
a tese do declínio, esperamos descobrir que:

» o apego e a confiança da comunidade será menor entre aqueles com


baixos níveis de capital social familiar;

53
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

» a relação entre o capital social da comunidade e as características


familiares acima será mais fraca quando os níveis de capital social familiar
forem levados em conta;

» Alternativamente, as características familiares acima podem estar


relacionadas ao capital social da comunidade, pois estão relacionadas a
outros recursos disponíveis para as famílias, como o capital humano e
financeiro. Se esse fosse o caso, esperamos encontrar:

» o apego e confiança da comunidade será menor entre aqueles com falta


de outros recursos, como capital econômico e humano; e

» a relação entre o capital social da comunidade e as características


familiares acima será mais fraca quando esses outros recursos forem
levados em conta.

Ao explorar essas três hipóteses-chaves, também poderemos examinar as hipóteses


alternativas discutidas acima, incluindo a possibilidade de que:

» as características familiares acima que preocupam os teóricos do


declínio da família não estão diretamente associadas ao capital social
da comunidade, ou estão de fato relacionadas positivamente ao capital
social da comunidade;

» o capital social da família não está associado ao capital social da


comunidade ou, de fato, tem uma relação negativa com o capital social
da comunidade; e

» outros recursos, como capital humano e financeiro, não estão associados


ao capital social da comunidade ou, de fato, têm um relacionamento
negativo com o capital social da comunidade.

54
CAPÍTULO 4
A família como questão social no Brasil

Por conta da crise dos padrões de produção, do trabalho e das recentes transformações
da sociedade, entendemos que a questão social reverbera a partir dos processos de
industrialização tendo como apoio as relações antagônicas entre o sistema capitalista e
o trabalho no interior dos processos de produção (NETTO, 2004)

A origem da questão social está no trabalho coletivo e o fruto desse trabalho coletivo, não
sendo compartilhado de forma igualitária a quem o produziu, e, por conseguinte, esse
resultado do trabalho coletivo, sendo privado a quem detém o capital. (IAMAMOTO,
2013).

As manifestações da questão social contemporânea não são uma fonte natural,


irreversível e inevitável de desenvolvimento tecnológico. Ainda, as mudanças são uma
expressão da crise apresentada pelo sistema capitalista internacional, em consequência
do esgotamento do modelo fordista-keynesiano que se estendeu ao da década de 1970.

As profundas mudanças no sistema capitalista intensificam o processo de exploração e


expropriação de classes.

Logo, a questão social é expressão da banalização do ser humano, que atesta a


invisibilidade das desigualdades sociais e das pessoas que o fazem na era do fetiche
capital. Nessa perspectiva, a questão social é mais do que expressões de pobreza,
miséria e exclusão. Isso significa que a gênese é explicada pelo processo de acumulação
ou reprodução ampliada do capital.

Assim, experimentamos uma contração e um número crescente de indivíduos, famílias


e comunidades, vivendo em condições precárias por causa da grande desigualdade
social e da qualidade de vida. Com isso, temos o crescimento das desigualdades dos
direitos.

Atualmente, a família no Brasil se torna um agente importante e central das políticas


públicas sociais, por isso há diversos programas e projetos assistenciais de combate
à fome e miséria que tem como alvo a família, como o Bolsa Família, o Benefício de
Prestação Continuada (BPC), o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.

Esses programas são foco de intervenção de vários profissionais com formação na área
das ciências sociais e humanas. É nesse contexto que floresce o debate sobre a questão
social e suas expressões, como violência, fome, conflitos, entre outros.

55
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

E a centralidade das famílias nas políticas sociais, exige novas formas de sociabilidade
via programas sociais.

O assistente social tem, na questão social, base de sua fundação enquanto especialização
do trabalho; ou seja, tem nela o elemento central do seu fazer profissional ante a
realidade cotidiana.

Nessa interface, os assistentes sociais são chamados a intervir nas relações sociais
cotidianas, visando à ampliação e consolidação da cidadania na garantia dos direitos
civis, políticos e sociais aos segmentos menos favorecidos e mais vulnerabilizados
socialmente trabalhadores, crianças, adolescentes, idosos, pessoas com deficiência,
mulheres, pessoas de diversos grupos étnicos e raciais, população LGBTQI+ famílias
nas suas amplas e diversas configurações.

As crises dos padrões produtivos, da gestão do trabalho e das recentes transformações


societárias têm repercutido diretamente nas políticas públicas de proteção social e
no surgimento de novas configurações da questão social no cenário brasileiro, em
especial, a partir da década de 1970.

Portanto, a questão social é redimensionada, sofre alterações, metamorfoseia-se, de


acordo com o desenvolvimento da sociedade capitalista e apresenta particularidades
e especificidades para a sociedade brasileira no cenário contemporâneo.

As profundas alterações do sistema capitalista, o qual intensifica o processo de


exploração e expropriação das classes trabalhadoras, reduzem o papel do Estado
na garantia de direitos e promoção de políticas públicas sociais que atendam às
necessidades básicas de maior parte da população.

A ordem neoliberal em vigência no país desde mais precisamente a partir da ditatura


militar levou à banalização do humano e radicalização das necessidades sociais, perda
do direito do trabalho, aumento do número de pobreza, empobrecimento da classe
média, privatização dos serviços sociais, a lógica do mínimo social como forma de
atendimento por meio do Estado.

A situação de extrema vulnerabilidade social, pobreza, exclusão e subalternidade é


agravada pelo atual momento de regressão dos direitos sociais. É dentro desse quadro
que famílias pobres e seus problemas se inserem.

Em uma lógica de culpabilização das famílias e enfraquecimento dos direitos e


benefícios sociais, as famílias são concebidas como “Problema social”.

56
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

Logos, essas mudanças incorridas no sistema capitalista atual traz o surgimento de


uma nova questão social, por romper com o período capitalista industrial, trazendo a
velha questão social do senso de desigualdade e injustiça social.

O ponto de partida para o desenvolvimento do trabalho na conjuntura atual está em


identificar as expressões emergentes da questão social e sua relação com as modalidades
de exploração e expropriação dos direitos cidadãos, os direitos civis, políticos, sociais –
existentes em nossa sociedade e, até então, garantidos em nossa constituição.

A atual desregulamentação das políticas públicas e dos direitos sociais desloca a atenção à
pobreza para a iniciativa privada ou individual, impulsionada por motivações solidárias
e benemerentes, submetidas ao “arbítrio do indivíduo isolado, e não à responsabilidade
pública do Estado.

Contudo o apelo à caridade e solidariedade se difunde e ganha força nesse contexto, e


isso leva ao Estado se eximir de suas responsabilidades no que tange a promover ações,
programas e serviços de atendimento por meio de políticas públicas, e a sociedade
assume de forma não continuada, técnica, promovendo, assim, ações pontuais e de
cunho meramente assistencialista.

E, por fim, ao profissional de serviço social cabe a compreensão da lógica política e


econômica que esteja em vigência e realize continuamente processos de reflexão de sua
práxis, entendendo que, diante desse cenário desfavorável ao atendimento universal,
por intermédio das políticas sociais, precisamos nos reinventar e atender de forma
empática e atenciosa ao que está posto de demandas dos usuários.

57
CAPÍTULO 5
Família e Políticas Públicas – PNAS

A família é eixo estruturante de diversas políticas públicas sociais, logo a Política


Nacional de Assistência Social (PNAS) é uma das políticas que tem como umas das
bases organizacionais a matricialidade sociofamiliar. A família sempre esteve presente
como instância de gestão e superação da crise econômica, em busca do bem-estar social.

A PNAS possui, além da matricialidade sociofamiliar como base organizacional, a


descentralização político-administrativa e territorializante. Além das novas bases
para a relação entre Estado e Sociedade Civil, financiamento e controle social são
contemplados.

Portanto, a família é o eixo central de intervenção da PNAS, sendo que o conceito de


família para essa política pública é um conjunto de pessoas que se acham unidas por
laços consanguíneos, afetivos ou de solidariedade.

Entende-se que o trabalho com famílias deve considerar novas referências para a
compreensão dos diferentes arranjos familiares, superando o reconhecimento de um
modelo único baseado na família nuclear, e partindo do suposto de que são funções
básicas das famílias: prover a proteção e a socialização dos seus membros; constituir-se
como referências morais, de vínculos afetivos e sociais; de identidade grupal, além de
ser mediadora das relações dos seus membros com outras instituições sociais e com o
Estado.

Funções da PNAS
Dentre as funções da PNAS, cabe destacar a função econômica e a socializadora.
A primeira refere-se ao dever de uma família de prover suas necessidades de
sobrevivência, o qual deve ser incorporado no processo de geração de tais provedores,
seja dentro ou fora da unidade familiar e tendo uma base determinada na família.

O retorno refere-se ao fato de ser pai da socialização e da formação de uma


personalidade ideológica do grupo familiar, especialmente das crianças, que está
sendo ideologicamente dirigida, o que leva a uma terceira parte da família. Uma
demarcação ideológica porque é uma família que recebe a transmissão de hábitos,
costumes, ideias, valores e padrões de comportamento, que serviu de transmissão
ideológica ao processo de maturação dos membros do grupo familiar.

58
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

Além disso, como funciona a família, a PNAS hoje traz um novo conjunto de arranjos
familiares, ao mesmo tempo em que a linguagem nuclear foi modificada em conjunto
com as transformações da sociedade, que é uma relação condicionada intrinsecamente
e dialeticamente às transformações.

Uma superação do conceito tradicional de família significa, como um todo, estar atentos
às transformações da sociedade. Esse fato deve ser contemplar uma série de arranjos
familiares que são constantes, já que a família é um grupo histórico e socialmente
construído.

A superação de se ter uma família considerada modelo pela sociedade está


relacionada com o desenvolvimento da humanidade e de novas formas de inventar a
família a partir das transformações sociais e que a burguesia se utilizou do processo
de construção da família para unir o amor, o casamento e o sexo em uma célula do
Estado que fixa os comportamentos sociais dos indivíduos.

A defesa da criação de uma nova sociabilidade em que a família não deva ser uma
instituição obrigatória, com relações forçosas, mas que seja possível a diversificação
das relações sociais, abolindo a estrutura atual de família e possibilitando a criação de
novas formas de grupos familiares.

Nesse sentido, a PNAS é inovadora ao assumir que o conceito de família diversificado é


indefinido, pois considera a diversidade sociocultural das famílias. Logo, uma política
de Assistência Social tem papel fundamental no processo de emancipação, como sujeito
coletivo.

É postulada, inclusive, uma versão mais ampla da legislação em busca de benefícios,


não só da sua manutenção individual, mas também da família do indivíduo. Dentro do
princípio da universalidade, portanto, o objetivo é manter e ampliar direitos, de acordo
com as necessidades das famílias.

As crescentes transformações em nossa sociedade, sejam elas econômicas, mudanças


políticas, sociais, de costumes, aduaneiras ou tecnológicas também mudam as famílias
são compostas e, por sua vez, o papel desempenhado por elas. Estas alterações muitas
vezes definidas em uma variedade de arranjos familiares.

Portanto, de acordo com o PNAS, a família, independentemente dos formatos


ou modelos que assume, é mediadora das relações entre os sujeitos e o coletivo,
delimitando os deslocamentos entre o público e o privado, além de gerar de arranjos
vivos. No entanto, não pode ser desconsiderado que caracterizado como um espaço
contraditório, cuja dinâmica cotidiana de coexistência é marcada por conflitos

59
UNIDADE II │ POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA

normalmente pelas desigualdades, e de acordo com as sociedades capitalistas a


família é fundamental no âmbito da proteção social.

