1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
2 HISTÓRIA DA SUPERVISÃO ESCOLAR
Fonte:pixabay.com
5
pedagógico articulado, com o objetivo de tornar possível a elaboração de um projeto
educacional que vincule projetos pessoais dos educadores a um projeto mais amplo
e que envolva o fazer individual e o coletivo, dando ainda mais importância à função
do supervisor escolar.
Outro ponto importante é o significado específico que o termo “supervisão”
adquire nos diferentes sistemas de ensino. No estado de São Paulo a expressão
esteve sempre relacionada ao cargo de “supervisor”, alocado nas delegacias de
ensino (Lei Complementar nº836, dezembro 1977). Nos demais estados, não existe o
cargo, mas a função. Esse profissional fica na escola e realização a “supervisão
pedagógica”, junto aos professores, recebendo nome de coordenador, orientados,
assistente pedagógico ou equivalente. Essa distinção torna-se importante, visto que
decorrem algumas dificuldades de entendimento de muitas críticas feitas ao trabalho
do “supervisor”, para pessoas não familiarizadas com o sistema paulista de ensino
(FERREIRA, 2010). A profissão de Supervisor Escolar ou Supervisor Educacional
sempre foi carregado de indefinições, embora este profissional contribua
decisivamente para o êxito das práticas educativas no contexto escolar.
Fonte: widgetserver.com
6
Preambularmente, cumpre destacar que, mesmo diante da imperiosa
importância do profissional de Supervisão Escolar, não há, no Brasil, lei que
regulamente e especifique quais são suas atribuições.
Desde 2012, tramita, no Congresso brasileiro, o Projeto de Lei 4.106, o qual
objetiva regulamentar essa profissão, bem como permitir a organização e a
representação sindical. São muitas as diferenças que há nesse cargo se comparado
ao de professor, a começar pela carga horária. Outra diferença gritante é o lapso
necessário para aposentadoria, o qual gera divergências em nossos tribunais.
O certo é que o tema requer maior atenção da sociedade, tendo em vista a
necessidade desse profissional para o bom andamento da escola, assim como para o
devido cumprimento da sua função social, haja vista que esse é um articulador da
comunidade escolar e que por estar na gestão da escola, tem por encargo tornar esse
espaço um ambiente de debates que aproximem os sujeitos dessa comunidade
escolar.
Como dito. Alhures, não há, no Brasil, previsão legal acerca do reconhecimento
do profissional supervisor escolar. Para fins de atribuições, utilizar-se-á o que prevê o
PL 4.106/2012.
7
O que é traçado pelo PL já tem sido feito há muito pelos profissionais que
desempenham essa função nas escolas. Alguns municípios, como Osório, no Rio
Grande do Sul, nem sequer realizam concurso público para essa área, tendo em vista
a ausência legal de regulamentação.
Noutro prisma, alguns autores auxiliam a conceituar e a compreender o que é
a função do supervisor escolar, qual a mais importante que ele deve desempenhar.
Nesse sentido, Ferreira (2007, p. 327) afirma que o significado essencial do supervisor
escolar está na “formação humana” do processo educacional.
Libâneo (2002, p. 35) descreve o supervisor escolar como “um agente de
mudanças, facilitador, mediador e interlocutor”. Portanto, seria um profissional apto a
realizar a interlocução entre direção escolar, educandos, educadores e os demais
indivíduos que, de alguma forma, fazem parte da comunidade escolar. Teria como
objetivo principal contribuir para o desenvolvimento individual, político, econômico,
ético e afim. Assim, buscando romper com “a cultura política do Brasil há 500 anos,
que foi sempre fazer da educação uma grande bandeira, mas sempre a reduziu”. Para
os dominantes, o povo é analfabeto, é ignorante, é bárbaro, e a educação viria, então,
para resolver esses “problemas”. (ARROYO, 2000, p. 2). Essa cultura política invadiu
a cultura pedagógica.
A partir de tais conceitos, é possível perceber que o supervisor escolar deve
desenvolver uma ação crítica, construtiva e participativa acerca do seu saber-fazer
pedagógico, sempre trabalhando de forma articulada, lógica e coerente com todos os
sujeitos que interagem no espaço escolar. Todas as suas ações devem visar à
qualidade do ensino, bem como à qualidade da aprendizagem.
