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FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS DR.

LEÃO SAMPAIO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE
SEGURANÇA DO TRABALHO

DIAGNÓSTICO DA APLICABILIDADE DA NR 18
PELAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL DO
CARIRI NO ANO DE 2005 e 2006

JEFFERSON LUIZ ALVES MARINHO

JUAZEIRO DO NORTE
2006

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JEFFERSON LUIZ ALVES MARINHO
Aluno do Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho
da Faculdade de Ciências Aplicadas Dr. Leão Sampaio

DIAGNÓSTICO DA APLICABILIDADE DA NR 18
PELAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL DO
CARIRI NO ANO DE 2005 e 2006

Monografia apresentado para fins de


avaliação final do Curso de Pós-
graduação lato senso em Engenharia de
Segurança do Trabalho da Faculdade de
Ciências Aplicadas Dr. Leão Sampaio,
como requisito para a obtenção do
Título de Especialista.

JUAZEIRO DO NORTE
2006

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DIAGNÓSTICO DA APLICABILIDADE DA NR 18
PELAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL DO
CARIRI NO ANO DE 2005 e 2006

Elaborado por Jefferson Luiz Alves Marinho, aluno do Curso de Pós-


Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho.

Foi analisado e aprovado com grau: ___________

____________________________________________
Professor Orientador

____________________________________________
Membro

____________________________________________
Membro

Juazeiro do Norte, ______de____________de 2007.

3
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha amada esposa Gervânia


Cristina da Silva Marinho pelo incentivo, dedicação e
abdicação da minha companhia durante a realização de
todo o curso.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter-me concedido o dom da vida e pôr impulsionar-me pela atividade da
pesquisa e da ação.

Aos meus filhos Jefferson Gabriel e Luiz Felipe que mesmo tendo nascidos durante a
realização do curso nunca foram motivos de obstáculo para conclusão deste.

Aos meus pais Francisco Roberto e Maria de Lourdes que sempre souberam indicar-me a
prioridade do estudo.

Á Faculdade de Ciências Aplicadas Dr. Leão Sampaio e, em especial, ao Prof. Vladenir de


Pontes Menezes (In Memória) pela preocupação constante em capacitar os profissionais da
região do Cariri, bem como ao Prof. Said, pelos valiosos conhecimentos repassados aos
alunos durante o curso.

Aos empresários, engenheiros e operários entrevistados por mim e que nos receberam
muito bem em seus canteiros de obras, contribuindo de forma valiosa para a realização e
sucesso deste trabalho.

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RESUMO

Este trabalho apresenta um diagnóstico sobre o cumprimento da NR 18 pelas


empresas da Construção Civil na região do Cariri nos anos de 2005 e 2006, destacando a
opinião de operários, empresários, especialistas e fiscais do trabalho a este respeito.

Destaca-se ainda outro intuito deste trabalho que é o de conscientizar a sociedade e,


principalmente, a Indústria da Construção Civil de que não se pode continuar trabalhando
sem a preocupação constante de se implementar ações eficientes para que o trabalhador da
construção civil exerça suas atividades de maneira segura. Só assim se garantirá um
trabalho mais produtivo e mais eficiente e, consequentemente, melhores resultados para as
empresas.

Neste contexto, certeza tem do pequeno passo dado, porém, por outro lado será
mais um canal para que se alcance o equilíbrio entre os que defendem as normas e o que
realmente está sendo feito pelos empresários do setor da construção civil.

Palavras-Chave: NR-18, Segurança no Trabalho.

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ABSTRACT

This work presents a diagnosis on the execution of NR 18 for the companies of the
Building site in the area of Cariri in the years of 2005 and 2006, detaching the workers
opinion, entrepreneurs, specialists and district attorney of the work to this respect.

We still increased another larger intention than it is it of becoming aware the


society and, mainly, the Industry of the Construction that she cannot continue working
without the constant concern in implementing efficient actions so that the worker of the
building site exercises their activities in a safe way, guaranteeing like this, a more
productive and more efficient work and, consequently, guaranteeing better results for the
companies.

In this context, certainty has of the small given step, however, to put another side
will be one more channel for us to jump over the balance among the ones that defend the
norms and what is really being made hairs entrepreneurs of the section of the building site.

Key-words: NR-18, Safety Work

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“Dedicação e compromisso têm de vir de
dentro, mas, quando você adquire essas
qualidades pode conseguir tudo o que
deseja”.

David Niven.

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SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO

2.0 ESTUDO DE CASO


2.1 Considerações Iniciais
2.2 Histórico
2.3 Normalização em Segurança do Trabalho no Brasil
2.4 Perfil Sócio Econômico da Região do Cariri
2.4.1 - Características Gerais do Pólo Cariri Cearense
2.4.2 – Demografia
2.4.3 - Aspectos Econômicos
2.4.4 - Setor Produtivo.
2.5 Objeto em estudo
2.6 Metodologia Aplicada
2.7 Método de Coleta dos Dados
2.7.1. Lista de verificação
2.7.2. Entrevistas
2.7.2.1 Operários
2.7.2.2 Empresários
2.7.2.3 Fiscalização (DRT)
2.7.3. Amostragem

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2.7.4. Caracterização da Amostra
2.7.4.1 Idade
2.7.4.2 Tempo de Serviço na Construção Civil
2.7.4.3 Tempo de trabalho na empresa
2.7.4.4 Origem
2.7.4.5 Razões de imigração
2.7.4.6 Ocupação na origem
2.7.4.7 Razões para ingresso na construção civil
2.7.4.8 Grau de instrução
2.7.4.9 Estado civil
2.7.4.10 Prole
2.7.4.11 Moradia
2.7.5. Tabulação dos resultados
2.7.6. Análise dos resultados

3.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS.


4.0 BIBLIOGRAFIA
5.0 ANEXOS

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L I S T A DE F I G U R A S

Figura 1 – Gráfico comparativo de acidentes.......................................................................06

Figura 2 – Campanha de Segurança de uma empresa visitada.............................................08

Figura 3 – Localização do Pólo Cariri cearense no semi-árido nordestino..........................16

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L I S T A DE Q U A D R O S

Quadro 1 – Distância de Juazeiro do Norte às principais capitais nordestinas....................15

Quadro 2 – PIB do Triângulo Crajubar – 1996....................................................................17

Quadro 3 – Exemplo de configuração e requisitos da lista de verificação plicada..............21

Quadro 4 – Distribuição dos trabalhadores por cidade e profissão......................................27

Quadro 5 – Distribuição dos trabalhadores por idade..........................................................29

Quadro 6 – Distribuição dos entrevistados por tempo de trabalho na empresa...................30

Quadro 7 – Distribuição dos entrevistados por razão de imigração.....................................31

Quadro 8 – Distribuição dos entrevistados por ocupação na origem...................................32

Quadro 9 – Razões para ingresso na construção civil..........................................................32

Quadro 10 – Distribuição dos entrevistados por grau de instrução......................................33

Quadro 11 – Notas dos elementos da NR-18 detectados como críticos...............................37

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1.0 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem o intuito de preencher uma lacuna existente na região do Cariri
relativa à falta de dados sobre a aplicabilidade da NR 18 pelas empresas da Construção
Civil do Cariri.

Apesar dos inúmeros esforços que vêm sendo feitos no Brasil, a partir de
campanhas de prevenção de acidentes, de comissões de estudo tripartistes (representantes
do Governo, empregados e empregadores) e de estudos acadêmicos, o índice de acidentes
do trabalho e doenças profissionais continua elevado (INSS, 1997), principalmente na
construção civil, o que causa inúmeros problemas sociais e econômicos.

A construção civil e em especial o subsetor de edificações, apesar de sua


importância tanto em termos econômicos quanto sociais, apresenta uma grande dificuldade
para modernizar-se, de maneira particular em relação à gestão dos recursos humanos, de tal
forma que o operário, de maneira geral, é o que menos atenção e importância recebem,
com os administradores e empresários subestimando a necessidade de uma preparação para
geri-lo.

Por outro lado, para um setor com características próprias como o de construção
de edificações tradicional, com pouca estruturação, dificuldade de controle e grande
heterogeneidade de produtos, materiais, processos e intervenientes, a participação e o
engajamento dos trabalhadores, detentores do saber fazer, é crucial para o sucesso de um
programa de qualidade. Assim sendo, melhorar as condições de trabalho, assumir novas
formas de gestão e satisfazer na medida do possível os anseios dos trabalhadores são
fatores fundamentais e que possibilitarão atrair e manter os mais qualificados e conseguir o
comprometimento organizacional dos operários, justificando os esforços de preparação e
treinamento da empresa para a implementação de programas de qualidade (Lima, 1995).

Portanto os investimentos das empresas não devem concentrar-se


exclusivamente em tecnologia, mas sim, paralelamente e na mesma proporção, no sistema

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humano, promovendo não só condições de trabalho adequadas, mas também propiciando
condições de aperfeiçoamento e de atualização de potencialidades não exploradas pelas
tarefas rotineiras, levando ao desenvolvimento do indivíduo como pessoa integral.