Ao dizer que a família é fundamental na área de proteção social, ela ganha destaque,
uma vez que agora se torna o foco principal da PNAS, as dificuldades, fraquezas
e exclusões sofridas por aquelas famílias como expressões das contradições da
sociedade, que agora se refletem no relações familiares, causam grandes impactos,
que retornam à sociedade por meio de consequências das violações dos direitos da
família.

Segundo a PNAS, a centralidade na família é feita de forma primordial, uma vez que
é no espaço do grupo familiar que existe a proteção e a socialização primária de seus
Estados-Membros. Dessa forma, a família, como refúgio de seus membros, precisa
de cuidados equivalentes.

Analisando o PNAS pode-se pôr em evidencia as ambiguidades, ao tempo em que há


reconhecimento dos processos socioeconômicos, político e cultural que fragilizam as
famílias no Brasil, transforma-as em vulneráveis, o que justifica a sua centralidade
nas ações da política de assistência social e, por outro lado, reconhece que isso se dá
porque a família constitui espaço privilegiado e insubstituível de proteção social e
socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa
também ser cuidada e protegida.

A contradição entre cuidar e proteger a família ou fornecer meios para que ela
cuide dos seus membros está posta. Assim, há sempre o reforço das funções da
família; ajudá-las a cuidar de seus membros é o ponto forte da política; espera-
se que independentemente de seus formatos ou modelos, de sua condição de
vulnerabilidade ou risco, das condições materiais e subjetivas de vida, a função de
cuidadora e socializadora seja prevalecida.

Deixa-se claro que as ações que são desenvolvidas pela PNAS, embora sejam um
avanço para a sociedade, ainda se configuram em uma representação da ordem
vigente, pois não se está buscando uma independência da família em relação aos
papéis que tradicionalmente foram lhe atribuídos, o que, por sua vez, acaba exigindo
mais responsabilidades do grupo familiar.

A matricialidade sociofamiliar ganha papel de destaque na PNAS, em que a


centralidade da família e a superação da focalização se mantêm no pressuposto
de que é fundamental que a família tenha meios de garantir condições de
sustentabilidade para só assim ter condições de proteger, prevenir, promover e
incluir seus membros no ambiente familiar.

60
POLÍTICA SOCIAL E FAMÍLIA │ UNIDADE II

A realidade é dinâmica, por isso deve-se compreender a dimensão da


sustentabilidade, levando em conta que a família tem que ser trabalhada
como um todo, que precisa ter um fortalecimento desse todo para que não se
constituam ações de modo pontual, impossibilitando a real compreensão dos
resultados.

O fortalecimento das ligações recentes é necessário para a prevenção da violação de


direitos, no entanto entende-se que esse fortalecimento deve ser feito com ações
que envolvem não mais grupos de crianças, jovens, mulheres, idosos, entre outros,
mas isso envolve o grupo familiar como um todo, permitindo uma interação dos
membros e, consequentemente, o verdadeiro fortalecimento. Para alcançar esse
fortalecimento, é necessário que um PNAS seja uma articulação política com outros
setores, como saúde, cultura, habitação, emprego, educação, esporte, de acordo
com uma política planejada conforme previsto na legislação.

A PNAS deve ter uma tarefa universal e contar com o efetivo compromisso do
Estado, como conduzir os procedimentos básicos de prestação de serviços e os
benefícios como direito de todos, da inclusão social e da manutenção dessa inclusão,
estimulando a qualidade de vida e cidadania.

61
FAMÍLIA E UNIDADE III
CONTEMPORANEIDADE

CAPÍTULO 1
Família e sociedade contemporânea
– violência, violência doméstica,
homossexualidade/homoafetividade

A violência no contexto da família abarca uma diversidade de pessoas, sendo os mais


vulneráveis os que mais a sofrem, múltiplas ofensas e formas de vitimização direta e
indireta, nem sempre motivo de uma idêntica preocupação social, interventiva ou de
investigação.

A literatura na área da vitimização infantil tem demonstrado que a mera exposição


à violência doméstica pode ocasionar um impacto negativo, com exibição de
sintomatologia a nível físico, emocional, cognitivo e comportamental, manifestada a
curto, médio ou a longo prazo.

Tal fato pressupõe a realização de uma cuidadosa avaliação psicológica que parta do
conhecimento geral da problemática e do potencial impacto na criança ou jovem dessa
exposição à violência, avaliação essa que consiga determinar objetivos, estratégias e
áreas prioritárias de intervenção.1

A construção e implementação de um programa de intervenção em grupo com crianças


expostas à violência doméstica intrafamiliar parte do reconhecimento teórico e
empírico das consequências decorrentes dessa forma de vitimação e da consideração
das principais necessidades evidenciadas por estas crianças.

A tarefa requer necessariamente um conhecimento aprofundado em matéria de


avaliação psicológica e social com crianças expostas à violência doméstica, uma vez que
muitas das decisões iniciais do grupo vão requerer uma decisão fundamentada nesse
cuidado que se possa ter em cada caso.

62
FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE │ UNIDADE III

A intervenção terapêutica em um grupo se faz importante e necessária no trabalho


com crianças em situação de violação de direitos. O importante é perceber que em
diferentes momentos e de modo contínuo deve a avaliação de inicial e final, mas
igualmente do processo, com vista à eventual melhoria.

A experiência desenvolvida nessa problemática informa que, se a proposta for bem


estruturada e conduzida, esta poderá ser uma experiência gratificante e importante
para o retomar de outras experiências positivas que limitam a possibilidade de
reprodução futura de comportamentos violentos nos seus relacionamentos.

A evidência do impacto negativo da exposição à violência doméstica já é uma


realidade, importando agora a contribuição para a oferta interventiva junto dessa
população.

A violência doméstica contra crianças e adolescentes pode se manifestar de


diversas maneiras além da agressão física. Assim, é comum a violência por meio
de ameaças, humilhações e outras formas que afetam psicologicamente crianças
e adolescentes.

Outra forma constante de violência é a omissão: alguns pais deixam de fornecer os


cuidados necessários ao crescimento de seus filhos, que passam a sofrer privações
essenciais à sua formação, como falta de carinho, de limpeza e, até mesmo, de
alimentação adequada.

Vale ressaltar que nem sempre essa omissão é decorrente da situação de pobreza em
que a família vive. Uma das maneiras mais perversas de violência contra a criança
e o adolescente é o abuso sexual. Mais comum do que se acredita, ele acarreta
fortes traumas nessas pessoas. Destacamos ainda que todas as formas de violência
doméstica estão presentes em todas as classes sociais, entretanto, quando se trata
de famílias mais abastardas, tendem a ser silenciadas e/ou veladas. Cabe ressaltar
que a maioria das crianças e adolescentes sofrem abusos sexuais no âmbito de
suas residências e por parte das pessoas que deveriam cuidar e zelar deles.

Estudiosos afirmam que, quando se tratam dos aspectos de morbidade por


violência contra crianças, o âmbito familiar é o locus privilegiado desses atos
sociais, infligidos quase sempre pelos próprios pais ou responsáveis e exercidos
de forma variadas, isto é, por meio de violência física, violência sexual, violência
psicológica, abandono intencional e negligência, ou seja, por um conjunto de atos
violentos denominados “maus-tratos”.

63
UNIDADE III │ FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE

No Brasil, somente na década de 80 do século passado a temática da violência emerge


como um problema de saúde pública, ampliando o espaço para se discutir a questão dos
maus-tratos.

Há hoje no Brasil o desenvolvimento de uma consciência social em torno do tema da


proteção à infância. Apontam-se, portanto, os desafios de conhecer melhor o fenômeno
dos maus-tratos na realidade brasileira como estratégia para encontrar formas de
prevenção.

Vale notar que essa omissão nem sempre se deve à situação de pobreza em que vive
uma família.

Dados
Em suas diversas formas (física, sexual, psicológica e resultante da negligência),
a violência doméstica é um fenômeno complexo e completo como um problema
já existente como espaço privado, mas atende a conflitos nas relações sociais
e de gênero, em que os pais, os familiares ou os impulsionadores de seu poder
disciplinador colocam a criança em uma situação de abuso e opressão.

As áreas de saúde e adolescência são responsáveis pela saúde física e psicológica


das vítimas. Muitas sequências foram alteradas, tais como: transtornos de humor,
ansiedade, problemas de sono, dificuldades escolares, distúrbios neurológicos,
perseverança e persistência da qualidade de vida na vida adulta e possibilidade
de violência reprodutiva.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei no 8.069/1990) é o principal


instrumento para garantir os direitos e proteger contra todas as formas de violência e
opressão.

Orientado pela instrução de proteção integral, o ECA Idade que a criança e


adolescente na faixa etária entre 12 e 18 anos, tem direito a voto, com direito
de defesa. Em seu art. 5 o, o ECA afirma que “nenhuma criança ou adolescente
será submetido a qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão, punido pela lei, qualquer ação por ação ou
omissão de seus direitos fundamentais”.

Mais recentemente, foi promulgada a Lei n o 13.010, de 2014, que dispõe sobre o
tema da ECA para garantir o direito da criança e do adolescente a serem educados
e cuidados sem o uso de exercícios físicos ou tratamentos cruéis ou degradantes no
ambiente familiar.

64
FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE │ UNIDADE III

Apesar da criação de leis, as estatísticas nacionais e internacionais indicam que a


violência ainda é um problema sério em termos de incidência e prevalência. Dados
epidemiológicos recentes revelam que houve mais violência física, sexual e negligência.

O que habitualmente é uma dinâmica intrafamiliar em situações de vitimização


é estruturado por meio de dispositivos de ocultação que impedem a notificação,
torna-se fundamental investir em estudos que busquem revelar as características
sociodemográficas e mapear os tipos de intervenção utilizados para se fazer políticas e
estratégias de combate à violência.

Vítimas de violência doméstica e de crimes sexuais

A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a


Mulher, mais conhecida como Convenção de Belém do Pará, define a violência contra
a mulher como “qualquer ato ou conduta baseado no gênero que cause morte física
ou sexual às mulheres tanto em público e a esfera privada”. A Convenção estipula
que violência contra as mulheres inclui violência física, sexual ou psicológica: (I) no
ambiente doméstico e familiar; (II) na comunidade e cometida por qualquer pessoa.

A violência doméstica e familiar, dessa forma, pode ser considerada um tipo


específico de violência contra as mulheres. De acordo com a Lei Maria da Penha, é
qualquer ato ou omissão que, com base no gênero, cause a morte da mulher, danos
físicos, sexuais ou psicológicos, bem como morais ou danos materiais, que ocorram
na esfera doméstica e unidade familiar, ou em qualquer relação íntima de afeto em
que o agressor vive ou viveu com a vítima.

Uma característica marcante da violência doméstica e familiar contra a mulher é o


fato de ela ser perpetrada principalmente por pessoas que mantêm ou mantiveram
uma relação de intimidade com a vítima. Além disso, fatores culturais podem
influenciar tanto o nível de violência quanto a maneira como as mulheres lidam
com a situação de violência a que estão expostas.

No que diz respeito à abordagem da violência contra as mulheres no Brasil, é


possível apontar importantes iniciativas governamentais para enfrentar o problema.
No campo jurídico e legislativo, a promulgação da Lei Maria da Penha em 2006
é considerada o principal marco no enfrentamento da violência doméstica e familiar
contra as mulheres no Brasil.

65
UNIDADE III │ FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE

A Lei Maria da Penha, além de estabelecer mecanismos para garantir a imputação


de punição ao agressor, buscou tratar o fenômeno da violência doméstica de
forma abrangente. Para isso, fornece diretrizes gerais para a implementação de
políticas públicas abrangentes e transversais voltadas a abordá-lo. Um exemplo
disso é o fornecimento de um conjunto de ferramentas para assistência social à
vítima da agressão, bem como a provisão de abrigo de emergência e proteção
para a vítima.