Para a escola atingir bons resultados na aprendizagem dos educandos, são
necessários planejamentos, avaliação e aperfeiçoamento das suas próprias ações
pedagógicas, de modo que o processo educacional seja qualitativo. Tais ações são
vistas como de responsabilidade do supervisor escolar e devem garantir à escola
resultados excelentes, bem como envolver toda a comunidade nas tomadas de
decisão que se refiram ao bom andamento da escola, ou seja, a comunidade deve
participar do seu Projeto Político-Pedagógico, de forma ativa, demandando seus
anseios e perspectivas à gestão escolar. E essa deve ter a perspicácia de articular os
8
múltiplos saberes que entrecortam a vida dos estudantes, através de seus
professores, da família e do seu entorno, que são tão educativos quanto o próprio
espaço escolar.
Nesse viés, o supervisor escolar tem como objetivo aperfeiçoar o fazer dos
educadores que atuam no espaço escolar, identificando suas potencialidades, sua
personalidade, suas qualidades, de modo que cada um contribua para um
planejamento pedagógico a partir dentro daquilo que melhor sabe fazer. Essa
identificação exige do supervisor escolar uma atualização constante, bem como uma
avaliação do seu desempenho profissional.
Com isso, é muito importante que esse profissional tenha comprometimento
com a “práxis” educativa, que entenda o meio em que a escola está inserida,
provocando, assim, nos educadores, especialmente, o interesse em aliar os
conteúdos programáticos à realidade dos estudantes, fazendo com que os
professores compreendam que:
11
A questão do planejamento é desafiadora, pois projetar é para o humano, e
não poucas vezes estamos reduzidos em nossa humanidade, estamos
desanimados, descrentes, cansados. Também no meio educacional – entre
professores, membros de equipes de coordenação, direção, mantenedores,
pais, funcionários, alunos –, estão presentes forças de vida e de morte.
Chegamos a nos sentir com ausência de desejo: quem quer a escola? Quem
acredita na escola como caminho de construção de uma sociedade mais
justa? Escola para quê? Simplesmente como meio de subsistência?
(VASCONCELLOS, 2002, apud SOUZA, 2017, p. 493).
12
de todos. Freire (2003, p. 38) afirma que “o destino do homem deve ser criar e
transformar o mundo”. Conforme Vasconcellos relata;
O indivíduo epistêmico forma-se pela sua própria ação. Ele interage sobre o
meio objetivando alcançar suas necessidades. Essa atividade transforma o meio no
qual ele vive. Ao modificar esse meio, o sujeito é confrontado com as resistências do
meio. (BECKER, 2003, p. 35). Fullan e Hargreaves afirmam acerca da transformação
do professor:
13
4 BREVE HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
Fonte: widgetserver.com
15
O campo de atuação era voltado para “desajustes” escolares, hoje o papel
desempenhado por esse profissional é outro:
[...] a orientação, hoje, está mobilizada com outros fatores que não apenas e
unicamente cuidar e ajudar os „alunos com problemas‟. Há, portanto,
necessidade de nos inserirmos em uma nova abordagem de Orientação,
voltada para a „construção‟ de um cidadão que esteja mais comprometido
com seu tempo e sua gente. Desloca-se, significativamente, o “aonde chegar,
neste momento da Orientação Educacional, em termos do trabalho com os
alunos”. Pretende-se trabalhar com o aluno no desenvolvimento do seu
processo de cidadania, trabalhando a subjetividade e a intersubjetividade,
obtido através do diálogo nas relações estabelecidas. (GRINSPUN, 1994,
apud SILVA, 2015, p. 19).
Segundo Grinspun (2003), antes o orientador era visto como uma figura
“neutra” no processo educacional, para “guiar os jovens em sua formação cívica,
moral e religiosa”, hoje, espera-se um profissional comprometido com sua área, com
a história de seu tempo e com a formação do cidadão.
O orientador deve fortalecer o contato entre escola e comunidade, já que é tão
importante para o aluno o entendimento da sua história real vivida. Com isso, o
orientador consegue exercer um de seus papeis, que é atuar na construção do
indivíduo, fazendo com que ele tenha compromisso com sua comunidade,
desenvolvendo assim, a cidadania.
O que mostra que seu papel vai além dos portões da escola. Ele deve auxiliar
o trabalho do professor, fazer a ponte entre família e escola, dar apoio para o aluno
no processo educacional, realizar projetos para atender as necessidades de seus
alunos, entre outras diversas atribuições que lhe são dadas.
O orientador educacional tem um papel fundamental na vida do aluno, da
família e até mesmo dos professores. É ele o responsável pela mediação entre todos
os envolvidos no processo educacional. É um papel desafiador, que foi ganhando,
com o passar dos anos, suma importância no âmbito escolar.