A verdade é que as empresas de construção civil enfrentam um mercado cada


vez mais competitivo, onde os consumidores estão tomando consciência dos seus direitos e
já não decidem pela compra de um serviço ou produto apenas pelo preço. A qualidade
tornou-se fator preponderante na decisão de compra. Outro fator que afeta essa decisão,
mesmo que de forma indireta, é a produtividade, pois quanto maior for à produtividade de
uma empresa, menor serão os seus custos, resultando em produtos ou serviços mais
competitivos.

Qualidade e produtividade são fatores atrelados, no entanto, inconcebíveis sem


investimentos e treinamentos da mão-de-obra, de forma adequada. O fator humano
encontra-se em todos os níveis de uma organização e sem ele, os demais se tornam
inoperantes. Nenhuma organização pode produzir mais do que o potencial oriundo dos
seus recursos humanos. A qualificação, o interesse e a motivação desses recursos é que
resultam no sucesso de uma organização. Contudo, muitas empresas ainda não despertaram
para esta realidade, pois pecam quando não fazem uma integração desses fatores com um
eficiente programa de segurança.

Consoante MIRANDA JÚNIOR (1995), a obtenção da qualidade está


intimamente relacionada com a melhoria das condições de segurança e higiene no
trabalho, já que é muito pouco provável que uma organização alcance a excelência de seus
produtos negligenciando os responsáveis pela produção. Ou seja, não se pode esperar que
um operário desempenhe, de maneira satisfatória, suas atribuições em um ambiente que
não lhe inspire confiança.

Assim como qualquer atividade do setor privado, a construção civil visa,


fundamentalmente, o lucro para suas empresas e muitas vezes, a forma escolhida para
obter maiores lucros se dá através da redução irrestrita dos custos, sendo um deles o da
segurança no trabalho. Como alguns profissionais do setor não percebem o impacto da

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segurança do trabalho na produtividade da empresa, com freqüência ela é deixada para um
segundo plano.

Tendo em vista essa característica do setor, é fácil concluir que a construção


civil apresente em todo o Brasil, e não só na Região do Cariri, índices de acidentes maiores
que os de outras indústrias.

Com o intuito de melhor lidar com os riscos nas obras, HINZE (1997) afirma
que, de uma forma geral, pode-se evitar acidentes ou então minimizá-los através de
medidas de cunho gerencial associada com a implantação das instalações físicas de
segurança. LISKA ET ALLI (1993) também chamam a atenção para a importância de
visão ampla do assunto, ou seja, é necessário que se desenvolva um programa de segurança
no quais os diversos fatores que a influenciam com a implantação das instalações de
segurança.

Antigamente, acidentes que tinham como conseqüências perda, eram vistos


como fatalidades e considerados obras do acaso. Porém após a segunda Guerra Mundial,
quando os americanos notaram que suas empresas faturavam milhões com seus produtos e
serviços, porém retiravam também milhões de seus cofres para pagar prêmios de seguros,
viram a necessidade de proteger suas empresas frente aos riscos de acidentes de trabalho.
Surgia então o Gerenciamento de Riscos.

Segundo TAVARES (1996),

“Gerenciar Riscos é dar proteção aos recursos humanos, materiais e


financeiros de uma empresa, quer pela eliminação ou redução de
riscos, quer pelo financiamento dos riscos remanescentes, conforme
seja economicamente mais viável”.

Para ser possível atingir esses níveis ideais de segurança no trabalho, tem-se que
partir dos níveis de exigências mínimos, os quais são definidos pela NR-18 (Condições e
Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção), em sua versão mais recente,

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publicada em julho de 1995. Entretanto, essa nova legislação ainda não foi perfeitamente
assimilada pelos profissionais do setor, visto que é possível identificar a existência de
dúvidas quanto à sua interpretação e questionamentos a respeito da viabilidade técnica e
econômica de algumas de suas exigências.

Face à existência de dúvidas quanto à interpretação da NR-18, de


questionamentos a respeito da viabilidade técnica e econômica de algumas de suas
exigências e às dificuldades que muitas empresas estão enfrentando para implementá-las,
procuramos com este trabalho fornecer subsídios sobre o grau de cumprimento da norma,
tarefa esta que foi realizada através da aplicação de uma lista de verificação em 15 (quinze)
canteiros de obra de médio e grande porte situados nas três maiores cidades da região do
Cariri, no Sul do Ceará: Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, referenciadas neste trabalho
pela denominação de “Triângulo CRAJUBAR”.

Neste sentido, torna-se imprescindível o conhecimento e aplicação da NR 18,


por parte dos órgãos fiscalizadores, empregados e empregadores, cuja finalidade é
estabelecer diretrizes de ordem administrativa, de planejamento e de organização, que
objetivam a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança
nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na Indústria da Construção.

Neste Trabalho são discutidos os resultados desta avaliação, centrando a análise


nas exigências da NR-18 identificadas como menos cumpridas. Os resultados demonstram
que ainda é elevado o nível de não conformidade com a norma.

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2.0 ESTUDO DE CASO

2.1 Considerações Iniciais:

Até o início do século XVIII não havia preocupação com a saúde do trabalhador.
Com o advento da Revolução Industrial e de novos processos industriais a modernização
das máquinas começou a surgir doenças ou acidentes decorrentes do trabalho.

O fato é que, com os progressos da técnica, o desenvolvimento da máquina e a


periculosidade de certos trabalhos, os acidentes ocorriam com mais freqüência sem que
medidas preventivas se fizessem observar. Acrescentem-se ainda as enfermidades causadas
pelo uso de certas substâncias inerentes ao processo fabril ou componente da matéria-
prima, que afetavam a saúde do trabalhador.

Eduardo Gabriel Saad, falando a respeito da teoria do risco profissional diz:

“O acidente é mais uma conseqüência do próprio trabalho. O lucro do empresário


está ligado ao risco. Cabe-lhe indenizar o trabalhador acidentado, porque se trata de um
risco de seu negócio. Não se quer saber se houve culpa ou não do empregado. Essa teoria
esta na origem da primeira lei sobre acidentes do trabalho que foi idealizada na Alemanha
em 1884, seguida pela Áustria em 1887 e pela Noruega em 1894.” (SAAD: 1973 p.46).

Os efeitos dos acidentes de trabalho geralmente são visíveis, o trabalhador pode se


machucar ou até morrer, mas as doenças relacionadas com o trabalho nem sempre são
aparentes, elas podem durar horas, dias e até anos para se desenvolverem.

Para se ter uma idéia do drama que sofre o trabalhador brasileiro, pode-se recorrer
às estatísticas oficiais sobre o assunto, embora esses dados sejam bastante contestados no
que diz respeito à sua fidedignidade. Nessas estatísticas apenas constam os casos
legalmente reconhecidos (acidentes com vítimas), os acidentes urbanos (não mostram os
ocorridos em áreas rurais) e os acidentes registrados (notificados pelo INSS).

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Na modalidade “mortos por acidentes de trabalho” o Brasil é imbatível. Dados da
OIT (Organização Internacional do Trabalho) mostram que só para o ano de 1990
morreram no Brasil 5.355 trabalhadores no horário de expediente, quase o dobro do
número de mortos nos Estados Unidos, país em que o contingente de mão de obra é duas
vezes maior, conforme gráfico da figura 1 abaixo.

Falar em segurança do Trabalho é falar de vários aspectos da vida do trabalhador, é


falar de muito mais do que um adicional de insalubridade ou do tratamento de uma doença
depois que ela já se manifestou. Depois já é tarde demais, pois a qualidade de vida do
trabalhador já foi prejudicada. Cada trabalhador tem o direito de conhecer os riscos
presentes no trabalho e seus efeitos à saúde. Devem-se saber como estes efeitos podem
manifestar-se. Prevenir exposição aos riscos é a mesma coisa que prevenir efeitos danosos
à saúde em longo prazo.

O processo de corrigir as condições de trabalho que apresentam riscos à saúde do


trabalhador não é fácil. Pelo contrário, às vezes torna-se muito complicado. A Engenharia
de Segurança do Trabalho reúne um conjunto de técnicas e métodos inerentes às diversas

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habilitações da engenharia, que possibilitam o reconhecimento, a avaliação e o controle das
fontes de riscos de acidentes do trabalho.

Na Construção de edificações por suas peculiaridades próprias, entre as quais a


variabilidade do produto, a reduzida mecanização, o uso intensivo de mão de obra e
elevada rotatividade, existe uma forte relação entre a produtividade e qualidade dos
processos e a motivação e habilidade do operário. Por esta razão, as ações voltadas para a
melhoria das condições do trabalho, valorização do trabalhador e engajamento do mesmo
nas metas da organização têm uma importância fundamental para a melhoria do
desempenho do setor.

Dentro deste campo, uma área que merece atenção especial é a obra. Sabe-se que
grande parte dos operários de obras não possui nenhum curso de formação profissional.
Em recente pesquisa em Fortaleza, uma empresa de consultoria - NEOLABOR encontrou
que 30 % dos serventes são analfabetos e 35 % semi-analfabetos. Investir em treinamento
para estes profissionais é fundamental quando a preocupação é aumentar a produtividade e
melhorar a. qualidade (não apenas de produtos, mas também a qualidade de vida dos
trabalhadores nos canteiros de obras). Outra dificuldade observada é a que se refere a este
setor em modernizar-se não só tecnologicamente, mas na melhoria das relações capital x
trabalho.