A violência doméstica contra as mulheres envolve importantes fatores, como:


emocionais, filhos, econômicos. Afinal, em geral, o agressor é o companheiro da
vítima, pai de seus filhos, o que dificulta romper o relacionamento afetivo, mesmo
no contexto da violência.

Em muitos casos, há uma tendência de a mulher culpar-se pela violência sofrida


e também ter a esperança de que o homem possa mudar, esperando que o
comportamento violento cesse. Há casos ainda que temem pela integridade física
e por seus filhos no ciclo da violência. Na fase de explosão, a vítima pode chamar
a polícia, denunciar a violência na delegacia ou ser encaminhada para um abrigo.

No entanto, as mulheres mais vulneráveis não procuram ajuda durante esse


período, a menos que os ferimentos sofridos sejam tão graves que necessitem de
cuidados médicos.

No Brasil, é possível afirmar que as iniciativas da sociedade civil organizada e do


Estado para enfrentar a violência contra a mulher passaram por diferentes fases.

A violência contra as mulheres passou a ser vista como mulher em comparação


com a década de 1970. A partir de um cenário em que a violência contra as
mulheres era vista como um problema privado, incluindo ex-marido assassinando
mulheres em defesa da honra, começou-se a denunciar e promover ações para
evitá-la. No entanto, esse debate não foi assumido pelo Estado desde o início,
restrito às organizações da sociedade civil organizada na época, feministas mais
proeminentes.

Na década de 1980, no contexto da redemocratização do país que mais debateu com o


Poder Público, o movimento feminista passa por uma declaração e implementação
pelo Estado de políticas públicas voltadas à violência contra a mulher.

Já foi marcado pelo ano de 1990 devido às mulheres, seja por causa da contenção
fiscal do estado ou por causa do surgimento dos Juizados Especiais Criminais

66
FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE │ UNIDADE III

(JECRIMs). Criado em 1995, com o objetivo de acesso à população à justiça,


instituição desses programas que contribuem para o problema da violência. Isso
ocorre porque a maioria dos crimes contra as mulheres, como panfletos e ameaças,
são enquadrados como de menos potencial ofensivo, passando por um contexto em
sua capacidade desses tribunais.

Como consequência, os casos de violência contra mulheres que foram tratados


pela justiça, de acordo com a lógica desses eventos especiais, passaram por um
processo comum, ou uma conciliação, permanecendo o perpetrador como o réu, ou
a transcrição criminal, com a estabelecimento de multa por agressor, geralmente na
forma de cestas básicas.

Em 2006, tivemos a promulgação da Lei no 11.340, de 2006, conhecida como


Lei Maria da Penha, para atender, coibir, punir e prevenir práticas de violência
doméstica e familiar contra a mulher.

A Lei no 13.718, de 2018, introduz várias mudanças na gama de crimes contra a


dignidade sexual. Seu artigo “Tipicamente, os crimes de assédio sexual e revelação
de cena de estupro, atua contra crimes contra a dignidade sexual, causas de aumento
de pena para esses crimes, criação de pena relacionada ao crescimento coletivo e
corretivo e revoga as disposições do Decreto-Lei no 3.688, de 3 de outubro de 1941
(Lei de Delitos Criminais).

Em resumo, o Código Penal inclui: art. 215-A, que tipifica o assédio sexual; art. 218-
C, que trata da disseminação de estupro e vulnerabilidade e sexo ou pornografia
sem o consentimento dos envolvidos; art. 217-A, que diz que o consentimento e a
experiência sexual dos vulneráveis são irrelevantes para a caracterização do crime;
art. 226 para aumentar um terço de uma caneta de formas coletivas e corretivas. A
pena foi superior a um ano, foi dada a outras condições, houve a possibilidade de
suspensão processual, art. 89 da Lei no 9.099, de 1995.

Desse modo, pode-se afirmar que o crime de importunação sexual tem o verbo
nuclear para praticar, o que, segundo a definição lexical, significa perceber, fazer,
agir, cometer, desenvolver, efetivar perpetrar. É o crime comum, que pode ser
praticado por qualquer pessoa, com seu sujeito passivo. Incrível malicioso, comissivo,
unissubjetivo, multipersistente, e que é consumido com práticas libidinosas sem o
consentimento da vítima, com o propósito de satisfação da própria luxúria ou de
terceiros. O objeto legal do crime é a dignidade sexual da pessoa humana.

67
UNIDADE III │ FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE

Figura 3. Infrações penais, praticadas contra pessoa do sexo feminino.

Feminicidio Constrangimento Estupro Exploração


Calúnia ilegal

Quebra de
Lesão Difamação Estupro de Sequestro medida
corporal vulnerável protetiva

Violação
Violação sexual
Perturbação
Injuria Dano de mediante
domicílio fraude

Importunação Perigo de
Ameaça
Assédio ofensiva ao contágio
sexual Importunação
pudor venéreo

Fonte: Elaborada pelo autor.

Também foi pacificado que a disseminação da cena de estupro e a divulgação da cena


de sexo, nudez ou pornografia será considerada um crime, com penalidade cinco anos
de prisão.

Esse novo livro publicado no art. 218-C é formado por nove verbos nucleares,
chamado crime plurinuclear, um tipo alternativo misto, de conteúdo variado, ou
mesmo uma ofensa de ação, configurando um crime único se praticado sem o
mesmo contexto fático. O software faz fotografia, vídeo ou registro audiovisual que
contém uma série de características de vulnerabilidade e um número fundamental
de áudio, expor a qualidade de um objeto, que é geralmente o concurso de
material de crime, art. 69 do Código Penal, entrando agora na cena do sistema de
acumulação material, com uma soma de plumas cominadas.

Outra era da lei não é a de que se estabeleçam leis penais contra a lei sexual e
crimes virtuais à vulnerabilidade, que agora prossegue usando ação peniculada
incondicionada. Isto é o que é tomar nota do fato, Porting, doravante, tem
uma ação criminal incondicional, independentemente da idade, em crimes de
estupro, anulação sexual por fraude, assédio sexual, assédio sexual, estupro de
vulnerabilidade, corrupção de menores, comunidade pela presença de filhos
adolescentes, favorecendo a prostituição ou outra exploração sexual da criança ou
adolescente ou vulnerável.

No que tange às mudanças legais em relação à violência contra crianças e


adolescentes, a Lei n o 12.015, de 2009, também modificou na linha de endurecimento

68
FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE │ UNIDADE III

do direito penal, dispositivos do ECA, bem como a Lei dos Crimes Hediondos. Em
todos esses casos, o intento primordial do Legislador foi o de punir com maior
severidade os que cometem crimes desse jaez contra crianças ou adolescentes, em
vista da proteção integral que tais sujeitos merecem.

O especial grau de vulnerabilidade das vítimas desses crimes explica-se não


apenas pela condição individual do sujeito passivo, mas também pelas condições
socioeconômicas do país onde o crime é praticado, bastando ver o crime de tráfico
internacional de pessoas para fins de exploração sexual (art. 231 do CP), que
vitima basicamente os sujeitos residentes em países de terceiro mundo.

Há de se salientar também algumas mudanças operadas pela mencionada reforma,


com destaque para os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor, este
absorvido por aquele. Antes da Lei n o 12.015, de 2009, considerava-se crime de
estupro o ato de “constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave
ameaça”. Após a Lei, passou a ser o ato de “constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou praticar ou permitir que com ele se pratique
ato libidinoso”.

Percebe-se, pois, que hoje não mais se exige a conjunção carnal para a configuração
desse crime, de modo que se configura com a prática de qualquer ato libidinoso, seja ou
não a conjunção carnal. Ademais, a nova redação do tipo penal não distingue o gênero
da vítima, podendo se caracterizar o estupro masculino. Por tal motivo, foi abolido o
crime de atentado violento ao pudor, cujas elementares passam a integrar o art. 231,
estando integralmente revogado o art. 214.

Deixou de existir a figura da vítima de estupro praticado mediante violência presumida


introduzindo-se em seu lugar, a figura da Lei típica independente, intitulado “estupro de
vulnerável”. De acordo com a nova redação, ocorre estupro de vulnerável na hipótese da
prática de conjunção carnal ou ato libidinoso contra menores de 14 anos, incorrendo na
mesma pena quem pratica as mesmas ações contra alguém que não tenha o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não possa
oferecer resistência (art. 217-A). Tais práticas são classificadas como crimes hediondos
(art. 1o, V e VI, da Lei no 8.072, de 1990).

Por sua vez, a corrupção de menores, prevista no art. 218 do Código Penal, foi
remodelada pela nova lei e agora ocorre somente quando a vítima for menor de catorze
anos. Com efeito, dada a importância de se punir com maior rigor aqueles crimes que
introjetam no ser em desenvolvimento impulsos e desejos incompatíveis com a sua
condição de ser em desenvolvimento, houve por bem o Legislador aprimorar o tipo
penal, inviabilizando, com o aumento das penas abstratas, benesses como a suspensão

69
UNIDADE III │ FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE

condicional do processo e insuscetibilidade de decretação de prisão preventiva, sem


contar a ampliação do lapso prescricional.2

Criou-se, ainda, o importante tipo penal de “satisfação de lascívia mediante presença de


criança ou adolescente”, que é cometido por quem praticar, na presença de menor de
catorze anos, ou o induzir a presenciar conjunção carnal ou outro ato libidinoso, desde
que seja para satisfazer a lascívia própria ou de outrem (ar. 218-A). A nova legislação
descreveu expressamente como atividade delituosa a “exploração da prostituição
de vulnerável”, para tanto tipificando o crime de “favorecimento à prostituição de
vulnerável”, que será perpetrado por aquele que o pratica contra menor de dezoito e
maior de 14 anos (art. 218-B).

Conforme já assinalado, os crimes contra a liberdade sexual deixam de ser ajuizados


mediante queixa, o que era a regra até então. Com a reforma, a regra passou a ser a ação
penal pública incondicionada à representação da vítima, salvo quando esta for menor
de dezoito anos ou vulnerável, quando será pública incondicionada. Assim, qualquer
que seja o crime sexual, a titularidade da ação penal é sempre do Ministério Público.

Assim, há de se concluir que a Lei no 12.015, de 2009, conhecida como “Lei da


Pedofilia”, foi importante na medida em que refletiu positivamente muitos dos anseios
da sociedade. Faltaram, entretanto, dispositivos mais específicos sobre a contribuição
da vítima nesses tipos e crimes, com o fito de melhor delimitar as situações processuais
possíveis ao agente em se tratando de vítima provocadora ou que tenha colocado a si
mesma em situação de risco, porquanto a criminalidade sexual como um todo não pode
ser tomada sempre a débito do autor do fato.

Homossexualidade/homoafetividade

Atualmente, grande visibilidade é dada às questões relacionadas aos relacionamentos


amorosos e seus modos de expressão, tanto afetivos quanto de intimidade sexual.
Esse movimento vem do feedback das mudanças culturais e históricas e dos padrões
que delimitam as relações sociais, o que permite mais discussão sobre as questões de
gênero e sexualidade, bem como suas repercussões na vida dos homossexuais e de
suas famílias.

Os estudos sobre o tema LGBTQI+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e


transgêneros) são hoje um campo consolidado de pesquisa, adquirindo mais espaço
no campo acadêmico e legitimidade com os movimentos sociais.