16
Infelizmente, seu papel ainda não está muito bem definido nas escolas, e ele
acaba por realizar as atribuições de outros profissionais. Sua figura muitas vezes é
confundida com a do psicólogo, coordenador, professor. No final, ele realiza todas
essas tarefas, mas o seu real papel precisa ser bem desenhado, para que ele consiga
realizar seu trabalho com excelência e sem sobrecarga.
Seu trabalho apresenta um olhar voltado para o educando, centrado na
responsabilidade de formar cidadãos, de fazer valer o caráter democrático da
educação, ou seja, dar o suporte necessário para o indivíduo atuar no meio social,
fazendo com que desenvolvam senso crítico.
É uma tarefa que vai se aprimorando com o passar dos anos, se ganha
experiência no dia a dia. Ele está disposto no espaço escolar para orientar o aluno,
ajudando a solucionar problemas que vão surgindo durante a caminhada escolar e na
vida pessoal. É ele quem faz a mediação escola/família, aluno/professor,
aluno/família, aluno/comunidade, comunidade/aluno família/professor e
mediações/prevenções ligadas a drogas, violência e sexo, mostrando os caminhos e
escolhas que o educando pode seguir. Seu papel ultrapassa os muros da escola.
Atualmente, a sala da orientação educacional é o local que o aluno vai, não só
para ser orientado sobre seus comportamentos e atitudes, mas para se sentir
acolhido, ouvir e ser ouvido, entender que ele tem o seu espaço no colégio e no
mundo.
Orientador e professor devem caminhar juntos. Ele auxilia o professor a
compreender o comportamento dos educandos, a lidar com as dificuldades de
aprendizagem e mediar conflitos entre alunos, professor e comunidade. O orientador
educacional diferencia-se do coordenador pedagógico, do professor e do diretor. O
diretor ou gestor administra a escola na totalidade; o professor cuida da especificidade
de sua área do conhecimento; o coordenador fornece condições para que o docente
17
realize a sua função da maneira mais adequada possível e o orientador educacional
cuida da formação de seu aluno, para a escola e para a vida.
Devera o docente conhecer e refletir sobre o verdadeiro significado da
existência da escola e sua função social. Seu trabalho volta-se para a constante
reflexão crítica da prática pedagógica. A relação é baseada em auxílio e troca de
informações, onde o professor relata o que acontece, diariamente dentro da sala de
aula, e o orientador utiliza a informação para agir na vida do educando. Na maioria
das vezes o comportamento que o aluno tem na sala de aula é reflexo que acontece
em casa, e que nem sempre ele se sente à vontade para contar a seus professores,
enviam apenas sinais, ele capta e transfere para o orientador. É preciso ressaltar que
na promoção das reflexões e discussões, o Orientador Educacional deve conhecer a
ciência da educação incluindo as teorias da aprendizagem, as psicológicas, as
ciências sociais, ou seja, possuir competência técnica.
20
Em 1958, por meio da Portaria de nº 105 do MEC o exercício da função do
orientador educacional no ensino secundário foi regulamentado. Mas o primeiro
registro oficial de um Orientador foi dado pelo MEC apenas em 1960. Em 1961, a Lei
nº 4024/61 (LDB) a orientação, antes introduzida somente no ensino secundário,
passou a atender também o ensino primário. Nesta, a orientação tem um novo
enfoque, suas atribuições voltam-se para todos os alunos e não mais somente para
os alunos problemas. Nesse contexto na LDB de 1961, o Orientador ganha a imagem
de Orientador Educativo (OE) e Vocacional, tornando seu trabalho mais minucioso e
desenvolvido para todos os alunos, não mais voltado apenas para os “alunos-
problema”.
A LDB de 1971 trouxe a obrigatoriedade do orientador nas escolas de 1º e 2º
grau, sejam públicas ou particulares. No Capítulo I, no décimo artigo temos: “Será
instituída obrigatoriamente a Orientação Educacional, incluindo aconselhamento
vocacional em cooperação com os professores, a família e a comunidade”.
Em 1973 é criado o Decreto – Lei n° 72.846 de 26/06/1973, que regulamentou
as atribuições do Orientador Educacional em âmbito nacional, e até agora, a atuação
desses profissionais estão baseadas nesse documento. O legislador estabeleceu
atribuições privativas, nas quais o Orientador deve coordenar e participar, atuando em
cooperação com os demais membros da escola. Dentre todas as atribuições, que
auxiliam na orientação para um trabalho prático, destaco algumas atribuições
previstas nos Artigos 8º e 9º:
21
A década de 80 traz uma série de fatores que mostra uma busca de identidade
para o orientador. Apesar dos avanços legais e continuidade da movimentação da
classe, o trabalho efetivo não acontecia, o que desvalorizava o trabalho desse
profissional.