A busca da qualidade total na construção civil, especialmente direcionada aos


canteiros de obra, está intimamente interligada à segurança no trabalho. Uma política de
higiene e segurança na empresa é de vital importância, pois vincula menos riscos e maior
proteção ao operário, uma crescente produtividade e, por fim, um caminho mais rápido e
fácil para se atingir a qualidade total. A inexistência de critério de seleção e contratação de
pessoal, indefinição de responsabilidades, falta de programa de treinamento e más
condições de trabalho são elementos que afetam o ambiente e prejudicam sobremaneira a
implementação dos programas de qualidade.

Com o intuito de se mostrar uma versão real da situação da construção civil local,
realizaram-se um levantamento nos canteiros de obra do Cariri, desde a parte de máquinas,

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equipamentos de proteção individual e coletiva e procedimentos visíveis em uma obra,
estendendo-se até a forma mais eficaz de compatibilizar a Higiene e Segurança no
Trabalho, para uma conseqüente produção com qualidade. A Figura 2 abaixo ilustra muito
bem a preocupação que as empresas devem ter com a segurança do trabalhador.

Figura 2– Campanha de Segurança de uma empresa visitada

20
2.2 Histórico:

Do homem primitivo, habitante das cavernas, ao homem da sociedade moderna,


tem variado muito o tipo de comportamento na prevenção de acidentes. As atitudes de cada
povo diante da ocorrência do acidente apresentam traços peculiares aos seus diversos
estágios culturais e econômicos.

No Brasil o primeiro passo para a implantação da Segurança no Trabalho se deu na


Constituição de 1934, quando estabeleceu como direito do trabalhador, a assistência
médica e sanitária (Art. 121, § 10). No segundo momento, tratava a Constituição de 1937,
como norma que a legislação do trabalho deveria observar, da assistência médica e
higiênica a ser dada ao trabalhador (Art. 137).

A Constituição de 1946, no inciso VII do artigo 157, mencionava que os


trabalhadores teriam direito à Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho. A Lei N.º.161,
de 1966, criou a Fundação Centro Nacional de Segurança, Higiene e Medicina do
Trabalho.

A Constituição de 1967 reconheceu, também o direito dos trabalhadores à


higiene e segurança no trabalho (Art. 158, IX). A Emenda Constitucional N.ºde 1969,
repetiu a mesma disposição (Art. 165, IX).

Os artigos 154 a 201 da CLT tiveram nova redação determinada pela Lei
N.º.514, de 22 de dezembro de 1977, passando a tratar da segurança e medicina do trabalho
e não de higiene e medicina no trabalho. A Portaria N.º.214, de 8 de junho de 1978, veio a
considerar as atividades insalubres e perigosas ao trabalhador.

A Constituição de 1988 modificou a orientação das normas constitucional


anteriores, especificando que o trabalho, teria direito a “redução dos riscos inerentes ao
trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança” (Art. 70, XXII)

21
2.3 Normalização em Segurança do Trabalho no Brasil

A segurança do trabalho é uma conquista relativamente recente da sociedade,


pois ela só começou a se desenvolver modernamente, ou como é entendida hoje, no
período entre as duas grandes guerras mundiais (CRUZ, 1996). Na América do Norte, a
legislação sobre segurança só foi introduzida em 1908, sendo que só a partir dos anos 70
ela se tornou uma prática comum para todos os integrantes do setor produtivo, já que antes
disso ela só era foco de especialistas, governo e grandes corporações (MARTEL E
MOSELHI, 1988).

No Brasil, as leis que começaram a abordar a questão da segurança no trabalho


só surgiram no início dos anos 40. Segundo LIMA JR. (1995), o qual fez um levantamento
desta evolução, o assunto só foi melhor discutido em 1943 a partir do Capítulo V do Título
II da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). A primeira grande reformulação deste
assunto no país só ocorreu em 1967, quando se destacou a necessidade de organização das
empresas com a criação do SESMT (Serviços Especializados em Engenharia de Segurança
e em Medicina do Trabalho).

O grande salto qualitativo da legislação brasileira em segurança do trabalho


ocorreu em 1978 com a introdução das vinte e oito normas regulamentadora (NR) do
Ministério do Trabalho.

Ainda que todas as NR sejam aplicáveis à construção, destaca-se entre elas a


NR-18, visto que é a única específica para o setor. Além das NR, a segurança do trabalho
na construção também é abordada em algumas normas da ABNT, tais como a NBR 5410
(Instalações Elétricas de Baixa Tensão) e a NB-56 (Segurança nos Andaimes).

A primeira modificação da NR-18 se deu em 1983, tornando-a mais ampla. A


última grande reformulação ocorreu em 1995, quando a norma sofreu uma grande
evolução qualitativa, destacando-se principalmente, a sua elaboração no formato tripartite.
Ao caráter tripartite somou-se a decisão de que todos as exigências fossem aprovadas de
forma consensual, resolvendo-se, através de concessões das partes, eventuais impasses.

22
Este esforço foi despendido com o objetivo de desenvolver uma legislação democrática e
com isto aumentar a aceitabilidade da norma por todos os envolvidos na sua implantação.

Entretanto, apesar da nova NR-18 ter sido elaborada e aprovada através destes
mecanismos, nota-se, conforme apresentado neste estudo, a sua freqüente falta de
cumprimento e a persistência de altos índices de acidentes de trabalho (COSTELLA,
1999).

LIMA JR. (1995) lista uma série de novidades no novo texto da NR-18, entre as
quais se podem destacar as seguintes, em termos de avanços para a melhoria das condições
de segurança e saúde do trabalhador:

a) A introdução do PCMAT (Programa de Condições e Meio Ambiente de


Trabalho na Indústria da Construção), visando formalizar as medidas de
segurança que devem ser implantadas no canteiro de obras;

b) A criação dos CPN (Comitê Permanente Nacional) e CPR (Comitê Permanente


Regional), com o intuito de avaliar e alterar a norma. A composição destes
comitês é feita através de grupos tripartite e paritários;

c) Os RTP (Regulamentos Técnicos de Procedimentos), que tem o objetivo de


mostrar meios de como alguns itens da NR-18 podem ser implantados. Estes
procedimentos não são de cumprimento obrigatório, podendo ser encarados
como sugestões;

d) Estabelecimento de parâmetros mínimos para as áreas de vivência (refeitórios,


vestiários, alojamentos, instalações sanitárias, cozinhas, lavanderias e áreas de
lazer), a fim de que sejam garantidas condições mínimas de higiene e segurança
nesses locais;

e) Exigência de treinamento em segurança, admissional e periódico;

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f) Desde 07/07/99 é obrigatória a instalação de elevador de passageiros em obras
com doze ou mais pavimentos, ou obras com oito ou mais pavimentos cujo
canteiro possua pelo menos trinta trabalhadores.

2.4 Perfil Sócio Econômico da Região do Cariri:

2.4.1 - Características Gerais do Pólo Cariri Cearense

A região do Cariri abrange 33 municípios encravados ao longo da fronteira com


Pernambuco, até os limites do Piauí e da Paraíba, pelo prolongamento da Chapada do
Araripe. Compreende os seguintes municípios, distribuídos em cinco (05) micros regiões:

a) Sertão do Salgado: Baixio, Cedro, Ipaumirim, Lavras da Mangabeira e


Umari;

b) Serra de Caririaçu: Altaneira, Antonina do Norte, Assaré, Caririaçu, Farias


Brito, Grangeiro, Tarrafas e Várzea Alegre;

c) Sertão do Cariri: Abaiara, Aurora, Barro, Brejo Santo, Jati, Mauriti, Milagres,
Penaforte e Porteiras;

d) Chapada do Araripe: Araripe, Campos Sales, Nova Olinda, Potengi, Salitre e.


Santana do Cariri;

e) Cariri: Barbalha, Crato, Jardim, Juazeiro do Norte e Missão Velha.

O Cariri detém considerável potencial natural de recursos hídricos, minerais, de


clima e solo que favorece tanto a agricultura diversificada como implantação de
agroindústrias. Nesse contexto, a região tem agroindústrias de derivados da cana-de-açúcar
como aguardente, açúcar e rapadura; agroindústrias algodoeiras e produtos derivados do
couro.

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O pólo apresenta áreas de irrigação com produção de frutícolas (banana, mamão,
manga, uva, pinha, acerola, graviola, coco e outras), olerícolas e grãos. Há também
atividades de metalurgia, ourivesaria, agropecuária orgânica, avicultura e ovino-caprino-
cultura.

No Pólo existe um aeroporto regional com vôos diários, além de infra-estrutura de


transporte coletivo e de carga ligando todas as cidades com estradas asfaltadas, boa
diversidade de agências bancárias, rede telefônica em processo de expansão, emissoras de
rádio e televisão e rede de hospitais.

2.4.2 - Demografia

No território cearense, a distribuição da população mostra uma concentração de


45,92% das pessoas residindo em pequenos municípios de até 50 mil habitantes, que são
também maioria no quantitativo de municípios (88,6%) do total. A população que reside
em municípios de tamanho médio (de 50 a 250 mil hab.) é de 1,7 milhões, representando
25% do total. Dentre estes, destacam-se dois principais centros de desenvolvimento: a
região Norte do Estado que abrange a cidade de Sobral e a conurbação localizada na região
do Cariri, mais especificamente no Triângulo Crajubar e formada pela cidade de Juazeiro
do Norte, Crato e Barbalha.