2 A redação antiga do dispositivo penal era: “Art. 218. Corromper o facilitar a corrupção de pessoa maior de quatorze e menor
de dezoito anos, com ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou presenciá-lo: pena – reclusão de um a
quatro anos”. A atual é: “Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: pena – reclusão
de 2 (dois) a 5 (cinco) anos”.

70
FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE │ UNIDADE III

Assim, fatos relacionados às questões de gênero e sexualidade originam-se de lutas


sociais, como as relacionadas ao movimento LGBTQI+, que, por meio de suas ações,
conquistaram espaços e direitos para essa população.

Em relação ao gênero, entendemos como papéis sociais construídos no âmbito das


relações sociais e culturais para definir o que seria adequado em termos de papéis,
funções e comportamento para homens e mulheres (SCOTT, 1995). Entendendo que
sexo, gênero e sexualidade não estabelecem um relacionamento mútuo, porém tem
alguma ligação.

A sexualidade pode ser entendida como elaborações culturais sobre os prazeres e as


trocas sociais e corporais que incluem erotismo, desejo e afeto, bem como noções
relacionadas a saúde, reprodução, uso das tecnologias e do exercício do poder na
sociedade. Essas formas estão vinculadas às dimensões da vida social na reprodução e
produção de valores relacionados à vida coletiva.

As relações homoafetivas vêm ganhando espaço e visibilidade na literatura científica,


em uma postura de combater preconceitos e promover uma cultura de maior tolerância
e respeito à diversidade.

Em relação à divulgação da orientação sexual, refere-se a admitir a própria


homossexualidade para si mesmo e “sair” refere-se ao processo de revelação
da orientação sexual de alguém, comumente chamado de “sair do armário” e
relacionamentos familiares, este é um desafio para os indivíduos que querem contar
às suas famílias, já que existe o medo de sofrerem diversas formas de preconceito
pelos familiares e pela sociedade.

Um aspecto é a frustração que a família podem vivenciar por não corresponder às


suas expectativas, pois, de forma heteronormativa, a homossexualidade contradiz a
construção sociocultural do self e do homem e da mulher heterossexuais.

Aqui, a expectativa era a afirmação da continuação de uma sociedade patriarcal,


racionalizadora e higienizadora preocupada em não propagar qualquer tipo de
ameaça de grupos minoritários que afetam a moralidade das famílias que se baseiam
na tradição patriarcal.

A heteronormatividade é entendida como expressão usada para descrever ou


identificar uma suposta norma social relacionada ao comportamento heterossexual
padronizado, ideia complementada porque a relaciona diretamente aos papéis de
gênero esperados para homens e mulheres.

71
UNIDADE III │ FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE

Por outro lado, a ocultação da orientação sexual pode levar a sérios problemas
de várias ordens, como problemas sociais, comportamentais e psicológicos, que
limitam o acesso à busca de apoio social e causam baixa autoestima.

A revelação da orientação sexual pode permitir que os sujeitos se sintam protegidos


pela família e pelas pessoas que os rodeiam na sociedade e para manter bons
resultados de saúde em geral, bem como experimentar e sentir o apoio recebido.

Deve-se notar que o processo de assumir sua orientação sexual e a identidade gênero
é justificado por uma série de questões sociais, como o sigilo da homossexualidade
com os colegas de trabalho ou para ser incluído em um grupo específico.

Esse movimento alimenta a ideia de que os sentimentos e desejos dos pares


homossexuais devem ser mantidos “secretos”, em conformidade com expectativas
historicamente criadas de que tais relações devem permanecer invisíveis no espaço
público e restritas à vida privada dos envolvidos, isto é, para a sociedade o sujeito
“masculino” deveria impor sua masculinidade, deixando sua sexualidade de lado
e reforçando a opressão.

A homossexualidade, quando revelada à família, pode causar problemas nos


relacionamentos. Para os jovens que decidem verbalizar sua orientação e
identidade, pode haver grande frustração pelo impacto causado pelos familiares,
que, em muitos casos, não conseguem criar um ambiente acolhedor, como é
esperado dessa instituição. Frequentemente, os membros da família expressam
agressividade, ameaças e outros tipos de violência que mostram sua intolerância,
frustração e medo devido à descoberta de que seu filho é homossexual.

A dificuldade para os pais e membros da família lidarem com essas questões


também deve ser considerada, uma vez que eles são frequentemente cercados por
medos e não se sentem à vontade para falar e lidar com questões de sexualidade
em geral.

72
CAPÍTULO 2
Família e sociedade contemporânea
– mercado de trabalho e mulher,
primeiro emprego, desemprego

Em quase todos os países do mundo, os homens são mais propensos a participar


dos mercados de trabalho do que as mulheres. No entanto, essas diferenças de
gênero nas taxas de participação vêm diminuindo substancialmente nas últimas
décadas. Neste capítulo, discutiremos como e por que essas mudanças estão
ocorrendo.

Mulheres e homens frequentemente têm experiências muito diferentes no mercado


de trabalho. As mulheres recebem menos por hora, trabalham menos horas fora
de casa e entram em diferentes ocupações do que os homens.

Essas experiências diferentes, por sua vez, geram uma série de outras disparidades,
incluindo níveis mais baixos de riqueza, segurança de aposentadoria reduzida
e acesso mais limitado a programas de rede de segurança social vinculados ao
trabalho, como o seguro-desemprego, compreendendo todas essas questões com
a desigualdade histórica que permeiam os gêneros.

Melhorar os resultados econômicos das mulheres não é importante somente para


elas pessoalmente ou para suas famílias, é uma parte crucial de uma estratégia
para elevar o crescimento econômico de forma mais ampla. Nós, como sociedade,
não podemos desperdiçar os talentos e habilidades de pessoas que poderiam estar
participando mais plenamente da economia.

Uma das principais diferenças entre os resultados do mercado de trabalho de


mulheres e homens é a diferença salarial entre eles. Embora essa melhora seja
bem-vinda, a vantagem continuada do salário masculino pode ser surpreendente
à luz dos avanços que as mulheres realizaram na realização educacional.

Dado o forte prêmio salarial comandado por graus pós-secundários, pode-se


esperar diferença salarial entre homens e mulheres a diminuir mais drasticamente.
Mesmo depois de controlar as diferenças de idade, raça, educação e ocupação, as
mulheres agora ganham cerca de 85% do que os homens ganham.

Um exame mais profundo dos resultados do mercado de trabalho de mulheres


e homens revela outra maneira importante que as disparidades de gênero ainda
manifestam: a separação de homens e mulheres em diferentes ocupações.

73
UNIDADE III │ FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE

As mulheres ainda tendem a trabalhar em empregos muito diferentes dos homens, e a


segregação ocupacional mudou pouco nas duas últimas décadas, como mostra a figura
abaixo. Essa segregação, medida como a soma das diferenças entre porcentagens de
homens e mulheres em cada ocupação, continua a pairar perto de 50%, o que significa
que ocupações (ponderadas pelo emprego) são em média 75/25 homens ou 75/25
mulheres. Embora a falta de progresso recente não seja totalmente compreendida,
sabemos que a segregação ocupacional está ligada a vários fatores, incluindo a
necessidade de flexibilidade de emprego, normas sociais e discriminação no mercado
de trabalho, entre outros.

A separação de homens e mulheres em diferentes ocupações pode ter implicações


importantes para os salários, uma vez que as mulheres estão desproporcionalmente
representadas em ocupações mal remuneradas.

Em todo o mundo, os homens tendem a participar dos mercados de trabalho com


mais frequência do que as mulheres.

A proporção entre mulheres e homens nas taxas de participação na força de trabalho


expressa em porcentagem logo, no parágrafo abaixo ajudará a elucidar.

Esses números mostram estimativas da Organização Internacional do Trabalho


(OIT), no sentido de que a OIT as produz após a harmonização de várias fontes de
dados para melhorar a comparabilidade entre os países.

Em países como a Síria ou a Argélia, a proporção é inferior a 25%. Em Laos,


Moçambique, Ruanda, Malawi e Togo, o relacionamento está próximo, ou mesmo
ligeiramente acima de 100% (ou seja, há paridade de gênero na participação da
força de trabalho ou até mesmo uma parcela maior de mulheres participando do
mercado de trabalho do que homens).

Compreender as lacunas que permanecem entre os resultados econômicos para


mulheres e homens é crucial para encontrar as políticas mais eficazes que possam
aumentar as oportunidades das mulheres.

Políticas aperfeiçoadas relacionadas à disponibilidade e acessibilidade a creches,


tributação individual de casais casados, transparência fiscal e licença parental,
entre outras, podem contribuir para um engajamento mais robusto e equitativo das
mulheres na força de trabalho.

Atingir essa meta é uma preocupação macroeconômica urgente: sem o envolvimento


total e irrestrito das mulheres em nossa força de trabalho, o crescimento econômico

74
FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE │ UNIDADE III

será indevidamente prejudicado, os benefícios do crescimento serão compartilhados de


forma desigual.

A participação feminina na força de trabalho é maior em alguns dos países mais pobres
e ricos do mundo e menor em países com renda nacional média.

Em termos de mudanças ao longo do tempo, a taxa de participação feminina na força


de trabalho hoje é superior a três décadas atrás. Isso é verdade na maioria dos países,
em todos os níveis de renda.

O século XX assistiu a um aumento radical no número de mulheres que participam


nos mercados de trabalho nos países em início de industrialização. Taxas de
participação feminina de longo prazo, reunindo dados da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e estimativas históricas
disponíveis para uma seleção de países industrializados precocemente nos
mostram as tendências positivas em todos esses países.

Notavelmente, o crescimento na participação começou em diferentes pontos no


tempo e prosseguiu em ritmos diferentes; no entanto, os aumentos substanciais
e sustentados na participação da força de trabalho das mulheres nos países ricos
continuam sendo uma característica marcante da mudança econômica e social
no século XX.

No entanto, em muitos países ricos, como os EUA, o crescimento na participação


diminuiu consideravelmente ou até parou na virada do século XXI.

O que sabemos sobre as características das mulheres que impulsionaram essa


notável expansão histórica da participação feminina na força de trabalho nos
países ricos?

Como se vê, as evidências mostram que a maior parte do aumento de longo


prazo na participação das mulheres no mercado de trabalho ao longo do último
século é atribuível especificamente a um aumento na participação de mulheres
casadas.

Uma taxonomia da oferta de trabalho


Antes de prosseguirmos para explorar os determinantes da participação feminina
nos mercados de trabalho, é importante que nos aprofundemos nos conceitos.
Já dissemos que a participação na força de trabalho é definida como sendo
“economicamente ativa”. Mas o que isso realmente significa?

75
UNIDADE III │ FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE

Ser capaz de responder a essa pergunta é crucial para entender as mudanças


na participação feminina nos mercados de trabalho, uma vez que as mulheres
normalmente investem tempo em atividades produtivas que não contam como
oferta de mão de obra de mercado.

Do ponto de vista conceitual, pessoas economicamente ativas são aquelas que


estão empregadas incluindo o emprego de meio período a partir de uma hora por
semana ou desempregadas incluindo quem procura emprego, mesmo que seja
pela primeira vez os estudantes que não têm emprego e não estão procurando por
um, não são economicamente ativos.

Nas diretrizes estipuladas pela OIT, o emprego também inclui o trabalho


autônomo, o que significa que, em princípio, a força de trabalho inclui qualquer
pessoa que forneça trabalho para a produção de bens e serviços econômicos,
independentemente de fazê-lo para pagamento, lucro ou ganho familiar.

Falando livremente, as diretrizes estipulam que as atividades não remuneradas


devem ser excluídas se elas resultarem em serviços ou bens produzidos e
consumidos dentro da família (e não são a principal contribuição para o consumo
total da família). Isso geralmente significa excluir o trabalho não remunerado
em coisas como a preparação e o serviço de refeições, cuidado, treinamento e
instrução de crianças ou limpeza, decoração e manutenção da habitação.