Isso se dá por vários fatores, um deles é o não cumprimento da lei 5692/71 que
previa a obrigatoriedade do Orientador Educacional nas escolas. Um dos motivos do
não cumprimento da lei era a situação econômica que o país enfrentava. Havia muitas
escolas públicas e a folha de pagamento público representava uma enorme fatia do
orçamento público, onde a figura do Orientador ficava fora das prioridades de
contratação.
A falta de esclarecimento e delineamento do papel do orientador nas escolas e
na comunidade e a falta de estrutura para os estudantes de Pedagogia também foram
pontos marcantes para a desvalorização do Orientador Educacional.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394 (1996) em seu
artigo 64 diz que: “A formação dos profissionais da educação para a administração,
planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação
básica, será feito em cursos de graduação, em Pedagogia ou ao nível de pós-
graduação, a critério da instituição de ensino, garantida nesta formação a base comum
nacional”.
A LDB (1996) deixa de se referir de maneira esclarecida sobre à
obrigatoriedade do profissional nas escolas. Explicitando como deve ser a sua
formação, não trazendo suas atribuições, destacando apenas que para atuar na área
de Orientação, é preciso ter graduação em Pedagogia aliada a uma pós-graduação
em Orientação Educacional, o que foi um ganho para o curso de Pedagogia, pois na
lei anterior a esta, a profissão do Orientador não exigia um curso de licenciatura
específico, o que fazia com o que os Orientadores Educacionais pudessem ser
professores de outras licenciaturas que não dispõe de base comum para atuar na
área.
Com a não obrigatoriedade deste profissional nas escolas, a profissão foi
perdendo força. Além de todos esses fatores legais, é nítido que a educação sempre
22
serviu mais a política do que à sociedade, visto que essas decisões foram tomadas
devido a crises econômicas.
23
Período Questionador - década de 80. Como o próprio nome já indica é neste
período que mais se questiona a Orientação Educacional, tanto em formação de seus
profissionais, quanto da prática realizada, pois, o cenário dos anos 80 trouxe grandes
modificações que refletiu na educação e logo na forma de fazer orientação. Isso levou
a ser caracterizado como período onde se realizou muitos cursos de capacitação
voltados para os profissionais. Contudo, inicia–se o momento onde o orientador
educacional se viu na necessidade de:
24
escola; resultado de uma relação entre pessoas, realizada de maneira
organizada que acaba por despertar no educando oportunidades para
amadurecer, fazer escolhas, se auto conhecer e assumir responsabilidades
(MARTINS, 1984, apud BUGONE, 2016, p. 2).
5 INSPEÇÃO ESCOLAR
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27
administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem
como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas”.
A Inspeção Escolar – entendida aqui como uma instituição social, portanto
produzida historicamente e composta por um sistema de regras – atravessa e é
atravessada pelas relações de poder que circulam no cenário educacional. Alguns
autores, como Meneses (1977) defendem que “a inspeção sempre existiu e não
constitui novidade nem nas empresas e nem nas atividades sociais”.
Essa visão naturalizada da Inspeção neutraliza a possibilidade de pensar
outras possibilidades de práticas, principalmente educacionais, além de
desconsiderar a historicidade das produções sociais e, principalmente, impede que a
função seja questionada. Afinal, a escola nem sempre existiu, as hierarquias também
não, assim como os sistemas educacionais, a legislação e, consequentemente, a
Inspeção. Em vez de tentar achar uma definição em relação a essa função e a esse
profissional, por que não pensar sobre os modos que garantiram o seu surgimento, a
sua produção e, enfim, a sua institucionalização? As contribuições da Análise
Institucional – na perspectiva dos franceses1 – nos ajudam a refletir sobre o status de
naturalidade das instituições educacionais e questioná-las, servindo como
possibilidade de alternativa às cristalizações do campo educacional.
[...] uma separação radical entre vida econômica, vida política, vida do desejo
inconsciente, vida biológica e natural; o que existem são imanências – isto é,
a coextensão, a condição intrínseca de cada um destes campos em relação
aos outros, que só podem se separar de uma maneira artificial para a
finalidade de seu estudo (BAREMBLITT, 1992, apud PEREIRA, 2012, p. 16).