A contagem populacional realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE), em 2000, indicou população de 847.283 habitantes no Cariri,
correspondendo a 12,40% do total do Estado. A população da região apresenta certa
concentração nas cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, que totalizavam 328.240
habitantes, em 1996, representando 65,52% do total do Cariri. Juazeiro do Norte, com
212,13 mil habitantes, é o município interiorano mais populoso do Estado e um dos
maiores, em termos populacionais, entre todos os municípios do Nordeste, excetuando-se
as capitais.

O Triângulo Crajubar vem demonstrando um notável crescimento e


desenvolvimento econômico nos últimos anos. A população dos municípios de Juazeiro do
Norte (212.133 habitantes), Crato (104.646 habitantes) e Barbalha (47.031 habitantes),

25
objeto deste estudo, totaliza mais de 350.000 habitantes, de acordo com o censo realizado
no ano de 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, representando
algo em torno de 5% da população total do Estado do Ceará que é de 7.417.402 habitantes.

De acordo com os dados do IBGE no que se refere à população residente por


grupo de idade da região do Cariri, 28,55% da população encontra-se na faixa etária entre
25 a 49 anos, o que representa a fatia mais significativa da população que ocupa um posto
de trabalho. Este percentual é bastante expressivo e dá suporte a estudos mais detalhados
em relação ao segmento produtivo que esta população ocupa. Assim como no resto do
País, dentre as atividades do setor privado, a construção civil é ainda a que mais emprega.

A região denominada de Triângulo Crajubar que é composta pelos municípios de


Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, possui grande atratividade, fazendo com que pessoas
de diversos outros Estados e até mesmo de outros países deixem suas origens e desloquem-
se para a região, atraídas pela religiosidade, pelas belezas naturais, pela tranqüilidade e
pela possibilidade de desenvolvimento econômico.

Outro fator que tem tornado a região mais populosa é a criação de um pólo
universitário, aquecido pela implantação recente de vários cursos por parte da
Universidade Regional do Cariri – URCA, da Universidade Vale do Acaraú – UVA, da
Universidade Federal do Ceará – UFC, do Centro Federal de Tecnologia - CEFET e de
outras universidades particulares como é o caso da Faculdade de Ciências Aplicadas Dr.
Leão Sampaio, da Faculdade de Medicina de Juazeiro – FMJ, da Faculdade de Juazeiro do
Norte – FJN e da Faculdade Paraíso.

2.4.3 - Aspectos Econômicos

O Cariri tem como eixo central o aglomerado urbano formado pelas cidades
vicinais de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, que ficam a uma distância média de
aproximadamente 700 km das capitais nordestinas. A posição estratégica da região a
transforma num importante pólo comercial do Nordeste, com fácil acesso a um mercado de

26
mais de 40 milhões de consumidores. A distância de Juazeiro do Norte para as capitais
nordestinas está apresentada na quadro 1 abaixo:

Quadro 1 – Distância de Juazeiro do Norte às principais capitais nordestinas

CAPITAL DISTÂNCIA (km)


Aracaju 702
Fortaleza 528
João Pessoa 631
Maceió 757
Natal 648
Recife 658
Salvador 866
São Luís 1.029
Teresina 593

27
Figura 3: LOCALIZAÇÃO DO PÓLO CARIRI CEARENSE NO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO

Fonte: PDI do Cefet-CE.

A soma do produto gerado pelos municípios de Juazeiro do Norte (R$ 500,2


milhões), Crato (R$ 226,8 milhões) e Barbalha (R$ 73,4 milhões) chegou, em 1996, da
ordem de R$ 800,4 milhões, correspondendo a 79,72% do total do Pólo. Como esses
municípios detinham cerca de 65,52 % da população do Pólo, constata-se uma
concentração de renda nos três municípios citados. Aliás, esse fenômeno também se repete
para outras regiões do Ceará e até com maior intensidade, como é o caso da Região
Metropolitana de Fortaleza, que detém 63,9% da renda e representa 37,9% da população.

O PIB (Produto Interno Bruto) das três cidades que compõem o triângulo
Crajubar corresponde a 29,30% do valor do PIB Estadual, representando a Segunda maior
concentração depois da capital do Estado (Fortaleza). Segundo os dados do IPLANCE
(Fundação Instituto de Pesquisa e Informação), a região possuía um PIB per capita de R$

28
2.225,62 (Dois mil, duzentos e vinte e cinco reais e sessenta e dois centavos) em 1996,
caracterizando a região como um bom pólo de investimento não somente no estado do
Ceará, mas também em todo o País.

Quadro 2 – PIB do triângulo Crajubar - 1996

DISCRIMINAÇÃO VALOR R$ % SOBRE PIB


ESTADUAL
PIB total (R$ milhão) 785,39 29,30
PIB per capita (R$ 1,00) 2.225,62 -
Fonte: IBGE - IPLANCE

2.4.4 - Setor Produtivo

Nas últimas décadas o Estado do Ceará desenvolveu e incentivou programas e


ações que visam principalmente o crescimento da indústria de mão-de-obra intensiva, de
capital e de inteligências. Tais iniciativas objetivam a geração de empregos e interiorização
da indústria.

A interiorização da indústria deve-se aos incentivos para a instalação de novas


empresas que são estimuladas por programas ou benefícios fiscais (redução da carga
tributária) proposta pelo governo.

Tanto a interiorização quanto a inserção na economia globalizada tende a favorecer


o crescimento da indústria no Estado do Ceará, já que, observa-se o uso tecnológico dessas
indústrias compatíveis com os requisitos para exportação.

Segundo informações da Secretaria da Fazenda do Estado, em 1996, existiam no


Pólo Cariri Cearense 868 estabelecimentos, correspondendo a 7,8% do total estadual.
Quase metade dessas indústrias encontra-se em Juazeiro do Norte, onde se reúne o maior
parque industrial da região. Por outro lado, o consumo industrial de energia elétrica,

29
indicador que reflete com razoável aproximação o nível de produção industrial alcançou,
em1997, 41.835 Mwh, ou 3,0% do total estadual.

Quanto ao turismo, o Cariri possui reconhecido acervo paisagístico, combinado


com o clima agradável de uma região serrana. Como opções turísticas podem ser citadas os
balneários de Caldas em Barbalha, com suas águas detentoras de propriedades medicinais
(sais minerais), os de Granjeiro, Cascata, Serrano e Nascente, no Crato e mais
recentemente, o Arajara Park em Barbalha. A serra do Araripe abriga um dos mais ricos
sítios arqueológicos do País, o qual, em virtude da falta de recursos públicos e do pouco
interesse da iniciativa privada por projetos culturais e científicos, não foi ainda
devidamente divulgado e explorado pela comunidade científica nacional e local. Ademais,
a região é rica em trabalhos artesanais. Artigos em cipó, fibra, palha, tecelagem, metal e
ourivesaria, dentre outros, são bastante procurados pelos visitantes. Porém, o ponto de
maior atração turística da região encontra-se em Juazeiro do Norte. Trata-se da Serra do
Horto, que, além de oferecer uma vista panorâmica de todo o vale caririense, abriga a
estátua do Padre Cícero, que atrai devotos de várias procedências.

30
2.5 Objeto em estudo:

Para execução deste trabalho foram coletados e analisados dados para avaliar o
grau de cumprimento da NR 18, tarefa esta que foi feita através da aplicação de uma lista
de verificação (anexo I) em 15 (quinze) canteiros de obras existentes nas três (03) cidades
que compõem o Triângulo Crajubar. Neste contexto, o presente trabalho relata os
procedimentos utilizados para realizar esta avaliação, assim como a análise de seus
resultados.

2.6 Metodologia Aplicada:

No intuito de alcançar seus objetivos este trabalho fez uso dos seguintes
instrumentos de pesquisa:

a) Uma lista de verificação;


b) Formulário de entrevista a operários;
c) Formulário de entrevista a empresários;
d) Formulário de entrevista a fiscais do trabalho.

Com a lista de verificação, procurou-se verificar o cumprimento de todos os


itens da NR-18. Considerando os objetivos da pesquisa e a significada extensão da norma,
excluiu-se da lista alguns tópicos da mesma, tendo sido adotados os seguintes critérios para
definir os elementos selecionados:

a) Abordar as exigências da norma que sejam passíveis de verificação visual no


canteiro em uma única visita. Deste forma, não foram incluídas aquelas exigências de
difícil comprovação, como por exemplo, os itens 18.2 (Comunicação Prévia) e 18.28
(Treinamento);

31
b) Selecionar exigências relacionadas ao mesmo não aplicáveis a este subsetor,
tais como os itens 18.19 (Serviços em Flutuantes) e 18.25 (Transporte de Trabalhadores
em Veículo Automotores);

c) Excluir exigências relacionadas à tecnologia construtivas pouco utilizadas,


quando comparadas à tecnologia tradicional, ou seja, estruturas de concreto armado com
vedação em alvenaria. Este critério levou a exclusão do item 18.10 (Estruturas Metálicas).