A implicação, então, é que, mesmo que as diretrizes sejam seguidas de perto para
incluir todas as formas possíveis de atividades econômicas, ainda haverá um
número importante de mulheres trabalhadoras excluídas das estatísticas da força
de trabalho. E essas exclusões são ainda mais evidentes se considerarmos que, em
muitos países, a medição real se desvia das diretrizes.

Contudo, em muitos países com baixa capacidade de produzir estatísticas nacionais,


a participação da força de trabalho é medida a partir de censos populacionais, e
não de pesquisas sobre a força de trabalho especialmente projetadas para esse
fim.

A consequência disso é que as estatísticas da força de trabalho frequentemente


excluem indivíduos que deveriam ser abrangidos pelas definições acima. Entre
as exclusões mais importantes estão os trabalhadores envolvidos no trabalho não
remunerado.

76
CAPÍTULO 3
Família e sociedade contemporânea –
alcoolismo e outras drogas, gravidez na
adolescência, idosos

Alcoolismo e outras drogas


O uso de álcool e drogas pode afetar negativamente todos os aspectos da vida de
uma pessoa, afetar sua família, amigos e comunidade, e colocar um enorme fardo
sobre a sociedade americana. Uma das áreas mais importantes de risco com o uso
dessas substâncias é a conexão entre álcool, drogas e crime.

O álcool desempenha um papel importante em atividades criminosas e violência.


Beber em excesso tem a capacidade de reduzir as inibições, prejudicar o julgamento
de uma pessoa e aumentar o risco de comportamentos agressivos. Por causa disso,
as taxas de violência e criminalidade relacionadas ao álcool estão aumentando em
todo o país.

A teoria do conflito de grupo pressupõe que o direito penal é moldado pelo conflito
entre os vários grupos sociais na sociedade que existem por causa das diferenças
de raça e etnia, classe social, religião e outros fatores. Dado que esses grupos
competem por poder e influência, os grupos mais poderosos tentam aprovar
leis que proíbem comportamentos nos quais grupos subordinados tendem a se
engajar e tentam usar o sistema de justiça criminal para suprimir membros do
grupo subordinado. Um exemplo histórico amplamente citado dessa visão é a
proibição, que foi o resultado de anos de esforços de defensores da temperança, a
maioria deles de origem branca, anglo-saxônica, rural e protestante, para proibir
a fabricação, a venda e o uso de álcool.

Embora esses defensores pensassem que o uso de álcool era um pecado e acarretava
grandes custos sociais, sua hostilidade em relação ao álcool também foi motivada
por sua hostilidade em relação aos tipos de pessoas que costumavam usar álcool:
pobres, urbanos, imigrantes católicos. O uso de meios legais para proibir o álcool
pelos defensores da Temperança foi, com efeito, uma “cruzada simbólica” contra
as pessoas contra as quais esses defensores mantinham atitudes preconceituosas.

77
UNIDADE III │ FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE

Gravidez na adolescência

Gravidez na adolescência é gravidez em uma mulher com menos de 20 anos. Gravidez


pode ocorrer com a relação sexual após o início da ovulação, que pode ser antes do
primeiro período menstrual (menarca), mas geralmente ocorre após o início dos
períodos. Em meninas bem desenvolvidas o primeiro período geralmente ocorre
por volta dos 12 ou 13 anos de idade, considerando que cada menina tem seu biotipo
genético que interfere.

As adolescentes grávidas enfrentam muitas das mesmas questões relacionadas com a


gravidez que outras mulheres. Há preocupações adicionais para os menores de 15 anos,
pois é menos provável que sejam fisicamente desenvolvidos para manter uma gravidez
saudável ou para dar à luz. Para meninas de 15 a 19 anos, os riscos estão mais associados
a fatores socioeconômicos do que a efeitos biológicos da idade. Riscos de baixo peso ao
nascer, parto prematuro, anemia e pré-eclâmpsia estão relacionados à idade biológica,
sendo observados em partos em adolescentes, mesmo após o controle de outros fatores
de risco (como acesso ao pré-natal etc.).

A gravidez na adolescência está associada a questões sociais, incluindo baixos níveis


educacionais e pobreza, mas cabe colocarmos uma controvérsia, pois meninas de classes
sociais mais elevadas tendem a ficar grávidas. A gravidez na adolescência em países em
desenvolvimento é geralmente fora do casamento e carrega um estigma social.

A idade da mãe é determinada pela data facilmente verificada quando a


gravidez termina, não pela data estimada da concepção. Consequentemente,
as estatísticas não incluem gravidezes que começaram aos 19 anos, mas que
terminaram no ou após o 20º aniversário da mulher. Da mesma forma, as
estatísticas sobre o estado civil da mãe são determinadas se ela é casada no final
da gravidez, não no momento da concepção.

Embora as razões para os declínios não sejam totalmente claras, as evidências


sugerem que esses declínios são devidos a mais adolescentes se abstendo de
atividade sexual, e mais adolescentes que são sexualmente ativos usando o controle
da natalidade do que nos anos anteriores.

A gravidez e o parto aumentam significativamente a chance de essas mães se


tornarem desistentes do ensino médio e até a metade ter que ir para o bem-
estar. Muitos pais adolescentes não têm a maturidade intelectual ou emocional
necessária para proporcionar outra vida.

78
FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE │ UNIDADE III

Muitas vezes, a gravidez é escondida por meses, resultando em uma falta de cuidados
pré-natais adequados e resultados perigosos para os bebês.

Os fatores que determinam quais mães são mais propensas a ter um novo nascimento
com intervalos curtos incluem casamento e educação: a probabilidade diminui com o
nível de educação da jovem ou de seus pais e aumenta se ela se casar.

A gravidez na adolescência gera custos sociais e econômicos substanciais por meio de


impactos imediatos e de longo prazo em pais adolescentes e seus filhos.

Gravidez e parto contribuem significativamente para as taxas de abandono do


ensino médio entre as meninas. Apenas cerca de 50% das mães adolescentes
recebem um diploma do ensino médio aos 22 anos de idade, enquanto
aproximadamente 90% das mulheres que não dão à luz durante a adolescência
se formam no ensino médio (MARTIN, 2018)

Os filhos de mães adolescentes têm maior probabilidade de ter menor


aproveitamento escolar e de abandonar o ensino médio, ter mais problemas
de saúde, ser encarcerados em algum momento da adolescência, parir quando
adolescente e enfrentar o desemprego quando ainda são adultos jovens.

Idoso

Para a maior parte do mundo, cuidar dos idosos é um assunto de família. O cuidado
familiar para os idosos, no entanto, é substancialmente desafiador, especialmente
em sociedades em que a estrutura e os relacionamentos familiares tradicionais
mudaram devido às influências da demografia, urbanização, economia política e
mudanças culturais.

Embora a conscientização sobre o envelhecimento da população e suas demandas


associadas aos idosos tenham atraído a atenção mundial nos últimos anos, as
lacunas de conhecimento, serviço e política no apoio às famílias para fornecer e
manter cuidados adequados para os idosos são persistentemente grandes.

Profissionais preocupados com problemas de saúde em todo o mundo precisam


entender a complexa situação do cuidado familiar e informações sobre as melhores
práticas de cuidado e cuidado. Eles precisam entender o apoio dentro da família,
para a família e entre a família e as instituições de saúde e serviços sociais.

79
UNIDADE III │ FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE

Melhorias na expectativa de vida mudaram a estrutura de famílias multigeracionais.


A sobrevivência conjunta dentro e por meio das gerações resultou em períodos
extensos de troca de apoio (incluindo cuidado) e conexões afetivas ao longo da vida.

As implicações do aumento da diversidade nas estruturas de parentesco para


resultados tão práticos como apoio e cuidado aos membros mais velhos da família
ainda precisam ser analisadas, mas permanecem preocupações importantes à luz
do declínio do compromisso filial e do envelhecimento dos provedores e receptores
de apoio.

Apesar dos esforços para representar as famílias idosas de forma mais holística,
a pesquisa empírica nessa área ainda tende a ser segmentada por tipo relacional,
especificamente afiliações entre pais e filhos adultos, avós e netos, maridos e esposas
e irmãos.

A saúde e o estresse parecem desempenhar papel na mudança da qualidade conjugal


ao longo do tempo e na vida posterior.

Os filhos adultos dos avós não são os únicos atores mediadores de relacionamentos
no sistema familiar de três gerações. Os netos desempenham uma função de ligação
em relação às duas gerações mais antigas. A simples presença de um neto jovem na
família mostrou aumentar a quantidade de contato entre os pais e os avós daquelas
crianças.

Os avós transmitem valores morais fundamentais para seus netos e foram


encontrados para influenciar as orientações religiosas de seus netos fortalecendo
ou enfraquecendo a influência dos pais. Perspectivas sistêmicas sobre famílias
multigeracionais ganham insight considerando como uma terceira geração média e
modera relacionamentos entre duas gerações.

Outras pesquisas descobriram que os casais casados ​​ eram mais receptivos às


necessidades de apoio dos pais das esposas, mesmo sob condições de igual
competição entre as necessidades dos pais e os pais em lei, revelando, assim, uma
forte preferência matrilinear na prestação de assistência ao envelhecimento dos
pais.

Os efeitos dos estressores familiares no bem-estar parecem ser multiplicativos no


que diz respeito às relações conjugais e matrimoniais. O estresse induzido pelo
conflito conjugal exacerbou o estresse emocional sentido por crianças adultas
recém-cuidadas por seus pais mais velhos.

A viúva é uma transição seguida de perto pela reconfiguração e adaptação dos papéis
e funções familiares.

80
FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE │ UNIDADE III

Os papéis fora da família também mudaram após a perda de um cônjuge. As viúvas


eram mais propensas do que os indivíduos casados a exercer funções voluntárias que
tendiam a protegê-las contra os sintomas depressivos e aumentar os sentimentos de
autoeficácia. Da mesma forma, as viúvas que deram ajuda e apoio a outras pessoas
experimentaram um declínio nos sintomas depressivos após a perda do cônjuge.

As características estruturais dos relacionamentos também emergiram como


determinantes dos quais os pais da criança favorecem ou confiam. Pesquisas
descobriram que o filho mais novo da família tendia a ser aquele com quem os pais
eram emocionalmente mais íntimos, e o filho mais velho tendia a ser aquele para quem
os pais provavelmente procurariam por apoio necessário.

Descobriu-se que os relacionamentos entre as famílias idosas dependem dos contextos


sociais mais amplos em que estão inseridos. Estudos transnacionais sugeriram que
tanto o desenvolvimento econômico quanto os fatores socioculturais são responsáveis
pela variação no apoio e contato intergeracional.

Famílias em países em desenvolvimento também se envolvem em trocas de tempo


por dinheiro; no entanto, a direção dos fluxos de recursos difere daquela encontrada
nos países desenvolvidos. Nos países em desenvolvimento, os pais tendem a fornecer
trabalho doméstico e/ou serviços de cuidados infantis para seus filhos adultos, e os
filhos adultos fornecem dinheiro a seus pais em troca dos cuidados prestados.

Os valores culturais que enfatizam o dever filial estão de acordo com a ausência de
recursos públicos, pois as famílias sobrevivem por meio do intercâmbio mútuo entre
gerações.

A rápida mudança social e econômica nos países em desenvolvimento abriu linhas de


investigação sobre o fato de a rede de segurança familiar tradicional ser segura ou não
para pessoas idosas nessas regiões.