29
Pode-se considerar, para a análise deste estudo, que a Inspeção Escolar está
marcada por processos burocráticos, portanto, enquadrada, fazendo parte de uma
rede de relações de produções e reproduções que afirmam um modo de
funcionamento que induz a efeitos de submissão dos sujeitos.
As condições que levaram às várias mudanças na organização da Inspeção
Escolar não se deram simplesmente porque o Estado, o poder, a legislação e as
regulamentações assim decretaram. Todavia justamente porque mudanças
moleculares foram acontecendo e se conectando na vida social. Isto é, os
direcionamentos que levaram à institucionalização da Inspeção Escolar, são o
resultado das mudanças que surgiram na sociedade, como um dispositivo para contê-
las ou configurá-las.
Em meio a tantas mudanças no tecido social, em relação à Inspeção Escolar é
possível distinguir, de modo geral, três períodos de “evolução”, conforme o dicionário
de Pedagogia LABOR (MENESES, 1977) aponta: período confessional, período de
transição e período técnico-pedagógico.
30
transição (por volta do século XVI) o profissional “Inspetor Escolar Público” começa a
aparecer (MENESES, 1977).
Após Revolução Francesa temos o período técnico-pedagógico, em que é
atribuída ao Estado a responsabilidade pela inspeção. O caráter fiscalizador delineia
a atuação do Inspetor, devido à ideia de uma organização escolar, defendida por
vários pensadores como Pestalozzi, baseada num sistema de controle. Meneses
(1977) destaca que o modelo francês dessa perspectiva de Inspeção Escolar, que
apavorava os professores, serviu de modelo para vários sistemas educacionais. A
Inspeção Escolar na maioria dos países passa, então, a ser personificada pela figura
do Inspetor, um funcionário público, desenvolvendo uma fiscalização pautada na
técnica e na burocracia.
No caso do Brasil, pode-se considerar a partir da contribuição de vários
pesquisadores (MENESES, 1977; LIMA, 1978; NOGUEIRA, 1989; ALARCÃO, 2002;
SAVIANI, 2006; FERREIRA, 2006; BARBOSA, 2008), que a inspeção escolar já
estava presente nas práticas educativas mais remotas, embora ainda que não
regulamentada como profissão. O modelo de sistema feudal que foi implantado
durante a colonização trazia consigo a ideia de controle, delineando o processo
educacional que se iniciava no Brasil no período do século XVI.
Afinal, o que é a Inspeção Escolar? Seria possível ou necessário defini-la?
Essas questões tornam-se “desgastantes”, pois falar sobre a Inspeção Escolar no
Brasil não é tarefa fácil, devido à escassez de material sobre o tema. As críticas em
relação à função de inspeção têm sido constantes no âmbito acadêmico, sugerindo
inclusive, sua eliminação na organização escolar. Entretanto, sua prática permanece
mais viva do que nunca no contexto educacional.
Meneses (1977) situa em seu trabalho que a palavra inspeção vem do latim
“inspectio”, “onis”, e significa “ação de olhar; exame, verificação”. Portanto, de acordo
com este autor, no sentido de ação:
31
Esta visão foi fortemente influenciada pelas teorias da Administração, em que
uma função, que é propriamente de fiscalização, é exercida pela própria administração
através de uma inspeção interna, ou seja, vigilância por parte das autoridades da
empresa sobre os trabalhadores; e por parte de um organismo estranho – quase
sempre o Estado, para verificar se as leis estão sendo cumpridas.
Nesse sentido, a inspeção, no contexto educacional, não diferiria do sentido em
que é executada nas empresas. A expressão “Inspeção Escolar” não estaria ligada
somente à vigilância e ao controle, mas também à orientação da ação, conforme
aponta o “Dicionário de Pedagogia LABOR”, de 1936 (MENESES, 1977). Ou seja, no
entendimento de Meneses a Inspeção Escolar tem como objetivo observar, orientar e
examinar as unidades que compõem os sistemas de ensino para o seu
desenvolvimento.
Vejamos uma definição do Petit Dictionnarie Portatif de Pédagogie Pratique,
que embora seja de 1962, se mostra bastante atual em relação às práticas que vendo
sendo desenvolvidas pelo Inspetor Escolar:
32
direta com o contexto das políticas educacionais que iam se desenvolvendo em
atendimento, principalmente, às exigências internacionais.
6 INSPEÇÃO X SUPERVISÃO
Fonte: educacional.com.br
[...] de forma bem diferente da que vinha ocorrendo até então, uma vez que
se tornara formal, mera fiscalização, surgindo a necessidade de uma ação
supervisora que, sem deixar de zelar pelos aspectos legais, estivesse voltada
para a dinamização do sistema de ensino, na busca de sua melhoria e de
maior produtividade no campo pedagógico (PEREIRA, 1981, apud PEREIRA,
2012, p. 22).