A aplicação deste critérios de seleção em trinta e um (31) grandes elementos da


Norma a serem abordados na lista, os quais por sua vez foram divididos em diversos itens,
representado as exigências da NR-18 para cada elemento da norma analisado. A redação
das exigências e a configuração física da lista utilizaram os procedimentos adotados por
SAURIN (1997), fazendo com que as respostas assinaladas com a opção “sim”,
representassem os aspectos positivos, no caso o cumprimento da norma, as respostas
assinaladas com “não”, representassem os aspectos negativos, enquanto que as respostas
“não se aplica” indicavam exigências que não eram necessárias no canteiro, seja devido à
tipologia da obra ou a fase de execução no dia da visita. O quadro 3 apresenta um trecho da
lista de verificação, mostrando algumas exigências da NR-18 para o elemento Tapume.

Quadro 3. Exemplo de configuração e requisitos da lista de verificação aplicada.

A) TAPUMES Caso não existam tapumes,


marque “não” para todos os itens. sim não não se

plica
A.(1) Há tapumes construídos e fixados de
forma resistente.
A.(2) Os tapumes têm altura mínima de
2,20m.
A.(3) Caso exista risco de queda de
materiais nas edificações vizinhas, estas são protegidas.

Fonte: Lean Construction: Diretrizes e ferramentas para o controle de perdas na construção civil.

32
É importante salientar o caráter auto-explicativo da lista, atitude tomada a fim de
facilitar sua aplicação. A primeira página da lista dedica-se somente a dar orientações
quanto ao seu preenchimento, enquanto que nas demais páginas foram inseridas diversas
observações a fim de facilitar ao máximo a sua aplicação, mesmo por pessoas sem grande
vivência em canteiro de obras e sem grande conhecimento de NR-18. A validade desta
iniciativa ficou comprovada, visto que a maior parte das listas foi aplicada por estagiários
das Universidades participantes da pesquisa, sem a ocorrência de maiores problemas.

Já os formulários utilizados nas entrevistas, tiveram como meta verificar a


percepção dos operários, empresários e fiscais do trabalho quanto ao cumprimento da
referida Norma.

A primeira fase da pesquisa constituiu-se na aplicação da lista de verificação em


15 (quinze) canteiros de obras de edificações residenciais e/ou comerciais situadas nas três
cidades que formam o triângulo Crajubar.

Na Segunda fase da pesquisa foram aplicados os formulários junto aos operários,


empresários e fiscais do trabalho. Os dados coletados foram tabulados, resultando em um
pequeno relatório onde se evidenciou a percepção dos entrevistados, quanto ao
cumprimento da NR-18.

2.7 Método de Coleta dos Dados:

A pesquisa seguiu as técnicas de coleta de dados propostas por Lima (1995).


Constituiu-se através da aplicação da lista de verificação com os operários, empresários e
fiscais do trabalho.

As entrevistas foram individuais. Utilizou-se de uma forma não estruturada de


entrevista que consistia num roteiro básico de tópicos, sem perguntas prefixadas, somente
para orientação do entrevistador que possuía a incumbência de formular e acrescentar
perguntas e/ou aprofundar aspectos que julgasse importante face às respostas anteriores,

33
com liberdade quanto à maneira e linguagem utilizada para compor as questões. Optou-se
por essa técnica, entre outros motivos, pelo baixo nível de escolaridade dos operários e por
permitir maior elasticidade na duração, possibilitando um enfoque mais profundo do
assunto e a captação da expressão do entrevistado, fator importante para a classificação da
resposta.

As entrevistas foram realizadas em local isolado, procurando preservar a


privacidade das respostas. Buscou-se, também, esclarecer adequadamente sobre os
objetivos da pesquisa, destacando a importância que teria a participação do entrevistado,
dando-lhe a certeza do anonimato.

2.7.1. Lista de verificação:

Antes de se iniciar a aplicação da lista nos diversos canteiros, se teve o cuidado


de determinar o perfil das empresas envolvidas no estudo adotando-se os seguintes
critérios de seleção:

a) Buscou-se empresas que estivessem envolvidas com a implantação de


melhorias através de programas de qualidade total;

b) Procurou-se empresas cujas obras estivessem em fases nas quais o risco de


acidentes é maior, como as fases de estrutura e revestimento externo, evitando-se assim,
obras com reduzido grau de risco, tais como as que estão na fase de acabamentos;

c) A fim de que o perfil de uma empresa não predomine sobre o restante,


resolveu-se estabelecer o limite de três obras por empresa.

A aplicação da lista de verificação teve a duração média de duas horas por obra.
As duas variáveis que tornavam este tempo maior ou menor eram o porte da obra e a
experiência no uso da lista. Nas obras maiores e nas primeiras visitas o tempo de aplicação
comumente superava duas horas.

34
Durante as visitas aos canteiros também foram documentados, através de registro
fotográfico, exemplos de boas práticas em segurança do trabalho. Estas boas práticas foram
organizadas em um banco de dados para que sejam disponibilizadas às empresas, estejam
elas envolvidas ou não no levantamento de dados.

2.7.2. Entrevistas:

As principais constatações quanto ao cumprimento da NR-18, oriundas das


entrevistas, foram as seguintes:

2.7.2.1. Operários:

a) A maioria não sabe o que significa uma CIPA, mesmo os que já participaram
como componentes de uma;

b) Os engenheiros e mestres não dão o devido valor à CIPA e muitas de suas


reuniões só acontecem nas atas, ou seja, não acontecem de verdade;

c) A existência de placas de segurança ajudaria bastante na prevenção de


acidentes, pois lembrariam aos operários as suas obrigações e o perigo de
ocorrência de acidentes por falta de atenção ou não uso de EPI;

d) Os operários devem trabalhar com cuidado, atentos, e entendem como


acidente de trabalho aquele acidente que acontece com um operário na obra;

e) Apontam como causa dos acidentes a falta de manutenção dos equipamentos


e a falta de atenção dos próprios operários;

f) Os riscos de acidentes na construção são idênticos aos apresentados em


outros setores, pois os acidentes acontecem em qualquer lugar;

35
2.7.2.2. Empresários

a) Todos afirmam conhecer a NR-18, de forma completa ou parcial, e suas


dúvidas dizem respeito à interpretação;

b) Alguns itens da NR-18 têm interpretação diferenciada pelos fiscais e


engenheiros de obras, o que dificulta, em alguns casos, a implantação de
medidas pertinentes;

c) Não têm uma opinião unânime quanto à afirmação de que a aplicação da


NR-18 implica na redução ou eliminação dos acidentes: 40% acredita que
os acidentes seriam eliminados, 50% afirma que apenas haveria uma redução
dos acidentes e 10% diz que não haveria nem redução nem eliminação dos
acidentes;

d) Todos consideram bastante elevado o grau de risco das atividades do setor da


construção e afirmam não existir uma conscientização a este respeito;

e) Α maioria dos empresário afirma que procuram aplicar apenas as disposições


da norma que são exigidas pela fiscalização. A preocupação restringe-se
apenas a fugir das penalidades;

f) São unânimes em afirmar que investir em segurança é um custo, pelo menos


em curto prazo;

g) Orientam seus engenheiros e mestres para que procurem conscientizar seus


operários, com o intuito de garantir a segurança dos operários envolvidos nas
diferentes etapas da obra, quanto aos riscos e as medidas preventivas que
devem ser utilizadas;

36
h) As etapas construtivas que necessitam de maiores cuidados, quanto à
segurança, são: estrutura (40%) e revestimento externo (60%);

i) Os investimentos mais recentes realizados pelas empresas restringem-se ao


melhoramento das áreas de vivência e à distribuição do fardamento;

j) A utilização de medidas como colocação de bandejas, cancelas nos


elevadores, sistemas de guarda-corpo nas periferias dos pavimentos e poços
de elevadores e a distribuição de EPI, é considerada como um fato comum
que já se incorporou à rotina das empresas pesquisadas;

k) A atuação da fiscalização (DRT) é de fundamental importância para a


implantação de medidas preventivas de segurança e que a mesma tem agido
mais como um órgão de orientação do que como um órgão de punição;

l) Existe incoerência de fiscalização em certos casos e que os critérios adotados


pela fiscalização não são uniformes, com também existe grande diferença de
procedimentos quanto ao porte das empresas fiscalizadas.

2.7.2.3.Fiscalização (DRT)

a) É priorizada, durante as visitas às obras, a verificação de situações de grave e


iminente risco, que podem levar à determinação de interdições e embargos,
dependendo da gravidade da situação encontrada;

b) Não existe um roteiro ou lista de verificação que determine a seqüência a ser


adotada pela fiscalização. A seqüência depende do tipo da obra e da situação
encontrada;

c) É dada maior atenção, nas visitas aos canteiros, a situações que possam levar
o trabalhador a um acidente, como por exemplo, a falta de proteção coletiva, riscos de
choques elétricos, falta de dispositivos de segurança em máquinas e equipamentos.