O declínio do tamanho da família e as taxas de concordância intergeracional estão


entre as principais preocupações. No entanto, pesquisas descobriram que as expressões
de piedade filial na China dos filhos adultos eram iguais ou maiores em famílias
monoparentais e em famílias multiclildas, o que sugere que deficit de apoio podem ser
menores do que o esperado para pais idosos cuja fertilidade foi guiada pela política para
crianças.

A elasticidade das normas filiais foi observada em nações tradicionais, mas em rápido
desenvolvimento. Evidências do Brasil rural revelaram que a congestão intergeracional

81
UNIDADE III │ FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE

nas comunidades agrícolas se baseia mais em atender às necessidades das crianças


adultas do que nas necessidades dos adultos mais velhos.

Quando tomadas em conjunto, as descobertas de pesquisas familiares internacionais


demonstram que o nível de desenvolvimento econômico, estrutura política e normas
culturais de um país influenciam as transferências de recursos para cima e para baixo
das linhas geracionais.

Cuidar em famílias envelhecidas

Nesta seção, discutimos as tendências do cuidado em famílias idosas que incluem


crianças, pessoas adultas cuidando de seus pais idosos, cônjuges cuidando uns dos
outros e avós cuidando de seus netos em capacidades de custódia e suplementares.

Nós nos concentramos em características sociais que foram encontradas para diferenciar
os níveis de envolvimento em atividades de cuidado e que levam a resultados diferenciais
em cuidadores.

Embora uma implicação óbvia do envelhecimento seja que adultos maduros tendem a
se tornar recipientes de cuidados ao longo do tempo, os adultos mais velhos também
são os principais provedores de cuidados familiares.

O cuidado familiar para pessoas idosas com deficiências tornou-se cada vez mais
comum, já que a expectativa de vida quase dobrou no último século. Cuidar representa
uma ampla gama de atividades, incluindo cuidados pessoais, tarefas domésticas,
preparação de refeições, compras, cuidado das finanças, companheirismo, verificação
regular da organização e supervisão de atividades e serviços externos e coordenação da
assistência médica.

Os cuidadores enfrentam cada vez mais o dilema de equilibrar sua participação na


força de trabalho com seus deveres de cuidado, um estressor que tende a afetar mais as
mulheres do que os homens.

As características dos beneficiários de cuidados também fazem diferença na experiência


de cuidar. Uma meta-análise descobriu que cuidadores de vítimas de demência sofriam
maior estresse e pior saúde física e mental do que cuidadores de receptores sem
demência e não cuidadores.

O cuidado é cada vez mais visto como um esforço de equipe, com múltiplos membros
da família (e não membros) trocando e coordenando seus esforços de cuidado. Embora
a estrutura de prestação de cuidados seja tipicamente hierárquica, com um prestador
de cuidados principal que coordena os esforços de cuidadores subordinados, a pesquisa
82
FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE │ UNIDADE III

indicou um bom grau de rotatividade na composição das redes de cuidadores, assim


como nos provedores primários, ao longo do tempo.

Durante a década de 1990, houve um aumento de 50% na proporção de cuidadores


primários que não tinham parceiro secundário disponível para ajudar a suportar a carga,
uma tendência preocupante que pode significar maior estresse para os cuidadores e
uma rede de segurança mais fraca para os pacientes.

Os irmãos frequentemente negociam entre si quem cuidará de um pai idoso, o que


às vezes introduz conflito na família. Quando as desigualdades ocorrem na divisão do
trabalho entre irmãos adultos, os cuidadores primários podem pedir aos seus irmãos
menos envolvidos para contribuir mais ou mudar sua avaliação cognitiva da situação
para justificar a desigualdade.

Mesmo que os irmãos encontrem uma maneira de lidar equitativamente com suas
responsabilidades de cuidar, diretrizes antecipadas para os cuidados de saúde que
envolvam a nomeação de uma procuração durável para uma criança podem minar as
relações das crianças umas com as outras.

Cônjuges como cuidadores

A literatura comumente compara os cuidadores cônjuges com outros tipos de


cuidadores familiares, mais frequentemente crianças adultas. A pesquisa mostrou que
o aumento dos sintomas depressivos após a transição para o cuidado foi o mesmo para
os cuidadores de cônjuge e adultos-criança.

No entanto, outras pesquisas revelaram diferenças nos resultados positivos do cuidado


com base no relacionamento do cuidador com o receptor. Por exemplo, filhos adultos
obtiveram maiores recompensas emocionais advindas do cuidado do que os cônjuges,
o que sugere que sentimentos positivos e negativos sobre o cuidado podem se misturar
diferentemente dependendo do relacionamento envolvido.

Entre os cuidadores do cônjuge, foram encontradas diferenças de gênero em relação ao


impacto do cuidado em suas vidas diárias.

O menor diferencial de gênero para os cuidadores do cônjuge foi atribuído à


responsabilidade relativamente forte que os cônjuges sentem por seus parceiros.

A experiência de cuidar do cônjuge também tem raízes no período de pré-cuidado


dos casamentos. Os cônjuges que tiveram maiores níveis de discórdia conjugal antes
do cuidado relataram maior diminuição na felicidade e maior aumento na depressão

83
UNIDADE III │ FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE

após assumirem responsabilidades de cuidadores do que os cônjuges com experiências


conjugais mais favoráveis.

Os avós cuidadores enfrentam desafios que antecedem suas atividades de cuidado.


Estudos mostram que os avós cuidadores têm maior probabilidade de viver abaixo da
linha da pobreza, recebem assistência pública, têm menos que o ensino médio e não
têm acesso a cuidados médicos adequados e serviços de apoio.

Os caminhos para o cuidado que envolvem abuso de drogas e/ou álcool na geração
parental produzem os resultados psicológicos mais negativos dos avós de custódia, o
que fornece evidências de desvantagens acumuladas nesse grupo ao longo do tempo.

Evidências sugerem que a alta demanda de assistência aos netos afeta o bem-estar físico
e mental dos avós de custódia.

Como os netos que estão sendo cuidados pelos avós correm um risco particularmente
alto de apresentar problemas comportamentais e emocionais, não é de surpreender
que os cuidadores de avós tenham níveis ainda mais elevados de estresse do que os
cuidadores parentais.

A tensão intrafamiliar e as relações intergeracionais de baixa qualidade também


contribuem para a má saúde física e mental dos avós cuidadores. Adotar o papel de
cuidador inesperadamente ou fora do tempo tem sido citado na literatura como uma
fonte de estresse para os cuidadores de avós.

Embora a maioria das pesquisas tenha se concentrado nos difíceis precursores


e tensões dos avós de custódia, também se dedicou atenção ao estudo dos
recursos que podem compensar os resultados negativos. Descobriu-se que
as redes de apoio têm efeitos paliativos no bem-estar emocional dos avós
cuidadores, diminuindo os efeitos deletérios do estresse do cuidado.

O envolvimento em atividades externas pode vincular os cuidadores de avós a


recursos sociais e tangíveis que podem se mostrar benéficos.

A satisfação intrínseca derivada de cuidar de um neto foi encontrada para


melhorar o sofrimento, reduzindo a sensação de sobrecarga e aumentando o
afeto positivo.

Embora o estresse seja geralmente alto entre os cuidadores de avós,


especialmente aqueles com menos recursos, como afro-americanos (e nativos
americanos) algumas evidências sugerem que os avós cuidadores de culturas
com uma forte tradição de família extensa se adaptam com mais sucesso ao

84
FAMÍLIA E CONTEMPORANEIDADE │ UNIDADE III

seu papel de custódia do que os avós de culturas sem essa tradição. As avós de
custódia americanas, por exemplo, eram mais capazes de conhecer outros que
criavam netos e de terem sido criados pelos avós, legitimando, assim, essa forma
de família.

Avós como cuidadores suplementares

O aumento da participação da força de trabalho das mulheres e o crescimento dos


lares de mães que vivem com seus filhos proporcionaram aos avós oportunidades
ampliadas de prestar cuidados complementares aos netos, de modo que a
prevalência de avós que prestam cuidados extensivos, mas não primários, excede
a dos avós de custódia.

Taxas mais altas de participação da força de trabalho feminina em estados mais


liberais aumentaram ostensivamente a demanda por serviços ocasionais de avós,
enquanto a maior disponibilidade de creches de baixo custo suprimiu a demanda
por cuidados em tempo integral com os avós. A evidência é mista sobre se o
fornecimento de cuidados a tempo parcial para os netos é estressante para os avós.

Crianças expostas a condições familiares estressantes tendem a recorrer a seus


avós em busca de apoio emocional e parecem se beneficiar do desenvolvimento
psicossocial ao fazê-lo. Evidências mostram que os fortes apegos aos avós
aumentaram a saúde mental dos netos adolescentes que cresceram em uma
família de mãe solteira e que foram criados por uma mãe deprimida. Assim, os
avós servem como recursos-chave para seus netos, de acordo com as necessidades
emergentes da família.

O cuidado suplementar fornecido pelos avós foi encontrado para ter efeitos
positivos em relacionamentos intergeracionais. Por exemplo, os netos que
receberam cuidados precoces dos avós tenderam a ter relações mais próximas
com eles na idade adulta do que os netos que não receberam tais cuidados.

85
MATERNIDADE E UNIDADE IV
PATERNIDADE

CAPÍTULO 1
Maternidade: conceitos
contemporâneos

O puerpério é um período de grandes mudanças na vida das mulheres, em


termos fisiológicos, psicológicos e socioculturais. É o período que começa após o
nascimento e é marcado por mudanças, cujos objetivos são restaurar o organismo
da mãe ao estado não grávido. Essas transformações ocorrem não apenas em
termos fisiológicos, endócrinos e genitais, mas para a mulher como um todo.

Sabe-se que a gestação e o puerpério são períodos da vida da mulher que necessitam
de atenção especial, pois, durante esse período, ocorrem muitas mudanças físicas,
hormonais e psicológicas e estão relacionadas à participação social, que refletem
diretamente na saúde da mulher.

O puerpério inicia uma a duas horas após a expulsão da placenta. Seu final não é
fixo, pois, no período da amamentação, o organismo da mãe continua a sofrer um
processo de modificação, e o retorno dos ciclos menstruais é altamente variável.
Vale ressaltar que o tipo de parto e as complicações decorrentes podem influenciar
diretamente no período pós-parto.

O nascimento de uma criança pode ser considerado um evento de grande impacto


para uma mulher em diferentes facetas de sua vida. As modificações de uma ordem
corporal e hormonal que ocorrem durante o período pós-parto são vivenciadas
pelas mulheres não apenas no nível físico, mas também em termos de sentimentos,
na maneira como se veem e como fazem relacionamentos na sociedade.

O modo como cada mulher lida com essas mudanças está relacionado à subjetividade
e à percepção de seu próprio corpo e de si mesmos.

86
MATERNIDADE E PATERNIDADE │ UNIDADE IV

A forma como as mulheres devem ser consideradas durante o puerpério deve


ser apresentada de forma ampla, ouvindo suas dificuldades e experiências,
conhecendo o contexto cultural e social em que vivem, para que o cuidado com
elas seja realizado de forma eficaz.

As consultas do puerpério geralmente são realizadas após 40 dias, período


durante o qual a mulher e sua família passam pela fase mais difícil de adaptação.
Deve-se considerar a possibilidade de um retorno do puerpério prematuro e
de fontes de acesso, caso surjam dificuldades, as quais devem ser esclarecidas
imediatamente. As orientações prévias dadas no pré-natal podem ser uma
importante fonte de informação e ajudar no enfrentamento das dificuldades
que podem ocorrer.

A atual política de maternidade defende a escolha e o controle das mulheres na


assistência à maternidade e promove as mulheres como consumidoras ativas de
parto e tomadores de decisão.