35
O inspetor é, e tende a ser cada vez mais, um profissional que atua em âmbito
macro educacional orientando e coordenando escolas no sistema, enquanto
o supervisor está situado no plano da microeducação, orientando e
coordenando a atividade de professores na escola. A fusão proposta
redundaria fatalmente na absorção do segundo 24 pelo primeiro, o que seria
tanto mais de lastimar quanto, no progresso da supervisão repousam
fundadas esperanças de uma renovação qualitativa da educação brasileira
de graus primário e médio (CHAGAS, 1969, apud MENESES, 1977, p. 53).
36
Ser ‘habilitado’ em supervisão, orientação, administração ou inspeção,
significa, pois, estar livre, alforriado do trabalho quase braçal de regência de
classe e em condições para o exercício de uma função na tecnoburocracia
educacional, melhor remunerada e menos desgastante do que o trabalho
direto e permanente com uma classe de alunos. A passagem da docência ao
exercício de uma função burocrática é, em geral, entendida como uma
‘promoção’, ao passo que a ‘volta’ à sala de aula é frequentemente tomada
como punição. (COELHO, 1982, apud PEREIRA, 2012, p. 24).
40
O Inspetor Escolar tem ainda como atribuição a orientação da Escola pública
na capacitação e aplicação de recursos financeiros. Dessa forma cabe ao Inspetor
Escolar:
A – Propor a criação e registro de caixa escolar para administrar os recursos
financeiros da escola:
– Orientar a direção da escola sobre a organização e funcionamento de caixas
escolares;
– Informar e esclarecer a direção da escola sobre a necessidade da
participação da Assembleia Escolar, na composição da Caixa escolar, na aplicação
de seus recursos e na prestação de contas;
– Auxiliar a direção da escola na identificação de possíveis fontes de recursos
ou de estratégias para a obtenção e aplicação.
B – Propor a celebração de convênios que concorram para a melhoria do ensino
ministrado na escola:
– Interpretar com a direção da escola a legislação que trata da celebração de
convênios;
– Esclarecer a direção da escola quanto às exigências e procedimentos
referentes à celebração de convênios.
41
– Analisar com as escolas e autoridades municipais as condições efetivas de
atendimento à demanda escolar do município;
– Auxiliar a direção da escola e o órgão municipal de educação, no
levantamento de estratégias diferenciadas de organização escolar, para atendimento
à demanda nos diversos graus de modalidades de ensino.
C – Orientar e acompanhar processos de criação, organização de escolas:
– Orientar a direção da escola e a entidade mantenedora quanto às exigências
e requisitos necessários à criação e organização de escolas e participar da instrução
do processo;
– Elaborar o relatório de verificação “in loco”, para instruir o processo de
criação, organização e organização de escolas.
Além das atribuições constantes da Lei nº. 7.109/77 (art. 13, inciso IV), da
Resolução CEE no 305/83 e da Resolução SEE nº. 7.149/93; compete igualmente ao
Inspetor Escolar:
1 – Homologar o Regimento e o Calendário Escolar, inclusive o Calendário
Escolar Especial (Resolução SEE nº. 7.149/95 – Art. 2º, § 2º, artigo 6º e Orientação
SEE nº. 02/95).
2 – Visar comprovantes de conclusão da 4ª série do ensino fundamental de
candidatos maiores de 14 (quatorze) anos, segundo o disposto na Instrução SDE nº.
01/95.
3 – Orientar e acompanhar o cumprimento das disposições da Portaria SD nº.
004/95, bem como os dispostos nos artigos 58 e 59 da Resolução SEE nº. 7.762/95.
4 – Assinalar juntamente com o Secretário e o Diretor da Escola a relação
nominal dos concluintes dos cursos de ensino médio, candidatos à obtenção de
diplomas ou certificados de habilitações profissionais, conforme o disposto no at. 6º
da Portaria SAE nº. 639/95.
5 – Visar processo de autorização para lecionar, secretariar e dirigir
estabelecimento de ensino fundamental e médio.
6 – Convocar a atenção de diretores de estabelecimentos de ensino, sob sua
orientação, para o disposto no art. 6º das Medidas Provisórias, mensalmente
reeditadas, a saber:
42
“Art. 6º - São proibidas a suspensão de provas escolares, a retenção de
documentos escolares, inclusive os de transferências, ou a aplicação de quaisquer
outras penalidades pedagógicas, por motivos de inadimplemento”.