37
Entretanto, isso não implica que as questões de higiene e saúde do trabalhador não
sejam avaliadas;

d) A fiscalização não se detém apenas na fiscalização do cumprimento da NR-


18, nas suas inspeções, verifica, também, o cumprimento de outras Nrs, como por
exemplo, NR-5, NR-7, NR-9, NR-10 e NR-24;

e) Os argumentos para o não cumprimento dos itens da NR-18 são, na sua grande
maioria, econômicos, apesar de algumas poucas empresas afirmarem desconhecimento da
NR-18;

f) As maiores dificuldades enfrentadas nos canteiros, no que diz respeito às


instalações de segurança, estão relacionadas com a tecnologia e a resistência dos
empresários, pois estes não se dispõem a investir em treinamentos para os seus operários;

g) Α fiscalização é unânime em afirmar que as empresas não adotam precauções


que se sobressaiam, limitam-se apenas a executar as medidas exigidas pela fiscalização;

h) A NR-18 trouxe inovações na sua nova redação (1995), além de ser a única que
prevê um processo de aperfeiçoamento permanente, através dos CPR e CPN;

i) Indica como itens que devem ser revistos: a obrigatoriedade do PCMAT,


permissão de transporte de materiais em elevador de passageiros e a obrigatoriedade do
elevador de passageiros.

38
2.7.3. Amostragem:

A amostra foi constituída de 15 (quinze) operários, 03 (três) fiscais do Trabalho e


150 operários (pedreiros, carpinteiros, ajudantes, mestres, apontadores, etc.) empregados
em 15 (quinze) empresas que utilizavam processo tradicional de construção de edificações
no Triângulo Crajubar. As obras se encontravam em diferentes estágios de execução. O
quadro 4 ilustra a distribuição dos entrevistados por cidade.

Quadro 4 - Distribuição dos trabalhadores por cidade e profissão

Empresa Juazeiro do Crato Barbalha Total


Norte
1. Número de obras visitadas 08 04 03 15
2. Número de entrevistas 90 37 23 150
realizadas com operários
2.1 Servente ajudantes 55 20 10 85
2.2 Profissional (pedreiro,
carpinteiro, armador, eletricista, 25 11 08 44
bombeiro hidráulico).
2.3 Mestre, encarregado, 10 06 05 21
apontador.
3. Número de entrevistas
realizadas com Engenheiros 05 02 01 08
4. Número de entrevistas
realizadas com empresários 10 04 03 17
5. Número de entrevistas
realizadas com fiscais do 02 01 00 03
Trabalho

39
Procurou-se adotar os mesmos critérios para seleção dos entrevistados utilizados
pelo Lima (1995) em sua tese de doutorado de forma que os resultados possam ser
comparados. Os critérios são:

- Como se trata de obras de pequeno porte, procurou-se entrevistar todos os que estavam
em atividade no momento da realização da pesquisa;

- A seleção dos entrevistados foi aleatória, observando a proporção entre as especialidades,


sendo que, em todos as obras o mestre e o almoxarife foram obrigatoriamente incluídos.

40
2.7.4. Caracterização da Amostra:

2.7.4.1 Idade

O quadro 5 demonstra a distribuição dos trabalhadores por idade. Pode-se perceber


que a maioria dos operários, cerca de 70%, possui menos de 40 anos de idade. O que pode
ser explicado pelo fato do tipo de trabalho que é executado nas obras dependerem de
fatores como força física, equilíbrio, agilidade e elasticidade.

Quadro 5 - Distribuição dos trabalhadores por idade

Idade N° Percentual Perc. acumulado


Até 25 anos 36 24,0% 24,0%
Mais de 26 até 30 anos 31 20,7% 44,7%
Mais de 31 até 35 anos 25 16,7% 61,3%
Mais de 36 até 40 anos 16 10,7% 72,0%
Mais de 41 até 45 anos 18 12,0% 84,0%
Mais de 46 até 50 anos 7 4,7% 88,7%
Mais de 51 anos 17 11,3% 100,0%

2.7.4.2. Tempo de serviço na Construção Civil

Do total dos trabalhadores entrevistados 24% tinha até 2 anos de trabalho no


subsetor, 16,7% entre 2 e 5 anos, 24,7% entre 5 e 10 anos, 11,3% entre 10 e 15 anos, 9,3%
entre 15 e 20 anos e 14% possuía mais de 20 anos de experiência em construção civil. Os
dados demonstram que o tempo de experiência dos operários é relativamente elevado, pois
cerca de 60% dos entrevistados trabalhavam a mais de 5 anos na construção civil.

41
2.7.4.3. Tempo de Trabalho na Empresa

Pode-se perceber através do quadro 6 que 55,3% dos entrevistados possuíam menos
de um ano de trabalho na empresa o que demonstra o alto grau de rotatividade que
caracteriza o subsetor. A falta de uma política de recursos humanos voltada à permanência
dos operários na empresa juntamente com a utilização de mão de obra terceirizada são
fatores que ajudam a aumentar a rotatividade que, por sua vez, se mostra como um enorme
empecilho aos investimentos em treinamento e qualidade no subsetor.

Quadro 6 - Distribuição dos entrevistados por tempo de trabalho na empresa

Tempo de Trabalho na Empresa N° Percentual Perc. Acumulado


Até 3 meses 15 10,0% 10,0%
Mais de 3 meses até 6 meses 32 21,3% 31,3%
Mais de 6 meses até 12 meses 36 24,0% 55,3%
Mais de 1 até 2 anos 35 23,3% 78,7%
Mais de 2 até 5 anos 22 14,7% 93,3%
Mais de 5 até 10 anos 9 6,0% 99,3%
Mais de 10 anos 1 0,7% 100,0%

2.7.4.4. Origem

Os dados da pesquisa mostraram que 60 % dos entrevistados se originaram do local


(Triângulo Crajubar), 24 % da zona rural destas cidades, 10% de outras cidade do Ceará e
6 % eram provenientes de outros estados identificados como sendo Pernambuco e Paraíba.
Pode-se perceber o grande fluxo migratório do interior dos referidos estados e do próprio
Ceará para a região do Cariri. O deslocamento dessa população acaba por agravar ainda
mais os problemas sociais da região.

42
2.7.4.5. Razões de imigração

O quadro 7 demonstra que a falta de emprego, melhorar as condições de vida e


romaria, no caso específico da cidade de Juazeiro do Norte, devido á figura do Padre
Cícero, são os principais fatores que levam os operários a saírem de suas cidades natais. A
falta de uma política eficiente para fixar o homem nas zonas rurais faz com que famílias
inteiras migrem para os centros urbanos contribuindo para agravar os problemas já
existentes.

Quadro 7 - Distribuição dos entrevistados por razão de imigração

Razões de imigração N° Percentual


Procurar emprego 65 43,3%
Vêm para a Romaria e acabam 35 23,3%
ficando
Procurar escola 08 5,3%
Melhorar as condições de vida 25 16,7%
Acompanhar a família 12 8,0%
Outro motivo 05 3,4%

2.7.4.6. Ocupação na origem

Dentre os que já exerciam alguma profissão ao migrarem, a maior parte trabalhava


no campo, conforme os dados do quadro 8. Esse resultado comprova o acentuado êxodo
rural que há anos assola o Brasil e vem a comprovar a situação da construção civil como
absorvedora dessa população migrante.

43
Quadro 8 - Distribuição dos entrevistados por ocupação na origem

Ocupação na origem N° Percentual


Construção civil 25 16,7%
Na indústria 2 1,3%
No campo 88 58,7%
outro 35 23,3%

2.7.4.7. Razões para ingresso na Construção Civil

Das razões para ingresso na construção civil, destacam-se: por ser mais fácil de
conseguir emprego (72 %) e por falta de estudo (14,7%), conforme os dados do quadro 9
Esses dados são extremamente preocupantes, pois, para a maioria dos entrevistados, o
trabalho na construção de edificações é pouco exigente, não só em termos de escolaridade
básica como de formação profissional, o que cria uma dificuldade adicional na implantação
da filosofia da qualidade.

Quadro 9 - Razões para ingresso na construção civil

Razões para ingresso na const. civil N° Percentual


Por gostar 3 2%
Pelo salário melhor 3 2%
Mais fácil de conseguir emprego 108 72 %
Acompanhar parente 08 5,3 %
Por falta de estudo 22 14,7 %
Mais fácil aprender profissão 6 4%

44
2.7.4.8. Grau de instrução

Do total dos entrevistados 30 % eram analfabetos e dos que possuíam alguma


instrução, 47,3% estudaram somente até a quarta série do primário, além disso, somente 2
entrevistados possuíam segundo grau completo, conforme quadro 10. Esses dados
demonstram a precariedade da formação escolar dos trabalhadores e a importância da
construção civil como um dos únicos setores capazes de absorver essa imensa massa
populacional de baixa escolaridade.

Quadro 10 - Distribuição dos entrevistados por grau de instrução

Grau de instrução N° Percentual Perc. Acumulado


Analfabeto 45 30,0 % 30,0%
Até segunda série do primário 19 12,7% 42,7%
Até quarta do primário 71 47,3% 90,0%
Primeiro grau completo 12 8,0% 98,0%
Segundo grau incompleto 2 1,3% 99,3%
Segundo grau completo 1 0,7% 100,0%

2.7.4.9. Estado civil

Os resultados da pesquisa mostram que do total dos entrevistados 31,0% eram


solteiros, 12 % eram separados, 55% eram casados e somente 2% eram viúvos.

2.7.4.10. Prole

A média do número de filhos da amostra pesquisada é de 2,8 filhos por trabalhador,


porém, considerando somente os que tem filhos, essa média se eleva para 3 filhos por
trabalhador. Pode-se perceber certo nível de conscientização desses operários no que diz
respeito ao controle de natalidade, porém o salário de um operário não é suficiente para

45
sustentar dignamente uma família com cinco pessoas, tendo seus filhos que deixar a escola
desde cedo para trabalhar e complementar a renda da família.