É direito de toda mãe sobreviver à gravidez e ao parto e ter um parto seguro. Famílias,
comunidades, governos locais e nacionais têm a responsabilidade de prevenir
suas mortes. A morte materna é um indicador importante para avaliar o alcance
de serviços de saúde pública eficazes para os pobres. Prevenir mortes associadas à
gravidez e ao parto é um dos maiores desafios enfrentados pela nação no século 21.

A esmagadora maioria dessas mortes ocorre em países de baixa renda e entre


mulheres que geralmente são pobres e marginalizadas e não têm acesso a instalações
de saúde funcionais ou a profissionais de saúde qualificados, treinados.

A prevenção, a detecção e o manejo oportuno dessas complicações são uma


necessidade primária de saúde de qualquer país. As revisões sugerem que a aceitação
e o reconhecimento do modelo de assistência e parto da parteira por parteiras
qualificadas têm implicações diretas sobre a taxa de mortalidade materna.

A declaração conjunta da Organização Mundial da Saúde, da Confederação


Internacional de Parteiras e da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia
define uma parteira qualificada como profissional de saúde credenciada, como
parteira, médico ou enfermeira que foi capacitada e treinada para proficiência nas
habilidades necessárias para gerenciar gestações normais (não complicadas), parto
e no período pós-natal imediato, e na identificação, manejo e encaminhamento de
complicações em mulheres e recém-nascidos.

87
UNIDADE IV │ MATERNIDADE E PATERNIDADE

Evidências mostram que as mortes maternas podem ser evitadas com a presença de um
profissional capacitado no momento do parto. O bem-estar e as necessidades de uma
mãe e de seu filho são primordiais e devem ser o foco principal ao considerar o modelo
de cuidado de maternidade.

As mulheres devem ter um serviço de maternidade sem par, apoiado por um modelo
integrado de cuidados obstétricos. A maioria dos cuidados de maternidade deve ser
baseada na comunidade ao planejar modelos de cuidados obstétricos.

As mulheres devem ter acesso fácil a um profissional de saúde capacitado para sua
assistência pré-natal e ter acesso 24 horas a aconselhamento e apoio quando entrar em
trabalho de parto.

As necessidades das mulheres e suas famílias devem determinar os modelos e


localização dos cuidados.

A maneira pela qual a assistência à maternidade é organizada e entregue, e o


papel que obstetrícia desempenha dentro deste, é influenciado pela filosofia de
cuidado que se aplica localmente. As duas principais abordagens na assistência
à maternidade atual podem ser descritas como médico ou tecnológico, social ou
humanizado, muitas vezes referido como modelo da obstetrícia do cuidado.

Em linhas gerais, a abordagem médico/tecnológica é caracterizada por um foco na


identificação de problemas de saúde e cura, aversão ao risco, e uso de soluções
técnicas para problemas de saúde. Tem sido argumentado que este tende a objetivar
e fragmentar os indivíduos, concentrando-se em componentes biológicos do corpo,
em vez de considerar a pessoa como um todo, e quaisquer possíveis interações
físicas, psicossociais e emocionais.

Em contraste, a abordagem da obstetrícia, social, humanização prioriza


relacionamentos e interação social. Ele tende a se concentrar na manutenção do
bem-estar e na promoção da normalidade, reforçando as condições fisiológicas de a
maioria das mulheres dar à luz com intervenções mínimas ou nulas. Essa filosofia do
cuidado é vista como holística, porque reconhece que fatores psicossociais, como a
relação entre a mulher e sua família, e entre a mulher e seu cuidador, são essenciais
componentes de saúde física e clínica para a mãe e seu bebê.

Todos aqueles que examinaram a natureza do cuidado de maternidade nas últimas


décadas observaram que o modelo médico/tecnológico da assistência à maternidade
tornou-se dominante em quase todo o mundo.

88
MATERNIDADE E PATERNIDADE │ UNIDADE IV

O atendimento comunitário da obstetrícia é oferecido para a maioria das mulheres


durante o pré e pós-natal. A importância do contato precoce no período pré-natal dá
mais tempo para escolhas informadas no planejamento de seus cuidados e garante que
as mulheres possam aproveitar todos os suportes.

Opções para os modelos de cuidado liderados pela obstetrícia incluem aqueles


situados como modelos na comunidade local ou ao lado do ambiente hospitalar.
Essas unidades têm o potencial de oferecer cuidados seguros e de qualidade
para mulheres e bebês, promovendo filosofia do parto normal e natural se
estrategicamente organizado.

89
CAPÍTULO 2
Paternidade: conceitos
contemporâneos

As consequências psicológicas da paternidade têm sido de grande interesse para


acadêmicos de saúde mental e familiar. Embora os pesquisadores tendam a argumentar
que ter filhos é prejudicial para o bem-estar psicológico de adultos quando as crianças
têm menos de 18 anos, as evidências empíricas nem sempre apoiaram esse argumento.

Pela falta de evidências empíricas fortes, os estudiosos têm sugerido duas possibilidades:

1. as influências das recompensas de criar filhos podem cancelar as


influências dos fardos de criar filhos no bem-estar psicológico; e

2. pode haver variações substanciais entre as crianças. pais em experiência


de demandas e recompensas de criar filhos em contextos sociais e de vida.

No entanto, o exame explícito das recompensas da paternidade tem sido limitado, e


ainda permanece desconhecido sobre as variações entre os pais.

A idade das crianças é um contexto que merece mais atenção. A natureza e os níveis
de encargos e recompensas de ser pai ou mãe podem variar consideravelmente se as
crianças estiverem em idade escolar, se forem adolescentes ou adultos jovens. No
entanto, poucas pesquisas investigaram variações no bem-estar dos pais por idade
das crianças além da simples dicotomia de crianças menores ou adultas. Com base
em outras pesquisas que enfatizaram o estresse das rotinas diárias de cuidar de
crianças em idade escolar, os pesquisadores tendem a supor que o bem-estar dos
pais pode ser pior antes de as crianças irem à escola.

Mudando o foco das tensões para as recompensas, no entanto, argumenta-se que


os benefícios emocionais que os pais obtêm com o relacionamento com os filhos,
como afeição, estímulo e novo sentido de vida, são maiores quando os filhos são
pequenos. Assim, a paternidade, enquanto todas as crianças em casa estão em idade
escolar pode ser menos prejudicial para o bem-estar psicológico do adulto do que
quando as crianças passam para a idade escolar, adolescência ou início da idade
adulta jovem.

Duas visões contrastantes da paternidade motivaram a pesquisa sobre a associação


entre parentalidade e bem-estar psicológico adulto. Um enfoca as tensões da
responsabilidade de criar filhos, enquanto o outro enfatiza as recompensas que as

90
MATERNIDADE E PATERNIDADE │ UNIDADE IV

crianças trazem para a vida dos adultos. Uma noção popular é que as demandas
podem superar as recompensas quando as crianças são menores, enquanto as
recompensas podem exceder as demandas quando as crianças estão na idade adulta.

A falta de fortes evidências empíricas de efeitos prejudiciais ou intensificadores


das crianças para o bem-estar psicológico dos adultos levou às seguintes duas
especulações: primeiro, a paternidade é onerosa e recompensadora, o que pode
anular-se mutuamente.

Pode haver variações consideráveis entre os pais na medida em que a paternidade é


onerosa ou recompensadora, o que é amplamente moldado pelos contextos sociais
e de vida que cercam os pais. Pesquisas empíricas investigaram variações em
contextos por fatores socioculturais, como gênero, estado civil e raça/etnia.

O estágio da vida é um contexto crucial que influencia as consequências psicológicas


da paternidade. No entanto, foi dada pouca atenção às variações além das diferenças
entre crianças menores e adultas.

Do ponto de vista da demanda – uma abordagem convencional nessa área –, a


constatação de que não havia diferença no bem-estar psicológico pela idade
das crianças é um tanto desconcertante. As cepas de criar os filhos incluem as
necessidades de renda adicional, dificuldade em arranjar cuidado infantil e conflito
conjugal. Muitas evidências documentaram que a paternidade nesses aspectos é
particularmente estressante quando as crianças são muito jovens. Os pais com
crianças em idade pré-escolar são mais propensos do que os pais de crianças mais
velhas a ficarem sobrecarregados com a quantidade de trabalho envolvida nas
rotinas diárias de cuidar das crianças e vivenciarem um intenso conflito trabalho-
família.

A transição para a parentalidade envolve frequentemente um conflito conjugal


crescente com mudanças na divisão do trabalho doméstico e o declínio no tempo de
lazer como um casal. Além disso, crianças pequenas restringem a liberdade pessoal
dos pais e a participação em redes sociais de adultos. Essa linha de pesquisa leva
a uma previsão de que ter crianças em idade pré-escolar pode estar relacionada ao
menor bem-estar psicológico dos adultos.

A qualidade do relacionamento entre pais e filhos, medida pela satisfação dos pais
com esse relacionamento, teve maior influência no bem-estar psicológico dos pais
do que medidas objetivas de contextos como a idade das crianças. Do ponto de vista
da demanda-recompensa, a satisfação do relacionamento com a criança reflete um
elemento importante das recompensas de ser pai ou mãe. Argumenta-se que essa

91
UNIDADE IV │ MATERNIDADE E PATERNIDADE

recompensa psicológica pode ser a chave para entender as variações no bem-estar


psicológico dos pais pela idade das crianças.

Os pais com crianças em idade pré-escolar podem ter uma probabilidade maior de os
pais com filhos em idade escolar, adolescente ou adultos jovens experimentarem níveis
mais altos de satisfação de relacionamento com as crianças, podendo, assim, relatar
melhor bem-estar psicológico.

O abuso psicológico está sob fenômenos reconhecidos e sub-reportados, especialmente


nos adolescentes pelos próprios pais. Ele tem sido descrito como a forma mais
desafiadora e a mais prevalente de abuso infantil.

Esse tipo de abuso é bastante difícil de definir e avaliar em comparação com o abuso
físico e pode ser descrito como abuso verbal, punições severas não físicas ou ameaças
de abuso. Ele descreve um padrão repetido de comportamento de adulto para criança
(geralmente um dos pais) que faz a criança sentir-se sem valor, falha, não amada,
indesejada, ameaçada ou apenas de valor para atender às necessidades de outra pessoa.

Em muitos casos, o abuso psicológico é considerado a dimensão que mais prejudica o


desenvolvimento e tem sido associada a resultados negativos, como comprometimento
do desenvolvimento emocional, social e cognitivo, incluindo desamparo, agressão, falta
de responsividade emocional e neuroticismo. Pesquisas sugerem consistentemente que
esse tipo de abuso e a negligência na infância têm efeitos negativos no desenvolvimento
normal.

As experiências de abuso e negligência não apenas colocam os adolescentes em risco


de consequências adversas imediatas, como baixo desempenho escolar e aumento do
sofrimento psíquico, mas também podem ter sérios resultados de saúde a longo prazo,
como delinquência, agressividade, baixa autoestima, ansiedade, abuso de substâncias
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e depressão.

O abuso psicológico também é explicado em termos de abuso do processo mental e


emocional dos adolescentes, tendo sido associado a distúrbios psiquiátricos na infância,
como depressão maior e distimia. Dos poucos estudos que documentam seus efeitos a
longo prazo, esse abuso está relacionado a distúrbios alimentares, doença depressiva e
comportamentos suicidas na vida adulta.

Pesquisas recentes também mostraram que crianças que sofreram abuso psicológico
exibem problemas comuns de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade, baixa
autoestima e distúrbios alimentares. Por sua vez, esses problemas estão associados a

92
MATERNIDADE E PATERNIDADE │ UNIDADE IV

problemas de saúde física, incluindo saúde física geral inadequada, risco aumentado de
doença cardíaca e comportamentos autolesivos.