7 – E ainda: verificar, permanentemente, no que se refere à legislação do
ensino, a situação legal e funcional do pessoal administrativo, técnico e docente,
encaminhando relatório específico ao Órgão Regional de Ensino (SRE), de acordo
com o disposto no artigo 19 º, §4º, da Resolução CEE nº. 397/94.
Fonte: aupex.com.br
43
No caso específico do Brasil as mudanças no campo educacional são bem mais
complexas devido ao processo de colonização, que sempre relegou a educação a um
plano secundário. Este fato certamente dificultou o acesso à escolaridade para a
maioria da população, pois o sistema de ensino brasileiro permaneceu elitizado e
centralizador, diferindo da descentralização educativa, promotora da autogestão
institucional. No entanto, essa concretização no sistema escolar demandará tempo,
sendo necessárias discussões e debates sobre as novas formas de organização e
descentralização da prática educativa.
As questões da autonomia escolar curricular, pedagógica e administrativa há
muito eram requeridas, pelos profissionais da educação e ganharam expressão a
partir da década de 1980, com a intenção de minimizar problemas de ordem educativa
como os índices de evasão, repetência, abandono escolar e o burocratismo da própria
escola diante de aspectos administrativos, porém, todos esses fatores estão
associados à busca da autonomia educacional.
Essa tendência democrática de autogestão antecedeu à promulgação LDB na
busca de mudanças necessárias diante da nova conjuntura mundial em meio às
transformações globais.
Ademais, a gestão escolar se configura em uma liderança democrática, porém
de ressonância dialética junto a um grupo unificado, a partir dos conflitos existentes e
que possam ser reconstruídos em perspectiva dialógica na busca do bem comum
(Luck, 1981).
Assim, a escola pública deve partir de um princípio democrático que viabilize
ao seu representante, no caso, o gestor, construir suas ações de forma democrática
e coletiva, pois a gestão democrática requer,
44
que acreditam no potencial humano, independente dos mecanismos que a
influenciaram inclusive os amparados em lei.
A mudança faz parte dessa nova exigência mundial: na escola a busca não é
mais apenas pelo acesso, mas pela qualidade do ensino, requerendo em seu
processo de transformação uma gestão democrática com o intuito de que a escola
deva formar para a cidadania, exigindo, portanto, uma nova relação, sociedade, aluno
e conhecimento.
Esse tripé implica em ações dialógicas que devem interagir para atender
anseios, interesses e necessidades da comunidade. Dessa forma o saber se constitui
a partir e na relação intrínseca do aluno com seu universo, em uma ponte entre o
senso comum e o saber cientificamente acumulado:
45
7.1 Aportes legais e normativos da gestão escolar
47
19.2) ampliar os programas de apoio e formação aos conselheiros dos
conselhos de acompanhamento e controle social do FUNDEB dos conselhos de
alimentação escolar, dos conselhos regionais e de outros e aos representantes
educacionais em demais conselhos de acompanhamento de políticas públicas,
garantindo a esses colegiados recursos financeiros, espaço físico adequado,
equipamentos e meios de transporte para visitas à rede escolar, com vistas ao bom
desempenho de suas funções;
48
7.2 Planejamento participativo na escola
Aliar todos os sujeitos que interagem no espaço escolar é uma das tarefas do
supervisor escolar. Esse profissional deve, em decorrência da importância da função
que desempenha estar intimamente relacionado e participando do planejamento
49
escolar. É para sanar dúvidas e dificuldades, no cotidiano escolar, que o planejamento
é necessário. Para tanto, o supervisor deverá administrar seu tempo, de modo a
cumprir determinadas tarefas que são de sua responsabilidade, como: dar atenção à
formação continuada dos professores, planejar reuniões, envolver-se com a
comunidade escolar nos processos decisórios, dentre outras atribuições. Gandin e
Gandin explicam acerca da necessidade urgente de planejamento participativo.
50
À primeira vista, não é possibilitado à criança o exercício de participação e
proposição de alternativas para a organização do seu próprio espaço, de modo que
possa ocupá-lo e transformá-lo em lugar.
Como observa Escolano (1998), o espaço escolar, expressa e reflete
determinados discursos, além de representar um elemento significativo do currículo,
uma fonte de experiência e aprendizagem. Quando crianças, internalizamos as
primeiras percepções do espaço, desenvolvemos nossos esquemas corporais e
acomodamos nossos biorritmos aos padrões estabelecidos pelas organizações
próprias do tempo escolar.