2.7.4.11. Moradia

Nos dados alcançados temos que 16,7 % dos entrevistados moravam em casa
própria, 7% em casa emprestada, 70,3 % em casa alugada e 6 % moravam com parentes.
Muitos dos trabalhadores que possuem casa própria relataram que as mesmas foram
construídas por eles próprios com a ajuda de parentes e amigos (autoconstrução). Já os
operários que moravam em residências alugadas falaram da dificuldade por que passavam
uma vez que grande parte de seu salário é gasto diretamente com o pagamento do aluguel.

46
2.7.5. Tabulação dos Resultados:

Após a aplicação da lista de verificação, fez-se a tabulação dos dados e obteve-se


um perfil de cada canteiro. O procedimento para tabulação dos resultados da lista obedeceu
ao mesmo critério adotado por SAIRIN (1997), ou seja, atribuiu-se notas para os canteiros
verificando-se percentual de itens da norma que foram cumpridos em relação ao número de
itens exigidos, sendo este resultado transformado para uma escala que varia de zero a dez.
Deste modo, todos os itens marcados com “não se aplica” foram desconsiderados para fins
de atribuição de notas. Em seguida, cada empresa teve conhecimento do resultado da
pesquisa realizada em seu(s) canteiro(s). A reação dos empresários, diante dos resultados,
foi de surpresa, pois alguns acreditavam ter um melhor desempenho. Já outros pensavam
ter um pior desempenho. No entanto, todos afirmaram que os resultados encontrados e
repassados para as empresas contribuíram, de forma bastante positiva, para a melhoria das
ações relativas à segurança do trabalho em suas obras.

2.7.6. Análise dos Resultados:

Antes de se iniciar esta etapa do trabalho, imaginava-se que os canteiros de obras


eram poucos providos de instalações que garantissem condições de higiene, saúde e
segurança aos trabalhadores, mas ainda não se sabia precisar em grau. Após o termino do
mesmo, pode-se afirmar que, como previsto, o índice de cumprimento da NR-18 é
relativamente baixo.

É notório que as DRT, principal órgão de fiscalização do cumprimento de leis como


a NR-18, possuem padrão funcional aquém do que é necessário para desenvolver um
trabalho mais eficiente, e que esta situação agrava-se no interior do Estado, aonde a
estrutura de fiscalização, em muitos casos, chega a ser inexistente. Deste modo, a menor
atuação da fiscalização em cidades do interior pode justificar o pior desempenho dos
canteiros destas, quando comparados aos das capitais analisadas.

47
Embasando esta suposição, todos os grupos de entrevistados foram unânimes em
afirmar que a ação fiscalizadora tem papel determinante na atenção dispensada à segurança
e higiene nos canteiros, ou seja, quanto mais freqüente a fiscalização, mais medidas de
melhorias são tomadas.

Em decorrência da falta de infra-estrutura para fiscalizar todas as obras em


execução no Triângulo Crajubar, foi relatado nas entrevistas que a DRT foca sua ação nos
canteiros com maior número de trabalhadores, logo, nos quais supostamente há mais
pessoas expostas ao risco de acidentes. Entretanto, deve-se analisar a validade deste
procedimento, visto que um levantamento recente, COSTELLA (1999) mostrou que as
pequenas/micro empresas foram responsáveis por 85% dos acidentes na construção civil
do Rio Grande do Sul nos anos de 1996 e 1997. Pode somar-se a este argumento o fato de
que as grandes empresas têm maior capacidade para investir em segurança, se comparadas
às pequenas/micro empresas.

Outra linha de análise que pode ser feita diz respeito à tabulação de notas por
elemento da norma abordado na lista, ou seja, pode-se identificar quais são as exigências
da NR-18 mais e menos atendidas. Conforme já mencionado, a lista de verificação é
dividida em trinta e um (31) elementos, tornando inviável a apresentação de todos os
resultados neste trabalho, escolhendo-se, por este motivo, apresentar os seguintes
resultados:

a) Os elementos da norma mais freqüentes nas obras, visto que alguns eram
raros de serem encontrados, como as gruas e os alojamentos;
b) Os elementos mais problemáticos, ou seja, aqueles com as notas mais baixas;
c) Os elementos cuja falta de cumprimento às exigências implique em risco
iminente de acidentes.

O quadro 11 apresenta os elementos selecionados e as respectivas notas médias no


conjunto de canteiros. Para facilitar a análise eles estão divididos em três (03) grupos:

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a) área de vivência;
b) proteção contra quedas de altura;
c) serra circular e central de carpintaria.

Quadro 11. Notas dos elementos da NR-18 detectados como críticos.


Elementos da norma Nota
1. ÁREAS DE VIVÊNCIA
1.1 Fornecimento de água potável nos canteiros 5,0
1.2 Instalações sanitárias 4,2
1.3 Vestiário 3,5
2. PROTEÇÕES CONTRA QUEDAS DE ALTURA
2.1 Proteção contra quedas no perímetro dos pavimentos 0,5
2.2 Corrimãos das escadas permanentes 2,5
2.3 Plataforma de proteção 3,2
2.4 Escadas de mão, rampas e passarelas 4,2
3. SERRA CIRCULAR E CENTRAL DE CARPINTARIA
3.1 Serra circular e central de carpintaria 4,5

Pode-se notar que as áreas de vivência apesar de serem prioridades da fiscalização,


ainda têm um elevado grau de não conformidade, apresentando falta de cumprimento de
exigências bastante simples, tais como a colocação de suportes para depósito de papéis
usados junto ao vaso sanitário (nota 1,5), o que contribui para diminuir a motivação dos
trabalhadores e, por conseqüência, estimular comportamentos inseguros.

Quanto às proteções contra quedas de altura, observa-se a nota mais baixa de todo o
levantamento (0,5) no elemento proteção contra queda no perímetro dos pavimentos,
apesar de sua grande importância. A falta de proteção contra quedas nos canteiros de obras
do Cariri não se torna um fato novo, pois traduz a realidade dos canteiros de obras do
Brasil e está compatível com os resultados encontrados por COSTELLA (1999), o qual
identificou as quedas de altura com a primeira causa de acidentes graves nas obras.

49
Na serra circular o baixo cumprimento de suas exigências também é coerente com o
estudo do COSTELLA (1999), o qual apontou as serras em geral como sendo as
responsáveis por 6,6% dos agentes causadores de lesão em acidentes, as formas de madeira
ou metálicas responsáveis por 7,7% e as peças soltas de madeira por 8,1%. Exemplos de
requisitos relacionados às serras detectados como pouco cumpridos foram a falta de
aterramento da carcaça do motor (nota 2,5) e a falta de coletor de serragem (nota 1,8).

50
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

As mudanças ocorridas na sociedade nestes últimos anos refletem a percepção


das limitações do mundo, tanto em termos sociais como econômicos. Estas mudanças
refletem-se diretamente nas organizações, as quais sentem necessidade de proporcionar
rápidas modificações para acompanhar o surgimento dos novos paradigmas sociais. Com
esta finalidade surgiram nas últimas décadas diversas ferramentas destinadas a auxiliar as
organizações a suprirem suas necessidades de melhoria.

A indústria da Construção Civil apresenta um quadro ainda bastante deficiente


no desenvolvimento de sistemas formais de gerenciamento, além disto, as peculiaridades
de cada mercado regional tem como resultado diferente estágio de desenvolvimento destes
sistemas. Assim sendo, as empresas da Construção Civil têm ainda pouca experiência na
implementação dos Sistemas de Gestão de Qualidade e de Segurança e Saúde do Trabalho.
O quadro agrava-se mais quando se enfoca as pequenas e médias empresas. No Brasil,
estas apenas recentemente despertaram para a necessidade de implantação de Sistemas de
Gestão, sendo que estes ainda encontram-se só no âmbito da garantia da qualidade.

Pelo exposto anteriormente, percebe-se que os canteiros de obras do triângulo do


Crajubar encontram-se com uma média bem abaixo da média das principais capitais das
cidades nordestinas.

Pode-se constatar, também, que muitas das exigências da NR-18 não são
cumpridas por falta de planejamento da ação e conscientização da sua importância. Outra
constatação importante, diz respeito à falta de padrões de segurança nas empresas,
evidenciando que o grau de preocupação com as questões de segurança está relacionado
com a postura individual do engenheiro da obra e/ou do mestre de obras e não com uma
política de segurança da empresa.

51
O atendimento de todas as exigências da NR-18 certamente não implicará na
eliminação total das fatalidades, mas como se pode inferir a partir dos relacionamentos
feitos com outros estudos, esta atitude tem o potencial de reduzi-las consideravelmente.
Duas medidas são fundamentais para que os índices de conformidade à NR-18 aumentem,
conforme abordaremos a seguir.

A primeira é aumentar a freqüência, abrangência e atuação educativa por parte


da fiscalização da DRT. A segunda é a promoção, tanto da parte dos órgãos públicos,
quanto da parte de sindicatos de empresas e trabalhadores, de treinamentos visando uma
maior conscientização dos operários com a questão da segurança, visto que nestes dois
grupos o grau de desconhecimento ainda é muito alto.