Esse tipo de abuso pode ser extremamente destrutivo e tem sido associado a uma
série de desfechos adversos da criança, incluindo desajuste emocional, depressão,
baixa autoestima, problemas de conduta, agressão, incapacidade de confiar e baixo
rendimento.

A lei de paternidade refere-se ao corpo de lei subjacente à relação legal entre


um pai e seus filhos biológicos ou adotivos e lida com os direitos e obrigações
do pai e da criança entre si e com os outros. A paternidade de uma criança pode
ser relevante em relação a questões de legitimidade, herança e direitos a um
suposto título ou sobrenome do pai, assim como os direitos do pai biológico à
custódia da criança no caso de separação ou divórcio e obrigações de apoio à
criança.

De acordo com o direito comum, presume-se que um filho nascido de uma


mulher casada seja filho do marido em virtude de uma possível legitimidade.
Em consideração de um possível evento de não paternidade (que pode ou
não incluir fraudes de paternidade), essas presunções podem ser refutadas por
evidência em contrário, por exemplo, em casos de custódia de crianças e pensão
infantil durante divórcio, anulação ou legal separação.

No caso de um pai não casado com a mãe de uma criança, dependendo das leis
da jurisdição:

» um homem pode aceitar a paternidade da criança no que é chamado


de reconhecimento de paternidade, reconhecimento voluntário de
paternidade ou declaração de parentesco;

» a mãe ou as autoridades legais podem apresentar uma petição para


uma determinação de paternidade contra um pai;

» paternidade pode ser determinada pelos tribunais por meio de


embargos ao longo do tempo.

Hoje, quando a paternidade está em disputa ou dúvida, o teste de paternidade


pode ser usado para resolver a questão de forma conclusiva.

93
Referências

AMAZONAS, M. C.L. A.; BRAGA, M. G. R. Reflexões acerca das novas formas


de parentalidade e suas possíveis vicissitudes culturais e subjetivas. Ágora,
9(2), 177-191. (2006).

ARÁN, M. Políticas do desejo na atualidade: o reconhecimento social e jurídico do


casal homossexual. Lugar Comum, 21/22, 73-90. 2005.

ARAÚJO, M. F. Gênero e família na construção de relações democráticas. In: T. Féres-


Carneiro (Org.), Casal e família: Permanências e rupturas. (pp.9-23).São Paulo:
Casa do Psicólogo. 2009.

ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Editora


Guanabara. 1981.

BENGHOZI, P. Malhagem, filiação e afiliação. Psicanálise dos vínculos: casal,


família, grupo, instituição e campo social. (E. D. Galery, trad.). São Paulo: Vetor. 2010.

BORGES, C. C.; COUTINHO, M. L. R. Família e relações intergeracionais no Brasil


hoje: Novas configurações, crises, conflitos e ambiguidades. In: I. C. Gomes (Org.),
Família: Diagnóstico e abordagens terapêuticas. (pp.45-59). Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan. 2008.

BOURDIEU, P. O espírito da família. In: P. Bourdieu, Razões práticas. (pp.124-135).


Campinas: Papirus. 1996.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional


de Assistência Social (PNAS). Brasília: MDS\SNAS, 2004.

_______. Norma Operacional Básica da Assistência Social (NOB\SUAS).


Brasília: MDS\SNAS, 2005.

_______. Proteção Básica do Sistema Único de Assistência Social: orientações


técnicas para os Centros de Referência de Assistência Social. Brasília: MDS\SNAS,
2006.

Convenção de Belém do Pará adotada pela Assembleia Geral da Organização dos


Estados Americanos em 06 de junho de 1994 – ratificado pelo estado Brasileiro em 27
de novembro de 1995.

94
REFERÊNCIAS

COUTINHO, M.; SANI, A. Evidência empírica na abordagem sobre as


consequências da exposição à violência interparental. Revista da Faculdade
de Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa, 2008, pp. 284-293. 2008.

DELMANTO, Celso. Código penal comentado. 9. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 713. 2016.

DUBREUIL, É. Des parents de même sexe. Paris: Odile Jacob. 1998.

EIGUER, A. Homoparentalidades, afiliación y vínculo filial.In: E. Rotenberg & B. A.


Wainer (Orgs.), Homoparentalidades: Nuevas familias. (pp.127-137; 2. ed.). Buenos
Aires: Lugar Editorial. 2010.

FONSECA, C. Homoparentalidade: Novas luzes sobre o parentesco. Revista Estudos


Feministas, 16(3), 769-783. 2008.

GIDDENS, A. A transformação da intimidade. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP.


1993.

GOLOMBOK, S.; JADVA, V.; LYCETT, E.; MURRAY, C.; MACCALLUM, F. Families
created by gamete donation: follow-up at age 2. Hum Reprod 2005, 20:286-293.
2005.

GOMES, I. C. O sintoma da criança e a dinâmica do casal. 2. ed. São Paulo:


Zagodoni. 2011.

GOMES, I. C.; PAIVA, M. L. S. C. Casamento e família no século XXI: possibilidade


de holding? Psicologia em Estudo, 8(n.esp), 3-9. 2003.

GOMES, P. B.; PORCHAT, I. Psicoterapia do casal. São Paulo: Casa do Psicólogo.


2006.

Grossi, M. P. Gênero e parentesco: famílias gays e lésbicas no Brasil. Cadernos


Pagu, 21, 261-280. 2003.

_______. UZIEL, A. P.; MELLO, L. (Orgs.). Conjugalidades, parentalidades e


identidades lésbicas, gays e travestis. Rio de Janeiro: Garamond. 2007.

IAMAMOTO, M. V. O Brasil das desigualdades: “questão social”, trabalho e relações


sociais. SER social, Brasília, v.15, n. 33, p. 261-384, jul./dez. 2013

LAURIANO, C.; DUARTE, N. (2011). Censo 2010 contabiliza mais de 60 mil casais
homossexuais. Disponível em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/04/censo-

95
REFERÊNCIAS

2010-contabiliza-mais-de-60-mil-casais-homossexuais.html>. Acesso em: 1º maio


2019.

MARTIN, J. A.; HAMILTON, BE.; OSTERMAN, MJK. Births in the United States.
NCHS data brief. 2018 (318):1-8. 2017.

MOSCHETA, M. S.; SANTOS, M. A. Relação conjugal homoafetiva: Revolução ou


acomodação? In: M. V. Cunha, S. R. Pasian; G. Romanelli (Orgs.), Pesquisas em
Psicologia: Múltiplas abordagens. (pp. 129-152). São Paulo: Vetor. 2009.

NETTO, J. P. Cinco notas a propósito da “Questão Social”. Revista Temporalis,


nº 3. (Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social –
ABEPSS), ano II, 2004.

NOMAGUCHI K. M. (2012). Parenthood and psychological well-being: Clarifying


the role of child age and parent-child relationship quality. Social science research,
41(2), 489–498. doi:10.1016/j.ssresearch.2011.08.001.

PASSOS, M.C. Homoparentalidade: uma entre outras formas de ser família.


Psicologia Clínica, 17(2), 31-40. 2005.

PERELSON, S. A parentalidade homossexual: Uma exposição do debate psicanalítico


no cenário francês atual. Revista Estudos Feministas, 14(3), 709-730. 2005.

PRATTA, E. M. M.; SANTOS, M. A. Família e adolescência: a influência do contexto


familiar no desenvolvimento psicológico de seus membros. Psicologia emEstudo, 12
(2), 247-256. 2007.

RODRIGUEZ, B. C.; PAIVA, M. L. S. C. Um estudo sobre o exercício da


parentalidade em contexto homoparental. Vínculo, 6(1), 13-25. 2009.

ROUDINESCO, E. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

RHODE, Deborah L. (2007). Politics and Pregnancy: Adolescent Mothers and


Public Policy”. In Nancy Ehrenreich (ed.). The Reproductive Rights Reader. New York,
NY: New York University Press. ISBN 978-0-8147-2230-5.

SANI, A. Intervenção terapêutica com crianças expostas à violência interparental:


avaliar, priorizar e intervir. In A. Neves (Coord.), Intervenção psicológica e social
com vítimas. Vol. 1 – Crianças, Coimbra: Almedina, 2012, pp. 141-162. 2012.

96
REFERÊNCIAS

SANTOS, C. A parentalidade em famílias homossexuais com filhos: um


estudo fenomenológico de vivências de gays e lésbicas. Tese de Doutorado. FFCLPRP.
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. 2004.

SCOTT, J. W. Gênero uma categoria útil de análise histórica. Educação e


realidade. Porto Alegre, vol.20 no2, jul – dez. 1995.

SOLIS-PONTON, L. (Org.) Ser pai, ser mãe: parentalidade. Um desafio para o terceiro
milênio (M. C. P. Silva, rev. técnica e trad.). São Paulo: Casa do Psicólogo. 2004.

TARNOVSKI, F. L. Pais assumidos: Adoção e paternidade homossexual no Brasil


contemporâneo. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis. 2002.

_______. Homoparentalidade à brasileira: paternidade homossexual em


contextos re-lacionais. Boletin del Proyecto Sexualidades Salud y Derechos Humanos
en America Latina, Chile, 8, 69-75. 2004.

TORRES, A. A individualização no feminino, o casamento e o amor. In: C. Peixoto;


F. Singly & V. Cicchelli (Orgs.), Família e individualização. (pp.135-156). Rio de
Janeiro: FGV. 2000.

Uziel, A. P. Homossexualidade e adoção. Rio de Janeiro: Editora Garamond. 2007.

_______. Família e homossexualidade: velhas questões, novos problemas. Tese


de Doutorado. IFCH, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2002.

_______. ; FERREIRA, I. T. O.; MEDEIROS, L. S.; ANTONIO, C. A. O.; TAVARES,


M.; MORAES, R.; MACHADO, R. S. Parentalidade e conjugalidade: aparições no
movimento homossexual. Horizontes Antropológicos, 12 (26), 203-227. 2006.

VITALE, M. A. F. Socialização e família: uma análise intergeracional. In: M. C. B.


Carvalho (Org.), A família contemporânea em debate. 2. ed. pp. 89-96. São Paulo:
Educ/Cortez. 1997.

ZAMBRANO, E. O direito à homoparentalidade: cartilha sobre as famílias


constituídas por pais homossexuais. Porto Alegre: Vênus. 2006a.

_______. Parentalidades “impensáveis”: pais/mães homossexuais, travestis e


transexuais .Horizontes Antropológicos, 12(26), 123-147. 2006b.

_______. Do privado ao público: a homoparentalidade na pauta do Jornal Folha


de São Paulo. In: M. P. Grossi, A. P. Uziel; L. Mello (Orgs.), Conjugalidades,

97
REFERÊNCIAS

parentalidades e identidades lésbicas, gays e travestis. (pp. 321-340). Rio de


Janeiro: Garamond. 2007.

Sites
<https://fpabramo.org.br/acervosocial/wp-content/uploads/
sites/7/2017/08/009capa.jpeg>.

<https://www.mundonovo.ms.gov.br/2019/03/22/cras-sao-jorge-realizou-reuniao-
mensal-com-familias-do-paif/>.

<https://fpabramo.org.br/acervosocial/estante/plano-nacional-de-promocao-
protecao-e-defesa-do-direito-de-criancas-e-adolescentes-convivencia-familiar-e-
comunitaria/>.

<https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/
Plano_Defesa_CriancasAdolescentes%20.pdf>.

<http://www.mds.gov.br/suas/redesuas>.

98

Você também pode gostar