Ao recordar as experiências escolares e ao se pensar como eram as escolas
de antigamente, pode-se perceber que os espaços não são estruturas neutras, mas
construções sociais que aprendemos e que condicionam a significação de
aprendizado e os modos de educação.
Assim, se defendemos a escola como lugares privilegiados da infância em
nossa sociedade precisaram repensar a construção, organização e ocupação dos
edifícios escolares, sendo preciso, sim, repensar a importância das condições dos
lugares escolares, para que possamos permitir que seus usuários se apropriem e
vivenciem o espaço e as práticas ali desenvolvidas de modo a transformá-lo em lugar;
um lugar cheio de sentido, que desperte o gosto pelo saber e que permita às
crianças/adolescentes vivenciarem sua infância com seus pares.
Para que a criança se aproprie da escola, transformando este tempo e espaço
também em lugar de infância, é sugerido que a ela seja permitido deixar suas marcas,
seja através de uma pintura na parede, de um desenho no chão, seja participando da
discussão, definição e organização desses espaços; enfim, dando-lhe oportunidade
de opinar e discutir suas ideias e seus desejos.
Assim, uma escola construída e organizada com crianças, precisam respeitá-
las como sujeitos de direitos, garantindo, no seu interior, direitos básicos, como: direito
à educação, ao brincar, à cultura, à saúde e à higiene, a uma boa alimentação, à
segurança, ao contato com a natureza, a espaços amplos por onde possa se
movimentar, ao desenvolvimento da criatividade e da imaginação, ao respeito à
51
individualidade e ao desenvolvimento de sua identidade; enfim, o direito a uma
infância cheia de sentidos, possibilitando:
[...] à escola uma organização a partir dos sujeitos reais que nela ingressam,
e quão a leitura do mundo antecede e dá sentido ao mundo da palavra. Essa
antecedência é de cunho tanto cronológico quanto epistemológico, pois de
fato é a experiência do mundo que dá sentido à experiência da escola.
(NOGUEIRA, 2011, apud SOUZA, 2017, p. 491).
52
Infraestrutura, equipamento e tecnologias: é dever do Estado oferecer o
mínimo de estrutura física para receber a comunidade escolar, sendo
parceira, apoiando e participando das ações planejadas que favoreçam
o desenvolvimento escolar (BOSCHETTI, 2016).
Todos esses eixos norteadores perpassam pela inter-relação da família,
Estado, comunidade e sociedade, priorizando o acesso ao conhecimento e a
permanência do alunado, com o intuito de torná-la mais eficiente diante das situações
de ensino e aprendizagem.
54
8 INTEGRAÇÃO ENTRE INSPEÇÃO ESCOLAR E GESTÃO DA ESCOLA:
DESAFIOS
Fonte: nucleodoconhecimento.com.br
55
Depreende-se, pelo inciso II do artigo 61, citado, que a área da Inspeção
escolar está inclusa na formação em Pedagogia, nível superior, com habilitação para
o exercício no setor.
O Parágrafo Único do mesmo artigo, incluído pela Lei nº 12.014/2009
estabelece os Fundamentos para a formação, e dispõe:
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o que supõe um compromisso real e verdadeiro com os objetivos sociais e as
demandas políticas da comunidade. Tem como preocupação fundamental a
promoção do desenvolvimento socioeconômico e a melhoria das condições
de vida humana. (HORA, 2000, apud DIAS, 2017, p. 59).
59
sistema educacional. Dessa forma, vários fatores interligam o Inspetor ao processo
democrático educativo.
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9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
______. Educação e mudança. 31. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
ALBUQUERQUE, R. L. de. Gestão escolar e inspeção. São Paulo: Know How, 2010.
BRASIL, Lei nº 4.244, de 9 de abril de 1942. Dispõe sobre a Lei Orgânica do Ensino
Secundário.
62
BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases
para a Educação Nacional.
63
FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
LIBÂNEO, J. C.. Pedagogia e pedagogos para quê? 6. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
64
LONGO, R. M. J. Gestão da qualidade: evolução histórica, conceitos básicos e
aplicação na educação. Brasília: IPEA, 1996.
65
PEREIRA, J. C. de L. Inspeção Escolar: uma análise das relações de poder. Rio
de Janeiro. RJ. 2012.
66
SPARTA, M. O desenvolvimento da Orientação profissional no Brasil. Revista
Brasileira de Orientação Profissional vol. 4, n1-2, pp. 1-12, 2003.
67