No Brasil a falta de conhecimento sobre índices de acidentes e sobre os altos


custos que são agregados às empresas e ao Governo só tem contribuído para que a
construção civil mantenha-se no topo da lista de indústria causadoras de acidentes no país.

Para futuros trabalhos sugere-se que se faça um levantamento nas empresas da


Construção Civil do Cariri para verificar se há redução de acidentes nas empresas que
estão aplicando a NR-18 em seus canteiros de obras.

52
4. BIBLIOGRAFIA:

AQUINO, J. D. Considerações Críticas sobre a Metodologia de Obtenção e Coleta de


Dados de Acidentes do Trabalho no Brasil. Dissertação (Mestrado em Administração).
Universidade de São Paulo, 1996.

ARAÚJO, Nelma Mirian C. de. Custos de implantação do PCMAT em obras de edificações


verticais: um estudo de caso. 1998. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção).
Universidade Federal da Paraíba – UFPB, 1998.

COSTELLA, M.F. Análise dos acidentes do trabalho e doenças profissionais ocorridos na


atividade de construção civil no Rio Grande do Sul em 1996 e 1997. Porto Alegre, 1999. 150
p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil), Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
1999.

CRUZ, S. O ambiente do trabalho na construção civil: um estudo baseado na norma. Santa


Maria,
1996. Monografia (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho) - Programa de
Pós-
Graduação em Engenharia de Produção, UFSM, 1996.

DIAS, L.M. & FONSECA, M.S. Plano de Segurança e de Saúde na Construção. Instituto
de Desenvolvimento e Inspeção das Condições de Trabalho, Lisboa, Portugal, 1996.

MANUAIS DE LEGISLAÇÃO ATLAS. Segurança e medicina do trabalho. 42ª ed. São Paulo:
Atlas, 1999. 630 p.

MINISTÉRIO DO TRABALHO. Norma Regulamentadora N° 18 (NR-18) - Condições e


Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção. Brasília, 7 de julho de 1995.

MIRANDA JÚNIOR, Luís Carlos. Prevenção, o novo enfoque. Proteção. Novo Hamburgo.

MONTICUCO, D. Projetos e Atividades da Fundacentro na Área da Indústria da


Construção. In: Anais do Congresso Nacional sobre Condições e Meio Ambiente do
Trabalho na Indústria da Construção. Rio de Janeiro, dezembro de 1995. Fundacentro,
Brasília, 1996.

PINTO, V. G. O desafio persiste: as falhas e soluções para os acidentes do trabalho, na


área da Previdência Social. Proteção, p. 44-55, Setembro de 1995.

SAMPAIO, José Carlos de A. NR-18: manual de aplicação. São Paulo: PINI: Sinduscon-SP,
1998. 540p.

SAURIN, Tarcísio Abreu. Método para diagnóstico e diretrizes para planejamento de canteiros
de obra de edificações. Porto Alegre, 1997. Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Escola de
Engenharia, CPGEC/UFRGS, 1997.

53
SAURIN, Tarcísio Abreu, et al. Contribuições para a revisão da NR-18: Condições e Meio
Ambiente de Trabalho na Construção Civil. Porto Alegre: UFRGS, 2000. (Relatório de
Pesquisa).

SCARDOELLI, L.S. Iniciativas de melhorias voltadas à qualidade e à produtividade


desenvolvidas por empresas de construção de edificações. Porto Alegre, 1995. Dissertação
(Mestrado) – UFRGS. 148p.

SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA (SESI). Condições de Segurança do Trabalho em


Canteiros de Obra. Projeto SESI na Indústria da Construção Civil. In: Revista CIPA, n.°
177, 1994.

SILVA, M. Estudo de Acidentes do trabalho na Construção Civil. In: ENCONTRO


NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO 1995, Gramado, 1995.
Anais..., p. 133-138.

ZOCCHIO, A. Prática de Prevenção de Acidentes: ABC da Segurança de Trabalho. Atlas,


São Paulo, 1996.

54
5. ANEXOS:

5.1 – Modelo da Ficha de Verificação da aplicabilidade da NR-18 em canteiros de


obras que serviu como base para este trabalho;
5.2 - Relação dos canteiros visitados por cidade.
5.3 - Fotos dos canteiros visitados;

55
ANEXO I

A seguir encontram-se exemplos das questões contidas na lista de verificação do canteiro de obras, a lista
completa pode ser encontrada na publicação "Lean Construction: Diretrizes e ferramentas para o controle de perdas
na construção civil".

Não se
A) Instalações provisórias Sim Não
aplica
São utilizadas instalações móveis (containers)? ( )sim não ( )
Os tapumes são constituídos de material resistente e estão em bom estado
de conservação
Há possibilidade de entrada de caminhões no canteiro
A documentação técnica da obra está à vista e é de fácil localização
O almoxarifado está perto do ponto de descarga dos caminhões
B) Segurança na obra
Existem lâmpadas nos patamares das escadas (caso a alvenaria já esteja
concluída)
As escadas de mão ultrapassam em cerca de 1m o piso superior (NR-18)
Há fechamento provisório, com guarda-corpo e rodapé revestidos com
tela, de no mínimo 1,20 m de altura (NR-18).
Todas as aberturas nos pisos de lajes têm fechamento provisório resistente
Independente da função todo trabalhador está usando botinas e capacetes
C) Sistema de movimentação e armazenamento de materiais
Há caminhos previamente definidos para os principais fluxos de
materiais, próximo ao guincho, e nas áreas de produção de argamassa e
armazenamento.
O canteiro está limpo, sem caliça e sobras de madeira espalhadas, de
forma que não está prejudicada a segurança e circulação de materiais e
pessoas.
O guincho está na posição mais próxima possível do baricentro do
pavimento tipo
A argamassa é descarregada no local definitivo de armazenagem (não há
duplo manuseio)
O aço é protegido do contato com o solo, sendo colocado sobre pontaletes
de madeira e uma camada de brita.

56
ANEXO II

Relação dos canteiros visitados por cidade

ITEM CIDADE OBRA

CONSTRUÇÃO DE 150 CASAS


01 JUAZEIRO DO NORTE POPULARES NO BAIRRO FREI
DAMIÃO
CONSTRUÇÃO DE PRÉDIO
MULTIFAMILIAR NA AV. PADRE
02 JUAZEIRO DO NORTE CÍCERO, KM 03, POR TRÁS DO
CARIRI KART.
CONSTRUÇÃO DE PRÉDIO
MULTIFAMILIAR NA RUA JOSÉ
03 JUAZEIRO DO NORTE AGOSTINHO DE OLIVEIRA -
BAIRRO LAGOA SECA, EM
FRENTE À FACULDADE DE
MEDICINA.
CONSTRUÇÃO DE PRÉDIO
04 JUAZEIRO DO NORTE MULTIFAMILIAR NA RUA
AMANDA XAVIER DE OLIVEIRA
NO BAIRRO TRIÂNGULO - AO
LADO DO CENTEC CARIRI.
CONSTRUÇÃO DA UVC –
05 JUAZEIRO DO NORTE UNIDADE DE VIZINHANÇA DO
CARIRI – RUA SÃO PEDRO - AO
LADO DO PALÁCIO DA
MICROEMPRESA.
CONSTRUÇÃO DO CENTRO
06 JUAZEIRO DO NORTE CULTURAL BNB – RUA SÃO
PEDRO, ANEXO A AGÊNCIA DO
BANCO DO NORDESTE.

57
CONSTRUÇÃO DO
07 JUAZEIRO DO NORTE RESTAURANTE POPULAR NA
RUA DO CRUZEIRO, BAIRRO SÃO
MIGUEL.
08 JUAZEIRO DO NORTE CONDOMÍNIO COM 14 CASAS
(TIPO DUPLEX) EM FRENTE AO
HOTEL VERDES VALES.
CONSTRUÇÃO DE 60 CASAS
09 CRATO POPULARES NO CONJ. NOVO
CRATO.

10 CRATO REVITALIZAÇÃO DA ESTAÇÃO


FERROVIÁRIA DO CRATO

REFORMA GERAL DA CENTRAL


11 CRATO DE ABASTECIMENTO –
MERCADO VALTER PEIXOTO.
12 CRATO REFORMA DO CINE-TEATRO DO
CRATO NA RUA JOSÉ
CARVALHO – CENTRO.
CONSTRUÇÃO DE 43 CASAS
13 BARBALHA POPULARES NO BAIRRO ALTO
DA ALEGRIA
14 BARBALHA REFORMA DA PRAÇA BRASÍLIA
15 BARBALHA ANEL PERICENTRAL DE
BARBALHA.

58
ANEXO II

FOTOS DOS CANTEIROS DE OBRAS VISITADOS.

Foto 1 – Operário sem EPI e não há sinalização de área perigosa (risco de queda)

Foto 2 – Operário sem EPI e em condição insegura (risco de explosão)

59
RELATÓRIO FOTOGRÁFICO

Foto 3 – Operário com EPI (bota, capacete e cinto de segurança),


mas obra sem bandeja de proteção (risco de queda de objetos)

Foto 4 – Obra sem bandeja lateral (risco de queda de objetos).

60
RELATÓRIO FOTOGRÁFICO

Foto 5 – Operário com EPI (botas, capacete e cinto).

Foto 6 – Fornecimento de água potável no canteiro de obra

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